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1 FATEO – FACULDADE DE TEOLOGIA DA ARQUIDIOCESE DE BRASÍLIA Curso de Introdução a Teologia – Professor: Gustavo Sánchez pss Ano 2010 - I semestre de Teologia, 2 horas por semana Ementa O mistério da intervenção de Deus na historia do homem para conhecer os seus desígnios de salvação. O que é a teologia. Percurso histórico do nascimento da teologia e a sua aparição no cristianismo. Revelação e tipos de revelação. Revelação no Antigo Testamento. Jesus Cristo como centro e ápice da Revelação. A Sagrada Escritura e a Tradição. As tradições. O Magistério da Igreja. Tipos de autoridade no ensinamento da Igreja. Magistério infalível. Magistério ordinário. Magistério particular. Dogmas e ensinamento dogmático. Os Documentos da Igreja e os grados de autoridade dos mesmos. Organograma da Cúria Romana. Função e magistério do teólogo na Igreja. Objetivo Geral Introduzir o aluno do Seminário no universo do pensamento teológico a partir da Revelação de Deus na pessoa de Jesus Cristo e na compreensão das razões que nos levam a sua credibilidade, sendo que Ele e somente Ele é o centro e o ápice de todo discurso teológico que possamos construir sobre a experiência de Deus na nossa historia e que constituirá o fundamento da nossa própria fé. Objetivos específicos Tratar de elaborar um pensamento teológico aberto entanto que católicos –com maior razão como futuros pastores e enquanto leigos na Igreja do pos-Concilio -, inscrito nos apelos da Igreja nesta primeira década do terceiro milênio para testemunhar a nossa vocação cristã, na Nova Evangelização e na caminhada para o ecumenismo. Contextualizar a nossa reflexão teológico-pastoral a partir das propostas que os nossos bispos da America Latina e do Caribe elaboraram na recente assembléia continental de Aparecida seguindo de perto a leitura que eles fizeram da nossa realidade e os horizontes que eles abriram para a evangelização do Continente. Proporcionar a cada teólogo, instrumentos teóricos necessários para poder responder aos anseios dos pastores na almejada missão continental, para podermos deste modo ser discípulos e missionários de Jesus Cristo para que nossos povos nele tenham vida. Ajudar os estudantes de teologia a superar os limites que as ciências experimentais lhes oferecem no momento onde elas, deparando-se com a barreira do sensorial e de tudo quanto pode ser submetido a uma verificação cientifica, lhes impede abrir-se à dimensão do Transcendente, centro gravitacional de todo pensamento teológico. Proporcionar instrumentos de leitura, de debate e de trabalho em equipe para que cada um possa fundamentar seu próprio ato de crer frente a comunidade na qual ele estará inserido. Suscitar nos alunos do Seminário o interesse para ler e para trabalhar em equipe textos de um autor contemporâneo reconhecido na teologia fundamental, no intuito de ampliar por conta própria os horizontes de nossa cultura teológica e de debater a racionalidade que necessariamente deve caracteriza a Fundamental.

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FATEO – FACULDADE DE TEOLOGIA DA ARQUIDIOCESE DE BRASÍLIA

Curso de Introdução a Teologia– Professor: Gustavo Sánchez pss

Ano 2010 - I semestre de Teologia, 2 horas por semana

Ementa O mistério da intervenção de Deus na historia do homem para conhecer os seus desígnios de salvação. O que é a teologia. Percurso histórico do nascimento da teologia e a sua aparição no cristianismo. Revelação e tipos de revelação. Revelação no Antigo Testamento. Jesus Cristo como centro e ápice da Revelação. A Sagrada Escritura e a Tradição. As tradições. O Magistério da Igreja. Tipos de autoridade no ensinamento da Igreja. Magistério infalível. Magistério ordinário. Magistério particular. Dogmas e ensinamento dogmático. Os Documentos da Igreja e os grados de autoridade dos mesmos. Organograma da Cúria Romana. Função e magistério do teólogo na Igreja.

Objetivo Geral Introduzir o aluno do Seminário no universo do pensamento teológico a partir da Revelação de Deus na pessoa de Jesus Cristo e na compreensão das razões que nos levam a sua credibilidade, sendo que Ele e somente Ele é o centro e o ápice de todo discurso teológico que possamos construir sobre a experiência de Deus na nossa historia e que constituirá o fundamento da nossa própria fé.

Objetivos específicos • Tratar de elaborar um pensamento teológico aberto entanto que católicos –com maior razão como

futuros pastores e enquanto leigos na Igreja do pos-Concilio -, inscrito nos apelos da Igreja nesta primeira década do terceiro milênio para testemunhar a nossa vocação cristã, na Nova Evangelização e na caminhada para o ecumenismo.

• Contextualizar a nossa reflexão teológico-pastoral a partir das propostas que os nossos bispos da America Latina e do Caribe elaboraram na recente assembléia continental de Aparecida seguindo de perto a leitura que eles fizeram da nossa realidade e os horizontes que eles abriram para a evangelização do Continente.

• Proporcionar a cada teólogo, instrumentos teóricos necessários para poder responder aos anseios dos pastores na almejada missão continental, para podermos deste modo ser discípulos e missionários de

Jesus Cristo para que nossos povos nele tenham vida. • Ajudar os estudantes de teologia a superar os limites que as ciências experimentais lhes oferecem no

momento onde elas, deparando-se com a barreira do sensorial e de tudo quanto pode ser submetido a uma verificação cientifica, lhes impede abrir-se à dimensão do Transcendente, centro gravitacional de todo pensamento teológico.

• Proporcionar instrumentos de leitura, de debate e de trabalho em equipe para que cada um possa fundamentar seu próprio ato de crer frente a comunidade na qual ele estará inserido.

• Suscitar nos alunos do Seminário o interesse para ler e para trabalhar em equipe textos de um autor contemporâneo reconhecido na teologia fundamental, no intuito de ampliar por conta própria os horizontes de nossa cultura teológica e de debater a racionalidade que necessariamente deve caracteriza a Fundamental.

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Conteúdo Programático 1.0 -Teologia e Revelação

1.1 A Teologia como ciência da fé 1.1.1 Historia da teologia 1.1.2 Teologia como ciência 1.1.3 Responsabilidade do teólogo (a) 1.1,4 Função existencial do teólogo 1.2 A Revelação como acontecimento da salvação 1.2.1 Revelação na Palavra 1.2.2 Revelação ma historia 1.2.3 Revelação trinitária 1.3 Lugares teológicos da Revelação na Sagrada Escritura 1.3.1 No primeiro Testamento 1.3.2 No segundo Testamento

Primeiro informe de leitura e Plenário1

1.4 A Tradição e as tradições no discurso teológico 1.5 O Magistério na Igreja e a sua missão de interpretar o dado revelado.

1.6 Organograma da Cúria Romana 1.7 Documentos Pontifícios e grau de autoridade

Segundo informe de leitura e Plenário2

1.8 O sensus fidei, o sentire cum ecclesiam, a fidelidade e a liberdade do teólogo. 2.0 Dei Verbum: “carta magna da teologia fundamental”. 2.1 A Revelação como encontro pessoal com Jesus Cristo. 2.2 O mutuo engajamento de Deus e do homem na Palavra. 2.3 Apresentação dos capítulos da DEI VERBUM por parte dos alunos e sob assessoria do professor

Terceiro informe de leitura e plenário3 3.0 Método da teologia e disciplinas teológicas 3.1 Função positiva da teologia 3.2 Função especulativa no discurso teológico 3.3 Disciplinas teológicas 3.3.1 Teologia dogmática 3.3.2 Teologia Bíblica 3.3.3 Teologia moral 3.3.4 Teologia fundamental e superação da teologia apologética 3.3.5 Teologia espiritual 3.3.6 Teologia da libertação 3.3.7 Teologia feminista 3.3.8 Teologia negra 3.3.9 Teologia ecumênica

1 Ler individualmente destacando com marcador o Capitulo 5 e 6 de Jesus, Epifanía do Pai de Octavio Ruiz Arenas, pp.87-127 e preparar o plenário respectivo (questionário fornecido pelo Professor). 2 Leitura do capitulo 8 e 9, pp 165-211, destacar individualmente e com marcador, preparando o plenário respectivo. 3 Ler e destacar o capitulo 1, 2 e 3 pp. 17-67 do livro e preparar o plenário respectivo.

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Metodologia Aulas expositivas do professor e de 15 em 15 dias um debate-plenario. Neste momento é exigido que cada aluno tenha feito a leitura do texto correspondente, que participe no dia do debate e que numa vida da equipe elabore e cuide a redação da memória junto ao colega buscando alcançar uma pedagogia mais interativa que permita ao estudante “aprender e estudar” a teologia fazendo-a – ninguém pode faltar ao debate a não ser por causa justificada pois sua participação ajudará a uma maior compreensão da leitura e dos assuntos que vão sendo tratados-.

BIBLIOGRAFIA

ALSZEGHY Zoltan e FLICK Maurizio, Como se faz Teologia, Edições Paulinas, São Paulo 1979.

ARIAS REYERO Maximino, El Dios de nuestra fé, in Colección de textos básicos para seminarios latinoamericanos, CELAM, Bogotá 1991.

AUER/RATZINGER, Dios uno y Trino,Vol. II, Herder, Barcelona 1988. BALTHASAR Hans Urs Von, Teologia da historia, Editora Cristã Novo Século, São Paulo,

2005. _______________________, Sólo el Amor es digno de fé, Ediciones Sígueme, Salamanca

2006. _____________________. Quem é Cristão, Editora Cristã Novo Século, SP, 2004. _______________________, Derrubar as muralhas, Edições Paulinas, Caxias do Sul, 1971. CATECISMO DA IGREJA CATOLICA, Edições Loyola, São Paulo 1999. CELAM, Documento conclusivo não oficial da V Conferencia episcopal de America Latina

de Aparecida. COMTE-SPONVILLE André, O Espírito do Ateísmo, Livraria Martins Fontes Editora, SP

2007. CONGAR Yves, La fe y la teología, Herder, Barcelona 1981 DEI VERBUM, Constituição dogmática in Compêndio do Vaticano II, Editora Vozes,

Petrópolis 1993. FISICHELLA Rino, Introdução à Teologia fundamental, Edições Loyola, São Paulo 2000. FORTE Bruno, A escuta do Outro, Filosofia e Revelação, Paulinas, São Paulo 2003. HAIGHT Roger, Dinâmica da teologia, Paulinas, São Paulo 2004. HAUGHT John F., Misterio e Promessa, Paulus, SP 1998. JOAO PAULO II, Fé e Razão(Encíclica), Editorial A. 0. Braga (Portugal), 1998 LACOSTE Jean-Yves, Dictionnaire critique de Théologie, Presses universitaires de France,

Paris 1998. LATOURELLE René/FISICHELLA Rino, Dicionário de Teologia fundamental, Editora

Vozes, 1994. LATOURELLE René, Teologia: ciência da salvação, Paulinas, São Paulo 1981. _________________ O´COLLINS, Problemas e perspectivas de Teologia Fundamental,

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edições Loyola, SP, 1993. LIBANIO João Batista, Teologia da Revelação à partir da modernidade, Edições Loyola, São

Paulo 1992. LIBANIO J.B. E MURAD Afonso, Introdução a Teologia, Loyola, 4a Edição, São Paulo,

2003. O’COLLINS Gerald, Teologia fundamental, Loyola, São Paulo 1991. PIE-NINOT Salvador, La Teologia Fundamental, Salamanca 2002. RAHNER Karl, Curso fundamental da fé, Paulinas, São Paulo 1989. RATZINGER Joseph, Teoria de los princípios teológicos, Herder, Barcelona 2005. RUIZ ARENAS Octavio, Jesus, epifania do Pai, 2a. Edição, Loyola, São Paulo 2001. SCHILLEBEECKX Edward, Revelação e Teologia, Paulinas, São Paulo 1968. _______________________, Historia Humana, Revelação de Deus, Paulus, SP 2003. RAUSCH Thomas, Introdução a Teologia, Paulus, SP 2004. THEOBALD Cristoph, A Revelação, Edições Loyola, SP 2006. TORRES QUEIROGA Andrés, A Revelação de Deus na realização humana, Paulus, São Paulo 1995. WICKS Jared, Introdução ao método teológico, Edições Loyola, SP 2004. ¶¶¶¶¶¶¶¶¶¶¶¶¶¶¶ ¶¶¶¶¶¶¶¶¶¶¶¶¶¶ ¶¶¶¶¶¶¶¶¶¶¶¶¶¶¶ NB/ O manual do curso será o livro : Jesus Epifania do amor do Pai, Edições Loyola, São Paulo, 3ª edição, agosto 2001. O texto deverá ser lido e debatido em sala de aula por grupos e ao final de cada capitulo, como foi dito anteriormente á propósito da Metodologia (o professor explicara o procedimento).

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1.0 - Teologia e Revelação

1.1 A Teologia como ciência da fé.

O que é a Teologia? Não podemos responder simplesmente partindo da sua etimologia porque entraríamos num beco sem saída diante da teodicéia, da teosofia, filosofia da religião, antropologia da religião, sociologia da religião, a psicologia da religião, a historia da religião, a religião propriamente dita, e mesmo da filosofia pré-cristã pois todas elas são também discursos sobre as divindades. Para a Filosofia dos antigos gregos, a teologia era sem mais, um “discurso sobre as coisas divinas”.

1.1.1 Percurso histórico da teologia

A palavra teologia tem uma longa historia. Por incrível que pareça, a teologia tem as suas raízes no mundo pagão. E no mudo dos gregos onde começamos a rastrear as origens da teologia.

Assim por exemplo, no teatro grego existia o theologeion, um lugar acima do palco desde onde os deuses falavam ou se comunicavam as influencias divinas.Teólogos eram os poetas Homero e Hesíodo que contam a vida e as façanhas dos deuses. Em Platão e Aristóteles os teólogos se ocupam das fabulas mitológicas e a sua utilização pedagógica (Rep. 379 ª5). Mais tarde Aristóteles vai dar pela primeira vez uma precisão ao termo quando na classificação do saber divide a ciência em Física, matemática e teológica4.

Logo Aristóteles considera a Filosofia teológica como o cume da ciência, superior a física e a matemática. Chamada também como “Filosofia primeira” ela se preocupa das causas supremas do mundo astral, divino e visível. Ela é entendida como metafísica mas também como ontologia.

Para os estóicos existem três tipos de teologia: a T. mítica dos poetas, a t. física dos filósofos e a t. política dos legisladores (os imperadores são honrados como “deuses”).

Eis aqui a dificuldade para os primeiros autores Cristãos de aceitar o termo teologia dentro do Cristianismo (o culto aos deuses pagãos).

Foi à escola de Alexandria, Clemente e Orígenes, a primeira a cristianizar o termo por quanto o discurso cristão é a verdadeira teologia. Embora eles dão o titulo de teólogos aos “anciãos teólogos gregos” o mesmo que a teologia dos persas. Orígenes da o titulo de teólogo aquele que oferece um discurso sobre o Deus da bíblia e sobre o Cristo. Clemente distinguira a verdadeira t. do Logos eterno da mitologia de Dionísio. Eusébio fará todo o possível para que esse termo vindo do paganismo seja exclusivamente consagrado ao discurso sobre o Cristo. Assim a partir do século IV a patrística grega assume o termo teologia para todo discurso sobre o Deus verdadeiro, sobre a Trindade e sobre o mistério de Cristo.

4 Teologia correspondia às ciências primeiras que estudam as causas necessárias, absolutas e eternas. Aqui a teologia se distancia das fabulas mitológicas. Fica claro que corresponderia ao que hoje conhecemos como metafísica e Ontologia.

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Com o triunfo do Cristianismo sobre o paganismo, a teologia se converte em termo cristão e ela perde toda associação ao culto pagão. Então são teólogos Moisés, os profetas, Paulo, João. A razão de ser da teologia tem um parentesco com a razão de ser da Filosofia. Ela nasce da curiosidade, da admiração, de querer saber as razões pelas quais se crê, se e verdade ou não e as implicações praticas da fé na vida concreta da pessoa e no seu destino. A diferencia fundamental é que na teologia o sujeito é o homem de fé, alguém que recebeu o dom da fé, um batizado, em quanto que na filosofia a dimensão da fé não é requisito absoluto.

No mundo latino o processo de aceitação do termo Teologia para a confissão da fé cristã foi muito mais lento. Se bem que a partir do século IV o termo significara o discurso sobre o Deus de Jesus Cristo, o conhecimento do mistério da salvação, o conhecimento místico de Deus, sua aceitação definitiva só se firmara depois da alta escolástica.

Para Agostinho a teologia significa a doctrina sacra, a sacra scriptura, sacra eruditio, sacra

pagina. E de Agostinho a expressão: “desejei ver com a inteligência o que acreditei”5.

De Sto. Anselmo (+1109) é a expressão clássica e possivelmente até hoje a mais completa da teologia: fides quaerens intellectum (a fé que busca entender-se compreender-se, a inteligência da fé). A fé que procura saber.

Para Tomas ainda o uso da palavra t. é restringido; ele utiliza aquele de sacra doctrina, doctrina christiana e muito raramente o termo de teologia. E também que na escolástica tardia o termo T. toma o uso corrente: o apelativo de magister em sacrae paginae se converteu em magister em sacra t. (graças ao uso da dimensão especulativa que caracterizou este período). Mesmo assim ele define a teologia como o esforço no qual “no fervor de sua fé, a pessoa ama a verdade que crê, a revolve no seu espírito e a abraça, procurando encontrar razões para seu amor”6.

Finalmente é na época moderna -mais propriamente a partir da Reforma e até hoje-, que começa a era das especializações. A teologia especulativa depois da escolástica produziu um deslocamento da significação: aquilo que era tido como Sacra doutrina ficava um pouco de fora do que se entendia por reflexão teológica propriamente dita. Assim para exprimir esses outros aspectos da teologia foram aparecendo uma plêiade enorme de teologias e finalmente deu-se inicio a era das especializações. Assim vai se diferenciando a “teologia escolástica” da teologia “ascética e mística”, a teologia moral da teologia apologética, etc. Foi no final do século XVI que a Moral desligou-se da Teologia (sempre nos moldes da casuística), o humanismo trouxe a distinção da teologia positiva e da t. especulativa; no final do XVII aparece a teologia apologética, a dogmática (em 1634 o teólogo luterano G. Calixt), a ética, Século XIX a teologia fundamental (1859 e 1862 dois livros de J.N.Ehrich em Praga com o titulo de T.F.).

5 De Trinitate, 15,28. 6 Suma Theologica II-II, q.2 ª10,c.

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1.1.2 E a teologia uma ciência?

A teologia é uma ciência da atividade da fé, do seu crescimento e do desenvolvimento da caridade. A Teologia é menos um discurso sobre Deus que um discurso sobre a experiência que sobre Deus faz o homem. Quer dizer, ela se ocupa menos de Deus que da experiência antropológica de Deus. Mas ela é uma ciência sim. E ciência por quanto de um lado possui os três elementos próprios a todo conhecimento cientifico:

- Um sujeito epistêmico : o homem de fé, o teólogo.

- um objeto próprio: Deus e a sua ação (Revelação) na criação e no mundo

- Um método especifico: Seguindo Aristóteles, “o método de uma ciência deve corresponder a sua matéria” por tanto a teologia tem os seus métodos próprios: fontes, métodos para a comunicabilidade dos seus conteúdos, critérios de verificação (embora o seu objeto escape a uma verificação pura como no caso das ciências físicas).

A Teologia como discurso sobre Deus quedaria afetada de simples racionalismo se não for emarcada e transida de um lado pela Palavra de Deus e de outro lado pela palavra a Deus, isto e, a Revelação que nos permite o conhecimento do Deus Uno e Trino e que se manifestou plenamente em Jesus Cristo e pela palavra do homem como resposta a essa Revelação de Deus.

Faze-se mister, de outro lado, distinguir o objeto material e o objeto formal próprios a toda ciência segundo uma classificação que fez sucesso ao longo da historia e em nosso caso especifico da teologia.

O objeto material tem a ver com “matéria prima”, “temática”, “questão”, “assunto”.

O objeto formal tem a ver com “perspectiva”, “aspecto”, ângulo”, “nível”, “razão especifica”, faceta”, “lado”, “dimensão”.

O objeto material da teologia é Deus e só Ele , mas também a criação, a salvação enquanto realidades neste caso determinadas por Deus. Corresponde a pergunta pelo o que da teologia.

O objeto formal da teologia (perspectiva, visão,ângulo) é Deus Revelado, Deus Salvador, Xto dos Evangelhos, Xto da fé, Revelação na Palavra, Revelação na Tradição, Deus nas culturas, na arte, na filosofia,etc. Corresponde a pergunta pelo como é tratado tal objeto material na teologia.

Santo Tomas não duvida jamais que a teologia seja uma ciência. Inclusive é ela a ciência primeira, a rainha de todas as ciências. Ele toma posição a partir do conceito aristotélico de ciência adaptando-o a teologia e de acordo com o mundo religioso do seu tempo. Para Aristóteles, ciência é definida como “conhecimento certo e sempre valido, resultado da

dedução lógica”. Certo porque procede de experiências primeiras e indemonstráveis; dedutivo porque a traves do raciocínio vincula uns princípios universalmente validos com as suas respectivas conclusões; Perfeito porque atinge as coisas em seus princípios essenciais e necessários.

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A teologia diz-se ciência enquanto é um saber iluminado pela ciência que Deus tem de si mesmo. A Teologia recebe da ciência de Deus – ciência subordinante- os seus princípios. Agora Bem, existem as verdades reveladas que participam da ciência de Deus pela Revelação e pela fé. Por tanto é um conhecimento certo e dedutivo.

Por ser a teologia subordinada a ciência que Deus tem de si mesmo, ela tem um status mais digno que aquele das outras ciências que se fundam nos princípios evidentes sob a luz natural da razão.

Da para perceber que o conflito entre ciência e teologia não tardará em aparecer. Sobretudo com o aparecimento de Galileu, Newton, Copérnico, e o conceito de ciência para a Idade moderna. As ciências modernas invertem o método de conhecimento: partem da experiência verificável, matematizavel e repetível, e propõem-se estudar as causas dos fenômenos observáveis, em termos de leis físicas, universalmente validas, independentemente do aval das outras ciências. O conflito chegou até negar o estatuto científico e epistemológico para a teologia. Agora a certeza não depende nem da autoridade da Escritura nem na autoridade do conceito aristotélico de ciência. Somente a verificação experimental permite catalogar um conhecimento como cientifico.

1.1.3 A Responsabilidade dos teologos

A teologia devera partir daquilo que vivem os homens no concreto do dia a dia antes que de chegar a uma construção das especulações abstratas e universais. E claro que existe uma certa concepção da teologia e do teologo que pensam fazer a teologia simplersmente repetimdo o que ja foi dito no passado ou tentando expresar-se unicamente em afirmações universais e definitivas. A dizer verdade esta é uma forma deformada de entender a teologia. A Nossa fé na encarnação do Verbo, na vida do homem Jesus, no decorrer dos dois mil anos de cristianismo nos colocam dentro de um mundo onde a dimensão historica e flutuante é caracteristica da vida dos homens, uma historia de altos e baixos, de retrocessos e de avanços. Crer não é simplesmente a commemoração de eventos do passado nem ao fato de adherir com algum discurso teologico faz a identidade do cristão. A fé exige uma adhesão dia a dia a pesssoa de Jesus, quer dizer a tomar a decissão de viver o evangelho a cada instante e dentro de um contexto cada vez inedito. E a partir dessas realidades flutuantes que o Criostão se abra a universalidade da mensagem do Evangelho. Certo, não existe mais que um Cristo e uma fé, mas eles são lidos a partir de diferentes teologias ao longo dos seculos o que nos obriga a abrirmo-nos as diferentes apresentações teologicas pois não existe uma que seja valida uma vez para sempre e por todos os seculos. Até porque a Revelação é historica e marcha com a historia. A teologia deve manter uma orientação pratica, isto é, deve ser uma reflexão que saiva dar conta do modo como a fé pode ser vivenciada nos diferentes contextos materiais, sociais, historicos e culturais. A fé cristã deve encarnar-se na historia e permeabilisar as culturas que ela vai encontrando. E o tema da inculturação do Evangelho onde as respostas e as perguntas que o homem de fé, isto

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é o cristão, vai colocando, levam a linguagem e o genio dos espaços culturais que vão sendo evangelisados. Muitas das nossas afirmações teologicas se explicam pelas condições historicas de sua genese. Possivelemente hoje elas hoje não tenham mais valor em razão as modificações historico culturais mas não por isso elas perderam a sua qualigficação teologica. Quer dizer, no seu momento estasafirmações foram pertinentes e contribuiram a coerencia da fé necessaria para aquel momento ; por isso nos seriamos injustos si as desconhecemos. De fato, quando as culturas mudam sobre tudo no plano dos conhecimentos cientificos, certas afirmações perdem muito de sua significação. Mas é preciso a prudencia do julgamento do teologo para não desqualifica-las imediatamente e o peor de todo as vezes justificando-se por ou contra a propria fé á causa de posicionamentos ou afirmações defasadas sem ter em conta o momento historico de tais afirmações. E certo que aquelas afirmações nos surprenderam mas é claro que o homem não pode presupor completamente o futuro e mais ainda a ordem de todas as verdades da fé entanto que elas são feitas por homens que respondem a suas proprias interrogações condicionadas pelo espaço e pelo tempo. Assim a teologia deve ser essa instancia critica do conjunto das representações nas quais é apresentada a fé e é somente neste dinamismo que ela podera extraer o sentido e o valor da propria fé. Chegados a este ponto queremos destacar agora uma das tarefas importantes do teologo. Se trata da urgencia da apresentação do Evangelho para as pessoas que cada vez mais se situam « fora da Igreja ». A fé percorre os caminhos da vida, marcha com o homem e por isso é necessario que ela se apresente com instituições e metodos que facilitam o dialogo com o mundo e as culturas sem que ela se reduza a eles. Estas formas de organização são proprias a um lugar e a uma epoca determinada corrindo o risco mesmo de não responder igualmente num outro espaço ou numa epoca diferente e ainda mais pudendo transformar-se mais tarde num obstaculo para a fé. A Igreja deve adequar-se aos tmpos e ter essa sensibilidade para aceitar as mudanças que os tempos vão exigindo de modo que ela não fique parada no tempo ou nas estruturas defasadas pois uma tal situação dificultaria o encontro com aqueles que se dizem morar fora dela. A inculturação é uma exigencia do evangelho. Ninguem sabe com absoluta certeza que sera o amanhã. Uma coisa é calra, a participação dos leigos nas responsdabilidades eclesiais, de modo especial após o Vaticano II e do qual nos somos testemunhas da primeira fila, nos permite enfrentar esse desafio frente aos no cristãos de uma maneira mais harmonica pois os leigos estão presentes em todas as estruturas do mundo e nelas eles podem levar a sua Igreja. Eis aqui uma razao da importancia que reveste a formação dos leigos na Igreja e da qual nos temos que preocupar-nos nas paroquias e nas dioceses, de modo a poder acompanjar esta evolução sem contra tempos. A Igreja tem que propor a fé ao homem de nosso tempo e testemunhar aquilo que ela nos aporta na construção de um mondo mais humano e fraternal. Este testemunho vai além dos discursos e deve encarnar-se nas situações da vida, no meio das suas dificuldades e dos seus conflitos, tarefa urgente a ser realizada pelos fieis e pelos teologos. Uma outra tarefa para o teologo neste prefciso instante dsa historiaq e de trabalhar para construir a generosidade na defensa da vida.

