Upload
ebeji-wwwebejicombr
View
213
Download
0
Embed Size (px)
DESCRIPTION
Informativo de jurisprudência trabalhista da EBEJI.
Citation preview
Este informativo é uma cortesia da Escola Brasileira de Ensino Jurídico na Internet - EBEJI. 1
http://grupos.ebeji.com.br – Informativo de Jurisprudência Nº 01 – Fevereiro/2011
Preparação contínua para a Magistratura do Trabalho
GEMAT Resolução de questões
objetivas, subjetivas e
sentenças
www.gemat.com.br
Sétima Turma garante indenização a professor
demitido nas férias escolares
A projeção do aviso prévio para data posterior a das férias
escolares não retira do professor o direito ao pagamento de
indenização em caso de dispensa sem justa causa, previsto
em lei (artigo 322, §3º, da CLT). Segundo a norma, se o
professor for demitido injustamente ao término do ano letivo ou
no curso das férias escolares, deve receber os salários
correspondentes ao período.
Por esse motivo, em decisão unânime a
Sétima Turma do Tribunal Superior do
Trabalho condenou a Creche Experimental
Dinamis a indenizar uma professora
demitida em 22/01/2007. Como
esclareceu o relator do recurso de revista
da trabalhadora, ministro Pedro Paulo
Manus, presidente da Turma, a professora
precisa ser compensada pela demissão em
pleno período de férias escolares, quando o
mercado de trabalho está fechado.
Na primeira instância e no Tribunal do Trabalho da 1ª
Região (RJ), o pedido de indenização feito pela professora
havia sido negado. Para o TRT, na medida em que a dispensa
foi formalizada em 22/01/2007, com aviso prévio indenizado,
considera-se projetado o contrato de trabalho para 20/02/2007
(data do término do aviso). Assim, como o ano letivo teve início
em 1º/02/2007, a empregada não tinha direito à indenização.
Na Sétima Turma, a professora insistiu no argumento de que a
projeção do aviso prévio não podia afastar o seu direito à
indenização. Requereu o pagamento dos dias restantes desde a
data da dispensa até a data de início do ano letivo. De acordo
com a trabalhadora, a decisão do Regional desrespeitou a CLT
e a Súmula nº 10 do TST que trata da matéria.
O ministro Pedro Manus concluiu que, de fato, o aviso prévio
integra o tempo de serviço da trabalhadora e sua vigência tem
início a partir do dia seguinte ao da comunicação da rescisão
contratual. Mas, pela análise da norma da CLT e da Súmula nº
10, é assegurado ao professor o pagamento dos salários
relativos ao período de férias escolares, na hipótese de ele
ser despedido sem justa causa – como ocorreu no caso.
Desse modo, afirmou o relator, a condição para recebimento da
indenização não é a data da efetiva extinção do contrato de
trabalho (término do aviso prévio), e sim a data em que
aconteceu a comunicação da despedida. Se for mantido o
entendimento de que deve ser considerada a projeção do aviso
prévio, quando a rescisão ocorrer nas férias do primeiro período
letivo (janeiro), sempre haverá a extensão para o mês de
fevereiro, inviabilizando o pagamento da indenização
estabelecida em lei.
Na avaliação do ministro Manus, portanto, a finalidade da lei
de proteger o professor demitido durante o primeiro
período do ano letivo não seria alcançada com o
entendimento do TRT. Como a trabalhadora
perdeu o emprego num momento em que não
se consegue outro, pois o mercado já
promoveu as contratações necessárias,
deve ser indenizada como forma de
compensação, garantiu o relator. (RR-
51600-66.2007.5.01.0065 / Notícia:
12/01/2011)
Enfermeira de município, dispensada
grávida, ganha indenização
Uma enfermeira, contratada temporariamente pelo
município de Vila Valério (ES) e dispensada com três meses de
gravidez, conseguiu indenização substitutiva referente ao
período de estabilidade provisória de gestante. A Sexta Turma
do Tribunal Superior do Trabalho deu provimento ao recurso de
revista da trabalhadora.
A enfermeira havia firmado contrato temporário com o município
de Vila Valério (ES) para atender situação emergencial. Ela
alega que foi dispensada após o município tomar ciência de sua
gravidez.
Diante disso, a trabalhadora propôs ação trabalhista,
requerendo o reconhecimento do vínculo de emprego, o
pagamento de direitos trabalhistas e a reintegração ao trabalho,
pois estaria amparada pela estabilidade provisória da gestante.
Ao analisar o pedido da enfermeira, o juízo de Primeiro Grau
não reconheceu o vínculo de emprego e consequentemente
indeferiu os outros pedidos de natureza trabalhista. Segundo o
juiz, o contrato em questão foi de natureza administrativa, com
base no artigo 37, inciso IX, da Constituição Federal, que não
gera vínculo de emprego com a administração. Esse dispositivo
constitucional autoriza o administrador público a realizar
contratos temporários, sem concurso público, para atender
necessidade excepcional estabelecida em lei específica.
Direito Individual do Trabalho
Informativo de Jurisprudência
Trabalhista
Elaborado a partir das notícias do
Tribunal Superior do Trabalho (TST)
Este informativo é uma cortesia da Escola Brasileira de Ensino Jurídico na Internet - EBEJI. 2
http://grupos.ebeji.com.br – Informativo de Jurisprudência Nº 01 – Fevereiro/2011
Inconformada, a enfermeira recorreu ao Tribunal Regional do
Trabalho da 17ª Região (ES). O TRT declarou a nulidade do
contrato de trabalho por ausência de concurso público, contudo
deferiu o pagamento do FGTS.
Com isso, a enfermeira interpôs recurso de revista ao TST,
sustentando possuir o direito de receber pelo menos os salários
concernentes ao período da licença maternidade, independente
da natureza do contrato de trabalho.
O relator do recurso na Turma, ministro Maurício Godinho
Delgado, deu razão à trabalhadora. Segundo o ministro,
independente da validade da relação jurídica havida entre
as partes (contrato nulo ou não), a dispensa da empregada
gestante gera o direito de indenização.
Isso porque, nesse caso, prevalece o direito fundamental de
proteção à vida (caput do artigo 5° da Constituição Federal),
consubstanciado nos princípios da dignidade da pessoa
humana e do valor social do trabalho, ressaltou o ministro.
Assim, a Sexta Turma, ao seguir o voto do relator, decidiu, por
unanimidade, condenar o município a pagar à enfermeira uma
indenização substitutiva relativa ao período de estabilidade
provisória da gestante, compreendido entre o momento da
dispensa e o termo final da estabilidade. (RR-33240-
84.2004.5.17.0181 / Notícia: 10/01/2011)
Empregado demitido em período eleitoral ganha
indenização
Quando o empregado da Companhia de Saneamento do
Paraná (Sanepar) foi demitido, sem justa causa, em 10/09/2004,
faltavam menos de três meses para as eleições municipais de
03/10/2004. E de acordo com a legislação eleitoral (artigo 73, V,
da Lei nº 9.504/97), os agentes públicos não podem demitir
sem justa causa na circunscrição do pleito, nos três meses
que o antecedem e até a posse dos eleitos.
Por causa da dispensa abusiva, o trabalhador recorreu à Justiça
do Trabalho com pedido de reintegração no emprego.
Entretanto, o Tribunal paranaense (9ª Região) concluiu que,
apesar de a rescisão contratual ter ocorrido dentro dos três
meses que antecederam as eleições para prefeito, a lei eleitoral
não assegurava estabilidade no emprego aos trabalhadores.
Para o TRT, a demissão foi ato legítimo da empresa (sociedade
de economia mista), e não era caso de reintegração.
No recurso de revista apresentado ao Tribunal Superior do
Trabalho, o empregado insistiu na tese de que tinha direito à
reintegração por força da lei eleitoral. Invocou a aplicação à
hipótese da Orientação Jurisprudencial nº 51 da Seção I de
Dissídios Individuais do TST, segundo a qual a lei é destinada
também ao pessoal do regime celetista dos quadros de
empresas públicas e sociedades de economia mista.
De fato, esclareceu o relator do processo, ministro Walmir
Oliveira da Costa, a norma eleitoral foi desrespeitada, na
medida em que, expressamente, proíbe a demissão sem
justa causa de servidores públicos no período de três
meses que antecedem às eleições - regra extensiva aos
empregados de sociedades de economia mista como na
situação analisada.
Na avaliação do ministro Walmir, como o trabalhador foi
dispensado no período em que possuía garantia de emprego,
a empresa tinha a obrigação de pagar indenização
equivalente ao tempo da estabilidade. Esse entendimento foi
acompanhado pelos demais ministros da Primeira Turma do
TST.(RR-1736640-80.2004.5.09.0016 / Notícia: 19/01/2011)
Adicional de insalubridade deve ser pago com base
no salário mínimo até nova legislação
Mesmo depois que o Supremo Tribunal Federal editou a
Súmula Vinculante nº 4 que proíbe o uso do salário mínimo
como indexador de base de cálculo de vantagem salarial de
empregado, a Justiça do Trabalho continua aplicando esse
indicador para calcular o adicional de insalubridade devido.
Foi o que aconteceu quando a Seção II de Dissídios
Individuais do Tribunal Superior do Trabalho anulou decisão
da Oitava Turma do próprio TST e determinou que o adicional
de insalubridade a ser pago pela Saur Equipamentos aos
empregados substituídos pelo Sindicato dos Trabalhadores nas
Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de
Panambi fosse calculado com base no salário mínimo.
A empresa ajuizou ação rescisória com pedido de liminar para
suspender a execução do processo em que havia sido
condenada pela Turma ao pagamento do adicional de
insalubridade tendo como referência o salário normativo da
categoria. Alegou que a súmula do STF não autorizava o uso
dessa base de cálculo, porque estabelece, expressamente, que
o indexador não pode ser definido por decisão judicial.
Na avaliação da relatora, juíza convocada Maria Doralice
Novaes, de fato, a súmula estabelece que “salvo os casos
previstos na Constituição Federal, o salário mínimo não pode
ser usado como indexador de base de cálculo de vantagem de
servidor público ou de empregado, nem ser substituído por
decisão judicial”.
