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Instituto A Vez do Mestre
LICENCIATURA EM PEDAGOGIA
O ATO DE DESENHAR E SUA INFLUÊNCIA NO PROCESSO DA
ESCRITA
Apresentação de monografia ao
Instituto A Vez do Mestre, como
requisito parcial para obtenção do grau
de licenciatura em pedagogia.
Por.: Nadia Silva de souza
OrientadorA: prof. MS. Andressa Maria
Freire da Rocha
Rio de Janeiro
2010
DOCU
MENTO
PRO
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O PEL
A LE
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O AUTO
RAL
2
AGRADECIMENTOS
Há tantas pessoas para agradecer.
Em primeiro lugar, agradeço a Deus
por iluminar o meu caminho durante
esses anos, pois foi uma caminhada
longa com algumas paradas e agora
com a finalização.
Agradeço a minha família,
principalmente aos meus pais Nice e
Eliseu por sempre estar ao meu lado e
me auxiliando com minha linda filha
Carolina.
A minha irmã Elisangela, que me deu
este empurrão final, para a conclusão
do curso, pois faltava tão pouco.
Não posso esquecer de alguns
professores do colégio Franco
Brasileiro que me ajudaram muito como
a professora Claudia, Cristine e Fátima
esta minha professora da educação
infantil.
A todos que participaram da minha
vida, minha sincera gratidão.
3
DEDICATÓRIA
A Deus, meu pai eterno, por iluminar o
meu caminho durante esses anos.
Agradeço à minha família, pelo apoio
de sempre. Muito obrigada.
4
RESUMO
Esta pesquisa pretende investigar a importância do desenho no
processo da escrita.
A partir de um estudo teórico discutiram-se as fases da evolução do
grafismo infantil e o processo da escrita.
Desse modo, o presente trabalho destaca a relação da criança com as
pessoas que fazem parte de seu contexto social e cultural. Como a criança
retrata essa realidade, através do desenho, como ela cresce e se desenvolve,
e discutindo através das ideias dos teóricos sobre o ensino da escrita no dias
de hoje, levantando questões sobre o assunto.
O papel da escola e do professor é destacado nesse processo, que irá
mostrar que dos primeiros traços ao surgimento da escrita pretende-se
fundamentar teoricamente o tema através de autores que têm influenciado a
educação, principalmente com este tema, como Lowenfeld, Piaget e Ferreira,
entre outros.
Sendo assim, a pesquisa será bibliográfica e de cunho explicativo.
5
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.....................................................................................................8 CAPÍTULO I 1.A CRIANÇA E O ATO DE DESENHAR..........................................................10 1.1.1 grafismo infantil: linguagem do desenho.................................................14 1.1.2 desenho infantil segundo Lowenfeld.......................................................18 CAPÍTULO II 2.1 DO DESENHO SURGE A ESCRITA...........................................................25 2.2 A história da escrita.....................................................................................27 2.3 Desenhos: um ensaio para a escrita...........................................................28 CAPÍTULO III 3.1 O ENSINO DA ESCRITA NOS DIAS DE HOJE..........................................31 3.1.1 O construtivismo de Jean Piaget..............................................................41 3.1.2 Alfabetização/construtivismo pelas visões de Emília Ferreiro..................45 CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................49 ANEXOS............................................................................................................50
6
INTRODUÇÃO
Ao desenhar, a criança estará contando a sua história, seus
pensamentos, suas fantasias, seus medos, suas alegrias e suas tristezas. No
ato de desenhar, a criança age e interage com o meio, seu corpo inteiro se
envolve na ação, trazidas em marcas que as mesmas produzem, se
transportando para o desenho. Através do desenho, conta o que de melhor lhe
aconteceu, demonstrando, relembrando e dominando a situação.
A criança constrói ao longo dos primeiros anos de seu desenvolvimento
a capacidade de figurar e de expressar por diferentes linguagens e exerce essa
habilidade livremente através do desenho, da imitação e das brincadeiras de
faz de conta.
No inicio de seu desenvolvimento cognitivo, o desenho é para a criança
uma atividade lúdica, que amplia as suas capacidades imaginativas e
representativas.
A oportunidade de desenhar é importante para estimular a expressão,
criatividade, o desenvolvimento intelectual e a conquista de outras linguagens,
como a escrita. O desenho permite à criança o exercício de um tipo de
simbolização gráfica que possui uma relação direta com a realidade, que
constituirá a base que, mais tarde, possibilitará que a criança possa construir a
escrita, outro tipo de representação gráfica mais abstrata.
Rabiscar, desenhar e escrever não é um simples ato mecânico, do
acaso. Cada gesto e movimento têm significações simbólicas, capazes de
contribuir para o desenvolvimento humano.
A primeira diferenciação que estabelecem refere-se à distinção entre os
desenhos e as letras/escritas. Ao chegar à escola, a maioria das crianças já
estabeleceram a diferença entre desenhar e escrever. As primeiras tentativas
infantis de escrita produzem alguns signos que já não são desenhados, e tão
pouco são letras. São grafias parecidas com letras.
Mesmo antes de conhecer as letras, as crianças têm ideias pessoais a
respeito da escrita, de modo geral corresponde à sua concepção inicial
referente às possibilidades de escrita e sempre referente ao sentido que para si
tem o desenho.
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O objetivo deste trabalho é apresentar fundamentos nos teóricos
consultados, que comprovem a importância da utilização do desenho para o
processo da escrita. O estudo fundamenta-se nas concepções sobre o
desenho e a escrita, segundo Vicktor Lowenfeld, Jean Piaget e Emília Ferreiro
e numa pesquisa bibliográfica que envolve autores como Aurora Ferreira, Célia
Silva Guimarães Barros, Maria da Graça Azenha, sendo, portanto, uma
pesquisa bibliográfica e de cunho explicativo.
O primeiro capítulo “a criança e o seu ato de desenhar” mostrará a
relação da criança quando esta desenhando; a evolução do grafismo infantil e
a linguagem do desenho.
O capitulo dois busca retratar a concepção do desenho e escrita ao
longo da história e apresenta o desenho como a primeira escrita da criança, e o
terceiro capítulo, que aborda as concepções de Jean Piaget e Emília Ferreiro
sobre a escrita.
8
CAPÍTULO I
1. A CRIANÇA E O ATO DE DESENHAR
A criança em determinado momento descobre o lápis e o papel, e
percebe que pode deixar nele e sua marca. Todas desenham quando
pequenas, sempre encontrando uma maneira de deixar o seu registro: se não
tiver papel, pode ser na terra, na areia, ou até mesmo nas paredes da casa. No
inicio a criança rabisca pelo prazer de rabiscar, não apenas no papel, mas
onde puder. Depois começa a desenhar para falar de si, para contar a sua
história. O desenho é utilizado pela criança para expor a sua visão particular do
mundo. Não segue regras nem proporções em tamanho, cor e a Constancia do
que vai desenhar, variam de acordo com o significado emocional naquele
momento.
Foi no fim do século XIX e no inicio do século XX, o desenho infantil
despertou os interesses dos pesquisadores. Antigamente, as crianças
expressavam-se pelo desenho, mas em superfícies que dificilmente ficariam
intactas através dos tempos. Nem todas as crianças tinham acesso a materiais
de desenho devido ao alto custo, somente com o barateamento do papel e do
lápis, é que o desenho infantil foi apreciado. Em meados do século XX os
estudos foram aumentando e o desenho foi contribuindo para o
desenvolvimento saudável da criança, sendo considerado um ponto
significativo.
“ O desenhar para a criança é tão natural como qualquer outra atividade.
O que importa para ela é o momento da ação. Assim como brinca, associa,
simboliza, ela desenha de forma espontânea. A criança age impulsivamente,
9
em uma curiosidade natural da consequência da ação, não a mede, e nem as
intenções são avaliadas anteriormente à ação.” (SANS, 2007, p.25).
Para a criança, desenhar e constituir uma atividade integradora, que
coloca em jogo as inter-relações do ver, do pensar, do fazer e da unidade aos
domínios perceptivos, como o cognitivo, afetivo e motor. O desenho infantil
está ligado ao pensamento, à relação com o mundo exterior, à manipulação de
símbolos e à diferenciação do eu.
Desde a primeira infância, a criança procura comunicar-se de algum
modo. No inicio, comunica-se com o choro, aos poucos vai desenvolvendo seu
próprio meio de comunicação, até o ato de desenhar. O desenho vai além de
um simples pedaço de papel para acriança. É uma linguagem, assim como o
gesto e a fala. A criança encontra no desenho o seu meio de comunicar-se e
de expressar com os adultos, afinal, alguns ainda não sabem falar. A criança
desenha para falar de si e das coisas que lhe são mais queridas, para falar de
seus medos, angustias e alegrias, para elaborar conflitos e contar descobertas.
É onde vai expor seus sentimentos, comunicar, expressar seus desejos e falar
dos seus sonhos.
