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Formato de curso e ensino linguoliterário no Ensino Médio: as tomadas de decisão paradigmatizadas do profissional docente Autores-Organizadores Felipe Freitag Marcos Gustavo Richter storyline

INTERLÚDIOS DA STORYLINE

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Formato de curso

e ensino linguoliterário no Ensino Médio:as tomadas de decisão paradigmatizadas do profissional docente

Autores-Organizadores

Felipe FreitagMarcos Gustavo Richter

storyline

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NÚCLEO DE TECNOLOGIA EDUCACIONAL

Paulo Roberto ColussoDIRETOR DO NTE

Camila Marchesan Cargnelutti

Ana Letícia Oliveira do AmaralCarlo Pozzobon de MoraesMatheus Tanuri Pascotini

FREITAG, Felipe; RICHTER, Marcos Gustavo (Autores e Organizadores).Formato de curso Storyline e ensino linguoliterário no Ensino Mé-

dio: as tomadas de decisão paradigmatizadas do profissional docenteFelipe Freitag; Marcos Gustavo Richter. Santa Maria, RS: UFSM/NTE,

2016.

E-book (Letras; Educação) – Universidade Federal de Santa Maria, Núcleo de Tecnologia Educacional.

1. Ensino linguoliterário 2. Ensino Médio da Educação Básica 3. For-mato de curso Storyline 4. Tomadas de decisão paradigmatizadas 5. Pro-fissional docente

É proibida a adaptação total, ou parcial, de qualquer forma, ou por qualquer meio, dessa obra, assim como o seu uso comercial. Você pode baixar, gratuitamente, o conteúdo dessa obra, sem que isso gere lucros aos autores. Os demais participantes da composição dessa obra (os alunos de TPEL-2012) são considerados coautores e, como tal, também têm seus direitos autorais garantidos.

Este trabalho está licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Não-Comercial-SemDerivações 4.0 Internacional. Para ver uma cópia desta licença, vi-site http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/.

Felipe FreitagMarcos Gustavo Richter

ELABORAÇÃO DO CONTEÚDO

REVISÃO LINGUÍSTICA

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS

EQUIPE DE DESIGN

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FORMATO DE CURSO STORYLINEE ENSINO LINGUOLITERÁRIO

NO ENSINO MÉDIO:as tomadas de decisão paradigmatizadas

do profissional docente

2016

AUTORES | ORGANIZADORES

Felipe FreitagMarcos Gustavo Richter

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SUMÁRIO

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

MONTAGEM SIMULADA DE CURSO EM FORMATO STORYLINE

JOGO DE TARÔ

INTERLÚDIOS DA STORYLINE

INTERSTÍCIOS DA STORYLINE

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

SOBRE OS AUTORES

O AmorO LoucoA TorreA Força

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·7

·10

·12

·26

·36

·48

·48

·13·17

·20·22

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APRESENTAÇÃO

E sse livro é destinado a você, colega docente de Língua Portuguesa e de Literatura do Ensino Médio da Educação Básica, considerando que, se-gundo a Teoria Holística da Atividade (RichTER, 2011), em sua noção de

enquadramento do trabalho docente, o educador linguoliterário devidamente habilitado por formação é o profissional equipado com a competência para to-mar decisões sobre a adoção das metodologias de ensino adequadas a seus con-textos de ensino, podendo, se necessário e coerentemente à abordagem teórica de seu paradigma, desenvolver novas metodologias como designer, com o com-promisso ético de divulgá-las à comunidade de licenciados em Letras no espaço de interlocução assegurado pelo enquadramento de trabalho que compartilham. Essa conduta profissional assegura que o seu papel social e a sua prática docente estejam atreladas às necessidades de seus educandos e às finalidades reais do ato linguodidático, evitando assim o desvio aos meios em sua didática.

Cabe, ainda, assinalar que, para a Teoria Holística da Atividade, a preocupa-ção em enquadrar – isto é, assegurar consistência teórico-prática à intervenção profissional – deve começar já na formação inicial do licenciado. Para ilustrar esta máxima, trazemos ao/à colega, nesta obra, o conjunto de tomadas de decisão em design metodológico, realizadas por uma turma de graduandos em formação do-cente inicial na disciplina de Tarefa, Projeto e Ensino de Línguas, do curso de Li-cenciatura em Letras-Português da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) em 2012 (e elaborada na forma de projeto no biênio 2012-2013), ministrada pelo professor Marcos Gustavo Richter. É o trabalho coletivo dessa turma (que merece nossos elogios e agradecimentos) que aqui vem relatado, acrescido da elaboração conceitual pelos organizadores deste compêndio na perspectiva da Teoria Holís-tica da Atividade.

Essa turma criou e testou, simuladamente, o formato de curso storyline, atra-vés de uma divisão de trabalho organizado em subgrupos e obedecendo a um enquadramento interacionista de conceitos, procedimentos e recursos, dentro desse design de material didático. Disso resultou um formato de curso cujas uni-dades encadeiam três etapas: Storyline (narrativas em capítulos), Interlúdios e In-terstícios. Tal metodologia configura-se como o estudo da montagem de um curso de língua, norteado pela seguinte lógica processual didática:

1. diagnóstico (perfil e necessidades da turma);2. objetivos (prioridades, itens relevantes em Língua Portuguesa e textos literá-

rios, segundo o perfil e as necessidades da turma);3. organização do conteúdo (estabelecer seleção e gradação dos conteúdos, elen-

car habilidades e estratégias de primeiro plano na aplicação em gêneros textuais);4. recursos (textos e objetos comunicativos);5. tarefas (elaborar, modificar, acoplar, implementar, (re)avaliar);6. critérios de emprego da gramática (aquisição da linguagem, letramento, de-

senvolvimento humano), em um paradigma sociointeracionista, deslocando a rele-

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vância da gramática com foco na forma para foco no uso – ou seja, considerando-se a aplicação da gramática ao desempenho real em contextos fora da sala de aula;

7. e roteirização e escrita da narrativa em capítulos (emprego de teorias de ro-teiro e de teorias da narração).

A produção de um curso no formato storyline possibilita, no contexto do Ensi-no Médio da Educação Básica, que você, colega licenciado em Letras, estabeleça com seus educandos a necessária aliança profissional visando a um objetivo co-mum: o ensino-aprendizagem interdependente de Língua e de Literatura, con-sonante com a demanda discente, ou seja, com os universos reais de interesses da sua turma. Assim, este livro procurará demonstrar como é possível que você e seus alunos – caso a comunidade profissional não disponha de procedimentos compatíveis com sua clientela (educandos) – sejam coprodutores de seu próprio material didático, tomando como exemplo o percurso da já mencionada turma de graduandos na elaboração do formato de curso storyline. Nas páginas seguintes, você encontrará a fundamentação teórica utilizada e, por fim, o curso, ou design didático resultante.

Sem dúvida, o caminho que o profissional de Letras tem a percorrer rumo à regulamentação emancipatória é longo, e ainda há muito por realizar, inclusive coletivamente. Por estas e outras razões, não cabe aqui nada de definitivo ou im-positivo em termos de educação linguoliterária. O que pretendemos é que você conheça esta metodologia de ensino em seus processos de criação, montagem, testagem e execução para, deste modo, assumir de forma mais assertiva sua com-petência e conduta profissional nos diversos espaços de intervenção que legiti-mamente lhe competem. Desejamos, sobretudo, que você – como docente pre-parado e habilitado ao longo de quatro anos de jornada acadêmica – reconheça, ao acompanhar nosso exemplo, a importância de organizar os componentes do trabalho didático a partir das necessidades reais da clientela, enraizando, assim, a prática de ensino de línguas no mais essencial do conteúdo pedagógico: funda-mentação paradigmática (conhecimento teórico) e seleção criativa (escolha de recursos, procedimentos e conceitos). Esses dois eixos primordiais em toda ativi-dade linguodidática são capazes de transmutar sua intervenção especializada em formação pedagógica e em formação humana, pois conjugam duas dimensões da educação linguoliterária: o profissionalismo relacionado ao papel social e o profissionalismo relacionado às tomadas de decisão diante da realidade sociocul-tural e subjetiva dos educandos.

Que sua ação preceda e alicerce o seu discurso, pois somente as mudanças em nossas práticas docentes nos auxiliarão a reformular o discurso social que despres-tigia e até invisibiliza nosso papel e nosso agir linguodidático. Que seu pensar, seu fazer e seu sentir estejam emulados na busca por melhorias na educação brasileira.

Felipe FreitagMarcos Gustavo Richter

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FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

S egundo Dubin e Olshtain (1986), os designers de curso se veem diante de um dilema básico: a língua-alvo a ser ensinada é inesgotável em seus ele-mentos e complexidade, mas um syllabus (planejamento específico) ne-

cessariamente envolve redução drástica dessa complexidade. Em outras palavras, o objeto a ser ensinado é infinito; um syllabus, finito. Além disso, esse conjunto bastante seletivo e limitado de itens requer algum tipo de organização, capaz de formatá-los segundo uma agenda de objetivos do designer.

Há cinco tipos de formatos de curso de línguas, que podem ou não imbricar-se, resultando em formatos mistos. São eles:

1. ESTRUTURAL – tradicional. Acompanha o formato de uma gramática norma-tiva. Não-comunicativo, compatível com o paradigma behaviorista. O saber-o-quê prevalece sobre o saber-como.

2. ModULAR – pacote fechado. Equivale metodologicamente ao project work de grandes proporções. Totalmente negociado e centrado no aluno, sendo ina-dequado para currículos pré-fixados, ou seja, mais apropriado para cursos livres e voltados à clientela específica. Apto à pedagogia centrada antes no processo do que no produto.

3. SToRyLiNE – dá um “fio de continuidade” contextual ao curso. Bom para alu-nos que se beneficiam de contextualização dos tópicos e ativação de processos identificatórios. É facilmente hibridizável.

4. MATRiciAL – apropriado para tópicos multiperspectivados. Recomendado quando pesa mais o fator intercultural.

5. cícLico – especialmente recomendado para a construção de conceitos e habilidades de forma gradativa. Combina muito bem a pedagogia centrada no processo com a centrada no produto. Quando a situação não é a de curso livre, precisa, em geral, mesclar-se com outros formatos.

Para uma turma de ensino médio genericamente considerada, a primeira hi-pótese de formato de curso a cogitar é o formato híbrido temático-matricial-cícli-co. Toma-se uma área ampla da prática social humana capaz de suscitar proble-matizações. Dela selecionam-se textos de gêneros compatíveis com os objetivos do curso, as necessidades dos alunos e o patamar de desempenho linguístico, diagnosticado por avaliação prévia, para atividades de leitura, gramática reflexi-va e de uso (que posteriormente resulte internalizada) e produção textual – pre-ferencialmente nessa ordem e regidas segundo uma Zona de Desenvolvimento Proximal dialógico-problematizadora, em que não falte a escuta enquadrativa na relação profissional-cliente.

Quanto ao formato de curso, é storyline. A estratégia básica do designer consis-te em inserir na seção de leitura (geralmente a primeira da unidade de curso) uma narrativa protagonizada por personagens com perfil semelhante ao da clientela e dotados de projeção de identidades. Esta estória subdivide-se em um número limitado de capítulos, calculados para prolongar a fruição da trama pelo aluno

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ao longo de todo o ano letivo. Por exemplo, se o número de horas-aula semanais permitir esgotar o material de uma unidade aproximadamente em um mês, então as unidades serão produzidas para distribuição mês a mês, até cumprir a carga horária de dois semestres letivos ›› curso de oito unidades.

