70
INTERAÇÕES Revista Internacional de Desenvolvimento Local Universidade Católica Dom Bosco Instituição Universitária Salesiana V. 1 N. 2 Março 2001

INTERAÇÕES - site.ucdb.br · constata-se a criação ou o reforço dos blocos econômicos, inicial e, freqüentemente, sob forma de mercados comuns, evoluindo, em seguida, rumo

Embed Size (px)

Citation preview

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local

Universidade Católica Dom BoscoInstituição Universitária Salesiana

V. 1 N. 2 Março 2001

ReitorPe. José Marinoni

Pró-Reitor AcadêmicoPe. Arlindo Pereira de LimaPró-Reitor Administrativo

Pe. Giulio BoffiPró-Reitor Comunitário

Pe. Osvaldo Scotti

Editora da Universidade Católica Dom BoscoAv. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário79117-900 Campo Grande-MSFone: (0**67) 312-3373 Fax: (0**67) 312-3302e-mail: [email protected]çãoHeitor Romero Marques

U n i v e r s i d a d e C a t ó l i c a D o m B o s c o

Conselho Editorial

Adyr Balastreri Rodrigues (USP)Alberto Palombo (Florida Atlantic University)

Alicia Rivero-Iwasita (SERCAL)Amália Ines Geraiges de Lemos (USP)

Aurora García Ballesteros (Universidad Complutense de Madrid)Cezar Augusto Benevides (UFMS)

Doris Morales Alarcón (Pontificia Universidad Javeriana)Dorivaldo Walmor Poletto (PUCRS)

Emiko Kawakami Rezende (EMBRAPA)Everson Alves Miranda (UNICAMP)

Javier Gutiérrez Puebla (Universidad Complutense de Madrid)José Carpio Martín (Universidad Complutense de Madrid)

Leila Christina Dias (UFSC)Marcel Bursztyn (UNB)

Maria Adélia Aparecida de Souza (UNICAMP)Maria do Carmo Zinato (Florida Center for Environmental Studies)

Maria Helena Vallon (UFMS)Maria Encarnação Beltrão Sposito (UNESP)

Marília Luiza Peluso (UNB)Mário Cézar Leite (UFMT)

Marisa Bittar (UFSCar)Maurides Batista de Macedo Filha Oliveira (UCG)

Michel Rochefort (IFU - Université de Paris VIII)Miguel Ángel Troitiño Vinuesa (Univ. Complutense de Madrid)

Miguel Panadero Moya (Universidad de Castilla - La Mancha)Milton Santos (USP)

Nilo Odalia (UNESP)Ricardo Mendes Gutiérrez del Valle (Univ. Complutense de Madrid)

Rosa Esther Rossini (USP)Sérgio Granemann (UCB)

Tito Carlos Machado de Oliveira (UFMS)

I N T E R A Ç Õ E SRevista Internacional de Desenvolvimento Local

Conselho de RedaçãoCleonice Alexandre Le BourlegatEmília Mariko KashimotoLúcia Salsa CorrêaMarcelo MarinhoRegina Sueiro de FigueiredoEditor ResponsávelMarcelo MarinhoCoordenação da Edição EletrônicaGerson Luiz MartinsCoordenação de EditoraçãoEreni dos Santos BenvenutiEditoração EletrônicaRosilange de AlmeidaLuís Alexandre Maciel (assistente)AbstractsBarbara Ann NewmanResúmenesGabriela Isla Villar MartinsRevisão de TextoOs próprios autoresCapaMarcelo Marinho (projeto)Adriana Rímoli (foto)Tiragem1000 exemplaresDistribuiçãoBibliotecas universitárias

Cecilia LunaBibliotecária - CRB n. 1/1.201

Interações. Revista Internacional de Desenvolvimento Local,n. 2 (Março 2001). Campo Grande : UCDB, 2001.70 p. V. 1ISSN 1518-7012Semestral1. Desenvolvimento Local.

Publicação do Programa Desenvolvimento Local da Universidade Católica Dom Bosco. Revista indexada emGeoDados, Indexador de Geografia e Ciências Sociais.

Universidade Estadual de Maringá - DGE (www.dge.uem.br/geodados)

Neste número de Interações, RevistaInternacional de Desenvolvimento Local,busca-se avançar em direção a novas reflexõesno âmbito das mudanças ocorridas nas escalasglobal e local. Desse modo, sublinha-se omovimento dialético - cada vez mais signifi-cativo para a compreeensão dos fenômenossócio-econômicos que abalam o planeta - entreesses dois níveis de organização das interaçõessociais no mundo de hoje. O movimento, comose poderá avaliar, implica em reestruturaçõesde escalas espaciais no planeta, conseqüênciada rápida evolução dos meios de transporte ede comunicação, assim como de produção debens e serviços. Nesse contexto, as tecnologiasde informação e comunicação tornam-seinstrumentos de organização da sociedade ede conformação dos territórios em rede.

Entretanto, uma maior conectividadeentre os lugares do planeta, ao conformar redesde cooperação, tende a fortalecer unidadesterritoriais na escala local, enquanto osprotagonistas dos novos espaços associativosinformacionais organizam processos de comu-nicação política, estabelecendo reformulaçõesespaciais que decorrem em meio a tensões devárias naturezas.

Assim, um dos focos de reflexão apon-tados neste número da revista está na questãodos desafios enfrentados pela democracia nassociedades modernas, cuja conseqüência é aemergência da necessidade de reflexões emtorno da noção de cidadania e de sua açãosobre operações democráticas de organizaçãosocial e de desenvolvimento endógeno.

As estratégias de desenvolvimento, poroutro lado, redimensionam-se territorialmentee reformulam-se como práxis. No local, as co-munidades desenvolvem a aguda percepçãoda necessidade premente de tornarem-se agen-tes de seu próprio desenvolvimento, por inter-médio do fortalecimento, no espaço contíguo,de relações sociais de caráter primário e, noespaço em rede, de relações de caráter secun-dário. A solidariedade, ao se estabelecer comoforça sinérgica, é repensada como estratégiade planificação do espaço construído, com o

objetivo de satisfazer as necessidades funda-mentais dos segmentos sociais de baixa ren-da, a exemplo da moradia, da infraestrutura edos serviços básicos.

Por outro viés, a endogeneização daspotencialidades da consciência coletiva brota-das a partir do território vivido também setransforma em força humana de desenvol-vimento, no sentido de incentivar e aplicarnovas descobertas, com base na valorização derecursos naturais internos e com amparo nosavanços do saber técnico-científico. O leitorpoderá avaliar, através das leituras, experi-ências apontadas nesse sentido, como aquelasrelacionadas aos recursos auxiliares vegetaisque favorecem o desenvolvimento de ativi-dades rurais. Os princípios ativos de certasplantas, a exemplo daquelas com proprieda-des inseticidas, ou o melhoramento e a con-servação genética, como no caso das seringuei-ras no estado de São Paulo, tornam-se algunsdesses objetos de estudo com vistas à melhoriadas condições de vida de populações rurais.

No espírito das reflexões desenvolvidasem Interações, analisa-se, por fim, a precáriasituação de comunidades indígenas - de gran-de expressão numérica - confinadas em exí-guos territórios, espaços demasiadamente re-duzidos para o prosseguimento de sua práxiscultural tradicional. Tais são as condições emque transcorre a difícil experiência dos Guaranie dos Kaiowá. Todavia, ainda que em confron-to com problemas das mais diversas origens,tais comunidades buscam se organizar comoforças sociais para o agenciamento e a gestãode seu próprio desenvolvimento.

* * *Os pesquisadores empenhados em refle-

xões sobre o Desenvolvimento Local são no-vamente convidados a enviar seus trabalhos àInterações, cuja indexação inicial encontra-se acargo de GeoDados, indexador da Universi-dade Estadual de Maringá. Ensejemos encon-trar soluções viáveis, em âmbito local, paraalgumas das inúmeras questões que afligem,em escala global, larga parcela da populaçãomundial.

Editorial

Artigos

A recomposição dos espaços .......................................................................................................... 7Georges Benko

Las Tecnologías de Información y Comunicación (TIC) en el Desarrollo Local:gobierno electrónico y redes ciudadanas .................................................................................... 13Susana Finquelievich, Pablo Baumann e Alejandra Jara

Democracia Representativa y Democracia Participativa ........................................................... 27Antonio Elizalde

Asentamientos Humanos y Desarrollo Local ............................................................................. 37Alicia Rivero-Iwasita

Utilização de plantas com propriedades inseticidas: uma contribuição para oDesenvolvimento Rural Sustentável ........................................................................................... 43Antonia Railda Roel

Melhoramento e conservação genética aplicados ao Desenvolvimento Local –o caso da seringueira (Hevea sp) ................................................................................................... 51Reginaldo Brito da Costa, Paulo de Souza Gonçalves, Adriana Odalia-Rímoli eEduardo José de Arruda

Desenvolvimento Local em comunidades indígenas no Mato Grosso do Sul:a construção de alternativas ......................................................................................................... 59Antônio Brand

Índice

A recomposição dos espaçosThe recomposition of spaces

La recomposición de los espaciosGeorges Benko

Universidade de Paris I – Panthéon-Sorbonne / CEMI-EHESS

Resumo: As últimas décadas do século XX foram marcadas por uma nova reestruturação das escalas espaciais noplaneta, numa recomposição provocada pela rápida evolução dos meios de transporte, de comunicação e de produçãode bens e serviços. A esse processo dá-se o nome, no presente artigo, de “deslizamento de escala”. No patamarsuperior, criam-se ou fortalecem-se os blocos econômicos, tomando o aspecto inicial de mercados comuns e rumando,posteriormente, à organização em espaços política e economicamente unidos como é o caso da Europa; o patamarinferior da escala caracteriza-se pelo reforço das unidades territoriais em nível regional. Este artigo discute algumasdas tensões decorrentes do “deslizamento de escala”.Palavras-chave: Globalização; Desenvolvimento Local; Escalas espaciais.Abstract: The final decades of the 20th century were marked by a new restructuring of space scales on the planet, ina rearrangement provoked by a rapid evolution of, communication, means of transport and the production of goodsand services. This process, in this article is named, “scale sliding”. At the highest level, the economic blocks are createdor strengthened, taking on the appearance, initially, of common markets and, afterwards, going in the direction of theorganisation of spaces politically and economically united, as is the case in Europe; the lowest level of the scales ischaracterised by reinforcing territorial units at regional level. This article discusses the tensions resulting from this“scale sliding”.Key Words: Globalization; Local Development; Space scales.Resumen: Las últimas décadas del siglo XX fueron marcadas por una nueva reestructuración de las escalas espacialesen el planeta, en una recomposición provocada por la rápida evolución de los medios de transporte, de comunicacióny de producción de bienes y servicios. A ese proceso se le llama, en este artículo, de “deslizamiento de escala”. En elnivel superior, se crean o fortalecen los bloques económicos, tomando el aspecto inicial de mercados comunes etendiendo, posteriormente, a la organización en espacios política y económicamente unidos como es el caso deEuropa; el nivel inferior de la escala se caracteriza por el refuerzo de las unidades territoriales a nivel regional. Esteartículo discute algunas de las tensiones resultantes del “deslizamiento de escala”.Palabras claves: Globalización; Desarrollo local; Escalas espaciales.

O fim da geografia?

Nós passamos, ao longo do últimoquarto do século XX, de um sistema econô-mico internacional a um sistema econômicoglobal. Trata-se de uma importante mutaçãogeopolítica das condições de produção, decompetição e de interdependência. O antigoregime internacional era caracterizado pelasoberania dos estados, a quem competiadefinir, entre outros, suas políticas monetá-rias e alfandegárias. A ordem que substituiaquela é uma ordem global difusa na qualas relações entre os estados diluem-se, emuma certa medida, ao proveito das conexõesentre economias regionais afastadas, ligadasentre elas por intercâmbios complexos feitosde competição e de colaboração.

Vários analistas, ao observarem o cres-cimento do intercâmbio em escala mundialem todos os domínios nessas duas últimasdécadas, aventaram a hipótese de que o fimda geografia está próximo (O’Brien, 1992),assim como outros haviam previsto o fim dahistória (F. Fukuyama), o fim do trabalho (J.Rifkin), o fim dos territórios (B. Badie) ou,ainda, o fim dos estados-nação (K. Ohmae).De maneira indiscutível, a mundialização da

A recomposição dos espaços: odeslizamento da escala

Nas duas últimas décadas, os obser-vadores – economistas, geógrafos, cientistaspolíticos – seguem a tendência de chamarnossa atenção sobre uma mudança, dedimensões consideráveis, que eu qualificocomo um “deslizamento de escala”. Trata-se de uma recomposição dos espaços: osespaços clássicos – nos quais os sistemaseconômico, social e político evoluírampraticamente ao longo de todo o século –estão se deslocando ao mesmo tempo paracima e para baixo. Na escala superior,constata-se a criação ou o reforço dos blocoseconômicos, inicial e, freqüentemente, sobforma de mercados comuns, evoluindo, emseguida, rumo a espaços política e economi-camente unidos como é o caso da Europa; odeslocamento rumo ao patamar inferior daescala caracteriza-se pelo reforço dasunidades territoriais em nível regional. Onosso planeta tem assim quatro níveisespaciais pertinentes de análise: o mundial,o supra-nacional (blocos econômicos), onacional (estados-nação) e o regional (localou infranacional).

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 1, N. 2, p. 7-12, Mar. 2001.

Contato: [email protected]

8 Georges Benko

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 1, N. 2, Mar. 2001.

economia, sustentada pelas novas tecno-logias da informação e da comunicação,assim como pelos transportes de altavelocidade, modifica as escalas territoriais ou,pelo menos, nossas relações ao espaço.

Essa abertura econômica recente émensurável por intermédio do crescimentodo comércio exterior. Em 1965, as expor-tações mundiais de bens representavam 6%do PIB mundial, e as importações 6,3%; em1998, respectivamente 16,3% e 16%, segun-do dados da ONU. Esses números são defini-dos em relacão ao PIB que, ele próprio,cresceu significativamente em termos abso-lutos ao longo do mesmo período. É igual-mente necessário observar que o comérciointernacional de serviços teve um cresci-mento ainda mais rápido que aquele de bens.Em termos absolutos, nós não estamos longede uma multiplicação por dez.

Contrariamente às hipóteses aventa-das por muitos, o encolhimento do mundorevitaliza a geografia. Os efeitos de distânciaexercem uma influência considerável sobreas estruturação das relações econômicas esociais. É claro que o tempo das Nações nãoterminou, e os Estados continuam exercendoum papel crucial em muitas áreas (notada-mente na formação, nos equipamentos, nostransportes, etc.); mas, preso entre a dimen-são local e a global, seu lugar na economiafoi redefinido. Assiste-se, por um lado, a ummovimento de internacionalização da ativi-dade econômica em um mundo cada vezmais destituído de fronteiras reais, a tal pontoque alguns não hesitam em aventar tambéma hipótese de um iminente desaparecimentodo Estado soberano clássico, fundado sobrea noção de território, um dos três elementosconstitutivos do Estado em direito interna-cional, ao lado do governo e da população;por outro lado, sublinha-se a intensificaçãodo crescimento econômico de um certonúmero de regiões, reconhecidas como osmotores da prosperidade mundial, e que dãoorigem a uma recomposição da hierarquiados espaços produtivos. Essas regiões são,principalmente, metropolitanas.

Tais noções podem se sustentar a par-tir de alguns dados inquestionáveis: o pro-duto da aglomeração de Tóquio é o dobrodaquele do Brasil, o produto de Chicagoequivale àquele do México (concentrado

majoritariamente na cidade do México) ou,ainda, o produto de Osaka excede em 25%àquele da Índia, e o de Seul é superior àqueleda Indonésia. Globalização não significa,portanto, homogeneização do espaçomundial, mas, ao contrário, diferenciação eespecialização. Grandes polos se constituí-ram, formando uma economia em oásis, ouseja, uma rede de regiões mais dinâmicas,que deixam atrás de si o restante do mundo.Pierre Veltz (1996) observa o crescimento depequenas Nações, por vezes de Cidades-Estado, na hierarquia dos territórios prós-peros, visto que tais regiões demonstramuma melhor reatividade que os grandesEstados, e que essas regiões dispõem dasmesmas vantagens de acesso aos mercados.

As regiões, ou melhor, os territórios,tornaram-se, dessa maneira, fontes de vanta-gens concorrenciais. Ao longo dos anos 70 e80, os Estados viram agravar-se seus déficitspúblicos, fato que os incitou a conduzirpolíticas de descentralização. A gestão deinúmeros bens coletivos locais, tais como aeducação, a formação, as infraestruturas detransportes, as ajudas sociais foram, a partirde então e com freqüência, regionalizados.Foi a ocasião de descobrir que a densidadedas relações entre os atores locais (empresas,universidades, coletividades territoriais,sindicatos, etc.) pode exercer um papel deter-minante na competitividade das atividadeseconômicas.

Os distritos industriais – um conceitointroduzido no início do século XX peloeconomista britânico Alfred Marshall – estão,doravante, de retorno, tanto no campo deatividades quanto no de análises. Esses locaistêm uma característica interna, uma perso-nalidade regional, como dizia Vidal de laBlache, um dos pais da geografia francesa.A especificidade dos distritos industriaisdecorre de uma capacidade, no mais dasvezes herdada de uma cultura antiga, emnegociar modos de cooperação entre capitale trabalho, entre grandes empresas e forne-cedores de produtos intermediários, entreadministração pública e sociedade civil, entrebancos e indústria, etc. Como observa oeconomista Alain Lipietz, em Emília Romana(Itália) ou no Bade-Wurtenberg (Alemanha),dois polos de crescimento econômico, aestratégia do Partido Comunista ou da

9A recomposição dos espaços

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 1, N. 2, Mar. 2001.

Democracia Cristã consistiu em procurarum melhor compromisso social lá onde fossepossível nogociá-lo, ou seja, em âmbito local:os altos salários, o melhoramento dascondições de vida, a qualificação da mão deobra são a contrapartida à elevada compe-titividade das empresas dessas regiões.

As políticas de organização do terri-tório, tarefa do poder central até os anos 80,também foram delegadas às coletividadesterritoriais. O desenvolvimento local subs-titui, doravante, o desenvolvimento coman-dado por cima, estatizado e centralizador,que caracterizou, na França pós-Guerra, os“trinta anos gloriosos”. Nesse país, o períodofoi o da redistribuição (a política do guichê,das ajudas e da instalação de equipamentos);hoje em dia, é o período dos projetos: “ajude-se, o Estado o ajudará”. “Não há territóriosem crise, há somente territórios semprojetos”, declarava, já em 1997, o ministrofrancês da organização do território.

Essa perspectiva tornou-se obrigatóriatanto em economia quanto em política. Aconsideração dos fatores locais nas dinâmi-cas econômicas aparece hoje como umaevidência e uma necessidade rigorosas.Trata-se, afinal de contas, de uma preocu-pação relativamente recente, que abre a viarumo à diversificação das políticas econô-micas, sociais e culturais. Os problemasatuais ligados ao “Projeto Corso” são origi-nários da mesma família de reflexões. E nãose trata de um problema exclusivamentefrancês: uma certa aspiração à autonomia émuito sensível também no Reino Unido, porexemplo, no que se refere à Escócia ou aoPaís de Gales.

Muito se escreveu também sobre anova geopolítica de produção que começoua se cristalizar em torno dos vínculos entreos dois níveis espaciais de atividades econô-micas – o local e o global. Na competiçãomundializada, as regiões e as localidadesencontram-se, doravante, em situação deconcorrência, mas esta última pode seranalisada em dois planos distintos. Oprimeiro é aquele definido pelo controle doscustos e da otimização dos fatores de produ-ção. Os custos da mão-de-obra, os preços daenergia, os juros e a fiscalidade são variáveisque, para um grande número de produções,torna as regiões indiferenciadas aos olhos

dos investidores. Pouco importa que umbrinquedo seja oriundo de uma “montadora-maquiadora” na fronteira mexicana ou deuma zona econômica especial chinesa, poissomente os custos entram na linha de conta.Em compensação, as especifividades territo-riais têm enorme importância em outrosdomínios econômicos. Nesse caso, as diferen-tes regiões não são nem um pouco intercam-biáveis entre si. Uma diferenciação duráveldos territórios, ou seja, uma diferenciaçãonão suscetível de ser colocada em causa pelamobilidade dos fatores de produção, somen-te pode decorrer de uma especificidade dosterritórios reconhecida como tal. Mesmo quese produzam excelentes vinhos espumantesna Califórnia, o champanhe não é umproduto deslocalizável. Seu valor, comoaquele de outras produções, está ancoradoem um território, ele é o resultado daquiloque os geógrafos chamam um “meio”. Essemeio é criado em diversos domínios deprodução: na informática, por exemplo, há,para os Estados Unidos, o Vale do Siliconeou a Rota 128 (perto de Boston); para aFrança, há Sofia-Antipólis, Grenoble ouToulouse. O bairro do Sentier, em Paris,continua a atrair o prêt-à-porter, e o quar-teirão da rua Faubourg Saint-Honoré tem naalta costura a sua especificidade. Os exem-plos são múltiplos quando os fatores decisivosde localização estão fora do mercado (nãosão quantificáveis), e os elementos qualita-tivos de um lugar são os que determinam asescolhas das empresas. A diferença é umavantagem comparativa. Aquilo que se chama“atmosfera industrial”, segundo Marshall,está presente em todos os lugares, em cadaterritório.

Nosso mundo global é assim ummosaico composto de uma miríade deregiões, de localidades, de países, que nãosão, necessariamente, equivalentes. A“glocalização”, neologismo forjado paradesignar a articulação expandida dos terri-tórios locais em relação a economia mundial,sublinha a persistência de uma inscriçãoespacial dos fenômenos econômicos, sociaise culturais. Contrariamente aos maissombrios prognósticos, os territórios – comsuas especificidades – não foram apagadossob os fluxos econômicos da mundialização.

10 Georges Benko

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 1, N. 2, Mar. 2001.

Um sistema triádico

Um novo mapa mundial da economiafoi desenhado. Os espaços mais desenvol-vidos do mundo estabeleceram-se sob aforma de um sistema de economias regionaispolarizadas, construídas em torno de zonasmetropolitanas centrais ou sob forma deregiões megalopolitanas como a Randstaadholandesa, como a fachada atlântica dosEstados Unidos, que vai de Boston àFiladélfia, ou, ainda, como a megalópolejaponesa. Nesse mundo, dividido em tríades,constituem o centro nervoso do sistemamundial contemporâneo a Europa, aAmérica do Norte e o Japão, tríade comple-tada por espaços anexos que correspondem,de maneira esquemática, à África, à Américalatina e a uma parte da Ásia. Essa ossaturade base é mantida por vínculos comerciais epelos fluxos de investimentos.

Uma ordem social hierarquizada tomaassento em três níveis, uma estruturabaseada numa divisão tanto espacial quantosocial. Essa divisão é ajudada pela rápidaevolução tecnológica. No plano espacial,distinguem-se os líderes mundiais muitodesenvolvidos (em termos técnicos e econô-micos), os espaços recentemente industria-lizados (marcados por uma renda média epor uma fase tradicional de desenvolvi-mento) e os espaços subdesenvolvidos.

Mas essa tendência de abertura ou dedesaparecimento das fronteiras entre aseconomias nacionais nos conduz em direçãoa um único sistema econômico de integraçãoglobal. A questão da regulação de um grandenúmero de problemas coloca-se nessemomento. A única instituição internacionalque se assemelha a uma estrutura governa-mental é a ONU, marcada por inúmerasdificuldades em gerir o grande número dedistintas situações no mundo. Diante dacomplexidade dos problemas (econômicos,sociais, políticos e culturais), diferentes tiposde instituições multiplicaram-se desde osanos 60. Algumas são muito conhecidas, poissuas ações são acompanhadas pela mídia;contudo, a grande maioria trabalha de umamaneira mais discreta sobre inúmerospontos de detalhe que é preciso coordenarou definir. Entre as instituições mais em vista,encontram-se a ONU, a UNESCO, a OCDE,

a CNUCDE, o FMI, o BIT, a FAO, o BancoMundial, a OMC,ou as reuniões como o G7ou Davos. Todavia, segundo as estatísticasdo Livro anual de associações internacionaiseditado em Munique, foram recenseados, em1998, mais de 5.600 associações internacio-nais e intergovernamentais, e quase 32.000associações internacionais não governa-mentais, ou seja, houve uma multiplicaçãonumérica da ordem de 25 vezes, desde 1960.Essas ONGs cobrem um leque muito amplode atividades e interesses, indo da saúde àecologia ou dos direitos cívicos às questõesde desenvolvimento.

No mundo das relações sociais, anoção de “estruturação em tríade” tambémé aplicável, mas sob bases diferentes. Asnovas tecnologias conduzem a dois fenôme-nos contraditórios: por um lado, a globali-zação, ou seja, a interdependência no tempoe no espaço (aquilo que Jacques Attali chamade “conectividade”); por outro lado, asolidão. Esses fenômenos não são incompa-tíveis. Torna-se cada vez mais interdepen-dente, mas, também, cada vez mas solitárionessa interdependência. Nós estamos em ummundo de “comunicação solitária” (Benko,1988). Pode-se dizer que mundialização éuma justaposição de solidões conectadas.

No plano da organização social, atecnologia vai dividir a sociedade em trêsgrupos sociais. Primeiramente, um grupocomposto de várias dezenas de milhões depessoas que dispões de meios de acesso aredes e à criação, pessoas que fabricam emanipulam as informações. Diante dessegrupo, os nômades da miséria, na parteinferior da escala social, que se submetem àstecnologias e são obrigados a oferecer umagrande mobilidade para encontrar trabalhoou para sobreviver, em um grupo formadopor aproximadamente um quarto dapopulação mundial. Em terceiro lugar, umaenorme classe média, com esperança deagrupar-se à hiper-classe, mas receandoescorregar rumo à pobreza e ao nomadismoplanetário. Uma “sociedade afunilada emrelógio de areia” está nascendo, conformedescreve Alain Lipietz. Essa classe médiaviverá cada vez mais no espetáculo fornecidopelos novos meios de comunicação; aseconomias culturais tornam-se as atividadesde maior importância social (festas, esportes,

11A recomposição dos espaços

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 1, N. 2, Mar. 2001.

jogos, lazer, viagens – tanto no espaço quantonas drogas). Para manter a ordem social,essas distrações são necessárias, visto que elasfazem esquecer a reversibilidade (ou ainstabilidade) das trajetórias individuais e aprecariedade, que se tornam regra geral.

Em conclusão, podem-se citar doisantigos Chefes de Estado franceses, Charlesde Gaulle que dizia: “O esforço multisecularque foi durante muito tempo necessário aonosso país para a manutenção de suaunidade, malgrado as divergências dasprovíncias que lhe foram sucessivamenteagregadas, doravante não se impõe mais. Aucontrário, são as atividades regionais queaparecem como a mola propulsora de suapotência econômica de amanhã”. A visão deFrançois Mitterand, expressa em 1981, ésimilar: “A França teve necessidade de umpoder forte e centralizado para se construir.Ela tem necessidade, hoje, de um poderdescentralizado para não se descontruir”.

Desde um período recente, assiste-se auma nova configuração das entidadesterritorias. As uniões econômicas e as regiõestornaram-se conjuntos econômicos epolíticos de pleno direito, por intermédio daedificação de uma nova estrutura da ordemcoletiva. Essa situação requisita um novomodo de governança. Na Europa, asreformas institucionais estão em marcha.Penso que, no plano regional, o reforço e aformalização de novas estruturas de gover-nança econômica são, certamente, possíveisa médio prazo, e não apenas unicamente naFrança. As regiões são coletividades deatividades interdependentes, cujos interesseseconômicos são melhores realizados quandoas formas institucionais de gestão e decoodenação locais estão em funcionamento.Os espaços regionais estão, igualmente, cadavez mais vulneráveis na competição e natensão mundiais. Os Estados nacionaisencontram-se tenazmente presos entre entrea constituição de grandes conjuntos econô-micos (macroregiões supranacionais) e ascrescentes exigências de uma descentra-lização imposta pelas atividades econômicase políticas. Os Estados não têm mais afaculdade de sempre proteger suas regiões(infranacionais) ou de negociar em nomedelas, em um mundo cada vez mais aberto econcorrencial.

Quatro forças combinam-se parausurpar o poder econômcio dos Estados: ocapital, a comunicação, os consumidores eas empresas multinacionais. Assim, KenichiOhmae interrogava-se nestes termnos: “OsEstados-Nação tornaram-se dissonaurosmoribundos?”

Por fim, o renascimento dos meioslocais e regionais na qualidade de núcleosda organização econômica, cultural epolítica oferece novas e inesperadas possi-bilidades para a renovação da vida comuni-tária. A democracia e a cidadania tomamum novo sentido no contexto da sociedadelocal. A criação de novas identidades locaise de novas ações democráticas entra emperspectiva. A realização de uma nova visãopolítica local gesta-se em relação com o novocontexto global. Como sugere o exemploeuropeu, um dos valores mais exigentes é acoesão, ou seja, um desenvolvimento susten-tável fundado sobre a solidariedade, umaferramenta indispensável para construiruma grande Comunidade Européia (emvárias escalas) mais forte, mais ampla, maisequilibrada e, portanto, melhor compre-endida pelos povos que a compõem. Paraobter sucesso é preciso passar de uma Europaabstrata a uma Europa política, social eeconomicamente coerente, cuja integraçãopolítica é possível no âmbito de umafederação de Estados-Nação.

Figura 1: A transformação dos espaços: os blocoseconômicos e as regiões exercem um papel cada vezmais importante na economia mundial.

Mundo

Blocos

Estados

Regiõessssss sssssss ss

12 Georges Benko

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 1, N. 2, Mar. 2001.

Tabela 1: Recomposição dos espaços e evoluções sócio-econômicas (cf. K. Ohmae, 1995, revisto pelo autor).

Período Industrial (1850-1975) Período Informacional (1975 - séc. XXI)• Escala espacial dominante: Estado-Nação• Estados: atores essenciais da economia

(dirigismo/centralisação)• Centro de decisão: nacional• Soberania nacional• Barreiras alfandegárias

• Economia centrada na produção e consumo nacionais

• Iniciativas públicas• Organização do território em âmbito nacional e

centralisado (“de cima”) (redistribuição)• Estados-Providência• Regulação social estável• Lógica econômica majoritariamente fordista• Crescimento fortalecido• Evoluções lentas

Espaços de referência:− Grã-Bretanha− Estados Unidos− Alemanha− Japão (a partir de 1950)

• Escala espacial dominante: região e união econômica• Atores econômicos: capitais, empresas multinacionais,

unidades territoiras (regiões)• Centro de decisão: supranacional e local• Soberania dos cidadãos• Abertura econômica (supressão de

fronteiras)/internacionalização da economia• Economia baseada na informação e na comunicação /

maior importância da inovação• Constituição de redes (“sociedade em redes”)• Organização do território baseada na iniciativa local

(“de baixo”)

• Regulação social “flexível”• Lógica econômica principalmente pós-fordista• Nova articulação: global/local• Evoluções rápidas

Espaços de referência:− Vale do Silicone (São Francisco) / Orange County

(Los Angeles) / Rota 128 (Boston)− Terceira Itália / Lombárdia− Hong Kong / Taiwan− Ile-de-France / Toulouse / Grenoble− Irlanda / Escócia− Grandes Metrópoles (e “cidades globais”)Etc.

Artigo publicado originalmente em Agir – revue généralede stratégie, n. 5. Paris, set-nov 2000, p. 11-18. Tradução:Marcelo Marinho (UCDB). Revisão da tradução: LeilaChristina Dias (UFSC).

Bibliografia

BENKO, G. Les Nouveaux aspects de la théorie sociale. De lagéographie à la sociologie. Caen, Paradigme, 1988, p.123-137.

BENKO, G.; LIPIETZ, A La richesse des régions. Paris,PUF, 2000.

GUIGOU, J.-L. État, Nation, terrritoire: la recomposition.In: Futuribles, n. 212, p. 21-34, 1996.

LIPIETZ, A. La société en sablier. Paris, La Découverte,1996.

O’BRIEN, R. Global Financial Integration. The End ofGeography. Londres, Pinter, 1992.

OHMAE, K. The End of the Nation state, Free Press e TheInvisible Continent. Nova Iorque, Harper Collins,1995.

SCOTT, A. J. Les Régions et l’Économie Mondiale. Paris,L’Harmattan, 2000.

SIROËN, J. M. La régionalisation de l’économie mondiale.Paris, La Découverte, 2000.

VELTZ, P. Mondialisation, villes et territoires. Paris, PUF,1996.

Las Tecnologías de Información y Comunicación (TIC) en el Desarrollo Local:gobierno electrónico y redes ciudadanas

Information and Communication Technologies (ICT) in Local Development:electronic government and citizen webs

As Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) no Desenvolvimento Local:governo eletrônico e redes cidadãs

Susana Finquelievich, Pablo Baumann e Alejandra JaraUniversidad de Buenos Aires

Resumen: El artículo consta de dos partes: la primera, “La informática al servicio de los ciudadanos”, describe el rolde la informática comunitaria y la importancia de su desarrollo para las tareas de las organizaciones de la sociedadcivil y la conformación y desarrollo de redes comunitarias. La segunda, “E-government y redes ciudadanas”, delineaalgunos elementos que deberán ser tenidos en cuenta para el diseño institucional de la Sociedad de la Información yel rol que en éste último deberán tener las redes ciudadanas. El fortalecimiento de una política democrática dependede la institucionalización de estos espacios asociativos en tanto ámbitos de participación consultiva. Se trata deencauzar la participación ciudadana como medio para mejorar la representación social y la formación de la voluntadpolítica. Internet es un medio ideal para organizar procesos de comunicación política: foros de debate, espacios dereflexión y de información aplicados a la discusión de planes estratégicos locales, presupuesto participativo, procesosde descentralización, consejos consultivos de gobierno, y otros. “Internet es más voz que voto”.Palabras claves: Gobierno electrónico; Redes ciudadanas; Gestión local.Abstract: The first part of the article, “Information at the service of citizens”, describes the role of community dataprocessing and analyses the importance of this development for the tasks of the Organisations of civilian society aswell as for the configuration and development of community networks. The second part, “E-government and citizennetworks”, outlines some elements which should be considered for the institutional designing of the InformationSociety, as well as the role which the citizen networks should play. The strengthening of a democratic strategy dependson the institutionalisation of these associative spaces in instances of consultative participation. It is a question ofguaranteeing citizen participation as a way of improving the social representation and the formation of politicaldesire. The Internet is an ideal way of organising processes of political organisation: forums for debate, spaces forreflection and government consultative councils, and others.Key words: Electronic government; Citizen networks; Local administration.Resumo: A primeira parte do artigo, “A informática a serviço dos cidadãos”, descreve o papel da informáticacomunitária e analisa a importância de seu desenvolvimento para as tarefas das organizações da sociedade civilassim como para a conformação e o desenvolvimento de redes comunitárias. A segunda parte, “Governo eletrônicoe redes cidadãs”, esboça alguns elementos que deverão ser considerados para o desenho institucional da Sociedadeda Informação, assim como o papel que deverão exercer as redes cidadãs. O fortalecimento de uma política democráticadepende da institucionalização desses espaços associativos em instâncias de participação consultiva. Trata-se decaucionar a participação cidadã como forma de melhorar a representação social e a formação da vontade política. AInternet é um meio ideal para organizar processos de organização política: fóruns de debate, espaços de reflexão e deinformação aplicados à discussão de planos estratégicos locais, de orçamentos participativos, de processos dedescentralização, de conselhos consultivos de governo, entre outros. “A Internet é mais voz do que voto”.Palavras-chave: Governo eletrônico; Redes cidadãs; Gestão local.

trada, de facilitar y ampliar en forma conti-nua las capacidades de los individuos en elcontexto de las instituciones, empresas, orga-nizaciones y gobiernos en los que trabajan.

La TSI también se usa en todo elmundo para apoyar a las comunidades y alas organizaciones comunitarias en sus tareasen pos del desarrollo social y económico. Lainformática comunitaria (IC) es una estrate-gia o disciplina que combina tecnología yorganización social, y que pone en red losesfuerzos comunitarios por el desarrollosocioeconómico en áreas como las redescomunitarias y cívicas, los telecentros, lademocracia electrónica, la participacióncomunitaria en la gestión de la ciudad, elcomercio electrónico, los grupos virtuales deayuda mutua, el desarrollo de la cultura, y

Consideraciones iniciales

En Argentina, el 2000 fue señaladocomo el año de la explosión de Internet. Lasáreas más evidentes son las de las finanzas,el comercio y la educación, pero eso no estodo. Se está revelando una necesidadcreciente en todos los sectores de la sociedadde hallar los medios y las maneras deoptimizar las oportunidades que presentanlas Tecnologías de la Sociedad de la Infor-mación (TSI). La investigación y desarrolloen sistemas informáticos y tecnología (IT) haimplementado un modelo de funciona-miento en el que el individuo interactúadirectamente con la computadora, y a travésde ella, con otros individuos y grupos. La IT,entonces, tiene la potencialidad, ya demos-

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 1, N. 2, p. 13-26, Mar. 2001.

Contato: [email protected]

14 Susana Finquelievich, Pablo Baumann e Alejandra Jara

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 1, N. 2, Mar. 2001.

otras. La IC puede definirse como los estudiossobre las aplicaciones de IT y sus logros enlas comunidades para alcanzar objetivossociales, políticos, económicos y culturales.Este artículo muestra los avances de la inves-tigación “Nuevos paradigmas de participa-ción ciudadana a través de las tecnologíasde información y comunicación”. Elproyecto, dirigido por Susana Finquelievichy co-dirigido por Hilda Herzer, se desarrollaen el Area de Estudios Urbanos del Institutode Investigaciones Gino Germani, Facultadde Ciencias Sociales, Universidad de BuenosAires.

La informática al servicio de losciudadanos

1. Informática comunitaria: recursos yherramientas para el desarrollo local

La informática comunitaria (IC), el usode las tecnologías de información y comuni-cación (TIC), también llamada Tecnologíasde la Sociedad de la Información (TSI) parafines sociales, es a la vez una estrategia y unadisciplina tecno-científica. Plantea que “latecnología de Información y la Comuni-cación proporciona recursos y herramientasque las comunidades y los individuos queviven en ellas pueden usar para conseguirsus metas en áreas como desarrollo econó-mico local, desarrollo cultural, activismocívico, salud física y mental de la comunidady medio ambiente, entre otras” (Gurstein,2000). La IC se focaliza sobre las necesidadesy objetivos de comunidades y grupos sociales,para diseñar las tecnologías, instrumentos yaplicaciones que refuercen y promuevanrespuestas a esas necesidades y objetivos.Incluye a la vez preocupaciones por latecnología TSI y por los usuarios y los usos;está tan concernida por los procesos de lacomunidad, la accesibilidad de los usuariosa las TSI y la utilidad de tecnología comopor el análisis de los sistemas, el hardware yel software. La IC tiene en cuenta el sistemasocial dentro del cual se aplica la tecnología,tanto como el sistema de tecnología con elque interactúa; su propósito es lograr eficaciaen las acciones de la comunidad.

“Informática comunitaria” es, enresumen, el estudio de la aplicación de ICT

al logro de metas sociales, económicas,políticas o culturales. Pero para que estasmetas se alcancen, resulta fundamental elacceso de los miembros de la comunidad ala TSI. Michael Gurstein (2000) cita aClemente e Regan, quienes identifican un“Arco iris de Acceso” que incluye sieteniveles: Gobernabilidad/formulación depolíticas; facilitación de alfabetización tecno-lógica y organización social; proveedores deServicio; contenidos/servicios; herramientasde software; dispositivos, y medios detransporte. Se incluyen en esta área proble-mas de acceso técnico (conexiones deteléfonos y computadoras), acceso econó-mico (el costo de usar y mantener estossistemas), acceso social (cultural, conoci-mientos tecnológicos, y barreras sociales quelimitan uso de los sistemas), y acceso físico(se refiere a los discapacitados).

Se plantean algunas cuestionesrelevantes: a) Cómo identificar o crear lainstitución u organización a través de lascuales se proporciona a la comunidad elacceso a las TSI. B) Cómo administrar a estaorganización o institución. C) Cómo organi-zar el contexto tecnológico (institucional,orgánico, formación, etc.) para optimizar suuso y las oportunidades que ofrece. D) Cómoarticular las oportunidades de accesocomunitario a las TSI con servicios notécnicos u otras estructuras organizacionales,como por ejemplo, el caso en que el uso desitios web públicos podría articularse conequipamientos comunitarios existentes. E)Cómo articular las oportunidades de accesocomunitario a las TSI con organizaciones yaexistentes en la Sociedad Civil.

2. Breve historia de la IC

Internet se desarrolló en los EstadosUnidos en la década de los 1960s, concebidaoriginalmente como una red privada parafacilitar la comunicación entre pequeñascomunidades científicas, en especial aquéllasque trabajaban en investigaciones concer-nidas con la defensa nacional. Estasconexiones se extendieron a lo largo de variosaños entre otros científicos de diferentesdisciplinas y ciudades, primero a lo largo delos Estados Unidos, luego del mundo. Losestudiantes que usaron este tipo de

15Las Tecnologías de Información y Comunicación (TIC) en el Desarrollo Local:gobierno electrónico y redes ciudadanas

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 1, N. 2, Mar. 2001.

comunicación la extendieron a su vez a lacomunidad no científica. Hacia principios delos años 1980, unieron varios miles decomputadoras en una red que interactuabausando las redes telefónicas.

En Estados Unidos algunos técnicos yentusiastas de la informática instalaron yparticiparon en los primeros BBS (Fejler,2000). Los temas de discusión eran por logeneral técnicos: se discutía cómo y para quéusar las máquinas y los BBS en sí. Hubo unaexcepción: un BBS llamado CommuniTreeque, a diferencia de los restantes, estabaespecíficamente enfocado a la idea de crearcomunidades. Se proponían conceptos dediscusión como la reciprocidad, la solida-ridad, y la idea de armar algo socialmentecontenedor entre todos. Este proyecto noprosperó, por la misma razón que no lohicieron otros tantos: mucha genteaprovecha los medios libres de expresiónpara agredir impunemente, y para expresarmás su disgusto social que para tratar deconstruir algo alternativo (Fejler, 2000).

Gradualmente, se fueron fundandoFreenets, redes mantenidas por voluntariosque extendieron los recursos de Internet delas universidades a las comunidades y alpúblico en general. La primera fue laCleveland Freenet, creada en 1986 en la CaseWestern Reserve University. Ofrecía accesodial-up gratis a un server de la Universidada miembros de la comunidad local queposeían computadoras y querían conectarsea Internet. Algunos Freenet evolucionaronhacia organizaciones que mantienen elprincipio del acceso público y gratuito a lasredes informáticas. Otras se transformaronen “redes comunitarias” que cobran por elservicio, a la vez que ocupan un rol funda-mental para el desarrollo de la comunidad.El cambio de “Free” Net (red gratuita y/olibre) a “redes comunitarias” también hasignificado una importancia mayor otorgadaal desarrollo comunitario. Schuler (1997)plantea que las Redes Comunitarias puedenaccionar, y lo hacen, en cualquier cuestiónen la que las TSI se intersecten con lo queconsidera “valores centrales” de lacomunidad: educación, cultura, comunica-ción, democracia, salud y bienestar, yequidad económica y de oportunidades.

3. El acceso comunitario a las TSI

¿Cómo puede implementarse el accesode los miembros de las comunidades localesa las TSI? Las políticas varían según lospaíses. En Canadá, por ejemplo, el accesotelefónico ha sido casi universal desde hacedécadas. Para mejorar el acceso de las áreasrurales y remotas a Internet, el gobiernocanadiense lanzó el Community Accessprogram (CAP) (Programa de accesocomunitario) para asegurar un acceso debajo costo a todas las localidades, hasta alas más remotas. En el primer año, losproveedores de Internet (ISP) del país sedieron cuenta de que podían proveerInternet a bajo costo a todos los canadienses.El CAP evolucionó, de proveer acceso técnicoa Internet, a proveer acceso social,incluyendo a los desempleados, a los quecarecen de computadoras y de formación ensu uso, y a los físicamente discapacitados.Existen desarrollos similares en otrasregiones del mundo, como Europa, EE.UU.,África y América Latina, a través deprogramas de telecentros.

Los telecentros, según Robinson (2000)son “una nueva figura en el panoramainstitucional inducido por la revolucióndigital que vivimos.” De los primeros añosde la década de los 90, representan losesfuerzos de varios países para crear lugaresde acceso público que facilite el acceso aInternet. En general, son lugares públicosque pueden ser o no gratuitos, equipados decierto número de computadoras y otrosequipamientos informáticos, donde se puedenavegar Internet, usar el correo electrónicoy las cámaras digitales, y en algunos de ellos,asistir a cursos de formación en los usos dela tecnología informática. Estos telecentrosdifieren de los cibercafés, dado que“permiten y fomentan la construcción deldominio público y la oferta de cursos decapacitación en los oficios digitales, ademásde la educación a la distancia con el apoyode los tutores en los respectivos temas. Untelecentro es un compromiso para ofrecerinformación y un adiestramiento en elmanejo de la misma, más allá de los temasmercantiles. Una red nacional e interna-cional de telecentros es el anexo lógico delas bibliotecas públicas en nuestro tiempo, y

16 Susana Finquelievich, Pablo Baumann e Alejandra Jara

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 1, N. 2, Mar. 2001.

es una propuesta para atenuar la divisióndigital que ahora marca la condiciónposcolonial” (Robinson, 2000).

En Europa, el proyecto EPITELIO(1996-1998), uno de los más exitosos hastaahora, se planteó en principio el desarrollode una plataforma telemática como medidacontra la exclusión social (www.epitelio.org)(Serra, 2000). EPITELIO persigue dos metasfundamentales: generar, no sólo unaplataforma telemática, sino una comunidad;y además, una NUEVA comunidad.Consideraba que, al igual que Internetconsiste en una nueva infraestructura deinformación, diferente a las ya conocidas(telecomunicaciones y medios gráficos yverbales), esta infraestructura podría generaruna estructura social innovadora, diferentea las actuales. El resultado excedió lospropósitos iniciales. Sus logros no sólo hansido crear una plataforma telemática, o ungrupo de servicios de Internet, sinodesarrollar un grupo de nuevas organiza-ciones barriales (como en el caso deRavalnet), organizaciones de la ciudad (ReteCiudadana) y organizaciones europeas (laAsociación Europea para Comunidad), loque permite materializar la innovadoraSociedad de la Información. A raíz de estosproyectos, se ha creado la organizacióninternacional Global Community Networks,una iniciativa desarrollada por el Global CNPartnership, la alianza internacional deorganizaciones de redes ciudadanas deEuropa, USA, Canadá, en colaboración conlas redes comunitarias en los Estados Unidos,Argentina, Chile, Brasil, Uruguay, Australia,México, Costa Rica, República Dominicana,Nueva Zelanda, Japón, Rusia, India y África.En diciembre del 2001 se celebrará enBuenos Aires un Congreso Global de redesciudadanas, el Global 2001, que se orientasobre todo a fomentar la construcción deredes ciudadanas en todo el mundo, sobrela base de alianzas estratégicas con lasdiferentes organizaciones de la sociedad civil,el Estado, las empresas y las universidades.Estas alianzas están dirigidas a la cons-trucción de la nueva comunidad de laSociedad de la Información. Esta comunidadse construye por medio de la articulación delas iniciativas de los sectores involucrados,el intercambio de metodologías, programas,

procesos, y la elaboración de nuevosconocimientos.

En América Latina se multiplican losproyectos de telecentros. En realidad, se estádesarrollando un verdadero movimiento decreación de estos nuevos equipamientoscomunitarios (www.tele-centros.org.ar). Apesar de que la entrada de la mayoría de lapoblación a la Sociedad de la Informaciónno es aún una prioridad para numerososgobiernos latinoamericanos, en algunospaíses se están implementando experienciasimportantes a nivel nacional. En el Perú, laRed Científica Peruana ha implementado lasCabinas Públicas, desde donde los habitantesnavegan Internet, buscan trabajo, leen losdiarios y se comunican entre sí y con elextranjero. En El Salvador se lanza en estosmomentos una red de telecentros que partede una iniciativa estatal (www.infocentros.org.sv), y en México está en marcha unproyecto para implementar telecentrosusando conexiones a Internet a través desatélites o ISP locales (www.idrc.ca/pan/telecentres.html) (Robinson, 2000).

La Informática Comunitaria se vuelvemás significativa en Argentina a partir de laimplementación de diversos programas detelecentros. En 1999, mediante el decreto Nº1018/98 se creó el Programa para el Desar-rollo de las Comunicaciones Telemá[email protected], a través del cual elgobierno se proponía estimular el desarrollode redes nacionales y regionales parafavorecer el acceso a la mejor tecnologíadisponible en este campo. Basicamente, losCTC son redes informáticas localesconectadas a INTERNET con contenidos ydesarrolos de web comunitarias, localizadasen conglomerados humanos de nivel bajosocioeconómico. Se integran en un sistemageneral de CTC con subsistemas autónomosde capacitación y desarrollos de contenidos,cuya gestión puede ser realizada en formacentralizada primero por la Secretaría deComunicaciones, y a partir del cambio degobierno nacional, de la Secretaría deTecnología, Ciencia e Innovación productiva(SETCIP). Su objetivo es fomentar el uso deInternet, promover la igualdad de oportuni-dades en el acceso a las tecnologías deinformación, impulsar nuevas herramientaspedagógicas mediante la utilización de redes

17Las Tecnologías de Información y Comunicación (TIC) en el Desarrollo Local:gobierno electrónico y redes ciudadanas

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 1, N. 2, Mar. 2001.

informáticas, y promover la generación decontenidos locales útiles y autorreferen-ciables por parte de las comunidades yconglomerados humanos huéspedes de CTC.

La cuestión del acceso a las TSI esmucho más amplia que el mero accesotécnico. El problema consiste en cómoproporcionar un acceso público en los paísesen los que escasean los recursos humanos,financieros y tecnológicos necesarios paraapoyar los objetivos de la sociedad civil. Esteproblema está siendo debatido en los paísesen los que el costo del acceso individual esprohibitivo, ahondando aún más la divisióndigital. También se lo discute en contextosen los que puede haber razones para teneracceso comunitario a Internet en vez deltradicional acceso hogareño. En ambos casos,la provisión de un acceso físico alternativo ala red es un primer paso significativo. Unavez implementado el mecanismo paraproveer el acceso comunitario, es necesariodeterminar cómo administrar y mantener laorganización que servirá de proveedora deacceso. También será necesario organizar elequipamiento para optimizar el uso de latecnología y los usos que proporciona, asícomo reflexionar sobre cómo se articularánlas posibilidades de acceso comunitario aInternet con los servicios sociales existentes.Por ejemplo, cómo relacionar los trámiteselectrónicos con las oficinas municipales.

4. ¿Para qué sirve la informáticacomunitaria?

Los usos y aplicaciones que permite laIC son variados. Nos ocuparemos aquí deaquellos relacionados con los que articulanlas TSI con los intereses y objetivos de lasociedad civil. Según Gurstein (2000), losusos y aplicaciones son los siguientes:

a) Acceso comunitario a las TSIEl acceso público a la TSI, como se ha

mencionado más arriba, puede serimplementado a través de una variedad desitios de acceso, tanto en organismos guber-namentales, como no gubernamentales,como los CGPs, telecentros, cibercafés,bibliotecas públicas, locutorios telefónicos,escuelas, etc. Es necesario tener en cuentaque no basta con proveer el equipamiento

físico e informático, ni es suficiente conproporcionar conexiones a Internet. Lorealmente fundamental es proporcionar enlos telecentro, o en cualquier otro lugar deacceso público a Internet, las condiciones deformación básica para que los usuarios quetienen conocimientos insuficientes en el usode las herramientas informáticas puedanaprender a usarlas a full. También esnecesaria la presencia de instructores quepuedan auxiliar a los usuarios cuando éstosexperimenten dificultades.

b) Información comunitaria¿Qué tipo de información interesa a las

organizaciones de la sociedad civil y alpúblico en general? La llamada “informa-ción comunitaria” incluye temas tanvariados como guías telefónicas, guías detrámites municipales, una agenda de eventosurbanos o barriales, bolsas de trabajo y deestudio, cursos y actividades barriales yurbanas, noticias sobre espectáculos ytelecompra de entradas, noticias políticaslocales, foros de discusión, etc. Es importanteque los gobiernos locales proporcioneninformación sobre planes y proyectosurbanos y otros. También puede conteneruna base de datos sobre la comunidad local,o una web-page comunitaria. En ocasiones,ofrece información respecto al trabajo deorganizaciones comunitarias locales,nacionales o internacionales. Algunasiniciativas privadas pueden publicitar bienesy servicios.

c) Participación cívica y comunitariaen línea

¿Para qué se usan las TSI en lasociedad civil? En general, se utilizan paraalentar procesos de participación social ypolítica a través de proyectos de democraciaelectrónica, de foros de discusión partidariosy de consultas gubernamentales al públicoen asuntos de interés local. Este tipo de usospermite la expresión en línea de opiniones,críticas y propuestas relacionadas con planesy problemas locales y la participación en laplanificación y gestión urbana. Elconocimiento, por parte de los habitantes,de los planes y proyectos urbanos, laadministración del presupuesto, el uso de losimpuestos y otras cuestiones relativas a la

18 Susana Finquelievich, Pablo Baumann e Alejandra Jara

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 1, N. 2, Mar. 2001.

gestión urbana y provincial, es una cuestiónclave para la gobernabilidad. Pero laparticipación no se limita a estas cuestiones:municipalidades que comparten intereses oproblemáticas similares pueden conformarredes de intercambio de información yexperiencias, como en el caso de la Red deMunicipios Mariano Moreno. O bien,diversos barrios en la misma ciudad o enciudades diferentes pueden construir redesque les ayuden a resolver sus problemáticasy a optimizar el uso de sus recursos. Estostipos de información y de articulacionespermiten la expresión, ya sea en reunionespresenciales, en foros o en redes electrónicas,de opiniones y propuestas relativas a planesy proyectos urbanos, y alienta una mayorparticipación pública en las cuestionesurbanas.

d) Servicios en líneaLas TSI se usan en la IC para proveer

servicios públicos, incluyendo trámitesmunicipales, información sobre impuestos,información y registros en lo que se refiere acertificados y otros documentos, informa-ción y consejos sobre salud física y mental,informaciones sobre catastros, así como sobreempleos y sobre micro emprendimientos,incluyendo un tutoreo de estos últimos.Algunos centros de Gestión y Participación(CGPs) de Buenos Aires ya están propor-cionando este tipo de informaciones a susciudadanos. La provisión directa de serviciosa individuos en sus barrios, pueblos ociudades, o en sus hogares, en Argentina,está aún en pañales. No obstante, se esperaque crezca drásticamente en el futurocercano. Puede ser muy económico paraalgunos sectores, en especial en áreas queusan intensivamente información.

e) Comercio electrónico comunitarioActualmente, el auge del comercio

electrónico no puede ser ignorado. Lapublicidad nos informa de los esfuerzos quese hacen por poner el e-commerce al alcancede las comunidades geográficas y virtuales,a través de páginas web, portales, shoppingsvirtuales, etc. En todo el mundo se estánimplementando iniciativas para articular elcomercio local con los mercados globales, através del comercio electrónico.

En Argentina, el informe de RoxanaBassi (1999) indica progresos significativos enesta área. Actualmente, se vive una verdaderaexplosión: en marzo de 2000, los usuarios dele-commerce gastaron 3 millones de pesos sóloen CD (Diario Clarín, 17-05-2000). Según laconsultora Prince e Cook, el número denavegantes en la Red crece a un ritmo del 4%mensual, y estima la facturación del sectorpara el año 2000 en 150 millones, y en 355millones para el 2001. El auge del comercioelectrónico bien puede ser usado pororganizaciones comunitarias o emprendi-mientos locales para vender sus bienes yservicios prescindiendo de intermediarios. Lascomunidades geográficamente aisladas, oalejadas de los mercados representados porlas grandes ciudades pueden llegar de estamanera al mercado global, siempre quecuenten con la necesaria formación, no sóloen herramientas tecnológicas, sino en gestiónde microempresas. Los telecentros o equipa-mientos similares pueden así constituirse enlugares donde se impartan cursos sobreadministración de microempresas, empren-dimientos comunitarios y comercioelectrónico, alentando de esta manera laseconomías locales.

f) TeletrabajoLas TSI pueden ser muy útiles para las

economías locales facilitando el teletrabajo,sobre todo en ciudades pequeñas o remotas,o para ciertos individuos con dificultadespara alejarse de su hogar, como madres deniños pequeños, ancianos o personas conimpedimentos físicos. Se están multiplicandolas clases de trabajos que pueden serrealizados a distancia. Un reciente ECATTSurvey (1999), referido a Europa, muestraque el teletrabajo móvil es el más extendido.Alrededor de 14% de las empresas europeasutiliza esta forma de trabajo, y las compañíasempiezan a considerar seriamente laposibilidad de alentar el teletrabajo. Losteletrabajadores provienen de diferentesprofesiones y oficios: miembros de profe-siones liberales, profesores secundarios yuniversitarios, programadores informáticos,investigadores, publicistas, artistas gráficos,administrativos, empleados de compañías demarketing, periodistas, etc. (Finquelievich,1998, 2000).

19Las Tecnologías de Información y Comunicación (TIC) en el Desarrollo Local:gobierno electrónico y redes ciudadanas

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 1, N. 2, Mar. 2001.

g) Educación, formación y redes deaprendizaje

La educación y la formación perma-nente son áreas que emergen rápidamenteen la IC. Áreas crecientes de educación yenseñanza a todos los niveles serán propor-cionadas en línea, incluyendo la distribucióna localidades remotas de material escrito,CDs de sonido y videos, además del materialinteractivo que se envía por Internet. A pesarde que en Argentina están surgiendouniversidades virtuales, como la UniversidadNacional de Quilmes o la Universidad deBuenos Aires, recién se está aprendiendo amanejar las técnicas y contenidos específicosa la educación virtual. También se estándesarrollando metodologías para articularfacilidades educativas en línea con lasnecesidades de formación continua, y conlas estructuras educativas tradicionalesexistentes en las ciudades y barrios, con elobjeto de integrar al mayor número posiblede población a la Sociedad de la Informacióny sus nuevas formas de trabajo.

h) Relocalizaciones urbanasLas TSI facilitan tanto a los teletra-

bajadores, a los habitantes de las nuevasurbanizaciones como a empresas de todotamaño, la posibilidad de elegir la localiza-ción física de sus vidas y actividades, siemprey cuando se mantengan “conectados”. Losservicios bancarios, las universidadesvirtuales, la telecompra, los supermercadosdigitales, los siguen dondequiera que vayan.Pero estas relocalizaciones (y los conse-cuentes cambios en la estructura urbana yen las infraestructuras y servicios que debenacompañarlos) implican la necesidad de untrabajo intensivo de planificación urbana.Los Sistemas de Información Georeferen-ciados (GIS), adecuadamente utilizados,permiten informar a la población sobre losproyectos que los conciernen y tambiénposibilitan que los ciudadanos se expresencon respecto a sus necesidades y preocupa-ciones, como el uso del suelo, la conservacióndel medio ambiente, los servicios educativosy de salud que les resultan necesarios, etc.

5. Contenidos para la informáticacomunitaria

El acceso físico del público a lasherramientas informáticas o a Internet, seagratuitamente o a un precio bajo, es sólo unprimer paso. Como se ha expresado másarriba, la siguiente cuestión clave se refierea los contenidos que se colocan en la Red,los tipos de información y servicios que seproporcionan a los ciudadanos. Los quenavegamos Internet sabemos que hay allí unainmensa masa crítica de información,servicios, propuestas del interactividad, forosde debates, etc. Sin embargo, como señalaGurstein (2000), sólo poco de este materiales utilizable o apropiable en contextos quedifieren de los países del Norte, y principal-mente de los USA, donde se produce un altoporcentaje de esta información. Esto se hacemás evidente cuando se consideran losproblemas de los países del sur en esta área:falta de recursos financieros y tecnológicos,falta de la formación en el uso de herra-mientas informáticas, resistencias culturales,falta de interés gubernamental, barrerasidiomáticas, etc.

Para que los servicios online seanrealmente, es necesario desarrollar doselementos:• La capacidad de discernimiento de los

usuarios con respecto a la masa deinformación encontrada, por medio deofertas de formación permanente.

• La capacidad de los proveedores deinformación (como los administradores detelecentros) para que diseñen la oferta deinformación y servicios que contemplen ladiversidad de circunstancias, contextos ycapitales culturales de los usuarios.

E-government y redes ciudadanas

El e-government (o gobierno electró-nico) y las redes electrónicas comunitarias,también llamadas redes ciudadanas,parecen ubicarse en los extremos de latensión existente entre dos tendencias encon-tradas: la mercantilización y la politizaciónde la relaciones sociales (Baumann y Jara,2001). En la primera de las prácticas, seenfatiza la creación de varios canaleselectrónicos de comunicación entre el

20 Susana Finquelievich, Pablo Baumann e Alejandra Jara

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 1, N. 2, Mar. 2001.

gobierno y los ciudadanos bajo la improntade la eficacia y eficiencia de la gestión estataly de la democratización y transparencia delos procesos de administración. Se fortalecela visión del ciudadano en tanto beneficiarioy consumidor de servicios públicos. En lasegunda, los canales de comunicación entreciudadanos y gobierno están orientados afomentar la deliberación pública comofundamento de la participación política, y amaximizar las posibilidades de satisfacciónde las demandas. La primera tiende asocializar la política, esto es, llevarla alterreno de la sociedad civil, asimilándola almercado. La segunda tiende a politizar a lasociedad, recuperando el sentido de la accióny el discurso tal y como lo entiende HannahArendt, como “espacio de aparición”.

El concepto moderno de ciudadanía,en tanto status legal otorgado por el Estado,con un fuerte anclaje territorial, está en crisis,porque el propio Estado.Nación, tal y comosurgió y se consolidó en las sociedadesmodernas, es un Estado en crisis:

“Ser ciudadano no tiene que ver sólo con losderechos reconocidos por los aparatos estatalesa quienes nacieron en un territorio, sino tambiéncon las prácticas sociales y culturales que dansentido de pertenencia y hacen sentir diferentesa quienes poseen una misma lengua, semejantesformas de organizarse y satisfacer susnecesidades” (García Canclini,1995).Las redes ciudadanas, apoyadas en

herramientas electrónicas, aparecen a la vezcomo nuevos actores y como los escenariosinnovadores de recreación de lo público yrevalorización del status político de laciudadanía, introduciendo en dicha ideafuertes componentes culturales identitariosy localistas, poniendo en juego a los mismos,articulando sus discursos, más allá de larelación individuo-Estado.

En general, los usos detectados hastael momento por parte de los gobiernoslocales ponen énfasis en la relación con elciudadano-usuario-consumidor-cliente y notienen en cuenta que éstos interactúanactivamente en redes de relaciones diferen-ciadas, lo cual termina agudizando losproblemas de gobernabilidad, dado que envez de articular demandas, las agregaestadísticamente.

Ciudadanos de la era digital

La noción clásica de ciudadanía entanto en tanto status legal otorgado por partedel Estado, hace referencia a los derechos yobligaciones que posee todo individuo entanto miembro de una comunidad. Elderecho a la igualdad es la piedra angularen la relación individuo-sociedad, ya que sees portador de derechos y deberes en tantoparticipe de una comunidad de iguales. Laciudadanía como proceso histórico, posee undesarrollo evolutivo, que va de los derechosciviles en el siglo XVIII, a los derechospolíticos en el siglo XIX, y en el siglo XXaparece la cuestión de los derechos socialesy de las minorías. La problemática de laciudadanía aparece en cada momentoparticular relacionada a contextos históricos,política, social y materialmente diferentes.

La Sociedad Informacional-SI- puededefinirse como un proceso de redefiniciónhistórica de las relaciones de producción, depoder, y de experiencia (Castells, 1998) quederiva de la convergencia e interacción detres procesos, hasta cierto punto, indepen-dientes. Por supuesto, la revolución de latecnología es uno de ellos. Pero no podríancomprenderse cabalmente los cambiossociales a que asistimos sin tener en cuentala crisis económica y subsiguiente rees-tructuración del capitalismo en los ´70, porun lado, y por el otro la crisis de lasinstituciones políticas y el surgimiento de losnuevos movimientos sociales. “Los ciuda-danos aún son ciudadanos, pero dudan dequé ciudad y de quién es la ciudad” (Castells,1998). Ser ciudadano supone también,reivindicar el derecho a acceder y perteneceral sistema socio-político, el derecho a ladiversidad en la igualdad, el derecho deacceder, de influir, de constituirse en actordel escenario social.

Schiavo (2000) reflexiona sobre losrequisitos necesarios para ser un ciudadanoen la SI, y menciona cuatro: la presencia,otorgada por la dirección electrónicaprovista al ciudadano por el gobierno local,el acceso universal provisto por entidadesprivadas o comunitarias, el capital queimplica un proceso de aprendizaje paraincorporar los saberes necesarios para actuaren la plataforma digital, y el habitus que

21Las Tecnologías de Información y Comunicación (TIC) en el Desarrollo Local:gobierno electrónico y redes ciudadanas

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 1, N. 2, Mar. 2001.

posibilita incorporar los conocimientos (elcapital) a los modos de percibir pensar yactuar en la vida cotidiana. Esta autora aludea las posibilidades de multiplicación delespacio público social, porque coexisten enél, territorio urbano presencial y entornotelemático.

Susana Finquelievich (1999) especulaacerca de los derechos de los ciudadanos enla SI. Enuncia una serie de derechos entrelos cuales aparecen: el derecho a participarde la SI, a disponer de medios de aprendizajede las técnicas y saberes tecnológicos yorganizacionales asociados a la informática,el derecho de participar comunitariamenteen el uso de las herramientas tecnológicas(acceso comunitario), derecho a establecerredes electrónicas comunitarias, al acceso ala información pública, el derecho a serconsultados por los gobiernos sobre lasdecisiones y planes que conciernen a laciudad y la calidad de vida de sus habitantes,entre otros.

La ciudad como encuentro

La ciudad se transforma. La acepciónclásica de ciudad como lugar, cede ante lanoción de “la ciudad como encuentro, comoorganización institucionalizada de comuni-cación entre grupos e individuos diferentes”(Touraine, 1998). La idea de ciudad comoespacio de organización, defensa y fomentode la comunicación es el lugar de redes-cubrimiento del ágora, de fortalecimiento dela democracia y de reinvención del espaciopolítico. De este modo, la ciudad moderna,con sus límites geográficos y políticos biendefinidos se superpone con la ciudadinformacional, la ciudad-red, cuyos límitesson sólo los límites de la comunicación.

En el proyecto que dá origen a esteartículo analizamos experiencias concretasacerca de cómo los ciudadanos organizadosen diferentes expresiones de la sociedad civilutilizaban la comunicación mediada porcomputadoras - CMC - en función de susobjetivos y para alcanzar sus propias metas.Un sitio web, la participación en una listade discusión o simplemente una dirección decorreo electrónico les permitió innovar en lagestión de sus recursos y en el establecimientode redes electrónicas comunitarias. Estos

grupos lograron incrementar sus posibili-dades mediante la CMC, pudiendo accedera información, darse a conocer, informar ala comunidad en general sobre sus objetivosy formas de trabajo, fortalecer el vínculo conlos beneficiarios de sus actividades, ganarrespaldo y sobre todo reposicionarse en lasestructuras de poder locales y regionales.

Así es como, por ejemplo, un grupo queactualmente supera los ciento cincuenta web-masters, han conformado un Circuito deCiudades Argentinas (www. argenguide.com.ar) utilizando la red como medio paradifundir las noticias comunitarias, los em-prendimientos productivos locales, promo-cionar los diferentes circuitos turísticos ybrindar un espacio de debate y encuentro alos miembros de cada comunidad. Estos sitiosweb son emprendimiento privados, finan-ciados mediante el esfuerzo y los recursos desus creadores, se trata de iniciativas localesque se llevan adelante en la mayoría de loscasos sin el apoyo de las instituciones localesy que en muchos casos brinda acceso ainformación publica y servicios comunitariosgenerando aportes al desarrollo local, yrealizando un esfuerzo de resultado inciertoen la promoción y difusión de las tecnologíasde información y comunicación -TICs-, quelos propios municipios no ofrecen a losciudadanos.

Un grupo de vecinos del barrio deSaavedra, movilizados por el problema dela inseguridad en poco más de un año se haconvertido en una fuerte red con presenciaen gran parte del Area Metropolitana, “PlanAlerta”, nutriéndose de experiencias dedistintas partes del mundo. O es también elcaso de la Red del Trueque, que nuclea amiles de personas que en poco tiempo hanconstituido una red productiva y deintercambio alternativa al mercado. O el dela Comunidad de Indios Quilmes, enTucumán, que afirman su identidad y susderechos, convocando solidaridades dediversos lugares del planeta, dando aconocer su milenaria cultura y su miradasobre el mundo. Los casos se multiplican, seteje la trama de las redes...

Sin embargo, en general y comocontrapartida, los usos de TICs detectadoshasta el momento por parte de los gobiernoslocales, ponen énfasis en la relación con el

22 Susana Finquelievich, Pablo Baumann e Alejandra Jara

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 1, N. 2, Mar. 2001.

ciudadano-usuario-consumidor-individuo yno tienen en cuenta que estos interactúanactivamente en redes de relacionesdiferenciadas. Esto agudiza los problemas degobernabilidad, dado que en vez de articulardemandas, las agrega estadísticamente. Estamisma perspectiva acerca de la participaciónen la SI en tanto ciudadano-individuo-usuario-cliente, es la que prevalece, porejemplo, detrás de la línea de crédito blandopara la compra de equipamiento informáticoimplementada por el gobierno argentino,donde se facilita el acceso a la adquisiciónde equipamiento únicamente a los particu-lares, favoreciéndose el uso privado eindividual de las tecnologías teleinfor-máticas, en vez de propiciar el accesocomunitario y fortalecer a las organizacionesdel tercer sector1, beneficiándolas tambiéncon esta línea de créditos.

Retomando la idea inicial acerca de laciudad como organización instituciona-lizada de comunicación y su relación con losusos sociales de las TICs, son los ciudadanosorganizados y no los gobiernos quienes estándando los primeros pasos para articular,organizar, y facilitar la creación de espacioscolectivos de comunicación y fortalecimientode la participación ciudadana.

Redes electrónicas ciudadanas

Al hablar de comunicación y políticademocrática, hacemos referencia a losdiscursos que convergen, de modocontradictorio y no excluyente, en la esferade producción del discurso político y ”losactores que tienen legitimidad paraexpresarse sobre este tema: los políticos, losperiodistas y la opinión publica que seexpresa a través de los sondeos de opinión”(Wolton, 2000) y, agregamos, las redeselectrónicas. En los sondeos de opiniónpública los ciudadanos pueden expresarseen tanto sean consultados, por científicos ytécnicos, que re-elaboraran las opinionesemitidas en un discurso que refleje de lamejor manera posible la realidad social. Conel acceso a las tecnologías teleinformáticasse genera un nuevo canal de expresión a laopinión publica, cualitativamente diferente,porque los ciudadanos pueden participaractivamente en la difusión de sus opiniones,

debates y cuestiones de interés y podríamosdecir que se trata de opinión pública sinmediaciones, aunque no por ello menossocialmente elaborada.

Las redes electrónicas comunitariasaparecen como los nuevos escenarios derecreación de lo público y revalorización delstatus político de la ciudadanía, facilitandoel acceso a la información pública y el debatecomo fundamento de participación política,permitiendo no solo un ida y vuelta entreactores políticos y ciudadanos, sino fortale-ciendo los lazos de relación horizontal entreestos últimos.

La participación de los ciudadanos enel sistema socio-político a través de laopinión pública, que se expresa en las redeselectrónicas comunitarias, es un modelodeseable de perfeccionamiento de larepresentación social, de formación de lavoluntad política y de articulación deintereses en la Sociedad de la Información(SI). El diseño institucional de las redeselectrónicas comunitarias, aunque todavíaembrionario en su desarrollo, funciona enbase a relaciones horizontales, descentra-lizadas, multipartidarias, y no acotadasgeográficamente, que trasciende los límitesdel sistema de representación tradicional,partidario o parlamentario, y que puedefavorecer en su desarrollo el fortalecimientode una democracia representativa con fuerteparticipación social; un modelo capazencauzar la participación ciudadanapropiciando instancias de deliberación socialpropias del sistema democrático.

La participación de los ciudadanos enlas cuestiones de interés publico a través delas redes telemáticas no se traducenecesariamente en la intervención directa delos ciudadanos en las decisiones colectiva.El televoto, cada vez mas factible dada larápida difusión de las TICs en la población,entraña posibles peligros. Sartori (1998)previene contra los peligros de tomar a lared como instrumento de acción política,porque se anulan los sistemas de contrapesosy balances propios del sistema representativoy se facilita la instauración de un principiomayoritario absoluto que puede violar elprincipio de respeto a la minoría. Laexperiencia norteamericana entre 1898 y1918 demuestra que los instrumentos de la

23Las Tecnologías de Información y Comunicación (TIC) en el Desarrollo Local:gobierno electrónico y redes ciudadanas

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 1, N. 2, Mar. 2001.

democracia directa pueden servir tanto apromover los derechos de las minorías comoa lesionarlos. Abundan los ejemplos dediscriminación racial, sexual, de género etc.promovidas a través de iniciativas popularesy referéndum, al punto que se ha sostenidoque han sido un efectivo facilitador deprejuicios (Cunil Grau, 2000).

Las redes electrónicas comunitariasson mucho más que el hardware y elsoftware que las sustentan; reflejan el accesoa un nuevo espacio de vinculación quepermite la aparición de distintos tipos deorganización social asociados al uso de lasherramientas informáticas (Carceglia yQuiroga, 1999). Tal como menciona DouglasSchuler (2000), “las redes electrónicascomunitarias ofrecen una oportunidadimportante y excepcional para que lascomunidades desarrollen y administren yuna tecnología democrática”.

Los Municipios se suben a la Red

Los gobiernos municipales y locales sonactores fundamentales en esta nuevageografía mixta (virtual y territorial), porvarias cuestiones En primer lugar, por unacuestión estratégica y geopolítica: en tantolos Estados-nación se ven inmersos en redesvariables de poderes y contrapoderesglobalizadas frente a las cuales pierdensoberanía y autonomía, delegando cada vezmás responsabilidades en los nivelesinferiores de gobierno, descentralizandotareas y funciones para descomprimir loscrecientes niveles de demandas y garantizarla gobernabilidad de los sistemas políticos,los gobiernos locales asumen cada vez másfunciones y autonomía (esto último nosiempre se dá, dependiendo de la capacidadde obtención de recursos propios que estostengan). Estos pueden implementar estra-tegias propias de desarrollo, estableciendoalianzas con otros municipios dentro y porfuera de los propios estados, conformandoredes, buscando nuevos mercados para susproducciones, innovando y promoviendo elsurgimiento de nuevas actividades rentables,promoviendo sus recursos, etc.

Las CMC o TICs, permiten establecernuevas formas de cooperación. Este es el casode la Red de Municipios Mariano Moreno,

el de la red de Webmasters Municipales o lared URB-AL. En segundo lugar, por unacuestión política, al permitir una mayorintegración en la medida en que, más queagregar demandas, permiten desagregarlasy articularlas, promoviendo espacios deencuentro para la creación de consensos enlas localidades. En este sentido, si bien no seha extendido su uso aún, las CMCs consti-tuyen una herramienta ideal para la elabo-ración de presupuestos participativos, planesestratégicos, referendums y consultas popu-lares, permitiendo una mayor gobernabilidada nivel local. Sin embargo, la utilización deCMC por parte de los gobiernos locales, hastaeste momento, se ha limitado en la mayoríade los casos al desarrollo de intranets, con elfin de lograr una mayor eficiencia en elprocesamiento de las demandas, y a unaescasa utilización (o subutilización) de lasposibilidades de Internet, empleada máscomo una “cartelera” virtual, como un pushmedia, que como una herramienta para laparticipación ciudadana.

En pocos casos, se ha utilizado Internetpara transparentar las cuentas públicas y enmuy pocos casos para ofrecer servicios on-line (cobro de impuestos, reclamos, etc). Eneste sentido, la utilización de las CMCpodemos decir que está siendo implemen-tada basándose en una concepción estrechadel concepto de gobernabilidad, que se limitaa plantear como centrales y excluyentes losobjetivos de eficacia, eficiencia y trans-parencia (en el sentido de accountability) yen un concepto de “ciudadano” restringidoal de individuo - consumidor (abstraído desu real situación en la sociedad) frente alEstado, dejándo de lado la idea departicipación real en los debates y en la tomade decisiones.

Si bien en muchos casos es mucho loque se ha hecho, no es suficiente. Los desafíosson grandes y la velocidad de respuesta nece-saria debe ser rápida. Por ejemplo, en el casodel Gobierno de la Ciudad Autónoma deBuenos Aires, si bien frente a lo que existíaanteriormente, el sitio www.buenosaires.gov.arresulta novedoso e innovador, son todavíaescasas las posibilidades de interacción, a noser por el formulario para enviar mails al jefede gobierno y las direcciones de e-mail de lasdistintas secretarías. Uno puede consultar

24 Susana Finquelievich, Pablo Baumann e Alejandra Jara

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 1, N. 2, Mar. 2001.

información, pero no puede iniciar on-lineningún trámite. No hay espacios para losdebates ni los reclamos. Una excepción adestacar, sin embargo es el foro de debateespecífico del portal educativo.

En la página de los Centros de Gestióny Participación, el vecino puede consultarcuál es el que corresponde a un domiciliodeterminado y qué trámites pueden reali-zarse en ellos, no pudiéndo hacer más queeso desde el sitio.

Una vuelta de tuerca más ha dado laLegislatura, con su renovado sitio. Cualquierciudadano o grupo de ciudadanos puedeenviar un mail a cualquier legislador oparticipar con alguno de ellos en un foro dedebate. Esta última iniciativa seríaprometedora y realmente innovadora, sifuncionara correctamente. Hasta elmomento no hemos podido participar enningún foro, porque la página está enpermanente construcción.

Conclusión

En un sistema en que el Estado Naciónpierde soberanía y se torna cada vez másimpotente para resolver los problemasconcretos de la gente, en el que los sistemaspolíticos están en crisis poniendo en juegosu propia credibilidad ante los ciudadanos,y en última instancia afectando a la mismademocracia, es cada vez más visible el rol delos gobiernos locales como embriones de unanueva política democrática. En primer lugar,porque la tendencia es el crecimiento de unaautonomía en la elección de autoridadeslocales, respecto a las lealtades o al voto paraautoridades nacionales, como ha quedadodemostrado en las últimas eleccionesnacionales. En segundo lugar porque elcontrol ciudadano sobre sus gobernantes sehace más efectivo a nivel local, lo queredunda en la construcción de una nuevalegitimidad política en dichos niveles. Entercer lugar, porque los gobiernos regionalesy locales tienden a implementar procesos dedescentralización y participación ciudadana.Castells (1998) observa:

“Cuando se suman los medios electrónicos (lacomunicación a través del ordenador o lasemisoras de radio y T.V. locales) para extenderla participación y consulta a los ciudadanos (porejemplo en Amsterdam o en la Prefectura de

Fukuoka), las nuevas tecnologías contribuyen aaumentar la participación en el gobierno local.Las experiencias de autogestión local, como ladesarrollada por la municipalidad de Cuiabá enel Mato Grosso brasileño, muestran la posibilidadde reconstruir vínculos de representación políticapara compartir (si no controlar) los desafíos dela globalización económica y el carácterimpredecible de la política”.El otro pilar fundamental en la recrea-

ción de la democracia son las redes electró-nicas comunitarias. Nuevos movimientossociales, organizaciones del tercer sector,voluntariados, organizaciones no guberna-mentales, utilizando y organizándose através de redes electrónicas, y telecentrosadquieren cada vez más una significaciónpolítica. Por un lado van ocupando loslugares de los cuales el Estado de bienestarva desertando. Por el otro van tejiendo unanueva trama de solidaridades y lazossociales. Se conforman y actúan en redporque saben que de esa manera tienenmayor velocidad de reacción, porque puedencompartir recursos y porque intuyen que esla única manera de hacer frente a un poderglobalizado, concentrado y disperso a su vezen redes de flujos de poder y riqueza.Municipios on-line, redes electrónicascomunitarias, quizás a partir de ellas se estérecreando un nuevo concepto de ciudadaníaglobal, en la cual todos puedan serciudadanos, sujetos de derechos y a sentirseintegrados política y socialmente en laSociedad de la Información.

Nota1 Denominamos primer sector a lo concerniente a la

esfera de lo público estructurado en torno al Estado ysus funciones, el segundo sector estaría conformadopor lo privado o el mercado y el tercer sector estaríaformado por las organizaciones de la sociedad civil.

Este artículo se basa en el texto de Susana Finquelievich,Pablo Baumann y Alejandra Jara: Nuevos paradigmasde participación ciudadana a través de las tecnologíasde información y comunicación, Documento de TrabajoNº 22, Instituto de Investigaciones Gino Germani,Facultad de Ciencias Sociales, Universidad de BuenosAires, Febrero 2001.

Referencias bibliográficas

BAUMANN, Pablo. Usos sociales de las TIC. Gobiernoslocales y participación ciudadana. In: Finquelievich,Susana. Ciudadanos, a la Red! Buenos Aires, Ciccus –La Crujía, 2000.

25Las Tecnologías de Información y Comunicación (TIC) en el Desarrollo Local:gobierno electrónico y redes ciudadanas

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 1, N. 2, Mar. 2001.

BASSI, Roxana. Repport on E-commerce in Argentina(www.cacenet.com.ar) and Gaiasur (planeta.gaiasur.com.ar). 1999.

CARCEGLIA, Daniel; QUIROGA, Sol. Municipios on-line. Los panópticos de fin de milenio. ALAS XXII –Concepción 10-99. Disponible en www.enredada.net

CASTELLS, Manuel. La Era de la Información.Barcelona, Siglo XXI, 1998.

CUNIL GRAU, N. Repensando lo público a través de losocial. CLAD, Nueva Sociedad, 2000.

CISLER, S. In: Artur Serra. The civic nets What they are,how do they work? www.ac.upc.es, 1995.

FINQUELIEVICH, Susana. Redes electrónicascomunitarias en la prevención de la salud mental.www.enredando.com

_____. Los Derechos Ciudadanos en la Sociedad de laInformación. Publicado en En.red.ando, 1999.www.enredando.com

FINQUELIEVICH, Susana; BAUMANN, Pablo; JARA,Alejandra. Nuevos paradigmas de participación ciudadanaa través de las tecnologías de información y comunicación,Documento de Trabajo Nº 22, Instituto deInvestigaciones Gino Germani, Facultad de CienciasSociales, Universidad de Buenos Aires, Febrero 2001.

FINQUELIEVICH, Susana; SCHIAVO, Ester (coords.).La ciudad y sus TICs. Buenos Aires, Universidad deQuilmes, 1998.

FINQUELIEVICH, Susana (coord.). ¡Ciudadanos, a la Red!Buenos Aires, La Crujía, 2000.

FINQUELIEVICH, Susana; JARA, Alejandra.Community Informatics in Argentina. Act II,SHAPING THE NETWORK SOCIETY, The Futureof the Public Sphere in Cyberspace, A ComputerProfessionals for Social Responsibility Symposium,www.scn.org/cpsr/diac-00, May 20 - May 23, 2000.University of Washington HUB, Seattle, Washington,USA

GARCÍA CANCLINI, S. Consumidores y Ciudadanos.Buenos Aires, Grijalbo, 1995.

GURSTEIN, M.; Dienes, B. (June 1998). Communityenterprise networks: Partnerships for local economicdevelopment. Paper presented at the Libraries aceLeaders in Community Economic Developmentconference, Victoria, BC. [Online]. ccen.uccb.ns.ca/flexnet/CENs.html.

GURSTEIN, M. (Ed.) Community Informatics: UsingTechnology to Enable Community Processes, GroupPublishing, Hershey PA, 2000.

JARA, Alejandra. Las redes comunitarias en elciberespacio. El caso de la Argentina. En: SusanaFinquelievich (coord.) ¡Ciudadanos, a la Red! BuenosAires, La Crujía, 2000.

RHEINGOLD, H. Virtual Community: homesteading onthe Electronic Frontier. Reading, Addison-Wesley,1993.

ROBINSON, Scott. Telecentros en Mexico: desafíos yposibilidades. In: Finquelievich, Susana. Ciudadanos,a la Red! Buenos Aires, Ciccus – La Crujía, 2000.

SARTORI, Giovanni. Homo Videns. 1998.SCHIAVO, Ester. Los Ciudadanos de la Sociedad de la

Información: entre los Señores del Aire y el PuebloNatal. In Finquelievich, Susana. Ciudadanos, a la Red!Buenos Aires, Ciccus – La Crujía, 2000.

SCHULER, Douglas. Nuevas comunidades y nuevasredes comunitarias. Construir nuevas instituciones

para enfrentar los desafíos. En Finquelievich, S.Ciudadanos, a la red! Buenos Aires, Ciccus – La Crujía,2000.

TOURAINE, Alan. La Transformación de las Metrópolis.Revista La Factoría, n. 6 (1998) www.lafactoriaweb.com

WOLTON, D. La Comunicación Política: Construcciónde un Modelo. En El nuevo Espacio Público, 2000.

Democracia Representativa y Democracia ParticipativaRepresentative Democracy and Participant Democracy

Democracia Representativa e Democracia ParticipativaAntonio Elizalde

Universidad Bolivariana de Santiago (Chile)

Resumen: En el artículo se reflexiona sobre la democracia a partir de los desafíos que emanan de ella así como de losdesafíos que ella enfrenta en las sociedades actuales. Se analiza por otra parte la evolución y transformación de lanoción de ciudadanía y como afecta el operar democrático. Por último, se presentan nueve hipótesis respecto al futurode las democracias.Palabras claves: Democracia participativa; Ciudadanía; Desarrollo a escala humana.Abstract: Abstract: The article reflects on democracy, beginning with the challenges it gives rise to, as well as thechallenges faced by democracy in modern societies. On the other hand, the evolution and transformation of the notionof citizenship is analysed together with this effect on democratic operations. Finally, nine hypotheses are presentedrelated to the future of democracies.Key Words: Participant democracy; Citizenship; Development at human level.Resumo: No artigo, reflete-se sobre a democracia a partir dos desafios que dela emanam, assim como sobre osdesafios enfrentados pela democracia nas sociedades modernas. Por outro lado, são analisadas a evolução e atransformação da noção de cidadania e sua ação sobre as operações democráticas. Por último, apresentam-se novehipóteses em torno do futuro das democracias.Palavras-chave: Democracia participativa; Cidadania; Desenvolvimento em escala humana.

confrontación con otras podría obligarme acambiarla o a enriquecerla. La verdad no esnecesariamente la que yo propongo sino laque resulta del debate, del conflicto; por talrazón el pluralismo no hay que aceptarloresignadamente sino como el resultado dereconocer el hecho de que los seres humanos,no marchan el unísono como los relojes. Esla existencia de diferentes puntos de vista,partidos o convicciones algo que nos debellevar a la aceptación del pluralismo conalegría, con la esperanza de que la confron-tación de opiniones mejorará nuestrospuntos de vista. En tal sentido, para Zuleta,la democracia es modestia, disposición acambiar, disposición a la reflexión auto-crítica, disposición a oír al otro seriamente.

Afirmó asimismo que la democraciaimplica igualmente la exigencia del respeto.El respeto significa tomar en serio el pensa-miento del otro: discutir con él sin agredirlo,sin violentarlo, sin ofenderlo, sin desacreditarsu punto de vista, sin aprovechar los erroresque cometa o los malos ejemplos quepresente, tratando de saber que grado deverdad tiene pero también al mismo tiemposignifica defender el pensamiento propio sincaer en el pequeño pacto de respeto denuestras diferencias. En un debate seriamen-

Una breve reflexión inicial acerca de lademocracia

La democracia, decía alguien que norecuerdo, es como el aire, mientras latenemos no nos damos cuenta de su existen-cia, pero cuando nos falta, hay que ver comonos duele y como sentimos su ausencia.

Un destacado filósofo colombiano,Estanislao Zuleta (1995), escribió algunasprofundas reflexiones sobre la democraciaque quiero compartir con ustedes.

Él afirmó que la democracia implica laaceptación de un cierto grado de angustia,ya que la democracia es la aceptación de laangustia de tener que decidir por sí mismo,y el pensar por sí mismo es más angustiosoque creer ciegamente en alguien. De ahíentonces que la democracia es frágil. Sufragilidad procede de que es difícil aceptarel grado de angustia que significa pensar porsí mismo, decidir por sí mismo y reconocerel conflicto.

Nos señaló que la democracia implicaigualmente la modestia de reconocer que lapluralidad de pensamientos, opiniones,convicciones y visiones de mundo esenriquecedora y que la propia visión delmundo no es definitiva ni segura porque la

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 1, N. 2, p. 27-36, Mar. 2001.

“Es decir, que, por naturaleza, la ciudad es anterior a la casa y a cada uno de nosotros. Ya que el conjuntoes necesariamente anterior a la parte. Así que está claro que la ciudad es por naturaleza y es anterior a

cada uno. Porque si cada individuo por separado no es autosuficiente, entrará como las demás partes, enfunción a un conjunto. Y el que no puede vivir en sociedad, o no necesita nada para su propia suficiencia,

no es miembro de la ciudad, sino una bestia o un dios” (Aristóteles, La Política, Libro I, cap.II)

Contato: [email protected]

28 Antonio Elizalde

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 1, N. 2, Mar. 2001.

te llevado no hay perdedores: quien pierdegana, sostenía un error y salió de él; quiengana no pierde nada, sostenía una teoría queresultó corroborada.

También Zuleta dice que debemosreconocer que en el ser humano existenprofundas tendencias arcaicas contra lademocracia y, si queremos defenderlarealmente, debemos comenzar por reconoceruna de sus mayores dificultades: nuestrosorígenes no fueron democráticos. Para él, enconsecuencia la democracia es maduración.La democracia no nos viene espontáne-amente, sino como resultado de unaconquista, como aceptación de la angustia,de la duda, de la duda sobre sí mismo y depasar por “la prueba de la duda”.

Nos señaló asimismo que somosdogmáticos cuando no hacemos el esfuerzopor demostrar. “La demostración es una granexigencia de la democracia porque implicala igualdad: se le demuestra a un igual; a uninferior se le intimida, se le ordena, se leimpone; a un superior se le suplica, se leseduce o se le obedece. La demostración esuna lección práctica de tratar a los hombrescomo nuestros iguales.”

Desafíos a la democracia

En la actualidad la democracia encuando sistema político propio de lassociedades políticas modernas, enfrenta unconjunto de desafíos que pueden ser a la vezvistos como oportunidades o como ame-nazas. ¿Cuáles son estos nuevos desafíos?

El tamaño de la polis o el tema de la escalahumana

La creciente expansión que en térmi-nos demográficos han tenido todas las socie-dades modernas ha desbordado el antiguoconcepto de la polis aristotélica, que era elespacio en el cual se conformó la noción y elejercicio de la democracia. Nuestras ciuda-des, y que decir de nuestros estados naciones,ya no tienen la escala que tenían las ciudadesgriegas donde surgió la democracia y dondefue posible desarrollar formas de democraciadirecta o participativa. Nada de lo público(de los asuntos de la polis) le era ajeno a losciudadanos que habitaban las ciudades

estado griegas. Outhwaite y Bottomore(1993) afirman claramente que “la demo-cracia de la antigua Grecia fue democraciadirecta: el pueblo gobernaba reuniéndose enasamblea y tomando directamente lasdecisiones políticas básicas.”

Más aún los procesos de globalizacióny la conformación de megaestados al estilode la Unión Europea, hacen aún másimprobable el retorno hacia formas dedemocracia directa. Ello en razón de que ladiversidad, complejidad y magnitud de losproblemas y sobre las cuales se debe tomardía a día decisiones y que constituyenhabitualmente el ejercicio del accionardemocrático, hacen imposible que ellas seanadecuadamente oportunas, eficaces,informadas, legítimas e impersonales,atributos estos entre otros que deben tenerlas decisiones públicas en sociedadescomplejas como las nuestras.

Surge aquí la necesaria consideraciónde la tensión y a la vez complementariedadque debe existir entre lo micro y lo macro,entre lo global y lo local, entre lo societal y locomunitario (o la escala humana).

La emergencia de la multiculturalidad

Hemos experimentado en los añosrecientes un rápido tránsito desde sociedadesmonoculturales o donde predominaba unacultura única casi hegemónica a sociedadesmulticulturales, donde coexisten muchasculturas. Ello implica que hemos transitadodesde sociedades con visiones relativamentecompartidas que se traducían en unaposibilidad más fácil de lograr consensos asociedades donde coexisten personas quesustentan creencias y concepciones respectoa la realidad y a la naturaleza humana muydiferentes, lo cual dificulta la elaboración deacuerdos y la construcción de consensos.

El aumento del capital social

En nuestras sociedades se ha incre-mentado notoriamente el capital socialdisponible entre sus ciudadanos. El aumentode los niveles educativos de la población y lacasi desaparición del analfabetismo, no sóloha aumentado la población que puede ydebe participar en los procesos electorales,

29Democracia Representativa y Democracia Participativa

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 1, N. 2, Mar. 2001.

incrementado así la ciudadanía electoral,sino que también al hacer posible el accesogeneralizado a la información disponible ensociedades que se comunican preferente-mente por medio de la lectoescritura, haaumentado los niveles de conciencia respectoa derechos humanos y las expectativas enrelación al mejoramiento de la calidad devida de la población, generando a su vez unacreciente demanda participativa.

El problema no resuelto de la inclusión

Hasta hace dos décadas, cuando sehablaba de los pobres se hacía referencia ala pobreza por déficit de integración, es deciraquella parte de la población que no habíalogrado integrarse a la vida moderna. Losextremadamente pobres eran quienes nohabían experimentado un desarrollo culturaly laboral como el requerido por el procesosocial moderno, y constituían un ciertoporcentaje de la sociedad que se aglomerabaen la periferia de las grandes ciudades.

En síntesis, aquella marginación resul-taba de la reorganización de la economía y laestructura social que se verificaba por laexpansión de las formas industriales yestatales modernas, que fueron desplazandoy desarticulando el tejido social y lasactividades de producción, distribución yconsumo tradicionales, afectando especial-mente a los grupos sociales indígenas,campesinos y artesanales. Como el sectormoderno crecía y manifestaba capacidadespara absorver fuerzas de trabajo y satisfacerdemandas de consumo, se producíaadicionalmente un efecto de atracción paramuchos que abandonaron prematuramentesus formas de vida tradicionales y emigraronhacia las ciudades en busca de otros modosde vida. Pero los que no lograron integrarse,no pudiendo tampoco darle en el contextomarginal urbano un uso a sus capacidades ydestrezas laborales correspondientes a esosmodos de producción campesinos yartesanales, encontraban sólo en la acciónsocial del sector público sus posibilidades desobrevivencia y de reinserción. Su actividadsocial tendía a expresarse, entonces,fundamentalmente en términos reivindica-tivos y de presión; pero también evidenciaroncapacidades propias en la solución de los

problemas más urgentes, especialmente en elámbito de la vivienda mediante la ocupaciónde terrenos y el sistema de autoconstruccióny mejoramiento progresivo de la vivienda.

Aquella, pobreza y marginaciónresidual, sigue existiendo en la actualidad.Pero el mundo de los pobres es hoy muchomás numeroso, porque ha sido engrosado poruna masa de personas que, habiendoanteriormente alcanzado algún grado departicipación en el mundo laboral y en elconsumo y la vida moderna, han experi-mentado luego procesos de exclusión:cesantía, pérdida de beneficios sociales,subempleo, etc. Lo que ha sucedido es, ensíntesis, que el proceso industrial y estatalmoderno, no sólo no pudo absorver todaslas fuerzas de trabajo y las necesidadessociales que crecían junto con la población,sino que incluso comenzó a expeler a unaparte de quienes había en algún momentoincorporado. Este fenómeno de la exclusiónno sólo afecta a los sectores populares y almundo obrero, sino también a capas socialesmedias que se han visto rápidamenteempobrecidas por la pérdida de empleo y debeneficios sociales que habían mantenido enmuchos casos por períodos prolongados. Lapobreza en que caen estas familias resultaen ocasiones extremadamente dura, pues laexperimentan por primera vez y no handesarrollado las estrategias de supervivenciacotidiana que son connaturales a laexperiencia de la pobreza vivda desde lainfancia. Se verifica también un proceso quepuede entenderse como de inversión delascenso social de una generación a otra:muchos jóvenes populares que habíanaccedido a la educación moderna y queadquieren por su intermedio las destrezasnecesarias para insertarse en el mundo deltrabajo, no encuentran las oportunidades dehacerlo y recaen en la pobreza.

Algunas disgresiones sobre laciudadanía

El concepto de ciudadanía en suacepción actual hace referencia a tresdimensiones presentadas hace casi cuarentaaños atrás en el trabajo clásico de ThomasH. Marshall (1965). En su análisis distingueel surgimiento de los derechos propios de la

30 Antonio Elizalde

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 1, N. 2, Mar. 2001.

ciudadanía en tres momentos que sematerializaron en Inglaterra en tres siglossucesivos: derechos civiles que aparecen enel siglo XVIII; derechos políticos que seafirmaron en el siglo XIX; y derechos socialesque se establecen en el siglo XX.

Desde esta perspectiva es ciudadano“aquel que en una comunidad política gozano sólo de derechos civiles (libertadesindividuales), en los que insisten las tradi-ciones liberales, no sólo de derechos políticos(participación política), en los que insistenlos republicanos, sino también de derechossociales (trabajo, educación, vivienda, salud,prestaciones sociales en tiempos de especialvulnerabilidad)” (Cortina, 1997:66).

Nuestras sociedades, actuandoreflejamente, fueron desarrollando estosderechos ciudadanos que implicaronmomentos distintos en su desarrollo histórico,la libertad de desplazamiento y de trabajorespecto a la tierra (derechos civiles) para lasgrandes mayorías campesinas fueron sólohace muy poco tiempo plenamente logrados.Recordemos que en la formación socialhistórica propia de la colonia, fueron laplantación y la encomienda las formasproductivas dominantes en nuestra agricul-tura, las cuales se sustentaron en laesclavitud y en el inquilinaje como formasde trabajo, ambas sin libertad de trabajo nide movimiento.

El momento de la conformación denuestros estados naciones se llevó a cabomediante procesos de integración nacionalque requirieron el desarrollo de derechospolíticos para sustentar una forma degobierno independiente distinta a lamonarquía colonial. Derechos estos que sefueron extendiendo en la medida quesurgieron crecientes demandas de legiti-midad y a la vez de gobernabilidad.

Los derechos sociales han sido, ennuestro caso latinoamericano, el resultadode largas y dolorosas, e incluso cruentasluchas sociales. No ha sido fácil la conquistade esos derechos por parte de las mayoríasde nuestro continente.

Hoy, sin embargo, confrontamos unatensión entre una noción restringida y unanoción ampliada de ciudadanía. Hasta haceno más de una década predominaba y sevaloraba como tal a un sólo un tipo de

ejercicio ciudadano, el de tipo político. Existíaen el imaginario colectivo una concepciónfuerte de ciudadanía, aquella que transitabapor la militancia partidaria, la permanentepreocupación por lo político electoral, lareferencia a grandes utopías y propuestastransformadoras globales.

Actualmente, sin embargo, se eviden-cia un desinterés creciente por la políticapartidaria y por los procesos electorales(aumento de la no inscripción en los registroselectorales, abstencionismo y aumento de losvotos nulos y en blanco).

¿Es posible deducir de lo anterior undesinterés por lo público, por la política, porel interés general o por el bien común?

Aparentemente se podría concluir quesi, no obstante, es necesario considerar queen los años recientes se ha ido configurandouna práctica ciudadana que ha ampliada lanoción de ciudadanía. Han surgido nuevasformas de ejercicio ciudadano: nuevosmovimientos sociales tales como feministas,ecologistas, consumidores, reivindicacionesétnicas, etc.; y también nuevas formas deorganización social: organizaciones deconsumidores, organizaciones de usuarios deservicios, etc.

Hay algunos autores que señalanincluso el surgimiento de una concepción“débil” o “leve” de la democracia. SegúnBrunner, por ejemplo, subyacen hoy dosconcepciones de la democracia. Laconcepción “fuerte” o “densa” y una “débil”o “leve”. Él afirma que:

“Para la primera concepción, lo que vale es elidioma de la participación política, la cooperacióncolectiva y la capacidad de tomar parte en ladeliberación pública. Para la segunda, lo queinteresa es el desarrollo de capacidadesindividuales y el involucramiento en redesasociativas que hacen posible satisfacernecesidades personales, sea a nivel de la familia,el trabajo, el mercado o la cooperaciónvoluntaria” (Brunner, 1997:28).Creo importante, por último, hacer

referencia al surgimiento de la dimensióninternacional de la ciudadanía. Muchaspersonas encuentran sus referentes tanto enel plano de sus concepciones como de susactuaciones en organizaciones ciudadanasinternacionales: Amnesty International,Green Peace, etc.

31Democracia Representativa y Democracia Participativa

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 1, N. 2, Mar. 2001.

Hipótesis respecto al devenir de nuestrasdemocracias

Con el telón de fondo que esquemáti-camente he presentado, quiero ahoracompartir un conjunto de nueve hipótesisque buscan resumir una necesaria reflexióny debate de mucho más largo aliento sobreel tema de la democracia.

Hipótesis 1: Estamos transitando desdeuna forma de ejercicio democrático decarácter elitario (de minorías) donde lasmayorías delegaban en aquellas su represen-tación, y así la toma de decisiones, a unaforma de ejercicio democrático donde lasmayorías quieren hacerse presentes tambiénen la toma de decisiones.

De un modelo de democracia y deorganización política donde sólo unos pocospensaban y otros, la gran mayoría,ejecutaban (absolutismo, regímenes defuerza, centralización, etc.) a otro modelodonde todos piensan y ejecutan (descentra-lización, desconcentración, regionalización,municipalización, etc.).

Ello se debe a varias causas:a) el incremento generalizado de la

escolaridad, a la reducción de los niveles deanalfabetismo, haciendo posible así laparticipación de todos en la informaciónescrita que fluye en las sociedades modernas.

b) la expansión y masificación de losmedios de comunicación, para los cuales nohay barreras o fronteras posibles, y que hoyllegan incluso a los lugares más apartados,llevando al conocimiento de otras formasde vida.

c) los recientes aportes provenientesdesde el ámbito de la reflexión científica y lafilosófica, en particular de la ética y de lafilosofía política que introduce variasnociones nuevas, entre otras se puedenmencionar las siguientes:

1. los sistemas para mantenerse orde-nados (no disiparse) requieren de la novedadque aporta la singularidad de todos susintegrantes (cada ciudadano sabe algo queel sistema necesita)

2. la noción de etnocentrismo, que noshace ver que “la retórica que los occidentalesusamos para tratar de hacer a todo el mundomás similar a nosotros mejoraría si fuéramosmás francamente etnocéntricos y menos

pretendidamente universalistas” (Rorty,1998:123)

3. la noción de justicia como lealtadampliada. Esta noción hace posible explicitardilemas morales presentes en nuestrasdemocracias expresados en la siguientepregunta: ¿hay que contraer el círculo de losbeneficiados por lealtad o expandirlo porjusticia?

4. la noción de multiculturalidad y laética de mínimos. Estamos transitando desociedades con una cultura única haciasociedades multiculturales, a las primeraspudo corresponder la existencia de una éticade máximos, propia de una sociedad y unacultura con una cosmovisión compartida deorigen filosófico y religioso. Pero en socie-dades multiculturales es necesaria una éticade mínimos propia de sociedades caracte-rizadas por el pluralismo, es decir por lacoexistencia de distintas visiones filosóficasy religiosas, y por tanto por concepcionesdiferentes respecto a la forma de interpretarla realidad y el sentido de la vida y de lohumano. La ética mínima o de mínimos dicerelación con aquellos consensos básicosconstruidos en sociedades plurales, pero queson imprescindibles para perseguir colecti-vamente la felicidad humana, los cuales hansido queridos por los afectados, tras un diálo-go celebrado en condiciones de simetría.

Hipótesis 2: Hay una creciente pérdidadel monopolio de lo político por parte de lospartidos políticos. Las actuales formas deorganización del sistema político requierenprofundos cambios porque ya no danadecuada cuenta de las crecientes demandasprovenientes de las nuevas formas deciudadanía.

Todo el sistema político se configurósiguiendo el esquema de las iglesias o sectas.Se crearon organizaciones con el propósitode luchar por el logro del control del aparatodel estado, ya sea para transformar lasociedad o para mantenerla tal cual era. Suestructura fue copiada siendo muy similaral de las organizaciones religiosas: iglesias,congregaciones o sectas. Se definía un con-junto de verdades absolutas (el programapartidario), de allí derivaban ciertas formasde comportamiento entre quienes subscri-bían ese programa quienes por tal hechopasaban a ser integrantes de esa organi-

32 Antonio Elizalde

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 1, N. 2, Mar. 2001.

zación, fieles o militantes de esa causa.Se crearon diversas jerarquías internas

algunas formales y explícitas y otras infor-males (tácitas). Periódicamente se producíanescisiones, debido a discrepancias que nohabían podido ser resueltas (habitualmenteen torno a cuotas de poder o a negociacionescon grupos externos) transformándose enherejías que eran fuertemente combatidas.Sin embargo, todos estos conflictos termi-naban sólo siendo pugnas internas de muypequeños grupos (los dirgientes) que dispu-taban y detentabsn el poder, quedandoabsolutamente ausentes a estas dinámicas lasgrandes mayorías partidarias (las bases omilitancia).

Hipótesis 3: No bastan ya los principiosclásicos de la democracia representativa:división de poderes del estado, alternanciaen el poder de las autoridades, consultasperiódicas a la ciudadanía en procesoselectorales, radicación de la soberanía en elpueblo, etc. Se requiere diseñar e introducirnuevos principios que aseguren una real yefectiva democracia.

Como se señala en el Desarrollo aEscala Humana (1986):

“Sólo un estilo de desarrollo orientado a lasatisfacción de las necesidades humanas puedeasumir el postergado desafío de hacer crecer atoda la persona y a todas las personas. Sólo lacreciente autodependencia en los diversosespacios y ámbitos puede enraizar dichodesarrollo en el Continente Latinoamericano.Sólo el inclaudicable respeto a la diversidad delos innumerables mundos que habitan en elancho mundo de América Latina garantiza queesa autonomía no se confine al jardín de lasutopías. Sólo el fomento y la articulación de estasdiversidades en un proyecto político demo-crático, desconcentrador y descentralizadorpuede potenciar los recursos sinérgicosindispensables para la decantación de undesarrollo a la medida del ser humano.”“El Desarrollo a Escala Humana no excluyemetas convencionales como crecimientoeconómico para que todas las personas puedantener un acceso digno a bienes y servicios. Sinembargo, la diferencia respecto de los estilosdominantes radica en concentrar las metas deldesarrollo en el proceso mismo del desarrollo.En otras palabras, que las necesidades humanasfundamentales pueden comenzar a realizarsedesde el comienzo y durante todo el proceso dedesarrollo; o sea, que la realización de lasnecesidades no sea la meta, sino el motor deldesarrollo mismo. Ello se logra en la medida enque la estrategia de desarrollo sea capaz deestimular permanentemente la generación de

satisfactores sinérgicos.”“Integrar la realización armónica de necesidadeshumanas en el proceso de desarrollo significa laoportunidad de que las personas puedan vivirese desarrollo desde sus comienzos, dandoorigen así a un desarrollo sano, autodependientey participativo, capaz de crear los fundamentospara un orden en el que se pueda conciliar elcrecimiento económico, la solidaridad social y elcrecimiento de todas las personas y de la personatoda.”Hipótesis 4: El concepto de partici-

pación ha ido perdiendo su carácter crítico,revolucionario o amenazante para el statuquo, y transformándose y adquiriendo uncarácter eminentemente instrumental.

Se ha producido una tránsito desde laparticipación vista como una utopía deseableal de una suerte de panacea o vademecum,convirtiéndola en un instrumento imprescin-dible para resolver los problemas de laplanificación e incluso la gestión de políticasy proyectos.

En los años 60 la participación fuéintroducida como una estrategia mediantela cual resolver los déficit de integraciónsocial de nuestras sociedades (Alianza parael Progreso, Promoción Popular, etc.). En losaños 70 se la concibió como la formaprincipal mediante la cual lograr transfor-maciones estructurales en nuestras socie-dades (diversos frentes populares, Castro-guevarismo, Sandinismo, etc.). En los años80 durante la regresión autoritaria en elcontinente se la interpretó como una amena-za a los bloques de poder internos y externos(Guerra Fría, Doctrinas de SeguridadNacional). En los años 90 se la vió como unmecanismo de recuperación y de ampliaciónde la democracia. En los años más recientesse la ha comenzado a ver como una formade operacionalizar y legitimar social ypolíticamente las propuestas desarrollistasvigentes (en 1996 el Banco Mundial publicael libro maestro sobre participación, en 1997el BID publica el libro de consulta sobreparticipación, durante la década la GTZintroduce y masifica el método ZOPP y desdeel mundo anglosajón se introduce y difundeel marco lógico).

Hipótesis 5: Estamos viviendo untránsito inevitable hacia una democraciaglobal, hacia una democracia cosmopolita.

La constitución de un espacio unifica-do a nivel mundial, en la práctica la

33Democracia Representativa y Democracia Participativa

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 1, N. 2, Mar. 2001.

conformación progresiva de un sólo territorioplantea preguntas acuciantes respecto altamaño y carácter de las actuales demo-cracias nacionales. La pregunta surgecuando se constata la existencia de agenteseconómicos cuya magnitud de operacionesexcede con creces la importancia económicade la mayor parte de los estados nacionales.Aparecen en forma evidente la enormedebilidad que tienen las economías nacio-nales frente a eventuales intervenciones(agresiones) del capital financiero interna-cional. Recordemos los varios miles demillones de dólares que debió desembosar enunas pocas semanas el Banco Central deBrasil para defender el valor del real. ¿Quiény desde dónde se regula al capital financierointernacional? Se está planteando unneokeynesianismo de nivel planetario paraenfrentar las crisis económicas globales cadavez mayores y más recurrentes.

Pero a la vez surgen nuevos delitos quetransgreden las fronteras nacionales, comolos delitos informáticos o el terrorismo decarácter internacional. Avanzan por otraparte, la conciencia universal respecto a losDerechos Humanos y a la necesidad desancionar a sus violadores, como lo demostróel affaire Pinochet.

El Fondo Monetario Internacional y laOrganización Mundial de Comercioadquieren una influencia y poder casiomnímodo sobre los Ministerios de Hacienday Bancos Centrales de nuestras débileseconomías.

Hipótesis 6: La globalización generatambién elementos nuevos en el accionar dela sociedad civil y se comienza a constituiruna sociedad civil de carácter planetario.

Hoy observamos la globalización de losmovimientos sociales: ecologistas, indigenis-tas, feministas, defensores de los DerechosHumanos, consumidores, etc. Esta es unanueva realidad que se va conformandorápidamente con notables expresiones decapacidad de convocatoria y movilizacióncomo lo demostró recientemente lo ocurridoen Seattle en la última reunión de la OMC.

Hay que tener cuidado con elsurgimiento de lecturas paranoicas, del tipode comenzar a conjeturar conspiracionesinternacionales propias del esquema deguerra fría ya superado.

Cada grupo al interior de un país cuyosintereses se vean afectados tenderá adesarrollar visiones interpretativas de tipoconspirativo, demonizante o inquisitorial,apelando a nacionalismos estrechos. Detrásde esas miradas y conductas hay un riesgode caer en fundamentalismos de todo tipo.Es lo que está ocurriendo en el mundoislámico y también en la apreciación quesectores integristas de la Iglesia Católicatienen respecto al crecimiento de otrascongregaciones cristianas de origen evange-lista o pentecostal, y más aún respecto aiglesias o sectas de otros orígenes.

Hipótesis 7: Es necesaria más sociedadpara gobernar el futuro. La democraciarequiere de más sociedad (Informe DesarrolloHumano Chile 2000).

El tercer Informe sobre DesarrolloHumano en Chile 2000 recientemene entre-gado por el PNUD intenta responder al pre-gunta ¿Cómo incrementar las capacidadesde gobierno de los chilenos? La propuestade respuesta es simple: “Chile requiere mássociedad para gobernar el futuro. Hay quemejorar la calidad de la vida social para quelos chilenos puedan incidir efectivamentesobre la marcha del país.”

El informe trabaja sobre tres áreasestratégicas del desarrollo.

“Por una parte, una sociedad fuerte supone laexistencia de algunas aspiraciones compartidas.Tales ‘sueños colectivos’ esbozan horizontes defuturo en miras de los cuales pueden aunarseesfuerzos.Por otra parte, la calidad de la vida

social depende de la trama asociativa y del‘capital social’. Las capacidades sociales delas personas aumentan cuando se consolidanrelaciones de confianza y cooperación en losdiversos ámbitos.

Por último, la fortaleza de la sociedadse mide por el vigor de la acción ciudadana.Esta es la forma que mejor expresa la volun-tad y capacidad de determinar el destino dela nación. Los tres aspectos se relacionanentre sí y esa interdependencia indica lacapacidad de gobierno y la sustentabilidadsocial que tiene el desarrollo de Chile parahacer frente a los desafíos del siglo entrante”.

Hipótesis 8: Es necesaria hoy laconfiguración de un sentido fuerte deciudadanía con la construcción y defensa delo público mediante la participación

34 Antonio Elizalde

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 1, N. 2, Mar. 2001.

democrática sin exclusiones en el ámbito deluso ético de la razón práctica. Esto seráposible gracias a la conformación del “podercomunicativo” (Arendt) como competenciaciudadana en el espacio público y comogénesis de la “política deliberativa” y del“patriotismo constitucional” (Habermas).

Ello requiere la existencia de un plura-lismo razonable que implica reconocer al otrocomo diferente pero a la vez como interlocutorválido. Esto es como un “legítimo otro”usando los conceptos de H. Maturana (1990).Requiere al a vez la búsqueda de consensosque apunten a la inclusión del otro y a regularla xenofobia y en particular lo que AdelaCortina llama la aporofobia (odio al pobre).

Para ello es fundamental reconocerque la base de sustentación de la democraciaradica en el reconocimiento del necesario“límite a las diferencias”, más allá del cualse arriesga el desplome democrático y elsurgimiento del síndrome autoritario contodos sus excesos.

Hay que recordar que la democraciaen la polis se fue constituyendo en el diálogoy en el debate realizado en torno al mercado,al foro o plaza pública, al templo y al coliseo,plaza de toros o estadio. La democracianecesita del espacio público para florecer.

Hipótesis 9: La continuidad y la profun-dización democrática requiere de una culturademocrática arraigada en la vida cotidiana(en el mundo de la vida al decir de Habermas).

La democracia se siembra en el compor-tamiento cotidiano de los ciudadanos. Nosurge del aire, es algo que se construye (o sedestruye) en el día a día.

¿Cómo construir una culturademocrática? ¿Cómo afianzar la democraciaa partir de la vida concreta de las personas?¿Cómo hacer para que cada uno de nosotrosse sienta parte y responsable de lademocracia que aspiramos vivir? ¿Cómoconectar las conductas cotidianas de laspersonas con los éxitos o fracasos democrá-ticos? Estas son preguntas que expresan lanecesaria reflexión en la búsqueda de unademocracia participativa, donde sea elciudadano quien ejerza, en el proceso de lacotidianeidad, sus funciones de constituyenteprimario; es la búsqueda de la democraciaen cada uno, en el proceso de aprender cadadía a convivir con otros.

“Entendemos por cultura democrática odemocracia de la cotidianeidad, formas deconducta que generadas en las dimensionesmicromoleculares de la sociedad ( micro-organizaciones, espacios locales, relaciones aescala humana), estimulan, a la vez que respetan,el surgimiento de los potenciales contenidos enla diversidad, haciendo posible así conciliarparticipación con heterogeneidad. Afirmán-donos en un principio sistémico ecológico,suponemos que el fomento de la diversidad espositivo, por cuanto: la vulnerabilidad de unsistema vivo es inversamente proporcional a ladiversidad que contiene” (Max-Neef y Elizalde,1989: 3-4).La cultura autoritaria está en la fábrica

y en la oficina, en el taller o en la sala declase, en la familia o en la iglesia, en elpartido político, en la relación entre muni-cipios y comunidades, en la forma como sedistribuye el ingreso, en la administración dela justicia y en las cárceles, en el trato a losancianos y a los niños, en la discriminaciónsexual y étnica. Asentadas desde un extremoa otro de la sociedad, y reproducidas en larelación entre Estado y Sociedad Civil, lascostumbres coercitivas tienen su arraigo másbásico en lo cotidiano: en la casa y en el tra-bajo, en las relaciones diarias y permanentes.

De ahí entonces que si deseamos laconsolidación de la democracia política, labase más sólida sobre la cual ésta puedesustentarse es la democracia de lacotidianeidad. La relación entre el Estado yla Sociedad Civil es, simultáneamente,productora y producto de múltiplesrelaciones que se forjan al interior del tejidosocial. Revertir el carácter autoritario que haido asumiendo el Estado en nuestros paísesexige fortalecer la vida democrática, peroentendida ésta no solamente como laexpresión de las prácticas políticas sino quedel conjunto de nuestra existencia cotidiana.

No hay democracia compatible con ladiscriminación y con el trato vejatorio haciaotras personas, con la violencia ejercida encualquier grado o tipo sobre otros sereshumanos, con la violación de cualquierderecho humano. No hay democraciaposible sin un respeto profundo por todaforma de vida, sin una preocupación ycompromiso cotidiano por las necesidadeshumanas fundamentales, sin el protago-nismo permanente de las personas. Esnuestra existencia cotidiana la que vacristalizando en una cultura democrática, en

35Democracia Representativa y Democracia Participativa

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 1, N. 2, Mar. 2001.

la producción de democracia como régimeno estrategia de vida.

Ella es intrínsecamente antinómica conla existencia de dobles estándares, con laviolación de los compromisos adquiridos, conel engaño y la mentira en la relación con otros,con todo tipo de imposición o de coacciónfísica o moral, con el aprovechamiento de losmás debiles, con la competencia desenfre-nada, con la ausencia de crítica, con el estí-mulo de las pasiones e instintos indivi-dualistas, con las verdades absolutas, con todotipo de milenarismo o solución final; es deciren síntesis: con la ausencia de un profundoamor por la vida y por la diversidad.

La democracia, así entendida, implicatransitar desde las concepciones tradicio-nales de una democracia gobernada a unademocracia gobernante, y avanzar desde laconcepción liberal de una democracia queproporciona garantías a los ciudadanoshacia el concepto de democracia social, lacual se orienta hacia la satisfacción de lasnecesidades humanas fundamentales de laspersonas y asegura los derechos económicosy sociales de los integrantes de la sociedad.

Conferencia en la Universidad San Francisco de Asís,La Paz, Bolivia en el seminario taller preparatorio delDiálogo Nacional “Sistema Político y ProfundizaciónDemocrática” el día 11 de julio de 2000.

Referencias bibliográficas

BRUNNER, José Joaquín. Ciudadanía y participación.In: Revista Avances de Actualidad, n. 28, Santiago, 1997.

CORTINA, Adela. Ciudadanos del Mundo. Hacia una teoríade la ciudadanía. Madrid, Editorial Alianza, 1997.

MARSHALL, T. H. Social Poliy in the Twentieth Century.Londres, Hutchison, 1965.

MATURANA, Humberto. Emociones y Lenguaje enEducación y Política. Santiago, Chile, 1990. (ColecciónHachette/Comunicación).

MAX-NEEF, M.; Elizalde, A. Introducción, en SociedadCivil y Cultura Democrática: mensajes y paradojas.Santiago, CEPAUR, 1989.

MAX-NEEF, M.; Elizalde, A.; Hopenhayn, M. Desarrolloa escala humana: una opción para el futuro. Uppsala,CEPAUR-Dag Hammarskjold Foundation, 1986.

OUTHWAITE, W.; BATTOMORE, T. The Blackwelldictionary of twentieth-century social thought. BlackwellPublishers, Oxford, 1993.

RORTY, Richard. Pragmatismo y Política. Barcelona,Paidós, 1998.

ZULETA, Estanislao. Educación y Democracia, un campode combate. Corporación Tercer Milenio y Bogotá.Fundación Estanislao Zuleta, 1995.

Asentamientos Humanos y Desarrollo LocalHuman Settlements and Local Development

Assentamentos Humanos e Desenvolvimento LocalAlicia Rivero-Iwasita

SERCAL – Capítulo Argentino

Resumen: Esta es una reflexión sobre la necesidad de planificar, en forma estratégica, los proyectos habitacionalespara sectores de bajos ingresos insertándolos en el marco del desarrollo económico local. Se trata de sumarle a laprovisión de vivienda e infraestructura y servicios básicos los elementos necesarios para la producción y lareproducción social de sus habitantes y de contribuir a la formación de comunidades capaces de transformarse enagentes de su propio desarrollo. La primeras reflexiones de la autora acerca de la problemática surgieron en elmarco de una investigación sobre asentamientos humanos y vivienda en El Salvador de posguerra.Palabras claves: Asentamientos Humanos; Planificación estratégica; Desarrollo Económico Local.Abstract: This is a reflection on the necessity of strategically planning the housing projects for the low incomesectors, inserting them in the framework of the local economic development. In addition to providing housing,basic infrastructure and services, the necessary conditions for the production and social reproduction of theinhabitants must be given. The planning must contribute to the formation of communities able to produce theirown development. First ideas on this issue arose in the framework of a research on human settlements and housingin El Salvador of the post-war.Key words: Human Settlements; Strategically Planning; Local Economical Development.Resumo: Esta é uma reflexão sobre a necessidade de planejar, de forma estratégica, os projetos habitacionais paracamadas de baixa renda, inserindo-os no âmbito do desenvolvimento econômico local. Trata-se de somar, à provisãode moradia, infra-estrutura e serviços básicos, os elementos necessários para a produção e a reprodução social deseus habitantes, assim como contribuir para a formação de comunidades capazes de transformarem-se em agentesde seu próprio desenvolvimento. As primeiras reflexões da autora em torno do problema surgiram no âmbito deuma pesquisa sobre assentamentos humanos e moradia no El Salvador do período pós-guerra.Palavras-chave: Assentamentos humanos; Planejamento estratégico; Desenvolvimento econômico local.

sector privado y de las ONGs en la ejecuciónde las medidas, el mejoramiento del marcojurídico respectivo. Se observa que el Estadopasa de su rol de ejecutor al de facilitador demedidas, retirándose progresivamente delapoyo directo a la ejecución de vivienda.

Sin embargo, a pesar de que losproyectos habitacionales operaran transfor-maciones territoriales, no suelen ser conce-bidos desde una planificación estratégica delterritorio. Una mirada desde esta metodologíapermitiría aumentar el impacto de lasacciones que se llevan a cabo, las que dejaríande ser simplemente proyectos aislados entérminos de desarrollo local. Si se articularanlos proyectos específicos en una gran “malla”,estructurándolos de modo que se potenciaranunos a otros, se podría optimizar el uso delos (generalmente) escasos recursos.

El abordaje integral de este tipo deproyectos dadas las características socio-económicas de la población meta se convierteen un punto central, hay que atender susnecesidades básicas, pero es necesario ir másallá. La construcción de asentamientoshumanos como hecho físico en si mismo nogarantiza ni la permanencia de la poblaciónni su desarrollo. Ella debe tener una base desustento económico y disponer de infra-estructura técnica para la producción materialy la reproducción social. Sin embargo cabe

1. Introducción

La provisión de vivienda e infraes-tructura básica para la población de bajosingresos de los países en desarrollo es undesafío que los responsables sectoriales, engeneral, no han podido enfrentar con elnecesario éxito, ni aún con la colaboración dela cooperación internacional.

Hoy, en América Latina se puede hablarde un desarrollo del sector caracterizado porlos siguientes factores determinantes: unavance positivo materializado en la adopciónde medidas alternativas y/o innovadoras porparte de las instituciones responsables delsector, acompañado de una tendencia a sudemocratización así como una diversificaciónde los actores intervinientes, y por otro ladopor el reinado de las políticas neoliberalescuyos ajustes y prioridades dejan escasosfondos para realizar los respectivos proyectoso programas, constatándose una aceleradatendencia a la exclusión de los sectoressociales en cuestión.

Entre algunos de los nuevos objetivosperseguidos por los organismos de vivienday desarrollo urbano de la región seencuentran: la implementación de medidasde apoyo más integrales para los sectores debajos ingresos, condiciones de financiamientomás apropiadas, una mayor integración del

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 1, N. 2, p. 37-42, Mar. 2001.

Contato: [email protected]

38 Alicia Rivero-Iwasita

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 1, N. 2, Mar. 2001.

mencionar que ambas cuestiones van más alláde los límites de los asentamientos mismos eimplican las condiciones de la región en losque se encuentran.

Es necesario inaugurar un cambio deparadigma en la planificación de losasentamientos humanos. Desde hace tresdécadas la investigación académica vieneabogando por la construcción de sujetossociales capaces de impulsar el desarrollolocal y construir nuevos marcos de acción enel ámbito regional.

2. Construcción de comunidad y desarrollolocal

La visión oficial que predominó hastafines de los años setenta en América Latinaconsideraba lo regional como objeto de desar-rollo. El Estado privilegiaba a través de suspolíticas a los sectores sociales involucradosen el proyecto industrializador e intentabagenerar una dinámica de cambio social queenvolviera a los restantes sectores sociales.

En los años ochenta, con la aplicaciónde los planes de ajuste estructural en laseconomías de América Latina se generaronprofundos cambios en sus sociedades yestados. El nuevo modelo de acumulaciónpotenció el mercado y creó nuevas condi-ciones para la articulación de las economíasperiféricas a los centros rectores de la econo-mía mundial. El Estado interventor, pasó aser facilitador de la empresa privada yalgunos campos cubiertos por el sector públi-co comenzaron a ser cedidos a organizacio-nes de la sociedad civil (Lungo et al., 1995).

En este contexto, en América Latinacomenzó un proceso de descentralizaciónacompañado de una revalorización de lo localque adquirió así una nueva dimensión. En elcampo social lo local cumple un rol clave paraque la sociedad civil pueda ejercer su papelen el proceso de desarrollo.

Por su parte, la dimensión territorialacotada de lo local brinda el marco apropiadopara la construcción de comunidades demodo que éstas se conviertan en espacios dey con actores de la gestión del desarrollo local.

Lungo (1987), a partir de la reflexión deHeller1 (1985) acerca de la relación entreindividuo y comunidad infiere dos cuestio-nes. Una es que la comunidad se construye, se

estructura a partir de un conjunto demotivaciones de determinados grupossociales y la otra es una interrogante: es unaelección libre la pertenencia a una comu-nidad? Según Lungo esta interrogante seremite a la permanente contradicciónexistente entre individuo y comunidad y laforma en que esa contradicción se solucionahistóricamente, constituye la base de laconstrucción de comunidades, un proceso enel que no sólo inciden los valores del gruposino también la relación con los proyectosglobales de desarrollo a nivel regional,nacional e internacional.

El aspecto organizativo es otro elemen-to fundamental en el proceso de constituciónde lo local e implica la dimensión socio-cultu-ral, en la cual individuos y grupos encuen-tran elementos de identidad y solidaridad apartir del reconocimiento de la existencia deuna historia común que les permite laconstrucción de comunidades en las cualesse reconocen y proyectan socialmente.

Pero el potencial organizativo sólo sedesarrolla cuando existen condiciones que lofavorecen y esto ocurre cuando los gruposorganizados logran definir determinadosproyectos políticos; cuando se unen pararealizar una práctica común en torno acomponentes parciales de un proyectodeterminado. Allí se encuentra la génesis delos movimientos sociales, locales o regionales.

Los asentamientos humanos son unelemento clave para el desarrollo local.Pueden jugar un rol dinamizador o conver-tirse en verdaderos obstáculos. Para ello

Primero, deben ser el elemento motorde un crecimiento económico que, aún en elmarco de una economía regida por elmercado, disminuya la pobreza y reduzca laconcentración de las riquezas producidas anivel local.

Segundo, tienen que posibilitar laconformación de verdaderas comunidadesque reviertan las tendencias imperantes a lafragmentación social.

Tercero, ser espacios en que losprocesos de gestión política del desarrollolocal permita la construcción de ciudadaníapara todos, combatiendo así la exclusión ymarginación política prevalecientes.

Cuarto, estos asentamientos debenjugar un rol esencial en la utilización y el

39Asentamientos Humanos y Desarrollo Local

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 1, N. 2, Mar. 2001.

desarrollo sostenible del medio ambiente enque se encuentren (Lungo et al., 1995).

Las relaciones entre Estado y SociedadCivil están cambiando. Hay una redefiniciónlenta pero en marcha de las relaciones depoder. Por ello se necesita una sociedad civilcapaz de ser una contraparte activa en elproceso que implican las nuevas formas degestión del desarrollo.

3. Desarrollo territorial planificado vs.desarrollo territorial espontáneo

Entre los instrumentos básicos degestión municipal, los municipios alemanescuentan con el derecho a elaborar planosdirectores2, es decir planos de uso y urbani-zación del suelo con el fin de ordenar yorganizar el territorio comunal3.

En América Latina la falta de interven-ción del Estado dejó (y aún deja) la determi-nación de los usos del suelo de una parte desus territorios en manos de empresarios4

(Rivero, 1993), actores sociales a quienes elnuevo paradigma de desarrollo les asigna unpapel sumamente importante, pero quienespor razones obvias no pueden reemplazar elpapel regulador y de generador de políticasterritoriales que le cabe al Estado. Y estoocurre aún cuando muchos municipios de laregión cuentan con instrumentos adecuadosde intervención.

La planificación estratégica territorial seha transformado hoy en día en uno de losinstrumentos más utilizados por las adminis-traciones públicas; sin embargo, encontraruna respuesta territorial adecuada es todavíaun reto que las sobrepasa.

A pesar de los conocimientos produci-dos por el mundo académico, aún tras déca-das de acciones locales y hasta de reflexionesconjuntas planetarias inauguradas con laPrimera Conferencia de las Naciones Unidassobre los Asentamientos Humanos enVancouver (1976), en la planificación de losasentamientos humanos en el llamado mundosubdesarrollado se sigue considerando demanera casi excluyente sólo el aspecto físico,obviando el carácter histórico del espacio, esdecir ignorando los procesos sociales ypolíticos que en él se dan, pero por sobre tododesatendiendo la necesidad de planificarlosde una manera integral, en la que se considere

como prioritario el aspecto del desarrolloeconómico de sus habitantes -y no su merasubsistencia-.

En la última conferencia mundial sobrelos asentamientos humanos -Hábitat II-llevada a cabo en Estambul (1996), se tratarontemas importantes al respecto. En efecto, elPlan de Acción Mundial recomienda una seriede estrategias de aplicación que si fueranincorporadas a las políticas territoriales de losestados firmantes, podrían contribuir agenerar un cambio de paradigma en laplanificación de los asentamientos humanos.

Los objetivos principales de discusiónde Hábitat II eran “Una vivienda adecuadapara todos y Desarrollo sostenible de losasentamientos humanos en un mundo enproceso de urbanización”. Respecto a losasentamientos humanos en el documentofinal conjunto, la Declaración de Estambul, seafirma que el desarrollo sostenible combinael desarrollo económico, el desarrollo socialy la protección del medio ambiente y reconoceel derecho al desarrollo como un derecho arespetar por los gobiernos suscriptores.También hace mención al hecho de que todosellos son componentes interdependientes ysinérgicos del desarrollo sostenible.

En el apartado correspondiente aPolíticas de Vivienda se reconoce como unprincipio fundamental para poder formularuna política realista en la materia, la necesidadde integrar las políticas de vivienda y deasentamiento humanos con las políticas depoblación y desarrollo de los recursoshumanos, de medio ambiente, infraestructu-ra y ordenamiento territorial, la planificaciónurbana y rural, como así también con lasiniciativas privadas y oficiales de generaciónde empleo (Hábitat II, 1996).

Suelen mediar grandes distancias entrelos conocimientos producidos por el mundoacadémico y la implementación de susrecomendaciones en la realidad. Sin embargoellos marcan primero tendencias y finalmen-te direcciones que con el correr del tiempo vanafectando en distintos grados las accionessobre las que pretenden incidir.

La firma de documentos como el deHábitat II constituye el primer paso por partede los gobiernos, en el largo proceso detransformar la letra escrita en acción. Unproceso en el que ellos no son los únicos

40 Alicia Rivero-Iwasita

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 1, N. 2, Mar. 2001.

actores y en el que a veces la sociedad civil osectores determinados de ella deben lucharpara imponer esa transformación, precisa-mente contra la voluntad política del propiogobierno.

4. Asentamientos humanos y desarrolloeconómico local

El nuevo paradigma de desarrollo, eldesarrollo económico local intenta potenciar lascondiciones de un territorio a partir de losrecursos de que éste dispone. Requiere por lotanto de estrategias concertadas entre susprincipales agentes – autoridades, sectorprivado, comunidad –, quienes debencoordinar acciones para generar un procesoque apunte a mejorar la calidad de vida desus habitantes. El papel del municipio en esteproceso debe ser de liderazgo para convertirseasí en el motor de desarrollo del territorio quele compete, en un generador deoportunidades para sus habitantes.

La concertación de intereses de losactores de la sociedad civil requiere de suparticipación, un elemento clave en el procesode desarrollo porque aporta la visión de laspersonas, empresas y/o institucionesinvolucradas directa o indirectamente en él.Ese espacio de participación no sólorepresenta el derecho a defender los propiosintereses, sino que puede aportar solucionesa los problemas y ayudar a detectaroportunidades.

Hoy en día se considera que eldesarrollo desigual de los territorios dentrode un país depende más bien de fuerzas ycorrientes internas y externas procedentes delentorno espacial. Es decir, se corporiza la ideadel desarrollo endógeno en el cual losprocesos económicos y sociales, las activida-des y relaciones que se dan dentro de unterritorio, sea éste una localidad, región o sub-región, deben ser considerados como agentesde transformación.