Há crianças que não desenham para não se mostrar ou falarem de si,
como uma fuga. Outras desenham apenas em um cantinho da folha. As causas
podem ser várias: dificuldades emocionais, inibição pelos adultos não terem
cautela ao fazer comentários sobre a produção do desenho de uma criança.
Não se trata de elogiar toda e qualquer produção da criança, mesmo que ela,
sem vontade tenha rabiscado qualquer coisa, mas sim incentivar sua
capacidade criadora, dando-lhe confiança para avançar.
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O desenho, para a criança, é uma continuidade entre o objeto e a
representação.
Para a criança, o desenho é uma expressão de mundo e nunca uma
simples imitação ou copia fiel, porque desenha conforme o modelo interior, a
representação mental que possui do objeto a ser desenhado. O desenho vai
evoluindo e se modificando com o desenvolvimento da criança.
“... a expressão gráfica da criança varia coma idade, o meio, os
estímulos e as vivencias próprias. Características comuns aparecem nas
representações gráficas de todas as crianças...” (FERREIRA, 2007, P.26)
Uma criança segura tem maior capacidade de desenvolvimento, de
concentração e de prazer em criar. É importante ela sentir-se livre para poder
expressar-se com seus desenhos. Assim, a criança se desenvolve em
harmonia e se organiza no contexto espaço/temporal, proporcionando frente à
vida, descobrindo o significado que a vida tem e percebendo-se como criadora
de sua própria história.
Em cada fase a criança representa de maneira diferente os elementos,
não ocorrendo em uma relação fixa entre fixa entre a idade da criança e a
etapa a ser alcançada.
Podemos perceber através dos desenhos que há muita criatividade.
O viver criativo pode ser considerado como uma coisa em si, algo
naturalmente necessário a um artista na produção de um desenho, mas
também algo que se faz presente quando qualquer pessoa com um bebê, uma
criança, adolescente, adulto ou velho se inclina de maneira saudável para algo
ou realiza deliberadamente alguma coisa.
11
Observamos que a palavra criativa está ligada ao tema cria, ou seja, dar
existência, sair do nada, estabelecer relações, até então, não estabelecidas
pelo mundo da criança, visando determinados fins.
“ A criatividade deve ser incluída no ensino para que o educando no
desenrolar de sua vida, saiba encontrar novas opções e soluções em todas as
situações, cotidianas ou não, inclusive profissionais, conquistando e dominando
espaços para um melhor viver. “Criando o homem evolui”. (SANS, 2007, p.18)
A capacidade de criar é uma das potencialidades do ser humano,
ajudando-o a se expressar, comunicar e encontrar soluções. O melhor caminho
para a criatividade é o desenvolvimento natural do ser humano, que nem
sempre cresce sem problemas. Durante esse processo, o próprio adulto
ensinando, causa alguns bloqueios, muitos irreversíveis, causando uma
barreira no desenrolar da criatividade da criança.
Podemos dizer que o desenho é uma forma de leitura. Após a criança ter
feito o seu desenho, muitas vezes, o adulto pede para ela falar sobre o que fez,
e na explicação que se dá sobre o mesmo a criança irá falar sobre a sua arte
no papel, considerando a intenção que tinha ao traçar a sua cena.
A partir dos quatro anos as crianças já começam a desenhar situações
favoritas, como: a melhor amiga, o programa de TV favorito, desenhos
animados, família, entre outros. As meninas já são mais sentimentais,
desenham suas amigas em festas, shopping, viagens e brincadeiras. E os
meninos já desenham seus amigos junto ao seu ídolo dos desenhos animados,
podendo desenhar família, outro amigos em algumas situações.
Ultimamente, o desenho tem sido muito utilizado pelos professores como
ótima atividade para ocupação e recreação.
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Pelos desenhos feitos por uma criança podemos perceber seus
interesses, preferência, conflitos emocionais e até mesmo avaliar seu nível de
inteligência.
No ato de desenhar a criança, age com grande concentração, colocando
somente aquilo que interessa a ela, com um olhar observador, que muitos
adultos não tem. Ela vai reparar em todos os detalhes do objeto ou da imagem,
na qual o adulto não irá perceber.
Conforme o desenvolvimento da criança o seu desenho vai evoluindo.
Para o escritor Vicktor Lowenfeld, os desenhos infantis passam por um
processo de evolução, ou seja, fases. Estas dependem da idade e da
maturidade das crianças, cada uma em seu tempo.
O professor vê o desenho como substituto da escrita, lê o desenho da
criança como se estivesse lendo um texto escrito, analisa as imagens, aflito em
busca das palavras correspondentes. Toda imagem tem uma correspondência
com palavras e todo desenho retrata alguma coisa nomeável.
É grande o papel do professor na construção de um ambiente favorável
ao desenvolvimento do desenho infantil. É certo que o prazer encontrado pela
criança no desenho deixará de existir se não forem permitidas a exploração de
sua função expressiva e a realização de seu potencial criativo.
1.1.1 Grafismo infantil: linguagem do desenho
Na maioria das vezes a criança não é respeitada na sua forma própria de
perceber o mundo. A produção gráfica da criança é um meio de expressão, um
dos mais significativos, envolvendo o seu mundo real e imaginário. O mundo
real construído e apropriado pelas observações, e o imaginário, aquele que ela
constrói a partir da sua absorção da realidade.
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Para a criança, entretanto, a intenção do transmitir algo a alguém nem
sempre está presente, uma vez que, ao desenvolver suas capacidades
sensoriais e motoras, ela descobre no lápis, no giz, na tinta ou em qualquer
outro objeto que tenha estas propriedades, a possibilidade de deixar as suas
marcas.
Através dos seus “rabiscos”, é possível identificar as emoções em
qualquer período de desenvolvimento humano, embora a capacidade simbólica
surja apenas em torno dos dois anos de idade. A criança, nesta fase, tem a
necessidade de comunicar-se com outros e, também, consigo mesma.
Na sua capacidade simbólica, à criança constrói a sua capacidade de
criar. A internalização de símbolos permite a criança imaginar-se numa posição
diferente da qual se encontra para resolver algum problema.
Os símbolos utilizados pela criança representam o mundo a partir das
relações que ela estabelece com as pessoas que fazem parte do seu contexto
social e cultural, e consigo mesma. A sua imaginação desenha objetos
significativos, sejam eles reais ou frutos da sua fantasia, expressando uma
grande emoção, criação e significados.
“...através da compreensão da forma, como o jovem desenha, e dos
métodos que usa para retratar seu meio, podemos penetrar em seu
comportamento e desenvolver a apreciação dos vários complexos modos como
ele cresce e se desenvolve”. (LOWENFELD, 1977, p.51).
No inicio, a criança desenha linhas, uma vez que ainda não tem
consciência de que o conjunto delas passa a representar objetos e não atribui
significados a seus grafismos, mas o faz pelo prazer em repetir os gestos em
função da atividade motora adquirida.
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Com o tempo, a criança desenha sem intenção, porém, percebe
semelhanças entre seus traçados e um objeto real, considerando-o de acordo
com sua semelhança. Em seguida surge a intenção, o desejo consciente de
desenhar alguma coisa. Entretanto, a interpretação, o desejo para a criança
pode modificar-se de acordo com os significados atribuídos por ela.
A criança começa a fazer uso dos símbolos por volta dos dois anos, e
entre os dois e cinco anos passa a ter um domínio maior dos sistemas
simbólicos, observa-se, então, que os primeiros desenhos são decorrentes da
atividade motora e não simbólica.
A medida em que a criança se desenvolve, os recursos simbólicos
tornam-se mais complexos para ela. Se no inicio precisava de objeto e era
restrita às percepções e experiências imediatas, com o passar do tempo isso
se torna dispensável, então, ela passa a representar papeis sociais cada vez
mais elaborados e cria formas diversificadas de lidar com situações presentes
ou futuras. Isso também é percebido no seu desenho, uma vez que ela inicia
seus traçados com rabiscos que, aos poucos, são substituídos por figura e
objetos, que denotam uma representação com contornos mais próximos
daquilo que percebe
No inicio do seu desenvolvimento cognitivo, o desenho para a criança é
uma atividade lúdica, amplia suas capacidades imaginativas e representativas.
Ao iniciar seus rabiscos, a criança vai percebendo as possibilidades daqueles
traços e essa exploração de natureza inicialmente motora possibilitando a
ampliação de sua representação nas coisas.
O desenho evolui conforme o pensamento da criança. Segundo Barros
“...o desenho infantil apresenta uma evolução perfeitamente assimilável, isto é,
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as características próprias de uma idade não são as que se encontram na
idade seguinte”. (BARROS, 2004, p.191).
