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DOCUMENTOS DE TRABAJO DE IBERCIENCIA | N. o 4 Alvaro Chrispino INTRODUÇÃO AOS ENFOQUES CTS – CIÊNCIA, TECNOLOGIA E SOCIEDADE – NA EDUCAÇÃO E NO ENSINO

INTRODUÇÃO AOS ENFOQUES CTS CIÊNCIA ......INTRODUÇÃO AOS ENFOQUES CTS – CIÊNCIA, TECNOLOGIA E SOCIEDADE – NA EDUCAÇÃO E NO ENSINO 6 dependendo de sua formação, de seus

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DOCUMENTOS DE TRABAJO DE IBERCIENCIA | No 4

Alvaro Chrispino

INTRODUCcedilAtildeO AOS ENFOQUES CTS ndash CIEcircNCIA TECNOLOGIA E SOCIEDADE ndash NA EDUCACcedilAtildeO E NO ENSINO

DOCUMENTOS DE TRABAJO DE IBERCIENCIA | No 4

INTRODUCcedilAtildeO AOS ENFOQUES CTS ndash CIEcircNCIA TECNOLOGIA E SOCIEDADE ndash NA EDUCACcedilAtildeO E NO ENSINO

Alvaro Chrispino

La coleccioacuten Documentos de Trabajo es una iniciativadel Centro de Altos Estudios Universitarios de la Organizacioacuten de Estados Iberoamericanos para la Educacioacuten la Ciencia y la Cultura (OEI) y su objetivo principal es difundir estudios informes e investigaciones de caraacutecter iberoamericano en sus campos de cooperacioacuten

Estos materiales estaacuten pensados para que tengan la mayor difusioacuten posible y de esa forma contribuir al conocimiento y al intercambio de ideas Se autoriza por tanto su reproduccioacuten siempre que se cite la fuente y se realice sin aacutenimo de lucro

Estes materiais estatildeo pensados para que tenham mayor divulgaccedilatildeo possiacutevel e dessa forma contribuir para o conhecimento e o intercacircmbio de ideacuteias Autoriza-se por tanto sua reproduccedilatildeo sempre que se cite a fonte e se realize sem fins lucrativos

Los trabajos son responsabilidad de los autores y su contenido no representa necesariamente la opinioacuten de la OEI

Los Documentos de Trabajo estaacuten disponibles en formato pdf en la siguiente direccioacuten wwwoeiescaeu

edita

copy Centro de Altos Estudios Universitarios de la OEI 2014Bravo Murillo 38 28015 Madrid (Espantildea)Tel (+34) 91 594 43 82 | Fax (+34) 91 594 32 86oeioeies | wwwoeies

colabora

Consejeriacutea de Economiacutea Innovacioacuten Ciencia y Empleo de la Junta de Andaluciacutea

disentildeo

asenmac

isbN978-84-7666-247-2

Iacutendice

Introduccedilatildeo

1ordf PARTE ndash CONCEITOS BAacuteSICOS DE ENFOQUE CTS E EDUCACcedilAtildeO

CTS

1 CTS COMO CAMPO DE ESTUDO EM CONSTRUCcedilAtildeO

2 SOBRE A CIEcircNCIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A CIEcircNCIA

3 SOBRE A TECNOLOGIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A TECNOLOGIA

4 SOBRE A SOCIEDADE MAS NAtildeO O QUE Eacute A SOCIEDADE

5 SOBRE AS RELACcedilOtildeES CIEcircNCIA TECNOLOGIA E SOCIEDADE

6 CTS E O ENSINO

7 CTS E A TEacuteCNICA DA CONTROVEacuteRSIA CONTROLADA

2ordf PARTE ndash A VISAtildeO AMPLIADA DAS CORRELACcedilOtildeES DO ENFOQUE

CTS

8 MODELAGEM PARA PARTICIPACcedilAtildeO SOCIAL NAS RELACcedilOtildeES

CTS UTILIZANDO AS ORDENS DE COMTE-SPONVILLE

9 SOBRE AS ABORDAGENS CTS

10 SOBRE AS VARIAacuteVEIS QUE IMPLICAM NAS RELACcedilOtildeES CTS

11 REPERCUSSAtildeO SOCIAL DO DESENVOLVIMENTO CIENTIacuteFICO E

TECNOLOacuteGICO

Referencias

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INTRODUCCIOacuteN5

Introduccioacuten

Os trabalhos ndash tanto artigos quanto teses e dissertaccedilotildees ndash que tratam do Enfoque CTS possuem na sua maioria um sequencia histoacuterica de fatos e de acontecimentos que pretendem apresentar o que seja este campo do conhecimento para professores alunos e cidadatildeos Porque sua estrutura de apre-sentaccedilatildeo eacute semelhante e os argumentos repetidos vivemos um grande dilema na apresentaccedilatildeo de um trabalho construiacutedo coletivamente com turmas de estudantes dos programas de mestrado e douto-rado do CEFETRJ Se natildeo nos utilizamos da narrativa padratildeo corremos o risco de sermos alijados visto que natildeo estamos ldquofalando a mesma liacutengua da aacutereardquo mesmo que isso busque demonstrar que os caminhos percorridos na produccedilatildeo deste material foram marcados por idas e vindas na grande arena das ideias e interpretaccedilotildees oriundas de estudantes de mestrado e doutorado que militam em diferen-tes aacutereas do conhecimento sendo que a educaccedilatildeo eou o ensino satildeo seus pontos de aproximaccedilatildeo ou convergecircncia

Quando iniciamos as primeiras discussotildees tiacutenhamos a intenccedilatildeo de organizar ideias e argumentos que permitissem ao final do conjunto de encontros de cada curso reconceitualizar ciecircncia e tecno-logia tal qual a tradiccedilatildeo ensinada nas escolas desconstruindo uma ciecircnca herdada pronta infaliacutevel e uma tecnologia portadora de bondade e de progresso impregnado de bem-estar duradouro

A primeira preocupaccedilatildeo era demonstrar que a Ciecircncia e a Tecnologia satildeo produzidas e mantidas por seres humanos que possuem intencionalidades interesses limites crenccedilas valores e planos de futuro Esse conjunto de caracteriacutesticas se potencializa quando os indiviacuteduos se reuacutenem em grupos de interesse e organizam os chamados grupos de pesquisa que buscam ampliar fronteiras do conhe-cimento e produzir aparatos ou sistemas tecnoloacutegicos inovadores Fica claro que a Ciecircncia e a Tec-nologia satildeo produccedilotildees humanas e por isso impregnadas de humanidade em todos os seus matizes era o primeiro objetivo

Apoacutes isso buscaacutevamos demonstrar que toda ciecircncia e tecnologia produzidas ndash como produtos cons-truidos socialmente ndash retornam para a sociedade impactando-a de diversas formas quer expliacutecita quer implicitamente Alguns destes impactos podem ser beneacuteficos se vistos como soluccedilatildeo para um problema atual mas podem ser portadores de futuro incerto quando produzem riscos no meacutedio ou longo prazos

Consideramos tambeacutem que os textos gerais sobre CTS apontam o surgimento de movimentos sociais que se contrapunham aos impactos danosos dos avanccedilos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos e a isso chamaram de Movimento CTS dando inuacutemeros exemplos de fatos e personagens

Da mesma forma apontam para as accedilotildees reflexivas de profissionais da Ciecircncia e da Tecnologia que iniciaram discussotildees a cerca das consequecircncias deste saber para a Sociedade De forma geral essa accedilatildeo foi chamada didaticamente de Estudos CTS

As tradiccedilotildees chamadas de americana e europeacuteia ndash as quais agregamos a chamada latino-americana ndash satildeo o caminho comum da apresentaccedilatildeo do Enfoque CTS

Se considerarmos que CTS defende a construccedilatildeo social da ciecircncia e da tecnologia devemos por de-ver de ofiacutecio defender que o proacuteprio CTS eacute de difiacutecil consenso visto que cada grupo ou pesquisador

INTRODUCCIOacuteN

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dependendo de sua formaccedilatildeo de seus valores de suas crenccedilas etc iraacute ler e interpretar os mesmos fenocircmenos de forma singular identificando grandes eixos comuns mas impregnando-os com suas particularidades com suas idiossincrasias Logo esperar que tenhamos um uacutenico conceito sobre o que seja CTS eacute uma ingenuidade Encontramos sim alguns consensos e aproximaccedilotildees sucessivas que permitem que a aacuterea se comunique e produza conhecimento a fim de contribuir para o amadu-recimento das relaccedilotildees ciecircncia tecnologia e sociedade

Este trabalho enfrenta as mesmas dificuldades que seus congecircneres Para natildeo se distanciar de seus pares apresenta temas e debates que satildeo comuns agrave aacuterea na busca da reconceitualizaccedilatildeo da ciecircncia e da tecnologia e na apresentaccedilatildeo dos impactos que estas causam na sociedade Faz isso buscando obras e autores consagrados na aacuterea sem deixar de recrutar novos autores de diferentes aacutereas que sejam capazes de trazer luzes para o melhor entendimento da Abordagem CTS Esta natildeo eacute uma obra autoral mas sim de apresentaccedilatildeo da aacuterea CTS por meio do pensamento de muitos colaboradores Nossa participaccedilatildeo estaacute no risco de reunir autores da aacuterea e outros colaboradores de aacutereas distintas O risco da inovaccedilatildeo e da ampliaccedilatildeo de fronteiras eacute sempre necessaacuterio

Deixamos claro desde jaacute que para noacutes a Abordagem CTS eacute um campo complexo interdisciplinar contextualizado e transversal fundamentado especialmente nos saberes da sociologia da filosofia na histoacuteria da economia da poliacutetica da psicologia dos valores etc Trazemos para este primeiro mo-mento a reflexatildeo de Cutcliffe (2003)

[] em resumo pode dizer-se que o campo de CTS deixou para tras qualquer tendecircncia inicial que pudesse ser relacionado com alguns grupos e que implicasse em uma visatildeo sim-plista em branco e negro da ciecircncia e da tecnologia na sociedade buscando alcanccedilar uma compreensatildeo mais complexa da relaccedilatildeo de CTS Na atualidade CTS concebe a ciecircncia e a tecnologia como projetos complexos que se datildeo em contextos histoacutericos e culturais especiacute-ficos O que tem surgido eacute um consenso com respeito a que se bem a ciecircncia e a tecnologia nos trazem diversos benefiacutecios tambeacutem provocam certos impactos negativos alguns dos quais imprevisiacuteveis mas todos refletem os valores pontos de vistas e visotildees daqueles que estatildeo em situaccedilatildeo de tomar decisatildeo com respeito aos conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacutegi-cos dentro de seus acircmbitos A missatildeo central do campo CTS ateacute a data de hoje tem sido a de expressar a interpretaccedilatildeo da ciecircncia e da tecnologia como um processo social Deste ponto de vista a ciecircncia e a tecnologia satildeo vistos como projetos complexos em que os valo-res culturais poliacuteticos e econocircmicos nos ajudam a configurar os processos tecnocientiacuteficos os quais por sua vez afetam os valores mesmos e a sociedade que os manteacutem (p 18) grifos nossos

E como pretendemos fazer intervenccedilatildeo no processo de qualificaccedilatildeo de professores ndash em serviccedilo e em formaccedilatildeo ndash assim como na melhor formaccedilatildeo de licenciandos e estudantes da escola baacutesica devemos antecipar o que entendemos por Educaccedilatildeo CTS e o que esperamos dela Para noacutes

CTS eacute uma opccedilatildeo educativa transversal (Acevedo 1996b) que prioriza sobretudo os con-teuacutedos atitudinais (cognitivos afetivos e valorativos) e axioloacutegicos (valores e normas)Desde a perspectiva da dimensatildeo cognitiva atitudinal a educaccedilatildeo CTS pretende tambeacutem uma melhor compreensatildeo da ciecircncia e da tecnologia em seu contexto social incidindo nas interrelaccedilotildees entre os desenvolvimentos cientiacutefico e tecnoloacutegico e os processos sociais As-sim os estudantes deveratildeo adquirir durante sua escolarizaccedilatildeo algumas capacidades para ajudaacute-los a interpretar pelo menos de forma geral questotildees controvertidas re-lacionadas com os impactos sociais da ciecircncia e da tecnologia e com a qualidade das

INTRODUCCIOacuteN

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condiccedilotildees de vida de uma sociedade cada vez mais impregnada de ciecircncia e sobretudo de tecnologia (Acevedo Vaacutezquez e Manassero 2001 grifos nossos)

E quanto a sua pertinecircncia para o momento atual do Ensino de Ciecircncia e Tecnologia podemos lem-brar que este tema estaacute fortemente indicado na Base Nacional Comum Curricular que se ensaia no cenaacuterio educacional brasileiro como se apresenta desde antes no cenaacuterio internacional como infor-mam desde antes Acevedo Vaacutezquez e Manassero (2003a)

Movimento CTS eacute entendido como uma inovaccedilatildeo educacional que estaacute em consonacircncia com as mais relevantes e atuais recomendaccedilotildees internacionais para proporcionar no ensino de ciecircncias a alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica mais completa e uacutetil possiacutevel para todas as pessoas (p 101)

Essa eacute nossa melhor contribuiccedilatildeo para aqueles que buscam conhecer o que seja a Abordagem CTS Deixamos claro desde jaacute que esta eacute a nossa visatildeo da Abordagem CTS por mais que tenhamos tentado garantir que as diversas visotildees e escolas de pensamento estivessem aqui representadas Consideran-do a amplitude da aacuterea as escolhas buscam cumprir a intencionalidade da obra desde jaacute apresentada

Fica o agradecimento aos mestrandos e doutorandos que desfilaram nas arenas do conhecimento CTS dando suas contribuiccedilotildees para que o trabalho pudesse ser apresentado como uma alternativa de estudo para a aacuterea de educaccedilatildeo e ensino CTS

Da mesma forma como este eacute um trabalho que faz convergir pesquisas e accedilotildees de nosso grupo ao longo do tempo eacute indispensaacutevel o agradecimento ao CNPq ndash Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico que viabilizou as diversas pesquisas que resultaram neste trabalho por meio dos recursos oriundos dos Editais Universais de 2007 2010 e 2013

Que seja uacutetil agraves reflexotildees produzindo novas questotildees e inquietaccedilotildees e nunca saberes acabados

Alvaro Chrispino

CTS COMO CAMPO DE ESTUDO EM CONSTRUCcedilAtildeO9

1 CTS como campo de estudo em construccedilatildeo

() eacute importante que a educaccedilatildeo tecnocientiacutefica esteja orientada para propiciar uma formaccedilatildeo da cidadania que a capacite para compreender para ser manejada e para participar de um mundo no qual a ciecircncia e a tecnologia estatildeo a miuacutedo mais presentes Sem duacutevida o enfoque da Ciecircncia Tecnologia e Sociedade (CTS) eacute especialmente apropriado para fomentar uma educaccedilatildeo tecnocientiacutefica dirigida agrave aprendizagem da participaccedilatildeo trazendo um novo significado para conceitos tatildeo aceitos como alfabetizaccedilatildeo tecnocientiacutefica ciecircncia para todos ou difusatildeo da cultura cientiacutefica

Martiacuten Gordillo e Osorio M2003

A concepccedilatildeo claacutessica das relaccedilotildees entre a Ciecircncia e a Tecnologia com a Sociedade eacute uma concepccedilatildeo eminentemente otimista e que reflete uma postura linear de progresso que pode ser simbolizada pela expressatildeo encontrada no Guia da Exposiccedilatildeo Universal de Chicago de 1933 segundo Sanmartiacuten (1990 p 168)

A ciecircncia descobre o gecircnio inventa a induacutestria aplica e homem se adapta ou eacute moldado pelas coisas novas

O espiacuterito contido nesta frase eacute mais facilmente identificado por uma equaccedilatildeo simples + ciecircncia = + tecnologia = + riqueza = + bem-estar social (Bazzo Linsingen e Pereira 2003 Loacutepez Cerezo 1997 1998) Este eacute o chamado ldquomodelo linear de desenvolvimentordquo que pode ser mais resumido conforme apresentam Gonzalez Garcia1 Loacutepez Cerezo e Lujan Loacutepez (1996 p 31) como progresso cientiacutefico =gt Progresso tecnoloacutegico =gt progresso econocircmico =gt progresso social Esta concepccedilatildeo segundo Sa-rewitz (1996 p 17) foi apresentada originalmente por Vannevar Bush2 (1945 1999)

Os avanccedilos na ciecircncia quando colocados no uso praacutetico significam mais trabalho salaacuterios mais altos horas mais curtas colheita mais abundante tempo mais livre para a recreaccedilatildeo para o estudo para aprender a viver sem o trabalho fatigoso e enfraquecedor que tem sido a carga do homem comum do periacuteodo passado Mas para alcanccedilar estes objetivos o fluxo do conhecimento cientiacutefico novo deve ser contiacutenuo e significativo

O Relatoacuterio Bush solicitou uma liberdade plena para a pesquisa cientiacutefica e tecnoloacutegica que confor-me tentou justificar seu autor traria benefiacutecios e vantagens tal qual fez ao encerrar a Segunda Gran-de Guerra com um artefato tecnoloacutegico produzido pela ciecircncia mais avanccedilada da eacutepoca a bomba atocircmica Por mais que a tradiccedilatildeo tenha contemplado essa relaccedilatildeo direta ela natildeo se sustenta quando buscamos algumas informaccedilotildees histoacutericas que sintetizamos de Acevedo Vasquez e Manassero (2001)

bull ldquo6 de agosto de 1945 o Enola Gay um aviatildeo B-29 sobrevoou a ilha de Hondo e despejou sobre a cidade de Hiroshima a Little Boy a primeira bomba atocircmica de uracircnio Em 9 de agosto eacute lanccedilada outra sobre Nagasaki uma importante cidade situada a noroeste da ilha japonesa de Kyushu O sucesso dos artefatos tecnoloacutegicos potildee fim a segunda guerra

1 Neste trabalho optou-se pela utilizaccedilatildeo da referencia de autores espanhoacuteis pelo penuacuteltimo nome Entatildeo o leitor encontraraacute por exemplo Gonzalez Garcia Loacutepez Cerezo e Lujan Loacutepez ao inveacutes de Garcia Cerezo e Loacutepez2 Conheccedila mais em httpptwikipediaorgwikiVannevar_Bush Como estamos em um curso que trata de ciecircncia e de tecnolo-gia propomos que o aprofundamento sobre alguns assuntos possa contar com a contribuiccedilatildeo da Wikipeacutedia mas desde jaacute lem-bramos sobre a importacircncia de ler com criteacuterio considerando o processo de construccedilatildeo coletiva da Wikipedia

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CTS COMO CAMPO DE ESTUDO EM CONSTRUCcedilAtildeO10

mundial Menos de um mecircs antes em 16 de julho a bomba atocircmica de uracircnio havia sido testada com ecircxito em um deserto proacuteximo a Alamogordo no estado norteameri-cano de Novo Meacutexico Era a culminacircncia do Projeto Manhattan iniciado em 1942 que reuniu diversos cientistas que trabalhando em grupos distintos contribuiacuteram para que o conhecimento cientiacutefico se transformasse em tecnologia O resultado desta uniatildeo foi a vitoacuteria poliacutetica dos Estados Unidos sobre seu inimigo e mais tarde demonstrou as consequecircncias sociais para os sobreviventes civis dos episoacutedios nucleares Este eacute um dos casos que ilustra perfeitamente as complexas e dramaacuteticas relaccedilotildees entre ciecircncia tecnologia e poder militar rdquo

bull ldquo4 de outubro de 1957 Um acontecimento surpreende todo o mundo e em especial os Estados Unidos A URSS havia posto em oacuterbita terrestre seu primeiro Sputnik um sateacute-lite artificial pouco maior que uma bola de futebol As repercussotildees sociais deste acon-tecimento foram enormes Atualmente as telecomunicaccedilotildees dependem de numerosos sateacutelites artificiais para dar manutenccedilatildeo a grande rede de comunicaccedilatildeo em tempo real que envolve o planetardquo

bull ldquoContemporaneamente temos o efeito estufa que acelera o aquecimento global do pla-neta a diminuiccedilatildeo das camadas polares a chuva aacutecida a diminuiccedilatildeo da camada de ozocirc-nio a utilizaccedilatildeo de bombas de napalm nas guerras da Coreacuteia e Vietnam os submarinos que utilizam energia nuclear para sua propulsatildeo os acidentes industriais como os de Bhopal (India 1984) e Chernobil (Ucrania 1986) os vazamentos de navios petroleiros (Exxon Valdez Alaska 1989 e Jessica Ilhas Galaacutepagos 2001) Por outro lado tambeacutem jaacute possuiacutemos a penicilina e as vacinas as novas teacutecnicas de diagnoacutestico cliacutenico os trans-plantes e oacutergatildeos artificiais a eletricidade a maior produccedilatildeo de gratildeos de toda classe para alimentar uma humanidade crescente as novas formas de comunicaccedilatildeo as tecnologias de informaccedilatildeo e muitos outros pequenos objetos tecnoloacutegicos de uso cotidiano que trazem conforto e facilitam nossas vidasrdquo

Esses exemplos ndash e outros como as consequecircncias do uso da talidomida ou desastre ambiental no Golfo do Meacutexico com a plataforma petroliacutefera Deepwater Horizon ndash deixam claro que a relaccedilatildeo di-reta apresentada pela tradiccedilatildeo natildeo eacute absolutamente verdadeira Haacute vantagens e benefiacutecios mas haacute tambeacutem efeitos secundaacuterios que podem surgir a curto meacutedio e longo prazos Haacute grupos sociais que aleacutem de natildeo serem beneficiados com o resultado tecnoloacutegico podem sofrer perdas e restriccedilotildees com a disseminaccedilatildeo do aparato tecnoloacutegico

Considerando este conjunto extremo de consequecircncias grupos de ativistas iniciaram manifestaccedilotildees questionando e logo depois algumas vozes ligadas a Ciecircncia e Tecnologia tambeacutem apresentavam a necessidade de se discutir os riscos que surgiam da chamada prosperidade tecnoloacutegica

Dentre os nomes e feitos mais citados estavam

bull Rachel Carson3 que escreveu Silent Spring em 1958 (Primavera Silenciosa 1962) onde apresentava diversas questotildees em torno do uso de inseticidas quiacutemicos como o DDT (Dicloro-Difenil-Tricloroetano) tido agrave eacutepoca como grande alternativa pois era barato e eficiente contra os mosquitos da malaacuteria e do tifo Trecircs semanas apoacutes seu lanccedilamento o livro jaacute havia vendido 100 mil exemplares O problema era a capacidade do DDT de ser absorvido pelos animais e por toda a cadeia alimentar em outras palavras o seu efeito natildeo cessava O nome do livro quer insinuar que natildeo haveraacute paacutessaros na primavera pois

3 Conheccedila mais em httpwwwgeocitiescom~esabiocientistasraquel_carsonhtm

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CTS COMO CAMPO DE ESTUDO EM CONSTRUCcedilAtildeO11

todos teratildeo morrido viacutetimas dos inseticidas Esse movimento permitiu o fortalecimento dos chamados movimentos ecoloacutegicos Hoje o DDT eacute um produto proibido (Cutcliffe 2003 p 8 1990 p 21)

bull Ralph Nader4 ativista dos direitos do consumidor promoveu um grande movimento contra o que chamou de arrogacircncia da induacutestria automobiliacutestica em torno da seguranccedila e dos perigos dos modelos Corvair fabricados pela Chevrolet entre 1960 e 1969 Escre-veu Unsafe at Any Speed The Designed-In Dangers of the American Automobile 91965) (Cutcliffe 2003 p 8 1990 p 21)

bull Vance Packard5 escreveu The Hidden Persuaders (1957) onde jaacute defendia que a induacutestria da propaganda criava artificialmente as necessidades e demandas para o consumidor

bull John Kenneth Galbraith6 escreveu The Affluent Society (1958) e The New Industrial Sta-te (1967) e defendia que no Estado industrial o poder econocircmico havia se desprendido das necessidades dos consumidores e que uma ldquotecnoestruturardquo controlava a tecnolo-gia visando o crescimento e benefiacutecio da organizaccedilatildeo (Cutcliffe 1990 p 21)

bull Mario Molina7 e Frank S Rowland8 (1974) publicam na revista Nature uma pesquisa apontando a accedilatildeo dos clorofluorcarbonos (CFC) dentre outros compostos na dimi-nuiccedilatildeo da camada de ozocircnio O CFC foi sintetizado em 1928 e eacute especialmente utilizado geladeiras e aparelhos de ar condicionado para refrigeraccedilatildeo O Protocolo de Montreal baniu o consumo destes gases em 2010 Molina Rowland e Paul Crutzen dividiram o Precircmio Nobel de Quiacutemica de 1995 Em seu sitio Molina apresenta a seguinte frase ldquoOs cientistas podem descrever os problemas que afectam o ambiente com base nas evi-decircncias disponiacuteveis mas sua soluccedilatildeo natildeo eacute da responsabilidade dos cientistas mas da sociedade como um todordquo

bull Derek J de Solla Price9 em 1963 escreveu Little Science Big Science onde debatia o cresci-mento do financiamento da tecnologia por parte do Estado e que resultou na ne-cessidade de se discutir uma ldquociecircncia da ciecircnciardquo produzindo a Fundaccedilatildeo para a Ciecircncia da Ciecircncia em 1965 e diversas sociedades voltadas para a ldquoresponsabilidade social da ciecircnciardquo na Inglaterra e em outros lugares (Cutcliffe 2003 p 11)

bull Barry Commoner10 em 1963 escreveu Science and survival onde alerta para perda de controle sobre as consequecircncias sociais da ciecircncia e da tecnologia Para ele os cientistas deveriam divulgar mais seus trabalhos e suas consequecircncias para quem ele chama de natildeo-cientistas Conclui que a Ciecircncia e os cientistas satildeo capazes de revelar o tamanho do problema mas somente a accedilatildeo social pode resolvecirc-lo (Beck 2010)

Aleacutem destes grupos sociais que se organizaram e produziram efeitos importantes para a reflexatildeo em torno dos riscos que envolviam as tecnologias esse periacuteodo da histoacuteria presenciou o surgimen-to de inuacutemeros grupos chamados ativistas que cada uma sua maneira buscavam chamar atenccedilatildeo para os riscos a que estavam expostos os cidadatildeos Durante a deacutecada de 1970 os mais significativos movimentos giravam em torno da energia nuclear e seus riscos dos miacutesseis baliacutesticos do transporte supersocircnico dos CFC-Clorofluorcarbono usados em aerossoacuteis as primeiras discussotildees sobre o im-pacto de pesquisas geneacuteticas dentre outros A deacutecada de 1980 presenciou uma importante discussatildeo levantada por um sindicato de operaacuterios que solicitava uma

4 Conheccedila mais em httpptwikipediaorgwikiRalph_Nader 5 Conheccedila mais em httpsenwikipediaorgwikiVance_Packard 6 Conheccedila mais em httpsptwikipediaorgwikiJohn_Kenneth_Galbraith 7 Conheccedila mais em httpseswikipediaorgwikiMario_Molina e httpcentromariomolinaorgmario-molinabiografia 8 Conheccedila mais em httpsenwikipediaorgwikiF_Sherwood_Rowland 9 Conheccedila mais em httpenwikipediaorgwikiDerek_J_de_Solla_Price10 Conheccedila mais em httpptwikipediaorgwikiBarry_Commoner

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CTS COMO CAMPO DE ESTUDO EM CONSTRUCcedilAtildeO12

ldquoDeclaraccedilatildeo de Direitos sobre a Nova Tecnologiardquo que exigia algum tipo de controle sobre o processo de trabalho refletia a problemaacutetica laboral surgida do impacto das novas tec-nologias de automaccedilatildeo sobre a estabilidade no trabalho a seguranccedila dos trabalhadores e a reduccedilatildeo de habilidades necessaacuterias (Cutcliffe 2003 p 9)

Sobre este surgimento e evoluccedilatildeo Mitcham11 (1990 p 15) apresenta outro acircngulo de estudo Diz que os Estudos CTS tiveram duas fontes a primeira eacute a formaccedilatildeo na deacutecada de 1950 do que se chamou de Science Technology and Public Policy (STPP) e a segunda eacute a criacutetica social e poliacutetica agrave ciecircncia e agrave tecnologia surgidas no final da deacutecada de 1960 Ao analisar cada uma das fontes escreve o autor que

bull Os programas STPP O processo de institucionalizaccedilatildeo da ciecircncia mo-derna pode ser estudada a partir de trecircs etapas principais

bull A primeira etapa em torno dos seacuteculos XVII e XVIII a ciecircncia foi um trabalho de indiviacuteduos geralmente oriundos da aristocracia

bull A segunda etapa de institucionalizaccedilatildeo da ciecircncia ocorre durante o seacuteculo XIX quando ela eacute profissionalizada em departamentos especiacuteficos como departa-mentos de quiacutemica de fiacutesica etc nas universidades e nos laboratoacuterios de pes-quisa e desenvolvimento industrial Esta institucionalizaccedilatildeo requereu uma or-ganizaccedilatildeo um pouco mais complexa mas ainda em pequena escala

bull A terceira institucionalizaccedilatildeo da ciecircncia moderna ocorreu durante a Segunda Guerra Mundial como resultado do apoio governamental e a criaccedilatildeo de proje-tos de pesquisa e desenvolvimento de larga escala como projeto Manhattan que resultou na bomba atocircmica Tais projetos e accedilotildees governamentais intro-duziram na atividade cientiacutefica e tecnoloacutegica estruturas administrativas pro-cessos de gestatildeo e um contingente de profissionais ateacute entatildeo desconhecidos destas aacutereas Os programas STPP foram desenvolvidos depois da guerra com o propoacutesito de estudar a gestatildeo em grande escala da ciecircncia e da tecnologia Escreve o autor que os programas STPP em universidades tecnoloacutegicas mais importantes ndash tais como o Instituto de Tecnologia de Massachussets (MIT) e a Universidade Carnegie Mellon ndash estatildeo estreitamente relacionados as faculdades formadoras de engenheiros A mobilizaccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica no periacuteodo da segunda grande guerra demonstrou que a gestatildeo da ciecircncia e da tecnologia em suas no-vas e complexas inter-relaccedilotildees com o governo e a sociedade exigia capacidades (competecircncias) especiais ldquoA experiecircncia natildeo eacute suficiente para que os engen-heiros aprendam a fazecirc-lo assim como os gestores carecem em geral da edu-caccedilatildeo e habilidade necessaacuterias para comunicar-se efetivamente com o corpo cientiacuteficordquo (p 16) Os programas STPP surgiram no interior da comunidade de ciecircncia e tecnologia

bull Os programas CTS estes surgiram na visatildeo de Mitcham como respostas a influecircn-cias externas agrave ciecircncia e a tecnologia Os movimentos ecoloacutegicos e de consumidores preocupados com as mudanccedilas tecnoloacutegicas iniciaram um movimento de aproximaccedilatildeo da ciecircncia e da tecnologia com a sociedade e a cultura Nos EUA os primeiros progra-mas CTS foram produzidos por profissionais oriundos das ciecircncias sociais (Universida-de de Cornell) como por engenheiros preocupados com problemas sociais (Universida-des de Pennsylvania e Etenford) Escreve o autor que os primeiros tinham um caraacuteter mais criacuteticos da ciecircncia e da tecnologia como meacutetodos de conhecimento como soluccedilotildees

11 Conheccedila mais httpsenwikipediaorgwikiCarl_Mitcham

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CTS COMO CAMPO DE ESTUDO EM CONSTRUCcedilAtildeO13

de problemas e como processos sociais Jaacute o segundo grupo buscava demonstrar aos alunos das chamadas humanidades como era o ldquomundo fabricado pelo homemrdquo dando ecircnfase a um tipo de alfabetizaccedilatildeo tecnoloacutegica

Em uma obra claacutessica intitulada Sceince Technology and Society ndash A crosssisciplinary Perspective or-ganizada por Ina Spiegel-Roumlsing e Derek Solla Price (1977) encontramos a proposta de estruturaccedilatildeo dos estudos CTS suportada por diversas aacutereas do conhecimento (sociologia poliacutetica psicologia va-lores etc) e tambeacutem temas contemporacircneos ou demarcadores de fatos sociais (guerra militarismo sistema e relaccedilotildees internacionais modelos etc) com um capiacutetulo inicial que se intitula The Study of Science technology and Society (SSTS) Recent Trends and Future Challenges (Spiegel-Rooumlsing 1977) reafirmando a polissemia que impera na aacuterea

Outros autores apontam para origem distinta do CTS em Educaccedilatildeo Pedretti e Nazir (2011) e Aiken-head (2005) em excelentes artigos de revisatildeo defendem que Jim Gallagher (1971) introduz a visatildeo CTS quando escreve ldquoPara futuros cidadatildeos em uma sociedade democraacutetica comprender a interre-laccedilatildeo entre ciecircncia tecnologia e sociedade pode ser tatildeo importante como entender os conceitos e os processos da ciecircnciardquo (Gallagher 1971 p 337) Ele eacute seguido de uma seacuterie de publicaccedilotildees que desdo-bram a ideia com especial atenccedilatildeo ao artigo de Paul Hurd (1975) intitulado Science Technology and Society New Goals for Interdisciplinary Science Teaching

Figaredo Curiel (2013) por sua vez informa a opiniatildeo de Jose Antonio Lopez Cerezo em comuni-caccedilatildeo pessoal quando questionado sobre o inicio do uso do acrocircnimo CTS

Ateacute onde eu sei e com independecircncia de utilizaccedilotildees esporaacutedicas que natildeo se ligam com a tradiccedilatildeo acadecircmica principal de CTS ldquoscience technology and societyrdquo foi usado pela pri-meira vez por Rustum Roy o fundador do STS Programa da Universidade do Estado de Pen-silvania no final da deacutecada de 1960 ou principio da deacutecada de 1970 Eu cheguei a conhececirc-lo em uma visita a sua universidade Era um engenheiro de origem hinduacute ou paquistanesa mas com nacionalidade americana que se queixava de natildeo haver tido a visatildeo de chamar de ldquosociety technology and sciencerdquo o seu programa o que segundo ele (no princiacutepio da deacutecada de 1990 quando o conheci) refletia melhor a realidade das coisas (traduccedilatildeo livre do autor)

A nosso ver como trataremos no proacuteximo capiacutetulo o surgimento da ideacuteia CTS eacute de difiacutecil identidade visto que de acordo com a percepccedilatildeo do leitor pode ser percebido por analogia em vaacuterias correntes de pensamento na filosofia na sociologia na poliacutetica etc Como necessitamos iniciar os estudos em algum ponto vamos arbitrar com devida justificativa que as ideias CTS podem iniciar com Robert Merton e Jonh Bernal especialmente conforme detalharemos em item proacuteprio deste trabalho

Haacute certamente uma grande semelhanccedila das ideias CTS com as questotildees que marcam o mundo mo-derno Foram estas antecipaccedilotildees que permitiram que o tema impacto da ciecircncia e tecnologia sobre a sociedade fosse ocupando espaccedilos importantes no debate social e poliacutetico fosse ganhando espaccedilo nas miacutedias e fazendo com que os cidadatildeos participassem um pouco mais sobre o conjunto de poliacute-ticas puacuteblicas de Ciecircncia e Tecnologia Isto eacute passassem a influenciar mais sobre os recursos puacutebli-cos dirigidos para estes setores sobre as escolhas de prioridades a serem financiadas com recursos puacuteblicos sobre as anaacutelises de impactos destes aparatos sobre as pessoas sobre a sociedade e sobre o meio ambiente

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CTS COMO CAMPO DE ESTUDO EM CONSTRUCcedilAtildeO14

O crescimento do movimento CTS foi de tal ordem que levou os governos e os organismos multila-terais a abrirem espaccedilos nas agendas poliacuteticas para eventosdocumentos internacionais que acolhes-sem estas preocupaccedilotildees e a criaccedilatildeo de associaccedilotildees voltadas para esta temaacutetica

Dentre os eventosdocumentos podemos enumerar Nosso Futuro em Comum que discutia padrotildees para o desenvolvimento sustentaacutevel e que foi organizado pela Comissatildeo Mundial para o Meio Am-biente e Desenvolvimento e tambeacutem a Rio-92 Dentre as comissotildees surgidas para atender a esta demanda podemos citar como exemplos

bull Em 1966 a Associaccedilatildeo Nacional de Seguranccedila Viaacuteria (EUA)bull Em 1969 a Agecircncia de Proteccedilatildeo do Meio Ambiente (EUA)bull Em 1970 a Administraccedilatildeo de Seguranccedila e Sauacutede do Trabalho (EUA)bull Em 1972 a Oficina de Avaliaccedilatildeo da Tecnologia (EUA)bull Em 1975 a Comissatildeo de Energia Nuclear (EUA)bull Em 1982 o Conselho de Investigaccedilotildees Sociais da Dinamarca criou uma Subcomissatildeo de

Tecnologia e Sociedade e depois o Conselho de Tecnologiabull Em 1976 o Centro para a Vida laboral em Estocolmo Sueacutecia

A comunidade cientiacutefica tambeacutem apresentou suas preocupaccedilotildees por meio de organizaccedilotildees dirigi-das agraves questotildees derivadas das relaccedilotildees CTS e os impactos da ciecircncia e da tecnologia para a pessoa a sociedade e o meio ambiente Satildeo inuacutemeras as organizaccedilotildees ou grupos profissionais que criaram instituiccedilotildees voltadas para este campo de estudo Segundo Clutcliffe (2003) ressalta-se

bull A Fundaccedilatildeo Nacional de Ciecircncias dos Estados Unidos criou o Programa de Eacutetica e Va-lores em Ciecircncia e Tecnologia depois Programa de Dimensotildees sociais da Engenharia da Ciecircncia e da tecnologia

bull A Fundaccedilatildeo Nacional de Humanidades criou o Programa de Ciecircncia Tecnologia e Va-lores agora Humanidades Ciecircncia e Tecnologia

bull A Associaccedilatildeo Americana para o Avanccedilo da Ciecircncia criou o Programa de Ciecircncias e Poliacute-ticas de Atuaccedilatildeo e a Comissatildeo para as Liberdades e Responsabilidades Cientiacuteficas

bull Os engenheiros e cientistas criaram a Uniatildeo dos Cientistas Comprometidos (1969) ins-pirando-se na Federaccedilatildeo dos Cientistas Americanos (1945) surgida das preocupaccedilotildees com as implicaccedilotildees do projeto Manhattan que resultou na Bomba Atocircmica

bull Os cientistas e tecnoacutelogos criaram mais recentemente (1983) a Organizaccedilatildeo para a Responsabilidade Social dos Informaacuteticos dedicada a examinar as implicaccedilotildees sociais relacionadas com a informaacutetica em acircmbito militar nos locais de trabalho etc

A preocupaccedilatildeo social por meios organizados com os impactos econocircmicos sociais ambientais po-liacuteticos eacuteticos e culturais da Ciecircncia e Tecnologia e a busca de maior participaccedilatildeo da Sociedade nas decisotildees envolvendo Ciecircncia e Tecnologia satildeo as marcas do que definiremos como Movimento CTS Certamente esta definiccedilatildeo e a trajetoacuteria histoacuterica que culmina numa definiccedilatildeo eacute resultado da for-maccedilatildeo do autor ou da visatildeo do analista A triacuteade CTS envolve trecircs grandes aacutereas com histoacuterias e fun-damentos distintos e quando analisados por profissionais de diferentes aacutereas e formaccedilotildees oferecem outras tantas visotildees e acircngulos todos pertinentes e merecedores de nossa atenccedilatildeo Deixamos claro e expliacutecito que a visatildeo de CTS que apresentamos aqui eacute construiacuteda a partir dos aspectos educacionais de CTS Se encaramos o processo educacional como aquele que oferece condiccedilotildees de transformaccedilatildeo natildeo podemos desconsiderar os aspectos fundantes possiacuteveis ndash e que oferecem visotildees e fundamentos distintos e inter-complementares ndash que satildeo os aspectos sociais histoacutericos poliacuteticos axioloacutegicos e os aspectos econocircmicos de CTS

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CTS COMO CAMPO DE ESTUDO EM CONSTRUCcedilAtildeO15

Mas se por um lado a histoacuteria registrou um grande nuacutemero de accedilotildees organizadas por segmentos sociais preocupadas com os impactos da Ciecircncia e da Tecnologia por outro tambeacutem podemos e de-vemos enumerar os acontecimentos que transformaram essa relaccedilatildeo triaacutedica em Campo de Estudos CTS que se caracteriza pelos estudos acadecircmicos que buscam explicar a Natureza da Ciecircncia da Tecnologia e da Sociedade e como o entendimento diferente sobre estes campos do saber resulta em relaccedilotildees estreitas entre estes trecircs campos Fica claro para os estudiosos que marcam o Campo CTS ndash filoacutesofos da ciecircncia e da tecnologia historiadores da ciecircncia e da tecnologia socioacutelogos da ciecircncia e da tecnologia educadores em CTS cientistas poliacuteticos etc ndash que natildeo haacute um uacutenico exclusivo e ldquocorre-tordquo conceito para Ciecircncia assim como natildeo o haacute para Tecnologia e muito menos para Sociedade Haacute sim muitas maneiras de interpretar cada um desses camposconceitos e por consequecircncia interfe-rir na maneira com os trecircs se relacionam Sobre isso escrevem Vaacutezquez et al (2008 p 34)

O conceito de Natureza da Ciecircncia engloba uma variedade de aspectos sobre o que eacute a ciecircn-cia seu funcionamento interno e externo como constroacutei e desenvolve o conhecimento que produz os meacutetodos que usa para validar esse conhecimento os valores envolvidos nas ati-vidades cientiacuteficas a natureza da comunidade cientiacutefica os viacutenculos com a tecnologia as relaccedilotildees da sociedade com o sistema tecnocientiacutefico e vice-versa as contribuiccedilotildees desta para a cultura e o progresso da sociedade

Sobre a mesma temaacutetica Aduacuteriz-Bravo (2016) buscaraacute diferenciar Natureza da Ciecircncia e CTS para depois tentar uma convergecircncia ou mesmo intercomplementaridade entre eles Escreve ele

Para esta discussatildeo entendo o enfoque ciecircncia-tecnologia-sociedade (CTS) como uma co-rrente de pensamento com incidecircncia no campo da educaccedilatildeo cientiacutefica que aborda o ensino das ciecircncias desde os pontos de vista poliacutetico econocircmico social histoacuterico tecnoloacutegico etc (Lacolla 2004) Entendo por natureza da ciecircncia (NOS) uma aacuterea curricular emergente que agrupa um conjunto de conteuacutedos metateoacutericos (transpostos da filosofiacutea histoacuteria e socio-logiacutea da ciecircncia principalmente) considerados valiosos para a educaccedilatildeo cientiacutefica (Aduacuteriz-Bravo 2005)[]A luz do proposto parece possiacutevel postular uma complementariedade entre NOS e CTS ambas poderiam potencializar-se mutuamente para gerar mudanccedilas articuladas no saber e no saber fazer dos professores de ciecircncias A partir desta premissa estou propondo que o enfoque CTS ajudaria aos professores a encontrar umas maneiras de fazer que deixem de lado rotinas e incorporem alternativas didaacuteticas que construam em classe uma imagem de ciecircncia mais ajustada a produccedilatildeo NOS

Na verdade alguns autores natildeo fazem diferenccedila entre os termos Movimento CTS e Estudos CTS utilizando as duas expressotildees indistintamente A nosso ver as expressotildees querem representar movi-mentos diferentes o Movimento CTS representa melhor as consequecircncias sociais e accedilotildees da socie-dade em torno dos temas Ciecircncia e Tecnologia e a expressatildeo Estudos CTS identifica um campo de estudo que busca melhor entender as relaccedilotildees que compotildeem a triacuteade CTS o que pode dar ideia de antecedecircncia Vacarezza (2002 p 67) escreveraacute que

Reservamos o conceito de campo agraves funccedilotildees estritamente cognitivas que levam a cabo os distintos cultores da reflexatildeo sobre as relaccedilotildees entre ciecircncia tecnologia e o social O concei-to de movimento faz referecircncia agrave conformaccedilatildeo de um sujeito poliacutetico (ou a um conjunto mais ou menos integrado ou contraditoacuterio de sujeitos poliacuteticos) que pretende intervir em situaccedilotildees de poder social global sobre a base de reivindicaccedilotildees ou objetivos de mudanccedilas especiacuteficas (sejam setoriais ou globais)

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Haacute entre os estudiosos da Abordagem CTS uma outra importante distinccedilatildeo entre a tradiccedilatildeo ame-ricana (numa visatildeo meramente didaacutetica preocupada com as consequecircncias) e a tradiccedilatildeo europeia (numa visatildeo meramente didaacutetica preocupada com a antecedecircncia) Assim escrevem Cachapuz et al (2008 p 29) sobre as distintas facetas da perspectiva CTS

a norte-americana que coloca maior ecircnfase na abordagem das consequecircncias sociais das inovaccedilotildees tecnoloacutegicas e nas influecircncias sobre a forma de vida dos cidadatildeos e das insti-tuiccedilotildees e a europeacuteia que coloca a ecircnfase na dimensatildeo social antecedente aos desenvolvi-mentos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos evidenciando a diversidade de fatores econocircmicos poliacute-ticos e culturais que participam na gecircnese e aceitaccedilatildeo das teorias cientiacuteficas Contudo para aleacutem destas facetas apontadas natildeo poderem ser disjuntas o que muitos autores tecircm vindo a sobrepor eacute a importacircncia social do conhecimento proporcionado pela ciecircncia e tecnologia que ao mesmo tempo que proporciona melhor compreensatildeo do mundo natural representa um instrumento essencial para o transformar

Parece haver uma concordacircncia sobre aspectos de antecedecircncia e consequecircncia de CTS entre os au-tores citados Cachapuz et al (2008) Vacarezza (2002) e Mitcham (1990) Fazem essa categorizaccedilatildeo Gonzaacutelez Garciacutea Loacutepez Cerezo e Lujaacuten Loacutepez (1996)

Autores como Vaccarezza (2002) Dagnino Thomas e Davyt (2003) e Kreimer e Thomas (2004) especialmente defendem a existecircncia de um Pensamento Latinoamericano de CTS (PLACTS) ba-seados no cenaacuterio sociopoliacutetico existente nas deacutecadas de 60 e 70 em vaacuterios paiacuteses da America Latina chegando a listar os especialistas que agrave eacutepoca defendiam ideias que se assemelham agraves ideias dos Enfoques CTS hoje Segundo eles os principais satildeo Oscar Varsavsky (2010) Jorge Saacutebato (2004) Francisco R Sagasti (1986) Amilcar Herrera (1973) Miguel Wionseck Maacuteximo Halty-Carreacutere Os-valdo Sunkel Marcel Roche Joseacute Leite Lopes entre outros

Este tema mereceu de noacutes maiores pesquisas a fim de conhecer mais esta interessante hipoacutetese de trabalho Em recente pesquisa Silva (2015) pesquisando o CTS Latino Americano em obras primaacute-rias encontrou

127 autores relacionados com os temas de estudo do CTS latino-americano e [identificou] suas nacionalidades Destes 127 autores 94 foram enquadrados na categoria autores-funda-dores 21 na categoria autores-disciacutepulos e 12 natildeo puderam ser relacionados a nenhuma das duas categorias por falta de maiores informaccedilotildees disponiacuteveis sobre eles (p 53)

Ao final conclui que

Apoacutes o teacutermino da pesquisa e da anaacutelise dos resultados acreditamos que podemos respon-der agrave pergunta de partida deste trabalho Sobre se existiu uma tradiccedilatildeo latino-americana de CTS nas deacutecadas de 60 e 70 concluimos que a partir da anaacutelise feita pode-se afirmar que sim aleacutem das tradiccedilotildees americana e europeacuteia existiu uma tradiccedilatildeo CTS latino americana Poreacutem diferentemente das outras duas tradiccedilotildees esta natildeo formou escola suas teorias e pesquisas tiveram uma interrupccedilatildeo devido ao contexto poliacutetico local caracterizado por re-gimes autoritaacuterios e ditatoriaisAo pesquisar os autores-fundadores da tradiccedilatildeo CTS latino-americana percebeu-se que estes satildeo intelectuais natildeo necessariamente acadecircmicos provenientes de diversas aacutereas de formaccedilatildeo fazendo com que a tradiccedilatildeo tenha uma caracteriacutestica interdisciplinar dialoacutegica e construiacuteda atraveacutes das diferentes proposiccedilotildees e pontos de vista dos autores sobre a questatildeo do subdesenvolvimento latino-americano

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CTS COMO CAMPO DE ESTUDO EM CONSTRUCcedilAtildeO17

Por mais pertinentes que sejam as anaacutelises feitas pelos autores-fundadores do CTS latino-americano quanto as interrelaccedilotildees de fatores poliacuteticos e econocircmicos com o desenvolvimen-to da ciecircncia e da tecnologia conclui-se neste trabalho que estes temas satildeo pouco abordados no contexto de ensino CTS Ao correlacionar o referencial bibliograacutefico de artigos recentes publicados na aacuterea de ensino CTS no Brasil foram poucas as citaccedilotildees a autores-fundadores do CTS latino-americano e suas obras Em sua maioria as obras originais foram citadas por pessoas que jaacute estudavam o tema nos dias de hoje se destacando entre todos o autor Renato Dagnino um dos autores-disciacutepulos da tradiccedilatildeo CTS latino-americana Foi possiacutevel cons-tatar um hiato entre o que foi produzido pelos autores-fundadores nas deacutecadas de 60 e 70 com o que se produz sobre CTS hoje mostrando que natildeo parece haver uma apropriaccedilatildeo por parte dos autores de artigos na aacuterea de ensino CTS dos questionamentos e consideraccedilotildees desenvolvidas pelos autores relacionados agrave tradiccedilatildeo latino-americana de CTS (p 127-128)

Em recente publicaccedilatildeo Roso e Auler (2016) resgatam as ideias do PLACTS e suas contribuiccedilotildees (ou natildeo) para as praticas educativas do movimento CTS

A histoacuteria da relaccedilatildeo CTS teve como primeira caracteriacutestica uma reaccedilatildeo agravequela visatildeo acriacutetica e neu-tra que se deu agrave Ciecircncia e agrave Tecnologia ao longo do tempo Com o amadurecimento dos estudos CTS este se transformou efetivamente numa aacuterea intertransdisciplinar que atraia estudantes e pro-fissionais da aacuterea das chamadas ciecircncias exatas e da natureza mas que tambeacutem recrutou alunos e pesquisadores das chamadas ciecircncias humanas e sociais Essa eacute uma importante oportunidade de aproximar duas culturas a chamada humaniacutestica e a dita cientiacutefico-tecnoloacutegica que foram separadas em algum momento da histoacuteria como propotildee Snow (1995) em sua obra claacutessica As duas culturas

O segundo momento dos Estudos CTS foi marcado pela superaccedilatildeo do processo reativo criando accedilotildees planejadas e mecanismos de multiplicaccedilatildeo das ideias defendidas e organizadas ateacute entatildeo O segundo momento eacute marcado pelo surgimento de cursos e programas de estudos CTS voltados principalmen-te para a alfabetizaccedilatildeo sobre tecnologia o que transcende a alfabetizaccedilatildeo em tecnologia e que natildeo deve permitir a visatildeo ingecircnua de achar que ldquose nos entendesse melhor (a tecnologia) nos quereria maisrdquo (Cutcliffe 2003 p 16)

De acordo com Cutcliffe (2003 p 18) atualmente CTS concebe a Ciecircncia e a Tecnologia como proje-tos complexos que ocorrem em contextos histoacutericos e culturais especiacuteficos Escreve ele

Podemos dizer que em resumo pode dizer-se que o campo de CTS deixou para tras qualquer tendecircncia inicial que pudesse ser relacionado com alguns grupos e que implicasse em uma visatildeo simplista em branco e negro da ciecircncia e da tecnologia na sociedade buscando alcanccedilar uma compreensatildeo mais complexa da relaccedilatildeo de CTS Na atualidade CTS concebe a ciecircncia e a tecnologia como projetos complexos que se datildeo em contextos histoacutericos e culturais especiacutefi-cos O que tem surgido eacute um consenso com respeito a que se bem a ciecircncia e a tecnologia nos trazem diversos benefiacutecios tambeacutem provocam certos impactos negativos alguns dos quais imprevisiacuteveis mas todos refletem os valores pontos de vistas e visotildees daqueles que estatildeo em situaccedilatildeo de tomar decisatildeo com respeito aos conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos dentro de seus acircmbitos A missatildeo central do campo CTS ateacute a data de hoje tem sido a de expressar a interpretaccedilatildeo da ciecircncia e da tecnologia como um processo social Deste ponto de vista a ciecircncia e a tecnologia satildeo vistos como projetos complexos em que os valores culturais poliacuteti-cos e econocircmicos nos ajudam a configurar os processos tecnocientiacuteficos os quais por sua vez afetam os valores mesmos e a sociedade que os manteacutem (p 18) grifos nossos

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CTS COMO CAMPO DE ESTUDO EM CONSTRUCcedilAtildeO18

O mesmo autor Cutcliffe (2003) concluindo os acontecimentos sociais nas deacutecadas de 1960 e 70 escreve que CTS eacute um ldquocampo de estudo ativista interdisciplinar e orientado a problemas que tratava de entender e responder as complexidades da ciecircncia moderna e da tecnologia na sociedade contem-poracircneardquo (p 25)

Para Aibar e Quintanilla (2012) os estudos CTS podem ser estudados em dois aspectos baacutesicos

Por um lado exploram os impactos ou efeitos da ciecircncia e da tecnologia na estrutura social na induacutestria e a economia na poliacutetica no meio ambiente no pensamento e em geral na cultura Por outro de forma paralela os estudos CTS tentam determinar em que medida e de que forma diferentes fatores (valores de diferentes ordens forccedilas econocircmicas e poliacuteticas culturas profissionais ou empresariais grupos de pressatildeo movimentos sociais etc) confi-guram ou influenciam no desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico (p 12)

Para Zani et al (2013 p 63)

A necessidade do cidadatildeo de conhecer os direitos e obrigaccedilotildees de cada um de pensar por si proacuteprio e ter uma visatildeo criacutetica da sociedade onde vive e especialmente a disposiccedilatildeo de transformar a realidade para melhor satildeo alguns dos lemas do movimento CTS (Ciecircncia Tecnologia e Sociedade)

Zaiuth e Hayashi (2011 p 279) veem o Movimento CTS ldquocomo apelo para a responsabilidade social dos cientistas os quais devem se comprometer com padrotildees eacuteticos tanto na sua proacutepria formaccedilatildeo e tambeacutem nos que estatildeo na primeira linha da educaccedilatildeo para cidadania os professoresrdquo

Para Mello e Guazzelli (2011 p 25)

[] o movimento CTS tem como objetivo maior apresentar um ensino de ciecircncias voltado agrave formaccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica oferecida a todos os cidadatildeos indistintamente para que eles sejam capazes de tomar decisotildees responsaacuteveis com base na ciecircncia e tecnologia levan-do em consideraccedilatildeo no mesmo patamar a sociedade o ambiente e as dimensotildees afetivas atitudinais eacuteticas e culturais

No que concerne a Abordagem CTS com ecircnfase na Educaccedilatildeo e no curriacuteculo Acevedo Vaacutezquez e Manasero (2001) informam que no momento atual

emerge a educaccedilatildeo CTS (Ciecircncia tecnologia e Sociedade) como inovaccedilatildeo do curriacuteculo es-colar (Acevedo 1996a 1997a Vaacutezquez 1999) de caraacuteter geral que proporciona propostas de alfabetizaccedilatildeo em ciecircncia e tecnologia (Science and Technology Literacy STL) para todas as pessoas (Science and Technology for All STA) uma determinada visatildeo centrada na for-maccedilatildeo de atitudes valores e normas de comportamento a respeito da intervenccedilatildeo da ciecircncia e da tecnologia na sociedade (e vice-versa) com o fim de exercer responsavelmente como cidadatildeos e poder tomar decisotildees racionais e democraacuteticas na sociedade civil12 Desde este ponto de vista CTS eacute uma opccedilatildeo educativa transversal (Acevedo 1996b) que prioriza so-bretudo os conteuacutedos atitudinais (cognitivos afetivos e valorativos) e axioloacutegicos (valores e normas)Desde a perspectiva da dimensatildeo cognitiva atitudinal a educaccedilatildeo CTS pretende tambeacutem uma melhor compreensatildeo da ciecircncia e da tecnologia em seu contexto social incidindo nas

12 Neste ponto os autores acrescentam a seguinte nota no original ldquoLa posicioacuten de los autores respecto al papel que debe tener el movimiento CTS en la alfabetizacioacuten cientiacutefica y tecnoloacutegica para todas las personas ha sido expuesta numerosas veces recien-temente se muestra con rotundidad en Acevedo Manassero y Vaacutezquez (2002a b) Por su intereacutes veacutease tambieacuten el punto de vista sostenido por Solbes Vilches y Gil (2002b)rdquo

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CTS COMO CAMPO DE ESTUDO EM CONSTRUCcedilAtildeO19

interrelaccedilotildees entre os desenvolvimentos cientiacutefico e tecnoloacutegico e os processos sociais As-sim os estudantes deveratildeo adquirir durante sua escolarizaccedilatildeo algumas capacidades para ajudaacute-los a interpretar pelo menos de forma geral questotildees controvertidas re-lacionadas com os impactos sociais da ciecircncia e da tecnologia e com a qualidade das condiccedilotildees de vida de uma sociedade cada vez mais impregnada de ciecircncia e sobretudo de tecnologia (grifos nossos)

Para Acevedo Vaacutezquez e Manassero (2003a p 101)

Movimento CTS eacute entendido como uma inovaccedilatildeo educacional que estaacute em consonacircncia com as mais relevantes e atuais recomendaccedilotildees internacionais para proporcionar no ensino de ciecircncias a alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica mais completa e uacutetil possiacutevel para todas as pessoas

Auler (2007) apresentaraacute as seguintes reflexotildees

Quanto aos objetivos da educaccedilatildeo CTS sintetizados na referida pesquisa pode-se destacar promover o interesse dos estudantes em relacionar a ciecircncia com aspectos tecnoloacutegicos e sociais discutir as implicaccedilotildees sociais e eacuteticas relacionadas ao uso da ciecircncia-tecnologia (CT) adquirir uma compreensatildeo da natureza da ciecircncia e do trabalho cientiacutefico formar cidadatildeos cientiacutefica e tecnologicamente alfabetizados capazes de tomar decisotildees informadas e desenvolver o pensamento criacutetico e a independecircncia intelectual (sem indicaccedilatildeo de paacutegina)

Ainda sobre os aspectos educacionais e curriculares podemos elencar as posiccedilotildees de Santos e Morti-mer (2002) Amaral Xavier e Maciel (2009) e Santos Amaral e Maciel (2012)

Santos e Mortimer (2002 p 3) escrevem que

Roberts (1991) refere-se agraves ecircnfases curriculares ldquoCiecircncia no contexto socialrdquo e ldquoCTSrdquo como aquelas que tratam das inter-relaccedilotildees entre explicaccedilatildeo cientiacutefica planejamento tecnoloacutegico e soluccedilatildeo de problemas e tomada de decisatildeo sobre temas praacuteticos de importacircncia social Tais curriacuteculos apresentam uma concepccedilatildeo de (i) ciecircncia como atividade humana que ten-ta controlar o ambiente e a noacutes mesmos e que eacute intimamente relacionada agrave tecnologia e agraves questotildees sociais (ii) sociedade que busca desenvolver no puacuteblico em geral e tambeacutem nos cientistas uma visatildeo operacional sofisticada de como satildeo tomadas decisotildees sobre proble-mas sociais relacionados agrave ciecircncia e tecnologia (iii) aluno como algueacutem que seja preparado para tomar decisotildees inteligentes e que com-preenda a base cientiacutefica da tecnologia e a base praacutetica das decisotildees e (iv) professor como aquele que desenvolve o conhecimento de e o comprometi-mento com as inter-relaccedilotildees complexas entre ciecircncia tecnologia e decisotildees

Amaral Xavier e Maciel (2009 p 102) por sua vez esclarecem

Para uma eficaz associaccedilatildeo dos termos CiecircnciaTecnologiaSociedade numa relaccedilatildeo triaacutedi-ca requer-se trabalhar a ciecircncia como atividade humana historicamente contextualizada indicando os cenaacuterios socioeconocircmico e cultural onde as descobertas cientiacuteficas foram ou estatildeo sendo realizadas bem como a apresentaccedilatildeo das suas inter-relaccedilotildees com a tecnologia e a sociedade

Santos Amaral e Maciel (2012 p 229) informam que

A proposta curricular envolvendo as relaccedilotildees CTS corresponde assim a uma integraccedilatildeo entre educaccedilatildeo cientiacutefica tecnoloacutegica e social em que os conteuacutedos cientiacuteficos e tecnoloacutegi-

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CTS COMO CAMPO DE ESTUDO EM CONSTRUCcedilAtildeO20

cos satildeo estudados juntamente com a discussatildeo de seus aspectos histoacutericos eacuteticos poliacuteticos e soacutecio-econocircmicos

Segundo Osorio M (sd) CTS corresponde a um nome que se daacute a uma linha de trabalho acadecircmico e investigativo que tem por objeto perguntar-se pela natureza social do conhecimento cientiacutefico-tecnoloacutegico e suas incidecircncias nos diferentes acircmbitos econocircmicos sociais ambientais e culturais das sociedades

Ainda segundo Osorio M (sd) e tambeacutem Loacutepez Cerezo (2009) os estudos CTS estatildeo dirigidos prin-cipalmente

bull No plano da investigaccedilatildeo promovendo uma visatildeo socialmente con-textualizada da Ciecircncia e da Tecnologia

bull No acircmbito das poliacuteticas puacuteblicas de Ciecircncia e Tecnologia defendendo a participaccedilatildeo puacuteblica na tomada de decisatildeo em questotildees de poliacutetica e de gestatildeo cientiacutefico-tecnoloacutegica e

bull No plano educativo tanto o ensino meacutedio quanto o ensino superior contribuindo com uma nova e mais ampla percepccedilatildeo da Ciecircncia e da Tecnologia com o propoacutesito de for-mar um cidadatildeo alfabetizado cientiacutefica e tecnologicamente

Para Firme e Amaral (2011 p 384)

Na perspectiva CTS para o Ensino de Ciecircncias eacute reconhecida a necessaacuteria articulaccedilatildeo dos conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos com o contexto social tendo como objetivo pre-parar cidadatildeos capacitados para julgar e avaliar as possibilidades limitaccedilotildees e implicaccedilotildees do desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico

Para Mackenzie (2008) ldquociecircncia tecnologia e sociedade (CTS) eacute um nome geneacuterico para uma co-leccedilatildeo de estudos das ciecircncias sociais e humanas que examinam os contextos e conteuacutedos da ciecircncia e da tecnologiardquo (p 163) realccedilando que por conta dessa diversidade no desenvolvimento de seu trabalho natildeo cabe dizer que eacute utilizado o enfoque CTS mas sim um enfoque CTS dai nossa proposta de grafar enfoques CTS ou abordagens CTS no plural

A funccedilatildeo de alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica como propoacutesito da educaccedilatildeo CTS estaacute muita clara para diversos autores Para Miembiela (2001) citando vaacuterios autores o propoacutesito da educaccedilatildeo CTS apesar de haver muito debate e pouco consenso

eacute promover a alfabetizaccedilatildeo em ciecircncia e tecnologia de maneira que se capacite os cidadatildeos para participarem no processo democraacutetico de tomada de decisatildeo e se promova a accedilatildeo ci-dadatilde encaminhada a resoluccedilatildeo de problemas relacionadas com a ciecircncia e a tecnologia em nossa sociedade (p 91)

A mesma ideia eacute defendida por Waks (1990 p 43) quando escreve que

o propoacutesito da educaccedilatildeo CTS eacute promover a alfabetizaccedilatildeo em ciecircncia e tecnologia de ma-neira que se capacite os cidadatildeos para participar da tomada de decisatildeo e se promova a accedilatildeo cidadatilde encaminhada a resoluccedilatildeo de problemas relacionados com a ciecircncia e a tecnologia na sociedade industrial

Fourez (1997) ao relacionar Alfabetizaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica (ACT) com CTS faz interessante distinccedilatildeo entre ambos Escreve que

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CTS COMO CAMPO DE ESTUDO EM CONSTRUCcedilAtildeO21

Em certos meios se fala menos de ACT que de movimento ldquoCiecircncia Tecnologia e Socieda-derdquo (CTS) Agraves vezes a realidade designada eacute a mesma mas a escolha das palavras aporta diferenccedilas CTS traz agrave consciecircncia um problema que natildeo era considerado como tal haacute meio seacuteculo os viacutenculos entre os polos em que se apoia Enquanto que falar de uma ACT (como da promoccedilatildeo de uma cultura cientiacutefica e tecnoloacutegica) natildeo questiona o lugar das ciecircncias e das tecnologias na sociedade o movimento CTS o faz pelo menos implicitamente (p 18) (grifos nossos)

Bazzo Lisingen e Pereira (2003 p 125) escreveram

Os estudos CTS definem hoje um campo de trabalho recente e heterogecircneo ainda que bem consolidado de caraacuteter criacutetico a respeito da tradicional imagem essencialista da ciecircncia e da tecnologia e de caraacuteter interdisciplinar por convergirem nele disciplinas como a filosofia e a histoacuteria da ciecircncia e da tecnologia a sociologia do conhecimento cientiacutefico a teoria da educaccedilatildeo e a economia da mudanccedila teacutecnica Os estudos CTS buscam compreender a di-mensatildeo social da ciecircncia e da tecnologia tanto desde o ponto de vista dos seus antecedentes sociais como de suas consequecircncias sociais e ambientais ou seja tanto no que diz respeito aos fatores de natureza social poliacutetica ou econocircmica que modulam a mudanccedila cientiacutefico-tecnoloacutegica como pelo que concerne agraves repercussotildees eacuteticas ambientais ou culturais dessa mudanccedilaO aspecto mais inovador deste novo enfoque se encontra na caracterizaccedilatildeo social dos fato-res responsaacuteveis pela mudanccedila cientiacutefica Propotildee-se em geral entender a ciecircncia-tecnologia natildeo como um processo ou atividade autocircnoma que segue uma loacutegica interna de desenvolvi-mento em seu funcionamento oacutetimo (resultante da aplicaccedilatildeo de um meacutetodo cognitivo e um coacutedigo de conduta) mas sim como um processo ou produto inerentemente social onde os elementos natildeo-epistecircmicos ou teacutecnicos (por exemplo valores morais convicccedilotildees religio-sas interesses profissionais pressotildees econocircmicas etc) desempenham um papel decisivo na gecircnese e na consolidaccedilatildeo das ideias cientiacuteficas e dos artefatos tecnoloacutegicos

Como os movimentos educacionais satildeo motivados por interesses de grupo por relaccedilotildees de poder dos mais diversos natildeo eacute surpresa que o chamado Movimento CTS (em suas mais diversas manifestaccedilotildees) sofra oscilaccedilotildees na sua aceitaccedilatildeo e produccedilatildeo nas aacutereas em que se manifesta como atividade de pes-quisa e ensino Santos (2011) chega a referir-se como movimento declinante Sustenta sua percepccedilatildeo a partir do fato de que as publicaccedilotildees com tiacutetulos CTS esta diminuindo nos uacuteltimos anos A nosso ver mesmo que o roacutetulo CTS esteja sendo menos aplicado aos produtos de ensino e pesquisa sua essecircncia eacute anterior ao acroacutestico CTS e posterior a ele CTS como movimento de construccedilatildeo social da Ciecircncia e da Tecnologia e como aacuterea de estudos sobre impactos da Ciecircncia e da Tecnologia na Socie-dade se manteacutem ativo e produtivo Outros slogans estatildeo ocupando os espaccedilos do ensino de ciecircncia e tecnologia como sempre ocorreu com os modismos que imperam temporariamente mas a ideia se manteacutem e deve tornar-se mais madura entre grupos que ndash passada a febre ndash percebem nas dinacircmicas internas da aacuterea CTS ferramentas de contribuiccedilatildeo para a formaccedilatildeo de cidadatildeos mais bem preparados para a participaccedilatildeo social Parece ficar claro que este natildeo eacute um campo de convergecircncia faacutecil ou simples Por isso certamente John Ziman (1980) ndash tido por alguns como o responsaacutevel pela criaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo da triacuteade CTS no meio educacional atraveacutes de seu trabalho Teaching and Learning about Science and Society ndash diz que CTS eacute um campo de estudos que responde por diversos outros nomes como por exemplo

Estudos Sociais da Ciecircncia Ciecircncia da Ciecircncia Ciecircncia e Sociedade Responsabilidade So-

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CTS COMO CAMPO DE ESTUDO EM CONSTRUCcedilAtildeO22

cial na Ciecircncia Teoria da Ciecircncia Estudos de Poliacuteticas de Ciecircncias Ciecircncia num Contexto Social Estudos Liberais em Ciecircncias Relaccedilotildees Sociais de Ciecircncia e Tecnologia HistoacuteriaFilosofiaSociologia da CiecircnciaTecnologiaConhecimento (p 01)

Para noacutes a visatildeo sobre CTS diverge de acordo com o objetivo ou local (origem) visto que a definiccedilatildeo e a trajetoacuteria histoacuterica que culmina numa definiccedilatildeo eacute resultado da formaccedilatildeo do autor ou da visatildeo do analista

Em siacutentese temos que as relaccedilotildees CTS buscam oferecer aos cidadatildeos ferramentas para melhor en-tenderem como os conhecimentos cientiacuteficos e os conhecimentos artefatos e sistemas tecnoloacutegicos impactam a sociedade de modo geral e os grupos sociais em especial No sentido inverso busca-se que os especialistas em Ciecircncia e em Tecnologia percebam que a interlocuccedilatildeo com os cidadatildeos eacute indispensaacutevel e necessaacuteria permitindo que se acolha maior participaccedilatildeo social nos processos de de-cisatildeo social envolvendo temas e aspectos que povoam o universo da Ciecircncia e da Tecnologia

Uma boa imagem das relaccedilotildees CTS

As relaccedilotildees entre a ciecircncia a tecnologia e a sociedade tecircm um caraacuteter muito mais com-plexo e dinacircmico () mais do que as ligaccedilotildees de uma corrente ou as linhas que satildeo tranccediladas dar forma a um tecido acabado e definitivo as relaccedilotildees entre a Ciecircncia Tecno-logia e a Sociedade podem ser vistas como um processo da construccedilatildeo e de reconstruccedilatildeo reciacuteproco e dinacircmico Talvez a imagem das redes de estrada dos veiacuteculos que viajam por elas e das pessoas que lhes conduzem ou que viajam neles seria uma metaacutefora mais adequada para compreender aquelas relaccedilotildees A extensa rede de estradas que tem e que se ramifica na superfiacutecie do territoacuterio vai tornando acessiacuteveis novos lugares de uma ma-neira similar agrave maneira em que o desenvolvimento dos diversos campos cientiacuteficos vai permitindo conhecer novos acircmbitos da realidade Mas apesar disso o proacuteprio desen-volvimento das redes de comunicaccedilatildeo vai dando forma ao territoacuterio em um processo construtivo natildeo muito distante do que caracteriza as relaccedilotildees entre os campos do con-hecimento e as realidades tratadas por eles De outra forma natildeo eacute possiacutevel compreender a construccedilatildeo das rotas no territoacuterio sem considerar o tipo de veiacuteculos que vai passar por eles Estes aleacutem dos artefatos tecnoloacutegicos satildeo uma boa metaacutefora da proacutepria tecnologia ao mostrar que suas relaccedilotildees com ciecircncia satildeo assim estreitas e interdependentes como aquelas dos carros com as estradas das estradas de ferro com as rotas e dos automoacuteveis com as estradas De fato a histoacuteria da Ciecircncia e da Tecnologia assim como das rotas do transporte e dos aparatos tecnoloacutegicos que por eles viajam eacute a historia das interaccedilotildees contiacutenuas e de transformaccedilotildees muacutetuas Mas o interesse principal dessa imagem estaacute no papel que atribui aos assuntos aos condutores e passageiros e agrave sociedade Nenhum sentido tenderia imaginar caminhotildees e veiacuteculos sem as pessoas que os utilizam As es-tradas e os automoacuteveis permitem que os povos sejam transportados e vivam em lugares diferentes mas tambeacutem eacute certo que satildeo as disposiccedilotildees das estradas e o uso dos automoacute-veis os que por sua vez vatildeo determinando os haacutebitos os territoacuterios e as cenas em que estaacute passando a vida humana

Martiacuten Gordillo Mariano y Osorio M Carlos Educar para participar en ciencia y tec-nologiacutea Un proyecto para la difusioacuten de la cultura cientiacutefica httpwwwrieoeiorgrie32a08pdf (Traduccedilatildeo livre)

Atividade Proposta para reflexatildeo

Recentemente o STF-Supremo Tribunal Federal organizou uma Audiecircncia Puacuteblica em torno do tema da Accedilatildeo Direta de Inconstitucionalidade da Lei de Biosseguranccedila Com essa accedilatildeo o STF buscou ouvir os diferentes setores da sociedade organizada sobre o tema Apoacutes isso encaminharaacute a decisatildeo sobre a possibilidade de utilizaccedilatildeo de ceacutelulas embrionaacuterias humanas em pesquisas cientiacuteficas Em entrevista a Revista VEJA (n 2059 de 07maio2008 p 11-15) o socioacutelogo Simon Schwartzman diz

ldquoEu nunca vi um estudo seacuterio e competente sobre transposiccedilatildeo do Rio Satildeo Franciscordquo

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CTS COMO CAMPO DE ESTUDO EM CONSTRUCcedilAtildeO23

1 Pesquise como o STF organizou a audiecircncia puacuteblica sobre ceacutelulas embrionaacuterias Identifique as instituiccedilotildees convidadas para o debate e suas posiccedilotildees Faccedila um esquema geral das posiccedilotildees clas-sificando-as como ldquocontrardquo ou ldquofavoraacutevelrdquo e o argumento utilizado

2 Proponha um esquema semelhante para o debate tecnocientiacutefico e social sobre o tema ldquoTrans-posiccedilatildeo do Rio Satildeo Franciscordquo Imagine que vocecirc seja chamado a organizar um grande debate e depois teraacute que decidir se a transposiccedilatildeo do Rio Satildeo Francisco deve ou natildeo ser efetivada

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SOBRE A CIEcircNCIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A CIEcircNCIA25

2 Sobre a Ciecircncia mas natildeo o que eacute a Ciecircncia

A frase de Eric Hobsbawm13 ndash considerado o maior historiador de nosso seacuteculo ndash expressa a dificul-dade de tratar este tema a Ciecircncia Ele aponta a importacircncia da Ciecircncia para o seacuteculo XX e para-doxalmente a dificuldade de se lidar com ela Estamos efetivamente envolvidos e impactado pelo resultado da Ciecircncia e nos sentimos desconfortaacuteveis com o desconhecimento sobre ela Formamos como cidadatildeos opiniotildees sobre a produccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica sobre os especialistas sobre os impactos e certamente sabemos muito pouco sobre este campo do conhecimento Este conhecimen-to aliaacutes jaacute eacute considerado fator estrateacutegico para o desenvolvimento dos paiacuteses

Aleacutem disso os impactos da ciecircncia e da tecnologia na sociedade deixam de ser pontuais para serem amplos e geneacutericos solicitando dos cidadatildeos uma nova maneira de lidar com esses conhecimentos Como afirma Casassus (2007)

Se antigamente a ciecircncia e a tecnologia eram importantes somente para as pessoas que diri-giam para as carreiras cientiacuteficas hoje isto mudou pois as tecnologias com base matemaacuteti-ca moldam nossa existecircncia (p 79)

Alguns problemas se apresentam na preparaccedilatildeo deste texto-debate a extensatildeo dos assuntos que compotildee o tema e a exiguidade de tempo e espaccedilo Isso nos obriga a fazer escolhas e traccedilar um camin-ho possiacutevel onde as discussotildees sobre Ciecircncia se tornam instrumentais para o melhor entendimento das relaccedilotildees CTS

Alan Chalmers (1993) em sua obra intitulada O que eacute ciecircncia afinal Busca analisar a evoluccedilatildeo da ideia recente sobre ciecircncia e meacutetodo cientiacutefico apresentando criacuteticas e argumentos importantes a fim de contrapor-se a ideia herdada de ciecircncia desde Karl Popper e Imre Lakatos Faz uma simples mas rica trajetoacuteria pedagoacutegica para ao final concluir sobre a dificuldade que eacute tratar desta pergunta ldquoO que eacute ciecircnciardquo Escreve ele ldquoPoder-se-ia dizer que o livro procede de acordo com um velho pro-veacuterbio lsquoNoacutes comeccedilamos confusos e terminamos confusos num niacutevel mais elevadorsquo rdquo (p 21)

13 Conheccedila mais em httpptwikipediaorgwikiEric_Hobsbawm

Nenhum periacuteodo da histoacuteria foi mais penetrado pelas ciecircncias naturais nem mais dependente delas do que o seacuteculo XX Contudo nenhum periacuteodo desde a retrataccedilatildeo de Galileu se sentiu menos agrave vontade com elas Este eacute o paradoxo que tem que enfrentar o historiador do seacuteculo

Eric Hobsbawmin A Era dos Extremos ndash O breve seacuteculo XX

A falta do interesse e mesmo a rejeiccedilatildeo para o estudo das ciecircncias associado agrave falha escolar de uma porcentagem elevada dos estudantes constituem um problema de especial gravidade tanto na regiatildeo ibero-americana como nos paiacuteses desenvolvidos Um problema que merece uma atenccedilatildeo prioritaacuteria porque como foram indicadas na Conferecircncia Mundial sobre a Ciecircncia para o Seacuteculo XXI organizada pela UNESCO e pelo Conselho Internacional para a Ciecircncia ldquopara que um paiacutes esteja em condiccedilotildees de atender as necessidades fundamentais de sua populaccedilatildeo o ensino das ciecircncias e da tecnologia eacute um imperativo estrateacutegicordquo

Declaraccedilatildeo de Budapeste 1999

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SOBRE A CIEcircNCIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A CIEcircNCIA26

Leoacuten Oliveacute (2000) em sua obra intitulada El bien el mal y la razoacuten inicia seus trabalhos com a mes-ma questatildeo que enfrentamos agora O que eacute ciecircncia O autor busca responder agrave provocaccedilatildeo de duas maneiras a primeira seria responder por meio das ideias fundamentais e meacutetodos proacuteprios da ciecircn-cia Parafraseando Courant e Robbins ndash que enfrentaram o mesmo problema quando buscavam res-ponder o que eacute a matemaacutetica ndash lembra da expressatildeo usada por eles ldquoTanto para entendidos como para profanos natildeo eacute a filosofia e sim unicamente a experiecircncia ativa em matemaacutetica a que pode res-ponder a pergunta que eacute a matemaacuteticardquo Complementa Oliveacute ldquoNisso se equivocam redondamenterdquo (p 25) Logo sobre a matemaacutetica e a ciecircncia haacute algo mais a dizer que seus meacutetodos e ideias

A segunda maneira de responder agrave provocaccedilatildeo ainda segundo Oliveacute (2000) eacute considerar que a pro-vocaccedilatildeo natildeo eacute uma pergunta cientiacutefica Isto eacute a resposta deve basear-se em algo mais do que meacuteto-dos ideias e descriccedilotildees tidas como exatas Defende que para responder agrave questatildeo cientistas e natildeo-cientistas devem refletir sobre o que fazem os cientistas sobre como o fazem sobre os resultados que obtecircm e como eacute a que estaacute condicionado todo esse sistema Conclui escrevendo ldquoDado que se trata de uma pergunta sobre a ciecircncia ndash de uma pergunta metacientiacutefica ndash natildeo se requer fazer o mesmo que se faz na ciecircncia para respondecirc-lardquo (p 26)

Para a anaacutelise desta pergunta metacientiacutefica e seus problemas Oliveacute (2000) diz que haacute trecircs disci-plinas que podem dar conta da reflexatildeo a histoacuteria da ciecircncia a sociologia da ciecircncia e a filosofia da ciecircncia Parece que fica claro que a tarefa de responde a provocaccedilatildeo natildeo eacute simples nem trivial

Para noacutes parece haver uma relaccedilatildeo direta entre o que sabemos sobre ciecircncia [e tecnologia] e o que en-sinamos e como ensinamos ciecircncia [e tecnologia] Some-se a isso a visatildeo ampliada que poderemos ter com as contribuiccedilotildees advindas das disciplinas histoacuteria sociologia e filosofia da ciecircncia [e tecnologia]

Assim como Chalmers (1993) Oliveacute (2000) e muito outros natildeo temos a pretensatildeo de responder agrave pergunta considerando os argumentos dos autores e tambeacutem porque este natildeo eacute nosso objetivo neste trabalho Buscaremos uma trajetoacuteria instrumental e intencional do(s) conceito(s) de ciecircncia visto que queremos refletir sobre o conceito herdado de ciecircncia a participaccedilatildeo de fatores sociais e indivi-dual na produccedilatildeo da ciecircncia e da tecnologia e a relaccedilatildeo destas com a sociedade espelhada na imagem puacuteblica da ciecircncia e da tecnologia

Vamos pois em nosso trajeto provocativo (1) descrever as diferentes visotildees sobre ciecircncia e as con-tribuiccedilotildees da sociologia da ciecircncia e da tecnologia (2) apresentar os resultados de pesquisas de opi-niatildeo sobre Ciecircncia e Tecnologia a fim de identificarmos pontos fortes e paradoxos na opiniatildeo dos cidadatildeos Depois vamos (3) estudar as visotildees distorcidas de Ciecircncia que alimentam as concepccedilotildees dos cidadatildeos para ao final (4) apresentarmos algumas especificidades que devem ser consideradas no esforccedilo de entender o que seja Ciecircncia nas suas mais diversas concepccedilotildees

Deixamos claro desde jaacute que natildeo haacute nenhuma pretensatildeo de obter um conceito de ciecircncia tarefa a que se dedicam faz tempo os epistemoacutelogos da ciecircncia A proposta aqui eacute levantar reflexotildees e apre-sentar visotildees pouco comuns nas discussotildees sobre Educaccedilatildeo em Ciecircncias e CTS que satildeo forte e infe-lizmente pautados na tradiccedilatildeo que precisa ser superada Por tal buscaremos apresentar pesquisas sobre como a populaccedilatildeo em geral vecirc a Ciecircncia e a Tecnologia e as reflexotildees sobre o que natildeo se deseja na aprendizagem de Ciecircncia e Tecnologia Daremos espaccedilo para transcriccedilotildees avantajadas dos textos escolhidos para exemplificar a ideia que necessitamos para seguir a diante na discussatildeo CTS

Sobre o escopo e intencionalidade deste capiacutetulo eacute importante antecipar que ao apresentar a evo-

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SOBRE A CIEcircNCIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A CIEcircNCIA27

luccedilatildeo da Sociologia da Ciecircncia Oliver Martin (2003) ndash como poderiacuteamos lanccedilar de matildeo de Berger e Luckmann 2014 Vega Encabo (2012) Bennagravessar et al (2011) Chikara Sasaki (2010) Pierre Bourdieu (2003 2008) Shinn e Ragouet (2008) Jesuacutes Valero (2004) Stephen Cutcliffe (2003) dentre outros ndash elenca as ideias norteadoras dos pensadores em Sociologia iniciando com Auguste Comte (1789-1857) Karl Marx (1818-1883) Levy-Bruhl (1857-1939) Eacutemile Durkheim (1858-1917) para apoacutes isso iniciar o periacuteodo que chamou de Sociologia do Conhecimento Cientiacutefico Chama atenccedilatildeo para o fato que nenhum dos autores claacutessicos apesar de citarem o conhecimento cientiacutefico ldquoo converteu em objeto central de seus propoacutesitosrdquo (p 18) e apresenta trecircs autores que em sua visatildeo abordaram preci-samente o conhecimento cientiacutefico como objeto de estudo Max Scheller (1874-1928) Karl Mannhein (1893-1947) e Pitirim Sorokin (1889-1968)

Dando continuidade a sua narrativa Martin (2003) escreve que

Em nenhum momento os autores claacutessicos que temos revisado atribuem a sociologia a ca-pacidade de explicar a origem da validez das teorias cientiacuteficas Em geral propotildeem uma classificaccedilatildeo das formas de conhecimento e distinguem o conhecimento cientiacutefico de outras formas de conhecimento natildeo pretendem definir sociologicamente as fronteiras que sepa-ram essas diferentes formas Para eles a definiccedilatildeo de ciecircncia natildeo surge da sociologia e sim com maior seguranccedila da epistemologia Todos admitem que o desenvolvimento da ciecircncia respeita uma loacutegica essencialmente racional que os conhecimentos cientiacuteficos evoluem de modo endoacutegeno e que a validez de uma teoria eacute independente de sua origem social (p 23)

O autor deixa claro que as discussotildees sobre verdadeiro e falso objetivo e subjetivo ciecircncia e natildeo-ciecircncia e tudo mais que trate de um relativismo em ciecircncia natildeo possui espaccedilo nem apoio ateacute entatildeo

Essa visatildeo ingecircnua seraacute ampliada e enriquecida quando nas deacutecadas de 1920 e 1930 a ciecircncia co-meccedilou a ser encarada de forma diferente especialmente no processo diferenciado de elaboraccedilatildeo e de construccedilatildeo bem como o sistema de difusatildeo do conhecimento cientiacutefico e de como os cientistas se organizavam Esta nova fase eacute personalizada e demarcada ainda segundo Martin (2003) tendo como siacutembolo Robert Merton que inaugura uma corrente chamada por Shinn e Ragouet (2008) de diferenciacionistas

A nosso ver a primeira ideia que derivaraacute no Campo CTS pode ter origem nas reflexotildees mertonia-nas nas deacutecadas de 1940-50 quando deixa claro que a ciecircncia natildeo eacute natural ndash o que indica que eacute de produccedilatildeo social ndash e que estrutura a sociologia normativa dando mostra que eacute necessaacuterio o estabele-cimento de regras externas a fim de regrar interesses e crenccedilas na produccedilatildeo cientiacutefica

No mesmo periacuteodo John D Bernal (1937) publica na Inglaterra A Funccedilatildeo Social da Ciecircncia trazen-do para a arena das ideias as questotildees que hoje satildeo proacuteprias da Construccedilatildeo Social da Ciecircncia (e da Tecnologia)

Merton e Bernal podem ser resgatados como possiacuteveis precursores dos estudos atuais do Campo CTS

Esta nova fase recebe as contribuiccedilotildees de Thomas Kuhn (1922-1996) cujas ideias servem como ponto de partida para reflexotildees e surgimento de abordagens importantes para esta nova etapa da sociologia da ciecircncia Dentre as manifestaccedilotildees inovadoras desta fase podemos enumerar

1 O grupo de estudos franco-britacircnico (PAREX Paris e Sussex) fundado em 1971 e que pas-

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SOBRE A CIEcircNCIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A CIEcircNCIA28

sou a se chamar em 1981 European Association for the Study of Science and Technology2 O chamado Programa Forte em Sociologia do Conhecimento Cientiacutefico criado e manti-

do por socioacutelogos da Universidade de Edimburgo e3 O chamado Programa Empiacuterico do Relativismo criado e mantido por especialistas da

Universidade de Bath na Inglaterra

Estes programas de estudos sociais da ciecircncia trouxeram agrave tona questotildees que demonstram que o conhecimento cientiacutefico eacute socialmente construiacutedo que a comunidade cientiacutefica trabalha a partir de crenccedilas e interesses que os cientistas e grupos possuem valores preacutevios que em alguma medida interferem nas decisotildees que tomam

Mais recentemente identifica-se o movimento de analogamente agrave sociologia da ciecircncia aplicar a mesma loacutegica a aacuterea de tecnologia fundando a chamada sociologia da tecnologia que se apropria tambeacutem de saberes oriundos da filosofia da tecnologia Sasaki (2010) informa que o ldquoprincipal pro-motor do construtivismo social da tecnologia na atualidade eacute o historiador da tecnologia Wiebe E Bi-jker como ele proacuteprio reconhece o construtivismo social da tecnologia eacute a ampliaccedilatildeo metodoloacutegica do lsquoStrong Programrsquo de Bloorrdquo (p 121) Bourdieu (2008) em sua obra Para uma Sociologia da Ciecircncia tambeacutem identifica esta evoluccedilatildeo e estes mesmos autores como marcos importantes da aacuterea

No Brasil os estudos de Natureza da Ciecircncia e da Tecnologia ndash NdCeT satildeo fortemente difundidos na grande aacuterea da EducaccedilatildeoEnsino em Ciecircncia e Tecnologia podendo ser percebida em duas gran-des subaacutereas com histoacuterico e produccedilatildeo bem distintas A primeira mais disseminada consolidada e produtiva eacute a que se pode chamar de Histoacuteria e Filosofia da Ciecircncia (e menos em Tecnologia) aten-dendo ao que aponta Martin na sua narrativa histoacuterica quando diz que a produccedilatildeo cientifica estava entregue desde antes aos epistemoacutelogos E a segunda a proacutepria Aacuterea CTS

Natildeo temos pois a pretensatildeo de tratar do conceito de ciecircncia como fazem ndash e muito bem ndash os epis-temoacutelogos Muito menos trazer para este espaccedilo as questotildees e reflexotildees daquele grupo Aqui vamos descontruir a ideia de Ciecircncia herdada neutra positiva individual e fechada nos laboratoacuterios

Podemos a tiacutetulo de ilustraccedilatildeo das questotildees em torno da Ciecircncia e dos embates calorosos socorrer-nos por exemplo de Steve Woolgar (1991) de Pierre Bourdieu (2003 dentre outros) ou Boaventura de Sousa Santos (2003 dentre outros) Optamos por Boaventura de Sousa Santos (2003) por sua proximidade com o universo ibero-americano e escolhemos sua obra Conhecimento Prudente para uma vida decente Um discurso sobre as ciecircncias revisitado14 quando descreve sucintamente um dos muitos aspectos que podem exemplificar a complexidade do tema que eacute a chamada ldquoguerras da ciecircn-ciardquo que ldquofoi acima de tudo um debate entre cientistas em geral e cientistas cujo objeto de investi-gaccedilatildeo eacute a proacutepria ciecircncia enquanto fenocircmeno socialrdquo (2003 p 17)

Este confronto de ideias e posiccedilotildees inclusive de visatildeo pessoal teve momentos mais agudos como por exemplo as publicaccedilotildees de Lewis Wolpert (1992) e de Gross e Levitt (1994)

Sempre pela descriccedilatildeo de Boaventura de Sousa Santos (2003) ndash reiterando nossa intencionalidade e escolha assumida de posiccedilatildeo e de narrativa ndash Lewis Wolpert (1992) escreve The Unnatural Nature of Science tendo como alvo os autores do Programa Forte da Sociologia do Conhecimento e do Progra-

14 Esta obra eacute uma reflexatildeo coletiva sobre outra obra claacutessica de Boaventura de Souza Santos Um discurso sobre as ciecircncias de 1987

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SOBRE A CIEcircNCIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A CIEcircNCIA29

ma Empirico do Relativismo

Gross e Levitt (1994) publicam o Higher Supertition que seria ldquoinspiraccedilatildeo para muitos violentos ata-ques que vieram a seguirrdquo (2003 p 18) contra os estudos culturais os estudos feministas os estudos sobre raccedila e etnia e as ldquoanticiecircnciardquo (astrologia terapias alternativas etc)

Boaventura de Sousa Santos (2003) lembra ainda em sua descriccedilatildeo da ldquoguerras da ciecircnciardquo do caso Sokal considerado um dos mais agudos episoacutedios deste conjunto de eventos Em 1996 a revista So-cial Text publicou um nuacutemero sobre o tema Science Wars15 Neste nuacutemero o fiacutesico Alan Sokal (1996) apresentou um artigo ldquoTransgressing the boundaries towards a transformative hermeneutics of quantum gravityrdquo Nele Sokal apresentou uma ldquoreinterpretaccedilatildeo poacutes-moderna do domiacutenio dos estu-dos sobre a gravidade quacircntica [sendo que] o texto apoiava-se num extenso rol de autores invariavel-mente associados agraves correntes rotuladas de lsquoanticiecircnciarsquordquo (2003 p 19) com o intuito de demonstrar que o embuste produzido por ele poderia ser publicado se contivesse sinais externos que o caracteri-zasse como aceitaacutevel pela corrente que ele desejava criticar (poacutes-modernistas)

A polecircmica continuaria mais tarde com a publicaccedilatildeo Impostures Intellectualles (Sokal e Bricmont 1997) que tinha como alvo os intelectuais franceses poacutes-modernos como por exemplo Lacan La-tour Deleuze dentre outros A resposta a este texto veio a puacuteblico por meio da obra Impostures Scientifiques de Jurdant (1998)

Para concluir a narrativa sinteacutetica deste conjunto de episoacutedios que busca representar a dificuldade de tratar o tema ciecircncia e aqueles a que produzem daremos a palavra a Boaventura de Sousa Santos (2003)

Naturalmente que os grandes debates epistemoloacutegicos permanecem mas parecm ter deixa-do de ser campos de batalha para se acolherem no acircmbito e no estilo de discussotildees acadecircmi-cas sem duacutevida intensas mas paciacuteficas e com repeito muacutetuo pelas diferenccedilas (p 22)O decorrer da ldquoguerrardquo tornou ainda mais claro que as diferenccedilas epistemoloacutegicas natildeo co-rriam apenas entre cientistas naturais e cientistas sociais mas tambeacutem entre cientistas naturais e entre cientistas sociais e que tais diferenccedilas se articulavam de modo complexo com as diferenccedilas culturais e poliacuteticas com diferentes concepccedilotildees sobre a relaccedilatildeo entre conhecimento cientiacutefico e outras formas de conhecimento Em suma tornaram-se mais cla-ras as divergecircncias e as suas causas e se natildeo aumentou a toleracircncia aumentou pelo menos o conhecimento da diversidade de perspectivas (p 23) Grifos nossos

Posto o nosso entendimento sobre a Ciecircncia e a maneira como trabalham os cientistas vamso am-pliar o escopo de nossos estudos buscando conhecer como a populaccedilatildeo em geral percebe a Ciecircncia

21 As pesquisas sobre Percepccedilatildeo Puacuteblicas da Ciecircncia e da Tecnologia

Vogt e Polino (2003) apresentam os resultados de pesquisa sobre a percepccedilatildeo puacuteblica da Ciecircncia realizada em 2002 (na Argentina) e em 2003 (no Brasil Uruguai e Espanha) sob os auspiacutecios da Or-ganizaccedilatildeo dos Estados Ibero-Americanos (OEI 2003) e a Rede Ibero-Americana de Indicadores de Ciecircncia e Tecnologia (RICYTCYTED) que deram iniacutecio ao Pronotjeto Ibero-Americano de Indicado-res de Percepccedilatildeo Puacuteblica Cultura Cientiacutefica e Participaccedilatildeo dos Cidadatildeos a fim de contribuir para o desenvolvimento conceitual da mateacuteria

15 Santos (2003) chama atenccedilatildeo para o fato de que ldquouma versatildeo ampliada do nuacutemero temaacutetico se Social Text viria a ser publicada no mesmo ano sem o texto de Sokal e com a adiccedilatildeo de textos natildeo incluiacutedos na publicaccedilatildeo original (Ross 1996) Este volume seria uma das respostas mais importantes aos atoaques dos ldquoguerreiros da ciecircnciardquo (p 19 nota de rodapeacute)

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A pesquisa assume que

um dos desafios da atualidade para a compreensatildeo da dinacircmica de interaccedilotildees entre ciecircncia tecnologia e sociedade eacute o desenvolvimento de uma geraccedilatildeo de indicadores que permitam avaliar a evoluccedilatildeo de trecircs dimensotildees de anaacutelise relevantes a percepccedilatildeo puacuteblica a cultura cientiacutefica e a participaccedilatildeo dos cidadatildeos

A pesquisa eacute resumida pelos autores da seguinte forma (Vogt e Polino 2003 p19-27)

1 Imaginaacuterio social sobre ciecircncia e tecnologia

Representaccedilatildeo social da ciecircncia A imagem que prevalece na pesquisa apresenta ldquoa ciecircncia como epopeacuteia de grandes descobertas (353 em meacutedia) a ciecircncia como condiccedilatildeo de rsquoavanccedilo tecnoloacutegicorsquo (464 em meacutedia) e por uacuteltimo a ciecircncia como fonte de benefiacutecios para a vida do ser humano (454 em meacutedia) rdquo Apesar de ser bastante comum na miacutedia por exemplo imagens que apresentam uma valoraccedilatildeo negativa (perigo de descontrole concentraccedilatildeo de poder ou ideacuteias que poucos enten-dem) estatildeo em posiccedilatildeo secundaacuteria

Utilidade da ciecircncia Os entrevistados dos quatro paiacuteses (72 em meacutedia) consideram que o desen-volvimento da ciecircncia e da tecnologia eacute o principal motivo da melhoria da qualidade de vida da so-ciedade Interessante comparar esta resposta com o fato de que os respondentes natildeo esperam que a Ciecircncia e a tecnologia sejam capazes de solucionar todos os problemas (859 em meacutedia)

A imagem da ciecircncia como conhecimento legiacutetimo Os resultados indicam que a ldquosociedade moderna enfatiza a racionalidade cientiacutefica e deposita sua confianccedila na verdade da ciecircncia em detrimento da feacute religiosardquo As respostas brasileiras sobre legitimidade da ciecircncia alcanccedilam 704 enquanto a dis-cordacircncia estaacute em 272 Nos demais paiacuteses as respostas satildeo equilibradas

A ciecircncia na vida cotidiana Para a afirmaccedilatildeo de que o mundo da ciecircncia natildeo pode ser compreen-dido pelas pessoas comuns encontra-se equiliacutebrio entre a concordacircncia e a discordacircncia Quando satildeo analisados os resultados globais a discordacircncia sobe para 534 e a concordacircncia alcanccedila 457 em meacutedia A maioria dos entrevistados nos quatro paiacuteses (aproximadamente 60) ldquoconsidera que ela opera como fator de racionalidade da cultura humana uma vez que se se descuidasse da ciecircncia lsquonossa sociedade seria cada vez mais irracionalrsquordquo

A ciecircncia e a tecnologia como fontes de risco 743 em meacutedia dos entrevistados considera que os benefiacutecios da ciecircncia e da tecnologia satildeo maiores que os efeitos negativos mas diante da afirmaccedilatildeo de que o desenvolvimento da ciecircncia traz problemas para a humanidade encontramos diferentes posiccedilotildees nos quatro paiacuteses participantes

bull Na Argentina as respostas estatildeo muito equilibradas embora como no Brasil sobressaia a discordacircncia (pouco mais de 50 em meacutedia)

bull Na Espanha e no Uruguai as respostas se inclinam para a concordacircncia (57 em meacutedia) Nesse sentido apesar da tendecircncia geral da imagem favoraacutevel da ciecircncia a percepccedilatildeo eacute de que ela natildeo estaacute livre de ter consequumlecircncias negativas

Entre os principais problemas mencionam-se os perigos de aplicar alguns conhecimentos e a uti-lizaccedilatildeo do conhecimento para a guerrardquo

A imagem dos cientistas e da atividade cientiacutefico-tecnoloacutegica Nos quatro paiacuteses a vocaccedilatildeo para o conhecimento aparece como o eacute o principal motivo que leva os cientistas a desenvolver seu trabalho

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cotidiano considerando-se tambeacutem a busca para soluccedilatildeo de problemas da populaccedilatildeo A imagem de ciecircncia tradicional eacute fortalecida quando se percebe que ldquoconquistar poder ou um precircmio importanterdquo encontram posiccedilatildeo secundaacuteria Chama a atenccedilatildeo o fato de que as habilidades que caracterizam os cientistas natildeo satildeo suficientes para convencer os entrevistados sobre a capacidade de tomada de de-cisotildees poliacuteticas pelos cientista 516 em meacutedia dos entrevistados nos quatro paiacuteses natildeo concorda que os cientistas satildeo os que melhor sabem o que conveacutem investigar para o desenvolvimento do paiacutes bem como 577 em meacutedia concorda que o governo natildeo deve intervir no trabalho dos cientistas ainda que seja o proacuteprio governo quem os pague

Percepccedilatildeo da ciecircncia e tecnologia local Nos quatro paiacuteses predomina uma imagem do desenvol-vimento cientiacutefico-tecnoloacutegico local segundo a qual existe um pouco de ciecircncia e tecnologia em algumas aacutereas (temaacuteticas)

bull Na Argentina no Brasil e na Espanha as respostas oscilam entre 55 e 64 de adesotildees bull No Uruguai as respostas satildeo mais numerosas chegando a 80

No que se refere ao financiamento pelo Estado da Ciecircncia e Tecnologia parece haver uma ideia de que este financiamento eacute insuficiente

bull Na Argentina Espanha e Uruguai a adesatildeo chega a 87 das respostas Apesar disso o Brasil apresenta novamente um comportamento diferenciado pois uma porcentagem nitidamente superior (278) agrave dos demais paiacuteses opina que o Estado financia a pesqui-sa nesse paiacutes de maneira razoavelmente suficiente

bull Do mesmo modo 82 dos entrevistados na Argentina 623 no Brasil e 789 na Es-panha indicam que o pouco apoio estatal eacute o principal fator que limita o desenvolvi-mento da ciecircncia e tecnologia descartando a responsabilidade de outros setores

bull Por outro lado no Uruguai (66) Argentina (594) e em menor escala Espanha (432) os entrevistados opinam que os conhecimenos gerados em seus paiacuteses tecircm utilidade mas natildeo se difundem

2 Processos de comunicaccedilatildeo social da ciecircncia

Informaccedilatildeo cientiacutefica incorporada Na Argentina (80) Brasil (71 ) e Espanha (67) os entrevis-tados se consideram pouco informados no que se refere agrave ciecircncia e tecnologia

Consumo de informaccedilatildeo cientiacutefica O consumo de informaccedilatildeo cientiacutefica em jornais (534) e tele-visatildeo (64) eacute majoritariamente ocasional na Argentina No Brasil as caracteriacutesticas de consumo satildeo semelhantes Tambeacutem na Espanha o comportamento eacute parecido no que se refere a jornais - 58 do consumo eacute ocasional- embora se acentue uma tendecircncia de escasso consumo de conteuacutedo cientiacutefico televisivo (81 ) Diferentemente da Argentina Brasil e Espanha os dados do Uruguai apresentam um perfil mais equilibrado nas mesmas categorias Quanto agraves revistas de divulgaccedilatildeo cientiacutefica em todos os paiacuteses o consumo tem caracteriacutesticas fundamentalmente esporaacutedicas

Valoraccedilotildees a respeito de cientistas e jornalistas Nos quatro paiacuteses se tende a considerar que soacute em algumas ocasiotildees a comunicaccedilatildeo dos cientistas com a sociedade eacute de difiacutecil compreensatildeo Os en-trevistados pressupotildeem com isso que a eventual incapacidade de comunicaccedilatildeo dos cientistas natildeo eacute uma condiccedilatildeo estrutural de suas competecircncias profissionais mas fundamentalmente depende de outros fatores

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3 Participaccedilatildeo dos cidadatildeos em questotildees de ciecircncia e tecnologia

Nos quatro paiacuteses participantes 945 em meacutedia acredita ser importante participar em questotildees de ciecircncia e tecnologia mas ao mesmo tempo somente 73 em meacutedia informaram jaacute ter tido expe-riecircncias concretas de participaccedilatildeo

Assim observa-se que no caso da Espanha apesar de seu caraacuteter minoritaacuterio o niacutevel de participaccedilatildeo efetiva eacute praticamente o dobro daquele dos outros paiacuteses Aleacutem disso observa-se que para a ampla maioria dos entrevistados dos quatro paiacuteses o cuidado com a vida e a sauacutede constitui o principal motivo que justifica a utilidade da participaccedilatildeo Outras opccedilotildees como controlar o funcionamento das empresas ou controlar a atividade dos cientistas recebem adesotildees que natildeo superam os 25 em nenhum dos casos Do mesmo modo um dos principais obstaacuteculos que a maioria nos quatro paiacuteses coincide em assinalar - sempre com uma frequecircncia superior aos 50 - eacute que as pessoas natildeo tecircm conhecimentos suficientes para exercer tal praacutetica No caso do Brasil Espanha e Uruguai esse motivo eacute o principal entre os as-sinalados Diverso eacute o caso da Argentina onde ocupa o segundo lugar prece-dido pela categoria as pessoas tecircm problemas mais importantes pelos quais reclamar e participar Entretanto essa escolha prioritaacuteria na Argentina e no Uruguai ndash onde deteacutem a segunda colocaccedilatildeo ndash ocupa o uacuteltimo lugar no Brasil e na Espanha

Na mesma linha de accedilatildeo foi realizada uma pesquisa nacional promovida pelo Ministeacuterio da Ciecircncia e Tecnologia com a parceria da Academia Brasileira de Ciecircncias coordenada pelo DEP-DISECISMCT e pelo Museu da VidaCOCFIOCRUZ com colaboraccedilatildeo do LABJORUNICAMP e da FAPESP intitulada ldquoPercepccedilatildeo Puacuteblica da Ciecircnciardquo16 e tambeacutem a versatildeo da pesquisa realizada em 201517

A pesquisa quantitativa tinha como objetivo o levantamento do interesse grau de informaccedilatildeo atitu-des visotildees e conhecimento que os brasileiros tecircm da Ciecircncia O puacuteblico alvo era a populaccedilatildeo brasilei-ra adulta constituiacuteda de homens e de mulheres com idade igual ou superior a 16 anos Foi realizado por meio de entrevistas domiciliares e pessoais com questionaacuterio estruturado realizadas entre no-vembro e dezembro de 2006 A amostra representativa de 16 estados foi de 2004 (duas mil e quatro) entrevistas18

A anaacutelise mesmo que raacutepida permite extrair alguns pontos interessantes e deixa claro um grande interesse da populaccedilatildeo por temas como Medicina e Sauacutede Meio Ambiente e Ciecircncia e Tecnologia Deixa patente tambeacutem que os jovens e adultos possuem uma percepccedilatildeo proacutepria de ciecircncia que deve ser considerada no processo de ensino-aprendizagem o que na maioria das vezes natildeo eacute sequer con-siderado pelos docentes das disciplinas cientiacuteficas

Por fim podemos elencar uma seacuterie de crenccedilas em torno da ciecircncia e do conhecimento cientiacutefico que o Campo CTS procura desconsturir e reconceitualizar conforme Ziman (1980)

bull Cientificismo crenccedila antiga originaacuteria do nascimento da ciecircncia moderna e de pen-samentos filosoacuteficos e poliacuteticos europeus baseia-se na ideia de que qualquer atividade

16 Ministeacuterio da Ciecircncia e Tecnologia Percepccedilatildeo Puacuteblica da Ciecircncia e Tecnologia Departamento de Popularizaccedilatildeo e Difusatildeo da CampT Secretaria de Ciecircncia e Tecnologia para Inclusatildeo Social Ministeacuterio da Ciecircncia e Tecnologia wwwmctgovbrindexphpcontentview50875html obtido em 07092007 cujo resumo pode ser encontrado em httpwwwmctgovbrupd_blob001313511pdf 17 Ministeacuterio da Ciecircncia Tecnologia e Inovaccedilatildeo httppercepcaocticgeeorgbr ou httpwwwmctigovbrnoticia-asset_pu-blisherepbV0pr6eIS0contentmcti-lanca-estudo-sobre-a-percepcao-publica-da-c-tjsessionid=E908832B10803193C5020620B6E628E7 obtidos em 1210201518 Intervalo de confianccedila de 95 tem uma margem de erro maacutexima de 22 pontos percentuais para mais ou para menos

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cientiacutefica eacute valiosa sem realizar anaacutelises profundas sobre a mesma e sobre suas conse-quecircncias

bull Anti-cientificismo ideia que surge como oposiccedilatildeo ao cientificismo julgando como ne-gativas as atividades cientiacuteficas como causadoras de todos os males sociais

bull Meacutetodo Cientiacutefico suposiccedilatildeo de que o meacutetodo cientiacutefico valida todo conhecimento cientiacutefico produzido fazendo com que haja pouca discussatildeo em sala de aula sobre a natureza da metodologia cientiacutefica sobre seus limites e aplicaccedilotildees

bull Positivismo mito atrelado ao cientificismo no qual a ciecircncia eacute vista como uacutenica forma de obter a verdade podendo em seu extremo negar qualquer outra fonte de conheci-mento que natildeo cientiacutefico

bull ldquoCiecircncia purardquo crenccedila baseada na ideia de que os cientistas devem alcanccedilar a ciecircncia pura atraveacutes da busca desinteressada pela verdade sendo financiados pela sociedade a qual iraacute receber em troca os benefiacutecios que advirem da procura da verdade

bull Otimismo tecnoloacutegico a crenccedila de que qualquer coisa que seja tecnicamente possiacutevel seraacute um dia desenvolvida

bull Visatildeo instrumental da ciecircncia a ideia de que basta realizar pesquisas o suficiente sobre determinado tema para que qualquer objetivo seja atingido

bull Tecnocracia baseia-se no mito de que apenas cientistas ou especialistas podem dar conselhos confiaacuteveis sobre quaisquer assuntos

bull Religiosidade cientiacutefica a feacute que se deposita no valor da ciecircncia passa a ser projetada para os seus praticantes cientistas e especialistas Estes devem pertencer a uma classe de indiviacuteduos com virtudes condizentes com a dita atitude cientiacutefica

bull Neutralidade moral da ciecircncia a crenccedila de que a ciecircncia eacute boa por natureza e que por isso na busca pela verdade natildeo existiria a necessidade de se questionar se as accedilotildees fei-tas seriam eacuteticas e humanas

Atividade Proposta para reflexatildeo

1 Visite a paacutegina e estude a pesquisa realizada pelo MCT httpwwwmctgovbrupd_blob001313511pdf

2 Compare os resultados obtidos com a pesquisa de Vogt e Polino Responda a O cidadatildeo considera a Ciecircncia importante para sua vida e para a sociedade b Compare sua resposta com o que o cidadatildeo diz que conhece sobre Ciecircncia e Tec-nologia

22 A importacircncia do ensino para as percepccedilotildees sobre a Ciecircncia e a Tecnologia

Pesquisas como essas permitem perceber o quanto se desconsidera os conhecimentos preacutevios dos jovens e adultos no processo de construccedilatildeo da Ciecircncia e da Tecnologia e o quanto o processo tradi-cional de Ensino de Ciecircncias e Tecnologia agraves vezes alimenta imagens que natildeo correspondem agravequelas reconceitualizadas pela Histoacuteria da Ciecircncia e Tecnologia pela Filosofia da Ciecircncia e Tecnologia e pela Sociologia da Ciecircncia e Tecnologia principalmente

A UNESCO no conjunto de accedilotildees que marcam a Deacutecada da Educaccedilatildeo para o Desenvolvimento Sus-tentado (2005-2014) lanccedilou recentemente um livro intitulado Como promover intereacutes por la cultura cientiacutefica ndash Uma propuesta didaacutectica fundamentada para la educacion cientiacutefica de joacutevenes de 15 a 18 antildeos (2005) onde defende a chamada Alfabetizaccedilatildeo Cientiacutefica O livro que reuacutene um grande nuacutemero

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de produtivos pesquisadores em ensino de ciecircncias e tecnologia na vertente CTS - Ciecircncia Tecnolo-gia e Sociedade guarda um dos capiacutetulos (p 29 a 62) para discutir as possiacuteveis visotildees deformadas da Ciecircncia e da Tecnologia que satildeo discutidas e multiplicadas no processo de ensino e que eacute reproduzi-da em portuguecircs em Cachapuz et al (2005 p 37-70) baseado em diversos artigos publicados ante-riormente e tambeacutem satildeo apresentadas na obra Bazzo Linsingen e Pereira (2003 p 19-20) Dentre as possiacuteveis visotildees deformadas de Ciecircncias podemos detalhar a partir de extratos do texto de Cachapuz et al (2005)

1 Uma visatildeo descontextualizada ou socialmente neutra (p 40-43)

(Haacute uma) deformaccedilatildeo criticada por todas as equipas de docentes implicadas neste esfor-ccedilo de clarificaccedilatildeo e por uma abundante literatura a transmissatildeo de uma visatildeo descontex-tualizada socialmente neutra que es-quece dimensotildees essenciais da atividade cientiacutefica e tecnoloacutegica como o seu impacto no meio natural e social ou os interesses e influencias da sociedade no seu desenvolvimento Ignora-se pois as complexas relaccedilotildees CTS Ciecircncia-Tecnologia-Sociedade () Este tratamento descontextualizado comporta muito em parti-cular uma falta de clarificaccedilatildeo das relaccedilotildees entre a ciecircncia e a tecnologiaCom efeito habitualmente a tecnologia eacute considerada uma mera aplicaccedilatildeo dos conheci-mentos cientiacuteficos De fato a tecnologia tem sido vista tradicionalmente como uma ativida-de de menor status que a ciecircncia pura ()Eacute relativamente faacutecil no entanto questionar esta visatildeo simplista das relaccedilotildees ciecircncia-tec-nologia basta refletir brevemente sobre o desenvolvimento histoacuterico de ambas para com-preender que a atividade teacutecnica precedeu em milecircnios a ciecircncia e que por tanto de modo algum pode considerar-se como mera aplicaccedilatildeo de conhecimentos cientiacuteficos ()Esquecer a tecnologia eacute expressatildeo de visotildees puramente operativistas que ignoram com-pletamente a contextualidade da atividade cientiacutefica como se a ciecircncia fosse um produto elaborado em torres de marfim agrave margem das contingecircncias da vida ordinaacuteria Trata-se de uma visatildeo que se conecta com a que contempla aos cientistas como seres especiais gecircnios solitaacuterios que falam uma linguagem abstrata de difiacutecil acesso A visatildeo descontextualizada vecirc-se reforccedilada pois pelas concepccedilotildees individualistas e elitistas da ciecircncia

2 Uma visatildeo individualista e elitista (p 43-45)

Esta eacute junto agrave visatildeo descontextualizada que acabamos de analisar ndash e agrave qual estaacute estreitamen-te ligada ndash outra das deformaccedilotildees mais frequumlentemente assinaladas pelas equipes de docentes e tambeacutem mais tratadas na literatura Os conhecimentos cientiacuteficos aparecem como obra de gecircnios isolados ignorando-se o papel do trabalho coletivo dos intercacircmbios entre equipes essenciais para favorecer a criatividade necessaacuteria para abordar situaccedilotildees abertas natildeo fami-liares Em particular deixa-se acreditar que os resultados obtidos por um soacute cientista ou equi-pe podem bastar para verificar ou falsear uma hipoacutetese ou inclusive toda uma teoriaFrequumlentemente insiste-se explicitamente em que o trabalho cientiacutefico eacute um domiacutenio reser-vado a minorias especialmente dotadas transmitindo expectativas negativas para a maioria dos alunos e muito em particular das alunas com claras descriminaccedilotildees de natureza social e sexual a ciecircncia eacute apresentada como uma atividade eminentemente masculina( )A imagem individualista e elitista do cientista traduz-se em iconografias que representam o homem da bata branca no seu inacessiacutevel laboratoacuterio repleto de estranhos instrumentos Desta forma constatamos uma terceira e grave deformaccedilatildeo a que associa o trabalho cientiacute-fico quase exclusivamente com esse trabalho no laboratoacuterio onde o cientista experimenta

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e observa procurando o feliz descobrimento Transmite-se assim uma visatildeo empiro-indu-tivista da atividade cientiacutefica que abordaremos seguidamente

3 Uma visatildeo empiro-inductivista e ateoacuterica (p 45-48)

Talvez tenha sido a concepccedilatildeo empiro-inductivista a deformaccedilatildeo que foi estudada em pri-meiro lugar e a mais amplamente assinalada na literatura Uma concepccedilatildeo que defende o papel da observaccedilatildeo e da experimentaccedilatildeo ldquoneutrardquo (natildeo contaminadas por ideias aprioritis-tas) esquecendo o papel essencial das hipoacuteteses como focalizadoras da investigaccedilatildeo e dos corpos coerentes de conhecimentos (teorias) disponiacuteveis que orientam todo o processoEacute preciso insistir na importacircncia dos paradigmas conceptuais das teorias no desenvolvi-mento do trabalho cientiacutefico num processo completo natildeo reduzido a um modelo definido de mudanccedila cientiacutefica que inclui eventuais roturas mudanccedilas revolucionaacuterias do paradig-ma vigente num determinado domiacutenio e surgimento de novos paradigmas teoacutericos Eacute pre-ciso tambeacutem insistir em que os problemas cientiacuteficos constituem inicialmente ldquosituaccedilotildees problemaacuteticasrdquo confusas o problema natildeo eacute dado eacute necessaacuterio formulaacute-lo da maneira preci-sa modelizando a situaccedilatildeo fazendo determinadas opccedilotildees para simplificaacute-lo mais ou menos com o fim de poder abordaacute-lo clarificando o objetivo etc E tudo isto partindo do corpus de conhecimentos que se tem no campo especiacutefico em que se desenvolve o programa de investigaccedilatildeo()Infelizmente as escassas praacuteticas escolares de laboratoacuterios escamoteiam aos estudantes (incluindo na Universidade) toda a riqueza do trabalho experimental dado que apresenta montagens jaacute elaborada para simples manuseamento seguindo guia de tipo receita de co-zinhaDeste modo o ensino centrado na simples transmissatildeo de conhecimentos jaacute elaborados natildeo soacute impede compreender o papel essencial que a tecnologia joga no desenvolvimento cien-tiacutefico senatildeo que contraditoriamente favorece a manutenccedilatildeo das concepccedilotildees empiro-in-ductivas que consagram um trabalho experimental ao qual nunca se tem acesso real como elemento central de um suposto Meacutetodo Cientiacutefico o que se vincula com outras duas graves deformaccedilotildees que abordaremos brevemente

4 Uma visatildeo riacutegida algoriacutetmica infaliacutevel (p 48-49)

Esta eacute uma concepccedilatildeo amplamente difundida entre o professorado de ciecircncias como se tem podido constatar utilizando diversos desenhos (Femaacutendez 2000) Assim em entrevistas rea-lizadas com professores uma maioria refere-se ao Meacutetodo Cientiacutefico como uma sequumlecircncia de etapas definidas em que as observaccedilotildees e as experiecircncias rigorosas desempenham um papel destacado contribuindo agrave exatidatildeo e objetividade dos resultados obtidosFace a isto eacute preciso ressaltar o papel desempenhado na investigaccedilatildeo pelo pensamento diver-gente que se concretiza em aspectos fundamentais e erroneamente relegados nos traccedilados empiro-inductivistas como satildeo a invenccedilatildeo de hipoacuteteses e modelos ou o proacuteprio desenho de experiecircncias Natildeo se raciocina em termos de certezas mais ou menos baseadas em evidecircn-cias senatildeo em termos de hipoacuteteses que se apoiam eacute certo nos conhecimentos adquiridos mas que satildeo contempladas como tentativas de resposta que devem ser postas agrave prova o mais rigorosamente possiacutevel o que daacute lugar a um processo complexo em que natildeo existem princiacutepios normativos de aplicaccedilatildeo universal para a aceitaccedilatildeo ou a rejeiccedilatildeo de hipoacuteteses ou mais em geral para explicar as trocas mudanccedilas nos conhecimentos cientiacuteficos()

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Satildeo as hipoacuteteses pois as que orientam a procura de dados Umas hipoacuteteses que por sua vez nos remetem ao paradigma conceptual de partida pondo de novo em evidencia o erro das propostas empiacutericasA concepccedilatildeo algoriacutetmica como a empiro-inductivista em que se apoacuteia pode manter-se na mesma medida em que o conhecimento cientiacutefico se transmite de forma acabada para a sua simples recepccedilatildeo sem que os estudantes nem os professores tenham ocasiatildeo de constatar praticamente as limitaccedilotildees desse suposto Meacutetodo Cientiacutefico Pela mesma razatildeo incorrese com facilidade numa visatildeo aproblemaacutetica e ahistoacuterica da atividade cientiacutefica agrave que nos referi-remos em seguida

5 Uma visatildeo aproblemaacutetica e a-histoacuterica (ou acabada e dogmaacutetica) (p 49-50)

Como jaacute referimos o fato de transmitir conhecimentos jaacute elaborados conduz muito frequumlen-temente a ignorar quais foram os problemas que se pretendiam resolver qual tem sido a evo-luccedilatildeo de ditos conhecimentos as dificuldades encontradas etc e mais ainda a natildeo ter em conta as limitaccedilotildees do conhecimento cientiacutefico atual ou as perspectivas abertasAo apresentar uns conhecimentos jaacute elaborados sem sequer se referir aos problemas que es-tatildeo na sua origem perdese de vista que como afirma Bachelard todo o conhecimento eacute a res-posta a uma questatildeo a um problema Este esquecimento dificulta captar a racionalidade do processo cientiacutefico e faz com que os conhecimentos apareccedilam como construccedilotildees arbitraacuterias Por outra parte ao natildeo completar a evoluccedilatildeo dos conhecimentos ou seja ao natildeo ter em conta a histoacuteria das ciecircncias desconhece-se quais foram as dificuldades os obstaacuteculos epistemoloacute-gicos que foram preciso superar o que resulta fundamental para compreender as dificuldades dos alunosDevemos insistir uma vez mais na estreita relaccedilatildeo existente entre as deformaccedilotildees contem-pladas ateacute aqui Esta visatildeo aproblemaacutetica e ahistoacuterica por exemplo torna possiacutevel as conce-pccedilotildees simplistas sobre as relaccedilotildees ciecircncia-tecnologia Pensemos que se toda a investigaccedilatildeo responde a problemas com frequecircncia esses problemas tecircm uma vinculaccedilatildeo directa com ne-cessidades humanas e portanto com a procura de soluccedilotildees adequadas para problemas tecno-loacutegicos preacuteviosDe facto o esquecimento da dimensatildeo tecnoloacutegica na educaccedilatildeo cientiacutefica impregna a visatildeo distorcida da ciecircncia socialmente aceite que evidenciamos aqui Precisamente por isto escol-hemos dar o nome de Possiacuteveis visotildees deformadas da ciecircncia e da tecnologia tratando assim de superar um esquecimento que historicamente tem a sua origem na distinta valorizaccedilatildeo do trabalho intelectual e manual e que afecta gravemente a necessaacuteria alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica do conjunto da cidadaniaA visatildeo distorcida e empobrecida da natureza da ciecircncia e da construccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico em que o ensino das ciecircncias incorre por acccedilatildeo ou omissatildeo inclui outras visotildees deformadas que tecircm em comum esquecer a dimensatildeo da ciecircncia como construccedilatildeo de corpos coerentes de conhecimentos

