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Ganapati Ecologia - Vegetarianismo - Ética - Espiritualidade CULTURA DE PAZ E VEGETARIANISMO DISTRIBUIÇÃO GRATUITA - 2.000 EXEMPLARES OUTUBRO/NOVEMBRO 2012 Cultura da Paz Leonardo Boff - pag 02 O Universo em um átomo Dai lai lama - pag 06 Contradições contemporâneas Conceição Cavalcanti - pag 07 Tudo que existe tem vida Nina Rosa - pag 10 O homem livre Krishnamurt - pag 11

Informativo Ganapati Outubro-Novembro

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Temas do jornal: meio ambiente, ética, espiritualidade e vegetarianismo.

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ganapatiEcologia - Vegetarianismo - Ética - Espiritualidade

Cultura dE Paz E VEgEtarianismo

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA - 2.000 EXEMPLARES OUTUBRO/NOVEMBRO 2012

Cultura da Paz Leonardo Boff - pag 02

o universo em um átomo Dai lai lama - pag 06

Contradições contemporâneas Conceição Cavalcanti - pag 07

tudo que existe tem vida Nina Rosa - pag 10

o homem livre Krishnamurt - pag 11

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Leonardo Boff

Editorial por Simone Nassar.

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Temos a consciência de que iniciar um movimento de libertação de conceitos culturais arraigados na nossa sociedade há séculos é difícil e depende de inúmeras batalhas internas, assim como lutar contra todas as tentações que a vida cotidiana nos apresenta. Entretanto, a firmeza do propósito em evoluir e dar condições do planeta regenerar-se estimula nossa alma a caminhar sempre.

Necessitamos ser livres de preconceitos, de ultrapassar nossos limites, especialmente aqueles em que nós nos sabotamos. Se prestarmos atenção aos grandes seres que se fizeram e fazem presentes no nosso planeta, todos têm sede de conhecimento e não se contentam com o que lhes é apresentado. São criaturas intuitivas, curiosas e sensíveis, que possuem a exata noção de que tudo está em evolução permanente.

Existe uma urgência em se romper com os antigos hábitos e padrões de controle externo e voltar-se para dentro de si próprio, buscando o caminho do coração, onde então podemos extinguir, ou ao menos atenuar, os sentimentos que nos entorpecem, limitam e separam. Avançar no caminho da evolução significa praticar os princípios fundamentais da vida em sociedade : o amor incondicional, o respeito, a dignidade, a liberdade, a igualdade e a unidade. Tudo isso faz parte da Cultura de Paz. É uma cultura que respeitas todos os direitos individuais e que assegura e sustenta a liberdade de expressão.

Como utiliza o diálogo, a negociação e a mediação, mostra a inutilidade da violência e das guerras. Praticar a Cultura de Paz envolve todas as ações, pessoais ou coletivas, que estejam fundamentadas em atitudes de compreensão, e são exercícios de aceitação da diversidade que devem ser disseminadas à sociedade. Tais atitudes são fundamentais para que a sociedade possa implantar um novo padrão de desenvolvimento. Sem a Cultura de Paz não existirão mudanças substanciais e necessárias, bem como equilíbrio para o planeta.

Produzido e Publicado pelo Grupo Ganapati E-mail: [email protected] | Blog: http://grupoganapati.blogspot.comParticipam desta edição: Bárbara Bastos, Conceição Cavalcanti, Denise Bacelar, Eustaquio J. Silva, Ioná Ponce de Leon, Igor Calado, Jeanine Japiassu, João Asfora Neto, Sérgio Pires e Simone Nassar.Para contato: (081)9697.6629

Cultura dE Paz

A cultura de paz, hoje mundializada, se estrutura ao redor da vontade do poder que se traduz como vontade de dominação da natureza do outro, dos povos e

dos mercados. Essa é a lógica dos dinossauros que criaram a cultura do medo e da guerra. As festas nacionais e seus heróis estão ligados aos fatos de guerra e de violência. Os meios de comunicação levam a magnitude de todo o tipo de violência, bem simbolizada pelo “exterminador do futuro”.Nessa cultura, o militar, o banqueiro e o especulador valem mais que o poeta, o filósofo ou o santo. Nos processos de socialização formal e informal, ela não cria mediações para uma cultura de paz. E sempre de novo nos remete a pergunta que, de forma dramática, Einstein formulou a Freud nos tempos de 1932: É possível superar ou controlar a violência? Freud muito realista, responde: “É possível para os homens controlarem totalmente o instinto de morte... esfomeados pensamos no moinho que tão lentamente se move, que poderíamos morrer de fome antes de receber a farinha”.Sem detalhar o assunto, diríamos que por detrás da violência funcionam poderosas estruturas. A primeira delas é o caos sempre presente no processo cosmogênico; a evolução inclui violência em todas as suas faces. Possivelmente a inteligência nos foi dada também para colocar limites a essa violência e conferir-lhe um sentido construtivo.Em segundo lugar, somos herdeiros da cultura patriarcal que instaurou a dominação do homem sobre a mulher e criou as instituições do patriarcado assentadas sobre mecanismos de violência como o Estado, as classes, o projeto da tecno-ciência, os processos de produção como objetivação da natureza e sua sistemática depredação.

Essa cultura patriarcal gerou em terceiro lugar, a guerra como forma de solução de conflitos. Sobre esta vasta base se formou a cultura do capital, hoje globalizada; sua lógica é a competência e não a cooperação, por isso gera permanentemente desigualdades, injustiças e violências.Todas essas forças se articulam estruturalmente para consolidar a cultura da violência que nos desumaniza a todos. A essa cultura de violência há que opor a cultura da paz. Hoje ela é imperativa.É imperativa, porque as forças da destruição estão ameaçando, por todas as partes, o pacto social mínimo sem o qual retornamos a níveis de barbárie. É imperativa porque o potencial destrutivo já montado pode ameaçar toda a biosfera e impossibilitar a continuidade do projeto humano. Ou limitamos a violência e fazemos prevalecer o projeto da paz ou conheceremos, ao limite, o destino dos dinossauros.Onde buscar as inspirações para uma cultura de paz? Mais que imperativos voluntaristas, é o próprio processo antropogênico que nos provê indicações objetivas e seguras. A singularidade de 1% de carga genética que nos separa dos primatas superiores reside no fato de que a diferença deles para nós, é que somos seres sociais e cooperativos. Ao lado de estruturas de agressividade, temos capacidade de afetividade, compaixão, solidariedade e amor. Hoje é urgente que desentranhemos tais forças para conceder-nos um rumo mais positivo à história. Toda demora é insensata. O ser humano é o único ser que pode intervir nos processos da natureza e dirigir em conjunto com essa, a marcha da evolução. Ele foi criado e criador. Dispõe de recursos de re-

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Andréia N.

coletivo a paz como método e como meta, paz que resulta dos valores da cooperação, do cuidado, da compaixão e da amorosidade, vividos cotidianamente.

