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1 APRESENTAÇÃO Podemos afirmar, com certeza, que uma das maiores metas que podemos alcançar um dia é o conhecimento sobre nós mesmos. A frase lapidar “Conhece-te a ti mesmo” revela que esta é uma necessidade que nos acompanha desde a Antiguidade, e que perdura até nossos dias de modo cada vez mais enfático e necessário. Hoje dispomos de alta tecnologia para a realização de imensas proezas no campo material, relativizamos os limites do tempo e do espaço e conquistamos a comunicação em tempo real, que hoje nos permite conversar com pessoas que estão a muitos milhares de kilometros de distância com apenas um “clique”. Porém, paradoxalmente, estamos ainda muito distantes de nós mesmos na maior parte do tempo, pois desconhecemos o poder imenso que reside em nossa natureza e que nos permite desvendar quais são os caminhos que temos percorrido até chegarmos onde estamos. Conhecer estes caminhos é assumir a responsabilidade sobre si mesmo, um ato que inicia apenas a partir da vontade de querer saber por que as coisas “são como são”. Os antigos filósofos e místicos conheciam meios eficazes de investigar a natureza humana, e estes meios foram intensamente utilizados para ajudar as pessoas a compreenderem melhor a si mesmas, ampliando as condições para o entendimento das potências que atuam sobre a vida humana, seja a partir do interno ou externo. A Kabbalah e sua representação máxima na Árvore da Vida e os Arcanos Maiores do Tarô são instrumentos poderosos para promover a análise do que somos, de onde viemos e para onde caminhamos, mostrando traços da personalidade em relação ao tempo e espaço que ocupamos durante nossa jornada. Estes traços pessoais são vistos como “caminhos”, e iluminam aspectos da vida que muitas vezes estão encobertos pela simples falta de tempo que o modo de vida atual imprime na rotina das pessoas.

Introdução à Cábala

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Estudos sobre a Cábala

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APRESENTAÇÃO

Podemos afirmar, com certeza, que uma das maiores metas que podemos alcançar um dia é o conhecimento sobre nós mesmos.

A frase lapidar “Conhece-te a ti mesmo” revela que esta é uma necessidade que nos acompanha desde a Antiguidade, e que perdura até nossos dias de modo cada vez mais enfático e necessário.

Hoje dispomos de alta tecnologia para a realização de imensas proezas no campo material, relativizamos os limites do tempo e do espaço e conquistamos a comunicação em tempo real, que hoje nos permite conversar com pessoas que estão a muitos milhares de kilometros de distância com apenas um “clique”. Porém, paradoxalmente, estamos ainda muito distantes de nós mesmos na maior parte do tempo, pois desconhecemos o poder imenso que reside em nossa natureza e que nos permite desvendar quais são os caminhos que temos percorrido até chegarmos onde estamos.

Conhecer estes caminhos é assumir a responsabilidade sobre si mesmo, um ato que inicia apenas a partir da vontade de querer saber por que as coisas “são como são”.

Os antigos filósofos e místicos conheciam meios eficazes de investigar a natureza humana, e estes meios foram intensamente utilizados para ajudar as pessoas a compreenderem melhor a si mesmas, ampliando as condições para o entendimento das potências que atuam sobre a vida humana, seja a partir do interno ou externo.

A Kabbalah e sua representação máxima na Árvore da Vida e os Arcanos Maiores do Tarô são instrumentos poderosos para promover a análise do que somos, de onde viemos e para onde caminhamos, mostrando traços da personalidade em relação ao tempo e espaço que ocupamos durante nossa jornada. Estes traços pessoais são vistos como “caminhos”, e iluminam aspectos da vida que muitas vezes estão encobertos pela simples falta de tempo que o modo de vida atual imprime na rotina das pessoas.

Estudos numerológicos feitos a partir do nosso nome e dados do nosso nascimento nos revelam verdadeiros mapas de vida que podem elucidar com imensa riqueza de detalhes estes caminhos que percorremos durante a vida, trazendo para a consciência conteúdos mentais e emocionais que se mantinham ocultos, seja aqueles sobre fatos que já estão no passado, seja os que vivemos no presente ou os que ainda iremos experimentar num futuro.

A Kabbalah, bem como o Tarô constituem sistemas filosóficos simbólicos elaborados a partir de tradições muito antigas do mundo egípcio e hebraico, tendo sido completados e investigados desde então, por pesquisadores, até chegarem a nós como poderosos

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instrumentos de autoconhecimento, que não requerem tecnologia avançada, e sim, uma grande intuição, e principalmente, muito amor ao conhecimento da natureza humana e a certeza na existência de uma Vontade Celestial, que nos busca em vista da realização de uma meta cósmica sublime.

A COMUNICAÇÃO

Os seres humanos necessitam comunicar-se para viverem a plena felicidade, a alegria e seguirem seus caminhos motivados. Quem se nega a se comunicar carecerá de receptores para compartilhar suas experiências, seus pensamentos e iniciativas, não poderá dividir suas conquistas, tampouco suas tristezas e fracassos, e isto o fará sentir-se profundamente desanimado e só.