6 Uma visatildeo exclusivamente analiacutetica (p 50-51)

Referimo-nos em primeiro lugar ao que temos denominado visatildeo exclusivamente analiacuteti-ca que estaacute associada a uma incorreta apreciaccedilatildeo do papel da anaacutelise no processo cientiacute-ficoAssinalemos para iniciar que uma caracteriacutestica essencial de uma aproximaccedilatildeo cientiacutefica eacute a vontade expliacutecita de simplificaccedilatildeo e de controle rigoroso em condiccedilotildees preacuteestabelecidas o que introduz elementos de artificialidade indubitaacuteveis que natildeo devem ser ignorados nem ocultados os cientistas decidem abordar problemas resoluacuteveis e comeccedilam ignorando cons-

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ciente e voluntariamente muitas das caracteriacutesticas das situaccedilotildees estudadas o que eviden-temente os afasta da realidade e continuam afastando-se mediante o que sem duacutevida haacute que considerar a essecircncia do trabalho cientiacutefico A invenccedilatildeo de hipoacuteteses e modelosO trabalho cientiacutefico exige pois tratamentos analiacuteticos simplificatoacuterios artificiais Mas isto natildeo supotildee como agraves vezes se critica incorrer necessariamente em visotildees parcializadas e simplistas na medida em que se trata de anaacutelises e simplificaccedilotildees conscientes tem-se presente a necessidade de siacutentese e de estudos de complexidade crescente Pensemos por exemplo que o estabelecimento da unidade da mateacuteria - que constitui um claro apoio a uma visatildeo global natildeo parcializada ndash eacute uma das maiores conquistas do desenvolvimento cientiacutefico dos uacuteltimos seacuteculos os princiacutepios de conservaccedilatildeo e transformaccedilatildeo da mateacuteria e da energia foram estabelecidos respectivamente nos seacuteculos XVIII e XIX e foi soacute nos finais do seacuteculo XIX quando se produziu a fusatildeo de trecircs domiacutenios aparentemente autocircnomos - electricidade oacuteptica e magnetismo - na teoria eletromagneacutetica que se abriu um enorme campo de aplicaccedilotildees que seguem revolucionando a nossa vida de cada dia E natildeo haacute que esquecer que os procesnotsos de unificaccedilatildeo exigiram com frequumlecircncia atitudes criacuteticas nada cocircmodas que tiveram que vencer fortes resistecircncias ideoloacutegicas e inclusive perseguiccedilotildees e condenaccedilotildees como nos casos bem conhecidos do heliocentrismo ou do evolucionismo A histoacuteria do pensamento cientiacutefico eacute uma constante confirmaccedilatildeo de que os avanccedilos tecircm lugar profundizando o conhecimento da realidade em campos definidos eacute esta profundizaccedilatildeo inicial a que permite chegar posteriormente a estabelecer laccedilos entre campos aparentemen-te desligados

7 Uma visatildeo acumulativa de crescimento linear (p 51)

ldquoUma deformaccedilatildeo agrave que tambeacutem natildeo fazem referecircncia as equipes de docentes e que eacute a se-gunda menos mencionada na literatura - traacutes a visatildeo exclusivamente analiacutetica - consiste em apresentar o desenvolvimento cientiacutefico como fruto de um crescimento linear puramente acumulativo ignorando as crises e as remodelaccedilotildees profundas fruto de processos comple-xos que natildeo se deixam ajustar por nenhum modelo definido de desenvolvimento cientiacutefico Esta deformaccedilatildeo eacute complementar em certo modo do que temos denominado visatildeo riacutegi-da algoriacutetmica ainda que devam ser diferenciadas enquanto a visatildeo riacutegida ou algoriacutetmi-ca se refere como se concebe a realizaccedilatildeo de uma investigaccedilatildeo dada a visatildeo acumulativa eacute uma interpretaccedilatildeo simplista da evoluccedilatildeo dos conhecimentos cientiacuteficos ao longo do tempo como fruto do conjunto de investigaccedilotildees realizadas em determinado campo Esta eacute uma visatildeo simplista agrave qual o ensino costuma contribuir ao apresentar as teorias hoje aceites sem mostrar o processo do seu estabelecimento nem ao se referir agraves frequumlentes confrontaccedilotildees entre teorias rivais nem aos complexos processos de mudanccedila que incluem autenticas lsquore-voluccedilotildees cientiacuteficasrsquordquo

Essas desconsideraccedilotildees do conhecimento preacutevio e das concepccedilotildees espontacircneas ou construiacutedas na experiecircncia cotidiana bem como a transmissatildeo equivocada de Ciecircncia e Tecnologia por meio das visotildees deformadas e suas combinaccedilotildees desconsideram um princiacutepio basilar da didaacutetica das ciecircncias na construccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico os conhecimentos anteriores ou conhecimentos preacutevios Buscando concluir este toacutepico ndash que pretendeu mostrar a importacircncia de se considerar os conhe-cimentos preacutevios e as percepccedilotildees puacuteblicas da Ciecircncia e da Tecnologia para a formaccedilatildeo adequada de conceitos ndash compreende-se que se quisermos interferir naquilo que os professores e os alunos fazem nas aulas de Ciecircncia e Tecnologia eacute preciso interferir na maneira de ensinar dos professores e na maneira de aprender dos alunos E mesmo assim considerar que possuir concepccedilotildees vaacutelidas

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sobre a ciecircncia natildeo garante que o comportamento docente seja coerente com estas concepccedilotildees O es-tudo destas ditas concepccedilotildees tem-se convertido por essa razatildeo numa potente linha de investigaccedilatildeo (Cachapuz et al 2005 UNESCO 2005)

Uma outra linha de pesquisa que se amplia no universo da Ciecircncia e Tecnologia eacute aquela que busca identificar e entender as crenccedilas e atitudes perante a Ciecircncia Tecnologia e Sociedade e que tecircm em Acevedo Vasquez e Manassero produtivos pesquisadores na regiatildeo iberoamericana dentre outros Os autores partem das premissas contemporacircneas ndash que natildeo haacute um conceito correto ou mais co-rreto de Ciecircncia e de Tecnologia que natildeo haacute um uacutenico meacutetodo cientiacutefico e que as atitudes podem ser classificadas em ingecircnuas (i) plausiacuteveis (p) ou adequadas (a) ndash e desenvolvem neste momento extensa pesquisa sobre as atitudes frente aos conceitos CTS envolvendo seis paiacuteses da iberoameacuterica inclusive Brasil Para ter ideia de o quanto se flexibiliza os conceitos de Ciecircncia podemos citar uma das questotildees

10111 Definir o que eacute a ciecircncia eacute difiacutecil porque ela eacute complexa e engloba muitas coisas Mas a ciecircncia eacute PRINCIPALMENTE

A o estudo de aacutereas tais como biologia quiacutemica geologia e fiacutesica B um corpo de conhecimentos como princiacutepios leis e teorias que explicam o mundo que nos rodeia (mateacuteria energia e vida)C explorar o desconhecido e descobrir coisas novas sobre o mundo e o universo e como funcionamD realizar experiecircncias para resolver problemas de interesse sobre o mundo que nos rodeiaE inventar ou conceber coisas (por exemplo coraccedilotildees artificiais computadores veiacuteculos espaciais)F pesquisar e usar conhecimentos para fazer deste mundo um lugar melhor para viver (por exemplo curar doenccedilas solucionar a contaminaccedilatildeo e melhorar a agricultura)G uma organizaccedilatildeo de pessoas (chamados cientistas) que tecircm ideias e teacutecnicas para desco-brir novos conhecimentosH um processo de investigaccedilatildeo sistemaacutetico e o conhecimento que daiacute resultaI natildeo se pode definir ciecircncia

Em uma de suas pesquisas Acevedo Vasquez e Manassero (2002) comentam o resultado sobre a questatildeo

Definiccedilatildeo da ciecircncia Predominam as respostas adequadas e aplausiacuteveis (algo mais menos do que a metade em cada caso) A opccedilatildeo da ciecircncia como um corpo do conhecimento foi escolhida por mais de um terccedilo Segue a grande distacircncia (168) a frase plausiacutevel que con-sidera a ciecircncia como uma forma de explorar o desconhecido e fazer descobertas sobre o mundo e seu funcionamento Consequumlentemente de maneira global a conceitualizaccedilatildeo da ciecircncia feita pelos estudantes poderia ser avaliada como apropriado jaacute que majoritariamen-te captam muitos aspectos da essecircncia da ciecircncia

A maneira mais segura de diminuirmos a possibilidade de sermos ldquocontaminadosrdquo por estas visotildees deformadas de ciecircncia e pior de multiplicarmos esses conceitos eacute buscarmos enxergar as ciecircncias por vaacuterios acircngulos por vaacuterios campos definidos do saber que ao longo do tempo vecircm se estabelecen-do no delicado processo de entendimento do que seja Ciecircncia e de sua relaccedilatildeo com a Tecnologia e a Sociedade Estes estudos satildeo desenvolvidos por meio de ramos de estudos definidos como Filosofia da Ciecircncia e da Tecnologia Histoacuteria da Ciecircncia e da Tecnologia e Sociologia da Ciecircncia e da Tecno-logia principalmente que podem assim ser definidas sinteticamente

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bull Filosofia da Ciecircncia e da Tecnologia Os filoacutesofos da ciecircncia e da tecnologia tecircm le-vantado questotildees importantes na relaccedilatildeo com a estrutura do conhecimento cientiacutefico e o desenvolvimento da tecnologia Um ponto de partida habitual e uacutetil eacute a obra de Thomas Kuhn (1970) ndash A Estrutura da Revoluccedilatildeo Cientiacutefica ndash a partir da qual se afas-tou das visotildees positivistas mais tradicionais para incorporar uma interpretaccedilatildeo mais contextual se natildeo relativista (CUTCLIFFE 2003 p 188-189) Necessaacuterio reconhecer as contribuiccedilotildees de Joseacute Ortega y Gasset (1997) Martin Heidegger (2012 2009 1999) Juumlrgen Habermas 2013 1968) Hannah Arendt Lewis Mumford (2010 2001) Jacques Ellul Hans Jonas (2011) Peter Sloterdijk Carl Mitchan (2006 2003 1994 1989) Javier Echeverria (2003 2002 2001a 2001b) Andrews Feenberg (2010 2003 2002 1992) especialmente

bull Estudos Sociais da Ciecircncia e da Tecnologia Este ramo de estudo explora o caraacuteter social da Ciecircncia com especial referecircncia agrave produccedilatildeo social do conhecimento cientiacutefico (sociologia do conhecimento) Dedica por exemplo a estudar sua forma de comuni-caccedilatildeo a hierarquia interna distribuiccedilatildeo de poder a maneira como se comunica com a sociedade os criteacuterios de escolha das pesquisas sistema de avaliaccedilatildeo por pares sistema de recompensas etc (Mulkay 1996 p 743-744) As abordagens mais recentes consi-deram a Construccedilatildeo Social da Ciecircncia e da Tecnologia questionando a autonomia e independecircncia da CampT Este novo ramo apresenta pelo menos duas perguntas ldquoEm que medida e como as condiccedilotildees socioculturais influenciam nas teorias e nos conhecimen-tos cientiacuteficos E simetricamente como a ciecircncia [e a tecnologia] modela a sociedaderdquo (Martin 2003 p 70) Historicamente temos que a Sociologia da Ciecircncia se estabeleceu como campo de estudo e hoje temos a Sociologia da Tecnologia em franco crescimen-to como aacuterea de estudo Para Sasaki (2010) o construtivismo social da tecnologia eacute um desdobramento do Programa Forte

Os estudos de Construccedilatildeo Social da Ciecircncia e da Tecnologia devem contemplar estudos sobre

bull Programa Forte da Sociologia da Ciecircncia David Bloor (2009) Barry Barnes (1974 1977) Steven Shapin (1996) especialmente

bull Programa Empiacuterico do Relativismo Harry Collins (2013 2011) especialmente bull Construtivismo Social da Ciecircncia e Teoria Ator-rede Bruno Latour (2000 1994

1979) Michel Callon (2001 1998) e John Law (1994 sd)bull Construtivismo Social da Tecnologia Wiebe E Bijker (2010 2003 1994 1989

1987) Trevor Pinch (2008 1989 1987) especialmente bull Grandes Sistemas Tecnoloacutegicos Thomas Hughes (2008 1996 1989)bull Necessaacuterio reconhecer as contribuiccedilotildees de Robert Merton (1994) Ludwik Fleck

(2010) Manuel Castells (2007 2003 pelo menos)

Oliveacute (2000) ao classificar esta aacuterea de estudo apresentaraacute outra interessante conceituaccedilatildeo Ele cha-maraacute de construtivismo social aquela posiccedilatildeo que sustenta que ldquoos produtos das ciecircncias e as praacuteti-cas responsaacuteveis de produziacute-los devem estatildeo sujeitos ao mesmo tipo de anaacutelise que se realiza sobre textos e outros produtos culturaisrdquo (p 172) Apoacutes isso propotildee a seguinte categorizaccedilatildeo

bull Construtivismo social ndash defendida por representantes da Escola de Edimburgo (Da-vid Bloor e Barry Barnes principalmente)

bull Construtivismo (neo)kantiano ndash que trata da construccedilatildeo social do mundo a que se refere as teorias cientiacuteficas Relembra Kuhn e escreve ldquoSatildeo os grupos e as praacuteticas de gruposque constituem o mundo (e satildeo constituiacutedos por eles) E a praacutetica-no-

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mundo de alguns desses grupos eacute a ciecircnciardquo (apud Kuhn 1991 p 11) ebull Construtivismo devastador Atribuindo esta expressatildeo a Richard Boyd (1992) diz

que este segmento ldquosustenta que o conhecimento cientiacutefico e aquilo a que se refere eacute uacutenica e completamente uma construccedilatildeo um produto das comunidades cientiacutefi-cas (p 173) Indica Bruno Latour (2000 1994 1979) e Steve Woolgar (1979 1991) como representantes deste segmento

bull Histoacuteria da Ciecircncia e da Tecnologia Os historiadores da ciecircncia e da tecnologia estatildeo menos inclinados a escrever sobre questotildees teoacutericas gerais preferindo em seu lugar centrar-se em acontecimentos e problemas especiacuteficos Por conta disso diversos trabal-hos tecircm demonstrado sua utilidade para a perspectiva CTS e devem ser estudados com criteacuterio (Cutcliffe 2003 p 190-193)

Uma maneira objetiva de construir uma imagem mais realista da Ciecircncia eacute abdicar dos modelos tra-dicionais de ensino de Ciecircncias que vecirc e apresenta nos manuais a Ciecircncia como uma ldquomarcha gran-diosardquo onde os capiacutetulos possuem uma fluecircncia e sequumlecircncia loacutegica sem nenhum tipo de percalccedilo ou dificuldade Nessa visatildeo toda a Ciecircncia produzida em seacuteculo pode ser resumida em algumas horas de explanaccedilatildeo linear e sem sobressaltos de qualquer ordem

Sobre isso Hellman (1999) lembra que eacute o processo que caracteriza a Ciecircncia e este processo eacute desen-volvido por homens e por conta disso este processo esta impregnado de sentimentos e erros huma-nos Ao contraacuterio dos erros tecnoloacutegicos que satildeo imediatamente percebidos por conta dos desastres que causam os erros cientiacuteficos natildeo satildeo propalados nem divulgados a Ciecircncia eacute sempre apresen-tada com um crescimento linear Hellman escreveu uma obra que trata dos dez grandes embates no campo da Ciecircncia tentando provar que a Ciecircncia natildeo tem crescimento linear como eacute ensinada e que haacute sim dificuldades das mais diversas entre os cientistas e as comunidades de homens de ciecircncia

Para citar a dificuldade vivida por um cientista quando a ideia que defende eacute derrotada num emba-te cientiacutefico por outro cientista que apresenta uma explicaccedilatildeo mais adequada para um fenocircmeno Hellman lembra a batalha travada por 25 anos entre Thomas Hobbes e o matemaacutetico John Wallis O primeiro defendendo a geometria e desdenhado a aacutelgebra do segundo

Para exemplificar as lutas pela de ldquopaternidade de uma ideiardquo (o que chama de prioridade) neces-saacuteria para identificar o primeiro autor de uma ideia Hellman informa que isso eacute um fato muito co-mum entre os cientistas e exemplifica esta dificuldade lembrando que esta dificuldade ocorreu entre Newton e Leibniz (caacutelculo) Faraday e Henry (induccedilatildeo eletromagneacutetica) Adams e Leverrier (des-coberta de Netuno) Darwin e Wallace (teoria da evoluccedilatildeo) e Heisenberg e Schroumldinger (mecacircnica quacircntica)

Quando se refere a interferecircncias de crenccedilas e valores na descoberta cientiacutefica ou na aceitaccedilatildeo delas Hellman lembra os casos do criacionismo e o evolucionismo (Darwin) a controveacutersia sobre o momento em que o tecido no uacutetero da mulher se transforma em ldquoser humanordquo (caso de Voltaire contra Needham) ou mesmo a questatildeo sobre as origens do homem (caso de Donald Johanson contra Richard Leakey)Esses raacutepidos exemplos deixam transparecer que natildeo haacute muita semelhanccedila entre a Ciecircncia ensinada nas escolas e a verdadeira trajetoacuteria da Ciecircncia um bom comeccedilo eacute aprender a aproveitar as oportu-nidades em sala de aula para ensinar uma Ciecircncia como atividade humana

Conheccedila maisFernaacutendez I Gil D Vilches A Valdeacutes P Cachapuz A Praia J Salinas J El olvido de la tecnologiacutea como

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refuerzo de las visiones deformadas de la ciecircncia Revista Electroacutenica de Ensentildeanza de las Ciencias Vol 2 Nordm 3 (2003) httpwwwsaumuvigoesreecvolumenesvolumen2Numero3Art8pdf

SOBRE A TECNOLOGIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A TECNOLOGIA43

3 Sobre a Tecnologia mas natildeo o que eacute a Tecnologia

31 Sobre a Tecnologia

Segundo Kneller (1980 p 245s) a palavra Tecnologia deriva do grego techne que significa arte ou habilidade permitindo pensar que a tecnologia resulta e se produz essencialmente em uma accedilatildeo praacute-tica que busca alterar o mundo a sua volta mais do que compreendecirc-lo Diz o autor que

onde a Ciecircncia persegue a verdade a tecnologia prega a eficiecircncia Enquanto a Ciecircncia pro-cura formular as leis a que a natureza obedece a tecnologia utiliza essas formulaccedilotildees para criar implementos e aparelhos que faccedilam a natureza obedecer ao homem (p 245)

Essa proposta de definiccedilatildeo pode se confundir com uma visatildeo simplista de Tecnologia Mesmo nesta visatildeo ingecircnua de Tecnologia (Tecnologia como aparato resultante da Ciecircncia) satildeo necessaacuterios con-hecimentos especiacuteficos desenvolvidos em campo do saber especiacutefico teacutecnicas cada vez mais apura-das instituiccedilotildees de apoio e fomento sistema capaz de ampliar a escala dos produtos etc e ao final a Tecnologia resultante pode gerar mais conhecimento tecnoloacutegico rompendo o viacutenculo fraacutegil de causalidade entre Tecnologia e Ciecircncia

Historicamente a tentativa de definiccedilatildeo de Tecnologia se reduz equivocadamente a dois grandes grupos o que vecirc tecnologia como sinocircnimo de teacutecnica e o que entende Tecnologia como Ciecircncia aplicada Sobre isso escrevem Bazzo Linsingen e Pereira (2003)

O termo teacutecnica faria referecircncia a procedimentos habilidades artefatos desenvolvimen-tos sem ajuda do conhecimento cientiacutefico O termo tecnologia seria utilizado entatildeo para referir-se agravequeles sistemas desenvolvidos levando em conta esse conhecimento cientiacuteficoOs procedimentos tradicionais utilizados para fazer iogurte queijo vinho ou cerveja seriam teacutecnicas enquanto a melhoria destes procedimentos a partir da obra de Pasteur e do desen-volvimento da microbiologia industrial seriam tecnologias O mesmo poder-se-ia dizer da seleccedilatildeo artificial tradicional (desde a revoluccedilatildeo neoliacutetica) e a melhoria geneacutetica que consi-dera as leis da heranccedila formuladas por Mendel A tecnologia do DNA recombinado seria um passo posterior baseado na biologia molecular

Seguindo esta visatildeo ontoloacutegica Ortega y Gasset20(1939) para que a teacutecnica e a Tecnologia derivam da necessidade de o homem adequar-se as suas circunstacircncias estudaraacute a teacutecnica a partir de trecircs visotildees as teacutecnicas do acaso as teacutecnicas do artesatildeo e as teacutecnicas dos engenheiros que se diferenciam pelo modo como se descobre os meios de realizar o projeto que busca realizar

bull O primeiro estaacutegio eacute chamado de teacutecnica do acaso pois eacute ele que fornece a invenccedilatildeo ao homem protohistoacuterico primitivo e preacute e selvagem atuais Como a teacutecnica eacute apresentada agrave mente deste homem primitivo ldquoO homem primitivo ignora sua proacutepria teacutecnica como

19 Conheccedila mais em httpenwikipediaorgwikiMelvin_Kranzberg (em inglecircs) 20 Conheccedila mais em httpptwikipediaorgwikiJosC3A9_Ortega_y_Gasset

A tecnologia natildeo eacute boa nem maacute nem tatildeo pouco neutra1ordf lei de Melvin Kranzberg 19

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tal Ele natildeo percebe que a sua capacidade eacute um muito especial que lhe permite remode-lar a natureza no sentido de seus desejosrdquo (p 28)

bull O segundo estaacutegio eacute chamado de teacutecnica do artesatildeo Eacute a arte da Greacutecia antiga de Roma preacute-imperial e da Idade Meacutedia Aqui os atos teacutecnicos desenvolveram-se fazendo com que alguns homens se encarreguem deles os artesatildeos

bull O terceiro estaacutegio eacute chamado a teacutecnica do teacutecnico ldquoO homem adquire consciecircncia su-ficientemente clara que tem uma certa capacidade completamente diferente da riacutegida imutaacutevel que compotildeem o seu animal natural ou porccedilatildeo Percebe que a teacutecnica natildeo eacute aleatoacuteria como no estado primitivo ou um determinado tipo de dado e homem-artesatildeo limitada a teacutecnica natildeo eacute tecnicamente ou determinada e portanto fixa mas exatamen-te um manancial de actividades humanas em princiacutepio ilimitadordquo (p 31)

Quanto a segunda visatildeo ingecircnua de Tecnologia a que a reduz a Ciecircncia aplicada podemos recorrer a diversos autores a fim de melhor entender como estes dois campo do conhecimentos podem se relacionar sem a visatildeo estreita de submissatildeo obrigatoacuteria de um deles ao outro

Segundo Kneller (1980) o estudo das relaccedilotildees entre Ciecircncia e Tecnologia permite pelo menos trecircs acircngulos distintos

bull O primeiro eacute aquele que afirma que a produccedilatildeo tecnoloacutegica especialmente a partir do seacuteculo XVII assentou em leis teorias ou dados estabelecidos pela Ciecircncia dita pura Se-gundo Kneller Joseph Henry teria dito em conferecircncia no ano de 1832 que ldquotoda arte mecacircnica se baseia em princiacutepio ou lei geral da natureza e quanto mais familiarizados estamos com essas leis mais capazes devemos ser de acelerar e aperfeiccediloar as artes uacuteteisrdquo Exemplificando sua tese com o fato de que

James Watt inventou sua maacutequina a vapor usando a teoria do sobre calor latente de Joseph Black os construtores navais empregaram os estudos matemaacuteticos de Eu-ler sobre curvatura dos cascos e Humphry Davy inventou a lacircmpada de seguranccedila para minas depois de ter estudado cientificamente o grisu Do mesmo modo as realizaccedilotildees de Robert Fulton na navegaccedilatildeo agrave vapor e a invenccedilatildeo por Eli Whitney do descaroccedilador de algodatildeo lsquodependeram de seus amplos conhecimentos cientiacuteficosrsquo

bull O segundo acircngulo eacute aquele que aponta a Tecnologia como parceira decisiva visto que im-portantes avanccedilos tecnoloacutegicos dependem da pesquisa cientiacutefica Esta se realiza em primeiro lugar a fim de apresentar e organizar os conhecimentos necessaacuterios aos avanccedilos ldquoSatildeo as ne-cessidades tecnoloacutegicas que datildeo vigor e direccedilatildeo agrave pesquisa cientiacutefica fundamentalrdquo (p 248)

bull O terceiro acircngulo eacute aquele que defende a tese de que a Ciecircncia e a Tecnologia se desenvolve-ram independentemente (ateacute 100 anos atraacutes pelo menos) Diversos historiadores da Ciecircncia defendem que

bull ateacute uns 200 anos atraacutes as teacutecnicas foram desenvolvidas por homens incultos e anocircnimos (Rupert Hall)

bull os primoacuterdios da tecnologia moderna nada deveram agrave Ciecircncia pois foram fruto da tradiccedilatildeo de invenccedilatildeo das artes mecacircnicas (Rupert Hall e Marie Boas Hall)

bull a Revoluccedilatildeo Industrial foi realizada por cabeccedilas teimosas e dedos aacutegeis por ho-mens sem educaccedilatildeo sistemaacutetica em Ciecircncias ou Tecnologia pois natildeo havia pra-ticamente intercacircmbio entre cientistas e os inventores dos processos industriais (Eric Ashby)

bull alguns defendem que a Tecnologia soacute comeccedilou a fazer uso significativo da Ciecircn-cia em fins do seacuteculo XIX com a induacutestria quiacutemica (Hall e Granger)

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SOBRE A TECNOLOGIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A TECNOLOGIA45

Percebe-se que os conceitos simplistas e reducionistas que buscam vincular a Tecnologia como conse-quecircncia da Ciecircncia natildeo se sustentam Esta eacute uma visatildeo ingecircnua da Tecnologia Satildeo inuacutemeros os exem-plos de avanccedilos tecnoloacutegicos dos quais podemos citar o interesse de Galileu pela mecacircnica despertado pela observaccedilatildeo dos estaleiros de Veneza o surgimento da geologia por conta dos problemas efetivos apresentados pela mineraccedilatildeo o uso por Darwin da experiecircncia de criadores de gado etc Por outro lado a Ciecircncia vem alimentando a Tecnologia com conhecimentos indispensaacuteveis ao surgimento e aper-feiccediloamento que aparatos tecnoloacutegicos

Outro autor que contribuiu com a reflexatildeo sobre a dissociaccedilatildeo da Ciecircncia e da Tecnologia em algum momento da histoacuteria eacute Granger (1994) que enumera uma seacuterie de exemplos de onde extraiacutemos o que se segue

O mesmo ocorreu com a construccedilatildeo e com a manobra dos navios em que prevaleceram as praacuteticas empiacutericas ou certas teorias ambiciosas mas errocircneas Conveacutem no entanto res-saltar a importacircncia assumida entre os cientistas jaacute no final do seacuteculo XVII pela disputa entre o marinheiro Renau dEliccedilagaray (Teoria da manobra dos navios 1689) e Huygens Jean Bernoulli (Ensaio de lima nova teoria da manobra dos navios 1714) e Euler (Scientia na-valis 1749) Quem estabeleceraacute cientificamente as condiccedilotildees de estabilidade e as regras de manobra seraacute Bouger (Tratado do navio 1746 e Da manobra dos navios 1757) sem que dele poreacutem tirem partido antes do seacuteculo XIX os armadores ou os navegadores A induacutestria quiacutemica eacute revolucionada por descobertas como a do cloro (1774) e a do meacutetodo Leblanc de fabricaccedilatildeo da soda artificial (1780) mas o Tratado de quiacutemica industrial de Chaptal (1806) mostra ainda a distacircncia que separa da ciecircncia na eacutepoca ateacute mesmo as receitas industriais Chaptal foi poreacutem um dos quiacutemicos que mais contribuiacuteram para as aplicaccedilotildees da ciecircncia na induacutestria como tambeacutem na agricultura (p 28)

Continuando as possiacuteveis anaacutelises quanto agraves relaccedilotildees da Ciecircncia e Tecnologia podemos buscar a clas-sificaccedilatildeo de Niiniluoto21 (apud Bazzo Linsingen e Pereira 2003) nos oferece a seguinte classificaccedilatildeo

bull Ciecircncia seria redutiacutevel agrave tecnologia bull Tecnologia seria redutiacutevel agrave ciecircncia bull Ciecircncia e tecnologia satildeo a mesma coisa bull Ciecircncia e tecnologia satildeo independentes bull Haacute uma interaccedilatildeo entre ciecircncia e tecnologia

O ponto de vista mais amplamente aceito sobre a relaccedilatildeo ciecircncia-tecnologia eacute o que conceitua a tecnologia como ciecircncia aplicada sendo portanto a tecnologia redutiacutevel agrave ciecircncia Este pon-to de vista eacute o subjacente ao modelo linear do desenvolvimento que tem influenciado poliacuteticas puacuteblicas de ciecircncia e tecnologia ateacute tempos recentes Tal conceito tem estado presente tam-beacutem ainda que agraves vezes de modo impliacutecito na filosofia da ciecircncia Afirmar que a tecnologia eacute ciecircncia aplicada eacute afirmar que

bull Uma tecnologia eacute principalmente um conjunto de regras tecnoloacutegicas bull As regras tecnoloacutegicas satildeo consequecircncias dedutiacuteveis das leis cientiacuteficas bull Desenvolvimento tecnoloacutegico depende da investigaccedilatildeo cientiacutefica

Acevedo Vaacutezquez Manassero e Acevedo (2003) ndash e tambeacutem Rebollo Leoacuten (2008) Garcia-Palaacutecio et al (2001) ndash discorrendo sobre o mesmo autor detalham um pouco mais esta posiccedilatildeo Escrevem sobre os

21 Ver detalhes em httpenwikipediaorgwikiIlkka_Niiniluoto (em inglecircs)

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SOBRE A TECNOLOGIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A TECNOLOGIA46

cinco modelos de Niiniluoto22 sobre a ciecircncia

bull A tecnologia se subordina a ciecircncia e pode reduzir-se a ela depende pois ontologica-mente da ciecircncia

bull A ciecircncia se subordina a tecnologia e pode reduzir-se a ela depende pois ontologica-mente da tecnologia

bull Ciecircncia e tecnologia satildeo mais ou menos o mesmo Esta posiccedilatildeo conduz ao conceito de tecnociecircncia introduzido por Latour (1987 p 29 da traduccedilatildeo castellana)

bull A ciecircncia e a tecnologia satildeo ontologicamente independentes tambeacutem o satildeo desde um ponto de vista causal

bull A ciecircncia e a tecnologia interagem causalmente mas satildeo ontologicamente independen-tes

Ampliando nossa anaacutelise podemos recorrer a John M Staundenmaier (1985 apud Bazzo Lisingen e Pereira 2003) que numa visatildeo da historia da tecnologia apresenta uma seacuterie de argumentos que nos fazem refletir sobre a visatildeo de Tecnologia como Ciecircncia aplicada Eis alguns dos argumentos

bull A tecnologia modifica os conceitos cientiacuteficos Thomas Smith estudou o Whirlwind project desenvolvido apoacutes a Segunda Guerra Mundial no MIT para criar um computa-dor digital Concluiu que a maior parte dos conceitos utilizados era endoacutegena agrave proacutepria engenharia e os que procediam das ciecircncias (especialmente da fiacutesica em relaccedilatildeo com o armazenamento magneacutetico de informaccedilatildeo) foram substancialmente transformados para a sua utilizaccedilatildeo no desenvolvimento do projeto

bull A tecnologia utiliza dados problemaacuteticos diferentes dos da ciecircncia Walter Vincenti estudou o projeto aeronaacuteutico mostrando que a engenharia realiza abordagens impor-tantes para problemas dos quais a ciecircncia natildeo se tem ocupado Realiza uma categori-zaccedilatildeo do conhecimento tecnoloacutegico

1) Conceitos fundamentais de projeto 2) Criteacuterios e especificaccedilotildees 3) Ferramentas teoacutericas 4) Dados quantitativos 5) Consideraccedilotildees praacuteticas e 6) Instrumentaccedilatildeo de desenhos

bull O conhecimento cientiacutefico eacute importante nos casos 2 3 e 4 mas parte destes tipos de conhecimento procedem do proacuteprio desenvolvimento tecnoloacutegico

bull A especificidade do conhecimento tecnoloacutegico Ainda que existam fortes paralelis-mos entre as teorias cientiacuteficas e as tecnoloacutegicas os pressupostos subjacentes satildeo di-ferentes Segundo Layton a tecnologia por sua proacutepria natureza eacute menos abstrata e idealizada que a ciecircncia

bull A dependecircncia da tecnologia das habilidades teacutecnicas A distinccedilatildeo entre a teacutecnica e a tecnologia se realiza em funccedilatildeo da conexatildeo desta uacuteltima com a ciecircncia (tanto em relaccedilatildeo com o conhecimento como com a metodologia o uso de ferramentas teoacutericas etc) Esta distinccedilatildeo natildeo implica que na tecnologia atual natildeo desempenhem nenhum papel as habilidades teacutecnicas

Outra maneira de categorizar a tecnologia eacute proposta por Osorio (2002) quando propotildee que a tecno-logia seja observada pelos enfoques instrumental cogntivo e sistecircmico

22 Para os que se interessem pelo aprofundamento das anaacutelises de Niiluoto sugerimos o texto de Acevedo (2006)

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bull Enfoque instrumental caracteriza a tecnologia como ferramenta aparato mecanismo ou artefato construiacutedos com o intuito de cumprir tarefas Dessa forma a tecnologia nasce e morre na maacutequina no aparato ou no artefato

bull Enfoque cognitivo apresenta a tecnologia como resultado da ciecircncia sobre a teacutecnica bull Enfoque sistecircmico considera a tecnologia como um ente complexo e independente que

inclui materiais artefatos energia bem como os agentes que a transformam

Sobre este tipo de categorizaccedilatildeo da tecnologia podemos dizer lembrando Lissingen (2002) que o en-foque sistecircmico eacute aquele que permite por ver a tecnologia como praacutetica social perceber as delicadas e as vezes intensas relaccedilotildees entre os aspectos poliacuteticos econocircmicos sociais culturais e valorativos especialmente entre aqueles que produzem tecnologia que fomentam tecnologia que optam por usar tecnologia que sofrem os efeitos de uma tecnologia que natildeo optaram por usar e os que estatildeo privados do uso e das vantagens da tecnologia (mas recebem suas consequecircncias) O enfoque sistecirc-mico da tecnologia a nosso ver atende de forma mais ampla e mais densa a visatildeo CTS de tecnologia

Retomando a Bazzo Linsingen e Pereira (2003) veremos que os mesmos autores propotildeem que tecno-logia seja definida como um conjunto de sistemas projetados para realizar funccedilotildees incluindo desde os aparatos e artefatos ateacute as tecnologias como sistemas organizacionais Os mesmo autores chamam atenccedilatildeo para as aplicaccedilotildees e consequecircncias da tecnologia lembrando Radder (1996) e Pacey (1990)

Radder (1996 apud Bazzo Linsingen e Pereira 2003) enumera importantes caracteriacutesticas associa-das agrave tecnologia

bull Exequibilidade que lhe confere a possibilidade de realizaccedilatildeo ou de passar a existir no mundo real

bull Caraacuteter sistecircmico que inclui a rede de relaccedilotildees soacutecio-teacutecnicas que pode torna-la viaacutevelbull Heterogeneidade se os sistemas tecnoloacutegicos existem eles satildeo por si soacute diferenciadosbull Relaccedilatildeo com a Ciecircncia encara a relaccedilatildeo com a Ciecircncia como ampla e diversificada mas

natildeo acolhe a visatildeo ingecircnua de que tecnologia eacute ciecircncia aplicadabull Divisatildeo do trabalho Informa que existem relaccedilotildees de dependecircncia entre os diferentes

atores sociais envolvidos no sistema tecnoloacutegico Haacute os que desenvolvem os que produ-zem e os que utilizam tecnologia

Pacey (1990 apud Bazzo Linsingen e Pereira 2003) propotildee trecircs dimensotildees para a praacutetica tecnoloacute-gica

bull A dimensatildeo teacutecnica que envolve as teacutecnicas conhecimentos e maacutequinas que objetivam fazer com que as coisas funcionem

bull A dimensatildeo organizacional que relaciona os aspectos de poliacutetica puacuteblica e de gestatildeo agraves accedilotildees que caracterizam os produtores de tecnologia (engenheiros teacutecnicos gestores trabalhadores em geral) e usuaacuterios

bull A dimensatildeo culturalideoloacutegica que considera os valores as ideias e as atividades cria-doras

Bazzo Linsingen e Pereira (2003) ainda propotildeem abordagens de cunho mais filosoacutefica para a tecno-logia

bull Abordagem engenheiril eacute aquela que atende a visatildeo tradicional de tecnologia onde enge-nheiros e teacutecnicos tecircm a tarefa de produzir artefatos estruturas e sistemas tecno-loacutegicos Assemelha-se a categoria de Enfoque instrumental de Osorio (2002)

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bull Abordagem humanista eacute aquela que atende a abrangecircncia da relaccedilatildeo entre tecnologia e sociedade tomando a tecnologia como tema para reflexatildeo interpretaccedilatildeo e criacutetica Aqui o controle sobre a natureza eacute relegado segundo plano e fica em evidecircncia a tecnologia como meio de desenvolvimento utilizaccedilatildeo e expansatildeo das capacidades humanas

bull Abordagem histoacuterico-filosoacutefica eacute aquela que introduz a questatildeo eacutetica e busca superar a dicotomia percebida entre as duas abordagens anteriores privilegiando a relaccedilatildeo entre os produtores de tecnologia e o puacuteblico e geral Aqui percebe a importacircncia da alfabe-tizaccedilatildeo tecnocientiacutefica

No que se refere agrave percepccedilatildeo de professores podemos recorrer aos estudos de Espiacutendola e Ricardo (2004) que pesquisaram o ensino da tecnologia na concepccedilatildeo dos professores das ciecircncias do niacutevel meacutedio e concluiacuteram que o conceito de Tecnologia se aproxima daquele que aponta a tecnologia como ciecircncia aplicada Os autores relembram Fourez (2003) quando este escreve que

A ideologia dominante dos professores eacute que as tecnologias satildeo aplicaccedilotildees das ciecircncias Quando as tecnologias satildeo assim apresentadas eacute como se uma vez compreendidas as ciecircn-cias as tecnologias seguissem automaticamente E isto apesar de que na maior parte do tempo a construccedilatildeo de uma tecnologia implica em consideraccedilotildees sociais econocircmicas e cul-turais que vatildeo muito aleacutem de uma aplicaccedilatildeo das ciecircncias A compreensatildeo desta implicaccedilatildeo do social na construccedilatildeo das tecnologias torna possiacutevel um estudo criacutetico destas como o fa-zem os trabalhos de avaliaccedilatildeo social das tecnologias Uma formaccedilatildeo para a negociaccedilatildeo com as tecnologias devem tornar os alunos capazes de analisar os efeitos organizacionais de uma tecnologia (Fourez 2003 p 10)

Em relaccedilatildeo a tecnologia entendida de uma forma holiacutestica podemos resgatar a proposta de Gutieacuterrez e Serna (2012)

1- Um conjunto de atividades humanas ou processos altamente sis-tematizados organi-zados e complexos que requerem conhecimentos teoacutericos igualmente complexos consti-tuindo uma teacutecnica teorizada cujo resultado satildeo entidades materiais e imateriais de alta sofisticaccedilatildeo 2- Processos e produtos que permitem a modificaccedilatildeo e transformaccedilatildeo radical e igualmente extensa da natureza ou entorno 3- Uma reconceitualizaccedilatildeo da natureza como uma coisa ou objeto suscetiacutevel de manipulaccedilatildeo e intervenccedilatildeo por parte de um sujeito inde-pendente da mesma (Gutieacuterrez and Serna 2012 p 80)

Veraszto et all (2013) pesquisaram as concepccedilotildees de tecnologia em graduandos do estado de Satildeo Paulo concluindo que a tecnologia eacute entendida como sendo intelectualista e sinocircnimo de ciecircncia instrumentalista neutra como um conhecimento praacutetico derivado do conhecimento teoacuterico cientiacute-fico e confundida com ciecircncia Para realizar a pesquisa apresentam o seguinte quadro de diferentes concepccedilotildees de tecnologia dando mostrar da diversidade de conceitos

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Quadro 1 Resumo referenciado das diferentes concepccedilotildees acerca da tecnologia

Nordm Concepccedilatildeo de tecnologia Compreensatildeo do conceito Referecircncias

1 Intelectualista

Compreende a tecnologia como um conheci-mento praacutetico derivado diretamentedo desen-volvimento do conhecimento cientiacutefico atraveacutes de processos progressivos e acumulativos

Acevedo 1998 Acevedo Diacuteaz 19972001 Gonzaacutelez Garciacutea Loacutepez Cerezo Lujaacuten Loacute-pez 2000 Layton 1988 Osorio M 2002

2 Utilitarista

Considera a tecnologia como sendo sinocircnimo de teacutecnica Ou seja o processo envolvido em sua elaboraccedilatildeo natildeo temrelaccedilatildeo com a tecnolo-gia apenas a suafinalidade e utilizaccedilatildeo

Acevedo Diacuteaz 1997 Agazzi 1997 Bunge 1972 1986 apud Osorio M2002 Veraszto 2004

3Tecnologia como sinocircnimo de ciecircn-

cia

Encara a tecnologia como sendo Ciecircncia Na-tural e Matemaacutetica com as mesmas loacutegicas e mesmas formas de produccedilatildeo e concepccedilatildeo

Acevedo Diacuteaz 1997 2001 Hilst 1994 Martiacuten Gordillo 2001 Sancho 1998 Silva Barros Filho 2001 Valdeacutes et al2002

4Instrumentalista

(ou artefatual)

Considera a tecnologia como sendo simples ferramentas artefatos ou produtos geralmen-te sofisticados

Acevedo Diacuteaz 1997 2001 Gonzaacutelez Garciacutea Loacutepez Cerezo Lujaacuten Loacutepez 2000 Osorio M 2002 Lion 1997 Pacey 1983 Silva et al 2000 Silva Barros Filho 2001 Veraszto 2004

5 Neutralidade tec-noloacutegica

Compreende que a tecnologia natildeo eacute boa nem maacute Seu uso eacute que pode ser inadequado natildeo o artefato em si

Caacuteceres Goacutemez 2001 Dagnino 2007 Du-raacuten Carrera 2001 Gonzaacutelez Garciacutea Loacutepez Cerezo Lujaacuten Loacutepez2000 Osorio M 2002 Winner 2008

6

D e t e r m i n i s m o tecnoloacutegico

(tecnologia autocirc-noma

Considera a tecnologia como sendo autocircnoma autoevolutiva seguindo naturalmente sua proacute-pria ineacutercia e loacutegica de evoluccedilatildeo desprovida do controle dos seres humanos

Caacuteceres Goacutemez 2001 Dagnino 2007 Duraacuten Carrera 2001 Gonzaacutelez Garciacutea Loacutepez Cere-zo Lujaacuten Loacutepez2000 Osorio M 2002

7Universalidade

da tecnologia

Entende a tecnologia como sendo algo univer-sal um mesmo produto serviccedilo ou artefato po-deria surgir em qualquer local e consequente-mente ser uacutetil em qualquer contexto

Caacuteceres Goacutemez 2001 Martiacuten Gordillo Gon-zaacutelez Galbarte 2002

8Pessimismo

tecnoloacutegico

Considera a tecnologia como algo nocivo e pernicioso para a sustentabilidade do planeta responsaacutevel pela degradaccedilatildeo do meio e pelo alargamento das desigualdades sociais

Agazzi 1997 Barnett Morse 1977 Carranza 2001 Colombo Bazzo 2002 Corazza 1996 2004 2005 Meadows et al 1972

9Otimismo

tecnoloacutegico

Compreende a tecnologia como portadora de mecanismos capazes de assegurar o desenvol-vimento sustentaacutevel e sanar problemas am-bientais sociais e materiais

Agazzi 1997 Andrade 2004 Carranza 2001 Foray Gruumlbler 1996 Freeman 1996 Herre-ra 1994 World Commission on Environ-ment and Development 1987

10 Sociossistema

Considera que a tecnologia eacute determinada pela interaccedilatildeo de diferentes grupos atraveacutesde re-laccedilotildees sociais poliacuteticas econocircmicas ambien-tais culturais entre outras

Gonzaacutelez Garciacutea Loacutepez Cerezo Lujaacuten Loacute-pez 2000 Grinspun 2001 OsorioM 2002 Pacey 1983 Sancho 1998 Silva et al 2000

Fonte elaborado pelos autores a partir de Veraszto (2009)

Chrispino et al (2011) pesquisaram a concepccedilatildeo de tecnologia de professores e alunos do Rio de Ja-neiro usando o questionaacuterio COCTS por meio do conhecido PIEARCTS e colheram que professores e alunos acreditam ingenuamente na sua maioria que tecnologia eacute ciecircncia aplicada Silva (2012) tambeacutem por meio dos questionaacuterios COCTS aprofunda estas concepccedilotildees

32 Diferenccedila entre tecnologia e ciecircncia na atualidade

Ateacute aqui tentamos demonstrar que natildeo haacute um conceito ldquocorretordquo de Tecnologia assim como natildeo havia um conceito ldquocorretordquo de Ciecircncia visto que estes conceitos satildeo construiacutedos na interaccedilatildeo entre o ser e o meio em que se desenvolve Os conceitos de Ciecircncia e de Tecnologia podem ser diferentes para diferentes pessoas sem serem ldquoerradosrdquo visto que cada um pode construir socialmente seu en-tendimento

Buscamos apresentar as construccedilotildees das relaccedilotildees de Ciecircncia e de Tecnologia a fim de indicar o fato

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SOBRE A TECNOLOGIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A TECNOLOGIA50

de que a Tecnologia natildeo eacute simplesmente a aplicaccedilatildeo da Ciecircncia ou viceversa Que elas caminharam separadamente em alguns periacuteodos de nossa histoacuteria mas que agora possuem uma estreita relaccedilatildeo que permite que ambos os campos do conhecimento se ajudem Esta nova postura tem sido denomi-nada de tecnociecircncia

Vejamos o que nos diz Dyson (2001) sobre a origem comum de diferentes posiccedilotildees sobre a Ciecircncia e a Tecnologia ao narrar a produccedilatildeo de Peter Galison23 e de Thomaz Kuhn24 ambos formados em Fiacutesica e mais tarde produziram como historiadores da Ciecircncia Diz-nos Dyson que ambos exploraram em profundidade o processo de descoberta cientiacutefica na era moderna Galison com sua obra Image and logic (publicada em 1997) e Kuhn com sua obra A Estrutura das Revoluccedilotildees Cientiacuteficas lanccedilada 35 anos antes Escreve Dyson (2001 p 29-30)

Os dois estatildeo interessados na histoacuteria da fiacutesica e ambos dominaram os detalhes teacutecnicos da fiacutesica assim como o ofiacutecio erudito da historiografia Contudo eles tecircm visotildees totalmente diferentes da histoacuteria da ciecircncia Seus livros natildeo tecircm praticamente nada em comum O livro de Galison conteacutem centenas de imagens de aparelhos cientiacuteficos o de Kuhn soacute palavras Para Galison o processo de descoberta cientiacutefica eacute impulsionado por novas ferramentas para Kuhn por novos conceitos As duas concepccedilotildees satildeo verdadeiras e nenhuma delas eacute completa O progresso da ciecircncia requer tanto novos conceitos como novas ferramentasA diferenccedila entre Galison e Kuhn eacute basicamente uma diferenccedila de ecircnfase Kuhn enfatizava ideias e Galison enfatiza coisasInfelizmente a versatildeo da histoacuteria de Kuhn foi dominante durante trinta anos antes que a versatildeo de Galison aparecesse para restaurar o equiliacutebrio O livro de Kuhn tornou-se um claacutessico e deu a seus leitores natildeo cientistas uma visatildeo unilateral da ciecircncia Kuhn escreveu sobre as batalhas entre conceitos rivais e alguns de seus leitores ficaram com a impressatildeo de que a ciecircncia eacute em grande parte uma questatildeo subjetiva uma luta entre pontos de vista humanos conflitantes e natildeo uma luta objetiva entre precisatildeo das ferramentas e as ambiguumli-dades da natureza

Para concluir este toacutepico nada mais objetivo que o texto de Cachapuz Paixatildeo Lopes e Guerra (2008) que apresenta as ideias de Edgar Morin25 sobre o assunto

O que eacute seguro satildeo as ideias de Morin e Le Moigne (1999 p 33) de que hoje em dia a ciecircncia estaacute no centro da sociedade o conhecimento cientiacutefico e o conhecimento teacutecnico se estimu-lam reciprocamente de que eacute preciso distingui-los mas natildeo dissociaacute-los e de que o verdadeiro problema moral nasce da enormidade de poderes vindos da ciecircncia Como referem Cachapuz et al (2002 p33) ldquotemos de rever e aprofundar o diaacutelogo entre as vaacuterias ciecircncias que o car-tesianismo separourdquo e principalmente entre as ciecircncias da natureza e as ciecircncias sociais e humanas onde ldquoquase tudo estaacute por fazerrdquo O quadro CTS aponta exactamente para essa dire-cccedilatildeo de posicionamento face ao conhecimento e agrave acccedilatildeo que a ciecircncia e a tecnologia propor-cionam e implicam necessariamente num invoacutelucro epistemoloacutegico externalista (Cachapuz et al 2008)

Leia maisJoseacute Antonio Acevedo Diacuteaz Tres criterios para diferenciar entre Ciencia y Tecnologiacuteahttpwwwoeiessalactsiacevedo12htm Anaacutelisis de algunos criterios para diferenciar entre ciencia y tecnologia

23 Conheccedila mais em httpenwikipediaorgwikiPeter_Galison (em inglecircs)24 Conheccedila mais em httpptwikipediaorgwikiThomas_Kuhn 25 Conheccedila mais em httpedgarmorinsescsporgbr

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SOBRE A TECNOLOGIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A TECNOLOGIA51

Ensentildeanza de las Ciencias 1998 16 (3) 409-420 httpddduabespubensenanzadelasciencias02124521v16n3p409pdf

33 Impactos da tecnologia na sociedade

Esclarecidas as dificuldades conceituais em torno da Ciecircncia e da Tecnologia gostariacuteamos de trazer um novo item de discussatildeo o impacto das tecnologias na sociedade

Parece natildeo haver duacutevida de que a Sociedade moderna estaacute bastante ligada agrave Tecnologia Os haacutebitos e rotinas satildeo De tempos em tempos modificados de mais ou menos intensa de forma mais ou menos expliacutecita por influecircncia de aparatos tecnoloacutegicos que chegam e passam a ocupar os espaccedilos cotidia-nos tornando-se em tempo reduzido indispensaacuteveis ao dia-a-dia e aacutes relaccedilotildees sociais Foi (e ainda eacute) assim com o aparelho celular com o MP3 (e ateacute a hora do fechamento deste texto ainda estaacutevamos no MP4) etc Se sairmos agraves ruas hoje poderemos perceber o quanto o aparelho celular estaacute ligado a vida cotidiana Quem poderia imaginar tempos atraacutes que aquele aparelho grande pesado disforme caro sem nenhum atrativo maior no seu desenho fosse tornar-se o que eacute hoje

Conforme o aparelho de telefone celular foi se popularizando seu custo foi se reduzindo permitindo que um maior nuacutemero de pessoas de todas as faixas sociais pudessem se beneficiar dele Poderiacuteamos tambeacutem imaginar que foi o barateamento do custo que permitiu acesso massivo

O fato eacute que a Tecnologia pode influenciar de forma decisiva as pessoas as famiacutelias e a sociedade como um todo Freeman Dyson26 (2001) eacute um fiacutesico e matemaacutetico teoacuterico que em 1997 foi convidado a apre-sentar uma seacuterie de conferecircncias sobre histoacuterias da Ciecircncia na New York Public Library As conferecircn-cias se dirigiam a puacuteblico leigo natildeo-cientistas e em uma delas Dyson apresenta as 4 tecnologias que impactaram a sociedade trazendo a seu ver mais justiccedila social aleacutem das discussotildees sobre as chamadas tecnologias negativas Satildeo elas

bull A tecnologia da impressatildeo permitindo que um nuacutemero maior de pessoas tivesse acesso ao conhecimento acumulado antes restrito aqueles que tivessem acesso a educaccedilatildeo distribuiacute-da a pouco pelos mosteiros

bull As tecnologias de sauacutede puacuteblica (abastecimento de aacutegua limpa de tratamento de esgotos de vacinaccedilatildeo e de antibioacuteticos) que natildeo poderiam ficar restritas aos ricos visto que a conta-minaccedilatildeo do pobre por determinadas doenccedilas potildee em risco a chamada classe rica Diz-nos que ldquoem paiacuteses onde as tecnologias de sauacutede puacuteblica satildeo impostas por lei natildeo haacute grande diferenccedila de expectativa de vida entre ricos e pobresrdquo (p66-67) Esperemos que uma lei como esta seja promulgada no Brasil

bull A tecnologia dos aparelhos domeacutesticos que permitiu que um sem nuacutemero de pessoas deixasse as funccedilotildees de empregados domeacutesticos e migrassem para empregos que exigissem melhor e maior preparaccedilatildeo Por outro lado o surgimento de acordo com a longa anaacutelise de Dyson permitiu que as mulheres antes relegadas exclusivamente as funccedilotildees domeacutesticas pudessem almejar realizaccedilotildees fora do lar no campo do estudo do trabalho da participaccedilatildeo social etc

bull A tecnologia da mobilidade ascendente surgida com a bicicleta motorizada e que foi se aperfeiccediloando ateacute os meios de transporte de massa ou os automoacuteveis como os con-hecemos hoje

bull As chamadas tecnologias negativas satildeo as da cacircmara de gaacutes e de armas nucleares por exem-plo

26 Conheccedila mais em httpenwikipediaorgwikiFreeman_Dyson (em inglecircs) e httpsuperabrilcombrsuperarquivo2001conteudo_119120shtml

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SOBRE A TECNOLOGIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A TECNOLOGIA52

Nesta mesma conferecircncia Dyson relembra que em 1985 tambeacutem em uma decirc suas conferecircncias dessa vez na Escoacutecia27 apresentou uma lista com as mais importantes tecnologias para o seacuteculo XXI Eram elas engenharia geneacutetica inteligecircncia artificial e as viagens espaciais Passados mais de dez anos o autor faz uma autocriacutetica puacuteblica e reescreve a lista das tecnologias mais importan-tes para a sociedade sobre as quais desenvolve outra de suas conferecircncias Satildeo elas a engenharia geneacutetica o Sol e a internet

O que Dyson fez de forma brilhante ndash e noacutes reproduzimos de forma reduzida ndash foi fazer uma Anaacute-lise de Tecnologia fenocircmeno este que pode ser realizado com qualquer tecnologia Coates (1971 apud Bazzo Linsingen e Pereira 2003) faz esta anaacutelise de impacto com a televisatildeo Diz ele

bull Primeira ordem nova fonte de entretenimento e diversatildeo nos laresbull Segunda ordem mais tempo em casa deixa-se de ir a cafeacutes e bares onde se viam os

amigos

bull Terceira ordem os residentes de uma comunidade jaacute natildeo se encontram com tanta fre-quumlecircncia e deixa-se de depender dos demais para o tempo de lazer

bull Quarta ordem os membros de uma comunidade comeccedilam a ser estranhos entre si aparecem dificuldades para tratar os problemas comuns as pessoas comeccedilam a sentir maior solidatildeo

bull Quinta ordem isolados dos vizinhos os membros das famiacutelias comeccedilam a depender mais uns dos outros para a satisfaccedilatildeo de suas necessidades psicoloacutegicas

bull Sexta ordem As fortes demandas psicoloacutegicas dos companheiros geram frustraccedilotildees quando natildeo se cumprem as expectativas a separaccedilatildeo e o divoacutercio crescem

A Sociedade por sua vez tambeacutem pode produzir uma classificaccedilatildeo para as suas relaccedilotildees com a Tecnologia como bem apresenta Manzano (1997 apud SILVA 2003)

Posiccedilatildeo tecnoacutefoba baseia-se em manifestaccedilatildeo perniciosa relativa agrave indus-trializaccedilatildeo como a exploraccedilatildeo da matildeo-de-obra modelo de trabalho penoso e degradante perante o artesanal ou o agropecuaacuterio Incorpora fatores negativos dos desenvolvimentos cientiacutefico e tecnoloacutegico responsabilizando a desumanizaccedilatildeo do trabalho e do desemprego o de-sastre ecoloacutegico e a crise geral dos valores da sociedade moderna Alenta uma visatildeo apo-caliacuteptica do desastre ecoloacutegico e social os quais natildeo podem ser controlados nem mesmo pelo homem28

Posiccedilatildeo tecnoacutefila identificase com a confianccedila e bondade intriacutenseca na Ciecircncia com seu potencial esclarecedor e na Tecnologia com seu poder de resolver todos os problemas da humanidade exaltando os benefiacutecios do progresso com os avanccedilos da medicina agricul-tura e induacutestria podendo ser estendidos a toda a populaccedilatildeo Jaacute as consequecircncias negati-vas podem ser facilmente corrigidas

Posiccedilatildeo intermediaacuteria onde a Tecnologia pode ter simultaneamente efeitos positivos e negativos e que se deve procurar aumentar os primeiros em detrimento dos outros Esses aspectos dependem de como se utiliza e promove o uso de valores de acircmbito eacutetico e poliacute-

27 Publicadas no Brasil com o tiacutetulo ldquoInfinito em todas as direccedilotildeesrdquo28 A posiccedilatildeo tecnoacutefoba encontra sua base tambeacutem no Movimento Ludita que teve seu auge entre 1811 e 1816 Esse movimento ex-tremamente organizado e disciplinado tinha grande apoio pois a populaccedilatildeo se encontrava amargurada com as reduccedilotildees salariais exploraccedilatildeo infantil e supressatildeo das leis que protegiam os trabalhadores qualificados Todo esse descontentamento se expressou na destruiccedilatildeo de maacutequinas principalmente da induacutestria tecircxtil (Palacios et al 2001)

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SOBRE A TECNOLOGIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A TECNOLOGIA53

tico como por exemplo o movimento ecologista29

Quer parecer que natildeo eacute possiacutevel imaginar que exista neutralidade entre Tecnologia e Sociedade A Sociedade pode ser estudada tambeacutem pela maneira como se relaciona ndash ou se deixa influenciar ndash pela Tecnologia

Esta relaccedilatildeo pode ser estudada por diversos acircngulos Vamos aqui apresentar resumidamente as po-siccedilotildees de Castells30 (2007) e Echeverria (2000)

Escreve Castells (2007)

Devido a sua penetrabilidade em todas as esferas da atividade humana a revoluccedilatildeo da tec-nologia da informaccedilatildeo seraacute meu ponto inicial para analisar a complexidade da nova econo-mia sociedade e cultura em formaccedilatildeo Essa opccedilatildeo metodoloacutegica natildeo sugere que novas for-mas e processos sociais surgem em consequecircncia de transformaccedilatildeo tecnoloacutegica Eacute claro que a tecnologia natildeo determina a sociedade Nem a sociedade escreve o curso da transformaccedilatildeo tecnoloacutegica uma vez que muitos fatores inclusive criatividade e iniciativa empreendedora internotvecircm no processo de descoberta cientiacutefica inovaccedilatildeo tecnoloacutegica e aplicaccedilotildees sociais de forma que o resultado final depende de um complexo padratildeo interativo Na verdade o dilema do determinismo tecnoloacutegico eacute provavelmente um problema infundado dado que a tecnologia eacute a sociedade e a sociedade natildeo pode ser entendida ou representada sem suas ferramentas tecnoloacutegicas (p 43)

Essa posiccedilatildeo de Castells pode ser entendida como uma interdependecircncia da relaccedilatildeo tecnologia e sociedade Ocorre que como estaacute posto a tecnologia aqui estaacute reduzida a ferramentas aparatos ou objetos Como tal este conceito reduzido tambeacutem reduz as possibilidades de interaccedilatildeo como mi-nimiza suas potencialidades de imprimir mudanccedilas reciacuteprocas nesta relaccedilatildeo Para atendermos ao conceito ampliado que estamos trabalhando necessitamos considerar as observaccedilotildees de Castells mas adequando-as aos novos conceitos de tecnologia Para tal podemos buscar o auxiacutelio de Echeve-rria (2000)

Echeverria vai considerar que quando utilizar a expressatildeo lsquoaccedilotildees que transformam objetosrsquo estamos optando por uma antologia O autor lembra Quintanilla e informa que a ldquohistoacuteria da teacutecnica natildeo eacute soacute a histoacuteria dos artefatos ou dos conhecimentos teacutecnico mas sim toda a histoacuteria das accedilotildees e resultados produzidos graccedilas a elesrdquo e que ldquofilosofia da teacutecnica natildeo eacute soacute uma teoria do conhecimento teacutecnico mas tambeacutem uma accedilatildeo guiada por este conhecimentordquo Isso deixa claro que natildeo eacute possiacutevel reduzir a relaccedilatildeo tecnologia e sociedade a uma relaccedilatildeo baseada em artefatos visto que estes artefatos possuem uma histoacuteria socialmente construiacuteda e ao surgirem provocam uma re-estruturaccedilatildeo no meio social onde surgem provocando uma outra possiacutevel antologia objetos que transformam accedilotildees Ateacute aqui os pontos de vista dos autores satildeo proacuteximos

Uma diferenccedila mais acentuada eacute percebida quando passamos a considerar ldquoque essas accedilotildees teacutecnicas e em particular as accedilotildees telemaacuteticas natildeo soacute transformam objetos materiais como tambeacutem transfor-mam podem modificar relaccedilotildees e inclusive funccedilotildeesrdquo A antologia aqui precisa distinguir objetos relaccedilotildees e funccedilotildees e entendendo conceitos (e os valores consequentes destes conceitos) ldquocomo um

29 O ecologismo reconhece a irreversibilidade da civilizaccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica e propotildee de certo modo a busca de um novo equiliacutebrio dentro da relaccedilatildeo tecnologia-natureza dando relevacircncia ao estabelecimento de valores sociais e poliacuteticos que sirvam para a tomada de decisotildees sobre as opccedilotildees de desenvolvimento econocircmico e tecnoloacutegico30 Conheccedila mais em httpptwikipediaorgwikiManuel_Castells

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SOBRE A TECNOLOGIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A TECNOLOGIA54

tipo particular de funccedilatildeordquo e se aproxima das antologias aplicaacuteveis a teorias de sistemas Ampliando o conceito de tecnologia e aplicando-o ao universo da teletecnologia percebemos que as accedilotildees tecno-loacutegicas modificam objetos modificam relaccedilotildees e possuem muacuteltiplas consequecircncias especialmente quando essas relaccedilotildees satildeo espaciais e temporais visto que interferem sobre maneira na interaccedilatildeo entre seres humanos e tambeacutem entre pessoas e objetos materiais

Logo a maneira como conceituamos tecnologia eacute de certa forma a maneira como desenhamos as possibilidadesnecessidades de atenccedilatildeo a construccedilatildeo social da tecnologia (e da ciecircncia) bem como da precauccedilatildeo que devemos ter quando olhando o futuro percebemos as possiacuteveis consequecircncia da tecnologia na sociedade

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Dyson Freeman O Sol o Genoma e a Internet ndash ferramentas das revoluccedilotildees cientiacuteficas Satildeo Paulo Companhia das Letras 2001

Wiebe Bijker (1995) Of Bicycles Bakelites and Bulbs Toward a Theory of Sociotechnical Change

Osorio Carlos La participacioacuten puacuteblica en sistemas tecnoloacutegicos Lecciones para la educacioacuten CTS Rev iberoam cienc tecnol soc Ciudad Autoacutenoma de Buenos Aires v 2 n 6 dic 2005 accedido en 02 sept 2014 Disponible en httpwwwscieloorgarscielophpscript=sci_arttextamppid=S1850-00132005000300009amplng=esampnrm=iso

Atividade Proposta para reflexatildeo

1 Reavalie a anaacutelise de tecnologia realizada por Coates datado de 1971 considerando as novas formas de tecnologia de televisatildeo maior nuacutemero de aparelhos por residecircncia maior nuacutemero de canais disponiacuteveis por residecircncia (TV por sateacutelite e TV a cabo) e an-tecipe a possibilidade de impacto social a partir da futura interaccedilatildeo entre espectador e ldquoTVrdquo

2 Veja o viacutedeo ldquoA TV destroacutei relacionamentosrdquohttpvideologuolcombrvideophpid=340211 ou httpwwwyoutubecomwatchv=I0-zVkQztQE

SOBRE A SOCIEDADE MAS NAtildeO O QUE Eacute A SOCIEDADE55

4 Sobre a Sociedade mas natildeo o que eacute a Sociedade

41 Introduccedilatildeo

A melhor maneira de iniciar um texto que pretende ser lido e estudado por pessoas com formaccedilotildees distintas e diferentes experiecircncias eacute definir a priori os conceitos chave Isso eacute o que se pretende com o tema Sociedade buscando conectaacute-lo aos dois anteriores Ciecircncia e Tecnologia

Eis que surge o primeiro problema quando se consulta o Dicionaacuterio de Ciecircncias Sociais no seu ver-bete Sociedadesociety

A Natildeo haacute ateacute agora uma definiccedilatildeo de sociedade que seja uacutenica e aceita de modo geral pois cada um dos trecircs usos mais comuns do termo refere-se a aspectos significativos da vida socialA1 Em sentido mais lato refere-se agrave totalidade das relaccedilotildees sociais entre as criaturas hu-manasA2 Cada agregado de seres humanos de ambos os sexos e de todas as idades unidos num grupo que se autoperpetua e possui suas proacuteprias instituiccedilotildees e cultura distintas em maior ou menor grau pode ser uma sociedade Eacute de se notar que na praacutetica os limites das socie-dades especificas baseiam-se nesse sentido frequumlentemente em fronteiras poliacuteticas pro-cedimento que gera problemas fundamentais quanto agraves relaccedilotildees entre Estado e sociedadeA3 Sociedade tambeacutem tem sido definida como as instituiccedilotildees e a cultura de um grupo de pessoas de ambos os sexos e todas as idades grupo esse inclusivo mais ou menos distinto e que se autoperpetua Existem convicccedilotildees oacutebvias entre a segunda e a terceira definiccedilotildees pois ambas se referem a duas premissas fundamentais e inter-relacionadas da pesquisa socioloacute-gica de que homens onde quer que estejam vivem em grupos e que seu comportamento eacute substancialmente afetado pelas normas e valores de que compartilham (CHINOY 1986 p1139-1140)

Se por um lado isso dificulta a construccedilatildeo do texto didaacutetico por outro fortalece a tese que estamos defendendo desde o iniacutecio de nosso estudo CTS a flexibilizaccedilatildeo dos conceitos de Ciecircncia e de Tec-nologia e a reflexatildeo em torno da ideia de que mais Ciecircncia e mais Tecnologia resultam objetivamente em progresso e bem-estar social

Para superarmos esta dificuldade conceitual aparente ndash digo aparente porque isso que pode parecer difiacutecil para as profissionais das chamadas ciecircncias exatas formados pelas ldquoescolas claacutessicasrdquo eacute uma constante para os profissionais das ditas ciecircncias sociais ndash precisamos estabelecer algumas premissas que nos permitam conectar o tema Sociedade com Ciecircncia e Tecnologia e construir nossa hipoacutetese de trabalho

A primeira eacute a flexibilizaccedilatildeo necessaacuteria da definiccedilatildeo de sociedade Antes esta definiccedilatildeo era estabele-cida por (1) fronteiras poliacuteticasgeograacuteficas e por (2) origens eacutetnicas e agora tambeacutem se define por sociedades estruturadas por (3) interesses e por (4) relacionamentos (MORSE 1998) Esta hipoacutetese de trabalho eacute importante por conta da funccedilatildeo da tecnologia no desenho e na manutenccedilatildeo destes mo-delos inovadores de sociedade

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A segunda eacute a natureza processual da Sociedade o que nos leva a necessidade de considerar que a anaacutelise deve ser realizada ao longo da linha do tempo conectando modelos passados com os mo-delos do presente e os possiacuteveis modelos prospectados para o futuro Sobre isso escreve Sztompka (1998 p 111s)

As sociedades humanas em todos os niacuteveis de sua complexidade interna mudam sem ces-sar Mudam no niacutevel macro da economia da poliacutetica e da cultura no niacutevel meso das comu-nidades grupos e organizaccedilotildees e no niacutevel micro das accedilotildees e interaccedilotildees individuais A socie-dade natildeo eacute uma entidade eacute um conjunto de processos interconectados de muacuteltiplos niacuteveis Segundo Edward Shils A sociedade eacute um fenocircmeno transtemporal Ela natildeo eacute constituiacuteda de sua existecircncia em um dado instante de tempo Ela soacute existe no decorrer do tempo A so-ciedade eacute temporalmente constituiacuteda (1981 327)A sociedade estaacute portanto em constante movimento do passado para o futuro O presente eacute apenas uma fase transitoacuteria entre o que aconteceu e o que estaacute por acontecer No estado presente da sociedade os efeitos vestiacutegios e traccedilos do passado coexistem com as sementes e potencialidades do futuro A natureza processual da sociedade implica fases anteriores ligadas por viacutenculos causais agrave fase presente por sua vez portadora das condiccedilotildees causais determinantes da fase seguinte

Estabelecidas estas ldquohipoacuteteses de trabalhordquo vamos avaliar os modelos de sociedade na histoacuteria do homem a partir de Tezanos Tortajada e Loacutepez Pelaacuteez (1997)

42 Desenvolvimento da sociedade Uma Tipologia geral

Haacute pelo menos duas maneiras de se avaliar a evoluccedilatildeo dos modelos de Sociedade

bull A primeira eacute utilizando-se das categorias didaacuteticas instituiacutedas pelos diversos teoacutericos sociais ao longo do tempo que se utilizaram de variaacuteveis e fatores proacuteprios (a partir de TEZANOS TORTAJADA e LOacutePEZ PELAacuteEZ 1997 p24-25) e

bull A segunda a partir de uma sequumlecircncia geral baacutesica de cinco tipos de sociedades (a partir de TEZANOS TORTAJADA e LOacutePEZ PELAacuteEZ 1997 p27)

Tabela 1 Principais tipologias e classificaccedilotildees da evoluccedilatildeo das sociedades

Autor Classificaccedilatildeo proposta Variaacuteveis baacutesicas consideradas

Contexto teoacuterico interpretativo Obra claacutessica

Adam Ferguson 31

(1793-1816)

bull Selvagembull Baacuterbarabull Civilizada

A divisatildeo do trabalho e a instituiccedilatildeo social da propriedade

Escola escocesa de Economia Poliacutetica

Um ensaio sobre a histoacuteria da socie-dade civil (1767)

Augusto Comte 32 (1798-1857)

bull Sociedade teoloacutegica de estrutura militar (propriedade e na exploraccedilatildeo do solo)bull Sociedade legista (distinccedilatildeo entre o po-der temporal e o poder espiritual)bull Sociedade industrial ou positivista

Os modelos e proce-dimentos do conheci-mento

Teoria das trecircs etapas

Fundaccedilatildeo da Sociologia

Discurso sobre o Espiacuterito Positivo (1844)

Lewis H Morgan 33

(1818-1881)

bull Selvagem (e 3 sub-periacuteodos)bull Barbaacuterie (e 3 sub-periacuteodos)bull Civilizaccedilatildeo

As progressivas aproxi-maccedilotildees da ciecircncia experi-mental (conhecimento e teacutecnicas para a sobre-vivecircncia)

Evolucionismo social La Sociedad Primi-tiva (1877)

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SOBRE A SOCIEDADE MAS NAtildeO O QUE Eacute A SOCIEDADE57

Karl Marx34

(1818-1883) e

Friedrich Engels35 (1820-1895)

Grandes sistemas de produccedilatildeobull Sistema antigo (escravagista)bull Sistema feudalbull Sistema despoacutetico-orientalbull Sistema capitalista (classista)

Tipologia histoacuterica de sociedadesbull A comunidade tribalbull A sociedade asiaacuteticabull A cidade antigabull A sociedade germacircnicabull A sociedade capitalista burguesabull A sociedade comunista sem classes

As relaccedilotildees de pro-duccedilatildeo

Os conflitos de classes

Materialismo dialeacutetico

Pensamento socialista

O Capital (Marx 1867-1894)

A origem da famiacute-lia da propriedade e do Estado (En-gels 1884)

Herbert Spencer 36

(1820-1903)

Primeira tipologiabull Sociedades simples (com vaacuterios subtipos segundo a forma de autoridade e suas carac-teriacutesticas nocircmades e sedentaacuteria) bull Sociedades duplamente compostas (se-dentaacuteria e com poderes estaacuteveis)bull Sociedades triplamente compostas (gran-des civilizaccedilotildees e sociedades industriais)

Segunda tipologiabull Sociedade militar bull Sociedade industrial

Grau de complexidade social (extensatildeo se-dentarismo sistema de poder e de autori-dade formas de inte-graccedilatildeo social divisatildeo do trabalho etc)

Evolucionismo

Analogia orgacircnica

Princiacutepios de So-ciologia (1876-1896)

Lewis Mumford37

(1895-1969)

bull Etapa anterior a apariccedilatildeo da teacutecnica bull Etapa teacutecnica (dividida em eoteacutecnica pa-leoteacutecnica e neoteacutecnica)

Emprego de diferen-tes teacutecnicas fontes de energia inventos recursos e mateacuterias primas

Evoluccedilatildeo social e evo-luccedilatildeo tecnoloacutegica

Teacutecnica y civiliza-cioacuten (1934)

Talcott Parsons38

(1902-1979)

bull Sociedades primitivas ou pouco diferen-ciadasbull Sociedades arcaicasbull Sociedades intermediaacuterias com escrita e religiatildeobull Sociedades modernas (universalistas com racionalidade formal etc)bull Sociedades ldquode sementesrdquo (Greacutecia anti-ga Israel)

Desenvolvimento cul-tural complexidade social diferenciaccedilatildeo e especializaccedilatildeo de funccedilotildees etc

Analise estrutural fun-cional Criacutetica do ldquohistoricismordquo e as explicaccedilotildees linea-res e universais

Sociedades Pers-pectivas Evolutivas e Comparativas (1966)

Tabela 2 Principais modelos de sociedades

Modelos de sociedade

Horizonte tem-poral

Formas de organizaccedilatildeo social predominante

Meios de sub-sistecircncia Principais tecnologias

Sociedades caccediladoras e co-letoras

Dos hominiacutedeos ateacute o homo sapiens (homo faber)

bull Tribos clatildes bandos grupos de caccedilabull Nomadismo bull A forma de organizaccedilatildeo social eacute a famiacutelia e o grupo de paren-tesco

CaccedilaColeta de vegetais em geral

bull Utensiacutelios de pedra e teacutecnica de caccedilabull Machados pontas de flechas e lanccedilas etc

Sociedades horticultoras

Iniacutecio da ldquorevoluccedilatildeo neoliacuteticardquo (11000 a a 10000 aC) ateacute o fi-nal do ultimo periacuteodo glacial

bull Aldeias e primeiros nuacutecleos urbanos significativosbull Sedentarismobull Desenvolvimento de formas de agrupamento social masculina mais ampla

Produtos de horta animais domeacutesticos etcProgressiva diver-sificaccedilatildeo de culti-vos (rotaccedilatildeo etc)

bull Paacutes enxadas Vasilhas teacutecnicas de cultivobull Primeiros metaisbull Energia muscular humana

31 Conheccedila mais em httpptwikipediaorgwikiAdam_Ferguson 32 Conheccedila mais em httpptwikipediaorgwikiAuguste_Comte 33 Conheccedila mais em httpwwwnetsabercombrbiografiasver_biografia_c_2510html e httpenwikipediaorgwikiLewis_H_Mor-gan (em inglecircs)34 Conheccedila mais em httpptwikipediaorgwikiKarl_Marx 35 Conheccedila mais em httpptwikipediaorgwikiFriedrich_Engels 36 Conheccedila mais em httpptwikipediaorgwikiHerbert_Spencer e httpvirtualbooksterracombrosmelhoresautoresbio-grafiasHerbert_Spencerhtm37 Conheccedila mais em httpptwikipediaorgwikiLewis_Mumford 38 Conheccedila mais em httpptwikipediaorgwikiTalcott_Parsons

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Sociedades agriacutecolas

4000 a 3000 anos aC

bull Grandes cidadesbull Grandes poderes poliacuteticosbull Impeacuterios

Cultivos em grande escala

bull Aradobull Desenvolvimento da metalurgiabull Roda e velabull Energia de animais eoacutelica e de aacutegua (moinhos)bull Sistema de irrigaccedilatildeobull Grandes obras puacuteblicas (templos pa-laacutecios piracircmides muralhas etc)

Sociedades industriais Seacuteculos XIX e XX Estado-Naccedilatildeo

Produccedilatildeo fabrilFabricaccedilatildeo de bens de consumo du-raacuteveis em grande escala

bull Maacutequinas bull Faacutebricasbull Energia eleacutetrica do gaacutes do carvatildeo (vapor) etcbull Novas tecnologias (mecanizaccedilatildeo fer-tilizantes inseticidas etc)

S o c i e d a d e s t e c n o l oacute g i c a s avanccediladas

Final do Seacutecu-lo XX e seacuteculo XXI

Internacionalizaccedilatildeo e coorde-naccedilatildeo supraestatalMundializaccedilatildeo da economia

Produccedilatildeo de mer-cadorias e produ-tos cada vez mais sofisticadosPrestaccedilatildeo de ser-viccedilosImportacircncia cres-cente do oacutecio

bull Robocircs industriaisbull Sistemas automaacuteticos de trabalhobull Revoluccedilatildeo microeletrocircnica microbio-loacutegica e novas fontes de energiabull Organizaccedilatildeo flexiacutevel da produccedilatildeo

421 Sociedades Algumas tipologias tecnocientiacutefico

Como foi possiacutevel perceber no estudo das duas tabelas anteriores a tipologia de sociedades ocorre a partir de padrotildees de anaacutelise externos Cada um dos estudiosos citados estudos a evoluccedilatildeo das so-ciedades utilizando-se de criteacuterios especiacuteficos permitindo-nos uma complexa gama de estudos que antes de se contradizerem se completam

Podemos fazer o mesmo exerciacutecio de anaacutelise das sociedades utilizando-nos de criteacuterios que se apoacuteiem em princiacutepios da Ciecircncia e da Tecnologia ou melhor da Tecnociecircncia Para isso escolhe-remos os textos de Peter Drucker (1996) Lewis Mumford (apud Bazzo Linsingen e Pereira 2003 e Martin Gordillo 2001) Javier Echeverriacutea (1999) e Ferreira (2010)

Peter Drucker (1996) em sua obra A Sociedade Poacutes-capitalista explora a evoluccedilatildeo dos modelos de sociedade a partir de conquistas marcadas por aparatos tecnoloacutegicos e chega a proposta de estabele-cimento da Sociedade do Conhecimento Para ele

A cada dois ou trecircs seacuteculos ocorre na histoacuteria ocidental uma grande transformaccedilatildeo Cruza-mos aquilo que chamei de divisor em um livro anterior Em poucas deacutecadas sociedade se reorganiza - sua visatildeo do mundo seus valores baacutesicos sua estrutura social e poliacutetica suas artes suas instituiccedilotildees mais importantes Depois de cinquumlenta anos existe um novo mundo E as pessoas nascidas nele natildeo conseguem imaginar o mundo em que seus avoacutes viviam e no qual nasceram seus pais Estamos atualmente atravessando uma dessas transformaccedilotildees Ela estaacute criando a sociedade poacutes-capitalista que eacute o assunto deste livroUma dessas transformaccedilotildees ocorreu no seacuteculo XIII quando o mundo europeu quase da noite para o dia passou a centralizarse na nova cidade - com a emergecircncia das guildas mu-nicipais como grupos sociais dominantes e o renascimento do comeacutercio a grandes distacircn-cias com a arquitetura goacutetica eminentemente urbana e praticamente burguesa e os novos pintores de Siena com a mudanccedila para Aristoacuteteles como a fonte da sabedoria e as universi-dades urbanas substituindo os monasteacuterios e seu isolamento rural como centros de cultura com as novas ordens religiosas urbanas os dominicanos e franciscanos emergindo como carreiras de religiatildeo aprendizado e espiritualidade e em poucas deacutecadas com a mudanccedila

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do latim para o vernaacuteculo e a criaccedilatildeo por Dante da literatura europeacuteiaDuzentos anos depois a transformaccedilatildeo seguinte teve lugar nos ses-senta anos entre a in-venccedilatildeo da imprensa por Gutenberg em 1455 e a Reforma Protestante de Lutero em 1517 Foram as deacutecadas em que floresceu o Renascimento com seu apogeu entre 1470 e 1500 em Florenccedila e Veneza do redescobrimento da antiguidade e da descoberta da Ameacuterica pelos europeus da Infantaria Espanhola o primeiro exeacutercito regular desde as legiotildees romanas da redescoberta da anatomia e com ela da pesquisa cientiacutefica e da adoccedilatildeo generalizada dos algarismos aacuterabes pelo ocidente E mais uma vez ningueacutem que vivesse em 1520 consegui-ria imaginar como era o mundo em que seus avoacutes tinham vivido e no qual seus pais tinham nascidoA transformaccedilatildeo seguinte comeccedilou em 1776 - o ano da Revoluccedilatildeo Americana do aper-feiccediloamento do motor a vapor por James Watt e da publicaccedilatildeo de A Riqueza das Naccedilotildees de Adam Smith Ela terminou quase quarenta anos depois em Waterloo - quarenta anos durante os quais nasceram todos os ismos modernos O capitalismo o comunismo e a Re-voluccedilatildeo Industrial surgiram durante essas deacutecadas que tambeacutem viram a criaccedilatildeo - em 1809 - da universidade moderna (Berlim) e do ensino universal Essas quatro deacutecadas trouxeram a emancipaccedilatildeo dos judeus - em 1815 os Rothschild haviam adquirido um grande poder fazen-do sombra a reis e priacutencipes Na verdade esses quarenta anos produziram uma nova civili-zaccedilatildeo europeacuteia Mais uma vez ningueacutem que vivesse em 1820 poderia imaginar o mundo dos seus avoacutes e no qual seus pais haviam nascidoNosso periacuteodo duzentos anos depois eacute um desses periacuteodos de transformaccedilatildeo Entretanto desta vez a transformaccedilatildeo natildeo se limita agrave sociedade e agrave histoacuteria ocidentais Na verdade uma das mudanccedilas fundamentais eacute que natildeo existe mais uma histoacuteria ou uma civilizaccedilatildeo ociden-tal mas sim uma histoacuteria e uma civilizaccedilatildeo mundiais- mas ambas satildeo ocidentalizadas Eacute discutiacutevel se a presente transformaccedilatildeo comeccedilou com a emergecircncia do primeiro paiacutes natildeo-ocidental o Japatildeo como grande potecircncia econocircmica - isto eacute por volta de 1960 - ou com o computador isto eacute com a informaccedilatildeo passando a ser fundamental Minha candidata seria a Declaraccedilatildeo de Direitos dos Combatentes Americanos depois da Segunda Guerra Mundial que deu a cada soldado americano que voltou o dinheiro para que ele frequumlentasse uma universidade - fato que natildeo teria feito nenhum sentido apenas trinta anos antes no final da Primeira Guerra Mundial A Declaraccedilatildeo de Direitos dos Combatentes - e a resposta en-tusiaacutestica por parte dos veteranos americanos - assinalaram mudanccedila para a sociedade do conhecimento Os futuros historiadores poderatildeo consideraacute-la o fato mais importante do seacuteculo vinteAinda estamos claramente no meio dessa transformaccedilatildeo na verdade se a histoacuteria servir de guia ela natildeo estaraacute concluiacuteda ateacute 2010 ou 2020 Mas jaacute mudou o cenaacuterio poliacutetico econocircmi-co social e moral do mundo Ningueacutem nascido em 1990 poderaacute imaginar o mundo em que seus avoacutes (isto eacute minha geraccedilatildeo) cresceram ou o mundo em que nasceram seus pais A primeira tentativa bem-sucedida para compreender os fatos iniciados em 1455 que trans-formaram a Idade Meacutedia e o Renascimento no mundo moderno foi feita somente cinquumlenta anos depois com os Comentaacuterios de Copeacuternico escritos entre 1510 e 1514 com O Priacutencipe de Maquiavel escrito em 1513 com a siacutentese por Michelangelo de toda a arte renascentista no teto da Capela Sistina pintado entre1508 e 1512 e com o restabelecimento da Igreja Catoacuteli-ca no Conciacutelio de Trento por volta de 1540A transformaccedilatildeo seguinte - que ocorreu haacute cerca de duzentos anos e foi anunciada pela Revoluccedilatildeo Americana - soacute foi ser compreendida e analisada sessenta anos depois nos dois volumes de Democracia na Ameacuterica de Alexis de Tocqueville publicados respectivamente em 1835 e 1840

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SOBRE A SOCIEDADE MAS NAtildeO O QUE Eacute A SOCIEDADE60

Jaacute avanccedilamos o suficiente na nova sociedade poacutes-capitalista para rever e revisar a histoacuteria social poliacutetica e econocircmica da Idade do Capitalismo e da naccedilatildeo-estado Assim este livro iraacute reexaminar o periacuteodo que estamos deixando para traacutes e deste novo ponto de observaccedilatildeo algumas coisas que veremos poderatildeo nos surpreender (como aconteceu comigo)Entretanto ainda eacute arriscado prever como seraacute o mundo poacutes-capitalista Mas acredito que podemos descobrir com algum grau de probabilidade que novas perguntas seratildeo levantadas e onde estaratildeo as grandes questotildees Em muitas aacutereas tambeacutem podemos descrever o que natildeo daraacute certo As respostas agrave maior parte das perguntas ainda estatildeo ocultas no interior do futuro A uacutenica coisa da qual podemos ter certeza eacute que o mundo que iraacute emergir do atual rearranjo de valores crenccedilas estruturas econocircmicas e sociais de conceitos e sistemas poliacuteticos de visotildees mundiais seraacute diferente daquilo que qualquer um imagina hoje Em al-gumas aacutereas - em especial na sociedade e em sua estrutura - jaacute ocorreram mudanccedilas baacutesicas Eacute praticamente certo que a nova sociedade seraacute natildeo-socialista e Poacutes-capitalista E tambeacutem eacute certo que seu principal recurso seraacute o conhecimento Isso tambeacutem significa que ela de-veraacute ser uma sociedade de organizaccedilotildees Em poliacutetica jaacute deixamos os quatrocentos anos de soberania da naccedilatildeo-estado para um pluralismo no qual a naccedilatildeo-estado natildeo mais seraacute a uacutenica unidade de integraccedilatildeo poliacutetica Ela seraacute um componente - embora ainda importante - daquilo que chamo de forma de governo poacutes-capitalista um sistema no qual competem e coexistem estruturas transnacionais regionais de naccedilotildees-estados e ateacute mesmo tribaisEssas coisas jaacute aconteceram portanto podem ser descritas E descrevecirc-las eacute a finalidade deste livro

Lewis Mumford em sua obra Teacutecnica y Civilizacioacuten (1934) apresenta as mudanccedilas que a maacute-quina introduziu nas formas da civilizaccedilatildeo ocidental permitindo-nos mais uma vez estabelecer uma ana-logia entre as mudanccedilas e a tipologia das sociedades desta vez considerando o desenvolvimento tecnoloacutegico O autor apresenta trecircs tipos de sociedades (Bazzo Linsingen e Pereira 2003 p 94-99)

bull A fase eoteacutecnica As teacutecnicas que permitem definir a sociedade eoteacutecnica satildeo as que aproveitam a aacutegua e a madeira O periacuteodo de desenvolvimento dessa etapa se estende aproximadamente desde o ano 1000 ateacute 1750 Na sociedade eoteacutecnica diminui a importacircncia que os seres humanos tinham tido como fonte de energia e aumenta o uso da energia proveniente do cavalo graccedilas ao seu melhor aproveitamento mediante duas novas peccedilas a ferradura e a moderna forma de arreios com a qual a traccedilatildeo se realiza a partir dos ombros e natildeo do pescoccedilo O maior progresso teacutecnico do ponto de vista energeacutetico se deu em regiotildees que tinham abundantes fontes de aacutegua e de vento graccedilas agrave apariccedilatildeo de rodas e moinhos hidraacuteulicos e de vento que permitiram uma melhora substancial em seu aproveitamentoJunto a estas fontes de energia a madeira era o material universal da sociedade eo-teacutecnica todas as construccedilotildees utilizavam madeira em sua estrutura e de madeira eram tambeacutem as ferramentas utilizadas na construccedilatildeo Inclusive a maior parte das maacutequinas e invenccedilotildees-chave da idade industrial se desenvolveram em madeira antes de serem trabalhadas em metal Apesar dessa utilizaccedilatildeo intensa Mumford considera que o que propiciou a destruiccedilatildeo da mata na eacutepoca foi o uso intensivo da madeira na mineraccedilatildeo na forja e na fundiccedilatildeo Outro dos materiais desse periacuteodo eacute o vidro cuja contribuiccedilatildeo agrave so-ciedade da eacutepoca foi muito importante Mudou a vida no interior das casas mediante seu uso em recipientes e sobretudo em janelas ampliou a visatildeo por meio das lentes em oacuteculos telescoacutepios e microscoacutepios e foi um fator essencial no desenvolvimento da quiacute-mica e no aperfeiccediloamento dos espelhos

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SOBRE A SOCIEDADE MAS NAtildeO O QUE Eacute A SOCIEDADE61

Satildeo muitos os inventos caracteriacutesticos da sociedade eoteacutecnica Talvez o mais importan-te seja o meacutetodo experimental da ciecircncia que Mumford considera a maior realizaccedilatildeo na fase eoteacutecnica A principal inovaccedilatildeo mecacircnica dessa eacutepoca eacute o reloacutegio mecacircnico segui-do embora natildeo em importacircncia da imprensa acompanhada pelo papel a cuja produccedilatildeo foi aplicada a maquinaria movida por energia mecacircnica Ele tambeacutem faz referecircncia a invenccedilotildees sociais dessa civilizaccedilatildeo como a universidade e a faacutebrica

bull A sociedade paleoteacutecnica A sociedade paleoteacutecnica teria seu iniacutecio por volta de 1700 e seu auge teria se produzido entre 1870 e 1900 sendo esta uacuteltima data coincidente com o iniacutecio de um movimento de decadecircncia Nesta etapa a sociedade abandonou seus va-lores vitais e passou a centrar-se somente nos valores pecuniaacuterios As mudanccedilas nesses valores foram motivadas pela introduccedilatildeo do carvatildeo como fonte de energia mecacircnica Essa nova fonte de energia tornou-se efetiva mediante novos meios como a maacutequina a vapor e tambeacutem foi utilizada nos novos meacutetodos de fundir e trabalhar o ferro A nova sociedade eacute pois um produto do carvatildeo e do ferroEm torno de 1780 cristaliza-se o modelo paleoteacutecnico que se pode ver em uma seacuterie de inventos e artefatos teacutecnicos o carro a vapor de Murdock o forno de reverbero de Cort o barco de ferro de Wilkinson o tear mecacircnico de Cartwright e os barcos a vapor de Jouffroy e de Fitch Realizaccedilotildees tiacutepicas da sociedade paleoteacutecnica satildeo a ponte e o barco de ferro A construccedilatildeo de estruturas de ferro como o Crystal Palace os primeiros arranha-ceacuteus a torre Eiffel etc converteram o ferro em material universal A induacutestria militar fez um amplo uso dele Eacute tambeacutem um periacuteodo em que a sociedade se dedica a uma sistemaacutetica destruiccedilatildeo do meio ambiente Eacute a sociedade da poluiccedilatildeo do ar e da con-taminaccedilatildeo das aacuteguas ()Junto a isso Mumford assinala que se produziu a passagem de tecnologias democraacute-ticas para outras mais autoritaacuterias enquanto a energia do vento e da aacutegua proacuteprias da fase eoteacutecnica eram graacutetis o carvatildeo era caro e a maacutequina a vapor custosa de modo que tendia agrave concentraccedilatildeo e ao monopoacutelio A sociedade paleoteacutecnica se desenvolveu como uma sociedade auto-suficiente o que soacute foi possiacutevel com o estabelecimento desde o seacuteculo XVIII da noccedilatildeo de progresso Considerava-se evidente a existecircncia de leis do progresso que se refletiam nas contiacutenuas invenccedilotildees de maacutequinas de novas comodida-des etc ()Deve se dizer que houve resistecircncias a tudo isso natildeo soacute individuais (Ruskin Nietzsche Melvillehellip) mas tambeacutem coletivas como as que se propocircs o movimento ludista -sobre os luditas veja-se o capiacutetulo O que eacute tecnologia e Noble 1995 A introduccedilatildeo da maacutequina nessa fase teve outra importante consequecircncia social a divisatildeo do mundo em zonas de produccedilatildeo de maacutequinas e zonas de produccedilatildeo de alimentos e mateacuterias-primas o que se-gundo Mumford trouxe consequecircncias nefastas que serviram de motivo para a Guerra Civil Americana ao provocar a queda no consumo de algodatildeo que reduziu os habitan-tes de Lancashire agrave extrema pobreza

bull A fase neoteacutecnica Mumford considera que na sociedade dessa eacutepoca haacute uma ruptura com o periacuteodo paleoteacutecnico e em certo sentido um retorno a algumas caracteriacutesticas da sociedade eoteacutecnica Eacute difiacutecil defini-la como um periacuteodo determinado posto que ain-da estamos imersos nela Tampouco foi produzida uma ruptura com o periacuteodo paleo-teacutecnico como a que este realizou com relaccedilatildeo ao eoteacutecnicoMumford fixa os comeccedilos da fase neoteacutecnica no momento em que os geradores de ener-gia tornam-se mais eficientes por volta de 1832 Em 1850 grande parte das descobertas fundamentais dessa nova fase jaacute haviam sido produzidas a pilha eleacutetrica a bateria o diacute-

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namo o motor a lacircmpada eleacutetrica o espectroscoacutepio a teoria da conservaccedilatildeo da energia Entre 1875 e 1900 jaacute se haviam aplicado esses inventos aos procedimentos industriais a central eleacutetrica o telefone Outras invenccedilotildees caracteriacutesticas do periacuteodo foram esboccedila-das ou completadas ateacute 1900 o fonoacutegrafo o cinematoacutegrafo o motor a gasolina a turbina a vapor o aviatildeohellipA fase neoteacutecnica esteve marcada desde o comeccedilo por uma nova forma de energia a eleacutetrica A eletricidade que diferentemente do carvatildeo podia proceder de vaacuterias fontes - o proacuteprio carvatildeo a correnteza de um rio as quedas daacutegua as mareacutes - mudou tambeacutem a possiacutevel distribuiccedilatildeo da induacutestria moderna no mundo posto que essa induacutestria jaacute natildeo tinha porque situarse na Europa ou nos Estados Unidos potecircncias dominantes por seu controle do carvatildeo e do ferroA eletricidade ao contraacuterio do carvatildeo eacute muito faacutecil de ser transferida sem grandes per-das de energia e sem custos excessivos Ademais eacute facilmente convertiacutevel de vaacuterias ma-neiras com o motor pode-se realizar um trabalho mecacircnico com a lacircmpada iluminar com o radiador1 aquecer etc O uso da eletricidade permitiu a sobrevivecircncia das peque-nas oficinas frente agraves grandes faacutebricas caracteriacutesticas da sociedade paleoteacutecnica Natildeo obstante isso natildeo impediu a concentraccedilatildeo de empresas que eacute mais um fenocircmeno que responde a interesses dos empresaacuterios ou ao setor financeiro que a puros condicionan-tes teacutecnicosOs materiais caracteriacutesticos desse periacuteodo satildeo as novas ligas as terras raras e os metais mais leves - cobre alumiacutenio Aparecem tambeacutem novos materiais sinteacuteticos celulose vulcanite baquelite e resinas sinteacuteticasA sociedade neoteacutecnica comeccedila a transformar radicalmente seus sistemas de comuni-caccedilatildeo o que constitui uma caracteriacutestica destacada do periacuteodo O teleacutegrafo o telefone e a televisatildeo - recordemos o que Mumford escrevia em 1934 - provocaram contatos mais numerosos instantacircneos e a longas distacircncias No entanto Mumford era bastante criacute-tico com esses artefatos Enfrentamo-nos aqui com uma forma ampliada de um perigo comum a todos os inven-tos uma tendecircncia a usaacute-los exija ou natildeo a ocasiatildeo Assim nossos avoacutes utilizavam cha-pas de ferro para as fachadas dos edifiacutecios apesar do fato de ser o ferro um conhecido condutor de calor [hellip] Eliminar as restriccedilotildees no estreito contato humano [que era o que propiciavam esses novos inventos para a telecomunicaccedilatildeo] foi em suas primeiras eta-pas tatildeo perigoso como a avalancha de populaccedilotildees em direccedilatildeo agraves novas terras aumentou as zonas de fricccedilatildeo Da mesma maneira mobilizou e acelerou as reaccedilotildees das massas como as que ocorrem em veacutesperas de uma guerra e incrementou os perigos de conflito internacionalApesar dessa visatildeo que alguns poderiam considerar excessivamente pessimista Mumford vecirc na sociedade neoteacutecnica uma mudanccedila com respeito agrave atitude que a so-ciedade paleoteacutecnica tinha sobre o entorno sobre o meio ambiente Na fase neoteacutecnica haacute uma maior preocupaccedilatildeo com a conservaccedilatildeo do ambiente natural Darwin e outros haviam posto a descoberto a inter-relaccedilatildeo existente no meio natural entre geologia cli-ma solo plantas animais bacteacuterias etc Mumford cita como exemplo a obra de George Perkins Marsh que jaacute em 1866 havia alertado sobre os perigos da destruiccedilatildeo de morros e do solo em sua obra ldquoO homem e a naturezardquoA fase neoteacutecnica tambeacutem ocasionou agrave sociedade um controle mais preciso da repro-duccedilatildeo humana A extensatildeo de meacutetodos anticoncepcionais e um melhor conhecimento

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da sexualidade humana foram elementos fundamentais na transformaccedilatildeo das relaccedilotildees entre os sexos e na proacutepria demografiaMumford conclui dizendo que

Cada uma das fases da civilizaccedilatildeo da maacutequina deixou seus frutos na sociedade Cada uma mudou sua paisagem alterou o plano fiacutesico das cidades utilizou certos dis-cursos e desprezou outros favoreceu certos tipos de comodidade e certas sendas de atividade e modificou a heranccedila teacutecnica comum [hellip] Chamar a essa complicada heranccedila de Idade da Energia ou Idade da Maacutequina oculta muito do que se potildee em re-levo Se a maacutequina parece dominar a vida de hoje eacute soacute porque a sociedade estaacute mais desorganizada do que estava no seacuteculo XVII

Atividade de auto-avaliaccedilatildeo impacto da tecnologia na sociedade

Mumford escreve que houve uma grande variaccedilatildeo de valores na fase paleoteacutecnica Escreva utilizan-do-se de apenas uma lauda nos padrotildees jaacute indicados como o carvatildeo e a economia do carvatildeo podem ter produzido este impacto

Javier Echeverriacutea em sua obra ldquoLos sentildeores del aire Teleacutepolis y El tercer entornordquo (1999) apresentou as relaccedilotildees entre sociedade e tecnologia sob a oacutetica das tecnologias telemaacuteticas oferecendo-nos seus trecircs entornos sendo que cada um deles se apresenta como uma tipologia social

bull Primeiro entorno (E1) O meio caracteriacutestico eacute o natural e nele vivem as sociedades mantidas pelas culturas de subsistecircncia - sedentaacuterias ou nocirc-mades - baseadas na caccedila na agricultura na pesca na pecuaacuteria ou nos recursos naturais Neste primeiro entorno soacute se percebe como existente o que estaacute presente fisicamente e agrave curta distacircncia Essa presenccedila fiacutesica e proacutexima eacute simultacircnea agrave nossa proacutepria presenccedila fiacutesicaAs formas proacuteprias ou caracteriacutesticas deste primeiro entorno satildeo o corpo humano o clatilde a tribo a famiacutelia a cabana o curral a casa o tuacutemulo a aldeia o trabalho a troca a propriedade a liacutengua falada a agricultura a pecuaacuteria os ritos os lugares sagrados as divindadeshellip

bull Segundo entorno (E2) O meio caracteriacutestico eacute o cultural social e urbano isto eacute uma sobrenatureza produzida graccedilas agrave teacutecnica e agrave induacutestria As relaccedilotildees humanas que se datildeo nas sociedades deste tipo satildeo as proacuteprias das relaccedilotildees urbanas e o acircmbito das relaccedilotildees se amplia nos conceitos de comarcas territoacuterios paiacuteses etc Nas sociedades deste se-gundo entorno foram-se instituindo distintas formas de poder que natildeo existiam em E1 como o religioso o militar o poliacutetico o econocircmico etc Posto que o desenvolvimento deste segundo entorno natildeo significa o desaparecimento do primeiro produzem-se con-flitos e tensotildees entre as formas proacuteprias de cada um deles Satildeo formas proacuteprias de E2 a vestimenta a famiacutelia a pessoa o indiviacuteduo o mercado a oficina a empresa a induacutestria o dinheiro os bancos as escolas os cemiteacuterios a escrita as ciecircncias as maacutequinas a jus-ticcedila a cidade a naccedilatildeo o Estado as Igrejashellip Assim nas sociedades do segundo entorno o corpo estaacute recoberto por uma sobrenatureza - roupa sapatos chapeacuteu tatuagens ma-quiagens brincos oacuteculoshellip - que foi produzida graccedilas agrave teacutecnica e agrave induacutestria

bull No terceiro entorno (E3) Esta nova forma de sobrenatureza depende em grande parte de uma seacuterie de inovaccedilotildees tecnoloacutegicas Conforme surjam novos avanccedilos tecnocientiacute-ficos as propriedades do terceiro entorno iratildeo se modificando por ser um espaccedilo basi-camente artificial [hellip]E3 eacute possibilitado por uma seacuterie de tecnologias entre as quais mencionaremos sete o

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telefone o raacutedio a televisatildeo o dinheiro eletrocircnico as redes telemaacuteticas a multimiacutedia e o hipertexto A construccedilatildeo e o funcionamento de cada um destes artefatos pressupotildeem numerosos conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos - eletricidade eletrocircnica informaacute-tica transistorizaccedilatildeo digitalizaccedilatildeo oacutetica compactaccedilatildeo criptologia etc- motivo pelo qual conveacutem destacar que a construccedilatildeo do terceiro entorno soacute comeccedilou a ser possiacutevel para os seres humanos apoacutes numerosos avanccedilos cientiacuteficos e teacutecnicos O terceiro entor-no eacute um dos resultados da tecnociecircncia e por isso emergiu naqueles paiacuteses que conse-guiram um maior avanccedilo tecnocientiacutefico sobretudo nos EUA onde se descobriram ou pelo menos se implementaram e difundiram quase todos esses avanccedilos tecnocientiacutefi-cos

()

Sobre a obra de Echeverria Bazzo Linsingen e Pereira (2003) complementam dizendo

Segundo o autor em E3 se estaacute produzindo o que se chama uma situaccedilatildeo neofeudal onde alguns senhores os senhores do ar - que datildeo tiacutetulo a uma de suas obras sobre o tema - controlam em uma relaccedilatildeo proacutexima a vassalagem agraves pessoas dependentes e submetidas agrave sua tecnologia Satildeo senhores do ar posto que seu poder natildeo se encontra no territoacuterio ou no espaccedilo fiacutesico proacuteximo como ocorria em E1 e E2 mas se assenta nos sateacutelites nas redes de comunicaccedilatildeo nos servidores informaacuteticos etc (p103)

Conheccedila mais

Ouccedila a entrevista de Javier Echeverriacutea sobre o E3 em httpportaleducarnoticiasactualidad-educarjavier-echeverria-en-educarphp

Ferreira (2010) em sua dissertaccedilatildeo sintetiza a ideia de paradigma tecnoeconocircmico a partir da re-flexatildeo de uma seacuterie de outros autores O paradigma tecnoeconocircmico se caracteriza como a

combinaccedilatildeo de inovaccedilotildees de produto teacutecnicas organizacionais e administrativas capazes de abrir oportunidades de investimento e lucro Verificase que aleacutem dos fatores teacutecnicos este conceito abrange tambeacutem os fatores institucionais Cada paradigma tecnoeconocircmico possui um conjunto especiacutefico de fatores-chave e induacutestrias-chave propulsores do cresci-mento econocircmico e as formas de organizaccedilatildeo industrial e de competiccedilatildeo tambeacutem se alte-ram

O quadro a seguir indica os periacuteodos histoacutericos que foram marcados por acontecimentos tecnoloacute-gicos redundando em induacutestrias especiacuteficas fatores que favorecem o chamado progresso naquele periacuteodo e o tipo de organizaccedilatildeo industrial favorecida A nosso ver eacute possiacutevel ainda avaliar estes itens combinados considerando os impactos sociais

Por tal eacute possiacutevel imaginar que os paradigmas tecnocientiacuteficos desenham modelos de sociedades de forma direta ou por acomodaccedilatildeo Vejamos o que nos apresenta

Tabela 3

Periacuteodos Descriccedilatildeo Induacutestrias-chave Fatores-chave Organizaccedilatildeo industrial

1770-1840 Mecanizaccedilatildeo Tecircxtil quiacutemica metal-mecacircnica ceracirc-mica Algodatildeo e ferro Pequenas empresas locais

1840-1890 Maacutequinas a vapor e ferrovias

Motores a vapor maacutequinas-ferramenta maacutequinas para ferrovias

Carvatildeo e sistemas de transportes

Pequenas e grandes empresas e crescimento das sociedades anocircnimas

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1890-1940 Engenharia pesada Estaleiros produtos quiacutemicos armas maacutequinas eleacutetricas accedilo Monopoacutelios e oligopoacutelios

1940-1980 Fordista Automobiliacutestica armas aeronaacuteutica bens de consumo Derivados de petroacuteleo

Concorrecircncia oligopoliacutestica e crescimento das multinacio-nais

A partir de 1980 TIC

Computadores produtos eletrocircnicos software telecomunicaccedilotildees novos ma-teriais e serviccedilos de informaccedilatildeo

Microprocessadores Redes de empresas

Cada periacuteodo marcado por um tipo de induacutestria e de fatores chaves floresceu em locais geografica-mente distintos mesmo que alguns deles reiterasse a capacidade produtiva de determinado paiacutes ou regiatildeo A cada ciclo novo tiacutenhamos pelo menos dois movimentos contraditoacuterios uma cadeia produ-tiva que se enfraquecia (ou desaparecia) e uma cadeia produtiva que surgia Logo em torno da cadeia produtiva que surgia temos uma regiatildeo um paiacutes um conjunto de tributos que passa a alimentar o setor puacuteblico uma concentraccedilatildeo de pessoas e instituiccedilotildees que buscam o ldquonovo eldoradordquo Haacute certa-mente o que se convencionou chamar de progresso

Por outro lado a induacutestria que se enfraqueceu ou mesmo desapareceu deixa suas ldquocicatrizes so-ciaisrdquo Ficam aqueles que perderam os empregos os setores puacuteblicos que natildeo mais receberatildeo os tri-butos proacuteprios da produccedilatildeo ou da comercializaccedilatildeo ficam os passivos sociais de toda ordem

Essa questatildeo que apresentamos fica melhor desenhada quando identificamos as ecircnfases tecnoloacutegicas e os campos do saber eou da produccedilatildeo que foram privilegiados o que foi designado como ondas segundo Tigre (2006 apud Ferreira 2010)

Tabela 4

Ondas CampT e Educaccedilatildeo

Transporte e Comunicaccedilotildees Energia

1ordf revoluccedilatildeo industria(1780-1830)

Aprender-fazendoSociedades cientiacuteficas

Canais Estradas de ferro

Roda drsquoaacutegua(moinhos)

2ordf revoluccedilatildeo industrial(1830-1880) Engenheiros civis e mecacircnicos Estradas de ferro

Teleacutegrafo Vapor

Idade da eletricidade(1880-1930)

PampD industrialQuiacutemica e eltricidadeLaboratoacuterios nacionais

Ferrovias (accedilo)Telefone Eletricidade

Idade da produccedilatildeo em massa(1930-1980)

PampD industrial em escala(Governos e empresas)Educaccedilatildeo em massa

RodoviasRaacutedio Petroacuteleo

Idade da microeletrocircnica(a partir de 1980)

Redes de dadosRedes globais de PampDTreinamento contiacutenuo

Redes de convergentes de comuni-caccedilotildees em multimiacutedia Petroacuteleo e gaacutes

Tecnologias ambientais e de sauacutede( )

BiotecnologiaGeneacuteticaNanotecnologia

TelemaacuteticaTeletrabalho Energias renovaacuteveis

43 Como se fosse uma conclusatildeo

Quando eu tinha dezessete anos fui estudar na Cambridge University e tive sorte de conhe-cer o famoso matemaacutetico Godfrey Hardy()Muitas vezes nos uacuteltimos anos desejei ter podido explicar a Hardy o que fiz com a matemaacutetica que ele me ensinou Agraves vezes sonho que ele vai entender e me perdoar por eu ter me desviado de seus ideais [o de trabalhar apenas em matemaacutetica pura e natildeo em matemaacutetica aplicada]

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SOBRE A SOCIEDADE MAS NAtildeO O QUE Eacute A SOCIEDADE66

Durante minha vida profissional encontrei felizmente aacutereas da ciecircncia em que minhas ap-tidotildees matemaacuteticas puderam ser utilmente empregadas Trabalhei numa variedade de pro-blemas em fiacutesica de partiacuteculas em mecacircnica estatiacutestica em fiacutesica da mateacuteria condensada em astronomia e em biologia Tambeacutem trabalhei em problemas de engenharia aplicando a matemaacutetica ao projeto de instrumentos e maacutequinas Quando eu estava projetando maacutequi-nas costumava pensar na mais famosa declaraccedilatildeo do livro de Hardy aquela que expressava em poucas e amargas palavras sua aversatildeo pela ciecircncia aplicada Uma ciecircncia eacute dita uacutetil se seu desenvolvimento tende a acentuar as desigualdades existentes na distribuiccedilatildeo de riqueza ou se promove mais diretamente a destruiccedilatildeo da vida humana Eu tentava provar que Hardy estava errado que a ciecircncia pode ser uacutetil sem ser nociva Ao escolher em quais problemas trabalhar eu sempre tinha em mente a advertecircncia de Hardy Sua decla-raccedilatildeo eacute muitas vezes verdadeira e eacute uma advertecircncia que todos os cientistas aplicados devem levara seacuterio (grifos nossos)

Freeman Dyson 2001 p7 e 9

Atividade Proposta para reflexatildeo

1 Considerando as propostas de tipologia de Echeverria responda se as escolas que re-cebem computador e conseguem conectar-se a internet estatildeo ou natildeo no E3 Justifique sua resposta

2 Considerando o texto final de Dyson comente os riscos possiacuteveis de uma sociedade tecnocientiacutefica tornar-se mais desigual

SOBRE AS RELACcedilOtildeES CIEcircNCIA TECNOLOGIA E SOCIEDADE67

5 Sobre as relaccedilotildees Ciecircncia Tecnologia e So-ciedade

A escolha das tecnologias natildeo eacute portanto somente uma escolha de meios neutros mas uma escolha de sociedade Natildeo eacute estranho entatildeo que quando se consideram as tecnologias raramente se examine a or-ganizaccedilatildeo social a que conduzem

Geacuterard Fourez

51 Introduccedilatildeo

Vamos retornar a nossa equaccedilatildeo ingecircnua da ciecircncia obtida apoacutes o relatoacuterio Bush (capiacutetulo 1) + ciecircn-cia = + tecnologia = + riqueza = + bem-estar social Se ela eacute tomada como verdade ndash e tem sido assim ndash a Ciecircncia e sua companheira a Tecnologia passam a ter grande poder frente as comunidades em geral considerando a (1) dependecircncia estabelecida por meio dos aparatos tecnoloacutegicos e (2) pela distacircncia entre o fazer cientiacutefico e o entendimento pelas camadas gerais da populaccedilatildeo Essa dependecircncia pela Tecnologia e o natildeo-entendimento dos coacutedigos da Ciecircncia enfraquecem a capacidade de enfrenta-mento e de participaccedilatildeo dos membros da Sociedade ao mesmo tempo em que conferem aqueles primeiros um razoaacutevel poder e status

A Ciecircncia e a Tecnologia estatildeo de tal forma interligadas agrave Sociedade que esta uacuteltima natildeo sabe mais como viver sem aquelas primeiras Com esta ideia Gerard Fourez (1995) inicia um capiacutetulo intitula-do Ciecircncia Poder Poliacutetico e Eacutetico que nos utilizaremos para balizar algumas questotildees em torno das relaccedilotildees da triacuteade CTS

Ao defender a necessidade de refletirmos sobre as relaccedilotildees entre Ciecircncia Tecnologia e Socie-dade Fourez (1995) faz a seguinte afirmaccedilatildeo

O conhecimento eacute sempre uma representaccedilatildeo daquilo que eacute possiacutevel fazer e por conseguin-te representaccedilatildeo daquilo que pode ser objeto de uma decisatildeo na sociedadeA questatildeo do viacutenculo entre os conhecimentos e as decisotildees se impotildee portanto Que existe um viacutenculo isto eacute indicado pelo bom senso se se sabe que eacute possiacutevel construir uma ponte de uma margem a outra de um rio pode-se questionar se ela eacute ou natildeo desejaacutevel (p 207)

A pergunta que se apresenta eacute se o conhecimento ndash que diz ser possiacutevel construir a ponte ndash eacute capaz de dizer se devemos ou natildeo construir a ponte ou seria essa uma decisatildeo com participaccedilatildeo social Trata-se de discutir aqui se as decisotildees de poliacutetica ou eacuteticas devem ser determinadas pela Ciecircncia ou melhor por aqueles que operam os conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos os cientistas ou especialistas

52 Modelos de interaccedilatildeo segundo HabermasFourez

Ainda conduzidos por Fourez vamos lembrar que o filoacutesofo Juumlrgen Habermas39 classifica as inte-raccedilotildees ente Ciecircncia e Sociedade em trecircs grupos distintos As interaccedilotildees tecnocraacuteticas as decisionis-tas e as pragmaacutetico-poliacuteticas deixando claro desde jaacute que essas interaccedilotildees jamais existem em estado puro Esses modelos de interaccedilatildeo de Habermas podem ser resumidos da seguinte forma (Fourez 1995 p 224)

bull Tecnocraacuteticos as ciecircncias e a teacutecnica (os especialistas) determinam as poliacuteticas

39 Conheccedila mais em httpptwikipediaorgwikiJC3BCrgen_Habermas

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SOBRE AS RELACcedilOtildeES CIEcircNCIA TECNOLOGIA E SOCIEDADE68

bull Decisionistas os consumidores determinam os fins os teacutecnicos os meiosbull Pragmaacutetico-poliacutetico interaccedilotildees e negociaccedilotildees entre ldquoespecialistasrdquo e ldquonatildeo-especialistasrdquo

A fim de exemplificar as trecircs interaccedilotildees Fourez propotildee exemplos de interaccedilatildeo entre o meacutedico e seu paciente e entre um mecacircnico e o dono do carro

No modelo Tecnocraacutetico supotildee-se que o meacutedico e o mecacircnico sabem o que eacute melhor para o pa-ciente e para o dono do carro respectivamente Afinal de contas ambos possuem o conhecimento especiacutefico de suas aacutereas de atuaccedilatildeo Tanto o meacutedico quanto o mecacircnico diratildeo ldquoNatildeo se preocupe vou resolver todos os seus problemasrdquo Para o modelo tecnocraacutetico de interaccedilatildeo ldquoas decisotildees cabem ao especialistardquo

De acordo com o modelo Decisionista a situaccedilatildeo eacute um pouco diferente Nele o especialista pergun-taraacute ao cliente o que ele tem em vista ou quais satildeo seus objetivos ao procuraacute-lo O dono do carro pode querer um automoacutevel veloz ou econocircmico ou seguro ou que decirc pouca despesa ou vaacuterios desses itens Apoacutes tomar conhecimento das finalidades ou objetivos do seu cliente o especialista buscaraacute o melhor meio para atingir o objetivo pretendido Em siacutentese

Esse modelo portanto faz a distinccedilatildeo entre tomadores de decisatildeo e teacutecnicos Uns determi-nam os fins outros os meios Esse modelo diminui a dependecircncia em relaccedilatildeo ao teacutecnico uma vez que satildeo as proacuteprias pessoas que decidem sobre seus objetivosUma sociedade decisionista consideraraacute que cabe agraves instituiccedilotildees poliacuteticas determinar os ob-jetivos visados por essa sociedade Cabe aos teacutecnicos apoacutes encontrar os meios adequados (p 208)

De acordo com o terceiro modelo o pragmaacutetico-poliacutetico o que eacute privilegiado eacute a perpeacutetua discussatildeo e negociaccedilatildeo entre o teacutecnico e o cliente O mecacircnico pediraacute o telefone do cliente para mantecirc-lo in-formado de suas descobertas quanto ao estado do carro ao mesmo tempo que ouviraacute suas intenccedilotildees a cada instante chegando ao final com um carro que satisfaccedila as necessidades de seu dono no tempo ideal de trabalho para o mecacircnico Escreve Fourez (1995)

Esse modelo pragmaacutetico-poliacutetico assemelha-se ao modelo decisionista exceto pelo fato de que a relaccedilatildeo entre os especialistas e natildeo-especialistas eacute permanente Contudo resta sem-pre uma decisatildeo delicada a partir de que momento considera-se (e quem considera) que os teacutecnicos compreendem de maneira suficiente a vontade de seus clientes para poder tra-balhar sem consultaacute-los O modelo pragmaacutetico-poliacutetico insiste sobre o fato de que os meios escolhidos podem levar agrave modificaccedilatildeo dos objetivos mas natildeo fornece nenhuma receita sim-ples a fim de poder haver a decisatildeo ele remete agraves negociaccedilotildees (motivo pelo qual natildeo o de-nominamos somente pragmaacutetico mas tambeacutem poliacutetico)Uma das profissotildees que mais pratica essa interaccedilatildeo entre o cliente e o teacutecnico eacute a arquite-tura Um bom arquiteto estabelece um contato permanente com o seu cliente buscando natildeo tomar as decisotildees em seu lugar Ao pocirc-lo a par das implicaccedilotildees teacutecnicas ligadas a sua es-colha o arquiteto pode levar o seu cliente a modificar alguns de seus objetivos (p 210-211)

Leia mais

As reflexotildees de Gerard Fourez (2003) sobre os objetivos da educaccedilatildeo cientiacutefica e os desafios presentes na escola httpwwwifufrgsbrpublicensinovol8n2v8_n2_a1html

Eacute possiacutevel perceber que as interaccedilotildees em estudo fortalecem a posiccedilatildeo da Ciecircncia como detentora do conhecimento que melhor observa que melhor organiza que melhor decide que melhor realiza que melhor avalia Esse eacute o ldquoCrdquo de Ciecircncia

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SOBRE AS RELACcedilOtildeES CIEcircNCIA TECNOLOGIA E SOCIEDADE69

Por outro lado o cidadatildeo se sente bastante familiarizado com os aparatos tecnoloacutegicos Afinal sua vida cotidiana esta repleta destes aparatos que deixam de ser suporte para serem indispensaacuteveis O risco dessa dependecircncia do homem a tecnologias diversas pode ser representado por dois exemplos envolvendo Hegel e Mary Shelley

bull Na dialeacutetica Hegel podemos lembrar das reflexotildees envolvendo o amo e o servo O amo ordenava ao servo que realizasse todos os serviccedilos e com o tempo o amo deixava de saber como fazer enquanto que o servo dominava todas as rotinas do como fazer Ao final quem dominava quem Quem era dependente de quem

bull Quanto a Mary Shelley vale a lembranccedila dos escritos em sua famosa novela Frankstein em 1818 A chamada siacutendrome de Frankstein se deve ao medo de que as forccedilas que nos utilizamos para dominar a natureza se voltem contra noacutes como faz o ldquomonstrordquo nos diversos filmes existentes Ao final diz o ldquomonstrordquo a Victor Frankstein Tu eacutes meu criador mas eu sou o teu senhorrdquo (Bazzo Linsingen e Pereira 2003 p 125)

Desde as tecnologias de transporte ateacute os aparelhos celular modernos os homens vecircm se deixando ldquoescravizarrdquo pelas tecnologias pois que estas tornam suas vidas mais confortaacuteveis ou tornam suas tarefas cotidianas menos penosas Esse eacute o ldquoTrdquo de Tecnologia