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E conhecido que vivemos cada dia mais no usofructo do imediato, do utilitario, na competição salvage olhando simplesmente o fim sobre o sinal do confort a todo preço. Os intereses indiviuais, dos grupos e das colectividades não deixam muito espaço a generosidade e a vida. Diante da preocupação de deixar um mundo melhor e umas condições de existencia mais dignas para as generaçoes que viram, temos que confessar, não são parte essencial do homem de hoje. Basta simplesmente olhar para os indices de poloução, das guerras fratricidas, do empobrecimento do mundo. Ao ritmo que vão as coisas a perenidade do mundo esta ameaçada e nela o futuro de toda a humanidade. Nos podemos nos perguntar : e o teologo ou a teologia que tem a ver com isto ? E claro que ja conhecemos algumas das respostas. Alguns pedem que estes trabalhem para restaurar o moralismo tradicional ; outros rejeitam esse papel em nome do permisivismo contemporaneo e diante do qual o moralismo deve simplesmente silenciar-se. O teologo deve arrojar-se, sem temer os epitetos de conservadurismo ou de progressismo que sempre apareceram pois lá onde se joga a causa do homem e da humanidade, lá também se joga a cusa de Deus. O respeito da obra da criação, da beleza da obra de Deus manifestada naquele que foi feito a imagem e semelhança dele é uma das exigencias primeiras e absolutas da fé até o ponto que náo existe nem fé, nem teologia si se abandona a causa do homem. O Teologo sera portanto o defensor intrepido da vida e contra todos aqueles que a destroem. Ele devera assumir a complexidade dos problemas e refletir sobre eles com uma visão de fé procurando sempre o horizonte da dignidade humana da pessoa e das comunidades. A defensa da vida lhe permitira entre outros dar uma palvra a proposito das relações entre os homens e das relaões entre o fato religioso e a existencia secular. Na verdade, o minsiterio do teologo é um ministerio de risco. Ele vai receber golpes de todos os lados. Os fieis mais simples teram a ousadia de reprocha-le o fato de elaborar complicadas reflexões e de levantar questões inuteis quando somente se precisa a pratica da fé. Do lado da academia reclamarão dele de não reflexionar o suficente sobre os diversos assuntos da existencia humana e as vezes de não se alinhar dentro das teorias cientificas de moda. Possivelmente podera apresentar-se suspeitoso da parte da hierarquia eclesiastica de modo especial quando certas teorias tocam as habitudes mentales nas quais eles forma formados ou na configuração dos poderes que eles exercem. Outras vezes o teologo incomoda certos camos do saber quando ele assume sobre si mesmo os diferentes problemas do homem pois pensam que isso não é tema da sua competença. Claro, servir a causa da verdade jamais foi confortavel e mais ainda quando se trata de propor a fé diante das encrucilhadas do mundo. A vocação do teologo exige uma alta capacidade de assimilar as diferentes provas e dificultades que apareceram ao seu devido tempo e saber passar na frente delas. O teologo não pretende ter sozinho a verdade total mas ele tem a coragem de procura-la a traves do exercicio critico de sua reflexão e certamente do exercicio de seu engajamento na fé e na vida de sua propria Igreja. A verdade sempre vai ser pedrea no sapato para muitos. Na honestidade intelectual que o deve caracterisar, ele vai diser a verdade custe o que custar, na intenção de ajudar os seus contemporaneos a encontrar os caminhos do Evangelho para iluminar o mundo atual.

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NB/ partimos do pressuposto que a teologia somente existe a luz da fé, quer dizer, dentro do Cristianismo. Fora do Cristianismo simplesmente não existe teologia, pois falta essa dimensão da fé.

1.1.4 Função existencial e intelectual da teologia

D. Bonhoeffer7 em 1933 declarava que não deveria estudar teologia quem estudasse por simples curiosidade cientifica como si fosse o direito ou a medicina etc, só no intuito de estudar alguma coisa para preparar-se pra uma profissão. Deve estudar Teologia aquele que se sente atraído e apaixonado pela Palavra de Deus. Esta disponibilidade não exige um chamado divino, mas sendo a teologia uma atividade da fé, ela precisa dum ardor para desenvolver intelectualmente e mediante os procedimentos técnicos da ciência, o conteúdo da palavra de Deus, de modo serio e responsável. Aquilo que, como já o dizemos, Anselmo de Cantuaria(1033-1109) afirmara vários séculos atrás: fides quaerens intellectum, cree para que entendas: assim a fé é o ponto de partida e o conhecimento mais profundo é o ponto de chegada. Dito de outra forma, nisi credideritis, non intelligetis, si você não crê, você não compreendera. E a fé o ponto de partida para todo conhecimento teológico da razão; é a fé que pesquisa a verdade, é a fé que chama a inteligência ou fé na procura da inteligência da salvação. A fé é condição sine qua non para fazer teologia e é um pressuposto indispensável como característica fundamental que a distingue das outras ciências físicas e humanas. Por isso que o Concilio Vaticano I explica assim o papel próprio da teologia como ciência da fé:

“A razão, iluminada pela fé, quando pesquisa atenta, piedosa e sobriamente, consegue, com o auxilio de Deus, uma certa inteligência dos mistérios, a qual é fructuossísima, quer pela analogia com as coisas que conhece naturalmente, quer pela conexão dos mistérios entre si, e com o fim ultimo do homem” (Ds 3016).

O Concilio considera assim a “razão” como o sujeito do trabalho na pesquisa teológica. Mas uma “razão” que antes de todo se coloca na disponibilidade da fé por quanto à teologia é conhecimento e reflexão sobre a fé e melhor ainda, a partir da fé. A razão é de certo modo empurrada por uma vontade de conhecimento que é posta em movimento pela graça divina.

O teólogo estuda a mensagem da salvação, não para apropriar-se dela, mas para, reconhecendo a transcendência desta, se colocar ao seu serviço, a fim de que a mensagem alcance seu pleno serviço: o compromisso da sua experiência da fé e o seu engajamento na comunidade cristã.

Podemos definir então a teologia, como a “inteligência da fé” ou como “a fé na procura da inteligência”, isto é a ciência pela qual o homem se abandona inteira e livremente ao Deus Revelado em JHS, concedendo-lhe uma completa homenagem de sua inteligência e de sua vontade para assentir e para consentir tudo o plano de salvação que Ele faz. Assentimento este

7 Nasceu em Breslau em 1906 e aos 16 anos tornou-se pastor. Professor na universidade de Berlim e logo nos Estados Unidos. Em 1939 colocou-se ao lado da resistência do regime de Hitler. Em 1943 foi preso em Berlim ficando 18 meses no cárcere. Em 1945 foi transferido para o campo de concentração de Buchenwald onde foi enforcado aos 39 anos. Produziu meditações sobre a Igreja e o estado, a Igreja e o mundo, sobre os deveres civis e religiosos do cristão.

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em razão da autoridade de Deus que se Revela.

Terminemos dizendo que todo discurso teológico e toda atividade teológica, devem conservar umas características nas quais necessitam ser enquadrado: é um discurso histórico/ Cristologico/pneumático/ecclesiologico/escatológico.

1.2 A Revelação como acontecimento da salvação

O termo Revelação (em grego apokalupsis, epiphania; no latim revelatio, manifestatio), é presente na literatura cristã desde tempos imemoriais, mas o cristianismo tardou muito tempo para dar uma interpretação estruturada da Revelação. Em todo caso queremos dizer que graças a R., Deus se deixou conhecer do homem, mas sempre a partir do Deus mesmo.

Três tipos de Revelação podem encontrar-se na religião judeu-cristã:

• Uma R. natural, Deus se deixa conhecer a traves da obra da criação e pela consciência que sobre ela toma o homem. Sl 19; Sb 13, 1-9; Rm1, 18-32.

• R. Sobrenatural quando Deus se deixa conhecer comunicando-se ao homem na sua Palavra, na manifestação da sua vontade, de seu plano de salvação. Comunicação feita muitas vezes a mensageiros escolhidos pelo próprio Deus. Hb 1, 1-4

• R. Direta ou imediata, (chamada também R. privada: visões, aparições, secretos, êxtases, profecias) na comunicação que Deus estabelece diretamente com os sus eleitos, geralmente a traves de visões e de fenômenos de audição.

Nós nos interessaremos mais pelo segundo tipo de Revelação na qual confessamos que Deus destinou o homem para a Salvação e por isso revelou-se de uma maneira total e definitiva na pessoa do Senhor JHS como bem lemos no texto dos Hebreus 1, 1-4: “Depois de ter, por

muitas vezes e de muitos modos, falado outrora aos nossos Pais, nos profetas, Deus, no

período final em que estamos, falou-nos a nos num Filho, a quem estabeleceu herdeiro de

tudo, por quem outrossim criou os mundos”.

Assim Deus penetra na historia do homem para salva-lo, não como uma simples possibilidade, mas como um fato que aconteceu no espaço e no tempo até chegar ao seu momento definitivo na encarnação de JHS: João 1,14: “E o Verbo se fez carne, e habitou

entre nós, e nós vimos a sua gloria, gloria que Ele tem junto do Pai como Filho único, cheio

de graça e de verdade”.

Por isso que se pode dizer que onde quer que o homem faça historia, é a historia da salvação que esta em jogo. Uma historia da aceitação da mesma salvação oferecida pelo Cristo ou uma historia de rejeição, da qual o homem é capaz devido a sua liberdade.

Agora bem, a Revelação do Deus do Cristianismo privilegia três momentos especiais que

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caracterizam o Deus Bíblico: E uma Revelação a traves da Palavra, é uma Revelação acontecida numa historia é uma Revelação que nos apresenta um Deus Uno e ao mesmo tempo um Deus Trinitario.

1.2.1 A Revelação pela Palavra ocupa um lugar importantíssimo no mundo bíblico.

Já no Antigo Testamento o evento da Revelação é uma livre, soberana, poderosa intervenção de Deus na historia do homem. Por isso que ao longo de sua historia o homem confessa um ouvir Deus, um receber tal oráculo de Deus e sempre se escuta a “palavra do Senhor”. R. Fisichella diz que no A T. o verbo escutar é privilegiado 1080 contra 520 vezes do verbo ver. A Revelação de Deus acontece mais pela palavra dirigida e escutada. Para o mundo bíblico YHWH se revela pela sua Palavra em tanto que para a cultura grega seus deuses se revelam preferencialmente pelas visões. O mundo hebraico caracterizasse mais pela audição, o mundo grego mais pela contemplação,.

Ler e comparar os textos Ex 33, 18-23 do ver com aqueles correspondentes ao ouvir Deus como sendo a coisa mais natural para Israel: Dt 6, 4-9. 20-24; 1Sm 3, 1-21; Is 6, 1-7.

O Shema Israel permanecera na historia de Israel como o lugar do relacionamento entre Deus e o seu povo. Desde os patriarcas, passando pelos juizes, Reis e profetas a ação reveladora de Deus é a sua intervenção pela Palavra. A própria TORAH é pensada e interpretada como a Palavra de Deus manifestada como Aliança.

E importante notar também que no mundo semítico a Palavra não se distingue daquele que a pronuncia. Seus sentimentos, seu afeto, as intenções, a eficacidade, se identifica com a pessoa que a pronuncia. A Palavra pronunciada realiza automaticamente e no mesmo instante aquilo que significa: Gn 1,3.

No Novo Testamento O Amor salvador de Deus ao homem alcança o seu ponto mais alto na pessoa de Jesus de Nazareth. Jesus como o cumprimento de uma promessa (Dt 7, 8-10) pois nele se cumpre justamente o anunciado na lei e nos profetas Lc 24, 27. Cristo é o conteúdo final e definitivo da Revelação. Agora é Deus mesmo que FALA de uma maneira definitiva e já no temos que esperar um outro. Deus nos fala do interior da própria historia, na estrutura pessoal do sue Filho feito homem.

Se no AT a Revelação aparecia um pouco fragmentada com múltiplas expressões e somente audível, agora a Revelação na pessoa do Verbo encarnado é não só audível senão também visível na pessoa de Jesus de Nazareth.

Na pessoa do Senhor Jesus se realiza uma excelente síntese de todo quanto foi dito e consignado no A e no NT/ Da pluralidade de livros, da diversidade dos estilos e do modo diferente como nos foi exposta a doutrina da salvação se tem chegado a uma síntese da Revelação em Jesus. Como o Concilio nos diz a propósito da redação dos 4 evangelhos, os autores sagrados escreveram os 4 textos, “selecionando algumas coisas entre as

muitas que eram transmitidas oralmente o por escrito, sintetizando algumas outras, explicando outras

relacionadas com a situação das Igrejas, conservando enfim o caráter de pregação, sempre de maneira a

referir-nos o que diz respeito a Jesus com sinceridade e verdade”8.

8 Dei Verbum, n° 19.

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Deste modo compreenderemos porque existe desde os começos do cristianismo um pluralismo (não contraditório mais complementar) na redação e na apresentação de Jesus realizada pelos Quatro Evangelhos. De igual modo tem que se ter em conta os diferentes temperamentos, culturas e estilos dos autores dos livros sagrados e que dão origem a uma interpretação mais rica do Evangelho do Cristo e não a uma apresentação monolítica ou unilateral do Salvador.

E esta a razão pela qual existem diferencias fundamentais entre as distintas teologias que caracterizaram os autores sagrados:

-Kerysein, euangelithein e didaskein serão conceitos preferidos pelos evangelhos sinóticos, introduzindo assim o elemento de novidade e de anúncio; -apokalyptein

9, phanerón, protizein serão próprios à teologia de Paulo para significar

uma realidade antes escondida mais agora feita evidente, visível; 9 E por isto que na bíblia, este estilo é chamado de apocalíptico porque ele comunica uma “Revelação” da parte de Deus (literalmente o verbo grego apocaluptô quer dizer “tirar o véu”, desvelar). E claro que este tipo de linguagem é estranho para nos hoje, mas no tempo de Jesus, era compreensível para todo o mundo. Era uma espécie de linguagem codificado: aparentemente é questão do sol, da lua, das estrelas que vão sofrer uma hecatombe. Mas na realidade trata-se de uma outra coisa! E o anuncio da vitória de Deus mas codificada, do triunfo dos filhos de Deus no combate contra o mal e isto desde as origens do mundo. E o próprio da fé judeo-Cristã. Não é correto interpretar os enunciados apocalípticos como anúncios terroristas; na linguagem da fé, para judeus como para Cristãos, é justamente todo o contrario. A Revelação do mistério de Deus jamais pretende colocar medo e pavor aos homens; ao contrario, ela permitirá de tirar todos os véus na catástrofe do mundo para guardar a esperança pois a vitória é de Deus. Cada vez que os profetas do AT querem anunciar o Grande Dia de YHWH, o dia da sua vitória definitiva contra as forças do pecado e do mal, esta linguagem e estas imagens vem a tona. Por exemplo, o profeta Joel: diante dela a terra se comove, os céus tremem, o sol e a lua escurecem e as estrelas perdem seu brilho! Yhwh levanta a sua voz diante do seu exercito! Sim, seu acampamento é muito grande, o executor de sua obra é poderoso. Sim, o dia de YHWH é grande, extremamente terrível! Quem poderá suporta-lo? (Jl 2,10-11). Ou ainda: “Depois disto, derramarei o meu espírito sobre toda carne. Vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos anciãos terão sonhos, vossos jovens terão visões. Até sobre os escravos e sobre as escravas, naquele dia, derramarei o meu espírito. Porei sinais nos céus e na terra, sangue, fogo e colunas de fumaça”. O sol se transformará em trevas, a lua em sangue, antes que chegue o dia de YHWH, grande e terrível!Então, todo aquele que invocar o nome de YHWH, será salvo (Jl 3,1-5). E no capitulo 4 temos: O sol e a lua se obscurecem e as estrelas perdem seu brilho. YHWH ruge de Sião, e de Jerusalém levanta a sua voz: os céus e a terra tremem! Mas o Senhor é um refugio para o seu povo e fortaleça para os israelitas! (4,15-16). Todos estes textos tem um ponto em comum: eles não foram feitos para inquietar-nos, para encher-nos de pavor; ao contrario, eles anunciam a vitória do Deus de Amor. O cataclismo cósmico que descrevem significa a superação das dificuldades e de toda situação que ameaça ao homem; a verdadeira mensagem é: Deus tem a ultima palavra. O mal será definitivamente destruído. Assim por exemplo Isaias utiliza as mesmas imagens para apresentar o julgamento de Deus: “Com efeito, as estrelas do céu e o Orion não darão a sua luz. O sol se escurecerá ao nascer e a lua não dará a sua claridade. Punirei o mundo por causa da sua maldade e os ímpios por causa da sua iniqüidade” (Is 13,10-11). E é o mesmo Isaias que poucos versos atrás anunciava a salvação para os filhos de Deus: “E dirás naquele dia: Louvo-te, ó YHWH, porque, embora tivesses estado encolerizado contra mim, a tua ira cessou e agora me deste o teu consolo. Ei-lo, o Deus da minha salvação: Sinto-me inteiramente confiante, de nada tenho medo, porque YHWH ´pe a minha força e o meu canto. Ele foi a minha salvação (Is 12,1-2). Em Isaias como em Joel, em uma linguagem convencional escutamos dizer que Deus é o mestre do mundo, que ele é o condutor da historia, graças a Ele virá um dia onde o mal simplesmente desaparecerá. O Apocalipse não fala do “fim do mundo” mas da “transformação do mundo”, da “renovação do mundo”. Quer dizer, do fim deste mundo do pecado sim mas para dar espaço ao mundo de Deus. E quando cegamos ao NT onde encontramos utilizado também este gênero literário (As vezes em alguns episódios dos Evngelhos e de modo especial no ultimo livro) a mensagem fundamental da fé continua sendo a mesma: a ultima palavra não a tem o mal senão a vitória definitiva nosso Deus. Vitória que nós temos imediatamente na pessoa de Jesus Cristo. Assim encontraremos a Jesus utilizando esta linguagem com as suas imagens características: combate contra as forças do mal, cataclismos mais lentamente vai deletreando-se uma palavra que de Jesus encontramos no Evangelho de João: “Coragem, eu venci o mundo”.

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-logos, doxa, alétheia, legein, laléin, martyrein, são próprios da linguagem joanina, introduzindo uma dimensão mais cognoscitiva e verdadeira.

Numa palavra, o Mistério de Deus se fez conhecer na pessoa de Jesus de Nazareth e agora é missão da comunidade e de cada um de nos, fieis, anunciá-lo e testemunhá-lo.

1.2.2 Uma segunda faceta importante da Revelação que não podemos passar por alto é que a Revelação acontece no interior da HISTORIA. O mundo bíblico carrega a riqueza reveladora de Deus ao longo das vicissitudes da sua historia.

A historia é o espaço onde acontece a comunicação entre Deus e o homem, o lugar onde acontece a Revelação. Numa visão personalista na linha de M. Buber, a historia é o palco onde podemos encontrar a realização do “entre”, isto é, o espaço vital onde acontece o encontro entre eu-tu e que da como resultado o nós dialogante. E na historia onde a revelação longe de ser um processo meramente objetivo, se transforma num espaço vital de comunicação viva e pessoal, entre o Deus que chama e salva e o homem que escuta e aceita.

Assim se da uma mudança da conceição de uma historia cíclica como no casso dos gregos e Babilônios para uma historia lineal e ainda mais para uma historia espiral como no caso do Cristianismo. Israel descobre o Deus dos “pais”; por tanto do passado que marcará o presente e se projetará no futuro.

Aparece a diferença da historia como vanitas ou como veritas o que posteriormente Agostinho apresentará como a civitas terrena frente a civitas Dei. Cristo será a Novidade que se estende ao passado desde o presente mas que ao mesmo tempo aproxima o futuro. A sua cruz cravada na historia provoca em todo homem uma decisão de fé. Uma decisão que feita no tempo tem a sua validez até para a eternidade. Uma escolha que será invisível para aqueles que ainda não tem os olhos da fé.

A historia é o húmus no qual mesmo a teologia política que nos anos sessenta fez ebulição sob influencia dos pensadores como E.Bloch (filosofo marxista acérrimo 1885-1977 para o qual o Cristianismo teria ficado a metade do caminho pelo fato de ter visto o Reino de Deus como o objetivo final do homem mas de tê-lo deixado somente para um outro mundo) e de J. Moltmann, teólogo reformado que coloca a importância da teologia sobre a realização da esperança, o porvir, e não unicamente sobre o que já existe, o que foi consumado, o “já e o ainda não” que dinamizam a historia e como uma maneira de responder a Bloch, isto no primeiro mundo e as diferentes correntes da Teologia da libertação em América Latina e no terceiro mundo. Todos eles vem na controvertida historia de cada época, no seu ambiente critico, nas suas próprias contradições e injustiças, que a Revelação longe de ser uma epifania objetiva já realizada, deve ser um impulso pratico para mudar a historia e assim transformar o mundo. De iluminar o presente mediante a recepção do futuro da promessa. Desta maneira o critério decisivo não será mais a ortodoxia mais a ortopraxis histórica. Verum quia facendum, critério que marcará as teologias políticas e da libertação.

A memória do povo bíblico sempre vai voltar-se para as suas origens como povo, reconhecendo a intensidade que vai marcando sempre uma plenitude maior, sem excetuar os

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momentos obscuros que em vez de conduzir ao fracasso, fortaleceu a sua consciência de povo eleito e escolhido por um Deus que faz historia com ele. Israel reconheceu a presença sempre ativa de Deus que o conduzia a uma liberdade maior, sendo Ele a sua fonte, o seu guia, o seu corretor, dando assim cumprimento as suas promessas. Eis aí a razão de ser das distintas tradições que nos narram a historia desse povo, diferentes umas de outras mas apontando sempre na mesma direção. Na vida terrena de Jesus de Nazareth podemos reconhecer a Revelação da historia de Deus numa densidade maior ainda e que envolve já a cada um de nós. Ao mesmo tempo a Ressurreição vão manifesta-lo como o Deus da historia, o redentor do homem, de todos e cada um dos homens, logo de ter Ele instalado a sua tenda entre nós. Numa relação pessoal do Filho para com cada um de nós mas simultaneamente numa relação trinitaria, com o Pai e com o Espírito.

Nesta altura da nossa viagem temos que ter presente que a Ressurreição nos mostra que os dois sujeitos da “historia divina” que não se encarnaram, o Pai e o Paraclito, não ficaram simplesmente nem como espectadores, nem alheios às obras do Verbo encarnado e por tanto da Revelação: Eles se fazem presentes nos momentos mais importantes da sua vida e sempre segundo a relação especifica que caracteriza a cada um de eles e somente nela.

Uma Revelação trinitaria

Isto ultimo nos introduze no terceiro elemento da Revelação Cristã, a sua DIMENSÃO TRINITARIA, tantas vezes descuidada no discurso teológico da Revelação antes do Concilio. Por isto que após a Páscoa, toda a historia de Jesus é uma revelação da historia trinitaria de Deus, diáfaneidade mundana da dedicação e da inter-relação circular dos três nas relações que os une na sua intimidade e na relação pessoal com o mundo.

JHS ap-arece como a Revelação plena de Deus que é ao mesmo tempo Pai e Filho Jô 1,18. O Filho é o exegeta do Pai Hb 1,1-4. Somente o Filho pode revelar-nos ao Pai pois somente Ele o conhece e ao mesmo tempo somente Ele é conhecido pelo Pai Mt 11, 25-27. De outro lado esse Jesus é o Ungido pelo Espírito Santo Mt 3, 16; Mc 1,10; Lc 3,22. Ele dará o Espírito Sem medida Jô 3,34-35; 14,26; 16,13-15.

Por tudo o anterior percebemos que o estudo da Revelação é altamente trinitario, seja no Antigo Testamento e com maior intensidade no Novo Testamento. Essa Revelação trinitaria tem uma FORMA que será a sua própria especificidade como ela se manifestará: criador, fonte, origem, Redenção , santificação, consolação, etc.

Jesus Revela o rosto trinitario de Deus e a sua relação com o Pai, sendo que simultaneamente doa o seu Espírito numa comunhão trinitaria e num desejo permanente de reconciliação do mundo dos homens com Deus. Agora podemos entender a densidade trinitaria que caracteriza a teologia depois do Concilio por oposição a uma teologia dos manuais preconciliares que se tinha divorciado de uma visão da Cristologia em clave trinitaria e que deu como resultado uma cristologia abstrata, arida, conceitual, cerebral, especulativa. Este horizonte trouxe o mesmo resultado para o curso trinitario, seu caráter unicamente especulativo às vezes sem agarre no concreto revelar-se do Deus trinitario presente na economia da salvação.

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Recuperar a dimensão Trinitaria da historia de Jesus é o caminho oferecido ao conhecimento da fé que consegue penetrar no conhecimento de Deus e assim poder fazer d’Ele a verdadeira e autentica imagem cristã e não uma visão unicamente intelectualista que nos levaria longe do escândalo da Cruz, caminho necessário para chegarmos a luz que brilhou no dia da Páscoa de Jesus. Na Revelação cada uma das três Divinas Pessoas esta comprometida a sua maneira.

O aprofundamento trinitario da encarnação do Verbo vai nos mostrar como a Palavra encarnada retorna ao silencio da sua origem, na fonte da eternidade da qual provem e na qual Ele esta vivo eternamente: do Deus que se fez visível ao Deus invisível, do Filho ao Pai. Como afirmara Inácio de Antioquia: “O Pai se revelou a traves de seu Filho Jesus Cristo, aquele que é o Verbo procedente do Silencio”(ad Magn.8,2). A Palavra da revelação que é o Cristo, precisa ser transcendida, não no sentido de ser eliminada ou deixada entre parêntese –o que obstaculizaria todo aceso a profundidade divina- mas no sentido que ela é justamente a verdade e a vida enquanto que Ele é caminho(cf, Jo 14,6), limiar onde começa o Mistério, porta pela qual necessariamente tem que passar-se para poder entrar no redil das ovelhas (Jo 10,7), luz que veio na intensidade das trevas para ser a verdadeira Luz (Jo 1,9; Sl 36,10).