Este princípio elementar se encontra no início do Pentateuco:

“Deus criou o homem à sua imagem, segundo à imagem de Deus o criou, homem e mulher os criou.” Gên. 1: 27

Esta declaração, no plural, revela que em um estado inaugural, original, o homem era hermafrodita, que possuía em seu corpo os aspectos masculinos e femininos1.

Assim, o ser criado por Deus, o “homem”, reinava sobre todo o mundo e gozava sua majestade sobre todas as coisas, mas era infeliz e só. Lhe falta compartilhar suas vivências, e esse vazio não podia ser suprido com nenhuma das maravilhas a seu redor.

E assim encontramos em seguida:

Gênesis 2:18 Bíblia Hebraica 

“E disse o SENHOR Deus: Não é bom que o homem esteja só: far-lhe-ei uma adjutora que esteja como diante dele.”

Observe-se que aqui Deus diz “diante dele”, assim como a sua contraparte, refletida, porém, complementar, de tal modo que a comunicação pudesse ocorrer plenamente.

A essência da comunicação se vincula intrinsecamente à noção de “alma”, que em grego é associada ao termo “logos” ou “fala” ou “razão”, e também, indica a necessidade vital de estabelecer a comunicação para atenuar o fato de sentir-se “dividida”, buscando assim, retornar a seu estado original, seja pela união física, emocional, mental e intuitiva.

Assim, o homem foi criado para comunicar-se com seus semelhantes e viver com eles em sociedade, ou seja, estabelecer relações complementares de ajuda mútua, refletindo o princípio no qual se fundamenta a criação em si mesma.

Temos então que “no princípio Deus criou” Gên. 1:1. Entendemos que “no princípio” indica que além de ser o momento inicial, trata-se de “na Lei”, ou

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seja, que antes de criar, tudo já havia sido manifesto num plano imaterial, que decodificado, gera a matéria.

E ATRAVÉS DO QUÊ SE ESTABELECE A COMUNICAÇÃO?

Temos três elementos essenciais que surgem num plano primeiro: letras, números e o som ou “fala”. As palavras são expressões das letras, que são pronunciadas na fala, e os números limitam a vontade do desejo de cada coisa, criando assim um ritmo e frequência.

PALAVRA = SOM + LETRAS + NÚMERO = VONTADE DO DESEJO = COISA

COISA = IDEIA + FORMA = LIMITE DEFINIDO PELO DESEJO = FREQUÊNCIA

VIBRAÇÃO = ENERGIA CRIADORA

As informações são completadas pela combinação das letras e números, nomes e unidades, qualidades e quantidades que definem e constituem “a coisa” tal como ela “é” percebida pelos sentidos e depois traduzida pela razão em linguagem. Note que dizemos que Deus “É” o Verbo e o princípio:

“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.” João 1:1

E em Moisés:

“Então afirmou Deus a Moisés: ‘Eu Sou o que Sou’.” Êxodo 3:14.

Sendo tudo, Deus é a criação em puro ato criador, o Verbo: CRIAR, manifestando Seu Princípio gerador que é a Lei na “Vontade do desejo”, que cria em imagem/ideia, se pronuncia em som/vibração e frequência falada/palavra, e se “auto explica” em letra e número, em cada coisa que “É”.

Temos aqui que compreender que vivemos condicionados pelo tempo e espaço, sem o que tudo se perde em misteriosa indefinição ilimitada. A importância que damos às letras, números e palavras faladas é que nos coloca diante da condição humana em sociedade, e é desta qualidade de conhecimento que pode ou não nascer a compreensão de nossa natureza como expressão de um princípio energético que cria. A existência humana tem em sua origem um misterioso ato de “amor” de Deus, que deseja ser em tudo o que “É”.

Buscaremos entender mais adiante a “química” que envolve o surgimento de cada letra do alfabeto hebraico, que devem ser entendidas como “substâncias” criadas pela Vontade do desejo de Deus.

Veremos que cada letra possui um desenho que enuncia suas características, atribui um sentido imanente e que se relaciona diretamente com os números. As letras se inter-relacionam-se,

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interagem entre si, permutando-se e combinando-se, formando uma sociedade perfeita e compreensível.

Nesta sabedoria consiste o fundamento discernível de toda a Criação. Quem domina os sistemas de combinação das letras e números respectivos a seus valores poderá realizar maravilhas com as mesmas, melhorando sempre seu poder de percepção da realidade e da qualidade de vida em si mesma.

1 A este respeito, encontramos também uma variação na mitologia grega, em O Banquete, de Platão, temos o mito do Andrógino:

“No início, a raça dos homens não era como hoje. Era diferente. Não havia dois sexos, mas três: homem, mulher e a união dos dois. E esses seres tinham um nome que expressava bem essa sua natureza e hoje perdeu seu significado: Andrógino. Além disso, essa criatura primordial era redonda: suas costas e seus lados formavam um círculo e ela possuía quatro mãos, quatro pés e uma cabeça com duas faces exatamente iguais, cada uma olhando numa direção, pousada num pescoço redondo. A criatura podia andar ereta, como os seres humanos fazem, para frente e para trás. Mas podia também rolar e rolar sobre seus quatro braços e quatro pernas, cobrindo grandes distâncias, veloz como um raio de luz. Eram redondos porque redondos eram seus pais: o homem era filho do Sol. A mulher, da Terra. E o par, um filhote da Lua.

