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8 INTRODUÇÃO A corrupção no Brasil impede o seu crescimento econômico e o seu desenvolvimento social, ou seja, contribui para que alguns problemas sociais continuem, levando-o a permanecer na situação de país em desenvolvimento. A história do país sempre esteve agravada por vários casos de corrupção, o que faz com que se questione a credibilidade de autoridades e instituições da classe política, desacreditada pela sociedade, principalmente por aquelas pessoas com maior grau de instrução e que têm acesso à informação de qualidade. Presente na mídia, passou a ser discutida com frequência pela sociedade como um todo, contribuindo para debates públicos sobre temas de grande importância nacional e internacional. Alimentada pela impunidade, ou pela sensação de impunidade, a corrupção alastrou-se, praticada hoje por todas as classes sociais. O funcionário que lesa o patrão; o patrão que explora o funcionário; a tentativa de subornar um guarda para evitar uma multa de trânsito; a traição, etc. Exemplos estes que se tornaram tão comuns que sequer são assumidos como corrupção. A respeito da conhecida expressão “jeitinho brasileiro”, existe o jeitinho positivo, aquele que não acarreta prejuízos a terceiros ou ao Estado. Caso acarrete prejuízos a terceiros ou haja ruptura de normas, poderá ser classificado de jeitinho malandro, uma característica cultural do povo brasileiro e é um comportamento antiético e corrupto. Sobre esse tipo de jeitinho, há pessoas que dizem de uma maneira irônica, que não significa uma malandragem, mas sim uma forma criativa de resolver problemas. (...) para posicionar-se como um jeitinho brasileiro com resultados predominantemente positivos ou negativos, há uma dependência direta da situação, do contexto, e das consequências ou prejuízos ao outro indivíduo, ao grupo, ou ao Estado. (FLACH, 2012, p.500).

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8

INTRODUÇÃO

A corrupção no Brasil impede o seu crescimento econômico e o seu

desenvolvimento social, ou seja, contribui para que alguns problemas sociais

continuem, levando-o a permanecer na situação de país em desenvolvimento.

A história do país sempre esteve agravada por vários casos de corrupção, o

que faz com que se questione a credibilidade de autoridades e instituições da classe

política, desacreditada pela sociedade, principalmente por aquelas pessoas com

maior grau de instrução e que têm acesso à informação de qualidade.

Presente na mídia, passou a ser discutida com frequência pela sociedade

como um todo, contribuindo para debates públicos sobre temas de grande

importância nacional e internacional.

Alimentada pela impunidade, ou pela sensação de impunidade, a corrupção

alastrou-se, praticada hoje por todas as classes sociais. O funcionário que lesa o

patrão; o patrão que explora o funcionário; a tentativa de subornar um guarda para

evitar uma multa de trânsito; a traição, etc. Exemplos estes que se tornaram tão

comuns que sequer são assumidos como corrupção.

A respeito da conhecida expressão “jeitinho brasileiro”, existe o jeitinho

positivo, aquele que não acarreta prejuízos a terceiros ou ao Estado. Caso acarrete

prejuízos a terceiros ou haja ruptura de normas, poderá ser classificado de jeitinho

malandro, uma característica cultural do povo brasileiro e é um comportamento

antiético e corrupto.

Sobre esse tipo de jeitinho, há pessoas que dizem de uma maneira irônica,

que não significa uma malandragem, mas sim uma forma criativa de resolver

problemas.

(...) para posicionar-se como um jeitinho brasileiro com resultados predominantemente positivos ou negativos, há uma dependência direta da situação, do contexto, e das consequências ou prejuízos ao outro indivíduo, ao grupo, ou ao Estado. (FLACH, 2012, p.500).

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Aquelas pessoas que “empurram as coisas com a barriga” e “dão um jeitinho

na última hora” também agem com características do “jeitinho brasileiro”.

Dependendo do nível em que essas ações se encontram, as referidas pessoas

podem se tornar desorganizadas, indisciplinadas, descumprindo prazos e metas.

Realizam trabalhos mal feitos, impedindo, por exemplo, o próprio crescimento

profissional e o desenvolvimento da empresa em que trabalham.

O jeitinho poderá influenciar outros indivíduos para a realização de ações

fora da regra e da norma. Ou seja, a pessoa que pretende ser honesta, séria e digna

em seu trabalho, ao observar que o outro, por meio do jeitinho, conseguiu vantagens

e solucionou problemas de forma mais rápida, pode se ver em algum momento, com

o mesmo comportamento.

O Brasil possui uma característica diversificada de um povo com influências

da colonização e imigração (mistura de raças), vistas, por exemplo, no futebol e na

música. A influência dos batuques e ritmos forneceu ao povo brasileiro uma cultura

musical do “requebrado”, do “gingado”, que pode ter influenciado diretamente na

forma de ser, de pensar e de agir do brasileiro.

O jeitinho malandro é um comportamento que não é comentado pela maioria

das pessoas como corrupto, mas é visto como uma atitude que merece ser relevada,

pois faz parte, é característica do povo brasileiro. Muitas vezes, um comportamento

visto com bom humor. Por outro lado, existem algumas pessoas na sociedade, como

determinados escritores, por exemplo, que usam em suas obras o humor e a ironia

para criticar a corrupção. Com a sátira e a ironia, os autores expõem as meias-

verdades e a impunidade utilizadas por muitos políticos e empresários.