As oito unidades citadas poderão conter oito capítulos narrativos (as quatro partes de uma narrativa divididas em dois capítulos cada) ou, simplesmente, qua-tro capítulos – correspondentes às quatro partes de uma narrativa: situação, com-plicação, clímax, desfecho – nos capítulos ímpares, ficando os pares para interlú-dios ou intermédios, compostos de contos ou excertos ligados ao mesmo tópico específico da unidade ímpar anterior.

Por outro lado, a mera inserção de uma narrativa envolvente como leitura ini-cial quase nada informa (e determina) a respeito das demais atividades. Mas uma coisa é certa: ao longo de toda a unidade, o princípio básico de aquisição instru-cional de Ellis (1999) – discernir, comparar, integrar – deve ser mantido como mo-la-mestra de cada tarefa ou encadeamento de tarefas, do mesmo modo que a in-tegração entre processos cognitivos bottom-up e top-down (AEbERSoLd; FiELd, 1997), podendo aplicar-se às seguintes dimensões do ensino de línguas:

›› Micro-habilidades – São aquelas embutidas nas quatro macro-habilidades, como predizer, parafrasear etc.

›› Situações – São os contextos, que podem influir na produção e na compreen-são da linguagem, como restaurante, aeroporto etc.

›› Conteúdo – Assuntos ou tópicos abordados na unidade, que podem servir de “cabide” pedagógico para diversos gêneros.

›› Cultura – Embora o termo seja complexo e multiconceitual, podemos afir-mar que a tendência hoje é o designer prever a abordagem interculturalista das unidades culturais selecionadas.

›› Gramática – A gramática descritiva torna-se alicerce para a realização dos trabalhos de síntese indispensáveis para o aprimoramento das habilidades de ler e redigir – sem descartar, é claro, a gramática normativa, importante, por exemplo, como fonte de consulta para trabalhos de revisão de textos.

›› Noções – O termo aplica-se a unidades semânticas genéricas que participam da economia linguística – como causa, efeito, meio, fim, condição, tempo, espaço etc. Locuções ou orações adverbiais são veículos importantes de noções. Os valo-res semânticos de preposições, como posição, origem, quantidade, modo, preço, companhia, entre outros, também consistem em noções.

›› Funções – Equivalem, grosso modo, aos atos de fala de Austin e Searle. Do ponto de vista da aquisição de linguagem, dominar uma função é saber usar a língua para desempenhar um ato de fala cabível e adequado em uma determina-da situação, como queixar-se, apresentar-se, avisar, solicitar, desculpar-se, elogiar, entre outros tantos.

›› Vocabulário – Sabe-se que o domínio do vocabulário em determinadas áreas do conhecimento pode alavancar o desempenho do estudante tanto em leitura quanto em produção, além de influir decisivamente na trajetória profissional a ser percorrida. Acompanhando esta constatação, há cursos de línguas que selecio-nam a gama de assuntos em função da clientela, como, por exemplo, executivos de uma empresa transnacional farmacêutica.

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E como fica a gramática nessas bases mediacionais? Privilegia-se a descrição gramatical objetiva (gramática descritiva) sobre a prescrição (gramática normati-va), ou seja, é a partir dos fatos equacionados na linguística que a(s) norma(s) é/são abordada(s). Da mesma forma, o diagnóstico acerca do perfil médio do de-sempenho linguístico de dada turma (portanto, o diagnóstico acerca das neces-sidades pedagógicas dos alunos) pauta-se por descrições objetivas distribuídas entre os diversos níveis da língua. Dessas, passa-se às questões mais especifica-mente normativas.

Exemplificando, se o problema mais importante em dado semestre é o perí-odo composto (principalmente em sua dimensão semântica), este será o ponto de partida, que oferecerá desdobramentos para as estruturas de subordinação, destas para os padrões oracionais e sintagmáticos, em seguida para as classes de palavras e sua morfologia e, finalmente, para os problemas envolvendo especifi-camente morfemas.

Sumariamente, a montagem de curso no formato storyline segue as seguintes etapas:

1. A elaboração conjunta de uma narrativa em quatro capítulos, por parte dos pares profissionais (educador como gerenciador e educandos como produtores textuais). Poderá haver iniciativa da turma para inserção de imagens e eventual diagramação.

2. O grande grupo também selecionará contos ou excertos com função de interlúdio, para a abertura de unidades pares, tematicamente apropriados para cada unidade ímpar do material didático.

3. A elaboração em quatro unidades (o educador como produtor e os edu-candos como supervisores) de uma seção de interstício contendo indicativos de trabalho didático (compatível com uma visão comunicativa e interacionista da aquisição da linguagem) com:

›› léxico (como campo semântico)›› morfologia›› sintaxe oracional e de constituintes frasais›› sintaxe do período composto›› interpretação e manipulação semântica›› interpretação e manipulação pragmática›› processos coesivos e coerência textual›› intertextualidade e intergenericidade

Marcos Gustavo Richter

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MONTAGEM SIMULADAde curso em formato storyline

A o longo de quatro meses (15 semanas/encontros) de desenvolvimento da disciplina Tarefa, Projeto e Ensino de Língua, no segundo semestre de 2012, no curso de Letras Português-Licenciatura da Universidade Federal

de Santa Maria, transcorreram algumas etapas procedimentais na elaboração de um formato de curso, isto é, na produção de um design de curso para o ensino de uma língua-alvo.

A primeira etapa consistiu no planejamento teórico da composição do formato de curso, nas escolhas de um tópico abrangente e suas subunidades, levando-se em conta a progressão de complexidade na forma gramatical e as tarefas reais, as quais são socialmente mais autênticas, voltadas à mediação do trabalho institucionaliza-do em consonância com as derivações posteriores para as habilidades linguísticas.

Após elencadas as prioridades a serem estruturadas na produção do formato de curso, elegendo uma turma hipotética do Ensino Médio, definiu-se a utilização de conteúdos gramaticais ativos, ou seja, com foco na forma, na função, no uso e no gênero textual, em sua culminância a produções textuais. A produção de um curso no formato storyline orientou-nos à reflexão do dialogismo problematiza-dor freireano (FREiRE; FAUNdEz, 1985), uma vez que, para compor a storyline, tivemos de levar em consideração a escolha de uma temática central e seus des-dobramentos, a partir de um conhecimento que levasse em conta a idade, a situ-ação sociocultural e os gostos de uma turma hipotética.

Essa etapa, a do planejamento da composição de um roteiro para a storyli-ne, iniciou-se com a escolha de uma ideia problematizadora (o amar demais) e com a composição das personagens que tivessem perfis psicológicos diferentes. Portanto, haveríamos de ter na história dois focos narrativos. A partir de teori-zação literária, compomos as personagens: Marcelo (17 anos, abandonado pelo pai, pessoa vulnerável e ansiosa, filho superprotegido pela mãe, com dependên-cia afetiva por conta da identificação da amada com a mãe, com poucos envol-vimentos afetivos sérios, intenso em seus relacionamentos); Antonela (19 anos, mora em uma cidade diferente da dos pais, independente e autônoma em rela-ção à sua família, estudante de Jornalismo em uma universidade litorânea, de família culta e de bom nível socioeconômico). Marcelo e Antonela seriam dois jovens que se conheceriam na praia e desenvolveriam laços afetivos. Cada qual tem um melhor amigo. A personagem da mãe de Marcelo aparece como a tipifi-cação da segurança do jovem.

Após a turma construir conjuntamente o roteiro da narrativa storyline, ini-ciou-se o processo de construção do roteiro do enredo. A narrativa subdividiu-se em quatro capítulos, com subtemas a partir do tema central (o amar demais). No enredo, procurou-se estabelecer uma inter-relação entre as partes do capítulo e as partes do enredo, portanto, levou-se em conta um encadeamento narrativo.

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Dividiu-se cada capítulo em cenas-chaves a partir do seguinte esquema: estado 1 (conjunto de pressupostos de entrada) + interação (ação própria, acontecimento, reflexão e deliberação) + estado 11 (práticas e intercâmbios discursivos, resultan-te do estado 1 e da ação interacional, mudanças). Em cada capítulo da storyline, inseriu-se uma situação específica, ou a ideia central do capítulo em direção à ideia central da narrativa.

Dois alunos ficaram a cargo da escritura da storyline, por terem maior contato com criação literária e, então, percebeu-se a necessidade de mais informações para dar conta da problemática do amar demais, para que a narrativa fosse cons-truída da forma mais verossímil possível. Para tanto, convidou-se uma psicóloga e um professor de Psicologia para uma conversa acerca da temática problemati-zadora. Na conversa em questão, discutiram-se, principalmente, questões sobre dependência emocional, seus sintomas, como portam-se indivíduos com essa característica, quais são as situações potencialmente ameaçadoras para as fobias, estratégias de alívio de tais fobias e o papel da psicoterapia na superação da pro-blemática. Nós, alunos, solicitamos à psicóloga para avaliar se o roteiro da storyli-ne, em suas ações, personagens, caracterizações e sintomas, estavam alinhados às teorias e práticas psicológicas. Ela auxiliou-nos no que diz respeito à compreen-são da temática (amar demais) e nos sintomas passíveis de observação em sujei-tos que amam demais. O amor obsessivo que acarreta em fobias e posteriormente em tratamento psicológico foi o foco da conversa com a psicóloga e deu-nos um arsenal consideravelmente bom para a escritura da storyline. Quando da finaliza-ção da escritura da storyline, pode-se iniciar a procura pelos interlúdios, os quais são textos literários que mantêm uma relação direta com a temática de cada um dos capítulos da narrativa.

Na sequência, iniciou-se a elaboração dos interstícios, os quais são unidades de curso topicalizadas segundo um tema gerador em uma abordagem coletiva e enquadrada. Roteirizou-se a metodologia a ser utilizada enquanto estabelecia-se o materialismo textual das atividades e ou/exercícios. Os interstícios compõem-se da seguinte maneira: objeto multimodal (extrapolar, expandir o tema da seção de leitura de acordo com o universo sociocultural da turma), atividade instigadora (provocar a reflexão/motivação da turma acerca da importância do tema em suas vidas), texto desafio (textos de caráter instigador, com maior dificuldade linguís-tica), texto literário (explorar a relação entre língua e herança cultural e estética), atividade recreativa – atividades lúdicas e curiosas para rebaixamento da Zona de Desenvolvimento Proximal vygostkyneana (1994), a qual fora altamente crescente nas unidades anteriores.

Felipe Freitag

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O ônibus movia-se lento. Percurso movediço entre o calor, a audição aturdida e o odor deliberadamente enojante. Chegara. Irmanado ao cansaço decorrente das quatorze horas de viagem, estômago digladiado por ruídos. Chegaram. A mãe ofe-recera-lhe água tônica; atraia-o o azedo do gole final, desde criança – sabia ela. As férias com a mãe e uma amiga são resultado de um convite (não quis, com seu não gosto por praia, decepcionar a mãe).

O corpo inteiro em cuidado excessivo. Um cuidado assertivo: ande, fale, beba, tenha, seja. No hotel, mãe e amiga, extenuadas, adormecem. Ele, ansioso, tenta o ar-condicionado sucateado do hotel mais barato do litoral – o barulho acordará a mãe e a amiga. DESLIGUE. No frigobar, água mineral e cerveja em lata; o triplo do preço comum em qualquer supermercado. NÃO BEBA. No box do banheiro, demora para encontrar a temperatura certa do chuveiro e acaba tomando banho gelado. Precisa de ajuda até mesmo para descobrir qual registro esquenta e qual esfria. Sabe, bolinha azul para frio e bolinha vermelha para quente. Tudo naquele banheiro parecia propositalmente um empréstimo: pequenos sabonetes, minia-turas de xampu e condicionador, toalhas com bordado esfarrapado. Outras tantas pessoas utilizaram essas mesmas toalhas. Nada ali era dele. SAIA.

