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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO A VEZ DO MESTRE CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATU SENSU EM PSICOPEDAGOGIA “INTERVENIENTES DA PRÁTICA DA GINÁSTICA ARTÍSTICA NO DESENVOLVIMENTO SÓCIO, AFETIVO-EMOCIONAL E PERCEPTO-MOTOR DO ALUNO COM RETARDO MENTAL.por ANA REGINA FELBERG PROFESSOR ORIENTADOR: DIVA NEREIDA M. M. MARANHÃO RIO DE JANEIRO FEVEREIRO / 2003

“INTERVENIENTES DA PRÁTICA DA GINÁSTICA ARTÍSTICA … REGINA FELBERG.pdf · A utilização das práticas corporais para o trabalho educativo e formativo dos alunos portadores

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO A VEZ DO MESTRE

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATU SENSU EM PSICOPEDAGOGIA

“INTERVENIENTES DA PRÁTICA DA GINÁSTICA ARTÍSTICA

NO DESENVOLVIMENTO SÓCIO, AFETIVO-EMOCIONAL E PERCEPTO-MOTOR DO ALUNO COM RETARDO MENTAL.”

por

ANA REGINA FELBERG

PROFESSOR ORIENTADOR: DIVA NEREIDA M. M. MARANHÃO

RIO DE JANEIRO FEVEREIRO / 2003

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO A VEZ DO MESTRE

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATU SENSU EM PSICOPEDAGOGIA

“INTERVENIENTES DA PRÁTICA DA GINÁSTICA ARTÍSTICA

NO DESENVOLVIMENTO SÓCIO, AFETIVO-EMOCIONAL E PERCEPTO-MOTOR DO ALUNO COM RETARDO MENTAL.”

Monografia apresentada a Universidade Candido Mendes como requisito parcial para conclusão do curso de pós-graduação Latu Sensu em Psicopedagogia na disciplina de Metodologia da Pesquisa. Por: Professora Ana Regina Felberg Professora Orientadora: Diva Nereida Marques Machado Maranhão.

RIO DE JANEIRO Fevereiro/2003

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AGRADECIMENTOS

“À Profa Susan Medeiros Habib pela amizade, companheirismo, ensinamentos e incentivo ao meu crescimento profissional”. “À minha família pela compreensão e incentivo demonstrado nos períodos de incerteza durante esta luta, acreditando no despertar de uma conquista futura, respeitando os momentos de ausências, demonstrando uma eterna solidariedade”. “À minha mãe e meu pai ( A”H - in memorian ), pela educação que me deram, repleta de amor e valores”. “À D’US, pela luz e força eterna que nos é transmitida em nosso caminhar profissional e pessoal, tornando-nos um ser que acredita no amor e nas relações pessoais, para que possamos compartilhar a construção de um mundo melhor”.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a todos os meus alunos que me sensibilizaram a perceber a importância de umnovo olhar, em que a afetividade seja o alicerce para uma expressão plena.

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EPÍGRAFE

Wallon, psicólogo e educador, legou-nos muitas lições. A nós, professores, duas são particularmente importantes. Somos pessoas completas: com afeto, cognição, e movimento, e nos relacionamos com um aluno, também pessoa completa, integral, com afeto, cognição e movimento. Somos componentes privilegiados.

(Almeida, 2001)

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RESUMO

O estudo apresentado disserta sobre a hipótese das modificações

efetivas que ocorrem no desenvolvimento sócio-emocional; na relação consigo

mesmo, com os outros e com o mundo, do aluno portador de retardo mental.

Segundo Isabel Galvão (1999), Wallon considera que “o sujeito se constrói a partir

de sua interação com o meio; seu estudo está contextualizado nas condutas

infantis buscando compreender em cada fase do desenvolvimento o sistema de

relações que são estabelecidas entre a criança e o ambiente.”

A prática da Ginástica Artística e Acrobática (G.A.A.) possibilitará

desenvolver este estudo, em função das condições proporcionadas nas

mediações realizadas, tais como: a) interação com o meio social é permanente;

b) relação afetiva de confiança, respeito, ajuda mútua; c) vivenciar o movimento

das mais diferentes formas, com material especifico da G.A.A. e no cotidiano;

d) sensibilização do gesto como meio de expressão, construindo sua identidade;

e) superação dos limites, frente ao medo e insegurança; f) resolução de situações

problemas do seu cotidiano.

Desta forma, a Ginástica Artística e Acrobática através de sua

metodologia, tem como objetivo estimular o desenvolvimento das capacidades

percepto-motoras, físicas e como princípio fundamental, auxiliar na expansão e

equilíbrio de sua afetividade através da interação com o meio e despertar a

criatividade, contribuindo para a formação integral do aluno, utilizando-se de

diferentes tipos de atividades para criar possibilidades.

Palavras-chave: Relação afetiva, interação , superação, autonomia.

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SUMÁRIO RESUMO 5

INTRODUÇÃO 7

CAPÍTULO I

OFICINA DO CORPO 9

1.1 - Oficina do Corpo 9

1.2 - Sujeito 10

1.3 - Local e Forma de Atendimento 10

1.4 - Formas de Registros 10

CAPÍTULO II

FUNDAMENTAÇÃO 12

2.1 - Deficiência Mental 12

2.2 - Ginástica Artística e Acrobática 15

2.3 - Teoria de Henri Wallon 15

2.4 - Teoria das Emoções 22

2.5 - Função Postural ou Tônica 24

CAPÍTULO III

INTERVENÇÕES PEDAGÓGICAS 30

3.1 - Referências do Aluno 30

3.2 - Intervenções Pedagógicas com o aluno X 31

CONCLUSÃO 46

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 49

BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA 50

ANEXOS 51

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INTRODUÇÃO

O estágio de desenvolvimento da Educação Física e suas modalidades nos diversos

setores em que possa atuar é caracterizado pelo envolvimento da população na prática voluntária

e intencionalidade de atividades para otimização de suas possibilidades e potencialidades, no

sentido de melhorar a sua adaptação, interação e influência na transformação do ambiente na

busca de uma melhor qualidade de vida.

A utilização das práticas corporais para o trabalho educativo e formativo dos alunos

portadores de necessidades educacionais especiais, tem se mostrado um recurso cada vez mais

indicado em função dos resultados observados. O contato do aluno especial com o esporte ou

outras formas de movimento tem colaborado e muito para o desenvolvimento global, estimulando-

o a fazer da prática desportiva uma forma de ultrapassar seus limites.

As necessidades que os alunos têm em praticar atividades físicas é maior do que as

oportunidades que lhe são oferecidas no âmbito escolar. Desta forma, oficinas e escolinhas de

esportes são oferecidas à comunidade, através de clubes, academias, centros esportivos, com

objetivo de desenvolver uma prática esportiva que venha resgatar a cultura corporal do

movimento, partindo de uma motricidade ampla, sensibilizando o aluno ao conhecimento de

sua estrutura corporal, suas possibilidades e suas relações afetivo-emocionais.

A Ginástica Artística e Acrobática, como modalidade esportiva, atende de forma

ampla a construção dessa consciência corporal e sua relação prática no cotidiano social do

portador de necessidades educacionais especiais; além das modificações ocorridas no

desenvolvimento sócio-emocional e percepto-motor obtido pelo aluno através da Ginástica

Artística e Acrobática.

Segundo Isabel Galvão (1999), Wallon considera que “o desenvolvimento da criança

é o resultante da relação dialética entre o orgânico e o social, entre o indivíduo e o meio. É sobre a

base desta interação que a educação assegura sua razão de ser”.

A Teoria de Wallon considera o desenvolvimento da pessoa completa integrada ao

meio em que está imersa, com os seus aspectos afetivo, cognitivo e motor também integrados.

Assim, a ênfase é para a integração entre o organismo e o meio predominantemente, social.

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Na apresentação do trabalho será traçada a metodologia aplicada ao estudo e os

conteúdos procedimentais que serão articulados ao longo do mesmo. Nos procedimentos

metodológicos será traçado o perfil do aluno, características, a forma de atendimento e as formas

de registro como material de estudo.

Na fundamentação será delineada a base teórica do estudo e nas intervenções

pedagógicas será realizado o estudo propriamente dito, cuja prática será descrita e

complementada com a relação teórico-prática.

Após toda descrição metodológica do estudo, a conclusão será determinada pela

análise das intervenções ocorridas, seu desenvolvimento e suas relações tanta pessoais quanto

percepto-motoras.

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CAPÍTULO I

OFICINA DO CORPO

1.1 – Oficina do Corpo

A oficina do corpo é um centro esportivo coordenado por profissionais da Educação

Física, que oferece atividades esportivas como Natação e Ginástica Artística e Acrobática a

portadores de necessidades educacionais especiais.

O trabalho foi iniciado no ano de 2001, para alunos com retardo mental e tendo

como metodologia a prática em grupo, como forma de ampliar suas relações interpessoais,

o desenvolvimento de suas capacidades percepto-motoras, a construção de valores ético-

morais, a adoção de hábitos saudáveis de higiene e alimentação e a transferência do aprendizado

no seu cotidiano e lazer.

Desta forma, são promovidas vivências corporais e sociais que

permitem a construção do movimento (pensar, agir, sentir) a partir dos seguintes

procedimentos:

a) relação dialógica permanente ( aluno x aluno; aluno x profo; aluno x grupo);

b) autonomia (estimular);

c) auto-confiança (transmitir);

d) afetividade (sensibilizar);

e) iniciativa (estimular);

f) percepção corporal (vivenciar);

g) transferência de aprendizagens (criar possibilidades ).

