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Este informativo é uma cortesia da Escola Brasileira de Ensino Jurídico na Internet - EBEJI. 1 http://grupos.ebeji.com.br – Informativo de Jurisprudência Nº 01 – Fevereiro/2011 Preparação contínua para a Magistratura do Trabalho GEMAT Resolução de questões objetivas, subjetivas e sentenças www.gemat.com.br Sétima Turma garante indenização a professor demitido nas férias escolares A projeção do aviso prévio para data posterior a das férias escolares não retira do professor o direito ao pagamento de indenização em caso de dispensa sem justa causa, previsto em lei (artigo 322, §3º, da CLT). Segundo a norma, se o professor for demitido injustamente ao término do ano letivo ou no curso das férias escolares, deve receber os salários correspondentes ao período. Por esse motivo, em decisão unânime a Sétima Turma do Tribunal Superior do Trabalho condenou a Creche Experimental Dinamis a indenizar uma professora demitida em 22/01/2007. Como esclareceu o relator do recurso de revista da trabalhadora, ministro Pedro Paulo Manus, presidente da Turma, a professora precisa ser compensada pela demissão em pleno período de férias escolares, quando o mercado de trabalho está fechado. Na primeira instância e no Tribunal do Trabalho da 1ª Região (RJ), o pedido de indenização feito pela professora havia sido negado. Para o TRT, na medida em que a dispensa foi formalizada em 22/01/2007, com aviso prévio indenizado, considera-se projetado o contrato de trabalho para 20/02/2007 (data do término do aviso). Assim, como o ano letivo teve início em 1º/02/2007, a empregada não tinha direito à indenização. Na Sétima Turma, a professora insistiu no argumento de que a projeção do aviso prévio não podia afastar o seu direito à indenização. Requereu o pagamento dos dias restantes desde a data da dispensa até a data de início do ano letivo. De acordo com a trabalhadora, a decisão do Regional desrespeitou a CLT e a Súmula nº 10 do TST que trata da matéria. O ministro Pedro Manus concluiu que, de fato, o aviso prévio integra o tempo de serviço da trabalhadora e sua vigência tem início a partir do dia seguinte ao da comunicação da rescisão contratual. Mas, pela análise da norma da CLT e da Súmula nº 10, é assegurado ao professor o pagamento dos salários relativos ao período de férias escolares, na hipótese de ele ser despedido sem justa causa como ocorreu no caso. Desse modo, afirmou o relator, a condição para recebimento da indenização não é a data da efetiva extinção do contrato de trabalho (término do aviso prévio), e sim a data em que aconteceu a comunicação da despedida. Se for mantido o entendimento de que deve ser considerada a projeção do aviso prévio, quando a rescisão ocorrer nas férias do primeiro período letivo (janeiro), sempre haverá a extensão para o mês de fevereiro, inviabilizando o pagamento da indenização estabelecida em lei. Na avaliação do ministro Manus, portanto, a finalidade da lei de proteger o professor demitido durante o primeiro período do ano letivo não seria alcançada com o entendimento do TRT. Como a trabalhadora perdeu o emprego num momento em que não se consegue outro, pois o mercado já promoveu as contratações necessárias, deve ser indenizada como forma de compensação, garantiu o relator. (RR- 51600-66.2007.5.01.0065 / Notícia: 12/01/2011) Enfermeira de município, dispensada grávida, ganha indenização Uma enfermeira, contratada temporariamente pelo município de Vila Valério (ES) e dispensada com três meses de gravidez, conseguiu indenização substitutiva referente ao período de estabilidade provisória de gestante. A Sexta Turma do Tribunal Superior do Trabalho deu provimento ao recurso de revista da trabalhadora. A enfermeira havia firmado contrato temporário com o município de Vila Valério (ES) para atender situação emergencial. Ela alega que foi dispensada após o município tomar ciência de sua gravidez. Diante disso, a trabalhadora propôs ação trabalhista, requerendo o reconhecimento do vínculo de emprego, o pagamento de direitos trabalhistas e a reintegração ao trabalho, pois estaria amparada pela estabilidade provisória da gestante. Ao analisar o pedido da enfermeira, o juízo de Primeiro Grau não reconheceu o vínculo de emprego e consequentemente indeferiu os outros pedidos de natureza trabalhista. Segundo o juiz, o contrato em questão foi de natureza administrativa, com base no artigo 37, inciso IX, da Constituição Federal, que não gera vínculo de emprego com a administração. Esse dispositivo constitucional autoriza o administrador público a realizar contratos temporários, sem concurso público, para atender necessidade excepcional estabelecida em lei específica. Direito Individual do Trabalho Informativo de Jurisprudência Trabalhista Elaborado a partir das notícias do Tribunal Superior do Trabalho (TST)

Informativo de Jurisprudência Trabalhista n. 01 - Fevereiro de 2011

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Informativo de jurisprudência trabalhista da EBEJI.

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Este informativo é uma cortesia da Escola Brasileira de Ensino Jurídico na Internet - EBEJI. 1

http://grupos.ebeji.com.br – Informativo de Jurisprudência Nº 01 – Fevereiro/2011

Preparação contínua para a Magistratura do Trabalho

GEMAT Resolução de questões

objetivas, subjetivas e

sentenças

www.gemat.com.br

Sétima Turma garante indenização a professor

demitido nas férias escolares

A projeção do aviso prévio para data posterior a das férias

escolares não retira do professor o direito ao pagamento de

indenização em caso de dispensa sem justa causa, previsto

em lei (artigo 322, §3º, da CLT). Segundo a norma, se o

professor for demitido injustamente ao término do ano letivo ou

no curso das férias escolares, deve receber os salários

correspondentes ao período.

Por esse motivo, em decisão unânime a

Sétima Turma do Tribunal Superior do

Trabalho condenou a Creche Experimental

Dinamis a indenizar uma professora

demitida em 22/01/2007. Como

esclareceu o relator do recurso de revista

da trabalhadora, ministro Pedro Paulo

Manus, presidente da Turma, a professora

precisa ser compensada pela demissão em

pleno período de férias escolares, quando o

mercado de trabalho está fechado.

Na primeira instância e no Tribunal do Trabalho da 1ª

Região (RJ), o pedido de indenização feito pela professora

havia sido negado. Para o TRT, na medida em que a dispensa

foi formalizada em 22/01/2007, com aviso prévio indenizado,

considera-se projetado o contrato de trabalho para 20/02/2007

(data do término do aviso). Assim, como o ano letivo teve início

em 1º/02/2007, a empregada não tinha direito à indenização.

Na Sétima Turma, a professora insistiu no argumento de que a

projeção do aviso prévio não podia afastar o seu direito à

indenização. Requereu o pagamento dos dias restantes desde a

data da dispensa até a data de início do ano letivo. De acordo

com a trabalhadora, a decisão do Regional desrespeitou a CLT

e a Súmula nº 10 do TST que trata da matéria.

O ministro Pedro Manus concluiu que, de fato, o aviso prévio

integra o tempo de serviço da trabalhadora e sua vigência tem

início a partir do dia seguinte ao da comunicação da rescisão

contratual. Mas, pela análise da norma da CLT e da Súmula nº

10, é assegurado ao professor o pagamento dos salários

relativos ao período de férias escolares, na hipótese de ele

ser despedido sem justa causa – como ocorreu no caso.

Desse modo, afirmou o relator, a condição para recebimento da

indenização não é a data da efetiva extinção do contrato de

trabalho (término do aviso prévio), e sim a data em que

aconteceu a comunicação da despedida. Se for mantido o

entendimento de que deve ser considerada a projeção do aviso

prévio, quando a rescisão ocorrer nas férias do primeiro período

letivo (janeiro), sempre haverá a extensão para o mês de

fevereiro, inviabilizando o pagamento da indenização

estabelecida em lei.

Na avaliação do ministro Manus, portanto, a finalidade da lei

de proteger o professor demitido durante o primeiro

período do ano letivo não seria alcançada com o

entendimento do TRT. Como a trabalhadora

perdeu o emprego num momento em que não

se consegue outro, pois o mercado já

promoveu as contratações necessárias,

deve ser indenizada como forma de

compensação, garantiu o relator. (RR-

51600-66.2007.5.01.0065 / Notícia:

12/01/2011)

Enfermeira de município, dispensada

grávida, ganha indenização

Uma enfermeira, contratada temporariamente pelo

município de Vila Valério (ES) e dispensada com três meses de

gravidez, conseguiu indenização substitutiva referente ao

período de estabilidade provisória de gestante. A Sexta Turma

do Tribunal Superior do Trabalho deu provimento ao recurso de

revista da trabalhadora.

A enfermeira havia firmado contrato temporário com o município

de Vila Valério (ES) para atender situação emergencial. Ela

alega que foi dispensada após o município tomar ciência de sua

gravidez.

Diante disso, a trabalhadora propôs ação trabalhista,

requerendo o reconhecimento do vínculo de emprego, o

pagamento de direitos trabalhistas e a reintegração ao trabalho,

pois estaria amparada pela estabilidade provisória da gestante.

Ao analisar o pedido da enfermeira, o juízo de Primeiro Grau

não reconheceu o vínculo de emprego e consequentemente

indeferiu os outros pedidos de natureza trabalhista. Segundo o

juiz, o contrato em questão foi de natureza administrativa, com

base no artigo 37, inciso IX, da Constituição Federal, que não

gera vínculo de emprego com a administração. Esse dispositivo

constitucional autoriza o administrador público a realizar

contratos temporários, sem concurso público, para atender

necessidade excepcional estabelecida em lei específica.

Direito Individual do Trabalho

Informativo de Jurisprudência

Trabalhista

Elaborado a partir das notícias do

Tribunal Superior do Trabalho (TST)

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Inconformada, a enfermeira recorreu ao Tribunal Regional do

Trabalho da 17ª Região (ES). O TRT declarou a nulidade do

contrato de trabalho por ausência de concurso público, contudo

deferiu o pagamento do FGTS.

Com isso, a enfermeira interpôs recurso de revista ao TST,

sustentando possuir o direito de receber pelo menos os salários

concernentes ao período da licença maternidade, independente

da natureza do contrato de trabalho.

O relator do recurso na Turma, ministro Maurício Godinho

Delgado, deu razão à trabalhadora. Segundo o ministro,

independente da validade da relação jurídica havida entre

as partes (contrato nulo ou não), a dispensa da empregada

gestante gera o direito de indenização.