— Mãe! Mãeeeee?— Que foi, guri?— Vou sair.— Nem pensar, você nem conhece a cidade.— Eu levo a Joana comigo.— A Joana tá dormindo.— Então eu vou sozinho, fico só na volta do hotel.— Tu que sabe, Marcelo.

O Marcelo vestia calça jeans, tênis e camiseta e a areia começava a incomodar dentro das meias, os pés afundando naquele deserto arenoso. Os bares na orla da praia cheio de forasteiros que vem do sul gastar todo o décimo terceiro em Santa Catarina. Guarita 18. Não marcou a inicial e as cadeiras começaram a ficar escassas.

— Moça! Sabe onde fica o hotel Viña del mar?— Você não é daqui, né?— Não. E eu acho que me perdi.— Esse hotel aí fica há umas 6 guaritas daqui. Você se perdeu mesmo.— É.— Sabe aquela coisa ali, meio Bauhaus? Segue reto até ali e vai ter uma avenida.— Eu acho que vou me perder de novo. E a minha mãe tá me esperando.

Capítulo I:

O amor

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O Marcelo ri, tentando parecer tranquilo. Pensa na mãe, na Joana dormindo, no ar-condicionado pingando. Ela se chama Antonela.

— Eu vou contigo até lá, pode ser?— Pode ser.— Tua mãe não vai ficar brava?Ela ri, tentando fazer ele parecer tranquilo.

— É que ela não deix... não quer que eu fique saindo sozinho, nós chegamos hoje aqui.

— Teu nome ela deixa dizer?— É Marcelo. E o teu?— Antonela. Tu tem signo?— Câncer. Faz diferença?— Claro que faz!

Os pés continuam afundando na areia seca, o Marcelo continua de tênis e An-tonela o leva até a ponta da avenida, avistando o Viña del mar.

— Não te perde, né— Valeu.

Perdera. Ele, o garoto inventado totalmente por sua mãe, perdera-se em en-leios nervosos no descobrir-se “apaixonado” por Antonela. Abruptamente, ele descortinara cada centímetro de pele, músculos e ossos: abrira-se ao que não co-nhecia (o coração em estado de paixão).

Antonela não era um nome comum, mas existiam mais de cem no Facebook, uma infinidade no Google, outra infinidade na lista de aprovados no vestibular das universidades de Santa Catarina.

Encontrei o meu eco.— Já deu uma hora, malandro, vai seguir?— Aham, mais uma hora.

Antonela era a mais bonita das fotos da rede social. Jornalismo em Florianópo-lis. De Blumenau. Dedicou-se ao encontro que gostaria de marcar com Antonela. Encontro aceito, encontro marcado.

— No mesmo lugar em que você se perdeu, tá?

Perdido ao conhecê-la, perdido ao encontrá-la. Amor encontrado, ou perdido?Maquinalmente, caminhavam pela areia, caminhavam para se perder, cami-

nhavam. Sorvete de milho verde para ela, de uva para ele, escorrendo entre os dedos. Quentura mais do corpo dele que do calor solar. Pegou na mão dela: sua mão está gelada! Não sinto o mesmo calor que você. Marcelo acredita que o frio

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das mãos de Antonela seja consequência de ela ser uma moça acostumada à praia. Nada o faz pensar que o frio de fora corresponda ao frio de dentro.

Marcelo já sabe quantos passos precisa dar até chegar ao lugar em que se per-deu. Antonela já está sentada sobre os chinelos na areia. Uma centena de passos para ir, outra centena para voltar. Antonela no meio do caminho. O problema é sempre voltar. Ele chega com um pedaço de papel verde limão dobrado e diz: só leia quando estiver sozinha. Ela coloca, ligeiramente, o pedaço de papel verde limão no bolso de seu short de estampa indiana. Antonela diz que precisa ir; tem um compromisso logo mais.

— Tu tem um compromisso comigo.

Ficaram quatro dias sem se ver, Marcelo ocupando ansiosamente cada espaço do quarto de hotel, verificando se o trecho de Caio Fernando Abreu que ele escre-vera no bilhete dado a Antonela havia sido postado no Facebook. A última posta-gem no “face” dela era um manifesto contra os rodeios e o maltrato aos animais. Antonela, sentada na sacada de seu apartamento, um cigarro na mão esquerda, muitas bitucas espalhadas pelo chão. Sente algo no bolso de seu short. O bilhe-te de Marcelo. Segura com a mesma mão que prende o cigarro. Lê com pressa, irritadamente: "Eu preciso muito muito de você eu quero muito muito você aqui de vez em quando nem que seja muito de vez em quando você nem precisa trazer maçãs nem perguntar se estou melhor você não precisa trazer nada só você mesmo você nem precisa dizer alguma coisa no telefone basta ligar e eu fico ouvindo o seu silêncio juro como não peço mais que o seu silêncio do outro lado da linha ou do outro lado da porta ou do outro lado do muro. Mas eu preciso muito muito de você".

Joga a bituca e o papel verde limão no chão da sacada. Somente para Marcelo havia um compromisso. Ela não precisava.

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Marcelo fazia de suas horas cotidianas uma justaposição de ações repetitivas: acordar e enviar sms para Antonela; tomar uma xícara de café e verificar a não reposta de Antonela ao seu sms; ouvir música em seu quarto e, mais uma vez, enviar um sms para ela; trocar algumas palavras queixosas sobre o calor causador de ansiedade e não notar nenhum sinal de mensagem em seu celular; almoçar e nada de Antonela; ler mangás e tudo parecia ser Antonela; adormecer sem saber de Antonela por Antonela, mas sabendo de Antonela através de seu coração.

Nenhum sms. Nenhum telefonema. Todos os recados do Facebook visualiza-dos, porém não respondidos. Antonela não estava, mas era. No sétimo dia após as não-respostas, ao meio dia, uma calma melodia fez Marcelo saltar rapidamente da mesa do almoço, derrubando os talheres no chão e manchando a toalha com o chá mate gelado preparado por sua mãe. Em direção ao seu quarto, Marcelo tropeçou em um tapete, esbarrou numa cortina branca de fibra de coco e perdeu seus chinelos pelo caminho.

— Alô. Me encontre na praia em uma hora naquele mesmo lugar em que você se perdeu.

— Anto...

Banho, perfume, calça jeans, camiseta polo, tênis branco completamente lim-po. Marcelo e a praia. Marcelo e Antonela.

— Deus é naja!— Quê?— Esquece, Marcelo. Você não entende e nunca entenderá.— Você tem fugido de mim. Você não me acha um cara legal?— Eu nunca fugi de você, só tenho tido dias cheios com minhas amigas.— Mas você podia ter respondido aos meus chamados.— Hum, não dava, eu estava muito ocupada com uns lances aí. Fragmentos, sabe?— Mas eu...— Vamos entrar no mar juntos?— É que eu...

Antonela deixou-se levar pelo vento e pelas ondas e, já no mar, chamava por Marcelo.— Vamos, então.

Dentro do mar, seguindo o movimento das ondas, Antonela puxa Marcelo pelo braço. Ela deseja conduzi-lo ao imenso do mar. Imensidão foi o beijo que Anto-nela deu em Marcelo. Esse, surpreso pelo ato, ficou de olhos abertos. Visão turva entre água, cabelos e sol.

— Prometo sair todos os dias contigo, sempre me encontre aqui.Marcelo emudeceu, sorriu e os dois se despediram. Durante todo o trajeto até

Capítulo II:

o louco

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o local em que estava alocado com sua mãe e com sua amiga, Marcelo repetia: estou namorando.

O Marcelo era o tipo de pessoa que um simples sorriso fora de ocasião o faria pensar um milhão de coisas. Desse milhão de coisas é bem provável que centenas seriam fruto de sua imaginação e tendência a tornar as coisas maiores do que realmente eram.

Ligações não retornadas. Recados avulsos. Marcelo juntou o par de chinelos e os colocou. O par trocado em cada pé, porta afora. Janela fechada no apartamento de Antonela e, na falta da certeza do número do interfone, todas as combinações possíveis. Nada. Nada dela.

E dias depois ela reaparece. Uma luz no fim do túnel, ela ressurge como se nada tivesse acontecido:

— E aí, quer tomar alguma coisa? Um banho de mar?Ela ri.

— Por que tu sumiu? Eu tentei te ligar, mandei mensagem.Ele desespera.

— Só curte, Marcelo. E relaxa, né!Uma tarde de amor para Marcelo e de sexo enfastiante para Antonela.

— Eu te amo.— O quê?— Eu te amo, ué.— Que isso! Tá louco, Marcelo?

Aí ela some mais uma vez. E outras. O Marcelo e uma infinidade de tentativas de gerar comunicação. Ela some.

Antonela quebra um copo na pia e diz pra amiga que não há nada no mundo mais chato do que quando um quer uma coisa mais que outro:

— Guria, e o “outro” sou eu. E no meu caso, eu nem quero menos, eu não quero é nada!

Marcelo esconde a cabeça embaixo do travesseiro e diz pra si mesmo que não há nada no mundo pior do que alguém que não vê o quanto o outro quer:

— Eu quero morrer!

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Na noite passada, o vento. Por causa do vento nada conciliador. Aquele ventar mis-terioso, soubera Marcelo ao acordar cedíssimo, havia bagunçado tantos potes de plástico, comuns nas cozinhas de famílias como a dele, mais comuns ainda nas fa-mílias que aproveitam o veraneio como a dele. O vento, loucamente seu inimigo, havia feito uma das portas bater e, do sobressalto dela, garantido que o interfone, localizado na parede junto a dela se descolasse de sua normal função: ouvir a voz arrependida de Antonela suplicando pelo retorno ao “namoro”. O interfone branco estendido em direção ao chão, um quase encostar-se ao solo de ladrilhos verdes. Ereto, o interfone e os nós de seu fio serpenteando a raiva e o desespero de Marcelo.

Serviço de quarto. Comida. Não era ela. Marcelo se revira na cama às quatro da tarde, o sol batendo na cara, a cortina que não se mexe porque até o vento parou. O calor de dentro do quarto, o calor da rua, a areia fina e a maresia que enferruja as aberturas e mela os cabelos. O nojo disso tudo e da comida. A falta, quando sobrecarregada, é muita solidão.

Havia música. Uma música que sobrepunha os sons exteriores, todos os sons, menos o do mar, menos o som da imensidão. Uma imensidão que estava logo ali e em seguida iria engoli-lo. Havia, sim, música.

— Vamos sair um pouco, Marcelo, desse quarto! Isso aqui parece um forno!

Marcelo dentro do forno não responde. O calor do quarto corresponde ao calor que queima seus miolos e nunca chega a hora de dizer que chega! Que acabou! Que cansou! Não passa pela cabeça numérica do Marcelo ver que o mar existe e sempre existirá. O Marcelo colocando os pés na areia e logo dando um passo atrás, feito uma criança que recua frente a um palhaço gigantesco e amedrontador. O Marcelo e tudo o que o mar pudesse representar e um pouco mais. O Marcelo e a imensidão do nada, que ele insistia em chamar de tudo, que ele insistia em chamar de Antonela.

