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?.>\l\NIMAIS SILVESTRES
DesaQos nas pesquisas em animais silvestres
:Carlos Alberto MüllàMédico VeterinárioCRMV /RJ n° 1044
lador do Centro de Experi-iOAnimal- IOC/FIOCRUZ
bro da Comissão Interna de
iossegurança - IOC/FIOCRUZ'residente da Comissão
IAnimais Silvestres - FIOCRUZ:nd. FIOCRUZ - Av.
de Janeiro - RJ
-- --
INTRODUÇÃO
A preocupação com a biodi-versidade é hoje um fenômeno mundi-al, ao mesmo tempo em que se verifi-ca que cada vez mais espécies animaisencontram-se ameaçadas de extinção.Embora diversas causas, tais como a
expansão urbana descontrolada e asdegradações ambientais estejam asso-ciadas a esse fenômeno, o tráfico deanimajs desempenha um papel funda-mental neste processo. Consideradocomo um dos maiores negócios do pla-neta, perdendo somente para o tráficode drogas e de armas, o tráfico de ani-mais silvestres ocupa o terceiro lugarnesse ranking da ilegalidade. A dimen-são do tráfico de animais no Brasil tem
sido estimada em quantias próximas a1..;551bilhão/ano e envolve todas as
regiões do país (Lopes, 2002). É pos-sível diferenciar modalidades de tráfi-
co de animais silvestres, que podemse destinar à subsistência, a colecio-
nadores de animais raros, a populaçãoem geral que deseja um "pet" diferen-te, ou que desejam animais para ativi-dades de diversão e também para apesquisa científica. Esta última moda-lidade de tráfico é conhecida como
'<1Jiopirataria",a qual pode envolvertambém a flora, através da qual espé-cies e seus subprodutos sãocontrabandeados para empresas oumsrituições internacionais, que atuamprincipaJmente na área biomédica e vi-sam em geral a descoberta de umasubsrância ativa, que possa ser alta-menre rentável (Costa-Neto, 2005).A biopirataria é considerada hoje omaior vilão do tráfico, e é visando ao
combare dessa atividade ilegal que
várias estratégias ou medidas legaisvem sendo estabelecidas em nível na-cional e internacional. .
No entanto, as pesquisas que en-volvem animais podem ter propósitosvariados, como obter conhecimentos
sobre a espécie animal, ecossistemas,relações interespécies, reservatórios deagentes patogênicos, transmissão dedoenças, entre outros. Sabe-se que emrelação a doenças emergentes ereemergentes um dos principais meca-nismos de surgimento dessas infecçõesé a chamada "transposição da barrei-ra da espécie", ou seja, a introduçãono hospedeiro de um rnicroorganismoexistente em outra espécie(Schatzmayr, 2001), o que conduz ne-cessariamente a uma investigação ci-entífica que envolva as espécies por-tadoras do microorganismo. É nessecontexto que o pesquisador brasileirodeve estar ciente da importância daspesquisas em animais silvestrese atentoao controle cada vez maior das práti-cas que podem acarretar danos ao in-divíduo (humano e animal), as espéci-es e ao ecossistem~. (Müller, 2002).No entanto, a medida em que surgemleis, normas e práticas recomendáveisno que se refere a aspectos legais, éti-cos e de segurança, observa-se aindaque muitos daqueles que se dispõem arealizar um trabalho com animais sil-
vestres desconhecem as situações derisco às quais estão submetidos, assim -como desconhecem normas legais efatores que podem repercurtir negati-vamente ao bem-estar do animal e em
todo o ecos sistema. Grande parte dosacidentes e das conseqüências inde-sejáveis relacionadas às interações comos animais decorrem, sobretudo, da
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falta de infol1l1açãoe de planejamentopor parte dos envolvidos na pesquisa.
