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INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA
ESCOLA NACIONAL DE CIÊNCIAS ESTATÍSTICAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO POPULAÇÃO,
TERRITÓRIO E ESTATÍSTICAS PÚBLICAS
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Formas de mensuração de acesso à internet no Brasil e no mundo por
diferentes pesquisas domiciliares
Marcus André Alves Zimmermann Vieira
Rio de Janeiro, RJ Fevereiro/2020
iii
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA
ESCOLA NACIONAL DE CIÊNCIAS ESTATÍSTICAS
Formas de mensuração de acesso à internet no Brasil e no mundo por
diferentes pesquisas domiciliares
Marcus André Alves Zimmermann Vieira
Dissertação de Mestrado
Apresentado ao Programa de Pós-Graduação em População,
Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências
Estatísticas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística como
requisito parcial para obtenção do título de
Mestre em População, Território e Estatísticas Públicas
Rio de Janeiro, RJ Fevereiro/2020
iv
Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial desse trabalho, por parte da Escola Nacional de Ciências Estatísticas, através dos seus recursos eletrônicos, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.
Copyright
por
Marcus André Alves Zimmermann Vieira
2020
V658f Vieira, Marcus André Alves Zimmermann Formas de mensuração de acesso à internet no Brasil e no mundo por diferentes pesquisas domiciliares / Marcus André Alves Zimmermann Vieira. - Rio de Janeiro, 2020. 169 f. Inclui referências, apêndice e anexos. Orientador: Prof. Dr. Denise Britz do Nascimento Silva. Dissertação (Mestrado em População, Território e Estatísticas Públicas) – Escola Nacional de Ciências Estatísticas. 1. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – Brasil – Acesso à Internet - Teses. I. Acesso à Internet – Pesquisa – Teses. I. Silva, Denise Britz do Nascimento. II. Escola Nacional de Ciências Estatísticas. III. BGE. IV. Título. CDU: 314.6(81):681.324
v
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA
ESCOLA NACIONAL DE CIÊNCIAS ESTATÍSTICAS
Marcus André Alves Zimmermann Vieira
Formas de mensuração de acesso à internet no Brasil e no mundo por
diferentes pesquisas domiciliares
Dissertação entregue ao Programa de Pós-Graduação em População, Território e
Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre.
Denise Britz do Nascimento Silva Orientadora - ENCE/IBGE
Ana Carolina Soares Bertho ENCE/IBGE
Maria Tereza Serrano Barbosa UNIRIO
Rio de Janeiro, 27 de Fevereiro de 2020
vi
DEDICATÓRIA
Dedico esse trabalho a toda a minha família, minha base em tudo, e, em especial, aos meus padrinhos Jairo Luiz de Sant’Anna e Amazonina Vieira de Sant’Anna e meus
avós Daura da Silva Alves e José Porfírio Alves, que infelizmente não estão nesse plano comigo, mas que certamente torcem por mim de onde eles estejam.
vii
AGRADECIMENTOS
Primeiramente, gostaria de agradecer a Deus, pois com ele tudo é possível. Em segundo, à ENCE, uma instituição incrível que me acolheu de forma única e me proporcionou um aprendizado e uma base que me permitiram realizar o presente trabalho. Em terceiro, a Synval Vieira Filho, Isabel Cristina da Silva Louzada Vieira e Monique Vieira, que abriram seus lares diversas vezes, me acolhendo por tanto tempo no período inicial da minha jornada na pós-graduação e pontualmente em outras oportunidades, o que me permitiu conciliar trabalho e estudo. Em quarto, à minha orientadora Denise Britz do Nascimento Silva, que aceitou caminhar ao meu lado com uma orientação muito participativa deste projeto. Em quinto, ao CETIC.br e Marcelo Pitta, gestor nesta organização, que trouxeram a problemática questão da mensuração do acesso à internet no Brasil e no mundo. E em sexto, às minhas chefes Ana Maria Barsante Papadopoulos e Luciana Freire Murgel, que me deram muito apoio durante essa jornada e me possibilitaram a difícil missão de conciliar trabalho e estudos. E em sétimo, à minha colega de curso Karollayne Madonna Louise e Silva que deu toda uma assistência no uso do R no penúltimo capítulo da minha dissertação.
viii
RESUMO DO PROJETO
Formas de mensuração de acesso à internet no Brasil e no mundo por
diferentes pesquisas domiciliares
Marcus André Alves Zimmermann Vieira
Escola Nacional de Ciências Estatísticas, IBGE, 2020
Orientadora: Denise Britz do Nascimento Silva
Estatísticas públicas referem-se à informação estatística de interesse para a sociedade, produzidas com rigor técnico e científico, de forma estruturada e com ampla divulgação. Em geral, estatísticas públicas podem ser obtidas principalmente de duas formas: por registros administrativos ou a partir de pesquisas amostrais e censos, como é o caso de pesquisas domiciliares. O objetivo da dissertação é investigar formas de mensurar indicadores referentes ao acesso à internet, considerando a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC) e a TIC Domicílios, ambas pesquisas domiciliares realizadas no Brasil, comparando métodos, conceitos, definições e resultados com os utilizados e produzidos por outros países. Para essa análise, são comparados os questionários das pesquisas, explicitando os fluxos lógicos, a organização das perguntas e as respectivas unidades de referência da informação. Destaca-se também a questão referente à definição operacional do acesso à internet: serviço móvel individual ou serviço de utilidade ao domicílio. O IBGE adota a definição de serviço móvel individual, pois se pelo menos um morador tiver o serviço disponível, o domicílio é classificado na PNADC como tendo acesso à internet. Já a TIC Domicílios capta o acesso à internet como um serviço de utilidade ao domicílio, disponível para todo e qualquer de seus moradores. Diante das divergências das estimativas sobre acesso à internet nas duas fontes, a dissertação calcula indicadores visando à compatibilização dos resultados das pesquisas. Palavras-chave: Acesso à internet. Qualidade de dados. Pesquisas domiciliares. Questionários.
ix
ABSTRACT
Ways of measuring internet access in Brazil and the world by different
household surveys
Marcus André Alves Zimmermann Vieira
Escola Nacional de Ciências Estatísticas, IBGE, 2020
Advisor: Denise Britz do Nascimento Silva
OR official statistics refer to statistical information of interest for society, produced with technical and scientific rigor, in a structured way and with wide dissemination. In general, OR official statistics can be obtained mainly in two ways: through administrative records or from sample surveys and censuses, as is the case of household surveys. The objective of the dissertation is to investigate ways to measure indicators related for internet access, considering the Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC) and the TIC Domicílios, both household surveys conducted in Brazil, comparing methods, concepts, definitions and results with the used and produced by another countries. For this analysis, the survey questionnaires are compared, explaining the logical flows, the organization of the questions and the respective reference units of the information. Also noteworthy is the issue regarding the operational definition of internet access: individual mobile service or utility service at household. IBGE adopts the definition of individual mobile service, since if at least one resident has the service available, the household is classified in the PNADC as having access to the internet. Already, TIC Domicílios captures internet access as a utility service at home, available to any and all of its residents. In view of the divergences in the estimates on internet access in the two sources, the dissertation calculates indicators aiming to make the research results compatible. Keywords: Internet access. Data quality. Household surveys. Questionnaires.
x
SUMÁRIO
Lista de Gráficos ........................................................................................... xii
Lista de Quadros .......................................................................................... xvi
Lista de Ilustrações ..........................................................................................xvii
Lista de Abreviaturas e Siglas .............................................................................. xviii
Capítulo 1: Introdução ............................................................................................. 1
1.1. Justificativa do tema ........................................................................................ 1
1.2. Objetivos geral e específicos ........................................................................... 6
Capítulo 2: A sociedade da informação e sua mensuração .................................... 8
Capítulo 3: Pesquisas domiciliares sobre TIC no Brasil ......................................... 22
3.1. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC) ................ 23
3.1.1. Fluxo lógico do questionário da PNADC de acordo com a unidade de referência domicílio ......................................................................... 24
3.1.2. Fluxo lógico do questionário da PNADC de acordo com a unidade de referência pessoa ............................................................................. 28
3.2. Tecnologia da Informação e Comunicação nos Domicílios (TIC Domicílios) .. 35
3.2.1. Fluxo lógico do questionário da TIC Domicílios de acordo com a unidade de referência domicílio ......................................................................... 36
3.2.2. Fluxo lógico do questionário da TIC Domicílios de acordo com a unidade de referência pessoa ............................................................................. 43
3.3. Comparação entre as pesquisas brasileiras ................................................... 58
Capítulo 4: Mensuração do acesso e uso da internet em pesquisas domiciliares sobre TIC no mundo ......................................................................... 73
4.1. União Europeia ........................................................................................... 78
4.2. África ........................................................................................... 82
4.3. Japão ........................................................................................... 85
4.4. Austrália ........................................................................................... 87
xi
4.5. México ........................................................................................... 88
4.6. Canadá ........................................................................................... 90
4.7. Estados Unidos ........................................................................................... 92
4.8. Comparativo dos países selecionados em relação às pesquisas brasileiras .. 93
Capítulo 5: Comparabilidade e compatibilização de dados entre pesquisas brasileiras ......................................................................................... 97
Capítulo 6: Conclusões ........................................................................................ 103
Referências bibliográficas .................................................................................... 107
Glossário ......................................................................................... 111
Apêndice ......................................................................................... 115
Anexo I – Questionário da PNADC (Módulo Habitação) ..................................... 117
Anexo II – Questionário da PNADC (suplemento especial 07 sobre TIC) ............ 123
Anexo III – Questionário da TIC Domicílios ......................................................... 126
xii
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 2.1: Percentual de pessoas com telefone celular no mundo no período 2005-2019 ........................................................................................ 14
Gráfico 2.2: Percentual de habitantes com banda larga móvel no mundo no período 2007-2019 ........................................................................................ 15
Gráfico 2.3: Proporção de habitantes com banda larga fixa no mundo no período 2005-2019 ........................................................................................ 16
Gráfico 2.4: Proporção da população coberta por pelo menos uma rede móvel LTE/WiMAX (4G) no mundo no período 2015-2019 ........................ 17
Gráfico 2.5: Proporção de domicílios com computador no mundo no período 2005-2019 ........................................................................................... 18
Gráfico 2.6: Proporção de domicílios com acesso à internet no mundo no período 2005-2019 ........................................................................................ 19
Gráfico 2.7: Proporção de indivíduos que usam a internet no mundo no período 2005-2019 ........................................................................................ 20
Gráfico 3.1: Proporção de pessoas que usam a internet segundo dispositivo utilizado no Brasil em 2017 .............................................................. 31
Gráfico 3.2: Proporção de usuários de internet segundo atividades realizadas no Brasil em 2017 .................................................................................. 32
Gráfico 3.3: Proporção de pessoas com 10 anos ou mais que não acessaram à internet segundo motivo de não uso no Brasil em 2017 ................. 33
Gráfico 3.4: Proporção de pessoas que não possuem celular segundo motivo para não ter celular no Brasil em 2017 .................................................... 34
Gráfico 3.5: Proporção de domicílios sem acesso à internet segundo motivação para falta de acesso no Brasil em 2017 ............................................ 40
Gráfico 3.6: Proporção de pessoas que não usam a internet segundo barreiras de utilização no Brasil em 2017 ............................................................ 46
Gráfico 3.7: Proporção de pessoas que usam a internet segundo histórico de utilização no Brasil em 2017 ............................................................ 47
Gráfico 3.8: Proporção de usuários de internet segundo dispositivo utilizado no Brasil em 2017 .................................................................................. 49
xiii
Gráfico 3.9: Proporção de pessoas que utilizam computador segundo histórico de uso no Brasil em 2017 ...................................................................... 51
Gráfico 3.10: Proporção de pessoas e domicílios segundo tipo de conexão à internet por pesquisa no Brasil em 2017 ......................................... 64
Gráfico 3.11: Atividades realizadas com acesso à internet no Brasil em 2017 ..... 67
Gráfico 4.1: Proporção de domicílios com acesso e de usuários de internet segundo diferentes regiões do mundo em 2017 ............................................ 73
Gráfico 4.2: Distribuição da proporção de usuários na população de 207 países em 2017 ........................................................................................... 75
xiv
LISTA DE TABELAS
Tabela 3.1: Proporção de domicílios com acesso à internet segundo equipamento utilizado no Brasil em 2017 .............................................................. 27
Tabela 3.2: Proporção de domicílios com acesso à internet segundo tipo de conexão no Brasil em 2017 .............................................................. 41
Tabela 3.3: Proporção de usuários de internet segundo frequência de utilização no Brasil em 2017 .................................................................................. 48
Tabela 3.4: Proporção de usuários de internet segundo local de utilização por tipo de resposta no Brasil em 2017 ......................................................... 50
Tabela 3.5: Proporção de usuários de microcomputador segundo atividades realizadas com o computador no Brasil em 2017 ............................ 53
Tabela 3.6: Proporção de pessoas que usam celular segundo atividades realizadas no mesmo no Brasil em 2017 ........................................................... 56
Tabela 3.7: Proporção de domicílios com acesso à internet e usuários da mesma por pesquisa no Brasil em 2017 ....................................................... 59
Tabela 3.8: Proporção de domicílios e pessoas segundo a posse de determinados equipamentos por pesquisa no Brasil em 2017 ............................... 62
Tabela 3.9: Proporção de pessoas que não utilizam a internet segundo barreiras de uso por pesquisa no Brasil em 2017 ................................................ 69
Tabela 4.1: Proporção de usuários de internet segundo países do primeiro quartil em 2017 ........................................................................................... 76
Tabela 4.2: Proporção de usuários de internet segundo países do grupo intermediário em 2017 .................................................................... 77
Tabela 4.3: Proporção de usuários de internet segundo países do último quartil em 2017 ........................................................................................... 78
Tabela 4.4: Proporção de domicílios com acesso à internet segundo a União Europeia e países europeus em 2017 .............................................. 80
Tabela 4.5: Proporção de usuários de internet segundo a União Europeia e países europeus em 2017 ........................................................................... 82
Tabela 4.6: Proporção de domicílios com acesso à internet segundo países africanos em 2017 ............................................................................ 84
xv
Tabela 4.7: Proporção de pessoas que usam internet segundo países africanos em 2017 ........................................................................................... 85
Tabela 5.1: Indicadores originais e construídos sobre acesso à internet no Brasil em 2017 ......................................................................................... 102
xvi
LISTA DE QUADROS
Quadro 2.1: Lista de indicadores de acesso e uso de TIC por domicílio e indivíduos ........................................................................................... 13
Quadro 3.1: Perguntas para coleta de informações sobre acesso e uso da internet por pesquisa ..................................................................................... 59
Quadro 3.2: De/para tipo de conexão ................................................................... 63
Quadro 3.3: De/para atividades realizadas através da internet ........................... 65
Quadro 3.4: De/para motivos para não acessar à internet................................... 69
Quadro 3.5: Indicadores de acesso e uso de TIC da UIT para domicílios e indivíduos presentes na PNADC e TIC Domicílios .............................................. 71
Quadro 4.1: Resumo comparativo entre os países e suas respectivas pesquisas sobre acesso à internet .................................................................... 95
Quadro 4.2: Resumo comparativo entre os países e suas respectivas pesquisas sobre uso da internet ....................................................................... 95
xvii
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Ilustração 2.1: Anúncio de comercialização da internet em 1994 .......................... 9
Ilustração 3.1: Fluxograma da última parte do bloco de habitação do questionário da PNADC em 2017 .......................................................................... 25
Ilustração 3.2: Fluxograma do módulo 07 sobre TIC na PNADC em 2017 ............ 29
Ilustração 3.3: Fluxograma do módulo A da TIC Domicílios – Acesso às Tecnologias de Informação e Comunicação no Domicílio ................................... 37
Ilustração 3.4: Fluxograma do módulo C da TIC Domicílios – Uso da Internet ..... 45
Ilustração 3.5: Fluxograma do módulo J da TIC Domicílios – Telefone Celular..... 54
xviii
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABEP: Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa ABS: Australian Bureau of Statistics ACS: American Community Survey ASP: Application Service Provider BWA: Broadband Wireless Access CAPI: Computer-Assisted Personal Interviewing CEI: Comunidade dos Estados Independentes CETIC: Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação CGI: Comitê Gestor da Internet CIUS: Canadian Internet Use Survey CMSI: Cúpula Mundial da Sociedade da Informação CNEFE: Cadastro Nacional de Endereços para Fins Estatísticos CSO: Central Statistics Office CTI: Ciência, Tecnologia e Inovação DIRSI: Diálogo Regional sobre la Sociedad de la Información DoS (DDoS): Denial of Service DPP: Domicílio Particular Permanente DSL: Digital Subscriber Line ECA: United Nations Economic Commission for Africa (Comissão Econômica para a África) ECLAC: United Nations Economic Commission for Latin America and the Caribbean (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe) ENCE: Escola Nacional de Ciências Estatísticas ESCAP: United Nations Economic and Social Commission for Asia and the Pacific (Comissão Econômica e Social para a Ásia e o Pacífico) ESCWA: United Nations Economic and Social Commission for Western Asia (Comissão Econômica e Social para a Ásia Ocidental) EUA: Estados Unidos da América EUROSTAT: European Statistical Office FWA: Fixed Wireless Access HUIT: Household Use of Information Technology IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ICT: Information and Communication Technology ICTS: Information & Communication Technology Survey IDS: Intrusion Detection System INE: Instituto Nacional de Estatística INEGI: Instituto Nacional de Estadística y Geografía IP: Internet Protocol address (Endereço de Protocolo da Internet) ISDN: Integrated Service Digital Network ITU: International Telecommunication Union LACNIC: Registro de Endereços da Internet para a América Latina e o Caribe
xix
LFS: Labour Force Survey LIRNEasia: Learning Initiatives on Reforms for Network Economies Asia MIC: Ministry of Internal Affairs and Communications MPHS: Multipurpose Household Survey NIC: Núcleo de Informação e Coordenação OCDE: Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico ODS: Objetivos de Desenvolvimento Sustentável OECD: Organization for Economic Co-operation and Development ONS: Office for National Statistics ONU: Organização das Nações Unidas PME: Pesquisa Mensal de Emprego PNAD: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios PNADC: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua RIA: Research ICT Africa SaaS: Software as a Service SBC: Secretariat of the Basel Convention (Secretariado da Convenção da Basileia) SPF: Sender Policy Framework TIC: Tecnologia da Informação e Comunicação UE: União Europeia UIT: União Internacional de Telecomunicações UNCTAD: United Nations Conference on Trade and Development (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento) UNEP: United Nations Environment Programme (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) UNU-ISP: United Nations University Institute for the Advanced Study of Sustainability and Peace (Instituto para o Estudo Avançado da Sustentabilidade e da Paz da Universidade das Nações Unidas) UPA: Unidades Primárias de Amostragem WSIS: World Summit on the Information Society (Cúpula Mundial da Sociedade da Informação)
1
CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO
Estatísticas públicas referem-se à informação estatística de interesse para a
sociedade, produzida com rigor técnico e científico, de forma estruturada e com ampla
divulgação. Atualmente, no Brasil, as principais fontes de estatísticas públicas são os
registros administrativos, os censos e as pesquisas amostrais, como é o caso de
pesquisas domiciliares. Cada fonte tem a sua devida importância, mas o foco do
presente trabalho dar-se-á nas pesquisas domiciliares. Adicionalmente, destaca-se a
importância do acesso à internet e as transformações da sociedade da informação.
Sendo assim, a presente dissertação propõe-se a analisar como é mensurado o acesso
à internet nas diversas pesquisas domiciliares no Brasil e no mundo. A proposta é
examinar e comparar os conceitos, as definições e os questionários dessas pesquisas
domiciliares, além de avaliar seus impactos na mensuração do fenômeno de interesse.
Nesse sentido, serão investigados os fluxos lógicos, a organização das perguntas e as
respectivas unidades de referência da informação. Almeja-se debater maneiras de
elaborar perguntas para captar da melhor forma possível o acesso à internet no Brasil
e no mundo. Assim, pretende-se contribuir para a comparação dos resultados entre os
países de modo coerente e padronizado, atentando-se que o tema encontra-se em
constante transformação e as formas de acesso mudam rapidamente, o que torna esse
desafio ainda mais instigador.
1.1. Justificativa do tema
Segundo Castells (2002), o que caracteriza a atual revolução tecnológica não é a
centralidade de saber, porém a aplicação desse aprendizado para a geração de
conhecimentos e de dispositivos de processamento e comunicação da informação,
evidenciando um ciclo de realimentação cumulativo entre a inovação e seu uso. Assim,
2
as novas tecnologias da informação não são simplesmente ferramentas a serem
aplicadas, mas processos a serem desenvolvidos.
Nesse sentido, é importante destacar que o acesso a TIC (Tecnologia da
Informação e Comunicação), em especial à internet, ocorre em um cenário de
constante evolução tecnológica e a mensuração de indicadores de acesso busca
acompanhar tais transformações. Assim, há sempre um descompasso do que medir e
como medir, além do acompanhamento da evolução do fenômeno. Castells (2002) já
associava as inovações tecnológicas e a produtividade com a defasagem do tempo. De
tal modo, o conceito de internet muda muito rapidamente. Há 20 anos era
extremamente comum, por exemplo, o uso de internet discada em computadores
fixos em mesas. Hoje, uma criança acessa um vídeo de desenho no YouTube com
apenas um toque no celular. Normalmente, os estudos sociais observam pequenas
mudanças ao longo de um curto prazo, mas a proposta da presente dissertação foca
em um fenômeno muito mais dinâmico do que o acesso a outros tipos de
infraestrutura. Os conceitos até poderiam mudar para se atualizar e melhor se
adaptar, mas isso impactaria a comparabilidade entre as informações produzidas ao
longo do tempo. Logo, trata-se de uma escolha entre o ajuste conceitual e a análise ao
longo dos anos, em que a priorização de uma dimensão, prejudica a análise pela outra.
Mesmo nesse cenário de constantes atualizações e unanimidade da internet
enquanto ferramenta de promoção social, dados da Internet.org (2019)1 mostram que
ainda há muito para se evoluir, pois somente 1 em cada 3 pessoas no mundo
conseguem acessar a internet, enfrentando os seguintes desafios:
i. Os dispositivos são demasiadamente custosos;
ii. Os planos de serviços são muito caros;
iii. As redes móveis são poucas e distantes umas das outras;
iv. Conteúdo não disponível na língua local;
1 Para mais detalhes, ver Internet.org. Disponível em https://info.internet.org/en/. Acesso em 29/05/2019.
3
v. As pessoas não têm certeza do valor que a internet agregará;
vi. Fontes de energia são limitadas ou caras;
vii. As redes não suportam grandes quantidades de dados.
Essa situação global vai de encontro com a Agenda 2030, acordo entre
representantes de 193 países membros da ONU (Organização das Nações Unidas) que
se comprometeram a adotar medidas para o desenvolvimento sustentável em todo o
mundo após conferência realizada em 20152. Vale acrescentar que o Brasil faz parte
desses 193 países, tendo então metas a cumprir nos quinzes anos subsequentes à
assinatura do acordo.
Como a internet é uma grande ferramenta de integração e promoção social,
seu acesso abre novos horizontes e concede oportunidades. Ela possui impacto em
praticamente todos os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), criados
pela ONU, para serem atingidos até 2030. Vale salientar que a internet aparece
claramente em dois momentos:
Objetivo 9 Construir infraestruturas resistentes, promover a industrialização inclusiva e sustentável e fomentar a inovação [...] 9.c aumentar significativamente o acesso às TIC, e procurar ao máximo oferecer acesso universal e acessível à internet nos países menos desenvolvidos, até 2020 [...] Objetivo 17 Fortalecer os meios de implementação e revitalizar a parceria global para o desenvolvimento sustentável [...] 17.8 operacionalizar plenamente o Banco de Tecnologia e CTI (Ciência, Tecnologia e Inovação) mecanismo de capacitação para os países menos desenvolvidos até 2017, e aumentar o uso de tecnologias de capacitação, em particular das TIC (Agenda 2030, ONU).
Assim, como o papel da internet é tão importante, a produção de estatísticas
públicas sobre seu acesso e uso é imprescindível. Além disso, faz-se necessário
2 Para mais detalhes, ver Agenda 2030. ODS. Disponível em http://www.agenda2030.org.br/ods/. Acesso em 16/05/2019.
4
compreender e comparar os aspectos metodológicos de diferentes fontes de
informação sobre o tema, em especial pesquisas domiciliares, para avaliar a
comparabilidade entre os dados de diferentes fontes no Brasil e no mundo.
O Instituto Nacional de Estatísticas do Canadá (2009) afirma que a qualidade
dos seus dados é a característica mais importante para manter sua credibilidade. Vale
ressaltar que qualidade dos dados é definida pela instituição como aquela que garante
a representatividade do público almejado, descrevendo o contexto selecionado e
garantindo informações necessárias e valiosas para o país. A informação estatística é
fundamental para o funcionamento de uma democracia moderna. Sem dados de
excelência, a qualidade na tomada de decisões, a alocação de bilhões de dólares em
recursos e a capacidade de governos, empresas, instituições e o público em geral para
entender a realidade social e econômica do país seriam severamente prejudicadas
(STATISTICS CANADA, 2009).