Devido ao “jeitinho brasileiro”, o Brasil tornou-se um país conhecido

mundialmente pelo alto índice de corrupção, principalmente na política.

Determinados autores da nossa Literatura escreveram sobre o

comportamento corrupto, muitas vezes apresentado de forma sucinta, como uma

característica marcante da organização estatal, política e econômica do Brasil.

A literatura pouco trata da corrupção, mas possui alguns autores que

refletiram sobre o tema: Tomás Antônio Gonzaga, com as "Cartas Chilenas"; Manuel

Antônio de Almeida com "Memórias de um sargento de Milícias"; Machado de Assis

com "Teoria do medalhão", “Suje-se Gordo!” e "Quincas Borba". Além de toda a obra

de importantes figuras, como Lima Barreto.

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Este TCC pretende falar da corrupção no Brasil, analisando os contos

“Teoria do medalhão” e “Suje-se Gordo!” de Machado de Assis.

O primeiro capítulo trata da corrupção no Brasil, já o segundo capítulo, fala a

respeito de Machado de Assis e sua crítica nos contos “Teoria do Medalhão” e

“Suje-se Gordo!” ao comportamento corrupto, tendo como tópicos o 2.1(Análise do

conto “Teoria do Medalhão”) e 2.2 (Análise do conto “Suje-se Gordo!”).

O autor, da sua maneira, trata da corrupção nos dois contos, enfatizando os

aspectos psicológicos dos personagens e comportamental. Deixa-nos perceber a

presença da malícia, a sinceridade disfarçada da hipocrisia, o interesse, a

mesquinhez humana, etc.

11

CAPÍTULO 1

A PRESENÇA DA CORRUPÇÃO NO BRASIL

Derivada do latim corruptione, a palavra corrupção significa decomposição,

devassidão, depravação, suborno.

O termo corrupção apareceu antigamente nos escritos dos filósofos

clássicos, para explicar a perversão de um regime político. O significado atual do

termo é o “uso indevido de poder em troca de vantagens econômicas ou de outro

tipo”.

A corrupção no Brasil data desde os primórdios. Sua origem se deu no

período colonial, de 1500 a 1822.

Quando Portugal estava começando a colonizar o Brasil a coroa não estava

disposta a viver nele, então, o estado português delegou à iniciativa privada a função

de ficarem responsáveis pela colonização e organização das instituições no Brasil,

mas, como seria difícil fazer com que alguns fidalgos portugueses se interessassem

por essa missão sem lhes oferecer vantagens, os deixou então, trabalhar no Brasil

sem vigilância, o que possibilitou um clima favorável à corrupção.

No Brasil colônia a corrupção atingia desde o governador, ouvidores,

tabeliães e oficiais de justiça, chegando até o funcionário mais baixo da Câmara,

que era o fiscal de assuntos cotidianos.

O primeiro documento revelado pela história no Brasil, desde o seu

descobrimento, foi a Carta de Pero Vaz de Caminha de 1º de maio de 1500, enviada

ao rei de Portugal Dom Manuel. Pero Vaz de Caminha intercedeu ao rei por seu

genro Jorge de Osório, que cumpria pena de prisão por roubar peças da igreja,

pedindo o indulto, para que Jorge deixasse Portugal e viesse para o Brasil.

Começou aí o Nepotismo.

E nesta maneira, Senhor, dou aqui a Vossa Alteza do que nesta vossa terra

vi. E, se algum pouco me alonguei, Ela me perdoe, que o desejo que tinha,

de Vos tudo dizer, mo fez assim pôr pelo miúdo.

E pois que, Senhor, é certo que, assim neste cargo que levo, como em

outra qualquer coisa que de vosso serviço for, Vossa Alteza há de ser de

12

mim muito bem servida, a Ela peço que, por me fazer singular mercê,

mande vir da ilha de São Tomé a Jorge de Osório, meu genro – o que d'Ela

receberei em muita mercê. (...). (CAMINHA, 1963, p.9).

Em 1534 as Capitanias Hereditárias foram testemunhas dos desvios de

conduta em nome do poder e do capital. Elas eram consideradas um meio que a

Coroa Portuguesa encontrou de deixar o Brasil colônia livre do interesse dos países

europeus, já que estes queriam povoá-lo.

Enquanto Portugal doava terras brasileiras e títulos à pequena nobreza, por

outro lado, apenas lhe cabia um percentual do que era explorado e, assim,

se livrava dos ônus necessários à colonização, que era realizada com

investimentos particulares dos senhores donatários das capitanias,

revestindo de legalidade o sistema. (OLIVEIRA, 2008, p.11).

Vale ressaltar também, como fonte de consumo, a exploração de índios

nativos e de negros africanos, em sacrifício de muitos e em benefício de poucos.

Séculos se passaram até o período da ditadura militar (regime autoritário

que governou o país de 1964 até 1985). Com o seu enfraquecimento, houve a

redemocratização brasileira, sendo devolvidos à sociedade civil alguns dos direitos

usurpados pelas políticas do Estado de exceção.