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Quando finalmente parei de comer peixes e crustáceos (já não me alimentava de nenhuma ave ou mamífero havia 15 anos) e me tornei ovo-lacto-vegetariana, já

comecei a planejar uma transição para o veganismo. Não que seja necessário fazer transição. Conheço várias pessoas que foram de onívoras a veganas da noite para o dia. A maioria porque leu um livro que informava o que um onívoro está causando aos animais e ao planeta, ou porque assistiu a algum filme explicativo, como Terráqueos, por exemplo. Mas cada um tem seu próprio tempo, sua maneira particular de mudar e se adaptar a novos hábitos. Eu decidi que pra mim seria melhor uma preparação mais cuidadosa, deixando aos poucos os laticínios e ovos cujo sabor eu tanto adorava. Descobri depois que na verdade laticínios viciam o organismo, então eu era mais “viciada” em queijos do que propriamente uma entusiasta de seu sabor.Enquanto fazia a transição, comecei a procurar informação onde quer que pudesse. Li, ouvi, “googlei”, observei, comparei, assisti palestras... fui atrás de informação útil e

tornar-sE VEgano - o quE muda?

prática sobre como me alimentar direitinho, mas também pra decidir se era mesmo necessário abandonar os queijos e ovos. Como muita gente, eu ainda não estava convicta de que prejudicava diretamente os animais, já que não precisava matá-los pra me alimentar. Grande ilusão. Já no primeiro panfleto informativo sobre a indústria mundial de ovos e laticínios, você descobre a sujeira, a tortura, o sofrimento e o descaso que envolvem alimentar-se de ovos ou leite, comprar couro, penas, lã.Aí ficou fácil. O barato de tornar-se vegano vai muito além da gente se sentir super bem logo de cara, e com mais energia, mais leve e saudável. Nossa mentalidade em relação ao próximo e ao planeta vai se transformando e cada escolha ética fica mais clara, mais óbvia. No meu caso, a atenção e o respeito que eu passei a dar aos animais todos (e não mais apenas aos gatinhos, coelhinhos, cães) e também às pessoas, ao planeta inteiro mudou. Eu sempre adorei bichos, mas como vegana fiquei muito mais conectada com eles, mais sensível ao abuso que o ser humano inflige aos animais por considerar-se superior. Meus hábitos mudaram pra melhor assim como meu respeito pelo meio ambiente. Sou cada vez mais consciente do nosso poder de transformação individual. Estou sempre tentando fazer algo mais, seja reciclando, reutilizando ou tentando não desperdiçar. Tudo isso aconteceu depois que me tornei vegana. Veganismo é isso - uma filosofia que vai além do amor e respeito pelos animais não-humanos. É uma questão moral, científica, econômica e ecológica que precisa tornar-se o mais rápido possível o objetivo de todo mundo que realmente se preocupa com o próximo.

brazil nut - Fonte : http://brazilnut-nyc.blogspot.com.br/

Uma das coisas importantes da não violência é que não busca destruir a pessoa, mas transformá-la.Martin Luther King

engenharia da violência mediante processos civilizatórios de contenção e uso da racionalidade. A competitividade continua válida, mas não no sentido de o melhor nem de destruição do outro. Assim todos ganham e não só um.Há muito que filósofos da altura de Martin Heidegger, resgatando uma antiga tradição que remonta aos tempos de César Augusto, vêem no cuidado a essência do ser humano. Sem cuidado ele não vive nem sobrevive. Tudo precisa de cuidado para continuar existindo. Cuidado representa uma relação amorosa com a realidade. Onde rege o cuidado de uns para com os outros, desaparece o medo, origem secreta de toda violência.A cultura de paz começa quando se cultiva a memória e o exemplo de figuras que representam o cuidado e a vivência da dimensão de generosidade que nos habita, como Gandhi, Mons. Hélder Câmara, Luther King e outros. Importa que façamos revoluções moleculares(Gatarri), começando por nós mesmos. Cada um estabelece como projeto pessoal e

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Hoje uma pessoa me disse (num e-mail): “Sou totalmente a favor dos direitos animais, mas não acho que isso signifique que eu tenha de ser a favor

dos direitos das mulheres, direitos dos gays, ou seja o que for”.Errado. Pense na lógica. O especismo é errado porque é como o racismo, o sexismo, o heterossexismo, etc., que também envolvem focar num critério irrelevante (raça ou sexo ou orientação sexual ou seja o que for) para justificar não dar igual consideração.Não podemos dizer que o especismo é errado porque

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Se o princípio da não violência significar alguma coisa, significa que você não pode justificar a imposição de nenhuma morte e nenhum sofrimento por razões

transparentemente frívolas como o prazer, a diversão ou a conveniência. E fazer “com compaixão” algo que não seja moralmente justificável não muda o fato de que é moralmente injustificável.

Quando você decide o que quer comer, vestir, calçar, usar, você não está agindo sob nenhuma espécie de compulsão. Você está simplesmente se entregando ao prazer do seu paladar, ao seu senso de moda, etc., ou permitindo que o que é conveniente supere os interesses de outro ser senciente.

Portanto, se você abraçar a não violência e não for vegano(a), precisa refletir sobre o que é, inquestionavelmente, uma séria inconsistência.

é como essas outras coisas erradas mas não temos uma posição sobre essas outras coisas erradas.É claro que temos.E essa posição é que toda discriminação é errada. Ponto final. Não importa se é discriminação baseada em raça, sexo, orientação sexual, classe, idade, etc. É errada.Se você diz que o especismo é errado, mas você não tem uma posição sobre os outros tipos injustos de discriminação, tudo que você faz é reforçar a noção de que o “pessoal da causa animal” não se importa com os humanos.E o movimento abolicionista não se trata de misantropia.

VEganismo E nÃo ViolÊnCia

os aboliCionistas tÊm uma PosiçÃo sobrE os dirEitos humanos? PodE aPostar quE sim!

Todos os seres vivos tremem diante da violência. Todos temem a morte, todos amam a vida. Projete você mesmo em todas as criaturas. Então, a quem você poderá ferir? Que mal você poderá fazer? Buda

Gary L. Francione é Distinguished Professor de Direito e o Katzenbach Scholar de Direito e Filosofia na Rutgers University, EUA. Autor de 5 livros, Francione desenvolveu a teoria de direitos animais abolicionista.Fonte: ANDA – Agencia de Noticias de Direitos Animais

Se você não for vegano(a), por favor torne-se vegano(a). Veganismo é não violência. Sobretudo, é não cometer violência contra os outros seres sencientes. Mas também é não cometer violência contra a Terra e contra si mesmo.

