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I N F O R M A T I V O S T F M E N S A L N º 6 8

ABRIL DE 2017

Compilação dos Informativos 860 a 862

O Informativo do STF Mensal apresenta todos os resumos de

julgamentos divulgados pelo Informativo STF concluídos no mês a

que se refere e é organizado por ramos do Direito e por assuntos.

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SUMÁRIO

Direito Administrativo

Aposentadorias e Proventos

Integralidade e Emenda Constitucional 70/2012

Cargo Público

Acumulação de cargo público e ‘teto’ remuneratório

Servidores Públicos

Responsabilidade subsidiária da Administração e encargos trabalhistas

não adimplidos

Direito Constitucional

Assistência Social

Estrangeiros e beneficiários de assistência social

Bens da União

Terrenos de marinha localizados em ilhas costeiras sede de

Municípios e bens federais

Direito de Greve

Direito de greve e carreiras de segurança pública

Gratuidade de Ensino

Gratuidade de ensino e cobrança de mensalidade em curso de

especialização

Imunidade Tributária

Petrobras e imunidade - 2

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Precatórios

RPV e juros moratórios - 2

Conselhos profissionais e sistema de precatórios

Direito Penal

Dolo

Crime de dispensa irregular de licitação e dolo específico

Pena

Remição da pena e jornada de trabalho inferior a seis horas

Cumprimento de pena em regime semiaberto ou aberto e

estabelecimento prisional adequado

Perdão Judicial

Colaboração premiada e requisitos para concessão de perdão judicial -

2

Prisão Preventiva

‘Habeas corpus’, competência do STF e soberania dos veredictos do

Tribunal do Júri

Prisão preventiva e acordo de colaboração premiada

Direito Processual Civil

Coisa Julgada

Preclusão e autonomia das entidades esportivas

Execução

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Execução individual de ação coletiva e competência

Direito Tributário

Imunidade Tributária

IPTU: imunidade tributária recíproca e cessão de uso de bem público -

5

IPTU e imóvel de ente público cedido a empresa privada - 3

Incentivo Fiscal

Alíquota de IPI para produção de açúcar e localização geográfica

Limitação ao Poder de Tributar

IPTU e imóvel de ente público cedido a empresa privada - 2

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D I R E I T O A D M I N I S T R A T I V O

APOSENTADORIAS E PROVENTOS

INTEGRALIDADE E EMENDA CONSTITUCIONAL 70/2012

Os efeitos financeiros das revisões de aposentadoria concedida

com base no art. 6º-A (1) da Emenda Constitucional (EC) 41/2003,

introduzido pela EC 70/2012, somente se produzirão a partir da data

de sua promulgação (30.3.2012).

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, deu

provimento a recurso extraordinário em que se discutia a possibilidade

de servidor público aposentado por invalidez permanente, em

decorrência de doença grave, após a vigência da EC 41/2003, mas

antes do advento da EC 70/2012, receber retroativamente proventos

integrais calculados sobre a remuneração do cargo efetivo em que se

deu a aposentadoria.

No caso, após 26 anos de serviço público, a recorrida aposentou-

se por invalidez permanente, em decorrência de doença grave, com

proventos calculados com base na EC 41/2003 e na Lei 10.887/2004.

Ante a inesperada redução do valor de seus proventos, a

servidora ajuizou ação para o restabelecimento da quantia inicialmente

percebida.

No curso do processo sobreveio a EC 70/2012, que introduziu o

art. 6º-A. Com fundamento nesse dispositivo, o juiz de primeiro grau

julgou procedente a ação para restabelecer a integralidade dos

proventos de aposentadoria, acrescidos da diferença dos atrasados,

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corrigidos monetariamente. Essa decisão foi mantida pelas demais

instâncias judiciárias.

O Plenário afirmou que, no caso de aposentadoria por invalidez,

a Constituição Federal (CF) original assegurava o direito aos

proventos integrais e à integralidade. Dessa forma, os proventos não

seriam proporcionais, mas iguais ao da última remuneração em

atividade.

Essa situação perdurou até a EC 41/2003, que manteve os

proventos integrais, não proporcionais ao tempo de serviço, como se o

servidor tivesse trabalhado todo o tempo de serviço. Porém, essa

emenda acabou com a integralidade e determinou a aposentadoria com

base na média dos 80% dos maiores salários de contribuição, e não

mais no valor da remuneração do cargo.

Em 2012, a EC 70/2012 restabeleceu a integralidade, mas com

efeitos financeiros a partir de sua publicação. Assim, o servidor

passou a ter direito à integralidade dos proventos. Esse direito, no

entanto, não retroage para alcançar período anterior.

Vencidos os ministros Dias Toffoli (relator), Edson Fachin, Rosa

Weber, Ricardo Lewandowski e Cármen Lúcia, que negavam

provimento ao recurso. Sustentavam que o servidor público

aposentado por invalidez permanente em decorrência de acidente em

serviço ou de moléstia profissional ou doença grave, contagiosa ou

incurável prevista em lei, entre o início da vigência da EC 41/2003 e a

publicação da EC 70/2012, teria jus à integralidade e à paridade desde

a data da inativação.

Pontuavam que a EC 41/2003 não teria acabado com a

integralidade das aposentadorias concedidas por invalidez e que a EC

70/2012 não teria instituído nada de novo, mas apenas veio a dirimir

as dúvidas de modo a tornar claro o direito existente.

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(1) Emenda Constitucional 41/2003: “Art. 6º-A. O servidor da

União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, incluídas

suas autarquias e fundações, que tenha ingressado no serviço público

até a data de publicação desta Emenda Constitucional e que tenha se

aposentado ou venha a se aposentar por invalidez permanente, com

fundamento no inciso I do § 1º do art. 40 da Constituição Federal, tem

direito a proventos de aposentadoria calculados com base na

remuneração do cargo efetivo em que se der a aposentadoria, na forma

da lei, não sendo aplicáveis as disposições constantes dos §§ 3º, 8º e

17 do art. 40 da Constituição Federal.”

RE 924456/RJ, rel. orig. Min. Dias Toffoli, red. p/ o ac. Min.

Alexandre de Moraes, julgamento em 5.4.2017. (RE-924456)

(Informativo 860, Plenário, Repercussão Geral) 1ª Parte: 2ª

Parte:

CARGO PÚBLICO

ACUMULAÇÃO DE CARGO PÚBLICO E ‘TETO’ REMUNERATÓRIO

Nos casos autorizados constitucionalmente de acumulação de

cargos, empregos e funções, a incidência do art. 37, XI (1), da

Constituição Federal (CF) pressupõe consideração de cada um dos

vínculos formalizados, afastada a observância do teto remuneratório

quanto ao somatório dos ganhos do agente público.

Com base nesse entendimento, o Plenário, em julgamento

conjunto e por maioria, negou provimento a recursos extraordinários e

reconheceu a inconstitucionalidade da expressão “percebidos

cumulativamente ou não” contida no art. 1º da Emenda Constitucional

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(EC) 41/2003, que alterou a redação do art. 37, XI, da CF, considerada

interpretação que englobe situações jurídicas a revelarem acumulação

de cargos autorizada constitucionalmente.

Além disso, declarou a inconstitucionalidade do art. 9º da EC

41/2003 (2), para afastar definitivamente o art. 17 do Ato das

Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) (3), por já ter

surtido efeitos na fase de transformação dos sistemas constitucionais

— Cartas de 1967/1969 e 1988 —, excluída a abrangência a ponto de

fulminar direito adquirido.

No caso, os acórdãos recorridos revelaram duas conclusões

principais: a) nas acumulações compatíveis com o texto

constitucional, o que auferido em cada um dos vínculos não deve

ultrapassar o teto constitucional; e b) situações remuneratórias

consolidadas antes do advento da EC 41/2003 não podem ser

atingidas, observadas as garantias do direito adquirido e da

irredutibilidade de vencimentos, porque oponíveis ao poder

constituinte derivado.

O Colegiado afirmou que a solução da controvérsia pressupõe

interpretação capaz de compatibilizar os dispositivos constitucionais

em jogo, no que aludem ao acúmulo de cargos públicos e das

respectivas remunerações, incluídos os vencimentos e proventos

decorrentes da aposentadoria, considerados os preceitos atinentes ao

direito adquirido (CF, art. 5º, XXXVI) e à irredutibilidade de

vencimentos (CF, art. 37, XV).

Ressaltou que a percepção somada de remunerações relativas a

cargos acumuláveis, ainda que acima, no cômputo global, do patamar

máximo, não interfere nos objetivos que inspiram o texto

constitucional. As situações alcançadas pelo art. 37, XI, da CF são

aquelas nas quais o servidor obtém ganhos desproporcionais,

observadas as atribuições dos cargos públicos ocupados. Admitida a

incidência do limitador em cada uma das matrículas, descabe declarar

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prejuízo à dimensão ética da norma, porquanto mantida a

compatibilidade exigida entre trabalho e remuneração.

Assentou que as possibilidades que a CF abre em favor de

hipóteses de acumulação de cargos não são para benefício do servidor,

mas da coletividade. Assim, o disposto no art. 37, XI, da CF,

relativamente ao teto, não pode servir de desestímulo ao exercício das

relevantes funções mencionadas no inciso XVI (4) dele constante,

repercutindo, até mesmo, no campo da eficiência administrativa.

Frisou que a incidência do limitador, considerado o somatório

dos ganhos, ensejaria enriquecimento sem causa do Poder Público,

pois viabiliza retribuição pecuniária inferior ao que se tem como

razoável, presentes as atribuições específicas dos vínculos

isoladamente considerados e respectivas remunerações. Ademais, essa

situação poderá potencializar situações contrárias ao princípio da

isonomia, já que poderia conferir tratamento desigual entre servidores

públicos que exerçam idênticas funções. O preceito concernente à

acumulação preconiza que ela é remunerada, não admitindo a

gratuidade, ainda que parcial, dos serviços prestados, observado o art.

1º da CF, no que evidencia, como fundamento da República, a

proteção dos valores sociais do trabalho.

Enfatizou que o ordenamento constitucional permite que os

ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) acumulem as suas

funções com aquelas inerentes ao Tribunal Superior Eleitoral (CF, art.

119), sendo ilógico supor que se imponha o exercício simultâneo, sem

a correspondente contrapartida remuneratória. Da mesma forma, os

arts. 95, parágrafo único, I, e 128, § 5º, II, “d”, da CF veiculam regras

quanto ao exercício do magistério por juízes e promotores de justiça,

de maneira que não se pode cogitar, presente o critério sistemático de

interpretação, de trabalho não remunerado ou por valores inferiores

aos auferidos por servidores que desempenham, sem acumulação, o

mesmo ofício. Idêntica orientação há de ser observada no tocante às

demais circunstâncias constitucionais de acumulação de cargos,

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empregos e funções públicas, alusivas a vencimento, subsídio,

remuneração oriunda do exercício de cargos em comissão, proventos e

pensões, ainda que os vínculos digam respeito a diferentes entes

federativos.

Consignou que consubstancia direito e garantia individual o

acúmulo tal como estabelecido no inciso XVI do art. 37 da CF, a

encerrar a prestação de serviços com a consequente remuneração, ante

os diversos cargos contemplados, gerando situação jurídica na qual os

valores devem ser recebidos na totalidade.

O teto remuneratório não pode atingir, a partir de critérios

introduzidos por emendas constitucionais, situações consolidadas,

observadas as regras preexistentes, porque vedado o confisco de

direitos regularmente incorporados ao patrimônio do servidor público

ativo ou inativo (CF, arts. 5º, XXXVI, e 37, XV).

Essa óptica deve ser adotada quanto às ECs 19/1998 e 41/2003,

no que incluíram a expressão “percebidos cumulativamente ou não”

ao inciso XI do art. 37 da CF.

Cabe idêntica conclusão quanto ao art. 40, § 11, da CF, sob pena

de criar situação desigual entre ativos e inativos, contrariando

preceitos de envergadura maior, entre os quais a isonomia, a proteção

dos valores sociais do trabalho — expressamente elencada como

fundamento da República —, o direito adquirido e a irredutibilidade

de vencimentos.

As aludidas previsões limitadoras, a serem levadas às últimas

consequências, além de distantes da razoável noção de teto, no que

conduz, presente acumulação autorizada pela CF, ao cotejo

individualizado, fonte a fonte, conflitam com a rigidez constitucional

decorrente do art. 60, § 4º, IV, nela contido.