Es cierto que la evidencia empíricarespecto al dinamismo desigual mostrado porlos diferentes territorios y sistemas pro-ductivos locales en la que se basa el marcoteórico del desarrollo económico localproviene del llamado mundo desarrollado,por lo que se debe tener sumo cuidado en noextrapolar realidades diferentes. Pero también

es cierto que en América Latina, el anteriorparadigma de desarrollo económico acentuólas desigualdades regionales, agudizó lasdiferencias urbano-rurales y contribuyó muypoco a fortalecer el tejido social en susdiferentes niveles de participación (local,regional, nacional).

Tal como afirma Alburquerque (1996),hay que destacar la existencia de dinámicasterritoriales específicas dependientes no sólode los capitales extranjeros, sino también desu capacidad para impulsar procesosendógenos, estimulando las iniciativaslocales. En el proceso de desarrollo regionalhabría que diferenciar entonces por lo menosdos lógicas distintas: la global, que implicauna fragmentación de la producción y ladivisión espacial de las funciones de laempresa y la lógica territorial dependiente delconjunto de interdependencias existentesentre los diferentes actores en el territorio.Visto así, el territorio deja de ser un soportepasivo de localización de empresas oactividades para convertirse en un entornoinnovador activo.

La lucha contra la pobreza y lainequidad desde una óptica que apunte amodificar las causas de estos fenómenos debeincorporar además de una lógica de desa-rrollo productivo, una política de fortale-cimiento de los sistemas productivos locales.

En ese sentido el desarrollo económicodebe ser un proceso de cambio estructural queincorpore las circunstancias históricas,sociales e institucionales que ocurren en unterritorio y que condicionan siempre laorganización de las actividades económicas.Es una forma de darle protagonismo a losactores económicos y sociales, agentes de esecambio. La experiencia adquirida indica queno existe una sola vía de desarrollo, sinodiversas líneas de desenvolvimiento, en lascuales los diferentes actores sociales desem-peñan funciones relevantes en cada territorioconcreto. Por qué no incluir de manerasistemática a los sectores de bajos ingresos?

En la actualidad los oligopolios marcanel rumbo del desarrollo económico mundial,y hoy como nunca antes, se han trasladado ala sociedad valores y metodologíasempresariales. Quizás por eso mismo se haconvertido en un lugar común hablar desolidaridad, de desarrollo humano, de crecimiento

41Asentamientos Humanos y Desarrollo Local

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 1, N. 2, Mar. 2001.

con equidad cuando es posible que territorioscompletos de países y regiones jamás puedanacceder al mundo de la globalización.

Por ello, aunque el desarrollo econó-mico local no represente la solución a todoslos problemas de una comunidad, es sinembargo una herramienta que, usada adecua-damente, tiene un gran potencial para pro-ducir los cambios requeridos por eldiagnóstico de la situación que se quieremodificar.

Respecto a la planificación de losasentamientos humanos, sería interesanteintercambiar experiencias dentro de la regiónlatinoamericana. Los municipios chilenos, porejemplo, han desarrollado instrumentos degestión municipal en el marco del desarrolloeconómico local. Uno de ellos, el PlanRegulador comunal es

“(...) un instrumento de planificación local queestá inserto dentro del Plan de DesarrolloRegional y Comunal. Como tal debe considerarlineamientos estratégicos, de acuerdo a laspolíticas de desarrollo socioeconómico, sus áreasde influencia, metas de crecimiento, prioridadesy oportunidades de inversión en infraestructurasanitaria, vial, energética, de comunicaciones, deequipamientos, u otros.De esta forma el Plano Regulador

Comunal se constituye en un instrumentobásico de gestión municipal en el ámbito deldesarrollo económico local, ya que regula yorienta las inversiones a través de lalocalización de actividades productivas en unterritorio determinado (Asociación Chilena deMunicipalidades, 1996).

El Plan Regulador es un instrumento deplanificación territorial que proporcionaalternativas concretas y viables paraoptimizar el uso del suelo en función de unPlan de Desarrollo Local sustentable.

Profundizar la democratización de larelación Estado-sociedad civil, la descentra-lización, promover la construcción de comu-nidad cohesionando a la población en tornoa proyectos comunes, facilitar y promover laparticipación de todos los actores, lograrconsensos, son todas condiciones necesariaspara echar a andar el proceso de desarrollolocal. Integrar la construcción de asenta-mientos humanos a ese proceso, promo-viendo el desarrollo de sus habitantesrequiere además de un fortalecimiento de ladimensión territorial en la planificación de losgobiernos, de la consideración de aspectos

que van más allá de los puramente físicos. Asícomo se ha ampliado y adoptado un conceptode vivienda para los sectores poblacionalesen cuestión, en el que se incorporaronaspectos sociales, técnicos, ecológicos ylegales (hábitat), así deberían planificarse losasentamientos de una manera estratégica,multidisciplinaria, integral y articulada entretodas las instancias de gobierno, respetandoademás el principio de subsidiaridad5 entreellas.

Lo que se propone concretamente esdarle el mismo peso a los componentes decarácter económico que a los espaciales,promoviendo la generación de empleo yfortaleciendo la economía de los micro - ypequeños emprendimientos. Éste no es deninguna manera un aspecto nuevo en el casode los sectores en cuestión. Hay en la regiónmuchas experiencias de provisión deinfraestructura y vivienda y hasta de reno-vación urbana integral6 asociada a la gene-ración de renta. Sin embargo esa medidas nodeben ser meramente compensatorias sinoauto-sustentables.

La experiencia de los últimos añosmuestra la necesidad de que el Estadoestablezca mecanismos de participación, puesesa condición es fundamental para alcanzarel desarrollo local; una participación en la quetodos los actores, hombres y mujeres,instituciones, empresas y organizaciones dela sociedad civil se encuentren involucradosy en la que el Estado aliente a los ciudadanosa pasar de la situación de destinatarios a lade actores involucrados luchando por susintereses.

Notas1 Heller ha sostenido que la relación entre individuo y

comunidad contiene una triple diferencia: entreindividuo y sociedad, individuo y grupo e individuoy masa, concibiendo a la comunidad como una unidadestructurada de grupos con valores homogéneos a lacual pertenecen necesariamente los individuos (Heller,1985).

2 Bauleitpläne: planificación del uso del suelo compuestapor dos instancias: la zonificación en áreasresidenciales, industriales, de recreación, de usosmixtos, etc. y la determinación más detallada de sususos específicos y su organización.

3 Esta atribución no sólo existe como letra escrita, sinoque es ejercida por ellos. De hecho, en Alemania estáprohibido construir viviendas en zonas desprovistasde infraestructura y la construcción está tan reguladaque a veces los ciudadanos alemanes se quejan del

42 Alicia Rivero-Iwasita

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 1, N. 2, Mar. 2001.

“excesivo intervensionismo” del Estado.4 Esto vale fundamentalmente para las periferias de las

grandes ciudades de América Latina. Como es sabido,una parte considerable de su desarrollo urbano seprodujo por este tipo de loteo de tierras, en el que losempresarios se limitaron a medir y subdividir losterrenos y en el mejor de los casos a efectuar el trazadode alguna calle de tierra, con lo cual estosasentamientos nacieron con infraestructura social ytécnica insuficiente.

5 De acuerdo al principio de subsidiaridad, las instanciassuperiores deben intervenir en problemas que lecompeten a instancias inferiores sólo en la medida queéstas lo necesiten y soliciten.

6 Sólo a modo de ejemplo se mencionan dos casos: el deprovisión de infraestructura y apoyo a losmicroempresarios, el Proyecto PRORENDA deFortaleza, Brasil, en el que intervinieron institucionesestatales, el Gobierno Municipal, organizaciones dela sociedad civil y la Agencia Alemana de CooperaciónTécnica -GTZ-), y el Programa de Renovación UrbanaIntegral (1988-1993) en San Salvador, El Salvador, C.A.,que contaba entre sus componentes, además devivienda, infraestructura y servicios, tenencia de latierra, equipamiento social, el apoyo a la generaciónde empleo y en el que intervinieron la comunidad, laAlcaldía Municipal, ONGs locales e internacionales ytambién la GTZ.

Bibliografía

ALBURQUERQUE, F. Desarrollo Económico Local ydistribución del progreso técnico. Una respuesta a lasexigencias del ajuste estructural. Santiago, ILPES/CEPAL/ONU, 1996.

ASOCIACIÓN CHILENA DE MUNICIPALIDADES.Desarrollo Económico Local. Santiago, 1996.

HÁBITAT II. Programa Hábitat. Plan de Acción Mundial:Estrategias para la aplicación. New York, ONU, 1996.

HELLER, A. Historia y vida cotidiana. México, Grijalbo,1985.

LUNGO, M. Condiciones de vida y organización socialen los asentamientos populares urbanos. In: EstudiosSociales Centroamericanos, n. 44, San José, mayo/agosto 1987.

LUNGO, M.; RIVERO, A.; UMAÑA, N. Desarrollo Localy Asentamientos Humanos en las Zonas Ex-Conflictivasen El Salvador. San Salvador, FUNDASAL, 1995.

RIVERO, A. Wohnungsprobleme inlateinamerikanischen Städten -Der geförderteSelbstbau als Alternative zum Habitat Popular- AmBeispiel von Buenos Aires. Tesis de doctorado. Bonn,Rheinische Friedrich-Wilhelm Universität, 1993.

Utilização de plantas com propriedades inseticidas: uma contribuição para oDesenvolvimento Rural Sustentável

The use of plants with insecticide properties: a contribution for Sustainable Rural DevelopmentUtilización de plantas com propiedades insecticidas: uma contribución para el Desarrollo

Rural SostenibleAntonia Railda Roel

Universidade Católica Dom Bosco

Resumo: Os estudos de plantas com propriedades inseticidas foram retomados após a constatação de gravesproblemas de contaminação ambiental causados pela utilização de produtos químicos. Atualmente, muitas pesquisasestão sendo desenvolvidas sobre a exploração de plantas e seus efeitos diversos sobre pragas no campo, em armazénse na saúde pública. Na agricultura, o uso de inseticidas botânicos diminui os custos de produção, preserva oambiente e os alimentos da contaminação química, tornando-se prática adequada à agricultura sustentável econtribuindo para o aprimoramento da qualidade de vida das populações envolvidas.Palavras-chave: Plantas inseticidas; Controle de pragas; Agricultura sustentável.Abstract: The studies of plants with insecticide properties were retake after evidences of serious problems ofenvironmental contamination caused by use of chemical products. Actually, there are many researches on explorationof plants and its several effects on pests in field, warehouses and in public health. In agriculture, the use of botanicalinsecticides decreases the production costs; it preserves the environment and foods of chemical contamination,becoming activity adapted to sustainable agriculture and contributing to improvement of life quality of involvedpopulations.Key words: Control of pests; Botanical insecticides; Sustainable agriculture .Resumen: Los estudios de plantas con propriedades insecticidas fueron retomados después de la constatación deproblemas graves de contaminación ambiental causados por el uso de productos químicos. Actualmente, muchasinvestigaciones están siendo desarrolladas sobre la explotación de plantas y sus efectos diversos sobre plagas en elcampo, en almacenes y en la salud pública. En la agricultura, el uso de insecticidas botánicos disminuye los costos deproducción y preserva el ambiente y los alimentos de la contaminación química, volviéndose una práctica adecuadapara la agricultura sostenible y contribuyendo para la mejora de la calidad de vida de las poblaciones involucradas.Palabras clave: Plantas insecticidas; Control de plagas; Agricultura sostenible.

1964 a 1979 o consumo de fertilizantesminerais solúveis aumentou em 1.243%, ode pesticidas em 421%, o de máquinas agrí-colas em 389%, enquanto, no mesmo perío-do, o aumento da produtividade agrícola(média de 15 culturas) foi de apenas 4,9%.Estima-se que, da renda agrícola, cerca de66% dos lucros convergem para a indústria(insumos e máquinas), 19% para o comércioe apenas 11% dos lucros são destinados aquem realmente os produziu. Nesse sistemaindustrializado de produção de alimentos efibras, os fertilizantes sintéticos e pesticidassomam cerca de 40 a 80% dos custos deprodução. De acordo com Ponte1, no períodode 1976 a 1985 o consumo de pesticidascresceu em 500%, enquanto registrou-se umaumento de apenas 5% da produtividade.O Brasil, maior consumidor de pesticida daAmérica Latina, utiliza 1,5 kg de ingredienteativo por hectare cultivado, sendo que nahorticultura o consumo médio anual sobe a10 kg por hectare. Nesse contexto, os maioresatingidos são os naturalistas consumidoresde verduras, legumes e cereais integrais,quando produzidos em sistema não orgâ-nicos, assim como a saúde e o bem-estar daspopulações ligadas diretamente à produção.

Introdução

A modernização da agricultura, apósa Segunda Guerra, acrescentou, ao processode produção de alimentos, a utilização demáquinas e equipamentos agrícolas, além defertilizantes e pesticidas químicos, tornandoo sistema altamente dependente de recursos(insumos agrícolas) externos às propriedadesrurais. A aplicação dessa tecnologia acarretao aumento dos custos de produção comconseqüente aumento dos preços dos alimen-tos para os consumidores, inviabilizandofreqüentemente as produções agrícolas. Comesse sistema vieram também muitos casos deintoxicações de operadores, aumento damortalidade de animais domésticos e silves-tres, contaminação dos solos, das águas e dosalimentos com resíduos de pesticidas, umconjunto de ocorrências que afeta, direta eindiretamente, a saúde das comunidadesenvolvidas na produção de alimentos.

No contexto agrícola latino-americano,autores questionam o avanço tecnológiconesse modelo agrícola, mostrando que, noperíodo, ocorreu somente 7% de crescimentoper capita na produção de alimentos. Deacordo com Paschoal (1983), no período de

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 1, N. 2, p. 43-50, Mar. 2001.

Contato: [email protected]

44 Antonia Railda Roel

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 1, N. 2, Mar. 2001.

Quando acompanhamos a agriculturadita industrializada, notamos a necessidadecada vez maior de utilização de pesticidassimultaneamente ao aparecimento de novaspragas e de populações resistentes aos insetici-das em uso. Em seu livro “As plantas que adoe-cem dos agrotóxicos: a teoria da trofobiose”,Charboussou (1987) expõe a teoria de que oataque de pragas relaciona-se com o estadometabólico alterado das plantas. A utilizaçãode pesticidas, de acordo com o autor, as tornaalimento adequado aos insetos e, portanto,mais susceptíveis ao ataque de parasitas.Dessa forma, os insetos teriam maiorescondições de sobrevivência, pela maior ofertade alimentos e maior crescimento popula-cional. Nessas condições, ocorreria maiorincidência de pragas, fato que justificarianovas aplicações, aumentando-se, assim, adependência de pesticidas. Colocando emcausa o uso indiscriminado de pesticidassintéticos, Charboussou acrescenta que “todoparasita morre numa planta sã”.

A América Latina foi favorecida pelanatureza com uma grande abundância derecursos renováveis e não renováveis quevêm, entretanto, sendo utilizados segundoa lógica do “solapamento” (Altieri e Mazera,1998). Apesar das variações de riquezasnaturais entre diferentes países ou no interiorde um só país, a degradação atinge todo ocontinente. Essa degradação envolve o soloe a água (erosão, poluição, sedimentaçãoquímica), além de provocar a destruição dabiodiversidade e a redução da diversidadegenética (causadas por desmatamento ealteração no habitat, entre outros), condiçõesque acarretam o declínio das produtividadesregionais. Como lembra Elizalde (2000), emum instigante estudo sobre o Desenvolvi-mento Local, a paisagem do Chile, entreoutros problemas ambientais, é carcomidapor extensos monocultivos e contaminadapor toneladas de pesticidas e agroquímicos.O impacto ecológico dos pesticidas não sócausa mortalidade de animais silvestres edomésticos, inimigos naturais das pragas eoutros organismos benéficos, como altera oequilíbrio do solo, causando mortalidade demicroorganismos e influenciando, final-mente, toda a cadeia alimentar.

Recente Relatório da FAO classifica oBrasil como o 3º maior consumidor de pesti-

cida e, coincidentemente ou não, o 3º emmortalidade por câncer (Ponte, 1999). EmFortaleza, de acordo com levantamento emhospitais, 51% das pessoas atacadas decirrose hepática são abstêmias e, em suamaioria, consumidoras de dieta a base defrutas e hortaliças, justamente as culturasmais “protegidas” por pesticidas (Ponte,1999). Como conseqüência de intoxicaçõespor pesticidas são citadas moléstias tais comocâncer, cirrose hepática, abortos, deforma-ções fetais, impotência sexual, fibrose pulmo-nar, braquicardia, distúrbios do sistemanervoso, hepatite, acnes, pancreatite, diabete,úlcera, alergia e distúrbios audiovisuais, quese somam a outras intoxicações consideradasleves (Ponte, 1999).

O emprego de substâncias extraídas deplantas silvestres, na qualidade de inseticidas,tem inúmeras vantagens quando comparadoao emprego de sintéticos: os inseticidasnaturais são obtidos de recursos renováveis esão rapidamente degradáveis (ou seja, nãopersistem no ambiente); o desenvolvimentoda resistência dos insetos a essas substâncias- compostas da associação de vários princípiosativos - é um processo lento; esses pesticidassão de fácil acesso e obtenção por agricultorese não deixam resíduos em alimentos, além deapresentarem baixo custo de produção. É,portanto, aconselhável, a produção dealimentos em sistema orgânico, quando daimplantação de programas de agriculturasustentável e de desenvolvimento local.

Em todas as regiões do mundo, a utili-zação doméstica de plantas com fins medici-nais, assim como seu emprego pesticida naagricultura, são hábitos comuns e arraigadosna cultura popular. A agricultura de subsis-tência na América Latina tem utilizado plan-tas para controlar insetos, entre as quais po-dem citar-se as mais conhecidas: alho (Alliumsativum), fruta do conde (Annona squamosa),artemisia (Artemisia ludoviciana), mamona(Ricinus cummunis), louro (Laurus nobilis),coentro (Coriandrum sativum), arruda (Rutagraveolens), cravo-de-defuntos (Tagetes sp),urtiga (Urtica urens), maria-preta (Cordisverbenacea); chagas (Trapaeolum mejus);cavalinha (Equisetum arvense); erva-de-santa-maria (Chenopodium ambrosioides); mentrasto(Ageratum conyzoides); cardo-santo (Argemonemexicana); quebra-pedra (Euphorbia prostata),

45Utilização de plantas com propriedades inseticidas: uma contribuição para oDesenvolvimento Rural Sustentável

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 1, N. 2, Mar. 2001.

guanxuma (Sida rhombifolia), gerânio (Pelargo-nium zonale), hortelã (Mentha piperita), espo-rinhas (Delphinium sp.), alamandra (Allamandanobilis), e ainda os atrativos/repelentes tayuiá(Cayaponia tayuya) e eucalipto (Eucalyptus spp),além de muitas outras mais (Guerra et al. 1985;Laca-Buendia e Brandão, 1988).

Em uma alternativa de produção dealimentos tal como se concebe a agriculturasustentável, busca-se mobilizar harmoniosa-mente todos os recursos disponíveis na uni-dade de produção de forma a reduzir oimpacto ambiental e a poluição, a minimizara dependência externa das matérias primas,a atingir a otimização do balanço energéticoda produção e a produzir alimentos baratose de alta qualidade biológica para suprirnecessidades internas e gerar excedentesexportáveis. O resgate de informações sobrea utilização popular de plantas no controlede enfermidades do homem, de animaisdomésticos e de plantas cultividas pelascomunidades, valoriza o conhecimentopopular, importante fator a ser consideradonos programas de pesquisa em desenvol-vimento local e na busca da sustentabilidadena agricultura, principalmente quando setrata de pequenas propriedades em regiõeseconomicamente desfavorecidas.

Utilização de produtos de origem vegetalcomo praguicida nas lavouras, armazénse residências

Os estudos de controle de pragas comprodutos derivados de plantas foram reto-mados após a constatação de graves proble-mas de contaminação ambiental, denun-ciados principalmente por Raquel Carsonem seu livro Primavera Silenciosa, publicadoem 1962. Essas contaminações são causadas,majoritariamente, pela utilização de pro-dutos químicos, pesticidas e fertilizantes naagricultura moderna industrializada.

Já nos tempo do rei Jerjes da Pérsia, emaproximadamente 400 A.C., o piretro, deriva-do do crisântemo (Chrysanthemum cinerariafo-lium), era utilizado com o nome de “Pó(polvos) da Pérsia”. De acordo com Lagunese Rodriguez (1992), os primeiros fitoinseti-cidas utilizados foram a nicotina extraída deNicotiana tabacum, a rianodina extraída deRyania speciosa, a sabadina e outros alcalóides

extraídos de Schoenocaulon officinale, as pire-trinas extraídas do piretro C. cinerariaefoliume a rotenona extraída de Derris spp e Loncho-carpus spp. Algumas plantas têm contribuídopara o controle de pragas fornecendo ingre-dientes ativos inseticidas ou, ainda, comobase para a síntese de novas moléculas parauso na agricultura, como por exemplo a plantaPhysostigma venenosum, utilizada para asíntese dos inseticidas carbamatos porStedman e Berger (Silva, 1990).

Na década de 50, Maranhão (1954)relacionou cerca de 2.000 plantas inseticidas(distribuídas em 170 famílias) com atividadetóxica para diversos insetos. De acordo comesse autor, os inseticidas comerciais de ori-gem vegetal eram obtidos, principalmente decinco famílias botânicas: Solanaceae, Com-positae, Leguminosae, Chenopodiaceae eLiliaceae, das quais se extraíam, respecti-vamente, a nicotina, piretro, timbó, heléboroe anabasina. Grainge e Ahmed (1988) cata-logaram 2.400 espécies de plantas com pro-priedades úteis no controle de insetos, alémde listarem cerca de 800 pragas controladaspor essas plantas e, ainda, 100 plantas comoutras substâncias químicas reportadas nocontrole de doenças e nematóides parasitasdo homem e de animais. Schumutterer(1992) citou as famílias Meliaceae, Aste-raceae, Labiaceae, Aristolochiaceae eAnnonaceae como principais fontes deprincípios ativos inseticidas.

Os derivados botânicos podem causardiversos efeitos sobre os insetos, tais comorepelência, inibição de oviposição e da ali-mentação, alterações no sistema hormonal,causando distúrbios no desenvolvimento,deformações, infertilidade e mortalidade nasdiversas fases. A extensão dos efeitos e otempo de ação são dependentes da dosagemutilizada, de maneira que a morte ocorre nasdosagens maiores e os efeitos menos intensose mais duradouros nas dosagens menores. Autilização de doses sub-letais causa reduçãodas populações a longo prazo e necessita demenores quantidade de produtos. As dosesletais muitas vezes tornam sua utilizaçãoinviável pela grande quantidade necessária.A eficiência da utilização de qualquerbioinseticida aumenta quando as lavouras sãomonitoradas regularmente, e o produto éaplicado em populações menores, com

46 Antonia Railda Roel

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 1, N. 2, Mar. 2001.

indivíduos no início do desenvolvimento.Dependendo da espécie vegetal e do tipo deutilização, os derivados pesticidas podem serutilizados sob forma pura, em estado demaceramento, em forma de pós ou de extratos(especialmente em soluções aquosas), além deoutras formas específicas, condições quefacilitam o manuseio e a utilização.

No Brasil há, atualmente, inúmeraspesquisas sobre o potencial fitoinseticida dealgumas plantas nativas. Investigações sobrea utilização de extratos da pimenta-do-reinoPiper nigrum na proteção de grãos contra atraça-dos-cereais Sitotroga cerealela obteveresultados promissores (Boff e Almeida, 1995),assim como sobre larvas de Culex (Culex)quinquefasciatus, vetor da filariose bancroftia-na (Chahad e Boff, 1994). Para o controle dobicudo do algodoeiro, Anthonomus grandis,comprovou-se o potencial dos extratos deMelia azedarach (cinamomo), Chenopodiumambrosioides (erva de santa maria) e princi-palmente dos frutos de Piper nigrum (pimentapreta), para uso em programas de manejo depopulações de insetos (Fernandes et al., 1993).A mamona, Ricinus communis, demonstrouser eficiente no combate a formigas cortadeirasem testes feitos por Hebling (1996). A canelaCynnamomum zeylanicum demonstrou terefeito repelente sobre Zabrotes subfasciatus,praga de grãos armazenados, em testes feitosem laboratório por Oliveira et al. (2000). Osingredientes ativos contidos nas folhas deEucaliptus citriodora e outras espécies dogênero se mostraram promissores para ocontrole tanto de pragas de grãos armaze-nados quanto de formigas cortadeiras dogênero Atta (Nakano e Cortez, 1967; Anjos eSantana, 1994).

Planta nativa da matas da Amazônia,Venezuela e América Central, a quina ouQuasia amara é comumente encontrada nosquintais dessas regiões, devido ao uso medic-inal feito pela população. A quina é indicada,na bibliografia científica, como repelente demoscas e no controle de pulgões, pequenosinsetos fitófagos e polífagos muito comuns emlavouras e plantas ornamentais. Para sesublinhar a importância do conhecimentopopular para o desenvolvimento da ciência,note-se que, no ano de 1995, um pequenoagricultor observou, no Pará, grande quanti-dade de gafanhotos mortos sob a árvore de

quina, cujas folhas tinham sido devoradas.Ora, o gafanhoto conhecido como tucura épraga voraz e causa muitos prejuízos aosprodutores da região, especialmente em man-diocais, base da agricultura de subsistência.A partir do relato feito com fulcro em umconhecimento popular empírico, foramconduzidas várias experiências sobre osefeitos da planta em relação a esse inseto,resultando em recomendações sobre o uso ea preservação dessa planta na região.

A manipueira, líquido de aspectoleitoso derivado da indústria da farinha demandioca Manihot esculenta, contém goma,glicose e outros açúcares, proteínas, célulasdescamadas das raízes, ácido cianídrico ederivados cianogênicos, sais minerais e subs-tâncias orgânicas diversas. Estudos demons-tram sua utilidade na agricultura por suaeficiência como inseticida e nematicida, etambém são salientadas suas propriedadesfertilizantes, decorrentes de uma composiçãoquímica na qual se encerra a maioria dosmacro e micro nutrientes (Ponte, 1999).Testes também demonstraram sua eficiênciainseticida para a cochonilha de carapaçaCoccus hesperidium, o pulgão negro Toxopteracitricidus e a cochonilha escama-farinhaPinaspis aspidistrae (Ponte et al., 1988).

A família botânica Meliaceae é atual-mente muito investigada, por possuir muitasespécies que são fonte de princípios ativoscom propriedades inseticidas e diferentesmodos de ação em relação a muitas espéciesde insetos (Rodríguez, 1995). Destaca-se,dentre estas, a Azadirachta indica, conhecidapopularmente como nim (Koul et al., 1990).Os derivados dessa planta têm sido usadostradicionalmente por agricultores, na Ásia eÁfrica, contra insetos nocivos à produçãoagrícola. Originária das regiões áridas daÍndia, essa planta é utilizada, numa práticaantiga e corrente nesse país, em culturas desubsistência. Nessa perspectiva, as folhassecas do nim são misturadas com grãosarmazenados ou seus frutos são esmagadosnas paredes dos armazéns, para evitar danosprovocados por insetos. Possui alta capaci-dade como inseticida e é capaz de exercerdiversos modos de ação sobre os insetos, taiscomo: inibição alimentar, inibição da síntesedo ecdisônio, inibição da biosíntese daquitina, deformações em pupas e adultos,

47Utilização de plantas com propriedades inseticidas: uma contribuição para oDesenvolvimento Rural Sustentável

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 1, N. 2, Mar. 2001.

redução da fecundidade e longevidade deadultos, alterações na capacidade de atraçãodos feromônios, esterilização e inibição deoviposição, diminuição da transmissão de ví-rus e mortalidade (Koul et al., 1990; Mordue(Luntz) e Backell, 1993 e Schmutterer, 1988;Rodríguez, 1995).

O cinamomo, Melia azedarach, tambémda família Meliaceae, e outras espécies destegênero são também utilizadas e estudadaspor suas propriedades inseticidas (Silva,1990). O cinamomo foi testado por muitosautores para o controle de gafanhotos migra-tórios, Schistocerca cancellata, com resultadossatisfatórios de mortalidade ou repelência,a partir da utilização de extratos de folhas efrutos frescos ou secos (Lepage et al., 1946).No entanto, o extrato de frutos de M. aze-darach foi apresentado, em estudos, comotóxico a animais de sangue quente, embora oproduto extraído das folhas demonstre umatoxicidade bastante reduzida (Saxena, 1989).

Espécies vegetais do gênero Trichilia(Meliaceae) mostram-se bastante promisso-ras para uso inseticida. No México, sementesde milho são impregnadas, durante um dia,antes da semeadura, com uma pasta aquosaobtida dos frutos de Trichilia havanensis, paraproteção contra pragas de solo (Hernándezet al., 1983). Em estudos recentes, destaca-se a Trichilia pallida como uma das espéciescom maior bioatividade (Torrecillas, 1997;Roel, 1998). Roel (1998), utilizando extratoacetato de etila de Trichilia pallida sobre odesenvolvimento da lagarta-do-cartucho-do-milho Spodoptera frugiperda, observou suaeficiência no controle de insetos com efeitossemelhantes aos constatados pela ação donim. Essa espécie possui a vantagem de sercomum no cerrado brasileiro, e sua madeiratem a reconhecida qualidade de ser resistentea cupins.

Plantas que possuem certas substân-cias com propriedades atraentes a insetospodem, também, auxiliar nesse controle,quando agem como armadilhas. A cucurbi-tacina, presente principalmente em plantasda família Cucurbitaceae, possui efeitoatraente de alimentação para o besouro verdeamarelo Diabrotica speciosa. Devido a essacaracterística, pedaços de abóbora-d’aguaLagenaria vulgaris (Cucurbitaceae), tratadascom inseticida, podem ser utilizados no

controle de vaquinhas em cultura de batatainglesa (Roel e Zatarim, 1990). Nesse caso,besouros adultos voam em direção às“armadilhas”, atraídos pela cucurbitacina,alimentam-se e morrem pelo efeito dopesticida impregnado no vegetal.

Brocas de caule e ramos são pragassérias em citricultura, causam prejuízos naprodução e podem provocar a morte dasárvores. Essas pragas podem ser controladascom o plantio intercalado de maria-preta,planta que funciona como armadilhas a essesinsetos. As fêmeas adultas fazem a posturana maria-preta, deixando livres da praga asárvores da frutífera cultivada. Espécies deplantas do gênero Crotalaria spp. (entreoutras), utilizadas em sistema de rotação coma cultura, têm apresentado bons resultadosno controle de nematóides formadores degalhas do gênero Meloidoigyne. Esses vermesdo solo são atraídos para essas plantasarmadilhas, sem contudo conseguirem nelase desenvolver, diminuindo as infestaçõesnos plantios posteriores (Kimati et al, 1997).

Substâncias repelentes presentes emcertas plantas podem também ser utilizadasno controle de insetos e nematóides. Plantasde gergelim são conhecidas como repelentede formigas cortadeiras; recomenda-se culti-vá-las como bordadura de plantações que sequer proteger desses insetos. Da mesmamaneira, plantas de cravo-de-defuntos(Tagetes sp.) podem ser utilizadas no contro-le de pulgões, por seu efeito repelente sobreesses insetos.

Na pecuária, muitos produtos de ori-gem vegetal são eficientes no controle de ecto-parasitas (carrapatos, sarna, berne, bichei-ras) e endoparasitas (vermes). Paschoal(1994) recomenda produtos de origem vege-tal como derris e piretrina, entre outros, paracontrolar sarnas, bernes e carrapatos, em usorestrito na criação de animais em sistemaorgânico. A manipueira, testada como carra-paticida, mostrou-se tão eficiente quanto osprodutos convencionais, com 100% de con-trole (Ponte, 2000 b). Segundo Burg e Mayer(1999), a rotenona, extraída do timbó,controla bernes, carrapatos e sarnas deanimais domésticos. Soluções de fumo, defruta do conde (Anonna squamosa), de cravo-de-defuntos (Tagetes sp.) ou de mamona(Riccinus comunis) são descritas como eficien-

48 Antonia Railda Roel

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 1, N. 2, Mar. 2001.

tes no controle de pulgas e piolhos. Produtosa base de nin são citados como eficientes nocontrole de carrapatos em bovinos, por Neves(2000). De acordo com Menezes2 , o alhoAllium sativum apresenta propriedades medi-cinais, atuando como bacteriostático, repe-lente de insetos e promotor de crescimentoem algumas espécies animais (suínos, aves epeixes). A pesquisadora comunicou que estáconduzindo um experimento, na fazendaLagoa da Cruz (UCDB), sobre o desempenhodo alho, adicionado à ração, no crescimentode suínos; em fase posterior, serão avaliadosa ocorrência de ecto e endo parasitas nosanimais testados no mesmo regime alimen-tar. A pesquisadora salientou ainda que, nolocal dos ensaios, foi observada a reduçãoda população de moscas domésticas.

Igualmente na área da saúde, diversosextratos vegetais vêm sendo pesquisados emtestes visando principalmente transmissoresde doenças tais como mosquitos hemató-fagos, moscas domésticas, baratas, perceve-jos. Esses insetos provocam transtornos nocampo e, cada vez mais, nas cidades, princi-palmente em regiões mais carentes, razãopela qual esses estudos são da maior impor-tância para populações de determinadoslocais. Tal é um aspecto importante a serabordado em programas de desenvolvimentolocal, no sentido de preservar a saúde emelhorar o conforto do homem nas suascomunidades. Assim, no Nordeste, algunstrabalhos vêm sendo conduzidos comextratos vegetais nativos no controle de per-cevejos Triatoma infestans, transmissor doTriopanossoma cruzi, causador da doença dechagas, ocasião em que foram observadosresultados promissores. Lagunes et al. (1984)testaram extratos aquosos do córtex deTrichilia havanensis e de folhas de Trichiliahirta, e constaram a toxicidade à baratadoméstica Periplaneta americana. Para ocontrole de linhagens da mosca doméstica,Musca domestica, Costa et al. (1997) testaramduas espécies de Timbó, Derris urucu e Derrisnicou, na forma de pó da raiz e em diversasdosagens, observando que, embora ambassejam eficientes, há sensíveis diferenças deefeito entre as linhagens. Também para ocontrole da mosca doméstica, Costa et al.(1997) conduziram investigações com espé-cies de timbó e obtiveram resultados satisfa-

tórios, concluindo que, a despeito de suatoxicidade a mamíferos, a rotenona érelativamente inofensiva quando utilizadaadequadamente. Folhas de louro Laurusnobilis, utilizadas em armários para controlede baratas, foram testadas por Machado etal. (1995), estudo que constatou os compos-tos voláteis do louro são repelentes, mas nãosão tóxicos à Periplaneta americana.

Deve-se, no entanto, observar algunscuidados na manipulação de produtos deorigem vegetal. Alguns dos fitoinseticidaselencados no presente artigo apresentaramtoxicidade a animais de sangue quente, taiscomo, por exemplo, os extraídos da famíliaAnnonaceae. Outros derivados vegetais po-dem ser prejudiciais a insetos úteis às plantase ao homem, tais como polinizadores, inimi-gos naturais de pragas e abelhas. Igualmente,produtos de origem da nicotina são de usorestrito, segundo a legislação nos EstadosUnidos, por sua toxicidade, assim como ocinamomo é citado como tóxico a animais desangue quente. Assim, os estudos dos pesti-cidas baseados em ingredientes ativos presen-tes nas plantas devem resgatar o conhe-cimento acumulado das comunidades semdesprezar no entanto, o avanço tecnológicoproporcionado pelo processo de moderni-zação, com o objetivo de aumentar a eficiênciado controle sanitário assim como o deproporcionar maior segurança aos usuários.

Considerações Finais

No processo de modernização ouindustrialização, a agricultura se tornoudependente de insumos produzidos fora dosetor agrícola, como máquinas, equipa-mentos, fertilizantes e pesticidas, insumosque encarecem a produção e diminuem amargem de lucro dos produtores de alimen-tos e fibras. A retomada dos estudos sobre autilização de produtos de origem vegetal naagricultura não só é um resgate das práticasrealizadas por nossos ancestrais, como seenquadra nos programas de desenvol-vimento local e de sustentabilidade depropriedades rurais. Em termos de pequenaspropriedades rurais, as plantas que podemser utilizadas como inseticidas devem serplantadas no próprio local, com o objetivode facilitar a coleta dos materiais vegetais e

49Utilização de plantas com propriedades inseticidas: uma contribuição para oDesenvolvimento Rural Sustentável

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 1, N. 2, Mar. 2001.

sua manipulação. Os extratos normalmenteutilizados por pequenos agricultores devemser aquosos, pela facilidade de obtenção euso. As caldas, de fácil preparo, devem, noentanto, ser preparadas segundo as reco-mendações de especialistas e imediatamenteantes do uso, pois os princípios ativos degra-dam-se facilmente em presença de luz. Asvantagens dessa prática envolvem osaspectos sociais, econômicos e ambientais, esão aqui considerados desde a segurança dosoperadores até a proteção ambiental, dapossibilidade de obtenção de maiores lucrosà permanência do homem no campo.

Todos os aspectos devem ser conside-rados para os estudos e divulgação dessatécnica. Produtos de origem vegetal sãobiodegradáveis, ou seja, não persistem noambiente, no entanto, essa característicalimita o controle de determinadas pragas, porpossuírem pequeno efeito residual, levandoà necessidade de novas aplicações. Essesbioinseticidas são um recurso facilmentedisponível por sua ocorrência natural, toda-via podem ser esgotados se não forem cons-tantemente repostos. O problema é maiorquando se trata de planta exótica como onim, fato que salienta a importância de estu-dos com plantas nativas ou silvestres, quepossam ser encontradas e plantadas commaior segurança. A exploração das plantasdeve ser feita de tal maneira que permita apreservação e a conservação das espécies.Outro ponto que deve ser considerado é atoxicidade dos produtos vegetais, as varia-ções entre as espécies, as partes vegetais utili-zadas e as formas de extração. A toxicidadede todo ingrediente ativo está obviamenteassociado à dosagem utilizada em relaçãoao peso do indivíduo, e é relacionadatambém a forma de aplicação. Todas asinformações sobre eficiência, modo de usar,dosagens, cuidados e outras, devem serfornecidas por trabalhos científicos devida-mente conduzidos, para maior segurança eeficiência no emprego e maior credibilidadecientífica das informações.

Para garantir o sucesso do emprego deinseticidas botânicos, todos os aspectosdevem ser considerados, desde o levanta-mento e as avaliações de espécies silvestresaté o mapeamento dos ingredientes ativos esuas concentrações nas diferentes partes

vegetais. Importante também é conhecer aestabilidade e a persistência do produto noarmazenamento e no campo, a toxicidadeao homem e animais domésticos, o impactosobre inimigos naturais, a relação custo/benefício e outros. Para tanto é necessário oenvolvimento de um trabalho integradoenvolvendo entomologistas, botânicos(fitotaxonomistas), químicos (fitoquímicos),toxicologistas e outros pesquisadores empe-nhados na recuperação e na sistematizaçãode um saber popular e, muitas vezes, deâmbito regional.

Notas1 Palestra proferida pelo Prof. Dr. José Júlio da Ponte,

da UFCE, presidente da Academia Cearence deCiências, no “I Congresso Brasileiro de DefensivosAgrícolas Naturais”, em 5/11/2000.

2 Informação da Veterinária Giovanna Padoa deMenezes, Mestranda em Meio Ambiente e Especialistaem Suinocultura. Professora da UCDB.

Referências Bibliográficas

ALTIERI, M. A.; MASERA, O. Desenvolvimento ruralsustentável na América Latina: construindo de baixopara cima. In: Reconstruindo a Agricultura: idéias eideais na perspectiva do desenvolvimento ruralsustentável. Alcione Almeida e Zander Navarro(org.).2. ed., Porto Alegre, UFRGS, 1998, p. 72-105.

ANJOS, N.; SANTANA, D. L. Q. Alterações deletériasno comportamento de Atta laevigata (F. Smith) e Attasexdens rubropilosa Forel (Hymenoptera: Formicidae),causadas por folhas de Eucaliptus spp. SociedadeEntomológica do Brasil. Anais... Londrina, SociedadeEntomológica do Brasil, v. 23, n.1, 1994, p. 25-30.

BOFF, M. I. C.; ALMEIDA, A. A. de. Efeito residual deextratos aquosos de Piper nigrum (L.) sobre larvasneonatas de Sitotroga cerealella (Oliv.). SociedadeEntomológica do Brasil. Anais... Londrina/PR,Sociedade Entomológica do Brasil, v. 24, n.1, 1995.

BURG, I. C.; MAYER, P. H. Alternativas ecológicas paraprevenção e controle de pragas e doenças. 7. ed. FranciscoBeltrão/PR, Grafit, 1999.

CARSON, R. Primavera silenciosa. 2. ed. São Paulo,Melhoramentos, 1969, 305 p.

CHADAD, S.; BOFF, M. I. C. Efeito de extratos de pimen-ta preta sobre larvas de Culex (Culex) quinquefasciatusSay (Diptera: Culicidae). Sociedade Entomológica doBrasil. Anais... Londrina, Sociedade Entomológica doBrasil, v. 23, n. 1, 1994, p. 13-18.

CHARBOUSSOU, F. Plantas doentes pelo uso de agrotóxicos:a teoria da trofobiose. Porto Alegre, L & PM, 1987.

COSTA, J. P. da; BÉLO, M.; BARBOSA, J. C. Efeitos deespécies de timbós (Derris spp.: Fabaceae) empopulações de Musca domestica L . SociedadeEntomológica do Brasil. Anais... Londrina, SociedadeEntomológica do Brasil, v. 26, n. 1, 1997, p.163-168.

ELIZALDE, A. Desarrollo a Escala Humana: conceptos

50 Antonia Railda Roel

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 1, N. 2, Mar. 2001.

y experiencias. Interações, UCDB, Campo Grande, v.1, n. 1, set. 2000.

FERNANDES, W. D.; FERRAZ, J. M. G.; FERRACINI,V. L.; SANTOS, A. B. Avaliação do efeito deterrentede alguns extratos vegetais sobre Anthonomus grandisBoheman, 1843 (Coleoptera: Curculionidae) e,condições de laboratório. In: CONGRESSOBRASILEIRO DE ENTOMOLOGIA, 14, 1993,Piracicaba. Resumos... Piracicaba, SociedadeEntomologica do Brasil, 1993, p. 573.

GRAINGE, M.; AHMED, S. Handbook of plants with pest-control properties. John Wiley & Sons, Inc. 1988, 470 p.

GUERRA, M. S. Receituário caseiro: alternativas para ocontrole de pragas e doenças de plantas cultivadas ede seus produtos. Brasília, EMBRATER, 1985, 166 p.(EMBRATER. Informações Técnicas, 7).

HEBLING, M. J. A. Toxic effect of Ricinus communis(Euphorbiaceae) to laboratory nests of Atta sexdensrubropilosa (Hymenoptera: Formicidae). Bulletin ofEntomological Research, v. 86, 1996, p. 253-256.

HERNANDEZ, X. E.; INZUNZA, M. F.; SOLANO, S. C.B. Insectos de control de plagas y enfermidadesidentificadas en la agricultura tradicional en México.Revista Chapingó, Chapingo, v. 40, n. 55-6, 1983.

KIMATI, H.; AMORIM, L.; BERGAMIN, FILHO, L. E.A.; REZENDE, J. A. M. Manual de Fitopatologia. 3. ed.São Paulo, Agronômica Ceres, 1997 Ill, 774 p.

KOUL, O. ISMAN, M. B.; KETKAR, C. M. Proportiesand uses of neem, Azadirachta indica. Canadian Journalof Botany, Ottawa, v. 68, n.1, 1990, p. 1-11.

LACA-BUENDIA, J. P.; BRANDÃO, M. Usos poucoconhecidos de plantas daninhas como companheiras,repelentes, inseticidas, iscas, moluscicidas enematicidas. Informe Agropecuário, Belo Horizonte,v. 13, n. 150, 1988, p. 30-33.

LAGUNES, T. A.; ARENAS, L. C; RODRÍGUEZ, H. C.Extractos acuosos y polvos vegetales con propiedadesinsecticidas. Chapingo, Colégio de Postgraduados,Centro de Entomologia y Acarologia, 1984, 203 p.

LAGUNES, T. A.; RODRÍGUEZ, H. C. Los extractosacuosos vegetales con actividad insecticida: el combatede la conchuela del frijol. Tezcoco, USAID-CONACYT-SME-CP, 1992, 57 p. (Temas Selectos deManejo de Insecticidas Agrícolas, 3).

LEPAGE, H. S.; GIANNOTTI, O.; ORLANDO, A.Proteção das culturas contra gafanhotos por meiode extratos hde Melia azedarach. Biológico, v. 12, 1946,p. 265-271.

MACHADO, V. L. L.; PALMA, M. S.; COSTA, O. M.Ação repelente das frações de óleos essenciais dafolha de louro (Laurus nobilis L.) em ninfas e adultosde Periplaneta americana (L.) (Blattaria: Blattidae).Sociedade Entomológica do Brasil. Anais...Londrina, Sociedade Entomológica do Brasil, v. 24,n. 1, 1995.

MARANHÃO, Z. C. Plantas inseticidas. Revista daAgricultura, v. 29, n. 3-4, p.113-121, 1954.

MORDUE (LUNTZ), A.J.; BLACKWELL, A.Azadirachtin: an updatte. Journal of Insect Physiology,Oxford, v. 39, n. 11, 1993, p. 903-924.

NAKANO, O; CORTEZ, J. Ensaio de controle às pragasdo milho armazenado, com óleo de eucalipto(Eucaliptus citriodora Hooker) e sua eficiênciacomparada ao malathion. Revista da Agricultura,Piracicaba, v. 42, n. 3, p. 95-98, 1967.

NEVES, B. P. das. Nim, princípios e aplicações comodefensivo agrícola. In: CONGRESSO BRASILEIRODE DEFENSIVOS AGRÍCOLAS NATURAIS.Resumos... 1. ACECI, Fortaleza/CE, 2000, p. 95.

OLIVEIRA, J. V.; SILVA, G. J. R.; COUTINHO, R. L. B.C.; SANTOS, A. S. Influência de pós vegetais na viabi-lidade de ovos e emergência de Zabrotes subfasciatus(Boh.) (Coleoptera: Bruchidae) em feijão, Phaseolusvulgaris, armazenado. In: I CONGRESSOBRASILEIRO DE DEFENSIVOS AGRÍCOLASNATURAIS. Resumos...,1. ACECI, Fortaleza/CE,2000, p. 41.

PASCHOAL , A. D. Produção orgânica de alimentos.Agricultura Sustentável para os séculos XX e XXI.Piracicaba/SP, Adilson Paschoal, 1983, 191 p.

PONTE, J. J. da. Cartilha da manipueira, uso do compostocomo insumo agrícola. Fortaleza, SECITECE, 1999, 53 p.

_____. Utilização da manipueira como fertilizante edefensivo agrícolas. In: Congresso Brasileiro DeDefensivos Agrícolas Naturais. Resumos... 1. ACECI,Fortaleza/CE, 2000a, p. 91.

_____. Eficiência da manipueira como carrapaticida.Teste preliminar. CONGRESSO BRASILEIRO DEDEFENSIVOS AGRÍCOLAS NATURAIS. Resumos...1. COBRADAN, Fortaleza/CE, 2000B.

PONTE, J. J. da.; FRANCO, A.; SANTOS, J. H. R. DOS.Teste preliminar sobre a utilização da manipueiracomo inseticida. Revista Brasileira da Mandioca, Cruzdas Almas, v. 7, n. 1, p. 89-90, 1988.

RODRÍGUEZ, H. C. Efeito de extratos aquosos deMeliaceae no desenvolvimento de Spodopterafrugiperda (J. E. SMITH, 1797) (Lepidoptera: Noctuidae).Piracicaba, 1995, 100 p. Dissertação (Mestrado) – USP.

ROEL, A. R. Efeito de extratos orgânicos de Trichiliapallida Swartz (Meliaceae) na sobrevivência edesenvolvimento de Spodoptera frugiperda (J. E. Smith,1797) (Lepidoptera: Noctuidae). Piracicaba, 1998, 115p. Tese (Doutorado) – ESAL/USP.

ROEL, A. R.; ZATARIM, M. Eficiência de iscas a base deabóbora d’água Lagenaria vulgaris (Cucurbitaceae),tratadas com inseticida na atratividade de Diabroticaspeciosa. Sociedade Entomológica do Brasil. Anais...Londrina, Sociedade Entomológica do Brasil, 1987.

SCHMUTTERER, H. Potencial of azadirachtin-containing pesticides for integated pest control indeveloping and industrialized countries. Journal ofInsect Physiology, v. 34, n. 7, 1988, p. 713-9.

SILVA, A. C. da. Efeitos inseticida, deterrente esupressor alimentar de alguns extratos vegetaissobre Ceratitis capitata (Wiedmann, 1824) (Diptera:Tephritidae) e Ascia monuste orseis (Latreille, 1819)(Lepidoptera: Pieridae), em laboratório. Lavras,1990, 129 p. Tese (Doutorado) – Escola Superior deAgricultura de Lavras.

TORRECILAS, S. Efeito de extratos aquosos de Trichiliapallida, SWARTZ (Meliaceae) no desenvolvimento deSpodoptera frugiperda (J. E. SMITH, 1797) (Lepidoptera:Noctuidae) criada em diferentes genótipos de milho.Piracicaba, 1997, 143 p. Dissertação (Mestrado) – USP.

Melhoramento e conservação genética aplicados ao Desenvolvimento Local – o caso daseringueira (Hevea sp)

Genetic improvement and conservation applied to Local Development – the case of rubber tree (Hevea sp)Mejora y conservación genética aplicados al Desarrollo Local – el caso del caucho (Hevea sp)

Reginaldo Brito da Costaa, Paulo de Souza Gonçalvesb, Adriana Odalia-Rímolia eEduardo José de Arrudaa

aUniversidade Católica Dom Bosco / bInstituto Agronômico de Campinas (IAC)

Resumo: A seringueira Hevea sp foi domesticada por ser uma das maiores fontes produtoras de borracha vegetal.Sua importância decorre da influência que a borracha veio a exercer sobre a civilização moderna. O Brasil jáocupou posição de destaque no mercado mundial, sendo responsável por 98% da produção no início do século.Hoje, o país produz aproximadamente 1% da produção mundial e importa em torno de 75% do que consome.Neste artigo, analisa-se a origem, a domesticação e a produção de látex da seringueira, como meio de garantiropções econômicas às comunidades, propiciar o desenvolvimento local e a melhoria na qualidade de vida daspopulações envolvidas.Palavras-chave: Seringueira; Produção de látex; Desenvolvimento Local.Abstract: The rubber-tree, Hevea sp., was domesticated because of its productivity as a source of latex. Its importancearose as a result of the influence that rubber came to play in modern civilization. Brazil was once the World’s majorproducer, being responsible for 98% of supplies at the beginning of the twentieth century. Today, the countrycontributes only 1% of World production and imports around 75% of the rubber it consumes. This paper presentsa study of the origin, the domestication and the production of latex by the rubber-tree, in order to guaranteeeconomic options for communities, stimulating local development and improving the quality of life of thepopulations involved.Key Words: Rubber-tree; Latex production; Local Development.Resumen: El caucho Hevea sp fué domesticado por ser una de las principales fuentes productoras de goma vegetal.Su importancia resulta de la influencia que el caucho vino a ejercer sobre la civilización moderna. El Brasil yaocupó posición de destaque em el mercado mundial, siendo responsable por 98% de la produção en inicios delsiglo. Hoy, el país produce aproximadamente 1% da produção mundial e importa casi de 75% de lo que consume.En este artículo, se analiza el origen, la domesticación y la producción de látex del caucho, com el reto de garantizaropciones económicas a las comunidades, permitir el desarrollo local y desencadenar la mejora de la calidad devida de las poblaciones involucradas.Palabras clave: Caucho; Producción de latex; Desarrollo Local.

O látex produzido pela árvore é umasuspensão aquosa contendo 30 a 40% desólidos em forma de partículas de borrachavisíveis em ultramicroscópio. Com proprie-dades únicas entre os produtos naturaispoliméricos, a borracha natural combina elas-ticidade, plasticidade, resistência ao desgaste(fricção), propriedades de isolamento elétricoe impermeabilidade à líquidos e gases(Gonçalves et al., 1990). Desta forma, devidoao seu valor econômico e grande utilidadetem influenciado profundamente a civili-zação moderna.

Considerando o exposto, o presenteartigo objetiva mostrar aspectos relacionadoscom a origem e a domesticação da espécie,bem como apresentar dados sócio-econô-micos relevantes, obtidos a partir do progra-ma de conservação e melhoramento genéticoda espécie, que proporcionaram uma opçãoeconômica e melhoria na qualidade de vidados pequenos e médios produtores de borra-cha do interior paulista e, portanto, desen-cadeando o desenvolvimento local.

1. Introdução

O gênero Hevea pertence à famíliaEuphorbiaceae e tem como área de ocorrênciae dispersão natural a Amazônia brasileira epaíses próximos, como Bolívia, Colômbia,Peru, Venezuela, Equador, Suriname e Guiana.

A classificação atual do gênero Heveaapresenta onze espécies, dentre as quais des-taca-se Hevea brasiliensis, com maior capa-cidade produtiva e variabilidade genética . Aocontrário da maioria das plantas cultivadas,Hevea brasiliensis, a espécie mais importantedo gênero, está sendo domesticada num am-biente moderno, em razão de ser uma dasmaiores fontes produtoras de borracha vege-tal. Sua importância decorre da influência quea borracha veio a exercer sobre a nossa civi-lização, chegando mesmo a caracterizar umaépoca denominada de “ciclo da borracha”. Édesta época a posição de destaque que o Brasilocupou no mercado mundial, sendo respon-sável por 98% da produção no início doséculo. Hoje o país produz aproximadamente1% da produção mundial e importa em tornode 75% do que consome.

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 1, N. 2, p. 51-58, Mar. 2001.

Contato: [email protected]

52 Reginaldo Brito da Costa, Paulo de Souza Gonçalves, Adriana Odalia-Rímoli eEduardo José de Arruda

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 1, N. 2, Mar. 2001.

2. A descoberta da Hevea

Conforme dados levantados porPolhamus (1962), não se sabe exatamentequando a borracha foi descoberta. Osprimeiros registros literários sobre o assuntodatam da viagem de Cristovão Colombo àAmérica, quando seu uso foi observado entreos nativos do continente. Na Amazônia, aborracha foi mencionada pelo jesuíta SamuelFritz e pelo frei carmelita Manoel de Esperan-ça, entre os índios Camibebas ou Omáguas.

Em 1743, Charles Marie de LaCondamine, cientista francês que realizouestudos geodésicos na América Meridionalescreveu a propósito de uma árvore que osnativos de Quito chamavam Cau-chu (quesignifica “pau que dá leite”). Do látex destaplanta, fabricavam uma goma que usavampara fazer diversos artefatos, tais como:garrafas, calçados, bolsas, bolas e bombas ouseringas (daí a designação em português daplanta), objetos esses que chamavam aatenção pela sua impermeabilidade eelasticidade (Batista,1976). Nessa época, onaturalista francês François Fresnau, emestudos na Guiana Francesa, também seinteressava pelas árvores de cujo leite osíndios faziam usos variados. A Heveaguianensis, estudada por Fresnau, teria sido aprimeira espécie a ser descrita.

Segundo Schultes (1977a,b) o botânicobrasileiro Adolfo Ducke foi o que mais sededicou ao estudo do gênero. Seus estudostaxonômicos de quase 50 anos foram divi-didos em três períodos distintos. Na primeirafase, ele descreveu diversas pequenas varia-ções como espécies. No segundo período, eleas reduziu para variedades e formas. Maistarde, em 1943, no fim de sua carreira, eletornou a reconhecer um número reduzido deespécies. Atualmente, são conhecidas onzeespécies no Brasil (Gonçalves et al., 1973),enquanto que na Ásia, somente nove espéciessão catalogadas.

3. Importância econômica do cultivo daHavea

O Brasil, no início do século XX, sedestacou no mercado mundial da borracha,servindo este produto oriundo do extrati-vismo de suporte à nossa receita cambial,

participando com 98% da produção mundial(Bernardes et al.,1990), quando ainda aextração era proveniente de seringais nativosda Amazônia.Com o aparecimento do fungoMicrocyclus ulei, causador do mal das folhas,este passou a ser o maior entrave para odesenvolvimento e produtividade da serin-gueira, e o Brasil perdeu espaço para outrospaíses produtores como a Malásia, Indonésiae Tailândia.

A demanda mundial de borracha foiinfluenciada pela indústria automobilística eprincipalmente pelos países em industriali-zação, de forma proporcional ao aumento darenda per capita ou a produção industrial.Com a acelerada industrialização mundialpós-guerra, a demanda do produto tornou-se maior a curto prazo e os países desenvol-vidos viram-se forçados a buscar alternativaspara suprir suas exigências. Com isso, ocorreua descoberta da borracha sintética a partir dopetróleo, dando novos rumos à economia e àindústria.

Apesar de o consumo da borrachanatural ser menor que o da borracha sintética(Bernardes et al., 1990), a borracha natural,em função de suas características de elasti-cidade, plasticidade, resistência à fricção eimpermeabilidade para líquidos, sempre seráde grande importância para a indústria, umavez que para a produção de sub-produtos, éinsubstituível. Um outro fator que poderáinfluenciar no mercado de borracha naturale/ou sintética, são os futuros aumentos depreço do petróleo, que refletirão na competi-tividade da borracha natural, pois, cerca de70% do custo de produção de borrachasintética provém dessa matéria prima e paraa borracha natural apenas 15% dos insumosnecessários são baseados no petróleo.

A partir de 1982, a produção deborracha natural no Brasil apresentou umincremento significativo, resultante daspolíticas adotadas de incentivo através daSUDHEVEA, com o Programa de Incentivo aProdução de Borracha Natural (PROBOR) e,também através da iniciativa privada nasregiões de escape(áreas delimitadas geografi-camente com mínima incidência do mal dasfolhas), sobretudo nos estados de São Paulo,Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso (Dean,1989). Estes estados são, atualmente, osmaiores produtores de borracha natural.

53Melhoramento e conservação genética aplicados ao Desenvolvimento Local –o caso da seringueira (Hevea sp)

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 1, N. 2, Mar. 2001.

Apesar de sua condição de principalprodutor e exportador de borracha natural noinício do século XX, o Brasil, nos anoscinqüenta, passa à condição de produtor eimportador em função da queda de produção.Mesmo assim, em 1985, atingiu o seu pico deprodução anual com 40 mil toneladas deborracha seca, suprindo 40% do seu consumointerno (Bernardes et al.,1990). Dados de 1990mostram que o Brasil produziu apenas 24%do seu consumo com uma área de aproxima-damente 200.000 ha e uma produtividademédia de 800 kg/ha/ano (Furtado, 1992).Essa produtividade é considerada baixa,quando comparada com a do estado de SãoPaulo, cuja média é de 1250 kg/ha/ano(Brioschi et al., 1992).

4. Domesticação

A domesticação da Hevea brasiliensis éo evento mais importante na história daHeveicultura.

4.1 A coleta de Wickman

O marco mais importante da domesti-cação da seringueira foi a coleta bem sucedidado inglês Henry Alexander Wickman em1876. Wickman aportou no rio Tapajós e, naregião de Boim, com a ajuda dos índios Mura,teria coletado 70.000 sementes de seringueira.Enviadas a Londres pelo navio “Amazonas”,as sementes chegaram ao seu destinodezesseis dias depois (Reis, 1953). Aproxima-damente 2.800 das 70.000 sementes germi-naram em casa de vegetação. O plano originalprevia que as plântulas fossem enviadas paraBurma, mas, devido aos problemas locais, ofato não se concretizou. A rapidez decrescimento das plântulas nas casas devegetação de Kew exigiu seu embarqueimediato para os trópicos, e seu destino foi oJardim Botânico do Ceilão. Em seguida, as 22mudas foram enviadas para numerosaslocalidades na Malásia e outros paísesasiáticos. De acordo com Polhamus (1962),somente 22 plântulas foram destinadas àMalásia. Dessa forma, toda plantaçãocomercial moderna da Ásia foi constituídacom base em progênies de Hevea brasiliensisdessas plantas introduzidas por Wickman.

4.2 Etapas de domesticação

Pode-se considerar que a domesticaçãoda seringueira consistiu de seis etapas. A pri-meira etapa foi a bem sucedida introdução, noOriente, do material genético coletado porWickman na região de Boim, no Pará, e livredo “mal-das-folhas” (Imle, 1978). A chegadade algumas plântulas de Wickman ao JardimBotânico de Singapura foi o estágio inicial paraa segunda etapa, uma vez que o aperfeiçoa-mento do sistema de corte ou sangria da serin-gueira, desenvolvido por H. N. Ridley, em 1898,foi uma importante conquista tecnológica.

Ridley observou que o método desangria empregado nos seringais nativos daAmazônia não se aplicaria aos plantiosracionais. Após paciente trabalho, desenvol-veu um sistema de corte que causava poucodano às seringueiras, economizava consumode casca, permitia à árvore ser sangrada maisde 100 vezes por ano, e ainda possibilitava oaumento na produção anual de borracha. Seusistema de corte, com poucas modificações,permanece em uso até hoje.

O material original coletado porWickman foi a base da variabilidade genéticapara a seringueira cultivada em extensasáreas da Ásia. Também a variabilidadegenética, disponível para cada país, originou-se da mesma constituição da amostra recebidadesse material. Dessa forma, a variabilidadeexistente na Malásia deve-se a 22 plântulasobtidas originalmente.

A terceira etapa da domesticação teveinício logo após a fixação genética dessas árvo-res, facilitada através da técnica de enxertia(Gonçalves et al., 1990). Com a enxertia,tornou-se possível o desenvolvimento declones partindo-se de plantas matrizes dequalidade superior. Uma conseqüência dessedesenvolvimento foi o aumento evidente naprodução e a substituição e ampliação de plan-tios com árvores geneticamente diversificadas.

A quarta etapa na domesticação daseringueira envolveu hibridação seletiva declones superiores e propagação de clonesobtidos dos híbridos superiores. Tal fatopromoveu recombinação entre genótipos tidoscomo elites, ampliando as fronteiras para umanova seleção e aumentando consideravel-mente o potencial de produção. Conformedados apresentados por Tan (1978), os mais

54 Reginaldo Brito da Costa, Paulo de Souza Gonçalves, Adriana Odalia-Rímoli eEduardo José de Arruda

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 1, N. 2, Mar. 2001.

modernos clones comerciais são derivadosdesse método de cruzamento, que vemaumentando a produção média comercial para1200 kg/ha/ano e chegando a produzir até1600 kg/ha/ano em alguns plantios. Já existemclones com potencial de até 2500 kg/ha/ano.

A descoberta e desenvolvimento deresistência ao “mal das folhas” podem seconsiderados como a quinta etapa na domes-ticação da seringueira. Enquanto os plantioscom base em clones primários superiores nosudeste da Ásia iam cada vez mais seexpandindo, no Brasil o principal problema erao fungo Micocyclus ulei. Nos primeiros 20 anosdeste século, as plantações de seringueira dasGuianas falharam, em decorrência do “mal dasfolhas” (Holliday, 1970). Plantios estabelecidosde sementes oriundas da região amazônica ede clones asiáticos em Fordlândia, em 1927, eem Belterra em 1934, foram tambémseveramente atacados pelo “mal da folhas”.Em 1937, a Companhia Ford iniciou programasde cruzamentos e enxertia de copas com oobjetivo de combinar alta produção eresistência ao “mal das folhas”, através demanejo silvicultural e genético combinados.Esse programa teve prosseguimento a partirde 1964, pelo Instituto Agronômico do Norte(IAN), hoje Centro de Pesquisa Agropecuáriado Trópico Úmido (CPATU), seguindo osmesmos objetivos.

5. Melhoramento e conservação genética

5.1 Melhoramento genético no Brasil

5.1.1 Fordlândia e Berterra

Em face da crescente necessidade deborracha para atender a expansão daindústria automobilística, e buscando fugir dadependência do produto asiático, os norte-americanos solicitaram e obtiveram dogoverno brasileiro a concessão de 1.200.000hectares de terras, às margens do rio Tapajós,no Estado do Pará, para o plantio de serin-gueiras. Em 1928, a Companhia Ford esta-beleceu os primeiros plantios em Fordlândia.O material plantado foi obtido de sementesda região do rio Solimões e Machado,próximo a Belém. A tentativa foi, porém,frustrada, em razão da ocorrência freqüentedo “mal das folhas” provocado pelo fungoMicrocyclus ulei. Fracassado o empreen-

dimento em Fordlândia, suspenso em 1933,começaram então os plantios em Belterra quesofreram, também, com a incidência dadoença. No total foram plantados 6.570hectares na região, utilizando-se tambémclones do Oriente introduzidos em princípiosde 1934 (Gonçalves, 1995). Apesar da grandeincidência de Microcyclus ulei, os 3.000hectares plantados em Fordlândia não foramabandonados. Algumas plantas mostraramgraus variáveis de resistência à doença.

5.1.2 Primeiros trabalhos de seleção

As primeiras seleções para resistênciaao “mal das folhas”, no Brasil, foram reali-zadas pela Companhia Ford. Durante os anosde 1942 e 1945 o programa se expandiu, sendoconduzido em cooperação entre a própriaCompanhia Ford, o então recém criado Insti-tuto Agronômico do Norte (IAN) e o Depar-tamento de Agricultura dos Estados Unidos.

O primeiro passo foi a seleção dematrizes que haviam mostrado resistência àdoença em Fordlândia. Cruzamentos entreclones resistentes ao mal-das-folhas e clonesprodutivos do Oriente obtendo-se materialgenético desejado naquela fase da conser-vação ‘ex-situ’ e melhoramento genético. Estematerial genético serviria de base, em anossubseqüentes, para o Instituto Agronô micodo Norte (Gonçalves, 1995).

De posse do material resistente e domaterial produtivo foi desenvolvido umprograma de melhoramento e conservaçãogenética intraespecífico, visando associar, emuma mesma planta, os caracteres desejáveisde produção de borracha seca e resistênciaao mal das folhas. Neste contexto, o InstitutoAgronômico de Campinas (IAC) temcontribuído significativamente, conservandoe desenvolvendo o melhoramento genético daespécie ao longo das últimas três décadas.

5.2 Estágio atual do melhoramento e daconservação genética

Os objetivos do melhoramento genéticoda seringueira variam de acordo com asnecessidade específicas de cada região.Segundo Gonçalves (1986), todo objetivo sefundamenta principalmente na obtenção declones com alto potencial de produção,

55Melhoramento e conservação genética aplicados ao Desenvolvimento Local –o caso da seringueira (Hevea sp)

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 1, N. 2, Mar. 2001.

seguido de outros caracteres secundáriosdesejáveis que contribuem para a redução dopotencial de produtividade.

5.2.1 Escolha dos parentais

A maior parte dos cruzamentos sãofeitos com parentais os quais apresentam bomdesempenho nos experimentos e plantioscomerciais, principalmente em relação aprodução e resistência a doenças. Nos últimosanos, a escolha dos parentais está se tornandomais complexa devido a multiplicidade decaracteres envolvidos no programa, desdequando alta produção deixou de ser o únicoobjetivo e se incluiram outros carcteressecundários, tais como precocidade, tipo deesgalhamento para resistência ao vento,dentre outros (Gonçalves, 1995).

O uso da genética quantitativa no estu-do de caracteres econômicos pode em princí-pio favorecer o entendimento do modelo daherança da cultura. Um aspecto de grande im-portância nesse sentido é que ele proporcionaaos melhoristas a escolha dos parentais econsequentemente bom planejamento doprograma de melhoramento. Vários pesquisa-dores (Simonds, 1969; Gilbert et al., 1973;NGA & Subramanian, 1974; Tan e Subrama-nian, 1976 e Gonçalves et al., 1990) concluíramque a variância genética aditiva da produçãoe do vigor contribui com uma parcela signifi-cativa na variância genética total, sugerindoque a seleção fenotípica dos parentais podeser efetiva, mas a seleção baseada em valoresgenotípicos é mais precisa e confiável.

Os primeiros trabalhos para estimar osvalores da Capacidade Geral de combinação(CGC) em seringueira foram realizados porGilbert et al. (1973). Obtiveram valores deCGC de parentais utilizados no início do pro-grama de melhoramento do Rubber ResearchInstitute of Malaysia. Além de identificaremalta CGC dos parentais, foi possível tambémpredizer bons cruzamentos potenciais nãoconduzidos em programas anteriores.

A possibilidade de se determinar ovalor da CGC dos parentais em plantas jovenspara sete diferentes caracteres foi primeira-mente conduzida por Tan e Subramanian(1976). Os valores de CGC encontrados paraos caracteres estudados em plantas jovensforam semelhantes aos obtidos para árvoresadultas, sugerindo a possibilidade do uso de

plantas jovens em testes de progênies. Poste-riormente Tan (1977, 1978a e b) confirmouessa possibilidade, utilizando dados deprodução de progênies de dois anos e meiode idade. Concluindo que tais informaçõesseriam úteis ao melhoramento com a possi-bilidade de identificar em estádio precocealguns bons parentais, acelerando, dessaforma, o progresso genético da cultura.

5.2.2 Polinização controlada

A percentagem média de sucesso dapolinização obtida na Malásia e Indonésiagira em torno de 3 a 5%. O sucesso dependerádo paternal feminino utilizado e das condi-ções do tempo (Dijkman, 1951). Percentagemem torno de 15% foi relatada por Ehret (1948)citado por Gonçalves (1995) no Vietnam,provavelmente devido às condições de climae solo. O sucesso da polinização controladaobtido no Instituto Agronômico de Campinas(IAC) é relatado por Gonçalves (1995) na faixade 2 a 2,5%. O maior ou menor sucesso,salienta o autor, depende de fatores comoataque de Microcyclus ulei, chuva, umidaderelativa do ar, estado nutricional da planta eparentais utilizados.

5.2.3 Ciclo utilizado em programas de seleção emelhoramento genético da seringueira

O ciclo para obtenção de clones compre-ende diversas etapas, conforme preconizaGonçalves et al. (1990), como é mostrado naFigura 1. Inicialmente, procura-se obtersementes de polinização aberta ou controlada.As sementes obtidas são plantadas em sacosde polietileno e, após quatro a seis meses deplantio, quando as plântulas apresentam doislançamentos foliares, são levadas para oviveiro de cruzamento, obedecendo espaça-mento de 1,5m x 1,5m. Aos dois anos e meio,os ortetes são selecionados e clonados paratestes de competição em pequena escala.

56 Reginaldo Brito da Costa, Paulo de Souza Gonçalves, Adriana Odalia-Rímoli eEduardo José de Arruda

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 1, N. 2, Mar. 2001.

0

2-2 1/2

3

10

13

15

20

24

30

NOVA SELEÇÃO EAVALIAÇÃO DOS

PARENTAIS

POPULAÇÃO BASE

VIVEIROS DE PROGÊNIES

SELEÇÃO

EXPERIMENTAÇÃO EMPEQUENA ESCALA

AVALIAÇÃO E SELEÇÃO

INDIVÍDUOS SUPERIORES

PARCELAS DEPROMOÇÃO

RECOMENDADOPARA PLANTIO EMPEQUENA ESCALA

RECOMENDADOPARA PLANTIO EMGRANDE ESCALA

EXPERIMENTAÇÃO EMGRANDE ESCALA

RECOMENDADOPARA PLANTIO EMPEQUENA ESCALA

RECOMENDADOPARA PLANTIO EMGRANDE ESCALA

ANO

Figura 1: Estratégias de melhoramento para H. brasiliensis

Os caracteres considerados na conduçãoda seleção em viveiro são os seguintes: a)produção de borracha seca, obtida com baseem teste precoce de produção HMM modi-ficado, conforme prescreve Tan e Subramanian(1976), que consiste de sangrias a seremefetuadas no sistema S/2, D/3 com dois ciclosde dez cortes por teste com repouso de 10 diasentre ciclos; b) vigor, avaliado pelo diâmetro ealtura das plântulas; c) arquitetura daramificação da copa, baseando-se no ângulodo ramo, tamanho e número de galhos; d)incidência de doenças das folhas, princi-palmente em viveiros localizados em regiõesde alta umidade.

Quando as plantas completam a idadede 30 meses, são decepadas a uma altura de1,5m para produzir novas brotações. Ashastes produzidas são utilizadas comomaterial de multiplicação, que será observadona fase seguinte em experimentos de clonesem pequena escala. Estabelecidos no campo,sob delineamento látice simples, láticeretangular ou blocos ao acaso com teste-munhas comuns com três repetições e oitoplantas por parcela.

Os novos clones (rametes), origináriosde ortetes selecionados dentro de progênies

de meio-irmãos ou irmãos-germanos, sãoplantados em experimentos de competição.Após dois anos e meio de sangria os clonespromissores são selecionados, considerando-se as características: produção, precocidade,formato de esgalhamento e incidência dedoenças e, se possível, qualidade do látex.

Os clones que apresentarem boaprodução e caracteres secundários aceitáveissão multiplicados e plantados em ensaios emgrande escala. O objetivo dos ensaios emgrande escala é obter informações sobre aperformance dos clones sob diferentescondições ambientais antes de fazer qualquerrecomendação para plantios comerciais. Ostratamentos que dele fazem parte sãoconstituidos de clones promissores de outrasinstituições de pesquisa, juntamente comclones selecionados nos experimentos deavaliação de clones em pequena escala.

São incluídos no experimento clones deperformace conhecida como testemunha. Par-celas entre 40 e 60 plantas são recomendadas,dando-se preferência a sua instalação emáreas de produtores. As avaliações anuais daprodução, vigor, tolerância ao vento eevolução de doenças e pragas, são feitas nestaúltima fase de maneira semelhante àquelaspreconizadas para os experimentos empequena escala.

A etapa descrita abrange geralmente 12a 15 anos, até que se possa recomendar umclone para plantio em grande escala. O traba-lho de pesquisa, especialmente no melhora-mento genético da espécie, desenvolvido peloInstituto Agronômico de Campinas (IAC),disponibilizou, aos produtores do planaltopaulista, um material genético produtivo,mais resistente a doenças e mais competitivono mercado nacional e internacional. Aconseqüência direta destas ações estãorefletidas na condição privilegiada do Estadode São Paulo, em sua posição de maiorprodutor de borracha seca/hectare/ano doBrasil, bem como em seu status de detentorde clones que competem em igualdade deprodução com os clones asiáticos.

6. A heveicultura e o desenvolvimento local

Embora a introdução da cultura daseringueira no planalto paulista tenha sidofruto de uma política pública formulada econduzida pala Secretaria do Estado de São

57Melhoramento e conservação genética aplicados ao Desenvolvimento Local –o caso da seringueira (Hevea sp)

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 1, N. 2, Mar. 2001.

Paulo, com o objetivo de dispor de uma novaalternativa para os produtores paulistas (Pinoet al., 2000), a comunidade rural influenciouno processo de implantação do programa,sugerindo a incorporação dessa espécieperene no contexto regional. Ávila, 2000mostra que a perspectiva de desenvolvimentolocal começa na própria comunidade. Ospequenos e médios produtores, ou seja, aprópria comunidade descobriu e desenvolveusuas capacidades, competências, habilidadesde agenciamento e gestão das própriascondições visando a melhoria na qualidadede vida.

No contexto acima referenciado, a pró-pria comunidade assumiu o agenciamento doseu desenvolvimento e os agentes externosenvolveram-se com o objetivo de que a comu-

nidade se tornasse capaz de iniciar o processovisando sua fixação e melhoria na qualidadede vida.

As ações desencadeadas pelos agentesexternos, com a participação efetiva das comu-nidades rurais, impulsionaram a heveiculturana região. Conforme levantamento censitáriode Unidades de Produção Agrícola (UPAs) noEstado de São Paulo, realizado no período de1995-96, a heveicultura ocupava 40,5 milhectares, com 17 milhões de plantas, densidademédia estimada em 442 plantas/ha, em 2453UPAs, ocorrendo entre 5 e 500 ha por proprie-dade rural (Pino et al., 2000). Os indicadorescontidos na Tabela 1 proporcionam uma visãomais ampla do contexto da heveicultura naregião, mostrando o quadro sócio-econômicodas comunidades envolvidas.

Tabela 1: Indicadores relacionados à heveicultura no Estado de São Paulo, 1995-96 (Adaptado de Pino et al., 2000).

Indicadores UPAs Área da culturaO produtor Número % Hectare %Faz parte de cooperativa de produtores 1.517 61,84 30.243 74,65Faz parte de associação de produtores 791 32,25 17.631 43,52Faz parte de sindicato de produtores 1.098 44,76 22.595 55,77Não utiliza assistência técnica 398 16,23 4.604 11,37Utiliza somente assist. téc. Governamental 810 33,02 8.900 21,97Utiliza somente assist. téc. Privada 444 18,10 10.182 25,13Utiliza as duas assistências técnicas 801 32,65 16.825 41,53Dispõe de comunicação telefônica 663 27,03 20.570 50,78Utiliza crédito rural 616 25,11 13.130 32,41Dispõe de energia elétrica residencial 2.221 90,54 38.538 95,13Dispõe de energia elétrica para atividade agrícola 1.586 64,66 28.700 70,84Faz análise de solo 1.769 72,12 34.603 85,41Faz calagem, quando necessário 1.851 75,46 35.040 86,49Faz adubação orgânica/verde, quando necessário 1.14 46,51 22.339 55,14Utiliza práticas de conservação do solo 1.911 77,90 36.101 89,11Utiliza mão-de-obra familiar 1.742 71,02 -É proprietário sem instrução ou com instrução incompleta 266 10,84 3.205 7,91É proprietário com antigo primário completo 687 28,01 5.141 12,69É proprietário com antigo 1º grau completo 202 8,23 2.939 7,26É proprietário com antigo 2º grau completo 356 14,51 5.810 14,34É proprietário com curso superior completo 942 38,40 23.415 57,80

Observa-se, pelos indicadores daTabela 1, o grau de conscientização e de utili-zação de recursos tecnológicos e adminis-trativos, fator que acompanha o nível deinstrução dos proprietários Nota-se, também,a participação dos produtores associados emcooperativas de produção agropecuária. Éimportante ressaltar que, na maior parte dasUPAs com seringueira, utiliza-se mão-de-obra familiar, em função do prolongamento

do período de produção, que chega a 10 mesespor ano. Esse é um fator relevante de agre-gação familiar, geração de empregos, fixaçãono campo e desenvolvimento local.

Conforme dados obtidos por Pino et al.(2000), o cultivo da seringueira vem assu-mindo importância crescente na agriculturapaulista, tendo em vista que cerca de 60% doconsumo brasileiro de borracha natural é dematéria-prima importada.

58 Reginaldo Brito da Costa, Paulo de Souza Gonçalves, Adriana Odalia-Rímoli eEduardo José de Arruda

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 1, N. 2, Mar. 2001.

Considerações finais

O estudo de caso da seringueira podeser considerado um exemplo evidente darelação entre a pesquisa desenvolvida poragentes externos e a satisfação dos anseios dascomunidades rurais, propiciando o desenvol-vimento local. Essa relação ocorre a partir dadescoberta das potencialidades e aspiraçõesda comunidade, devidamente respaldadospelo conhecimento científico, resultando emações concretas. Tais ações irão desencadeara melhoria na qualidade de vida daspopulações envolvidas.

No entanto, é importante que a comu-nidade, a curto e médio prazo, torne-se auto-suficiente para determinar e gerenciar ospróximos passos no seu processo de desen-volvimento. Assim, a influência dos agentesexternos irá diminuindo paulatinamente e acomunidade poderá estimular, pelo exemploe pelas experiências e tecnologias locais,outras comunidades. Todavia, a participaçãodo agente externo poderá ser novamentesolicitada pela comunidade, caso ocorra umanova situação que comprometa a atividadeem questão.

Referências bibliográficas

ÁVILA, V. F. Pressupostos para a formação educacionalem desenvolvimento Local. Interações. RevistaInternacional de Desenvolvimento Local, v. 1, n. 1,p. 63-76, set. 2000.

BATISTA, S. O complexo da Amazônia: análise doprogresso de desenvolvimento. Rio de Janeiro,Conquista, 1976, 292 p.

BERNARDES, M. S.; VEIGA, A. S.; FONSECA FILHO,H. Mercado brasileiro de borracha vegetal. In:Bernardes, M. S. (Ed.). Sangria da seringueira. Piraci-caba, ESALQ / USP / FEALQ, 1990, p. 179-205.

BRIOSCHI, A.P.; ORTOLANI, A.A.; MARTINEZ, A. A.Heveicultura no Estado de São Paulo: prioridades eações necessárias. Campinas/SP, 1992, 9 p. (Relatórioda Comissão Técnica de Seringueira).

DEAN, W. A luta pela borracha no Brasil, em estudo dehistória ecológica. São Paulo, Nobel, 1989. 286 p.

DIJKMAN, M. J. Hevea thirty years of research in far east.Florida University of Miami Press, 1951, 329 p.

FURTADO, R. Mineirice à francesa: extrativismo. Globorural, São Paulo, 7 (80): 28-35, 1992.

GILBERT, N. E.; DODDS, K. S.; SUBRAMANIAN, S.Progress of breeding investigations with Heveabrasiliensis. V. Analysis of data from earlier crosses.Journal Rubber Research Institute of Malaysia, KualaLumpur, 23(5):365-380. 1973.

GONÇALVES, P. de S.; MATOS, A. P.; MÜLLER, N.W.; VIEGA, I. de J. M. II Coleta de material nativo

de alta produção em seringais do Estado do Acre eTerritório Federal de Rondônia. Belém, IPEAN, 1973,24 p. (relatório).

GONÇALVES, P. de S; CARDOSO, M.; COLOMBO, C.C.; ORTOLANI. A. A.; MARTINS, A. L. M.; SANTOS,I. C. I. Variabilidade genética da produção anual dada seringueira: estimativas de parâmetros genéticose estudo de interação genótipo x ambiente. Bragantia,Campinas, 49(2):305-320, 1990.

GONÇALVES, P. de S. Melhoramento genético daseringueira (Hevea spp). In: Simpósio sobre a culturada seringueira no Estado de São Paulo. Piracicaba,1986, Campinas, Fundação Cargil, cap. 5 p. 95-123,1986.

_____. Melhoramento genético da seringueira. CircularTécnica - IAC. Campinas, 1995, 42 p.

HOLLIDAY, P. South American leaf blight (Microcyclusulei) of Hevea brasiliensis. Kew, CommonwealthMycological Institute, 1970.

IMLE, E. P. Hevea Rubber - past and future. EconomicalBotanic, 32:264-77, 1978.

NGA, B. H.; SUBRAMANIAN, S. Variation in Heveabrasiliensis. I. Yield and girth data of the 1937 handpollinated seedlings. Journal Rubber Research Instituteof Malaysia, Kuala Lumpur, 24(2):69-74, 1974.

PINO, F. A.; FRANCISCO, V. L. F. dos S.; MARTIN, N.B.; CORTEZ, J. V. Perfil da heveicultura no estadode São Paulo, 1995-96. Informações Econômicas, v. 30,n. 8, ago. 2000.

POLHAMUS, L. G. Botany of Hevea. In: POLHAMUS,L. G. Rubber, botany production and utilization. London,Leonard Hill, 1962, p. 63-90.

REIS, A. C. F. O seringal e o seringueiro. Rio de Janeiro,Ministério da Agricultura, SIA, 1953, 194 p.

SCHULTES, R. E. The odissey of the cultivated rubbertree. Endeavour, 1(7):33-8, 1977a.

_____. Wild Hevea: an undapped source of germ plasm.Journal Rubber Research, Institute of Sri Lanka,54(1):227-57, 1977b.

SIMMONDS, N. W. Genetical bases of plant breeding.Journal Rubber Research Institute of Malaysia, 21(1):1-10, 1969.

TAN, H.; SUBRAMANIAN, S. A five-parent diallelcross analysis for certain characters of young Heveaseedlings. In: International Rubber Conference,Kuala Lumpur, 1975. Proceedings, 2:13-16, 1976.

TAN, H. Estimates of general combening ability in Heveabreeding at the Rubber Research Institute ofMalaysia. I. Phases II and IIIa. Theoretical AppliedGenetics, 51:29-34, 1977.

_____. Assesment of parental performace for yield inHevea breeding. Euphytica, 27:521-8, 1978a.

_____. Estimates of parental combining abilities inrubber (Hevea brasiliensis) based on young seedlingsprogeny. Euphytica, 27:817-23, 1978b.

Desenvolvimento Local em comunidades indígenas no Mato Grosso do Sul:a construção de alternativas

Local Development in indigenous communities in South Mato Grosso:the construction of alternatives

Desarrollo Local em comunidades indígenas em el Mato Grosso do Sul:la construcción de alternativas

Antônio BrandUniversidade Católica Dom Bosco

Resumo: Este artigo trata do impacto do processo histórico de confinamento sobre a economia dos índios Kaiowá/Guarani, no Mato Grosso do Sul. Após destacar as características principais das economias tradicionais, apoiado naobra clássica de Sahlins (1977) e outros, analisa as razões do sistemático fracasso dos projetos de desenvolvimentoeconômico implantados, durante as últimas décadas, de fora para dentro. Conclui-se com a proposta de UnidadesExperimentais de produção de alimentos e artesanato a serem constituídas a partir das escolas indígenas e voltadas àconstrução de alternativas de desenvolvimento.Palavras-chave: Povos Indígenas; Economias tradicionais; Desenvolvimento Local.Abstract: This article handles the impact of the historical process of confinement on the economy of the Kaiwá/Guarani Indians of South Mato Grosso. After pointing out the main characteristics of the traditional economies, basedon the classic work of Sahlins (1977) and others, analyses the reasons for the systematic failure of developmentprojects installed from the outside throughout recent decades. The article concludes with a proposal of ExperimentalUnits for the production of food and crafts to be constituted from within the indigenous schools and directed to theconstruction of development alternatives.Key words: Indigenous peoples; Traditional economies; Local Development.Resumen: El artículo trata del impacto del proceso histórico de confinamiento sobre la economía de los indiosKaiowá/Guarani, en el Mato Grosso do Sul. Después de destacar las características principales de las economíastradicionales, apoyado en la obra clásica de Sahlins (1977) y otros, analiza las razones de fracaso sistemático de losproyectos de desarrollo económico implantados durante las últimas décadas, de afuera para adentro. Se concluyecon la propuesta de Unidades Experimentales de producción de alimentos y artesanía a ser constituidas a partir de lasescuelas indígenas, en dirección a la construción de alternativas de desarrollo.Palabras claves: Poblaciones indígenas; Economías tradicionales; Desarrollo Local.

va perda territorial para as frentes de coloni-zação que adentraram os territórios indíge-nas tradicionais. Esses povos vivem hoje emreservas de terra que, em sua maior parte,são demarcadas pelo Serviço de Proteção aosÍndios (SPI). Todas são, porém, superpo-voadas, considerando-se o modo específicode vida e as relações que tradicionalmenteesses indígenas mantêm com a natureza. Osrecursos naturais estão profundamentecomprometidos, não oferecendo mais asmínimas condições para a sobrevivênciadessas coletividades. Os indígenas sãoobrigados, então, a se assalariarem nasusinas de produção de álcool e açúcar.

Por essa razão emerge, com força, aquestão dos territórios, em seu aspecto deconstrução cultural, ou enquanto espaço deafirmação da identidade e da autonomia deculturas distintas. Desde a década de 1980,esses povos, em especial os Kaiowá/Guarani, vêm desenvolvendo progressivo esistemático movimento no sentido de recu-perar parcelas cada vez mais expressivas deterras, consideradas, por eles, como terri-tórios tradicionais e historicamente perdidosfrente ao avanço do processo de colonização

1. Os povos indígenas em Mato Grossodo Sul

Mato Grosso do Sul é o estado brasi-leiro que possui a segunda maior populaçãoindígena no país, perfazendo um total deaproximadamente 50.000 pessoas. Cincopovos1 destacam-se hoje no cenário multicul-tural do estado: os Kaiowá/Guarani, osTerena, os Kadiwéu, os Guató e os Ofaiet.Os Kaiowá/Guarani e os Terena apresen-tam o maior contingente populacional com,respectivamente, 25 mil e 20 mil pessoas, econstituem, em termos quantitativos, duasdas mais importantes populações indígenasdo país. Os Guarani contemporâneos são,convencionalmente, divididos em três sub-grupos: os Ñandéva/Chiripá, os Mbyá e osKaiowá. No Mato Grosso do Sul, predominaa presença dos Kaiowá e, em menor número,dos Ñandéva/Chiripá, sendo estes últimosos únicos que se autodenominam “Guarani”.

O que caracteriza a situação dessespovos em nosso estado é o seu confinamentoem áreas de terra insuficientes para a suasobrevivência física e cultural. O processohistórico tem se caracterizado pela progressi-

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 1, N. 2, p. 59-68, Mar. 2001.

Contato: [email protected]

60 Antônio Brand

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 1, N. 2, Mar. 2001.

no estado. Lutam, dessa forma, para quebraro confinamento geográfico que lhes foiimposto e, assim, reviabilizar seus projetosculturais específicos.

Como conseqüência de um processohistórico extremamente desfavorável, queacarretou perda de parte significativa dosterritórios, assim como dos equívocos gera-dos por alternativas econômicas implantadasde fora para dentro, os povos indígenasvêem sua qualidade de vida deteriorando-se gradativamente. Entre outros problemas,surgem o alcoolismo, a prostituição, a violên-cia interna, os suicídios entre os Kaiowá/Guarani2, e uma migração cada vez maiorpara as periferias das cidades, por parte dapopulação Terena. É dentro deste contextoque se situam as discussões em torno dabusca de alternativas de desenvolvimentoque tenham em conta o conhecimento e aexperiência histórica e cultural específica decada um destes povos, com vistas àreconstrução de sua qualidade de vida.

O desenvolvimento em escalahumana, segundo Max-Neef, Elizalde eHopenhayn (1986:14), concentra-se esustenta-se “na satisfação das necessidadeshumanas fundamentais, na geração deníveis crescentes de autodependência e naarticulação orgânica dos seres humanos coma natureza e a tecnologia, dos processosglobais com os comportamentos locais, dopessoal com o social, do planejamento coma autonomia (...)”.

Nessa perspectiva, o objeto de estudospassa, portanto, a ser a qualidade de vidadas pessoas. Ora, qualidade de vida, emespecial no caso dos povos indígenas, tem aver com seus territórios, sua identidadecultural, seus valores e cosmovisão. Por isso,um projeto de desenvolvimento em escalahumana remete, necessariamente, aoconhecimento e ao respeito à diversidadecultural. Todavia, não se deve tomar a noçãode respeito à diversidade cultural no sentidoconsiderado pelo capital globalizado, quebusca transformar a diversidade em produtoexótico, passível de venda no mercado: masdeve-se tomá-la como referencial básico parao protagonismo do local nos processos dedesenvolvimento em escala humana.

É a partir dos territórios que se efetivao protagonismo “real” das pessoas, tendo em

vista a necessária “autonomia” dos espaços(Max-Neef, Elizalde e Hopenhayn, 1986:14)e das comunidades, enquanto atores queconstróem e semiotizam os espaços. Os terri-tórios constituem-se nos espaços necessáriospara a afirmação da autonomia das comu-nidades indígenas. No entanto, essa auto-nomia passa também, e cada vez mais, pelabusca de alternativas de desenvolvimento,apoiadas na sustentabilidade, na partici-pação e na autogestão dessas comunidades.

É, certamente, ilusório falar em noçõescomo “respeito à diversidade cultural” e em“autonomia” num contexto de total depen-dência econômica e ausência de recursospara a sobrevivência, como é o caso dospovos indígenas que são o objeto do presenteestudo. A reconquista da terra, emboraelemento indispensável, não basta, atual-mente, para garantir qualidade de vida aospovos indígenas no país.

Ao formularmos a pergunta sobre oque determina a qualidade de vida de umapessoa ou de um grupo culturalmentedistinto, afirma-se a necessidade de umaproposta específica de desenvolvimentovoltada para as comunidades indígenas. Talproposta exige, além do estudo das neces-sidades verificadas em uma determinadacomunidade, relacionando-os com os “bense serviços” que possam satisfazê-las ou,ainda, entre necessidades/demandas e benseconômicos/recursos, mas impõe a compre-ensão da relação com “práticas sociais,formas de organização, modelos políticos evalores que repercutem sobre as formas emque se expressam as necessidades (...)” (Max-Neef, Elizalde e Hopenhayn, 1986:36). Sãorelevantes as formas internas de organizaçãode uma comunidade indígena, sua estruturapolítica, práticas sociais, valores, normas,espaços, sua cosmovisão.

Nesse sentido, tratar da qualidade devida de um povo indígena assume caráterde estudo de caso em um país multiculturale pluriétnico. Concepções culturalmente dis-tintas de território, bem como as formas pró-prias de se relacionar com o mesmo, orga-nizar e redistribuir a produção e a relaçãodeste processo com as demais esferas darespectiva sociedade, são elementos decisivosna discussão sobre desenvolvimento emescala humana.

61Desenvolvimento L6ocal em comunidades indígenas no Mato Grosso do Sul:a construção de alternativas

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 1, N. 2, Mar. 2001.

2. Território e recursos naturais

Recentes trabalhos realizados porpesquisadores junto a diversos povos indí-genas demonstram o profundo conhecimen-to desses povos sobre os recursos naturaislocalizados em seus territórios e sobre adiversidade de formas possíveis de utilizaçãode tais recursos. Os Kaiapó, no Pará, conhe-cedores de práticas agrícolas em regiões decerrado, ao iniciar uma roça, introduzemgrande número de espécies e variedades. Ospesquisadores registraram na aldeia Gorotire(Pará), em média, 50 espécies de plantascultivadas por roça, incluindo 17 variedadesde mandioca e macaxeira, assim como 33variedades de batata doce, inhame e taioba.Robert Carneiro (1987:47) constata que osKuikuro (Brasil Central) “adquiriram umconhecimento detalhado e preciso dafloresta tropical”, não só no que se refere àidentificação das espécies aí localizadas, mastambém quanto ao uso das árvores earbustos, cipós e ervas de seu habitat para aconfecção de abrigos, artefatos, transporte,alimentação, medicação, perfume ecosméticos.

Inúmeros outros exemplos atestandoesse extraordinário conhecimento indígenados recursos naturais e suas formas deexploração poderiam ser aqui citados. Aciência ocidental, tardiamente, vem se dandoconta da profunda sabedoria acumuladapor esses povos sobre o meio em que estãoinseridos a milhares de anos. O desenvol-vimento agrícola ocidental “pautou-se pelaeliminação da complexidade, mediante aimposição de um número limitado econtrolado de monoculturas específicas,altamente rentáveis” (Posey, 1987:21). Comoconseqüência, comprometeu-se a diversidadee destruiu-se o meio ambiente natural.

Parte significativa dos desafios que ospovos indígenas enfrentam hoje, no Brasil,tem sua origem, exatamente, na imposiçãodo modelo ocidental de desenvolvimentoaltamente concentrador, excludente e des-truidor da natureza. A perda dos territóriose, acima de tudo, a destruição dos recursosnaturais, mediante a imposição da mono-cultura, comprometeu as bases da economiaindígena, apoiada na diversidade dealternativas, destruindo, progressivamente,

os seus sistemas de auto-sustentação einstaurando, dessa forma, um processoininterrupto de empobrecimento.

Tendo como referência a situação dosterritórios e das riquezas naturais aí locali-zadas, restam aos povos indígenas, funda-mentalmente, três alternativas, para supriras necessidades básicas de subsistência. Noscasos em que os índios ainda são possuidoresde recursos naturais, como madeira ouminério, tais recursos seguem sendo explo-rados, na maior parte dos casos, em detri-mento do meio ambiente e dos própriospovos indígenas. É o que se verifica emRondônia e outras regiões do Brasil, especial-mente na Amazônia. São raros, ainda, oscasos em que os próprios povos indígenasconseguem fugir das imposições daeconomia regional e realizar uma exploraçãoauto-sustentável dos recursos naturais e emproveito de suas comunidades.

Porém, em parte significativa das áreasindígenas, os recursos naturais já foramtotalmente destruídos, restando apenas aterra, que é arrendada a terceiros. E essearrendamento, embora proibido por lei, é“viabilizado” através do envolvimento dedeterminadas lideranças indígenas com osinteresses econômicos regionais e/ou pelatotal falta de recursos técnicos e financeirospara explorar sua terra por conta própria,nas condições impostas pela economiaregional (agricultura mecanizada). É o quese verifica nas áreas indígenas no Sul doBrasil e em algumas Reservas de Mato Grossode Sul.

Finalmente, há aqueles casos maisdramáticos de povos indígenas que perderamsuas terras ou as viram demasiadamentereduzidas, fato que inviabiliza a sua explo-ração. Tal é o caso dos Kaiowá/Guarani que,a partir de 1978, começam a reivindicar odireito de permanecer nas antigas aldeias ou,então, o de retornar àquelas já perdidas,começando uma luta para interromper umaprática histórica, comum em toda a região.Pois, enquanto fossem necessários como mão-de-obra nas fazendas, eles poderiampermanecer em suas aldeias tradicionais.Porém, concluído o desmatamento daspropriedades, eram transferidos para oitoreservas de terra, demarcadas pelo GovernoFederal entre os anos de 1915 e 1928, em um

62 Antônio Brand

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 1, N. 2, Mar. 2001.

espaço cada vez mais superpovoado. Apóssubmeter-se a esse confinamento, o únicobem que lhes restou para ser vendido no“mercado” regional é sua mão-de-obra.Assim, a alternativa é o assalariamentocompulsório, como acontece na maior partedas comunidades indígenas em Mato Grossodo Sul.

Além das perdas provocadas pelaredução das extensões de terra ocupadas, aqualidade de vida dessas comunidades foicomprometida mais ainda por modelo dedesenvolvimento agrícola transplantado dasgrandes propriedades rurais regionais. Essemodelo, centrado na monocultura e namecanização, provocou a destruição dosrecursos naturais, desarticulando as formastradicionais de produção, sem conseguirgerar, no entanto, os alimentos necessáriosao sustento das mesmas comunidades. Essaimposição de fora para dentro contribuiupara o aumento da fome e da desnutriçãoentre a população indígena local.

4. A economia dos povos indígenas

Para avaliar o impacto do processohistórico de perda dos territórios e do conse-qüente comprometimento dos recursosnaturais e, ainda, os resultados provocadospelos projetos de desenvolvimento implan-tados de fora para dentro, é fundamentalatentar para algumas características daseconomias tradicionais. As economiasindígenas, ou economias tradicionais, sãoorganizadas, especialmente, a partir doparentesco, relação que se constitui noelemento fundamental para compreender osprocessos internos de produção e redistri-buição. Nessas economias, a geração dealimentos ocupa posição preponderante e adivisão sexual do trabalho perpassa todas asatividades. Ao contrário do que é verificadonas sociedades ocidentais, essas economiassão voltadas para as necessidades macro-familiares, e a produção é, tradicionalmente,dirigida para o consumo e para o exercícioda reciprocidade e não para o mercado, fatoque caracteriza uma economia anti-excedente. Nesse contexto, todos tinhamacesso direto aos “produtos estratégicos” e,historicamente, ninguém podia ser privadode seus direitos.

A redistribuição interna dos bens,considerado o exercício organizado dedireitos e obrigações associado ao cacicado,incluía o patrocínio de cerimoniais, depompas social e de guerra, de hospitalidade,do socorro a viúvas e órfãos (Sahlins, 1977).Não existia, portanto, no interior dascomunidades indígenas, a possibilidade dese constituir uma categoria de Sem Terra. É,também, importante atentar que, nessassociedades, é difícil separar e diferenciar asesferas sócio-religiosa e econômica. Todointercâmbio, toda prática da reciprocidade,traz dentro de si o peso político da recon-ciliação, pois, para o indígena, o pior sempreserá não poder ofertar presentes. E, nessesentido, tal prática traz um “coeficiente desolidariedade” que faz com que ela nuncapossa ser reduzida a seus termos materiais,excluindo o social. Se os amigos oferecempresentes, são os presentes que fazem osamigos, diz Sahlins (1977:204).

Nessas sociedades, centradas nas rela-ções de parentesco3, a economia, segundoSahlins (1977:91), é muito mais “una funciónde la sociedad que una estructura”, porquea armação do processo econômico vem degrupos considerados “no económicos”, osgrupos domésticos. Ou seja, as relações inter-nas, em especial as relações de parentesco,“son las relaciones principales de laproducción dentro de la sociedad” (1977:92).O mesmo caráter coletivo e democrático queé verificado no acesso aos recursos naturais,também afeta o aparato tecnológico, deconfecção caseira e à disposição da maioria,manejado por grupos familiares e indiví-duos. Em seu artigo Ecologia e cultura:algumas comparações, George C. L. Zarur(1987:277), constata que a cultura materialdos grupos Jê, do Brasil Central, ocupantesde regiões de cerrado e em constantesdeslocamentos, era composta por um“pequeno elenco de objetos portáteis”, emgeral resistentes ao choque, cultura tambémmarcada pela ausência de canoas e decerâmica. Zarur (1987) cita, como exemplo,um inventário, realizado entre os Kraho, quedemonstrou o fato de que aproximadamente65% dos artefatos eram confeccionados comfolhas de palmeira e, portanto, implicavamgrande facilidade de fabrico. No entanto, ofato de as comunidades indígenas serem

63Desenvolvimento L6ocal em comunidades indígenas no Mato Grosso do Sul:a construção de alternativas

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 1, N. 2, Mar. 2001.

usuárias de tecnologias consideradas rústicaspelo senso comum levou à formulação daconvicção, também do senso comum, de queas economias indígenas eram capazes deprover apenas a sua subsistência.

Marshall Sahlins, em sua clássica obraEconomia de la edad de la piedra (1977), abordaessa polêmica questão. Até que ponto aeconomia dos povos caçadores e coletores eraapenas de subsistência ou poderia sercaracterizada como economia de opulência?Para buscar uma resposta, o autor (1977:13)parte da constatação de que “una sociedadopulenta es aquella en la que se satisfacencon facilidad todas las necesidades materialesde sus componentes” e chega à conclusãode que há dois caminhos para se chegar àopulência: “o bien produciendo mucho, obien deseando poco”. E aí reside outradistinção entre as economias tradicionais ea economia ocidental. Para as primeiras, asnecessidades materiais do homem são finitase escassas, e os recursos técnicos normal-mente adequados para tais fins (Sahlins,1977:14). E, nesse sentido, a escassez perce-bida pelo senso comum não seria umapropriedade intrínseca e conseqüência dosmeios técnicos disponíveis, mas resultado darelação entre meios e fins. Ou seja, como oobjetivo das economias indígenas não éproduzir excedentes para o comércio ou paraa estocagem, mas apenas o suficiente para osustento macrofamiliar, baseado no exercícioda reciprocidade e da generosidade, astecnologias indígenas seriam perfeitamenteadequadas aos fins esperados e buscados(1977:17). Ou seja, suas tecnologias, aocontrário das modernas tecnologias, seriamperfeitamente adequadas para gerar aprodução esperada e necessária.

Portanto, como a ideologia subjacentea uma sociedade apoiada em relações dereciprocidade não permite a emergência daacumulação de bens como um valor social,a produção de excedente é restrita àsexigências da reciprocidade. Assim, observaSahlins (1977:152), ao mesmo tempo em que“la ética de la generosidad del jefe legitimala desigualdad” porque, para poder sergeneroso, é importante ter o que distribuir,de outra parte “el ideal de reciprocidad niegaque esto produzca alguna diferencia”,porque impõe a constante redistribuição.

O dever da distribuição impede aacumulação e, por ser um dever, não exigemanifestações de gratidão. A conexão entrehierarquia e reciprocidade se expressa,segundo Sahlins (1977:226), de acordo coma fórmula “ser noble es ser generoso” e,segundo, “ser generoso es ser noble”. Há,portanto, clara interdependência entreliderança e reciprocidade. Dessa forma, aacumulação de riquezas, para determinadospovos, só era admitida na perspectiva de suaredistribuição (1977:233). Volker vonBremen (1987:19-20) sublinha o dever decompartilhar (repartir) em voga entre osíndios caçadores e coletores do ChacoParaguaio, sendo que essa distribuição sediferencia “según el grado de parentesco, laedad, el sexo y la distancia que separa a unpariente de outro”. Esse dever de repartir,segundo Regehr (1984:93), representatambém o princípio da “maxima distribuciónposible” dos riscos, em uma sociedadedependente dos recursos disponíveis nanatureza.

Sabemos que um membro de um povoindígena trabalhava muito menos horas pordia do que um cidadão em nossa sociedade.Citando o exemplo dos Bosquímanos,Sahlins (1977:34-36) conclui que o trabalhode um homem na caça e na coleta possibi-litava o sustento de mais quatro a cincooutras pessoas ou, mais exatamente, 65 decada 100 pessoas trabalhavam aproxima-damente 36% de seu tempo, chegando a doisdias e meio de trabalho por semana. Cabelembrar aqui que Schmidl (1945) afirmouque, no momento da chegada dos Espanhóisà Bacia do Prata, com o objetivo deestabelecerem o seu primeiro contato com osGuarani, no sec. XVI, havia abundância evariedade de comida entre os indígenas.

No entanto, é incontestável que,devido, especialmente, à perda de seus terri-tórios e dos recursos naturais, as comuni-dades indígenas têm suas formas tradicionaisde economia cada vez mais comprometidase, por conseguinte, estão cada vez “maispróximas” e dependentes de nossas lógicaseconômicas, em especial do mercado, que vaientrando em busca dos restos de recursosnaturais e, na ausência destes, da mão-de-obra indígena. O roubo histórico dessesrecursos não permitiu a geração de outras

64 Antônio Brand

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 1, N. 2, Mar. 2001.

alternativas capazes de suprir as necessi-dades básicas desses povos, nem a produçãode outros bens, provocando, em muitoscasos, a crescente degradação da qualidadede vida, tendo como indicador o crescimentoda fome em parte significativa das aldeiasindígenas nos dias de hoje.

5. O fracasso dos projetos dedesenvolvimento

Há surpreendente consenso entre oseconomistas e pesquisadores sobre os sucessi-vos fracassos de projetos de desenvolvimento,centrados exclusivamente em critérios decrescimento econômico e avanço tecnológico.Torna-se cada vez mais difícil ignorar umasérie de indicadores negativos que sãoresultantes desses projetos. Um darwinismosocial, cada vez mais descontrolado, temprovocado crescente desigualdade social emtodos os países, além de comprometer osrecursos naturais. Caem por terra os mitosde que o crescimento econômico, a moder-nização e as inovações tecnológicas possamsuperar os desequilíbrios sócio-ambientais(Elizalde, 1992). O mesmo fracasso verifica-se nos assim denominados “projetos dedesenvolvimento”, implantados em socieda-des tradicionais, em especial nas comuni-dades indígenas, mesmo naquelas já commaior tempo de inserção na economiaregional. Diversos fatores podem ser elen-cados como responsáveis por esses fracassos,porém todos têm em comum o fato de des-considerar ou desconhecer as característicaspróprias e distintas das economias indígenase de suas relações com o território.

Já foram amplamente analisados osimpactos das iniciativas de mecanização daslavouras nas áreas indígenas, em especial noSul, Sudeste e Centro-Oeste do país, duranteas décadas de 1970 e 80. Seus resultadosforam desastrosos e resultaram num com-prometimento ainda maior dos recursosnaturais no interior das comunidadesindígenas. Estimularam, em muitas delas,uma crescente concentração fundiária, alémde acentuar as relações de paternalismoainda hoje de difícil superação.

Silva (1982:76), em seu estudo inti-tulado Os Kaiowá e a Ideologia dos ProjetosEconômicos, ao analisar os projetos comuni-

tários implantados entre os Kaiowá dePanambi, município de Douradina, MatoGrosso do Sul, conclui que esses projetosforam “uma reprodução do sistema econô-mico regional, ligeiramente adaptados àrealidade tribal quanto à forma em que otrabalho é executado”, aproveitando o quea FUNAI acreditava serem princípios daorganização do grupo tribal, o chamado“comunitarismo”.

Embora trouxessem a preocupaçãofundamental de romper o círculo vicioso dotrabalho assalariado fora das áreas indígenase a integração dos indígenas à sociedadenacional, esses projetos de desenvolvimentoacabavam reproduzindo, contraditoria-mente, as mesmas relações de dependênciaque procuravam superar. Foram simplestransferência para o interior das áreas indíge-nas de práticas da agricultura convencional,apoiadas no amplo uso da mecanização ede insumos químicos. Os resultados têm sidodesastrosos, provocando crescente degra-dação das condições de vida e aumento dadependência do assalariamento externo àaldeia.

Estavam, tais projetos, apoiadosapenas na constatação certamente corretado comprometimento das economias indíge-nas e de sua crescente inviabilização. Porém,os povos indígenas seguiam e seguem orien-tando-se a partir de suas lógicas específicas.Uma longa e ininterrupta história de inserçãocolonial e de profundas alterações nas condi-ções externas às comunidades indígenas nãoeliminaram, mas apenas transformaramseus mecanismos de conduta próprios4.

Cabe destacar que essa longa históriacolonial, centrada na disputa pelos territóriosindígenas e na exploração dos recursos aíexistentes, provocou um claro descompassoentre as bases concretas da economia dassociedades tradicionais, rápida e profunda-mente alteradas durante as últimas décadas,e o modo de pensar desses povos. O ritmodas transformações do mundo dos valores eda cosmovisão não tem sido o mesmo dastransformações impostas pela nossa socieda-de ao território e ao entorno. Esse descom-passo tende a crescer, haja vista a complexaquestão do ritmo das mudanças, cada vezmais rápidas, que marcam a sociedadeglobalizada. Encontram-se indicativos desse

65Desenvolvimento L6ocal em comunidades indígenas no Mato Grosso do Sul:a construção de alternativas

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 1, N. 2, Mar. 2001.

descompasso em praticamente todos osrelatórios técnicos avaliativos de processosde construção de alternativas econômicas emcomunidades indígenas.

Para Bremen (1987:16), há umatendência dos agentes promotores deprojetos de desenvolvimento, de consideraras comunidades indígenas como inseridas namesma problemática da sociedade envol-vente, considerando apenas os indicativos deordem econômica. Pelo fato de utilizaremalgumas de nossas tecnologias, essas socie-dades passam a ser consideradas integradasem nossa lógica capitalista5.

No entanto, os sistemáticos fracassosna implementação de projetos de desenvol-vimento não têm levado os agentes promo-tores à necessária revisão crítica de suaspropostas e à percepção de que cada povotem esquemas específicos que orientam aredistribuição dos bens econômicos e queesses esquemas são sustentados por valores/lógicas que os lubrificam e mantém. Temsido, certamente, mais fácil, segundoBremen (1987:66), culpar os própriosindígenas pelos seus fracassos, afirmandoserem “incapaces de cumplir con lo previstopara ellos durante la planificación delproiecto”, ou que eles se mostraram maisincapazes do que o suposto.

O planejamento e a análise dos projetosrestringem-se a fatores tais como condiçõesecológicas, infra-estrutura e mercados,aspectos relevantes para o desenvolvimentosegundo a concepção ocidental. SegundoBremen (1987:50-51), a criação de uma baseeconômico-produtiva própria, como princi-pal objetivo dos projetos de desenvolvimento,já indicaria não se tratar de iniciativa indí-gena. Questionando a alegada participaçãodos indígenas na elaboração desses projetos,o autor constata que os argumentosindígenas coincidem, em muitos casos, comos dos promotores. Ao investigar as razõesdessa aparente concordância, Bremen ressal-ta uma outra dimensão não considerada pordiversas iniciativas de desenvolvimento juntoa povos indígenas. Os povos indígenas,embora fortemente submetidos no decorrerda história colonial e inseridos em contextosregionais onde se constituem em minorias,nunca deixaram de definir suas estratégiaspróprias a partir da análise que fazem de

suas possibilidades em cada momentohistórico. Nesse sentido, os projetos dedesenvolvimento, embora alheios às suasexpectativas, têm seus objetivos reinterpre-tados a partir de critérios próprios e tradi-cionais. A concordância formal com os seuspressupostos constitui-se, sob esse aspecto,numa estratégia ou num esforço de subor-dinar os aportes externos às suas necessi-dades e estratégias internas. Conseguem,dessa forma e em muitos casos, seguir comosujeitos de seu processo interno6.

Certamente muitos projetos fracas-sam, ainda, por não terem, suficientemente,em conta as condições da economia regional.Esse é um dado de difícil compreensão paramuitos povos indígenas e não é fácil chegara uma certa ou até necessária adequaçãoentre as exigências do mercado regional e ascaracterísticas/condições próprias dascomunidades indígenas. Por isso Regehr(1984:90) afirma que o “germen del fracasose suele introducir en todos los projectos porla equivocación de ambas partes...”

6. Unidades experimentais de produção dealimentos e artesanato para a populaçãoKaiowá/Guarani - a busca de alternativasde desenvolvimento a partir das escolas7

Com o desmatamento sistemático daregião em que se localizam os Kaiowá/Guarani, no Mato Grosso do Sul, dezenasde aldeias tradicionais foram ocupadas porfazendeiros e a população indígena foialeatoriamente concentrada nas Reservas deterra demercadas, para esse fim, peloGoverno Federal. Esse processo de reduçãoe confinamento compulsório8 prosseguiuinexorável, ao arrepio de toda legislação jáexistente em favor dos direitos indígenas àterra, até o final da década de 1970. Comoconseqüência da superpopulação, o ecossis-tema no interior das Reservas Indígenas estácompletamente alterado, conforme já ante-riormente descrito. A Reserva de Caarapó,onde se pretende construir as primeirasUnidades experimentais de produção dealimentos e artesanato, é uma das grandesReservas Indígenas, com extensão de 3.600hectares e uma população hoje estimada em2.500 pessoas, num total de 500 famílias.

Os objetivos das Unidades experimen-

66 Antônio Brand

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 1, N. 2, Mar. 2001.

tais de produção de alimentos e artesanato sãoviabilizar no interior das áreas indígenas ediretamente articulado com as escolas dacomunidade, espaços experimentais onde osalunos possam, com acompanhamentotécnico qualificado, pesquisar e desenvolveralternativas de produção e beneficiamentode alimentos e artesanato, a partir detecnologias alternativas, sem o uso de agrotó-xicos e apoiados em seu conhecimento eexperiência histórica específica. Pretende-seobter não apenas melhorias na alimentaçãoconsumida pela comunidade, mas tambémconstruir alternativas de geração de renda esustentabilidade.

Como objetivos específicos destacam-se a criação de espaços experimentais paraa pesquisa e a implementação da produção,com a participação direta de alunos eestagiários indígenas, privilegiando tecno-logias alternativas, incluindo a reproduçãode sementes nativas; a discussão e a imple-mentação de técnicas agrícolas mais próxi-mas do universo cultural indígena; o treina-mento de alunos e estagiários indígenas,visando à transferência de tecnologias paraa produção e beneficiamento de alimentosàs demais áreas indígenas; a geração derenda mediante a comercialização daprodução excedente, criando uma alterna-tiva ao assalariamento existente; o incentivoà criação de pequenos animais para acomposição da dieta alimentar da comu-nidade, servindo como fonte de proteínas.

As Unidades Experimentais pretendem,ainda, constituir-se em áreas de demons-tração, onde os integrantes da comunidadeindígena possam visualizar possibilidadesalternativas de produção de alimentos,numa parceria do conhecimento tradicionalindígena e o conhecimento técnico ocidental.Por isso será estimulada a circulação e aparticipação nas atividades em andamentonão só de alunos, mas também de índiosadultos.

O desafio fundamental que perpassaas iniciativas de desenvolvimento em comu-nidades indígenas é a articulação de racio-nalidades diversas. Sob o argumento de queo entorno é outro, considera-se, facilmente,como imprestável o conhecimento tradicio-nal e próprio desses povos. No entanto, solu-ções para os impasses que os povos indígenas

enfrentam só poderão ser encontradasatravés de uma busca conjunta, ou atravésdo diálogo entre os dois conhecimentos.

Essa busca conjunta ou diálogo deveabranger todos os momentos e passos, desdeo diagnóstico até a concretização da inicia-tiva, lembrando sempre, no entanto, que cabea eles, aos indígenas, a palavra decisiva, hajavista sua condição de profundos conhece-dores dos recursos naturais regionais. Estaserá, inclusive, uma exigência para a afir-mação do protagonismo indígena, condiçãonecessária para um desenvolvimento emescala humana. Por isso, segundo Bremen(1987:96), mais importante do que osobjetivos de um programa de desenvolvi-mento é o próprio caminho que se segue paraa sua implementação, acentuando-senovamente, aqui, a importância do prota-gonismo indígena frente à parafernáliatecnológica ocidental.

O diálogo ou a parceria na construçãode novas alternativas voltadas para a recom-posição da qualidade de vida dos povosindígenas tem como pré-requisitos indispen-sáveis, da parte dos técnicos externos, umconhecimento cada vez mais aprofundadoda economia dos povos com os quais traba-lham e de sua lógica interna e, da parte dascomunidades indígenas, conhecimentosbásicos sobre o funcionamento da economiano entorno regional, das suas possibilidadese limitações.

Por isso, a discussão em torno da cons-trução de alternativas de desenvolvimento,solidamente assentadas no protagonismoindígena, implica em estudos sobre aexperiência histórica já acumulada por eles,sobre as mudanças verificadas através doslongos anos de contato com a nossa socieda-de, sobre as experiências novas pelas quaispassaram, fracassadas ou bem logradas,assim como sobre a leitura e interpretaçãoque a comunidade indígena faz dessasexperiências. Constitui-se investigaçãorelevante detectar até onde eventuaisaspectos novos foram incorporados pelosíndios, ou foram reinterpretados, e em quesentido? Qualquer experiência nova virá,necessariamente, instruída pelo olhar datradição, ou seja, pelo olhar da culturaprópria de cada povo. No entanto, comonenhuma cultura é estática, estudar as

67Desenvolvimento L6ocal em comunidades indígenas no Mato Grosso do Sul:a construção de alternativas

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 1, N. 2, Mar. 2001.

culturas indígenas não significa rebuscar osarquivos para saber como eram quando oseuropeus aqui chegaram. Esse estudo pode,certamente, contribuir para uma melhorcompreensão da situação atual. São, porém,relevantes os processos de mudança culturalem curso, as transformações resultantes doimpacto com o entorno e a visão de mundoque norteia estes povos no limiar do novomilênio.

Medologicamente, a proposta deUnidades Experimentais está apoiada em doiseixos complementares: a pesquisa e aintervenção, de caráter interdisciplinar einterinstitucional. Avanços qualitativos emprogramas de desenvolvimento local e,portanto, centrados na qualidade de vida,são mensuráveis pelo engajamento, partici-pação e protagonismo das próprias comuni-dades indígenas. Por essa razão, todas asatividades de tais programas devem privi-legiar mecanismos de participação articu-lada da comunidade indígena envolvida.

Notas1 O conceito de povo é utilizado pelo direito comparado,

em especial pela Convenção 169, da OrganizaçãoInternacional do Trabalho (OIT) e também pela novaLDB.

2 Entre os anos de 1980 a 1999, foi constatado um totalde 384 casos de suicídio entre os Kaiowá/Guarani, naregião da Grande Dourados, em Mato Grosso do Sul(Brand, 2000).

3 Sahlins (1977:93) alerta que, embora normalmente“grupo doméstico” seja equivalente a “familiar”, issonem sempre acontece, pois nem sempre as atividadeseconômicas estão restritas ao grupo doméstico. Háatividades que exigem a cooperação mais ampla. Noentanto, isso não “instituye una estructura deproducción sui generis y con finalidades proprias”,mas constitui, segundo ao autor (1977:94), “un hechode naturaleza técnica”, sem comprometer a autonomiae predomínio dos objetivos domésticos da economia.

4 A abundância e a variedade de alternativas oferecidaspela natureza não exigiam, dos povos caçadores ecoletores, armazenamento ou planejamento. Por isso,as constantes observações sobre sua “falta deprevisão” e despreocupação com o amanhã (Bremen,1987:44), atitudes calcadas na absoluta confiança deque “enquanto há abundância hoje, não há porque sepreocupar com o amanhã”. Frente a tais condições,por que armazenar? Para povos caçadores e coletores,a questão fundamental não é produzir, mas apropriar-se dos bens que já existem.

5 Nessa mesma linha e a título de exemplo, há a questãoda dimensão comunitária das iniciativas econômicas.Parte-se do princípio de que os povos indígenas, porterem sido ou ainda serem sociedades igualitárias epor conhecer, talvez superficialmente, alguns

esquemas de acesso e redistribuição dos bens entreum ou outro povo indígena, todos os projetos dedesenvolvimento caracterizavam-se pelo seu coletivo,segundo nossas concepções.

6 Nesse sentido, os órgãos oficiais e as ONGs constituem-se hoje em “un nuevo y amplio medio ambiente” paraa coleta de bens destinados à satisfação dasnecessidades básicas desses povos coletores (Bremen,1987:89).

7 A proposta Unidades Experimentais foi elaborada emconjunto com Katya Vietta, assessora antropológicado Programa Kaiowá/Guarani, e contou com acontribuição dos integrantes do sub-programaRecuperação Ambiental e Produção de Alimentos

8 Entende-se por confinamento compulsório atransferência sistemática e forçada das diversas aldeiastradicionais Kaiowá/Guarani para as oito Reservasdemarcadas pelo governo entre 1915 e 1928. Cerca decem aldeias tradicionais foram perdidas pelos Kaiowá/Guarani no decorrer desse processo (Brand, 1997).

Bibliografia

ANDERSON, Anthony; POSEY, Darrel. Reflores-tamento indígena. In: Ciência Hoje, vol. 6, n. 31, p. 44-51, mai. 1987.

AZCONA, Jesus. Antropologia II - a cultura. Trad. LúciaMathilde Endlich Orth. Petrópolis, Vozes, 1993.

BRAND, Antonio. O impacto da perda da terra sobre atradição kaiowá/guarani: os difíceis caminhos daPalavra. Porto Alegre, 1997. Tese (Doutorado) –PUC/RS.

_____. O confinamento e o seu impacto sobre os Pãi/Kaiowá.Dissertação (Mestrado). Porto Alegre, PUC/RS, 1993.

_____. Quando chegou esses que são nossos contrários– A ocupação espacial e o processo de confinamentodos Kaiowá/Guarani no Mato Grosso do Sul. In:Multitemas, Campo Grande, UCDB, n. 12, p. 21-51,nov. 1998.

_____. Autonomia e globalização, temas fundamentaisno debate sobre educação escolar indígena nocontexto do Mercosul. In: Série-Estudos, periódico doMestrado em Educação da UCDB, n. 7, p. 7-20, abr.1999.

_____. Novo aumento no número de suicídios entre os Kaiowá/Guarani no Mato Grosso do Sul, 14 de março de 2000, 2p. (datilografado).

BREMEN, Volker von. Fuentes de caza y recolecciónmodernas – Projectos de ayuda al desarrollo destina-dos a los indígenas del Gran Chaco. Trad. CarlosFernández-Molina. Stuttgart, 1987, 102 p.(datilografado).

CARNEIRO, Robert. Uso do solo e classificação dafloresta (Kuikúro). In: Suma etnológica brasileira.BERTA, Ribeiro (org.). 2. ed. Petrópolis, Vozes/FINEP, 1987, p. 47-56. V. 1.

ELIZALDE, Antonio. Desarrollo y sustentabilidad:límites y potencialidades. In: Documentación Social, n.89, 1992.

_____. Desarrollo a Escala Humana: conceptos y expe-riencias. In: Interações, v. 1, p. 51-62, set. 2000.

MAX-NEEF, Manfred; ELIZALDE, Antonio;HOPENHAYN, Martin. Desarollo a escala humana.Una opción para el futuro. In: Development Dialogue,

68 Antônio Brand

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 1, N. 2, Mar. 2001.

número especial CEPAUR, Uppsala, Suécia, 1986.OLIVEIRA FILHO, João Pacheco. Um etnologia dos

“índios misturados”: situação colonial, territoria-lização e fluxos culturais. In Oliveira Filho (org.). Aviagem de volta. Rio de Janeiro : Contra Capa, 1999, p.11-40.

POUTIGNAT, Philippe; STREIFF-FENART, Jocelyne.Teorias da Etnicidade. Trad. Elcio Fernandes. São Paulo,Unesp, 1998.

POSEY, Darrel. Introdução etnobiologia: teoria e prática.In: BERTA, Ribeiro (org.). Suma etnológica brasileira.2. ed. Petrópolis : Vozes/FINEP, 1987, p. 15-25. V. 1.

REGEHR, Walter. Teorias del desarrollo y autogestiónindígena. In: Revista del Centro de EstudiosAntropológicos, Universidade Católica de Assunção,v. XIX, n. 1, p. 89-95, jun. 1984. (Suplementoantropológico).

RIBEIRO, Berta (coord). Etnobiologia. In: Suma etnológicabrasileira. 2. ed. Petrópolis : Vozes, 1987. 1 v.

SAHLINS, Marshall. Economia de la edad de piedra. Trad.ao castelhano de Emilio Muniz e Ema RosaFondevila. Madrid, Akal editor, 1977.

SCHMIDL, Ulrico. Viaje al rio de la Plata. Buenos Aires,Emece, 1945.

SEMPRINI, Andrea. Multiculturalismo. Trad. LaureanoPelegrini. Bauru, EDUSC, 1999.

SILVA, Joana Fernandes. Os Kaiowá e a ideologia dosprojetos econômicos. Campinas/SP, 1982. Dissertação(Mestrado) – UNICAMP.

ZARUR, George Cerqueira Leite. Ecologia e cultura:algumas comparações. In: Suma etnológica brasileira.BERTA, Ribeiro (org.). 2. ed. Petrópolis, Vozes/FINEP, 1987, p. 273-280. V. 1.

VIETTA, Katya. Não tem quem orienta, a pessoasozinha é que nem uma folha que vai com o vento:análise sobre alguns impasses presentes entre osKaiowá/Guarani. In: Multitemas, n. 12, p. 52-73, nov.1998.

_____. Programa Kaiowá/Guarani: algumas reflexõessobre antropologia prática indigenista. In: Multitemas,UCDB, n. 4, p. 68-85, out. 1997.

Critérios para publicação

avanço das reflexões na área do DesenvolvimentoLocal;

Art. 6 - A entrega dos originais para a Revista deveráobedecer aos seguintes critérios:

I - Os artigos deverão conter obrigatoriamente:a) título em português ou espanhol;b) nome do(s) autor(es), identificando-se em rodapé

dados relativos à produção do artigo, ao(s) seu(s)autor(es) e respectivas instituições, bem como aauxílios institucionais e endereços eletrônicos;

c) resumo em português ou espanhol (máximo de 6linhas, ou 400 caracteres) e abstract fiel ao resumo,acompanhados, respectivamente, de palavras-chavee keywords, ambos em número de 3, para efeito deindexação do periódico;

d) texto com as devidas remissões bibliográficas nocorpo do próprio texto;

e) notas finais, eliminando-se os recursos das notas derodapé;

f) referências bibliográficas.II - Os trabalhos devem ser encaminhados dentro da

seguinte formatação:a) uma cópia em disquete no padrão Microsoft Word

6.0;b) três cópias impressas, sendo uma delas sem

identificação de autoria e outra acompanhada deautorização para publicação devidamente assinadapelo autor;

c) a extensão do texto deverá se situar entre 10 e 18páginas redigidas em espaço duplo;

d) caso o artigo traga gráficos, tabelas ou fotografias, onúmero de toques deverá ser reduzido em funçãodo espaço ocupado por aqueles;

e) a fonte utilizada deve ser a Times New Roman ,tamanho 12;

f) os caracteres itálicos serão reservados exclusiva-mente a títulos de publicações e a palavras em idiomadistinto daquele usado no texto, eliminando-se,igualmente, o recurso a caracteres sublinhados, emnegrito, ou em caixa alta; todavia, os subtítulos doartigo virão em negrito;

g) as citações virão entre aspas, em fonte normal (nãoitálica).

III - Todos os trabalhos devem ser elaborados emportuguês ou espanhol, e encaminhados em três vias,com texto rigorosamente corrigido e revisado;

IV - Eventuais ilustrações e tabelas com respectivaslegendas devem ser contrastadas e apresentadasseparadamente, com indicação, no texto, do lugaronde serão inseridas. Todo material fotográfico será,preferencialmente, em preto e branco;

V - As referências bibliográficas e remissões deverãoser elaboradas de acordo com as normas dereferência da Associação Brasileira de NormasTécnicas (ABNT)-6023;

VI - Os limites estabelecidos para os diversos trabalhossomente poderão ser excedidos em casos realmenteexcepcionais, por sugestão do Conselho EditorialInternacional e a critério do Conselho de Redação;

Art. 1 - Interações, Revista Internacional do Programade Desenvolvimento Local da Universidade CatólicaDom Bosco, destina-se à publicação de matérias que,pelo seu conteúdo, possam contribuir para aformação de pesquisadores e para o desenvolvi-mento científico, além de permitir a constanteatualização de conhecimentos na área específica doDesenvolvimento Local.

Art. 2 - A periodicidade da Revista será, inicialmente,semestral, podendo alterar-se de acordo com asnecessidades e exigências do Programa; o calendáriode publicação da Revista, bem como a data defechamento de cada edição, serão, igualmente,definidos por essas necessidades.

Art. 3 - A publicação dos trabalhos deverá passar pelasupervisão de um Conselho de Redação compostopor cinco professores do Programa de Desenvolvi-mento Local da UCDB, escolhidos pelos seus pares.

Art. 4 - Ao Conselho Editorial Internacional caberá aavaliação de trabalhos para publicação.

Parágrafo 1º - Os membros do Conselho Editorial Inter-nacional serão indicados pelo corpo de professoresdo Programa de Mestrado em DesenvolvimentoLocal, com exercício válido para o prazo de dois anos,entre autoridades com reconhecida produçãocientífica em âmbito nacional e internacional;

Parágrafo 2º - A publicação de artigos é condicionada aparecer positivo, devidamente circunstanciado,exarado por membro do Conselho EditorialInternacional;

Parágrafo 3º - O Conselho Editorial Internacional, senecessário, submeterá os artigos a consultoresexternos, para apreciação e parecer, em decorrênciade especificidades das áreas de conhecimento;

Parágrafo 4º - O Conselho Editorial Internacional poderápropor ao Conselho de Redação a adequação dosprocedimentos de apresentação dos trabalhos,segundo as especificidades de cada área.

Art. 5 - A Revista publicará trabalhos da seguintenatureza:

I - Artigos originais, de revisão ou de atualização, queenvolvam, sob forma de estudos conclusivos,abordagens teóricas ou práticas referentes à pesquisaem Desenvolvimento Local, e que apresentemcontribuição relevante à temática em questão;

II - Traduções de textos fundamentais, isto, é daquelestextos clássicos não disponíveis em língua portu-guesa ou espanhola, que constituam fundamentosda área específica da Revista e que, por essa razão,contribuam para dar sustentação e densidade àreflexão acadêmica, com a devida autorização doautor do texto original;

III - Entrevistas com autoridades reconhecidas na áreado Desenvolvimento Local, que vêm apresentandotrabalhos inéditos, de relevância nacional einternacional, com o propósito de manter o caráterde atualidade do Periódico;

IV - Resenhas de obras inéditas e relevantes que possammanter a comunidade acadêmica informada sobre o

I N T E R A Ç Õ E SRevista Internacional de Desenvolvimento Local

Art. 7 - Não serão aceitos textos fora das normasestabelecidas, com exceção dos casos previstos noartigo arterior, e os textos recusados serão devolvidospara os autores acompanhados de justificativa, noprazo máximo de três meses.

Art. 8 - Ao autor de trabalho aprovado e publicado serãofornecidos, gratuitamente, dois exemplares donúmero correspondente da Revista.

Art. 9 - Uma vez publicados os trabalhos, a Revistareserva-se todos os direitos autorais, inclusive os detradução, permitindo, entretanto, a sua posteriorreprodução como transcrição, e com a devida citaçãoda fonte.

Para fins de apresentação do artigo, considerem-se osseguintes exemplos (as aspas delimitando os exemplosforam intencionalmente suprimidas):

a) Remissão bibliográfica após citações:

In extenso: O pesquisador afirma: “a sub-espécie Callithrixargentata, após várias tentativas de aproximação, revelou-se avessa ao contato com o ser humano” (Soares, 1998:35).Paráfrase: como afirma Soares (1998), a sub-espécieCallithrix argentata tem se mostrado “avessa ao contatocom o ser humano”...

b) Referências bibliográficas:

JACOBY, Russell. Os últimos intelectuais: a culturaamericana na era da academia. Trad. Magda Lopes.São Paulo, Trajetória/Edusp, 1990.

SANTOS, Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo,razão e emoção. São Paulo, Hucitec, 1996.

____. A redefinição do lugar. In: ENCONTRO NACIO-NAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA, 1995, Aracaju.Anais... Recife, Associação Nacional de Pós-Graduação em Geografia, 1996, p. 45-67.

____. O espaço do cidadão. São Paulo, Nobel, 1987.SOJA, Edward. Geografias pós-modernas: a reafirmação

do espaço na teoria social crítica. Rio de Janeiro, JorgeZahar, 1993.

SOUZA, Marcelo L. Algumas notas sobre a importânciado espaço para o desenvolvimento social. In: RevistaTerritório (3), p. 14-35, 1997.

WIENER, Norbert. Cibernética e sociedade: o uso humanode seres humanos. 9. ed. São Paulo, Cultrix, 1993.

c) Emprego de caracteres em tipo itálico: os programasde pós-graduação stricto sensu da universidade emquestão...; a sub-espécie Callithrix argentata tem semostrado...

Endereço para correspondência, assinaturas e permutas:Universidade Católica Dom Bosco

Programa de Desenvolvimento LocalAv. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário

Caixa Postal 100CEP 79117-800 Campo Grande-MS

Fone: (0**67) 312-3800e-mail: [email protected]