E se não existisse a ressalva final, assim como se utiliza o
salário base do trabalhador para o cálculo do adicional de
periculosidade (nos termos do artigo 193, §1º, da CLT) também
seria possível a aplicação da mesma regra para o adicional de
insalubridade, uma vez que tanto a insalubridade quanto a
periculosidade são fatores de risco para os empregados.
Entretanto, o Supremo decidiu não adotar nenhum novo
parâmetro em substituição ao salário mínimo. Declarou
inconstitucional a norma que estabelece o uso do salário
mínimo como base de cálculo do adicional de insalubridade
(artigo 192 da CLT), mas a manteve regendo as relações
trabalhistas, na medida em que o Judiciário não pode substituir
o legislador para definir outro critério, esclareceu a relatora.
Em resumo, até que seja editada norma legal ou
convencional estabelecendo parâmetro distinto do salário
mínimo para calcular o adicional de insalubridade,
continuará a ser considerado o salário mínimo para o
cálculo desse adicional.
Este informativo é uma cortesia da Escola Brasileira de Ensino Jurídico na Internet - EBEJI. 3
http://grupos.ebeji.com.br – Informativo de Jurisprudência Nº 01 – Fevereiro/2011
Estudando para Analista Judiciário? Aumente suas
chances com
GEAJU Direcionado aos concursos
do TRF, TRT e TRE Saiba mais em
www.geaju.com.br
Por essas razões, a juíza Doralice anulou a decisão da Turma
para determinar que o adicional de insalubridade seja calculado
sobre o salário mínimo, conforme acórdão do Tribunal do
Trabalho gaúcho (4ª Região). Esse entendimento foi
acompanhado, à unanimidade, pelos demais integrantes da
SDI-2.(AR-26089-89.2010.5.00.0000 / Notícia: 07/01/2011)
Uso de água sanitária na limpeza não dá adicional de
insalubridade
Pelo contato com água sanitária e detergentes ao efetuar a
limpeza de banheiros, uma servente que trabalhou em creches,
escola e posto de saúde do município de Penha, no estado de
Santa Catarina, não faz jus ao recebimento do adicional de
insalubridade. A Sexta Turma do Tribunal Superior do Trabalho,
considerando que a atividade da trabalhadora não está entre as
que se enquadram na Norma Regulamentadora nº 15 do
Ministério do Trabalho e Emprego, modificou decisão que
deferia o adicional.
Relator do recurso de revista e presidente da Sexta Turma, o
ministro Aloysio Corrêa da Veiga explicou que “os
produtos de limpeza utilizados na higienização de
banheiros - saponáceos, detergentes e
desinfetantes, de uso doméstico, inclusive -
detêm concentração reduzida de
substâncias químicas (álcalis cáusticos),
destinadas à remoção dos resíduos, não
oferecendo risco à saúde do
trabalhador, razão por que não
asseguram o direito ao adicional de
insalubridade”.
Sem proteção
A trabalhadora pleiteou o pagamento de adicional
de insalubridade sob a alegação de que, na função de
servente/merendeira, se expunha a agentes insalubres na
limpeza dos banheiros, manuseando produtos químicos, tais
como água sanitária, detergentes, alvejante, entre outros, sem o
uso de equipamentos de proteção individual. Informou, ainda,
ter recebido o adicional até outubro de 2005 e que, apesar de
suprimido o benefício, suas atividades não sofreram alteração.
De acordo com laudo técnico, a servente manipulava produtos
de limpeza que contêm álcalis cáusticos - água sanitária - e, por
essa razão, deveria receber o pagamento de adicional de
insalubridade em grau médio, de acordo com o Anexo 13 da
NR-15 da Portaria nº 3.214/78, do MTE. O município foi
condenado, em primeira instância, ao pagamento do adicional,
recorrendo, então, ao Tribunal Regional do Trabalho da 12ª
Região (SC), que manteve a sentença.
Para o ministro Aloysio, a jurisprudência do TST está
pacificada no sentido de não reconhecer exposição a
insalubridade na atividade de limpeza de banheiro, pela
utilização de produtos químicos na rotina de faxina, em
relação a álcalis cáusticos. Entre os vários precedentes
citados, o relator informou um em que o ministro Luiz Philippe
Vieira de Mello Filho esclarece que a NR-15, em seu Anexo 13,
ao tratar do manuseio de álcalis cáusticos, se refere “ao
produto bruto, em sua composição plena, e não ao diluído
em produtos de limpeza habituais”.
A Sexta Turma, seguindo o voto do relator, deu provimento ao
recurso do município para excluir da condenação o pagamento
do adicional de insalubridade. (RR - 1968-61.2010.5.12.0000
/ Notícia: 21/01/2011)
Empregada consegue integrar ao salário auxílio-
alimentação pago por terceiro
Auxílio-alimentação suplementar pago por terceiro levou uma
empregada do Hospital das Clínicas a reivindicar a integração
daquela parcela ao seu salário. A sentença foi favorável à
trabalhadora, contudo, o Tribunal Regional do Trabalho da 15.ª
Região (Campinas/SP) reformou a decisão. Ela recorreu à
instância superior e, por decisão da Sexta Turma do Tribunal
Superior do Trabalho, deu-se o restabelecimento da sentença.
Ao interpor seu recurso, a empregada salientou que apesar de a
instituição que lhe pagava o auxílio-alimentação, Fundação de
Apoio ao Ensino, Pesquisa e Assistência do Hospital das
Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão
Preto da Universidade de São Paulo - Faepa,
não ser sua real empregadora, o recebimento
do benefício dava-se somente pelo fato de
ela trabalhar para o Hospital das Clínicas.
Segundo analisou o Tribunal Regional, o
benefício percebido pela empregada não
advinha de ato exclusivo do empregador,
pois era fornecido, em parte, pelo Estado
de São Paulo e, outra parte, era oriunda da
Faepa. Desse modo, o auxílio em questão
era suportado por duas pessoas jurídicas, com
personalidades jurídicas próprias.
O TRT observou ainda que o valor pago diretamente pelo
Estado de São Paulo não excedia os 20% fixados pelo artigo
458, §3.º, da CLT, e o restante, além de se tratar de valor
variável, advém de terceiro. Assim, no entendimento do
Regional, a pretensão da trabalhadora estaria definitivamente
rechaçada.
Na Sexta Turma do TST, porém, o ministro Aloysio Corrêa da
Veiga, relator do acórdão, considerou que a parcela auxílio-
alimentação paga pela Faepa aos empregados do Hospital se
dava em decorrência do contrato de trabalho. “Trata-se, na
realidade, de valor devido pelo empregador, e meramente
repassado por terceiro, o que não retira a origem contratual
da parcela”, observou. O vale-alimentação, portanto, possui
natureza salarial, integrando a remuneração do empregado,
para todos os efeitos legais, concluiu a relatoria.
Com esse entendimento, a Sexta Turma, unanimemente,
conheceu do recurso da empregada e restabeleceu a
sentença.(RR-203600-24.2008.5.15.0066 / Notícia: 27/01/2011)
Este informativo é uma cortesia da Escola Brasileira de Ensino Jurídico na Internet - EBEJI. 4
http://grupos.ebeji.com.br – Informativo de Jurisprudência Nº 01 – Fevereiro/2011
Norma interna faz empresa pagar adicional de até
150% para intervalo não usufruído
Por norma interna da Empresa de Trens Urbanos de Porto
Alegre S.A. (Trensurb), a hora extra nos dias normais de
trabalho era paga com adicional de 100% e as dos feriados e
repouso semanal com adicional de 150%. Com base nessa
norma e na jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho,
que considera o intervalo intrajornada não usufruído
equiparado à hora extra, a Sexta Turma do TST determinou
que a Trensurb pague, com adicional de 100% ou 150%,
conforme o dia trabalhado, a hora diária de descanso para
alimentação e repouso não concedida a um funcionário.
Sem nenhum registro de intervalo intrajornada no período de
outubro de 2000 a agosto de 2001, o empregado já havia obtido
essa decisão na primeira instância. No entanto, ao examinar o
recurso ordinário da empresa, o Tribunal Regional do Trabalho
da 4ª Região (RS) reduziu o adicional para 50%. O trabalhador,
então, recorreu ao TST em busca de sua pretensão.
Ressalvas
Relator do recurso de revista, o ministro Augusto César Leite de
Carvalho frisou que, pela jurisprudência do TST, “o intervalo
intrajornada não usufruído equipara-se à hora extra
propriamente dita, devendo ser remunerado como tal”. Citando
vários precedentes nesse sentido, o ministro Augusto César
disse que se rendeu ao argumento, mas ressalvou seu
entendimento e destacou em sessão que a norma interna da
Trensurb que fixa o adicional não faz menção ao intervalo
suprimido.
Para ele, apesar de o artigo 71, parágrafo 4º, da CLT ter fixado,
para a não concessão do intervalo, uma sanção pecuniária de
valor igual à remuneração mínima de uma hora extraordinária,
“os adicionais têm finalidades distintas”. O relator entende que
“um se destina a remunerar a hora efetivamente trabalhada e o
outro visa estimular o empregador a cumprir o mencionado
preceito legal, além de compensar o empregado pela não
fruição do descanso a que tinha direito”.
No entanto, seguindo a jurisprudência do Tribunal e havendo
norma interna da empresa assegurando a remuneração das
horas extras com o adicional de 100% nos dias normais de
trabalho e de 150% nos dias de descanso semanal, o ministro
Augusto César concluiu que “os mesmos adicionais devem
ser utilizados para o pagamento do período correspondente
ao intervalo intrajornada não gozado pelo empregado”.
A Sexta Turma, então, por unanimidade, deu provimento ao
recurso para determinar que no cálculo do pagamento do
intervalo intrajornada não usufruído seja considerado o adicional
de 100% para os dias normais de trabalho e de 150% para os
dias trabalhados durante o repouso semanal, como previsto na
norma interna da empresa. (RR - 107900-49.2005.5.04.0028 /
Notícia: 26/01/2011)
Turma admite terceirização no setor de
telecomunicações
A polêmica sobre a legalidade da terceirização de atividades
inerentes aos serviços de telecomunicações será analisada em
breve pela Seção I de Dissídios Individuais do Tribunal Superior
do Trabalho. O colegiado deverá uniformizar a jurisprudência do
TST, uma vez que existem decisões divergentes entre as
Turmas sobre a matéria.