A base de estudo será a prática da Ginástica Artística e Acrobática, oferecida a

alunos portadores de necessidades educacionais especiais.

1.2 – Sujeito

O aluno escolhido para estudo apresenta retardo mental, é portador de Síndrome de

Down, tem 23 anos e ingressou na Oficina do Corpo em fevereiro de 2001, iniciando a prática da

Ginástica Artística e Acrobática.

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Apresenta um grau de obesidade, acarretando baixa resistência

cárdio-respiratória; tem comprometimento na fala, hipotonia muscular; sem

iniciativa, com dificuldades motoras e de compreensão e reações lentas, sendo

importante a mediação permanente por parte do professor. Apresenta uma

considerável baixa auto-estima, necessitando do apoio do professor para realizar

as atividades propostas.

1.3 – Local e Forma de Atendimento

O atendimento é realizado duas vezes por semana, com duração de 50

minutos cada aula, em grupo, com material específico e adequado à prática da

Ginástica Artística e Acrobática, com atividades corporais, passeios a locais

públicos como parques, estimulando as relações sociais, a transferência das

experiências percepto-motoras vivenciadas nas situações problemas que possam

surgir e oficinas interativas.

1.4 – Formas de Registro

Este trabalho foi realizado por meio de análise de estudo de caso de

um aluno com Retardo Mental (RM) e Síndrome de Down, com base nas

contribuições da Teoria das Emoções e da de Henri Wallon na intervenção

pedagógica com aluno com Retardo Mental.

A estrutura constitui-se na observação, registro e análise do processo

de transformação e desenvolvimento global, tendo como parâmetro o

desenvolvimento percepto-motor e sócio emocional, segundo a teoria de Henri

Wallon. Sendo consideradas também as estruturas iniciais, a partir das

intervenções pedagógicas ocorridas na zona de desenvolvimento proximal¹

possibilitando o desenvolvimento potencial² e o desenvolvimento real³ segundo a

teoria de Vygotsky.

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A coleta de informações foi feita com base na entrevista com os

responsáveis e nos relatórios realizados na Oficina do Corpo. Também foram

registradas as atividades propostas e as intervenções pedagógicas ocorridas ao

longo do estudo assim como as modificações em seu desenvolvimento percepto-

motor, obtido pelo aluno através da prática da Ginástica Artística e Acrobática.

________________ 1 Zona de Desenvolvimento Proximal – o aluno necessita de ações compartilhadas para atino desenvolvimento potencial e real. 2 Desenvolvimento potencial – quando o aluno ainda não realiza com independências as atividades, necessitando da colaboração do outro (aluno/professor). 3 Desenvolvimento Real. Quando o aluno realiza sozinho as atividades, sem intermediações dos outros..

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CAPÍTULO II

FUNDAMENTAÇÃO

2.1 – Deficiência Mental

Para a Associação Americana de Retardo Mental/92 (AAMR), o retardo

mental é definido como:

“Funcionamento intelectual geral significativamente abaixo da média, que se origina no período de desenvolvimento, existindo concomitantemente com limitações associadas a duas ou mais áreas de conduta adaptativa ou da capacidade do indivíduo em responder adequadamente `as demandas da sociedade nos seguintes aspectos: comunicação, cuidados pessoais, habilidades sociais, desempenho na família e na comunidade, independência na locomoção, saúde e segurança, desempenho escolar e trabalho”. (Brasil, 1995, p. 21 ).

Ainda hoje encontramos alguns estabelecimentos e instituições

educacionais que, se utilizam de testagem e classificação, como fonte de

avaliação diagnóstica da pessoa com necessidades educacionais especiais,

assim como definir os procedimentos a serem abordados na educação da

mesma.

Atualmente, a partir dos estudos dos professores da Área Específica de

Retardo Mental, do Centro de Referência de Educação Especial Instituto Helena

Antipoff, baseados também nas observações feitas através do acompanhamento

ao campo, o indivíduo com retardo mental, é visto como uma pessoa que

apresenta um padrão diferenciado no seu aspecto cognitivo.

Para o grupo de estudos do Centro de Referência de Educação

Especial Instituto Helena Antipoff, no desenvolvimento do trabalho com o aluno

com retardo mental, deve-se levar em consideração alguns aspectos como:

a) diversidades culturais e lingüísticas;

b) diferenças na comunicação;

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c) diversos contextos sociais;

d) habilidades pessoais;

e) diferentes áreas de conhecimento;

f) história da constituição do sujeito.

É importante acreditar que o indivíduo com retardo mental é capaz de

realizar aprendizagens de forma diferenciada, com uma organização mental,

também diferenciada, onde seu orientador faça uma mediação constante e

significativa, no plano da linguagem e relações sociais, possibilitando o

desenvolvimento de suas capacidades de reflexão, comparação e julgamento.

Sendo assim, este estudo realizado pela área específica de estudos

de Retardo Mental do referido Instituto, aponta alguns pressupostos que

contribuem para o planejamento da ação pedagógica com o aluno com

necessidades educacionais especiais:

a) significar criativamente a realidade estudada;

b) valorizar a expressão e a comunicação através de diferentes formas de

linguagem;

c) desenvolver a iniciativa, a reflexão e o processo de escolha;

e) adequar os conteúdos;

f) propiciar generalizações, sínteses e relações dialógicas;

g) respeitar o ritmo de aprendizagem;

h) permitir conhecer, sentir, aprender e criar;

i) entender a possibilidade do imprevisível;

j) possibilitar a percepção de práticas sociais e vivenciar os conteúdos

elaborados;

l) recuperar o valor da aprendizagem;

m) respeitar a qualidade deste sujeito e compreender que ele é passível de

mediações pedagógicas efetivas.

Segundo Neves-Ferreira (1993, p. 83), “o desenvolvimento de

atividades que estimulam os esquemas intelectuais, são mais significativos, do

que as atividades que visam apenas respostas condicionadas.”

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Segundo a autora, alguns objetivos são fundamentais para a educação

do indivíduo com retardo mental, tanto no aspecto sócio-afetivo, quanto no

cognitivo e social. Em primeiro lugar, deve–se promover o desenvolvimento das

relações afetivas fundamentadas na confiança, aceitação e respeito para que se

possa atingir o desenvolvimento da autonomia.

Como também, oportunizar a liberdade de movimento aproveitando os

estímulos que o meio vai lhe proporcionar, para que possa estabelecer relações

entre si e com o mundo. A tomada de consciência das relações espaciais,

causais e temporais nas vivências de situações no plano simbólico facilita a

expressão destas representações através da linguagem oral, desenhos,

brincadeiras de faz-de-conta, imagem mental e imitações. No aspecto social, o

trabalho em grupo é fundamental para que se estabeleça as interações sociais,

baseadas na cooperação e no respeito, vivenciando e aprendendo as regras

sociais de sua comunidade.

A Síndrome de Down, para a ciência, está relacionada como uma

síndrome de alteração nos cromossomas, chamada de – Trissomia do par 21

– de caráter não progressivo, isto é as características não são acentuadas com o

tempo.

O diagnóstico é feito de uma forma geral a partir do nascimento, se

observando algumas características típicas da síndrome. Porém, dentro destas

características mais comuns, podem ocorrer várias combinações com graus

diferentes de comprometimentos. Atualmente se encontra indivíduos com a

síndrome que chegam a se alfabetizar, trabalhar e ter autonomia, e outros que

apresentam mais comprometimentos a nível motor e/ou cognitivo. Toda criança

com a Síndrome de Down apresenta um retardo mental.

Pode-se observar algumas características básicas para se identificar

o indivíduo com esta síndrome: seus dentes são pequenos e a língua apresenta

macroglossia; os olhos apresentam pregas epicantal e olhos oblíquos; as mãos

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tem formato curto, áspera e o dedo mínimo arqueado; a nível muscular

apresentam uma hipotonia muscular, que em muitos casos podem retardar seu

desenvolvimento motor; os pés têm um grande afastamento do primeiro dedo; e

no aparelho cardiovascular apresentam maior incidência de cardiopatias congênitas .

Segundo Krynski apud Habib, (1986, p. 31),

“Foram observados além das características físicas, alterações quanto a motricidade e comportamento geral: pouca força muscular, reações lentas, dificuldades na coordenação motora fina e movimento de succção, teimosia, pouco tempo de concentração, boa percepção auditiva, meigos, imitativos e gostam de colaborar.”

Segundo o Lejinne apud Habib (1986, p. 33), "estas pessoas têm bom

senso, inteligência real e temos a impressão que apenas uma coisa não está

funcionando a contento, e sim apenas fora do compasso".

2.2 – Ginástica Artística e Acrobática

A Ginástica Artística e Acrobática é uma modalidade esportiva

realizada desde o período da antigüidade, mas que vem evoluindo e se

transformando através dos tempos, com características, atualmente

diferentes. No início foi desenvolvida a partir de exercícios de força e

acrobáticos (destrezas corporais).

Com o passar dos anos a ginástica passou a ser encarada como uma

atividade que proporcionava a melhoria das qualidades físicas e morais dos

indivíduos e não só com um objetivo técnico.

A Ginástica Olímpica, atualmente denominada Ginástica Artística, é

uma modalidade que exige um certo grau de flexibilidade, de coordenação, de

dinâmica geral, de equilíbrio estático e dinâmico, consciência corporal, força

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muscular, resistência, memória percepto-motora, estruturação espaço-temporal e

descriminação auditiva (ritmo).

