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bruna-lourenco
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INTRODUÇÃO
A radiação é a energia transmitida por ondas ou uma corrente de partículas.
Ela pode danificar os genes (DNA) e algumas moléculas celulares. Os genes
controlam como as células crescem e se dividem. Danos provocados pela radiação
nos genes de uma célula de cancerígena, de modo que já não possa crescer e dividir-
se.
Assim surge a radioterapia, que se define pelo uso controlado de radiações
ionizantes para fins terapêuticos. As radiações dizem-se ionizantes por levarem à
formação de iões nos meios em que incidem, induzindo modificações mais ou menos
importantes nas moléculas nativas, através de uma cascata de eventos que se inicia
no primeiro milésimo de segundo da interação.
A ionização inicial é seguida de lesão imediata de macromoléculas vitais, ou
indiretamente pela cisão de moléculas de água, de que resultam radicais livres de
oxigénio, altamente reativos a nível molecular. Após alguns minutos a lesão
bioquímica sobre as moléculas de ácidos nucleicos é potencialmente letal.
Teoricamente nenhuma célula ou tecido é imune à ação das radiações
ionizantes, apenas podendo variar a dose necessária. Na prática há um limite à
quantidade de radiação possível de administrar. Alguns tumores são intrinsecamente
muito sensíveis às radiações, pelo que a dose a administrar fica bem abaixo da
tolerância dos tecidos adjacentes, sendo fácil o seu controlo com radioterapia. Outros
apresentam tão grande capacidade de resistência que para os irradicar seria posta em
causa a integridade de todo o organismo, tal a dose necessária. A extensão tumoral a
tecidos como o osso ou a cartilagem determinam alterações na perfusão levando à
hipoxia relativa, fator de resistência. A localização tumoral na proximidade de
estruturas vitais com baixa tolerância às radiações impede a administração de doses
tumoricidas. Embora a presença de metástases exclua a radioterapia como
terapêutica curativa, esta pode ser usada eficazmente na paliação de sinais e
sintomas significativos (dor, hemorragia).
De seguida vão ser apresentados dois artigos, que incidem sobre a algumas da
utilizações benéficas da radioterapia.
CANCRO DO PULMÃO
A grande maioria da informação que existem na radioterapia é baseada na
imagiologia funcional e foi obtida a partir de doentes com cancro do pulmão de não-
pequenas células (CPNPC). O PET utilizando o 18F-FDG tem sido amplamente
utilizado como parte integrante do trabalho de preparação para determinar a extensão
da doença na grande maioria dos tumores primários CPNPC, uma exceção é o
carcinoma bronco-alveolar. O estadiamento da doença mediastinal com CT e RM
relatou sensibilidade de 52% e 48% e especificidade de 69% e 64%, respetivamente.
Um estudo mais recente mostrou que o CT e o PET, para o estadiamento da doença
nodal, têm sensibilidade de 79% e 95% e especificidade de 60% e 77%,
respetivamente. No mesmo estudo foi ainda encontrada uma precisão de 92% para o
PET e 75% para o CT.
Quando o doente já apresenta metástases, a utilidade do PET com recurso a
FDG, irá depender do local de propagação, por exemplo, metástases da glândula
adrenal são quase sempre detetadas através da imagem PET, enquanto as
metástases cerebrais não são tão bem visualizadas como metástases para outros
órgãos. Quando se trata de metástases ósseas, um estudo mostrou que o PET tem
uma precisão de 98%, enquanto um estudo convencional tem de 87%.
Vários estudos têm vindo a ser realizados e têm demonstrado alterações no
estadiamento de CPNPC em 24 a 62% dos doentes quando o PET com FDG foi
usado. Tucker et al observaram que a informação recolhida a partir do PET com FDG
resultou no cancelamento da cirurgia dos tumores primários em 30% dos casos; do
mesmo modo, em 19% dos casos foi permitida a cirurgia, contrariando os resultados
da imagiologia convencional. No mesmo estudo, aproximadamente 70% dos doentes
tiveram uma mudança da gestão clínica quando a informação PET foi usada. Em 17%
dos casos, a quimioterapia ou a RT foram adicionadas, enquanto em 8% a
quimioterapia ou RT foram eliminadas. Um estudo recente do Instituto do Cancro Peter
MacCallum mostrou que os doentes selecionados para RT radical, ou seja, para
eliminar definitivamente o tumor, tiveram um prognóstico diferente de acordo com o
tipo de estudos de preparação realizados. A sobrevida média para os doentes em que
o estadiamento foi realizado com recurso ao PET foi de 31 meses, enquanto para
doentes não-PET foi de 16 meses, refletindo o valor do PET de modo a evitar a
realização de RT radical para doentes com propagação distante.
