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Introdução à Teologia II
II – NOÇÕES BÁSICAS DEECLESIOLOGIA
2.1DELINEAMENTO
Eclesiologia:
suo tratado ou a parte da Teologia
que estuda a Igreja:
sua origem;
sua natureza;
sua constituição;
sua missão;
sua relação com o mundo etc.
Pode-se dizer que o referido tratado não remonta às origens
da Igreja.Quando se analisa o
Novo Testamento, constata-se que não há qualquer sistematização de uma doutrina sobre a Igreja.
Como observa Salvador Pié-Ninot,
“os estudos atuais sobre a história da Eclesiologia estão
de acordo em situar o verdadeiro nascimento do
tratado ‘De Ecclesia’ na obra de Tiago de Viterbo, ‘De
Regimine Christiano’, publicada em 1301-1302”.
Nos primeiros séculos, a eclesiologia era mais
vida e consciência
do que teologia sistemática.
Isso não significa que não tivessem uma consciência
viva, clara e precisa do que é a Igreja.
Considera-se que de tal modo o tema
da Igreja estava presente em suas
reflexões que um tratado particular
sobre ela seria desnecessário...
Porém, parece evidente que o surgimento de um tratado a seu
respeito se fez inevitável quando ela começou a ser questionada
(por diversos fatores) na história.
Certamente,
“em todas as épocas houve problemas com a Igreja. Nem poderia ser diferente quando a ação divina é veiculada pela atuação humana, sempre caracterizada por fraqueza, imperfeição, falibilidade e maldade”.
[Siegfried WIEDENHOFER]
O fato é que,
atualmente,
algumas
perguntas são
inevitáveis.
O que é a Igreja?
Por que tenho que crer nela?
Por que aceitar a sua mediação e não
relacionar-me diretamente com Cristo?
Que garantias tenho de que Cristo fundou
a Igreja e de que ela não seja
simplesmente uma iniciativa humana?
Qual é a sua finalidade?
Uma vez que no presente curso deseja-se somente oferecer “noções
básicas de Eclesiologia”, será necessário deter-se apenas à algumas dessas questões:
a origem e a natureza da Igreja, sua existência como condição para a fé
em Cristo Jesus e, por fim, sua manifestação no mundo como “uma
comunidade a caminho”.
2.2A ORIGEM E A NATUREZA DA
IGREJA
Para compreender a origem e a natureza da Igreja, a Eclesiologia
necessariamente deve considerar sua relação com Jesus. Para isso, parte-se
do estudo da Igreja, enquanto fenômeno histórico originado no
movimento de Jesus, para depois, proceder a análise de sua natureza a partir de algumas imagens e símbolos provenientes do Novo Testamento e da
Tradição cristã.
2.2.1 Jesus, o Reino de Deus
e a origem da Igreja
A questão da formação da Igreja e de sua
relação com Jesus é algo fundamental para a
fé cristã, pois se torna muito comum em
nossos dias a oposição entre Cristo e a
Igreja.
Por exemplo, no início do século XX, o teólogo e filósofo francês
Alfred Loisy (1857-1940), modernista, afirmara: “Jesus pregou o reino de
Deus, e o que veio foi a Igreja”.Com essa frase, quis dar a entender
que a Igreja não foi desejada por Deus.
Segundo o então Cardeal J. Ratzinger,pode-se compreender este pensamento de
Loisy, primeiramente, quando se observa que Jesus, em sua mensagem, não anunciou
imediatamente o advento da Igreja, mas do Reino de Deus e, ainda, quando se constata que
existem 122 passagens do Novo Testamento falando do Reino de Deus
(das quais 99 pertencem aos Evangelhos Sinóticos e 90 são diretamente palavras de
Jesus).
Além disso, é curioso“o fato de os evangelhos não
falarem de Igreja, a não ser por apenas duas vezes (Mt 16,18 e 18,17), e numa delas a Igreja é
anunciada como um acontecimento futuro, não como
algo já existente”.
Diante da aparente contradição, a primeira questão a ser investigada é se a fundação da Igreja corresponde
ou não à intenção de Cristo. Para isso é preciso buscar o testemunho
do Novo Testamento.