A prática desta modalidade esportiva, além da melhoria das qualidades

físicas, afetivas/emocionais e sociais, promove também a partir de sua

aprendizagem, um desenvolvimento motor que vai levá-lo a atingir um grau de

maturidade motora e aquisições de habilidades mais complexas, favorecendo

assim, a elaboração de movimentos mais organizados com padrões mais

consistentes de movimento.

A aprendizagem da Ginástica Artística é uma prática importante na

formação da criança, segundo Corte Real e Queirós, 1992. Ela está inserida

como uma disciplina nos programas de Educação Física, com os objetivos

específicos de criar e consolidar hábitos e atitudes da prática de atividades

físicas; melhorar a atitude e postura corporal e a capacidade funcional do

organismo, visando a um relaxamento à nível físico e psicológico.

A partir da observação, podemos ressaltar outros pontos, visando ao

valor educativo desta prática como: dando ao aluno a oportunidade de se

expressar através do movimento; meio facilitador para se vivenciar novas

emoções e sensações ao conseguir vencer as dificuldades através da

persistência, coragem e desafio; desenvolver as capacidades intelectuais e

estruturação da personalidade, a partir da concentração, autodomínio, autonomia

e autodisciplina.

A Ginástica Artística pode ser desenvolvida nos seguintes aparelhos:

- Barra fixa;

- Paralelas assimétricas;

- Cavalo com arções;

- Argolas;

- Saltos de cavalo;

- Trave de equilíbrio;

- Paralelas assimétricas;

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- Solo;

- Cama elástica;

- Mini-tramp.

Cada um destes aparelhos tem uma especificação oficial, e como

medida de segurança devem ser utilizados sempre com colchões ao redor e

abaixo destes, assim como evitar colocá-los em lugar perto de áreas perigosas.

É importante se discutir com os alunos sobre as normas de segurança.

O professor deve oferecer primeiro os aparelhos com alturas baixas;

certificar-se que o aluno entendeu o movimento antes da execução; conhecer

previamente a característica de cada aluno, quanto as suas habilidades e força e

estar atento quanto ao apoio inicial no momento da execução, evitando choques

com a cabeça ou corpo no colchão.

Outra etapa importante para o desenvolvimento da Ginástica Artística é

o aquecimento, pois é a partir deste que estaremos preparando o aluno e sua

musculatura para o início das atividades específicas nos aparelhos, pois a falta do

mesmo poderá ocasionar futuras lesões musculares.

Todavia, o objetivo não é só de segurança, como também, desinibir e

despertar o interesse destes alunos pelas atividades. Tais atividades as quais

devem ser desenvolvidas de forma lúdica, proporcionando prazer e estímulo

durante esta prática. Para tal, pode-se utilizar elementos básicos como as

diferentes formas de locomoção em pequenos ou grandes grupos.

Observamos na Ginástica Artística, um grau de dificuldade maior que nas

demais modalidades esportivas. Isto se explica por ser um trabalho que se utiliza

de movimentos pouco naturais, pois requer muita força, agilidade, audácia e

vontade acima de tudo.

No desenvolvimento da pesquisa os aparelhos mais utilizados foram o

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plinto1, “cama elástica” e as atividades de solo.

2.3 – Teoria de Henri Wallon

Henri Wallon nasceu na França em 1897, onde viveu até 1962 e teve

uma intensa produção científica.

Estudou medicina e filosofia, sendo que nos seus estudos, observou

uma clara aproximação com a educação, já que “via a escola muito peculiar à

infância e obra fundamental da sociedade contemporânea, como um contexto

privilegiado para o estudo da criança.” (Galvão, 1998, p. 23)

Wallon considera que a construção de conhecimento baseada no

desenvolvimento infantil, enriquece a prática pedagógica. Portanto, é fundamental

estudar a criança em seus vários estágios de desenvolvimento, apesar da falta

de linearidade e dos conflitos que marcam o seu crescimento.

Na Psicogenética de Wallon, a afetividade é muito importante, tanto

para a construção do conhecimento quanto da pessoa, portanto os aspectos

emocionais e psicomotores são determinantes para o desenvolvimento do ser

humano.

As influências afetivas estabelecidas com o meio ambiente, contribuem

para o desenvolvimento mental da criança e conseqüentemente na formação de

sua personalidade. O seu desenvolvimento não é uniforme, é feito por oposições

e identificações.

Os fatores orgânicos são responsáveis para a passagem dos estágios

de desenvolvimento, de acordo com as características individuais e as condições

de vida. Os fatores biológicos são preponderantes no início e vão dando espaço

para os fatores sociais, muito importantes na aquisição de condutas psicológicas

1 Plinto – caixas superpostas de madeira que facilita o desenvolvimento das atividades de salto.

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superiores, como a inteligência simbólica.

Galvão (1998, p.13), afirma que,

“o desenvolvimento da inteligência em grande parte é função do meio social, já que para a criança, transpor o nível da experiência ou da invenção imediata e concreta, tornam-se necessários instrumentos de origem social como a linguagem e os diferentes sistemas simbólicos surgidos do meio.”

É através dessa dialética e das crises do indivíduo com relação a ele

mesmo e aos outros que ele se afirma como pessoa.

Wallon, em seus estudos, opta pelo materialismo dialético com o

fundamento filosófico e como método de análise por abordar aspectos subjetivos

do desenvolvimento infantil e pelo sistema de relações estabelecidas entre a

criança e seu ambiente, procurando compreender e explicar a complexidade do

real de forma dinâmica, multifacetada e original.

Segundo Boato apud Galvão (1998, p. 41), na Psicogênese de Wallon,

“o desenvolvimento é uma construção progressiva e dinâmica, influenciada por

fatores orgânicos e sociais”.

A mediação é fundamental no processo de desenvolvimento intelectual

e afetivo, já que é realizada nas relações entre a criança e o meio, enriquecidas

pelo fato deste não ser constante, levando a supressão ou a transformação do

indivíduo em seu processo de desenvolvimento.

Desta forma, é necessário esta relação pedagógica em que a criança

é vista através de sua forma de expressão e comunicação, levando

em consideração as características e comportamento de cada uma, relacionando-

os com suas respectivas etapas. Portanto, é singular o auto conhecimento, a

relação consigo mesmo e com o outro.

“Quantos aos estágios de desenvolvimento não há uma

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linearidade e a passagem de um estágio para o outro segue uma reformulação, pois o comportamento pode ser modificado, porém, existem condutas típicas de etapas anteriores que podem permanecer nos estágios subsequentes, configurando encavalamento e sobreposição.” (Galvão, 1998, p. 42)

O desenvolvimento pode ser mascarado por conflitos de origem

exógena2 ou endógena3. Existe também, o Princípio da Alternância Funcional –

entre a forma de atividade, ora afetivas – relações consigo e com os outros – ora

intelectuais, nas relações com o mundo dos objetos, estabelecendo a construção

e um crescimento recíproco. Em cada estágio ocorre uma variação, quanto as

diversas formas de atividades, orientadas a partir dos interesses da criança, em

relação ao eu para o mundo e das pessoas para as coisas. Tal fato, explica o

Princípio da Alternância Funcional.

Para Galvão (1998, p. 43),

“este princípio, apesar de alternar entre a dominância, a afetividade e cognição, não há uma função independente da outra. Em cada estágio, quando uma das funções aparecer de forma predominante, pode-se perceber que esta também está incorporada de conquistas realizadas pelas outras funções em estágios anteriores. Desta forma, se observa uma construção recíproca, neste permanente processo de integração e diferenciação.”

Podemos observar que no primeiro estágio – impulsivo emocional – a

afetividade é impulsiva, emocional e precisa do contato físico, do olhar; já no

segundo estágio – sensório motor e projetivo – a afetividade está incorporada aos

recursos intelectuais, como a linguagem, onde os sentimentos serão

exteriorizados por palavras e idéias, podendo haver esta troca à distância, sendo

dispensável a presença física.

No terceiro, estágio categorial – a afetividade será mais racionalizada,

pois os sentimentos serão elaborados a nível mental. Para Galvão (1998, p.

47), “os jovens nesta fase já discutem sobre suas relações afetivas.”

2 Origem exógena – resultante entre as ações das crianças e o meio . 3 Endógena – efeitos de maturação.

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A passagem de um estágio ao outro não é uma agregação de novos e

antigos conhecimentos, mas uma reformulação destes e nos comportamentos.

Baseados nesta construção de integração, encontramos na teoria de Wallon o

Princípio da Integração Funcional – esta integração não é definitiva. Mesmo que

as capacidades já tenham se subordinado aos centros de controle, podem ser

provisoriamente desintegradas, isto nos mostra e explica os freqüentes

retrocessos que ocorrem no desenvolvimento da criança. Este princípio, no

mostra o processo de maturação do sistema nervoso, no qual as funções mais

evoluídas com o amadurecimento recente, somam-se às aquisições anteriores e

exercem um maior controle sobre estas. As funções mais elementares vão

perdendo autonomia a partir da integração de funções mais aptas, adequando-se

as reações as necessidades das situações, em relação ao estágio em que a

criança se encontra.

Baseado nesta teoria, a reação do comportamento da criança é o

reflexo da interação que a mesma terá com o meio, dando base ao

desenvolvimento da afetividade e da linguagem, que estimulará sua atividade

intelectual.

Vale lembrar que o meio não é estático, mas transforma-se junto com a

criança, em consonância com o desenvolvimento dos conhecimentos e da

linguagem própria à cultura da mesma.

2.4 – Teoria das Emoções

“A emoção encontra-se na origem da consciência, operando a

passagem do mundo orgânico para social, do plano psicológico para o psíquico”

(Falcão, 1999, p. 57).