Neste ponto, é importante citar os 10 Princípios Fundamentais das Estatísticas
Oficiais de acordo com a Divisão de Estatística das Nações Unidas (UNSD) que reforçam
o que já fora dito no parágrafo anterior:
Princípio 1 Relevância, imparcialidade e igualdade de acesso As estatísticas oficiais constituem um elemento indispensável no sistema de informação de uma sociedade democrática, oferecendo ao governo, à economia e ao público dados sobre a situação econômica, demográfica social e ambiental. Com esta finalidade, os órgãos oficiais de estatística devem produzir e divulgar, de forma imparcial, estatísticas de utilidade prática comprovada, para honrar o direito do cidadão à informação pública.
Princípio 2 Padrões profissionais e ética Para manter a confiança nas estatísticas oficiais, os órgãos de estatística devem tomar decisões, de acordo com considerações estritamente profissionais, aí incluídos os princípios científicos e a ética profissional, para a escolha dos métodos e procedimentos de coleta, processamento, armazenamento e divulgação dos dados estatísticos.
Princípio 3 Responsabilidade e transparência
5
Para facilitar uma interpretação correta dos dados, os órgãos de estatística devem apresentar informações de acordo com normas científicas sobre fontes, métodos e procedimentos estatísticos.
Princípio 4 Prevenção do mau uso dos dados Os órgãos de estatística têm direito de comentar interpretações errôneas e utilização indevida das estatísticas.
Princípio 5 Eficiência Os dados utilizados para fins estatísticos podem ser obtidos a partir de diversos tipos de fontes, sejam pesquisas estatísticas ou registros administrativos. Os órgãos de estatística devem escolher as fontes levando em consideração a qualidade, oportunidade, custos e ônus para os informantes.
Princípio 6 Confidencialidade Os dados individuais coletados pelos órgãos de estatística para elaboração de estatísticas, sejam referentes a pessoas físicas ou jurídicas, devem ser estritamente confidenciais e utilizados exclusivamente para fins estatísticos.
Princípio 7 Legislação As leis, regulamentos e medidas que regem a operação dos sistemas estatísticos devem ser tornadas de conhecimento público.
Princípio 8 Coordenação nacional A coordenação entre os órgãos de estatística de um país é indispensável, para que se obtenha coerência e eficiência no sistema estatístico.
Princípio 9 Uso de padrões internacionais A utilização de conceitos, classificações e métodos internacionais pelos órgãos de estatística de cada país promove a coerência e a eficiência dos sistemas de estatística em todos os níveis oficiais.
Princípio 10 Cooperação internacional A cooperação bilateral e multilateral na esfera da estatística contribui para melhorar as estatísticas oficiais em todos os países. (ONU, 2014)
Todos esses princípios também estão elencados dentro do Código de Boas
Práticas das Estatísticas do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Inclusive, há um quadro de correspondência nele que permite relacionar seus valores
com os Princípios Fundamentais das Estatísticas Oficiais da ONU, por seções. Isso
legitima o IBGE como um instituto nacional de estatística que segue o padrão
6
internacional estabelecido, o que é fundamental inclusive para a comparabilidade de
seus resultados com o de outros países, além da credibilidade institucional, o que
garante o reconhecimento e a confiança da sociedade nas informações que a
instituição produz (IBGE, 2013).
1.2. Objetivos geral e específicos
O objetivo geral da dissertação é comparar os métodos e os resultados das
pesquisas domiciliares que mensuram o acesso à internet no Brasil e no mundo. Dessa
forma, os objetivos específicos são:
Descrever as metodologias, as definições operacionais e os resultados
das mensurações do acesso à internet nas pesquisas domiciliares no
Brasil;
Decompor os fluxos lógicos dos questionários sobre acesso à internet
nas pesquisas domiciliares no Brasil;
Descrever as metodologias, as definições operacionais e os resultados
das mensurações do acesso à internet nas pesquisas domiciliares no
mundo;
Propor um método de harmonização dos dados para as pesquisas
brasileiras visando à comparabilidade dos indicadores;
Mensurar e comparar os indicadores de acordo com as diferentes
definições operacionais.
No que se refere às pesquisas domiciliares no Brasil, esta dissertação tem como
foco a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC) do IBGE e a TIC
Domicílios do CETIC.br, e seus resultados para o ano de 2017.
7
Será averiguada a dualidade de considerar a pessoa ou o domicílio como
unidade de referência da informação de acesso e uso da internet. Além disso,
pretende-se elucidar se as pessoas compreendem o acesso e o uso da internet, tanto
na modalidade fixa quanto na móvel, incluindo toda a diversidade de dispositivos. Por
fim, é fundamental confirmar se o critério usado pela União Internacional de
Telecomunicações (UIT) de usuário na internet (qualquer pessoa que navegou na
internet nos últimos três meses) é seguido no Brasil e no mundo.
Para isso, os questionários das diversas pesquisas serão comparados, assim
como as suas estatísticas resultantes, para investigar como a formulação das perguntas
pode impactar nas respostas e, consequentemente, na mensuração do fenômeno.
Assim, a presente dissertação constitui-se de seis capítulos. Este primeiro é
introdutório e visa apresentar o porquê da escolha do tema e os objetivos da
dissertação. O segundo trata de um referencial teórico sobre a sociedade da
informação, trazendo o histórico mundial e no Brasil, desde o surgimento da internet
até os dias de hoje, e com um panorama em escala mundial de alguns indicadores
sobre TIC. O terceiro foca nas pesquisas domiciliares brasileiras que medem o
fenômeno, havendo uma seção para cada fonte de dados, além de uma seção final
comparativa das duas pesquisas. Já o quarto exibe alguns exemplos de pesquisas
internacionais que tratam da mesma temática, sendo uma seção para cada um dos
países analisados, além de uma seção final comparativa para sedimentar o que foi
analisado durante todo o capítulo. O quinto aborda a compatibilização dos indicadores
sobre acesso à internet da TIC Domicílios para a PNADC, e o sexto finaliza a dissertação
com considerações finais.
8
CAPÍTULO 2: A SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO E SUA MENSURAÇÃO
De acordo com Castells (2002), a criação e o desenvolvimento da internet no
final do século XX foram consequência de uma fusão única de estratégia militar,
grande cooperação científica, iniciativa tecnológica e inovação contracultural. Apesar
de contar com o apoio inicial do Estado Americano através do seu departamento de
defesa, o desenvolvimento apenas foi possível graças à mão de obra qualificada na
região e o espírito empreendedor dessas pessoas, que foram criando uma sequência
de empresas, tais como a Apple e a Microsoft, sendo que diversos indivíduos saíram
das primeiras empresas para montar novas empresas, formando polos que permitiram
essa revolução na sociedade da informação.
Devido à natureza de tentativa e erro desse processo, em que se aprendia
fazendo, esse conhecimento era ao mesmo tempo produto e insumo desse sistema, o
que levou a um círculo virtuoso de grandes e rápidas mudanças. Esse processo
demonstra um claro exemplo de destruição criativa schumpeteriana3, reforçando a
estrutura capitalista em que foi inserido, em que a inovação é contínua e força a rápida
renovação tecnológica. Isso ainda exige que as empresas se adequem rapidamente ou
serão passadas para trás, pois o que era novo há pouco tempo passa a ser obsoleto.
Apesar de a internet ter dado seus primeiros passos no mundo na década de
1960, ela apenas chegou no Brasil em 1988 de acordo com Guizzo (1999). Inicialmente
voltada para pesquisas em algumas universidades, apenas em 1994 a internet
começou a ser comercializada em caráter experimental no país, na época pela
Embratel, conforme é possível ver no anúncio da ilustração 2.1. Já em 1995, o
Ministério das Comunicações em conjunto com o Ministério da Ciência e Tecnologia,
começaram as atividades para disponibilizar acesso à internet para a população
3 Para Schumpeter, as inovações dos empresários são a força motriz do crescimento econômico, mesmo que, para isso, outras empresas mais antigas ou mesmo modelos de negócios mais velhos sejam destruídos por não se adaptar a esse novo cenário. Para mais detalhes, ver Schumpeter, J.A. Capitalismo, Socialismo e Democracia. Rio de Janeiro: Editora Fundo de Cultura, 1961.
9
brasileira, incluindo a criação do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br). Em 1995,
segundo o CGI.br, a Anatel ainda publicou a Norma 004/954, que regula o uso de meios
da rede pública de telecomunicações para o provimento e utilização de serviços de
conexão à internet.
Ilustração 2.1: Anúncio de comercialização da internet em 1994
Fonte: www.tecmundo.com.br. Acesso em 18/05/2019.
4 Para mais detalhes, ver ANATEL. Norma 004/95. Uso de meios da rede pública de telecomunicações para acesso à internet. Brasil, 1995. Disponível em https://www.anatel.gov.br/hotsites/Direito_Telecomunicacoes/TextoIntegral/ANE/prt/minicom_19950531_148.pdf. Acesso em 23/09/2019.
10
Nos anos subsequentes, o CGI.br continuou o seu trabalho de consolidar o
acesso à internet no Brasil, chegando a participar da reunião com o grupo de formação
do Registro de Endereços da Internet para a América Latina e o Caribe (LACNIC)5, em
Santiago, no Chile (em 2000) e apresentou a sua impressão sobre a articulação dos
demais países envolvidos na implantação da entidade para cuidar da distribuição dos
endereços IP (Protocolo de Internet)6 para a América Latina. O CGI.br ainda participou
em 2000 da reunião anual da ICANN (Internet Corporation for Assigned Names and
Numbers), no Japão. Durante esse evento, a delegação brasileira reuniu-se com
representantes do NIC-México e definiram que a sede operacional do LACNIC seria no
Brasil.
O ano de 2003 também foi de suma importância, pois nesse ano foi criado o
Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), entidade civil sem fins
lucrativos (que assumiria a competência de realizar as atividades de registro de nomes
de domínio, distribuição de endereços IPs e sua manutenção na Internet em 2005), e a
reunião da ICANN foi realizada no Rio de Janeiro. Em 2006, também foi realizada a
reunião da ICANN em São Paulo. Além de uma sequência de eventos sobre internet
nos anos seguintes, vale ressaltar o início da vigência do Marco Civil da Internet7 em
2014, importante salto regulatório na internet brasileira, estabelecendo princípios,
garantias, direitos e deveres para quem usa a rede, bem como da determinação de
diretrizes para a atuação do Estado.
Nesse cenário de constante e intensa renovação, analisar o acesso à internet,
que é um produto de uma revolução, meio de difusão e propagação e insumo para
novos desenvolvimentos, torna-se fundamental. Segundo o IBGE (2019), a Sociedade
5 Para detalhes, ver Aguerre (2019). Disponível em https://www.lacnic.net/innovaportal/file/3733/1/el-desarrollo-de-la-comunidad-de-lacnic.pdf. Acesso em 23/09/2019. 6 Segundo Aguerre (2019), IP significa protocolo de internet, que permite que dados sejam enviados entre computadores conectados à Internet, mesmo que eles usem links de diferentes tecnologias. 7 Para detalhes, ver Lei nº 12.965, de 23 de abril de 2014. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l12965.htm. Acesso em 18/05/2019.
11
para a Medição das TIC para o Desenvolvimento (Partnership on Measuring ICT for
Development), que é uma iniciativa internacional para harmonizar as estatísticas sobre
essas tecnologias, elaborou uma lista de indicadores-chave. Essa lista, que almeja
servir de base para a elaboração padronizada de estatísticas para obtenção de
indicadores comparáveis internacionalmente sobre a sociedade da informação, foi
resultado de um intenso processo de consultas a organismos de estatística. Tal lista
também contou com a aprovação dos participantes do Encontro Temático sobre
Medição da Sociedade da Informação da Cúpula Mundial da Sociedade da Informação
(World Summit on the Information Society, WSIS Thematic Meeting on Measuring the
Information Society)8, realizado em Genebra, em 2003, e em Tunis, em 2005. O intuito
desses encontros era minimizar a exclusão digital, tão presente nos países menos
desenvolvidos e um dos focos dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, os ODMs
(hoje atualizados nos ODSs já citados anteriormente). De acordo com o relatório final
do WSIS (2005), enquanto os países da Organização de Cooperação e de
Desenvolvimento Econômico (OCDE) têm boas estatísticas sobre TIC disponível, há
poucos dados comparáveis sobre a situação nos países em desenvolvimento. Um
exemplo disso foi a análise realizada nesse mesmo relatório que apontou que a
maioria dos países em desenvolvimento até apurava alguns dados sobre acesso à
8 “A Sociedade para a Medição das TIC para o Desenvolvimento é constituída pelos seguintes membros: Statistical Office of the European Union - Eurostat; União Internacional de Telecomunicações - UIT (International Telecommunication Union - ITU); Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico - OCDE (Organization for Economic Co-operation and Development - OECD); Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (United Nations Conference on Trade and Development - UNCTAD); quatro comissões regionais das Nações Unidas: Comissão Econômica para a África (United Nations Economic Commission for Africa - ECA), Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (United Nations Economic Commission for Latin America and the Caribbean - ECLAC), Comissão Econômica e Social para a Ásia e o Pacífico (United Nations Economic and Social Commission for Asia and the Pacific - ESCAP) e Comissão Econômica e Social para a Ásia Ocidental (United Nations Economic and Social Commission for Western Asia - ESCWA); Instituto de Estatística da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco Institute for Statistics); Departamento das Nações Unidas de Assuntos Econômicos e Sociais (United Nations Department of Economic and Social Affairs); Secretariado da Convenção da Basileia do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Secretariat of the Basel Convention - SBC of the United Nations Environment Programme - UNEP); Instituto para o Estudo Avançado da Sustentabilidade e da Paz da Universidade das Nações Unidas (United Nations University Institute for the Advanced Study of Sustainability and Peace - UNU-ISP); e Banco Mundial (World Bank).” (IBGE, 2019)
12
internet, mas muito pouco sobre o uso. Segundo as notas metodológicas da PNADC
(IBGE, 2019), a produção dos indicadores-chave não é obrigatória e deve ser ajustada
às condições e necessidades de cada país. Além disso, essa lista de indicadores já foi
revista mais de uma vez visando seu contínuo aprimoramento. Sua última atualização
é de 2016. Assim, tal lista sobre TIC ficou formada por sete conjuntos de indicadores9:
1 - Indicadores-chave de infraestrutura e acesso à TIC;
2 - Indicadores-chave de acesso e uso de TIC nos domicílios e por pessoas;
3 - Indicadores-chave de uso de TIC por empresas;
4 - Indicadores-chave do setor produtivo de bens e serviços de TIC;
5 - Indicadores-chave de comércio internacional de bens de TIC;
6 - Indicadores-chave de TIC na educação;
7 - Indicadores-chave de TIC no governo.
O segundo conjunto, que é alvo do presente trabalho, é formado por 19
indicadores, geralmente obtidos por meio de pesquisas domiciliares, conforme quadro
2.1:
9 Para maior detalhamento a cerca de cada indicador, ver International Telecommunication Union. Core list of ICT indicators. Geneva, 2016. Preparado no âmbito da Sociedade para a Medição das TIC para o Desenvolvimento (Partnership on Measuring ICT for Development). Disponível em: https://www.itu.int/en/ITU-D/Statistics/Documents/coreindicators/Core-List-of-Indicators_March2016.pdf. Acesso em 19/09/2019.
13
Quadro 2.1: Lista de indicadores de acesso e uso de TIC por domicílio e indivíduos
Código Descrição
HH1 Proporção de domicílios com rádio
HH2 Proporção de domicílios com televisão
HH3 Proporção de domicílios com telefone
HH4 Proporção de domicílios com microcomputador
HH5 Proporção de pessoas que utilizam microcomputador
HH6 Proporção de domicílios com Internet
HH7 Proporção de pessoas que utilizam a Internet
HH8 Proporção de pessoas que utilizam a Internet, por local de utilização
HH9 Proporção de pessoas que utilizam a Internet, por tipo de atividade realizada
HH10 Proporção de pessoas que utilizam telefone móvel celular
HH11 Proporção de domicílios com acesso à Internet, por tipo de serviço
HH12 Proporção de pessoas que utilizam a Internet, por frequência
HH13 Proporção de domicílios com acesso à programação televisiva por meios diferentes da televisão analógica aberta, por tipo
HH14 Proporção de domicílios sem Internet, segundo barreiras ao acesso
HH15 Proporção de usuários de microcomputador, segundo o tipo de habilidade
HH16 Despesa domiciliar em TIC
HH17 Proporção de pessoas que utilizam Internet, por tipo de equipamento portátil e conexão utilizada para acessar a Internet
HH18 Proporção de pessoas que possuem telefone móvel celular
HH19 Proporção de pessoas que não utilizam a Internet, por tipo de motivo
Fonte: Lista de indicadores sobre TIC da UIT
A partir desses indicadores, a UIT tem monitorado todo esse movimento de TIC,
compilando as informações recebidas de todos os países. Aliás, é importante atentar-
se que a UIT na verdade nasceu como União Internacional do Telégrafo em 17 de maio
de 1865, após dois meses e meio de negociação entre os 20 Estados, através da
assinatura da primeira Convenção Internacional do Telégrafo em Paris, a fim de
facilitar eventuais alterações futuras ao acordo inicial. Anos depois, a organização
passou a se chamar União Internacional de Telecomunicações e, atualmente, a
organização é formada por 193 países-membros e mais de 800 membros de setor e
associados (setores público e privado, incluindo universidades e centros de pesquisas).
14
A sede da UIT está localizada em Genebra na Suíça e a organização possui escritórios
regionais e de área em todo o mundo, inclusive no Brasil desde 199210.
Nesse momento, é importante ressaltar que os institutos nacionais que são
responsáveis pelas pesquisas e a UIT funciona apenas como um agregador de todas
essas informações. Com isso, é possível montar panoramas mundiais sobre a TIC no
mundo. Os gráficos 2.1 a 2.7 apresentam evidências para uma contextualização
histórica de como estão esses indicadores no mundo, nos países desenvolvidos, em
desenvolvimento e menos desenvolvidos11 (os dados de 2019 são estimativas).
Gráfico 2.1: Percentual de pessoas com telefone celular no mundo no período 2005-
2019
Fonte: UIT. Elaboração do próprio autor.
O gráfico anterior mostra que a posse de celular triplicou no mundo em 14
anos. Mais que isso, os valores, inclusive nos países em desenvolvimento, evidenciam
10 Para mais detalhes, ver https://nacoesunidas.org/agencia/uit/. Acesso em 12/02/2020. 11 Esses são os termos usados na categorização da M49 (ONU) apenas traduzidos do inglês. A categorização original constitui-se em Developed, Developing e LDCs.
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valores acima dos 100%, o que revela que as pessoas têm, em média, mais de um
celular. Isso demonstra que esse tipo de tecnologia foi popularizada, o que permitiu a
penetração nas classes menos abastadas. Isso também é um fator importante na
mensuração do acesso à internet, pois o celular torna-se uma via de acesso à internet
mais democrática que o computador, originalmente o dispositivo que permitia o
acesso à internet e que geralmente possui um custo superior a um celular. Já o gráfico
2.2 reforça esse pensamento, tendo em vista o rápido crescimento da banda larga
móvel nos últimos 12 anos. Os preços dos serviços também foram reduzindo, da
mesma forma que os aparelhos, o que torna a inclusão digital uma realidade mais
palpável.
Gráfico 2.2: Percentual de habitantes com banda larga móvel no mundo no período
2007-2019
Fonte: UIT. Elaboração do próprio autor.
Já o gráfico 2.3 demonstra que a banda larga fixa tem um comportamento de
crescimento nos últimos 13 anos, mas com menor intensidade. Nesse ponto, é
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16
importante observar que a banda larga fixa normalmente tende a ser compartilhada
com mais pessoas, então é normal que cada um não tenha a sua banda larga fixa, o
que proporcionaria um indicador próximo a 100%. Aliás, esse tipo de dado é melhor
mensurado quando usada a unidade de referência domicílio, justamente pela natureza
a que se propõe.
Gráfico 2.3: Proporção de habitantes com banda larga fixa no mundo no período 2005-
2019
Fonte: UIT. Elaboração do próprio autor.
Ao mesmo tempo, o gráfico 2.4 evidencia a cobertura da tecnologia mais
moderna em acesso móvel, em que as velocidades de upload e download são mais
altas. Isso mostra que mais do que o acesso em si, a qualidade do serviço também tem
melhorado, já que mais pessoas têm uma internet mais rápida. Como essa tecnologia é
mais recente, não só a disponibilidade ocorreu depois, como a sua mensuração
também, o que justifica uma série histórica menor para acompanhamento.
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Desenvolvidos Em Desenvolvimento
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17
Gráfico 2.4: Proporção da população coberta por pelo menos uma rede móvel
LTE/WiMAX (4G) no mundo no período 2015-2019
Fonte: UIT. Elaboração do próprio autor.
Assim como a posse de celular, a posse de computador também é importante
de ser mensurada, afinal esse tipo de equipamento ainda permanece como um dos
dispositivos que permite acesso à internet. Contudo, é mais comum o
compartilhamento desse tipo de equipamento, o que não ocorre no caso do celular.
Logo, faz mais sentido aqui a unidade de referência ser o domicílio, conforme é
apresentado no gráfico 2.5.
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Em Desenvolvimento
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Gráfico 2.5: Proporção de domicílios com computador no mundo no período 2005-
2019
Fonte: UIT. Elaboração do próprio autor.
Como será visto nos capítulos subsequentes, o acesso à internet normalmente
é medido na unidade de referência domicílio, conforme a maneira recomendada pela
UIT no indicador HH6. Contudo, também será visto que as pesquisas têm diferentes
métodos para medir o acesso no domicílio. Mesmo assim, é perceptível que o acesso
tem crescido de forma acelerada de acordo com o gráfico 2.6.
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Gráfico 2.6: Proporção de domicílios com acesso à internet no mundo no período
2005-2019
Fonte: UIT. Elaboração do próprio autor.
Por fim, o gráfico 2.7 mostra o crescente número de usuários na internet, o que
reforça que a inclusão digital tem crescido substancialmente. É claro que, infelizmente,
tanto nesse gráfico como nos anteriores, o que se observa é que os países em
desenvolvimento ainda tem uma curva de crescimento grande pela frente, enquanto
os países desenvolvidos já estão em um cenário mais promissor. Entretanto, os países
menos desenvolvidos seguem em situações ainda piores, arrastando-se com
crescimentos bem abaixo da média.
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Gráfico 2.7: Proporção de indivíduos que usam a internet no mundo no período 2005-
2019
Fonte: UIT. Elaboração do próprio autor.
É válido salientar que, em 2014, foi publicado o segundo12 e mais recente
manual para a medição do acesso à TIC nos domicílios e do uso de TIC por pessoas,
pela UIT. Esse manual13 acabou tornando-se material de referência básico na
preparação, projeto e realização de pesquisas domiciliares em TIC, inclusive no Brasil
para as suas duas pesquisas domiciliares que tratam do tema: a TIC Domicílios e a
PNADC. É importante ressaltar que a primeira edição da TIC Domicílios foi um estudo
inédito no país em 2005, resultado de uma parceria entre o IBGE e o CGI.br. No ano
subsequente, até 2018, anualmente o CGI.br, através do CETIC.Br (Centro Regional de
Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação), continuou com a
pesquisa, o que permite acompanhar a evolução da TIC no país. Já para o IBGE, após o 12 O primeiro foi publicado em 2009. 13 Para detalhes, ver International Telecommunication Union. Manual for measuring ICT access and use by households and individuals. Geneva, 2014. Preparado no âmbito da Sociedade para a Medição das TIC para o Desenvolvimento (Partnership on Measuring ICT for Development). Disponível em: http://www.itu.int/dms_pub/itu-d/opb/ind/D-IND-ITCMEAS-2014-PDF-E.pdf. Acesso em 19/09/2019.
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Menos desenvolvidos
21
primeiro ano de parceria com o CGI.br, a instituição incluiu um suplemento na PNAD
anual dos anos 2008, 2009 e de 2011 a 2015, sendo que as últimas três edições dessa
pesquisa ainda contaram com a parceria do Ministério da Ciência, Tecnologia,
Inovação e Comunicações. Essa parceira estendeu-se também nas edições da PNADC
de 2016 e 2017, que substituiu a PNAD tradicional.
No próximo capítulo, são apresentadas algumas estatísticas de ambas as
pesquisas em edições referentes ao ano de 2017, fazendo um comparativo entre as
mesmas e debatendo questões associadas às diferenças encontradas em seus
resultados. Além disso, há um breve detalhamento sobre a metodologia de cada
pesquisa nas suas respectivas seções. É de suma importância salientar que as
perguntas e seus fluxos não são os mesmos em ambas as pesquisas, especialmente no
caso de perguntas em que a unidade de referência da informação é o domicílio para o
cálculo dos indicadores de acesso à internet.