Por fim devemos considerar as accedilotildees que estruturam as comunidades e as sociedades quais-quer que sejam suas tipologias Elas pressupotildeem a participaccedilatildeo como corolaacuterio do processo social Cer-tamente essa participaccedilatildeo pode se dar por diversos canais institucionalizados que no nosso modelo esta baseado em processos democraacuteticos A participaccedilatildeo dos cidadatildeos na estrutura democraacutetica bra-sileira pode se dar das seguintes formas a democracia representativa a democracia participativa a democracia direta e a democracia consociativa a saber (Chrispino 2016 p 142-143)

bull A democracia representativa que resulta na eleiccedilatildeo de representantes do povo para os Poderes Legislativo e Executivo nos trecircs niacuteveis de governo (federal estadual e muni-cipal) Isso quer significar que o povo tem participaccedilatildeo direta na qualidade dos seus representantes sendo certo a qualidade dos governantes espelha o pensamento dos eleitores visto que nenhum deles chegou ao poder por concurso ou por sorteio

bull A democracia participativa faculta a participaccedilatildeo mais efetiva de cidadatildeos em espaccedilos de decisatildeo eou de acompanhamento Os exemplos satildeo os conselhos de acompanha-mento de accedilotildees de governo ou conselhos temaacuteticos Natildeo passa despercebido que um dos grandes entraves na consolidaccedilatildeo da boa representaccedilatildeo eacute o fato de que os que buscam representar se utilizam deste instituto como trampolim para projetos poliacuteticos pessoais tais como chegar a vereador chegar a deputado chegar a prefeito etc

bull A democracia direta se daacute pela participaccedilatildeo efetiva do cidadatildeo visando a decisatildeo Satildeo exemplos de participaccedilatildeo direta o plebiscito e o referendo Natildeo devemos confundir os institutos da democracia direta com as ferramentas de poliacutetica populista como foi o caso da denominada ldquoDemocracia Plebiscitaacuteriardquo que mais se assemelha a populismo oportunista quando um governante com alto iacutendice de aceitaccedilatildeo propotildee consulta agrave populaccedilatildeo sobre temas de interesse como a possibilidade de reeleiccedilatildeo sem limites

bull A democracia consociativa que natildeo deixa de ser uma derivada da democracia partici-pativa se caracteriza pela busca de consensos para o conviacutevio entre os diferentes ato-res e interesses que compotildeem a sociedade (Toba 2004) As conferecircncias nacionais os planos diretores os documentos de impacto de vizinhanccedila e de impacto ambiental satildeo exemplos deste novo instituto Aqui ganha aquele que demonstrar mais organizaccedilatildeo e capacidade de articulaccedilatildeo A chamada construccedilatildeo de consenso eacute uma tecnologia social que tende a ocupar importantes espaccedilos nas relaccedilotildees sociais contemporacircneas

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SOBRE AS RELACcedilOtildeES CIEcircNCIA TECNOLOGIA E SOCIEDADE70

Apresentados os canais possiacuteveis do exerciacutecio de participaccedilatildeo social na estrutura democraacutetica cabe perguntar em qual deles o cidadatildeo efetivamente exercita seu controle ou manifesta seu poder de es-colha frente as questotildees que envolvem Ciecircncia e Tecnologia Ou se estamos efetivamente alimentando a interaccedilatildeo Tecnocraacutetica de Habermas chamando os especialistas para que eles decidam os mais va-riados assuntos Ao discutir este assunto Fourez (1995) apresenta interessante e importante questatildeo

O estatuto de especialista apresenta uma ambiguumlidade fundamental mesmo que como tal ele seja necessaacuterio De fato eacute praacutetica geral pedir ao especialista que decida em funccedilatildeo de seu saber cientiacutefico Ora esse saber depende de um paradigma e somente eacute aplicaacutevel no sentido estrito de acordo com as condiccedilotildees definidas por esse paradigma e pelo laboratoacuterio ao qual estaacute ligado Contudo o parecer especializado que se pede dele destina-se agrave vida cotidiana Natildeo se coloca ao especialista uma questatildeo de ordem cientiacutefica mas de ordem social ou econocircmica Em consequecircncia a especialidade natildeo se liga apenas agraves disciplinas cientificas mas agrave maneira pela qual o especialista traduz o problema da vida comum em seu paradigma disciplinar E essa traduccedilatildeo natildeo depende de sua disciplina mas do razoaacutevel ou do senso comum De um modo paradoxal poder-se-ia dizer que um especialista eacute algueacutem a quem se pede que tome uma decisatildeo em nome de sua disciplina sobre algo que natildeo diz respeito exatamente a sua disciplina

Eacute certo que o especialista natildeo eacute a pessoa mais capaz para decidir sobre os caminhos a serem trilhados para a sociedade Ele natildeo eacute o representante da sociedade legitimado para escolher ldquose a ponte deve ou natildeo ser construiacutedardquo O representante que melhor se aproxima desta funccedilatildeo eacute o poliacutetico Se esta-mos escolhendo bons poliacuteticos para essa funccedilatildeo de representaccedilatildeo social isso eacute laacute outro problema que natildeo cabe neste espaccedilo

O ldquoSrdquo da sigla CTS deve representar a Sociedade na triacuteade CTS digamos que esta representaccedilatildeo seja um caminho em construccedilatildeo (Vacarezza 2002) um sonho que vai se tornando realidade apesar de todas as dificuldades

Essa uacuteltima afirmaccedilatildeo natildeo eacute de forma alguma uma demonstraccedilatildeo de pessimismo A primeira accedilatildeo frente a uma dificuldade ou limitaccedilatildeo deve ser a de assumir que ela existe identificar suas carac-teriacutesticas e planejar o que fazer Assumir que a Sociedade natildeo possui instrumentos cognitivos para entender os temas tecnocientiacuteficos e que isso a impede de participar das decisotildees sociopoliacuteticas eacute indispensaacutevel para propor instrumentos eficazes de superaccedilatildeo do problema

Por tal eacute indispensaacutevel que se proceda a vulgarizaccedilatildeo cientiacutefica (Fourez 1995) por meio da alfabeti-zaccedilatildeo tecnocientiacutefica40 do cidadatildeo (Zaragoza 1999 Santos e Mortimer 2002 Eduarda Santos 2001 Auler 2003 Acevedo Vaacutezquez e Manassero 2003 Chassot 2003 Krasilchik e Marandino 2006 Santos 2007 Praia Gil e Vilches 2007)

Segundo a proposta de Fourez (1995 p 221-222) a vulgarizaccedilatildeo cientiacutefica ndash e diriacuteamos noacutes tambeacutem a tecnoloacutegica ndash pode dar-se de duas maneiras

bull Efeito vitrine a primeira por meio de uma operaccedilatildeo de relaccedilotildees puacuteblicas da comuni-dade cientiacutefica demonstrando ao povo as ldquomaravilhas que os cientistas satildeo capazes de produzirrdquo resultando em uma sociedade tecnocraacutetica com pouca liberdade e a

bull Transmissatildeo de poder social aquela que transmite certo conhecimento cientiacutefico ao

40 Os diversos autores utilizam Alfabetizaccedilatildeo Cientiacutefica alguns preferem alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica letramento cien-tiacutefico ou literaacutecia cientiacutefica Parece-nos mais adequado no contexto deste trabalho o termo alfabetizaccedilatildeo tecnocientiacutefica que iraacute significar a capacidade de ler compreender e expressar opiniotildees sobre ciecircncia e tecnologia (Krasilchik e Marandino 2004 p 26) Para noacutes CTS eacute um Enfoque mais amplo que a ACT por considerar as relaccedilotildees sociais tal qual indicou Fourez (1997 p 18)

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ponto de serem uacuteteis no entendimento de questotildees tecnocientiacuteficas ndash que chamaremos aqui de alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica ndash que resulta em cidadatildeos capazes de tomar decisotildees em relaccedilatildeo a sua vida individual e sua existecircncia coletiva

Para o autor

Para ser um indiviacuteduo autocircnomo e um cidadatildeo participativo em uma sociedade altamente tecnizada deve-se ser cientifica e tecnologicamente ldquoalfabetizadosrdquo Sem certas represen-taccedilotildees que permitem apreender o que estaacute em jogo no discurso dos especialistas as pessoas arriscam-se a se verem tatildeo indefesas quanto os analfabetos em uma sociedade onde reina a escrita (p 222)()O movimento Science Technology amp Society41 (STS) () tenta precisamente promover uma articulaccedilatildeo fecunda desses trecircs componentes

Santos (2007) em seu estudo sobre alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica chama a atenccedilatildeo para o fato de que a alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica tem sido objeto de preocupaccedilatildeo de profissionais de diversas aacutereas

bull Educadores em ciecircncia que se preocupam com a educaccedilatildeo nos sistemas de ensinobull Cientistas sociais que estatildeo voltados para o interesse do puacuteblico em geral por questotildees

cientiacuteficasbull Socioacutelogos da ciecircncia que estatildeo envolvidos com a interpretaccedilatildeo diaacuteria da ciecircnciabull Comunicadores da ciecircncia que estatildeo com a atenccedilatildeo voltada para a di-vulgaccedilatildeo cientiacutefi-

ca em sistemas natildeo-formais bull Economistas que estatildeo interessados no crescimento econocircmico decorrente do maior

consumo da populaccedilatildeo por bens tecnoloacutegicos mais sofisticados que requerem conheci-mentos especializados como o uso da informaacutetica

A partir dos acircngulos de anaacutelise e de procedimentos especiacuteficos de cada grupo de interesse que carac-teriza as diversas aacutereas preocupadas com a alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica eacute possiacutevel segundo Millar (1996 apud Santos 2007) agrupar os diversos argumentos em cinco categorias

a) argumento econocircmico que conecta o niacutevel de conhecimento puacuteblico da ciecircncia com o desenvolvimento econocircmico do paiacutes b) utilitaacuterio que justifica o letramento por razotildees praacuteticas e uacuteteis c) democraacutetico que ajuda os cidadatildeos a participar das discussotildees do debate e da tomada de decisatildeo sobre questotildees cientiacuteficas d) social que vincula a ciecircncia agrave cultura fazendo com que as pessoas fiquem mais simpaacuteti-cas agrave ciecircncia e agrave tecnologia e e) cultural que tem como meta fornecer aos alunos o conhecimento cientiacutefico como pro-duto cultural

Complementa Santos (2007)

Todos esses argumentos de alguma forma estatildeo presentes no curriacuteculo escolar e consti-tuem fatores de influecircncia no seu planejamento Assim se a prioridade da alfabetizaccedilatildeo for melhorar o campo de conhecimento cientiacutefico preparando novos cientistas o enfoque curricular seraacute centrado em conceitos cientiacuteficos se o objetivo for voltado para a formaccedilatildeo da cidadania o enfoque englobaraacute a funccedilatildeo social e o desenvolvimento de atitudes e valores

41 Em inglecircs no original

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O quadro a seguir sintetiza de acordo com Santos e Schnetzler (2003 p 65) os aspectos CTS que devem ser considerados no processo de Alfabetizaccedilatildeo Tecnocientiacutefica quando este se daacute a partir da Abordagem CTS

Aspectos CTS Esclarecimentos

1- Natureza da ciecircncia 1 - Ciecircncia eacute uma busca de conhecimentos dentro de uma perspectiva social

2 - Natureza da Tecnologia 2 - Tecnologia envolve o uso do conhecimento cientiacutefico e de outros conheci-mentos para resolver problemas praacuteticos A humanidade sempre teve tec-nologia

3 - Natureza da Sociedade 3 - A sociedade eacute uma instituiccedilatildeo humana na qual ocorrem mudanccedilas cientiacuteficas e tecnoloacutegicas

4 - Efeito da Ciecircncia sobre a Tecnologia 4 - A produccedilatildeo de novos conhecimentos tem estimulado mudanccedilas tec-noloacutegicas

5 - Efeito da Tecnologia sobre a Sociedade 5 - A tecnologia disponiacutevel a um grupo humano influencia grandemente o estilo de vida do grupo

6 - Efeito da Sociedade sobre a Ciecircncia 6 - Por meio de investimentos e outras pressotildees a sociedade influencia a direccedilatildeo da pesquisa cientiacutefica

7 - Efeito da Ciecircncia sobre a Sociedade 7 - Os desenvolvimentos de teorias cientiacuteficas podem influenciar o pen-samento das pessoas e as soluccedilotildees de problemas

8 - Efeito da Sociedade sobre a Tecnolo-gia 8 - Pressotildees dos oacutergatildeos puacuteblicos e de empresas privadas podem in-fluenciar a direccedilatildeo da soluccedilatildeo do problema e em consequecircncia promo-ver mudanccedilas tecnoloacutegicas

9 - Efeito da Tecnologia sobre a Ciecircncia 9 - A disponibilidade dos recursos tecnoloacutegicos limitaraacute ou ampliaraacute os progressos cientiacuteficos

53 Uma importante discussatildeo sobre CTS e Alfabetizaccedilatildeo Cientifica e Tecnoloacutegica

Apresentamos ateacute aqui uma defesa da ideia de que a participaccedilatildeo do cidadatildeo na construccedilatildeo da ciecircn-cia e da tecnologia bem como a percepccedilatildeo dos impactos causados pela produccedilatildeo da ciecircncia e da tec-nologia quer como conhecimento e artefato quer como corporaccedilatildeo social instituiacuteda para defesa de seus interesses pode ser alcanccedilada pela alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica para todos

Essa eacute uma discussatildeo importante que como em outros temas CTS possui interessantes divergecircncias e alguns pontos de convergecircncia sobre os quais espera-se pautar as modificaccedilotildees necessaacuterias para alcanccedilarmos os objetivos pretendidos no ensino das ciecircncias Esta divergecircncia que ao final permite uma leitura madura sobre as dificuldades da aacuterea CTS e indica pontos de convergecircncia eacute bem repre-sentada pelo debate mantido entre Acevedo e colaboradores (2005) e Praia Gil e Vilches (2007) Natildeo temos a pretensatildeo de sintetizar a riqueza de informaccedilatildeo que ambos os trabalhos disponibilizam mas sim extrair reflexotildees para o que propotildee este texto convidando o leitor atento e interessado a leitura nos originais

Inicialmente Acevedo et al (2005) apontam que eacute cada vez maior em didaacutetica das ciecircncias o consenso de considerar que um dos objetivos mais importantes da educaccedilatildeo cientiacutefica eacute que os estudantes da educaccedilatildeo Baacutesica adquiriram uma melhor compreensatildeo da natureza da ciecircncia (NdC) ldquoDeste modo a presenccedila da NdC no curriacuteculo de ciecircncias eacute valorizada pelos que concebem uma educaccedilatildeo cientiacutefica mais apropriada para o seacuteculo XXIrdquo Dizem os autores que vaacuterios paiacuteses (Austraacutelia Canadaacute Inglaterra Nova Zelacircndia USA etc) incluem explicitamente o ensino da NdC nos seus curriacuteculos cientiacuteficos e muitos outros o fazem de uma forma mais ou menos parcial ou impliacutecita As razotildees para inclusatildeo de NdC nos curriacuteculos varia com o tempo e atualmente percebemos duas grandes razotildees a alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica para todas as pessoas e a educaccedilatildeo CTS ldquoPensa-se que um dos principais objetivos do ensino das ciecircncias eacute a aprendizagem da NdC tanto para desenvolver uma melhor compreensatildeo da ciecircncia e seus meacutetodos como para contribuir para tomar mais consciecircncia das interaccedilotildees entre a ciecircncia a tecnologia e a sociedaderdquo

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Iniciando o raciociacutenio criacutetico sobre o ensino da NdC Acevedo et al (2005) lembram que

bull NdC eacute um metaconhecimento que surge da reflexatildeo sobre a proacutepria ciecircncia e por isso eacute um objetivo pouco razoaacutevel

bull ldquoSendo que a metacogniccedilatildeo constitui o niacutevel de maior complexidade no desenvolvi-mento cognitivo humano a compreensatildeo da NdC poderia ficar de fora do alcance da grande maioria dos alunosrdquo

bull Haacute dificuldades para estabelecer que conteuacutedos de NdC devem ser ensinados Os proacute-prios filoacutesofos e socioacutelogos da ciecircncia [e incluiriacuteamos os da tecnologia] tecircm desacordos sobre os princiacutepios baacutesicos da aacuterea considerando o caraacuteter dialeacutetico e controversos das questotildees em jogo aleacutem claro da maior tendecircncia destes profissionais para a polecircmica (Veja tambeacutem Vaacutezquez et al 2008)

bull Esclarece que estas discrepacircncias satildeo por demais abstratas e que natildeo ajudam se ensi-nadas ou postas no curriacuteculo a formar um melhor cidadatildeo pois natildeo contribuem para melhor entendimento da ciecircncia e da tecnologia contemporacircneos

bull Talvez seja possiacutevel algum consenso se forem definidos ldquoobjetivos e conteuacutedos mais modestos mais adaptados ao niacutevel de desenvolvimento dos alunos e mais ajustados aos requisitos de ensino de ciecircncias destinado a uma alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica para todosrdquo De acordo com esta ideia os meacutetodos para ensinar NdC tecircm-se mostrado eficazes quando

bull Abordam alguns dos seus aspectos baacutesicos de maneira expliacutecita e reflexiva (se tal se faz com uma boa planificaccedilatildeo desenvolvendo os conteuacutedos em ati-vidades variadas e avaliando os processos desenvolvidos e os resultados con-seguidos)

bull Se usam atividades baseadas na pesquisa cientiacuteficabull Se usam atividades baseadas na Histoacuteria e Filosofia da Ciecircnciabull Se usam atividades contextualizadas com um enfoque CTS do tipo IOS ndash Is-

sue-Oriented-Sciencebull Se usam atividades capazes de relacionar o mundo real e quotidiano dos alu-

nos

bull ldquoMesmo assim tecircm sido conduzidos projetos expressamente concebidos para melhorar a compreensatildeo da NdC que colocam o acento nos processos sociais da construccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico e na resoluccedilatildeo das con-troveacutersias cientiacuteficas Estas linhas de trabalho puseram tambeacutem em ques-tatildeo a crenccedila de que um ensino impliacutecito da NdC baseado na praacutetica dos procedimentos da ciecircncia e outros conteuacutedos indiretos permite alcanccedilar uma boa compreensatildeo da NdCrdquo (p 3)

Dando continuidade ao estudo criacutetico Acevedo et al (2005) aponta para dois importantes temas que parecem natildeo merecer a atenccedilatildeo devida dos profissionais do ensino de ciecircncias e tecnologia O primei-ro deles eacute a que as ldquocrenccedilas dos professores sobre a NdC se relacionam diretamente com a sua praacutetica docenterdquo e o segundo tema eacute a afirmaccedilatildeo de ldquoque uma boa compreensatildeo da NdC se apresenta como um fator decisivo para tomar melhores decisotildees sobre questotildees tecnocientiacuteficas de interesse socialrdquoNo que se refere ao primeiro tema indicam as hipoacuteteses que satildeo sustentadas

bull A compreensatildeo dos professores acerca da NdC tem uma certa relaccedilatildeo com a dos seus alunos e com a imagem que estes adquirem da ciecircncia

bull As crenccedilas dos professores sobre a NdC influenciam significativamente na sua forma de ensinar ciecircncias e nas decisotildees que tomam na aula

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Diversos estudos tecircm mostrado que estas afirmativas natildeo se sustentam desta forma simples e direta Sobre este tema simplificamos a ideia geral dos autores

Por outro lado diversos investigadores tecircm assinalado vaacuterios fatores que influem quando o professor transfere para a aula conteuacutedos de NdC A maioria desses fatores natildeo tem a ver com os proacuteprios conteuacutedos de NdC mas sim com resistecircncias gerais agraves inovaccedilotildees educati-vas e principalmente com o conhecimento didaacutetico do conteuacutedo[uma noccedilatildeo introduzida por Shulman] para expressar o conhecimento profissional especiacutefico que os professores desenvolvem sobre a forma de ensinar a sua disciplina e que eacute afinal a intersecccedilatildeo entre os conhecimentos didaacuteticos do tema e do objeto de ensino ndash a NdC neste caso ndash que tambeacutem se relaciona com a necessaacuteria transposiccedilatildeo didaacutetica dos conteuacutedos que devem transferir para a aula Sem duacutevida estes aspectos adicionam muito mais complexidade ao que se sus-tenta linearmente nas duas hipoacuteteses indicadas (p 4 adaptado)

No que se refere ao segundo tema parece clara a ideia de que eacute necessaacuteria a alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica de todas as pessoas Para isso muitos apresentam um argumento democraacutetico uma melhor compreensatildeo da NdC permite tomar decisotildees mais refletidas sobre questotildees tecnocientiacuteficas de interesse social outros vecircm esta decisatildeo do estudante como aquela decisatildeo dos cientistas para justificarem o conhecimento que geram Ao final perguntam os autores ldquoMas eacute o conhecimento da NdC um fator chave para tomar este tipo de decisatildeo rdquo

A resposta para esta provocante questatildeo pode estar no resultado de pesquisas envolvendo alunos do ensino secundaacuterio e universitaacuterio que demonstrou que no momento de tomar alguma decisatildeo eles consideram irrelevantes os conhecimentos cientiacuteficos que natildeo estejam de acordo com suas crenccedilas preacutevias Outros aceitaram os conhecimentos tecnocientiacuteficos necessaacuterios a uma ldquomelhorrdquo decisatildeo mas preferiam natildeo os utilizar dando preferecircncia a suas proacuteprias crenccedilas Outros tantos desprezaram o ponto de vista eacutetico de seus colegas quando estes conflitavam com o seu proacuteprio ponto de vista Outros ainda que possuem pontos de vista diferentes sobre NdC tomam decisotildees semelhantes sobre temas tecnocientiacuteficos o que pode sugerir que ldquoos fatores mais influentes foram os valores morais e pessoais assim como os aspectos culturais sociais e poliacuteticos relacionados com as questotildees coloca-dasrdquo

Esse conjunto de dificuldades pode sugerir que seja necessaacuterio dar mais atenccedilatildeo aos aspectos cul-turais sociais morais e emotivos e aos atitudinais e axioloacutegicos como defendem os que apoiam a abordagem CTS para o ensino das ciecircncias que pretende educar para a participaccedilatildeo dos cidadatildeos nos assuntos tecnocientiacuteficos de interesse social Outro aspecto levantado no artigo eacute o fato de que a NdC ensinada no curriacuteculo escolar estaacute baseada na ciecircncia acadecircmica na ciecircncia herdada na ciecircncia triunfalista Antes de atender a esse pressupos-to que natildeo atende aos pressupostos da abordagem CTS seria mais interessante que o curriacuteculo esco-lar se baseasse numa NdC apoiada na ideia por exemplo de tecnociecircncia por estar mais proacutexima da realidade do estudante e da sociedade e por isso ser alvo mais proacuteximo de suas possiacuteveis decisotildees

Ficam para futuras pesquisas as seguintes perguntas

a que tipo de ciecircncia nos referimos quando falamos de NdC qual eacute a NdC que pretendemos transmitir que consensos sobre a NdC podem ser vaacutelidos E sobretudo para que quere-mos ensinar NdC Em particular em relaccedilatildeo a esta uacuteltima questatildeo as propostas de NdC no ensinodas ciecircncias poderiam resultar esteacutereis sem ter em conta as finalidades da educaccedilatildeo cientiacutefica e para que deve ser relevante a ciecircncia escolar

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Dando sequecircncia a discussatildeo bem fundamentada Praia Gil-Perez e Vilches (2007) discutem o ldquopa-pel da natureza da ciecircncia na educaccedilatildeo cientiacutefica e em particular na formaccedilatildeo de uma cidadania para a participaccedilatildeo na tomada de decisotildeesrdquo a partir das reflexotildees de Acevedo et al (2005) Os autores desenvolvem seu trabalho a partir de dois eixos principais Formaccedilatildeo cientiacutefica para uma cidadania que permita participar em discussotildees tecnocientiacuteficas e a importacircncia da natureza da ciecircncia na edu-caccedilatildeo cientiacutefica e em particular na preparaccedilatildeo para a tomada de decisotildees tecnocientiacuteficas de inte-resse social Busquemos como fizemos anteriormente sintetizar as ideias dos autores convidando o leitor agrave leitura original pelos fundamentos que apresenta Aos autores partem do chamado argumento ldquodemocraacuteticordquo defendido especialmente no que propotildee a Declaraccedilatildeo de Budapeste (1999)

Para que um paiacutes esteja em condiccedilotildees de atender agraves necessidades fundamentais da sua po-pulaccedilatildeo o ensino das ciecircncias e da tecnologia eacute um imperativo estrateacutegico [hellip] Hoje mais do que nunca eacute necessaacuterio fomentar e difundir a alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica em todas as culturas e em todos os sectores da sociedade [] a fim de melhorar a participaccedilatildeo dos cidadatildeos na adopccedilatildeo de decisotildees relativas agrave aplicaccedilatildeo de novos conhecimentos

Apoacutes isso apresentam diferentes autores contraacuterios a ideia de alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica que buscam ldquoabalar aparentes evidecircnciasrdquo Para demonstrar a dificuldade de consenso sobre os conteuacutedos que devem ser dominados pelos estudantes a fim de se sentirem preparados para tomar decisotildees em torno de temas tecnocientiacuteficos de impacto social como o aquecimento global ou o uso de defensivos agriacutecolas Exemplificam com o resultado do

Project 2061 financiado pela American Association for the Advancement of Sciences (AAAS) projecto que consistiu em pedir a uma centena de eminentes cientistas de distintas disci-plinas que enumerassem os conhecimentos cientiacuteficos que em sua opiniatildeo deveriam fazer parte da escolaridade obrigatoacuteria para garantir uma adequada alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica das crianccedilas norte-americanas O nuacutemero total de aspectos que seriam exigidos () desafia o nosso entendimento e resulta superior agrave soma de todos os conhecimentos atualmente ensi-nados aos estudantes de elite que se preparam como futuros cientiacuteficos

Frente a essa constataccedilatildeo ndash muito comum aliaacutes nas nossas discussotildees curriculares que satildeo proacutedigas em acrescentar novos conteuacutedos e possuem extrema dificuldade em dizer o que eacute efetivamente im-portante nas mateacuterias da ciecircncia da natureza ndash os autores propotildeem que o conteuacutedo a ser ensinado com vista a alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica possua um miacutenimo de conhecimento especiacutefico com planeja-mentos globais e consideraccedilotildees eacuteticas que natildeo solicitam maiores especializaccedilotildees mas sim ldquoexigem enfoques que contemplem os problemas numa perspectiva mais amplardquo

Em siacutentese a participaccedilatildeo para a cidadania na tomada de decisotildees eacute hoje um fato positi-vo uma garantia de aplicaccedilatildeo do principio da precauccedilatildeo que se apoia em uma crescente sensibilidade social frente agraves implicaccedilotildees do desenvolvimento teacutecnico-cientiacutefico que po-dem comportar riscos para as pessoas ou para o meio ambiente () A referida participaccedilatildeo temos de insistir reclama um miacutenimo de formaccedilatildeo cientiacutefica que torne possiacutevel a com-preensatildeo dos problemas e das opccedilotildees - que se podem e se devem expressar numa lin-guagem acessiacutevel - para natildeo se ver recusada com o argumento de que problemas como a mudanccedila climaacutetica ou a manipulaccedilatildeo geneacutetica satildeo de uma grande complexidade Na-turalmente satildeo necessaacuterios estudos cientiacuteficos rigorosos mas tatildeo pouco eles por si soacutes bastam para adotar decisotildees adequadas dado que por vezes a dificuldade natildeo estaacute na falta de conhecimentos mas na ausecircncia de um planejamento global que avalie os riscos e

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contemple as possiacuteveis consequecircncias a meacutedio e a longo prazo Muito ilustrativo a este respeito pode ser a ecircnfase dada agraves cataacutestrofes anunciadas como a provocada pelo afun-damento do Prestige e outros petroleiros que se querem apresentar como ldquoacidentesrdquo () (Praia Gil e Vilches 2007) (Grifos nossos)

Ao longo do seu trabalho os autores daratildeo ecircnfase as seguintes ideias

bull ldquose os estudantes tecircm de chegar a ser cidadatildeos e cidadatildes responsaacuteveis eacute preciso que lhes proporcionemos ocasiotildees para analisar os problemas globais que caracterizam essa situaccedilatildeo de emergecircncia planetaacuteria e considerar possiacuteveis soluccedilotildees para elesrdquo

bull ldquoA recusa da alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica lembra assim a sistemaacutetica resistecircncia histoacuterica dos privilegiados a um alargamento da cultura e agrave generalizaccedilatildeo da educaccedilatildeo () E a sua reivindicaccedilatildeo faz parte da batalha das forccedilas progressistas para vencer as referidas resistecircncias que constituem o verdadeiro preconceito acriacuteticordquo

bull ldquoMas esta aposta numa educaccedilatildeo cientiacutefica orientada para que as pessoas possam ser intervenientes e participantes activos na sociedade () quer dizer orientada para a formaccedilatildeo de uma cidadania em vez de uma preparaccedilatildeo para futuros cientistas gera resistecircncias em numerosos professores que argumentam legitimamente que a socie-dade necessita de cientistas e tecnoacutelogos que tecircm de formar-se e ser adequadamente seleccionados desde os primeiros tempos () Eacute preciso denunciar com clareza a falaacute-cia desta contraposiccedilatildeo entre ambas as orientaccedilotildees curriculares e os argumentos que supostamente lhe datildeo avalrdquo

bull ldquoEacute comum os curriacuteculos de ciecircncias estarem demasiado centrados nos conteuacutedos con-ceptuais e natildeo processuais tendo como referecircncia a loacutegica interna da proacutepria ciecircncia e assim esquecem a formaccedilatildeo que exige a construccedilatildeo cientiacutefica Tal justifica-se pela complexidade da NdC e pelo facto de que os proacuteprios filoacutesofos e socioacutelogos da ciecircncia terem por vezes muitas divergecircncias sobre os princiacutepios baacutesicos destardquo

bull ldquoO ensino cientiacutefico ndash incluindo o universitaacuterio ndash estaacute reduzido basicamente agrave apre-sentaccedilatildeo de conhecimentos jaacute elaborado sem dar ocasiatildeo aos estudantes de tomarem contacto com as actividades caracteriacutesticas da actividade cientiacutefica () Deste modo as concepccedilotildees dos estudantes ndash incluindo a dos futuros docentes ndash natildeo chegam a di-ferir do que se usa denominar-se uma imagem ldquofolkrdquo ldquonaifrdquo ou ldquopopularrdquo da ciecircncia socialmente aceite associada a um suposto ldquoMeacutetodo Cientiacuteficordquo com maiuacutesculas per-feitamente definidordquo() tecircm impulsionado investigaccedilotildees que assinalam as concepccedilotildees epistemoloacutegicas ldquode senso comumrdquo como um dos principais obstaacuteculos para movimen-tos de renovaccedilatildeo no campo da educaccedilatildeo cientiacuteficardquo (Praia Gil e Vilches 2007)

Os autores informam que a literatura tem demonstrado uma seacuterie de distorccedilotildees cuja superaccedilatildeo pode servir de base a um consenso que oriente a ldquoimersatildeo numa cultura cientiacutefica e tecnoloacutegicardquo desde que se deixe a margem as discrepacircncias e diferenccedila pontuais e se busque os consensos baacutesicos jaacute apontados por diversos epistemoacutelogos Os autores apontam os seguintes consensos

1 ldquoa recusa da proacutepria ideia de ldquoMeacutetodo Cientiacuteficordquo com maiuacutesculas como um conjunto de regras perfeitamente definidas a aplicar mecanicamente e independentes do domiacute-nio investigadordquo

2 ldquoa recusa de um empirismo que concebe os conhecimentos como resultado da inferecircncia indutiva a partir de ldquodados purosrdquo Esses dados natildeo significam nada em si mesmos mas devem ser interpretados de acordo com um sistema teoacutericordquo () ldquoTudo isto deve partir do corpus de conhecimento existente no campo especiacutefico em que se realiza a investigaccedilatildeordquo

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3 ldquoevidenciar o papel do pensamento divergente na investigaccedilatildeo que se concretiza em aspectos fundamentais e erradamente afastados nas abordagens empiristas como satildeo a criaccedilatildeo de hipoacuteteses e de modelos ou o proacuteprio desenho de experiecircncias Natildeo se ra-ciocina pois em termos de certezas mais ou menos baseadas em evidecircncias mas em termos de hipoacuteteses que se apoiam eacute certo nos conhecimentos adquiridos mas que satildeo consideradas como simples tentativas de resposta que deveratildeo ser postas agrave prova o mais rigorosamente possiacutevelrdquo

4 ldquoa busca de coerecircncia global () O fato de se trabalhar em termos de hipoacuteteses introduz exigecircncias suplementares de rigor eacute preciso duvidar sistematicamente dos resultados obtidos e de todo o processo seguido para os obter o que conduz a revisotildees contiacutenuas a tentar obter esses resultados por caminhos diversos e particularmente a mostrar a sua coerecircncia com os resultados obtidos noutras situaccedilotildeesrdquo() Essa exigecircncia de aplicabi-lidade de funcionamento correto para descrever fenocircmenos realizar previsotildees abor-dar e planear novos problemas etc eacute precisamente o que daacute validade (natildeo daacute certeza ou caraacuteter de verdade indiscutiacutevel) aos conceitos leis e teorias que se elaboram

5 ldquocompreender o caraacuteter social do desenvolvimento cientiacutefico evidente natildeo soacute no fato de que o ponto de partida do paradigma teoacuterico vigente eacute a cristalizaccedilatildeo dos contributos de geraccedilotildees de investigadores mas tambeacutem no fato de que a investigaccedilatildeo responde cada vez mais a estruturas institucionalizadas () onde o trabalho dos indiviacuteduos eacute orientado por linhas de investigaccedilatildeo estabelecidas pelo trabalho da equipa a que pertencem natildeo fazendo praticamente sentido a ideia de investigaccedilatildeo completamente autocircnoma Aleacutem disso o trabalho dos homens e mulheres de ciecircncias ndash como qualquer outra atividade humana ndash natildeo acontece agrave margem da sociedade em que vivem e eacute influenciado logica-mente pelos problemas e circunstacircncias do momento histoacuterico da mesma forma que a sua accedilatildeo tem uma clara influecircncia sobre o meio fiacutesico e social em que se insererdquo (Praia Gil e Vilches 2007)

No que refere agrave Importacircncia da superaccedilatildeo das visotildees distorcidas da natureza da ciecircncia na educaccedilatildeo cientiacutefica os autores propotildeem buscar uma metodologia que supere os reducionismos comuns e que alcancem uma aprendizagem significativa e duradoura o que pode ser obtido mais facilmente quan-do o estudante participa da construccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico e pela familiarizaccedilatildeo com estra-teacutegias de ensino Propotildeem uma ldquoa aprendizagem como um trabalho de investigaccedilatildeo e de inovaccedilatildeo por meio do tratamento de situaccedilotildees problemaacuteticas relevantes para a construccedilatildeo de conhecimentos cientiacuteficos e a conquista de inovaccedilotildees tecnoloacutegicas susceptiacuteveis de satisfazer determinadas necessi-dadesrdquo cujos aspectos satildeo enumerados a seguir

bull ldquoA discussatildeo do possiacutevel interesse e da relevacircncia das situaccedilotildees propostas que decirc sentido ao seu estudo e evite que os alunos se vejam submergidos no tratamento de uma situaccedilatildeo sem terem sequer podido formar uma primeira ideia motivadora ou percebido a necessaacuteria tomada de decisotildees por parte da sociedade e da comunidade cientiacutefica acerca da conveniecircncia ou da inconveniecircncia do referido trabalho tendo em conta a sua possiacutevel contribuiccedilatildeo para a compreensatildeo e transformaccedilatildeo do mundo suas repercus-sotildees sociais e do meio ambiente etcrdquo

bull ldquoO estudo qualitativo significativo das situaccedilotildees problemaacuteticas abordadas que aju-de a compreender e a precisar tais situaccedilotildees agrave luz dos conhecimentos disponiacuteveis dos objectivos perseguidoshellip e a formular perguntas operativas sobre o que se procura o que supotildee uma oportunidade para os estudantes comeccedilarem a explicitar funcional-mente as suas lsquoconcepccedilotildees alternativasrsquordquo

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SOBRE AS RELACcedilOtildeES CIEcircNCIA TECNOLOGIA E SOCIEDADE78

bull ldquoA invenccedilatildeo de conceitos e a formulaccedilatildeo de hipoacuteteses fundamentadas nos conhe-cimentos disponiacuteveis capazes de focalizar e de orientar o tratamento das situaccedilotildees enquanto permitem aos estudantes utilizar as suas concepccedilotildees alternativas para fazer previsotildees susceptiacuteveis de ser submetidas agrave provardquo

bull ldquoA definiccedilatildeo e implementaccedilatildeo de estrateacutegias de resoluccedilatildeo incluindo se for caso dis-so o plano e a realizaccedilatildeo de experiecircncias para submeter agrave prova as hipoacuteteses agrave luz do corpo de conhecimentos de que se dispotildee o que exige um trabalho de natureza tecno-loacutegica para a resoluccedilatildeo dos problemas praacuteticos que possam surgir como por exemplo a reduccedilatildeo das margens de erro nas mediccedilotildees Chamamos particularmente a atenccedilatildeo sobre o interesse destes planos e da realizaccedilatildeo de experiecircncias que exigem e ajudem a desenvolver uma multiplicidade de capacidades e de conhecimentos Acaba-se assim com as aprendizagens erradamente designadas de lsquoteoacutericasrsquo (na realidade simplesmen-te livrescas) e contribui-se para mostrar a estreita relaccedilatildeo ciecircncia-tecnologiardquo

bull ldquoA anaacutelise e comunicaccedilatildeo dos resultados comparando-os com os obtidos por outros grupos de estudantes e aproximando-se da evoluccedilatildeo conceptual e metodoloacutegica experi-mentada historicamente pela comunidade cientiacutefica Isso pode converter-se em ocasiatildeo de conflito cognitivo entre distintas concepccedilotildees tomadas todas elas como hipoacuteteses e favorecer a lsquoauto-regulaccedilatildeorsquo dos estudantes obrigando a conceber novas conjecturas ou novas soluccedilotildees teacutecnicas e a replanear a investigaccedilatildeordquo

bull ldquoAs siacutenteses e a possibilidade de outras perspectivas articulaccedilatildeo dos conhecimentos construiacutedos com outros jaacute conhecidos considerando a sua contribuiccedilatildeo para a cons-truccedilatildeo de corpos coerentes de conhecimentos que se vatildeo ampliando e modificando com especial atenccedilatildeo para o estabelecimento de pontes entre distintos domiacutenios cientiacuteficos porque representam pontos altos de desenvolvimento cientiacutefico e por vezes autecircnticas revoluccedilotildees cientiacuteficas construccedilatildeo e aperfeiccediloamento dos produtos tecnoloacutegicos que se procuravam ou que satildeo concebidos como resultado das investigaccedilotildees realizadas o que contribui para acabar com tratamentos excessivamente escolares e reforccedilar entatildeo o interesse pela tarefa apresentaccedilatildeo de novos problemashelliprdquo

bull ldquoDevemos ainda insistir na necessidade de dirigir todo este tratamento para mostrar o caraacuteter de corpo coerente que tem toda a ciecircncia valorizando para isso as ativida-des de siacutentese (esquemas memoacuterias revisotildees mapas conceptuaishellip) e a elaboraccedilatildeo de produtos capazes de acabar com planos excessivamente escolares de reforccedilar o inte-resse pela tarefa e de mostrar a estreita ligaccedilatildeo ciecircncia-tecnologiardquo (Praia Gil e Vilches 2007)

Ao final os autores concluem que

Esta orientaccedilatildeo [que natildeo pretende ser um algoritmo] supotildee querer dizer que devemos pres-tar mais atenccedilatildeo aos aspectos culturais sociais morais e emotivos [hellip] e aos aspectos atitu-dinais e axioloacutegicos do que eacute habitual na educaccedilatildeo cientiacutefica () Tal natildeo deve entender-se como a incorporaccedilatildeo de outros fatores distintos da NdC mas como a superaccedilatildeo de uma distorccedilatildeo da referida NdC que apresenta o trabalho cientiacutefico como uma atividade descon-textualizada alheia a interesses e conflitos (Praia Gil e Vilches 2007)

54 Como se fosse uma conclusatildeo

Em uma sociedade tecno-dependente eacute indispensaacutevel que os cidadatildeos estejam aparelhados para en-tender como se daacute as relaccedilotildees entre Ciecircncia Tecnologia e Sociedade sob o risco de delegarem aos

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SOBRE AS RELACcedilOtildeES CIEcircNCIA TECNOLOGIA E SOCIEDADE79

especialistas natildeo soacute a tarefa de como fazer mas tambeacutem quando fazer onde fazer e pior se se quer fazer alguma coisa no campo da tecnociecircncia

No momento em que falamos de lacunas formadoras do cidadatildeo como participante ativo do proces-so social de construccedilatildeo da ciecircncia e da tecnologia trazemos agrave discussatildeo a inexistecircncia nos textos de Ensino CTS brasileiro do tema apropriaccedilatildeo social da ciecircncia e da tecnologia42 Surpreendeu-nos que esta temaacutetica natildeo estivesse explicitamente contemplada nos artigos constantes da base de dados sobre Ensino CTS apesar de constar das discussotildees da aacuterea de estudos sociais da ciecircncia e da tecno-logia e de poliacuteticas em ciecircncia e tecnologia bem como da aacuterea intitulada de cultura cientiacutefica Esta aacuterea propotildee-se a discutir como escreve Esteacutebanez (2015 p 62) em capiacutetulo de revisatildeo sobre o tema

Nos uacuteltimos trinta anos ampliando a noccedilatildeo de cultura cientiacutefica eacute produzido com a adiccedilatildeo de novas dimensotildees aleacutem da cognitiva relacionadas com a aquisiccedilatildeo de novos valores e padrotildees de avaliaccedilatildeo da atividade de pesquisa dimensotildees afetivas nas atitudes em relaccedilatildeo agrave ciecircncia e tecnologia a percepccedilatildeo de risco Dentro desta nova concepccedilatildeo a ideia de que CCyT inclui as capacidades dos leigos - ou cidadatildeos - para interagir com especialistas - ou cientiacuteficos - mediante a compreensatildeo dos aspectos institucionais da ciecircncia e da tecnologia (quem a produz para que fim com que consequumlecircncias) e predisposiccedilatildeo para o exerciacutecio da cidadania nos debates relacionados com a ciecircncia e tecnologia (Vacarrezza et ai 2004 pp 25-26) Sob essa noccedilatildeo ampliada da cultura a ideia de apropriaccedilatildeo estaacute ligada agrave contextualizaccedilatildeo da ciecircncia e da tecnologia e a variabilidade de aplicaccedilatildeo e significados que adquirem nas condiccedilotildees locais de uso Contextualizar remete a dar significado especiacutefico para o usa em aacutereas especiacuteficas de atuaccedilatildeo social Considera-se a cultura como um fator ativo uma ma-triz de uso da ciecircncia e da tecnologia e componente transformador ou resignificante do conhecimento

A autora (p 67-68) apresenta ainda uma siacutentese que pode nos dar alguma noccedilatildeo quanto a importacircn-cia deste tema para efetivaccedilatildeo daquilo que eacute buscado com a Educaccedilatildeo CTS

Nesta revisatildeo de literatura ajustado com base na apropriaccedilatildeo social da ciecircncia e da tecnolo-gia se propotildee aqui proposto para resumir as seguintes definiccedilotildees e diferenccedilas em torno dos muacuteltiplos significados encontrados- Refere-se a sujeitos colectivos e neste sentido a sociedade como um grupo central Dife-rencia-se do fenocircmeno de apropriaccedilatildeo individual (protagonizado por pessoas particulares) e da apropriaccedilatildeo privado (industrial comercial) - Envolve processos de coproduccedilatildeo de conhecimento por parte de cientistas e cidadatildeos-usuaacuterios e desenvolvimento cooperativo de tecnologias a partir do qual valores e interes-ses puacuteblicos satildeo registrados nos resultados alcanccedilados- O uso competente do conhecimento cientiacutefico e tecnoloacutegico eacute o resultado de processos de apropriaccedilatildeo Neste sentido especiacutefico a dimensatildeo social da apropriaccedilatildeo eacute fortalecer a capa-cidade coletiva de usar tal conhecimento para o bem estar comum- Os processos de apropriaccedilatildeo social ocorrem quando a capacidade de usar conhecimento se integra agrave matriz cultural da sociedade em ligaccedilatildeo sineacutergica e natildeo excludente com outros tipos de conhecimento (tradicional empiacuterica originaacuterios) A participaccedilatildeo cidadatilde intervem positivamente na ampliaccedilatildeo dos processos de apropriaccedilatildeo social da ciecircncia e da tecnologia colocando em accedilatildeo a cultura cientiacutefica e tecnoloacutegica- A apropriaccedilatildeo social eacute a capacidade relativa dos cidadatildeos para o conhecimento dos bene-

42 Haacute um nuacutemero monograacutefico da revista CTS que pode ser obtido em httpwwwrevistactsnetvolumen-4-numero-10

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SOBRE AS RELACcedilOtildeES CIEcircNCIA TECNOLOGIA E SOCIEDADE80

fiacutecios e riscos da ciecircncia e tecnologia e as dimensotildees eacuteticas envolvidas produccedilatildeo e aplicaccedilatildeo do conhecimento a compreensatildeo dos aspectos institucionais da ciecircncia e da tecnologia a decisatildeo sobre a utilizaccedilatildeo de produtos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos controle sobre os espe-cialistas fazer valer os seus interesses e pontos de vista sobre a governanccedila da ciecircncia e tecnologia

Indispensaacutevel que a formaccedilatildeo do cidadatildeo considere estes aspectos e o prepare minimamente por meio da alfabetizaccedilatildeo tecnocientiacutefica para entender e interferir ndash no campo dos conhecimentos da poliacutetica da economia da inovaccedilatildeo dos valores e da eacutetica ndash nas possiacuteveis interaccedilotildees dos sistemas CTS sistema tecnocientiacutefico sistema soacutecio-cientiacutefico e sistema soacutecio-tecnoloacutegico afastando-se quanto possiacutevel dos chamados Determinismo Social Determinismo Tecnoloacutegico e Determinismo Cientiacutefico que buscam avocar para si a prevalecircncia a precedecircncia e a centralidade nos processos de produccedilatildeo de anaacutelises e de decisatildeo

Apesar desta visatildeo que nos parece defensaacutevel percebemos que a comunidade de ciecircncia e tecnologia ainda estaacute longe de construir consensos em torno da participaccedilatildeo cidadatildeo na construccedilatildeo da ciecircncia e da tecnologia e sobre o processo decisoacuterio de temas tecnocientiacuteficos de impacto social Por conta disso eacute indispensaacutevel natildeo atribuir agrave abordagem CTS mais valor do que ela efetivamente possui natildeo a transformar em panaceia natildeo desconsiderar a contribuiccedilatildeo de outras visotildees de ensino de outras aacutereas do conhecimento e das diversas experiecircncias que se desenvolvem em contextos distintos e que ao final poderatildeo chegar ao mesmo fim mas por caminhos diversos o que tambeacutem eacute vaacutelido e necessaacuterio

Atividade Proposta para reflexatildeo

Aplicaccedilatildeo dos modelos de interaccedilatildeo segundo HabermasFourez no contexto das disciplinas

Vocecirc deve refletir sobre a seguinte provocaccedilatildeo

Que matemaacutetica ensinar no Ensino Meacutedio Como os matemaacuteticos identificariam estes conteuacutedos (modelo tecnocraacutetico) Como uma equipe multidisciplinar identificaria os conteuacutedos (ainda o mo-delo tecnocraacutetico) Como seriam as negociaccedilotildees entre matemaacuteticos e pedagogos na busca dos con-teuacutedos (modelo decisionista) Como seria a negociaccedilatildeo entre diferentes atores sociais na decisatildeo dos conteuacutedos (modelo pragmaacutetico-poliacutetico)

Responda em apenas uma lauda nos padrotildees propostos

CTS E O ENSINO81

6 CTS e o ensino

O enfoque CTS inserido nos curriacuteculos eacute um impulsionador inicial para estimular o aluno a refletir sobre as inuacutemeras possibilidades de leitura acerca da triacuteade ciecircncia tecnologia e sociedade com a expectativa de que ele possa vir a assumir postura questionadora e criacutetica num futuro proacuteximo Isso implica dizer que a aplicaccedilatildeo da postura CTS ocorre natildeo somente dentro da escola mas tambeacutem extramuros

Pinheiro Matos e Bazzo2007

61 Introduccedilatildeo

Certamente a Abordagem CTS eacute uma alternativa poderosa para a formaccedilatildeo tecnocientiacutefica sob a oacutetica da formaccedilatildeo do cidadatildeo E isso eacute facilitado visto que a premissa CTS eacute a do acolhimento de posiccedilotildees divergente e o exerciacutecio do entendimento do respeito agraves diferenccedilas da construccedilatildeo de con-senso e da toleracircncia sem perder de vista os deveres direitos a eacutetica a cultura e a visatildeo de curto meacutedio e longo prazos Podemos dizer que os fundamentos CTS estatildeo acentados nas grandes aacutereas da Poliacutetica da Economia dos Valores do Ambiente das Relaccedilotildees pessoais e sociais principalmente

No que se refere ao acolhimento pelos estudantes natildeo se deve esquecer que a Abordagem CTS se propotildee a trabalhar a realidade instrumentalizando os estudantes para que estes interajam com esta realidade modificando-a a partir de suas reflexotildees pessoais eou decisotildees coletivas

No que concerne a sua contribuiccedilatildeo social a Abordagem CTS tambeacutem eacute importante Uma vez que a proposta de fundo eacute a aceitaccedilatildeo da Construccedilatildeo Social da Ciecircncia e da Tecnologia e no estudo do impacto da Ciecircncia e da Tecnologia sobre a Sociedade espera-se que o conhecimento sobre a huma-nizaccedilatildeo da Ciecircncia e da Tecnologia e a relativizaccedilatildeo do bem absoluto da Ciecircncia e da Tecnologia se transformem em aprendizado social e sejam patrimocircnio coletivo a influir no fazer cotidiano de cada cidadatildeo Sob este acircngulo natildeo se espera que a Abordagem CTS seja mais uma teacutecnica didaacutetica mas sim uma cultura a cultura CTS que se manifesta em qualquer teacutecnica de ensino ou manifestaccedilatildeo docente

Esta cultura que deveraacute se manifestar por meio das diversas teacutecnicas deve contemplar de forma am-pla alguns pressupostos que caracterizam e norteiam a accedilatildeo didaacutetica CTS Ao final e ao longo da ativi-dade os estudantes devem vivenciar a Ciecircncia a Tecnologia e a Sociedade mesmo que por diferentes oacuteticas o conhecimento as habilidades e as atitudes (Chrispino 1992) ideias maacutequinas e valores (Cutcliffe 2003) conhecer manejar e participar (Martin Gordillo e Osorio 2003) e numa visatildeo mais ampla de educaccedilatildeo e ensino o saber fazer saber-fazer e saber-ser (UNESCO 1994)

Por tudo isso parece ficar claro que a Abordagem CTS natildeo eacute uma abordagem exclusivamente para as disciplinas do chamado grupo de ciecircncias exatas e da natureza A Abordagem CTS ao solicitar para o mesmo fato social a visatildeo tanto da cultura cientifico-tecnoloacutegica como da cultura soacutecio-humaniacutestica favorece a aproximaccedilatildeo destas separadas por um abismo que natildeo se explica na atualidade

Temos defendido que a Abordagem CTS eacute uma maneira de abordar o curriacuteculo escolar ou mesmo de posicionar-se frente agrave Educaccedilatildeo e ao mundo real nos seus mais diversos aspectos Mais do que uma teacutecnica (pois natildeo eacute uma ferramenta didaacutetica que conduz a um fim de aprendizado especifico para

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CTS E O ENSINO82

encerrarse logo apoacutes) nem uma metodologia (pois que abarca aspectos muito mais amplos que aque-les que caracterizam uma metodologia) CTS eacute uma abordagem curricular e uma escolha de poliacutetica educacional A isso classificamos de Educaccedilatildeo CTS

Partindo-se desta premissa pode-se esperar que a maneira de ver e de fazer educaccedilatildeo por meio do ensino na abordagem CTS se materializaraacute em vaacuterias esferas de accedilatildeo didaacutetica (desde o ensino funda-mental ateacute a educaccedilatildeo de jovens e adultos) nos ambientes de ensino tradicional ou inovador (visto que a abordagem CTS natildeo estaacute restrita aos instrumentos mas estaacute sob a eacutegide do professor e sua proposta de apresentar o mundo por outra oacutetica) em accedilotildees de formaccedilatildeo educacional de longo porte (como cursos de formaccedilatildeo) ou mesmo em atividades pontuais (como estudos pontuais e temaacuteticos) A isso classificamos de Ensino CTS

Longe de ser uma panaceacuteia A abordagem CTS deve ser encarada como uma das maneiras de apre-sentar organizar e multiplicar os conhecimentos independentemente das caracteriacutesticas ou res-triccedilotildees impostas externamente

Robert E Yager (Yager 1991 1992 1993 2000) vem publicando haacute deacutecadas uma anaacutelise que busca diferenciar o que seja ensino tradicional e o ensino CTS diferenccedila essa interessante para nossas re-flexotildees neste ponto do estudo Mais recentemente Yager e Akcay (2008 p 4) retomam o tema e nos apresentam a seguinte comparaccedilatildeo

Ensino Tradicional Ensino CTS

Levantamento dos principais conceitos encontrados em livros-texto padratildeo

Identificaccedilatildeo de problemas com interesse impacto local pes-soal

Utilizaccedilatildeo de laboratoacuterios e atividades sugeridas no livro didaacuteti-co e acompanhamento manual de laboratoacuterio

Aproveitamento dos recursos locais (humanos e materiais) para localizar informaccedilotildees e resolver problemas questotildees

Os alunos passivamente recebem informaccedilotildees fornecidas pelo professor e pelo livro didaacutetico

Os alunos estatildeo ativamente envolvidos na busca de informaccedilotildees para uso

Aprendizagem estaacute contida em uma sala de aula e em uma seacuterie escolar Praacutetica de ensino que natildeo se limita agrave sala de aula

Centra-se na informaccedilatildeo proclamada importante pelo profes-sor para que os alunos mestre Centrado no impacto pessoal e faz uso da criatividade do aluno

Conteuacutedo de Ciecircncias a partir de informaccedilotildees existentes e expli-cadas em livros e palestras do professor

Conteuacutedo de ciecircncia natildeo como algo que existe para o domiacutenio do aluno soacute porque estaacute registrado na imprensalivros

Natildeo considera a visatildeo de carreira Faz referecircncia ocasional a um(a) cientista (em geral mortos) e sua descobertas

Centra-se na visatildeo de carreira especialmente as carreiras re-lacionadas agrave ciecircncia e tecnologia que os alunos podem escolher enfatizando as carreiras em outras aacutereas aleacutem da medicina en-genharia e pesquisa cientiacutefica

Os alunos se concentram em resolver problemas fornecidos pe-los professores e livros didaacuteticos

Os alunos tornam-se cientes de seus papeacuteis de cidadatildeos e como eles podem influir nas questotildeesproblemas que identificam como importantes

Aprendizagem de Ciecircncias ocorre apenas na sala de aula como parte do curriacuteculo escolar

Os alunos percebem o papel da ciecircncia em instituiccedilotildees e em co-munidades especiacuteficas

Aula de Ciecircncias centra-se sobre o que foi anteriormente conhecido Aula de Ciecircncias enfoca como o futuro pode ser

Haacute pouca preocupaccedilatildeo com o uso das informaccedilotildees aleacutem da sala de aula e o desempenho em testes

Os alunos satildeo incentivados a desfrutar e buscar a experiecircncia cientiacutefica

Traduccedilatildeo livre do autor

Faremos aqui uma apresentaccedilatildeo ampla de CTS e suas relaccedilotildees com o ensino Recomendamos para aqueles que desejem uma visatildeo educacional mais especiacutefica das abordagens teoacutericas a leitura de Ca-chapuz et al (2008) e Aikenhead (2005) bem como Santos e Mortimer (2002)

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CTS E O ENSINO83

62 A Abordagem CTS e o ensino

Os mitos e as distorccedilotildees da imagem da Ciecircncia e da Tecnologia como apresentamos (Sarewitz 1996 e Cachapuz et al 2005) explicam de certa forma a dificuldade de se construir o conhecimento cientiacute-fico de forma criacutetica objetivando a melhor formaccedilatildeo do cidadatildeo que se aproprie dos conhecimentos a fim de melhor interagir com o meio social

Buscando alternativas para este tipo de dificuldade dentre outras surgiu um movimento intitulado CTS-Ciecircncia Tecnologia e Sociedade no final da deacutecada de 60 e iniacutecio da deacutecada de 70 Bazzo Lin-singen e Pereira (2003) escrevem

Os estudos CTS definem hoje um campo de trabalho recente e heterogecircneo ainda que bem consolidado de caraacuteter criacutetico a respeito da tradicional imagem essencialista da ciecircncia e da tecnologia e de caraacuteter interdisciplinar por convergirem nele disciplinas como a filosofia e a histoacuteria da ciecircncia e da tecnologia a sociologia do conhecimento cientiacutefico a teoria da educaccedilatildeo e a economia da mudanccedila teacutecnica Os estudos CTS buscam compreender a di-mensatildeo social da ciecircncia e da tecnologia tanto desde o ponto de vista dos seus antecedentes sociais como de suas consequecircncias sociais e ambientais ou seja tanto no que diz respeito aos fatores de natureza social poliacutetica ou econocircmica que modulam a mudanccedila cientiacutefico-tecnoloacutegica como pelo que concerne agraves repercussotildees eacuteticas ambientais ou culturais dessa mudanccedilaO aspecto mais inovador deste novo enfoque se encontra na caracterizaccedilatildeo social dos fato-res responsaacuteveis pela mudanccedila cientiacutefica Propotildee-se em geral entender a ciecircncia-tecnologia natildeo como um processo ou atividade autocircnoma que segue uma loacutegica interna de desenvolvi-mento em seu funcionamento oacutetimo (resultante da aplicaccedilatildeo de um meacutetodo cognitivo e um coacutedigo de conduta) mas sim como um processo ou produto inerentemente social onde os elementos natildeo-epistecircmicos ou teacutecnicos (por exemplo valores morais convicccedilotildees religio-sas interesses profissionais pressotildees econocircmicas etc) desempenham um papel decisivo na gecircnese e na consolidaccedilatildeo das ideias cientiacuteficas e dos artefatos tecnoloacutegicos (p 125)

Para Manassero e Vaacutezquez (2001) jaacute se referindo a didaacutetica proacutepria que solicita a Abordagem CTS escrevem

O movimento didaacutetico ciecircncia-tecnlogia-sociedade (CTS) tem como um de seus objetivos o desenvolvimento das atitudes relacionadas com a ciecircncia nos alunos e propotildee como referecircncia para sua avaliaccedilatildeo o corpo de conhecimentos que emerge das anaacutelises histoacuteri-cas filosoacuteficas e socioloacutegicas sobre a ciecircncia (Aikenhead 1994a 1994b Bybee 1987) No espiacuterito deste movimento estaacute o desejo de oferecer atraveacutes da educaccedilatildeo das atitudes re-lacionadas com a ciecircncia uma visatildeo mais autecircntica da ciecircncia e da tecnologia em seu contexto social desvinculadas de imagens mitificadas e tendenciosas (cientificismo e tecnocracia) ao mesmo tempo que reconhece a tecnologia como atividade diferente in-tegrada e equiparaacutevel com a ciecircncia e natildeo soacute como mera ciecircncia aplicada A equiparaccedilatildeo entre e tecnologia aumenta imediatamente os valores contidos na natureza das atividades cientiacuteficas de modo que a educaccedilatildeo atitudinal ndash moral ou eacutetica ndash eacute uma consequecircncia inevitaacutevel da Educaccedilatildeo CTS (Layton 1994) Como afirma Ziman (1994) a debilidade da ciecircncia tradicional natildeo reside no que ensina sobre a natureza mas sim no que natildeo ensina em particular suas relaccedilotildees com a tecnologia e a sociedade vazio que pretende preencher a Educaccedilatildeo CTS (p 16)

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CTS E O ENSINO84

A Associaccedilatildeo Nacional dos Professores de Ciecircncias nos Estados Unidos tem endossado uma extensa definiccedilatildeo para o movimento CTS

CTS eacute um termo que denomina os uacuteltimos esforccedilos para se promover um contexto de mun-do real para o estudo da ciecircncia Eacute um termo que eleva a retoacuterica da Ciecircncia da educaccedilatildeo para uma posiccedilatildeo que vai aleacutem de conteuacutedos e debates sobre o escopo e a sequencia dos conceitos baacutesicos e habilidades processuais CTS inclui toda a gama de criacuteticas conexas no processo de educaccedilatildeo incluindo objetivos conteuacutedos estrateacutegias instrucionais avaliaccedilatildeo e a preparaccedilatildeoperformance do professor Ningueacutem pode fazer CTS apenas aderindo cer-tos toacutepicos e liccedilotildees ao conteuacutedo ou cursos ou livros texto Os alunos tecircm que estar envol-vidos com o objetivo com os procedimentos planejados com as informaccedilotildees alocadas e com a avaliaccedilatildeo de tudo O baacutesico para os esforccedilos em CTS eacute a formaccedilatildeo de uma cidadania instruiacuteda capaz de tomar decisotildees cruciais sobre problemas correntes e ter atitudes pessoa-is como resultado dessas decisotildees CTS significa enfocar debates correntes e tentativas de sua soluccedilatildeo como a melhor maneira de se preparar as pessoas para exercerem a cidadania no futuro Isto significa identificar problemas (locais regionais nacionais e internacionais) com os alunos planejando atividades indivi-duais ou em grupo e movendo accedilotildees designa-das a resolver o que foi debatido Os alunos satildeo envolvidos na totalidade do processo eles natildeo satildeo receptaacuteculos de qualquer conteuacutedo preacute-determinado ou dos ditames do professor Natildeo haacute um conceito ou processo uacutenico para o CTS no lugar disso o CTS provecirc um ambiente e uma razatildeo para considerar os conceitos e processos da ciecircncia e da tecnologia Isto signi-fica determinar maneiras de como essas ideias e habilidades baacutesicas podem ser vistas como uacuteteis CTS significa um enfoque dos problemas do mundo real em vez de se comeccedilar com conceitos e procedimentos que os professores e conteuacutedos desenvolvidos sustentam em termos de utilidades para os alunos (Yager 1991 p 21)

Para Acevedo Diaz (2009) CTS eacute ao mesmo tempo

(1) um campo de estudo e investigaccedilatildeo busca compreender melhor a ciecircncia e a tecnologia em seu contexto social Aborda as relaccedilotildees muacutetuas entre o desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico e os processos sociais (2) Uma proposta educativa inovadora de caraacuteter geral como proposta educativa constitui um novo planejamento curricular em todos os niacuteveis de ensino com a principal finalidade de dar uma formaccedilatildeo em conhecimento e valores que favoreccedilam a participaccedilatildeo cidadatilde res-ponsaacutevel e democraacutetica na avaliaccedilatildeo e no controle das implicaccedilotildees sociais da ciecircncia e da tecnologia

Auler (2007) estudando os pressupostos CTS para o contexto brasileiro escreve que os objetivos da educaccedilatildeo CTS podem ser sintetizados em

bull Promover o interesse dos estudantes em relacionar a ciecircncia com aspectos tecnoloacutegicos e sociais discutir as implicaccedilotildees sociais e eacuteticas relacionadas ao uso da ciecircncia-tecno-logia (CT)

bull Adquirir uma compreensatildeo da natureza da ciecircncia e do trabalho cientiacutefico bull Formar cidadatildeos cientiacutefica e tecnologicamente alfabetizados capazes de tomar decisotildees

informadas e desenvolver o pensamento criacutetico e a independecircncia intelectual

Segundo Membiela (2001 p 91) o propoacutesito da educaccedilatildeo CTS eacute promover a Alfabetizaccedilatildeo tecno-cientiacutefica de maneira que se capacite os cidadatildeos a participar do processo democraacutetico de tomada de decisatildeo e se promova a accedilatildeo cidadatilde voltada para a resoluccedilatildeo de problemas relacionados com a

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CTS E O ENSINO85

Ciecircncia e com a Tecnologia O mesmo autor chama a atenccedilatildeo para fato de ser este um dos conceitos possiacuteveis de CTS visto que haacute ldquomuito debate e pouco consenso entre a comunidade CTSrdquo certamen-te porque o espaccedilo CTS eacute por conceito um espaccedilo interdisciplinar onde se encontram aacutereas que possuem conceitos polissecircmicos tal qual ciecircncia tecnologia sociedade valores ambiente etc Essa aparente dificuldade pode ser encarada como confirmaccedilatildeo do postulado de que haacute espaccedilo e neces-sidade de divergir de perceber diferente de interpretar sob outra oacutetica e mesmo assim caminhar e conquistar espaccedilos

Para Yager (2013 p X) ldquoCTS eacute o ensino e a aprendizagem de ciecircncia-tecnologia no contexto da ex-periecircncia humanardquo

Uma definiccedilatildeo que muito nos impressiona pela clareza eacute a de Cutcliffe (2003 p 18) quando escreve que

a missatildeo central do campo CTS ateacute a presente data eacute expressar a interpretaccedilatildeo da ciecircncia e da tecnologia como um processo social Neste ponto de vista a ciecircncia e a tecnologia satildeo vistos como projetos complexos em que os valores culturais poliacuteticos e econocircmicos nos ajudam a configurar os processos tecnocientiacuteficos os quais por sua vez afetam os valores mesmos e a sociedade que os sutenta

Portanto cada realidade social (caracterizada pela diversidade cultural poliacutetica de crenccedilas valores etc) produziraacute um conjunto de significados acarretando distintos entendimentos sobre o que seja ou o que possa ser CTS Sobre isso Ainkenhead escreveu

[] cada paiacutes tem sua proacutepria histoacuteria associada principalmente agrave sua realidade social fa-zendo com que as relaccedilotildees entre a ciecircncia e a sociedade assumam diferentes caracteriacutesticas Em virtude disso muitas vezes pode natildeo haver um acordo no significado preciso de CTS ou uma definiccedilatildeo uacutenica que seja um consenso em todas as partes do mundo (Aikenhead 2005 p 119)

e

Um projeto particularmente CTS desenvolvidos em um paiacutes pode definir o que eacute ciecircncia CTS para educadores desse grupo ou paiacutes A criacutetica sobre CTS nesse paiacutes podem na realida-de resultar ser a criacutetica de um tipo particular de projeto CTS mesmo que outros educadores CTS possam achar inadequado tambeacutem rdquo (Aikenhead 2005 p 119)

Para Pedretti e Nazir (2011) ldquoo CTS educacional pode ser compreendido como um vasto oceano de ideias e princiacutepios que se cruzam e se sobrepotildee em diversos contextosrdquo (p 603)

Como afirma Solomon (1993)

bull As caracteriacutesticas especiais do CTS no acircmbito do ensino de ciecircncia incluem bull Uma compreensatildeo das ameaccedilas ambientais incluindo as globais agrave qualidade de vida bull Os aspectos econocircmicos e industriais da tecnologia bull Alguma compreensatildeo da natureza faliacutevel da ciecircnciabull Discussatildeo de opiniatildeo e valores pessoais bem como a accedilatildeo democraacutetica bull Uma dimensatildeo multi-cultural (SOLOMON 1993 p 19)

Recentemente frente agraves dificuldades causadas pelas consequecircncias do uso de tecnologias mais es-pecialmente no meio ambiente tais como efeito estufa acidentes petroliacuteferos buraco na camada de

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ozocircnio etc o Movimento CTS ganhou novos adeptos Era necessaacuterio que a sociedade percebesse os riscos que podem trazer o uso natildeo responsaacutevel de conhecimentos e tecnologias para o individuo para a coletividade e para o ambiente Surge entatildeo um movimento derivado intitulado CTS+A ou CTSA Ciecircncia Tecnologia Sociedade e Ambiente que na verdade resgata a origem do Movimento CTS produzido por conta da preocupaccedilatildeo dos impactos tecnoloacutegicos sobre o meio ambiente na deacutecada de 60 Pode-se ainda apontar outras tendecircncias ou focos como o CTS+I (de Inovaccedilatildeo) CTS+V (de Valores) e CTS+P (de Poliacutetica) que satildeo realccedilados para o grande puacuteblico como identificador da ver-tente de estudo a que se dirige o trabalho mas que estatildeo contidos ndash tanto ambiente como inovaccedilatildeo como valores como poliacutetica ndash nas fundaccedilotildees mesmas dos Enfoques CTS Mais recentemente eacute pos-siacutevel encontrar CTS+S (de sustentabilidade) proposto por Costa Ribeiro e Machado (2012) quando defendem que ldquoa postura CTSCTSA deve adquirir explicitamente esta componente e evoluir para Ciecircncia-Tecnologia-Sociedade-Sustentabilidade o que pede uma sigla alternativa mais adequada CTSS ou em estilo de foacutermula quiacutemica CTS2rdquo ndash e tambeacutem Costa (2011) ndash e a proposta Figaredo Cu-riel (2013) que acredita ser mais adequado aos tempos modernos o acrocircnimo SOCITEI (do original em espanhol So sociedad Ci conocimiento y ciencia Te tecnologiacutea In innovacioacuten) A nosso ver algumas desses acreacutescimos representam uma aacuterea fundadora de CTS e por isso uma redundacircncia Outras querem representar uma aacuterea de interesse que ganha visibilidade quando se agrupa a triacuteade CTS o que natildeo se justifica Por outro lado eacute possiacutevel vislumbrar a vantagem de que o acreacutescimo agrave sigla original indica a aacuterea ou tema tratado no trabalho ou pesquisa

Essa preocupaccedilatildeo crescente pela qualidade de vida e pelo futuro ameaccedilados por acontecimentos tecnocientiacuteficos e pela falta de condiccedilotildees de reaccedilatildeo da Sociedade por desconhecimento deve chamar a atenccedilatildeo de professores e gestores para a funccedilatildeo social do ensino e da educaccedilatildeo Afinal a escola tem a funccedilatildeo de perpetuar os valores da sociedade em que estaacute inserida e a de conscientizar o estudante para contribuir de forma mais veemente com a melhoria dessa mesma sociedade A partir disso espera-se que dentro do possiacutevel ele possa utilizar o conhecimento cientiacutefico contextualizado a fim de melhor entender o mundo que o cerca vindo a decidir com mais acerto Isso pediraacute atenccedilatildeo maior agrave interdisciplinariade agrave contextualizaccedilatildeo do conhecimento agrave cotidianizaccedilatildeo do fato tecnocientiacutefico a problematizaccedilatildeo do aprendizado (Chrispino 1992) e a transversalidade dos temas

Neste bloco de aspectos necessaacuterios a Abordagem CTS cabe um esclarecimento quanto ao que se pode entender por contextualizaccedilatildeo e por cotidianizaccedilatildeo que em geral satildeo tratados como sinocircni-mos Para noacutes a cotidianizaccedilatildeo esta ligada ao fazer pontual do estudantecidadatildeo enquanto a con-textualizaccedilatildeo estaacute vinculada a capacidade de relaccedilatildeo com os demais aspectos da sociedade (poliacuteticos filosoacuteficos socioloacutegicos econocircmicos etc) e se constroacutei por meio de vaacuterios conceitos Para noacutes a coti-dianizaccedilatildeo eacute disciplinar e a contextualizaccedilatildeo eacute obrigatoriamente interdisciplinar ou transdisciplinar Nesta visatildeo contextocontextualizaccedilatildeo eacute mais amplo que o fatocotidianizaccedilatildeo mas a praacutetica pode restringir as possibilidades do contextocontextualizaccedilatildeo como alertam Young e Muller (2016 p 529) ldquoo conhecimento emerge dos ndash mas natildeo eacute redutiacutevel aos ndash contextos nos quais ele eacute produzido e adquiridordquo (negritos no original) Anaacutelises das diferentes concepccedilotildees de contextualizaccedilatildeo podem ser obtidas em Martins (2015) e Kato e Kawasaki (2011)

Por conta desta necessidade imperiosa de exercitar as muacuteltiplas visotildees sobre o mesmo fato buscando superar a visatildeo uacutenica produzida pelos mitos pelas posturas ingecircnuas pela ideologia pela tradiccedilatildeo pelo preconceito pela limitaccedilatildeo de conhecimento pela perda de objetivo da escola etc temos bus-cado alternativas didaacuteticas que busquem exercitar as muacuteltiplas visotildees sobre um mesmo fenocircmeno educacional ou social Para executar tal proposta defende-se o modelo da Abordagem CTS (Chris-pino 2005a 2005b)

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Para atender a necessidade de todos os atores envolvidos no fato tecnocientiacutefico relevante ndash as pes-quisas com ceacutelulas-tronco embrionaacuterias a transposiccedilatildeo do Rio Satildeo Francisco a instalaccedilatildeo de usinas hidreleacutetricas no Rio Madeira e outros rios a expansatildeo da agropecuaacuteria no espaccedilo de preservaccedilatildeo am-biental a utilizaccedilatildeo de vacinas experimentais em seres humanos a instalaccedilatildeo de antenas de telefonia celular em ambientes urbanos a produccedilatildeo de alimentos transgecircnicos etc ndash eacute necessaacuterio vislumbrar uma teacutecnica que reuacutena as divergecircncias de opiniatildeo e de anaacutelise que desenvolva condiccedilotildees de troca de experiecircncia e de percepccedilatildeo que aproxime o grau de conhecimento formal (e tambeacutem de conhe-cimentos preacutevios natildeo-formais) e ofereccedila condiccedilotildees para que o debate ocorra a fim de esclarecer as consciecircncia e orientar melhores decisotildees

Os teoacutericos da Abordagem CTS informam que as experiecircncias didaacuteticas jaacute realizadas ndash aqui mais especificamente no ensino meacutedio ndash se fundamentam na chamada investigaccedilatildeo-accedilatildeo e podem ser ge-nericamente classificadas em trecircs grandes grupos (Walks 1990 Sanmartim 1992 Gonzaacutelez Garciacutea Loacutepez Cerezo e Lujaacuten Lopez 1996 Bazzo Linsingen e Pereira 2003 Pinheiro Matos e Bazzo 2007)

1 Os enxertos CTS 2 Ciecircncia e Tecnologia por meio CTS e 3 CTS puro

Buch (2003) prefere resgatar a classificaccedilatildeo de Lopez Cerezo (1998 2002 e 2009) que propotildee classi-ficar a introduccedilatildeo de conteuacutedos CTS em

1 CTS como conteuacutedo de outras mateacuterias (ou enxerto CTS)2 Ciecircncia e Tecnologia por meio CTS e 3 CTS como disciplina (como complemento curricular)

Silva (1999) e Miembiela (2001) evocam a classificaccedilatildeo proposta por Hickman Patrick e Bybee (1987) assinalam maneiras de introduzir o tema nos curriacuteculos satildeo elas

1 A inclusatildeo de moacutedulos com enfoque CTS nas mateacuterias tradicionais2 A infusatildeo do enfoque CTS em mateacuterias jaacute existentes atraveacutes de repetidas inclusotildees

pontuais ao longo do curriacuteculo3 A criaccedilatildeo de uma mateacuteria CTS4 A transformaccedilatildeo completa do enfoque de um tema jaacute existente mediante seu desenvol-

vimento na perspectiva CTS

Apesar de apresentarmos 3 conjuntos de classificaccedilotildees eacute possiacutevel perceber que ao fundo elas se aproximam e propotildeem rotinas semelhantes Haacute (1) a criaccedilatildeo de uma disciplina CTS ou CTS Puro (2) o enxerto CTSCTS como complemento de disciplinas e (3) a Ciecircncia e Tecnologia por meio de CTS

Dois autores apresentam detalhes importantes dessas abordagens Bazzo Linsingen e Pereira (2003 p 119-155) e Loacutepez Cerezo (1998 e 2002 p 3-39) a partir dos quais construiremos este item

621 Enxerto CTS

Trata-se de introduzir nas disciplinas jaacute existentes nos curriacuteculos os chamados temas CTS especial-mente relacionados com acontecimentos tecnocientificos que permitam reflexatildeo e motivaccedilatildeo para o estudo e debate O tipo de material para estrateacutegia de ensino satildeo unidades curtas de temas CTS para alunos e para professores Exemplos dessa modalidade de ensino CTS eacute o projeto SATIS (Ciecircncia e Tecnologia na Sociedade) que consiste em 370 unidades curtas CTS desenvolvidas por professo-

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res de ciecircncias do Reino Unido com o objetivo principal de complementar os cursos de ciecircncias de crianccedilas e jovens (grupos de idade 8-14 14-16 e 16-19 anos) Alguns tiacutetulos satildeo

bull O que haacute em nossos alimentos Uma olhada em suas etiquetasbull Beber aacutelcoolbull O uso da radioatividadebull Os bebecircs de provetabull Oacuteculos e lentes de contatobull Produtos Quiacutemicos derivados do sal bull A reciclagem do alumiacutenio bull A etiqueta ao avesso uma olhada nas fibras tecircxteisbull A chuva aacutecida bull A AIDSbull 220 volts podem matar

A vantagem do enxerto CTS eacute a vantagem de se manter a estrutura curricular a que o professor estaacute acostumado e seguro e incluir a Abordagem CTS

Loacutepez Cerezo (2009) assinala as vantagens desta abordagem e lembra que ela favorece as discussotildees pela oacutetica da tradiccedilatildeo americana mais voltada para as consequecircncias da teacutecnica e menos da tradiccedilatildeo europeacuteia que solicita uma formaccedilatildeo mais especializada

622 Ciecircncia e Tecnologia atraveacutes de CTS

Ensina-se mediante a estruturaccedilatildeo dos conteuacutedos das disciplinas a partir de CTS ou com orientaccedilatildeo CTS Essa abordagem permite estruturaccedilatildeo de atividades por disciplinas isoladas como tambeacutem por atividades interdisciplinares Loacutepez Cerezo (2009) escreve que esta eacute ldquoa mais infrequumlente opccedilatildeo e consiste em reconstruir os conteuacutedos de ensino de ciecircncia e da tecnologia atraveacutes de uma oacutetica CTSrdquo (p 27)

Discordamos daqueles autores que descrevem estes modelos e defendem a ideia de que essas ativi-dades se destinam a professores de ciecircncias as disciplinas chamadas exatas ou para a aacuterea do ensino de ciecircncias que certamente jaacute absorveu a Abordagem CTS como bem nos apresenta o estudo de Cachapuz et al (2008) Haacute temas que podem ser tratados por disciplinas da chamada aacuterea socialhumana Por exemplo a instalaccedilatildeo de Shopping Center na regiatildeo da escola ou furtos de energia (ldquoga-tosrdquo) etc Podem ter apelos ou facilidades para uma ou outra disciplina mas a abordagem CTS prima pela interdisciplinaridade quiccedilaacute a transdisciplinaridade

Como exemplo temos os programas PLON (Projeto de Desenvolvimento Curricular em Fiacutesica) e APQUA (Aprendizagem de Produtos Quiacutemicos seus usos e aplicaccedilotildees) O PLON eacute um conjunto de unidades onde em cada uma delas tomam-se problemas baacutesicos com relevacircncia social e relaciona-dos com os futuros papeacuteis dos estudantes (como consumidor como cidadatildeo como profissional) a partir daiacute seleciona-se e estrutura-se o conhecimento cientiacutefico e tecnoloacutegico necessaacuterio para que o estudante esteja capacitado para entender um artefato tomar uma decisatildeo ou entender um ponto de vista sobre um problema social relacionado de algum modo com a ciecircncia e com a tecnologia Alguns exemplos de temas do PLON para alunos de 13-17 anos satildeo

bull Gelo aacutegua e vaporbull Pontes

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bull Aacutegua para a Tanzacircniabull A energia em nossos laresbull Tracircnsito e seguranccedila bull Esquentando e isolandobull Maacutequinas e energiabull Armas nucleares e seguranccedilabull Radiaccedilotildees ionizantes

Outro projeto eacute o APQUA que procura proporcionar conteuacutedos e habilidades na resoluccedilatildeo de pro-blemas e na anaacutelise criacutetica de situaccedilotildees tecnocientiacuteficas Um exemplo de unidade APQUA eacute ldquoO Risco e a gestatildeo de produtos quiacutemicosrdquo que se desdobra nos moacutedulos ldquoRisco o jogo da vidardquo ldquoToxicologia determinaccedilatildeo de valores-limitesrdquo e ldquoTratamento de resiacuteduos industriaisrdquo (ver tambeacutem Merceacute e Au-leacutes 2001)

623 CTS puro

Para Pinheiro Matos e Bazzo (2007) no CTS Puro ldquoensina-se ciecircncia tecnologia e sociedade por intermeacutedio do CTS no qual o conteuacutedo cientiacutefico tem papel subordinadordquo

Para Gonzaacutelez Garciacutea Loacutepez Cerezo e Lujaacuten Lopez (1996) e Bazzo Linsingen e Pereira (2003) nesta categoria o conteuacutedo cientiacutefico passa a ter um papel subordinado Em alguns casos o conteuacutedo cien-tiacutefico eacute incluiacutedo para enriquecer a explicaccedilatildeo dos conteuacutedos CTS em sentido estrito em outros as re-ferecircncias aos temas cientiacuteficos ou tecnoloacutegicos satildeo apenas mencionadas poreacutem natildeo satildeo explicadas

Em outras palavras cremos que a categoria de CTS puro busca reestruturar o ensino dos conteuacutedos das mateacuterias cientiacuteficas sob uma sequumlecircncia e estrutura organizada parasobre a exposiccedilatildeo e discus-satildeo de problemas sociais relacionados com a ciecircncia e a tecnologia sendo que a ecircnfase estaacute no fato social e a explicaccedilatildeo pelo conhecimento cientiacutefico-tecnoloacutegico tambeacutem Esta categoria busca ser uma alternativa a situaccedilatildeo habitual onde encontramos menccedilatildeo de problemas sociais vinculados a ciecircncia onde o fio condutor eacute uma sequenciaccedilatildeo e estruturaccedilatildeo de conteuacutedos baseados na loacutegica interna das disciplinas cientiacuteficas

Segundo Acevedo Romero e Acevedo Diaz aqui seraacute possiacutevel

bull A inclusatildeo de conteuacutedos tecnocientiacuteficos que se integram nas explicaccedilotildees sociais filo-soacuteficas etc

bull A inserccedilatildeo de conteuacutedos de tecnocientiacuteficos como exemplos de estudos sociais filosoacute-ficos etc

bull Conteuacutedos totalmente CTS baseados em explicaccedilotildees sociais filosoacuteficas etc

Como exemplo de projetos CTS puro temos SISCON in the Schools (Science in a Social Context) IST (Innovations The social consequence of Science and Technology) S in S (Science in Society)

Grande parte dos autores indica o SISCON na escola como o programa que melhor representa o CTS puro

Trata-se de uma adaptaccedilatildeo para a educaccedilatildeo secundaacuteria do programa universitaacuterio britacircnico SISCON (ciecircncia no contexto social) Na educaccedilatildeo secundaacuteria SISCON eacute um projeto que usa a histoacuteria da ciecircncia e da sociologia da ciecircncia e tambeacutem da tecnologia para mostrar

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como foram abordadas no passado questotildees sociais vinculadas agrave ciecircncia e agrave tecnologia ou como se chegou a uma certa situaccedilatildeo problemaacutetica no presente CTS puro pode cumprir certas funccedilotildees Se natildeo se conta no curriacuteculo com outros elementos CTS tal versatildeo pode ser uacutetil para tentar remediar esta situaccedilatildeo na medida do possiacutevel Po-reacutem sobretudo pode ser de grande ajuda nos cursos e disciplinas de humanidades e ciecircn-cias sociais que em geral natildeo tecircm intenccedilatildeo de ocupar-se das questotildees sociais poliacuteticas ou morais relacionadas com a ciecircncia e a tecnologia (Gonzaacutelez Garciacutea Loacutepez Cerezo e Lujaacuten 1996 apud Bazzo Linsingen e Pereira 2003)

Haacute tambeacutem a classificaccedilatildeo proposta por Santos e Mortimer (2002) a partir de Aikenhead (1994) que agrupa os trabalhos CTS em sala de aula em algumas categorias

Categorias Descriccedilatildeo Exemplos

1-Conteuacutedo de CTS como elemento de mo-tivaccedilatildeo

Ensino tradicional de ciecircncias acrescido da menccedilatildeo ao conteuacutedo de CTS com a funccedilatildeo de tornar as aulas mais interessantes

O que muitos professores fazem para ldquodourar a piacutelulardquo de cursos puramente conceituais

2-Incorporaccedilatildeo even-tual do conteuacutedo de CTS ao conteuacutedo pro-gramaacutetico

Ensino tradicional de ciecircncias acrescido de peque-nos estudos de conteuacutedo de CTS incorporados como apecircndices aos toacutepicos de ciecircncia O conteuacutedo de CTS natildeo eacute resultado do uso de temas unificadores

Science and Technology in Society (SATIS UK) Consumer Science (EUA) Values in School Scien-ce (EUA)

3-Incorporaccedilatildeo siste-maacutetica do conteuacutedo de CTS ao conteuacutedo pro-gramaacutetico

Ensino tradicional de ciecircncias acrescido de uma seacute-rie de pequenos estudos de conteuacutedo de CTS inte-grados aos toacutepicos de ciecircncias com a funccedilatildeo de ex-plorar sistematicamente o conteuacutedo de CTS Esses conteuacutedos formam temas unificadores

Havard project Physics (EUA) Sci-ence and So-cial Issues (EUA) Nelson Chemistry (Canadaacute) In-terative Teaching Units for Chemistry (UK) Scien-ce Technology and Society Block J (EUA) Three SATIS 16-19 modules (What is Science What is Technology How Does Society decide ndash (UK)

4-Disciplina cientiacutefica (Quiacutemica Fiacutesica e Bio-logia) por meio de con-teuacutedo de CTS

Os temas de CTS satildeo utilizados para organizar o conteuacutedo de ciecircncia e a sua sequumlecircncia mas a se-leccedilatildeo do conteuacutedo cientiacutefico ainda eacute feita a partir de uma disciplina A lista dos toacutepicos cientiacuteficos puros eacute muito semelhante agravequela da categoria 3 embora a sequumlecircncia possa ser bem diferente

ChemCon (EUA) os moacutedulos holandeses de fiacute-sica como Light Sources and Ionizing Radiation (Holanda PLON) Science and Society Teaching units (Canadaacute) Chemical Education for Public Un-derstanding (EUA) Science Teacherrsquos Association of victoira Physics Series (Austraacutelia)

5- Ciecircncias por meio de conteuacutedos de CTS

CTS organiza o conteuacutedo e sua sequumlecircncia O conteuacute-do de ciecircncias eacute multidis-ciplinar sendo ditado pelo conteuacutedo de CTS A lista de toacutepicos cientiacuteficos puros assemelha-se agrave listagem de toacutepicos importantes a partir de uma variedade de cursos de ensino tradi-cional de ciecircncias

Logical Reasoning in Science and Technology (Ca-nadaacute) Modular STS (EUA) Global Science (EUA) Dutch Environmental project (Holanda) Salters Science Project (UK)

6-Ciecircncias com conteuacute-dos de CTS

O conteuacutedo de CTS eacute foco do ensino O conteuacutedo re-levante de ciecircncias enriquece a aprendizagem

Exploring the Nature of Science (Ing) Society Environment and Energy Development Studies (SEEDS) modules (EUA) Science and Technolo-gy 11 (Canadaacute)

A partir da mesma fonte ndash Glen Aikenhead ndash podemos extrair outra categorizaccedilatildeo didaacutetica mais detalhada para a ciecircncia escolar onde o autor mostra os diversos graus de interaccedilatildeo da Ciecircncia e a Tecnologia em um contexto de assuntos sociais (2009 apud Vieira Tenreiro-Vieira e Martins 2011 p 19) O autor propotildee 8 categorias CTS para a ciecircncia escolar

Categorias Descriccedilatildeo

1 CTS como motivaccedilatildeo O conteuacutedo CTS eacute apenas mencionado pontualmente pelo professor para tornar uma aula mais interes-sante para os alunos

2 Integraccedilatildeo pontual de conteuacutedo CTS

O conteuacutedo CTS natildeo eacute escolhido para abordar temas unificadores sobre questotildees sociais internas e externas agrave Ciecircncia Ao inveacutes os conteuacutedos CTS satildeo acrescentados ou infundidos em toacutepicos do curriacuteculo de Ciecircncias existentes

3 Integraccedilatildeo sistemaacuteti-ca de conteuacutedo CTS

Uma seacuterie de cursos ou pequenos estudos de conteuacutedo CTS satildeo integrados nos toacutepicos de Ciecircncias num curso tradicional de Ciecircncias para sistematicamente explorar conteuacutedos CTS focando temas unificado-res

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4 Disciplina cientiacutefica atraveacutes de conteuacutedo CTS

O conteuacutedo de Ciecircncias e a sua sequecircncia satildeo escolhidos e organizados amplamente pelo conteuacutedo CTS Haveraacute uma biologia CTS uma Quiacutemica CTS uma fiacutesica CTS

5 Ciecircncia atraveacutes de conteuacutedo CTS

O conteuacutedo CTS serve como organizador para o conteuacutedo de Ciecircncias e sua sequecircncia O curso Logical Reasoning in Science and Technology [LoRST] exemplifica inclusatildeo da conteuacutedo de Ciecircncia e de Tecnolo-gia que normalmente natildeo se encontra nos cursos tradicionais de Ciecircncia mas que eacute relevante para um acontecimento ou questatildeo do dia a dia

6 Ciecircncia como con-teuacutedo CTS

O conteuacutedo CTS eacute o foco da instruccedilatildeo Os conteuacutedos relevantes de Ciecircncias enriquecem esta aprendi-zagem

7 Infusatildeo da Ciecircncia no conteuacutedo CTS

O conteuacutedo CTS eacute o grande foco da instruccedilatildeo O conteuacutedo relevante de Ciecircncias eacute mencionado mas natildeo sistematicamente ensinado A ecircnfase pode ser dada a princiacutepios cientiacuteficos amplos

8 Conteuacutedo CTS Uma questatildeo central de Ciecircncia ou Tecnologia eacute estudada

Para o autor a categoria 1 representa a mais baixa prioridade de conteuacutedo CTS e a categoria 8 re-presenta a mais alta prioridade em conteuacutedo CTS Sendo que uma grande diferenccedila pode ser notada entre as categorias 3 e 4 Na categoria 3 a estrutura de conteuacutedo estaacute definida por uma disciplina que se utiliza de motivaccedilotildees CTS Na categoria 4 eacute definida pelo proacuteprio assunto tecnocientiacutefico com impacto social A ciecircncia com visatildeo interdisciplinar eacute percebida na categoria 5 Escreve o autor que mais do que discutir as categorias devemos ver essa categoria como orientaccedilatildeo para aquilo que eacute mais importante projetos que atendam agraves necessidades dos alunos e as caracteriacutesticas de cada categoria

Esses modelos podem ser encontrados em diversos trabalhos CTS publicados no Brasil tais como os estudos de Bazzo (1998) Bazzo e Colombo (2001) Bazzo e Cury (2001) Silva Correa de Souza (2001) Auler (2002) Santos e Schnetzler (2003) Koepsel (2003) Pinheiro e Bazzo (2004) Pinheiro (2005) aleacutem de vaacuterios outros trabalhos apresentados em eventos cientiacuteficos em geral na modalidade enxerto CTS (Pinheiro Matos e Bazzo 2007) A estes podemos agregar ainda trabalhos mais recen-tes de Chrispino (2005a) Alves (2005) Carvalho et al (2006) e Faria e Carvalho (2007)

Leia mais sobre os diversos tipos de projetos CTS

Acevedo Romero Pilar e Acevedo Diacuteaz Joseacute A Proyectos y materiales curriculares para la educacioacuten CTS enfoques estructuras contenidos y ejemplos httpwwwoeiessalactsiacevedo19htm

63 CTS como disciplina

No acircmbito do ensino meacutedio43 eacute possiacutevel incluir neste item a chamada disciplina CTS que seria um componente curricular especialmente voltado para a alfabetizaccedilatildeo tecnocientiacutefica do estudante e do cidadatildeo nos moldes que temos apresentado Vamos buscar exemplificar como uma disciplina pode ser estruturada

O primeiro exemplo eacute a implantaccedilatildeo da disciplina CTS na Espanha A disciplina CTS segundo Loacutepez Cerezo (1998 e 2002) foi implantada recentemente na Espanha com caraacuteter optativo em todos os cursos de bachilleratos (16-18 anos) e como complemento transversal para as disciplinas de ciecircncias (14-16 anos) A disciplina CTS pode ser dividida em 5 blocos

1 Ciecircncia teacutecnica e tecnologia perspectivas histoacutericas2 O sistema tecnoloacutegico3 Repercussotildees sociais do desenvolvimento cientiacutefico e teacutecnico

43 Vamos tratar aqui das disciplinas votadas para o ensino meacutedio ou que formem professores para atuar na Educaccedilatildeo Baacutesica Haacute no Brasil algumas interessantes experiecircncias de disciplinas CTS especialmente voltadas para a aacuterea de engenharia CTS ndash pro-gramas universitarios httpwwwchassncsueduidsstsotherhtml

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4 O controle social da atividade cientiacutefica e tecnoloacutegica5 O desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico reflexotildees filosoacuteficas

Segundo Loacutepez Cerezo (2002)

No primeiro bloco o da perspectiva histoacuterica se abordam a origem do pensamento cien-tiacutefico o papel da tecnologia na revoluccedilatildeo industrial e o papel da teacutecnica no processo de humanizaccedilatildeo O segundo o sistema tecnoloacutegico se ocupa dos componentes desse sistema conhecimento recursos teacutecnicos capital e contexto social O terceiro bloco repercussotildees sociais se centra nos distintos tipos de consequecircncias sociais e ambientais do desenvol-vimento cientiacutefico-tecnoloacutegico econocircmicas demograacuteficas reduccedilatildeo da biodiversidade etc O problema da regulamentaccedilatildeo puacuteblica da mudanccedila cientiacutefico-tecnoloacutegica com temas como o da avaliaccedilatildeo de tecnologias ou controle de mercado se aborda no bloco quarto E por uacuteltimo no quinto bloco satildeo colocados diversos problemas eacuteticos esteacuteticos e em geral filosoacuteficos sobre a moderna ldquocultura tecnoloacutegicardquo (p18)

O segundo exemplo eacute o Curso de formaccedilatildeo de professores de niacutevel meacutedio e superior sobre o enfoque CTS no ensino44 feito agrave distacircncia e patrocinado pela OEI-Organizaccedilatildeo dos Estados Iberoamericanos a Universidade de Oviedo na Espanha e o NEPETUFSC no Brasil O curso eacute estruturado em blocos de conhecimento O que eacute Ciecircncia o que eacute Tecnologia o que eacute sociedade o que eacute CTS e Estudos de Casos Apoacutes isso os participantes do curso satildeo convidados a estudar exemplos de casos de controveacuter-sia simulada e de proporem atividades utilizando-se desta estrateacutegia de alguma forma

O terceiro exemplo pode ser a disciplina CTS do Curso de Especializaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Tecnoloacutegica-EAD Ela estaacute estruturada em dez encontros e busca inicialmente estabelecer o chamado Campo CTS depois discute as possiacuteveis concepccedilotildees de Ciecircncia de Tecnologia e de Sociedade apoacutes isto estuda a interaccedilatildeo desta triacuteade e os fatores que podem influir nesta relaccedilatildeo No momento seguinte busca relacionar os conceitos CTS coerentemente com Educaccedilatildeo e Educaccedilatildeo Tecnoloacutegica e ao fim apresenta as possibilidade de materializar as ideias CTS no ensino indicando a controveacutersia contro-lada como teacutecnica preferencial

Conheccedila maisCTS ndash programas universitarios httpwwwchassncsueduidsstsotherhtml

64 Uma modelagem do ensino aprendizagem CTS

Um modelo de como se ensina e se aprende por meio da abordagem CTS eacute intitulado espiral de responsabilidade de Waks (1992 apud Miembiela 2001 p 96) que considera cinco fases suces-sivas

bull Autocompreensatildeo onde aprende a considerar suas necessidades valores planos e res-ponsabilidades

bull Estudo e reflexatildeo aqui o estudante toma consciecircncia e conhecimento da ciecircncia e da tecnologia e seus impactos sociais e isto supotildee uma conexatildeo com as chamadas disci-plinas baacutesicas

bull Tomada de decisatildeo aqui o estudante aprende sobre os processos de tomada de decisatildeo e de negociaccedilatildeo para mais tarde tomar realmente decisotildees e defendecirclas com razatildeo e evidecircncias

44 httpwwwoeibrptorgprogramacionctsicursohtm

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bull Accedilatildeo responsaacutevel nela o estudante planeja e executa a accedilatildeo tanto de maneira indivi-dual como coletiva

bull Integraccedilatildeo aqui o estudante deve aventurar-se para aleacutem do tema especiacutefico e fazer consideraccedilatildeo CTS mais amplas incluindo os valores pessoais e sociais

641 A escolha do tema tecnocientiacutefico de impacto social

Dagnino e Thomas (2002) lembram que a particularidade da Abordagem CTS natildeo estaacute nos temas a que ela se propotildee discutir ou investigar mas sim na forma em que esses satildeo abordados dando espe-cial atenccedilatildeo ao fato de que os problemas reais de uma sociedade natildeo se restringem a explicaccedilatildeo de uma disciplina acentuando a importacircncia da Abordagem CTS ser desenvolvida sob a eacutegide da intertransdisciplinaridade Nesta perspectiva a Abordagem CTS

refere-se ao estudo da ciecircncia e da tecnologia na sociedade isto eacute da forma na qual os fenocirc-menos teacutecnicos e sociais interatuam e influenciam uns nos outros Por exemplo entre os temas abordados por pesquisadores CTS encontram-se o papel da ciecircncia e a tecnologia na transformaccedilatildeo de instituiccedilotildees sociais como o trabalho e a famiacutelia a relaccedilatildeo entre a ciecircncia e a tecnologia e o crescimento econocircmico e a reflexatildeo acerca dos valores eacuteticos e morais implicados nas descobertas cientiacuteficas e inovaccedilotildees tecnoloacutegicas Por outro lado revertendo o sentido da influecircncia pesquisadores tecircm estudado a forma como a ciecircncia e a tecnologia satildeo influenciados por fatores sociais como interesses poliacuteticos e econocircmicos a ideologia e valores culturais (p 8-9)

Quanto aos criteacuterios a serem seguidos na escolha de temas CTS Hickman Patrick e Bybee (1987 apud Miembiela 2001) consideram as questotildees

bull Eacute diretamente aplicaacutevel a vida dos estudantesbull Eacute adequado ao niacutevel cognitivo e a maturidade social dos estudantesbull Eacute um tema importante no mundo atual dos estudantes e provavelmente permaneceraacute

como tal para uma parte deles na vida adultabull Os estudantes podem aplicar estes conhecimentos em outros espaccedilos que natildeo a escolabull Eacute um tema pelo qual os estudantes mostram interesse e entusiasmo

642 Enumerando os limites e as vantagens das abordagens CTS

A abordagem CTS por mais que apresente vantagens e emocione alguns professores e alunos natildeo pode ser tratada como panaceia ou como soluccedilatildeo para todos os problemas ou mesmo como a uacutenica alternativa para o ensino de ciecircncia e tecnologia Ela precisa ser encarada como mais uma alterna-tiva talvez uma alternativa potente para melhoria do ensino de ciecircncia e tecnologia baseando-se nos princiacutepios da formaccedilatildeo tecnocientiacutefica do cidadatildeo da educaccedilatildeo tecnocientiacutefica para todos e na alfabetizaccedilatildeo tecnocientiacutefica

Por isso eacute importante que conheccedilamos os limites desta abordagem Vamos recorrer mais uma vez a experiecircncia de Miembiela (2001) ao citar Cheek (1992)

bull A especializaccedilatildeo disciplinar que os professores recebem em sua formaccedilatildeo conflita com o enfoque interdisciplinar que se quer na perspectiva CTS

bull As concepccedilotildees preacutevias que possuem tanto estudantes quanto professores sobre a temaacute-tica CTS em particular sobre ciecircncia e os cientistas

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bull A ausecircncia de investigaccedilotildees que ofereccedilam resultados claramente positivos quando pos-ta em praacutetica o ensino CTS

bull A influecircncia de exames externos sobre o processo educativo no sentido que habitual-mente natildeo contemplam a perspectiva CTS

bull O nuacutemero de conceitos cientiacuteficos assimilados pode ser menor e isto pode comprome-ter seriamente os resultados acadecircmicos posteriores

bull O medo dos professores de ciecircncias de perder a identidade definida basicamente por seu papel como iniciadores dos estudantes no campo da ciecircncia

O mesmo autor aponta as vantagens de se usar os enfoques CTS utilizando as reflexotildees de Aikenhead (1990 apud Miembiela 2001) que resumimos a seguir

bull Uma melhora em sua compreensatildeo sobre os desafios sociais da ciecircncia e das interaccedilotildees entre a ciecircncia e a tecnologia e entre ciecircncia e sociedade

bull Uma melhora em suas atitudes para com a ciecircncia para com os cursos de ciecircncia para com a aprendizagem do conteuacutedo CTS e os meacutetodos de ensino que utilizam a interaccedilatildeo entre os estudantes

bull Um efetivo aprendizado por meio do enfoque CTS se recebem um ensino com uma orientaccedilatildeo clara nesta linha se dispotildeem de um material curricular adequado e se haacute correspondecircncia adequada entre o modelo de ensino de ciecircncias aplicado e a aproxi-maccedilatildeo CTS escolhida para as atividades de ensino-aprendizagem

65 CTS e as accedilotildees didaacuteticas no Brasil

Apoacutes estudarmos as possiacuteveis categorias que permitem perceber como CTS se estrutura para interfe-rir na realidade escolar podemos ndash e devemos ndash conhecer como ele se estrutura no Brasil Sendo um movimento que surgiu e se fortaleceu no hemisfeacuterio norte natildeo eacute surpresa dizer que no Brasil ainda natildeo temos uma aacuterea de estudo definida e estruturada e por isso temos dificuldade de conceituar e delimitar as accedilotildees que envolvem CTS Por aqui CTS eacute uma aacuterea em emergecircncia e em consolidaccedilatildeo

O grupo de pesquisa do Diretoacuterio do CNPq CTS e Educaccedilatildeo do CEFETRJ foi criado em 2010 e desde 2012 trabalha no mapeamento do CTS brasileiro e tambeacutem em analises comparativas com as pectos observados no campo CTS em outras partes do mundo Por conta deste amplo levantamento ainda em processo podemos antecipar que

bull A primeira tese de doutorado sobre CTS que pode ser encontrada usando os paracirc-metros de busca do grupo foi defendida na Faculdade de Educaccedilatildeo da USP por Silvia Luzia Frateschi Trivelato datada de 1993 e intitulada CiecircnciaTecnologiaSociedade ndash mudanccedilas curriculares e formaccedilatildeo de professores (Toledo et al 2016)

bull No que concerne agraves dissertaccedilotildees de mestrado usando os mesmos paracircmetros de busca temos duas dissertaccedilotildees em 1992 defendidas em mestrados de Educaccedilatildeo

bull A defendida na Unicamp por Wildson Luiz Pereira dos Santos e intitulada O En-sino de quiacutemica para formar o cidadatildeo principais caracteriacutesticas e condiccedilotildees para a sua implantaccedilatildeo na escola secundaacuteria brasileira

bull A defendida na UFRJ por Alvaro Chrispino e intitulada Didaacutetica Especial de Quiacute-mica e Praacutetica de Ensino de Quiacutemica uma proposta voltada para quiacutemica e socie-dade

bull No que tange aos artigos publicados ainda sob os mesmos paracircmetros de busca e restri-to a perioacutedicos abertos e disponiacuteveis em sistemas online (o que compreende o periacuteodo

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de 1996 a 2014) podemos indicar como o primeiro deles aquele publicado por Antonio Carlos Rodrigues de Amorim intitulado Biologia tecnologia e inovaccedilatildeo no curriacuteculo do ensino meacutedio e publicado no perioacutedico Investigaccedilotildees em Ensino de Ciecircncias em 1998

bull Eacute importante ressaltar que este resultado surge a partir dos paracircmetso de pes-quisa visto que por exemplo noacutes mesmos tivemos um artigo publicado em 1989 intitulado A Funccedilatildeo Social do Ensino de Quiacutemica na Revista de Quiacutemica Indus-trial que tratava efetivamente da Abordagem CTS mas natildeo eacute encontrado pelos criteacuterios de busca adotados pelo grupo Como este certamente haacute outros

Ainda no esforccedilo de posicionar o Ensino CTS na realidade educacional barsileira Strieder et al (2016) realizaram levantamento buscando identificar ldquopossibilidades e desafios associados ao desen-volvimento de praacuteticas educativas CTSrdquo (p 87) no contexto da educaccedilatildeo cientiacutefica brasileira espe-cialmente no ensino meacutedio Foram objetos de anaacutelise

Os documentos relativos ao ensino de Biologia Fiacutesica e Quiacutemica desse niacutevel de ensino [meacute-dio] quais sejam as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Meacutedio publicadas em 1998 ndash DCNEM98 incluindo a Resoluccedilatildeo CEB nordm 398 e o Parecer CEBCNE nordm 1598 os Paracircmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Meacutedio - PCNEM as Orientaccedilotildees Com-plementares aos PCNEM - PCN+ as Orientaccedilotildees Curriculares Nacionais para o Ensino Meacute-dio - OCNEM as novas Diretrizes Curriculares Nacionais publicadas em 2013 ndash DCN13 o edital de convocaccedilatildeo para o processo de inscriccedilatildeo e avaliaccedilatildeo de obras didaacuteticas do Pro-grama Nacional de Livro Didaacutetico de 2015 ndash PNLD15 a Matriz de Referecircncia do Exame Nacional do Ensino Meacutedio de 2016- MR-ENEM16 e a 2ordf versatildeo revista da Base Nacional Comum Curricular publicada em 2016 ndash BNCC16 (p 89-90)

Auler (2007) estudando os pressupostos CTS para o contexto brasileiro escreve que (1) possuiacutemos accedilotildees individuais incipientes e isoladas que (2) os objetivos da educaccedilatildeo CTS podem ser sintetiza-dos em

1 Promover o interesse dos estudantes em relacionar a ciecircncia com aspectos tecnoloacutegicos e sociais discutir as implicaccedilotildees sociais e eacuteticas relacionadas ao uso da ciecircncia-tecno-logia (CT)

2 Adquirir uma compreensatildeo da natureza da ciecircncia e do trabalho cientiacutefico 3 Formar cidadatildeos cientiacutefica e tecnologicamente alfabetizados capazes de tomar decisotildees

informadas e desenvolver o pensamento criacutetico e a independecircncia intelectual

A aacuterea CTS tem recebido importantes contribuiccedilotildees oriundas de pesquisas realizadas nas instituiccedilotildees de ensino que mantem programas de poacutes-graduaccedilatildeo e em contraposiccedilatildeo vem deixando lacunas impor-tantes nas accedilotildees didaacuteticas que envolvam grupos significativos de professores eou alunos eou escolas

Mezalira (2008) e Pansera-de-Arauacutejo et al (2009) escrevem sobre a produccedilatildeo CTS nos eventos espe-ciacuteficos da aacuterea de ensino de ciecircncia e tecnologia e identificam o crescimento da aacuterea com seus mais significativos agentes

Hunsche et al (2009) buscaram trabalhos on-line no periacuteodo de 1998 a 2008 na Revista Brasileira de Pesqui-sa em Educaccedilatildeo em Ciecircncias na Revista Ciecircncia amp Educaccedilatildeo e na Revista Ensaio ndash Pesquisa em Educaccedilatildeo em Ciecircncias O problema de pesquisa foi enunciado foi Quais tecircm sido os encaminhamentos dados em termos teoacuterico-metodoloacutegicos ao campo CTS no contexto brasileiro Neste trabalho os autores dividem os 12 artigos encontrados em trecircs categorias Implementaccedilotildees Concepccedilotildees e PressupostosReflexotildees

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Auler Fenalti e Dalmolin (2009) analisaram implementaccedilotildees de propostas didaacutetico-pedagoacutegicas centradas na abordagem CTS utilizando como fontes de consulta anais de eventos e materiais de ensino (e cadernos de formaccedilatildeo e guias didaacuteticos)

Abreu Fernandes e Martins (2009) realizaram pesquisa em 10 revistas da aacuterea de Ensino de Ciecircn-cias Encontraram 23 artigos sobre CTS e CTSA e concluiacuteram ldquoque a produccedilatildeo nacional em CTS tem se preocupado tanto com situaccedilotildees do ensino em sala de aula e espaccedilos natildeo formais como tambeacutem na elaboraccedilatildeo teoacuterica de um pensamento autocircnomo em relaccedilatildeo agraves linhas europeacuteias e norte-americanasrdquo

Arauacutejo (2009) faz um mapeamento preliminar dos Grupos de Pesquisa registrados no Diretoacuterio de Pesquisa do CNPq que tratam de CTS O artigo informa que haacute 30 grupos 95 linhas de pesquisa e 217 pesquisadores nos diversos grupos de pesquisa As regiotildees sul e sudeste concentram a esmagadora maioria dos grupos

Chrispino et al (2013) em ampla pesquisa envolvendo 22 perioacutedicos entre 1996 e 2010 encontraram 88 artigos que por meio de software de redes sociais resultou nos 13 trabalhos mais citados Identifi-caram que os mais citados satildeo trabalhos de valor acadecircmico mas com quase nenhuma fonte primaacuteria ou autores pioneiros da aacuterea

Eacute Auler (2007) que chama a atenccedilatildeo para as possiacuteveis dimensotildees e avanccedilos dos trabalhos em uma aacuterea em expansatildeo

Na perspectiva de buscar delimitaccedilotildees bem como potencializar accedilotildees para o contexto bra-sileiro seratildeo analisadas [neste artigo] trecircs dimensotildees interdependentes que em maior ou menor intensidade comparecem na literatura sobre o tema a abordagem de temas de relevacircncia social a interdisciplinaridade e a democratizaccedilatildeo de processos de tomada de decisatildeo em temas envolvendo Ciecircncia-Tecnologia Defende-se a necessidade de mu-danccedilas profundas no campo curricular Ou seja configuraccedilotildees curriculares mais sensiacuteveis ao entorno mais abertas a temas a problemas contemporacircneos marcados pela componen-te cientiacutefico-tecnoloacutegica enfatizando-se a necessidade de superar configuraccedilotildees pautadas unicamente pela loacutegica interna das disciplinas passando a serem configuradas a partir de temasproblemas sociais relevantes cuja complexidade natildeo eacute abarcaacutevel pelo vieacutes unica-mente disciplinar

As reflexotildees estruturadas por Auler trazem a tona algumas questotildees importantes como fazer com que a abordagem CTS se transforme em accedilatildeo efetiva na melhoria da qualidade do ensino e assim possa contribuir para a melhor formaccedilatildeo dos estudantes como cidadatildeos criacuteticos

Sem entrar no meacuterito por conta do objetivo central deste estudo podemos afirmar que a Educaccedilatildeo possui uma taxa de transformaccedilatildeo muito lenta Ela eacute naturalmente reativa a mudanccedilas ao mesmo tempo que paradoxalmente eacute suscetiacutevel a modismos teoacutericos e espasmos instrumentais

Uma das funccedilotildees da escola eacute manutenccedilatildeo dos valores tidos como primordiais pela sociedade e essa manutenccedilatildeo da tradiccedilatildeo natildeo absorve facilmente novos valores mas ao mesmo tempo exigisse da escola a atualidade com os avanccedilos da tecnologia (novos equipamentos novas linguagens novas competecircncias etc) sem se exigir a mesma atualizaccedilatildeo no que se refere aos conhecimentos organi-zados (a grosso modo a ciecircncia) visto que ainda ensinamos a fiacutesica e quiacutemica do seacuteculo XIX por exemplo

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Se encararmos a abordagem CTS como mais um modismo poderemos incorrer nos mesmos erros que estas ldquoondasrdquo incorreram satildeo implantadas ateacute que surjam novas modas elas tecircm o tempo de vida relacionado com o tempo da novidade

Por tal temos defendido que a abordagem CTS natildeo seja mais uma teacutecnica ou uma teacutecnica que venha a substituir as jaacute existentes e messianicamente resolver todos os problemas do ensino e da formaccedilatildeo do cidadatildeo CTS precisa ser encarado primeiramente como uma cultura um modo de ser um modo de estruturar a atividade didaacutetica independentemente da formaccedilatildeo do professor independentemen-te da escola de pensamento em que ele se desenvolveu independentemente dos autores que datildeo suporte teoacuterico agrave sua atividade didaacutetica

A abordagem CTS no ensino natildeo deve ser encarada como mais um livro que se coloca na vasta biblio-teca de alternativas mas antes de tudo deve ser percebida como uma maneira de organizar a biblio-teca de alternativas que cada um de noacutes professores possui como resultado de sua accedilatildeo profissional pessoal e singular

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7 CTS e a teacutecnica da controveacutersia controlada

O que eacute conhecido sempre parece sistemaacutetico provado aplicaacutevel e evidente para aquele que conhece Da mesma forma todo sistema alheio de conhecimento sempre parece contraditoacuterio natildeo provado inapli-caacutevel irreal ou miacutestico

Ludwik Fleck

71 Da controveacutersia CTS original agrave teacutecnica de controveacutersia controlada

Apoacutes esta visatildeo panoracircmica sobre as possibilidades de estruturaccedilatildeo CTS acompanhamos os autores e indicamos o enxerto CTS como accedilatildeo mais acessiacutevel aos professores visto natildeo ser preciso modificar sua estrutura de trabalho para oferecer aos alunos a abordagem CTS Basta apenas ordenar as ques-totildees que estruturam a relaccedilatildeo didaacutetica

Por outro lado vamos propor como accedilatildeo didaacutetica ou teacutecnica de ensino a controveacutersia controlada em torno de um tema tecnocientiacutefico que pode ser incluiacuteda na categoria Ciecircncia e Tecnologia atraveacutes de CTS a partir do que nos ensina Loacutepez Cerezo (2002)

Uma () opccedilatildeo consiste em reconstruir os conteuacutedos do ensino da ciecircncia e da tecnolo-gia atraveacutes de uma oacutetica CTS Em disciplinas isoladas ou por meio de cursos cientiacuteficos pluridisciplinares se fundem os conteuacutedos teacutecnicos e CTS de acordo com a exposiccedilatildeo e discussatildeo de problemas sociais dados () O formato padratildeo de apresentaccedilatildeo de conteuacutedos nesta opccedilatildeo eacute em primeiro lugar eleger um problema importante relacionado com os pa-peacuteis futuros o estudante (cidadatildeo profissional consumidor etc) e em segundo lugar sobre tal base selecionar e estruturar o conhecimento cientiacutefico-tecnoloacutegico necessaacuterio para que o estudante possa entender um equipamento tomar uma decisatildeo ou entender um problema social relacionado com a ciecircncia ou a tecnologia (p 15)

A chamada teacutecnica da controveacutersia controlada controveacutersia simulada ou simulaccedilatildeo CTS eacute na ver-dade a siacutentese da histoacuteria de formaccedilatildeo da Abordagem CTS quer como movimento social quer como construccedilatildeo social da ciecircncia Na verdade o movimento CTS se estruturou a partir da (1) desilusatildeo com a ldquovisatildeo positivistardquo de Ciecircncia e Tecnologia marcada pelo ciacuterculo virtuoso de mais ciecircncia mais progresso e mais bem estar (2) pela percepccedilatildeo de que entregar a Ciecircncia a somente os cientistas era temeraacuterio visto que os especialistas em Ciecircncia e Tecnologia como natildeo poderia deixar de ser satildeo movidos por paixotildees ideais e emoccedilotildees (3) pelos impactos negativos para pessoas grupos e comu-nidade de forma geral em curto meacutedio e longo prazos dos artefatos tecnoloacutegicos e da aplicaccedilatildeo de conhecimentos tecnocientiacuteficos (Ramos e Silva 2007)

O que ocorreu ao longo da historia da Abordagem CTS foi o conflito ou divergecircncia sobre a maneira de ver a origem o desenvolvimento a aplicaccedilatildeo e as consequecircncias dos conhecimentosaparatos tec-nocientiacuteficos Houve portanto uma controveacutersia em torno dos temas e a sociedade ndash nas suas mais diferentes manifestaccedilotildees ndash solicitou espaccedilo para ouvir e se fazer ouvir sobre o futuro que tambeacutem lhe pertence Logo a controveacutersia de visotildeesopiniotildees entre atores sociais eacute a melhor e mais autecircntica manifestaccedilatildeo da Abordagem CTS A mesma ideia de controveacutersia tambeacutem eacute encontrada no interior da comunidade cientiacutefica que jaacute natildeo mais se contenta com as tradicionais visotildees (e mitos) da Ciecircncia

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Eis por que propomos que as atividades didaacuteticas de CTS tenham sua culminacircncia no exerciacutecio da anaacutelise fundamentada e da criacutetica pertinente de fatos ou decisotildees que afetam de alguma forma o cidadatildeo ou a sua comunidade Se visto desta forma a controveacutersia controlada pode ser utilizada em temas tecnocientiacuteficos relevantes mas tambeacutem em qualquer fato social que permita interpretaccedilotildees variadas visando a decisatildeo

72 A Teacutecnica da Controveacutersia um aprofundamento teoacuterico

Flechsig e Schiefelbein (2003) apresentam a ideia de que a origem da teacutecnica de controveacutersia estaacute na disputatio que remonta a idade meacutedia e consistia em disputas puacuteblicas entre os estudantes e tambeacutem serviam como exames para os exerciacutecios de retoacuterica visto que era considerado um meacutetodo de busca pela verdade a partir da argumentaccedilatildeo e da contra-argumentaccedilatildeo

Jaacute Johnson e Johnson (2004) numa abordagem mais contemporacircnea escreveratildeo que as raiacutezes teoacuteri-cas da controveacutersia estatildeo no desenvolvimento cognitivo nas teorias do equiliacutebrio psicoloacutegico-social e nas teorias do conflito Os autores defendem que estas trecircs perspectivas explicam o fato de que os esforccedilos cooperativos da teacutecnica de controveacutersia produzem discussotildees que geram conflitos cogniti-vos que seratildeo resolvidos no debate orientado Essa satisfaccedilatildeo do conflito ndash causado pela diferenccedila de percepccedilatildeoopiniatildeo ndash acarreta uma racionalidade e um novo aprendizado gerando a reconceituali-zaccedilatildeo sobre o tema em debate Essa reconceitualizaccedilatildeo natildeo eacute obrigatoriamente uma modificaccedilatildeo da posiccedilatildeo anterior O debate natildeo visa a abdicaccedilatildeo de posiccedilotildees mas a oportunidade de apresentar suas ideias e de ouvir a argumentaccedilatildeo do outro que pensasente diferentemente

A controveacutersia controlada pode ser definida como um meacutetodo didaacutetico de construccedilatildeo de consenso (pelo menos no processo de debate) minuciosamente preparado a partir de regras previamente de-finidas visando o exerciacutecio de (1) identificaccedilatildeo de problemas comuns para fomentar a controveacutersia (2) o exerciacutecio de estabelecer padrotildees mutuamente aceitaacuteveis para sustentar um debate (3) a busca organizada de informaccedilotildees pertinentes ao tema definido (4) a preparaccedilatildeo da exposiccedilatildeo em defesa da posiccedilatildeo (5) a capacidade de escutar a posiccedilatildeo controversa apresentada racionalmente pelos de-mais participantes (6) o exerciacutecio de contra-argumentar a partir do conhecimento dos argumentos utilizados pelos demais debatedores e (7) reavaliar as posiccedilotildees ndash a sua e as demais ndash a partir de novas informaccedilotildees

Segundo estes autores

haacute uma controveacutersia acadecircmica programada quando as ideias a informaccedilatildeo as conclusotildees as teorias e as opiniotildees de um aluno se opotildeem as de outro mas ambos tratam de chegar a um acordo por meio da proposta de Aristoacuteteles a discussatildeo das vantagens e desvantagens das accedilotildees propostas apontando para a siacutentese de novas soluccedilotildees a uma resoluccedilatildeo criativa do problema (Johnson e Johnson 2004 p 143)

Jaacute para Flechsig e Schiefelbein (2003) a teacutecnica de controveacutersia apresenta caracteriacutesticas importan-tes visto que permite desenvolver metas de aprendizagens e competecircncias especiacuteficas se as demais teacutecnicas em geral pretendem consolidar a chamada ldquoverdade objetivardquo que tanto caracterizam o ensino claacutessico a teacutecnica de controveacutersia busca realccedilar a argumentaccedilatildeo a apreciaccedilatildeo de situaccedilotildees conflitantes os conhecimentos controvertidos as posiccedilotildees diferentes frente agrave formaccedilatildeo de juiacutezo de valor sobre um tema As tarefas de aprendizagens para os que desenvolvem a teacutecnica podem ser ela-boraccedilatildeo de uma ldquoteserdquo a apresentaccedilatildeo da ldquoteserdquo a identificaccedilatildeo de ldquoteserdquo diferente da sua a criacutetica da ldquoteserdquo diferente a partir de informaccedilotildees e o exerciacutecio de siacutentese Esse conjunto de atividades

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resulta no domiacutenio de competecircncias de comunicaccedilatildeo e de argumentaccedilatildeo importantes para as sociedades atuais

Para esses autores as fases da teacutecnica de controveacutersia podem ser

bull Fase de preparaccedilatildeo onde se fixam oito aspectos o que quando onde quem com quem se deve discutir quem teraacute a funccedilatildeo de moderador que tipo de puacuteblico seraacute convidado e quais satildeo as regras que organizaratildeo o debate

bull Fase de recepccedilatildeo (apresentaccedilatildeo das teses) nesta fase seraacute proposta a tese ldquodigna de discussatildeordquo que logo deve ser aceita e publicada (difundida)

bull Fase de interaccedilatildeo (argumentaccedilatildeo) primeiro os defensores e depois os oponentes ex-potildeem suas evidencias e argumentos contraditoacuterios e na rodada seguinte apresentam mais argumentos eou retiram alguns outros argumentos

bull Fase de avaliaccedilatildeo em que a disputa se resolve com uma decisatildeo do grupo e mesmo com a opiniatildeo expressa de possiacuteveis expectadores presentes agrave disputa

Para que se cumpram todas as etapas didaacuteticas o tema a ser utilizado na controveacutersia deve combinar a interdependecircncia social com o conflito intelectual visto que quanto maior for o nuacutemero de elemen-tos potencialmente cooperativos e menor o nuacutemero de elementos competitivos mais construtivo seraacute conflito e a controveacutersia Importante perceber que natildeo eacute somente o componente cooperativo que contribui para uma controveacutersia mas tambeacutem o componente conflito visto que eacute este que per-mitiraacute a chance de ouvir outras posiccedilotildees e refletir sobre elas