A oportunidade de desenhar é importante para estimular a expressão,
criatividade, o desenvolvimento intelectual e a conquista de outras linguagens,
como por exemplo, a escrita. O desenho permite à criança o exercício de um
tipo de simbolização gráfica que possui uma relação direta com a realidade, e
que constituirá a base que, mais tarde, possibilitará que a criança possa
construir a escrita, um outro tipo de representação gráfica, mas abstrata e
arbitrária, e que não guarda uma relação direta com o mundo físico.
O desenvolvimento da representação gráfica é paralelo a evolução do
pensamento da criança e é resultado das suas possibilidades de representação
simbólica.´
É através do desenho, que a criança demonstra o que sente e como
enxerga o mundo que a cerca. Quando ela entra na escola traz consigo as
impressões do mundo que devem ser consideradas e orientadas pelo
professor, responsável por estimular em seus alunos o desenvolvimento
cognitivo, psicomotor, cultural e afetivo.
O professor é importante no processo de construção do conceito
artístico, pois não é apenas aquele que vai proporcionar um ambiente que
favoreça a aprendizagem, mas também aquele que deve estabelecer um
ambiente de relacionamento significativo, permeando por um trabalho no qual
as propostas não aconteçam apenas para cumprir um currículo formalizado,
mas para envolver os alunos com as ideias a serem exploradas, estimulando-
os e incentivando-os.
16
1.1.2 Desenho infantil segundo Lowenfeld
Vários autores analisaram as fases de desenvolvimento do desenho
infantil.
Uma contribuição significativa e amplamente utilizada é a de Viktor
Lowenfeld, que considera que o importante é o processo da criança e o seu
pensamento, os seus sentimentos, as suas percepções, em suma, as suas
reações ao seu ambiente.
Muitas crianças obtêm uma enorme satisfação no desenho, e
reconhecendo os seus esforços, continuarão buscando o reconhecimento, e
cada criança mostrará seus diferentes interesses, sua capacidade, sua cultura,
sua rotina. É através desse processo que passamos a conhecer a criança.
Através dos sentidos que a aprendizagem poderá continuar.
Lowenfeld em sua obra aborda que o sistema educacional está
preocupado com uma fase de desenvolvimento: a da evolução intelectual.
Não existe expressão no desenho sem autoidentificação, com a
experiência revelada.
A criança precisa se conhecer, para que a aprendizagem seja eficaz. O
bebê quando chora está desenvolvendo a sua expressão. A criança quando
desenha está desenvolvendo a sua auto expressão, onde expressarão as suas
ideias, seus sentimentos que estão em seu interior. Com isso, a criança
aprende a ter confiança em si mesma.
Quando a criança esta no seu processo de desenho se sente muito
importante, e se sente um pintor diante do seu desenho. Algumas chegam até
a cantar quando estão desenhando, com isso, se comunicam com o seu
desenho.
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Os desenhos animados da televisão influenciam as crianças,
principalmente, os meninos. Podemos perceber que meninos na faixa etária de
três a quatro anos desenham seus heróis da televisão que mais estão na moda
(atualidade), costumam repetir sempre os mesmos personagens durante um
determinado tempo.
O processo de crescimento mental da criança se dá com relação ao
nome do símbolo; como por exemplo: a palavra vaca, não constitui uma
compreensão da palavra vaca, porém para relacionar o nome ao símbolo é
necessário que a criança sinta a vaca, olhe e veja o seu andar e conheça o seu
habitat.
Para a criança desenhar um determinado objeto ou animal é necessário
que tenha visto, sentido, ou conheça o elemento desenhado. Feito isso, a
criança irá registrar com animação no papel à novidade conhecida.
Entretanto, o desenho da criança passa por alguns desenvolvimentos
tais como:
Desenvolvimento emocional – é conseguido com a relação direta
com o que se identifica com sua obra. Através dos desenhos
repetidos podemos perceber que a criança tem medo de enfrentar
o mundo e ter novas experiências.
“A criança emocionalmente livre, desinibida, na expressão criadora, sente-se
segura e confiante ao abordar problema que derive de suas experiências.
Identifica-se, estreitamente, com seus desenhos e tem liberdade para
explorar...”
18
Desenvolvimento intelectual – é o conhecimento da criança de si
próprio e do seu meio. Quando desenha demonstra seu nível
intelectual.
Desenvolvimento físico – se dá pela sua capacidade da
coordenação visual e motora. É observada pela fase de garatujas
das crianças.
Desenvolvimento perceptual – é o desenvolvimento dos sentidos.
Inclui também a percepção espacial.
Desenvolvimento social – é a identificação da criança com suas
experiências e com outras pessoas.
Desenvolvimento estético – é o meio da criança onde organiza o
seu pensamento e sentimento. Está ligada também pela
personalidade. A criança será identificada pelo seu estilo de
organização.
Desenvolvimento criador – inicia-se pelos primeiros traços da
criança, inventando suas próprias formas, colocando algo de si
mesma. (LOWENFELD, 1977, p.60).
Para a criança o desenho vai muito mais além do que um passatempo é uma
comunicação significativa consigo mesma, e a escolha do seu meio, na qual
ela se identifica.
Conforme vão crescendo, seus desenhos vão se transformando. As crianças
não mudam de fases na mesma época. Muitos teóricos diziam que era muito
difícil dizer onde começava uma fase do desenvolvimento e terminava a outra.
Cada criança irá criar o seu próprio método de organização. O
desenvolvimento da criatividade vem de dentro dela. As situações da sal de
19
aula devem ser flexíveis para permitir que as crianças tenham sua própria
liberdade de expressar suas ideias.
“... como as experiências mudam não só de ano em ano, mas de um dia para o
outro, a expressão artística converte-se num processo dinâmico, em perpetua
transformação.” (LOWENFELD, 1977, p.80).
Essa afirmação de Lowendfeld retrata a evolução do grafismo e da iniciação da
escrita com crianças de três a sete anos. Nessa faixa etária podemos observar
as transformações de um dia para o outro, nos grafismos infantis, nos quais
são encantadores.
Quanto mais auto confiante a criança mais ela irá arriscar a criar e a se
envolver com o que faz. Ela se sente segura, se concentra com mais facilidade
nas atividades e consegue se soltar e acreditar no que faz. A criança segura
tem maior capacidade de desenvolvimento, de concentração e de prazer em
criar. Ela precisa sentir-se livre para poder expressar seus desenhos.
“Em cada fase, a criança tem determinada maneira de representar os
elementos, não há uma relação fixa entre a idade da criança e a etapa a ser
alcançada, assim como a idade cronológica.” (FERREIRA, 2007, p.26)
Mas para o escritor Lowenfeld em cada fase há uma relação com a idade da
criança. Dividindo as idades entre fases, podemos visualizar três etapas do
desenvolvimento da criança em seus desenhos:
A primeira fase das garatujas, onde acontece dos dois aos quatro anos de
idade. Sendo essa fase a mais importante para as crianças, onde ela descobre
os movimentos com o lápis e o que pode realizar com ele. Nessa etapa, a
criança faz rabiscos desordenados ao acaso. A organização e o controle do
traçado são percebidos aos poucos por ela, havendo uma evolução gradativa
20
que vai dos riscos às formas controladas. Nessa etapa ou fase, a criança passa
por várias fases de desenvolvimento, explorando seu corpo e espaço.
Na fase da garatuja, quando só “rabiscam”, é difícil para o adulto identificar
alguma coisa embora para a criança isso tenha grande significado. O ideal é
não perguntar diretamente o que foi desenhado ou afirmar o que a criança
desenhou, pois o sentimento poderá ser de que seu desenho não é claro o
bastante.
Por volta dos dezoito meses, à criança começará a dar os seus primeiros
rabiscos.
Através desses rabiscos iniciará a sua expressão que leva não só ao desenho,
mas também a escrita.
Para a autora Ferreira; a criança já começa a sua fase de rabiscação mais
cedo, começa com um ano e meio a quatro anos.
Lowendfeld classifica a primeira fase em três etapas: etapa garatuja
desordenada; etapa da garatuja ordenada e etapa da garatuja nomeada.
Na fase da garatuja desordenada, a criança não tem consciência dos seus
traços, muitas vezes, nem olha o que faz, seu prazer é explorar o material,
riscando tudo o que vê pela frente. Segura o lápis de várias formas, com as
duas mãos ou alternando, não usa o dedo ou o pulso para controlar o lápis, faz
movimentos iguais, vertical ou horizontal muitas vezes o corpo acompanha o
movimento.
Muitos adultos procuram algum significado nos rabiscos. Para a criança esses
rabiscos são muito importantes, pois ela precisa sentir que esse meio de
comunicação é aceitável.
21
Na fase da garatuja ordenada, a criança descobre a relação do gesto com o
traço, passa a olhar o que faz, começa a controlar o tamanho, a forma e a
localização do desenho no papel. Descobre que pode variar as cores; começa
a fechar suas figuras em formas circulares ou espirais. Perto dos três anos,
começa a segurar o lápis como o adulto. Copia intencionalmente um circulo,
mas não um quadrado. Nesta etapa as linhas se repetem, sendo desenhadas
na horizontal, vertical ou descrevendo círculos, a criança nesta idade ficará
desenhando por muito mais tempo, e usará cores diferentes.