A eleição de Tancredo Neves à Presidência da República sinalizou a

escolha dos líderes por meio de um amplo consenso, ainda que por meio de sufrágio

indireto.

A censura e a falta de liberdade de informação chegavam ao fim, pois a

imprensa era impedida de passar informações necessárias que levassem à

sociedade a refletir, tomar ciência e discutir a respeito de tudo o que acontecia na

política, pôde, assim, finalmente assumir seu papel. O Brasil encaminhou-se então

em direção a um novo patamar civilizatório.

Os militares desocuparam o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional

redigiu uma nova Constituição em 1988. No ano seguinte, Fernando Collor de Mello

13

foi escolhido pelos brasileiros como o primeiro Presidente da República eleito pelo

voto direto.

Dois anos e meio Collor esteve no poder, quando revelou-se o esquema de

corrupção que estava sendo mantido pelos altos círculos do poder em Brasília. A

imprensa mostrou à população o esquema PC Farias e assim, contribuiu para o

processo de impeachment e a renúncia do Presidente da República em dezembro

de 1992. Nascia então a era dos grandes escândalos: O país sofreu com a máfia

das ambulâncias, desmontada pela polícia e tem sofrido com a empreiteira que

frauda licitações, que paga propinas, superfatura obras; o político que desvia

dinheiro público; o servidor corrupto que ajuda quadrilhas a se apropriar do bem

público, etc.

Recentemente, e mais especificamente após os anos 90, o fenômeno da

corrupção tem despertado a atenção de diversos pesquisadores da área de

ciência política, sociologia e economia, atraídos pelas notícias e acusações

de práticas ilícitas no governo. (CARRARO, 2003, p.12).

O povo é sempre generoso, sempre certo e, como consequência dos

atributos positivos, sempre idealizado e manipulável. Sua vontade ---- que

ninguém precisa conhecer ----- é vontade abrangente das pessoas que

falam por ele. (DAMATTA, 1997, p.165).

A corrupção não está apenas na esfera pública (corrupção política). Mas

também é vista a todo tempo no ambiente das organizações privadas (corrupção

empresarial) e no crime organizado.

No Brasil os casos de corrupção pública e privada só são expostos quando

atingem milhões de reais, isto justifica o fato de o país assumir um dos maiores

índices de corrupção do mundo.

Durante o regime militar e até o final da década de 1980, para combater a

corrupção, apenas atuavam oito auditores para cada grupo de 100.000 habitantes.

Os crimes mais comuns ligados à corrupção atualmente são: suborno ou

propina, nepotismo, extorsão, tráfico de influências, utilização de informações

14

governamentais privilegiadas para fins pessoais ou de terceiros, obtenção de

diferencial de competitividade de forma ilegal, compra e venda de sentenças

judiciais, recebimento de presentes e serviços de alto valor por funcionários

públicos, tráfico de drogas e de mulheres, lavagem de dinheiro e exploração da

prostituição.

Os escândalos divulgados pela mídia são resultantes de um processo de

negação da cultura política aos meios populares e reflete uma atitude passiva das

representações populares no sentido de educar o povo brasileiro para compreender

e analisar o processo político de maneira geral.

Os costumes, os quais chamamos segundo a natureza, de leis

constitucionais (invenções, contribuições da modernidade ocidental) se exprimem

nos direitos do homem. As leis são feitas para corrigirem determinados problemas

sociais (fúria legislativa).

O que normalmente acontece, é que uma pessoa “importante” na sociedade,

se aproveitando de seu status social, diz ter razões para não cumprir as leis ou

compri-las em parte, e utiliza uma frase que está ligada ao “jeitinho brasileiro”: “Você

sabe com quem está falando?”.

Em situações concretas, aquelas que a vida nos apresenta, seguimos

sempre o código das relações e da moralidade pessoal, tomando a vertente

do “jeitinho”, da “malandragem” e da “solidariedade” como eixo de ação. Na

1ª escolha, nossa unidade é o indivíduo; na 2ª é a pessoa. A pessoa

merece solidariedade e um tratamento diferencial. O indivíduo, ao contrário,

é o sujeito da lei, foco abstrato para quem as regras e a repressão foram

feitos”. (DAMATTA, 1997, p. 169).

Nos países igualitários, existe, por parte da maioria, o respeito à objetividade

entre “o pode” e o “não pode”. Já no Brasil, o respeito ao “o pode” e o “não pode”, é

substituído pelo “jeitinho”.

Em relação à obediência às leis, nos Estados Unidos, França e Inglaterra ou

elas são obedecidas, ou não existem. Nesses países, normas que contrariam e

desprezam o bom senso e as regras da sociedade, não são uma preferência ou não

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existe “prazer” em escrevê-las, pois abrem caminho para a corrupção e ampliam a

desconfiança do poder público.

Já para nós brasileiros, por outro lado, nos chama atenção a disciplina

existente nesses países, já que no Brasil, nem todas as regras são obedecidas, e

quando são, muitas vezes por uma maioria da sociedade (que pode-se dizer até

honesta), controlada por uma camada social dominante, que, nem sempre, se vê na

obrigação de também cumpri-las.

