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ANO 1 / JUNHO 2012 / NÚMERO GRATUITO N os últimos anos, a segurança pública é tema frequente tanto de debates sociais, quanto de campanhas políticas, mostrando que o tema ganhou grande espaço e importância em nossa cidade. E, um aspecto que tem sido cada vez mais comum é a segurança privada. Já é corriqueiro encontrarmos casas e condomínios com a instalação de alarmes, porteiros ele- trônicos e vigilância eletrônica. Com o barateamento gradativo desses sistemas, a adoção desses equipamentos vem crescendo progressivamente, até em bairros de menor renda. Mas, será que todos esses equipamentos ajudam mesmo a deixar um local mais seguro? “A presença do medo da violência dentro de uma sociedade tem profundo impacto sobre a vida social, cultural, econômica e política de um país”, afirmou em uma entrevista a coordenadora adjunta do Núcleo de Estudos da Violência (NEV) da Universidade de São Paulo (USP) Nancy Cárdia. De fato, com o passar do tempo, ocorreram modificações significativas no cotidiano das pessoas, e com a segurança não foi diferente. No entanto, é interessante notar que, numa deter- minada progressão, a violência vem diminuindo gradativamente ao passo que a preocupação com ela vem aumentando. Exemplo dessa diferença de realidades é o estado de São Paulo, onde o número de homicídios teve uma queda (que nos últimos seis anos teriam se reduzido à metade do que eram em 2000) sem que o medo decorrente desse tipo de violência tivesse sofrido uma redução semelhante. E, isso se reflete na indústria da segurança privada, que continua a crescer acima do crescimento da economia, e os prêmios de seguro por bens de consumo duradouro e propriedade continuam elevados. Não só a sensação de medo é fator para o crescimento desse tipo de atividade. A sensação de ausência de um poder público capaz de dar segurança coletiva adequada estimula toda uma po- pulação a adotar estratégias individuais. É a população fazendo o papel do Estado. A abrangência e a diversidade dessas medidas vão depender do poder aquisitivo das famílias. “Para os gover- nantes, um dos grandes desafios que o medo da violência apresenta é que, uma vez instalado em uma sociedade, este não desaparece com a simples melhora das estatísticas oficiais, já disse numa entrevista Nancy Cardia, coordenadora adjunta do Núcleo de Estudos da Violência (NEV) da Universidade de São Paulo (USP). São aspectos, como percebido, que não passam somente por políticas de combate à violência, mas toda uma cultura a ser trabalhada para entender o porquê de tanto medo, e o que realmente resolve para dar mais segurança à população. por: Erick Silva SANATIVO SEGURANÇA ALÉM DOS MUROS R.Cdor Queiroz de Oliveira | foto: Osvaldo Morais

Infornativo 4ª Edição

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Jornal Comunitário do Bairro de San Martin, Recife-PE

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Page 1: Infornativo 4ª Edição

ANO 1 / JUNHO 2012 / NÚMERO GRATUITO

Nos últimos anos, a segurança pública é tema frequente tanto de debates sociais, quanto de campanhas políticas, mostrando que o tema ganhou grande espaço e importância em nossa cidade. E, um aspecto que tem sido cada vez mais comum é a segurança privada.

Já é corriqueiro encontrarmos casas e condomínios com a instalação de alarmes, porteiros ele-trônicos e vigilância eletrônica. Com o barateamento gradativo desses sistemas, a adoção desses equipamentos vem crescendo progressivamente, até em bairros de menor renda. Mas, será que todos esses equipamentos ajudam mesmo a deixar um local mais seguro?

“A presença do medo da violência dentro de uma sociedade tem profundo impacto sobre a vida social, cultural, econômica e política de um país”, afirmou em uma entrevista a coordenadora adjunta do Núcleo de Estudos da Violência (NEV) da Universidade de São Paulo (USP) Nancy Cárdia. De fato, com o passar do tempo, ocorreram modificações significativas no cotidiano das pessoas, e com a segurança não foi diferente. No entanto, é interessante notar que, numa deter-minada progressão, a violência vem diminuindo gradativamente ao passo que a preocupação com ela vem aumentando.