Johnson e Johnson (2004) ao tratarem das vantagens desta teacutecnica comparam quatro meacutetodos de ensino a controveacutersia o debate o proselitismo e o trabalho individual Dizem que os estudos experi-mentais que desenvolveram nos uacuteltimos vinte anos permitem concluir que os alunos que participam das controveacutersias recordam mais informaccedilotildees corretas transferem com mais facilidade a aprendiza-gem a situaccedilotildees novas empregam estrateacutegias de racionalidade mais complexas e satildeo mais capazes de generalizar os princiacutepios que aprenderam e aplicaacute-los a um nuacutemero maior de situaccedilotildees Dizem que a controveacutersia tende a gerar uma visatildeo mais criativa das questotildees examinadas e mais siacutenteses permi-tem combinar as perspectivas em debate Quando comparada com o debate a busca de adesatildeo (pro-selitismo) e trabalho individual a controveacutersia promove mais simpatia apoio social e auto-estima nos participantes do exerciacutecio Os mesmos autores escrevem que

A controveacutersia programada eacute sumamente promissora do ponto de vista didaacutetico Nela en-contramos os quatro elementos essenciais teoria (Johnson 1970) investigaccedilotildees validado-ras integraccedilatildeo nos procedimentos pedagoacutegicos e formaccedilatildeo permanente de docentes A con-troveacutersia programada se baseia no emprego da cooperaccedilatildeo para ensinar e integra o manejo construtivo dos conflitos nas experiecircncias cotidianas de aprendizagem Agrave medida que os alunos adquirem periacutecia na resoluccedilatildeo de conflitos intelectuais vai se construindo o cenaacuterio para que aprendam a manejar conflitos de interesses entre eles e seus companheiros (p 150)

Com outros objetivos mas utilizando-se do mesmo principio didaacutetico Lipman Sharp e Oscanyan (1992) propotildeem a controveacutersia controlada como teacutecnica de aprendizagem no projeto de ensino de filosofia para crianccedilas

O ERIC-Education Resources Information Center possui um grande arquivo de texto e experiecircncias acadecircmicas sobre controveacutersias acadecircmicas em diversas aacutereas e niacuteveis de educaccedilatildeo Uma pesquisa

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CTS E A TEacuteCNICA DA CONTROVEacuteRSIA CONTROLADA102

realizada na Search the Thesaurus com a expressatildeo Controversial Issues resulta em 1698 itens das mais diversas aacutereas do conhecimento

Conheccedila mais sobre a controveacutersia acadecircmica

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73 O uso da Teacutecnica de Controveacutersia em CTS

Como escrevemos antes o uso da cultura da controveacutersia ndash que eacute um pouco mais que a simples teacutecnica de controveacutersia ndash resgata a origem da Abordagem CTS considerando (1) sua origem como movimento CTS (2) a maneira de entender as disputas internas da Ciecircncia e da Tecnologia que chamamos de Estudos CTS e (3) no seu aspecto de orientador de gestores de poliacuteticas que decidem sobre temas chamados CTS Haacute uma semelhanccedila ontoloacutegica entre a proposta da Abordagem CTS e a teacutecnica de ensino da controveacutersia controlada visto que em ambos os casos as diferenccedilas de opiniatildeo existem mas precisam ser conhecidas a fim de se construir um entendimento e um consenso possiacutevel

Um dos autores que mais tem produzido no campo da controveacutersia controlada no campo CTS eacute Ma-riano Martiacuten Gordillo cujos textos serviratildeo de base para a apresentaccedilatildeo da teacutecnica de controveacutersia controlada Escreve o autor que

se tiveacutessemos que enunciar em poucas palavras o propoacutesito dos enfoques CTS no campo da educaccedilatildeo seria possiacutevel resumir em dois pontos mostrar que a Ciecircncia e a Tecnolo-gia satildeo acessiacuteveis e importantes para os cidadatildeos (portanto eacute necessaacuteria a Alfabetizaccedilatildeo Tecnocientiacutefica) e propiciar o aprendizado social da participaccedilatildeo puacuteblica nas decisotildees tec-nocientiacuteficas (portanto eacute necessaacuteria a educaccedilatildeo para a participaccedilatildeo tambeacutem em Ciecircncia e Tecnologia) (Martiacuten Gordillo 2003)

Ambos os objetivos natildeo podem ser alcanccedilados a partir dos paradigmas tradicionais que norteiam o ensino de modo geral que mostra uma ciecircncia positiva e linear Apesar de Martin Gordillo e os de-mais autores referirem-se sempre a disciplinas de ciecircncias e tecnologia proponho que ampliemos este leque visto que como jaacute demonstramos anteriormente a natureza natildeo se explica somente pelos canais das chamadas ciecircncias exatas Ela necessita das ciecircncias soacutecio-humanisticas para se comple-tar o entendimento da natureza recortado para fins de ensino pelo artifiacutecio das disciplinas

Outra referecircncia que merece nossa atenccedilatildeo eacute Reis (2008) que ao discutir a aplicaccedilatildeo de controveacuter-sias sociocientiacuteficas nas escolas portuguesas apresenta rico fundamento teoacuterico sobre o tema e sua relaccedilatildeo com CTS

A fim de melhor fundamentar o porquecirc devemos estender agraves ciecircncias humanas e sociais as oportuni-dade de atuarem na Abordagem CTS e principalmente na construccedilatildeo de atividades interdisciplina-res com as chamadas tecnociecircncias lembremos que o ato social eacute sempre um ato complexo por conta dos atores que envolve (cada um com sua histoacuteria seu sentido de vida sua expectativa de futuro seus valores sua linguagem etc) e pela trama de aacutereas que em geral satildeo chamadas a interpretar um mesmo acontecimento social Haacute coisas que satildeo proacuteprias do conjunto de saberes que se padronizou chamar

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de teacutecnicas ou cientiacuteficas mas haacute coisas que satildeo caracteriacutesticas do que se estabeleceu pela tradiccedilatildeo olhar como humanas (Depois de todo este estudo poderiacuteamos dizer que a Ciecircncia tambeacutem natildeo eacute humana) Natildeo se opera o ato social ou o acontecimento comunitaacuterio ou a gestatildeo de conflito ou a de-cisatildeo poliacutetica sem conhecer o valor das disciplinas humaniacutesticas Fukuyama (2005 p39) escreve que

A comunidade de poliacuteticas de desenvolvimento estaacute numa situaccedilatildeo irocircnica A Era Poacutes-Gue-rra Fria comeccedilou sob o domiacutenio intelectual dos economistas que defenderam fortemente a liberalizaccedilatildeo e um Estado menor Dez anos depois muitos economistas concluiacuteram que algumas das variaacuteveis mais importantes que afetam o desenvolvimento natildeo eram econocircmi-cas mas estavam ligadas agrave instituiccedilotildees e agrave poliacutetica

As instituiccedilotildees e a poliacutetica estatildeo permeadas pelas praacuteticas oriundas das ciecircncias exatas tanto quanto das ciecircncias sociais e humanas E isso nos leva a crer que o ato social tecnopoliacutetico relevante eacute pro-movido (ou ainda natildeo) pela accedilatildeo poliacutetica e eacute materializado pelo canal institucional Para exemplificar esta estreita vinculaccedilatildeo Fukuyama (2005) estabelece quatro niacuteveis de accedilatildeo institucional e relaciona as disciplinas com a capacidade de transferecircncia de conhecimento conforme resume o quadro a seguir

Componente Disciplina Transferibilidade

Projeto e Gerenciamento

Organizacionais

Gerenciamento

AltaAdministraccedilatildeo Puacuteblica

Economia

Projeto Institucional

Ciecircncia Poliacutetica

MeacutediaEconomia

Direito

Base de Legitimaccedilatildeo Ciecircncia Poliacutetica De Meacutedia a Baixa

Fatores Sociais e CulturaisSociologia

BaixaAntropologia

Haacute conhecimentospraacuteticas que satildeo rapidamente absorvidas pelas instituiccedilotildees e pelas pessoas no campo do gerenciamento de projetos e essa funccedilatildeo se processa por meio da economia e da adminis-traccedilatildeo Mas em contrapartida haacute o componente soacutecio-cultural que compotildee as instituiccedilotildees e a accedilatildeo entre pessoas cuja transferecircncia de conhecimento ou de praacuteticas eacute baixa e deve ser operada pelas disciplinas de base social

Quando estudamos por exemplo os chamados ldquogatosrdquo (furto de energia eleacutetrica) percebemos que a justificativa apontada pelos ldquogatunosrdquo remonta ao tempo em que a energia era do ldquoestadordquo e se era do estado ldquonatildeo era de ningueacutemrdquo Por mais que esteja claro que a distribuiccedilatildeo de energia hoje eacute accedilatildeo privada a memoacuteria social teima em se manter nas comunidades de baixa renda e reafirma a imagem e a sensaccedilatildeo de que eacute do estado e se eacute do estado natildeo eacute de ningueacutem As distribuidoras fazem um caro trabalho de gestatildeo operacional mas natildeo conseguem resultados satisfatoacuterios pois este tipo de contribuiccedilatildeo ao ato social cristalizado natildeo se daacute por meio de planilhas e programas de computador mas sim pela transformaccedilatildeo de mentalidade e pela mudanccedila de haacutebito Funccedilotildees explicitamente da competecircncia das disciplinas das ciecircncias humanas e sociais

Neste momento cabe refletir sobre a importacircncia de escolher problemas ou temas CTS que permi-tam o desdobramento esperado Uma maneira de ver os problemas eacute proposta por Dagnino (2007) que considerando que a conceituaccedilatildeo de problema deve dar conta de quatro aspectos fundamentais a saber

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1 Um problema social natildeo eacute uma entidade objetiva que se manifesta na esfera puacuteblica de modo naturalizado como se ela fosse neutra e independente em relaccedilatildeo aos atores - ativos e passivos - do problema

2 Natildeo haacute situaccedilatildeo social problemaacutetica senatildeo em relaccedilatildeo aos atores que a constroem como tal3 Reconhecer uma situaccedilatildeo como um problema envolve um paradoxo pois satildeo justamente

os atores mais afetados os que menos tecircm poder para fazer com que a opiniatildeo puacuteblica (e as elites de poder) a considere como problema social

4 A condiccedilatildeo de penalizados pela situaccedilatildeo-problema dos atores mais fracos costuma ser obs-curecida por um complexo sistema de manipulaccedilatildeo ideoloacutegica que com seu consentimen-to os prejudica

Esperamos ter esclarecido porque natildeo nos limitamos a sugerir as teacutecnicas de controveacutersia CTS para disciplinas dos campos da Ciecircncia e da Tecnologia Essa eacute uma tese que defenderemos sempre

Para alcanccedilarmos o segundo objetivo proposto por Martiacuten Gordillo ndash a educaccedilatildeo para a participaccedilatildeo tambeacutem em Ciecircncia e Tecnologia ndash eacute necessaacuterio o aprendizado de uma ciecircncia contextualizada por meio de uma aula que possibilite o desenvolvimento das capacidades atitudes haacutebitos e destrezas que favoreccedilam o diaacutelogo e a tomada de decisatildeo sobre controveacutersias relacionadas com Ciecircncia e Tec-nologia (e noacutes complementariacuteamos natildeo soacute CampT) pelos instrumentos comuns a esta praacutetica que satildeo por exemplo a confrontaccedilatildeo puacuteblica e a democratizaccedilatildeo

Se estiveacutessemos falando de Ciecircncia conforme o conceito herdado pediriacuteamos um laboratoacuterio para submeter os objetos de pesquisa agrave nossa vontade reproduzindo as experiecircncias que ao final de-vem apresentar o mesmo resultado Mas o mundo real e o ato social que o representa no processo de transformaccedilatildeo natildeo podem ser submetido agraves praacuteticas corriqueiras dos laboratoacuterios de pesquisa Logo se quisermos preparar o cidadatildeoestudante para lidar com questotildees relevantes da comunidade em que vive necessitamos simular esses acontecimentos em uma escola que nos permita realizar a simulaccedilatildeo no espaccedilo possiacutevel da sala de aula e com a riqueza desejaacutevel de detalhes tornando o expe-rimento social o mais proacuteximo possiacutevel da complexidade social

Eacute certo que o experimento social de controveacutersia simulada seraacute um recorte da realidade Por mais das vezes um recorte tiacutemido mas que poderaacute ser a uacutenica chance de alguns alunos debaterem um tema social problemaacutetico e de ouvirem opiniotildees diferentes da sua num processo de troca indispensaacutevel agrave melhor decisatildeo

Essa eacute pois a fundamentaccedilatildeo para a teacutecnica de simulaccedilatildeo de uma controveacutersia cujas variaacuteveis e confronto de posiccedilotildees estaacute sob o controle do professor que para noacutes eacute a teacutecnica da controveacutersia controlada

Para Martiacuten Gordillo e Osorio (2003)

Os casos simulados CTS consistem na articulaccedilatildeo educativa de controveacutersias puacuteblicas relacionadas com desenvolvimento tecnocientiacutefico com implicaccedilotildees sociais ou am-bientais Se trata de uma proposta educativa desenvolvida pelo Grupo ARGO onde a partir de uma noticia fictiacutecia mas verossiacutemil se desenvolve uma controveacutersia suposta na qual interveacutem vaacuterios atores sociais com ideias opiniotildees ou interesses diversos Cientistas engenheiros empresas associaccedilotildees de ecologistas grupos de vizinhos gru-pos poliacuteticos associaccedilotildees profissionais cidadatildeos afetados etc satildeo o tipo de coletivi-

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dade que em cada caso podem constituir a rede de atores que aparecem em cada um dos casos simulados CTS para seu uso educativo()As simulaccedilotildees CTS pretendem ser uma alternativa educativa para propiciar a aprendiza-gem social da participaccedilatildeo nas controveacutersias tecnocientiacuteficas Daiacute que seu principal signi-ficado natildeo estaacute na veracidade uacuteltima de suas propostas mas sim em sua verossimilhanccedila e relevacircncia social e educativa

Os autores propotildeem que os casos de controveacutersia controlada possuam um conjunto de materiais para o bom desempenho da accedilatildeo educativa A lista proposta com as alteraccedilotildees proacuteprias de nossa expe-riecircncia indica os seguintes materiais

bull Uma noticia real45 que se apresenta aos alunos no formato de um jornal real e de onde se parte para o desenvolvimento da controveacutersia de que se deseja tratar

bull Um questionaacuterio inicial e final que serve para conhecer as informaccedilotildees e as atitudes previas dos alunos sobre as questotildees objeto do trabalho e para demonstrar as mudanccedilas produzidas ao final da atividade Satildeo questotildees utilizadas como preacute-teste e poacutes-teste permitindo avaliar o ganho de cada equipe com a atividade

bull Uma rede de atores que aparece na controveacutersia descrita na noticia inicial e cujos per-fis representem efetivamente os grupos com posiccedilotildees contraacuterias que estabeleceratildeo a controveacutersia

bull Documentos obtidos para dar apoio aos argumentos dos atores participantes relacio-nando o conhecimento especiacutefico da aacuterea que o caso trata com o centro da controveacutersia simulada

bull Documentos selecionados por sua pertinecircncia e claridade para apresentar a informaccedilatildeo cientiacutefica do campo em que se situa controveacutersia

bull Fichas especiacuteficas onde cada equipe escreve seus argumentos e como vai defendecirc-los no momento em que as ideias diferentes satildeo apresentadas

bull Fichas especiacuteficas onde cada equipe antecipa como cada equipe com posiccedilatildeo contraacuteria iraacute fundamentar sua posiccedilatildeo e como com os argumentos que possui deveraacute rebatecirc-los

bull Fichas contendo os criteacuterios de avaliaccedilatildeo para a equipe e para os membros de cada equipe

Jaacute Albe (2006 apud Ramos e Silva 2007) enumera uma seacuterie de perguntas que podem servir de nor-teadores desde a escolha do tema de controveacutersia ateacute a maneira como se desenrola a sua aplicaccedilatildeo pelo professor Pergunta ele

Favorece a aprendizagem Trata-se de argumentar para aprender Para convencer Para tomar uma decisatildeo Para refletir sobre o tema em questatildeo Sobre a atividade proposta Para analisar criticar resultados ideologias e posiccedilotildees opostas o papel do professor no debate tambeacutem se coloca em questatildeo deve dar sua opiniatildeo pessoal Que opccedilotildees didaacuteticas escolher Que recursos utilizar Que saberes de referecircncia levar em conta Que estrateacutegias didaacuteticas elaborar (p 96)

O grupo ARGOS desenvolveu dez casos de simulaccedilatildeo46 (Martiacuten Gordillo 2005 2006) a saber

bull A vacina da AIDS (Martiacuten Gordillo 2005a)bull Uso de estimulantes no esporte Um caso sobre esporte farmacologia e avaliaccedilatildeo puacutebli-

45 Os autores propotildeem uma notiacutecia fictiacutecia poreacutem verossiacutemil Cremos que a realidade brasileira estaacute repleta de temas que possam servir de ponto de partida para a controveacutersia Aleacutem do que a realidade eacute um espetacular motivador de estudos e debates46 A OEI disponibiliza eletronicamente estes materiais no site httpwwwoeiesmaterialesctshtm

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ca (Camacho Aacutelvarez 2005)bull Antenas de Telefonia Um caso CTS sobre radiaccedilotildees riscos bioloacutegicos e vida cotidiana

(Grupo Argo 2005a) bull As plataformas de petroacuteleo Um caso CTS sobre energia combustiacuteveis foacutesseis e susten-

tabilidade (Grupo Argo 2005b)bull Um projeto para o Amazonas Um caso sobre aacutegua Industrializaccedilatildeo e ecologia (Lejarza

Portilla e Rodriacuteguez Marcos 2005) bull O lixo da cidade Um caso sobre consumo gestatildeo de resiacuteduos e meio ambiente (Arribas

Ramiacuterez e Fernaacutendez Garciacutea 2005) bull A cidade ajustada Um caso sobre urbanismo planificaccedilatildeo e participaccedilatildeo comunitaacuteria

(Gonzaacutelez Galbarte 2005)bull A rede de traacutefego de veiacuteculos Um caso sobre mobilidade gestatildeo do transporte e organi-

zaccedilatildeo do territoacuterio (Camacho Aacutelvarez e Gonzaacutelez Galbarte 2005) bull A cozinha de Teresa Um caso sobre alimentaccedilatildeo automaccedilatildeo e emprego (Martiacuten Gor-

dillo 2005b) bull A escola em rede Um caso sobre educaccedilatildeo novas tecnologias e socializaccedilatildeo (Martiacuten

Gordillo 2005c)

Eacute possiacutevel encontrar proposta de aplicaccedilatildeo industrial para a disciplina quiacutemica no trabalho de Silva (2003)

Ramos e Silva (2007) ndash relembrando Nelkin (1989) Juan (2006) Hines (2006) Albe (2006) ndash pro-potildeem temas como a construccedilatildeo de aeroporto numa aacuterea metropolitana no Canadaacute alocaccedilatildeo de lixo nuclear proveniente de usinas utilizaccedilatildeo de tecnologia de DNA recombinante nas pesquisas cien-tiacuteficas mudanccedila climaacutetica na Terra organismos geneticamente modificados o perigo dos telefones celulares para a sauacutede

De nossa parte temos recolhido um interessante conjunto de casos a partir dos debates realizados na disciplina CTS dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo desde o Mestrado Profissional em Ensino de Ciecircn-cias e Matemaacutetica do CEFETRJ A avaliaccedilatildeo dos professores participantes do exerciacutecio de anaacutelise da construccedilatildeo social da ciecircncia e da tecnologia eacute sempre positiva e culmina na realizaccedilatildeo de casos de controveacutersia simulada como por exemplo Criacionismo ou evolucionismo uso de ceacutelulas tronco os riscos da mina de carvatildeo Implantaccedilatildeo de usina nuclear ldquoGatosrdquo de luz Internacionalizaccedilatildeo da Amazocircnia Uso de tecnologia 4G dentre outros

Nossa maior contribuiccedilatildeo nesta aacuterea ateacute o momento foi certamente a capacitaccedilatildeo em serviccedilo para professores do Estado do Espiacuterito Santo nos anos de 2008 e 2009 A capacitaccedilatildeo trabalhou com 120 professores voluntaacuterios que teriam a tarefa de replicar o Curso CTS com foco em Tecnica de Contro-veacutersia para seus colegas Quiacutemica (572 professores) Fiacutesica (594 professores) Biologia (604 professo-res) e Matemaacutetica (870 professores) O curso de formaccedilatildeo poderia tambeacutem atender a professores das seacuteries finais do Ensino Fundamental (Chrispino 2013)

Apoacutes etapas de estudos e debates presenciais e de disseminaccedilatildeo nas escolas os representantes cons-truiacuteram controveacutersias controladas a partir de temas escolhidos pela comunidade escolar testaram cada uma delas em vaacuterias escolas e propuseram um texto final que foi impresso e distribuiacutedo para todas as escolas e todos os professores da rede estadual do Espiacuterito Santo As atividades de testagem estatildeo descrias no quadro X a seguir

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Quadro ldquoXrdquo ndash Temas por SRE e populaccedilatildeo escolar envolvida

Temas das controveacutersias tecnocientiacuteficas de impacto social Superintendecircncias Regionais de Educaccedilatildeo ndash SRE

Nuacutemero de

escolas alunos

1 Agrotoacutexico Opccedilatildeo ou NecessidadeAfonso Claacuteudio 02 399

Linhares 01 80

2 Aacutegua Bem de Todos Patrimocircnio de NingueacutemColatina 02 94

Nova Veneacutecia 01 49

3 Bicombustiacutevel Alternativa ou ProblemaLinhares 01 60

Vila Velha 01 18

4 Culto agrave Beleza Sauacutede ou Obsessatildeo

Cariacica 02 68

Guaccedilui 01 32

Nova Veneacutecia 01 25

Vila Velha 01 28

5 Construccedilatildeo de Hidreleacutetricas Um Mal Necessaacuterio ou uma Decisatildeo Arbitraacuteria Colatina 02 38

6 Lei Seca Valorizaccedilatildeo da VidaCachoeiro de Itapemirim 03 83

Carapina 01 210

7 Lixo Interesse Econocircmico ou Ecoloacutegico

Afonso Claacuteudio 01 80

Barra de Satildeo Francisco 01 38

Carapina 01 25

8 Refeacutens do Maacutermore e GranitoBarra de Satildeo Francisco 01 64

Cachoeiro de Itapemirim 02 62

9 Petroacuteleo Heroacutei ou VilatildeoCarapina 03 119

Satildeo Mateus 05 210

10 Biotecnologia dos Transgecircnicos Seraacute esse o FuturoCariacica 01 36

Guaccedilui 01 30

Totais gerais 35 1848

O desenho do curso de formaccedilatildeo de professores-multiplicadores e a construccedilatildeo das atividades de campo consideraram aleacutem das reflexotildees apontadas por Solbes Vilches e Gil (2001) as observaccedilotildees e experiecircncias descritas por Reis (2008) Fontes e Cardoso (2006) Magalhatildees e Tenreiro-Vieira (2006) Vieira e Martins (2005) Cachapuz et al (2005) Solbes e Vilches (2002) Membiela (2001 1995) e Carvalho (1999)

A seguir apresentamos uma seacuterie de trabalhos de controveacutersia controlada ou metodologia aproxi-mada que podem ser obtidos pela internet

74 Casos de controveacutersia controlada para estudo

Eacute possiacutevel obter casos de controveacutersia controlada em revistas eletrocircnicas Alguns estatildeo listados a seguir

Aguirre del Busto R L Macias Llanes Ma E iquestExiste la verdad cientiacutefica Controver-sia histoacuterica en torno al descubrimiento de Carlos J Finlay Rev Hum Med Ciudad de Camaguey v 4 n 3 2004 Disponiacutevel em httpscielosldcuscielophpscript=sci_arttextamppid=S1727-81202004000300008amplng=esampnrm=iso Acesso em 30 Jul 2008

Bernardo J R da R Vianna D M Fontoura H A da Produccedilatildeo e consumo da energia eleacute-trica a construccedilatildeo de uma proposta baseada no enfoque ciecircncia-tecnologia-sociedade-am-biente (CTSA) Ciecircncia amp Ensino vol 1 nuacutemero especial novembro de 2007 httpwww

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igeunicampbrojsindexphpcienciaeensinoarticleview157114

Garciacutea Carmona A Relaciones CTS en el estudio de la contaminacioacuten atmosfeacuterica una ex-periencia con estudiantes de Secundaria httpsaumuvigoesreecvolumenesvolumen4ART3_Vol4_N2pdf

Carvalho W L P Farias C R Zocoler J V S Momesso N F G Lucindo J Gonccedilalves Eliane Cristina Estudo do impacto soacutecio-ambiental causado pela construccedilatildeo das usinas hi-droeleacutetricas da regiatildeo de Ilha Solteira In Pinho S Z Saglietti J R C (Org) Nuacutecleos de Ensino da Unesp - Publicaccedilatildeo 2006 Satildeo Paulo Editora Unesp 2006 v 1 p 117-125 httpwwwunespbrprogradPDFNE2004artigoseixo2estudoimpactosocioambientalpdf

Castro Carolina M Los usos sociales del periodismo cientiacutefico y de la divulgacioacuten El caso de la controversia sobre el riesgo o La inocuidad de las antenas de telefoniacutea moacutevil httpwwwrevistactsnet410013file

Chrispino A O uso da teacutecnica de controveacutersia controlada na abordagem CTS Proibiccedilatildeo do Fumo decisatildeo pessoal ou social Simulaccedilatildeo educativa de um caso CTS sobre a sauacutede 2005 httpwwwcampus-oeiorgsalactsialvarohtm

Delgado M y Vallverduacute J Valores en controversias la investigacioacuten con ceacutelulas madre httpwwwrevistactsnet3901

Farias C R de O e Carvalho W L P de O direito ambiental na sala de aula significados de uma praacutetica educativa no ensino meacutedio Ciecircncia amp Educaccedilatildeo v 13 n 2 p 157-174 2007 httpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S1516-73132007000200002amplng=enampnrm=isoamptlng=pt

Vieira K RCF Bazzo W A Discussotildees acerca do aquecimento global uma proposta CTS para abordar esse tema controverso em sala de aula Ciecircncia amp Ensino vol 1 nuacutemero espe-cial novembro de 2007 httpwwwigeunicampbrojsindexphpcienciaeensinoarticleview155119

Os bons resultados da aplicaccedilatildeo da teacutecnica satildeo tambeacutem identificados por Martiacuten Gordillo e Osorio (2003) e Reis e Galvatildeo (2004 apud Ramos e Silva 2007) quando escrevem que os casos de controveacuter-sia controlada favorecem resumidamente

Martin Gordillo e Osorio (2003) Reis e Galvatildeo (2004)

1 Uma aprendizagem dos conteuacutedos de ciecircncia e tecnologia no contexto social

2 Uma percepccedilatildeo mais ajustada da atividade tecnocientiacutefica que inclui a presenccedila de aspectos valorativos

3 Uma consideraccedilatildeo mais ajustada dos viacutenculos existentes entre a investigaccedilatildeo baacutesi-ca e o desenvolvimento praacutetico

4 Uma consciecircncia da necessidade de que os natildeo especialistas tambeacutem participem nas decisotildees de poliacutetica cientiacutefica

5 Uma aprendizagem das disciplinas tecnocientiacuteficas em interaccedilatildeo efetiva com os campos proacuteprios das disciplinas sociais

6 Uma incorporaccedilatildeo da dimensatildeo criativa e luacutedica da aprendizagem dos conteuacutedos tecnocientiacuteficos o que natildeo eacute mais que reivindicar a proacutepria essecircncia da atividade criadora proacutepria da ciecircncia e da tecnologia pois que muitas vezes estaacute ausente do ensino das ciecircncias e das tecnologias mais orientado para a reproduccedilatildeo dos sabe-res estabelecidos do que para o desenvolvimento das capacidades que permitam aos alunos aprenderem a indagar a apropriar-se e a construir novos saberes algo que resulta essencial nas propostas participativas dos casos simulados

1 Construir uma imagem de ciecircn-cia e tecnologia como atividades influenciadas por valores hieraacuter-quicos de conveniecircncia pessoal questotildees financeiras e pressotildees sociais

2 Reforccedilar a ideia de que ciecircncia e tecnologia representam uma fon-te tanto de progresso como de preocupaccedilatildeo ao mesmo tempo e que deveria ser regrada por prin-ciacutepios morais e eacuteticos e

3 Reconhecer como eacute importante que os cidadatildeos e o Estado par-ticipem acompanhando aces-sando e controlando o progresso cientiacutefico e tecnoloacutegico e suas implicaccedilotildees

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CTS E A TEacuteCNICA DA CONTROVEacuteRSIA CONTROLADA109

Conheccedila maisReis Pedro Rocha dos A escola e as controveacutersias sociocientiacuteficas ndash Perspectivas de alunos e professores Lisboa Escolar Editora 2008

75 Como se fosse o fim

A Abordagem CTS eacute certamente provocadora de reflexotildees

Por conta dela reavaliamos a onipotecircncia da Ciecircncia e da Tecnologia percebemos que o conheci-mento natildeo eacute por si soacute bom percebemos que o aparato tecnoloacutegico que nos auxilia a principio pode estar carregado de ideologia observamos que a Ciecircncia e a Tecnologia e seus melhores especialistas possuem um ldquoquecircrdquo de humanos com todas as suas idiossincrasias vislumbramos um espaccedilo de par-ticipaccedilatildeo na decisatildeo dos caminhos a serem traccedilados para o futuro da sociedade tecnocientiacutefica a que todos estamos vinculados

Percebemos que natildeo estamos preparados nem habituados a ocupar o espaccedilo da controveacutersia e de-fender posiccedilotildees diferentes do grande grupo

Percebemos que o nosso conhecimento que possuiacutemos natildeo estaacute organizado de forma a contribuir para todas as superaccedilotildees que a contemporaneidade nos solicita

Percebemos que natildeo fomos educados para uma efetiva participaccedilatildeo social luacutecida e esclarecida Se hoje percebemos isso por coerecircncia natildeo podemos mais ser multiplicadores destas mesmas po-siccedilotildees que nos impediram de desenvolver estas importantes competecircncias sociais a partir do conhe-cimento organizado do campo de nossa atuaccedilatildeo profissional especiacutefica A participaccedilatildeo social soacute se aprende participando criemos os espaccedilos de participaccedilatildeo para que os nossos alunos em todos os niacuteveis simulem e antecipem as dificuldades que poderatildeo viver proxima-mente e quando estivermos ofertando a eles as simulaccedilotildees da realidade e oferecendo as ferramentas do conhecimento que a pode transformar estaremos oferecendo a noacutes mesmos o que natildeo tivemos antes A cada controveacutersia controlada que coordenarmos estaremos abrindo janelas de novas per-cepccedilotildees aos jovens sob nossa direccedilatildeo e estaremos reafirmando a noacutes mesmos que uma sociedade melhor eacute possiacutevel

MODELAGEM PARA PARTICIPACcedilAtildeO SOCIAL NAS RELACcedilOtildeES CTS UTILIZANDO AS ORDENS DE COMTE-SPONVILLE111

8 Modelagem para participaccedilatildeo social nas relaccedilotildees CTS utilizando as ordens de Comte-Sponville

Toda crenccedila na neutralidade moral da ciecircncia deveria ter evaporado no calor da explosatildeo de HiroshimaJoan Solomon

81 Introduccedilatildeo

Os acontecimentos de 11 de setembro de 2001 nas cidades de Nova Iorque e Washington demons-traram algumas fragilidades da sociedade atual deixando claro que o sentimento de seguranccedila que a envolvia era sensiacutevel Apesar do impacto social causado Schwartz (2003) conhecido formulador de cenaacuterios futuros eacute bastante claro quando escreve sobre o fato de jaacute terem sido antecipados os ataques terroristas inclusive tendo como objeto o World Trade Center

Em 11 de setembro de 2011 vimos as consequecircncias traacutegicas de ignorarmos tais previsotildees [sobre ataques terroristas] O ataque terrorista daquele dia foi talvez o acontecimento mais anunciado da histoacuteria Nas duas uacuteltimas deacutecadas meia duacutezia de comissotildees altamente respeitadas sinalizou que um incidente muito semelhante a esse poderia ocorrer Muitas previsotildees citavam especificamente o World Trade Center (em parte porque jaacute fora atacado antes) mencionavam o uso de aviotildees como armas ao referiam explicitamente a Osama bin Laden Ningueacutem sabia quando aquilo poderia ocorrer ndash poderia ser na semana seguinte ou dali a dois anos - mas os detalhes foram previstos Ainda assim a maioria das pessoas tanto na administraccedilatildeo de Bill Clinton quanto na de George W Bush concentrou sua atenccedilatildeo em outros assuntos antes de 11 de setembro prioridades domeacutesticas de campanha e outras na aacuterea militar incluindo programas de defesa atraacuteves de miacutesseis ( p 15-16)

Aleacutem disso devemos considerar a surpresa de ver uma tecnologia a favor de valores tatildeo distintos e com a capacidade de impactar o senso de seguranccedila com a intensidade percebida Tratando deste exemplo ao escrever sobre a vulnerabilidade social frente agrave tecnologia Bijker47

(2008) reflete que este tipo de fato social natildeo deve ter mudado radicalmente a percepccedilatildeo dos espe-cialistas em CTS certamente devido agrave maneira como eacute percebida a construccedilatildeo social da ciecircncia e da tecnologia e sua relaccedilatildeo com a sociedade Bijker (2008) lembra que os especialistas em CTS se perguntaram de que modo suas investigaccedilotildees poderiam contribuir para a melhor compreensatildeo destes eventos Ele entatildeo contribuiu particular-mente apresentando o argumento de ldquoque viver em uma cultura tecnoloacutegica implica invariavelmente viver em um mundo vulneraacutevel E a vulnerabilidade natildeo soacute eacute uma caracteriacutestica inevitaacutevelrdquo (p 118) como tambeacutem eacute uma condiccedilatildeo para a busca de inovaccedilatildeo Informa ainda que ldquopara viver em uma cul-tura aberta em mudanccedila e inovadora devemos pagar o preccedilo da vulnerabilidaderdquo

Tomando o conceito ampliado de tecnologia como sistema ndash o sistema tecnoloacutegico ndash natildeo seraacute difiacutecil enumerar acidentes de grandes proporccedilotildees em diferentes sistemas cientiacuteficos e tecnoloacutegicos ou sis-

47 Wiebe Bijker eacute um dos nomes mais consagrado na aacuterea de Construccedilatildeo Social da Tecnologia ou Construti-vismo Social da Tec-nologia (Social construction of technology conhecida por SCOT) Conheccedila mais em httpenwikipediaorgwikiWiebe_Bijker

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temas tecnocientiacuteficos como bem relaciona a literatura CTS o acidente quiacutemico em Bophal Iacutendia o desastre do Challenger os acidentes na aviaccedilatildeo os acidentes nucleares dentre outros Certamente estes acidentes em diferentes sistemas tecnocientiacuteficos complexos e interconectados (sistema quiacute-mico sistema espacial sistema aeronaacuteutico sistema nuclear etc) satildeo de alguma forma esperaacuteveis ou como prefere Perrow (1999 apud Bijker 2008) satildeo ldquonormaisrdquo Talvez o mais impactante no 11 de setembro tenha sido o fato dele ter sido inusitado sequestros simultacircneos de aviotildees de grande porte planejados por longo tempo para colidirem com preacutedios densamente habitados no coraccedilatildeo da Ameacuterica do Norte Ficamos surpresos Impactados Natildeo era esperaacutevel natildeo era previsiacutevel A socie-dade quedou-se inerte frente a um acidente causado por um sistema tecnocientiacutefico complexo Apoacutes isso o acidente e o retorno do choque reuniram-se os representantes da sociedade para entender o ocorrido e buscar impedir que se repetisse no esforccedilo de definir limites que diminuiacutessem a sua vul-nerabilidade Aproveitando o exemplo de reflexatildeo de Wiebe Bijker sobre o 11 de setembro e suas consequecircncias desastrosas podemos trazer agrave discussatildeo o que foi batizado pelo Presidente Barak Obama de 11 de set-embro ambiental que eacute o desastre no Golfo do Meacutexico causado pela explosatildeo da plataforma de petroacute-leo Deepwater Horizon em 20 de abril de 2010 provocando o derramamento de 60 mil barrisdia de petroacuteleo fazendo com que o oacuteleo alcanccedilasse os estados da Louisiana Mississipi Alabama e Floacuterida

O acidente provocou a reflexatildeo em torno da dependecircncia da sociedade americana ao petroacuteleo e soli-citou do governo e das empresas accedilatildeo efetiva para solucionar o que estaacute sendo considerado o maior desastre ambiental contemporacircneo Como efeito temos que EUA que produzem apenas 2 do pe-troacuteleo mundial enquanto consomem 20 de toda a produccedilatildeo voltaram atraacutes na autorizaccedilatildeo para perfuraccedilatildeo de poccedilos no Alaska e no atlacircntico as empresas especializadas indicam mudanccedilas em pro-cedimentos da aacuterea e a determinaccedilatildeo de Barak Obama de superar a inaccedilatildeo e fomentar a busca acele-rada por ldquotecnologias limpasrdquo (O Globo 16jun2010) o que podemos chamar de ldquosistemas limposrdquo

O que aconteceu com a plataforma Deepwater Horizon natildeo eacute novo Podemos enumerar outros ca-sos como o Ixtok 1 o Exxon Valdez Prestige ou Piper Alpha Esse tipo de acidente em um sistema tecnocientiacutefico como o sistema petroliacutefero eacute esperaacutevel Ficamos impactados com o volume de oacuteleo derramado com a incapacidade teacutecnica da empresa de fazer cessar o vazamento e pelo impacto no ambiente e na vida de milhares de pessoas que vivem ou se relacionam com o ecossistema afetado

Exemplos como o 11 de setembro e sua versatildeo ambiental satildeo exemplos extremos de fatos que pro-vocaram o choque e a posterior reflexatildeo social redundando em decisotildees que limitam e regulam os sistemas tecnocientiacuteficos Percebemos que os representantes da sociedade as instituiccedilotildees do terceiro setor a miacutedia de todo tipo se mobilizaram para aprender com o fato e deliberar sobre as suas conse-quecircncias buscando impedir ou diminuir a chance de repeticcedilatildeo

Outro importante exemplo de como a sociedade interfere com seus valores na atividade uso na con-duccedilatildeo das accedilotildees tecnocientiacuteficas eacute o automoacutevel Desde a exigecircncia de itens de seguranccedila inexistentes ateacute o surgimento da Lei Seca que estipula no extremo Se beber natildeo dirija

A evoluccedilatildeo do automoacutevel sintetiza um grande esforccedilo de otimizaccedilatildeo de custos a fim de diminuir o valor total do aparato e possibilitar vendas em escala Aleacutem disso observa-se um grande esforccedilo para identificar materiais que possam contribuir para melhoria de performance dos veiacuteculos Por fim haacute os itens de seguranccedila que mesmo sendo diferente de paiacutes para paiacutes ndash como se fosse possiacutevel imagi-nar que um cidadatildeo merece mais seguranccedila que outro de um paiacutes diferente ndash inauguram periacuteodos de inovaccedilatildeo em curtos espaccedilos de tempo Entretanto essas marcas de evoluccedilatildeo tecnoloacutegicas convivem

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com uma decisatildeo social de regular o uso e as rotinas que envolvem os automoacuteveis no Brasil (que eacute o nosso espaccedilo de estudo) Temos por exemplo

bull A obrigatoriedade do uso de cinto de seguranccedila Apesar de alguns acharem que usar ou natildeo usar cinto de seguranccedila eacute uma decisatildeo de cunho pessoal o Estado determina que seja obrigatoacuterio considerando a seguranccedila e tambeacutem pelo elevado nuacutemero de aciden-tes As viacutetimas de acidentes de tracircnsito ficam as expensas dos cofres puacuteblicos nos hos-pitais de trauma na aposentadoria por invalidez muitas vezes precoces ou pensatildeo por morte causada por acidentes automobiliacutesticos Alguns decidem se querem usar cinto mas todos pagamos suas despesas

bull Idade miacutenima para obter habilitaccedilatildeo Outro assunto polecircmico eacute a idade miacutenima para obter habilitaccedilatildeo para conduccedilatildeo de veiacuteculos automotores Argumentam alguns que o jovem de dezesseis anos pode escolher o Presidente da Repuacuteblica mas natildeo pode diri-gir carros Esquecem-se ou desconhecem que a decisatildeo de escolher o Presidente aos dezesseis anos eacute facultativa Logo ao fazer a opccedilatildeo por isso o jovem jaacute demonstrou alguma maturidade ou mesmo interesse pelos destinos do paiacutes demonstrando a racio-nalidade do processo e da escolha Ao contraacuterio a relaccedilatildeo jovem-maacutequina eacute eminente-mente emocional Carros cada vez mais possantes ndash apesar das limitaccedilotildees de velocidade ndash unem-se a estradas irresponsavelmente (natildeo) preservadas e ao fator grupo-de-jovens-juntos fazendo com que o resultado em meacutedia possa ser ldquoexplosivordquo bem desenhado nas sequecircncias cinematograacuteficas de Velozes e Furiosos (I II III e IV por enquanto)

bull Por fim haacute a deliberaccedilatildeo social de natildeo concordar com a relaccedilatildeo uso de aacutelcool e direccedilatildeo de veiacuteculos Por mais que possamos argumentar que haacute limites variados nessa relaccedilatildeo a sociedade brasileira fez sua opccedilatildeo pela regulamentaccedilatildeo e ela eacute extrema (talvez para evitar interpretaccedilotildees distorcidas ou casuiacutesmos) pois determina ldquoSe beber natildeo dirijardquo

Por conta destes acontecimentos e outros tantos parece-nos importante discutir sobre a necessidade de a sociedade participar mais e de melhor forma natildeo soacute na construccedilatildeo da ciecircncia e da tecnologia mas tambeacutem na definiccedilatildeo sobre os limites a velocidade de conquista as consequecircncias e a trans-parecircncia da ciecircncia da tecnologia e dos sistemas tecnocientiacuteficos

82 Uma modelagem para a participaccedilatildeo social sobre sistemas tecnocientiacuteficos De certa forma o choque causado pela consequecircncia inesperada de um aparato ou sistema tecno-cientiacutefico levanta a questatildeo sobre o que eacute permitido E a discussatildeo sobre o estabelecimento de possiacute-veis limites que impeccedilam ou diminuam as ocorrecircncias ou a sua extensatildeo apresenta outra questatildeo o que natildeo eacute permitido Eis aqui o estabelecimento dos possiacuteveis limites Para que se decirc o estabelecimento de possiacuteveis limites importa lembrar que cada segmento social envolvido na produccedilatildeo tecnocientiacutefica sua regulaccedilatildeo e suas consequecircncias possuem formas de ver e de entender cada um dos temas que compotildeem a complexa rede de relaccedilotildees CTS Por tal se percebe-mos a necessidade da discussatildeo sobre possiacuteveis limites eacute indispensaacutevel perceber que o modelo que acompanhe as posiccedilotildees distintas ou adversas dos componentes do sistema social envolvido poderaacute ter alto grau de arbiacutetrio na sua categorizaccedilatildeo na sua hierarquia na sua execuccedilatildeo e na sua avaliaccedilatildeo

Chreacutetien (1994) ao discutir as propostas de eacutetica do conhecimento apresentadas por Jacques Mo-nod e contrapocirc-las com os chamados teoremas de incompletude estabelecidos em 1931 por Kurt Goumldel escreve que ldquoa esperanccedila de fazer emergir do proacuteprio sistema a normatividade ou a legiti-midade eacute portanto vatilderdquo (p 25) Deixa apontado que ldquoum sistema formal natildeo pode fechar-se em si

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mesmordquo Ao se fazer essas mesmas questotildees Comte-Sponville48 (2005 e 2008) inicia um longo processo de reflexatildeo com um exemplo dos limites para as tecnociecircncias A partir daiacute iraacute propor o que chamare-mos de modelagem de sistema de construccedilatildeo e participaccedilatildeo social sobre tecnociecircncias Antecipamos desde jaacute que natildeo estamos propondo com a analise das ordens uma visatildeo compartimentada do evento real que sempre seraacute contextualizado e interdisciplinar Propomos uma loacutegica de anaacutelise baseada nas fronteiras de accedilatildeo dos atores sociais e a indispensaacutevel sistemas de pesos-e-contra-pesos a fim de buscar um consenso para o conviacutevio social

O modelo de Comte-Sponville (2005) resgata o conceito de ordens em Pascal49 definido como ldquoum conjunto homogecircneo e autocircnomo regido por leis alinhado a certo modelo de quem deriva sua inde-pendecircncia em relaccedilatildeo a uma ou a vaacuterias outras ordensrdquo (p 51) Com esse entendimento propotildee uma sequecircncia de ordens e um processo de relaccedilatildeo e interconexatildeo entre elas O estudo de Comte-Sponville esclarece a origem de expressotildees muito utilizadas no cotidiano e cujo conhecimento de suas origens perderam-se no tempo como por exemplo o que seja ridiacuteculo O ri-diacuteculo na visatildeo pascalina eacute a utilizaccedilatildeo de valores de uma ordem para avaliar fenocircmenos que estatildeo contidos em outra ordem Sobre isso informa Comte-Sponville (2008)

ldquoO coraccedilatildeo tem sua ordem o espiacuterito a sua que eacute por princiacutepio e demonstraccedilatildeo ningueacutem prova que deve ser amado expondo ordenadamente as causas do amor isso seria ridiacuteculordquo (Pascal) O ridiacuteculo eacute confundir ordens diferentes (o coraccedilatildeo e a razatildeo o espiacuterito e a for-ccedila) e eacute tambeacutem o que Pascal chama de tirania ldquoA tirania consiste no desejo de dominaccedilatildeo universal e fora da sua ordemrdquo Eacute o caso do rei que quer reinar sobre os espiacuteritos ou do em-presaacuterio que aspira ao amor de seus empregados Vecirc-se que a tirania eacute o ridiacuteculo no poder assim como o ridiacuteculo eacute uma tirania virtual ou decaiacuteda Mas cada eacutepoca tem seus ridiacuteculos cada eacutepoca tem seus tiranos (p 287-288)

Apoacutes isso o filoacutesofo pergunta que ordens responderiam as necessidades de hoje e propotildeem aquelas que se seguem

821 A Ordem tecnocientiacutefica

Comte-Sponville (2005) inicia perguntando qual o limite para a ciecircncia dos seres vivos Para a biolo-gia Mais especificamente qual o limite para a manipulaccedilatildeo geneacutetica ou a clonagem humana O faz como ele proacuteprio informa considerando sua longa experiecircncia com meacutedicos e com os problemas da bioeacutetica Apesar destes exemplos essa ordem vai muito aleacutem disso como exemplifica a seguir

Se incluirmos nela como convecircm as teacutecnicas de produccedilatildeo de venda de gestatildeo assim como as ciecircncias humanas (dentre as quais a economia) logo constatamos que essa ordem agrupa na verdade a totalidade do mundo social em seu confronto ndash tanto teoacuterico quanto praacutetico ndash com seu ambiente e com seus proacuteprios meios de existecircncia (Comte-Sponville 2008 p 288)

Diz o filoacutesofo que essas respostas a biologia bem como outras tecnociecircncias natildeo pode dar Natildeo por-que natildeo esteja avanccedilada ou avanccedilando mas porque esta natildeo eacute sua competecircncia A biologia ndash e as de-mais tecnociecircncias ndash ldquonos diz como fazer mas natildeo se devemos fazerrdquo (2005 p50) ou quais os limites

48 Andreacute Comte-Sponville (1952- ) Professor de Filosofia da Universidade de Paris I (Pantheoacuten-Sorbonne)49 Blaise Pascal (Clermont-Ferrand 19 de Junho de 1623 mdash Paris 19 de Agosto de 1662) foi um fiacutesico matemaacutetico filoacutesofo mora-lista e teoacutelogo francecircs Conheccedila mais em httpptwikipediaorgwikiBlaise_Pascal

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que natildeo devem ser ultrapassados Satildeo accedilotildees que estatildeo em ordens diferentes no conceito pascalino Lembra Carnap quando este diz que ldquoem loacutegica natildeo haacute moralrdquo e imagina que no livratildeo de Wittgen-tein que conteria o conjunto das proposiccedilotildees verdadeiras mas ldquonele soacute haveria fatos fatos ndash fatos mas natildeo eacuteticardquo (apud Comte-Sponville 2008 p 288 e 289) A ordem tecnocientiacutefica estrutura-se internamente pelo binocircmio possiacutevel e impossiacutevel que apesar de orientarem as rotinas proacuteprias dessa ordem satildeo incapazes de limitar a ordem em si mesma A ordem tecnocientiacutefica natildeo se limita a si mesma ateacute porque a tecnociecircncia tende sempre a ampliar os seus proacuteprios limites como expressa a chamada Lei de Gabor ldquoTodo possiacutevel seraacute sempre feitordquo Ela natildeo limita um espaccedilo ela mede o desenvolvimento Se analisado com a coerecircncia da ordem ldquonatildeo haacute nenhuma razatildeo cientiacutefica para diminuir a velocidade do progresso das ciecircncias nenhuma razatildeo teacutecnica para limitar as teacutecnicasrdquo (2008 p 289)

A tecnociecircncia jaacute mostrou que a inexistecircncia de limites pode trazer consequecircncias inesperadas e indesejadas a sociedade Sobre isso escreve o filoacutesofo

De modo que somos obrigados a limitar essa ordem tecnocientiacuteca a fim de que tudo o que eacute cientificamente pensaacutevel e tecnicamente possiacutevel nem por isso seja feito E como essa ordem eacute incapaz de se limitar a si mesma ndash natildeo haacute limite bioloacutegico para a biologia natildeo haacute limite econocircmico para a economia etc ndash soacute podemos limitar pelo exteriorrdquo (2005 p 53)

822 A Ordem Juriacutedico-poliacutetica

Comte-Sponville propotildee que existe uma 2ordf ordem que limitaraacute a 1ordf ordem pelo exterior A essa 2ordf ordem ele chamou de juriacutedico-poliacutetica que seraacute concretamente a Lei o Estado Essa ordem se estru-tura internamente pelo binocircmio legal e ilegal considerando como legal o que a lei autoriza e conside-rando que a lei foi produzida legitimamente em um Estado Democraacutetico e Republicano

Apoacutes definir o que seja e como se estrutura a segunda ordem o autor pergunta ldquoColoca-se entre-tanto a questatildeo de saber o que vai limitar essa segunda ordemrdquo (2005 p53) Natildeo seria pois limitar a Democracia Limitar os Direitos E por fim limitar a liberdade

Frente a estas questotildees Comte-Sponville (2005 e 2008) apresenta duas classes de argumentos que sintetizamos a seguir

1 Razatildeo individual

Um homem que repeite integralmente o conjunto de leis de seu paiacutes que faz o que a lei lhe impotildee e nunca faz o que ela proiacutebe poderia ser chamado de ldquolegalista perfeitordquo Indica o autor um ponto de anaacutelise interessante nenhuma lei veda o egoiacutesmo o desprezo o oacutedio a maldade etc Logo todas essas coisas poderiam fazer parte do ldquolegalista perfeitordquo e isso o tornaria um ldquocanalha legalistardquo Entatildeo um ldquocanalha legalistardquo pode ser cientificamente competente e tecnicamente eficiente Se assim for ndash e eacute ndash devemos buscar uma alternativa para que ldquotudo o que eacute tecnicamente possiacutevel e legalmente autorizado nem por isso seja feitordquo (2005 p 55)

2 Razatildeo coletiva

Comte-Sponville exemplifica este item com uma questatildeo que apresentou para dissertaccedilatildeo de seus alunos no curso de filosofia ldquoO povo tem todos os direitosrdquo Ao corrigir os trabalhos de seus alunos que se acreditavam portadores de excelente ldquoconsciecircncia democraacuteticardquo sur-

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preendeu-se com as respostas que indicavam que ldquosim claro O povo tinha todos os pode-resrdquo Os alunos justificavam que o povo era soberano e como tal possuiacutea todos os direitos Ao devolver os trabalhos corrigidos ele apresentava a seguinte provocaccedilatildeo ldquose o povo tem todos os direitos ele tem portanto o direito de oprimir as minorias (por exemplo votar leis antijudaicas) praticar eugenia ou assassinato legal deflagrar guerras de agressatildeo O que seria isso senatildeo uma barbaacuterie democraacuteticardquo (2008 p 291)

Informa que os alunos responderam natildeo ter sido essa sua intenccedilatildeo (o que ele diz jaacute saber) e que haacute uma Constituiccedilatildeo que proiacutebe todos esses exemplos apresentados Ocorre que a Constituiccedilatildeo democraacutetica pode ser mudada pela proacutepria vontade do povo Uma lei muda outra E a lei seguinte natildeo precisa ser ldquomelhorrdquo que a anterior Lembra Rousseau quando este diz que natildeo haacute lei que se imponha ao povo que ele natildeo possa modificar (2008 p 292)

Natildeo haacute pois limites democraacuteticos para a democracia assim como natildeo haacute limites bioloacutegicos para a biologia

Conclui escrevendo

Temos portanto duas razotildees para querer limitar essa ordem juriacutedico-poliacutetica uma razatildeo individual para escapar do espectro do canalha legalista e uma razatildeo coletiva para escapar do espectro do povo que teria todos os direitos inclusive de fazer o pior E como essa ordem eacute incapaz tal como a precedente de se limitar a si mesma (natildeo haacute limites democraacutetico agrave democracia natildeo limites juriacutedicos ou poliacuteticos ao direito e a poliacutetica) soacute podemos limitaacute-la mais uma vez do exteriorrdquo (2005 p 59)

823 A Ordem da Moral

A ordem que deve limitar externamente a 2ordf ordem eacute chamada por Comte-Sponville (2005 e 2008) de Ordem da Moral e se estrutura internamente pelos binocircmios bem e mal e o dever e o proibido e se dirige a consciecircncia de todos e de cada um Daiacute diferencia-se em essecircncia da ordem moral bem a gosto dos sensores e daqueles que desejam ditar regras morais para serem seguidas pelo coletivo O filoacutesofo explicita o que entende por Moral a fim de diminuir a possibilidade de confundir-se ordem da Moral com ordem moral

O que eacute a moral Para abreviar responderei com Kant a moral eacute o conjunto de nossos de-veres ndash o conjunto para dizer com outras palavras das obrigaccedilotildees ou das proibiccedilotildees que impomos a noacutes mesmos natildeo necessariamente a priori (ao contraacuterio do que queria Kant) mas independentemente de qualquer recompensa ou sanccedilatildeo esperada e ateacute de qualquer esperanccedila Eacute o conjunto do que vale ou se impotildee incondicionalmente para uma consciecircn-ciardquo (2005 p 64)

A fim de esclarecer a importacircncia dessa ordem Comte-Sponville (2005 p 60-62) apresenta trecircs pontos para reflexatildeo

1 ldquoA soberania natildeo tem limites mas tem marcosrdquo O povo natildeo pode em nome da segunda ordem atentar por exemplo contra fatos da primeira ordem pois o povo estaacute submeti-do agraves leis da natureza e da razatildeo

2 A poliacutetica excede o Direito A forccedila da multidatildeo natildeo se restringe aacutes forccedilas institucionais que as representam Ela eacute responsaacutevel pelas suas fundaccedilotildees mas eacute por meio da resis-tecircncia a elas que a forccedila da multidatildeo calibra e equilibra a forccedila dos poderes bem como

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identifica e reage aos interesses instalados nos poderes e que natildeo satildeo proacuteprios destes como representantes do povo Eacute certo que o poder soberano do povo possui direitos na visatildeo juriacutedica mas eacute a proacutepria forccedila das multidotildees que produz o poder poliacutetico para o exerciacutecio do equiliacutebrio social50

3 A Moral existe Na discussatildeo sobre o poder absoluto do povo o filoacutesofo retoma a ideia de resistecircncia ou mesmo limite a segunda ordem informando sobre a resistecircncia da Mo-ral e da necessidade de interconexatildeo entre as ordens Escreve ele que o chamado povo soberano natildeo eacute capaz de modificar uma exigecircncia moral (terceira ordem) nem uma verdade tecnocientiacuteficas (primeira ordem) e que mesmo que ele decidisse

ldquosoberanamenterdquo (isto eacute neste caso ridiculamente) que o sol gira em torno da Terra ou que os homens satildeo desiguais em direito e dignidade isso natildeo mudaria em nada a verdade (no primeiro caso) ou a justiccedila (no segundo) do contraacuterio Distinccedilatildeo das ordens natildeo se vota o verdadeiro ou o falso nem o bem ou o mal Eacute por isso que a democracia natildeo substitui nem a consciecircncia nem a competecircncia E vice-versa consciecircncia moral (ordem n 3) e competecircncia (ordem n 1) natildeo poderiam substituir a democracia (ordem n 2) (2005 p 62)

Quando busca consolidar o argumento de controle da ordem segunda pela ordem terceira Comte-Sponville (2005 p 62) lanccedila matildeo de um interessante exemplo para distinguir as consequecircncias da lei e da Moral Escreve que haacute coisas que a lei permite mas que a Moral do indiviacuteduo natildeo se permite realizar Em contrapartida haacute coisa que a lei natildeo impotildee ao indiviacuteduo mas que este se impotildee por outros valores no exerciacutecio cotidiano Conclui que a Moral se soma agrave lei e por isso ldquoa consciecircncia de um homem de bem eacute mais exigente que o legislador o indiviacuteduo tem mais deveres que o cidadatildeordquo

No campo do povo ndash reuniatildeo de indiviacuteduos ndash ocorre fenocircmeno semelhante Haacute casos em que a Cons-tituiccedilatildeo poderaacute permitir mas que seraacute moralmente rejeitado (como o racismo por exemplo) pela sociedade Escreve ele

O conjunto do que eacute moralmente aceitaacutevel (o legiacutetimo) eacute mais restrito do que o conjunto do que eacute juridicamente cogitaacutevel (o legal inclusive em potencial) E como um limite negativo o povo tem menos direitos (por causa da Moral) do que o proacuteprio direito lhe concederdquo (p63)

A questatildeo da moral natildeo necessita de limites visto que natildeo eacute possiacutevel ser moral demais Nada haacute de ruim que algueacutem que tem deveres cumpra exatamente os seus deveres A quarta ordem natildeo produz limites externos agrave terceira ordem antes a complementa

824 A Ordem Eacutetica ou a Ordem do Amor

Se entendemos Moral numa visatildeo didaacutetica e simplificada para modelar o sistema que apresentamos como ldquotudo aquilo que se faz por deverrdquo e conceituamos eacutetica como ldquotudo aquilo que se faz por amorrdquo como propotildee Comte-Sponville percebemos que esta ordem potencializa a anterior

Esta ordem se estrutura internamente pelo binocircmio alegria e tristeza relembrando Aristoacuteteles que dizia que amar eacute ldquoregozijar-serdquo Jaacute Espinosa completaraacute que o ldquoamor eacute uma alegria que a ideia de uma causa exterior acompanha o oacutedio eacute uma tristeza que a ideia de uma causa exterior acompanhardquo

50 Citando Alain como bom leitor de Spinosa em nota de rodapeacute (2005 p 61) escreve ldquoResistecircncia e obediecircncia eis duas virtudes do cidadatildeo Pela obediecircncia ele garante a ordem pela resistecircncia garante a liberdaderdquo

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(Comte-Sponville 2005 p67)

O Amor interveacutem nas quatro ordens Todas elas satildeo importantes a sua maneira e devem acontecer ao mesmo tempo no mundo real com sua independecircncia relativa visto que cada uma possui loacutegica proacutepria e uma inter-relaccedilatildeo visto que uma natildeo funciona excelentemente sem o equiliacutebrio de forccedila das demais Ao final declara Comte-Sponville (2005 p 69) ldquoAs quatro satildeo necessaacuterias nenhuma eacute suficienterdquo

Na conclusatildeo sobre as ordens Comte-Sponville (2005 e 2008) ainda apresenta outros conceitos que nos auxiliam a entender a dinacircmica entre as ordens o de ridiacuteculo de tirania de angelitude e o de barbaacuterie

1 Ridiacuteculo eacute a confusatildeo das ordens Exemplo ldquoamem-me sou o professor de vocecircsrdquo Isso eacute ridiacuteculo pois ningueacutem eacute amado porque expos as razotildees de seu amor

2 Tirania eacute o desejo de dominaccedilatildeo universal e fora de sua ordem Aquele que quer obter por um caminho o que soacute pode obter por outro caminho Por exemplo Algueacutem que quer ser amado por ser forte ou obedecido por ser saacutebio ou temido por ser belo (2005 p 91)

3 Angelismo (ou tirania do superior) eacute a tentaccedilatildeo de pretender anular uma ordem ou sua loacutegica em nome de uma ordem superior Um exemplo de angelismo juriacutedico-poliacutetico seria a tentativa da segunda ordem tentar anular a primeira ordem (imposiccedilotildees teacutecni-cas e cientiacuteficas ou mesmo teacutecnico econocircmicas) O angelismo eacutetico seria a tentativa de libertar-se de seus deveres em nome de um pretenso amor universal (2008 p 296)

4 Barbaacuterie (tirania do inferior) eacute o inverso do angelismo Consiste na tentativa de uma ordem inferior submeter uma ordem superior Por exemplo reduzir a poliacutetica agrave teacutecnica seria uma barbaacuterie tecnocientiacutefica (tirania dos especialistas) Submeter ou reduzir o amor ao respeito pelos deveres seria a barbaacuterie moralizadora (tirania da ordem moral)

Logo o que se busca como ideal para o modelo em estudo natildeo eacute a valorizaccedilatildeo ou exclusividade de uma das ordens mas a comunicaccedilatildeo dinacircmica entre as quatro ordens Mais do que cada uma o valor estaacute no conjunto no sistema que elas compotildeem

Ocorrido um fato que atinja a sociedade independentemente de onde este possa ser posicionado no sistema espera-se primeiro que natildeo haja ridiacuteculo isto eacute pergunte-se corretamente a ordem adequa-da e segundo permita-se que as ordens dialoguem entre si numa contribuiccedilatildeo dinacircmica para melhor entendimento do fenocircmeno e de suas causas e efeitos

Como contribuiccedilatildeo especial ao trabalho a que nos dedicamos resgatamos uma frase do filoacutesofo em discussatildeo quando discute que eacute possiacutevel prolongar estas ordens para baixo ou mesmo para cima Escreve ele ldquoEu prolongaria de bom grado essas quatro ordens para baixo assinalando o lugar de uma ordem zero que seria a da natureza ou do real e que conteria todas as outrasrdquo (2008 p 295) Nosso interesse por esta frase se justifica por aquilo que temos defendido ao longo das atividades de reflexatildeo em torno da educaccedilatildeo do ensino e da abordagem CTS O mundo real eacute interdisciplinar e contextualizado Logo o exemplo apresentado reforccedila esta ideia as quatro ordens estatildeo presentes e contidas de forma interativa no mundo real na ordem zero Natildeo cabe repetir o equiacutevoco de frag-mentar as ordens como fizemos com a natureza para distribuiacute-la em pedaccedilos para as ldquodisciplinas cientiacuteficasrdquo

O modelo que apresentamos eacute bastante para o entendimento CTS se for aplicado com as quatro or-

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dens nos seus espaccedilos especiacuteficos e no equiliacutebrio de forccedilas a que se propotildeem

825 Outras contribuiccedilotildees ao modelo de ordens

Freeman Dyson (2008) ao comentar a ampliaccedilatildeo das fronteiras e os impactos das novas tecnologias do seacuteculo XXI aponta a necessidade de as normas eacuteticas dos cientistas modificarem na medida em que haja mudanccedila nos limites do bem e do mal causados pela tecnociecircncia De modo geral escreve ele o progresso da eacutetica eacute a cura para os danos causados pelo progresso tecnocientiacutefico (p 48) Na mesma linha de raciociacutenio indica o perigo das novas tecnologias ampliarem o fosso que separa os pobres dos ricos com por exemplo a desativaccedilatildeo de faacutebricas antigas para substituiacute-las por outras mais modernas que exigem maior e melhor educaccedilatildeo geral e profissional que aliaacutes os pobres natildeo possuem

Alain Peyrefitte (1999) em sua obra de focirclego A Sociedade de Confianccedila busca indicar como os valo-res religiosos influenciaram na construccedilatildeo das naccedilotildees em todo o mundo Defende a tese e faz longo percurso no esforccedilo de justificativa de que os valores difundidos pela Igreja Catoacutelica produziram um tipo de naccedilatildeo e um tipo de desenvolvimento enquanto as naccedilotildees cuja orientaccedilatildeo era protestante possuem outro conjunto de valores e um traccedilado de desenvolvimento diferenciado Aqui eacute possiacutevel perceber as diferenccedilas entre paiacuteses como a Franccedila Holanda e Inglaterra assim como buscar perce-ber o que a ideia da salvaccedilatildeo pela feacute ou pelas obras ajudou a impulsionar as naccedilotildees de base protestan-te Quando estaacute descrevendo o plano de sua obra Peyrefitte propotildee lanccedilar as bases de uma etologia comparada do desenvolvimento ldquo Etologia isto eacute estudo dos comportamentos e mentalidades res-pectivos das diversas comunidades humanas quando fornecem fatores de ativaccedilatildeo ou de inibiccedilatildeo em mateacuteria de intercacircmbio de mobilidade intelectual e geograacutefica de inovaccedilatildeordquo (p 29) Na dinacircmica de comunicaccedilatildeo das ordens valores morais de fundo religioso na terceira ordem podem influenciar a produccedilatildeo de primeira e segunda ordens

Javier Echeverria (2001a 2001b e 2003) parte das discussotildees sobre a superaccedilatildeo da ideia de ciecircncia herdada ndash neutra imparcial atemporal etc ndash e informa sobre as ideias atuais de ciecircncia e tecnologia a partir dos Estudos Sociais da Ciecircncia e da Tecnologia Ao longo de seus trabalhos sobre a possibili-dade real de relaccedilatildeo entre valores e Ciecircncia e Tecnologia Echeverria chega propor uma axiologia da ciecircncia e da tecnologia

Logo apoacutes os tristes acontecimentos do 11 de setembro de 2001 a Universidad Internacional Menedez Pelayo Valencia Espanha realizou um Curso Internacional intitulado ldquoLa sociedad del riesgordquo cujas exposiccedilotildees foram posteriormente publicadas em livro (Lujaacuten e Echeverriacutea 2004) Leon Oliveacute (2004 e 2007) ao tratar no referido curso do tema Risco eacutetica e participaccedilatildeo puacuteblica narra que apoacutes o 11 de setembro diversos chefes e ex-chefes de Estado se reuniram para fundar o Clube de Madrid que se propunha a colaborar com paiacuteses com democracias jovens oferecendo assessoria de especialistas para temas como terrorismo bioterrorismo etc Elencando uma seacuterie de acontecimentos divulgados por jornais de grande circulaccedilatildeo Oliveacute informa que foi noticiado o fato de que diversos paiacuteses faziam uso de agentes infecciosos e toacutexicos como armas de guerra natildeo divulgando para a sociedade pois satildeo considerados segredos de Estado Continuando a anaacutelise sobre a opiniatildeo que os especialistas pos-suem sobre a participaccedilatildeo cidadatilde Oliveacute (2007 p 98) comenta a reportagem de El Pais (28102001 p 4)

Lia-se informaccedilotildees sobre questotildees que natildeo apenas os cidadatildeos natildeo tecircm voz mas que se-

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gundo os especialistas natildeo devem mesmo aprender O resultado eacute que natildeo dispotildeem de ldquoin-formaccedilotildees veriacutedicas e completas sobre viacuterus ou bacteacuterias algumas delas geneticamente mo-dificadas para resistir a todas as vacinas ou antibioacuteticos desenvolvidos no mundordquo

A exposiccedilatildeo de Oliveacute parece nos remeter a questotildees que estatildeo ligadas agrave concepccedilatildeo herdada de ciecircn-cia e tecnologia baseada na ideia de que os especialistas estatildeo mais bem preparados para orientar os demais cidadatildeos em assuntos que natildeo satildeo dominados pela coletividade Os mesmos especialistas que se oferecem para ajudar democracias jovens natildeo foram capazes de antecipar os acontecimentos infe-lizes do 11 de setembro de 2001 do 11 de setembro ambiental como os demais acontecimentos infelizes produzidos por acidentes tecnocientiacuteficos Parece-nos que o conhecimento que eles acreditam ter natildeo foi capaz de ajudar nestes fatos por que ajudariam em outros da mesma ordem Isso eacute ridiacuteculo Como diria Pascal

Pode ser que o cidadatildeo natildeo seja capaz de opinar de forma estruturada sobre um conhecimento cien-tiacutefico especiacutefico ou sobre a possibilidade de realizaccedilatildeo tecnoloacutegica mas ele eacute muito bem preparado para dizer se o conhecimento e o aparato satildeo de interesse da sociedade Gerard Fourez (1995) inicia um capiacutetulo intitulado Ciecircncia Poder Poliacutetico e Eacutetico onde defende a necessidade de refletirmos sobre as relaccedilotildees entre CTS e afirma

A questatildeo do viacutenculo entre os conhecimentos e as decisotildees se impotildee portanto Que existe um viacutenculo isto eacute indicado pelo bom senso se se sabe que eacute possiacutevel construir uma ponte de uma margem a outra de um rio pode-se questionar se ela eacute ou natildeo desejaacutevel (p 207)

Na tentativa de concretizar as possibilidades de participaccedilatildeo social eacute possiacutevel identificar alguns mo-delos de exerciacutecio democraacutetico (Chrispino 2015) Hoje eacute possiacutevel identificar alguns importantes canais de exerciacutecio democraacutetico no Brasil Podemos enumerar a democracia representativa a demo-cracia participativa a democracia direta e a democracia consociativa a saber

bull A democracia representativa que resulta na eleiccedilatildeo de representantes do povo para os Poderes Legislativo e Executivo nos trecircs niacuteveis de governo (federal estadual e mu-nicipal) Isso quer significar que o povo tem participaccedilatildeo direta na qualidade dos seus representantes sendo certo que a qualidade dos governantes espelha o pensamento e a praacutetica dos eleitores visto que nenhum deles chegou ao poder por concurso ou por sorteio

bull A democracia participativa faculta a participaccedilatildeo mais efetiva de cidadatildeos em es-paccedilos de decisatildeo eou de acompanhamento Os exemplos satildeo os conselhos de acom-panhamento de accedilotildees de governo ou conselhos temaacuteticos Natildeo passa despercebido que um dos grandes entraves na consolidaccedilatildeo da boa representaccedilatildeo eacute o fato de que os que buscam representar se utilizam deste instituto como trampolim para projetos poliacuteticos pessoais tais como chegar a vereador chegar a deputado chegar a prefeito etc

bull A democracia direta se daacute pela participaccedilatildeo efetiva do cidadatildeo visando a decisatildeo Satildeo exemplos de participaccedilatildeo direta o plebiscito e o referendo Natildeo devemos confundir os institutos da democracia direta com as ferramentas de poliacutetica populista como foi o caso da denominada ldquoDemocracia Plebiscitaacuteriardquo que mais se assemelha a populismo oportunista quando um governante com alto iacutendice de aceitaccedilatildeo propotildee consulta agrave populaccedilatildeo sobre temas de interesse como a possibilidade de reeleiccedilatildeo sem limites Tambeacutem temos que observar com criteacuterio a diferenccedila entre a democracia Direta legiacuteti-ma e as accedilotildees populistas de consulta a populaccedilatildeo por meio de expedientes que possuem ldquoendereccedilo certordquo e ldquoresultado previsiacutevelrdquo como as conferecircncias temaacuteticas organizadas a partir de fraccedilotildees definidas de segmentos sociais organizados que mais representam as

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opiniotildees destes segmentos do que as necessidades verdadeiras da sociedade como um todo A democracia direta natildeo pode substituir o Legislativo natildeo pode ser um processo que se assemelham a ldquodemocratismos encomendadosrdquo e precisa ter seu caraacuteter delibe-rativo definido antes a fim de que o governante venha a aproveitar apenas o que lhe eacute conveniente

bull A democracia consociativa que natildeo deixa de ser uma derivada da democracia partici-pativa se caracteriza pela busca de consensos para o conviacutevio entre os diferentes ato-res e interesses que compotildeem a sociedade (Toba 2004) As conferecircncias nacionais os planos diretores os documentos de impacto de vizinhanccedila e de impacto ambiental satildeo exemplos deste novo instituto Aqui ganha aquele que demonstrar mais organizaccedilatildeo e capacidade de articulaccedilatildeo A chamada construccedilatildeo de consenso eacute uma tecnologia social que tende a ocupar importantes espaccedilos nas relaccedilotildees sociais contemporacircneas

Ao discutir sobre a participaccedilatildeo social em decisotildees tecnocientiacuteficas Loacutepez Cerezo (2009 p 138) apresenta trecircs blocos de temas Qual o puacuteblico que deve participar das discussotildees e sob que argumen-tos quem pode e deve participar e os modos possiacuteveis de participaccedilatildeo

A escolha do puacuteblico que deve participar dos debates envolvendo ciecircncia e tecnologia natildeo eacute sim-ples nem trivial Quando definimos um problema tecnocientiacutefico de alto impacto social precisamos responder a primeira pergunta que coletivo estaacute envolvido nesta questatildeo Ou ainda que coletivos estatildeo de alguma forma envolvidos na questatildeo Quando conseguimos responder a esta primeira etapa passamos a outra ordem de problema Dos envolvidos qual possui opiniatildeo mais importante ou mais relevante ou mais prevalente Tudo isso se torna mais complexo quando consideramos as mesmas questotildees na linha do tempo no presente estas perguntas podem ser respondidas de uma forma mas se considerada a visatildeo de futuro seriam as mesmas respostas

Loacutepez Cerezo (2009 p 138) cita Daniel Fiorino (1990) quando propotildee resumir os motivos de partici-paccedilatildeo social em trecircs argumentos

bull Argumento instrumental A participaccedilatildeo eacute a melhor garantia para evitar a resistecircncia social e a desconfianccedila sobre as instituiccedilotildees

bull Argumento normativo A tecnocracia eacute incompatiacutevel com os valores democraacuteticosbull Argumento substantivo O juiacutezo dos natildeo especialistas satildeo tatildeo razoaacuteveis quanto o juiacutezo

dos especialistas

No que se refere a Quem pode ou deve participar das discussotildees que envolvam temas tecnocientiacutefi-cos a discussatildeo natildeo eacute mais simples Considerando a diversidade de cidadatildeos e de segmentos sociais que estatildeo direta ou potencialmente envolvidos neste processo Loacutepez Cerezo (2009 p 139) informa que a literatura sobre participaccedilatildeo puacuteblica apresenta em geral ldquoum conjunto de criteacuterios para ava-liar o caraacuteter democraacutetico de iniciativas de gestatildeo puacuteblica em poliacutetica cientiacutefico-tecnoloacutegicardquo

bull Caraacuteter representativo deve produzir uma ampla participaccedilatildeo em um processo de to-mada de decisatildeo Em princiacutepio quanto maior eacute o nuacutemero e a diversidade dos indiviacuteduos ou grupos envolvidos mais democraacutetico pode considerar-se o mecanismo participativo em questatildeo

bull Caraacuteter igualitaacuterio deve permitir a participaccedilatildeo cidadatilde em peacute de igualdade com os es-pecialistas e as autoridades governamentais Ele implica entre outras coisas transmis-satildeo de toda informaccedilatildeo disponibilidade de meios natildeo intimidaccedilatildeo igualdade de trato e transparecircncia no processo

bull Caraacuteter efetivo deve traduzir-se em um fluxo real sobre as decisotildees adotadas Para ele eacute

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necessaacuterio que se produza uma delegaccedilatildeo da autoridade ou um acesso efetivo a aqueles que a detecircm

bull Caraacuteter ativo deve permitir ao puacuteblico participante envolver-se ativa-mente na defi-niccedilatildeo dos problemas e no debate de seus paracircmetros principais e natildeo soacute considerar rea-tivamente sua opiniatildeo no terreno das soluccedilotildees Trata-se de fomentar uma participaccedilatildeo integral para a qual natildeo haacute portas fechadas previamente

Rigolin (2014) ao estudar a participaccedilatildeo puacuteblica e avaliaccedilatildeo social da Ciecircncia e da Tecnologia escre-ve que a emergecircncia de inovaccedilotildees tecnoloacutegicas de caraacuteter controverso produziria maior

demanda puacuteblica por informaccedilatildeo e maior inclusatildeo no processo decisoacuterio [e] refletiria uma reaccedilatildeo puacuteblica contra o hermetismo que caracteriza os modelos regulatoacuterios fundados nos-princiacutepios incontestaacuteveis e inacessiacuteveis da sound Science (Young et al 2001) Para alguns autores (Callon 1998 Young et al 2001 Kluver et al 2000 Smith 2001) e certas organi-zaccedilotildees internacionais (FAO 2001) o melhor arranjo para a orquestraccedilatildeo de conflitos (po-liacuteticos juriacutedicos etc) que envolvem incerteza complexidade e controveacutersia cientiacuteficatem sido a ampliaccedilatildeo do conceito de expertise incorporando a visatildeo e os interesses dos diferen-tes atores sociais potencialmente afetados pela difusatildeo de novas tecnologias no processo de formulaccedilatildeo implementaccedilatildeo ou avaliaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas via procedimentos parti-cipativos (p 131)

No que se refere a espaccedilos institucionais possiacuteveis para a participaccedilatildeo social em ciecircncia e tecnologia Loacutepez Cerezo (2009) ndash assim como Bazzo Linsingen e Pereira (2003) ndash informa as principais opccedilotildees que foram ensaiadas em diversos paiacuteses tais como Estados Unidos Austraacutelia Reino Unido Sueacutecia e Paiacuteses Baixos que buscamos sintetizar a seguir

bull Audiecircncias puacuteblicas satildeo habitualmente foros abertos e pouco estruturados onde a par-tir de um programa previamente determinado pelos representantes da administraccedilatildeo se convida o puacuteblico a escutar as propostas governamentais e comentaacute-las

bull Gestatildeo negociada se desenvolve a partir de um comitecirc negociador composto por repre-sentantes da administraccedilatildeo e grupos de interesse implicados por exemplo induacutestria associaccedilotildees profissionais e organizaccedilotildees ecologistas Os participantes tecircm acesso a a informaccedilotildees relevantes assim como a oportunidade de persuadir a outros e alinhaacute-los com suas posiccedilotildees

bull Paineacuteis de cidadatildeos este tipo de mecanismo estaacute baseado no modelo do jurado soacute que aplicado a temas cientiacutefico-tecnoloacutegicos e ambientais Sob este tipo de teacutecnica reuacutenem-se modelos de caraacuteter decisoacuterio ou meramente consultivo A ideia central eacute que os cidadatildeos comuns (escolhidos por sorteio ou por amostra aleatoacuteria) se reuacutenam para con-siderar sobre um assunto sobre o qual natildeo satildeo especialistas e apoacutes terem recebido das autoridades e especialistas as informaccedilotildees pertinentes apresentem recomendaccedilotildees ou alternativas aos organismos oficiais Comparada a audiecircncia puacuteblica esta teacutecnica eacute mais ativa e permite maior participaccedilatildeo e maior questionamento inclusive aos especialistas

bull Pesquisas de opiniatildeo sobre assuntos tecnocientiacuteficos permitem conhecer a percepccedilatildeo puacuteblica sobre determinado assunto de forma a orientar as decisotildees dos poderes legis-lativo e executivo

bull Consumo diferenciado de produtos de acordo com sua origem cientiacutefica-tecnoloacutegica satildeo escolhas feitas pelos cidadatildeos a favor do consumo de produtos marcados com algum tipo de selo indicativo de qualidade ou de diferenciaccedilatildeo

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Podemos identificar especialmente no Brasil alguns outros instrumentos tais como o referendum o plebiscito o Relatoacuterio de Impacto Ambiental (Rima) o Relatoacuterio de Impacto de Vizinhanccedila accedilotildees civis puacuteblicas e sempre o direito de questionar em Juiacutezo quando se sentir lesado

83 Como se fosse conclusatildeo A construccedilatildeo social da ciecircncia e da tecnologia natildeo pode prescindir da alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica dos membros da sociedade a fim de que estes tenham um miacutenimo de condiccedilotildees para entender refletir e contribuir nas decisotildees a serem tomadas em temas tecnocientiacuteficos de impacto social O modelo de educaccedilatildeo e de ensino que aiacute estaacute posto natildeo atende as suas necessidades Da mesma forma eacute necessaacuterio discutir um modelo mesmo que idealizado que permita a visuali-zaccedilatildeo das possibilidades de participaccedilatildeo social no conjunto de decisotildees que envolvem temas tecno-cientiacuteficos em geral A proposta de Comte-Sponville permite a visualizaccedilatildeo deste conjunto de va-riaacuteveis e permite um primeiro passo de entendimento preacute-requisito para o processo de melhoria de participaccedilatildeo Com essa visualizaccedilatildeo especialistas poliacuteticoslegisladoresgestores educadores em Ciecircncia e Tec-nologia e cidadatildeos satildeo capazes de ordenar discussotildees e a sociedade organizada pode melhor planejar sua participaccedilatildeo e solicitar a participaccedilatildeo dos membros que compotildeem as demais ordens estabele-cendo a dinacircmica proposta ao longo do trabalho Este pode ser um cenaacuterio orientador de possibi-lidades colocando em foco como propotildee Biejker (2008 p136) a fragilidade constitutiva de nossa cultura tecnoloacutegica considerando sua estrutura e seus valores centrais

Conheccedila mais

Aibar E La participacion del puacuteblico em las decisiones cientiacutefico-tecnoloacutegicas In Aibar E Quintanilla MA (edit) Ciencia Tecnologia y SociedadMadrid Editorial Trotta Consejo superior de Investigaciones Cientificas 2012

SOBRE AS ABORDAGENS CTS125

9 Sobre as abordagens CTS

Em resumo a soluccedilatildeo natildeo consiste em ldquomais ciecircncia e tecnologiardquo mas sim em um tipo diferente de ciecircncia e tecnologia

Gonzaacutelez Garciacutea Loacutepez Cerezo e Lujaacuten Loacutepez

91 Introduccedilatildeo As relaccedilotildees entre Ciecircncia Tecnologia Sociedade e Poliacutetica Ateacute este ponto buscamos apresentar fatos que nos levam a refletir sobre a chamada neutralidade da Ciecircncia e da Tecnologia bem como de seus operadores os cientistas e especialistas em tecnologia Esperamos ter demonstrado as relaccedilotildees estreitas entre Ciecircncia e Tecnologia e a necessidade de desenvolvermos uma interaccedilatildeo mais estreita e intensa entre estas duas aacutereas do conhecimento e a Sociedade Vamos agora estudar mais um pouco como pode se dar estas relaccedilotildees e como elas podem ser de forma mais ou menos expliacutecitas interdependentes Jaacute citamos exaustivamente o exemplo do Relatoacuterio Bush e o Projeto Manhattan Vamos agora buscar em Alan Chalmers51 (1994) alguns exemplos para ilustrar o tema a que nos propomos discutir

No livro que escolhemos para ilustrar nossas questotildees Chalmers (1994) estaacute preocupado

em identificar e caracterizar a meta da ciecircncia distinguindo-a de outras atividades com di-ferentes objetivos Disso natildeo se deve concluir que eu considere a meta da ciecircncia algum bem absoluto e sem restriccedilotildees necessariamente superior a outras metas Um exemplo ajudaraacute a colocar a glorificaccedilatildeo irrestrita da ciecircncia dentro de uma perspectiva mais realistaHumphrey Davy inventou em 1815 a chamada lacircmpada de seguranccedila dos mineiros Natildeo haacute nenhuma duacutevida de que isso tenha sido uma bemlograda consequecircncia de uma pesquisa cientiacutefica pura (possivelmente realizada por Faraday) que envolvia a determinaccedilatildeo da tem-peratura de igniccedilatildeo do metano e a eficaacutecia de um veacuteu de arame atuando como barreira para a temperatura J A Paris um dos bioacutegrafos de Davy referiu-se a essa pesquisa bem suce-dida como orgulho da ciecircncia triunfo da humanidade e gloacuteria da eacutepoca em que vivemos () e mais recentemente a Union Carbide Chemicals and Plastics exaltou as virtudes da pesquisa de Davy e comparou suas contribuiccedilotildees para a humanidade agraves da Union Carbide Afinal de contas Humphrey Davy acendeu uma lacircmpada para benefiacutecio da humanidade e natildeo desejamos que ela se apague (Albury e Schwartz 1982 p 13) Isso natildeo eacute muito inco-mum em relaccedilatildeo agrave maneira como o valor intriacutenseco da ciecircncia eacute retratado e glorificadoNo entanto () um exame mais circunspecto da histoacuteria real desse episoacutedio nos leva a uma avaliaccedilatildeo bem mais moderada Um efeito imediato da introduccedilatildeo da lacircmpada de Davy nas minas de carvatildeo foi um aumento acentuado no nuacutemero de explosotildees e fatalidades Natildeo eacute difiacutecil discernir a razatildeo para isso Do ponto de vista dos proprietaacuterios das minas o problema que pressionava natildeo era tanto a seguranccedila da mina mas o fato de que as operaccedilotildees em mi-nas ricas de carvatildeo se tomavam inacessiacuteveis por causa da acumulaccedilatildeo do metano O proble-ma deles que era o que expuseram a Davy era saber como fazer os mineiros entrarem nas

51 Allan Chalmers (1939- ) eacute inglecircs naturalizado australiano formou-se em fiacutesica e dedicou-se aos estudos da Filosofia e da His-toacuteria Eacute professor de Histoacuteria e Filosofia da Ciecircncia na Universidade de Sydney Austraacutelia

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SOBRE AS ABORDAGENS CTS126

minas perigosas cheias do gaacutes venenoso A pesquisa de Davy proporcionava uma resposta mas naturalmente sua lacircmpada estava longe de ser perfeita O veacuteu poderia soltar-se as co-rrentes de ar poderiam soprar a chama para fora e as partiacuteculas de carvatildeo que se grudavam em seu exterior se tornariam vermelhas com o calor Os mineiros admitiam que o problema mais seacuterio nas minas era uma ventilaccedilatildeo precaacuteria Eles percebiam que as principais fatalida-des depois de uma explosatildeo ocorriam por sufocaccedilatildeo pelo monoacutexido e dioacutexido de carbono em consequecircncia da explosatildeo Eles propunham medidas como o aprofundamento de mais poccedilos mas essas sugestotildees foram em geral deixadas de lado presumivelmente devido aos custos que encerravam Os mineiros poderiam ser perdoados pelo ceticismo a respeito de qualquer afirmaccedilatildeo de que o progresso da ciecircncia eacute um bem sem reservas (p 160-161)

O autor conclui o item informando que existe na atualidade situaccedilotildees comparaacuteveis a essa onde pelos efeitos adversos que a ciecircncia possibilita

eacute razoaacutevel em muitos contextos reivindicar que um uso socialmente mais equumlitativo do con-hecimento cientifico que temos eacute um problema de maior urgecircncia do que a produccedilatildeo de mais conhecimento cientiacutefico Mesmo quando basta atribuir grande prioridade agrave aquisiccedilatildeo do conhecinotmento cientiacutefico resta a questatildeo de qual das muitas linhas possiacuteveis de pesquisa cientiacutefica deveria ser seguida Resta entatildeo a questatildeo que espeacutecie de ciecircncia desejamos Eacute inquestionaacutevel que uma grande forccedila por traacutes da direccedilatildeo do desenvolvimento da ciecircncia ocidental eacute proveniente dos interesses militares e econocircmicos das agecircncias governamentais e dos interesses aliados das corporaccedilotildees multinacionais Muitos de noacutes desejariam que as coisas fossem diferentes e que a ciecircncia se tivesse desenvolvido em direccedilotildees mais de acordo com os interesses e as necessidades das pessoas comuns De qualquer maneira a ciecircncia tem que ser avaliada e articulada segundo interesses e valores As avaliaccedilotildees e as lutas poliacute-ticas aiacute encerradas natildeo satildeo por si soacute receptivas agraves soluccedilotildees cientiacuteficas (p 161)

Leia maisSobre Humphry Davy

Beltran Ma H Roxo Humphry Davy e as cores dos antigos Quiacutem Nova vol31 n1 Satildeo Paulo 2008 httpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S0100-40422008000100033amplng=enampnrm=iso

Dwyer Tom O surgimento da engenharia de seguranccedila Empregadores trabalhadores e a lacircmpada de Davy Mul-tiCiecircncia UNICAMP httpwwwmulticienciaunicampbrartigos_06a_04_6pdf

Dwyer Tom Vida e morte no trabalho - acidentes do trabalho e a produccedilatildeo social do erro Satildeo Paulo Editora Unicamp 2006

A discussatildeo entatildeo passa a ser natildeo mais ldquose a tecnociecircncia interfere no dia-a-diardquo ou ldquose a tecnociecircncia produz resultados somente para o bem-estarrdquo mas sim ldquoque forccedilas impulsionadoras podem ser identificadas em cada movimento que favorece um avanccedilo tecnocientiacuteficordquo Certamente este eacute um movimento muito mais complexo do que simplesmente aplaudir as conquistas tecnocientiacuteficas que nos chegam por meio de produtos de consumo O que se estaacute apontando eacute a necessidade da alfabetizaccedilatildeo tecnocientiacutefica capaz de identificar os movimentos que orientam e sustentam uma ou outra linha de pesquisa eou produccedilatildeo tecnocientiacutefica Natildeo haacute nessa visatildeo a possibilidade de acharmos que o movimento da ciecircncia e tecnologia ndash a tecnociecircncia ndash existe sem a accedilatildeo e decisatildeo socialmente dirigidas Essas accedilotildees possuem um vieacutes poliacutetico (Poliacutetica com P maiuacutesculo e poliacutetica com p minuacutesculo) O que natildeo eacute obrigatoriamente ruim Chalmers (1994) nos relembra e comenta uma histoacuteria claacutessica apresentada por Bruno Latour (1987) e que ilustra de forma espetacular essa necessaacuteria relaccedilatildeo entre Ciecircncia Tecnologia Sociedade e Poliacutetica que chamaremos de CTS+P

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SOBRE AS ABORDAGENS CTS127

Os fatores que se ocultam por traacutes da satisfaccedilatildeo das condiccedilotildees materiais necessaacuterias para o trabalho cientiacutefico envolvem uma ampla seacuterie de interesses outros que natildeo a produccedilatildeo do conhecinotmento cientifico Esse ponto eacute graficamente ilustrado por Bruno Latour (1987 p 153-7) num trecho impressionante em que ele compara a atividade cotidiana de uma cientista num importante laboratoacuterio californiano com o diretor do laboratoacuterio a quem se refere como o chefe A cientista se considera interessada no desenvolvimento da ciecircncia pura e desinteressada das questotildees poliacuteticas ou sociais Procura distanciar-se do governo e do setor privado para concentrar-se em sua pesquisa pura Em compensaccedilatildeo o chefe estaacute sempre envolvido em atividades poliacuteticas em todos os niacuteveis o que muitas vezes lhe vale a zombaria da cientista O exemplo de Latour trata da pesquisa de uma nova substacircncia o pandorin que promete ter grande significado na fisiologia Na lista das atividades em que o chefe se envolve numa se-mana comum estatildeo as seguintes entre outras negociaccedilotildees com as grandes companhias far-macecircuticas a respeito do possiacutevel patenteamento do pandorin um encontro com o ministro da Sauacutede francecircs onde seraacute discutida a possibilidade de abertura de um novo laboratoacuterio na Franccedila uma reuniatildeo na Academia Nacional de Ciecircncia em que o chefe defende a necessi-dade de mais um subdepartamento reuniatildeo da diretoria da revista meacutedica Endocrinology onde pede mais espaccedilo para sua aacuterea e reclama de conselheiros que pouco sabem sobre a disciplina uma visita ao matadouro local em que discute a possibilidade de decapitar ove-lha de modo a causar menos danos ao hipotaacutelamo reuniatildeo na universidade onde propotildee um novo programa de curso contendo mais biologia nuclear e informaacutetica discussatildeo com um cientista sueco sobre os instrumentos recentemente criados por ele para detectar pep-tiacutedeos e possiacuteveis estrateacutegias para desenvolvecirc-los e discurso na Associaccedilatildeo dos DiabeacuteticosContinuemos acompanhando Latour voltando nossa atenccedilatildeo para o trabalho da cientista no laboratoacuterio pouco depois Descobrimos que ela conseguiu empregar um novo teacutecnico o que foi possiacutevel graccedilas a uma bolsa recebida da Associaccedilatildeo dos Diabeacuteticos haacute tambeacutem dois novos estudantes jaacute formados que entraram no campo atraveacutes dos novos cursos criados pelo chefe Sua pesquisa beneficiou-se com amostras mais limpas de hipotaacutelamo que satildeo agora recebidas do matadouro e com um novo instrumento de grande sensibilidade recentemen-te adquirido da Sueacutecia que aumenta sua capacidade de detectar traccedilos insignificantes de pandorin no ceacuterebro Os resultados preliminares de sua pesquisa seratildeo publicados numa nova seccedilatildeo de Endocrinology Ela estaacute refletindo sobre um novo cargo que lhe foi oferecido pelo governo francecircs para a implantaccedilatildeo de um laboratoacuterio na FranccedilaSe a cientista da histoacuteria muito realista de Latour considera envolvida na ciecircncia pura que natildeo eacute perturbada por questotildees poliacuteticas e sociais mais amplas ela estaacute muito enganada A satisfaccedilatildeo das condiccedilotildees materiais que eacute um preacute-requisito para a realizaccedilatildeo de sua pesquisa soacute pode ser obtida como resultado da atividade poliacutetica que encerra uma seacuterie de interesses sociais como ilustram as atividades do chefe Se por exemplo investigamos o suficiente a respeito da origem dos fundos para qualquer aacuterea de pesquisa na fiacutesica nos Estados Unidos quase sempre damos de frente com os interesses dos militares e do Departamento de Defesa no desennotvolvimento dos modernos sistemas armamentistas E L Woollett (1980 p 109) expotildee a situaccedilatildeo num artigo revelador qualquer pessoa com o diploma de fiacutesica que leia o Relatoacuterio Anual da Secretaria da Defesa admitiraacute a maneira essencial como o progresso da ciecircncia estaacute hoje associado ao progresso nos modernos sistemas armamentistas Minha insistecircncia em fazer uma distinccedilatildeo entre a ciecircncia e outras atividades com metas diferentes deixa pouco mais que farelos para a anaacutelise do socioacutelogoO simples fato de que a atividade cientifica natildeo pode ser separada das outras que atendem a outros interesses natildeo implica em si que o objetivo da ciecircncia esteja subvertido A anaacutelise um

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SOBRE AS ABORDAGENS CTS128

tanto conservadora e funcionalista da organizaccedilatildeo institucional da ciecircncia de Robert Mer-ton (1973) mostra isso muito bem Merton acredita que a ciecircncia eacute governada por normas que definem o coacutedigo apropriado de comportamento dos cientistas normas de universalis-mo desinteresse comunismo e ceticismo organizado Presume-se que a fidelidade a essas normas leve adiante a meta da ciecircncia Contudo cada cientista tem suas proacuteprias normas e interesses como a aquisiccedilatildeo de riqueza fama e poder por exemplo Merton diz que a meta da ciecircncia se concilia com os interesses dos cientistas por meio do sistema institucionaliza-do de recompensas e penalizaccedilotildees Dessa maneira os cientistas satildeo coagidos a agir de modo a atender os interesses da ciecircncia porque eacute exatamente esta forma de agir que resulta nas recompensas que atendem a seus proacuteprios interesses Naturalmente haacute outros interesses em jogo na atividade cientiacutefica como os monopoacutelios profissionais governa-mentais e dos setores privados o descuido em relaccedilatildeo a estes eacute uma das falhas da anaacutelise de Merton En-tretanto ela serve para mostrar que a ciecircncia natildeo eacute automaticamente subvertida quando haacute outros interesses envolvidos Podemos ilustrar mais esse ponto observando que foi uma feliz coincidecircncia entre alguns aspectos dos interesses da ciecircncia e os da burguesia que per-mitiu que a ciecircncia prosperasse na mareacute da revoluccedilatildeo cientiacutefica (Chalmers 1994 p 157-159 veja tambeacutem Bartel e Johnston 1984)

Leia maisSobre Bruno Latour e sua publicaccedilatildeoTeixeira Maacutercia de Oliveira A ciecircncia em accedilatildeo seguindo Bruno Latour Hist cienc saude-Manguinhos vol8 n1 Rio de Janeiro MarJune 2001httpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S0104-59702001000200012

Sobre Robert K Merton (1910-2003)Nunes Everardo D Merton e a sociologia meacutedica Hist cienc saude-Manguinhos vol14 n1 Rio de Janeiro JanMar 2007 httpwwwscielobrscielophppid=S0104-59702007000100008ampscript=sci_arttext

92 As Abordagens CTS um modelo possiacutevel Eacute possiacutevel conhecer os principais acontecimentos que marcam a evoluccedilatildeo da Abordagem CTS a partir dos textos de Kreimer e Thomas (2004) Cutcliffe (2003) Bazzo Linsingen e Pereira (2003) Lopez Cerezo (2002) Vacarezza (2002) e Gonzalez Garcia Loacutepez Cerezo e Lujaacuten Loacutepez (1996) Es-tes uacuteltimos ao apresentarem longa lista de acontecimentos que marcaram a histoacuteria do movimento CTS nos paiacuteses ocidentais especialmente os Estados Unidos propotildeem sua divisatildeo em trecircs periacuteodos

1 Otimismo Eacute o primeiro desde o uacuteltimo periacuteodo da Segunda Guerra Mundial ateacute 1955 (com o manifesto de Russel e Einstein sobre a responsabilidade social da ciecircncia) de-corre uma deacutecada otimista de demonstraccedilatildeo de poder da ciecircncia e da tecnologia de firme convicccedilatildeo no modelo unidirecional de progresso e de apoio puacutebico incondicional a ciecircncia-tecnologia

2 Alerta Eacute o segundo periacuteodo desde meados de anos cinquumlenta ateacute 1968 (desde o lanccedila-mento do Sputnik e o primeiro acidente nuclear grave ateacute o centro do movimento de contra-cultura e de revoltas contra a guerra do Vietnam) comeccedilam a vir a publico os primeiros grandes desastres produzidos pela tecnologia fora de controle Os movimen-tos sociais e poliacuteticos de luta contra o sistema fazem da tecnologia moderna e do estado tecnocraacutetico o alvo de sua luta

3 Reaccedilatildeo Eacute o terceiro periacuteodo de 1969 ateacute o presente descreve a consolidaccedilatildeo educativa e administrativa do movimento CTS como resposta acadecircmica educativa e poliacutetica a sensibilizaccedilatildeo social sobre os problemas relacionados com a tecnologia e o ambiente Eacute

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SOBRE AS ABORDAGENS CTS129

o momento da revisatildeo e correccedilatildeo do modelo unidirecional de progresso como base para o desenho da poliacutetica cientiacutefico-tecnoloacutegica (Gonzaacutelez Garciacutea Loacutepez Cerezo e Lujaacuten Loacutepez 1996 p 58-59)

Esse uacuteltimo movimento que se percebe ateacute hoje toma coloridos proacuteprios de acordo com o modelo de sociedade e de cidadatildeo em que as circunstacircncias de tecnociecircncia se manifestam Sociedades mais experientes na organizaccedilatildeo representativa e que possuem cidadatildeos mais esclarecidos satildeo capazes de desenvolver um programa de interaccedilatildeo CTS mais eficaz no sentido de que ldquoa soluccedilatildeo natildeo consiste em mais ciecircncia e tecnologia mas sim em um tipo diferente de ciecircncia e tecnologiardquo (Gonzaacutelez Garciacutea Loacutepez Cerezo e Lujaacuten Loacutepez 1996 p 56)

Sociedadescidadatildeos mais esclarecidos quanto agrave Ciecircncia e Tecnologia estatildeo mais aptos a solicitar explicaccedilotildees mais efetivas sobre o porquecirc e sobre os resultados de projetos de base tecnocientiacuteficos Podem questionar os valores que fundamentam os objetivos das poliacuteticas puacuteblicas (manifestaccedilatildeo da vontade de fazer dos governos) tanto quanto satildeo capazes de questionar sobre as consequecircncias das tecnociecircncias a curto meacutedio e longo prazos Essa diferenccedila do antes e do depois eacute comumente chamada nos estudos CTS de tradiccedilatildeo de origem europeacuteia e de tradiccedilatildeo de origem americana Sendo certo que esta divisatildeo hoje pela diversidade grupos de estudos CTS eacute mais didaacutetica do que geograacutefica A tradiccedilatildeo Europeacuteia considera na dimensatildeo social os antecedentes ou condicionantes sociais do CTS que contribuem para a formaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo dos complexos tecnocientiacuteficos (Gonzaacutelez Garciacutea Loacutepez Cerezo e Lujaacuten Loacutepez 1996 p 56) Esta tradiccedilatildeo que remonta o suporte teoacuterico de Thomas Kuhn realiza seus estudos baseados principalmente nas ciecircncias sociais e possui trabalhos importantes a partir das contribuiccedilotildees de S Woolgar e B Latour principalmente (Loacutepez Cerezo 2002 p 8) Jaacute a chamada tradiccedilatildeo americana considera na dimensatildeo social a consequecircncia social ou a forma como os produtos da tecnociecircncia incidem sobre nossa vida e na organizaccedilatildeo social (Gonzaacutelez Garciacutea Loacutepez Cerezo e Lujaacuten Loacutepez 1996 p 56) A atenccedilatildeo estaacute mais voltada para as consequecircncias sociais e ambientais dos produtos tecnoloacutegicos deixando em segundo plano geralmente os antecedentes sociais destes produtos Esta tradiccedilatildeo tem origem nos movimentos sociais dos anos 60 e 70 e que marcaram sua eacutepoca e contribuiacuteram sobremaneira para a consolidaccedilatildeo dos estudos CTS Numa visatildeo eminentemente acadecircmica eacute possiacutevel dizer que seus estudos estatildeo apoiados na aacuterea das ciecircncias humanas e se consolida institucionalmente por meio do ensino e da reflexatildeo poliacutetica conforme escreve Loacutepez Cerezo (2002 p 8) Pode parecer que ambas as abordagens sejam excludentes entre si ldquodevido agrave diversidade de suas perspectivas e acircmbitos de trabalho pesquisa acadecircmica por um lado poliacutetica e educaccedilatildeo por outrordquo Na verdade essas duas tradiccedilotildees satildeo elementos complementares de uma visatildeo criacutetica da tecnociecircncia como pretende demonstrar Loacutepez Cerezo (2002 p 21)

bull O desenvolvimento cientiacutefico-tecnoloacutegico eacute um processo conformado por fatores cul-turais poliacuteticos e econocircmicos e ademais epistemoloacutegicos Trata-se de valores e interes-ses que fazem da ciecircncia e da tecnologia um processo social

bull A mudanccedila cientiacutefico-tecnoloacutegica eacute um fator determinante que contribui para modelar nossas formas de vida e nosso ordenamento institucional Constitui um assunto puacuteblico de primeira magnitude

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SOBRE AS ABORDAGENS CTS130

bull Compartilhamos um compromisso democraacutetico baacutesicobull Portanto deveriacuteamos promover a avaliaccedilatildeo e o controle social do desenvolvimento cientiacute-

fico-tecnoloacutegico o que significa construir as bases educativas para uma participaccedilatildeo social formada bem como criar mecanismos institucionais para tornar possiacutevel tal participaccedilatildeo

Jaacute Cutcliffe (2003) quando estuda as diferentes abordagens prefere fazecirc-lo pela oacutetica de Steve Fuller (1992) que propotildee dividir os estudos CTS em ldquoalta igreja e baixa igrejardquo em resposta a artigo de Ilerbaig (1992) Esta divisatildeo muito difundida entre os estudiosos de CTS separa aqueles estudos com ldquoinclinaccedilatildeo acadecircmica e centrada em disciplinasrdquo e com orientaccedilatildeo soacutecioexplicativa daqueles estudos com ldquoinclinaccedilatildeo ativista social e centrada em problemasrdquo e com orientaccedilatildeo socialativista (p 104 e 106)

A classificaccedilatildeo entre Baixa e Alta Igrejas leva uma dicotomia e forccedila estereoacutetipos que podem ser perniciosos para o bem entendimento do que seja e o que pretende ser a Abordagem CTS Pode-se reduzir a Baixa Igreja ao Movimento CTS de base ativista e em paralelo pode-se dizer que Alta Igreja estaacute centrada na preocupaccedilatildeo de estudos e reflexotildees em torno de disciplinas estruturadas Cozzens (1990) chama a Alta Igreja de Pensamento CTS Buscando ampliar a visatildeo estreita que lkeva a reducionismos perversos Robin Williams e David Edge propuseram a expressatildeo Ampla Igreja agrupando os comportamentos descritivos e prescritivos diminuindo a tensatildeo entre as categorias evitando perdas desnecessaacuterias de energia e atenccedilatildeo dos especialistas em CTS O proacuteprio Cutcliffe ao longo de seu estudo propotildee outra maneira de categorizar os estudos CTS utilizando-se tangencialmente da divisatildeo de Steve Fuller Ele informa que a chamada alta igreja se manifesta em programas CTS apresentados de Estudos de Ciecircncia e Tecnologia enquanto a baixa igreja se apresenta em programas CTS intitulados como Ciecircncia Tecnologia e Sociedade Ao chamar atenccedilatildeo para estes dois representantes da divisatildeo proposta por Fuller Cutcliffe aponta a possiacutevel e necessaacuteria existecircncia de um terceiro grupo que ele vecirc se manifestar nos programas denominados de Ciecircncia Tecnologia e Poliacutetica ou Ciecircncia Engenharia e Poliacutetica Para o autor os programas deste terceiro grupo ldquotecircm uma orientaccedilatildeo profissional dirigida para as interaccedilotildees soacutecio-teacutecnicas em grande escala e sua gestatildeo Consideram a necessidade de e a preparaccedilatildeo em estudos das poliacuteticas de atuaccedilatildeo e gestatildeo adequadasrdquo (p 106) Esta divisatildeo didaacutetica proposta por Cutcliffe eacute importante por conta da anaacutelise de Vacarezza (2002) que ao analisar o desenvolvimento do CTS na Ameacuterica Latina Queremos lembrar do PLACTS-Pensamento Latinoamericano de CTS que tratamos no capiacutetulo 1 especialmente p 16 e seguintes escreve que

na America Latina a origem do movimento se encontra na reflexatildeo da ciecircncia e da tecnolo-gia como uma competecircncia das poliacuteticas puacuteblicasrdquo tendo ldquosurgido como uma criacutetica dife-renciada agrave situaccedilatildeo da ciecircncia e da tecnologia e de alguns aspectos da poliacutetica estatal nessa mateacuteria (p 52)

Vacarezza (2002) diz ainda que a poliacutetica se transformou em gestatildeo que a militacircncia caracteriacutestica do movimento CTS se transformou em formaccedilatildeo de especialistas e que estes movimentos administrativos prescindem do caraacuteter mobilizador e da pretensatildeo de mudanccedila proacuteprias do movimento CTS A existecircncia de uma abordagem CTS na Ameacuterica Latina quer como Movimento CTS quer como Estudo CTS ou outra necessaacuteria categorizaccedilatildeo deve merecer nossa atenccedilatildeo de pesquisa

Spiegel-Roumlsing e SollaPrice (1977 p 13) propotildeem que CTS possa ser precebido em 16 aacutereas distintas

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SOBRE AS ABORDAGENS CTS131

de pesquisa que respeitada a regionalizaccedilatildeo sociopoliacutetica estatildeo relacionadas agraves investigaccedilotildees individuais de CTS dentro dos paiacuteses do ocidente e do oriente As 16 aacutereas de pesquisa satildeo

1 Filosofia (incluindo metodologia e loacutegica) da ciecircncia e teoria da ciecircncia 2 Eacutetica da ciecircncia 3 Sociologia da ciecircncia 4 Classificaccedilatildeo de campo cientiacutefico e disciplinas 5 Criatividade e psicologia dos investigadores 6 Histoacuteria de organizaccedilatildeo da ciecircncia e de comunidades cientiacuteficas7 Organizaccedilatildeo administraccedilatildeo e gestatildeo de Pesquisa amp Desenvolvimento (incluindo infor-

maccedilatildeo e comunicaccedilatildeo) 8 Economia produtividade eficaacutecia financiamento etc de Pesquisa amp Desenvolvimento 9 Estatiacutesticas de ciecircncia e tecnologia 10 Planejamento de Pesquisa amp Desenvolvimento planejamento de recursos humanos em

ciecircncia e tecnologia poliacutetica puacuteblica para ciecircncia e tecnologia (incluindo relaccedilotildees com educaccedilatildeo economia negoacutecios estrangeiros induacutestria sauacutede agricultura meio ambien-te etc)

11 Previsatildeo tecnoloacutegica futurologia 12 Poliacutetica de ciecircncias internacional cooperaccedilatildeo internacional em ciecircncia e tecnologia

estudo comparativo de poliacuteticas de ciecircncia nacional 13 Legislaccedilatildeo de ciecircncia e tecnologia 14 Tranferecircncia de tecnologia 15 Avaliaccedilatildeo de tecnologia 16 Ciecircncia e sociedade popularizaccedilatildeo da ciecircncia

Vieira Tenreiro-Vieira e Martins (2011 p 18) buscando inspiraccedilatildeo em Ziman (1980) e em Solomons (1988) propotildeem a seguinte classificaccedilatildeo de abordagens CTS na educaccedilatildeo em Ciecircncias

Abordagem Foco(s)

HistoacutericaEvoluccedilatildeo da Ciecircncia e da tecnologia com a evoluccedilatildeo da Sociedade influecircncia da atividade cientiacutefica e tecnoloacutegica na histoacuteria da humanidade e influecircncia de acontecimentos histoacutericos no desenvolvimento da Ciecircncia e Tecnologia

Filosoacutefica

Epistemoloacutegica

Aspectos eacuteticos do trabalho cientiacutefico e responsabilidade social dos cientistas no exerciacutecio da atividade cientiacutefica

Natureza do conhecimento cientiacutefico seus limites e validade dos seus enunciados

Social

Socioloacutegica

A Ciecircncia e a tecnologia como empreendimentos sociais

Influecircncia da Ciecircncia e da Tecnologia na Sociedade e influecircncia da Sociedade no progresso cientiacutefico e tecnoloacutegico

Limitaccedilotildees e possibilidades do contributo da Ciecircncia e da Tecnologia para resolver ou minorar problemas que afetam a Sociedade

Poliacutetica Relaccedilotildees entre a Ciecircncia e a Tecnologia e os sistemas poliacuteticos (o uso poliacutetico da Ciecircncia e da Tecnologia tomada de decisatildeo sobre Ciecircncia e Tecnologia)

EconocircmicaInfluecircncia das condiccedilotildees econocircmicas na Ciecircncia e a Tecnologia

Influecircncia da Ciecircncia e da tecnologia no desenvolvimento econocircmico (induacutestria emprego consumo)

Cultura

Humanista

A Ciecircncia [e a Tecnologia] como cultura

Valores acerca da Ciecircncia e da Tecnologia

Frente as propostas de organizaccedilatildeo da aacuterea que chamamos de Construccedilatildeo Social da Ciecircncia e da Tec-nologia gostariacuteamos de apresentar uma possiacutevel ideia de evoluccedilatildeo deste segmento a partir de Oliver Martin (2003) ndash como poderia ser a partir de Vega Encabo (2012) Bennagravessar et al (2011) Chikara

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SOBRE AS ABORDAGENS CTS132

Sasaki (2010) Pierre Bourdieu (2008) Jesuacutes Valero (2004) Javier Echeverriacutea (2003) Stephen Cut-cliffe (2003) dentre outros ndash que elenca as ideias norteadoras dos pensadores em Sociologia inician-do com Auguste Comte (1789-1857) Karl Marx (1818-1883) Levy-Bruhl (1857-1939) Eacutemile Durkheim (1858-1917) para apoacutes isso iniciar o periacuteodo que chamou de Sociologia do Conhecimento Cientiacutefico Chama atenccedilatildeo para o fato que nenhum dos autores claacutessicos apesar de citarem o conhecimento cientiacutefico ldquoo converteu em objeto central de seus propoacutesitosrdquo (p 18) e apresenta trecircs autores que em sua visatildeo abordaram precisamente o conhecimento cientiacutefico como objeto de estudo Max Scheller (1874-1928) Karl Mannhein (1893-1947) e Pitirim Sorokin (1889-968)

Dando continuidade a sua narrativa Martin (2003) escreve que

Em nenhum momento os autores claacutessicos que temos revisado atribuem a sociologia a ca-pacidade de explicar a origem da validez das teorias cientiacuteficas Em geral propotildeem uma classificaccedilatildeo das formas de conhecimento e distinguem o conhecimento cientiacutefico de outras formas de conhecimento natildeo pretendem definir sociologicamente as fronteiras que sepa-ram essas diferentes formas Para eles a definiccedilatildeo de ciecircncia natildeo surge da sociologia e sim com maior seguranccedila da epistemologia Todos admitem que o desenvolvimento da ciecircncia respeita uma loacutegica essencialmente racional que os conhecimentos cientiacuteficos evoluem de modo endoacutegeno e que a validez de uma teoria eacute independente de sua origem socialrdquo (p 23)

O autor deixa claro que as discussotildees sobre verdadeiro e falso objetivo e subjetivo ciecircncia e natildeo-ciecircncia e tudo mais que trate de um relativismo em ciecircncia natildeo possui espaccedilo nem apoio ateacute entatildeo

Essa visatildeo ingecircnua seraacute ampliada e enriquecida quando nas deacutecadas de 1920 e 1930 a ciecircncia comeccedilou a ser encarada de forma diferente especialmente no processo de elaboraccedilatildeo e de construccedilatildeo bem como o sistema de difusatildeo do conhecimento cientiacutefico e de como os cientistas se organizavam Esta nova fase eacute personalizada e demarcada ainda segundo Martin (2003) tendo como siacutembolo Robert Merton

Esta nova fase recebe como jaacute estudado anteriormente no capiacutetulo 2 as contribuiccedilotildees de Thomas Kuhn (1922-1996) cujas ideias servem como ponto de partida para reflexotildees e surgimento de abordagens importantes para esta nova etapa da sociologia da ciecircncia do grupo de estudos franco-britacircnico (PAREX Paris e Sussex) que passou a se chamar European Association for the Study of Science and Technology do chamado Programa Forte em Sociologia do Conhecimento Cientiacutefico e do chamado Programa Empiacuterico do Relativismo e mais recentemente a chamada sociologia da tecnologia que se apropria tambeacutem de saberes oriundos da filosofia da tecnologia

No Brasil os estudos de Natureza da Ciecircncia e da Tecnologia ndash NdCeT satildeo fortemente difundidos na grande aacuterea da Educaccedilatildeo em Ciecircncia e Tecnologia podendo ser percebida em duas grandes sub-aacutereas com histoacuterico e produccedilatildeo bem distintas A primeira mais disseminada consolidada e produtiva eacute a que se pode chamar de Histoacuteria e Filosofia da Ciecircncia (e menos em Tecnologia) atendendo ao que aponta Martin na sua narrativa histoacuterica quando diz que a produccedilatildeo cientifica estava entregue desde antes aos epistemoacutelogos

A segunda sub-aacuterea da Natureza da Ciecircncia e da Tecnologia pode ser identificada com a abordagem CTS-Ciecircncia Tecnologia e Sociedade cuja definiccedilatildeo caminha para um consenso como sendo a construccedilatildeo social da ciecircncia e da tecnologia e o estudo destas na sociedade que lhes abriga e daacute origem Esta aacuterea mais afeta aos ditames da sociologia (e a sociologia do conhecimento sociologia

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SOBRE AS ABORDAGENS CTS133

da ciecircncia sociologia da tecnologia sociologia da ciecircncia e da tecnologia e por fim sociologia da tecnociecircncia) eacute pouco representada na aacuterea de Educaccedilatildeo em Ciecircncia e Tecnologia necessitando de atenccedilatildeo e de oportunidade de estruturar-se a fim de melhor contribuir para a Educaccedilatildeo mais criacutetica em Ciecircncia e Tecnologia de um cidadatildeo cada vez mais tecnocientificamente dependente

Atividade Proposta para reflexatildeo

Os meios de comunicaccedilatildeo vecircm trazendo informaccedilotildees sobre os conflitos violentos envolvendo iacutendios governo e populaccedilatildeo de modo geral a partir das divergecircncias sobre a instalaccedilatildeo de hidreleacutetricas em alguns pontos da regiatildeo amazocircnica

Considerando o que foi apresentado (1) identifique as premissas que cada um desses atores sociais utiliza para defender sua posiccedilatildeo no conflito e (2) proponha uma abordagem CTS para este conflito de interesse

SOBRE AS VARIAacuteVEIS QUE IMPLICAM NAS RELACcedilOtildeES CTS135

10 Sobre as variaacuteveis que implicam nas relaccedilotildees CTS

101 Introduccedilatildeo Temos buscado apresentar a necessidade de natildeo oferecermos agrave Tecnologia e agrave Ciecircncia um atributo de infalibilidade mas sim demonstrar que a Tecnociecircncia (Tecnologia + Ciecircncia) satildeo construiacutedos socialmente e interagem fortemente de forma expliacutecita e impliacutecita com atores sociais e com dinacircmi-cas de grupos e comunidades organizadas

Vaacutezquez Manassero Acevedo e Acevedo (2008) escrevendo sobre a Natureza da Ciecircncia (NdC) apresentam uma concepccedilatildeo mais ampla que inclui as relaccedilotildees da sociedade com o sistema tecnocien-tiacutefico Dizem que o conceito deve englobar

uma variedade de aspectos sobre o que eacute a ciecircncia seu funcionamento interno e externo como constroacutei e desenvolve o conhecimento que produz os meacutetodos que usa para validar esse conhecimento os valores envolvidos nas atividades cientiacuteficas a natureza da comuni-dade cientiacutefica os viacutenculos com a tecnologia as relaccedilotildees da sociedade com o sistema tecno-cientiacutefico e vice-versa as contribuiccedilotildees desta para a cultura e o progresso da sociedade Este estudo analisa os potenciais consensos entre os especialistas com relaccedilatildeo agraves duas uacuteltimas questotildeesAlguns autores () afirmam que a sociedade manteacutem com a ciecircncia e a tecnologia (a partir de agora CeT) um contrato social um tanto impliacutecito que estabelece a pauta dessas relaccedilotildees a sociedade financia economicamente as necessidades da CeT e estas em troca oferecem agrave sociedade benefiacutecios que melhoram a qualidade de vida e contribuem ao seu progresso e desenvolvimento econocircmico e social Por esse motivo a CeT alcanccedilaram uma relevacircncia tatildeo grande nas sociedades avanccediladas atuais a ponto de desenvolver um universo de relaccedilotildees e viacutenculos entre elas o que resultou numa nova construccedilatildeo social denominada tecnociecircncia como o compecircndio da integraccedilatildeo da pesquisa do desenvolvimento e da inovaccedilatildeo ()A partir de um ponto de vista educacional o argumento democraacutetico eacute um elemento subs-tancial a favor da inclusatildeo da NdC numa educaccedilatildeo cientiacutefica que procura a finalidade da alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica de todas as pessoas pois segundo os peritos a parti-cipaccedilatildeo dos cidadatildeos nas decisotildees tecnocientiacuteficas de interesse social requer a compreen-satildeo de elementos da NdC () Com relaccedilatildeo a esse assunto a pesquisa didaacutetica mostra um panorama complexo em que confluem os conhecimentos cientiacuteficos dos temas colocados em jogo e da NdC o raciociacutenio moral (valores e normas) as emoccedilotildees e os sentimentos as crenccedilas culturais sociais religiosas e poliacuteticas os aspectos que estatildeo implicados de alguma forma nas relaccedilotildees entre a sociedade e a CeT (grifos nossos)

Frente ao que escrevem os autores eacute pertinente buscarmos o impacto dos valores morais normas sociais estabelecidas emoccedilotildees sentimentos crenccedilas culturais sociais e religiosas nas relaccedilotildees CTS Certamente se defendemos na abordagem CTS que a Ciecircncia e a Tecnologia satildeo socialmente construiacutedas eacute de se esperar que o que chamaremos de visotildees de mundo (as ideologias os valores as crenccedilas a religiatildeo as expectativas etc) e tudo mais que caracteriza essa Sociedade tenham alguma participaccedilatildeo na construccedilatildeo social da Ciecircncia e da Tecnologia

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SOBRE AS VARIAacuteVEIS QUE IMPLICAM NAS RELACcedilOtildeES CTS136

Por tal vamos estudar um pouco mais o quanto alguns desses fatores que compotildeem a visatildeo de mundo parafraseando Kneller (1980) podem afetar a Ciecircncia e a Tecnologia Na impossibilidade de estu-darmos de forma mais avantajada todos os itens como eacutetica (Fourez 1995 Mitcham 1996 Dyson 1998 Oliveacute 2000 2007 Valero 2006 Johnson e Wetmore 2008 Briggle e Mitcham 2012) jus-ticcedila social (Dyson 2001) gecircnero em seus variados aspectos (Porro e Arango 2011 Gonzaacutelez Garcia 2001 Chassot 2003 Peacuterez Sedentildeo 2001 Suchman 2008 Etzkowitz 2008 Keller 1995) valores (Echeverriacutea 2001 2002 Lacey 2008 2010 Loacutepez Cerezo e Lujaacuten 2012 Martiacutenez e Hoyos 2006) Poliacutetica (Dagnino e Thomas 1996 Hedge 1998 Dagnino 2007 Maldonado 2005 Thorpe 2008 Hackett 2008 Vessuri e Saacutenchez-Rose 2012) religiatildeo (Merton 1938 Kneller 1980 Henry 1998 Martin 2003 Gould 2007) eou participaccedilatildeo social em Ciecircncia e Tecnologia (Martin e Richards 1995 Lacey 2008 2010 Bucchi e Neresini 2008 Hess et al 2008 Aibar 2012 Jasanoff 2012) CTS em outras culturas (Feenbeerg 1995 Low Nakayama Yoshioka 1999) escolhemos a Ideologia para este capiacutetulo de estudo

