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INSTITUTO A VEZ DO MESTRE O Trabalho do Menor: suas normas de proteção e a viabilidade da sua efetiva erradicação Por: Pedro Eziel Cylleno Neto Monografia apresentada ao Instituto A Vez do Mestre para Pós Graduação em Direito e Processo do Trabalho. Rio de Janeiro Abril, 2010 ÍDICE

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE O Trabalho do Menor: suas … · O instrumento se adapta à tarefa do trabalhador e é controlado por ... natural do trabalho. ... íntimas da vida social

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INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

O Trabalho do Menor: suas normas de proteção e a viabilidade da sua efetiva erradicação Por: Pedro Eziel Cylleno Neto

Monografia apresentada ao Instituto A Vez do Mestre para Pós Graduação em Direito e Processo do Trabalho.

Rio de Janeiro Abril, 2010

�DICE

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1 – Histórico do Direito do Trabalho a – Origem do Trabalho a.1 – no mundo............................................................................................................................3 a.2 – no Brasil..............................................................................................................................8 a.3 – conculsão...........................................................................................................................11 b – Origem do Direito do Trabalho b.1 – no mundo..........................................................................................................................12 b.2 – no Brasil............................................................................................................................15 b.3 – na OIT...............................................................................................................................17 b.4 – no Direito Comparado.....................................................................................................18 b.5 – conclusão..........................................................................................................................28 2 – O Trabalho do Menor a – História do Trabalho do Menor........................................................................................33 a.1 – no mundo..........................................................................................................................34 a.2 – no Brasil............................................................................................................................36 b – Origem do Direito do Trabalho do Menor b.1 – na OIT.............................................................................................................................36 b.2 – no Direito Comparado...................................................................................................39 b.3 – no Brasil...........................................................................................................................42 b.4 – conclusão...........................................................................................................................47 c – O Trabalho do Menor no Direito Comparado c.1 – na OIT...............................................................................................................................49 c.2 – na Argentina.....................................................................................................................52 c.3 – no Paraguai.......................................................................................................................55 c.4 – no Uruguai........................................................................................................................60 c.5 – no Brasil............................................................................................................................62 4 – Conclusão

Integração Regional – MERCOSUL – e o Trabalho do Menor...............................72 5 – Bibliografia..........................................................................................................................76

1 – HISTÓRICO DO DIREITO DO TRABALHO

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a. – ORIGEM DO TRABALHO a.1 – no mundo

O trabalho humano quer seja no manejo da matéria – trabalho manual

– ou através de uso de símbolos – trabalho intelectual – é qualificado pela presença

do homem no ponto inicial da atividade, muito embora existam diferenças profundas

entre o manual puro e o auxiliado e, dentro deste, o trabalho com um instrumento e o

trabalho com uma máquina.

O instrumento se adapta à tarefa do trabalhador e é controlado por

ele, enquanto que a máquina executa as tarefas programadas para ele, decompondo

ou recompondo as tarefas do trabalhador, que, a final, quem tem que se adaptar.

No trabalho intelectual, a apresentação ou exteriorização dá-se por

meio de sinais ou símbolos, ou seja, mediante as significações que a relação de

alteridade acrescenta aos sons expressivos (sons que estão dirigidos a outro ou

outros homens distintos de quem os emite).

Naturalmente, nenhum trabalho humano é simplesmente manual ou

simplesmente intelectual, sendo impossível separar-se radicalmente o momento de

concepção do trabalho, inclusive aquele de concepção sobre sua execução, do

momento de sua execução material.

O trabalho produtivo do homem se traduz na produção de bens que,

no entendimento dos economistas clássicos, são a recompensa natural do trabalho.

Desse trabalho resultam os frutos com os quais atenderá o trabalhador sua

subsistência e de sua família.

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Mas, nem sempre o homem percebeu o devido por seu trabalho e

nem sempre teve a liberdade para trabalhar. Na Grécia, no Egito, na Mesopotâmia,

eram os escravos (homens, mulheres e crianças) que faziam toda a espécie de

trabalho.

Basicamente se chegava à condição de escravo, em primeiro lugar,

pela catividade do prisioneiro não sacrificado, seja permanecendo no solo

conquistado, seja desterrado para trabalho em explorações agrícolas ou como

escravo doméstico. Em segundo lugar, pelo nascimento de pais escravos ou de

mães escravas, sendo estas as duas espécies aludidas em textos romanos “os

escravos nascem ou se fazem”. Um terceiro tipo de escravo era o resultante de

situações de endividamento.

A escravidão foi uma instituição universal no mundo antigo; uma terça

parte dos habitantes de Atenas eram escravos, sendo certo também que Roma

edificou-se sobre o trabalho escravo.

Na antiguidade, a posição dos escravos formava parte das exigências

da vida de todo cidadão. A escravidão “liberou” o cidadão para sua dedicação à

guerra intensa, especialmente a grega e a romana.

O trabalho escravo era um trabalho por conta alheia, forçado,

involuntário; os resultados pertenciam imediatamente ao dono, nunca ao escravo.

A influência do Cristianismo, através do mandamento de trabalhar, tão

bem frisado na Segunda Epístola aos Tessalonicenses (3.10: quem não trabalha,

que, não coma...) e a Pregação de Paulo nas Epístolas aos Gálatas e aos

Colossenses (3.28 – 30 : a fé chegada, todos somos herdeiros segundo a promessa

e 3.11 : já não há escravos e homens livres) serviu para proclamar a igualdade entre

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judeus e gentios, estendendo a promessa também ao estrangeiro, o qual era

identificado como escravo por natureza, segundo secular tradição.

A igualdade de todos os seres humanos é um dos pontos cruciais da

mensagem cristã e o elemento mais revolucionário dos Evangélicos.

No entanto, a escravidão não desapareceu até épocas

contemporâneas, onde formas mitigadas continuaram a existir como situação de

fato,se é que realmente se possa tomá-las por definitivamente extinta.

É no Direito Romano, ainda, que se assinala o aparecimento dos

primeiros indícios de um trabalho propriamente livre e por conta alheia, como

podemos verificar através locatio-conductio operis, cuja estrutura jurídica guarda

correspondência com o trabalho autônomo.

Na Idade Média,a característica é a fixação no campo e a subsistência

nele, durante um longo período, de formas atenuadas de escravidão, aparecendo,

posteriormente, após progressos intensos, formas livres de cultivo, através

trabalhadores por conta alheia e os contratos agrícolas de prestação de serviço.

O servo estava ligado à terra, que teoricamente lhe pertencia e não

podia ser dela despojado por força de ato arbitrário do senhor, salvo se a possuísse a

titulo precário. Mas, não lhe era dado o direito de abandoná-la. Trabalhava

gratuitamente durante determinados dias do ano ou em certos trabalhos, em favor do

senhor, sendo que esses tipos de obrigações resistiram até finais do século XVII. A

condição de servo era hereditária (filho de servo é servo) e estava ele sujeito não só

econômica como politicamente ao senhor feudal. Não havia liberdade em seu

trabalho.

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Em sua evolução histórica, chega o trabalho às corporações de ofício,

que inicialmente foram formadas só por comerciantes e artesões.

O predomínio do comerciante, além de ter dado causa ao surgimento

da imposição de um regime servil de prestações aos artesãos, permitiu, logo de

início, a sua exclusão das associações, fazendo com que formassem suas próprias

corporações, em oposição às corporações dos comerciantes.

Aos poucos, no entanto, as corporações se converteram em simples

associações de empresários.

Os oficiais, ou trabalhadores e os aprendizes eram excluídos de

qualquer participação no exercício do poder normativo das corporações, sendo o

pagamento imposto aos mesmos pelo mestre, que também não lhes concedia o

direito de ir e vir.

Na Alemanha do Este, no entanto, no século XVIII, ao concluir a

Guerra dos 30 Anos, houve uma regressão às formas feudais de servidão.

A Revolução Industrial foi um dos grandes acontecimentos da história

humana, implicando numa mudança de vida generalizada e intensa, havendo a

geração de uma nova civilização que repercutiu em toda espécie de comportamento

humano.

Emergiu uma sociedade industrial, ocasionando transformações

sociais e econômicas que serviram de base a uma nova era n a história do trabalho.

Essa mudança afetou a mentalidade dos homens no sentido de que a

expectativa e a tolerância da mudança continua passou a ser um de seus

componentes básicos.

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A máquina, símbolo da nova tecnologia e o modo de produção dela

derivado, repercutiu sobre as esferas mais íntimas da vida social humana, influindo

na existência inteira do homem, abrindo-lhe uma nova forma de vida. Foi um

fenômeno internacional, que estendeu ao mundo inteiro seus processos e efeitos.

Essas máquinas deram ao homem condições de manter grandes

quantidades de energia, em extensão inconcebível para a era precedente, pois a

máquina à vapor realizava o trabalho de milhares de seres humanos.

Houve, à época, um desenvolvimento econômico intenso e a

aceleração dos processos de divisão do trabalho. Dessa divisão resultaram as

especializações, que consistiram na utilização, pelos trabalhadores, de determinadas

máquinas e no conhecimento das operações que elas realizavam.

Como características dessa época temos as péssimas condições de

trabalho – decorrentes dos grandes excedentes de mão de obra e o enorme abuso do

trabalho do menor. Sua jornada era de 14 e 16 horas, em ritmo continuado,

excessivas para quaisquer idades. Crianças entre 8 e 9 anos constituíram com a sua

exploração, um dos episódios mais tristes e lamentáveis da história, não só da

economia como do trabalho, sendo considerado o grande escândalo moral da

Revolução Industrial. O trabalho do menor foi usado sem restrições e sob disciplinas

desumanas.

Jornadas e condições de trabalho semelhantes existiram também

para o trabalho feminino e, certamente, para o homem adulto. Marcadamente,

porém, foi em relação ao trabalho do menor que mais se fizeram sentir.

Surgiu, nessa época, o regime do “truck”, ou seja, o pagamento de

salário em outras espécies ou em dinheiro emitido pelo próprio empresário (instituição

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de origem medieval), através de vales resgatáveis em estabelecimentos comerciais

de propriedade do empresário ou por ele controlado. Às vezes, o “truck” consistia em

antecipação ao trabalhador de mercadorias, cujo valor devia efetiva depois, mediante

trabalho. O trabalhador ficou então ligado ao empresário não só em função do

trabalho como também por uma relação de dívida civil.

Os locais de trabalho eram tremendamente insalubres e na ânsia de

melhoria das condições começaram a surgir, à época, os grandes movimentos que

propiciaram um no ordenamento jurídico.

a.2 – No Brasil

A escravidão no Brasil começou a logo após o descobrimento, com a

subjugação dos índios; no entanto, como o resultado obtido não foi o pretendido, logo

chegaram os colonizadores à conclusão que teriam de mudar a mão de obra escrava.

Assim em 1538 chegam os primeiros navios negreiros trazendo os

primeiros escravos africanos, para serem utilizados na agricultura, principalmente no

cultivo da cana-de-açúcar e mais tarde em todas as outras culturas essenciais à

sobrevivência ou ao lucro dos “senhores”.

As edificações também passaram a ser feitas pela mão de obra

escrava, sob orientação de profissionais trazidos de Portugal.

As indústrias, à exceção dos engenhos, nunca foram trazidas para o

Brasil, o que indica que os “nobres , à custa da mão de obra escrava viveram

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explorando o solo, o sub-solo e as pedras preciosas, estas encontradas facilmente

nas lavras de Minas Gerais”.

Esta situação foi mantida mesmo quando da chegada de D. João e

toda a corte ao Brasil, fugidos de Portugal, devido aos movimentos expansionistas

dos exércitos de Napoleão.

Com D. João no Brasil, os portos são abertos, continuando no entanto

proibia a instalação de indústrias; contudo, a mão de obra escrava especializou-se e

assim começaram a florescer as fábricas de tecidos bem como a manufatura de

sapatos.

Mesmo com a proibição, D. João permite em 1812 a construção da

primeira Siderúrgica, logo seguida da construção de uma Fábrica de Pólvora,bem

como do Banco do Brasil, este necessário para que o rei sem dinheiro e cheio de

dívidas, pudesse criar títulos de posse de terras para saldar suas inúmeras dívidas.

Funda em 1815 a Casa da Moeda.

Todo trabalho continua a ser feito pelos escravos e nem a

Constituição Imperial de 1824, apesar de garantir a “liberdade” do trabalho, proibia no

entanto a organização das corporações.

Os escravos, com o sacrifício do seu trabalho, recebendo apenas o

desprezo, conseguiram fazer com que o Brasil colônia atravessasse ao longo da

história vários ciclos como o do ouro, o dos diamantes, o do café, o do algodão, o do

tabaco e também o do açúcar entre muitos outros trabalhos de menor grandeza.

Para eles o reconhecimento e o agradecimento histórico das gerações

futuras por terem construído as bases, de terem moldado este grande país; só em

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1830, após o reconhecimento da Independência do Brasil pela Inglaterra é que foi

assinado um tratado entre ambos, acabando com o tráfico de escravos.