O objetivo aqui é oferecer ao mé-dico-veterinário, assim como ao pes-quisador e a outros profissionais en-volvidos com animais silvestresum ro-
teiro de questões que devem ser leva-das em consideração, a fim de que osprocedimentos sejam adequados emrelação a nOl1l1atizaçõesvigentes nopaís, a segurança do profissional en-volvido e do meio ambiente e ao bem-
estar do animal (Müller, 2004). Inici-almente, é importante o conhecimentode algumas definições:
Definições (/RAMA, 2005)
I - Animal Silvestre: s~o aquelespertencentes às espécies nativas; mi-gratórias e quaisquer outras, aquáticasou terrestres, que tenham a sua vidaou parte dela ocorrendo naturalmentedentro dos limites do Território Brasi-
leiro e suas águas juridicionais, cujoacesso, uso e comércio é controlado
pelo IBAMA.11- Animal exótico: são aqueles
cuja distribuição geográfica não incluio Território Brasileiro. As espécies ousubespécies introduzidas pelo homem,inclusive domésticas, em estado selva-gem, também são consideradas exóti-cas. Outras espécies consideradas exó-ticas são aquelas que tenham sidointroduzidas fora das fronteiras brasi-
leiras e suas águas juridicionais e quetenham entrado expontaneamente emTerritório Brasileiro.
111- Animal doméstico: sãoaque-les animais que através de processostradicionais e sistematizados de mane-
jo e melhoramento zootécnico toma-ram-se domésticas, possuindo carac-terísticasbiológicase comportamentaisem estreita dependência do homem,podendo inclusive apresentar aparên-
ANIMAIS SILVESTRES
cia diferente da espécie silvestre queos originou. Poderão ser controladospelo IBAMA, caso seja verificado quepodem causar danos à fauna silvestree ecossistemas, quando em vida livre.O controle se dará através das Secre-
tarias e Delegacias vinculados ao Mi-nistériodaAgricultura,PecuáriaeAbas-tecimento e Gerências de Zoonoses,vinculadas ao Ministério da Saúde ouas Secretarias Estaduais da Saúde.
A proteção à fauna -normatização e controle
Em nível internacional, a CITES -
"Convenção sobre o Comércio Inter-nacional de Espécies da Fauna e Flo-ra Selvagem em Perigo de Extinção"reflete a preocupação em relação aocomércio de animais e a extinção devárias espécies entre os vários países.A CITES está em vigor desde 1975,tendo na sua origem as discussões ini-ciadas na década de 60, quando a atual"União Mundial para a Natureza" cha-mou a atenção dos governos para aquestão das importações de animais eseus conseqüentes riscos (Bambi eOliveira, 2002). O gerenciamento daCITES é feito pela Organização dasNações Unidas (ONU) e pelo Progra-ma para as 'Nações Unidas sobre oMeio Ambiente (PNUMA), tendocomo objetivo principal regular o co-mércio internacional e prevenir odeclínio de espécies ameaçadas oupotencialmente ameaçadas deextinção. O Brasil é signatário da CI-TES desde 1975, mediante aprovaçãopelo Decreto Legislativo n° 54, de 24dejunho de 1975, e promulgação peloDecreto n° 76.623, de 17 de novem-bro do mesmo ano. O Decreto n°
3607, de 21 de setembro de 2000,designa o IBAMA (Instituto Brasileiro
do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis) como autorida-de administrativa e científica da Con-
venção.No Brasil, os instrumentos jurídi-
cos mais importantes de combate aotráfico de vida selvagem são:
- a Lei n° 5.197, de 3 dejaneiro de1967, pela qual os animais silvestrespassaram a ser propriedade do esta-do, sendo então limitado seu uso nafOl1l1ada lei.
- a Lei de Crimes Ambientais (Lein° 9.605, de 12 de fevereiro de 1998)e o Decreto n° 3179, de 21 de setem-
bro de 1999 (que a regulamenta), pelaqual o uso da fauna não é proibido,porém o acesso deve ser sempre feitoatravés de permissão, licença ou au-torização da autoridade competente.
Nesse caso, será importante parao pesquisador que deseja trabalharcom animais silvestrester conhecimen-
to e acesso aos órgãos competentes eaos procedimentos necessários.