Antigamente, na França, na sociedade do antigo regime, existia a “lei do

privilégio”. Os nobres, o povo e o clero eram julgados por legislações diferentes, mas

por meio da Revolução Francesa, surgiu uma legislação universal que passou a

valer para todos. No Brasil, até hoje, existe “a lei do privilégio”, apesar de existir a lei

Constitucional de 1988 que, em seu artigo 5º, inciso I, determina que “Homens e

mulheres são iguais em direitos e obrigações”.

Ainda em relação a comportamentos corruptos ou corrupção, temos a

competição e o egoísmo, que são vistos em nosso cotidiano desde o motorista do

carro que não dá passagem, a alguém que fura a fila do cinema. O pensamento

predominante é o "tenho que me dar bem e o outro que se dane".

O outro, o próximo, tem sido colocado em segundo plano e até descartado.

O individualismo se expressa no ter, no poder e no prazer.

Na nossa sociedade presenciamos práticas de desrespeitos que muitas vezes nos chocam ou nos deixam constrangidos ou revoltados. Muitos são desprovidos de espírito de irmandade, companheirismo, de solidariedade, de amor. Ao contrário, muitos querem destruir, deprimir, descriminar, ridicularizar, excluir quem não se enquadra no que querem ou não pensam como eles ou possam atrapalhar em alguma situação. (CASTRO, disponível em: <http://www.franciscocastro.com.br/blog/?p=1057>. Acesso em: 07 nov. 2013.).

16

CAPÍTULO 2

MACHADO DE ASSIS E SUA CRÍTICA NOS CONTOS “TEORIA DO MEDALHÃO”

E “SUJE-SE GORDO!” AO COMPORTAMENTO CORRUPTO

Joaquim Maria Machado de Assis nasceu no Rio de Janeiro em 21 de junho

de 1839 e faleceu também no Rio de Janeiro em 29 de setembro de 1908.

Jornalista, contista, cronista, romancista, poeta e teatrólogo. É o fundador da

Cadeira nº. 23 da Academia Brasileira de Letras; na Academia, que passou a ser

chamada também de Casa de Machado de Assis, ocupou por mais de dez anos a

presidência.

Filho do operário Francisco José de Assis e de Maria Leopoldina Machado

de Assis foi criado no morro do Livramento.

A primeira fase da produção de Machado de Assis foi no Romantismo,

publicou “Ressurreição”, “A mão e a luva”, “Helena” e “Iaiá Garcia”. Estas obras

também possuem algumas características da fase realista do escritor: interesse pela

análise psicológica das personagens, humor, monólogos interiores e cortes na

narrativa.

No Realismo, segunda fase de sua produção, publicou “Memórias Póstumas

de Brás Cubas”, “Quincas Borba”, “Dom Casmurro”, “Esaú e Jacó” e “Memorial de

Aires”.

Como contista, escreveu: “O Alienista”, “Missa do Galo”, “A Cartomante”,

“Noite de almirante”, “Teoria do medalhão” e “O Espelho”. Essas são apenas

algumas obras, pois ao todo foram escritos 200 contos. Como cronista, escreveu “A

Semana” (várias crônicas escritas entre 1892 e 1897 para a Gazeta de Notícias).

Como poeta: “Círculo Vicioso”, “Soneto de Natal”, “Perguntas sem resposta”, “A

Carolina”, “Crisálidas” e “Falenas”. No teatro: as peças “Quase ministro”, ”Os deuses

de casaca”. Como crítico literário, três estudos: “Instinto de nacionalidade”, “A nova

geração”, “O primo Basílio” (a respeito da obra de mesmo nome de Eça de Queirós).

Além de inúmeros prefácios e ensaios.

Suas produções o tornaram o maior escritor das letras brasileiras e um dos

maiores autores da literatura de língua portuguesa.

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Consideradas inovadoras e polêmicas, as obras de Machado de Assis são

estudadas e analisadas no mundo inteiro por muitos escritores, professores, alunos.

A cada dia que passa suas produções ganham admiradores pelo mundo afora.

Machado é um autor que brinca com as palavras, interage com o

leitor durante a leitura dos seus textos. Seus contos são complexos,

irônicos e questionadores.

2.1. ANÁLISE DO CONTO “TEORIA DO MEDALHÃO”.

“Teoria do Medalhão” foi escrito por volta do ano 1881, lançado em uma

coletânea de contos avulsos em 1882.

Nele, Machado de Assis faz uma crítica aos hipócritas que demonstravam

para a sociedade algo que não eram, e faz uma crítica também à sociedade, que

enaltecia o Medalhão. Na verdade, o Medalhão era uma criação dela própria,

bastava que fosse alguém com status social, seguro de si e que a agradasse. O que

não é diferente nos dias atuais.

O conto “Teoria do Medalhão” não tem um narrador. É um diálogo que

acontece entre um pai e seu filho Janjão, o qual está adquirindo a maioridade.