102 Tecnologia e Ideologia

Chrispino (2005) tratando da mesma temaacutetica mas aplicada ao universo da Educaccedilatildeo diraacute52 que ldquoas Poliacuteticas Puacuteblicas [definidas como accedilatildeo de governo] sofrem influecircncia decisiva oriunda da diversi-dade de entendimento sobre o que seja ideologia e como ela se manifestardquo Cita Michael Loumlwy (apud Konder 2002) que escreve

Existem poucos conceitos na histoacuteria da ciecircncia social moderna que sejam tatildeo enigmaacuteti-cos e polissecircmicos como esse de ideologia Ao longo dos uacuteltimos dois seacuteculos ele se tornou objeto de uma acumulaccedilatildeo incriacutevel ateacute mesmo fabulosa de ambiguumlidades paradoxos arbitrariedades contra-sensos e equiacutevocos (grifos nossos)

Esta posiccedilatildeo apresentada por Konder (2002) fortalece a tese de que as decisotildees de governo concre-tizadas nas chamadas Poliacuteticas Puacuteblicas satildeo contaminadas por processos ideoloacutegicos nem sempre expliacutecitos Se por um lado podemos dizer que isto eacute esperado no universo poliacutetico com especial atenccedilatildeo ao brasileiro devemos tambeacutem atentar para a necessidade de se estudar a submissatildeo das de-cisotildees de toda ordem a ideologias poliacuteticas de forma mais ou menos expliacutecitas ndash estas infinitamente mais perigosas do que as primeiras No momento e para melhor esclarecer o que pretendemos aqui lembramos que os estudiosos da ideologia indicam o surgimento da palavra na deacutecada de 1790 com o filoacutesofo francecircs De Tracy (Crespigny amp Cronin1999 e Vincent 1995) sendo depois derivada pelo uso dado por Napoleatildeo quando se contrapotildee agravequeles que se perderam no ldquonevoeiro das ideias abstratasrdquo como escrevem Crespigny amp Cronin (1999)

Ideologia adquiriu conotaccedilatildeo mais nossa conhecida quando Napoleatildeo e os liberais do Insti-tut se desentenderam Quando os liberais se opuseram a suas tendecircncias centralizantes Na-poleatildeo os repudiou caracterizando-os como simples ideoacutelogos A ideologia se perdeu num nevoeiro de ideias abs-tratas na busca vatilde dos primeiros princiacutepios ldquoOs canhotildees mataram o feudalismo A tinta mataraacute a sociedade modernardquoIdeologia como acusaccedilatildeo usada em contraste com tudo o que deve ser realista eis natu-ralmente um dos sentidos em que a palavra ainda hoje eacute empregada Seu significado mais abrangente para caracterizar os sistemas de crenccedilas de grupos sociais tem origem ainda mais recente que data da deacutecada de 1840 e das primeiras obras de Marx Certamente natildeo foi ele o primeiro a perceber que os grupos sociais carregam consigo sistemas de maneiras

52 A partir de Chrispino Alvaro Binoacuteculo ou luneta Os conceitos de poliacutetica puacuteblica e ideologia e seus impactos na educaccedilatildeo Revista Brasileira de Poliacutetica e Administraccedilatildeo da Educaccedilatildeo Brasiacutelia n 21-1 e 21-2 jandez2005 p61-90

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de ver frequumlentemente mais impliacutecitos do que expliacutecitos sistemas que limitam os hori-zontes conceituais e que influenciam natildeo apenas as respostas que os homens encontram mas ateacute mesmo as proacuteprias perguntas que tendem a fazer (p 6) (grifos nossos)

Para exemplificarmos a diversidade das classificaccedilotildees apresentadas para as ideologias consideremos apenas trecircs autores

1 Bobbio (2001) conservadorismo liberalismo socialismo cientiacutefico anarcoliberalismo o fascismo e o tradicionalismo

2 Crespigny amp Cronin (1999) conservadorismo liberalismo socialismo democratismo totalitarismo e nacionalismo

3 Vincent (1995) liberalismo conservadorismo socialismo anarquismo fascismo femi-nismo ecologismo e nacionalismo

Sobre as relaccedilotildees da Tecnologia com a Ideologia podemos recorrer a Chreacutetien (1994) Fourez (1995) e Dyson (1998) dentre outros

Chreacutetien (1994) trataraacute da ideologia com ecircnfase na visatildeo marxista apresentando suas principais ca-racteriacutesticas e seus possiacuteveis impactos na ciecircncia O autor apresenta detalhamento o caso de TD Lys-senko (1898-1976) que chama de ldquosiacutembolo das pretensotildees e ilusotildees de uma descontaminaccedilatildeo ideoloacute-gica da ciecircnciardquo (p 137)

Fourez (1995) definiraacute ideologia como um discurso que se daacute a conhecer como uma representaccedilatildeo adequada do mundo mas que possuem mais um caraacuteter de legitimaccedilatildeo do que um caraacuteter descritivo Considera-se discurso ideoloacutegico aquele que

veicula uma representaccedilatildeo do mundo que tem por resultado motivar as pessoas legitimar certas praacuteticas e mascarar uma parte dos pontos de vista e criteacuterios utilizados Dito de outro modo quando tiver como efeito mais o reforccedilo da coesatildeo de um grupo do que uma des-criccedilatildeo do mundo (p 179)

Dyson (1998) que utilizaremos para aprofundar nossos estudos tem oportunidade de apresentar os problemas causados quando as decisotildees tecnoloacutegicas satildeo orientadas rigidamente pela ideologia Ele enumera 4 casos claacutessicos no campo da tecnologia o do dirigiacutevel R 101 o dos jatos Comet construiacutedos pelo Impeacuterio Britacircnico o do projeto Tokamak de fusatildeo e os Tanques de Gelo de Taylor Conta o autor que Nevil Shute Norway53 ndash antes de se tornar o famoso romancista fora engenheiro aeronaacuteutico tendo trabalhado com igual dedicaccedilatildeo em projetos de aviotildees e de dirigiacuteveis e escreveu uma autobio-grafia intitulada Slide Rule Autobiography of an Engineer [Reacutegua de caacutelculo] em que descreve sua vida como engenheiro Orgulhava-se

particularmente de seu papel no projeto do dirigiacutevel R 100 Trabalhou nele por seis anos desde o momento de sua concepccedilatildeo em 1924 ateacute a entrega em 1930 nesse ano participou de sua triunfal viagem inaugural de ida e volta Londres-Montreal Sob o ponto de vista teacutecnico os dirigiacuteveis apresentavam muitas vantagens sobre os aviotildees e o R 100 foi um su-cesso teacutecnico Contudo Norway viu claramente que o destino dos aviotildees e dirigiacuteveis natildeo dependeria apenas de fatores teacutecnicos Mesmo antes que se tornasse escritor profissional interessava-se mais pelas pessoas do que por porcas e parafusos Testemunhou e registrou

53 Conheccedila mais httpwwwnetsabercombrbiografiasver_biografia_c_2829html e httpenwikipediaorgwikiNevil_Shute

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os fatores humanos que fizeram da construnotccedilatildeo de aviotildees um divertimento e a de dirigiacuteveis um pesadeloDepois de concluir o R 100 Norway fundou sua proacutepria empresa a Airspeed Limited Era uma das centenas de pequenas firmas que inventavam e construiacuteam e vendiam aviotildees nos anos 20 e 30 Norway avaliou que durante aqueles anos 100 mil diferentes tipos de aviotildees foram construiacutedos Por todo o mundo invennottores entusiaacutesticos vendiam aviotildees a pilotos intreacutepidos e a companhias de aviaccedilatildeo que se formavam Muitos dos pilotos foram ao chatildeo e muitas das empresas faliram Dos 100 mil diferentes tipos de aviotildees restaram cerca de cem que formam a base da aviaccedilatildeo moderna A evoluccedilatildeo da aviaccedilatildeo foi um processo estritamente darwinista em que quase todas as variedades de aviotildees fracassaram da mesma forma que quase todas as espeacutecies de animais se extinguiram Devido agrave seleccedilatildeo rigorosa os poucos aviotildees sobreviventes satildeo extraordinariamente confiaacuteveis econocircmicos e seguros (p 22)

Dyson (1998) lembra que a o caminho que marca a evoluccedilatildeo do dirigiacutevel eacute bastante diferente da his-toacuteria dos aviotildees A histoacuteria dos dirigiacuteveis foi ldquodominada por poliacuteticos e natildeo por inventoresrdquo

Para explicar esta posiccedilatildeo o autor inicia o estudo do contexto poliacutetico da eacutepoca na deacutecada de 20 que era marcada pela decadecircncia do poder e hegemonia naval construiacuteda e mantida nos uacuteltimos cem anos Os poliacuteticos e seus assessores defendiam que no mundo moderno

o poder aeacutereo substituiacutea o poder naval como emblema de grandeza De modo que eles bus-cavam o poder aeacutereo como a onda do futuro que manteria a Gratilde-Bretanha no topo do mun-do E nesse contexto era natural pennotsar em dirigiacuteveis e natildeo em aviotildees como os veiacuteculos da autoridade imperial Superficialmente dirigiacuteveis pareciam-se com navios notgrandes e visualmente notaacuteveis Dirigiacuteveis seriam capazes de voar sem escalas de uma ponta do impeacute-rio agrave outra Poliacuteticos importantes poderiam viajar de domiacutenios remotos a Londres sem ser forccedilados a negligenciar seu puacuteblico domeacutestico durante todo um mecircs Em contraste aviotildees eram pequenos barulhentos e feios totalmente inadequados para uma finalidade tatildeo ele-vada Naquela eacutepoca eles natildeo conseguiam atravessar rotineiramente oceanos Natildeo podiam permanecer no ar por muito tempo e dependiam de bases terrestres por toda parte Aviotildees eram uacuteteis para batalhas locais mas natildeo para administrar um impeacuterio global (p 23-24)

Dentre os poliacuteticos que alimentavam esta ideia estava Lord Thompson Secretaacuterio de Estado para a Aviaccedilatildeo nos governos trabalhistas de 1924 e 1929 e seria o incentivador do projeto de construccedilatildeo do dirigiacutevel R10154 na Royal Airship Works empresa governamental situada em Cardington Conta-se que para acalmar a oposiccedilatildeo a construccedilatildeo de uma segunda nave chamada de R10055 foi oferecida a uma empresa privada a Vickers Limited

Esperava-se com este empreendimento que o R100 e o R101 se tornassem siacutembolos ldquoas naus capitacirc-nias do Impeacuterio Britacircnico na nova erardquo O maior o R101 deveria voar sem escalas de Londres agrave Iacutendia e mais tarde talvez ateacute a Austraacutelia O menor o R100 projeto mais modesto deveria realizar serviccedilo aeacutereo regular atraveacutes do Atlacircntico ligando a Inglaterra ao Canadaacute

Conta-nos o autor que desde o iniacutecio

o projeto do R101 foi impulsionado pela ideonotlogia e natildeo pelo bom senso O R101 precisaria vir a ser o maior dirigiacutevel do mundo natildeo importando a que preccedilo e a que preccedilo fosse deve-

54 Conheccedila mais httpenwikipediaorgwikiAirship_R10155 Conheccedila mais httpenwikipediaorgwikiR100

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ria estar pronto para voar ateacute a Iacutendia numa data fixa de outubro de 1930 quando o proacuteprio Lord Thompson embarcaria em sua viagem inaugural de ida e volta a Carachi retomando a tempo de participar da Conferecircncia Imperial em Londres Sua chegada dramaacutetica agrave con-ferecircncia a bordo de um dirigiacutevel trazendo flores frescas da Iacutendia demonstraria a grandeza da Gratilde-Bretanha e do Impeacuterio para um mundo admirado incidentalmente demonstraria a superioridade da induacutestria socialista e do proacuteprio Lord Thompson O enorme tamanho e a data fixada formaram lima combinaccedilatildeo fatal () Natildeo havia tempo para submeter o aparel-ho a vocircos de teste exaustivos antes da viagem ateacute a Iacutendia O dirigiacutevel partiu finalmente para sua viagem inaugural ensopado e sob terriacutevel mau tempo () O dirigiacutevel mal tinha empuxo suficiente para elevaacute-lo acima de seu mastro de ancoragem Oito horas depois caiu e se in-cendiou numa lavoura no norte da Franccedila Das 54 pessoas a bordo seis sobreviveram Lord Thompson natildeo estava entre elasEnquanto isso com a ajuda de Norway o R100 era construiacutenotdo de uma forma mais razoaacutevel Seus compartimentos de gaacutes natildeo vazavam e o aparelho tinha margem de empuxo suficien-te para levar sua carga projetada O R100 completou sua viagem inaugural de ida e vol-ta a Montreal sem desastres sete semanas antes que o R101 partisse da Inglaterra Mas Norway achou que a viagem esteve longe de ser tranquumlilizadora Ele informou que o R100 foi violentamente agitado numa tempestade local sobre o Canadaacute tendo tido sorte de natildeo se despedaccedilar Norway natildeo o considerou seguro o suficiente para prestar serviccedilos regula-res no transporte de passageiros A questatildeo de saber se o aparelho seria suficientemente seguro esvaziou-se apoacutes o desastre do R101 Depois de tal desastre seria improvaacutevel que algum passageiro assumisse o risnotco O R100 foi discretamente desmantelado e vendido aos pedanotccedilos A era dos di-rigiacuteveis imperiais chegava ao fim (p 26)

A criacutetica ao R100 e o desastre envolvendo o R101 enfraqueceram a ideia de desenvolver o dirigiacutevel como meio seguro de transporte Mas Lord Cunard dono da empresa de navegaccedilatildeo Cunard reuniu a seus engenheiros e questionou como seria possiacutevel criar e manter um serviccedilo semanal atraveacutes do Atlacircntico usando apenas dois navios considerando que naquela eacutepoca a travessia do Atlacircntico de-morava de sete a oito dias solicitando minimamente ao menos trecircs navios para o serviccedilo semanal Estava lanccedilado o desafio Tempo depois os engenheiros da companhia apresentaram as soluccedilotildees os projetos do Queen Mary56 e do Queen Elizabeth57 Ambos alcanccedilaram ecircxito e obtiveram precircmios de velocidade entre os dois continentes Os dois navios se mantiveram na funccedilatildeo ateacute que os Boeing 70758 trouxeram uma alternativa para viagens intercontinentais

Se por um lado o Boeing 707 triunfou frente aos navios de passageiro ele pode ter provocado um outro desastroso exemplo de impulso ideoloacutegico a tecnologia envolvendo agora os jatos de passa-geiros Comet

Durante a Segunda Guerra Mundial a companhia de Havilland construiacutera bombardeiros e caccedilas a jato Terminada a II Grande Guerra a empresa desenvolveu o projeto do Comet jato comercial que seria capaz de voar duas vezes mais raacutepido do que os aviotildees de transporte a heacutelice daquela eacutepoca Neste periacuteodo o governo britacircnico criou a British Overseas Airways Corporation (BOAC) empresa com o monopoacutelio estatal sobre rotas aeacutereas de longa distacircncia e que esperava colocar uma frota de Comet em serviccedilo nas rotas que ligavam Londres a Aacutefrica ao sul e a Iacutendia e Austraacutelia a leste

56 Conheccedila mais httpptwikipediaorgwikiRMS_Queen_Mary 57 Conheccedila mais httpptwikipediaorgwikiRMS_Queen_Elizabeth 58 Conheccedila mais httpwwwportalbrasilnetboeing_707htm

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Se o objetivo fosse alcanccedilado conforme o planejado continua Dyson (1998) a Gratilde-Bretanha teria do-miacutenio sobre a ldquoera do jatordquo cinco anos antes que os norte-americanos Diz ele que ldquoenquanto a Boeing Company hesitava os Comet estariam voando Os Comet mostrariam ao mundo a superioridade da tecnologia britacircnica e incidentalmente demonstrariam que o Impeacuterio rebatizado de Comunidade continuava vivordquo (p 28) De certa forma esses desejos e aspiraccedilotildees para o Comet repetiam o que se esperava dos R 101 vinte anos antes os decisores da eacutepoca natildeo aprenderam nada com os erros anteriores

O projeto Comet repetiu o problema de antes ditou politicamente um cronograma para o desenvol-vimento de uma tecnologia difiacutecil exigente e sensiacutevel A decisatildeo poliacutetica levou ao lanccedilamento do Comet em 1952 obedecendo a ideia de estar 5 anos a frente do concorrente norte-americano Uma pessoa anteviu o desastre que se prenunciava O mesmo Nevil Shute que havia vivido experiecircncia semelhante com os dirigiacuteveis R100 e R101 ldquopublicou em 1948 um romance com o tiacutetulo No highway que descreve o modo como as pressotildees poliacuteticas podem forccedilar a entrada em serviccedilo de um aviatildeo inseguro O romance conta a histoacuteria de um desastre notavelmente semelhante aos desastres com o Comet que aconteceriam quatro anos depoisrdquo (p 28)

O defeito do Comet uma concentraccedilatildeo de tensotildees nos cantos de suas janelas que soacute ocorria apenas em grande altitude quando o aparelho estava pressurizado acarretava a rachadura do revestimen-to metaacutelico causando literalmente o esfacelamento do aviatildeo Depois que dois aparelhos foram destruiacutedos dessa forma um sobre a Iacutendia e outro sobre a Aacutefrica os Comet foram tirados de serviccedilo ldquoFoi preciso que cem pessoas morressem para dar fim aos vocircos do Comet duas vezes mais do que no caso dos dirigiacuteveis Se o secretaacuterio de Estado para a Aviaccedilatildeo estivesse a bordo do primeiro Co-met quando de seu desastre eacute possiacutevel que o segundo natildeo tivesse sido necessaacuteriordquo (Dyson 1998 p 28)

Diz Dyson (1998) ao questionar como foi possiacutevel levar passageiros em dirigiacuteveis e aviotildees sem que os testes miacutenimos fossem realizados que

isso ocorreu devido ao choque entre duas culturas a cultura da poliacutetica e a cultura da en-genharia Poliacuteticos tomaram decisotildees cruciais sobre assuntos teacutecnicos que natildeo compreen-diam A tarefa de um poliacutetico em posiccedilatildeo de responsabilidade eacute tomar decisotildees Decisotildees poliacuteticas satildeo frequumlentemente tomadas com base em conhecimento inadequado e geralmen-te natildeo causam grande dano Quando poliacuteticos satildeo encarregados de um empreendimento de engenharia as duas culturas se chocam Quando o empreendimento envolve maacutequinas que voam esse choque tende a levar ao desastreA aviaccedilatildeo eacute o ramo da engenharia menos tolerante a enganos Mas sob um ponto de vista mais amplo a inflexibilidade pode ser uma virtude Na longa perspectiva da histoacuteria as viacuteti-mas do R 101 e do Comet natildeo morreram em vatildeo Como legado de suas trageacutedias deixaram os aviotildees extraordinariamente seguros e confiaacuteveis que voam todos os dias atraveacutes de oceanos e continentes por todo o mundo Sem as duras liccedilotildees trazidas pelo desastre e pela morte o moderno jato de passageiros natildeo teria evoluiacutedo

Um terceiro exemplo dos efeitos da ideologia sobre a tecnologia eacute apresentado no interessante tra-balho de Dyson (1998) a da energia nuclear Comentando o impacto do uso da tecnologia nuclear simbolizado por Hiroshima e de Nagasaki Dyson (1998) nos apresenta um espetacular argumento para este conviacutevio perigoso da ideologia que precisa fazer funcionar a tecnologia a fim de obter re-sultados poliacuteticos

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Quando se permite a uma tecnologia fracassar quando em concorrecircncia com outras tecno-logias o fracasso faz parte do processo normal de evoluccedilatildeo darwinista que leva a melhorias e a um possiacutevel sucesso posterior Quando natildeo se permite agrave tecnologia falhar e ainda assim ela falha o fracasso eacute muito mais danoso Caso se tivesse permitido que a energia nuclear fracassasse no iniacutecio ela poderia muito bem ter evoluiacutedo para uma tecnologia melhor fa-zendo com que hoje o puacuteblico confiasse nela e a apoiasse Nada existe nas leis da Natureza que nos impeccedila de construir usinas nucleares melhores Somos impedidos por uma pro-funda e justificada desconfianccedila por parte do puacuteblico O puacuteblico desconfia dos especialistas porque estes afirmaram ser infaliacuteveis O puacuteblico sabe que o ser humano eacute faliacutevel Somente pessoas cegas pela ideologia caem na armadilha de acreditar em sua proacutepria infalibilidade (p 34)

Comenta o autor que os promotores da fusatildeo estatildeo cometendo os mesmos erros que os da fissatildeo trinta anos atraacutes Esses promotores decidiram concentrar seus esforccedilos num aparato o Tokamak que

por decreto ideoloacutegico eacute declarado o produtor de energia para o seacuteculo XXI O Tokamak foi inventado na Ruacutessia e seus inventores lhe deram um nome que se translitera eufonica-mente em outras liacutenguas Todos os paiacuteses com programas seacuterios de pesquisa sobre fusatildeo construiacuteram Tokamaks Um dos maiores e mais caros fica em Princeton()Planeja-se que os diversos programas nacionais de fusatildeo convirjam num imenso Tokamak internacional a um custo de muitos bilhotildees de doacutelares o qual viria a ser o protoacutetipo dos geradores de fusatildeo do futuro (p 35)

O quarto e uacuteltimo exemplo de Dyson (1998) sobre ldquotecnologia conduzida ideologicamente eacute a dos tan-ques de gelordquo cujo principal nome foi Ted Taylor que na sua juventude foi projetista de armas nu-cleares em Los Alamos Decidiu apoacutes abandonar as atividades nucleares ldquodevotar o resto de sua vida ao desenvolvimento de alternativas tecnoloacutegicas agrave energia nuclear A busca por uma fonte de energia sustentaacutevel e ambientalmente benigna conduziuo aos tanques de gelordquo (p 36) cujo objetivo era

armazenar um grande volume de neve por meio ano de modo que a neve possa ser produzi-da no inverno e usada para refrigeraccedilatildeo durante o veratildeo A neve eacute produzida no inverno aspergindo-se aacutegua numa nuvem fina com uma mangueira igual agraves usadas pelos bombeiros Desde que a temperatura do ar esteja abaixo de zero a nuvem cai no solo na forma de neve que se acumula no tanque A pilha de neve eacute coberta por uma superfiacutecie termicamente iso-lante O tanque comunica-se com o preacutedio a ser refrigerado por meio de canos de aacutegua No veratildeo aacutegua fria eacute extraiacuteda do fundo do tanque e aacutegua quente retoma ao topo Se o tanque eacute grande e fundo o suficiente a neve persiste por todo o veratildeo e o preacutedio permanece fresco A energia necessaacuteria para produzir a neve e bombear a aacutegua eacute muito menor do que a energia requerida na refrigeraccedilatildeo eleacutetrica convencional

Foram construiacutedos pilotos na Universidade de Princeton (usado para refrigerar um preacutedio pequeno) na companhia de seguros Prudential (usado para condicionamento de ar a um edifiacutecio maior) na empresa de queijos Kutter (usado para refrigerar sua faacutebrica) e na pequena cidade de Greenport em Long Island (usado para purificar a aacutegua do mar) Os tanques fracassaram mas causaram perdas miacute-nimas para a sociedade escreve Dyson realccedilando que a ldquotecnologia dos tanques de gelo manteacutem-se como possibilidade para o futuro Um dia talvez uma reencarnaccedilatildeo mais astuta de Taylor encontra-raacute um modo de transformar os tanques de gelo num pacote conveniente e amigaacutevel que materializa-raacute as esperanccedilas de Taylorrdquo (p 40)

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Outro interessante exemplo eacute apresentado por Sasaki59 (2010) quando compara os aviotildees japone-ses e aliados durante a Segunda Grande Guerra Diz o autor que eacute japonecircs que o pricipal aviatildeo de combate japonecircs ndash os chamados Zeros ndash eram leves o que favorecia muitas manobras nas matildeos dos pilotos tecnicamente preparados Ocorre que para ser leve foi retirada a parede de metal protetora da retaguarda dos pilotos Ao contraacuterio dos EUA que mantinham a parede protetora soacutelida ldquoporque o respeito agrave vida humana tinha importacircncia primordialrdquo (p 122) o que gerou a necessidade de des-envolver motores mais potentes para os aviotildees mais pesados

Olivier Martin (2003) ao estudar a sociologia do conhecimento cientiacutefico apresenta a visatildeo de trecircs autores que trataram do conhecimento cientiacutefico e o fato deste ser socialmente influenciado Max Scheler Karl Mannheim e Pitirim Sorokin Interessa-nos agora a proposta de Sorokin

Pitirim Sorokin60 apresenta trecircs grandes classes de sistemas ideoloacutegicos culturais identificados ao longo da histoacuteria da humanidade

As culturas espiritualistas (que concebem a realidade como situada aleacutem do mundo em um ser imaterial eterno) as culturas sensualistas61 (que concebem que natildeo existe nada aleacutem da experiecircncia sensoacuteriasensiacutevel) e as culturas idealistas (uma combinaccedilatildeo das anteriores) [] O progresso cientiacutefico (e teacutecnico) eacute muito diferente nas trecircs culturas e funccedilatildeo do interesse dedicado ao mundo exclusivamente sensiacutevel em funccedilatildeo da presenccedila ou natildeo de uma hipoacute-tese que aceita a existecircncia de um Deus o de um espiacuterito superior as sociedades procu-ram desenvolver ou natildeo tecnologias e saberes cientiacuteficos Sorokin encontra em seu estudo quantitativo uma confirmaccedilatildeo para a sua teoria ao comparar o nuacutemero de descobrimentos cientiacuteficos em funccedilatildeo das classes de cultura de diversas sociedades e momentos histoacuteri-cos demonstra que as ciecircncias positivas se desenvolveram principalmente nas sociedades sensualistas (que por coerecircncia privilegiam a experiecircncia e a observaccedilatildeo) Ao inverso as culturas espiritualistas (que privilegiam as noccedilotildees do bem e do justo) desenvolveram mais seus sistemas filosoacuteficos e religiosos (Martin 2003 p 22-23)

Usando o exemplo dos tanques de gelo de Dyson (1998) podemos concluir que

a tecnologia inspirada ideologicamente natildeo precisa levar ao desastre Soacute leva ao desastre se for protegida da concorrecircncia Uma vez que se garanta que uma tecnologia seja exposta ao processo darwinista de seleccedilatildeo natildeo importa que tenha sido motivada pela busca do lunotcro ou pela ideologia O estiacutemulo ideoloacutegico pode ser uma forccedila positiva para o bem caso con-duza a tecnologias ambientalmente benignas que possam ser testadas no mercado Natildeo lamento os dias felizes que passei com Ted Taylor e seus estudantes ajudando-o a construir o tanque de gelo de Princeton Tivemos mais sorte do que os construtores de dirigiacuteveis e de usinas nucleares pois nos foi permitido fracassar (p 40)

103 Esforccedilo de siacutentese CTS e as ideologias mesmo que ocultas Os exemplos apontados e discutidos por Dyson permitem perceber a forccedila das ideologias e sua ca-pacidade de produzir consequecircncias para a coletividade Ocorre que nem sempre percebemos esta

59 Chikara Sasaki eacute Professor de Histoacuteria e Filosofia da Ciecircncia na Universidade de Toacutequio60 Socioacutelogo norte americano de origem russa (1889-1968) escreveu Social and Cultural Dynamics New York American Book Company 193761 sensualismo s m Doutrina dos que atribuem aos sentidos a origem de todas as ideias (opotildee-se a idealismo) Diconaacuterio Priberan

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SOBRE AS VARIAacuteVEIS QUE IMPLICAM NAS RELACcedilOtildeES CTS143

orientaccedilatildeo ideoloacutegica ndash e muito menos elas estatildeo expliacutecitas ndash nas decisotildees de Ciecircncia e Tecnologia e por conseguinte nas poliacuteticas de CampT e na Poliacutetica em geral A escolha de uma tecnologia natildeo eacute somente uma escolha de um meio neutro Quando se escolhe uma tecnologia porque ela natildeo eacute neutra escolhe-se tambeacutem um modelo sociedade de organizaccedilatildeo entre os membros desta sociedade um modelo de produccedilatildeo econocircmica uma aacuterea de conhecimento a ser fomentada uma cadeia produtiva a ser incentivada e outras a serem descontinuadas Toda escolha poliacutetica mesmo que lastreada na eacutetica e na correccedilatildeo e focada no interesse puacuteblico efetivo eacute fundada no interesse de grupos ou pessoas A escolha poliacutetica natildeo eacute neutra Quando uma sociedade por meio dos seus representantes poliacuteticos produz uma poliacutetica de trans-porte e faz a escolha do meio rodoviaacuterio em detrimento aos meios ferroviaacuterio e aquaviaacuterio estaacute na verdade fazendo opccedilatildeo por uma cadeia produtiva de base econocircmica (com todos os setores pro-dutivos ligados a ela de forma direta ou indireta) que privilegia (1) uma aacuterea do conhecimentos (e seus membros) (2) a extraccedilatildeo do petroacuteleo como fator diferenciador de crescimento que fortaleceraacute econocircmica e politicamente determinados estados da federaccedilatildeo (3) as induacutestrias de produccedilatildeo se-cundaacuteria como maacutequinas pesadas para o setor petroliacutefero (4) as cidades que possuem ou possuiratildeo refinarias e induacutestrias alimentadas por mateacuterias primas a partir do petroacuteleo (5) uma segmento de mercado que manteraacute seguramente um movimento financeiro de largo porte por deacutecadas visto que este tipo de decisatildeo natildeo eacute revertida com facilidade Ao fazer uma escolha deixa de escolher outra obviamente Uma escolha atinge inenarraacuteveis niacuteveis de produccedilatildeo e grupos sociais especiacuteficos de forma positiva ou negativa Da mesma forma podemos construir a cadeia produtiva atingida positiva ou negativamente quando se decide substituir os vasilhames de transporte de leite para o consumidor Antes essa comercia-lizaccedilatildeo para o consumidor era realizada por frasco de vidro depois decidiu-se pelo saco plaacutestico e agora por embalagens tetrapak Cada escolha desta privilegia um segmento de mercado uma regiatildeo do paiacutes um conjunto de cidades um conjunto de cidadatildeos um setor tecnoloacutegico e cientiacutefico e possui um quantum de impostos que novamente beneficiaraacute estados e cidades que estejam na cadeia pro-dutiva A ideologia natildeo eacute neutra mas direciona as decisotildees No Brasil neste momento vivemos a hora de de-cisatildeo tecnoloacutegica que teraacute impactos variados (expliacutecitos e ocultos aos olhos pouco preparados para as leituras) Temos a decisatildeo sobre a ampliaccedilatildeo da energia nuclear na matriz energeacutetica brasileira Temos a valorizaccedilatildeo do biocombustiacutevel como alternativa para o alto consumo de combustiacuteveis resul-tantes do petroacuteleo Eis nossa chance de estudar as matrizes de consequecircncia destas decisotildees a serem tomada por nossos representantes eacute a chance de exercitarmos a maacutexima Ciecircncia e Tecnologia com Sociedade

Atividade Proposta para reflexatildeo

Este moacutedulo desenvolveu as possiacuteveis relaccedilotildees entre Ideologia e Tecnologia Deixou indicado que existem outros fatores que interferem na construccedilatildeo da tecnociecircncia como por exemplo eacutetica gecirc-nero grupos sociais religiatildeo etc

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SOBRE AS VARIAacuteVEIS QUE IMPLICAM NAS RELACcedilOtildeES CTS144

Um interessante tema de estudo em poliacutetica puacuteblica eacute a ldquodiferenciaccedilatildeo de gecircnerordquo Realize uma pes-quisa e responda se o ldquofator gecircnerordquo tem alguma influecircncia no sistema de Ciecircncia Tecnologia e So-ciedade

REPERCUSSAtildeO SOCIAL DO DESENVOLVIMENTO CIENTIacuteFICO E TECNOLOacuteGICO145

11 Repercussatildeo social do desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico

A vida eacute breve A ciecircncia eacute duradoura A oportunidade eacute ardilosa A experimentaccedilatildeo eacute perigosa O julgamento eacute difiacutecil Hipoacutecrates Aforisma I1

Atividade preacuteviaResponda as questotildees a seguir Faccedila-o por escrito e guarde sua resposta ateacute o final do estudo deste moacutedulo

1 ldquoQual eacute na sua opiniatildeo a mais importante invenccedilatildeo dos uacuteltimos dois mil anos rdquo e

2 ldquoPor quecirc

111 Introduccedilatildeo Um homem que possua hoje 100 anos foi testemunha de inuacutemeras mudanccedilas tecnoloacutegicas mas tam-beacutem sociais Ele presenciou o surgimento e a sequecircncia de mudanccedilas nos sistemas de transportes da carroccedila ao aviatildeo supersocircnico Ele observou as guerras ditas mundiais e outras tantas de menor tamanho mas com impactos natildeo menos danosos e catalogou os poucos anos sem guerra neste seacutecu-lo Viu o surgimento da televisatildeo do teleacutegrafo do telefone do aviatildeo comercial dos antibioacuteticos do computador da internet dos transplantes e muito mais Certamente seus pais natildeo poderiam anteci-par o mundo em que ele estaria ao completar 100 anos de existecircncia numa sociedade em constante transformaccedilatildeo tecnocientiacutefica No campo social ele presenciou a revoluccedilatildeo sovieacutetica e a cubana bem como a queda da primeira e flexibilizaccedilatildeo da segunda foi observador privilegiado quando da instalaccedilatildeo da guerra fria e das recentes glasnost62 (transparecircncia) e perestroika63 (reconstruccedilatildeo) e viu o surgimento de ditadores e deacutespotas de ambos os lados da poliacutetica aplaudiu homens e mulheres valorosos que defendiam direitos sem abrir matildeo de deveres este foi um seacuteculo breve como escreve Eric Hobsbawm (1995) Taylor e Wacker (1999) escreveram um livro com um subtiacutetulo bastante provocativo o que acontece depois do que vem a seguir Esse livro fala da histoacuteria e direccedilatildeo de futuro a curto e longo prazos In-dica qualidades e estruturas mentais que seratildeo valorizadas Reafirma como os demais a existecircncia da mudanccedila raacutepida e maciccedila Dentre as muitas antecipaccedilotildees algumas satildeo comuns a loacutegica baseada no caos a fragmentaccedilatildeo das organizaccedilotildees sociais poliacuteticas e econocircmicas o fortalecimento da realidade individual e os estilos de vida situacionais dentre outros Mas chama a atenccedilatildeo para um ponto novo nesse cenaacuterio futuro fundado na informaccedilatildeo e na conectividade a emergecircncia da gestatildeo da privacidade como uma das atividades de maior crescimento na proacutexima deacutecada

62 Conheccedila mais httpptwikipediaorgwikiGlasnost63 Conheccedila mais httpptwikipediaorgwikiPerestrC3B3ica

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REPERCUSSAtildeO SOCIAL DO DESENVOLVIMENTO CIENTIacuteFICO E TECNOLOacuteGICO146

Ao analisarem a velocidade desse novo mundo em mudanccedila os autores apresentam interessantes dados evolutivos da sociedade americana

Em 1960 Em 1995

925 mil americanos tinham 85 anos ou mais Chegam a 38 milhotildees

457 milhotildees de domiciacutelios tinham televisatildeo com apenas um aparelho por domiciacutelio 95 milhotildees de domiciacutelios com 213 milhotildees de apare-lhos

O computador tiacutepico conseguia processar menos de 15 MIPS-milhotildees de instruccedilotildees por segundo e atendia a 550 pessoas 150 MIPS e atende a apenas uma pessoa

O executivo principal tiacutepico viajava 19320 quilocircmetros por ano Viaja 180320 quilocircmetros por ano

23 milhotildees de mulheres trabalhavam por um salaacuterio Satildeo 61 milhotildees

A pessoa tiacutepica tinha um emprego e uma carreira em sua vida profissional Tem expectativa de sete empregos e duas carreiras

Uma pessoa tiacutepica tinha que aprender uma habilidade por ano para prosperar no trabalho Tem que aprender uma habilidade por dia

5 mais ricos controlavam 17 da riqueza da naccedilatildeo Os mesmos 5 controlam 215 das riquezas

O americano tiacutepico era de classe meacutedia Eacute pobre ou rico

A crianccedila tiacutepica tinha 1 conjunto de pais e 2 conjuntos de avoacutes Tem 25 conjuntos de pais e 6 conjuntos de avoacutes

O pai americano tiacutepico conversava com seu filho 45 minutos por dia Conversa apenas 6 minutos por dia

O setor econocircmico mais importante dos EUA era a induacutestria O setor mais importante satildeo as ideias

Vejamos a seguir alguns eventos tecnocientiacuteficos relevantes (Quadro I) presenciados pelo nosso centenaacuterio observador bem como os eventos que influenciaram o meio ambiente (Quadro II)

Quadro I

Ano Eventos Relevantes na Ciecircncia e Tecnologia

1900 Max Planck elabora a Teoria dos Quanta

1903 Henry Ford funda a Ford Motor Company

1911 Rutherford demonstra experimentalmente a existecircncia do nuacutecleo atocircmico

1915 Einstein enuncia a Teoria da relatividade

1916 Os genes satildeo localizados nos cromossomas

1924 De Broglie desenvolve os fundamentos da mecacircnica ondulatoacuteria

1932 Morgan descobre os genes e as mutaccedilotildees experimentais

1934 Joliot-Curie descobrem a radioatividade experimental

1940 Florey usa a penicilina como arma eficaz nas patologias humanas

1942 Inicia o Projeto Manhattan (destinado a alcanccedilar o domiacutenio da tecnologia atocircmica para fins militares antes dos alematildees) Primeiro reator em cadeia

1945 Primeira bomba atocircmica utilizada para fins beacutelicos

1946 Construccedilatildeo do primeiro ldquoceacuterebro eletrocircnicordquo (ENIAC)

1947 Shanon formula a teoria da comunicaccedilatildeo

1948 Invenccedilatildeo do transistor

1949 A URSS testa sua Bomba Atocircmica sendo seguida pelo Reino Unido (1952) Franccedila (1960) e China (1964)

1950 Primeiro transplante de rins seguido do de fiacutegado (1963) de pulmatildeo (1964) etc

1953 Watson e Crick descrevem a estrutura do DNA

1955 Advento da piacutelula anticoncepcional

1957 Lanccedilamento do Sputnik e iniacutecio da corrida espacial Desenvolvimento do circuito integrado

1959 UNIMATION Inc produz o primeiro robocirc industrial

1960 Inicia o funcionamento a primeira usina nuclear para produzir eletricidade Invenccedilatildeo do laser

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REPERCUSSAtildeO SOCIAL DO DESENVOLVIMENTO CIENTIacuteFICO E TECNOLOacuteGICO147

1961 A talidomida eacute proibida na Europa depois de causar deficiecircncia em mais de 2500 bebecircs

1962 Publicaccedilatildeo de Primavera Silenciosa de Rachel Carson

1963 Larry Robert concebe e desenha para o exeacutercito americano o ARPAnet que deu origem agrave INTERNET

1967 Primeiro transplante de coraccedilatildeo em seres humanos

1968 A Kawasaki implanta robocircs em linhas de produccedilatildeo

1969 O Homem pisa na Lua

1970 Khorana e colaboradores conseguem a siacutentese de gens em laboratoacuterio

1971 Primeiro microprocessador Intel

1972 Inicia o funcionamento da primeira TV a cabo (EUA)

1973 Primeiro organismo produzido por engenharia geneacutetica

1975 Conferecircncia de Asilomar sobre os perigos da biogeneacutetica Criaccedilatildeo da Microsoft por Bill Gates e Paul Allen

1978 Primeiro bebecirc de proveta

1981Primeiro voo espacial do Columbia IBM inventa o PC Isolado o viacuterus da AIDS

1982 Criaccedilatildeo dos primeiros ratos transgecircnicos

1985 Confirmado o ldquoburaco na Camada de Ozocircniordquo na Antaacutertica

1986 Cataacutestrofe de Chernobyl (Ucracircnia) 20 milhotildees de afetados e mais de 5 mil mortos ateacute 1994

1989 Queda do Muro de Berlim

1990 Primeira terapia geneacutetica em humanos Projeto Genoma Humano

1991 Surgimento do Disco Laser

1994 Surgimento do CD-Room

1997 Produzida a Ovelha Dolly (clonagem) O supercomputador Deep Blue derrota pela primeira vez um mestre do xadrez Kasparov

(sobre os trabalhos de Gonzaacutelez Garciacutea Loacutepez Cerezo e Lujaacuten Loacutepez 1996 Tortajada e Pelaacuteez 1997)

Quadro IIAlguns acontecimentos histoacutericos que influenciaram no meio ambiente

Ano Acontecimento que influenciou o meio ambiente

1945 Ataque Nuclear a Hiroshima e a Nagasaki (Japatildeo)

1971 Criaccedilatildeo do Greenpeace e dos Amigos da Terra Primeira manifestaccedilatildeo contra os ensaios nucleares

1972 Primeira Conferencia Mundial de Meio Ambiente em Estocolmo Primeiro Informe do Clube de Roma

1973 Primeira crise do petroacuteleo

1974 Conferencia Mundial sobre Populaccedilatildeo (Meacutexico)

1976 Acidente de Seveso (Itaacutelia) que se converteu em um siacutembolo da luta ecologista

1979 Acidente Nuclear em Three Mille Island (EUA)

1980 Apresentaccedilatildeo do Informe 2000 de Carter

1983 Trageacutedia de Bopal (Iacutendia) com 7000 mortos e 800000 atingidos

1984 A libertaccedilatildeo de gaacutes pela Union Carbide (Iacutendia)

1986 Trageacutedia de Chernobyl (Ucracircnia)

1987 Informe Brutland falando sobre a deteriorizaccedilatildeo da Camada de Ozocircnio e o efeito estufa

1988 Nasce o IPCC (Painel Intergovernamental sobre a Mudanccedila Climaacutetica)

1989 A Terra eacute o personagem do ano na Revista TIME Desastre do Exxon Valdez (Alaska)

1990 O Protocolo de Montreal proiacutebe a produccedilatildeo de CFC

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REPERCUSSAtildeO SOCIAL DO DESENVOLVIMENTO CIENTIacuteFICO E TECNOLOacuteGICO148

1991 Assinado em Madri o Protocolo para proteccedilatildeo da Antaacutertica

1992ECO-92 no Rio de Janeiro Convecircnio sobre Mudanccedilas Climaacuteticas Conferecircncia Mundial sobre Energia

1994 Conferecircncia sobre Populaccedilatildeo (Cairo)

1995 Franccedila realiza testes nucleares Conferecircncia de Berlim sobre Mudanccedilas Climaacuteticas

2001 Vazamento do navio petroleiro Jessica (Ilhas Galaacutepagos)

2002 Vazamento o petroleiro grego Prestige (Espanha)

2010 Explosatildeo na plataforma de petroacuteleo Deepwater Horizon e vazamento de oacuteleo (Golfo do Meacutexico) Rompimento da barragem em Ajka (Hungria)

2011 Vazamento na Central Nuclear de Fukushima I (Japatildeo)

2015 Rompimento da barragem de Mariana (Minas Gerais Brasil)

(sobre o trabalho de Tortajada e Pelaacuteez 1997)

112 Os efeitos da relaccedilatildeo CTS observados na histoacuteria

Observada como histoacuteria a trajetoacuteria da Tecnociecircncia e os efetivos impactos na sociedade eacute algo mais simples Temos condiccedilatildeo de melhor avaliar esta relaccedilatildeo nos aspectos positivos ou negativos quanto mais distantes estamos dos acontecimentos Quanto mais proacuteximos dos fatos e acontecimentos mais difiacutecil a isenccedilatildeo para uma anaacutelise imparcial Mesmo assim a leitura do passado da tecnociecircncia natildeo traz consensos

Em 1998 Jonh Brockman editor da prestigiada agecircncia literaacuteria Brockman Inc enviou um questio-naacuterio a diversas personalidades dos mais diversos campos do conhecimento onde fazia as seguintes perguntas ldquoQual eacute a mais importante invenccedilatildeo dos uacuteltimos dois mil anosrdquo e ldquoPor quecircrdquo As respostas foram reunidas em um livro e percebe-se que mesmo observando a histoacuteria das descobertas e das in-venccedilotildees mesmo tendo oportunidade de refletir sobre o conjunto de consequecircncias natildeo haacute consenso entre os diversos especialistas entrevistados Cada qual aponta uma invenccedilatildeo e justifica de acordo com suas convicccedilotildees E os poucos que repetem a opccedilatildeo justificam de maneira distinta Vamos ilus-trar algumas das opccedilotildees e das justificativas a fim de refletirmos como as relaccedilotildees CTS podem ser ricas em observaccedilotildees e anaacutelises (Brockman 2000)

bull Freeman Dyson professor de fiacutesica do Instituto de Estudos Avanccedilados em Princeton muito citado nos moacutedulos anteriores diz que eacute o feno Diz ele que antes da existecircncia do feno a civilizaccedilatildeo soacute podia existir em climas quentes onde os cavalos podiam pastar durante o inverno Quando o feno passou a existir a partir do momento que o homem foi capaz de armazenaacute-lo foi possiacutevel expandir suas fronteiras dando origem a Viena Paris Berlim e depois Moscou e Nova Iorque

bull Douglas Rushkoff professor de cultura virtual na Universidade de Nova York e reno-mado escritor diz que eacute a borracha de apagar ldquoAssim como a tecla delete o fluido de correccedilatildeo a emenda constitucional e todos os outros instrumentos que nos permitem voltar e corrigir nossos errosrdquo (p 31)

bull Steven Rose neurobioacutelogo diretor do Grupo de Pesquisa de Ceacuterebro e Comportamento na Universidade Aberta em Londres apresenta uma interessante resposta Escreve ele que natildeo precisa de uma paacutegina ldquoA resposta eacute clara invenccedilotildees satildeo conceitos natildeo apenas tecnologias Logo as mais importantes invenccedilotildees satildeo os conceitos de democracia e de justiccedila social e a crenccedila na possibilidade de criar uma sociedade livre de opressatildeo de classe raccedila e gecircnerordquo (p 98)

bull Stanislas Dehaene neurocientista cognitivo no Institut National de La Santeacute et La re-

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REPERCUSSAtildeO SOCIAL DO DESENVOLVIMENTO CIENTIacuteFICO E TECNOLOacuteGICO149

cherche Meacutedicale em Orsay diz que ldquoa mais importante invenccedilatildeo humana natildeo eacute um artefato como a piacutelula ou o barbeador eleacutetrico Eacute uma ideia ndash a ideia mesma que tornou possiacutevel todos esses sucessos teacutecnicos ndash e esta eacute o conceito de educaccedilatildeordquo (p 104)

Na curiosa pesquisa de surpreendentes resultados realizada por Brockman (2000) a imprensa de Gutemberg foi bem votada A piacutelula anticoncepcional oral tambeacutem Houve a lembranccedila do estribo e do arreio do cavalo do leme da luz eleacutetrica e outros tantos aparatos tecnoloacutegicos Houve a lem-branccedila de conhecimentos importantes como o bem votado caacutelculo a geometria o meacutetodo cientiacutefico a ciecircncia organizada dentre outros Mas o que nos impressiona eacute a quantidade de indicaccedilotildees que certamente natildeo seriam lembrados pela maioria de noacutes frente a questatildeo apresentada na pergunta as estruturas sociais que possibilitam as invenccedilotildees o Cristianismo e o Islatilde o autogoverno o livre arbiacute-trio a ideia do inconsciente para falar de alguns Se os conceitos estreitos de Tecnologia e de Ciecircncia jaacute permitiam que apresentaacutessemos um sem nuacute-mero de opccedilotildees a questatildeo levantada imaginemos a janela de possibilidade que se abre quando am-pliamos o entendimento de invenccedilatildeo e a tomamos como um conceito Eis que mais uma vez somos convidados a reconceitualizar aquilo que aprendemos com a tradiccedilatildeo Uma Tecnologia amparada pelo aparato fiacutesico e palpaacutevel e uma Ciecircncia que segue linearmente para frente acima de duacutevidas e questotildees Visto desta forma as interaccedilotildees CTS se enriquecem e se desdobram em um nuacutemero muito maior de possibilidades e de questotildees que nos convidam a mais refletir para melhor participar da construccedilatildeo social da Ciecircncia e da Tecnologia Frente a isso podemos ampliar um pouco nossa visatildeo sobre a Tecnologia e propor uma abordagem que permita trazer a visatildeo de sistema agraves organizaccedilotildees e accedilotildees sociais aproximando-se de algo que podemos chamar de tecnologia social No dizer de Bazzo Linsingen e Pereira (2003 p 44)

De maneira mais precisa podemos definir tentativamente a tecnologia como uma coleccedilatildeo de sistemas projetados para realizar alguma funccedilatildeo Fala-se entatildeo de tecnologia como siste-ma e natildeo somente como artefato para incluir tanto instrumentos materiais como tecnolo-gias de caraacuteter organizativo (sistemas impositivos de sauacutede ou educativos que podem estar fundamentados no conhecimento cientiacutefico)A educaccedilatildeo eacute um exemplo claro de tecnologia de organizaccedilatildeo social Mas tambeacutem o satildeo o urbanismo a arquitetura as terapias psicoloacutegicas a medicina ou os meios de comunicaccedilatildeo Nestes casos a organizaccedilatildeo social resulta ser um artefato relevante Portanto se o desenvol-vimento tecnoloacutegico natildeo pode reduzir-se a uma mera aplicaccedilatildeo praacutetica dos conhecimentos cientiacuteficos tampouco a proacutepria tecnologia nem seus resultados os artefatos podem limi-tar-se ao acircmbito dos objetos materiais Tecnoloacutegico natildeo eacute soacute o que transforma e constroacutei a realidade fiacutesica bem como aquilo que transforma e constroacutei a realidade social (grifos nossos)

113 Os efeitos da relaccedilatildeo CTS hoje Assim como eacute possiacutevel debruccedilarmos sobre a janela da histoacuteria e enumerar as accedilotildees de interdepen-decircncia ente os formadores da triacuteade CTS eacute possiacutevel mas menos imparcial identificarmos estes im-pactos e interrelaccedilotildees na atualidade Para isso eacute importante escolher um modelo de evoluccedilatildeo social para orientar as discussotildees

Nesta mesma direccedilatildeo Tortajada e Pelaacuteez (1997) informam que da mesma maneira que o modelo de sociedade industrial substituiu a sociedade agriacutecola hoje vemos a sociedade industrial perdendo

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REPERCUSSAtildeO SOCIAL DO DESENVOLVIMENTO CIENTIacuteFICO E TECNOLOacuteGICO150

forccedila por conta de uma revoluccedilatildeo tecnocientiacutefica Dizem os autores que

A nova transformaccedilatildeo social global que se apresenta no horizonte histoacuterico vai trazer mu-danccedilas importantes nas formas de vida de trabalho de oacutecio nos costumes e nas formas de pensar e de atuarAinda que hoje se qualifique de diferentes maneiras o novo modelo de sociedade emer-gente o conceito mais adequado eacute o de sociedade tecnoloacutegica ou sociedade tecnoloacutegica avanccedilada onde a tecnologia se converteu em elemento social baacutesico na organizaccedilatildeo da pro-duccedilatildeo no trabalho no desenho e realizaccedilatildeo dos bens e utensiacutelios de consumo e mesmo na configuraccedilatildeo geral da sociedade A teacutecnica desempenha portanto o mesmo papel baacutesico que a explosatildeo agriacutecola desempenhou nas sociedades agriacutecolas e a induacutestria nas sociedades industriais (p 149)

Essa discussatildeo sobre modelos sociais de base tecnocientiacutefica natildeo eacute nova Vaacuterios autores jaacute buscaram no passado descrever os caminhos possiacuteveis para a sociedade quando da evoluccedilatildeo dos conceitos de ciecircncia e de tecnologia Autores em posiccedilotildees poliacuteticas e ideoloacutegicas distintas o que dava a cada um deles um colorido diferente e um ar de apoio incondicional ateacute o outro extremo da discordacircncia ab-soluta Tortajada e Pelaacuteez (1997 p 138) lembram que no ano de 1959 Ralph Dahrendorf indicava as trans-formaccedilotildees da sociedade industrial levando a uma sociedade poacutes-capitalista ou sociedade industrial desenvolvida Nos anos setenta Daniel Bell e Herman KahnAnthony Wiener jaacute antecipavam aquilo que chamaram de sociedade poacutes-industrial cunhando o termo que permanece com mais amplo uso ateacute hoje A sociedade poacutes-industrial resulta pois dos impactos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos podendo ainda com as variaccedilotildees proacuteprias apresentadas pelos diversos analistas ser conhecida com alguma variaccedilatildeo por sociedade poacutes-capitalista sociedade tecnotrocircnica (Brzeninski) sociedade poacutes-moder-na (Etzioni e outros) sociedade opulenta ou novo Estado industrial (Galbraith) sociedade poacutes-tra-dicional (Eisentadt) sociedade superindustrial sociedade industrial-tecnoloacutegica (Ionescu) terceira onda (Toffler) etc Neste modelo com muitos nomes podemos perceber ndash grosso modo ndash que haacute um forte vetor de aproximaccedilatildeo que eacute o consumo de bens e de utensiacutelios cada vez mais aprimorados pela tecnociecircncia e que ao chegarem ao conviacutevio social interferem nas rotinas e criam novas demandas como conse-quecircncias do contato do homem com o aparato que agora passa a ser indispensaacutevel a ele lembrando a frase dita pela Criatura a Victor Frankstein ldquoTuacute eacutes meu criador mas eu sou o teu senhorrdquo Eacute patente a diminuiccedilatildeo do tempo entre a produccedilatildeo de uma ideia e a chegada desta ideia agrave sociedade por meio de um produto conforme nos mostra Langlois (1995 p 301) no quadro III

Quadro III

Descoberta Concepccedilatildeo Realizaccedilatildeo tecnoloacutegica

Tempo em anos

Fotografia 1782 1836 54

Ziacuteper 1883 1913 30

Celofane 1900 1940 40

Radar 1907 1939 32

Milho hiacutebrido 1908 1933 25

Antibioacutetico 1910 1940 30

Energia nuclear 1919 1945 26

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REPERCUSSAtildeO SOCIAL DO DESENVOLVIMENTO CIENTIacuteFICO E TECNOLOacuteGICO151

Nylon 1927 1939 12

Cafeacute instantacircneo 1934 1956 22

Coacutepia tipo Xerox 1935 1950 15

Cacircmera instantacircnea 1945 1947 02

Desodorante roll-on 1948 1955 07

Videotape 1950 1956 06

Cisplatin (droga anticancer) 1964 1972 08

Combinaccedilatildeo do DNA 1972 1982 10

Apesar das criacuteticas que possam surgir agrave dependecircncia dos cidadatildeos aos aparatos tecnoloacutegicos eacute certo que muitos deles trouxeram qualidade de vida e conforto aos trabalhadores sendo responsaacuteveis cer-tamente pela ampliaccedilatildeo da expectativa de vida da populaccedilatildeo atual Considerando os ciclos de apare-cimento desses utensiacutelios uacuteteis para a melhoria da qualidade de vida Tortajada e Pelaacuteez (1997 p 145) propotildeem a seguinte relaccedilatildeo entre modelos de sociedade e o surgimento de utensiacutelios nas diferentes aacutereas da sociedade conforme o quadro IV

Quadro IV - Tendecircncias de evoluccedilatildeo dos ciclos de consumo

Funccedilotildees e serviccedilos

Ponto de partida Modelo tradicional

Primeiro ciclo de consumo sociedade

industrial

Segundo ciclo de consumo sociedade

industrial desenvolvida

Terceiro ciclo de consumo sociedade tecnoloacutegica

avanccedilada

Cozinhar Fogatildeo de carvatildeo e lenha Fogatildeo eleacutetrico e a gaacutes Fogatildeo em ceracircmica e mi-

croondas

Fogotildees e fornos inteligentes que permitem a programaccedilatildeo de acor-do com os pratos desejados e os ingredientes

Consevaccedilatildeo de alimentos

Frasqueiras e panelas de barro Depoacutesito de gelo Frigoriacuteficos eleacutetricos

Depoacutesitos e despensas com novas teacutecnicas de conservaccedilatildeo de alimen-tos que natildeo utilizam gases

Lavadoras Sistemas manuais que utilizavam tabuas de esfregar

Lavadoras manuais e eleacutetri-cas

Lavadoras automaacuteticas para roupas e para louccedilas

Lavadoras com accedilatildeo por ar que economiza aacutegua e diminui o contato com detergente

Informaccedilatildeo e entreteni-mento

Primeiros raacutedios Es-petaacuteculos ao vivo

Transistores TV preto e bran-co Toca-discos

TV colorida Viacutedeos Com-pact-disk

Sistema de TV viacutedeo e aacuteudio inte-grados Visatildeo em trecircs dimensotildees e realidade virtual

Refrigeraccedilatildeo e aquecimen-to

Lareiras e bra-seiros Ventiladores manuais

Aquecimento por oacuteleo es-tufas a gaacutes e ventiladores eleacutetricos

Aquecedor programado e aparelho de ar refrigerado

Climatizaccedilatildeo integral de ambiente se emprego de energia alternativa

Informaccedilatildeo caacutelculo e es-crita

Aacutebacos tabuas de caacutel-culo etc

Calculadoras eleacutetricas de bolso maacutequinas de escrever eleacutetricas etc

Primeira geraccedilatildeo de com-putadores pessoais

Quinta geraccedilatildeo de computadores de grande capacidade e sistemas loacutegicos e sensiacuteveis de funcionamen-to Acesso a grandes redes de in-formaccedilatildeo comunicaccedilatildeo e serviccedilos

Transporte Puacuteblicos e ferroviaacuterios Carros de motor agrave gasolina Surgimento dos utilitaacuterios

Carros agrave gasolina com maior cilindrada

Carros com motor eleacutetrico eou outras formas de energia mais ba-ratas e natildeo contaminantes

Residecircncia Casas proacuteximas bai-rros urbanos tradi-cionais

Grandes urbanizaccedilotildees cida-des dormitoacuterio apartamen-tos etc

Urbanizaccedilotildees modernas com jardins e serviccedilos mo-radias unifamiliares

Nova arquitetura interior com maior polivalecircncia de espaccedilos de acordo com as funccedilotildees e serviccedilos

Fonte Tortajada e Pelaacuteez (1997) Ciencia Tecnologia e Sociedad p 145

O quadro apresentado ilustra de maneira ampla os impactos dos aparatos tecnoloacutegicos no cotidiano e permite perceber as categorizaccedilotildees propostas pelos autores a fim de didaticamente demonstrar os ciclos a que estamos sujeitos Eacute apenas uma das possiacuteveis maneiras de realizar esta comparaccedilatildeo certamente haacute outras

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REPERCUSSAtildeO SOCIAL DO DESENVOLVIMENTO CIENTIacuteFICO E TECNOLOacuteGICO152

114 Os efeitos da relaccedilatildeo CTS para o futuro

Ateacute aqui estudamos como as repercussotildees da Ciecircncia e Tecnologia atingiram a Sociedade no passado e nos esforccedilamos para sermos analistas isentos (o quanto isso eacute possiacutevel) para avaliarmos os mesmos efeitos na sociedade contemporacircnea

Para que nossa viagem em torno do tema ldquoRepercussatildeo social do desenvolvimento cientiacutefico e tecno-loacutegicordquo seja mais completa falta-nos o exerciacutecio de realizar a mesma accedilatildeo agora voltada para o futuro e os seus possiacuteveis cenaacuterios (Chrispino 2000 e 2001)

Sobre a interdependecircncia entre passadopresente e presentefuturo diz-nos Sacristaacuten (2000 p 37-38)

Refletir sobre o presente eacute impossiacutevel sem se valer do passado pois neste tempo que vive-mos encontrou seu nascimento Refletir sobre o futuro tambeacutem eacute impossiacutevel sem se referir ao passado e ao presente jaacute que a partir desses alicerces satildeo construiacutedas as linhas mestras do que estaacute por vir embora em suas projeccedilotildees passado e presente natildeo sejam sequer tempos estritamente reais poderiacuteamos dizer mas imagens-siacutenteses atraveacutes das quais representa-mos para noacutes o que hoje eacute e o que foi Eacute assim que o passado sobrevive no presente e este no futuroO passado foi real e deixou suas pegadas poreacutem quando tentamos entendecirc-lo como algo operativo que se projeta no presente eacute ativo e temos imagens dele que eacute o que fica gravado como memoacuteria lsquoDo que foirsquo ficanos um olhar retrospectivo seletivo porque essas imagens do presente e do passado satildeo de alguma maneira escolhidas resumem e fixam selecionan-do uma realidade multiforme e contraditoacuteria O que natildeo estaacute nessas imagens natildeo existiu Daiacute a verdade da afirmaccedilatildeo de que quem conta a histoacuteria satildeo os que a fazem como narraccedilatildeo Se do que se trata eacute olhar o presente entatildeo as miacuteticas imagens operativas do passado servem para valorizarmos o atual referindo-o ao lsquode onde viemosrsquo e prolongando assim a capaci-dade operativa do passado Progresso e regresso continuidade e descontinuidade satildeo e natildeo satildeo em relaccedilatildeo ao anteriorConstruir o futuro no sentido de prevecirc-lo e de querer que seja um e natildeo outro soacute eacute possiacute-vel a partir dos significados que as imagens do passado e do presente oferecem-nos Natildeo se trata de adivinhar o que nos espera mas de ver com que imagens do passado-presente enfrentaremos essa construccedilatildeo que eacute o que canalizaraacute o futuro sua direccedilatildeo seu conteuacutedo e seus limites

Certamente poderiacuteamos lanccedilar matildeo de uma seacuterie de autores que satildeo conhecidos pelas suas histoacuterias de ficccedilatildeo cientiacutefica quer nos livros quer no cinema Desde Julio Verne a Isaac Assimov de Arthur Clark a Alvin Toffler haacute muito o que discutir estudar e prospectar Mas considerando que o tema em estudo eacute o futuro das relaccedilotildees CTS vamos escolher alguns autores que projetem possibilidades e abram novos espaccedilos para nossa reflexatildeo obtidos de Chrispino (2001)

Blur eacute uma interessante publicaccedilatildeo de Davis e Meyer (1999) do Ernst amp Young Center for Business Innovation traz uma nova maneira de observar as mudanccedilas na economia a partir dos impactos da tecnociecircncia Os autores apresentam os princiacutepios da conectividade da velocidade e da intangibili-dade e os conceituam assim

bull Velocidade todos os aspectos que envolvem negoacutecios e a organizaccedilatildeo ocorrem e mu-dam em tempo real

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REPERCUSSAtildeO SOCIAL DO DESENVOLVIMENTO CIENTIacuteFICO E TECNOLOacuteGICO153

bull Conectividade todas as coisas vatildeo se conectando eletronicamente produtos pessoas empresas paiacuteses enfim qualquer coisa

bull Intangibilidade toda proposta possui valor econocircmico tangiacutevel e intangiacutevel O intangiacute-vel cresce mais rapidamente

Esses trecircs princiacutepios se propotildeem a antagonizar os limites da fiacutesica massa tempo e espaccedilo Dizem os autores que

A comunicaccedilatildeo e a computaccedilatildeo quase instantacircneas por exemplo estatildeo reduzindo o tempo e nos concentrando no aspecto da Velocidade A Conectividade estaacute colocando todo mundo on line de uma forma ou de outra e tem provocado a ldquomorte da distacircnciardquo um encolhimento do espaccedilo A Intangibilidade de valores de todos os tipos como serviccedilos e informaccedilatildeo cres-ce em ritmo vertiginoso reduzindo a importacircncia da massa tangiacutevel (p 6)

Numa obra rica em exemplos contemporacircneos de empresa e de empreendimentos os autores apon-tam como o mundo iraacute se comportar com esses trecircs novos componentes do mercado do pensamento do modo de ser O resultado eacute uma projeccedilatildeo bastante interessante e muito provocativa de como seraacute o futuro

Oliver (1999) aproveita sua experiecircncia como consultor e membro de conselhos de administraccedilatildeo de grandes empresas para apontar as futuras mudanccedilas no mercado Numa bem cuidada e rica anaacutelise da histoacuteria dos negoacutecios e do conhecimento o autor apresenta trecircs etapas distintas e consecutivas a era agraacuteria a era industrial e a era da informaccedilatildeo Aponta nova era econocircmica a era dos biomateriais Na sua visatildeo de futuro aleacutem dos sete mandamentos estrateacutegicos e das sete empresas do seacuteculo XXI ele apresenta os sete produtos e tecnologias do seacuteculo XXI que satildeo

bull Cartotildees inteligentesbull Sensoresbull Knowbots (robocircs com conhecimento)bull Redes neuraisloacutegica fuzzybull Materiais inteligentesbull Biotecnologia ebull Maacutequinas nano e pico

115 Os efeitos da relaccedilatildeo CTS esforccedilo de siacutentese Quando vamos agrave escola e aprendemos as regras da linguiacutestica ou da linguagem erudita jaacute sabemos fa-lar esse eacute um aprendizado lastreado na relaccedilatildeo social e que se daacute ao longo da vida Da mesma forma a Ciecircncia e a Tecnologia Quando somos apresentados aos estudos formais da aacuterea tecnocientiacutefica na verdade jaacute estamos impregnados de concepccedilotildees preacutevias e de conceitos que elaboramos a partir das relaccedilotildees com o ldquotecno-mundordquo e no que tange aos aparatos tecnoloacutegicos noacutes jaacute os possuiacutemos ou somos possuiacutedos pela vontade de possuiacute-los E em alguns casos somos possuiacutedos por eles (Martiacuten Gordillo e Osorio 2003)

As interaccedilotildees CTS e mais especificamente o tema deste moacutedulo ldquoRepercussatildeo social do desenvolvi-mento cientiacutefico e tecnoloacutegicordquo devem servir como ldquodivisor de aacuteguasrdquo para a maneira como reagiacutea-mos as interaccedilotildees e a maneira como nos deixaacutevamos conduzir pela ideia da Ciecircncia e da Tecnologia como entes neutros e produtores do Bem e do Bom

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REPERCUSSAtildeO SOCIAL DO DESENVOLVIMENTO CIENTIacuteFICO E TECNOLOacuteGICO154

Os acontecimentos atuais nos convidam a reavaliar o que se pensava ateacute recentemente sobre a re-percussatildeo social do desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico eacuteramos beneficiaacuterios contemplativos e exploradores da matildee Terra Hoje o efeito estufa eacute um acontecimento real o degelo da calota polar caminha para consequecircncias ainda natildeo calculadas mas preocupantes a emissatildeo de CO2 se mostra um verdugo que nos atingiraacute a frota de automoacuteveis e demais motores agrave combustatildeo exigem cada vez mais dos derivados do petroacuteleo a aacutegua eacute escassa e de desenha como objeto de disputa no futuro os ciclos de reaproveitamento dos produtos pela natureza eacute quebrado quando produzimos os plaacutesticos os vi-dros e as ligas os dejetos industriais e de consumo domeacutestico se acumulam no colo da matildee natureza

Esses satildeo efeitos que chamaremos de segunda ordem que natildeo eacute propriamente o sistema de interaccedilatildeo entre Ciecircncia Tecnologia e Sociedade mas sim os efeitos deste sistema em direccedilatildeo agrave Natureza que eacute um macro sistema Eacute certo que devemos estudar o quanto a Ciecircncia e a Tecnologia repercutem na Sociedade Tambeacutem eacute certo que precisamos estudar como a Sociedade controla e acompanha a Ciecircn-cia e a Tecnologia Mas natildeo eacute menos importante refletir sobre onde depositamos nosso olhar

1 Exclusivamente no presente esclarecido pelas discussotildees CTS de resultado imediatos a fim de ordenarmos o Princiacutepio da Satisfaccedilatildeo ou

2 Postamos o olhar no futuro ndash uma histoacuteria a ser construiacuteda ndash que seraacute o resultado dos efeitos exteriorizados por esta triacuteade CTS esclarecida e que se pautaraacute no Principio da Precauccedilatildeo

Em ambos os casos trabalharemos pela alfabetizaccedilatildeo tecnocientiacutefica efetiva que resulta em partici-paccedilatildeo social esclarecida A diferenccedila estaacute na intensidade da submissatildeo das relaccedilotildees de causa e efeito entre os binocircmios Homem-Natureza e supeacuterfluo-necessaacuterio Na primeira preparamos o mundo para nossa velhice na segunda preparamos o mundo para as geraccedilotildees futuras

Natildeo eacute possiacutevel discutir CTS sem que se acrescente a visatildeo de futuro

Natildeo basta agora falar em Ciecircncia e Sociedade ou Tecnologia e Sociedade mas sim Ciecircncia com So-ciedade e Tecnologia com Sociedade

REFERENCIAS 155

Referecircncias

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SOBRE LOS AUTORES177

Sobre el autor

Alvaro Chrispino eacute Doutor em Educaccedilatildeo pela UFRJ-Universidade Federal do Rio de Janeiro Licen-ciado em Quiacutemica e Coordenador do programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Ciecircncia Tecnologia e Educa-ccedilatildeo do CEFETRJ Eacute Bolsista de Produtividade em PesquisaEducaccedilatildeo do CNPq e Lider de Grupo de PesquisaCNPq CTS e Educaccedilatildeo

O ocupou diversos cargos puacuteblicos no campo da Educaccedilatildeo e das Poliacuteticas Puacuteblicas e possui livros e artigos em educaccedilatildeo CTS e poliacuteticas puacuteblicas

Iniciou seus estudos em CTS quando da realizaccedilatildeo de seu Mestrado em Educaccedilatildeo na UFRJ em 1992

COLECCIOacuteN DOCUMENTOS DE TRABAJOTIacuteTULOS PUBLICADOS

Documento ndeg 1Deacutecada de la educacioacuten para la sostenibilidad Temas de accioacuten claveAmparo Vilches Oacutescar Maciacuteas y Daniel Gil Peacuterez

Documento ndeg 2 Concepcioacuten y tendencias de la educacioacuten a distancia en Ameacuterica LatinaLorenzo Garciacutea Areito (coord)

Documento ndeg 3 Educacioacuten ciencia tecnologiacutea y sociedadMariano Martiacuten Gordillo (coord)

Documento ndeg 4 La nanotecnologiacutea en IberoameacutericaObservatorio Iberoamericano de la Ciencia la Tecnologiacutea y la Sociedad

Documento ndeg 5 Ciencia tecnologiacutea y sociedad en Iberoameacuterica una evaluacioacuten de la comprensioacuten de la naturaleza de ciencia y tecnologiacuteaAntoni Bennaacutessar Roig Aacutengel Vaacutezquez Alonso Mariacutea Antonia Manassero Mas y Antonio Garciacutea Carmona (coordinadores)

Introduccedilatildeo aos Enfoques CTS ndash Ciecircncia Tecnologia e Sociedade ndash na educaccedilatildeo e no ensino

Esta obra apresenta ideias e argumentos que buscam reconceitualizar ciecircn-

cia e tecnologia desconstruindo uma ciecircncia neutra herdada pronta infaliacute-

vel e uma tecnologia portadora de bondade e de progresso impregnado de bem-

estar duradouro visto que satildeo construccedilotildees sociais Faz isso buscando obras e

autores consagrados sem deixar de recrutar novos autores de diferentes aacutereas que

sejam capazes de trazer luzes para o melhor entendimento da Abordagem CTS

Foi elaborada ao longo dos anos nas disciplinas do programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Ciecircn-

cia Tecnologia e Educaccedilatildeo especialmente na linha de pesquisa CTS e Ensino do CEFET

RJ- Centro Federal de Educaccedilatildeo Tecnoloacutegica Celso Suckow da Fonseca no Rio de Janeiro

Page 2: INTRODUÇÃO AOS ENFOQUES CTS CIÊNCIA ......INTRODUÇÃO AOS ENFOQUES CTS – CIÊNCIA, TECNOLOGIA E SOCIEDADE – NA EDUCAÇÃO E NO ENSINO 6 dependendo de sua formação, de seus

DOCUMENTOS DE TRABAJO DE IBERCIENCIA | No 4

INTRODUCcedilAtildeO AOS ENFOQUES CTS ndash CIEcircNCIA TECNOLOGIA E SOCIEDADE ndash NA EDUCACcedilAtildeO E NO ENSINO

Alvaro Chrispino

La coleccioacuten Documentos de Trabajo es una iniciativadel Centro de Altos Estudios Universitarios de la Organizacioacuten de Estados Iberoamericanos para la Educacioacuten la Ciencia y la Cultura (OEI) y su objetivo principal es difundir estudios informes e investigaciones de caraacutecter iberoamericano en sus campos de cooperacioacuten

Estos materiales estaacuten pensados para que tengan la mayor difusioacuten posible y de esa forma contribuir al conocimiento y al intercambio de ideas Se autoriza por tanto su reproduccioacuten siempre que se cite la fuente y se realice sin aacutenimo de lucro

Estes materiais estatildeo pensados para que tenham mayor divulgaccedilatildeo possiacutevel e dessa forma contribuir para o conhecimento e o intercacircmbio de ideacuteias Autoriza-se por tanto sua reproduccedilatildeo sempre que se cite a fonte e se realize sem fins lucrativos

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disentildeo

asenmac

isbN978-84-7666-247-2

Iacutendice

Introduccedilatildeo

1ordf PARTE ndash CONCEITOS BAacuteSICOS DE ENFOQUE CTS E EDUCACcedilAtildeO

CTS

1 CTS COMO CAMPO DE ESTUDO EM CONSTRUCcedilAtildeO

2 SOBRE A CIEcircNCIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A CIEcircNCIA

3 SOBRE A TECNOLOGIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A TECNOLOGIA

4 SOBRE A SOCIEDADE MAS NAtildeO O QUE Eacute A SOCIEDADE

5 SOBRE AS RELACcedilOtildeES CIEcircNCIA TECNOLOGIA E SOCIEDADE

6 CTS E O ENSINO

7 CTS E A TEacuteCNICA DA CONTROVEacuteRSIA CONTROLADA

2ordf PARTE ndash A VISAtildeO AMPLIADA DAS CORRELACcedilOtildeES DO ENFOQUE

CTS

8 MODELAGEM PARA PARTICIPACcedilAtildeO SOCIAL NAS RELACcedilOtildeES

CTS UTILIZANDO AS ORDENS DE COMTE-SPONVILLE

9 SOBRE AS ABORDAGENS CTS

10 SOBRE AS VARIAacuteVEIS QUE IMPLICAM NAS RELACcedilOtildeES CTS

11 REPERCUSSAtildeO SOCIAL DO DESENVOLVIMENTO CIENTIacuteFICO E

TECNOLOacuteGICO

Referencias

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INTRODUCCIOacuteN5

Introduccioacuten

Os trabalhos ndash tanto artigos quanto teses e dissertaccedilotildees ndash que tratam do Enfoque CTS possuem na sua maioria um sequencia histoacuterica de fatos e de acontecimentos que pretendem apresentar o que seja este campo do conhecimento para professores alunos e cidadatildeos Porque sua estrutura de apre-sentaccedilatildeo eacute semelhante e os argumentos repetidos vivemos um grande dilema na apresentaccedilatildeo de um trabalho construiacutedo coletivamente com turmas de estudantes dos programas de mestrado e douto-rado do CEFETRJ Se natildeo nos utilizamos da narrativa padratildeo corremos o risco de sermos alijados visto que natildeo estamos ldquofalando a mesma liacutengua da aacutereardquo mesmo que isso busque demonstrar que os caminhos percorridos na produccedilatildeo deste material foram marcados por idas e vindas na grande arena das ideias e interpretaccedilotildees oriundas de estudantes de mestrado e doutorado que militam em diferen-tes aacutereas do conhecimento sendo que a educaccedilatildeo eou o ensino satildeo seus pontos de aproximaccedilatildeo ou convergecircncia

Quando iniciamos as primeiras discussotildees tiacutenhamos a intenccedilatildeo de organizar ideias e argumentos que permitissem ao final do conjunto de encontros de cada curso reconceitualizar ciecircncia e tecno-logia tal qual a tradiccedilatildeo ensinada nas escolas desconstruindo uma ciecircnca herdada pronta infaliacutevel e uma tecnologia portadora de bondade e de progresso impregnado de bem-estar duradouro

A primeira preocupaccedilatildeo era demonstrar que a Ciecircncia e a Tecnologia satildeo produzidas e mantidas por seres humanos que possuem intencionalidades interesses limites crenccedilas valores e planos de futuro Esse conjunto de caracteriacutesticas se potencializa quando os indiviacuteduos se reuacutenem em grupos de interesse e organizam os chamados grupos de pesquisa que buscam ampliar fronteiras do conhe-cimento e produzir aparatos ou sistemas tecnoloacutegicos inovadores Fica claro que a Ciecircncia e a Tec-nologia satildeo produccedilotildees humanas e por isso impregnadas de humanidade em todos os seus matizes era o primeiro objetivo

Apoacutes isso buscaacutevamos demonstrar que toda ciecircncia e tecnologia produzidas ndash como produtos cons-truidos socialmente ndash retornam para a sociedade impactando-a de diversas formas quer expliacutecita quer implicitamente Alguns destes impactos podem ser beneacuteficos se vistos como soluccedilatildeo para um problema atual mas podem ser portadores de futuro incerto quando produzem riscos no meacutedio ou longo prazos

Consideramos tambeacutem que os textos gerais sobre CTS apontam o surgimento de movimentos sociais que se contrapunham aos impactos danosos dos avanccedilos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos e a isso chamaram de Movimento CTS dando inuacutemeros exemplos de fatos e personagens

Da mesma forma apontam para as accedilotildees reflexivas de profissionais da Ciecircncia e da Tecnologia que iniciaram discussotildees a cerca das consequecircncias deste saber para a Sociedade De forma geral essa accedilatildeo foi chamada didaticamente de Estudos CTS

As tradiccedilotildees chamadas de americana e europeacuteia ndash as quais agregamos a chamada latino-americana ndash satildeo o caminho comum da apresentaccedilatildeo do Enfoque CTS

Se considerarmos que CTS defende a construccedilatildeo social da ciecircncia e da tecnologia devemos por de-ver de ofiacutecio defender que o proacuteprio CTS eacute de difiacutecil consenso visto que cada grupo ou pesquisador

INTRODUCCIOacuteN

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dependendo de sua formaccedilatildeo de seus valores de suas crenccedilas etc iraacute ler e interpretar os mesmos fenocircmenos de forma singular identificando grandes eixos comuns mas impregnando-os com suas particularidades com suas idiossincrasias Logo esperar que tenhamos um uacutenico conceito sobre o que seja CTS eacute uma ingenuidade Encontramos sim alguns consensos e aproximaccedilotildees sucessivas que permitem que a aacuterea se comunique e produza conhecimento a fim de contribuir para o amadu-recimento das relaccedilotildees ciecircncia tecnologia e sociedade

Este trabalho enfrenta as mesmas dificuldades que seus congecircneres Para natildeo se distanciar de seus pares apresenta temas e debates que satildeo comuns agrave aacuterea na busca da reconceitualizaccedilatildeo da ciecircncia e da tecnologia e na apresentaccedilatildeo dos impactos que estas causam na sociedade Faz isso buscando obras e autores consagrados na aacuterea sem deixar de recrutar novos autores de diferentes aacutereas que sejam capazes de trazer luzes para o melhor entendimento da Abordagem CTS Esta natildeo eacute uma obra autoral mas sim de apresentaccedilatildeo da aacuterea CTS por meio do pensamento de muitos colaboradores Nossa participaccedilatildeo estaacute no risco de reunir autores da aacuterea e outros colaboradores de aacutereas distintas O risco da inovaccedilatildeo e da ampliaccedilatildeo de fronteiras eacute sempre necessaacuterio

Deixamos claro desde jaacute que para noacutes a Abordagem CTS eacute um campo complexo interdisciplinar contextualizado e transversal fundamentado especialmente nos saberes da sociologia da filosofia na histoacuteria da economia da poliacutetica da psicologia dos valores etc Trazemos para este primeiro mo-mento a reflexatildeo de Cutcliffe (2003)

[] em resumo pode dizer-se que o campo de CTS deixou para tras qualquer tendecircncia inicial que pudesse ser relacionado com alguns grupos e que implicasse em uma visatildeo sim-plista em branco e negro da ciecircncia e da tecnologia na sociedade buscando alcanccedilar uma compreensatildeo mais complexa da relaccedilatildeo de CTS Na atualidade CTS concebe a ciecircncia e a tecnologia como projetos complexos que se datildeo em contextos histoacutericos e culturais especiacute-ficos O que tem surgido eacute um consenso com respeito a que se bem a ciecircncia e a tecnologia nos trazem diversos benefiacutecios tambeacutem provocam certos impactos negativos alguns dos quais imprevisiacuteveis mas todos refletem os valores pontos de vistas e visotildees daqueles que estatildeo em situaccedilatildeo de tomar decisatildeo com respeito aos conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacutegi-cos dentro de seus acircmbitos A missatildeo central do campo CTS ateacute a data de hoje tem sido a de expressar a interpretaccedilatildeo da ciecircncia e da tecnologia como um processo social Deste ponto de vista a ciecircncia e a tecnologia satildeo vistos como projetos complexos em que os valo-res culturais poliacuteticos e econocircmicos nos ajudam a configurar os processos tecnocientiacuteficos os quais por sua vez afetam os valores mesmos e a sociedade que os manteacutem (p 18) grifos nossos

E como pretendemos fazer intervenccedilatildeo no processo de qualificaccedilatildeo de professores ndash em serviccedilo e em formaccedilatildeo ndash assim como na melhor formaccedilatildeo de licenciandos e estudantes da escola baacutesica devemos antecipar o que entendemos por Educaccedilatildeo CTS e o que esperamos dela Para noacutes

CTS eacute uma opccedilatildeo educativa transversal (Acevedo 1996b) que prioriza sobretudo os con-teuacutedos atitudinais (cognitivos afetivos e valorativos) e axioloacutegicos (valores e normas)Desde a perspectiva da dimensatildeo cognitiva atitudinal a educaccedilatildeo CTS pretende tambeacutem uma melhor compreensatildeo da ciecircncia e da tecnologia em seu contexto social incidindo nas interrelaccedilotildees entre os desenvolvimentos cientiacutefico e tecnoloacutegico e os processos sociais As-sim os estudantes deveratildeo adquirir durante sua escolarizaccedilatildeo algumas capacidades para ajudaacute-los a interpretar pelo menos de forma geral questotildees controvertidas re-lacionadas com os impactos sociais da ciecircncia e da tecnologia e com a qualidade das

INTRODUCCIOacuteN

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condiccedilotildees de vida de uma sociedade cada vez mais impregnada de ciecircncia e sobretudo de tecnologia (Acevedo Vaacutezquez e Manassero 2001 grifos nossos)

E quanto a sua pertinecircncia para o momento atual do Ensino de Ciecircncia e Tecnologia podemos lem-brar que este tema estaacute fortemente indicado na Base Nacional Comum Curricular que se ensaia no cenaacuterio educacional brasileiro como se apresenta desde antes no cenaacuterio internacional como infor-mam desde antes Acevedo Vaacutezquez e Manassero (2003a)

Movimento CTS eacute entendido como uma inovaccedilatildeo educacional que estaacute em consonacircncia com as mais relevantes e atuais recomendaccedilotildees internacionais para proporcionar no ensino de ciecircncias a alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica mais completa e uacutetil possiacutevel para todas as pessoas (p 101)

Essa eacute nossa melhor contribuiccedilatildeo para aqueles que buscam conhecer o que seja a Abordagem CTS Deixamos claro desde jaacute que esta eacute a nossa visatildeo da Abordagem CTS por mais que tenhamos tentado garantir que as diversas visotildees e escolas de pensamento estivessem aqui representadas Consideran-do a amplitude da aacuterea as escolhas buscam cumprir a intencionalidade da obra desde jaacute apresentada

Fica o agradecimento aos mestrandos e doutorandos que desfilaram nas arenas do conhecimento CTS dando suas contribuiccedilotildees para que o trabalho pudesse ser apresentado como uma alternativa de estudo para a aacuterea de educaccedilatildeo e ensino CTS

Da mesma forma como este eacute um trabalho que faz convergir pesquisas e accedilotildees de nosso grupo ao longo do tempo eacute indispensaacutevel o agradecimento ao CNPq ndash Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico que viabilizou as diversas pesquisas que resultaram neste trabalho por meio dos recursos oriundos dos Editais Universais de 2007 2010 e 2013

Que seja uacutetil agraves reflexotildees produzindo novas questotildees e inquietaccedilotildees e nunca saberes acabados

Alvaro Chrispino

CTS COMO CAMPO DE ESTUDO EM CONSTRUCcedilAtildeO9

1 CTS como campo de estudo em construccedilatildeo

() eacute importante que a educaccedilatildeo tecnocientiacutefica esteja orientada para propiciar uma formaccedilatildeo da cidadania que a capacite para compreender para ser manejada e para participar de um mundo no qual a ciecircncia e a tecnologia estatildeo a miuacutedo mais presentes Sem duacutevida o enfoque da Ciecircncia Tecnologia e Sociedade (CTS) eacute especialmente apropriado para fomentar uma educaccedilatildeo tecnocientiacutefica dirigida agrave aprendizagem da participaccedilatildeo trazendo um novo significado para conceitos tatildeo aceitos como alfabetizaccedilatildeo tecnocientiacutefica ciecircncia para todos ou difusatildeo da cultura cientiacutefica

Martiacuten Gordillo e Osorio M2003

A concepccedilatildeo claacutessica das relaccedilotildees entre a Ciecircncia e a Tecnologia com a Sociedade eacute uma concepccedilatildeo eminentemente otimista e que reflete uma postura linear de progresso que pode ser simbolizada pela expressatildeo encontrada no Guia da Exposiccedilatildeo Universal de Chicago de 1933 segundo Sanmartiacuten (1990 p 168)

A ciecircncia descobre o gecircnio inventa a induacutestria aplica e homem se adapta ou eacute moldado pelas coisas novas

O espiacuterito contido nesta frase eacute mais facilmente identificado por uma equaccedilatildeo simples + ciecircncia = + tecnologia = + riqueza = + bem-estar social (Bazzo Linsingen e Pereira 2003 Loacutepez Cerezo 1997 1998) Este eacute o chamado ldquomodelo linear de desenvolvimentordquo que pode ser mais resumido conforme apresentam Gonzalez Garcia1 Loacutepez Cerezo e Lujan Loacutepez (1996 p 31) como progresso cientiacutefico =gt Progresso tecnoloacutegico =gt progresso econocircmico =gt progresso social Esta concepccedilatildeo segundo Sa-rewitz (1996 p 17) foi apresentada originalmente por Vannevar Bush2 (1945 1999)

Os avanccedilos na ciecircncia quando colocados no uso praacutetico significam mais trabalho salaacuterios mais altos horas mais curtas colheita mais abundante tempo mais livre para a recreaccedilatildeo para o estudo para aprender a viver sem o trabalho fatigoso e enfraquecedor que tem sido a carga do homem comum do periacuteodo passado Mas para alcanccedilar estes objetivos o fluxo do conhecimento cientiacutefico novo deve ser contiacutenuo e significativo

O Relatoacuterio Bush solicitou uma liberdade plena para a pesquisa cientiacutefica e tecnoloacutegica que confor-me tentou justificar seu autor traria benefiacutecios e vantagens tal qual fez ao encerrar a Segunda Gran-de Guerra com um artefato tecnoloacutegico produzido pela ciecircncia mais avanccedilada da eacutepoca a bomba atocircmica Por mais que a tradiccedilatildeo tenha contemplado essa relaccedilatildeo direta ela natildeo se sustenta quando buscamos algumas informaccedilotildees histoacutericas que sintetizamos de Acevedo Vasquez e Manassero (2001)

bull ldquo6 de agosto de 1945 o Enola Gay um aviatildeo B-29 sobrevoou a ilha de Hondo e despejou sobre a cidade de Hiroshima a Little Boy a primeira bomba atocircmica de uracircnio Em 9 de agosto eacute lanccedilada outra sobre Nagasaki uma importante cidade situada a noroeste da ilha japonesa de Kyushu O sucesso dos artefatos tecnoloacutegicos potildee fim a segunda guerra

1 Neste trabalho optou-se pela utilizaccedilatildeo da referencia de autores espanhoacuteis pelo penuacuteltimo nome Entatildeo o leitor encontraraacute por exemplo Gonzalez Garcia Loacutepez Cerezo e Lujan Loacutepez ao inveacutes de Garcia Cerezo e Loacutepez2 Conheccedila mais em httpptwikipediaorgwikiVannevar_Bush Como estamos em um curso que trata de ciecircncia e de tecnolo-gia propomos que o aprofundamento sobre alguns assuntos possa contar com a contribuiccedilatildeo da Wikipeacutedia mas desde jaacute lem-bramos sobre a importacircncia de ler com criteacuterio considerando o processo de construccedilatildeo coletiva da Wikipedia

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CTS COMO CAMPO DE ESTUDO EM CONSTRUCcedilAtildeO10

mundial Menos de um mecircs antes em 16 de julho a bomba atocircmica de uracircnio havia sido testada com ecircxito em um deserto proacuteximo a Alamogordo no estado norteameri-cano de Novo Meacutexico Era a culminacircncia do Projeto Manhattan iniciado em 1942 que reuniu diversos cientistas que trabalhando em grupos distintos contribuiacuteram para que o conhecimento cientiacutefico se transformasse em tecnologia O resultado desta uniatildeo foi a vitoacuteria poliacutetica dos Estados Unidos sobre seu inimigo e mais tarde demonstrou as consequecircncias sociais para os sobreviventes civis dos episoacutedios nucleares Este eacute um dos casos que ilustra perfeitamente as complexas e dramaacuteticas relaccedilotildees entre ciecircncia tecnologia e poder militar rdquo

bull ldquo4 de outubro de 1957 Um acontecimento surpreende todo o mundo e em especial os Estados Unidos A URSS havia posto em oacuterbita terrestre seu primeiro Sputnik um sateacute-lite artificial pouco maior que uma bola de futebol As repercussotildees sociais deste acon-tecimento foram enormes Atualmente as telecomunicaccedilotildees dependem de numerosos sateacutelites artificiais para dar manutenccedilatildeo a grande rede de comunicaccedilatildeo em tempo real que envolve o planetardquo

bull ldquoContemporaneamente temos o efeito estufa que acelera o aquecimento global do pla-neta a diminuiccedilatildeo das camadas polares a chuva aacutecida a diminuiccedilatildeo da camada de ozocirc-nio a utilizaccedilatildeo de bombas de napalm nas guerras da Coreacuteia e Vietnam os submarinos que utilizam energia nuclear para sua propulsatildeo os acidentes industriais como os de Bhopal (India 1984) e Chernobil (Ucrania 1986) os vazamentos de navios petroleiros (Exxon Valdez Alaska 1989 e Jessica Ilhas Galaacutepagos 2001) Por outro lado tambeacutem jaacute possuiacutemos a penicilina e as vacinas as novas teacutecnicas de diagnoacutestico cliacutenico os trans-plantes e oacutergatildeos artificiais a eletricidade a maior produccedilatildeo de gratildeos de toda classe para alimentar uma humanidade crescente as novas formas de comunicaccedilatildeo as tecnologias de informaccedilatildeo e muitos outros pequenos objetos tecnoloacutegicos de uso cotidiano que trazem conforto e facilitam nossas vidasrdquo

Esses exemplos ndash e outros como as consequecircncias do uso da talidomida ou desastre ambiental no Golfo do Meacutexico com a plataforma petroliacutefera Deepwater Horizon ndash deixam claro que a relaccedilatildeo di-reta apresentada pela tradiccedilatildeo natildeo eacute absolutamente verdadeira Haacute vantagens e benefiacutecios mas haacute tambeacutem efeitos secundaacuterios que podem surgir a curto meacutedio e longo prazos Haacute grupos sociais que aleacutem de natildeo serem beneficiados com o resultado tecnoloacutegico podem sofrer perdas e restriccedilotildees com a disseminaccedilatildeo do aparato tecnoloacutegico

Considerando este conjunto extremo de consequecircncias grupos de ativistas iniciaram manifestaccedilotildees questionando e logo depois algumas vozes ligadas a Ciecircncia e Tecnologia tambeacutem apresentavam a necessidade de se discutir os riscos que surgiam da chamada prosperidade tecnoloacutegica

Dentre os nomes e feitos mais citados estavam

bull Rachel Carson3 que escreveu Silent Spring em 1958 (Primavera Silenciosa 1962) onde apresentava diversas questotildees em torno do uso de inseticidas quiacutemicos como o DDT (Dicloro-Difenil-Tricloroetano) tido agrave eacutepoca como grande alternativa pois era barato e eficiente contra os mosquitos da malaacuteria e do tifo Trecircs semanas apoacutes seu lanccedilamento o livro jaacute havia vendido 100 mil exemplares O problema era a capacidade do DDT de ser absorvido pelos animais e por toda a cadeia alimentar em outras palavras o seu efeito natildeo cessava O nome do livro quer insinuar que natildeo haveraacute paacutessaros na primavera pois

3 Conheccedila mais em httpwwwgeocitiescom~esabiocientistasraquel_carsonhtm

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CTS COMO CAMPO DE ESTUDO EM CONSTRUCcedilAtildeO11

todos teratildeo morrido viacutetimas dos inseticidas Esse movimento permitiu o fortalecimento dos chamados movimentos ecoloacutegicos Hoje o DDT eacute um produto proibido (Cutcliffe 2003 p 8 1990 p 21)

bull Ralph Nader4 ativista dos direitos do consumidor promoveu um grande movimento contra o que chamou de arrogacircncia da induacutestria automobiliacutestica em torno da seguranccedila e dos perigos dos modelos Corvair fabricados pela Chevrolet entre 1960 e 1969 Escre-veu Unsafe at Any Speed The Designed-In Dangers of the American Automobile 91965) (Cutcliffe 2003 p 8 1990 p 21)

bull Vance Packard5 escreveu The Hidden Persuaders (1957) onde jaacute defendia que a induacutestria da propaganda criava artificialmente as necessidades e demandas para o consumidor

bull John Kenneth Galbraith6 escreveu The Affluent Society (1958) e The New Industrial Sta-te (1967) e defendia que no Estado industrial o poder econocircmico havia se desprendido das necessidades dos consumidores e que uma ldquotecnoestruturardquo controlava a tecnolo-gia visando o crescimento e benefiacutecio da organizaccedilatildeo (Cutcliffe 1990 p 21)

bull Mario Molina7 e Frank S Rowland8 (1974) publicam na revista Nature uma pesquisa apontando a accedilatildeo dos clorofluorcarbonos (CFC) dentre outros compostos na dimi-nuiccedilatildeo da camada de ozocircnio O CFC foi sintetizado em 1928 e eacute especialmente utilizado geladeiras e aparelhos de ar condicionado para refrigeraccedilatildeo O Protocolo de Montreal baniu o consumo destes gases em 2010 Molina Rowland e Paul Crutzen dividiram o Precircmio Nobel de Quiacutemica de 1995 Em seu sitio Molina apresenta a seguinte frase ldquoOs cientistas podem descrever os problemas que afectam o ambiente com base nas evi-decircncias disponiacuteveis mas sua soluccedilatildeo natildeo eacute da responsabilidade dos cientistas mas da sociedade como um todordquo

bull Derek J de Solla Price9 em 1963 escreveu Little Science Big Science onde debatia o cresci-mento do financiamento da tecnologia por parte do Estado e que resultou na ne-cessidade de se discutir uma ldquociecircncia da ciecircnciardquo produzindo a Fundaccedilatildeo para a Ciecircncia da Ciecircncia em 1965 e diversas sociedades voltadas para a ldquoresponsabilidade social da ciecircnciardquo na Inglaterra e em outros lugares (Cutcliffe 2003 p 11)

bull Barry Commoner10 em 1963 escreveu Science and survival onde alerta para perda de controle sobre as consequecircncias sociais da ciecircncia e da tecnologia Para ele os cientistas deveriam divulgar mais seus trabalhos e suas consequecircncias para quem ele chama de natildeo-cientistas Conclui que a Ciecircncia e os cientistas satildeo capazes de revelar o tamanho do problema mas somente a accedilatildeo social pode resolvecirc-lo (Beck 2010)

Aleacutem destes grupos sociais que se organizaram e produziram efeitos importantes para a reflexatildeo em torno dos riscos que envolviam as tecnologias esse periacuteodo da histoacuteria presenciou o surgimen-to de inuacutemeros grupos chamados ativistas que cada uma sua maneira buscavam chamar atenccedilatildeo para os riscos a que estavam expostos os cidadatildeos Durante a deacutecada de 1970 os mais significativos movimentos giravam em torno da energia nuclear e seus riscos dos miacutesseis baliacutesticos do transporte supersocircnico dos CFC-Clorofluorcarbono usados em aerossoacuteis as primeiras discussotildees sobre o im-pacto de pesquisas geneacuteticas dentre outros A deacutecada de 1980 presenciou uma importante discussatildeo levantada por um sindicato de operaacuterios que solicitava uma

4 Conheccedila mais em httpptwikipediaorgwikiRalph_Nader 5 Conheccedila mais em httpsenwikipediaorgwikiVance_Packard 6 Conheccedila mais em httpsptwikipediaorgwikiJohn_Kenneth_Galbraith 7 Conheccedila mais em httpseswikipediaorgwikiMario_Molina e httpcentromariomolinaorgmario-molinabiografia 8 Conheccedila mais em httpsenwikipediaorgwikiF_Sherwood_Rowland 9 Conheccedila mais em httpenwikipediaorgwikiDerek_J_de_Solla_Price10 Conheccedila mais em httpptwikipediaorgwikiBarry_Commoner

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CTS COMO CAMPO DE ESTUDO EM CONSTRUCcedilAtildeO12

ldquoDeclaraccedilatildeo de Direitos sobre a Nova Tecnologiardquo que exigia algum tipo de controle sobre o processo de trabalho refletia a problemaacutetica laboral surgida do impacto das novas tec-nologias de automaccedilatildeo sobre a estabilidade no trabalho a seguranccedila dos trabalhadores e a reduccedilatildeo de habilidades necessaacuterias (Cutcliffe 2003 p 9)

Sobre este surgimento e evoluccedilatildeo Mitcham11 (1990 p 15) apresenta outro acircngulo de estudo Diz que os Estudos CTS tiveram duas fontes a primeira eacute a formaccedilatildeo na deacutecada de 1950 do que se chamou de Science Technology and Public Policy (STPP) e a segunda eacute a criacutetica social e poliacutetica agrave ciecircncia e agrave tecnologia surgidas no final da deacutecada de 1960 Ao analisar cada uma das fontes escreve o autor que

bull Os programas STPP O processo de institucionalizaccedilatildeo da ciecircncia mo-derna pode ser estudada a partir de trecircs etapas principais

bull A primeira etapa em torno dos seacuteculos XVII e XVIII a ciecircncia foi um trabalho de indiviacuteduos geralmente oriundos da aristocracia

bull A segunda etapa de institucionalizaccedilatildeo da ciecircncia ocorre durante o seacuteculo XIX quando ela eacute profissionalizada em departamentos especiacuteficos como departa-mentos de quiacutemica de fiacutesica etc nas universidades e nos laboratoacuterios de pes-quisa e desenvolvimento industrial Esta institucionalizaccedilatildeo requereu uma or-ganizaccedilatildeo um pouco mais complexa mas ainda em pequena escala

bull A terceira institucionalizaccedilatildeo da ciecircncia moderna ocorreu durante a Segunda Guerra Mundial como resultado do apoio governamental e a criaccedilatildeo de proje-tos de pesquisa e desenvolvimento de larga escala como projeto Manhattan que resultou na bomba atocircmica Tais projetos e accedilotildees governamentais intro-duziram na atividade cientiacutefica e tecnoloacutegica estruturas administrativas pro-cessos de gestatildeo e um contingente de profissionais ateacute entatildeo desconhecidos destas aacutereas Os programas STPP foram desenvolvidos depois da guerra com o propoacutesito de estudar a gestatildeo em grande escala da ciecircncia e da tecnologia Escreve o autor que os programas STPP em universidades tecnoloacutegicas mais importantes ndash tais como o Instituto de Tecnologia de Massachussets (MIT) e a Universidade Carnegie Mellon ndash estatildeo estreitamente relacionados as faculdades formadoras de engenheiros A mobilizaccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica no periacuteodo da segunda grande guerra demonstrou que a gestatildeo da ciecircncia e da tecnologia em suas no-vas e complexas inter-relaccedilotildees com o governo e a sociedade exigia capacidades (competecircncias) especiais ldquoA experiecircncia natildeo eacute suficiente para que os engen-heiros aprendam a fazecirc-lo assim como os gestores carecem em geral da edu-caccedilatildeo e habilidade necessaacuterias para comunicar-se efetivamente com o corpo cientiacuteficordquo (p 16) Os programas STPP surgiram no interior da comunidade de ciecircncia e tecnologia

bull Os programas CTS estes surgiram na visatildeo de Mitcham como respostas a influecircn-cias externas agrave ciecircncia e a tecnologia Os movimentos ecoloacutegicos e de consumidores preocupados com as mudanccedilas tecnoloacutegicas iniciaram um movimento de aproximaccedilatildeo da ciecircncia e da tecnologia com a sociedade e a cultura Nos EUA os primeiros progra-mas CTS foram produzidos por profissionais oriundos das ciecircncias sociais (Universida-de de Cornell) como por engenheiros preocupados com problemas sociais (Universida-des de Pennsylvania e Etenford) Escreve o autor que os primeiros tinham um caraacuteter mais criacuteticos da ciecircncia e da tecnologia como meacutetodos de conhecimento como soluccedilotildees

11 Conheccedila mais httpsenwikipediaorgwikiCarl_Mitcham

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CTS COMO CAMPO DE ESTUDO EM CONSTRUCcedilAtildeO13

de problemas e como processos sociais Jaacute o segundo grupo buscava demonstrar aos alunos das chamadas humanidades como era o ldquomundo fabricado pelo homemrdquo dando ecircnfase a um tipo de alfabetizaccedilatildeo tecnoloacutegica

Em uma obra claacutessica intitulada Sceince Technology and Society ndash A crosssisciplinary Perspective or-ganizada por Ina Spiegel-Roumlsing e Derek Solla Price (1977) encontramos a proposta de estruturaccedilatildeo dos estudos CTS suportada por diversas aacutereas do conhecimento (sociologia poliacutetica psicologia va-lores etc) e tambeacutem temas contemporacircneos ou demarcadores de fatos sociais (guerra militarismo sistema e relaccedilotildees internacionais modelos etc) com um capiacutetulo inicial que se intitula The Study of Science technology and Society (SSTS) Recent Trends and Future Challenges (Spiegel-Rooumlsing 1977) reafirmando a polissemia que impera na aacuterea

Outros autores apontam para origem distinta do CTS em Educaccedilatildeo Pedretti e Nazir (2011) e Aiken-head (2005) em excelentes artigos de revisatildeo defendem que Jim Gallagher (1971) introduz a visatildeo CTS quando escreve ldquoPara futuros cidadatildeos em uma sociedade democraacutetica comprender a interre-laccedilatildeo entre ciecircncia tecnologia e sociedade pode ser tatildeo importante como entender os conceitos e os processos da ciecircnciardquo (Gallagher 1971 p 337) Ele eacute seguido de uma seacuterie de publicaccedilotildees que desdo-bram a ideia com especial atenccedilatildeo ao artigo de Paul Hurd (1975) intitulado Science Technology and Society New Goals for Interdisciplinary Science Teaching

Figaredo Curiel (2013) por sua vez informa a opiniatildeo de Jose Antonio Lopez Cerezo em comuni-caccedilatildeo pessoal quando questionado sobre o inicio do uso do acrocircnimo CTS

Ateacute onde eu sei e com independecircncia de utilizaccedilotildees esporaacutedicas que natildeo se ligam com a tradiccedilatildeo acadecircmica principal de CTS ldquoscience technology and societyrdquo foi usado pela pri-meira vez por Rustum Roy o fundador do STS Programa da Universidade do Estado de Pen-silvania no final da deacutecada de 1960 ou principio da deacutecada de 1970 Eu cheguei a conhececirc-lo em uma visita a sua universidade Era um engenheiro de origem hinduacute ou paquistanesa mas com nacionalidade americana que se queixava de natildeo haver tido a visatildeo de chamar de ldquosociety technology and sciencerdquo o seu programa o que segundo ele (no princiacutepio da deacutecada de 1990 quando o conheci) refletia melhor a realidade das coisas (traduccedilatildeo livre do autor)

A nosso ver como trataremos no proacuteximo capiacutetulo o surgimento da ideacuteia CTS eacute de difiacutecil identidade visto que de acordo com a percepccedilatildeo do leitor pode ser percebido por analogia em vaacuterias correntes de pensamento na filosofia na sociologia na poliacutetica etc Como necessitamos iniciar os estudos em algum ponto vamos arbitrar com devida justificativa que as ideias CTS podem iniciar com Robert Merton e Jonh Bernal especialmente conforme detalharemos em item proacuteprio deste trabalho

Haacute certamente uma grande semelhanccedila das ideias CTS com as questotildees que marcam o mundo mo-derno Foram estas antecipaccedilotildees que permitiram que o tema impacto da ciecircncia e tecnologia sobre a sociedade fosse ocupando espaccedilos importantes no debate social e poliacutetico fosse ganhando espaccedilo nas miacutedias e fazendo com que os cidadatildeos participassem um pouco mais sobre o conjunto de poliacute-ticas puacuteblicas de Ciecircncia e Tecnologia Isto eacute passassem a influenciar mais sobre os recursos puacutebli-cos dirigidos para estes setores sobre as escolhas de prioridades a serem financiadas com recursos puacuteblicos sobre as anaacutelises de impactos destes aparatos sobre as pessoas sobre a sociedade e sobre o meio ambiente

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CTS COMO CAMPO DE ESTUDO EM CONSTRUCcedilAtildeO14

O crescimento do movimento CTS foi de tal ordem que levou os governos e os organismos multila-terais a abrirem espaccedilos nas agendas poliacuteticas para eventosdocumentos internacionais que acolhes-sem estas preocupaccedilotildees e a criaccedilatildeo de associaccedilotildees voltadas para esta temaacutetica

Dentre os eventosdocumentos podemos enumerar Nosso Futuro em Comum que discutia padrotildees para o desenvolvimento sustentaacutevel e que foi organizado pela Comissatildeo Mundial para o Meio Am-biente e Desenvolvimento e tambeacutem a Rio-92 Dentre as comissotildees surgidas para atender a esta demanda podemos citar como exemplos

bull Em 1966 a Associaccedilatildeo Nacional de Seguranccedila Viaacuteria (EUA)bull Em 1969 a Agecircncia de Proteccedilatildeo do Meio Ambiente (EUA)bull Em 1970 a Administraccedilatildeo de Seguranccedila e Sauacutede do Trabalho (EUA)bull Em 1972 a Oficina de Avaliaccedilatildeo da Tecnologia (EUA)bull Em 1975 a Comissatildeo de Energia Nuclear (EUA)bull Em 1982 o Conselho de Investigaccedilotildees Sociais da Dinamarca criou uma Subcomissatildeo de

Tecnologia e Sociedade e depois o Conselho de Tecnologiabull Em 1976 o Centro para a Vida laboral em Estocolmo Sueacutecia

A comunidade cientiacutefica tambeacutem apresentou suas preocupaccedilotildees por meio de organizaccedilotildees dirigi-das agraves questotildees derivadas das relaccedilotildees CTS e os impactos da ciecircncia e da tecnologia para a pessoa a sociedade e o meio ambiente Satildeo inuacutemeras as organizaccedilotildees ou grupos profissionais que criaram instituiccedilotildees voltadas para este campo de estudo Segundo Clutcliffe (2003) ressalta-se

bull A Fundaccedilatildeo Nacional de Ciecircncias dos Estados Unidos criou o Programa de Eacutetica e Va-lores em Ciecircncia e Tecnologia depois Programa de Dimensotildees sociais da Engenharia da Ciecircncia e da tecnologia

bull A Fundaccedilatildeo Nacional de Humanidades criou o Programa de Ciecircncia Tecnologia e Va-lores agora Humanidades Ciecircncia e Tecnologia

bull A Associaccedilatildeo Americana para o Avanccedilo da Ciecircncia criou o Programa de Ciecircncias e Poliacute-ticas de Atuaccedilatildeo e a Comissatildeo para as Liberdades e Responsabilidades Cientiacuteficas

bull Os engenheiros e cientistas criaram a Uniatildeo dos Cientistas Comprometidos (1969) ins-pirando-se na Federaccedilatildeo dos Cientistas Americanos (1945) surgida das preocupaccedilotildees com as implicaccedilotildees do projeto Manhattan que resultou na Bomba Atocircmica

bull Os cientistas e tecnoacutelogos criaram mais recentemente (1983) a Organizaccedilatildeo para a Responsabilidade Social dos Informaacuteticos dedicada a examinar as implicaccedilotildees sociais relacionadas com a informaacutetica em acircmbito militar nos locais de trabalho etc

A preocupaccedilatildeo social por meios organizados com os impactos econocircmicos sociais ambientais po-liacuteticos eacuteticos e culturais da Ciecircncia e Tecnologia e a busca de maior participaccedilatildeo da Sociedade nas decisotildees envolvendo Ciecircncia e Tecnologia satildeo as marcas do que definiremos como Movimento CTS Certamente esta definiccedilatildeo e a trajetoacuteria histoacuterica que culmina numa definiccedilatildeo eacute resultado da for-maccedilatildeo do autor ou da visatildeo do analista A triacuteade CTS envolve trecircs grandes aacutereas com histoacuterias e fun-damentos distintos e quando analisados por profissionais de diferentes aacutereas e formaccedilotildees oferecem outras tantas visotildees e acircngulos todos pertinentes e merecedores de nossa atenccedilatildeo Deixamos claro e expliacutecito que a visatildeo de CTS que apresentamos aqui eacute construiacuteda a partir dos aspectos educacionais de CTS Se encaramos o processo educacional como aquele que oferece condiccedilotildees de transformaccedilatildeo natildeo podemos desconsiderar os aspectos fundantes possiacuteveis ndash e que oferecem visotildees e fundamentos distintos e inter-complementares ndash que satildeo os aspectos sociais histoacutericos poliacuteticos axioloacutegicos e os aspectos econocircmicos de CTS

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Mas se por um lado a histoacuteria registrou um grande nuacutemero de accedilotildees organizadas por segmentos sociais preocupadas com os impactos da Ciecircncia e da Tecnologia por outro tambeacutem podemos e de-vemos enumerar os acontecimentos que transformaram essa relaccedilatildeo triaacutedica em Campo de Estudos CTS que se caracteriza pelos estudos acadecircmicos que buscam explicar a Natureza da Ciecircncia da Tecnologia e da Sociedade e como o entendimento diferente sobre estes campos do saber resulta em relaccedilotildees estreitas entre estes trecircs campos Fica claro para os estudiosos que marcam o Campo CTS ndash filoacutesofos da ciecircncia e da tecnologia historiadores da ciecircncia e da tecnologia socioacutelogos da ciecircncia e da tecnologia educadores em CTS cientistas poliacuteticos etc ndash que natildeo haacute um uacutenico exclusivo e ldquocorre-tordquo conceito para Ciecircncia assim como natildeo o haacute para Tecnologia e muito menos para Sociedade Haacute sim muitas maneiras de interpretar cada um desses camposconceitos e por consequecircncia interfe-rir na maneira com os trecircs se relacionam Sobre isso escrevem Vaacutezquez et al (2008 p 34)

O conceito de Natureza da Ciecircncia engloba uma variedade de aspectos sobre o que eacute a ciecircn-cia seu funcionamento interno e externo como constroacutei e desenvolve o conhecimento que produz os meacutetodos que usa para validar esse conhecimento os valores envolvidos nas ati-vidades cientiacuteficas a natureza da comunidade cientiacutefica os viacutenculos com a tecnologia as relaccedilotildees da sociedade com o sistema tecnocientiacutefico e vice-versa as contribuiccedilotildees desta para a cultura e o progresso da sociedade

Sobre a mesma temaacutetica Aduacuteriz-Bravo (2016) buscaraacute diferenciar Natureza da Ciecircncia e CTS para depois tentar uma convergecircncia ou mesmo intercomplementaridade entre eles Escreve ele

Para esta discussatildeo entendo o enfoque ciecircncia-tecnologia-sociedade (CTS) como uma co-rrente de pensamento com incidecircncia no campo da educaccedilatildeo cientiacutefica que aborda o ensino das ciecircncias desde os pontos de vista poliacutetico econocircmico social histoacuterico tecnoloacutegico etc (Lacolla 2004) Entendo por natureza da ciecircncia (NOS) uma aacuterea curricular emergente que agrupa um conjunto de conteuacutedos metateoacutericos (transpostos da filosofiacutea histoacuteria e socio-logiacutea da ciecircncia principalmente) considerados valiosos para a educaccedilatildeo cientiacutefica (Aduacuteriz-Bravo 2005)[]A luz do proposto parece possiacutevel postular uma complementariedade entre NOS e CTS ambas poderiam potencializar-se mutuamente para gerar mudanccedilas articuladas no saber e no saber fazer dos professores de ciecircncias A partir desta premissa estou propondo que o enfoque CTS ajudaria aos professores a encontrar umas maneiras de fazer que deixem de lado rotinas e incorporem alternativas didaacuteticas que construam em classe uma imagem de ciecircncia mais ajustada a produccedilatildeo NOS

Na verdade alguns autores natildeo fazem diferenccedila entre os termos Movimento CTS e Estudos CTS utilizando as duas expressotildees indistintamente A nosso ver as expressotildees querem representar movi-mentos diferentes o Movimento CTS representa melhor as consequecircncias sociais e accedilotildees da socie-dade em torno dos temas Ciecircncia e Tecnologia e a expressatildeo Estudos CTS identifica um campo de estudo que busca melhor entender as relaccedilotildees que compotildeem a triacuteade CTS o que pode dar ideia de antecedecircncia Vacarezza (2002 p 67) escreveraacute que

Reservamos o conceito de campo agraves funccedilotildees estritamente cognitivas que levam a cabo os distintos cultores da reflexatildeo sobre as relaccedilotildees entre ciecircncia tecnologia e o social O concei-to de movimento faz referecircncia agrave conformaccedilatildeo de um sujeito poliacutetico (ou a um conjunto mais ou menos integrado ou contraditoacuterio de sujeitos poliacuteticos) que pretende intervir em situaccedilotildees de poder social global sobre a base de reivindicaccedilotildees ou objetivos de mudanccedilas especiacuteficas (sejam setoriais ou globais)

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Haacute entre os estudiosos da Abordagem CTS uma outra importante distinccedilatildeo entre a tradiccedilatildeo ame-ricana (numa visatildeo meramente didaacutetica preocupada com as consequecircncias) e a tradiccedilatildeo europeia (numa visatildeo meramente didaacutetica preocupada com a antecedecircncia) Assim escrevem Cachapuz et al (2008 p 29) sobre as distintas facetas da perspectiva CTS

a norte-americana que coloca maior ecircnfase na abordagem das consequecircncias sociais das inovaccedilotildees tecnoloacutegicas e nas influecircncias sobre a forma de vida dos cidadatildeos e das insti-tuiccedilotildees e a europeacuteia que coloca a ecircnfase na dimensatildeo social antecedente aos desenvolvi-mentos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos evidenciando a diversidade de fatores econocircmicos poliacute-ticos e culturais que participam na gecircnese e aceitaccedilatildeo das teorias cientiacuteficas Contudo para aleacutem destas facetas apontadas natildeo poderem ser disjuntas o que muitos autores tecircm vindo a sobrepor eacute a importacircncia social do conhecimento proporcionado pela ciecircncia e tecnologia que ao mesmo tempo que proporciona melhor compreensatildeo do mundo natural representa um instrumento essencial para o transformar

Parece haver uma concordacircncia sobre aspectos de antecedecircncia e consequecircncia de CTS entre os au-tores citados Cachapuz et al (2008) Vacarezza (2002) e Mitcham (1990) Fazem essa categorizaccedilatildeo Gonzaacutelez Garciacutea Loacutepez Cerezo e Lujaacuten Loacutepez (1996)

Autores como Vaccarezza (2002) Dagnino Thomas e Davyt (2003) e Kreimer e Thomas (2004) especialmente defendem a existecircncia de um Pensamento Latinoamericano de CTS (PLACTS) ba-seados no cenaacuterio sociopoliacutetico existente nas deacutecadas de 60 e 70 em vaacuterios paiacuteses da America Latina chegando a listar os especialistas que agrave eacutepoca defendiam ideias que se assemelham agraves ideias dos Enfoques CTS hoje Segundo eles os principais satildeo Oscar Varsavsky (2010) Jorge Saacutebato (2004) Francisco R Sagasti (1986) Amilcar Herrera (1973) Miguel Wionseck Maacuteximo Halty-Carreacutere Os-valdo Sunkel Marcel Roche Joseacute Leite Lopes entre outros

Este tema mereceu de noacutes maiores pesquisas a fim de conhecer mais esta interessante hipoacutetese de trabalho Em recente pesquisa Silva (2015) pesquisando o CTS Latino Americano em obras primaacute-rias encontrou

127 autores relacionados com os temas de estudo do CTS latino-americano e [identificou] suas nacionalidades Destes 127 autores 94 foram enquadrados na categoria autores-funda-dores 21 na categoria autores-disciacutepulos e 12 natildeo puderam ser relacionados a nenhuma das duas categorias por falta de maiores informaccedilotildees disponiacuteveis sobre eles (p 53)

Ao final conclui que

Apoacutes o teacutermino da pesquisa e da anaacutelise dos resultados acreditamos que podemos respon-der agrave pergunta de partida deste trabalho Sobre se existiu uma tradiccedilatildeo latino-americana de CTS nas deacutecadas de 60 e 70 concluimos que a partir da anaacutelise feita pode-se afirmar que sim aleacutem das tradiccedilotildees americana e europeacuteia existiu uma tradiccedilatildeo CTS latino americana Poreacutem diferentemente das outras duas tradiccedilotildees esta natildeo formou escola suas teorias e pesquisas tiveram uma interrupccedilatildeo devido ao contexto poliacutetico local caracterizado por re-gimes autoritaacuterios e ditatoriaisAo pesquisar os autores-fundadores da tradiccedilatildeo CTS latino-americana percebeu-se que estes satildeo intelectuais natildeo necessariamente acadecircmicos provenientes de diversas aacutereas de formaccedilatildeo fazendo com que a tradiccedilatildeo tenha uma caracteriacutestica interdisciplinar dialoacutegica e construiacuteda atraveacutes das diferentes proposiccedilotildees e pontos de vista dos autores sobre a questatildeo do subdesenvolvimento latino-americano

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Por mais pertinentes que sejam as anaacutelises feitas pelos autores-fundadores do CTS latino-americano quanto as interrelaccedilotildees de fatores poliacuteticos e econocircmicos com o desenvolvimen-to da ciecircncia e da tecnologia conclui-se neste trabalho que estes temas satildeo pouco abordados no contexto de ensino CTS Ao correlacionar o referencial bibliograacutefico de artigos recentes publicados na aacuterea de ensino CTS no Brasil foram poucas as citaccedilotildees a autores-fundadores do CTS latino-americano e suas obras Em sua maioria as obras originais foram citadas por pessoas que jaacute estudavam o tema nos dias de hoje se destacando entre todos o autor Renato Dagnino um dos autores-disciacutepulos da tradiccedilatildeo CTS latino-americana Foi possiacutevel cons-tatar um hiato entre o que foi produzido pelos autores-fundadores nas deacutecadas de 60 e 70 com o que se produz sobre CTS hoje mostrando que natildeo parece haver uma apropriaccedilatildeo por parte dos autores de artigos na aacuterea de ensino CTS dos questionamentos e consideraccedilotildees desenvolvidas pelos autores relacionados agrave tradiccedilatildeo latino-americana de CTS (p 127-128)

Em recente publicaccedilatildeo Roso e Auler (2016) resgatam as ideias do PLACTS e suas contribuiccedilotildees (ou natildeo) para as praticas educativas do movimento CTS

A histoacuteria da relaccedilatildeo CTS teve como primeira caracteriacutestica uma reaccedilatildeo agravequela visatildeo acriacutetica e neu-tra que se deu agrave Ciecircncia e agrave Tecnologia ao longo do tempo Com o amadurecimento dos estudos CTS este se transformou efetivamente numa aacuterea intertransdisciplinar que atraia estudantes e pro-fissionais da aacuterea das chamadas ciecircncias exatas e da natureza mas que tambeacutem recrutou alunos e pesquisadores das chamadas ciecircncias humanas e sociais Essa eacute uma importante oportunidade de aproximar duas culturas a chamada humaniacutestica e a dita cientiacutefico-tecnoloacutegica que foram separadas em algum momento da histoacuteria como propotildee Snow (1995) em sua obra claacutessica As duas culturas

O segundo momento dos Estudos CTS foi marcado pela superaccedilatildeo do processo reativo criando accedilotildees planejadas e mecanismos de multiplicaccedilatildeo das ideias defendidas e organizadas ateacute entatildeo O segundo momento eacute marcado pelo surgimento de cursos e programas de estudos CTS voltados principalmen-te para a alfabetizaccedilatildeo sobre tecnologia o que transcende a alfabetizaccedilatildeo em tecnologia e que natildeo deve permitir a visatildeo ingecircnua de achar que ldquose nos entendesse melhor (a tecnologia) nos quereria maisrdquo (Cutcliffe 2003 p 16)

De acordo com Cutcliffe (2003 p 18) atualmente CTS concebe a Ciecircncia e a Tecnologia como proje-tos complexos que ocorrem em contextos histoacutericos e culturais especiacuteficos Escreve ele