Não havia mais música. Se antes algum som tentava encobrir aquele monstro que o aguardava do lado de fora, agora era o silêncio. O mar batendo nas janelas, nas venezianas, no telhado, na colcha e subindo no colchão. O mar por cima de Marcelo, o mar subindo em sua direção, a espuma branca e pegajosa, a baba da-quele monstro. Aquele monstro impossível de ser dominado contrastando com a monstruosa beleza que era ela, Antonela.

- Tia, acho que ele precisa de ajuda. Sei lá, conversar com alguém.

Mas ele não conversa. Ele bate a porta com essa cara avermelhada, com esses lábios inchados, esses olhos quase fechados. Ele bate a porta e lá ele fica. Ele sim-plesmente fica. Ele não faz movimentos bruscos com o corpo, ele não se machuca fisicamente, ele fica parado. E ficar parado é muito mais solidão.

Capítulo III:

a torre

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O mar que traz as conchas, revirando o natural do permanecer. O mar que aturde o som, que tange a areia. O mar que isola o continente-território seguro. O mar e Marcelo que revolvem forças, que abraçam os pequeninos pedaços quebrados das conchas. O mar imensidão que pode ampliar horizontes.

O mar, antes motivo para suores noturnos, para palpitações agressivas, para iminências do não mais encobrir-se nos edredons, é o renascimento de Marcelo. Convencido por sua mãe e por Joana, logo após o término do veraneio, Marcelo em sua cidade natal – aquela mesma das tantas frutas colhidas no pé, aquela mes-ma em que os quintais dos vizinhos não têm limites definidos, aquela mesma em que meninos como Marcelo são preparados para a nota dez nas provas de gramá-tica na escola, aquela mesma em que o medo existe apenas na zona limítrofe do asfalto a dividir duas cidadezinhas – é generoso a seu modo a admitir que precisa de ajuda.

A ajuda para Marcelo não é daquela em que se pretende nomear, expressar, gritar seus sentires, vomitar seus desejos. A ajuda que Marcelo quer já tem nome e definição: curar o sofrimento do hoje e do ontem.

A mãe de Marcelo o acorda. São onze horas da manhã de um maio em vésperas de frio.

— Marcelo, seu café com leite está pronto.— Obrigado, mas só preciso e quero um banho.— Você tem terapia às 14 horas, meu bem.— Pode não chamar isso de terapia? Soa mal, soa doente e eu não sou doente e

eu não estou doente, eu apenas estou limitado.

Uma faixa de segurança, umas marcas fundas abaixo dos olhos. A vermelhidão. Um prédio com muitos andares, tantos que Marcelo pouco se importa com a con-tagem deles. Um pensamento: só as mães são felizes.

Preferiu subir pelas escadas, mesmo tendo Joana ao seu lado. “O mais sensato ao invés do elevador”.

Aquelas quatro ou cinco poltronas brancas, de couro sintético, por certo. Aque-le balcão envidraçado separando o mundo dos normais e dos anormais. Perigo calculado para a secretária do outro lado do vidro. Seria o vidro blindado? Blinda-do ao mundo. Marcelo.

A porta abre-se. Uma mulher, aproximadamente quarenta anos, com roupas ex-travagantemente sensuais e inércia no caminhar. Maus tempos para os que têm

Capítulo IV:

a FORÇA

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coragem de sonhar, sussurra Marcelo a Joana, ao que essa lhe estende a mão direita.— Marcelo?!— Quem?— Você, Marcelo — diz Joana.— Ah, sou eu.— Por favor, entre.Um aperto de mão.

A sala do terapeuta, um homem de cerca de trinta e seis anos, faz Marcelo lem-brar de um quadro que viu na parede de uma cafeteria há alguns anos. Um ho-mem de cabelos brancos revoltados em sua cabeça, mostrando a língua. Marcelo numa poltrona de frente para o terapeuta, também em uma poltrona. Ao lado de Marcelo, uma caixinha com lenços de papel e um copo d’água. O terapeuta silen-cioso num entrecruzar de pernas.

— Então, você não vai me perguntar nada?

Silêncio.

Quinze minutos e nenhuma reação além de um sorriso jocoso e tranquilo do “cara com cara do Einstein”.

— Escute, eu vim aqui para encontrar soluções para o meu sofrimento e não para ficar falando sozinho, ou para ter o seu silêncio.

— Muito bem, Marcelo, agora sim podemos começar, pois acabo de observar o propósito da sua vinda.

— Ah é? Você me entendeu, então?— Claro que te entendi, quem não se entende é você.— Ora, como assim?— Você não veio solucionar sofrimentos aqui, você veio é expor o que sente

para que eu possa, junto de você, encontrar um caminho de compreensão ao que sente, portanto, para que você se entenda e tente amenizar o que tem te limitado.

Minutos vagarosos diante do receituário. Pesquisar preços em farmácias.— Você me desculpe, por favor, mas não vejo sentido algum para o meu medo

repentino do mar.— Talvez seja melhor falarmos da praia e não do mar nesse momento. Que tal?

Um ano subindo pelas escadas daquele prédio. Um ano tendo a mão direita de Joana na dele. Um ano de perguntas calamitosas com respostas de verdades doloridas. Um ano até Marcelo compreender que amara um ideal, que o seu amar era maquiado por toneladas de desejos inconscientes, que a sua maneira de amar era a falta de um amor de outrora, clamando por compensação.

Voltaria ao mar. Precisava sentir a água mais gelada a chegar mansamente em cada dedo de seus pés, precisava observar o bronzeado da água a confundir-se com o alaranjado do céu.

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Antonela foi meu norte.A mesma praia, primeiro os pés, depois o tronco, depois o dorso. A água e a

submersão completa. Via desfocadamente, em aumento, a mesma moça do amor na praia no ano anterior.

Antonela era maior, era delicadamente e deliciosamente maior em sua fortale-za. Antonela sabia dosar as focalizações e mensurar a luz.

— Olá! Bom revê-lo.— Obrigado.— Por quê?— Me dá um abraço?

Um abraço derramado exaustivamente como a água do mar que caía do baldi-nho de praia com que brincava o moleque ao lado deles.

Um abraço de pazes de Marcelo em Marcelo.

Felipe FreitagLuiza Casanova Machado

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INTERLÚDIOS DA STORYLINE:

Anotações sobre um amor urbano

CAPÍTULO I

Desculpa, digo, mas se eu não tocar você agora vou perder toda a naturalidade, não conseguirei dizer mais nada, não tenho culpa, estou apenas sentindo sem controle, não me entenda mal, não me entenda bem, é só essa vontade quase simples de estender o braço pra tocar você, faz tempo demais que estamos aqui parados conversando nessa janela, já dissemos tudo o que pode ser dito entre duas pessoas que estão tentando se conhecer, tenho a sensação, impressão, ilusão de que nos compreendemos, agora só preciso estender o braço e com a ponta dos meus dedos tocar você, natural que seja assim: O toque, depois da compreensão que conseguimos, e agora.

Não diz nada, você não diz nada. Apenas olha pra mim, sorri. Quanto tempo dura? Faz pouco despencou uma estrela e fizemos, ao mesmo tempo e em silêncio, um pedido, dois pedidos. Pedi pra saber tocá-lo. Você não me conta seus desejos. Sorri com os olhos, com a mesma boca que mais tarde, um dia, depois daqui, po-derá dizer: Não. Há uma espécie de heroísmo então quando estendo o braço, alon-go as mãos, abro os dedos e brota. Toco. Perto da minha boca se entreabre lenta, úmida, cigarro, chiclete, conhaque, vermelho, os dentes se chocam, leve ruído, as línguas se misturam. Naufrago em tua boca, esqueço, mastigo tua saliva, afundo. Escuridão e umidade, calor rijo do teu corpo contra a minha coxa, calor rijo do meu corpo contra a tua coxa. Amanhã não sei, não sabemos. Pensei em você. Eram exatamente três da tarde quando pensei em você. Sei porque perdi a cabeça como se você fosse uma tontura dentro dela e olhei o digital no meio da avenida.

Corre, corre. O número do telefone dissolvendo-se em tinta na palma da mão suada. Ah, no fim destes dias crispados de início de primavera, entre os engarra-famentos de trânsito, as pessoas enlouquecidas e a paranoia à solta pela cidade, no fim desses dias encontrar você que me sorri, que me abre os braços, que me abençoa, e passa a mão na minha cara marcada, no que resta de cabelos na minha cabeça confusa, que me olha no olho e me permite mergulhar no fundo quente da curva do teu olho. Mergulho no cheiro que não defino, você me embala dentro dos seus braços, você cobre com a boca meus ouvidos entupidos de buzinas, versos

Conto “Anotações sobre um amor urbano”, na obra Ovelhas negras, de Caio Fernando Abreu.

ABREU, Caio Fernando. Anotações sobre um amor urbano. In: ABREU, Caio Fernando. Ovelhas Negras. Porto Alegre: L&PM, 2009, p. 185-192.

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interrompidos, escapamentos abertos, tilintar de telefones, máquinas de escrever, ruídos eletrônicos, britadeiras de concreto, e você me beija e você me aperta, e você me leva para Creta Mikonos, Rodes, Patmos, Delos, e você me aquieta repe-tindo que está tudo bem, tudo, tudo bem. O telefone toca três vezes. Isto é uma gravação deixe seu nome e telefone depois do bip que eu ligo assim que puder, ok?

O cheiro do teu corpo persiste no meu durante dias. Não tomo banho. Guar-do, preservo, cheiro o cheiro do teu cheiro grudado no meu. E basta fechar os olhos pra naufragar outra vez e cada vez mais fundo na tua boca. Abismos ma-rinhos, sargaços. Minhas mãos escorrem pelo teu peito, gramados batidos de Sol, poços claros. Alguma coisa então pára, as coisas param. Os automóveis nas ruas, os relógios nas paredes, as pessoas nas casas, as estrelas que não con-seguimos ver aqui no fundo da cidade escura. Olho no poço do teu olho escu-ro, meia-noite em ponto. Quero fazer um feitiço pra que nada mais volte a an-dar. Quero ficar assim, no parado. Sei com medo que o que trouxe você aqui foi esse meu jeito de ir vivendo como quem pula poças de lama, sem cair ne-las, mas sei que agora esse jeito se despedaça. Torre fulminada, o inabalável va-cila quando começa a brotar de mim isso que não está completo sem o outro. Você assopra na minha testa. Sou só poeira, me espalho em grãos invisíveis pe-los quatro cantos do quarto. Fico noite, fico dia. Fico farpa, sede, garra, prego. Fico tosco e você se assusta com minha boca faminta voraz desdentada de mole-que mendigo pedindo esmola neste cruzamento aonde viemos dar.

A cidade está louca, você sabe. A cidade está doente, você sabe. A cidade está podre, você sabe. Como gostar limpo de você no meio desse doente podre louco? Urbanóides cortam sempre meu caminho à procura de cigarros, fósforos, sexo, di-nheiro, palavras e necessidades obscuras, que não chego a decifrar em seus olhos semafóricos. Tenho pressa, não podemos perder tempo. Como chamar agora a essa meia dúzia de toques aterrorizados pela possibilidade da peste? (Amor, amor certamente não). Como evitaremos que nosso encontro se decomponha, corrom-pa e apodreça junto com o louco, o doente, o podre? Não evitaremos. Pois a cidade está podre, você sabe. Mas a cidade esta louca, você sabe. Sim a cidade está doen-te, você sabe. E o vírus caminha em nossas veias, companheiro.