Começará a explorar todo o espaço do papel. A criança já começa a ter noção
do que esta fazendo e, também, já começa a apreciar a as atividades.
Na etapa da garatuja nomeada, a criança faz a passagem do movimento
sinestésico motor ou imaginário, ou seja, representa o objeto concreto através
de uma imagem gráfica. Distribui melhor os rabiscos no papel, anuncia o que
vai desenhar, descreve o que fez, relaciona o desenho com o que vê ou viu,
sendo que o significado do seu desenho só é legível para ela mesma, inicia a
forma de figura humana. O tempo de desenhar aumentará durante essa fase.
A segunda etapa ou fase pré-esquemática tem inicio por volta dos quatro anos
e vai até os sete anos de idade, aproximadamente. Apresenta as primeiras
tentativas de representação do real, a criança desenvolve a consciência da
forma e transmite isso pelas imagens dos seus desenhos, embora às figuras ou
objetos apareçam ainda de forma desordenadas, podendo haver variações
consideráveis nos seus tamanhos. Nessa fase os movimentos circulares e
longitudinais da etapa anterior evoluem para formas reconhecíveis, passando
de conjunto indefinido de linhas para uma configuração representativa definida.
A criança desenha o que sabe do objeto e não uma representação visual
22
absoluta, seus desenhos apresentam características, não porque possuam
uma forma de representação natural, mas sim, porque está no começo de um
processo mental ordenado.
A terceira etapa ou fase esquemático, começa por volta dos sete anos até os
nove anos de idade. Nessa etapa a criança desenvolve o conceito da forma e
seus desenhos simbolizam o que pertence ao seu meio, de maneira descritiva.
“...é nesse período que aparece uma interessante característica dos desenhos
infantis a criança dispõe dos objetos que está retratando numa linha reta, em
toda a largura da margem inferior da folha de papel. Assim, por exemplo, a
casa é seguida de uma árvore,à qual se segue uma flor que fica ao lado da
pessoa que poderá ficar antes de um cão, que é figura final do desenho.”
(LOWENDFELD, 1977, p.55).
Nesta etapa, a representação gráfica é muito mais tardia que a lúdica verbal,
enquanto a brincadeira simbólica e a linguagem já estão bem formadas. A
criança constrói grandes cenas dramáticas brincando, mas só nessa fase
começa a organizar seus desenhos, a representação das figuras humanas
evolui em complexidade e organização.
23
CAPÍTULO II
DO DESENHO SURGE A ESCRITA
Os primeiros desenhos surgiram com alguns traços. Foram as primeiras
tentativas de comunicação. Com o tempo, os traços foram virando imagem,
signo ou desenho. O desenho foi a primeira manifestação gráfica da cultura na
história da humanidade, é uma forma fundamental de expressão deixada,
contendo importantes revelações da luta do homem em manifestar sua
evolução.
Pode ser considerado um sistema composto por elementos ou signos, a
partir do desenvolvimento dos instrumentos em que se torna possível usarem
as mãos para criar formas, texturas e encher de significado os desenhos.
Uma imagem, um gesto, uma expressão, uma palavra era um
instrumento, tanto quanto um martelo ou uma faca, num processo de copiar,
era apenas uma forma de estabelecer o poder do homem sobre a natureza e
no desenvolvimento das relações sociais.
Podemos observar que no começo o homem utilizou o desenho, na sua
expressão através do traço, para construir um significado ao seu mundo,
desenvolvendo formas de conhecimento, portanto, aperfeiçoando a
comunicação escrita. Marcando assim, a evolução do homem até a forma
escrita. A necessidade mais urgente é de recordar acontecimentos ou coisas,
que se seu por intermédio da representação de ideias, por meio de imagens,
fez com que surgisse a escrita ideológica, primeiramente, representando os
objetos em si mesmo. Posteriormente, com desenhos de signos, surge a
escrita, que consiste em representar as ideias e os objetos por imagens
24
distintas, evoluindo para a escrita fonética. Esta mesma evolução pode ser
observada no desenho infantil, cuja base evolui do traço para os sinais de
escrita, para mais tarde se consolidar na representação figurativa de modelos
que são aprendidos culturalmente na relação com o adulto, com a escola e
com outras crianças.
Ao começar a escrita alfabética, o desenho passa a ser considerado,
sobretudo pela escola, um elemento secundário. Através da escrita a ideia
passa a comandar a forma de escrever e, ao mesmo tempo em que representa
a linguagem, logo diversifica a capacidade humana de expressar as suas ideias
em dois códigos diferentes: o oral e o gráfico, proporcionando ao mesmo tempo
a possibilidade de reter a fala de signos visuais.
O desenho, enquanto objeto cultural, ao oportunizar condições para o
desenvolvimento da imaginação criadora no homem, no sentido dele poder
criar e recriar, ler e reler; assume um valor cognitivo fundamental, que dá forma
a nossa experiência sensorial e emotiva, e mais do que isso, contribuiu para
que o homem interaja nos movimentos da sociedade e na superação dos
próprios modelos.
O ser humano nos dias de hoje não vê o desenho como inicio da escrita.
É visto como um simples pedaço de papel com alguns rabiscos sem
significados, para os adultos. Para a criança têm muito significado os seus
‘rabiscos’.
Na pré-história, a visão do ser humano era totalmente diferente via o
desenho como um meio de comunicação, feitos na parede das cavernas,
através deste tipo de representação, trocavam-se mensagens, passavam
ideias e transmitiam desejos e necessidades.
25
2.2 A história da escrita
A escrita surgiu na antiga mesopotâmia, por volta de 400 a.C., usavam
placas de barro para escreverem. Foi nesse ano que os sumérios
desenvolveram esse tipo de escrita, chamada de cuneiforme.
Quase na mesma época dos sumérios, os egípcios antigos também
desenvolveram a escrita. No antigo Egito existiam duas formas de escrita: a
demótica (era a mais simples) e a hieroglífica (mais complexa e formada por
desenhos e símbolos). Escreviam nas paredes internas das pirâmides, eram
repletas de textos que falavam sobre a vida dos faraós, rezas e mensagens
para espantar possíveis ladrões. O tipo de papel usado era chamado papers, e
este eram produzidos a partir de uma planta de mesmo nome, que também era
utilizado para escrever.
Na Roma antiga, o alfabeto romano era composto por letras maiúsculas.
Contudo, na época começaram a escrever em pergaminhos, como auxilio de
hastes de bambu ou pena de patos e outras aves, ocorreu uma modificação em
sua forma original e criou-se outro estilo de escrita a chamada uncial.
O novo estilo de escrita durou até o séc. VIII e foi utilizado para escrever
as bíblias.
No século VIII, na alta idade média, um monge inglês, elaborou um novo
estilo de alfabeto, atendendo o pedido do imperador Carlos Magno. Este novo
alfabeto possuía letras maiúsculas minúsculas. Com o passar do tempo, esta
forma de escrita também passou por modificações, tornando-se complexa para
a leitura. No séc. XV, alguns eruditos italianos, incomodados com este estilo
complexo, criaram um novo tipo de escrita.
26
Podemos dizer que a escrita é uma teologia, criada e desenvolvida
historicamente nas sociedades humanas. A função central da escrita é a de
registrar as informações, não se pode negar sua relevância para a difusão de
informações e ainda por cima, a construção dos conhecimentos.
A escrita se desenvolveu de forma independente em varias regiões do
planeta, incluindo o oriente médio, Japão, o Paquistão, a América central e a
bacia do mar mediterrâneo.
2.2.1 Desenhos: u ensaio para a escrita
Percebemos que desde cedo a escrita esta presente na vida das
crianças, visto que ainda desde pequenas elas fazem tentativas de efetuar
registros escritos o seu modo: os rabiscos. Com isso vão fazendo sucessivas
observações e experimentações, reconhecendo aos poucos, os elementos da
escrita.
O desenho e a escrita são manifestações significativas que surgem
naturalmente no decorrer do desenvolvimento infantil. Através de pequenos
traçados, a criança representa a sua imaginação e determina textos,
reproduzindo detalhadamente figuras que se assemelham ao que ela afirma
estar representando.
A evolução do desenho e da escrita está intimamente relacionada, pois
dois processos apresentam a capacidade de transmitir, isto é, de construir e de
agir sobre representações vividas pela criança. No que muitos pensam ser
simples rabiscos, ou garatujas, as crianças estão se exercitando e imitando as
letras de forma, com rabiscos em formas retas e curvas. Esta relação entre o
desenho e a escrita é bem visível, pois através de seus primeiros rabiscos
surgirão as letras.