Isso porque, nesse caso, prevalece o direito fundamental de

proteção à vida (caput do artigo 5° da Constituição Federal),

consubstanciado nos princípios da dignidade da pessoa

humana e do valor social do trabalho, ressaltou o ministro.

Assim, a Sexta Turma, ao seguir o voto do relator, decidiu, por

unanimidade, condenar o município a pagar à enfermeira uma

indenização substitutiva relativa ao período de estabilidade

provisória da gestante, compreendido entre o momento da

dispensa e o termo final da estabilidade. (RR-33240-

84.2004.5.17.0181 / Notícia: 10/01/2011)

Empregado demitido em período eleitoral ganha

indenização

Quando o empregado da Companhia de Saneamento do

Paraná (Sanepar) foi demitido, sem justa causa, em 10/09/2004,

faltavam menos de três meses para as eleições municipais de

03/10/2004. E de acordo com a legislação eleitoral (artigo 73, V,

da Lei nº 9.504/97), os agentes públicos não podem demitir

sem justa causa na circunscrição do pleito, nos três meses

que o antecedem e até a posse dos eleitos.

Por causa da dispensa abusiva, o trabalhador recorreu à Justiça

do Trabalho com pedido de reintegração no emprego.

Entretanto, o Tribunal paranaense (9ª Região) concluiu que,

apesar de a rescisão contratual ter ocorrido dentro dos três

meses que antecederam as eleições para prefeito, a lei eleitoral

não assegurava estabilidade no emprego aos trabalhadores.

Para o TRT, a demissão foi ato legítimo da empresa (sociedade

de economia mista), e não era caso de reintegração.

No recurso de revista apresentado ao Tribunal Superior do

Trabalho, o empregado insistiu na tese de que tinha direito à

reintegração por força da lei eleitoral. Invocou a aplicação à

hipótese da Orientação Jurisprudencial nº 51 da Seção I de

Dissídios Individuais do TST, segundo a qual a lei é destinada

também ao pessoal do regime celetista dos quadros de

empresas públicas e sociedades de economia mista.

De fato, esclareceu o relator do processo, ministro Walmir

Oliveira da Costa, a norma eleitoral foi desrespeitada, na

medida em que, expressamente, proíbe a demissão sem

justa causa de servidores públicos no período de três

meses que antecedem às eleições - regra extensiva aos

empregados de sociedades de economia mista como na

situação analisada.

Na avaliação do ministro Walmir, como o trabalhador foi

dispensado no período em que possuía garantia de emprego,

a empresa tinha a obrigação de pagar indenização

equivalente ao tempo da estabilidade. Esse entendimento foi

acompanhado pelos demais ministros da Primeira Turma do

TST.(RR-1736640-80.2004.5.09.0016 / Notícia: 19/01/2011)

Adicional de insalubridade deve ser pago com base

no salário mínimo até nova legislação

Mesmo depois que o Supremo Tribunal Federal editou a

Súmula Vinculante nº 4 que proíbe o uso do salário mínimo

como indexador de base de cálculo de vantagem salarial de

empregado, a Justiça do Trabalho continua aplicando esse

indicador para calcular o adicional de insalubridade devido.

Foi o que aconteceu quando a Seção II de Dissídios

Individuais do Tribunal Superior do Trabalho anulou decisão

da Oitava Turma do próprio TST e determinou que o adicional

de insalubridade a ser pago pela Saur Equipamentos aos

empregados substituídos pelo Sindicato dos Trabalhadores nas

Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de

Panambi fosse calculado com base no salário mínimo.

A empresa ajuizou ação rescisória com pedido de liminar para

suspender a execução do processo em que havia sido

condenada pela Turma ao pagamento do adicional de

insalubridade tendo como referência o salário normativo da

categoria. Alegou que a súmula do STF não autorizava o uso

dessa base de cálculo, porque estabelece, expressamente, que

o indexador não pode ser definido por decisão judicial.

Na avaliação da relatora, juíza convocada Maria Doralice

Novaes, de fato, a súmula estabelece que “salvo os casos

previstos na Constituição Federal, o salário mínimo não pode

ser usado como indexador de base de cálculo de vantagem de

servidor público ou de empregado, nem ser substituído por

decisão judicial”.

E se não existisse a ressalva final, assim como se utiliza o

salário base do trabalhador para o cálculo do adicional de

periculosidade (nos termos do artigo 193, §1º, da CLT) também

seria possível a aplicação da mesma regra para o adicional de

insalubridade, uma vez que tanto a insalubridade quanto a

periculosidade são fatores de risco para os empregados.

Entretanto, o Supremo decidiu não adotar nenhum novo

parâmetro em substituição ao salário mínimo. Declarou

inconstitucional a norma que estabelece o uso do salário

mínimo como base de cálculo do adicional de insalubridade

(artigo 192 da CLT), mas a manteve regendo as relações

trabalhistas, na medida em que o Judiciário não pode substituir

o legislador para definir outro critério, esclareceu a relatora.

Em resumo, até que seja editada norma legal ou

convencional estabelecendo parâmetro distinto do salário

mínimo para calcular o adicional de insalubridade,

continuará a ser considerado o salário mínimo para o

cálculo desse adicional.

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Por essas razões, a juíza Doralice anulou a decisão da Turma

para determinar que o adicional de insalubridade seja calculado

sobre o salário mínimo, conforme acórdão do Tribunal do

Trabalho gaúcho (4ª Região). Esse entendimento foi

acompanhado, à unanimidade, pelos demais integrantes da

SDI-2.(AR-26089-89.2010.5.00.0000 / Notícia: 07/01/2011)

Uso de água sanitária na limpeza não dá adicional de

insalubridade

Pelo contato com água sanitária e detergentes ao efetuar a

limpeza de banheiros, uma servente que trabalhou em creches,

escola e posto de saúde do município de Penha, no estado de

Santa Catarina, não faz jus ao recebimento do adicional de

insalubridade. A Sexta Turma do Tribunal Superior do Trabalho,

considerando que a atividade da trabalhadora não está entre as

que se enquadram na Norma Regulamentadora nº 15 do

Ministério do Trabalho e Emprego, modificou decisão que

deferia o adicional.

Relator do recurso de revista e presidente da Sexta Turma, o

ministro Aloysio Corrêa da Veiga explicou que “os

produtos de limpeza utilizados na higienização de

banheiros - saponáceos, detergentes e

desinfetantes, de uso doméstico, inclusive -

detêm concentração reduzida de

substâncias químicas (álcalis cáusticos),

destinadas à remoção dos resíduos, não

oferecendo risco à saúde do

trabalhador, razão por que não

asseguram o direito ao adicional de

insalubridade”.

Sem proteção

A trabalhadora pleiteou o pagamento de adicional

de insalubridade sob a alegação de que, na função de

servente/merendeira, se expunha a agentes insalubres na

limpeza dos banheiros, manuseando produtos químicos, tais

como água sanitária, detergentes, alvejante, entre outros, sem o

uso de equipamentos de proteção individual. Informou, ainda,

ter recebido o adicional até outubro de 2005 e que, apesar de

suprimido o benefício, suas atividades não sofreram alteração.

De acordo com laudo técnico, a servente manipulava produtos

de limpeza que contêm álcalis cáusticos - água sanitária - e, por

essa razão, deveria receber o pagamento de adicional de

insalubridade em grau médio, de acordo com o Anexo 13 da

NR-15 da Portaria nº 3.214/78, do MTE. O município foi

condenado, em primeira instância, ao pagamento do adicional,

recorrendo, então, ao Tribunal Regional do Trabalho da 12ª

Região (SC), que manteve a sentença.

Para o ministro Aloysio, a jurisprudência do TST está

pacificada no sentido de não reconhecer exposição a

insalubridade na atividade de limpeza de banheiro, pela

utilização de produtos químicos na rotina de faxina, em

relação a álcalis cáusticos. Entre os vários precedentes

citados, o relator informou um em que o ministro Luiz Philippe

Vieira de Mello Filho esclarece que a NR-15, em seu Anexo 13,

ao tratar do manuseio de álcalis cáusticos, se refere “ao

produto bruto, em sua composição plena, e não ao diluído

em produtos de limpeza habituais”.

A Sexta Turma, seguindo o voto do relator, deu provimento ao

recurso do município para excluir da condenação o pagamento

do adicional de insalubridade. (RR - 1968-61.2010.5.12.0000

/ Notícia: 21/01/2011)

Empregada consegue integrar ao salário auxílio-

alimentação pago por terceiro

Auxílio-alimentação suplementar pago por terceiro levou uma

empregada do Hospital das Clínicas a reivindicar a integração

daquela parcela ao seu salário. A sentença foi favorável à

trabalhadora, contudo, o Tribunal Regional do Trabalho da 15.ª

Região (Campinas/SP) reformou a decisão. Ela recorreu à

instância superior e, por decisão da Sexta Turma do Tribunal

Superior do Trabalho, deu-se o restabelecimento da sentença.

Ao interpor seu recurso, a empregada salientou que apesar de a

instituição que lhe pagava o auxílio-alimentação, Fundação de

Apoio ao Ensino, Pesquisa e Assistência do Hospital das

Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão

Preto da Universidade de São Paulo - Faepa,

não ser sua real empregadora, o recebimento

do benefício dava-se somente pelo fato de

ela trabalhar para o Hospital das Clínicas.

Segundo analisou o Tribunal Regional, o

benefício percebido pela empregada não

advinha de ato exclusivo do empregador,

pois era fornecido, em parte, pelo Estado

de São Paulo e, outra parte, era oriunda da

Faepa. Desse modo, o auxílio em questão

era suportado por duas pessoas jurídicas, com

personalidades jurídicas próprias.

O TRT observou ainda que o valor pago diretamente pelo

Estado de São Paulo não excedia os 20% fixados pelo artigo

458, §3.º, da CLT, e o restante, além de se tratar de valor

variável, advém de terceiro. Assim, no entendimento do

Regional, a pretensão da trabalhadora estaria definitivamente

rechaçada.

Na Sexta Turma do TST, porém, o ministro Aloysio Corrêa da

Veiga, relator do acórdão, considerou que a parcela auxílio-

alimentação paga pela Faepa aos empregados do Hospital se

dava em decorrência do contrato de trabalho. “Trata-se, na

realidade, de valor devido pelo empregador, e meramente

repassado por terceiro, o que não retira a origem contratual

da parcela”, observou. O vale-alimentação, portanto, possui

natureza salarial, integrando a remuneração do empregado,

para todos os efeitos legais, concluiu a relatoria.