No primeiro reinado, na regência e até no segundo reinado, muitos

lutaram pela abolição,mas o conflito de interesses sempre se manteve mais forte, a

burguesia agrícola sempre defendeu a escravatura para poder manter a sua

opulência.

É com, a revolução industrial e a mecanização, com o aparecimento

dos grandes centros urbanos, que começou a surgir o dilema: qual a que apresenta

maiores lucros, a mão de obra escrava (gratuita) ou os trabalhadores assalariados

que começaram a chegar de várias partes da Europa e do Mundo e que sabiam como

manusear as máquinas?

É assim, neste clima dúbio de quem passaria a ser mais lucrativo que,

a Lei Áurea foi assinada, extinguindo de uma vez por todas, pelo menos na lei, a

escravatura no Brasil.

A Abolição originou inúmeras mudanças.

Como exemplo temos o Rio de Janeiro que sempre tinha sido o maior

produtor de café (com mão de obra escrava) e começou a perder para São Paulo

que já utilizava a mão de obra assalariada dos colonos que tinha chegado,

principalmente italianos.

No entanto o trabalho continuou a ser realizado sem regras, levando

os trabalhadores ou os camponeses a trabalharem de sol a sol.

Em 1889, a proclamação da Constituição da República, de orientação

liberal, regulou pela primeira vez o trabalho de menores de 18 anos.

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Muito tempo se passou e só em 1916 com a aprovação do Código

Civil, é que os contratos de locação de serviços passaram a ser disciplinados.

Só mais tarde, na década de 30, com o Estado Novo de Getúlio

Vargas, é que os trabalhadores começaram a ter proteção, estabelecendo-se a

jornada de trabalho para os comerciários e industriários.

a.3 – Conclusão

Mostra-nos a historiada humanidade que desde os tempos mais

remotos (Código de Hamurabi 2.000 anos a.C.) os menores foram explorados nos

mais diferentes trabalhos, geralmente sem qualquer remuneração e em jornadas

extremamente excessivas.

Hoje, apesar de todo avanço tecnológico, ainda encontramos, não só

no Brasil, como em diversos países do mundo, menores trabalhadores. O Jornal “O

Dia de 17.08.06, noticia sobre a venda de menores na Nigéria, por 20 dólares, para

trabalho escravo, dizendo ser comum nesse país o comércio de crianças e conclui:

“ A esperança para o fim deste tipo de escravidão

não está próxima, pois os “ricos e educados”

nigerianos acreditam estar dando uma vida

melhor para suas crianças. A crueldade do

homem é ilimitada”.

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b. – ORIGEM DO DIREITO DO TRABALHO

b.1 – no mundo

A palavra TRABALHO derivado latim TRIPALLIUM, instrumento que

os romanos usavam para castigar os escravos.

Como se pode verificar do próprio nome, de um modo geral, o trabalho

iniciou-se através da escravidão, como pena, como castigo.

No entanto, o trabalho é necessidade de vida, é condição inerente à

pessoa humana, pois somente através do nosso próprio esforço progredimos e

levamos o progresso ao nosso meio social. É, pois, o trabalho humano todo aquele

realizado pelo homem, seja no manejo da matéria, seja através do uso de símbolos

(trabalho intelectual).

No decorrer dos séculos, trabalharam os homens em regime de

escravidão, sendo que este atingiu enormes proporções entre os gregos, egípcios e

os romanos. Podemos afirmar que Roma edificou-se sobre o trabalho escravo.

A dignificação do trabalho iniciou-se há dois mil anos, com o

Cristianismo. CRISTO, através do seu EVANGELHO, veio mostrar que somente o

homem pode evoluir, libertando-se o pobre da escravidão da mendicância e o rico do

consumismo, sem qualquer produção.

Na Idade Média, houve a fixação no campo e a subsistência nele,

seguindo então formas atenuadas de escravidão. O escravo antigo já podia trabalhar

em sua própria unidade autônoma, ligado à terra através das mais variadas

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distinções entre domínio propriamente dito, pertencente ao senhor feudal e domínio

útil, correspondente ao do servo. Também o “homem livre” que entregava sua terra

em troca de proteção ficava ligado à gleba.

Na Europa, nessa época, o que houve, na realidade, foi uma

exploração de camponeses em regime de escravidão, mais atenuadas, é verdade,

nomeada de servidão, mas muito mais ligada ao regime escravo que ao livre

trabalho.

O trabalho realizado pelo servo, sob as condições de vida

características do feudalismo, sem dúvida, um trabalho produtivo, pois o seu trabalho

era o único produtivo na agricultura, na rudimentar indústria dela derivada e na

prestação de serviços pessoais. Do trabalho servo saíam os bens e serviços

necessários à sua subsistência.

No entanto ressalta-se, inexistia liberdade em seu serviço.

Na cidade medieval nasceram as corporações. Sua base foi o

trabalho livre, associando-se os trabalhadores por conta própria a empresários e a

trabalhadores por conta alheia livres.

A relação de trabalho não era estabelecida entre trabalhador e a

corporação, mas entre o empresário e o trabalhador, ambos na qualidade de

membros da corporação. Entretanto, ocorreu que muito rapidamente o trabalhador

por conta alheia tornou-se associado de segunda categoria e o controle da

corporação passou às mãos dos mestres-empresarios no sentido estrito da

expressão.

Aos poucos tornaram-se as corporações simples associações de

empresários, tornando-se cada vez mais rara a possibilidade de o trabalhador

14

converte-se em mestre ou empresário, posto que as condições ficaram definidas em

classe sociais, que se perpetuaram de geração em geração,com escassas

possibilidades de alteração. Isto se deveu ao estabelecimento de cotas de entrada

abusivas ou condições claramente discriminatórias de ingresso na corporação.

Com a Revolução Industrial, acontecimento sem precedentes na

história da humanidade, houve também a revolução social e intelectual, embora com

impactos, nestes últimos não instantâneos, mas longamente preparados e

prolongados no tempo. Houve a geração de uma nova civilização, uma nova cultura

que repercutiu em toda a espécie de comportamento humano, inclusive demográfico.

Emergiu uma sociedade industrial, que trouxe consigo, para sua

compreensão, uma nova ciência: a Sociologia.

A Revolução Industrial gerou uma nova era na história do trabalho. A

máquina, símbolo de uma nova tecnologia, repercutiu sobre as esferas mais intimas

da vida social humana, influindo na existência inteira do homem, sendo ainda um

fenômeno internacional, pois estendeu ao mundo inteiro seus processos e efeitos.

Houve o enfraquecimento das relações de servidão e a progressiva

eliminação de seus resíduos, passando a ser aceito o trabalho contratual das

pessoas não titulares de direito real sobre a terra.

A cidade e a indústria nascente ofereceram, não propriamente a

liberdade tão esperada, mas oportunidades de trabalho. Também as máquinas

facilitaram o trabalho, embora permitindo que apenas um operário fizesse o trabalho

de muitos. Houve o incremento quantitativo do rendimento do trabalho humano,

logo voltando-se para mudanças qualitativas nos modos de produção.

15

Os trabalhadores passaram a ser especializados e divididos segundo

novas exigências da produção.

Houve, conseqüentemente, um considerável aumento do excedente

de mão de obra, sendo esta uma das razões básicas das más condições de trabalho

que caracterizaram esse período.

Entre essas condições podemos destacar o abuso do trabalho do

menor, com crianças de 8 a 9 anos em oficinas e em idade inferiores na indústria

têxtil; o pagamento de salários, não em dinheiro, mas em outras espécies ou então

em dinheiro emitido pelo próprio empresário (vales resgatáveis em seus próprios

estabelecimentos); insalubridade não só dos locais e dos estabelecimentos de

trabalho, como do meio urbano e das residências e superamento da jornada de”sol a

sol” em decorrência da iluminação a gás.

Na idade Moderna a escravidão, no entanto, continuou e tomou

incremento com descobrimento da América.

Ainda hoje, passado tanto tempo, esse estigma da civilização ainda

perdura em alguns pontos dos continentes.

b.2 – no Brasil

No Brasil iniciou-se o trabalho com tentativas de colocar o índio em

regime escravo e, finalmente, com o trabalhado escravo do negro, eliminado

legalmente através da Lei Áurea de 13 de Maio de 1888.

“Note-se que abolir leis sobre a escravidão é

relativamente fácil e rápido. O difícil e muito

16

lento é abolir o instituto escravagista que pode

subsistir por séculos, mesmo depois que as leis

foram abolidas. No primeiro caso trata-se de um

fato jurídico-social, apenas uma mudança de

posição diante das leis humanas. No segundo

caso, trata-se de fenômeno biológico, de

maturação evolutiva que tem de chegar a

transformar os institutos; processo lento, de

elaboração profunda, difícil de conseguir e só

alcançável pela educação à longo prazo”. –

Pietro Ubaldi.

É tão verdadeiro esse entendimento que nos tempos atuais, ainda o

interior do Brasil, fazendeiros mantém em regiões longínquas, trabalhadores

confinados em suas propriedades,mantidos sob vigilância por homens armados.

A Constituição de 1824 assegurou a liberdade do trabalho, extinguindo

as corporações de oficio.

“Atualmente,com a 3ª Resolução Tecnológica já

se fala numa sociedade pós-industrial

informatizada, com expansão do segmento

terciário e retração do operariado, portanto com

nítida predominância dos white collars sobre os

blues collars e reflexos sobre inteiro Direito do

Trabalho”.

17

(Franco Corinci e Gian Carlo Perone, in

Curso de Direito do Trabalho de Orlando

Gomes e Elson Gottschalk – pág 08).

Com a Lei 4.121/62, “Estatuto da Mulher Casada”, a mulher casada

passa a ter participação na direção da família. Pode exercer profissão lucrativa e

praticar todos os atos inerentes ao seu exercício. Passou a intervir sobre os bens do

casal no caso de venda, doação e outros atos. Esta lei teve como base a proteção ao

trabalho da mulher casada, a sua independência em termos de emprego, profissão e

contribuição não só nas despesas da família como também na participação de

assuntos pertinentes ao casal.

b.3 – na OIT

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) surgiu em decorrência

do estabelecido nos arts. 387 e 427 do Tratado de Versailles. Sua Constituição

repetiu os dispositivos do Pacto da Sociedade das Nações. Com o término desta a

OIT convocou em 1944 a 26ª Sessão da Conferencia, na cidade de Filadélfia, onde

foi aprovada a “Declaração referente aos fins e objetivos da OIT”, ficando conhecida

como a Declaração de Filadélfia, que repetiu e ampliou alguns preceitos do Tratado

de Versailles.

O preâmbulo afirma “a paz universal e permanente só pode basear-se

na Justiça Social”. Assinala ainda “que existem condições de trabalho que contem

18

tal grau de injustiça, miséria e privações para grande número de seres humanos, que

o consternamento causado constitui uma ameaça para a paz e a harmonia

universais”.

As afirmações do Preâmbulo definem os três motivos inspiradores da

criação da OIT:

a) um sentimento de justiça social;

b) o perigo de injustiça social;

c) a similaridade das condições de trabalho na

ordem internacional.

A Declaração de Filadélfia enumera várias questões pertinentes à

dignidade humana e à segurança sócio-econômica do homem que vive do trabalho.

Com a incorporação da Carta de Filadélfia à Constituição resultante da

revisão de 1946, a competência da OIT foi ampliada, tornando explicito que as

questões sociais-trabalhistas e as econômicas-financeiras são interdependentes,

devendo-se estudar as segundas para adotar soluções referentes às primeiras.

b.4 – No Direito Comparado

As primeiras leis do Direito do Trabalho se relacionam com o trabalho

dos menores e das mulheres.

São normas de caráter limitativo ou proibitivo, cujos preceitos básicos

além de procurar conciliar o trabalho do menor com a sua educação ou instrução,

19

proíbem determinados trabalhos em razão de sua penosidade, impondo sanções ao

seu desrespeito. Mesmo quando o trabalho é permitido, a partir de idades muito

prematuras, surgem limitações da jornada semanal e diária, que aos poucos foi-se

estendendo aos adultos.

Segundo Amauri Mascaro Nascimento, diversas obras atestam a

marginalização do proletariado, entre elas, Gérand “le visiteur du pauvre”, 1824 e

Villermé “tableau de I’ etat moral et physique dês ouvriers travaillante dans les

manufactures descoton, de laine e de soie”. Segundo estas obras o proletariado

prestava serviçosem jornadas que variavam de 14 a 16 horas, habitando em

condições subumanas.

Na Inglaterra, em 1802, a lei moleiro Robert Peel disciplinou o

trabalho dos aprendizes nos moinhos, dando proteção aos menores com a limitação

da jornada a 12 horas, estabelecendo deveres com relação à educação, higiene do

local de trabalho e em especial os dormitórios.

A lei tornou-se ineficaz, mas em 1819, com auxilio de Robert Orne

Peel, conseguiu a aprovação da mesma, tornando ilegal o emprego de menores de 9

anos e restringindo o horário de trabalho de adolescentes menores de 16 anos a 12

horas, nas prensas de algodão. O trabalho não podia ir além das 21 horas nem

começar antes das 6 horas. A instrução era obrigatória durante os primeiros 4 anos

de aprendizagem; os aprendizes deviam saber ler, escrever e contar.