O papel do PET com FDG fundido com as imagens obtidas no CT, no
planeamento de RT para o tratamento de CPNPC está atualmente sob investigação.
Foram desenvolvidos alguns estudos, que indicam que os resultados do FDG-PET
podem alterar os volumes de tumor a considerar para o planeamento do tratamento de
RT. O significado da mudança no volume alvo de planeamento (PTV – Planning Target
Volume), volume alvo clínico (CTV – Clinical Target Volume) ou o volume de tumor
demonstrável (GTV – Gross Target Volume) é especialmente importante na era
moderna das três dimensões, adaptado para a RT do carcinoma do pulmão. A Tabela
1 apresenta alguns dos estudos que foram realizados por meio de fusão do PET com
o CT. Com a informação proveniente do PET com FDG, estes estudos indicam que 26
a 100% dos doentes com CPNPC terá uma mudança na radioterapia quando
comparado com o tratamento apenas baseado em CT. Aproximadamente 15 a 64%
tiveram um aumento no PTV, enquanto 21 e 36% tiveram uma diminuição no PTV.
Tabela 1 - Série Institucional usando PET-CT para Planeamento do tratamento de Radioterapia em carcinoma pulmonar de não-pequenas células
O V20 (volume de tecido do pulmão que recebe, pelo menos, 20 Gy) tem sido
correlacionado com o desenvolvimento de pneumonia. Vanuytsel et al observaram
uma redução de 27% no V20 ao usar o PET/CT. Schmuecking et al observaram uma
redução de até 17% em V20, com o PET/CT. Portanto, o uso do equipamento híbrido
PET/CT pode ser capaz de poupar o tecido normal a partir de uma dose acima da
dose de tolerância do pulmão.
Uma aplicação importante da utilização do PET/CT, é no tratamento de
doentes com atelectasia (colapso de um segmento, lobo ou todo o pulmão). Muitas
vezes, é difícil diferenciar colapso pulmonar de cancro do pulmão, portanto, o volume
de alvo apropriado pode ser problemático quando se utiliza RT conformada, onde o
feixe adquire o formato exato do volume tumoral a ser irradiado. Nestle et al
descobriram que 53% dos casos tinham uma variação de volume alvo do tumor ao
lado de um segmento atelectásico quando as imagens PET foram fundidas com as
imagens de planeamento do CT. O facto de se utilizar o volume definido pelo PET em
doentes com atelectasia ser a forma mais adequada para definir a extensão local do
NSCLC é um assunto controverso.
Embora exista variabilidade no volume bruto do tumor, parece que a utilização
do PET/CT mostra menos variabilidade quando comparado com um CT sozinho para
planeamento do tratamento. Um estudo realizado por Caldwell et al mostrou uma
razão média de um maior para um menor GTV de 2,31 e 1,56 entre os diferentes
observadores para o CT sozinho e para o PET/CT, respetivamente. O coeficiente
médio de variação baseado no PET/CT foi significativamente menor do que para o CT
sozinho.
MATERIAIS E MÉTODOS
Neste artigo são apresentados quatro casos para demonstrar o benefício de
VMAT em comparação com a atual prática clínica na sua instituição. Os autores fazem
uma comparação entre distribuições de dose e métricas, histogramas de dose-volume
(DVHs), MU, e tempo de entrega para técnicas VMAT vs tratamentos convencionais
ou IMRT.
Os doentes da instituição dos autores podem ser tratados com VMAT sob um
comité de investigação humano (HIC – Human Investigational Commitee). Além disso,
os protocolos SBRT (Stereotactic Body Radiation Therapy) aprovados pelo HIC
existentes para pulmão e coluna foram alterados para incluir VMAT como uma opção
de modalidade de tratamento.
Radiocirurgia estereostática do pulmão
Para a avaliação deste parâmetro foi utilizado um doente com cancro do
pulmão de não-pequenas células de estadiamento T1N0M0 (T1 –tamanho crescente;
N0 – ausência de envolvimento dos gânglios linfáticos próximos do tumor primário; M0
– ausência de metástases à distância), que foi inscrito no protocolo SBRT pulmão e foi
sujeito a uma simulação de CT quadridimensional e elaboração do contorno.
