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17/11/2014 Inquérito civil – Poder investigatório do Ministério Público do Trabalho - Trabalho - Âmbito Jurídico http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=4358 1/2 Trabalho Inquérito civil – Poder investigatório do Ministério Público do Trabalho Raimundo Simão de Melo Equívocos têm surgido com relação ao poder investigatório e de instrução do Ministério Público do Trabalho nos inquéritos civis em que se apura denúncias referentes a irregularidades no âmbito trabalhista. Eis a razão de se fazer, neste trabalho, algumas breves considerações sobre o inquérito civil e a atuação do Ministério Público do Trabalho, que é o titular exclusivo desse instrumento processual na esfera trabalhista. A origem do inquérito civil está na Lei da Ação Civil Pública (Lei 7.347/85), hoje agasalhado pela Constituição Federal de 1988 e por outros diplomas legais, como instrumento de tutela de direitos metaindividuais, inspirado no inquérito policial, como mecanismo investigatório para colheita de informações preparatórias de relevo para iniciativa de atuação do Ministério Público[1]. Com efeito, assegura o § 1º do artigo 8º da Lei 7.347/85 que o Ministério Público poderá instaurar, sob sua presidência, inquérito civil, ou requisitar, de qualquer organismo público ou particular, certidões, informações, exames ou perícias, no prazo que assinalar, o qual não poderá ser inferior a 10 (dez) dias. É o inquérito civil procedimento administrativo de natureza inquisitiva tendente a recolher elementos de prova que ensejem o ajuizamento da ação civil pública[2]. Diz Hugo Nigro Mazzilli que o inquérito civil é uma investigação administrativa prévia a cargo do Ministério Público, que se destina basicamente a colher elementos de convicção para que o próprio órgão ministerial possa identificar se ocorre circunstância que enseje eventual propositura de ação civil pública ou coletiva[3]. Porém, o inquérito civil não se destina apenas a colher prova para ajuizamento da ação civil pública ou outra medida judicial; tem ele, também, como importante objetivo, a obtenção de ajustamento de conduta do inquirido às disposições legais[4], de forma rápida, informal e barata para todos. Nesse sentido, assevera Hugo Nigro Mazzilli que não se caracteriza o inquérito civil como procedimento contraditório. Antes, ressalte-se nele sua informalidade, pois destina-se tão-somente a carrear elementos de convicção para que o próprio órgão ministerial possa identificar se ocorre circunstância que enseje a propositura de medida judicial de sua iniciativa que, ademais, é concorrente com a dos demais legitimados ativos à ação civil pública[5]. Questão não raramente levantada por advogados dos inquiridos em inquéritos civis diz respeito ao devido processo legal ou direito de ampla defesa, com base no inciso LV do artigo 5º da CF (aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, como os meios e recursos a ela inerentes), querendo-se estabelecer no seu âmbito verdadeiro contraditório. Esse, contudo, como estabelece a disposição constitucional mencionada, aplica-se somente em processo judicial ou administrativo, não se tratando o inquérito civil de processo administrativo e muito menos judicial, não cabendo ao inquirido, por outro lado, o qualificativo de acusado. Não é o inquérito civil processo, mas, procedimento administrativo que visa investigar sobre o ato denunciado; não se fala em acusação, na aplicação de sanção ao inquirido, nem em limitações ou perda de direitos deste; nele não se decide controvérsia, como ocorre em processo judicial ou administrativo. Com o inquérito busca-se elementos de convicção para propositura de eventual medida judicial ou então, configurada a ilegalidade do ato, a assinatura de um termo de ajustamento de conduta, de forma espontânea. O inquirido não é obrigado a assinar termo de ajustamento de conduta, embora deva ser esclarecido pelo membro do Ministério Público, condutor do inquérito, de que, não havendo adequação às disposições legais violadas, medidas judiciais serão tomadas, como o ajuizamento de ação civil pública e que, conforme o caso, serão remetidos dados a outros órgãos