1813 – França aprova lei proibindo trabalho de

menores nas minas e em 1814 proibindo o

trabalho aos domingos e feriados.

20

1825 – Inglaterra – restabelecimento das

sociações.

1833 – Inglaterra – organização legal para

garantir a liberdade dos operários.

Proibição de empregar menores de 9 anos,

limitando a jornada dos menores de 13 anos a 9

horas e dos adolescentes menores de 18 anos a

12 horas, proibindo o trabalho noturno.

1833 – Suíça – fundação da primeira associação

operário em Biel.

1839 – Alemanha – proibição do trabalho a

menores de 9 anos, restringindo a 10 horas a

jornada para menores de 16 anos.

1841 – França – proibição do emprego de

menores de 8 anos, fixando a jornada em 8

horas para menores de 12 anos e 12 horas para

menores de 16 anos.

1842 – Inglaterra – proibição do trabalho de

mulheres e menores no subsolo, instituindo para

as mulheres jornada de 10 horas.

1844 – Inglaterra – redução de 9 para 8 anos a

idade de ingresso nas oficinas.

1847 – Inglaterra – jornada de trabalho de 10

horas.

21

1848 – França – jornada geral de trabalho de 12

horas amparando pela primeira vez o trabalho

adulto;

1848 – França – jornada de 10 horas em Paris e

11 horas no resto do País.

1848 – Suíça – manifesto comunista de Karl

Marx.

1849 – Noruega – fundação de associações.

Operárias e reconhecimento da liberdade de

associação.

1853 – Inglaterra – lei fixando em 12 horas a

jornada dos homens.

1853 – Alemanha – idade mínima do menor

operário 12 anos, e a jornada dos menores de

14 anos a 6 horas.

1864 – França – reconhecimento do direito de

greve.

1881 – EUA – Congresso Operário em New

York.

1883 – Suíça – Congresso em Zurique onde foi

sugerido a criação de Direito Internacional do

Trabalho.

1884 – França – reconhecimento da liberdade

de associação.

22

1885 – Hungria – Lei da jornada de 12 horas nas

fábricas.

1887 – França – proclamação no Congresso

Internacional dos Trabalhadores, do dia de 8

horas e o 1º de Maio como o Dia do

Trabalhador.

1890 – Inglaterra – Liverpool adota a jornada de

8 horas.

1891 – Itália – Encíclica Rerurm Novarum do

Papa Leão XIII.

1897 – Rússia – fixa a jornada de 11 horas.

1904 – França – Congresso em Bourges e luta

pelas 8 horas.

1913 – Suíça – Congresso de Berna, para

proibição do trabalho noturno aos menores.

1919 – França – votação da lei das 8 horas de

trabalho.

1919 – França – Tratado de Versailles.

Criação da OIT.

No Brasil:

1889 – Ministro da Agricultura, Demétrio Ribeiro,

determinou concessão de férias (15 dias) para

23

os ferroviários da Estrada de Ferro Central do

Brasil.

1890 – Decreto 1.162 – garantindo a liberdade

do trabalho.

1891 – Decreto 1.313 – fiscalização nos

estabelecimentos fabris onde trabalhassem

menores em número avultado.

1903 – Permissão para organização sindical.

1905 – Lei 1.150 – conferiu privilégio para

pagamento de dívida proveniente de salário do

trabalhador rural.

1907 – Lei 1637 – primeira lei sindical.

1923 – Lei Eloy Chaves – criação da caixa de

aposentadoria e pensões para ferroviários.

1923 – Dec. Lei 16.027 de 30.04.23 – cria o

Conselho Nacional do Trabalho.

1925 – Lei 4.982 – férias.

1926 – 07.09.26, reforma constitucional

incluindo o nº 28 do art. 34,competência

privativa do Congresso Nacional para “legislar

sobre o trabalho”.

1927 – Dec. 17934 de 12.10.27 – trabalho de

menores.

1928 – Lei 5.492 – locação de serviços estatais.

24

1934 – por força constitucional cria-se a Justiça

do Trabalho,ligada ao Poder Executivo.

1941- Instituída a Justiça do Trabalho em

01.05.41.

1943 – Em 1º de Maio aprovada a CLT por força

do De. Lei 5.452, entrando em vigor em

10.11.43, após ter sido publicada no DO em

09.08.43.

1946 – A Justiça do Trabalho passa a ser parte

integrante do Poder Judiciário Federal.

1988 - Nova competência da Justiça do

Trabalho.

Nas Constituições:

México – 1917 – no seu art. 123 estabeleceu a jornada de 8 horas

(diurna) e de 7 horas (noturna); a proibição do trabalho de menores de 12 anos; a

limitação de 6 horas de trabalho a menores de 16 anos; o descanso semanal; a

proteção à maternidade; o salário mínimo; a igualdade salarial; o adicional de horas

extras; o direito à sindicalização e à greve; a conciliação e a arbitragem dos conflitos

trabalhistas, entre outros direitos.

Amauri Mascaro Nascimento transcreve o texto de Mário de La

Cueva dolivro “Direcho Mexicano del Trabajo”, editado no México em 1960, recibis:

25

“É indubitável que nosso art. 123 marca um momento decisivo na

história do direito do trabalho. Não querendo afirmar que tenha servido de modelo a

outras legislações, nem que seja uma obra original, senão, apenas, que é o passo

mais importante dado por um país para satisfazer às demandas das classes

trabalhadoras. Seria inútil empenhar-se em encontrar repercussões que não teve: a

Europa não conheceu,em termos gerais, nossa legislação. A promulgação da

Constituição alemã de Weimar, unida à excelente literatura que desde o principio

produziu, fez com que a atenção do mundo se fixasse principalmente sobre ela. A

falta quase total de estudo sobre o direito mexicano contribui também para que fosse

ignorado; apenas uma ou outra referência se encontra nos autores franceses e

sobretudo nos espanhóis. Tampouco é o nosso art. 123 completamente original. A

exposição histórica comprova que os legisladores mexicanos inspiraram-se em leis

de diversos países: França, Bélgica, Itálica, Estados Unidos, Austrália e Nova

Zelândia, de tal maneira que a maior parte das disposições que nela foram

consignadas eram conhecidas de outras nações. Mas a idéia de fazer do direito do

trabalho um mínimo de garantias em benefício da classe economicamente fraca e a

de incorporar essas garantias na Constituição, para protegê-las contra qualquer

política pelo legislador ordinário, são próprias do direito mexicano, no qual pela

primeira vez foram consignadas”.

A Constituição Alemã de WEIMAR, de 1919, dispôs sobre a

organização de um direito unitário do trabalho, garantiu a liberdade de associação

para defesa e melhoria das condições de trabalho e produção, permitiu a

participação do trabalho no processo político, promoveu a integração do trabalhador

na empresa e o seu direito de participar na fixação do salário e das demais

26

condições de trabalho e institui os conselhos de empresa, órgãos de gestão

empresarial.

A Carta Del Lavor, da Itália, de 1927, foi documento fundamental do

corporativismo e das diretrizes que estabeleceu um ordem política e trabalhista

centralizada, sob forte influência estatal. Estabeleceu o sindicato representativo

único.

Repercutiu sobre o Código de Processo Civil da Itália, em 1940, que

conferiu à Magistratura do Trabalho poderes para decidir normativamente os conflitos

coletivos do trabalho. Orientação essa que foi posteriormente afastada em legislação

mais recente.

Outros países codificam a legislação, com redação iniciada em 1901.

Na Itália, hoje, estão algumas leis trabalhistas no Código Civil e na

Suíça estão no Código do trabalhador Rural (1962) e a lei do Contrato de Trabalho.

Como já referido às folhas 15, no Brasil, a Constituição de 1824 (do

Império) apenas assegurou a liberdade do trabalho e extinguiu as corporações de

ofício.

Na Constituição de 1891 (a primeira Republicana), nenhum principio

foi estabelecido quanto à proteção efetiva do trabalho e do trabalhador, cabendo a

este, ainda, a defesa de seus interesses.

A Constituição de 1934 (a segunda Republicana), procurou atender

mais de perto a realidade brasileira. Instituiu o salário mínimo, proibiu o trabalho de

menores de 14 anos, assim como o trabalho noturno de menores de 16 anos e

proibiu o trabalho nas indústrias insalubres às mulheres e aos menores de 18 anos.

27

Desapareceu, com essa Constituição, a democracia não-intervencionista que

permitia a exploração de alguns poucos.

A Carta de 1937, fixou como norma ser o trabalho um dever social,

ampliando as diretrizes da legislação do trabalho. Limitou a jornada em 8 horas

diárias, preocupou-se com a proteção à mulher e ao menor; criou o seguro social, a

assistência médica e higiênica, entre outros direitos. Instituiu a Justiça do Trabalho.

Após o golpe de 1945, nova Constituição foi promulgada em 1946,

que encerrou um conteúdo social que a colocou entre as mais completas do mundo,

faltando a ela, no entanto, segundo alguns doutrinadores, caráter mais imperativo em

muito de sues dispositivos. Tornou-se Justiça do Trabalho órgão integrante do

Poder Judiciário.

Em 1967, O Congresso Nacional aprovou nova Constituição; fixou em

12 anos a idade mínima para o trabalho, (art. 138 inc. X), ao contrário das anteriores

(14 anos), incluiu FGTS em alternância à estabilidade (art. 158 inc. XII).

A atual Constituição (1988), tem como aspecto positivo o

redimensionamento das relações entre o Sindicato e o Estado, a negociação coletiva

foi incentivada, houve a ampliação do direito de greve, reduziu a jornada de trabalho

para 44 horas semanais, elevou o adicional de horas extras para 50%, criou a licença

paternidade, ampliou a licença da gestante para 120 dias, elevou a idade mínima de

admissão no emprego para 14 anos, entre outros benefícios.

As Encíclicas Papais: Rerum Novarum (Leão XIII, 1891);

Quadragésimo Anno (Pio XI, 1931); Mater et Magistra e Pacem in Terris (João XXIII,

1961 e 1963); Populorum Progressio, Laborem Exercens (João Paulo XII, 1967,

1981) também se referiam, com bastante ênfase, aos direitos dos trabalhadores.

28

O trabalho feminino e do menor foi engrandecido na Encíclica Rerum

Novarum. Lembra o Papa Leão XIII que o Estado veio depois da família, e por dela

ser dependente deve cercá-la de proteção, tal como faz a sociedade em geral,

comunidade maior que dela não difere e dela é resultante.

O atual Papa, João Paulo II, em suas Encíclicas elogiou a ação da

OIT na defesa do trabalhador e sua prole e declarou que “o trabalho é sempre uma

causa eficiente primária, enquanto capital, sendo o conjunto de meios de produção,

criados e desenvolvidos pelo homem, permanecem sempre como instrumento, ou

causa instrumental” e mais: poder-se-á falar de socialização somente quando ficar

assegurada a subjetividade da sociedade, quer dizer, quando cada um dos que a

compõem com base no próprio trabalho, tiver garantido o pleno direito a considerar-

se co-proprietário do grande “ banco “ de trabalho em que se empenha juntamente

com todos os demais”

Lembrando a filosofia de São Tomáz de Aquino, diz-nos ainda o

Sumo Sacerdote:

“O trabalho é um bem do homem – é o bem da humanidade – porque,

mediante o trabalho, o homem não somente transforma a natureza,

adaptando-a às suas próprias necessidades, mas também se realiza a

si mesmo, como homem e até, em certo sentido, se torna mais

homem”.

b.5 – Conclusão

29

“Não é justo nem humano o exigir tanto trabalho,

aponto de fazer, pelo excesso da fadiga,

embrutecer o espírito e enfraquecer o corpo. A

atividade do homem é ilimitada como a sua

natureza. Não deve o trabalho prolongar-se

mais do que as forças o permitem. Enfim, o que

pode fazer um homem válido e na força da idade

não será eqüitativo exigi-lo de uma mulher ou de

uma mulher ou de uma criança. Especialmente

a infância – e isto deve ser estritamente

observado – não deve estar na oficina senão

depois que a idade tenha desenvolvido nela

forças físicas, intelectuais e morais. Do

contrário, como uma planta ainda tenra, ver-se-

á murchar com um trabalho demasiado,

precoce, e dar-se-á cabo da sua educação”.

(Encíclica Rerum Novarum – Papa Leão XIII,

1891).

O novo liberalismo, implantado atualmente é diferente do liberalismo

clássico. É preciso que todos nós aceitemos “mansamente” o destino implantado

pela nova ordem, onde o neoliberalismo é a “doutrina salvadora”. Quando não

aceitamos, somos rotulados de “hereges”, de “antiquados”.

30

No nosso pais, acena-se com sua implantação alegando já existir nos

países desenvolvidos.

No entanto, esses mesmos países ditos “desenvolvidos” vêem-se

frente à frente com um índice cada vez mais crescente de desemprego e de

delinqüência, que faz corar a mais primitiva nação africana.