Fala, fala, fala. Estou muito cansado. Já não identifico nenhuma palavra no que diz. Apenas me deixo embalar pelo ritmo de sua voz, dentro dessa melodia mo-nótona angustiada perplexa repetitiva. Quase três da manhã. Não temos onde ir, nunca tivemos aonde ir. Um nojo, vez em quando me dá asco – nojo é culpa, nojo é moral – você se sente sórdido, baby? – eu tenho medo, eu não quero correr risco

– não é mais possível – vamos parar por aqui – quero acordar cedo, fazer cooper no parque, parar de beber, parar de fumar, parar de sentir – estou muito cansado

– não faz assim, não diz assim – é muito pouco – não vai dar certo – anormal, eu tenho medo – medo é culpa, medo é moral – não vê que é isso que eles querem que você sinta? Medo, culpa, vergonha – eu aceito, eu me contento com pouco – eu não aceito nada nem me contento com pouco – eu quero muito, eu quero mais, eu quero tudo! Eu quero risco, não digo. Nem que seja a morte.

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Cachorro sem dono, contaminação. Sagüi no ombro, sarna. Até quan-do esses remendos inventados resistirão à peste que se infiltra pelos rom-bos do nosso encontro? Como se lutássemos – só nós dois, sós os dois, sóis os dois – contra dois mil anos amontoados de mentiras e misérias, assas-sinatos e proibições. Dois mil anos de lama, meu amigo. Tantos lixos ata-petando as ruas que suportam nossos passos que nunca tiveram aonde ir. Chega em mim sem medo, toca meu ombro, olha nos meus olhos, como nas can-ções do rádio. Depois me diz: "— Vamos embora para um lugar limpo. Deixe tudo como esta. Feche as portas, não pague as contas e nem conte a ninguém. Nada mais importa. Agora você me tem, agora eu tenho você. Nada mais importa. O resto? Ah, os restos são restos. E não importam. Mas seus livros, seus discos, quero perguntar, seus versos de rima rica? Mas meus livros, meus discos, meus versos de rima pobre? Não importa, não importa. Largo tudo. Venha comigo pra qualquer outro lugar. Triunfo, Tenerife, Paramaribo, Yokohama. Agora já. Peço e peço e não digo nada, mas peço e peço diga, diga já, diga agora, diga assim. Você planeja par-tir para um país distante, sem mim, de onde muitos anos depois receberei a carta de um desconhecido com nome impronunciável anunciando a sua morte. Foi em Abril, dirá abril e maio. Ou Setembro, Outubro. Os mais cruéis dos meses. Tanto faz, já não importará depois de tanto tempo, numa cidade remota.

Pelas escadarias da avenida deserta, lata de coca-cola largada na porta da igre-ja, aqui parece que o tempo não passou, quero te mostrar um vitral, esta sacada, aquele balcão como os de Lorca, entremeado de rosas, quero dividir meu olhar, desaprendi de ver sozinho e agora que tudo perdeu a magia, se magia houve, e havia, e não consigo mais ver nenhum anjo em você, pastor, mago, cigano, herói intergaláctico, argonauta, repercante, e agora que vejo apenas um rapaz dentro do qual a morte caminha inexorável, só não sabemos quando o golpe final, mas virá, cabelos tão negros, rosto quase quadrado, quase largo, quase pálido onde já começou a devastação, olhos perdidos, boca de naufrágio vermelho pesado sobre o escuro da barba malfeita, olho tudo isso que vejo e não tem outra magia além dessa, a de ser real, e vou dizendo lento, como quem tem medo de quebrar a rija perfeição das coisas, e vou dizendo leve, então, no teu ouvido duro, na tua alma fria, e vou dizendo leve, e vou dizendo longo sem pausa – gosto muito de você gosto muito de você gosto muito de você.

Tantas mortes, não existem mais dedos nas mãos e nos pés pra contar os que se foram. Viver agora, tarefa dura. De cada dia arrancar das coisas, com as unhas, uma modesta alegria; em cada noite descobrir um motivo razoável para acordar amanhã. Mas o poço não tem fundo, persiste sempre por trás, as cobras no fundo enleadas na lança. Por favor, não me empurre de volta ao sem volta de mim, há muito tempo estava acostumado a apenas consumir pessoas como se consome cigarros, a gente fuma, esmaga a ponta no cinzeiro, depois vira na privada, puxa a descarga, pronto, acabou. Desculpe, mas foi só mais um engano? E quantos mais ainda restam na palma da minha mão? Ah, me socorre que hoje não quero fechar a porta com esta fome na boca, beber um copo de leite, molhar plantas, jogar fora jornais, tirar o pó de livros, arrumar discos, olhar paredes, ligar desligar a TV, ouvir

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Mozart para não gritar e procurar teu cheiro outra vez no mais escondido do meu corpo, acender velas, saliva tua de ontem guardada na minha boca, trocar lençóis, fazer a cama, procurar a mancha de esperma nos lençóis usados, agora está feito e foda-se, nada vale a pena, puxar cobertas, cobrir a cabeça, tudo vale a pena se a alma, você sabe, mas a alma existe mesmo? E quem garante? E quem se impor-ta? Apagar a luz e mergulhar de olhos fechados no quente fundo da curva do teu ombro, tanto frio, naufragar outra vez em tua boca, reinventar no escuro do teu corpo de moço homem apertado contra meu corpo de moço homem também, apalpar as virilhas, o pescoço, sem entender, sem conseguir chorar, abandonado, apavorado, mastigando maldições, dúbios indícios, sinistros augúrios, e amanhã não desisto. Te procuro em outro corpo, juro que um dia te encontro.

Não temos culpa. Tentei. Tentamos.

Diálogo

CAPÍTULO IIConto “Diálogo”, na obra Morangos Mofados, de Caio Fernando Abreu.

ABREU, Caio Fernando. Diálogo. In: ABREU, Caio Fernando. Morangos mofados. São Paulo: Brasiliense, 1986, p. 11-12.

A: Você é meu companheiro. B: Hein? A: Você é meu companheiro, eu disse B: O quê? A: Eu disse que você é meu companheiro. B: O que é que você quer dizer com isso? A: Eu quero dizer que você é meu companheiro, Só isso. B: Tem alguma coisa atrás, eu sinto. A: Não. Não tem nada. Deixa de ser paranóico. B: Não é disso que estou falando. A: Você está falando do quê, então?B: Estou falando disso que você falou agora. A: Ah, sei. Que eu sou teu companheiro. B: Não, não foi assim: que eu sou teu companheiro. A: Você também sente? B: O quê? A: Que você é meu companheiro? B: Não me confunda. Tem alguma coisa atrás, eu sei. A: Atrás do companheiro? B: É. A: Não. B: Você não sente? A: Que você é meu companheiro? Sinto, sim. Claro que eu sinto. E você, não?

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B: Não. Não é isso. Não é assim. A: Você não quer que seja isso assim? B: Não é que eu não queira: é que não é. A: Não me confunda, por favor, não me confunda. No começo era claro. B: Agora não? A: Agora sim. Você quer? B: O quê? A: Ser meu companheiro. B: Ser teu companheiro? A: É. B: Companheiro? A: Sim. B: Eu não sei. Por favor não me confunda. No começo era claro. Tem alguma coisa atrás, você não vê? A: Eu vejo. Eu quero. B: O quê? A: Que você seja meu companheiro. B: Hein? A: Eu quero que você seja meu companheiro, eu disse. B: O quê? A: Eu disse que eu quero que você seja meu companheiro. B: Você disse?A: Eu disse? B: Não, não foi assim: eu disse. A: O quê? B: Você é meu companheiro. A: Hein? (ad infinitum)

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Sem Ana, Blues

CAPÍTULO IIIConto “Sem Ana, Blues”, na obra Os dragões não conhecem o paraíso,

de Caio Fernando Abreu.

ABREU, Caio Fernando. Sem Ana, Blues. In: ABREU, Caio Fernando. Os dragões não conhecem o paraíso. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2014, p. 53-62.

Quando Ana me deixou – essa frase ficou na minha cabeça, de dois jeitos – e de-pois que Ana me deixou. Sei que não é exatamente uma frase, só um começo de frase, mas foi o que ficou na minha cabeça. Eu pensava assim: quando Ana me deixou – e essa não-continuação era a única espécie de não continuação que vi-nha. Entre aquele quando e aquele depois, não havia nada mais na minha cabeça nem na minha vida além do espaço em branco deixado pela ausência de Ana, em-bora eu pudesse preenchê-lo – esse espaço branco sem Ana – de muitas formas, tantas quantas quisesse, com palavras ou ações. Ou não-palavras e não-ações, porque o silêncio e a imobilidade foram dois dos jeitos menos dolorosos que en-contrei, naquele tempo, para ocupar meus dias, meu apartamento, minha cama, meus passeios, meus jantares, meus pensamentos, minhas trepadas e todas essas outras coisas que formam uma vida com ou sem alguém como Ana dentro dela.

Quando Ana me deixou, eu fiquei muito tempo parado na sala do apartamento, cerca de oito horas da noite, com o bilhete dela nas mãos. No horário de verão, pela janela aberta da sala, à luz das oito horas da noite podiam-se ainda ver uns restos dourados e vermelho deixados pelo sol atrás dos edifícios, nos lados de Pi-nheiros. Eu fiquei muito tempo parado no meio da sala do apartamento, o último bilhete de Ana nas mãos, olhando pela janela os dourados e o vermelho do céu. E lembro que pensei agora o telefone vai tocar, e o telefone não tocou, e depois de algum tempo em que o telefone não tocou, e podia ser Lucinha da agência ou Paulo do cineclube ou Nelson de Paris ou minha mãe do Sul, convidando para jantar, para cheirar pó, para ver Nastassia Kinski nua, perguntando que tempo fazia ou qualquer coisa assim, então pensei agora a campainha vai tocar. Podia ser o porteiro entregando alguma dessas criancinhas meio monstros de edifício, que adoram apertar as campainhas alheias, depois sair correndo. Ou simples engano, podia ser. Mas a campainha também não tocou, e eu continuei por muito tempo sem salvação parado ali no centro da sala que começava a ficar azulada pela noite, feito o interior de um aquário, o bilhete de Ana nas mãos, sem fazer absolutamen-te nada além de respirar.

Depois que Ana me deixou – não naquele momento exato em que estou ali pa-rado, porque aquele momento exato é o momento-quando, não o momento-de-pois, e no momento-quando não acontece nada dentro dele, somente a ausência da Ana, igual a uma bolha de sabão redonda, luminosa, suspensa no ar, bem no centro da sala do apartamento, e dentro dessa bolha é que estou parado também, suspenso também, mas não luminoso, ao contrário, opaco, fosco, sem brilho e

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ainda vestido com um dos ternos que uso para trabalhar, apenas o nó da gravata levemente afrouxado, porque é começo de verão e o suor que escorre pelo meu corpo começa a molhar as mãos e a dissolver a tinta das letras no bilhete de Ana

– depois que Ana me deixou, como ia dizendo, dei para beber, como é de praxe.

De todos aqueles dias seguintes, só guardei três gostos na boca – de vodca, de lágrima e de café. O de vodca, sem água nem limão ou suco de laranja, vodca pura, transparente, meio viscosa, durante as noites em que chegava em casa e, sem Ana, sentava no sofá para beber no último copo de cristal que sobrara de uma briga. O gosto de lágrimas chegava nas madrugadas, quando conseguia me arrastar da sala para o quarto e me jogava na cama grande, sem Ana, cujos lençóis não troquei durante muito tempo porque ainda guardavam o cheiro dela, e então me batia e gemia arranhando as paredes com as unhas, abraçava os travesseiros como se fossem o corpo dela, e chorava e chorava e chorava até dormir sonos de pedra sem sonhos. O gosto de café sem açúcar acompanhava manhãs de ressaca e tardes na agência, entre textos de publicidade e sustos a cada vez que o telefone tocava. Porque no meio dos restos dos gostos de vodca, lágrima e café, entre as pontadas na cabeça, o nojo da boca do estômago e os olhos inchados, principal-mente às sextas-feiras, pouco antes de desabarem sobre mim aqueles sábados e domingos nunca mais com Ana, vinha a certeza de que, de repente, bem normal, alguém diria telefone-para-você e do outro lado da linha aquela voz conhecida diria sinto-falta-quero-voltar. Isso nunca aconteceu.

