11

inicio - agalma.com.bragalma.com.br/wp-content/uploads/2017/09/primeiras_paginas_novos... · Menina-modelo, 119 Diana Corso Seção Rumor, 131. 7 ... Ao convite de Angela B. do Rio

  • Upload
    doliem

  • View
    214

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

© dos autores, 2000, 2001.© Ágalma 2003 para a língua portuguesa

1a edição: maio de 20031a reimpressão: setembro de 2011

Projeto gráfico da capa e primeiras páginasHomem de Melo & Troia Design

EditoresAngela Baptista do Rio Teixeira

Marcus do Rio TeixeiraDireção desta coleção

Angela Baptista do Rio TeixeiraOrganização deste número

Ana Marta MeiraColaboraram neste número

Alfredo Jerusalinsky, Anne Marie Hamad, Denise Vincent, Diana CorsoJean Bergès, Maria Luisa Viviani e Rodolpho Ruffino

TraduçãoFrancisco F. Settineri

RevisãoÁgalma com a colaboração de Véra Motta

Depósito legal

Impresso no Brasil/Printed in BrazilTodos os direitos reservados

Ágalma Psicanálise Editora LtdaAv. Anita Garibaldi, 1815

Centro Médico Empresarial, Bloco B, sala 40140170-130 Salvador-Bahia, Brasil Telefax: (71) 3245-7883 Tel: (71) 3332-8776

e-mail: [email protected] Site: www.agalma.com.br

CATALOGAÇÃOMivaldo Silva Gonçalves Filho CRB 5º / 1059

Coleção Psicanálise da Criança: Coisa de Criança. v.1, n.1 (1991 - ...). Organização Ana Marta Meira. Tradução Francisco F. Settineri. Salvador : Ágalma, 2003 – n.13, 21 cm.

ISSN: 0103-7633

1.Criança. 2.Psicanálise com criança. 3.Sintoma. 4.Separação. 5.Brinquedo. 6.Adolescência. 7.Modernidade. 7.Sexualidade. 8.Latência. 9.Função paterna. 10.Infância.

SUMÁRIO

Editorial, 07

Ana Marta Meira

A criança é o pai do homem, 12

Anne Marie Hamad

O que as crianças cujos pais se separam nos ensinam sobre a

representação, 28

Jean Bergès

As crianças do ready made, 37

Alfredo Jerusalinsky

Pequenos brinquedos, jogos sem fim – Os sintomas no brincar da

criança contemporânea, 41

Ana Marta Meira

Sobre a função paterna, 55

Maria Luisa Scalise de Viviani

A infância na modernidade – Carta aos brasileiros, 64

Denise Vincent

Da latência à pubescência – O jogo pulsional, 76

Rodolpho Ruffino

Menina-modelo, 119

Diana Corso

Seção Rumor, 131

7

Editorial

Ana Marta Meira

“ Quando o caminhante canta na escuridão,

recusa seu estado de angústia, mas não por

isto pode ver mais claramente”

( Freud, S. – Inibição, Sintoma e Angústia)

As crianças de hoje nos colocam questões que se fundam a

partir dos pressupostos da psicanálise e remetem às vias com que a

subjetividade se constitui na contemporaneidade. A infância encontra-

se marcada pelos sintomas sociais que inscrevem a velocidade, a

multiplicidade, a fragmentação, o consumismo exacerbado, a

sexualização banalizada, a hiperestimulação, o culto à imagem, como

traços de referência do ser.

Diante disto, constatamos que os sintomas da infância, entre

os quais ressaltamos o brincar, encontram-se também marcados

por este apelo aos ideais sociais da modernidade.

Este volume traduz o desafio com o qual os psicanalistas

hoje se defrontam em seu trabalho clínico: articular os fundamentos

teóricos da psicanálise às diferenciações que a sociedade

contemporânea inscreve, de forma caleidoscópica, onde a referência

simbólica encontra-se fragilizada, e a imaginária exacerbada. Vários

psicanalistas foram convocados a escrever sobre a infância na

modernidade, tema que implica a consideração das transformações

sociais e familiares que aí se revelam.