Foi realizado um protocolo de radioterapia estereostática* hipofracionada para
avaliar o impacto da técnica sobre as taxas de controlo local de cancro do pulmão de
não-pequenas células e tumores pulmonares metastáticos. A radioterapia foi efetuada
durante 8-14 dias em 4 a 5 frações, dependendo do tamanho do tumor e histologia. Ao
doente em questão, foram-lhe aplicados 48Gy em frações de 12Gy para o volume alvo
de planeamento (PTV). Um arco VMAT parcial (31°-219°) foi planeado para limitar a
dose contra lateral do pulmão.
*Radioterapia estereostática - Radioterapia estereostática é uma forma de radioterapia em que
o alvo é atingido por um feixe muito preciso. Este tratamento de radioterapia é normalmente dividido em
entre 3 e 30 doses diárias chamadas frações. Se a fração tiver uma dose muito elevada dose, é chamada
radiocirurgia. http://cancer.stanford.edu/patient_care/services/radiationTherapy/stereotacticRadiother.html
Radiocirurgia estereostática da coluna vertebral
Para a análise em questão os autores selecionaram um doente ao qual tinha
sido prescrito um tratamento paliativo para uma metástase no corpo vertebral T10,
para o tratamento VMAT. O doente foi tratado de acordo com o protocolo de
radiocirurgia da coluna que utiliza as diretrizes de dosimetria da Tabela 2.
Tabela 2 - Planeamento de metas e resultados para o caso radiocirurgia à coluna.
Este protocolo tem o objetivo de avaliar o impacto da radiocirurgia
estereostática no tratamento paliativo dos sintomas de dor e de prevenção e/ou alívio
de sintomas neurológicos.
Deste modo os doentes recebem uma dose de 16-18Gy no PTV numa fração,
limitada pelas restrições de dose para tecido normal. Antes do planeamento VMAT
para o presente doente, foi concebido um plano IMRT. Foram utilizados feixes
cobertos de 90° a 270°. Um tratamento VMAT de arco parcial que cobre os mesmos
ângulos de feixe foi criado e otimizado.
O cancro pediátrico
O objeto de estudo foi um doente pediátrico (3 anos de idade) que tinha sofrido
uma cistoprostatectomia para um rabdomiossarcoma recorrente fora de um volume de
braquiterapia* de alta dose previamente tratado. Foi prescrita IMRT para as regiões
nodais pélvicas. A IMRT foi considerada necessária para facilitar a preservação de
tecidos normais, devido à idade do doente e do estado do tratamento anterior. Um
plano de VMAT retrospetivo foi criado e comparado com o plano de IMRT. Para a
região pélvica foram prescritos 50,4Gy. A dose no reto, medula óssea, cabeças
femorais e restantes tecidos normais foi reduzida, tanto quanto possível. Foram
também realizados esforços para utilizar o menor número de segmentos e MU
necessário para reduzir a dose global para o doente e reduzir o tempo de tratamento,
uma vez que o doente foi tratado sob anestesia.
*Braquiterapia do cancro da próstata – este tratamento implica a implantação permanente de pequenas
sementes de Iodo – 125 por via transcutânea perineal e sob efeito de anestesia geral. Dada a
relativamente baixa actividade e energia das partículas emitidas pelo Iodo – 125, este procedimento é
suficientemente seguro para ser efectuado sem recurso a protecções específicas, sendo necessário
apenas o seguimento de uma conduta adequada, no que diz respeito ao manuseamento das fontes
radioactivas. http://ruirodrigues.net/
Irradiação de toda a zona abdominopélvica
Um doente tratado com WAPI convencional foi retrospetivamente planeado
para WAPI (whole-abdominopelvic irradiation) - VMAT. Tem sido relatado que 15-20%
dos doentes que se submetem a WAPI não completam a dose prescrita devido a
depressão da medula óssea. Para os doentes que receberam quimioterapia, quase
metade não consegue concluir o tratamento de radioterapia prescrito. Num esforço
para poupar a medula óssea, foi proposto um protocolo WAPI IMRT. O planeamento
inicial mostrou que os planos de IMRT não foram capazes de cumprir os objetivos sem
a necessidade de tempo de tratamento excessivo e MU. Uma vez que o VMAT se
tornou disponível, os autores revisitaram o protocolo para determinar se o VMAT
poderia ser uma possível modalidade de tratamento para o WAPI poupadores de
medula. Um plano de dois arcos, duplo isocentro** VMAT foi criado usando as
diretrizes da Tabela 3.
*ALARA – As Low As Reasonably AchievableTabela 3 - Contorno preliminar e guidelines dosimétricas para poupadores de medula na irradiação de toda a zona abdominopélvica.