públicos para a tomada de providências nos seus respectivos âmbitos, inclusive para a instauração de procedimentos criminais, se a conduta irregular também tiver irradiações no campo penal, como ocorre com certa freqüência. É claro que como importante instrumento que é, o inquérito civil submete-se ao controle de legalidade por parte do Judiciário, tanto no tocante à instauração, como no curso da sua instrução. Isto pode dar-se na ocorrência de medidas ilegais de caráter restritivo contra as liberdades pessoais e de atos que importem violação a direito líquido e certo do inquirido. Todavia, a mera instauração de um inquérito civil não representa qualquer constrangimento ilegal ou violação a direito líquido e certo a desafiar a busca de remédios judiciais, pena de se considerar o seu autor como litigante de má-fé. Também não cabe medida correicional perante a Corregedoria Geral do Ministério Público do Trabalho, como pretendem alguns advogados de inquiridos, muitas vezes com o fito de amedrontar o órgão condutor do inquérito nas suas investigações, ressalvada a hipótese de ocorrência de abuso de poder, o que não se confunde com a atuação firme do procurador na investigação e instrução do inquérito no âmbito da sua independência funcional (CF, art. 127, § 1º). Na área trabalhista, visa-se com o inquérito civil a proteção dos direitos e interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos ligados aos direitos sociais indisponíveis referentes às relações de trabalho, v. g., meio ambiente do trabalho, trabalho infantil, trabalho escravo e forçado, terceirização fraudulenta, inclusive por meio de cooperativas de trabalho, anulações de instrumentos coletivos extrajudiciais prejudicais aos interesses dos trabalhadores, greves em atividades essenciais, etc[6]., mediante investigações que podem levar à obtenção de um termo de ajustamento de conduta por parte do inquirido ou, na inexistência deste, ao ajuizamento de uma ação civil pública perante a Justiça do Trabalho. É certo que no âmbito do Direito do Trabalho pouca cultura existe a respeito da utilização e manejo do inquérito civil e da atuação de um Ministério Público forte e independente que, com determinação, procure fazer valer os direitos sociais dos trabalhadores assegurados na Constituição Federal e nas leis menores, como determina a Carta Magna (art. 127 e ss). Mas isto vem mudando e muito ainda mudará, cabendo aos incautos adequarem-se às novas funções e atuação do Parquet trabalhista, que de órgão subordinado do Poder Executivo passou, com a CF/88, a instituição independente e incumbida da defesa da ordem jurídica trabalhista, da democracia e dos direitos e interesses indisponíveis da sociedade (art. 127). O inquérito civil é instaurado por portaria ou despacho ministerial no acolhimento de denúncia recebida ou, de ofício; em seguida passa-se à sua instrução mediante coleta de provas (oitiva de testemunhas, juntada de documentos, realização de vistorias, exames e perícias) e, finalmente, chega-se à fase de conclusão, propendendo o órgão condutor pelo arquivamento do inquérito (por adequação de conduta, inexistência da irregularidade denunciada, perda de objeto, etc.) ou pela propositura de medida judicial cabível na espécie. Desta forma, diante de denúncia de irregularidades trabalhistas, que pode ser até anônima - desde que acompanhada de elementos suficientes ao desencadeamento da investigação - o Ministério Público do Trabalho tem o dever - e não mera faculdade - de agir, daí, como afirma Mazzilli, a obrigatoriedade e a conseqüente indisponinibilidade que ilumina toda a atuação do Ministério Público[7]. A instrução do inquérito civil é da maior importância, porque com base nas provas colhidas será ou não ajuizada a ação pertinente. É na instrução que o órgão agente colherá elementos de convicção para o ajuizamento adequado e responsável da ação civil pública; não se convencendo, após encerrada a instrução, da ilegalidade do ato denunciado ou da existência de qualquer prejuízo para os interesses metaindividuais, o órgão condutor do inquérito o arquivará, remetendo-o ao Conselho Superior da instituição, no prazo de três dias, para homologação, sob pena