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Interpretação e Integração daLegislação Tributária
RUBENS KINDLMANN
Interpretação x Integração
Interpretação: visa a solução de controvérsia, através da procura pelosignificado e alcance de uma norma.
Integração: Busca, em razão de uma omissão ou lacuna, suprir aausência da norma, corrigindo a omissão ou a lacuna.
Formas de Interpretação
Literal: analisa a literalidade do texto através do significado das palavrasHistórica: considera a construção da normaSistemática: analisa o contexto da norma com o restante do
ordenamentoLógica: Leva em conta o significado do texto e sua aplicação de acordo
com o contexto jurídicoTeleológica: Procura identificar o objetivo do legislador na criação da
normaEvolutiva: Analisa como foi tratado o assunto em normas anteriores
Analogia
“Art. 108, CTN. Na ausência de disposição expressa, a autoridadecompetente para aplicar a legislação tributária utilizará sucessivamente, naordem indicada:I - a analogia;
Analogia é diferente de interpretação extensiva. A analogia pressupõe aintegração da legislação com a aplicação da lei a situação de fato NÃOprevista, mas semelhante à da prevista na norma
Analogia
“... Não se pode confundir analogia com interpretação analógica ouextensiva. A analogia é técnica de integração, vale dizer, recurso deque se vale o operador do direito diante de uma lacuna noordenamento jurídico. Já a interpretação, seja ela extensiva ouanalógica, objetiva desvendar o sentido e o alcance da norma, paraentão definir-lhe, com certeza, a sua extensão. A norma existe, sendoo método interpretativo necessário, apenas, para precisar-lhe oscontornos.”(STJ, 2ª Turma, REsp 121.428/RJ – Min. Castro Meira)
Analogia
“... Nos termos do art. 108 do CTN, a analogia só é aplicada na ausênciade disposição expressa na ‘legislação tributária’. Por essa expressão,identificam-se não apenas as leis, tratados e decretos, mas, também, osatos normativos expedidos pela autoridade administrativa (arts 96 e 100do CTN)”
(STJ, 2ª Turma. Resp 1037560/SC, Rel. Min. Castro Meira, 04/2008)
Exemplo do uso da Analogia
“O Sistema Tributário Nacional, encartado em capítulo próprio da CartaFederal, encampa a expressão “instituições de assistência social eeducação” prescrita no art. 150, VI, c, cuja conceituação e regime jurídicoaplica-se, por analogia, à expressão ‘entidades beneficentes de assistênciasocial’, contida no art. 195, §7º. À luz da interpretação histórica dos textosdas CF/46, CF/67 e CF/69, e das premissas fixadas no verbete da súmulanº 730. É que até o advento da CF/88 ainda n]ao havia sido cunhado oconceito de ‘seguridade social’, nos termos em que definidos pelo art.103, inexistindo distinção clara entre previdência, assistência social esaúde, a partir dos critério de generalidade e gratuidade.”(STF, Pleno. RE 636941, Rel. Min. Luiz Fux, fev/2014)
Princípios Gerais de Direito Tributário
Art. 108, II CTN - os princípios gerais de direito tributário;
Razoabilidade, proporcionalidade, segurança jurídica, isonomia,capacidade tributária, uniformidade geográfica, etc.
Princípios Gerais de Direito Público
Art. 108, III, CTN - os princípios gerais de direito público;
Moralidade, Segurança Jurídica, Eficiência, Supremacia do Interesse público,indisponibilidade do interesse público
Equidade
Art. 108, IV, CTN - a equidade.
§ 1º O emprego da analogia não poderá resultar na exigência de tributo não previsto emlei.
§ 2º O emprego da equidade não poderá resultar na dispensa do pagamento de tributodevido.”
Integração
Art. 109. Os princípios gerais de direito privado utilizam-se para pesquisa da definição, do
conteúdo e do alcance de seus institutos, conceitos e formas, mas não para definição dosrespectivos efeitos tributários.
Interpretação
Art. 110. A lei tributária não pode alterar a definição, o conteúdo e o alcance de institutos,conceitos e formas de direito privado, utilizados, expressa ou implicitamente, pelaConstituição Federal, pelas Constituições dos Estados, ou pelas Leis Orgânicas do DistritoFederal ou dos Municípios, para definir ou limitar competências tributárias.
EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. ISSQN. ART. 156, III, CRFB/88.CONCEITO CONSTITUCIONAL DE SERVIÇOS DE QUALQUER NATUREZA. ARTIGOS 109 E 110 DO CTN. ASOPERADORAS DE PLANOS PRIVADOS DE ASSISTÊNCIA À SAÚDE (PLANO DE SAÚDE E SEGURO-SAÚDE)REALIZAM PRESTAÇÃO DE SERVIÇO SUJEITA AO IMPOSTO SOBRE SERVIÇOS DE QUALQUER NATUREZA-ISSQN,PREVISTO NO ART. 156, III, DA CRFB/88. 1. O ISSQN incide nas atividades realizadas pelas Operadoras dePlanos Privados de Assistência à Saúde (Plano de Saúde e Seguro-Saúde). 2. A coexistência de conceitosjurídicos e extrajurídicos passíveis de recondução a um mesmo termo ou expressão, onde se requer adefinição de qual conceito prevalece, se o jurídico ou o extrajurídico, impõe não deva ser excluída, a priori,a possibilidade de o Direito Tributário ter conceitos implícitos próprios ou mesmo fazer remissão, deforma tácita, a conceitos diversos daqueles constantes na legislação infraconstitucional, mormentequando se trata de interpretação do texto constitucional. 3. O Direito Constitucional Tributário adotaconceitos próprios, razão pela qual não há um primado do Direito Privado. 4. O art. 110, do CTN, não veiculanorma de interpretação constitucional, posto inadmissível interpretação autêntica da Constituição encartadacom exclusividade pelo legislador infraconstitucional. 5. O conceito de prestação de “serviços de qualquernatureza” e seu alcance no texto constitucional não é condicionado de forma imutável pela legislaçãoordinária, tanto mais que, de outra forma, seria necessário concluir pela possibilidade de estabilização comforça constitucional da legislação infraconstitucional, de modo a gerar confusão entre os planos normativos.6. O texto constitucional ao empregar o signo “serviço”, que, a priori, conota um conceito específico nalegislação infraconstitucional, não inibe a exegese constitucional que conjura o conceito de Direito Privado.
