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  • RelaesParcerias

    AfetividadeDilogo

  • Vai procurar tua turma!Relaes/Parcerias/Afetividade/Dilogo

    Quantos eus habitam em mim? Quantos eus me constituem? Quanto minhas relaes me constituem enquanto sujeito no(s) mundo(s) que reconheo como meu(s) territrio(s) de pertencimento? At que ponto minhas relaes me localizam na(s) dimenses e espaos onde (sobre) vivo? Atravs do dilogo podem-se iniciar parcerias ou podem-se findar relaes. Um dilogo sufocado quando uma nica fala prevalece trans-formando esse dilogo em um monlogo. A afetividade sobrevive ao si-lncio? Ser que essa pergunta faz sentido? Talvez a falta de dilogo para elaborar em um pargrafo essa ideia faa com que Eu me d conta de que Eu preciso do outro para tentar perceber os sentidos da existncia e do fim dela. Eu, tu... Talvez ns com eles! Onde est o outro? Que grupo esse? Onde est minha turma?

    Esta edio

    04 Informe C3, Porto Alegre, v. 03, n. 12, out., 2011. www.processoc3.com

    Corpo - Cultura - Artes - ModaInforme C3Revista Digital

  • Posies de sujeito: De que lado voc est?

    Posies... Assumidas? Impostas? Escolhidas? Atribudas? Dentro de di-ferentes contextos, tempos e espaos possvel assumir diferentes posi-cionamentos? Do lado que voc se encontra o que acredita ver, sentir e perceber? Direito ou esquerdo? De cima ou de baixo? frente ou atrs? Certas condies nos indicam posies... Certas escolhas nos tornam pertencentes e participantes de certas coisas. De que lado voc est?

    Prxima Edio Colabore/contato: [email protected]

    05Informe C3, Porto Alegre, v. 03, n. 12, out., 2011. www.processoc3.com

    Corpo - Cultura - Artes - ModaInforme C3Revista Digital

  • Corpo - Cultura - Artes - ModaInforme C3Revista Digital

    Classificao: 18 anos

    O contedo apresentado pelos colaboradores (textos, imagens...) no so de responsabilidade do Processo C3 Grupo de Pesquisa e da Informe C3 Revista Digital. Nem todo opinio expressa neste meio eletrnico ou em possvel vero impressa, expressam a opinio e posicionamento dos organizadores e responsveis por este veculo.

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    Informe C3 / v. 04, n. 12, (mar/abr. 2012). Porto Alegre, RS : Processo C3 e Indepin Editora, 2012. On line. Disponvel em: http://www.processoc3.com

    BimestralISSN: 2177-6954

    1. Cultura. 2. Artes. 3. Corpo. 4. Moda. 5. Pesquisa

    CDD:301.2370.157793.3646

    Capa:Manequins

    Foto:Anderson de Souza

    Produo geral:Anderson de Souza

    Local:Porto Alegre/RS/Brasil

    Edio e tratamento de imagem:Anderson de Souza

    Direo de Arte:Wagner Ferraz

    Informe C3, Porto Alegre, v. 04, n. 12, mar./abr., 2012. www.processoc3.com

  • EXPEDIENTEDireo Geral e Coordenao Editorial:Wagner Ferraz

    EditoresWagner Ferraz e Camila Darsie

    Pesquisa e Organizao:Processo C3 - Coletivo de vrias coisas

    Equipe EditorialCamila Torres, Matheus Dreher e Nathlia Margarites

    Projeto Grfico e Direo de Arte:Anderson de Souza e Wagner Ferraz

    Edio de Arte e diagramao:Camila Torres, Matheus Dreher, Nathlia Margarites e Wagner Ferraz

    Arte da Capa:Anderson de Souza

    Colaboradores/colunistas:T. Angel - Frrrk Guys - So Paulo/Brasil- www.frrrkguys.com;

    Luciane Moreau Coccaro - Porto Alegre/Rio de Janeiro;Marta Peres - Rio de Janeiro/Brasil;

    Anderson de Souza - Porto Alegre/RS/BrasilAndr Masseno - Rio de Janeiro/RJ/Brasil

    Conselho Editorial:Prof. Dr. Alexandre Rocha da Silva (UFRGS/RS); Prof. Dr. Samuel Edmundo Lopez Bello (UFRGS/RS); Prof. Dr. Luis Henrique Sacchi dos Santos (UFRGS/RS); Prof Dr Kathia Castilho (UAM/SP); Prof. Dr. Luciano Bedin da Costa (UFR-GS/RS); Prof Dr Marta Simes Peres (UFRJ/RJ); Prof Dr Fabiana de Amorim Marcello (ULBRA/RS); Prof Dr Airton Tomazzoni (UERGS/RS); Prof Dr Marilice Corona (IPA/UNISINOS/RS); Prof Dr Sayonara Pereira (USP/SP); Prof Dr Magda Bellini (UCS/RS); Prof Dr Celso Vitelli (ULBRA/RS); Prof Dr Daniela Ripoll (ULBRA/RS); Prof. Ms. Leandro Valiati (UFRGS/RS); Prof Ms Luciane Coccaro (UFRJ/RJ); Prof Ms Flavia Pilla do Valle (UFRGS/RS); Prof Ms Camilo Darsie de Souza (INDEPIN/UFRGS/RS); Prof Ms Eleonora Motta Santos (UFPEL/RS); Prof Ms Giana Targanski Steffen (UFSC/SC); Ms Zenilda Cardoso (UFRGS/RS); Prof Ms Miriam Piber Campos (INDEPIN/RS); Ms Luciane Glaeser (RS); Ms Jeane Flix (UFRGS/RS); Ms Alana Martins Gonalves (UFRGS/RS); Prof Ms Sabrine Faller (INDEPIN/RS); Ms Luiz Felipe Zago (UFRGS/RS); Ms Carla Vendramin (RS); Prof Esp Anderson de Souza (FATEC/SENAC/RS); Prof Esp Wagner Ferraz (INDEPIN/Processo C3/RS); Prof Dr Luciana boli (Unilasalle/RS);

    INDEPIn EditoraEditora Associada

    Porto Alegre/RS

    Contatos:Wagner Ferraz

    [email protected]

    www.processoc3.comhttp://processoc3.tumblr.com/

    http://processoc3.posterous.comhttp://www.twitter.com/processoc3

    Informe C3 - Peridico EletrnicoProcesso C3 - Coletivo de vrias coisas

    Porto Alegre

    Ano 04 - Edio 12Mar/abr - 2012

    Corpo - Cultura - Artes - ModaInforme C3Revista Digital

    07Informe C3, Porto Alegre, v. 04, n. 12, mar./abr., 2012. www.processoc3.com

  • NDICE- Apresentao pg. 13Apresentando: No me reconheo mais nessa carne que me torturaWagner Ferraz

    - Vrtebra 01 pg. 18Uma questo de tica: Qual a sua turma?Luciane Coccaro

    - Vrtebra 02 pg. 22Memria e identidade: (re)criando pertencimentosAndr Masseno

    - Vrtebra 03 pg. 28(Re)conhecendo Tridente

    Anderson Souza

    - Vrtebra 04 pg. 34Entrevista com Marcelo GabrielT. Angel

    - Espao Livre 01 pg. 48Van Gogh e as cadeirasJuliana Schmitt

    - Espao livre 02 pg. 52Filosofia da Moda - O dualismo da alma humana entre o impluso individualizador e socializadorAna Carolina Acom

    Corpo - Cultura - Artes - ModaInforme C3Revista Digital

    - Vrtebra 05 pg. 40Poema da SaudadeMarta Peres

    - Livro pg. 44A apreciao do que revoluciona: o fenmeno fast-fashionMaria Elizabete A. F. Leopoldo

    - Espao livre 03 pg. 54LObscuritAndre Raittz

    08 Informe C3, Porto Alegre, v. 04, n. 12, mar./abr., 2012. www.processoc3.com

  • Corpo - Cultura - Artes - ModaInforme C3Revista Digital

    - Espao livre 04 pg. 62garota do vero

    priscilla davanzo

    - Espao livre 07 pg. 72A morte oferece carona

    Bruna Cristina da Silva e Lilyan Fernanda Amadori

    - Espao livre 05 pg. 64Vidas Perdidas

    Cyntia Mayumi, Laura Silva, Mariane Rosa, Pmela P. Parra, Silvana Santana, Telma Forte

    - Artigo pg. 84Notao Musical e Coreogrfica:

    Um paralelo entre as artes na formaoformal/informal e no processo de memria cultural

    Liah Trindade

    - Espao livre 06 pg. 68Espetculo de dana busca novas formas de aborda-

    gem para os relacionamentos homoerticosAssociao Desvio e Coletivo de Artistas Intermitente

    Abismo de Sonhos

    - Espao livre 08 pg. 76Androginia na Moda

    Fotos: Fernando Machado

    09

    - Entrevista 01 pg. 92Entrevista com Flvia Amon

    Por Lisiane Amon

    Informe C3, Porto Alegre, v. 04, n. 12, mar./abr., 2012. www.processoc3.com

    - Encerramento pg. 96Ao qu Perteno?!

    Liah Trindade

    - Ensaio Fotogrfico pg. 98Essa fotos j fizeram aniversrio

    Anderson de Souza

  • Foto: Anderson de Souza

    10 Informe C3, Porto Alegre, v. 03, n. 12, out., 2011. www.processoc3.com

    Isto no uma propaganda!Foto: Anderson de Souza

  • 11Informe C3, Porto Alegre, v. 03, n. 12, out., 2011. www.processoc3.com

    Isto no uma propaganda!

  • Agradecimentos desta edio

    Luciane Moreau CoccaroRio de Janeiro/RJ

    Andr MassenoRio de Janeiro/RJ

    Anderson de SouzaPorto Alegre/RS

    Thiago Soares - Frrrk GuysSo Paulo/Brasil

    www.frrrkguys.com

    Marta PeresRio de Janeiro/RJ/Brasil

    Luciane GlaeserPensando em Moda

    So Paulo/SP

    Maria Elizabete A. F. LeopoldoSo Paulo/SP

    Juliana SchmittSo Paulo/SP

    Ana Carolina AcomPorto Alegre/RS

    Andre RaittzCuritiba/PR

    Priscilla DavanzoBuenos Aires

    Cyntia Mayumi, Laura Silva, Mariane Rosa, Pmela P. Parra, Silvana Santana, Telma Forte

    So Paulo/SP

    Associao Desvio e Coletivo de Artistas Intermitente Abismo de SonhosSo Paulo/SP

    Bruna Cristina da Silva e Lilyan Fernanda AmadoriSo Paulo/SP

    Fernando Machado, Rodrigo Saballa e Radams RodriguesPorto Alegre/RS

    Liah TrindadePorto Alegre/RS

    Flvia AmonLos Angeles

    Lisiane AmonPOrto Alegre/RS

    Luciano AguiarRio de Janeiro/RJ

    Marcelo GabrielBelo Horizonte/MG

    INDEPInPorto Alegre/RS

    Camila Torres, Matheus Dreher e Nathlia MargaritesPorto Alegre/RS

    Agradecemos tambm a todos que de forma diretaou indireta colaboraram com o Processo C3 e com o Informe C3.