O que começou a acontecer, no meio daquele ciclo do gosto de vodca, lágrima e café, foi mesmo o gosto de vômito na minha boca. Porque no meio daquele momento entre a vodca e a lágrima, em que me arrastava da sala para o quarto, acontecia às vezes de o pequeno corredor do apartamento parecer enorme como o de um transatlântico em plena tempestade. Entre a sala e o quarto, em plena tempestade, oscilando no interior do transatlântico, eu não conseguia evitar de parar à porta do banheiro, no pequeno corredor que parecia enorme. Eu me ajoe-lhava com cuidado no chão, me abraçava na privada de louça amarela com muito cuidado, com tanto cuidado como se abraçasse o corpo ainda presente de Ana, guardava prudente no bolso os óculos redondos de armação vermelhinha, enfia-va devagar a ponta do dedo indicador cada vez mais fundo na garganta, até que quase toda a vodca, junto com uns restos de sanduíches que comera durante o dia, porque não conseguia engolir quase mais nada, naqueles dias, e o gosto dos muitos cigarros se derramassem misturados pela boca dentro do vaso de louça amarela que não era o corpo de Ana. Vomitava e vomitava de madrugada, abando-nado no meio do deserto como um santo que Deus largou em plena penitência – e só sabia perguntar por que, por que, por que, meu Deus, me abandonaste? Nunca ouvi a resposta.

Um pouco depois desses dias que não consigo recordar direito – nem como fo-ram, nem quantos foram, porque deles só ficou aquele gosto de vômito, misturados, no final daquela fase, ao gosto das pizzas, que costumava perdir por telefone, prin-cipalmente nos fins-de-semana, e que amanheciam abandonadas na mesa da sala

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aos sábados, domingos e segundas, entre cinzeiros cheios e guardanapos onde eu não conseguia decifrar as frases que escrevera na noite anterior, e provavelmente diziam banalidades, como volta-para-mim-Ana ou eu-não-consigo-viver-sem-vo-cê, palavras meio derretidas pelas manchas do vinho, pela gordura das pizzas –, de-pois daqueles dias começou o tempo em que eu queria matar Ana dentro de tudo aquilo que era eu, e que incluía aquela cama, aquele quarto, aquela sala, aquela mesa, aquele apartamento, aquela vida que tinha se tornado a minha depois que Ana me deixou.

Mandei para a lavanderia os lençóis verde-clarinhos que ainda guardavam o cheiro de Ana – e seria cruel demais para mim lembrar agora que cheiro era esse, aquele, bem na curva onde o pescoço se transforma em ombro, um lugar onde o cheiro de nenhuma pessoa é igual ao cheiro de outra pessoa –, mudei os móveis de lugar, comprei um Kutka e um Gregório, um forno microondas, fitas de vídeo, duas dúzias de copos de cristal, e comecei a trazer outras mulheres para casa. Mu-lheres que não eram Ana, mulheres que jamais poderiam ser Ana, mulheres que não tinham nem teriam nada a ver com Ana. Se Ana tinha os seios pequenos e duros, eu as escolhia pelos seios grandes e moles, se Ana tinha os cabelos quase louros, eu as trazia de cabelos pretos, se Ana tivesse a voz rouca eu a selecionava pelas vozes estridentes que gemiam coisas vulgares quando estávamos trepando, bem diversas das que Ana dizia ou não dizia, ela nunca dizia nada além de amor-

-amor ou meu-menino-querido, passando dos dedos da mão direita na minha nuca e os dedos da mão esquerda pelas minhas costas. Vieram Gina, a das calci-nhas pretas, e Lilian, a dos olhos verdes frios, e Beth, das coxas grossas e pés gela-dos, e Marilene, que fumava demais e tinha um filho, e Mariko, a nissei que que-ria ser loura, e também Marta, Luiza, Creuza, Júlia, Débora, Vivian, Paula, Teresa, Luciana, Solange, Maristela, Adriana, Vera, Silvia, Neusa, Denise, Karina, Cristina, Marcia, Nadir, Aline e mais de 15 Marias, e uma por uma das garotas ousadas da Rua Augusta, com suas botinhas brancas e minissaia de couro, e destas moças que anunciam especialidades nos jornais. Eu acho que já vim aqui uma vez, alguma dizia, e eu falava não lembro, pode ser, esperando que tirasse a roupa enquanto eu bebia um pouco mais para depois tentar entrar nela, mas meu pau quase nunca obedecia, então eu afundava a cabeça nos seus peitos e choramingava babando sabe, depois que Ana me deixou eu nunca mais, e mesmo quando meu pau fi-nalmente endurecia, depois que eu conseguia gozar seco ardido dentro dela, me enxugar com alguma toalha e expulsá-la com um cheque cinco estrelas, sem cru-zar então eu me jogava de bruços na cama e pedia perdão à Ana por traí-la assim, com aquelas vagabundas. Trair Ana, que me abandonara, doía mais que ela ter me abandonado, sem se importar que eu naufragasse toda noite no enorme corredor de transatlântico daquele apartamento em plena tempestade, sem salva-vidas.

Depois que Ana me deixou, muitos meses depois, veio o ciclo das anunciações, do I Ching, dos búzios, cartas de Tarot, pêndulos, vidências, números e axés ela volta, garantiam, mas ela não voltava – e veio então o ciclo das terapias de grupo, dos psicodramas, dos sonhos junguianos, workshops transacionais, e veio ainda o ciclo da humildade, com promessas a Santo Antônio, velas de sete dias, novenas

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de Santa Rita, donativos para as pobres criancinhas e velhinhos desamparados, e veio depois o ciclo do novo corte de cabelos, da outra armação para os óculos, guarda-roupa mais jovem, Zoomp, Mister Wonderful, musculação, alongamento, yoga, natação, tai-chi, halteres, cooper, e fui ficando tão bonito e renovado e su-perado e liberado e esquecido dos tempos em que Ana ainda não tinha me deixa-do que permiti, então, que viesse também o ciclo dos fins de semana em Búzios, Guarajá ou Monte Verde e de repente quem sabe Carla, mulher de Vicente, tão compreensiva e madura, inesperadamente, Mariana, irmã de Vicente, transponí-vel e natural em seu fio dental metálico, por que não, afinal, o próprio Vicente, tão solícito na maneira como colocava pedras de gelo no meu escocês ou batia outra generosa carreira sobre a pedra de ágata, encostando levemente sua musculosa coxa queimada de sol e o windsurf na minha musculosa coxa também queimada de sol e windsurf. Passou-se tanto tempo depois que Ana me deixou, e eu sobrevi-vi, que o mundo foi se tornando aos poucos um enorme leque escancarado de mil possibilidades além de Ana. Ah esse mundo de agora, assim tão cheio de mulheres e homens lindos e sedutores interessantes e interessados em mim, que aprendi o jeito de também ser lindo, depois de todos os exercícios para esquecer Ana, e tam-bém posso ser sedutor com aquele charme todo especial de homem-quase-ma-duro-que-já-foi-marcado-por-um-grande-amor-perdido, embora tenha a delica-deza de jamais tocar no assunto. Porque nunca contei a ninguém de Ana. Nunca ninguém soube de Ana em minha vida. Nunca dividi Ana com ninguém. Nunca ninguém jamais soube de tudo isso ou aquilo que aconteceu quando e depois que Ana me deixou.

Por todas essas coisas, talvez, é que nestas noites de hoje, tanto tempo depois, quando chego do trabalho por volta das oito horas da noite e, no horário de verão, pela janela da sala do apartamento ainda é possível ver restos de dourados e ver-melhos por trás dos edifícios de Pinheiros, enquanto recolho os inúmeros recados, convites e propostas da secretária eletrônica, sempre tenho a estranha sensação, embora tudo tenha mudado e eu esteja muito bem agora, de que este dia ainda con-tinua o mesmo, como um relógio enguiçado preso no mesmo momento – aquele. Como se quando Ana me deixou não houvesse depois, e eu permanecesse até hoje aqui parado no meio da sala do apartamento que era o nosso, com o último bilhete dela nas mãos. A gravata levemente afrouxada no pescoço, fazia e faz tanto calor que sinto o suor escorrer pelo corpo todo, descer pelo peito, pelos braços, até chegar aos pulsos e escorregar pela palma das mãos que seguram o último bilhete de Ana, dissolvendo a tinta das letras com que ela compôs palavras que se apagam aos pou-cos, lavadas pelo suor, mas que não consigo esquecer, por mais que o tempo passe e eu, de qualquer jeito e sem Ana, vá em frente. Palavras que dizem coisas duras, secas, simples, irrevogáveis. Que Ana me deixou, que não vai voltar nunca, que é inútil tentar encontrá-la, e finalmente, por mais que eu me debata, que isso é para sempre. Para sempre então, agora, me sinto uma bolha opaca de sabão, suspensa ali no centro da sala do apartamento, à espera de que entre um vento súbito pela janela aberta para levá-la dali, essa bolha estúpida, ou que alguém espete nela um alfinete, para que de repente estoure nesse ar azulado que mais parece o interior de um aquário, e desapareça sem deixar marcas.

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Beta (O Ovo Apunhalado – Caio Fernando Abreu)

CAPÍTULO IVEpígrafe do conto “Beta”, na obra O ovo apunhalado, de Caio Fernando

Abreu.

ABREU, Caio Fernando. Beta. In: ABREU, Caio Fernando. O ovo apunhalado. Porto Alegre: L&PM, 2011, p. 60.

"Estive doente  doente dos olhos, doente da boca, dos nervos até.  Dos olhos que viram mulheres formosas  da boca que disse poemas em brasa dos nervos manchados de fumo e café.  Estive doente estou em repouso, não posso escrever.  Eu quero um punhado de estrelas maduras eu quero a doçura do verbo viver."

(De um louco anônimo – transcrito por Caco Barcelos na reportagem “Crime e loucura”, publicada na extinta Folha da Manhã, Porto Alegre, RS)

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INTERSTÍCIOS DA STORYLINE:Atividades de interstício do Capítulo I:

1. TEXTO MULTIMODAL

Síndrome da Desilusão Ortográfico-Amorosa (Karine Rosa)

Leia o seguinte texto:

Não é que seu cabelo não seja no corte que eu sonhei. Nem foi sua regata que me afastou. Não foram seus amigos, seu jeito, a ligação que você demorou tempo de-mais a fazer. Relevei tudo isso porque você me tinha tão na mão. Eu estava pronta para tudo com você – menos para o seu “ancioso”.

Foi aí que veio o Facebook. E eram tantos erros que eu fechei sua página antes mesmo de ler toda a sua timeline. Veja bem, eu encararia numa boa seu celular desligado, suas ex-namoradas no seu pé e até sua dificuldade em ser fiel. A gente superaria isso juntos. Mas não deu para encarar o “concerto do seu computador”, o “encômodo” que você causava, muito menos a “conhecidência de termos nos conhecido”. Nunca mais queria uma coincidência dessa na minha vida.