Wallon acredita que as emoções são reações organizadas, reguladas pelo

sistema nervoso central e, pensando nas crianças, é na ação sobre o meio

humano e não sobre o meio físico, que deve ser buscado o significado das

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emoções.

No 1o ano de vida, percebemos que a criança, vai estabelecendo

correspondência entre seus atos e do ambiente, tornando-os intencionais, e seus

movimentos passam a ter expressão, uma afetividade exteriorizada, onde se pode

observar que seus movimentos irão expressar, prazer, dor, fome, desconfortos

posturais, com contraturas musculares.

As emoções são manifestações presente na vida afetiva, assim

como os desejos fazem parte do dia a dia. É comum perceber que a maioria

das pessoas acham que afetividade é sinônimo de emoção, todavia, podemos

dizer que são conceitos diferentes, onde emoção segundo a definição do

dicionário Aurélio (1986, p. 634) é “abalo moral, comoção e emocional”; e

afetividade (Ferreira, 1986, p.55) “é relativo a afeto que quer dizer, amizade,

amor, afeição”. Sendo assim, podemos dizer que as emoções possuem

características específicas e estão sempre acompanhadas de alterações

orgânicas, como aceleração dos batimentos cardíacos, mudanças no ritmo da

respiração, dificuldades de digestão e de alterações a nível de expressão

facial e postural.

Na teoria de Wallon a afetividade é um dos aspectos mais importantes,

tanto na construção da pessoa quanto para a aquisição dos conhecimentos, que

tem início no período do estágio impulsivo-emocional até os primeiros anos de

vida. O recém-nascido precisa do outro para assegura-lhe sua sobrevivência, pois

como não é capaz de suprir suas necessidades sozinho, é através do choro –

função biológica – que manifestará sua primeira expressão emocional. Tal fato

desenvolve no outro, uma reação de ajuda estabelecendo uma intensa

comunicação afetiva, através de uma relação em que o corpo e a expressão

estejam presentes constantemente.

Conforme seu desenvolvimento, pode-se observar a intencionalidade

de seus atos deixando de ser reflexos passando a ser expressão – afetividade

exteriorizada. Como no sorriso do bebê, no qual encontramos três momentos

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diferenciados: inicialmente um sorriso fisiológico; em seguida um sorriso social; e

finalmente um sorriso em que demonstrará emoções distintas, como alegria,

medo cólera.

A emoção encontra-se na origem da consciência, ela é simultaneamente

social e biológica, passando do estado orgânico para o cognitivo através do seu

vínculo com o ambiente social.

Para Wallon é importante vincular os componentes corporais às

emoções, manifestando-se através de como o tônus se apresenta, em

relação à sua forma, como se conserva e como se consome. A cólera é

vinculada a um estado de hipertonia, definição segundo dicionário Pedro Luft

(1995), aumento do tono muscular, caracterizando um excesso de excitação;

a alegria é vinculada há uma emoção eutônica4; e na timidez um

estado de hipotonia, definição segundo o dicionário Pedro Luft (1995),

tonicidade ou tensão diminuída, observado na hesitação durante a realização

do movimento. Portanto, pode-se classificar as emoções de acordo com o

grau de tensão muscular que são manifestadas nas mais variadas situações

do dia a dia.

2.5 – Função Postural ou Tônica

É responsável pela regulação das alterações do tônus da musculatura

lisa e estriada, que por algum motivo a nível de alterações na emoção, pode

provocar variações tônico-posturais, em função da relação de reciprocidade entre

emoção e movimento.

Portanto, a atividade do tônus muscular permite a exteriorização dos

estados emocionais e a tomada de consciência dos mesmos pelo sujeito.

Segundo Galvão (1999, p. 64): “A emoção, atividade eminentemente

4 Eutônica – Equilíbrio de uma ação recíproca entre o tônus e o movimento.

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social, nutre-se do efeito que causa no outro, isto é, as reações que as emoções

suscitam no ambiente, funcionam como uma espécie de combustível para sua

manifestação”.

Por muitas vezes, devido ao seu poder de contágio, a emoção

estabelece um despojamento do sujeito, propiciando no grupo, relações

inter-individuais, uma verdadeira simbiose com o meio, independente de qualquer

relação intelectual.

Na psicogênese, as funções intelectuais vão adquirindo importância

progressiva como forma de interação com o meio e possibilitam o acesso ao

universo simbólico da cultura.

Porém, a atividade intelectual manterá uma relação de antagonismo

com as emoções, pois em várias situações, o poder subjetivador das

emoções, incompatibiliza-se com a necessária objetividade das operações

intelectuais.

É possível constatar que – “a atividade intelectual voltada para a

compreensão das causas de uma emoção reduz seus efeitos” (Galvão, 1999, p.

67 apud Dantas et al., 1992, p. 35).

A atividade da criança caracteriza-se por um conjunto de gestos sincréticos

sem qualquer significado, expressando uma modulação tônica de realidade ao

meio que a envolve.

Entre o indivíduo e seu meio, há uma unidade indissolúvel, não havendo

oposição entre o desenvolvimento psicobiológico (maturação nervosa e

psicomotora) e as condições sociais que o impulsionam (apropriação da

experiência social).

Até a aquisição da linguagem, o movimento torna-se a primeira estrutura

de relação com o meio, com os objetos e os outros onde se constituirá a

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inteligência e o mesmo é a primeira forma de expressão emocional e de

comportamento.

O movimento contém uma potência psíquica e é o deslocamento no

espaço de uma carga afetiva que se apresenta sob três formas (Wallon, apud

Fonseca & Mendes 1987, p. 20):

“A primeira são os deslocamentos passivos, que aparecem a partir da maturação tônica dos músculos da coluna. A segunda forma, são os deslocamentos ativos, que aparecem como uma aprendizagem da locomoção e da preensão. E por último o deslocamento dos segmentos corporais (coordenação e aprendizagens psicomotoras), que é o diálogo de relação entre si e de resposta ao meio, vivenciando os primeiros hábitos sociais e que permitem aquisições de funções construtivas e criadoras das coordenações e aprendizagens psicomotoras”.

Para Wallon, o movimento tem um significado de relação afetiva com o

mundo, que projeta a criança na sua história biossocial. Estas três formas de

movimento influenciam-se mutuamente e sua integração é original de indivíduo

para indivíduo.

A relação da função tônica com o comportamento humano e sua

expressão emocional, sempre foram referências básicas aos estudos de

Wallon, onde afirma que o tônus é o suporte e garantia do

movimento para qual, sua expressão representa a acomodação

perceptiva na sua afetividade. Portanto, a própria maturidade motora é a

expressão concreta de um processo de amadurecimento, que resulta da

experiência no meio.

Para Wallon, o movimento equacionado segue dois aspectos, a

previsão (fator de antecipação) e a execução (fator de controle), o movimento se

revela como a expressão do desenvolvimento da criança. Considerando-se como

tal, uma inteligência concreta, isto é, uma materialização corporal da conduta

mental de cada um, ao integrar o campo operacional ao efeito dado – do ato ao

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pensamento.

O significado e a objetividade de um gesto, de um movimento ou

de uma ação está na sua conseqüência imediata, a qual se transforma no

motor que vai motivando a continuidade do movimento. Este torna-se

portanto um comportamento, isto é, realiza-se numa conduta intencional,

assentando-se no ajustamento entre os dados exteroceptivos – captados

pela percepção, os proprioceptivos – organizados pela memória e a noção

do próprio corpo.

A essência do movimento segundo Wallon, é função do conjunto das

relações sociais. Na medida em que é a natureza da vida humana que

determina o desenvolvimento psicomotor. A partir deste ponto de vista, o

movimento e a consciência provocam uma ação transformadora. A maturação

resulta fundamentalmente da interação contínua e dialética do pensamento e

da ação.

É a partir do ato que o homem estrutura seu pensamento, integrando e

integrando-se num social e se transforma num ser social total e integrado

(Wallon apud Fonseca & Mendes, 1987, p. 27)

Através do movimento, da manipulação a criança projeta mentalmente

o que pretende demonstrar, isto é, sua intenção – subjetivo materializado,

adotando um gesto prático e utilitário, onde se justificam e fundamentam os

aspectos da inteligência das ações.

A criança ao manipular adquire e aprende os instrumentos concretos

(aquisições sensório e perceptivo-motoras), para se poder equiparar com os

conhecimentos práticos elementares, ponto de partida e base de apoio para

conquista do mundo (Wallon apud Fonseca & Mendes, 1987, p. 28).

Entre o movimento e a consciência, a emoção que os liga e relaciona em

forma de conflito dialético, representa os prelúdios das atitudes e sugere o

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sentimento de algo para as satisfazer – motivação. São as emoções, os gestos, a

sensibilidade que já foram vivenciados sensorialmente que permitem a

representação das primeiras atividades intelectuais.

Para Wallon, “o homem é o único ser da natureza, cuja atividade motora

se encontra a serviço da representação da inteligência e do grupo social que o

envolve e por isso se desenvolve. (Wallon apud Fonseca & Mendes, 1987, p.29)

Nas aquisições simbólicas a faculdade de representação, onde a imitação

surge como o centro regulador, isto é, imitação como gênese de comportamento

e não como comando ou alternância do gesto. É pela imitação que a criança se

apropria dos dados sociais que justificam o seu desenvolvimento.