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A crise terminal do capitalismo é muito mais ampla e comporta uma dimensão civilizatória e não somente da preponderância e do domínio de um país em

particular, por muito poderoso que este seja e mesmo ocupe um lugar central no sistema mundial contemporâneo.Como indica Roberto Espinoza, "vivemos uma complexa crise da civilização hegemônica (aquela da unidade entre ‘modernidade-colonialidade’) que põe em perigo todas as formas de vida do planeta, não só as humanas, e faz urgente o desenvolvimento de alternativas”. Essas, que têm que ser necessariamente complexas, totais e radicais, são vias de desenvolvimento que se apartem do que José María Tortosa cataloga como maldesenvolvimento, têm surgido desde distintos espaços do espectro sociopolítico e abarcam um leque tão plural e heterogêneo quanto plural e heterogêneos são os grupos e movimentos sociais que os articulam, propõem e impulsionam.Nesse contexto, o conceito de transição está surgindo com força em âmbito mundial, particularmente devido a crise combinada de energia, clima, alimentação e pobreza (transições rumo sociedades pós petróleo, baixas em consumo de energia, sustentáveis e rumo a soberania alimentar com produção local e autonomias locais, em particular); porém, também em termos culturais e espirituais.A maioria desses discursos da transição está animado por uma preocupação profunda pela vida. Ao tornar visíveis os efeitos perniciosos das ideologias do indivíduo e do mercado, esses discursos chamam a atenção sobre a necessidade de reconstruir as subjetividades e a economia, com frequência em cooperação com aquelas sociedades onde os regimes do indivíduo e da propriedade privada não chegaram a controlar por completo a prática social. Esses discursos igualmente tendem para economias diversas centradas na vida, o que é o caso de muitas visões da economia social e solidária.Immanuel Wallerstein coincide em que nos encontramos em um mundo em transição e "não meramente da transição pela qual o sistema-mundo capitalista, em sua totalidade, se transforma em algo diferente”.

Em outras palavras, nos encontramos ante o que este mesmo autor cataloga como uma longa crise terminal do capitalismo, que leva a um futuro extremamente incerto na medida em que não consolidaram alternativas totais e viáveis. Essa crise terminal coincide; porém, não deve ser confundida com o decaimento da preponderância norte-americana no mundo, que alcançou seu ápice depois de 1945, quando os Estados Unidos emergiram como a única potência industrial de peso.

A crise terminal do capitalismo é muito mais ampla e comporta uma dimensão civilizatória e não somente da preponderância e do domínio de um país em particular, por muito poderoso que este seja e mesmo que ocupe um lugar central no sistema mundial contemporâneo. É nesse contexto que surge, a partir da década dos 90, uma serie de propostas que buscam alternativas a esse sistema que se encontra em crise; porém, que não acaba de morrer.

A transição a que nos referimos faz parte de uma dinâmica muito mais ampla que a conjuntura dos últimos 30 anos, quando prevaleceu no sistema mundial a forma neoliberal do capitalismo e tem que ver mais bem com as contradições do sistema capitalista, que teve sua gênese em 1450, apesar da forma que sua fase terminal assume e o rumo que tome o mundo depois dele se se encontra vinculado tanto à luta organizada contra si quanto pelas propostas que possam ser feitas nesse contexto.O capitalismo atual é a forma mais acabada de organização social emanada da civilização ocidental. Tanto ele quanto a organização econômico-social socialista histórica constituem expressões de uma forma de ver e estar no mundo que naufraga como forma viável de organização social que permita não só o bem estar, mas sua sobrevivência na Terra.Portanto, impõe-se encontrar formas de organização social viáveis nesse momento histórico de transição, o que se refere à migração para um novo tipo de sociedade onde, em primeiro lugar, não prevaleça o que Leonardo Boff chama de novo fetiche: o mercado.

busCando altErnatiVas à soCiEdadE dE Consumo

Já não aguento maisO marketing dos vendedoresJá não aguento maisAs tradições dos meus antecessoresJá não aguento maisAs mentiras da televisãoJá não aguento maisA pirâmide em divisãoFala sério, aonde estamos indo?Será eu que estou fugindo?

Já não aguento maisEssa busca por luxo e requinteJá não aguento maisA mudez do ouvinteJá não aguento maisA indiferença do satisfeitoJá não aguento maisO culto ao corpo perfeitoFala sério, aonde estamos indo?Será eu que estou fugindo?

Já não aguento maisO que vem dos abatedourosJá não aguento maisMapas para mil tesourosJá não aguento maisIsso o que chamam de arteJá não aguento maisPoluição por toda a parteFala sério, aonde estamos indo?Será eu que estou fugindo?

Rafael Cuevas Molina - Presidente AUNA-Costa Rica Adital. Tradução: ADITAL

A FUGA DE TOLSTÓI (Clésio Tapety)

Rafael Cuevas Molina

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Passei muitos anos refletindo sobre os incríveis avanços da ciência. Em meu curto tempo de vida, o impacto da ciência e da tecnologia sobre a humanidade foi

tremendo. Embora meu interesse pela ciência tenha começado com a curiosidade sobre o mundo — estranho a mim naquela época —, governado pela tecnologia, não demorou muito até que o significado colossal da ciência para a humanidade como um todo começasse a me surpreender — especialmente depois que parti para o exílio, em 1959. Hoje, não existe praticamente nenhuma área da vida humana que não seja tocada pelos efeitos da ciência e da tecnologia.Ainda assim, não temos dúvidas sobre o lugar da ciência na totalidade da vida humana — o que exatamente ela deveria fazer e de que maneira deveria ser governada? Este último ponto é crucial porque, a menos que a direção da ciência seja guiada por uma motivação conscientemente ética, especialmente compaixão, seus efeitos podem não produzir benefícios. Podem, de fato, causar um grande dano.Enxergar a grande importância da ciência e reconhecer seu inevitável domínio no mundo moderno alterou fundamentalmente a minha atitude para com ela, de uma curiosidade para uma espécie de comprometimento urgente. No budismo, o mais elevado ideal espiritual é cultivar a compaixão por todos os seres sencientes e trabalhar por seu bem estar até o máximo grau possível. Desde muito cedo na minha infância, fui condicionado a valorizar este ideal e tentar cumpri-lo em cada ação.Portanto, quis entender a ciência porque ela me dava uma nova área a explorar em minha busca para entender a natureza da realidade. Também quis aprender porque reconheci na ciência uma maneira irresistível de comunicar as percepções coligidas da minha tradição espiritual. Portanto, para mim, a necessidade de me dedicar a esta poderosa força de nosso mundo tornou-se também uma espécie de injunção espiritual. A questão central — central para a sobrevivência e o bem-estar do nosso mundo — é como podemos transformar os maravilhosos desenvolvimentos da ciência em algo que ofereça um serviço altruísta e compassivo para as necessidades da humanidade e de outros seres sencientes com quem compartilhamos esta terra.Teria a ética um lugar na ciência? Acredito que sim. Em primeiríssimo lugar, assim como qualquer instrumento, a ciência pode ser colocada em bom ou mau uso. É o estado de mente da pessoa que maneja o instrumento que determina com que finalidade seja usado. Segundo, as descobertas científicas afetam o modo como entendemos o mundo e nosso lugar nele. Isto tem conseqüências em nosso comportamento. Por exemplo, o conhecimento mecanicista do mundo levou à Revolução Industrial, na qual a exploração da natureza tornou-se a prática convencional. Existe, contudo, uma premissa geral de que a ética é relevante somente para a aplicação da ciência, não para sua busca. Neste modelo, o cientista como um indivíduo e a comunidade científica em geral ocupam uma posição moralmente neutra, sem qualquer responsabilidade pelos frutos daquilo que descobriram. Mas muitas descobertas científicas importantes, e particularmente as inovações tecnológicas a que elas levam, criam