Graças a essa dialética Trinitaria entre Palavra e Silêncio, entre apertura e ocultação, no evento da Revelação a transcendência divina não é entregada a imanência do mundo mas a sua forma histórica de autocomunicação sempre vai nos remeter ao inesgotável excedente que encontraremos no mistério santo. A estrutura dialética da Revelação trinitaria na especulação da teologia filosófica de Hegel pois é próprio do Espírito concretizar-se no outro para numa etapa posterior voltar a encontrar-se. O sair de sim para inaugurar um outro distinto de sim.

Esta estrutura dialética da Revelação esta sinalizada na mesma palavra latina “revelatio”, considerada no seu significado etimológico . O prefixo “Re” tem um duplo sentido. De um lado tem o sentido de repetição do idêntico, “ex: re-sumo”, “re-produzir” “re-começar”; de outro lado aquele de passagem a uma condição oposta , ex: “re-velar,” quer dizer: tirar o véu; descobrir, desvelar, fazer conhecer; declarar, divulgar. Neste segundo caso a Revelação e o ato da passagem do velado ao descoberto, do precedentemente escondido ao intensamente manifestado (outrossim mantendo uma parte do véu por tratar-se do mistério de Deus, um adensar-se é sempre presente). Ao longo do AT Deus vai fazendo conhecer seus secretos a través das palavras dos profetas e da reflexão dos sábios. Não entanto todas essas coisas escondidas desde a “criação do mundo” (Mt 13,35), só se tornaram evidentes com a vinda do Cristo 2Co 3,14: O AT conserva um véu que é retirado com a Revelação do Cristo. Nele aparece a transparência dos desígnios misericordiosos do Pai: “Ninguém conhece o Filho senão o Pai, e ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser Revelar” Mt 11,27.

Agora sim entendemos porque os discípulos são testemunhas da “levantada” do véu e podem confessar com certeza: o que vimos, o que escutamos, o que tocamos,...nós o anunciamos, 1Jo 1, 1-3. João nos apresenta a alegria do discípulo que se deixa levar pelo dinamismo da Revelação.

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Jogo dialético que entendemos melhor na precisão que caracteriza a língua alemã, pois desde Lutero e passando por Hegel eles utilizam a palavra “offenbarung” que significa o ato de trazer a tona o que antes estava oculto. Essa palavra privilegia o segundo sentido da palavra latina Revelatio. Hegel defendera a perfeita correspondência entre o conteúdo e a forma da manifestação histórica de Deus: o que Deus é e o que Deus mostra ser em seu re-velar-se, identificam-se totalmente. Essa correspondência concreta entre conteúdo e forma é para Hegel a característica principal da religião Cristã. A religião Cristã e a religião da “offenbarung”, da revelação, pois nela nos é dito totalmente o que Deus é10. Nela não existem resíduos, restos, resistências. O Cristianismo é a manifestação do Outro, o puro desvelar-se dele. Removido o véu, o que estava atrás dele exibe-se na sua pureza, oferece-se à apreensão. A idéia abraça o divino, o conhecimento abre-se acolhedor a plena manifestação de Deus.

Assim a revelação entendida sob a precisão Hegeliana como o “revelatio Dei”, respeita o caráter trinitario e original da revelação. A teologia da Revelação deve orientar-se mais por uma Revelação que privilegia a dimensão da Palavra, da Historia e do conhecimento do Deus trinitario, caminho insuperável para poder escutar Esse Silencio que se abre na pessoa do Verbo encarnado que vai nos revelar tanto a pessoa do Pai e quanto à pessoa do Espírito Santo.

1.3 Lugares teológicos da Revelação na Sagrada Escritura

Congar e Lonergan quando falaram da natureza do discurso teologico dividem esta fase operatoria em dois momentos também : « escuta resceptiva da Tradição e construção ativa das configurações de sentido para o proprio tempo »11. A teologia e no caso que nos interessa para a introdução ao pensamento teologico tem que ter como ponto de partida a escuta atenta e rigorosa do que Melchior Cano (1509-1560) chamo de lugares teologicos – locis theologicis – e que a Constituição Dei Verbum soube sistematizar no Concilio Vaticano II. Cano pensaba os lugares teologicos como as fontes que testificam a Revelação ou como os lugares onde encontramos os principios da teologia. Eles são como o manancial onde o teologo extrai seu conhecimento, seus argumentos e as suas provas. Enumeremo-los – os lugares teologicos de Melchior Cano - mesmo que seja de passagem : 1) A Sagrada Escritura nos seus livros canonicos, 2) a Tradição de Cristo e dos Apostolos, 3) A Autoridade da Igreja Catolica, 4) O Ensinamento dos Concilios, sobretudo os ecumenicos, 5) A Autoridade da Igreja Romana que por Divino privilegio é apóstolica (do Papa), 6) autoridade dos santos Padres, 7) Dos teologos12 e peritos pontificios, 8) da razão natural13, 9)

10 A idéia de Deus para Hegel é que ele é Espírito. A natureza mesma do Espírito é manifestar-se, tornar-se objetivo. Esse é seu ato e a sua finalidade, seu único ato, e esse é seu ato infinito. O colocar-se diante de si mesmo como objeto para repossuir-se no ato mesmo de conhecer como sujeito cognoscente. Por tanto Deus é Espírito por excelência e o próprio do Espírito é manifestar-se, o tornar-se objetivo. 11 LONERGAN B., Il método in teologia, Brescia 1975, p. 152. 12 Refere-se aos teólogos escolásticos que foram tanto desvalorizados pelos autores da reforma e que para o auitor são tidos como uma segunda geração dos Santos Padres. 13 Vaticano I in Dei Filius, DS 3016: a razão iluminada pela Fe pode chegar ao conhecimento da verdade.

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autoridade dos filosofos14 e jurisconsultos, 10) A autoridade da historia humana15, seja escrita por autores dignos de credito, seja a transmitida de geração em geração evitando certamente toda superstição mas acima de tudo dirigida pela reta razão. De estes lugares teologicos a Dei Verbum fara uma magnifica apresentação da implicação e da inferencia mutua entre Sagrada Escritura, Tradição e o que significa o papel do Magisterio na Igreja. É Claro que a Bíblia é por definição o livro que contem um dialogo de amor entre Deus e o homem ou dito com outras palavras é a manifestação por escrito do Encontro do homem com o Deus vivo. Estas formulas que parecem como “slogans” manifestam no entanto a relação teologal do homem. O homem é capaz de entrar numa relação intersubjetiva com o próprio Deus. O homem é um ouvinte de Deus e como tal pode responder e dialogar com ele. A Bíblia não é outra coisa que a permanente manifestação do encontro intersubjetivo do Deus e do homem: Deus se dirige (se Revela) pessoalmente ao homem e este responde pessoalmente desde a fé. Revelação dum mistério escondido, mas que culmina na epifania (“ephiphaneia”) de Jesus como o Filho de Deus feito homem como nós e entre nós. Esta Revelação histórica do ato salvifico de Deus tem um desenvolvimento e uma pré-história. Em Cristo tem lugar a plenitude da Revelación. E isto nós o encontramos de modoespecial na Sagrada Escritura (Biblia) que é por excelencia o primeiro lugar teológico da Revelação. De fato, em Jesus apresentado pela Biblia, na sua palavra y em sua vida se contem-se tudo o que Deus quis dizer a humanidade e a cada homem. Em Jesús encontramos todo o que devemos saber acerca da nossa própria existência, nele entendemos o sentido de nosso diário viver. Em Cristo se nos tem dito tudo; e nos temos que ouvi-lo e temos que seguir o conselho de Santa Maria: fazei o que Ele vos dizer (Jo 2, 5). E aquilo que encontramos nas tradições que nos são apresentadas no AT e por isso todo o primeiro Testamento é considerado como a pré-história ou a preparação da Revelação cristã que vai encontrar na pessoa de Cristo o “telos” final. Todo o AT é orientado para este “telos” final e como tal deve ser lido e compreendido desde a Revelação final. Vamos olhar mais de perto os lugares da Revelação no interior da Biblia, primeiro e mais importante lugar teológico da Revelação. De modo que nos deteremos nos dois testamentos procurando os

Loci theologici dentro do lugar teológico por excelência que é a Sagrada Escritura: 1.3.1 No Primeiro Testamento: a) Uma revelação no texto literário (composição material do texto). Segundo a historia das religiões, toda comunidade que quer estabelecer-se sobre a base de acontecimentos históricos, para manter-se como tal, precisa de um livro, daí a preocupação por possuir a sua própria escritura. 14 Uma revalorização de Platão e de Aristóteles pelas vias de Agostinho e de Tomás por terem eles contribuído indiretamente ao afianzamento da Fe. De Platão por exemplo, recebemos a compreensão da imortalidade da alma, da divina providencia, da criação das coisas, dos limites do bem e do mal, do premio esperado na outra vida etc. 15 Novedosa e profética esta postura de Cano para nosso século: A historia humana esta involucrada na historia da salvação. De certo modo podemos encontrar uma antecipação do método histórico - critico ou do famoso “sinais dos tempos” do Concilio Vaticano II GS 4 .44.

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A composição literal da sagrada Escritura se fez na época da Monarquia quando Israel se constituiu Estado (1000A.C.) Já no período de David mais de modo especial no período de Salomão. Isto não é casual: existe uma historia que se remonta ao passado remoto de Israel mas também ao passado próximo; existe um florescimento da cultura em Israel e a possibilidade de elaborar um texto com a participação dos melhores escritores e historiadores que vão produzir o texto escrito. Existe a possibilidade de recolher textos ou transcrições isoladas que vão contribuir com a elaboração do livro. A Bíblia manifesta o interesse da encarnação de uma historia sagrada na humanidade do povo de Israel ao longo da historia. As recordações familiares e as tradições patriarcais têm um interesse de coesão dentro da tribo mas no instante em que aparece o Estado (desaparecendo o chefe individual que ditava os mandatos a serem cumpridos pelo grupo), se faz necessário que os preceitos, as leis, as experiências religiosas, validas para todos, sejam colocados por escrito, nascendo assim o livro. Nesta época se fixou e se recolheu a herança histórica das tradições de Israel e de Judá que será de agora em diante o patrimônio religioso da fé comum a Judá e a Israel e o anseio de ver um Israel total. A fé de Israel espalhada ao menos nas 4 tradições (J/E/D/S) começa a integrar-se num só LIVRO que recolhe o pensamento, embebe a vida, perpassa a historia, deixa emergir a consciência histórico/religiosa de Israel. Assim, pelas narrativas da criação por exemplo vai conhecer o sentido global da vida e o lugar do ser humano no cosmos, pela historia dos distintos povos o lugar próprio dele como povo e também vai situar-se como fazendo parte da historia universal, pela historia dos patriarcas vai ter noticias dos seus antepassados mais remotos; pelo êxodo conhece a sua origem determinante como povo a caminho, pela historia da conquista conhece o seu passado mais próximo. b) uma Revelação na experiência de libertação. E a experiência da libertação do Egito o centro que dinamiza a fé de Israel. Experiência que manifesta em si mesma seu sentido e seu mistério. A traves do texto escrito podemos acercar-nos na medida do possível aos acontecimentos originários mesmo se eles nos ultrapassam. Encontraremos lugares geográficos comuns até hoje mas ao mesmo tempo concepções “oraculares”, aparições, visões, audições das palavras de YHWH as quais são- para o homem do século XXI- objetivamente inacessíveis. A critica literária vai mostrar-nos como existem diferentes combinações e associações para explicar um mesmo fato que permanece subjacente aos distintos relatos. Assim por exemplo: a Vocação de Moisés não é igual na apresentação que faz Ex 3-4 e naquela que faz Ex 6, 2-7, 7. A critica textual vai nos dizer que a primeira é uma combinação da tradição Yavista com a Elohista e a segunda pertence à tradição sacerdotal. Igual acontece nas diferentes apresentações do “mar dos Juncos, mais conhecido como o “passo do mar vermelho”. Podemos distinguir 4 versões:

- A mais espetacular: Moisés estende a mão, as águas se abrem, logo ao passo dos egípcios as águas se fecham afogando os egípcios: Ex14,16.21ab.22-23.26.27a.28a.

- YHWH seca durante a noite o mar com um forte vento: 14,14.21b.27b.c.

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- YHWH infunde o pânico na guarnição egípcia, inutiliza os seus carros e os atira ao mar: 14, 24b .25a .27b .

- O Anjo de Deus e a coluna de fogo ou de nuvens impede o contato entre as duas tropas. Ex 14, 19. 20.

Fica claro que a revelação não pode ser buscada na historicidade da narração pois ela é um texto literário embelecido pela arte literária mas no acontecimento que esta na base de essa experiência original. E claro que essa experiência de um passado foi verbalizada imaginariamente e adornada com as figuras literárias e as cores do extraordinário para recuperar o passado e entender o presente de Israel. c) Uma Revelação na Palavra. Bem que uma constante para Israel no primeiro Testamento é a fé num Deus sempre oculto para o homem, Gn 32,21; Ex 24,10ss; 33, 18-23, não entanto Deus permite deixar-se conhecer do próprio homem, Ele se Revela a partir de múltiplas experiências: as tormentas, o fogo, os tremores de terra, as enchentes as secas, nas experiências do culto onde manifesta a sua Gloria, mas um lugar privilegiado da sua Revelação é acima de tudo pela sua Palavra. Uma Palavra com matiz profético que lentamente vai se convertendo em Palavra de YHWH. Ex 3, 1-6.14; 19, 16ss; Is 6,1-5. 9. O Deus escondido de Israel se revela como um Deus salvador. Um Deus que ama seu povo e por isso lhe dona uma lei, a torah, como norma de comportamento e como uma ajuda para manter esse relacionamento amoroso com Ele. Israel vê que Deus se tem Revelado nas 10

palavras como se conhecera também os dez mandamentos. E uma revelação pessoal que implica um comportamento ético de parte do povo, conferindo-lhe assim um caráter peculiar e inconfundível diante dos outros povos da terra. d) Outro lugar da Revelação é o movimento profético, um dos fenômenos mais impressionantes da historia da humanidade. Nos profetas assombra o caráter imediato da palavra de Deus; a palavra de Deus sai ainda viva e ardente da boca do profeta; a proximidade de YHWH se deixa sentir na profundidade da palavra pronunciada pelo profeta. Possivelmente é no profeta onde se forja o conceito de Revelação de Deus pela palavra do profeta. A Revelação pela Palavra no profetismo ocupa uma enorme importância para a experiência religiosa de Israel. Deus se Revela pelos fatos e necessariamente para narrá-los precisa de uma vocação – a do profeta- que possa ocupar-se da comunicação do conteúdo da palavra. Uma palavra que apresenta uma verticalidade na sua origem. Assim é o mesmo Deus que pronuncia a sua Palavra pela boca do profeta. Daí que aquele que a comunica explicita: utiliza as conhecidas formulas estereotipadas “disse Deus”, “YHWH diz”, “oráculo de YHWH”, “foi-me dirigida à palavra de YHWH”, “foi-me Revelado”, etc. Deve evitar-se o perigo de pensar que o profeta num primeiro tempo decora mecanicamente e que num segundo repete literalmente a palavra de Deus. O profeta concede toda a sua psicologia para a encarnação da Palavra, Deus se encarna na palavra humana representada

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pelo profeta, por isso as imagens próprias ao profeta para descrever a mensagem revelada: Ezequiel deve comer e assimilar o rolo, Jeremias sente a palavra de Deus como a lava ardente que queima as suas próprias entranhas...Eles são verdadeiros artesãos da Palavra e devem proclamá-la com o suor da suas frontes. e) Revelação na literatura sapiencial A sabedoria é outro “Sitz im leben” da Revelação.Todavia é necessário que tenhamos presente que para o mundo hebraico não existe o dualismo propagado no mundo moderno pela ilustração entre razão e fé. G.Von Rad vai dizer: para Israel não existia senão o mundo empírico, que era percebido mediante um único órgão de conhecimento, pois a razão e a fé não estavam separadas”16. A sabedoria em Israel não se apresenta como contraria a fé. Uma sabedoria que vindo de fora de Israel (Egito, Edom, Babilônia, Arábia), trata da vida ordinária e se ocupa de discernir a verdade numa reflexão racional. Pouco a pouco Israel vai percebendo a YHWH como o fundamento das leis e das formas de todas as coisas e por tanto a consideração da sabedoria como um momento da Revelação é uma passagem muito curta. Isto acontecera de modo especial na época post-exilica. No dizer de Von Rad: Ela é concebida como um chamado de Deus ao homem, ou seja, como

a mediadora da revelação divina; converte-se na grande educadora dos povos, e de Israel em

particular, chega-se a considerá-la o principio divino dado ao mundo na criação. Deste

modo todo o trabalho do judaísmo tardio tem um caráter mais ou menos sapiencial”17

. No livro de Jô por exemplo, força do mistério assinala limites ao conhecimento do homem (porque a dor? Porque o sofrimento? Porque a morte?). Ao homem fica unicamente de partilhar as bondades de Deus que concede ao homem nesta vida. Apaziguar-se diante das constantes perguntas que o homem coloca a Deus e num ato de fé confiante entregar-se a um Deus que supera toda sabedoria. L. Alonso Shöekel expressou-o belamente dizendo: “Nos livros sapienciais, antes da encarnação manifestou-se à humanidade de Deus”.18 O acontecimento Revelador se manifesta nessa permanente parceria da sabedoria do alto para o baixo e vice-versa. O Deus escondido se revela também nos altos acontecimentos da historia de Israel a partir da eleição dos mediadores que Ele mesmo escolhe para seu povo: Moisés, profetas: Ex 6, 2-13. 29; Eclo 24, 33. Deus se manifesta para ser entendido e o homem descobre que sem uma vontade de Deus de deixar-se conhecer, o homem não o conheceria, pois é uma mensagem que vem do além. Agora, si Deus se deixa conhecer quando se revela, por exemplo, à criação, quer dizer que se fechar ao conhecimento dele é imperdoável. A idolatria não pode ser suportada para o homem: Sb 12, 3-11; Rm 1, 20.

16 G.von Rad, Teologia Del Antiguo Testamento II p.87. 17 Op.cit. p.534. 18 L. Alonso Shökel, Job,comentario teologico y literario, Edições Cristiandad, Madrid 1983, P. 531-542.

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1.3.2 No Segundo Testamento

Deus não Revela uma doutrina sobre ele, nem sobre o mundo, nem sobre o homem. Ele Revela-se a si mesmo como o acontecer do Reino de Deus no meio dos homens. A linguagem do desvelar uma realidade escondida continua no N.T., mas na pessoa de Jesus toca o seu fim. Ele é a Revelação plena, ultima, definitiva, final. Já não temos direito de esperar outra Revelação pois tudo foi nos dado no Filho. No Novo Testamento temos entre outros, estes lugares teológicos da Revelação ao interior da Sagrada Escritura que como já o dizemos é o primeiro e o mais importante lugar teologico: a) Revelação do Mistério. Segundo a Teologia de Paulo, Evangelho e Mistério, são dois temos privilegiados na sua compreensão da Revelação. No dês/velamento produzido pelo mistério da encarnação, encontramos a diafaneidade de Deus, a sua transparência. Claro a Revelação sempre será uma experiência subjetiva de um acontecimento objetivo em estrita interdependência. A Transparência de Deus no mundo. Algo extraordinário que nos faz sair de nós mesmo para reconhecer o dês/velamento do Mistério. E algo assim como si caísse a ficha! Paulo tem uma formação grega e ele vê que a Revelação se converte em Palavra que deve ser anunciada. Ele é o Mistério escondido durante muito tempo, mas Revelado, manifestado na paixão, morte, Ressurreição e exaltação do Senhor Jesus, phaneroun: Rm 3,21; 16,25-26 ; mistério escondido ao longo dos séculos 1cor 2,6-9. Esse Mistério é Cristo Cl1, 26-28; 1Tm 3, 16. Nos assistimos a ao êxtase de Deus e por isso somos tomados de um assombro especial. Não podemos conter o silencio e por isso se faz necessário falar, narrar, descrever. Também é próprio de Paulo o termo Apokaluptein, 1Cor 2, 10; Ef 3, 5ss etc. b) Revelação da Palavra. Primeiro em João, sendo a reflexão da Igreja mais recente, caracteriza-se por ser o Evangelho da Revelação por excelência.19 A Revelação retoma o tema de palavra como no AT, mas de uma maneira completamente nova; o Verbo já não é somente uma palavra dita, o Verbo é a pessoa do Filho e Ele é consubstancial a Deus porque Ele é Deus. O Logos de João é apresentado como o interprete, Exegese, do Pai Jô 1, 1-2.17-18. Uma Palavra que transmitida de diversas maneiras ao longo da historia da salvação encontra o ápice na Encarnação do Filho de Deus: 1,14. Palavra que é além do mais, carne viva e concreta, que vimos, tocamos, com nossa própria materialidade humana, com o nosso corpo 1 Jo1,1-3. A Palavra da Revelação é uma Palavra transparente por ser Palavra de Deus. A traves da palavra corriqueira algo resplande-se, algo soa, se ouve. Deuis se revela. Em segundo lugar devemos considerar A Carta aos Hebreus. Nela encontramos a ruptura e a continuidade entre os dois testamentos e trabalhando finamente o tema da Palavra Hb 1,1-4. Aqui encontramos já nos primeiros versículos uma síntese elevadíssima de Cristologia. Já é nos antecipada nos começos do primeiro século, a consubstancialidade das pessoas divinas (omousios) que será o tema nos futuros concílios de Nicéia e de Constantinopla no século IV.

19 Com respeito as características próprias e as constantes dos outros Evangelhos, dos sinóticos por exemplo, ver supra o item a) sobre a Revelação pela Palavra do 1.2, p.8.

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c) Revelação como DEPOSITO. Já no final do período neotestamentario, nas cartas pastorais atribuídas a Paulo, os escritos a propósito da Revelação vão convertendo-se num Corpus o Deposito, e porque sendo de uma parte Palavra Inspirada e como tal Sagrada Escritura e de outra parte Palavra Revelada, urge a consciência de custodiá-lo, guardá-lo, conservá-lo . De um lado estes escritos sob a inspiração divina

20dão inicio a elaboração do cânon dos livros revelados e é por esta razão – porque revelados- que devem ser protegidos, conservados, guardados de todo tipo de contaminação o de tergiversação da sã doutrina: 1Tm 6,20; 2Tm 1,14. De outro lado esta doutrina que tem que ser transmitida e passada para outras testemunhas autorizadas: 2Tm 2,2; Tt 2,1. O Novo Testamento testemunha de uma maneira geral a relação dialógica que se tem estabelecido, hic et nunc, entre o Deus salvador e o homem pecador. A salvação e a conversão não podem ter-se sem que se dei um conhecimento – um desvelar- dos desígnios salvíficos de Deus que produz em nós a contemplação de um amor ilimitado da parte de Deus. Não esqueçamos que na medida em que Cristo vai ganhando o estatuto central da Revelação no Novo Testamento, a sua autoridade chega a ser norma para o mesmo Antigo Testamento e que chegou-se até o extremo – dentro de uma parte da grande Igreja- de desapreciar e mesmo de “demonizar” o Primeiro a beneficio do Segundo Testamento (gnósticos21, Marcion22, maniqueus23). Agora, depois do Vaticano II não podemos ignorara as Sagradas Escrituras porque isto seria catastrófico no sentido de não querer ouvir Aquele que nelas nos fala. Como dizia São Jerônimo citado pela Dei Verbum “ignorar as Sagradas Escrituras é tanto como ignorar o próprio Cristo”. E só pensar na reviravolta, chamada por outros como revolução copernicana”,

20 Cf 2Tm 3, 16; 2Pd 1,20-21 a afirmação aponta diretamente aos textos do Antigo Testamento mais com maior razão uma consciência progressiva vai aplicá-la aos escritos neotestamentarios, na medida em que se foi elaborando um cânon do Novo Testamento para fazer uma única Bíblia formada pelos dois Testamentos.Eles não são fabulas artificiosas ou de feição como lemos em 1Tm 1,4; 2Tm 4,4; 2Pe 1,16; Hb 13,8. 21 Certos conceitos comuns aos diferentes gnosticismos: uma visão dualista de tudo: contraste entre o mundo do espírito e o mundo material, entre o bem e o mal, entre a esfera superior e a inferior. Ele afirmara um Deus Supremo que esta além do mundo material e uma divindade inferior criadora do mundo material. Este segundo para eles era o Deus do Antigo Testamento. Valentino por exemplo dizia que o Pleroma divino estava formado por 30 eons, dos quais o eon numero 1 era o Deus Supremo. Do ultimo eon logo de uma queda por causa da paixão e da ansiedade, se originou o mundo material. O demiurgo que crio o mundo desprendeu-se deste ultimo eon. 22 Propagador de uma heresia cristã no final do segundo século: entre o AT e o NT só se da uma total oposição. Existe uma radical oposição entre lei e Evangelho(Paulo dissera que o Cristão está livre da lei). Entre o Deus justo(AT) e o Deus Bom (NT). O primeiro é o criador no Antigo testamento, é um Deus severo, vingador, que tomou como elemento base a matéria principio do mal. Este é o Deus dos Judeus e se caracteriza por uma obsessão pela justiça e pela vingança. O Deus Bom, manifestado em Jesus Cristo, é superior ao primeiro e veio para nos libertar do poder do demiurgo criador. Nele se manifesta o Deus da misericórdia e do perdão. Contudo Marcion suprimia todo nascimento e crescimento de JHS. Segundo ele, Cristo era superior a todo o mundo material e teria aparecido subitamente no ano 15 do império de Tibério já num corpo de adulto. Ele não teria tido mãe terrestre e mostrava somente uma aparência da carne. Esta carne –ilusória- por uma dispensa divina foi realmente crucificada e sofreu a paixão e a morte da cruz mas sem ser possível de padecer dor alguma. Um discípulo de Marcion, Apolo, atribuía a Cristo um corpo verdadeiro mas tirado da matéria dos astros. 23 Conhecido sobre todo pelas disputas de Agostinho contra eles, embora nos seus começos Agostinho tenha aderido aos seus ensinamentos. Doutrina de Mani (216 em Babilônia -277em Irão), existem dois princípios: o bem e o mal. Num segundo momento dá-se um enfrentamento entre o rei das trevas e o da luz, os quais dão lugar a varias emanações: Mãe da humanidade, O primeiro Homem, o Espírito e o Esplendor na Pessoa de Jesus. O momento final ainda não se realizou. Ainda deve acontecer um julgamento final, para que triunfe a bondade. (Agostinho lutara por mostrar que o mal não vem dum principio mau mas da liberdade humana, quer dizer de uma livre escolha feita pela vontade humana = libre arbítrio).