As soluções, ditas alienígenas, somente alcançarão êxito em nosso

país se estivessem afinadas com a nossa cultura, os nossos costumes e as nossas

condições sócio-econômicas. Apesar disso, importamos junto com as últimas

novidades da tecnologia mundial, estruturas normativas nem sempre adequadas à

nossa realidade.

Reportagem do jornal “O Globo”, de 19.10.97, mostrava-nos que a

abertura e a tão proclamada “globalização da economia”, combinadas com o custo

elevado dos encargos sociais e o desemprego, estão provocando graves distorções

no mercado de trabalho.

Entre essas distorções temos cooperativas de trabalho. Em vez de

contratarem os empregados de acordo com o regime da CLT, as empresas estão

terceirizando através cooperativas, evitando com isso, o pagamento de férias, 13º

salário, FGTS e horas extras.

As falsas cooperativas apareceram para substituir os antigos “gatos”

(São Paulo) ou “empreiteiros” (Rio de Janeiro), que arregimentavam os trabalhadores

rurais (inclusive menores) por salários irrisórios, sem nenhuma proteção trabalhista.

No interior de São Paulo são quase 200 mil trabalhadores reunidos em

cooperativas, sendo que no Ceará, amparados pelo Governo Estadual, o problema é

maior.

31

Os estatutos das cooperativas estão de acordo com a lei, mas os

associados não têm poder de decisão e são despedidos caso reivindiquem condições

de trabalho.

Nossas cooperativas menores também são arregimentadas como

“cooperativados” desde a idade de 10 anos, ao ponto de um menor de 16 anos dizer

que sua casa ele teve a “mordomia” de começar a trabalhar a partir dos 15 anos, pois

seus irmãos iniciaram aos 10 anos.

É de se observar, ainda, que a maioria dos trabalhadores menores,

bem como os demais “cooperativados” (homens e mulheres) nem sabem da

existência de cooperativas.

32

2. O TRABALHO DO MENOR

De onde vens, criança?

Que mensagens trazes do futuro?

Por que tão cedo esse batismo impuro

Que mudou teu nome?

Em que galpão, casebre, invasão, favela,

Ficou esquecida tua mãe?

E teu pai, em que selva escura

Se perdeu, perdendo o caminho do bairro humilde?

(Cora Coralina – Poemas dos Becos de Goiás e Histórias

Mais).

33

a.- HISTÓRIA DO TRABALHO DO MENOR

a.1 – no mundo

Os menores sempre trabalharam desde a mais tenra idade. Segundo

alguns autores encontra-se no Código de Hamurabi, que data de mais de 2.000 anos

a.C., medidas de proteção aos menores, que trabalhavam como aprendizes.

No Egito, sob as dinastias XIS a XX, estavam os menores submetidos

ao trabalho geral, trabalhando desde que tivessem relativo desenvolvimento físico.

Na Grécia e em Roma os filhos de escravos pertenciam aos seus

senhores e eram obrigados a trabalhar, quer diretamente para seus proprietários,

quer a soldo de terceiros em benefícios de seus donos.

Organizadas as corporações romanas, inicialmente para os

trabalhadores livres, os seus filhos trabalhavam como aprendizes para, mais tarde,

ingressar no mesmo ofício paterno.

Na Idade Média, organizadas as “corporações de ofício” durante anos

o menor trabalhava, sem perceber qualquer salário e até muitas vezes pagando ao

Mestre ou ao senhor feudal uma determinada soma. O trabalho era cansativo,

sendo realizado dia após dia, apenas com um descanso para refeição.

Com a Revolução Industrial, mas, sobretudo a partir do início do

século passado na Inglaterra, o regime de produção em massa ensejou uma das

mais graves repercussões da técnica no mundo político, social e econômico

contemporâneo.

34

Os menores eram utilizados sem maiores precauções, em troca de

alimentação. Através das Paróquias, criadas pela Lei dos Pobres, havia tráfico de

menores, de tal modo que tornaram-se eles fontes de riqueza nacional.

Nessa época, pregava Daniel Defoe que não havia nenhum ser

humano de mais de 4 anos que não pudesse ganhar a vida trabalhando.

As crianças forma empregadas nas fábricas desde o início da nova

indústria, sendo que dizia-se ser tal utilização devido à pequena dimensão das

máquinas.

Alugaram-se crianças, em verdadeiros bandos, por longos anos. O

pai negociava diretamente com o fabricante a venda forçada de trabalho do filho.

Justamente pela exploração crescente de menores as primeiras leis

protetoras do trabalho referiram-se especialmente a eles.

a.2 – no Brasil

No Brasil, aos escravos de maior ou menor idade não era assegurada

proteção legal. Seus senhores empregavam os menores não só nas atividades

domésticas, como nas indústrias rudimentares, como a olaria. Além disso era

habitual o serviço do menor no campo.

Vendidos a outros senhores, logo que seu desenvolvimento físico lhes

permitia, eram levados para lugares distantes, longe do amparo materno.

Evaristo de Moraes Filho, autor do Livro Apontamentos de Direito

Operário, no rodapé diz:

35

“Há meses, todos os jornais noticiaram que, em certa fábrica, uma

operária de seis anos (!) fora colhida por aparelho mecânico que a deformara para

sempre...”.

Ao se referir o supracitado autor ao trabalho das crianças, mulheres e

homens, em geral, exercido em condições primitivas, diz ao final do capítulo Normas

e Regras do Trabalho:

“Se estes apontamentos servissem,ao menos,

para despertar a atenção dos que Podem,

querem e mandam, dar-me-ia por muito feliz”.

Apesar de anos passados e de todo avanço tecnológico e social,

ainda encontramos, no Brasil, menores trabalhando em regime escravo ou quase

escravo.

Milhões de crianças trabalham, hoje, no Brasil, no campo nas

plantações de cana, amendoim, chá, no corte da babaçu, no sisal, nas inúmeras

oficinas de fundo de quintal. São patrulheiros mirins, aprendizes de fábrica,

guardadores de carros, vendedores de rua, carregadores de carga e mercadorias,

empacotadores, engraxates, “office-boys”, pequenos prostitutos e prostitutas,

pequenos auxiliares no mundo do tráfico de drogas.

Segundo depoimento de um agenciador de trabalho infanto juvenil,

crianças não trabalhar é um crime; quanto menor, mais ágil e mais perto do tamanho

do pé do algodão e amendoim. Suas mãos pequenas encaixam mais fácil para a

colheita.

“Volta e meia, o suor fica vermelho quando a folha de cana corta a

pele infantil. Sorte da criança: a dor faz parte do ofício, ele se acostuma; pior é

36

quando a foice escapa e fere. Aí, dói muito, o corte é profundo e às vezes mutila.

Se isso ocorre, a criança perde parte do corpo e perde também o emprego.

Quando a criança pode crescer canavieira, quase sempre sofre de

desnutrição, excesso de cansaço físico, muitas vezes adquire hipertrofia cardíaca,

artrose e enfisema pulmonar. Após 12 anos de profissão em canavieiro, pode ficar

inutilizada para o mercado de trabalho. Para cada adulto existe uma criança ou

adolescente trabalhando nos canaviais brasileiros”.

(Revista Sem Fronteira – João Riper – Imagem da GTerra – nº 238

março 96 – Página 15 – INTERNET).

“A exploração do trabalho de menores é uma

decorrência da miséria de um povo e do

descaso da sociedade, constituindo-se ponto de

vergonha para um país que se diz “em

desenvolvimento” e se quer democrático”.

(Reflexões sobre o Trabalho do Menor - Luiz

Eduardo Gunther – Juiz do Trabalho do

TRT/PR – Jurisprudência Brasileira Trabalho do

Menor nº 47 pág. 21).

B – ORIGEM DO DIREITO DO TRABALHADOR DO MENOR

b.1 – na OIT

37

Desde sua constituição tem a OIT dado grande importância aos

adolescentes em seus trabalhos legislativos, classificados em ordens de instrumentos

internacionais: convenções, recomendações e resoluções, segundo uma ordem

decrescente de importância e rigor de aplicação.

O Brasil ratificou as seguintes Convenções:

Nº 5 – 1919 – idade mínima dos menores nos trabalhos industriais;

Nº 6 – 1919 – trabalho noturno dos menores nas indústrias;

Nº 58 - 1936 – trabalho marítimo (revisão) e

Nº 124 - 1965 – aptidão de menores para o trabalho em minas de subsolo.

A Convenção nº 90, de 1948, referente ao trabalho noturno de

menores na Indústria foi rejeitada, assim como a de nº 112, de 1959, referente à

idade mínima do trabalho dos pescadores.

A Convenção nº 138, de 1973, que se refere à idade mínima (18 anos)

para se admitir empregados, ainda não foi ratificada pelo Brasil.

Esse instrumento legal reúne, em um só documento, dez Convenções

que tratavam sobre a idade mínima de admissão em emprego, além de adequar essa

proteção aos diversos ramos de atividades. Dentre alguns pontos estabelece a

Convenção em seu Art. 1º:

“Todo País-membro, no qual vigora esta

Convenção, compromete-se a seguir uma

política nacional que assegure a efetiva abolição

do trabalho infantil e eleve, progressivamente, a

idade mínima de admissão a emprego ou a

38

trabalho a um nível adequado ao pleno

desenvolvimento físico e mental do Jovem”.

A OIT reconhece as dificuldades de alguns países membros, cujas

economias e facilidades educacionais são insuficientemente desenvolvidas e admite

que poderão especificar a idade mínima de 16 anos, apões consultarem a

organização de trabalhadores e empregados (art. 3º - 3).

Consoante Oris de Oliveira em seu trabalho “A Convenção nº 138 da

OIT Sobre a Idade Mínima e Sua Ratificação pelo Brasil”, publicada na Revista

ANAMATRA – ano 8 – nº 25 – janeiro/março 1996:

“O estudo comparativo revela que as normas

brasileiras sobre admissão do trabalho e ao

emprego são mais flexíveis que as da

Convenção 138 sobre a mesma matéria. As

sim, se houver vontade política pelo Brasil, este

comparecerá nos relatórios dos Expertos na

Aplicação de Convenções e das

Recomendações da OIT, ao mesmo tempo

como país em desenvolvimento que opta pela

idade mínima básica de 14 anos para admissão

ao emprego e ao trabalho, com possibilidades

de trabalhos leves em programas de

aprendizagem a partir dos 12 anos e, como

país, cujo ordenamento jurídico constitucional

impossibilita de se utilizarem de várias

39

faculdades de exclusões e limitações previstas

no diploma internacional. Mozart V.

Russomano anotou, com razão, que o Brasil

tem seguido uma trilha ascensional na disciplina

da matéria. (Comentários à Consolidação das

Leis do Trabalho, 8ª edição – pág. 503).

Ratificando a Convenção 138 o Brasil estará se

comprometendo a percorrer a trilha ascensional

pela qual optou há longos anos, moldando sua

política legislativa sobre matéria em uma das

mais importantes normas da Organização

Internacional do Trabalho”.

b.2 – No Direito Comparado

Gerard Conturier, em seu livro Droit du Travali – 1 – Les Relations

Individuelles de Travali, nos diz que:

“... a questão social dominou o século XIX, Cita-

se a lei de 22 de março de 1841 como o primeiro

balbucio do direito de trabalho. Ela impediu,

mas somente dentro das fábricas ocupadas por

mais de 20 operários que utilizavam motores

mecânicos, o trabalho de menores de 8 anos;

ela limitou, para os pequenos trabalhadores, a

40

jornada de trabalho à 8 horas entre 8 e 12 anos,

impediu o trabalho à noite e lhes concedeu o

repouso hebdomadário.

Essa lei foi publicada após algumas pesquisas

que revelaram a duração do trabalho, cerca de

15 a 17 horas, onde trabalhavam mesmo

crianças e mulheres.

Os industriais protestaram, afirmando que a

nova lei os arruinaria. Mas não se pode apurar

os seus méritos porque a lei não foi

efetivamente aplicada.

Após essa data a lei que merece referência é a

de 19 de maio de 1874, relativa ao trabalho de

mulheres e menores, mas apenas para criar um

corpo administrativa encarregado de verificar a

regulamentação: a inspeção do trabalho”.

Jean Rivero e Jean Savatier no capítulo “Les rèsultats du régime

liberal”, à pág. 50 do livro Droit du Travali, nos dizem:

“Travail dês enfants dês 5 ans, journées de

travali de 14 ou 15 heures, salaires misérables,

discipline d’ atelier rigourese, logement dans dês

tandis, tout cela aboulit à l’épuisemente

physicologique dês travailleurs et à

l’accroissement de leur mortalité.

41

............................................................................

Mais, à partir de 1840, la divulgarion da la

misere ouvrière, notamment à la sintè de

l’enquête du Dr. Villermé, et l’ampleur prise

parle problème, qu’elle pose vont préparer une

période nouvelle”.

Atualmente, na França, há o menor aprendiz, na faixa etária

compreendida entre 16 e 20 anos, sendo que antes dos 16 todos devem estar

estudando. Essa lei é de 16 julho de 1986. A duração da aprendizagem é de 2

anos.