Órgãos e procedimentos legaisnecessários
O IBAMA, através da sua coor-
denação geral da fauna (CGFAU/IBAMA) representa a CITES no paíse normatiza a coleta de material zoo-
lógico através da Portaria n° 332/90.A licença para coleta de material da
nossa fauna e flora, destinado a finscientíficos ou didáticos, poderá serconcedida somente a cientistas e pro-fissionais devidamente qualificados,pertencentes a instituições brasileiraspúblicas e privadas credenciadas oupor elas indicadas. A licença será con-cedida de acordo com a Portaria cita-da acima.
Os pedidos para a concessão dalicença devem ser formalizados eprotocolados no IBAMA com antece-dência mínima de 60 dias do início dos
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XI - W 34 Janeiro/Fevereiro/Março/ Abril de 2005
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trabalhos e devem ser acompanhadosde: I) Nome, endereço e qualificaçãodo interessado; lI) Nome da institui-ção a que pertence e cargo que ocu-pa; III) Declaração da instituição indi-cando o interessado, no caso deste não
manter vínculo com ela ejustificandoa solicitação na licença, com base noprojeto a ser desenvolvido; IV)Curriculum vitae de todos os técnicos
envolvidos no projeto; V) Descriçãodas atividades que pretende desenvol-ver; VI) Projeto de pesquisa a ser de-senvolvido,contendo,finalidadedopro-jeto, descriçãodas atividades,indicaçãodos grupos zoológicos e do número deespécimes que pretende coletar,o desti-no previsto do material (em caso de so-bra de material, também indicar desti-
no), metodologia de coleta ou captura.indicação das áreas e épocas escolhidaspara a coleta ou captura; indicaçãc dedestinoprevisto para os resultados 00ó-dos; VII) Declaração da insritniçã:;;quereceberá o material dando ciênciadain-
corporação desse materia: ac seu acer-vo e atestando condições de bemacomodá-lo.
Valeressaltar que em caso de coletade material em Unidade de Conserva-
ção de proteção integr& federais, esta-duais e municipais,de'-e-se obter opré-vio consentimento da autoridade com-
petente, assim como em qoolquer esta-belecimentoou áreade domínioprivadodeve-se obter o consen~ expres-so ou tácito do proprietário.
A renovação da licença. bem comoa concessão de novas licenças.ficacon-dicionada a apresentação de relarórios,que também devem ser encaminharloscom antecedênciamínima de 60 dias.
No caso do material zoológicocole-tado necessitar manutenção em cativei-ro, as disposições da Portaria n°016/94para registro de criadouros com finali-
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dade científicasdeverão ser cumpridas.No entanto, as licenças, objeto da
Portaria 332/90, não permitem pesqui-sas que envolvam o acesso aopatrimônio genético, o qual requer pro-cedimentos específicos.
Com a publicação da Medida Pro-visória n° 2.186-16, em 23 de agostode 2001, alterou-se a legislaçãoatinente ao patrimônio genético, rele-vante à conservação da diversidadebiológica, à integridade do patrimôniogenético e do conhecimento tradicio-nal associado.
A partir da ~IP n°2.186-16 de 2001e do Decreto n° 3.945 de 2001, o aces-
so e a remessa ao patrimônio genéticoexistente no País passaram a dependerde deliberação do Conselho de Gestão~ Patrimônio Genético.
O Conselho de Gestão do
PaIrimônio Genético (CGEN) delegou~ ::!JIamacompetência para autorizarq~insriwiçãonacional, públicaoupri..-ada,que exerça atividade de pes-quisa e desenvolvimento nas áreas bi-ológicase afins (ex.:universidades, ins-titutos de pesquisa, ONGs), a acessaramostra de componente do patrimôniopara frns de pesquisa científica, e a re-meter (ou transportar) amostra decomponente do patrimônio genéticopara outra instituição, nacional ousediada no exterior, também para finsde pesquisa científica.