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acontecida entre Trento e o Vaticano II enquanto a uso das Sagradas Escrituras: diante da impossibilidade de se aproximar da Sagrada Escritura na época tridentina, até porque as traduções vernáculas não existiam; agora a Bíblia foi entregue aos batizados em suas próprias línguas e foi pedido o interesse dos mestres e exegetas de profissão para aprofundar o conhecimento da Palavra de Deus. 1.4 A Tradição e as tradições no discurso teológico Na epistemologia filosófica como na teológica, é sempre necessário distinguir os termos para evitar os riscos de terminar em verdadeiros equívocos. Para que isto não aconteça, vamos distinguir os termos: Tradição e tradições. Num sentido geral, tradição vem do latim traditio que é um substantivo correspondente ao verbo tradere que significa transmitir, comunicar, entregar. No direito romano, consistia em todo ato jurídico para passar um objeto a outro (as chaves da casa, da cidade, duma loja, de uma terra) se escrevia como traditio clavium, etc. Tradere, traditio significava então o ato onde, de um lado existe alguém que tem a vontade de entregar alguma coisa e do outro, alguém disposto ou interessado em receber tal objeto. Hoje nós poderíamos evocar como o melhor exemplo para compreender a tradição, à corrida

de Revesamentos nos desportes olímpicos onde os corredores escalonados transmitem e recebem um objeto percorrendo uma distancia no menor tempo possível. Assim, traditio -que em grego corresponde a paradidonai (entregar, comunicar, transmitir) -,

joga um papel muito importante na economia da salvação. Enquanto que Deus se da completamente ao homem e este recebe a entrega que Ele vai fazendo de seu próprio ser progressivamente. Ele que é Deus, Pai, a Origem absoluta, o Principio, a fonte primordial, não somente pelo fato da criação das coisas visíveis mas também na processão intradivina do Filho e do Espírito. A economia da salvação é toda uma traditio divina: na plenitude dos tempos Deus se entrega no Filho Gal 2,20; Ef 5,2.25 Rm 8,31-32; finalmente a traves de Jesus Ele deu seu Espírito sobre a Igreja representada na hora da crucifixão por João e de Maria, Jo19,30. Esta entrega de Cristo e esta entrega do Espírito são os constitutivos e o patrimônio da Igreja nascente e a razão do envio feito a todos os batizados após a Ressurreição: Jô 20,22. Agora bem, quando o tradere significa um objeto material, o proprietário perde o direito de domínio que tem sobre a coisa transmitida. Isto não acontece com os bens espirituais, por exemplo, o mestre que passa ao aluno seus conhecimentos. Aqui ninguém perde, ao contrario os dois ganham a possessão e o domínio da ciência. Ainda isto é mais verdadeiro quando se trata da Revelação feita por Deus ao homem. Primeiro, porque aquilo que se comunica é uma doutrina: aquilo que Deus nos comunicou por seu próprio Filho e que Ele comunicou aos apóstolos e com eles a Igreja nascente, o Evangelho da salvação e que provoca em nós uma resposta de fé. Tradere significa também ensinar. Em segundo lugar porque o Cristianismo é em definitiva uma comunhão e ainda mais uma intercomunhão. Em razão de nossa fé, nós entramos em comunhão com o Pai e com o próprio

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Cristo 1Jo, 1,1-3. Graças à tradição o dom do Pai pode comunicar-se na Igreja dentro do espaço e do tempo e assim sucessivamente as gerações posteriores de modo que uma multidão de homens separados no tempo e na distância, possuem o mesmo conteúdo da Revelação: o dom de Deus como obra de salvação realizada na pessoa de Jesus de Nazareth, nas suas palavras e nas suas obras. A Revelação, graças à obra da Tradição - que é o Segundo lugar teológico da Revelação em importância e que vem depois da Sagrada Escritura -, é um tesouro que continua o mesmo e idêntico mesmo na distância do tempo e das gerações; por exemplo, o nosso cristianismo que compreende as santas Escrituras mais também de coisas como os sacramentos, a liturgia, a organização dos ministérios, as instituições materiais, o direito canônico, as devoções, a piedade. Existe um sentido estrito da Tradição para o cristianismo; consiste em tudo aquilo que os discípulos da primeira hora puderam observar, comunicar, escrever sobre a vida, Paixão, morte e exaltação do Senhor. Esses discípulos deram esse testemunho por palavras e até com o testemunho de sua própria vida. Um testemunho suscitado pelo mesmo Ressuscitado a traves do seu Espírito nos apóstolos e na primeira comunidade cristã. A Tradição, com maiúscula, comporta tudo o que logo depois foi consignado pelos escritores dos livros neotestamentarios ao respeito da pessoa de Jesus como Revelação do Pai. A Tradição é uma outra modalidade de comunicação do Evento Jesus que termina sendo posto por escrito na redação dos textos do Novo Testamento. Uma Tradição que é anterior e ao mesmo tempo simultânea dos escritos do Novo Testamento. Assim por exemplo, 1Cor 11,23; 15,3; Lc 1,1-4 nos comenta que os livros escritos são o fruto de uma investigação minuciosa sobre os fatos e ditos de Jesus de uma parte e sobre o testemunho de comunicar um ensinamento também recebido. No campo da historia da nossa salvação, nos confessamos um Deus, Principio sem principio que se dôo a nós por amor na pessoa de seu Filho JHS (Rm 8, 37-1-32; Gal 2,20). Depois Ele deu seu Espírito o dia de Pentecostes que a sua vez deu nascimento a Igreja. Nenhum repórter tomou nota destes acontecimentos nem os pôs por escrito simultaneamente a como eles estavam-se realizando. Foram os apóstolos e as testemunhas oculares destes fatos que foram transmitindo oralmente com as suas palavras o que eles viram, escutaram e presenciaram. Mais tarde outros consignaram por escrito tais acontecimentos da nossa salvação que pela via oral e escrita tem chegado até nós. Eis aqui a Tradição com maiúscula como um dos caminhos pelos quais se tem alimentado a nossa fé e que em nada difere da fé das primeiras testemunhas ou da Igreja da primeira hora. Poderíamos dizer que a Tradição é o ato de transmissão continua da mensagem revelada. Em outras palavras, do mistério revelado para nós na pessoa de Jesus o Filho de Deus, tudo o que ele fez pelas suas palavras e pelas suas obras. E Claro que Jesus não nos deixou um livro escrito, nem teve por pretensão faze-lo. Foram os apóstolos e por eles, as comunidades que eles fundaram, que puseram por escrito o Tudo da revelação, mesmo si essa totalidade aparece na Sagrada Escritura fragmentariamente. Quer dizer, o Tudo é presente na Sagrada Escritura mas não todo aparece nela: Jô 21, 24-25. Si os

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Evangelhos, de uma parte traduzem a catequese, direta ou indiretamente dos 4 Evangelistas 24, de outra parte eles insistem em que todo não foi consignado por escrito, muitas outras coisas poderiam-se dizer ainda, Jô 20,30. Mesmo si os quatro Evangelhos são completados por os escritos das cartas, sobretudo do apostolo Paulo e por os outros escritos do novo Testamento, ficam ainda outros ensinamentos que somente são transmitidos pela Tradição desenvolvida a traves dos séculos pela Igreja, pelos Concílios, pelos Padres da Igreja25, pelos ensinamentos do Magistério e dos doutores26 e enfim, pela pratica de fé dos fiéis ao longo da historia da Igreja. Pensemos nas formulações dos dogmas27 na Igreja o nos atos solenes onde a Igreja tem 24 A tradição interpreta o Evangelho de Lucas como o apostolado de Paulo e o Evangelho de Marcos como dependente do apostolado de Pedro. 25 Padres da Igreja e doutores da Igreja. São padres da Igreja os autores eclesiásticos a grosso modo do período do primeiro milênio que conservam nos seus escritos uma presença da Tradição da Igreja. E certamente um termo de afecção e de gratidão por aqueles autores dos primeiros séculos que souberam transmitir e explicarmos a fé. Quatro traços caracterizam a noção de Padre na Igreja: antiguidade, ortodoxia no ensinamento, santidade e aprovação implícita ou explicita da Igreja. Se alguma de essas condições faltar, fala-se de “escritor eclesiástico” como no caso de Orígenes e de Tertuliano. Considera-se a Patrística, encerrada como período histórico, com são Gregório (604) e são Isidoro (636) no Ocidente e com são João Damasceno (749) no Oriente.

26 A Igreja atribui oficialmente o titulo de doutor a teólogos (as) aos quais ela reconhece uma autoridade particular como testemunha da doutrina, em razão também da segurança do seu pensamento, da santidade de sua vida e da importância de sua obra.

Os Doutores da Igreja, são todos aqueles autores eminentes, sobretudo a partir do segundo milênio, que por seu ministério eclesial e o exemplo de sal vida são considerados como testemunhas privilegiadas da fé da Igreja. "Doctor/a da Igreja" é um título que a Igreja (o Papa, um concilio ecumênico) outorga oficialmente a certos santos para reconhecê-los como eminentes mestres da fé para os fieis de todos os tempos.

Dos oito Doutores originais, quatro eram Padres de Ocidente: São Gregório Magno, São Ambrosio, São Agostinho e São Jerônimo (proclamados Doutores em 1298) e quatro eram do Oriente: (1568): São Atanásio, São João Crisóstomo, São Basílio Magno e São Gregório Nacianceno. Atualmente (2006) existem 33 Doutores, entre eles três mulheres (Santa Teresa de Ávila, Santa Catarina de Sena e Santa Teresa de Lisieux). Alguns deles foram teólogos ou professores de teologia. Somente em 1298 com o papa Bonifácio VIII é que se começa a dar o titulo de doutor na Igreja.

Os doutores foram conhecidos com um adjetivo que caracterizava a sua doutrina: Bernardo de Claraval como “doutor melífluo”, Tomas de Aquino como “doutor angélico”, Boaventura como “doutor seráfico”, Duns Scoto como “doutor subtil”, Alexandre de Hales como “doutor irrefragável”, Guillermo de Ockam como “doutor invencível”. Mulheres também têm sido declaradas doutoras: Teresa de Ávila (XVI) e Catarina de Siena (XIV) em 1970 por Paulo VI e Santa Teresa do Menino Jesus (1873-1897) em outubro de 1997 por JPII.

27 A fé não é adesão do pensamento a verdades sublimes (dogmas). A fé é um ato de confiança naquele Deus que faz Aliança com o homem, que manifesta o seu amor e a sua fidelidade a traves dos acontecimentos da historia: promessa feita a Abraham, libertação do Egito, a Aliança do Sinai, a passagem do mar vermelho o do Jordão, a renovação da aliança após a trágica experiência do exílio. E quando os tempos se cumpriram a Encarnação do Verbo (Palavra oferecida), a morte e a Ressurreição de Cristo: “A quem iremos Senhor? Tu tens palavras de vida eterna. Nos cremos e reconhecemos que tu es o santo de Deus” Jo 6,68-69. E os dogmas? Santo Tomas diz que a fé não se dirige as formulas enunciadas (ad enuntiabilia) mas a realidade que elas nos indicam (ad

rem), ao mistério que tentam apontar as nossas pobres palavras. Por exemplo: quando no IV século os concílios dizem de Jesus que Ele não foi criado mas verdadeiro Deus como o Pai: “gerado, não criado”, “nascido do pai antes de todos os séculos” eles querem

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declarado verdades de fé que não aparecem explicitamente na Escritura: a Imaculada Conceição de Maria a Mãe de Deus, a Assunção, o numero dos sacramentos, os livros canônicos da sagrada Escritura, o Credo, A Trindade, a Virgindade perpetua de Maria, o batismo das crianças, a infalibilidade da Bíblia, etc. Todavia, essas verdades pertencem ao deposito da Revelação sem que apareçam literalmente escritas na Sagrada Escritura. Quer isto dizer que a Igreja não mantém a Escritura sola como o único caminho para aceder as verdades Reveladas senão que ela também as toma a partir da sagrada Tradição. Para Y. Congar, nos quase cem anos primeiros do Cristianismo, a pregação era somente da Escritura que naquele momento compreendia o Antigo Testamento e o Evangelho, predicado oralmente por Tradição a partir dês escritos apostólicos, escritos evangélicos e cartas que a sua vez estavam espalhados nas comunidades. O Evangelho estava impresso no mais profundo das testemunhas apostólicas pelo Espírito Santo e a sua transmissão vivente dos apóstolos que iam comunicando-o as comunidades. Lembremos que o ideal judeu do discípulo sobrepassa o simples domínio do saber: o aluno imitava e vivia a maneira de viver do mestre. Os apóstolos tinham recebido da boca do próprio Cristo tais ensinamentos e eles os comunicavam as Igrejas sem tergiversação do núcleo que forma à nossa fé. Agora bem, no momento da pregação apostólica, viu-se a necessidade de fazer alguma coisa para proteger a sã doutrina de afastamentos, tergiversações e deturpações possíveis que iriam sair mesmo no seio das comunidades. Por isso as recomendações feitas aos sucessores imediatos que encontramos, sobretudo nas cartas pastorais atribuídas a Paulo: 2Ts 2,15; 1 Co 11, 2.23. Agora bem, não podemos confundir a Sagrada Tradição com as tradições meramente humanas ou eclesiais as quais não são outra coisa que costumes, hábitos, jeitos, disciplinas próprias a maneira de conduzir-se uma comunidade mesmo na vivencia da sua fé. Lembremo-nos que Jesus condenou certas tradições (não todas as tradições) uma vez que elas iam a contra das leis de Deus Mc 7,8. se opor a todas as heresias que pretendem fazer do Filho uma simples criatura, mesmo dizendo que ela é a mais sublime o a mais alta. Os teólogos que enunciaram esta verdade teológica não o fizeram simplesmente por complicar a linguagem dos evangelhos mas para assegurar a fé em Jesus o Salvador que corria o risco de perder-se: Nos não poderíamos ser salvos si Jesus fosse simplesmente um homem e não plenamente Deus.

Em quanto a tudo o que foi juntado pela Igreja, temos que lembrar o que diz o Vaticano II : « Existe uma ordem o hierarquia das verdades da doutrina católica, em ração da sua relação que guarda com o fundamento da fé Cristã” (Unitatis redintegratio 11). Evidentemente o dogma da Imaculada Conceição é menos próximo do fundamento da fé cristã que o dogma da divindade de Jesus Cristo. Que o fato de Maria ter sido preservada do pecado original é uma verdade segunda em comparação com a divindade de Jesus que é uma verdade primeira. Não percamos de olho que o Dogma da imaculada conceição de Maria se desprende do fato da encarnação de Deus em Jesus Cristo que é a fonte do dogma mariano. Assim sucessivamente nos devemos em teologia subir até a fonte da verdade primeira.

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Não podemos confundir a Sagrada Tradição com as tradições que são simples costumes disciplinarias das maneiras como se vive a fé cristã em certos ambientes e lugares, por exemplo, o rezo do terço, o celibato sacerdotal, o fato de no comer carne as sextas feiras da quaresma, a devoção a São Judas o a Santa Rita de Cássia, a festa do Divino, as festas de São João, a maneira de rezar a liturgia nos seminários, nos mosteiros, nas catedrais, o uso do clergiman, da túnica, das vestes litúrgicas, das vestes dos ministros extraordinários da eucaristia, a maneira da escolha dos bispos, a missa em latim, etc. Finalmente devemos manter firme tota Traditio mas seria uma traição ao cristianismo querer manter firmes totae traditiones , ao longo dos séculos e das gerações todas.

1.5 O Magistério na Igreja e a sua missão de interpretar o dado revelado

Da mesma maneira que nas universidades medievais existia uma instancia magisterial, formada por um corpo de docentes (mestres) autorizados para ensinar e para decidir respeito às doutrinas apresentadas, da mesma maneira existe na Igreja (desde os seus começos) uma instancia habilitada para pronunciar-se em tudo o que concerne a fé e a sua vivencia eclesial. Segundo a teologia católica, o Cristo mesmo confiou a Igreja o ensinamento de sua doutrina e a conservação da mesma de toda contaminação de falsas doutrinas ou das tergiversações possíveis da verdadeira e sã doutrina. Muito cedo se compreenderam certas passagens do Novo Testamento como a atestação dum magistério conferido pelo próprio Cristo aos seus discípulos: Mt 16, 16-19; Lc 10, 16; Lc 22,31s; Jô 21, 15ss. A estes textos se ajunta a instituição do episcopado monárquico no II século com Inácio de Antioquia e da organização da administração do ministério eclesiástico segundo nos moldes do império romano. Tomas de Aquino distinguia dois tipos de magistério: o magisterium cathedrae pastoralis dos bispos e o magisterium cathedrae magisttralis dos teólogos. No tempo da reforma o magistério da Igreja católica é um dos pontos discordantes; para eles a única norma magisterial é a Sagrada Escritura e somente Ela. Eles chegam até afirmar que no governo da Igreja, os bispos não tem autoridade de introduzir outras regras contrarias aos fieis, mas que as Sagradas Escrituras. Certamente que esta conceição pertence ao protestantismo inicial; hoje eles mesmos sentem a necessidade de ter uma instancia reguladora da disciplina para as suas Igrejas. O Magistério como nos o concebemos hoje, data da organização que lhe conferiu o concilio Vat.I (1869/70) que consiste na afirmação jurisdicional e doutrinal do soberano Pontífice sobre toda a Igreja em matéria de fé e de moral como também no que respeita a disciplina eclesiástica. Junto ao Papa estão os bispos como mestres da doutrina, os quais em conjunto formam o Magistério na Igreja. Eles guiados pela assistência do Espírito Santo conduzem os fieis a verdade plena de Cristo e a certeza de sua doutrina. Os ensinamentos do Magistério tratam da fé, quer dizer, sobre tudo aquilo que é necessário crer para ser salvo; ao mesmo tempo sobre tudo aquilo que devemos praticar, isto é, sobre tudo aquilo que temos que praticar para manter-nos unidos a Deus, pois como fala Tiago, “a

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fé sem obras é morta”, Tg 2, 17. Em virtude do mandato recebido do Cristo e graças a assistência do Espírito Santo, o Magistério tem como tarefa a conservação integra do Depoistum fidei ( presente na Escritura e na Tradição); ele deve protegê-lo, explicá-lo e conservá-lo. Estes ensinamentos da Igreja a traves do Magistério têm vários níveis de autoridade segundo a relação de proximidade que guardem com os dados da Revelação:

• Assim existe um ensinamento magistérial infalível toda vez que o conteúdo faz parte dos dados revelados, isto é, como ensinamentos revelados eles estão excetuados de erros28. A estes ensinamentos os fiéis são convidados dar um ASSENTIMENTO DE FÉ. Estes ensinamentos são geralmente oferecidos pelo Papa no seu magistério extraordinário (raras ocasiões como nas definições dos dogmas29). Aqui se diz que o Papa fala infalivelmente, ele fala EX CATHEDRA. Este Magistério extraordinário também se realiza nos Concílios Ecumênicos: o Papa e todos os bispos juntos. Este Magistério da infalibilidade mesmo que declarado oficialmente no Concilio Vaticano I (1870) foi rigorosamente precisado no Concilio Vaticano II na Constituição Lúmen

Gentium 22 e 23. O Bispo de uma diocese particular fala infalivelmente toda vez que unido ao Papa e ao Colégio Episcopal afirma uma sentença sobre as verdades da fé e da moral.

• Existe um segundo ensinamento magisterial chamado magistério Ordinário ou autentico que consiste no ensinamento normal do Papa30 e dos bispos sobre as verdades relacionadas com as verdades de fé numa segunda ou terceira instancia. Esses ensinamentos tratam da vida cristã dos fiéis e de sua pratica da fé nas circunstancias precisas e se fazem a traves dos Documentos que geralmente são oferecidos como o instrumento para o exercício do magistério ordinário do Papa, dos Concílios, das Congregações, enfim dos órgãos da cúria Romana que ajudam no exercício do Magistério do Romano Pontífice. Neste ensinamento é pedido aos fiéis um ASSENTIMENTO RELIGIOSO. Quer dizer, uma condescendência da inteligência e da vontade para obedecer e para aceitar como tal os ensinamentos do Magistério31.

28 E necessário outrossim que uma sentença infalível ou definitiva, não deixe duvida sobre a sua condição de infalibilidade. O leitor ( fiel) não pode ficar em duvida. Segundo um principio de moral: “non est imponenda obligatio de qua certo non constat” (não se pode impor a obrigação se ela não consta com certeza absoluta). Não esqueçamos também que hoje os textos são redigidos por especialistas que conhecem profundamente o direito canônico e que cuidam minuciosamente a sua redação. 29 Os “artigos dogmaticos” ou os dogmas de fé são certas formulações que a Igreja considera necessárias para expressar corretamente a fé, por exemplo: a Trindade, a Encarnação. Eles são “irreformáveis”quer dizer, devemos nos deter na significação que eles querem passar segundo o contexto sócio-cultural no qual eles foram elaborados. Lembremos que muitas vezes eles quiseram por fim a grandes controvérsias. Isto não quer dizer que nos devemos utilizar literalmente a mesma expressão para significar a nossa fé hoje. A fé que nos temos não é sobre a maneira ou o modo como ela é expressada em tais afirmações senão sobre a realidade divina que elas visam. 30 Não esqueçamos que o Papa é por definição o bispo da diocese de Roma e como tal ele faz parte do colégio episcopal mesmo si ele tem a precedência como cabeça do colégio. 31 E conveniente notar que somente o ensinamento dirigido a toda a Igreja Universal pode ser considerado como Magistério ordinário no seu sentido pleno. Assim os discursos Ad limina, dados aos bispos em particular ou a uma região do episcopado, o mesmo que os discursos nas visitas aos diferentes países, não pertencem no mesmo grado ao Magistério Ordinário. Unicamente

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• Existe um terceiro ensinamento, magistério particular quando a Igreja Particular

expõe a doutrina a precisar ou os erros a evitar e que acontece pelos documentos que tratam segundo a importância de assuntos particulares da doutrina na diocese, na província, na conferencia episcopal ou nas conferencias episcopais dos continentes. Neste caso os fiéis são convidados a ter um ASSENTIMENTO RESPEITOSO.

Assim, o assentimento de fé, o assentimento religioso e o assentimento respeitoso correspondem à obediência que o fiel deve oferecer aos ensinamentos do magistério da Igreja segundo os graus de autoridade que eles conservam e que hoje é cuidadosamente afirmada na sua redação. A partir da ordenação, o bispo passa a formar parte do magistério da Igreja porquanto que como sucessores dos apóstolos, eles receberam de Cristo esta missão. Missão que consiste em atualizar a Palavra de Deus na Igreja de todos os tempos e ensinar e transmitir a verdade e revelá-la as gerações a vir. Não se trata de propor novas verdades, nem de anunciar novas revelações porque a mensagem revelada é única e ela culmina na pessoa de Jesus de Nazareth. O Magistério somente explica, interpreta, desdobra e atualiza as verdades de Cristo para um responder a um momento determinado da historia. O Magistério é juiz da fé dentro da Igreja como norma normata, mas estando ele ao serviço da Escritura e da Tradição que são realmente a norma normans. Quer dizer, o Magistério toma a Escritura e a Tradição como norma; ele não se coloca acima delas, mas esta ao seu serviço no referente ao ensinamento e a interpretação da verdadeira doutrina. Ele é consciente, o Magistério, que aquele que explica a Escritura é o próprio Cristo mediante o seu Santo Espírito prometido e operando sempre na Igreja. Eis aqui o carisma da infalibilidade da fé da Igreja e no qual estão compreendidos o Papa e o colégio episcopal como interpretes da vontade salvifica de Deus para todos os homens. DP 374 “O Magistério da Igreja. O sentido da Escritura, dos Símbolos e das formulações

dogmáticas do passado não brota do texto sozinho, mas da fé da Igreja. No seio da

comunidade encontramos a instancia de decisão e de interpretação autentica e fiel da

doutrina da fé e da lei moral; é o serviço do sucessor de Pedro que confirma a seus irmãos na

fé e dos bispos, “sucessores dos apóstolos” no carisma da verdade”. Temos que reconhecer que o que garantiu a UNIDADE da Igreja nestes 21 séculos, conserva de maneira interrupta, intacta e continua o Deposito da fé e que nos foi Revelado é sem

aqueles dirigidos especificamente a igreja Universal. Porém, sempre que o Papa o faz, geralmente refere-se a verdades que já foram patrimônio do Magistério, logo o assentimento religioso e respeitoso estão em jogo, não assim aquele que exige o assentimento de fé. O Papa com freqüência trata de questões sociais, econômicas, políticas, bem especificas, com o propósito de iluminar com a luz do Evangelho o comportamento dos cristãos. Ao lado do ensinamento dos princípios evangélicos, ele recomenda certas formas de ação pratica. Estas ultimas, merecem uma respeitosa consideração mas não chama a obediência do fiel no mesmo nível de igualdade como quando o ensinamento segue de perto a fé e a moral. Os católicos são livres para apresentar outras soluções praticas alternativas com tal que aceitem os princípios morais expostos pelo Papa. Por exemplo JP II pediu uma compensação econômica para as mães que ficam no lar cuidando das crianças; ele também pediu para ser cancelada a divida econômica dos países pobres do terceiro mundo.

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duvidas o Magistério da Igreja. Magistério da Igreja constituído pelo Papa como sucessor de Pedro e pelos bispos como diretos sucessores dos apóstolos. Sem essa instancia consagrada para manter a unidade da fé na igreja, o deposito da fé já estaria esfacelado como tem acontecido com outras igrejas distintas a católica. O Magistério permite manter e trabalhar pela identidade da igreja e pela sua integridade.