27
O desenho é um ato da criança que embora pareça sem significado
para os adultos, é muito rico e importante para o desenvolvimento cognitivo das
crianças. Dessa forma, é necessário que os adultos não ensinem a criança a
desenhar a sim, deem liberdade que a conduzirá a escrita.
Já, a escrita na educação infantil prioriza os aspectos gráficos que
determinam a qualidade dos rabiscos e a distribuição das formas.nesse caso,
são ignorados os aspectos cognitivos, nos quais se requer representar e os
meios utilizados para criar diferenciações entre as representações produzidas.
A criança quando da o seu primeiro rabisco no papel está dando inicio
ao seu processo de escrita. Na fase da garatuja, com dois a quatro anos,
começará os primeiros traços para as letras. Quando ela rabisca bastante está
fortalecendo seus traços e desenvolvendo seus movimentos. No final desta
fase a criança começa a misturar aos seus desenhos na escrita, traçada ou
pequenos elementos parecidos com os nossos signos.
De seis a nove anos, ocorre o período estacionário durante o qual o
desenho se mantém sem tantos progressos como os que ocorreram até esta
fase, ela melhora nos detalhes, mas não evolui. A grande evolução é na escrita
e é comum aparecer balões representando conversas entre os personagens de
seus desenhos ou pequenos textos, que parecem explicar melhor a situação ou
ação deles.
Nos níveis da escrita e no pré-silábico, a criança não compreende o
sistema da escrita e tenta diferenciar o desenho da escrita. Desenhar e
escrever são atividades que elas usam para representar o objeto que desejam.
Na educação infantil é feito todo um trabalho de estimulação da
coordenação motora fina para alcançar o traçado firme na escrita.
28
A evolução da dinâmica manual acontece normalmente aos dois meses,
quando o bebê já segura um objeto. Com quatro meses existe a preensão
voluntaria dos dedos anular e mínimo. Entre cinco e seis meses ela pega o
objeto os objetos entre os quatro últimos dedos e a palmar e consegue
arranhar a superfície com as mãos em forma de garras, quando deseja pegar
um objeto.
De sete a oito meses existe a preensão índice-polegar (torpe). Gesell
chama de pinça inferior, pois passa o objeto de uma mão para a outra. A
preensão pinça índice-polegar acontece entre os nove e dez meses. E a partir
daí inicia a coordenação viosomotora de rasgar o papel, trabalhando os
movimentos de pequena amplitude, usando o polegar e o indicador.
Podemos encontrar casos de crianças que não sabem falar, mas através
do desenho se comunica com o mundo. Outras não sabem escrever, mas em
seus desenhos utiliza detalhes incríveis e se comunica, assim, com os adultos.
29
CAPÍTULO III
3.1 O ENSINO DA ESCRITA NOS DIAS DE HOJE
O apetite das crianças pela escrita está acontecendo cada vez mais
cedo. Hoje podemos perceber que as crianças de três anos sabendo escrever
pequenas palavras e lendo algumas. Antigamente, nessa idade as crianças só
queriam brincar e o interesse pela escrita só ocorria por volta dos seis ou sete
aos.
Quanto mais a criança descobre o gosto pela escrita, mais deixa as
brincadeiras infantis de lado para mergulhar no mundo das letras.
“As atenções se concentram na escrita como uma complicada habilidade
a ser desenvolvida, e as preocupações se encontram voltadas para os pré-
requisitos da alfabetização” (SMOLKA, 2008p. 17).
A influência pela escrita vem de muito cedo quando a criança tenta “ler”
aquelas letras que têm nos rótulos de embalagem nos supermercado, numa
propaganda, na historinha que a mãe lê. Desde cedo a criança vive cercada de
letras e escritas, mas, sem saber os seus significados.
As escolas, ultimamente, têm adotado vários métodos diferentes para
alfabetizar seus alunos, iniciando na educação infantil. Com dois ou três anos
as crianças começam a conhecer as letras (alfabeto). Algumas arriscam até
escrever como vê a letra. Dando inicio ao seu processo de escrita. Já com três
ou quatro anos começam a conhecer os movimentos das letras que compõem
seus nomes. Essa etapa para eles é fascinante. Junto com os nomes começam
a descobrir os diferentes tipos de escrita (a letra bastão, a script, a cursiva) e o
movimento de cada consoante ou vogal, sempre trabalhando com o concreto.
Smolka, em sua pesquisa, chega a conclusão que:
“...a alfabetização é um processo discursivo a criança aprende a ouvir, a
entender o outro pela leitura, aprende a falar, a dizer o que quer pela escrita
(mas esse aprender significa fazer, usar, praticar, conhecer). Enquanto
escreve, a criança aprende a escrever e aprende sobre a escrita.” (SMOLKA,
2008, p.63).
Falar sobre alfabetização hoje em dia é muito complicado, pois envolve
diversos assuntos, levando a discussões sem fim. Entre esses assuntos
podemos citar: será que as crianças realmente estão aprendendo a escrever
30
ou simplesmente elas estão copiando tudo do quadro sem significados para
elas? Será que os métodos adotados são eficazes para elas no mundo de
hoje? Realmente são muitas perguntas vindas de um tema só. Para muitas
dessas perguntas não encontramos respostas. O processo de alfabetização
sem dúvidas é muito delicado.
Podemos encontrar crianças nas ruas que não sabem ler e escrever
direito, e esse número só vêm aumentando. E a escola? Simples, algumas
escolas não se sentem responsáveis, pois se a criança aprendeu ou não, isso
é problema dela. A escola não está sabendo o seu verdadeiro papel diante da
sociedade.
“... a escola tem ensinado as crianças a escrever, mas não a dizer sim e,
repetir palavras e frases pela escrita; não convém que elas digam o que
pensam, que elas escrevam o que dizem, que elas escrevam como dizem,
porque o “como diz” revela as diferenças; a escola tem ensinado as crianças a
ler um sentido supostamente unícovo e literal das palavras e dos textos e a
escola tem banido aqueles que não conseguem aprender o que ela ensina,
culpando-os pela incapacidade de entendimento e de compreensão.”
(SMOLKA, 2008, p. 112).
Diante dessa afirmação da autora Smolka, podemos ver que esse
problema de alfabetização não é de hoje, nem de ontem e muito menos será
de amanhã; mas sim de sempre.
Poucas escolas começaram a sua mudança. Estão investindo no ensino
da escrita e do alfabeto na educação infantil, em crianças a partir de três anos.
Dando inicio as letras e a escrita através do nome das crianças. Dessa forma
ela se enche de orgulho vendo que seu próprio nome é importante. “...o nome é
um modelo o que fornece informações a criança sobre as letras e sua
quantidade, variedade, posição e ordem.” (palavras da educadora argentina
Ana Teberosky, Revista Nova Escola outubro/2008).
Ensinar a língua escrita de hoje é uma vitória. Há muitas barreiras entre
o professor e os alunos, como o desinteresse de alguns e a dificuldades de
outros. E ainda tem doenças diversas que interferem na escrita.
Para ensinar a escrita no mundo de hoje é necessário entrar no universo
das crianças, tornando assim o ensino mais lúdico e do interesse delas.
Procurando ainda desenvolver um ensino de qualidade, promovendo a
31
aprendizagem uma proposta que traz para dentro da escola a vida, o dia-a-dia,
o mundo. Afinal, esse mundo passa por constantes transformações e a escola
precisa acompanhar essas mudanças.
O papel da escola, na área da linguagem, é introduzir as crianças no
mundo da leitura e da escrita, tornando-as capazes de atender as demandas
da sociedade, habilitando-as a lidar com esses instrumentos da comunicação.
No mundo contemporâneo, a comunicação se efetiva de várias formas, porém,
o domínio da leitura e da escrita é fundamental para o exercício pleno da
cidadania e para o crescimento cognitivo de cada pessoa.
É necessário conhecer a criança como o objeto da aprendizagem, isto é,
que concepções as crianças têm sobre o processo de leitura e escrita,
encontramos alunos com muitas dificuldades para aprender a ler e escrever.
A criação das representações escritas ocorreu de forma extraescolar.
Diferentes grupos sociais sentiram necessidades de registrar, por escrito,
aspectos importantes de sua vida social, cultural, comercial. No decorrer dos
séculos, a instituição escolar transformou a escrita de objeto social em objeto
escolar, mas é importante frisar que a escrita é importante na escola. Dentro da
escola, o que se vê como introdução ao mundo da leitura e da escrita nem
sempre está relacionado a leitura viva que impera em diferentes espaços
sociais.