Como fora afirmado nos estudos de Cristologia, todos os exegetas estão de acordo que o centro da pregação de Jesus é a chegada
do Reino de Deus. Porém, note-se que Jesus, junto
com a pregação do Reino, buscava ao mesmo tempo a
formação de uma comunidade.
De acordo com os Santos Evangelhos, realmente, o Senhor Jesus começou sua
obra proclamando a iminência do Reino de Deus e convidando o povo à conversão (cf.
Mc 1,14s).Porém, tal proclamação inaugurou um
movimento peculiar: na Palestina, no século primeiro da era cristã, no contexto de seu
povo judeu, iniciou um grupo de discípulos que desencadeou o processo
histórico assumido como origem e fundamento da Igreja.
De fato, os Evangelhos falam claramente que Jesus busca formar um grupo de discípulos.
Para a verificação da causa em epígrafe, esse dado é de suma importância.
No caso, a formação desse grupo encontra-se entre o que se pode chamar
“experiências fundantes da Igreja”,pois sua constituição pode ser assumida como
“ponto de partida”de seu movimento
(Mt 4,17-22; Mc 1,14-20; Lc 5,1-11).
Assim, analisando os textos evangélicos, pode-se
perceber claramente que Jesus não se entende como
um indivíduo isolado.
Um fato que historicamente não pode ser colocado em dúvida e que revela a vontade
de Cristo de reunir ao redor de si o novo povo messiânico é a instituição dos Doze (cf. Mc 3,13-19; Lc 6, 12-19; Mt 10,1-4; At 1,13).
Com a escolha dos doze Apóstolos, Jesus mostra seu desejo de fundar o novo Israel.
Lembre-se de que o antigo povo era constituído em doze tribos, a partir dos
doze filhos de Jacó. Assim, parece que Jesus se apresenta como patriarca de um novo
Israel.
De fato, a este número é dada muita importância na Igreja
primitiva, de tal modo que aos apóstolos simplesmente são
chamados de “os doze”.Sua primeira missão consiste simplesmente em ser doze, e a ela se acrescentam, logo a
seguir mais duas funções: “para estarem com ele e para
enviá-los” (Mc 3,14).
Este número que os reúne em uma comunidade claramente
delimitada, é de tal importância, que é completado outra vez depois da traição de
Judas (At 1,15-26).
O grupo dos doze está em toda a trama do evangelho.
É o grupo com o qual Jesus convive pessoalmente e ao qual
instrui de forma particular. Porém, ao contrário do que
acontecia com os discípulos dos rabinos,
é Jesus quem os escolhe.
Por sua vez, o grupo dos Setenta ou Setenta e Dois, do qual São Lucas fala, completa esse simbolismo:setenta ou setenta e dois era,
segundo a tradição judaica (Gn 10; Ex 1,5; Dt 32,8), o número das
nações do mundo.
Os setenta e dois discípulos significam que Jesus reivindica para si toda a
humanidade, que deve tornar-se sua discípula: são o sinal que o novo Israel
abrangerá todos os povos da terra.Note-se que os Setenta e dois são
enviados por Cristo para continuarem sua missão (cf. Jo 17,18; 20,21).
E, por fim, o último dado:a instituição da Eucaristia na
Última Ceia, na noite anterior à sua Paixão.
Trata-se da conclusão de uma aliança e, como aliança, é fundação concreta de um novo povo que se torna povo
por sua aliança com Deus, através da comunhão no corpo e no sangue de
Jesus.Ele incorporou em sua pregação a
ideia de aliança proveniente do Antigo Testamento, mas, com um novo centro: “ser um” no Corpo dele.
Como se vê, ao longo de sua vida, o
Senhor Jesus foi colocando as bases
de uma Igreja que se manifestaria
propriamente no dia de
Pentecostes.
Por isso não existe oposição entre o Reino que Cristo buscou e a Igreja que
convocou.
A Igreja e o Reino nascem juntos e coincidirão plenamente no céu.
Aqui não coincidem plenamente porque pode haver membros da Igreja que não
vivam em graça e podem dar-se também homens fora dela que vivam o amor de
Deus.
Enquanto isso, a Igreja vem a sergerme e o princípio do Reino.
A presença e a comunidade que o Reino cria são o resultado da
chegada do Reino e a razão de si mesma está em função do Reino.