22
CAPÍTULO 3: PESQUISAS DOMICILIARES SOBRE TIC NO BRASIL
No Brasil, as informações sobre o acesso da população brasileira à internet são
obtidas por algumas pesquisas, como a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
Contínua (PNADC) e a Tecnologia da Informação e Comunicação nos Domicílios (TIC
Domicílios). A primeira é realizada pelo IBGE, enquanto a segunda é produzida pelo
NIC.br, através de seu departamento responsável pela formulação de indicadores:
CETIC.br.
Em ambos os estudos, a coleta dos dados é realizada de acordo com o método
CAPI (Computer-Assisted Personal Interviewing), que consiste em ter o questionário
programado em um software para dispositivo móvel e aplicado por entrevistadores em
interação face a face. Dessa forma, os dados já são computados na medida em que as
entrevistas forem sendo realizadas.
Neste capítulo, haverá três seções. A primeira irá falar sobre como funciona a
PNADC, incluindo metodologia, fluxo das questões e principais resultados. A segunda
seção terá a mesma linha, mas tratará da TIC Domicílios. Em ambos os casos, haverá
duas subseções: uma voltada para as questões em que a unidade de referência é o
domicílio e outra em alusão ao indivíduo. Já a última seção será um apanhado das duas
com comparação de seus resultados, permitindo entender como cada pesquisa tem
sua definição operacional quanto ao serviço de internet: serviço móvel individual ou
serviço de utilidade ao domicílio. Logo, em alguns momentos, serão utilizados alguns
mecanismos simples para compatibilizar os dados, a fim de permitir uma melhor
comparação entre os estudos, como a agregação de determinadas categorias de
resposta.
23
3.1. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC)
A PNADC foi iniciada em janeiro de 2012 com o objetivo de produzir
indicadores trimestrais para acompanhar a evolução da força de trabalho e do
desenvolvimento socioeconômico do país. Ela substituiu a Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios (PNAD) e a Pesquisa Mensal de Emprego (PME) aprimorando as
estatísticas do mercado de trabalho dado que oferece maior periodicidade e maior
cobertura do território nacional. A pesquisa abrange cerca de 211.000 domicílios por
trimestre, compreendendo aproximadamente 16.000 setores censitários (IBGE, 2019).
É realizada a partir de uma amostra probabilística de domicílios extraída de
uma amostra mestra de setores censitários, garantindo assim a representatividade
para diversos níveis geográficos. Conforme sua metodologia, descrita em IBGE (2019),
a pesquisa adota um plano amostral conglomerado em dois estágios com
estratificação das unidades primárias de amostragem (UPAs). Uma UPA pode ser
formada por um ou vários setores censitários, basta haver, no mínimo, 60 domicílios
particulares permanentes (DPPs). As UPAs são selecionadas no primeiro estágio com
probabilidade proporcional ao número de domicílios. No segundo estágio, são
selecionados do Cadastro Nacional de Endereços para Fins Estatísticos (CNEFE), por
meio de amostragem aleatória simples, 14 DPPs ocupados dentro de cada UPA da
amostra. A amostra de domicílios e UPAs são distribuídas nos três meses do trimestre
segundo um esquema de rotação. Durante cinco trimestres, cada domicílio é visitado
cinco vezes seguindo um esquema de rotação 1-2(5), ou seja, a unidade domiciliar é
entrevistada em um mês, sai da amostra por dois meses, e este ciclo se repete por
cinco vezes (IBGE, 2019).
No questionário da pesquisa de 2017, foi adicionado um suplemento sobre TIC
que inclui nove perguntas na unidade de referência pessoa, fora o bloco de habitação
da PNADC que conta com 31 perguntas voltadas para a unidade de referência
domicílio, incluindo as que são sobre computador, internet e celular. As características
24
de acesso à Internet e posse de telefone móvel celular foram pesquisadas para as
pessoas de 10 anos ou mais de idade. Foi escolhida a edição de 2017 para a análise,
pois a mesma é a edição mais recente que trata do assunto de estudo deste trabalho.
Nas subseções a seguir, serão analisados o fluxo e a composição das perguntas que
envolvem o tema TIC. Assim, serão apresentadas todas as perguntas relacionadas ao
tema de internet, destacando as estimativas produzidas referentes a cada uma delas.
A primeira subseção envolverá o acesso para o domicílio, enquanto a segunda para as
pessoas, tendo em vista que o questionário também segue nessa ordem.
3.1.1. Fluxo lógico do questionário da PNADC de acordo com a
unidade de referência domicílio
O bloco de habitação da PNADC é composto de 31 perguntas. Contudo, como é
possível ver na ilustração 3.1, há uma parte no final do bloco de habitação que trata de
TIC, além de outras questões. Os itens relacionados à tecnologia da informação e
comunicação foram devidamente marcados na ilustração 3.1, rachurados em cinza.
25
Ilustração 3.1: Fluxograma da última parte do bloco de habitação do questionário da
PNADC em 2017
Fonte: PNADC 2017 (IBGE) – Elaboração do autor
Como o fenômeno de estudo é o uso e o acesso à internet, não será abordada a
parte de telefone fixo e televisão, mesmo esses temas sendo objeto dos indicadores
26
HH2, HH3 e HH13 da UIT, como visto no capítulo 2. A primeira pergunta de interesse
direto na investigação desta dissertação é “Neste domicílio, quantos moradores têm
telefone móvel celular para uso pessoal?”14, cuja resposta deveria ser dada com até
dois algarismos. Essa pergunta é importante tendo em vista os recentes estudos que
evidenciam a força da navegação mobile em contraponto ao desktop tradicional.
Contudo, mais do que averiguar a quantidade, a pergunta de certa forma também
esclarece se há alguém no domicílio que possua um celular, pois quem responde um
valor diferente de zero encaixa-se nessa categoria, o que no caso representa 93,2% dos
domicílios.
Passada uma sequência de quesitos sem ligação com a mensuração da internet,
encontra-se a seguinte pergunta: “Este domicílio tem microcomputador (considere
inclusive os portáteis, tais como: laptop, notebook ou netbook)?”15 com duas opções
de respostas (“sim” ou “não”). Essa pergunta é importante, pois esse tipo de
equipamento é uma das formas para acesso à internet, logo quanto mais domicílios
reportarem a sua posse, maior a probabilidade do domicílio ser assistido pelo serviço
de internet. Inclusive essa pergunta vai de encontro com o indicador HH4 (proporção
de domicílios com microcomputador) da UIT, já relacionado no capítulo 2. De acordo
com o resultado da PNADC em 2017, 43,4% dos domicílios brasileiros detinham a
propriedade de um dispositivo como esse (46,0% se considerar com tablet também).
Em seguida, é feita uma pergunta central: “Algum morador tem acesso à
Internet no domicílio por meio de microcomputador, tablet, telefone móvel celular,
televisão ou outro equipamento?”16, cujas opções de respostas resumem-se a “sim” ou
“não”. A partir dessa abordagem, é possível depreender que o IBGE entende a internet
como um serviço móvel individual, já que basta pelo menos um de seus moradores ter
o serviço disponível, para classificar o domicílio como tendo o acesso à internet,
14 IBGE, 2017, Quesito S01021. 15 IBGE, 2017, Quesito S01028. 16 IBGE, 2017, Quesito S01029.
27
mesmo que ele não compartilhe isso com os demais moradores. Esse cenário é
possível, pois um morador pode ter um pacote de dados em seu celular e não
compartilhar com os demais, o que seria diferente de um Wi-Fi à disposição para
qualquer um no domicílio. De qualquer forma, é importante salientar que a pergunta
delimita o local, restringindo ao domicílio, sem definir o intervalo de tempo para
ocorrência do acesso, ou seja, o aspecto temporal. Nessa leitura, 74,9% dos domicílios
brasileiros têm acesso à internet. Lembrando que esse quesito relaciona-se
diretamente ao indicador HH6 (proporção de domicílios com internet) da UIT.
Por fim, a última pergunta referente à TIC nesse bloco é: “Para acessar à
Internet neste domicílio, algum morador utiliza:”17, sendo que havia como opções
“microcomputador (de mesa ou portátil, como (laptop, notebook ou netbook)?”,
“tablet”, “telefone móvel celular”, “televisão” ou “outro equipamento eletrônico”.
Neste caso, permanece o filtro quanto à delimitação do espaço para ocorrência do
fenômeno, ou seja, o domicílio. Como o domicílio pode ter mais de dispositivo com
acesso à internet, o somatório das opções com acesso não totalizam 100%, afinal há
sobreposição de valores. A tabela 3.1 apresenta estatísticas sobre o uso de
determinado diversos equipamentos para acesso à internet, destacando a força dos
dispositivos móveis como praticamente unanimidade nos domicílios brasileiros.
Tabela 3.1: Proporção de domicílios com acesso à internet segundo equipamento
utilizado no Brasil em 2017
Equipamento Proporção de domicílios (%)
Telefone móvel celular 98,7
Microcomputador 52,3
Televisão 16,1
Tablet 15,5
Outro equipamento 1,5
Fonte: PNADC 2017 (IBGE)
17 IBGE, 2017, Quesitos S010301 a S010305.
28
Com isso, finaliza-se a exploração do bloco de Habitação voltado à TIC para a
unidade de referência domicílio na PNADC. Na próxima seção, será abordado o
suplemento especial 07 - Características de tecnologia da informação das pessoas de
10 anos ou mais de idade com foco na unidade pessoa.
3.1.2. Fluxo lógico do questionário da PNADC de acordo com a unidade
de referência pessoa
Em 2017, houve a última edição que abrigou o suplemento sobre TIC na PNADC
e por isso tal ano foi escolhido como delimitação temporal da dissertação, mesmo
sendo possível obter dados mais recentes de outras fontes. Esse suplemento é
bastante curto com apenas nove perguntas voltadas para a unidade de referência
indivíduo. Na ilustração 3.2, que segue logo abaixo, há um detalhamento da lógica
como as perguntas utilizadas para captação do fenômeno são realizadas.
29
Ilustração 3.2: Fluxograma do módulo 07 sobre TIC na PNADC em 2017
Fonte: PNADC 2017 (IBGE) – Elaboração do autor
A primeira pergunta deste bloco é:
Nos últimos três meses, ___ utilizou à Internet em algum local (domicílio, local de trabalho, escola, centro de acesso gratuito ou pago, domicílio de outras pessoas ou qualquer outro local) por meio de microcomputador, tablet, telefone móvel celular, televisão ou outro equipamento? (IBGE, 2017, Quesito S07001)
30
Como resultado dessa pergunta, foi estimado que 69,8% da população
brasileira usou à internet nos últimos três meses no ano de referência da pesquisa.
Neste caso, há uma restrição temporal de três meses, conforme recomendação da UIT
quanto ao conceito de usuário de internet, todavia sem a referência de definição sobre
qual local ocorreu a utilização (os demais quesitos também seguem essa linha). Logo, o
uso pode dar-se dentro do domicílio ou não. Essa pergunta visa atender ao indicador
HH7, proposto pela UIT.
Caso o entrevistado respondesse sim na pergunta anterior, ele era
redirecionado à pergunta “Nos últimos três meses, ___ acessou à Internet em algum
local por meio de:”18, tendo como opções “microcomputador (de mesa ou portátil,
como laptop, notebook ou netbook)”, “tablet”, “telefone móvel celular”; “televisão”; e
“outro equipamento eletrônico”, incluindo um espaço aberto para especificação do
outro canal a ser preenchido pelo entrevistador, caso fosse sinalizado com um “sim”
esse meio. Novamente, a investigação do quesito respeitou o mesmo intervalo de
tempo de três meses, mas com o foco em investigar qual o dispositivo foi utilizado
para acessar à internet. Nesse sentido, foi observado, de acordo com o gráfico 3.1, que
o celular é o principal meio de uso da internet no Brasil por 97,0% das pessoas, o que
também já foi visto no âmbito dos domicílios. Vale ressaltar que essa proporção de
pessoas que utilizam internet por tipo de equipamento portátil reflete o indicador
HH17.
18 IBGE, 2017, Quesitos S070021 a S070025.
31
Gráfico 3.1: Proporção de pessoas que usam a internet segundo dispositivo utilizado
no Brasil em 2017
Fonte: PNADC 2017 (IBGE)
Na sequência, pergunta-se para esse mesmo público sobre o tipo de conexão
realizada dentro dos mesmos três meses de referência: “Nos últimos três meses, a
conexão que ___ utilizou para acessar à Internet em algum local foi:”19, cujas as opções
compreendem “sinal de rede móvel celular 3G ou 4G”, “conexão discada por linha
telefônica” e “banda larga (ADSL, VDSL, cabo de televisão por assinatura, cabo de fibra
óptica, satélite ou algum tipo de rádio, como Wi-Fi e WiMAX)”. Apenas 0,6% alegaram
usar internet discada, enquanto 82,9% falaram em banda larga fixa e 78,3% em rede
móvel. É importante ressaltar que o somatório das opções é superior a 100%, pois as
pessoas podem utilizar mais de um tipo de conexão. Inclusive 61,4% usam tanto a
banda larga fixa como a móvel. Mais uma vez o indicador HH17 também é suscitado, já
que tal quesito reflete a proporção de pessoas que usam a internet por tipo de
conexão utilizada.
Em seguida, dentro do mesmo período de três meses, os usuários de internet
eram indagados sobre as atividades que realizavam via internet: “Nos últimos três
meses, ___ utilizou à Internet em algum local para:”20, sendo que havia como opções
19 IBGE, 2017, Quesitos S070031 a S070033. Além das opções “sim” e “não” tradicionais, havia também a opção “não sabe” para cada tipo de conexão no questionário. 20 IBGE, 2017, Quesitos S070041 a S070044.
0%
20%
40%
60%
80%
100%
Celular Computador Televisão Tablet Outroequipamento
32
“enviar ou receber e-mails (correio eletrônico)”, “enviar ou receber mensagens de
texto, voz ou imagens por aplicativos diferentes de e-mail”, “conversar por chamada
de voz ou vídeo” e “assistir a vídeos, inclusive programas, séries e filmes”. A partir do
gráfico 3.2, pode-se concluir que enviar ou receber mensagens de texto, voz ou
imagens por aplicativos diferentes de e-mail é a principal atividade realizada pela
internet, segundo 95,5% dos usuários brasileiros. Este dado vai de encontro com o
indicador HH9 que representa a proporção de pessoas que utilizam a internet por tipo
de atividade realizada.
Gráfico 3.2: Proporção de usuários de internet segundo atividades realizadas no Brasil
em 2017
Fonte: PNADC 2017 (IBGE)
A próxima pergunta do questionário é realizada apenas para quem respondeu
que não acessou a internet nos últimos três meses e tem o objetivo de investigar
justamente o motivo para isso: “Qual foi o principal motivo para ___ não ter acessado
à Internet em algum local nos últimos três meses?”21, sendo que as opções eram:
“achava o serviço de acesso à internet caro”; “achava o equipamento eletrônico
necessário (microcomputador; tablet; telefone móvel celular; televisão ou outros)
caro”; “o serviço de acesso à internet não estava disponível nos locais que costuma
21 IBGE, 2017, Quesito S07005.
0% 25% 50% 75% 100%
Enviar ou receber e-mails (correio eletrônico)
Assistir a vídeos, inclusive programas, séries efilmes
Conversar por chamada de voz ou vídeo
Enviar ou receber mensagens de texto, voz ouimagens por aplicativos diferentes de e-mail
33
frequentar”; “falta de interesse em acessar à internet”; “não sabia usar à internet”; e
“outro motivo” com espaço aberto para ser especificado pelo entrevistador (Quesito
S070051). O gráfico 3.3 evidencia que o principal motivo que afasta a população
brasileira da internet é a falta de conhecimento sobre como usar, de acordo com a
PNADC (2017), segundo 38,5% das pessoas.
Gráfico 3.3: Proporção de pessoas com 10 anos ou mais que não acessaram à internet
segundo motivo de não uso no Brasil em 2017
Fonte: PNADC 2017 (IBGE)
Em seguida, é realizada uma pergunta sobre a posse de um telefone celular
para uso pessoal: “___ tem telefone móvel celular para uso pessoal?”22 com duas
opções de resposta “sim” ou “não” para todas as pessoas participantes da pesquisa,
independentemente de ter respondido que acessou ou não internet nos últimos três
meses. Verificou-se então que 78,2% da população brasileira possui um celular para
uso pessoal. Esse dado é importante, pois reflete o indicador HH18 da UIT, que
representa a proporção de pessoas que possuem telefone móvel celular.
Quem informa ter celular era também perguntado se o seu dispositivo possuía
acesso à internet com a pergunta “Esse telefone móvel celular para uso pessoal tem
22 IBGE, 2017, Quesito S07006.
0% 25% 50% 75% 100%
Outro motivo
Achava o equipamento eletrônico necessário caro
O serviço de acesso à internet não estava disponívelnos locais que costuma frequentar
Achava o serviço de acesso à internet caro
Falta de interesse em acessar à internet
Não sabia usar a internet
34
acesso à Internet?”23, existindo duas opções de resposta: “sim” ou “não”. Enquanto
isso, quem respondia não ter celular, era perguntado sobre o principal motivo para
isso com a questão “Qual é o principal motivo para ___ não ter telefone móvel para
uso pessoal?”24 com uma séria de opções de resposta: “aparelho telefônico era caro”;
“serviço era caro”; “serviço de telefonia móvel celular não estava disponível nos locais
que costumavam frequentar”; “costumavam usar o telefone móvel celular de outra
pessoa”; “falta de interesse em ter telefone móvel celular”; “não sabiam usar telefone
móvel celular”; e “outro motivo” com espaço aberto para ser especificado pelo
entrevistador (Quesito S070081). Assim, 84,3% relataram que tinham acesso à internet
pelo seu celular de uso pessoal. Entre aqueles que informaram não ter celular, 25,7%
indicaram que o maior impedimento era o fato do aparelho ser caro, conforme o
gráfico 3.4.
Gráfico 3.4: Proporção de pessoas que não possuem celular segundo motivo para não
ter celular no Brasil em 2017
Fonte: PNADC 2017 (IBGE)
23 IBGE, 2017, Quesito S07007. 24 IBGE, 2017, Quesito S07008.
0% 25% 50% 75% 100%
Outro motivo
Acha o serviço caro
O serviço de telefonia móvel celular não está disponívelnos locais que costuma frequentar
Não sabe usar o telefone móvel celular
Falta de interesse em ter telefone móvel celular
Costuma usar o telefone móvel celular de outra pessoa
Acha o aparelho telefônico caro
35
Na próxima seção, será trabalhada outra pesquisa domiciliar: a TIC domicílios
do CETIC.br, sendo novamente aberto em duas subseções: a visão sobre a unidade de
referência domicílio e a de pessoa.
3.2. Tecnologia da Informação e Comunicação nos Domicílios (TIC
Domicílios)
No que se refere à produção de informações sobre o tema Tecnologia da
Informação e Comunicação (TIC) pelo CETIC.br, a pesquisa TIC Domicílios25 é realizada
anualmente desde 2005 com o objetivo de mapear o acesso à infraestrutura TIC nos
domicílios urbanos e rurais do país e as formas de uso destas tecnologias por
indivíduos de 10 anos de idade ou mais. De acordo com o CETIC.br, a TIC Domicílios
segue padrões metodológicos e indicadores definidos internacionalmente a fim de
permitir a comparabilidade de seus resultados. Para isso, a pesquisa adota os
referenciais da Sociedade para a Medição das TIC para o Desenvolvimento (Partnership
on Measuring ICT for Development), liderada pela União Internacional de
Telecomunicações (UIT), tendo como alvo o acompanhamento das metas
estabelecidas pela Cúpula Mundial da Sociedade da Informação (WSIS). A UIT funciona
como uma agência especializada da ONU para TIC, sendo a fonte oficial de estatísticas
globais de TIC.
Segundo o CETIC.br, o plano amostral da pesquisa TIC Domicílios utiliza
informações do Censo Demográfico e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios,
ambas realizadas pelo IBGE, sendo que as entrevistas são realizadas presencialmente,
em domicílios em áreas urbanas e rurais (a partir de 2009). A pesquisa conta com a
formação de 36 estratos geográficos (inalterados desde 2007) denominados Estratos
TIC. A seleção da amostra é realizada em três estágios de seleção: seleção dos
municípios, seleção dos setores censitários e seleção de domicílios e respondentes.
25 Para mais detalhes: https://cetic.br/pesquisa/domicilios/. Acesso em 16/05/2019.
36
Nos dois primeiros estágios a seleção de municípios e setores é feita com
probabilidade proporcional ao tamanho de acordo com o CETIC.br. Uma diferença
importante entre a pesquisa TIC Domicílios e a PNADC é que na primeira existe o
sorteio do informante sobre acesso e uso pelos indivíduos de TIC, enquanto na
segunda são captadas as informações de todos os residentes no domicílio.
Como o questionário da edição de 2017 da TIC Domicílios é bem mais extenso
que o suplemento da PNADC, esta dissertação irá centrar sua análise em uma seleção
de questões que permitem a comparação com a pesquisa do IBGE, além de outras que
envolvam indicadores da UIT que não foram cobertos pela PNADC. Justamente como a
comparação dos dados é de suma importância, não serão utilizados os dados mais
recentes (2018) da TIC Domicílios, pois o último ano da PNADC com o suplemento TIC
foi em 2017.
3.2.1. Fluxo lógico do questionário da TIC Domicílios de acordo com a
unidade de referência domicílio
O primeiro módulo da pesquisa TIC domicílios tem como unidade de referência
o domicílio. A partir da ilustração 3.3, é possível seguir a lógica do questionário
utilizado nessa parte. Todo o restante do questionário é focado no indivíduo, com
exceção da maior parte do último bloco, chamado “Dados de Classificação Econômica
– Critério Brasil 2015”, que terá uma breve explicação ao final dessa seção.
37
Ilustração 3.3: Fluxograma do módulo A da TIC Domicílios – Acesso às Tecnologias de
Informação e Comunicação no Domicílio
Fonte: TIC Domicílios 2017 (CETIC.br) – Elaboração do autor
38
As duas primeiras perguntas investigam se o domicílio possui determinados
dispositivos e a quantidade de cada um: “Neste domicílio tem _________________?”26
com as opções “computador de mesa”, “notebook” e “tablet” para completar o espaço
em branco; e “Quantos _____________ tem neste domicílio?”27 (novamente o espaço
em branco pode ser substituído pelos termos apontados anteriormente) com resposta
aberta para inclusão do contingente de aparelhos. Assim, de acordo com a pesquisa do
CETIC.br, 46,3% dos domicílios brasileiros tinham microcomputador28 em 2017. Esse
dado é importante pois, como já comentado na seção anterior, o indicador HH4 da UIT
representa a proporção de domicílios com computador.
Em seguida vem uma pergunta central: “Neste domicílio tem acesso à
Internet?”29. A pergunta refere-se à existência de conexão à internet no domicílio, no
momento da pesquisa, tal como recomenda a UIT30. Aliás, com base nessa pergunta,
entende-se que o CETIC.br, diferentemente do IBGE, considera o acesso à internet
como um serviço de utilidade ao domicílio, disponível para todo e qualquer morador
do mesmo, tal como o serviço de água, esgoto ou luz. Sendo assim, cabe destacar que
a definição operacional do conceito acesso à internet difere nas pesquisas PNADC e TIC
Domicílio. Nessa última, depreende-se que 60,8% dos domicílios brasileiros têm acesso
à internet. Da mesma forma, o HH6 da UIT também se encontra presente nesse
módulo do questionário, tendo em vista que se refere à proporção de domicílios com
acesso à internet.
Quem relata que seu domicílio não tem acesso à internet, deve responder na
sequência por que não acessa - “Por quais dos seguintes motivos NÃO tem acesso à
26 CETIC.br, 2017, Pergunta A1. 27 CETIC.br, 2017, Pergunta A2. 28 Considera-se nesse estudo um domicílio com acesso a computador todo aquele que menciona ao menos um entre os seguintes tipos: computador de mesa, notebook e tablet. 29 CETIC.br, 2017, Pergunta A4. 30 Para maiores detalhes, ver página 155 do Manual for measuring ICT access and use by households and individuals (2014), preparado no âmbito da Sociedade para a Medição das TIC para o Desenvolvimento (Partnership on Measuring ICT for Development). Disponível em: http://www.itu.int/dms_pub/itu-d/opb/ind/D-IND-ITCMEAS-2014-PDF-E.pdf. Acesso em 19/09/2019.
39
Internet neste domicílio?”31, em que as opções são: “por falta de computador no
domicílio”; “por falta de necessidade dos moradores”; “por falta de interesse dos
moradores”; “porque os moradores têm acesso à Internet em outro lugar”; “porque os
moradores acham muito caro”; “porque os moradores não sabem usar Internet”; “por
falta de disponibilidade de Internet na região do domicílio”; “porque os moradores
têm preocupações com segurança ou privacidade”; “porque os moradores evitam o
contato com conteúdo perigoso”; “outro motivo” com espaço aberto para ser
especificado pelo entrevistador; “não sabe”; e “não respondeu”. O entrevistador lista
os motivos e o entrevistado relata quais motivos coincidem com os enumerados. Se
houver algo não listado, o entrevistador anota dentro do campo “outro motivo”.