Com o credenciamento, as solici-
tações de autorização de coleta dematerial biológico e de acesso aopatrimônio genético (ou remessa) po-derão ser enviadas, juntas, ao IbamaSede. As autorizações serão emitidasem concomitância, garantido aos pes-quisadores um sistema de entrada úni-co e maior celeridade na análise e
uamitação de suas solicitações.Os formulários poderão ser encon-
trados no "site" www.mma.gov.br .Hátambém uma cartilha sobre acesso ao
patrimônio genético e remessa deamostra do patrimônio genético, quefoi elaborada com o objetivo de ori-entar, esclarecer e subsidiar técnicos eusuários do Ibama sobre a legislaçãoe procedimentos relativos às autoriza-ções de acesso e remessa, tambémencontrada no mesmo "site".
O credenciamento do Ibama não
inclui competência para autorizar oacesso aos conhecimentos tradicionais
associados, ainda que a finalidade doacesso seja pesquisa científica. As au-torizações de acesso, nesse caso, se-rão concedidas pelo CGEN.
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A segurança doprofissional e domeio ambiente
Os animais representam um riscopara quem os maneja e mesmo quenão estejam experimentalmenteinfectados, podem estar carregandoagentes patogênicos, inclusivezoonóticos. É fundamental que o pes-quisador esteja ciente do risco de ad-quirir infecções em captura no campoquando as normas e os procedimen-tos não são cumpridos.
Antes de iniciar o trabalho de cam-
po é importante que haja um treina-mento adequado do grupo, assimcomo a devida imunização para doen-ças passíveis de imunização, já queestes profissionais estão mais expos-tos adoenças transmissíveis.Recomen-da-se também que estes profissionaisdevem ser submetidos à coleta de san-
gue, que deverá servir de contra pro-va no caso destes profissionais apre-sentarem algum sintoma após o traba-lho de campo.
Em relação à manipulação dos ani-mais propriamente dita, é importante
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lembrar os mecanismos mais comuns
de exposição (CIBio/IOC, 2005).. Inoculação direta por agulhas,
contaminação de cortes ou arranhõespré-existentes, por instrumentos con-taminados e agressão animal;
. Inalação de aerossóis durante omanejo animal e nos procedimentos emanipulaçãona experimentaçãoanimal;
. Contato das membranas muco-
sas dos olhos, boca ou narinas porgotículas de materiais, mãos e superfí-cies contaminadas;
. Ingestão através de pipetagemcom a boca, apesar desta práticaser proibida.
É importante ressaltar que a trans-missão de patógenos pode ocorrerdiretamenteatravésdo contatocom ani~
mais, secreções e tecidos, ou indireta-mente através de insetos ou
ectoparasitasque se alimentam nos ani-mais infectados, por isso é importanteo uso de equipamentos de proteção in-dividual (EPI). Nesse caso, o EPI deveser adequado aonível debiossegurança,que existem em quatro níveis, crescen--te em função do grau de contenção ecomplexidade do nível de proteção, deacordo com as classes de risco.
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Classes de risco
Existem quatro classes de risco,baseadas no potencial patogênico domicroorganismo a ser manipulado(NIH,2000).
. Classe de risco 1 - (baixo ris-co individual e baixo risco para a co-munidade) - organismo que não causedoença ao homem ou animal.
. Classe de risco 2 - (risco indi-vidual moderado e risco limitado paraa comunidade)- patógeno que causedoença ao homem ou aos animais, masque não consiste em sério risco a quemo manipula em condiçõesde contenção,
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à comunidade, aos seres vivos e ao meio
ambiente. As exposições laboratoriaispodem causar infecção, mas a existên-cia de medidas eficazes de tratamento
e prevenção limita o risco, sendo o ris-co de disseminação bastante limitado.
. Classe de risco 3 - (elevadoris-co individual e risco limitado para acomunidade)-patógeno que geralmen-te causa doenças graves ao homem ouaos animais e pode representar um sé-rio risco a quem o manipula. Pode re-presentar um risco se disseminado nacomunidade, mas usualmente existemmedidas de tratamento e de prevenção.
. Classe de risco 4 - (elevado ris-co individual e elevado risco para a co-munidade)- patógenoquerepresentagrande ameaça para o ser humano epara os animais, representando gran-de risco a quem o manipula e tendogrande poder de transmissibilidade deum indivíduo a outro. Normalmente
não existem medidas preventivas e detratamento para esses agentes.