A lei permite ainda aos menores entre 14 e 16 anos efetuarem

trabalhos durante as férias escolares. Outra regulamentação especial é aplicada à

crianças nos espetáculos como manequins de publicidade ou de moda. Há uma

necessidade de autorização administrativa para tal. (Code du Travali, art. L – 211 et

s. in Doit du Travali).

Aos jovens com menos de 18 anos é proibido o empregado em

trabalho considerado perigoso (Code du Travali, art. L – 234-2). Também eles não

podem trabalhar à noite.

Na Inglaterra, desde 1802, existia a lei protetora dos menores

trabalhadores em indústrias têxteis, lei essa de iniciativa de Robert Peel.

Na Alemanha, em 1891, foi expedido o Código Industrial que inclui a

proteção ao trabalho dos menores.

42

Outros países como a Bélgica, em 25.05.1888, a Suíça em 1877, a

Áustria em 1855, a Holanda em 1899, Portugal em 1891 e a Rússia em 01.07.1882

expediram leis de proteção aos menores trabalhadores.

No Brasil, atualmente, 19,4% das crianças entre 10 e 14 anos

compõem a população economicamente ativa; no Paraguai, 34,3%; no México, 3,6%;

no Equador, 2,7%, no Peru , 2,3%, em Portugal 2%; na Argentina 0,1% e na

Indonésia 3,7%.

b.3 – no Brasil

Segundo Evaristo de Moraes, em seu livro Apontamentos de Direito

Operário, publicado em 1905, o Decreto 1313 de 17.01.1890 referiu-se ao trabalho de

menores nas fábricas:

“Os menores do sexo feminino de 12 a 15 anos

e do sexo masculino de 12 a 14 anos, só

poderão trabalhar, no máximo, sete horas por

dia, não consecutivas, de modo que nunca

exceda de quatro horas o trabalho continuo, e os

do sexo masculino de 14 a 15 anos até nove

horas por dia, nas mesmas condições. Os

aprendizes, que nas fábricas de tecidos podiam

ser admitidos desde os 8 anos, só podiam

trabalhar três horas. Se tiverem mais 10 até 12

anos poderão trabalhar quatro horas para os

primeiros e de uma hora para os segundos. É

43

proibido empregar menores no serviço de

limpeza de máquinas bem como dar-lhes

ocupação junto a rodas, volantes, engrenagens,

e correias em ação, pondo em risco de vida.

Não á admissível o trabalho de menores em

depósito de carvão, fábricas de ácidos, algodão,

pólvora, nitroglicerinas, fulminatos; nem

empregá-los em manipulações diretas de

fumo,chumbo, fósforos, etc...”.

No entanto, esse Decreto jamais foi aplicado, caiando no

esquecimento. Em 1912, descreveu Deodato Maia:

“As crianças ali vivem na mais detestável

promiscuidade; são ocupadas nas indústrias

insalubres e nas classificadas perigosas; faltam-

lhes ar e luz; o menino operário raquítico e

doentio, deixa estampar na fisionomia aquela

palidez cadavérica e aquele olhar sem brilho que

denunciam o grande cansaço e perda gradativa

da saúde”.

Em 12.10.1927 foi finalmente aprovado o Código de Menores, onde

ficou estabelecido, no Capítulo IX, que crianças com menos de 12 anos não podiam

44

trabalhar. Também estabeleceu esse Código que o trabalho noturno era proibido a

menores de 18 anos e proibido o emprego de menores de 14 anos em praça pública.

Getúlio Vargas, procurando redimir erros de velhos governantes,

expediu o Dec. nº 22.042 de 03.11.32, que estabeleceu as condições de trabalho de

menores na indústria, fixando em 14 anos a idade mínima.

Finalmente, em 1941, foi expedido o Decreto Lei nº 3.616 de 13.09.

Este Decreto aprimorou as disposições de leis anteriores e instituiu a Carteira de

Trabalho do Menor.

Em 1943, sistematizando toda a legislação vigente, foi aprovada a

Consolidação das Leis do Trabalho, através do Decreto Lei nº 5.452 de 01.05, que

entrou em vigor na data de 10.11.43. No seu capítulo IV, do Título III, foram

estabelecidas as normas especiais de tutela e proteção ao trabalho do menor, tendo

seus 39 artigos sofrido diversas alterações até apresente data.

No Brasil, não tendo o progresso econômico acompanhado o social,

inexistindo qualquer política de distribuição de renda, o país percebendo baixos

salários, vêm-se as crianças e os adolescentes, principais vitimas desse processo,

forçadas a trabalhar cedo, perdendo essa fase da vida, que deve ser caracterizada

pela descontração, tendo como única responsabilidade, o estudo.

Fixando a atual Constituição Brasileira (1988) a idade de 14 anos

como mínima para o trabalho, exceto na condição de aprendiz, veio a Lei 6.069/90

publicada no D.O.U. de 27.09.90, dispor sobre a proteção integral à criança e ao

adolescente seu Capítulo V do Título II, artigos 60 a 69, regulando a

profissionalização e a proteção ao trabalho do menor.

45

Em Constituições anteriores referências existiram quanto aos

menores:

Constituição de 1934 – fixou a idade mínima básica aos 14 anos, a mínima superior

a 16 anos para trabalho noturno e a mínima superior de 18

anos para trabalho em indústrias insalubres.

Constituição de 1937 – em nada inovou quanto ao texto de 1934.

Constituição de 1946 – fixou a idade mínima básica de admissão ao emprego aos 14

anos, e a idade mínima superior de 18 anos para o trabalho

noturno e insalubre.

Constituição de 1967 e sua Emenda nº 1 de 1969 demarcaram a idade mínima de 12

anos e a idade superior de 18 anos para o trabalho noturno

e insalubre. Essas duas Constituições interromperam uma

tradição legislativa que desde o Decreto 22.042/32 apontava

a idade mínima básica de 14 anos.

Constituição de 1988 – atual e vigente, retorna aos princípios consagrado em nossa

legislação, regulando a matéria, no art. 7º, em seu inciso

XXXIII”... proibição de trabalho noturno, perigoso ou

insalubre aos menores de 14 anos, salvo na condição de

aprendiz”.

No entanto, cerca de 7,3 milhões de crianças e adolescentes

brasileiros de 10 a 16 anos não fazem parte de estatísticas oficiais. Mas sabemos

que eles são muitos. A mão de obra infantil brasileira é formada por trabalhadores à

margem da legalidade, invisíveis. As atividades próprias da idade ficam atropeladas:

46

brincar, descobrir o prazer da leitura, exercitar o raciocínio nos jogos, ter tempo de

criar, enfim, tudo lhes é negado.

Apesar de proibido o trabalho aos menores de 14 anos,a nossa

realidade é outra. Existe um contingente enorme abaixo dessa idade trabalhando

sem a proteção de botas e luvas, sentadas horas seguidas em montanhas de sal,

nos canaviais, nas carvoarias, apenas para aumentar e reforçar a renda familiar. A

idade média é de 8 anos.

A erradicação da exploração do trabalho da criança é etapa

importante na evolução histórica do povo brasileiro, na busca do desenvolvimento

econômico, social e político.

“É na medida em que sendo capazes de vencer

os valores, hábitos e atitudes herdadas do

passado, que os Conselhos de Direitos e os

Conselhos Tutelares haverão de afirmar-se

como um novo mecanismo geral de proteção da

população infantil do trabalho precoce abusivo e

explorador”.

(O ECAD e o Trabalho Infantil – Antônio

Gomes - 1994).

“Existe um resquício de exploração à moda do

século passado nas relações entre patrão e as

empregadas e os menores, que faz com que os

empreendedores se furtem ao pagamento do

valor devido pelo trabalho, como se a mulher e o

47

menor fossem mão de obra qualitativamente

inferior”.

(O Pensamento Social da Igreja e o Trabalho

Humano – Aluisio Santos).

b.4 – Conclusão

Numa pesquisa recente feita pelo D.I.E.E.S.E., São Paulo foi a maior

cidade do Brasil onde o maior número de crianças abaixo de 14 anos (57%) disse ser

obrigado a trabalhar para ajudar no sustento da família. Depois, vêm Belém com

53% e Recife com 52%. Comparada a Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Belém e

Goiânia – capitais incluídas também no trabalho do D.I.E.E.S.E. – a capital paulista

oferece a pior remuneração e as mais longas jornadas de trabalho.

O sociólogo João Carlos Alexim, observa que só proibir não adianta,

porque o trabalho infantil já é proibido antes dos 14 anos, consoante a Constituição e

o Estatuto da Criança e do Adolescente.

O que se precisa fazer é melhor as condições familiares, a fim de

impedir que elevado número de menores,em detrimento de seus estudos, ajudem ou

até substituam os pais na subsistência familiar.

Juntamente na faixa etária entre 10 e 14 anos é que houve aumento

das ofertas de emprego (a taxa de desemprego caiu 11,5%), enquanto que entre 25 e

39 anos a taxa de desemprego cresceu 17%, entre 18e24 anos cresceu 10,4% e

acima de 40 anos aumentou em 11,6%. Deve-se observar que entre os chefes de

família o aumento de desemprego ficou em torno de 18,4%.

48

Notícia recente no jornal “O DIA”, de 19.10.97, mostra-nos a existência

ainda de enorme exploração de menores, principalmente no campo, sendo que o

empregador de Júlio César Santana de Oliveira, de 14 anos, o despediu quando

soube que ele iria à Brasília participar do Encontro Nacional de Crianças e

Adolescentes Trabalhadores Rurais. Nesse encontro, ele iria denunciar a exploração

do trabalho infantil no campo, que atinge cerca de três milhões de menores no pais.

Considera a OIT e a UNICEF que mesmo a situação do Brasil sendo

dramática quanto ao trabalho de menores ela ainda é melhor que a dos demais

países da América Latina, pois aqui existe uma atitude do governo contra esse

trabalho, sendo que algumas experiências (por exemplo: compensação financeira

através bolsas educação) estão bem adiantadas.

A preocupação com o trabalho infantil é mundial, tanto que realizou-se

na última semana de outubro, em Olso, Noruega, o Congresso Mundial de Trabalho

Infantil, onde foi discutido, além de outros temas, o aumento da pobreza e do

desemprego.

A grande preocupação com o trabalho do menor é que este,quando

efetuado sob condições desumanas, compromete não só o menor isoladamente, mas

também o futuro da própria sociedade.

Para reverter esse quadro, além das medidas já tomadas, ainda em

pequena escala, pelo Brasil, necessário se torna proteger cada vez mais a família,

evitando seu desagregamento, com o fornecimento de condições mínimas razoáveis

para a subsistência, através oferecimento de mais empregos aos chefes de família e

de educação básica para todos os componentes do grupo familiar, em especial os

menores.

49

C – TRABALHO DO MENOR NO DIREITO COMPARADO

c.1 – na OIT

Convenção nº 5/1919 - revista pela de nº 54 de 1937 – idade mínima de

admissão de menores na indústria – 14 anos.

Estabelece limites especiais para o Japão, China e

Índia.

Convenção nº 6/1919 - proíbe o trabalho à noite para menores de 18 anos

nas industrias, entendendo como noite o período de

22 às 5 horas da manhã. Nos países tropicais, nas

minas de carvão e nos trabalhos em padarias o

intervalo será de 21 às 4 horas.

Convenção nº 7/1920 - revista pela de nº 58 de 1936 – exclui do trabalho

marítimo menores de 14 anos, não se aplicando aos

navios – escola.

Convenção nº 10/1921 - idade mínima para menores nos trabalhos agrícolas

e proíbe o trabalho no horário de estudo.

Convenção nº 15/1921 - idade mínima de 18 anos para admissão de

menores como paioleiros ou foguistas, salvo nos

navios – escola.

Convenção nº 16/1921 - menores de 18 anos devem submeter-se a exame

médico antes de ingressar em emprego a bordo.

50

Convenção nº 33/1932 - revista pela nº 60/1937 – fixa a idade mínima para

menores em trabalhos não industriais (15 anos).

Permite o trabalho entre 13 e 14 anos, sem prejuízo

da escola, em trabalhos leves por um máximo de 2

horas, não sendo em domingos, feriados e à noite.

Em trabalhos artísticos podem trabalhar até meia

noite.

Recomendação nº 4/1919 - proteção contra o trabalho com chumbo.

Recomendação nº 14/1921 - trabalho noturno na agricultura – menores de 14

anos com descanso de 10 horas consecutivas, de 14

a 18 anos descanso de 9 horas.

Recomendação nº 41/1932 - idade mínima de admissão em trabalhos industriais.

Convenção nº 77/1946 - obrigatoriedade de exame médico para admissão

em emprego na indústria.

Convenção nº 79/1946 - limitação do trabalho noturno em atividades não

industriais.

Convenção nº 112/1959 - idade mínima para admissão no trabalho da pesca.

Convenção nº 124/1965 - aptidão de menores para trabalhos em minas de

subsolo.

Convenção nº 138/1913 - (não ratificada pelo Brasil) – idade mínima de 18

anos para a admissão em qualquer tipo de emprego

ou trabalho que prejudique a saúde, a segurança e a

moral dos jovens.