Na Oitava Turma, por exemplo, vem sendo vitoriosa a tese de
que é possível a contratação de empresa interposta para
prestação de atividades inerentes ao serviço desenvolvido pelas
concessionárias de telecomunicações, na medida em que a Lei
Geral das Telecomunicações (nos termos do artigo 94, II, da Lei
nº 9.472/97) ampliou as hipóteses de terceirização.
Com base nesse fundamento, a relatora de um recurso de
revista da Tim, ministra Dora Maria da Costa, afastou o
reconhecimento de vínculo de emprego diretamente com essa
empresa de trabalhadora contratada pela A&C Centro de
Contatos para prestar serviços de “call center” à operadora. Por
maioria de votos, a Turma restabeleceu a sentença de origem
que havia julgado improcedente a ação da empregada.
Já o Tribunal do Trabalho mineiro (3ª Região) tinha dado razão
à empregada, porque considera o serviço prestado pela
empresa terceirizada de “call center” (atendimento de clientes
por telefone) ligado à atividade-fim da tomadora dos serviços - o
que tornaria ilícita a terceirização.
De acordo com o TRT, portanto, como havia fraude na
terceirização dos serviços prestados pela trabalhadora, o
vínculo de emprego era com a beneficiária do trabalho (Tim).
Por consequência, a empregada que atuava como
coordenadora e supervisora dos serviços de “call center” tinha
direito às vantagens previstas nos instrumentos coletivos
firmados entre a concessionária e o sindicato da categoria.
Mas, ao examinar o recurso da Tim, a ministra Dora Costa
observou que, enquanto não for declarada a
inconstitucionalidade do inciso II do artigo 94 da Lei nº 9.472/97,
segundo o qual a concessionária poderá contratar com terceiros
o desenvolvimento de atividades inerentes, acessórias ou
complementares ao serviço, a terceirização está autorizada em
relação à atividade-fim ou inerente das empresas de
telecomunicações.
Desse modo, explicou a relatora, é irrelevante a discussão se
a função desempenhada pela empregada enquadra-se
como atividade-fim ou meio da Tim, tendo em vista a licitude
da terceirização estabelecida em lei.
Durante o julgamento, a presidente da Turma, ministra Maria
Cristina Peduzzi, acompanhou o entendimento da relatora, o
que garantiu a maioria dos votos, pois o ministro Márcio Eurico
Vitral Amaro adotou opinião contrária. A trabalhadora
apresentou recurso de embargos que será apreciado
futuramente na SDI-1. (RR-3540-87.2009.5.03.0016 / Notícia:
31/01/2011)
Santander é condenado por quebra de sigilo de conta
de ex-caixa
O Banco Santander (Brasil) S.A. terá que pagar R$50 a uma ex-
empregada por quebra de sigilo de sua conta corrente na época
em que trabalhava como caixa do banco. Após ser condenada
Este informativo é uma cortesia da Escola Brasileira de Ensino Jurídico na Internet - EBEJI. 5
http://grupos.ebeji.com.br – Informativo de Jurisprudência Nº 01 – Fevereiro/2011
Estudando para o Ministério Público Federal? Você tem mais um aliado:
GEMPF Grupo de Estudos para
concursos do Ministério Público Federal
www.gempf.com.br
pela Justiça do Trabalho do Distrito Federal, a empresa recorreu
ao Tribunal Superior do Trabalho, mas a rejeição do agravo de
instrumento pela Oitava Turma manteve a condenação.
Segundo a bancária, que trabalhou para o Santander por 16
anos, em dezembro de 2005 ela foi chamada à gerência geral
da agência para esclarecer se participava ou conhecia sócios de
uma determinada empresa de entretenimentos que tinha conta
no banco. Ela respondeu que utilizava um site daquela empresa
para jogar bingo. Comentando com colegas o que acontecera,
foi informada que a tal empresa era suspeita de lavagem de
dinheiro.
No dia seguinte, ao ser solicitada a entregar extratos de sua
conta bancária pelo gerente e pelo analista da Gerência de
Operações Financeiras, ela pediu que o auditor do banco
assinasse uma declaração referente à entrega, ao que ele se
negou. A bancária, então, se recusou a ceder os extratos.
Nesse momento, o auditor fez uma ocorrência relacionando
transferências da conta da bancária para o bingo desde
setembro de 2005. Segundo a empregada, a partir daí ela viveu
sob um clima de caça às bruxas, sendo finalmente demitida em
março de 2006.
Na reclamação trabalhista que ajuizou a
seguir, a bancária pleiteou indenização por
danos morais de R$280 mil, por diversas
razões: acusação de suspeita de
lavagem de dinheiro, ter sido vítima de
gritos e grosserias por parte do gerente e
do auditor, vazamento de informações
para outros funcionários e quebra de
sigilo bancário. Inicialmente seu pedido foi
indeferido na primeira instância, motivando
seu recurso ordinário ao TRT/DF, o qual
condenou o Santander a pagar a indenização de
R$50 mil, por quebra de sigilo bancário, mas não
pelas outras razões, que não foram confirmadas por provas
testemunhais.
Foi então a vez do banco interpor recurso de revista, que
recebeu despacho de seguimento negado pela presidência do
TRT, originando, então, o agravo de instrumento ao TST.
Pretendendo acabar com a condenação, a empresa alegou, no
agravo, que não repassou a terceiros as informações da conta
corrente da empregada e que o artigo 1º, parágrafo 3º, IV, da
Lei Complementar 105/2001 permite às instituições financeiras
o acesso aos dados contidos nas contas correntes que se
encontram sob sua guarda quando verificada movimentação
atípica que possa resultar na prática de ato ilícito.
Ao examinar o agravo, o relator, ministro Márcio Eurico Vitral
Amaro, ressaltou que o despacho que denegou seguimento ao
recurso de revista analisou de forma pormenorizada todas as
questões levantadas pelo banco, rebatendo, inclusive, todos os
dispositivos citados como violados, e que, por essa razão, a
decisão merecia ser mantida.
Em relação ao artigo da Lei Complementar 105/2001, o ministro
Márcio Eurico esclareceu que, conforme assegurou o Tribunal
Regional, esse dispositivo somente possibilita a comunicação
da ocorrência de alguma movimentação bancária suspeita
às autoridades competentes (financeira ou policial), “às
quais compete proceder à investigação devida, caso reputem
necessário, de sorte que o referido dispositivo não confere
às instituições financeiras poderes investigatórios”. Dessa
forma, concluiu que a averiguação empreendida pelo banco
caracteriza quebra de sigilo bancário de sua empregada.
A Oitava Turma acompanhou o voto do relator e negou
provimento ao agravo de instrumento. (AIRR - 18440-
56.2008.5.10.0003 / Notícia: 13/01/2011)
Bradesco é condenado a pagar R$ 35 mil por assédio
moral
A Quinta Turma do Tribunal Superior do Trabalho não conheceu
(rejeitou) recurso do Banco Bradesco contra decisão do Tribunal
Regional do Trabalho da 17ª Região (ES), que o condenou ao
pagamento de R$ 35 mil por danos morais. A ação foi iniciada
por um ex-empregado vítima de assédio moral que havia
conseguido comprovar o nexo de causalidade entre seus
problemas psicológicos e os atos discriminatórios
cometidos pelo seu superior hierárquico.
Segundo o acórdão regional, o laudo técnico
apresentado pelo empregado foi conclusivo
no sentido de que, à época, o empregado
sofreu transtornos psicológicos
decorrentes do tratamento discriminatório
que recebia do seu superior hierárquico,
combinado com o estresse decorrente da
sobrecarga de trabalho a que foi
submetido, apresentando quadro de
depressão, com intensas ideias de morte
(suicídio). Diante disso, para o Regional, ficou
comprovado o assédio moral. O Banco recorreu
ao TST.
Para o relator do acórdão no TST, ministro Emmanoel Pereira, é
dever do empregador respeitar o empregado, zelando pela
sua saúde mental e liberdade de trabalho, sua intimidade e
vida privada, não devendo praticar atos que exponham o
empregado “a situações humilhantes, constrangedoras,
ridículas, degradantes, vexatórias, discriminatórias,
tendentes a incutir na psique do trabalhador ideia de
fracasso decorrente de uma suposta incapacidade
profissional”.
O ministro observou que a Constituição de 1988 assegura a
inviolabilidade da intimidade, da vida privada, da honra e da
imagem das pessoas, assim como o direito à indenização pelo
dano moral decorrente de sua violação, quando comprovado o
dano, o nexo de causalidade e a culpa.
Segundo o ministro Emmanoel, foram demonstrados os
elementos configuradores do ato ilícito: o dano,
caracterizado pelos transtornos psicológicos depressivos; o
nexo de causalidade, proveniente do tratamento desigual,
dispensado pelo superior hierárquico que levou o empregado ao
estresse; e a culpa, configurada na intensa pressão da chefia e
ameaça de demissão. Segundo o relator, “aquele que viola
direito e causa dano a outrem é obrigado a repará-lo (artigos
186, 187 e 927 do Código Civil Brasileiro)”.
Este informativo é uma cortesia da Escola Brasileira de Ensino Jurídico na Internet - EBEJI. 6
http://grupos.ebeji.com.br – Informativo de Jurisprudência Nº 01 – Fevereiro/2011
Quanto ao valor da indenização, questionado pelo Banco, o
relator destacou que o Regional, ao fixar a quantia, pautou-se
nos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade.
(RR-31300-93.2005.5.17.0005 / Notícia: 14/01/2011)
Família de trabalhador alcoólatra que se suicidou
após demissão será indenizada
Infraero (Empresa Brasileira de Infra-estrutura Aeroportuária)
terá que indenizar a família de um empregado alcoólatra que se
suicidou meses depois de ter sido demitido sem justa causa
pela empresa. O valor da indenização por danos morais foi
fixado em R$ 200 mil em decisão unânime da Primeira Turma
do Tribunal Superior do Trabalho.
No caso relatado pelo ministro Walmir Oliveira da Costa, a
Justiça do Trabalho do Paraná tinha considerado indevido o
pedido de indenização, por entender que não havia nexo de
causalidade entre a demissão e o dano sofrido (suicídio). O
Tribunal da 9ª Região concluiu ainda que a Infraero não tinha
obrigação de compensar a família do trabalhador, tendo em
vista a legalidade do ato de dispensa.