    AGRADECIMENTOS

    Corpo - Cultura - Artes - ModaInforme C3Revista Digital

    12 Informe C3, Porto Alegre, v. 04, n. 12, mar./abr., 2012. www.processoc3.com

  • No me reconheo mais nessa carne que me tortura

    APRESENTAO

    Nos ltimos tempos tenho passado por inten-sas mudanas. Mudanas essas que afetam diretamente tudo o que fao, inclusive minha participao para tornar existente cada edio dessa revista. A falta de tempo foi o que mais tomou meu tempo, e essa edio da Informe C3 foi atrasando, atrasando, atrasando e sen-do arrastada pelos meses de 2011 at chegar 2012, por isso se tornou uma Edio de on-tem. Se a Informe C3 continuar existindo no ser mais da mesma forme que ocorreu nos ltimos 03 anos, neste quarto ano, talvez, seja mais (ou menos minorizada) prxima dos saberes que tem me contaminado. Acredito no ser necessrio explicar e apresentar tudo o que vocs encontraro nesta edio, pois vocs tero acesso a tudo, no vejo motivos para ficar falando sobre. Mas fao questo de agradecer a todos que estiveram envolvidos, a todos que confiaram emprestando um pouco de si para constituir esta edio. Sendo assim, resolvi publicar um texto que apresentei no seminrio intitulado Pintura: aprendizagens e desdobramentos que tratava do Livro Francis Bacon: Lgica da Sensao de Gilles Deleu-ze, ministrado pela Prof Dr Paola Zordan, no PPGEDU da Faculdade de Educao da Uni-versidade Federal do Rio Grande do Sul, onde participei como aluno PEC. Ouso dispensar interpretaes do texto abaixo, ele foi escrito com as lembranas/sensaes durante um momento de dor, mas no quer dizer que este-ja, intensamente, vivendo a dor, mas apensar aproveitei o momento de dor, dor essa que no me consultou mas me ocupou, para tornar mi-nha escrita produtiva. A dor que me faz pensar que estou vivo. Pr-finalizo deixando um con-vite sobre o texto que segue: O que isto te leva apensar?

    No me reconheo mais nessa carne que me tortura

    Uma sensao estranha me faz per-ceber que um rgo do meu corpo no est bem. uma sensao de dor que em pouco tempo parte do meu rim esquerdo e se espa-lha pelo meu corpo fazendo com que eu j no saiba mais quais so as partes do meu todo. Uma dor to desesperadora que me faz pensar que morrer seria a melhor sada. Uma dor que dispara minha escrita e vou anotando tpicos para escrever esse relato, dor e pala-vras rabiscadas para no esquecer o que se

    Wagner Ferraz*

    * Wagner Ferraz: Coordenador do Proces-so C3 - Corpo/Cultura/Artes/Moda; Editor da Informe C3; Especialista em Gesto Cultural e Especialista em Educao Es-pecial; Graduado em Dana; Elabora e Gerencia Projetos Culturais; Coordenador de Dana do Estado do RS no IEACen da Secretaria de Estado da Cultura RS. Coord. e Prof. de Cursos do INDEPIn. Endereo para acessar CV completo: http://lattes.cnpq.br/7662816443281769

    Corpo - Cultura - Artes - ModaInforme C3Revista Digital

    13Informe C3, Porto Alegre, v. 04, n. 12, mar./abr., 2012. www.processoc3.com

    passou no meu pensamento. No sei mais o que rim, bexiga, ureter, uretra, intestinos, estmago... a dor desce pelo mesmo lado do rim onde ela iniciou e escorre pela minha perna, j no sei mais se tenho 1 ou duas pernas. Ser que so 3 ou 4? O corpo dor! As nuseas me fazem confundir estmago com garganta, esfago com lngua, cabea com os ps. Parece que a qualquer momento algo vai jorrar ou saltar de dentro de mim, s no sei se ser vmito ou merda. Os dois se confundem com a vontade mijar, pois j no d mais pra pensar em fazer xixi ou urinar, preciso mijar e tentar alcanar o alvio. Bebo um litro e meio de gua de uma s vez, a gua se mistura com essa dor e se torna algo com um gosto amargo. Sinto o estmago cheio de gua refletindo no meu assoalho plvico como se uma lana atraves-sasse meu corpo de baixo para cima. No consigo realizar tudo o que de-sejo, no consigo dar conta das minhas ativi-dades do dia-a-dia. Mas ao mesmo tempo ten-to me ocupar para fugir dessa dor. Tentativa em vo, pois no sou eu quem decide isso ela mesma (a dor). quase um alien. Como perceber outras sensaes em meio a essa dor? Eu sou a dor? Talvez eu esteja atuando como dor. Eu/corpo tomado por uma dor que me coloca no constante exerccio de estranha-mento por mim mesmo. No me reconheo mais nessa carne que me tortura. Sinto-me gestando algo que tenho que me livrar. Efeito de agenciamentos que se deram, muito, pelas escolhas de algumas coisas que me alimento, coisas essas que me mantm vivo e depois de um tempo produzem a dor. Essa sensao que me ocupa s minha. Meu desejo dizer: UFA!!!! E assim, ser ocupado pela sensao de alvio. Preciso sentir-me esvaindo, mas me sinto, cada vez mais, em preenchimento de um modo que parece que perco o meu espao dentro de mim mesmo. Ao mesmo tempo sinto que eu sou isso que me tortura, eu produzo, invento, crio a carne que me constitui e indica meus limites. Sinto-me em uma batalha do eu/cor-po contra o eu/corpo tambm. como se no tivesse sada. Fico confuso, pois eu no sou eu, mas eu sou eu. Eu sou a carne que no

    sei explicar. Mas sei que sinto. Sinto muita dor! E sinto muito por no sentir o que reconheo como sensao de alivio. s vezes parece que essa dor no minha, como se fosse um hspede indeseja-do que a gente vai aprendendo a se relacionar para no ter maiores problemas. Buscando assim descobrir posies que fazem esquecer um pouco a dor. E quando menos espero o hospede resolver sair, me rasgando por dentro, arra-nhando a carne e saltando por minha uretra... Dando, assim, um fim a essa etapa. Dei a luz a uma pequena pedrinha de 3mm. Agora tenho que pensar o que fazer com os outros 3 hos-pedes que me habitam e se preparam para me confundir e me transformar em dor.

  • Edio de ontem!

    Hoje!

    Tudo o que aqui est era para ter sido

    publicado ontem,

    semana passada,

    ms passado, ano passado...

    Informe C3, Porto Alegre, v. 04, n. 12, mar./abr., 2012. www.processoc3.com14

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    Tudo o que aqui est era para ter sido

    publicado ontem,

    semana passada,

    ms passado, ano passado...

    Informe C3, Porto Alegre, v. 04, n. 12, mar./abr., 2012. www.processoc3.com

  • 16 - Informe C3Foto: Anderson de Souza

  • Informe C3 - 17

    V R TEBR

    AS

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    Porto Alegre, 25 de fevereiro de 2011. So quase 19 horas, num entardecer um pouco chuvoso na capital sulista do pas, mais especificamente no bairro Cidade Baixa. Do Largo da EPATUR alguns ciclistas iniciam um passeio intitulado Massa Crtica. O itinerrio? Rua Jos do Patrocnio. A meu ver podem ser chamados de um grupo, pois eles compartilham um ideal co-mum, louvvel, politicamente correto. Trata-se de um coletivo sobre duas rodas num passeio de bike na defesa do uso da bicicleta como um meio de transporte na cidade. Um manifesto poltico na nsia de obter visibilidade e legiti-midade. No exerccio de um direito de transitar com segurana pelas ruas da cidade. Pouco tempo depois do incio deste passeio, paradoxalmente em torno de 16 pes-soas so atropeladas por um carro em alta ve-locidade. Apressado e impaciente, o motorista acelerou e deixou um rastro de feridos pelo cho, bicicletas contorcidas e pavor. As ima-gens esto no Youtube pra quem quiser ver. Este episdio me fez pensar sobre a idia de tica. Num primeiro momento a pala-vra tica nos lembra normas e responsabilida-des. A norma nos diz como devemos agir, mas a existncia de leis no garante que vamos agir sempre segundo elas. A tica se refere s aes humanas na prtica. A tica diz respeito s formas humanas de resolver contradies entre necessidades e possibilidades. Agir eti-camente agir de acordo com o bem e o certo, mas no podemos esquecer que as concep-es de bem e de correto so relativas aos valores do grupo e da sociedade. O problema que esse certo para um grupo pode no ser para outro. Voltando a prtica(1), um sujeito ti-co aquele que nas suas decises cotidianas se depara com uma reflexo entre o que cer-to e o que errado em determinada situao, mas para realizar sua escolha ele deve saber o que sua sociedade ou grupo considera cor-reto. E isso envolve valores. Esses nos reme-tem a determinado pertencimento num grupo. Encontramos e nos distanciamos de nossa turma quando compartilhamos ou deixamos de compartilhar certos valores. Como devo agir numa situao pr-tica? Esta uma pergunta relevante pra gente entender do que falamos quando queremos saber o que ser tico. Como podemos julgar o que certo? Esta segunda questo pressu-pe uma noo de princpios. Pensando as-sim estamos falando de valores. Valores nos

    Uma questo tica: qual a sua turma? Luciane Coccaro*

    VRTEBRA 01

    Corpo - Cultura - Artes - ModaInforme C3Revista Digital

    levam a perceber a existncia de uma moral. O que nos ajuda a discernir e escolher. Existem certas normas morais que regulamentam nossa conduta em sociedade, mas elas dependem de uma convico nti-ma e de uma adeso interna. Falar sobre a existncia de uma moral repertoriar as con-dies do agir de cada sujeito em sociedade. Na prtica podemos ser ticos em relao a determinados valores morais estabelecidos socialmente. Qual parte desta aula sobre tica o motorista (homicida) no entendeu? Talvez seja mais relevante pensar no propsito da passeata. A luta pelo direito de ser respeitado o uso de bicicleta como meio de transporte. Os ciclistas assim podem ser considerados um grupo em oposio ao motorista em ques-to que estaria representando outra turma, os de carro. Ser que to simples assim? E a EPTC que lavou as mos e afirma desconhe-cer a passeata? E por isso a coloca como ile-gal. Como assim? Qual a tica do primeiro grupo? Olhando de fora percebo os ciclistas deste evento como um grupo organizado que com-partilha valores. H um princpio ecolgico em questo, andar de bicicleta faz parte de uma luta poltica em favor da no poluio do planeta. Uma escolha em prol da diminuio

    de gases txicos emitidos por automveis e transportes coletivos que utilizam gasolina, por exemplo. tica esta idia porque a passeata por si s j representa uma atitude na prtica. Por outro lado, no Brasil, ter carro significa certo status, certo poder. Simbolica-mente quem tem carro tende a ser mais va-lorizado em nosso pas, nossos carros so comprados por um custo bem maior do que em outros pases, por exemplo, nos Estados Unidos da Amrica. Ter um carro um valor. Voltando ao nosso caso prtico em investigao. O motorista deu alguns sinais de que estava com pressa, buzinou, gritou, chegou a encostar-se traseira de algumas bicicletas. Nas imagens no youtube um dos ciclistas localizado no final da passeata - um rapaz de camisa laranja - percebeu que o car-ro iria avanar e se salvou segundos antes do atropelamento coletivo. Incrvel, bizarra a cena seguinte, o carro avana como uma bola num jogo de boliche. Pessoas so arremessadas com suas bicicletas. Uma das maneiras de interpretar o ato violento do motorista contra a vida dos ci-clistas seria perceber o quanto este motorista incorporou a idia do carro como o valor. Ao ponto de deixar de lado um bem, a meu ver, moralmente mais valioso: a vida dos ciclistas. O princpio da vida tem sido con-