de incorrer em fala grave. Recusando-se este a homologar o arquivamento, será notificado o Procurador- Geral do Trabalho ou o Procurador-Chefe da regional, conforme o caso, para designar outro membro do Ministério Público do Trabalho para: a) prosseguir nas investigações, caso se entenda insuficientes as até então realizadas; b) instaurar inquérito civil, se se tratar a homologação de arquivamento de peças informativas ou; c) para ajuizar a correspondente ação (artigo 9º e §§, da Lei 7.347/85). É oportuno salientar, como advertem Fiorillo, Marcelo Abelha e Rosa Andrade Nery, que mesmo arquivado o inquérito civil pelo Ministério Público, os demais co- legitimados do artigo 5º da LACP poderão ajuizar a ação civil pública, cabendo ao Ministério Público nela intervir como custos legis, sendo salutar que outro Promotor de Justiça exerça essa função, porquanto o membro do Parquet que promoveu o arquivamento já emitiu opinião sobre o caso anteriormente[8]. Para instruir o inquérito civil, a lei armou o Ministério Público de amplos poderes instrutórios na busca dos elementos de convicção, necessários à boa instrução do procedimento e da provável ação civil pública a ser ajuizada. Assim, estabelece o art. 10 da Lei 7.347/85 que constitui crime, punido com pena de reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos, mais multa de 10 (dez) a 1.000 (mil) Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional - ORTN, a recusa, o retardamento ou a omissão de dados técnicos indispensáveis à propositura da ação civil, quando requisitados pelo Ministério Público. Como se vê, o Ministério Público, para instruir o inquérito civil ou outro procedimento administrativo, não pede; ele requisita e, se a sua requisição não for cumprida, pode e deve pedir a instauração de processo crime para apurar a conduta de quem de direito. As requisições do Ministério Público, hoje, têm assento constitucional, como se infere do dispositivo a seguir transcrito: "Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: VI - expedir notificações nos procedimentos administrativos de sua competência, requisitando informações e documentos para instruí-los na forma da lei respectiva; A Lei Complementar 75/93 (Lei Orgânica do Ministério Público) também dispõe a este respeito, dizendo: Art. 8º. Para o exercício de suas atribuições, o Ministério Público da União poderá, nos procedimentos de sua competência: IV - requisitar informações e documentos a entidades privadas". Esses dispositivos constitucionais e legais dão amplos poderes ao órgão ministerial para que possa fielmente cumprir suas funções institucionais na defesa dos interesses da sociedade, das quais não se desincumbiria a contento se tivesse que pedir informações e documentos necessários ao esclarecimento das irregularidades denunciadas e ao ajuizamento da ação civil pública. Não existissem a obrigatoriedade mencionada e sanções respectivas, poucos atenderiam às solicitações do Ministério Público, especialmente os inquiridos que não têm nenhum interesse em fazer prova contra si, como é natural. Equivocadamente alguns inquiridos procuram furtar-se do cumprimento das requisições do Ministério Público do Trabalho, dizendo que se reservam ao direito de fazer prova somente em juízo. Esse entendimento, contudo, é equivocado, porque além dos dispositivos acima citados, o artigo 26, I, da Lei 8.625/93 (Lei Orgânica do Ministério Público), dá plenos poderes ao Ministério Público para requisitar informações, mesmo que sigilosas, ficando o órgão, todavia, responsável pela utilização indevida dos documentos e informações que obtiver em razão desta requisição. Por isso, responsavelmente os membros do MPT, não raro, dão caráter sigiloso a determinados inquéritos civis para preservar direitos dos inquiridos. Assim, em nenhuma hipótese a requisição poderá ser negada, sendo que o desatendimento pode caracterizar crime de prevaricação ou desobediência (RT 499/304), conforme o caso (CP 319 e 330). Cabe ao Parquet, também e sempre que necessário, requerer a condução coercitiva de pessoas para deporem sobre fatos indispensáveis ao esclarecimento e Você está aqui: Página Inicial Revista Revista Âmbito Jurídico Trabalho