Entretanto, o ministro Walmir destacou que, desde 1967, a
Organização Mundial de Saúde considera o alcoolismo uma
doença grave e recomenda que o assunto seja tratado como
problema de saúde pública pelos governos. Segundo a OMS, a
síndrome de dependência do álcool é doença, e não desvio
de conduta que justifique a rescisão do contrato de
trabalho.
Portanto, esclareceu o relator, o empregado era portador de
doença grave (alcoolismo) e deveria ter tido seu contrato de
trabalho suspenso para tratamento médico. De fato, o
alcoolismo comprometia a produção do trabalhador (ele era
sistematicamente advertido pela chefia e chegou a pedir
demissão que foi recusada). A questão é que, ao dispensar o
empregado, mesmo que sem justa causa, a empresa
inviabilizou o seu atendimento nos serviços de saúde e até
eventual recebimento de aposentadoria provisória,
enquanto durasse o tratamento.
O ministro Walmir explicou que a indenização, na hipótese, não
dizia respeito ao suicídio, mas sim em razão da dispensa
abusiva, arbitrária, de empregado portador de doença grave
(alcoolismo). O suicídio apenas seria causa de agravamento
da condenação. Para o relator, na medida em que ficou
comprovado o evento danoso, é devida a reparação do dano
moral sofrido pela vítima, pois houve abuso de direito do
empregador quando demitira o trabalhador alcoólatra, que
culminou com o seu suicídio.
Para chegar à quantia de R$ 200mil de indenização, o relator
levou em conta os princípios de razoabilidade e
proporcionalidade, as circunstâncias do caso e o caráter
pedagógico e punitivo da medida.
De acordo com a OMS, pelo menos 2,3 milhões de pessoas
morrem por ano no mundo em conseqüência de problemas
relacionados ao consumo de álcool (3,7% da mortalidade
mundial). (RR-1957740-59.2003.5.09.0011 / Notícia:
14/01/2011)
Eletricista que perdeu os braços ganha R$ 550 mil por
danos morais e estéticos
Um eletricista que perdeu os dois braços em virtude de acidente
de trabalho conseguiu indenização de R$ 550 mil. A Primeira
Turma do Tribunal Superior do Trabalho não conheceu do
recurso de revista da Companhia Paranaense de Energia
(Copel), mantendo-se, na prática, acórdão do Tribunal Regional
do Trabalho da 9ª Região (PR) que condenou a empresa a
pagar indenização por danos morais e estéticos ao trabalhador.
Segundo a petição inicial, o eletricista trabalhava na
manutenção de linhas de alta tensão da empresa. Em 12 de
junho de 2003, o empregado foi acionado pela equipe de
plantão para vistoriar uma linha elétrica rompida pela queda de
uma árvore. Segundo o planejamento de trabalho entregue ao
trabalhador, constava a informação de que a rede de energia
local estava desligada. Mesmo assim, o eletricista checou isso
por rádio, sendo confirmado que a rede estava desativada. O
eletricista, então, ao se posicionar com as ferramentas e o
detector de tensão para começar o trabalho, encostou seu braço
em um cabo energizado, sofrendo forte choque elétrico, o que
levou à amputação dos braços.
Diante disso, o trabalhador propôs ação trabalhista contra a
Copel requerendo uma reparação por danos materiais
equivalente a uma pensão mensal no valor de seu salário até
completar 65 anos de idade e o pagamento de indenização por
danos morais e estéticos.
Ao analisar o pedido do trabalhador, o Juízo de Primeiro Grau
condenou a empresa a pagar uma pensão mensal de 50%
sobre a maior remuneração recebida pelo eletricista a partir da
rescisão contratual até os 65 anos de idade. Quanto aos outros
prejuízos, o juiz determinou que a empresa pagasse R$ 300 mil
por danos morais e R$ 250 mil por danos estéticos. O juiz
conclui que, tanto pela responsabilidade objetiva (que não
depende de prova, mas somente da relação entre a atividade de
risco e o dano), quanto pela responsabilidade subjetiva (a qual
depende de prova de culpa ou dolo do empregador) a empresa
deveria ser responsabilizada.
Para o juiz, a Copel teve culpa no evento. A empresa
descumpriu as suas próprias normas ao enviar uma equipe
incompleta, sem a presença obrigatória de um encarregado; não
fiscalizou o uso pelo eletricista de equipamentos de proteção,
bem como induziu a equipe ao erro ao informar que a linha
estava desligada.
Inconformada, a empresa recorreu ao Tribunal Regional do
Trabalho da 9ª Região (PR), alegando culpa exclusiva do
trabalhador no acidente.
O TRT, entretanto, manteve a sentença. Segundo o acórdão
Regional, o eletricista exercia atividade perigosa, o que atrai a
incidência da responsabilidade objetiva do empregador, sendo
desnecessária qualquer comprovação quanto à culpa ou dolo
por parte da empresa.
Com isso, a Copel interpôs recurso de revista ao TST, sob o
argumento de que somente poderia indenizar o eletricista se
tivesse agido com culpa ou dolo, o que, segundo a empresa,
não ocorreu. Para a empresa, esse não era o caso de se aplicar
Este informativo é uma cortesia da Escola Brasileira de Ensino Jurídico na Internet - EBEJI. 7
http://grupos.ebeji.com.br – Informativo de Jurisprudência Nº 01 – Fevereiro/2011
Estudando para a Magistratura Federal?
Conheça o
GEMAF Resolução de questões objetivas, subjetivas e
sentenças inéditas www.gemaf.com.br
a responsabilidade objetiva, ainda que a atividade fosse de
risco.
O relator do recurso de revista na Primeira Turma, ministro Luiz
Philippe Vieira de Mello Filho, não deu razão à empresa. Para o
ministro, nesse caso, em que o eletricista esteve sujeito a
riscos superiores aos inerentes à prestação subordinada de
serviços dos demais trabalhadores do país, deve incidir o
artigo 927, parágrafo único do Código Civil de 2002.
Este dispositivo estabeleceu que aquele que, por ato ilícito,
causar dano a alguém deverá repará-lo, independentemente
de culpa, quando a atividade normalmente desenvolvida pelo
autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos
de outrem (teoria do risco da atividade, que não depende de
prova de culpa de quem deu causa ao evento ilícito).
Vieira de Mello ressaltou que o legislador ordinário, ao instituir a
responsabilidade civil objetiva no novo Código Civil, estabeleceu
uma regra geral apta a suprir a carência do sistema de
responsabilidade civil subjetiva, quando ela for ineficaz à defesa
dos direitos e garantias previstos na Constituição Federal.
Assim, a Primeira Turma, ao seguir o voto do relator, decidiu,
por unanimidade, não conhecer do recurso de revista da Copel,
mantendo-se o acórdão do TRT que condenou a
empresa a pagar R$ 550 mil por danos morais e
estéticos ao eletricista. (RR-1022400-
33.2004.5.09.0015 / Notícia: 24/01/2011)
Vale-transporte: direito do
trabalhador e obrigação do
empregador
De acordo com a Primeira Turma do
Tribunal Superior do Trabalho, a legislação
que disciplina o vale-transporte permite a
conclusão de que é encargo do empregador
comprovar que estava desobrigado de conceder
o benefício, seja porque forneceu transporte para o
deslocamento do empregado da residência para o local de
trabalho (e vice-versa), seja porque o trabalhador optou por não
fazer uso desse direito.
No recurso de revista examinado pelo ministro Vieira de Mello
Filho, a empresa de Calçados Bibi foi condenada pela Justiça
do Trabalho gaúcha a pagar a ex-empregado indenização
correspondente ao valor gasto por ele com passagens em
transporte coletivo para ir de casa ao serviço e vice-versa
(quantia equivalente a R$2,00 por dia, no período de 15.05.2001
a 15.05.2002).
A empresa contestou a decisão e alegou que o empregado não
provara o preenchimento dos requisitos para a obtenção do
benefício, nos termos da Orientação Jurisprudencial nº 215 da
Seção de Dissídios Individuais do TST, que estabelece como
ônus do empregado comprovar que satisfaz os requisitos
indispensáveis à obtenção do vale-transporte.
Entretanto, o relator negou provimento ao recurso da empresa e
foi acompanhado pelos demais integrantes da Turma. O
ministro Vieira esclareceu que o vale-transporte, instituído pela
Lei nº 7.418/85, prevê que o empregador, pessoa física ou
jurídica, deverá antecipar o benefício ao empregado para
utilização efetiva em despesas de deslocamento residência-
trabalho e vice-versa, por meio de transporte público coletivo
(artigo 1º).
O relator ainda destacou que, conforme o Decreto nº 95.247/87,
que regulamentou a matéria, o empregador fica desobrigado de
conceder o vale-transporte se proporcionar, por meios próprios
ou contratados, o deslocamento dos seus trabalhadores. E para
receber o vale-transporte, o empregado deverá informar o
endereço residencial e os transportes adequados ao seu
deslocamento.
Portanto, concluiu o ministro Vieira, a legislação criou um direito
para os trabalhadores e uma obrigação para os empregadores.
O empregador ficaria livre da obrigação de conceder o
benefício somente em duas situações: se fornecer o
transporte (direta ou indiretamente) ou se o empregado
optar por não utilizar o vale-transporte.
Assim, no início do contrato de trabalho, o empregador deve
procurar saber o local de residência do empregado e os
serviços de transporte disponíveis para permitir o deslocamento
do trabalhador da residência até o local de prestação dos
serviços e vice-versa. O decreto, inclusive, prevê que a
existência de falsa declaração ou uso indevido do
benefício pelo trabalhador constitui falta grave.