Vencido o ministro Edson Fachin, que dava provimento aos

recursos extraordinários. Pontuava que o art. 37, XI, da CF deveria ser

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interpretado literalmente, de modo que o teto deveria ser aplicado de

forma global e não individualmente a cada cargo.

(1) CF/1988: “Art. 37. (...) XI – A remuneração e o subsídio dos

ocupantes de cargos, funções e empregos públicos da administração

direta, autárquica e fundacional, dos membros de qualquer dos

Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,

dos detentores de mandato eletivo e dos demais agentes políticos e os

proventos, pensões ou outra espécie remuneratória, percebidos

cumulativamente ou não, incluídas as vantagens pessoais ou de

qualquer outra natureza, não poderão exceder o subsídio mensal, em

espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, aplicando-se

como limite, nos Municípios, o subsídio do Prefeito, e nos Estados e

no Distrito Federal, o subsídio mensal do Governador no âmbito do

Poder Executivo, o subsídio dos Deputados Estaduais e Distritais no

âmbito do Poder Legislativo e o subsidio dos Desembargadores do

Tribunal de Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e cinco

centésimos por cento do subsídio mensal, em espécie, dos Ministros

do Supremo Tribunal Federal, no âmbito do Poder Judiciário,

aplicável este limite aos membros do Ministério Público, aos

Procuradores e aos Defensores Públicos.”

(2) Emenda Constitucional 41/2003: “Art. 9º Aplica-se o

disposto no art. 17 do Ato das Disposições Constitucionais

Transitórias aos vencimentos, remunerações e subsídios dos ocupantes

de cargos, funções e empregos públicos da administração direta,

autárquica e fundacional, dos membros de qualquer dos Poderes da

União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, dos

detentores de mandato eletivo e dos demais agentes políticos e os

proventos, pensões ou outra espécie remuneratória percebidos

cumulativamente ou não, incluídas as vantagens pessoais ou de

qualquer outra natureza.”

(3) ADCT: “Art. 17. Os vencimentos, a remuneração, as

vantagens e os adicionais, bem como os proventos de aposentadoria

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que estejam sendo percebidos em desacordo com a Constituição serão

imediatamente reduzidos aos limites dela decorrentes, não se

admitindo, neste caso, invocação de direito adquirido ou percepção de

excesso a qualquer título.”

(4) CF/1988: “Art. 37. (...) XVI – é vedada a acumulação

remunerada de cargos públicos, exceto, quando houver

compatibilidade de horários, observado em qualquer caso o disposto

no inciso XI: a) a de dois cargos de professor; b) a de um cargo de

professor com outro técnico ou científico; c) a de dois cargos ou

empregos privativos de profissionais de saúde, com profissões

regulamentadas;”

RE 612975/MT, rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 26 e

27.4.2017. (RE-612975)

RE 602043/MT, rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 26 e

27.4.2017. (RE-602043)

(Informativo 862, Plenário, Repercussão Geral)

SERVIDORES PÚBLICOS

RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA DA ADMINISTRAÇÃO E ENCARGOS TRABALHISTAS NÃO ADIMPLIDOS - 5

O inadimplemento dos encargos trabalhistas dos empregados do

contratado não transfere automaticamente ao Poder Público

contratante a responsabilidade pelo seu pagamento, seja em caráter

solidário ou subsidiário, nos termos do art. 71, § 1º, da Lei

8.666/1993.

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Com esse entendimento, o Plenário, em conclusão de julgamento

e por maioria, conheceu em parte e, na parte conhecida, deu

provimento a recurso extraordinário em que discutida a

responsabilidade subsidiária da Administração Pública por encargos

trabalhistas gerados pelo inadimplemento de empresa prestadora de

serviço.

Na origem, o Tribunal Superior do Trabalho (TST) manteve a

responsabilidade subsidiária de entidade da Administração Pública

tomadora de serviços terceirizados pelo pagamento de verbas

trabalhistas não adimplidas pela empresa contratante. Isso ocorreu em

razão da existência de culpa “in vigilando” do órgão público,

caracterizada pela falta de acompanhamento e fiscalização da

execução de contrato de prestação de serviços, em conformidade com

a nova redação dos itens IV e V do Enunciado 331 da Súmula do TST.

A recorrente alegava, em suma, que o acórdão recorrido, ao

condenar subsidiariamente o ente público, com base no art. 37, § 6º,

da Constituição Federal (CF), teria desobedecido ao conteúdo da

decisão proferida no julgamento da ADC 16/DF (DJE de 9.9.2011) e,

consequentemente, ao disposto no art. 102, § 2º, da CF. Afirmava que

o acórdão recorrido teria declarado a inconstitucionalidade do art. 71,

§ 1º, da Lei 8.666/1993, embora a norma tenha sido declarada

constitucional no julgamento da ADC 16/DF. Sustentava violação dos

arts. 5º, II, e 37, “caput”, da CF, por ter o TST inserido no item IV do

Enunciado 331 da sua Súmula obrigação frontalmente contrária ao

previsto no art. 71, § 1º, da Lei de Licitações. Defendia, por fim, que a

culpa “in vigilando” deveria ser provada pela parte interessada, e não

ser presumida — v. Informativos 852, 853, 854 e 859.

Prevaleceu o voto do ministro Luiz Fux, que foi acompanhado

pelos ministros Marco Aurélio, Dias Toffoli, Gilmar Mendes, Cármen

Lúcia (Presidente) e Alexandre de Moraes. A Corte entendeu que uma

interpretação conforme do art. 71 da Lei 8.666/1993, com o

reconhecimento da responsabilidade subsidiária da Administração

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Pública, infirma a decisão tomada no julgamento da ADC 16/DF (DJE

de 9.9.2011), nulificando, por conseguinte, a coisa julgada formada

sobre a declaração de constitucionalidade do dispositivo legal.

Observou que, com o advento da Lei 9.032/1995, o legislador buscou

excluir a responsabilidade subsidiária da Administração, exatamente

para evitar o descumprimento do disposto no art. 71 da Lei

8.666/1993, declarado constitucional pela Corte. Anotou que a

imputação da culpa “in vigilando” ou “in elegendo” à Administração

Pública, por suposta deficiência na fiscalização da fiel observância das

normas trabalhistas pela empresa contratada, somente pode acontecer

nos casos em que se tenha a efetiva comprovação da ausência de

fiscalização. Nesse ponto, asseverou que a alegada ausência de

comprovação em juízo da efetiva fiscalização do contrato não

substitui a necessidade de prova taxativa do nexo de causalidade entre

a conduta da Administração e o dano sofrido. Ao final, pontuou que a

Lei 9.032/1995 (art. 4º), que alterou o disposto no § 2º do art. 71 da

Lei 8.666/1993, restringiu a solidariedade entre contratante e

contratado apenas quanto aos encargos previdenciários resultantes da

execução do contrato, nos termos do art. 31 da Lei 8.212/1991.

Vencida a ministra Rosa Weber (relatora), acompanhada pelos

ministros Edson Fachin, Roberto Barroso, Ricardo Lewandowski e

Celso de Mello, que negavam provimento ao recurso. Concluíam: a)

pela impossibilidade de transferência automática para a Administração

Pública da responsabilidade subsidiária pelo descumprimento das

obrigações trabalhistas pela empresa terceirizada; b) pela viabilidade

de responsabilização do ente público, em caso de culpa comprovada

em fiscalizar o cumprimento dessas obrigações; e c) pela competência

da Administração Pública em comprovar ter fiscalizado

adequadamente o cumprimento das obrigações trabalhistas pelo

contratado.

RE 760931/DF, rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o ac. Min.

Luiz Fux, julgamento em 26.4.2017. (RE-760931)

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(Informativo 862, Plenário, Repercussão Geral)

D I R E I T O C O N S T I T U C I O N A L

ASSISTÊNCIA SOCIAL

ESTRANGEIROS E BENEFICIÁRIOS DE ASSISTÊNCIA SOCIAL

Os estrangeiros residentes no País são beneficiários da

assistência social prevista no art. 203, V, da Constituição Federal (CF)

(1), uma vez atendidos os requisitos constitucionais e legais.

Com base nessa orientação, o Plenário negou provimento a

recurso extraordinário em que discutida a concessão de benefício

assistencial a estrangeiros residentes no Brasil.

Inicialmente, o Plenário registrou que o caso envolve os

preceitos relativos à dignidade humana, à solidariedade social, à

erradicação da pobreza e à assistência aos desamparados, os quais

fornecem base para interpretação adequada do benefício assistencial

estampado na Constituição Federal (CF).

Observou, com base em doutrina, que o substrato do conceito de

dignidade humana pode ser decomposto em três elementos: a) valor

intrínseco, b) autonomia e c) valor comunitário.

Como “valor intrínseco”, a dignidade requer o reconhecimento

de que cada indivíduo é um fim em si mesmo. Impede-se, de um lado,

a funcionalização do indivíduo e, de outro, afirma-se o valor de cada

ser humano, independentemente das escolhas, situação pessoal ou

origem. Deixar desamparado um ser humano desprovido dos meios

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materiais para garantir o próprio sustento, haja vista a situação de

idade avançada ou deficiência, representaria expressa desconsideração

do mencionado valor.

Como “autonomia”, a dignidade protege o conjunto de decisões

e atitudes relacionado especificamente à vida de certo indivíduo. Para

que determinada pessoa possa mobilizar a própria razão em busca da

construção de um ideal de vida boa, é fundamental que lhe sejam

fornecidas condições materiais mínimas. Nesse aspecto, a previsão do

art. 203, V, da CF também opera em suporte dessa concepção de vida

digna, cabendo ao Estado brasileiro dar essa sustentação até mesmo ao

não nacional. Realçou que a ideia maior de solidariedade social

constitui princípio da CF.

No mais, ponderou que o estrangeiro residente no País, inserido

na comunidade, participa do esforço mútuo, na construção de um

propósito comum. Esse laço de irmandade, fruto, para alguns, do

fortuito e, para outros, do destino, faz-nos, de algum modo,

responsáveis pelo bem de todos, até mesmo daqueles que adotaram o

Brasil como novo lar e fundaram seus alicerces pessoais e sociais

nesta terra. Ao lado dos povos indígenas, o País foi formado por

imigrantes, em sua maioria europeus, os quais fomentaram o

desenvolvimento da nação e contribuíram sobremaneira para a criação

e a consolidação da cultura brasileira. Desde a criação da nação

brasileira, a presença do estrangeiro no País foi incentivada e tolerada.

Não seria coerente com a história estabelecer diferenciação tão

somente pela nacionalidade, especialmente quando a dignidade está

em xeque em momento de fragilidade do ser humano — idade

avançada ou algum tipo de deficiência.

Consignou que o constituinte instituiu a obrigação do Estado de

prover assistência aos desamparados, sem distinção. Com base no art.

6º da CF, os Poderes Públicos devem efetivar políticas para remediar,

ainda que minimamente, a situação precária daqueles que acabaram

relegados a essa condição, sem ressalva em relação ao não nacional.

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Nesse ponto, ressaltou que, pelo contrário, o art. 5º, “caput”, da CF

estampa o princípio da igualdade e a necessidade de tratamento

isonômico entre brasileiros e estrangeiros residentes no País.

Asseverou que a óptica veiculada na regra infralegal (Lei

8.742/1993), ao silenciar quanto aos estrangeiros residentes no País,

não se sobrepõe à revelada na CF, que estabeleceu, sem restringir os

beneficiários somente aos brasileiros natos ou naturalizados, que “a

assistência social será prestada a quem dela necessitar”.

A Corte afirmou que, ao delegar ao legislador ordinário a

regulamentação do benefício, a CF o fez apenas quanto à forma de

comprovação da renda e das condições específicas de idoso ou

portador de necessidades especiais hipossuficiente. Dessa forma, não

houve delegação relativamente à definição dos beneficiários, já

estabelecida. No confronto de visões, deve, portanto, prevalecer

aquela que melhor concretiza o princípio constitucional da dignidade

humana, cuja observância surge prioritária no ordenamento jurídico.