Quanto a evolução biológica, é pela via do movimento e da ação, que se

estabelecem as sinergias de comunicação entre a periferia e o centro do corpo,

isto é, se estabelecem melhor e mais ajustadas relações entre os receptores

(visão, audição, tato), o cérebro (centro programador de condutas) e os efetores

(glândulas e músculos reflexos, automáticos e voluntários). Portanto o

desenvolvimento mental se processa em uma relação dialética com a ação e

que vão resultam numa totalidade motora.

A imitação gera uma relação entre a palavra e o gesto, através do

estímulo que o solicita.

Com relação a identificação social, o imitar aos outros e o imitar-se –

repetir a si próprio – são comportamentos fundamentais para a diferenciação do

próprio comportamento. Através da repetição dos movimentos consegue-se

obter melhores circuitos perceptivos – motores importantes para a eliminação

dos gestos imitativos e para a integração dos gestos úteis. É assim que se

formarão nos indivíduos hábitos motores que são fatores fundamentais de uma

adaptação socializante e evolutiva.

“A imitação além do aspecto lúdico, tem um aspecto altamente utilitário

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Estruturação simbólica do espaço e do tempo

Constelação perceptivo-motora

Noção do corpo

de grande significado social.” (Fonseca e Mendes, 1987, p. 33).

A chave para o desenvolvimento afetivo – emocional da criança, está na

imitação e caracteriza-se por um aspecto interior – representação – e por um

aspecto exterior – ação –. Na última fase da imitação refletida, a criança passa

do “querer fazer” para o “poder fazer”.

QUADRO I – “A evolução da criança, vai do gesto à palavra, do ato ao pensamento”. (Fonseca e Mendes, 1987, p.33)

Querer fazer

Poder fazer

O imaginado ------------------

plano de representação

O efetuado ------------------

plano de imitação

símbolo palavras

movimentos gestos

Representação Imitação

Plano dos símbolos e das imagens

Palavra

Plano motor

Gesto

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CAPÍTULO III

INTERVENÇÕES PEDAGÓGICAS

3.1 – Referências do Aluno

O aluno selecionado para o estudo a partir de agora será identificado como

X.1 Este chegou a Oficina do Corpo para ser avaliado em Fevereiro de 2001.

No primeiro momento estabeleceu uma relação agradável com as

professoras e com o grupo. Realizou as atividades propostas mas necessitou de

muito estímulo para realizá-las, apresentando um pouco de dificuldade em função

do seu biotipo.2

Explorou com pouco interesse o espaço físico e os materiais apresentados,

tanto os específicos da Ginástica Artística quanto os demais utilizados nas aulas

de Educação Física (arcos, bolas de diferentes tipos e tamanhos, cordas e

sucatas).

A sua comunicação se mostrou comprometida, pois a fala oral é quase

incompreensível, mas consegue por meios expressivos ou apontando, mostrar o

seu desejo e pensamento.

Quanto as capacidades cognitivas, demonstra uma boa compreensão mas

necessitou de mediações permanentes do professor, na organização do

pensamento para realizar as atividades propostas.

Nos aspectos físicos e orgânicos, apresentou uma baixa tonicidade

muscular, pequena resistência cárdio-respiratória e pouca agilidade nos

movimentos durante as atividades propostas.

1 Referência ao aluno a ser estudado. 2 Referência citada no capítulo 2, item 2.1 Sujeito.

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Nas capacidades percepto-motoras, foi observado uma boa percepção

corporal quanto a sua identificação, mas não estabelecendo relações do mesmo

com o meio, apresentando dificuldades na relação do seu corpo com diferentes

objetos e pessoas, tentando interagir de forma ampla com o espaço estabelecido

para a prática da Ginástica Artística.

Quanto os aspectos sensórios motores, demonstrou boa descriminação

auditiva e visual, nas questões olho/mão, olho/pé apresentando dominância do pé

direito e mão esquerda.

O aluno X, demonstrou dificuldades nas atividades que necessitava de

memória, inclusive em propostas que estimulavam a imitação com dois

movimentos combinados.

Nas atividades em que são estabelecidos objetivos práticos, nas propostas

definidas com ações imediatas o aluno X, sente-se estimulado e seguro no agir de

forma imitativa.

A partir destas observações, foi verificado que o aluno X, apresenta

características do estágio sensório-motor e projetivo, e o personalístico uma vez

que os estágios não apresentam um desenvolvimento linear (Galvão, 1998).

3.2 – Intervenções Pedagógicas com o aluno X

As informações referentes as intervenções pedagógicas foram coletadas

dos relatórios de observações, onde foram descritas em todas as aulas as

transformações do comportamento do aluno X, tendo como foco o

desenvolvimento sócio-emocional e psicomotor, permitindo o acompanhamento

do seu desenvolvimento.

Desta forma estas informações foram utilizadas na avaliação continuada,

no planejamento das ações necessárias a continuidade do processo educativo e

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no acompanhamento dos progressos alcançados pelo aluno X.

Também foram registradas informações provenientes de relatos da

infância, pois para (Gil, 1991, apud Boato, 2000, p. 91) “A história de vida é

constituída pelo relato pessoal do informante acerca das situações vividas e

possibilita a investigação do fenômeno da mudança, que dificilmente é obtido

mediante outros procedimentos de pesquisa social.”

A Oficina do Corpo, organizou as turmas de acordo com os diferentes

níveis de desempenho registrados na avaliação inicial (anexo 1), que teve como

objetivo observar o nível de maturidade corporal do aluno e sua relação com

outros e com os objetos no espaço, respeitando sua individualidade biológicas e

sócio-afetiva.

Os alunos foram encaminhados para turmas com dois níveis

diferenciados:

a) Nível Básico: atividades naturais elementares e educação motora global;

aquisição de movimentos posturais básicos ã práticas da ginástica artística,

atividades recreativas resgatando a cultura corporal do movimento, utilizando

diferentes tipos de materiais, exercícios livres (rolamento em torno do próprio

eixo e para frente); exercícios de destrezas, rítmicas e equilíbrio; diferentes

tipos de saltos com variados recursos materiais (solo; tábua de impulsão; plinto

e corda elástica). Na cama elástica, andar de diferentes formas, saltitos no

lugar e com mudança de direção, abrindo e fechando as pernas.

b) Nível Intermediário I: solo – atividades motoras básicas com combinações

de movimentos. Rolamentos para frente e para trás. Vela (deitado com

elevação das pernas unidas para cima); avião (tronco inclinado para frente

com braços abertos e elevação de uma das pernas esticadas para trás fora do

chão); esquadro (sentado com as pernas abertas fora do chão e braços

abertos para os lados); salto tesoura (saltar com as pernas esticadas para

frente uma de cada vez); meio giro e série de solo, com a combinação destes

movimentos com apresentação e finalização. Saltos – simples com a

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utilização da tábua de impulsão e plinto (estendido e grupado). Na cama

elástica, andar de diferentes formas e direção, saltos com combinação de

três a quatro movimentos (saltos esticado, sentar e levantar, ajoelhar e

finalizar em pé); salto seguido de meio giro. Mini-tramp, para fazer atividade

fazer atividades de saltos simples com auxílio do professor associado a outros

elementos do solo.

Com base nesta divisão, o aluno X, ingressou nas aulas de ginástica

no nível básico, onde as atividades desenvolvidas tinham como base um trabalho

psicomotor como pré-requisito necessário à aquisição de habilidades e

fundamentos específicos da prática da ginástica artística.

O desenvolvimento motor é um processo contínuo em que alguns fatores

seqüenciais são considerados como, o grau de maturidade motora e aquisição

das habilidades motoras básicas, como pré-requisito à elaboração de

movimentos mais organizados e complexos, em sua total capacidade de

transformação.

A capacidade de organização das informações sensoriais, possibilitam a

produção de padrões mais consistentes de movimentos e à adequação destes

à propostas de trabalho, que enfoca a cultura corporal do movimento – PCN3,

resgatando as brincadeiras de cada cultura e região.

Os recursos pedagógicos utilizados como base ao desenvolvimento deste

processo acima referido, foram vivenciados à partir de atividades lúdicas e de

recursos sensoriais, perceptivos e cognitivos, tais como:

a) Atividades Lúdicas – diferentes tipos de piques, de atividades com bolas de

diferentes tipos e tamanhos; arcos; cordas; atividades em grupo e com

músicas.

b) Atividades percepto-motoras – andar de diferentes formas, direção, com e

sem obstáculos; atividades que favoreçam o desenvolvimento da consciência

de novas possibilidades corporais com vivências variadas e matérias

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diversificados; de relação corpo-objeto circundante no espaço; atividades que

desenvolvam o ritmo corporal (utilização de instrumentos de percussão e

diferentes tipos de música); equilíbrio e de coordenação motora ampla.

c) Atividades que estimulem as capacidades físicas e orgânicas: resistência

cárdio-respiratória (corridas com diferentes distâncias e obstáculos); atividades

que harmonizem as funções pulmonares (exercícios respiratórios com

matérias variados); força (cordas, atividades em dupla, corda elástica,

auxiliando no manuseio e transporte dos materiais nas aulas); flexibilidade

(alongamento), fundamental para o trabalho na ginástica artística.

d) Atividades que estimulem as capacidades cognitivas: execução das

atividades propostas; participação em atividades extra-classe e atividades de

desafios (resolução-problema), de memória e da verbalização de

compreensão das atividades; organização do pensamento na formação dos

conceitos e valores.

No início do trabalho foram estabelecidas formas de comunicação em

que o aluno X se sentisse seguro e motivado a construir relações com o

professor e o grupo.

Boato (2000, p. 94) cita que para Wallon “o comportamento emocional do

indivíduo depende também de sua maturação funcional”.