novas condições e expõem novas possibilidades que dão origem a novos desafios éticos e espirituais. Não podemos simplesmente privar o empreendimento científico e os cientistas da responsabilidade de contribuir para a emergência de uma nova realidade.Talvez o ponto mais importante seja garantir que a ciência nunca se divorcie do sentimento humano básico da empatia com nossos companheiros. Assim como o dedo de uma pessoa só pode funcionar se relacionado com a palma da mão, também os cientistas devem estar cientes de sua conexão com a sociedade como um todo. A ciência é vitalmente importante, mas é apenas um dedo da mão da humanidade, e seu maior potencial só poderá ser realizado desde que tenhamos o cuidado de nos lembrar disso. Do contrário, arriscamo-nos a perder o senso de prioridades. A humanidade pode acabar servindo aos interesses do progresso científico, em vez do inverso. A ciência e a tecnologia são ferramentas poderosas, mas devemos decidir como fazer o melhor uso delas. O que importa, acima de tudo, é a motivação que governa o uso da ciência e da tecnologia, em que, idealmente, o coração e a mente estão unidos.Para mim, a ciência é, antes de mais nada, uma disciplina empírica que proporciona à humanidade um acesso poderoso para entender a natureza do mundo físico e vivo. É, essencialmente, um modo de investigação que dá seu conhecimento fantasticamente detalhado do mundo empírico e das leis básicas da natureza, que inferimos a partir de dados empíricos. A ciência avança por meio de um método bem específico que envolve medição, quantificação e verificação interindivíduos por meio de experimentos que podem ser repetidos. No mínimo,é esta a natureza do método científico tal como ela existe dentro do atual paradigma. Neste modelo, muitos aspectos da existência humana, entre os quais os valores, a criatividade e a espiritualidade, bem como as questões metafísicas mais profundas, situam-se fora do alcance da investigação científica.Embora existam áreas da vida e do conhecimento fora do domínio da ciência, percebo que muitas pessoas defendem uma premissa de que a visão científica do mundo deveria ser a base de todo o conhecimento e de tudo que é cognoscível. Isto é materialismo científico. Embora eu não tenha conhecimento de uma escola de pensamento que proponha explicitamente essa noção, parece ser uma pressuposição comum que não é examinada. Esta visão defende uma crença num mundo objetivo, independente da contingência de seus observadores. Pressupõe que os dados em análise dentro de um experimento são independentes de preconcepções, percepções e experiência do cientista que os analisa.Por trás desta visão está a premissa de que, na análise final, a matéria, da forma como pode ser descrita e é governada pelas leis da física, é tudo o que existe. Conseqüentemente, esta visão defenderia que a psicologia pode ser reduzida à biologia, a biologia à química e a química à física. Minha preocupação aqui não é tanto argumentar contra esta postura reducionista (embora eu mesmo não a tenha), mas chamar atenção para um ponto vitalmente importante: que estas idéias não constituem o conhecimento científico; pelo contrário,

DaLai Lama

o uniVErso Em um ÁtomoTrecho extraído do Primeiro Capítulo do Livro O Universo em um Átomo

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representam uma postura filosófica, de fato, metafísica. O ponto de vista de que todos os aspectos da realidade podem ser reduzidos à matéria e suas várias partículas é, na minha mente, uma postura metafísica tanto quanto o ponto de vista de que uma inteligência em organização criou e controla a realidade.Um dos problemas mais importantes no materialismo científico radical é a estreiteza de visão resultante e o potencial para o niilismo que pode encetar. O niilismo, materialismo e reducionismo são, acima de tudo, problemas de uma perspectiva filosófica e, em particular, humana, já que podem empobrecer a maneira como vemos a nós mesmos.Por exemplo, nos vermos como criaturas biológicas aleatórias ou como seres especiais dotados da dimensão da consciência e capacidade moral terá um impacto em como nos sentimos sobre nós mesmos e tratamos os outros. Nesta visão, muitas dimensões da realidade plena do que é ser humano — arte, ética, espiritualidade, bondade, beleza e, acima de tudo, consciência — ou são reduzidas às reações químicas de neurônios ativados ou são vistas como uma questão de constructos puramente imaginários. O perigo, então, é que os seres humanos sejam reduzidos a nada mais que máquinas

biológicas, os produtos do puro acaso na combinação aleatória dos genes, sem nenhuma outra finalidade além do imperativo biológico da reprodução.É difícil enxergar como perguntas como a do significado da vida ou do bem e do mal podem ser acomodadas em tal visão de mundo. O problema não está nos dados empíricos da ciência, mas na defesa de que esses dados, por si só, constituem o campo legítimo para o desenvolvimento de uma visão de mundo abrangente ou uma maneira adequada de responder aos problemas do mundo. Há mais na existência humana e na própria realidade do que o acesso que a ciência algum dia poderá nos oferecer.Pelo mesmo raciocínio, a espiritualidade deve ser temperada pelas concepções e descobertas da ciência. Se, na qualidade de praticantes espirituais, ignorarmos as descobertas científicas, nossa prática será bem pobre, já que este modo de pensar poderá levar ao fundamentalismo.Esta é uma das razões pelas quais estimulo meus colegas budistas a abraçar o estudo da ciência, para que as concepções científicas possam ser integradas à visão de mundo budista.

Eu sou contra a violência porque parece fazer bem, mas o bem só é temporário; o mal que faz é que é permanente.Mahatma Gandhi

ContradiçÕEs ContEmPorÂnEasSe você é humilde, nada vai lhe afetar, nem o louvor nem a desgraça, porque você sabe o que você é”. Madre Teresa de Calcutá

Estamos cansados de ouvir histórias sobre pessoas que ficam com sua autoestima destruída, se desconectam de sua essência, entregam sua força e poder aos desmandes de chefes autoritários e porque não dizer psicopatas na sua determinação de humilhar, subjugar e tirar o máximo de proveito do seu funcionário. Mas, afinal como nós estamos