Sua força era extraordinária e seu poder, imenso. E isso tornou-os ambiciosos. E quiseram desafiar os deuses. Foram eles que ousaram escalar o Olimpo, a montanha onde vivem os imortais. O que deviam fazer os deuses reunidos no conselho celeste? Aniquilar as criaturas? Mas como ficar sem os sacrifícios, as homenagens, a adoração? Por outro lado, tal insolência era perfeitamente intolerável. Então...

O Grande Zeus rugiu: Deixem que vivam. Tenho um plano para deixá-los mais humildes e diminuir seu orgulho. Vou cortá-los ao meio e fazê-los andar sobre duas pernas. Isso com certeza irá diminuir sua força, além de ter a vantagem de aumentar seu número, o que é bom para nós. E mal tinha falado, começou a partir as criaturas em dois, como uma maçã. E, à medida em que os cortava, Apolo ia virando suas cabeças, para que pudessem contemplar eternamente sua parte amputada. Uma lição de humildade. Apolo também curou suas feridas, deu forma ao seu tronco e moldou sua barriga, juntando a pele que sobrava no centro, para que eles lembrassem do que haviam sido um dia.

E foi aí que as criaturas começaram a morrer. Morriam de fome e de desespero. Abraçavam-se e deixavam-se ficar assim. E quando uma das partes morria, a outra ficava à deriva, procurando, procurando...

Zeus ficou com pena das criaturas. E teve outra ideia. Virou as partes reprodutoras dos seres para a sua nova frente. Antes, eles copulavam com a terra. De agora em diante, se reproduziriam um homem numa mulher. Num abraço. Assim a raça não morreria e eles descansariam. Poderiam até mesmo continuar tocando o negócio da vida. Com o tempo eles esqueceriam o ocorrido e apenas perceberiam seu desejo. Um desejo jamais inteiramente saciado no ato de amar, porque mesmo derretendo-se no outro pelo espaço de um instante, a alma saberia, ainda que não conseguisse explicar, que seu anseio jamais seria completamente satisfeito. E a saudade da união perfeita renasceria, nem bem os últimos gemidos do amor se extinguissem.”

O ENCANTAMENTO PELO MITO DA CRIAÇÃO SEGUNDO JACOB BOEHME

Um dos maiores problemas contemporâneos é o desencantamento diante da vida. Assim, imersa numa teia de relações pautadas pela técnica e justificada apenas pela razão, a vida contemporânea se desvinculou do que para os antigos era um lugar comum: o divino.O efeito do desencantamento é muito mais devastador do que se pode supor numa análise superficial, pois rompe ligações com estruturas fundamentais da psique e anulam a chance de inúmeras realizações que dependem única e exclusivamente do contato com o “sonho”, com a “fantasia” e os “mitos”.

Raros são os que estão cientes de que tal processo – do desencantamento – foi em verdade elaborado detalhadamente em vista de objetivos muito claros, centrados no domínio das sociedades por pequenos grupos de pessoas.

O que consideramos ser “o progresso da ciência” já foi experimentado em outras épocas por sociedades que ergueram monumentos arquitetônicos e obras de arte absolutamente fantásticas, sobretudo, se comparadas com as nossas, já que possuíam recursos materiais muito reduzidos diante do nosso vasto arsenal contemporâneo.

O que tornou possível a realização de proezas artísticas e científicas na antiguidade, foi a ligação do homem com um mundo interno onde os deuses, heróis e tiranos, possuíam formas que se manifestavam simbolicamente na vida ordinária. A noção de mundo, portanto, abrangia completamente o imaginário extraordinário, permitindo que a livre expressão dos sentimentos pudesse dar vasão às energias que hoje são sistematicamente confiscadas em nosso atual processo civilizacional.

Tão logo ingressa na escola, ou muito antes disto, a criança é “desencantada” gradativamente, a título, ironicamente, de libertá-la das “ilusões e fantasias ingênuas” que “atrapalham seu desenvolvimento”. Assim, aos 5 anos, hoje, em geral, a criança tem absoluta certeza da inexistência do “Papai Noel”, posto que seria ridicularizada por seus amiguinhos mais experientes, com 7 ou 8 anos, sem sobra de dúvida, caso defende-se tal “fantasia”. O fenômeno do desencantamento contemporâneo, desta forma, se generaliza e assume variações de acordo com a faixa etária e meio cultural.

A ingênua ação do “esclarecimento” acerca da inexistência do Papai Noel, aciona um processo irreversível na psique da criança, que segue depois por conta própria e por comparação, anula gradativamente a esfera “extraordinária” como legítima fonte de prazer e realização da alma.O ato mitológico antigo, foi assim transferido, e o que antes era dos deuses e sua esfera extraordinária, passou a ser domínio dos “heróis” humanos, criados um após o outro, de modo cada vez mais rápido para implantar uma lógica que se fundamenta apenas numa substituição “natural” destes ícones.Temos no imaginário contemporâneo, a criação de mitos da música, dos esportes, “econômicos” e alguns raros da ciências – desde Elvis, Michel Jackson, Muhammad Ali, Tyson, Pelé, Bill Gates e Steve Jobs ou Mark Zuckerberg. No entanto, já é admissível dizer que vivemos apenas era do “mito econômico” ou “financeiro”, pois a medida do reconhecimento das qualidades “heroicas” se vincula totalmente à soma de dinheiro que estas personalidades acumulam em suas biografias. O que significa que a despeito de seus talentos “extraordinários” o que assombra e causa estupefação é o distanciamento que suas fortunas criam do “mundo ordinário”.