Não lhe pedi muito. Não queria declarações com ênclises, mesóclises e pró-clises nos lugares certos. Não lhe pedi que usasse o pronome correto, respeitasse a concordância nominal, nem sequer que realizasse bom uso da crase. Tudo isso eu perdoava, que seria de nós se nos prendêssemos às regras intermináveis do português? Mas você me apareceu com um “vossê” e meu coração parou. E não de um jeito bom.

FiGURA 1: É bonitinho mas... FoNTE: fb.com/ebonitinho/, 2013.

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Entenda, não foi seu gosto musical. Não foram as baladas que você frequen-tava, seu jeito de me abraçar e seus sumiços. Não foi beijo insosso nem foi falta de química. É, não foi, com certeza, falta de química ou física. Foi a falta do por-tuguês. Da próxima vez, meu bem, conquiste-me com um dicionário. Porque, em todos os sentidos, uma língua bem usada é afrodisíaco.

Fonte: Livros só mudam pessoas. Disponível em: <http://www.livrosepessoas.com/2012/10/18/sindro-me-da-desilusao-ortografico-amorosa/>. Acesso em: 10 dez. 2012.

2. ATIVIDADE INSTIGADORA

3. ATIVIDADE TEXTO LITERÁRIO E TEXTO DESAFIO

Habilidades: descrever, localizar, identificar, relacionar e transformar (atividade de criação).

A partir da leitura do texto “Síndrome da Desilusão Ortográfico – Amorosa”, pes-quise na rede social – Facebook – os equívocos recorrentes dos usuários em relação à ortografia da Língua Portuguesa. Sua pesquisa deverá seguir os seguintes passos:

1. Localizar e identificar os principais erros;2. Descrever como esses erros ocorrem e ajustá-los à ortografia;3. Relacionar os erros com o texto base e, por fim...4. Transformar esses erros em imagens (texto verbal e não verbal), semelhante às imagens que foram apresentadas pela autora.

Se tu viesses ver-me hoje à tardinha, A essa hora dos mágicos cansaços, Quando a noite de manso se avizinha, E me prendesses toda nos teus barcos...

Quando me lembra: esse sabor que tinha A tua boca... o eco dos teus passos... O teu riso de fonte... os teus abraços... Os teus beijos... a tua mão na minha...

Se tu viesses quando, linda e louca, Traça as linhas dulcíssimas dum beijo E é de seda vermelha e canta e ri

E é como um cravo ao sol a minha boca... Quando os olhos se me cerram de desejo... E os meus braços se estendem para ti…

Leia o poema “Se tu viesses ver-me...”, de Florbela Espanca:

Fonte: Rede ex aequo. Disponível em:<https://www.rea.pt/forum/index.php?topic=9815.65;wap2>. Acesso em: 10 dez. 2012.

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4. ATIVIDADE RECREATIVATrabalho de problematização e de relação do poema com a temática da storyline:

A partir da leitura do poema de Florbela Espanca, considere o primeiro capítulo da história lida em aula, comparando através das semelhanças e das diferenças entre o amar demais de Marcelo e o amar demais do eu lírico do poema em ques-tão, os anseios/desejos ocasionados por esse tipo de amor obsessivo.

Após você ter lido e refletido sobre o poema “Se tu viesses ver-me...”, de Flor-bela Espanca, crie mentalmente, a partir das sensações suscitadas em você, uma imagem que represente o poema em questão e tente encontrar na internet algo que ilustre a sua representação mental e sentimental desse poema.

Levando em conta o seu interlocutor (o leitor) crie um texto nos moldes de postagem no Facebook, juntando-o à imagem escolhida no exercício anterior e envie-o na rede social para quem você desejar.

Atividades de interstício do Capítulo II:

1. TEXTO MULTIMODALPerceba que, durante todo dia, Marcelo fica impaciente pensando em Antonela. Tudo o que o rapaz realiza durante o dia é com o pensamento em sua amada. Ele aguarda a chegada de sms, respostas nas postagens e mensagens do Facebook etc… Esse quadro caracteriza-se por ansiedade.

Agora, imagine-se na situação de Marcelo: esperar, ansiosamente, a resposta de algo que é muito importante em sua vida. Descreva essa situação, como se fosse escrever uma postagem na rede social Facebook.

» O objetivo dessa atividade de produção de texto é que os alunos escrevam, sem pudores, para que o professor observe quais os principais “problemas” apre-sentados nas produções dos alunos e para que juntos possam elaborar estratégias para solucioná-los.

Percebe-se a compulsão e a ansiedade apresentada por Marcelo. Tudo o que ele realiza, durante o dia, mantém seu pensamento fixado em Antonela. A partir des-sas informações, elabore um texto, em formato de artigo para ser exposto em uma revista e/ou jornal, baseado em transtornos relacionados à psique afetivo-emoti-va, com características típicas desses transtornos. Utilize como auxílio as informa-ções do professor e dos colegas, assim como de meios tecnológicos.

2. ATIVIDADE INSTIGADORA

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3. TEXTO DESAFIO

Ser jovem (Artur da Távola)

Ser jovem é não perder o encanto e o susto de qualquer espera. É, sobretudo, não ficar fixado nos padrões da própria formação.

Ser jovem é ter abertura para o novo na mesma medida do respeito ao imutá-vel. É acreditar um pouco na imortalidade da vida, é querer a festa, o jogo, a brin-cadeira, a lua, o impossível, o distante.

Ser jovem é ser bêbado de infinitos que terminam logo ali. É só pensar na mor-te de vez em quando. É não saber de nada e poder tudo.

Ser jovem é ainda acordar, pelo menos de vez em quando, assobiando uma canção, antes mesmo de escovar os dentes. Ser jovem é não dar bola para o síndi-co mas reconhecer que ele está na sua. É achar graça do riso, ter pena dos tristes e ficar ao lado das crianças.

Ser jovem é estar sempre aprendendo inglês, é gostar de cor, xarope, gengibre e pastel de padaria.

Ser jovem é não ter azia, é gostar de dormir e crer na mudança; é meter o dedo no bolo e lamber o glacê. É cantar fora do tom, mastigar depressa e engolir deva-gar a fala do avô.

É gostar da barca da Cantareira, carro velho e roupa sem amargura. É bater papo com a baiana, curtir o ônibus e detestar meia marrom.

Ser jovem é beber curvas, ter estranhas, súbitas e inexplicáveis atrações. É temer o testemunho, detestar os solenes, duvidar das palavras. Ser jovem é não acreditar no que está pensando exceto se o pensamento permanecer depois. É saber sorrir e alimentar secreta simpatia pelos crentes que cantam na praça em semicírculo, Bíblia na mão, sonho no coração.

É gostar de ler e tentar silêncios quase impossíveis. É acreditar no dia novo como obra de Deus. É ser metafísica sem ter metafísica. É curtir trem, alface fres-quinha, cheiro de hortelã. É gostar até de talco.

Ser jovem é ter ódio de cachimbo, de bala jujuba, de manipulação, de ser usado.

Ser jovem é ser capaz de compreender a tia, de entender o reclamo da empre-gada e apoiar seu atraso. Ser jovem é continuar gostando de deitar na grama. É gostar de beijo, de pele, de olho. Ser jovem é não perder o hábito de se encabular. É ir para ser apresentado (“já conhece fulano?”) morrendo de medo.

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Ser jovem é permanecer descobrindo. É querer ir a lua ou conhecer as Fin-lândias, Escócias e praias adivinhadas. É sentir cheiro de férias, cheiro de mãe chegando em casa em dia de chuva, cheiro de festa, aipim, camisa nova ou toalha lá do clube.

Ser jovem é andar confiante como quem salta, se possível, de mãos dadas com o ar. É ter coragem de nascer a cada dia e embrulhar as fossas no celofane do não faz mal. É acreditar em frases, pessoas, mitos, forças, sons, é crer no que não vale a pena mas ai da vida se não fosse isso.

É descobrir um belo que não conta. É recear as revelações e ir para casa com gosto do seu silêncio amargo ou agridoce.

Ser jovem é ter a capacidade do perdão e andar com os olhos cheios de capim cheiroso. É ter tédios passageiros, é amar a vida, é ter uma palavra de compreensão. Ser jovem é lembrar pouco da infância por não precisar fazê-lo para suportar a vida.

Ser jovem é ser capaz de anestesias salvadoras.

Ser jovem é misturar tudo isso com a idade que se tenha, trinta, quarenta, cin-quenta, sessenta, setenta ou dezenove.

É sempre abrir a porta com emoção. É esperar dos outros o que ainda não de-sistiu de querer.

Ser jovem é viver em estado de fundo musical, de superprodução da Metro. É abraçar esquinas, mundos, espaços, luzes, flores, livros, discos, cachorros e a me-nininha com um profundo, aberto e incomensurável abraço feito de festa, cocada preta, dentes brancos e dedos tímidos, todos prontos para os desencontros da vida.

Com uma profunda e permanente vontade de SER.

Fonte: Blog O povo online. Disponível em:<http://blog.opovo.com.br/yoga/ser-jovem/>. Acesso em: 10 dez. 2012.

Nesse setor de atividades podemos trabalhar conceitos sobre tipologia textual.

Você consegue perceber em qual gênero textual o texto é apresentado? A partir de quais características?

Pode-se perceber, também, o meio em que é veiculado? O que caracteriza esse meio?

A utilização desse gênero textual, assim como o meio em que é veiculado, em sua opinião, aproxima ou afasta os leitores jovens? Por quê?

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4. TEXTO LITERÁRIO

A: Você é meu companheiro. B: Hein? A: Você é meu companheiro, eu disse B: O quê? A: Eu disse que você é meu companheiro. B: O que é que você quer dizer com isso? A: Eu quero dizer que você é meu companheiro. Só isso. B: Tem alguma coisa atrás, eu sinto. A: Não. Não tem nada. Deixa de ser paranóico. B: Não é disso que estou falando. A: Você está falando do quê, então?B: Estou falando disso que você falou agora. A: Ah, sei. Que eu sou teu companheiro. B: Não, não foi assim: que eu sou teu companheiro. A: Você também sente? B: O quê? A: Que você é meu companheiro? B: Não me confunda. Tem alguma coisa atrás, eu sei. A: Atrás do companheiro? B: É. A: Não. B: Você não sente? A: Que você é meu companheiro? Sinto, sim. Claro que eu sinto. E você, não? B: Não. Não é isso. Não é assim. A: Você não quer que seja isso assim? B: Não é que eu não queira: é que não é. A: Não me confunda, por favor, não me confunda. No começo era claro. B: Agora não? A: Agora sim. Você quer? B: O quê? A: Ser meu companheiro. B: Ser teu companheiro? A: É. B: Companheiro? A: Sim. B: Eu não sei. Por favor não me confunda. No começo era claro. Tem alguma coisa atrás, você não vê? A: Eu vejo. Eu quero. B: O quê? A: Que você seja meu companheiro. B: Hein? A: Eu quero que você seja meu companheiro, eu disse. B: O quê? A: Eu disse que eu quero que você seja meu companheiro.

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B: Você disse?A: Eu disse? B: Não, não foi assim: eu disse. A: O quê? B: Você é meu companheiro. A: Hein? (ad infinitum)

Fonte: ABREU, Caio Fernando. Diálogo. In: ABREU, Caio Fernando. Morangos mofados. São Paulo: Brasiliense, 1986, p. 11-12.

Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=ERhHeWL3j3o>. Acesso em: 10 dez. 2012.