A interação dialógica foi freqüente nas aulas, nos momentos de

organização das atividades, na estimulação da troca verbalizada com o aluno, nas

vivências corporais e sociais, resultando num diálogo corporal permanente

construído com o aluno nas relações estabelecidas em grupo com sua real

necessidade, valorizando a sua função, como parte integrante deste processo.

As vivências do aluno X na cama elástica serviu como base para análise de

três fatores fundamentais ao desenvolvimento global do mesmo:

a) o estímulo à autonomia;

b) valorização pessoal da auto-estima; e

3 PCN – Parâmentros Curriculares Nacionais.

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c) adquirir auto-confiança.

O aluno X, demonstrou nas suas primeiras experiências no aparelho,

insegurança e desconforto desde o momento de entrada quanto o de

permanência e saída da mesma, necessitando de apoio permanente por parte do

professor.

A cama elástica é um aparelho que proporciona ao aluno uma auto-

regulação corporal rítmica, em busca do equilíbrio, uma vez que ele desenvolve

no mesmo, um ritmo próprio, isto é, o estímulo externo é evidenciado no aluno da

mesma forma que o movimento impõe (pular com equilíbrio).

Desta forma foi elaborado um programa de atividade de exploração do

espaço, tais como: andar de diferentes formas, sentar, levantar, correr e pular.

Nos primeiros encontros, necessitava do apoio permanente do professor e o ato

de pular após várias tentativas, ficou evidenciado na imitação projetiva do corpo

em função do desequilíbrio provocado pela cama elástica.

A partir destas vivências, o aluno X mostrou-se mais seguro a fazer

pequenas tentativas de deslocamento sozinho e em diferentes direções e

posições.

“Afirma que a presença do professor sem restrição e um clima de compartilhamento de emoções frustrações e desejos, ajuda a criança a ter auto-confiança e a gostar de si, a expressar e exteriorizar seus sentimentos, permitindo que ela se aproxime de um estado de equilíbrio.” (Boato, 2000, p. 33)

Atualmente o aluno X já explora de forma autônoma o aparelho, realizando

movimentos mais complexos e organizados, como o saltar com perda de contato

com o aparelho e demonstrando afetivamente alegria, prazer, satisfação, iniciativa

e auto-realização na execução da atividade.

Nas questões relativas a criação de possibilidades para transferência de

aprendizagens, foi utilizado um momento extremamente significativo, uma

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caminhada ao Parque Lage.

Foram delineados dois objetivos básicos: primeiro a melhoria das

qualidades físicas e orgânicas, durante a caminhada. Depois o de estabelecer

relações práticas com um meio diferenciado do cotidiano prático da Oficina do

Corpo.

O aluno X conseguiu realizar a caminhada de forma satisfatória

controlando bem sua capacidade aeróbica e demonstrando uma melhor

capacidade das qualidades físicas e orgânicas como: agilidade, força e

flexibilidade (subir em diferentes níveis de inclinação, escadas com diferentes

alturas, cipós, pedras e cavernas).

No trajeto encontramos tronco no chão que lembravam o plinto

(material específico de ginástica artística). Imediatamente o aluno X observou a

relação e teve a iniciativa de subir, utilizando o movimento de subida com apoio

das mãos e passagem lateral das pernas, sentindo muito prazer e satisfação na

execução do movimento.

Ao subir escada sem corrimão, apresentou bom equilíbrio e ao ser

elogiado, demonstrou alegria em mais uma conquista. Durante a caminhada,

verbalizou o que observava em relação a natureza, apresentou autonomia e

iniciativa na relações com o grupo e evidenciadas através de uma comunicação

oral mais elaborada.

Ao término, foi realizada pelas professoras um resgate, isto é, uma

avaliação do passeio junto aos alunos, quanto a organização, elaboração de

suas etapas, vivências corporais realizadas e das relações afetivo, sócio-

emocionais que o mesmo lhe proporcionou, tais como: conforto, desconforto,

dificuldades, prazer, alegria e novas descobertas.

A partir do estudo da afetividade segundo Wallon, foi identificado que a

manifestação afetiva mais predominante do estágio que o aluno X se encontrava

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(sensório motor e projetivo) foram as reaçôes e atitudes de medo, cólera, alegria

e tristeza, que foram observadas através de vivências práticas realizadas nas

aulas, tais como: subir na cama elástica, no plinto, nos exercícios educativos

visando o aprendizado do rolamento de frente.

Desta forma, o professor estabeleceu uma relação de afetividade,

buscando identificar e interpretar os desejos do aluno estimulando-o a vivenciar

novas experiências sem causar dependência do aluno em relação ao professor,

levando-o a adquirir sua própria autonomia.

O clima de compartilhamento nos momentos de frustrações, desejos e

realizações, ajudou o aluno X a ter uma autoconfiança, a exteriorizar seus

sentimentos, permitindo-lhe uma postura mais amadurecida.

Como foi observado nos estudos de Wallon, segundo Almeida (2001,

p.6)

“A afetividade e inteligência constituem um par inseparável na evolução psíquica, pois embora tenham funções bem diferenciadas entre si, são interdependentes em seu desenvolvimento, permitindo à atingir níveis de evolução cada vez mais elevados.”

Partindo de observações feitas durante o processo da pesquisa,

notamos que houve um amadurecimento significativo do aluno em relação a

afetividade, pois foram encontradas características relativas características

relativas ao estágio personalístico, como a necessidade de auto-valorização, de

ser estabelecida uma relação com o adulto de forma terna, desprovida de frieza e

de construção significativa na qualidade de relações.

Vale ressaltar que a afetividade e a inteligência estão sempre em

processo de evolução ao longo do desenvolvimento, pois são

construídas e passam por modificações de período a período, à medida que o

aluno amadurece em relação as suas necessidades afetivas tornando-as

cognitivas.

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A partir do desenvolvimento do processo de aprendizagem da

ginástica artística com o aluno X, o trabalho começou a ser desenvolvido por

meio de atividades lúdicas, como já foi citado anteriormente, sem desprezar

os objetivos e conteúdos, resgatando a cultura corporal do movimento,

visando proporcionar ao aluno um desenvolvimento de suas habilidades e

potencialidades percepto-motoras. Pois a ludicidade é um aspecto facilitador,

principalmente com relação ao controle do tônus muscular, uma vez que a

partir das propostas lúdicas o aluno vai realizar as atividades se entregando

de forma prazerosa, sem imposições e obrigações. Que segundo Boato

(2000, p.76) “São atividades que perpassam a esfera afetiva, proporcionando

prazer e desejo.”

Nos estudos de Wallon, observou-se que na formação da

personalidade da criança, é importante que ela tenha representações

globais, específicas e diferenciadas do seu próprio corpo. E que cada

experiência nova é percebida e funde-se no mundo somático da criança,

modificando-a. O esquema corporal corresponde, portanto, a totalização e

unificação constante das sensibilidades orgânicas e particularmente das

expressões posturais.

Para Wallon, a motricidade da ação4, precisa tonto da motricidade fina

quanto da motricidade ampla: tanto a troca (contato, relação) da criança com os

objetos (bolas, cordas, arcos), quanto a relação das criança com o outro e os

outros (ação de evitar, encontrar, se opor). É importante que as atividades não

sejam isoladas do contexto do aluno, mas que sejam inseridas em seu brinquedo,

ou que o próprio ato de brincar propicie o aparecimento dos atividades

necessárias ao seu desenvolvimento.

Desta forma foi dado ênfase a estruturação do esquema corporal, que

possui uma interdependência com o desenvolvimento das habilidades motoras,

incidindo sobre todo o corpo e ao mesmo tempo, uma vez que o aluno não pode

ser trabalhado separadamente.

4 Motricidade – é o termo utilizado por Wallon, pois motor para ele é sinônimo de psicomotor.

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Porém, a noção de esquema corporal não está só ligada ao próprio

corpo, mas também as influências recebidas do mundo exterior, a partir dos

gestos e dos objetos, com o outro e as adaptações aos fatores externos.

Como foi visto anteriormente, a imitação é uma etapa importante

também no processo de estruturação do esquema corporal. Segundo Wallon

apud Boato (2000, p. 80) “a imitação pode, então, tornar-se verdadeiramente

iniciadora, exercendo papel fundamental no mundo das relações e na formação

do esquema corporal.”

Com o aluno X, observou-se que seu esquema corporal está

compatível com o estágio maturacional, em função das respostas motoras

apresentadas na realização das atividades. Aos poucos foi capaz de utilizar um

sistema interiorizado e consciente, e seu processo de busca para resolver as

situações problemas a ele apresentadas. Foram propostas atividades em forma

de circuitos, em que foram montados vários obstáculos, em que o aluno X teve

que pensar de que forma poderia transpor estes obstáculo e tendo como

elemento motivacional a música, que para o aluno X é um estímulo muito grande.

O circuito foi organizado com seis estações, de diferentes graus de dificuldades,

composto por atividades que estimulassem o desenvolvimento das capacidades

percepto-motoras e habilidades, como, equilíbrio, ritmo, força, flexibilidade,

consciência corporal, diferentes tipos de saltos e memória. O aluno se organizou

corporalmente, mas inicialmente necessitou do apoio da professora nas primeiras

estações, mas após perceber através da relação afetiva com a mesma, mais

segurança e auto-confiança passou pelas demais estações sozinho e com

independência demonstrando satisfação e prazer. O aluno X ao final da atividade

vibrou com os seus colegas as suas novas conquistas.