Esta substituição de ícones, num processo de “atualização”, coloca em obscura existência, tamanha a distância de nossa “realidade”, nomes como os de Platão, Aristóteles, Da Vinci, Michelangelo, Galileu, Bach, Mozart, Shakespeare, estes, sem falar ainda em nomes raramente conhecidos pela maioria, como Paracelsus, Lao Tsé, Confúcio, Agrippa, Kepler...restando memoráveis hoje apenas figuras centrais de episódios relatados na Bíblia.

Em vista de uma operação de “reencantamento” do imaginário, é que passamos a estudar o mito da criação relatado por Jacob Boehme, em A Revelação do Grande Mistério Divino, obra fulcral em qualquer sentido que se dirija ao estudo da Kabbalah.

É importante entendermos que o estudo da Kabbalah pode ser feito em muitos níveis de forma independente, seja a partir de sua forma racional, como sistema filosófico, perfeito em si mesmo, ou segundo a contemplação do riquíssimo simbolismo que se apresenta na ÁRVORE DA VIDA. A contemplação simbólica atua diretamente no imaginário, e associada aos Arcanos do Tarô, passa interagir e a integrar os recursos emocionais e mentais daquele que estuda, criando possibilidades para que a intuição se desenvolva cada vez mais, permitindo assim, que novas áreas do saber sobre o que é o homem e o mundo que habita sejam experimentadas.

“Não se pode esperar que ocorram milagres, quando temos em mente que milagres são impossíveis, pois tudo só é real na mesma proporção, justa, do que aceitamos ser a realidade.”

JACOB BOEHME – A REVELAÇÃO DO GRANDE MISTÉRIO DIVINO

DEUS SEM NATUREZA NEM CRIATURA ALGUMA

E misteriosamente, numa ausência de tempo e espaço, se inicia um processo orgânico, criado por uma única Vontade que emana a partir de Si mesma o desejo de Ser.

No centro do triângulo temos o nome de Deus YHVH

Hebrai

coPronúncia

Letr

a

י Yodh ou Y

ud

"Y"

ה He ou Hêi "H"

ו Waw ou V

av

"V"

ה He ou Hêi "H"

Assim, duas forças se movem e exprimem este desejo de Ser. Uma é SEVERA, penetrante e forte, expandindo o “Nada” ou a “indeterminação” = o “caos”, em alguma “coisa” = a NATUREZA.Notemos aqui a semelhança com nossa noção do “big bang”, que expande e cria do “Nada” o universo inteiro e seus componentes físicos e químicos, dando origem às galáxias e planetas.

NATUREZA = ESSÊNCIA DE ALGO Por exemplo, a “natureza” da água é ser líquida, adaptável, transparente, evapora ou congela a partir de zero graus.

Outra força é SUAVE, doce e terna, e leva consigo os 3 primeiros atributos ou qualidades que penetram na Natureza: a adstringência, o amargor e a angústia, este último é o movimento de rodopio.

AS 3 PROPRIEDADES RELATIVAS AO PAI, FILHO E ESPÍRIO SANTO SATURNO, MERCÚRIO E MARTE

Observamos aqui as correlações possíveis já com os atributos dos planetas, embora nesta etapa não existissem no plano material, mas apenas como “energia” em movimento. A partir do movimento é que surgirão todas as coisas também no plano material, resultando da ação destas energias específicas – notemos aqui também o paralelo com a formação de moléculas a partir dos elementos atômicos, que rodopiam criando, por força de atração, se definem condensados num espaço como “substâncias puras”. Temos então:

SATURNO = CRONOS = TEMPO e também ADSTRINGÊNCIA, segundo Boehme, além de MAGNETISMO = ATRAÇÃO = CONDENSAÇÃO DE SUBSTÂNCIAS.

MERCÚRIO = INTELIGÊNCIA FLUÍDICA e o AMARGOR, o AGUILHÃO ( termo que se refere a algo “pontiagudo”, no caso da imagem de Boehme, indica aquilo que conduz de forma irrefutável )

MARTE = FORÇA = VIGOR = SANGUE = DETERMINAÇÃO e ANGÚSTIA, RODOPIO e RODA, que simboliza um movimento central que coloca tudo em movimento ininterrupto, a força da expansão.

Assim, as 3 propriedades do Pai , Filho e Espírito Santo criam a NATUREZA a partir do insondável “abismo”, que Boehme diz ser o CAOS, não no sentido de confusão, mas de indefinição e indeterminação, ou seja, sem tempo nem espaço, ou, o que a ilimitada Sabedoria de Deus.

Temos ainda que:

SATURNO, sendo magnético, cria a raiz da “substancialidade”, MERCÚRIO, sendo elétrico, cria a “Luz”, e é a raiz do espírito, e MARTE, cria o Fogo e a Alma , sendo então “a força” mediadora entre a “substância” = matéria/corpo, e a “eletricidade” = Luz/espírito.