estabelecendo nossas relações sejam no trabalho, na família ou nos grupos sociais? Em um mundo onde tudo vira mercadoria descartável rapidamente, nas relações não parece ser diferente. As organizações pautadas em uma ética utilitarista usam e descartam seus colaboradores que em alguns casos já foram levados ao limite da exaustão e do estresse. Nas relações amorosas estabelecer vínculos já não é o desejado, é perigoso, corremos o risco de amarmos verdadeiramente. Nas amizades, o que interessa é o quanto você poderá ser útil nas articulações sociais, quantas pessoas de prestígio fazem parte do seu círculo e qual sua influência nele. Nas famílias a distância está entre o aparelho de TV, o computador ou o celular. Seus membros estão mais ligados aos seus contatos na rede do que propriamente entre si. O mundo tornou-se pequeno, sem fronteiras e em segundos conectamos com pessoas do outro lado do planeta. Em compensação o espaço da nossa casa foi alargado e esvaziado e podemos passar não apenas horas mais dias sem ver ou falar com o pai, a mãe ou irmãos. Bem, podemos dizer que tudo isso faz parte das contradições contemporâneas. Queremos amar, mas temos medo. Queremos amigos, mas falta tempo para alimentar sentimentos profundos e cuidar para que frutifiquem, cresçam e se preservem. Queremos qualidade de vida, mas poluímos, matamos o verde, maltratamos nossos companheiros, penduramos em varais os animais e arrancamos sua pele, comemos sua carne, desperdiçamos a água sagrada que falta em tantas casas. Queremos a paz, mas movimentamos milhões na indústria bélica, maltratamos nossas crianças e velhos e nos maltratamos quando não preenchemos nossas almas e corações de amor e compaixão. Reconhecer que não estamos passando férias em um parque encantado e que a vida cotidiana exige responsabilidade com tudo e todos é adentrar numa consciência ética que traz no seu cerne um novo paradigma. O paradigma que segundo o educador colombiano Bernardo Toro e o teólogo da libertação Leonardo Boff é o “Saber Cuidar”. Eles chamam a atenção para a necessidade de uma ética do cuidado e afirmam que viver nessa nova ética já não é uma opção e sim a saída para não desaparecermos. O que você pensa sobre tudo isso? Quais são as suas contradições? Como seres da falta, assim nos classifica o psicanalista Lacan, estamos sempre na busca de algo que nos preencha, nos faça feliz e nos ofereça um lugar seguro e amoroso. Também somos múltiplos e as contradições estão presentes entre o querer e o fazer, pensar e ser, vontade e necessidade, prática e discurso. No entanto, essas contradições são necessárias e bem-vindas enquanto nos impulsionam ao crescimento, à construção de um modo de vida feliz e saudável e ao encontro consigo e com o outro. As contradições atuais estão nos levando para um colapso, uma crise sem precedentes onde não haverá vencidos ou vencedores, não haverá lados, pois estamos todos do mesmo lado. O lado da vida, da sobrevivência, da preservação e da vontade de usufruir dos recursos naturais. O que nos falta decidir e escolher é o momento no qual deixaremos de ser um para sermos cada um e nesse cada um deixar surgir o espaço para todos. Então, para você chegou esse momento?

Conceição Cavalcanti

Conceição Cavalcanti - Jornalista e Colaboradora do Ganapati.

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Em 2 de outubro, Alex Hershaft, um sobrevivente do Holocausto e fundador do Movimento pelos Direitos dos Animais de Fazenda (FARM, na sigla em inglês), sentou-

se no chão com aproximadamente 100 outros manifestantes em frente ao maior abatedouro de porcos da Costa Oeste dos EUA, o Farmer John, em Veron, Califórnia. Eles bloquearam a passagem de dois grandes caminhões que transportavam 200 porcos que seriam abatidos naquele mesmo dia. Nas próximas 24 horas, esses porcos se juntariam a outros 6 mil animais que seriam desacordados por meio de choques elétricos, içados pelas patas traseiras e teriam seus pescoços cortados por uma máquina.Esse protesto foi apenas um dentre os mais de 100 que ocorreram em todos os países que comemoram o Dia Mundial dos Animais de Fazenda.“Você conseguia ouvir os porcos gritando dos caminhões”, disse Hershaft, de 78 anos, em voz baixa, durante a entrevista feita por telefone diretamente de sua casa em Bethesda, Maryland. “Apesar da minha idade avançada, eu viajei até Vernon e corri o risco de ser preso porque, como sobrevivente do Holocausto, fico muito honrado de chamar a atenção pública para esta tragédia em curso.”Com cinco anos de idade, no Gueto de Varsóvia, Hershaft testemunhou judeus sendo espancados, alvejados e morrendo de tifo pelas ruas. Mas ele foi tirado do local por uma empregada da família e assim conseguiu sobreviver à guerra

se passando por ariano. Após a libertação, ele soube que seu pai havia morrido em um campo de concentração alemão, assim como a maioria de sua família.No início dos anos 60 ele testemunhou uma família druze celebrar o nascimento de um bebê com o ritual de sacrificar um cabrito. “Eu vi a ironia que era matar um filhote para celebrar o nascimento de outro”, disse Hershaft, que em 1961 decidiu se tornar vegetariano. “Eu simplesmente não poderia suportar a ideia de pegar um ser vivo, que tem uma vida e respira, acertá-lo na cabeça e cortar seu corpo em pedaços.”Hershaft começou a encontrar paralelos entre o Holocausto nazista e o massacre de animais, incluindo “o confinamento, brutalidade e o extermínio em massa”, ele diz. “Não estou igualando o Holocausto aos milhões de animais abatidos semanalmente nos Estados Unidos para que sejam recebidos por restaurantes. Para nós, os dois fatos divergem em muitos aspectos. No entanto, nós todos compartilhamos o amor pelas nossas vidas e nossa capacidade de experimentar muitas emoções, incluindo afetos, alegria, tristeza.”Hedfff, que agora é vegan, se tornou um ativista pelos direitos animais depois de participar do Congresso Mundial de Vegetarianismo, em 1975. Em 1981 ele fundou o FARM que, junto a grupos como a PETA, se tornou uma força na luta pelos direitos dos animais e pelo veganismo.Hoje, de acordo com Hershaft, o FARM tem um orçamento de US$250 mil, com 85 mil assinantes dos informativos e dez mil voluntários participando das atividades do grupo.

matança dE inoCEntEs sobrevivente do holocausto relac iona massacre de judeus ao massacre animal

Por Naomi Pfefferman, do Jewish Journal

Na atualidade, primórdios do século XXI, procura-se atingir um aperfeiçoamento do corpo, traduzindo-se na superação dos níveis diversos da existência e,

através de uma ânsia desmedida, no campo da disputa.Cirurgias plásticas e exercícios diversificados pretendem nos tornar mais harmoniosos e atraentes, reduzindo os desgostos dos anos.O que se pensa ilusoriamente é que todos estes cuidados e, só eles, influirão à felicidade da vida a que se pensa alcançar. E busca-se a conquista do par escolhido, em um relacionamento de enlevos, sem precedentes. No entanto, a beleza e a estética não se constituem atrativos únicos, no decorrer dos anos; vão se desgastando, por não serem ativados bens duráveis no mútuo entendimento. O socorro aos necessitados, o comprometimento a tantas vias a que o existir conduz, tudo é visto como fator irrelevante. E o fracasso na busca desenfreada do que é aparente, percebe-se única e exclusivamente como alheamento. E o quanto um gesto de amor poderia conduzir

ao despojamento, talvez possibilitando um processo de verticalidade à pessoa humana!A busca, enganosa continua, estendendo aos bens materiais e ao poder competitivo, pensando-se que convergirão a uma plena realização existencial. Mas, onde há a perspectiva de um sorriso que traduz doçura? Ou um afeto que nos livraria do estresse; uma carícia que nos definiria como seres humanos? E o atendimento a este processo de verticalidade - a evolução de uma fisionomia espiritual afastaria abismos que nos circundam, e nos traria uma percepção apreendida nos limites da Graça, tornando possível a expressão do amor, direcionada a todos, na leveza de gestos da espiritualidade.

a Conquista

Maria Lúcia Chiapetta - Escritora e Colaboradora do Ganapati.