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  • 17/11/2014 Inqurito civil Poder investigatrio do Ministrio Pblico do Trabalho - Trabalho - mbito Jurdico

    http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=4358 1/2

    Trabalho

    Inqurito civil Poder investigatrio do Ministrio Pblico do TrabalhoRaimundo Simo de Melo

    Equvocos tm surgido com relao ao poder investigatrio e de instruo do Ministrio Pblico do Trabalho nos inquritos civis em que se apura denncias referentes airregularidades no mbito trabalhista. Eis a razo de se fazer, neste trabalho, algumas breves consideraes sobre o inqurito civil e a atuao do Ministrio Pblico doTrabalho, que o titular exclusivo desse instrumento processual na esfera trabalhista.

    A origem do inqurito civil est na Lei da Ao Civil Pblica (Lei 7.347/85), hoje agasalhado pela Constituio Federal de 1988 e por outros diplomas legais, comoinstrumento de tutela de direitos metaindividuais, inspirado no inqurito policial, como mecanismo investigatrio para colheita de informaes preparatrias de relevopara iniciativa de atuao do Ministrio Pblico[1].

    Com efeito, assegura o 1 do artigo 8 da Lei 7.347/85 que o Ministrio Pblico poder instaurar, sob sua presidncia, inqurito civil, ou requisitar, de qualquerorganismo pblico ou particular, certides, informaes, exames ou percias, no prazo que assinalar, o qual no poder ser inferior a 10 (dez) dias.

    o inqurito civil procedimento administrativo de natureza inquisitiva tendente a recolher elementos de prova que ensejem o ajuizamento da ao civil pblica[2].

    Diz Hugo Nigro Mazzilli que o inqurito civil uma investigao administrativa prvia a cargo do Ministrio Pblico, que se destina basicamente a colher elementos deconvico para que o prprio rgo ministerial possa identificar se ocorre circunstncia que enseje eventual propositura de ao civil pblica ou coletiva[3]. Porm, oinqurito civil no se destina apenas a colher prova para ajuizamento da ao civil pblica ou outra medida judicial; tem ele, tambm, como importante objetivo, aobteno de ajustamento de conduta do inquirido s disposies legais[4], de forma rpida, informal e barata para todos.

    Nesse sentido, assevera Hugo Nigro Mazzilli que no se caracteriza o inqurito civil como procedimento contraditrio. Antes, ressalte-se nele sua informalidade, poisdestina-se to-somente a carrear elementos de convico para que o prprio rgo ministerial possa identificar se ocorre circunstncia que enseje a propositura demedida judicial de sua iniciativa que, ademais, concorrente com a dos demais legitimados ativos ao civil pblica[5].

    Questo no raramente levantada por advogados dos inquiridos em inquritos civis diz respeito ao devido processo legal ou direito de ampla defesa, com base no inciso LVdo artigo 5 da CF (aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral so assegurados o contraditrio e ampla defesa, como os meios erecursos a ela inerentes), querendo-se estabelecer no seu mbito verdadeiro contraditrio. Esse, contudo, como estabelece a disposio constitucional mencionada,aplica-se somente em processo judicial ou administrativo, no se tratando o inqurito civil de processo administrativo e muito menos judicial, no cabendo ao inquirido,por outro lado, o qualificativo de acusado. No o inqurito civil processo, mas, procedimento administrativo que visa investigar sobre o ato denunciado; no se fala emacusao, na aplicao de sano ao inquirido, nem em limitaes ou perda de direitos deste; nele no se decide controvrsia, como ocorre em processo judicial ouadministrativo. Com o inqurito busca-se elementos de convico para propositura de eventual medida judicial ou ento, configurada a ilegalidade do ato, a assinatura deum termo de ajustamento de conduta, de forma espontnea. O inquirido no obrigado a assinar termo de ajustamento de conduta, embora deva ser esclarecido pelomembro do Ministrio Pblico, condutor do inqurito, de que, no havendo adequao s disposies legais violadas, medidas judiciais sero tomadas, como o ajuizamentode ao civil pblica e que, conforme o caso, sero remetidos dados a outros rgos pblicos para a tomada de providncias nos seus respectivos mbitos, inclusive para ainstaurao de procedimentos criminais, se a conduta irregular tambm tiver irradiaes no campo penal, como ocorre com certa freqncia.

    claro que como importante instrumento que , o inqurito civil submete-se ao controle de legalidade por parte do Judicirio, tanto no tocante instaurao, como nocurso da sua instruo. Isto pode dar-se na ocorrncia de medidas ilegais de carter restritivo contra as liberdades pessoais e de atos que importem violao a direitolquido e certo do inquirido. Todavia, a mera instaurao de um inqurito civil no representa qualquer constrangimento ilegal ou violao a direito lquido e certo adesafiar a busca de remdios judiciais, pena de se considerar o seu autor como litigante de m-f.