Estas 3 primeiras forças são também chamadas por Boehme de

NATUREZA ETERNA = contrativa, expansiva e rotativa

Elas simbolizam o desejo da VONTADE que emana do NADA onde Deus contempla suas ideias antes delas emanarem para o mundo, as ideias de Deus são então projetadas em SHEKHINAH = SABEDORIA DIVINA = presença de Deus.

O Fogo ao centro da figura anterior é o que interliga os dois mundos, o das TREVAS, que equivale às 3 forças relativas a SATURNO, MERCÚRIO e MARTE ( SEVERIDADE: força e poder) que irrompem do NADA = ABISMO, e o mundo LUMINOSO, ou angélicas ( SUAVES: luz, esplendor, brilho e glória)

Temos ao final da criação o surgimento de um equilíbrio eterno que agrega as 3 propriedades iniciais, simbolizadas nos textos bíblicos como

a “mão esquerda de Deus” = SATURNO/MERCÚRIO/MARTE

Em comunhão com mais 3 propriedades, que subjugam e transmutam a SEVERIDADE em SUAVIDADE, sendo relativas

à “mão direita de Deus” = LUA/JÚPITER/VÊNUS

O equilíbrio é criado pelos opostos, assim como TREVAS e LUZ, tendo o FOGO/alma como o lugar onde os dois se encontram. Notem o paralelo que podemos estabelecer com o fogo, que não é material, mas existe apenas porque “consome” a matéria, e a partir desta liberação de energia surge a luz, que é mais sutil ainda que o fogo.

O homem, assim como o mundo físico é portanto o LUGAR onde o FOGO/alma REALIZAM A VONTADE DO DESEJO DE DEUS EQUILIBRAR OS

DOIS OPOSTOS.

Imediatamente ao processo descrito antes, da criação, fica instituída A NATUREZA ETERNA, que é a MORADA DE DEUS, na qual, portanto, vigora o equilíbrio inicial que EMANA DA IDEIA DE DEUS, surgem todos os seres luminosos, angelicais, ocupando todo o espaço da criação, cada qual, num local exato ou REINOS, harmônicos, que correspondem sua NATUREZA e à essência que lhes deu origem, e em número perfeito também.

Segundo Boehme conhecemos o nome de dois Reis destes três REINOS: MIGUEL e URIEL, pois são os que permaneceram na LUZ, enquanto o nome do terceiro não é conhecido, pois sofreu a queda e provocou o desequilíbrio em toda a estrutura.

Segundo o PRINCÍPIO, a Criação do Universo, que inicia a partir da Vontade do desejo de Deus, se projeta pelas forças primordiais – representadas em SATURNO, MERCÚRIO, MARTE e depois em seus opostos abrandados LUA, JÚPITER e VÊNUS, que subjugam a SEVERIDADE com a SUAVIDADE, a “mão esquerda” atenuada pela “mão direita” de Deus.

Trataremos agora do que sucedeu este momento da Criação da NATUREZA ETERNA, que por questões não reveladas em sua causa, veio a sofrer um desequilíbrio estrutural, que requereu novo processo de Criação em vista de restaurar a perfeição original. No mito encontrado no Gênese, esta etapa da Criação refere-se ao processo que entendemos ser o do “nosso mundo”, isto é,

quando surge o planeta Terra, e decorrente disto, o Universo adquire uma história que tende a restaurar a harmonia perdia.

Assim, veremos como se explica o nascimento do homem em seu estado original, e posteriormente, seu processo de queda, adquirindo a consciência sobre o bem e o mal, e depois, sua segunda queda, quando perde sua imortalidade por “encarnar num corpo”.

A Criação da Mulher como ente individualizado, após a quebra da unidade original de ADÃO, é apresentada como a necessidade d comunicação entre os opostos e a consequente necessidade de uma união que “libere a energia vital criadora”, que por sua vez gera o impulso sexual e a geração de uma nova vida.

No entanto, seduzidos pelas energias do mundo físico, e tendo caído na matéria, são subjugados pelos SENHORES DO KARMA, ou ASTROS/PLANETAS, pelos quais passaram em seu processo de “encarnação”, adquirindo assim, as respectivas substâncias de cada um deles, e por isto, contraindo também uma “divida” material, que está sob o domínio do anjo caído de sua perfeição – Lúcifer.Nesta condição mortal e material, o homem não poderia ascender pelo caminho de volta, pois simplesmente “caiu”.

Um novo ADÃO nasce, portanto, e recebe o “nome” mais excelso que existe no universo – JESUS. O nascimento de JESUS, portanto, inicia o processo de restauração do equilíbrio original.

Com a “encarnação” de CRISTO em um homem, JESUS, cria-se no plano físico, na humanidade, portanto, a PERFEIÇÃO NA MATÉRIA, isenta de qualquer “dívida”, e por isto, tendo o CAMINHO ABERTO PARA REGRESSAR A ORIGEM: EU SOU O CAMINHO.Desta forma, ao morrer como homem, CRISTO, mergulha no mundo tenebroso, para onde todas as ALMAS/ENERGIAS PSÍQUICAS sujeitas às SUBSTÂNCIAS DOS ASTROS eram encaminhadas afim de pagarem o que “foram em carne”. Contudo, não possuindo “SUBSTÂNCIA CAÍDA/PECADO”, JESUS ascende nas Trevas como CRISTO – LUZ DAS LUZES, e assim, ILUMINA as regiões por onde passa, e tanto mais mergulha nas Trevas, maior é a potência e esplendor de Seu brilho. Ao final de 3 dias de mergulho, tendo ido até o mais profundo onde qualquer ALMA/HUMANA havia ido antes, CRISTO inicia seu retorno, estabelece um CAMINHO DE LUZ ETERNO, que pode ser percorrido agora pelo homem quando migrar para as regiões tenebrosas.