    Informe C3, Porto Alegre, v. 04, n. 12, mar./abr., 2012. www.processoc3.com

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    Vdeos acessado no site www.youtube.com:- Motorista atropela de-zenas de ciclistas na Jos do Patrocnio- Atropelamento de ci-clistas em Porto Alegre

    Corpo - Cultura - Artes - ModaInforme C3Revista Digital

    Notas:1 - A idia aqui acio-nar uma noo de tica prtica a la Peter Singer. Peter Singer, Practical Ethics, 2nd edition, Cambridge: Cambridge University Press, 1993.

    siderado como um valor, uma norma e uma regra. Seja pelas religies, pela gentica ou pela justia. Muitas leis que defendem a vida se amparam no princpio do direito da prpria vida. O caso do aborto tem gerado no Brasil inmeras discusses porque eticamente te-mos nos perguntado: Que vida? Quando inicia uma vida? A vida de quem est em jogo? A da me, e seu direito de escolha, ou a de uma criana em potencial? O quanto vale uma vida? Porque nas aes prticas temos visto vrios casos na justia onde o valor de uma vida relativo. Porque o valor da vida no algo dado e igual a todos, na prtica trata-se de algo arbitrado segundo valores sociais. Lembro-me de um joguinho popular onde temos a tarefa de salvar apenas uma pessoa de uma caverna que ir explodir (algo assim, portanto, peo uma licena potica aqui). Entre estas pessoas tem um velho, uma freira, um bandido, uma prostituta e outros su-jeitos frutos de nosso pensamento social con-dicionado a esteretipos humanos. Em nossa escolha de quem iremos salvar esto embuti-dos os nossos valores e nossos preconceitos, nos quais nos amparamos para decidir, em suma, definir qual vida a mais valiosa. Voltando ao caso chocante do atro-pelamento dos ciclistas em Porto Alegre. Con-sidero oportuno refletir sobre tica linkada num fato que ocorreu recentemente, justamente numa edio da revista na qual est em jogo procura pela nossa turma. Pois neste evento temos bem claros dois lados, com distintos va-lores em oposio. A qual turma voc perten-ce?Na proposta tema desta edio sobre procu-rar a sua turma, tem duas frases instigantes que merecem um comentrio. A primeira: Um dilogo sufocado quando uma nica fala prevalece transformando esse dilogo em um monlogo. Espero com este texto permitir certo olhar ao outro e as nossas escolhas em convvio social. Inspirada pela frase tema aci-ma, gostaria de no impor minhas percepes prosaicas, mas incitar um dilogo. A segunda frase uma pergunta e gostaria de us-la para finalizar esta reflexo, pois ela traz tona a noo de tica desen-volvida neste texto: A afetividade sobrevive ao silncio?

    *Luciane CoccaroRio de Janeiro/Porto Alegre/BrasilMestre em Antropologia Social/UFRGS; Bacharel em Cincias Sociais/UFRGS; Pro-fessora Assistente do curso de Bacharelado em Dana Departamento de Arte Corporal UFRJ; Foi Professora Adjunta do Curso de Graduao Tecnolgica de Dana/ULBRA; Foi Professora Adjunta da Faculdade De-cision de Administrao de Empresa/FGV; Foi Professora do Curso de Ps-Graduao em Enfermagem/IAHCS; Bailarina Prmio Aorianos 2000; Atriz Prmio Volkswagen 2003; Coregrafa de dana contempor-nea; Diretora da Cia LuCoc e do Grupo Ex-perimental de Dana da ULBRA de 2006 at 2008; Diretora e intrprete do Espetcu-lo Estados Corpreos em 2009.

    Informe C3, Porto Alegre, v. 04, n. 12, mar./abr., 2012. www.processoc3.com

  • 20 - Informe C3

    Corpo - Cultura - Artes - ModaInforme C3Revista Digital

    Foto: Anderson de Souza

  • Informe C3 - 21

    Corpo - Cultura - Artes - ModaInforme C3Revista Digital

  • 22

    I

    Fazer parte de uma tribo, pertencer a uma comunidade, ter os afins com os quais voc dialoga e problematiza o estado das coisas. Onde eles se encontram? Como atu-almente demarcar os seus pertencimentos se tudo est to voltil, transitrio e em constante deslocamento? Percebo o meu corpo: branco e (ainda) sem tatuagens, muitos cabelos grisa-lhos nos poucos restantes em um rosto com quase quarenta anos. Vejo os acessrios que carrego: brinco em cada orelha, um relgio de pulso, dois anis na mo direita, roupas cla-ras e s vezes soturnas. Mas at que ponto esta materialidade me define? Qual a turma a qual eu perteno se tenho poucas certezas daquilo que chamamos de o meu corpo, a minha identidade? Vasculho fotos de famlia, de ami-gos e de trabalho, no desejo de traar um fio de histria sobre mim. Uma narrativa de vida ora deliberada, ora contingente. Reviro papis antigos: telefones de amores, listas de tare-fas, anotaes de trabalho, cartes postais e embalagens de balas. Datas e fatos que se perderam no tempo, mas que os retomo e os recrio, dando-lhes um novo afeto ou talvez aquele mesmo afeto que se fora, e agora recu-perado. Roubo frases alheias, leituras no es-curo quando eu nada queria encontrar: a lon-ga troca de missivas entre Mrio de Andrade e Carlos Drummond de Andrade; a amizade en-tre o escritor francs Herv Guibert e o filsofo Michel Foucault que, quando soropositivo, transformado pelo tambm infectado Guibert como personagem de seu livro Para o amigo que no me salvou a vida; as palavras do fil-sofo Ccero a respeito da amizade; as fotos da artista norteamericana Nan Goldin, clicando seus amigos em momentos de uma intimida-de desarmada perante a cmera... Pertencer a algo ou algum tem como intrnseca a trai-o, o golpe pelas costas, o olhar a intimida-de alheia por cima dos ombros do outro. Por isso, esbofeteio violentamente as palavras e os gestos daqueles que me so caros. Espre-mo a privacidade dos que amo para vampirizar o sumo vermelho de seus corpos, fazendo do sangue vertido a tinta com a qual inscrevo, no

    VRTEBRA 02

    Memria e identidade: (re)criando pertencimentos

    Andr Masseno*

    presente, o meu naco de carne. Quem sabe no resida, na intimidade de terceiros, o meu outro especular? Todas as fotos, citaes e documen-tos aparecem como estilhaos de vida que no se unem, sem a possibilidade de recupe-rao de um instante original. A gnese est desacreditada, s imaginvel encenar um ponto de partida de si, uma mitologia pessoal e intransfervel. Mas ser que consigo ler, de fato, estas peculiaridades que enceno sobre mim? possvel que o meu discurso seja fi-dedigno a ponto de os meus invisveis iguais me reconhecerem como um dos seus? Mas se eu for uma diferena que no se circunscreve em turma nenhuma, ou, se houver algum en-quadramento, na prpria condio de exclu-do adjetivao considerada repulsiva num momento em que todos ns somos impelidos a pertencer, em que nada e ningum podem ficar de fora, sobrando?

    II

    Roland Barthes contempla as fotos da me recm-falecida. Busca (re)encontrar a pertena afetiva do corpo materno que posa para a cmera, (re)ver a materialidade das roupas de uma me fotografada antes do nascimento de seu filho. Porm, Barthes in-triga pelo pensamento que lhe surge durante sua experincia de resgate de uma narrativa pessoal, ao constatar que a Histria histri-ca: ela s se constitui se a olharmos e para olh-la preciso estar excludo dela (BAR-THES, 1984, p. 98). Se a Histria, escrita em maisculo, o tempo que antecede o sujeito que a vislumbra atravs de rastros do outro deixados em registros histricos como na prpria fotografia de cunho documental, por exemplo , uma histria pessoal s pode se constituir como um fio narrativo (e provisrio) no presente, efetuado por um sujeito que no consegue se distanciar totalmente de si. Por estarmos vivos, caminhamos na contramo da Histria, e narramos sobre ns mesmos de maneira flutuante e incerta. Elaboramos uma imagem nossa alicerada, inevitavelmente, sobre um background pessoal e familiar que supomos dar conta do que acreditamos ser a

    nossa identidade, esta auto-figurao que ns empreendemos no intuito de procurar os nos-sos pares na arena social. Revisitar a histria familiar para fa-zer um acerto de contas com o passado e, por fim, consigo mesmo: este o mote principal da novela Uma histria de famlia (1992), de Silviano Santiago. Nela, o narrador busca incessantemente o resgate da histria do fale-cido tio Mrio, parente excludo do cl familiar devido sua insanidade mental. O narrador vai cata de fatos e depoimentos que resga-tem a vida e a imagem do tio louco, que s fora visto por aquele na infncia, durante suas frias escolares, e com o qual acaba por se identificar. Logo, o narrador da obra de Silvia-no Santiago engendra uma jornada tortuosa e inesperada, deparando-se com histrias de crime, adultrio e tortura no cerne de uma fa-mlia que no deixara uma foto sequer de tio Mrio para a posteridade. Resta ao sobrinho a recriao da imagem fsica de seu tio louco e de seu respectivo trajeto de vida, desejando-lhe dar uma carnalidade atravs da memria: O filme da recordao se projeta fotograma aps fotograma na parede branca do quarto. No posso mais rebobin-lo, ou deix-lo depo-sitado, lacrado e intocvel em alguma pratelei-ra do tempo (SANTIAGO, 1992, p. 12). Nesta citao de Uma histria de famlia entrev-se que a memria do narrador se articula como uma projeo cinematogrfica na qual ele o nico espectador, recolhido no ambiente ntimo de seu quarto. Nota-se, tam-bm, a impossibilidade do narrador de manter tal recordao armazenada, arquivada na prateleira do passado; o que ele quer pro-jetar este filme da recordao, tir-lo do ar-quivo e torn-lo pblico, ainda que inicialmente para si mesmo: Ilumino melhor o quadro da sala do refeitrio que a recordao projeta na parede branca do meu quarto de dormir (idem, ibidem, p. 12). As convenes de uma projeo cinematogrfica so evidentes em seu discurso: h uma tela (parede do quarto), um projetor (a recordao) e a imagem exibida (sala do refeitrio). O cinema da memria do narrador composto de fotogramas, ou seja, fotos que, quando postas em sequncia, ga-nham movimento, imprimindo-se na tela-pare-de do seu quarto de dormir; os procedimentos do fazer fotogrfico e do cinema integram o

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    seu imaginrio, pois a partir daqueles que ele rememora e constri uma narrativa para os acontecimentos. O ato de recordar articulado por referenciais miditicos que fraturam tanto a noo do resgate da memria como um pro-cedimento espontneo quanto a possibilidade de uma apreenso plena do evento rememo-rado; recordar, enfim, criar narratividade e ter uma experincia de linguagem. A obra de Silviano Santiago eviden-cia como os registros fotogrfico e cinemato-grfico tornaram-se tanto emblemas do movi-mento da memria do sujeito contemporneo quanto mtodos do mesmo para a captura e reteno do passado. A relao entre a me-mria e os processos foto e cinematogrfico j vinha sendo problematizada desde o advento destas artes tcnicas na modernidade, sendo notrias as produes filosficas e culturais a respeito do tema, que podem ser remontadas desde a clebre abordagem de Walter Benja-min (1985) at os estudos mais recentes de Andreas Huyssen (2000). Para este ltimo, tal processo inerente cultura da memria que perpassa as instncias da nossa sociedade; cultura que pode ser entrevista na restaurao historicizante de velhos centros urbanos, na moda retr nas roupas e no desenho indus-trial, na nostalgia comercializada em massa, na literatura memorialstica e confessional, na automusealizao excessiva atravs da c-mera de vdeo, nas prticas memorialsticas recorrentes no campo das artes visuais, nos documentrios cinematogrficos e televisivos, na literatura psicanaltica sobre o trauma, nas comemoraes e nos memoriais, na produ-o cultural em massa sobre fatos histricos. Como adverte Huyssen, o mundo est sendo musealizado e cada indivduo representa o seu papel neste processo, assim como no h nenhum espao fora da cultura da merca-doria, por mais que possamos desejar um tal espao (HUYSSEN, 2000, p. 21). A memria seduz o sujeito, que intenta captur-la e ret-la para que ela no se perca, sendo possvel, deste modo, o seu acesso quando necessrio. No entanto, me-mria recriao, a feitura de uma narrativa, que se desfaz no tempo para ser refeita com novos acrscimos, com supresses de certas passagens e omisses de outras. O sujeito pode manipular a memria a seu bel-prazer: at mesmo para criar um fio biogrfico acerca de si mesmo, uma genealogia que justifique e d conta de suas escolhas, comportamentos e desejos no presente. Uma biografia que con-fira um sentido ainda que provisrio, que car-nalize a subjetividade e a trajetria do sujeito diante do outro. Colocar-se corporalmente perante o olhar alheio: para Michel Maffesoli (1998), os papis que representamos, e com os quais nos posicionamos no palco social, nada mais so do que o resultado de um neotribalismo constitutivo da socialidade contempornea. A comunidade atual afirma-se por uma experin-cia esttica, na qual o sujeito, mudando o seu figurino, [...] vai, de acordo com seus gostos (sexuais, culturais, religiosos, amicais) assumir o seu lugar, a cada dia, nas diversas peas do theatrum mundi (MAFFESOLI, 1998, p. 108). As aparncias tornam-se vetor de agregao (idem, ibidem) numa arena pblica onde no h delimitao entre atores e espectadores.

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    fico? Realmente nos considervamos como irmos ou tudo no passou de uma encena-o de irmandade para as lentes da cmera, que vorazmente registrava instantes de vida para o (nunca completo) lbum de famlia? Escavo o passado. Traio os meus. E me percebo violentamente.

    BIBLIOGRAFIA:BARTHES, Roland. A cmara clara: notas sobre a fotografia. Trad. Jlio Castaon Gui-mares. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.

    BENJAMIN, Walter. A obra de arte no tem-po de sua reprodutibilidade tcnica. In:___. Magia e tcnica, arte e poltica. Obras es-colhidas, vol.1. Trad. Sergio Paulo Roua-net. So Paulo: Brasiliense, 1985. p.165-96.

    HUYSSEN, Andreas. Seduzi-dos pela memria. Trad. Sergio Alci-des. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2000.

    MAFFESOLI. O tempo das tribos: o decl-nio do individualismo nas sociedades de massa. Trad. Maria de Lourdes Menezes. Rio de Janeiro: Forense Universitria, 1998.

    SANTIAGO, Silviano. Uma histria de famlia. Rio de Janeiro: Rocco, 1992.

    *Andr Masseno: Coregrafo, performer, bailarino e diretor teatral. Mestre e ps-gra-duado em Literatura Brasileira pela UERJ e graduado em Artes Cnicas pela UNI-RIO. Foi colaborador de diversos artistas nas reas de live art, fotografia, teatro e dana contemporneos, tais como Robert Pacitti (Reino Unido), Manuel Vason (Itlia/Reino Unido), Dani Lima (RJ), Fernando Renjifo (Espanha), Mario Grisolli (RJ), Helena Viei-ra (RJ), Grupo Gestus (SP), Claudia Mller (RJ), Grupo Hibridus (MG) e Vvian Cfa-ro. Desde 1999 vem desenvolvendo a sua pesquisa artstica, culminando nas obras ana/grama (1999), Explicit Lyrics (2002), Baleia (2004), Im not here ou A Morte do Cisne (2004) e Outdoor corpo machine (2008), apresentadas em vrios estados brasileiros e no exterior.

    Porm, devido fluidez, ao carter dispersivo, precrio e mutante desta sociedade neotribal, a rigidez de um pertencimento fixo e imutvel , de pronto, fraturada. Mas isso no quer dizer que seja inexistente, entre os integrantes de uma comu-nidade eletiva, um forte envolvimento emocio-nal na experincia de se sentir pertencente ao seu (efmero) grupo. Embora voltil, as tribos contemporneas agregaes por afinidades de comportamento, aparncia e/ou pensamen-to tambm promovem espao para experin-cias em conjunto, que podem ser intensas e extremamente complexas. Apesar da aparente homogeneizao que, a princpio, parecem-lhe constituir, estas agregaes so, de fato, uma reunio de diferentes, de singularidades que, naquele instante, esto reunidos por um certo propsito que, ao se transformar com o passar do tempo, acaba por reorganizar os seus componentes, agregando novos sujeitos e/ou dispersando os antigos integrantes. Sen-do assim, o que podemos dizer, no momento presente, a respeito da intensa experincia amical proporcionada pelas redes virtuais de amizade tais como Facebook, Twitter e Orkut, por exemplo, despertando-nos o desejo de procurar e agregar amigos de outrora (que nunca mais encontramos) ou de aceitar o con-vite de pessoas que jamais conhecemos pes-soalmente (mas com quem acabamos por nos corresponder frequentemente)? Alm disso, qual a imagem de ns mesmos que criamos nestes sites de relacionamento: quais so as fotos que postamos, como nos definimos em nossos perfis virtuais? Quais so as informa-es que colocamos disposio para a rede de amizade que possumos e para aqueles que podem, em algum momento, nos adicio-nar em suas respectivas pginas? Como que-remos ser vistos, e quem ns queremos como integrante de nossa tribo? Por quem e como queremos ser lembrados?

    III

    Uma foto com os irmos quando eu ainda nem havia completado os meus dez anos. Todos abraados pelos ombros, sorrindo marotamente. Uma fraternidade ironicamente estampada para o pai, que ento fotografava seus cinco filhos. Posvamos de turma, de perene companhia. Percebo que sou a nica criana da foto a olhar enviesado para a c-mera, sem encar-la frontalmente. um olhar reticente e sem muita franqueza. No sei se eu duvidava de mim mesmo ou da aglomera-o de irmos alvoroados pelo clique daquela pequena Kodak Instamatic 101, que acompa-nhou tantas viagens familiares. Ou talvez o meu olhar s fosse uma reao ao sol domini-cal que batia direto no meu rosto e que fazia as vezes do flash fotogrfico. Retorno aos meus irmos, ao nosso abrao efusivo de famlia grande que sempre escutava o tpico comen-trio de que, com tantos filhos, podia ser es-calado um time de futebol. Aquele abrao at hoje me perturba: ele era o resultado de uma unio que ento acreditvamos reinar no seio familiar ou foi simplesmente um gesto autom-tico impulsionado pelo ato de fotografar, onde todos os cinco irmos precisavam estar o mais perto possvel para caberem no plano fotogr-

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    Caminhando pelas ruas de Porto Alegre, especialmente pela regio do centro e arredores, percebe-se que vasta e inmera as formas de expresso visveis na paisagem urbana, manifestada por meio de pichaes, graffitis(1), stencils(2), stickers(3) entre outras modalidades artsticas, que muitas vezes por seu carter transgressor, seus criadores op-tam pelo anonimato. Formas de expresso que j fazem parte das paisagens urbanas dos grandes centros.

    E foi observando estas manifesta-es urbanas que acabei me deparando com a recorrente imagem de um gato com um terceiro olho, reproduzido ora em stencil, ora em stickers, ora desenhado com caneto em traos precisos, presente em lixeiras, portas de banheiros pblicos, muros, postes (...) e tal fato instigou minha curiosidade em saber mais a seu respeito, porm eu nem imaginava por onde comear, pois o que eu tinha era apenas a imagens espalhadas pelas ruas e mais ne-nhuma pista.

    Ao participar de um workshop pro-movido por um festival de arte em mdias m-veis realizado em Porto Alegre, conversando e trocando figurinhas com os demais parti-cipantes do workshop, conheci o Tridente, o responsvel pelos gatos.

    Anderson: Fale um pouco sobre quem o Tridente.

    Tdt: Tridente, 39 anos autodidata, natural de Santa Maria, trabalhei como inspetor burro-crtico por mais de 15 anos, loja de discos, cozinha, produes cinematogrficas, barbea-ria e afins at minha essncia punk quase ex-tinta vir tona e atualmente como vagabundo do Dharma usufruo de relativa liberdade exis-tindo apoiado exclusivamente em minha arte autoral.

    VRTEBRA 03

    (Re)conhecendo Tridente Anderson Souza*

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    Anderson: Sobre seu trabalho, como

    voc o caracteriza e o define?Tdt: Meu trabalho celebra a existncia ca-tica, tentativas de fugas... a humanidade no todo... Criaturas antropomrficas apa-recem com frequncia seja nos desenhos nanquim, nas pinturas, toys e inme-ros dos outros trabalhos que desenvolvo.Cheguei rua zoando com stencils e adesi-vos tosquera, percebi o filo que havia ali. Teria eu algum espao na mdia convencio-nal? Acredito que no fosse pela rua ... digo que trilhei o caminho inverso, cheguei de fake e acabei curtindo a rua mais que nunca nos ltimos meses, mais de refletir mesmo, menos ao porm a mente est sempre arquitetando algo. Muitos comearam a se dar bem, pensei que tinha o dna da arte e j aplicava stencils desde minha infncia em tudo em camisetas, tnis e mveis, mudei o suporte para a parede alheia, pblica e privada, ento que a brinca-deira comeou a ficar bacana e atualmente mais que nunca quero desaprender a rua. A old school da arte urbana de Porto Alegre flerta com o design e arte decorativa que no a mi-nha pegada, cada vez mais quero dar roles com moleques e irmos que no dominam a tcnica, na verdade penso o que sempre achei que os pixadores detm a essncia urbana eles no tm limites, admiro demais todos eles.

    Anderson: Como surgiu o gato que

    to recorrente em seu trabalho?Tdt: A galera do jazz, digo os msicos, idola-tram o gato, o smbolo deles e no meu per-sonagem foi um insight sobre ele simbolizar a rua. Saem noite, quebram tudo e voltam de manhzinha para seu lar assim como a maio-ria dos artistas urbanos. Alm da facilidade em risc-lo por a o que acabei descobrindo h uns anos atrs e segui nessa frmula, atualmente no risco mais nada, nem saio mais com cane-to no bolso, fazem meses, mas anda rolando uns gatos maiores pelo bairro onde resido.

    Anderson: O que te motiva e te inspira a criar?

    Tdt: Minha revolta como reflexo principal, revolta com a humanidade e comigo mesmo, eventos que ocorrem o tempo todo me inspi-ram o tempo todo, vai do momento, de con-seguir guardar a ideia, so tantas informaes processadas que percebo j sofrer de inibio latente um tipo de doena psictica de pes-soas que criam e processam informaes que no deveriam hiperlotando o seu HD, mais ou menos por a. Me inspiram muito os artistas que sigo acompanhando fielmente os traba-lhos como Alex Diamond(4), Richard Colman (5) e o Banksy(6) sem dvida pessoas que te surpreendem sempre tambm inspiram muito

    Anderson: Andando pela cidade de Porto Alegre

    se pode encontrar seus gatos nos mais variados locais, muitas vezes em locais

    pblicos, existe uma regra para a escolha destes pontos?

    Tdt: No existe regra no, colo e risc(ava)o onde eu puder dentro de minhas limitaes.

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    Anderson: Quais foram os maiores desafios

    que j enfrentou como artista de rua? Tdt: Nenhum ainda, tiro tudo de letra, vou somente at onde minha corda alcana sou macaco velho e quero continuar fazendo muita arte ainda. Sa da guri! (de 39) j t fazendo arte ? falavam os antigos na gria da poca dos anos dourados bem antes dessa tecnolo-gia incessante que nos assola com seus relati-vos benefcios e malefcios.

    Para conhecer um pouco mais sobre o traba-lho de Tridente acesse:http://www.visaobuitre.wordpress.com

    http://www.flickr.com/photos/tridente/v

    Notas:1 - Pichao e Graffiti: A definio e reconhe-cimento dessa nova modalidade artstica im-pem o estabelecimento de distines entre graffiti e pichao, corroboradas por boa par-te dos praticantes. Apesar de partilharem um mesmo esprito transgressor, a pichao apa-rece nos discursos crticos assocoada a uma produo essencialmente annima, sem ela-borao formal e realizada, em geral, sem pro-jeto definido. No graffiti, os artistas explicitam estilos prprios e diferenciados, mesclando re-ferncias s vanguardas e outras relacionadas ao universo dos mass midia. Disponvel em http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/en-ciclopedia_ic/index.cfm?fuseaction=termos_texto&cd_verbete=3180&lst_palavras=&cd_idioma=28555&cd_item=8 acessado em 20/03/2011.

    2 - Estncil (do ingls stencil) uma tcnica usada para aplicar um desenho ou ilustra-o que pode representar um nmero, letra, smbolo tipogrfico ou qualquer outra forma ou imagem figurativa ou abstrata, atravs da aplicao de tinta, aerossol ou no, atravs do corte ou perfurao em papel ou acetato. Resultando em uma prancha com o preenchi-mento do desenho vazado por onde passar a tinta. O estncil obtido usado para impri-mir imagens sobre inmeras superfcies, do cimento ao tecido de uma roupa. Informao disponvel em http://pt.wikipedia.org/wiki/Sten-cil acessado em 20/03/2011.

    3 - Segundo Jair Guilherme, um dos orga-nizadores da Expo Stickers 2008, Stickers so manifestaes artsticas autocolantes, fixadas em suportes no convencionais, como lixeiras, placas e telefones pblicos, com as mais variadas intenes, como divertir, criti-car ou simplesmente se expressar. Informa-o disponvel em http://logobr.wordpress.com/2008/10/20/expo-stickers-2008/ acessa-do em 20/03/2011.

    4 - http://demoncatcher.com/

    5 - http://www.richardcolmanart.com/

    6 - http://www.banksy.co.uk/

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    *Anderson Luiz de Souza - Brasil/RS/Canoas Ba-charel em Moda. Especializando em Arte Contem-pornea e Ensino da Arte e atualmente Docente no SENAC Moda e Beleza / Canoas-RS no Curso Tcnico em Produo Moda e em cursos livres nas reas de pesquisa, design e processo criativo em moda e cultura, Pesquisador do Processo C3 Grupo de Pesquisa e idealizador e responsvel pelo site www.processoc3.com. Tambm desen-volve trabalhos como estilista, figurinista, vitrinis-ta, artista plstico e ilustrador de moda.

    Fotos: Anderson de Souza

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    Foto: Anderson de Souza

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    Os sinuosos caminhos da vida me levaram ao encontro da obra de Marcelo Ga-briel. Os seus roteiros e a sua fora cnica chegavam aos meus ouvidos por distintas bo-cas, como um doce sopro na ferida de quando se criana. De gro em gro fui descobrindo na obra desse artista, um mundo na arte que supostamente eu dava como perdido: ativismo poltico gritante. Indubitavelmente tenho que concordar com o escritor Joo Silvrio Trevi-san, quando diz que:

    Se voc quiser experimentar a re-velao quase mstica de um Brasil arcaico e assustador v ver Marcelo Gabriel. Seu sangue vertido purifi-ca, como nos sacrifcios antigos. Se voc, assim como eu, est cheio de viver num pas de cafajestes, v ver Marcelo Gabriel em cena.

    Anti-totalitarismo, contra os silen-ciamentos, estigmas e preconceitos sociais, culturais, religiosos. Avesso ao especismo, se-xismo e todas as distores de valores que se construram historicamente no mundo pr-ps-moderno, assim , ou melhor dizer, assim so os espetculos do fundador da Dana Burra. A ento crtica de dana do jornal O Estado de Minas, colocou em 1996 que:

    [...] Ele precisa ser o anti-homem no palco para que o homem na pla-tia surja, indignado.

    No mesmo ano, a crtica do jornal O Estado de So Paulo, Helena Katz, emenda:

    Marcelo Gabriel desenvolveu um dos mais importantes solos da dan-a brasileira contempornea. Eis um talento raro, no seu corpo h uma sntese poderosa entre pantomima de bal clssico, mmica, teatro de marionetes, butoh, danas popula-res e urbanas, das suas palavras a agressividade, a contestao, o engajamento encontram sua melhor materialidade naquele jeito de dan-ar. absolutamente genial

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    Entrevista com Marcelo GabrielT. Angel*

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    Fotos: Arquivo pessoal de M

    arcelo Gabriel

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    Genialidade esta que j iluminou platias em diversos estados brasileiros e no exterior, a exemplo de Portugal (Lisboa), Ale-manha (Berlim), Canad (Montreal) e Holanda (Amsterd). Brilhantismo particular este que o possibilitou ser premiado em 1995 pela APCA - Associao Paulista de Crticos de Arte - por melhor concepo com o espetculo O Est-bulo de luxo e no ano seguinte, tambm pela Associao Paulista de Crticos de Arte, com melhor interpretao pelo espetculo O nervo da flor de ao.

    Desde j deixamos nossos sinceros agradecimentos pela ateno e carinho com o qual Marcelo Gabriel atendeu ao nosso pedido de uma entrevista, assim como, agradecemos por toda sua relevante contribuio para a dana, teatro, performance, arte e para forma-o de sujeitos crticos que desalinhavam as bocas e gritam, ainda que em sussurros.

    T. Angel: Voc iniciou sua carreira atravs da dana aos 17 anos na dcada de 80. Sabe-mos que ainda hoje o Brasil um pas extre-mamente machista e preconceituoso, dentro deste contexto, nos conte como foi adentrar no bal clssico e como voc v o tratamento dos bailarinos/danarinos masculinos brasileiros?

    Marcelo Gabriel: Em 1987 fiz meu primeiro espetculo solo que intitulei Dana Burra, uma instalao cnica, pesquisa de lingua-gem mesclando artes plsticas e teatro, pre-miada no XX Salo nacional de artes plsticas da prefeitura em Belo Horizonte. Comecei es-tudando teatro e como gostava de Jerzy Gro-towski que um criador genial de teatro fsico, modalidade em que se instrumentaliza muito bem o corpo, entendi que deveria estudar dana, assim como ginstica olmpica, aikido, etc... O Brasil um pas subdesenvolvido que no tem uma tradio cultural de formao e respaldo as artes. Muitos talentos tem sido ex-portados para a Europa, atravs de projetos sociais nas periferias por exemplo. incrvel tanta gente genial estar abandonando o pas e construindo carreiras brilhantes l fora.

    ***

    T. Angel: Como surgiu a Companhia de Dana Burra?

    Marcelo Gabriel: Inspirado no ttulo de meu primeiro solo Dana Burra, criei a Compa-nhia de Dana Burra que na verdade uma companhia de uma pessoa s, aludindo si-tuao de abandono e a falta de uma poltica cultural consistente no pas, uma postura de resistncia contra o status quo de morbidez cultural institucionalizada. Burra no sentido de no ser esperto o bastante para baratear o meu karma esttico, poltico, antropolgico...

    ***

    T. Angel: O seu trabalho toca em temas diver-sos com forte crtica poltica e ao estado das coisas na sociedade. Assim sendo, podemos dizer que voc faz um teatro fsico multidisci-plinar engajado?

    Marcelo Gabriel: um trabalho que dialoga

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    com a realidade. No uma jogada de ma-rketing. No respeito artistas que constroem carreira baseada em jogos de poder, ego... Hoje as pessoas em geral querem ganhar muito dinheiro e ficar famosas e o trabalho em si no tem contedo nenhum. Alis, transpon-do esta discusso a um nvel social, a nova gerao em geral esta bastante satisfeita com modelos que lhe transmitam segurana, que no desestabilizem, que no questionem. Esta anemia esttica sintoma cabal de geraes ps-HIV.

    ***

    T. Angel: O seu trabalho toca em temas diver-sos com forte crtica poltica e ao estado das coisas na sociedade. Assim sendo, podemos dizer que voc faz um teatro fsico multidisci-plinar engajado?

    Marcelo Gabriel: um trabalho que dialoga com a realidade. No uma jogada de ma-rketing. No respeito artistas que constroem carreira baseada em jogos de poder, ego... Hoje as pessoas em geral querem ganhar muito dinheiro e ficar famosas e o trabalho em si no tem contedo nenhum. Alis, transpon-do esta discusso a um nvel social, a nova gerao em geral esta bastante satisfeita com modelos que lhe transmitam segurana, que no desestabilizem, que no questionem. Esta anemia esttica sintoma cabal de geraes ps-HIV.

    ***

    T. Angel: Alm de autoria, concepo, inter-pretao, encenao, direo geral, coreo-grafia, dramaturgia, iluminao, figurino, voc tambm assina a trilha sonora de seus traba-lhos. Quais as dificuldades e facilidades em trabalhar assim?

    Marcelo Gabriel: Para mim este momento de imerso solitria no ato criativo absoluta-mente necessrio, quando me compreendo enquanto ser humano. Acho mais fcil traba-lhar solo que com elenco. Prezo o comprome-

    timento total a uma causa, responsabilidade, coragem e profissionalismo. Entretanto no excluo a possibilidade de desenvolver parce-rias. Em minha trajetria tenho convidado e dado preferncia mais a pessoas comuns que artistas institucionalizados, por achar que pessoas comuns alm de trazer um depoimen-to intransfervel, muitas vezes no carregam vcios de linguagem que muitos profissionais habitualmente desenvolvem. O meu compro-misso com a arte absolutamente pessoal.

    ***

    T. Angel: No comeo dos anos 90 voc costu-rou a boca, perfurou a lngua e se cortou em cena. Essa mescla entre inspirao, transpi-rao e sangue se tornou uma caracterstica muito marcante de sua obra. Fale um pouco sobre as suas sensaes da assimilao do pblico de um trabalho que confronta com ta-bus diversos?

    Marcelo Gabriel: Em 1995 criei um espetculo premiado pela APCA (Associao Paulista de Crticos de Arte) como melhor concepo cni-ca intitulado O Estbulo de Luxo em que de-nunciei o descaso das autoridades em relao comunidade dos HIV+ no Brasil, precisava de imagens fortes condizentes ao tema. Des-ta maneira estas cenas emblemticas foram apresentadas como a costura dos lbios sim-bolizando a omisso de cada um de ns diante da realidade, assim como me cortei com gilete fazendo a maquiagem de um palhao e perfu-rei uma veia do brao deixando me esvair em sangue enquanto danava, provocando des-maios na platia. Em relao hipocrisia das igrejas, por exemplo, fazia uma cena em que uma freira amamentava um cachorro vira-lata e oferecia rao a platia. Gosto muito deste espetculo por ach-lo muito forte, real. J a cena em que perfurei a lngua com um prego e fiquei exposto como uma natureza morta em uma parede branca faz parte de um espetcu-lo solo de 1996 que ganhou melhor interpreta-o tambm pela APCA intitulado: O nervo da flor de ao que tecia um paralelo entre o golpe militar de 64 e seus reflexos em um Brasil con-

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    *T.AngelTiago Soares - So Paulo/BrasilTcnico em moda pelo SENAC e acadmico em Histria pela Universidade FIEO, integra o staff do site argentino Piel Magazine e diretor geral do website Frrrk Guys, que aborda as temticas da modificao cor-poral e da beleza masculina oriunda dessa prtica. Desde 2005 vem atuando no cen-rio da performance art. Nos ltimos anos, Thiago Ricardo Soares vem colaborando com artigos para diversas revistas nacio-nais e internacionais. Tem experincia na rea de Histria, atuando principalmente nos seguintes temas: body art, performance e modificao corporal. Como pesquisador histrico, interessa-se pelos seguintes te-mas: body art, performance e modificao corporal. Endereo para acessar este CV: http://lattes.cnpq.br/2319714073115866

    temporneo.

    ***

    T. Angel: Entre suas influncias temos Kazuo Ohno, Ron Athey e Diamanda Galas, quem mais poderia endossar esta lista?

    Marcelo Gabriel: Madame Sat, Luz Del Fue-go, Marina Abramovic, Robert Mappletorpe, Louise Bourgeois e Pina Bausch.

    ***

    T. Angel: Dentre os seus inmeros trabalhos existe algum favorito ou que voc se debruce mais?

    Marcelo Gabriel: Dana Burra (1987), O Estbulo de luxo (1995), Crianas de acar (2010).

    ***

    T. Angel: Em alguns folders de seus espetcu-los vimos participaes de crianas, conte um pouco sobre essa presena?

    Marcelo Gabriel: Adoro crianas, so to bru-talmente puras que me fazem sentir vivo e de alguma forma misteriosamente feliz.

    ***

    T. Angel: Com que olhos Marcelo Gabriel v os rumos da arte da primeira dcada do sculo XXI?

    Marcelo Gabriel: estranho os grandes g-nios esto morrendo, Pina Bausch, Louisie Bourgeois, Kazuo Ohno... Existe um enorme vazio que precisamos aprender a suportar.

    ***

    T. Angel: No folder do solo O Nervo da Flor de Ao (1996) voc fala sobre a criao de uma coreografia como sendo uma coisa es-tpida pois assim voc considera -, satiriza a questo do consumo do espetculo e ainda fala sobre o esquecimento do roteiro. Fale um pouco mais pra gente sobre isso?

    Marcelo Gabriel: As leis que regem o mer-cado das artes so estranhas, pois arte algo imaterial no um produto, no pode ser qualificado, dimensionado, medido e pesado, de qualquer maneira existe este esforo de transform-la em algo vendvel. O que acho desastroso.

    ***

    T. Angel: Atualmente est trabalhando em al-gum novo projeto?

    Marcelo Gabriel: Estou viajando com dois espetculos que acabei de criar: Crianas de acar e Canibal Menu.

    ***

    T. Angel: Deixe uma mensagem para os nos-sos leitores.

    Marcelo Gabriel: Faa uma horta comunit-ria no seu bairro, no consuma, nem compre produtos que possam fazer mal ao meio am-biente.

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    VRTEBRA 05

    Poema da SaudadeMarta Peres*

    (prlogo)

    Ante as recentes catstrofes ocorri-das no Japo, hesitei em submeter este poe-ma publicao. Se j poderia parecer politi-camente incorreto, agora, ele teria se tornado at mesmo cruel. Mas acabei decidindo por mostrar, pois crueldade e solido se aproxi-mam. Quando me refiro ao Japo, antes de tudo de um ponto de vista simblico, como um melhor exemplo de distncia do aconchego da `minha casa`. E a tragdia s faz aumentar os medos que cercam algum que est fora de seu pas. Distante de seus valores culturais, da famlia, de seu idioma, entramos em conta-to com uma solido profunda, que aponta para o quanto isso que chamamos de `eu` est li-gado aos outros, mas no os `outros outros` e sim, os outros `prximos`, os `nossos`. Ao mesmo tempo, estabelecer laos de afeto dis-tantes tambm traz o vazio da despedida com que convivem os artistas circenses, sem pou-so fixo neste mundo grande...

    *AEROPORTO DE BARCELONA

    em off:voz de duas japonesas conversando

    %

    a solido-saudade-dino peitono centroda barrigadentroda medulassea

    %

    ante a sbita aproximaode um grande grupo de japonesescompreendopelos sentidos do corpoos instintosde rejeiao alteridade

    no estado em que me encontronao desejoser lembrada de que o Japo existe...

    %

    viajando pra longesabemos que a humanidade grandeo mundo cheiode gente de todo tipo

    mas isso nao adianta

    porque no servemde nada

    os outros!

    fora os nossosnada mais existetodo o resto pareceum desses hologramasescapaa qualquer tentativa de toque

    reno forasrespiro fundosuportomais um pouco

    vazio o que nao falta, miranda (*)vazio o que nao falta

    seria precisotanto sofrimentopra entender com a peleas dimenses do tempo e do espao?

    nao serve curso distncia!quero uma apostilabem resumidacom os conceitos bsicospormpresenciais

    o tempo longoa distncia longelong long road

    do alto das narinasintuo o odorda gruta de lascaux

    vazia

    meo seu ocofeito sao jernimoerudito eremitasempre atentoa seu crnio de brinquedo

    desertodesertodeserto

    quantos enxertosbastariampra preencher tamanho buraco

    latentedespercebido

    na redoma cmodaem que nos encontramosprotegidosem nosso abenoadoordinriocotidiano...

    (*) nota: Trata-se de uma referncia e breve homenagem pea teatral `Vazio o que no falta, Miranda`, dirigida por Diogo Liberano, estudante de graduao em Direo Teatral da UFRJ, a partir de uma releitura de `Espe-rando Godot` de Samuel Beckett (Rio de Ja-neiro, 2010)

    *Marta Peres - Rio de Janeiro/BrasilProfessora Adjunta do Departamento deArte Corporal EEFD-UFRJ, Doutora emSociologia (UnB) com Ps Douturado emAntropologia, fisioterapeuta e bailarina.Endereo para acessar este CV: http://lat-tes.cnpq.br/5570019500701293.

    Informe C3, Porto Alegre, v. 04, n. 12, mar./abr., 2012. www.processoc3.com

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    LIVR

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    LIVR

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    LIVRO

    A apreciao do que revoluciona: o fenmeno fast-fashion

    Maria Elizabete A. F. Leopoldo*

    O intuito do texto que se desdobra-r, no a resenha do livro estudado, CIETTA, Enrico. A Revoluo do Fast-Fashion, devora-do rapidamente, permitida apropriao segun-do a trama do discurso de CIETTA, mas antes a apreciao de algumas possibilidades de leitura e entendimento, atravs deste mesmo CIETTA e ainda, resgatando alguns pontos im-portantes da obra de Lipovetsky, no no intuito de subjulgar uma obra a outra, mas sim, como j ensaiamos, aproxim-las, a fim de gerar contraste e melhor viso, entendimento, com-preenso, de forma multidisciplinar. Uma vez proposta a leitura de CIET-TA, sobre a revoluo do fast-fashion, que ali-s o ttulo do livro em si, uma srie de digres-ses surgiram logo a partir da leitura do ttulo enquanto resumo do todo. O que se entende por fast-fashion, moda rpida, termo utilizado por grandes ma-gazines para produo rpida e contnua de novidades, podendo gerar (e geram, como sa-bemos) para essas grandes redes um aumen-to de faturamento, nos leva a apreciao de um binmio interessante: rapidez e lucro como adio, rapidez ao lucro, como proporo. O certo que o termo fast-fashion, que ser repetido quase exausto, porque o signo desenvolve o significado atravs de seu desdobramento, est cada vez mais presente em nosso cotidiano, no s de quem se pro-pe a pensar e consumir moda inserindo con-tedo a esta procura, mas abraando outros meios, digamos leigos, de quem no estuda ou trabalha com moda. Graas ao fenmeno C&A, vamos abordar assim, tomando de emprstimo o pretexto do livro, herdeira, de algum modo, do fenmeno Zara, que o mais observado e tomado como o exemplo no livro de CIET-TA, existem oportunidades reais, que j so praticadas por pequenas e mdias empresas produtoras de moda, que procuram desenvol-ver produtos com contedo forte de novidades em matrias-primas, modelagem, cartela de cores, de acordo com a modernidade, para competirem a sua maneira, com a ameaa dos grandes produtores da moda rpida do Brasil, a exemplo da Zara na Itlia.

    Muito se critica a estratgia das re-des de moda rpida, por conta da velocidade e decorrente agressividade de sua produo, sempre renovada e embebida de outros seto-res, acusada de cpia vulgar at. Mas interessante observar, atra-vs da leitura de CIETTA, e este ponto fac-tual do livro, que a moda tem como caracters-ticas justamente a renovao, a recriao e a transformao. Para o fast-fashion, trata-se da estratgia de manter as prateleiras e as araras providas de novidades, nutrindo suas lojas da presena do consumidor, dada a necessidade de estar atualizado todo tempo. Este movimento, que teve incio na Europa, praticado por grandes redes como a Zara, um dos fenmenos da fast-fashion como afirmamos atravs de CIETTA, faz com que as novas colees (a renovao, a recriao e a transformao) cheguem s lojas, as vezes se-manalmente, trazendo peas que refletem as ltimas novidades da moda, e despertando no consumidor o desejo da compra, remetendo-nos a outro binmio, muito antigo e burgus, o da oferta e da procura. O certo que a moda rpida gera no cliente em potencial o desejo da compra, tambm rpida e, se as marcas desta feita, de moda pronta, em algum momento primevo, faziam um produto sem pesquisa esttica e estilstica renovada, hoje quase que ditam as diretrizes e os rumos, e funcionam como indi-cadores e laboratrios de tendncias. No s o livro de CETTA nos dire-ciona a tal concluso, mas sim declaraes como a de Alber Elbaz, o nome criativo por trs da Lanvin, marca francesa que desfila na mais importante semana de moda, a de Paris, e que lanou recentemente uma coleo de 30 peas para outro fenmeno do fast-fashion, a sueca H&M (alis, esta outra estratgia das lojas do ramo, que buscam galgar espao no armrio e no desejo dum outro consumidor, de poder aquisitivo e de ambies egotistas mais altas): Isto no apenas um vestido mais barato para mim trata-se mais de um labora-trio para entender coisas, afirma Alber Elbaz sobre as peas Lanvin, criadas para a H&M. O certo que, uma das grandes e

    potenciais caractersticas das redes de moda pronta, moda rpida, ready-to-wear, a cria-o de um sistema de contedos e conheci-mentos democratizados, que geram um eficaz modo de competir, baseado praticamente em preos e informaes, em que o sistema pro-dutivo sairia em falta. Perante esta constatao e peran-te o fato absoluto, e contra fatos no h ar-gumentos, de que nossa sociedade se baseia no consumo e na voracidade deste consumo, quase como a serpente do infinito devorando-se, muito que rapidamente a leitura de vrios textos de Gilles Lipovetsky devem ser resga-tadas, vislumbrando o ser consumidor, como papel que o ser humano desempenha como expresso de si mesmo e ainda, o hiperconsu-midor e sua insacivel sede de novidade, que uma das formas de prazer e desejo ofereci-das por nossa cultura, assaz hedonista: O aspecto irnico dos tempos atuais reside no fato que mesmo os excludos do consumo so, ao seu modo, hiperconsumistas. A necessidade de renovao atin-giu um ponto de velocidade mxima, e a partir deste rpido debruar sociolgico, encontra-mos o nosso fenmeno a ser entendido, o fast-fashion, e, a partir desta leitura, amarrada aos instrumentos da sociologia, podemos ob-servar os aspectos mais negativos do sistema da moda rpida, pronta, que o carter preda-trio. Como a metodologia de produo baseada na velocidade (moda rpida) a fim de saciar o hiperconsumidor, chegamos a conclu-so mediante viso lipovetskesca que, no haveria tempo, contento possivelmente, para o desenvolvimento de colees completas, da base, prenhe da pea piloto, pesquisada me-diante um tema e parida a partir de desenhos deste tema, originais da marca. Desta feita, o caminho mais fcil a inspirao, ad infinitum, de informaes de outrem, at a cpia de mo-delos j consagrados nas ruas (segundo Cha-nel, a moda vem das ruas) e das passarelas, propriamente dito. Decerto tal posicionamento vai de encontro a todo o discurso de CIETTA, mas a leitura ingnua no resulta em compreenso

    Informe C3, Porto Alegre, v. 04, n. 12, mar./abr., 2012. www.processoc3.com

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    Corpo - Cultura - Artes - ModaInforme C3Revista Digital

    lato sensu, ou seja, sentido amplo. Tanto o texto de CIETTA, quanto texto observado como bloco nico do compn-dio criativo de Lipovetsky, deve ser pensado e digerido, j que falamos de fast-fashion (que vale ressaltar, ou melhor, lembrar, vem do ter-mo fast-food) mediado por contexto e aprecia-do de vrias perspectivas possveis. Tomando como exemplo as acu-saes feitas contra a moda rpida, criativa, predatria e competitiva segundo a viso de CIETTA e ainda, copista pradatria, uma vez sob a luz dos textos de Lipovetsky, patente-mente perigosa e perversa, caso avaliemos os dois posicionamentos, a partir das artes e at mesmo das cincias biolgicas e exatas, tudo renovao de uma fagulha essencial, um pri-meiro momento de criao, inspirao, que j se perdeu no tempo. Os benefcios e malefcios do sis-tema fast-fashon havero de ser avaliados de forma coesa, sem os arroubos intelectuais das cincias humanas, representadas por Li-povetsky, nem tampouco do carter pontual das cincias econmicas, representadas por CIETTA. O fast-fashion no dever ser enten-dido apenas como um fenmeno econmico a ser avaliado com esta instrumentalizao, como setor ativo, empresa, custos. Um algo que se organiza na varivel da escolha do tempo escasso, do desejo do consumidor, da velocidade e qualidade, amplitude de varieda-des e produtos pensados para pblicos deter-minados. Assim como no devemos nos orientar to somente pelas cincias humanas, apesar de nossa condio humana de fato, de debruar sobre os mecanismos dos papeis so-ciais a que nos propomos e submetemos e de toda a perversidade deste complexo jogo. O maior aproveitamento e o melhor entendimento do que vem a ser o tal fenmeno fast-fashion e seus desdobramentos deve par-tir de ambas as abordagens em suas nuanas O humano servindo para nos identi-ficarmos e localizarmos como elemento do sis-tema fast-fashion, que precisa do consumidor (ns) e o econmico e estudos afins, como a faceta factual de como a moda rpida funciona e se organiza e alm, organiza toda uma rede que comea ainda no artesanato, chegando a outros setores da moda, as demandas e con-seqncias de todo este sistema em termos de sociedade e indivduo, que nos faz voltar ento, para a faceta humana do entendimen-to. Esta de fato, ser uma apreciao que haver de revolucionar o nosso entendi-mento amplo do tal fenmeno fast-fashion.

    Notas Alber Elbaz, estilista da Maison Lanvin, em entrevista para imprensa no Cooper Square Hotel em NY. LIPOVETSKY, Gilles. A Sociedade da decep-o. - So Paulo: Editora Manole.

    *Maria Elizabete A. F. Leopoldo. Atuou como professora em lnguas e litera-tura. Foi integrante do programa Oficina de Arte.... Mantm um blog [http://reverbera-querida.blogspot.com] onde comenta suas impresso sobre moda, cultura e artes

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    ESPAO LIVRE

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    ESPAO LIVRE

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    Moda e identidade

    Espao livre 01

    Van Gogh e as cadeiras Juliana Schmitt*

    Em dezembro de 1888, Vincent van Gogh pintou A cadeira de van Gogh. O artista havia se mudado h poucos meses de Paris, onde aproximou-se de Impressionistas e ps-Impressionistas, com os quais teria seu tra-balho relacionado at hoje. Esta experincia marcaria profundamente sua obra. Como se sabe, a capital francesa era, naquele perodo, o principal centro de irradiao das tendncias pr-modernistas, a cidade por excelncia de todas as artes, da sofisticao e da moda. A palheta do pintor holands, at ento fria e sombria, iluminou-se ao tomar contato com a vibrao parisiense e, claro, com Monet, Re-noir, Sisley, Pissarro, Gauguin. Retornemos ao quadro. No centro de um cenrio em que predominam os tons de azul claro da parede e de alaranjado terroso do cho de lajotas, encontra-se uma rstica cadeira de madeira, sem braos. A pea, tal como um Sol, emana amarelo. Sua simplicida-de ressaltada pelo assento em palha trana-da e pela sua estrutura robusta, ereta, sem or-namentos. a tpica cadeira dos lares rurais. Sobre o assento, objetos viris - um cachimbo e fumo embrulhado em um leno branco. Ao fundo, um caixote em cuja lateral se l a assi-natura do pintor: Vincent. Paralelamente a esta tela, o artista produziria ainda uma outra, A cadeira de Gau-guin. Ambas foram feitos na poca em que os dois pintores moraram juntos em Arles, cida-dezinha ao sul da Frana. Vincent sentia ver-dadeira admirao por Paul, apesar dos pro-fundos desentendimentos entre eles. Assim sendo, A cadeira de Gauguin tornou-se um evi-dente contraponto de van Gogh: o ambiente rico em tonalidades quentes de verdes fortes e vermelhos, a madeira escura e entalhada em formas curvilneas, o estofado revestido por tecido sofisticado. Uma pea imperativa-mente burguesa. A lamparina acesa presa ao teto evidencia a falta de luz da cena noturna. Mais uma vez, a apario de eloquentes com-plementos: a leitura interrompida dos roman-ces (uma ocupao feminina), que repousam lascivamente sobre o assento, ao lado de uma vela branca que queima.

    Juntas, as cadeiras de van Gogh e de Gauguin formam um dptico antagnico e claramente mostram a percepo que Vincent tinha sobre si mesmo, em oposio ao carter de seu amigo. Para ele, a cadeira singela, des-pretenciosa, era a sua prpria imagem, como queria ser visto e lembrado pelo mundo. Mais do que uma mera moblia, era a sua represen-tao: a materializao de sua vontade em ser reconhecido como um homem simples, um pintor autntico e sem afetaes. Sugere, sem revelar totalmente, suas ideologias e vises de mundo. No causa espanto que esse desejo tenha afetado diretamente a memria visual que van Gogh deixou de si para a posteridade. Apesar de seus vrios autorretratos como um tipo urbano, de terno, colete e camisa, sobres-saem-se aqueles em que aparece como um campesino, de chapu de palha intensamente amarelo, a barba ruiva comprida e o olhar can-sado do trabalhador da terra. Assim como o artista holands fez com a composio nada aleatria de sua ca-deira, fazemos o mesmo com o vesturio: es-colhemos um conjunto de peas que formam, em seu estado simblico, a maneira como queremos ser percebidos e aceitos pela socie-dade. Elas falam de ns, de nossos gostos, de nossas idias e de nossas vidas tanto quanto A cadeira fala de van Gogh. Todos esses ob-jetos constroem significados importantssimos, so fabulaes a respeito de ns mesmos e constituem nossas escolhas mais pessoais porque interferem diretamente em nosso sujei-to pblico.

    *Juliana Schmitt historiadora, doutoran-da em Histria Social na Usp e professora de Histria da Moda.

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  • 50 Informe C3

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    Espao livre 02

    Filosofia da ModaO dualismo da alma humana entre o impulso

    individualizador e socializador Ana Carolina Acom*

    Para falar de roupas, grupos, seg-mentos ou estilos precisamos nos direcionar, exaustivamente, ao conceito de identidade abordado na histria da filosofia. Partimos ento, da velha e metafsica pergunta: Quem sou eu?, princpio bsico do autoconhecimen-to e da consultoria de moda. A roupa faz parte intrnseca da identidade de um indivduo, pois ela parte das escolhas que o constituem como um ser-a do mundo. A identidade de um indivduo for-mada pelas impresses e estmulos que ele tem do exterior, associadas sua subjetivida-de. Ou seja, o carter e personalidade depen-dem de como se d a assimilao de exemplos e referncias pelo contedo mental e subjetivo de uma pessoa. Esta assimilao ser a pea chave no momento das escolhas e do agir de um indivduo. Transitando por estilos diferentes, as pessoas buscam a diferenciao dentre o gru-po qual pertencem. Esta teoria, no passa de o conceito explorado por Georg Simmel em seu livro Filosofia da Moda, escrito em 1905: impulso de individualizao e de socializao. Esses impulsos podem ser entendidos como um paralelismo na constituio identitria. O desejo de individualizao e auto-afirmao um desejo de destaque e diferenciao perante um grupo. O homem essencialmente um animal social, j dizia Aristteles, e s pode se auto-afirmar perante um grupo, o que podemos definir como um im-pulso de socializao. Trazendo esses pensamentos para o campo da moda, temos um indivduo que ne-cessita de um elemento que o destaque (por exemplo, o uso de algumas grifes). Mas, ao mesmo tempo, o uso deste elemento s ter validade dentre um grupo que possa decodifi-car este objeto, compreendendo a significao deste para seus membros. No entanto, todas estas afirmaes so bem mais complexas do que parecem e no posso reduzir os indivduos e suas identi-dades a esquemas que remontam alguns pou-cos mecanismos da moda. Existem os grupos de adolescentes onde todos so, primeira vista, iguaizinhos; h, tambm, a questo das 52

    marcas e falsificaes; o caso dos bens luxu-osos e a soberba, onde vale o maior e mais caro; alm de uma srie infinita de complexi-dades humanas e fashionistas que no fo-ram citadas. Analisando o que disse Georg Simmel, em suas teorias de moda do incio do sculo XX, encontramos um pensamento atemporal, facilmente compreendido se apli-cado aos movimentos da moda e das relaes sociais na contemporaneidade. Ao interpretar-mos as diversas formas e manifestaes da vida humana, sentimos uma multiplicidade de foras em cada ponto da existncia. Simmel sustenta que o homem essencialmente um ser dualista, pois mesmo na multiplicidade de elementos que o cercam e o compem, ele se auto-afirma em uma poderosa unidade indivi-dual, a qual eu entendo como identidade. Resta-nos, entender como funciona este dualismo na formao da identidade de um indivduo. Observando a oscilao da alma entre dois plos, vemos um conflito entre dois impulsos que acabam por se complementar. A tendncia humana para o geral, que se d na convivncia social com um gru-po, garante a acomodao e repouso do es-prito. Pois, ao fazermos parte da unidade e igualdade com o TODO, asseguramos uma durabilidade tranqila e reconfortante. Entre-tanto, o homem sofre de uma necessidade concomitante de manifestar seu individualis-mo. E esse desdobramento inquieto de um contedo de vida individual, ocorre dentro de um grupo, o que torna o processo dualista e circular. Ao contrrio do repouso e durao que existe no impulso socializador, o individu-alizador provoca a mudana e a variabilidade, trazendo algo novo e nico. Essa unicidade, por sua vez, gera uma instncia particular su-jeita a ser incorporada por um grupo enquanto exemplo e da dar seguimento a uma nova ho-mogeneizao. Note que o processo do argumento descrito acima se aproxima muita s teorias que criamos para compreender o surgimento de tendncias na contemporaneidade. Algo indito e surpreendente surge nas ruas ou lanado, vai aos poucos sendo assimilado, at

    ser totalmente incorporado pela maioria, ao mesmo tempo em que cai em desuso por seus precursores. Para Simmel, a moda:

    a imitao de um modelo dado e satisfaz assim a necessidade de apoio social, conduz o indivduo ao trilho que todos percorrem, fornece um universal, que faz do comporta-mento de cada indivduo um simples exemplo. E satisfaz igualmente a necessidade de distino, a ten-dncia para a diferenciao, para mudar e se separ. E este ltimo as-pecto consegue-o, por um lado, pela mudana dos contedos, que marca individualmente a moda de hoje em face da de ontem e da de amanh, consegue-se ainda de modo mais enrgico, j que as modas so sem-pre modas de classe, porque as mo-das da classe superior se distinguem das da inferior e so abandonadas no instante em que esta ltima delas se comea apropriar.

    Com essa citao de Simmel, em-bora constatamos uma teoria sobre a efeme-ridade das tendncias e do pblico da moda, devemos lembrar que o autor considera a moda como um fenmeno social amplo que se aplica a todas as arenas sociais, sendo o vesturio apenas um caso entre muitos. Para completar, Georg Simmel evoca o conceito de imitao como uma ma-terializao da esfera social. Ele considera a transmisso psicolgica de opinies, gostos e escolhas a engrenagem na transio da vida do grupo para a vida individual. A imitao, primeira vista, parece caracterizar o plano onde nada de pessoal e criativo emerge, no entanto, ela desperta manifestaes nicas e novas. Ela possibilita um fazer apropriado e significativo. Pois, ao incorporarmos conte-dos e reproduzi-los em repetio, inserimos algo de nossa subjetividade, caractersticas prprias que daro um carter de releitura pessoal a qualquer elemento adotado. Dessa forma, o autor conclui: por isso, a moda nada

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    Filosofia da ModaO dualismo da alma humana entre o impulso

    individualizador e socializador

    Fotos: Anderson de S

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    mais do que uma forma particular entre mui-tas formas de vida, graas qual a tendncia para a igualizao social se une tendncia para a diferena e diversidade individuais num agir unitrio. A histria da moda no processo so-cial caracterizada por Simmel como a his-tria das tentativas de satisfazer essas duas tendncias e impulsos humanos, que oscilam entre uma cultura social e individualista. Assim, trago tona caractersticas da moda universal, onde mesmo o indivduo de personalidade mais forte e seguro de sua iden-tidade traz sua inspirao e referncia de algo outro. Cabe ressaltar, que quando nos referi-mos a grupo, no necessariamente estamos lidando com tribos ou segmentos e sim com indivduos vivendo em sociedade e se alimen-tando da cultura que os cerca para constituir seu carter e tomar suas decises. Exibindo conceitos de Georg Simmel, procurei analisar um dos aspectos da moda em seu contexto social e influente na constituio identitria de uma pessoa. Contudo, o assunto d margem a muitas outras variveis livres que poderiam ser analisadas pelo vis da filosofia analtica em contraponto com a teoria de moda. No te-nho dvidas que o aprofundamento do tema inesgotvel. At a prxima!

    Consultas:SIMMEL, Georg. Filosofia da Moda. Lisboa: Edies Texto & Grafia, 2008.

    SVENDSEN, Lars. Moda Uma Filosofia. Rio de Janeiro: Zahar, 2010.

    Artigo de Napoleo Schoeller de Azevedo Jr. O homem um animal... Vestido?! Disponvel em: http://www.modamanifesto.com/index.php?local=detalhes_moda&id=116

    *Ana Carolina Acom: Graduada em Filosofia pela UFRGS e Especialista em Moda, Criatividade e Inovao, pela Faculdade de Tecnologia do SENAC-RS. colunista e produtora do site modamanifesto.com , atua como pesquisadora e consultora de moda e se-mitica das vestimentas. Possui artigos publicados em diversas revistas e sites do pas. Atualmente responsvel pela consultoria de estilo e marketing das marcas Fragmento e Atelier Maria Lucia.twitter: @modamanifesto

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    Espao livre 03

    LObscurit Andre Raittz*

    LObscurit uma srie que aborda a inverso do grafismo fotogrfico durante o processo criativo. um ensaio composto pelo amor a fotografia, pelo amor a vida e principalmente pela valori-zao de uma nova boa amizade entre o ldico e o sensato, a razo e a emoo, a vida e o sonho.

    http://www.andreraittz.com/#!__page-0/lobscurite http://www.andreraittz.com

    * Andre Raittz: Curitiba/PR - BrasilFotgrafo e Artista Visual formado em Comunicao Social pela Universidade do Oeste de Santa Catarina, especializa-do em Fotografia pelo Centro Europeu e Arte Contempornea no Atelier de Arte Paranaense. Atua na rea h seis anos com experincia em diversos canais de comunicao (televiso, agncias, revis-tas e produtoras). Coleciona vrios pr-mios nacionais em sua carreira, alm de publicaes em revistas nacionais, inter-nacionais e almanaques especializados.

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    Fotos: Anderson de S

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    Foto: Anderson de Souza

  • Informe C3 - 61

    *Marta Peres - Rio de Janeiro/BrasilProfessora Adjunta do Departamento de Arte Corporal EEFD-UFRJ, Doutora em Sociologia (UnB) com Ps Douturado em Antropologia, fisioterapeuta e bailarina. Endereo para acessar este CV: http://lat-tes.cnpq.br/5570019500701293.

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    priscilla davanzo :autoriagarota do vero :ttulo

    a forma do corpo da forma :srie2011 :data

    Corpo - Cultura - Artes - ModaInforme C3Revista Digital

    Espao livre 04

    garota do vero priscilla davanzo*

    * priscilladavanzo - So Paulo/BrasilPossui graduao em Educao Artstica Ar-tes Plsticas pela UNESP (2003) e mestra-do em Artes Visuais pela mesma instituio (2006), onde defendeu a pesquisa corpo obsoleto: projetos artsticos para uma nova concepo do corpo humano. Tem expe-rincia na rea de Artes , com nfase em Artes Plsticas, atuando principalmente nos seguintes temas: body modification, body art, arte contempornea e arte conceitual. Eventualmente desenvolve projetos com animao digital 2D e video art. Endereo para acessar este CV: http://lattes.cnpq.br/6098104817118235

    Informe C3, Porto Alegre, v. 04, n. 12, mar./abr., 2012. www.processoc3.com

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    Corpo - Cultura - Artes - ModaInforme C3Revista Digital

    Espao livre 05

    Vidas Perdidas Alunas da FMU

    Cyntia Mayumi, Laura Silva, Mariane Rosa, Pmela P. Parra, Silvana Santana, Telma Forte

    Vidas Perdidas

    Atravs do filme Oldboy, somos levados a uma atmosfera onde vingana a palavra-chave para entendermos as atitudes extremas das personagens que vo do sa-dismo a automutilao. Envolto num clima re-pleto de violncia e mistrios, assistimos at-nitos ao desenrolar angustiante da trama, que aborda assuntos polmicos como o incesto. As cores predominantes so o preto e o ver-melho, que aparecem tanto nas roupas quanto no cenrio. Toda ao gera uma consequncia correspondente, portanto nada por acaso e um simples boato pode desencadear uma verdadeira jornada em busca de vingana. O tempo um tema recorrente na histria, as-sinalando os momentos mais importantes do filme. Aps ter 15 anos tomados de sua vida, s resta uma coisa a nosso anti-heri: saber quem o prendeu e o porqu, para que final-mente possa vingar-se. O Editorial Vidas Perdidas tem o intuito de mergulhar no universo de Dae-su, no qual o personagem se v aprisionado num mundo repleto de perguntas, loucuras, an-gstias, desespero e tendo o dio como seu principal sentimento - que lhe d fora para suportar tantos anos vivendo solitariamente.

    Contatos:J Souza: http://www.visibilidadenamoda.blo-gspot.comNati Canto: http://www.naticanto.com/Mariane Rosa Gomes: [email protected]

    Ficha TcnicaDisciplina: Projeto de Editorial em Moda - FMU

    Docente: J Souza

    Fotgrafa: Nati Canto

    Assistente de fotografia: Mariane Rosa Gomes

    Make/Hair: Alessandro Tierni

    Assistente Make/Hair: Margareth Passos

    Casting: Henrique Cavazotti (Way)

    Making Off: Laura Silva

    Produo: Cyntia Mayumi, Davi Dantas,Laura Silva, Mariane Rosa GomesPmela P. Parra, Silvana SantanaTelma Forte

    Styling: Cyntia Mayumi e Davi Dantas

    Locao: Parque da Juventude

    Cena 10: jaqueta Juisi by Licquor; camiseta Bunnys; colar Karin Reiter.

    Informe C3, Porto Alegre, v. 03, n. 12, out., 2011. www.processoc3.com

    Cursando o ltimo ano do curso de Criao em Moda, pela FMU (Faculdades Metropolitanas Unidas), realizamos o editorial chamado Vidas Perdidas - baseado no filme Oldboy. Nesse editorial, criamos um trabalho que explora aspectos psicolgicos interferindo no modo como o indivduo se relaciona com seu corpo. A partir de uma reflexo sobre o tema, desenvolvemos storyboard e buscamos todos os elementos desde os profissionais envolvidos at objetos de cena que compusessem o clima desejado. Com orientao da docente J Souza (Projeto de Editorial em Moda).

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    Corpo - Cultura - Artes - ModaInforme C3Revista Digital

    Vidas Perdidas

    Fotos: Anderson de S

    ouza

    Cena 1: camisa Element, gravata DeG, suspensrio Armani.

    Cena 2: blazer Calvin Klein Collection, camisa Giorgio Armani, cala Dsquared, gravata Aramis, ombreira Karin Reiter,

    sapato Pulo do Gato, cinto