7. A exegese da Constituição configura a limitação hermenêutica dos arts. 109 e 110 do Código TributárioNacional, por isso que, ainda que a contraposição entre obrigações de dar e de fazer, para fins de dirimir oconflito de competência entre o ISS e o ICMS, seja utilizada no âmbito do Direito Tributário, à luz do quedispõem os artigos 109 e 110, do CTN, novos critérios de interpretação têm progressivamente ampliado o seuespaço, permitindo uma releitura do papel conferido aos supracitados dispositivos. 8. A doutrina do tema, aoanalisar os artigos 109 e 110, aponta que o CTN, que tem status de lei complementar, não pode estabelecernormas sobre a interpretação da Constituição, sob pena de restar vulnerado o princípio da sua supremaciaconstitucional. 9. A Constituição posto carente de conceitos verdadeiramente constitucionais, admite a fórmuladiversa da interpretação da Constituição conforme a lei, o que significa que os conceitos constitucionais não sãonecessariamente aqueles assimilados na lei ordinária. 10. A Constituição Tributária deve ser interpretada deacordo com o pluralismo metodológico, abrindo-se para a interpretação segundo variados métodos, que vãodesde o literal até o sistemático e teleológico, sendo certo que os conceitos constitucionais tributários não sãofechados e unívocos, devendo-se recorrer também aos aportes de ciências afins para a sua interpretação,como a Ciência das Finanças, Economia e Contabilidade. 11. A interpretação isolada do art. 110, do CTN,conduz à prevalência do método literal, dando aos conceitos de Direito Privado a primazia hermenêutica naordem jurídica, o que resta inconcebível. Consequentemente, deve-se promover a interpretação conjugada dosartigos 109 e 110, do CTN, avultando o método sistemático quando estiverem em jogo institutos e conceitosutilizados pela Constituição, e, de outro, o método teleológico quando não haja a constitucionalização dosconceitos. 12. A unidade do ordenamento jurídico é conferida pela própria Constituição, por interpretaçãosistemática e axiológica, entre outros valores e princípios relevantes do ordenamento jurídico. ...
(STF, Pleno, RE 651703 – Min. Luiz Fux – Dje abril/2017)
Interpretação
“Imposto de renda... Saber se indenização é, ou não, renda, para o efeito do artigo 153, IIIda Constituição é questão constitucional, como entendeu o acórdão recorrido, até porquenão pode a Lei infraconstitucional definir como renda o que insitamente não o seja (...)(STF, 1ª Turma, RE 188.684-6/SP, Min. Moreira Alves, abril 2002)
Interpretação
Art. 111. Interpreta-se literalmente a legislação tributária que disponha sobre:I - suspensão ou exclusão do crédito tributário;II - outorga de isenção;III - dispensa do cumprimento de obrigações tributárias acessórias.
Interpretação
“Deve-se... Realizar uma filtragem constitucional.. Do art. 111 do CTN, editado em temposbem diferentes (1965) dos atuais. Se a legalidade, para fins de cobrança de tributos, vaipassando por uma certa abertura (como quer o próprio Fisco), também isto deve ocorrer noque se refere à legalidade das isenções. Os atuais valores constitucionais se sobrepõem.Pode-se entender, inclusive, que o Poder Judiciário tem competência para impor umainterpretação mais adequada à Constituição sem ser tachado de ativista. (...) O Legisladordeve ter para si que não podem ser adotadas ações afirmativas tributárias que, no seupróprio conteúdo, atentem contra o princípio da igualdade, provocando efeitos colateraisindesejados.”(FISCHER, Octavio Campos. Tributação, ações afirmativas e democracia. In: GRUPENMACHER, Betina Treiger(coord.). Tributação: democracia e liberdade. São Paulo: Noeses, 2014, p. 595-596)
“(...) 4. É firme o entendimento do STJ, no sentido de que a busca do real significado,sentido e alcance de benefício fiscal não caracteriza ofensa ao art. 111 do CTN”(STJ, 2ª T. REsp 1125067/DF, Rel. in Eliana Calmon, abril/2010)
“1. A isenção tributária, como espécie de exclusão do crédito tributário, deve serinterpretada literalmente e, a fortiori, restritivamente (CTN, art. 11, II) não comportandoexegese extensiva (...)(STJ. 1ª T., REsp 958736/SP, Rel. Min. Luiz Fux, maio/2010)
Decisões sobre a regra do Art. 111, CTN
Interpretação
Art. 112. A lei tributária que define infrações, ou lhe comina penalidades, interpreta-se damaneira mais favorável ao acusado, em caso de dúvida quanto:I - à capitulação legal do fato;II - à natureza ou às circunstâncias materiais do fato, ou à natureza ou extensão dos seusefeitos;III - à autoria, imputabilidade, ou punibilidade;IV - à natureza da penalidade aplicável, ou à sua graduação.