Maria Lúcia Chiapetta

A existência não deve ser cumprida, a partir de uma formulação de castelos erigidos com cartas de baralho, onde a leve brisa faria desabar.

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Não jogar ácido nos rios. Não envenenar a terra. Não poluir o solo. Não matar as matas, que sem elas não vivemos.Sobreviventes em um planeta que dilaceramos, violentamos, mal tratamos. Assim como fazemos com as crianças, com as mulheres, com os idosos, com os diferentes, com os excluídos.No portão um morador de rua agradece um pequeno alimento. Cheira a álcool. Irmão menor. Sua mão inchada está cheia de cachaça. Como a lua cheia de graça.E o meio ambiente é este, que começa neste corpo recoberto de pele por dentro e por fora. Nossa pele que reveste esqueletos queimados ou enterrados. Nossa pele cheia de grama e ervas daninhas. Espinhas. Nossa pele que fede e se perfuma. Nossa pele de cores diversas e texturas. A pele da Terra – mãe que dá vida e se desgasta na sua superfície mais fina. Afirma a aliança da eternidade em cada instante perene. Transformando.Somos a vida da Terra. Somos o Caminho. Somos a Verdade.Acorda. Compartilha. Cuida. Coopera.Constrói comigo, conosco, uma nova maneira antiga de Interser. Paz. Cultura de Paz e de Não violência. Empoderamento.Somos o Caminho. Que senda construímos com nossos pensamentos, gestos, palavras?Ilusão. Desilusão.Acorda.Ainda é tempo.Redescobre seu papel neste cenário que não é cenário é realidade.Cuida.Coopera.Compartilha.Riquezas e pobrezas. Rio corre sagrada vida.Percebe criança que você tem o direito de viver, de sorrir, de comer, de beber, de estudar, de trabalhar, de cuidar e de respirar. Direito e dever de brincar, amar, compartilhar.Terra me permite um gesto de humildade, abaixando e a beijando com ternura- minha própria face.

Mãos em prece.

Monja Coen

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quinta-feira, 12 de maio de 2011 19:58:08

Eu estava em Nova Delhi, na Índia, no dia 30 de janeiro passado. Era o dia Memorial de Mahatma Gandhi.Corria sozinha pelas ruas próximas do hotel e numa

rotatória vi o pôster grande, com a foto de Gandhi, anunciando um Seminário sobre Cultura de Paz, Não violência e empoderamento.Parei para cumprimentar o sol que despontava. Dourado.Empoderamento – talvez essa seja a maior dificuldade atual da Índia, pensei eu. Pessoas acomodadas na pobreza, na desigualdade, na injustiça.Onde estariam os ricos? Em que bairro moram os de classe média alta? Como são suas casas, seus seguranças, seus jardins, sua água?Coberta de terra e cinza a Índia liberta continua aprisionada. Não há violência e há violência. Há paz e não há paz.Empoderamento.Dar poder. O poder de exigir seus direitos de forma não violenta. Restituir a dignidade da vida em cada ser vivo.Quem tirou o poder das pessoas?O poder de escolher, de decidir, de sentir, de pensar?O poder de estudar, trabalhar, compartilhar, cooperar?O poder de viver e de morrer com dignidade.No Rio de Janeiro meninos apressados num assalto mal planejado arrastam outro menino morto-vivo em meio aos gritos de quem ainda grita. Tantos silêncios silenciados pelo medo.Vítimas todos da violência, que já não a percebemos violenta.Nas margens do Rio Ganges, na cidade de Varanasi – sagrada cidade – cachorros de rua, inúmeros cachorros nas ruas da Índia, cachorros de todas as idades – comiam o corpo de um menino morto que o rio regorgitou em uma de suas margens. Crianças não são cremadas, são jogadas no rio sagrado, com uma pedra a elas amarrada.Era apenas o que era. Ao lado uma vaca entrava na água, dois jovens lavavam suas roupas batendo na pedra vermelha.Nosso corpo é comida para cães famintos. Somos alimento na cadeia alimentar.Quando nos lembramos disso?Saneamento básico. Não jogar cadáveres nos rios.Não evacuar, não urinar nas águas que usamos para beber, lavar, banhar, comer.Parece tão simples.

A violência não é força, mas fraqueza, nem nunca poderá ser criadora de coisa alguma, apenas destruidora.Benedetto Croce

Cultura dE Paz, nÃo ViolÊnCia

Fonte = http://www.monjacoen.com.br/textos-budistas/textos-da-monja-coen/66-cultura-de-paz-nao-violencia-

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a busCa

Filo

soFi

a

Todo aquele que percebe a inferioridade de seu ambiente em relação ao que poderia ser, assim como a imperfeição de sua natureza à Luz de suas possibilidades não desenvolvidas, e que se propõe a melhorar o primeiro e sanar a segunda, deu o primeiro passo para a busca... Num dia decisivo, ele

vai perceber, com pesar, que está preso pelas atividades externas como se fosse por um polvo. Vai então empunhar a faca da determinação penetrante e implacável e cortar de uma vez por todas os tentáculos que o prendem... Os que se interessam por idéias avançadas o suficiente para persegui-las a despeito do desprezo social, assim como os que têm coragem para explorar o que está além das idéias já aceitas, tornaram-se um contingente significativo de buscadores... A massa é apática diante da Busca: os pobres por uma série de razões, os ricos por outra. Apenas os poucos capazes de ter juízo individual, os pensadores independentes e ousados, serão capazes de se destacar da massa... Ele vai precisar de muita coragem para a Busca, porque será confrontado por dois inimigos poderosos. Um é ele próprio; o outro, a sociedade. No interior de si mesmo, vai ter que travar batalha contra os grandes desejos. No interior da sociedade, vai ter que lutar contra as grandes tradições... Não são muitos os que estão prontos para essa independência de atitude e de vida. É necessário, antes de tudo, certa força interior e, evidentemente, uma disposição natural ou adquirida para desertar do rebanho se necessário.