Depois, o entrevistado é instigado a relatar qual o principal motivo: “E qual desses
motivos é o principal?”32 com as mesmas opções da pergunta anterior. O gráfico 3.5
apresenta a distribuição das respostas com seleção única na barra clara, já que se trata
do motivo principal (logo, o somatório das primeiras barras totaliza 100%).
Adicionalmente, nas barras mais escuras estão contabilizadas as respostas múltiplas.
Independentemente do método, os respondentes alegam que o preço caro é o que
afasta a possibilidade de acesso à internet. Os valores do gráfico 3.5 estão organizados
de forma decrescente em relação ao motivo principal. Vale ainda apontar que essa
questão vai de encontro com o indicador da UIT HH14 que compreende a proporção
de domicílios sem internet, segundo barreiras de acesso.
31 CETIC.br, 2017, Pergunta A5. 32 CETIC.br, 2017, Pergunta A5A.
40
Gráfico 3.5: Proporção de domicílios sem acesso à internet segundo motivação para
falta de acesso no Brasil em 2017
Fonte: TIC Domicílios 2017 (CETIC.br)
Nesse ponto, é importante ressaltar que essa é uma pergunta que não está
presente na PNADC, que apenas relata o motivo individual do não uso, enquanto a TIC
Domicílios inclui ambos: o motivo para o domicílio não ter acesso e também o
individual. Isso reforça como as duas instituições responsáveis pelas pesquisas
demonstram entendimento distinto quanto à mensuração do acesso à internet: no
caso do CETIC.br, trata-se de um serviço de utilidade ao domicílio, disponível para todo
e qualquer morador do mesmo, assim como o serviço de água, esgoto ou luz; e no caso
do IBGE, representa um serviço móvel individual, já que basta, pelo menos, um
morador ter acesso ao serviço disponível para classificar o domicílio como tendo o
acesso à internet.
0% 25% 50% 75% 100%
Nenhum desses motivos
Outro motivo
Porque os moradores têm preocupações comsegurança ou privacidade
Por falta de computador no domicílio
Por falta de disponibilidade de Internet naregião do domicílio
Porque os moradores evitam o contato comconteúdo perigoso
Por falta de necessidade dos moradores
Porque os moradores têm acesso à Internet emoutro lugar
Porque os moradores não sabem usar Internet
Por falta de interesse dos moradores
Porque os moradores acham muito caro
Motivo principal
Motivo múltiplo
41
Já quem acessa, segue para a pergunta “Qual o principal tipo de conexão
utilizado para acessar a Internet em seu domicílio?”33 com as opções: “conexão
discada, que deixa a linha de telefone ocupada durante o uso”; “conexão DSL, via linha
telefônica, que não deixa a linha ocupada durante o uso”; “conexão via cabo de TV ou
fibra ótica”; “conexão via sinal de rádio”; “conexão via sinal de satélite”; “conexão
móvel via modem ou chip 3G ou 4G”; “não sabe”; e “não respondeu”. Nesse caso, a
conexão mais expressiva foi a banda larga fixa34 com 63,6% de acordo com a tabela
3.2. Vale pontuar que é perceptível que tal questão atende o indicador da UIT HH11,
que mede a proporção de domicílios com acesso à Internet, por tipo de serviço.
Tabela 3.2: Proporção de domicílios com acesso à internet segundo tipo de conexão no
Brasil em 2017
Conexão Proporção de domicílios (%)
Conexão via cabo de TV ou fibra ótica 32,8
Conexão móvel via modem ou chip 3G ou 4G 25,0
Conexão via linha telefônica (DSL) 15,1
Conexão via rádio 8,3
Conexão via satélite 7,3
Conexão discada 1,3
Não sabe 9,7
Fonte: TIC Domicílios 2017 (CETIC.Br)
Ainda para quem declarou que mora em um domicílio com acesso à internet,
há quatro perguntas: “Neste domicílio tem Wi-Fi?”35, “A Internet utilizada neste
domicilio é utilizada também em algum domicílio vizinho?”36, “Considerando as
33 CETIC.br, 2017, Pergunta A7. 34 Para compor o item Banda Larga Fixa, foram somadas as seguintes opções: conexão via linha telefônica (DSL); conexão via cabo de TV ou fibra ótica; conexão via rádio; e conexão via satélite. 35 CETIC.br, 2017, Pergunta A7A com opções de resposta “sim”, “não”, “não sabe” e “não respondeu”. 36 CETIC.br, 2017, Pergunta A7B com opções de resposta “sim”, “não”, “não sabe” e “não respondeu”.
42
seguintes faixas, qual é a velocidade da Internet contratada neste domicílio?”37 (essa
pergunta é exclusiva para quem declarou que usa banda larga fixa no domicílio) e
“Considerando apenas a conexão de Internet, mesmo que este domicílio contrate um
pacote ou combo que inclua outros serviços, qual o valor pago aproximadamente pela
Internet contratada neste domicílio?”38 (novamente para todos que tenham acesso no
domicílio). Nenhuma destas questões tem algo parecido na PNADC, apesar da
pergunta sobre o ticket médio gasto com TIC estar alinhada com o indicador HH16 da
UIT. A partir dessas perguntas, é entendido que 80,6% dos domicílios brasileiros têm
Wi-Fi, 18,2% compartilha a internet com outro domicílio vizinho, 9 a 10 Mbps é a faixa
de velocidade com maior representatividade nos lares brasileiros e a faixa de gastos
com TIC mais presente nos lares brasileiros fica entre R$ 101,00 e R$ 150,00 (14,1%).
Por fim, há apenas algumas perguntas sobre identificação do respondente, que
não são tão relevantes no estudo, mas que se encontram sinalizadas no fluxograma do
início desta subseção (Ilustração 3.3).
Como comentado no início desta subseção, ainda há um bloco que também
possui como unidade de referência o domicílio (o último de todo o questionário):
“Dados de Classificação Econômica – Critério Brasil 2015”. Este critério foi criado pela
ABEP (Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa) e sua versão mais atual é de
2018, mas para a TIC Domicílios de 2017, foi utilizado como critério a sua versão de
2015. Independente das versões, sua lógica permanece a mesma: é voltado para
descrever o perfil socioeconômico dos respondentes e dos domicílios, o que
compreende a posse a certos itens e suas quantidades, além do acesso a determinados
serviços e renda mensal (pessoal e familiar). A partir disso, é elaborado um sistema de
pontos para cada resposta, em que o somatório dessa pontuação varia entre 0 e 100.
37 CETIC.br, 2017, Pergunta A8 com opções de resposta “até 256 Kbps”, “de 257 Kbps até 999 Kbps”, “1 Mega”, “2 Mega”, “De 3 Mega até 4 Mega”, “de 5 Mega até 8 Mega”, “de 9 Mega até 10 Mega”, “de 11 Mega até 20 Mega”, “de 21 Mega até 50 Mega”, “51 Mega ou mais 10”, “não sabe” e “não respondeu”. 38 CETIC.br, 2017, Pergunta A9 com opções de resposta que iniciam em “até R$ 10”, variando em faixas que aumentam de R$ 10,00 em R$ 10,00 até “acima de R$ 150”, além de “não paga nada”, “não sabe” e “não respondeu”.
43
Assim, são estabelecidos cortes para determinar qual é a classe socioeconômica do
domicílio: A (45 a 100 pontos), B1 (38 a 44 pontos), B2 (29 a 37 pontos), C1 (23 a 28
pontos), C2 (17 a 22 pontos) e D-E (0 a 16 pontos), segundo a ABEP (2014). Nesse
último bloco da TIC Domicílios, vale ressaltar que há referência a quatro índices da UIT:
HH1 (proporção de domicílios com rádio) a partir da pergunta “No domicílio tem
rádio? Considere todos os rádios da casa, incluindo os rádios de aparelhos de som, de
walkman. Não considerar rádio de automóveis. (CASO SIM) Quantos?”39; HH2
(proporção de domicílios com televisão) a partir da pergunta “No domicílio tem
televisor em cores? (CASO SIM) Quantos?”40; HH3 (proporção de domicílios com
telefone) a partir da pergunta “No domicílio tem telefone fixo (não o aparelho, mas a
linha telefônica)?”41; e HH13 (proporção de domicílios com acesso à programação
televisiva por meios diferentes da televisão analógica aberta, por tipo) a partir das
perguntas “No domicílio tem TV por assinatura (a Cabo, Satélite etc.)?”42 e “No
domicílio tem antena parabólica?”43. Por meio dessas questões da pesquisa do
CETIC.br, estima-se que 64% do domicílios brasileiros têm rádio, 96% televisões
coloridas, 29% telefone fixo, 33% antena parabólica e 29% TV por assinatura.
3.2.2. Fluxo lógico do questionário da TIC Domicílios de acordo com a
unidade de referência pessoa
O segundo bloco da TIC Domicílios 2017, denominado Bloco Individual TIC
Domicílios, não será abordado nesta dissertação, pois também não envolve
diretamente as questões de internet, dado que seu foco é em escolaridade e ocupação
do respondente da pesquisa, mas já introduzindo a unidade de referência pessoa.
39 CETIC.br, 2017, Pergunta CB1. 40 CETIC.br, 2017, Pergunta CB1. 41 CETIC.br, 2017, Pergunta CB2A. 42 CETIC.br, 2017, Pergunta CB2C. 43 CETIC.br, 2017, Pergunta CB2D.
44
O terceiro módulo do questionário, chamado “Módulo C – Uso da Internet”,
inicia com uma pergunta importante, mas não presente na PNADC, pois funciona como
um filtro para as seguintes perguntas: “O(a) Sr(a) já usou a Internet?”44. Novamente, o
somatório das opções “não sabe” e “não sei” dão um resultado ínfimo que chega a
0,08%. Como resultado, 73,9% do público afirmam que já utilizaram, ao menos, uma
vez a internet na vida. Nesse momento, faz-se necessário explicitar a ilustração 3.4
referente ao fluxograma desse módulo.
44 CETIC.br, 2017, Pergunta C1.
45
Ilustração 3.4: Fluxograma do módulo C da TIC Domicílios – Uso da Internet45
Fonte: TIC Domicílios 2017 (CETIC.br) – Elaboração do autor
Assim, quem não sabe ou não responde essa primeira pergunta, é direcionado
ao Módulo B sobre uso de computador. Já quem diz que não, deve responder as
45 Se o respondente fala que acessa ou não internet pelo celular, isso irá impactar se determinadas perguntas no “Módulo J – Telefone Celular” irão aparecer ou não. Se o mesmo alega que não acessa a internet pelo celular, serão feitas perguntas no bloco J para confirmar isso. Dependendo das atividades realizadas no celular apontadas no Módulo J, certas atividades não aparecem como opções de atividades feitas na internet no Módulo C.
46
perguntas sobre motivação do não uso (“Por qual dos seguintes motivos o(a) senhor(a)
nunca usou a Internet?” e “E qual desses motivos é o principal?” com as seguintes
opções: “por falta de necessidade”; “por falta de interesse”; “por falta de habilidade
com o computador”; “por não ter onde usar”; “por ser muito caro”; “por ter
preocupações com segurança ou privacidade”; “por evitar o contato com conteúdo
perigoso”; “outro” com espaço aberto para ser especificado pelo entrevistador; “não
sabe”; e “não respondeu”)46 e também segue para o módulo B. A pergunta sobre o não
uso é novamente desdobrada em duas: uma podendo selecionar mais de uma opção
(barra escura) e outra para escolher apenas a principal motivação (barra clara). Os
dados de ambas estão expostos no gráfico 3.6 no qual se observa que o principal
problema enfrentado é a falta de interesse, mas o item mais citado de forma múltipla
foi a falta de habilidade com o computador. Novamente as opções estão ordenadas de
forma decrescente em relação ao motivo principal.
Gráfico 3.6: Proporção de pessoas que não usam a internet segundo barreiras de
utilização no Brasil em 2017
Fonte: TIC Domicílios 2017 (CETIC.br)
46 CETIC.br, 2017, Perguntas C2 e C2A.
0 0,25 0,5 0,75 1
Não sabe
Não respondeu
Por outro motivo
Por preocupações com segurança ou…
Por não ter onde usar
Por falta de necessidade
Para evitar o contato com conteúdo perigoso
Por ser muito caro
Por falta de habilidade com o computador
Por falta de interesse
Motivo principal
Motivo múltiplo
47
Já quem diz que usa é direcionado à outra pergunta de filtro sobre a última vez
que usou: “Quando o(a) senhor(a) usou a Internet pela última vez?”47 com as opções
“há menos de 3 meses”, “entre 3 meses e 12 meses” e “mais de 12 meses atrás”.
Quem relata que usou há menos de três meses, segue no mesmo módulo, mas quem
diz que usou há mais tempo também vai para o módulo B. Os resultados sobre o
período de acesso estão disponíveis no gráfico 3.7, o qual indica que 67,5% das
pessoas utilizaram a internet nos últimos três meses de acordo com a TIC Domicílios.
Esse filtro é importante porque a definição da UIT sobre usuário da internet
compreende aquele que fez uso do serviço nos últimos três meses, ou seja, o índice
HH7 (proporção de pessoas que utilizam a internet).
Gráfico 3.7: Proporção de pessoas que usam a internet segundo histórico de utilização
no Brasil em 2017
Fonte: TIC Domicílios 2017 (CETIC.br)
Na sequência, há a pergunta sobre frequência de uso da internet nos últimos
três meses: “Em média, com que frequência o(a) senhor(a) usou a Internet nos últimos
3 meses?”48, cujas as opções são: “todos os dias ou quase todos os dias”; “pelo menos
uma vez por semana”; “pelo menos uma vez por mês”; e “menos do que uma vez por
47 CETIC.br, 2017, Pergunta C3. 48 CETIC.br, 2017, Pergunta C4.
Há menos de trêsmeses (usuário)
Nunca acessou aInternet
Entre três mesese 12 meses
Mais de 12 meses
48
mês”. Essa pergunta apesar de não estar presente na PNADC também é importante,
pois trata de compor o indicador HH12 (proporção de pessoas que utilizam a Internet,
por frequência), proposto pela UIT, conforme já foi visto no capítulo 2. A tabela 3.3
indica que 87,2% das pessoas relatam o uso da internet todos ou quase todos os dias.
Tabela 3.3: Proporção de usuários de internet segundo frequência de utilização no
Brasil em 2017
Frequência de utilização Proporção de usuários de internet (%)
Todos os dias ou quase todos os dias 87,2
Pelo menos uma vez por semana 9,4
Pelo menos uma vez por mês 2,4
Menos de uma vez por mês 1,0
Fonte: TIC Domicílios 2017 (CETIC.Br)
Por seguinte, continua-se no Módulo C com a pergunta sobre os dispositivos
para usar a internet nos últimos três meses: “Nos últimos 3 meses, o(a) sr(a) utilizou a
Internet no(a) ______________?”49, em que os equipamentos (“computador de
mesa”; “notebook”; “tablet”; “telefone celular”; “videogame”; “televisão”; e “outro”
com espaço aberto para anotações do entrevistador) podem ser substituídos no
espaço em branco. Mais que isso, se o respondente falasse que usa ou não a internet
pelo celular, isso impactaria se determinadas perguntas no “Módulo J – Telefone
Celular” iriam aparecer ou não. Caso o mesmo alegasse que não utiliza a internet pelo
celular, seriam realizadas perguntas no bloco J para confirmar isso. Tal módulo
também teria outras perguntas para as pessoas que confirmaram o uso de internet no
celular. Esse bloco ainda será abordado mais a frente para fins de organização. Assim,
segundo o gráfico 3.8, baseado na pesquisa da TIC Domicílios, 95,7% dos entrevistados
respondem que usam a internet pelo celular. Vale ressaltar que essa pergunta atende
49 CETIC.br, 2017, Pergunta C5, sendo que para cada dispositivo são colocadas as opções “sim”, “não”, “não sabe” ou “não respondeu”.
49
parcialmente o indicador HH17 da UIT (proporção de pessoas que utilizam Internet,
por tipo de equipamento portátil e conexão utilizada para acessar a Internet).
Gráfico 3.8: Proporção de usuários de internet segundo dispositivo utilizado no Brasil
em 2017
Fonte: TIC Domicílios 2017 (CETIC.br)
Posteriormente, é feita uma pergunta sobre o local em que a pessoa utilizou a
internet nesses últimos três meses50: “Nos últimos 3 meses, o(a) senhor(a) usou a
Internet em quais dos seguintes locais? O (A) Sr. (a) utilizou a Internet____________”,
cujas as opções para preenchimento do espaço em branco são “em casa”, “no
trabalho”, “na escola ou estabelecimento de ensino”, “na casa de outra pessoa, como
por exemplo amigo, vizinho ou familiar”, “centro público de acesso gratuito, como por
exemplo telecentro, biblioteca ou entidade comunitária”, “centro público de acesso
pago, como por exemplo lanhouse, Cyber Café ou Internet café”, “Enquanto se
desloca, como por exemplo na rua, no ônibus, no metrô ou no carro”, “outro lugar”
com espaço para anotações do entrevistador, “não sabe” e “não respondeu”. Na
sequência, é realizada a pergunta do lugar em que mais usou51: “Em qual desses locais
o(a) Sr(a) usou a Internet com mais frequência, nos últimos 3 meses?” com a mesma
disponibilidade de opções da pergunta anterior. Ambas não têm semelhante na
50 CETIC.br, 2017, Pergunta C6. 51 CETIC.br, 2017, Pergunta C6A.
0%
20%
40%
60%
80%
100%
Telefonecelular
Notebook Computadorde mesa
Televisão Tablet Aparelho devideogame
Outrosdispositivos
50
PNADC, mas são perguntas importantes, pois atendem o indicador da UIT HH8
(proporção de pessoas que utilizam a Internet, por local de utilização). De acordo com
a tabela 3.4, é possível perceber que em casa, nas duas visões, é o local onde as
pessoas mais utilizam a internet.
Tabela 3.4: Proporção de usuários de internet segundo local de utilização por tipo de
resposta no Brasil em 2017
Local de utilização Resposta múltipla (%) Resposta principal (%)
Em casa 93,8 80,8
No trabalho 36,7 9,8
Na casa de outra pessoa, como por exemplo amigo, vizinho ou familiar
62,0 5,8
Enquanto se desloca, como por exemplo na rua, no ônibus, no metrô ou no carro
48,1 1,7
Na escola ou estabelecimento de ensino 19,5 1,1
Em centro público de acesso pago, como por exemplo lanhouse, Cyber Café ou Internet café
9,9 0,5
Em centro público de acesso gratuito, como por exemplo telecentro, biblioteca ou entidade comunitária
16,6 0,3
Em outro lugar 0,5 0,0(1)
Fonte: TIC Domicílios 2017 (CETIC.Br) (1)
O valor calculado corresponde a 0,03%.
Em seguida, é feita uma sequência de perguntas no intuito de averiguar se
foram realizadas certas atividades através da internet: “Quais das seguintes atividades
o(a) Sr(a) realizou na Internet nos últimos 3 meses?”52. Contudo, o conjunto de
atividades mensuradas é muito superior ao medido na PNADC, que se restringe a
quatro. Na próxima seção, essas diferenças e comparações serão observadas com
maior detalhamento, assim como os números do que há em comum nas duas
pesquisas.
52 CETIC.br, 2017, Perguntas C7 a C12 com opções de resposta “sim”, “não”, “não sabe” e “não respondeu”.
51
Após essa sequência de perguntas de atividades, o respondente segue para o
bloco H (“Comércio Eletrônico”), que visa averiguar se o respondente comprou ou
encomendou produtos ou serviços pela Internet nos últimos 12 meses, mesmo que o
pagamento não tenha sido feito por lá. Contudo, como esse dado não é mensurado na
PNADC e compreende um fenômeno bem menor que o acesso e o uso da internet, o
referido bloco não será objeto de análise da presente dissertação.
Em seguida, há o módulo B (Complemento Uso de Computador), que almeja
entender se há uso de computador por quem não usa a internet ou utilizou há mais de
três meses, além de entender se há uso do computador fora a internet, já que no bloco
C há um público que não menciona que utiliza a internet pelo computador. A primeira
pergunta é “O(a) Sr(a) já usou um computador de mesa, um notebook ou um
tablet?”53 e 61,1% confirmam isso. Já a segunda pergunta direciona-se à esse público
que respondeu positivamente o item anterior: “Quando o(a) sr(a) usou um
computador de mesa, um notebook ou um tablet pela última vez?”54. O gráfico 3.9
revela que 42,4% usaram há menos de três meses e, portanto, são usuários, conforme
índice HH5 da UIT (proporção de pessoas que utilizam microcomputador).
Gráfico 3.9: Proporção de pessoas que utilizam computador segundo histórico de uso
no Brasil em 2017
Fonte: TIC Domicílios 2017 (CETIC.br)
53 CETIC.br, 2017, Pergunta B1 com opções de resposta “sim”, “não”, “não sabe” e “não respondeu”. 54 CETIC.br, 2017, Pergunta B2
Há menos de trêsmeses (usuário)
Nunca usou umcomputador
Mais de 12 mesesatrás
Entre três mesese 12 meses atrás
52
O Módulo I (habilidades com o computador) vem a diante com o objetivo de
compreender o nível de habilidade e atividades realizadas com o computador para os
respondentes que usaram o mesmo nos últimos três meses, seja com internet ou não.
Novamente, esses dados também não são mensurados na PNADC. Contudo, eles não
são menos importantes por isso, tendo em vista que a única pergunta desse bloco
atende o indicador HH15 (proporção de usuários de microcomputador, segundo o tipo
de habilidade): “Quais das seguintes atividades o(a) senhor(a) realizou em um
computador de mesa, um notebook ou um tablet nos últimos 3 meses?”55, sendo que
as ações listadas são “copiou ou moveu um arquivo ou uma pasta”, “copiou e colou
informações em um documento”, “anexou arquivos em e-mails”, “usou uma planilha
de cálculo”, “instalou novos equipamentos, como modem, impressora, câmera ou
microfone”, “instalou programas de computador ou aplicativo”, “criou apresentações
de slides”, “transferiu arquivos entre computador e outros equipamentos ou
dispositivos” e “criou programa de computador usando linguagem de programação”.
A tabela 3.5 evidencia que 73,8% fez, ao menos, uma das atividades já listadas, tendo
destaque para copiou ou moveu um arquivo ou uma pasta (56,1%).
55 CETIC.br, 2017, Pergunta I1 com opções de resposta “sim”, “não”, “não sabe” e “não respondeu”.
53
Tabela 3.5: Proporção de usuários de microcomputador segundo atividades realizadas
com o computador no Brasil em 2017
Atividades realizadas Proporção de usuários de
microcomputador (%)
Copiou ou moveu um arquivo ou uma pasta 56,1
Anexou arquivos em e-mails 51,2
Copiou e colou informações em um documento 49,7
Transferiu arquivos entre computador e outros equipamentos ou dispositivos
42,3
Instalou programas de computador ou aplicativo 39,6
Usou uma planilha de cálculo 28,1
Criou apresentações de slides 23,8
Instalou novos equipamentos, como modem, impressora, câmera ou microfone
22,8
Criou programa de computador usando linguagem de programação
7,0
Nenhuma dessas atividades 26,2
Fonte: TIC Domicílios 2017 (CETIC.Br)
Do mesmo modo, o Módulo J, já citado anteriormente quando se abordou o
bloco C, trata a temática de celular. Como esse módulo não é tão curto como os
demais, também se faz necessário observar a ilustração 3.5 abaixo que o representa
bem.
54
Ilustração 3.5: Fluxograma do módulo J da TIC Domicílios – Telefone Celular
Fonte: TIC Domicílios 2017 (CETIC.br) – Elaboração do autor
55
A primeira pergunta desse bloco (“E o(a) senhor(a) usou um telefone celular
nos últimos 3 meses?”56) somente é feita se o respondente não disser no módulo C
que usou internet nos últimos três meses pelo celular. Em caso positivo,
automaticamente a resposta dele nessa pergunta é “sim”, já que seria redundante
fazer mesma. Nesse cenário, observa-se que 87,7% alegam que usaram celular nos
últimos três meses. É importante salientar que essa questão atende o indicador da UIT
HH10, que retrata a proporção de pessoas que utilizam telefone celular móvel.
Essas pessoas que responderam positivamente seguem para a pergunta “Para
quais das seguintes atividades o(a) senhor(a) usou o telefone celular nos últimos 3
meses? O(a) Sr.(a)_______”57, em que o espaço em branco pode ser preenchido com
as seguintes opções: “fez e recebeu chamadas telefônicas”; “enviou mensagens de
texto SMS”; “ouviu músicas”; “assistiu vídeos”; “jogou”; “tirou fotos”; “usou mapas,
por exemplo no Google Maps”; “enviou e recebeu e-mails”; “usou redes sociais, como
Facebook, Instagram ou Snapchat; “acessou páginas ou sites”; “baixou aplicativos”;
“buscou informações, como por exemplo no Google”; “compartilhou fotos, vídeos ou
textos”; e “mandou mensagens por Whatsapp, Skype ou chat do Facebook”. A partir
da tabela 3.6, percebe-se que quase 100% do público fez alguma das atividades
listadas, com destaque para 93,2% que fizeram ou receberam chamadas telefônicas.