Deve-se levar em conta que é na troca com outros sujeitos e consigo
próprio que cada criança, com sua experiência de vida sempre singular,
constroem conhecimentos. Se há interatividade, o papel do outro é
fundamental. Isto significa que as mediações de um adulto, o professor no caso
da escola, jogam um papel importante na construção do processo de leitura
pelas crianças. É por meio dele e de colegas mais experientes que as crianças
terão possibilidade de desenvolver novos conhecimentos. O professor deve
não apenas organizar propostas de aprendizagem, para que os alunos
avancem e construam hipóteses cada vez mais elaboradas, mas atuar
firmemente intervindo para que a aprendizagem se efetue, considerando-se
que esta é fundamental para o desenvolvimento. No entanto, em relação a
leitura e escrita, nem sempre a intervenção do professor é facilitadora já que há
uma tendência as que se estipulem determinados passos metodológicos pré-
32
determinados como a sequencia de letras, palavras e orações a serem
aprendidas.
Quando as crianças aprendem a falar, o fazem sem que os adultos
tenham a preocupação de lhes apresentar inicialmente certos fonemas da
língua, porque são mais fáceis. Em contraposição ao ensino da linguagem
escrita, os adultos simplesmente falam com as crianças em contexto
funcionais, que permite que elas construam significados. Na realidade, as
crianças começam por aprender a falar palavras que tenham sentido para elas,
em geral, carregadas de conotações afetivas. Com a mediação dos adultos que
repetem corretamente suas falas, sem penalizá-las pelos “erros”, as crianças
vão aumentando seu vocabulário, organizando as palavras em orações e
simplesmente vão falando cada vez com maior fluência. O que ocorre com a
aprendizagem da linguagem oral é que as crianças são inseridas no mundo
dos textos do cotidiano. Quanto a linguagem escrita, em geral as crianças
antes mesmo de descobrir para que serve a escrita, são inseridas num mundo
de textos fabricados para se iniciar a ler e escrever.
A comparação entre a aquisição dos dois processos, o da fala e o da
leitura e escrita, não significa que aprender a ler e escrever seja algo
espontâneo e natural e que o professor deva esperar que a criança construa
suas hipóteses e vá descobrindo todos os meandros da linguagem escrita
sozinha, desde que esteja em contato com o material gráfico. A intervenção
organizada e planejada do professor é fundamental, assim como a mediação
do grupo familiar e social em que a criança vive é crucial para a aquisição da
linguagem oral. O primeiro passo, portanto, para aprender a falar é o contato
com a linguagem oral. O mesmo ocorre com a linguagem escrita.
O modo com as crianças concebem a escrita precisa ser conhecido, mas
deve-se levar em conta que aspectos cognitivos não podem ser isolados de
aspectos sociais, culturais, afetivos, enfim, do meio de relações em que a
criança vive.
Desde muito pequenas, as crianças demonstram por gestos o que
desejam colocar em seus desenhos. Sendo assim, o desejo inicial da criança
pode ser considerado mais como um gesto do que como um desenho. A
medida que aprende a falar, a criança fala e desenha aquilo que fala.
33
Assim, como o contato com a linguagem oral possibilita o
desenvolvimento da fala, o primeiro passo para o domínio da linguagem escrita
é o contato com materiais para ler (livros, revistas, jornais, embalagens,
folhetos, rótulos, quadrinhos, cartazes...) e não apenas para aprender a ler.
De qualquer forma, o fracasso da alfabetização não pode ser
relacionado linearmente ao uso de materiais de leitura diferenciados. A falta de
crença no sucesso dos alunos, a pouca ou nenhuma familiaridade de grande
parte dos professores que regem turmas de alfabetização com os diferentes
aspectos que envolvem esse processo, o desconhecimento de outras
estratégias de leitura (textuais e extra-textuais) que ultrapassam o mero
decifrado.
Para que o sucesso em alfabetização venha a ocorrer, é importante,
além de possibilitar o acesso a produção textual variada, ler junto com as
crianças e para elas. Abordar diferentes tipos de textos, comentar, apontar
ilustrações, quadrinhos,textos de histórias infantis, propagandas. Deixar que
elas leiam, dramatizem, desenhem, pintem, criem mosaicos, organizem
construções com blocos de madeira ou objeto com massinha, sem dividir a
aula em atividades isoladas de coordenação motora, auditiva, visual que
preparam para a alfabetização, é um bom caminho para que as crianças se
sintam interessadas em descobrir o que a escrita representa e como
representa.
Nem sempre dentro da escola, a imaginação pode se soltar e caminhar
paralelamente a educação. Há excesso de rigidez nos procedimentos
escolares. Sobra pouco espaço para a brincadeira, para a liberação da
imaginação. A leitura não é tão somente um processo de junção de letras que
formam palavras e frases. Textos e imagens precisam ser lidos com os olhos
da imaginação. Despertar este olhar da imaginação por meio de livros,
quadros, imagens, da observação do espaço em que se vive da audição de
musicas, da troca de experiências, é fundamental.
Um fator importante é que a maioria das crianças, na fase de iniciação
escolar, possui experiência oral prévia apenas a participação em conversação
diária e espontânea, principalmente com a família. Na escola, os livros de
alfabetização e mesmo a prática pedagógica de grande parte dos professores
dificilmente reproduzem os textos e situações do cotidiano, por estarem presos
34
a uma ordem prévia de fonemas e grafemas. Liberta-se desta ordem e pensar
que a linguagem escrita guarda relações de semelhanças com a fala é
fundamental.
Trabalhando com textos, aprenderão a ler desde que haja um
planejamento organizado em torno desse objetivo. De um texto, por exemplo,
podem ser destacadas palavras, e muitos jogos de rimas, e alterações podem
ser realizados com as crianças, de tal forma que, brincando, elas percebam
que se mudam se acrescentam ou se retiram letras, as palavras mudam de
significado. Organizar a aula ludicamente, a partir de jogos e brincadeiras, é a
chave para a alfabetização.
Introduzir a linguagem escrita no universo das crianças significa permitir
que todos tenham acesso e possam explorar materiais de leitura distintos,
antes, durante e depois de terem aprendido a ler. Significa, também, que todos
tenham acesso a leitura feita pelo professor desses diferentes tipos de material
e que possam manuseá-los, experimentando ler e escrever. Mais ainda, que
sejam encorajados a escrever sem copiar, tentando aproximar-se da palavra
escrita, em um primeiro momento, sem que suas escritas sejam comparadas e
corrigidas. Não apenas isto, mas também que leiam (sem saber ler
formalmente) usando dados extra-textuais e, na medida do possível, os dados
textuais que aos poucos irão dominando. E, finalmente, que conheçam as
relações entre fonemas e grafemas. Uma metodologia que trabalhe essas
estratégias avança em direção a construção da linguagem escrita e não
apenas é pensada como mera transcrição de código alfabético. Conhecimentos
são construídos em condições que favorecem sua apropriação. A aquisição da
escrita, nunca é demais repetir, inclui a apropriação do código, mas não se
reduz a ele.
Em síntese, se entendermos o modo de ler de forma ampla, veremos
que este comporta dois níveis: a leitura do mundo e a leitura da palavra. O
primeiro é uma produção de sentidos ligada ao momento e a situação vivida,
centrada num tempo e num espaço, sempre relacionada a outros textos
inscritos pela vida, no leitor. A leitura de mundo se processa o tempo todo,
antes, durante e depois do processo de construção da leitura da palavra. Cada
criança levará para a sala de aula seus significados com todas as diferenças
sociais, culturais, étnicas, de gênero... Estas diferenças propiciarão diferentes
35
leituras de mundo. A dimensão de mundo de uma criança, o modo como ela vê
a realidade refletida, organiza-se, em grande parte, em função das condições
sociais e culturais em que ela vive e organiza-se em função das condições de
interação a que vier a ser exposta. A leitura da palavra não pode e não deve
estar dissociada da leitura da palavra, um mundo artificial, onde é impossível a
construção da palavra mundo.
A linguagem sob qualquer de suas formas exerce um poder de
mediação entre o homem e o mundo, sendo não apenas um instrumento de
comunicação, mas de produção de significado. Professores que alfabetizam, a
partir de situações em que há espaço para a pluralidade de significados,
normalmente conseguem criar o clima propicio para o desfilamento do código
escrito.
A escola eficaz, dentre outras ações, durante o processo de ensino e
aprendizagem aproxima o mundo escolar dos alunos sem desqualificar a
história de vida e a cultura deles; sem querer compensar deficiências, mas
atenta para os diferentes conhecimentos que cada aluno traz para a sala de
aula, explorando o que sabe fazer, para que ultrapassem o patamar em que
estão e ascendam a outros patamares.
Alfabetização não é uma questão de método. O aprender a ler e
escrever é um processo levado a sério pelo aprendiz, com a mediação do
professor que saberá dosar, em situações de classe, as estratégias
necessárias entre os fonemas e grafemas que constituem as palavras.
Dentro da escola o que se deseja é que a criança interaja com o objeto
do conhecimento (a linguagem escrita e também a falada) com a finalidade de
modificar, reorganizar e reconstruir os conhecimentos que trouxe de fora da
escola, ampliando sua competência no uso da linguagem.