Extraído do livro Idéias em Perspectiva de Paul Brunton

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Quando acreditamos nessa possibilidade, o mundo se enche de relações, o tempo todo, onde quer que estejamos. Se acreditamos na comunicação extra-

humana, nossa vida fica imensamente rica, mas nossa responsabilidade e trabalho também crescem.Sim, porque se uma flor caiu do arbusto no cimento escaldante, e ali pertinho tem um canteiro de grama onde ela poderia estar melhor, ou se determinada pedra demonstra querer mudar de lugar, ou certa árvore pede ajuda, não há como não atender – se estivermos atentos ao nosso redor e se confiarmos na própria intuição. Felizmente esses seres têm alma coletiva, pois assim, fazendo por um, fazemos pela espécie, do contrário não haveria tempo hábil para “atender a todos”.É uma alegria esse relacionamento fugaz, sem compromisso formal, mas muito solidário. São amizades que fazemos, silenciosamente, discretamente, por onde passamos.Até agora falamos dos reinos da natureza sem falarmos dos animais, pois esses são hors concours, dão luz e propósito a nossas vidas, e, por amá-los e respeitá-los, sentimo-nos responsáveis por proteger todos eles, a ponto de querermos – e trabalharmos – para mudar o mundo.Mas e se falarmos dos outros, considerados coisas ou objetos? Sinto que também com eles podemos nos relacionar. Ao limpar e lustrar uma mesa, estamos nos comunicando (consciente ou distraidamente) com ela, e, por tabela, com todos aqueles que participaram de sua confecção, desde a árvore ou outra matéria-prima, ao desenhista, artesão ou operário, ao transportador, vendedor, e assim por diante durante toda a sua transformação.Porém, ao sentarmos a uma mesa, para comer ou estudar,

quem de nós lembra dela, ou dos inúmeros apetrechos que usamos para nosso conforto?A quase infinita oferta de produtos gera a desvalorização do que temos ou vemos. Mas na verdade, cada peça tem sua origem, história e “vida”, dependendo dos caminhos que percorreu e das mãos pelas quais passou. Se não percebemos isso, ficamos apenas a utilizá-las, e nos privamos da interação.Se ao contrário, praticamos a atenção, essas relações podem enriquecer ainda mais nossa vida interior e, como acréscimo, tornar nossa existência aqui na superfície da Terra bem mais aconchegante, pois estaremos sempre rodeados por energias solidárias, que, em silêncio, nos reconhecem e nos inspiram à gratidão por tudo o que existe.

A vida verdadeira é como a água:Em silêncio se adapta ao nível inferiorQue os homens desprezam.Não se opõe a nada,Serve a tudo.Não exige nada,Porque sua origem é da fonte imortal.O homem realizado não tem desejos de dentro,Nem tem exigências de fora.Ele é prestativo em se darE sincero em falar,Suave no conduzir,Poderoso no agir.Age com serenidade.Por isto é incontaminável.

Paul Brunton

Nina Rosatudo quE EXistE tEm Vida

Lao

Tsé

Paul Brunton foi jornalista na Inglaterra além de Filósofo, escritor e espiritualista.

Nina Rosa - Palestrante, ativista e defensora da causa animal.

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o homEm liVrE

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Os jornais, em grande escala, controlam o vosso pensamento e fornecem os preconceitos que devereis nutrir. A

literatura que ledes influencia o vosso pensar, e o político, com suas promessas de uma futura utopia, molda-vos a ação. Assim, as autoridades políticas e religiosas estão moldando a pouco e pouco a mente do homem. Isso é um fato, quer o admitais, quer não.

Eis o verdadeiro estado de coisas, no mundo. Vossa mente é moldada como hinduísta, budista ou socialista; estais condicionados para crer ou para não crer, e mudar simplesmente a forma de crença, abandonando o hinduísmo para vos tornardes cristão, comunista ou o que quer que seja, me parece uma coisa inteiramente fútil - não só fútil, pois é, em verdade, de certa maneira, uma espécie de crime, já que não resolve o problema fundamental. Passamos, meramente, de um palavreado para outro palavreado, e essa mudança das palavras tem, em si, extraordinário efeito na mente. Não sei se já observasses como somos escravos das palavras.

Krishnamurti

o lugarEJoMarcelo Zenaide

Contam que havia um lugarejo, incrustado em um vale de difícil acesso, onde vivia um grupo de pessoas cujas origens remotavam

há centenas de anos. Esse povo tinha uma crença que movimentava e dava suporte à vida do local, determinando o futuro dos que nasciam, o dia-a-dia dos que trabalhavam, as lacunas dos que questionavam. Todos os habitantes deste lugar acreditavam que, em algum momento remoto, seres bastante sábios haviam deixado um pingente de pedra encrustado no topo de um altar. Presos por este pingente havia um sem número de correntes de diversos tamanhos e, na ponta destas correntes, várias pedras de aspectos e pesos distintos.A imagem destes artefatos se transformou em um símbolo que inspirava as relações estabelecidas entre os indivíduos do lugarejo. Os Sábios, que eram considerados como descendentes diretos dos Seres Mais Antigos, tinham uma interpretação simples, direta e inquestionável (pois, é claro, eles eram os Sábios) em relação a este conjunto: eles mesmos, junto com todos os indivíduos que detinham o conhecimento mais aprofundado sobre os ritos que mantinham ordem e pureza na cultura do lugarejo, estavam claramente representados pelo pingente; nas pontas, as pedras de diferentes formas e tamanhos indicavam aqueles indivíduos que, com seu esforço diário e necessário, sustentavam, em diversos aspectos, toda a sociedade; e as correntes representavam o único meio de manter toda esta estrutura inteira em harmonia: o sacrifício.

Tudo no lugarejo funcionava perfeitamente bem. Um grande contingente de indivíduos, logo após o nascimento, era destinado ao trabalho forçado e sacrificados em nome da harmonia das Leis interpretadas pelos Sábios. Os demais habitantes do local, em função de relações diretas ou indiretas com os Sábios, não precisavam passar por provações, pois a hierarquia era considerada natural. Alguns poucos seres, vez por outra, incitavam questionamentos a respeito destas Leis, mas os Sábios eram sempre claros: tudo isto foi definido pelos Seres Mais Antigos, e sempre foi assim - é natural; se modificarmos, tudo irá ruir, toda a harmonia que vemos será destruída. E os revoltados calavam-se, e quedavam-se em seus labores habituais, convencidos de que, apesar de suas dores, tudo deveria continuar como estava.Certo dia, após um momento de distração dos Sábios que guardavam o altar do pingente, uma criança se aproximou dos artefatos e, com sua curiosidade natural e sem entender, ainda, a sacralidade daqueles objetos, começou a manipulá-los. De repente, após alguns poucos movimentos, o pingente soltou-se e as correntes, que sustentavam as pedras, caíram. Os Sábios, então, perceberam o que havia ocorrido e correram para tentar recuperar a estrutura, mas já era tarde: tudo já estava no chão, e o próprio pingente havia se partido na queda. Por vários anos, a partir deste episódio, um grupo cada vez menor de Sábios ainda buscava manter os mesmos símbolos antigos para preservar as antigas relações hierárquicas, antes encaradas como naturais, mas a notícia de que uma criança havia destruído - sem medo e de forma tão simples - as prisões que amarravam os sonhos dos indivíduos que se sacrificavam diariamente, marcou de forma indelével a mente de todos os que viviam no lugarejo e, aos poucos, as correntes mentais iam se partindo.Contam que resquícios do pingente ainda podem ser vistos, que ainda existem Sábios, e que ainda há quem os ouça, mas as correntes - antes tão sólidas - não prendem mais ninguém.