Desta data cósmica em diante, as ALMAS HUMANAS que se vinculam ao mesmo nível de energia liberada por CRISTO, podem ascender às regiões superiores, libertando-se da força atrativa do ABISMO DAS TREVAS.

Ao final de um período que não é revelado, o número de ALMAS HUMANAS ascendidas até as alturas celestes, substituirá o número de anjos que decaíram por força da atração de Lúcifer em sua queda para as Trevas. Completado todos os espaços deste REINO CELESTE, terá sido consumada a OBRA DA CRIAÇÃO mais uma vez, no entanto, com a introdução do HOMEM como SER que ultrapassou a experiência/prova da vida SUBSTANCIAL/CORPÓREA,

tornando-se com CRISTO uma “espécie” excelsa na hierarquia do mundo revelado na CRIAÇÃO de nosso sistema SOLAR, ocupando, portanto, um lugar e poder acima dos Anjos que permaneceram em estado de PERFEIÇÃO deste o PRINCÍPIO.

Agora veremos as ilustrações que narram este processo. As ilustrações foram elaboradas por um grande estudioso e pesquisador, e seguidor de Boehme, o alemão Dionysius Andreas Freher, nascido m 1649.

O ALFABETO HEBRAICO

AS LETRAS E OS NÚMEROS: O PROCESSO DE CRIAÇÃO DO VERBO

Vimos que tudo se fez no PRINCÍPIO, isto é “na LEI”, e a LEI espelha a perfeição infinita da ideia de DEUS em sua Natureza.

O VERBO é ação manifesta desta Vontade de SER que se projeta no TEMPO e ESPAÇO, assim, temos o nascer das vibrações que assumiram valores determinados nas imagens, sons e letras. Associamos portanto, ritmo à vibração, e assim surgem as palavras carregadas das potências equivalentes da ideia original de Deus.

OS NÚMEROS

“O Número é o arquétipo mais puro que introduz à compreensãodo Cosmo, que é o “Mundo ordenado”. A compreensão da ordemmatemática, isto é, do Cosmo, passa por uma compreensão intuitivado número. É isso que tentaremos abordar. Para tanto, deixemostoda bagagem intelectual e permitamos que o símbolo fale em nós.”

Noções gerais

Todo número integra a comparação de duas grandezas. Consiste na projeção, sobre o plano matemático, da operação elementar do julga-mento, ou seja, a percepção exata de duas relações, a comparação de dois objetos.

Assim, todo ato matemático implica no dois, na comparação, e se refere à Unidade subjacente.

A Unidade Causal é o Todo. O Universo que dele resulta só pode ser composto de frações dessa Unidade. O fracionamento, a divisão original que relatam os

mistérios, torna-se a Lei, o Gesto Divino, à imagem do qual é necessário proceder. Assim, toda aritmologia tradicional se fundamenta na Unidade e suas frações, depois no retorno à Unidade. Tudo que emana do Único ocorre pelo seu fracionamento e nos aparece em volume, pois é só pelo volume e pela duração que as coisas se tornam para nós sensivelmente compreensíveis.

A partir do volume, cada coisa só existe em relação a uma outra.

É pela comparação que as coisas se tornam psicologicamente compreensíveis para nós. São as relações proporcionais da arquitetura sagrada. Nossa compreensão, relacionada aos sentidos e à capacidade de análise, está baseada na dualidade. Isso significa que toda coisa é relativa. Por exemplo, uma temperatura só pode ser fria ou quente em relação à temperatura do nosso corpo. Quanto mais afastada estiver da nossa referência, mais agressiva e traumatizante ela será. Nada, na manifestação, como será facilmente compreendido a seguir, é absoluto.

Como cada objeto não passa de uma parcela do Grande Todo, os membros que enunciam esses objetos não podem se referir a esse Grande Todo cósmico. Eles só podem ser considerados em suas relações mútuas. Tais relações podem parecer fortuitas: dizemos que fez sol durante três dias, ou que a idade de uma criança é sete anos, ou ainda que um pequeno bosque é constituído de 12 carvalhos.

“Quanto tempo vive uma mosca? Uma vida. E Pieng-Tsu, o

homem mais velho do mundo? Igualmente uma vida” (Schipper).

Um estudo aprofundado das correspondências analógicas ocultas nos leva a perceber que o caráter aparentemente fortuito das coisas deve-se à nossa ignorância das causas e das relações misteriosas que ligam os fenômenos. A noção de acaso repousa sobre essa incompreensão. Ela foi colocada em questão por diferentes autores modernos, como Pauli e Jung (princípio da sincronicidade).

Assim, os fenômenos naturais estão submetidos à lei do Número, o que subentende que uma lei idêntica governa toda a natureza, seja ela denominada corpo químico, vegetal, animal, homem, estrela ou som.