Exemplo dessa diferença de realidades é o estado de São Paulo, onde o número de homicídios teve uma queda (que nos últimos seis anos teriam se reduzido à metade do que eram em 2000) sem que o medo decorrente desse tipo de violência tivesse sofrido uma redução semelhante. E, isso se reflete na indústria da segurança privada, que continua a crescer acima do crescimento da economia, e os prêmios de seguro por bens de consumo duradouro e propriedade continuam elevados.

Não só a sensação de medo é fator para o crescimento desse tipo de atividade. A sensação de ausência de um poder público capaz de dar segurança coletiva adequada estimula toda uma po-pulação a adotar estratégias individuais. É a população fazendo o papel do Estado. A abrangência e a diversidade dessas medidas vão depender do poder aquisitivo das famílias. “Para os gover-nantes, um dos grandes desafios que o medo da violência apresenta é que, uma vez instalado em uma sociedade, este não desaparece com a simples melhora das estatísticas oficiais, já disse numa entrevista Nancy Cardia, coordenadora adjunta do Núcleo de Estudos da Violência (NEV) da Universidade de São Paulo (USP).

São aspectos, como percebido, que não passam somente por políticas de combate à violência, mas toda uma cultura a ser trabalhada para entender o porquê de tanto medo, e o que realmente resolve para dar mais segurança à população.

por: Erick Silva

SANATIVOSEGURANÇA ALÉM DOS MUROS

R.Cdor Queiroz de Oliveira | foto: Osvaldo Morais

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Dia 19 de junho, pra quem não sabe, é dia do Cinema Nacional. Recife, mes-

mo com certa dificuldade, sempre manteve uma forte tradição cinematográfica, seja em exibições de filmes em grandes cinemas e em bairros, ou como palco de produções que tinham a cidade como pano de fundo. O primeiro cinema do Recife foi o Pathé, localizado na Rua Nova (antiga Barão da Vitória), nº 45, inaugurado no dia 27 de julho de 1909. Ele possuía 320 cadeiras e os filmes exibidos pertenciam à Pathé-Frè-res, fundada por Charles Pathé. A partir de 1910, passou a exibir, além de filmes, alguns flagrantes locais filmados pela própria em-presa. O Pathé fechou antes de 1920.

A partir de 1913, outro lugar que abrigou exibição de filmes em Recife foi o Teatro de Santa Isabel, e era considerado na época o melhor da cidade, o que possuía a “pro-jeção mais clara, fixa e nítida” entre os ci-nemas daqui. O também conhecido Teatro do Parque, localizado na Rua do Hospício, nº 81, foi inaugurado no dia 24 de agos-to de 1915 e passou a funcionar também como cinema a partir de 1921. Construído pelo Comendador Bento Luís de Aguiar, foi arrendado por Luiz Severiano Ribeiro em 1929, que no dia 24 de março de 1930, inaugurou naquela casa de espetáculos o cinema sonoro no Recife, com o filme ”A Divina Dama”.

Nos bairros distantes do Centro, na década de 1930, foi inaugurado na Rua Visconde de Irajá, na Torre, o Cine Torre, que teve grande movimentação de público, mas só sobreviveu até o final dos anos 1960. O ci-nema São Luiz, pertencente ao grupo de Luiz Severiano Ribeiro, foi inaugurado no térreo do Edficio Duarte Coelho, no dia 7 de setembro de 1952, com modernas e lu-xuosas instalações. No dia 3 de outubro de 1953, à meia-noite, realizou-se a première nacional do filme pernambucano, O canto do mar, dirigido pelo cineasta Alberto Ca-valcanti.

Como se vê, Recife sempre teve uma gran-de movimentação cultural relacionada ao cinema, algo que decaiu um pouco com a chegada dos Multiplex. Afinal, muito que vão para eles, não estão necessariamente interessadas diretamente nos filmes, mas no ambiente do shopping, como um todo. Já quem vai para algum cinema específico, como o São Luís, irá pelo filme em si. Essa relação desgastou um pouco a aura que se tinha do cinema na região. Mesmo assim, paralelo a essa questão, muitas mostras de bairro ocorrem, sendo uma resistência a esse cenário.

O bairro do Coque, por exemplo, sempre tem uma dessas mostras de cinema aconte-cendo no lugar. Isso tanto faz com que a cultura “circule”, quanto serve para a inclu-são social da comunidade. Em Camarigibe também temos festival semelhante. Já está provado, portanto, que temos público e estrutura para a realização desses eventos. Basta mobilização.

Preocupados com a sustentabilidade de nosso alimento, e tendo em con-ta como a alimentação determina boa

parte de nossa saúde, compartilhamos al-gumas reflexões sobre a relação entre a ali-mentação e as mudanças sociais.

Escolher bem o que por no prato é a forma de ação de indivíduos e grupos que, tendo acesso ao conhecimento, buscam contri-buir de forma propositiva com a situação de um consumo alimentar que tem adoeci-do e provocado imensos custos às famílias e ao sistema público de saúde. De fato, ambientalistas, estudiosos e chefs de culinária, de forma contundente, afir-mam que pensar no que comemos é um passo significativo para fazermos uma ver-dadeira revolução sustentável.

René Redzepi, um dinamar-quês considerado o chef número 1 mun-dial, em agosto de 2011 reu-niu cerca de 200 p e s s o -as, entre produtores locais, fazen-deiros e chefs renomados do mundo, para discutirem os rumos da alimentação e da gastronomia.

O evento, que ganhou capa da revista Vida Simples em dezembro último, nos leva a dialogar, por vários ângulos sobre como a comida e os sistemas de abastecimento nos afetam e afetam o planeta.

O que nos atrai quando escolhemos um produto nas prateleiras de um supermerca-do? O visual da embalagem, a informação contida na mesma, porque é “gostoso”, por impulso, pela propaganda, pela sua ori-gem?

Sabemos de onde vem e por onde passam as frutas, verduras e carnes que são vendi-dos como frescas? No esquema de globa-lização, quanto tempo leva a preparação de um dado produto em cada estágio, em cada parte do mundo, até ser embalado? Qual a sua contribuição efetiva na saúde da população?

Não dá para ensacolar tudo em plásticos, pôr tranquilamente esses produtos no ar-mário, na geladeira e dentro do corpo, e não exercer o mínimo do direito e da res-ponsabilidade com a prevenção de doenças e a relação com qualidade de vida!

LUZ, CÂMERA, MOBILIZAÇÃO A REVOLUÇÃO

PASSA PELO PRATO por: Erick Silva

por: Ivete Lourenço e Omar Rocha, Cantina Vegetariana

S A N A R T EVIDATIVA

O ato de comer é pessoal - todavia é de grande impacto coletivo. Pensar e se infor-mar sobre a cadeia produtiva pode evitar comermos alimentos congelados há mais de dois anos na China (que chega com “precinho bom” nas prateleiras e restauran-tes - como boa parte do salmão e atum), dos salgadinhos com excesso de sódio para as crianças e dos biscoitinhos com ópio do açúcar, dentre tantos outros.

Muitas frutas e legumes, e alimentos (como nosso grelhadinho de carne), estão ligados ao consumo de água, uso do solo, empre-gabilidade (ou trabalho escravo), biodiver-sidade, gases do efeito estufa, aquecimento global. Tudo isso incide em nosso prato - o que colocamos nele mexe com o planeta e nosso futuro. Afinal, somos 7

bilhões de pessoas que se alimentam, mais de uma vez por dia, todos os dias

do ano.

A ação, o olhar, atitudes e críti-cas de cada um

de nós, bem como

alternativas coletivas de pe-

queno e grande porte, constituem a revolu-

ção agora posta, contra a maré do agrone-gócio. As multinacionais alimentícias, para sobreviver, precisam tratar a população com mais dignidades - mas nada mudará se não exigirmos.

“Mais conhecimentos não apenas nos tornam mais responsáveis como também podem nos tornar mais criativos, mais so-cialmente engajados, com um novo enten-dimento para considerar o contexto cultu-ral, histórico, social e científico do alimento que cozinhamos ou comemos todos os dias”, afirma o chef René Redzepi.

Em tempos de Rio + 20, vale citar o am-bientalista Georges Schneyder, que prega alguns preceitos de uma gastronomia mais sustentável: “É um contrassenso que pos-samos optar pela origem de um aparelho celular, mas não do que comemos. Aceita-mos o que é colocado em nosso prato sem maiores questionamentos, desconhecemos o processo de produção do que ingerimos”.

Para saber mais: Revistas “Vida Simples” e “Vegetarianos”, Vídeo “Alimentação Inte-ligente”, IDEC, Movimento Slowfood.