É necessário conhecer os conteúdos a serem ensinados. A sua
transposição em objetivos de aprendizagem, adotando a concepção de
situações-problemas; ajustando ao nível das crianças, o que envolve trabalhar
a partir das representações, utilizado seus próprios erros como ponto de
partida, conceberem e planejar sequencias didáticas e não deixar tudo por
conta do espontaneísmo e envolver os alunos na aprendizagem, criando
estratégias que os movimentem (evitar aulas monótonas, com rotinas
repetitivas).
36
Envolver as crianças na aprendizagem é renascer a partir de situações
lúdicas e de puro interesse para elas. O desejo de aprender, de descobrir, de
construir, desenvolvendo a capacidade de auto-avaliação, e o funcionamento
da avaliação entre os alunos (uma espécie de conselho de sala de aula),
negociar regras, oferecer atividades opcionais para aqueles com dificuldade de
determinadas atividades ou para aqueles que as vençam com rapidez
(organizar diferentes cantinhos de trabalho com material de fácil manuseio).
Diante da situação algumas escolas já iniciaram o uso de métodos que
atendam a novas propostas de ensino da escrita, dentre eles o da Emilia
Ferreiro e as contribuições de Jean Piaget.
3.1.1 O construtivismo de Jean Piaget
Uma das contribuições mais conhecidas entre os educadores e mais
utilizados nas escolas foi a de Jean Piaget.
Piaget a partir de suas pesquisas chegou a conclusão que através dos
erros das crianças podem construir conhecimentos novos. Lembrando que
Jean Piaget não elaborou um método pedagógico, mas vinculou a psicologia
genética a ideias de renovação educacional.
Piaget nasceu dia nove de agosto de mil oitocentos e noventa e seis, em
Neuchântil. Psicólogo e filosofo suíço, conhecido por seu trabalho pioneiro no
campo da inteligência infantil, também se dedicou a epistemologia e a
educação. Faleceu em mil novecentos e oitenta, cujas obras ficaram
conhecidas mundialmente. Por muitos anos realizou pesquisas com crianças.
Ficou conhecido principalmente por organizar o desenvolvimento
cognitivo (a forma de raciocinar e de aprender da criança) em quatro estágios.
Através de várias observações com seus filhos, e principalmente com outras
crianças. Piaget deu origem a teoria cognitiva, onde demonstra que existem
quatro estágios de desenvolvimento cognitivo no ser humano: sensório-motor
(zero a dois anos); pré-operacional (dois a seis anos); operatório concreto (sete
a onze anos) e operatório formal (doze anos em diante). Teóricos como Lev
Vygotsky e Freud influenciaram a trajetória das pesquisas de Jean Piaget.
Para Piaget, a aprendizagem é um processo que inicia no nascimento e
acaba na morte. A aprendizagem se dá através do equilíbrio entre a
assimilação e a acomodação, resultado em adaptação. Com isso, o ser
humano assimila os dados que obtém do exterior, mas uma vez que já tem
37
uma estrutura mental que não está vazia, precisa adaptar os dados a estrutura
mental já existente. Os dados recebidos quando adaptados, dá-se a
acomodação. Na opinião do Piaget, o homem é o ser mais adaptável do
mundo. Percebemos que nenhum conhecimento nos chega sem que sofra
alguma alteração pelo ser humano. Ou seja, tudo o que aprendemos sofre
influencia por aquilo que já tinha aprendido. Seus estudos de psicologia do
desenvolvimento inicialmente observando seus próprios filhos cresciam e
entrevistando milhares de crianças.
Suas pesquisas em crianças tiveram inicio quando recebeu o convite de
aplicar testes de raciocínio para as crianças de Paris (testes de Burt).
“O que fascinava era a compreensão da lógica subjacente ao erro e a
interpretação do percurso intelectual da criança em relação ao seu
desenvolvimento cognitivo global. Esse traço altamente inovador, no que se
refere aos padrões da época, para a aplicação e leitura de testes de medida do
desempenho intelectual, viria a se constituir numa forma profícua de colher
dados novos com vista ao estudo do desenvolvimento da inteligência nas
crianças.” (AZENHA, 2006, p.9).
Piaget criou uma nova psicologia, criou um método que influencia na
educação. Ele considera que para o conhecimento do ser humano evoluir é
necessário o estímulo, a participação, o respeito no lugar do professor como
único detentor do conhecimento e responsável pela sua transmissão.
Na sala de aula, Piaget achava que o aluno devia ser despertado para a
relevância do que vai ser ensinado. Se não houver vínculos desafiadores entre
o individuo e a matéria de ensino que ativem a percepção do desnível entre o
aprendiz e o conteúdo escolar, o educando não será impulsionado a estudar
aquilo.
Durante as suas pesquisas Piaget observou que em crianças sem
vontade e sem iniciativa para descobrir não há conhecimento.
1. O desenvolvimento cognitivo e os objetos da educação escolar: o
desenvolvimento cognitivo segue uma série de estruturas pré-
estabelecidas. Nesse sentido, o objetivo da educação deve ser
potencializar e favorecer a construção de tais estruturas.
2. O nível de desenvolvimento e a capacidade de aprendizagem: a
capacidade de aprendizagem depende do nível de desenvolvimento
38
cognitivo do sujeito. Por isso, é necessário analisar a adequadação dos
conteúdos da aprendizagem para o desenvolvimento do sujeito.
3. O funcionamento cognitivo e a metodologia de ensino: a
aprendizagem não consiste na recepção passiva do conhecimento, mas
em processo ativo de elaboração; os erros de compreensão provocados
pelas assimilações incompletas ou incorretas do conteúdo são degraus
necessários e uteis no processo de elaboração; o ensino deve favorecer
as interações múltiplas entre o aluno e os conteúdos que tem que
aprender. O aluno constrói o conhecimento por meio de ações efetivas
ou mentais que realiza sobre o conteúdo de aprendizagem.
O método do construtivismo é um processo individual e sofre influencia
de fatores internos para a construção do conhecimento. Valorizando a atividade
de fatores internos para a construção do conhecimento. Valorizado a atividade
auto-estrutura do aluno. Considerando que não cabe a escola planejar
antecipadamente aquilo que a criança vai aprender. Quem conduz o processo
de ensino é o aluno, cabe ao professor organizar condições para que essa
atividade aconteça de modo espontâneo.
A epistemologia piagetiana permite que a escola considere o educando
como sujeito ativo e construtor do seu próprio saber.
A influencia de Piaget na pedagogia é notável ainda hoje através da obra
de Emília Ferreiro sobre alfabetização. No Brasil, suas ideias começaram a ser
difundidas na época do movimento da Escola Nova.
3.1.2 Alfabetização/Construtivismo pelas visões de Emília Ferreiro
Emília ferreiro nasceu em 1937, na Argentina, psicóloga e pesquisadora,
fez seu doutora na universidade de Buenos Aires, iniciou seus trabalhos
experimentais, que deram origem aos pressupostos teóricos sobre a
psicogênese do sistema da escrita, o que se tornou um marco na
transformação do conceito de aprendizagem da escrita, pela criança.
Emília Ferreiro não criou um método de alfabetização, e sim, procurou
observar como se realiza a construção da linguagem escrita na criança. Sua
ideia fundamental são que as crianças (de qualquer classe social) têm o direito
a língua escrita. Se dermos um lápis para uma criança bem pequena ela
39
provavelmente “escreverá” rabiscos, desenhos e até letras e números.
Provavelmente ela também dirá o que escreveu ou desenhou. O que vale é a
intenção daquele ato.
Outra hipótese revelada por muitas crianças pesquisadas por Emília
Ferreiro é a de que para se ler é preciso que haja uma quantidade mínima de
letras (em geral, três) e, muitas vezes, a criança considera que as letras devem
ser variadas, não pode, portanto haver letras juntas repetidas. É comum
também observarmos crianças que ao serem solicitadas a escrever utilizam as
letras de seu próprio nome, às vezes, acrescentando uma ou outra letra
diferente.
Podemos perceber que algumas crianças só escrevem os nomes
(substantivos) da frase, os artigos e os verbos pensam elas que provavelmente
não devem ser escritas, estabelecendo relações entre as palavras das frases;
são ideias que não precisam ir para o papel. Dá-se o nome de hipótese do
nome, só os nomes são escritos. Ao ler ela coloca os artigos e os verbos.
A escrita da criança não é uma simples cópia, mas um processo de
construção pessoal. Emília Ferreiro percebe que de fato, as crianças
reinventam a escrita, no sentido de que no inicio precisam compreender seu
processo de construção e suas normas de produção.
As crianças, antes de iniciar o processo de aprendizagem da
leitura/escrita, constroem hipóteses sobre este objeto de conhecimento.
Segundo Emilia Ferreiro, a grande maioria das crianças, na faixa etária
dos seis anos, faz a distinção entre o texto e os desenhos, sabendo que o que
pode ler é aquilo que é formado por palavras, embora algumas persistam na
hipótese de que tanto se podem ler as letras quanto os desenhos.