Mesmo os efeitos naturais obedecem a ela, seja o vento sul, que sopra alternadamente cinco ondas fortes, depois sete fracas, seja o vento norte, que tem um período de três ondas fortes seguidas de quatro fracas. Constatamos, também, que as folhas se inserem nos ramos segundo distâncias ordenadas por um ritmo regular, no mais das vezes de acordo com um modelo espiral. De igual modo, a forma do cristal ou da concha lembra essa mesma lei do Número. Sabemos, pelas descobertas científicas, que os movimentos vibra-tórios naturais, sejam eles luminosos, sonoros ou fluídicos, obedecem a essa mesma lei, tal como os átomos. Os movimentos do Sol, dos planetas, dos cometas, do Cosmo na sua totalidade, estão submetidos a ela. O Número é a expressão da Lei, tal como esta é a expressão da Harmonia Universal. Isso

torna possível não só regular os fenômenos naturais, mas também o destino dos Homens (I Ching, geomancia...).

Pode-se dizer que a linguagem do Número é a linguagem do conhecimento, que se opõe à linguagem dos sentimentos, que só pode se exprimir por palavras.

O iniciado que conseguir aprofundar a significação do Número, possuirá a chave de todos os segredos, pois o Número abre não apenas o conhecimento das leis naturais, mas consiste também no único elo lógico e chave comum dos ensinamentos iniciáticos ou religiosos. Estudar o simbolismo do Número significa penetrar na pesquisa da própria essência do Mundo, sem o risco das miragens dos sentimentos pessoais ou das especulações impossíveis de serem verificadas. Significa permanecer em contato com o pensamento coletivo dos iniciados, que repousa na observação natural e na lógica. Em outras palavras,

“os números naturais, do ponto de vista psicológico, são por certo representações arquetípicas, pois somos obrigados a pensar sobre eles por um caminho determinado... Em outros termos, “os números não são conceitos conscientemente inventados pelo homem com a finalidade de calcular. É evidente que são produtos espontâneos, autônomos, do inconsciente, tal como os outros símbolos arquetípicos” (Jung).

Assim, o arquétipo do número, o mais universal que existe, inscreve-se em tudo, seja na gênese, no mundo manifestado, exterior, seja no corpo do homem ou no seu psiquismo. A estrutura tradicional, seja egípcia, hebraica, grega, celta, hindu ou chinesa, está inteiramente sob o controle dos números.

Noção da unidade do princípio

A noção de número repousa sobre o conceito de Unidade. O Número é geralmente definido como uma coleção de unidades.

Assim, cada número é um aspecto particular da unidade absoluta, sendo cada objeto uma parcela do Grande Cosmo. Entrar no

Número nos revela as relações, a harmonia, a lei, o princípio. Ele é a raiz do Universo manifestado.

Coloquemos diante de nós uma folha em branco e tracemos um ponto sobre ela: muitos o situarão sobre a linha vertical central, seja mais para o alto ou mais para o centro.

Esse ponto, para o qual o olhar é atraído, determina o espaço da folha. Ele define, por consequência, o ser (ponto) e o não-ser (folha), que são uma única e mesma realidade, o Todo, a Unidade, o infinitamente grande que é o infinitamente pequeno, o centro e a periferia, o interior e o exterior. Numen, a divindade, e Numerus, o número, têm a mesma raiz etimológica. O Tai Chi dos chineses, traduzido por Grande Um, é o princípio e o fim último.

O número um possui propriedades excepcionais:

- ao contrário de todos os outros números

- ele não pode ser multiplicado e dividido por si mesmo:

1 x 1 = 1; 1: 1 = 1, pois é o divisor de todos os outros números.

- é o único número que aumenta mais pela adição do que pela multiplicação.

- ele é o primeiro número triangular, o primeiro número quadrado

(veja última página).

- é o único número natural que não segue um outro, ou seja, que não tem predecessor.

- na multiplicação, ele é excluído como elemento neutro.

Podemos agora compreender melhor por que o Um é, nas tradições, a Unidade indivisível, o Todo. O simples fato de que a série matemática dos números começa pelo Um e se estende ao infinito, coloca-o numa particular relação conceitual com o infinito.

Ele comporta um duplo aspecto: quantitativo, por ser a Unidade, e, qualitativo, por conter qualitativamente a série completa dos números, visto que 2 = 1 + 1 e 3 = 1 + 1 + 1. Ora, se no Um está o Todo, é lógico considerar, tal como a Tradição, que os demais números nascem a partir dele, por divisão. Sob essa ótica, o Dois seria a bipartição, a duplicação do Um, da mônada. O Um dividido em duas partes daria o Dois.

“Sem o Um a Terra não teria sua tranqüilidade, nem o Céu sua

serenidade”. Lao Tse.

O Um possui ao mesmo tempo um caráter unitário no seu aspecto sintético e um caráter analítico no seu aspecto numérico. Considerando sob o ângulo quantitativo, a série dos números é constituída pelo acréscimo repetido de uma unidade, enquanto que sob o ângulo qualitativo, essa série não passa de uma divisão da mônada.

O Um é assim multiplicidade latente. Ele une indivisivelmente, em si mesmo, a quantidade e a qualidade. É a energia potencial que ainda não se manifestou.