Com esse entendimento, a Sexta Turma, unanimemente,

conheceu do recurso da empregada e restabeleceu a

sentença.(RR-203600-24.2008.5.15.0066 / Notícia: 27/01/2011)

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Norma interna faz empresa pagar adicional de até

150% para intervalo não usufruído

Por norma interna da Empresa de Trens Urbanos de Porto

Alegre S.A. (Trensurb), a hora extra nos dias normais de

trabalho era paga com adicional de 100% e as dos feriados e

repouso semanal com adicional de 150%. Com base nessa

norma e na jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho,

que considera o intervalo intrajornada não usufruído

equiparado à hora extra, a Sexta Turma do TST determinou

que a Trensurb pague, com adicional de 100% ou 150%,

conforme o dia trabalhado, a hora diária de descanso para

alimentação e repouso não concedida a um funcionário.

Sem nenhum registro de intervalo intrajornada no período de

outubro de 2000 a agosto de 2001, o empregado já havia obtido

essa decisão na primeira instância. No entanto, ao examinar o

recurso ordinário da empresa, o Tribunal Regional do Trabalho

da 4ª Região (RS) reduziu o adicional para 50%. O trabalhador,

então, recorreu ao TST em busca de sua pretensão.

Ressalvas

Relator do recurso de revista, o ministro Augusto César Leite de

Carvalho frisou que, pela jurisprudência do TST, “o intervalo

intrajornada não usufruído equipara-se à hora extra

propriamente dita, devendo ser remunerado como tal”. Citando

vários precedentes nesse sentido, o ministro Augusto César

disse que se rendeu ao argumento, mas ressalvou seu

entendimento e destacou em sessão que a norma interna da

Trensurb que fixa o adicional não faz menção ao intervalo

suprimido.

Para ele, apesar de o artigo 71, parágrafo 4º, da CLT ter fixado,

para a não concessão do intervalo, uma sanção pecuniária de

valor igual à remuneração mínima de uma hora extraordinária,

“os adicionais têm finalidades distintas”. O relator entende que

“um se destina a remunerar a hora efetivamente trabalhada e o

outro visa estimular o empregador a cumprir o mencionado

preceito legal, além de compensar o empregado pela não

fruição do descanso a que tinha direito”.

No entanto, seguindo a jurisprudência do Tribunal e havendo

norma interna da empresa assegurando a remuneração das

horas extras com o adicional de 100% nos dias normais de

trabalho e de 150% nos dias de descanso semanal, o ministro

Augusto César concluiu que “os mesmos adicionais devem

ser utilizados para o pagamento do período correspondente

ao intervalo intrajornada não gozado pelo empregado”.

A Sexta Turma, então, por unanimidade, deu provimento ao

recurso para determinar que no cálculo do pagamento do

intervalo intrajornada não usufruído seja considerado o adicional

de 100% para os dias normais de trabalho e de 150% para os

dias trabalhados durante o repouso semanal, como previsto na

norma interna da empresa. (RR - 107900-49.2005.5.04.0028 /

Notícia: 26/01/2011)

Turma admite terceirização no setor de

telecomunicações

A polêmica sobre a legalidade da terceirização de atividades

inerentes aos serviços de telecomunicações será analisada em

breve pela Seção I de Dissídios Individuais do Tribunal Superior

do Trabalho. O colegiado deverá uniformizar a jurisprudência do

TST, uma vez que existem decisões divergentes entre as

Turmas sobre a matéria.

Na Oitava Turma, por exemplo, vem sendo vitoriosa a tese de

que é possível a contratação de empresa interposta para

prestação de atividades inerentes ao serviço desenvolvido pelas

concessionárias de telecomunicações, na medida em que a Lei

Geral das Telecomunicações (nos termos do artigo 94, II, da Lei

nº 9.472/97) ampliou as hipóteses de terceirização.

Com base nesse fundamento, a relatora de um recurso de

revista da Tim, ministra Dora Maria da Costa, afastou o

reconhecimento de vínculo de emprego diretamente com essa

empresa de trabalhadora contratada pela A&C Centro de

Contatos para prestar serviços de “call center” à operadora. Por

maioria de votos, a Turma restabeleceu a sentença de origem

que havia julgado improcedente a ação da empregada.

Já o Tribunal do Trabalho mineiro (3ª Região) tinha dado razão

à empregada, porque considera o serviço prestado pela

empresa terceirizada de “call center” (atendimento de clientes

por telefone) ligado à atividade-fim da tomadora dos serviços - o

que tornaria ilícita a terceirização.

De acordo com o TRT, portanto, como havia fraude na

terceirização dos serviços prestados pela trabalhadora, o

vínculo de emprego era com a beneficiária do trabalho (Tim).

Por consequência, a empregada que atuava como

coordenadora e supervisora dos serviços de “call center” tinha

direito às vantagens previstas nos instrumentos coletivos

firmados entre a concessionária e o sindicato da categoria.

Mas, ao examinar o recurso da Tim, a ministra Dora Costa

observou que, enquanto não for declarada a

inconstitucionalidade do inciso II do artigo 94 da Lei nº 9.472/97,

segundo o qual a concessionária poderá contratar com terceiros

o desenvolvimento de atividades inerentes, acessórias ou

complementares ao serviço, a terceirização está autorizada em

relação à atividade-fim ou inerente das empresas de

telecomunicações.

Desse modo, explicou a relatora, é irrelevante a discussão se

a função desempenhada pela empregada enquadra-se

como atividade-fim ou meio da Tim, tendo em vista a licitude

da terceirização estabelecida em lei.

Durante o julgamento, a presidente da Turma, ministra Maria

Cristina Peduzzi, acompanhou o entendimento da relatora, o

que garantiu a maioria dos votos, pois o ministro Márcio Eurico

Vitral Amaro adotou opinião contrária. A trabalhadora

apresentou recurso de embargos que será apreciado

futuramente na SDI-1. (RR-3540-87.2009.5.03.0016 / Notícia:

31/01/2011)

Santander é condenado por quebra de sigilo de conta

de ex-caixa

O Banco Santander (Brasil) S.A. terá que pagar R$50 a uma ex-

empregada por quebra de sigilo de sua conta corrente na época

em que trabalhava como caixa do banco. Após ser condenada

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pela Justiça do Trabalho do Distrito Federal, a empresa recorreu

ao Tribunal Superior do Trabalho, mas a rejeição do agravo de

instrumento pela Oitava Turma manteve a condenação.

Segundo a bancária, que trabalhou para o Santander por 16

anos, em dezembro de 2005 ela foi chamada à gerência geral

da agência para esclarecer se participava ou conhecia sócios de

uma determinada empresa de entretenimentos que tinha conta

no banco. Ela respondeu que utilizava um site daquela empresa

para jogar bingo. Comentando com colegas o que acontecera,

foi informada que a tal empresa era suspeita de lavagem de

dinheiro.

No dia seguinte, ao ser solicitada a entregar extratos de sua

conta bancária pelo gerente e pelo analista da Gerência de

Operações Financeiras, ela pediu que o auditor do banco

assinasse uma declaração referente à entrega, ao que ele se

negou. A bancária, então, se recusou a ceder os extratos.

Nesse momento, o auditor fez uma ocorrência relacionando

transferências da conta da bancária para o bingo desde

setembro de 2005. Segundo a empregada, a partir daí ela viveu

sob um clima de caça às bruxas, sendo finalmente demitida em

março de 2006.

Na reclamação trabalhista que ajuizou a

seguir, a bancária pleiteou indenização por

danos morais de R$280 mil, por diversas

razões: acusação de suspeita de

lavagem de dinheiro, ter sido vítima de

gritos e grosserias por parte do gerente e

do auditor, vazamento de informações

para outros funcionários e quebra de

sigilo bancário. Inicialmente seu pedido foi

indeferido na primeira instância, motivando

seu recurso ordinário ao TRT/DF, o qual

condenou o Santander a pagar a indenização de

R$50 mil, por quebra de sigilo bancário, mas não

pelas outras razões, que não foram confirmadas por provas

testemunhais.

Foi então a vez do banco interpor recurso de revista, que

recebeu despacho de seguimento negado pela presidência do

TRT, originando, então, o agravo de instrumento ao TST.

Pretendendo acabar com a condenação, a empresa alegou, no

agravo, que não repassou a terceiros as informações da conta

corrente da empregada e que o artigo 1º, parágrafo 3º, IV, da

Lei Complementar 105/2001 permite às instituições financeiras

o acesso aos dados contidos nas contas correntes que se

encontram sob sua guarda quando verificada movimentação

atípica que possa resultar na prática de ato ilícito.

Ao examinar o agravo, o relator, ministro Márcio Eurico Vitral

Amaro, ressaltou que o despacho que denegou seguimento ao

recurso de revista analisou de forma pormenorizada todas as

questões levantadas pelo banco, rebatendo, inclusive, todos os

dispositivos citados como violados, e que, por essa razão, a

decisão merecia ser mantida.

Em relação ao artigo da Lei Complementar 105/2001, o ministro

Márcio Eurico esclareceu que, conforme assegurou o Tribunal

Regional, esse dispositivo somente possibilita a comunicação

da ocorrência de alguma movimentação bancária suspeita

às autoridades competentes (financeira ou policial), “às

quais compete proceder à investigação devida, caso reputem

necessário, de sorte que o referido dispositivo não confere

às instituições financeiras poderes investigatórios”. Dessa

forma, concluiu que a averiguação empreendida pelo banco

caracteriza quebra de sigilo bancário de sua empregada.

A Oitava Turma acompanhou o voto do relator e negou

provimento ao agravo de instrumento. (AIRR - 18440-

56.2008.5.10.0003 / Notícia: 13/01/2011)

Bradesco é condenado a pagar R$ 35 mil por assédio

moral

A Quinta Turma do Tribunal Superior do Trabalho não conheceu

(rejeitou) recurso do Banco Bradesco contra decisão do Tribunal

Regional do Trabalho da 17ª Região (ES), que o condenou ao

pagamento de R$ 35 mil por danos morais. A ação foi iniciada

por um ex-empregado vítima de assédio moral que havia

conseguido comprovar o nexo de causalidade entre seus

problemas psicológicos e os atos discriminatórios

cometidos pelo seu superior hierárquico.