Alguns aspectos motores básicos foram de total relevância ao

desenvolvimento do aluno X, principalmente o trabalho visando sua coordenação

motora geral, que segundo Negrine apud Boato (2000, p. 42), “é a união de

movimentos harmônicos, que supõem a integridade e a maturação do sistema

nervoso central.” Uma vez que, para trabalharmos posteriormente os

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fundamentos específicos da Ginástica Artística era necessário que o aluno X

tivesse uma boa coordenação motora.

Para Guiseline (1982, p.11), coordenação dinâmica geral “implica a

harmonia de movimentos voluntários dos grandes segmentos do corpo ou

capacidade de controle dos atos motores que põem em ação todo o corpo.”

Alguns estímulos motores foram dados permanentemente com o

objetivo de proporcionar ao aluno uma reação à situações vivenciadas como um

todo (apanhar uma bola lançada de surpresa; pique em que tinha que correr para

não ser pego, saltar diferentes tipos de obstáculos; pular corda parada e em

movimento). Pois quanto mais experiências de movimentos diversificados, o

aluno vivenciar mais fácil ele poderá dominar e conhecer seu próprio corpo.

As atividades foram propostas para que fosse possível confirmar as

sinergias5 fundamentais à harmonia dos diversos segmentos do corpo

(deslocamento em quadrupedismo para passar em baixo de obstáculos; transpor

lateralmente um obstáculo alto – plinto).

Com relação as contrações estáticas e dinâmicas, foram

desenvolvidos elementos básicos na Ginástica Artística, como andar de diferentes

formas e direção, exercícios com arco, rolamentos laterais, avião (braços abertos

com elevação de uma perna esticada para trás).

Para Le Bouch (1992, p. 35),

“a coordenação dinâmica geral passa por um caminho de regulação do jogo de adaptação, constando de dois processos: a assimilação que é a integração às estruturas próprias do sujeito e a acomodação que é a transformação das estruturas próprias do sujeito em função do meio.”

Desta forma o ajustamento é realizado frente a uma nova experiência motora.

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Pensando na teoria de Wallon, Fonseca (1993, p. 23) esclarece que

“A evolução da motricidade tem um fim cognitivo: a criança constrói o real através da exteriorização cinética da sua unidade. Os limites do real deixam de ser um bloco, eles são cada vez mais abertos e longínguos. O espaço não é medido em metros, mas em dados de sua experiência; cada passo é uma sensação da sua autonomia andante.”

É necessário um bom tempo de vivências corporais variadas para que

o componente perceptivo da ação seja integrado ao comportamento do aluno.

Partindo das idéias de Wallon, observa-se que o desenvolvimento da motricidade,

depende da maneira em que se faz a representação do mecanismo de seus atos

e das funções dos diversos segmentos do corpo.

Simultaneamente o aluno X, alcançou também uma melhora

significativa quanto sua orientação espaco-temporal, pois lhe possibilitou dirigir

seus movimentos em determinadas direções, principalmente no trabalho de solo

(Ginástica Artística) e quanto a organização temporal que imprimiu um ritmo

próprio aos seus movimentos e sua respiração, o que para o aluno X,

inicialmente foi um pouco difícil, principalmente porque uma de suas

características marcante é quanto ao seu ritmo (que devemos também respeitar),

que é muito lento seu tempo de reação.

A orientação espacial se refere essencialmente ao espaço da ação (ao

redor de onde se está) e o espaço próprio, (espaço sólido onde se está) e que

deve ser vivenciado de diferentes formas.

Nos estudos de Wallon, ele atribui uma multiplicidades de espaços, e que

o esquema corporal vai ser bem desenvolvido em conjunto com a exploração e

experimentação destes diferentes espaços. Como: espaços postural (varia

segundo as relações que o indivíduo mantém consigo mesmo, com o outro e com

os objetos); espaço absoluto (relações inter-objetais); espaço inter-pessoal;

espaço-afetivo e defensivo (contato possível com o mundo exterior); espaço para

5 Sinergias – ato ou esforço simultâneo na realização de uma ação.

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os atos e gestos; espaços que transpõem o espaço concreto (fundamentos

necessários as representações e operações mentais).

Desta formas as situações propostas para o aluno X, foram através de

atividades simples com mudanças de direção do movimento e deslocamento

após um sinal; utilizar o espaço a partir de situações-problemas; brincadeiras de

cultura popular; adequar seu corpo nos espaços oferecidos evitando obstáculos e

conscientizando-o a evoluir no espaço respeitando um percurso pré determinado

(circuito).

Quanto ao tempo, Wallon se refere ao tempo objetivo (aquele dentro do

qual a pessoa vive normas) e o tempo subjetivo (aquele em que se vivi –afetivo).

Segundo Wallon apud Galvão (1998, p. 253/254)

“Segundo as nossas disposições do momento ou o quadro atual da nossa existência, as épocas em que vivemos podem aproxima-se ou afastar-se. No seu limite de duração, a medida do tempo acaba por reunir esse gênero de assimilações imediatamente utilitária ou qualitativas, produto espontâneo da experiência subjetiva e da sensibilidade individual.”

Com o aluno X, foi necessário desenvolver situações onde ele pode

descobrir o seu tempo subjetivo, comparando-o aos dos demais alunos e desta

forma facilitando sua participação nas atividades de grupo, e também a partir

desta participação descobrir seu tempo objetivo, em que o ajudou a compreender

a hora de início e término das atividades, hora de terminar e de se arrumar para

voltar para a escola. Como também a emitir uma resposta imediata um estímulo

dado pelo professor.

Antes de se querer desenvolver no aluno a percepção do ritmo externo, é

primordial que se identifique no aluno seu ritmo próprio, a partir do momento que

a motricidade espontânea da criança já esteja perfeitamente livre e possa ser

percebida durante os jogos e atividades livres em que participa, isto é, se já

consegue expressar seus movimentos livremente durante as situações, uma vez

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que só a partir daí é que se poderá levar o aluno a tomada de consciência das

estruturas rítmicas. Pois o ritmo é um fenômeno espontâneo e individual e que

precisa ser respeitado, principalmente com alunos com a Síndrome de Down, que

têm um ritmo lento para realizar suas atividades tanto pessoais quanto nas

recreativas e formais. Para Boato (2000, p. 84)

“deve-se sim, procurar organizar os ritmos espontâneos, por meio de experiências sucessivas, pela exploração de suas possibilidades, de maneira que se favoreça sua aptidão natural para criar ritmos e adaptar-se ao ritmos externos.”

O ritmo pode provocar sentimentos e emoções, pois está diretamente

ligado a afetividade.

Outro elemento fundamental para o crescimento do aluno X, foi o equilíbrio,

que para Wallon apud Boato (2000, p. 169) “é um sistema de reações

compensadoras, incessantemente modificável que, a todo momento, parece

modelar o organismo segundo as forças opostas pelo mundo exterior e pelos

objetos da atividade motora.”

Para Musston apud Guisseline (1982),

"equilíbrio é a capacidade que o indivíduo precisa para assumir qualquer posição do corpo contra a lei da gravidade. E se divide em três tipos: equilíbrio durante o movimento (dinâmico), equilíbrio em uma determinada posição (estático) e equilíbrio recuperado para uma determinada posição, após uma ação (recuperado)”.

O equilíbrio quando bem estruturado no aluno será a base para o

desenvolvimento da coordenação motora global. O aluno X, apresentou uma certa

dificuldade quanto ao equilíbrio dinâmico, em atividades com limitação de

espaços (largos e ou estreitos), com alturas diferenciadas, deslocamentos

unilaterais e saltar de diferentes alturas. Um dos momentos em que o aluno X

mais precisou de ajuda do professor foi no trabalho da cama elástica e

mini-tramp (equilíbrio recuperado). Esses aparelhos exigem do aluno um controle

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corporal mais estruturado, principalmente nos primeiros movimentos propostos

como: saltar abrindo e fechando as pernas em diferentes direções e sentar e

levantar quando precisava passar por pontes e traves de equilíbrio.

O equilíbrio o ato da criança e ou indivíduo de manter seu controle do

corpo, utilizando ambos os lados, ou um só lado ou os lados alternadamente.

Para isso, é necessário também que a lateralidade seja trabalhada, para

que o aluno possa vivenciar potencialmente os dois lados do corpo e saber utiliza-

lo nas atividades. Este aspecto não pode ser confundido com dominância de um

lado ou quanto ao conhecimento direita/esquerda. O primeiro objetivo é

proporcionar ao aluno, como foi feito com o aluno X, experiências em que possa

utilizar os dois lados do corpo, tanto com os membros superiores, quanto com os

membros inferiores, como também alternando pernas e braços (cruzado), para

depois poder ser observado a dominância no aluno e simultaneamente transmitir

os conceitos de “direita” e “esquerda”, com relação ao seu corpo e depois com

referências relativas a objetos, espaços e outros. Segundo De Meur & Staes

apud Boato (2000, p.12),

“o conhecimento direita/esquerda decorre da noção de dominância lateral. É a generalização da percepção do eixo corporal a tudo que cerca a criança: esse conhecimento será mais facilmente aprendido quanto mais acentuada e homogênea for a lateralidade da criança.”

Por fim, não se pode esquecer que para Wallon, a ontogênese6 da

motricidade de expressão e comunicação acontece antes mesmo da motricidade

de ação (os movimentos coordenados apropriados a um objetivo). E que toda sua

obra mostra o significado do movimento e as suas alterações ontogenéticas, pois

a partir de cada estado de desenvolvimento, o movimento assume uma

importância cada vez maior. Depois da motricidade e com base nela, a linguagem

introduz a criança no mundo e na sociedade, e, reciprocamente, introduz o mundo

na personalidade da criança.