De qualquer forma, na avaliação do ministro
Vieira, compete ao empregador guardar
as informações prestadas pelo
empregado acerca da concessão do
vale-transporte, até para posterior
utilização como meio de prova em
eventual reclamação trabalhista. Como, no
caso, inexistia documento que isentasse a
empresa da obrigação de conceder o vale-
transporte, permanece a obrigação de indenizar
o ex-empregado. (RR-54500-28.2005.5.04.0382 /
Notícia: 17/01/2011)
Empresa pode filmar empregado trabalhando, desde
que ele saiba
Desde que haja conhecimento dos empregados, é regular o
uso, pelo empregador, de sistema de monitoramento que
exclua banheiros e refeitórios, vigiando somente o local
efetivo de trabalho. O Ministério Público do Trabalho da 17ª
Região (ES) não conseguiu provar, na Justiça do Trabalho, a
existência de dano moral coletivo pela filmagem dos
funcionários da Brasilcenter - Comunicações Ltda. nos locais de
trabalho. O caso chegou até o Tribunal Superior do Trabalho e,
ao ser examinado pela Sexta Turma, o agravo de instrumento
do MPT foi rejeitado.
Os empregados da Brasilcenter trabalham com telemarketing e
não há ilegalidade ou abusividade da empresa em filmá-los
trabalhando, pois, segundo o Tribunal Regional do Trabalho da
17ª Região (ES), a vigilância com câmera apenas no local
efetivo de trabalho, terminais bancários e portas principais não
representa violação à intimidade do empregado. O Tribunal
Regional chegou a questionar “o que de tão íntimo se faz
Este informativo é uma cortesia da Escola Brasileira de Ensino Jurídico na Internet - EBEJI. 8
http://grupos.ebeji.com.br – Informativo de Jurisprudência Nº 01 – Fevereiro/2011
durante seis horas, trabalhando na atividade de telemarketing,
que não possa ser filmado”.
Antes do recorrer ao TRT/ES, o MPT já tinha visto seu pedido
de danos morais coletivos ser indeferido na primeira instância.
Ao examinar o caso, o Regional considerou razoável a
justificativa da empresa para a realização do procedimento, com
o argumento da necessidade de proteger o patrimônio dela, por
haver peças de computador de grande valor e que podem
facilmente ser furtadas.
O Tribunal do Espírito Santo destacou, ainda, que a empresa
não realiza gravação, mas simplesmente filmagem, e que não
se pode falar em comportamento clandestino da Brasilcenter,
pois documentos demonstram a ciência, pelos empregados, a
respeito da existência das filmagens, antes mesmo do
ajuizamento da ação. O TRT, então, rejeitou o recurso ordinário
do MPT, que interpôs recurso de revista, cujo seguimento foi
negado pela presidência do Tribunal Regional. Em seguida, o
Ministério Público interpôs agravo de instrumento, tentando
liberar o recurso de revista.
No TST, o relator da Sexta Turma, ministro Mauricio Godinho
Delgado, ao analisar o agravo de instrumento, confirmou, como
concluíra a presidência do TRT, a impossibilidade de verificar,
no acórdão do Regional, a divergência jurisprudencial e a
afronta literal a preceitos constitucionais alegados pelo MPT. O
ministro ressaltou a necessidade da especificidade na
transcrição de julgados com entendimentos contrários para a
verificação da divergência jurisprudencial. Nesse sentido, o
relator frisou que a matéria é “de cunho essencialmente
interpretativo, de forma que o recurso, para lograr êxito, não
prescindiria da transcrição de arestos com teses contrárias” e
que, sem essa providência, “não há como veicular o recurso de
revista por qualquer das hipóteses do artigo 896 da CLT”.
O relator destacou, ainda, citando a Súmula 221, II, do Tribunal,
já estar pacificado no TST que “interpretação razoável de
preceito de lei - no caso, o artigo 5º, V e X, da Constituição -,
ainda que não seja a melhor, não dá ensejo à admissibilidade
ou conhecimento de recurso de revista, havendo necessidade
de que a violação esteja ligada à literalidade do preceito”.
Seguindo o voto do relator, a Sexta Turma negou provimento ao
agravo de instrumento. (AIRR - 69640-74.2003.5.17.0006 /
Notícia: 18/01/2011)
Agredido com uma coronhada busca indenização por
sequelas
A definição da data em que inicia o prazo prescricional, em caso
de doença decorrente de acidente de trabalho, dá muita dor de
cabeça aos magistrados e às vítimas que buscam a reparação
pelos danos sofridos. No caso de um empregado de um posto
de gasolina agredido por um cliente, a coronhada recebida no
rosto acabou por gerar vários problemas de saúde que o
incapacitaram para o trabalho. Para a Sexta Turma do Tribunal
Superior do Trabalho, o prazo prescricional começou a
contar a partir da aposentadoria por invalidez e não da data
da agressão, como definiu a instância regional, que extinguiu o
processo por prescrição.
A decisão da Sexta Turma abre novas perspectivas para o
trabalhador, pois, ao considerar o início do prazo prescricional
pela data da aposentadoria do autor, o colegiado do TST
afastou a prescrição pronunciada pelo Tribunal Regional do
Trabalho da 8ª Região (PA/AP) e determinou o retorno dos
autos ao Regional para que aprecie o pedido do empregado. A
ação pleiteando indenização por danos morais e materiais foi
ajuizada em 14/05/2008. Nessa data, segundo o Tribunal
Regional, a pretensão de reparação do dano já estava prescrita,
considerando-se o início da contagem a partir de 13/06/2004,
dia da agressão, classificada como acidente de trabalho.
Sequelas
Tudo começou no dia 13/06/2004. O trabalhador exercia suas
atividades no Auto Posto Azulino Ltda. quando foi agredido por
um policial militar que lhe deu uma coronhada no rosto. Após a
ocorrência, a vítima apresentou várias sequelas, inclusive um
acidente vascular cerebral (AVC), que, segundo laudo pericial,
decorreram da coronhada, pois o autor não tinha problemas de
pressão arterial nem afastamentos do serviço anteriormente. De
acordo com o perito, a lesão ocorreu de modo desencadeado.
Em seu recurso ao TST, o trabalhador alegou que somente em
01/11/2007 foi concedida a aposentadoria por invalidez. E
salientou que, antes disso, não havia sido declarada
oficialmente sua incapacidade para o trabalho. O autor informou
que nunca lhe foi oferecida a comunicação de acidente de
trabalho (CAT), documento que poderia servir como marco
inicial para a propositura da ação, levando-se em consideração
a data do acidente, como entendeu o Regional. Destacou,
ainda, que até a propositura da ação o benefício foi registrado
como auxílio doença, exatamente porque não era detentor da
CAT.
TST Ao examinar o caso, o relator do recurso de revista,
ministro Aloysio Corrêa da Veiga, ressaltou o caráter gradativo e
progressivo da manifestação da lesão ocorrida com o
trabalhador. O relator entende que a “contagem do prazo
prescricional ocorre a partir do momento em que o
empregado toma conhecimento inequívoco da doença em
caráter irreversível, que nem sempre se dá com o primeiro
momento da ciência da moléstia”.
Nesse sentido, o ministro Aloysio citou a Súmula 278 do
Superior Tribunal de Justiça, consagrando o entendimento de
que “o termo inicial do prazo prescricional, na ação de
indenização, é a data em que o segurado teve ciência
inequívoca da incapacidade laboral”. Assim, de acordo com o
ministro, apesar de o Tribunal Regional ter considerado que foi
em 13/06/2004 o momento em que o trabalhador teve ciência de
sua doença, “essa foi apenas a ocasião em que ele sofreu o
acidente de trabalho”.
O ministro frisa que “apenas pela concessão da aposentadoria
por invalidez é que o autor conheceu a extensão do dano
sofrido e, por conseguinte, a sua incapacidade para o trabalho,
razão pela qual deve ser considerado a partir de então o marco
inicial para a fluência do prazo prescricional”. Em decisão
unânime, a Sexta Turma afastou a prescrição e determinou o
retorno dos autos ao Tribunal Regional da 8ª Região para que
examine o recurso ordinário do trabalhador. (RR - 74200-
26.2008.5.08.0009 / Notícia: 25/01/2011)
Este informativo é uma cortesia da Escola Brasileira de Ensino Jurídico na Internet - EBEJI. 9
http://grupos.ebeji.com.br – Informativo de Jurisprudência Nº 01 – Fevereiro/2011
Preparação contínua para a Magistratura do Trabalho
GEMAT Resolução de questões
objetivas, subjetivas e
sentenças
www.gemat.com.br
Atividade comercial em feriado depende de
autorização de norma coletiva
Vale inclusive para supermercados e empresas que comercializem alimentos perecíveis a lei que determina que o funcionamento aos feriados do comércio em geral depende de autorização em convenção coletiva de trabalho e cumprimento de legislação municipal. Com esse
entendimento, a Oitava Turma do Tribunal Superior do Trabalho julgou que as empresas Adição Distribuição Express Ltda. e Comercial de Alimentos SBH Ltda., de Pará de Minas (MG), não poderão mais exigir, sem que haja autorização prevista em norma coletiva de trabalho, que seus empregados trabalhem aos feriados. A controvérsia teve início com a ação do Sindicato dos Empregados no Comércio de Pará de Minas, pleiteando que as empresas fossem proibidas de abrir aos feriados. O sindicato alegou que a Lei 11.603/2007 somente permite o exercício da atividade comercial quando há autorização em norma coletiva e em lei municipal. Na primeira instância, o pedido dos trabalhadores foi atendido. Interesse público
A Adição Distribuição e a SBH, então, recorreram ao Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região (MG), que modificou a sentença, por considerar que as empresas, ao comercializarem alimentos perecíveis - atividade necessária à população em geral -, são destinatárias de norma especial, contida no Decreto 27.048/1949. Por essa razão, seu funcionamento aos domingos e feriados não está regulamentado pela Lei 10.101/2000 com as alterações da Lei 11.603/2007, que, segundo o TRT, diz respeito ao funcionamento do comércio varejista em geral. Porém, em relação ao comércio de gêneros alimentícios de primeira necessidade, o TRT julgou que é um ramo regido por norma especial - a Lei 605/1949 e seu regulamento. O artigo 8º dessa lei autoriza o trabalho nos dias de feriados civis e religiosos, nos casos em que a execução do serviço for imposta pelas exigências técnicas das empresas. O Decreto 27.048/49, ao regulamentar a Lei 605/1949, discriminou as atividades que seriam permitidas nos dias de repouso, para atendimento do interesse público. As atividades comerciais com permissão para funcionamento aos domingos e feriados, listadas no decreto, são as dos varejistas de peixe, de carnes frescas e caça, de frutas e verduras, de aves e ovos; venda de pão e biscoitos; varejistas de produtos farmacêuticos; flores e coroas; barbearias; postos de gasolina; locadores de bicicletas e similares; hotéis, restaurantes, pensões, bares, cafés, confeitarias, leiterias,
sorveterias e bombonerias; hospitais, clínicas, casas de saúde e ambulatórios; casas de diversões (inclusive estabelecimentos esportivos em que o ingresso seja pago); limpeza e alimentação de animais em estabelecimentos de avicultura; feiras livres e mercados, inclusive os transportes inerentes; porteiros e cabineiros de edifícios residenciais; e serviços de propaganda aos domingos. O Tribunal Regional entendeu que “a intenção do legislador, quando autorizou o funcionamento do comércio de gêneros alimentícios de primeira necessidade, foi a de resguardar o interesse público. Por isso mesmo não é razoável sustentar que a regra contida na Lei 605/1949 e seu regulamento tivesse sido
revogada pela Lei 10.101/2000”. Ressaltou, ainda, que a autorização da Lei 605/1949 também inclui o
funcionamento de hospitais e serviços funerários, “não se concebendo a possibilidade do
fechamento desse tipo de estabelecimento aos domingos e feriados”. TST
Após a decisão do Tribunal de Minas Gerais, o sindicato dos trabalhadores recorreu ao TST. Para a ministra Dora
Maria da Costa, relatora do recurso de revista, prevalece a aplicação do artigo
6º-A da Lei 10.101/2000, que trata do trabalho em feriados nas atividades do
comércio em geral, permitindo o funcionamento de estabelecimentos, como
supermercados, em feriados, mediante autorização em norma coletiva de trabalho e observada a legislação municipal. De acordo com a relatora, a Lei 605/1949, ao dispor sobre o repouso semanal remunerado e o pagamento de salário nos dias feriados, é “de índole mais genérica”.
A ministra ressaltou que, apesar de não ignorar a realidade, quanto à urgência do atendimento às necessidades da população em dias de feriados, “não se pode também olvidar a realidade do trabalhador, compelido a laborar em feriados civis ou religiosos, sendo inconcebível admitir que uma lei datada de dezembro de 2007 seja solenemente relegada”. Além disso, a relatora acrescentou que o TST já
proferiu decisões nesse mesmo sentido, e citou precedentes de relatoria dos ministros Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira, Aloysio Corrêa da Veiga, Maria Cristina Irigoyen Peduzzi (atual presidente da Oitava Turma) e Rosa Maria Weber. Ao julgar o recurso de revista, então, a Oitava Turma, por maioria, modificou o entendimento regional e restabeleceu a sentença, julgando procedente a ação do sindicato, determinando às empresas a obrigação de se absterem de exigir ou receber trabalho de seus empregados, no todo ou em parte, nos feriados, sem autorização prevista em acordo ou convenção coletiva de trabalho. O voto divergente foi do
Direito Coletivo do Trabalho
Informativo de Jurisprudência
Trabalhista
Elaborado a partir das notícias do
Tribunal Superior do Trabalho (TST)
Este informativo é uma cortesia da Escola Brasileira de Ensino Jurídico na Internet - EBEJI. 10
http://grupos.ebeji.com.br – Informativo de Jurisprudência Nº 01 – Fevereiro/2011
ministro Márcio Eurico Vitral Amaro, que não conhecia do recurso, entendendo ser possível o trabalho em feriados nas duas empresas. (RR - 30600-61.2008.5.03.0148 / Notícia:
20/01/2011)
Empregador pode parcelar participação nos lucros com negociação coletiva
O pagamento aos empregados de valores relativos à participação nos lucros ou resultados da empresa pode ocorrer de forma parcelada e mensal desde que a medida tenha sido aprovada em norma coletiva. Foi o que aconteceu no caso envolvendo ex-empregado da Indústria de Veículos Volkswagen. Por meio de negociação coletiva, a parcela passou a ser paga como antecipação, na razão de 1/12 avos do valor da participação nos lucros, a fim de minimizar perdas salariais dos trabalhadores. Na Justiça do Trabalho, o ex-operário da empresa questionou a forma de recebimento da participação nos lucros. Alegou que o artigo 3º, § 2º, da Lei nº 10.101/2000 estabelece que a antecipação ou distribuição a título de participação nos lucros deve ocorrer em periodicidade nunca inferior a um semestre ou mais de duas vezes no ano cível. Como consequência, pediu a integração da parcela ao salário. O Tribunal do Trabalho de Campinas (15ª Região), apesar de reconhecer a existência de norma coletiva tratando da questão, concluiu que havia divergência com o comando da Lei nº 10.101/2000. Por esse motivo, o TRT determinou a integração da parcela paga mensalmente a título de participação nos lucros ao salário do empregado - o que se refletiu no cálculo de outras parcelas devidas pela Volks. Mas quando a natureza jurídica da parcela participação nos lucros e resultados foi discutida na Oitava Turma do Tribunal Superior do Trabalho, a presidente e relatora do recurso de revista da Volks, ministra Maria Cristina Peduzzi, esclareceu que a questão deve ser decidida com amparo nos princípios constitucionais da autonomia coletiva e da valorização da negociação coletiva (nos termos dos artigos 7º, XXVI, e 8º, da Constituição Federal). Para a relatora, a decisão regional desrespeitou o princípio constitucional que garante o reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho (artigo 7º,
XXVI), pois a cláusula que instituiu a verba indenizatória e o seu pagamento parcelado está de acordo com a prerrogativa conferida pela Constituição a trabalhadores e empregadores. O acordo coletivo tornou realidade o direito dos empregados à participação nos lucros ou resultados das empresas, desvinculada da remuneração, conforme previsto no artigo 7º, XI, do texto constitucional. Segundo a ministra Cristina Peduzzi, a legislação ordinária não pode ser interpretada de forma restritiva ao exercício das garantias constitucionais. No caso, a negociação coletiva
estabeleceu o pagamento de parcela constitucionalmente desvinculada da remuneração, ainda que de maneira diferente da disposição legal. Contudo, como não houve vício de consentimento das partes, o acordo deve ser prestigiado e
cumprido. Nesse ponto, a relatora deu provimento ao recurso da empresa para julgar improcedente o pedido do trabalhador de integração da parcela referente à participação nos lucros ao salário e foi acompanhada pelos demais integrantes da Turma. O trabalhador ainda apresentou embargos de declaração que foram rejeitados pelo colegiado. (RR-48000-89.2005.15.0009 /
Notícia: 25/01/2011)
Indeterminação de horários invalida acordo que amplia intervalo de almoço
A prorrogação do intervalo intrajornada de duas horas – tempo para descanso e alimentação durante a jornada de trabalho – pode ser autorizada por acordo coletivo, mas os horários de intervalo devem ser preestabelecidos, pois, do
contrário, há risco de ingerência patronal na vida privada do empregado. Foi o que aconteceu a um motorista de ônibus do Paraná: em uma mesma quinzena, ele cumpriu intervalos de oito horas, jornadas com intervalos fracionados e, em outros dias, nem sequer teve período de descanso. Após a rejeição, pela Oitava Turma do Tribunal Superior do Trabalho, do recurso das empregadoras quanto à questão, o trabalhador receberá o pagamento, como hora extra, do tempo de descanso superior a duas horas. A decisão da Oitava Turma manteve o entendimento do Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região (PR), que considerou ter ocorrido, no caso, abuso de direito das empregadoras - em relação à duração do intervalo a ser cumprido pelo trabalhador - em detrimento da limitação da liberdade do empregado. O Regional verificou que a escala de trabalho era estipulada diariamente, com variação de rotas, horários e intervalos, com visível prejuízo ao motorista, causando-lhe extrema desordem em seus horários pessoais, diante de “longos ou curtos intervalos, de maneira variável, dia após dia, pela vontade patronal”. Diante disso, invalidou a autorização para prorrogação das duas horas e os fracionamentos dos intervalos, considerando o tempo excedente como horas extraordinárias. As empresas de transporte rodoviário de passageiros recorreram ao TST, alegando a existência de acordo coletivo permitindo a adoção de intervalo intrajornada superior ao limite de duas horas, mas a Oitava Turma manteve a decisão regional, ao não conhecer do apelo quanto a esse tópico. Segundo a ministra Dora Maria da Costa, relatora do recurso de revista, apesar de o TST se posicionar no sentido da possibilidade de ampliação do intervalo intrajornada, “é primordial para sua validade que haja definição do período pela norma coletiva ou pactuação individual complementar”.
A relatora esclareceu que o artigo 71 da CLT, em seu caput, prevê a adoção do intervalo intrajornada superior ao limite legal, desde que haja prévio acordo escrito entre as partes ou fixação em norma coletiva. No entanto, a ministra ressaltou que esse dispositivo deve ser interpretado de forma a “resguardar o seu objetivo legal e os princípios que regem as relações trabalhistas”. Ao verificar os prejuízos causados ao trabalhador, submetido
a jornadas em que havia intervalo superior a duas horas, outras com intervalos fracionados e dias sem intervalos, a ministra frisou a importância do intervalo intrajornada, observando que se trata de norma que tem como objetivo a manutenção do estado físico e psíquico do trabalhador após um tempo de trabalho. Por fim, a relatora destacou que “não se pode relevar as normas protetivas da saúde, medicina e segurança do trabalho, de ordem pública, nem mesmo por meio de negociação coletiva, como é o caso, em que a cláusula não delimita o tempo de descanso do empregado”. (RR - 184200-70.2007.5.09.0019 / Notícia: 27/01/2011)
Convenção coletiva não pode suprimir horas itinerantes
É possível, coletivamente, negociar e fixar uma estimativa diária, semanal ou mensal de horas referente ao tempo despendido no percurso da residência ao local de trabalho. No entanto, a negociação coletiva não pode suprimir o direito. Com
Este informativo é uma cortesia da Escola Brasileira de Ensino Jurídico na Internet - EBEJI. 11
http://grupos.ebeji.com.br – Informativo de Jurisprudência Nº 01 – Fevereiro/2011
Prepare-se para o concurso os concursos da Advocacia-
Geral da União com
GEAGU Resolução de questões
objetivas, peças, pareceres e dissertações
www.geagu.com.br
esse entendimento, a Sexta Turma do Tribunal Superior do Trabalho reformou acórdão regional e determinou o retorno dos autos à Vara do Trabalho de origem para que seja apurada a quantidade de horas itinerantes - ou in itinere - gastas por um empregado da Safi Brasil Energia S.A., empresa localizada no Mato Grosso do Sul. O Tribunal Regional do Trabalho da 24ª Região (MS) manteve a sentença que indeferiu o pedido do trabalhador para receber as horas itinerantes do período de 1º/5/2008 a 30/4/2009, por verificar que havia convenção coletiva eliminando a parcela. O TRT julgou válida a pactuação, considerando que não se tratava de direito indisponível e que deveria ser respeitada a vontade das partes. Ressaltou, ainda, que o sindicato, em contrapartida, havia conquistado outros benefícios para a categoria, elencados na cláusula que suprimia as horas itinerantes. Inconformado com a decisão, o empregado recorreu ao TST. O ministro Mauricio Godinho Delgado, relator do recurso de revista julgado na Sexta Turma, explicou que a flexibilização quanto às horas in itinere por meio de norma coletiva era válida até 19/06/2001, com o advento da Lei 10.243/01. A partir daí, prevalece a norma legal. Segundo o relator, quando não
existia lei imperativa, mas simples entendimento jurisprudencial - ou seja, a Súmula 90 do TST-, a flexibilização era ampla. No entanto, com o surgimento da lei, acrescentando dispositivos ao artigo 58 da CLT, não há como suprimir o direito.