Segundo o acórdão regional, o laudo técnico

apresentado pelo empregado foi conclusivo

no sentido de que, à época, o empregado

sofreu transtornos psicológicos

decorrentes do tratamento discriminatório

que recebia do seu superior hierárquico,

combinado com o estresse decorrente da

sobrecarga de trabalho a que foi

submetido, apresentando quadro de

depressão, com intensas ideias de morte

(suicídio). Diante disso, para o Regional, ficou

comprovado o assédio moral. O Banco recorreu

ao TST.

Para o relator do acórdão no TST, ministro Emmanoel Pereira, é

dever do empregador respeitar o empregado, zelando pela

sua saúde mental e liberdade de trabalho, sua intimidade e

vida privada, não devendo praticar atos que exponham o

empregado “a situações humilhantes, constrangedoras,

ridículas, degradantes, vexatórias, discriminatórias,

tendentes a incutir na psique do trabalhador ideia de

fracasso decorrente de uma suposta incapacidade

profissional”.

O ministro observou que a Constituição de 1988 assegura a

inviolabilidade da intimidade, da vida privada, da honra e da

imagem das pessoas, assim como o direito à indenização pelo

dano moral decorrente de sua violação, quando comprovado o

dano, o nexo de causalidade e a culpa.

Segundo o ministro Emmanoel, foram demonstrados os

elementos configuradores do ato ilícito: o dano,

caracterizado pelos transtornos psicológicos depressivos; o

nexo de causalidade, proveniente do tratamento desigual,

dispensado pelo superior hierárquico que levou o empregado ao

estresse; e a culpa, configurada na intensa pressão da chefia e

ameaça de demissão. Segundo o relator, “aquele que viola

direito e causa dano a outrem é obrigado a repará-lo (artigos

186, 187 e 927 do Código Civil Brasileiro)”.

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Quanto ao valor da indenização, questionado pelo Banco, o

relator destacou que o Regional, ao fixar a quantia, pautou-se

nos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade.

(RR-31300-93.2005.5.17.0005 / Notícia: 14/01/2011)

Família de trabalhador alcoólatra que se suicidou

após demissão será indenizada

Infraero (Empresa Brasileira de Infra-estrutura Aeroportuária)

terá que indenizar a família de um empregado alcoólatra que se

suicidou meses depois de ter sido demitido sem justa causa

pela empresa. O valor da indenização por danos morais foi

fixado em R$ 200 mil em decisão unânime da Primeira Turma

do Tribunal Superior do Trabalho.

No caso relatado pelo ministro Walmir Oliveira da Costa, a

Justiça do Trabalho do Paraná tinha considerado indevido o

pedido de indenização, por entender que não havia nexo de

causalidade entre a demissão e o dano sofrido (suicídio). O

Tribunal da 9ª Região concluiu ainda que a Infraero não tinha

obrigação de compensar a família do trabalhador, tendo em

vista a legalidade do ato de dispensa.

Entretanto, o ministro Walmir destacou que, desde 1967, a

Organização Mundial de Saúde considera o alcoolismo uma

doença grave e recomenda que o assunto seja tratado como

problema de saúde pública pelos governos. Segundo a OMS, a

síndrome de dependência do álcool é doença, e não desvio

de conduta que justifique a rescisão do contrato de

trabalho.

Portanto, esclareceu o relator, o empregado era portador de

doença grave (alcoolismo) e deveria ter tido seu contrato de

trabalho suspenso para tratamento médico. De fato, o

alcoolismo comprometia a produção do trabalhador (ele era

sistematicamente advertido pela chefia e chegou a pedir

demissão que foi recusada). A questão é que, ao dispensar o

empregado, mesmo que sem justa causa, a empresa

inviabilizou o seu atendimento nos serviços de saúde e até

eventual recebimento de aposentadoria provisória,

enquanto durasse o tratamento.

O ministro Walmir explicou que a indenização, na hipótese, não

dizia respeito ao suicídio, mas sim em razão da dispensa

abusiva, arbitrária, de empregado portador de doença grave

(alcoolismo). O suicídio apenas seria causa de agravamento

da condenação. Para o relator, na medida em que ficou

comprovado o evento danoso, é devida a reparação do dano

moral sofrido pela vítima, pois houve abuso de direito do

empregador quando demitira o trabalhador alcoólatra, que

culminou com o seu suicídio.

Para chegar à quantia de R$ 200mil de indenização, o relator

levou em conta os princípios de razoabilidade e

proporcionalidade, as circunstâncias do caso e o caráter

pedagógico e punitivo da medida.

De acordo com a OMS, pelo menos 2,3 milhões de pessoas

morrem por ano no mundo em conseqüência de problemas

relacionados ao consumo de álcool (3,7% da mortalidade

mundial). (RR-1957740-59.2003.5.09.0011 / Notícia:

14/01/2011)

Eletricista que perdeu os braços ganha R$ 550 mil por

danos morais e estéticos

Um eletricista que perdeu os dois braços em virtude de acidente

de trabalho conseguiu indenização de R$ 550 mil. A Primeira

Turma do Tribunal Superior do Trabalho não conheceu do

recurso de revista da Companhia Paranaense de Energia

(Copel), mantendo-se, na prática, acórdão do Tribunal Regional

do Trabalho da 9ª Região (PR) que condenou a empresa a

pagar indenização por danos morais e estéticos ao trabalhador.

Segundo a petição inicial, o eletricista trabalhava na

manutenção de linhas de alta tensão da empresa. Em 12 de

junho de 2003, o empregado foi acionado pela equipe de

plantão para vistoriar uma linha elétrica rompida pela queda de

uma árvore. Segundo o planejamento de trabalho entregue ao

trabalhador, constava a informação de que a rede de energia

local estava desligada. Mesmo assim, o eletricista checou isso

por rádio, sendo confirmado que a rede estava desativada. O

eletricista, então, ao se posicionar com as ferramentas e o

detector de tensão para começar o trabalho, encostou seu braço

em um cabo energizado, sofrendo forte choque elétrico, o que

levou à amputação dos braços.

Diante disso, o trabalhador propôs ação trabalhista contra a

Copel requerendo uma reparação por danos materiais

equivalente a uma pensão mensal no valor de seu salário até

completar 65 anos de idade e o pagamento de indenização por

danos morais e estéticos.

Ao analisar o pedido do trabalhador, o Juízo de Primeiro Grau

condenou a empresa a pagar uma pensão mensal de 50%

sobre a maior remuneração recebida pelo eletricista a partir da

rescisão contratual até os 65 anos de idade. Quanto aos outros

prejuízos, o juiz determinou que a empresa pagasse R$ 300 mil

por danos morais e R$ 250 mil por danos estéticos. O juiz

conclui que, tanto pela responsabilidade objetiva (que não

depende de prova, mas somente da relação entre a atividade de

risco e o dano), quanto pela responsabilidade subjetiva (a qual

depende de prova de culpa ou dolo do empregador) a empresa

deveria ser responsabilizada.

Para o juiz, a Copel teve culpa no evento. A empresa

descumpriu as suas próprias normas ao enviar uma equipe

incompleta, sem a presença obrigatória de um encarregado; não

fiscalizou o uso pelo eletricista de equipamentos de proteção,

bem como induziu a equipe ao erro ao informar que a linha

estava desligada.

Inconformada, a empresa recorreu ao Tribunal Regional do

Trabalho da 9ª Região (PR), alegando culpa exclusiva do

trabalhador no acidente.

O TRT, entretanto, manteve a sentença. Segundo o acórdão

Regional, o eletricista exercia atividade perigosa, o que atrai a

incidência da responsabilidade objetiva do empregador, sendo

desnecessária qualquer comprovação quanto à culpa ou dolo

por parte da empresa.

Com isso, a Copel interpôs recurso de revista ao TST, sob o

argumento de que somente poderia indenizar o eletricista se

tivesse agido com culpa ou dolo, o que, segundo a empresa,

não ocorreu. Para a empresa, esse não era o caso de se aplicar

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a responsabilidade objetiva, ainda que a atividade fosse de

risco.

O relator do recurso de revista na Primeira Turma, ministro Luiz

Philippe Vieira de Mello Filho, não deu razão à empresa. Para o

ministro, nesse caso, em que o eletricista esteve sujeito a

riscos superiores aos inerentes à prestação subordinada de

serviços dos demais trabalhadores do país, deve incidir o

artigo 927, parágrafo único do Código Civil de 2002.

Este dispositivo estabeleceu que aquele que, por ato ilícito,

causar dano a alguém deverá repará-lo, independentemente

de culpa, quando a atividade normalmente desenvolvida pelo

autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos

de outrem (teoria do risco da atividade, que não depende de

prova de culpa de quem deu causa ao evento ilícito).

Vieira de Mello ressaltou que o legislador ordinário, ao instituir a

responsabilidade civil objetiva no novo Código Civil, estabeleceu

uma regra geral apta a suprir a carência do sistema de

responsabilidade civil subjetiva, quando ela for ineficaz à defesa

dos direitos e garantias previstos na Constituição Federal.

Assim, a Primeira Turma, ao seguir o voto do relator, decidiu,

por unanimidade, não conhecer do recurso de revista da Copel,

mantendo-se o acórdão do TRT que condenou a

empresa a pagar R$ 550 mil por danos morais e

estéticos ao eletricista. (RR-1022400-

33.2004.5.09.0015 / Notícia: 24/01/2011)

Vale-transporte: direito do

trabalhador e obrigação do

empregador

De acordo com a Primeira Turma do

Tribunal Superior do Trabalho, a legislação

que disciplina o vale-transporte permite a

conclusão de que é encargo do empregador

comprovar que estava desobrigado de conceder

o benefício, seja porque forneceu transporte para o

deslocamento do empregado da residência para o local de

trabalho (e vice-versa), seja porque o trabalhador optou por não

fazer uso desse direito.

No recurso de revista examinado pelo ministro Vieira de Mello

Filho, a empresa de Calçados Bibi foi condenada pela Justiça

do Trabalho gaúcha a pagar a ex-empregado indenização

correspondente ao valor gasto por ele com passagens em

transporte coletivo para ir de casa ao serviço e vice-versa

(quantia equivalente a R$2,00 por dia, no período de 15.05.2001

a 15.05.2002).