Podemos dizer que em resumo pode dizer-se que o campo de CTS deixou para tras qualquer tendecircncia inicial que pudesse ser relacionado com alguns grupos e que implicasse em uma visatildeo simplista em branco e negro da ciecircncia e da tecnologia na sociedade buscando alcanccedilar uma compreensatildeo mais complexa da relaccedilatildeo de CTS Na atualidade CTS concebe a ciecircncia e a tecnologia como projetos complexos que se datildeo em contextos histoacutericos e culturais especiacutefi-cos O que tem surgido eacute um consenso com respeito a que se bem a ciecircncia e a tecnologia nos trazem diversos benefiacutecios tambeacutem provocam certos impactos negativos alguns dos quais imprevisiacuteveis mas todos refletem os valores pontos de vistas e visotildees daqueles que estatildeo em situaccedilatildeo de tomar decisatildeo com respeito aos conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos dentro de seus acircmbitos A missatildeo central do campo CTS ateacute a data de hoje tem sido a de expressar a interpretaccedilatildeo da ciecircncia e da tecnologia como um processo social Deste ponto de vista a ciecircncia e a tecnologia satildeo vistos como projetos complexos em que os valores culturais poliacuteti-cos e econocircmicos nos ajudam a configurar os processos tecnocientiacuteficos os quais por sua vez afetam os valores mesmos e a sociedade que os manteacutem (p 18) grifos nossos

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CTS COMO CAMPO DE ESTUDO EM CONSTRUCcedilAtildeO18

O mesmo autor Cutcliffe (2003) concluindo os acontecimentos sociais nas deacutecadas de 1960 e 70 escreve que CTS eacute um ldquocampo de estudo ativista interdisciplinar e orientado a problemas que tratava de entender e responder as complexidades da ciecircncia moderna e da tecnologia na sociedade contem-poracircneardquo (p 25)

Para Aibar e Quintanilla (2012) os estudos CTS podem ser estudados em dois aspectos baacutesicos

Por um lado exploram os impactos ou efeitos da ciecircncia e da tecnologia na estrutura social na induacutestria e a economia na poliacutetica no meio ambiente no pensamento e em geral na cultura Por outro de forma paralela os estudos CTS tentam determinar em que medida e de que forma diferentes fatores (valores de diferentes ordens forccedilas econocircmicas e poliacuteticas culturas profissionais ou empresariais grupos de pressatildeo movimentos sociais etc) confi-guram ou influenciam no desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico (p 12)

Para Zani et al (2013 p 63)

A necessidade do cidadatildeo de conhecer os direitos e obrigaccedilotildees de cada um de pensar por si proacuteprio e ter uma visatildeo criacutetica da sociedade onde vive e especialmente a disposiccedilatildeo de transformar a realidade para melhor satildeo alguns dos lemas do movimento CTS (Ciecircncia Tecnologia e Sociedade)

Zaiuth e Hayashi (2011 p 279) veem o Movimento CTS ldquocomo apelo para a responsabilidade social dos cientistas os quais devem se comprometer com padrotildees eacuteticos tanto na sua proacutepria formaccedilatildeo e tambeacutem nos que estatildeo na primeira linha da educaccedilatildeo para cidadania os professoresrdquo

Para Mello e Guazzelli (2011 p 25)

[] o movimento CTS tem como objetivo maior apresentar um ensino de ciecircncias voltado agrave formaccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica oferecida a todos os cidadatildeos indistintamente para que eles sejam capazes de tomar decisotildees responsaacuteveis com base na ciecircncia e tecnologia levan-do em consideraccedilatildeo no mesmo patamar a sociedade o ambiente e as dimensotildees afetivas atitudinais eacuteticas e culturais

No que concerne a Abordagem CTS com ecircnfase na Educaccedilatildeo e no curriacuteculo Acevedo Vaacutezquez e Manasero (2001) informam que no momento atual

emerge a educaccedilatildeo CTS (Ciecircncia tecnologia e Sociedade) como inovaccedilatildeo do curriacuteculo es-colar (Acevedo 1996a 1997a Vaacutezquez 1999) de caraacuteter geral que proporciona propostas de alfabetizaccedilatildeo em ciecircncia e tecnologia (Science and Technology Literacy STL) para todas as pessoas (Science and Technology for All STA) uma determinada visatildeo centrada na for-maccedilatildeo de atitudes valores e normas de comportamento a respeito da intervenccedilatildeo da ciecircncia e da tecnologia na sociedade (e vice-versa) com o fim de exercer responsavelmente como cidadatildeos e poder tomar decisotildees racionais e democraacuteticas na sociedade civil12 Desde este ponto de vista CTS eacute uma opccedilatildeo educativa transversal (Acevedo 1996b) que prioriza so-bretudo os conteuacutedos atitudinais (cognitivos afetivos e valorativos) e axioloacutegicos (valores e normas)Desde a perspectiva da dimensatildeo cognitiva atitudinal a educaccedilatildeo CTS pretende tambeacutem uma melhor compreensatildeo da ciecircncia e da tecnologia em seu contexto social incidindo nas

12 Neste ponto os autores acrescentam a seguinte nota no original ldquoLa posicioacuten de los autores respecto al papel que debe tener el movimiento CTS en la alfabetizacioacuten cientiacutefica y tecnoloacutegica para todas las personas ha sido expuesta numerosas veces recien-temente se muestra con rotundidad en Acevedo Manassero y Vaacutezquez (2002a b) Por su intereacutes veacutease tambieacuten el punto de vista sostenido por Solbes Vilches y Gil (2002b)rdquo

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CTS COMO CAMPO DE ESTUDO EM CONSTRUCcedilAtildeO19

interrelaccedilotildees entre os desenvolvimentos cientiacutefico e tecnoloacutegico e os processos sociais As-sim os estudantes deveratildeo adquirir durante sua escolarizaccedilatildeo algumas capacidades para ajudaacute-los a interpretar pelo menos de forma geral questotildees controvertidas re-lacionadas com os impactos sociais da ciecircncia e da tecnologia e com a qualidade das condiccedilotildees de vida de uma sociedade cada vez mais impregnada de ciecircncia e sobretudo de tecnologia (grifos nossos)

Para Acevedo Vaacutezquez e Manassero (2003a p 101)

Movimento CTS eacute entendido como uma inovaccedilatildeo educacional que estaacute em consonacircncia com as mais relevantes e atuais recomendaccedilotildees internacionais para proporcionar no ensino de ciecircncias a alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica mais completa e uacutetil possiacutevel para todas as pessoas

Auler (2007) apresentaraacute as seguintes reflexotildees

Quanto aos objetivos da educaccedilatildeo CTS sintetizados na referida pesquisa pode-se destacar promover o interesse dos estudantes em relacionar a ciecircncia com aspectos tecnoloacutegicos e sociais discutir as implicaccedilotildees sociais e eacuteticas relacionadas ao uso da ciecircncia-tecnologia (CT) adquirir uma compreensatildeo da natureza da ciecircncia e do trabalho cientiacutefico formar cidadatildeos cientiacutefica e tecnologicamente alfabetizados capazes de tomar decisotildees informadas e desenvolver o pensamento criacutetico e a independecircncia intelectual (sem indicaccedilatildeo de paacutegina)

Ainda sobre os aspectos educacionais e curriculares podemos elencar as posiccedilotildees de Santos e Morti-mer (2002) Amaral Xavier e Maciel (2009) e Santos Amaral e Maciel (2012)

Santos e Mortimer (2002 p 3) escrevem que

Roberts (1991) refere-se agraves ecircnfases curriculares ldquoCiecircncia no contexto socialrdquo e ldquoCTSrdquo como aquelas que tratam das inter-relaccedilotildees entre explicaccedilatildeo cientiacutefica planejamento tecnoloacutegico e soluccedilatildeo de problemas e tomada de decisatildeo sobre temas praacuteticos de importacircncia social Tais curriacuteculos apresentam uma concepccedilatildeo de (i) ciecircncia como atividade humana que ten-ta controlar o ambiente e a noacutes mesmos e que eacute intimamente relacionada agrave tecnologia e agraves questotildees sociais (ii) sociedade que busca desenvolver no puacuteblico em geral e tambeacutem nos cientistas uma visatildeo operacional sofisticada de como satildeo tomadas decisotildees sobre proble-mas sociais relacionados agrave ciecircncia e tecnologia (iii) aluno como algueacutem que seja preparado para tomar decisotildees inteligentes e que com-preenda a base cientiacutefica da tecnologia e a base praacutetica das decisotildees e (iv) professor como aquele que desenvolve o conhecimento de e o comprometi-mento com as inter-relaccedilotildees complexas entre ciecircncia tecnologia e decisotildees

Amaral Xavier e Maciel (2009 p 102) por sua vez esclarecem

Para uma eficaz associaccedilatildeo dos termos CiecircnciaTecnologiaSociedade numa relaccedilatildeo triaacutedi-ca requer-se trabalhar a ciecircncia como atividade humana historicamente contextualizada indicando os cenaacuterios socioeconocircmico e cultural onde as descobertas cientiacuteficas foram ou estatildeo sendo realizadas bem como a apresentaccedilatildeo das suas inter-relaccedilotildees com a tecnologia e a sociedade

Santos Amaral e Maciel (2012 p 229) informam que

A proposta curricular envolvendo as relaccedilotildees CTS corresponde assim a uma integraccedilatildeo entre educaccedilatildeo cientiacutefica tecnoloacutegica e social em que os conteuacutedos cientiacuteficos e tecnoloacutegi-

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CTS COMO CAMPO DE ESTUDO EM CONSTRUCcedilAtildeO20

cos satildeo estudados juntamente com a discussatildeo de seus aspectos histoacutericos eacuteticos poliacuteticos e soacutecio-econocircmicos

Segundo Osorio M (sd) CTS corresponde a um nome que se daacute a uma linha de trabalho acadecircmico e investigativo que tem por objeto perguntar-se pela natureza social do conhecimento cientiacutefico-tecnoloacutegico e suas incidecircncias nos diferentes acircmbitos econocircmicos sociais ambientais e culturais das sociedades

Ainda segundo Osorio M (sd) e tambeacutem Loacutepez Cerezo (2009) os estudos CTS estatildeo dirigidos prin-cipalmente

bull No plano da investigaccedilatildeo promovendo uma visatildeo socialmente con-textualizada da Ciecircncia e da Tecnologia

bull No acircmbito das poliacuteticas puacuteblicas de Ciecircncia e Tecnologia defendendo a participaccedilatildeo puacuteblica na tomada de decisatildeo em questotildees de poliacutetica e de gestatildeo cientiacutefico-tecnoloacutegica e

bull No plano educativo tanto o ensino meacutedio quanto o ensino superior contribuindo com uma nova e mais ampla percepccedilatildeo da Ciecircncia e da Tecnologia com o propoacutesito de for-mar um cidadatildeo alfabetizado cientiacutefica e tecnologicamente

Para Firme e Amaral (2011 p 384)

Na perspectiva CTS para o Ensino de Ciecircncias eacute reconhecida a necessaacuteria articulaccedilatildeo dos conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos com o contexto social tendo como objetivo pre-parar cidadatildeos capacitados para julgar e avaliar as possibilidades limitaccedilotildees e implicaccedilotildees do desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico

Para Mackenzie (2008) ldquociecircncia tecnologia e sociedade (CTS) eacute um nome geneacuterico para uma co-leccedilatildeo de estudos das ciecircncias sociais e humanas que examinam os contextos e conteuacutedos da ciecircncia e da tecnologiardquo (p 163) realccedilando que por conta dessa diversidade no desenvolvimento de seu trabalho natildeo cabe dizer que eacute utilizado o enfoque CTS mas sim um enfoque CTS dai nossa proposta de grafar enfoques CTS ou abordagens CTS no plural

A funccedilatildeo de alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica como propoacutesito da educaccedilatildeo CTS estaacute muita clara para diversos autores Para Miembiela (2001) citando vaacuterios autores o propoacutesito da educaccedilatildeo CTS apesar de haver muito debate e pouco consenso

eacute promover a alfabetizaccedilatildeo em ciecircncia e tecnologia de maneira que se capacite os cidadatildeos para participarem no processo democraacutetico de tomada de decisatildeo e se promova a accedilatildeo ci-dadatilde encaminhada a resoluccedilatildeo de problemas relacionadas com a ciecircncia e a tecnologia em nossa sociedade (p 91)

A mesma ideia eacute defendida por Waks (1990 p 43) quando escreve que

o propoacutesito da educaccedilatildeo CTS eacute promover a alfabetizaccedilatildeo em ciecircncia e tecnologia de ma-neira que se capacite os cidadatildeos para participar da tomada de decisatildeo e se promova a accedilatildeo cidadatilde encaminhada a resoluccedilatildeo de problemas relacionados com a ciecircncia e a tecnologia na sociedade industrial

Fourez (1997) ao relacionar Alfabetizaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica (ACT) com CTS faz interessante distinccedilatildeo entre ambos Escreve que

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CTS COMO CAMPO DE ESTUDO EM CONSTRUCcedilAtildeO21

Em certos meios se fala menos de ACT que de movimento ldquoCiecircncia Tecnologia e Socieda-derdquo (CTS) Agraves vezes a realidade designada eacute a mesma mas a escolha das palavras aporta diferenccedilas CTS traz agrave consciecircncia um problema que natildeo era considerado como tal haacute meio seacuteculo os viacutenculos entre os polos em que se apoia Enquanto que falar de uma ACT (como da promoccedilatildeo de uma cultura cientiacutefica e tecnoloacutegica) natildeo questiona o lugar das ciecircncias e das tecnologias na sociedade o movimento CTS o faz pelo menos implicitamente (p 18) (grifos nossos)

Bazzo Lisingen e Pereira (2003 p 125) escreveram

Os estudos CTS definem hoje um campo de trabalho recente e heterogecircneo ainda que bem consolidado de caraacuteter criacutetico a respeito da tradicional imagem essencialista da ciecircncia e da tecnologia e de caraacuteter interdisciplinar por convergirem nele disciplinas como a filosofia e a histoacuteria da ciecircncia e da tecnologia a sociologia do conhecimento cientiacutefico a teoria da educaccedilatildeo e a economia da mudanccedila teacutecnica Os estudos CTS buscam compreender a di-mensatildeo social da ciecircncia e da tecnologia tanto desde o ponto de vista dos seus antecedentes sociais como de suas consequecircncias sociais e ambientais ou seja tanto no que diz respeito aos fatores de natureza social poliacutetica ou econocircmica que modulam a mudanccedila cientiacutefico-tecnoloacutegica como pelo que concerne agraves repercussotildees eacuteticas ambientais ou culturais dessa mudanccedilaO aspecto mais inovador deste novo enfoque se encontra na caracterizaccedilatildeo social dos fato-res responsaacuteveis pela mudanccedila cientiacutefica Propotildee-se em geral entender a ciecircncia-tecnologia natildeo como um processo ou atividade autocircnoma que segue uma loacutegica interna de desenvolvi-mento em seu funcionamento oacutetimo (resultante da aplicaccedilatildeo de um meacutetodo cognitivo e um coacutedigo de conduta) mas sim como um processo ou produto inerentemente social onde os elementos natildeo-epistecircmicos ou teacutecnicos (por exemplo valores morais convicccedilotildees religio-sas interesses profissionais pressotildees econocircmicas etc) desempenham um papel decisivo na gecircnese e na consolidaccedilatildeo das ideias cientiacuteficas e dos artefatos tecnoloacutegicos

Como os movimentos educacionais satildeo motivados por interesses de grupo por relaccedilotildees de poder dos mais diversos natildeo eacute surpresa que o chamado Movimento CTS (em suas mais diversas manifestaccedilotildees) sofra oscilaccedilotildees na sua aceitaccedilatildeo e produccedilatildeo nas aacutereas em que se manifesta como atividade de pes-quisa e ensino Santos (2011) chega a referir-se como movimento declinante Sustenta sua percepccedilatildeo a partir do fato de que as publicaccedilotildees com tiacutetulos CTS esta diminuindo nos uacuteltimos anos A nosso ver mesmo que o roacutetulo CTS esteja sendo menos aplicado aos produtos de ensino e pesquisa sua essecircncia eacute anterior ao acroacutestico CTS e posterior a ele CTS como movimento de construccedilatildeo social da Ciecircncia e da Tecnologia e como aacuterea de estudos sobre impactos da Ciecircncia e da Tecnologia na Socie-dade se manteacutem ativo e produtivo Outros slogans estatildeo ocupando os espaccedilos do ensino de ciecircncia e tecnologia como sempre ocorreu com os modismos que imperam temporariamente mas a ideia se manteacutem e deve tornar-se mais madura entre grupos que ndash passada a febre ndash percebem nas dinacircmicas internas da aacuterea CTS ferramentas de contribuiccedilatildeo para a formaccedilatildeo de cidadatildeos mais bem preparados para a participaccedilatildeo social Parece ficar claro que este natildeo eacute um campo de convergecircncia faacutecil ou simples Por isso certamente John Ziman (1980) ndash tido por alguns como o responsaacutevel pela criaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo da triacuteade CTS no meio educacional atraveacutes de seu trabalho Teaching and Learning about Science and Society ndash diz que CTS eacute um campo de estudos que responde por diversos outros nomes como por exemplo

Estudos Sociais da Ciecircncia Ciecircncia da Ciecircncia Ciecircncia e Sociedade Responsabilidade So-

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CTS COMO CAMPO DE ESTUDO EM CONSTRUCcedilAtildeO22

cial na Ciecircncia Teoria da Ciecircncia Estudos de Poliacuteticas de Ciecircncias Ciecircncia num Contexto Social Estudos Liberais em Ciecircncias Relaccedilotildees Sociais de Ciecircncia e Tecnologia HistoacuteriaFilosofiaSociologia da CiecircnciaTecnologiaConhecimento (p 01)

Para noacutes a visatildeo sobre CTS diverge de acordo com o objetivo ou local (origem) visto que a definiccedilatildeo e a trajetoacuteria histoacuterica que culmina numa definiccedilatildeo eacute resultado da formaccedilatildeo do autor ou da visatildeo do analista

Em siacutentese temos que as relaccedilotildees CTS buscam oferecer aos cidadatildeos ferramentas para melhor en-tenderem como os conhecimentos cientiacuteficos e os conhecimentos artefatos e sistemas tecnoloacutegicos impactam a sociedade de modo geral e os grupos sociais em especial No sentido inverso busca-se que os especialistas em Ciecircncia e em Tecnologia percebam que a interlocuccedilatildeo com os cidadatildeos eacute indispensaacutevel e necessaacuteria permitindo que se acolha maior participaccedilatildeo social nos processos de de-cisatildeo social envolvendo temas e aspectos que povoam o universo da Ciecircncia e da Tecnologia

Uma boa imagem das relaccedilotildees CTS

As relaccedilotildees entre a ciecircncia a tecnologia e a sociedade tecircm um caraacuteter muito mais com-plexo e dinacircmico () mais do que as ligaccedilotildees de uma corrente ou as linhas que satildeo tranccediladas dar forma a um tecido acabado e definitivo as relaccedilotildees entre a Ciecircncia Tecno-logia e a Sociedade podem ser vistas como um processo da construccedilatildeo e de reconstruccedilatildeo reciacuteproco e dinacircmico Talvez a imagem das redes de estrada dos veiacuteculos que viajam por elas e das pessoas que lhes conduzem ou que viajam neles seria uma metaacutefora mais adequada para compreender aquelas relaccedilotildees A extensa rede de estradas que tem e que se ramifica na superfiacutecie do territoacuterio vai tornando acessiacuteveis novos lugares de uma ma-neira similar agrave maneira em que o desenvolvimento dos diversos campos cientiacuteficos vai permitindo conhecer novos acircmbitos da realidade Mas apesar disso o proacuteprio desen-volvimento das redes de comunicaccedilatildeo vai dando forma ao territoacuterio em um processo construtivo natildeo muito distante do que caracteriza as relaccedilotildees entre os campos do con-hecimento e as realidades tratadas por eles De outra forma natildeo eacute possiacutevel compreender a construccedilatildeo das rotas no territoacuterio sem considerar o tipo de veiacuteculos que vai passar por eles Estes aleacutem dos artefatos tecnoloacutegicos satildeo uma boa metaacutefora da proacutepria tecnologia ao mostrar que suas relaccedilotildees com ciecircncia satildeo assim estreitas e interdependentes como aquelas dos carros com as estradas das estradas de ferro com as rotas e dos automoacuteveis com as estradas De fato a histoacuteria da Ciecircncia e da Tecnologia assim como das rotas do transporte e dos aparatos tecnoloacutegicos que por eles viajam eacute a historia das interaccedilotildees contiacutenuas e de transformaccedilotildees muacutetuas Mas o interesse principal dessa imagem estaacute no papel que atribui aos assuntos aos condutores e passageiros e agrave sociedade Nenhum sentido tenderia imaginar caminhotildees e veiacuteculos sem as pessoas que os utilizam As es-tradas e os automoacuteveis permitem que os povos sejam transportados e vivam em lugares diferentes mas tambeacutem eacute certo que satildeo as disposiccedilotildees das estradas e o uso dos automoacute-veis os que por sua vez vatildeo determinando os haacutebitos os territoacuterios e as cenas em que estaacute passando a vida humana

Martiacuten Gordillo Mariano y Osorio M Carlos Educar para participar en ciencia y tec-nologiacutea Un proyecto para la difusioacuten de la cultura cientiacutefica httpwwwrieoeiorgrie32a08pdf (Traduccedilatildeo livre)

Atividade Proposta para reflexatildeo

Recentemente o STF-Supremo Tribunal Federal organizou uma Audiecircncia Puacuteblica em torno do tema da Accedilatildeo Direta de Inconstitucionalidade da Lei de Biosseguranccedila Com essa accedilatildeo o STF buscou ouvir os diferentes setores da sociedade organizada sobre o tema Apoacutes isso encaminharaacute a decisatildeo sobre a possibilidade de utilizaccedilatildeo de ceacutelulas embrionaacuterias humanas em pesquisas cientiacuteficas Em entrevista a Revista VEJA (n 2059 de 07maio2008 p 11-15) o socioacutelogo Simon Schwartzman diz

ldquoEu nunca vi um estudo seacuterio e competente sobre transposiccedilatildeo do Rio Satildeo Franciscordquo

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CTS COMO CAMPO DE ESTUDO EM CONSTRUCcedilAtildeO23

1 Pesquise como o STF organizou a audiecircncia puacuteblica sobre ceacutelulas embrionaacuterias Identifique as instituiccedilotildees convidadas para o debate e suas posiccedilotildees Faccedila um esquema geral das posiccedilotildees clas-sificando-as como ldquocontrardquo ou ldquofavoraacutevelrdquo e o argumento utilizado

2 Proponha um esquema semelhante para o debate tecnocientiacutefico e social sobre o tema ldquoTrans-posiccedilatildeo do Rio Satildeo Franciscordquo Imagine que vocecirc seja chamado a organizar um grande debate e depois teraacute que decidir se a transposiccedilatildeo do Rio Satildeo Francisco deve ou natildeo ser efetivada

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SOBRE A CIEcircNCIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A CIEcircNCIA25

2 Sobre a Ciecircncia mas natildeo o que eacute a Ciecircncia

A frase de Eric Hobsbawm13 ndash considerado o maior historiador de nosso seacuteculo ndash expressa a dificul-dade de tratar este tema a Ciecircncia Ele aponta a importacircncia da Ciecircncia para o seacuteculo XX e para-doxalmente a dificuldade de se lidar com ela Estamos efetivamente envolvidos e impactado pelo resultado da Ciecircncia e nos sentimos desconfortaacuteveis com o desconhecimento sobre ela Formamos como cidadatildeos opiniotildees sobre a produccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica sobre os especialistas sobre os impactos e certamente sabemos muito pouco sobre este campo do conhecimento Este conhecimen-to aliaacutes jaacute eacute considerado fator estrateacutegico para o desenvolvimento dos paiacuteses

Aleacutem disso os impactos da ciecircncia e da tecnologia na sociedade deixam de ser pontuais para serem amplos e geneacutericos solicitando dos cidadatildeos uma nova maneira de lidar com esses conhecimentos Como afirma Casassus (2007)

Se antigamente a ciecircncia e a tecnologia eram importantes somente para as pessoas que diri-giam para as carreiras cientiacuteficas hoje isto mudou pois as tecnologias com base matemaacuteti-ca moldam nossa existecircncia (p 79)

Alguns problemas se apresentam na preparaccedilatildeo deste texto-debate a extensatildeo dos assuntos que compotildee o tema e a exiguidade de tempo e espaccedilo Isso nos obriga a fazer escolhas e traccedilar um camin-ho possiacutevel onde as discussotildees sobre Ciecircncia se tornam instrumentais para o melhor entendimento das relaccedilotildees CTS

Alan Chalmers (1993) em sua obra intitulada O que eacute ciecircncia afinal Busca analisar a evoluccedilatildeo da ideia recente sobre ciecircncia e meacutetodo cientiacutefico apresentando criacuteticas e argumentos importantes a fim de contrapor-se a ideia herdada de ciecircncia desde Karl Popper e Imre Lakatos Faz uma simples mas rica trajetoacuteria pedagoacutegica para ao final concluir sobre a dificuldade que eacute tratar desta pergunta ldquoO que eacute ciecircnciardquo Escreve ele ldquoPoder-se-ia dizer que o livro procede de acordo com um velho pro-veacuterbio lsquoNoacutes comeccedilamos confusos e terminamos confusos num niacutevel mais elevadorsquo rdquo (p 21)

13 Conheccedila mais em httpptwikipediaorgwikiEric_Hobsbawm

Nenhum periacuteodo da histoacuteria foi mais penetrado pelas ciecircncias naturais nem mais dependente delas do que o seacuteculo XX Contudo nenhum periacuteodo desde a retrataccedilatildeo de Galileu se sentiu menos agrave vontade com elas Este eacute o paradoxo que tem que enfrentar o historiador do seacuteculo

Eric Hobsbawmin A Era dos Extremos ndash O breve seacuteculo XX

A falta do interesse e mesmo a rejeiccedilatildeo para o estudo das ciecircncias associado agrave falha escolar de uma porcentagem elevada dos estudantes constituem um problema de especial gravidade tanto na regiatildeo ibero-americana como nos paiacuteses desenvolvidos Um problema que merece uma atenccedilatildeo prioritaacuteria porque como foram indicadas na Conferecircncia Mundial sobre a Ciecircncia para o Seacuteculo XXI organizada pela UNESCO e pelo Conselho Internacional para a Ciecircncia ldquopara que um paiacutes esteja em condiccedilotildees de atender as necessidades fundamentais de sua populaccedilatildeo o ensino das ciecircncias e da tecnologia eacute um imperativo estrateacutegicordquo

Declaraccedilatildeo de Budapeste 1999

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SOBRE A CIEcircNCIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A CIEcircNCIA26

Leoacuten Oliveacute (2000) em sua obra intitulada El bien el mal y la razoacuten inicia seus trabalhos com a mes-ma questatildeo que enfrentamos agora O que eacute ciecircncia O autor busca responder agrave provocaccedilatildeo de duas maneiras a primeira seria responder por meio das ideias fundamentais e meacutetodos proacuteprios da ciecircn-cia Parafraseando Courant e Robbins ndash que enfrentaram o mesmo problema quando buscavam res-ponder o que eacute a matemaacutetica ndash lembra da expressatildeo usada por eles ldquoTanto para entendidos como para profanos natildeo eacute a filosofia e sim unicamente a experiecircncia ativa em matemaacutetica a que pode res-ponder a pergunta que eacute a matemaacuteticardquo Complementa Oliveacute ldquoNisso se equivocam redondamenterdquo (p 25) Logo sobre a matemaacutetica e a ciecircncia haacute algo mais a dizer que seus meacutetodos e ideias

A segunda maneira de responder agrave provocaccedilatildeo ainda segundo Oliveacute (2000) eacute considerar que a pro-vocaccedilatildeo natildeo eacute uma pergunta cientiacutefica Isto eacute a resposta deve basear-se em algo mais do que meacuteto-dos ideias e descriccedilotildees tidas como exatas Defende que para responder agrave questatildeo cientistas e natildeo-cientistas devem refletir sobre o que fazem os cientistas sobre como o fazem sobre os resultados que obtecircm e como eacute a que estaacute condicionado todo esse sistema Conclui escrevendo ldquoDado que se trata de uma pergunta sobre a ciecircncia ndash de uma pergunta metacientiacutefica ndash natildeo se requer fazer o mesmo que se faz na ciecircncia para respondecirc-lardquo (p 26)

Para a anaacutelise desta pergunta metacientiacutefica e seus problemas Oliveacute (2000) diz que haacute trecircs disci-plinas que podem dar conta da reflexatildeo a histoacuteria da ciecircncia a sociologia da ciecircncia e a filosofia da ciecircncia Parece que fica claro que a tarefa de responde a provocaccedilatildeo natildeo eacute simples nem trivial

Para noacutes parece haver uma relaccedilatildeo direta entre o que sabemos sobre ciecircncia [e tecnologia] e o que en-sinamos e como ensinamos ciecircncia [e tecnologia] Some-se a isso a visatildeo ampliada que poderemos ter com as contribuiccedilotildees advindas das disciplinas histoacuteria sociologia e filosofia da ciecircncia [e tecnologia]

Assim como Chalmers (1993) Oliveacute (2000) e muito outros natildeo temos a pretensatildeo de responder agrave pergunta considerando os argumentos dos autores e tambeacutem porque este natildeo eacute nosso objetivo neste trabalho Buscaremos uma trajetoacuteria instrumental e intencional do(s) conceito(s) de ciecircncia visto que queremos refletir sobre o conceito herdado de ciecircncia a participaccedilatildeo de fatores sociais e indivi-dual na produccedilatildeo da ciecircncia e da tecnologia e a relaccedilatildeo destas com a sociedade espelhada na imagem puacuteblica da ciecircncia e da tecnologia

Vamos pois em nosso trajeto provocativo (1) descrever as diferentes visotildees sobre ciecircncia e as con-tribuiccedilotildees da sociologia da ciecircncia e da tecnologia (2) apresentar os resultados de pesquisas de opi-niatildeo sobre Ciecircncia e Tecnologia a fim de identificarmos pontos fortes e paradoxos na opiniatildeo dos cidadatildeos Depois vamos (3) estudar as visotildees distorcidas de Ciecircncia que alimentam as concepccedilotildees dos cidadatildeos para ao final (4) apresentarmos algumas especificidades que devem ser consideradas no esforccedilo de entender o que seja Ciecircncia nas suas mais diversas concepccedilotildees

Deixamos claro desde jaacute que natildeo haacute nenhuma pretensatildeo de obter um conceito de ciecircncia tarefa a que se dedicam faz tempo os epistemoacutelogos da ciecircncia A proposta aqui eacute levantar reflexotildees e apre-sentar visotildees pouco comuns nas discussotildees sobre Educaccedilatildeo em Ciecircncias e CTS que satildeo forte e infe-lizmente pautados na tradiccedilatildeo que precisa ser superada Por tal buscaremos apresentar pesquisas sobre como a populaccedilatildeo em geral vecirc a Ciecircncia e a Tecnologia e as reflexotildees sobre o que natildeo se deseja na aprendizagem de Ciecircncia e Tecnologia Daremos espaccedilo para transcriccedilotildees avantajadas dos textos escolhidos para exemplificar a ideia que necessitamos para seguir a diante na discussatildeo CTS

Sobre o escopo e intencionalidade deste capiacutetulo eacute importante antecipar que ao apresentar a evo-

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SOBRE A CIEcircNCIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A CIEcircNCIA27

luccedilatildeo da Sociologia da Ciecircncia Oliver Martin (2003) ndash como poderiacuteamos lanccedilar de matildeo de Berger e Luckmann 2014 Vega Encabo (2012) Bennagravessar et al (2011) Chikara Sasaki (2010) Pierre Bourdieu (2003 2008) Shinn e Ragouet (2008) Jesuacutes Valero (2004) Stephen Cutcliffe (2003) dentre outros ndash elenca as ideias norteadoras dos pensadores em Sociologia iniciando com Auguste Comte (1789-1857) Karl Marx (1818-1883) Levy-Bruhl (1857-1939) Eacutemile Durkheim (1858-1917) para apoacutes isso iniciar o periacuteodo que chamou de Sociologia do Conhecimento Cientiacutefico Chama atenccedilatildeo para o fato que nenhum dos autores claacutessicos apesar de citarem o conhecimento cientiacutefico ldquoo converteu em objeto central de seus propoacutesitosrdquo (p 18) e apresenta trecircs autores que em sua visatildeo abordaram preci-samente o conhecimento cientiacutefico como objeto de estudo Max Scheller (1874-1928) Karl Mannhein (1893-1947) e Pitirim Sorokin (1889-1968)

Dando continuidade a sua narrativa Martin (2003) escreve que

Em nenhum momento os autores claacutessicos que temos revisado atribuem a sociologia a ca-pacidade de explicar a origem da validez das teorias cientiacuteficas Em geral propotildeem uma classificaccedilatildeo das formas de conhecimento e distinguem o conhecimento cientiacutefico de outras formas de conhecimento natildeo pretendem definir sociologicamente as fronteiras que sepa-ram essas diferentes formas Para eles a definiccedilatildeo de ciecircncia natildeo surge da sociologia e sim com maior seguranccedila da epistemologia Todos admitem que o desenvolvimento da ciecircncia respeita uma loacutegica essencialmente racional que os conhecimentos cientiacuteficos evoluem de modo endoacutegeno e que a validez de uma teoria eacute independente de sua origem social (p 23)

O autor deixa claro que as discussotildees sobre verdadeiro e falso objetivo e subjetivo ciecircncia e natildeo-ciecircncia e tudo mais que trate de um relativismo em ciecircncia natildeo possui espaccedilo nem apoio ateacute entatildeo

Essa visatildeo ingecircnua seraacute ampliada e enriquecida quando nas deacutecadas de 1920 e 1930 a ciecircncia co-meccedilou a ser encarada de forma diferente especialmente no processo diferenciado de elaboraccedilatildeo e de construccedilatildeo bem como o sistema de difusatildeo do conhecimento cientiacutefico e de como os cientistas se organizavam Esta nova fase eacute personalizada e demarcada ainda segundo Martin (2003) tendo como siacutembolo Robert Merton que inaugura uma corrente chamada por Shinn e Ragouet (2008) de diferenciacionistas

A nosso ver a primeira ideia que derivaraacute no Campo CTS pode ter origem nas reflexotildees mertonia-nas nas deacutecadas de 1940-50 quando deixa claro que a ciecircncia natildeo eacute natural ndash o que indica que eacute de produccedilatildeo social ndash e que estrutura a sociologia normativa dando mostra que eacute necessaacuterio o estabele-cimento de regras externas a fim de regrar interesses e crenccedilas na produccedilatildeo cientiacutefica

No mesmo periacuteodo John D Bernal (1937) publica na Inglaterra A Funccedilatildeo Social da Ciecircncia trazen-do para a arena das ideias as questotildees que hoje satildeo proacuteprias da Construccedilatildeo Social da Ciecircncia (e da Tecnologia)

Merton e Bernal podem ser resgatados como possiacuteveis precursores dos estudos atuais do Campo CTS

Esta nova fase recebe as contribuiccedilotildees de Thomas Kuhn (1922-1996) cujas ideias servem como ponto de partida para reflexotildees e surgimento de abordagens importantes para esta nova etapa da sociologia da ciecircncia Dentre as manifestaccedilotildees inovadoras desta fase podemos enumerar

1 O grupo de estudos franco-britacircnico (PAREX Paris e Sussex) fundado em 1971 e que pas-

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SOBRE A CIEcircNCIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A CIEcircNCIA28

sou a se chamar em 1981 European Association for the Study of Science and Technology2 O chamado Programa Forte em Sociologia do Conhecimento Cientiacutefico criado e manti-

do por socioacutelogos da Universidade de Edimburgo e3 O chamado Programa Empiacuterico do Relativismo criado e mantido por especialistas da

Universidade de Bath na Inglaterra

Estes programas de estudos sociais da ciecircncia trouxeram agrave tona questotildees que demonstram que o conhecimento cientiacutefico eacute socialmente construiacutedo que a comunidade cientiacutefica trabalha a partir de crenccedilas e interesses que os cientistas e grupos possuem valores preacutevios que em alguma medida interferem nas decisotildees que tomam

Mais recentemente identifica-se o movimento de analogamente agrave sociologia da ciecircncia aplicar a mesma loacutegica a aacuterea de tecnologia fundando a chamada sociologia da tecnologia que se apropria tambeacutem de saberes oriundos da filosofia da tecnologia Sasaki (2010) informa que o ldquoprincipal pro-motor do construtivismo social da tecnologia na atualidade eacute o historiador da tecnologia Wiebe E Bi-jker como ele proacuteprio reconhece o construtivismo social da tecnologia eacute a ampliaccedilatildeo metodoloacutegica do lsquoStrong Programrsquo de Bloorrdquo (p 121) Bourdieu (2008) em sua obra Para uma Sociologia da Ciecircncia tambeacutem identifica esta evoluccedilatildeo e estes mesmos autores como marcos importantes da aacuterea

No Brasil os estudos de Natureza da Ciecircncia e da Tecnologia ndash NdCeT satildeo fortemente difundidos na grande aacuterea da EducaccedilatildeoEnsino em Ciecircncia e Tecnologia podendo ser percebida em duas gran-des subaacutereas com histoacuterico e produccedilatildeo bem distintas A primeira mais disseminada consolidada e produtiva eacute a que se pode chamar de Histoacuteria e Filosofia da Ciecircncia (e menos em Tecnologia) aten-dendo ao que aponta Martin na sua narrativa histoacuterica quando diz que a produccedilatildeo cientifica estava entregue desde antes aos epistemoacutelogos E a segunda a proacutepria Aacuterea CTS

Natildeo temos pois a pretensatildeo de tratar do conceito de ciecircncia como fazem ndash e muito bem ndash os epis-temoacutelogos Muito menos trazer para este espaccedilo as questotildees e reflexotildees daquele grupo Aqui vamos descontruir a ideia de Ciecircncia herdada neutra positiva individual e fechada nos laboratoacuterios

Podemos a tiacutetulo de ilustraccedilatildeo das questotildees em torno da Ciecircncia e dos embates calorosos socorrer-nos por exemplo de Steve Woolgar (1991) de Pierre Bourdieu (2003 dentre outros) ou Boaventura de Sousa Santos (2003 dentre outros) Optamos por Boaventura de Sousa Santos (2003) por sua proximidade com o universo ibero-americano e escolhemos sua obra Conhecimento Prudente para uma vida decente Um discurso sobre as ciecircncias revisitado14 quando descreve sucintamente um dos muitos aspectos que podem exemplificar a complexidade do tema que eacute a chamada ldquoguerras da ciecircn-ciardquo que ldquofoi acima de tudo um debate entre cientistas em geral e cientistas cujo objeto de investi-gaccedilatildeo eacute a proacutepria ciecircncia enquanto fenocircmeno socialrdquo (2003 p 17)

Este confronto de ideias e posiccedilotildees inclusive de visatildeo pessoal teve momentos mais agudos como por exemplo as publicaccedilotildees de Lewis Wolpert (1992) e de Gross e Levitt (1994)

Sempre pela descriccedilatildeo de Boaventura de Sousa Santos (2003) ndash reiterando nossa intencionalidade e escolha assumida de posiccedilatildeo e de narrativa ndash Lewis Wolpert (1992) escreve The Unnatural Nature of Science tendo como alvo os autores do Programa Forte da Sociologia do Conhecimento e do Progra-

14 Esta obra eacute uma reflexatildeo coletiva sobre outra obra claacutessica de Boaventura de Souza Santos Um discurso sobre as ciecircncias de 1987

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SOBRE A CIEcircNCIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A CIEcircNCIA29

ma Empirico do Relativismo

Gross e Levitt (1994) publicam o Higher Supertition que seria ldquoinspiraccedilatildeo para muitos violentos ata-ques que vieram a seguirrdquo (2003 p 18) contra os estudos culturais os estudos feministas os estudos sobre raccedila e etnia e as ldquoanticiecircnciardquo (astrologia terapias alternativas etc)

Boaventura de Sousa Santos (2003) lembra ainda em sua descriccedilatildeo da ldquoguerras da ciecircnciardquo do caso Sokal considerado um dos mais agudos episoacutedios deste conjunto de eventos Em 1996 a revista So-cial Text publicou um nuacutemero sobre o tema Science Wars15 Neste nuacutemero o fiacutesico Alan Sokal (1996) apresentou um artigo ldquoTransgressing the boundaries towards a transformative hermeneutics of quantum gravityrdquo Nele Sokal apresentou uma ldquoreinterpretaccedilatildeo poacutes-moderna do domiacutenio dos estu-dos sobre a gravidade quacircntica [sendo que] o texto apoiava-se num extenso rol de autores invariavel-mente associados agraves correntes rotuladas de lsquoanticiecircnciarsquordquo (2003 p 19) com o intuito de demonstrar que o embuste produzido por ele poderia ser publicado se contivesse sinais externos que o caracteri-zasse como aceitaacutevel pela corrente que ele desejava criticar (poacutes-modernistas)

A polecircmica continuaria mais tarde com a publicaccedilatildeo Impostures Intellectualles (Sokal e Bricmont 1997) que tinha como alvo os intelectuais franceses poacutes-modernos como por exemplo Lacan La-tour Deleuze dentre outros A resposta a este texto veio a puacuteblico por meio da obra Impostures Scientifiques de Jurdant (1998)

Para concluir a narrativa sinteacutetica deste conjunto de episoacutedios que busca representar a dificuldade de tratar o tema ciecircncia e aqueles a que produzem daremos a palavra a Boaventura de Sousa Santos (2003)

Naturalmente que os grandes debates epistemoloacutegicos permanecem mas parecm ter deixa-do de ser campos de batalha para se acolherem no acircmbito e no estilo de discussotildees acadecircmi-cas sem duacutevida intensas mas paciacuteficas e com repeito muacutetuo pelas diferenccedilas (p 22)O decorrer da ldquoguerrardquo tornou ainda mais claro que as diferenccedilas epistemoloacutegicas natildeo co-rriam apenas entre cientistas naturais e cientistas sociais mas tambeacutem entre cientistas naturais e entre cientistas sociais e que tais diferenccedilas se articulavam de modo complexo com as diferenccedilas culturais e poliacuteticas com diferentes concepccedilotildees sobre a relaccedilatildeo entre conhecimento cientiacutefico e outras formas de conhecimento Em suma tornaram-se mais cla-ras as divergecircncias e as suas causas e se natildeo aumentou a toleracircncia aumentou pelo menos o conhecimento da diversidade de perspectivas (p 23) Grifos nossos

Posto o nosso entendimento sobre a Ciecircncia e a maneira como trabalham os cientistas vamso am-pliar o escopo de nossos estudos buscando conhecer como a populaccedilatildeo em geral percebe a Ciecircncia

21 As pesquisas sobre Percepccedilatildeo Puacuteblicas da Ciecircncia e da Tecnologia

Vogt e Polino (2003) apresentam os resultados de pesquisa sobre a percepccedilatildeo puacuteblica da Ciecircncia realizada em 2002 (na Argentina) e em 2003 (no Brasil Uruguai e Espanha) sob os auspiacutecios da Or-ganizaccedilatildeo dos Estados Ibero-Americanos (OEI 2003) e a Rede Ibero-Americana de Indicadores de Ciecircncia e Tecnologia (RICYTCYTED) que deram iniacutecio ao Pronotjeto Ibero-Americano de Indicado-res de Percepccedilatildeo Puacuteblica Cultura Cientiacutefica e Participaccedilatildeo dos Cidadatildeos a fim de contribuir para o desenvolvimento conceitual da mateacuteria

15 Santos (2003) chama atenccedilatildeo para o fato de que ldquouma versatildeo ampliada do nuacutemero temaacutetico se Social Text viria a ser publicada no mesmo ano sem o texto de Sokal e com a adiccedilatildeo de textos natildeo incluiacutedos na publicaccedilatildeo original (Ross 1996) Este volume seria uma das respostas mais importantes aos atoaques dos ldquoguerreiros da ciecircnciardquo (p 19 nota de rodapeacute)

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SOBRE A CIEcircNCIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A CIEcircNCIA30

A pesquisa assume que

um dos desafios da atualidade para a compreensatildeo da dinacircmica de interaccedilotildees entre ciecircncia tecnologia e sociedade eacute o desenvolvimento de uma geraccedilatildeo de indicadores que permitam avaliar a evoluccedilatildeo de trecircs dimensotildees de anaacutelise relevantes a percepccedilatildeo puacuteblica a cultura cientiacutefica e a participaccedilatildeo dos cidadatildeos

A pesquisa eacute resumida pelos autores da seguinte forma (Vogt e Polino 2003 p19-27)

1 Imaginaacuterio social sobre ciecircncia e tecnologia

Representaccedilatildeo social da ciecircncia A imagem que prevalece na pesquisa apresenta ldquoa ciecircncia como epopeacuteia de grandes descobertas (353 em meacutedia) a ciecircncia como condiccedilatildeo de rsquoavanccedilo tecnoloacutegicorsquo (464 em meacutedia) e por uacuteltimo a ciecircncia como fonte de benefiacutecios para a vida do ser humano (454 em meacutedia) rdquo Apesar de ser bastante comum na miacutedia por exemplo imagens que apresentam uma valoraccedilatildeo negativa (perigo de descontrole concentraccedilatildeo de poder ou ideacuteias que poucos enten-dem) estatildeo em posiccedilatildeo secundaacuteria

Utilidade da ciecircncia Os entrevistados dos quatro paiacuteses (72 em meacutedia) consideram que o desen-volvimento da ciecircncia e da tecnologia eacute o principal motivo da melhoria da qualidade de vida da so-ciedade Interessante comparar esta resposta com o fato de que os respondentes natildeo esperam que a Ciecircncia e a tecnologia sejam capazes de solucionar todos os problemas (859 em meacutedia)

A imagem da ciecircncia como conhecimento legiacutetimo Os resultados indicam que a ldquosociedade moderna enfatiza a racionalidade cientiacutefica e deposita sua confianccedila na verdade da ciecircncia em detrimento da feacute religiosardquo As respostas brasileiras sobre legitimidade da ciecircncia alcanccedilam 704 enquanto a dis-cordacircncia estaacute em 272 Nos demais paiacuteses as respostas satildeo equilibradas

A ciecircncia na vida cotidiana Para a afirmaccedilatildeo de que o mundo da ciecircncia natildeo pode ser compreen-dido pelas pessoas comuns encontra-se equiliacutebrio entre a concordacircncia e a discordacircncia Quando satildeo analisados os resultados globais a discordacircncia sobe para 534 e a concordacircncia alcanccedila 457 em meacutedia A maioria dos entrevistados nos quatro paiacuteses (aproximadamente 60) ldquoconsidera que ela opera como fator de racionalidade da cultura humana uma vez que se se descuidasse da ciecircncia lsquonossa sociedade seria cada vez mais irracionalrsquordquo

A ciecircncia e a tecnologia como fontes de risco 743 em meacutedia dos entrevistados considera que os benefiacutecios da ciecircncia e da tecnologia satildeo maiores que os efeitos negativos mas diante da afirmaccedilatildeo de que o desenvolvimento da ciecircncia traz problemas para a humanidade encontramos diferentes posiccedilotildees nos quatro paiacuteses participantes

bull Na Argentina as respostas estatildeo muito equilibradas embora como no Brasil sobressaia a discordacircncia (pouco mais de 50 em meacutedia)

bull Na Espanha e no Uruguai as respostas se inclinam para a concordacircncia (57 em meacutedia) Nesse sentido apesar da tendecircncia geral da imagem favoraacutevel da ciecircncia a percepccedilatildeo eacute de que ela natildeo estaacute livre de ter consequumlecircncias negativas

Entre os principais problemas mencionam-se os perigos de aplicar alguns conhecimentos e a uti-lizaccedilatildeo do conhecimento para a guerrardquo

A imagem dos cientistas e da atividade cientiacutefico-tecnoloacutegica Nos quatro paiacuteses a vocaccedilatildeo para o conhecimento aparece como o eacute o principal motivo que leva os cientistas a desenvolver seu trabalho

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cotidiano considerando-se tambeacutem a busca para soluccedilatildeo de problemas da populaccedilatildeo A imagem de ciecircncia tradicional eacute fortalecida quando se percebe que ldquoconquistar poder ou um precircmio importanterdquo encontram posiccedilatildeo secundaacuteria Chama a atenccedilatildeo o fato de que as habilidades que caracterizam os cientistas natildeo satildeo suficientes para convencer os entrevistados sobre a capacidade de tomada de de-cisotildees poliacuteticas pelos cientista 516 em meacutedia dos entrevistados nos quatro paiacuteses natildeo concorda que os cientistas satildeo os que melhor sabem o que conveacutem investigar para o desenvolvimento do paiacutes bem como 577 em meacutedia concorda que o governo natildeo deve intervir no trabalho dos cientistas ainda que seja o proacuteprio governo quem os pague

Percepccedilatildeo da ciecircncia e tecnologia local Nos quatro paiacuteses predomina uma imagem do desenvol-vimento cientiacutefico-tecnoloacutegico local segundo a qual existe um pouco de ciecircncia e tecnologia em algumas aacutereas (temaacuteticas)

bull Na Argentina no Brasil e na Espanha as respostas oscilam entre 55 e 64 de adesotildees bull No Uruguai as respostas satildeo mais numerosas chegando a 80

No que se refere ao financiamento pelo Estado da Ciecircncia e Tecnologia parece haver uma ideia de que este financiamento eacute insuficiente

bull Na Argentina Espanha e Uruguai a adesatildeo chega a 87 das respostas Apesar disso o Brasil apresenta novamente um comportamento diferenciado pois uma porcentagem nitidamente superior (278) agrave dos demais paiacuteses opina que o Estado financia a pesqui-sa nesse paiacutes de maneira razoavelmente suficiente

bull Do mesmo modo 82 dos entrevistados na Argentina 623 no Brasil e 789 na Es-panha indicam que o pouco apoio estatal eacute o principal fator que limita o desenvolvi-mento da ciecircncia e tecnologia descartando a responsabilidade de outros setores

bull Por outro lado no Uruguai (66) Argentina (594) e em menor escala Espanha (432) os entrevistados opinam que os conhecimenos gerados em seus paiacuteses tecircm utilidade mas natildeo se difundem

2 Processos de comunicaccedilatildeo social da ciecircncia

Informaccedilatildeo cientiacutefica incorporada Na Argentina (80) Brasil (71 ) e Espanha (67) os entrevis-tados se consideram pouco informados no que se refere agrave ciecircncia e tecnologia

Consumo de informaccedilatildeo cientiacutefica O consumo de informaccedilatildeo cientiacutefica em jornais (534) e tele-visatildeo (64) eacute majoritariamente ocasional na Argentina No Brasil as caracteriacutesticas de consumo satildeo semelhantes Tambeacutem na Espanha o comportamento eacute parecido no que se refere a jornais - 58 do consumo eacute ocasional- embora se acentue uma tendecircncia de escasso consumo de conteuacutedo cientiacutefico televisivo (81 ) Diferentemente da Argentina Brasil e Espanha os dados do Uruguai apresentam um perfil mais equilibrado nas mesmas categorias Quanto agraves revistas de divulgaccedilatildeo cientiacutefica em todos os paiacuteses o consumo tem caracteriacutesticas fundamentalmente esporaacutedicas

Valoraccedilotildees a respeito de cientistas e jornalistas Nos quatro paiacuteses se tende a considerar que soacute em algumas ocasiotildees a comunicaccedilatildeo dos cientistas com a sociedade eacute de difiacutecil compreensatildeo Os en-trevistados pressupotildeem com isso que a eventual incapacidade de comunicaccedilatildeo dos cientistas natildeo eacute uma condiccedilatildeo estrutural de suas competecircncias profissionais mas fundamentalmente depende de outros fatores

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3 Participaccedilatildeo dos cidadatildeos em questotildees de ciecircncia e tecnologia

Nos quatro paiacuteses participantes 945 em meacutedia acredita ser importante participar em questotildees de ciecircncia e tecnologia mas ao mesmo tempo somente 73 em meacutedia informaram jaacute ter tido expe-riecircncias concretas de participaccedilatildeo

Assim observa-se que no caso da Espanha apesar de seu caraacuteter minoritaacuterio o niacutevel de participaccedilatildeo efetiva eacute praticamente o dobro daquele dos outros paiacuteses Aleacutem disso observa-se que para a ampla maioria dos entrevistados dos quatro paiacuteses o cuidado com a vida e a sauacutede constitui o principal motivo que justifica a utilidade da participaccedilatildeo Outras opccedilotildees como controlar o funcionamento das empresas ou controlar a atividade dos cientistas recebem adesotildees que natildeo superam os 25 em nenhum dos casos Do mesmo modo um dos principais obstaacuteculos que a maioria nos quatro paiacuteses coincide em assinalar - sempre com uma frequecircncia superior aos 50 - eacute que as pessoas natildeo tecircm conhecimentos suficientes para exercer tal praacutetica No caso do Brasil Espanha e Uruguai esse motivo eacute o principal entre os as-sinalados Diverso eacute o caso da Argentina onde ocupa o segundo lugar prece-dido pela categoria as pessoas tecircm problemas mais importantes pelos quais reclamar e participar Entretanto essa escolha prioritaacuteria na Argentina e no Uruguai ndash onde deteacutem a segunda colocaccedilatildeo ndash ocupa o uacuteltimo lugar no Brasil e na Espanha

Na mesma linha de accedilatildeo foi realizada uma pesquisa nacional promovida pelo Ministeacuterio da Ciecircncia e Tecnologia com a parceria da Academia Brasileira de Ciecircncias coordenada pelo DEP-DISECISMCT e pelo Museu da VidaCOCFIOCRUZ com colaboraccedilatildeo do LABJORUNICAMP e da FAPESP intitulada ldquoPercepccedilatildeo Puacuteblica da Ciecircnciardquo16 e tambeacutem a versatildeo da pesquisa realizada em 201517

A pesquisa quantitativa tinha como objetivo o levantamento do interesse grau de informaccedilatildeo atitu-des visotildees e conhecimento que os brasileiros tecircm da Ciecircncia O puacuteblico alvo era a populaccedilatildeo brasilei-ra adulta constituiacuteda de homens e de mulheres com idade igual ou superior a 16 anos Foi realizado por meio de entrevistas domiciliares e pessoais com questionaacuterio estruturado realizadas entre no-vembro e dezembro de 2006 A amostra representativa de 16 estados foi de 2004 (duas mil e quatro) entrevistas18

A anaacutelise mesmo que raacutepida permite extrair alguns pontos interessantes e deixa claro um grande interesse da populaccedilatildeo por temas como Medicina e Sauacutede Meio Ambiente e Ciecircncia e Tecnologia Deixa patente tambeacutem que os jovens e adultos possuem uma percepccedilatildeo proacutepria de ciecircncia que deve ser considerada no processo de ensino-aprendizagem o que na maioria das vezes natildeo eacute sequer con-siderado pelos docentes das disciplinas cientiacuteficas

Por fim podemos elencar uma seacuterie de crenccedilas em torno da ciecircncia e do conhecimento cientiacutefico que o Campo CTS procura desconsturir e reconceitualizar conforme Ziman (1980)

bull Cientificismo crenccedila antiga originaacuteria do nascimento da ciecircncia moderna e de pen-samentos filosoacuteficos e poliacuteticos europeus baseia-se na ideia de que qualquer atividade

16 Ministeacuterio da Ciecircncia e Tecnologia Percepccedilatildeo Puacuteblica da Ciecircncia e Tecnologia Departamento de Popularizaccedilatildeo e Difusatildeo da CampT Secretaria de Ciecircncia e Tecnologia para Inclusatildeo Social Ministeacuterio da Ciecircncia e Tecnologia wwwmctgovbrindexphpcontentview50875html obtido em 07092007 cujo resumo pode ser encontrado em httpwwwmctgovbrupd_blob001313511pdf 17 Ministeacuterio da Ciecircncia Tecnologia e Inovaccedilatildeo httppercepcaocticgeeorgbr ou httpwwwmctigovbrnoticia-asset_pu-blisherepbV0pr6eIS0contentmcti-lanca-estudo-sobre-a-percepcao-publica-da-c-tjsessionid=E908832B10803193C5020620B6E628E7 obtidos em 1210201518 Intervalo de confianccedila de 95 tem uma margem de erro maacutexima de 22 pontos percentuais para mais ou para menos

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cientiacutefica eacute valiosa sem realizar anaacutelises profundas sobre a mesma e sobre suas conse-quecircncias

bull Anti-cientificismo ideia que surge como oposiccedilatildeo ao cientificismo julgando como ne-gativas as atividades cientiacuteficas como causadoras de todos os males sociais

bull Meacutetodo Cientiacutefico suposiccedilatildeo de que o meacutetodo cientiacutefico valida todo conhecimento cientiacutefico produzido fazendo com que haja pouca discussatildeo em sala de aula sobre a natureza da metodologia cientiacutefica sobre seus limites e aplicaccedilotildees

bull Positivismo mito atrelado ao cientificismo no qual a ciecircncia eacute vista como uacutenica forma de obter a verdade podendo em seu extremo negar qualquer outra fonte de conheci-mento que natildeo cientiacutefico

bull ldquoCiecircncia purardquo crenccedila baseada na ideia de que os cientistas devem alcanccedilar a ciecircncia pura atraveacutes da busca desinteressada pela verdade sendo financiados pela sociedade a qual iraacute receber em troca os benefiacutecios que advirem da procura da verdade

bull Otimismo tecnoloacutegico a crenccedila de que qualquer coisa que seja tecnicamente possiacutevel seraacute um dia desenvolvida

bull Visatildeo instrumental da ciecircncia a ideia de que basta realizar pesquisas o suficiente sobre determinado tema para que qualquer objetivo seja atingido

bull Tecnocracia baseia-se no mito de que apenas cientistas ou especialistas podem dar conselhos confiaacuteveis sobre quaisquer assuntos

bull Religiosidade cientiacutefica a feacute que se deposita no valor da ciecircncia passa a ser projetada para os seus praticantes cientistas e especialistas Estes devem pertencer a uma classe de indiviacuteduos com virtudes condizentes com a dita atitude cientiacutefica

bull Neutralidade moral da ciecircncia a crenccedila de que a ciecircncia eacute boa por natureza e que por isso na busca pela verdade natildeo existiria a necessidade de se questionar se as accedilotildees fei-tas seriam eacuteticas e humanas

Atividade Proposta para reflexatildeo

1 Visite a paacutegina e estude a pesquisa realizada pelo MCT httpwwwmctgovbrupd_blob001313511pdf

2 Compare os resultados obtidos com a pesquisa de Vogt e Polino Responda a O cidadatildeo considera a Ciecircncia importante para sua vida e para a sociedade b Compare sua resposta com o que o cidadatildeo diz que conhece sobre Ciecircncia e Tec-nologia

22 A importacircncia do ensino para as percepccedilotildees sobre a Ciecircncia e a Tecnologia

Pesquisas como essas permitem perceber o quanto se desconsidera os conhecimentos preacutevios dos jovens e adultos no processo de construccedilatildeo da Ciecircncia e da Tecnologia e o quanto o processo tradi-cional de Ensino de Ciecircncias e Tecnologia agraves vezes alimenta imagens que natildeo correspondem agravequelas reconceitualizadas pela Histoacuteria da Ciecircncia e Tecnologia pela Filosofia da Ciecircncia e Tecnologia e pela Sociologia da Ciecircncia e Tecnologia principalmente

A UNESCO no conjunto de accedilotildees que marcam a Deacutecada da Educaccedilatildeo para o Desenvolvimento Sus-tentado (2005-2014) lanccedilou recentemente um livro intitulado Como promover intereacutes por la cultura cientiacutefica ndash Uma propuesta didaacutectica fundamentada para la educacion cientiacutefica de joacutevenes de 15 a 18 antildeos (2005) onde defende a chamada Alfabetizaccedilatildeo Cientiacutefica O livro que reuacutene um grande nuacutemero

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de produtivos pesquisadores em ensino de ciecircncias e tecnologia na vertente CTS - Ciecircncia Tecnolo-gia e Sociedade guarda um dos capiacutetulos (p 29 a 62) para discutir as possiacuteveis visotildees deformadas da Ciecircncia e da Tecnologia que satildeo discutidas e multiplicadas no processo de ensino e que eacute reproduzi-da em portuguecircs em Cachapuz et al (2005 p 37-70) baseado em diversos artigos publicados ante-riormente e tambeacutem satildeo apresentadas na obra Bazzo Linsingen e Pereira (2003 p 19-20) Dentre as possiacuteveis visotildees deformadas de Ciecircncias podemos detalhar a partir de extratos do texto de Cachapuz et al (2005)

1 Uma visatildeo descontextualizada ou socialmente neutra (p 40-43)

(Haacute uma) deformaccedilatildeo criticada por todas as equipas de docentes implicadas neste esfor-ccedilo de clarificaccedilatildeo e por uma abundante literatura a transmissatildeo de uma visatildeo descontex-tualizada socialmente neutra que es-quece dimensotildees essenciais da atividade cientiacutefica e tecnoloacutegica como o seu impacto no meio natural e social ou os interesses e influencias da sociedade no seu desenvolvimento Ignora-se pois as complexas relaccedilotildees CTS Ciecircncia-Tecnologia-Sociedade () Este tratamento descontextualizado comporta muito em parti-cular uma falta de clarificaccedilatildeo das relaccedilotildees entre a ciecircncia e a tecnologiaCom efeito habitualmente a tecnologia eacute considerada uma mera aplicaccedilatildeo dos conheci-mentos cientiacuteficos De fato a tecnologia tem sido vista tradicionalmente como uma ativida-de de menor status que a ciecircncia pura ()Eacute relativamente faacutecil no entanto questionar esta visatildeo simplista das relaccedilotildees ciecircncia-tec-nologia basta refletir brevemente sobre o desenvolvimento histoacuterico de ambas para com-preender que a atividade teacutecnica precedeu em milecircnios a ciecircncia e que por tanto de modo algum pode considerar-se como mera aplicaccedilatildeo de conhecimentos cientiacuteficos ()Esquecer a tecnologia eacute expressatildeo de visotildees puramente operativistas que ignoram com-pletamente a contextualidade da atividade cientiacutefica como se a ciecircncia fosse um produto elaborado em torres de marfim agrave margem das contingecircncias da vida ordinaacuteria Trata-se de uma visatildeo que se conecta com a que contempla aos cientistas como seres especiais gecircnios solitaacuterios que falam uma linguagem abstrata de difiacutecil acesso A visatildeo descontextualizada vecirc-se reforccedilada pois pelas concepccedilotildees individualistas e elitistas da ciecircncia

2 Uma visatildeo individualista e elitista (p 43-45)

Esta eacute junto agrave visatildeo descontextualizada que acabamos de analisar ndash e agrave qual estaacute estreitamen-te ligada ndash outra das deformaccedilotildees mais frequumlentemente assinaladas pelas equipes de docentes e tambeacutem mais tratadas na literatura Os conhecimentos cientiacuteficos aparecem como obra de gecircnios isolados ignorando-se o papel do trabalho coletivo dos intercacircmbios entre equipes essenciais para favorecer a criatividade necessaacuteria para abordar situaccedilotildees abertas natildeo fami-liares Em particular deixa-se acreditar que os resultados obtidos por um soacute cientista ou equi-pe podem bastar para verificar ou falsear uma hipoacutetese ou inclusive toda uma teoriaFrequumlentemente insiste-se explicitamente em que o trabalho cientiacutefico eacute um domiacutenio reser-vado a minorias especialmente dotadas transmitindo expectativas negativas para a maioria dos alunos e muito em particular das alunas com claras descriminaccedilotildees de natureza social e sexual a ciecircncia eacute apresentada como uma atividade eminentemente masculina( )A imagem individualista e elitista do cientista traduz-se em iconografias que representam o homem da bata branca no seu inacessiacutevel laboratoacuterio repleto de estranhos instrumentos Desta forma constatamos uma terceira e grave deformaccedilatildeo a que associa o trabalho cientiacute-fico quase exclusivamente com esse trabalho no laboratoacuterio onde o cientista experimenta

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e observa procurando o feliz descobrimento Transmite-se assim uma visatildeo empiro-indu-tivista da atividade cientiacutefica que abordaremos seguidamente

3 Uma visatildeo empiro-inductivista e ateoacuterica (p 45-48)

Talvez tenha sido a concepccedilatildeo empiro-inductivista a deformaccedilatildeo que foi estudada em pri-meiro lugar e a mais amplamente assinalada na literatura Uma concepccedilatildeo que defende o papel da observaccedilatildeo e da experimentaccedilatildeo ldquoneutrardquo (natildeo contaminadas por ideias aprioritis-tas) esquecendo o papel essencial das hipoacuteteses como focalizadoras da investigaccedilatildeo e dos corpos coerentes de conhecimentos (teorias) disponiacuteveis que orientam todo o processoEacute preciso insistir na importacircncia dos paradigmas conceptuais das teorias no desenvolvi-mento do trabalho cientiacutefico num processo completo natildeo reduzido a um modelo definido de mudanccedila cientiacutefica que inclui eventuais roturas mudanccedilas revolucionaacuterias do paradig-ma vigente num determinado domiacutenio e surgimento de novos paradigmas teoacutericos Eacute pre-ciso tambeacutem insistir em que os problemas cientiacuteficos constituem inicialmente ldquosituaccedilotildees problemaacuteticasrdquo confusas o problema natildeo eacute dado eacute necessaacuterio formulaacute-lo da maneira preci-sa modelizando a situaccedilatildeo fazendo determinadas opccedilotildees para simplificaacute-lo mais ou menos com o fim de poder abordaacute-lo clarificando o objetivo etc E tudo isto partindo do corpus de conhecimentos que se tem no campo especiacutefico em que se desenvolve o programa de investigaccedilatildeo()Infelizmente as escassas praacuteticas escolares de laboratoacuterios escamoteiam aos estudantes (incluindo na Universidade) toda a riqueza do trabalho experimental dado que apresenta montagens jaacute elaborada para simples manuseamento seguindo guia de tipo receita de co-zinhaDeste modo o ensino centrado na simples transmissatildeo de conhecimentos jaacute elaborados natildeo soacute impede compreender o papel essencial que a tecnologia joga no desenvolvimento cien-tiacutefico senatildeo que contraditoriamente favorece a manutenccedilatildeo das concepccedilotildees empiro-in-ductivas que consagram um trabalho experimental ao qual nunca se tem acesso real como elemento central de um suposto Meacutetodo Cientiacutefico o que se vincula com outras duas graves deformaccedilotildees que abordaremos brevemente

4 Uma visatildeo riacutegida algoriacutetmica infaliacutevel (p 48-49)

Esta eacute uma concepccedilatildeo amplamente difundida entre o professorado de ciecircncias como se tem podido constatar utilizando diversos desenhos (Femaacutendez 2000) Assim em entrevistas rea-lizadas com professores uma maioria refere-se ao Meacutetodo Cientiacutefico como uma sequumlecircncia de etapas definidas em que as observaccedilotildees e as experiecircncias rigorosas desempenham um papel destacado contribuindo agrave exatidatildeo e objetividade dos resultados obtidosFace a isto eacute preciso ressaltar o papel desempenhado na investigaccedilatildeo pelo pensamento diver-gente que se concretiza em aspectos fundamentais e erroneamente relegados nos traccedilados empiro-inductivistas como satildeo a invenccedilatildeo de hipoacuteteses e modelos ou o proacuteprio desenho de experiecircncias Natildeo se raciocina em termos de certezas mais ou menos baseadas em evidecircn-cias senatildeo em termos de hipoacuteteses que se apoiam eacute certo nos conhecimentos adquiridos mas que satildeo contempladas como tentativas de resposta que devem ser postas agrave prova o mais rigorosamente possiacutevel o que daacute lugar a um processo complexo em que natildeo existem princiacutepios normativos de aplicaccedilatildeo universal para a aceitaccedilatildeo ou a rejeiccedilatildeo de hipoacuteteses ou mais em geral para explicar as trocas mudanccedilas nos conhecimentos cientiacuteficos()

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Satildeo as hipoacuteteses pois as que orientam a procura de dados Umas hipoacuteteses que por sua vez nos remetem ao paradigma conceptual de partida pondo de novo em evidencia o erro das propostas empiacutericasA concepccedilatildeo algoriacutetmica como a empiro-inductivista em que se apoacuteia pode manter-se na mesma medida em que o conhecimento cientiacutefico se transmite de forma acabada para a sua simples recepccedilatildeo sem que os estudantes nem os professores tenham ocasiatildeo de constatar praticamente as limitaccedilotildees desse suposto Meacutetodo Cientiacutefico Pela mesma razatildeo incorrese com facilidade numa visatildeo aproblemaacutetica e ahistoacuterica da atividade cientiacutefica agrave que nos referi-remos em seguida

5 Uma visatildeo aproblemaacutetica e a-histoacuterica (ou acabada e dogmaacutetica) (p 49-50)

Como jaacute referimos o fato de transmitir conhecimentos jaacute elaborados conduz muito frequumlen-temente a ignorar quais foram os problemas que se pretendiam resolver qual tem sido a evo-luccedilatildeo de ditos conhecimentos as dificuldades encontradas etc e mais ainda a natildeo ter em conta as limitaccedilotildees do conhecimento cientiacutefico atual ou as perspectivas abertasAo apresentar uns conhecimentos jaacute elaborados sem sequer se referir aos problemas que es-tatildeo na sua origem perdese de vista que como afirma Bachelard todo o conhecimento eacute a res-posta a uma questatildeo a um problema Este esquecimento dificulta captar a racionalidade do processo cientiacutefico e faz com que os conhecimentos apareccedilam como construccedilotildees arbitraacuterias Por outra parte ao natildeo completar a evoluccedilatildeo dos conhecimentos ou seja ao natildeo ter em conta a histoacuteria das ciecircncias desconhece-se quais foram as dificuldades os obstaacuteculos epistemoloacute-gicos que foram preciso superar o que resulta fundamental para compreender as dificuldades dos alunosDevemos insistir uma vez mais na estreita relaccedilatildeo existente entre as deformaccedilotildees contem-pladas ateacute aqui Esta visatildeo aproblemaacutetica e ahistoacuterica por exemplo torna possiacutevel as conce-pccedilotildees simplistas sobre as relaccedilotildees ciecircncia-tecnologia Pensemos que se toda a investigaccedilatildeo responde a problemas com frequecircncia esses problemas tecircm uma vinculaccedilatildeo directa com ne-cessidades humanas e portanto com a procura de soluccedilotildees adequadas para problemas tecno-loacutegicos preacuteviosDe facto o esquecimento da dimensatildeo tecnoloacutegica na educaccedilatildeo cientiacutefica impregna a visatildeo distorcida da ciecircncia socialmente aceite que evidenciamos aqui Precisamente por isto escol-hemos dar o nome de Possiacuteveis visotildees deformadas da ciecircncia e da tecnologia tratando assim de superar um esquecimento que historicamente tem a sua origem na distinta valorizaccedilatildeo do trabalho intelectual e manual e que afecta gravemente a necessaacuteria alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica do conjunto da cidadaniaA visatildeo distorcida e empobrecida da natureza da ciecircncia e da construccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico em que o ensino das ciecircncias incorre por acccedilatildeo ou omissatildeo inclui outras visotildees deformadas que tecircm em comum esquecer a dimensatildeo da ciecircncia como construccedilatildeo de corpos coerentes de conhecimentos

6 Uma visatildeo exclusivamente analiacutetica (p 50-51)

Referimo-nos em primeiro lugar ao que temos denominado visatildeo exclusivamente analiacuteti-ca que estaacute associada a uma incorreta apreciaccedilatildeo do papel da anaacutelise no processo cientiacute-ficoAssinalemos para iniciar que uma caracteriacutestica essencial de uma aproximaccedilatildeo cientiacutefica eacute a vontade expliacutecita de simplificaccedilatildeo e de controle rigoroso em condiccedilotildees preacuteestabelecidas o que introduz elementos de artificialidade indubitaacuteveis que natildeo devem ser ignorados nem ocultados os cientistas decidem abordar problemas resoluacuteveis e comeccedilam ignorando cons-

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ciente e voluntariamente muitas das caracteriacutesticas das situaccedilotildees estudadas o que eviden-temente os afasta da realidade e continuam afastando-se mediante o que sem duacutevida haacute que considerar a essecircncia do trabalho cientiacutefico A invenccedilatildeo de hipoacuteteses e modelosO trabalho cientiacutefico exige pois tratamentos analiacuteticos simplificatoacuterios artificiais Mas isto natildeo supotildee como agraves vezes se critica incorrer necessariamente em visotildees parcializadas e simplistas na medida em que se trata de anaacutelises e simplificaccedilotildees conscientes tem-se presente a necessidade de siacutentese e de estudos de complexidade crescente Pensemos por exemplo que o estabelecimento da unidade da mateacuteria - que constitui um claro apoio a uma visatildeo global natildeo parcializada ndash eacute uma das maiores conquistas do desenvolvimento cientiacutefico dos uacuteltimos seacuteculos os princiacutepios de conservaccedilatildeo e transformaccedilatildeo da mateacuteria e da energia foram estabelecidos respectivamente nos seacuteculos XVIII e XIX e foi soacute nos finais do seacuteculo XIX quando se produziu a fusatildeo de trecircs domiacutenios aparentemente autocircnomos - electricidade oacuteptica e magnetismo - na teoria eletromagneacutetica que se abriu um enorme campo de aplicaccedilotildees que seguem revolucionando a nossa vida de cada dia E natildeo haacute que esquecer que os procesnotsos de unificaccedilatildeo exigiram com frequumlecircncia atitudes criacuteticas nada cocircmodas que tiveram que vencer fortes resistecircncias ideoloacutegicas e inclusive perseguiccedilotildees e condenaccedilotildees como nos casos bem conhecidos do heliocentrismo ou do evolucionismo A histoacuteria do pensamento cientiacutefico eacute uma constante confirmaccedilatildeo de que os avanccedilos tecircm lugar profundizando o conhecimento da realidade em campos definidos eacute esta profundizaccedilatildeo inicial a que permite chegar posteriormente a estabelecer laccedilos entre campos aparentemen-te desligados

7 Uma visatildeo acumulativa de crescimento linear (p 51)

ldquoUma deformaccedilatildeo agrave que tambeacutem natildeo fazem referecircncia as equipes de docentes e que eacute a se-gunda menos mencionada na literatura - traacutes a visatildeo exclusivamente analiacutetica - consiste em apresentar o desenvolvimento cientiacutefico como fruto de um crescimento linear puramente acumulativo ignorando as crises e as remodelaccedilotildees profundas fruto de processos comple-xos que natildeo se deixam ajustar por nenhum modelo definido de desenvolvimento cientiacutefico Esta deformaccedilatildeo eacute complementar em certo modo do que temos denominado visatildeo riacutegi-da algoriacutetmica ainda que devam ser diferenciadas enquanto a visatildeo riacutegida ou algoriacutetmi-ca se refere como se concebe a realizaccedilatildeo de uma investigaccedilatildeo dada a visatildeo acumulativa eacute uma interpretaccedilatildeo simplista da evoluccedilatildeo dos conhecimentos cientiacuteficos ao longo do tempo como fruto do conjunto de investigaccedilotildees realizadas em determinado campo Esta eacute uma visatildeo simplista agrave qual o ensino costuma contribuir ao apresentar as teorias hoje aceites sem mostrar o processo do seu estabelecimento nem ao se referir agraves frequumlentes confrontaccedilotildees entre teorias rivais nem aos complexos processos de mudanccedila que incluem autenticas lsquore-voluccedilotildees cientiacuteficasrsquordquo

Essas desconsideraccedilotildees do conhecimento preacutevio e das concepccedilotildees espontacircneas ou construiacutedas na experiecircncia cotidiana bem como a transmissatildeo equivocada de Ciecircncia e Tecnologia por meio das visotildees deformadas e suas combinaccedilotildees desconsideram um princiacutepio basilar da didaacutetica das ciecircncias na construccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico os conhecimentos anteriores ou conhecimentos preacutevios Buscando concluir este toacutepico ndash que pretendeu mostrar a importacircncia de se considerar os conhe-cimentos preacutevios e as percepccedilotildees puacuteblicas da Ciecircncia e da Tecnologia para a formaccedilatildeo adequada de conceitos ndash compreende-se que se quisermos interferir naquilo que os professores e os alunos fazem nas aulas de Ciecircncia e Tecnologia eacute preciso interferir na maneira de ensinar dos professores e na maneira de aprender dos alunos E mesmo assim considerar que possuir concepccedilotildees vaacutelidas

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SOBRE A CIEcircNCIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A CIEcircNCIA38

sobre a ciecircncia natildeo garante que o comportamento docente seja coerente com estas concepccedilotildees O es-tudo destas ditas concepccedilotildees tem-se convertido por essa razatildeo numa potente linha de investigaccedilatildeo (Cachapuz et al 2005 UNESCO 2005)

Uma outra linha de pesquisa que se amplia no universo da Ciecircncia e Tecnologia eacute aquela que busca identificar e entender as crenccedilas e atitudes perante a Ciecircncia Tecnologia e Sociedade e que tecircm em Acevedo Vasquez e Manassero produtivos pesquisadores na regiatildeo iberoamericana dentre outros Os autores partem das premissas contemporacircneas ndash que natildeo haacute um conceito correto ou mais co-rreto de Ciecircncia e de Tecnologia que natildeo haacute um uacutenico meacutetodo cientiacutefico e que as atitudes podem ser classificadas em ingecircnuas (i) plausiacuteveis (p) ou adequadas (a) ndash e desenvolvem neste momento extensa pesquisa sobre as atitudes frente aos conceitos CTS envolvendo seis paiacuteses da iberoameacuterica inclusive Brasil Para ter ideia de o quanto se flexibiliza os conceitos de Ciecircncia podemos citar uma das questotildees

10111 Definir o que eacute a ciecircncia eacute difiacutecil porque ela eacute complexa e engloba muitas coisas Mas a ciecircncia eacute PRINCIPALMENTE

A o estudo de aacutereas tais como biologia quiacutemica geologia e fiacutesica B um corpo de conhecimentos como princiacutepios leis e teorias que explicam o mundo que nos rodeia (mateacuteria energia e vida)C explorar o desconhecido e descobrir coisas novas sobre o mundo e o universo e como funcionamD realizar experiecircncias para resolver problemas de interesse sobre o mundo que nos rodeiaE inventar ou conceber coisas (por exemplo coraccedilotildees artificiais computadores veiacuteculos espaciais)F pesquisar e usar conhecimentos para fazer deste mundo um lugar melhor para viver (por exemplo curar doenccedilas solucionar a contaminaccedilatildeo e melhorar a agricultura)G uma organizaccedilatildeo de pessoas (chamados cientistas) que tecircm ideias e teacutecnicas para desco-brir novos conhecimentosH um processo de investigaccedilatildeo sistemaacutetico e o conhecimento que daiacute resultaI natildeo se pode definir ciecircncia

Em uma de suas pesquisas Acevedo Vasquez e Manassero (2002) comentam o resultado sobre a questatildeo

Definiccedilatildeo da ciecircncia Predominam as respostas adequadas e aplausiacuteveis (algo mais menos do que a metade em cada caso) A opccedilatildeo da ciecircncia como um corpo do conhecimento foi escolhida por mais de um terccedilo Segue a grande distacircncia (168) a frase plausiacutevel que con-sidera a ciecircncia como uma forma de explorar o desconhecido e fazer descobertas sobre o mundo e seu funcionamento Consequumlentemente de maneira global a conceitualizaccedilatildeo da ciecircncia feita pelos estudantes poderia ser avaliada como apropriado jaacute que majoritariamen-te captam muitos aspectos da essecircncia da ciecircncia

A maneira mais segura de diminuirmos a possibilidade de sermos ldquocontaminadosrdquo por estas visotildees deformadas de ciecircncia e pior de multiplicarmos esses conceitos eacute buscarmos enxergar as ciecircncias por vaacuterios acircngulos por vaacuterios campos definidos do saber que ao longo do tempo vecircm se estabelecen-do no delicado processo de entendimento do que seja Ciecircncia e de sua relaccedilatildeo com a Tecnologia e a Sociedade Estes estudos satildeo desenvolvidos por meio de ramos de estudos definidos como Filosofia da Ciecircncia e da Tecnologia Histoacuteria da Ciecircncia e da Tecnologia e Sociologia da Ciecircncia e da Tecno-logia principalmente que podem assim ser definidas sinteticamente

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SOBRE A CIEcircNCIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A CIEcircNCIA39

bull Filosofia da Ciecircncia e da Tecnologia Os filoacutesofos da ciecircncia e da tecnologia tecircm le-vantado questotildees importantes na relaccedilatildeo com a estrutura do conhecimento cientiacutefico e o desenvolvimento da tecnologia Um ponto de partida habitual e uacutetil eacute a obra de Thomas Kuhn (1970) ndash A Estrutura da Revoluccedilatildeo Cientiacutefica ndash a partir da qual se afas-tou das visotildees positivistas mais tradicionais para incorporar uma interpretaccedilatildeo mais contextual se natildeo relativista (CUTCLIFFE 2003 p 188-189) Necessaacuterio reconhecer as contribuiccedilotildees de Joseacute Ortega y Gasset (1997) Martin Heidegger (2012 2009 1999) Juumlrgen Habermas 2013 1968) Hannah Arendt Lewis Mumford (2010 2001) Jacques Ellul Hans Jonas (2011) Peter Sloterdijk Carl Mitchan (2006 2003 1994 1989) Javier Echeverria (2003 2002 2001a 2001b) Andrews Feenberg (2010 2003 2002 1992) especialmente

bull Estudos Sociais da Ciecircncia e da Tecnologia Este ramo de estudo explora o caraacuteter social da Ciecircncia com especial referecircncia agrave produccedilatildeo social do conhecimento cientiacutefico (sociologia do conhecimento) Dedica por exemplo a estudar sua forma de comuni-caccedilatildeo a hierarquia interna distribuiccedilatildeo de poder a maneira como se comunica com a sociedade os criteacuterios de escolha das pesquisas sistema de avaliaccedilatildeo por pares sistema de recompensas etc (Mulkay 1996 p 743-744) As abordagens mais recentes consi-deram a Construccedilatildeo Social da Ciecircncia e da Tecnologia questionando a autonomia e independecircncia da CampT Este novo ramo apresenta pelo menos duas perguntas ldquoEm que medida e como as condiccedilotildees socioculturais influenciam nas teorias e nos conhecimen-tos cientiacuteficos E simetricamente como a ciecircncia [e a tecnologia] modela a sociedaderdquo (Martin 2003 p 70) Historicamente temos que a Sociologia da Ciecircncia se estabeleceu como campo de estudo e hoje temos a Sociologia da Tecnologia em franco crescimen-to como aacuterea de estudo Para Sasaki (2010) o construtivismo social da tecnologia eacute um desdobramento do Programa Forte

Os estudos de Construccedilatildeo Social da Ciecircncia e da Tecnologia devem contemplar estudos sobre

bull Programa Forte da Sociologia da Ciecircncia David Bloor (2009) Barry Barnes (1974 1977) Steven Shapin (1996) especialmente

bull Programa Empiacuterico do Relativismo Harry Collins (2013 2011) especialmente bull Construtivismo Social da Ciecircncia e Teoria Ator-rede Bruno Latour (2000 1994

1979) Michel Callon (2001 1998) e John Law (1994 sd)bull Construtivismo Social da Tecnologia Wiebe E Bijker (2010 2003 1994 1989

1987) Trevor Pinch (2008 1989 1987) especialmente bull Grandes Sistemas Tecnoloacutegicos Thomas Hughes (2008 1996 1989)bull Necessaacuterio reconhecer as contribuiccedilotildees de Robert Merton (1994) Ludwik Fleck

(2010) Manuel Castells (2007 2003 pelo menos)

Oliveacute (2000) ao classificar esta aacuterea de estudo apresentaraacute outra interessante conceituaccedilatildeo Ele cha-maraacute de construtivismo social aquela posiccedilatildeo que sustenta que ldquoos produtos das ciecircncias e as praacuteti-cas responsaacuteveis de produziacute-los devem estatildeo sujeitos ao mesmo tipo de anaacutelise que se realiza sobre textos e outros produtos culturaisrdquo (p 172) Apoacutes isso propotildee a seguinte categorizaccedilatildeo

bull Construtivismo social ndash defendida por representantes da Escola de Edimburgo (Da-vid Bloor e Barry Barnes principalmente)

bull Construtivismo (neo)kantiano ndash que trata da construccedilatildeo social do mundo a que se refere as teorias cientiacuteficas Relembra Kuhn e escreve ldquoSatildeo os grupos e as praacuteticas de gruposque constituem o mundo (e satildeo constituiacutedos por eles) E a praacutetica-no-

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SOBRE A CIEcircNCIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A CIEcircNCIA40

mundo de alguns desses grupos eacute a ciecircnciardquo (apud Kuhn 1991 p 11) ebull Construtivismo devastador Atribuindo esta expressatildeo a Richard Boyd (1992) diz

que este segmento ldquosustenta que o conhecimento cientiacutefico e aquilo a que se refere eacute uacutenica e completamente uma construccedilatildeo um produto das comunidades cientiacutefi-cas (p 173) Indica Bruno Latour (2000 1994 1979) e Steve Woolgar (1979 1991) como representantes deste segmento

bull Histoacuteria da Ciecircncia e da Tecnologia Os historiadores da ciecircncia e da tecnologia estatildeo menos inclinados a escrever sobre questotildees teoacutericas gerais preferindo em seu lugar centrar-se em acontecimentos e problemas especiacuteficos Por conta disso diversos trabal-hos tecircm demonstrado sua utilidade para a perspectiva CTS e devem ser estudados com criteacuterio (Cutcliffe 2003 p 190-193)

Uma maneira objetiva de construir uma imagem mais realista da Ciecircncia eacute abdicar dos modelos tra-dicionais de ensino de Ciecircncias que vecirc e apresenta nos manuais a Ciecircncia como uma ldquomarcha gran-diosardquo onde os capiacutetulos possuem uma fluecircncia e sequumlecircncia loacutegica sem nenhum tipo de percalccedilo ou dificuldade Nessa visatildeo toda a Ciecircncia produzida em seacuteculo pode ser resumida em algumas horas de explanaccedilatildeo linear e sem sobressaltos de qualquer ordem

Sobre isso Hellman (1999) lembra que eacute o processo que caracteriza a Ciecircncia e este processo eacute desen-volvido por homens e por conta disso este processo esta impregnado de sentimentos e erros huma-nos Ao contraacuterio dos erros tecnoloacutegicos que satildeo imediatamente percebidos por conta dos desastres que causam os erros cientiacuteficos natildeo satildeo propalados nem divulgados a Ciecircncia eacute sempre apresen-tada com um crescimento linear Hellman escreveu uma obra que trata dos dez grandes embates no campo da Ciecircncia tentando provar que a Ciecircncia natildeo tem crescimento linear como eacute ensinada e que haacute sim dificuldades das mais diversas entre os cientistas e as comunidades de homens de ciecircncia

Para citar a dificuldade vivida por um cientista quando a ideia que defende eacute derrotada num emba-te cientiacutefico por outro cientista que apresenta uma explicaccedilatildeo mais adequada para um fenocircmeno Hellman lembra a batalha travada por 25 anos entre Thomas Hobbes e o matemaacutetico John Wallis O primeiro defendendo a geometria e desdenhado a aacutelgebra do segundo

Para exemplificar as lutas pela de ldquopaternidade de uma ideiardquo (o que chama de prioridade) neces-saacuteria para identificar o primeiro autor de uma ideia Hellman informa que isso eacute um fato muito co-mum entre os cientistas e exemplifica esta dificuldade lembrando que esta dificuldade ocorreu entre Newton e Leibniz (caacutelculo) Faraday e Henry (induccedilatildeo eletromagneacutetica) Adams e Leverrier (des-coberta de Netuno) Darwin e Wallace (teoria da evoluccedilatildeo) e Heisenberg e Schroumldinger (mecacircnica quacircntica)

Quando se refere a interferecircncias de crenccedilas e valores na descoberta cientiacutefica ou na aceitaccedilatildeo delas Hellman lembra os casos do criacionismo e o evolucionismo (Darwin) a controveacutersia sobre o momento em que o tecido no uacutetero da mulher se transforma em ldquoser humanordquo (caso de Voltaire contra Needham) ou mesmo a questatildeo sobre as origens do homem (caso de Donald Johanson contra Richard Leakey)Esses raacutepidos exemplos deixam transparecer que natildeo haacute muita semelhanccedila entre a Ciecircncia ensinada nas escolas e a verdadeira trajetoacuteria da Ciecircncia um bom comeccedilo eacute aprender a aproveitar as oportu-nidades em sala de aula para ensinar uma Ciecircncia como atividade humana

Conheccedila maisFernaacutendez I Gil D Vilches A Valdeacutes P Cachapuz A Praia J Salinas J El olvido de la tecnologiacutea como

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SOBRE A CIEcircNCIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A CIEcircNCIA41

refuerzo de las visiones deformadas de la ciecircncia Revista Electroacutenica de Ensentildeanza de las Ciencias Vol 2 Nordm 3 (2003) httpwwwsaumuvigoesreecvolumenesvolumen2Numero3Art8pdf

SOBRE A TECNOLOGIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A TECNOLOGIA43

3 Sobre a Tecnologia mas natildeo o que eacute a Tecnologia

31 Sobre a Tecnologia

Segundo Kneller (1980 p 245s) a palavra Tecnologia deriva do grego techne que significa arte ou habilidade permitindo pensar que a tecnologia resulta e se produz essencialmente em uma accedilatildeo praacute-tica que busca alterar o mundo a sua volta mais do que compreendecirc-lo Diz o autor que

onde a Ciecircncia persegue a verdade a tecnologia prega a eficiecircncia Enquanto a Ciecircncia pro-cura formular as leis a que a natureza obedece a tecnologia utiliza essas formulaccedilotildees para criar implementos e aparelhos que faccedilam a natureza obedecer ao homem (p 245)

Essa proposta de definiccedilatildeo pode se confundir com uma visatildeo simplista de Tecnologia Mesmo nesta visatildeo ingecircnua de Tecnologia (Tecnologia como aparato resultante da Ciecircncia) satildeo necessaacuterios con-hecimentos especiacuteficos desenvolvidos em campo do saber especiacutefico teacutecnicas cada vez mais apura-das instituiccedilotildees de apoio e fomento sistema capaz de ampliar a escala dos produtos etc e ao final a Tecnologia resultante pode gerar mais conhecimento tecnoloacutegico rompendo o viacutenculo fraacutegil de causalidade entre Tecnologia e Ciecircncia

Historicamente a tentativa de definiccedilatildeo de Tecnologia se reduz equivocadamente a dois grandes grupos o que vecirc tecnologia como sinocircnimo de teacutecnica e o que entende Tecnologia como Ciecircncia aplicada Sobre isso escrevem Bazzo Linsingen e Pereira (2003)

O termo teacutecnica faria referecircncia a procedimentos habilidades artefatos desenvolvimen-tos sem ajuda do conhecimento cientiacutefico O termo tecnologia seria utilizado entatildeo para referir-se agravequeles sistemas desenvolvidos levando em conta esse conhecimento cientiacuteficoOs procedimentos tradicionais utilizados para fazer iogurte queijo vinho ou cerveja seriam teacutecnicas enquanto a melhoria destes procedimentos a partir da obra de Pasteur e do desen-volvimento da microbiologia industrial seriam tecnologias O mesmo poder-se-ia dizer da seleccedilatildeo artificial tradicional (desde a revoluccedilatildeo neoliacutetica) e a melhoria geneacutetica que consi-dera as leis da heranccedila formuladas por Mendel A tecnologia do DNA recombinado seria um passo posterior baseado na biologia molecular

Seguindo esta visatildeo ontoloacutegica Ortega y Gasset20(1939) para que a teacutecnica e a Tecnologia derivam da necessidade de o homem adequar-se as suas circunstacircncias estudaraacute a teacutecnica a partir de trecircs visotildees as teacutecnicas do acaso as teacutecnicas do artesatildeo e as teacutecnicas dos engenheiros que se diferenciam pelo modo como se descobre os meios de realizar o projeto que busca realizar

bull O primeiro estaacutegio eacute chamado de teacutecnica do acaso pois eacute ele que fornece a invenccedilatildeo ao homem protohistoacuterico primitivo e preacute e selvagem atuais Como a teacutecnica eacute apresentada agrave mente deste homem primitivo ldquoO homem primitivo ignora sua proacutepria teacutecnica como

19 Conheccedila mais em httpenwikipediaorgwikiMelvin_Kranzberg (em inglecircs) 20 Conheccedila mais em httpptwikipediaorgwikiJosC3A9_Ortega_y_Gasset

A tecnologia natildeo eacute boa nem maacute nem tatildeo pouco neutra1ordf lei de Melvin Kranzberg 19

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SOBRE A TECNOLOGIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A TECNOLOGIA44

tal Ele natildeo percebe que a sua capacidade eacute um muito especial que lhe permite remode-lar a natureza no sentido de seus desejosrdquo (p 28)

bull O segundo estaacutegio eacute chamado de teacutecnica do artesatildeo Eacute a arte da Greacutecia antiga de Roma preacute-imperial e da Idade Meacutedia Aqui os atos teacutecnicos desenvolveram-se fazendo com que alguns homens se encarreguem deles os artesatildeos

bull O terceiro estaacutegio eacute chamado a teacutecnica do teacutecnico ldquoO homem adquire consciecircncia su-ficientemente clara que tem uma certa capacidade completamente diferente da riacutegida imutaacutevel que compotildeem o seu animal natural ou porccedilatildeo Percebe que a teacutecnica natildeo eacute aleatoacuteria como no estado primitivo ou um determinado tipo de dado e homem-artesatildeo limitada a teacutecnica natildeo eacute tecnicamente ou determinada e portanto fixa mas exatamen-te um manancial de actividades humanas em princiacutepio ilimitadordquo (p 31)

Quanto a segunda visatildeo ingecircnua de Tecnologia a que a reduz a Ciecircncia aplicada podemos recorrer a diversos autores a fim de melhor entender como estes dois campo do conhecimentos podem se relacionar sem a visatildeo estreita de submissatildeo obrigatoacuteria de um deles ao outro

Segundo Kneller (1980) o estudo das relaccedilotildees entre Ciecircncia e Tecnologia permite pelo menos trecircs acircngulos distintos

bull O primeiro eacute aquele que afirma que a produccedilatildeo tecnoloacutegica especialmente a partir do seacuteculo XVII assentou em leis teorias ou dados estabelecidos pela Ciecircncia dita pura Se-gundo Kneller Joseph Henry teria dito em conferecircncia no ano de 1832 que ldquotoda arte mecacircnica se baseia em princiacutepio ou lei geral da natureza e quanto mais familiarizados estamos com essas leis mais capazes devemos ser de acelerar e aperfeiccediloar as artes uacuteteisrdquo Exemplificando sua tese com o fato de que

James Watt inventou sua maacutequina a vapor usando a teoria do sobre calor latente de Joseph Black os construtores navais empregaram os estudos matemaacuteticos de Eu-ler sobre curvatura dos cascos e Humphry Davy inventou a lacircmpada de seguranccedila para minas depois de ter estudado cientificamente o grisu Do mesmo modo as realizaccedilotildees de Robert Fulton na navegaccedilatildeo agrave vapor e a invenccedilatildeo por Eli Whitney do descaroccedilador de algodatildeo lsquodependeram de seus amplos conhecimentos cientiacuteficosrsquo

bull O segundo acircngulo eacute aquele que aponta a Tecnologia como parceira decisiva visto que im-portantes avanccedilos tecnoloacutegicos dependem da pesquisa cientiacutefica Esta se realiza em primeiro lugar a fim de apresentar e organizar os conhecimentos necessaacuterios aos avanccedilos ldquoSatildeo as ne-cessidades tecnoloacutegicas que datildeo vigor e direccedilatildeo agrave pesquisa cientiacutefica fundamentalrdquo (p 248)

bull O terceiro acircngulo eacute aquele que defende a tese de que a Ciecircncia e a Tecnologia se desenvolve-ram independentemente (ateacute 100 anos atraacutes pelo menos) Diversos historiadores da Ciecircncia defendem que

bull ateacute uns 200 anos atraacutes as teacutecnicas foram desenvolvidas por homens incultos e anocircnimos (Rupert Hall)

bull os primoacuterdios da tecnologia moderna nada deveram agrave Ciecircncia pois foram fruto da tradiccedilatildeo de invenccedilatildeo das artes mecacircnicas (Rupert Hall e Marie Boas Hall)

bull a Revoluccedilatildeo Industrial foi realizada por cabeccedilas teimosas e dedos aacutegeis por ho-mens sem educaccedilatildeo sistemaacutetica em Ciecircncias ou Tecnologia pois natildeo havia pra-ticamente intercacircmbio entre cientistas e os inventores dos processos industriais (Eric Ashby)

bull alguns defendem que a Tecnologia soacute comeccedilou a fazer uso significativo da Ciecircn-cia em fins do seacuteculo XIX com a induacutestria quiacutemica (Hall e Granger)

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SOBRE A TECNOLOGIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A TECNOLOGIA45

Percebe-se que os conceitos simplistas e reducionistas que buscam vincular a Tecnologia como conse-quecircncia da Ciecircncia natildeo se sustentam Esta eacute uma visatildeo ingecircnua da Tecnologia Satildeo inuacutemeros os exem-plos de avanccedilos tecnoloacutegicos dos quais podemos citar o interesse de Galileu pela mecacircnica despertado pela observaccedilatildeo dos estaleiros de Veneza o surgimento da geologia por conta dos problemas efetivos apresentados pela mineraccedilatildeo o uso por Darwin da experiecircncia de criadores de gado etc Por outro lado a Ciecircncia vem alimentando a Tecnologia com conhecimentos indispensaacuteveis ao surgimento e aper-feiccediloamento que aparatos tecnoloacutegicos

Outro autor que contribuiu com a reflexatildeo sobre a dissociaccedilatildeo da Ciecircncia e da Tecnologia em algum momento da histoacuteria eacute Granger (1994) que enumera uma seacuterie de exemplos de onde extraiacutemos o que se segue

O mesmo ocorreu com a construccedilatildeo e com a manobra dos navios em que prevaleceram as praacuteticas empiacutericas ou certas teorias ambiciosas mas errocircneas Conveacutem no entanto res-saltar a importacircncia assumida entre os cientistas jaacute no final do seacuteculo XVII pela disputa entre o marinheiro Renau dEliccedilagaray (Teoria da manobra dos navios 1689) e Huygens Jean Bernoulli (Ensaio de lima nova teoria da manobra dos navios 1714) e Euler (Scientia na-valis 1749) Quem estabeleceraacute cientificamente as condiccedilotildees de estabilidade e as regras de manobra seraacute Bouger (Tratado do navio 1746 e Da manobra dos navios 1757) sem que dele poreacutem tirem partido antes do seacuteculo XIX os armadores ou os navegadores A induacutestria quiacutemica eacute revolucionada por descobertas como a do cloro (1774) e a do meacutetodo Leblanc de fabricaccedilatildeo da soda artificial (1780) mas o Tratado de quiacutemica industrial de Chaptal (1806) mostra ainda a distacircncia que separa da ciecircncia na eacutepoca ateacute mesmo as receitas industriais Chaptal foi poreacutem um dos quiacutemicos que mais contribuiacuteram para as aplicaccedilotildees da ciecircncia na induacutestria como tambeacutem na agricultura (p 28)

Continuando as possiacuteveis anaacutelises quanto agraves relaccedilotildees da Ciecircncia e Tecnologia podemos buscar a clas-sificaccedilatildeo de Niiniluoto21 (apud Bazzo Linsingen e Pereira 2003) nos oferece a seguinte classificaccedilatildeo

bull Ciecircncia seria redutiacutevel agrave tecnologia bull Tecnologia seria redutiacutevel agrave ciecircncia bull Ciecircncia e tecnologia satildeo a mesma coisa bull Ciecircncia e tecnologia satildeo independentes bull Haacute uma interaccedilatildeo entre ciecircncia e tecnologia

O ponto de vista mais amplamente aceito sobre a relaccedilatildeo ciecircncia-tecnologia eacute o que conceitua a tecnologia como ciecircncia aplicada sendo portanto a tecnologia redutiacutevel agrave ciecircncia Este pon-to de vista eacute o subjacente ao modelo linear do desenvolvimento que tem influenciado poliacuteticas puacuteblicas de ciecircncia e tecnologia ateacute tempos recentes Tal conceito tem estado presente tam-beacutem ainda que agraves vezes de modo impliacutecito na filosofia da ciecircncia Afirmar que a tecnologia eacute ciecircncia aplicada eacute afirmar que

bull Uma tecnologia eacute principalmente um conjunto de regras tecnoloacutegicas bull As regras tecnoloacutegicas satildeo consequecircncias dedutiacuteveis das leis cientiacuteficas bull Desenvolvimento tecnoloacutegico depende da investigaccedilatildeo cientiacutefica

Acevedo Vaacutezquez Manassero e Acevedo (2003) ndash e tambeacutem Rebollo Leoacuten (2008) Garcia-Palaacutecio et al (2001) ndash discorrendo sobre o mesmo autor detalham um pouco mais esta posiccedilatildeo Escrevem sobre os

21 Ver detalhes em httpenwikipediaorgwikiIlkka_Niiniluoto (em inglecircs)

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SOBRE A TECNOLOGIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A TECNOLOGIA46

cinco modelos de Niiniluoto22 sobre a ciecircncia

bull A tecnologia se subordina a ciecircncia e pode reduzir-se a ela depende pois ontologica-mente da ciecircncia

bull A ciecircncia se subordina a tecnologia e pode reduzir-se a ela depende pois ontologica-mente da tecnologia

bull Ciecircncia e tecnologia satildeo mais ou menos o mesmo Esta posiccedilatildeo conduz ao conceito de tecnociecircncia introduzido por Latour (1987 p 29 da traduccedilatildeo castellana)

bull A ciecircncia e a tecnologia satildeo ontologicamente independentes tambeacutem o satildeo desde um ponto de vista causal

bull A ciecircncia e a tecnologia interagem causalmente mas satildeo ontologicamente independen-tes

Ampliando nossa anaacutelise podemos recorrer a John M Staundenmaier (1985 apud Bazzo Lisingen e Pereira 2003) que numa visatildeo da historia da tecnologia apresenta uma seacuterie de argumentos que nos fazem refletir sobre a visatildeo de Tecnologia como Ciecircncia aplicada Eis alguns dos argumentos

bull A tecnologia modifica os conceitos cientiacuteficos Thomas Smith estudou o Whirlwind project desenvolvido apoacutes a Segunda Guerra Mundial no MIT para criar um computa-dor digital Concluiu que a maior parte dos conceitos utilizados era endoacutegena agrave proacutepria engenharia e os que procediam das ciecircncias (especialmente da fiacutesica em relaccedilatildeo com o armazenamento magneacutetico de informaccedilatildeo) foram substancialmente transformados para a sua utilizaccedilatildeo no desenvolvimento do projeto

bull A tecnologia utiliza dados problemaacuteticos diferentes dos da ciecircncia Walter Vincenti estudou o projeto aeronaacuteutico mostrando que a engenharia realiza abordagens impor-tantes para problemas dos quais a ciecircncia natildeo se tem ocupado Realiza uma categori-zaccedilatildeo do conhecimento tecnoloacutegico

1) Conceitos fundamentais de projeto 2) Criteacuterios e especificaccedilotildees 3) Ferramentas teoacutericas 4) Dados quantitativos 5) Consideraccedilotildees praacuteticas e 6) Instrumentaccedilatildeo de desenhos

bull O conhecimento cientiacutefico eacute importante nos casos 2 3 e 4 mas parte destes tipos de conhecimento procedem do proacuteprio desenvolvimento tecnoloacutegico

bull A especificidade do conhecimento tecnoloacutegico Ainda que existam fortes paralelis-mos entre as teorias cientiacuteficas e as tecnoloacutegicas os pressupostos subjacentes satildeo di-ferentes Segundo Layton a tecnologia por sua proacutepria natureza eacute menos abstrata e idealizada que a ciecircncia

bull A dependecircncia da tecnologia das habilidades teacutecnicas A distinccedilatildeo entre a teacutecnica e a tecnologia se realiza em funccedilatildeo da conexatildeo desta uacuteltima com a ciecircncia (tanto em relaccedilatildeo com o conhecimento como com a metodologia o uso de ferramentas teoacutericas etc) Esta distinccedilatildeo natildeo implica que na tecnologia atual natildeo desempenhem nenhum papel as habilidades teacutecnicas

Outra maneira de categorizar a tecnologia eacute proposta por Osorio (2002) quando propotildee que a tecno-logia seja observada pelos enfoques instrumental cogntivo e sistecircmico

22 Para os que se interessem pelo aprofundamento das anaacutelises de Niiluoto sugerimos o texto de Acevedo (2006)

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SOBRE A TECNOLOGIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A TECNOLOGIA47

bull Enfoque instrumental caracteriza a tecnologia como ferramenta aparato mecanismo ou artefato construiacutedos com o intuito de cumprir tarefas Dessa forma a tecnologia nasce e morre na maacutequina no aparato ou no artefato

bull Enfoque cognitivo apresenta a tecnologia como resultado da ciecircncia sobre a teacutecnica bull Enfoque sistecircmico considera a tecnologia como um ente complexo e independente que

inclui materiais artefatos energia bem como os agentes que a transformam

Sobre este tipo de categorizaccedilatildeo da tecnologia podemos dizer lembrando Lissingen (2002) que o en-foque sistecircmico eacute aquele que permite por ver a tecnologia como praacutetica social perceber as delicadas e as vezes intensas relaccedilotildees entre os aspectos poliacuteticos econocircmicos sociais culturais e valorativos especialmente entre aqueles que produzem tecnologia que fomentam tecnologia que optam por usar tecnologia que sofrem os efeitos de uma tecnologia que natildeo optaram por usar e os que estatildeo privados do uso e das vantagens da tecnologia (mas recebem suas consequecircncias) O enfoque sistecirc-mico da tecnologia a nosso ver atende de forma mais ampla e mais densa a visatildeo CTS de tecnologia

Retomando a Bazzo Linsingen e Pereira (2003) veremos que os mesmos autores propotildeem que tecno-logia seja definida como um conjunto de sistemas projetados para realizar funccedilotildees incluindo desde os aparatos e artefatos ateacute as tecnologias como sistemas organizacionais Os mesmo autores chamam atenccedilatildeo para as aplicaccedilotildees e consequecircncias da tecnologia lembrando Radder (1996) e Pacey (1990)

Radder (1996 apud Bazzo Linsingen e Pereira 2003) enumera importantes caracteriacutesticas associa-das agrave tecnologia

bull Exequibilidade que lhe confere a possibilidade de realizaccedilatildeo ou de passar a existir no mundo real

bull Caraacuteter sistecircmico que inclui a rede de relaccedilotildees soacutecio-teacutecnicas que pode torna-la viaacutevelbull Heterogeneidade se os sistemas tecnoloacutegicos existem eles satildeo por si soacute diferenciadosbull Relaccedilatildeo com a Ciecircncia encara a relaccedilatildeo com a Ciecircncia como ampla e diversificada mas

natildeo acolhe a visatildeo ingecircnua de que tecnologia eacute ciecircncia aplicadabull Divisatildeo do trabalho Informa que existem relaccedilotildees de dependecircncia entre os diferentes

atores sociais envolvidos no sistema tecnoloacutegico Haacute os que desenvolvem os que produ-zem e os que utilizam tecnologia

Pacey (1990 apud Bazzo Linsingen e Pereira 2003) propotildee trecircs dimensotildees para a praacutetica tecnoloacute-gica

bull A dimensatildeo teacutecnica que envolve as teacutecnicas conhecimentos e maacutequinas que objetivam fazer com que as coisas funcionem

bull A dimensatildeo organizacional que relaciona os aspectos de poliacutetica puacuteblica e de gestatildeo agraves accedilotildees que caracterizam os produtores de tecnologia (engenheiros teacutecnicos gestores trabalhadores em geral) e usuaacuterios

bull A dimensatildeo culturalideoloacutegica que considera os valores as ideias e as atividades cria-doras

Bazzo Linsingen e Pereira (2003) ainda propotildeem abordagens de cunho mais filosoacutefica para a tecno-logia

bull Abordagem engenheiril eacute aquela que atende a visatildeo tradicional de tecnologia onde enge-nheiros e teacutecnicos tecircm a tarefa de produzir artefatos estruturas e sistemas tecno-loacutegicos Assemelha-se a categoria de Enfoque instrumental de Osorio (2002)

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SOBRE A TECNOLOGIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A TECNOLOGIA48

bull Abordagem humanista eacute aquela que atende a abrangecircncia da relaccedilatildeo entre tecnologia e sociedade tomando a tecnologia como tema para reflexatildeo interpretaccedilatildeo e criacutetica Aqui o controle sobre a natureza eacute relegado segundo plano e fica em evidecircncia a tecnologia como meio de desenvolvimento utilizaccedilatildeo e expansatildeo das capacidades humanas

bull Abordagem histoacuterico-filosoacutefica eacute aquela que introduz a questatildeo eacutetica e busca superar a dicotomia percebida entre as duas abordagens anteriores privilegiando a relaccedilatildeo entre os produtores de tecnologia e o puacuteblico e geral Aqui percebe a importacircncia da alfabe-tizaccedilatildeo tecnocientiacutefica

No que se refere agrave percepccedilatildeo de professores podemos recorrer aos estudos de Espiacutendola e Ricardo (2004) que pesquisaram o ensino da tecnologia na concepccedilatildeo dos professores das ciecircncias do niacutevel meacutedio e concluiacuteram que o conceito de Tecnologia se aproxima daquele que aponta a tecnologia como ciecircncia aplicada Os autores relembram Fourez (2003) quando este escreve que

A ideologia dominante dos professores eacute que as tecnologias satildeo aplicaccedilotildees das ciecircncias Quando as tecnologias satildeo assim apresentadas eacute como se uma vez compreendidas as ciecircn-cias as tecnologias seguissem automaticamente E isto apesar de que na maior parte do tempo a construccedilatildeo de uma tecnologia implica em consideraccedilotildees sociais econocircmicas e cul-turais que vatildeo muito aleacutem de uma aplicaccedilatildeo das ciecircncias A compreensatildeo desta implicaccedilatildeo do social na construccedilatildeo das tecnologias torna possiacutevel um estudo criacutetico destas como o fa-zem os trabalhos de avaliaccedilatildeo social das tecnologias Uma formaccedilatildeo para a negociaccedilatildeo com as tecnologias devem tornar os alunos capazes de analisar os efeitos organizacionais de uma tecnologia (Fourez 2003 p 10)

Em relaccedilatildeo a tecnologia entendida de uma forma holiacutestica podemos resgatar a proposta de Gutieacuterrez e Serna (2012)

1- Um conjunto de atividades humanas ou processos altamente sis-tematizados organi-zados e complexos que requerem conhecimentos teoacutericos igualmente complexos consti-tuindo uma teacutecnica teorizada cujo resultado satildeo entidades materiais e imateriais de alta sofisticaccedilatildeo 2- Processos e produtos que permitem a modificaccedilatildeo e transformaccedilatildeo radical e igualmente extensa da natureza ou entorno 3- Uma reconceitualizaccedilatildeo da natureza como uma coisa ou objeto suscetiacutevel de manipulaccedilatildeo e intervenccedilatildeo por parte de um sujeito inde-pendente da mesma (Gutieacuterrez and Serna 2012 p 80)

Veraszto et all (2013) pesquisaram as concepccedilotildees de tecnologia em graduandos do estado de Satildeo Paulo concluindo que a tecnologia eacute entendida como sendo intelectualista e sinocircnimo de ciecircncia instrumentalista neutra como um conhecimento praacutetico derivado do conhecimento teoacuterico cientiacute-fico e confundida com ciecircncia Para realizar a pesquisa apresentam o seguinte quadro de diferentes concepccedilotildees de tecnologia dando mostrar da diversidade de conceitos

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SOBRE A TECNOLOGIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A TECNOLOGIA49

Quadro 1 Resumo referenciado das diferentes concepccedilotildees acerca da tecnologia

Nordm Concepccedilatildeo de tecnologia Compreensatildeo do conceito Referecircncias

1 Intelectualista

Compreende a tecnologia como um conheci-mento praacutetico derivado diretamentedo desen-volvimento do conhecimento cientiacutefico atraveacutes de processos progressivos e acumulativos

Acevedo 1998 Acevedo Diacuteaz 19972001 Gonzaacutelez Garciacutea Loacutepez Cerezo Lujaacuten Loacute-pez 2000 Layton 1988 Osorio M 2002

2 Utilitarista

Considera a tecnologia como sendo sinocircnimo de teacutecnica Ou seja o processo envolvido em sua elaboraccedilatildeo natildeo temrelaccedilatildeo com a tecnolo-gia apenas a suafinalidade e utilizaccedilatildeo

Acevedo Diacuteaz 1997 Agazzi 1997 Bunge 1972 1986 apud Osorio M2002 Veraszto 2004

3Tecnologia como sinocircnimo de ciecircn-

cia

Encara a tecnologia como sendo Ciecircncia Na-tural e Matemaacutetica com as mesmas loacutegicas e mesmas formas de produccedilatildeo e concepccedilatildeo

Acevedo Diacuteaz 1997 2001 Hilst 1994 Martiacuten Gordillo 2001 Sancho 1998 Silva Barros Filho 2001 Valdeacutes et al2002

4Instrumentalista

(ou artefatual)

Considera a tecnologia como sendo simples ferramentas artefatos ou produtos geralmen-te sofisticados

Acevedo Diacuteaz 1997 2001 Gonzaacutelez Garciacutea Loacutepez Cerezo Lujaacuten Loacutepez 2000 Osorio M 2002 Lion 1997 Pacey 1983 Silva et al 2000 Silva Barros Filho 2001 Veraszto 2004

5 Neutralidade tec-noloacutegica

Compreende que a tecnologia natildeo eacute boa nem maacute Seu uso eacute que pode ser inadequado natildeo o artefato em si

Caacuteceres Goacutemez 2001 Dagnino 2007 Du-raacuten Carrera 2001 Gonzaacutelez Garciacutea Loacutepez Cerezo Lujaacuten Loacutepez2000 Osorio M 2002 Winner 2008

6

D e t e r m i n i s m o tecnoloacutegico

(tecnologia autocirc-noma

Considera a tecnologia como sendo autocircnoma autoevolutiva seguindo naturalmente sua proacute-pria ineacutercia e loacutegica de evoluccedilatildeo desprovida do controle dos seres humanos

Caacuteceres Goacutemez 2001 Dagnino 2007 Duraacuten Carrera 2001 Gonzaacutelez Garciacutea Loacutepez Cere-zo Lujaacuten Loacutepez2000 Osorio M 2002

7Universalidade

da tecnologia

Entende a tecnologia como sendo algo univer-sal um mesmo produto serviccedilo ou artefato po-deria surgir em qualquer local e consequente-mente ser uacutetil em qualquer contexto

Caacuteceres Goacutemez 2001 Martiacuten Gordillo Gon-zaacutelez Galbarte 2002

8Pessimismo

tecnoloacutegico

Considera a tecnologia como algo nocivo e pernicioso para a sustentabilidade do planeta responsaacutevel pela degradaccedilatildeo do meio e pelo alargamento das desigualdades sociais

Agazzi 1997 Barnett Morse 1977 Carranza 2001 Colombo Bazzo 2002 Corazza 1996 2004 2005 Meadows et al 1972

9Otimismo

tecnoloacutegico

Compreende a tecnologia como portadora de mecanismos capazes de assegurar o desenvol-vimento sustentaacutevel e sanar problemas am-bientais sociais e materiais

Agazzi 1997 Andrade 2004 Carranza 2001 Foray Gruumlbler 1996 Freeman 1996 Herre-ra 1994 World Commission on Environ-ment and Development 1987

10 Sociossistema

Considera que a tecnologia eacute determinada pela interaccedilatildeo de diferentes grupos atraveacutesde re-laccedilotildees sociais poliacuteticas econocircmicas ambien-tais culturais entre outras

Gonzaacutelez Garciacutea Loacutepez Cerezo Lujaacuten Loacute-pez 2000 Grinspun 2001 OsorioM 2002 Pacey 1983 Sancho 1998 Silva et al 2000

Fonte elaborado pelos autores a partir de Veraszto (2009)

Chrispino et al (2011) pesquisaram a concepccedilatildeo de tecnologia de professores e alunos do Rio de Ja-neiro usando o questionaacuterio COCTS por meio do conhecido PIEARCTS e colheram que professores e alunos acreditam ingenuamente na sua maioria que tecnologia eacute ciecircncia aplicada Silva (2012) tambeacutem por meio dos questionaacuterios COCTS aprofunda estas concepccedilotildees

32 Diferenccedila entre tecnologia e ciecircncia na atualidade

Ateacute aqui tentamos demonstrar que natildeo haacute um conceito ldquocorretordquo de Tecnologia assim como natildeo havia um conceito ldquocorretordquo de Ciecircncia visto que estes conceitos satildeo construiacutedos na interaccedilatildeo entre o ser e o meio em que se desenvolve Os conceitos de Ciecircncia e de Tecnologia podem ser diferentes para diferentes pessoas sem serem ldquoerradosrdquo visto que cada um pode construir socialmente seu en-tendimento

Buscamos apresentar as construccedilotildees das relaccedilotildees de Ciecircncia e de Tecnologia a fim de indicar o fato

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SOBRE A TECNOLOGIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A TECNOLOGIA50

de que a Tecnologia natildeo eacute simplesmente a aplicaccedilatildeo da Ciecircncia ou viceversa Que elas caminharam separadamente em alguns periacuteodos de nossa histoacuteria mas que agora possuem uma estreita relaccedilatildeo que permite que ambos os campos do conhecimento se ajudem Esta nova postura tem sido denomi-nada de tecnociecircncia

Vejamos o que nos diz Dyson (2001) sobre a origem comum de diferentes posiccedilotildees sobre a Ciecircncia e a Tecnologia ao narrar a produccedilatildeo de Peter Galison23 e de Thomaz Kuhn24 ambos formados em Fiacutesica e mais tarde produziram como historiadores da Ciecircncia Diz-nos Dyson que ambos exploraram em profundidade o processo de descoberta cientiacutefica na era moderna Galison com sua obra Image and logic (publicada em 1997) e Kuhn com sua obra A Estrutura das Revoluccedilotildees Cientiacuteficas lanccedilada 35 anos antes Escreve Dyson (2001 p 29-30)

Os dois estatildeo interessados na histoacuteria da fiacutesica e ambos dominaram os detalhes teacutecnicos da fiacutesica assim como o ofiacutecio erudito da historiografia Contudo eles tecircm visotildees totalmente diferentes da histoacuteria da ciecircncia Seus livros natildeo tecircm praticamente nada em comum O livro de Galison conteacutem centenas de imagens de aparelhos cientiacuteficos o de Kuhn soacute palavras Para Galison o processo de descoberta cientiacutefica eacute impulsionado por novas ferramentas para Kuhn por novos conceitos As duas concepccedilotildees satildeo verdadeiras e nenhuma delas eacute completa O progresso da ciecircncia requer tanto novos conceitos como novas ferramentasA diferenccedila entre Galison e Kuhn eacute basicamente uma diferenccedila de ecircnfase Kuhn enfatizava ideias e Galison enfatiza coisasInfelizmente a versatildeo da histoacuteria de Kuhn foi dominante durante trinta anos antes que a versatildeo de Galison aparecesse para restaurar o equiliacutebrio O livro de Kuhn tornou-se um claacutessico e deu a seus leitores natildeo cientistas uma visatildeo unilateral da ciecircncia Kuhn escreveu sobre as batalhas entre conceitos rivais e alguns de seus leitores ficaram com a impressatildeo de que a ciecircncia eacute em grande parte uma questatildeo subjetiva uma luta entre pontos de vista humanos conflitantes e natildeo uma luta objetiva entre precisatildeo das ferramentas e as ambiguumli-dades da natureza

Para concluir este toacutepico nada mais objetivo que o texto de Cachapuz Paixatildeo Lopes e Guerra (2008) que apresenta as ideias de Edgar Morin25 sobre o assunto

O que eacute seguro satildeo as ideias de Morin e Le Moigne (1999 p 33) de que hoje em dia a ciecircncia estaacute no centro da sociedade o conhecimento cientiacutefico e o conhecimento teacutecnico se estimu-lam reciprocamente de que eacute preciso distingui-los mas natildeo dissociaacute-los e de que o verdadeiro problema moral nasce da enormidade de poderes vindos da ciecircncia Como referem Cachapuz et al (2002 p33) ldquotemos de rever e aprofundar o diaacutelogo entre as vaacuterias ciecircncias que o car-tesianismo separourdquo e principalmente entre as ciecircncias da natureza e as ciecircncias sociais e humanas onde ldquoquase tudo estaacute por fazerrdquo O quadro CTS aponta exactamente para essa dire-cccedilatildeo de posicionamento face ao conhecimento e agrave acccedilatildeo que a ciecircncia e a tecnologia propor-cionam e implicam necessariamente num invoacutelucro epistemoloacutegico externalista (Cachapuz et al 2008)

Leia maisJoseacute Antonio Acevedo Diacuteaz Tres criterios para diferenciar entre Ciencia y Tecnologiacuteahttpwwwoeiessalactsiacevedo12htm Anaacutelisis de algunos criterios para diferenciar entre ciencia y tecnologia

23 Conheccedila mais em httpenwikipediaorgwikiPeter_Galison (em inglecircs)24 Conheccedila mais em httpptwikipediaorgwikiThomas_Kuhn 25 Conheccedila mais em httpedgarmorinsescsporgbr

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SOBRE A TECNOLOGIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A TECNOLOGIA51

Ensentildeanza de las Ciencias 1998 16 (3) 409-420 httpddduabespubensenanzadelasciencias02124521v16n3p409pdf

33 Impactos da tecnologia na sociedade

Esclarecidas as dificuldades conceituais em torno da Ciecircncia e da Tecnologia gostariacuteamos de trazer um novo item de discussatildeo o impacto das tecnologias na sociedade