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1.5.1 Organograma da Cúria Romana

Papa

Congregações (Funções Executivas)

� Doutrina da fé � Igrejas orientais � Culto divino e Disciplina dos

sacramentos � Causa dos santos � Bispos � Evangelização dos povos � Clero � Institutos de Vida consagrada e

Sociedades de Vida Apostólica � Educação católica

Tribunais

� Penitenciária Apostólica � Supremo Tribunal da

Signatura Apostólica � Tribunal da Rota Romana

Departamentos e outros organismos � Câmara Apostólica � Administração do Patrimônio da Sé Apostólica � Prefeitura para assuntos Econômicos da Santa Sé � Prefeitura da Casa Pontifícia � Departamento para as celebrações Litúrgicas � Sala de Imprensa da Santa Sé � Departamento Central de Estatística da Igreja � Pontifícia Comissão para os bens culturais da

Igreja � Pontifícia Comissão de Arqueologia Sacra � Pontifícia Comissão bíblica � Comissão Teológica Internacional � Pontifício Comitê Ecclesia Dei � Pontifício Comitê para os Congressos Eucarísticos

Internacionais � Pontifício Comitê de Ciências Históricas � Comissão disciplinar da Cúria Romana � Comissão para a América Latina � Guarda Suíça Pontifícia

Conselhos Pontifícios

� Leigos � Promoção da união dos Cristãos � Família � Justiça e paz � “Cor Unum” – Obras de Caridade � Pastoral dos migrantes e pessoas

itinerantes � Pastoral dos serviços da Saúde � Interpretação dos textos legislativos � Diálogo inter-religioso � Cultura � Comunicação social

Instituições Vinculadas à

Santa Sé

� Arquivos secretos do Vaticano

� Biblioteca apostólica do Vaticano

� Academias pontifícias para: a ciências, as ciências sociais e a vida

� Fábrica de São Pedro � L’Osservatore Romano � Livraria Editora Vaticana � Rádio Vaticano � Centro Televisivo do

Vaticano � Esmolaria Apostólica � Serviços Centrais do

Trabalho da Sé Apostólica

� Tipografia Vaticana

Secretaria de Estado

� 1a Seção: Assuntos Gerais � 2a Seção: Relação com outros estados

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O Vaticano, também chamado de a Santa Sé, é uma das sete colinas sobre as quais está edificada Roma. Lá está enterrado o corpo de São Pedro, por isso, é a Sé do Papa, seu sucessor. O Vaticano é o órgão central do governo da Igreja Católica. Criado em 1929, o Vaticano é um Estado de 44km quadrados e, por ser um Estado, não é submetido a nenhum outro país. Assim, o Papa possui total liberdade para exercer sua missão. Porém, toda a organização do Vaticano serve ao governo da Igreja e não ao do Estado. Isto significa que ele possui um governo apostólico, diferente dos demais estados. O Papa é o Chefe de Estado do Vaticano, soberano absoluto, sujeito e servo da fé e da tradição da Igreja. O governo do Vaticano pode ser dividido, de forma geral, em dois setores: o que cuida dos negócios gerais do Vaticano e o que cuida das relações com os Estados. A preocupação maior do Vaticano está nesta última área. Para assessorar o Papa existe uma Secretaria de Estado, cujo responsável é o Secretário de Estado. Esta é a única função na estrutura do Vaticano que pode durar mais de cinco anos porque dura até quando o Papa o quiser. Existem nove Congregações –sua origem é geralmente antiga- que seriam os Ministérios do governo do Vaticano, que assistem ao Papa no governo pastoral da Igreja. São elas:

1. Doutrina da Fé: Essa congregação é responsável por garantir a pureza da fé. Nela está a Comissão Pontifícia Bíblica e a Comissão Teológica Internacional

2. - Igrejas Orientais: cuida das relações com as igrejas orientais que estão em comunhão com a Igreja Católica.

3. Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos 4. Causas dos Santos 5. Evangelização dos Povos: coordena os esforços da Igreja para evangelizar novos povos.

Essa Congregação apóia financeiramente e enviando padres, as igrejas nos paises de missão. A África e a Ásia são continentes de responsabilidade dessa congregação. Assim, seus bispos dependem dessa congregação e não da dos Bispos.

6. Clero: Essa congregação trata dos assuntos referentes aos padres diocesanos. 7. Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica 8. Educação Católica: é a congregação que cuida dos seminários e universidades católicas. 9. Bispos: A Comissão para a América Latina faz parte dessa congregação que tem como

função apresentar ao Papa a lista com nomes de possíveis bispos. Essa lista é feita depois de um estudo profundo realizado pela Nunciatura Apostólica, que pede e procura tais referências a bispos, padres e leigos. O Papa João Paulo II tinha o costume de levar essa lista para frente do Sacrário e rezar antes de tomar qualquer decisão.

Toda essa estrutura está em principio ao serviço da evangelização e não do governo administrativo do Vaticano. Existem livros, como por exemplo o Código de Direito Canônico, aprovado em 1983, que explicam toda essa estrutura e fazem uma coletânea de todos os acordos, convenções internacionais e documentos assinados pela Santa Sé. Além das Congregações, existem os Conselhos Pontifícios que surgiram depois do Concilio Vaticano II os quais tem como missão “fazer que a imagem da Igreja corresponda às

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exigências de nosso tempo” (Const. Pastor Bônus). A diferença está na liderança de cada órgão. Nas primeiras, somente cardeais podem chefiar. Já dos Conselhos, arcebispos também podem ser chefes. São 11 os Conselhos Pontifícios:

1. Leigos 2. Promoção da Unidade dos Cristãos – Comissão para as Relações Religiosas com o

Judaísmo 3. Família 4. Justiça e Paz 5. - Cor Unum: esse conselho administra toda “caridade” do Papa para momentos de

emergência e casos específicos como de terremotos. 6. Pastoral dos Migrantes e Itinerantes 7. Pastoral no Campo de Saúde 8. Interpretação de Textos Legislativos 9. Diálogo Inter-religioso: tem como função manter e promover relações com outras

religiões. 10. Cultura 11. Comunicações Sociais: cuida da relação com a mídia e prepara documentos, congressos

e encontros sobre comunicação social pelo mundo. A estrutura do Vaticano possui ainda outros órgãos: os Ofícios, Tribunais e a Administração Econômica. A Santa Sé possui relações diplomáticas com 174 Estados, poucos países não querem ter relação com o Vaticano, é o caso da China e da Coréia do Norte. Essas relações permitem ao Papa dizer uma palavra, visitar países, enfim, levar a palavra de Deus a todos os povos. Além disso, o Vaticano está presente em organismos internacionais, como a ONU. O Vaticano é membro permanente na ONU e atua como observador, não vota mas expressa suas opiniões. Por fim, existe a Nunciatura Apostólica que é a embaixada do Vaticano nos países. O nome expressa a diferença entre a Nunciatura e as outras embaixadas. São duas as atuações da Nunciatura: uma é representar o Papa diante do governo e outra é estreitar as relações entre a Igreja universal e a Igreja local.

1.5.2 Documentos Pontifícios e o seu grau de autoridade

Os Documentos Pontifícios são instrumentos para o exercício do ministério do Papa. Todos os documentos Pontificais são importantes pois todos têm como autor ao Papa seja de uma maneira direta (produzidos por ele mesmo) ou indireta (produzidos por algum dos dicasterios da Cúria Romana que são órgãos a traves dos quais se exerce o governo pastoral do Romano Pontífice).

A importância do documento não se deduz tanto de sua classificação (Encíclica, Constituição Apostólica, etc.) quanto de seu conteúdo. Assim temos normalmente o ensinamento do

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Romano Pontífice através dos seguintes documentos: Constituições32, Decretos33, Encíclicas34, Cartas Apostólicas, Declarações, Instruções, Exortação apostólica35, Motu próprio

36, Bulas37, Sínodos38, (podem ser feitas pelo Papa, pelos organismos da cúria romana ou pelos bispos).

32 CONSTITUIÇÃO APOSTÓLICA: Documento pontifício que trata de assuntos da mais alta importância. Distingue-se em Constituição Dogmática, que contém definições de dogmas. Por exemplo de Pio XII, a Constituição Apostólica "Munificentissimus Deus", com a qual foi definido o dogma da Assunção de Nossa Senhora e a Constituição Disciplinar, que diz respeito a determinações canônicas. Por exemplo de João Paulo II, as Constituições Apostólicas "Sacrae

Disciplinae Leges" (25.01.1983) de promulgação do CIC de 1983; Pastor Bonus (28.06.1988) sobre a nova constituição da Cúria Romana. Estes documentos são a forma mais comum como o Papa exerce a sua autoridade "Petrina". A través delas, o Papa promulga leis concernindo todos os fiéis. A maioría trata dos asuntos doctrináis, disciplinares e/ou administrativos. Por exemplo a criação de uma nova diócese, se faz geralmente por meio de uma Constituição Apostólica. Alguns dos Dogmas e definições infaliveis utilizaram este meio, citemos o caso da Constituição Munificentissimus Dusi de Pio XII em 1950 para o Dogma da Assunção de Nossa Senhora. Não entanto o Dogma da Inmaculada Conceição em 1854 por Pio IX foi a través da Bula Inefabilis Deus. Observemos de outro lado também que existem casos onde a Constituição pertence unicamente ao Magistério autentico do Papa, por exemplo: Sacrae disciplinae (1983), do Papa JP II, na promulgação do novo Código de Direito Canônico; Pastor bonus (1988), do Papa JP II sobre o ministério e a organização da cúria romana.

. 33 E um ato legislativo tomado pelo Papa ou por um Concilio com conhecimento de causa para precisar pontos ou regras concernentes a organização ou a administração da Igreja.

34 Do Latín Literae encyclicae, que literalmente significa "cartas circulares". A encíclica é uma forma muito antiga de correspondência eclesiástica, que denota de forma particular a comunhão de fé e caridade que existe entre as varias "igrejas", isto é, entre as varias comunidades que formam a Igreja. As encíclicas são cartas públicas e formais do Sumo Pontífice que expressam seu ensinamento em matéria de grande importância. Paulo VI definió-a como "um documento, em forma de carta, enviado pelo Papa aos bispos do mundo inteiro". JP II a publicado quatorze encíclicas : quatro especialmente teológicas (sobre o Pai, o Filho, o Espírito Santo, e sobre Maria), três sobre questões socioeconômicas (o trabalho, a solidariedade, o centenário da Rerum novarum), uma sobre a evangelização dos paises eslavos, uma sobre a missão, uma sobre a moral, uma sobre a vida humana, uma outra sobre as relações entre a fé e a razão, outra sobre o ecumenismo e uma sobre a Eucaristia.

35 Documento que geralmente é promulgado após a reunião de um Sínodo dos bispos. EXORTAÇÃO APOSTÓLICA:

(Adhortatio Apostolica) Forma de documento menos solene que as encíclicas. Antigamente era dirigida a um determinado grupo de pessoas. Por exemplo, "Menti Nostrae" (Pio XII) para o clero. O termo é usado, actualmente, em sentido mais amplo: não somente como documento para determinado grupo de pessoas, mas recomendações feitas pelo Romano Pontífice aos bispos, presbíteros e todos os fiéis, sobre temas mais directamente relacionados a um grupo de pessoas, por exemplo, as exortações pós-sinodais: "Familiaris Consortio"; "Christifideles laici"; "Pastores dabo vobis", “Pastores gregis”. Exhortaciones apostólicas post-sinodales son:

• Evangelli nuntiandi (1975) do Papa Paulo VI, sobre a Evangelização no mundo moderno. • Catechesi tradendae (1979) del Papa João Paulo II, sobre a catequese. • Familiaris consortio (1984) do Papa João Paulo II, sobre o papel da familia cristã. • Reconciliatio et paenitentia (1984) de João Paulo II, sobre a reconciliação e a penitencia na

missão da Igreja. • Redemptoris custos (1989)de João Paulo II, sobre a pessoa e missão de são José na vida de

Cristo e da igreja.

36Documento escrito em geral por própria iniciativa do Romano Pontífice, isto é, sem ter sido solicitado por algum interessado. Por exemplo: a Carta Apostólica de João Paulo II "Apostolos Suos", de 21 de Março de 1998, sobre a natureza teológica e jurídica das conferências episcopais.

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1.6 O sensus fidei, o sentire cum ecclesia, a fidelidade e a liberdade do teólogo.

DP 375: “Os teólogos oferecem um serviço importante na Igreja: sistematizam a doutrina e

as orientações do Magistério numa síntese de mais amplo contexto, traduzindo numa

linguagem mais adaptada ao tempo; submetem a novas investigações os fatos e as palavras

reveladas por Deus, aplicando-as as novas situações sócio-culturais ou as novas pesquisas

das ciências, da historia, da filosofia. No seu serviço cuidaram de não causar detrimento a fé

dos fieis, seja com explicações complicadas demais, seja lançando ao publico questões

discutidas ou discutíveis”.

A teologia como ciência da “inteligência da fé”, pela qual o homem se abandona inteira e livremente a Deus, numa completa homenagem da inteligência e da vontade ao Deus revelador e num assentimento voluntário à revelação que ele faz, exige o uso da razão –dom de Deus feito ao homem para encontrar a verdade- a fim de encontrando-a comunicá-la aos homens segundo o que nos fala o apostolo Pedro: “estando sempre prontos a dar razão da

vossa esperança todos aqueles que vo-la pede”39. A fé é adesão total do homem ao Cristo e

comunhão de Vida com Ele e a missão do teólogo é justamente compreender a razão da fé. Adesão ao Cristo que implica ao mesmo tempo para o fiel –também para o teólogo- uma adesão a Igreja como o Corpo do Senhor. De outro lado a missão do teólogo ao mesmo tempo que é diferente, tem algumas semelhanças com a missão do Magistério: Um e outro se ocupam da Revelação pela via do conhecimento e da homenagem da sua vontade a traves dum discurso de especulação racional. Os dois têm uma finalidade igual enquanto tem o dever de aprofundar, conservar, penetrar sempre mais, propor e defender a pureza do deposito da fé conduzindo ao simples fiel a um encontro cada vez mais claro e pessoal com a verdade Revelada. Mas os dois são diferentes enquanto a sua função. O Magistério tem como função uma inteligência carismática da Revelação em tanto que a função do teólogo é uma inteligência puramente racional, mas iluminado pela fé, do evento da Revelação par levar ao conhecimento da comunidade cristã e do Magistério, a uma maior compreensão do evento da revelação. A missão do primeiro é por carisma; do segundo é por profissão. Ao teólogo não entanto é pedida uma fidelidade a Igreja e ao magistério, o que não pode

23 Desde o século VI em adiante a Chancelaria papal utilizou o selo de chumbo para autentificar os seus documentos. O termo se refere não ao conteúdo e à solenidade de um documento pontifício, como tal, mas à apresentação, à forma externa do documento, a saber, lacrado com pequena bola (em latim, "bulla") de cera ou metal, em geral, chumbo (sub plumbo). 38 O Sínodo dos Bispos é uma instituição permanente, criada pelo Papa Paulo VI (15 de setembro de 1965), em resposta aos desejos dos Padres do Concílio Vaticano II de manter vivo o espírito de colegialidade nascido da experiência conciliar. 39 1Pe3,15.

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significar uma passividade ou uma ausência de iniciativa nos trabalhos da pesquisa que ele empreenda. Assim, pois, é dever do teólogo manter-se em comunhão de pensamento com o magistério, com a comunidade toda e com os outros teólogos, nos seus ensinamentos e pesquisas. E claro que o trabalho do teólogo se cumpre sob a direção do Espírito Santo, o mesmo e único Espírito concedido a todos os cristãos da comunidade a qual ele serve. Esse mesmo Espírito guia o instinto de discernimento na totalidade dos fieis que formam o corpo de Cristo e “por isso eles também possuem um certo sentido interior” para captar e experimentar certas realidades espirituais que o teólogo não pode não reconhecê-las. Por exemplo os dogmas marianos celebrados primeiro pela fé do Povo de Deus mas reconhecidos na posteridade pela autoridade da igreja.

1.-A Igreja reconhece um “sensus fidei” como a obra do Espírito presente em todo o corpo da Igreja, desde o mais simples fiel, passando pelo mais alto púrpurado e até o mais elevado estudioso da doutrina, que deve ser bem orientado pelos teólogos para não chegar as aberrações e aos abusos na fé. Este “sensus fidei” pode ser reconhecido nos frutos do mesmo Espírito que acompanhara ao teólogo e a comunidade toda Gal, 5,22. Este sensus fidei é patrimônio de toda a comunidade, desde o bispo até o mais simples fiel e por isso não pode ser privilegio de um grupo que se auto-proclama como iluminado ou como privilegiado no correto discernimento e na vivência das inúmeras experiências da fé.Todavia, o sensus fidei convida ao reconhecimento que dele deve oferecer o magistério da Igreja em quanto que ele é um critério de fidelidade criativa ao fato revelado, recebido das gerações passadas e transmitido no Espírito para o hoje das Igrejas. Pode ser que o Magistério não se manifeste ou tarde a manifestar-se sobre determinada questão mas ele deve respeitar o sentido da fé da comunidade cristã e ao seu devido tempo orientara e guiará as escolhas na Igreja. Ver as implicações que isto tem a propósito das revelações ou aparições particulares o mesmo que o deve do magistério de reconhecer o valor dos atos de fé sincera na comunidade dos crentes. Mas o sensus fidei não pode ser compreendido simplesmente com as opiniões diversas dos fieis. O Sensus fidei é uma propriedade da fé teologal , que sendo um Dom de Deus, nos conduz a verdade plena pois que Deus não pode nem enganar-se nem nós enganar. Lembremos que muitas opiniões e das mais diversas existem e circulam no Povo de Deus; nem todas elas formam parte do sensus fidei. Por isso que se precisa do papel do Magistério da Igreja diante de tanto desbordante imaginação e criatividade nas devoções no Povo de Deus. De outro lado e graças ao sensus fidei, todo batizado esta chamado a viver no estado de permanente colaboração como membro da igreja. Neste sentido entre o Magistério da Igreja e o papel dos fieis (sejam eles teólogos o não) deve existir uma relação eclesial de reciprocidade e de colaboração mutuas. No caso do Magistério, ele ensina autenticamente a doutrina dos apóstolos, beneficiando-se dos trabalhos de pesquisa dos teólogos na medida em que os aprofundamentos concordam com a doutrina revelada. 2. Por a sua parte, o teólogo que graças ao Espírito Santo tem recebido esta vocação

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particular, se preocupara por adquirir uma compreensão cada vez mais profunda da Palavra de Deus contida na Sagrada Escritura e na Tradição viva da Igreja e por manter uma relação eclesial de comunhão de modo especial com o Magistério autentico na Igreja. Isto é aquilo que se conhece como o agere e o sentire in ecclesia et cum ecclesia. Em verdade o teólogo não pode esquecer que ele faz parte do Povo de Deus e como tal, deve cultivar um respeito a traves do seu trabalho teológico, dispensando um aprofundamento da Palavra que não venha a lesar (laesare), confundir, prejudicar a fé do Povo de Deus. Quando o teólogo recebe a missão canônica de ensinar, ele recebe de certa forma uma participação ao exercício do Magistério da igreja e desde esse momento o teólogo esta investido desse poder para ensinar o que exige uma fidelidade a Palavra de Deus, a Tradição e a interpretação que das mesmas faz o Magistério da Igreja. Sua missão é uma missão eclesial e por tanto ela exige do teólogo como também de todo fiel, por a sua natureza, a conformação do seu entendimento e do seu coração com a fé de toda a Igreja, o “sentire in Ecclesia et cum

Ecclesia”.

Trata-se de um compromisso que nasce do amor a Igreja, nossa Mãe e Esposa de Cristo. Nós devemos ama-la como o próprio Cristo a amou, assumindo sobre nós o sofrimento do mundo e da Igreja para completar na nossa carne o que falta aos sofrimentos de Cristo (cf. Cl 1,24). Assim o teólogo deve ensinar primeiramente a adesão de fé teologal quando o magistério infalível da Igreja apresenta as doutrinas contidas na Revelação, seja o magistério extraordinário do Pontífice ou seja o magistério ordinário e universal dos bispos. Em segundo lugar, o teólogo deve ensinar que quando o Magistério ensina, ele o faz “de modo

definitivo”, (de acordo ao contexto histórico e da evolução da fé que se possui no momento) o que exige de todo fiel uma religiosa submissão da inteligência e da vontade a certas verdades que dizem relação com a fé e também respeito aos costumes, mesmo não sendo estritamente reveladas mas guardando uma conexão intima com a Revelação, elas devem ser firmemente aceitas e conservadas como tais. Terceiro, quando o Magistério ensina sem que seja um “ato definitivo”, verdades que são compatíveis com a fé o para prevenir contra posições que poderiam lesar as verdades da fé, se exige um assentimento respeitoso. Nisto o teólogo deve ser o primeiro em dar o exemplo pois ele antes de qualquer coisa é um fiel. O teólogo que recebendo uma missão eclesial e que ensina não a doutrina oficial da Igreja mas a doutrina que ele acha da Igreja, entra em contradição com o compromisso livre e voluntário de sua missão eclesial pois ele não esta em sintonia com o sentire cum ecclesia. Por isto que o Magistério40 no cumprimento do seu dever pode ser levado a tomar graves providencias como a de suspender o ensinamento ou a missão canônica de um professor quando seus ensinamentos não estão em acordo com a fé da Igreja. 3. Respeito à liberdade própria do teólogo41, ela implica sempre o exercício desta vocação e

40 Não esqueçamos que é missão do Magistério propor o ensinamento do Evangelho, cuidar sobre a sua integridade e proteger dos possíveis desvios a fé do Povo de Deus. 41 Ver sobretudo a Instrução sobre a vocação eclesial do Teólogo da Congregação para a Doutrina da Fé e com aprovação do Papa João Paulo II, do 24 de maio de 1990. Pode ler-se no Osservatore Romano do 1 de julho de 1990, pp.6-9.

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de suas pesquisas, mas sempre compreendida no interior da fé da Igreja. A ousadia intelectual do teólogo, em quanto as suas novas descobertas deve ir acompanhada de uma paciência teológica que o leve a uma maduração das suas posições às vezes consideradas avançadas, mediante um dialogo fraterno com as autoridades competentes, e mediante uma disponibilidade para mudar as próprias opiniões si for necessário, até que chegue o momento em que toda a Igreja possa aceita-las. A liberdade do trabalho de investigação do teólogo a traves do exercício racional da inteligência não pode esquecer que o objeto da pesquisa é um dado Revelado, transmitido e comunicado na igreja sob a autoridade do Magistério. Ele deve utilizar tudo o rigor cientifico no seu trabalho de pesquisa: as exigências epistemológicas necessárias para cada disciplina, os estudos críticos e metodológicos que o levem a verificação racional dos dados encontrados. Mas esta exigência critica não pode confundir-se com um espírito critico beligerante que pode nascer de preconceitos ou de motivações meramente afetivas ou passionais. O Espírito critico exige toda uma ascese de retidão espiritual e de santificação ao longo do seu trabalho E importante notar que a liberdade da missão do teólogo o autoriza a utilização dos conhecimentos aportados por outras ciências tais como a Filosofia, a historia, ou de outras disciplinas mas a condição que o principio normativo da sua escolha seja antes de mais nada o do dado Revelado e desde ele a escolha dos conceitos, instrumentos o princípios que possam ser utilizados para o mesmo. Quer dizer, partindo do dado da Revelação discernir quais os instrumentos e quais as ciências que podem contribuir para uma melhor compreensão da verdade Revelada e não ao contrario. Esta discrição e esta prudência do teólogo em quanto à escolha dos métodos e instrumentos de trabalho é exigida também na hora de apresentar suas próprias opiniões que ele não pode apresentá-las como infalíveis ou definitivas. Isto por respeito ao Povo de Deus e por respeito ao Magistério da Igreja. Ele não pode exercer um magistério paralelo. Sobretudo quando o teólogo diz encontrar serias dificuldades, por razões que lhe parecem fundadas (pensando que a opinião contraria é mais evidente ou a julgar pela sua consciência subjetiva ele perceba uma certeza) para acolher o ensinamento oficial da Igreja. Ele deve estar aberto às opiniões de outros teólogos e a ter a paciência teológica para que a verdade se decante por si mesma a traves dos tempos. Neste caso o teólogo deve oferecer no silêncio e na oração este sacrifício –quando acha que definitivamente e em consciência sua percepção se acomoda mais aos dados revelados- sabendo que a verdade como obra de Deus terminara sempre triunfando. Neste caso evitara todo o escândalo publico e o uso dos “mass-media” como instrumentos pressão publica para impor a sua verdade pois esta faltando à unidade e a caridade na igreja. Nestes casos prima pára o teólogo à unitas caritatis.

Porque a Igreja é um mistério de comunhão e sobretudo da comunhão que nasce da unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo, a dissensão não é possível na Igreja. Esta dissensão vem atualmente a ser justificada por:

• A ideologia do liberalismo filosófico segundo a qual um juízo teria maior valor enquanto ele se apoiar no individuo e nas suas próprias forças. Assim é rejeitada a Tradição como uma escravidão para o individuo particular.

• Os modelos sociais difundidos pela opinião dos mass-media e que forma as

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mentalidades segundo os seus interesses. Eles querem limitar a missão da igreja unicamente sobre aquilo que a opinião publica considera importante para ela e assim a moral do individuo e da família acham que estas não são da incumbência dela.

• Uma compreensão errada da adesão do teólogo a igreja. Segundo esta mentalidade ele estaria obrigado unicamente respeito às verdades Reveladas e ao ensinamento infalível da Igreja entanto que ficaria a livre escolha respeito às verdades que não relevam do magistério infalível.

• A argumentação dum pluralismo teológico segundo o qual os ensinamentos do Magistério teriam seu origem numa teologia entre muitas outras. Segundo eles, nenhuma teologia poderia impor-se universalmente. Assim surgem os magistérios paralelos.

• Tomando como referencia a organização política e social dos povos se argumenta que de acordo ao modelo democrático, a opinião da maioria dos cristãos, deve impor-se por aquilo do principio do senso sobrenatural da fé. Mas a fé não é questão de uma opinião nem a Igreja é uma democracia para fazer valer em questões de fé o principio da maioria. Quanto mais se estas opiniões das maiorias são veiculadas e manipuladas por os modernos meios de comunicação.

• Enfim a liberdade do ato de fé não pode justificar um direito a dissensão. O ato de fé é um ato do oferecimento da inteligência e da vontade ao Senhor que Revelando-se me fez Filho e como Filho me fez membro de sua igreja. De modo que nenhuma autoridade humana poderia legitimamente interferir com coações ou pressões para modificar essa opção sobrenatural da minha fé e essa minha pertença e a minha obediência (ob –

audire, colocar a orelha diante ou em fazer confiança total aquele que fala) ao Magistério da sua Igreja. E a atitude necessária para um dialogo perfeito, sem sombras, sem ambigüidades. Se colocarmos a orelha a uma palavra (pessoa), é porque esta palavra, esta pessoa não é outra coisa que amor, que transparência, que verdade, por isto que podemos escutá-la sem medo nem desconfiança (Flp 2, 6-8).

Todavia é bastante oportuno e pertinente citar as palavras de Bento XVI a propósito das exigências para aquele que se consagra a estudar a teologia, pronunciadas na universidade Gregoriana com motivo da visita que ele fez o dia 3 de novembro de 2006:

A fadiga do estudo e do ensino, para ter sentido em relação com o Reino de Deus, deve ser apoiada pelas virtudes teologais. De fato, o objeto imediato da ciência teológica, é o próprio Deus, que se revelou em Jesus Cristo, Deus com um rosto humano. Também quando, como no direito canônico e na Historia da Igreja, o objeto imediato é o Povo de Deus na sua dimensão visível e histórica, a analise aprofundada da matéria leva de novo a contemplação, na fé, do mistério de Cristo Ressuscitado. E Ele que presente na sua Igreja, a conduz entre os acontecimentos do tempo rumo a plenitude escatológica, uma meta para a qual caminhamos amparados pela esperança. Mas não é suficientemente conhecer Deus; para o poder realmente encontrar, devemos também amar. O conhecimento deve tornar-se amor. O estudo da teologia, do direito canônico, da historia da Igreja não é só conhecimento das proposições da fé na sua formulação histórica e na sua aplicação pratica, mas é também e sempre inteligência delas na fé, na esperança e na caridade. Só o Espírito perscruta as profundezas de Deus (cf. 1Co 2,10), por conseguinte só na escuta do Espírito se pode perscrutar a profundeza da riqueza, da sabedoria da ciência de Deus (cf. Rm 11,33). O Espírito ouve-se na oração, quando

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o coração se abre a contemplação do mistério de Deus, que se revelou no Filho Jesus Cristo, imagem do Deus invisível (cf.Cl 1,11), constituído Chefe da Igreja e Senhor de todas as coisas(cf. Ef 1,10; Cl 1,18).