A violência faz-se passar sempre por uma contra-violência, quer dizer, por uma resposta à violência alheia.Jean-Paul Sartre

Fonte=http://www.krishnamurti.org.br/?q=node/677

Marcelo Zenaide - Coordenador da campanha Segunda Sem Carne em Pernambuco

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Igor Caladoii ConFErÊnCia intErnaCional dE dirEitos dos animais

Aconteceu em Luxemburgo entre os dias 13 e 16 de setembro de 2012 a II Conferência

Internacional de Direitos dos Animais. Sediada na pequena cidade

de Esch-sur-Alzette - 27 mil habitantes, fronteira com a França -, a conferência trouxe ativistas de várias partes do mundo para 4 dias de muitas palestras e intensa troca de experiências na Kulturfabrik – espaço cultural da cidade, que antes era um matadouro. Nesses poucos dias, a quantidade de contribuições foi enorme e muito diversa, mas para quem não pode foi lá conferir, trazemos um pequeno resumo de algumas das palestras mais interessantes.O professor sul-africano Stephen Marcus, em sua palestra Let’s influence the children (“Vamos influenciar as crianças”), mostrou sua exitosa experiência de discussão de crianças sobre direitos dos animais através do livro de ficção infantil que escreveu. Stephen defende que o uso de narrativas é um ótimo método para fazer com que as crianças criem empatia com os animais-não humanos e, através de história que exponham a violência da exploração, possam pensar novas formas de lidar com os animais. Com humor e sem floreios, Stephen diz que espera ter espaço para sua “agenda subversiva” junto às crianças.Chris DeRose, ícone norte-americano do ativismo animal e fundador da Last Chance for Animals, falou para a plateia sobre sua experiência com décadas de ativismo em protestos, ações diretas e desobediência civil na palestra How to deal with media, law enforcement and the public in civil disobedience (“Como lidar com a mídia, o cumprimento da lei e o público na desobediência civil”). Chris comentou sobre a necessidade de fazer da mídia (e, se possível, dos policiais) seus aliados; dos cuidados que toma para evitar ser acusado de crimes perante a lei norte-americana e da importância e efeitos de protestos polêmicos não-violentos, ou da resistência pacífica, para chamar atenção para a causa.Sob o título Abolitionism: anatomy of an ideology (“Abolicionismo: anatomia de uma ideologia”), o professor de política da Universidade de Leicester Robert Garner discute o abolicionismo e outras perspectivas em ética animal, como o bem-estarismo, a sentience position e o que seria, para ele, a postura ideal, a enhanced sentience position (algo como

“posição senciente avançada”). Garner é conhecido como “rival intelectual” do autor abolicionista Gary Francione, com quem escreveu The Animal Rights Debate: Abolition or Regulation?, onde os dois discutem suas respectivas posições éticas. Garner disse discordar completamente do rótulo de bem-estarismo empregado por seus críticos, afirma acreditar, contra a atual corrente dominante no debate dos direitos dos animais, que os interesses das outras espécies não podem ser igualadas aos humanos e comentou a resposta bastante negativa que tem recebido entre ativistas.Cinco brasileiros marcaram a presença do país com cinco palestras. Bianca Salles Dantas apresentou a pesquisa que desenvolve sobre cinema documentário de ativismo animal no Mestrado em Multimeios na UNICAMP; Carlos Cipro Neto falou sobre a construção de grupos de estudo a partir da experiência do GEDAS, Grupo de Estudos dos Direitos dos Animais, sediado em São Paulo; Silvana Andrade e Lobo Pasolini apresentaram a Agência de Direitos dos Animais (ANDA), suas atividades e suas novidades – como o game de ativismo animal para Facebook chamado Life Defender (“Defensor da Vida”); por fim, George Guimarães mostrou o trabalho do VEDDAS, ONG da qual é fundador e presidente e, em outra apresentação, fez um panorama sobre o ativismo ambiental e animal no Brasil.A britânica Jeanette Rowley, professora e candidata a PhD na Lancaster University Law School, apresentou a palestra Vegan belief in law (“Crença vegana na lei”), onde discute a proteção aos praticantes da filosofia vegana de acordo com o conceito de liberdade de crença e proteção às minorias. Centrada na legislação da Gra-Bretanha e da União Europeia, Jeanette cita casos levados à Corte Europeia de Direitos Humanos com resultados favoráveis à proteção do veganismo e de suas práticas (acesso à alimentação adequada, proteção contra demissão por motivos ideológicos). Ela é responsável pela página Vegan Equality no Facebook e está gestando a International Vegan Rights Alliance (Aliança Internacional de Direitos Veganos, cujo site ainda está para ser lançado), para discutir o avanço à proteção do veganismo e a efetivação dos direitos veganos enquanto direitos humanos ao redor do planeta, como ferramenta do movimento vegano.

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Igor Calado é integrande do Grupo SVB e colaborador do Ganapati.

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EVEntos rEalizados sVb/ganaPati

3º CONGRESSO MUNDIAL DE BIOÉTICA E DIREITOS DOS ANIMAISAconteceu em Recife, na Universidade Federal de Pernambuco de 22 a 25 de agosto através da Coordenadoria de Ensino de Ciências do Nordeste (CECINE).. Sua terceira edição contou com importantes participações de expoentes na conquista da ética para com os animais.

JANTAR BENEFICENTE PELA CAUSA ANIMALRealizado no Restaurante Papaya Verde, Espinheiro, em 18 de Agosto, organizado pelo Grupo Ganapati e SVB-Recife. Uma grande celebração na luta pela causa. Todo o cardápio foi feito sem qualquer uso de produto de origem animal. Aconteceu, durante o jantar uma palestra de Marcelo Zenaide e apresentação de vídeos ressaltando a importância da escolha por uma dieta vegetariana.

WEEAC 2012 - II DIA MUNDIAL PELO FIM DA CRUELDADE E EXPLORAÇÃO ANIMAL.No dia 22 de Setembro o Ganapati, em parceria com os grupos SVB-Recife e Ativeg-Recife promoveu o WEEAC 2012 (II Dia Mundial pelo Fim da Crueldade e Exploração Animal), evento de caráter mundial, no qual ocorreram diversas manifestações em defesa dos animais não-humanos. No Brasil cerca de 30 cidades fizeram parte do evento. No evento houve a distribuição de material educativo exibição de vídeos e mini-palestras temáticas.

DIA MUNDIAL DO VEGETARIANISMO Ação de divulgação do vegetarianismo (exposição de banners, distribuição de folders) promovida pela SVB/Recife, dia 30/09, no Parque da Jaqueira, em comemoração antecipada ao dia mundial do vegetarianismo.

Bárbara Bastos

EXPosiçÃo ganaPatiana

Filie-se! Ajude a Sociedade Vegetariana Brasileira a trabalhar para que o vegetarianismo seja reconhecido como uma opção alimentar benéfica para a saúde humana, dos animais e do Planeta. www.svb.org.br/filiacao

Bárbara Bastos é professora da UFPE e Coordenadora do Grupo SVB-Recife

Fotos de Gregory Colbert - criador do projeto Ashes and Snow

O trabalho reune fotos, vídeo e exposição e explora as sensibilidades

poéticas partilhadas pelos seres humanos e pelos animais.

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