Parece natildeo haver duacutevida de que a Sociedade moderna estaacute bastante ligada agrave Tecnologia Os haacutebitos e rotinas satildeo De tempos em tempos modificados de mais ou menos intensa de forma mais ou menos expliacutecita por influecircncia de aparatos tecnoloacutegicos que chegam e passam a ocupar os espaccedilos cotidia-nos tornando-se em tempo reduzido indispensaacuteveis ao dia-a-dia e aacutes relaccedilotildees sociais Foi (e ainda eacute) assim com o aparelho celular com o MP3 (e ateacute a hora do fechamento deste texto ainda estaacutevamos no MP4) etc Se sairmos agraves ruas hoje poderemos perceber o quanto o aparelho celular estaacute ligado a vida cotidiana Quem poderia imaginar tempos atraacutes que aquele aparelho grande pesado disforme caro sem nenhum atrativo maior no seu desenho fosse tornar-se o que eacute hoje

Conforme o aparelho de telefone celular foi se popularizando seu custo foi se reduzindo permitindo que um maior nuacutemero de pessoas de todas as faixas sociais pudessem se beneficiar dele Poderiacuteamos tambeacutem imaginar que foi o barateamento do custo que permitiu acesso massivo

O fato eacute que a Tecnologia pode influenciar de forma decisiva as pessoas as famiacutelias e a sociedade como um todo Freeman Dyson26 (2001) eacute um fiacutesico e matemaacutetico teoacuterico que em 1997 foi convidado a apre-sentar uma seacuterie de conferecircncias sobre histoacuterias da Ciecircncia na New York Public Library As conferecircn-cias se dirigiam a puacuteblico leigo natildeo-cientistas e em uma delas Dyson apresenta as 4 tecnologias que impactaram a sociedade trazendo a seu ver mais justiccedila social aleacutem das discussotildees sobre as chamadas tecnologias negativas Satildeo elas

bull A tecnologia da impressatildeo permitindo que um nuacutemero maior de pessoas tivesse acesso ao conhecimento acumulado antes restrito aqueles que tivessem acesso a educaccedilatildeo distribuiacute-da a pouco pelos mosteiros

bull As tecnologias de sauacutede puacuteblica (abastecimento de aacutegua limpa de tratamento de esgotos de vacinaccedilatildeo e de antibioacuteticos) que natildeo poderiam ficar restritas aos ricos visto que a conta-minaccedilatildeo do pobre por determinadas doenccedilas potildee em risco a chamada classe rica Diz-nos que ldquoem paiacuteses onde as tecnologias de sauacutede puacuteblica satildeo impostas por lei natildeo haacute grande diferenccedila de expectativa de vida entre ricos e pobresrdquo (p66-67) Esperemos que uma lei como esta seja promulgada no Brasil

bull A tecnologia dos aparelhos domeacutesticos que permitiu que um sem nuacutemero de pessoas deixasse as funccedilotildees de empregados domeacutesticos e migrassem para empregos que exigissem melhor e maior preparaccedilatildeo Por outro lado o surgimento de acordo com a longa anaacutelise de Dyson permitiu que as mulheres antes relegadas exclusivamente as funccedilotildees domeacutesticas pudessem almejar realizaccedilotildees fora do lar no campo do estudo do trabalho da participaccedilatildeo social etc

bull A tecnologia da mobilidade ascendente surgida com a bicicleta motorizada e que foi se aperfeiccediloando ateacute os meios de transporte de massa ou os automoacuteveis como os con-hecemos hoje

bull As chamadas tecnologias negativas satildeo as da cacircmara de gaacutes e de armas nucleares por exem-plo

26 Conheccedila mais em httpenwikipediaorgwikiFreeman_Dyson (em inglecircs) e httpsuperabrilcombrsuperarquivo2001conteudo_119120shtml

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SOBRE A TECNOLOGIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A TECNOLOGIA52

Nesta mesma conferecircncia Dyson relembra que em 1985 tambeacutem em uma decirc suas conferecircncias dessa vez na Escoacutecia27 apresentou uma lista com as mais importantes tecnologias para o seacuteculo XXI Eram elas engenharia geneacutetica inteligecircncia artificial e as viagens espaciais Passados mais de dez anos o autor faz uma autocriacutetica puacuteblica e reescreve a lista das tecnologias mais importan-tes para a sociedade sobre as quais desenvolve outra de suas conferecircncias Satildeo elas a engenharia geneacutetica o Sol e a internet

O que Dyson fez de forma brilhante ndash e noacutes reproduzimos de forma reduzida ndash foi fazer uma Anaacute-lise de Tecnologia fenocircmeno este que pode ser realizado com qualquer tecnologia Coates (1971 apud Bazzo Linsingen e Pereira 2003) faz esta anaacutelise de impacto com a televisatildeo Diz ele

bull Primeira ordem nova fonte de entretenimento e diversatildeo nos laresbull Segunda ordem mais tempo em casa deixa-se de ir a cafeacutes e bares onde se viam os

amigos

bull Terceira ordem os residentes de uma comunidade jaacute natildeo se encontram com tanta fre-quumlecircncia e deixa-se de depender dos demais para o tempo de lazer

bull Quarta ordem os membros de uma comunidade comeccedilam a ser estranhos entre si aparecem dificuldades para tratar os problemas comuns as pessoas comeccedilam a sentir maior solidatildeo

bull Quinta ordem isolados dos vizinhos os membros das famiacutelias comeccedilam a depender mais uns dos outros para a satisfaccedilatildeo de suas necessidades psicoloacutegicas

bull Sexta ordem As fortes demandas psicoloacutegicas dos companheiros geram frustraccedilotildees quando natildeo se cumprem as expectativas a separaccedilatildeo e o divoacutercio crescem

A Sociedade por sua vez tambeacutem pode produzir uma classificaccedilatildeo para as suas relaccedilotildees com a Tecnologia como bem apresenta Manzano (1997 apud SILVA 2003)

Posiccedilatildeo tecnoacutefoba baseia-se em manifestaccedilatildeo perniciosa relativa agrave indus-trializaccedilatildeo como a exploraccedilatildeo da matildeo-de-obra modelo de trabalho penoso e degradante perante o artesanal ou o agropecuaacuterio Incorpora fatores negativos dos desenvolvimentos cientiacutefico e tecnoloacutegico responsabilizando a desumanizaccedilatildeo do trabalho e do desemprego o de-sastre ecoloacutegico e a crise geral dos valores da sociedade moderna Alenta uma visatildeo apo-caliacuteptica do desastre ecoloacutegico e social os quais natildeo podem ser controlados nem mesmo pelo homem28

Posiccedilatildeo tecnoacutefila identificase com a confianccedila e bondade intriacutenseca na Ciecircncia com seu potencial esclarecedor e na Tecnologia com seu poder de resolver todos os problemas da humanidade exaltando os benefiacutecios do progresso com os avanccedilos da medicina agricul-tura e induacutestria podendo ser estendidos a toda a populaccedilatildeo Jaacute as consequecircncias negati-vas podem ser facilmente corrigidas

Posiccedilatildeo intermediaacuteria onde a Tecnologia pode ter simultaneamente efeitos positivos e negativos e que se deve procurar aumentar os primeiros em detrimento dos outros Esses aspectos dependem de como se utiliza e promove o uso de valores de acircmbito eacutetico e poliacute-

27 Publicadas no Brasil com o tiacutetulo ldquoInfinito em todas as direccedilotildeesrdquo28 A posiccedilatildeo tecnoacutefoba encontra sua base tambeacutem no Movimento Ludita que teve seu auge entre 1811 e 1816 Esse movimento ex-tremamente organizado e disciplinado tinha grande apoio pois a populaccedilatildeo se encontrava amargurada com as reduccedilotildees salariais exploraccedilatildeo infantil e supressatildeo das leis que protegiam os trabalhadores qualificados Todo esse descontentamento se expressou na destruiccedilatildeo de maacutequinas principalmente da induacutestria tecircxtil (Palacios et al 2001)

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SOBRE A TECNOLOGIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A TECNOLOGIA53

tico como por exemplo o movimento ecologista29

Quer parecer que natildeo eacute possiacutevel imaginar que exista neutralidade entre Tecnologia e Sociedade A Sociedade pode ser estudada tambeacutem pela maneira como se relaciona ndash ou se deixa influenciar ndash pela Tecnologia

Esta relaccedilatildeo pode ser estudada por diversos acircngulos Vamos aqui apresentar resumidamente as po-siccedilotildees de Castells30 (2007) e Echeverria (2000)

Escreve Castells (2007)

Devido a sua penetrabilidade em todas as esferas da atividade humana a revoluccedilatildeo da tec-nologia da informaccedilatildeo seraacute meu ponto inicial para analisar a complexidade da nova econo-mia sociedade e cultura em formaccedilatildeo Essa opccedilatildeo metodoloacutegica natildeo sugere que novas for-mas e processos sociais surgem em consequecircncia de transformaccedilatildeo tecnoloacutegica Eacute claro que a tecnologia natildeo determina a sociedade Nem a sociedade escreve o curso da transformaccedilatildeo tecnoloacutegica uma vez que muitos fatores inclusive criatividade e iniciativa empreendedora internotvecircm no processo de descoberta cientiacutefica inovaccedilatildeo tecnoloacutegica e aplicaccedilotildees sociais de forma que o resultado final depende de um complexo padratildeo interativo Na verdade o dilema do determinismo tecnoloacutegico eacute provavelmente um problema infundado dado que a tecnologia eacute a sociedade e a sociedade natildeo pode ser entendida ou representada sem suas ferramentas tecnoloacutegicas (p 43)

Essa posiccedilatildeo de Castells pode ser entendida como uma interdependecircncia da relaccedilatildeo tecnologia e sociedade Ocorre que como estaacute posto a tecnologia aqui estaacute reduzida a ferramentas aparatos ou objetos Como tal este conceito reduzido tambeacutem reduz as possibilidades de interaccedilatildeo como mi-nimiza suas potencialidades de imprimir mudanccedilas reciacuteprocas nesta relaccedilatildeo Para atendermos ao conceito ampliado que estamos trabalhando necessitamos considerar as observaccedilotildees de Castells mas adequando-as aos novos conceitos de tecnologia Para tal podemos buscar o auxiacutelio de Echeve-rria (2000)

Echeverria vai considerar que quando utilizar a expressatildeo lsquoaccedilotildees que transformam objetosrsquo estamos optando por uma antologia O autor lembra Quintanilla e informa que a ldquohistoacuteria da teacutecnica natildeo eacute soacute a histoacuteria dos artefatos ou dos conhecimentos teacutecnico mas sim toda a histoacuteria das accedilotildees e resultados produzidos graccedilas a elesrdquo e que ldquofilosofia da teacutecnica natildeo eacute soacute uma teoria do conhecimento teacutecnico mas tambeacutem uma accedilatildeo guiada por este conhecimentordquo Isso deixa claro que natildeo eacute possiacutevel reduzir a relaccedilatildeo tecnologia e sociedade a uma relaccedilatildeo baseada em artefatos visto que estes artefatos possuem uma histoacuteria socialmente construiacuteda e ao surgirem provocam uma re-estruturaccedilatildeo no meio social onde surgem provocando uma outra possiacutevel antologia objetos que transformam accedilotildees Ateacute aqui os pontos de vista dos autores satildeo proacuteximos

Uma diferenccedila mais acentuada eacute percebida quando passamos a considerar ldquoque essas accedilotildees teacutecnicas e em particular as accedilotildees telemaacuteticas natildeo soacute transformam objetos materiais como tambeacutem transfor-mam podem modificar relaccedilotildees e inclusive funccedilotildeesrdquo A antologia aqui precisa distinguir objetos relaccedilotildees e funccedilotildees e entendendo conceitos (e os valores consequentes destes conceitos) ldquocomo um

29 O ecologismo reconhece a irreversibilidade da civilizaccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica e propotildee de certo modo a busca de um novo equiliacutebrio dentro da relaccedilatildeo tecnologia-natureza dando relevacircncia ao estabelecimento de valores sociais e poliacuteticos que sirvam para a tomada de decisotildees sobre as opccedilotildees de desenvolvimento econocircmico e tecnoloacutegico30 Conheccedila mais em httpptwikipediaorgwikiManuel_Castells

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SOBRE A TECNOLOGIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A TECNOLOGIA54

tipo particular de funccedilatildeordquo e se aproxima das antologias aplicaacuteveis a teorias de sistemas Ampliando o conceito de tecnologia e aplicando-o ao universo da teletecnologia percebemos que as accedilotildees tecno-loacutegicas modificam objetos modificam relaccedilotildees e possuem muacuteltiplas consequecircncias especialmente quando essas relaccedilotildees satildeo espaciais e temporais visto que interferem sobre maneira na interaccedilatildeo entre seres humanos e tambeacutem entre pessoas e objetos materiais

Logo a maneira como conceituamos tecnologia eacute de certa forma a maneira como desenhamos as possibilidadesnecessidades de atenccedilatildeo a construccedilatildeo social da tecnologia (e da ciecircncia) bem como da precauccedilatildeo que devemos ter quando olhando o futuro percebemos as possiacuteveis consequecircncia da tecnologia na sociedade

Conheccedila mais

Dyson Freeman O Sol o Genoma e a Internet ndash ferramentas das revoluccedilotildees cientiacuteficas Satildeo Paulo Companhia das Letras 2001

Wiebe Bijker (1995) Of Bicycles Bakelites and Bulbs Toward a Theory of Sociotechnical Change

Osorio Carlos La participacioacuten puacuteblica en sistemas tecnoloacutegicos Lecciones para la educacioacuten CTS Rev iberoam cienc tecnol soc Ciudad Autoacutenoma de Buenos Aires v 2 n 6 dic 2005 accedido en 02 sept 2014 Disponible en httpwwwscieloorgarscielophpscript=sci_arttextamppid=S1850-00132005000300009amplng=esampnrm=iso

Atividade Proposta para reflexatildeo

1 Reavalie a anaacutelise de tecnologia realizada por Coates datado de 1971 considerando as novas formas de tecnologia de televisatildeo maior nuacutemero de aparelhos por residecircncia maior nuacutemero de canais disponiacuteveis por residecircncia (TV por sateacutelite e TV a cabo) e an-tecipe a possibilidade de impacto social a partir da futura interaccedilatildeo entre espectador e ldquoTVrdquo

2 Veja o viacutedeo ldquoA TV destroacutei relacionamentosrdquohttpvideologuolcombrvideophpid=340211 ou httpwwwyoutubecomwatchv=I0-zVkQztQE

SOBRE A SOCIEDADE MAS NAtildeO O QUE Eacute A SOCIEDADE55

4 Sobre a Sociedade mas natildeo o que eacute a Sociedade

41 Introduccedilatildeo

A melhor maneira de iniciar um texto que pretende ser lido e estudado por pessoas com formaccedilotildees distintas e diferentes experiecircncias eacute definir a priori os conceitos chave Isso eacute o que se pretende com o tema Sociedade buscando conectaacute-lo aos dois anteriores Ciecircncia e Tecnologia

Eis que surge o primeiro problema quando se consulta o Dicionaacuterio de Ciecircncias Sociais no seu ver-bete Sociedadesociety

A Natildeo haacute ateacute agora uma definiccedilatildeo de sociedade que seja uacutenica e aceita de modo geral pois cada um dos trecircs usos mais comuns do termo refere-se a aspectos significativos da vida socialA1 Em sentido mais lato refere-se agrave totalidade das relaccedilotildees sociais entre as criaturas hu-manasA2 Cada agregado de seres humanos de ambos os sexos e de todas as idades unidos num grupo que se autoperpetua e possui suas proacuteprias instituiccedilotildees e cultura distintas em maior ou menor grau pode ser uma sociedade Eacute de se notar que na praacutetica os limites das socie-dades especificas baseiam-se nesse sentido frequumlentemente em fronteiras poliacuteticas pro-cedimento que gera problemas fundamentais quanto agraves relaccedilotildees entre Estado e sociedadeA3 Sociedade tambeacutem tem sido definida como as instituiccedilotildees e a cultura de um grupo de pessoas de ambos os sexos e todas as idades grupo esse inclusivo mais ou menos distinto e que se autoperpetua Existem convicccedilotildees oacutebvias entre a segunda e a terceira definiccedilotildees pois ambas se referem a duas premissas fundamentais e inter-relacionadas da pesquisa socioloacute-gica de que homens onde quer que estejam vivem em grupos e que seu comportamento eacute substancialmente afetado pelas normas e valores de que compartilham (CHINOY 1986 p1139-1140)

Se por um lado isso dificulta a construccedilatildeo do texto didaacutetico por outro fortalece a tese que estamos defendendo desde o iniacutecio de nosso estudo CTS a flexibilizaccedilatildeo dos conceitos de Ciecircncia e de Tec-nologia e a reflexatildeo em torno da ideia de que mais Ciecircncia e mais Tecnologia resultam objetivamente em progresso e bem-estar social

Para superarmos esta dificuldade conceitual aparente ndash digo aparente porque isso que pode parecer difiacutecil para as profissionais das chamadas ciecircncias exatas formados pelas ldquoescolas claacutessicasrdquo eacute uma constante para os profissionais das ditas ciecircncias sociais ndash precisamos estabelecer algumas premissas que nos permitam conectar o tema Sociedade com Ciecircncia e Tecnologia e construir nossa hipoacutetese de trabalho

A primeira eacute a flexibilizaccedilatildeo necessaacuteria da definiccedilatildeo de sociedade Antes esta definiccedilatildeo era estabele-cida por (1) fronteiras poliacuteticasgeograacuteficas e por (2) origens eacutetnicas e agora tambeacutem se define por sociedades estruturadas por (3) interesses e por (4) relacionamentos (MORSE 1998) Esta hipoacutetese de trabalho eacute importante por conta da funccedilatildeo da tecnologia no desenho e na manutenccedilatildeo destes mo-delos inovadores de sociedade

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A segunda eacute a natureza processual da Sociedade o que nos leva a necessidade de considerar que a anaacutelise deve ser realizada ao longo da linha do tempo conectando modelos passados com os mo-delos do presente e os possiacuteveis modelos prospectados para o futuro Sobre isso escreve Sztompka (1998 p 111s)

As sociedades humanas em todos os niacuteveis de sua complexidade interna mudam sem ces-sar Mudam no niacutevel macro da economia da poliacutetica e da cultura no niacutevel meso das comu-nidades grupos e organizaccedilotildees e no niacutevel micro das accedilotildees e interaccedilotildees individuais A socie-dade natildeo eacute uma entidade eacute um conjunto de processos interconectados de muacuteltiplos niacuteveis Segundo Edward Shils A sociedade eacute um fenocircmeno transtemporal Ela natildeo eacute constituiacuteda de sua existecircncia em um dado instante de tempo Ela soacute existe no decorrer do tempo A so-ciedade eacute temporalmente constituiacuteda (1981 327)A sociedade estaacute portanto em constante movimento do passado para o futuro O presente eacute apenas uma fase transitoacuteria entre o que aconteceu e o que estaacute por acontecer No estado presente da sociedade os efeitos vestiacutegios e traccedilos do passado coexistem com as sementes e potencialidades do futuro A natureza processual da sociedade implica fases anteriores ligadas por viacutenculos causais agrave fase presente por sua vez portadora das condiccedilotildees causais determinantes da fase seguinte

Estabelecidas estas ldquohipoacuteteses de trabalhordquo vamos avaliar os modelos de sociedade na histoacuteria do homem a partir de Tezanos Tortajada e Loacutepez Pelaacuteez (1997)

42 Desenvolvimento da sociedade Uma Tipologia geral

Haacute pelo menos duas maneiras de se avaliar a evoluccedilatildeo dos modelos de Sociedade

bull A primeira eacute utilizando-se das categorias didaacuteticas instituiacutedas pelos diversos teoacutericos sociais ao longo do tempo que se utilizaram de variaacuteveis e fatores proacuteprios (a partir de TEZANOS TORTAJADA e LOacutePEZ PELAacuteEZ 1997 p24-25) e

bull A segunda a partir de uma sequumlecircncia geral baacutesica de cinco tipos de sociedades (a partir de TEZANOS TORTAJADA e LOacutePEZ PELAacuteEZ 1997 p27)

Tabela 1 Principais tipologias e classificaccedilotildees da evoluccedilatildeo das sociedades

Autor Classificaccedilatildeo proposta Variaacuteveis baacutesicas consideradas

Contexto teoacuterico interpretativo Obra claacutessica

Adam Ferguson 31

(1793-1816)

bull Selvagembull Baacuterbarabull Civilizada

A divisatildeo do trabalho e a instituiccedilatildeo social da propriedade

Escola escocesa de Economia Poliacutetica

Um ensaio sobre a histoacuteria da socie-dade civil (1767)

Augusto Comte 32 (1798-1857)

bull Sociedade teoloacutegica de estrutura militar (propriedade e na exploraccedilatildeo do solo)bull Sociedade legista (distinccedilatildeo entre o po-der temporal e o poder espiritual)bull Sociedade industrial ou positivista

Os modelos e proce-dimentos do conheci-mento

Teoria das trecircs etapas

Fundaccedilatildeo da Sociologia

Discurso sobre o Espiacuterito Positivo (1844)

Lewis H Morgan 33

(1818-1881)

bull Selvagem (e 3 sub-periacuteodos)bull Barbaacuterie (e 3 sub-periacuteodos)bull Civilizaccedilatildeo

As progressivas aproxi-maccedilotildees da ciecircncia experi-mental (conhecimento e teacutecnicas para a sobre-vivecircncia)

Evolucionismo social La Sociedad Primi-tiva (1877)

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SOBRE A SOCIEDADE MAS NAtildeO O QUE Eacute A SOCIEDADE57

Karl Marx34

(1818-1883) e

Friedrich Engels35 (1820-1895)

Grandes sistemas de produccedilatildeobull Sistema antigo (escravagista)bull Sistema feudalbull Sistema despoacutetico-orientalbull Sistema capitalista (classista)

Tipologia histoacuterica de sociedadesbull A comunidade tribalbull A sociedade asiaacuteticabull A cidade antigabull A sociedade germacircnicabull A sociedade capitalista burguesabull A sociedade comunista sem classes

As relaccedilotildees de pro-duccedilatildeo

Os conflitos de classes

Materialismo dialeacutetico

Pensamento socialista

O Capital (Marx 1867-1894)

A origem da famiacute-lia da propriedade e do Estado (En-gels 1884)

Herbert Spencer 36

(1820-1903)

Primeira tipologiabull Sociedades simples (com vaacuterios subtipos segundo a forma de autoridade e suas carac-teriacutesticas nocircmades e sedentaacuteria) bull Sociedades duplamente compostas (se-dentaacuteria e com poderes estaacuteveis)bull Sociedades triplamente compostas (gran-des civilizaccedilotildees e sociedades industriais)

Segunda tipologiabull Sociedade militar bull Sociedade industrial

Grau de complexidade social (extensatildeo se-dentarismo sistema de poder e de autori-dade formas de inte-graccedilatildeo social divisatildeo do trabalho etc)

Evolucionismo

Analogia orgacircnica

Princiacutepios de So-ciologia (1876-1896)

Lewis Mumford37

(1895-1969)

bull Etapa anterior a apariccedilatildeo da teacutecnica bull Etapa teacutecnica (dividida em eoteacutecnica pa-leoteacutecnica e neoteacutecnica)

Emprego de diferen-tes teacutecnicas fontes de energia inventos recursos e mateacuterias primas

Evoluccedilatildeo social e evo-luccedilatildeo tecnoloacutegica

Teacutecnica y civiliza-cioacuten (1934)

Talcott Parsons38

(1902-1979)

bull Sociedades primitivas ou pouco diferen-ciadasbull Sociedades arcaicasbull Sociedades intermediaacuterias com escrita e religiatildeobull Sociedades modernas (universalistas com racionalidade formal etc)bull Sociedades ldquode sementesrdquo (Greacutecia anti-ga Israel)

Desenvolvimento cul-tural complexidade social diferenciaccedilatildeo e especializaccedilatildeo de funccedilotildees etc

Analise estrutural fun-cional Criacutetica do ldquohistoricismordquo e as explicaccedilotildees linea-res e universais

Sociedades Pers-pectivas Evolutivas e Comparativas (1966)

Tabela 2 Principais modelos de sociedades

Modelos de sociedade

Horizonte tem-poral

Formas de organizaccedilatildeo social predominante

Meios de sub-sistecircncia Principais tecnologias

Sociedades caccediladoras e co-letoras

Dos hominiacutedeos ateacute o homo sapiens (homo faber)

bull Tribos clatildes bandos grupos de caccedilabull Nomadismo bull A forma de organizaccedilatildeo social eacute a famiacutelia e o grupo de paren-tesco

CaccedilaColeta de vegetais em geral

bull Utensiacutelios de pedra e teacutecnica de caccedilabull Machados pontas de flechas e lanccedilas etc

Sociedades horticultoras

Iniacutecio da ldquorevoluccedilatildeo neoliacuteticardquo (11000 a a 10000 aC) ateacute o fi-nal do ultimo periacuteodo glacial

bull Aldeias e primeiros nuacutecleos urbanos significativosbull Sedentarismobull Desenvolvimento de formas de agrupamento social masculina mais ampla

Produtos de horta animais domeacutesticos etcProgressiva diver-sificaccedilatildeo de culti-vos (rotaccedilatildeo etc)

bull Paacutes enxadas Vasilhas teacutecnicas de cultivobull Primeiros metaisbull Energia muscular humana

31 Conheccedila mais em httpptwikipediaorgwikiAdam_Ferguson 32 Conheccedila mais em httpptwikipediaorgwikiAuguste_Comte 33 Conheccedila mais em httpwwwnetsabercombrbiografiasver_biografia_c_2510html e httpenwikipediaorgwikiLewis_H_Mor-gan (em inglecircs)34 Conheccedila mais em httpptwikipediaorgwikiKarl_Marx 35 Conheccedila mais em httpptwikipediaorgwikiFriedrich_Engels 36 Conheccedila mais em httpptwikipediaorgwikiHerbert_Spencer e httpvirtualbooksterracombrosmelhoresautoresbio-grafiasHerbert_Spencerhtm37 Conheccedila mais em httpptwikipediaorgwikiLewis_Mumford 38 Conheccedila mais em httpptwikipediaorgwikiTalcott_Parsons

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Sociedades agriacutecolas

4000 a 3000 anos aC

bull Grandes cidadesbull Grandes poderes poliacuteticosbull Impeacuterios

Cultivos em grande escala

bull Aradobull Desenvolvimento da metalurgiabull Roda e velabull Energia de animais eoacutelica e de aacutegua (moinhos)bull Sistema de irrigaccedilatildeobull Grandes obras puacuteblicas (templos pa-laacutecios piracircmides muralhas etc)

Sociedades industriais Seacuteculos XIX e XX Estado-Naccedilatildeo

Produccedilatildeo fabrilFabricaccedilatildeo de bens de consumo du-raacuteveis em grande escala

bull Maacutequinas bull Faacutebricasbull Energia eleacutetrica do gaacutes do carvatildeo (vapor) etcbull Novas tecnologias (mecanizaccedilatildeo fer-tilizantes inseticidas etc)

S o c i e d a d e s t e c n o l oacute g i c a s avanccediladas

Final do Seacutecu-lo XX e seacuteculo XXI

Internacionalizaccedilatildeo e coorde-naccedilatildeo supraestatalMundializaccedilatildeo da economia

Produccedilatildeo de mer-cadorias e produ-tos cada vez mais sofisticadosPrestaccedilatildeo de ser-viccedilosImportacircncia cres-cente do oacutecio

bull Robocircs industriaisbull Sistemas automaacuteticos de trabalhobull Revoluccedilatildeo microeletrocircnica microbio-loacutegica e novas fontes de energiabull Organizaccedilatildeo flexiacutevel da produccedilatildeo

421 Sociedades Algumas tipologias tecnocientiacutefico

Como foi possiacutevel perceber no estudo das duas tabelas anteriores a tipologia de sociedades ocorre a partir de padrotildees de anaacutelise externos Cada um dos estudiosos citados estudos a evoluccedilatildeo das so-ciedades utilizando-se de criteacuterios especiacuteficos permitindo-nos uma complexa gama de estudos que antes de se contradizerem se completam

Podemos fazer o mesmo exerciacutecio de anaacutelise das sociedades utilizando-nos de criteacuterios que se apoacuteiem em princiacutepios da Ciecircncia e da Tecnologia ou melhor da Tecnociecircncia Para isso escolhe-remos os textos de Peter Drucker (1996) Lewis Mumford (apud Bazzo Linsingen e Pereira 2003 e Martin Gordillo 2001) Javier Echeverriacutea (1999) e Ferreira (2010)

Peter Drucker (1996) em sua obra A Sociedade Poacutes-capitalista explora a evoluccedilatildeo dos modelos de sociedade a partir de conquistas marcadas por aparatos tecnoloacutegicos e chega a proposta de estabele-cimento da Sociedade do Conhecimento Para ele

A cada dois ou trecircs seacuteculos ocorre na histoacuteria ocidental uma grande transformaccedilatildeo Cruza-mos aquilo que chamei de divisor em um livro anterior Em poucas deacutecadas sociedade se reorganiza - sua visatildeo do mundo seus valores baacutesicos sua estrutura social e poliacutetica suas artes suas instituiccedilotildees mais importantes Depois de cinquumlenta anos existe um novo mundo E as pessoas nascidas nele natildeo conseguem imaginar o mundo em que seus avoacutes viviam e no qual nasceram seus pais Estamos atualmente atravessando uma dessas transformaccedilotildees Ela estaacute criando a sociedade poacutes-capitalista que eacute o assunto deste livroUma dessas transformaccedilotildees ocorreu no seacuteculo XIII quando o mundo europeu quase da noite para o dia passou a centralizarse na nova cidade - com a emergecircncia das guildas mu-nicipais como grupos sociais dominantes e o renascimento do comeacutercio a grandes distacircn-cias com a arquitetura goacutetica eminentemente urbana e praticamente burguesa e os novos pintores de Siena com a mudanccedila para Aristoacuteteles como a fonte da sabedoria e as universi-dades urbanas substituindo os monasteacuterios e seu isolamento rural como centros de cultura com as novas ordens religiosas urbanas os dominicanos e franciscanos emergindo como carreiras de religiatildeo aprendizado e espiritualidade e em poucas deacutecadas com a mudanccedila

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do latim para o vernaacuteculo e a criaccedilatildeo por Dante da literatura europeacuteiaDuzentos anos depois a transformaccedilatildeo seguinte teve lugar nos ses-senta anos entre a in-venccedilatildeo da imprensa por Gutenberg em 1455 e a Reforma Protestante de Lutero em 1517 Foram as deacutecadas em que floresceu o Renascimento com seu apogeu entre 1470 e 1500 em Florenccedila e Veneza do redescobrimento da antiguidade e da descoberta da Ameacuterica pelos europeus da Infantaria Espanhola o primeiro exeacutercito regular desde as legiotildees romanas da redescoberta da anatomia e com ela da pesquisa cientiacutefica e da adoccedilatildeo generalizada dos algarismos aacuterabes pelo ocidente E mais uma vez ningueacutem que vivesse em 1520 consegui-ria imaginar como era o mundo em que seus avoacutes tinham vivido e no qual seus pais tinham nascidoA transformaccedilatildeo seguinte comeccedilou em 1776 - o ano da Revoluccedilatildeo Americana do aper-feiccediloamento do motor a vapor por James Watt e da publicaccedilatildeo de A Riqueza das Naccedilotildees de Adam Smith Ela terminou quase quarenta anos depois em Waterloo - quarenta anos durante os quais nasceram todos os ismos modernos O capitalismo o comunismo e a Re-voluccedilatildeo Industrial surgiram durante essas deacutecadas que tambeacutem viram a criaccedilatildeo - em 1809 - da universidade moderna (Berlim) e do ensino universal Essas quatro deacutecadas trouxeram a emancipaccedilatildeo dos judeus - em 1815 os Rothschild haviam adquirido um grande poder fazen-do sombra a reis e priacutencipes Na verdade esses quarenta anos produziram uma nova civili-zaccedilatildeo europeacuteia Mais uma vez ningueacutem que vivesse em 1820 poderia imaginar o mundo dos seus avoacutes e no qual seus pais haviam nascidoNosso periacuteodo duzentos anos depois eacute um desses periacuteodos de transformaccedilatildeo Entretanto desta vez a transformaccedilatildeo natildeo se limita agrave sociedade e agrave histoacuteria ocidentais Na verdade uma das mudanccedilas fundamentais eacute que natildeo existe mais uma histoacuteria ou uma civilizaccedilatildeo ociden-tal mas sim uma histoacuteria e uma civilizaccedilatildeo mundiais- mas ambas satildeo ocidentalizadas Eacute discutiacutevel se a presente transformaccedilatildeo comeccedilou com a emergecircncia do primeiro paiacutes natildeo-ocidental o Japatildeo como grande potecircncia econocircmica - isto eacute por volta de 1960 - ou com o computador isto eacute com a informaccedilatildeo passando a ser fundamental Minha candidata seria a Declaraccedilatildeo de Direitos dos Combatentes Americanos depois da Segunda Guerra Mundial que deu a cada soldado americano que voltou o dinheiro para que ele frequumlentasse uma universidade - fato que natildeo teria feito nenhum sentido apenas trinta anos antes no final da Primeira Guerra Mundial A Declaraccedilatildeo de Direitos dos Combatentes - e a resposta en-tusiaacutestica por parte dos veteranos americanos - assinalaram mudanccedila para a sociedade do conhecimento Os futuros historiadores poderatildeo consideraacute-la o fato mais importante do seacuteculo vinteAinda estamos claramente no meio dessa transformaccedilatildeo na verdade se a histoacuteria servir de guia ela natildeo estaraacute concluiacuteda ateacute 2010 ou 2020 Mas jaacute mudou o cenaacuterio poliacutetico econocircmi-co social e moral do mundo Ningueacutem nascido em 1990 poderaacute imaginar o mundo em que seus avoacutes (isto eacute minha geraccedilatildeo) cresceram ou o mundo em que nasceram seus pais A primeira tentativa bem-sucedida para compreender os fatos iniciados em 1455 que trans-formaram a Idade Meacutedia e o Renascimento no mundo moderno foi feita somente cinquumlenta anos depois com os Comentaacuterios de Copeacuternico escritos entre 1510 e 1514 com O Priacutencipe de Maquiavel escrito em 1513 com a siacutentese por Michelangelo de toda a arte renascentista no teto da Capela Sistina pintado entre1508 e 1512 e com o restabelecimento da Igreja Catoacuteli-ca no Conciacutelio de Trento por volta de 1540A transformaccedilatildeo seguinte - que ocorreu haacute cerca de duzentos anos e foi anunciada pela Revoluccedilatildeo Americana - soacute foi ser compreendida e analisada sessenta anos depois nos dois volumes de Democracia na Ameacuterica de Alexis de Tocqueville publicados respectivamente em 1835 e 1840

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SOBRE A SOCIEDADE MAS NAtildeO O QUE Eacute A SOCIEDADE60

Jaacute avanccedilamos o suficiente na nova sociedade poacutes-capitalista para rever e revisar a histoacuteria social poliacutetica e econocircmica da Idade do Capitalismo e da naccedilatildeo-estado Assim este livro iraacute reexaminar o periacuteodo que estamos deixando para traacutes e deste novo ponto de observaccedilatildeo algumas coisas que veremos poderatildeo nos surpreender (como aconteceu comigo)Entretanto ainda eacute arriscado prever como seraacute o mundo poacutes-capitalista Mas acredito que podemos descobrir com algum grau de probabilidade que novas perguntas seratildeo levantadas e onde estaratildeo as grandes questotildees Em muitas aacutereas tambeacutem podemos descrever o que natildeo daraacute certo As respostas agrave maior parte das perguntas ainda estatildeo ocultas no interior do futuro A uacutenica coisa da qual podemos ter certeza eacute que o mundo que iraacute emergir do atual rearranjo de valores crenccedilas estruturas econocircmicas e sociais de conceitos e sistemas poliacuteticos de visotildees mundiais seraacute diferente daquilo que qualquer um imagina hoje Em al-gumas aacutereas - em especial na sociedade e em sua estrutura - jaacute ocorreram mudanccedilas baacutesicas Eacute praticamente certo que a nova sociedade seraacute natildeo-socialista e Poacutes-capitalista E tambeacutem eacute certo que seu principal recurso seraacute o conhecimento Isso tambeacutem significa que ela de-veraacute ser uma sociedade de organizaccedilotildees Em poliacutetica jaacute deixamos os quatrocentos anos de soberania da naccedilatildeo-estado para um pluralismo no qual a naccedilatildeo-estado natildeo mais seraacute a uacutenica unidade de integraccedilatildeo poliacutetica Ela seraacute um componente - embora ainda importante - daquilo que chamo de forma de governo poacutes-capitalista um sistema no qual competem e coexistem estruturas transnacionais regionais de naccedilotildees-estados e ateacute mesmo tribaisEssas coisas jaacute aconteceram portanto podem ser descritas E descrevecirc-las eacute a finalidade deste livro

Lewis Mumford em sua obra Teacutecnica y Civilizacioacuten (1934) apresenta as mudanccedilas que a maacute-quina introduziu nas formas da civilizaccedilatildeo ocidental permitindo-nos mais uma vez estabelecer uma ana-logia entre as mudanccedilas e a tipologia das sociedades desta vez considerando o desenvolvimento tecnoloacutegico O autor apresenta trecircs tipos de sociedades (Bazzo Linsingen e Pereira 2003 p 94-99)

bull A fase eoteacutecnica As teacutecnicas que permitem definir a sociedade eoteacutecnica satildeo as que aproveitam a aacutegua e a madeira O periacuteodo de desenvolvimento dessa etapa se estende aproximadamente desde o ano 1000 ateacute 1750 Na sociedade eoteacutecnica diminui a importacircncia que os seres humanos tinham tido como fonte de energia e aumenta o uso da energia proveniente do cavalo graccedilas ao seu melhor aproveitamento mediante duas novas peccedilas a ferradura e a moderna forma de arreios com a qual a traccedilatildeo se realiza a partir dos ombros e natildeo do pescoccedilo O maior progresso teacutecnico do ponto de vista energeacutetico se deu em regiotildees que tinham abundantes fontes de aacutegua e de vento graccedilas agrave apariccedilatildeo de rodas e moinhos hidraacuteulicos e de vento que permitiram uma melhora substancial em seu aproveitamentoJunto a estas fontes de energia a madeira era o material universal da sociedade eo-teacutecnica todas as construccedilotildees utilizavam madeira em sua estrutura e de madeira eram tambeacutem as ferramentas utilizadas na construccedilatildeo Inclusive a maior parte das maacutequinas e invenccedilotildees-chave da idade industrial se desenvolveram em madeira antes de serem trabalhadas em metal Apesar dessa utilizaccedilatildeo intensa Mumford considera que o que propiciou a destruiccedilatildeo da mata na eacutepoca foi o uso intensivo da madeira na mineraccedilatildeo na forja e na fundiccedilatildeo Outro dos materiais desse periacuteodo eacute o vidro cuja contribuiccedilatildeo agrave so-ciedade da eacutepoca foi muito importante Mudou a vida no interior das casas mediante seu uso em recipientes e sobretudo em janelas ampliou a visatildeo por meio das lentes em oacuteculos telescoacutepios e microscoacutepios e foi um fator essencial no desenvolvimento da quiacute-mica e no aperfeiccediloamento dos espelhos

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SOBRE A SOCIEDADE MAS NAtildeO O QUE Eacute A SOCIEDADE61

Satildeo muitos os inventos caracteriacutesticos da sociedade eoteacutecnica Talvez o mais importan-te seja o meacutetodo experimental da ciecircncia que Mumford considera a maior realizaccedilatildeo na fase eoteacutecnica A principal inovaccedilatildeo mecacircnica dessa eacutepoca eacute o reloacutegio mecacircnico segui-do embora natildeo em importacircncia da imprensa acompanhada pelo papel a cuja produccedilatildeo foi aplicada a maquinaria movida por energia mecacircnica Ele tambeacutem faz referecircncia a invenccedilotildees sociais dessa civilizaccedilatildeo como a universidade e a faacutebrica

bull A sociedade paleoteacutecnica A sociedade paleoteacutecnica teria seu iniacutecio por volta de 1700 e seu auge teria se produzido entre 1870 e 1900 sendo esta uacuteltima data coincidente com o iniacutecio de um movimento de decadecircncia Nesta etapa a sociedade abandonou seus va-lores vitais e passou a centrar-se somente nos valores pecuniaacuterios As mudanccedilas nesses valores foram motivadas pela introduccedilatildeo do carvatildeo como fonte de energia mecacircnica Essa nova fonte de energia tornou-se efetiva mediante novos meios como a maacutequina a vapor e tambeacutem foi utilizada nos novos meacutetodos de fundir e trabalhar o ferro A nova sociedade eacute pois um produto do carvatildeo e do ferroEm torno de 1780 cristaliza-se o modelo paleoteacutecnico que se pode ver em uma seacuterie de inventos e artefatos teacutecnicos o carro a vapor de Murdock o forno de reverbero de Cort o barco de ferro de Wilkinson o tear mecacircnico de Cartwright e os barcos a vapor de Jouffroy e de Fitch Realizaccedilotildees tiacutepicas da sociedade paleoteacutecnica satildeo a ponte e o barco de ferro A construccedilatildeo de estruturas de ferro como o Crystal Palace os primeiros arranha-ceacuteus a torre Eiffel etc converteram o ferro em material universal A induacutestria militar fez um amplo uso dele Eacute tambeacutem um periacuteodo em que a sociedade se dedica a uma sistemaacutetica destruiccedilatildeo do meio ambiente Eacute a sociedade da poluiccedilatildeo do ar e da con-taminaccedilatildeo das aacuteguas ()Junto a isso Mumford assinala que se produziu a passagem de tecnologias democraacute-ticas para outras mais autoritaacuterias enquanto a energia do vento e da aacutegua proacuteprias da fase eoteacutecnica eram graacutetis o carvatildeo era caro e a maacutequina a vapor custosa de modo que tendia agrave concentraccedilatildeo e ao monopoacutelio A sociedade paleoteacutecnica se desenvolveu como uma sociedade auto-suficiente o que soacute foi possiacutevel com o estabelecimento desde o seacuteculo XVIII da noccedilatildeo de progresso Considerava-se evidente a existecircncia de leis do progresso que se refletiam nas contiacutenuas invenccedilotildees de maacutequinas de novas comodida-des etc ()Deve se dizer que houve resistecircncias a tudo isso natildeo soacute individuais (Ruskin Nietzsche Melvillehellip) mas tambeacutem coletivas como as que se propocircs o movimento ludista -sobre os luditas veja-se o capiacutetulo O que eacute tecnologia e Noble 1995 A introduccedilatildeo da maacutequina nessa fase teve outra importante consequecircncia social a divisatildeo do mundo em zonas de produccedilatildeo de maacutequinas e zonas de produccedilatildeo de alimentos e mateacuterias-primas o que se-gundo Mumford trouxe consequecircncias nefastas que serviram de motivo para a Guerra Civil Americana ao provocar a queda no consumo de algodatildeo que reduziu os habitan-tes de Lancashire agrave extrema pobreza

bull A fase neoteacutecnica Mumford considera que na sociedade dessa eacutepoca haacute uma ruptura com o periacuteodo paleoteacutecnico e em certo sentido um retorno a algumas caracteriacutesticas da sociedade eoteacutecnica Eacute difiacutecil defini-la como um periacuteodo determinado posto que ain-da estamos imersos nela Tampouco foi produzida uma ruptura com o periacuteodo paleo-teacutecnico como a que este realizou com relaccedilatildeo ao eoteacutecnicoMumford fixa os comeccedilos da fase neoteacutecnica no momento em que os geradores de ener-gia tornam-se mais eficientes por volta de 1832 Em 1850 grande parte das descobertas fundamentais dessa nova fase jaacute haviam sido produzidas a pilha eleacutetrica a bateria o diacute-

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namo o motor a lacircmpada eleacutetrica o espectroscoacutepio a teoria da conservaccedilatildeo da energia Entre 1875 e 1900 jaacute se haviam aplicado esses inventos aos procedimentos industriais a central eleacutetrica o telefone Outras invenccedilotildees caracteriacutesticas do periacuteodo foram esboccedila-das ou completadas ateacute 1900 o fonoacutegrafo o cinematoacutegrafo o motor a gasolina a turbina a vapor o aviatildeohellipA fase neoteacutecnica esteve marcada desde o comeccedilo por uma nova forma de energia a eleacutetrica A eletricidade que diferentemente do carvatildeo podia proceder de vaacuterias fontes - o proacuteprio carvatildeo a correnteza de um rio as quedas daacutegua as mareacutes - mudou tambeacutem a possiacutevel distribuiccedilatildeo da induacutestria moderna no mundo posto que essa induacutestria jaacute natildeo tinha porque situarse na Europa ou nos Estados Unidos potecircncias dominantes por seu controle do carvatildeo e do ferroA eletricidade ao contraacuterio do carvatildeo eacute muito faacutecil de ser transferida sem grandes per-das de energia e sem custos excessivos Ademais eacute facilmente convertiacutevel de vaacuterias ma-neiras com o motor pode-se realizar um trabalho mecacircnico com a lacircmpada iluminar com o radiador1 aquecer etc O uso da eletricidade permitiu a sobrevivecircncia das peque-nas oficinas frente agraves grandes faacutebricas caracteriacutesticas da sociedade paleoteacutecnica Natildeo obstante isso natildeo impediu a concentraccedilatildeo de empresas que eacute mais um fenocircmeno que responde a interesses dos empresaacuterios ou ao setor financeiro que a puros condicionan-tes teacutecnicosOs materiais caracteriacutesticos desse periacuteodo satildeo as novas ligas as terras raras e os metais mais leves - cobre alumiacutenio Aparecem tambeacutem novos materiais sinteacuteticos celulose vulcanite baquelite e resinas sinteacuteticasA sociedade neoteacutecnica comeccedila a transformar radicalmente seus sistemas de comuni-caccedilatildeo o que constitui uma caracteriacutestica destacada do periacuteodo O teleacutegrafo o telefone e a televisatildeo - recordemos o que Mumford escrevia em 1934 - provocaram contatos mais numerosos instantacircneos e a longas distacircncias No entanto Mumford era bastante criacute-tico com esses artefatos Enfrentamo-nos aqui com uma forma ampliada de um perigo comum a todos os inven-tos uma tendecircncia a usaacute-los exija ou natildeo a ocasiatildeo Assim nossos avoacutes utilizavam cha-pas de ferro para as fachadas dos edifiacutecios apesar do fato de ser o ferro um conhecido condutor de calor [hellip] Eliminar as restriccedilotildees no estreito contato humano [que era o que propiciavam esses novos inventos para a telecomunicaccedilatildeo] foi em suas primeiras eta-pas tatildeo perigoso como a avalancha de populaccedilotildees em direccedilatildeo agraves novas terras aumentou as zonas de fricccedilatildeo Da mesma maneira mobilizou e acelerou as reaccedilotildees das massas como as que ocorrem em veacutesperas de uma guerra e incrementou os perigos de conflito internacionalApesar dessa visatildeo que alguns poderiam considerar excessivamente pessimista Mumford vecirc na sociedade neoteacutecnica uma mudanccedila com respeito agrave atitude que a so-ciedade paleoteacutecnica tinha sobre o entorno sobre o meio ambiente Na fase neoteacutecnica haacute uma maior preocupaccedilatildeo com a conservaccedilatildeo do ambiente natural Darwin e outros haviam posto a descoberto a inter-relaccedilatildeo existente no meio natural entre geologia cli-ma solo plantas animais bacteacuterias etc Mumford cita como exemplo a obra de George Perkins Marsh que jaacute em 1866 havia alertado sobre os perigos da destruiccedilatildeo de morros e do solo em sua obra ldquoO homem e a naturezardquoA fase neoteacutecnica tambeacutem ocasionou agrave sociedade um controle mais preciso da repro-duccedilatildeo humana A extensatildeo de meacutetodos anticoncepcionais e um melhor conhecimento

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da sexualidade humana foram elementos fundamentais na transformaccedilatildeo das relaccedilotildees entre os sexos e na proacutepria demografiaMumford conclui dizendo que

Cada uma das fases da civilizaccedilatildeo da maacutequina deixou seus frutos na sociedade Cada uma mudou sua paisagem alterou o plano fiacutesico das cidades utilizou certos dis-cursos e desprezou outros favoreceu certos tipos de comodidade e certas sendas de atividade e modificou a heranccedila teacutecnica comum [hellip] Chamar a essa complicada heranccedila de Idade da Energia ou Idade da Maacutequina oculta muito do que se potildee em re-levo Se a maacutequina parece dominar a vida de hoje eacute soacute porque a sociedade estaacute mais desorganizada do que estava no seacuteculo XVII

Atividade de auto-avaliaccedilatildeo impacto da tecnologia na sociedade

Mumford escreve que houve uma grande variaccedilatildeo de valores na fase paleoteacutecnica Escreva utilizan-do-se de apenas uma lauda nos padrotildees jaacute indicados como o carvatildeo e a economia do carvatildeo podem ter produzido este impacto

Javier Echeverriacutea em sua obra ldquoLos sentildeores del aire Teleacutepolis y El tercer entornordquo (1999) apresentou as relaccedilotildees entre sociedade e tecnologia sob a oacutetica das tecnologias telemaacuteticas oferecendo-nos seus trecircs entornos sendo que cada um deles se apresenta como uma tipologia social

bull Primeiro entorno (E1) O meio caracteriacutestico eacute o natural e nele vivem as sociedades mantidas pelas culturas de subsistecircncia - sedentaacuterias ou nocirc-mades - baseadas na caccedila na agricultura na pesca na pecuaacuteria ou nos recursos naturais Neste primeiro entorno soacute se percebe como existente o que estaacute presente fisicamente e agrave curta distacircncia Essa presenccedila fiacutesica e proacutexima eacute simultacircnea agrave nossa proacutepria presenccedila fiacutesicaAs formas proacuteprias ou caracteriacutesticas deste primeiro entorno satildeo o corpo humano o clatilde a tribo a famiacutelia a cabana o curral a casa o tuacutemulo a aldeia o trabalho a troca a propriedade a liacutengua falada a agricultura a pecuaacuteria os ritos os lugares sagrados as divindadeshellip

bull Segundo entorno (E2) O meio caracteriacutestico eacute o cultural social e urbano isto eacute uma sobrenatureza produzida graccedilas agrave teacutecnica e agrave induacutestria As relaccedilotildees humanas que se datildeo nas sociedades deste tipo satildeo as proacuteprias das relaccedilotildees urbanas e o acircmbito das relaccedilotildees se amplia nos conceitos de comarcas territoacuterios paiacuteses etc Nas sociedades deste se-gundo entorno foram-se instituindo distintas formas de poder que natildeo existiam em E1 como o religioso o militar o poliacutetico o econocircmico etc Posto que o desenvolvimento deste segundo entorno natildeo significa o desaparecimento do primeiro produzem-se con-flitos e tensotildees entre as formas proacuteprias de cada um deles Satildeo formas proacuteprias de E2 a vestimenta a famiacutelia a pessoa o indiviacuteduo o mercado a oficina a empresa a induacutestria o dinheiro os bancos as escolas os cemiteacuterios a escrita as ciecircncias as maacutequinas a jus-ticcedila a cidade a naccedilatildeo o Estado as Igrejashellip Assim nas sociedades do segundo entorno o corpo estaacute recoberto por uma sobrenatureza - roupa sapatos chapeacuteu tatuagens ma-quiagens brincos oacuteculoshellip - que foi produzida graccedilas agrave teacutecnica e agrave induacutestria

bull No terceiro entorno (E3) Esta nova forma de sobrenatureza depende em grande parte de uma seacuterie de inovaccedilotildees tecnoloacutegicas Conforme surjam novos avanccedilos tecnocientiacute-ficos as propriedades do terceiro entorno iratildeo se modificando por ser um espaccedilo basi-camente artificial [hellip]E3 eacute possibilitado por uma seacuterie de tecnologias entre as quais mencionaremos sete o

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telefone o raacutedio a televisatildeo o dinheiro eletrocircnico as redes telemaacuteticas a multimiacutedia e o hipertexto A construccedilatildeo e o funcionamento de cada um destes artefatos pressupotildeem numerosos conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos - eletricidade eletrocircnica informaacute-tica transistorizaccedilatildeo digitalizaccedilatildeo oacutetica compactaccedilatildeo criptologia etc- motivo pelo qual conveacutem destacar que a construccedilatildeo do terceiro entorno soacute comeccedilou a ser possiacutevel para os seres humanos apoacutes numerosos avanccedilos cientiacuteficos e teacutecnicos O terceiro entor-no eacute um dos resultados da tecnociecircncia e por isso emergiu naqueles paiacuteses que conse-guiram um maior avanccedilo tecnocientiacutefico sobretudo nos EUA onde se descobriram ou pelo menos se implementaram e difundiram quase todos esses avanccedilos tecnocientiacutefi-cos

()

Sobre a obra de Echeverria Bazzo Linsingen e Pereira (2003) complementam dizendo

Segundo o autor em E3 se estaacute produzindo o que se chama uma situaccedilatildeo neofeudal onde alguns senhores os senhores do ar - que datildeo tiacutetulo a uma de suas obras sobre o tema - controlam em uma relaccedilatildeo proacutexima a vassalagem agraves pessoas dependentes e submetidas agrave sua tecnologia Satildeo senhores do ar posto que seu poder natildeo se encontra no territoacuterio ou no espaccedilo fiacutesico proacuteximo como ocorria em E1 e E2 mas se assenta nos sateacutelites nas redes de comunicaccedilatildeo nos servidores informaacuteticos etc (p103)

Conheccedila mais

Ouccedila a entrevista de Javier Echeverriacutea sobre o E3 em httpportaleducarnoticiasactualidad-educarjavier-echeverria-en-educarphp

Ferreira (2010) em sua dissertaccedilatildeo sintetiza a ideia de paradigma tecnoeconocircmico a partir da re-flexatildeo de uma seacuterie de outros autores O paradigma tecnoeconocircmico se caracteriza como a

combinaccedilatildeo de inovaccedilotildees de produto teacutecnicas organizacionais e administrativas capazes de abrir oportunidades de investimento e lucro Verificase que aleacutem dos fatores teacutecnicos este conceito abrange tambeacutem os fatores institucionais Cada paradigma tecnoeconocircmico possui um conjunto especiacutefico de fatores-chave e induacutestrias-chave propulsores do cresci-mento econocircmico e as formas de organizaccedilatildeo industrial e de competiccedilatildeo tambeacutem se alte-ram

O quadro a seguir indica os periacuteodos histoacutericos que foram marcados por acontecimentos tecnoloacute-gicos redundando em induacutestrias especiacuteficas fatores que favorecem o chamado progresso naquele periacuteodo e o tipo de organizaccedilatildeo industrial favorecida A nosso ver eacute possiacutevel ainda avaliar estes itens combinados considerando os impactos sociais

Por tal eacute possiacutevel imaginar que os paradigmas tecnocientiacuteficos desenham modelos de sociedades de forma direta ou por acomodaccedilatildeo Vejamos o que nos apresenta

Tabela 3

Periacuteodos Descriccedilatildeo Induacutestrias-chave Fatores-chave Organizaccedilatildeo industrial

1770-1840 Mecanizaccedilatildeo Tecircxtil quiacutemica metal-mecacircnica ceracirc-mica Algodatildeo e ferro Pequenas empresas locais

1840-1890 Maacutequinas a vapor e ferrovias

Motores a vapor maacutequinas-ferramenta maacutequinas para ferrovias

Carvatildeo e sistemas de transportes

Pequenas e grandes empresas e crescimento das sociedades anocircnimas

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1890-1940 Engenharia pesada Estaleiros produtos quiacutemicos armas maacutequinas eleacutetricas accedilo Monopoacutelios e oligopoacutelios

1940-1980 Fordista Automobiliacutestica armas aeronaacuteutica bens de consumo Derivados de petroacuteleo

Concorrecircncia oligopoliacutestica e crescimento das multinacio-nais

A partir de 1980 TIC

Computadores produtos eletrocircnicos software telecomunicaccedilotildees novos ma-teriais e serviccedilos de informaccedilatildeo

Microprocessadores Redes de empresas

Cada periacuteodo marcado por um tipo de induacutestria e de fatores chaves floresceu em locais geografica-mente distintos mesmo que alguns deles reiterasse a capacidade produtiva de determinado paiacutes ou regiatildeo A cada ciclo novo tiacutenhamos pelo menos dois movimentos contraditoacuterios uma cadeia produ-tiva que se enfraquecia (ou desaparecia) e uma cadeia produtiva que surgia Logo em torno da cadeia produtiva que surgia temos uma regiatildeo um paiacutes um conjunto de tributos que passa a alimentar o setor puacuteblico uma concentraccedilatildeo de pessoas e instituiccedilotildees que buscam o ldquonovo eldoradordquo Haacute certa-mente o que se convencionou chamar de progresso

Por outro lado a induacutestria que se enfraqueceu ou mesmo desapareceu deixa suas ldquocicatrizes so-ciaisrdquo Ficam aqueles que perderam os empregos os setores puacuteblicos que natildeo mais receberatildeo os tri-butos proacuteprios da produccedilatildeo ou da comercializaccedilatildeo ficam os passivos sociais de toda ordem

Essa questatildeo que apresentamos fica melhor desenhada quando identificamos as ecircnfases tecnoloacutegicas e os campos do saber eou da produccedilatildeo que foram privilegiados o que foi designado como ondas segundo Tigre (2006 apud Ferreira 2010)

Tabela 4

Ondas CampT e Educaccedilatildeo

Transporte e Comunicaccedilotildees Energia

1ordf revoluccedilatildeo industria(1780-1830)

Aprender-fazendoSociedades cientiacuteficas

Canais Estradas de ferro

Roda drsquoaacutegua(moinhos)

2ordf revoluccedilatildeo industrial(1830-1880) Engenheiros civis e mecacircnicos Estradas de ferro

Teleacutegrafo Vapor

Idade da eletricidade(1880-1930)

PampD industrialQuiacutemica e eltricidadeLaboratoacuterios nacionais

Ferrovias (accedilo)Telefone Eletricidade

Idade da produccedilatildeo em massa(1930-1980)

PampD industrial em escala(Governos e empresas)Educaccedilatildeo em massa

RodoviasRaacutedio Petroacuteleo

Idade da microeletrocircnica(a partir de 1980)

Redes de dadosRedes globais de PampDTreinamento contiacutenuo

Redes de convergentes de comuni-caccedilotildees em multimiacutedia Petroacuteleo e gaacutes

Tecnologias ambientais e de sauacutede( )

BiotecnologiaGeneacuteticaNanotecnologia

TelemaacuteticaTeletrabalho Energias renovaacuteveis

43 Como se fosse uma conclusatildeo

Quando eu tinha dezessete anos fui estudar na Cambridge University e tive sorte de conhe-cer o famoso matemaacutetico Godfrey Hardy()Muitas vezes nos uacuteltimos anos desejei ter podido explicar a Hardy o que fiz com a matemaacutetica que ele me ensinou Agraves vezes sonho que ele vai entender e me perdoar por eu ter me desviado de seus ideais [o de trabalhar apenas em matemaacutetica pura e natildeo em matemaacutetica aplicada]

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SOBRE A SOCIEDADE MAS NAtildeO O QUE Eacute A SOCIEDADE66

Durante minha vida profissional encontrei felizmente aacutereas da ciecircncia em que minhas ap-tidotildees matemaacuteticas puderam ser utilmente empregadas Trabalhei numa variedade de pro-blemas em fiacutesica de partiacuteculas em mecacircnica estatiacutestica em fiacutesica da mateacuteria condensada em astronomia e em biologia Tambeacutem trabalhei em problemas de engenharia aplicando a matemaacutetica ao projeto de instrumentos e maacutequinas Quando eu estava projetando maacutequi-nas costumava pensar na mais famosa declaraccedilatildeo do livro de Hardy aquela que expressava em poucas e amargas palavras sua aversatildeo pela ciecircncia aplicada Uma ciecircncia eacute dita uacutetil se seu desenvolvimento tende a acentuar as desigualdades existentes na distribuiccedilatildeo de riqueza ou se promove mais diretamente a destruiccedilatildeo da vida humana Eu tentava provar que Hardy estava errado que a ciecircncia pode ser uacutetil sem ser nociva Ao escolher em quais problemas trabalhar eu sempre tinha em mente a advertecircncia de Hardy Sua decla-raccedilatildeo eacute muitas vezes verdadeira e eacute uma advertecircncia que todos os cientistas aplicados devem levara seacuterio (grifos nossos)

Freeman Dyson 2001 p7 e 9

Atividade Proposta para reflexatildeo

1 Considerando as propostas de tipologia de Echeverria responda se as escolas que re-cebem computador e conseguem conectar-se a internet estatildeo ou natildeo no E3 Justifique sua resposta

2 Considerando o texto final de Dyson comente os riscos possiacuteveis de uma sociedade tecnocientiacutefica tornar-se mais desigual

SOBRE AS RELACcedilOtildeES CIEcircNCIA TECNOLOGIA E SOCIEDADE67

5 Sobre as relaccedilotildees Ciecircncia Tecnologia e So-ciedade

A escolha das tecnologias natildeo eacute portanto somente uma escolha de meios neutros mas uma escolha de sociedade Natildeo eacute estranho entatildeo que quando se consideram as tecnologias raramente se examine a or-ganizaccedilatildeo social a que conduzem

Geacuterard Fourez

51 Introduccedilatildeo

Vamos retornar a nossa equaccedilatildeo ingecircnua da ciecircncia obtida apoacutes o relatoacuterio Bush (capiacutetulo 1) + ciecircn-cia = + tecnologia = + riqueza = + bem-estar social Se ela eacute tomada como verdade ndash e tem sido assim ndash a Ciecircncia e sua companheira a Tecnologia passam a ter grande poder frente as comunidades em geral considerando a (1) dependecircncia estabelecida por meio dos aparatos tecnoloacutegicos e (2) pela distacircncia entre o fazer cientiacutefico e o entendimento pelas camadas gerais da populaccedilatildeo Essa dependecircncia pela Tecnologia e o natildeo-entendimento dos coacutedigos da Ciecircncia enfraquecem a capacidade de enfrenta-mento e de participaccedilatildeo dos membros da Sociedade ao mesmo tempo em que conferem aqueles primeiros um razoaacutevel poder e status

A Ciecircncia e a Tecnologia estatildeo de tal forma interligadas agrave Sociedade que esta uacuteltima natildeo sabe mais como viver sem aquelas primeiras Com esta ideia Gerard Fourez (1995) inicia um capiacutetulo intitula-do Ciecircncia Poder Poliacutetico e Eacutetico que nos utilizaremos para balizar algumas questotildees em torno das relaccedilotildees da triacuteade CTS

Ao defender a necessidade de refletirmos sobre as relaccedilotildees entre Ciecircncia Tecnologia e Socie-dade Fourez (1995) faz a seguinte afirmaccedilatildeo

O conhecimento eacute sempre uma representaccedilatildeo daquilo que eacute possiacutevel fazer e por conseguin-te representaccedilatildeo daquilo que pode ser objeto de uma decisatildeo na sociedadeA questatildeo do viacutenculo entre os conhecimentos e as decisotildees se impotildee portanto Que existe um viacutenculo isto eacute indicado pelo bom senso se se sabe que eacute possiacutevel construir uma ponte de uma margem a outra de um rio pode-se questionar se ela eacute ou natildeo desejaacutevel (p 207)

A pergunta que se apresenta eacute se o conhecimento ndash que diz ser possiacutevel construir a ponte ndash eacute capaz de dizer se devemos ou natildeo construir a ponte ou seria essa uma decisatildeo com participaccedilatildeo social Trata-se de discutir aqui se as decisotildees de poliacutetica ou eacuteticas devem ser determinadas pela Ciecircncia ou melhor por aqueles que operam os conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos os cientistas ou especialistas

52 Modelos de interaccedilatildeo segundo HabermasFourez

Ainda conduzidos por Fourez vamos lembrar que o filoacutesofo Juumlrgen Habermas39 classifica as inte-raccedilotildees ente Ciecircncia e Sociedade em trecircs grupos distintos As interaccedilotildees tecnocraacuteticas as decisionis-tas e as pragmaacutetico-poliacuteticas deixando claro desde jaacute que essas interaccedilotildees jamais existem em estado puro Esses modelos de interaccedilatildeo de Habermas podem ser resumidos da seguinte forma (Fourez 1995 p 224)

bull Tecnocraacuteticos as ciecircncias e a teacutecnica (os especialistas) determinam as poliacuteticas

39 Conheccedila mais em httpptwikipediaorgwikiJC3BCrgen_Habermas

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SOBRE AS RELACcedilOtildeES CIEcircNCIA TECNOLOGIA E SOCIEDADE68

bull Decisionistas os consumidores determinam os fins os teacutecnicos os meiosbull Pragmaacutetico-poliacutetico interaccedilotildees e negociaccedilotildees entre ldquoespecialistasrdquo e ldquonatildeo-especialistasrdquo

A fim de exemplificar as trecircs interaccedilotildees Fourez propotildee exemplos de interaccedilatildeo entre o meacutedico e seu paciente e entre um mecacircnico e o dono do carro

No modelo Tecnocraacutetico supotildee-se que o meacutedico e o mecacircnico sabem o que eacute melhor para o pa-ciente e para o dono do carro respectivamente Afinal de contas ambos possuem o conhecimento especiacutefico de suas aacutereas de atuaccedilatildeo Tanto o meacutedico quanto o mecacircnico diratildeo ldquoNatildeo se preocupe vou resolver todos os seus problemasrdquo Para o modelo tecnocraacutetico de interaccedilatildeo ldquoas decisotildees cabem ao especialistardquo

De acordo com o modelo Decisionista a situaccedilatildeo eacute um pouco diferente Nele o especialista pergun-taraacute ao cliente o que ele tem em vista ou quais satildeo seus objetivos ao procuraacute-lo O dono do carro pode querer um automoacutevel veloz ou econocircmico ou seguro ou que decirc pouca despesa ou vaacuterios desses itens Apoacutes tomar conhecimento das finalidades ou objetivos do seu cliente o especialista buscaraacute o melhor meio para atingir o objetivo pretendido Em siacutentese

Esse modelo portanto faz a distinccedilatildeo entre tomadores de decisatildeo e teacutecnicos Uns determi-nam os fins outros os meios Esse modelo diminui a dependecircncia em relaccedilatildeo ao teacutecnico uma vez que satildeo as proacuteprias pessoas que decidem sobre seus objetivosUma sociedade decisionista consideraraacute que cabe agraves instituiccedilotildees poliacuteticas determinar os ob-jetivos visados por essa sociedade Cabe aos teacutecnicos apoacutes encontrar os meios adequados (p 208)

De acordo com o terceiro modelo o pragmaacutetico-poliacutetico o que eacute privilegiado eacute a perpeacutetua discussatildeo e negociaccedilatildeo entre o teacutecnico e o cliente O mecacircnico pediraacute o telefone do cliente para mantecirc-lo in-formado de suas descobertas quanto ao estado do carro ao mesmo tempo que ouviraacute suas intenccedilotildees a cada instante chegando ao final com um carro que satisfaccedila as necessidades de seu dono no tempo ideal de trabalho para o mecacircnico Escreve Fourez (1995)

Esse modelo pragmaacutetico-poliacutetico assemelha-se ao modelo decisionista exceto pelo fato de que a relaccedilatildeo entre os especialistas e natildeo-especialistas eacute permanente Contudo resta sem-pre uma decisatildeo delicada a partir de que momento considera-se (e quem considera) que os teacutecnicos compreendem de maneira suficiente a vontade de seus clientes para poder tra-balhar sem consultaacute-los O modelo pragmaacutetico-poliacutetico insiste sobre o fato de que os meios escolhidos podem levar agrave modificaccedilatildeo dos objetivos mas natildeo fornece nenhuma receita sim-ples a fim de poder haver a decisatildeo ele remete agraves negociaccedilotildees (motivo pelo qual natildeo o de-nominamos somente pragmaacutetico mas tambeacutem poliacutetico)Uma das profissotildees que mais pratica essa interaccedilatildeo entre o cliente e o teacutecnico eacute a arquite-tura Um bom arquiteto estabelece um contato permanente com o seu cliente buscando natildeo tomar as decisotildees em seu lugar Ao pocirc-lo a par das implicaccedilotildees teacutecnicas ligadas a sua es-colha o arquiteto pode levar o seu cliente a modificar alguns de seus objetivos (p 210-211)

Leia mais

As reflexotildees de Gerard Fourez (2003) sobre os objetivos da educaccedilatildeo cientiacutefica e os desafios presentes na escola httpwwwifufrgsbrpublicensinovol8n2v8_n2_a1html

Eacute possiacutevel perceber que as interaccedilotildees em estudo fortalecem a posiccedilatildeo da Ciecircncia como detentora do conhecimento que melhor observa que melhor organiza que melhor decide que melhor realiza que melhor avalia Esse eacute o ldquoCrdquo de Ciecircncia

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SOBRE AS RELACcedilOtildeES CIEcircNCIA TECNOLOGIA E SOCIEDADE69

Por outro lado o cidadatildeo se sente bastante familiarizado com os aparatos tecnoloacutegicos Afinal sua vida cotidiana esta repleta destes aparatos que deixam de ser suporte para serem indispensaacuteveis O risco dessa dependecircncia do homem a tecnologias diversas pode ser representado por dois exemplos envolvendo Hegel e Mary Shelley

bull Na dialeacutetica Hegel podemos lembrar das reflexotildees envolvendo o amo e o servo O amo ordenava ao servo que realizasse todos os serviccedilos e com o tempo o amo deixava de saber como fazer enquanto que o servo dominava todas as rotinas do como fazer Ao final quem dominava quem Quem era dependente de quem

bull Quanto a Mary Shelley vale a lembranccedila dos escritos em sua famosa novela Frankstein em 1818 A chamada siacutendrome de Frankstein se deve ao medo de que as forccedilas que nos utilizamos para dominar a natureza se voltem contra noacutes como faz o ldquomonstrordquo nos diversos filmes existentes Ao final diz o ldquomonstrordquo a Victor Frankstein Tu eacutes meu criador mas eu sou o teu senhorrdquo (Bazzo Linsingen e Pereira 2003 p 125)

Desde as tecnologias de transporte ateacute os aparelhos celular modernos os homens vecircm se deixando ldquoescravizarrdquo pelas tecnologias pois que estas tornam suas vidas mais confortaacuteveis ou tornam suas tarefas cotidianas menos penosas Esse eacute o ldquoTrdquo de Tecnologia

Por fim devemos considerar as accedilotildees que estruturam as comunidades e as sociedades quais-quer que sejam suas tipologias Elas pressupotildeem a participaccedilatildeo como corolaacuterio do processo social Cer-tamente essa participaccedilatildeo pode se dar por diversos canais institucionalizados que no nosso modelo esta baseado em processos democraacuteticos A participaccedilatildeo dos cidadatildeos na estrutura democraacutetica bra-sileira pode se dar das seguintes formas a democracia representativa a democracia participativa a democracia direta e a democracia consociativa a saber (Chrispino 2016 p 142-143)

bull A democracia representativa que resulta na eleiccedilatildeo de representantes do povo para os Poderes Legislativo e Executivo nos trecircs niacuteveis de governo (federal estadual e muni-cipal) Isso quer significar que o povo tem participaccedilatildeo direta na qualidade dos seus representantes sendo certo a qualidade dos governantes espelha o pensamento dos eleitores visto que nenhum deles chegou ao poder por concurso ou por sorteio

bull A democracia participativa faculta a participaccedilatildeo mais efetiva de cidadatildeos em espaccedilos de decisatildeo eou de acompanhamento Os exemplos satildeo os conselhos de acompanha-mento de accedilotildees de governo ou conselhos temaacuteticos Natildeo passa despercebido que um dos grandes entraves na consolidaccedilatildeo da boa representaccedilatildeo eacute o fato de que os que buscam representar se utilizam deste instituto como trampolim para projetos poliacuteticos pessoais tais como chegar a vereador chegar a deputado chegar a prefeito etc

bull A democracia direta se daacute pela participaccedilatildeo efetiva do cidadatildeo visando a decisatildeo Satildeo exemplos de participaccedilatildeo direta o plebiscito e o referendo Natildeo devemos confundir os institutos da democracia direta com as ferramentas de poliacutetica populista como foi o caso da denominada ldquoDemocracia Plebiscitaacuteriardquo que mais se assemelha a populismo oportunista quando um governante com alto iacutendice de aceitaccedilatildeo propotildee consulta agrave populaccedilatildeo sobre temas de interesse como a possibilidade de reeleiccedilatildeo sem limites

bull A democracia consociativa que natildeo deixa de ser uma derivada da democracia partici-pativa se caracteriza pela busca de consensos para o conviacutevio entre os diferentes ato-res e interesses que compotildeem a sociedade (Toba 2004) As conferecircncias nacionais os planos diretores os documentos de impacto de vizinhanccedila e de impacto ambiental satildeo exemplos deste novo instituto Aqui ganha aquele que demonstrar mais organizaccedilatildeo e capacidade de articulaccedilatildeo A chamada construccedilatildeo de consenso eacute uma tecnologia social que tende a ocupar importantes espaccedilos nas relaccedilotildees sociais contemporacircneas

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SOBRE AS RELACcedilOtildeES CIEcircNCIA TECNOLOGIA E SOCIEDADE70

Apresentados os canais possiacuteveis do exerciacutecio de participaccedilatildeo social na estrutura democraacutetica cabe perguntar em qual deles o cidadatildeo efetivamente exercita seu controle ou manifesta seu poder de es-colha frente as questotildees que envolvem Ciecircncia e Tecnologia Ou se estamos efetivamente alimentando a interaccedilatildeo Tecnocraacutetica de Habermas chamando os especialistas para que eles decidam os mais va-riados assuntos Ao discutir este assunto Fourez (1995) apresenta interessante e importante questatildeo

O estatuto de especialista apresenta uma ambiguumlidade fundamental mesmo que como tal ele seja necessaacuterio De fato eacute praacutetica geral pedir ao especialista que decida em funccedilatildeo de seu saber cientiacutefico Ora esse saber depende de um paradigma e somente eacute aplicaacutevel no sentido estrito de acordo com as condiccedilotildees definidas por esse paradigma e pelo laboratoacuterio ao qual estaacute ligado Contudo o parecer especializado que se pede dele destina-se agrave vida cotidiana Natildeo se coloca ao especialista uma questatildeo de ordem cientiacutefica mas de ordem social ou econocircmica Em consequecircncia a especialidade natildeo se liga apenas agraves disciplinas cientificas mas agrave maneira pela qual o especialista traduz o problema da vida comum em seu paradigma disciplinar E essa traduccedilatildeo natildeo depende de sua disciplina mas do razoaacutevel ou do senso comum De um modo paradoxal poder-se-ia dizer que um especialista eacute algueacutem a quem se pede que tome uma decisatildeo em nome de sua disciplina sobre algo que natildeo diz respeito exatamente a sua disciplina

Eacute certo que o especialista natildeo eacute a pessoa mais capaz para decidir sobre os caminhos a serem trilhados para a sociedade Ele natildeo eacute o representante da sociedade legitimado para escolher ldquose a ponte deve ou natildeo ser construiacutedardquo O representante que melhor se aproxima desta funccedilatildeo eacute o poliacutetico Se esta-mos escolhendo bons poliacuteticos para essa funccedilatildeo de representaccedilatildeo social isso eacute laacute outro problema que natildeo cabe neste espaccedilo

O ldquoSrdquo da sigla CTS deve representar a Sociedade na triacuteade CTS digamos que esta representaccedilatildeo seja um caminho em construccedilatildeo (Vacarezza 2002) um sonho que vai se tornando realidade apesar de todas as dificuldades

Essa uacuteltima afirmaccedilatildeo natildeo eacute de forma alguma uma demonstraccedilatildeo de pessimismo A primeira accedilatildeo frente a uma dificuldade ou limitaccedilatildeo deve ser a de assumir que ela existe identificar suas carac-teriacutesticas e planejar o que fazer Assumir que a Sociedade natildeo possui instrumentos cognitivos para entender os temas tecnocientiacuteficos e que isso a impede de participar das decisotildees sociopoliacuteticas eacute indispensaacutevel para propor instrumentos eficazes de superaccedilatildeo do problema

Por tal eacute indispensaacutevel que se proceda a vulgarizaccedilatildeo cientiacutefica (Fourez 1995) por meio da alfabeti-zaccedilatildeo tecnocientiacutefica40 do cidadatildeo (Zaragoza 1999 Santos e Mortimer 2002 Eduarda Santos 2001 Auler 2003 Acevedo Vaacutezquez e Manassero 2003 Chassot 2003 Krasilchik e Marandino 2006 Santos 2007 Praia Gil e Vilches 2007)

Segundo a proposta de Fourez (1995 p 221-222) a vulgarizaccedilatildeo cientiacutefica ndash e diriacuteamos noacutes tambeacutem a tecnoloacutegica ndash pode dar-se de duas maneiras

bull Efeito vitrine a primeira por meio de uma operaccedilatildeo de relaccedilotildees puacuteblicas da comuni-dade cientiacutefica demonstrando ao povo as ldquomaravilhas que os cientistas satildeo capazes de produzirrdquo resultando em uma sociedade tecnocraacutetica com pouca liberdade e a

bull Transmissatildeo de poder social aquela que transmite certo conhecimento cientiacutefico ao

40 Os diversos autores utilizam Alfabetizaccedilatildeo Cientiacutefica alguns preferem alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica letramento cien-tiacutefico ou literaacutecia cientiacutefica Parece-nos mais adequado no contexto deste trabalho o termo alfabetizaccedilatildeo tecnocientiacutefica que iraacute significar a capacidade de ler compreender e expressar opiniotildees sobre ciecircncia e tecnologia (Krasilchik e Marandino 2004 p 26) Para noacutes CTS eacute um Enfoque mais amplo que a ACT por considerar as relaccedilotildees sociais tal qual indicou Fourez (1997 p 18)

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ponto de serem uacuteteis no entendimento de questotildees tecnocientiacuteficas ndash que chamaremos aqui de alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica ndash que resulta em cidadatildeos capazes de tomar decisotildees em relaccedilatildeo a sua vida individual e sua existecircncia coletiva

Para o autor

Para ser um indiviacuteduo autocircnomo e um cidadatildeo participativo em uma sociedade altamente tecnizada deve-se ser cientifica e tecnologicamente ldquoalfabetizadosrdquo Sem certas represen-taccedilotildees que permitem apreender o que estaacute em jogo no discurso dos especialistas as pessoas arriscam-se a se verem tatildeo indefesas quanto os analfabetos em uma sociedade onde reina a escrita (p 222)()O movimento Science Technology amp Society41 (STS) () tenta precisamente promover uma articulaccedilatildeo fecunda desses trecircs componentes

Santos (2007) em seu estudo sobre alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica chama a atenccedilatildeo para o fato de que a alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica tem sido objeto de preocupaccedilatildeo de profissionais de diversas aacutereas

bull Educadores em ciecircncia que se preocupam com a educaccedilatildeo nos sistemas de ensinobull Cientistas sociais que estatildeo voltados para o interesse do puacuteblico em geral por questotildees

cientiacuteficasbull Socioacutelogos da ciecircncia que estatildeo envolvidos com a interpretaccedilatildeo diaacuteria da ciecircnciabull Comunicadores da ciecircncia que estatildeo com a atenccedilatildeo voltada para a di-vulgaccedilatildeo cientiacutefi-

ca em sistemas natildeo-formais bull Economistas que estatildeo interessados no crescimento econocircmico decorrente do maior

consumo da populaccedilatildeo por bens tecnoloacutegicos mais sofisticados que requerem conheci-mentos especializados como o uso da informaacutetica

A partir dos acircngulos de anaacutelise e de procedimentos especiacuteficos de cada grupo de interesse que carac-teriza as diversas aacutereas preocupadas com a alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica eacute possiacutevel segundo Millar (1996 apud Santos 2007) agrupar os diversos argumentos em cinco categorias

a) argumento econocircmico que conecta o niacutevel de conhecimento puacuteblico da ciecircncia com o desenvolvimento econocircmico do paiacutes b) utilitaacuterio que justifica o letramento por razotildees praacuteticas e uacuteteis c) democraacutetico que ajuda os cidadatildeos a participar das discussotildees do debate e da tomada de decisatildeo sobre questotildees cientiacuteficas d) social que vincula a ciecircncia agrave cultura fazendo com que as pessoas fiquem mais simpaacuteti-cas agrave ciecircncia e agrave tecnologia e e) cultural que tem como meta fornecer aos alunos o conhecimento cientiacutefico como pro-duto cultural

Complementa Santos (2007)

Todos esses argumentos de alguma forma estatildeo presentes no curriacuteculo escolar e consti-tuem fatores de influecircncia no seu planejamento Assim se a prioridade da alfabetizaccedilatildeo for melhorar o campo de conhecimento cientiacutefico preparando novos cientistas o enfoque curricular seraacute centrado em conceitos cientiacuteficos se o objetivo for voltado para a formaccedilatildeo da cidadania o enfoque englobaraacute a funccedilatildeo social e o desenvolvimento de atitudes e valores

41 Em inglecircs no original

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O quadro a seguir sintetiza de acordo com Santos e Schnetzler (2003 p 65) os aspectos CTS que devem ser considerados no processo de Alfabetizaccedilatildeo Tecnocientiacutefica quando este se daacute a partir da Abordagem CTS

Aspectos CTS Esclarecimentos

1- Natureza da ciecircncia 1 - Ciecircncia eacute uma busca de conhecimentos dentro de uma perspectiva social

2 - Natureza da Tecnologia 2 - Tecnologia envolve o uso do conhecimento cientiacutefico e de outros conheci-mentos para resolver problemas praacuteticos A humanidade sempre teve tec-nologia

3 - Natureza da Sociedade 3 - A sociedade eacute uma instituiccedilatildeo humana na qual ocorrem mudanccedilas cientiacuteficas e tecnoloacutegicas

4 - Efeito da Ciecircncia sobre a Tecnologia 4 - A produccedilatildeo de novos conhecimentos tem estimulado mudanccedilas tec-noloacutegicas

5 - Efeito da Tecnologia sobre a Sociedade 5 - A tecnologia disponiacutevel a um grupo humano influencia grandemente o estilo de vida do grupo

6 - Efeito da Sociedade sobre a Ciecircncia 6 - Por meio de investimentos e outras pressotildees a sociedade influencia a direccedilatildeo da pesquisa cientiacutefica

7 - Efeito da Ciecircncia sobre a Sociedade 7 - Os desenvolvimentos de teorias cientiacuteficas podem influenciar o pen-samento das pessoas e as soluccedilotildees de problemas

8 - Efeito da Sociedade sobre a Tecnolo-gia 8 - Pressotildees dos oacutergatildeos puacuteblicos e de empresas privadas podem in-fluenciar a direccedilatildeo da soluccedilatildeo do problema e em consequecircncia promo-ver mudanccedilas tecnoloacutegicas

9 - Efeito da Tecnologia sobre a Ciecircncia 9 - A disponibilidade dos recursos tecnoloacutegicos limitaraacute ou ampliaraacute os progressos cientiacuteficos

53 Uma importante discussatildeo sobre CTS e Alfabetizaccedilatildeo Cientifica e Tecnoloacutegica

Apresentamos ateacute aqui uma defesa da ideia de que a participaccedilatildeo do cidadatildeo na construccedilatildeo da ciecircn-cia e da tecnologia bem como a percepccedilatildeo dos impactos causados pela produccedilatildeo da ciecircncia e da tec-nologia quer como conhecimento e artefato quer como corporaccedilatildeo social instituiacuteda para defesa de seus interesses pode ser alcanccedilada pela alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica para todos

Essa eacute uma discussatildeo importante que como em outros temas CTS possui interessantes divergecircncias e alguns pontos de convergecircncia sobre os quais espera-se pautar as modificaccedilotildees necessaacuterias para alcanccedilarmos os objetivos pretendidos no ensino das ciecircncias Esta divergecircncia que ao final permite uma leitura madura sobre as dificuldades da aacuterea CTS e indica pontos de convergecircncia eacute bem repre-sentada pelo debate mantido entre Acevedo e colaboradores (2005) e Praia Gil e Vilches (2007) Natildeo temos a pretensatildeo de sintetizar a riqueza de informaccedilatildeo que ambos os trabalhos disponibilizam mas sim extrair reflexotildees para o que propotildee este texto convidando o leitor atento e interessado a leitura nos originais

Inicialmente Acevedo et al (2005) apontam que eacute cada vez maior em didaacutetica das ciecircncias o consenso de considerar que um dos objetivos mais importantes da educaccedilatildeo cientiacutefica eacute que os estudantes da educaccedilatildeo Baacutesica adquiriram uma melhor compreensatildeo da natureza da ciecircncia (NdC) ldquoDeste modo a presenccedila da NdC no curriacuteculo de ciecircncias eacute valorizada pelos que concebem uma educaccedilatildeo cientiacutefica mais apropriada para o seacuteculo XXIrdquo Dizem os autores que vaacuterios paiacuteses (Austraacutelia Canadaacute Inglaterra Nova Zelacircndia USA etc) incluem explicitamente o ensino da NdC nos seus curriacuteculos cientiacuteficos e muitos outros o fazem de uma forma mais ou menos parcial ou impliacutecita As razotildees para inclusatildeo de NdC nos curriacuteculos varia com o tempo e atualmente percebemos duas grandes razotildees a alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica para todas as pessoas e a educaccedilatildeo CTS ldquoPensa-se que um dos principais objetivos do ensino das ciecircncias eacute a aprendizagem da NdC tanto para desenvolver uma melhor compreensatildeo da ciecircncia e seus meacutetodos como para contribuir para tomar mais consciecircncia das interaccedilotildees entre a ciecircncia a tecnologia e a sociedaderdquo

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Iniciando o raciociacutenio criacutetico sobre o ensino da NdC Acevedo et al (2005) lembram que

bull NdC eacute um metaconhecimento que surge da reflexatildeo sobre a proacutepria ciecircncia e por isso eacute um objetivo pouco razoaacutevel

bull ldquoSendo que a metacogniccedilatildeo constitui o niacutevel de maior complexidade no desenvolvi-mento cognitivo humano a compreensatildeo da NdC poderia ficar de fora do alcance da grande maioria dos alunosrdquo

bull Haacute dificuldades para estabelecer que conteuacutedos de NdC devem ser ensinados Os proacute-prios filoacutesofos e socioacutelogos da ciecircncia [e incluiriacuteamos os da tecnologia] tecircm desacordos sobre os princiacutepios baacutesicos da aacuterea considerando o caraacuteter dialeacutetico e controversos das questotildees em jogo aleacutem claro da maior tendecircncia destes profissionais para a polecircmica (Veja tambeacutem Vaacutezquez et al 2008)

bull Esclarece que estas discrepacircncias satildeo por demais abstratas e que natildeo ajudam se ensi-nadas ou postas no curriacuteculo a formar um melhor cidadatildeo pois natildeo contribuem para melhor entendimento da ciecircncia e da tecnologia contemporacircneos

bull Talvez seja possiacutevel algum consenso se forem definidos ldquoobjetivos e conteuacutedos mais modestos mais adaptados ao niacutevel de desenvolvimento dos alunos e mais ajustados aos requisitos de ensino de ciecircncias destinado a uma alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica para todosrdquo De acordo com esta ideia os meacutetodos para ensinar NdC tecircm-se mostrado eficazes quando

bull Abordam alguns dos seus aspectos baacutesicos de maneira expliacutecita e reflexiva (se tal se faz com uma boa planificaccedilatildeo desenvolvendo os conteuacutedos em ati-vidades variadas e avaliando os processos desenvolvidos e os resultados con-seguidos)

bull Se usam atividades baseadas na pesquisa cientiacuteficabull Se usam atividades baseadas na Histoacuteria e Filosofia da Ciecircnciabull Se usam atividades contextualizadas com um enfoque CTS do tipo IOS ndash Is-

sue-Oriented-Sciencebull Se usam atividades capazes de relacionar o mundo real e quotidiano dos alu-

nos

bull ldquoMesmo assim tecircm sido conduzidos projetos expressamente concebidos para melhorar a compreensatildeo da NdC que colocam o acento nos processos sociais da construccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico e na resoluccedilatildeo das con-troveacutersias cientiacuteficas Estas linhas de trabalho puseram tambeacutem em ques-tatildeo a crenccedila de que um ensino impliacutecito da NdC baseado na praacutetica dos procedimentos da ciecircncia e outros conteuacutedos indiretos permite alcanccedilar uma boa compreensatildeo da NdCrdquo (p 3)

Dando continuidade ao estudo criacutetico Acevedo et al (2005) aponta para dois importantes temas que parecem natildeo merecer a atenccedilatildeo devida dos profissionais do ensino de ciecircncias e tecnologia O primei-ro deles eacute a que as ldquocrenccedilas dos professores sobre a NdC se relacionam diretamente com a sua praacutetica docenterdquo e o segundo tema eacute a afirmaccedilatildeo de ldquoque uma boa compreensatildeo da NdC se apresenta como um fator decisivo para tomar melhores decisotildees sobre questotildees tecnocientiacuteficas de interesse socialrdquoNo que se refere ao primeiro tema indicam as hipoacuteteses que satildeo sustentadas

bull A compreensatildeo dos professores acerca da NdC tem uma certa relaccedilatildeo com a dos seus alunos e com a imagem que estes adquirem da ciecircncia

bull As crenccedilas dos professores sobre a NdC influenciam significativamente na sua forma de ensinar ciecircncias e nas decisotildees que tomam na aula

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Diversos estudos tecircm mostrado que estas afirmativas natildeo se sustentam desta forma simples e direta Sobre este tema simplificamos a ideia geral dos autores

Por outro lado diversos investigadores tecircm assinalado vaacuterios fatores que influem quando o professor transfere para a aula conteuacutedos de NdC A maioria desses fatores natildeo tem a ver com os proacuteprios conteuacutedos de NdC mas sim com resistecircncias gerais agraves inovaccedilotildees educati-vas e principalmente com o conhecimento didaacutetico do conteuacutedo[uma noccedilatildeo introduzida por Shulman] para expressar o conhecimento profissional especiacutefico que os professores desenvolvem sobre a forma de ensinar a sua disciplina e que eacute afinal a intersecccedilatildeo entre os conhecimentos didaacuteticos do tema e do objeto de ensino ndash a NdC neste caso ndash que tambeacutem se relaciona com a necessaacuteria transposiccedilatildeo didaacutetica dos conteuacutedos que devem transferir para a aula Sem duacutevida estes aspectos adicionam muito mais complexidade ao que se sus-tenta linearmente nas duas hipoacuteteses indicadas (p 4 adaptado)

No que se refere ao segundo tema parece clara a ideia de que eacute necessaacuteria a alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica de todas as pessoas Para isso muitos apresentam um argumento democraacutetico uma melhor compreensatildeo da NdC permite tomar decisotildees mais refletidas sobre questotildees tecnocientiacuteficas de interesse social outros vecircm esta decisatildeo do estudante como aquela decisatildeo dos cientistas para justificarem o conhecimento que geram Ao final perguntam os autores ldquoMas eacute o conhecimento da NdC um fator chave para tomar este tipo de decisatildeo rdquo

A resposta para esta provocante questatildeo pode estar no resultado de pesquisas envolvendo alunos do ensino secundaacuterio e universitaacuterio que demonstrou que no momento de tomar alguma decisatildeo eles consideram irrelevantes os conhecimentos cientiacuteficos que natildeo estejam de acordo com suas crenccedilas preacutevias Outros aceitaram os conhecimentos tecnocientiacuteficos necessaacuterios a uma ldquomelhorrdquo decisatildeo mas preferiam natildeo os utilizar dando preferecircncia a suas proacuteprias crenccedilas Outros tantos desprezaram o ponto de vista eacutetico de seus colegas quando estes conflitavam com o seu proacuteprio ponto de vista Outros ainda que possuem pontos de vista diferentes sobre NdC tomam decisotildees semelhantes sobre temas tecnocientiacuteficos o que pode sugerir que ldquoos fatores mais influentes foram os valores morais e pessoais assim como os aspectos culturais sociais e poliacuteticos relacionados com as questotildees coloca-dasrdquo

Esse conjunto de dificuldades pode sugerir que seja necessaacuterio dar mais atenccedilatildeo aos aspectos cul-turais sociais morais e emotivos e aos atitudinais e axioloacutegicos como defendem os que apoiam a abordagem CTS para o ensino das ciecircncias que pretende educar para a participaccedilatildeo dos cidadatildeos nos assuntos tecnocientiacuteficos de interesse social Outro aspecto levantado no artigo eacute o fato de que a NdC ensinada no curriacuteculo escolar estaacute baseada na ciecircncia acadecircmica na ciecircncia herdada na ciecircncia triunfalista Antes de atender a esse pressupos-to que natildeo atende aos pressupostos da abordagem CTS seria mais interessante que o curriacuteculo esco-lar se baseasse numa NdC apoiada na ideia por exemplo de tecnociecircncia por estar mais proacutexima da realidade do estudante e da sociedade e por isso ser alvo mais proacuteximo de suas possiacuteveis decisotildees

Ficam para futuras pesquisas as seguintes perguntas

a que tipo de ciecircncia nos referimos quando falamos de NdC qual eacute a NdC que pretendemos transmitir que consensos sobre a NdC podem ser vaacutelidos E sobretudo para que quere-mos ensinar NdC Em particular em relaccedilatildeo a esta uacuteltima questatildeo as propostas de NdC no ensinodas ciecircncias poderiam resultar esteacutereis sem ter em conta as finalidades da educaccedilatildeo cientiacutefica e para que deve ser relevante a ciecircncia escolar

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Dando sequecircncia a discussatildeo bem fundamentada Praia Gil-Perez e Vilches (2007) discutem o ldquopa-pel da natureza da ciecircncia na educaccedilatildeo cientiacutefica e em particular na formaccedilatildeo de uma cidadania para a participaccedilatildeo na tomada de decisotildeesrdquo a partir das reflexotildees de Acevedo et al (2005) Os autores desenvolvem seu trabalho a partir de dois eixos principais Formaccedilatildeo cientiacutefica para uma cidadania que permita participar em discussotildees tecnocientiacuteficas e a importacircncia da natureza da ciecircncia na edu-caccedilatildeo cientiacutefica e em particular na preparaccedilatildeo para a tomada de decisotildees tecnocientiacuteficas de inte-resse social Busquemos como fizemos anteriormente sintetizar as ideias dos autores convidando o leitor agrave leitura original pelos fundamentos que apresenta Aos autores partem do chamado argumento ldquodemocraacuteticordquo defendido especialmente no que propotildee a Declaraccedilatildeo de Budapeste (1999)

Para que um paiacutes esteja em condiccedilotildees de atender agraves necessidades fundamentais da sua po-pulaccedilatildeo o ensino das ciecircncias e da tecnologia eacute um imperativo estrateacutegico [hellip] Hoje mais do que nunca eacute necessaacuterio fomentar e difundir a alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica em todas as culturas e em todos os sectores da sociedade [] a fim de melhorar a participaccedilatildeo dos cidadatildeos na adopccedilatildeo de decisotildees relativas agrave aplicaccedilatildeo de novos conhecimentos

Apoacutes isso apresentam diferentes autores contraacuterios a ideia de alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica que buscam ldquoabalar aparentes evidecircnciasrdquo Para demonstrar a dificuldade de consenso sobre os conteuacutedos que devem ser dominados pelos estudantes a fim de se sentirem preparados para tomar decisotildees em torno de temas tecnocientiacuteficos de impacto social como o aquecimento global ou o uso de defensivos agriacutecolas Exemplificam com o resultado do

Project 2061 financiado pela American Association for the Advancement of Sciences (AAAS) projecto que consistiu em pedir a uma centena de eminentes cientistas de distintas disci-plinas que enumerassem os conhecimentos cientiacuteficos que em sua opiniatildeo deveriam fazer parte da escolaridade obrigatoacuteria para garantir uma adequada alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica das crianccedilas norte-americanas O nuacutemero total de aspectos que seriam exigidos () desafia o nosso entendimento e resulta superior agrave soma de todos os conhecimentos atualmente ensi-nados aos estudantes de elite que se preparam como futuros cientiacuteficos

Frente a essa constataccedilatildeo ndash muito comum aliaacutes nas nossas discussotildees curriculares que satildeo proacutedigas em acrescentar novos conteuacutedos e possuem extrema dificuldade em dizer o que eacute efetivamente im-portante nas mateacuterias da ciecircncia da natureza ndash os autores propotildeem que o conteuacutedo a ser ensinado com vista a alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica possua um miacutenimo de conhecimento especiacutefico com planeja-mentos globais e consideraccedilotildees eacuteticas que natildeo solicitam maiores especializaccedilotildees mas sim ldquoexigem enfoques que contemplem os problemas numa perspectiva mais amplardquo

Em siacutentese a participaccedilatildeo para a cidadania na tomada de decisotildees eacute hoje um fato positi-vo uma garantia de aplicaccedilatildeo do principio da precauccedilatildeo que se apoia em uma crescente sensibilidade social frente agraves implicaccedilotildees do desenvolvimento teacutecnico-cientiacutefico que po-dem comportar riscos para as pessoas ou para o meio ambiente () A referida participaccedilatildeo temos de insistir reclama um miacutenimo de formaccedilatildeo cientiacutefica que torne possiacutevel a com-preensatildeo dos problemas e das opccedilotildees - que se podem e se devem expressar numa lin-guagem acessiacutevel - para natildeo se ver recusada com o argumento de que problemas como a mudanccedila climaacutetica ou a manipulaccedilatildeo geneacutetica satildeo de uma grande complexidade Na-turalmente satildeo necessaacuterios estudos cientiacuteficos rigorosos mas tatildeo pouco eles por si soacutes bastam para adotar decisotildees adequadas dado que por vezes a dificuldade natildeo estaacute na falta de conhecimentos mas na ausecircncia de um planejamento global que avalie os riscos e

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contemple as possiacuteveis consequecircncias a meacutedio e a longo prazo Muito ilustrativo a este respeito pode ser a ecircnfase dada agraves cataacutestrofes anunciadas como a provocada pelo afun-damento do Prestige e outros petroleiros que se querem apresentar como ldquoacidentesrdquo () (Praia Gil e Vilches 2007) (Grifos nossos)

Ao longo do seu trabalho os autores daratildeo ecircnfase as seguintes ideias

bull ldquose os estudantes tecircm de chegar a ser cidadatildeos e cidadatildes responsaacuteveis eacute preciso que lhes proporcionemos ocasiotildees para analisar os problemas globais que caracterizam essa situaccedilatildeo de emergecircncia planetaacuteria e considerar possiacuteveis soluccedilotildees para elesrdquo

bull ldquoA recusa da alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica lembra assim a sistemaacutetica resistecircncia histoacuterica dos privilegiados a um alargamento da cultura e agrave generalizaccedilatildeo da educaccedilatildeo () E a sua reivindicaccedilatildeo faz parte da batalha das forccedilas progressistas para vencer as referidas resistecircncias que constituem o verdadeiro preconceito acriacuteticordquo

bull ldquoMas esta aposta numa educaccedilatildeo cientiacutefica orientada para que as pessoas possam ser intervenientes e participantes activos na sociedade () quer dizer orientada para a formaccedilatildeo de uma cidadania em vez de uma preparaccedilatildeo para futuros cientistas gera resistecircncias em numerosos professores que argumentam legitimamente que a socie-dade necessita de cientistas e tecnoacutelogos que tecircm de formar-se e ser adequadamente seleccionados desde os primeiros tempos () Eacute preciso denunciar com clareza a falaacute-cia desta contraposiccedilatildeo entre ambas as orientaccedilotildees curriculares e os argumentos que supostamente lhe datildeo avalrdquo

bull ldquoEacute comum os curriacuteculos de ciecircncias estarem demasiado centrados nos conteuacutedos con-ceptuais e natildeo processuais tendo como referecircncia a loacutegica interna da proacutepria ciecircncia e assim esquecem a formaccedilatildeo que exige a construccedilatildeo cientiacutefica Tal justifica-se pela complexidade da NdC e pelo facto de que os proacuteprios filoacutesofos e socioacutelogos da ciecircncia terem por vezes muitas divergecircncias sobre os princiacutepios baacutesicos destardquo

bull ldquoO ensino cientiacutefico ndash incluindo o universitaacuterio ndash estaacute reduzido basicamente agrave apre-sentaccedilatildeo de conhecimentos jaacute elaborado sem dar ocasiatildeo aos estudantes de tomarem contacto com as actividades caracteriacutesticas da actividade cientiacutefica () Deste modo as concepccedilotildees dos estudantes ndash incluindo a dos futuros docentes ndash natildeo chegam a di-ferir do que se usa denominar-se uma imagem ldquofolkrdquo ldquonaifrdquo ou ldquopopularrdquo da ciecircncia socialmente aceite associada a um suposto ldquoMeacutetodo Cientiacuteficordquo com maiuacutesculas per-feitamente definidordquo() tecircm impulsionado investigaccedilotildees que assinalam as concepccedilotildees epistemoloacutegicas ldquode senso comumrdquo como um dos principais obstaacuteculos para movimen-tos de renovaccedilatildeo no campo da educaccedilatildeo cientiacuteficardquo (Praia Gil e Vilches 2007)

Os autores informam que a literatura tem demonstrado uma seacuterie de distorccedilotildees cuja superaccedilatildeo pode servir de base a um consenso que oriente a ldquoimersatildeo numa cultura cientiacutefica e tecnoloacutegicardquo desde que se deixe a margem as discrepacircncias e diferenccedila pontuais e se busque os consensos baacutesicos jaacute apontados por diversos epistemoacutelogos Os autores apontam os seguintes consensos

1 ldquoa recusa da proacutepria ideia de ldquoMeacutetodo Cientiacuteficordquo com maiuacutesculas como um conjunto de regras perfeitamente definidas a aplicar mecanicamente e independentes do domiacute-nio investigadordquo

2 ldquoa recusa de um empirismo que concebe os conhecimentos como resultado da inferecircncia indutiva a partir de ldquodados purosrdquo Esses dados natildeo significam nada em si mesmos mas devem ser interpretados de acordo com um sistema teoacutericordquo () ldquoTudo isto deve partir do corpus de conhecimento existente no campo especiacutefico em que se realiza a investigaccedilatildeordquo

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3 ldquoevidenciar o papel do pensamento divergente na investigaccedilatildeo que se concretiza em aspectos fundamentais e erradamente afastados nas abordagens empiristas como satildeo a criaccedilatildeo de hipoacuteteses e de modelos ou o proacuteprio desenho de experiecircncias Natildeo se ra-ciocina pois em termos de certezas mais ou menos baseadas em evidecircncias mas em termos de hipoacuteteses que se apoiam eacute certo nos conhecimentos adquiridos mas que satildeo consideradas como simples tentativas de resposta que deveratildeo ser postas agrave prova o mais rigorosamente possiacutevelrdquo

4 ldquoa busca de coerecircncia global () O fato de se trabalhar em termos de hipoacuteteses introduz exigecircncias suplementares de rigor eacute preciso duvidar sistematicamente dos resultados obtidos e de todo o processo seguido para os obter o que conduz a revisotildees contiacutenuas a tentar obter esses resultados por caminhos diversos e particularmente a mostrar a sua coerecircncia com os resultados obtidos noutras situaccedilotildeesrdquo() Essa exigecircncia de aplicabi-lidade de funcionamento correto para descrever fenocircmenos realizar previsotildees abor-dar e planear novos problemas etc eacute precisamente o que daacute validade (natildeo daacute certeza ou caraacuteter de verdade indiscutiacutevel) aos conceitos leis e teorias que se elaboram

5 ldquocompreender o caraacuteter social do desenvolvimento cientiacutefico evidente natildeo soacute no fato de que o ponto de partida do paradigma teoacuterico vigente eacute a cristalizaccedilatildeo dos contributos de geraccedilotildees de investigadores mas tambeacutem no fato de que a investigaccedilatildeo responde cada vez mais a estruturas institucionalizadas () onde o trabalho dos indiviacuteduos eacute orientado por linhas de investigaccedilatildeo estabelecidas pelo trabalho da equipa a que pertencem natildeo fazendo praticamente sentido a ideia de investigaccedilatildeo completamente autocircnoma Aleacutem disso o trabalho dos homens e mulheres de ciecircncias ndash como qualquer outra atividade humana ndash natildeo acontece agrave margem da sociedade em que vivem e eacute influenciado logica-mente pelos problemas e circunstacircncias do momento histoacuterico da mesma forma que a sua accedilatildeo tem uma clara influecircncia sobre o meio fiacutesico e social em que se insererdquo (Praia Gil e Vilches 2007)

No que refere agrave Importacircncia da superaccedilatildeo das visotildees distorcidas da natureza da ciecircncia na educaccedilatildeo cientiacutefica os autores propotildeem buscar uma metodologia que supere os reducionismos comuns e que alcancem uma aprendizagem significativa e duradoura o que pode ser obtido mais facilmente quan-do o estudante participa da construccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico e pela familiarizaccedilatildeo com estra-teacutegias de ensino Propotildeem uma ldquoa aprendizagem como um trabalho de investigaccedilatildeo e de inovaccedilatildeo por meio do tratamento de situaccedilotildees problemaacuteticas relevantes para a construccedilatildeo de conhecimentos cientiacuteficos e a conquista de inovaccedilotildees tecnoloacutegicas susceptiacuteveis de satisfazer determinadas necessi-dadesrdquo cujos aspectos satildeo enumerados a seguir

bull ldquoA discussatildeo do possiacutevel interesse e da relevacircncia das situaccedilotildees propostas que decirc sentido ao seu estudo e evite que os alunos se vejam submergidos no tratamento de uma situaccedilatildeo sem terem sequer podido formar uma primeira ideia motivadora ou percebido a necessaacuteria tomada de decisotildees por parte da sociedade e da comunidade cientiacutefica acerca da conveniecircncia ou da inconveniecircncia do referido trabalho tendo em conta a sua possiacutevel contribuiccedilatildeo para a compreensatildeo e transformaccedilatildeo do mundo suas repercus-sotildees sociais e do meio ambiente etcrdquo

bull ldquoO estudo qualitativo significativo das situaccedilotildees problemaacuteticas abordadas que aju-de a compreender e a precisar tais situaccedilotildees agrave luz dos conhecimentos disponiacuteveis dos objectivos perseguidoshellip e a formular perguntas operativas sobre o que se procura o que supotildee uma oportunidade para os estudantes comeccedilarem a explicitar funcional-mente as suas lsquoconcepccedilotildees alternativasrsquordquo

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SOBRE AS RELACcedilOtildeES CIEcircNCIA TECNOLOGIA E SOCIEDADE78

bull ldquoA invenccedilatildeo de conceitos e a formulaccedilatildeo de hipoacuteteses fundamentadas nos conhe-cimentos disponiacuteveis capazes de focalizar e de orientar o tratamento das situaccedilotildees enquanto permitem aos estudantes utilizar as suas concepccedilotildees alternativas para fazer previsotildees susceptiacuteveis de ser submetidas agrave provardquo

bull ldquoA definiccedilatildeo e implementaccedilatildeo de estrateacutegias de resoluccedilatildeo incluindo se for caso dis-so o plano e a realizaccedilatildeo de experiecircncias para submeter agrave prova as hipoacuteteses agrave luz do corpo de conhecimentos de que se dispotildee o que exige um trabalho de natureza tecno-loacutegica para a resoluccedilatildeo dos problemas praacuteticos que possam surgir como por exemplo a reduccedilatildeo das margens de erro nas mediccedilotildees Chamamos particularmente a atenccedilatildeo sobre o interesse destes planos e da realizaccedilatildeo de experiecircncias que exigem e ajudem a desenvolver uma multiplicidade de capacidades e de conhecimentos Acaba-se assim com as aprendizagens erradamente designadas de lsquoteoacutericasrsquo (na realidade simplesmen-te livrescas) e contribui-se para mostrar a estreita relaccedilatildeo ciecircncia-tecnologiardquo

bull ldquoA anaacutelise e comunicaccedilatildeo dos resultados comparando-os com os obtidos por outros grupos de estudantes e aproximando-se da evoluccedilatildeo conceptual e metodoloacutegica experi-mentada historicamente pela comunidade cientiacutefica Isso pode converter-se em ocasiatildeo de conflito cognitivo entre distintas concepccedilotildees tomadas todas elas como hipoacuteteses e favorecer a lsquoauto-regulaccedilatildeorsquo dos estudantes obrigando a conceber novas conjecturas ou novas soluccedilotildees teacutecnicas e a replanear a investigaccedilatildeordquo

bull ldquoAs siacutenteses e a possibilidade de outras perspectivas articulaccedilatildeo dos conhecimentos construiacutedos com outros jaacute conhecidos considerando a sua contribuiccedilatildeo para a cons-truccedilatildeo de corpos coerentes de conhecimentos que se vatildeo ampliando e modificando com especial atenccedilatildeo para o estabelecimento de pontes entre distintos domiacutenios cientiacuteficos porque representam pontos altos de desenvolvimento cientiacutefico e por vezes autecircnticas revoluccedilotildees cientiacuteficas construccedilatildeo e aperfeiccediloamento dos produtos tecnoloacutegicos que se procuravam ou que satildeo concebidos como resultado das investigaccedilotildees realizadas o que contribui para acabar com tratamentos excessivamente escolares e reforccedilar entatildeo o interesse pela tarefa apresentaccedilatildeo de novos problemashelliprdquo

bull ldquoDevemos ainda insistir na necessidade de dirigir todo este tratamento para mostrar o caraacuteter de corpo coerente que tem toda a ciecircncia valorizando para isso as ativida-des de siacutentese (esquemas memoacuterias revisotildees mapas conceptuaishellip) e a elaboraccedilatildeo de produtos capazes de acabar com planos excessivamente escolares de reforccedilar o inte-resse pela tarefa e de mostrar a estreita ligaccedilatildeo ciecircncia-tecnologiardquo (Praia Gil e Vilches 2007)

Ao final os autores concluem que

Esta orientaccedilatildeo [que natildeo pretende ser um algoritmo] supotildee querer dizer que devemos pres-tar mais atenccedilatildeo aos aspectos culturais sociais morais e emotivos [hellip] e aos aspectos atitu-dinais e axioloacutegicos do que eacute habitual na educaccedilatildeo cientiacutefica () Tal natildeo deve entender-se como a incorporaccedilatildeo de outros fatores distintos da NdC mas como a superaccedilatildeo de uma distorccedilatildeo da referida NdC que apresenta o trabalho cientiacutefico como uma atividade descon-textualizada alheia a interesses e conflitos (Praia Gil e Vilches 2007)

54 Como se fosse uma conclusatildeo

Em uma sociedade tecno-dependente eacute indispensaacutevel que os cidadatildeos estejam aparelhados para en-tender como se daacute as relaccedilotildees entre Ciecircncia Tecnologia e Sociedade sob o risco de delegarem aos

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SOBRE AS RELACcedilOtildeES CIEcircNCIA TECNOLOGIA E SOCIEDADE79

especialistas natildeo soacute a tarefa de como fazer mas tambeacutem quando fazer onde fazer e pior se se quer fazer alguma coisa no campo da tecnociecircncia

No momento em que falamos de lacunas formadoras do cidadatildeo como participante ativo do proces-so social de construccedilatildeo da ciecircncia e da tecnologia trazemos agrave discussatildeo a inexistecircncia nos textos de Ensino CTS brasileiro do tema apropriaccedilatildeo social da ciecircncia e da tecnologia42 Surpreendeu-nos que esta temaacutetica natildeo estivesse explicitamente contemplada nos artigos constantes da base de dados sobre Ensino CTS apesar de constar das discussotildees da aacuterea de estudos sociais da ciecircncia e da tecno-logia e de poliacuteticas em ciecircncia e tecnologia bem como da aacuterea intitulada de cultura cientiacutefica Esta aacuterea propotildee-se a discutir como escreve Esteacutebanez (2015 p 62) em capiacutetulo de revisatildeo sobre o tema

Nos uacuteltimos trinta anos ampliando a noccedilatildeo de cultura cientiacutefica eacute produzido com a adiccedilatildeo de novas dimensotildees aleacutem da cognitiva relacionadas com a aquisiccedilatildeo de novos valores e padrotildees de avaliaccedilatildeo da atividade de pesquisa dimensotildees afetivas nas atitudes em relaccedilatildeo agrave ciecircncia e tecnologia a percepccedilatildeo de risco Dentro desta nova concepccedilatildeo a ideia de que CCyT inclui as capacidades dos leigos - ou cidadatildeos - para interagir com especialistas - ou cientiacuteficos - mediante a compreensatildeo dos aspectos institucionais da ciecircncia e da tecnologia (quem a produz para que fim com que consequumlecircncias) e predisposiccedilatildeo para o exerciacutecio da cidadania nos debates relacionados com a ciecircncia e tecnologia (Vacarrezza et ai 2004 pp 25-26) Sob essa noccedilatildeo ampliada da cultura a ideia de apropriaccedilatildeo estaacute ligada agrave contextualizaccedilatildeo da ciecircncia e da tecnologia e a variabilidade de aplicaccedilatildeo e significados que adquirem nas condiccedilotildees locais de uso Contextualizar remete a dar significado especiacutefico para o usa em aacutereas especiacuteficas de atuaccedilatildeo social Considera-se a cultura como um fator ativo uma ma-triz de uso da ciecircncia e da tecnologia e componente transformador ou resignificante do conhecimento

A autora (p 67-68) apresenta ainda uma siacutentese que pode nos dar alguma noccedilatildeo quanto a importacircn-cia deste tema para efetivaccedilatildeo daquilo que eacute buscado com a Educaccedilatildeo CTS

Nesta revisatildeo de literatura ajustado com base na apropriaccedilatildeo social da ciecircncia e da tecnolo-gia se propotildee aqui proposto para resumir as seguintes definiccedilotildees e diferenccedilas em torno dos muacuteltiplos significados encontrados- Refere-se a sujeitos colectivos e neste sentido a sociedade como um grupo central Dife-rencia-se do fenocircmeno de apropriaccedilatildeo individual (protagonizado por pessoas particulares) e da apropriaccedilatildeo privado (industrial comercial) - Envolve processos de coproduccedilatildeo de conhecimento por parte de cientistas e cidadatildeos-usuaacuterios e desenvolvimento cooperativo de tecnologias a partir do qual valores e interes-ses puacuteblicos satildeo registrados nos resultados alcanccedilados- O uso competente do conhecimento cientiacutefico e tecnoloacutegico eacute o resultado de processos de apropriaccedilatildeo Neste sentido especiacutefico a dimensatildeo social da apropriaccedilatildeo eacute fortalecer a capa-cidade coletiva de usar tal conhecimento para o bem estar comum- Os processos de apropriaccedilatildeo social ocorrem quando a capacidade de usar conhecimento se integra agrave matriz cultural da sociedade em ligaccedilatildeo sineacutergica e natildeo excludente com outros tipos de conhecimento (tradicional empiacuterica originaacuterios) A participaccedilatildeo cidadatilde intervem positivamente na ampliaccedilatildeo dos processos de apropriaccedilatildeo social da ciecircncia e da tecnologia colocando em accedilatildeo a cultura cientiacutefica e tecnoloacutegica- A apropriaccedilatildeo social eacute a capacidade relativa dos cidadatildeos para o conhecimento dos bene-

42 Haacute um nuacutemero monograacutefico da revista CTS que pode ser obtido em httpwwwrevistactsnetvolumen-4-numero-10

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SOBRE AS RELACcedilOtildeES CIEcircNCIA TECNOLOGIA E SOCIEDADE80

fiacutecios e riscos da ciecircncia e tecnologia e as dimensotildees eacuteticas envolvidas produccedilatildeo e aplicaccedilatildeo do conhecimento a compreensatildeo dos aspectos institucionais da ciecircncia e da tecnologia a decisatildeo sobre a utilizaccedilatildeo de produtos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos controle sobre os espe-cialistas fazer valer os seus interesses e pontos de vista sobre a governanccedila da ciecircncia e tecnologia

Indispensaacutevel que a formaccedilatildeo do cidadatildeo considere estes aspectos e o prepare minimamente por meio da alfabetizaccedilatildeo tecnocientiacutefica para entender e interferir ndash no campo dos conhecimentos da poliacutetica da economia da inovaccedilatildeo dos valores e da eacutetica ndash nas possiacuteveis interaccedilotildees dos sistemas CTS sistema tecnocientiacutefico sistema soacutecio-cientiacutefico e sistema soacutecio-tecnoloacutegico afastando-se quanto possiacutevel dos chamados Determinismo Social Determinismo Tecnoloacutegico e Determinismo Cientiacutefico que buscam avocar para si a prevalecircncia a precedecircncia e a centralidade nos processos de produccedilatildeo de anaacutelises e de decisatildeo

Apesar desta visatildeo que nos parece defensaacutevel percebemos que a comunidade de ciecircncia e tecnologia ainda estaacute longe de construir consensos em torno da participaccedilatildeo cidadatildeo na construccedilatildeo da ciecircncia e da tecnologia e sobre o processo decisoacuterio de temas tecnocientiacuteficos de impacto social Por conta disso eacute indispensaacutevel natildeo atribuir agrave abordagem CTS mais valor do que ela efetivamente possui natildeo a transformar em panaceia natildeo desconsiderar a contribuiccedilatildeo de outras visotildees de ensino de outras aacutereas do conhecimento e das diversas experiecircncias que se desenvolvem em contextos distintos e que ao final poderatildeo chegar ao mesmo fim mas por caminhos diversos o que tambeacutem eacute vaacutelido e necessaacuterio

Atividade Proposta para reflexatildeo

Aplicaccedilatildeo dos modelos de interaccedilatildeo segundo HabermasFourez no contexto das disciplinas

Vocecirc deve refletir sobre a seguinte provocaccedilatildeo

Que matemaacutetica ensinar no Ensino Meacutedio Como os matemaacuteticos identificariam estes conteuacutedos (modelo tecnocraacutetico) Como uma equipe multidisciplinar identificaria os conteuacutedos (ainda o mo-delo tecnocraacutetico) Como seriam as negociaccedilotildees entre matemaacuteticos e pedagogos na busca dos con-teuacutedos (modelo decisionista) Como seria a negociaccedilatildeo entre diferentes atores sociais na decisatildeo dos conteuacutedos (modelo pragmaacutetico-poliacutetico)

Responda em apenas uma lauda nos padrotildees propostos

CTS E O ENSINO81

6 CTS e o ensino

O enfoque CTS inserido nos curriacuteculos eacute um impulsionador inicial para estimular o aluno a refletir sobre as inuacutemeras possibilidades de leitura acerca da triacuteade ciecircncia tecnologia e sociedade com a expectativa de que ele possa vir a assumir postura questionadora e criacutetica num futuro proacuteximo Isso implica dizer que a aplicaccedilatildeo da postura CTS ocorre natildeo somente dentro da escola mas tambeacutem extramuros

Pinheiro Matos e Bazzo2007

61 Introduccedilatildeo

Certamente a Abordagem CTS eacute uma alternativa poderosa para a formaccedilatildeo tecnocientiacutefica sob a oacutetica da formaccedilatildeo do cidadatildeo E isso eacute facilitado visto que a premissa CTS eacute a do acolhimento de posiccedilotildees divergente e o exerciacutecio do entendimento do respeito agraves diferenccedilas da construccedilatildeo de con-senso e da toleracircncia sem perder de vista os deveres direitos a eacutetica a cultura e a visatildeo de curto meacutedio e longo prazos Podemos dizer que os fundamentos CTS estatildeo acentados nas grandes aacutereas da Poliacutetica da Economia dos Valores do Ambiente das Relaccedilotildees pessoais e sociais principalmente

No que se refere ao acolhimento pelos estudantes natildeo se deve esquecer que a Abordagem CTS se propotildee a trabalhar a realidade instrumentalizando os estudantes para que estes interajam com esta realidade modificando-a a partir de suas reflexotildees pessoais eou decisotildees coletivas

No que concerne a sua contribuiccedilatildeo social a Abordagem CTS tambeacutem eacute importante Uma vez que a proposta de fundo eacute a aceitaccedilatildeo da Construccedilatildeo Social da Ciecircncia e da Tecnologia e no estudo do impacto da Ciecircncia e da Tecnologia sobre a Sociedade espera-se que o conhecimento sobre a huma-nizaccedilatildeo da Ciecircncia e da Tecnologia e a relativizaccedilatildeo do bem absoluto da Ciecircncia e da Tecnologia se transformem em aprendizado social e sejam patrimocircnio coletivo a influir no fazer cotidiano de cada cidadatildeo Sob este acircngulo natildeo se espera que a Abordagem CTS seja mais uma teacutecnica didaacutetica mas sim uma cultura a cultura CTS que se manifesta em qualquer teacutecnica de ensino ou manifestaccedilatildeo docente

Esta cultura que deveraacute se manifestar por meio das diversas teacutecnicas deve contemplar de forma am-pla alguns pressupostos que caracterizam e norteiam a accedilatildeo didaacutetica CTS Ao final e ao longo da ativi-dade os estudantes devem vivenciar a Ciecircncia a Tecnologia e a Sociedade mesmo que por diferentes oacuteticas o conhecimento as habilidades e as atitudes (Chrispino 1992) ideias maacutequinas e valores (Cutcliffe 2003) conhecer manejar e participar (Martin Gordillo e Osorio 2003) e numa visatildeo mais ampla de educaccedilatildeo e ensino o saber fazer saber-fazer e saber-ser (UNESCO 1994)

Por tudo isso parece ficar claro que a Abordagem CTS natildeo eacute uma abordagem exclusivamente para as disciplinas do chamado grupo de ciecircncias exatas e da natureza A Abordagem CTS ao solicitar para o mesmo fato social a visatildeo tanto da cultura cientifico-tecnoloacutegica como da cultura soacutecio-humaniacutestica favorece a aproximaccedilatildeo destas separadas por um abismo que natildeo se explica na atualidade

Temos defendido que a Abordagem CTS eacute uma maneira de abordar o curriacuteculo escolar ou mesmo de posicionar-se frente agrave Educaccedilatildeo e ao mundo real nos seus mais diversos aspectos Mais do que uma teacutecnica (pois natildeo eacute uma ferramenta didaacutetica que conduz a um fim de aprendizado especifico para

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CTS E O ENSINO82

encerrarse logo apoacutes) nem uma metodologia (pois que abarca aspectos muito mais amplos que aque-les que caracterizam uma metodologia) CTS eacute uma abordagem curricular e uma escolha de poliacutetica educacional A isso classificamos de Educaccedilatildeo CTS