56 CETIC.br, 2017, Pergunta J1 com opções de resposta “sim”, “não”, “não sabe” e “não respondeu”. 57 CETIC.br, 2017, Pergunta J2 com opções de resposta “sim”, “não”, “não sabe” e “não respondeu”.
56
Tabela 3.6: Proporção de pessoas que usam celular segundo atividades realizadas no
mesmo no Brasil em 2017
Atividades realizadas Proporção de pessoas que usa celular (%)
Fez e recebeu chamadas telefônicas 93,2
Tirou fotos 74,9
Mandou mensagens 73,4
Ouviu músicas 68,2
Assistiu a vídeos 67,4
Compartilhou fotos, vídeos ou textos 63,5
Buscou informações 61,8
Usou redes sociais 61,5
Acessou páginas ou sites 53,8
Baixou aplicativos 53,5
Enviou mensagens SMS 50,5
Enviou e recebeu e-mails 47,5
Usou mapas 40,4
Jogou 39,9
Nenhuma dessas atividades 0,5
Fonte: TIC Domicílios 2017 (CETIC.Br)
Na sequência, vem uma pergunta ainda focada naqueles que responderam que
utilizaram o celular nos últimos três meses: “o(a) senhor(a) usou a Internet pelo
telefone celular nos últimos 3 meses?”58, sendo que quem já tinha informado que
usava a internet pelo celular no módulo C ou respondeu que fez um das sete últimas
atividades listadas no item anterior (todas essas exigem uso de internet),
automaticamente já ficava com “sim” nessa pergunta. Nessa questão, 70,8%
confirmaram que usaram a internet no celular.
A próxima pergunta apenas é apresentada para quem usou internet no celular
nos últimos três meses: “Quando usou a Internet pelo telefone celular nos últimos 3
meses, que tipo de conexão o(a) sr.(a) utilizou?”59, em que havia as opções “3G ou 4G”
e “Wi-Fi”. Nesse caso, o somatório de ambas também supera 100%, pois as opções não
58 CETIC.br, 2017, Pergunta J3 com opções de resposta “sim”, “não”, “não sabe” e “não respondeu”. 59 CETIC.br, 2017, Pergunta J3A com opções de resposta “sim”, “não”, “não sabe” e “não respondeu”.
57
são excludentes. Sendo assim, 71,7% apontaram que usaram 3G ou 4G e 87,9% o Wi-Fi
(60,2% usaram ambos).
Na sequência, é feita uma pergunta para todas as pessoas, independentemente
das respostas dadas anteriormente: “O(a) sr(a) possui telefone celular? (CASO SIM)
Quantas linhas ou chips ativos o(a) senhor(a) possui?”60. Essa pergunta também se
associa ao indicador da UIT HH18 (proporção de pessoas que possuem telefone móvel
celular), retornando que 83,1% das pessoas possuem um celular, sendo que a maioria
(58,5%) tem apenas um chip ou linha.
Quem afirmou que tem celular, na sequência era perguntado sobre se o celular
era pré-pago ou pós-pago: “E este telefone celular é Pré-Pago ou Pós-Pago?”, sendo
que se o entrevistado tivesse mais de uma linha ou chip, era solicitado para considerar
a linha ou chip principal, ou seja, aquela mais usada pelo respondente. Através dessa
pergunta, 67,5% respondeu pré-pago, 26,7% pós-pago e 5,8% não soube responder,
finalizando esse bloco.
Depois, há o módulo TC (Atividades Culturais) que objetiva apurar os hábitos,
frequência da prática de atividades culturais, preferências, comportamentos de
compras para acesso a conteúdos culturais, hábitos e rendimentos baseados no uso de
internet para quem usou a internet nos últimos três meses. Em sequência, há o
módulo G (Governo Eletrônico) que visa constatar atividades na internet relacionadas
a serviços públicos voltado para aqueles com 16 anos ou mais, que utilizaram internet
nos últimos três meses. Ambos os módulos não serão explorados na presente
dissertação, pois se trata de algo muito específico dentro do uso da internet que não é
o objeto de estudo e não tem algo semelhante na PNADC para efeito comparativo. E
ainda há o módulo L (Uso de Aplicações Selecionadas) voltado a quem disse que nunca
usou a internet para confirmar essa resposta, perguntando se o respondente já
realizou alguma atividade que necessita de internet e repetindo algumas perguntas do
60 CETIC.br, 2017, Pergunta J5 com opções de resposta “sim. Quantas linhas/ chips?” com espaço para o entrevistador colocar a quantidade de linhas ou chips, “não”, “não sabe” e “não respondeu”.
58
módulo C no caso de o respondente contradizer-se com a resposta dada
anteriormente.
O módulo seguinte é o Complemento de Informações Pessoais e apenas inclui
perguntas sobre dados socioeconômicos, que não são o alvo da presente dissertação.
Depois vem o Quadro Domiciliar com perguntas, como quem é o responsável pelo
domicílio e outras voltadas a todos os moradores: o grau de parentesco com a pessoa
responsável, a escolaridade de cada um e se é economicamente ativo ou não. Já o
penúltimo módulo (TIC por Morador) pergunta sobre uso de microcomputador e
internet nos últimos três meses, além da posse de celular próprio para cada morador
do domicílio. Por fim, chega-se ao bloco final: Dados de Classificação Econômica –
Critério Brasil 2015, que majoritariamente, como comentado na seção anterior, trata
na unidade de referência domicílio, exceto a renda pessoal do respondente. Na
próxima seção, haverá um foco no que for possível comparar entre PNADC e TIC
Domicílios.
3.3. Comparação entre as pesquisas brasileiras
Como já comentado anteriormente, o foco desta última seção é fazer
comparações entre as pesquisas que ainda não foram exploradas ou que ainda podem
ser mais detalhadas. Como foi possível notar ao longo das seções anteriores, a questão
do acesso é mensurada no âmbito da unidade de referência domicílio, enquanto o uso
fica na instância de indivíduo. Contudo, mesmo esse comportamento convergindo nas
duas pesquisas analisadas, elas tem um ponto central de discordância. Para isso, é
necessário contrapor as perguntas de ambas no quadro 3.1 e os resultados na tabela
3.7.
59
Quadro 3.1: Perguntas para coleta de informações sobre acesso e uso da internet por pesquisa
Conceito PNADC TIC Domicílios
Acesso (unidade de referência domicílio)
Algum morador tem acesso à Internet no domicílio por meio de microcomputador, tablet, telefone móvel celular, televisão ou outro equipamento?
Neste domicílio tem acesso à Internet?
Usuário (unidade de referência
pessoa)
Nos últimos três meses, ___ utilizou à Internet em algum local (domicílio, local de trabalho, escola, centro de acesso gratuito ou pago, domicílio de outras pessoas ou qualquer outro local) por meio de microcomputador, tablet, telefone móvel celular, televisão ou outro equipamento?
O(a) Sr(a) já usou a Internet? Quando o(a) senhor(a) usou a Internet pela última vez?
Fonte: PNADC (2017) e TIC Domicílios (2017). Elaboração do próprio autor.
Tabela 3.7: Proporção de domicílios com acesso à internet e usuários da mesma por
pesquisa no Brasil em 2017
Conceito PNADC (%) TIC Domicílios (%)
Acesso (unidade de referência domicílio) 74,9 60,8
Usuário (unidade de referência pessoa) 69,8 67,5
Fonte: PNADC (2017) e TIC Domicílios (2017). Elaboração do próprio autor.
No item acesso, temos três semelhanças que são necessárias listar:
1. Há a delimitação de local de acesso: o domicílio;
2. Não há restrição de dispositivo utilizado: qualquer um estaria apto;
3. Não há delimitação de tempo (mas pressupõe-se que se refere à
disponibilidade de acesso no momento da pesquisa).
Contudo, há uma diferença central que suscita um debate e que pode explicar a
diferença de aproximadamente 14 pontos percentuais no quesito acesso entre as
pesquisas, já que esse valor extrapola as margens de erro. Vale observar que na
PNADC, só existem as opções “sim” e “não” como resposta, enquanto na TIC
Domicílios, também existem as opções “não sabe” ou “não respondeu”. Contudo,
essas duas opções extras somadas não chegam a 0,3%, logo não são a causa da
60
diferença. O que de fato difere é o conceito latente que as pesquisas comunicam sobre
esse serviço. O IBGE assume a internet como um serviço móvel individual, pois basta
pelo menos um morador ter o serviço disponível para classificar o domicílio como
tendo acesso à internet, mesmo que o referido morador não compartilhe o acesso
com os demais. Esse cenário é possível, pois um morador pode ter um pacote de dados
em seu celular e não compartilhar com os demais integrantes do domicílio, o que seria
diferente de um Wi-Fi à disposição para qualquer pessoa residente. Já o CETIC.br,
diferentemente do IBGE, capta o acesso à internet como um serviço de utilidade ao
domicílio, disponível para todo e qualquer morador do mesmo, assim como o serviço
de água, esgoto ou luz, independentemente se ele usa ou não.
Já as estimativas de uso apresentam uma diferença de apenas 2,3 pontos
percentuais entre as pesquisas, o que pode estar contido nas margens de erro61, pois
só há uma divergência central nesse quesito: na TIC domicílios, são necessárias duas
perguntas para captar o conceito de usuário de internet, enquanto na PNADC, há
apenas uma. Já as semelhanças são providenciais:
1. Não a delimitação de local de uso: pode ser qualquer lugar;
2. Não há restrição de dispositivo utilizado: qualquer um estaria apto;
3. Há delimitação de tempo: últimos três meses;
4. Mesmo conceito de usuário: uso da internet nos últimos três meses.
A pergunta da PNADC “Neste domicílio, quantos moradores têm telefone
móvel celular para uso pessoal?” envolve a posse desse equipamento e fornece
estimativas em que 93,2% dos domicílios têm esse tipo de dispositivo. Contudo, na TIC
Domicílios, a pergunta “O(a) sr(a) possui telefone celular? (CASO SIM) Quantas linhas
ou chips ativos o(a) senhor(a) possui?” traz a informação que 83,1% das pessoas
61 Na pesquisa do IBGE, esse dado conta com um coeficiente de variação de 0,5%, enquanto a pesquisa do CETIC apresenta uma margem de erro de 2,1%.
61
possuem um celular. Aqui há duas diferenças importantes: a unidade de referência na
primeira é o domicílio e na segunda é o indivíduo; e a primeira coloca a restrição para
uso pessoal, enquanto a segunda é livre, o que poderia incluir um celular corporativo,
por exemplo. Logo, fica claro as possíveis causas dessas diferenças. Contudo, se
compararmos essa pergunta da TIC Domicílios com a pergunta da PNADC “___ tem
telefone móvel celular para uso pessoal?”, o problema da unidade de referência deixa
de existir. Nesse cenário, a pesquisa do IBGE calcula que 78,2% das pessoas no Brasil
possuem um celular para uso pessoal. Ainda assim, persiste a restrição do uso que
deve justificar a diferença de quase 5 pontos percentuais entre as fontes.
A pergunta “Este domicílio tem microcomputador (considere inclusive os
portáteis, tais como: laptop, notebook ou netbook)?” da PNADC pode ser comparável
com a pergunta da TIC Domicílios “Neste domicílio tem _________________?” (com as
opções “computador de mesa”, “notebook” e “tablet” para completar o espaço em
branco). Apenas um critério ter que ser adotado: como os dispositivos na pesquisa do
CETIC.br são perguntados separadamente, é preciso considerar nesse estudo um
domicílio com acesso a microcomputador como todo aquele que menciona, ao menos,
um entre os tipos de equipamentos perguntados. Dessa forma, em ambos os casos,
chega-se que aproximadamente 46% dos domicílios brasileiros possuem a propriedade
de um dispositivo como esse, inclusive o tablet. Ressalta-se que a TIC Domicílios não
cita inclui o laptop, enquanto a PNADC o faz. Vale sinalizar que o conceito que inclui o
tablet como microcomputador segue as diretrizes da UIT e por isso o mesmo foi
utilizado.
Também há o tópico do dispositivo usado para acesso à internet, em que temos
o mesmo problema da unidade de referência distinta. No caso da PNADC é o domicílio
através da pergunta “Para acessar à Internet neste domicílio, algum morador utiliza:”
com as opções “microcomputador (de mesa ou portátil, como laptop, notebook ou
netbook)?”, “tablet”, “telefone móvel celular”, “televisão” ou “outro equipamento
62
eletrônico”, enquanto para a TIC Domicílios a referência é a pessoa com a pergunta
“Nos últimos 3 meses, o(a) sr(a) utilizou a Internet no(a) ______________?”, em que
os equipamentos (“computador de mesa”; “notebook”; “tablet”, “telefone celular”;
“videogame”; “televisão”; e “outro” com espaço aberto para anotações do
entrevistador) podem ser substituídos no espaço em branco. Além disso, há também a
mesma problemática do conceito de microcomputador, que é possível agrupar, fora a
restrição temporal que existe apenas na pergunta do CETIC.br, assim como a opção
“videogame” que não existe na pesquisa do IBGE. Contudo, a PNADC também tem a
sua versão dessa pergunta para a visão pessoa com o mesmo recorte temporal: “Nos
últimos três meses, ___ acessou à Internet em algum local por meio de:”, tendo como
opções “microcomputador (de mesa ou portátil, como laptop, notebook ou netbook)”,
“tablet”, “telefone móvel celular”, “televisão” e “outro equipamento eletrônico”,
incluindo um espaço aberto para especificação do outro canal a ser preenchido pelo
entrevistador, caso fosse sinalizado com um “sim” esse meio. Mesmo assim, tanto a
questão do computador como a do videogame persiste. Outro fato que também difere
é que, na TIC Domicílios, existem as opções “não sabe” ou “não respondeu”, mas elas
juntas tem um impacto muito baixo, então não são o real problema. Na tabela 3.8, é
possível comparar os dados das três perguntas.
Tabela 3.8: Proporção de domicílios e pessoas segundo a posse de determinados
equipamentos por pesquisa no Brasil em 2017
Equipamento PNADC -
Domicílios (%) PNADC –
Pessoas (%) TIC Domicílios – Pessoas (%)
Telefone móvel celular 98,7 97,0 95,7
Microcomputador 52,3 56,6 51,1
Televisão 16,1 16,3 22,3
Tablet 15,5 14,3 14,8
Videogame - - 9,5
Outro equipamento 1,5 1,0 0,0(1)
Fonte: PNADC (2017) e TIC Domicílios (2017). Elaboração do próprio autor. (1)
O valor calculado corresponde a 0,01%.
63
Neste caso, o fato de trabalhar com a pergunta com visão indivíduo, deixa a
PNADC mais próxima da TIC Domicílios no tocante ao celular (diferença percentual cai
de 3,0 p.p. para 1,3 p.p.), mas ocorre o contrário para o microcomputador (diferença
percentual sobe de 1,2 p.p. para 5,5 p.p.). Os demais itens permaneceram parecidos.
Outro ponto pouco comparável é o tipo de conexão. Justamente porque
novamente as unidades de referências são diferentes. Na PNADC, a pergunta “Nos
últimos três meses, a conexão que ___ utilizou para acessar à Internet em algum local
foi:” está associada à unidade de referência pessoa, enquanto na TIC Domicílios, a
pergunta “Qual o principal tipo de conexão utilizado para acessar a Internet em seu
domicílio?” fica relacionada à unidade de referência domicílio. Além disso, os tipos de
conexões estão agrupados de forma mais compacta na PNADC, logo seria necessário
realizar uma compatibilização de opções, conforme quadro 3.2.
Quadro 3.2: De/para tipo de conexão
PNADC 2017 TIC Domicílios 2017
Conexão discada por linha telefônica Conexão discada, que deixa a linha de telefone ocupada durante o uso
Banda larga (ADSL, VDSL, cabo de televisão por assinatura, cabo de fibra óptica, satélite ou algum tipo de rádio, como Wi-Fi)
Conexão DSL, via linha telefônica, que não deixa a linha ocupada durante o uso
Conexão via cabo de TV ou fibra ótica
Conexão via sinal de Rádio
Conexão via sinal de Satélite
Sinal de rede móvel celular 3G ou 4G Conexão móvel via modem ou chip 3G ou 4G
Não sabe Não sabe (ESPONTÂNEA)
Não aplicável Não respondeu (ESPONTÂNEA)
Fonte: PNADC (2017) e TIC Domicílios (2017). Elaboração do próprio autor.
64
Entretanto, na TIC Domicílios é perguntado apenas o tipo de conexão principal,
enquanto na PNADC, é possível haver mais de um tipo de conexão. Logo, a
comparação fica prejudicada. De qualquer forma, no gráfico 3.10, pode-se perceber
que há um alto uso de banda larga móvel, mas a banda larga fixa desponta como
forma de conexão principal, o que mostra que a penetração da móvel é alta, mas ela
funciona como uma alternativa quando não se tem acesso à banda larga fixa. Isso deve
ocorrer, tendo em vista que normalmente a banda larga fixa tem uma navegação
ilimitada, enquanto a móvel tem uma franquia limitada de dados para navegação, que
cessa o acesso após todo o seu consumo.
Gráfico 3.10: Proporção de pessoas e domicílios segundo tipo de conexão à internet
por pesquisa no Brasil em 2017
Fonte: PNADC (2017) e TIC Domicílios (2017). Elaboração do próprio autor.
Mais um ponto que permite comparação envolve o tópico sobre as atividades
realizadas na internet. Não obstante, é importante entender que a TIC Domicílios é
muito mais exaustiva nessa parte, enquanto a PNADC mensura apenas quatro
atividades. A partir do quadro 3.3, é possível ver as semelhanças através de uma
compatibilização dessas opções em comum. No restante, as perguntas têm o mesmo
recorte temporal de três meses e nenhuma outra diferença alarmante.
0%
20%
40%
60%
80%
100%
Banda largafixa
Banda largamóvel
Conexãodiscada
Não sabe
IBGE
CETIC.br
65
Quadro 3.3: De/para atividades realizadas através da internet
PNADC 2017 TIC Domicílios 2017
Enviar ou receber e-mails (correio eletrônico)
Enviou e recebeu e-mails
Enviar ou receber mensagens de texto, voz ou imagens por aplicativos diferentes de e-mail
Mandou mensagens por Whatsapp, Skype ou chat do Facebook
Conversar por chamada de voz ou vídeo Conversou por chamada de voz ou vídeo como no Skype ou no Whatsapp
Assistir a vídeos, inclusive programas, séries e filmes
Assistiu a vídeos, programas, filmes ou séries pela Internet como no Youtube ou no Netflix
Fonte: PNADC (2017) e TIC Domicílios (2017). Elaboração do próprio autor.
Os demais itens listados abaixo não são mensurados na PNADC e estão
presentes da TIC Domicílios:
Usou redes sociais, como Facebook, Instagram ou Snapchat
Participou de listas de discussão ou fóruns
Usou microblog como Twitter
Procurou informações sobre produtos e serviços
Procurou informações relacionadas à saúde ou a serviços de saúde
Procurou informações sobre viagens e acomodações
Procurou emprego ou enviou currículos
Procurou informações em sites de enciclopédia virtual como Wikipédia
Procurou informações oferecidas por sites de governo
Realizou algum serviço público como, por exemplo, emitir documentos
pela Internet, preencher e enviar formulários on-line, ou pagar taxas e
impostos pela Internet.
Fez consultas, pagamentos ou outras transações financeiras
Jogou pela Internet
66
Ouviu música pela Internet como por Spotify, por Deezer ou por
Youtube
Leu jornais, revistas ou notícias pela Internet
Viu exposições ou museus pela Internet
Realizou atividades ou pesquisas escolares
Fez cursos à distância
Buscou informações sobre cursos de graduação, pós-graduação e de
extensão
Estudou na Internet por conta própria
Usou serviço de armazenamento na Internet, como por exemplo
Dropbox, Google Drive, Onedrive
Realizou atividades de trabalho
Compartilhou conteúdo na Internet, como textos, imagens, fotos,
vídeos ou músicas
Criou ou atualizou blogs, páginas na Internet ou sites
Postou na Internet textos, imagens, fotos, vídeos ou músicas que o(a)
sr(a) criou
Baixou ou fez o download de filmes
Baixou ou fez o download de séries
Baixou ou fez o download de músicas
Baixou ou fez o download de jogos
Baixou ou fez o download de softwares, programas de computador ou
aplicativos
Baixou ou fez download de livros digitais
Assim, o gráfico 3.11, aborda apenas os dados disponíveis de ambas as
pesquisas, contudo, nesse caso, nota-se diferenças entre as pesquisas que giram entre
67
6 e 17 pontos percentuais. Neste caso, o fato da pesquisa da CETIC.br listar muito mais
atividades, pode acabar até subestimando as alternativas, já que o alto contingente de
itens tira o foco do respondente. Além disso, há a aleatorização da ordem, em que as
opções são apresentadas em cada entrevista. Apesar dessas diferenças, enviar ou
receber mensagens de texto, voz ou imagens por aplicativos diferentes de e-mail são
as atividades mais comuns apontadas nas duas pesquisas.
Gráfico 3.11: Atividades realizadas com acesso à internet no Brasil em 2017
Fonte: PNADC (2017) e TIC Domicílios (2017). Elaboração do próprio autor.
Outro tópico que é passível de comparação é a motivação para não uso ou
acesso. Na PNADC, há apenas uma pergunta sobre isso: “Qual foi o principal motivo
para ___ não ter acessado à Internet em algum local nos últimos três meses?”, cuja
unidade de referência é pessoa. Já na TIC Domicílios, existem quatro perguntas sobre
isso. Duas no âmbito de domicílio e duas na instância pessoa. Cada uma tem duas, pois
envolve a motivação múltipla, em que se pode selecionar mais de opção, e a
motivação principal, em quem somente é selecionada uma alternativa. Neste caso,
0% 25% 50% 75% 100%
Enviar ou receber e-mails
Assistir a vídeos
Conversar por chamada de voz ou vídeo
Enviar ou receber mensagens de texto, vozou imagens por aplicativos diferentes de e-
IBGE
CETIC.br
68
como seriam muitas perguntas a serem comparadas, será selecionada apenas a
pergunta mais próxima da realizada da PNADC: “E qual desses motivos é o principal?”,
cuja unidade de referência também é a pessoa. Um ponto de atenção necessário é que
a pergunta da TIC Domicílios não apresenta o mesmo recorte temporal da PNADC.
Ambas também não apresentam restrição de local de acesso e focam na motivação
principal. No mais, o ponto mais crítico é a divergência de opções: elas são bem
diferentes entre as pesquisas, o que dificulta um de/para, tanto que a principal
motivação de não uso diverge, pois na pesquisa do IBGE 38,5% alega não saber usar a
internet (opção não disponível na TIC Domicílios), enquanto na pesquisa do CETIC.br,
29,0% atestam falta de interesse (na PNADC 36,7% relatam isso, o que representa uma
diferença de 7,7 p.p.). O mais próximo dessa opção de não saber usar a internet seria
“por falta de habilidade com o computador” com 26,0%, mas que seria um subgrupo
da opção realizada na PNADC, justificando então um percentual menor de ocorrência.
Essa diferença de mais de 10 pontos percentuais está compreendida nas opções “para
evitar contato com um conteúdo perigoso” e “por preocupações com segurança e
privacidade” que podem ser interpretadas pelo entrevistado como uma certa
inabilidade sua ou não62. Vale ressaltar que, além das alternativas serem diferentes, na
TIC Domicílios há mais opções, fazendo sentido o valor do item “falta de interesse” ser
menor nesta pesquisa. Além disso, na pesquisa do IBGE, a questão do custo caro é
dividida entre custo do serviço de internet e do equipamento, que somados63 chegam
a 18,2%, em sintonia com os 17,1% “por ser muito caro” do CETIC.br. A opção “o
serviço de acesso à internet não estava disponível nos locais que costuma frequentar”
com 4,9% dos entrevistados da PNADC vai de encontro com os 3,8% dos entrevistados
da TIC Domicílios que declaram “por não ter onde usar” como motivação principal para
não acessar a internet. Assim, o quadro 3.4, estabelece o de/para de opções já
62 Neste caso, seria necessário um estudo mais qualitativo, que hoje não é objeto desta dissertação 63 É possível realizar essa soma, pois as respostas são únicas nessa questão, então não há sobreposição
69
explicitado acima, enquanto a tabela 3.9 evidencia os resultados após essas
recategorizações.
Quadro 3.4: De/para motivos para não acessar à internet
PNADC 2017 TIC Domicílios 2017
Não sabia usar a internet
Por falta de habilidade com o computador Para evitar o contato com conteúdo perigoso Por preocupações com segurança ou privacidade
Falta de interesse em acessar à internet Por falta de interesse Por falta de necessidade
Achava o serviço de acesso à internet caro Achava o equipamento eletrônico necessário caro
Por ser muito caro
O serviço de acesso à internet não estava disponível
Por não ter onde usar
- Não sabe ou não respondeu
Fonte: PNADC (2017) e TIC Domicílios (2017). Elaboração do próprio autor.
Tabela 3.9: Proporção de pessoas que não utilizam a internet segundo barreiras de uso
por pesquisa no Brasil em 2017
Barreiras de uso PNADC (%) TIC Domicílios (%)
Não sabia usar a internet 38,5 38,3
Por falta de interesse 36,7 37,1
Por ser muito caro 18,2 17,1
O serviço de acesso à internet não estava disponível nos locais que costuma frequentar
4,9 3,8
Por outro motivo 1,6 1,6
Não sabe ou não respondeu - 2,0 Fonte: PNADC (2017) e TIC Domicílios (2017). Elaboração do próprio autor.
Depois, outro tema de suma importância e comparável é a posse de telefone
celular. Em ambas as pesquisas, a unidade de referência é a pessoa, não há recorte
temporal e nem restrição de tempo. Na PNADC, a pergunta feita é “___ tem telefone
móvel celular para uso pessoal?”, atestando que 78,2% da população brasileira possui
um celular para uso pessoal. Já na TIC Domicílios, a questão realizada é “O(a) sr(a)
70
possui telefone celular? (CASO SIM) Quantas linhas ou chips ativos o(a) senhor(a)
possui?”, mensurando que 83,1% das pessoas possuem um celular. Vale pontuar que
há uma diferença de 4,9 pontos percentuais entre ambas as fontes, mas na pergunta
da PNADC, há uma restrição de uso para pessoal, enquanto na TIC Domicílio não, o que
também justificaria o indicador mais elevado nessa fonte (o uso corporativo não
estaria incluso na pesquisa do IBGE, mas estaria sendo computado no estudo do
CETIC.br, por exemplo).
Por fim, a último item que será comparado é a internet no celular. Na PNADC, a
pergunta é realizada da seguinte forma: “Esse telefone móvel celular para uso pessoal
tem acesso à Internet?”, mensurando que 84,3% tinham acesso à internet pelo seu
celular de uso pessoal. Já na TIC Domicílios, a questão é feita dessa maneira: “o(a)
senhor(a) usou a Internet pelo telefone celular nos últimos 3 meses?”, mensurando
que 70,8% usaram a internet no celular nos últimos 3 meses. A primeira pergunta tem
duas restrições que não estão presentes na segunda: o uso pessoal e somente quem
tem a posse de um telefone responde essa pergunta (na outra, mesmo que o acesso
tenha sido no celular de outra pessoa é computado). Já a segunda também tem a
restrição temporal de três meses que deve justificar o resultado abaixo do valor
encontrado na PNADC.
Com isso, esse capítulo chega ao fim. Como foi possível analisar, as nuances de
unidade de referência, a forma como os fluxos desencadeiam-se, as maneiras como
são feitas as perguntas (incluindo restrições ou não), a quantidade de opções de
respostas e a maneira como as mesmas são escritas, além dos conceitos que são
aplicados em cada fonte, tudo pode afetar a mensuração de um indicador. Nem todas
as perguntas foram exploradas nessa seção, contudo foi realizado um apanhado do
que é mais importante para o presente estudo, considerando que muitas perguntas
não são comparáveis nas duas pesquisas, pois o tema TIC é bem mais sucinto na
PNADC. O quadro 3.5 finaliza esse capítulo, trazendo novamente os indicadores da UIT,
71
evidenciando o que é coberto por cada pesquisa, fora a identificação de qual questão
atende determinado índice.
Quadro 3.5: Indicadores de acesso e uso de TIC da UIT para domicílios e indivíduos
presentes na PNADC e TIC Domicílios
Código Descrição PNADC TIC
Domicílios
HH1 Proporção de domicílios com rádio - CB1
HH2 Proporção de domicílios com televisão S01025 CB1
HH3 Proporção de domicílios com telefone S01021 e S01022
CB2
HH4 Proporção de domicílios com microcomputador S01028 A1
HH5 Proporção de pessoas que utilizam microcomputador - B1 e B2
HH6 Proporção de domicílios com Internet S01029 A4
HH7 Proporção de pessoas que utilizam a Internet S07001 C3
HH8 Proporção de pessoas que utilizam a Internet, por local de utilização
- C6 e C6A
HH9 Proporção de pessoas que utilizam a Internet, por tipo de atividade realizada
S070041 a S070044
C7 a C12
HH10 Proporção de pessoas que utilizam telefone móvel celular - J1
HH11 Proporção de domicílios com acesso à Internet, por tipo de serviço
- A7
HH12 Proporção de pessoas que utilizam a Internet, por frequência
- C4
HH13 Proporção de domicílios com acesso à programação televisiva por meios diferentes da televisão analógica aberta, por tipo
S01026 e S01027
CB2
HH14 Proporção de domicílios sem Internet, segundo barreiras ao acesso
S07005 A5 e A5A
HH15 Proporção de usuários de microcomputador, segundo o tipo de habilidade
- I1
HH16 Despesa domiciliar em TIC - A9
HH17 Proporção de pessoas que utilizam Internet, por tipo de equipamento portátil e conexão utilizada para acessar a Internet
S070021 a S070025 e S070031 a S070033
C5
HH18 Proporção de pessoas que possuem telefone móvel celular
S07006 J5
HH19 Proporção de pessoas que não utilizam a Internet, por tipo de motivo
S07005 -
Fonte: UIT, PNADC (2017) e TIC Domicílios (2017). Elaboração do próprio autor.
72
No próximo capítulo, serão abordadas pesquisas sobre TIC em outros países
para apresentar como os mesmos também entendem tanto o acesso como o uso da
internet, associando se a forma mensurada aproxima-se mais do proposto pelo
CETIC.br ou IBGE.
73
CAPÍTULO 4: MENSURAÇÃO DO ACESSO E USO DA INTERNET EM
PESQUISAS DOMICILIARES SOBRE TIC NO MUNDO
O foco deste capítulo é apresentar uma revisão de como são mensurados o
acesso (HH6) e o uso (HH7) da internet em diferentes países do mundo. Contudo,
antes de descrever as pesquisas de alguns países ou regiões, é interessante exibir um
panorama das estatísticas de TIC (Gráfico 4.1) para as regiões correspondentes ao
agrupamento regional do Gabinete de Desenvolvimento das Telecomunicações da
UIT64, focando nas variáveis acesso e uso, cujas unidades de referência são domicílios e
indivíduos, respectivamente.
Gráfico 4.1: Proporção de domicílios com acesso e de usuários de internet segundo
diferentes regiões do mundo em 2017
Fonte: UIT. Elaboração do próprio autor.
64 Para mais detalhes ver https://www.itu.int/en/ITU-D/Statistics/Pages/definitions/regions.aspx. Acesso em 10/02/2020.
0%
20%
40%
60%
80%
100%
África Estados Árabes Ásia e Pacífico Comunidade dosEstados
Independentes(CEI)
Europa Américas
Acesso Uso
74
O gráfico 4.1 também destaca a assimetria que existe regionalmente, o que de
certa forma já foi verificada na análise realizada comparando-se países desenvolvidos
frente a países em desenvolvimento e menos desenvolvidos no capítulo 2. Algumas
regiões, como a Europa, têm indicadores de acesso e uso muito superiores a outras,
como a África, revelando que será muito difícil cumprir a meta 9c dos ODS no tocante
a aumentar significativamente o acesso às TIC, e procurar ao máximo oferecer acesso
universal e acessível à internet nos países menos desenvolvidos até 2020. Nesse caso,
apenas 16% dos domicílios africanos têm acesso à internet.
Quanto à mensuração do acesso e uso da internet em diferentes países do
mundo, foi realizada uma seleção de países cujos idiomas disponíveis dos
questionários de TIC correspondem ao português, ao inglês ou ao espanhol. Cada
seção deste capítulo versa sobre um país ou região diferente de forma a elucidar
melhor o caso de cada um dos escolhidos. A proposta é apurar, ao menos, um exemplo
de cada continente, priorizando aqueles cuja qualidade de dados é extremamente
reconhecida, explorando diferentes definições operacionais e níveis de
desenvolvimento. Contudo, antes de iniciar a análise do primeiro caso, vale conferir
um ranking elaborado com informações sobre uso de internet em 207 países em 2017
(todos os países com dados disponíveis do ano selecionado na UIT estão listados). Para
não serem listados todos os países em uma única tabela, apresenta-se a distribuição
da proporção de usuários dos 207 países no gráfico 4.2.
75
Gráfico 4.2: Distribuição da proporção de usuários na população de 207 países em
2017
Fonte: UIT. Elaboração do próprio autor.
A partir do gráfico 4.2, é perceptível que a mediana é de 60% da população
como usuários de internet. Com o bloxpot, também é possível dividir os países em três
grupos: o primeiro quartil, ou seja, 25% dos países com menor penetração; um grupo
intermediário, incluindo o segundo e o terceiro quartil; e o quarto quartil, com 25%
dos países com maior penetração. Assim, a tabela 4.1 apresenta o primeiro grupo
citado (penetração abaixo dos 30%), a tabela 4.2 o segundo (de 30% a 79%) e a tabela
4.3 o terceiro (de 80% a 100%). A partir desta última tabela, é possível notar que o
Kuwait é o primeiro país a ter toda a sua população plenamente conectada à internet.
Vale assinalar que a estatística referente ao Brasil é proveniente da TIC Domicílios.
76
Tabela 4.1: Proporção de usuários de internet segundo países do primeiro quartil em 2017
Países Proporção de usuários (%)
Países Proporção de usuários (%)
Lesoto 29 Bangladesh e Quiribati 15
Nicarágua e Zâmbia 28 Angola, Malawi e Afeganistão
14
Timor-Leste, Zimbábue e Iémen
27 Mali 13
Guiné Equatorial, Vanuatu e Laos
26 Togo, Haiti e Ilhas Salomão
12
Tanzânia 25 Papua Nova Guiné 11
Mongólia e Uganda 24 Níger, Moçambique e Madagascar
10
Camarões 23 Serra Leoa, República do Congo e República Democrática do Congo
9
São Vicente e Granadinas, Tajiquistão, Ruanda e Líbia
22 Comores, Libéria e Sudão do Sul
8
Turquemenistão e Mauritânia
21 Chade 6
Benin e Gâmbia 20 República Centro-Africana e Guiné-Bissau
4
Etiópia 19 Burundi 3
Guiné e Quênia 18 Somália 2
Burkina Faso e Paquistão 16 Eritreia 1
Fonte: UIT. Elaboração do próprio autor.
77
Tabela 4.2: Proporção de usuários de internet segundo países do grupo intermediário em 2017
Países Proporção de usuários (%)
Países Proporção de usuários (%)
Azerbaijão, Eslovênia e República Tcheca
79 Maurícia e Jamaica 55
Líbano, Ilhas Virgens Britânicas, Lituânia
78 China 54
Trindade e Tobago e Hungria
77 Tailândia 53
Cazaquistão, Moldova, Rússia, Antígua e Barbuda e Polônia
76 Usbequistão 52
Macedônia 75 Namíbia e Santa Lúcia 51
Bielorrússia, Argentina e Portugal
74 Fiji 50
Polinésia Francesa 73 Iraque, Tuvalu, Suriname e Peru
49
Venezuela e Albânia 72 Butão e Argélia 48
Costa Rica, Montenegro, Porto Rico e Grécia
71 Belize, Botsuana e Eswatini
47
Sérvia e Dominica 70 Senegal 46
Groenlândia 69 Egito 45
Uruguai, Curaçao e República Dominicana
68 Costa do Marfim e Bolívia
44
Brasil, Croácia e Jordânia 67 Nigéria 42
Palestina, Guatemala, Bósnia e Herzegovina, Armênia e Turquia
65 Tonga 41
Ilhas Virgens (EUA), Tunísia, Irã, México e Romênia
64 Gana e Ilhas Marshall 39
Bulgária, Maldivas e Itália 63 Quirguistão 38
Colômbia, Gabão e Marrocos
62 Guiana 37
Paraguai 61 Micronésia 35
San Marino, Filipinas e Geórgia
60 Índia, Síria, Sri Lanka, Nepal, El Salvador e Samoa
34
Granada, Ucrânia e Seychelles
59 Camboja, Indonésia e Honduras
32
Vietnã e Panamá 58 Sudão e Myanmar 31
Equador, Cabo Verde, Cuba e Nauru
57 São Tomé e Príncipe 30
África do Sul e Djibuti 56
Fonte: UIT. Elaboração do próprio autor.
78
Tabela 4.3: Proporção de usuários de internet segundo países do último quartil em 2017
Países Proporção de usuários (%)
Países Proporção de usuários (%)
Kuwait 100 Hong Kong (China) 89
Bermudas, Islândia, Liechtenstein e Ilhas Faroe
98 Estônia, Áustria e Bélgica
88
Catar, Luxemburgo, Aruba, Dinamarca e Mônaco
97 Finlândia, Estados Unidos e Austrália
87
Noruega, Bahrein e Suécia 96 Bahamas, Espanha e Japão
85
República da Coreia, Brunei, Emirados Árabes Unidos e Reino Unido
95 Cingapura, Alemanha e Irlanda
84
Países Baixos e Taiwan (província da China)
93 Macau (China) 83
Andorra 92
Chile, Arábia Saudita, Nova Caledônia, Barbados, Eslováquia e Israel
82
Canadá e Nova Zelândia 91 Ilhas Cayman, Malta, Chipre, São Cristóvão e Nevis, Guam e França
81
Suíça 90 Omã, Malásia e Letônia 80
Fonte: UIT. Elaboração do próprio autor.
Cabe registrar que, além de informações repassadas por institutos nacionais de
estatísticas, a UIT também produz estimativas, o que ocorreu em 2017 para alguns
países.
4.1. União Europeia
A União Europeia (UE) é um bloco principalmente e originalmente econômico,
em que as diretrizes são decididas em conjunto pelo grupo de países membros e
devem ser seguidas por todos os integrantes. Da mesma forma que as políticas são
padronizadas, há também um esforço para promover a produção de estatísticas
oficiais de qualidade para o bloco como um todo de forma que os dados dos diversos
países participantes sejam comparáveis e passíveis de agregação. Sendo assim, o
Eurostat (European Statistical Office) tem as seguintes responsabilidades: elaborar, em
colaboração com as autoridades estatísticas nacionais, definições, classificações e
79
metodologias harmonizadas para a realização de estatísticas oficiais europeias;
calcular dados agregados para a União Europeia e a zona euro, utilizando dados
recolhidos pelas autoridades estatísticas nacionais ao abrigo de normas harmonizadas;
e disponibilizar estatísticas europeias gratuitamente aos decisores e ao público em
geral através do seu website e de outros canais65.
Anualmente, desde 2006, o órgão organiza os dados referentes à TIC, que são
coletados pelos Institutos Nacionais de Estatísticas (INEs) de cada país integrante, ou
seja, o Eurostat não é o responsável pela coleta, mas por prover orientação para que
os dados possam ser compatíveis entres os países. Dessa forma, essa entidade
recomenda que seus integrantes realizem suas pesquisas sobre TIC anualmente,
seguindo a Pesquisa Comunitária sobre o Uso das TIC em Domicílios e por Indivíduos66.
A população-alvo para as diferentes unidades estatísticas engloba indivíduos entre 16
e 74 anos, além de domicílios particulares com, pelo menos, um membro com idades
entre 16 e 74 anos, segundo a metodologia proposta pelo Eurostat. Como as pesquisas
são realizadas de forma independente pelos INEs, cada um pode fazer suas pesquisas
sobre TIC, incluindo seus temas em pesquisas maiores ou sobre outros assuntos, como
é o caso da Bélgica, República Tcheca, Irlanda, Itália, Áustria, Reino Unido e Noruega
em 2016/2017. Além disso, as pesquisas podem ter metodologias diferentes, o que
inclui desde o tipo de amostragem até a forma de coleta de informação, como telefone
ou face a face, o que varia muito de um país para o outro, conforme relatório de
metadados da Eurostat.
Como o foco deste capítulo é investigar como os diferentes países coletam
informações referentes às estatísticas de acesso e uso da internet, as perguntas sobre
os demais temas de TIC não serão abordadas. No questionário da Eurostat, a pergunta
sobre a questão do acesso aparece da seguinte forma: “Você ou alguém do seu
65 Para mais detalhes ver https://ec.europa.eu/eurostat/web/main/home. Acesso em 11/02/2020. 66 Tradução livre do autor para “Community Survey on ICT Usage in Households and by Individuals”
80
domicílio tem acesso à Internet em casa?”67. Logo, essa pergunta assemelha-se ao
realizado na PNADC, pois considera a internet como um serviço móvel individual, já
que basta pelo menos um morador entre 16 e 74 anos ter o serviço disponível para
classificar o domicílio como tendo o acesso à internet. Assim, a tabela 4.4 mostra o
nível de acesso à internet dos domicílios europeus em 2017 na União Europeia e por
país europeu.
Tabela 4.4: Proporção de domicílios com acesso à internet segundo a União Europeia e
países europeus em 2017
Fonte: Eurostat, 2017. Elaboração do próprio autor.
67 Tradução livre do autor para “Do you or anyone in your household have access to the internet at home?” (Eurostat, 2017, Questão A2)
Países europeus Proporção de domicílios com acesso (%)
União Europeia 87
Países Baixos e Islândia 98
Dinamarca, Luxemburgo e Noruega 97
Suécia 95
Finlândia e Reino Unido 94
Alemanha e Suíça 93
Áustria e Kosovo 89
Estônia e Irlanda 88
Bélgica e França 86
Malta 85
República Tcheca e Espanha 83
Hungria, Polônia e Eslovênia 82
Itália e Eslováquia 81
Chipre e Letônia 79
Portugal 77
Croácia e Romênia 76
Lituânia 75
Macedônia 74
Grécia e Montenegro 71
Sérvia 68
Bulgária 67
81
Já a primeira pergunta do Módulo C sobre uso da internet é realizada da
seguinte forma: “Quando você usou a Internet pela última vez?”68, cujas as opções de
resposta são “nos últimos 3 meses”, “entre 3 meses e um ano atrás”, “há mais de 1
ano” e “nunca usei”, sendo que, quando fosse selecionada a primeira alternativa, o
respondente é classificado como usuário de internet, conforme conceito da UIT. Logo,
a tabela 4.5 evidencia o uso de internet por indivíduos na União Europeia e por país
europeu. Vale salientar que esses dados podem apresentar viés, tendo em vista que
não considera a população com 75 anos ou mais (público teoricamente menos
assistido nessa questão, pois é menos acostumada com esse tipo de tecnologia), ainda
mais porque os demais países analisados não apresentam esse recorte superior na
faixa etária.
68 Tradução livre do autor para “When did you last use the internet?” (Eurostat, 2017, Questão C1)
82
Tabela 4.5: Proporção de usuários de internet segundo a União Europeia e países europeus em 2017
Fonte: Eurostat, 2017. Elaboração do próprio autor.
4.2. África
No caso do continente africano, primeiramente considerou-se a opção de
dedicar o estudo à África do Sul, a maior economia da região. Assim, foi realizada uma
consulta ao site do Stasts SA, órgão de estatísticas oficiais do país, mas nada foi
encontrado a respeito de pesquisas sobre TIC. Inclusive, nas bases de dados da UIT, há
a indicação de que as estatísticas para o país foram estimadas pela própria UIT. Assim,
a busca por estatísticas públicas sobre TIC na região precisou ser mais ampla e foi
realizada através de notícias locais da África do Sul nas quais havia destaque para a
Países europeus Proporção de usuários de internet (%)
União Europeia 84
Islândia e Noruega 98
Dinamarca e Luxemburgo 97
Suécia 96
Países Baixos e Reino Unido 95
Finlândia e Suíça 94
Alemanha 90
Bélgica, Estônia e Áustria 88
França 87
República Tcheca e Espanha 85
Kosovo 83
Eslováquia 82
Irlanda, Chipre, Letônia e Malta 81
Eslovênia 79
Lituânia 78
Hungria 77
Polônia 76
Macedônia 75
Portugal 74
Itália e Montenegro 71
Grécia e Sérvia 70
Croácia 67
Romênia 64
Bulgária 63
83
instituição denominada RIA (Research ICT Africa), uma entidade de pesquisa sem fins
lucrativos e de interesse público que realiza pesquisa sobre TIC para 18 países na
África: Benin, Burkina Faso, Senegal, Costa do Marfim, Gana, Nigéria, Camarões,
Namíbia, Botsuana, Tunísia, Etiópia, Uganda, Quênia, Ruanda, Tanzânia, Zâmbia,
Moçambique e África do Sul.
Gillwald et al (2018), da equipe da RIA, mostram a situação de TIC na África do
Sul (os autores também elaboraram outros artigos, como para Moçambique, por
exemplo), depois que a pesquisa After Access Survey69 ocorreu, analisando seus
resultados. Vale observar aqui que essa mesma pesquisa foi aplicada em dez países na
África, além de países na Ásia e América Latina, mas com a liderança de organismos
locais (LIRNEasia - Iniciativas de Aprendizagem sobre Reformas para Economias de
Rede na Ásia70 - e DIRSI - Diálogo Regional sobre a Sociedade da Informação71)
integrantes dessa grande rede da After Access que foca em países não centrais por
todo o mundo, totalizando 22 países, segundo Gillwald e Mothobi (2019).
No módulo H (Atributos do domicílio72), a pergunta sobre acesso à internet
dessa pesquisa é feita da seguinte forma: “este domicílio tem uma conexão de
internet? (exclusivo para o domicílio e é acessível a todos os moradores)”73, tendo
como opções de respostas apenas “sim” e “não”. Assim, a partir dessa questão é
possível mensurar a proporção de domicílios com acesso à internet, ou seja, o
indicador HH6. E, diferentemente do caso europeu, a forma como essa pergunta
aplica-se fica mais próxima do proposto pela CETIC.br, já que se considera a
69 As pesquisas After Access são conduzidas por redes irmãs em todo o Sul Global, com o apoio do Centro Internacional de Pesquisa em Desenvolvimento (IDRC) do Canadá e da Agência Sueca de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento (SIDA). Os dados foram coletados por meio de 26.968 entrevistas pessoais de famílias e indivíduos, e permitem a desagregação por gênero, ambiente rural ou urbano, idade entre outros fatores. Para maiores detalhes, ver https://afteraccess.net/about-afteraccess. Acesso em 12/02/2020. 70 Tradução livre do autor para “Learning Initiatives on Reforms for Network Economies Asia” 71 Tradução livre do autor para “Diálogo Regional sobre la Sociedad de la Información” 72 Tradução livre do autor para “Household Attributes” 73 Tradução livre do autor para “does this household have a working internet connection? (exclusive for the household and is accessible to all household members)?” (RIA After Access, 2017, Questão h.14)
84
disponibilidade do serviço para qualquer morador do domicílio, o que é reforçado
pelos dizeres entre parênteses. Na tabela 4.6, observa-se esse indicador para alguns
países africanos.
Tabela 4.6: Proporção de domicílios com acesso à internet segundo países africanos
em 2017
Fonte: RIA After Access Survey Data, 2017. Elaboração do próprio autor.
Já a pergunta de uso da internet presente no módulo B (Internet) não
apresenta recorte temporal, sendo realizada da seguinte forma: “Você já usou a
Internet?”74 com alternativas “sim” e “não”. Nesse caso, não é usado o conceito de
usuário de internet da UIT, que requer a utilização nos últimos três meses. Entende-se
que a mensuração do fenômeno é realizada dessa forma, pois a região vivencia uma
situação de déficit de inclusão digital e a utilização da restrição de uso nos últimos três
meses poderia acarretar ainda em maior dificuldade de mensuração. Ainda assim, a
pesquisa consegue trazer indicadores de uso da internet, conforme tabela 4.7.
74 Tradução livre do autor para “have you ever used the internet?” (RIA After Access, 2017, Questão B.1)
Países africanos Proporção de domicílios com acesso (%)
África do Sul 11
Quênia 10
Gana 6
Senegal 5
Lesoto 4
Nigéria e Ruanda 3
Uganda 2
Tanzânia e Moçambique 1
85
Tabela 4.7: Proporção de pessoas que usam internet segundo países africanos em 2017
Fonte: RIA After Access Survey Data, 2017. Elaboração do próprio autor.
4.3. Japão
O Japão foi escolhido como o representante asiático, já que reconhecidamente
é um dos países mais modernos e que contribui incessantemente para o
desenvolvimento de TIC. Neste caso, não é o Statistics Bureau of Japan, órgão oficial
de estatísticas do país que é responsável pela pesquisa sobre TIC, mas o Ministério de
Assuntos Internos e Comunicações75 (MIC). De qualquer forma, o mesmo preocupa-se
em divulgar anualmente os resultados assim como o questionário desde 200176. Para
permitir comparação com as informações dos demais países e regiões, continuar-se-á
usando os dados de 2017.