O pai realiza um discurso de persuasão para o filho, pois tem um sonho

frustrado: ser um “Medalhão”, que significa uma pessoa de destaque na sociedade,

com status, e quando Janjão adquire a maioridade, vê nele a oportunidade de

realizar esse sonho:

Nenhum me parece mais útil e cabido que o de medalhão. Ser medalhão foi o sonho da minha mocidade; faltaram-me, porém, as instruções de um pai, e acabo como vês, sem outra colocação e relevo moral, além das esperanças que deposito em ti. Ouve-me bem, meu querido filho, ouve-me e entende. (ASSIS, 2012, p.22).

A ambição do Pai é imposta ao filho como forma de remediar sua frustração por ele mesmo não ser Medalhão, nem mesmo teve a experiência de ser um notável, assim atentemos para o detalhe que aquilo está sendo ensinado não é fruto de sua experiência pessoal, da sua vivência cotidiana, mas fruto de como ele compreendeu o Medalhão a partir de suas impressões, do seu convívio próximo ou não de alguns Graves que ele conheceu e principalmente daquilo que ele ―ouviu dizer, nas ruas, nos

18

bailes, nas anedotas, enfim no imaginário social dominante. (SOUZA, 2012,

P. 81).

O “Medalhão”, grande, ilustre e notável por todos:

Mas qualquer que seja a profissão da tua escolha, o meu desejo é que te faças grande, e ilustre, ou pelo menos notável, que te levantes acima da obscuridade comum. (ASSIS, 2012, p.22).

O Medalhão é aquele que não precisa perguntar ―você sabe com quem está falando?” Pois todos sabem quem ele é, e quem são seus amigos, todos sabem do seu poder e sabem que ele não hesitará em usar tal privilégio de forma violenta para se beneficiar ou ajudar um amigo; ele vai mexer seus pauzinhos e fará uso de sua influência e prestígio para colocar alguém que fira seus caprichos no seu devido lugar. (SOUZA, 2012, p.11)

Para Janjão ter um bom êxito como Medalhão, é necessário que não cultive

ideias próprias e apenas reproduza as ideias alheias, sem discordar ou ser irônico:

Proíbo-te que chegues a outras conclusões que não sejam as já achadas por outros. Foge a tudo que possa cheirar a reflexão, originalidade, etc., etc. (...). Medalhão não quer dizer melancólico. Um grave pode ter seus momentos de expansão alegre. Somente, - e este ponto é melindroso... Somente não deves empregar a ironia (...) (ASSIS, 2012.p.32)

Um Medalhão tem que ter movimentos cadenciados, como se sempre estivesse a dançar com uma baronesa, num baile no Teatro Municipal. Sem arroubos, como se sempre estivesse metido numa casaca preta, um exímio cultivador do ar sério caro aos bem nascidos e ilustres. Mas sem esquecer - se de rir das piadas dos amigos, dos poderosos ou da miséria alheia; deve ter um ou dois conceitos guardados na algibeira para os discursos de sobremesa e claro, sorrir, ser simpático, distribuir uns tapinhas nas costas, e nunca, jamais, ser irônico, questionador e criativo! (SOUZA, 2012, p.12).

Deve evitar estar só, para que as ideias não aflorem. É importante que

converse com outros sobre o boato do dia, a anedota da semana, de um

contrabando, de uma calúnia, de um cometa etc. Dessa forma, seu intelecto será

reduzido, e a carência de ideias próprias influenciará até mesmo o seu vocabulário,

19

tornando-o simples, fraco, limitado e pequeno, mas ao mesmo tempo, agradável e

popular.

O Medalhão não deve ter convicções e paixões partidárias, mas deve usar o

partido como uma maneira de acesso ao poderosos. Não deve ser liberal,

conservador ou republicano, desde que essas palavras sejam meios de conseguir

atenção pública.

Percebemos a corrupção a todo o momento durante o diálogo: O fato de o

pai ser egoísta, querendo que seu filho realize um sonho seu frustrado, leva Janjão

(inteligente, culto e que vive no anonimato) a ser uma pessoa que não é. Tem que

ser popular e seu intelecto deve ser reduzido à sobriedade. O filho se sujeita a

aceitar passivamente as imposições do pai, anulando-se.

A corrupção ou persuasão também é percebida no fato de o pai estar

sempre falando, indagando, e pouco deixa Janjão falar. Este em alguns momentos é

interrompido. Em outros, consegue concluir uma breve frase, e o pai logo continua o

discurso. Tenta convencê-lo de que ser um Medalhão é o melhor para ele.

Podemos perceber no diálogo a presença de duas formas de tratamento: a

2ª pessoa pronominal tu, te, contigo, teu, etc, utilizada pelo pai e a 3ª pessoa, com

valor de 2ª pessoa: vosmecê, lhe, o senhor etc, utilizada pelo filho. A presença da 2ª

pessoa dá um valor de proximidade ao discurso, aumentando a intimidade entre pai

e filho. Já o uso da 3ª pessoa, mostra uma aceitação do discurso paterno, como se

não houvesse outro meio de discussão. É a aceitação pacífica do papel que o filho

assume.

O filho, ao adquirir status social, também beneficiará o pai, tornando-o

também um destaque, sendo isso exatamente o que o pai quer.

O pai projeta passo a passo o futuro de Janjão, não só com a intenção de

persuadi-lo, no sentido de mostrar-lhe que ser um Medalhão é o melhor para ele,

mas também de impor, pois em nenhum momento o pai questiona ao filho qual é a

sua vontade.

As relações entre Pai e Filho eram o modelo da desigualdade daquela sociedade, nas quais o poder do Pai era quase de um Deus, que mandava na morte e na vida dos seus subordinados, filhos, crianças, mulheres, escravos e dependentes. (SOUZA, 2012, p.74).

20

Machado de Assis expõe em “Teoria do Medalhão” uma crítica ao

relacionamento pai e filho (família), que é envenenado pelo interesse, pelas

segundas intenções e pela malícia. Critica também a mediocridade condecorada, a

troca de favores, a hipocrisia, etc, presente na sociedade brasileira.

“Teoria do Medalhão” aborda temas comuns, como a relação entre hipocrisia e a mentira como meios para alcançar o reconhecimento público e a ascensão social dentro de uma sociedade na qual a hipocrisia é tratada como valor positivo e onde a fraude é regra para a obtenção do reconhecimento e desvalorização do trabalho. (AQUINO, disponível em: <http: http://saladaitinerante.blogspot.com.br/2011/09/teoria-do-medalhao-e-o-homem-que-sabia.html >. Acesso em: 07 nov. 2013). Em “Teoria do Medalhão” os conselhos do pai ao filho no sentido de que este não tenha ideias próprias, resumindo-se a repetir as dos outros, constitui o reconhecimento da mediocridade como valor positivo dentro da sociedade.(AQUINO,disponívelem:<http://saladaitinerante.blogspot.com.br/2011/09/teoria-do-medalhao-e-o-homem-que-sabia.html >. Acesso em: 07 nov. 2013).

A sociedade faz uso de um sistema de disfarces ou de máscaras para

apenas aparentar algo que, muitas vezes, não se ajusta à realidade.

O leitor é motivado a despertar um senso crítico a essa sociedade de

aparências e a procurar não se igualar a ela, tendo o cuidado de identificar os

medalhões, para não ser manipulado por eles.

No conto ―Teoria do Medalhão temos uma passagem secreta para espiarmos os ritos e os mitos da invenção da política e da sociedade no Brasil pelo viés da luta para ser Medalhão, que no conto é exercida, ensaiada, ensinada, imposta e pensada para ser usada com o fim dos fins: exercer o direito de contemplar a ponta do próprio nariz, (...) ou de gozar das boas amizades e ter acesso ao banquete do poder, ou pelo menos suas sobras. (SOUZA, 2012, p.16)

21

2.2. ANÁLISE DO CONTO “SUJE-SE GORDO!”.

Ao lermos o título do conto “Suje-se Gordo!”, não sabemos ao certo do que

se trata. Quando se ouve esse título ou o lê rapidamente, primeiramente o

associamos a um gordo que, sendo guloso, come mais ainda: “Se você é guloso e

não quer se controlar, então que coma até estourar”. Semelhantemente, se poderia

interpretar a frase do conto: “Se você é corrupto, então que roube até ser preso! Até

se arrebentar”! Somente com a leitura do texto, é que é possível concluir o

significado do seu título.

Machado de Assis não explica exatamente o que significa a frase “Suje-se

Gordo!”. Percebemos isso na citação abaixo dita pelo presidente do Conselho, um

dos personagens do conto:

(...), não que entendesse a frase, ao contrário; nem a entendi nem a achei limpa,(...). Quando saí do tribunal, vim pensando na frase do Lopes, e pareceu-me entendê-la. "Suje-se gordo!" era como se dissesse que o condenado era mais que ladrão, era um ladrão reles, um ladrão de nada. (ASSIS, 1946,p.30).

Mais à frente, o presidente já consegue afirmar com convicção o significado

da frase:

"Suje-se gordo!" Vi que não era um ladrão reles, um ladrão de nada, sim de grande valor. O verbo é que definia duramente a ação. "Suje-se gordo!" Queria dizer que o homem não se devia levar a um ato daquela espécie sem a grossura da soma. A ninguém cabia sujar-se por quatro patacas. Quer sujar-se? Suje-se gordo! (ASSIS, 1946, p.30).

A reflexão feita pelo presidente do Conselho a respeito do sentido da frase

“Suje-se Gordo!”, e depois a conclusão a que chega, foi uma maneira de Machado

de Assis levar o leitor a também refletir sobre o título e tirar sua própria conclusão,

que pode ser a mesma do presidente ou não. Deixa o leitor livre para interpretar o

seu significado.

22

Percebemos que não existe a vírgula depois do verbo sujar. Porém, o

sentido da expressão com ou sem vírgula não difere muito, mesmo que o seu

entendimento com a vírgula possa soar mais negativo que o dela sem a vírgula.

Dois amigos, aos quais Machado de Assis não dá nomes, passeavam pelo

terraço do teatro São Pedro de Alcântara durante a peça “A Sentença ou Tribunal do

Júri”. O amigo do narrador começa a contar-lhe sua experiência como presidente do

Conselho do júri.