A empresa contestou a decisão e alegou que o empregado não

provara o preenchimento dos requisitos para a obtenção do

benefício, nos termos da Orientação Jurisprudencial nº 215 da

Seção de Dissídios Individuais do TST, que estabelece como

ônus do empregado comprovar que satisfaz os requisitos

indispensáveis à obtenção do vale-transporte.

Entretanto, o relator negou provimento ao recurso da empresa e

foi acompanhado pelos demais integrantes da Turma. O

ministro Vieira esclareceu que o vale-transporte, instituído pela

Lei nº 7.418/85, prevê que o empregador, pessoa física ou

jurídica, deverá antecipar o benefício ao empregado para

utilização efetiva em despesas de deslocamento residência-

trabalho e vice-versa, por meio de transporte público coletivo

(artigo 1º).

O relator ainda destacou que, conforme o Decreto nº 95.247/87,

que regulamentou a matéria, o empregador fica desobrigado de

conceder o vale-transporte se proporcionar, por meios próprios

ou contratados, o deslocamento dos seus trabalhadores. E para

receber o vale-transporte, o empregado deverá informar o

endereço residencial e os transportes adequados ao seu

deslocamento.

Portanto, concluiu o ministro Vieira, a legislação criou um direito

para os trabalhadores e uma obrigação para os empregadores.

O empregador ficaria livre da obrigação de conceder o

benefício somente em duas situações: se fornecer o

transporte (direta ou indiretamente) ou se o empregado

optar por não utilizar o vale-transporte.

Assim, no início do contrato de trabalho, o empregador deve

procurar saber o local de residência do empregado e os

serviços de transporte disponíveis para permitir o deslocamento

do trabalhador da residência até o local de prestação dos

serviços e vice-versa. O decreto, inclusive, prevê que a

existência de falsa declaração ou uso indevido do

benefício pelo trabalhador constitui falta grave.

De qualquer forma, na avaliação do ministro

Vieira, compete ao empregador guardar

as informações prestadas pelo

empregado acerca da concessão do

vale-transporte, até para posterior

utilização como meio de prova em

eventual reclamação trabalhista. Como, no

caso, inexistia documento que isentasse a

empresa da obrigação de conceder o vale-

transporte, permanece a obrigação de indenizar

o ex-empregado. (RR-54500-28.2005.5.04.0382 /

Notícia: 17/01/2011)

Empresa pode filmar empregado trabalhando, desde

que ele saiba

Desde que haja conhecimento dos empregados, é regular o

uso, pelo empregador, de sistema de monitoramento que

exclua banheiros e refeitórios, vigiando somente o local

efetivo de trabalho. O Ministério Público do Trabalho da 17ª

Região (ES) não conseguiu provar, na Justiça do Trabalho, a

existência de dano moral coletivo pela filmagem dos

funcionários da Brasilcenter - Comunicações Ltda. nos locais de

trabalho. O caso chegou até o Tribunal Superior do Trabalho e,

ao ser examinado pela Sexta Turma, o agravo de instrumento

do MPT foi rejeitado.

Os empregados da Brasilcenter trabalham com telemarketing e

não há ilegalidade ou abusividade da empresa em filmá-los

trabalhando, pois, segundo o Tribunal Regional do Trabalho da

17ª Região (ES), a vigilância com câmera apenas no local

efetivo de trabalho, terminais bancários e portas principais não

representa violação à intimidade do empregado. O Tribunal

Regional chegou a questionar “o que de tão íntimo se faz

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durante seis horas, trabalhando na atividade de telemarketing,

que não possa ser filmado”.

Antes do recorrer ao TRT/ES, o MPT já tinha visto seu pedido

de danos morais coletivos ser indeferido na primeira instância.

Ao examinar o caso, o Regional considerou razoável a

justificativa da empresa para a realização do procedimento, com

o argumento da necessidade de proteger o patrimônio dela, por

haver peças de computador de grande valor e que podem

facilmente ser furtadas.

O Tribunal do Espírito Santo destacou, ainda, que a empresa

não realiza gravação, mas simplesmente filmagem, e que não

se pode falar em comportamento clandestino da Brasilcenter,

pois documentos demonstram a ciência, pelos empregados, a

respeito da existência das filmagens, antes mesmo do

ajuizamento da ação. O TRT, então, rejeitou o recurso ordinário

do MPT, que interpôs recurso de revista, cujo seguimento foi

negado pela presidência do Tribunal Regional. Em seguida, o

Ministério Público interpôs agravo de instrumento, tentando

liberar o recurso de revista.

No TST, o relator da Sexta Turma, ministro Mauricio Godinho

Delgado, ao analisar o agravo de instrumento, confirmou, como

concluíra a presidência do TRT, a impossibilidade de verificar,

no acórdão do Regional, a divergência jurisprudencial e a

afronta literal a preceitos constitucionais alegados pelo MPT. O

ministro ressaltou a necessidade da especificidade na

transcrição de julgados com entendimentos contrários para a

verificação da divergência jurisprudencial. Nesse sentido, o

relator frisou que a matéria é “de cunho essencialmente

interpretativo, de forma que o recurso, para lograr êxito, não

prescindiria da transcrição de arestos com teses contrárias” e

que, sem essa providência, “não há como veicular o recurso de

revista por qualquer das hipóteses do artigo 896 da CLT”.

O relator destacou, ainda, citando a Súmula 221, II, do Tribunal,

já estar pacificado no TST que “interpretação razoável de

preceito de lei - no caso, o artigo 5º, V e X, da Constituição -,

ainda que não seja a melhor, não dá ensejo à admissibilidade

ou conhecimento de recurso de revista, havendo necessidade

de que a violação esteja ligada à literalidade do preceito”.

Seguindo o voto do relator, a Sexta Turma negou provimento ao

agravo de instrumento. (AIRR - 69640-74.2003.5.17.0006 /

Notícia: 18/01/2011)

Agredido com uma coronhada busca indenização por

sequelas

A definição da data em que inicia o prazo prescricional, em caso

de doença decorrente de acidente de trabalho, dá muita dor de

cabeça aos magistrados e às vítimas que buscam a reparação

pelos danos sofridos. No caso de um empregado de um posto

de gasolina agredido por um cliente, a coronhada recebida no

rosto acabou por gerar vários problemas de saúde que o

incapacitaram para o trabalho. Para a Sexta Turma do Tribunal

Superior do Trabalho, o prazo prescricional começou a

contar a partir da aposentadoria por invalidez e não da data

da agressão, como definiu a instância regional, que extinguiu o

processo por prescrição.

A decisão da Sexta Turma abre novas perspectivas para o

trabalhador, pois, ao considerar o início do prazo prescricional

pela data da aposentadoria do autor, o colegiado do TST

afastou a prescrição pronunciada pelo Tribunal Regional do

Trabalho da 8ª Região (PA/AP) e determinou o retorno dos

autos ao Regional para que aprecie o pedido do empregado. A

ação pleiteando indenização por danos morais e materiais foi

ajuizada em 14/05/2008. Nessa data, segundo o Tribunal

Regional, a pretensão de reparação do dano já estava prescrita,

considerando-se o início da contagem a partir de 13/06/2004,

dia da agressão, classificada como acidente de trabalho.

Sequelas

Tudo começou no dia 13/06/2004. O trabalhador exercia suas

atividades no Auto Posto Azulino Ltda. quando foi agredido por

um policial militar que lhe deu uma coronhada no rosto. Após a

ocorrência, a vítima apresentou várias sequelas, inclusive um

acidente vascular cerebral (AVC), que, segundo laudo pericial,

decorreram da coronhada, pois o autor não tinha problemas de

pressão arterial nem afastamentos do serviço anteriormente. De

acordo com o perito, a lesão ocorreu de modo desencadeado.

Em seu recurso ao TST, o trabalhador alegou que somente em

01/11/2007 foi concedida a aposentadoria por invalidez. E

salientou que, antes disso, não havia sido declarada

oficialmente sua incapacidade para o trabalho. O autor informou

que nunca lhe foi oferecida a comunicação de acidente de

trabalho (CAT), documento que poderia servir como marco

inicial para a propositura da ação, levando-se em consideração

a data do acidente, como entendeu o Regional. Destacou,

ainda, que até a propositura da ação o benefício foi registrado

como auxílio doença, exatamente porque não era detentor da

CAT.

TST Ao examinar o caso, o relator do recurso de revista,

ministro Aloysio Corrêa da Veiga, ressaltou o caráter gradativo e

progressivo da manifestação da lesão ocorrida com o

trabalhador. O relator entende que a “contagem do prazo

prescricional ocorre a partir do momento em que o

empregado toma conhecimento inequívoco da doença em

caráter irreversível, que nem sempre se dá com o primeiro

momento da ciência da moléstia”.

Nesse sentido, o ministro Aloysio citou a Súmula 278 do

Superior Tribunal de Justiça, consagrando o entendimento de

que “o termo inicial do prazo prescricional, na ação de

indenização, é a data em que o segurado teve ciência

inequívoca da incapacidade laboral”. Assim, de acordo com o

ministro, apesar de o Tribunal Regional ter considerado que foi

em 13/06/2004 o momento em que o trabalhador teve ciência de

sua doença, “essa foi apenas a ocasião em que ele sofreu o

acidente de trabalho”.