6 Ontogênese – Desenvolvimento do indivíduo desde a fecundação até a maioridade

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Não esquecendo que a partir da afetividade, que para Wallon é um

domínio funcional tão importante quanto a inteligência, é que foi possível

desenvolver esta pesquisa. Uma vez que, a afetividade e inteligência são um par

inseparável, na evolução do psiquismo. E no seu desenvolvimento são

interdependentes entre si, permitindo que no trabalho direto com o aluno ele atinja

cada vez níveis mais altos na sua evolução. O advento da representação, uma

conquista do campo intelectual, permite se estabelecer com o aluno, relações

afetivas mais complexas, como a paixão e o sentimento.

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CONCLUSÃO

Considerando as mudanças de comportamento e desenvolvimento

global do aluno X, cujo estudo de caso foi apresentado e tendo como base de

estudo o desenvolvimento sócio-afetivo emocional e percepto-motor, inseridos na

pratica da ginástica artística, pode-se observar que a estruturação do trabalho,

fundamentado na Teoria das Emoções e na Psicogênese de Henri Wallon,

mostra-se adequada no atendimento a alunos portadores de retardo mental.

O desenvolvimento do indivíduo constitui-se na integração de seu

organismo com o meio, estando o social sobreposto ao natural. O processo de

conscientização do aluno X como indivíduo, suas possibilidades e trocas

interpessoais estabelecidas com o grupo, possibilitaram-lhe o desenvolvimento de

valores e conceitos significativos tanto à sua vida escolar quanto social.

A integração entre as dimensões da motricidade, da afetividade e da

cognição, conceitos centrais da teoria de Wallon, é claramente descrito por

Mahoney apud Dourado & Prandini (2001, p. 15).

“O motor, afetivo, o cognitivo, a pessoa embora cada um desses aspectos tenha identidade estrutural e funcional diferenciada, estão tão integrados que cada um é parte constitutiva dos outros. Sua separação se faz necessária apenas para a descrição do processo. Uma das conseqüências dessa interpretação é de que qualquer atividade humana sempre interfere em todos eles. Qualquer atividade motora tem ressonâncias motoras e cognitivas; toda operação mental tem ressonâncias afetivas e motoras. E todas essas ressonâncias têm um impacto no quarto conjunto; a pessoa”.

Um dos fatores que foi considerado prioritário ao bom desenvolvimento no

trabalho com o aluno X, foi a possibilidade de lhe proporcionar uma prática em que as

relações afetivas fundamentadas na confiança, aceitação e respeito, contribuíram à

aquisição da sua autonomia e auto-estima, demonstrada pelo aluno, em diferentes

momentos da pesquisa. Segundo Dourado & Prandini (2001, p. 3) baseada na teoria de

Wallon afirma que,

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“o desenvolvimento das funções psicológicas superiores se dá, portanto, a partir do desenvolvimento das dimensões motoras e afetivas. É a comunicação emocional que dá acesso ao mundo adulto, ao universo da representações coletivas. A inteligência surge depois da afetividade, e a partir das condições de desenvolvimento motor, que se alterna e conflitua com ela.”

Além disso, foi valorizado e promovido atividades variadas, proporcionando

e estimulando-o a liberdade de movimento, aproveitando todos os estímulos

externos que o meio lhe proporcionou, estabelecendo relações entre si e o

mundo que o envolve.

A avaliação inicial e as informações transmitidas pela mãe, ajudou no

conhecimento prévio do aluno selecionado para o estudo, quanto ao seu

desenvolvimento e suas necessidades específicas em cada etapa. Esta foi a

pauta de uma prática pedagógica cuja intervenção foi feita de maneira consciente

e responsável, em consonância com valores morais, sociais e com objetivos e

metas educacionais.

A Teoria de Wallon, por ter forte lastro orgânico e por sua essência sócio

cultural relativista, foi capaz de contribuir para a compreensão do

desenvolvimento das crianças e adolescentes dos tempos e das culturas atuais.

Por fim, verifica-se que o desenvolvimento significativo que o aluno X

apresentou desde o início do estudo, deveu-se a uma prática em que o mesmo foi

respeitado como um sujeito afetivo que se relaciona com os outros, buscando

autonomia partindo da sua exploração do meio, com a mediação do professor,

permitindo assim sua expressão em busca de uma tomada de consciência de

seus momentos, sentimentos e atitudes, sabendo escolher o que lhe interessa e

ampliando suas possibilidades de comunicação oral, de desenvolvimento pessoal,

interpessoal e social.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ALMEIDA, Laurinda Ramalho de. Wallon e a Educação. (2000) In. Henri Wallon Psicologia e Educação. Sâo Paulo: Loyola, s.d.

BOATO, Elvio Marcos. Contribuições da teoria das emoções e da psicogênese de Henri Wallon na intervenção pedagógica em alunos com deficiência mental associada a deficiência visual – Dissertação de Pós-graduação “Stricto-Sensu” em Educação Física. – Orientador Profo Ricardo Jacó de Oliveira, Brasília: Universidade Católica de Brasília, 2000. DANTAS, Heloysa, LA TAILLE, Yves de, OLIVEIRA, Marta Koll. Teorias Piaget, Vygotsky, Wallon – Psicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus, 1992.

DOURADO, Ione Collado Pacheco. Henri Wallon: Psicologia e Educação. Trabalho apresentado na 24ª Reunião Anual da Dissertação Adicional de Pós-graduação em Educação. ANPED, Caxambu,2001.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.

FONSECA, Vítor da. Psicomotricidade. Rio de Janeiro: Martins Fontes, 1993.

FONSECA, Vitor da, MENDES, Nélson. Escola, Escola, quem és tu? Porto Alegre: Artes Médicas, 1987.

GALVÃO, Izabel. Henri Wallon – uma concepção dialética do desenvolvimento infantil. 4. ed. Petrópolis/RJ: Vozes, 1998.

GALVÃO, Izabel. Henri Wallon – uma concepção dialética do desenvolvimento infantil. 5. ed. Petrópolis/RJ: Vozes, 1999.

GUISSELINI, Mauro Antonio, Educação Física na Pré-escola. MEC/SEED, (1982).

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HABIB, Susan Medeiros. O desenvolvimento psicomotor, através da estimulação no meio líquido com indivíduos deficientes mental, portadores de Síndrome de Down e paralisia cerebral. Dissertação de Pós-graduação. Rio de Janeiro: Universidade Gama Filho, 1990.

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BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA

JUNIOR, Fundação Joseph P. Kennedy. Olimpíadas Especiais: Ginástica -

Programa de Destrezas Esportivas. Brasília: Coorde, 1992.

MultiEducação – Núcleo Curricular Básico. Secretaria Municipal de Educação.

Rio de Janeiro: Prefeitura do Rio de Janeiro, 1996.

RIBEIRO, Olga Oliveira Passos. UM outro olhar.... Dissertação de Mestrado.

Orientadora Profª. Dra. Rosana Glat, Rio de Janeiro: UERJ/Faculdade de

Educação, 2000.

SANTOS, José Carlos Eutáqui dos, ALBUQUERQUE FILHO, José Arruda.

Manual de Ginástica Olímpica. Rio de Janeiro: Sprint, 1984.

SAUR, Érica. Ginástica Rítmica Escolar – Características fundamentais,

movimentos, uso de aparelhos, plano de aula, exercícios e jogos. Rio de Janeiro:

Tecnoprint, s.d.

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ANEXOS

Índice de anexos Anexo 1 >> Avaliação Inicial do Aluno; Anexo 2 >> Bilhete de programação cultural.

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ANEXO 1

AVALIAÇÃO INICIAL DO ALUNO

I – CAPACIDADE PERCEPTIVA

• Descriminação cinestésica (movimentos naturais básicos )

• Consciência corporal (lateralidade; bilateralidade, dominância, equilíbrio

estático, dinâmico, recuperado;

• Imagem corporal

• Relação do corpo com os objetos circundantes no espaço

• Memória percepto motora;

• Direcionalidade;

• Descriminação visual; diferenciação figura fundo; coerência preceptiva;

• Descriminação auditiva – acompanhamento rítmico. Memória auditiva; tempo

de reação e resposta;

• Descriminação tátil – capacidade de coordenção olho-mão e olho pé.

II – CAPACIDADES ORGÂNICAS E FÍSICAS

• Tipo de tônus

• Resistência cárdio-rspiratória

• Força

• Agilidade e flexibilidade

III – CAPACIDADES COGNITIVAS

• Desenvolvimento do raciocínio lógico

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• Formação de conceitos e valores

• Conhecimentos prévios

• Tipo de comunicação por parte do aluno

• Capacidade de resolução de problemas

• Concentração

• Compreensão

• Auto-iniciativa

IV – ASPECTOS SÓCIO-EMOCIONAIS

• Relação professor X aluno

• Relação professor aluno X aluno X espaço físico

• Realizar atividades propostas pelo professor

• Tem autonomia para realizar as atividades propostas?

• Demonstra prazer ?

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ANEXO 2

BILHETE DE PROGRAMAÇÃO CULTURAL

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

Título da Monografia: "Intervenientes da Prática da Ginástica Artística no Desenvolvimento

Sócio, Afetivo-Emocional e Percepto-Motor do Aluno com

Retardo Mental."

Autor: Ana Regina Felberg

Data da entrega: __ / __ / ____

Avaliado por: Prof. Diva Nereida M. Maranhão Conceito:

Avaliado por: Conceito:

Avaliado por: Conceito:

Conceito Final: