100
INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOCIÊNCIAS - GEOQUÍMICA BEATRIZ ANDRADE DA SILVA MARQUES AVALIAÇÃO DO POTENCIAL DE FERTILIZAÇÃO DECORRENTE DA DEPOSIÇÃO DE CINZAS VULCÂNICAS DO COMPLEXO ANDINO PUYEHUE- CORDÓN CAULLE EM ÁGUAS DO ATLÂNTICO SUL/OCEANO AUSTRAL NITERÓI 2015

INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/1573/1/Dissertação - Beatriz Andrade... · O vulcanismo é um potencial agente fertilizador de

  • Upload
    lylien

  • View
    212

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

INSTITUTO DE QUÍMICA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOCIÊNCIAS - GEOQUÍMICA

BEATRIZ ANDRADE DA SILVA MARQUES

AVALIAÇÃO DO POTENCIAL DE FERTILIZAÇÃO DECORRENTE DA

DEPOSIÇÃO DE CINZAS VULCÂNICAS DO COMPLEXO ANDINO PUYEHUE-

CORDÓN CAULLE EM ÁGUAS DO ATLÂNTICO SUL/OCEANO AUSTRAL

NITERÓI

2015

BEATRIZ ANDRADE DA SILVA MARQUES

AVALIAÇÃO DO POTENCIAL DE FERTILIZAÇÃO DECORRENTE DA

DEPOSIÇÃO DE CINZAS VULCÂNICAS DO COMPLEXO ANDINO PUYEHUE-

CORDÓN CAULLE EM ÁGUAS DO ATLÂNTICO SUL/OCEANO AUSTRAL

Dissertação apresentada ao Curso de Pós-

Graduação em Geociências da Universidade

Federal Fluminense, como requisito parcial

para a obtenção do Grau de Mestre. Área de

Concentração: Geoquímica Ambiental.

Orientador:

Profº Drº Heitor Evangelista da Silva

NITERÓI 2015

M357 Marques, Beatriz Andrade da Silva.

Avaliação do potencial de fertilização decorrente da deposição de cinzas vulcânicas do complexo andino Puyehue-Cordón Caulle em águas do Atlântico Sul/Oceano Austral / Beatriz Andrade da Silva Marques. – Niterói : [s.n.], 2015.

97 f. : il. ; 30 cm.

Dissertação (Mestrado em Geociências - Geoquímica Ambiental) - Universidade Federal Fluminense, 2015. Orientador: Profº Drº Heitor Evangelista da Silva.

1. Vulcanismo. 2. Sensoriamento remoto. 3. Bioensaio. 4. Oceano

Atlântico Sul. 5. Produção intelectual. I. Título.

CDD 551.21

A meus pais, Lucia e J. Augusto,

por terem investido em mim seu tempo,

amor e energia.

E às novas descobertas.

Da ciência e da vida.

AGRADECIMENTOS

Agradeço aos homens e à mulher do mar a bordo do NPo Alte Maximiano

durante a OPERANTAR XXXII, que ofereceram total apoio à realização do

experimento de campo e com os quais construi amizades sinceras. Aos

pesquisadores e equipe do LARAMG, em especial ao meu time Alexandre

Castagna, Thiago Pinto e Anne Caroline Medeiros, que dividiram comigo por meses

as dificuldades e as alegrias de um trabalho cansativo, mas absolutamente

compensador, desde o laboratório no Rio de Janeiro até um lugar tão apaixonante

como a Antártica. Aos professores Renato Campello Cordeiro, Cátia Fernandes

Barbosa e Ricardo Godoi por suas colaborações com protocolos e análises e por

seu papel incentivador. À professora Gleyci Moser por sua incondicional disposição

em ajudar no que estiver ao seu alcance, sempre apaixonada por este seu hobby

que alguns chamam de profissão, e à técnica Domênica Lima por todo o auxílio

laboratorial.

Ao Mestre (!) e amigo Alexandre Castagna, gostaria de destacar minha gratidão.

Grande exemplo profissional, absolutamente dedicado, participou ativamente do meu

amadurecimento acadêmico e pessoal e foi um guia em como trabalhar com e traduzir,

por escrito, a ciência.

Ao professor e orientador Heitor Evangelista, pelo estímulo em desenvolver e

finalizar este trabalho, por seu brilho nos olhos ao falar de novos projetos e

possibilidades científicas, sendo sempre uma fonte inesgotável de entusiasmo!

Todos os nossos encontros são uma injeção de ânimo!

Ao Marcello, pelo carinho, amizade e ajuda paciente nos desenhos!

À Suzana, incrivelmente atenciosa, que não para de me surpreender com sua

competência exponencialmente crescente!

A meus outros mestres na vida, com e sem títulos, que ensinam de cada

assunto um tanto e ajudam a moldar meu caráter em cada experiência compartilhada.

À família e aos amigos que contribuiram para a conclusão deste Mestrado direta

ou indiretamente e trouxeram felicidade e leveza aos meus dias. A meus pais, em

especial, por terem sido meus exemplos, meus pilares a que posso sempre recorrer,

aqueles a quem admiro infinitamente.

"É melhor acender uma vela do que praguejar contra a escuridão".

ADÁGIO POPULAR

RESUMO

O vulcanismo é um potencial agente fertilizador de via eólica para os oceanos. Para

as últimas décadas, o sensoriamento remoto tem sido uma ferramenta importante no

sentido de avaliar em tempo quase-real alterações de parâmetros nos oceanos

durante os episódios de erupção vulcânica, em geral com alta resolução temporal e

espacial. Evidências experimentais ainda são pouco reportadas, sobretudo para o

hemisfério sul. Este trabalho investiga a resposta biológica decorrente do aporte das

cinzas expelidas durante o evento eruptivo de 2011 do complexo vulcânico andino

Puyehue-Cordón Caulle em águas do Atlântico Sul / Oceano Austral. Duas

abordagens foram empregadas no estudo: (1) sensoriamento remoto orbital; e (2)

experimento de fertilização em microcosmo. A investigação feita por meio de

sensoriamento remoto utilizou os parâmetros satelitais Espessura Óptica de

Aerossol (AOT), Concentração de Clorofila-a (CHL-a) e Temperatura da Superfície

do Mar (SST), aquisitados pelo sensor MODIS/Aqua e acessados através do portal

Ocean Color mantido pelo OBPG/NASA. O contexto pós-erupção foi avaliado

comparando os valores dos parâmetros para o ano (2011) com o valor da série

histórica criada com dados de 2002 à 2010. O bioensaio de fertilização foi realizado

com as cinzas vulcânicas do evento eruptivo em questão, com tréplicas do controle

e outros três tratamentos, distintos em massa de cinzas inserida, em águas

coletadas no centro da Passagem de Drake. Os resultados obtidos a partir das duas

abordagens deste trabalho, sensoriamento remoto e bioensaio, não são taxativos

sobre o acoplamento entre a deposição das cinzas da erupção do complexo

vulcânico Puyehue-Cordón Caulle e a possível ocorrência de um evento de

fertilização oceânica. Através da análise por sensoriamento remoto é possível notar

para o período de intensificação dos ventos de oeste do mesmo ano – primavera-

verão – que há picos nas medidas de espessura óptica da atmosfera e de

concentração de clorofila, que atingem valores maiores que a média histórica. Isto

indica que houve aporte de material continental e que este foi suficiente para

propiciar maior desenvolvimento algal no oceano. Estes resultados indicam que a

poeira mineral, constituída por material de erosão continental com a contribuição dos

depósitos de composições distintas de cinzas expelidas nas diversas erupções

andinas, é capaz de prover micronutrientes escassos na coluna d’água ao

fitoplâncton, com aumento de biomassa algal de uma comunidade fitoplanctônica

não limitada por outros parâmetros (condições de irradiação suficiente, temperaturas

menos baixas, camadas de mistura mais rasas e pressão de predação menos

intensa). A hipótese também poderia esclarecer a falta de resultados conclusivos do

bioensaio feito apenas com as cinzas, sem qualquer beneficiamento de outras fontes

continentais.

Palavras-chave: Vulcanismo. Fertilização oceânica. Sensoriamento remoto.

Bioensaio. Oceano austral.

ABSTRACT

Volcanism is a potential agent for fertilizing by wind the oceans. In the last decades,

remote sensing has been an important tool that allows evaluations of near-real-time

changes in oceanographic parameters during episodes of volcanic eruptions, in

general with high temporal and spatial resolution. Experimental evidences are still

poorly reported, especially for the southern hemisphere. This work investigates the

biological response resulting from the input of ash expelled during the 2011 eruptive

event of the Andean volcanic complex Puyehue-Cordón Caulle over waters of the

Atlantic Ocean / Southern Ocean. Two approaches were employed in the study: (1)

remote sensing; and (2) fertilization experiment. The research carried out by means

of remote sensing, used the satellite parameters Aerosol Optical Thickness (AOT),

Concentration of Chlorophyll-a (CHL-a) and Sea Surface Temperature (SST),

acquired by MODIS / Aqua and accessed through the Ocean Color portal maintained

by OBPG / NASA. The context of post-eruption was assessed by comparing the

values of the parameters for the year (2011) with the value of climatology created

with data from 2002 to 2010. The fertilization bioassay was performed with volcanic

ash from the considered eruption event, with rejoinders of four treatments, different in

volume, in water collected in the Drake Passage. The results from the two

approaches this work, remote sensing and bioassay, are not exhaustive of the

coupling between the deposition of ash from the eruption of the Puyehue-Cordón

volcanic complex Caulle and the possible occurrence of an ocean fertilization event.

Through remote sensing analysis it is possible to note that, with the intensification

period of westerly winds of the same year - spring and summer, there are peaks in

aerosol optical thickness measurements of the atmosphere and in concentration of

chlorophyll, which reach values higher than the historical average. This indicates that

there has been input of continental material, and that this was sufficient to provide

greater algal development in the ocean. These results indicate that the mineral dust,

formed by continental erosion material with the contribution of deposits of different

compositions of ash expelled in several Andean rash, is capable of providing scarce

micronutrients in the water column to phytoplankton, with an increase of algal

biomass in a phytoplankton community not limited by other parameters (sufficient

irradiation conditions, less low temperatures, shallower mixing layers and less

intense predation pressure). The hypothesis could also explain the lack of conclusive

bioassay results done only with the ashes without any contribution of other

continental sources.

Keywords: Volcanism. Ocean fertilization. Remote sensing. Bioassay. Southern

ocean.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Imagem do satélite MODIS da pluma de cinzas expelidas na

erupção do vulcão Kasatochi, no Alaska, em 8 de Agosto de

2008 na faixa do visível................................................................. 20

Figura 2 – Mapa da dispersão das cinzas e espessura dos depósitos

piroclásticos sobre a área continental. Fonte: LIMA et al., 2012.. 22

Figura 3 – Composição satelital da dispersão da pluma de dióxido de

enxofre do Pinatubo, após 9 dias do início da erupção de

1991............................................................................................. 23

Figura 4 – Imagem MODIS/Aqua (Moderate Resolution Imaging

Spectroradiometer / Satélite Aqua) da pluma de cinzas da

erupção do vulcão Eyjafjallajökull em 10 de maio de

2010.............................................................................................. 23

Figura 5 – (a-d) Imagens MODIS para a média mensal de clorofila na

superfície nos meses de agosto de 2005, 2006, 2007 e 2008;

(e) série temporal da média mensal de clorofila dentro da caixa

mostrada na Figura (f); (f) Zoom na imagem MODIS de clorofila

para agosto de 2008 (Pacífico NE subártico), mesmo grid

espacial das figuras (g) e (h); (g) composição das detecções

satelitais de cinzas mais intensas da erupção do vulcão

Kasatochi; (h) localização das partículas - de 0-10.000 m de

altitude - obtida pelo modelo de dispersão para 12, 24, 48 e 72

horas após o início da erupção do

Kasatochi...................................................................................... 26

Figura 6 – Evolução em função do tempo (dias) da concetração de clorofila

em bioensaios com diferentes metais adicionados

individualmente e no controle. ..................................................... 29

Figura 7 – Diagrama da formação de componentes solúveis em partículas

de cinzas....................................................................................... 30

Figura 8 – (A) Imagem MODIS-Terra, que mostra a pluma de cinzas da

erupção do complexo vulcânico Puyehue-Cordón Caulle, em 31

Junho de 2011, na faixa do visível (true color), e (B) pluma de

dióxido de enxofre correspondente detectada pelo IASI (Infrared

Atmospheric Sounding Interferometer) do satélite MetOp-A........

Figura 9 – Concentração superficial (até 10 metros) anual média de (A)

nitrato e (B) fosfato no oceano global. Altas concentrações,

comparativamente às demais áreas, de ambos os

macronutrientes podem ser observadas na região de estudo...... 32

Figura 10 – Processos biogeoquímicos envolvendo o ferro de fonte

vulcânica nos oceanos e os mecanismos de redução por

formação de atmosfera ácida e de assimilação do

micronutriente através da formação de complexos Fe-quelante

orgânico........................................................................................ 35

Figura 11 – (a) Localização do ponto de coleta (59°00’S, 64°26’W) e fratura

de Shackleton; (b) representação da passagem de massa

d’’agua de fundo sobre a fratura de Shackleton. Fonte:

Adaptado de Explorations Scripps Institution of

Oceanography/UCSD................................................................... 39

Figura 12 – Média histórica (1997-2010) de Concentração de Clorofila-a

estimada pelo SeaWiFS gerada a patir do banco de dados

online Giovanni. Localização do complexo vulcânico (40°35’S,

72°07’W - triângulo vermelho) e do (59°00’S, 64°26’W - círculo

vermelho)...................................................................................... 42

Figura 13 – Tamanho médio de micropartícula de cinza vulcânica

depositada na superfície para a erupção do Monte Santa

Helena.......................................................................................... 44

Figura 14 – Esquema dos componentes do sistema de coleta........................ 49

Figura 15 –

Distribuição do sistema de coleta a bordo do NPo Alte

Maximiano. Unidades experimentais são preenchidas com água

coletada pela mangueira de sucção, mantida na profundidade

desejada por um lastro de concreto revestido por PVC................ 50

Figura 16 – Detalhe do aparato de inserção de cinzas em cada unidade de

cultivo (válvulas three-way)........................................................... 51

Figura 17 – Média histórica mensal da Profundidade da Camada de Mistura, 54

em metros, para o Hemisfério Sul no mês da erupção (Junho –

Inverno), e seis meses depois (Dezembro – Verão).....................

Figura 18 – Pluma integrada de deposição de material obtida com o modelo

de dispersão e deposição online

HYSPLIT....................................................................................... 55

Figura 19 – Representação dos volumes de cinzas vulcânicas inseridos por

tréplica de cada tratamento em cada unidade experimental........ 56

Figura 20 – Fixação dos nichos metálicos na proa do segundo convés.

Internamente aos nichos são armadas piscinas onde é circulada

água sub-superficial. Recipientes de cultivo são mantidos nos

nichos metálicos, parcialmente submersos na água de

circulação e cobertos por uma manta de atenuação de luz.......... 57

Figura 21 – Atenuação óptica na coluna d’água (KT) em função do

comprimento de onda (λ), da concentração de clorofila ([Chl-a])

e da concentração de matéria orgânica dissolvida ([DOM]). (A)

Atenuação por comprimento de onda (nm); e (B) Atenuação

para a PAR por profundidade....................................................... 58

Figura 22 – Pluma de deposição seca e úmida: resultado consolidado do

modelo para o desenvolvimento da pluma de cinzas vulcânicas

até 8 dias após o início da erupção.............................................. 63

Figura 23 – Pluma de concentração atmosférica acumulada modelada

(esquerda) e composição das imagens de satélite dos dias

correspondentes montada pela NASA com dados OMI/AURA

(direita) para os primeiros seis dias de erupção........................... 64

Figura 24 – Série histórica (linhas vermelhas) com barras de duas vezes o

erro padrão (2EP) e valores para o ano de 2011 (linhas pretas)

para Espessura Óptica de Aerossol (AOT) (A), Temperatura da

Superfície do Mar (SST) (B) e Concentração de Clorofila-a

(CHL-a) com cálculo por média aritmética (C) e por média

geométrica (D). Os dados semanais são composições de 8

dias, portanto, o início do evento eruptivo, indicado pela linha

vertical azul, ocorre ao final da 20a semana do calendário

juliano............................................................................................ 65

Figura 25 – Imagens produzidas a partir de dados do sensor MODIS/Aqua

das anomalias de CHL-a calculadas para as duas primeiras

quinzenas pós-erupção................................................................. 66

Figura 26 – Composição de imagens true color MODIS/Aqua para os dias

03/06/11 e 04/07/11, respectivamente um dia antes (A) e pouco

mais de um mês (B) após o início da erupção do Puyehue

Cordón-Caulle, mostrando a deposição de cinzas sobre o

continente, em arco crescente partindo da fonte, indicada pelo

ponto amarelo............................................................................... 67

Figura 27 – Média histórica mensal do ângulo (A) com Norte como

referência (0°) e da velocidade (B) do vento sobre a Patagônia,

calculadas com base nos mesmos dados NCEP/NCAR usados

para o modelo HYSPLIT, porém entre 1948 e 2011 (linha azul:

mês da erupção; linha vermelha: início do período de ventos

mais intensos)............................................................................... 68

Figura 28 – Médias latitudinal (A) e longitudinal (B) de vento para o período

de Setembro a Dezembro de 2011............................................... 69

Figura 29 – Resultado da Espectrometria de Fluorescência de Raios-X:

composição da amostra de cinzas: concentração, em

porcentagem de massa, dos elementos presentes na amostra

das cinzas coletadas após a erupção de Julho de 2011 do

complexo vulcânico Puyehue-Cordón Caulle. Outros elementos:

Cu (0,031%), Zn (0,120%), Ga (0,018%), Rb (0,075%), Sr

(0,188%), Y (0,039%), Zr (0,289%), W (0,046%), Pb (0,045%).... 70

Figura 30 – Imagens de Microscopia Eletrônica de Varredura de partículas

da amostra de cinzas vulcânicas. (A) Partícula predominante

lisa, angulosa e com padrões vesiculares (glass shards); (B)

Corte transversal da partícula predominante; (C) Partícula

sólida; (D) Agregado de partículas de argila; (E) Filamento com

padrão acostelado similar ao da partícula predominante; (F)

Partícula mista.............................................................................. 72

Figura 31 – Distribuição dos elementos químicos em cada partícula: (A) 73,

Partícula predominante, (B) Partícula sólida, (C) Agregado de

argila, (D) Filamento acostelado, (E) Partícula mista (parte

interna), (F) Partícula mista (parte externa), (G) Partícula

escura...........................................................................................

74,

75

Figura 32 – Difratograma de Raios-X para a amostra de cinzas vulcânicas.

O resultado indica a mineralogia dos elementos presentes na

amostra......................................................................................... 76

Figura 33 – Variação temporal da Concentração de Clorofila-a média no

controle e em cada um dos tratamentos com as barras de

desvio padrão................................................................................ 78

Figura 34 – Variação temporal da taxa de incremento na Concentração de

Clorofila-a Média no controle e em cada um dos tratamentos...... 79

Figura 35 – Densidade celular fitoplanctônica ao início (Inicial) e após 12

dias (A, B, C e D) de experimento, com barras de desvio padrão 80

Figura 36 – Composição relativa do fitoplâncton ao início (Inicial) e após 12

dias de experimento, por tratamento (A, B, C e D)....................... 81

Figura 37 – Variação temporal da densidade celular de dinoflagelados

média por tratamento com barras de desvio padrão.................... 82

Figura 38 – Variação temporal da densidade celular de diatomáceas média

por tratamento com barras de desvio padrão............................... 82

Figura 39 – Retrotrajetórias médias de massas de ar associadas aos perfis

latitudinais das concentrações atmosféricas de ferro (Fe), silício

(Si) e alumínio (Al). Dados obtidos durante a campanha de

2006, OPERANTAR...................................................................... 87

Figura 40 – Imagem MODIS/Aqua em cor verdadeira da emissão de poeira

da região próxima a Trelew, na Patagônia Argentina, em

2009.............................................................................................. 88

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Emprego do ferro no metabolismo vegetal........................................ 28

Tabela 2 – Densidade média das partículas de cinzas....................................... 54

Tabela 3 – Concentração das cinzas depositadas no oceano em função do

aporte de cinzas por área e da profundidade da camada de

mistura (Ver cálculos no ANEXO I)................................................... 55

Tabela 4 – Volumes coletados para cada amostra ao longo do cultivo.............. 59

Tabela 5 – Composição média de metais-traço em cada tipo de cinzas,

basálticas e riolíticas.......................................................................... 86

LISTA DE ABREVIATURAS

λ Comprimento de onda

µg Micrograma

µm Micrometro

AI Aerosol Index

Aqua Satélite Aqua

AOT Aerosol Optical Thickness

ARL Air Resources Laboratory

BInc Bomba de Incêncio

BBC British Broadcasting Corporation

Cd Cádmio

CHL-a Chlorophyll-a Concentration

Cu Cobre

[DOM] Concentração de matéria orgânica dissolvida

EDS Espectroscopia de Energia Dispersiva

EOS Earth Observing System

ESA European Space Agency

Fe Ferro

GES DISC Goddard Earth Sciences Data and Information Services Center

GSFC Goddard Space Flight Center

GPL General Public License

HNLC High Nutrient, Low Chlorophyll

h Hora

HYSPLIT HYbrid Single-Particle Lagrangian Integrated Trajectory

INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais

KT Atenuação óptica na coluna d’água

kg Quilograma

L Litros

LaGIR Laboratório de Geocronologia e Isótopos Radiogênicos

LANCE Land Atmosphere Near Real Time Capability for EOS

m Metro

MEV Microscopia Eletrônica de Varredura

mg Miligrama

Mn Manganês

MODIS Moderate Resolution Imaging Spectroradiometer

N Nitrogênio

NASA National Aeronautics and Space Administration

NCAR National Center for Atmospheric Research

NCEP National Centers for Environmental Prediction

Ni Níquel

nM Nanomolar

nm Nanometro

NOAA National Oceanic and Atmospheric Administration

NPo Alte Maximiano Navio Polar Almirante Maximiano

NRL Near Real Time

OBGP Ocean Biology Processing Group

ONEMI Oficina Nacional de Emergencia del Ministerio del Interior y

Seguridad Pública

OPERANTAR Operação Antártica

P Fósforo

PAR Photosynthetic Active Radiation

PA Poliamida (nylon)

PDMS Polidimetilsiloxano (silicone)

PMMA Polimetil-metacrilato (acrílico)

PTFE Politetrafluoretileno (teflon)

PVC Policloreto de vinila

s Segundo

SERNAGEOMIN Servicio Nacional de Geología y Minería

Si Silício

SMI Standard Mapped Image

SST Sea Surface Temperature

UERJ Universidade do Estado do Rio de Janeiro

UFF Universidade Federal Fluminense

UV Ultravioleta

Zn Zinco

ZVAA Zona Vulcânica Austral dos Andes

SUMÁRIO

RESUMO.............................................................................................................. IV

ABSTRACT.......................................................................................................... VI

LISTA DE FIGURAS............................................................................................ VIII

LISTA DE TABELAS........................................................................................... XII

LISTA DE ABREVIATURAS............................................................................... XIII

1. INTRODUÇÃO............................................................................................... 20

2. OBJETIVOS.................................................................................................. 36

2.1. OBJETIVO GERAL...................................................................................... 36

2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS......................................................................... 36

3. JUSTIFICATIVA............................................................................................ 37

4. MATERIAIS E MÉTODOS............................................................................ 38

4.1. ÁREA DE ESTUDO E PONTO DE COLETA............................................... 38

4.2. ABORDAGEM POR SENSORIAMENTO REMOTO................................... 40

4.2.1. Dados de plataformas orbitais............................................................... 40

4.2.2. Modelo atmosférico de dispersão de partículas.................................. 42

4.2.3. Processamento dos bancos de dados.................................................. 45

4.3. EXPERIMENTO DE FERTILIZAÇÃO EM MICROCOSMO......................... 46

4.3.1. Preparação dos materiais....................................................................... 46

4.3.1.1. Materiais................................................................................................ 46

4.3.1.2. Etapas da Assepsia............................................................................... 46

4.3.2. Configuração do experimento............................................................... 48

4.3.2.1. Logística de Coleta................................................................................ 48

4.3.2.2. Amostra de Cinzas Vulcânicas.............................................................. 51

4.3.2.2.1. Espectrometria de Fluorescência de Raios-X (FRX)..........................

4.3.2.2.2. Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) e Espectroscopia de

Energia Dispersiva (EDS)...................................................................

4.3.2.2.3. Difração de Raios-X (DRX).................................................................

52

52

53

4.3.2.3. Massa de Cinzas Adicionado por Tratamento no Bioensaio

4.3.2.4. Local de Instalação do Sistema.............................................................

4.3.2.5. Controle de Luminosidade.....................................................................

4.3.2.6. Controle de Temperatura......................................................................

4.3.2.7. Aeração Positiva das Unidades Experimentais.....................................

53

56

57

58

59

4.3.2.8. Logística de Amostragem......................................................................

4.3.2.9. Técnicas de Análise..............................................................................

4.3.2.9.1. Concentração de Clorofila...................................................................

4.3.2.9.2. Abundância e Composição Fitoplanctônica........................................

59

60

60

60

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO.................................................................... 62

5.1. ABORDAGEM POR SENSORIAMENTO REMOTO................................... 62

5.2. EXPERIMENTO DE FERTILIZAÇÃO EM MICROCOSMO......................... 70

5.2.1. Amostra de cinzas vulcânicas............................................................... 70

5.2.1.1. Espectroscopia de Fluorescência de Raios-X (FRX)............................

5.2.1.2. Microscopia Eletrônica e Varredura (MEV)...........................................

70

71

5.2.1.3. Espectroscopia de Energia Dispersiva (EDS).......................................

5.2.1.4. Difração de Raios-X (DRX)...................................................................

5.2.2. Concentração de clorofila.....................................................................

5.2.3. Abundância e composição fitoplanctônica.........................................

73

73

76

79

6. CONCLUSÃO................................................................................................ 84

7. REFERÊNCIAS.............................................................................................. 89

8. ANEXO ...........................................................................................................

98

20

1 INTRODUÇÃO

O aporte de material continental em sistemas aquáticos determina diversas

alterações físico-químicas com potencial impacto sobre a comunidade biológica e

suas propriedades ecossistêmicas. A via eólica tem papel relevante no carreamento

e disponibilização deste material para tais sistemas (MESKHIDZE et al., 2007).

Plumas de cinzas vulcânicas e de poeira de sedimentos mineirais de zonas áridas e

semi-áridas podem se estender por milhares de quilômetros sobre o oceano,

dissolvendo parte de sua massa quando em contato com a água do mar. Um

exemplo recente desta via de transporte pode ser observado na figura 1: a pluma de

cinzas expelidas durante a erupção de Agosto de 2008 do vulcão Kasatochi, no

Alaska.

Figura 1 - Imagem do satélite MODIS da pluma de cinzas expelidas na erupção do vulcão Kasatochi, no Alaska, em 8 de Agosto de 2008 na faixa do visível. Fonte: LANGMANN et al., 2010.

21

Os vulcões são uma fonte notável de substâncias continentais que são

carreadas por via eólica para os oceanos. Eventos eruptivos ocorrem em escala

temporal relativamente curta e espacial desde a regional até a global; sendo assim,

tem grande importância na injeção de componentes terrígenos no oceano. Para o

setor Atlântico do Oceano Austral, as principais fontes eólicas de material mineral

são o semi-deserto da Patagônia e a Zona Vulcânica Austral dos Andes (ZVAA). No

caso deste trabalho, a erupção explosiva do complexo vulcânico Puyehue-Cordón

Caulle (40°35’S – 72°07’W), no Chile, iniciada em 4 de Junho de 2011 e seguida por

uma forte deposição atmosférica de material vulcânico, é o objeto de estudo.

Segundo o Global Volcanism Program, o volume de material expelido por este

evento eruptivo foi responsável pela evacuação de quase 5 mil residentes próximos

à sua cratera. A ONEMI (Oficina Nacional de Emergencia del Ministerio del Interior y

Seguridad Pública) informou que a passagem Cardenal-Samoré, uma das principais

entre as montanhas dos Andes que ligam Chile e Argentina, foi fechada

temporariamente em virtude de um depósito de cinzas que atingiram entre 10 e 15

cm de espessura. O maior lago da Argentina, Nahuel Huapi, que fica no sopé

oriental dos Andes ao sul do complexo vulcânico, também ficou coberto por cinzas,

como reportado pela imprensa chilena. De acordo com a agência BBC, o rio Nilahue,

localizado ao norte do vulcão, ficou obstruído pelas cinzas e transbordou; suas

águas, normalmente a 6°C, foram localmente aquecidas atingindo 45°C por conta da

deposição do material vulcânico, resultando na mortandade de mais de 4 milhões de

peixes. Uma camada de cinzas com aproximadamente 5 cm de espessura foi

formada na cidade de San Carlos de Bariloche, a cerca de 100 km a sudoeste do

vulcão. A figura 2 mostra a dispersão das cinzas e a espessura dos depósitos em

território argentino deste evento.

22

Figura 2 - Mapa da dispersão das cinzas e espessura dos depósitos piroclásticos sobre a área continental. Fonte: LIMA et al., 2012.

A dispersão atmosférica das cinzas vulcânicas é governada pelo tipo e

magnitude da erupção, direção do vento, tamanho e densidade das partículas

(DUGGEN et al., 2009). Observações e modelos sugerem que parte das cinzas

expelidas na erupção do Puyehue-Cordón Caulle foi transportada para o oceano

Atlântico Sul pelos Ventos de Oeste. Este sistema de ventos, dominante no setor

setor latitudinal 35° à 65° sul, é intenso e presente durante todo o ano, tendo maior

frequência de calmarias no inverno, com média de 40 km h-1, e se intensificando

durante o verão, atingindo velocidades superiores a 100 km h-1 (GAIERO et al.,

2003). Sabe-se que, enquanto a fração grossa se deposita próximo à fonte, a fração

mais fina (menor que 1 µm) pode ser transportada em nível global até completar o

giro em torno da faixa latitudinal, depositando-se ao longo do percurso, podendo

atingir grandes áreas sobre o oceano. Segundo o Global Volcanism Program, antes

do dia 13 de Junho de 2011, 9 dias após o início da erupção, a pluma de cinzas

liberada já havia causado o cancelamento de vôos na África do Sul, na porção sul da

Austrália e na Nova Zelândia.

A fim de ilustrar a dispersão global de material vulcânico, podem ser citados

outros eventos eruptivos que ocorreram ao longo da história vulcanológica do

planeta como o do vulcão Pinatubo, nas Filipinas, em 1991 (Fig 3) e o do vulcão

Eyjafjallajökull, na Islândia, em 2010 (Fig 4).

23

Figura 3 - Composição satelital da dispersão da pluma de dióxido de enxofre do Pinatubo, após 9

dias do início da erupção de 1991. Fonte: GSFC / NASA (Goddard Space Flight Center / National Aeronautics and Space Administration).

Figura 4 - Imagem MODIS/Aqua (Moderate Resolution Imaging Spectroradiometer / Satélite Aqua) da pluma de cinzas da erupção do vulcão Eyjafjallajökull em 10 de maio de 2010. Fonte: GSFC / NASA (Goddard Space Flight Center / National Aeronautics and Space Administration).

24

A deposição de cinzas vulcânicas sobre o oceano pode alterar, através da

liberação de macro e micronutrientes quando sob forma biodisponível (FROGNER et

al., 2000), a comunidade planctônica e consequentemente toda a teia alimentar. A

biodisponibilidade é principalmente afetada pela concentração e forma química do

nutriente no meio e pela matriz alimentar específica, condição nutricional e

metabolismo dos indivíduos. Espécies fitoplanctônicas reagem de diferentes

maneiras a este aporte de material, logo, a mesma cinza vulcânica pode aumentar

ou diminuir taxas de crescimento, alterando a composição da comunidade, sua

produtividade e exportação de matéria orgânica (HOFFMANN et al., 2012). A

composição destas cinzas é bastante variável, mesmo em episódios eruptivos

distintos de um mesmo complexo vulcânico, e esta composição tem influência direta

sobre quais micronutrientes podem ser disponibilizados aos organismos.

Quanto aos efeitos negativos que podem estar associados a esta deposição,

além do fator físico de atenuação da irradiação solar sobre a coluna d’água, há que

se considerar os possíveis fatores bioquímicos. De acordo com Frogner e

colaboradores (2006), o efeito negativo sobre a produtividade e diversidade do

sistema biológico é devido à contaminação com níveis tóxicos de flúor, para o qual

contribui a complexação com outros elementos presente nas cinzas, o alumínio na

forma (AlFx+3−x), aumentando sua solubilidade. Contudo, na água do mar, devido ao

pH básico e a sua alta capacidade de tamponamento, formam-se preferencialmente

complexos hidroxi-alumínios (Al(OH)x+3−x) e o efeito positivo de disponibilização de

nutrientes ao sistema torna-se maior que o negativo de intoxicação da biota.

A exposição de material vulcânico ao ambiente marinho libera rapidamente

macro e micronutrientes relevantes ao fitoplâncton, incluindo P, Si, Fe e vários

outros metais-traço (DUGGEN et al., 2007, 2009). A produtividade, a densidade

celular e a estrutura trófica de toda a teia planctônica não é limitada por apenas um

micronutriente, contudo o ferro tem sido o micronutriente em destaque, uma vez que

diversos trabalhos demonstraram ser este um elemento limitante tanto em sistemas

oligotróficos como em regiões ricas em macronutrientes do Pacífico Norte, Pacífico

Equatorial e Oceano Austral (COALE et al., 1996, 2004). Em sistemas oligotróficos,

sua adição também estimula a fixação de nitrogênio (CAPONE et al., 2005).

O fornecimento de Fe para as águas superficiais do oceano pode

desempenhar um papel fundamental na regulação da produtividade do oceano,

concentração de CO2 atmosférica e consequentemente sobre o clima (MESKHIDZE

25

et al., 2007). A fertilização em larga escala, desencadeada pela deposição de cinzas

vulcânicas, pode ter efeitos a longo prazo, da ordem de milhares de anos, através de

mudanças na proporção de deposição de carbono inorgânico a orgânico associadas

a florações de diatomáceas (WATSON, 1997). Estes eventos de deposição podem

acarretar efeitos sobre o clima, uma vez que a resposta biogeoquímica tem potencial

para sequestrar CO2 da atmosfera para o oceano mais profundo.

A era satelital foi um passo fundamental para a observação dos impactos do

vulcanismo sobre o meio ambiente marinho, já que sensores em satélites fornecem

uma visão espacial ampla do impacto, não apenas através de imagens na banda do

visível, mas também a partir de dados de reflectância. Uma evidência da fertilização

oceânica a partir da deposição de cinzas vulcânicas foi detectada em agosto de

2008 na região sub-ártica do Pacífico Norte onde grandes florações planctônicas

estiveram associadas a atividade vulcânica nas Ilhas Aleutas, no Alaska (HAMME et

al., 2010). A Figura 5 mostra a evolução da pluma sobre o oceano e as detecções do

floramento na região correspondente. Este trabalho também evidenciou que apenas

um modesto volume de carbono foi exportado para o oceano durante o evento

(~0,01 Pg), indicando que dentro daquelas circunstâncias mesmo se tratando de

fertilização em grande escala com ferro, num período propício para o

desenvolvimento algal, o processo em si foi pouco eficiente no seqüestro de CO2

atmosférico.

26

Figura 5 - (a-d) Imagens MODIS para a média mensal de clorofila na superfície nos meses de agosto de 2005, 2006, 2007 e 2008; (e) série temporal da média mensal de clorofila dentro da caixa mostrada na Figura (f); (f) Zoom na imagem MODIS de clorofila para agosto de 2008 (Pacífico NE subártico), mesmo grid espacial das figuras (g) e (h); (g) composição das detecções satelitais de cinzas mais intensas da erupção do vulcão Kasatochi; (h) localização das partículas - de 0-10.000 m de altitude - obtida pelo modelo de dispersão para 12, 24, 48 e 72 horas após o início da erupção do Kasatochi. Fonte: Adaptado de HAMME et al., 2010.

27

O potencial incremento da taxa de produção primária de comunidades

planctônicas também é atribuído a adições de Cu aos sistemas, porém a causa

principal deste aumento é seu efeito tóxico sobre os ciliados do microzooplâncton,

reduzindo a pressão de herbivoria sobre o fitoplâncton, resultando num saldo

positivo de produtores (COALE, 1991). Outro elemento já sugerido como colimitante

ao desenvolvimento algal em algumas províncias oceânicas é o Mn, primeiramente

mencionado por Martin e colaboradores (1990) sem evidências diretas de sua

influência, mas recentemente reavaliado em bioensaios por Browning e

colaboradores (2014), confirmando sua participação positiva para os organismos. O

Mn é necessário para uma variedade de processos biológicos, inclusive como

cofator essencial e não-substituível do fotossistema II, complexo de reações de luz

da fotossíntese (MOREL et al., 2003). Manganês ocorre no oceano superficial numa

faixa de 0,1-25 nM Mn (SHILLER, 1997) e em concentrações mais baixas, 0,1-0,2

nM Mn, em maiores profundidades (STATHAM et al., 1998). Para as águas

superficiais do setor central da Passage de Drake, a concentração de Mn é

extremamente baixa, em torno de 0,1 nM (MIDDAG et al., 2012). O aporte

atmosférico de cinzas pode significar, nestas condições, uma variação relevante na

concentração do metal. Contudo, ainda que a adição de outros micronutrientes seja

relevante ao desenvolvimento do fitoplâncton, é sempre em conjunto com o Fe que

as alterações são sensíveis. É ele o micronutriente com maior poder limitador,

inclusive aumentando os requisitos celulares dos demais micronutrientes quando

está em pequenas concentrações no sistema (PEERS; PRICE, 2004; MIDDAG et al.,

2013).

O ferro é reconhecidamente um elemento bioativo e necessário ao

fitoplâncton em maior quantidade por unidade de carbono que os demais

micronutrientes (MOREL et al., 1991). Por bioatividade entende-se que o ferro

compõe diversas vias bioquímicas centrais da fisiologia celular: proteínas que

contem este elemento são essenciais para o transporte fotossintético e respiratório

de elétrons, estão diretamente envolvidas na redução de nitrato e nitrito, fixação de

N2, síntese de clorofila, e outras reações (Tabela 1; GEIDER; LA ROCHE, 1994).

28

Tabela 1 - Emprego do ferro no metabolismo vegetal

Catalisador Reação Citocromos Transferência fotossintética e respiratória de elétrons

Citocromo oxidase O2 + 4e- + 4H+ > 2H2O

Fe-superóxido dismutase O2 + 2H+ > H2O2 + O2

Catalase 2H2O2 > 2H2O + O2

Peroxidase R(OH)2 + H2O2 > RO2 + 2H2O

Ferredoxina e- a NADP+, NO3-, SO2-, N2, tioredoxina

Outros centros Fe-S Transferência fotossintética e respiratória de elétrons

Succinato de-hidrogenase FAD + succinato > fumarato + FADH2

Aconitase Isomerização do citrato a isocitrato

Coproporfinogênio oxidase Descarboxilação oxidativa da Mg-porfirina

Nitrato redutase NO3- + 2e- > NO2-

Nitrito redutase NO2- + 6e- + 3H+ > NH4+

Nitrogenase N2 + 8H+ > 2NH4+

Lipoxigenase Oxidação ácida de gordura, degradação carotenóide

Glutamato sintetase Glutamina + α-keto glutarato > 2 glutamato

Xantina oxidase Xantina + H2O + O2 > ácido úrico + O2-

Fonte: Adaptado de GEIDER; LA ROCHE, 1994.

Experimentos de incubação e adição de micronutrientes solúveis conduzidos

em microcosmo tiveram como resultado grande acúmulo de biomassa e remoção de

macronutrientes, principalmente nos tratamentos com adição de ferro, enquanto que

os demais nutrientes, individualmente, apresentaram efeitos de uma ordem de

grandeza menor (Fig. 6) (MARTIN et al., 1989; COALE, 1991).

29

Figura 6 - Evolução em função do tempo (dias) da concetração de clorofila em bioensaios com diferentes metais adicionados individualmente e no controle. Fonte: Adaptado de COALE, 1991.

O ferro, constituinte das cinzas sobretudo na forma oxidada Fe(III), é

transportado por massas de ar que, quando se depositam sobre o oceano, tem sua

fração mais grossa removida da coluna d’água superficial por deposição

gravitacional equanto que a fração mais fina pode permanecer na zona eufótica

complexada na forma de colóides (DUGGEN et al., 2009). Esta fração mais fina já

constitui um aumento do Fe total nas massas de água superficiais, contudo, apenas

o aporte de micronutrientes ao sistema oceânico não é suficiente para o

desenvolvimento de uma floração algal. Tornar este nutriente biodisponível aos

produtores primários é essencial neste contexto, uma vez que o Fe(III) é bastante

insolúvel na água do mar (LIU; MILLERO, 2002). Parte do Fe das cinzas já pode

estar sob a forma reduzida de Fe(II), proveniente de sais como FeCl2 ou FeF2

(DUGGEN et al., 2010) na superfície das partículas, e pode persistir assim por

muitas horas, antes da oxidação, em águas de temperaturas muito baixas como as

do Oceano Austral (~2°C para águas superficiais) (CROOT; LAAN, 2002).

A acidificação das cinzas ainda durante o transporte atmosférico, antes de

sua deposição no oceano, pode ser um meio de solubilizar a fração de minerais

insolúveis facilitando seu acesso para a comunidade biológica (MAHOWALD et al.,

2005). Erupções vulcânicas injetam vapor d’água (H2O), dióxido de carbono (CO2),

dióxido de enxofre (SO2), ácido clorídrico (HCl), ácido fluorídrico (HF) e cinzas na

30

atmosfera. HCl e HF são dissolvidos nas gotículas de água e depositados sob a

forma de chuva ácida, enquanto que SO2 é lentamente convertido a ácido sulfúrico

(H2SO4) (Fig 7). As partículas de cinzas podem adsorver estas gotículas de aerossol

e, quando as cinzas são depositadas sobre a superfície do oceano, a solubilização

de seus componentes altera a química da água (CRONIN et al., 1996).

Figura 7 - Diagrama da formação de componentes solúveis em partículas de cinzas. Fonte: Adaptado de JOHNSTON, 1997.

Tal mecanismo já foi descrito na literatura durante situações análogas

(MESKHIDZE et al., 2007). A variação da composição de tamanho das cinzas dada

a deposição gravitacional das maiores partículas durante o transporte eólico

(BAKER; JICKELLS, 2006) também pode ser uma causa da variação de sua

solubilidade. Os óxidos de Fe(III) podem ser dissolvidos em soluções ácidas e,

tratando-se de vulcanismo, em que gases de enxofre são constituintes de volume

significativo no material erupcionado, acredita-se que a atmosfera ácida gerada pela

própria erupção seja capaz de tornar este Fe biodisponível mesmo durante o

transporte atmosférico, pela incorporação de ácido sulfúrico à pluma de cinzas a

partir da oxidação de SO2 (Fig 8).

31

Figura 8 - (A) Imagem MODIS-Terra, que mostra a pluma de cinzas da erupção do complexo vulcânico Puyehue-Cordón Caulle, em Junho de 2011, na faixa do visível (true color), e (B) pluma de dióxido de enxofre correspondente detectada pelo IASI (Infrared Atmospheric Sounding Interferometer) do satélite MetOp-A.

O sistema oceânico local – Oceano Austral – é descrito como uma área HNLC

(High Nutrient, Low Chlorophyll), ou seja, durante todo o ano, a comunidade

fitoplanctônica encontrada ali tem concentração abaixo da esperada dada a alta

concentração de macronutrientes essenciais, como nitrato (NO3-) e fosfato (PO4

3-)

(Figuras 9A e 9B, respectivamente; BOYD et al., 2007). Em outras regiões do

oceano global, esses macronutrientes são prontamente consumidos pela produção

biológica (WATSON; LEFÈVRE, 1999).

Diferentes mecanismos limitantes na produção primária foram propostos para

explicar o relativo excesso de macronutrientes no Oceano Austral: a baixa irradiação

luminosa e térmica devido à alta latitude e camadas de mistura profundas

(MITCHELL et al. 1991); o controle dos produtores primários por herbívoros (FROST

1987, 1991); e a baixa concentração de micronutrientes essenciais (KLUNDER et al.

2011). Cada um destes fatores não regula a produtividade primária individualmente:

uma interação sinérgica entre limitações fisiológicas (fatores bottom-up) e interações

ecológicas (fatores top-down) é o que provavelmente controla a composição de

espécies e as taxas de crescimento em uma comunidade planctônica.

A B

32

Figura 9 - Concentração superficial (até 10 metros) anual média de (A) nitrato e (B) fosfato no oceano global. Altas concentrações, comparativamente às demais áreas, de ambos os macronutrientes podem ser observadas na região de estudo. Fonte: Adaptado de World Ocean Atlas, 2013.

O mecanismo de limitação por micronutrientes ocorre por a porção superficial

destas áreas apresentar baixas concentrações de metais como ferro (Fe), manganês

(Mn), zinco (Zn) e cobalto (Co), considerados co-fatores essenciais para o

desenvolvimento da vida (BRULAND et al., 1991). Muitas enzimas e proteínas

importantes para o metabolismo celular fitoplanctônico são dependentes destes

elementos (GEIDER; LA ROCHE, 1994), por isso, a biomassa algal permaneceria

33

em niveis baixos considerando-se apenas a disponibilidade dos macronutrientes. A

regulação por micronutrientes passou a ser reconhecida apenas na segunda metade

do século XX, quando métodos de medida mais acurados e precisos (BRULAND et

al., 1979) permitiram observar o contraste entre as concentrações de elementos em

zonas costeiras e oceânicas. O Fe, por exemplo, apresenta diferenças de

concentração de mais de setenta vezes entre as duas zonas: 0,16 nM em zonas

oceânicas e > 7 nM em zona costeiras (MARTIN et al., 1990, NOLTING et al., 1991).

Diferentemente do ferro, na região considerada neste estudo, Estreito de Drake,

outros metais-traço de importância biológica (Zn, Cu, Ni e Cd) parecem estar em

concentrações que excedem o requerimento fitoplanctônico (BRULAND et al., 1991;

BROWNING et al., 2014).

Em áreas limitadas pela baixa concentração de ferro, pequenas quantidades

deste metal adicionadas à superfície do oceano teriam um forte impacto na

produtividade primária e, consequentemente, no ciclo do Carbono (WATSON, 1997).

Experimentos de fertilização com ferro solúvel em micro (ex.: HELBLING et al.,

1991) e macrocosmos (ex.: BOYD et al., 2007) mostraram que mesmo um pequeno

aumento (~1 nM) nas concentrações ambientais no Oceano Austral podem levar o

sistema a um bloom fitoplanctônico, com exaustão dos macronutrientes. Muitos

autores defendem, inclusive, a hipótese de que a fertilização por Fe do oceano

superficial decorrente de erupções vulcânicas levou ao rebaixamento da

concentração atmosférica de CO2 na história recente da Terra (WATSON, 1997,

LANGMANN et al., 2010, OLGUN et al., 2011). O aumento da produtividade marinha

como resultado da fertilização por cinzas vulcânicas após a erupção do Pinatubo, em

1991, é uma das hipóteses propostas para explicar o rebaixamento dos níveis de

CO2 atmosférico detectado na época (WATSON, 1997).

Uma hipótese para a resposta de crescimento mediado pela fertilização é que

o desenvolvimento de espécies fitoplanctônicas de tamanho maior –

microfitoplâncton (20-200 µm) – é mais limitado por ferro (HUDSON; MOREL, 1990;

MOREL et al., 1991) e a disponibilização deste micronutriente removeria a condição

limitante, permitindo seu crescimento populacional. Os herbívoros dessas espécies

maiores estão naturalmente em baixas concentrações no ambiente e o atraso de

resposta ocasionaria o rápido acúmulo de biomassa que caracteriza um bloom

(IRIGOIEN et al., 2005). As células menores, com uma alta razão superfície/volume,

tem vantagem sobre as maiores em termos de assimilação de ferro, pois possuem

34

relativamente mais sítios de absorção de elementos dissolvidos (HUDSON; MOREL,

1993). Para o Fe isto é ainda mais determinante já que seus sítios de absorção são

específicos (HUDSON; MOREL, 1990). Logo, quando a concentração de ferro é

baixa, células pequenas, ou que tenham baixo requerimento de assimilação do

metal, conseguem se desenvolver com mais facilidade (SUNDA, 1988; HUDSON;

MOREL, 1993). O tamanho pequeno pode ser considerado como uma adaptação

para a baixa disponibilidade de nutrientes, uma vez que, dessa forma, a taxa de

absorção por difusão aumenta em relação ao requerimento de nutrientes (GEIDER;

LA ROCHE, 1994). Apesar de o tamanho pequeno aumentar a habilidade

competitiva na assimilação de nutrientes em ambientes de baixas concentrações

destes, ele também aumenta a susceptibilidade à predação pelo microzooplâncton

(RAVEN, 1986).

A condição de aporte externo de Fe levaria, portanto, a uma mudança gradual

na composição e tamanho da comunidade, geralmente para a dominância de

diatomáceas, como observado em diversos estudos (ex.: MARTIN et al., 1989;

COALE, 1991).

Em áreas de baixa disponibilidade de Fe dissolvido, os produtores primários,

cujo requerimento genotípico e fenotípico deste metal-traço é variável, possuem

duas estratégias principais para aumentar seu crescimento celular: aumentar o

número de sítios de transporte de ferro na superfície da célula, aumentando a

chance de captação de espécies raras de Fe, e diminuir a cota de ferro requisitada

por seu metabolismo (GEIDER; LA ROCHE, 1994). Ambas são teoricamente

empregadas pelo fitoplâncton em oceano aberto.

Um mecanismo possível para a assimilação de Fe é a captação de quelantes

que reagem com esse micronutriente, mantendo-o em solução (GOYNE;

CARPENTER, 1974; REID; BUTLER, 1991). Essas moléculas podem ser fruto da

decomposição orgânica ou secretadas pelo próprio plâncton, como a classe de

compostos conhecidos como sideróforos. Sideróforos são produzidos e consumidos

por bactérias e tem sua síntese regulada pela disponibilidade de Fe no ambiente

(REID; BUTLER, 1991). Apesar de a assimilação do complexo Fe-sideróforo não ser

possível diretamente por outros organismos devido à ausência de sistemas de

transporte específicos (GEIDER; LA ROCHE, 1994), a posterior fotólise destes

complexos resulta na redução do Fe(III) a Fe(II), tornando-o biodisponível também

para outros integrantes do plâncton (Fig 10; BARBEAU et al., 2001).

35

Figura 10 - Processos biogeoquímicos envolvendo o ferro de fonte vulcânica nos oceanos e os mecanismos de redução por formação de atmosfera ácida e de assimilação do micronutriente através da formação de complexos Fe-quelante orgânico. Fonte: Nature Education (adaptado de BARBEAU et al., 2001).

Os experimentos conduzidos por Scharek e colaboradores (1997) em regiões

HNLC Antárticas e não-Antárticas mostram que sobretudo diatomáceas respondem

ao enriquecimento por ferro. No estudo, o crescimento induzido foi lento por conta da

pouca quantidade de células de espécies que poderia responder à fertilização; ou

seja, a comunidade consistia principalmente de pequenos flagelados, adaptados à

condição de baixa concentração de ferro, que aparentemente não sofriam

deficiência deste metal-traço na ocasião.

O estudo conduzido por Langmann e colaboradores (2010) utilizando

sensoriamento remoto, metodologia semelhante a deste trabalho, para analisar o

evento euptivo do vulcão Kasatochi de Agosto de 2008 no Pacífico Nordeste, conclui

que, mesmo com um fluxo de cinzas pequeno, a erupção foi capaz de fertilizar a

superfície oceânica e causar um aumento da biomassa fitoplanctônica. Neste caso,

outras condições favoráveis também contribuiram para o resultado, como a pouca

profundidade da camada de mistura (20 - 40 m), restringindo o volume de água a ser

fertilizado e facilitando a reciclagem dos nutrientes permitindo que o bloom durasse

por várias semanas, a irradiação luminosa suficiente (Agosto – verão no Hemisfério

Norte) e a geografia da região oceânica, que retem a massa de água com o material

liberado pelo vulcão. .

36

2 OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

Inferir sobre o potencial de fertilização decorrente da deposição de cinzas vulcânicas

do evento eruptivo de 4 de Junho de 2011 do complexo andino Puyehue-Cordón

Caulle/Chile em águas do Atlântico Sul/Oceano Austral, a partir do uso de

sensoriamento remoto e de um experimento de microcosmo.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Desenvolver, testar e implementar um aparato experimental destinado a

ensaios sobre fertilização oceânica;

Caracterizar as alterações da comunidade planctônica oceânica de superfície

em experimento de microcosmo fechado, com duração de 15 dias, como

resposta à injeção de cinzas vulcânicas.

37

3 JUSTIFICATIVA

A discussão sobre a fetilização dos oceanos se iniciou na década de 1960,

sendo um dos estudos mais relevantes o de Menzel e Ryther (1961), que

demonstraram o aumento das taxas de assimilação de 14C pelo fitoplâncton com a

adição de Fe aos sistemas biológicos. O tema ganhou mais destaque no final da

década de 1980 e ao longo dos anos 90 (MARTIN; FITZWATER, 1988; SUNDA,

1988; MARTIN et al., 1991; MOREL et al., 1991; SUNDA et al., 1991; COALE et al.,

1996; COALE et al., 1998; SCHAREK et al., 1997), contudo, em sua maioria, os

trabalhos relatam o resultado de experimentos com injeção artificial de

micronutrientes e, devido às elevadas quantidades de nutrientes adicionados,

tornou-se difícil concluir se, em uma condição natural de aporte de Fe, poderia haver

qualquer efeito na produtividade primária oceânica.

Atualmente, as evidências que suportam a hipótese de fertilização por cinzas

vulcânicas se baseiam em medições de metais traço liberados das cinzas (DUGGEN

et al., 2007; OLGUN et al., 2011, 2013; ACHTERBERG et al., 2013), detecção de

respostas fitoplanctônicas a adição de cinzas em experimentos de laboratório

(DUGGEN et al., 2007; HOFFMANN et al., 2012) ou observação de cenários de

bloom algal pós-eruptivos por meio de sensoriamento remoto (HAMME et al., 2010;

LANGMANN et al., 2010; LIN et al., 2011; ACHTERBERG et al., 2013). Contudo,

não é possível extrapolar o resultado de um evento eruptivo específico para um

outro, que ocorre sob condições climáticas e oceânicas distintas.

Como foi mostrado anteriormente, o estímulo da comunidade fitoplanctônica

pela deposição de cinzas vulcânicas, inserindo em zonas oceânicas quantidade

suficiente de micronutrientes para promover a produção biológica – com consumo de

macronutrientes e exportação de carbono orgânico para águas profundas – foi

observado em outras regiões do planeta e é possível que ocorra pontualmente nos

Oceanos Austral e Atlântico Sul durante erupções vulcânicas dos Andes.

A contribuição deste trabalho para o estado da arte do campo da fertilização

oceânica é incluir, para o hemisfério sul, a hipótese de fertilização decorrente de

eventos naturais, sendo analisado aqui o evento eruptivo do complexo vulcânico

Puyehue-Cordón Caulle.

38

4 MATERIAIS E MÉTODOS

4.1 ÁREA DE ESTUDO E PONTO DE COLETA

O ponto de coleta de água para incubação (59°00’S, 64°26’W) foi

estabelecido considerando uma rota já pré-estabelecida do Navio Polar Almirante

Maximiano durante a 5ª fase da Operação Antártica XXXII, realizada de Fevereiro à

Março de 2014. Este ponto, localizado em uma área HNLC sujeita à deposição de

cinzas de vulcões andinos transportadas por via eólica, foi definido com o intuito de

minimizar:

1. a influência de águas costeiras, ou de ressurgência em função do relevo

submarino, que poderiam misturar micronutrientes de outras fontes,

encobrindo o efeito causado apenas pelo material inserido nos tratamentos do

cultivo;

2. a diferença latitudinal entre a posição do navio no dia de coleta e durante a

realização do cultivo, mantendo semelhantes as condições de luminosidade e

temperatura a que o sistema fica exposto.

A geomorfologia do fundo oceânico do Estreito de Drake possui uma elevação

transversal, a Zona de Fratura de Shackleton (Fig. 11), que conduz a mistura vertical

de massas de água e o transporte de nutrientes para dentro do estreito,

posteriormente à fratura no sentido Pacífico-Atlântico (ZHOU et al., 2010; JIANG et

al., 2013). Esta mistura propicia o desenvolvimento algal e poderia mascarar os

resultados (HELBLING et al., 1991; HOPKINSON et al., 2007) do experimento

conduzido neste trabalho; portanto, propositadamente, o ponto de coleta fica a

Noroeste da elevação, numa região fora de sua influência.

39

Figura 11 - (a) Localização do ponto de coleta (59°00’S, 64°26’W) e fratura de Shackleton; (b) representação da passagem de massa d’’agua de fundo sobre a fratura de Shackleton. Fonte: Adaptado de Explorations Scripps Institution of Oceanography/UCSD.

Para a porção atlântica do Oceano Austral, a condição de profundas camadas

de mistura pode significar uma redução no efeito potencial do aporte de material

continental por via eólica, já que a diluição dos micronutrientes é muito maior

comparativamente a cenários que resultaram em fertilização estudados no

Hemisfério Norte (LIN et al., 2011).

40

4.2 ABORDAGEM POR SENSORIAMENTO REMOTO

4.2.1 DADOS DE PLATAFORMAS ORBITAIS

Nesta abordagem, o teste da hipótese de fertilização por cinzas vulcãnicas foi

feito por meio de ferramentas do sensoriamento remoto e algorítmos de dispersão

atmosférica. Foi utilizado o produto SMI (Standard Mapped Image) que são

representações matriciais das variáveis geofísicas de interesse em uma escala

uniforme no espaço (em graus) e tempo. Os dados foram obtidos pelo sensor

MODIS/Aqua e acessados através do portal OceanColor mantido pelo OBPG/NASA

(Ocean Biology Processing Group / NASA).

Os parâmetros Espessura Óptica de Aerossol (Aerosol Optical Thickness at

869 nm - AOT), Concentração de Clorofila-a (Chlorophyll-a Concentration – CHL-a) e

Temperatura da Superfície do Mar (Sea Surface Temperature – SST) foram

adquiridos em resolução temporal semanal (composição de 8 dias) e espacial de

9km no Equador. Todos os dados destes parâmetros são apresentados na categoria

Standard, ou seja, são aqueles amplamente calibrados e utilizados pela comunidade

científica internacional.

O AOT é o parâmetro que identifica a presença de aerossóis totais por meio

da alteração na transmissão óptica da atmosfera, devido às interações de absorção

e/ou difusão da radiação solar incidente. O aumento no fluxo atmosférico de

aerossóis após a erupção pode ser facilmente detectado pelo aumento no valor de

AOT. Este indicador também é influenciado pela emissão de poeira mineral –

originária, no caso, do semideserto da Patagônia – e pela presença de sal marinho

na atmosfera, componentes dominantes sazonalmente; porém, durante a erupção, o

grande número de partículas emitidas pelo vulcão foi o principal modulador do AOT.

A fim de estimar a biomassa algal foi utilizado o parâmetro Clorofila-a, CHL-a,

inferido por satélite. A concentração de clorofila-a é um indicador bioquímico de

biomassa fitoplanctônica em amostras ambientais (CULLEN et al., 1982)

simplesmente por ser compartilhada entre todos os produtores primários - como

componente central do mecanismo fotosintético (STEELE, 1962). A principal

desvantagem deste método é que o conteúdo celular de clorofila-a é muito variável

de acordo com a espécie e com as condições de disponibilidade de luz e nutrientes

41

(BOYER et al., 2009), não existindo uma relação única entre clorofila e biomassa.

Ainda assim, por ser um produto orbital de cor do oceano de fácil aquisição, este

parâmetro é o proxy mais utilizado para biomassa fitoplanctônica (HUOT et al.,

2007). Para que este dado seja um indicador confiável da alteração gerada pela

deposição de cinzas sobre a concentração de produtores primários é necessário

quantificar a condição padrão, ou seja, o patamar deste valor, para sermos capazes

de identificar variações a partir desta linha de base que podem ocorrem como

resultado da fertilização. Neste trabalho, esta linha de base, ou série histórica,

considerou 8 anos de dados, de 2002 à 2010.

A CHL-a é calculada através de um algoritmo que considera a razão entre as

bandas de radiação refletida recebidas por um sensor orbital nas faixas do azul (443

nm) e do verde (555 nm). Em oceano aberto, essa razão é essencialmente

governada pelo conteúdo fitoplanctônico e seu declínio indica maior concentração de

clorofila-a na superfície do oceano (CLAUSTRE et al., 2002); contudo, outros

materiais em suspensão, como as próprias partículas vulcânicas, podem causar

interferências equivalentes neste valor, e gerar o chamado “efeito artefato”, que

resulta em uma sobre-estimativa nos valores de clorofila (DUGGEN et al., 2007, LIN

et al., 2011). Este efeito é significativo em áreas oceânicas oligotróficas, onde a

concentração de clorofila é extremamente baixa (≤ 0,2 mg m-3) (CLAUSTRE et al.,

2002). Para a região deste estudo, acreditamos que o efeito artefato não se aplique,

uma vez que as médias históricas de CHL-a (1997-2010) estão entre 1 e 0,5 mg m-3

para as regiões costeira e oceânica, respectivamente (Fig 12).

42

Figura 12 - Média histórica (1997-2010) de Concentração de Clorofila-a estimada pelo SeaWiFS gerada a patir do banco de dados online Giovanni. Localização do complexo vulcânico (40°35’S, 72°07’W - triângulo vermelho) e do ponto de coleta (59°00’S, 64°26’W - círculo vermelho). Fonte: GES DISC / NASA (Goddard Earth Sciences Data and Information Services Center / NASA).

O parâmetro SST foi introduzido no estudo para averiguar o possível aporte

de nutrientes por águas de fundo mais frias e ricas – ressurgência oceânica – para a

alteração da biomassa fitoplanctônica. A ocorrência da ressurgência não exclui

efeitos da deposição atmosférica, entretanto dificulta a identificação unívoca do

evento. Pode haver um efeito sinérgico, contudo, se não há algum indício

consistente da ocorrência de processos de ressurgência, então a proposta de

fertilização por via atmosférica fica mais clara.

4.2.2 MODELO ATMOSFÉRICO DE DISPERSÃO DE PARTÍCULAS

Neste trabalho optamos em estabelecer uma região onde acreditamos haver

maior probabilidade de resposta da CHL-a em relação à ação do vulcanismo do

complexo vulcânico Puyehue-Cordón Caulle. Para tal foi empregado o modelo de

dispersão de gases e partículas HYSPLIT (HYbrid Single-Particle Lagrangian

Integrated Trajectory). Este modelo foi desenvolvido a partir de um esforço conjunto

entre a NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration) e o Serviço de

Meteorologia da Austrália (Bureau of Meteorology), recebendo, continuamente,

aperfeiçoamentos de vários contribuintes. É um modelo híbrido no sentido de unir a

43

abordagem Lagrangiana, que utiliza um sistema de referência móvel para os

cálculos de difusão e advecção à medida que as parcelas de ar se deslocam do

local de origem, com a abordagem Euleriana, que utiliza um grid tridimensional fixo

para calcular a concentração de elementos no ar. O modelo emprega dados

meteorológicos existentes em escala regional ou global para calcular a advecção,

estabilidade e a subsequente dispersão. Segundo o portal Air Resources Laboratory

(ARL), ao nível nacional nos EUA, o modelo é aplicado às necessidades da indústria

da aviação e dos reguladores da qualidade do ar. Internacionalmente, a NOAA, a

Organização Meteorológica Mundial e a Agência Internacional de Energia Atômica

fornecem previsões do modelo de dispersão em casos de incidentes nucleares de

grande escala. Neste mesmo portal ARL, o modelo está disponível para uso público

(http://ready.arl.noaa.gov/HYSPLIT.php). Os dados meteorológicos empregados na

modelagem são os do Projeto de Reanálise NCEP/NCAR (National Centers for

Environmental Prediction / National Center for Atmospheric Research), um sistema

de assimilação de dados globais desde 1948 até o presente.

O modelo de emissão de cinzas vulcânicas simula a dispersão atmosférica de

partículas em uma linha vertical a partir da boca do vulcão à altura máxima atingida

pela pluma, usando os dados meteorológicos de direção e velocidade do vento em

diferentes camadas atmosféricas para calcular a posição e a concentração destas

partículas. Continuamente, à medida que a pluma se dilui e se dispersa pelas

diferentes camadas atmosféricas, o modelo remove parte da massa por deposição

gravimétrica e precipitação de chuva, baseado em sua distribuição de tamanho

aerodinâmico e na simulação dos processos físicos envolvidos.

Para gerar a pluma de deposição do evento eruptivo em questão, o modelo foi

rodado por 8 dias para uma emissão temporalmente contínua de material, utilizando

uma parametrização simples, na qual não há mudança de intensidade da taxa de

emissão nem de altitude atingida pela pluma e considerando tanto a deposição seca

quanto a úmida. No modelo de emissão vulcânica, as cinzas são compostas por

partículas com quatro diâmetros diferentes: 0,6 µm (1%), 2,0 µm (7%), 6,0 µm (25%)

e 20,0 µm (67%). Não há dúvida que uma das maiores incertezas nos modelos de

dispersão atmosférica de cinzas vulcânicas seja sua distribuição granulométrica a

partir de seu ponto de lançamento até sua deposição. Considerando o longo alcance

de tais plumas, há ao longo do caminho uma sistemática mudança no padrão

granulométrico. Um dos poucos dados a respeito foi obtido experimentalmente para

44

a erupção do vulcão Santa Helena, durante 8 horas após sua erupção em 18 de

Maio de 1980 (Fig 13). Assim, considerando-se a distância percorrida pela pluma

sobre o semi-deserto da Patagônia até atingir a borda continental, é razoável, numa

primeira aproximação, assumir uma moda grossa de corte para o material

particulado na ordem de 20,0 µm.

Figura 13 - Tamanho médio de micropartícula de cinza vulcânica depositada na superfície para a erupção do Monte Santa Helena. Fonte: Adaptado de SARNA-WOJCICKI et al., 1981; JOHNSTON, 1997.

A altitude máxima alcançada pelas cinzas foi de 104 metros, como divulgado

pelo Serviço Nacional de Geologia e Mineração do Governo do Chile

(SERNAGEOMIN N°28, 04 de Junho de 2011), porém apenas atingimos um

resultado visualmente verossímil para a pluma redefinindo a altitude máxima para

1,5 x 104 metros, como será mostrado no item Resultados, figura 23.

45

4.2.3 Processamento dos Bancos de Dados

Os dados de sensores orbitais foram processados pelo programa R, que é um

conjunto integrado de linguagem e ambiente para manipulação de dados, cálculo e

exibição gráfica. É um Projeto GPL (General Public License), disponível como

software livre, e foi desenvolvido nos Laboratórios Bell por John Chambers e

colaboradores. As séries temporais foram elaboradas extraindo-se as anomalias, ou

seja, a diferença entre os dados para o ano da erupção em questão, 2011, e os

dados da série histórica entre 2002 e 2010. Este procedimento minimiza o efeito

sazonal para a CHL-a e objetiva focar o efeito causado pelo vulcão.

A localização do evento vulcânico, a época do ano e a alta cobertura de

nuvens foram fatores limitantes neste trabalho. Em decorrência disto, houve pouca

quantidade de dados remotos na área de estudo, além de haver dados faltantes pela

própria presença de cinzas vulcânicas na atmosfera em todas as imagens

disponíveis. Parte significativa dos pixels sobre o oceano entre as latitudes 40°S e

55°S não recebem luz suficiente durante o inverno, período da erupção, para que o

ruído introduzido pela atmosfera seja removido de forma confiável dos dados,

resultando na ausência deles dado o critério de qualidade estabelecido pelo OBGP.

A presença de nuvens e a grande concentração de cinzas causam uma barreira

física para a radiação refletida pela superfície do oceano, reduzindo ainda mais o

número de pixels com dados. Mesmo nas margens da pluma de cinzas, quando a

coloração do oceano pode ser observada pelo sensor, o algoritmo de

processamento de dados exclui pixels com valores de AOT ou reflectância muito

elevados, em um esforço para evitar a contaminação dos dados.

Sob a condição na qual os dados ausentes ocorrem pela presença de

barreiras atmosféricas, a união de dados de outras plataformas orbitais que

observam o mesmo ponto em momentos diferentes pode ajudar a aumentar a

cobertura espacial, uma vez que a dinâmica da atmosfera altera a posição destas

barreiras. Para verificar esta possibilidade, dados produzidos pela Agência Espacial

Européia (ESA / HERMES), que são resultado da união das radiâncias superficiais

obtidas pelos sensores MERIS (ESA) e MODIS (NASA), foram analisados para o

evento eruptivo em questão. Em nossa avaliação, esta análise não resultou em

aumento na cobertura de dados, mostrando, na verdade, uma redução em algumas

46

semanas, provavelmente fruto de um diferente critério de qualidade exigido por esse

algoritmo.

4.3 EXPERIMENTO DE FERTILIZAÇÃO EM MICROCOSMO

4.3.1 Preparação dos Materiais

Devido a especificidades do estudo em bioensaio, com alto risco de contaminação

química por metais traço, a escolha dos materiais, sua preparação e assepsia foram

criteriosas e atenderam a técnicas padronizadas.

A descrição dos materiais empregados, bem como da sequência de assepsia para

aqueles que entrariam em contato com a água do mar coletada (*), segue individualmente

abaixo.

4.3.1.1 Materiais

Bombas

- Coleta: bomba de vácuo Edwards E2M2 (1x10-3 mbar);

- Amostragens (filtração): bomba de vácuo Air Cadet 7530-40, cabeça de

resina PTFE com espigões de polietileno;

- Fluxo de ar: bomba GAST DAA-V507-GD.

Tela de atenuação óptica da coluna d’água

- Material: Tule de nylon na cor preta.

Lastro

- Material: tubo de policloreto de vinila (PVC);

- Peso: 100kg;

Cabo de sustentação do lastro

- Material: cabo de aço revestido com policloreto de vinila (PVC);

Água

- O projeto transportou 300L de água (100L de água destilada e 200L de água

desmineralizada) para uso a bordo.

47

* Redes de filtração

- Material: poliamida PA

- Malha: 200 µm (mesozooplâncton – instaladas nos recipientes de coleta) e

10µm (para amostragem para microscopia de fitoplâncton)

- Fabricante: Limnotec

* Mangueiras (coleta, distribuição de água e fluxo de ar)

- Material: policloreto de vinila (PVC) atóxico;

- Ventiladas com ar filtrado (0,2µm) para secagem e retirada de materiais

voláteis residuais.

* Peças acessórias (conectores, espigões, torneiras de amostragem, mangueiras de

teflon, válvulas three-way e mangueiras de silicone para injeção de cinzas)

- Materiais diversos: PVC, teflon e policarbonato;

- Autoclavagem – para remoção de materiais passíveis de solubilização

(materiais voláteis residuais, pigmentos do plástico, ...);

* Recipientes (unidades experimentais)

- Material: polimetil-metacrilato PMMA (acrílico);

- Capacidade: 20 litros;

- Vedação: anel de polidimetilsiloxano PDMS (silicone);

4.3.1.2 Etapas da Assepsia

Lavagem em Extran neutro (Merck) e molho em solução 2% deste por sete

dias;

Enxague cinco vezes com água do sistema RiOs-Milipore de qualidade equivalente

à água destilada;

Banho em ácido clorídrico 6 N, bidestilado em quartzo (150mL), cedido pelo

Prof. Dr. Claudio Valeriano, do Laboratório de Geocronologia e Isótopos

Radiogênicos (LaGIR/UERJ);

Agitação por 20 minutos para garantir o contato com toda a superfície interna

em três etapas com intervalos de 24h (permanência em molho ácido no

intervalo);

Enxague três vezes com água Mili-Q;

48

Secagem no interior de uma Câmara de Fluxo Laminar classe 100 (Pachane,

PA320);

Irradiação com luz UV por 20 minutos para redução do risco de contaminação

biológica;

Passo final da assepsia: primeiros cinco litros de água do mar coletados em

cada recipiente de cultivo são desprezados pós agitação – com a finalidade

de equilibrar quimicamente as paredes internas, reduzindo o risco de

adsorção dos metais presentes nas cinzas. A passagem deste volume de

água também deve promover o equilíbrio químico das mangueiras;

Observação: toda a manipulação de materiais durante sua preparação e assepsia e

toda a retirada de amostras foram feitas com luvas de polivinil sem talco.