Na geometria, o Um é o ponto. É o signo de Áries na astrologia.

O Um absoluto é inumerável, indeterminável, incognoscível. Sobre a nossa folha branca, o Um, o ponto, só pode ser definido por si próprio.

Ele é. E basta. Somente quando aparece nos números é que se torna conhecível, pois o outro, indispensável para esse ato, está ausente no estado de Um. O Um deve sair de sua totalidade e se polarizar para se definir. Todo fenômeno de tomada de consciência implica no espelho do Dois. Um dá a ideia

de identidade, unidade, igualdade, totalidade, concórdia, simpatia no mundo.

☼ = hieróglifo do Sol

Mas o Um só pode se tornar Dois por uma função mística que resume todas as relações de harmonia do mundo. É a raiz de Dois, valor irracional, que estabelece a relação entre Um e Dois, e toda função vital se liga à ação separadora de Φ = √2. (Le temple de

l'Homme. R. A. Schwaller de Lubicz. Dervvy Livres).

[ Φ ou φ é Fi, a 21ª letra do alfabeto grego, e O MUNDO nos Arcanos Maiores do Tarô. ]

Essa ação separadora dá ao Dois a idéia do outro, mas, com isso, também de discriminação e desigualdade.

Um número é denominado irracional quando não pode ser definido nem por números inteiros, nem por números racionais (frações).

Esses números são denominados transcendentes na matemáticamoderna.

A √2, enquanto número numerante, desempenha o papel simbólico da passagem do Um ao Dois, característica vital da função Φ.

Ora, Φ é a função de partição do Único. Quando Φ, transcrito em número numerável, deve definir o volume, ele atua como √5.

Tomemos um quadrado de lado 1; sua diagonal é √2. Essa raiz representa um número que, embora figurativamente finito, é incomensurável intelectualmente, pois tendemos a ver nela um número, ao invés de aceitá-la como uma função. Podemos calcular a diagonal e atribuir a ela um valor, mas o que importa é que, seja qual for o seu valor, isso não modifica em nada sua função expressa pela √2, imanente à noção de quadrado.

Jamais poderemos traçar um quadrado prefeito, absoluto. Ele não existe, ele é. Podemos calcular os quadrados como se existissem, sem nos preocupar com o fato de não serem reais, mas teremos esquecido o que essa função pode nos revelar, ou seja, a lei que comanda toda a gênese, a partição que fará do Um o número Dois.

Por essa razão, a função √2 é o instrumento de definição do Devir.

√2 = 1,414213562 ...

√3 = 1,732050807...

√5 = 2,236067977...

Π = 3,1415926532 ... [ Π ou π é Pi ]

1,618033988...

2

1 5 =

+

Φ =

√7 = 2,645751311

Ela pode ser vista como o poder criador ou Aton, o poder coagulante do Egito antigo. Essa função criadora, enquanto reveladora da passagem do 1 ao 2 ser representada por Φ. Esse número, como toda raiz, é irracional infinito. O mistério reside na multiplicação desse número infinito por si mesmo, o que dá um número finito, definido, portanto racional: √2 x √2 = 2.

Aí está o mistério da Origem que é também o mistério de todos os dias, pois nada surge sem essa estranha função. A Unidade vai assim se fracionar por essa função. Mas √2 é uma função e não um número. Sua transcrição geométrica é um símbolo, não uma realidade.

O fracionamento da Unidade pode ser assim descrito: um meio perfeitamente homogêneo, portanto não composto, divide-se em duas partes heterogêneas entre si. Essa heterogeneidade será a primeira manifestação da Dualidade, tal como o ser do leite poderá ser separado em manteiga e soro. A tradição judaica ilustra isso pela queda, ou seja, a dualização do Anjo em Satã-Lúcifer ou Seti- Horus, os dois irmãos inimigos mas inseparáveis, os verdadeiros construtores do Templo Visível. O mortal que por fim será destruído pelo sopro divino é a antinomia dos elementos que tornaram visível a realidade invisível. √2 é o Verbo, a Revelação, a Palavra, Tot Hermes.

A dualidade, que promove o nosso Universo e sua perpetuação, éo princípio deteriorante do corpóreo pela tensão gerada, mas que aspira à imortalidade e ao equilíbrio do Ternário. É o mito da queda, do combate entre o Bem e o Mal; é a chave de toda Ciência.

Heterogeneidade não significa apenas oposição, mas também separação da simultaneidade em seus complementos que, necessariamente, criam entre si uma proporcionalidade que se denomina função. Funcionalmente, as duas partes são qualitativamente desiguais entre si, como 1/Φ e (1 - 1/Φ), o que nos dá a noção de Dois, o primeiro número contado. Essa desigualdade cria a dinâmica do Universo (3 Yang para 2 Yin, entre os chineses) = 3/5 e 2/5. Essa função dinâmica está associada à quinta no plano musical (relação 3/2). Enquanto imagem, essa função representa a separação do Céu e da Terra, das águas de cima e das águas de baixo, ou da “energia” e da “matéria”.

A ÁRVORE DA VIDA

¶ No princípio criou Deus o céu e a terra.E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo; e o Espírito de

Deus se movia sobre a face das águas.

Gênesis 1:1-2