    Tambm no cabe medida correicional perante a Corregedoria Geral do Ministrio Pblico do Trabalho, como pretendem alguns advogados de inquiridos, muitas vezescom o fito de amedrontar o rgo condutor do inqurito nas suas investigaes, ressalvada a hiptese de ocorrncia de abuso de poder, o que no se confunde com aatuao firme do procurador na investigao e instruo do inqurito no mbito da sua independncia funcional (CF, art. 127, 1).

    Na rea trabalhista, visa-se com o inqurito civil a proteo dos direitos e interesses difusos, coletivos e individuais homogneos ligados aos direitos sociais indisponveisreferentes s relaes de trabalho, v. g., meio ambiente do trabalho, trabalho infantil, trabalho escravo e forado, terceirizao fraudulenta, inclusive por meio decooperativas de trabalho, anulaes de instrumentos coletivos extrajudiciais prejudicais aos interesses dos trabalhadores, greves em atividades essenciais, etc[6].,mediante investigaes que podem levar obteno de um termo de ajustamento de conduta por parte do inquirido ou, na inexistncia deste, ao ajuizamento de umaao civil pblica perante a Justia do Trabalho.

    certo que no mbito do Direito do Trabalho pouca cultura existe a respeito da utilizao e manejo do inqurito civil e da atuao de um Ministrio Pblico forte eindependente que, com determinao, procure fazer valer os direitos sociais dos trabalhadores assegurados na Constituio Federal e nas leis menores, como determinaa Carta Magna (art. 127 e ss). Mas isto vem mudando e muito ainda mudar, cabendo aos incautos adequarem-se s novas funes e atuao do Parquet trabalhista, quede rgo subordinado do Poder Executivo passou, com a CF/88, a instituio independente e incumbida da defesa da ordem jurdica trabalhista, da democracia e dosdireitos e interesses indisponveis da sociedade (art. 127).

    O inqurito civil instaurado por portaria ou despacho ministerial no acolhimento de denncia recebida ou, de ofcio; em seguida passa-se sua instruo mediantecoleta de provas (oitiva de testemunhas, juntada de documentos, realizao de vistorias, exames e percias) e, finalmente, chega-se fase de concluso, propendendo orgo condutor pelo arquivamento do inqurito (por adequao de conduta, inexistncia da irregularidade denunciada, perda de objeto, etc.) ou pela propositura demedida judicial cabvel na espcie.

    Desta forma, diante de denncia de irregularidades trabalhistas, que pode ser at annima - desde que acompanhada de elementos suficientes ao desencadeamento dainvestigao - o Ministrio Pblico do Trabalho tem o dever - e no mera faculdade - de agir, da, como afirma Mazzilli, a obrigatoriedade e a conseqenteindisponinibilidade que ilumina toda a atuao do Ministrio Pblico[7].

    A instruo do inqurito civil da maior importncia, porque com base nas provas colhidas ser ou no ajuizada a ao pertinente. na instruo que o rgo agentecolher elementos de convico para o ajuizamento adequado e responsvel da ao civil pblica; no se convencendo, aps encerrada a instruo, da ilegalidade do atodenunciado ou da existncia de qualquer prejuzo para os interesses metaindividuais, o rgo condutor do inqurito o arquivar, remetendo-o ao Conselho Superior dainstituio, no prazo de trs dias, para homologao, sob pena de incorrer em fala grave. Recusando-se este a homologar o arquivamento, ser notificado o Procurador-Geral do Trabalho ou o Procurador-Chefe da regional, conforme o caso, para designar outro membro do Ministrio Pblico do Trabalho para: a) prosseguir nasinvestigaes, caso se entenda insuficientes as at ento realizadas; b) instaurar inqurito civil, se se tratar a homologao de arquivamento de peas informativas ou; c)para ajuizar a correspondente ao (artigo 9 e , da Lei 7.347/85).