O conto inicia-se falando a respeito da condenação de um réu acusado de

haver furtado certa quantia pequena, com falsificação de um papel. Foi condenado

com onze votos contra um.

Um dos jurados do Conselho, um homem ruivo chamado Lopes, estava

convencido do delito e do delinquente.

Este falou com toda veemência ao réu que negava seus atos praticados:

“Suje-se gordo!” Que poderá significar: “Se quer roubar, então que roube, até se

arrebentar”!

Já o presidente do Conselho, diz que sempre foi contrário ao júri, porque não

gosta de condenar ninguém e porque se baseia no preceito bíblico “não julgueis

para que não sejais julgados”.

A condenação do réu e a frase “Suje-se Gordo!” dita por Lopes ficaram

gravadas na memória do presidente. Até que depois de um tempo, vê-se novamente

diante da situação de participar da absolvição ou condenação de outro réu. É

surpreendido ao ver que este é o ruivo Lopes, acusado de desvio de dinheiro do

Banco do Trabalho Honrado, onde era empregado e trabalhava no caixa. Aquele

que um dia condenou um réu estava também naquele momento na situação de réu.

Chama-nos atenção o nome do Banco onde Lopes trabalhava: “Banco do

Trabalho Honrado” e a função de caixa que ele exercia. Machado de Assis,

propositadamente, deu esse nome ao Banco e esse cargo ao ruivo, com a intenção

de ironizar e criticar a hipocrisia do corrupto Lopes. Hipocrisia: ouro de menor valor.

Podemos deduzir com essa crítica e ironia machadiana, que todo corrupto

procura mostrar aos outros algo que não é. Muitas vezes, transmite a imagem de

uma pessoa de confiança, para que possa assumir certas responsabilidades que só

uma pessoa honesta e confiável pode ter. Não foi à toa, portanto, que Lopes

(corrupto) se interessou a ser caixa do Banco.

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À medida que se lê o conto e se toma ciência do ato de corrupção (roubo) do

ruivo, podemos associar seu ato corrupto ao discurso de condenação ao réu. Feito

isso, percebemos claramente a sua hipocrisia, pois o que ele criticou, foi exatamente

o que também fez tempos depois: roubou e negou seu erro:

Não estou debatendo, estou defendendo o meu voto, continuou Lopes. O crime está mais que provado. O sujeito nega, porque todo o réu nega, mas o certo é que ele cometeu a falsidade, e que falsidade! Tudo por uma miséria, duzentos mil-réis! Suje-se gordo! Quer sujar-se? Suje-se gordo! (ASSIS, 1946, p.30).

Lopes negava com firmeza tudo o que lhe era perguntado, ou respondia de maneira que trazia uma complicação ao processo. Circulava os olhos sem medo nem ansiedade; não sei até se com uma pontinha de riso nos cantos da boca. Seguiu-se a leitura do processo. Era uma falsidade e um desvio de cento e dez contos de réis. (ASSIS, 1946, p.30).

Lopes tinha absoluta certeza de que o réu que estava sendo julgado era

culpado, o que nos leva a pensar que o motivo dessa convicção não era por acaso,

mas pelo fato de um corrupto identificar com facilidade ou conhecer muito bem outro

corrupto:

Um dos jurados do Conselho, cheio de corpo e ruivo, parecia mais que ninguém convencido do delito e do delinqüente. O processo foi examinado, os quesitos lidos, e as respostas dadas (onze votos contra um); (...). No fim, (...) como os votos assegurassem a condenação, ficou satisfeito, disse que seria um ato de fraqueza, ou coisa pior, a absolvição que lhe déssemos. (...). (ASSIS, 1946, p.30).

Machado de Assis em seu conto, não quis só mostrar os exemplos de

corrupção do réu que foi condenado e do Lopes, mas mostrar principalmente que

todo corrupto é hipócrita. O ruivo quis parecer ser justo quando votou a favor da

prisão do réu, mas dentro de si existia também um corrupto, sendo isso revelado

tempos depois. Um personagem imprevisível (característica machadiana):

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O acusado apareceu e foi sentar-se no famoso banco dos réus, era um homem magro e ruivo. Fitei-o bem, e estremeci; pareceu-me ver o meu colega daquele julgamento de anos antes. Não poderia reconhecê-lo logo por estar agora magro, mas era a mesma cor dos cabelos e das barbas, o mesmo ar, e por fim a mesma voz e o mesmo nome: Lopes. (...). Seguiu-se a leitura do processo. Era uma falsidade e um desvio de cento e dez contos de réis. (ASSIS, 1946, p.31).

O tão temido preceito bíblico dito pelo presidente do Conselho “Não julgueis,

para que não sejais julgados” se tornou real para o jurado Lopes.

O versículo bíblico tem a função no conto de mostrar que “o mundo pode dar

voltas”. Foi exatamente o que aconteceu com o ruivo. Porém, o pensamento do

presidente de não gostar de condenar ninguém (justamente por temer o preceito

bíblico), é corrupto. Ele só julgava se não tivesse outra escolha. É um pensamento

corrupto porque o retraimento, a possibilidade de se dizer um não para julgar um réu

e fazer justiça, significa tapar os olhos para não ver o possível erro ou crime do

acusado.