Nesta ocasião o Papa fez alusão também ao dialogo interreligioso. Este centro de formação, que segundo ele, tem produzido tantos insignes filósofos e teólogos, canonistas e historiadores da Igreja que contribuíram fortemente no exercício magisterial da Sé Apostólica no que diz respeito a sua função doutrinal, disciplinar e pastoral para que tendo em conta a evolução dos tempos, deve ter uma abertura ao dialogo e ao confronto com a cultura secular e de modo especifico com as outras religiões:

Com a evolução dos tempos necessariamente mudam as perspectivas. Hoje não se pode deixar de ter em consideração o confronto com a cultura secular, que em muitas partes do mundo tende cada vez mais não só para a negação de qualquer sinal da presença de Deus na vida da sociedade e do individuo, mas com vários meios, que desorientam e ofuscam a reta consciência do homem, procura a sua capacidade de porá escuta de Deus. Não se pode prescindir, depois, da relação com as outras religiões, que se revela construtiva unicamente se evita toda a forma de ambigüidades que de qualquer forma enfraqueça o conteúdo essencial da fé cristã em Cristo único Salvador de todos os homens (cf. At 4,12) e na Igreja sacramento necessário de salvação para toda a humanidade (cf. Decl. Dominus Iesu, nn. 13-15; 20-22).

2.0 - Constituição Dei Verbum: Carta magna da teologia fundamental O titulo da Constituição anuncia o propósito deste texto conciliar: Deus se Revela pela sua Palavra (Dei Verbum); assim toda vida cristã deve estar a escuta da Palavra de Deus, da Palavra Revelada na pessoa do Senhor Jesus. No titulo mesmo da Constituição encontra-se o objetivo do concilio e de toda vida cristã: se pôr a escuta da Palavra de Deus. A DV foi um dos documentos mais elaborados e discutidos ao longo do Concilio e que passou por varias emendas durante os três anos do concilio. Um primeiro esquema apresentava como capitulo primeiro: as duas fontes da Revelação (1962) esquema que aqueceu as criticas dos padres conciliares e que afinou o trabalho posterior dos peritos. Já para 1963 o esquema tinha sido reformado colocando-se um capitulo introdutório, Logo outro sobre a Revelação em si mesma e seguida de um outro sobre a Escritura e a Tradição como referencia ao modo da sua Transmissão. Lentamente este foi o esquema que foi tomando forma e que será à base do esquema atual e que como tal foi promulgada o 18 de novembro de 1965 com a votação final (29 outubro) de 2115 sim; 27 não; 7 nulos, certamente depois de não poucos retoques feitos. Agora bem, a qualificação de ser uma Constituição dogmática – igual que a Lúmen Gentium pois as outras duas não o são (SC e GS) - se deduze da matéria do dogma em questão, da Revelação Divina e de sua interpretação teológica, não porque algum dogma tenha sido definido nesta Constituição como alias é igual para todo o Concilio que quis ser primeiro que todo um Concilio eminentemente pastoral, mas por que nos fala do essencial do Cristianismo: a revelação como um encontro pessoal, boa Nova da salvação, na pessoa de Jesus Cristo. Sendo que a DV expõe uma doutrina do Dogma irrevocável mesmo não possuindo uma definição estritamente dogmática, se exige do fiel um assentimento de seu entendimento e da sua vontade ainda mais que religioso, em razão do sujeito tratado e da autoridade com a qual

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foi promulgado (Concilio ecumênico).

2.1 A Revelação como encontro pessoal com Jesus Cristo.

Antes do Concilio a leitura da Palavra de Deus era reservada a alguns iniciados exclusivamente. Às vezes se permitia ler algumas partes de ela, sobre tudo do Novo Testamento, mas muitas vezes, mesmo nas comunidades religiosas estava proibida a leitura de certos livros por exemplo os de o Antigo Testamento a causa do preconceito de uma péssima interpretação do sentido do texto. Embora na experiência litúrgica diária liam-se os salmos, recitava-se o breviário, faziam-se as leituras da Palavra de Deus e se aprendia e se decoravam trechos da historia santa, a Palavra de Deus estava vetada ao grande numero dos fieis. Ainda mais, a leitura direta dos textos estava proibida sobretudo para as novas gerações se um padre o um especialista não estava perto para garantir uma leitura segundo a interpretação do magistério. Um dos frutos do Concilio e da Constituição Dei Verbum foi à mudança radical desta mentalidade: o fiel tem livre aceso ao Texto bíblico. Assim a Palavra de Deus tornou-se um encontro pessoal e vivo com a pessoa do Senhor Jesus, tomando emprestada a experiência bíblica da Revelação onde é um Deus que se comunica por si mesmo ao homem. Já não serão mais verdades a crer, accessíveis unicamente a razão dos especialistas e que em razão da autoridade divina se tinham que crer. A vida da Palavra de Deus entra em relação direta com a vida de cada fiel . Existe uma inter-relação dinâmica das duas vidas: do Verbo de Deus e do homem. Antes do Concilio o homem aprendia as verdades já definidas e a repetia mecanicamente da maneira como o Magistério já as tinha definido, se partia da verdade Revelada; com o concilio somos convidados a ler a Revelação a partir da Escritura e da Tradição, indo assim ao encontro da verdade Revelada. Agora não são mais verdades a crer pela força da autoridade que as proclama mas num encontro pessoal com JHS, mediador e plenitude d Revelação, que se revela por seus atos e pelas suas palavras e que fala a seus amigos. Desta maneira a fé assume um novo paradigma: ela é o livre engajamento do homem como resposta a Palavra que ele escuta porque lhe foi dirigida a ele. Certo, isto é um processo que passa pela interpretação da palavra inspirada que esta presente na Sagrada Escritura e na Tradição. Mas tudo no acaba aqui, o Concilio prega a volta às verdadeiras fontes bíblicas, dizendo assim que não podemos ficar unicamente no sentido literal dos textos mas que se precisa de uma interpretação dos mesmos, do contexto no qual foi escrito, do autor e do seu entorno, da historia que subjaz e das circunstancias próprias ao texto mesmo. Assim o que importa é a mensagem comunicada nos textos bíblicos e não a autenticidade dos seus autores como até agora se tinha pensado (O Pentateuco como obra de Moisés, Os Salmos como redigidos por Davi e Salomão, a carta aos Hebreus como de Paulo, a criação em seis

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dias, etc).

2.2 O mutuo engajamento de Deus e do homem na Palavra

A Revelação segundo o pensamento do Vaticano II privilegia o mutuo engajamento de Deus e do homem no processo da auto-comunicação de Deus. Sendo que a Revelação é entendida sob a categoria da comunicação, a implicação do homem e de Deus são em causa. Não pode haver comunicação si só um é o que fala e si ele não tem uma resposta. O Concilio de Trento e do Vaticano I haviam insistido sobre o conteúdo da revelação, sobre a autoridade do Deus que Revela e sobre a missão da autoridade da Igreja que transmite o ensinamento das verdades Reveladas (o ato de fé consistia: “Meu Deus, eu creio firmemente todas as verdades que tu me hás revelado e que tu me ensinas por vossa Igreja porque tu no podes nem equivocar-se nem fazer que nos equivoquemos...). Um tal ensinamento feito sobre verdades reveladas (em plural), responde a um esquema de comunicação unilateral. Para o homem não fica outra coisa senão ouvir e cumprir. Aqui a adesão de fé requerida é a causa da autoridade do Deus que se revela e do Magistério que ensina tal revelação. Vaticano II falara de uma comunicação bilateral: De um lado existe um Deus que se revela em Pessoa(singular) a traves de Palavras e de Atos; e do outro, um fiel no seu caminho da fé responde com o seu assentimento a essa vontade salvífica de Deus na pessoa de Jesus. A fé no Concilio Vaticano II é antes de mais nada engajamento e resposta do homem. Engajamento e resposta que ele continua a encontrar também no uso da luz natural de sua razão para compreender a verdade revelada (teologia). Observe-se a nuance do abandono do plural para o singular. Já no mais falamos de verdades reveladas mas da Revelação em singular, não mais como de entrega de objetos, ensinamentos e verdades, mas da Revelação e da auto-comunicação pessoal de si mesmo. Já não é mais do engajamento de uma parte da pessoa (o entendimento, da compreensão da verdade) mas da pessoa toda que se entrega (JHS) e do fiel que entra em dialogo com toda a sua pessoa. Um EU e um Tu num dialogo recíproco e pessoal é o resultado da Revelação no esquema do Vaticano II. Como chave de leitura e para melhor compreendermos o contudo essencial da Constituição, precisamos fazermo-nos e respondermo-nos quatro perguntas fundamentais: De onde vem a Escritura? Quem fala nos livros Sagrados? De que falam os livros sagrados? Como ler esses livros da Bíblia? De onde vem a Escritura? E claro que ela vem de JHS a traves a Tradição. Ela não começou como um texto escrito; ela foi um anuncio transmitido pela pregação e somente num segundo momento ela vai constituir o texto escrito: a Bíblia. Quem fala nos livros sagrados? Ao mesmo tempo Deus e o homem. Escritos sob a inspiração do Espírito Santo eles tem a Deus como seu autor. Mas Deus escolheu homens concretos para compor o texto escrito, logo os homens são verdadeiros autores –não instrumentos passivos- eles escrevem com a sua própria liberdade e o seu gênio literário próprio. A Palavra Escrita guarda a espessura e a densidade humana.

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De que falam? E a pergunta sobre o conteúdo. Os livros vão nos falar sobre a palavra que Deus a querido dirigir-nos em vista de nossa salvação. Eles “podem” conter erros de índole geográficos, históricos e mesmo científicos. Mas a Sagrada Escritura contem a Verdade (singular/uma) indispensável para nossa salvação. Como ler os livros da bíblia? Nos é dito que precisamos perscrutar diligentemente a intenção que tiveram os autores no momento da redação do texto, ter conta dos gêneros literários na sua composição original mas também a interpretação dada pela Tradição da Igreja. No texto se dirá que mesmo no trabalho exegético dos especialistas e necessário ter uma postura de fiel e de crente. Esses livros são a postura crente da Igreja dos começos e devem continuar sendo o alimento da fé da Igreja.

2.3 Estudo da Dei Verbum (trabalho dos alunos sob assessoria do professor)

O Titulo da Constituição: O Concilio e cada um de nós a escuta da Palavra de Deus com espírito religioso

O Proemio A citação da 1a de João nos lembra que não anunciamos uma verdade mas a Pessoa que “vimos, tocamos, anunciamos” para entrar em comunhão perfeita com a Trindade. Objeto e fim da Revelação é entrar na comunhão apostólico eclesial (Trento/Vaticano I) que nos leve a comunhão maior: divino Trinitaria. O elemento Pessoal e histórico desta comunicação será a tonalidade em toda a Constituição.

Capitulo I: A Revelação N°.2 - A Revelação é apresentada como uma auto-revelação do próprio Deus. Passa-se de uma revelação de verdades a Revelação o a comunicação e uma Pessoa. A Revelação não é mais instrução sobre verdades mas Comunhão com a pessoa de JHS. - Uma revelação que se realiza mediante atos e palavras intrinsecamente bem unidas, o sacramento e a palavra, o caráter histórico da Revelação mediante os grandes feitos e as promessas anunciadas. - Se afirma que Xto é o único mediador e a plenitude (Deus que revela e Deus revelado; objeto e sujeito da revelação) de toda a Revelação; ele foi anunciado no AT mas agora chegou a sua plena manifestação na vida, obras, palavras mas sobretudo na sua morte e na sua Ressurreição. N° 3 A Revelação histórica tem seu brilho também na obra da criação. Deus manifestou-se a partir da obra criada Jô 1,3; Rm 1, 19-20. Existe a possibilidade de um conhecimento natural de Deus a partir das obras criadas. Mas paulatinamente se manifesta na historia da salvação: nossos primeiros pais, após a queda deles na esperança de uma salvação Gn 3,15 (protoevangelho) pela promessa de um resgate. Logo em Dois milênios de historia na salvação que vai de Abraham a Xto:

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-Deus chamou Abraham para constitui-lo no pai de um povo (papel dos patriarcas formar o povo) - o instruiu a traves de Moisés e dos profetas, Deus vai formando seu povo na instrução da lei como um Pai que se preocupa pelos seus filhos. Eles o reconheceram como o único Deus, o Deus justo e verdadeiro, neste texto se vê a sabia pedagogia de deus para formar seu povo. Israel tem consciência definitivamente que só de Deus pode ter a esperança da Salvação. N° 4 - Retoma-se o tema de Cristo mediador como plenitude ra Revelação e se parte da carta aos Hebreus. A Palavra de Deus no Novo Testamento é o cumprimento das promessas do antigo Entre os dois testamentos há diferença mas também superioridade. - Deus enviou o Cristo, a sua palavra eterna para habitar entre os homens. Ele é a sabedoria de Deus por isso os ensina respeito a vida de Deus. Ele esta ontologicamente qualificado (Jô 14,9) para nos mostrar a Deus a diferença de todos os anteriores testemunhas da vida de Deus. - O Filho de Deus e a Palavra (ad intra e ad extra da vida Divina) e mediante a encarnação falou para nos a mesma linguagem humana. - A encarnação do Filho é concretamente a Revelação do Filho, Ele é o Emmanuel (Deus conosco): por seus gestos, atitudes, comportamento, palavras que Ele se tornou Revelador. De modo especial pela sua morte e Ressurreição. - Pelo envio do Espírito Santo Ele completa em nos a sua obra Redentora. - Tanto é Xto a plenitude da Revelação que já não podemos esperar uma nova revelação publica de Jesus ( o que não exclui as revelações particulares). Não podemos esperar uma nova Revelação pois seria tão absurdo como pensarmos numa nova encarnação. - Só estamos na expectativa da manifestação gloriosa de Cristo quando Ele será todo em todos. N° 5 -Diante do dom da Revelação o fiel sente-se solicitado de dar seu assentimento de fé teologal: crer e obedecer ao Deus que se Revela. E uma adesão mais que a conceito a pessoa do Filho que revela o Deus uno e trino. A ele devemos oferecer o nosso assentimento do entendimento e da vontade. - A dizer verdade o homem no chega ao assentimento de fé sozinho, ele é ajudado a graça adjuvante de Deus que a traves do Santo Espírito esclarece os corações e os forma para reconhecer a plena verdade. Um assentimento de fé que sempre é inter-pessoal: encontro do homem que procura e do Deus que se oferece. O Espírito nos permite um conhecimento e uma inteligência maior do mistério Revelado. Sempre somos agraciados, no ato da revelação e no ato de aderir a fé ( o Espírito vem a nossa ajuda). N° 6 -Deus se Revela plenamente na pessoa do Filho mas Ele se manifesta a sua vontade salvifica universal a traves dos decretos eternos de salvação, quer dizer de verdades que são moralmente necessárias no estado atual da humanidade. Deus não revela ensinamentos para satisfazer a curiosidade do homem, mas para salva-lo, para tira-lo da morte e do pecado e para leva-lo a participar dos bens divinos que superam tudo o que o homem pode chegar a compreender.

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- Respondendo ao contexto histórico do ateísmo contemporâneo afirma que Deus pode ser conhecido com a luz natural da razão pois a criação proclama o criador mas que o seu conhecimento o mais perfeito se faz a partir das coisas que Ele mesmo nos tem Revelado. As verdades reveladas, não são de fato inaccessíveis a razão humana.

3.0 - Método da teologia e disciplinas teológicas

O método de uma ciência se determina pelo seu objeto e pelo seu fim. O objeto da teologia é o conhecimento do Deus e a sua progressiva ação na historia do homem com vistas à salvação do mesmo homem (Deus que se oferece). O fim da teologia é alcançar uma maior compreensão desse Deus salvador para que o homem possa entrar na intimidade do amor de Deus (Deus recebido).

Desde o ponto de vista do método, a teologia se tem dividido grosso modo em dois campos (flutuantes segundo os diferentes teólogos): Teologia positiva e teologia especulativa. Outros dirão, teologia histórica (positiva) e teologia sistemática (especulativa); ou dogmática (positiva) e sistemática (especulativa).

3.1 Função positiva da Teologia

A teologia como a definimos ao começo do nosso curso, é a ciência da inteligência da fé, do espírito humano ansioso de compreender os dados da fé, segundo a formula de Anselmo:

“fides quaerens intellectum” o exercício da compreensão da fé.

A teologia intenta penetrar num mistério que ela já possui pela fé no intuito de alcançar um conhecimento maior. Justamente a função positiva consiste na possessão dos dados revelados e no seu conhecimento (Escritura, Tradição) o mesmo que na sua interpretação feita ao longo dos vinte e um séculos pelo Magistério da Igreja. Um conhecimento a nível cientifico que deve superar um primeiro conhecimento elementar da fé recebido a traves da catequese e da predicação. E necessário fazer notar que o conhecimento teológico da fé sendo mais exaustivo e pormenorizado é superior a aquele da catequese inicial, própria dos simples fiéis nas comunidades eclesiais.

A Teologia positiva preocupa-se com o aprofundamento do “auditus fidei” segundo o modo como tem chegado até nós (Sagrada Escritura, Tradição, Magistério) procurando uma compreensão maior do Mistério que nos tem sido Revelado. Assim estudara as relações de Deus com Israel, a revelação progressiva que Deus faz ao homem, a plenitude na pessoa de JHS, o testemunho dos apóstolos e a sua revelação implícita que o homem foi adquirindo por exemplo respeito à divindade do Cristo, nos dogmas marianos etc., que nos não encontramos imediatamente com a mesma clareza que muitas outras realidades da revelação.

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Este estudo da compreensão da fé feito pela teologia positiva seguira um decurso histórico e progressivo pois como fala na carta aos Hebreus 1,1-4 Deus não se revelou de uma vez por todas desde o principio mais Ele o fez processualmente e por etapas. Igualmente na Revelação do Cristo no primeiro século, comporta uma diversidade no processo de dar-se a conhecer a Igreja apostólica; Ele é o Messias mas ao mesmo tempo é o Filho do homem; Ele é o Servo sofredor e ao mesmo tempo o Filho de Deus, ele é o Cristo e ao mesmo tempo o Senhor; Ele é o Jesus da historia e ao mesmo tempo o Cristo da fé. Assim a percepção que tem os apóstolos do acontecimento Revelador de Jesus de Nazareth, graças ao Espírito que receberam a partir do dia de Pentecostes, é diferente segundo os diversos autores do Novo Testamento; a visão dos sinópticos e aquele de João, a Cristologia Paulina e aquela Joanica etc. Esta é a função e a tarefa da teologia positiva.

De outro lado é missão da teologia positiva é estudar e aprofundar o conhecimento proporcionado pelo magistério da Igreja no seu posicionamento ordinário e extraordinário e nos ensinamentos que ele formula pelos seus diferentes documentos produzidos bem que pelas instituições que colaboram com a cúria Romana no exercício da autoridade magisterial (ver as Congregações como órgãos que colaboram na autoridade do magistério do papa mas não no mesmo nível). Notemos que esses documentos têm um fim preciso e bem limitado; nascem num contexto histórico do qual recebem a sua perspectiva e a sua ressonância. Às vezes se trata de responder a um erro particular, expor uma doutrina, inculturar a missão da igreja (“aggioranamento” da igreja no Vaticano II), elaborar uma formulação da fé muito mais aprimorada que no passado (a Formulação da infalibilidade ao Vaticano II que difere na sua formulação da redação da mesma no Vaticano I).

A reflexão teológica da teologia positiva conseguira uma precisão técnica, doutrinal e histórica dos conteúdos da fé com a intenção de conseguir uma inteligência mais profunda e frutuosa da Palavra de Deus. A teologia positiva nutre seu trabalho cientifico dos três lugares teológicos pelos quais nos é accessível a verdade Revelada: a Sagrada Escritura, a Tradição e a sua conseqüente compreensão segundo os ensinamentos do Magistério.

a) A teologia positiva toma como fonte a Sagrada Escritura, se apoiando na exegese do texto sagrado para compreender o que o autor quis dizer e o contexto no qual se deu este ensinamento. Assim perscrutará o gênero literário do escrito, a critica textual e histórica, o alcance e os limites deste o destes ensinamentos.

b) Na Tradição, estudara o testemunho da igreja apostólica, dos padres da Igreja, dos doutores e dos teólogos assim como o testemunho da liturgia, da historia da Igreja, dos concílios, dos teólogos, da arte sacra e enfim da fé de todo o povo de Deus.

Os Padres da Igreja são as testemunhas da Tradição, e seu valor se deve principalmente ao fato de ter sistematizado nos seus escritos a revelação recebida, crida e vivenciada na Igreja. A noção de Padre da Igreja está caracterizada por quatro traços: Antiguidade, ortodoxia do seu ensinamento, aprovação expressa a implícita da Igreja e santidade de vida; si falta alguma de essas condições no se fala mais de Padre da Igreja. Alguns indivíduos brilhantes, como

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Tertuliano e Orígenes, são chamados somente “escritores eclesiásticos” justamente por faltar-lhes alguma condição das anteriores. Considera-se a era Patrística fechada, no ocidente com São Gregório (604) e São Isidoro (636), e no oriente com São João Damasceno (749).

O termo Doutor da Igreja é mais restringido que o de Padre, e quando se outorga, expressa o aprecio que a Igreja têm para um autor, as vezes Padre, até eleva-lo ao grado de Doutor42.

42 DOCTORES DE LA IGLESIA

"Doctor/a da Igreja” é um titulo que a Igreja (O Papa ou um Concilio Ecumênico) concede a certos santos homens e mulheres reconhecendo-os/as como eminentes mestres da fé e como testemunho/a da fé para os fieis de todos os tempos.

Entre os 8 Doutores primeiros da Igreja, 4 são Padres do Ocidente: São Gregório Magno, São Ambrosio, santo Agustinho, e São Jeronimo (proclamados Doutores em 1298) e 4 são do Oriente: (1568): São Atanasio, São João Crisóstomo, São Basilio Magno e São Gregorio Nacianceno. Na actualidad (2000 A.D.) existm 33 Doutores, entre eles três mulheres (Santa Teresa de Ávila, Santa Catalina de Sena e Santa Teresa de Lisieux).

LOS 33 DOCTORES DE LA IGLESIA EN ORDEN ALFABÉTICO CON FECHAS Y REFERENCIAS:

San Agustín (354-430). Obispo de Hippo. Uno de los cuatro doctores originales de la Iglesia Latina. "Doctor de la Gracia". Aclamado doctor el 20 de septiembre, 1295 by Bonifacio XIII.

San Alberto Magno (1200-1280). Dominico. Patrón de las ciencias naturales; llamado "Doctor Universallis" "Doctor Expertus". Aclamado doctor el 16 diciembre, 1931 por Pío XI.

San Alfonso Ligorio (1696-1787). Patrón de confesores y moralistas. Fundador de los redentoristas. Aclamado doctor el 7 de julio, 1871 por Pío IX.

San Ambrosio: (340-397). Uno de los cuatro tradicionales Doctores de la Iglesia latina. Combatió el arrianismo en el Occidente. Obispo de Milán y mentor de San Agustín. Aclamado doctor el 20 de septiembre, 1295 by Bonifacio VIII.

San. Anselmo (1033-1109). Arzobispo de Canterbury. Padre del Escolasticismo. Aclamado doctor el 3 de febrero, 1720 por Clemente XI.

San Antonio de Padua (1195-1231). Fraile franciscano. Doctor Evangélico. Aclamado doctor el 16 de enero, 1946 por Pío XII.

San Atanasio (296-373). Obispo de Alejandría (Egipto). Principal opositor al arrianismo. Padre de la Ortodoxia. Aclamado doctor el año 1568 por Pió V.

San Basilio Magno (329-379). Uno de los tres Padres Capadocios. Padre del monasticismo del Este. Aclamado doctor en 1568 por Pío V.

San Beda el Venerable (673-735). Sacerdote benedictino. Padre de la Historia inglesa. Aclamado doctor el 13 de noviembre, 1899 por León XIII.

San Bernardo de Claraval (Clairvaux) (1090-1153). Cisterciense. Llamado "Mellifluous Doctor" por su elocuencia. Aclamado doctor el 20 de agosto, 1830 por Pío VIII.

San Buenaventura (1217-1274). Teólogo franciscano. "Doctor Seráfico". Aclamado doctor el 14 de marzo, 1588 por Sixto V.

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Santa Catalina de Siena. (1347-1380). Mística. Segunda mujer doctora de la Iglesia. Aclamada doctora el 4 de octubre, 1970 por Pablo VI.

San Cirilo de Alejandría (376-444). Patriarca. Combatió el nestorianismo. Hizo contribuciones claves a la cristología. Aclamado doctor el 28 de julio, 1882 por León XIII.

San Cirilo de Jerusalén (315-387). Obispo opositor del arianismo en el Este. Aclamado doctor en 28 de julio, 1882 por León XIII.

San Efrén de Siria (306-373). Exegeta de la Biblia y escritor eclesiástico. Llamado "el harpa del Espíritu Santo. Aclamado doctor el 5 de octubre, 1920 por Benedicto XV.

San Francisco de Sales (1567-1622). Obispo y lider de la contrareforma. Patrón de los escritores y la prensa católica. Aclamado doctor el 16 de noviembre, 1871 por Pío IX.

San Gregorio Magno (540-604). Papa. Cuarto y último de los cuatro originales Doctores de la Iglesia Latina. Defendió la supremacía del Papa y trabajó por la reforma del clero y la vida monástica. Aclamado doctor el 20 de septiembre, 1295 por Bonifacio XIII.

San Gregorio Nacianceno. (330-390). Llamado el Demóstenes cristiano por su elocuencia y, en la Iglesia Oriental, "El Teólogo". Uno de los tres Padres Capadocios. Aclamado doctor en 1568 por Pío V.

San Hilario de Poitiers (315-368). Obispo. Llamado el Atanasio del Occidente. Aclamado doctor en 13 mayo, 1851 por Pío IX.

San Isidoro de Sevilla (560-636). Arzobispo, teólogo, historiador. Reconocido como el hombre mas sabio de su época. Aclamado doctor el 25 abril, 1722 por Inocente XIII.

San Jerónimo (343-420). Uno de los cuatro Doctores originales de la Iglesia Latina. Padre de las ciencias bíblicas y traductor de la biblia al latín. Aclamado doctor el 20 de septiembre, 1295 por Boniface XIII.