    oportuno salientar, como advertem Fiorillo, Marcelo Abelha e Rosa Andrade Nery, que mesmo arquivado o inqurito civil pelo Ministrio Pblico, os demais co-legitimados do artigo 5 da LACP podero ajuizar a ao civil pblica, cabendo ao Ministrio Pblico nela intervir como custos legis, sendo salutar que outro Promotor deJustia exera essa funo, porquanto o membro do Parquet que promoveu o arquivamento j emitiu opinio sobre o caso anteriormente[8].

    Para instruir o inqurito civil, a lei armou o Ministrio Pblico de amplos poderes instrutrios na busca dos elementos de convico, necessrios boa instruo doprocedimento e da provvel ao civil pblica a ser ajuizada.

    Assim, estabelece o art. 10 da Lei 7.347/85 que constitui crime, punido com pena de recluso de 1 (um) a 3 (trs) anos, mais multa de 10 (dez) a 1.000 (mil) ObrigaesReajustveis do Tesouro Nacional - ORTN, a recusa, o retardamento ou a omisso de dados tcnicos indispensveis propositura da ao civil, quando requisitados peloMinistrio Pblico.

    Como se v, o Ministrio Pblico, para instruir o inqurito civil ou outro procedimento administrativo, no pede; ele requisita e, se a sua requisio no for cumprida,pode e deve pedir a instaurao de processo crime para apurar a conduta de quem de direito.

    As requisies do Ministrio Pblico, hoje, tm assento constitucional, como se infere do dispositivo a seguir transcrito:

    "Art. 129. So funes institucionais do Ministrio Pblico:VI - expedir notificaes nos procedimentos administrativos de sua competncia, requisitando informaes e documentos para instru-los na forma da lei respectiva;A Lei Complementar 75/93 (Lei Orgnica do Ministrio Pblico) tambm dispe a este respeito, dizendo:Art. 8. Para o exerccio de suas atribuies, o Ministrio Pblico da Unio poder, nos procedimentos de sua competncia:IV - requisitar informaes e documentos a entidades privadas".

    Esses dispositivos constitucionais e legais do amplos poderes ao rgo ministerial para que possa fielmente cumprir suas funes institucionais na defesa dos interessesda sociedade, das quais no se desincumbiria a contento se tivesse que pedir informaes e documentos necessrios ao esclarecimento das irregularidades denunciadas eao ajuizamento da ao civil pblica. No existissem a obrigatoriedade mencionada e sanes respectivas, poucos atenderiam s solicitaes do Ministrio Pblico,especialmente os inquiridos que no tm nenhum interesse em fazer prova contra si, como natural.

    Equivocadamente alguns inquiridos procuram furtar-se do cumprimento das requisies do Ministrio Pblico do Trabalho, dizendo que se reservam ao direito de fazerprova somente em juzo. Esse entendimento, contudo, equivocado, porque alm dos dispositivos acima citados, o artigo 26, I, da Lei 8.625/93 (Lei Orgnica do MinistrioPblico), d plenos poderes ao Ministrio Pblico para requisitar informaes, mesmo que sigilosas, ficando o rgo, todavia, responsvel pela utilizao indevida dosdocumentos e informaes que obtiver em razo desta requisio. Por isso, responsavelmente os membros do MPT, no raro, do carter sigiloso a determinadosinquritos civis para preservar direitos dos inquiridos.

    Assim, em nenhuma hiptese a requisio poder ser negada, sendo que o desatendimento pode caracterizar crime de prevaricao ou desobedincia (RT 499/304),conforme o caso (CP 319 e 330).