O ministro frisa que “apenas pela concessão da aposentadoria

por invalidez é que o autor conheceu a extensão do dano

sofrido e, por conseguinte, a sua incapacidade para o trabalho,

razão pela qual deve ser considerado a partir de então o marco

inicial para a fluência do prazo prescricional”. Em decisão

unânime, a Sexta Turma afastou a prescrição e determinou o

retorno dos autos ao Tribunal Regional da 8ª Região para que

examine o recurso ordinário do trabalhador. (RR - 74200-

26.2008.5.08.0009 / Notícia: 25/01/2011)

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Preparação contínua para a Magistratura do Trabalho

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Atividade comercial em feriado depende de

autorização de norma coletiva

Vale inclusive para supermercados e empresas que comercializem alimentos perecíveis a lei que determina que o funcionamento aos feriados do comércio em geral depende de autorização em convenção coletiva de trabalho e cumprimento de legislação municipal. Com esse

entendimento, a Oitava Turma do Tribunal Superior do Trabalho julgou que as empresas Adição Distribuição Express Ltda. e Comercial de Alimentos SBH Ltda., de Pará de Minas (MG), não poderão mais exigir, sem que haja autorização prevista em norma coletiva de trabalho, que seus empregados trabalhem aos feriados. A controvérsia teve início com a ação do Sindicato dos Empregados no Comércio de Pará de Minas, pleiteando que as empresas fossem proibidas de abrir aos feriados. O sindicato alegou que a Lei 11.603/2007 somente permite o exercício da atividade comercial quando há autorização em norma coletiva e em lei municipal. Na primeira instância, o pedido dos trabalhadores foi atendido. Interesse público

A Adição Distribuição e a SBH, então, recorreram ao Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região (MG), que modificou a sentença, por considerar que as empresas, ao comercializarem alimentos perecíveis - atividade necessária à população em geral -, são destinatárias de norma especial, contida no Decreto 27.048/1949. Por essa razão, seu funcionamento aos domingos e feriados não está regulamentado pela Lei 10.101/2000 com as alterações da Lei 11.603/2007, que, segundo o TRT, diz respeito ao funcionamento do comércio varejista em geral. Porém, em relação ao comércio de gêneros alimentícios de primeira necessidade, o TRT julgou que é um ramo regido por norma especial - a Lei 605/1949 e seu regulamento. O artigo 8º dessa lei autoriza o trabalho nos dias de feriados civis e religiosos, nos casos em que a execução do serviço for imposta pelas exigências técnicas das empresas. O Decreto 27.048/49, ao regulamentar a Lei 605/1949, discriminou as atividades que seriam permitidas nos dias de repouso, para atendimento do interesse público. As atividades comerciais com permissão para funcionamento aos domingos e feriados, listadas no decreto, são as dos varejistas de peixe, de carnes frescas e caça, de frutas e verduras, de aves e ovos; venda de pão e biscoitos; varejistas de produtos farmacêuticos; flores e coroas; barbearias; postos de gasolina; locadores de bicicletas e similares; hotéis, restaurantes, pensões, bares, cafés, confeitarias, leiterias,

sorveterias e bombonerias; hospitais, clínicas, casas de saúde e ambulatórios; casas de diversões (inclusive estabelecimentos esportivos em que o ingresso seja pago); limpeza e alimentação de animais em estabelecimentos de avicultura; feiras livres e mercados, inclusive os transportes inerentes; porteiros e cabineiros de edifícios residenciais; e serviços de propaganda aos domingos. O Tribunal Regional entendeu que “a intenção do legislador, quando autorizou o funcionamento do comércio de gêneros alimentícios de primeira necessidade, foi a de resguardar o interesse público. Por isso mesmo não é razoável sustentar que a regra contida na Lei 605/1949 e seu regulamento tivesse sido

revogada pela Lei 10.101/2000”. Ressaltou, ainda, que a autorização da Lei 605/1949 também inclui o

funcionamento de hospitais e serviços funerários, “não se concebendo a possibilidade do

fechamento desse tipo de estabelecimento aos domingos e feriados”. TST

Após a decisão do Tribunal de Minas Gerais, o sindicato dos trabalhadores recorreu ao TST. Para a ministra Dora

Maria da Costa, relatora do recurso de revista, prevalece a aplicação do artigo

6º-A da Lei 10.101/2000, que trata do trabalho em feriados nas atividades do

comércio em geral, permitindo o funcionamento de estabelecimentos, como

supermercados, em feriados, mediante autorização em norma coletiva de trabalho e observada a legislação municipal. De acordo com a relatora, a Lei 605/1949, ao dispor sobre o repouso semanal remunerado e o pagamento de salário nos dias feriados, é “de índole mais genérica”.

A ministra ressaltou que, apesar de não ignorar a realidade, quanto à urgência do atendimento às necessidades da população em dias de feriados, “não se pode também olvidar a realidade do trabalhador, compelido a laborar em feriados civis ou religiosos, sendo inconcebível admitir que uma lei datada de dezembro de 2007 seja solenemente relegada”. Além disso, a relatora acrescentou que o TST já

proferiu decisões nesse mesmo sentido, e citou precedentes de relatoria dos ministros Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira, Aloysio Corrêa da Veiga, Maria Cristina Irigoyen Peduzzi (atual presidente da Oitava Turma) e Rosa Maria Weber. Ao julgar o recurso de revista, então, a Oitava Turma, por maioria, modificou o entendimento regional e restabeleceu a sentença, julgando procedente a ação do sindicato, determinando às empresas a obrigação de se absterem de exigir ou receber trabalho de seus empregados, no todo ou em parte, nos feriados, sem autorização prevista em acordo ou convenção coletiva de trabalho. O voto divergente foi do

Direito Coletivo do Trabalho

Informativo de Jurisprudência

Trabalhista

Elaborado a partir das notícias do

Tribunal Superior do Trabalho (TST)

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ministro Márcio Eurico Vitral Amaro, que não conhecia do recurso, entendendo ser possível o trabalho em feriados nas duas empresas. (RR - 30600-61.2008.5.03.0148 / Notícia:

20/01/2011)

Empregador pode parcelar participação nos lucros com negociação coletiva

O pagamento aos empregados de valores relativos à participação nos lucros ou resultados da empresa pode ocorrer de forma parcelada e mensal desde que a medida tenha sido aprovada em norma coletiva. Foi o que aconteceu no caso envolvendo ex-empregado da Indústria de Veículos Volkswagen. Por meio de negociação coletiva, a parcela passou a ser paga como antecipação, na razão de 1/12 avos do valor da participação nos lucros, a fim de minimizar perdas salariais dos trabalhadores. Na Justiça do Trabalho, o ex-operário da empresa questionou a forma de recebimento da participação nos lucros. Alegou que o artigo 3º, § 2º, da Lei nº 10.101/2000 estabelece que a antecipação ou distribuição a título de participação nos lucros deve ocorrer em periodicidade nunca inferior a um semestre ou mais de duas vezes no ano cível. Como consequência, pediu a integração da parcela ao salário. O Tribunal do Trabalho de Campinas (15ª Região), apesar de reconhecer a existência de norma coletiva tratando da questão, concluiu que havia divergência com o comando da Lei nº 10.101/2000. Por esse motivo, o TRT determinou a integração da parcela paga mensalmente a título de participação nos lucros ao salário do empregado - o que se refletiu no cálculo de outras parcelas devidas pela Volks. Mas quando a natureza jurídica da parcela participação nos lucros e resultados foi discutida na Oitava Turma do Tribunal Superior do Trabalho, a presidente e relatora do recurso de revista da Volks, ministra Maria Cristina Peduzzi, esclareceu que a questão deve ser decidida com amparo nos princípios constitucionais da autonomia coletiva e da valorização da negociação coletiva (nos termos dos artigos 7º, XXVI, e 8º, da Constituição Federal). Para a relatora, a decisão regional desrespeitou o princípio constitucional que garante o reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho (artigo 7º,

XXVI), pois a cláusula que instituiu a verba indenizatória e o seu pagamento parcelado está de acordo com a prerrogativa conferida pela Constituição a trabalhadores e empregadores. O acordo coletivo tornou realidade o direito dos empregados à participação nos lucros ou resultados das empresas, desvinculada da remuneração, conforme previsto no artigo 7º, XI, do texto constitucional. Segundo a ministra Cristina Peduzzi, a legislação ordinária não pode ser interpretada de forma restritiva ao exercício das garantias constitucionais. No caso, a negociação coletiva

estabeleceu o pagamento de parcela constitucionalmente desvinculada da remuneração, ainda que de maneira diferente da disposição legal. Contudo, como não houve vício de consentimento das partes, o acordo deve ser prestigiado e

cumprido. Nesse ponto, a relatora deu provimento ao recurso da empresa para julgar improcedente o pedido do trabalhador de integração da parcela referente à participação nos lucros ao salário e foi acompanhada pelos demais integrantes da Turma. O trabalhador ainda apresentou embargos de declaração que foram rejeitados pelo colegiado. (RR-48000-89.2005.15.0009 /

Notícia: 25/01/2011)

Indeterminação de horários invalida acordo que amplia intervalo de almoço

A prorrogação do intervalo intrajornada de duas horas – tempo para descanso e alimentação durante a jornada de trabalho – pode ser autorizada por acordo coletivo, mas os horários de intervalo devem ser preestabelecidos, pois, do

contrário, há risco de ingerência patronal na vida privada do empregado. Foi o que aconteceu a um motorista de ônibus do Paraná: em uma mesma quinzena, ele cumpriu intervalos de oito horas, jornadas com intervalos fracionados e, em outros dias, nem sequer teve período de descanso. Após a rejeição, pela Oitava Turma do Tribunal Superior do Trabalho, do recurso das empregadoras quanto à questão, o trabalhador receberá o pagamento, como hora extra, do tempo de descanso superior a duas horas. A decisão da Oitava Turma manteve o entendimento do Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região (PR), que considerou ter ocorrido, no caso, abuso de direito das empregadoras - em relação à duração do intervalo a ser cumprido pelo trabalhador - em detrimento da limitação da liberdade do empregado. O Regional verificou que a escala de trabalho era estipulada diariamente, com variação de rotas, horários e intervalos, com visível prejuízo ao motorista, causando-lhe extrema desordem em seus horários pessoais, diante de “longos ou curtos intervalos, de maneira variável, dia após dia, pela vontade patronal”. Diante disso, invalidou a autorização para prorrogação das duas horas e os fracionamentos dos intervalos, considerando o tempo excedente como horas extraordinárias. As empresas de transporte rodoviário de passageiros recorreram ao TST, alegando a existência de acordo coletivo permitindo a adoção de intervalo intrajornada superior ao limite de duas horas, mas a Oitava Turma manteve a decisão regional, ao não conhecer do apelo quanto a esse tópico. Segundo a ministra Dora Maria da Costa, relatora do recurso de revista, apesar de o TST se posicionar no sentido da possibilidade de ampliação do intervalo intrajornada, “é primordial para sua validade que haja definição do período pela norma coletiva ou pactuação individual complementar”.

