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?.>\l\NIMAIS SILVESTRES DesaQos nas pesquisas em animais silvestres :Carlos Alberto Müllà Médico Veterinário CRMV /RJ n° 1044 lador do Centro de Experi- iOAnimal- IOC/FIOCRUZ bro da Comissão Interna de iossegurança - IOC/FIOCRUZ 'residente da Comissão IAnimais Silvestres - FIOCRUZ :nd. FIOCRUZ - Av. de Janeiro - RJ -- -- INTRODUÇÃO A preocupação com a biodi- versidade é hoje um fenômeno mundi- al, ao mesmo tempo em que se verifi- ca que cada vez mais espécies animais encontram-se ameaçadas de extinção. Embora diversas causas, tais como a expansão urbana descontrolada e as degradações ambientais estejam asso- ciadas a esse fenômeno, o tráfico de animajs desempenha um papel funda- mental neste processo. Considerado como um dos maiores negócios do pla- neta, perdendo somente para o tráfico de drogas e de armas, o tráfico de ani- mais silvestres ocupa o terceiro lugar nesse ranking da ilegalidade. A dimen- são do tráfico de animais no Brasil tem sido estimada em quantias próximas a 1..;551bilhão/ano e envolve todas as regiões do país (Lopes, 2002). É pos- sível diferenciar modalidades de tráfi- co de animais silvestres, que podem se destinar à subsistência, a colecio- nadores de animais raros, a população em geral que deseja um "pet" diferen- te, ou que desejam animais para ativi- dades de diversão e também para a pesquisa científica. Esta última moda- lidade de tráfico é conhecida como '<1Jiopirataria",a qual pode envolver também a flora, através da qual espé- cies e seus subprodutos são contrabandeados para empresas ou msrituições internacionais, que atuam principaJmente na área biomédica e vi- sam em geral a descoberta de uma subsrância ativa, que possa ser alta- menre rentável (Costa-Neto, 2005). A biopirataria é considerada hoje o maior vilão do tráfico, e é visando ao combare dessa atividade ilegal que várias estratégias ou medidas legais vem sendo estabelecidas em nível na- cional e internacional. . No entanto, as pesquisas que en- volvem animais podem ter propósitos variados, como obter conhecimentos sobre a espécie animal, ecos sistemas, relações interespécies, reservatórios de agentes patogênicos, transmissão de doenças, entre outros. Sabe-se que em relação a doenças emergentes e reemergentes um dos principais meca- nismos de surgimento dessas infecções é a chamada "transposição da barrei- ra da espécie", ou seja, a introdução no hospedeiro de um rnicroorganismo existente em outra espécie (Schatzmayr, 2001), o que conduz ne- cessariamente a uma investigação ci- entífica que envolva as espécies por- tadoras do microorganismo. É nesse contexto que o pesquisador brasileiro deve estar ciente da importância das pesquisas em animais silvestrese atento ao controle cada vez maior das práti- cas que podem acarretar danos ao in- divíduo (humano e animal), as espéci- es e ao ecossistem~. (Müller, 2002). No entanto, a medida em que surgem leis, normas e práticas recomendáveis no que se refere a aspectos legais, éti- cos e de segurança, observa-se ainda que muitos daqueles que se dispõem a realizar um trabalho com animais sil- vestres desconhecem as situações de risco às quais estão submetidos, assim - como desconhecem normas legais e fatores que podem repercurtir negati- vamente ao bem-estar do animal e em todo o ecos sistema. Grande parte dos acidentes e das conseqüências inde- sejáveis relacionadas às interações com os animais decorrem, sobretudo, da 1- Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XI- N° 34 JaneirolFevereiro/Março/Abril de 2005

INTRODUÇÃO - cfmv.org.br cobio/artrev34.pdf · versidade é hoje um fenômeno mundi-al, ao mesmo tempo em que se verifi-

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?.>\l\NIMAIS SILVESTRES

DesaQos nas pesquisas em animais silvestres

:Carlos Alberto MüllàMédico VeterinárioCRMV /RJ n° 1044

lador do Centro de Experi-iOAnimal- IOC/FIOCRUZ

bro da Comissão Interna de

iossegurança - IOC/FIOCRUZ'residente da Comissão

IAnimais Silvestres - FIOCRUZ:nd. FIOCRUZ - Av.

de Janeiro - RJ

-- --

INTRODUÇÃO

A preocupação com a biodi-versidade é hoje um fenômeno mundi-al, ao mesmo tempo em que se verifi-ca que cada vez mais espécies animaisencontram-se ameaçadas de extinção.Embora diversas causas, tais como a

expansão urbana descontrolada e asdegradações ambientais estejam asso-ciadas a esse fenômeno, o tráfico deanimajs desempenha um papel funda-mental neste processo. Consideradocomo um dos maiores negócios do pla-neta, perdendo somente para o tráficode drogas e de armas, o tráfico de ani-mais silvestres ocupa o terceiro lugarnesse ranking da ilegalidade. A dimen-são do tráfico de animais no Brasil tem

sido estimada em quantias próximas a1..;551bilhão/ano e envolve todas as

regiões do país (Lopes, 2002). É pos-sível diferenciar modalidades de tráfi-

co de animais silvestres, que podemse destinar à subsistência, a colecio-

nadores de animais raros, a populaçãoem geral que deseja um "pet" diferen-te, ou que desejam animais para ativi-dades de diversão e também para apesquisa científica. Esta última moda-lidade de tráfico é conhecida como

'<1Jiopirataria",a qual pode envolvertambém a flora, através da qual espé-cies e seus subprodutos sãocontrabandeados para empresas oumsrituições internacionais, que atuamprincipaJmente na área biomédica e vi-sam em geral a descoberta de umasubsrância ativa, que possa ser alta-menre rentável (Costa-Neto, 2005).A biopirataria é considerada hoje omaior vilão do tráfico, e é visando ao

combare dessa atividade ilegal que

várias estratégias ou medidas legaisvem sendo estabelecidas em nível na-cional e internacional. .

No entanto, as pesquisas que en-volvem animais podem ter propósitosvariados, como obter conhecimentos

sobre a espécie animal, ecossistemas,relações interespécies, reservatórios deagentes patogênicos, transmissão dedoenças, entre outros. Sabe-se que emrelação a doenças emergentes ereemergentes um dos principais meca-nismos de surgimento dessas infecçõesé a chamada "transposição da barrei-ra da espécie", ou seja, a introduçãono hospedeiro de um rnicroorganismoexistente em outra espécie(Schatzmayr, 2001), o que conduz ne-cessariamente a uma investigação ci-entífica que envolva as espécies por-tadoras do microorganismo. É nessecontexto que o pesquisador brasileirodeve estar ciente da importância daspesquisas em animais silvestrese atentoao controle cada vez maior das práti-cas que podem acarretar danos ao in-divíduo (humano e animal), as espéci-es e ao ecossistem~. (Müller, 2002).No entanto, a medida em que surgemleis, normas e práticas recomendáveisno que se refere a aspectos legais, éti-cos e de segurança, observa-se aindaque muitos daqueles que se dispõem arealizar um trabalho com animais sil-

vestres desconhecem as situações derisco às quais estão submetidos, assim -como desconhecem normas legais efatores que podem repercurtir negati-vamente ao bem-estar do animal e em

todo o ecos sistema. Grande parte dosacidentes e das conseqüências inde-sejáveis relacionadas às interações comos animais decorrem, sobretudo, da

1-Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XI- N° 34 JaneirolFevereiro/Março/Abril de 2005

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falta de infol1l1açãoe de planejamentopor parte dos envolvidos na pesquisa.

O objetivo aqui é oferecer ao mé-dico-veterinário, assim como ao pes-quisador e a outros profissionais en-volvidos com animais silvestresum ro-

teiro de questões que devem ser leva-das em consideração, a fim de que osprocedimentos sejam adequados emrelação a nOl1l1atizaçõesvigentes nopaís, a segurança do profissional en-volvido e do meio ambiente e ao bem-

estar do animal (Müller, 2004). Inici-almente, é importante o conhecimentode algumas definições:

Definições (/RAMA, 2005)

I - Animal Silvestre: s~o aquelespertencentes às espécies nativas; mi-gratórias e quaisquer outras, aquáticasou terrestres, que tenham a sua vidaou parte dela ocorrendo naturalmentedentro dos limites do Território Brasi-

leiro e suas águas juridicionais, cujoacesso, uso e comércio é controlado

pelo IBAMA.11- Animal exótico: são aqueles

cuja distribuição geográfica não incluio Território Brasileiro. As espécies ousubespécies introduzidas pelo homem,inclusive domésticas, em estado selva-gem, também são consideradas exóti-cas. Outras espécies consideradas exó-ticas são aquelas que tenham sidointroduzidas fora das fronteiras brasi-

leiras e suas águas juridicionais e quetenham entrado expontaneamente emTerritório Brasileiro.

111- Animal doméstico: sãoaque-les animais que através de processostradicionais e sistematizados de mane-

jo e melhoramento zootécnico toma-ram-se domésticas, possuindo carac-terísticasbiológicase comportamentaisem estreita dependência do homem,podendo inclusive apresentar aparên-

ANIMAIS SILVESTRES

cia diferente da espécie silvestre queos originou. Poderão ser controladospelo IBAMA, caso seja verificado quepodem causar danos à fauna silvestree ecossistemas, quando em vida livre.O controle se dará através das Secre-

tarias e Delegacias vinculados ao Mi-nistériodaAgricultura,PecuáriaeAbas-tecimento e Gerências de Zoonoses,vinculadas ao Ministério da Saúde ouas Secretarias Estaduais da Saúde.

A proteção à fauna -normatização e controle

Em nível internacional, a CITES -

"Convenção sobre o Comércio Inter-nacional de Espécies da Fauna e Flo-ra Selvagem em Perigo de Extinção"reflete a preocupação em relação aocomércio de animais e a extinção devárias espécies entre os vários países.A CITES está em vigor desde 1975,tendo na sua origem as discussões ini-ciadas na década de 60, quando a atual"União Mundial para a Natureza" cha-mou a atenção dos governos para aquestão das importações de animais eseus conseqüentes riscos (Bambi eOliveira, 2002). O gerenciamento daCITES é feito pela Organização dasNações Unidas (ONU) e pelo Progra-ma para as 'Nações Unidas sobre oMeio Ambiente (PNUMA), tendocomo objetivo principal regular o co-mércio internacional e prevenir odeclínio de espécies ameaçadas oupotencialmente ameaçadas deextinção. O Brasil é signatário da CI-TES desde 1975, mediante aprovaçãopelo Decreto Legislativo n° 54, de 24dejunho de 1975, e promulgação peloDecreto n° 76.623, de 17 de novem-bro do mesmo ano. O Decreto n°

3607, de 21 de setembro de 2000,designa o IBAMA (Instituto Brasileiro

do Meio Ambiente e dos Recursos

Naturais Renováveis) como autorida-de administrativa e científica da Con-

venção.No Brasil, os instrumentos jurídi-

cos mais importantes de combate aotráfico de vida selvagem são:

- a Lei n° 5.197, de 3 dejaneiro de1967, pela qual os animais silvestrespassaram a ser propriedade do esta-do, sendo então limitado seu uso nafOl1l1ada lei.

- a Lei de Crimes Ambientais (Lein° 9.605, de 12 de fevereiro de 1998)e o Decreto n° 3179, de 21 de setem-

bro de 1999 (que a regulamenta), pelaqual o uso da fauna não é proibido,porém o acesso deve ser sempre feitoatravés de permissão, licença ou au-torização da autoridade competente.

Nesse caso, será importante parao pesquisador que deseja trabalharcom animais silvestrester conhecimen-

to e acesso aos órgãos competentes eaos procedimentos necessários.

Órgãos e procedimentos legaisnecessários

O IBAMA, através da sua coor-

denação geral da fauna (CGFAU/IBAMA) representa a CITES no paíse normatiza a coleta de material zoo-

lógico através da Portaria n° 332/90.A licença para coleta de material da

nossa fauna e flora, destinado a finscientíficos ou didáticos, poderá serconcedida somente a cientistas e pro-fissionais devidamente qualificados,pertencentes a instituições brasileiraspúblicas e privadas credenciadas oupor elas indicadas. A licença será con-cedida de acordo com a Portaria cita-da acima.

Os pedidos para a concessão dalicença devem ser formalizados eprotocolados no IBAMA com antece-dência mínima de 60 dias do início dos

Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XI - W 34 Janeiro/Fevereiro/Março/ Abril de 2005

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trabalhos e devem ser acompanhadosde: I) Nome, endereço e qualificaçãodo interessado; lI) Nome da institui-ção a que pertence e cargo que ocu-pa; III) Declaração da instituição indi-cando o interessado, no caso deste não

manter vínculo com ela ejustificandoa solicitação na licença, com base noprojeto a ser desenvolvido; IV)Curriculum vitae de todos os técnicos

envolvidos no projeto; V) Descriçãodas atividades que pretende desenvol-ver; VI) Projeto de pesquisa a ser de-senvolvido,contendo,finalidadedopro-jeto, descriçãodas atividades,indicaçãodos grupos zoológicos e do número deespécimes que pretende coletar,o desti-no previsto do material (em caso de so-bra de material, também indicar desti-

no), metodologia de coleta ou captura.indicação das áreas e épocas escolhidaspara a coleta ou captura; indicaçãc dedestinoprevisto para os resultados 00ó-dos; VII) Declaração da insritniçã:;;quereceberá o material dando ciênciadain-

corporação desse materia: ac seu acer-vo e atestando condições de bemacomodá-lo.

Valeressaltar que em caso de coletade material em Unidade de Conserva-

ção de proteção integr& federais, esta-duais e municipais,de'-e-se obter opré-vio consentimento da autoridade com-

petente, assim como em qoolquer esta-belecimentoou áreade domínioprivadodeve-se obter o consen~ expres-so ou tácito do proprietário.

A renovação da licença. bem comoa concessão de novas licenças.ficacon-dicionada a apresentação de relarórios,que também devem ser encaminharloscom antecedênciamínima de 60 dias.

No caso do material zoológicocole-tado necessitar manutenção em cativei-ro, as disposições da Portaria n°016/94para registro de criadouros com finali-

"ANIMAIS SILVESTRES

dade científicasdeverão ser cumpridas.No entanto, as licenças, objeto da

Portaria 332/90, não permitem pesqui-sas que envolvam o acesso aopatrimônio genético, o qual requer pro-cedimentos específicos.

Com a publicação da Medida Pro-visória n° 2.186-16, em 23 de agostode 2001, alterou-se a legislaçãoatinente ao patrimônio genético, rele-vante à conservação da diversidadebiológica, à integridade do patrimôniogenético e do conhecimento tradicio-nal associado.

A partir da ~IP n°2.186-16 de 2001e do Decreto n° 3.945 de 2001, o aces-

so e a remessa ao patrimônio genéticoexistente no País passaram a dependerde deliberação do Conselho de Gestão~ Patrimônio Genético.

O Conselho de Gestão do

PaIrimônio Genético (CGEN) delegou~ ::!JIamacompetência para autorizarq~insriwiçãonacional, públicaoupri..-ada,que exerça atividade de pes-quisa e desenvolvimento nas áreas bi-ológicase afins (ex.:universidades, ins-titutos de pesquisa, ONGs), a acessaramostra de componente do patrimôniopara frns de pesquisa científica, e a re-meter (ou transportar) amostra decomponente do patrimônio genéticopara outra instituição, nacional ousediada no exterior, também para finsde pesquisa científica.

Com o credenciamento, as solici-

tações de autorização de coleta dematerial biológico e de acesso aopatrimônio genético (ou remessa) po-derão ser enviadas, juntas, ao IbamaSede. As autorizações serão emitidasem concomitância, garantido aos pes-quisadores um sistema de entrada úni-co e maior celeridade na análise e

uamitação de suas solicitações.Os formulários poderão ser encon-

trados no "site" www.mma.gov.br .Hátambém uma cartilha sobre acesso ao

patrimônio genético e remessa deamostra do patrimônio genético, quefoi elaborada com o objetivo de ori-entar, esclarecer e subsidiar técnicos eusuários do Ibama sobre a legislaçãoe procedimentos relativos às autoriza-ções de acesso e remessa, tambémencontrada no mesmo "site".

O credenciamento do Ibama não

inclui competência para autorizar oacesso aos conhecimentos tradicionais

associados, ainda que a finalidade doacesso seja pesquisa científica. As au-torizações de acesso, nesse caso, se-rão concedidas pelo CGEN.

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A segurança doprofissional e domeio ambiente

Os animais representam um riscopara quem os maneja e mesmo quenão estejam experimentalmenteinfectados, podem estar carregandoagentes patogênicos, inclusivezoonóticos. É fundamental que o pes-quisador esteja ciente do risco de ad-quirir infecções em captura no campoquando as normas e os procedimen-tos não são cumpridos.

Antes de iniciar o trabalho de cam-

po é importante que haja um treina-mento adequado do grupo, assimcomo a devida imunização para doen-ças passíveis de imunização, já queestes profissionais estão mais expos-tos adoenças transmissíveis.Recomen-da-se também que estes profissionaisdevem ser submetidos à coleta de san-

gue, que deverá servir de contra pro-va no caso destes profissionais apre-sentarem algum sintoma após o traba-lho de campo.

Em relação à manipulação dos ani-mais propriamente dita, é importante

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lembrar os mecanismos mais comuns

de exposição (CIBio/IOC, 2005).. Inoculação direta por agulhas,

contaminação de cortes ou arranhõespré-existentes, por instrumentos con-taminados e agressão animal;

. Inalação de aerossóis durante omanejo animal e nos procedimentos emanipulaçãona experimentaçãoanimal;

. Contato das membranas muco-

sas dos olhos, boca ou narinas porgotículas de materiais, mãos e superfí-cies contaminadas;

. Ingestão através de pipetagemcom a boca, apesar desta práticaser proibida.

É importante ressaltar que a trans-missão de patógenos pode ocorrerdiretamenteatravésdo contatocom ani~

mais, secreções e tecidos, ou indireta-mente através de insetos ou

ectoparasitasque se alimentam nos ani-mais infectados, por isso é importanteo uso de equipamentos de proteção in-dividual (EPI). Nesse caso, o EPI deveser adequado aonível debiossegurança,que existem em quatro níveis, crescen--te em função do grau de contenção ecomplexidade do nível de proteção, deacordo com as classes de risco.

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Classes de risco

Existem quatro classes de risco,baseadas no potencial patogênico domicroorganismo a ser manipulado(NIH,2000).

. Classe de risco 1 - (baixo ris-co individual e baixo risco para a co-munidade) - organismo que não causedoença ao homem ou animal.

. Classe de risco 2 - (risco indi-vidual moderado e risco limitado paraa comunidade)- patógeno que causedoença ao homem ou aos animais, masque não consiste em sério risco a quemo manipula em condiçõesde contenção,

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ANIMAIS SILVESTRES

à comunidade, aos seres vivos e ao meio

ambiente. As exposições laboratoriaispodem causar infecção, mas a existên-cia de medidas eficazes de tratamento

e prevenção limita o risco, sendo o ris-co de disseminação bastante limitado.

. Classe de risco 3 - (elevadoris-co individual e risco limitado para acomunidade)-patógeno que geralmen-te causa doenças graves ao homem ouaos animais e pode representar um sé-rio risco a quem o manipula. Pode re-presentar um risco se disseminado nacomunidade, mas usualmente existemmedidas de tratamento e de prevenção.

. Classe de risco 4 - (elevado ris-co individual e elevado risco para a co-munidade)- patógenoquerepresentagrande ameaça para o ser humano epara os animais, representando gran-de risco a quem o manipula e tendogrande poder de transmissibilidade deum indivíduo a outro. Normalmente

não existem medidas preventivas e detratamento para esses agentes.

O nível de Biossegurança de umexperimento é determinado segundo omicroorganismo de maior risco (Ins-trução Normativa CTNBio n° 7, de06.06.97).

Nas pesquisas de campo devemosutilizar o maior nível de proteção, poisem princípio se desconhece o poten-cial patogênico de um microorganismoque venha a ser encontrado.

Descarte de resíduos biológicosOs resíduosbiológicosgeradosno

trabalho de campo, que apresentamrisco potencial à saúde humana e aomeioambiente,devemserrecolhidose levados para descontaminação nainstituição de pesquisa e não podemserdispostosnomeioambientesemotratamentoprévio.Assim,ao términodas atividades,deverãosercolocados

em sacos plásticos, resistentes, na corbranca, contendo o símbolo de risco

biológico (Coelho, 2000). Entretanto,não existindo essa possibilidade reco-menda-se a incineração como forma dedestruircompletamente os materiais or-gânicos potencialmente patogênicos.

Os responsáveis por essa ativida-de, além de estarem usando EPI, de-vem dispor durante todo o processode incineração, de extintores de incên-dio para evitar o alastramento do fogo,principalmente em regiões onde a umi-dade do ar esteja muito baixa.

Deverá ser considerada a limpezae a desinfecção do local de trabalho,utensílios, equipamentos e veículoscomo forma de reduzir o risco à saúdehumana e ao meio ambiente.

Transporte de material biológicoA preparação do material e a apro-

priada identificação da caixa de trans-porte devem garantir a integridade,conservação e inviolabilidade da em-balagem até o momento de sua utiliza-ção, de forma a não expor a riscosdesnecessários os profissionais envol-vidos no transporte, a população e omeio ambiente (CIBio/IOC, 2005).

Deve atender aos seguintes proce-dimentos:

. Preparar as amostras com a de-vidautilização de equipamentosde pro-teção indicado;

. Identificar o material biológico aser transportado;

. Envolver as amostras em mate-

rial absorvente (algodão, papel absor-vente, etc.) em quantidade suficientepara reter todo o conteúdo;

. Acondicionar as amostras como material absorvente dentro de um

recipiente resistente a impactos etampa;

. Depositar o material já acondi-

Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XI- W 34 Janeiro/Fevereiro/Março/Abril de 2005

cionado na caixa que será usada paratransporte, identificada com a etiquetade "risco biológico".

. Preencher os espaços entre o re-cipiente contendo o material biológicoe as paredes internas da caixa commaterial absorvente, para, assim, tam-bém minimizar eventuais impactos emseu interior (isopor em escama, jornal,plástico com bolhas de ar etc.);

. Utilizar preferencialmente gelorecic1ável caso haja necessidade de man-

ter o material à baixa temperatura. Cu-bos/escamas de gelo devem estar conti-dos em sacos plásticos resistentes e ve-dados para reter a água descongelada;

. Conhecer os procedimentos a se-rem adotados no caso de acidente quedanifique a caixa e o recipiente quecontém o material biológico.

Como recomendação básica.deve-se evitar o envio de animais sil-

vestres vertebrados vivos para GScen-tros de pesquisas; estes de' 'em scrre-cebidos mortos e fi'{ados. com exce-

. ção para os anim3isdesrinadosa fcr-mação de colônias está~.eis.atenden-do as normas e ;egis1ações ~,igentes(IBk'IA e CGE\~..

O transporte a&eo. marítimo e ter-restre de animais si1"estres deverá

atender a legislaçãc existente.Recomenda-se ~ manua: da lATA

que regulamenta ~ mmsporte de ani-mais vivos (Live Animal Regulationshttps://www.iataonline.OOffi"uma '-ezque nesta publicação constam. iTIstru-ções de transporte aérec e asespecificações de embalagem paravários tipos de animais.

Aspectos éticos erelacionados ao

bem-estar animalUm aspectofundamentaldoponto

de vista ético, que deve ser observa-

ANIMAIS.SILVESTRES

do pelo pesquisador, é a submissão doprojeto de pesquisa à Comissão deÉtica no Uso deAnimaisde suainstitui-

ção. Considerando que no Brasil taiscomissões surgiramprincipalmentenosanos 90 (paixão, 2004), pode ser quealgumas instituições ainda não contemcom suas comissões, porém essas insti-tuições devem se preocupar em consti-tuir uma comissão de ética e se adequara essa exigência atual. A submissão doprotocolo proposto a uma comissão deética.,antes da saída para o trabalho decampo, poderá ajudar ao pesquisadorna detecção de problemas e/ouinadequ.ações.alérnde conferirlegitimi-dade ética ao projeto. Nessa situação, oparecer da comissão deve estarvincula-do a Gbrençãcdas licenças legais.

Em relação ao bem-estar dos ani-mais. sabe-se que a captura e/ou amanipulação de animais que vivem de!~Ir,Te é um procedimento bastanteestressante para o animal, que pode''1r a ser seriamente afetado. As técni-

cas de captura e identificação devemser sempre as menos invasivas e o "re-finamento" do protocolo deve ser umapreocupação do pesquisador durantetodo o trabalho (Williams, 1999).Atu-almente diversas "guidelines" referem-se especificamente a abordagem dosanimais silvestres, que podem estarenvolvidos em atividades científicas

com diferentes finalidades, e fornecemmaiores detalhes sobre os procedi-mentos mais adequados, especialmen-te para que sejam" procedimentos hu-manitários"e seguros.Algunsexemplos,':iüepodem ser consultados, a seguir:

: - Guidelines to the Use of WildBirds TI::.Research. Gant, Abbot S.and

=-e~is \1.T.Oring.

http :::wwv,' .nmnh. si. ed u/BIRD~TI:GuideToUse

:: - Guidelines for Handling Animal

Reservoirs of Hantavirus: FieldPractices in Arizona.

http://researchnet.asu.edu/animal_care/resources/hantavirus.html

3 - Guidelines for use of live

amphibiansandreptiles infieldresearchhttp://iacuc.ufl.edu/OLD%20Web

%20Site/reptilerules.htm4 - Guidelines for Use of Fishes in

Field Research

http://iacuc.ufl.edu/OLD %20Web%20Site/fishrules.htm

5- Animal Care and Use Guidelines

http://www.mammalsociety.org

I

i II

Eutanásia

A eutanásia, quando necessária,deveráserrealizadaestritamenteden-

tro depreceitoséticosna manipulaçãode animais e o mais rápido possívelapós a captura, no caso dos animaissilvestres,em local próximo as áreasonde foram coletados, visando o seubem~estar,que seja indolor,produzainconsciênciainstantâneae morterá-

pida. O métodode eutanásiadeve serselecionado levando-se em conta a

espécie-alvo,a fimde segarantirefici-ênciae umprocedimentohumanitário(Aprill, 1998). Sugere-se consultar"2000 Report of the AmericanVeterinary Medical Association(AVMA) Panel on Euthanasia"(AVMA,2000).

Considerações finais

Conservara biodiversidadebrasi-leira é um desafioque se impõe a to-dos nós. No entanto, a própria con-servação exige, além do combateaotráficodeanimais,umapesquisacientí-fica comprometidacom o bem-estaranimale com toda a sociedade.Se osnichosdosanimaissilvestresnãoforem

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RevistaCFMV -Brasília/DF -Ano XI-N° 34 Janeiro. Fevereiro. 'Março/Abril de 2005

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ANIMAIS SILVESTRES

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adequadamente conhecidos, assimcomo a transmissão de patógenos e aspossíveis patologias que os acomete,não teremos "ferramentas" para impe-dir a extinção de certas espécies. Noentanto, sabe-se que hoje "o vínculoexistente entre a estrutura de fiscaliza-

ção da fauna e o corpo de pesquisado-res brasileiros é extremamente tênue"

(Lopes, 2002), o que cria muitas vezes

dificuldades para ambas as partes. Con-corda-se aqui que é fundamental o for-

talecimento dos vínculos entre pesqui-

, sadores e órgãos de fiscalização

ambiental. Também éfundamental queas práticas de Biossegurança e trata-mentohumanitário dos animais sejamobservados pelos pesquisadores. Pois,uma práticaprofissional adequada deveestar atenta as necessidades da socie-

dade em que se insere.

APRILL, M. Safe, Effective and humane techniques foreuthanazing wildlife in the field. Park Science, v. 18,n° 1,1998. .

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