Para facilitar uma correspondência natural, o primeiro arco foi otimizado de
forma independente para tratar apenas as partes superiores dos volumes de destino, e
em seguida, o arco inferior foi otimizada tendo em conta a dose administrada para as
regiões inferiores do arco superior.
**Isocentro - é o ponto no espaço onde feixes de radiação se cruzam quando a Gantry roda durante a
feixe-on.
O planeamento do tratamento
O planeamento do tratamento foi realizada utilizando o sistema de
planeamento Pinnacle3 (Philips Healthcare, Andover , MA). Foi utilizada a versão 8.1
para o planeamento WAPI, devido a uma limitação no número de parâmetros de
otimização permitidos na versão clínica corrente (8.0m). A versão 8.0m foi usada para
os restantes casos e não suporta a transferência de planos de VMAT no sistema
MOSAIQ EMR (1,5 e 1,6; IMPAC Medical Systems, Sunnyvale, CA). O programa
executa uma conversão simples de feixes de pontos de controlo (CP – Contro Point) e
ajusta o MU de cada CP de modo que reflita a média dos feixes vizinhos.
Nos CPs de fronteira, o MU completo do primeiro ou último feixe é entregue no
primeiro ou último passo CP. Espaçamento CP inicial era normalmente de 10° acima
da faixa de arco da gantry selecionado. Foram utilizados arcos parciais, completos e
únicos ou múltiplos, dependendo do local. A modulação do ângulo do colimador não
foi utilizada neste estudo. O Módulo de Otimização de parâmetro da máquina da
Pinnacle foi usado para otimizar as formas de abertura depois de uma otimização de
fluência inicial. Restringindo o número máximo de segmentos para o número de feixes
garante que apenas um segmento é usada por feixe.
Após o planeamento inicial, os arcos foram redefinidos para 5° para obter um
cálculo mais preciso da dose. Se houve uma mudança perceptível nas DVHs ou uma
diferença significativa nas métricas críticas de doses a partir de 10° para 5°, o plano
também foi refeito para 2,5° para uma avaliação mais aprofundada. Quando existiram
diferenças maiores que 2 % ou 50 cGy em dose média ou máxima no tecido normal,
foi solicitado um novo cálculo.
Como o módulo de planeamento de tratamento VMAT da Pinnacle ainda não
estava disponível para uso clínico, o planeamento VMAT foi ineficiente em
comparação com IMRT. Foi usado o algoritmo de cálculo de dose ''Adaptive Convolve''
da Pinnacle, com correções de heterogeneidade. A otimização do tempo foi
aumentada com o VMAT devido ao tempo adicional necessário para os cálculos de
dose. No entanto, observou-se o número de iterações necessárias para alcançar a
convergência para um plano de alta qualidade para ser semelhante entre a VMAT e a
IMRT. Não foi realizada renormalização após a otimização.
Entrega e garantia de qualidade
Os planos SBRT VMAT clinicamente tratados foram entregues por um Elekta
Axesse com modulador de feixe (Elekta, Estocolmo, Suécia). Para a localização foram
usados, Imagem de CT de feixe cónico online e mesa de posicionamento hexapod. O
colchão de fibra de carbono está incluído nos cálculos de dose para explicar a
atenuação. O caso da pediatria também foi planeado no Axesse, e o caso WAPI foi
planeado para no Elekta Synergy. Ambas as máquinas são equipadas com RT-
Desktop software v7.01 (Elekta, Estocolmo, Suécia), que é aprovado pela FDA (FDA -
Food and Drug Administration) para o tratamento VMAT. Resumidamente, a taxa de
dose durante VMAT é um passo variável da taxa de dose máxima (dependente da
máquina e energia), tendo uma redução de um fator de dois em cada passo. Durante a
entrega do VMAT, a taxa de dose e a velocidade de modulação da gantry são
determinados pelo software de controlo do acelerador linear de acordo com a limitação
do fator tempo em cada passo. Todas as comparações de tempo neste estudo foram
baseadas em entregas de tratamento para um doente ou fantoma. O timing foi iniciado
quando o botão feixe-on foi pressionado e terminou quando a entrega do feixe final ou
arco foi concluído.
Dosimetria específicas do doente QA usando o Delta4 o fantoma díodo
cilíndrico (Scandidos, Uppsala, Suécia) foi realizada para doentes tratados com SBRT
VMAT. Para verificar a posição do colimador multileaf, filmes de imagem portal
megavoltagem foram adquiridos, e formas de abertura foram visualmente comparadas
com as do sistema de planeamento.
CRÍTICAS
- No parâmetro Irradiação de toda a zona abdominopélvica não apresentam qual o
cancro que o doente tem.