A relatora esclareceu que o artigo 71 da CLT, em seu caput, prevê a adoção do intervalo intrajornada superior ao limite legal, desde que haja prévio acordo escrito entre as partes ou fixação em norma coletiva. No entanto, a ministra ressaltou que esse dispositivo deve ser interpretado de forma a “resguardar o seu objetivo legal e os princípios que regem as relações trabalhistas”. Ao verificar os prejuízos causados ao trabalhador, submetido

a jornadas em que havia intervalo superior a duas horas, outras com intervalos fracionados e dias sem intervalos, a ministra frisou a importância do intervalo intrajornada, observando que se trata de norma que tem como objetivo a manutenção do estado físico e psíquico do trabalhador após um tempo de trabalho. Por fim, a relatora destacou que “não se pode relevar as normas protetivas da saúde, medicina e segurança do trabalho, de ordem pública, nem mesmo por meio de negociação coletiva, como é o caso, em que a cláusula não delimita o tempo de descanso do empregado”. (RR - 184200-70.2007.5.09.0019 / Notícia: 27/01/2011)

Convenção coletiva não pode suprimir horas itinerantes

É possível, coletivamente, negociar e fixar uma estimativa diária, semanal ou mensal de horas referente ao tempo despendido no percurso da residência ao local de trabalho. No entanto, a negociação coletiva não pode suprimir o direito. Com

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esse entendimento, a Sexta Turma do Tribunal Superior do Trabalho reformou acórdão regional e determinou o retorno dos autos à Vara do Trabalho de origem para que seja apurada a quantidade de horas itinerantes - ou in itinere - gastas por um empregado da Safi Brasil Energia S.A., empresa localizada no Mato Grosso do Sul. O Tribunal Regional do Trabalho da 24ª Região (MS) manteve a sentença que indeferiu o pedido do trabalhador para receber as horas itinerantes do período de 1º/5/2008 a 30/4/2009, por verificar que havia convenção coletiva eliminando a parcela. O TRT julgou válida a pactuação, considerando que não se tratava de direito indisponível e que deveria ser respeitada a vontade das partes. Ressaltou, ainda, que o sindicato, em contrapartida, havia conquistado outros benefícios para a categoria, elencados na cláusula que suprimia as horas itinerantes. Inconformado com a decisão, o empregado recorreu ao TST. O ministro Mauricio Godinho Delgado, relator do recurso de revista julgado na Sexta Turma, explicou que a flexibilização quanto às horas in itinere por meio de norma coletiva era válida até 19/06/2001, com o advento da Lei 10.243/01. A partir daí, prevalece a norma legal. Segundo o relator, quando não

existia lei imperativa, mas simples entendimento jurisprudencial - ou seja, a Súmula 90 do TST-, a flexibilização era ampla. No entanto, com o surgimento da lei, acrescentando dispositivos ao artigo 58 da CLT, não há como suprimir o direito.

O relator esclareceu que a jurisprudência do TST firmou entendimento no sentido de que, em relação às horas itinerantes, “é possível à negociação coletiva estipular um montante estimativo de horas diárias, semanais ou mensais, pacificando a controvérsia, principalmente em virtude de o próprio legislador ter instituído poderes maiores à negociação coletiva neste específico tema”. No entanto, frisou o ministro Godinho Delgado, “não é viável à negociação coletiva suprimir o direito, porém apenas fixar-lhe o montante numérico”. A Sexta Turma acompanhou o voto do relator e deu provimento para condenar a empresa a pagar ao trabalhador as horas in itinere . (RR - 1195-80.2010.5.24.0000 / Notícia: 31/01/2011)

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Sétima Turma: acordo judicial não impede ação de indenização O acordo judicial celebrado antes da Emenda Constitucional nº 45/2004 não impede posterior ação com pedido de indenização por danos morais e materiais decorrentes de acidente de trabalho ou de doença profissional. Na interpretação da Sétima Turma do Tribunal

Superior do Trabalho, até a promulgação da emenda, havia dúvidas sobre a competência para examinar esses processos, ou seja, se cabia à Justiça comum ou trabalhista. No caso relatado pelo presidente da Turma, ministro Pedro Paulo Manus, um ex-empregado da Codesp (Companhia Docas do Estado de São Paulo) firmou acordo em juízo no qual deu quitação total do contrato de trabalho. Posteriormente, apresentou nova ação, desta vez na Justiça comum, com pedido de indenização por danos morais e materiais tendo em vista suposta doença ocupacional. Como a Codesp foi incorporada pela Turim Equipamentos, as empresas alegaram que era incabível o pedido porque o empregado havia dado quitação plena do extinto contrato. A Vara do Trabalho e o Tribunal Regional de São Paulo julgaram extinto o processo, sem resolução do mérito, por entenderem que se tratava de coisa julgada, ou seja, de pretensão já decidida sem possibilidade de recurso. No entanto, pela avaliação do ministro Pedro Manus, à época em que o empregado firmou o acordo na Justiça do Trabalho, ainda não tinha entrado em vigor a EC nº 45/2004 – tanto que a ação de reparação foi ajuizada na Justiça comum (só mais tarde os autos foram encaminhados à Justiça trabalhista). Até a emenda, portanto, prevalecia o entendimento de que a competência para examinar situações dessa natureza era da Justiça comum. Assim, somente com a nova redação dada pela emenda, o artigo 114, IV, da Constituição previu expressamente a competência da Justiça do Trabalho para apreciar e julgar “as ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da relação de trabalho”. O ministro Manus também observou que o Supremo Tribunal Federal, ao decidir a questão, adotou como marco temporal para fixação da competência da Justiça do Trabalho a promulgação da emenda.

Nessas condições, o relator concluiu que não é possível admitir que, por meio do referido acordo, o empregado tenha dado quitação de parcelas que poderiam ser postuladas na Justiça comum. Por consequência, o ministro

afastou a declaração de coisa julgada manifestada pelas

instâncias ordinárias e determinou o retorno do processo à Vara de origem para analisar o pedido do trabalhador. (RR-1601-87.2006.5.02.0442 / Notícia: 10/01/2011)

IR é devido sobre o total da dívida trabalhista reconhecida em juízo

A Seção I Especializada em Dissídios Individuais do Tribunal Superior do Trabalho isentou o Banco Banestado do

pagamento de indenização a ex-empregada decorrente de eventuais diferenças no valor de imposto de renda a ser

recolhido pela trabalhadora. Em decisão unânime, a SDI-1 acompanhou voto do relator dos embargos da

empresa, ministro Lelio Bentes Corrêa.

O relator explicou que a incidência do imposto de renda sobre o total da dívida trabalhista reconhecida em juízo é determinada por lei, sendo impossível atribuir prática de ato ilícito ao empregador por efetuar o recolhimento do tributo devido pela empregada. Além

do mais, não há previsão legal que sustente o pedido de indenização da

trabalhadora por eventuais diferenças constatadas entre o valor do imposto de renda

decorrente de condenação judicial e o que seria devido caso as parcelas trabalhistas tivessem sido

pagas no momento certo. O Tribunal do Trabalho do Paraná (9ª Região) tinha condenado o banco a pagar indenização pelos prejuízos causados à empregada na apuração dos valores a serem recolhidos de imposto de renda. Para o TRT, se as quantias devidas pelo empregador tivessem sido quitadas nas épocas próprias, os descontos seriam menores, logo a atitude da empresa provocara dano ao patrimônio da empregada. No recurso de revista apresentado pelo banco ao TST, a discussão sobre o cabimento de indenização à trabalhadora em decorrência da retenção do imposto de renda sobre o valor total dos créditos oriundos de condenação judicial nem chegou a acontecer na Segunda Turma. O colegiado concluiu que não estavam presentes os requisitos do artigo 896 da CLT para autorizar o julgamento do mérito do recurso. Na SDI-1, o banco alegou que não havia base jurídica para imputar somente ao empregador o encargo de proceder ao recolhimento do imposto de renda e, menos ainda, o dever de indenizar a trabalhadora. A empregada, por sua vez, insistiu na tese de que, se os créditos salariais tivessem sido pagos no tempo certo, o encargo tributário seria menor (alíquota menor) – daí a obrigação do banco de indenizar. Contudo, o ministro Lelio Bentes esclareceu que a

Direito Processual do Trabalho

Informativo de Jurisprudência

Trabalhista

Elaborado a partir das notícias do

Tribunal Superior do Trabalho (TST)

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responsabilidade civil (objetiva ou subjetiva) pressupõe a configuração da prática de ato ilícito que ocasione dano a terceiro (nos termos dos artigos 186 e 927 do Código Civil). Na hipótese, como a conduta do banco não contrariou o ordenamento jurídico ao efetuar o recolhimento do imposto de renda sobre o valor total da condenação, descabe qualquer pedido de indenização.

Segundo o relator, ainda que seja razoável a alegação de prejuízo sofrido pela empregada (dano patrimonial), não existe responsabilidade civil do empregador e a ocorrência de ato ilícito no caso, pois a incidência do imposto de renda sobre o valor total fixado em sentença condenatória é prevista em lei. O desconto fiscal tem por fato gerador a existência de sentença condenatória e a disponibilidade para a trabalhadora dos valores definidos. Desse modo, afirmou o

ministro Lelio, quando a lei determina que o tributo seja retido na fonte, deixa claro que a incidência ocorrerá sobre a totalidade da quantia recebida. Por conseqüência, a contribuição a encargo do trabalhador deve ser retida pelo empregador – exatamente como havia feito o banco. Por fim, o relator destacou que os juros de mora e a correção monetária têm caráter indenizatório, porque são equiparados a perdas e danos, conforme o artigo 404 do Código Civil, o que significa que essas parcelas não sofrem a incidência da contribuição fiscal.