» Pode-se dizer que há uma espécie de confusão nos diálogos anteriores? Explique.

» Há semelhanças entre o conto de Abreu e o capítulo lido anteriormente (ca-pítulo 2 da storyline)? Qual? Por quê?

» Em um único termo, sintetize a temática principal do conto de Abreu e anali-se se esse mesmo termo sintetiza o capítulo 2 da storyline.

» E, por fim, em, no máximo 3 linhas, faça uma paráfrase relacionando o capí-tulo 2 da storyline e o conto de Caio Fernando Abreu.

Como dito anteriormente, o Facebook é citado nos diversos momentos do dia de Marcelo, o qual espera, ansiosamente, respostas para as suas indagações amo-rosas. A partir disso, o professor deverá separar a turma em quatro grupos. Cada grupo ficará responsável por acessar o Facebook para verificar o que os seus ami-gos e/ou conhecidos estão compartilhando em relação aos seus relacionamentos (ou pseudo-relacionamentos). Depois, cada grupo selecionará as postagens mais interessantes, devido ao conteúdo, e verificar se a escrita está de acordo com as normas gramaticais da Língua Portuguesa. O objetivo dessa atividade, além do momento de descontração, é analisar como os jovens estão “usando” a Língua Portuguesa nas redes sociais e quais os equívocos que mais se repetem.

5. ATIVIDADE RECREATIVA

Atividades de interstício do Capítulo III:

1. TEXTO MULTIMODALMúsica: Demais – Maysa.

» A partir da leitura do capítulo é possível identificar uma mudança de com-portamento do personagem principal? Essas características são semelhantes com as apresentadas na música “Demais”, ouvida anteriormente? Por quê?

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Nessa atividade serão discutidos os diferentes sintomas entre amar demais e amor patológico, isto é, quando o amor vira doença. Com isso, os alunos refletirão acer-ca da temática do capítulo, tendo em vista a negatividade das consequências psi-cológicas causadas pelo amor excessivo.

» Você já vivenciou ou presenciou algum trauma psicológico por amar demais? Cite as principais mudanças comportamentais.

» Tendo por orientação a discussão acima, pesquise e relate quais outros trans-tornos psicológicos que as pessoas podem desenvolver quando sofrem uma desi-lusão amorosa.

2. ATIVIDADE INSTIGADORA

3. TEXTO DESAFIO

Atividade: Teste Você

Atividade:

Disponível em: http://oglobo.globo.com/saude/teste-voce-sofre-de-amor-patologico-4334443

FiGURA 2: Compro e vendo amor. FoNTE: www.nadaver.com/tag/amor/page/4/, 2008.

» Qual a principal finalidade do gênero charge? Quais as suas principais características?

» Quais as principais semelhanças e diferenças apresentadas na leitura da charge?

» Existem diferentes expectativas dos personagens em relação ao amor? Por quê?

Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=4Zvgg7Mp49M>.

4. TEXTO LITERÁRIOPoema: Seu Nome – Fabrício Corsaletti.

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Atividade: » O poema e o capítulo trabalhado apresentam semelhanças em relação ao

tema? Comente como cada um explora esse assunto.

» Quais as características do sujeito poético nesse poema? Como isso se justifica?

» No decorrer do poema, pode-se constatar um jogo de palavras, relacionando-se com “seu nome”. Qual é o efeito de sentido obtido por esse recurso? Por quê?

5. ATIVIDADE RECREATIVA LÚDICAAtividade: “Painel artístico”- os alunos, individualmente, buscarão imagens rela-cionadas ao tema gerador. A partir disso, será construído, coletivamente, um pai-nel simbolizando as principais características da desilusão amorosa. Cada ima-gem deverá ser definida em uma só palavra pelo aluno, pertencente ao mesmo campo semântico da temática proposta. Essa atividade contemplará o estudo da semântica e a exploração da linguagem verbal e não-verbal.

Atividade: Coloque-se no lugar de Marcelo e escreva uma página de diário contan-do que atitudes, além da terapia, ele tomou para superar a perda amorosa. A se-guir, compartilhe suas ideias com os colegas e discuta com eles a verossimilhança das atitudes levando em consideração o perfil de Marcelo.

Quando se trata de criar estratégias para superar a dor do fim de um relaciona-mento, surgem dicas de todos os tipos. Se a ideia é realmente buscar um trata-mento eficaz que ajude na superação, o ideal é ouvir especialistas que possam esclarecer o que é mito e o que é verdade. A partir do seu conhecimento de mundo e de seu universo cultural, diga se você considera mito ou verdade cada uma das dicas abaixo. Depois, para conferir as respostas e saber como está seu nível de entendimento sobre o tema, leia o artigo escrito por um especialista no assunto.

Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=0FxMCZ4OzL4>.

Atividades de interstício do Capítulo IV:

1. TEXTO MULTIMODAL

2. ATIVIDADE INSTIGADORA

Vídeo “How to be alone”, de Tanya Davis.

Mitos e verdades com base no texto desafio.

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Exemplo:

1) Para ajudar na superação da perda amorosa, bom mesmo é ignorar; procurar não falar sobre o assunto.

( )mito( )verdade

A atividade seria no sentido de levar o aluno a perceber no título da reportagem: a) que a frase está na ordem indireta; b) que há um sujeito, um verbo transitivo direto, um objeto direto; c) que se trata de um período composto por subordina-ção; d) o porquê de se topicalizar o objeto direto (oração subordinada substantiva objetiva direta) e de não haver conjunção integrante – relação com o gênero (no-tícia>manchete) e com o tipo de discurso (discurso direto).

3. TEXTO DESAFIO

3. TEXTO LITERÁRIO

“Fim de um relacionamento amoroso se assemelha à perda da morte, dizem especialistas”

Poema de Natal(Vinicius de Moraes)

Fonte: Zero Hora. Disponível em: zerohora.clicrbs.com.br/rs/vida-e-estilo/donna/noticia/2012/03/fim-de-um-relacionamento-amoroso-se-assemelha-a-perda-da-morte-dizem-especialistas-3677448.html.

Para isso fomos feitos: Para lembrar e ser lembrados Para chorar e fazer chorar Para enterrar os nossos mortos — Por isso temos braços longos para os adeuses Mãos para colher o que foi dado Dedos para cavar a terra.

Assim será nossa vida: Uma tarde sempre a esquecer Uma estrela a se apagar na treva Um caminho entre dois túmulos — Por isso precisamos velar Falar baixo, pisar leve, ver A noite dormir em silêncio.

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Não há muito o que dizer: Uma canção sobre um berço Um verso, talvez de amor Uma prece por quem se vai — Mas que essa hora não esqueça E por ela os nossos corações Se deixem, graves e simples.

Pois para isso fomos feitos: Para a esperança no milagre Para a participação da poesia Para ver a face da morte — De repente nunca mais esperaremos... Hoje a noite é jovem; da morte, apenas Nascemos, imensamente.

Fonte: Projeto Releituras. Disponível em: <http://www.releituras.com/viniciusm_natal.asp>. Acesso em: 11 dez. 2012.

(1) CHEVALIER, J. e GHEERBRANT, A. Dicionário de Símbolos (mitos, sonhos, costumes, gestos, for-mas, figuras, cores, números). 12. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1998.

Atividade: 1º) Antes da leitura do texto, o professor deverá provocar na turma uma discussão sobre os diversos sentidos que a palavra “Natal” pode assumir. Cada aluno terá a oportunidade de expor sua concepção, de acordo com o seu universo cultural. A ideia é que o aluno inicie a leitura do texto já apto a relacionar o conteúdo do poema com o título, de forma a captar a sua ideia central: da morte, se renasce. Essa conclusão, na medida em que poderá vir a ser parafraseada como “depois da morte, vem a vida / depois da tempestade, vem o sol”, pode culminar (dependen-do do nível da turma) com a ideia do ciclo, do eterno retorno, que tem como um dos seus símbolos o mar.

MAR: Símbolo da dinâmica da vida. Tudo sai do mar e tudo retorna a ele: lugar dos nascimentos, das transformações e dos renascimentos. Águas em movimento, o mar simboliza um estado transitório entre as possibilidades ainda informes e as realidades configuradas, uma situação de ambivalência, que é a de incerteza, de dúvida, de indecisão, e que pode se concluir bem ou mal. Vem daí que o mar é, ao mesmo tempo, a imagem da vida e a imagem da morte. (1)

2º) Pedir que o aluno identifique, no último capítulo da storyline, a frase que me-lhor sintetiza a ideia central do poema.

Resposta: “O mar, antes motivo para suores noturnos, para palpitações agressivas, para iminências do não mais encobrir-se nos edredons, é o renascimento de Marcelo”.

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5. ATIVIDADE RECREATIVA

Dor de cotovelo musical: Dividir a turma em grupos. Cada grupo será respon-sável por encontrar músicas de um determinado gênero musical (rap, hip hop, rock, pop, sertanejo) que possam tocar os corações despedaçados e/ou ajudar a superar a dor da perda amorosa. Após, os grupos deverão confrontar as letras das músicas escolhidas para descobrir como diferentes formas linguísticas abordam um mesmo conteúdo. Podem ser confrontados, entre outros, os aspectos a seguir: presença ou não de rimas, uso de linguagem coloquial ou culta, linguagem cono-tativa ou denotativa, presença de figuras de linguagem etc.

Evelyn Cendon da SilvaFelipe Freitag

Letícia Schuler Gonçalves Luisa Flores Somavilla

Luiza Casanova MachadoMarina Buriol Zampirolo

Stefania Marin da SilvaTaciane Weber

Vanessa Bianchi Gatto

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASAEBERSOLD, J. A.; FIELD, M. L. From reader to reading teacher: issues and strate-gies for second language classroom. Cambridge: Cambridge University Press,1997.

DUBIN, F.; OLSHTAIN, E. Course design: developing program and materials for language learning. Cambridge: Cambridge University Press, 1986.

ELLIS, R. The study of second language aquisition. 6. ed. Oxford: Oxford Univer-sity Press, 1999.

FREIRE, P.; FAUNDEZ, A. Por uma pedagogia da pergunta. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985.

RICHTER, M. G. Profissionalização docente segundo a teoria holística da ativi-dade: estudo empregando software de mapeamento semântico. In: LEÃO, R. A.; MOTTA, V. R. (Orgs.). Linguagem e interação: o ensino em pauta. São Carlos: Pe-dro e João Editores, 2011.

VYGOTSKY, L. S. (1984). A formação social da mente: o desenvolvimento dos pro-cessos psicológicos superiores. São Paulo: Martins Fontes, 1994.

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Sobre os autores-organizadores

Marcos Gustavo Richter é Pós-Dr. em Linguística de Corpus pela PUC-SP. Pro-fessor dos cursos de Letras da Universidade Federal de Santa Maria, vinculado ao Departamento de Letras Vernáculas. Professor do curso de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos da Universidade Federal de Santa Maria na Linha de pesqui-sa Linguagem e Interação. É o criador da Teoria Holística da Atividade, a qual, em suma, tem como eixo central a noção de enquadramento do trabalho docente, que, por consequência, está atrelada à necessidade de emancipação e/ou regula-mentação da profissão de professor.

Felipe Freitag é Licenciado em Letras Português e respectivas literaturas pela Uni-versidade Federal de Santa Maria e Mestre em Letras (Estudos Linguísticos) pela mesma instituição. Trabalha como educador linguoliterário e debruça-se sobre a Teoria Holística da Atividade há quatro anos, tomando-a como foco principal de investigação da indissociabilidade entre a formação pedagógica e a formação humana em contextos de Educação Básica.

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