A pergunta sobre acesso no questionário japonês acontece no bloco de
domicílio e é a seguinte: “Alguém em sua casa usou a Internet (incluindo o envio ou
recebimento de e-mail, assistindo a vídeos sob demanda (VOD), navegando em sites,
compras on-line etc. de um computador, telefone celular ou outro dispositivo) no ano
passado? Circule a melhor resposta”77, tendo como opções “pelo menos uma pessoa
75 Tradução livre do autor para “Ministry of Internal Affairs and Communications” 76 Para dados de todos os anos, ver https://www.soumu.go.jp/johotsusintokei/english/. Acesso em 13/02/2020. 77 Tradução livre do autor para “has anyone in your household used the Internet (including sending or receiving email, watching Video on demand (VOD), browsing Websites, online shopping, etc. from a
Países africanos Proporção de pessoas que usam internet (%)
África do Sul 53
Lesoto 32
Senegal 31
Nigéria 30
Gana e Quênia 26
Tanzânia 15
Uganda 14
Moçambique 10
Ruanda 9
86
usou a Internet” ou “ninguém usou a Internet”. Nessa pergunta não há qualquer
restrição de dispositivo, finalidade e local de acesso, inclusive isso é reforçado com
notas de observação que afirmam o objetivo de investigar se as pessoas que moram
em determinado domicílio usaram a internet no ano passado ou não, podendo ser
dentro ou fora de casa. Isso é um ponto de inflexão se comparado aos demais
questionários já analisados, pois nos casos apresentados anteriormente, o acesso
deveria ocorrer dentro do domicílio para ser contabilizado. No caso da pesquisa
japonesa, se o morador usa a internet fora do domicílio já conta como ocorrência de
acesso no domicílio. Outro ponto diferente é o recorte temporal de um ano, que
também não fora visto igual até o momento. Em todos os exemplos já apresentados,
não havia esse tipo de restrição. De qualquer forma, a pergunta no Japão tende a ficar
mais próxima da utilizada pelo IBGE, pois basta ao menos um morador acessando a
internet para contabilizar o domicílio de forma positiva quanto ao acesso. Aliás, o fato
de contabilizar inclusive o acesso externo só reforça o conceito da internet como
serviço móvel individual. Também vale ressaltar que não é usado o termo acesso na
pergunta, mas “uso”. Isso remete à dúvida se o foco aqui é de fato medir o indicador
HH6 ou se já está claro para o país que a disponibilidade do serviço é tão alta que não
faz mais sentido manter a mensuração desse indicador. O Japão está em outro estágio
de maturidade no assunto e em sua pesquisa já realiza questionamentos inclusive
sobre a tecnologia 4K e home office, por exemplo. Nesse sentido, 84% dos domicílios
japoneses usaram a internet em 2017.
Já a pergunta sobre uso individual aparece na seção sobre moradores do
domicílio: “Você já usou a Internet (incluindo o envio ou recebimento de e-mail,
assistindo a vídeos sob demanda (VOD), navegando em sites, compras on-line etc. de
um computador, telefone celular ou outro dispositivo) no ano passado? Por favor,
computer, mobile phone, or other device) in the past year? Please circle the one best answer” (MIC, Communications Usage Trend Survey, 2017, Household section, Questão Q3(1))
87
circule a melhor resposta”78, cujas opções de resposta são “sim” ou “não”. Os
resultados indicam que 76% dos japoneses confirmaram essa informação. Vale
ressaltar que a pesquisa não segue a recomendação da UIT. Enquanto esta recomenda
o recorte dos últimos três meses, o modelo japonês utiliza como referência de tempo
o ano passado. Assim, não é o comparativo ideal, mas tem um recorte melhor que o
africano que não exige recorte temporal algum. As demais ausências de restrição,
como local, dispositivo ou finalidade também continuam.
4.4. Austrália
A Austrália tem trabalhos de excelência sobre produção estatística e é o maior
país da Oceania, sendo estas as justificativas da escolha. A análise é elaborada com
base nas informações produzidas pelo órgão oficial de estatística do pais, o Australian
Bureau of Statistics (ABS), que inclui bienalmente desde 2008/2009 o tema Household
Use of Information Technology (HUIT) na pesquisa domiciliar Multipurpose Household
Survey (MPHS)79. Essa, por sua vez, funciona como um complemento para a Labour
Force Survey (LFS). Nesta seção, utiliza-se a edição de 2016/2017, que é a última
edição da pesquisa. Contudo, o site do INE australiano tem dados desde 199680. É
importante atentar-se que o questionário utilizado na Austrália segue as diretrizes da
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE)81.
Assim, a pergunta sobre acesso revela que 86% dos domicílios australianos
acessam a internet em casa, incluindo qualquer tipo de conexão. A questão em si é
78 Tradução livre do autor para “have you used the Internet (including sending or receiving email, watching Video on demand (VOD), browsing Websites, online shopping, etc. from a computer, mobile phone, or other device) in the past year? Please circle the one best answer” (MIC, Communications Usage Trend Survey, 2017, Household member section, Questão Q3(1)) 79 A MPHS ocorre anualmente, mas o tópico HUIT acontece a cada dois anos dentro da primeira 80 Para dados de outros anos ver https://www.abs.gov.au/AUSSTATS/[email protected]/second+level+view?ReadForm&prodno=8146.0&viewtitle=Household%20Use%20of%20Information%20Technology,%20Australia~2016-17~Latest~28/03/2018&&tabname=Past%20Future%20Issues&prodno=8146.0&issue=2016-17&num=&view=&. Acesso em 13/02/2020. 81 A primeira versão foi lançada em 2002, revista em 2005 pela primeira vez e em 2015 pela segunda.
88
“[Você / algum membro da sua família] tem acesso à Internet em casa, seja através de
um computador, telefone celular ou outro dispositivo?”82. Vale observar que há um
glossário na pesquisa que conceitua acesso à internet no domicílio como um domicílio
conectado à internet através de um computador, telefone celular ou outro dispositivo.
Já a pergunta sobre uso mostra que 87% dos residentes na Austrália são usuários da
internet, ou seja, que utilizaram a internet nos últimos três meses, seguindo a diretriz
da UIT. A pergunta sobre uso é “Nos últimos 3 meses, [você / nome da pessoa
aleatória] acessou pessoalmente a Internet?”83. Novamente vale citar que o glossário
da pesquisa também conceitua quem é o usuário de internet: pessoa com 15 anos ou
mais que acessou à internet para uso pessoal nos últimos três meses. Dessa forma, é
possível atestar que o padrão australiano segue a definição operacional de acesso à
internet como um serviço móvel individual, pois basta pelo menos um morador ter o
serviço disponível para classificar o domicílio como tendo acesso à internet (essa é a
mesma definição adotada pelo IBGE na PNADC).
4.5. México
O México foi selecionado para representar a comunidade latina de origem
hispânica, sendo um dos países mais importantes da região. Seu padrão de
industrialização é parecido com o do Brasil, já que ambos adotaram a estratégia do
modelo de substituição de importações, o que ajuda bastante no tocante à
comparabilidade dos indicadores de ambos. Além disso, faz fronteira com o maior país
da região, os EUA, o que não deve ser ignorado, pois influencia diretamente a sua
dinâmica.
82 Tradução livre do autor para “[Do you/Does any member of your household] have access to the internet at home, whether through a computer, mobile phone or other device?” (ABS, MPHS, 2017, HUIT) 83 Tradução livre do autor para “In the last 3 months, did [you/name of Random person] personally access the internet?” (ABS, MPHS, 2017, HUIT)
89
No caso mexicano, o Instituto Nacional de Estadística y Geografía (INEGI),
organismo oficial do governo para a produção de estatísticas, organiza anualmente a
Encuesta Nacional sobre Disponibilidad y Uso de TIC en Hogares (ENDUTIH) desde
2015, que substituiu o Módulo sobre Disponibilidad y Uso de Tecnologías de la
Información en los Hogares (MODUTIH), que ocorreu de 2001 a 2014. É importante
pontuar que houve também uma mudança metodológica entre o MODUTIH e a
ENDUTIH ao passar de um informante que responde ao uso das TIC pelos outros
membros da família para um informante selecionado aleatoriamente que fornece
apenas informações sobre o próprio uso.
A pergunta sobre acesso, que é feita na seção “Acesso à internet no
domicílio”84, é realizada da seguinte forma: “Você tem uma conexão à Internet no
domicílio?”85, tendo como opções “sim” ou “não”. É importante salientar que a própria
pesquisa tem uma definição no seu glossário para conexão com a internet no
domicílio: conexão à rede global atualmente ou nos últimos 12 meses à disposição no
domicílio. No caso desta pesquisa, os recursos necessários são um dispositivo de
conexão (computadores, telefones celulares, entre outros), bem como a habilitação do
serviço de conexão à rede global de informações, independentemente do pagamento
desse serviço, excluindo famílias em que o acesso à internet ocorre por meio de
equipamentos em trânsito e fora de casa. O recorte dos últimos 12 meses remete ao
que é realizado no Japão, devido à restrição temporal, o que não é comum nas demais
pesquisas para esse tema. Contudo, difere porque o acesso precisa ocorrer dentro do
domicílio. Na verdade, esse é o único questionário analisado que delimita com
exatidão uma definição operacional para o domicílio com acesso à internet. É
importante ressaltar que a maneira como é realizada a pergunta remete à pesquisa do
CETIC.br, pois ambas utilizam definições operacionais para as quais o serviço de
84 Tradução livre do autor para “Acceso a internet en el hogar” 85 Tradução livre do autor para “¿disponen de conexión a Internet en el hogar?” (INEGI, ENDUTIH, 2017, Acceso a internet en el hogar, Questão 4.4)
90
internet deve estar à disposição de todos os moradores, como um serviço ao domicílio,
assim como luz, água e gás. Nesse formato, 51% dos domicílios mexicanos declaram
que tinham acesso à internet em 2017.
Já a pergunta sobre uso, presente na seção “Uso e experiência da internet”86, é
feita da seguinte maneira: “nos últimos três meses, você usou a Internet neste
domicílio ou fora dele?”87, cujas alternativas são também “sim” ou “não”. Novamente,
a pesquisa também define claramente o conceito de usuário:
Indivíduo de seis ou mais anos que, eventualmente ou diariamente, e de forma autônoma, acessou e realizou alguma atividade na Internet nos últimos doze meses. As atividades podem ser, entre outras, para executar tarefas escolares; aqueles relacionados ao trabalho; de comunicação, incluindo e-mails ou conversas por escrito (bate-papo); treinamento, treinamento ou ensino a distância através de videoconferência; entretenimento, como baixar ou jogar videogames ou programas de computador na rede, como músicas. (INEGI, 2017)
Além da questão da idade, o que chama atenção é que essa pergunta não é o
que de fato delimita quem é usuário de internet na própria definição da pesquisa, pois
a mesma estaria de acordo com o conceito de usuário da UIT de uso nos últimos três
meses, enquanto a definição restringe aos últimos doze meses, o que resgata o padrão
japonês. De qualquer forma, 64% das pessoas no México eram usuárias da internet em
2017, segundo o INEGI (2017).
4.6. Canadá
A Canadian Internet Use Survey (CIUS), pesquisa sobre o tema promovido pelo
órgão oficial de estatísticas do Canadá, visa medir o acesso à Internet e os
comportamentos online de residentes do Canadá com 15 anos ou mais de idade. A
86 Tradução livre do autor para “Uso y experiencia del internet” 87 Tradução livre do autor para “en los últimos tres meses, ¿ha utilizado Internet en este hogar o fuera de él?” (INEGI, ENDUTIH, 2017, Uso y experiencia del internet, Questão 7.1)
91
CIUS substituiu a HIUS (Household Internet Use Survey) em 2005, que era coletada
anualmente desde 1997 até 2003. De 2005 a 2009, a CIUS foi realizada bienalmente e
depois, foi redesenhada em 2010 para atender às necessidades de medição de banda
larga do Canadá: o programa Connecting Rural Canadians. Como uma pesquisa híbrida
sobre acesso e uso, o CIUS mediu o tipo, velocidade e custo do acesso à Internet da
família e os comportamentos online individuais de um membro da família selecionado,
segundo o Statistics Canada (2019)88.
Depois de 2012, a sua última edição foi em 2018, não havendo pesquisas nesse
intervalo. Contudo, esta última versão já foi remodelada e modernizada para
aumentar a comparabilidade internacional, responder a perguntas relevantes para as
políticas governamentais e medir uma ampla gama de atividades online, devido ao
ritmo acelerado em que a internet evoluiu. Nesse caso, como não há uma versão da
pesquisa em 2017, a versão de 2018 é a mais próxima e será o alvo desta seção.
A primeira pergunta do segundo módulo (AC – Acesso à internet)89 é feita da
seguinte forma: “nos últimos três meses, você usou a Internet para uso pessoal, em
qualquer local?”90, tendo a observação de excluir negócios e uso relacionado à escola e
alternativas de resposta “sim” ou “não”. Com isso, 91% dos residentes do Canadá
responderam positivamente essa questão. Ela mostra que o Statistics Canada segue as
orientações da UIT quanto ao conceito de usuário da internet ao realizar dessa
maneira a pergunta.
Já a pergunta sobre o acesso no domicílio só acontece depois no “Módulo HA -
Conexão à Internet no Domicílio”91, o que difere de todos os exemplos anteriores que
sempre investigam esse item antes. A primeira questão desse módulo é realizada da
88 Para maiores detalhes, ver https://www23.statcan.gc.ca/imdb/p2SV.pl?Function=getSurvey&SDDS=4432. Acesso em 14/02/2020. 89 Tradução livre do autor para “Module AC – Access to the Internet” 90 Tradução livre do autor para “during the past three months, have you used the Internet for personal use, from any location?” (Statistics Canada, CIUS, 2018, Module AC – Access to the Internet, Questão AC_16) 91 Tradução livre do autor para “Module HA – Household Internet Connection”
92
seguinte maneira: “Como seu domicílio está atualmente conectado à internet?”92,
tendo como opções de resposta “fibra ótica”, “internet a cabo”, “linha de assinante
digital (DSL)”, “acesso discado através da linha telefônica”, “plano de dados móveis”,
“outro ponto de acesso LTE fixo, como TurboStick e SmartHub”, “rede sem fio fixo
ponto a ponto”, “banda larga via satélite”, “rede sem fio municipal, como internet sem
fio fornecida na cidade”, “outros”, “sem conexão doméstica à Internet” e “não sei”.
Neste ponto, é notória a semelhança com o modelo da CETIC.br, pois reforça a
definição operacional para a mensuração como serviço ao domicílio ao invés de
considerar pelo menos um morador com acesso. Assim, o Statistics Canada adota a
postura de considerar a internet como um serviço de utilidade ao domicílio, como luz
ou água, em que 94% dos domicílios canadenses têm acesso à internet no domicílio.
4.7. Estados Unidos
Por fim, essa penúltima seção analisa o caso americano, já que se trata do país
que é berço da internet. Nesse sentido, fora consultado o United States Census Bureau,
que adicionou perguntas sobre acesso e uso da internet a partir de 2016 na American
Community Survey (ACS), que é a principal fonte de informações detalhadas sobre
população e moradia dos EUA, segundo o United States Census Bureau93.
No bloco “Housing”, a nona pergunta traz a seguinte indagação: “Nesta casa,
apartamento ou casa móvel - você ou algum membro desta família tem acesso à
Internet?”94, havendo como alternativas “sim, pagando a uma empresa de telefonia
celular ou provedor de serviços de Internet”, “sim, sem pagar à empresa de telefonia
celular ou provedor de serviços de Internet” e “não há acesso à Internet nesta casa,
92 Tradução livre do autor para “How is your household currently connected to the Internet?” (Statistics Canada, CIUS, 2018, Module HA – Household Internet Connection, Questão HA_78) 93 Para maiores detalhes ver https://www.census.gov/programs-surveys/acs. Acesso em 23/02/2020. 94 Tradução livre do autor para “at this house, apartment, or mobile home – do you or any member of this household have access to the Internet?” (United States Census Bureau, ACS, 2017, Housing, Questão 9)
93
apartamento ou casa móvel”. Assim, aqueles domicílios que não sinalizam a última
opção, encaixam-se na definição de domicílio com acesso à internet nos moldes
americanos, que se assemelha com a PNADC, visto que basta pelo menos um de seus
moradores ter acesso para classificar o domicílio como um todo com internet. Nesse
sentido, 84% dos domicílios americanos acessaram à internet em 2017.
Infelizmente, o questionário da ACS não aborda o uso da internet, logo a
referida questão temática não será tratada, como nos casos anteriores.
4.8. Comparativo dos países selecionados em relação às pesquisas
brasileiras
Esta seção final do capítulo 4 visa sumarizar o que foi analisado nos casos
internacionais e relacionar com as pesquisas brasileiras. Tendo em vista que o conceito
de uso equipara-se na PNADC e TIC Domicílios, o foco dar-se-á no acesso, em que há
divergências. A causa dessa variação é muito clara depois de tudo que já foi avaliado:
as definições operacionais sobre acesso à internet são diferentes em cada pesquisa.
De acordo com De Vaus (2002), conceitos são simplesmente ferramentas que
cumprem uma função taquigráfica útil: são resumos abstratos de todo um conjunto de
comportamentos, atitudes e características que consideramos ter algo em comum,
enquanto definições são abordagens com as quais os conceitos são utilizados. Com
isso, definições nominais são abordagens de trabalho que são utilizadas para pesquisa
e orientação sobre o tipo de informação a coletar (DE VAUS, 2002). Enquanto isso,
segundo De Vaus (2002), definição operacional é a tradução de um conceito em um
conjunto de indicadores, em que esses indicadores e as decisões sobre como classificar
fornecem a definição operacional do conceito.
Dessa forma, é perceptível que todos os países atestam o conceito de acesso à
internet como o domicílio com internet, contudo a aplicação dentro de cada pesquisa
faz divergir a definição operacional desse conceito. O IBGE assume a internet como um
94
serviço móvel individual, pois basta pelo menos um morador ter o serviço disponível
para classificar o domicílio como tendo acesso à internet, mesmo que o referido
morador não compartilhe o acesso com os demais. Esse cenário é possível, pois um
morador pode ter um pacote de dados em seu celular e não compartilhar com os
demais integrantes do domicílio, o que seria diferente de um Wi-Fi à disposição para
qualquer pessoa residente. O Eurostat, o MIC (Japão), o ABS (Austrália) e o United
States Census Bureau compartilham da mesma interpretação. Já o CETIC.br,
diferentemente do IBGE, capta o acesso à internet como um serviço de utilidade ao
domicílio, disponível para todo e qualquer morador do mesmo, assim como o serviço
de água, esgoto ou luz, independentemente se ele usa ou não. A RIA, o INEGI e o
Statistics Canada também possuem a mesma definição operacional.
Para finalizar este capítulo, são apresentados os quadros 4.1 e 4.2 que
resumem a comparação entre os países quanto ao acesso e ao uso da internet,
respectivamente, incluindo determinados recortes chaves, o índice em si e a
população alvo.
95
Quadro 4.1: Resumo comparativo entre os países e suas respectivas pesquisas sobre acesso à internet
Países Idade da
população alvo
Recorte temporal no acesso
HH6 (%)
Recorte espacial
no acesso
Definição operacional do
acesso
Brasil - PNADC 10 ou mais(1) Não há 75 Domicílio Serviço móvel
individual
Brasil - TIC Domicílios 10 ou mais Não há 61 Domicílio Serviço de
utilidade ao domicílio
UE 16 a 74 Não há 87 Domicílio Serviço móvel
individual
África 15 ou mais Não há N.A. Domicílio Serviço de
utilidade ao domicílio
Japão 6 ou mais Ano
anterior 84 Não há
Serviço móvel individual
Austrália 15 ou mais(1) Não há 86 Domicílio Serviço móvel
individual
México 6 ou mais(1) 12 meses 51 Domicílio Serviço de
utilidade ao domicílio
Canadá 15 ou mais Atualmente 94 Domicílio Serviço de
utilidade ao domicílio
EUA Sem
definição Não há 84 Domicílio
Serviço móvel individual
Fonte: Pesquisas de cada país. Elaboração do próprio autor (1)
Foi considerado o recorte etário proveniente da definição de usuário para cada pesquisa
Quadro 4.2: Resumo comparativo entre os países e suas respectivas pesquisas sobre
uso da internet
Países Idade da
população alvo Recorte
temporal no uso HH7 (%)
Brasil - PNADC 10 ou mais 3 meses 70
Brasil - TIC Domicílios 10 ou mais 3 meses 67
UE 16 a 74 3 meses 84
África 15 ou mais Não há N.A.
Japão 6 ou mais Ano anterior 76
Austrália 15 ou mais 3 meses 87
México 6 ou mais 12 meses 64
Canadá 15 ou mais 3 meses 91
EUA Sem definição N.A. N.A.
Fonte: Pesquisas de cada país. Elaboração do próprio autor.
96
No próximo capítulo, será abordado um exercício de compatibilização de dados
entre as duas pesquisas brasileiras já exploradas: PNADC e TIC Domicílios. A ideia é
tentar atingir um denominador comum entre ambas.
97
CAPÍTULO 5: COMPARABILIDADE E COMPATIBILIZAÇÃO DE DADOS
ENTRE PESQUISAS BRASILEIRAS
Comparabilidade é uma qualidade do que é comparável, ou seja, se estamos
falando da mesma unidade de medida ou outros critérios para comparação que sejam
os mesmos ou bem parecidos. A ideia de comparabilidade constitui-se em estabelecer
parâmetros padronizados que permitam contrapor pontos de forma justa. Granda e
Blasczyk (2016) especificam esses parâmetros padronizados com definições,
indicadores, classificações, treinamento e requisitos técnicos. Isso é essencial para
analisar as diferenças de estimativas estatísticas entre países, pois estatísticas
comparáveis garantem que nenhum fator de confusão relacionado à maneira como os
dados foram coletados, processados e disseminados atrapalhem a comparação entre
países dos efeitos das políticas ou a análise das tendências econômicas, sociais e
ambientais, conforme Baldacci et al. (2016). Ehling (2003) também lembra que a
comparabilidade pode ir além da comparação espacial, referindo-se ao comparar as
estatísticas em momentos diferentes (aspecto temporal).
Já a harmonização é o desenvolvimento de perguntas padronizadas para serem
usadas em diferentes pesquisas, segundo De Vaus (2002), antes de o dado ser
coletado, ou seja, durante o planejamento das pesquisas. Para Granda e Blasczyk
(2016), o input harmonisation ainda inclui outras práticas padronizadas, como o
desenho da amostra, a coleta de dados e a imputação de dados. O manual da UIT, o
questionário sobre TIC proposto pela Eurostat ou mesmo as diretrizes da OCDE sobre o
assunto são exemplos de inciativas realizadas, visando harmonizar os dados antes de
eles serem gerados. Para haver um bom exercício de harmonização é necessária a
uniformidade de definição de conceitos, perguntas e classificação de códigos em
diferentes pesquisas (DE VAUS, 2002).
98
Enquanto isso, a compatibilização consiste na formulação de uma metodologia
que equipare diferentes questões depois de ser gerado o dado de forma a adaptá-lo.
Para Granda e Blasczyk (2016), o output harmonisation é utilizado para levar em conta
as condições específicas do país ou minimizar o ônus financeiro da produção estatística
não uniformizada95. Como exemplo, pode-se citar os procedimentos e os cálculos
realizados em alguns casos na seção 3 do capítulo 3 desta dissertação, comparando a
PNADC com a TIC Domicílios, tais como agrupamento de opções, equiparando
alternativas. É claro que se trata de um exercício mais complexo e com risco, sendo
que o analista necessita adquirir razoável conhecimento sobre o assunto e as
pesquisas para propor as estratégias de comparação dos questionários, suas perguntas
e correspondentes categorias de resposta. E é isso que é pretendido realizar nesse
capítulo de forma a nivelar o indicador HH6 calculado na pesquisa do CETIC.br com o
do IBGE. Lembrando que a preferência deve ser sempre quanto à primeira opção
(harmonização), pois garante um erro mínimo, enquanto a segunda forma
(compatibilização) trata-se de uma remediação, fora que normalmente exige um
esforço maior e premissas que nem sempre são as melhores, mas que podem ser
necessárias para possibilitar o trabalho.
O objetivo deste capítulo é propor formas alternativas de cálculo das
estimativas do indicador HH6 (proporção de domicílios com acesso à internet) na
pesquisa TIC Domicílios, em tentativa de compatibilizar seus resultados com as
estatísticas produzidas pela PNADC. Como já foi aludido antes, o acesso à internet
acaba sendo mensurado na unidade de referência domicílio, enquanto o uso é medido
na unidade de referência pessoa, seguindo a diretriz da UIT, cujo conceito de usuário
de internet é uma pessoa que tenha utilizado, ao menos, uma vez o serviço nos
últimos três meses.
95 Para mais detalhes sobre diferenças entre input harmonisation e output harmonisation, ver Desrosières (2000).
99
A análise apresentada no capítulo 3 mostrou que a definição operacional para
estimação do indicador uso está em sintonia nas duas pesquisas nacionais: TIC
Domicílios e PNADC, incluindo o recorte temporal e a não restrição de local de uso.
Contudo, o indicador sobre acesso tem divergências marcantes, devido a diferenças na
definição operacional do que seria um domicílio com acesso à internet. Para o IBGE, a
internet é definida como um serviço móvel individual, já que basta pelo menos um
morador ter o serviço disponível para classificar o domicílio como tendo acesso à
internet, mesmo que o referido morador não compartilhe o serviço com os demais
integrantes do domicílio. Por outro lado, para o CETIC.br, o acesso à internet é
considerado um serviço de utilidade ao domicílio, que deve estar disponível para todo
e qualquer morador do mesmo, assim como o serviço de água, esgoto ou luz,
independentemente se ele usa ou não.