Cada pais deverá especificar a idade mínima para a

51

admissão no emprego ou trabalho, devendo

estabelecer uma política que leva à efetiva abolição

do trabalho infantil. A idade mínima não deve ser

inferior à idade de conclusão da escolaridade

compulsória, ou,em qualquer hipótese,não inferior a

15 anos. Consultadas organizações de

empregadores e trabalhadores, os países cuja

economia e condições de ensino não estiverem

suficientemente desenvolvidas podem estabelecer a

idade mínima de 14 anos.

Poderão ainda as leis e regulamentos nacionais

permitir o emprego e trabalho a pessoas entre 13 e

15 anos em serviços leves que não prejudiquem a

saúde e a escolaridade; concedia a autorização para

substituir as idades por 12 e 14 anos.

Convenção nº 182 da OIT “... – medidor eficaz” p/garantir a proibição e

eliminação da pior forma de trabalho em caráter de

urgência (art.)

Essa Convenção reviu as Convenções referentes às idades mínimas:

a de 1919 (indústria), a de 1920 (marítimos), a de 1921 (agricultura), 1921

(estivadores e foguistas), a de 1932 (emprego não-industrial), a de 1936 (revisão

referente e dos marítimos), a de 1937 (revisão da referente à não indústria), a de

1959 (pescadores) e a de 1965 (trabalho subterrâneo).

52

A entrada em vigor da Convenção nº 138 não priva da ratificação

anteriores as Convenções sobre idade mínima de 1936 (marítimos), de 1937 (revisão-

indústria), de 1937 (revisão-não-industrial), de 1959 (pescadores) e a de 1965

(trabalho subterrâneo).

O Brasil ratificou as Convenções nºs 5/1919, 7/1920, 16/1921 e

124/1965.

As Convenções nºs 90/1948 (trabalho noturno de menores na

indústria) e 112/1959 (pescadores) foram rejeitadas pelo Brasil.

A Convenção 138/1973 foi encaminhada ao Congresso Nacional em

24.5.93, através Aviso 188/AI – MTb.

c.2 – Argentina

Na Argentina o trabalho de menores encontra-se regulamentado na

Ley de Contrato de Trabajo, Ley nº 20.744, com as reformas da Ley 21.197 (1976) e

modificações posteriores ocorridas em 31.3.91 e no Decreto Ley14138/44, que regula

a aprendizagem.

O art. 32 de Ley de Contrato de Trabajo diz que os menores desde os

18 anos podem celebrar contrato de trabalho; que os maiores de 14 anos e menores

de 18 que vivem independentes, com o consentimento de pais e tutores, gozam da

mesma capacidade que os acima de 18 anos.

No art. Seguinte, de nº 33, concede aos menores desde 14 anos a

faculdade pra ingresso em juízo quanto às ações vinculadas ao contrato de trabalho,

53

podendo fazer-se representar por mandatários, obedecia a legislação local, sempre

com a intervenção do Ministério Público.

Podem os menores a partir de 14 anos filiar-se a sindicato (Ley 22.105

art. 6 e OIT nº 87).

A jornada de trabalho para menores de 18 anos é de 6 horas (art.

190), não podendo trabalhar em horário noturno (entre 21 horas de um dia até 6

horas da manhã do dia seguinte).

É proibido o trabalho no período de 13 horas de sábado até 24 horas

do dia seguinte, salvo nos casos excepcionais previstos no art. 203 e nas leis. No

entanto, o art. 206 prevê que em nenhum caso se pode aplicar as exceções aos

trabalhadores menores de 16 anos.

Proibida a hora extra (CLT art. 175).

Admite, ainda, a legislação Argentina o trabalho de menor de 14 anos

no âmbito familiar, quando não prejudicial ao menor, mas sempre condicionado ao

cumprimento da obrigação escolar.

O art. 189 inc. 3 da LCT permite aos maiores além do limite geral,

quando não completaram ainda a escolaridade,o trabalho condicionado ao término

desta.

No tocante à remuneração, esta será igual para igual trabalho

(Constituição de 1853, com a reforma de 1957, art. 14 e LCT art. 187).

Ratificou a Argentina diversas Convenções da OIT:

Número 5 e 6 Pela Ley 11.726 de 30.11.33

Número 7 Pela Ley 11.727 de30.11.33

Número 10 Pela Ley 12.232 de 16.05.36

54

Número 15 Em 26.05.36

Número 16 Em 26.05.36

Número .. 33 Ley 12.727 de14.03.50

Números 58 e 79 Ley 14.529 de 17.02.55

Números 77 e 78 Em 17.02.55

Número 90 Dec. Ley 11.584/56 de 24.09.56

Número 12 Em 20.06.85

Quanto às idades mínimas, (na indústria, na agricultura e trabalho

marítimo) obedece a Argentina ao estabelecido nas diferentes Convenções da OIT

por ela ratificadas. No entanto, quanto à idade limite para o trabalho do menor, em

geral, obedece a Ley de Contrato de Trabajo, em seu art. 189, que limita aos 14

anos, tendo aos 18 anos plena capacidade laboral.

A aprendizagem encontra-se condicionada a Ley de Contrato de

Trabajo, art. 187, inc, 2, ao Decreto e à Ley 24.013, sendo que no Decreto há a

referência a um contrato bilateral no qual uma parte se compromete a ensinar um

ofício à outra a esta se obriga a prestar esse trabalho com o fim de aprender do

oficio.

Há a proibição quanto ao trabalho perigoso ou insalubre – limite 18

anos (LCT art. 176 e OIT nº 33). Quanto aos menores ambulantes e em via pública o

limite deverá ser estabelecido pela legislação.

Com referência ao trabalho em circo, espetáculos de variedades e

cabarés, é vedado aos menores (LCT art. 176 e OIT nº 33).

55

Proibição de trabalho noturno a menores de 18 anos, sendo

compreendido como noturno o horário de 20 às 6 horas (LCT art. 190 e OIT nºs 79 e

90).

Exige, também, a Argentina o exame médico para o menor

trabalhador em observância às Convenções da OIT e a LCT.

As férias serão de no mínimo 15 dias (LCT art. 194).

Aos pais dos menores entre 14 e 18 anos é dado o usufruto dos bens

adquiridos com o trabalho de seus filhos (Cód. Civil arts. 287 e 288).

A nulidade (ex nunc) do contrato proibido não afeta o recebimento da

remuneração e da indenização (LCT arts. 40, 42 e 43).

c.3 – Paraguai

O trabalho do menor encontra-se regulado na Ley 729 de 31.08.61 –

Código del Trabajo (CT) e na Ley 903 de 18.12.87 – Código del Menor (CM).

O Código del Trabajo, no seu art. 35 diz que os menores acima de 18

anos podem contratar sem qualquer autorização, sendo que essa liberdade não

implica em emancipação.

O art. 36 estabelece que os menores com mais de 12 anos e menos

de 18 podem celebrar contrato de trabalho com autorização do representante legal,

podendo, no entanto, essa autorização ser condicionada, limitada ou revogada.

A Ley 903/81 – Código del Menor concede, no art. 1º, a maioridade

aos 20 anos completos.

56

O art. 6 do Código del Menor diz que menor de 12 anos não poderá

trabalhar em local fora do qual foi colocado por determinação do Juiz, exectuando, no

entanto, aquelas atividades que não ponham em perigo a saúde física e moral e que

não interfiram em sua educação.

Os menores de idade que trabalham por conta própria, sob

dependência ou de forma independente e os menores aprendizes têm o contrato

regulado pelo Código del menor (art. 177).

A Direção Geral de Proteção de Menores exercerá a vigilância da

atividade laboral de menores, devendo, para tal, existir um Registro de Trabalho de

Menores, onde estarão inscritos todos os menores trabalhadores (art. 179 CM).

Deve, ainda, o menor ter um Certificado de Trabalho concedido pela

D.G.P.M.,sendo-lhe exigido diversos documentos, inclusive atestado médico

certificando sua capacidade física e mental para o labor. Esse Certificado, inscrito

no Registro de Trabalho, será firmado por ele próprio e por seu representante legal,

sendo gratuita a sua concessão (art. 181 CM).

Os empregadores deverão ter livros de registro dos empregados

menores e dos aprendizes menores, livros esses que deverão ter as folhas

numeradas, seladas e rubricadas pela Direção Geral. Nos meses de janeiro e julho

devem enviar à Direção uma planilha correspondente ao semestre findo (arts. 182

CM e 123 CT).

O art. 119 do Código del Trabajo diz que menores de 15 anos não

podem trabalhar em nenhuma empresa, pública ou privada. Excetua o trabalho em

empresas familiares, desde que não perigoso para a vida, a saúde e a moralidade

57

dos menores, e o trabalho em escolas profissionais, sempre que realizado com fins

de aprendizagem e sob fiscalização da autoridade competente.

Os arts. 120 do CT e 185 do CM autorizam o trabalho de menores

entre 12 e 15 anos em ocupações agrícolas, desde que tenham completado a

instrução primária obrigatória,que possuam Certificado de Saúde, que as tarefas

sejam diurnas, não perigosas e nem insalubres, que haja autorização do

representante legal, que não trabalhem domingos e feriados e que não trabalhem

mais de 4 horas diárias e 24 horas semanais.

O Código del Menor, no art. 186 autoriza o Juiz de Menores deferir o

trabalho de menores que completaram 12 anos quando esse trabalho é indispensável

ao sustento do menor e de seus pais. Também será permitido o trabalho de

menores de 12 anos (art. 6 CM), exigidas as condições do art. 185. No caso do art.

185 CM se menor ainda estiver estudando, as horas diárias de trabalho serão

reduzidas a 2 horas, não podendo ultrapassar 7 horas o período dedicado ao estudo

e trabalho.

A falta de autorização exigida para o trabalho do menor não exonera o

empregador do cumprimento das obrigações decorrentes do Contrato de Trabalho

(art. 37 CT).

Os menores de 18 anos no período entre 20 horas e 5 horas (horário

noturno) não podem trabalhar (art. 189 CM). No entanto, o Código del Trabajo (art.

122) estabelece ser horário noturno o compreendido entre 22horas e 5 horas,

proibindo aos menores de 16 anos trabalho de 22 horas às 6 horas da manhã e aos

menores de 15 anos no período entre 20 horas e 8 horas da manhã (art. 119 CT).

Excetua o trabalho doméstico.

58

O art. 124 do Código del Trabajo concede autorização ao trabalho de

menores em domicílios particulares, devendo no entanto já ter completado 15 anos.

Seus contratos serão regidos pelo CT no que não contrariar o CM (art. 190 CM). A

retribuição de menor trabalhador doméstico compreende o pagamento em dinheiro,

os alimentos e a habitação (art. 192 CM).

O empregador doméstico de menor deve dar-lhe trato humano e justo,

alimento e habitação, em caso de doença proporcionar-lhe assistência médica,

conceder-lhe meios de comparecimento à escola, dar-lhe descanso de 10 horas

diárias sendo que 8 devem ser noturnas continuas e meio dia nos domingos, pelo

menos, depois de cada semana trabalhada. Deve ainda pagar-lhe pontualmente o

salário e conceder-lhe férias remuneradas consoante o estabelecido no CT (art. 193

CM).

O art. 126 do Código del Trabajo estabelece as férias anuais do menor

com duração não inferior a 20 dias úteis, de acordo com o previsto no Título Terceiro

do Livro Segundo do referido Código.

Os menores só podem trabalhar nos locais para os quais foram

contratados (arts. 194 CM e 124 CT) e seus contratos têm de obedecer estritamente

às normas protetoras do salário contidas no CT (art. 195 CM); haverá uma

estipulação de um mínimo inicial e uma escala progressiva em relação aos salários

recebidos por trabalhadores maiores de idade (arts. 196 CM e 125 CT). No entanto,

nem no CM nem no CT ficou determinado a quem caberá a incumbência de

estabelecer o mínimo inicial.

O salário mínimo fixado de acordo com o procedimento do Capítulo II

do Código del Trabajo (Livro Segundo – Das Condições Gerais do Trabalho) rege o

59

salário dos maiores de 18 anos. Conseqüentemente, dizem os autores dos

comentários ao CT (José Dario Cristaldo e José Kriskovich), o salário dos

menores está excluído da competência do Conselho Nacional de Salário Mínimo,

liberado, pois, para livre acordo entre as partes, sem limite de seu montante devendo,

no entanto, serem aumentados proporcionalmente.

O art. 121 do Código del Trabajo refere-se à jornada de trabalho do

menor de 18 anos que deve ser de 6 horas diárias e 36 semanais.

O Título III do CM trata, nos arts. 199 a 202 dos menores aprendizes,

menores de 18 anos, observando o art. 201 que empregador artesão, solteiro, viúvo,

ou separado, não pode ter aprendizes mulheres menores, se o contrato estabelecer

que a aprendiz deva permanecer morando no domicilio do mesmo. Também esse

art. refere-se à proibição de ter aprendiz o empregador que haja cometido delito

contra o pudor e a honestidade.

Cabe à Direção Geral de Proteção de Menores aprovar os

regulamentos, planos e programas necessários à instrução do menor aprendiz (art.