A decisão da SDI-1 foi unânime com ressalva de entendimento do ministro Augusto César Leite de Carvalho. (RR-1255600-30.2002.5.09.0011 / Notícia: 11/01/2011)

Custas podem ser pagas em banco da Rede Arrecadadora de Receitas Federais

A Primeira Turma do Tribunal Superior do Trabalho considera válido o recolhimento das custas processuais e do depósito recursal feito em instituição bancária diversa da Caixa Econômica Federal e do Banco do Brasil, desde que integrante da Rede Arrecadadora de Receitas Federais. O colegiado acompanhou, à unanimidade, voto de relatoria do ministro Walmir Oliveira da Costa no sentido de afastar a deserção decretada pelo Tribunal do Trabalho mineiro (3ª Região) e determinar o julgamento de um recurso ordinário do Banco Rural contra sentença favorável a ex-empregado da empresa. O Regional tinha entendido que o recurso da empresa estava deserto, porque o pagamento das custas processuais e do depósito recursal havia sido feito em agência do próprio Banco Rural, e não como deveria, ou seja, na CEF, no Banco do Brasil ou em outra instituição autorizada. Na avaliação do TRT, o recolhimento, nessas condições, constituiria abuso do poder econômico e não observava a finalidade do depósito recursal. No entanto, o ministro Walmir observou que, no caso de recurso, basta que as custas sejam pagas no valor estipulado na sentença e fique comprovado o recolhimento dentro do prazo recursal (artigo 789, §1º, da CLT). De acordo

com o relator, a Instrução Normativa nº 20 (item IV) do TST exige apenas que as custas e os emolumentos sejam recolhidos nas instituições financeiras integrantes da Rede Arrecadadora de Receitas Federais. Quanto ao depósito recursal, a IN nº 26 do TST estabelece que o pagamento pode ser feito em agência da Caixa ou banco conveniado, sendo pacífico o entendimento de que o convênio independe de prova, por ser fato notório (Súmula

nº 217 do TST).

O ministro Walmir ainda esclareceu que a IN nº 18 do TST entende válida, para fins de comprovação do depósito recursal na Justiça do Trabalho, a guia com o nome das partes, número do processo, designação do juízo por onde tramitou o processo e a explicitação do valor depositado, desde que autenticada pelo banco recebedor. Como, na hipótese examinada, é possível identificar o processo, as partes e o valor, e o Banco Rural compõe a Rede Arrecadadora (segundo a Secretaria da Receita Federal), a exigência de recolhimento das custas e do depósito recursal na CEF ou Banco do Brasil fere o direito de ampla defesa da parte assegurado pela Constituição (artigo 5º, LV), concluiu o relator. (RR-157500-87.2005.5.03.0021 / Notícia: 13/01/2011)

Primeira Turma decide quórum mínimo para julgamento de agravo de petição

A Primeira Turma do Tribunal Superior do Trabalho autorizou o processamento de um recurso de revista do espólio de ex-empregado das Lojas Americanas para examinar o quórum mínimo necessário no julgamento de agravo de petição. Em decisão unânime, o colegiado acompanhou voto do ministro Walmir Oliveira da Costa e deu provimento ao agravo de instrumento apresentado pela parte. A família do trabalhador recorreu ao TST depois que o Tribunal do Trabalho da 1ª Região (RJ) rejeitou um agravo de petição que contestava a execução da sentença. No próprio TRT, a parte alegou a nulidade do julgamento por falta de quórum mínimo para deliberação, pois o colegiado era composto por três juízes e apenas dois participaram, uma vez que o terceiro declarou-se suspeito. Mas, para o Regional, o artigo 672, §1º, da CLT estabelece a

imprescindibilidade da presença de três juízes para deliberação, não obrigatoriamente que haja decisão por parte de todos eles. Ou seja, a presença de três juízes é quórum mínimo para o funcionamento da Turma (quórum de presença), e não para a decisão dos processos (quórum de deliberação). O

quórum mínimo de votos necessários a uma deliberação é o de dois juízes, concluiu o Regional. Já no entendimento do ministro Walmir, de fato, a deliberação da Turma do TRT com apenas dois juízes contaminou o julgamento do agravo de petição, pois houve desrespeito ao comando constitucional que garante o contraditório e a ampla defesa aos litigantes (artigo 5º, LV) e dispõe sobre as condições do exercício dos órgãos da Justiça do Trabalho (artigo 113). Ainda na avaliação do relator, o TRT violou o direito de defesa da parte ao proferir julgamento com menosprezo do quórum mínimo de três juízes e o princípio do juiz natural - quando devem ser observadas as normas de organização judiciária. Por essas razões, o ministro Walmir admitiu o agravo de instrumento do espólio do trabalhador para que, em outra sessão da Primeira Turma do TST, a questão possa ser rediscutida em recurso de revista da parte. (AIRR-190240-66.1984.5.01.0029 / Notícia: 21/01/2011)

Oitava Turma desautoriza levantamento de depósito recursal de 60 salários mínimos

Um ex-vendedor do Ponto Frio - cuja razão social é Globex Utilidades S.A. - terá mesmo que esperar pela fase de execução do processo para receber o que lhe é devido pela empresa. Apesar de lhe ter sido facultado pelo Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região (MG) o levantamento do depósito recursal no limite de 60 salários mínimos, a Oitava Turma do

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Tribunal Superior do Trabalho reformou a decisão do TRT e desautorizou o saque. Para o ministro Márcio Eurico Vitral Amaro, relator do recurso de revista, a decisão do Tribunal Regional ofende os artigos 128 e 460 do CPC. Ao esclarecer os motivos da decisão da Oitava Turma, o relator citou que o Tribunal Regional, aplicando o artigo 475-O do CPC, facultou ao trabalhador o levantamento do depósito recursal sem o correspondente pedido do autor. Além disso, o relator destacou que o TST “firmou entendimento no sentido de que o dispositivo em questão – artigo 475-O - é inaplicável no processo do trabalho”.

O ministro Márcio Eurico concluiu então que, “se o instituto em questão não é aplicável no processo do trabalho, muito menos sem o correspondente pedido do autor”. Para o ministro, ficou demonstrado o julgamento extra petita - ou seja, fora do pedido formulado na reclamação, o que resulta em nulidade do julgamento. Fundamentação do TRT

O trabalhador obteve reconhecimento na Justiça do Trabalho de Minas Gerais de direito a verbas relativas, entre outras, a intervalo intrajornada e adicional de 100% das horas extras. Além disso, nessa fase de conhecimento do processo, o TRT/MG, considerando a natureza alimentar do crédito trabalhista, possibilitou ao autor levantar, do depósito que existe nos autos, a quantia de até 60 salários mínimos, e declarou a hipoteca judicial sobre os bens da empresa, no valor suficiente para garantia da execução. De acordo com o Regional “recursos e mais recursos processuais retardam e até inibem a concretude da tutela jurisdicional”. Dessa forma, o TRT entendeu que seria aplicável ao processo do trabalho, subsidiariamente, a regra do artigo 475-O do CPC, “impondo-se o levantamento pelo empregado, a requerimento ou de ofício, da importância até o limite de 60 salários mínimos, porque se trata de crédito de natureza alimentar e o estado de necessidade do empregado possui presunção absoluta, pois essa sua condição está na estrutura do Direito do Trabalho, de modo que negá-la é negar o próprio Direito do Trabalho”.

Incorformada com a decisão, a empresa recorreu ao TST, insurgindo-se, entre vários pontos, contra a declaração de hipoteca judicial e a determinação de levantamento de depósito recursal pelo autor, alegando que estava na fase de conhecimento do processo e não havia nenhum pedido, nessa fase recursal, pela aplicação do artigo 475-O do CPC de forma subsidiária. A Oitava Turma não conheceu do recurso quanto aos outros temas, examinando no mérito somente a questão de julgamento extra petita do levantamento do depósito recursal, por violação dos artigos 128 e 460 do CPC, desautorizando o levantamento do depósito recursal existente nos autos. Impedida, no julgamento do processo, a ministra Maria Cristina Irigoyen Peduzzi. (RR - 5100-06.2009.5.03.0003 / Notícia: 17/01/2011)

Primeira Turma não vê irregularidade em penhora de conta conjunta

A pessoa que tem conta conjunta com sócio de empresa executada pode sofrer penhora dos valores depositados. Pelo

entendimento unânime da Primeira Turma do Tribunal Superior

do Trabalho, não há irregularidade quando ocorre a penhora do dinheiro nessas situações, porque, ao manter uma conta conjunta, as partes assumiram o risco. O relator do caso julgado na Turma, ministro Vieira de Mello Filho, explicou que, numa conta conjunta, os dois correntistas podem usufruir livremente dos depósitos, sem a necessidade de autorização do outro. Portanto, uma conta corrente dessa natureza não torna irregular a penhora realizada para garantir a execução de débito reconhecido em sentença judicial. Um aposentado que possuía conta conjunta com a sócia de uma empresa que estava sendo executada recorreu ao Tribunal do Trabalho de São Paulo (2ª Região) com o argumento de que não podia ter a conta penhorada, uma vez que nem mesmo participara da ação que originou a dívida. Alegou que a conta tinha natureza salarial e juntou comprovante de que o dinheiro depositado era proveniente de causa ganha em ação trabalhista. Para o TRT, entretanto, era impossível separar os valores de cada um dos correntistas. Concluiu que existiam riscos nessa modalidade de conta, como agora verificado pelo

aposentado, sendo inútil a discussão sobre a origem dos valores depositados. Assim, o Regional negou seguimento ao recurso de revista da parte para o TST. Com o agravo de instrumento apresentado ao TST, o

aposentado tentou rediscutir a questão. Insistiu na tese de que os valores depositados na conta

conjunta eram benefícios de aposentadoria, por ser funcionário público estadual, e que os

créditos possuíam caráter alimentar. Mas a Primeira Turma acompanhou o voto do relator, ministro Vieira de Mello Filho, e negou provimento ao apelo. Segundo o relator, o ato de penhora não desrespeitou as garantias constitucionais

do contraditório e da ampla defesa da parte (artigo 5º, LIV), nem o direito de

propriedade ou o princípio de que ninguém será privado de seus bens sem o devido

processo legal (artigo 5º, XXII e LIV).

De acordo com o ministro Vieira, a jurisprudência do TST (conforme a Orientação Jurisprudencial nº 153 da Seção II de Dissídios Individuais) considera a conta corrente destinada ao recebimento de salários impenhorável, nos termos do artigo 649, IV, do CPC. Contudo, na hipótese examinada, não é possível aplicar esse dispositivo, na medida em que a conta pertence também à sócia de empresa executada, não se destinando ao recebimento de verbas relativas ao trabalho do aposentado. Na avaliação do relator, de fato, é irrelevante, como afirmou o TRT, a discussão quanto à origem do dinheiro, pois os valores de benefícios previdenciários ou de salários são impenhoráveis até o momento em que a pessoa os deposita em conta - depois esses valores perdem a natureza alimentar ou de salário e assumem a condição de valor de investimento ou aplicação comum. O ministro Vieira observou

ainda que a parte também não tem direito de reivindicar 50% do valor da conta corrente penhorado. (AIRR-229140-84.2008.5.02.0018 / Notícia: 26/01/2011)