4.3.2 Configuração do Experimento

4.3.2.1 Logística de Coleta

A campanha de campo foi realizada a bordo do Navio Polar Almirante

Maximiano entre Fevereiro e Março de 2014, na 5ª fase da OPERANTAR XXXII,

com coleta de água na Passagem de Drake realizada durante a travessia América

do Sul – Antártica.

A localização da estação de coleta feita no dia 06 de Fevereiro de 2014 foi

59°00’S, 064°26’W; isto é, águas do Drake Centro a oeste da Zona de Fratura de

Shackleton, evitando a influência de águas mais costeiras ou de ressurgência

orográfica e garantindo as condições químicas e biológicas de interesse ao projeto.

A coleta de água foi iniciada às 06:30 am e finalizada às 12:00 pm.

O sistema (Fig 14) utilizado pelo projeto envolve muitos componentes

sensíveis à contaminação química do navio, sendo assim, todo o aparato

experimental foi montado em um sistema inline de forma a tornar mínima a

contaminação da água do mar no deslocamento da profunidade de coleta até a

unidade experimental de cultivo.

49

Figura 14 - Esquema dos componentes do sistema de coleta.

Uma bomba Edwards E2M2 succiona a água do mar lentamente – para que o

estresse mecânico sobre os organismos planctônicos seja evitado – através da

criação de vácuo nos recipientes de cultivo, distribuidor de água, recipientes de

coleta e mangueiras de coleta, em sequência. A profundidade escolhida para a

coleta foi de 15 metros e a extremidade da mangueira foi mantida nesta posição por

um lastro de concreto totalmente revestido em PVC de 100 kg. O lastro fica

suspenso por um cabo de aço também revestido por PVC, conduzido por patescas

que facilitam o controle de sua movimentação vertical. Com o intuito de evitar a

coleta de águas superficiais, mais influenciadas pela própria presença do navio

(estrutura e exaustão), a submersão das mangueiras de coleta acopladas ao lastro

foi feita com o bombeamento de ar filtrado (bomba de ar GAST com filtro de

policarbonato Milipore 0,2 µm) pela mangueira, criando uma pressão positiva e

evitando a entrada de água até atingir a profunidade desejada. A diagramação do

sistema de coleta a bordo do NPo Alte Maximiano é mostrada na figura 15.

50

Figura 15 - Distribuição do sistema de coleta a bordo do NPo Alte Maximiano. Unidades experimentais são preenchidas com água coletada pela mangueira de sucção, mantida na profundidade desejada por um lastro de concreto revestido por PVC.

Os dois recipientes de coleta foram montados com uma rede de poliamida com

malha de 200 µm para que os organismos maiores, grandes consumidores,

captados na coleta de água não entrassem no sistema. A água dos recipientes de

coleta foi passada ao distribuidor de água que, por sua vez, encaminha o fluxo

simultaneamente a cada um dos 12 recipientes de cultivo, sendo descartado o

primeiro volume (5 L) para permitir o equilíbrio químico entre as paredes internas das

mangueiras e recipientes com a água do mar. Desta forma, garante-se a

homogeneidade química e biológica da água em todas as unidades experimentais,

mesmo com o longo tempo de coleta, determinado pela baixa vazão da bomba de

vácuo. O procedimento tem duração aproximada de 5 a 6 horas. Enquanto a coleta

é realizada, também é conduzida a amostragem dos parâmetros iniciais.

Entre o distribuidor de água e cada recipiente de cultivo, nas mangueiras de

distribuição, foram instalados aparatos para a inserção de cinzas compostos por

duas válvula three-way e uma mangueira de silicone (Fig 16). O volume de cinzas a

ser inserido no tratamento fica armazenado na mangueira de silicone e só é injetado

51

no recipiente após o descarte do primeiro volume de água, utilizado para equilibrar

bioquimicamente suas paredes internas. As válvulas three-way permitem controlar o

caminho do fluxo de água.

Figura 16 - Detalhe do aparato de inserção de cinzas em cada unidade de cultivo (válvulas three-way).

4.3.2.2 Amostra de Cinzas Vulcânicas

No sentido de se avaliar a composição química – presença de micronutrientes

– das amostras de cinzas da erupção de Junho de 2011 do complexo vulcânico

Puyhue-Cordón Caulle, foi obtida uma amostra do mesmo por meio de uma

cooperação internacional com o Prof° Dr. Diego Gaiero da Universidade de Córdoba,

Argentina. A coleta da amostra foi feita a partir de um amostrador passivo de poeira,

ou seja, amostragem por processo gravitacional. A amostra cedida havia sido

apenas processada fisicamente, por moagem e peneiramento, de forma que a

informação de granulometria original do local de coleta não pode ser inferida e

incluida no modelo de dispersão.

52

4.3.2.2.1 Espectrometria de Fluorescência de Raios-X (FRX)

Para a determinação das concentrações dos elementos que estão presentes

na amostra de forma geral, em porcentagem de massa, foi realizada uma análise por

Espectrometria de Fluorescência de Raios-X (FRX) no Laboratório de Análises e

Qualidade do Ar da Universidade Federal do Paraná (UFPR) em parceria com Prof.

Dr. Ricardo Godoi.

A Fluorescência de Raios-X é uma técnica analítica utilizada para determinar

os principais constituintes minerais presentes em uma amostra. Para materiais

secos, é depositada sobre um suporte uma fina película e faz-se incidir sobre ela

raios-X para excitar os átomos. Estes, por sua vez, emitem radiação com energias

características de cada elemento. Um detector mede as energias e intensidades da

radiação emitida pelos átomos e deduz quais elementos, previamente catalogados,

estão presentes e quais suas concentrações. Através de processamento

computacional, obtem-se o espectro de composição da amostra.

4.3.2.2.2 Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) e Espectroscopia de

Energia Dispersiva (EDS)

A determinação semiquantitativa da composição elementar da amostra de

cinzas foi realizada em um sistema MEV-EDS, modelo Hitachi/TM-3000 - Oxford

Instruments/Swift ED, com o auxílio da Profa Dra Cátia Fernandes Barbosa do

Departamento de Geoquímica da Universidade Federal Fluminense. O equipamento

reconhece a morfologia das micropartículas e a composição química relativa. A

técnica empregada para montagem do plugue com a amostra não-metalizada de

cinzas foi “smear slide”, ou “esfregaço” na tradução literal, e a velocidade do feixe de

elétrons foi definida em 15 kV, que permite imagens de alta resolução topográfica. O

sistema de vácuo do equipamento utiliza uma bomba turbomolecular de vazão 30 L

s-1 e uma bomba de diafragma de vazão 1 m3 h-1. Esta é uma análise pontual para a

inferência sobre a composição de cada partícula específica.

53

4.3.2.2.3 Difração de Raios-X (DRX)

A análise por DRX foi conduzida no Laboratório de Difração de Raios-X do

Instituto de Física da Universidade Federal Fluminense (LDRXuff®) em um

Difratômetro BRUKER-08 com condições de geometria Bragg-Brentano, fendas de

1º - 0,2º e monocromador com varredura entre 2º e 70º, com intervalo de 0,05º e

tempo de leitura de 0,2 s.

A identificação dos minerais existentes na amostra de cinzas vulcânicas

ocorreu através da comparação dos valores de 2θ encontrados com aqueles citados

na literatura (BRINDLEY; BROWN, 1980). A análise permite observar como é a

estrutura mineralógica dos componentes da amostra, ou seja, como estão ligados.

Isto é importante uma vez que indica as formas a que os organismos tem acesso

aos nutrientes presentes nas cinzas vulcânicas, podendo-se inferir sobre sua

biodisponibilidade.

Todo o processo de análise e interpretação dos dados foi feito com o auxílio

da Profa Dra Carla Semiramis do Departamento de Geoquímica da Universidade

Federal Fluminense.

4.3.2.3 Massa de Cinzas Adicionada por Tratamento no Bioensaio

A massa de cinzas inserida nas unidades experimentais foi calculada a partir

da densidade média do tipo de partícula expelida na erupção, da profunidade da

camada de mistura local e da espessura da camada de cinzas depositada sobre o

oceano.

A densidade média do tipo de partícula expelida na erupção foi obtida da

literatura (SHIPLEY; SARNA-WOJCICKI, 1982), e é mostrada na Tabela 2.

54

Tabela 2 - Densidade média das partículas de cinzas

TIPO DE PARTÍCULA DE CINZAS

DENSIDADE

Partículas vítreas (glass shards) 2350 – 2450 kg m-3

Cristais e minerais 2700 – 3300 kg m-3

Outros fragmentos de rocha 2600 – 3200 kg m-3

Fonte: Adaptado de SHIPLEY; SARNA-WOJCICKI, 1982.

A camada de mistura na porção atlântica do Oceano Austral tem profundidade

média variando de 50 m nos meses de verão a 150 m nos de inverno, como pode

ser observado no mapa de média mensal (Fig. 17) adaptado de De Boyer Montégut

e colaboradores (2004). Como a quantidade de unidades experimentais é limitada, a

profundidade média de 100 m foi a empregada para o cálculo da massa a ser

adicionada em cada tratamento.

Figura 17 - Média histórica mensal da Profundidade da Camada de Mistura, em metros, para o Hemisfério Sul no mês da erupção (Junho – Inverno), e seis meses depois (Dezembro – Verão). Fonte: Adaptado de DE BOYER MONTÉGUT et al., 2004.

A estimativa da espessura da camada de cinzas depositada sobre o oceano

foi obtida através do modelo de dispersão e deposição online HYSPLIT. Este modelo

considera a altitude alcançada pela pluma, a duração da erupção, a informação de

densidade média das partículas e dados de vento do projeto de Reanálise

55

NCEP/NCAR para o período, os mesmos utilizados para a abordagem de

sensoriamento remoto. O resultado da pluma integrada de deposição é apresentado

na figura 18.

Figura 18 - Pluma integrada de deposição de material obtida com o modelo de dispersão e deposição online HYSPLIT. Fonte: Air Resources Laboratory, NOAA's Office of Atmospheric Research.

Os resultados para a concentração das cinzas depositadas no oceano são

mostrados na Tabela 3.

Tabela 3 - Concentração das cinzas depositadas no oceano em função do aporte de cinzas por área e da profundidade da camada de mistura

CONCENTRAÇÃO DAS CINZAS DEPOSITADAS NO OCEANO APORTE DE CINZAS

1.000 mg m-2 10.000 mg m-2 100.000 mg m-2

CAMADA DE MISTURA

DE 100 m

(Ver cálculos no ANEXO I)

O volume de água do mar a ser inserido em cada unidade experimental é de

20 L; assim sendo, a massa de cinzas para este volume é de 200 µg, 2.000 µg e

20.000 µg, respectivamente, variando em uma ordem de grandeza, de acordo com o

aporte de cinzas modelado. Portanto, para cada tréplica do controle e de cada um

56

dos três diferentes tratamentos, serão utilizadas as letras “A”, “B”, “C” e “D”,

seguindo a ordem crescente de massa de cinzas acrescentada em cada caso (Fig

19).

A: Controle = Sem adição de cinzas (0 µg);

B: Baixa quantidade de cinzas (200 µg);

C: Média quantidade de cinzas (2000 µg);

D: Alta quantidade de cinzas (20000 µg);

Figura 19 - Representação dos volumes de cinzas vulcânicas inseridos por tréplica de cada tratamento em cada unidade experimental.

4.3.2.4 Local de Instalação do Sistema

Após a coleta, o sistema de pesquisa é instalado no convés externo do navio

(Fig 20) para o período de cultivo, permitindo que fique exposto às condições

naturais de iluminação – ciclo diário de luz, irradiância, espectro de radiação – e

receba circulação de água do mar para controle de temperatura das unidades

experimentais.

Figura 20 - Fixação dos nichos metálicos na proa do segundo convés. Internamente aos nichos são armadas piscinas onde é circulada água sub-superficial. Recipientes de cultivo são mantidos nos

57

nichos metálicos, parcialmente submersos na água de circulação e cobertos por uma manta de atenuação de luz.

4.3.2.5 Controle de Luminosidade

Para tornar a condição de iluminação do sistema de cultivo compatível com a

recebida na coluna d’água na profundidade de coleta, este, além de ter o próprio

acrílico das paredes e tampa dos recipientes (8 mm), foi protegido por uma tela de

nylon de malha grossa na cor preta, e o conjunto atenua a irradiação solar em

aproximadamente 70%. Este cuidado foi tomado uma vez que os organismos

fotoautotróficos são o principal objeto deste estudo.

O cálculo da atenuação óptica foi descrito por Lima (2013, p. 43) e baseado

no modelo bioóptico desenvolvido por Baker e Smith (1982), que considera como

atenuação total a razão entre a irradiância na profundidade em questão e a

irradiância imediatamente abaixo da interface ar-água e a descreve em função do

comprimento da onda incidente, da concentração de clorofila e de matéria orgânica

dissolvida na coluna d’água. A média para a atenuação óptica da Radiação

Fotossinteticamente Ativa (PAR) foi de 71,7% para a profundidade de 10 metros (Fig

21).

Figura 21 - Atenuação óptica na coluna d’água (KT) em função do comprimento de onda (λ), da concentração de clorofila ([Chl-a]) e da concentração de matéria orgânica dissolvida ([DOM]). (A) Atenuação por comprimento de onda (nm); e (B) Atenuação para a PAR por profundidade. Fonte: LIMA, 2013.

58

As medições da atenuação óptica dos materiais empregados, acrílico e tela,

foram conduzidas com um radiômetro confeccionado e calibrado pelo Prof. Nelson

Veissid do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), sob iluminação natural,

em ângulo perpendicular ao sol.

Toda a manipulação nas unidades experimentais, incluindo a retirada de

amostras, ocorreu no período noturno, evitando expor o sistema a condições de

elevada iluminação.

4.3.2.6 Controle de Temperatura

A fim de controlar variações bruscas de temperatura nos cultivos devido à

variação na temperatura do ar e, principalmente, para evitar seu congelamento,

água do mar subsuperficial foi mantida em circulação constante pelo exterior dos

recipientes. A água de circulação foi provida pela Bomba de Incêndio (BInc) do navio

e mantida em operação ininterrupta durante os 15 dias do experimento.

O sistema funcionou adequadamente, mantendo a temperatura externa entre

2 e 3°C, em geral, cerca de 3°C mais aquecida que a água do mar, conforme

observado pelo termossalinógrafo do navio, instalado a aproximadamente 7 metros

abaixo da superfície.

4.3.2.7 Aeração Positiva das Unidades Experimentais

Foi programado o bombeamento de ar filtrado (bomba de ar GAST com filtro

de policarbonato Milipore 0,2 µm) para as unidades experimentais visando a aeração

e a circulação interna de água no sistema, porém, devido a dificuldades com a baixa

temperatura do ar (podendo causar congelamento nos cultivos, como foi observado

durante a rodada piloto) e com a distribuição de ar entre as unidades, o

bombeamento não foi utilizado. Assim sendo, a aeração do sistema se deu de forma

passiva, apenas com a mangueira de troca de ar entre os recipientes e o ar externo

sendo acoplada a um holder com filtro de policarbonato Milipore 0,2 µm.

59

4.3.2.8 Logística de Amostragem

Todas as amostragens, programadas a cada três dias de cultivo, ocorreram

após o por do sol para evitar a exposição do sistema a condições de elevada

iluminação (Tab. 4). O procedimento de retirada das amostras dura em torno de 2

horas do lado externo, sendo no total entre 6 e 8 horas de manipulação no

laboratório.

Para as análises não realizadas a bordo, as amostras foram armazenadas

adequadamente fixadas e refrigeradas até o laboratório, no Rio de Janeiro.

Tabela 4 - Volumes coletados para cada amostra ao longo do cultivo

AMOSTRA

DIAS DE CULTIVO / VOLUME EM LITROS

0 (Coleta)

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15

Espectrofotometria (Pigmentos –

Clorofila a, b, c) 3

2

2

1

1

1

Microscopia (Densidade

Fitoplanctônica) 1

1

1

4.3.2.9 Técnicas de Análise

4.3.2.9.1 Concentração de Clorofila

O parâmentro concentração de clorofila foi utilizado para estimar

indiretamente a variação de biomassa fitoplanctônica para acompanhamento ainda a

bordo da evolução do experimento. Apesar de não existir uma relação direta entre

concentração de clorofila-a e biomassa, este é um parâmetro comumente

empregado em estimativas indiretas de conteúdo fitoplanctônico de amostras de

água (ex.: BONNET et al., 2005). Espera-se que as variações destes parâmetros

sejam proporcionais em condições aproximadamente constantes (ex.: ANNING et

al., 2001).

Cada volume amostrado das unidades experimentais é filtrado em filtros de

fibra de vidro com porosidade de 0,7 µm (Millipore, GF/F) sob pressão de 6 pol Hg

gerada por uma bomba de vácuo (Air Cadet). Os filtros são, então, colocados em

60

extração por 24 h em 15 mL da solução de extração. Esta solução consiste em

Etanol 100% grau PA adicionado de pequena quantidade de carbonato de

magnésio, suficiente para atingir saturação; a mistura tem como objetivo manter o

pH neutro, evitando a formação de feofitina e outros produtos de alomerização da

clorofila durante a extração.

Seguindo o método tricromático publicado por Ritchie (2008), uma alíquota de

aproximadamente 2 mL da solução é transferida para uma cubeta de quartzo para

determinação de concentração de clorofila por espectrofotometria. Esta análise foi

conduzida em campo – a bordo do NPo Alte Maximiano – em um Espectrofotômetro

Femto 700 Plus.

4.3.2.9.2 Abundância e composição fitoplanctônica

As amostragens para diagnóstico da evolução da abundância e da

composição em grandes grupos dos produtores primários foram feitas no momento

da coleta (condição inicial), no 6º (condição intermediária) e no 12º (condição final)

dias de experimento. Foram retirados volumes de 1 L, sendo as amostras

concentradas a 100mL em rede de nylon com mecha de 10 µm, fixadas com 2 mL

de lugol e armazenadas em garrafas plásticas âmbar até sua análise.

No momento da análise, as garrafas foram homogeneizadas para tornar

possível retirar uma alíquota com uma distribuição aleatória que representasse o

interior do recipiente. Então, um volume de 50 mL foi transferido para uma câmara

de Utermöhl, onde permaneceu em sedimentação por duas horas antes da

contagem e identificação em microscópio invertido (BEL, NB-100). Estas análises

foram conduzidas no Laboratório de Fitoplâncton da UERJ pela técnica Domênica

Lima, sob supervisão da Profa Dra Gleyci Moser.

61

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 ABORDAGEM POR SENSORIAMENTO REMOTO

Houve várias tentativas de tratamento de dados satelitais durante o processo

de criação deste trabalho. Inicialmente, a área definida para a análise dos dados foi

limitada por um retângulo sobre o Atlântico Sul nas coordenadas 25ºS-45ºS e 30ºW-

55ºW. Sobre ele foram utilizados os dados diários do sensor MODIS-Aqua para criar

as séries temporais dos parâmetros AOT e CHL-a. Foram trabalhados os dados de

2002 até 2010 para a montagem de uma série temporal robusta.

Devido à baixa representatividade espacial conseguida com dados diários

principalmente em decorrência da alta cobertura de nuvens na região, foram

montadas, a partir deles, composições de 3 dias com os valores de cada parâmetro.

O portal Ocean Color disponibiliza estas composições, mas não aquelas mais

antigas que dois anos. Isto impossibilitou o uso direto desta informação. Além disso,

estes dados não são reprocessados após seu período de maturação como os dados

diários: com os diários, um algorítmo Near Real Time (NRT) disponibiliza no dia

seguinte os dados do dia anterior e após aproximadamente 10 dias – período ao

qual nos referimos como maturação – eles são substituídos por dados produzidos

por outro algorítmo, que utiliza, por sua vez, dados de outros sensores para uma

melhor correção da atmosfera. As composições de 3 dias permaneciam com o

problema de dados faltantes, portanto, as composições de 8 dias passaram a ser

empregadas.

Posteriormente, no sentido de tornar a análise mais realística e adotando-se a

premissa de que se espera uma maior resposta de CHL-a ao longo do caminho

percorrido pela pluma, já que ao assumir um área de estudo retangular introduz-se

áreas não necessariamente afetadas pela pluma, definimos como nova área de

interesse a área oceânica imediatamente abaixo da pluma de dispersão vulcânica

definida pelo HYSPLIT. A nova área de estudo foi modelada como pluma de

dispersão de gases e partículas na atmosfera, considerando 20 dias de emissão

contínua de material vulcânico.

Como a semelhança entre a nova área definida por modelagem e as imagens

satelitais disponíveis da pluma real ainda não era satisfatória, aprofundando o

estudo sobre o modelo HYSPLIT, a abordagem foi novamente alterada. Buscamos

62

algo ainda mais realista, ou seja, definimos como área de estudo a área oceânica

que compreende a deposição das cinzas vulcânicas, visto que nem todo o material

particulado presente na pluma atmosférica deposita-se sobre o oceano. A deposição

é um processo complexo que depende das condições atmosféricas, das

propriedades do material particulado e da interação com o borrifo marinho. Ela pode

ocorrer por via seca ou úmida, e o modelo considera ambas as possibilidades em

seus cálculos. A pluma final de deposição está apresentada na figura 22.

Figura 22 - Pluma de deposição seca e úmida: resultado consolidado do modelo para o desenvolvimento da pluma de cinzas vulcânicas até 8 dias após o início da erupção.

Como não é possível validar a deposição modelada sobre o oceano, a

estratégia empregada foi avaliar se a concentração atmosférica modelada é similar a

observada por sensoriamento remoto. Para esta comparação foram usados dados

de Aerosol Índex (AI) observado pelo sensor OMI a bordo do satélite AURA

(TORRES et al., 2007), um índice de presença de aerossóis com alta capacidade de

absorção na faixa do ultravioloeta, como as cinzas vulcânicas e a poeira mineral. O

AI, no entanto, não é uma medida de concentração, uma vez que a intensidade do

sinal depende da altura da camada de aerossóis (HERMAN et al., 1997). A

comparação, portanto, foi realizada entre a máscara de concentração modelada e os

dados de AI. Como pode ser visto na figura 23, existe boa semelhança entre a

máscara do modelo de concentração e os dados de AI.

63

Figura 23 - Pluma de concentração atmosférica acumulada modelada (esquerda) e composição das imagens de satélite dos dias correspondentes montada pela NASA com dados OMI/AURA (direita) para os primeiros seis dias de erupção.

As séries temporais obtidas com os dados semanais dentro da área definida

pela pluma de deposição de cinzas (Fig 24) mostram, como esperado, um aumento

claro na Espessura Óptica de Aerossol, resultado do grande aporte de material

vulcânico em suspensão na atmosfera. É possível perceber picos menores de AOT,

mas ainda acima da série histórica, com maior frequência de ocorrência, que podem

ser atribuídos à persistência da emissão de cinzas. O complexo vulcânico Puyehue-

Cordón Caulle ainda apresentava atividade até Abril de 2012, segundo o último

informe do SERNAGEOMIN.

A curva de SST (Fig 24B) mostra que houve valores anômalos negativos de

temperatura entre a 25ª e a 35ª semanas de 2011 que poderiam indicar um

fenômeno de ressurgência oceânica, porém a resposta biológica observada nas

curvas de CHL-a é muito defasada em escala temporal e ocorre em meio à transição

da anomalia de SST de negativa para positiva. A anomalia negativa de SST parece

ter formação cumulativa do período pós-erupção até o início do verão, ao que

atribuímos três hipóteses possíveis: a ocorrência de um sinal oceânico genuíno de

ressurgência, um ruído no sinal satelital de SST devido à interferência das cinzas

vulcânicas e/ou o resultado da atenuação óptica da atmosfera, ou seja, a diminuição

da radiação incidente no oceano gerando uma diminuição de sua temperatura

superficial.

64

O pico de Concentração de Clorofila-a logo após a erupção só é perceptível

na série temporal empregando o cálculo de média aritmética (Fig 24C) e não na de

média geométrica (Fig 24D). Com os dados na forma de imagens georreferenciada é

possível notar que a resposta principal ocorre junto à costa, o que esclarece a

questão: a média aritmética é bastante influenciada por valores extremos, por isso o

sinal costeiro tem grande participação no valor final; já a média geométrica equilibra

melhor os valores do conjunto. Contudo, em ambas as séries, com média aritimética

e geométrica, é bastante claro o pico muito além da série histórica na 38ª semana do

calendário juliano.

Figura 24 - Série histórica (linhas vermelhas) com barras de duas vezes o erro padrão (2EP) e valores para o ano de 2011 (linhas pretas) para Espessura Óptica de Aerossol (AOT) (A), Temperatura da Superfície do Mar (SST) (B) e Concentração de Clorofila-a (CHL-a) com cálculo por média aritmética (C) e por média geométrica (D). Os dados semanais são composições de 8 dias, portanto, o início do evento eruptivo, indicado pela linha vertical azul, ocorre ao final da 20

a semana

do calendário juliano.

65

O sinal costeiro de CHL-a, coincidente com a pluma do Rio da Prata (Fig 25),

pode ter sido gerado por uma interferência no sinal orbital deste parâmetro causada

pelo grande volume de cinzas presente em seu leito. É um efeito equivalente ao

efeito artefato, porém aplicável a áreas em que há grandes quantidades de material

em suspensão, chamadas Águas Tipo II (MOREL; PRIEUR, 1977), em que o cálculo

para a CHL-a é feito a partir de um algoritmo específico. Outra hipótese, menos

provavél, é a de ocorrência de uma fertilização genuína nesta área, porém, com as

ferramentas disponíveis neste trabalho, não é possível inferir qual das duas

possibilidades de fato ocorre ou se ambas acontecem simultaneamente.

Figura 25 - Imagens produzidas a partir de dados do sensor MODIS/Aqua das anomalias de CHL-a calculadas para as duas primeiras quinzenas pós-erupção.

Um mecanismo possível para a ocorrência do pico de CHL-a na 38ª semana é

a ressuspensão de material vulcânico depositado sobre o continente (Fig 26) que,

com o início da temporada de ventos de maior intensidade sobre a Patagônia

correspondente ao período de Primavera/Verão no Hemisfério Sul, pode ser

novamente disponibilizado à atmosfera. Não foi possível desenvolver uma área de

deposição para a poeira ressuspendida do continente, contudo, os dados

climatológicos dos ventos na região da Patagônia sugerem que esses materiais

tenham sido direcionados para aproximadamente a mesma área de influência direta

da erupção. A figura 27A mostra a série histórica (1948-2011) do ângulo médio do

vento sobre a Patagônia tendo o Norte como referência (0°) e a figura 27B mostra a

série histórica da velocidade média do vento sobre a mesma região. Em conjunto, as

66

figuras mostram que no verão (Dezembro), os ventos ficam mais intensos e em

ângulo reto, soprando diretamente sobre a área analisada para o período de

deposição durante a erupção (Junho). As médias latitudinal e longitudinal de vento

para o período específico de Setembro a Dezembro do ano da erupção (Fig 28A e

28B) confirmam a direção e sentido do transporte eólico do continente para a porção

sul do oceano Atlântico. Assim, o sinal observado dentro dessa área para o verão

subsequente pode ser resultado da deposição no oceano do material continental

ressuspendido.

Figura 26 - Composição de imagens true color MODIS/Aqua para os dias 03/06/11 e 04/07/11, respectivamente um dia antes (A) e pouco mais de um mês (B) após o início da erupção do Puyehue Cordón-Caulle, mostrando a deposição de cinzas sobre o continente, em arco crescente partindo da fonte, indicada pelo ponto amarelo. Fonte: LANCE / NASA (Land and Atmosphere Near real-time Capability for EOS / National Aeronautics and Space Administration).

67

Figura 27 - Média histórica mensal do ângulo (A) com Norte como referência (0°) e da velocidade (B) do vento sobre a Patagônia, calculadas com base nos mesmos dados NCEP/NCAR usados para o modelo HYSPLIT, porém entre 1948 e 2011 (linha azul: mês da erupção; linha vermelha: início do período de ventos mais intensos).

68

Figura 28 - Médias latitudinal (A) e longitudinal (B) de vento para o período de Setembro a Dezembro de 2011. Fonte: NCEP Reanalysis Daily Averages Pressure Level GrDAS.

A

B

69

A explicação proposta para as alterações na Concentração de Clorofila-a

superficial é que, mesmo com o aporte de micronutrientes essenciais para o

desenvolvimento fitoplanctônico, a comunidade de inverno, limitada também pela

disponibilidade de luz e pela predação, não atingiu um desenvolvimento maior que

as taxas de predação e mortalidade somadas imediatamente após o início do evento

eruptivo. Este resultado é evidenciado pela ausência de um pico de CHL-a após o

evento eruptivo. No entanto, o material vulcânico que ficou depositado sobre o

continente, retrabalhado e enriquecido por outras fontes continentais, ressuspendido

com o início da temporada de ventos de maior intensidade sobre a Patagônia,

durante o período primavera/verão quando as condições de luminosidade e de

temperatura da superfície do mar são mais favoráveis ao desenvolvimento

planctônico, foi potencialmente capaz de fertilizar e elevar consideravelmente os

níveis de Concentração de Clorofila-a nas águas superficiais da área delimitada no

Atlântico Sul.

5.2 EXPERIMENTO DE FERTILIZAÇÃO EM MICROCOSMO

5.2.1 Amostra de Cinzas Vulcânicas

5.2.1.1 Espectrometria de Fluorescência de Raios-X (FRX)

Os resultados da análise por FRX para as cinzas coletadas após a erupção

de Junho de 2011 do Puyehue-Cordón Caulle são mostrados na figura 29.

Figura 29 - Resultado da Espectrometria de Fluorescência de Raios-X: composição da amostra de cinzas: concentração, em porcentagem de massa, dos elementos presentes na amostra das cinzas coletadas após a erupção de Julho de 2011 do complexo vulcânico Puyehue-Cordón Caulle. Outros elementos: Cu (0,031%), Zn (0,120%), Ga (0,018%), Rb (0,075%), Sr (0,188%), Y (0,039%), Zr (0,289%), W (0,046%), Pb (0,045%).

5,94

44,824

0,262 0,113 0,741

8,845 11,339

2,391 0,034 0,616

24,042

0,851 0

10

20

30

40

50

Al Si P S Cl K Ca Ti V Mn Fe Outros

Po

rce

nta

gem

em

mas

sa

COMPOSIÇÃO ELEMENTAR DA AMOSTRA DE CINZAS

70

Dada a natureza explosiva da erupção e a partir da análise conduzida no

sistema MEV-EDS, a alta contribuição de Si na amostra é esperada. Este elemento

compõe o maior volume de partículas de cinzas, aquelas a que é conferido o

aspecto vítreo observado, e está presente sobretudo na forma de SiO2 (CARNEIRO

et al., 2011; LIMA et. al, 2012). A presença de Ca e K também é comumente

observada em amostras de cinzas vulcânicas, sendo estes elementos encontrados,

em geral, sob a forma de íons nas amostras (CARNEIRO et al., 2011; LIMA et. al,

2012).

O Fe aparece como o segundo elemento mais abundante na amostra,

confirmando a teoria de possibilidade de disponibilização deste metal para a

comunidade em cenários de pós-erupção. O Mn, outro micronutriente destacado

com potencial colimitador da produção primária, aparece em concentração bastante

pequena.

5.2.1.2 Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV)

Algumas das micropartículas fotomicrografadas na amostra são apresentadas

abaixo (Fig 30).

Segundo descrito por Singer et al. (2008), o complexo vulcânico Puyehue-

Cordón Caulle manifestou seis fases evolutivas, as primeiras de natureza básica,

seguidas por um magmatismo riolítico. A natureza vítrea da partícula mais

representativa da amostra, identificada na literatura internacional como “glass

shards”, é equivalente a magmas riolíticos, bastante comum na composição de

material vulcânico de eventos eruptivos explosivos como o abordado neste trabalho.

Segundo o Volcano Hazards Program mantido pelo U.S. Geological Survey, este tipo

de partícula, com vesículas ovais ou tubulares de dimensões variáveis, é formado

quando o magma muito rico em gases é projetado na atmosfera: as bolhas de gás

aumentam rapidamente de volume com a redução da pressão e formam as

vesículas por conta do rápido arrefecimento da lava. Foi o tipo predominante

encontrado na amostra e é apresentada como “partícula predominate” (Fig 30A e

30B)

Todas as partículas apresentam feições irregulares; as de tamanho muito

pequeno, em torno de 1 µm, tendem a se unir, recebendo a nomenclatura de

“agregados”, devido a vários mecanismos, incluindo a atração eletrostática e as

71

colisões entre as próprias partículas, como descrito pelo British Geological Survey. O

processo de agregação remove partículas muito pequenas da pluma de cinzas e é

um dos controles de seu tempo de permanência na atmosfera.

Figura 30 - Imagens de Microscopia Eletrônica de Varredura de partículas da amostra de cinzas

vulcânicas. (A) Partícula predominante lisa, angulosa e com padrões vesiculares (glass shards); (B)

Corte transversal da partícula predominante; (C) Partícula sólida; (D) Agregado de partículas de

argila; (E) Filamento com padrão acostelado similar ao da partícula predominante; (F) Partícula mista.

72

5.2.1.3 Espectroscopia de Energia Dispersiva (EDS)

A análise pontual com EDS (Fig 31) indica que os elementos predominantes

nas partículas são Oxigênio, Silício e Alumínio. O metal Ferro também está presente

nas micropartículas, assim como outros elementos: Sódio, Magnésio, Bromo, Zinco

e Enxofre.

73

74

Figura 31 - Distribuição dos elementos químicos em cada partícula: (A) Partícula predominante, (B) Partícula sólida, (C) Agregado de argila, (D) Filamento acostelado, (E) Partícula mista (parte interna), (F) Partícula mista (parte externa), (G) Partícula escura.

Carneiro et al. (2011) e Lima et al. (2012) analisaram, utilizando o mesmo

método, as cinzas deste evento eruptivo depositadas na região de Bariloche e de

Porto Alegre, respectivamente. A composição química elementar obtida foi

semelhante à encontrada neste trabalho: os fragmentos vítreos representativos da

cristalização da fase vapor são essencialmente SiO2, sendo os demais fragmentos

constituídos por óxidos de SiO2 e Al2O3 e conteúdos baixos de álcalis, como Na2O e

FeOt.

Todas as partículas analisadas apresentam O e Si como constituintes

principais, em proporções que indicam serem silicatos; porém, para esta

confirmação, seria necessário um trabalho com os dados de conversão do elemento

nativo para óxido, o que não foi prioridade nesta análise. Alguns outros elementos,

como Mg, Na, Al, S, Fe e Zn, aparecem diferenciando as partículas entre si, contudo

esta é uma análise semiquantitativa mais pontual, apenas para a visualização

individual das partículas. A combinação dos resultados das análises com FRX

(composição elementar) e DRX (estrutura mineralógica) é bastante mais robusta

para inferir sobre a disponibilização à comunidade biológica dos elementos

constituintes das cinzas.

75

5.2.1.3 Difração de Raios-X (DRX)

O resultado para a análise de Difração de Raios-X é mostrado na figura 32:

Figura 32 - Difratograma de Raios-X para a amostra de cinzas vulcânicas. O resultado indica a mineralogia dos elementos presentes na amostra.

É possível identificar claramente na amostra as estruturas cristalinas

correspondentes aos minerais Quartzo e Plagioclásio, ambos silicatos, evidenciando

como estão organizados os átomos de Si e O observados através das análises de

FRX e de MEV-EDS. O Plagioclásio possui uma série de substituição que pode

variar entre dois extremos: NaAlSi3O8 (albita) e CaAl2Si2O8 (anortita); K também

pode substituir o Na em algumas estruturas.

Existe um pico de baixa intensidade relativa que pode indicar a presença do

mineral Magnetita (Fe3O4). Contudo, dada a grande quantidade de material amorfo e

a presença de ferro como um dos elementos de maior ocorrência identificada no

FRX, é possível que este metal esteja também fora de estruturas cristalinas, o que

pode significar uma maior disponibilidade dele aos produtores primários.

5.2.2 Concentração de Clorofila

Do 1° ao 12° dia de experimento, as tréplicas do controle e dos tratamentos

mostram comportamento similar entre si e manutenção do crescimento, sugerindo

divergência com maior aumento do tratamento “C” apenas a partir daí, até o 15° e

último dia do bioensaio (Fig 33), o que pode ser confirmado na variação temporal da

76

taxa de incremento na Concentração de Clorofila-a (Fig 34). Outros estudos com

incubação mostram tempos de resposta biológica variável, com sinais positivos de

fertilização ocorrendo de 2 dias (ex.: BROWNING et al., 2014) à 9 dias (ex.:

HOFFMANN et al., 2012), o que é função, sobretudo, de distinções nas condições

experimentais de temperatura, luminosidade e pH, nas comunidades biológicas

incubadas e nos volumes de cinzas inseridos por tratamento. A sobreposição das

barras de desvio padrão dos valores mensurados de Concentração de Clorofila-a

pode indicar que não há diferença significativa entre as leituras. Em outros trabalhos

conduzidos no Oceano Austral com incubações de apenas Fe solúvel, o crescimento

nos controles também é observado; contudo, a separação entre os níveis distintos

de tratamento ocorre em 5 ± 3 dias (DE BAAR et al., 1990; MARTIN et al., 1990;

HELBLING et al., 1991; VAN LEEUWE et al., 1997; BROWNING et al., 2014).

Esta evolução de concentração de clorofila pode receber duas interpretações

distintas:

1. houve um efeito de fertilização evidenciado pelo fato de o tratamento “C”

apresentar maior crescimento, sendo o volume de cinzas inserido no

tratamento “B” aquém do requerimento biológico e no tratamento “D”

excedente a esse requerimento, resultando em nenhum efeito perceptível em

“B” e um efeito já negativo sobre a comunidade em “D”. A demora de dias

para a diferenciação entre os tratamentos também pode ser devida ao

estresse adaptativo dos organismos às condições experimentais;

2. se a diferença de concentração de clorofila do tratamento “C” não é

significativa, a razão pode ser que a limitação por micronutrientes é menos

determinante frente a outros fatores limitantes – como a alta pressão de

herbivoria, a alta profundidade da camada de mistura e a baixa irradiância

média na coluna d’água (FROST, 1991; MITCHELL et al., 1991; LIN et al.,

2011) – ou a adição de micronutrientes aos tratamentos não foi suficiente

para diferenciar as condições de desenvolvimento fitoplanctônico, mesmo

para o maior volume inserido (“D”).

77

Figura 33 - Variação temporal da Concentração de Clorofila-a média no controle e em cada um dos tratamentos com as barras de desvio padrão.

0,000

0,500

1,000

1,500

2,000

2,500

0 3 6 9 12 15

Co

nce

ntr

ação

de

Clo

rofi

la (

mg

m-3

)

DIas de Cultivo

Concentração de Clorofila

A

B

C

D

78

Figura 34 - Variação temporal da taxa de incremento na Concentração de Clorofila-a Média no controle e em cada um dos tratamentos.

Um maior número de réplicas dos tratamentos e um maior tempo de

incubação podem ser estratégias para esclarecer os resultados de futuras rodadas

de experimento.

5.2.3 Abundância e Composição Fitoplanctônica

A metodologia de contagem de células em microscopia ao início e ao fim do

experimento mostra a variação da densidade fitoplanctônica após 12 dias de

bioensaio (Fig 35). Os valores para o controle seguem sem diferenciação dos

demais tratamentos, todos apresentando aumento na concentração de células.

-0,050

0,000

0,050

0,100

0,150

0,200

0,250

0,300

3 6 9 12 15

Taxa

de

Incr

em

en

to (

mg

m-3

dia

-1)

Dias de Cultivo

Taxas de Incremento na Concentração de Clorofila

A

B

C

D

79

Figura 35 - Densidade celular fitoplanctônica ao início (Inicial) e após 12 dias (A, B, C e D) de experimento, com barras de desvio padrão.

Com a análise de composição relativa entre os organismos do fitoplâncton

(Fig 36) é possível observar a maior contribuição de diatomáceas e dinoflagelados

entre os organismos. Também é possível confirmar a tendência de diminuição

absoluta e relativa da densidade de dinoflagelados (Fig 37) e de aumento absoluto e

relativo da densidade de diatomáceas (Fig 38), sendo este o grupo dominante ao

final. Este cenário corresponde ao de um pós bloom, como sugerido por diversos

autores e já mencionado na fundamentação teórica do presente estudo (ex.:

SUNDA, 1988; MARTIN et al., 1989; HUDSON; MOREL, 1990; MOREL et al., 1991;

COALE, 1991; BOYD et al., 2007).

0

1

2

3

4

5

6

7 D

en

sid

ade

(1

06

. ce

ls .

L-1

)

Densidade Fitoplanctônica

Inicial A B C D

80

Figura 36 - Composição relativa do fitoplâncton ao início (Inicial) e após 12 dias de experimento, por tratamento (A, B, C e D).

0,000

1,000

2,000

3,000

4,000

5,000

6,000

INICIAL A B C D

De

nsi

dad

e (

10

6 .

cels

. L

-1)

Composição Relativa

DINOFLAGELADOS DIATOMÁCEAS CILIADOS

EUGLENÓFITAS CIANOBACTÉRIAS

81

Figura 37 - Variação temporal da densidade celular de dinoflagelados média por tratamento com barras de desvio padrão.

Figura 38 - Variação temporal da densidade celular de diatomáceas média por tratamento com barras de desvio padrão.

No entanto, como os valores encontrados para o controle são semelhantes

aos dos demais tratamentos, a configuração semelhante à de um pós bloom pode

ser resultado não só de uma disponibilização de micronutrientes, mas também da

remoção dos demais fatores limitantes do desenvolvimento dos produtores

primários, assim como acontece para o outro parâmetro, concentração de clorofila.

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

INÍCIO DIA 6 DIA 12

De

nsi

dad

e (

10

6 .

cels

. L

-1)

Densidade de Dinoflagelados

A

B

C

D

0

1

2

3

4

5

6

7

INÍCIO DIA 6 DIA 12

De

nsi

dad

e (

10

6 .

cels

. L

-1)

Densidade de Diatomáceas

A

B

C

D

82

A análise de ambos os parâmetros leva a crer que as modificações

observadas na comunidade fitoplanctônica foram conduzidas a partir de um “efeito

Garrafa”, em que o desenvolvimento da comunidade está atrelado às alterações no

conjunto das condições experimentais, como a redução do número de predadores e

a maior disponibilidade luminosa, com menor influência da ação direta da liberação

de micronutrientes pelas cinzas vulcânicas.

83

6 CONCLUSÃO

Os resultados obtidos a partir das duas abordagens deste trabalho,

sensoriamento remoto e bioensaio, não são taxativos sobre o acoplamento entre a

deposição das cinzas da erupção do complexo vulcânico Puyehue-Cordón Caulle e

a possível ocorrência de um evento de fertilização oceânica.

Com sensoriamento remoto, para o cenário imediatamente após a erupção, o

pico de concentração de clorofila atrelado apenas a um sinal costeiro pode indicar

que a comunidade fitoplanctônica oceânica de inverno, que também está limitada

pela disponibilidade de luz e pela predação, não atinge um desenvolvimento tal que

supere as taxas de predação e de mortalidade combinadas. Com o decorrer do ano

e o início da temporada de ventos mais fortes sobre o continente, com condições

ambientais de temperatura e luminosidade mais favoráveis ao desenvolvimento

algal, a ressuspenção e deposição de material continental no oceano foi capaz de

elevar os valores de concentração de clorofila em toda a área abrangida pela pluma

de deposição modelada.

Com o bioensaio, os resultados de evolução temporal da concentração de

clorofila não oferecem uma conclusão categórica sobre a fertilização. A diferença

entre os tratamentos pode ser entendida como 1) um sinal positivo de

desenvolvimento algal, com uma sequência: “B” produz efeito não diferenciável do

controle, “C” resulta em um efeito positivo de fertilização e “D” produz um efeito

negativo, tendo concentrações finais menores que as do controle; ou 2) não se pode

afirmar que há diferenças significativas entre os resultados dos tratamentos, dada a

sobreposição das barras de desvio padrão. Nos dados de densidade fitoplanctônica,

o tratamento “B” é o que aparece com maior quantidade de organismos, seguido de

“C” e “D”, respectivamente, não estando de acordo com o resultado de concentração

de clorofila, a menos que seja considerado não haver diferenças significativas entre

os tratamentos. Já a o resultado da análise de composição da comunidade mostra

para todos os tratamentos e para o controle um aumento relativo de diatomáceas,

com diminuição de dinoflagelados, o que está de acordo com cenários pós bloom

observados na literatura. Esta evidência leva a crer que o “efeito Garrafa”, de

redução no número de predadores e maior disponibilidade luminosa, favorece o

84

desenvolvimento fitoplanctônico de forma mais determinante que a liberação de

micronutrientes pelas cinzas.

Apesar de não haver, considerando a metodologia empregada, evidências

que confirmem a fertilização diretamente associada à erupção vulcânica em questão,

o sinal observado por satélite – pico acima da série histórica de Concentração de

Clorofila associado a picos de Espessura Óptica da Atmosfera – para o período de

verão do mesmo ano é bastante claro.

As hipóteses para a ocorrência deste cenário são, portanto:

1. A comunidade de inverno é composta por organismos adaptados ao cenário de

restrição de micronutrientes, menor disponibilidade luminosa, temperaturas da

superfície do mar baixas e camadas de mistura mais profundas, condições

predominantemente observadas na Passagem de Drake. Portanto, se a erupção

ocorresse no cenário de verão, o potencial de fertilização das cinzas seria maior.

Esta hipótese não é confirmada pelo resultado do bioensaio, já que não há

evidências concretas de fertilização mesmo em uma comunidade de verão com as

cinzas expelidas diretamente pelo vulcão;

2. As cinzas riolíticas expelidas na erupção de Junho de 2011 pelo complexo

vulcânico Puyehue-Cordón Caulle possuem um conteúdo de ferro e de outros metais

traço colimitantes, como o Mn, em forma biodisponível, aquém do requerimento

fitoplanctônico para os volumes estimados;

As cinzas basálticas tem um conteúdo maior de Fe que o das cinzas riolíticas,

enquanto que, em contraste, ambas são compostas por quantidades semelhantes

de Mn (Tabela 5; BROWNING et al., 2014). Isto pode indicar a maior relevância do

Fe como micronutriente, por isso um sinal de fertilização não ocorre com o depósito

riolítico da erupção considerada neste trabalho.

85

Tabela 5 - Composição média de metais-traço em cada tipo de cinzas, basálticas e riolíticas

Fonte: Adaptado de BROWNING et al, 2014.

3. Apenas um material retrabalhado e enriquecido em micronutrientes por outras

fontes continentais seria capaz de alterar uma comunidade fitoplanctônica não

limitada por outros parâmetros (condições de irradiação suficiente, temperaturas

menos baixas e camadas de mistura mais rasas). Isto explicaria o pico de

concentração de clorofila observado por sensoriamento remoto no início da estação

de ventos mais intensos e também poderia esclarecer a falta de resultados

conclusivos do bioensaio feito apenas com as cinzas, sem qualquer beneficiamento

de outras fontes continentais.

A partir da análise de aerossóis coletados durante a campanha de 2006 da

OPERANTAR e da modelagem de retrotrajetórias com dados de vento do projeto de

Reanálise NCEP/NCAR é possível verificar que o aporte de Fe, Si e Al é uma ordem

de grandeza maior naquelas vias que passam sobre a Patagônia (Fig 39,

retrotrajetória c), confirmando o potencial de disponibilização de micronutrientes para

a comunidade oceânica de superfície por meio do transporte eólico.

86

Figura 39 - Retrotrajetórias médias de massas de ar associadas aos perfis latitudinais das concentrações atmosféricas de ferro (Fe), silício (Si) e alumínio (Al). Dados obtidos durante a campanha de 2006, OPERANTAR. Fonte: Imagem cedida pelo Prof. Dr. Heitor Evangelista – dados não publicados.

Na figura 40 é possível observar um evento de transporte de poeira mineral,

constituída por material de erosão continental com a contribuição dos depósitos de

composições distintas de cinzas expelidas nas diversas erupções andinas, em um

dos sítios de emissão mais intensa conhecidos da Patagônia, na região a Oeste de

Trelew. Estes episódios são recorrentes e ocorrem com maior frequência durante o

período de primavera-verão, quando os sítios de acúmulo de sedimentos ficam

expostos para a erosão eólica, condição decorrente do déficit de umidade, e os

ventos de oeste se intensificam. Voltando à figura 2, é possível observar a

proximidade do depósito de cinzas da erupção do complexo Puyehue-Cordón Caulle

com esta área, o que corrobora a hipótese de ressuspensão de material gerando o

pico de concentração de clorofila ao final de 2011.

87

Figura 40 - Imagem MODIS/Aqua em cor verdadeira da emissão de poeira da região próxima a Trelew, na Patagônia Argentina, em 2009. Fonte: Land Atmosphere Near Real Time Capability for EOS (LANCE) de LIMA, 2013.

O resultado deste trabalho motiva a aplicação da mesma metodologia para

outros eventos eruptivos, buscando aprofundar a análise quanto à resposta da

produtividade primária ao vulcanismo. Eventos de diferentes origens e composições

de cinzas – enriquecidas ou não por poeira mineral – ocorridos durante períodos de

verão, quando a abrangência espacial e temporal satelital é mais completa e as

condições de luminosidade e temperatura da superfície do mar são mais favoráveis

ao desenvolvimento algal, podem trazer maiores esclarecimentos à questão.

88

7 REFERÊNCIAS

ACHTERBERG, E. P. Natural iron fertilization by the Eyjafjallajokull volcanic eruption.

Geophysical Research Letters, v. 40, p. 921–926, 2013.

ANNING, T.; HARRIS, G.; GEIDER, R. Thermal acclimation in the marine diatom

Chaetoceros calcitrans (Bacillariophyceae). European Journal of Phycology, v. 36,

n. 3, p. 233-241, 2001.

BAKER, A. R.; JICKELLS, T. D. Mineral particle size as a control on aerosol iron

solubility. Geophysical Research Letters, v. 33, n. 17, p. 1-4, 2006.

BAKER, A. R.; SMITH, R. C. Bio-optical classification and model of natural waters.

Liminology and Oceanography, v. 27, n. 3, p. 500-509, 1982.

BARBEAU, K.; RUE, E. L.; BRULAND, K. W.; BUTLER, A. Photochemical cycling of

iron in the surface ocean mediated by microbial iron(III)-binding ligands. Nature, v.

413, p. 409– 413, 2001.

BONNET, S.; GUIEU, C.; CHIAVERINI, J.; RAS, J.; STOCK, A. Effect of atmospheric

nutrients on the autotrophic communities in a low nutrient, low chlorophyll system.

Liminology and Oceanography, v. 50, p. 1810-1819, 2005.

BOYD, P. W.; JICKELLS, T.; LAW, C. S.; BLAIN, S.; BOYLE, E. A.; BUESSELER, K.

O.; COALE, K. H.; CULLEN, J. J.; BAAR, H. J. W. D.; FOLLOWS, M.; HARVEY, M.;

LANCELOT, C.; LEVASSEUR, M. Mesoscale Iron Enrichment Experiments 1993–

2005: Synthesis and Future Directions. Science, v. 315, p. 612-617, 2007.

BOYER, J. N.; KELBLE, C. R.; ORTNER, P. B.; RUDNICK, D. T. Phytoplankton

bloom status: Chlorophyll a biomass as an indicator of water quality condition in the

southern estuaries of Florida, USA. Ecological Indicators, v. 9, p. 56-67, 2009.

BRINDLEY, G. W.; BROWN, G. Crystal structures of clay minerals and their X-

ray identification. London: Mineralogical Society, 1980. 405 p.

BROWNING, T. J.; BOUMAN, H. A.; HENDERSON, G. M.; MATHER, T. A.; PYLE,

D. M.; SCHLOSSER, C.; WOODWARD, E. M. S.; MOORE, C. M. Strong responses

of Southern Ocean phytoplankton communities to volcanic ash. Geophysical

Research Letters, v. 41, 2014.

89

BRULAND, K. W.; DONAT, J. R.; HUTCHINS, D. A. Interactive influences of

bioactive trace metals on biological production in oceanic waters. Limnology

and Oceanography, v. 36, p. 1555-1577, 1991.

BRULAND, K. W.; FRANKS, R. P.; KNAUER, G. A.; MARTIN, J. H. Sampling and

Analytical Methods for the Determination of Cooper, Cadmium, Zinc and Nickel at the

nanogram per liter level in sea water. Analytica Chimica Acta, v. 105, p. 233-245,

1979.

CAPONE, D. G.; BURNS, J. A.; MONTOYA, J. P.; SUBRAMANIAM, A.; MAHAFFEY,

C.; GUNDERSON, T.; MICHAELS, A. F.; CARPENTER, E. J. Nitrogen fixation by

Trichodesmium spp.: An important source of new nitrogen to the tropical and

subtropical North Atlantic Ocean. Global Biogeochemical Cycles, v. 19, p. 17,

2005.

CANEIRO A.; MOGNI, L.; SERQUIS, A.; COTARO, C.; WILBERGER, D.; AYALA, C.

Análisis de cenizas volcánicas Cordón Caulle (Complejo Volcánico Puyehue-Cordón

Caulle) Erupción 4 de Junio de 2011. Informe Cenizas Volcánicas – CNEA, p. 1-7,

2011.

CLAUSTRE, H.; MOREL, A.; HOOKER, S. B.; BABIN, M.; ANTOINE, D.;

OUBELKHEIR, K.; BRICAUD, A.; LEBLANC, K.; QUE, B.; MARITORENA, S. Is

desert dust making oligotrophic waters greener? Geophysical Research Letters, v.

29, n. 10, p. 10-13, 2002.

COALE, K. H. Effects of iron, manganese, copper, and zinc enrichments on

productivity and biomass in the subarctic Pacific. Limnology and Oceanography,

v. 36, n. 8, p. 1851-1864, 1991.

COALE, K. H. et al. Southern Ocean iron enrichment experiment: carbon cycling in

high- and low-Si waters. Science, v. 304, p. 408-414, 2004.

COALE, K. H.; JOHNSON, K. S.; FITZWATER, S. E.; BLAIN, S. P. G.; STANTON, T.

P.; COLEY, T. L. IronEx-I, an in situ iron-enrichment experiment: Experimental

design, implementation and results. Deep Sea Research Part II: Topical Studies in

Oceanography, v. 45, n. 6, p. 919-945, 1998.

COALE, K. H.; JOHNSON, K. S.; FITZWATER, S. E.; GORDON, R. M.; TANNER, S.;

CHAVEZ, F. P.; FERIOLI, L.; SAKAMOTO, C.; ROGERS, P.; MILLERO, F.;

90

STEINBERG, P.; NIGHTINGALE, P.; COOPER, D.; COCHLAN, W. P.; LANDRY, M.

R.; CONSTANTINOU, J.; ROLLWAGEN, G.; TRASVINA, A.; KUDELA, R. A massive

experiment phytoplankton bloom induced by an ecosystem-scale iron fertilization

experiment in the equatorial Pacific Ocean. Nature, v. 383, p. 495-501, 1996.

CRONIN, S.; HEDLEY, M.; SMITH, G.; TURNER, M. Impacts on soil and pasture

chemical composition, in Impacts of October 1995 Ruapehu ash fall on soil fertility.

[S.l.]: Department of Soil Science and Fertilizer and Lime Research Centre, Massy

University, 1996. 33 p.

CROOT, P. L.; LAAN, P. Continuous shipboard determination of Fe(II) in polar waters

using flow injection analysis with chemiluminescence detection. Analytica Chimica

Acta, v. 466, p. 261–273, 2002.

CULLEN, J. J. The deep chlorophyll maximum: comparing vertical profiles of

chlorophyll a. Canadian Journal of Fisheries and Aquatic Sciences, v. 39, p. 791–

803, 1982.

DE BAAR, H. J. W.; BUMA, A. G. J.; NOLTING, R. F.; CADÉE, G. C.; JACQUES, G.;

TRÉGUER, P. J. On iron limitation of the Southern Ocean: experimental observations

in the Weddell and Scotia Seas. Marine Ecology Progress Series, v. 65, p. 105-

122, 1990.

DE BOYER-MONTÉGUT, C.; MADEC, G.; FISCHER, A. S.; LAZAR, A.; IUDICONE,

D. Mixed layer depth over the global ocean: An examination of profile data and a

profile-based climatology. Journal of Geophysical Research, v. 109, n. C12, 2004.

DUGGEN, S.; CROOT, P.; SCHACHT, U.; HOFFMANN, L. Subduction zone volcanic

ash can fertilize the surface ocean and stimulate phytoplankton growth : Evidence

from biogeochemical experiments and satellite data. Geophysical Research

Letters, v. 34, p. 1-5, 2007.

DUGGEN, S.; OLGUN, N.; CROOT, P.; HOFFMANN, L.; DIETZE, H.; DELMELLE,

P.; TESCHNER, C. The role of airborne volcanic ash for the surface ocean

biogeochemical iron-cycle : a review. Biogeosciences, v. 7, p. 827-844, 2009.

FROGNER, P.; GÍSLASON, S.; ÓSKARSSON, N. Fertilization Potential of Volcanic

Ash in Ocean Surface Waters. Journal of Conference Abstracts, v. 5, n. 2, p. 415,

2000.

91

FROGNER, P.; HERBERT, R.; GISLASON, S. A diverse ecosystem response to

volcanic aerosols. Chemical Geology, v. 231, p. 57-66, 2006.

FROST, B. W. Grazing control of phytoplankton stock in the open subarctic Pacific

Ocean: a model assessing the role of mesozooplankton, particularly the large

calanoid copepods Neocalanus spp. Marine Ecology – Progress Series, v. 39, p.

49-68, 1987

FROST, B. W. The role of grazing in nutrient-rich areas of the open sea. Limnology

and Oceanography, v. 36, n. 8, p. 1616-1630, 1991.

GAIERO, D. M.; PROBST, J.-L.; DEPETRIS, P. J.; BIDART, S. M.; LELEYTER, L.

Iron and other transition metals in Patagonian riverborne and windborne materials:

geochemical control and transport to the Southern Atlantic Ocean. Geochimica et

Cosmochimica Acta, v. 67, n. 19, p. 3603-3623, 2003.

GEIDER, R. J.; ROCHE, J. The role of iron in phytoplankton photosynthesis, and the

potential for iron-limitation of primary productivity in the sea. Photosynthesis

Research, v. 39, p. 275-301, 1994.

GOYNE, E. R.; CARPENTER, E. J. Production of iron binding compounds by marine

microorganisms. Limnology and Oceanography, v. 19, p. 841-842, 1974.

HAMME, R. C.; WEBLEY, P. W.; CRAWFORD, W. R.; WHITNEY, F. A.;

DEGRANDPRE, M. D.; EMERSON, S. R.; ERIKSEN, C. C.; GIESBRECHT, K. E.;

GOWER, J. F. R.; KAVANAUGH, M. T.; PEÑA, M. A.; SABINE, C. L.; BATTEN, S.

D.; COOGAN, L. A.; GRUNDLE, D. S.; LOCKWOOD, D. Volcanic ash fuels

anomalous plankton bloom in subarctic northeast Pacific. Geophysical Research

Letters, v. 37, 2010.

HELBLING, E. W.; VILLAFAÑE, V.; HOLM-HANSEN, O. Effect of iron on productivity

and size distribution of Antarctic phytoplankton. Limnology and Oceanography, v.

36, n. 8, p. 1879-1885, 1991.

HERMAN, J. R.; BHARTIA, P. K.; TORRES, O.; HSU, C.; SEFTOR, C.; CELARIER,

E. Global distribution of UV-absorbing aerosols from Nimbus 7/TOMS data. Journal

of Geophysical Research, v. 102, n. D14, p. 16911-16922, 1997.

HOFFMANN, L. J.; BREITBARTH, E.; ARDELAN, M. V.; DUGGEN, S.; OLGUN, N.;

HASSELLÖV, M.; WÄNGBERG, S. Influence of trace metal release from volcanic

92

ash on growth of Thalassiosira pseudonana and Emiliania huxleyi. Marine

Chemistry, v. 132-133, p. 28-33, 2012.

HOPKINSON, B. M.; MITCHELL, B. G.; REYNOLDS, R. A.; WANG, H.; SELPH, K.

E.; MEASURES C. I.; HEWES, C. D.; HOLM-HANSEN, O.; BARBEAU, K. A. Iron

limitation across chlorophyll gradients in the southern Drake Passage: Phytoplankton

responses to iron addition and photosynthetic indicators of iron stress. Limnology

and Oceanography, v. 52, n. 6, p. 2540-2554, 2007.

HUDSON, R. J. M.; MOREL, F. M. M. Iron transport in marine phytoplankton: kinetics

of cellular and medium coordination reactions. Limnology and Oceanography, v.

35, p. 1002-1020, 1990.

HUDSON, R. J. M.; MOREL, F. M. M. Trace metal transport by marine

microorganisms: implications of metal coordination kinetics. Deep-Sea Research I, v.

40, p.129-150, 1993.

HUOT, Y.; BABIN, M.; BRUYANT, F.; GROB, C.; TWARDOWSKI, M. S.;

CLAUSTRE, H. Does chlorophyll a provide the best index of phytoplankton biomass

for primary productivity studies? Biogeosciences Discussions, v. 4, p. 707-745,

2007.

IRIGOIEN, X.; FLYNN, K. J.; HARRIS, R. P. Phytoplankton blooms: a “loophole” in

microzooplankton grazing impact? Journal of Plankton Research, v. 27, n. 4, p.

313-321, 2005.

JIANG, M.; CHARETTE, M. A.; MEASURES, C. I.; ZHU, Y.; ZHOU, M. Seasonal

cycle of circulation in the Antarctic Peninsula and the off-shelf transport of shelf

waters into Southern Drake Passage and Scotia Sea. Deep Sea Research Part II:

Topical Studies in Oceanography, v. 90, p.1-16, 2013.

JOHNSTON, D. M. Physical and social impacts of past and future volcanic

eruptions in New Zealand. Palmerston North, 1997. 288 f. Tese (Doutorado em

Filosofia em Ciências da Terra) – Universidade de Massey, Palmerston North, Nova

Zelândia, 1997.

KLUNDER, M. B.; LAAN, P.; MIDDAG, R.; DE BAAR, H. J. W.; VAN OOIJEN, J. C.

Dissolved iron in the Southern Ocean (Atlantic sector). Deep-Sea Research II, v. 58,

p. 2678-2694, 2011.

93

LANGMANN, B.; ZAKSEK, K.; HORT, M.; DUGGEN, S. Volcanic ash as fertilizer for

the surface ocean. Atmospheric Chemistry and Physics, v. 10, p. 3891-3899,

2010.

LIMA, Alexandre Castagna Mourão e. A influência da deposição atmosférica de

poeira mineral da Patagônia na biomassa fitoplanctônica do setor Atlântico do

Oceano Austral. Rio de Janeiro, 2013. 128 f. Dissertação (Mestrado em Ecologia e

Evolução) – Instituto de Biologia Roberto Alcântara Gomes, Universidade do Estado

do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2013.

LIMA, E. F.; SOMMER, C. A.; SILVA, I. M. C.; NETTO, A. P.; LINDENBERG, M.;

ALVES, R. C. M. Mofologia e química de cinzas do vulcão Puyehue depositadas na

região metropolitana de Porto Alegre em junho de 2011. Revista Brasileira de

Geociências, v. 42, n. 2, p. 265-280, 2012.

LIN, I.; LI, Y.-LLUI; HO, T.-YUAN; FISCHER, T. P.; CHEN, J.-PING. Fertilization

potential of volcanic dust in the low-nutrient low-chlorophyll western North Pacific

subtropical gyre: Satellite evidence and laboratory study. Global Biogeochemical

Cycles, v. 25, n. 1, p. 5-17, 2011.

LIU, X.; MILLERO, F. J. The solubility of iron in seawater. Marine Chemistry, v. 77,

p. 43-54, 2002.

MAHOWALD, N. M.; BAKER, A. R.; BERGAMETTI, G.; BROOKS, N.; DUCE, R. A.;

JICKELLS, T. D.; KUBILAY, N.; PROSPERO J. M.; TEGEN, I. Atmospheric global

dust cycle and iron inputs to the ocean. Global Biogeochemical Cycles, v. 19, n. 4,

2005.

MARTIN, J. H.; FITZWATER, S. E. Iron deficiency limits phytoplankton growth in the

north-east Pacific subarctic. Nature, v. 331, p. 341-343, 1988.

MARTIN, J. H.; FITZWATER, S. E.; GORDON, R. M. Iron deficiency limits

phytoplankton growth in Antarctic waters. Global Biogeochemical Cycles, v. 4, p. 5-

12, 1990.

MARTIN, J. H.; GORDON, R. M.; FITZWATER, S. E. The case for iron. Limnology

and Oceanography, v. 36, p. 1793-1802, 1991.

94

MARTIN, J. H.; GORDON, R. M.; FITZWATER, S. E.; BROENKOW, W. W. VERTEX:

phytoplankton/iron studies in the Gulf of Alaska. Deep Sea Research Part A:

Oceanographic Research Papers, v. 36, n. 5, p. 649-680, 1989.

MENZEL, D. W.; RYTHER, J. H. Nutrients limiting the production of phytoplankton in

the Sargasso Sea, with special reference to iron. Deep Sea Research, v. 7, p. 276-

281, 1961.

MESKHIDZE, N.; NENES, A.; CHAMEIDES, W. L.; LUO, C.; MAHOWALD, N.

Atlantic Southern Ocean productivity: Fertilization from above or below? Global

Biogeochemical Cycles, v. 21, n. 2, 2007.

MIDDAG, R.; DE BAAR, H. J. W.; KLUNDER, M. B.; LAAN, P. Fluxes of dissolved

aluminum and manganese to the Weddell Sea and indications for manganese co-

limitation. Limnology and Oceanography v. 58, p. 287-300, 2013.

MIDDAG, R.; DE BAAR, H. J. W.; LAAN, P.; HUHN, O. The effects of continental

margins and water mass circulation on the distribution of dissolved aluminum and

manganese in Drake Passage. Journal of Geophysical Research, v. 117, 2012.

MITCHELL, B. G.; BRODY, E. A.; HOLM-HANSEN, O.; MCCLAIN, C.; BISHOP, J.

Light limitation of phytoplankton biomass and macronutrient utilization in the

Southern Ocean. Limnology and Oceanography, v. 36, p. 1662-1677, 1991.

MOREL, A.; PRIEUR, L. Analysis of variations in ocean color. Limnology and

Oceanography, v. 22, p. 709-722, 1977.

MOREL, F. M. M.; RUETER, J. G.; PRICE, N. M. Iron nutrition of phytoplankton and

its possible importance in the ecology of ocean regions with high nutrient and low

biomass. Oceanography, v. 4, p. 56-61, 1991.

NOLTING, R. F.; DE BAAR, H. J. W.; VAN BENNEKOM, A. J.; MASSON, A.

Cadmium, copper and iron in the Scotia Sea, Weddell Sea and Weddell/Scotia

Confluence (Antarctica). Marine Chemistry, v. 35, p. 219-243, 1991.

OLGUN, N.; DUGGEN, S.; ANDRONICO, D.; KUTTEROLF, S.; CROOT, P.;

GIAMMANCO, S.; CENSI, P.; RANDAZZO, L. Possible impacts of volcanic ash

emissions of Mount Etna on the primary productivity in the oligotrophic Mediterranean

Sea: Results from nutrient-release experiments in seawater. Marine Chemistry, v.

152, p. 32–42, 2013.

95

OLGUN, N.; DUGGEN, S.; CROOT, P. L.; DELMELLE, P.; DIETZE, H.; SCHACHT,

U.; ÓKARSSON, N.; SIEBE, C.; AUER, A.; GARBE-SCHÖNBERG, D. Surface ocean

iron fertilization: The role of airbone volcanic ash from subduction zone and hot spot

volcanoes and related iron fluxes into the Pacific Ocean. Global Biogeochemical

Cycles, v. 25, p. 1- 15, 2011.

PEERS, G.; PRICE, N. M. A role for manganese in superoxide dismutases and

growth of iron-deficient diatoms. Limnology and Oceanography, v. 49, p. 1774–

1783, 2004.

REID, R. T.; BUTLER, A.. Investigation of the mechanism of iron acquisition by the

marine bacterium Alteromonas luteoviolaceus: Characterization of siderophore

production. Limnology and Oceanography, v. 36, n. 8, p. 1783–1792, 1991.

RITCHIE, R. J. Universal chlorophyll equations for estimating chlorophylls a, b, c, and

d and total chlorophylls in natural assemblages of photosynthetic organisms using

acetone, methanol, ou etanol solvents. Photosynthetica, v. 46, n. 1, p. 115-126,

2008.

SARNA-WOJCICKI, A. M.; SHIPLEY, S.; WAITT, R. B.; DZURISIN, D.; WOOD, S. H.

Areal distribution, thickness, mass, volume, and grain size of air-fall ash from six

major eruptions of 1980. In: LIPMAN, Peter W.; MULLINEAUX, Donal R. (Eds.). The

1980 eruptions of Mount St. Helens, Washington. [S.l.]: U.S. Geological Survey,

1981. p. 577-600. (Professional Paper, 1250).

SCHAREK, R.; VAN LEEUWE, M. A.; DE BAAR, H. J. W. Responses of Antarctic

Ocean phytoplankton to the addition of trace metals. Deep-Sea Research II, v. 44, p.

209–227, 1997.

SERVICIO NACIONAL DE GEOLOGÍA Y MINERÍA – SERNAGEOMIN.

Observatorio Volcanológico de los Andes del Sur – OVDAS, Red Nacional de

Vigilancia Volcánica – RNVV. Chile, 2011. (Reporte Especial de Actividad

Volcánica, N° 28)

SHILLER, A. M. Manganese in surface waters of the Atlantic Ocean. Geophysical

Research Letters, v. 24, n. 12, p. 1495-1498, 1997.

SHIPLEY, S.; SARNA-WOJCICKI, A. M. Distribution, thickness, and mass of Late

Pleistocene and Holocene tephra from major volcanoes in the northwestern

United States: a preliminary assessment of hazards from volcanic ejecta to

96

Nuclear reactors in the Pacific Northwest. [S.l.]: U.S. Geological Survey, 1982.

(Miscellaneous Field Studies, Map MF-1435).

STATHAM, P. J.; YEATS, P. A.; LANDING, W. M. Manganese in the eastern Atlantic

Ocean: processes influencing deep and surface water distributions. Marine

Chemistry, v. 61, n. 1-2, p. 55-68, 1998.

STEELE, J. H. Environmental control of photosynthesis in the sea. Limnology and

Oceanography, v. 7, p. 137–150, 1962.

SUNDA, W. G. Trace metal interactions with marine phytoplankton. Biology and

Oceanography, v. 6, p. 411-442, 1988.

SUNDA W. G.; SWIFT, D. G.; HUNTSMAN, S. A. Low iron requirement for growth in

oceanic phytoplankton. Nature, v. 351, p. 55-57, 1991.

TORRES, O.; TANSKANEN, A.; VEIHELMANN, B.; AHN, C.; BRAAK, R.; BHARTIA,

P. K.; VEEFKIND, P.; LEVELT, P. Aerosols and surface UV products from Ozone

Monitoring Instrument observations: An overview. Journal of Geophysical

Research, v.112, p. 1-14, 2007.

VAN LEEUWE, M. A.; SCHAREK, R.; DE BAAR, H. J. W.; DE JONG, J. T. M.;

GOEYENS, L. Iron enrichment experiments in the Southern Ocean: physiological

responses of plankton communities. Deep Sea Research Part II: Topical Studies in

Oceanography, v. 44, p. 189-207, 1997.

WATSON, A. J. Volcanic iron, CO2, ocean productivity and climate. Nature, v. 385, p.

587-588, 1997.

WATSON, A. J.; LEFÈVRE, N. The sensitivity of atmospheric CO2 concentrations to

input of iron to the oceans. Tellus B, v. 51, p. 453-460, 1999.

ZHOU, M.; ZHU, Y.; DORLAND, R. D.; MEASURES, C. I. Dynamics of the current

system in the southern Drake Passage. Deep Sea Research Part I: Oceanographic

Research Papers, v. 57, p. 1039-1048, 2010.

97

8 ANEXO

CÁLCULO DA CONCENTRAÇÃO DE CINZAS DEPOSITADAS NO OCEANO

- Considerando um aporte de cinzas de 1.000 mg m-2:

çã

Massa de cinzas em um recipiente de 20 L: 200

- Considerando um aporte de cinzas de 10.000 mg m-2:

Massa de cinzas em um recipiente de 20 L: 2.000

- Considerando um aporte de cinzas de 100.000 mg m-2:

Massa de cinzas em um recipiente de 20 L: 20.000