Do ponto de vista de Emília Ferreiro os níveis estruturais da linguagem
escrita podem explicar as diferenças individuais e os diferentes ritmos dos
alunos. A autora constata a existência de quatro níveis no processo de
construção da escrita. São:
Nível pré-silábico: as tentativas das crianças se dão no sentido da
reprodução dos traços iniciais da escrita. Cada criança lê em seus
rabiscos aquilo que quis escrever. É nesse nível que a criança irá
elaborar a hipótese de que a escrita dos nomes de objetos ou
40
animais é proporcional ao tamanho do objeto ou ser a que está se
referindo.
Não se busca relação com o som; as hipóteses das crianças são
estabelecidas em torno do tipo e da quantidade de letras. A
criança tenta também nesse nível:
1. Diferenciar desenho e escrita;
2. Utilizar no mínimo duas ou três letras para poder formar
palavras;
3. Perceber que é preciso variar os caracteres para obter
diversas palavras.
Nível silábico: a criança nesse nível compreende que as
diferenças na representação escrita estão relacionadas com o
“som” das palavras, o que leva a sentir a necessidade de usar
uma forma de letra para cada som. Utiliza os símbolos gráficos de
forma aleatória, usando apenas consoante, oral apenas vogal, ora
letras inventadas e repetindo-as de acordo com o número de
silabas das palavras. Há, neste momento, um conflito entre a
hipótese silábica e a quantidade mínima de letras exigidas.
Para que a escrita possa ser lida. A criança, nesse nível, trabalha
com a hipótese silábica, precisa usar duas formas gráficas para
escrever palavras com duas sílabas, o que vai de encontro as
suas ideias iniciais de que são necessários pelo menos três
caracteres. Com esse conflito a criança vai caminhando para o
próximo nível.
Nível silábico-alfabético: nível em que a criança irá organizar a
sua hipótese. Ela já sabe que precisa olhar para todas as letras,
constrói sozinha uma hipótese silábica e começa a compreender
a relação entre as letras e os sons da fala.
Nível alfabético: depois de passar por vários conflitos, a criança
chega a conclusão de que não se pode adivinhar o que está
escrito, mas precisam reconhecer os fonemas e as letras.
Começam a escrever com princípios alfabéticos algumas
palavras. (AZENHA, 2006, p.25).
41
Quando ela chega a hipótese alfabética, entretanto, se por um lado
venceu o grande desafio de saber o que a escrita representa e como
representa. Por outro, ela se defronta com as dificuldades ortográficas, sinais
que não são letras (sinais de pontuação, acentos), letras maiúsculas e
minúsculas, o limite das palavras, a separação no final da linha e muitas outras
características de nossa escrita.
Smolka diz que podemos entender o processo de aquisição da escrita
pelas crianças sob diferentes pontos de vista: o ponto de vista mais comum
onde a escrita é imutável e deve se seguir o modelo “correto” do adulto; o
ponto de vista do trabalho de Emília Ferreiro, onde a escrita é um objeto de
conhecimento, levando em conta as tentativas individuais infantil; e o ponto de
vista da interação, o aspecto social da escrita, onde a alfabetização é um
processo discursivo.
Para a alfabetização ter sentido, ser um processo interativo cabe as
escolas trabalharem com o contexto da criança. Com histórias e com
intervenções das próprias crianças que podem absorver novas palavras, desde
que essas palavras ou histórias façam algum sentido para elas. Os “erros” das
crianças podem ser trabalhados, esses “erros” demonstrando uma construção,
e com o tempo vão diminuindo, pois as crianças começam a se preocupar com
outros tipos de coisas (como ortografia), pois estavam apenas descobrindo a
escrita.
Segundo Emília Ferreiro, a construção do processo de leitura e escrita
se dá a partir de diferentes hipóteses que vão sendo elaboradas pelas crianças
a medida que vão tendo contato com material impresso, cabendo ao professor
organizar as condições desta construção. Em momento algum ela nega a
existência de um processo de aprendizagem. É importante que se frise tal
aspecto, porque sob a visão do construtivismo, muitas vezes, os professores
não interferem no processo de construção do conhecimento das crianças,
acreditando que esta construção ocorrerá desde o momento em que a criança
se defrontar com o objetivo de conhecimento.
É importante lembrar que o construtivismo não é um método
educacional. Refere-se ao processo de aprendizagem, que coloca o sujeito da
aprendizagem como alguém que conhece e que o conhecimento é algo que se
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constrói pela ação deste sujeito. Nesse processo da aprendizagem o sujeito
que conhece faz parte de um determinado ambiente cultural.
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CONCLUSÃO
Levantadas às questões nesta pesquisa, percebemos que existem uma
estreita relação entre as fases do desenho infantil e a escrita.
É importante que a criança tenha oportunidade de desenhar livremente,
com papeis e em tamanhos e texturas diferentes, em posições variadas com
materiais diversos. Quando a criança inicia dominando seus movimentos e
gestos, as propostas devem ser diferentes: desenhar em vários tempos e
ritmos, fazer passeios e expressar o que observou no papel, incentivar o
desenho coletivo, desenhar as etapas percorridas após uma brincadeira ou
jogos e muitas outras atividades podem ser elaboradas com as crianças para
ajudá-las a aprimorar suas capacidades no ato de desenhar.
O educador deve entender que o desenho da criança dependerá
também do meio em que vive, se ela tem oportunidades de ter acesso a
materiais e atividades que permitam e incentivem a sua expressão. Deve
também, respeitar o ritmo de cada criança tem um tempo e uma maneira de
internalizar suas experiências e vivencias.
É importante mencionar que o conhecimento das fases do desenho
infantil deve contribuir para a construção da escrita das crianças, sendo um
recurso que o educador pode utilizar para compreendê-las. Somando
conhecimento, análise e compreensão da produção infantil, o educador
percebe o significado mais profundo do ato de criar, expressão das ideias e da
escrita da criança.
A aprendizagem da escrita se desenvolve com o sucesso a partir do
momento que a criança dominar bem a linguagem oral, isto é, quando ela
conseguir se comunicar, articular suas ideias e expressar seu pensamento.
Essas habilidades permitem a criança aprofundar-se no desenho, nos
números, nas brincadeiras e, consequentemente, na escrita.
Para facilitar o seu aprendizado, é importante que, desde cedo, a criança
seja exposta a diversas formas de linguagens e observe como os adultos as
utilizam. Através desses contatos com a escrita, a criança começa a formular
uma concepção muito própria sobre o que ela representa, visto que a mesma
adquire conhecimentos não somente porque os adultos ensinam, mas também
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porque é antes de tudo alguém que pensa e tem ideias sobre o mundo que a
rodeia.
Aprender a escrever, portanto, faz parte de um longo processo, que tem
na educação infantil um espaço apropriado para intensificar a participação da
criança no mundo da escrita, para que no futuro possa tornar-se uma cidadã
letrada e capaz de usar a linguagem escrita para suprir suas necessidades no
meio social.
Da mesma forma que a criança aprende a falar falando e escrever
escrevendo, aprende a ler e a escrever lendo e escrevendo e a apartir dos
contatos que tem com a linguagem. Daí, a necessidade de pais e professores
facilitar esse aprendizado, proporcionando atividades relacionadas a escrita,
pois crianças que vivem em um ambiente em que a linguagem escrita é
valorizada e utilizada no dia-a-dia têm melhores chances de estabelecer um
bom contato com a escrita.
Para que a criança obtenha sucesso no mundo da escrita, faz-se
necessário valorizar os rabiscos, as garatujas, os desenhos, as letras e as
representações feitas por elas, respeitando, assim as diversas hipóteses que
surgem no decorrer do processo de aquisição da linguagem escrita.
Portanto, desenhar e escrever são atividades essenciais para a vida do
ser humano, pois através delas ele consegue comunicar-se com os outros,
expressar seus sentimentos e avançar significativamente na apropriação do
saber sistematizado e na elaboração de novos conhecimentos.
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BIBLIOGRAFIA
AZENHA, Maria da Graça. Construtivismo: de Piaget e Emilia Ferreiro. São Paulo, Editora Ática, 2006. BARROS, Célia Siva Guimaraes. Pontos de psicologia do desenvolvimento. São Paulo, Editora Ática, 2004. FERREIRA, Aurora. A criança e a arte: o dia-a-dia na sala de aula. Rio de janeiro, Editora Walk, 2007. LOWENFELD, Viktor & brittain, w., Desenvolvimento da capacidade criadora. São Paulo, Editora Mestre Jou, 1977. SANS, Paulo de Tarso Cheida. Pedagogia do desenho infantil. São Paulo, Editora Alinea, 2007. SMOLKA, Ana Luiza Bustamente. A criança na fase inicial da escrita: a alfabetização com processo discursivo. São Paulo, Editora da Unicamp, 2008.