O relator esclareceu que a jurisprudência do TST firmou entendimento no sentido de que, em relação às horas itinerantes, “é possível à negociação coletiva estipular um montante estimativo de horas diárias, semanais ou mensais, pacificando a controvérsia, principalmente em virtude de o próprio legislador ter instituído poderes maiores à negociação coletiva neste específico tema”. No entanto, frisou o ministro Godinho Delgado, “não é viável à negociação coletiva suprimir o direito, porém apenas fixar-lhe o montante numérico”. A Sexta Turma acompanhou o voto do relator e deu provimento para condenar a empresa a pagar ao trabalhador as horas in itinere . (RR - 1195-80.2010.5.24.0000 / Notícia: 31/01/2011)
Este informativo é uma cortesia da Escola Brasileira de Ensino Jurídico na Internet - EBEJI. 12
http://grupos.ebeji.com.br – Informativo de Jurisprudência Nº 01 – Fevereiro/2011
Preparação contínua para a Magistratura do Trabalho
GEMAT Resolução de questões
objetivas, subjetivas e
sentenças
www.gemat.com.br
Sétima Turma: acordo judicial não impede ação de indenização O acordo judicial celebrado antes da Emenda Constitucional nº 45/2004 não impede posterior ação com pedido de indenização por danos morais e materiais decorrentes de acidente de trabalho ou de doença profissional. Na interpretação da Sétima Turma do Tribunal
Superior do Trabalho, até a promulgação da emenda, havia dúvidas sobre a competência para examinar esses processos, ou seja, se cabia à Justiça comum ou trabalhista. No caso relatado pelo presidente da Turma, ministro Pedro Paulo Manus, um ex-empregado da Codesp (Companhia Docas do Estado de São Paulo) firmou acordo em juízo no qual deu quitação total do contrato de trabalho. Posteriormente, apresentou nova ação, desta vez na Justiça comum, com pedido de indenização por danos morais e materiais tendo em vista suposta doença ocupacional. Como a Codesp foi incorporada pela Turim Equipamentos, as empresas alegaram que era incabível o pedido porque o empregado havia dado quitação plena do extinto contrato. A Vara do Trabalho e o Tribunal Regional de São Paulo julgaram extinto o processo, sem resolução do mérito, por entenderem que se tratava de coisa julgada, ou seja, de pretensão já decidida sem possibilidade de recurso. No entanto, pela avaliação do ministro Pedro Manus, à época em que o empregado firmou o acordo na Justiça do Trabalho, ainda não tinha entrado em vigor a EC nº 45/2004 – tanto que a ação de reparação foi ajuizada na Justiça comum (só mais tarde os autos foram encaminhados à Justiça trabalhista). Até a emenda, portanto, prevalecia o entendimento de que a competência para examinar situações dessa natureza era da Justiça comum. Assim, somente com a nova redação dada pela emenda, o artigo 114, IV, da Constituição previu expressamente a competência da Justiça do Trabalho para apreciar e julgar “as ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da relação de trabalho”. O ministro Manus também observou que o Supremo Tribunal Federal, ao decidir a questão, adotou como marco temporal para fixação da competência da Justiça do Trabalho a promulgação da emenda.
Nessas condições, o relator concluiu que não é possível admitir que, por meio do referido acordo, o empregado tenha dado quitação de parcelas que poderiam ser postuladas na Justiça comum. Por consequência, o ministro
afastou a declaração de coisa julgada manifestada pelas
instâncias ordinárias e determinou o retorno do processo à Vara de origem para analisar o pedido do trabalhador. (RR-1601-87.2006.5.02.0442 / Notícia: 10/01/2011)
IR é devido sobre o total da dívida trabalhista reconhecida em juízo
A Seção I Especializada em Dissídios Individuais do Tribunal Superior do Trabalho isentou o Banco Banestado do
pagamento de indenização a ex-empregada decorrente de eventuais diferenças no valor de imposto de renda a ser
recolhido pela trabalhadora. Em decisão unânime, a SDI-1 acompanhou voto do relator dos embargos da
empresa, ministro Lelio Bentes Corrêa.
O relator explicou que a incidência do imposto de renda sobre o total da dívida trabalhista reconhecida em juízo é determinada por lei, sendo impossível atribuir prática de ato ilícito ao empregador por efetuar o recolhimento do tributo devido pela empregada. Além
do mais, não há previsão legal que sustente o pedido de indenização da
trabalhadora por eventuais diferenças constatadas entre o valor do imposto de renda
decorrente de condenação judicial e o que seria devido caso as parcelas trabalhistas tivessem sido
pagas no momento certo. O Tribunal do Trabalho do Paraná (9ª Região) tinha condenado o banco a pagar indenização pelos prejuízos causados à empregada na apuração dos valores a serem recolhidos de imposto de renda. Para o TRT, se as quantias devidas pelo empregador tivessem sido quitadas nas épocas próprias, os descontos seriam menores, logo a atitude da empresa provocara dano ao patrimônio da empregada. No recurso de revista apresentado pelo banco ao TST, a discussão sobre o cabimento de indenização à trabalhadora em decorrência da retenção do imposto de renda sobre o valor total dos créditos oriundos de condenação judicial nem chegou a acontecer na Segunda Turma. O colegiado concluiu que não estavam presentes os requisitos do artigo 896 da CLT para autorizar o julgamento do mérito do recurso. Na SDI-1, o banco alegou que não havia base jurídica para imputar somente ao empregador o encargo de proceder ao recolhimento do imposto de renda e, menos ainda, o dever de indenizar a trabalhadora. A empregada, por sua vez, insistiu na tese de que, se os créditos salariais tivessem sido pagos no tempo certo, o encargo tributário seria menor (alíquota menor) – daí a obrigação do banco de indenizar. Contudo, o ministro Lelio Bentes esclareceu que a
Direito Processual do Trabalho
Informativo de Jurisprudência
Trabalhista
Elaborado a partir das notícias do
Tribunal Superior do Trabalho (TST)
Este informativo é uma cortesia da Escola Brasileira de Ensino Jurídico na Internet - EBEJI. 13
http://grupos.ebeji.com.br – Informativo de Jurisprudência Nº 01 – Fevereiro/2011
responsabilidade civil (objetiva ou subjetiva) pressupõe a configuração da prática de ato ilícito que ocasione dano a terceiro (nos termos dos artigos 186 e 927 do Código Civil). Na hipótese, como a conduta do banco não contrariou o ordenamento jurídico ao efetuar o recolhimento do imposto de renda sobre o valor total da condenação, descabe qualquer pedido de indenização.
Segundo o relator, ainda que seja razoável a alegação de prejuízo sofrido pela empregada (dano patrimonial), não existe responsabilidade civil do empregador e a ocorrência de ato ilícito no caso, pois a incidência do imposto de renda sobre o valor total fixado em sentença condenatória é prevista em lei. O desconto fiscal tem por fato gerador a existência de sentença condenatória e a disponibilidade para a trabalhadora dos valores definidos. Desse modo, afirmou o
ministro Lelio, quando a lei determina que o tributo seja retido na fonte, deixa claro que a incidência ocorrerá sobre a totalidade da quantia recebida. Por conseqüência, a contribuição a encargo do trabalhador deve ser retida pelo empregador – exatamente como havia feito o banco. Por fim, o relator destacou que os juros de mora e a correção monetária têm caráter indenizatório, porque são equiparados a perdas e danos, conforme o artigo 404 do Código Civil, o que significa que essas parcelas não sofrem a incidência da contribuição fiscal.
A decisão da SDI-1 foi unânime com ressalva de entendimento do ministro Augusto César Leite de Carvalho. (RR-1255600-30.2002.5.09.0011 / Notícia: 11/01/2011)
Custas podem ser pagas em banco da Rede Arrecadadora de Receitas Federais
A Primeira Turma do Tribunal Superior do Trabalho considera válido o recolhimento das custas processuais e do depósito recursal feito em instituição bancária diversa da Caixa Econômica Federal e do Banco do Brasil, desde que integrante da Rede Arrecadadora de Receitas Federais. O colegiado acompanhou, à unanimidade, voto de relatoria do ministro Walmir Oliveira da Costa no sentido de afastar a deserção decretada pelo Tribunal do Trabalho mineiro (3ª Região) e determinar o julgamento de um recurso ordinário do Banco Rural contra sentença favorável a ex-empregado da empresa. O Regional tinha entendido que o recurso da empresa estava deserto, porque o pagamento das custas processuais e do depósito recursal havia sido feito em agência do próprio Banco Rural, e não como deveria, ou seja, na CEF, no Banco do Brasil ou em outra instituição autorizada. Na avaliação do TRT, o recolhimento, nessas condições, constituiria abuso do poder econômico e não observava a finalidade do depósito recursal. No entanto, o ministro Walmir observou que, no caso de recurso, basta que as custas sejam pagas no valor estipulado na sentença e fique comprovado o recolhimento dentro do prazo recursal (artigo 789, §1º, da CLT). De acordo
com o relator, a Instrução Normativa nº 20 (item IV) do TST exige apenas que as custas e os emolumentos sejam recolhidos nas instituições financeiras integrantes da Rede Arrecadadora de Receitas Federais. Quanto ao depósito recursal, a IN nº 26 do TST estabelece que o pagamento pode ser feito em agência da Caixa ou banco conveniado, sendo pacífico o entendimento de que o convênio independe de prova, por ser fato notório (Súmula
nº 217 do TST).