220 CM).

Quanto ao menor que trabalha independentemente serão aplicadas as

regras contidas nos arts. 185 a 189 do CM., sendo vedado, no entanto, o trabalho em

locais perigosos para a vida, a segurança e à moral (art. 213 CM).

O art. 211 do Código del Menor proíbe trabalho de menores de 12

anos em vendas e distribuição de mercadorias em lugares públicos, excetuando os

previstos no art. 186 (necessidade de seu próprio sustento e dos pais) e entre 12 15

anos com autorização do Juiz de Menores.

60

Os arts. 214 e 218 estabelecem sanções (multa pecuniárias) para o

descumprimento das normas contidas no CM.

c.4 – Uruguai

No Uruguai o menor para trabalhar deve possui a “Libreta de Trabajo”,

consoante o Consejo Del Nino, art. 236, devendo constar da mesma: dados

individuais do menor, consentimento do representante legal, dados médicos e

certificado de estudos.

A jornada dos menores era limitada em 6 horas diárias e 36 horas

semanais, podendo ser estendida para 8 horas diárias aos maiores de 16 anos (art.

230 C.N). Atualmente a jornada dos maiores de 16 anos é igual a dos adultos (8

horas).

A flexibilização do direito em matéria de jornada e descanso

intermediário é atribuída à necessidade de adaptação do regime de trabalho dos

menores ao dos adultos, pos entendem os uruguaios que um regime diferente diminui

as possibilidades de emprego. Até os 16 anos é o obrigatório o descanso aos

domingo se entre 16 e 18 anos em qualquer dia (art. 230 C.N.).

Presume-se autorizado o menor para contratar face o consentimento

na Libreta.

O Código Civil outorga ao menor o direito de administrar seu pecúlio

profissional ou industrial (arts. 266 e 267) e o Consejo del Niño (arts. 249 a 251) dá a

61

ele a exclusividade sua administração. Se o menor é pródigo, os representantes

legais podem recorrer ao INAME.

A Constituição Uruguaia contém uma referência muito genérica sobre

o trabalho do menor, remetendo à lei a regulamentação do mesmo (art. 54).

Os pais sempre retêm o poder de opor-se a Contrato de Trabalho

nocivo ao menor (art. 233 C.N).

É obrigatório o ensino primário e o agrário ou o industrial (art. 70 C.).

Através do Decreto-Lei nº 8950 de 05.04.33 o Uruguai ratificou as

Convenções da OIT de números: 5 – idade mínima indústria; 6 – trabalho noturno

indústria; 7 – idade mínima marítima; 10 – idade mínima agricultura; 15 – idade

mínima navegação marítima; 16 – trabalho marítimo exame médico e 33 – idade

mínima industria.

Pela Lei 12.030 de 27.11.53 ratificou as Convenções números: 58 R –

idade mínima trabalho marítimo: 59 – idade mínima indústria; 60 R – idade mínima

não indústria; 77 – trabalho na indústria exame médico; 78 – trabalho não indústria –

exame médico; 79 – trabalho noturno e 90 R – trabalho noturno na indústria.

Pela Lei 14.144 de 03.04.73 ratificou a Convenção 123 – idade

mínima subsolo e pelo Decreto-Lei 14.567 de 30.08.76, ratificou a Convenção 138 –

idade mínima.

Portanto, as condições de admissibilidade de menores no mercado de

trabalho obedecem, quanto à idade mínima, o estabelecido na Convenção 138 da

OIT – 15 anos e no Consejo del Nino – Capítulo XVII admite, no entanto, o trabalho

em empresas aos 14 anos,sob condição (formação profissional). Essa formação

62

pode ocorrer ainda em escolas de ensino geral, ensino profissional ou ensino técnico

(OIT 138).

Conforme ainda a referida Convenção admite-se o trabalho entre 13 e

15 anos condicionados e permitidos individualmente. O C.N. (art. 121), proibe a

menor de 18 anos trabalhos que prejudiquem a saúde, a moral e a vida, cabendo ao

INAME (Dec. 851/71 – art. 2) controlar e proibir.

O C.N. (art. 244) defere o trabalho noturno após 21 anos, sendo que

entre 16 e 18 anos só pode o menor contratar com autorização administrativa. Em

seu art. 246 defere o trabalho aos 16 anos em circo quando pai e mãe ai trabalharem.

Como ator teatral, com permissão individual da autoridade competente, pode o menor

homem trabalhar após 16 anos e a mulher menor somente após os 18 anos (C.N.

art. 241).

Proibido o trabalho insalubre antes dos 21 anos (Lei 11.557, art. 14).

Quanto às férias para o menor segue o Uruguai o regime geral de

todos os trabalhadores e quanto ao salário, se o trabalho é igual ao do adulto,o

salário também o será (C. art. 54 e Dec. 287/80 art.4), podendo entretanto, em

situação especial haver graduação salarial (Lei 10.449 – art. 16).

Quanto à violação dos requisitos de admissão do menor, a nulidade é

ex nunc e deve o empregador pagar indenização (C.art. 54).

C.5 – Brasil

“O trabalho do menor no Brasil tem sido, ao

longo do tempo, mais objeto do noticiário

63

policial. Transmitem-se informações do uso de

menores no tráfico de drogas, nos furtos,da

ausência de proteção da sociedade e dos

governos e o dia-a-dia do abandono nas ruas.

..............................................................................

As constatações de abandono e exploração do

menor já foram objeto de muitos estudos

sociológicos e estatísticos levando sempre a

uma conclusão trágica de abandono e abuso”.

(Luiz Eduardo Gunther Juiz do Trabalho do

TRT/PR – in Reflexões Sobre o Trabalho do

Menor).

A questão relacionada ao menor ainda se encontra longe de solução

adequada, apesar de existirem normas protetoras muito avançadas em nível

internacional.

O desempregado crescente mundial faz com que o menor submeta-se

a trabalho para ajudar na subsistência da economia familiar.

O trabalho de menores no Brasil, após a Constituição de 1891, foi

sucessivamente regulado pelo Decreto 1.313/1891 e Código de Proteção e

Assistência a Menores, Decreto 17.943/27, constituindo hoje, ao lado da

regulamentação do trabalho de mulheres, normas integrantes da CLT (arts. 372 a

441).

64

Desde a sua criação a OIT vem lutando contra a exploração da

criança no trabalho. A Convenção 138, sobre a idade mínima pra admissão no

emprego, entrou em vigor em 19.07.76, ratificada por mais de 40 países-membros,

entre os quais 12 dos países considerados “em desenvolvimento”.

O Brasil ainda não formalizou sua adesão a esse instrumento. No

entanto, na elaboração do Estatuto da Criança e do Adolescente a Convenção foi um

dos instrumentos da normatividade internacional tomada como referência básica na

redação do seu texto.

Segundo Wilson Vieira Martins, Diretor da OIT para o Brasil (1994)

esta decidiu proceder ao registro e à divulgação do processo de elaboração da Lei

8.069/90 por considerá-la em exemplo de luta pelos direitos da criança.

“O Estatuto, ao promover mudanças de

conteúdo, método e gestão no panorama legal e

nas políticas públicas que tratam do problema

do trabalho infantil, está, de fato,dando uma

extraordinária demonstração de criatividade

institucional e comunitária, criando, ao lado da

legislação trabalhista e de seu aparato

institucional de implementação, um novo

mecanismo geral de proteção das crianças e

adolescentes, em relação ao trabalho”.

A exploração da mão de obra infantil faz parte, a longos anos, do

nosso quadro de mazelas sociais. Não só nas cidades como na indústria e,

principalmente, no campo, a presença de crianças trabalhadoras sempre foi

65

encarada com naturalidade. Com essa mentalidade, surgiram milhares de

programas voltados para a geração de renda por parte das crianças mais pobres.

Note-se que inexiste nesses programas, uma preocupação com a

escolaridade, apenas procuram eles humanizar as condições de trabalho dos

menores.

Se tivéssemos todas as crianças nas escolas,certamente não seriam

necessários tantos programas de atendimentos a meninos e meninas de rua e nas

comunidades carentes. Esses programas para evitar, hoje, a colisão com o ECA,

deverão funcionar como satélites da escola, direcionando para ela todas as crianças,

pois a educação escolar é direito fundamental da criança (C.F. art. 227).

O trabalho infantil ocasiona o afastamento das crianças do seu

ambiente familiar, além de, com a falta de escolarização prematura, inviabilizar o

menor como futuro cidadão perfeitamente integrado ao nosso contexto social.

Grande parte das crianças e adolescentes que abandonam

precocemente a escola e, muitas vezes, nem chegam nela a ingressar, para

participar da sobrevivência familiar, acabam fazendo das ruas seu espaço de luta

pela vida e inclusive de moradia.

Entre os programas existentes, anteriores ao ECA, podemos citar: a

Frente Nacional de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente; a Pastoral do

Menor da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil; o Movimento Nacional Meninos

e Meninas de Rua e a Comissão Nacional Criança e Constituinte.

Forças se uniram em torno do ECA para sua elaboração. Dentre

elas podemos destacar: o mundo jurídico (representado por juizes, promotores de

justiça, advogados e professores de Direito), as políticas públicas (representadas por

66

assessores progressistas da Funabem e por dirigentes e técnicos estaduais reunidos

no Fórum Nacional de Dirigentes Estaduais para a Criança e o Adolescente –

Fonacriad) e o movimento social (representado pelo Fórum DCA e por um

considerável grupo de entidades não governamentais como a OAB; a Sociedade

Brasileira de Pediatria e a Associação de Fabricantes de Brinquedos).

Atualmente, obedece o trabalho do menor no Brasil à seguinte

legislação:

Constituição Federal de 05.10.88

Consolidação das Leis do Trabalho – Decreto Lei 5.452 de 01.05.43

Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei 8.069 de 13.08.90

Decreto 64.618/69 – Veda a profissão de pescador profissional aos menores de 18

anos, salvo nas condições de aprendizes, quando só poderão

ser embarcados menores acima de 14 anos (art. 1° § único);

Lei 6.224/75 - Veda o exercício da profissão de propagandista e vendedor de

produtos farmacêuticos a menores de 18 anos (art. 3);

Lei 5.354/76 - Dispõe sobre as relações de trabalho de atleta profissional de

futebol (art. 5).

A Constituição Federal, no seu art. 7 – Inc. XXXIII,veda aos menores

de 14 anos qualquer espécie de trabalho, exceto quando em aprendizagem e aos

menores, sem exceções, trabalhos perigosos, insalubres e em horário noturnos.

Consoante alguns doutrinadores, o ECA estabeleceu uma espécie de

trabalho a menor entre 12 e 14 anos,sem vínculo empregatício, como aprendiz, de

acordo com o programa registrado no Conselho Municipal dos Direitos da Criança e

do Adolescente (art. 60).

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Qualquer tipo de trabalho eventual, temporário, a pequena

empreitada, são proibidos ao menor de 14 anos,não só nas atividades rurais como

urbanas.

Podemos ainda observar a existência de trabalho de menor entre 14 e

18 anos, sem vínculo empregatício, nos termos do art. 68 do ECA e trabalho com

vínculo empregatício nos termos do Título III da CLT, arts. 402 a 423 e 434 a 439;

como aprendiz, nos termos dos arts. 429 a 433 da CLT, ou seja, matriculado

obrigatoriamente no SENAI, SENAC e SENAR, e, finalmente, como aprendiz, nos

termos do art. 62 e 65 do ECA, cuja formação técnico-profissional é ministrada

segundo diretrizes e bases da legislação de educação em vigor.

Tanto o art. 404 da CLT como o art. 67, I do ECA, seguindo o art. 7,

XXXIII da C.F., vedam o trabalho noturno, compreendido este o realizado entre às 22

horas de um dia às 5 horas da manhã do dia seguinte.

O art. 67, II do ECA veda o trabalho perigoso,sem no entanto defini-

lo. Pode-se encontra a definição no art. 405 § 5º da CLT, onde é proibido ao menor

carregar peso superior a 20 ou 25 Kg,conforme se trate de trabalho continuo ou

eventual, respectivamente.

Vedado, ainda, ao adolescente o trabalho “realizado em locais

prejudiciais à sua formação e ao seu desenvolvimento físico, psíquico, moral e

social”. Correspondente a esse art. temos a CLT, art. 403 § único, alínea b,

assimilada às questões referentes a moralidade contidas nos arts. 405 §§2º e 4º e

406 a 408, por não incompatíveis com o ECA.

O art. 67. IV do Estatuto proíbe o trabalho de menor entre 14 e 18

anos quando “realizado em horários e locais que não permitam a freqüência à

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escola”. Esse art. derrogou a alínea a do § único do art. 403 da CLT, mas manteve

integro o caput do art. 427 da CLT.

Essas condições são extensíveis ao trabalho do menor ainda que

realizado em “regime familiar” caput do art. 67 ECA, entendendo os doutrinadores ter

sido revogado o § único do art. 402 da CLT.