Ressaltou que o orçamento, embora seja peça essencial nas

sociedades contemporâneas, não tem valor absoluto. A natureza

multifária do orçamento abre espaço à atividade assistencial, que se

mostra de importância superlativa no texto da CF. No ponto, registrou

não terem sido apresentadas provas técnicas da indisponibilidade

financeira e do suposto impacto para os cofres públicos nem de

prejuízo para os brasileiros natos e naturalizados.

Por fim, concluiu ser descabido o argumento de pertinência do

princípio da reciprocidade, ou seja, arguir que o benefício somente

poderia ser concedido a estrangeiro originário de país com o qual o

Brasil tenha firmado acordo internacional e que preveja a cobertura da

assistência social a brasileiro que esteja em seu território. Apesar de a

reciprocidade permear a CF, não é regra absoluta quanto ao

tratamento dos não nacionais. O Sistema Único de Saúde (SUS) é

regido pelo princípio da universalidade a tutelar a saúde, direito

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fundamental do ser humano. Assim, ao ingressar no território

brasileiro, o estrangeiro tem direito a atendimento médico pelo SUS,

caso precise de assistência de urgência, sem necessidade de

reciprocidade para garantir tal suporte.

Em suma, somente o estrangeiro com residência fixa no País

pode ser auxiliado com o benefício assistencial, pois, inserido na

sociedade, contribui para a construção de melhor situação social e

econômica da coletividade. Somente o estrangeiro em situação regular

no País, residente, idoso ou portador de necessidades especiais,

hipossuficiente em si mesmo e presente a família pode se dizer

beneficiário da assistência em exame. Nessa linha de ideias, os

estrangeiros em situação diversa não alcançam a assistência, haja vista

o não atendimento às leis brasileiras, fato que, por si só, demonstra a

ausência de noção de coletividade e de solidariedade a justificar a

tutela do Estado.

(1) CF, Art. 203: “A assistência social será prestada a quem dela

necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social, e

tem por objetivos: (...) V - a garantia de um salário mínimo de

benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que

comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de

tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei.”

RE 587970/SP, rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 19 e

20.4.2017. (RE-587970)

(Informativo 861, Plenário, Repercussão Geral)

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BENS DA UNIÃO

TERRENOS DE MARINHA LOCALIZADOS EM ILHAS COSTEIRAS SEDE DE MUNICÍPIOS E BENS FEDERAIS

A Emenda Constitucional (EC) 46/2005 não interferiu na

propriedade da União, nos moldes do art. 20, VII, da Constituição

Federal (CF), sobre os terrenos de marinha e seus acrescidos situados

em ilhas costeiras sede de Municípios.

Com base nessa orientação, o Plenário, por maioria, negou

provimento a recurso extraordinário em que se discutia a situação

dominial, à luz do art. 20, IV, da CF, dos terrenos de marinha e seus

acrescidos localizados em ilha costeira com sede de Município — no

caso, Vitória/ES — após a promulgação da Emenda Constitucional

(EC) 46/2005.

O Colegiado entendeu que os terrenos de marinha e seus

acrescidos situados na ilha costeira em que sediado o Município de

Vitória constituem bens federais.

Inicialmente, observou que a alteração introduzida pela EC

46/2005 criou, no ordenamento jurídico, exceção à regra geral então

vigente sobre a propriedade das ilhas costeiras. Com a redação

conferida ao art. 20, IV, da CF pelo constituinte derivado, deixaram de

pertencer à União as ilhas costeiras em que sediados entes municipais,

expressamente ressalvadas, no novo comando constitucional, as “áreas

afetadas ao serviço público e a unidade ambiental federal e as

referidas no art. 26, II”, que remanesceram no patrimônio federal.

Entretanto, com a mencionada alteração, não mais se poderia presumir

a propriedade da União sobre terras localizadas nas ilhas em que

contida sede de Município, ou seja, com a EC 46/2005, deixou de

constituir título hábil a ensejar o domínio da União o simples fato de

determinada área estar localizada em ilha costeira, se nela estiver

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sediado Município. Desse modo, a propriedade da União sobre

determinada área depende da existência de outro título para legitimá-

la.

Para o devido equacionamento da controvérsia, é necessário ter

presente o art. 20, VII, da CF, cuja redação, dada pelo constituinte

originário, a incluir, entre os bens da União, “os terrenos de marinha e

seus acrescidos”, foi mantida mesmo após o advento da EC 46/2005.

Desse modo, a EC 46/2005 nada alterou o regime jurídico-

constitucional dos terrenos de marinha.

Referiu-se à legislação de regência do instituto em vigor (1).

Como bens públicos dominiais, “podem ser utilizados pela

Administração inclusive para obtenção de resultados econômicos, o

que supõe a possibilidade de uso pelos particulares”. Essa utilização

pode ser formalizada por meio dos competentes instrumentos

previstos pelo Direito, entre os quais o aforamento e a ocupação.

Nessa forma de utilização do bem público por particular, o

senhorio e proprietário do terreno é a União (CF, art. 20, VII), que

possui o domínio direto do imóvel. A renda anual auferida pelo ente

estatal é denominada foro, e a transmissão do bem, por ato “inter

vivos”, onerosa ou gratuita, deve ser comunicada à União, que, não

exercendo seu direito de compra, receberá o pagamento de laudêmio.

O CC/2002, muito embora proíba, na esfera privada, a

constituição de novas enfiteuses, remete o regramento do instituto,

quanto aos terrenos de marinha e seus acrescidos, às disposições

estabelecidas em lei especial, hoje, o Decreto-Lei 9.760/1946, entre

outras normas esparsas.

O Colegiado asseverou que o deslinde da controvérsia depende,

essencialmente, da interpretação conferida ao inciso IV do art. 20 da

CF, em sua redação atual. Estabelecida a regra geral de que

constituem bens da União as ilhas oceânicas e as costeiras, o

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constituinte derivado excepcionou, no tocante ao domínio federal

sobre as últimas, as que contenham a sede de Municípios, que foram

trespassadas à propriedade municipal. Ressalvou, em seguida, “áreas

afetadas ao serviço público e a unidade ambiental federal”, bens que,

não obstante situados em território municipal, pertencem à União.

Consignou que uma interpretação sistemática do texto

constitucional conduz à conclusão inarredável de que a alteração

introduzida no inciso IV do art. 20 pela EC 46/2005 não teve o condão

de mudar o regime patrimonial dos bens referidos no inciso VII nem

de nenhum outro bem arrolado no mencionado dispositivo. Assim, a

leitura proposta pelo recorrente, no sentido de que os terrenos de

marinha e acrescidos foram transferidos ao ente municipal, leva à

conclusão desarrazoada de que todos os demais bens

constitucionalmente atribuídos à dominialidade da União — tais como

potenciais de energia elétrica, recursos minerais, terras

tradicionalmente ocupadas pelos índios —, se situados nas ilhas

municipais, estão, após a EC 46/2005, igualmente excluídos do

patrimônio federal. Assim, as ressalvas constantes da parte final do

dispositivo emendado devem ser compreendidas como adendos aos

demais bens integrantes do acervo patrimonial da União.

Ademais, os terrenos de marinha e seus acrescidos, do ponto de

vista histórico, já integravam o rol de bens da União, mesmo antes de

as ilhas costeiras passarem a compor o patrimônio federal, a reforçar o

rechaço à tese de que teria sido alterado o tratamento jurídico a eles

conferido em razão da modificação introduzida pela EC 46/2005 na

propriedade das ilhas marítimas.

Também destoa do sistema de distribuição de bens entre as

entidades da Federação entender que os Municípios sediados em ilhas

sejam proprietários dos terrenos de marinha, e não o sejam os

Municípios costeiros.

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Com a EC 46/2005, portanto, as ilhas costeiras em que situada a

sede de Município passaram a receber o mesmo tratamento da porção

continental do território brasileiro no tocante ao regime de bens da

União. A Corte salientou o fato de ter sido o princípio da isonomia a

“ratio essendi” das propostas de emenda à Constituição que deram

origem à EC 46/2005.

A isonomia aspirada pelo constituinte derivado operou-se em

prestígio da autonomia municipal preconizada na Carta de 1988 e

cuidou de equiparar o regime jurídico-patrimonial das ilhas costeiras

em que sediados Municípios àquele incidente sobre suas porções

continentais, favorecendo a promoção dos interesses locais e o

desenvolvimento da região. Equivocado supor que, no afã de se

estabelecer tratamento isonômico entre Municípios continentais e

insulares, se devesse adotar, entre duas interpretações possíveis,

aquela que elastecesse o comando constitucional ao ponto de, sem

motivo justificado, lhes conceder tratamento diferenciado.

Na averiguação dos efeitos da EC 46/2005 sobre o regime

patrimonial dos bens arrolados no art. 20, VII, da CF, deve-se adotar

interpretação que privilegie a realização da igualdade preconizada no

sistema constitucional pátrio. A pretendida geração de efeitos

desuniformes com relação aos terrenos de marinha e acrescidos

situados nos Municípios com sede em território continental e aqueles

sediados nas ínsulas costeiras carece de “elemento diferencial” que a

autorize. Dessa forma, em respeito ao princípio da isonomia, cumpre

entender incidente a previsão contida no art. 20, VII, da CF sobre ilhas

costeiras e continente, indistintamente.

Dessa forma, o Plenário concluiu serem incólumes as relações

jurídicas decorrentes da propriedade da União sobre as áreas referidas

no inciso VII do art. 20 da CF após a modificação promovida no

inciso IV do mesmo dispositivo pela EC 46/2005.

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Vencido o ministro Marco Aurélio, que dava provimento ao

recurso. Para ele, diante da EC 46/2005, não se haveria como concluir

que os terrenos de ilhas costeiras, em que se tem sede do Município,

continuam na propriedade da União.

(1) Decreto-Lei 9.760/1946: “Art. 2º São terrenos de marinha,

em uma profundidade de 33 (trinta e três) metros, medidos

horizontalmente, para a parte da terra, da posição da linha do preamar-

médio de 1831: a) os situados no continente, na costa marítima e nas

margens dos rios e lagoas, até onde se faça sentir a influência das

marés; b) os que contornam as ilhas situadas em zona onde se faça

sentir a influência das marés. Parágrafo único. Para os efeitos dêste

artigo a influência das marés é caracterizada pela oscilação periódica

de 5 (cinco) centímetros pelo menos, do nível das águas, que ocorra

em qualquer época do ano. Art. 3º São terrenos acrescidos de marinha

os que se tiverem formado, natural ou artificialmente, para o lado do

mar ou dos rios e lagoas, em seguimento aos terrenos de marinha.”

RE 636199/ES, rel. Min. Rosa Weber, julgamento em 27.4.2017.

(RE-636199)

(Informativo 862, Plenário, Repercussão Geral)

DIREITO DE GREVE

DIREITO DE GREVE E CARREIRAS DE SEGURANÇA PÚBLICA

O exercício do direito de greve, sob qualquer forma ou

modalidade, é vedado aos policiais civis e a todos os servidores

públicos que atuem diretamente na área de segurança pública.

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É obrigatória a participação do Poder Público em mediação

instaurada pelos órgãos classistas das carreiras de segurança pública,

nos termos do art. 165 do Código de Processo Civil (CPC), para

vocalização dos interesses da categoria.

Com base nessas orientações, o Plenário, por maioria, deu

provimento a recurso extraordinário com agravo interposto contra

acórdão que concluiu pela impossibilidade de extensão aos policiais

civis da vedação do direito à greve dos policiais militares.

Prevaleceu o voto do ministro Alexandre de Moraes. Para ele, a

interpretação teleológica dos arts. 9º, 37, VII, e 144 da Constituição

Federal (CF) veda a possibilidade do exercício de greve a todas as

carreiras policiais previstas no citado art. 144. Não seria necessário,

ademais, utilizar de analogia com o art. 142, § 3º, IV, da CF,

relativamente à situação dos policiais militares.

Esclareceu que a Constituição tratou das carreiras policiais de

forma diferenciada ao deixá-las de fora do capítulo específico dos

servidores públicos. Segundo o ministro, as carreiras policiais são

carreiras de Estado sem paralelo na atividade privada, visto que

constituem o braço armado do Estado para a segurança pública, assim

como as Forças Armadas são o braço armado para a segurança

nacional. Diversamente do que ocorre com a educação e a saúde —

que são essenciais para o Estado, mas têm paralelo na iniciativa

privada —, não há possibilidade de exercício de segurança pública

seja ostensiva pela Polícia Militar, seja de polícia judiciária pela

Polícia Civil e pela Polícia Federal, na União. Em outras palavras, não

há possibilidade de nenhum outro órgão da iniciativa privada suprir

essa atividade, que, por si só, é importantíssima e, se paralisada, afeta

ainda o exercício do Ministério Público e do próprio Poder Judiciário.

Por isso, considerou que a segurança pública, privativa do

Estado, deve ser tratada de maneira diferenciada tanto para o bônus

quanto para o ônus. Observou, no ponto, que uma pessoa que opta

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pela carreira policial sabe que ingressa num regime diferenciado, de

hierarquia e disciplina, típico dos ramos policiais. É um trabalho

diferenciado, por escala, com aposentadoria especial, diverso das

demais atividades do serviço público. Os policiais andam armados 24

horas por dia e têm a obrigação legal de intervenção e realização de

toda e qualquer prisão em flagrante delito. Devem cuidar ainda da

própria segurança e de sua família, porque estão mais sujeitos à

vingança da criminalidade organizada do que qualquer outra

autoridade pública. Justamente em razão dessas peculiaridades, o

ministro registrou a impossibilidade de os policiais participarem

desarmados de reuniões, manifestações ou passeatas.

Frisou que, ao analisar os anais da Constituinte relativamente ao

art. 144 da CF e às carreiras policiais, verificou uma dupla finalidade

nas discussões constituintes: a) atender aos reclamos sociais para uma

melhor segurança pública, tendo em vista que no Brasil ocorrem cerca

de 58 mil mortes violentas por ano, sendo 52 mil homicídios dolosos;

e b) reduzir a possibilidade de intervenção das Forças Armadas em

questões internas, a fim de evitar eventuais retornos autoritários à

democracia.

As carreiras policiais, que representam o braço armado do

Estado, são responsáveis por garantir a segurança pública e a

democracia. Portanto, não se pode permitir que realizem greve.

Entretanto, segundo o ministro, tem-se verificado a necessidade, cada

vez maior, da garantia de lei e ordem, ou seja, de utilização das Forças

Armadas em defesa da segurança pública, situação que a Constituição

buscou evitar com o equacionamento e com a colocação de carreiras

policiais como carreiras de Estado permanentes ao exercício

democrático.

Ponderou não se tratar, no caso, de um conflito entre o direito de

greve e o princípio da continuidade do serviço público ou da prestação

de serviço público. Há um embate entre o direito de greve, de um

lado, e o direito de toda a sociedade à garantia da segurança pública, à

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garantia da ordem pública e da paz social, de outro. Quanto a esse

aspecto das carreiras policiais, deve ser valorada, no atual conflito, de

forma muito mais intensa, a questão da segurança pública, da ordem

pública e da paz social. Afinal, eventuais movimentos grevistas de

carreiras policiais podem levar à ruptura da segurança pública, o que é

tão grave a ponto de permitir a decretação do estado de defesa (CF,

art. 136) e, se o estado de defesa, em noventa dias, não responder ao

anseio necessário à manutenção e à reintegração da ordem, a

decretação do estado de sítio (CF, art. 137, I).

Portanto, a prevalência do interesse público e do interesse social

na manutenção da ordem pública, da segurança pública, da paz social

sobre o interesse de determinadas categorias de servidores públicos —

o gênero servidores públicos; a espécie carreiras policiais — deve

excluir a possibilidade do exercício do direito de greve por parte das

carreiras policiais, dada a sua incompatibilidade com a interpretação

teleológica do texto constitucional, em especial dos arts. 9º, § 1º; e 37,

VII da CF.

Ademais, para o ministro, é viável conciliar as previsões

constitucionais sem aniquilar o direito de greve dos servidores

públicos. Frisou que a CF prevê a possibilidade de greve do gênero

servidores públicos. E, mesmo assim, a lei pode estabelecer restrições

e limites, sejam parciais ou, para determinadas carreiras que são

espécies dos servidores públicos, totais. Não se está, dessa forma, a

aniquilar o direito de greve dos servidores públicos, mas a afirmar

que, dentro dessa razoabilidade que a própria Constituição trouxe, não

é possível o exercício do direito de greve por determinadas carreiras,

como as policiais.

Concluiu que, apesar de se referir à greve “lato sensu” da

atividade privada, o art. 9º da CF aplica-se também na interpretação

do art. 37, VII, da CF. A manutenção da segurança pública e a defesa

da vida, da incolumidade física, do patrimônio de toda a sociedade, da

atividade de polícia judiciária, a alavancar a atividade do Ministério

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Público e da própria Justiça criminal, são, “prima facie”, necessidades

inadiáveis da comunidade (CF, art. 9º, § 1º). Da mesma forma, o art.

37, VII, da CF prevê termos e limites ao exercício de greve. Ao

compatibilizar o art. 144 da CF às razões já ditas, para colocação de

um artigo específico para carreiras policiais — como braço armado do

Estado —, percebe-se que a própria Constituição já traz, quanto às

carreiras policiais, a relatividade do exercício do direito de greve dos

servidores públicos. A CF garante o direito de greve ao gênero

servidores públicos, com limites e nos termos que a lei estabelecer, e,

em relação à espécie carreiras policiais, não possibilita esse exercício,

sob pena de total desrespeito ao atendimento das necessidades

inadiáveis da comunidade.

O ministro Roberto Barroso acrescentou que, apesar de os

policiais civis não poderem exercer o direito de greve, é indispensável

que essa categoria — que, no interesse público, sofre a restrição de um

direito fundamental — possa vocalizar as suas reivindicações de

alguma forma. De “lege ferenda”, afirmou ser perfeitamente possível

que, ao mesmo passo em que se veda o direito de greve a policiais

civis, seja estabelecida uma vinculação a outra categoria para que eles

se beneficiem de reivindicações de categorias afins, que não sejam,

entretanto, nem de segurança pública nem portem armas. De “lege

lata”, à luz do direito vigente neste momento, reputou que a

alternativa está contida no art. 165 do CPC.

Vencidos os ministros Edson Fachin (relator), Rosa Weber e

Marco Aurélio, que negavam provimento ao recurso.

ARE 654432/GO, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac.

Min. Alexandre de Moraes, julgamento em 5.4.2017. (ARE-654432)

(Informativo 860, Plenário, Repercussão Geral)

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GRATUIDADE DE ENSINO

GRATUIDADE DE ENSINO E COBRANÇA DE MENSALIDADE EM CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO

A garantia constitucional da gratuidade de ensino não obsta a

cobrança por universidades públicas de mensalidade em cursos de

especialização.

Com base nessa orientação, o Plenário, por maioria, deu

provimento a recurso extraordinário para denegar segurança.

Preliminarmente, o Colegiado, também por maioria, indeferiu

pedido de sustentação oral do advogado do “amicus curiae” da

Associação Nacional dos Pós-Graduandos (ANPG) já ter se exaurido

a fase de sustentação oral na sessão anterior, e tendo ele se inscrito

apenas na sessão subsequente. Vencidos, no ponto, os ministros

Marco Aurélio, Rosa Weber e Ricardo Lewandowski, que deferiam o

pleito, ao fundamento de que, se há inscrito terceiro, sem que ainda

tivesse sido proferido qualquer voto, se deveria, em prestígio ao

devido processo legal, viabilizar a sustentação.

Quanto ao mérito, inicialmente, o Colegiado observou que, a

despeito da Súmula Vinculante 12 (1), alargar a sua aplicação para os

cursos de extensão seria interpretação equivocada do verbete sumular.

Asseverou haver no texto constitucional uma diferenciação entre

“ensino”, “pesquisa” e “extensão”, que formam tripé harmônico e

essencial para a educação de qualidade. Nos termos do art. 206, IV, da

Constituição Federal (CF), a gratuidade do ensino é um princípio

aplicável a todos os estabelecimentos oficiais. Para tanto, conforme

exige o art. 212, “caput”, da CF, um percentual da receita pública deve

ser destinado à “manutenção e desenvolvimento do ensino”. O art.

213, § 2º, da CF autoriza, “argumentum a contrario”, a captação de

recursos destinados à pesquisa e à extensão porque os recursos

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públicos, a que se refere o art. 212, “caput”, da CF, têm destinação

precípua às escolas públicas. Já as atividades descritas no art. 213, §

2º, da CF não necessariamente contam com recursos públicos. Seria

incorreto, porém, concluir que a Constituição não exige financiamento

público para a pesquisa e extensão.

Explicou que a indissolubilidade entre “ensino, pesquisa e

extensão”, princípio previsto no “caput” do art. 207 da CF, exige que

o financiamento público não se destine exclusivamente ao ensino,

visto que, para a manutenção e desenvolvimento do ensino, são

necessários, nos termos do art. 207, pesquisa e extensão.

Entretanto, há um espaço de conformação no texto constitucional

para a definição das atividades que integram a manutenção e o

desenvolvimento do ensino. De fato, o regime constitucional de pós-

graduação deve derivar das exigências constitucionais contidas no art.

207 da CF. Impossível afirmar, com base na leitura estrita da CF, que

as atividades de pós-graduação são abrangidas pelo conceito de

manutenção e desenvolvimento do ensino, parâmetro constitucional

para a destinação, com exclusividade, dos recursos públicos. Por isso,

para a solução do presente caso, é preciso examinar se a instituição de

cursos de pós-graduação (especialização) implica, necessariamente,

gratuidade.

O Colegiado frisou competir ao legislador a tarefa de disciplinar

quais características determinado curso assumirá. Caso a atividade

preponderante se refira à manutenção e ao desenvolvimento do ensino,

a gratuidade deverá ser observada, nos termos do art. 206, IV, da CF.

Para matéria relativa a ensino, pesquisa e extensão, a

competência regulamentar é concorrente entre a União e os Estados-

Membros (CF, art. 24, IX), mas também é afeta à autonomia

universitária. Quanto a este último aspecto, a universidade pode

contar, por expressa previsão constitucional (CF, art. 213, § 2º), com

recursos de origem privada. Ademais, embora não disponham de

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competência para definir a origem dos recursos a serem utilizados

para a manutenção e o desenvolvimento do ensino, as universidades

podem definir quais são as atividades de pesquisa e extensão passíveis

de realização em regime de colaboração com a sociedade civil. No

exercício de sua competência para definir normas gerais (CF, art. 24, §

1º), a União editou a Lei 9.394/1996, que estabelece as diretrizes e

bases da educação nacional. Dessa lei é possível depreender que os

cursos de pós-graduação se destinam à preparação para o exercício do

magistério superior (arts. 64 e 66) e, por isso, são indispensáveis para

a manutenção e o desenvolvimento das instituições de ensino (art. 55).

Porém, é preciso observar que apenas os cursos de pós-

graduação que se destinam à manutenção e ao desenvolvimento do

ensino são financiados pelo Poder Público. Novamente é a Lei

9.394/1996, em seus arts. 70 e 71, que fixa as regras para contabilizar

essas despesas.

Segundo o Tribunal, não se deve, evidentemente, ler a

Constituição com fundamento na lei, mas sua referência exemplifica o

fato de que ao legislador é possível descrever as atividades que, por

não se relacionarem com a manutenção e o desenvolvimento do

ensino, não dependem de recursos exclusivamente públicos. É lícito,

dessa forma, às universidades perceber remuneração pelo seu

desempenho.

Além disso, a elaboração da lei não retira das universidades a

competência para, por meio de sua autonomia, desenvolver outras

atividades voltadas à comunidade que não se relacionem precisamente

com a exigência constitucional da manutenção e do desenvolvimento

do ensino. Essa observação vai ao encontro do próprio texto

constitucional, ou seja, não há, na previsão de autonomia das

universidades (CF, art. 207), remissão à regulamentação por lei,

diversamente do que ocorre com as regras sobre a carreira dos

professores (CF, art. 206, V), com a forma de gestão democrática (CF,

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art. 206, VI) e com a contratação de professores estrangeiros (CF, art.

207, § 1º).

Há, aqui, potencialmente, um choque entre as competências

legais do Poder Legislativo e normativas das universidades, ou do

órgão encarregado de sua organização (CF, art. 211, § 1º). Esse

conflito tem, em tese, assento constitucional e não legal. No caso,

contudo, não há conflito a exigir a intervenção por parte do Supremo

Tribunal Federal (STF). Tanto a CF quanto a lei dão margem ao juízo

de conformação a ser realizado pelas universidades para definir se

determinado curso de especialização destina-se à manutenção e ao

desenvolvimento do ensino, hipótese em que, por expressa previsão

constitucional, os recursos para seu financiamento deverão ser

exclusivamente públicos. Nesse sentido, o art. 71 da Lei 9.394/1996

exclui das despesas de manutenção e desenvolvimento a formação de

quadros especiais para a administração, caso em que, desde que

restrita aos cursos de especialização, não haveria impedimento para as

universidades, por analogia, disciplinarem outros cursos cuja cobrança

de mensalidade fosse possível.

O Colegiado afirmou ser evidente que as universidades não são

completamente livres para definir suas atividades. O desempenho

precípuo de suas funções exige que, no mínimo, haja completa

realização daquelas que se relacionem com a manutenção e o

desenvolvimento do ensino. Nada impede que, para além dessas

atividades, a universidade possa definir outros cursos para a

comunidade, como cursos de extensão, que, embora se relacionem ao

ensino, guardam independência quanto a ele.

Afastou o argumento de que, por ostentarem natureza autárquica

ou fundacional, as universidades somente poderiam adotar o regime

tributário para a obtenção de receitas, a implicar que o serviço

desempenhado passasse a ser remunerado por taxa. Isso porque, em

primeiro lugar, a adoção do regime de direito público, previsto no art.

37 da CF, não impõe, necessariamente, que a obtenção de receita seja

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exclusivamente pela via tributária. Ademais, o princípio da gratuidade

veda, precisamente, a cobrança de prestação compulsória (CF, art.

205), como ocorre nas atividades de manutenção e desenvolvimento

do ensino. Além disso, por serem as atividades extraordinárias

desempenhadas de modo voluntário pelas universidades, pode ser

estabelecida uma tarifa como contraprestação.

Relembrou que, no julgamento da ADI 800/RS (DJE de

27.6.2014), se reconheceu que o traço característico de uma prestação

estatal remunerada por taxa é a compulsoriedade, prevista no art. 3º do

Código Tributário Nacional (CTN). Na mesma direção aponta ainda o

Enunciado 545 da Súmula desta Corte (2). Essa diferenciação é

fundamental para também estender às atribuições desempenhadas

pelas universidades o entendimento sumulado pelo STF. Dessa forma,

por não ser taxa a cobrança de mensalidade para os cursos não

relacionados com a manutenção e o desenvolvimento do ensino, não

está sujeita à legalidade estrita. Noutras palavras, podem as

universidades regulamentar a forma de remuneração do serviço

desempenhado.

Ainda no que tange às limitações impostas às universidades, é

mister registrar que os professores são servidores públicos e, como tal,

destinam-se ao desempenho das tarefas indicadas nos seus cargos.

Não podem, consequentemente, eximir-se de suas obrigações

ordinárias para desempenhar aquelas que, por conveniência, a

universidade decidiu oferecer ao público, mediante pagamento.

Além disso, embora tenham autonomia para definir as atividades

ofertadas ao público, as universidades devem ter em conta que

prestam serviço público e, portanto, devem garantir os direitos dos

usuários (CF, art. 175, II), observar a modicidade tarifária (CF, art.

175, III) e manter serviço de qualidade (CF, art. 206, VII), atendidas

as exigências do órgão coordenador da educação (CF, art. 211, § 1º).

Finalmente, a regulamentação dessas atividades deve ainda observar o

princípio da gestão democrática do ensino (CF, art. 206, VI).

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Em suma, o Plenário concluiu ser preciso reconhecer que nem

todas as atividades potencialmente desempenhadas pelas

universidades se referem exclusivamente ao ensino. A função

desempenhada por elas é muito mais ampla do que as formas pelas

quais elas obtêm financiamento. Assim, o princípio da gratuidade não

as obriga a perceber exclusivamente recursos públicos para atender

sua missão institucional. Ele exige, porém, que, para todas as tarefas

necessárias à plena inclusão social, missão do direito à educação, haja

recursos públicos disponíveis para os estabelecimentos oficiais. O

termo utilizado pela CF é que essas são as tarefas de manutenção e

desenvolvimento do ensino. Consequentemente, são a elas que se

estende o princípio da gratuidade. Nada obstante, é possível às

universidades, no âmbito de sua autonomia didático-científica,

regulamentar, em harmonia com a legislação, as atividades destinadas

preponderantemente à extensão universitária, sendo-lhes, nessa

condição, possível a instituição de tarifa.

Vencido o ministro Marco Aurélio, que negava provimento ao

recurso. Considerava que o inciso IV do art. 206 da CF prevê um

princípio inafastável que garantiria a gratuidade do ensino em

estabelecimentos oficiais, sem distinção, se de ensino básico,

fundamental, superior, graduação ou pós-graduação. Além disso, o

inciso I do art. 206 da CF asseguraria a igualdade de condições de

acesso e permanência na escola. Não caberia ao intérprete, portanto,

fazer distinção onde o texto constitucional não o fez, sob pena de

gerar privilégio apenas aos que têm condições de arcar com os valores

cobrados para os cursos. Em suma, as universidades públicas

deveriam prestar o serviço educacional com base nas receitas previstas

de forma exaustiva no texto constitucional (CF, art. 212) e, por serem

públicas, haveriam de viabilizar, sem necessidade de qualquer

pagamento, o acesso dos cidadãos em geral.

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(1) Súmula Vinculante 12: “A cobrança de taxa de matrícula nas

universidades públicas viola o disposto no art. 206, IV, da

Constituição Federal”.

(2) Enunciado 545 da Súmula do STF: “Preços de serviços

públicos e taxas não se confundem, porque estas, diferentemente

daqueles, são compulsórias e têm sua cobrança condicionada à prévia

autorização orçamentária, em relação à lei que as instituiu”.

RE 597854/GO, rel. Min. Edson Fachin, julgamento em

26.4.2017. (RE-597854)

(Informativo 862, Plenário, Repercussão Geral)

IMUNIDADE TRIBUTÁRIA

PETROBRAS E IMUNIDADE - 2

A imunidade recíproca, prevista no art. 150, VI, “b”, da

Constituição Federal (CF), não se estende a empresa privada

arrendatária de imóvel público, quando seja ela exploradora de

atividade econômica com fins lucrativos. Nessa hipótese é

constitucional a cobrança do IPTU pelo Município.

Esse o entendimento do Plenário, que, em conclusão de

julgamento e por maioria, negou provimento a recurso extraordinário

em que se discutia a possibilidade de reconhecimento de imunidade

tributária recíproca a sociedade de economia mista ocupante de bem

público. No caso, o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo

considerou ser a Petróleo Brasileiro S.A. (PETROBRAS) parte

legítima para figurar como devedora do Imposto Predial e Territorial

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Urbano (IPTU) incidente sobre imóvel localizado no Porto de Santos

— v. Informativo 846.

O Colegiado deliberou que a imunidade tributária recíproca de

natureza subjetiva, que envolve pessoas jurídicas de direito público,

não se estende para além das situações do art. 150, § 2º, da CF.

Asseverou que tanto as sociedades de economia mista quanto as

empresas públicas sujeitam-se ao regime jurídico próprio das

empresas privadas, por força do art. 173, § 2º, da CF. Ressaltou que o

fato de o imóvel pertencente à União ser utilizado para a persecução

de interesse público não atrai a imunidade quanto ao IPTU, haja vista

que a recorrente é sociedade de economia mista com capital social

negociado na bolsa de valores, ou seja, é pessoa jurídica de direito

privado com claro objetivo de auferir lucro. Anotou, tendo em conta a

limitação imposta pelo § 3º do art. 150 da CF, que, se as pessoas

jurídicas de direito público que exploram atividade econômica não

gozam da imunidade, as de direito privado também não poderiam

fazê-lo. Ademais, o reconhecimento da imunidade recíproca, no caso,

implica violação ao princípio da livre concorrência estampado no art.

170 da CF, por conferir vantagem indevida a pessoa jurídica de direito

privado, não existente para os concorrentes. Por fim, à luz dos arts. 32

e 34 do Código Tributário Nacional (CTN), no sentido de que a

hipótese de incidência do IPTU abrange não só a propriedade, mas

também o domínio útil e a posse do imóvel, e de que o contribuinte do

IPTU é tanto o proprietário do imóvel como o titular do seu domínio

útil, ou o seu possuidor a qualquer título, o Plenário concluiu não se

poder falar em ausência de legitimidade da recorrente para figurar no

polo passivo da relação jurídica tributária.

O ministro Roberto Barroso, em voto-vista, afirmou que a

imunidade recíproca das pessoas jurídicas de direito público foi criada

pelo constituinte para proteção do pacto federativo, não havendo

sentido estendê-la a empresa privada arrendatária de bem público que

o utiliza para fins comerciais. Entender que os particulares que fazem

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uso dos imóveis públicos para exploração econômica lucrativa não

devam pagar IPTU significaria colocá-los em vantagem concorrencial

em relação às outras empresas. Anotou que os contratos firmados

entre as empresas privadas e a Administração Pública conferem

diversos direitos aos particulares. Asseverou que o bem é formalmente

público, mas materialmente privado, uma vez que o particular tem

quase todas as prerrogativas do proprietário, não havendo

precariedade da posse. Nesses casos, está caracterizado o fato gerador

do IPTU, e a sujeição passiva que permite ao Município de Santos

efetuar a cobrança. Pontuou, ademais, que o Município, por previsão

legal, atribui responsabilidade tributária às empresas arrendatárias de

bem. Por fim, concluiu que impossibilitar a cobrança de IPTU de

particular que explora atividade econômica em imóvel público é

perenizar situação extremamente prejudicial aos Municípios, ao pacto

federativo e à ordem econômica, no que se refere à livre concorrência.

Para o ministro Luiz Fux, após o advento da CF/1988,

considerada pós-positivista, dois princípios ou regras de supradireito

assumiram relevo no direito tributário. Em primeiro lugar, o

contribuinte não é considerado objeto de tributação, mas sujeito de

direitos. Em segundo lugar, com a inserção dos princípios da isonomia

e da capacidade contributiva, criou-se também uma regra de

supradireito na análise das questões tributárias, a justiça fiscal.

Considerou inaceitável, sob o ângulo da justiça fiscal, a possibilidade

de quem explora atividade econômica não pagar o imposto devido ao

Município. Ressaltou que a Corte interpretou a imunidade recíproca

como verdadeira garantia institucional para preservação do sistema

federativo, motivo pelo qual se assentou sua extensão apenas às

empresas que, embora tenham personalidade jurídica de direito

privado, qualifiquem-se tão somente como prestadoras de serviço

público, sem intuito lucrativo. Indicou precedentes nesse sentido (1).

Apontou também os critérios estabelecidos pelo STF para o

reconhecimento da extensão da imunidade tributária: a) a imunidade é

subjetiva e aplicável a propriedades, bens e serviços utilizados na

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38

satisfação dos objetivos institucionais imanentes ao ente federado,

cuja tributação poderia colocar em risco a respectiva autonomia

política, b) as atividades de exploração econômica destinadas a

aumentar o patrimônio do Estado ou de particulares devem ser

tributadas por representarem manifestação de riqueza, cuja tributação

não afeta a autonomia política e revela capacidade contributiva, c) a

tributação não deve ter como efeito colateral a quebra dos princípios

da livre concorrência e do exercício da atividade profissional e

econômica lícita.

Vencidos a ministra Carmen Lúcia (presidente) e os ministros

Celso de Mello e Edson Fachin, que davam provimento ao recurso.

(1) ARE 638315/BA (DJE de 31.8.2011); RE 253394/SP (DJU

de 11.4.2003); RE 265749/SP (DJU de 12.9.2003); RE 253.472/SP

(DJE de 1º.2.2011).

RE 594015/DF, rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em

6.4.2017. (RE-594015)

(Informativo 860, Plenário, Repercussão Geral)

PRECATÓRIOS

RPV E JUROS MORATÓRIOS - 2

Incidem os juros da mora no período compreendido entre a data

da realização dos cálculos e a da requisição ou do precatório.

Com base nesse entendimento, o Plenário, em conclusão, negou

provimento a recurso extraordinário em que discutida a incidência dos

juros de mora no período supracitado — v. Informativo 805.

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O Colegiado afirmou que o regime previsto no art. 100 da

Constituição Federal (CF) consubstancia sistema de liquidação de

débito, que não se confunde com moratória. A requisição não opera

como se fosse pagamento nem faz desaparecer a responsabilidade do

devedor. Assim, enquanto persistir o quadro de inadimplemento do

Estado, devem incidir os juros da mora. Portanto, desde a citação —

termo inicial firmado no título executivo — até a efetiva liquidação da

Requisição de Pequeno Valor (RPV), os juros moratórios devem ser

computados, a compreender o período entre a data da elaboração dos

cálculos e a da requisição.

Segundo o Colegiado, a Súmula Vinculante 17 não se aplica ao

caso, pois não cuida do período de 18 meses referido no art. 100, § 5º,

da CF, mas sim do lapso temporal compreendido entre a elaboração

dos cálculos e a RPV.

Além disso, o entendimento pela não incidência dos juros da

mora durante o aludido prazo foi superado pela Emenda

Constitucional 62/2009, que excluiu o § 12 ao art. 100 da CF.

A Corte enfatizou que o sistema de precatório, a abranger as

RPVs, não pode ser confundido com moratória, razão pela qual os

juros da mora devem incidir até o pagamento do débito. Comprovada

a mora da Fazenda até o efetivo pagamento do requisitório, não há

fundamento para afastar a incidência dos juros moratórios durante o

lapso temporal anterior à expedição da RPV.

No plano infraconstitucional, antes da edição da aludida emenda

constitucional, entrou em vigor a Lei 11.960/2009, que modificou o

art. 1º-F da Lei 9.494/1997. A norma prevê a incidência dos juros para

compensar a mora nas condenações impostas à Fazenda até o efetivo

pagamento. Não há, portanto, fundamento constitucional ou legal a

justificar o afastamento dos juros da mora enquanto persistisse a

inadimplência do Estado.

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Ademais, não procede a alegação no sentido de que o ato voltado

a complementar os juros da mora seria vedado pela regra do art. 100,

§ 4º, da CF, na redação da Emenda Constitucional 37/2002. Há

precedentes do Supremo Tribunal Federal a consignar a dispensa da

expedição de requisitório complementar — mesmo nos casos de

precatório — quando houvesse erro material, inexatidão dos cálculos

do precatório ou substituição, por força de lei, do índice empregado.

Também é insubsistente o argumento de que o requisitório deve

ser corrigido apenas monetariamente, ante a parte final da regra do art.

100, § 1º, da CF, na redação conferida pela Emenda Constitucional

30/2000. O fato de o constituinte haver previsto somente a atualização

monetária no momento do pagamento não teria o condão de afastar a

incidência dos juros da mora.

RE 579431/RS, rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em

19.4.2017. (RE-579431)

(Informativo 861, Plenário, Repercussão Geral)

CONSELHOS PROFISSIONAIS E SISTEMA DE PRECATÓRIOS

Os pagamentos devidos, em razão de pronunciamento judicial,

pelos Conselhos de Fiscalização não se submetem ao regime de

precatórios.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, deu

provimento a recurso extraordinário em que se discutia a utilização,

pelos conselhos de fiscalização profissional, do regime de precatório

para pagamentos de dívidas decorrentes de decisão judicial.

O Plenário reconheceu que os conselhos de fiscalização

profissional são autarquias especiais — pessoas jurídicas de direito

público, que se submetem à fiscalização do Tribunal de Contas da

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União (TCU) e ao sistema de concurso público para a seleção de

pessoal. Além disso, esses órgãos são dotados de poder de polícia e

poder arrecadador. Entretanto, eles não participam do orçamento

público, não recebem aporte do Poder Central nem se confundem com

a Fazenda Pública.

Segundo o Colegiado, o sistema de precatório foi concebido para

assegurar a igualdade entre os credores, com impessoalidade e

observância de ordem cronológica, sem favorecimentos. Outra

finalidade do sistema de precatório é permitir que as entidades estatais

possam programar os seus orçamentos para a realização de despesas.

Portanto, o precatório está diretamente associado à programação

orçamentária dos entes públicos.

A Corte ressaltou que os conselhos de fiscalização profissional

têm autonomia financeira e orçamentária. Portanto, sua dívida é

autônoma em relação ao Poder Público. Desse modo, inserir esse

pagamento no sistema de precatório transferiria para a União a

condição de devedora do conselho de fiscalização.

Reputou que, se não é possível considerar esses conselhos como

Fazenda Pública, tampouco seria possível incluí-los no regime do art.

100 da Constituição Federal.

Vencido o ministro Edson Fachin (relator), que negava

provimento ao recurso. Pontuava que o regime de precatórios

decorreria do reconhecimento da natureza jurídica de autarquia

atribuída pelo Supremo Tribunal Federal aos conselhos de fiscalização

profissional.

RE 938837/SP, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min.

Marco Aurélio, julgamento em 19.4.2017. (RE-938837)

(Informativo 861, Plenário, Repercussão Geral)

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D I R E I T O P E N A L

DOLO

CRIME DE DISPENSA IRREGULAR DE LICITAÇÃO E DOLO ESPECÍFICO

A Primeira Turma, por maioria, rejeitou denúncia oferecida

contra deputado federal, pela suposta prática do crime de dispensa de

licitação fora das hipóteses previstas em lei [Lei 8.666/1993, art. 89

(1)].

No caso, o investigado, na qualidade de secretário estadual de

Educação e com base em parecer da Procuradoria Jurídica, teria

homologado procedimento de inexigibilidade de licitação para

aquisição de licenças de “software” para a sistematização

organizacional de horários e grades escolares na rede pública estadual

de Santa Catarina.

Na denúncia, o Ministério Público argumentou, com fundamento

em laudo pericial, que existiam outros “softwares” igualmente aptos à

finalidade almejada pela Secretaria de Educação, o que indicaria a

necessidade de concorrência pública. Ademais, salientou que teria

havido a prática de “sobrepreço”.

O Colegiado apontou que o laudo pericial constatou que o

“software” da empresa escolhida tinha mais especificações do que os

das concorrentes e era mais adequado ao seu objeto. Ressaltou

também a ausência nos autos de prova de conluio com a empresa

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43

escolhida e de recebimento de qualquer vantagem econômica pelo

então secretário.

Frisou que, para a escolha do “software”, não houve qualquer

participação pessoal do acusado. A tomada de decisão foi feita em

procedimento policêntrico pelas instâncias técnicas envolvidas.

Por fim, asseverou que o crime previsto no art. 89 da Lei

8.666/1993 reclama o dolo, consubstanciado na vontade livre e

consciente de praticar o ilícito penal, que não se faz presente quando o

acusado atua com fulcro em parecer da Procuradoria Jurídica no

sentido da inexigibilidade da licitação.

Vencido o ministro Marco Aurélio, que recebia a denúncia. Para

ele, o crime de afastamento de licitação teria natureza formal, sem

necessidade, portanto, da exigência de dolo específico.

(1). Lei 8.666/1993: “Art. 89. Dispensar ou inexigir licitação

fora das hipóteses previstas em lei, ou deixar de observar as

formalidades pertinentes à dispensa ou à inexigibilidade: Pena –

detenção, de 3 (três) a 5 (cinco) anos, e multa.”

Inq 3753/DF, rel. Min. Luiz Fux, julgamento em 18.4.2017.

(INQ-3753)

(Informativo 861, 1ª Turma)

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PENA

REMIÇÃO DA PENA E JORNADA DE TRABALHO INFERIOR A SEIS HORAS

A Segunda Turma deu provimento a recurso ordinário em

“habeas corpus” e concedeu a ordem para que seja considerado, para

fins de remição da pena, o total de horas trabalhadas em jornada diária

inferior a seis horas.

O Colegiado anotou que o condenado cumpria jornada de quatro

horas diárias de trabalho por determinação da administração do

presídio. Ponderou que, nos termos da Lei de Execução Penal (LEP)

(1 e 2), a jornada diária não deve ser inferior a seis nem superior a oito

horas. Afirmou que, para computar os dias de remição, a

administração penitenciária somou as horas trabalhadas e as dividiu

por seis.

A Turma concluiu que, ao fazer a conversão matemática do

cálculo da remição, a administração penitenciária agiu dentro dos

limites previstos na LEP. Asseverou que o condenado não poderia ser

apenado por um limite de horas imposto pelo próprio estabelecimento

penitenciário na execução de sua pena.

Por fim, deliberou que a obrigatoriedade do cômputo de tempo

de trabalho deve ser aplicada às hipóteses em que o sentenciado, por

determinação da administração, cumpra jornada inferior ao mínimo de

seis horas, ou seja, em que a jornada de trabalho não derive de ato

voluntário nem de indisciplina ou insubmissão do preso.

(1) LEP/1984: “Art. 33. A jornada normal de trabalho não será

inferior a 6 (seis) nem superior a 8 (oito) horas, com descanso nos

domingos e feriados.”

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(2) LEP/1984: “Art. 126. O condenado que cumpre a pena em

regime fechado ou semiaberto poderá remir, por trabalho ou por

estudo, parte do tempo de execução da pena. § 1º A contagem de

tempo referida no “caput” será feita à razão de: (...) II – 1 (um) dia de

pena a cada 3 (três) dias de trabalho.”

RHC 136509/MG, rel. Min. Dias Toffoli, julgamento em

4.4.2017. (RHC-136509)

(Informativo 860, 2ª Turma)

CUMPRIMENTO DE PENA EM REGIME SEMIABERTO OU ABERTO E ESTABELECIMENTO PRISIONAL ADEQUADO

A Segunda Turma julgou improcedente reclamação ajuizada

para garantir a observância, pela instância de origem, da Súmula

Vinculante 56 (1).

O reclamante cumpre pena em regime semiaberto. Em razão de

não estar recolhido em colônia penal, pleiteou lhe fosse concedida

prisão domiciliar ou antecipação do regime aberto, o que foi negado.

O Colegiado ressaltou o direito de o apenado cumprir a

reprimenda em estabelecimento adequado ao regime imposto.

Ponderou que a concessão de prisão domiciliar ou regime aberto é

inviável, diante do regramento previsto na Lei de Execução Penal.

Informou que o reclamante cumpre pena em ala de penitenciária

destinada exclusivamente a internos do regime semiaberto e que todos

os benefícios inerentes ao regime lhe são assegurados.

A Turma deliberou no sentido de serem aceitáveis

estabelecimentos não qualificados como colônia agrícola ou industrial

(regime semiaberto) ou casa de albergado ou estabelecimento

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adequado (regime aberto). Entretanto, não é permitido o alojamento

conjunto de presos dos regimes semiaberto e aberto com presos do

regime fechado.

(1) Súmula Vinculante 56: “A falta de estabelecimento penal

adequado não autoriza a manutenção do condenado em regime

prisional mais gravoso, devendo-se observar, nessa hipótese, os

parâmetros fixados no RE 641.320/RS.”

Rcl 25123/SC, rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgamento em

18.4.2017. (Rcl-25123)

(Informativo 861, 2ª Turma)

PERDÃO JUDICIAL

COLABORAÇÃO PREMIADA E REQUISITOS PARA CONCESSÃO DE PERDÃO JUDICIAL - 2

Em conclusão de julgamento, a Primeira Turma indeferiu a

ordem em “habeas corpus” no qual se discutia a necessidade de

“espontaneidade” ou unicamente de “voluntariedade” na colaboração

premiada para a concessão de perdão judicial — v. Informativo 839.

O Colegiado afirmou que, segundo o art. 13 da Lei 9.807/1999,

o juiz pode, de ofício ou a requerimento das partes, conceder o perdão

judicial e a consequente extinção da punibilidade ao acusado primário

que cooperar efetiva e voluntariamente com a investigação e o

processo criminal. Porém, dessa colaboração deve resultar: a) a

identificação dos demais coautores ou partícipes da ação criminosa; b)

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a localização da vítima, com integridade física preservada; c) a

recuperação total ou parcial do produto do crime.

Consignou que os vocábulos “voluntariedade” e

“espontaneidade” foram utilizados pelo tribunal “a quo” sem distinção

de sentido. Ressaltou a necessidade de a colaboração do réu, para

efeito de concessão do perdão judicial, decorrer de livre vontade,

desprovida de qualquer tipo de constrangimento.

Verificou a sinonímia entre os termos em definições de

dicionário da língua portuguesa. De acordo com a obra consultada,

“voluntário” seria “aquilo que não é forçado, que só depende da

vontade; espontâneo”.

Salientou que, ao afastar a aplicabilidade do benefício, o tribunal

de origem considerou ausente a efetividade da colaboração como meio

para obter provas. As investigações policiais, em momento anterior ao

da celebração do acordo, revelaram os elementos probatórios acerca

do esquema criminoso integrado pela paciente, especializado em

enviar pessoas ilegalmente para o exterior.

Por fim, sustentou que o julgamento impugnado levou em conta,

na dosagem da diminuição da pena, o alcance da colaboração

prestada.

HC 129877/RJ, rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em

18.4.2017. (HC-129877)

(Informativo 861,1ª Turma)

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PRISÃO PREVENTIVA

‘HABEAS CORPUS’, COMPETÊNCIA DO STF E SOBERANIA DOS VEREDICTOS DO TRIBUNAL DO JÚRI

A Primeira Turma, por maioria, não admitiu a impetração,

revogou a liminar anteriormente deferida em “habeas corpus” e

determinou o restabelecimento da prisão preventiva do paciente.

No caso, ele teve a prisão preventiva decretada em agosto de

2010, acusado de homicídio qualificado, sequestro, cárcere privado e

ocultação de cadáver. Em março de 2013, o Tribunal do Júri o

condenou a 22 anos e 3 meses de prisão, em regime fechado, tendo

sido mantida a prisão preventiva. Posteriormente, em julgamento de

“habeas corpus” impetrado no Superior Tribunal de Justiça (STJ), o

pedido foi denegado em decisão monocrática.

O Colegiado afirmou que incide óbice ao conhecimento da

ordem impetrada no Supremo Tribunal Federal (STF), uma vez que se

impugna decisão monocrática de ministro do STJ, que determinou a

extinção do “habeas corpus” [Enunciado 691 da Súmula do STF (1)].

Conforme jurisprudência consolidada, o exaurimento da instância

recorrida é, como regra, pressuposto para ensejar a competência do

STF.

Salientou que, em hipóteses de teratologia (2) ou

excepcionalidade (3), autoriza-se a apreciação de “habeas corpus”

quando não encerrada a análise na instância competente. No presente

caso, entretanto, não se apresenta nenhuma das hipóteses, pois a

custódia cautelar foi mantida em sentença condenatória devidamente

fundamentada e em respeito à soberania dos veredictos do Tribunal do

Júri, e não há excesso de prazo atribuível direta e exclusivamente à

inércia dos órgãos judiciários.

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Ressaltou que, em julgamento recente de caso análogo, foi

proclamada a tese de que “a prisão do réu condenado por decisão do

Tribunal do Júri, ainda que sujeita a recurso, não viola o princípio

constitucional da presunção de inocência ou não culpabilidade” (4).

Vencido o ministro Marco Aurélio, que concedia a ordem. Para

ele, não seria aplicável o entendimento firmado no Enunciado 691 da

Súmula do STF.

(1) Enunciado 691 da Súmula do STF: “Não compete ao

Supremo Tribunal Federal conhecer de ‘habeas corpus’ impetrado

contra decisão do Relator que, em ‘habeas corpus’ requerido a tribunal

superior, indefere a liminar.”

(2) HC 138.414 AgR/RJ (DJE de 20.4.2017).

(3) HC 137.078/SP (DJE de 24.4.2017).

(4) HC 118.770/SP (DJE de 24.4.2017).

HC 139612/MG, rel. Min. Alexandre de Moraes, julgamento em

25.4.2017. (HC-139612

(Informativo 862, 1ª Turma)

PRISÃO PREVENTIVA E ACORDO DE COLABORAÇÃO PREMIADA

A Segunda Turma concedeu “habeas corpus” para revogar prisão

preventiva decretada em razão de descumprimento de acordo de

colaboração premiada.

A prisão preventiva do paciente foi restabelecida quando

prolatada a sentença que o condenou a dezesseis anos e dois meses de

prisão por corrupção ativa, lavagem de dinheiro e por integrar

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organização criminosa, com fundamento no descumprimento dos

termos do acordo celebrado.

O Colegiado entendeu não haver relação direta entre a prisão

preventiva e o acordo de colaboração premiada. Por essa razão, o

descumprimento do acordado não justifica a decretação de nova

custódia cautelar.

Na liminar confirmada pela Turma, foi determinada a

substituição da prisão por medidas cautelares alternativas. Naquela

ocasião, observou-se não haver, do ponto de vista jurídico, relação

direta entre o acordo de colaboração premiada e a prisão preventiva. A

Lei 12.850/2013 não apresenta a revogação da prisão preventiva como

benefício previsto pela realização de acordo de colaboração premiada.

Tampouco há previsão de que, em decorrência do descumprimento do

acordo, seja restabelecida prisão preventiva anteriormente revogada.

Portanto, a celebração de acordo de colaboração premiada não é, por

si só, motivo para revogação de prisão preventiva.

A Turma concluiu no sentido de ser necessário verificar, no caso

concreto, a presença dos requisitos da prisão preventiva, não podendo

o decreto prisional ter como fundamento apenas a quebra do acordo.

HC 138207/PR, rel. Min. Edson Fachin, julgamento em

25.4.2017. (HC-138207)

(Informativo 862, 2ª Turma)

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DIREITO PROCESSUAL C IVIL

COISA JULGADA

PRECLUSÃO E AUTONOMIA DAS ENTIDADES ESPORTIVAS

A Primeira Turma, em conclusão de julgamento e por maioria,

negou provimento a agravo regimental em que discutida a validade de

decisão judicial que proclamou o Sport Clube Recife como campeão

brasileiro de futebol profissional do ano de 1987. O pronunciamento

judicial transitou em julgado em 1999. Depois, sobreveio a Resolução

2/2011 da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), por meio da

qual o Clube de Regatas Flamengo também foi considerado campeão

brasileiro de futebol de 1987.

Posteriormente, o pedido de cumprimento da sentença formulado

pelo Sport Clube Recife foi acolhido, com a determinação, em caráter

liminar, da revogação do ato impugnado, uma vez reconhecida a

existência de prévia decisão judicial alcançada pela preclusão.

O Colegiado ponderou ter transitado em julgado a decisão

judicial que conferiu o título de campeão ao clube pernambucano,

contra a qual não cabe recurso nem alteração por resolução posterior

da CBF.

A coisa julgada, como manifestação do princípio da segurança

jurídica, assume a estatura de elemento estruturante do Estado

Democrático de Direito. Assim, a autonomia das entidades desportivas

não autoriza a transformação da CBF em órgão revisor de

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pronunciamentos jurisdicionais alcançados pela preclusão. Não se

devem potencializar os conceitos de autonomia técnica e de mérito

desportivo, em detrimento do que soberanamente decidido em

processo judicial. A eficácia estabilizadora da coisa julgada,

considerados os respectivos limites subjetivos e objetivos, estende-se

ao campo administrativo — e recreativo — que caracteriza atuação da

entidade máxima do futebol brasileiro.

Vencido o ministro Roberto Barroso, que dava provimento ao

agravo regimental.

RE 881864 AgR (2)/DF, rel. Min. Marco Aurélio, julgamento

em 18.4.2017. (RE-881864)

(Informativo 861, 1ª Turma)

EXECUÇÃO

EXECUÇÃO INDIVIDUAL DE AÇÃO COLETIVA E COMPETÊNCIA

Não compete originariamente ao Supremo Tribunal Federal

processar e julgar execução individual de sentenças genéricas de perfil

coletivo, inclusive aquelas proferidas em sede mandamental. Tal

atribuição cabe aos órgãos judiciários competentes de primeira

instância.

Com base nesse entendimento, a Segunda Turma resolveu

questão de ordem em que discutida a competência para promover o

cumprimento de sentença proferida em mandado de segurança

coletivo, tendo em conta o disposto no art. 102, I, “m” (1), da

Constituição.

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O Colegiado ressaltou que o cumprimento da sentença perante as

instâncias ordinárias tem o condão, assim como ocorre em sede de

ação civil pública, de aproximar a execução dos eventuais

beneficiários, o que facilita o exercício do direito já reconhecido no

mandado de segurança transitado em julgado.

(1) CF/1988: “Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal,

precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: I – processar e

julgar, originariamente: (...) m) a execução de sentença nas causas de

sua competência originária, facultada a delegação de atribuições para

a prática de atos processuais;”

PET 6076 QO /DF, rel. Min. Dias Toffoli, julgamento em

25.4.2017. (PET-6076)

(Informativo 862, 2ª Turma)

D I R E I T O T R I B U T Á R I O

IMUNIDADES TRIBUTÁRIAS

IPTU: IMUNIDADE TRIBUTÁRIA RECÍPROCA E CESSÃO DE USO DE BEM PÚBLICO - 5

Na linha do que foi decidido no julgamento do RE 601.720/RJ,

no qual fixou-se a tese de repercussão geral no sentido da incidência

do Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU),

considerado imóvel de pessoa jurídica de direito público cedido a

pessoa jurídica de direito privado, devedora do tributo, o Plenário, por

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maioria, deu provimento a recurso extraordinário interposto pelo

Município do Rio de Janeiro contra acórdão que afastou, com base no

disposto no art. 150, VI, “a”, da Constituição Federal (CF) (1), a

cobrança do citado imposto relativamente à empresa detentora da

concessão de uso de imóvel situado em aeroporto de propriedade da

União — v. Informativo 597.

Prevaleceu o voto do ministro Joaquim Barbosa (relator).

O ministro considerou que a atividade exercida pela recorrida é

alheia à administração aeroportuária, já que explora ramo do comércio

de importação e exportação de veículos automotores, peças,

acessórios, oficina mecânica, reparos, pintura de quaisquer veículos e

outras atividades correlatas ao ramo automobilístico. Dessa forma, a

atividade tem por finalidade aumentar o patrimônio das pessoas que se

associaram na empreitada, não sendo destinada à filantropia ou à

benemerência. Além disso, o contrato firmado prevê que a

responsabilidade pelo pagamento de tributos municipais recai sobre o

concessionário. Por isso, dificilmente seria possível concordar que a

tributação implica surpresa ao contribuinte, que leva em conta a carga

tributária em suas previsões de custo. Por fim, a desoneração

concedida tem como efeito colateral garantir vantagem competitiva

artificial. Afinal, a retirada de um custo permite o aumento do lucro ou

a formação de preços menores, o que provoca desequilíbrio das

relações de mercado.

Consignou ser o momento de revisão da jurisprudência da Corte,

a fim de que fosse assentada a inaplicabilidade da imunidade tributária

recíproca à propriedade imóvel desvinculada de finalidade estatal.

Na questão de a recorrida não poder ser considerada sujeito

passivo da exação, por ser incabível sua qualificação como

“possuidora a qualquer título”, o relator superou orientação

consolidada pela Segunda Turma. Com isso, concluiu que a matéria

poderia ser objeto de apreciação em recurso extraordinário e afastou,

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em consequência, a aplicação dos Enunciados 279 e 283 da Súmula do

Supremo Tribunal Federal (STF).

Afirmou que a definição do sujeito passivo do IPTU depende de

interpretação constitucional, pois, com fundamento na competência

tributária, o ente federado cobra validamente o tributo. Salientou que o

art. 34 do Código Tributário Nacional (CTN) (2) deve ser lido à luz da

Constituição, com ênfase em três pontos: materialidade possível do

IPTU, isonomia e livres iniciativa e concorrência.

Entendeu que a sujeição passiva também abarca a figura do

responsável tributário, não podendo o tribunal de origem pura e

simplesmente julgar ser a tributação inválida, porquanto direcionada a

quem não é proprietário.

Assinalou, ainda, a existência de termo de responsabilidade —

em que se firmou a responsabilidade do concessionário pelo

pagamento de tributos municipais — a compor o conjunto fático-

probatório, o que torna desnecessária a reabertura de instrução para

decidir esse caso.

Destacou que o locatário empresarial com fins lucrativos

também é possuidor a qualquer título, para fins de incidência do

IPTU, nos termos constitucionais. Resgatou, no ponto, a essência do

Enunciado 456 da Súmula do STF (3) para adequar o julgado às linhas

essenciais que dariam sentido tanto à imunidade tributária como à

atribuição de sujeição passiva.

O ministro Roberto Barroso, em razão da mudança da

jurisprudência da Corte em matéria tributária, modulou o seu voto.

Vencido o ministro Dias Toffolli, que negava provimento ao

recurso.

(1) CF/1988: “Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias

asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao

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Distrito Federal e aos Municípios: (...)VI – instituir impostos sobre: a)

patrimônio, renda ou serviços, uns dos outros;”

(2) CTN: “Art. 34. Contribuinte do imposto é o proprietário do

imóvel, o titular do seu domínio útil, ou o seu possuidor a qualquer

título.

(3) Enunciado 456 da Súmula do STF: “O Supremo Tribunal

Federal, conhecendo do recurso extraordinário, julgará a causa,

aplicando o direito à espécie.”

RE 434251/RJ, rel. orig. Min. Joaquim Barbosa, red. p/ o ac.

Min. Cármen Lúcia, julgamento em 19.4.2017. (RE-434251)

(Informativo 861, Plenário)

IPTU E IMÓVEL DE ENTE PÚBLICO CEDIDO A EMPRESA PRIVADA - 3

Incide o IPTU, considerado imóvel de pessoa jurídica de direito

público cedido a pessoa jurídica de direito privado, devedora do

tributo.

Esse é o entendimento do Plenário, que, em conclusão de

julgamento e por maioria, deu provimento a recurso extraordinário em

que se discutia a incidência do Imposto Predial Territorial Urbano

(IPTU) sobre imóvel de propriedade de ente público — no caso, a

Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (INFRAERO) —

concedido a empresa privada exploradora de atividade econômica com

fins lucrativos — v. Informativos 813 e 860.

O Colegiado pontuou que a imunidade recíproca prevista no art.

150, VI, “a” (1), da Constituição Federal (CF) não foi concebida com

o propósito de permitir que empresa privada atue livremente no

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desenvolvimento de atividade econômica e usufrua de vantagem

advinda da utilização de bem público. Asseverou que a referida

previsão decorre da necessidade de observar-se, no contexto

federativo, o respeito mútuo e a autonomia dos entes. Não cabe

estendê-la para evitar a tributação de particulares que atuam no regime

da livre concorrência. Nesse contexto, salientou que, uma vez

verificada atividade econômica, nem mesmo as pessoas jurídicas de

direito público gozam da imunidade (CF, art. 150, § 3º) (2).

Assentou que o IPTU representa relevante custo operacional,

comum a todos que exercem a atividade econômica da recorrida.

Afastar tal ônus de empresa que atua no setor econômico, a partir de

extensão indevida da imunidade recíproca, implica desrespeito ao

princípio da livre concorrência (CF, art. 170, IV) (3), por conferir ao

particular uma vantagem inexistente para os concorrentes. Ademais,

ressaltou que a hipótese de incidência do IPTU não se limita à

propriedade do imóvel, pois inclui o domínio útil e a posse do bem. O

mesmo entendimento vale para o contribuinte do tributo, que não se

restringe ao proprietário do imóvel, mas alcança tanto o titular do

domínio útil quanto o possuidor a qualquer título. Nesse sentido, o

Colegiado ponderou que não há falar em ausência de legitimidade da

empresa ora recorrida para figurar em polo passivo da relação jurídica

tributária.

Vencidos os ministros Edson Fachin e Celso de Mello, que

negavam provimento ao recurso. Para eles, a) a liberdade de

conformação legislativa do Poder Executivo municipal estaria adstrita

à posse, que, “per se”, pode conduzir à propriedade; b) o particular

concessionário de uso de bem público não poderia ser eleito, por força

de lei municipal, para figurar como sujeito passivo de obrigação

tributária referente ao IPTU, porque a sua posse, nesse caso, seria

desdobrada; e c) o imóvel qualificado como bem público federal

remanesceria imune aos tributos fundiários municipais, ainda que

destinado à exploração comercial.

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(1). CF/1988: “Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias

asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao

Distrito Federal e aos Municípios: (...)VI – instituir impostos sobre: a)

patrimônio, renda ou serviços, uns dos outros;”

(2). CF/1988: “Art. 150. (...) § 3º – As vedações do inciso VI,

"a", e do parágrafo anterior não se aplicam ao patrimônio, à renda e

aos serviços, relacionados com exploração de atividades econômicas

regidas pelas normas aplicáveis a empreendimentos privados, ou em

que haja contraprestação ou pagamento de preços ou tarifas pelo

usuário, nem exonera o promitente comprador da obrigação de pagar

imposto relativamente ao bem imóvel.”

(3). CF/1988: “Art. 170. A ordem econômica, fundada na

valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim

assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça

social, observados os seguintes princípios: (...) IV – livre

concorrência;”

RE 601720/RJ, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min.

Marco Aurélio, julgamento em 19.4.2017. (RE-601720)

(Informativo 861, Plenário, Repercussão Geral)

INCENTIVO FISCAL

ALÍQUOTA DE IPI PARA PRODUÇÃO DE AÇÚCAR E LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA

Surge constitucional, sob o ângulo do caráter seletivo, em função

da essencialidade do produto e do tratamento isonômico, o artigo 2º da

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Lei nº 8.393/1991 (1), a revelar alíquota máxima de Imposto sobre

Produtos Industrializados - IPI de 18%, assegurada isenção, quanto

aos contribuintes situados na área de atuação da Superintendência de

Desenvolvimento do Nordeste - SUDENE e da Superintendência de

Desenvolvimento da Amazônia - SUDAM, e autorização para redução

de até 50% da alíquota, presentes contribuintes situados nos Estados

do Espírito Santo e do Rio de Janeiro.

Com base nesse entendimento, o Plenário negou provimento a

recurso extraordinário.

Inicialmente, o Tribunal não conheceu da questão da

constitucionalidade da Lei 9.532/1997, por falta de

prequestionamento.

Afirmou que a Constituição Federal (CF) autoriza o legislador a

implementar, no âmbito da opção político-normativa, presente a

razoabilidade — se a alíquota fixada estiver em patamar aceitável —,

distinções, sem vínculo à divisão por regiões: Sul, Sudeste, Centro-

Oeste, Nordeste e Norte.

Assentou que o alcance do caráter seletivo do tributo, em função

da essencialidade do produto, implica variação de alíquotas de acordo

com a própria mercadoria. Assim, o fato de o açúcar integrar a cesta

básica, cujos produtos não têm incidência do IPI, é insuficiente para

que se conclua pela impossibilidade da cobrança do tributo.

Frisou que o princípio da isonomia é observado quando não

ocorre preferência desarrazoada em relação a Estado-Membro, ao

Distrito Federal ou a Município. No caso, o art. 2º da Lei 8.393/1991

encerrou verdadeiro incentivo fiscal no que concerne às áreas

mencionadas. A cláusula constitucional (CF, art. 151, I) a remeter às

diferentes regiões do País não tem interpretação a ponto de

desconsiderar as áreas referidas no preceito da lei e ligadas ao

Nordeste e à Amazônia. Também não há tratamento diferenciado em

razão deste ou daquele Estado-Membro. O parágrafo único do art. 2º,

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ao revelar que, nos Estados do Espírito Santo e do Rio de Janeiro, a

alíquota de 18% poderá ser reduzida em até 50%, remete,

necessariamente, à situação dos contribuintes e do desenvolvimento

na produção nesses Estados-Membros. Portanto, o Legislativo atuou

no campo do incentivo fiscal, embora de forma estrita, considerados

os Estados-Membros mencionados.

(1) Lei 8.393/1991, art. 2º1: “Art. 2° Enquanto persistir a política

de preço nacional unificado de açúcar de cana, a alíquota máxima do

Imposto sobre Produtos Industrializados - IPI incidente sobre a saída

desse produto será de dezoito por cento, assegurada isenção para as

saídas ocorridas na área de atuação da Superintendência do

Desenvolvimento do Nordeste - SUDENE e da Superintendência do

Desenvolvimento da Amazônia - SUDAM. Parágrafo único. Para os

Estados do Espírito Santo e do Rio de Janeiro, é o Poder Executivo

autorizado a reduzir em até cinqüenta por cento a alíquota do IPI

incidente sobre o açúcar nas saídas para o mercado interno”.

RE 592145/SP, rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em

5.4.2017. (RE-592145)

(Informativo 860, Plenário, Repercussão Geral)

LIMITAÇÃO AO PODER DE TRIBUTAR

IPTU E IMÓVEL DE ENTE PÚBLICO CEDIDO A EMPRESA PRIVADA - 2

O Plenário, em conclusão de julgamento e por maioria, deu

provimento a recurso extraordinário em que se discutia a incidência do

Imposto Predial Territorial Urbano (IPTU) sobre imóvel de

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propriedade de ente público — no caso, a Empresa Brasileira de

Infraestrutura Aeroportuária (INFRAERO) — concedido a empresa

privada exploradora de atividade econômica com fins lucrativos — v.

Informativo 813.

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O Colegiado pontuou que a imunidade recíproca prevista no art.

150, VI, “a” (1) da Constituição Federal (CF) não foi concebida com o

propósito de permitir que empresa privada atue livremente no

desenvolvimento de atividade econômica e usufrua de vantagem

advinda da utilização de bem público.

Asseverou que a referida previsão decorre da necessidade de

observar-se, no contexto federativo, o respeito mútuo e a autonomia

dos entes. Não cabe estendê-la para evitar a tributação de particulares

que atuam no regime da livre concorrência. Nesse contexto, salientou

que, uma vez verificada atividade econômica, nem mesmo as pessoas

jurídicas de direito público gozam da imunidade (CF, art. 150, §3º)

(2).

Assentou que o IPTU representa relevante custo operacional,

comum a todos que exercem a atividade econômica da recorrida.

Afastar tal ônus de empresa que atua no setor econômico, a partir de

extensão indevida da imunidade recíproca, implica desrespeito ao

princípio da livre concorrência (CF, art. 170, IV) (3), por conferir ao

particular uma vantagem inexistente para os concorrentes.

Ademais, ressaltou que a hipótese de incidência do IPTU não se

limita à propriedade do imóvel, pois inclui o domínio útil e a posse do

bem. O mesmo entendimento vale para o contribuinte do tributo, que

não se restringe ao proprietário do imóvel, mas alcança tanto o titular

do domínio útil quanto o possuidor a qualquer título. Nesse sentido, o

Colegiado ponderou que não há falar em ausência de legitimidade da

empresa ora recorrida para figurar em polo passivo da relação jurídica

tributária.

Vencidos os ministros Edson Fachin e Celso de Mello, que

negavam provimento ao recurso. Para eles, a) a liberdade de

conformação legislativa do Poder Executivo municipal está adstrita à

posse, que, “per se”, pode conduzir à propriedade; b) o particular

concessionário de uso de bem público não pode ser eleito, por força de

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lei municipal, para figurar como sujeito passivo de obrigação

tributária referente ao IPTU, porque a sua posse, nesse caso, é

desdobrada; e c) o imóvel qualificado como bem público federal

remanesce imune aos tributos fundiários municipais, ainda que

destinado à exploração comercial.

Em seguida, a Corte deliberou aguardar a oposição de embargos

de declaração, para discutir eventual modulação de efeitos da decisão,

e fixar a tese referente à repercussão geral em assentada posterior.

(1) CF/1988: “Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias

asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao

Distrito Federal e aos Municípios: (...)VI – instituir impostos sobre: a)

patrimônio, renda ou serviços, uns dos outros;”

(2) CF/1988: “Art. 150. (...) § 3º – As vedações do inciso VI,

"a", e do parágrafo anterior não se aplicam ao patrimônio, à renda e

aos serviços, relacionados com exploração de atividades econômicas

regidas pelas normas aplicáveis a empreendimentos privados, ou em

que haja contraprestação ou pagamento de preços ou tarifas pelo

usuário, nem exonera o promitente comprador da obrigação de pagar

imposto relativamente ao bem imóvel.”

(3) CF/1988: “Art. 170. A ordem econômica, fundada na

valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim

assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça

social, observados os seguintes princípios: (...) IV – livre

concorrência;”

RE 601720/RJ, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min.

Marco Aurélio, julgamento em 6.4.2017. (RE-601720)

(Informativo 860, Plenário)

Fonte: Supremo Tribunal Federal

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