Fui sempre contrário ao júri, (...), não pela instituição em si, que é liberal, mas porque me repugna condenar alguém, e por aquele preceito do Evangelho; "Não queirais julgar para que não sejais julgados". Não obstante, servi duas vezes. (...).Tal era o meu escrúpulo que, salvo dois, absolvi todos os réus. (ASSIS,1946, p.30).

(...) podemos ficar tentados a pensar que nossas convicções morais estão fixadas para sempre, pela maneira como fomos criados ou devido a nossas crenças, além do alcance da razão. (SANDEL, 2011, p.28)

(...) a reflexão moral aflora naturalmente quando nos vemos diante de uma difícil questão de natureza moral. Começamos com uma opinião, ou convicção sobre a coisa certa a fazer. (...). (SANDEL, 2011, p.30).

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CONCLUSÃO

Nos dois contos percebemos algumas características das obras

machadianas, como a crítica irônica das situações humanas, das relações entre as

pessoas e dos padrões de comportamento; reflexão sobre a mesquinhez humana e

análise psicológica profunda das contradições humanas na criação de personagens

imprevisíveis, em que se misturam a ingenuidade e a malícia, a sinceridade e a

hipocrisia.

Apesar de a corrupção ser um tema discreto na literatura brasileira, ao

lermos os dois contos de Machado de Assis “Teoria do Medalhão” e “Suje-se

Gordo!”, o tema pode tornar-se mais abrangente, a partir do momento que nos

permitimos a uma reflexão. Essas obras podem criar laços com os leitores, quando

estes passam a refletir sobre o tema e ao mesmo tempo sobre suas ações.

Quando ouvimos a palavra corrupção, a primeira imagem que vem em nossa

mente é a dos políticos, o que é natural. Instintivamente, a maioria das pessoas em

nossa sociedade liga essa palavra aos homens no poder, uma vez que os

escândalos nesse meio têm sido constantes.

Mostramos anteriormente exemplos de corrupção que não são sequer vistos

ou percebidos como tal, no dia - a - dia de algumas pessoas. A corrupção então não

se restringe apenas aos políticos.

As mesmas pessoas que acham normal resolver problemas do cotidiano

com atitudes corruptas, condenam com veemência um político envolvido em desvio

de verbas, por exemplo. Ou seja, criticar, julgar o comportamento corrupto é tão

comum que muitos nem se dão conta de que estão cometendo os mesmos erros, ou

até piores, só que discretamente.

A verdade é que a grande maioria dos corruptos diz exatamente isso: que

não pratica corrupção.

Vivemos em uma sociedade competitiva, egoísta, individualista. É claro que

uma sociedade baseada nestes valores não pode ter futuro. Precisamos resgatar a

solidariedade e a noção de comunidade como valores sociais fundamentais.

O ser humano se torna livre da corrupção quando entende que o seu

pensamento e comportamento corrupto deve ser mudado e se esforça para fazer o

que é certo. “O importante é que mesmo errando podemos aprender com os erros e

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nos transformar em pessoas melhores”. (MAGALHÃES, disponível em:

<http://www.mundojovem.com.br/>. Acesso em: 07 nov. 2013). A partir desse novo

senso de justiça, aquela pessoa que gostava de dar um jeitinho para conseguir se

beneficiar de forma errada se torna uma pessoa desprovida de egoísmo e orgulho.

Porém, isso não é uma tarefa fácil, já que a natureza humana tende a fazer o que é

errado, ao invés do que é certo.

Alterar uma cultura é difícil, mas não impossível, porém consiste em um

trabalho de longo prazo.

O normal não pode ser a corrupção pelo simples fato de uma sociedade não sobreviver muito tempo a esse valor negativo. O destino da sociedade corrupta é o caos. É claro que é possível ser honesto. E mais, é possível se transformar em uma pessoa honesta. E é muito mais tranquilo ser honesto. (MAGALHÃES, disponível em: <http://www.mundojovem.com.br/>. Acesso em: 07 nov. 2013).

A educação pode influenciar nesse sentido, as escolas devem assumir o

compromisso de trabalhar desde cedo o tema corrução com seus alunos,

procurando maneiras de conscientizá-los de que ser corrupto não é o melhor

caminho para se crescer como pessoa, tornar-se melhor.

Havendo um engajamento das escolas, podemos ter a esperança de que

tempos futuros de uma sociedade menos corrupta virão. Certamente os crimes, as

dissenções e todos os outros problemas decorridos da corrupção quase não

existirão.

A escola tem um papel fundamental nesse processo, pois é o lugar do conhecimento e do aprendizado. O ambiente escolar deve ser pautado numa visão democrática que se inicia a partir da delimitação da gestão do ambiente onde se desenvolve a educação. (MAGALHÃES, disponível em: <http://www.mundojovem.com.br/>. Acesso em: 07 nov. 2013).

Existe um mundo novo nos ambientes da juventude e o fator informação é cada vez mais importante na formação do adolescente. O interessante é filtrar essa informação e fazer dela algo a mais no processo de aprendizado crítico e questionador. (MAGALHÃES, disponível em: <http://www.mundojovem.com.br/>. Acesso em: 07 nov. 2013).

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