8

NOVOS SINTOMAS

Ao convite de Angela B. do Rio Teixeira para organizar esta

publicação, seguiu-se sua nomeação: Novos Sintomas, sugestão de

Marcus do Rio Teixeira. Em torno deste nome que foram escritos

os trabalhos de Anne Marie Hamad, Denise Vincent, Diana Corso,

Rodolpho Ruffino e Maria Luisa Viviani. Jean Bergès e Alfredo

Jerusalinsky, gentilmente, cederam textos já escritos sobre o tema.

Nos trabalhos evidenciou-se a constatação de que as famílias de

hoje, marcadas por separações e transformações, inscrevem a criança

em um novo universo, onde ela se defronta com o discurso social

que aponta a termos como “família monoparental”. Termo da

modernidade que apaga, para a criança, a possibilidade de referência

ao pai, mesmo que ausente. Anne Marie Hamad discute com

precisão estas questões.

Vários autores deste volume apontam para os sintomas,

crescentes, relacionados à depressão, inibição, agressividade,

instabilidade, problemas de aprendizagem, e anorexia na infância –

esta última, como refere Lacan, representando a posição da criança

que come “nada”.1 Como refere Anne Marie Hamad, em “A criança

é o pai do homem”, a anorexia, entre outros sintomas, encontra-se

ligada à “angústia difusa que se manifesta no corpo, ou pela via do

corpo”. Diante da angústia que emerge frente à fragilização da

interdição simbólica, são evidentes os sintomas referentes à ausência

da circulação da palavra no social.

Jean Bergès, no trabalho “O que as crianças cujos pais se

separam nos ensinam sobre a representação?”, aponta os efeitos da

ausência da circulação da palavra nos casos de filhos de pais

1 No seminário As relações de Objeto, analisando o caso do Pequeno Hans, Lacan

aponta, referindo-se ao medo que o menino apresentava em relação à ausência

paterna, que “ A angústia não é o medo de um objeto, a angústia é a confrontação

do sujeito com esta ausência de objeto em que é apanhado, onde se perde, e ao que

tudo é preferível, até inclusive forjar o mais estranho, o menos objetal dos objetos,

o de uma fobia. O medo do qual aí se trata, seu caráter irreal, é justamente

manifestado, se sabemos vê-lo, por sua forma, ou seja, que é o medo de uma

ausência, quero dizer, deste objeto que acabamos de designar. O Pequeno Hans

vem dizer que tem medo de sua ausência, entendam-no como quando lhes digo que

se trata de entender a anorexia mental por, não que a criança não coma, mas que ela

come ‘nada’.” (p.193)

9

EDITORIAL

separados, que passam a apresentar sintomas depressivos e muitas

vezes anoréxicos. Pode-se observar que este sintoma, que tem se

evidenciado de forma crescente na sociedade moderna, inscreve-se

na via da fragilização da rede simbólica.

As crianças, muitas vezes, buscam o acesso sem fim a objetos

demandados pela via real. No lugar da palavra, objetos. No artigo

“As crianças do ready made”, Alfredo Jeursalinsky escreve sobre

os efeitos do oferecimento exagerado de brinquedos às crianças,

sintoma da modernidade. Observa-se a fragilização do tecido

metafórico próprio do brincar, sintoma da infância hoje, onde

podemos constatar, por exemplo, que a sociedade oferece

brinquedos estandardizados, que provocam nas crianças a

“economia” da imaginarização própria do brincar.

Em “Pequenos brinquedos, jogos sem fim”, escrevo sobre

o brincar das crianças modernas, a partir da análise do jogo simbólico

do fort-da, realizada por Freud. A articulação da leitura freudiana,

assim como das contribuições de Lacan sobre este tema, com as

questões que a clínica com crianças hoje nos coloca, é uma das vias

que trabalho. Entre elas, a pesquisa sobre um tema que é “moda”

atual entre as crianças, e que acabam por nos levar a colocar em

jogo na clínica: os Pokémon. Jogo que inaugura uma posição onde,

à falta de uma história – metáfora da inconsistência da rede simbólica

– as crianças passam a enredar-se em um universo pleno de disputas

onde as insígnias que cada um porta são a referência.

Maria Luisa Scalise de Viviani escreve “Sobre a função

paterna”, analisando a posição dos pais modernos, que reflete a

exacerbação do amor narcísico pelos filhos, terminando por

conceder às crianças um lugar privilegiado no social. De outra forma,

Denise Vincent, em “A infância na modernidade”, aponta como

sintoma da modernidade o apelo à medicina e à ciência como

resposta à angústia que se instala no sujeito, onde o uso de

medicamentos é crescente, assim como a via de instituir síndromes

ali onde se manifesta a psicopatologia. Afirma que “Em uma

sociedade na qual as proibições são cada vez menos respeitadas,

em que os laços familiares não desempenham seu papel regulador e

10

NOVOS SINTOMAS

onde a escola não assegura mais a disciplina em seu domínio, a

depressão, para o médico generalista, terminou por designar tudo

o que não vai bem com a criança”.

Os efeitos das vivências infantis sobre a adolescência fazem

questão, e é em torno da reflexão acerca dos jogos pulsionais que

caracterizam a latência que Rodolpho Ruffino, em “Da latência à

pubescência – O jogo pulsional” apresenta questões importantes

no que tange ao campo da passagem da infância à adolescência.

Retomando conceitos clássicos freudianos, o autor nos conduz a

uma análise do momento de latência e suas vicissitudes. Momento

de suspensão, como escreve, onde o sexual encontra-se marcado

pelos contornos das pulsões do eu – de domínio e saber. Podemos

pensar acerca das crianças que, em tempos de latência, hoje, dedicam-

se a transitar pelas múltiplas vias que o social lhes oferece, na busca

de saber sobre a sexualidade. Diana Corso, em “Menina-modelo”

apresenta-nos, por outra via, um trabalho onde a posição das meninas

diante dos ideais sociais referidos à mulher moderna são analisados

– a busca de um corpo perfeito, saudável, belo. Lábios marcados

por batom, pés calçando salto alto, roupas justas e minimalistas,

desenham no corpo das meninas, precocemente, os ideais referentes

às mulheres, hoje. Relendo Helene Deutsch, escreve sobre esta

peculiar forma de ser das “pré-púberes”, que entre a infância e a

puberdade são mestres em “parecer ser”, revelando-se miniaturas

de mulheres, antes de poder sê-lo.

Impossível sintetizar, neste editorial, as inúmeras questões que

cada autor revelou. Somente no a posteriori de sua leitura, será

possível inscrever convergências sobre as bordas nas quais a infância

e a clínica psicanalítica hoje se defrontam. Os escritos revelam, no

entanto, que o social, hoje, nos oferece múltiplas vias de leitura do

campo da infância contemporânea e dos sintomas que as crianças

apresentam, seja na clínica, seja nos contornos de sua circulação

social. Mas esta multiplicidade não apaga o tecido simbólico que é

a referência de nosso trabalho. Escutar as crianças, pela via

psicanalítica, em meio ao frágil e fragmentado tecido social, e ajudá-

las a nele constituir redes simbólicas, é nosso desafio. Dar lugar à

11

EDITORIAL

palavra, ali onde, nos avatares do social, ela é apagada, é o traço

com que marcamos nosso trabalho. Para esta direção simbólica,

todos os textos apontaram.

Agradeço a colaboração da Associação Lacaniana Internacional

em relação à indicação de Denise Vincent como colaboradora, e à

cessão do escrito de Jean Bergès, assim como aos colegas que

intermediaram os trabalhos de revisão dos textos, entre estes, Denise

Sainte Faire Garnot. Agradeço também à Associação Psicanalítica de

Porto Alegre a cessão do trabalho de Alfredo Jerusalinsky. E aos

colegas do Centro Lydia Coriat de Porto Alegre e da Associação Psicanalítica

de Porto Alegre, a interlocução em torno deste tema tão desafiador.

Sobre a Organizadora

Psicóloga, psicanalista. Membro da Associação Psicanalítica de

Porto Alegre, Mestranda no curso de Psicologia Social e Institucional

da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.