San Juán Crisóstomo (347-407). Obispo de Constantinopla. Patrón de los predicadores. Llamado "boca de oro" por su gran elocuencia. Aclamado doctor en 1568 por Pío V.

San Juán Damasceno (675-749). Teólogo griego. Aclamado doctor el 19 agosto, 1890 por León XIII.

San Juán de la Cruz. (1542-1591). Cofundador de los carmelitas descalzos. Doctor de la teología mística. Aclamado doctor el 24 de agosto, 1926 por Pío XI.

San León Magno (400-46l). Papa. Escribió contra las ejerejías del Nestorianismo, el Monofisismo, el Maniqueismo y el Pelagianismo. Aclamado doctor el 15 de octubre, 1754 por Benedicto XIV.

San Lorenzo de Brindis (1559-1619). Vigoroso predicador de gran influencia en el período pos-reformación. Aclamado doctor en 19 de marzo, 1959 por Juan XXIII.

San Pedro Canisio. (1521-97). Teólogo Jesuita. Líder de la Contrareforma. Aclamado doctor el 21 de mayo, 1925 by Pío XI.

San Pedro Crisólogo (400-50). Obispo de Ravenna. Llamado "Palabra de Oro". Aclamado doctor el 10 de febrero, 1729 por Benedicto XIII.

San Pedro Damián (1007-72). Benedictino. Reformador eclesiástico y clerical. Aclamado doctor el 27 de septiembre, 1828 por León XII.

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A Constituição “Munificentissimus Deus” de Pio XII, coloca também aos teólogos como testemunhas da Tradição. Efetivamente certo material do trabalho dos teólogos tem entrado a formar parte do conteudo da fé.

A Liturgia é igualmente uma testemunha privilegiada da Tradição pelas riquezas que recolhe, de modo que dificilmente se encontraria uma verdade de fé que não estivesse de certo modo expressada na Liturgia. A Liturgia vivida pela comunidade eclesial entra numa confissão continua, e é uma manifestação excepcional da fé da Igreja. E a fé na sua proclamação cultual pois a Igreja reza segundo a sua fé.

Graças à vida sacramental de uma comunidade, a pregação da Palavra e a celebração dos mistérios, o mistério central da fé é celebrado e atualizado.

A historia da Igreja estuda o progresso a traves dos séculos da instituição fundada pelo Cristo mas animada pela presença do Espírito santo. Eis aí a sua importância para compreender o mistério da salvação. Queremos entender por historia da Igreja não somente o estudo dos concílios e das heresias propagadas, mas a historia das instituições particulares, por exemplo do episcopado, diaconato, historia das fundações religiosas, a historia da santidade, enfim a historia de todo o Povo de Deus.

Como testemunho da Tradição se relaciona também a fé do povo cristão nas suas expressões atuais pois o Povo de Deus não deixa de meditar a Palavra de Deus e de atualiza-la na sua vivencia diária.Esta vida de fé sob a guia do Espírito santo torna-se a vezes um dos lugares teológicos – em todas as épocas- onde a fé pode fazer verdadeiros descobrimentos. Por exemplo à consciência crescente do papel dos leigos no mundo, a fundação de institutos seculares, a orientação da vida religiosa nos novos carismas, o trabalho ecumênico como intento de aproximação das comunidades separadas, o dialogo com as grandes religiões de salvação, tudo isto se realiza sob a moção do Espírito santo como resultado da vida de fé e do trabalho teológico.

c. A Teologia Positiva se baseia também nos ensinamentos do Magistério aplica-se a conhecer a fé da Igreja, tal como se expressa nas intervenções e declarações do Magistério. O Magistério, como intérprete autorizado da palavra de salvação, pode ser Ordinário o

San Roberto Belarmino (1542-1621). Jesuita. Defensor de la doctrina durante y después de la Reforma Protestante. Escribió dos catecismos. Aclamado doctor el 17 de septiembre 17, 1931 por Pío XI.

Santa Teresa de Avila. (1515-82). Española, fundadora de las carmelitas descalzas, mística. Primera mujer Doctora de la Iglesia. Aclamada doctora el 27 de septiembre, 1970 por Pablo VI.

Santa Teresa de Lisieux. (1873-1897) Religiosa francesa carmelita. Autora de "La Historia de un Alma". Aclamada doctora el 19 de octubre, 1997 por Juan Pablo II.

Santo Tomás de Aquino. (1225-74). Filósofo dominico y teólogo. Llamado "Doctor Angélico". Autor de la Suma Teólogica, obra insigne de teología. Patrón de las escuelas católicas y de la educación. Aclamado doctor el 11 de abril, 1567 por Pío V

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Extraordinário. Extraordinário quando se exerce no Concilio Ecumênico o por o Papa quando fala ex cathedra, o seja como Pastor e Doutor universal no exercício da sua autoridade plena, e na intenção de obrigar a todo o povo cristão. O Magistério Ordinário se exerce pelos bispos individualmente o colegialmente, em sínodos Interdiocesanos, conferencias episcopais, etc., e também por o Papa, seja diretamente nas encíclicas, discursos, cartas, o bem indiretamente por meio de seus auxiliares, como nas diversas congregações. Convém notar neste instante que desde o século XIX a encíclica é uma das formas privilegiadas do Magistério ordinário do Papa. Cada encíclica constitui uma exposição amplia da doutrina católica sobre um ponto concreto, onde não se trata de condenar a práxis dos cristãos mas de endereçar e alertar, de aclarar, ensinar e dar realce as insondáveis riquezas do mistério de Cristo para proveito do povo de Deus. Também o Direito Canônico, código que rege a disciplina da Igreja desde 1983, em quanto que se elabora sob o pensamento do Magistério, pode considerar-se como parte dos documentos magisteriais.

3.2 Função especulativa da teologia

Na sua função positiva a teologia recolhe e sistematiza os dados da revelação oferecidos pela Tradição e Escritura e interpretados pelo Magistério oficial da Igreja. Esses dados fazem referencia ao Mistério que até agora nos é oferecido como auditus fidei. Agora com a teologia especulativa se inaugura um segundo momento: o intellectus fidei, que é um trabalho metódico com o fim de penetrar mais ainda no conhecimento do Mistério. Trata-se agora do esforço do espírito humano para entender a fé. Na Teologia especulativa: aprofunda-se as verdades reveladas, mostra-se a sua inteligibilidade, a conexão e a harmonia que reina entre estas verdades, servindo-se da ajuda das ciências humanas. Ao teólogo corresponde identificar a verdadeira intenção do seu próprio saber e dos benefícios do mesmo que como o adverte são Bernardo são variados e múltiplos sobretudo para aqueles que se entregam com a devida intenção aos estudos: “aqueles que querem saber pelo simples prazer de saber é isto é uma torpe curiosidade. Outros querem saber para serem eles mesmos conhecidos é isto é uma torpe vaidade. Ainda tem aqueles que querem saber para vender a sua ciência por exemplo por dinheiro, por honras, e isto é por um torpe ganho. Tem aqueles que querem saber para edificar e isto é caridade. Mas teme aqueles que querem saber para serem eles mesmos edificados e isto é prudência”. A T. Especulativa leva a uma compreensão mais profunda do dado revelado, porém não deve ser confundida com uma simples especulação; não é a aplicação de uma filosofia técnica à compreensão da doutrina revelada. Senão, que toda a Teologia especulativa está sob o controle e a luz do mistério da salvação. Não é uma superestrutura da Teologia positiva, um modo incorporado extrínseco ou facilmente separável, senão que o pensamento especulativo se encontra englobado na Teologia positiva. O dado de fé não é unicamente o ponto de partida; é o princípio vital que a anima ao longo de todo seu caminho de reflexão fiel. A possibilidade da Teologia especulativa se embasa em uma epistemologia realista: a mente

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humana é capaz de captar como autênticas realidades à existência de mistérios revelados. Quer dizer, o trabalho especulativo trata de: definir conceitos, deduzir conclusões, dar argumentos de conveniência, responder as objeções, mostrar a conexão entre os mistérios, etc. Este esforço por entender a fé já existia um pouco espalhado na igreja primitiva e na patrística, por exemplo quando Ireneo, Clemente, Orígenes, Austin, e outros teólogos o exerciam de uma maneira ocasional a fim de responder aos enfrentamentos com as heresias. Foi no século XIII com a grande escolástica que esse trabalho de compreensão tornou-se um fato permanente na Igreja. Herdeira da teologia medieval, da noção aristotélica da ciência (conhecimento certo e dedutiva), ela se esforçara por deduzir umas conclusões certas a partir de dados revelados. A Teologia Positiva recolhe as verdades da fé, a especulativa os interpreta, os prolonga e conclui. A teologia especulativa é uma teologia construtiva, imaginativa, dialogante, uma teologia em permanente co-relação com a historia e com o tempo. Desde o ponto de vista do uso da razão, da demonstração e da refutação, a escolástica é o maior exemplo de teologia especulativa43 até hoje. Porém a teologia especulativa da escolástica fica em divida respeito ao sua inserção na historia. Nesta época o conceito de historia não estava muito desenvolvido faltando-lhe um maior sentido critico, se utilizava somente para manter uma verdade de fé. Pelo contrario o conceito de especulação como definição estava muito desenvolvido, exagerando às vezes com a técnica do silogismo, da analogia, das conexões lógicas entre todos os mistérios, para chegar a conclusões que se apresentassem claras e definitivas. A teologia especulativa privilegia o método da dedução, no sentido que ela deduz uma conclusão a partir de dados Revelados (Cristo é verdadeiramente homem, ora, todo homem é de inteligência e vontade; logo, Cristo possui inteligência e vontade humanas). Também a partir de verdades de fé junto com verdades de razão (Cristo é rei ‘Jo 18,37’; o rei tem direito de julgar e punir seus súbditos, logo Cristo ...). O método dedutivo vai mais longe ainda; de uma verdade de fé chamada principio pode chegar-se à outra verdade de fé chamada conclusão: da ressurreição de cristo chegamos a nossa própria ressurreição. Assim os mistérios vão encadeando-se uns e outros numa coerência interna que nos faz entender o plano da salvação querida por Deus. Mas a dedução vai ainda mais longe no sentido de conseguir uma maior inteligibilidade do dado revelado, utilizando para tanto os recursos ilimitados do pensamento humano, não somente da lógica de Aristóteles mas todas as aquisições da pesquisa e da investigação da ciência moderna, por exemplo a analise fenomenológica, a explicação genética, analise existencial, a critica histórica, a analise lingüística, etc. O objetivo da teologia especulativa é penetrar mais e mais no coração do mistério. Podemos dizer que são três as tarefas fundamentais da teologia especulativa: compreender, sistematizar e julgar.

43 Especulativo vem de speculum (spelho) e ao mesmo tempo vem do grego theorikon que nada tem a ver com artificial ou abstrato mais com reflexivo, teórico, quer dizer, por a verdade da fé frente ao espelho da razão humana assim como em relação a outras tantas verdades no interior do único mistério: Deus.

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a) Compreender:

Compreender o melhor possível o dado revelado. Se trata de explicar racionalmente a fé (o que realmente em principio é impossível) ou melhor seria explicitar a própria fé no sentido de desdobrar e manifestar com maior clareza o miolo da própria fé. Isto exigira um estudo pormenorizado das partes, uma analise do conteúdo da fé. Nesta etapa trata-se de esmiuçar até o Maximo uma afirmação de fé. Não quer dizer que os mistérios possam ser demonstrados ou assimilados como se fossem dados totalmente evidentes. Senão que é a busca do sentido preciso que contem a fé e que vai relacionar os mistérios entre si. A uma maior inteligência do mistério se chega a partir de varias formas de reflexão teológica. Assim temos entre outras:

A definição: a teologia se esforçara por definir44 com precisão conceitos nominais que a Tradição, a Escritura criaram ao longo dos anos. Eles expressaram e apontam para realidades que transcendem o tempo e a historia a traves de metáforas, imagens e símbolos, linguagem própria de um mundo pré-científico mas que hoje devem ser atualizadas para encontrar-lhes a verdadeira significação. Pensemos nas expressões tais como “Reino de Deus”, “Filho do homem”, “corpo místico”,”Trindade”, “processão”, “circumincessão”, “consubstancial”; “relação”, “inculturação”, “hipóstase”, “pessoa”, “natureza”, “substancia”, etc.

Dedução: geralmente feita a partir da lei do silogismo45, isto é, partindo dos efeitos para chegar às causas de um dado de fé. Concluir uma verdade a partir de duas premissas (uma revelada e outra não o as duas reveladas). A conclusão pode ser uma verdade revelada mas contida num outro lugar (implícita o explicitamente) o uma verdade virtualmente contida o em relação com a verdade revelada. Na teologia pode-se deduzir umas verdades de outras ou melhor ainda, umas verdades da verdade total.

A conveniência: tratando-se dos mistérios da vida intima de Deus e de seu desígnio salvifico é possível que o homem no chegue com a sua inteligência a captar as razões necessárias dos desígnios de Deus. Não entanto pode, a partir do mistério de fé já conhecido, mostrar a soberana conveniência da ação divina e manifestar assim sua profunda inteligibilidade.

Se não compreendemos a origem do mal, do sofrimento, podemos ver a sua conveniência pedagógica para o homem, etc.

A explicação genética. Consiste em seguir a evolução de um tema a traves de toda a historia da revelação. Esse apanhado não consiste em dar uma visão geral e histórica de um dado mais em enriquecer a nossa compreensão da missão e da pessoa de Cristo indo até as origens dos conceitos e das categorias.. Por exemplo seguir a explicação genética dos termos Profeta, Rei, Sacerdote, Filho do homem, Servo sofredor, etc para chegar a uma compreensão maior do 44 Distinguir é um meio necessário para articulara as idéias e para organizar um bom raciocínio. A distinção produz o bom pensamento; daí o dito: sapientis est distinguere (distinguir é de gente inteligente). 45 Somos filhos do pensamento ocidental e a lógica da filosofia grega marca a nossa maneira de pensar; isto deve nos prevenir para o encontro com outras culturas pois é possível que as leis do pensamento devem ser inculturadas.

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evento Cristo.

A Analogia dos mistérios com as realidades humanas. Sabemos que a analogia é uma linguagem muito indispensável para a teologia. E uma semelhança que ao mesmo tempo manifesta uma dessemelhança. Quando falamos de Deus utilizamos termos humanos mas sabemos que se em alguma parte as duas realidades batem, ao mesmo tempo elas se diferenciam. Por exemplo: a pessoa para Deus e para o homem. Na teologia especulativa tem grande importância o tema da analogia. A analogia entis

permite-nos falar de Deus de modo que a nossa linguagem tenha sentido. Podemos dizer algo de Deus ainda que não se lhe possa aplicar univocamente. A analogia fidei responde a duas realidades. (1) Faz que toda afirmação teológica concorde com a fé objetiva e possa ser entendida a partir dela (permite-nos interpretar o Antigo Testamento em relação com o Novo Testamento) e (2) nos diz as relações e conexões entre os diferentes mistérios. Tudo isto é possível em razão que Deus criou o homem à imagem e semelhança dele e de outra parte o mundo, que tem a sua origem em Deus, pode falar-nos do criador. Já o Cristo com as suas parábolas e imagens mostrou-nos as riquezas divinas a partir dos exemplos da obra criada. Paternidade, Filiação, são realidades reveladas pelo mesmo Cristo e como tal é norma normata da analogia proposta pelo mesmo Deus.

b) sistematizar

Trabalho sistemático: a Teologia procura expor com rigor os preâmbulos da fé (mostrar que a fé, ainda que não seja evidente, não é absurda de modo que o homem possa aceitá-la). Apresentar uma síntese dos mistérios da fé (de maneira que se mostre o melhor possível a unidade e coerência da doutrina revelada) logo de terem sido analisados estes mistérios na etapa anterior. E relacionar seus dados e conclusões com o mundo da ciência e da cultura. Sistematizar é apresentar organicamente os resultados da reflexão teológica procurando sempre lhes dar uma Unidade, situando-os dentro de um horizonte maior de compreensão. Logo de esmiuçar devemos agora compor seguindo uma estruturação orgânica. Esta sistematização exige um esforço de síntese e variará segundo o principio de unidade que se tenha selecionado; assim existira por exemplo uma teologia eminentemente teocêntrica como foi o caso da escolástica o Cristocêntrica como é o caso da teologia Kerigmatica; uma teologia existencialista frente à outra estruturalista; uma teologia aristotélico-tomista frente à outra agostiniana; uma teologia ortodoxa e latina, do progresso e missionária, conceitual e pratica, etc. Um exemplo poderia ilustrar para nos estas duas etapas: na anterior o homem procura as pedras, as escolhe, as talha, é a etapa da analise; agora organiza essas pedras seguindo um plano geral para produzir uma casa, síntese, sistematização. Bem que o Novo Testamento não seja um tratado sistemático, podemos encontrar não entanto uma organização sistemática em torno a uma idéia central, por exemplo a carta aos Romanos de Paulo e a sua idéia de Justificação (cap 1-11), os Atos dos apóstolos e a expansão da Igreja ou a ação do Espírito

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nela. Aqui podemos por o grande exemplo das sumas de Tomas, da hexapla de Orígenes, das Sentencias de Pedro Lombardo, etc. Também a filosofia serve à Teologia para organizar um sistema segundo a opção de base que o teólogo tenha escolhido .Ele pode empregá-la segundo se acomode melhor as exigências e natureza dos mistérios da fé. A Teologia não está ligada a nenhuma filosofia, pode usar todo o verdadeiro que se encontre em cada uma. Não obstante, nem toda filosofia é apta para expressar a Revelação divina, por isto que o teólogo deve fazer um discernimento sobre o tipo de ciências nas quais que apoiar seu trabalho.

C) Julgar

O teólogo tem que emitir juízos e assumir uma posição pessoal frente aos problemas e circunstancias do seu tempo e assim propor hipóteses a serem trabalhadas. Trata-se de postular e avançar algumas hipóteses teológicas na compreensão da própria fé. Isto exige sem duvida um bom envasamento na teologia positiva para que os seus postulados não fiquem como hipóteses desconectadas teológicas ao longo dos XX séculos, nem que atentem contra a integridade do dogma nem que seja um escândalo para os pequeninos do Reino. E claro que o teólogo não pode ser um simples repetidor do passado e também a sua missão não é a de assumir uma atitude apologética frente as dificuldades que se apresentam. Ele deve criar, imaginar, inventar, intuir, debater, propor. Conservando sempre a altura dos seus posicionamentos frente ao dado revelado e frente as três instancias teológicas necessárias para bem fundar todo trabalho teológico: Escritura, Tradição e Magistério. Ele deve estar aberto a pensar a teologia em Eclesiam e como tal, estando disposto a partilhar as suas intuições com o magistério e com os outros teólogos o que exige manter sempre essa capacidade de dialogo e de concessão frente às posições teológicas dos outros. Sabendo conservar a prudência da pesquisa intelectual, ciente que si nas ciências humanas a verdade é um ideal a descobrir, na teologia a verdade já tem sido dada pelo mesmo Deus Revelado e já muito antes de termos iniciado nossa missão como teólogos.

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3.3 Unidade da Teologia e Pluralidade das Disciplinas Teológicas

A unidade da Teologia dentro da pluralidade de suas disciplinas garante-se pelo fato de que todas têm o mesmo objeto formal que é Deus que se revela por meio de Jesus Cristo. Entendemos que o termo pluralismo tem um sentido positivo correto de diversidade legitima. Não queremos entender seu sentido negativo que conduziria à uma indiscriminada aceitação de todo sistema teológico, produzindo o sincretismo, o ecleticismo ou o irenismo. O pluralismo e hoje um traço comum de nosso mundo e por tanto de todo saber. Toda realidade desborda qualquer teoria, aquela é sempre plural, múltipla em suas determinações enquanto que a teoria é sempre particular, parcializada e olha uma realidade desde uma perspectiva determinada. Si isto vale para a realidade criada quanto mais vai valer para aquela realidade in-criada. O pluralismo teológico é indispensável por quanto:

• Tratando-se do Mistério da fé que é sempre transcendente, ele supera infinitamente todo entendimento e não pode esgotar-se numa única interpretação.

• Todo entendimento teológico é sempre contextual; sempre se situa numa cultura

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determinada, num tempo e num espaço que não permaneceram idênticos e para sempre ao longo da historia.

Contexto I: Teologia I

Contexto II: Contexto III: Teologia II Teologia III Contexto IV: Teologia IV Quando colocamos os diferentes contextos pensemos por exemplo: cultural (Oriente e Ocidente, latino-américa e Ásia, Europa e África, etc), histórico (patrística, medieval, moderna, existencialista, etc), Missão (operaria, urbana, cientifica, ad gentes, etc), novos enfoques (negra , feminista, progresso, ecumênica, etc.) Assim pois, uma leitura teológica determinada só pode ler e mostrar um aspecto determinado do Mistério. Cada cultura esta chamada a pôr em luz um o mais aspectos do Mistério único e absoluto. O pluralismo teológico é por tanto uma inculturação da fé e uma leitura do mesmo evento de salvação visto desde ângulos de leitura diferentes. O pluralismo por sua vez é algo congênito da teologia enquanto que na mesma Bíblia o texto escrito possui nas suas origens um certo pluralismo. Assim por exemplo: as quatro Tradições que compõem o Pentateuco; as múltiplas cristologias que encontramos no Novo Testamento, os evangelhos sinóticos e o evangelho de João. A presença do pluralismo teológico exige que toda leitura seja feita seguindo o principio da analogia da fé par encontrar um ponto de unidade que seja o centro de convergência dos distintos sistemas teológicos. O Concilio Vaticano II foi muito sensível ao pluralismo teológico enquanto é o fenômeno da nossa época, logo razões histórico culturais o explicam, e enquanto a “catolicidade” da igreja assim o exige. E pela causa da catolicidade que devem ser aceitas as diversidades no seio da comunidade católica da fé. Sendo que a igreja assume “os costumes e ás tradições dos povos

Mistério

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e culturas” é necessário o pluralismo no interior da mesma teologia. Referindo-se de modo particular as teologias do Oriente e do Ocidente por exemplo o concilio diz:

O que acima foi dito acerca da legitima diversidade (litúrgica, espiritual e disciplinar), é nos grato declara-lo também em relação à diversidade de enunciação teológica das doutrinas. Pois no estudo da verdade revelada, o Oriente e o Ocidente se serviram de métodos e modos diferentes para conhecer e expressar os mistérios divinos. Não admira por isso que alguns aspectos do mistério revelado sejam às vezes captados mais congruamente e postos em menor luz por um que por outro. Nesses casos deve-se dizer que aquelas varias formulas teológicas, em vez de se oporem, antes não raras vezes mutuamente se complementam46.

O Vaticano II pede também que “se estimule em cada grande território sociocultural a pesquisa teológica”, “sub-metendo-se a nova investigação” o conteúdo da Revelação47. No pluralismo legitimo não entanto é necessário evitar um extremismo no qual poderia desembocar uma péssima compreensão do mesmo: Pluralismo não é um vale-tudo teológico o que terminaria num sincretismo o irenismo irracional. Um sadio pluralismo teológico deve possuir dois critérios indispensáveis: um central, convergência no Mistério e um auxiliar, a complementriedade das diversas teologias. Respeito ao primeiro, todas as teologias devem estar em consonância com o conteúdo central da Revelação, o Mistério desvelado no final dos tempos na pessoa do Senhor Jesus. O núcleo central é o Dogma de Fé e todas as teologias devem partir dele e convergir nele.Mistério que encontramos na Sagrada Escritura e na Tradição d Igreja, guiado por uma leitura acurada sob os ensinamentos do Magistério eclesiástico. O segundo critério decorre do anterior, pois si duas o mais teologias tem como centro o Mistério da fé e somente ele, devem concordar em muitos aspectos entre si e completar-se os trabalhos de determinada teologia com os das outras teologias. As diferentes visões teológicas da teologia devem concorrer para completar-se mutuamente, dando assim uma visão mais integra do mesmo acontecimento. Essa complementariedade deve ser dialética e não estática, no sentido de saber integrar e assimilar com critérios de fé as diferenças necessárias que resultaram a causa do uso dos métodos diferentes, das perspectivas diferentes, dos contextos diversos. A abertura e a humildade são virtudes necessárias a todo trabalho teológico para reconhecer de um lado os limites de toda pesquisa e ainda mais quando o objeto é o mistério de Deus e de outro lado estar disposto a acolher outras interpretações que não a própria sem se sentir dono absoluto da verdade (o que vale para todo trabalho teológico vale também para a missão do teólogo). Isto poderíamos representa-lo neste esquema:

Teologia 1

46 UR 6 e 17. 47 AG 22,2; Cf 16,4.

Mistério

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Teologia 2 Teologia 3 Teologia 4

A divisão das diferentes disciplinas teológicas vai aparecendo progressivamente. Podem ser divididas em três grupos:

A. Disciplinas histórico-bíblicas:

1. História - estuda a influência da Revelação no mundo (espaço e tempo) depois de Cristo.

2. Ciências bíblicas - investigam a produção da Revelação divina, sua história e o seu conteúdo na Sagrada Escritura. São: (a) Introdução à Sagrada Escritura, (b) Exegese

do Antigo Testamento e do Novo Testamento, (c) Teologia bíblica.

B. Teologia Sistemática:

1. A Teologia Dogmática - expõe sistematicamente as realidades que se nos tem manifestado na Palavra de Deus. Trata das verdades fundamentais da Fé.

2. A Teologia Moral - interpreta cientificamente as normas práticas da vivencia do fato cristão contidas na Revelação.

3. A Teologia Espiritual - estuda a vida crista como realidade dinâmica. Preocupa-se dos atos pelos quais o homem entra em relação com Deus. Também dos meios que tornam possível ou facilitam essa relação.

C. Teologia Prática:

1. Liturgia - descreve o modo em que a obra de Cristo é atualizada na Igreja a traves da celebração. 2. Direito Canônico – A Igreja existe em ordem a evangelização e como tal ela se institucionaliza. Isto exige uma serie de normas, leis e prescrições jurídicas que visam a realização da sua missão e que são contidas no CDC (1983).