    Cabe ao Parquet, tambm e sempre que necessrio, requerer a conduo coercitiva de pessoas para deporem sobre fatos indispensveis ao esclarecimento e

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    ajuizamento da ao civil pblica, mediante fora policial (LC 75/93, art. 8, inciso IX). Essa medida, que pode acarretar restrio ao direito de ir e vir, deve ser impostasomente quando absolutamente indispensvel e mediante cautela, como ressalta Hugo Nigro Mazzilli[9].

    Portanto, o inqurito civil, como moderno instrumento de defesa da sociedade, atravs do qual o Ministrio Pblico intenta a defesa dos interesses difusos, coletivos eindividuais homogneos, instrumento exclusivo do MP, cuja instaurao sempre obrigatria, diante de fatos que vislumbrem a existncia de ofensa aos direitos einteresses metaindividuais, sendo assegurado ao MP, por isso, amplos poderes para sua instruo.

    Embora bvio, oportuno ressaltar que esses poderes no devem transformar o rgo ministerial em arbitrrio ou dspota na conduo do inqurito. Como advogado quefui, juiz concursado e membro do Ministrio Pblico na ativa, tenho tranqilidade para continuar afirmando que no existe hierarquia entre juiz, promotor/procurador eadvogado na conduo de processos judiciais e de procedimentos administrativos. Nos misteres correspondentes, cada um desempenha relevantes tarefas na busca damelhor aplicao do direito ao caso concreto, devendo atuar com firmeza no uso das suas prerrogativas legais, porm, sem se descurar do tratamento respeitoso e urbanoentre si, para com as partes, inquiridos, testemunhas e demais auxiliares da Justia. Tambm cabe lembrar que as provas obtidas nos autos do inqurito civil no sodefinitivas no que diz respeito convico final do rgo julgador numa demanda judicial conseqente, podendo ser suplementadas ou at mesmo contrariadas diante dojuzo, agora sob o plio do contraditrio, sendo certo que na prtica, porque bem instrudos os inquritos civis, pouco se tem a acrescentar sobre elas.

    Por fim, na esfera trabalhista, diante do seu carter peculiar, deve o Ministrio Pblico do Trabalho, alm de apurar as irregularidades denunciadas, na forma acimaaludida, insistir na aproximao dos sujeitos da relao de trabalho, visando o melhor dilogo social e a assinatura de um termo de ajustamento de conduta, que instrumento clere, informal e barato, evitando, assim, a longa tramitao, o custo e as incertezas naturais das demandas judiciais.

    Notas:[1] Cf. Hugo Nigro Mazzilli, O inqurito civil, p.39/40, So Paulo: Saraiva, 1999.[2] Cf. Antonio Augusto Mello de Camargo Ferraz, Inqurito civil: dez anos de um instrumento de cidadania, p. 63, in: MILAR, dis (Coord.), Ao Civil Pblica: Lei n7.347/85, reminiscncias e reflexes aps dez anos de aplicao. So Paulo: RT, 1995.[3] Op. cit., p. 46.[4] Cf. nossa Ao Civil Pblica na Justia do Trabalho, p. 59, So Paulo, LTr Editora, 2002.[5] A defesa dos interesses difusos em juzo, p. 206, 4. ed., So Paulo, RT, 1992. [6] Cf. nossa Ao Civil Pblica na Justia do Trabalho, p. 65, So Paulo, LTr Editora, 2002.[7] Op. cit., p. 60.[8] Direito processual ambiental brasileiro, p. 175, Belo Horizonte, Del Rey,1996.[9] O inqurito civil, p. 166/167, So Paulo, Saraiva, 1999.

    Raimundo Simo de Melo

    Procurador Regional do Trabalho Mestre e Doutor em Direito das Relaes Sociais pela PUC/SP Professor de Direito e Processo do Trabalho Membro da Academia Nacionalde Direito do Trabalho

    Informaes Bibliogrficas

    MELO, Raimundo Simo de. Inqurito civil Poder investigatrio do Ministrio Pblico do Trabalho. In: mbito Jurdico, Rio Grande, III, n. 9, maio 2002. Disponvel em: . Acesso em nov 2014.

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