O nível de Biossegurança de umexperimento é determinado segundo omicroorganismo de maior risco (Ins-trução Normativa CTNBio n° 7, de06.06.97).
Nas pesquisas de campo devemosutilizar o maior nível de proteção, poisem princípio se desconhece o poten-cial patogênico de um microorganismoque venha a ser encontrado.
Descarte de resíduos biológicosOs resíduosbiológicosgeradosno
trabalho de campo, que apresentamrisco potencial à saúde humana e aomeioambiente,devemserrecolhidose levados para descontaminação nainstituição de pesquisa e não podemserdispostosnomeioambientesemotratamentoprévio.Assim,ao términodas atividades,deverãosercolocados
em sacos plásticos, resistentes, na corbranca, contendo o símbolo de risco
biológico (Coelho, 2000). Entretanto,não existindo essa possibilidade reco-menda-se a incineração como forma dedestruircompletamente os materiais or-gânicos potencialmente patogênicos.
Os responsáveis por essa ativida-de, além de estarem usando EPI, de-vem dispor durante todo o processode incineração, de extintores de incên-dio para evitar o alastramento do fogo,principalmente em regiões onde a umi-dade do ar esteja muito baixa.
Deverá ser considerada a limpezae a desinfecção do local de trabalho,utensílios, equipamentos e veículoscomo forma de reduzir o risco à saúdehumana e ao meio ambiente.
Transporte de material biológicoA preparação do material e a apro-
priada identificação da caixa de trans-porte devem garantir a integridade,conservação e inviolabilidade da em-balagem até o momento de sua utiliza-ção, de forma a não expor a riscosdesnecessários os profissionais envol-vidos no transporte, a população e omeio ambiente (CIBio/IOC, 2005).
Deve atender aos seguintes proce-dimentos:
. Preparar as amostras com a de-vidautilização de equipamentosde pro-teção indicado;
. Identificar o material biológico aser transportado;
. Envolver as amostras em mate-
rial absorvente (algodão, papel absor-vente, etc.) em quantidade suficientepara reter todo o conteúdo;
. Acondicionar as amostras como material absorvente dentro de um
recipiente resistente a impactos etampa;
. Depositar o material já acondi-
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cionado na caixa que será usada paratransporte, identificada com a etiquetade "risco biológico".
. Preencher os espaços entre o re-cipiente contendo o material biológicoe as paredes internas da caixa commaterial absorvente, para, assim, tam-bém minimizar eventuais impactos emseu interior (isopor em escama, jornal,plástico com bolhas de ar etc.);
. Utilizar preferencialmente gelorecic1ável caso haja necessidade de man-
ter o material à baixa temperatura. Cu-bos/escamas de gelo devem estar conti-dos em sacos plásticos resistentes e ve-dados para reter a água descongelada;
. Conhecer os procedimentos a se-rem adotados no caso de acidente quedanifique a caixa e o recipiente quecontém o material biológico.
Como recomendação básica.deve-se evitar o envio de animais sil-
vestres vertebrados vivos para GScen-tros de pesquisas; estes de' 'em scrre-cebidos mortos e fi'{ados. com exce-
. ção para os anim3isdesrinadosa fcr-mação de colônias está~.eis.atenden-do as normas e ;egis1ações ~,igentes(IBk'IA e CGE\~..
O transporte a&eo. marítimo e ter-restre de animais si1"estres deverá
atender a legislaçãc existente.Recomenda-se ~ manua: da lATA
que regulamenta ~ mmsporte de ani-mais vivos (Live Animal Regulationshttps://www.iataonline.OOffi"uma '-ezque nesta publicação constam. iTIstru-ções de transporte aérec e asespecificações de embalagem paravários tipos de animais.
Aspectos éticos erelacionados ao
bem-estar animalUm aspectofundamentaldoponto
de vista ético, que deve ser observa-
ANIMAIS.SILVESTRES
do pelo pesquisador, é a submissão doprojeto de pesquisa à Comissão deÉtica no Uso deAnimaisde suainstitui-
ção. Considerando que no Brasil taiscomissões surgiramprincipalmentenosanos 90 (paixão, 2004), pode ser quealgumas instituições ainda não contemcom suas comissões, porém essas insti-tuições devem se preocupar em consti-tuir uma comissão de ética e se adequara essa exigência atual. A submissão doprotocolo proposto a uma comissão deética.,antes da saída para o trabalho decampo, poderá ajudar ao pesquisadorna detecção de problemas e/ouinadequ.ações.alérnde conferirlegitimi-dade ética ao projeto. Nessa situação, oparecer da comissão deve estarvincula-do a Gbrençãcdas licenças legais.
Em relação ao bem-estar dos ani-mais. sabe-se que a captura e/ou amanipulação de animais que vivem de!~Ir,Te é um procedimento bastanteestressante para o animal, que pode''1r a ser seriamente afetado. As técni-
cas de captura e identificação devemser sempre as menos invasivas e o "re-finamento" do protocolo deve ser umapreocupação do pesquisador durantetodo o trabalho (Williams, 1999).Atu-almente diversas "guidelines" referem-se especificamente a abordagem dosanimais silvestres, que podem estarenvolvidos em atividades científicas
com diferentes finalidades, e fornecemmaiores detalhes sobre os procedi-mentos mais adequados, especialmen-te para que sejam" procedimentos hu-manitários"e seguros.Algunsexemplos,':iüepodem ser consultados, a seguir:
: - Guidelines to the Use of WildBirds TI::.Research. Gant, Abbot S.and
=-e~is \1.T.Oring.
http :::wwv,' .nmnh. si. ed u/BIRD~TI:GuideToUse
:: - Guidelines for Handling Animal
Reservoirs of Hantavirus: FieldPractices in Arizona.
http://researchnet.asu.edu/animal_care/resources/hantavirus.html
3 - Guidelines for use of live
amphibiansandreptiles infieldresearchhttp://iacuc.ufl.edu/OLD%20Web
%20Site/reptilerules.htm4 - Guidelines for Use of Fishes in
Field Research
http://iacuc.ufl.edu/OLD %20Web%20Site/fishrules.htm
5- Animal Care and Use Guidelines
http://www.mammalsociety.org
I
i II
Eutanásia
A eutanásia, quando necessária,deveráserrealizadaestritamenteden-
tro depreceitoséticosna manipulaçãode animais e o mais rápido possívelapós a captura, no caso dos animaissilvestres,em local próximo as áreasonde foram coletados, visando o seubem~estar,que seja indolor,produzainconsciênciainstantâneae morterá-
pida. O métodode eutanásiadeve serselecionado levando-se em conta a
espécie-alvo,a fimde segarantirefici-ênciae umprocedimentohumanitário(Aprill, 1998). Sugere-se consultar"2000 Report of the AmericanVeterinary Medical Association(AVMA) Panel on Euthanasia"(AVMA,2000).
Considerações finais
Conservara biodiversidadebrasi-leira é um desafioque se impõe a to-dos nós. No entanto, a própria con-servação exige, além do combateaotráficodeanimais,umapesquisacientí-fica comprometidacom o bem-estaranimale com toda a sociedade.Se osnichosdosanimaissilvestresnãoforem
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adequadamente conhecidos, assimcomo a transmissão de patógenos e aspossíveis patologias que os acomete,não teremos "ferramentas" para impe-dir a extinção de certas espécies. Noentanto, sabe-se que hoje "o vínculoexistente entre a estrutura de fiscaliza-
ção da fauna e o corpo de pesquisado-res brasileiros é extremamente tênue"
(Lopes, 2002), o que cria muitas vezes
dificuldades para ambas as partes. Con-corda-se aqui que é fundamental o for-
talecimento dos vínculos entre pesqui-
, sadores e órgãos de fiscalização
ambiental. Também éfundamental queas práticas de Biossegurança e trata-mentohumanitário dos animais sejamobservados pelos pesquisadores. Pois,uma práticaprofissional adequada deveestar atenta as necessidades da socie-
dade em que se insere.
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