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3. Teologia Pastoral - explica a arte de formar os homens conforme o seu caráter de filhos de Deus e de levá-los até a última plenitude celestial. E uma reflexão existencial e atualizada da teologia acadêmica. E a aplicação do binômio teologia positiva/teologia especulativa aos contextos reais onde ela se inscreve. Na América Latina ela privilegia a lógica metodologia da Ação Católica nos passos: Ver, Julgar, Agir. Desde a nossa realidade foram aumentados os passos Celebrar e Avaliar. O teólogo pastoralista ajuda a comunidade (leigos e pastores) a ler os desafios que apresentam as diversas realidades à evangelização. O teólogo pastoralista assessora as comunidades mesmo na elaboração de textos e folhetos com uma linguagem muito mais simples que a acadêmica, aplicada imediatamente a realidade visada. Prévia a estes três grupos está a Teologia Fundamental (disciplina que mostra a factibilidade da Revelação, demonstrando com ela a racionalidade da Fé). Estes três grupos acima assinalados necessitam-se uns dos outros, relacionam-se reciprocamente de modo que nenhum deles pode subsistir sem os demais. Existem porém outras disciplinas que flutuam às vezes em mais de uma das divisões anteriores, por exemplo: doutrina social da Igreja, ecumenismo, estudo das religiões, catequese, homilética, meios de comunicação, etc. O seguinte esquema nos permite visualizar de uma outra maneira (modo diferente ao que estudamos anteriormente), Grosso modo, as diferentes ramificações da teologia:

Vejamos em particular os objetivos gerais de algumas das especializações contemporâneas mais importantes da teologia:

3.3.1 Teologia dogmática

A palavra dogma existia na teologia desde a antiguidade como substantivo mas é somente a partir do século XVII que aparece como adjetivo da Teologia. E um luterano, Calixt, em 1634 que o utiliza pela primeira vez para designar um tipo do trabalho teológico. Nascendo assim, ao menos nominalmente, a Teologia dogmática. A partir de 1680 o termo é patrimônio comum da teologia católica. Ao longo do século XVIII os manuais e textos teológicos utilizavam o nome de Teologia dogmático-escolastica nos seus títulos. Neste tempo consistia numa construção sistemática da interpretação da Palavra de Deus e também das definições do Magistério, por oposição ao estudo da Escritura Santa. Notemos não entanto que si o nome é completamente novo, o exercício aproximado de seu trabalho pode ser encontrado em autores antigos, por exemplo existem escritos (não tudo nem todos) de Orígenes, de Gregório de Nissa, de João Damasceno, de Agostinho, de Pedro

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Lombardo que sendo ensaios sistemáticos da articulação da fé cristã, são sem duvida excelentes trabalhos de teologia dogmática como hoje nos a entendemos. A teologia dogmática se compreende como a ciência que se preocupa por justificar, compreender e atualizar o dogma de fé oferecido a Igreja a partir dos dados da Escritura e da Tradição. Hoje prefere-se mais o nome de teologia Sistemática para evitar o escolho de entendê-la como o processo de fixação de formulas dogmáticas como resultado do processo orgânico da autocompreensão da fé. Por oferecer uma visão sintética e orgânica das verdades de fé, a dogmática pode ser chamada com razão também como teologia sistemática A teologia dogmática se preocupa com uma inteligência atualizada dos dados da fé de modo que eles sejam compreensíveis e significativos na vivencia dos cristãos. Tarefa necessária como foi por exemplo a resposta aos questionamentos que a reforma, o iluminismo e o racionalismo tentaram opor ao trabalho de afirmação da identidade próprio a Igreja católica. Eis aqui o fundamento e ao mesmo tempo a necessidade da formação de uma instancia de ensinamento, razão de ser do Magistério da Igreja. A teologia dogmática não tem como objeto, em sentido estreito, unicamente os dogmas da Igreja; ela se propõe à apresentação da totalidade da revelação cristã de uma maneira globalizante, quer dizer, apoiando-se na Sagrada Escritura, na Tradição e do trabalho do Magistério que procura atualizar o sentido permanente da Palavra. O lugar hermenêutico da teologia dogmática é o encontro entre fé e razão; ela oferece uma linguagem que é devedora da fé e da razão simultaneamente. A Dogmática é o cumprimento do adágio Anselmiano fides

quaerens intellectum. A teologia dogmática integra no seu método o trabalho da teologia positiva e da teologia especulativa ao mesmo tempo. . Na Optatm totius 16,3 são enumerados os passos necessários do método no trabalho da dogmática:

• Fundamentação bíblica • “ histórico-patristica • reflexão teórico-especulativa (seguindo o exemplo teológico metodológico de Sto.

Tomàs) • Analise de sua vivencia na liturgia e na vida da Igreja • Aplicações concretas.

O método da dogmática corresponde basicamente a estes três momentos: positivo (Bíblia, Padres, Historia), especulativo (reflexão e consideração construtiva das teses que vão ser formuladas), pratico (liturgia, vida da igreja, pastoral, moral). A teologia dogmática se ramifica em vários tratados ao interior de ela mesma: Cristologia, eclesiologia, sacramentos, Antropologia Teológica, Trindade, Pneumatologia, graça, escatologia, protologia (criação), mariologia, etc. Um trabalho de teologia dogmática como também de qualquer outro tipo de teologia, exige hoje a contribuição das ciências auxiliares entre as quais esta no primeiro lugar a filosofia, logo as ciências humanas e finalmente dos outros saberes que um trabalho cientifico na teologia assim o exijam, por exemplo a arqueologia, filologia, línguas anciãs e modernas, exegese, hermenêutica, geografia, etc.

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Notemos, mesmo que seja de passagem, que na atualidade todo trabalho teológico serio (o teólogo já não pode fazer um trabalho sozinho, cada vez mais vai precisar da ajuda e da colaboração de uma equipe), exige o concurso de uma sã e conseqüente interdisciplinaridade.

3.3.2 Teologia Bíblica Teologia bíblica parece a primeira vista um pleonasmo. Não entanto a Teologia bíblia consiste no estudo reigoroso e teórico da Sagrada Escritura para alimentar a vida de fé do homem e das comunidades cristãs. Ela tem como tarefa mostrar que a maneira racional como a fé cristã é hoje vivida, definida e explicada, guarda uma fidelidade a uma formulação primeira que encontramos no texto bíblico. A teologia bíblica cobrou uma grande importância na atualidade devido ao investimento dos pesquisadores nesta área e ao apoio que o Concilio Vaticano II deu aos estudos bíblicos sobre tudo com a afirmação “o Estudo da sagrada Escritura deve ser como a alma de toda teologia”48. Daqui podemos inferir a sua importância para nós. E claro que na Bíblia não encontramos – no rigor dos termos- uma teologia cientifica como pretendiam os filósofos do positivismo cientifico. A Bíblia contem relatos e narrações de pessoas e de comunidades de fé, sobre uma experiência particular da fé, para alimentar a vida de fé dos fieis a propósito da Revelação do próprio Deus na pessoa de Jesus Cristo. Não entanto esses relatos catequético-doxologicos fundam um tipo de teologia que alguns autores definem como teologias “originarias, constitutivas e normativas”. São muito mais tipos de teologias vivenciais, experiênciais, existenciais e praticas que discursos lógicos no sentido próprio da palavra. Assim encontramos na Bíblia (objeto material) uma teologia dos autores, dos textos, dos contextos, mas sempre com a característica de serem a condição primeira da realidade originaria e originante do dado de fé. Agora bem, a teologia Bíblica nasceu no século XVII (na ala protestante) por oposição a teologia dogmática, porem ela foi lentamente tomando carta de cidadania também no lado Católico. Os dados de fé que hoje nos temos, tem uma pré-história nas comunidades crentes dos judeus para o Antigo Testamento e nas comunidades cristãs para o Novo Testamento. Esses dados são o resultado de uma fé vivida na liturgia de essas comunidades em torno do Livro. Sendo que a leitura da Palavra não é mais hoje reservada unicamente para os iniciados senão que é livremente aberta para todo homem e de todas as épocas, a teologia bíblica se esforçara por fazer accessível o conhecimento dos dados de fé das comunidades apostólicas aos homens das gerações futuras e ao mesmo tempo vai verificar a fidelidade da vivencia da Palavra destes em comparação com a vivencia da Palavra pelas comunidades onde se originaram os textos sagrados. Quer dizer, a teologia bíblica mostrara a maneira como a linguagem e a pratica das comunidades apostólicas pode ser inteligível para as comunidades das gerações atuais e futuras.

48 DV 24

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Segundo Latourelle, existem dois tipos de trabalho na teologia bíblica: a) No primeiro tipo, a teologia bíblica organiza uma síntese harmoniosa e inteligível da

mensagem teológica partindo da Escritura mas apoiando-se também nos dados da Tradição e do Magistério. Seja um autor ou seja um livro. Este é um trabalho entre a exegese (determina o sentido exato do texto sagrado) e a teologia especulativa (raciocínio e a argumentação teológica como tal); não entanto ela não pode ser reduzida nem a um nem ao outro destes dois campos. Exemplo: teologia do Yavista, das fontes, dos salmos, dos sinóticos, de João, de Paulo, gênese do tema do deserto na bíblia, da direita de Deus, da montanha, da aliança,etc.

b) No segundo tipo, é atualmente o mais preferido pela teologia bíblica. Ela considera a Escritura como uma totalidade e nela existe o discurso inteligível de JHS como a única Palavra de Deus. Assim JHS é chave de leitura de todo trabalho bíblico, seja do AT (Cristo anunciado, prefigurado, prometido) como do NT (realização, cumprimento, realidade). Assim o único Logos de Deus ressoa nos dois testamentos. Ponto de partida é o texto bíblico, ponto de chegada a revelação do Mistério na pessoa do Senhor Jesus. Exemplo: o messianismo (presente no AT e realizado agora em Jesus), os títulos Cristologicos, Xto Pastor, Xto Servo sofredor, Filho do homem, Povo de Deus, Esposo (a), Sacrifícios, Sacramentos, Ressurreição, etc. Assim a teologia é bíblica enquanto que o ponto de partida é sempre a Sagrada Escritura. Neste segundo tipo a teologia bíblica não recebe os dados nem da historia da Igreja, nem dos Padres, nem da liturgia, etc, mas sempre a partir do Texto bíblico.A teologia Bíblica quer mostrar a traves de um discurso harmonioso e unitário como Deus começa, prossegue o continua esse dialogo de união com o homem que obtém seu ápice na pessoa do Senhor JHS.

Sem esquecer que esta mesma Constituição, Dei Verbum (1965), declarava a paridade da Escritura e da Tradição como o lugar teológico da Revelação e que é por conseguinte para nós, constitui também o lugar teológico da teologia bíblica.

3.3.3 Teologia Moral

E a ciência teórico-pratica do agir do cristão. Consiste na reflexão sobre a resposta que o cristão da a Deus nos diversos âmbitos da su existência pessoal: individual, comunitária, social, político. E um saber critico e especulativo sobre o compromisso ético do cristão, vivido e interpretado a luz da fé. Toda sociedade em principio, quer manter a sua identidade, a sua coerência e a sua continuidade com a ajuda de um conjunto de normas, regras, valores e costumes que constituem sua norma comum de comportamento. Tudo isto é possível em razão que o homem é um ser social por natureza e onde o interesse de um está co-relacionado com o interesse do outro e simultaneamente os dois dependem do interesse do grupo. Cada grupo humano tem a sua tradição moral que consiste num modelo de comportamento que exerce uma autoridade sobre os indivíduos pertencentes a todo agrupamento social. A realidade humana carateriza-se pela finitude e pela cazpacidade de trascendr os mesmos limites; pelo pecado e ao mesmo tempo pela graça da redenção trazida pelo Cristo.

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Duas vertentes: 1. aplicação cristã do principio ético próprio à filosofia (visão filosófica) com uma novidade fundamental, a pratica cristã baseada na fé num Deus Único, criador e redentor dos homens. 2. A definição dogmática o magisterial a traves da qual se coloca em principio um estilo próprio heterônomo: o comportamento conseqüente de todo discípulo de Cristo. Antes do Vaticano II só o direito canônico regulamentava todo principio moral; depois do Concilio é a pessoa do Senhor Jesus o referencial único e o principio inspirador do agir individual e dos atos de uma comunidade cristã. Quer dizer, é o Amor Cristão o fundamento de todo o nosso agir. Como diz Tomas na Parte II q.2 Numeral36 “toda lei moral tem como principio o Evangelho”. A Lei nova do Evangelho esta presente no coração do crente pela presença do Espírito que nos permite responder as motivações dos nossos comportamentos com sabedoria, amor e discernimento Cristão. Assim a Teologia moral se funda na sabedoria e na vontade de Deus, presentes na Escritura e na Tradição, mas também na experiência de fé racionalizada e vivida pelos cristãos no ambiente judeu–grego-romano no começo, e depois, nas experiências cristãs das outras épocas até hoje. A teologia Moral como disciplina separada da teologia tem a sua origem no final do século XVI (a era das especializações começa depois do período da Reforma); antes ela existia sim mais aparecia unida a teologia dogmática como um todo. Assim por exemplo, no século XIV começam a se escrever as famosas Summæ confessorum , destinadas a ajudar os confessores no seu ministério sacerdotal. Logo de Trento no século XVI apareceram as Institutiones

theologiæ moralis (atualização das anteriores para ajuda dos confessores mais no sentido da casuística) e assim se consolidou a separação entre o dogma e a moral. Na moral das épocas anteriores falava-se mais do pecado, do licito e do ilícito, dos casos de consciência; hoje é uma ciência mais aberta ao dialogo com a sociedade e com a comunidade cientifica na esperança de fundar um horizonte axiológico para resolver os diferentes problemas da desmoralizada existência humana da nossa época para podermos atingir o principio inspirador de nosso agir moral, o resgate do valor moral que existe no sacrifício redentor de Cristo. Certo, a teologia moral hoje precisa partir das mediações hermenêuticas para elaborar seu próprio discurso teológico tais como a filosofia, psicologia, medicina, antropologia cultural, economia, etc. Sem este suporte serio das mediações hermenêuticas pode-se cair numa reflexão autoritária e ingênua, numa aplicação simplista ou descontextualizada do dado de fé bíblico e das aplicações patristicas e magisteriais com as suas graves conseqüências para a vida Cristã. Sobretudo neste momento que exige uma sólida preparação moral para o futuro pastor diante das realidades bradantes como os anticoncepcionais, as células tronco, a clonagem, a eutanásia ou o assim chamado aborto terapêutico, aborto eugênico, etc. e toda a gama dos diferentes comportamentos respeito a sexualidade.

3.3.4 Teologia Espiritual 3.3.5 Teologia da libertação 3.3.6 Teologia feminista

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3.3.7 Teologia fundamental

O Cristianismo é uma religião revelada e é ela e somente ela (A Revelação) é o objeto próprio da teologia fundamental. T.F. é por tanto a ciência que trata da Revelação e da sua credibilidade. Quer dizer de mostrar que o evento da Revelação de Deus na pessoa de Cristo, proclamado, apresentado, pregado e confessado é possível de ser entendido racionalmente. A TF pode ser fundamentada na bíblia a partir do texto de 1 Pedro 3,15 “estando sempre prontos a dar razão de vossa esperança à todo aquele que vo-la pede”; também em Flp 1,7.16 : “...a todos vos, porque vos tenho no meu coração , a todos vos que, nas minhas prisões e na defesa e afirmação do Evangelho , comigo vos tornastes participantes da graça”, “Estes por amor proclamam ao Cristo, sabendo que foi posto para a defesa do Evangelho”. O primeiro texto a ser chamado TF foi de J.N. Ehrlich (1810-1864) em dois volumes publicado em Praga em 1863 onde diz no caderno n° 34 que a tarefa da TF é a mesma da T. Apologética. Ehrlich se propõe mostrar que a Revelação salvífica acontecida em Jesus de Nazareth é a soleira (umbral) de toda a historia da humanidade. A TF estabelece todos os fundamentos necessários para o “fazer teológico”; ela se ocupa da Revelação como tal, a sua natureza, os critérios para identifica-la, sua expressão na Tradição e na Escritura, da sua interpretação, da sua credibilidade e da sua facticidade. A TF ocupa-se da Revelação e da fé. Ela possui ainda um caráter mais filosófico que aquele da Dogmática pois se ocupa da opção de fé que pode realizar o homem, das razões da aceitação desta mensagem, da possibilidade de uma tal opção poder ser testemunhada para os outros, enfim, o evento da Revelação que começa e que finaliza na pessoa de Jesus de Nazaré como encarnação do amor de Deus pelo homem.. Assim o cristianismo que se encontra dentro da historia universal das religiões, encontra na revelação a maior coerência e a organização mais perfeita da comunicação de Deus ao homem. Comunicação esta que pode ser apresentada a partir das testemunhas que possuem uma autoridade credível do que afirmam. A Teologia fundamental ocupa-se da credibilidade do ato da fé e da sua apresentação autorizada pelas testemunhas mais habilitadas para tal fim. O melhor exemplo do valor das testemunhas para a Revelação é o relato da ressurreição de Jesus em 1 Co 15,3. 5-8: transmito-vos o que eu mesmo recebi... a credibilidade é baseada na experiência pessoal das testemunhas, a ultima de Paulo “como um abortivo”, a ela segue a pratica da igreja atual e a sua contribuição num mundo onde se vive o drama humano: a defesa da dignidade da pessoa humana, afirmação dos direitos do homem, a luta pela igualdade e a liberdade, a afirmação da igreja no mundo de hoje (Const. Gaudium

et spes), a encíclica do papa Redemtor hominis; tudo isto contribui para afirmar o gênio do

cristianismo enquanto é a legitimidade de Jesus como Revelação do amor do Pai e da sua presença na Igreja que proclama e leva adiante o seu evangelho nas complicadas circunstancias do momento presente.

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DIVISÃO DA TEOLOGÍA: FUNDAMENTAL E DOGMÁTICA

TEOLOGIA FUNDAMENTAL

Intellectus quærens fidem

A Revelação e a sua credibilidade

• Teoria da religião e da revelação

• Monoteísmo e Revelação em Jesus

• Das fontes históricas para provar o fato da Revelação.

• Comprovação do fato da Revelação cristã

A Igreja

• Sobre a constituição hierárquica e ministerial da Igreja

• o Magistério da Igreja • propriedades da Igreja

As fontes da Revelação

• Tradição • Sagrada Escritura

Em se

Deus uno

Deus Trino

Deus Criador e salvador

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TEOLOGÍA DOGMÁTICA

Fides quærens intellectum

SOBRE DEUS

Fora de se

Deus encarnado

Cristología

Soteriología

Mariología

Graça

As Virtudes infusas

Os Sacramentos

Após a historia

Sobre Deus consumador

os novíssimos

A Teologia fundamental como o nome o diz é a base teológica de toda reflexão sobre a realidade cristã. A automanifestação do projeto salvifico de Deus na Pessoa de Jesus, o homem respondeu com o ato de fé. A teologia fundamental se ocupará de esse ato de fé, do crer do homem. Da razoabilidade de esse ato de crer, da sua necessidade, do conhecimento e do compromisso que esse ato origina. E uma ciência teológica mais próxima ao dialogo com as outras ciências inclusive indo até indo até fora das fronteiras da teologia, ela é a ciência mais filosófica para poder compreender a mentalidade contemporânea com as suas grandes questões para a fé tais como o ateísmo, a inculturação, o dialogo interreligioso, a realidade do mistério, da liberdade e da necessidade do ato de crer, do ecumenismo, do milagre, etc. A teologia fundamental explicita o ato de crer entanto que a dogmática se ocupa da explicitação dos conteúdos do ato de crer. Os milagres de Jesus depois Vaticano II não são somente sinais exteriores da manifestação de Cristo. O Reino de Deus se manifesta na pessoa mesma do Cristo e a Igreja continua a ser o sinal e o instrumento de união entre Deus e os homens (LG 5,1). Os membros devem ser um sinal permanente para fazer visível a presença de Cristo ‘em nosso tempo’ (AA 16). Quer dizer que a revelação não somente foi anunciada por Jesus mas continua a estar presente no Cristo encarnado a traves das distintas circunstancias e da distintas épocas da historia humana. 3.3.8 Teologia fundamental como superação da apologética. É verdade que na antiguidade e na idade media, existiu uma corrente teológica chamada de apologética em quanto se preocupava da defesa da fé, de refutar as afirmações falsas, de “desmascarar” as simples opiniões, de mostrar triunfalisticamente a razão da verdade

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Cristã. Defesa de uma parte iniciada contra o pensamento judaizante logo contra o pensamento pagão dos gregos e mais tarde contra o pensamento do islã e posteriormente contra o iluminismo, ateísmo, cientificismo, relativismo, agnosticismo, sincretismo,etc. 1.- Não é por acaso que os autores do II século são chamados de padres apologistas por quanto procuram defender o cristianismo das acusações em voga da época: gregos e judeus, cada um por seu lado. Para estes homens o Cristianismo era a verdadeira filosofia (superação da filosofia grega) e a verdadeira religião: o NT é o cumprimento das antigas promessas e o AT deve ser lido numa perspectiva tipológica que prefigura a pessoa de Jesus e toda a Revelação adveniente. Pense-se por exemplo a Justino, o mártir, cujas apologias, Dialogo com o Judeo Trifo, (160) inaugura quase um milênio de literatura contra os judeus. Outros o farão contra os Helenistas, outros contra os “maometanos”. Outros autores: Aristides, Atenagoras,Taciano, Teófilo de Antioquia. Eles fazem a defesa do dogma partindo de categorias filosóficas como por exemplo a assim chamada “Cristologia do Logos”. Desta maneira o famoso Logos spermatikos, que não era uma simples razão universal concebida panteisticamente, mas tratava-se do próprio Cristo e com base nisto podiam dizer que Platão e Aristóteles também eram cristãos na medida em que exprimiam a Razão. A sua sabedoria lhes foi transmitida por Cristo a traves dos profetas ou mediante Revelação geral. O termo Logos significa tanto razão como a Palavra. O Logos esteve em Deus, como a sua própria razão e desde toda a eternidade Logos endiáthetos, logo esta razão procedendo da essência de Deus como a palavra que se originou em Deus, o Logos

proforikós, e que aconteceu e se fez presente na criação do mundo. Na plenitude do tempo esta mesma palavra revestiu-se de forma física e tornou-se homem. Assim neles encontramos as primeiras tentativas de inculturar o evangelho dentro da ciência da época, dos termos e da cultura filosófica da época. Os apologistas rejeitam as acusações dirigidas contra os cristãos às vezes tratando a cultura dos outros, do estado, dos gregos, dos judeus, dos moros, muito severamente. A contribuição mais positiva deles é a apresentação do dogma no cristianismo como a verdadeira filosofia. 2.- Desde o período da reforma até o das luzes. É durante este período que a apologética conhece a sua maior sistematização e organização. A grande Reforma da igreja em Ocidente da imediatamente a matéria para definir os temas teológicos contestados do lado protestante. John Wyclif (+1384) e Jan Hus (+1415) criticaram a autoridade papal, a hierarquia , os sete sacramentos, dizendo que apenas o Cristo é a cabeça da igreja. Assim será tarefa da Igreja católica reivindicar e explicar a possessão exclusiva das quatro verdades : uma, santa, católica e apostólica, que alias era reclamada também pelos reformadores. Em 1593 Pierre Charon (1541-1603) publica as três verdades fundamentais que continuarão a ser debatidas mesmo depois do século do iluminismo:

• Existe a religião credível de todos e da cada um contra os ateus e os infiéis. • O Cristianismo é a melhor entre todas as religiões contra os judeus e os

maometanos.

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• A Igreja católica Romana é a melhor contra todas as posições heréticas e cismáticas (numa obra sua ia desde a pagina 193 até a pagina 607!).

Deste modo apologética comportava três partes: a demonstração religiosa, a demonstração cristã e a defesa estritamente confessional. Os pensadores iluministas vão colocar toda a ênfase sobre a segunda, a demostratio christiana , que superando o caráter confessional se preocupara de apresentar o cristianismo como a religião revelada contra o perigo que apresentava o deismo (uma religião da razão somente, nada de revelação, nada de autoridade de Igreja). 3.- O ateísmo do século XIX e XX. A apologética tem que lidar com o ateísmo radical da ultima fase do iluminismo, seja do materialismo dialético, histórico ou de uma liberdade baseada nos postulados existenciais. Aqui a apologética parte sobre todo para a demostratio

religiosa como maneira de estabelecer a existência de Deus, condição necessária para crer na Revelação. O pensamento neo-escolastico é um bom instrumento para poder responder aos ataques do ateísmo. E assim que Leon XIII na sua encíclica Aeternis Patris de 1879 coloca a Tomas como a testemunha oficial da Igreja para fundamentar as afirmações da fé e é do seu exemplo que saíram obras enormes como as de R. Garrigou-Lagrange (1929) e mesmo os intentos de escrever novamente verdadeiras summas. Assim temos que a teologia apologética se fixou sobre tudo aos critérios exteriores da revelação, respondendo quase exclusivamente a partir de esquemas demonstrativos a exemplo da suma Teológica de Santo Tomas. Somente pela via da demonstração que afetava unicamente a inteligência, deixando de lado a sua afetividade e a sua vontade, na procura do entendimento da Revelação. Após Vaticano II se afirmara que a Revelação realizou-se por atos e por palavras intrinsecamente unidos. Deus mesmo quis se manifestar ao homem convidando-o a tomar parte da possessão da natureza divina. O homem pode então e é capaz de entrar em comunhão com Ele. De modo que a Revelação no consiste unicamente em verdades, em idéias, mas na revelação de atos concretos e do único ato de Cristo pelo qual Deus se revela ao homem. Ninguém pode por tanto conhecer nada do fato da revelação si a pessoa mesma não esta existencialmente implicada na acolhida existencial do seu próprio conteúdo. Quer dizer, doravante é impossível separar o fato do conteúdo da revelação superando assim a conceição que uma razão natural sem engajamento poderia neutralmente compreender a Revelação. Deus mesmo quis se manifestar ao homem em e por si mesmo... a fim que os homens, graças ao Cristo, participem da natureza divina. Deus, no seu Filho abriu-nos a comunhão com Ele. Não na comunhão e na interpretação de varias verdades ou de vários mistérios mas da única verdade e do único mistério revelado em Cristo. Entre o fato e o conteúdo da Revelação não existe nenhuma distancia (Cristo é o sujeito e o objeto da Revelação) e pelo mesmo ninguém pode conhecer o fato da Revelação sem estar existencialmente envolvido no seu conteúdo. Deste modo à teologia fundamental como superação da apologética não se propõe aprofundar umas demonstrações exteriores (como seria na conceição tradicional), mas em mostrar a implicação do sujeito a partir da apresentação e da credibilidade que caracteriza a autoridade das testemunhas da Revelação.

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Depois Vaticano II, todos os cristãos temos o mandato e a necessidade de sermos as testemunhas da ressurreição e da vida de Nosso Senhor Jesus (LG 38) e a testemunhar a esperança que existe em nós (1Pe 3,15). Mais que o testemunho verbal o Concílio parte para o testemunho da vida, quer dizer que aquilo que se testemunha não pode ser separado do que é realmente vivenciado pela pessoa que é a testemunha. O testemunho é agora, na teologia fundamental, a chave primordial para fazer da Revelação um ato credível para os outros e para o mundo. O testemunho concretiza e sacramentaliza a presença do Reino de Deus no mundo e na historia, eles dão um rosto humano a Revelação. Única maneira de fazermos a passagem da apologética para a Fundamental.