A jornada de trabalho do menor é a estabelecida no art. 7 inc. XIII da

C.F. e no art. 411 da CLT – 8 horas por dia 44 horas semanais – com restrições

estabelecidas nos arts. 412 e 413 da CLT, onde se permite a prorrogação até 2 horas

diárias, mediante acordo ou Convenção Coletiva, com finalidade da adoção da

semana inglesa, mediante exame médico prévio; pode ainda o menor ter prorrogado

o trabalho por motivo de força maior, quando então perceberá adicional de 50% (C.F.

art. 7 inc. XVI).

A Carteira de Trabalho é documento igual para todos os

trabalhadores, maiores ou menores, inclusive rurais (CLT art. 13).

Pode ele contratar, por se presumir autorizado, vez que teve

autorização para pleitear e receber a Carteira. No entanto, para trabalho artísticos

deverá ter autorização do Juiz de Menores (CLT art. 405 § 3º - letra a/b).

No entanto,pode o responsável promover a extinção do contrato

quando o serviço for prejudicial ao menor (art. 408 CLT), assim como pode o Juiz de

Menores obrigá-lo a abandonar o serviço, quando o mesmo se revelar prejudicial ao

desempenho físico e moral (art. 407 CLT).

Quando da rescisão, só poderá o menor dar quitação com a assistência

do responsável (art. 439 CLT), podendo, no entanto, firmar recibos.

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O menor não pode ter as férias fracionadas (§ 2º art. 134 CLT),

devendo as mesmas coincidirem com as férias escolares (§ 2º art. 136 CLT).

O art. 424 CLT refere-se aos deveres dos responsáveis legais quanto

aos empregados que reduzam o tempo de repouso e prejudiquem a educação e art.

425 CLT determina aos empregadores de menores a observância dos bons costumes

e da essência pública.

O ECA diferencia a aprendizagem. Para o adolescente aprendiz de

14 a 18 anos são assegurados “todos os direitos trabalhistas e previdenciários” (art.

65) ao aprendiz de 12 a 14 anos é assegurada apenas “bolsa de aprendizagem” (art.

64). Ante a vedação constitucional quanto ao trabalho de menores de 14 anos, têm-

se que, consoante inúmeros doutrinadores o aprendizado do menor entre 12 e 14

anos não pode ser desenvolvido no trabalho. Há nesse período uma pré-

aprendizagem, conforme entendimento de Hoddock Lobo e Prado Leite.

A CLT, em seu art. 431, exige do candidato a aprendiz a idade mínima

de 14 anos, além dos seguintes requisitos:

a – ter concluído o primeiro grau ou possuir os conhecimentos mínimos e essenciais à

preparação profissional;

b – ter aptidão física e mental verificada por processo de seleção profissional, para a

atividade que pretende exerce;

c – não sofrer de moléstia contagiosa e ser vacinado contra varíola.

Mantendo vinculo empregatício com o empregador, fará jus às férias,

sendo também passível de penalidade, inclusive dispensa com justa causa, caso não

freqüente o curso de aprendizagem (CLT art. 432).

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O art. 429 da CLT obriga os estabelecimentos industriais de qualquer

natureza empregar e matricular nos cursos ministrados no SENAI um número de

aprendizes equivalente a 5%, no mínimo e 15%, no máximo, dos operários existentes

em cada estabelecimento e cujos ofícios demandem formação profissional.

O contrato de aprendizagem não terá validade se o tempo

estabelecido para a duração do aprendizado ultrapassar o limite determinado pelo

Ministério do Trabalho.

O aprendiz entre 14 e 18 anos pode perceber metade do salário

mínimo durante a primeira metade do aprendizado e pelo restante do prazo de 2/3 do

salário mínimo (art. 80 CLT). Caso haja mascaramento da relação de trabalho, o

salário é integral.

O empregador deve conceder ao menor o tempo necessário para a

freqüência às aulas (art. 427 CLT).

Os arts. 434 a 438 da CLT tratam das penalidades aplicadas ao

empregador (art.s 435), ao médico (art. 436)e ao responsável legal (art. 437)pelas

infrações cometidas quanto às disposições do capítulo IV – Da Proteção ao Trabalho

do Menor.

Contra os menores de 18 anos não corre nenhum prazo de prescrição

(art. 440 CLT).

Apesar de toda essa legislação protetora, reportagem bem recente no

Jornal Nacional de 05.11.97 da Rede Globo de Televisão, nos mostrou menores

trabalhando sem carteira assinada, sem qualquer proteção à saúde (máscara, luva,

sapatos, etc...), em máquinas perigosas, nas empresas de móveis de Ubá, MG.

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Uma menina, quando entrevistada, disse que trabalha porque precisa

pagar o aluguel. Josiane, outra menor entrevistada, respira serragem 8 horas por dia

e Tiago, sem luvas, se cortou. Cláudio, 10 anos, para ficar lixando madeira, percebe

por mês R$ 25,00 e a avó de Gleuber acha normal ele trabalhar, alegando que ele só

vai após a escola.

“No senso comum dos brasileiros, quando nos

deparamos com uma criança em estado de

necessidade, em razão da incapacidade dos pais

de mantê-la, a primeira idéia que nos chega à

mente é que ela deve ser posta imediatamente

para trabalhar, para ajudar a família e evitar seu

ingresso na marginalidade. São muito raros,

ainda entre nós aqueles que pensam que a

primeira ação deveria ser a orientação e o apoio

à família, para que pudesse ter acesso a uma

renda mínima, que lhe permitisse manter junto a

si, e educar, suas crianças. Raros são também

os que pensam que lugar de criança pobre é

também na escola e não no trabalho.

Essa mentalidade “naturalizou” o trabalho

infantil na população de mais baixa renda. Ele é

como o sol, a chuva, o frio e o calor. Faz parte

da ordem natural das coisas. “A lei do pobre é

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o trabalho”, afirma, com toda sinceridade e

convicção, um atravessador de mão de obra nos

canaviais de Campos, RJ.” (Antônio Gomes da

Costa – O ECA e o Trabalho Infantil).

O empresário dono da fábrica citada na reportagem acima referida,

quando inquirido pelo repórter, teve a ousadia de dizer que emprega adolescentes e

crianças porque seus salários são a metade dos salários dos profissionais adultos.

Até quando nós, ditos seres humanos, continuaremos a ser

tão desumanos com os menores?

4 – CONCLUSÃO

A INTEGRAÇÃO REGIONAL – MERCOSUL – E O MENOR

Em 26.03.91, a Argentina, o Paraguai,o Uruguai e o Brasil firmaram,

em Assunção, o Tratado para Constituição do Mercado Comum do Sul, que sendo

rapidamente ratificado teve a vigência iniciada no mesmo ano.

A integração regional total não será alcançada senão depois de muita

maturação. Após o estágio inicial da Zona de Livre Comércio, quando os países

concordam em eliminar e reduzir as barreiras alfandegárias, segue-se a União

Aduaneira, quando é estabelecida uma Tarifa Externa Comum. Como terceiro

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estágio, temos o Mercado Comum, que elimina as restrições aos fatores de produção:

capital e trabalho.

Nesse ultimo estágio, um profissional brasileiro poderá trabalhar num

pais-membro adaptando-se às mesmas regras jurídico-trabalhistas de seus colegas

nacionais.

Para formulação de um pensamento jurídico para o MERCOSUL

várias entidades vêm estudando as bases desse grande acordo.

O Primeiro Congresso de Magistrados do MERCOSUL, promovido

pela Associação de Magistrados Brasileiro – AMB, realizado em Florianópolis, SC,

teve como resultado a elaboração da Carta de Florianópolis, que recomenda, entre

outras, a criação de um Tribunal de Justiça Supra-Nacional; a criação de uma escola

itinerante de capacitação e a harmonização do Direito do Trabalho com o Direito

Comunitário, visando sua flexibilização na esfera do acordo.

Podemos tomar como base, para a futura criação de um Tribunal de

Justiça para o MERCOSUL a experiência da União Européia nas questões jurídicas

internacionais.

A Corte de Justiça das Comunidades Européias verificou, desde o

início que o Direito Comunitário escrito comportava uma grande lacuna. Não

existiam quaisquer disposições sobre a proteção aos direitos fundamentais.

A lacuna foi preenchida pela jurisprudência da Corte, inspirada nas

tradições constitucionais dos Estados-membros e na Convenção Européia para a

Salvaguarda dos Direitos do Homem.

Reconheceu a Corte, na ausência de uma norma escrita, o direito de

propriedade e de livre exercício da profissão,o direito a um processo eqüitativo, o

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direito de defesa e a inviolabilidade do domicilio, sem esquecer a igualdade de

tratamento que já estava prevista no Tratado de Maastricht (Tratado esse negociado

e concluído segundo as regras de Direito Internacional).

O velho continente parece evoluir na direção das questões sociais.

Com um desemprego acima de 12%, a média do pensamento europeu não se inclina

mais para uma abertura irracional de mercado, com trocas, muita das vezes,

prejudiciais aos mercados nacionais. A chamada “onde rosa” resultante da vitória do

trabalhismo inglês de Tony Blair e o socialismo de Jostin, na França, refletem a

insubordinação aos ditames da globalização,com novos rumos para a União

Européia, cujos reflexos serão sentidos por nós.

A queda de fronteiras e a formação de blocos regionais poderão impor

alguns golpes na nacionalidade dos países, fazendo com tenham que se adaptar aos

novos tempos.

Atualmente no MERCOSUL vigora o Sistema Arbitral de Solução de

Controvérsias (Decreto de Promulgação nº 922 de 10.10.93).

Juizes de Menores dos países do MERCOSUL também irão se reunir

em maio de 1998, a fim de debaterem a situação dos menores frente à nova

realidade.

O Brasil, líder do MERCOSUL, prudentemente, estuda as diferenças

sócio-culturais e econômicas, para só a partir do ano 2005, instruir um procedimento

geral.

A greve havida na França, por ocasião do anúncio da Renault de que

fecharia a unidade fabril localizada na Bélgica, tendo as manifestações estindido-se a

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partir de Paris, envolvendo metalúrgicos de quase todos os Estados-membros leva-

nos a refletir sobre a nossa situação frente ao MERCOSUL.

As legislações dos países componentes do MERCOSUL demonstram

que todos procuram proteger menores entre 14/15 anos e 18 anos quanto ao trabalho

e a aprendizagem, não só a tradicional como a técnica.

Apesar dessa legislação protecionista, vamos encontrar no Brasil;

assim como nos outros três paises-membros, menores trabalhado desde a mais tenra

idade (8 anos) por necessidade de subsistência, em sua grande maioria.

Tanto isso é fato notório que a OIT e a UNICEF pretendem cobrar dos

governos desses países, como dos demais da América Latina, programas

educacionais para as áreas de alta concentração de trabalhos de menores, tendo

sido esse o tema da Consulta Regional Latino-Americana e Caribenha sobre o

Trabalho Infantil, que serviu de base para a Conferência Mundial sobre o Trabalho

Infantil, realizada no período de 27 a 30 de outubro de 1997 em Oslo, Noruega.

A realidade mundial é que menores, nas mais tenras idades, sempre

estiveram engajados na força de trabalho, desde as mais remotas eras, não só em

decorrência de baixos salários dos pais como do desemprego.

O ideal é uma legislação que una quatro países numa efetiva

proteção de exploração de mão de obra infanto-juvenil, com o aproveitamento do que

há de melhor na normatividade de cada país.

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B I B L I O G R A F I A

- Barbagelara, Hector Hugo – Derecho del Trabajo – Montevideo Uruguay

- Conturier, Gerard – Droit du Travail

- Costa Antônio Gomes da – O Estatuto da Criança e do Adolescente e o

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- Cristaldo, Jorge Dario e Kristovich, José – Código del Trabajo – Assuncion

Paraguay.

- Gomes, Orlando e Gottschalk, Élson – Curso de Direito do Trabalho – 1995

- Jornal “O Dia” – 02.08.97 e 19.10.97.

- Jornal “O Globo” – 19.19.97 e 20.10.97

- Jurisprudência Trabalhista – Trabalho do Menor – nº 47.

- Madrid, Juan Carlos Fernandez e Caubet, Amdanda Beatriza – Leyes

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- Moraes, Antônio Carlos Flores de – Trabalho do Adolescente – Proteção e

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- Moraes, Evaristo – Apontamentos de Direito Operário – Edição Comemorativa do

Centenário do Autor – 1971.

- Moraes Filho,Evaristo e Moraes, Antônio Carlos Flores de – Introdução ao

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- Nascimento, Amauri Mascaro do, - Curso de Direito do Trabalho 1984.

- Olea, Manoel Alonso – Introdução ao Direito do Trabalho.

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77

- Revistas Isto é nº 1439 – 30.04.97

- Rivero, Jean e Savatier, Jean – Droit du Travali

- Santos, Aluisio – O Pensamento Social da Igreja e o Trabalho Humano 1983.

- Sasian, Beatriz Crespi – Trabajo de Menores – El Derecho Laboral Del Mercosur

Contratacion Laboral.

- Souza, Zoraide Amaral de – A Associação Sindical no Sistema das Liberdades

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- Sussekind, Arnaldo; Maranhão, Délio; Vianna, Segadas e Teixeira, Lima –

Instituições de Direito do Trabalho - 1997