O ministro Walmir ainda esclareceu que a IN nº 18 do TST entende válida, para fins de comprovação do depósito recursal na Justiça do Trabalho, a guia com o nome das partes, número do processo, designação do juízo por onde tramitou o processo e a explicitação do valor depositado, desde que autenticada pelo banco recebedor. Como, na hipótese examinada, é possível identificar o processo, as partes e o valor, e o Banco Rural compõe a Rede Arrecadadora (segundo a Secretaria da Receita Federal), a exigência de recolhimento das custas e do depósito recursal na CEF ou Banco do Brasil fere o direito de ampla defesa da parte assegurado pela Constituição (artigo 5º, LV), concluiu o relator. (RR-157500-87.2005.5.03.0021 / Notícia: 13/01/2011)
Primeira Turma decide quórum mínimo para julgamento de agravo de petição
A Primeira Turma do Tribunal Superior do Trabalho autorizou o processamento de um recurso de revista do espólio de ex-empregado das Lojas Americanas para examinar o quórum mínimo necessário no julgamento de agravo de petição. Em decisão unânime, o colegiado acompanhou voto do ministro Walmir Oliveira da Costa e deu provimento ao agravo de instrumento apresentado pela parte. A família do trabalhador recorreu ao TST depois que o Tribunal do Trabalho da 1ª Região (RJ) rejeitou um agravo de petição que contestava a execução da sentença. No próprio TRT, a parte alegou a nulidade do julgamento por falta de quórum mínimo para deliberação, pois o colegiado era composto por três juízes e apenas dois participaram, uma vez que o terceiro declarou-se suspeito. Mas, para o Regional, o artigo 672, §1º, da CLT estabelece a
imprescindibilidade da presença de três juízes para deliberação, não obrigatoriamente que haja decisão por parte de todos eles. Ou seja, a presença de três juízes é quórum mínimo para o funcionamento da Turma (quórum de presença), e não para a decisão dos processos (quórum de deliberação). O
quórum mínimo de votos necessários a uma deliberação é o de dois juízes, concluiu o Regional. Já no entendimento do ministro Walmir, de fato, a deliberação da Turma do TRT com apenas dois juízes contaminou o julgamento do agravo de petição, pois houve desrespeito ao comando constitucional que garante o contraditório e a ampla defesa aos litigantes (artigo 5º, LV) e dispõe sobre as condições do exercício dos órgãos da Justiça do Trabalho (artigo 113). Ainda na avaliação do relator, o TRT violou o direito de defesa da parte ao proferir julgamento com menosprezo do quórum mínimo de três juízes e o princípio do juiz natural - quando devem ser observadas as normas de organização judiciária. Por essas razões, o ministro Walmir admitiu o agravo de instrumento do espólio do trabalhador para que, em outra sessão da Primeira Turma do TST, a questão possa ser rediscutida em recurso de revista da parte. (AIRR-190240-66.1984.5.01.0029 / Notícia: 21/01/2011)
Oitava Turma desautoriza levantamento de depósito recursal de 60 salários mínimos
Um ex-vendedor do Ponto Frio - cuja razão social é Globex Utilidades S.A. - terá mesmo que esperar pela fase de execução do processo para receber o que lhe é devido pela empresa. Apesar de lhe ter sido facultado pelo Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região (MG) o levantamento do depósito recursal no limite de 60 salários mínimos, a Oitava Turma do
Este informativo é uma cortesia da Escola Brasileira de Ensino Jurídico na Internet - EBEJI. 14
http://grupos.ebeji.com.br – Informativo de Jurisprudência Nº 01 – Fevereiro/2011
Estudando para Analista Judiciário? Aumente suas
chances com
GEAJU Direcionado aos concursos
do TRF, TRT e TRE Saiba mais em
www.geaju.com.br
Tribunal Superior do Trabalho reformou a decisão do TRT e desautorizou o saque. Para o ministro Márcio Eurico Vitral Amaro, relator do recurso de revista, a decisão do Tribunal Regional ofende os artigos 128 e 460 do CPC. Ao esclarecer os motivos da decisão da Oitava Turma, o relator citou que o Tribunal Regional, aplicando o artigo 475-O do CPC, facultou ao trabalhador o levantamento do depósito recursal sem o correspondente pedido do autor. Além disso, o relator destacou que o TST “firmou entendimento no sentido de que o dispositivo em questão – artigo 475-O - é inaplicável no processo do trabalho”.
O ministro Márcio Eurico concluiu então que, “se o instituto em questão não é aplicável no processo do trabalho, muito menos sem o correspondente pedido do autor”. Para o ministro, ficou demonstrado o julgamento extra petita - ou seja, fora do pedido formulado na reclamação, o que resulta em nulidade do julgamento. Fundamentação do TRT
O trabalhador obteve reconhecimento na Justiça do Trabalho de Minas Gerais de direito a verbas relativas, entre outras, a intervalo intrajornada e adicional de 100% das horas extras. Além disso, nessa fase de conhecimento do processo, o TRT/MG, considerando a natureza alimentar do crédito trabalhista, possibilitou ao autor levantar, do depósito que existe nos autos, a quantia de até 60 salários mínimos, e declarou a hipoteca judicial sobre os bens da empresa, no valor suficiente para garantia da execução. De acordo com o Regional “recursos e mais recursos processuais retardam e até inibem a concretude da tutela jurisdicional”. Dessa forma, o TRT entendeu que seria aplicável ao processo do trabalho, subsidiariamente, a regra do artigo 475-O do CPC, “impondo-se o levantamento pelo empregado, a requerimento ou de ofício, da importância até o limite de 60 salários mínimos, porque se trata de crédito de natureza alimentar e o estado de necessidade do empregado possui presunção absoluta, pois essa sua condição está na estrutura do Direito do Trabalho, de modo que negá-la é negar o próprio Direito do Trabalho”.
Incorformada com a decisão, a empresa recorreu ao TST, insurgindo-se, entre vários pontos, contra a declaração de hipoteca judicial e a determinação de levantamento de depósito recursal pelo autor, alegando que estava na fase de conhecimento do processo e não havia nenhum pedido, nessa fase recursal, pela aplicação do artigo 475-O do CPC de forma subsidiária. A Oitava Turma não conheceu do recurso quanto aos outros temas, examinando no mérito somente a questão de julgamento extra petita do levantamento do depósito recursal, por violação dos artigos 128 e 460 do CPC, desautorizando o levantamento do depósito recursal existente nos autos. Impedida, no julgamento do processo, a ministra Maria Cristina Irigoyen Peduzzi. (RR - 5100-06.2009.5.03.0003 / Notícia: 17/01/2011)
Primeira Turma não vê irregularidade em penhora de conta conjunta
A pessoa que tem conta conjunta com sócio de empresa executada pode sofrer penhora dos valores depositados. Pelo
entendimento unânime da Primeira Turma do Tribunal Superior
do Trabalho, não há irregularidade quando ocorre a penhora do dinheiro nessas situações, porque, ao manter uma conta conjunta, as partes assumiram o risco. O relator do caso julgado na Turma, ministro Vieira de Mello Filho, explicou que, numa conta conjunta, os dois correntistas podem usufruir livremente dos depósitos, sem a necessidade de autorização do outro. Portanto, uma conta corrente dessa natureza não torna irregular a penhora realizada para garantir a execução de débito reconhecido em sentença judicial. Um aposentado que possuía conta conjunta com a sócia de uma empresa que estava sendo executada recorreu ao Tribunal do Trabalho de São Paulo (2ª Região) com o argumento de que não podia ter a conta penhorada, uma vez que nem mesmo participara da ação que originou a dívida. Alegou que a conta tinha natureza salarial e juntou comprovante de que o dinheiro depositado era proveniente de causa ganha em ação trabalhista. Para o TRT, entretanto, era impossível separar os valores de cada um dos correntistas. Concluiu que existiam riscos nessa modalidade de conta, como agora verificado pelo
aposentado, sendo inútil a discussão sobre a origem dos valores depositados. Assim, o Regional negou seguimento ao recurso de revista da parte para o TST. Com o agravo de instrumento apresentado ao TST, o
aposentado tentou rediscutir a questão. Insistiu na tese de que os valores depositados na conta
conjunta eram benefícios de aposentadoria, por ser funcionário público estadual, e que os
créditos possuíam caráter alimentar. Mas a Primeira Turma acompanhou o voto do relator, ministro Vieira de Mello Filho, e negou provimento ao apelo. Segundo o relator, o ato de penhora não desrespeitou as garantias constitucionais
do contraditório e da ampla defesa da parte (artigo 5º, LIV), nem o direito de
propriedade ou o princípio de que ninguém será privado de seus bens sem o devido
processo legal (artigo 5º, XXII e LIV).
De acordo com o ministro Vieira, a jurisprudência do TST (conforme a Orientação Jurisprudencial nº 153 da Seção II de Dissídios Individuais) considera a conta corrente destinada ao recebimento de salários impenhorável, nos termos do artigo 649, IV, do CPC. Contudo, na hipótese examinada, não é possível aplicar esse dispositivo, na medida em que a conta pertence também à sócia de empresa executada, não se destinando ao recebimento de verbas relativas ao trabalho do aposentado. Na avaliação do relator, de fato, é irrelevante, como afirmou o TRT, a discussão quanto à origem do dinheiro, pois os valores de benefícios previdenciários ou de salários são impenhoráveis até o momento em que a pessoa os deposita em conta - depois esses valores perdem a natureza alimentar ou de salário e assumem a condição de valor de investimento ou aplicação comum. O ministro Vieira observou
ainda que a parte também não tem direito de reivindicar 50% do valor da conta corrente penhorado. (AIRR-229140-84.2008.5.02.0018 / Notícia: 26/01/2011)