Assim, o exercício realizado neste capítulo busca compatibilizar os resultados
da TIC Domicílios com os da PNADC quanto às estimativas de proporção de domicílios
com acesso à internet. Para isso, são apresentadas formas alternativas de cálculo do
indicador que visa, com as informações coletadas na unidade de referência pessoa da
pesquisa do CETIC.br, obter estimativas mais próximas das produzidas pela PNADC. É
importante lembrar que a TIC Domicílios seleciona apenas um morador aleatoriamente
no domicílio amostrado para responder as perguntas referentes ao uso da internet.
Sendo assim, são propostas três versões de cálculo desse indicador apresentadas a
seguir:
1. É considerado que o domicílio tem acesso se o respondente relatar que
usou a internet nos últimos três meses em casa96;
2. É considerado que o domicílio tem acesso se o respondente relatar que
usou a internet nos últimos três meses em casa ou se o respondente
96 CETIC.br, 2017, Pergunta C6.
100
relatar que não acessou em casa, mas indicou ter acesso à rede 3G ou
4G no celular97;
3. É considerado que o domicílio tem acesso à internet se: o respondente
relatar que usou a internet nos últimos três meses em casa; ou se o
respondente que não acessou em casa, relatar que tem acesso à rede
3G ou 4G no celular; ou se o respondente relatar que executou alguma
atividade em casa que demande internet mesmo tendo indicado que
não acessa a internet anteriormente98.
As estimativas foram calculadas no software R considerando o plano amostral
da pesquisa, utilizando os pesos amostrais de domicílio, a partir dos microdados da
pesquisa TIC Domicílios. Adotar-se-á a premissa que a informação prestada pelo
respondente representa todos os moradores do domicílio, pois não há informações
disponíveis para todos os moradores do domicílio devido ao desenho amostral da
pesquisa (seleção de morador no domicilio amostrado). No apêndice desta dissertação
consta a programação utilizada para a obtenção das estimativas.
O valor encontrado para a proporção de domicílios com acesso à internet com
base na primeira versão de cálculo do novo indicador foi de 62,5%, o que corresponde
a quase 2 pontos percentuais a mais que o dado original publicado pela pesquisa TIC
Domicílios. Para chegar a esse resultado, foi utilizada a variável C6 que permitiu
calcular a proporção de domicílios cuja pessoa respondente informou que usou a
internet em casa. É importante salientar que a pergunta original da PNADC investiga se
qualquer morador do domicílio acessa à internet e nessa primeira versão calculada
com os dados da TIC Domicílios, considera-se apenas o respondente da pesquisa, já
que essa pergunta não é aplicada a todos os moradores do domicílio. Tal fato pode
97 CETIC.br, 2017, Pergunta J3A. 98 CETIC.br, 2017, Pergunta C6_COB
101
justificar o valor inferior encontrado em relação à pesquisa do IBGE, mesmo após essa
iniciativa de compatibilização da definição operacional.
Para a segunda versão proposta, ainda se considera os respondentes que usam
a internet em casa, mas são incluídos também aqueles que usam internet no celular
via rede 3G ou 4G. Nesse sentido, a ideia é contabilizar no indicador todos os
respondentes que acessam de casa e mais aqueles que apesar de relatarem que não o
fazem, acessam a internet no celular via rede 3G ou 4G. Para isso, foi preciso utilizar as
perguntas C6 e J3A da pesquisa TIC Domicílios. Assim, estima-se que 65,2% dos
domicílios são classificados como tendo acesso à internet. Isso significa que a diferença
de 2,7 pontos percentuais frente à primeira versão é de domicílios cujo respondente
alega que não usa internet em casa, mas que usa internet no celular via rede 3G ou 4G.
É feita essa inclusão porque, como esse tipo de tecnologia permite acesso em qualquer
lugar, uma possibilidade seria acessar dessa forma em casa, já que há disponibilidade
desse recurso.
E por fim, na terceira versão, aproveitam-se informações registradas no
Módulo L (Uso de Aplicações Selecionadas) que confirma o uso da internet em
diferentes atividades para aqueles domicílios cujo respondente foi classificado na
pesquisa como não usuário da internet no Módulo C, dado que tais atividades tão
usualmente inseridas no nosso cotidiano não ocorrem desassociadas da necessidade
de uso da internet. Assim, mensura-se que 65,4% dos domicílios tenham acesso à
internet. Da mesma forma que a versão anterior, a diferença de 0,2 pontos
percentuais representa os domicílios que não se encaixavam nos itens anteriores, mas
quando confrontados se realmente não acessavam a internet em casa, reviam a sua
resposta. Isso também mostra que há uma boa percepção das atividades que
necessitam de internet no dia a dia de cada um, evidenciando conhecimento por parte
de quem responde.
102
Mesmo ainda apresentando uma diferença de quase 10 pontos percentuais
entre a última versão do indicador e as estimativas publicadas na PNADC, considera-se
o cálculo exitoso, pois a amplitude dessa diferença foi caindo gradualmente à medida
que foram sendo incorporadas determinadas variáveis que aproximam a definição
operacional de acesso à internet nas duas pesquisas. Esse movimento é perceptível na
tabela 5.1 que enumera todos esses resultados.
Tabela 5.1: Indicadores originais e construídos sobre acesso à internet no Brasil em
2017
Indicadores Acesso de internet no domicílio (%)
Estimativa original publicada na TIC Domicílios 60,8
Indicador construído versão 1 62,5
Indicador construído versão 2 65,2
Indicador construído versão 3 65,4
Estimativa original publicada na PNADC 74,9
Fonte: PNADC (2017), TIC Domicílios (2017) e dados transformados. Elaboração do próprio autor.
O fato dessa diferença ainda ser considerável reforça que a forma como é
realizada cada pergunta e, principalmente, a definição operacional a qual é atribuída
ao conceito associado a fenômenos de interesse impactam diretamente na sua
mensuração e nem um exercício de compatibilização pode ser suficiente para igualar
os resultados depois do dado gerado, pois nem sempre a forma de coleta das diversas
informações no questionário da pesquisa permite uma melhor aproximação. Isso
reforça a ideia de que harmonização de dados é mais eficiente, pois gera menos
dissonância ao padronizar antes da coleta do dado.
No próximo e último capítulo, haverá uma rápida recapitulação de tudo que foi
abordado no presente trabalho, assim como conclusões e trabalhos futuros.
103
CAPÍTULO 6: CONCLUSÕES
Como foi possível perceber, as pesquisas domiciliares são uma ferramenta
usada no mundo inteiro para mensurar o acesso e o uso da internet. É evidente que
existem outras formas de medir o acesso, já que as empresas de TIC têm governança
sobre muitas informações de seus usuários que permitiriam a produção de estatísticas
sobre quem usufrui da internet através de seu big data e cadastro de usuários.
Contudo, os dados das empresas têm valor de negócio e não estão disponíveis para
obtenção de estatísticas públicas. Destaca-se então a importância das pesquisas
domiciliares que, além de produzir estimativas dos principais indicadores de TIC,
coletam informações que possibilitam uma investigação mais detalhada sobre o não
uso.
A internet avançou muito ao longo de sua existência e entrou no dia a dia de
todos. A transformação da vida na era digital é fruto disso, o que só reforça a
necessidade dos INEs atualizarem constantemente a forma de coletar esses dados. O
problema nessas mudanças é que isso pode prejudicar os acompanhamentos ao longo
do tempo, mas que são necessários para que os indicadores medidos não fiquem
defasados frente ao fenômeno medido que é extremamente dinâmico.
Tanto esforço em medir tal variável é necessário frente ao benefício que ele
traz, já que reconhecidamente hoje a internet é ferramenta vital de promoção social.
Como foi observado no capítulo focado em estudos internacionais, há muito caminho
a ser trilhado por vários países para que esse desenvolvimento chegue a todo o mundo
na mesma intensidade. É importante destacar que o ODS 9.c, que representa a
ambição de diminuir essa disparidade quanto à infraestrutura de acesso à internet,
ainda está longe de ser alcançado, pois os países em desenvolvimento e,
principalmente, os menos desenvolvidos ainda têm uma grande curva de crescimento
pela frente em praticamente todos os indicadores medidos. Aliás, só o fato de medir e
104
acompanhar essa evolução já é um avanço que nem todos os países realizam com
êxito.
Outro ponto abordado ao longo de todo o trabalho foi a dualidade de acesso
no domicílio. Através dos diversos exemplos analisados, nacionalmente e
internacionalmente, fica claro que o acesso é medido com base na unidade de
referência domicílio, enquanto o uso refere-se à unidade indivíduo. Vale ressaltar que
não há um exercício realizado de forma ideal que permita a comparabilidade do
indicador HH6, que mensura a proporção de domicílios com internet. As pesquisas têm
diferentes definições operacionais para o cálculo desse indicador. Umas utilizam uma
definição operacional de internet como um serviço de utilidade ao domicílio que deve
estar à disposição de todos os seus moradores, assim como acontece com luz e água.
Enquanto outras interpretam que basta um morador do domicílio relatar que acessa à
internet para classificar o domicílio como conectado. No Brasil, a primeira definição é
adotada pela TIC Domicílios, enquanto a segunda é seguida pela PNADC. Em outros
países, isso também não é um consenso e cada um usa uma das definições. Contudo,
vale ressaltar que a UIT, organismo responsável pela harmonização das normas e
indicadores para o setor de TIC (Gillwald et al, 2018), sugere a pergunta da forma que a
TIC Domicílios adota. O ideal nesse caso é a instituição realizar uma campanha junto
aos INEs para que esse critério seja respeitado para permitir uma maior acurácia na
comparação dos indicadores ou que a organização recomende as duas formas de
pergunta para permitir uma equalização melhor. Já na mensuração de uso (HH7), o
conceito é muito bem assimilado no mundo. É claro que há exceções que não seguem
o padrão de uso nos últimos três meses como o recorte temporal para classificar o
respondente como usuário da internet, mas a utilização do mesmo é bem
sedimentada. Assim, as falhas na compatibilização do indicador acesso à internet
(HH6) são devidas ao fato que alguns órgãos não seguem o modelo de pergunta
orientado pela UIT. É possível que isso ocorra devido aos diferentes estágios de
105
desenvolvimento em que os países encontram-se: quando a cobertura do serviço é
muito ampla, será que ainda faz sentido perguntar se o domicílio tem acesso?
A Eurostat (2017), apesar de não seguir a orientação atual da UIT a cerca do
HH6, reforça que é necessário abranger todos os elementos do produto estatístico,
incluindo os conceitos estatísticos e as nomenclaturas, para garantir a harmonização e
comparabilidade das estatísticas. Dentre esses elementos, estão incluídos o recorte
temporal, a unidade de referência, a restrição espacial, a composição de como as
perguntas são realizadas e o fluxo lógico que é seguido. Quando esses fatores não são
bem trabalhados antes da coleta dos dados, o exercício posterior de compatibilização,
a fim de garantir uma alta comparabilidade dos mesmos, pode ter sua ação
comprometida, o que pode ser visto no capítulo 5.
Logo, o melhor é que se tenha um consenso bem claro partindo de um
organismo harmonizador, como a UIT, para conceituar com precisão o que é um
domicílio conectado à internet, evitando dúvidas e diferentes interpretações sobre o
assunto. Caso contrário, a comparabilidade será sempre comprometida. Aliás, se esse
fenômeno continuar a ser mensurado por pesquisas domiciliares, o ideal é que a UIT
faça um grande trabalho junto aos INEs para harmonizar os questionários antes dos
mesmos irem a campo, de forma que as perguntas sejam padronizadas, assim o
exercício para permitir comparabilidade terá sido realizado da melhor forma possível.
Nessa harmonização, uma possibilidade é incluir as duas formas de perguntar para
atender os dois anseios.
Outra solução é focar as pesquisas na mensuração do uso, evoluindo em outras
questões derivadas, como meio para tal e motivo para não uso, enquanto o acesso
poderia ser mensurado apenas a partir da rede de infraestrutura das empresas que
fornecem TIC. Assim, o que passaria a ser medido nesse sentido seria a cobertura do
serviço, o que do ponto de vista dos países menos desenvolvidos é de suma
importância, considerando que a disponibilização do acesso a esses recursos de forma
106
ampla é o real objetivo. Logo, as empresas que concedem acesso à internet
precisariam compartilhar as áreas de cobertura, incluindo redes fixas e móveis. Dessa
forma, seria possível fazer um mapa das regiões cobertas, mensurando o percentual
do território sem o serviço disponível, além de aspectos mais específicos, como o tipo
e a velocidade pelos quais que cada região é assistida. Com isso, poder-se-ia realizar
planos de expansão de acesso e melhoria na qualidade dos já assistidos. Nesse sentido,
quem não tivesse acesso seria por motivo de falta de infraestrutura e as pesquisas
domiciliares sobre uso investigariam os motivos de não uso para quem tivesse a
disponibilidade do serviço, além de outros aspectos mais qualitativos para quem usa.
Assim, finaliza-se a presente dissertação, almejando como trabalho futuro, o
cálculo das versões do indicador proposto no capítulo 5 com recortes regionais para
averiguar se diferenças dos indicadores são mantidas quando considerado o aspecto
geográfico. Além disso, é agregadora a análise de mais países que auferem os
indicadores HH6 e HH7 da UIT. Somado a isso, ainda valeria uma análise sobre o perfil
de quem não usa a internet. Fatalmente, esse grupo está um passo atrás no
desenvolvimento, tendo em vista que a internet é um meio de promoção social e que
permite uma maior integração das pessoas enquanto sociedade.
cvii
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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cxi
GLOSSÁRIO
Os termos abaixo estão em ordem alfabética e conceituados, conforme UIT (2016) ou MIC (2017) em tradução livre do autor.
ASP: provedor de serviços de aplicativos que fornece aos clientes aplicativos de negócios pela Internet.
BWA: tecnologia para serviços de comunicação de dados sem fio, ou seja, ondas de rádio no lugar de cabos para transmitir sinais. Exemplos: incluem WiMAX móvel (UQ WiMAX da UQ Communications) e AXGP do Wireless City Planning.
Computador: inclui computador desktop, laptop (portátil) ou tablet (ou computador de mão semelhante). Não inclui equipamentos com algumas habilidades de computação incorporadas, como aparelhos de TV inteligente e dispositivos com telefonia como função principal, como smartphones.
Desktop: computador que geralmente permanece fixo em um só lugar; normalmente o usuário é colocado na frente dele, atrás do teclado.
DoS (DDoS): tipo de ataque em que o invasor envia grandes quantidades de dados ao computador ou roteador de destino para interromper a operação normal dos sistemas de negócios ou organização de destino.
DSL: tecnologia que permite que as linhas telefônicas existentes sejam usadas para acesso e transmissão da internet de alta velocidade. Exemplos: incluem ADSL, VDSL, HDSL e SDSL.
Fibra ótica (FTTH): cabo feito de fibra de vidro usada como caminho de transmissão para comunicações ópticas com velocidades muito rápidas.
Frequência de uso da internet: classificação que considera de quanto em quanto tempo é utilizada a internet dentro dos últimos três meses, o que abrange as categorias “pelo menos uma vez ao dia”, “pelo menos uma vez por semana, mas não todos os dias” e “menos de uma vez por semana”.
FWA: sistema que envolve a instalação de uma antena nas instalações do assinante para conectar-se sem fio à antena da estação base de telecomunicações.
IDS: aquele que monitora as linhas de comunicação e notifica um administrador quando detecta uma invasão de rede.
Internet: rede pública mundial de computadores que fornece acesso a vários serviços de comunicação, incluindo a World Wide Web (WWW), e carrega arquivos de e-mail, notícias, entretenimento e dados, independentemente do dispositivo utilizado (não se supõe que seja apenas via computador - também pode ser por telefone celular, tablet,
cxii
PDA, máquina de jogos, TV digital etc.). O acesso pode ser via rede fixa ou móvel, incluindo acesso sem fio em um 'hotspot' WiFi.
Intranet: refere-se a uma rede de comunicação nas mesmas instalações ou a uma rede de comunicação entre a matriz e as filiais ou locais de trabalho da mesma empresa.
ISDN: rede de comunicação digital que integra telefone, fax, telex, comunicação de dados e outros serviços.
Laptop (portátil): computador pequeno o suficiente para transportar e geralmente habilita as mesmas tarefas que um computador de mesa; inclui notebooks e netbooks, mas não inclui tablets e computadores portáteis semelhantes.
Linha dedicada: serviço de comunicação que conecta diretamente um segmento de rede específico a uma linha reservada para uso exclusivo do cliente.
Linha telefônica fixa: linha telefônica que conecta o equipamento terminal de um cliente (por exemplo, aparelho telefônico ou fax) à rede telefônica pública comutada e que possui uma porta dedicada em uma central telefônica. Este termo é sinônimo dos termos estação principal ou Linha de Troca Direta, comumente usados em documentos de telecomunicações. Pode não ser o mesmo que uma linha de acesso ou uma assinatura.
Locais definidos de uso da internet: é a classificação dos locais, onde é possível usar a internet, o que compreende casa, trabalho (onde o local de trabalho de uma pessoa está localizado em sua casa, ele responderia sim apenas à categoria de residência); local da educação (aplica-se apenas aos alunos - professores e outras pessoas que trabalham em um local de educação relatam 'trabalho' como o local de uso da Internet; onde um local de educação também é disponibilizado como local para uso geral da internet na comunidade, esse uso deve ser relatado na categoria de recurso de acesso à internet da comunidade), casa de outra pessoa (como amigo, parente ou vizinho), instalação comunitária de acesso à internet (normalmente gratuita e disponível ao público em geral em instalações comunitárias, como bibliotecas públicas, quiosques de internet fornecidos publicamente, telecentros não comerciais, centros comunitários digitais, correios e outras agências governamentais), instalação comercial de acesso à Internet (normalmente o acesso é pago e disponível ao público em geral em instalações comerciais, como cybercafé, hotéis, aeroportos etc) e em mobilidade (no caso de uso da internet em dispositivos móveis, via dispositivos com funcionalidade de telefone celular ou outros dispositivos de acesso móvel, por exemplo, um laptop, tablet ou outro dispositivo portátil conectado a uma rede de telefonia móvel).
Mídia social: mídia em que os usuários criam e distribuem informações, como blogs, sites de redes sociais e sites de compartilhamento de vídeo. A mídia social é distinta por ter vários mecanismos para incentivar os usuários a se conectarem e a ver as conexões visualmente.
cxiii
Protocolo: conjunto de convenções pré-determinadas que permitem que os computadores comunicar através de uma rede.
Proxy server: A proxy server is a computer placed at the boundary of the Internet and a corporate or other internal network. This computer connects to the Internet as a “proxy” for computers in the internal network that cannot directly access the Internet.
Rádio: dispositivo capaz de receber sinais de rádio de difusão, usando frequências comuns, como FM, AM, LW e SW. Um rádio pode ser um dispositivo autônomo ou integrado a outro dispositivo, como um despertador, um reprodutor de áudio, um telefone celular ou um computador.
Rede entre empresas: refere-se a uma rede de comunicação que se conecta a outra ou a outras empresas.
SaaS: mecanismo que fornece as funções de aplicativos de software para os clientes conforme necessário em uma rede.
Serviços de TV multicanal: classificação que abarca as seguintes categorias TV a cabo – CATV (programação multicanal entregue através de um cabo coaxial para visualização em aparelhos de televisão), serviços de satélite direto para casa – DTH (serviços de TV recebidos por uma antena parabólica capaz de receber transmissões de televisão por satélite), TV com protocolo da Internet – IPTV (serviços de multimídia, como televisão, vídeo, áudio, texto, gráficos e dados entregues em uma rede baseada em IP, gerenciados para oferecer suporte ao nível exigido de qualidade de serviço, qualidade de experiência, segurança, interatividade e confiabilidade; ele não inclui vídeo acessado pela Internet pública, como streaming. Os serviços de IPTV também costumam ser vistos por um aparelho de televisão e não por um computador pessoal) e TV digital terrestre (TDT).
Servidor proxy: computador colocado nos limites da Internet e de uma rede corporativa ou outra rede interna. Este computador se conecta à Internet como um "proxy" para computadores na rede interna que não podem acessar diretamente a Internet.
Spam: e-mail enviado em grandes volumes indiscriminadamente, sem levar em consideração nenhum atributo dos destinatários. O spam tornou-se um problema devido ao tráfego que coloca na Internet pública.
SPF: tecnologia que impede a falsificação do endereço de um remetente de e-mail.
Tablet (ou computador de mão semelhante): é um computador integrado a uma tela plana sensível ao toque, operado tocando na tela em vez de (ou também) usando um teclado físico.
Telefone móvel (celular): telefone portátil que assina um serviço público de telefone móvel usando a tecnologia celular, que fornece acesso à rede telefônica pública
cxiv
comutada. Isso inclui sistemas e tecnologias celulares analógicos e digitais, como IMT-2000 (3G) e IMT-Advanced. São incluídas assinaturas pós-pagas e contas pré-pagas.
Televisão (TV): dispositivo capaz de receber sinais de transmissão de televisão, usando meios de acesso populares, como o ar, o cabo e o satélite. Um aparelho de televisão geralmente é um dispositivo independente, mas também pode ser integrado a outro dispositivo, como um computador ou um telefone celular.
Tipo de acesso à internet: classificação das redes de banda oferecidas para acesso à internet, o que inclui rede de banda estreita fixa com fio (engloba modem analógico para discagem via linha telefônica padrão, ISDN - Rede Digital de Serviços Integrados, DSL - Linha de Assinante Digital - nas velocidades anunciadas de download abaixo de 256 kbit/s e outras formas de acesso com uma velocidade de download anunciada inferior a 256 kbit/s; rede de banda larga fixa com fio (tecnologia com velocidades anunciadas de download de, pelo menos, 256 kbit/s, como DSL, modem a cabo, linhas alugadas de alta velocidade, fibra para casa ou edifício, linha de força e outras redes fixas com fio; rede de banda larga fixa sem fio terrestre (tecnologia com velocidades anunciadas de download de, pelo menos, 256 kbit/s, como WiMAX ou CDMA fixo); rede de banda larga via satélite (tecnologia de conexão via satélite com velocidades anunciadas de download de, pelo menos, 256 kbit/s); rede de banda larga móvel (pelo menos, 3G, como UMTS) através de um telefone; e rede de banda larga móvel (pelo menos, 3G, como, UMTS) por meio de um cartão (por exemplo, cartão SIM integrado em um computador) ou modem USB.
Usuário da internet: pessoas que usou a internet de qualquer local nos últimos três meses.
Usuário de celular: indivíduo que usou um telefone celular nos últimos três meses.
Usuário de computador: indivíduo que usou um computador em qualquer local nos últimos três meses.
Vírus de computador: um programa projetado para danificar ou destruir um sistema de computador. Os vírus de computador infectam arquivos por meio de outros arquivos ou e-mail para alcançar e atacar um sistema de computador.
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APÊNDICE
### Duplicando as bases para manter ter uma cópia original de cada ticdom_2017_dom <- ticdom_2017_domicilios ticdom_2017_ind <- ticdom_2017_individuos ### Criando objeto das variáveis ticdom_2017_ind_var <- ticdom_2017_ind$variables ticdom_2017_dom_var <- ticdom_2017_dom$variables ### Lendo os pacotes do R library(survey) library(srvyr) library(tidyverse) ### Variáveis relevantes: versão1 - C6_A = 1 (Acessa internet em casa); versão2 - J3A_A = 1 (Acessa internet no celular via 3G ou 4G); versão3 - C6_cob_a = 1 (Confirmação de acesso) ### Junção das bases teste <- left_join(ticdom_2017_dom_var, ticdom_2017_ind_var, by =c('id_domicilio')) ticdom_2017_dom$variables <- teste ### Versão 1 svymean(~C6_A, ticdom_2017_dom, na.rm=TRUE) Acesso_casa1 = svytable(~ C6_A, ticdom_2017_dom) Acesso_casa1 prop.table(Acesso_casa1) ### Versão 2 Acesso_casa2 = svytable(~J3A_A + C6_A, ticdom_2017_dom) Acesso_casa2 prop.table(Acesso_casa2) write.csv(Acesso_casa2, file='Acesso_casa2.csv') ### Versão 3 Acesso_casa3 = svytable(~J3A_A + C6_A + C6_cob_a, ticdom_2017_dom) Acesso_casa3
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prop.table(Acesso_casa3) ###Copia e os dados do prop.table e cola no excel de forma organizada, depois soma os valores desejados para encontrar o indicador v3
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ANEXO I – QUESTIONÁRIO DA PNADC (MÓDULO HABITAÇÃO)
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cxx
cxxi
cxxii
cxxiii
ANEXO II – QUESTIONÁRIO DA PNADC (SUPLEMENTO ESPECIAL 07
SOBRE TIC)
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ANEXO III – QUESTIONÁRIO DA TIC DOMICÍLIOS
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cxxix
cxxx
cxxxi
cxxxii
cxxxiii
cxxxiv
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cxxxix
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cxliv
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clii
cliii
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