Partindo-se desta premissa pode-se esperar que a maneira de ver e de fazer educaccedilatildeo por meio do ensino na abordagem CTS se materializaraacute em vaacuterias esferas de accedilatildeo didaacutetica (desde o ensino funda-mental ateacute a educaccedilatildeo de jovens e adultos) nos ambientes de ensino tradicional ou inovador (visto que a abordagem CTS natildeo estaacute restrita aos instrumentos mas estaacute sob a eacutegide do professor e sua proposta de apresentar o mundo por outra oacutetica) em accedilotildees de formaccedilatildeo educacional de longo porte (como cursos de formaccedilatildeo) ou mesmo em atividades pontuais (como estudos pontuais e temaacuteticos) A isso classificamos de Ensino CTS

Longe de ser uma panaceacuteia A abordagem CTS deve ser encarada como uma das maneiras de apre-sentar organizar e multiplicar os conhecimentos independentemente das caracteriacutesticas ou res-triccedilotildees impostas externamente

Robert E Yager (Yager 1991 1992 1993 2000) vem publicando haacute deacutecadas uma anaacutelise que busca diferenciar o que seja ensino tradicional e o ensino CTS diferenccedila essa interessante para nossas re-flexotildees neste ponto do estudo Mais recentemente Yager e Akcay (2008 p 4) retomam o tema e nos apresentam a seguinte comparaccedilatildeo

Ensino Tradicional Ensino CTS

Levantamento dos principais conceitos encontrados em livros-texto padratildeo

Identificaccedilatildeo de problemas com interesse impacto local pes-soal

Utilizaccedilatildeo de laboratoacuterios e atividades sugeridas no livro didaacuteti-co e acompanhamento manual de laboratoacuterio

Aproveitamento dos recursos locais (humanos e materiais) para localizar informaccedilotildees e resolver problemas questotildees

Os alunos passivamente recebem informaccedilotildees fornecidas pelo professor e pelo livro didaacutetico

Os alunos estatildeo ativamente envolvidos na busca de informaccedilotildees para uso

Aprendizagem estaacute contida em uma sala de aula e em uma seacuterie escolar Praacutetica de ensino que natildeo se limita agrave sala de aula

Centra-se na informaccedilatildeo proclamada importante pelo profes-sor para que os alunos mestre Centrado no impacto pessoal e faz uso da criatividade do aluno

Conteuacutedo de Ciecircncias a partir de informaccedilotildees existentes e expli-cadas em livros e palestras do professor

Conteuacutedo de ciecircncia natildeo como algo que existe para o domiacutenio do aluno soacute porque estaacute registrado na imprensalivros

Natildeo considera a visatildeo de carreira Faz referecircncia ocasional a um(a) cientista (em geral mortos) e sua descobertas

Centra-se na visatildeo de carreira especialmente as carreiras re-lacionadas agrave ciecircncia e tecnologia que os alunos podem escolher enfatizando as carreiras em outras aacutereas aleacutem da medicina en-genharia e pesquisa cientiacutefica

Os alunos se concentram em resolver problemas fornecidos pe-los professores e livros didaacuteticos

Os alunos tornam-se cientes de seus papeacuteis de cidadatildeos e como eles podem influir nas questotildeesproblemas que identificam como importantes

Aprendizagem de Ciecircncias ocorre apenas na sala de aula como parte do curriacuteculo escolar

Os alunos percebem o papel da ciecircncia em instituiccedilotildees e em co-munidades especiacuteficas

Aula de Ciecircncias centra-se sobre o que foi anteriormente conhecido Aula de Ciecircncias enfoca como o futuro pode ser

Haacute pouca preocupaccedilatildeo com o uso das informaccedilotildees aleacutem da sala de aula e o desempenho em testes

Os alunos satildeo incentivados a desfrutar e buscar a experiecircncia cientiacutefica

Traduccedilatildeo livre do autor

Faremos aqui uma apresentaccedilatildeo ampla de CTS e suas relaccedilotildees com o ensino Recomendamos para aqueles que desejem uma visatildeo educacional mais especiacutefica das abordagens teoacutericas a leitura de Ca-chapuz et al (2008) e Aikenhead (2005) bem como Santos e Mortimer (2002)

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CTS E O ENSINO83

62 A Abordagem CTS e o ensino

Os mitos e as distorccedilotildees da imagem da Ciecircncia e da Tecnologia como apresentamos (Sarewitz 1996 e Cachapuz et al 2005) explicam de certa forma a dificuldade de se construir o conhecimento cientiacute-fico de forma criacutetica objetivando a melhor formaccedilatildeo do cidadatildeo que se aproprie dos conhecimentos a fim de melhor interagir com o meio social

Buscando alternativas para este tipo de dificuldade dentre outras surgiu um movimento intitulado CTS-Ciecircncia Tecnologia e Sociedade no final da deacutecada de 60 e iniacutecio da deacutecada de 70 Bazzo Lin-singen e Pereira (2003) escrevem

Os estudos CTS definem hoje um campo de trabalho recente e heterogecircneo ainda que bem consolidado de caraacuteter criacutetico a respeito da tradicional imagem essencialista da ciecircncia e da tecnologia e de caraacuteter interdisciplinar por convergirem nele disciplinas como a filosofia e a histoacuteria da ciecircncia e da tecnologia a sociologia do conhecimento cientiacutefico a teoria da educaccedilatildeo e a economia da mudanccedila teacutecnica Os estudos CTS buscam compreender a di-mensatildeo social da ciecircncia e da tecnologia tanto desde o ponto de vista dos seus antecedentes sociais como de suas consequecircncias sociais e ambientais ou seja tanto no que diz respeito aos fatores de natureza social poliacutetica ou econocircmica que modulam a mudanccedila cientiacutefico-tecnoloacutegica como pelo que concerne agraves repercussotildees eacuteticas ambientais ou culturais dessa mudanccedilaO aspecto mais inovador deste novo enfoque se encontra na caracterizaccedilatildeo social dos fato-res responsaacuteveis pela mudanccedila cientiacutefica Propotildee-se em geral entender a ciecircncia-tecnologia natildeo como um processo ou atividade autocircnoma que segue uma loacutegica interna de desenvolvi-mento em seu funcionamento oacutetimo (resultante da aplicaccedilatildeo de um meacutetodo cognitivo e um coacutedigo de conduta) mas sim como um processo ou produto inerentemente social onde os elementos natildeo-epistecircmicos ou teacutecnicos (por exemplo valores morais convicccedilotildees religio-sas interesses profissionais pressotildees econocircmicas etc) desempenham um papel decisivo na gecircnese e na consolidaccedilatildeo das ideias cientiacuteficas e dos artefatos tecnoloacutegicos (p 125)

Para Manassero e Vaacutezquez (2001) jaacute se referindo a didaacutetica proacutepria que solicita a Abordagem CTS escrevem

O movimento didaacutetico ciecircncia-tecnlogia-sociedade (CTS) tem como um de seus objetivos o desenvolvimento das atitudes relacionadas com a ciecircncia nos alunos e propotildee como referecircncia para sua avaliaccedilatildeo o corpo de conhecimentos que emerge das anaacutelises histoacuteri-cas filosoacuteficas e socioloacutegicas sobre a ciecircncia (Aikenhead 1994a 1994b Bybee 1987) No espiacuterito deste movimento estaacute o desejo de oferecer atraveacutes da educaccedilatildeo das atitudes re-lacionadas com a ciecircncia uma visatildeo mais autecircntica da ciecircncia e da tecnologia em seu contexto social desvinculadas de imagens mitificadas e tendenciosas (cientificismo e tecnocracia) ao mesmo tempo que reconhece a tecnologia como atividade diferente in-tegrada e equiparaacutevel com a ciecircncia e natildeo soacute como mera ciecircncia aplicada A equiparaccedilatildeo entre e tecnologia aumenta imediatamente os valores contidos na natureza das atividades cientiacuteficas de modo que a educaccedilatildeo atitudinal ndash moral ou eacutetica ndash eacute uma consequecircncia inevitaacutevel da Educaccedilatildeo CTS (Layton 1994) Como afirma Ziman (1994) a debilidade da ciecircncia tradicional natildeo reside no que ensina sobre a natureza mas sim no que natildeo ensina em particular suas relaccedilotildees com a tecnologia e a sociedade vazio que pretende preencher a Educaccedilatildeo CTS (p 16)

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CTS E O ENSINO84

A Associaccedilatildeo Nacional dos Professores de Ciecircncias nos Estados Unidos tem endossado uma extensa definiccedilatildeo para o movimento CTS

CTS eacute um termo que denomina os uacuteltimos esforccedilos para se promover um contexto de mun-do real para o estudo da ciecircncia Eacute um termo que eleva a retoacuterica da Ciecircncia da educaccedilatildeo para uma posiccedilatildeo que vai aleacutem de conteuacutedos e debates sobre o escopo e a sequencia dos conceitos baacutesicos e habilidades processuais CTS inclui toda a gama de criacuteticas conexas no processo de educaccedilatildeo incluindo objetivos conteuacutedos estrateacutegias instrucionais avaliaccedilatildeo e a preparaccedilatildeoperformance do professor Ningueacutem pode fazer CTS apenas aderindo cer-tos toacutepicos e liccedilotildees ao conteuacutedo ou cursos ou livros texto Os alunos tecircm que estar envol-vidos com o objetivo com os procedimentos planejados com as informaccedilotildees alocadas e com a avaliaccedilatildeo de tudo O baacutesico para os esforccedilos em CTS eacute a formaccedilatildeo de uma cidadania instruiacuteda capaz de tomar decisotildees cruciais sobre problemas correntes e ter atitudes pessoa-is como resultado dessas decisotildees CTS significa enfocar debates correntes e tentativas de sua soluccedilatildeo como a melhor maneira de se preparar as pessoas para exercerem a cidadania no futuro Isto significa identificar problemas (locais regionais nacionais e internacionais) com os alunos planejando atividades indivi-duais ou em grupo e movendo accedilotildees designa-das a resolver o que foi debatido Os alunos satildeo envolvidos na totalidade do processo eles natildeo satildeo receptaacuteculos de qualquer conteuacutedo preacute-determinado ou dos ditames do professor Natildeo haacute um conceito ou processo uacutenico para o CTS no lugar disso o CTS provecirc um ambiente e uma razatildeo para considerar os conceitos e processos da ciecircncia e da tecnologia Isto signi-fica determinar maneiras de como essas ideias e habilidades baacutesicas podem ser vistas como uacuteteis CTS significa um enfoque dos problemas do mundo real em vez de se comeccedilar com conceitos e procedimentos que os professores e conteuacutedos desenvolvidos sustentam em termos de utilidades para os alunos (Yager 1991 p 21)

Para Acevedo Diaz (2009) CTS eacute ao mesmo tempo

(1) um campo de estudo e investigaccedilatildeo busca compreender melhor a ciecircncia e a tecnologia em seu contexto social Aborda as relaccedilotildees muacutetuas entre o desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico e os processos sociais (2) Uma proposta educativa inovadora de caraacuteter geral como proposta educativa constitui um novo planejamento curricular em todos os niacuteveis de ensino com a principal finalidade de dar uma formaccedilatildeo em conhecimento e valores que favoreccedilam a participaccedilatildeo cidadatilde res-ponsaacutevel e democraacutetica na avaliaccedilatildeo e no controle das implicaccedilotildees sociais da ciecircncia e da tecnologia

Auler (2007) estudando os pressupostos CTS para o contexto brasileiro escreve que os objetivos da educaccedilatildeo CTS podem ser sintetizados em

bull Promover o interesse dos estudantes em relacionar a ciecircncia com aspectos tecnoloacutegicos e sociais discutir as implicaccedilotildees sociais e eacuteticas relacionadas ao uso da ciecircncia-tecno-logia (CT)

bull Adquirir uma compreensatildeo da natureza da ciecircncia e do trabalho cientiacutefico bull Formar cidadatildeos cientiacutefica e tecnologicamente alfabetizados capazes de tomar decisotildees

informadas e desenvolver o pensamento criacutetico e a independecircncia intelectual

Segundo Membiela (2001 p 91) o propoacutesito da educaccedilatildeo CTS eacute promover a Alfabetizaccedilatildeo tecno-cientiacutefica de maneira que se capacite os cidadatildeos a participar do processo democraacutetico de tomada de decisatildeo e se promova a accedilatildeo cidadatilde voltada para a resoluccedilatildeo de problemas relacionados com a

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CTS E O ENSINO85

Ciecircncia e com a Tecnologia O mesmo autor chama a atenccedilatildeo para fato de ser este um dos conceitos possiacuteveis de CTS visto que haacute ldquomuito debate e pouco consenso entre a comunidade CTSrdquo certamen-te porque o espaccedilo CTS eacute por conceito um espaccedilo interdisciplinar onde se encontram aacutereas que possuem conceitos polissecircmicos tal qual ciecircncia tecnologia sociedade valores ambiente etc Essa aparente dificuldade pode ser encarada como confirmaccedilatildeo do postulado de que haacute espaccedilo e neces-sidade de divergir de perceber diferente de interpretar sob outra oacutetica e mesmo assim caminhar e conquistar espaccedilos

Para Yager (2013 p X) ldquoCTS eacute o ensino e a aprendizagem de ciecircncia-tecnologia no contexto da ex-periecircncia humanardquo

Uma definiccedilatildeo que muito nos impressiona pela clareza eacute a de Cutcliffe (2003 p 18) quando escreve que

a missatildeo central do campo CTS ateacute a presente data eacute expressar a interpretaccedilatildeo da ciecircncia e da tecnologia como um processo social Neste ponto de vista a ciecircncia e a tecnologia satildeo vistos como projetos complexos em que os valores culturais poliacuteticos e econocircmicos nos ajudam a configurar os processos tecnocientiacuteficos os quais por sua vez afetam os valores mesmos e a sociedade que os sutenta

Portanto cada realidade social (caracterizada pela diversidade cultural poliacutetica de crenccedilas valores etc) produziraacute um conjunto de significados acarretando distintos entendimentos sobre o que seja ou o que possa ser CTS Sobre isso Ainkenhead escreveu

[] cada paiacutes tem sua proacutepria histoacuteria associada principalmente agrave sua realidade social fa-zendo com que as relaccedilotildees entre a ciecircncia e a sociedade assumam diferentes caracteriacutesticas Em virtude disso muitas vezes pode natildeo haver um acordo no significado preciso de CTS ou uma definiccedilatildeo uacutenica que seja um consenso em todas as partes do mundo (Aikenhead 2005 p 119)

e

Um projeto particularmente CTS desenvolvidos em um paiacutes pode definir o que eacute ciecircncia CTS para educadores desse grupo ou paiacutes A criacutetica sobre CTS nesse paiacutes podem na realida-de resultar ser a criacutetica de um tipo particular de projeto CTS mesmo que outros educadores CTS possam achar inadequado tambeacutem rdquo (Aikenhead 2005 p 119)

Para Pedretti e Nazir (2011) ldquoo CTS educacional pode ser compreendido como um vasto oceano de ideias e princiacutepios que se cruzam e se sobrepotildee em diversos contextosrdquo (p 603)

Como afirma Solomon (1993)

bull As caracteriacutesticas especiais do CTS no acircmbito do ensino de ciecircncia incluem bull Uma compreensatildeo das ameaccedilas ambientais incluindo as globais agrave qualidade de vida bull Os aspectos econocircmicos e industriais da tecnologia bull Alguma compreensatildeo da natureza faliacutevel da ciecircnciabull Discussatildeo de opiniatildeo e valores pessoais bem como a accedilatildeo democraacutetica bull Uma dimensatildeo multi-cultural (SOLOMON 1993 p 19)

Recentemente frente agraves dificuldades causadas pelas consequecircncias do uso de tecnologias mais es-pecialmente no meio ambiente tais como efeito estufa acidentes petroliacuteferos buraco na camada de

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ozocircnio etc o Movimento CTS ganhou novos adeptos Era necessaacuterio que a sociedade percebesse os riscos que podem trazer o uso natildeo responsaacutevel de conhecimentos e tecnologias para o individuo para a coletividade e para o ambiente Surge entatildeo um movimento derivado intitulado CTS+A ou CTSA Ciecircncia Tecnologia Sociedade e Ambiente que na verdade resgata a origem do Movimento CTS produzido por conta da preocupaccedilatildeo dos impactos tecnoloacutegicos sobre o meio ambiente na deacutecada de 60 Pode-se ainda apontar outras tendecircncias ou focos como o CTS+I (de Inovaccedilatildeo) CTS+V (de Valores) e CTS+P (de Poliacutetica) que satildeo realccedilados para o grande puacuteblico como identificador da ver-tente de estudo a que se dirige o trabalho mas que estatildeo contidos ndash tanto ambiente como inovaccedilatildeo como valores como poliacutetica ndash nas fundaccedilotildees mesmas dos Enfoques CTS Mais recentemente eacute pos-siacutevel encontrar CTS+S (de sustentabilidade) proposto por Costa Ribeiro e Machado (2012) quando defendem que ldquoa postura CTSCTSA deve adquirir explicitamente esta componente e evoluir para Ciecircncia-Tecnologia-Sociedade-Sustentabilidade o que pede uma sigla alternativa mais adequada CTSS ou em estilo de foacutermula quiacutemica CTS2rdquo ndash e tambeacutem Costa (2011) ndash e a proposta Figaredo Cu-riel (2013) que acredita ser mais adequado aos tempos modernos o acrocircnimo SOCITEI (do original em espanhol So sociedad Ci conocimiento y ciencia Te tecnologiacutea In innovacioacuten) A nosso ver algumas desses acreacutescimos representam uma aacuterea fundadora de CTS e por isso uma redundacircncia Outras querem representar uma aacuterea de interesse que ganha visibilidade quando se agrupa a triacuteade CTS o que natildeo se justifica Por outro lado eacute possiacutevel vislumbrar a vantagem de que o acreacutescimo agrave sigla original indica a aacuterea ou tema tratado no trabalho ou pesquisa

Essa preocupaccedilatildeo crescente pela qualidade de vida e pelo futuro ameaccedilados por acontecimentos tecnocientiacuteficos e pela falta de condiccedilotildees de reaccedilatildeo da Sociedade por desconhecimento deve chamar a atenccedilatildeo de professores e gestores para a funccedilatildeo social do ensino e da educaccedilatildeo Afinal a escola tem a funccedilatildeo de perpetuar os valores da sociedade em que estaacute inserida e a de conscientizar o estudante para contribuir de forma mais veemente com a melhoria dessa mesma sociedade A partir disso espera-se que dentro do possiacutevel ele possa utilizar o conhecimento cientiacutefico contextualizado a fim de melhor entender o mundo que o cerca vindo a decidir com mais acerto Isso pediraacute atenccedilatildeo maior agrave interdisciplinariade agrave contextualizaccedilatildeo do conhecimento agrave cotidianizaccedilatildeo do fato tecnocientiacutefico a problematizaccedilatildeo do aprendizado (Chrispino 1992) e a transversalidade dos temas

Neste bloco de aspectos necessaacuterios a Abordagem CTS cabe um esclarecimento quanto ao que se pode entender por contextualizaccedilatildeo e por cotidianizaccedilatildeo que em geral satildeo tratados como sinocircni-mos Para noacutes a cotidianizaccedilatildeo esta ligada ao fazer pontual do estudantecidadatildeo enquanto a con-textualizaccedilatildeo estaacute vinculada a capacidade de relaccedilatildeo com os demais aspectos da sociedade (poliacuteticos filosoacuteficos socioloacutegicos econocircmicos etc) e se constroacutei por meio de vaacuterios conceitos Para noacutes a coti-dianizaccedilatildeo eacute disciplinar e a contextualizaccedilatildeo eacute obrigatoriamente interdisciplinar ou transdisciplinar Nesta visatildeo contextocontextualizaccedilatildeo eacute mais amplo que o fatocotidianizaccedilatildeo mas a praacutetica pode restringir as possibilidades do contextocontextualizaccedilatildeo como alertam Young e Muller (2016 p 529) ldquoo conhecimento emerge dos ndash mas natildeo eacute redutiacutevel aos ndash contextos nos quais ele eacute produzido e adquiridordquo (negritos no original) Anaacutelises das diferentes concepccedilotildees de contextualizaccedilatildeo podem ser obtidas em Martins (2015) e Kato e Kawasaki (2011)

Por conta desta necessidade imperiosa de exercitar as muacuteltiplas visotildees sobre o mesmo fato buscando superar a visatildeo uacutenica produzida pelos mitos pelas posturas ingecircnuas pela ideologia pela tradiccedilatildeo pelo preconceito pela limitaccedilatildeo de conhecimento pela perda de objetivo da escola etc temos bus-cado alternativas didaacuteticas que busquem exercitar as muacuteltiplas visotildees sobre um mesmo fenocircmeno educacional ou social Para executar tal proposta defende-se o modelo da Abordagem CTS (Chris-pino 2005a 2005b)

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Para atender a necessidade de todos os atores envolvidos no fato tecnocientiacutefico relevante ndash as pes-quisas com ceacutelulas-tronco embrionaacuterias a transposiccedilatildeo do Rio Satildeo Francisco a instalaccedilatildeo de usinas hidreleacutetricas no Rio Madeira e outros rios a expansatildeo da agropecuaacuteria no espaccedilo de preservaccedilatildeo am-biental a utilizaccedilatildeo de vacinas experimentais em seres humanos a instalaccedilatildeo de antenas de telefonia celular em ambientes urbanos a produccedilatildeo de alimentos transgecircnicos etc ndash eacute necessaacuterio vislumbrar uma teacutecnica que reuacutena as divergecircncias de opiniatildeo e de anaacutelise que desenvolva condiccedilotildees de troca de experiecircncia e de percepccedilatildeo que aproxime o grau de conhecimento formal (e tambeacutem de conhe-cimentos preacutevios natildeo-formais) e ofereccedila condiccedilotildees para que o debate ocorra a fim de esclarecer as consciecircncia e orientar melhores decisotildees

Os teoacutericos da Abordagem CTS informam que as experiecircncias didaacuteticas jaacute realizadas ndash aqui mais especificamente no ensino meacutedio ndash se fundamentam na chamada investigaccedilatildeo-accedilatildeo e podem ser ge-nericamente classificadas em trecircs grandes grupos (Walks 1990 Sanmartim 1992 Gonzaacutelez Garciacutea Loacutepez Cerezo e Lujaacuten Lopez 1996 Bazzo Linsingen e Pereira 2003 Pinheiro Matos e Bazzo 2007)

1 Os enxertos CTS 2 Ciecircncia e Tecnologia por meio CTS e 3 CTS puro

Buch (2003) prefere resgatar a classificaccedilatildeo de Lopez Cerezo (1998 2002 e 2009) que propotildee classi-ficar a introduccedilatildeo de conteuacutedos CTS em

1 CTS como conteuacutedo de outras mateacuterias (ou enxerto CTS)2 Ciecircncia e Tecnologia por meio CTS e 3 CTS como disciplina (como complemento curricular)

Silva (1999) e Miembiela (2001) evocam a classificaccedilatildeo proposta por Hickman Patrick e Bybee (1987) assinalam maneiras de introduzir o tema nos curriacuteculos satildeo elas

1 A inclusatildeo de moacutedulos com enfoque CTS nas mateacuterias tradicionais2 A infusatildeo do enfoque CTS em mateacuterias jaacute existentes atraveacutes de repetidas inclusotildees

pontuais ao longo do curriacuteculo3 A criaccedilatildeo de uma mateacuteria CTS4 A transformaccedilatildeo completa do enfoque de um tema jaacute existente mediante seu desenvol-

vimento na perspectiva CTS

Apesar de apresentarmos 3 conjuntos de classificaccedilotildees eacute possiacutevel perceber que ao fundo elas se aproximam e propotildeem rotinas semelhantes Haacute (1) a criaccedilatildeo de uma disciplina CTS ou CTS Puro (2) o enxerto CTSCTS como complemento de disciplinas e (3) a Ciecircncia e Tecnologia por meio de CTS

Dois autores apresentam detalhes importantes dessas abordagens Bazzo Linsingen e Pereira (2003 p 119-155) e Loacutepez Cerezo (1998 e 2002 p 3-39) a partir dos quais construiremos este item

621 Enxerto CTS

Trata-se de introduzir nas disciplinas jaacute existentes nos curriacuteculos os chamados temas CTS especial-mente relacionados com acontecimentos tecnocientificos que permitam reflexatildeo e motivaccedilatildeo para o estudo e debate O tipo de material para estrateacutegia de ensino satildeo unidades curtas de temas CTS para alunos e para professores Exemplos dessa modalidade de ensino CTS eacute o projeto SATIS (Ciecircncia e Tecnologia na Sociedade) que consiste em 370 unidades curtas CTS desenvolvidas por professo-

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res de ciecircncias do Reino Unido com o objetivo principal de complementar os cursos de ciecircncias de crianccedilas e jovens (grupos de idade 8-14 14-16 e 16-19 anos) Alguns tiacutetulos satildeo

bull O que haacute em nossos alimentos Uma olhada em suas etiquetasbull Beber aacutelcoolbull O uso da radioatividadebull Os bebecircs de provetabull Oacuteculos e lentes de contatobull Produtos Quiacutemicos derivados do sal bull A reciclagem do alumiacutenio bull A etiqueta ao avesso uma olhada nas fibras tecircxteisbull A chuva aacutecida bull A AIDSbull 220 volts podem matar

A vantagem do enxerto CTS eacute a vantagem de se manter a estrutura curricular a que o professor estaacute acostumado e seguro e incluir a Abordagem CTS

Loacutepez Cerezo (2009) assinala as vantagens desta abordagem e lembra que ela favorece as discussotildees pela oacutetica da tradiccedilatildeo americana mais voltada para as consequecircncias da teacutecnica e menos da tradiccedilatildeo europeacuteia que solicita uma formaccedilatildeo mais especializada

622 Ciecircncia e Tecnologia atraveacutes de CTS

Ensina-se mediante a estruturaccedilatildeo dos conteuacutedos das disciplinas a partir de CTS ou com orientaccedilatildeo CTS Essa abordagem permite estruturaccedilatildeo de atividades por disciplinas isoladas como tambeacutem por atividades interdisciplinares Loacutepez Cerezo (2009) escreve que esta eacute ldquoa mais infrequumlente opccedilatildeo e consiste em reconstruir os conteuacutedos de ensino de ciecircncia e da tecnologia atraveacutes de uma oacutetica CTSrdquo (p 27)

Discordamos daqueles autores que descrevem estes modelos e defendem a ideia de que essas ativi-dades se destinam a professores de ciecircncias as disciplinas chamadas exatas ou para a aacuterea do ensino de ciecircncias que certamente jaacute absorveu a Abordagem CTS como bem nos apresenta o estudo de Cachapuz et al (2008) Haacute temas que podem ser tratados por disciplinas da chamada aacuterea socialhumana Por exemplo a instalaccedilatildeo de Shopping Center na regiatildeo da escola ou furtos de energia (ldquoga-tosrdquo) etc Podem ter apelos ou facilidades para uma ou outra disciplina mas a abordagem CTS prima pela interdisciplinaridade quiccedilaacute a transdisciplinaridade

Como exemplo temos os programas PLON (Projeto de Desenvolvimento Curricular em Fiacutesica) e APQUA (Aprendizagem de Produtos Quiacutemicos seus usos e aplicaccedilotildees) O PLON eacute um conjunto de unidades onde em cada uma delas tomam-se problemas baacutesicos com relevacircncia social e relaciona-dos com os futuros papeacuteis dos estudantes (como consumidor como cidadatildeo como profissional) a partir daiacute seleciona-se e estrutura-se o conhecimento cientiacutefico e tecnoloacutegico necessaacuterio para que o estudante esteja capacitado para entender um artefato tomar uma decisatildeo ou entender um ponto de vista sobre um problema social relacionado de algum modo com a ciecircncia e com a tecnologia Alguns exemplos de temas do PLON para alunos de 13-17 anos satildeo

bull Gelo aacutegua e vaporbull Pontes

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bull Aacutegua para a Tanzacircniabull A energia em nossos laresbull Tracircnsito e seguranccedila bull Esquentando e isolandobull Maacutequinas e energiabull Armas nucleares e seguranccedilabull Radiaccedilotildees ionizantes

Outro projeto eacute o APQUA que procura proporcionar conteuacutedos e habilidades na resoluccedilatildeo de pro-blemas e na anaacutelise criacutetica de situaccedilotildees tecnocientiacuteficas Um exemplo de unidade APQUA eacute ldquoO Risco e a gestatildeo de produtos quiacutemicosrdquo que se desdobra nos moacutedulos ldquoRisco o jogo da vidardquo ldquoToxicologia determinaccedilatildeo de valores-limitesrdquo e ldquoTratamento de resiacuteduos industriaisrdquo (ver tambeacutem Merceacute e Au-leacutes 2001)

623 CTS puro

Para Pinheiro Matos e Bazzo (2007) no CTS Puro ldquoensina-se ciecircncia tecnologia e sociedade por intermeacutedio do CTS no qual o conteuacutedo cientiacutefico tem papel subordinadordquo

Para Gonzaacutelez Garciacutea Loacutepez Cerezo e Lujaacuten Lopez (1996) e Bazzo Linsingen e Pereira (2003) nesta categoria o conteuacutedo cientiacutefico passa a ter um papel subordinado Em alguns casos o conteuacutedo cien-tiacutefico eacute incluiacutedo para enriquecer a explicaccedilatildeo dos conteuacutedos CTS em sentido estrito em outros as re-ferecircncias aos temas cientiacuteficos ou tecnoloacutegicos satildeo apenas mencionadas poreacutem natildeo satildeo explicadas

Em outras palavras cremos que a categoria de CTS puro busca reestruturar o ensino dos conteuacutedos das mateacuterias cientiacuteficas sob uma sequumlecircncia e estrutura organizada parasobre a exposiccedilatildeo e discus-satildeo de problemas sociais relacionados com a ciecircncia e a tecnologia sendo que a ecircnfase estaacute no fato social e a explicaccedilatildeo pelo conhecimento cientiacutefico-tecnoloacutegico tambeacutem Esta categoria busca ser uma alternativa a situaccedilatildeo habitual onde encontramos menccedilatildeo de problemas sociais vinculados a ciecircncia onde o fio condutor eacute uma sequenciaccedilatildeo e estruturaccedilatildeo de conteuacutedos baseados na loacutegica interna das disciplinas cientiacuteficas

Segundo Acevedo Romero e Acevedo Diaz aqui seraacute possiacutevel

bull A inclusatildeo de conteuacutedos tecnocientiacuteficos que se integram nas explicaccedilotildees sociais filo-soacuteficas etc

bull A inserccedilatildeo de conteuacutedos de tecnocientiacuteficos como exemplos de estudos sociais filosoacute-ficos etc

bull Conteuacutedos totalmente CTS baseados em explicaccedilotildees sociais filosoacuteficas etc

Como exemplo de projetos CTS puro temos SISCON in the Schools (Science in a Social Context) IST (Innovations The social consequence of Science and Technology) S in S (Science in Society)

Grande parte dos autores indica o SISCON na escola como o programa que melhor representa o CTS puro

Trata-se de uma adaptaccedilatildeo para a educaccedilatildeo secundaacuteria do programa universitaacuterio britacircnico SISCON (ciecircncia no contexto social) Na educaccedilatildeo secundaacuteria SISCON eacute um projeto que usa a histoacuteria da ciecircncia e da sociologia da ciecircncia e tambeacutem da tecnologia para mostrar

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como foram abordadas no passado questotildees sociais vinculadas agrave ciecircncia e agrave tecnologia ou como se chegou a uma certa situaccedilatildeo problemaacutetica no presente CTS puro pode cumprir certas funccedilotildees Se natildeo se conta no curriacuteculo com outros elementos CTS tal versatildeo pode ser uacutetil para tentar remediar esta situaccedilatildeo na medida do possiacutevel Po-reacutem sobretudo pode ser de grande ajuda nos cursos e disciplinas de humanidades e ciecircn-cias sociais que em geral natildeo tecircm intenccedilatildeo de ocupar-se das questotildees sociais poliacuteticas ou morais relacionadas com a ciecircncia e a tecnologia (Gonzaacutelez Garciacutea Loacutepez Cerezo e Lujaacuten 1996 apud Bazzo Linsingen e Pereira 2003)

Haacute tambeacutem a classificaccedilatildeo proposta por Santos e Mortimer (2002) a partir de Aikenhead (1994) que agrupa os trabalhos CTS em sala de aula em algumas categorias

Categorias Descriccedilatildeo Exemplos

1-Conteuacutedo de CTS como elemento de mo-tivaccedilatildeo

Ensino tradicional de ciecircncias acrescido da menccedilatildeo ao conteuacutedo de CTS com a funccedilatildeo de tornar as aulas mais interessantes

O que muitos professores fazem para ldquodourar a piacutelulardquo de cursos puramente conceituais

2-Incorporaccedilatildeo even-tual do conteuacutedo de CTS ao conteuacutedo pro-gramaacutetico

Ensino tradicional de ciecircncias acrescido de peque-nos estudos de conteuacutedo de CTS incorporados como apecircndices aos toacutepicos de ciecircncia O conteuacutedo de CTS natildeo eacute resultado do uso de temas unificadores

Science and Technology in Society (SATIS UK) Consumer Science (EUA) Values in School Scien-ce (EUA)

3-Incorporaccedilatildeo siste-maacutetica do conteuacutedo de CTS ao conteuacutedo pro-gramaacutetico

Ensino tradicional de ciecircncias acrescido de uma seacute-rie de pequenos estudos de conteuacutedo de CTS inte-grados aos toacutepicos de ciecircncias com a funccedilatildeo de ex-plorar sistematicamente o conteuacutedo de CTS Esses conteuacutedos formam temas unificadores

Havard project Physics (EUA) Sci-ence and So-cial Issues (EUA) Nelson Chemistry (Canadaacute) In-terative Teaching Units for Chemistry (UK) Scien-ce Technology and Society Block J (EUA) Three SATIS 16-19 modules (What is Science What is Technology How Does Society decide ndash (UK)

4-Disciplina cientiacutefica (Quiacutemica Fiacutesica e Bio-logia) por meio de con-teuacutedo de CTS

Os temas de CTS satildeo utilizados para organizar o conteuacutedo de ciecircncia e a sua sequumlecircncia mas a se-leccedilatildeo do conteuacutedo cientiacutefico ainda eacute feita a partir de uma disciplina A lista dos toacutepicos cientiacuteficos puros eacute muito semelhante agravequela da categoria 3 embora a sequumlecircncia possa ser bem diferente

ChemCon (EUA) os moacutedulos holandeses de fiacute-sica como Light Sources and Ionizing Radiation (Holanda PLON) Science and Society Teaching units (Canadaacute) Chemical Education for Public Un-derstanding (EUA) Science Teacherrsquos Association of victoira Physics Series (Austraacutelia)

5- Ciecircncias por meio de conteuacutedos de CTS

CTS organiza o conteuacutedo e sua sequumlecircncia O conteuacute-do de ciecircncias eacute multidis-ciplinar sendo ditado pelo conteuacutedo de CTS A lista de toacutepicos cientiacuteficos puros assemelha-se agrave listagem de toacutepicos importantes a partir de uma variedade de cursos de ensino tradi-cional de ciecircncias

Logical Reasoning in Science and Technology (Ca-nadaacute) Modular STS (EUA) Global Science (EUA) Dutch Environmental project (Holanda) Salters Science Project (UK)

6-Ciecircncias com conteuacute-dos de CTS

O conteuacutedo de CTS eacute foco do ensino O conteuacutedo re-levante de ciecircncias enriquece a aprendizagem

Exploring the Nature of Science (Ing) Society Environment and Energy Development Studies (SEEDS) modules (EUA) Science and Technolo-gy 11 (Canadaacute)

A partir da mesma fonte ndash Glen Aikenhead ndash podemos extrair outra categorizaccedilatildeo didaacutetica mais detalhada para a ciecircncia escolar onde o autor mostra os diversos graus de interaccedilatildeo da Ciecircncia e a Tecnologia em um contexto de assuntos sociais (2009 apud Vieira Tenreiro-Vieira e Martins 2011 p 19) O autor propotildee 8 categorias CTS para a ciecircncia escolar

Categorias Descriccedilatildeo

1 CTS como motivaccedilatildeo O conteuacutedo CTS eacute apenas mencionado pontualmente pelo professor para tornar uma aula mais interes-sante para os alunos

2 Integraccedilatildeo pontual de conteuacutedo CTS

O conteuacutedo CTS natildeo eacute escolhido para abordar temas unificadores sobre questotildees sociais internas e externas agrave Ciecircncia Ao inveacutes os conteuacutedos CTS satildeo acrescentados ou infundidos em toacutepicos do curriacuteculo de Ciecircncias existentes

3 Integraccedilatildeo sistemaacuteti-ca de conteuacutedo CTS

Uma seacuterie de cursos ou pequenos estudos de conteuacutedo CTS satildeo integrados nos toacutepicos de Ciecircncias num curso tradicional de Ciecircncias para sistematicamente explorar conteuacutedos CTS focando temas unificado-res

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4 Disciplina cientiacutefica atraveacutes de conteuacutedo CTS

O conteuacutedo de Ciecircncias e a sua sequecircncia satildeo escolhidos e organizados amplamente pelo conteuacutedo CTS Haveraacute uma biologia CTS uma Quiacutemica CTS uma fiacutesica CTS

5 Ciecircncia atraveacutes de conteuacutedo CTS

O conteuacutedo CTS serve como organizador para o conteuacutedo de Ciecircncias e sua sequecircncia O curso Logical Reasoning in Science and Technology [LoRST] exemplifica inclusatildeo da conteuacutedo de Ciecircncia e de Tecnolo-gia que normalmente natildeo se encontra nos cursos tradicionais de Ciecircncia mas que eacute relevante para um acontecimento ou questatildeo do dia a dia

6 Ciecircncia como con-teuacutedo CTS

O conteuacutedo CTS eacute o foco da instruccedilatildeo Os conteuacutedos relevantes de Ciecircncias enriquecem esta aprendi-zagem

7 Infusatildeo da Ciecircncia no conteuacutedo CTS

O conteuacutedo CTS eacute o grande foco da instruccedilatildeo O conteuacutedo relevante de Ciecircncias eacute mencionado mas natildeo sistematicamente ensinado A ecircnfase pode ser dada a princiacutepios cientiacuteficos amplos

8 Conteuacutedo CTS Uma questatildeo central de Ciecircncia ou Tecnologia eacute estudada

Para o autor a categoria 1 representa a mais baixa prioridade de conteuacutedo CTS e a categoria 8 re-presenta a mais alta prioridade em conteuacutedo CTS Sendo que uma grande diferenccedila pode ser notada entre as categorias 3 e 4 Na categoria 3 a estrutura de conteuacutedo estaacute definida por uma disciplina que se utiliza de motivaccedilotildees CTS Na categoria 4 eacute definida pelo proacuteprio assunto tecnocientiacutefico com impacto social A ciecircncia com visatildeo interdisciplinar eacute percebida na categoria 5 Escreve o autor que mais do que discutir as categorias devemos ver essa categoria como orientaccedilatildeo para aquilo que eacute mais importante projetos que atendam agraves necessidades dos alunos e as caracteriacutesticas de cada categoria

Esses modelos podem ser encontrados em diversos trabalhos CTS publicados no Brasil tais como os estudos de Bazzo (1998) Bazzo e Colombo (2001) Bazzo e Cury (2001) Silva Correa de Souza (2001) Auler (2002) Santos e Schnetzler (2003) Koepsel (2003) Pinheiro e Bazzo (2004) Pinheiro (2005) aleacutem de vaacuterios outros trabalhos apresentados em eventos cientiacuteficos em geral na modalidade enxerto CTS (Pinheiro Matos e Bazzo 2007) A estes podemos agregar ainda trabalhos mais recen-tes de Chrispino (2005a) Alves (2005) Carvalho et al (2006) e Faria e Carvalho (2007)

Leia mais sobre os diversos tipos de projetos CTS

Acevedo Romero Pilar e Acevedo Diacuteaz Joseacute A Proyectos y materiales curriculares para la educacioacuten CTS enfoques estructuras contenidos y ejemplos httpwwwoeiessalactsiacevedo19htm

63 CTS como disciplina

No acircmbito do ensino meacutedio43 eacute possiacutevel incluir neste item a chamada disciplina CTS que seria um componente curricular especialmente voltado para a alfabetizaccedilatildeo tecnocientiacutefica do estudante e do cidadatildeo nos moldes que temos apresentado Vamos buscar exemplificar como uma disciplina pode ser estruturada

O primeiro exemplo eacute a implantaccedilatildeo da disciplina CTS na Espanha A disciplina CTS segundo Loacutepez Cerezo (1998 e 2002) foi implantada recentemente na Espanha com caraacuteter optativo em todos os cursos de bachilleratos (16-18 anos) e como complemento transversal para as disciplinas de ciecircncias (14-16 anos) A disciplina CTS pode ser dividida em 5 blocos

1 Ciecircncia teacutecnica e tecnologia perspectivas histoacutericas2 O sistema tecnoloacutegico3 Repercussotildees sociais do desenvolvimento cientiacutefico e teacutecnico

43 Vamos tratar aqui das disciplinas votadas para o ensino meacutedio ou que formem professores para atuar na Educaccedilatildeo Baacutesica Haacute no Brasil algumas interessantes experiecircncias de disciplinas CTS especialmente voltadas para a aacuterea de engenharia CTS ndash pro-gramas universitarios httpwwwchassncsueduidsstsotherhtml

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4 O controle social da atividade cientiacutefica e tecnoloacutegica5 O desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico reflexotildees filosoacuteficas

Segundo Loacutepez Cerezo (2002)

No primeiro bloco o da perspectiva histoacuterica se abordam a origem do pensamento cien-tiacutefico o papel da tecnologia na revoluccedilatildeo industrial e o papel da teacutecnica no processo de humanizaccedilatildeo O segundo o sistema tecnoloacutegico se ocupa dos componentes desse sistema conhecimento recursos teacutecnicos capital e contexto social O terceiro bloco repercussotildees sociais se centra nos distintos tipos de consequecircncias sociais e ambientais do desenvol-vimento cientiacutefico-tecnoloacutegico econocircmicas demograacuteficas reduccedilatildeo da biodiversidade etc O problema da regulamentaccedilatildeo puacuteblica da mudanccedila cientiacutefico-tecnoloacutegica com temas como o da avaliaccedilatildeo de tecnologias ou controle de mercado se aborda no bloco quarto E por uacuteltimo no quinto bloco satildeo colocados diversos problemas eacuteticos esteacuteticos e em geral filosoacuteficos sobre a moderna ldquocultura tecnoloacutegicardquo (p18)

O segundo exemplo eacute o Curso de formaccedilatildeo de professores de niacutevel meacutedio e superior sobre o enfoque CTS no ensino44 feito agrave distacircncia e patrocinado pela OEI-Organizaccedilatildeo dos Estados Iberoamericanos a Universidade de Oviedo na Espanha e o NEPETUFSC no Brasil O curso eacute estruturado em blocos de conhecimento O que eacute Ciecircncia o que eacute Tecnologia o que eacute sociedade o que eacute CTS e Estudos de Casos Apoacutes isso os participantes do curso satildeo convidados a estudar exemplos de casos de controveacuter-sia simulada e de proporem atividades utilizando-se desta estrateacutegia de alguma forma

O terceiro exemplo pode ser a disciplina CTS do Curso de Especializaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Tecnoloacutegica-EAD Ela estaacute estruturada em dez encontros e busca inicialmente estabelecer o chamado Campo CTS depois discute as possiacuteveis concepccedilotildees de Ciecircncia de Tecnologia e de Sociedade apoacutes isto estuda a interaccedilatildeo desta triacuteade e os fatores que podem influir nesta relaccedilatildeo No momento seguinte busca relacionar os conceitos CTS coerentemente com Educaccedilatildeo e Educaccedilatildeo Tecnoloacutegica e ao fim apresenta as possibilidade de materializar as ideias CTS no ensino indicando a controveacutersia contro-lada como teacutecnica preferencial

Conheccedila maisCTS ndash programas universitarios httpwwwchassncsueduidsstsotherhtml

64 Uma modelagem do ensino aprendizagem CTS

Um modelo de como se ensina e se aprende por meio da abordagem CTS eacute intitulado espiral de responsabilidade de Waks (1992 apud Miembiela 2001 p 96) que considera cinco fases suces-sivas

bull Autocompreensatildeo onde aprende a considerar suas necessidades valores planos e res-ponsabilidades

bull Estudo e reflexatildeo aqui o estudante toma consciecircncia e conhecimento da ciecircncia e da tecnologia e seus impactos sociais e isto supotildee uma conexatildeo com as chamadas disci-plinas baacutesicas

bull Tomada de decisatildeo aqui o estudante aprende sobre os processos de tomada de decisatildeo e de negociaccedilatildeo para mais tarde tomar realmente decisotildees e defendecirclas com razatildeo e evidecircncias

44 httpwwwoeibrptorgprogramacionctsicursohtm

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bull Accedilatildeo responsaacutevel nela o estudante planeja e executa a accedilatildeo tanto de maneira indivi-dual como coletiva

bull Integraccedilatildeo aqui o estudante deve aventurar-se para aleacutem do tema especiacutefico e fazer consideraccedilatildeo CTS mais amplas incluindo os valores pessoais e sociais

641 A escolha do tema tecnocientiacutefico de impacto social

Dagnino e Thomas (2002) lembram que a particularidade da Abordagem CTS natildeo estaacute nos temas a que ela se propotildee discutir ou investigar mas sim na forma em que esses satildeo abordados dando espe-cial atenccedilatildeo ao fato de que os problemas reais de uma sociedade natildeo se restringem a explicaccedilatildeo de uma disciplina acentuando a importacircncia da Abordagem CTS ser desenvolvida sob a eacutegide da intertransdisciplinaridade Nesta perspectiva a Abordagem CTS

refere-se ao estudo da ciecircncia e da tecnologia na sociedade isto eacute da forma na qual os fenocirc-menos teacutecnicos e sociais interatuam e influenciam uns nos outros Por exemplo entre os temas abordados por pesquisadores CTS encontram-se o papel da ciecircncia e a tecnologia na transformaccedilatildeo de instituiccedilotildees sociais como o trabalho e a famiacutelia a relaccedilatildeo entre a ciecircncia e a tecnologia e o crescimento econocircmico e a reflexatildeo acerca dos valores eacuteticos e morais implicados nas descobertas cientiacuteficas e inovaccedilotildees tecnoloacutegicas Por outro lado revertendo o sentido da influecircncia pesquisadores tecircm estudado a forma como a ciecircncia e a tecnologia satildeo influenciados por fatores sociais como interesses poliacuteticos e econocircmicos a ideologia e valores culturais (p 8-9)

Quanto aos criteacuterios a serem seguidos na escolha de temas CTS Hickman Patrick e Bybee (1987 apud Miembiela 2001) consideram as questotildees

bull Eacute diretamente aplicaacutevel a vida dos estudantesbull Eacute adequado ao niacutevel cognitivo e a maturidade social dos estudantesbull Eacute um tema importante no mundo atual dos estudantes e provavelmente permaneceraacute

como tal para uma parte deles na vida adultabull Os estudantes podem aplicar estes conhecimentos em outros espaccedilos que natildeo a escolabull Eacute um tema pelo qual os estudantes mostram interesse e entusiasmo

642 Enumerando os limites e as vantagens das abordagens CTS

A abordagem CTS por mais que apresente vantagens e emocione alguns professores e alunos natildeo pode ser tratada como panaceia ou como soluccedilatildeo para todos os problemas ou mesmo como a uacutenica alternativa para o ensino de ciecircncia e tecnologia Ela precisa ser encarada como mais uma alterna-tiva talvez uma alternativa potente para melhoria do ensino de ciecircncia e tecnologia baseando-se nos princiacutepios da formaccedilatildeo tecnocientiacutefica do cidadatildeo da educaccedilatildeo tecnocientiacutefica para todos e na alfabetizaccedilatildeo tecnocientiacutefica

Por isso eacute importante que conheccedilamos os limites desta abordagem Vamos recorrer mais uma vez a experiecircncia de Miembiela (2001) ao citar Cheek (1992)

bull A especializaccedilatildeo disciplinar que os professores recebem em sua formaccedilatildeo conflita com o enfoque interdisciplinar que se quer na perspectiva CTS

bull As concepccedilotildees preacutevias que possuem tanto estudantes quanto professores sobre a temaacute-tica CTS em particular sobre ciecircncia e os cientistas

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bull A ausecircncia de investigaccedilotildees que ofereccedilam resultados claramente positivos quando pos-ta em praacutetica o ensino CTS

bull A influecircncia de exames externos sobre o processo educativo no sentido que habitual-mente natildeo contemplam a perspectiva CTS

bull O nuacutemero de conceitos cientiacuteficos assimilados pode ser menor e isto pode comprome-ter seriamente os resultados acadecircmicos posteriores

bull O medo dos professores de ciecircncias de perder a identidade definida basicamente por seu papel como iniciadores dos estudantes no campo da ciecircncia

O mesmo autor aponta as vantagens de se usar os enfoques CTS utilizando as reflexotildees de Aikenhead (1990 apud Miembiela 2001) que resumimos a seguir

bull Uma melhora em sua compreensatildeo sobre os desafios sociais da ciecircncia e das interaccedilotildees entre a ciecircncia e a tecnologia e entre ciecircncia e sociedade

bull Uma melhora em suas atitudes para com a ciecircncia para com os cursos de ciecircncia para com a aprendizagem do conteuacutedo CTS e os meacutetodos de ensino que utilizam a interaccedilatildeo entre os estudantes

bull Um efetivo aprendizado por meio do enfoque CTS se recebem um ensino com uma orientaccedilatildeo clara nesta linha se dispotildeem de um material curricular adequado e se haacute correspondecircncia adequada entre o modelo de ensino de ciecircncias aplicado e a aproxi-maccedilatildeo CTS escolhida para as atividades de ensino-aprendizagem

65 CTS e as accedilotildees didaacuteticas no Brasil

Apoacutes estudarmos as possiacuteveis categorias que permitem perceber como CTS se estrutura para interfe-rir na realidade escolar podemos ndash e devemos ndash conhecer como ele se estrutura no Brasil Sendo um movimento que surgiu e se fortaleceu no hemisfeacuterio norte natildeo eacute surpresa dizer que no Brasil ainda natildeo temos uma aacuterea de estudo definida e estruturada e por isso temos dificuldade de conceituar e delimitar as accedilotildees que envolvem CTS Por aqui CTS eacute uma aacuterea em emergecircncia e em consolidaccedilatildeo

O grupo de pesquisa do Diretoacuterio do CNPq CTS e Educaccedilatildeo do CEFETRJ foi criado em 2010 e desde 2012 trabalha no mapeamento do CTS brasileiro e tambeacutem em analises comparativas com as pectos observados no campo CTS em outras partes do mundo Por conta deste amplo levantamento ainda em processo podemos antecipar que

bull A primeira tese de doutorado sobre CTS que pode ser encontrada usando os paracirc-metros de busca do grupo foi defendida na Faculdade de Educaccedilatildeo da USP por Silvia Luzia Frateschi Trivelato datada de 1993 e intitulada CiecircnciaTecnologiaSociedade ndash mudanccedilas curriculares e formaccedilatildeo de professores (Toledo et al 2016)

bull No que concerne agraves dissertaccedilotildees de mestrado usando os mesmos paracircmetros de busca temos duas dissertaccedilotildees em 1992 defendidas em mestrados de Educaccedilatildeo

bull A defendida na Unicamp por Wildson Luiz Pereira dos Santos e intitulada O En-sino de quiacutemica para formar o cidadatildeo principais caracteriacutesticas e condiccedilotildees para a sua implantaccedilatildeo na escola secundaacuteria brasileira

bull A defendida na UFRJ por Alvaro Chrispino e intitulada Didaacutetica Especial de Quiacute-mica e Praacutetica de Ensino de Quiacutemica uma proposta voltada para quiacutemica e socie-dade

bull No que tange aos artigos publicados ainda sob os mesmos paracircmetros de busca e restri-to a perioacutedicos abertos e disponiacuteveis em sistemas online (o que compreende o periacuteodo

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de 1996 a 2014) podemos indicar como o primeiro deles aquele publicado por Antonio Carlos Rodrigues de Amorim intitulado Biologia tecnologia e inovaccedilatildeo no curriacuteculo do ensino meacutedio e publicado no perioacutedico Investigaccedilotildees em Ensino de Ciecircncias em 1998

bull Eacute importante ressaltar que este resultado surge a partir dos paracircmetso de pes-quisa visto que por exemplo noacutes mesmos tivemos um artigo publicado em 1989 intitulado A Funccedilatildeo Social do Ensino de Quiacutemica na Revista de Quiacutemica Indus-trial que tratava efetivamente da Abordagem CTS mas natildeo eacute encontrado pelos criteacuterios de busca adotados pelo grupo Como este certamente haacute outros

Ainda no esforccedilo de posicionar o Ensino CTS na realidade educacional barsileira Strieder et al (2016) realizaram levantamento buscando identificar ldquopossibilidades e desafios associados ao desen-volvimento de praacuteticas educativas CTSrdquo (p 87) no contexto da educaccedilatildeo cientiacutefica brasileira espe-cialmente no ensino meacutedio Foram objetos de anaacutelise

Os documentos relativos ao ensino de Biologia Fiacutesica e Quiacutemica desse niacutevel de ensino [meacute-dio] quais sejam as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Meacutedio publicadas em 1998 ndash DCNEM98 incluindo a Resoluccedilatildeo CEB nordm 398 e o Parecer CEBCNE nordm 1598 os Paracircmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Meacutedio - PCNEM as Orientaccedilotildees Com-plementares aos PCNEM - PCN+ as Orientaccedilotildees Curriculares Nacionais para o Ensino Meacute-dio - OCNEM as novas Diretrizes Curriculares Nacionais publicadas em 2013 ndash DCN13 o edital de convocaccedilatildeo para o processo de inscriccedilatildeo e avaliaccedilatildeo de obras didaacuteticas do Pro-grama Nacional de Livro Didaacutetico de 2015 ndash PNLD15 a Matriz de Referecircncia do Exame Nacional do Ensino Meacutedio de 2016- MR-ENEM16 e a 2ordf versatildeo revista da Base Nacional Comum Curricular publicada em 2016 ndash BNCC16 (p 89-90)

Auler (2007) estudando os pressupostos CTS para o contexto brasileiro escreve que (1) possuiacutemos accedilotildees individuais incipientes e isoladas que (2) os objetivos da educaccedilatildeo CTS podem ser sintetiza-dos em

1 Promover o interesse dos estudantes em relacionar a ciecircncia com aspectos tecnoloacutegicos e sociais discutir as implicaccedilotildees sociais e eacuteticas relacionadas ao uso da ciecircncia-tecno-logia (CT)

2 Adquirir uma compreensatildeo da natureza da ciecircncia e do trabalho cientiacutefico 3 Formar cidadatildeos cientiacutefica e tecnologicamente alfabetizados capazes de tomar decisotildees

informadas e desenvolver o pensamento criacutetico e a independecircncia intelectual

A aacuterea CTS tem recebido importantes contribuiccedilotildees oriundas de pesquisas realizadas nas instituiccedilotildees de ensino que mantem programas de poacutes-graduaccedilatildeo e em contraposiccedilatildeo vem deixando lacunas impor-tantes nas accedilotildees didaacuteticas que envolvam grupos significativos de professores eou alunos eou escolas

Mezalira (2008) e Pansera-de-Arauacutejo et al (2009) escrevem sobre a produccedilatildeo CTS nos eventos espe-ciacuteficos da aacuterea de ensino de ciecircncia e tecnologia e identificam o crescimento da aacuterea com seus mais significativos agentes

Hunsche et al (2009) buscaram trabalhos on-line no periacuteodo de 1998 a 2008 na Revista Brasileira de Pesqui-sa em Educaccedilatildeo em Ciecircncias na Revista Ciecircncia amp Educaccedilatildeo e na Revista Ensaio ndash Pesquisa em Educaccedilatildeo em Ciecircncias O problema de pesquisa foi enunciado foi Quais tecircm sido os encaminhamentos dados em termos teoacuterico-metodoloacutegicos ao campo CTS no contexto brasileiro Neste trabalho os autores dividem os 12 artigos encontrados em trecircs categorias Implementaccedilotildees Concepccedilotildees e PressupostosReflexotildees

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Auler Fenalti e Dalmolin (2009) analisaram implementaccedilotildees de propostas didaacutetico-pedagoacutegicas centradas na abordagem CTS utilizando como fontes de consulta anais de eventos e materiais de ensino (e cadernos de formaccedilatildeo e guias didaacuteticos)

Abreu Fernandes e Martins (2009) realizaram pesquisa em 10 revistas da aacuterea de Ensino de Ciecircn-cias Encontraram 23 artigos sobre CTS e CTSA e concluiacuteram ldquoque a produccedilatildeo nacional em CTS tem se preocupado tanto com situaccedilotildees do ensino em sala de aula e espaccedilos natildeo formais como tambeacutem na elaboraccedilatildeo teoacuterica de um pensamento autocircnomo em relaccedilatildeo agraves linhas europeacuteias e norte-americanasrdquo

Arauacutejo (2009) faz um mapeamento preliminar dos Grupos de Pesquisa registrados no Diretoacuterio de Pesquisa do CNPq que tratam de CTS O artigo informa que haacute 30 grupos 95 linhas de pesquisa e 217 pesquisadores nos diversos grupos de pesquisa As regiotildees sul e sudeste concentram a esmagadora maioria dos grupos

Chrispino et al (2013) em ampla pesquisa envolvendo 22 perioacutedicos entre 1996 e 2010 encontraram 88 artigos que por meio de software de redes sociais resultou nos 13 trabalhos mais citados Identifi-caram que os mais citados satildeo trabalhos de valor acadecircmico mas com quase nenhuma fonte primaacuteria ou autores pioneiros da aacuterea

Eacute Auler (2007) que chama a atenccedilatildeo para as possiacuteveis dimensotildees e avanccedilos dos trabalhos em uma aacuterea em expansatildeo

Na perspectiva de buscar delimitaccedilotildees bem como potencializar accedilotildees para o contexto bra-sileiro seratildeo analisadas [neste artigo] trecircs dimensotildees interdependentes que em maior ou menor intensidade comparecem na literatura sobre o tema a abordagem de temas de relevacircncia social a interdisciplinaridade e a democratizaccedilatildeo de processos de tomada de decisatildeo em temas envolvendo Ciecircncia-Tecnologia Defende-se a necessidade de mu-danccedilas profundas no campo curricular Ou seja configuraccedilotildees curriculares mais sensiacuteveis ao entorno mais abertas a temas a problemas contemporacircneos marcados pela componen-te cientiacutefico-tecnoloacutegica enfatizando-se a necessidade de superar configuraccedilotildees pautadas unicamente pela loacutegica interna das disciplinas passando a serem configuradas a partir de temasproblemas sociais relevantes cuja complexidade natildeo eacute abarcaacutevel pelo vieacutes unica-mente disciplinar

As reflexotildees estruturadas por Auler trazem a tona algumas questotildees importantes como fazer com que a abordagem CTS se transforme em accedilatildeo efetiva na melhoria da qualidade do ensino e assim possa contribuir para a melhor formaccedilatildeo dos estudantes como cidadatildeos criacuteticos

Sem entrar no meacuterito por conta do objetivo central deste estudo podemos afirmar que a Educaccedilatildeo possui uma taxa de transformaccedilatildeo muito lenta Ela eacute naturalmente reativa a mudanccedilas ao mesmo tempo que paradoxalmente eacute suscetiacutevel a modismos teoacutericos e espasmos instrumentais

Uma das funccedilotildees da escola eacute manutenccedilatildeo dos valores tidos como primordiais pela sociedade e essa manutenccedilatildeo da tradiccedilatildeo natildeo absorve facilmente novos valores mas ao mesmo tempo exigisse da escola a atualidade com os avanccedilos da tecnologia (novos equipamentos novas linguagens novas competecircncias etc) sem se exigir a mesma atualizaccedilatildeo no que se refere aos conhecimentos organi-zados (a grosso modo a ciecircncia) visto que ainda ensinamos a fiacutesica e quiacutemica do seacuteculo XIX por exemplo

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Se encararmos a abordagem CTS como mais um modismo poderemos incorrer nos mesmos erros que estas ldquoondasrdquo incorreram satildeo implantadas ateacute que surjam novas modas elas tecircm o tempo de vida relacionado com o tempo da novidade

Por tal temos defendido que a abordagem CTS natildeo seja mais uma teacutecnica ou uma teacutecnica que venha a substituir as jaacute existentes e messianicamente resolver todos os problemas do ensino e da formaccedilatildeo do cidadatildeo CTS precisa ser encarado primeiramente como uma cultura um modo de ser um modo de estruturar a atividade didaacutetica independentemente da formaccedilatildeo do professor independentemen-te da escola de pensamento em que ele se desenvolveu independentemente dos autores que datildeo suporte teoacuterico agrave sua atividade didaacutetica

A abordagem CTS no ensino natildeo deve ser encarada como mais um livro que se coloca na vasta biblio-teca de alternativas mas antes de tudo deve ser percebida como uma maneira de organizar a biblio-teca de alternativas que cada um de noacutes professores possui como resultado de sua accedilatildeo profissional pessoal e singular

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7 CTS e a teacutecnica da controveacutersia controlada

O que eacute conhecido sempre parece sistemaacutetico provado aplicaacutevel e evidente para aquele que conhece Da mesma forma todo sistema alheio de conhecimento sempre parece contraditoacuterio natildeo provado inapli-caacutevel irreal ou miacutestico

Ludwik Fleck

71 Da controveacutersia CTS original agrave teacutecnica de controveacutersia controlada

Apoacutes esta visatildeo panoracircmica sobre as possibilidades de estruturaccedilatildeo CTS acompanhamos os autores e indicamos o enxerto CTS como accedilatildeo mais acessiacutevel aos professores visto natildeo ser preciso modificar sua estrutura de trabalho para oferecer aos alunos a abordagem CTS Basta apenas ordenar as ques-totildees que estruturam a relaccedilatildeo didaacutetica

Por outro lado vamos propor como accedilatildeo didaacutetica ou teacutecnica de ensino a controveacutersia controlada em torno de um tema tecnocientiacutefico que pode ser incluiacuteda na categoria Ciecircncia e Tecnologia atraveacutes de CTS a partir do que nos ensina Loacutepez Cerezo (2002)

Uma () opccedilatildeo consiste em reconstruir os conteuacutedos do ensino da ciecircncia e da tecnolo-gia atraveacutes de uma oacutetica CTS Em disciplinas isoladas ou por meio de cursos cientiacuteficos pluridisciplinares se fundem os conteuacutedos teacutecnicos e CTS de acordo com a exposiccedilatildeo e discussatildeo de problemas sociais dados () O formato padratildeo de apresentaccedilatildeo de conteuacutedos nesta opccedilatildeo eacute em primeiro lugar eleger um problema importante relacionado com os pa-peacuteis futuros o estudante (cidadatildeo profissional consumidor etc) e em segundo lugar sobre tal base selecionar e estruturar o conhecimento cientiacutefico-tecnoloacutegico necessaacuterio para que o estudante possa entender um equipamento tomar uma decisatildeo ou entender um problema social relacionado com a ciecircncia ou a tecnologia (p 15)

A chamada teacutecnica da controveacutersia controlada controveacutersia simulada ou simulaccedilatildeo CTS eacute na ver-dade a siacutentese da histoacuteria de formaccedilatildeo da Abordagem CTS quer como movimento social quer como construccedilatildeo social da ciecircncia Na verdade o movimento CTS se estruturou a partir da (1) desilusatildeo com a ldquovisatildeo positivistardquo de Ciecircncia e Tecnologia marcada pelo ciacuterculo virtuoso de mais ciecircncia mais progresso e mais bem estar (2) pela percepccedilatildeo de que entregar a Ciecircncia a somente os cientistas era temeraacuterio visto que os especialistas em Ciecircncia e Tecnologia como natildeo poderia deixar de ser satildeo movidos por paixotildees ideais e emoccedilotildees (3) pelos impactos negativos para pessoas grupos e comu-nidade de forma geral em curto meacutedio e longo prazos dos artefatos tecnoloacutegicos e da aplicaccedilatildeo de conhecimentos tecnocientiacuteficos (Ramos e Silva 2007)

O que ocorreu ao longo da historia da Abordagem CTS foi o conflito ou divergecircncia sobre a maneira de ver a origem o desenvolvimento a aplicaccedilatildeo e as consequecircncias dos conhecimentosaparatos tec-nocientiacuteficos Houve portanto uma controveacutersia em torno dos temas e a sociedade ndash nas suas mais diferentes manifestaccedilotildees ndash solicitou espaccedilo para ouvir e se fazer ouvir sobre o futuro que tambeacutem lhe pertence Logo a controveacutersia de visotildeesopiniotildees entre atores sociais eacute a melhor e mais autecircntica manifestaccedilatildeo da Abordagem CTS A mesma ideia de controveacutersia tambeacutem eacute encontrada no interior da comunidade cientiacutefica que jaacute natildeo mais se contenta com as tradicionais visotildees (e mitos) da Ciecircncia

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Eis por que propomos que as atividades didaacuteticas de CTS tenham sua culminacircncia no exerciacutecio da anaacutelise fundamentada e da criacutetica pertinente de fatos ou decisotildees que afetam de alguma forma o cidadatildeo ou a sua comunidade Se visto desta forma a controveacutersia controlada pode ser utilizada em temas tecnocientiacuteficos relevantes mas tambeacutem em qualquer fato social que permita interpretaccedilotildees variadas visando a decisatildeo

72 A Teacutecnica da Controveacutersia um aprofundamento teoacuterico

Flechsig e Schiefelbein (2003) apresentam a ideia de que a origem da teacutecnica de controveacutersia estaacute na disputatio que remonta a idade meacutedia e consistia em disputas puacuteblicas entre os estudantes e tambeacutem serviam como exames para os exerciacutecios de retoacuterica visto que era considerado um meacutetodo de busca pela verdade a partir da argumentaccedilatildeo e da contra-argumentaccedilatildeo

Jaacute Johnson e Johnson (2004) numa abordagem mais contemporacircnea escreveratildeo que as raiacutezes teoacuteri-cas da controveacutersia estatildeo no desenvolvimento cognitivo nas teorias do equiliacutebrio psicoloacutegico-social e nas teorias do conflito Os autores defendem que estas trecircs perspectivas explicam o fato de que os esforccedilos cooperativos da teacutecnica de controveacutersia produzem discussotildees que geram conflitos cogniti-vos que seratildeo resolvidos no debate orientado Essa satisfaccedilatildeo do conflito ndash causado pela diferenccedila de percepccedilatildeoopiniatildeo ndash acarreta uma racionalidade e um novo aprendizado gerando a reconceituali-zaccedilatildeo sobre o tema em debate Essa reconceitualizaccedilatildeo natildeo eacute obrigatoriamente uma modificaccedilatildeo da posiccedilatildeo anterior O debate natildeo visa a abdicaccedilatildeo de posiccedilotildees mas a oportunidade de apresentar suas ideias e de ouvir a argumentaccedilatildeo do outro que pensasente diferentemente

A controveacutersia controlada pode ser definida como um meacutetodo didaacutetico de construccedilatildeo de consenso (pelo menos no processo de debate) minuciosamente preparado a partir de regras previamente de-finidas visando o exerciacutecio de (1) identificaccedilatildeo de problemas comuns para fomentar a controveacutersia (2) o exerciacutecio de estabelecer padrotildees mutuamente aceitaacuteveis para sustentar um debate (3) a busca organizada de informaccedilotildees pertinentes ao tema definido (4) a preparaccedilatildeo da exposiccedilatildeo em defesa da posiccedilatildeo (5) a capacidade de escutar a posiccedilatildeo controversa apresentada racionalmente pelos de-mais participantes (6) o exerciacutecio de contra-argumentar a partir do conhecimento dos argumentos utilizados pelos demais debatedores e (7) reavaliar as posiccedilotildees ndash a sua e as demais ndash a partir de novas informaccedilotildees

Segundo estes autores

haacute uma controveacutersia acadecircmica programada quando as ideias a informaccedilatildeo as conclusotildees as teorias e as opiniotildees de um aluno se opotildeem as de outro mas ambos tratam de chegar a um acordo por meio da proposta de Aristoacuteteles a discussatildeo das vantagens e desvantagens das accedilotildees propostas apontando para a siacutentese de novas soluccedilotildees a uma resoluccedilatildeo criativa do problema (Johnson e Johnson 2004 p 143)

Jaacute para Flechsig e Schiefelbein (2003) a teacutecnica de controveacutersia apresenta caracteriacutesticas importan-tes visto que permite desenvolver metas de aprendizagens e competecircncias especiacuteficas se as demais teacutecnicas em geral pretendem consolidar a chamada ldquoverdade objetivardquo que tanto caracterizam o ensino claacutessico a teacutecnica de controveacutersia busca realccedilar a argumentaccedilatildeo a apreciaccedilatildeo de situaccedilotildees conflitantes os conhecimentos controvertidos as posiccedilotildees diferentes frente agrave formaccedilatildeo de juiacutezo de valor sobre um tema As tarefas de aprendizagens para os que desenvolvem a teacutecnica podem ser ela-boraccedilatildeo de uma ldquoteserdquo a apresentaccedilatildeo da ldquoteserdquo a identificaccedilatildeo de ldquoteserdquo diferente da sua a criacutetica da ldquoteserdquo diferente a partir de informaccedilotildees e o exerciacutecio de siacutentese Esse conjunto de atividades

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resulta no domiacutenio de competecircncias de comunicaccedilatildeo e de argumentaccedilatildeo importantes para as sociedades atuais

Para esses autores as fases da teacutecnica de controveacutersia podem ser

bull Fase de preparaccedilatildeo onde se fixam oito aspectos o que quando onde quem com quem se deve discutir quem teraacute a funccedilatildeo de moderador que tipo de puacuteblico seraacute convidado e quais satildeo as regras que organizaratildeo o debate

bull Fase de recepccedilatildeo (apresentaccedilatildeo das teses) nesta fase seraacute proposta a tese ldquodigna de discussatildeordquo que logo deve ser aceita e publicada (difundida)

bull Fase de interaccedilatildeo (argumentaccedilatildeo) primeiro os defensores e depois os oponentes ex-potildeem suas evidencias e argumentos contraditoacuterios e na rodada seguinte apresentam mais argumentos eou retiram alguns outros argumentos

bull Fase de avaliaccedilatildeo em que a disputa se resolve com uma decisatildeo do grupo e mesmo com a opiniatildeo expressa de possiacuteveis expectadores presentes agrave disputa

Para que se cumpram todas as etapas didaacuteticas o tema a ser utilizado na controveacutersia deve combinar a interdependecircncia social com o conflito intelectual visto que quanto maior for o nuacutemero de elemen-tos potencialmente cooperativos e menor o nuacutemero de elementos competitivos mais construtivo seraacute conflito e a controveacutersia Importante perceber que natildeo eacute somente o componente cooperativo que contribui para uma controveacutersia mas tambeacutem o componente conflito visto que eacute este que per-mitiraacute a chance de ouvir outras posiccedilotildees e refletir sobre elas

Johnson e Johnson (2004) ao tratarem das vantagens desta teacutecnica comparam quatro meacutetodos de ensino a controveacutersia o debate o proselitismo e o trabalho individual Dizem que os estudos experi-mentais que desenvolveram nos uacuteltimos vinte anos permitem concluir que os alunos que participam das controveacutersias recordam mais informaccedilotildees corretas transferem com mais facilidade a aprendiza-gem a situaccedilotildees novas empregam estrateacutegias de racionalidade mais complexas e satildeo mais capazes de generalizar os princiacutepios que aprenderam e aplicaacute-los a um nuacutemero maior de situaccedilotildees Dizem que a controveacutersia tende a gerar uma visatildeo mais criativa das questotildees examinadas e mais siacutenteses permi-tem combinar as perspectivas em debate Quando comparada com o debate a busca de adesatildeo (pro-selitismo) e trabalho individual a controveacutersia promove mais simpatia apoio social e auto-estima nos participantes do exerciacutecio Os mesmos autores escrevem que

A controveacutersia programada eacute sumamente promissora do ponto de vista didaacutetico Nela en-contramos os quatro elementos essenciais teoria (Johnson 1970) investigaccedilotildees validado-ras integraccedilatildeo nos procedimentos pedagoacutegicos e formaccedilatildeo permanente de docentes A con-troveacutersia programada se baseia no emprego da cooperaccedilatildeo para ensinar e integra o manejo construtivo dos conflitos nas experiecircncias cotidianas de aprendizagem Agrave medida que os alunos adquirem periacutecia na resoluccedilatildeo de conflitos intelectuais vai se construindo o cenaacuterio para que aprendam a manejar conflitos de interesses entre eles e seus companheiros (p 150)

Com outros objetivos mas utilizando-se do mesmo principio didaacutetico Lipman Sharp e Oscanyan (1992) propotildeem a controveacutersia controlada como teacutecnica de aprendizagem no projeto de ensino de filosofia para crianccedilas

O ERIC-Education Resources Information Center possui um grande arquivo de texto e experiecircncias acadecircmicas sobre controveacutersias acadecircmicas em diversas aacutereas e niacuteveis de educaccedilatildeo Uma pesquisa

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CTS E A TEacuteCNICA DA CONTROVEacuteRSIA CONTROLADA102

realizada na Search the Thesaurus com a expressatildeo Controversial Issues resulta em 1698 itens das mais diversas aacutereas do conhecimento

Conheccedila mais sobre a controveacutersia acadecircmica

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73 O uso da Teacutecnica de Controveacutersia em CTS

Como escrevemos antes o uso da cultura da controveacutersia ndash que eacute um pouco mais que a simples teacutecnica de controveacutersia ndash resgata a origem da Abordagem CTS considerando (1) sua origem como movimento CTS (2) a maneira de entender as disputas internas da Ciecircncia e da Tecnologia que chamamos de Estudos CTS e (3) no seu aspecto de orientador de gestores de poliacuteticas que decidem sobre temas chamados CTS Haacute uma semelhanccedila ontoloacutegica entre a proposta da Abordagem CTS e a teacutecnica de ensino da controveacutersia controlada visto que em ambos os casos as diferenccedilas de opiniatildeo existem mas precisam ser conhecidas a fim de se construir um entendimento e um consenso possiacutevel

Um dos autores que mais tem produzido no campo da controveacutersia controlada no campo CTS eacute Ma-riano Martiacuten Gordillo cujos textos serviratildeo de base para a apresentaccedilatildeo da teacutecnica de controveacutersia controlada Escreve o autor que

se tiveacutessemos que enunciar em poucas palavras o propoacutesito dos enfoques CTS no campo da educaccedilatildeo seria possiacutevel resumir em dois pontos mostrar que a Ciecircncia e a Tecnolo-gia satildeo acessiacuteveis e importantes para os cidadatildeos (portanto eacute necessaacuteria a Alfabetizaccedilatildeo Tecnocientiacutefica) e propiciar o aprendizado social da participaccedilatildeo puacuteblica nas decisotildees tec-nocientiacuteficas (portanto eacute necessaacuteria a educaccedilatildeo para a participaccedilatildeo tambeacutem em Ciecircncia e Tecnologia) (Martiacuten Gordillo 2003)

Ambos os objetivos natildeo podem ser alcanccedilados a partir dos paradigmas tradicionais que norteiam o ensino de modo geral que mostra uma ciecircncia positiva e linear Apesar de Martin Gordillo e os de-mais autores referirem-se sempre a disciplinas de ciecircncias e tecnologia proponho que ampliemos este leque visto que como jaacute demonstramos anteriormente a natureza natildeo se explica somente pelos canais das chamadas ciecircncias exatas Ela necessita das ciecircncias soacutecio-humanisticas para se comple-tar o entendimento da natureza recortado para fins de ensino pelo artifiacutecio das disciplinas

Outra referecircncia que merece nossa atenccedilatildeo eacute Reis (2008) que ao discutir a aplicaccedilatildeo de controveacuter-sias sociocientiacuteficas nas escolas portuguesas apresenta rico fundamento teoacuterico sobre o tema e sua relaccedilatildeo com CTS

A fim de melhor fundamentar o porquecirc devemos estender agraves ciecircncias humanas e sociais as oportuni-dade de atuarem na Abordagem CTS e principalmente na construccedilatildeo de atividades interdisciplina-res com as chamadas tecnociecircncias lembremos que o ato social eacute sempre um ato complexo por conta dos atores que envolve (cada um com sua histoacuteria seu sentido de vida sua expectativa de futuro seus valores sua linguagem etc) e pela trama de aacutereas que em geral satildeo chamadas a interpretar um mesmo acontecimento social Haacute coisas que satildeo proacuteprias do conjunto de saberes que se padronizou chamar

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de teacutecnicas ou cientiacuteficas mas haacute coisas que satildeo caracteriacutesticas do que se estabeleceu pela tradiccedilatildeo olhar como humanas (Depois de todo este estudo poderiacuteamos dizer que a Ciecircncia tambeacutem natildeo eacute humana) Natildeo se opera o ato social ou o acontecimento comunitaacuterio ou a gestatildeo de conflito ou a de-cisatildeo poliacutetica sem conhecer o valor das disciplinas humaniacutesticas Fukuyama (2005 p39) escreve que

A comunidade de poliacuteticas de desenvolvimento estaacute numa situaccedilatildeo irocircnica A Era Poacutes-Gue-rra Fria comeccedilou sob o domiacutenio intelectual dos economistas que defenderam fortemente a liberalizaccedilatildeo e um Estado menor Dez anos depois muitos economistas concluiacuteram que algumas das variaacuteveis mais importantes que afetam o desenvolvimento natildeo eram econocircmi-cas mas estavam ligadas agrave instituiccedilotildees e agrave poliacutetica

As instituiccedilotildees e a poliacutetica estatildeo permeadas pelas praacuteticas oriundas das ciecircncias exatas tanto quanto das ciecircncias sociais e humanas E isso nos leva a crer que o ato social tecnopoliacutetico relevante eacute pro-movido (ou ainda natildeo) pela accedilatildeo poliacutetica e eacute materializado pelo canal institucional Para exemplificar esta estreita vinculaccedilatildeo Fukuyama (2005) estabelece quatro niacuteveis de accedilatildeo institucional e relaciona as disciplinas com a capacidade de transferecircncia de conhecimento conforme resume o quadro a seguir

Componente Disciplina Transferibilidade

Projeto e Gerenciamento

Organizacionais

Gerenciamento

AltaAdministraccedilatildeo Puacuteblica

Economia

Projeto Institucional

Ciecircncia Poliacutetica

MeacutediaEconomia

Direito

Base de Legitimaccedilatildeo Ciecircncia Poliacutetica De Meacutedia a Baixa

Fatores Sociais e CulturaisSociologia

BaixaAntropologia

Haacute conhecimentospraacuteticas que satildeo rapidamente absorvidas pelas instituiccedilotildees e pelas pessoas no campo do gerenciamento de projetos e essa funccedilatildeo se processa por meio da economia e da adminis-traccedilatildeo Mas em contrapartida haacute o componente soacutecio-cultural que compotildee as instituiccedilotildees e a accedilatildeo entre pessoas cuja transferecircncia de conhecimento ou de praacuteticas eacute baixa e deve ser operada pelas disciplinas de base social

Quando estudamos por exemplo os chamados ldquogatosrdquo (furto de energia eleacutetrica) percebemos que a justificativa apontada pelos ldquogatunosrdquo remonta ao tempo em que a energia era do ldquoestadordquo e se era do estado ldquonatildeo era de ningueacutemrdquo Por mais que esteja claro que a distribuiccedilatildeo de energia hoje eacute accedilatildeo privada a memoacuteria social teima em se manter nas comunidades de baixa renda e reafirma a imagem e a sensaccedilatildeo de que eacute do estado e se eacute do estado natildeo eacute de ningueacutem As distribuidoras fazem um caro trabalho de gestatildeo operacional mas natildeo conseguem resultados satisfatoacuterios pois este tipo de contribuiccedilatildeo ao ato social cristalizado natildeo se daacute por meio de planilhas e programas de computador mas sim pela transformaccedilatildeo de mentalidade e pela mudanccedila de haacutebito Funccedilotildees explicitamente da competecircncia das disciplinas das ciecircncias humanas e sociais

Neste momento cabe refletir sobre a importacircncia de escolher problemas ou temas CTS que permi-tam o desdobramento esperado Uma maneira de ver os problemas eacute proposta por Dagnino (2007) que considerando que a conceituaccedilatildeo de problema deve dar conta de quatro aspectos fundamentais a saber

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1 Um problema social natildeo eacute uma entidade objetiva que se manifesta na esfera puacuteblica de modo naturalizado como se ela fosse neutra e independente em relaccedilatildeo aos atores - ativos e passivos - do problema

2 Natildeo haacute situaccedilatildeo social problemaacutetica senatildeo em relaccedilatildeo aos atores que a constroem como tal3 Reconhecer uma situaccedilatildeo como um problema envolve um paradoxo pois satildeo justamente

os atores mais afetados os que menos tecircm poder para fazer com que a opiniatildeo puacuteblica (e as elites de poder) a considere como problema social

4 A condiccedilatildeo de penalizados pela situaccedilatildeo-problema dos atores mais fracos costuma ser obs-curecida por um complexo sistema de manipulaccedilatildeo ideoloacutegica que com seu consentimen-to os prejudica

Esperamos ter esclarecido porque natildeo nos limitamos a sugerir as teacutecnicas de controveacutersia CTS para disciplinas dos campos da Ciecircncia e da Tecnologia Essa eacute uma tese que defenderemos sempre

Para alcanccedilarmos o segundo objetivo proposto por Martiacuten Gordillo ndash a educaccedilatildeo para a participaccedilatildeo tambeacutem em Ciecircncia e Tecnologia ndash eacute necessaacuterio o aprendizado de uma ciecircncia contextualizada por meio de uma aula que possibilite o desenvolvimento das capacidades atitudes haacutebitos e destrezas que favoreccedilam o diaacutelogo e a tomada de decisatildeo sobre controveacutersias relacionadas com Ciecircncia e Tec-nologia (e noacutes complementariacuteamos natildeo soacute CampT) pelos instrumentos comuns a esta praacutetica que satildeo por exemplo a confrontaccedilatildeo puacuteblica e a democratizaccedilatildeo

Se estiveacutessemos falando de Ciecircncia conforme o conceito herdado pediriacuteamos um laboratoacuterio para submeter os objetos de pesquisa agrave nossa vontade reproduzindo as experiecircncias que ao final de-vem apresentar o mesmo resultado Mas o mundo real e o ato social que o representa no processo de transformaccedilatildeo natildeo podem ser submetido agraves praacuteticas corriqueiras dos laboratoacuterios de pesquisa Logo se quisermos preparar o cidadatildeoestudante para lidar com questotildees relevantes da comunidade em que vive necessitamos simular esses acontecimentos em uma escola que nos permita realizar a simulaccedilatildeo no espaccedilo possiacutevel da sala de aula e com a riqueza desejaacutevel de detalhes tornando o expe-rimento social o mais proacuteximo possiacutevel da complexidade social

Eacute certo que o experimento social de controveacutersia simulada seraacute um recorte da realidade Por mais das vezes um recorte tiacutemido mas que poderaacute ser a uacutenica chance de alguns alunos debaterem um tema social problemaacutetico e de ouvirem opiniotildees diferentes da sua num processo de troca indispensaacutevel agrave melhor decisatildeo

Essa eacute pois a fundamentaccedilatildeo para a teacutecnica de simulaccedilatildeo de uma controveacutersia cujas variaacuteveis e confronto de posiccedilotildees estaacute sob o controle do professor que para noacutes eacute a teacutecnica da controveacutersia controlada

Para Martiacuten Gordillo e Osorio (2003)

Os casos simulados CTS consistem na articulaccedilatildeo educativa de controveacutersias puacuteblicas relacionadas com desenvolvimento tecnocientiacutefico com implicaccedilotildees sociais ou am-bientais Se trata de uma proposta educativa desenvolvida pelo Grupo ARGO onde a partir de uma noticia fictiacutecia mas verossiacutemil se desenvolve uma controveacutersia suposta na qual interveacutem vaacuterios atores sociais com ideias opiniotildees ou interesses diversos Cientistas engenheiros empresas associaccedilotildees de ecologistas grupos de vizinhos gru-pos poliacuteticos associaccedilotildees profissionais cidadatildeos afetados etc satildeo o tipo de coletivi-

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dade que em cada caso podem constituir a rede de atores que aparecem em cada um dos casos simulados CTS para seu uso educativo()As simulaccedilotildees CTS pretendem ser uma alternativa educativa para propiciar a aprendiza-gem social da participaccedilatildeo nas controveacutersias tecnocientiacuteficas Daiacute que seu principal signi-ficado natildeo estaacute na veracidade uacuteltima de suas propostas mas sim em sua verossimilhanccedila e relevacircncia social e educativa

Os autores propotildeem que os casos de controveacutersia controlada possuam um conjunto de materiais para o bom desempenho da accedilatildeo educativa A lista proposta com as alteraccedilotildees proacuteprias de nossa expe-riecircncia indica os seguintes materiais

bull Uma noticia real45 que se apresenta aos alunos no formato de um jornal real e de onde se parte para o desenvolvimento da controveacutersia de que se deseja tratar

bull Um questionaacuterio inicial e final que serve para conhecer as informaccedilotildees e as atitudes previas dos alunos sobre as questotildees objeto do trabalho e para demonstrar as mudanccedilas produzidas ao final da atividade Satildeo questotildees utilizadas como preacute-teste e poacutes-teste permitindo avaliar o ganho de cada equipe com a atividade

bull Uma rede de atores que aparece na controveacutersia descrita na noticia inicial e cujos per-fis representem efetivamente os grupos com posiccedilotildees contraacuterias que estabeleceratildeo a controveacutersia

bull Documentos obtidos para dar apoio aos argumentos dos atores participantes relacio-nando o conhecimento especiacutefico da aacuterea que o caso trata com o centro da controveacutersia simulada

bull Documentos selecionados por sua pertinecircncia e claridade para apresentar a informaccedilatildeo cientiacutefica do campo em que se situa controveacutersia

bull Fichas especiacuteficas onde cada equipe escreve seus argumentos e como vai defendecirc-los no momento em que as ideias diferentes satildeo apresentadas

bull Fichas especiacuteficas onde cada equipe antecipa como cada equipe com posiccedilatildeo contraacuteria iraacute fundamentar sua posiccedilatildeo e como com os argumentos que possui deveraacute rebatecirc-los

bull Fichas contendo os criteacuterios de avaliaccedilatildeo para a equipe e para os membros de cada equipe

Jaacute Albe (2006 apud Ramos e Silva 2007) enumera uma seacuterie de perguntas que podem servir de nor-teadores desde a escolha do tema de controveacutersia ateacute a maneira como se desenrola a sua aplicaccedilatildeo pelo professor Pergunta ele

Favorece a aprendizagem Trata-se de argumentar para aprender Para convencer Para tomar uma decisatildeo Para refletir sobre o tema em questatildeo Sobre a atividade proposta Para analisar criticar resultados ideologias e posiccedilotildees opostas o papel do professor no debate tambeacutem se coloca em questatildeo deve dar sua opiniatildeo pessoal Que opccedilotildees didaacuteticas escolher Que recursos utilizar Que saberes de referecircncia levar em conta Que estrateacutegias didaacuteticas elaborar (p 96)

O grupo ARGOS desenvolveu dez casos de simulaccedilatildeo46 (Martiacuten Gordillo 2005 2006) a saber

bull A vacina da AIDS (Martiacuten Gordillo 2005a)bull Uso de estimulantes no esporte Um caso sobre esporte farmacologia e avaliaccedilatildeo puacutebli-

45 Os autores propotildeem uma notiacutecia fictiacutecia poreacutem verossiacutemil Cremos que a realidade brasileira estaacute repleta de temas que possam servir de ponto de partida para a controveacutersia Aleacutem do que a realidade eacute um espetacular motivador de estudos e debates46 A OEI disponibiliza eletronicamente estes materiais no site httpwwwoeiesmaterialesctshtm

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ca (Camacho Aacutelvarez 2005)bull Antenas de Telefonia Um caso CTS sobre radiaccedilotildees riscos bioloacutegicos e vida cotidiana

(Grupo Argo 2005a) bull As plataformas de petroacuteleo Um caso CTS sobre energia combustiacuteveis foacutesseis e susten-

tabilidade (Grupo Argo 2005b)bull Um projeto para o Amazonas Um caso sobre aacutegua Industrializaccedilatildeo e ecologia (Lejarza

Portilla e Rodriacuteguez Marcos 2005) bull O lixo da cidade Um caso sobre consumo gestatildeo de resiacuteduos e meio ambiente (Arribas

Ramiacuterez e Fernaacutendez Garciacutea 2005) bull A cidade ajustada Um caso sobre urbanismo planificaccedilatildeo e participaccedilatildeo comunitaacuteria

(Gonzaacutelez Galbarte 2005)bull A rede de traacutefego de veiacuteculos Um caso sobre mobilidade gestatildeo do transporte e organi-

zaccedilatildeo do territoacuterio (Camacho Aacutelvarez e Gonzaacutelez Galbarte 2005) bull A cozinha de Teresa Um caso sobre alimentaccedilatildeo automaccedilatildeo e emprego (Martiacuten Gor-

dillo 2005b) bull A escola em rede Um caso sobre educaccedilatildeo novas tecnologias e socializaccedilatildeo (Martiacuten

Gordillo 2005c)

Eacute possiacutevel encontrar proposta de aplicaccedilatildeo industrial para a disciplina quiacutemica no trabalho de Silva (2003)

Ramos e Silva (2007) ndash relembrando Nelkin (1989) Juan (2006) Hines (2006) Albe (2006) ndash pro-potildeem temas como a construccedilatildeo de aeroporto numa aacuterea metropolitana no Canadaacute alocaccedilatildeo de lixo nuclear proveniente de usinas utilizaccedilatildeo de tecnologia de DNA recombinante nas pesquisas cien-tiacuteficas mudanccedila climaacutetica na Terra organismos geneticamente modificados o perigo dos telefones celulares para a sauacutede

De nossa parte temos recolhido um interessante conjunto de casos a partir dos debates realizados na disciplina CTS dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo desde o Mestrado Profissional em Ensino de Ciecircn-cias e Matemaacutetica do CEFETRJ A avaliaccedilatildeo dos professores participantes do exerciacutecio de anaacutelise da construccedilatildeo social da ciecircncia e da tecnologia eacute sempre positiva e culmina na realizaccedilatildeo de casos de controveacutersia simulada como por exemplo Criacionismo ou evolucionismo uso de ceacutelulas tronco os riscos da mina de carvatildeo Implantaccedilatildeo de usina nuclear ldquoGatosrdquo de luz Internacionalizaccedilatildeo da Amazocircnia Uso de tecnologia 4G dentre outros

Nossa maior contribuiccedilatildeo nesta aacuterea ateacute o momento foi certamente a capacitaccedilatildeo em serviccedilo para professores do Estado do Espiacuterito Santo nos anos de 2008 e 2009 A capacitaccedilatildeo trabalhou com 120 professores voluntaacuterios que teriam a tarefa de replicar o Curso CTS com foco em Tecnica de Contro-veacutersia para seus colegas Quiacutemica (572 professores) Fiacutesica (594 professores) Biologia (604 professo-res) e Matemaacutetica (870 professores) O curso de formaccedilatildeo poderia tambeacutem atender a professores das seacuteries finais do Ensino Fundamental (Chrispino 2013)

Apoacutes etapas de estudos e debates presenciais e de disseminaccedilatildeo nas escolas os representantes cons-truiacuteram controveacutersias controladas a partir de temas escolhidos pela comunidade escolar testaram cada uma delas em vaacuterias escolas e propuseram um texto final que foi impresso e distribuiacutedo para todas as escolas e todos os professores da rede estadual do Espiacuterito Santo As atividades de testagem estatildeo descrias no quadro X a seguir

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Quadro ldquoXrdquo ndash Temas por SRE e populaccedilatildeo escolar envolvida

Temas das controveacutersias tecnocientiacuteficas de impacto social Superintendecircncias Regionais de Educaccedilatildeo ndash SRE

Nuacutemero de

escolas alunos

1 Agrotoacutexico Opccedilatildeo ou NecessidadeAfonso Claacuteudio 02 399

Linhares 01 80

2 Aacutegua Bem de Todos Patrimocircnio de NingueacutemColatina 02 94

Nova Veneacutecia 01 49

3 Bicombustiacutevel Alternativa ou ProblemaLinhares 01 60

Vila Velha 01 18

4 Culto agrave Beleza Sauacutede ou Obsessatildeo

Cariacica 02 68

Guaccedilui 01 32

Nova Veneacutecia 01 25

Vila Velha 01 28

5 Construccedilatildeo de Hidreleacutetricas Um Mal Necessaacuterio ou uma Decisatildeo Arbitraacuteria Colatina 02 38

6 Lei Seca Valorizaccedilatildeo da VidaCachoeiro de Itapemirim 03 83

Carapina 01 210

7 Lixo Interesse Econocircmico ou Ecoloacutegico

Afonso Claacuteudio 01 80

Barra de Satildeo Francisco 01 38

Carapina 01 25

8 Refeacutens do Maacutermore e GranitoBarra de Satildeo Francisco 01 64

Cachoeiro de Itapemirim 02 62

9 Petroacuteleo Heroacutei ou VilatildeoCarapina 03 119

Satildeo Mateus 05 210

10 Biotecnologia dos Transgecircnicos Seraacute esse o FuturoCariacica 01 36

Guaccedilui 01 30

Totais gerais 35 1848

O desenho do curso de formaccedilatildeo de professores-multiplicadores e a construccedilatildeo das atividades de campo consideraram aleacutem das reflexotildees apontadas por Solbes Vilches e Gil (2001) as observaccedilotildees e experiecircncias descritas por Reis (2008) Fontes e Cardoso (2006) Magalhatildees e Tenreiro-Vieira (2006) Vieira e Martins (2005) Cachapuz et al (2005) Solbes e Vilches (2002) Membiela (2001 1995) e Carvalho (1999)

A seguir apresentamos uma seacuterie de trabalhos de controveacutersia controlada ou metodologia aproxi-mada que podem ser obtidos pela internet

74 Casos de controveacutersia controlada para estudo

Eacute possiacutevel obter casos de controveacutersia controlada em revistas eletrocircnicas Alguns estatildeo listados a seguir

Aguirre del Busto R L Macias Llanes Ma E iquestExiste la verdad cientiacutefica Controver-sia histoacuterica en torno al descubrimiento de Carlos J Finlay Rev Hum Med Ciudad de Camaguey v 4 n 3 2004 Disponiacutevel em httpscielosldcuscielophpscript=sci_arttextamppid=S1727-81202004000300008amplng=esampnrm=iso Acesso em 30 Jul 2008

Bernardo J R da R Vianna D M Fontoura H A da Produccedilatildeo e consumo da energia eleacute-trica a construccedilatildeo de uma proposta baseada no enfoque ciecircncia-tecnologia-sociedade-am-biente (CTSA) Ciecircncia amp Ensino vol 1 nuacutemero especial novembro de 2007 httpwww

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igeunicampbrojsindexphpcienciaeensinoarticleview157114

Garciacutea Carmona A Relaciones CTS en el estudio de la contaminacioacuten atmosfeacuterica una ex-periencia con estudiantes de Secundaria httpsaumuvigoesreecvolumenesvolumen4ART3_Vol4_N2pdf

Carvalho W L P Farias C R Zocoler J V S Momesso N F G Lucindo J Gonccedilalves Eliane Cristina Estudo do impacto soacutecio-ambiental causado pela construccedilatildeo das usinas hi-droeleacutetricas da regiatildeo de Ilha Solteira In Pinho S Z Saglietti J R C (Org) Nuacutecleos de Ensino da Unesp - Publicaccedilatildeo 2006 Satildeo Paulo Editora Unesp 2006 v 1 p 117-125 httpwwwunespbrprogradPDFNE2004artigoseixo2estudoimpactosocioambientalpdf

Castro Carolina M Los usos sociales del periodismo cientiacutefico y de la divulgacioacuten El caso de la controversia sobre el riesgo o La inocuidad de las antenas de telefoniacutea moacutevil httpwwwrevistactsnet410013file

Chrispino A O uso da teacutecnica de controveacutersia controlada na abordagem CTS Proibiccedilatildeo do Fumo decisatildeo pessoal ou social Simulaccedilatildeo educativa de um caso CTS sobre a sauacutede 2005 httpwwwcampus-oeiorgsalactsialvarohtm

Delgado M y Vallverduacute J Valores en controversias la investigacioacuten con ceacutelulas madre httpwwwrevistactsnet3901

Farias C R de O e Carvalho W L P de O direito ambiental na sala de aula significados de uma praacutetica educativa no ensino meacutedio Ciecircncia amp Educaccedilatildeo v 13 n 2 p 157-174 2007 httpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S1516-73132007000200002amplng=enampnrm=isoamptlng=pt

Vieira K RCF Bazzo W A Discussotildees acerca do aquecimento global uma proposta CTS para abordar esse tema controverso em sala de aula Ciecircncia amp Ensino vol 1 nuacutemero espe-cial novembro de 2007 httpwwwigeunicampbrojsindexphpcienciaeensinoarticleview155119

Os bons resultados da aplicaccedilatildeo da teacutecnica satildeo tambeacutem identificados por Martiacuten Gordillo e Osorio (2003) e Reis e Galvatildeo (2004 apud Ramos e Silva 2007) quando escrevem que os casos de controveacuter-sia controlada favorecem resumidamente

Martin Gordillo e Osorio (2003) Reis e Galvatildeo (2004)

1 Uma aprendizagem dos conteuacutedos de ciecircncia e tecnologia no contexto social

2 Uma percepccedilatildeo mais ajustada da atividade tecnocientiacutefica que inclui a presenccedila de aspectos valorativos

3 Uma consideraccedilatildeo mais ajustada dos viacutenculos existentes entre a investigaccedilatildeo baacutesi-ca e o desenvolvimento praacutetico

4 Uma consciecircncia da necessidade de que os natildeo especialistas tambeacutem participem nas decisotildees de poliacutetica cientiacutefica

5 Uma aprendizagem das disciplinas tecnocientiacuteficas em interaccedilatildeo efetiva com os campos proacuteprios das disciplinas sociais

6 Uma incorporaccedilatildeo da dimensatildeo criativa e luacutedica da aprendizagem dos conteuacutedos tecnocientiacuteficos o que natildeo eacute mais que reivindicar a proacutepria essecircncia da atividade criadora proacutepria da ciecircncia e da tecnologia pois que muitas vezes estaacute ausente do ensino das ciecircncias e das tecnologias mais orientado para a reproduccedilatildeo dos sabe-res estabelecidos do que para o desenvolvimento das capacidades que permitam aos alunos aprenderem a indagar a apropriar-se e a construir novos saberes algo que resulta essencial nas propostas participativas dos casos simulados

1 Construir uma imagem de ciecircn-cia e tecnologia como atividades influenciadas por valores hieraacuter-quicos de conveniecircncia pessoal questotildees financeiras e pressotildees sociais

2 Reforccedilar a ideia de que ciecircncia e tecnologia representam uma fon-te tanto de progresso como de preocupaccedilatildeo ao mesmo tempo e que deveria ser regrada por prin-ciacutepios morais e eacuteticos e

3 Reconhecer como eacute importante que os cidadatildeos e o Estado par-ticipem acompanhando aces-sando e controlando o progresso cientiacutefico e tecnoloacutegico e suas implicaccedilotildees

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CTS E A TEacuteCNICA DA CONTROVEacuteRSIA CONTROLADA109

Conheccedila maisReis Pedro Rocha dos A escola e as controveacutersias sociocientiacuteficas ndash Perspectivas de alunos e professores Lisboa Escolar Editora 2008

75 Como se fosse o fim

A Abordagem CTS eacute certamente provocadora de reflexotildees

Por conta dela reavaliamos a onipotecircncia da Ciecircncia e da Tecnologia percebemos que o conheci-mento natildeo eacute por si soacute bom percebemos que o aparato tecnoloacutegico que nos auxilia a principio pode estar carregado de ideologia observamos que a Ciecircncia e a Tecnologia e seus melhores especialistas possuem um ldquoquecircrdquo de humanos com todas as suas idiossincrasias vislumbramos um espaccedilo de par-ticipaccedilatildeo na decisatildeo dos caminhos a serem traccedilados para o futuro da sociedade tecnocientiacutefica a que todos estamos vinculados

Percebemos que natildeo estamos preparados nem habituados a ocupar o espaccedilo da controveacutersia e de-fender posiccedilotildees diferentes do grande grupo

Percebemos que o nosso conhecimento que possuiacutemos natildeo estaacute organizado de forma a contribuir para todas as superaccedilotildees que a contemporaneidade nos solicita

Percebemos que natildeo fomos educados para uma efetiva participaccedilatildeo social luacutecida e esclarecida Se hoje percebemos isso por coerecircncia natildeo podemos mais ser multiplicadores destas mesmas po-siccedilotildees que nos impediram de desenvolver estas importantes competecircncias sociais a partir do conhe-cimento organizado do campo de nossa atuaccedilatildeo profissional especiacutefica A participaccedilatildeo social soacute se aprende participando criemos os espaccedilos de participaccedilatildeo para que os nossos alunos em todos os niacuteveis simulem e antecipem as dificuldades que poderatildeo viver proxima-mente e quando estivermos ofertando a eles as simulaccedilotildees da realidade e oferecendo as ferramentas do conhecimento que a pode transformar estaremos oferecendo a noacutes mesmos o que natildeo tivemos antes A cada controveacutersia controlada que coordenarmos estaremos abrindo janelas de novas per-cepccedilotildees aos jovens sob nossa direccedilatildeo e estaremos reafirmando a noacutes mesmos que uma sociedade melhor eacute possiacutevel

MODELAGEM PARA PARTICIPACcedilAtildeO SOCIAL NAS RELACcedilOtildeES CTS UTILIZANDO AS ORDENS DE COMTE-SPONVILLE111

8 Modelagem para participaccedilatildeo social nas relaccedilotildees CTS utilizando as ordens de Comte-Sponville

Toda crenccedila na neutralidade moral da ciecircncia deveria ter evaporado no calor da explosatildeo de HiroshimaJoan Solomon

81 Introduccedilatildeo

Os acontecimentos de 11 de setembro de 2001 nas cidades de Nova Iorque e Washington demons-traram algumas fragilidades da sociedade atual deixando claro que o sentimento de seguranccedila que a envolvia era sensiacutevel Apesar do impacto social causado Schwartz (2003) conhecido formulador de cenaacuterios futuros eacute bastante claro quando escreve sobre o fato de jaacute terem sido antecipados os ataques terroristas inclusive tendo como objeto o World Trade Center

Em 11 de setembro de 2011 vimos as consequecircncias traacutegicas de ignorarmos tais previsotildees [sobre ataques terroristas] O ataque terrorista daquele dia foi talvez o acontecimento mais anunciado da histoacuteria Nas duas uacuteltimas deacutecadas meia duacutezia de comissotildees altamente respeitadas sinalizou que um incidente muito semelhante a esse poderia ocorrer Muitas previsotildees citavam especificamente o World Trade Center (em parte porque jaacute fora atacado antes) mencionavam o uso de aviotildees como armas ao referiam explicitamente a Osama bin Laden Ningueacutem sabia quando aquilo poderia ocorrer ndash poderia ser na semana seguinte ou dali a dois anos - mas os detalhes foram previstos Ainda assim a maioria das pessoas tanto na administraccedilatildeo de Bill Clinton quanto na de George W Bush concentrou sua atenccedilatildeo em outros assuntos antes de 11 de setembro prioridades domeacutesticas de campanha e outras na aacuterea militar incluindo programas de defesa atraacuteves de miacutesseis ( p 15-16)

Aleacutem disso devemos considerar a surpresa de ver uma tecnologia a favor de valores tatildeo distintos e com a capacidade de impactar o senso de seguranccedila com a intensidade percebida Tratando deste exemplo ao escrever sobre a vulnerabilidade social frente agrave tecnologia Bijker47

(2008) reflete que este tipo de fato social natildeo deve ter mudado radicalmente a percepccedilatildeo dos espe-cialistas em CTS certamente devido agrave maneira como eacute percebida a construccedilatildeo social da ciecircncia e da tecnologia e sua relaccedilatildeo com a sociedade Bijker (2008) lembra que os especialistas em CTS se perguntaram de que modo suas investigaccedilotildees poderiam contribuir para a melhor compreensatildeo destes eventos Ele entatildeo contribuiu particular-mente apresentando o argumento de ldquoque viver em uma cultura tecnoloacutegica implica invariavelmente viver em um mundo vulneraacutevel E a vulnerabilidade natildeo soacute eacute uma caracteriacutestica inevitaacutevelrdquo (p 118) como tambeacutem eacute uma condiccedilatildeo para a busca de inovaccedilatildeo Informa ainda que ldquopara viver em uma cul-tura aberta em mudanccedila e inovadora devemos pagar o preccedilo da vulnerabilidaderdquo

Tomando o conceito ampliado de tecnologia como sistema ndash o sistema tecnoloacutegico ndash natildeo seraacute difiacutecil enumerar acidentes de grandes proporccedilotildees em diferentes sistemas cientiacuteficos e tecnoloacutegicos ou sis-

47 Wiebe Bijker eacute um dos nomes mais consagrado na aacuterea de Construccedilatildeo Social da Tecnologia ou Construti-vismo Social da Tec-nologia (Social construction of technology conhecida por SCOT) Conheccedila mais em httpenwikipediaorgwikiWiebe_Bijker

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temas tecnocientiacuteficos como bem relaciona a literatura CTS o acidente quiacutemico em Bophal Iacutendia o desastre do Challenger os acidentes na aviaccedilatildeo os acidentes nucleares dentre outros Certamente estes acidentes em diferentes sistemas tecnocientiacuteficos complexos e interconectados (sistema quiacute-mico sistema espacial sistema aeronaacuteutico sistema nuclear etc) satildeo de alguma forma esperaacuteveis ou como prefere Perrow (1999 apud Bijker 2008) satildeo ldquonormaisrdquo Talvez o mais impactante no 11 de setembro tenha sido o fato dele ter sido inusitado sequestros simultacircneos de aviotildees de grande porte planejados por longo tempo para colidirem com preacutedios densamente habitados no coraccedilatildeo da Ameacuterica do Norte Ficamos surpresos Impactados Natildeo era esperaacutevel natildeo era previsiacutevel A socie-dade quedou-se inerte frente a um acidente causado por um sistema tecnocientiacutefico complexo Apoacutes isso o acidente e o retorno do choque reuniram-se os representantes da sociedade para entender o ocorrido e buscar impedir que se repetisse no esforccedilo de definir limites que diminuiacutessem a sua vul-nerabilidade Aproveitando o exemplo de reflexatildeo de Wiebe Bijker sobre o 11 de setembro e suas consequecircncias desastrosas podemos trazer agrave discussatildeo o que foi batizado pelo Presidente Barak Obama de 11 de set-embro ambiental que eacute o desastre no Golfo do Meacutexico causado pela explosatildeo da plataforma de petroacute-leo Deepwater Horizon em 20 de abril de 2010 provocando o derramamento de 60 mil barrisdia de petroacuteleo fazendo com que o oacuteleo alcanccedilasse os estados da Louisiana Mississipi Alabama e Floacuterida

O acidente provocou a reflexatildeo em torno da dependecircncia da sociedade americana ao petroacuteleo e soli-citou do governo e das empresas accedilatildeo efetiva para solucionar o que estaacute sendo considerado o maior desastre ambiental contemporacircneo Como efeito temos que EUA que produzem apenas 2 do pe-troacuteleo mundial enquanto consomem 20 de toda a produccedilatildeo voltaram atraacutes na autorizaccedilatildeo para perfuraccedilatildeo de poccedilos no Alaska e no atlacircntico as empresas especializadas indicam mudanccedilas em pro-cedimentos da aacuterea e a determinaccedilatildeo de Barak Obama de superar a inaccedilatildeo e fomentar a busca acele-rada por ldquotecnologias limpasrdquo (O Globo 16jun2010) o que podemos chamar de ldquosistemas limposrdquo

O que aconteceu com a plataforma Deepwater Horizon natildeo eacute novo Podemos enumerar outros ca-sos como o Ixtok 1 o Exxon Valdez Prestige ou Piper Alpha Esse tipo de acidente em um sistema tecnocientiacutefico como o sistema petroliacutefero eacute esperaacutevel Ficamos impactados com o volume de oacuteleo derramado com a incapacidade teacutecnica da empresa de fazer cessar o vazamento e pelo impacto no ambiente e na vida de milhares de pessoas que vivem ou se relacionam com o ecossistema afetado

Exemplos como o 11 de setembro e sua versatildeo ambiental satildeo exemplos extremos de fatos que pro-vocaram o choque e a posterior reflexatildeo social redundando em decisotildees que limitam e regulam os sistemas tecnocientiacuteficos Percebemos que os representantes da sociedade as instituiccedilotildees do terceiro setor a miacutedia de todo tipo se mobilizaram para aprender com o fato e deliberar sobre as suas conse-quecircncias buscando impedir ou diminuir a chance de repeticcedilatildeo

Outro importante exemplo de como a sociedade interfere com seus valores na atividade uso na con-duccedilatildeo das accedilotildees tecnocientiacuteficas eacute o automoacutevel Desde a exigecircncia de itens de seguranccedila inexistentes ateacute o surgimento da Lei Seca que estipula no extremo Se beber natildeo dirija

A evoluccedilatildeo do automoacutevel sintetiza um grande esforccedilo de otimizaccedilatildeo de custos a fim de diminuir o valor total do aparato e possibilitar vendas em escala Aleacutem disso observa-se um grande esforccedilo para identificar materiais que possam contribuir para melhoria de performance dos veiacuteculos Por fim haacute os itens de seguranccedila que mesmo sendo diferente de paiacutes para paiacutes ndash como se fosse possiacutevel imagi-nar que um cidadatildeo merece mais seguranccedila que outro de um paiacutes diferente ndash inauguram periacuteodos de inovaccedilatildeo em curtos espaccedilos de tempo Entretanto essas marcas de evoluccedilatildeo tecnoloacutegicas convivem

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com uma decisatildeo social de regular o uso e as rotinas que envolvem os automoacuteveis no Brasil (que eacute o nosso espaccedilo de estudo) Temos por exemplo

bull A obrigatoriedade do uso de cinto de seguranccedila Apesar de alguns acharem que usar ou natildeo usar cinto de seguranccedila eacute uma decisatildeo de cunho pessoal o Estado determina que seja obrigatoacuterio considerando a seguranccedila e tambeacutem pelo elevado nuacutemero de aciden-tes As viacutetimas de acidentes de tracircnsito ficam as expensas dos cofres puacuteblicos nos hos-pitais de trauma na aposentadoria por invalidez muitas vezes precoces ou pensatildeo por morte causada por acidentes automobiliacutesticos Alguns decidem se querem usar cinto mas todos pagamos suas despesas

bull Idade miacutenima para obter habilitaccedilatildeo Outro assunto polecircmico eacute a idade miacutenima para obter habilitaccedilatildeo para conduccedilatildeo de veiacuteculos automotores Argumentam alguns que o jovem de dezesseis anos pode escolher o Presidente da Repuacuteblica mas natildeo pode diri-gir carros Esquecem-se ou desconhecem que a decisatildeo de escolher o Presidente aos dezesseis anos eacute facultativa Logo ao fazer a opccedilatildeo por isso o jovem jaacute demonstrou alguma maturidade ou mesmo interesse pelos destinos do paiacutes demonstrando a racio-nalidade do processo e da escolha Ao contraacuterio a relaccedilatildeo jovem-maacutequina eacute eminente-mente emocional Carros cada vez mais possantes ndash apesar das limitaccedilotildees de velocidade ndash unem-se a estradas irresponsavelmente (natildeo) preservadas e ao fator grupo-de-jovens-juntos fazendo com que o resultado em meacutedia possa ser ldquoexplosivordquo bem desenhado nas sequecircncias cinematograacuteficas de Velozes e Furiosos (I II III e IV por enquanto)

bull Por fim haacute a deliberaccedilatildeo social de natildeo concordar com a relaccedilatildeo uso de aacutelcool e direccedilatildeo de veiacuteculos Por mais que possamos argumentar que haacute limites variados nessa relaccedilatildeo a sociedade brasileira fez sua opccedilatildeo pela regulamentaccedilatildeo e ela eacute extrema (talvez para evitar interpretaccedilotildees distorcidas ou casuiacutesmos) pois determina ldquoSe beber natildeo dirijardquo

Por conta destes acontecimentos e outros tantos parece-nos importante discutir sobre a necessidade de a sociedade participar mais e de melhor forma natildeo soacute na construccedilatildeo da ciecircncia e da tecnologia mas tambeacutem na definiccedilatildeo sobre os limites a velocidade de conquista as consequecircncias e a trans-parecircncia da ciecircncia da tecnologia e dos sistemas tecnocientiacuteficos

82 Uma modelagem para a participaccedilatildeo social sobre sistemas tecnocientiacuteficos De certa forma o choque causado pela consequecircncia inesperada de um aparato ou sistema tecno-cientiacutefico levanta a questatildeo sobre o que eacute permitido E a discussatildeo sobre o estabelecimento de possiacute-veis limites que impeccedilam ou diminuam as ocorrecircncias ou a sua extensatildeo apresenta outra questatildeo o que natildeo eacute permitido Eis aqui o estabelecimento dos possiacuteveis limites Para que se decirc o estabelecimento de possiacuteveis limites importa lembrar que cada segmento social envolvido na produccedilatildeo tecnocientiacutefica sua regulaccedilatildeo e suas consequecircncias possuem formas de ver e de entender cada um dos temas que compotildeem a complexa rede de relaccedilotildees CTS Por tal se percebe-mos a necessidade da discussatildeo sobre possiacuteveis limites eacute indispensaacutevel perceber que o modelo que acompanhe as posiccedilotildees distintas ou adversas dos componentes do sistema social envolvido poderaacute ter alto grau de arbiacutetrio na sua categorizaccedilatildeo na sua hierarquia na sua execuccedilatildeo e na sua avaliaccedilatildeo

Chreacutetien (1994) ao discutir as propostas de eacutetica do conhecimento apresentadas por Jacques Mo-nod e contrapocirc-las com os chamados teoremas de incompletude estabelecidos em 1931 por Kurt Goumldel escreve que ldquoa esperanccedila de fazer emergir do proacuteprio sistema a normatividade ou a legiti-midade eacute portanto vatilderdquo (p 25) Deixa apontado que ldquoum sistema formal natildeo pode fechar-se em si

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mesmordquo Ao se fazer essas mesmas questotildees Comte-Sponville48 (2005 e 2008) inicia um longo processo de reflexatildeo com um exemplo dos limites para as tecnociecircncias A partir daiacute iraacute propor o que chamare-mos de modelagem de sistema de construccedilatildeo e participaccedilatildeo social sobre tecnociecircncias Antecipamos desde jaacute que natildeo estamos propondo com a analise das ordens uma visatildeo compartimentada do evento real que sempre seraacute contextualizado e interdisciplinar Propomos uma loacutegica de anaacutelise baseada nas fronteiras de accedilatildeo dos atores sociais e a indispensaacutevel sistemas de pesos-e-contra-pesos a fim de buscar um consenso para o conviacutevio social

O modelo de Comte-Sponville (2005) resgata o conceito de ordens em Pascal49 definido como ldquoum conjunto homogecircneo e autocircnomo regido por leis alinhado a certo modelo de quem deriva sua inde-pendecircncia em relaccedilatildeo a uma ou a vaacuterias outras ordensrdquo (p 51) Com esse entendimento propotildee uma sequecircncia de ordens e um processo de relaccedilatildeo e interconexatildeo entre elas O estudo de Comte-Sponville esclarece a origem de expressotildees muito utilizadas no cotidiano e cujo conhecimento de suas origens perderam-se no tempo como por exemplo o que seja ridiacuteculo O ri-diacuteculo na visatildeo pascalina eacute a utilizaccedilatildeo de valores de uma ordem para avaliar fenocircmenos que estatildeo contidos em outra ordem Sobre isso informa Comte-Sponville (2008)

ldquoO coraccedilatildeo tem sua ordem o espiacuterito a sua que eacute por princiacutepio e demonstraccedilatildeo ningueacutem prova que deve ser amado expondo ordenadamente as causas do amor isso seria ridiacuteculordquo (Pascal) O ridiacuteculo eacute confundir ordens diferentes (o coraccedilatildeo e a razatildeo o espiacuterito e a for-ccedila) e eacute tambeacutem o que Pascal chama de tirania ldquoA tirania consiste no desejo de dominaccedilatildeo universal e fora da sua ordemrdquo Eacute o caso do rei que quer reinar sobre os espiacuteritos ou do em-presaacuterio que aspira ao amor de seus empregados Vecirc-se que a tirania eacute o ridiacuteculo no poder assim como o ridiacuteculo eacute uma tirania virtual ou decaiacuteda Mas cada eacutepoca tem seus ridiacuteculos cada eacutepoca tem seus tiranos (p 287-288)

Apoacutes isso o filoacutesofo pergunta que ordens responderiam as necessidades de hoje e propotildeem aquelas que se seguem

821 A Ordem tecnocientiacutefica

Comte-Sponville (2005) inicia perguntando qual o limite para a ciecircncia dos seres vivos Para a biolo-gia Mais especificamente qual o limite para a manipulaccedilatildeo geneacutetica ou a clonagem humana O faz como ele proacuteprio informa considerando sua longa experiecircncia com meacutedicos e com os problemas da bioeacutetica Apesar destes exemplos essa ordem vai muito aleacutem disso como exemplifica a seguir

Se incluirmos nela como convecircm as teacutecnicas de produccedilatildeo de venda de gestatildeo assim como as ciecircncias humanas (dentre as quais a economia) logo constatamos que essa ordem agrupa na verdade a totalidade do mundo social em seu confronto ndash tanto teoacuterico quanto praacutetico ndash com seu ambiente e com seus proacuteprios meios de existecircncia (Comte-Sponville 2008 p 288)

Diz o filoacutesofo que essas respostas a biologia bem como outras tecnociecircncias natildeo pode dar Natildeo por-que natildeo esteja avanccedilada ou avanccedilando mas porque esta natildeo eacute sua competecircncia A biologia ndash e as de-mais tecnociecircncias ndash ldquonos diz como fazer mas natildeo se devemos fazerrdquo (2005 p50) ou quais os limites

48 Andreacute Comte-Sponville (1952- ) Professor de Filosofia da Universidade de Paris I (Pantheoacuten-Sorbonne)49 Blaise Pascal (Clermont-Ferrand 19 de Junho de 1623 mdash Paris 19 de Agosto de 1662) foi um fiacutesico matemaacutetico filoacutesofo mora-lista e teoacutelogo francecircs Conheccedila mais em httpptwikipediaorgwikiBlaise_Pascal

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que natildeo devem ser ultrapassados Satildeo accedilotildees que estatildeo em ordens diferentes no conceito pascalino Lembra Carnap quando este diz que ldquoem loacutegica natildeo haacute moralrdquo e imagina que no livratildeo de Wittgen-tein que conteria o conjunto das proposiccedilotildees verdadeiras mas ldquonele soacute haveria fatos fatos ndash fatos mas natildeo eacuteticardquo (apud Comte-Sponville 2008 p 288 e 289) A ordem tecnocientiacutefica estrutura-se internamente pelo binocircmio possiacutevel e impossiacutevel que apesar de orientarem as rotinas proacuteprias dessa ordem satildeo incapazes de limitar a ordem em si mesma A ordem tecnocientiacutefica natildeo se limita a si mesma ateacute porque a tecnociecircncia tende sempre a ampliar os seus proacuteprios limites como expressa a chamada Lei de Gabor ldquoTodo possiacutevel seraacute sempre feitordquo Ela natildeo limita um espaccedilo ela mede o desenvolvimento Se analisado com a coerecircncia da ordem ldquonatildeo haacute nenhuma razatildeo cientiacutefica para diminuir a velocidade do progresso das ciecircncias nenhuma razatildeo teacutecnica para limitar as teacutecnicasrdquo (2008 p 289)

A tecnociecircncia jaacute mostrou que a inexistecircncia de limites pode trazer consequecircncias inesperadas e indesejadas a sociedade Sobre isso escreve o filoacutesofo

De modo que somos obrigados a limitar essa ordem tecnocientiacuteca a fim de que tudo o que eacute cientificamente pensaacutevel e tecnicamente possiacutevel nem por isso seja feito E como essa ordem eacute incapaz de se limitar a si mesma ndash natildeo haacute limite bioloacutegico para a biologia natildeo haacute limite econocircmico para a economia etc ndash soacute podemos limitar pelo exteriorrdquo (2005 p 53)

822 A Ordem Juriacutedico-poliacutetica

Comte-Sponville propotildee que existe uma 2ordf ordem que limitaraacute a 1ordf ordem pelo exterior A essa 2ordf ordem ele chamou de juriacutedico-poliacutetica que seraacute concretamente a Lei o Estado Essa ordem se estru-tura internamente pelo binocircmio legal e ilegal considerando como legal o que a lei autoriza e conside-rando que a lei foi produzida legitimamente em um Estado Democraacutetico e Republicano

Apoacutes definir o que seja e como se estrutura a segunda ordem o autor pergunta ldquoColoca-se entre-tanto a questatildeo de saber o que vai limitar essa segunda ordemrdquo (2005 p53) Natildeo seria pois limitar a Democracia Limitar os Direitos E por fim limitar a liberdade

Frente a estas questotildees Comte-Sponville (2005 e 2008) apresenta duas classes de argumentos que sintetizamos a seguir

1 Razatildeo individual

Um homem que repeite integralmente o conjunto de leis de seu paiacutes que faz o que a lei lhe impotildee e nunca faz o que ela proiacutebe poderia ser chamado de ldquolegalista perfeitordquo Indica o autor um ponto de anaacutelise interessante nenhuma lei veda o egoiacutesmo o desprezo o oacutedio a maldade etc Logo todas essas coisas poderiam fazer parte do ldquolegalista perfeitordquo e isso o tornaria um ldquocanalha legalistardquo Entatildeo um ldquocanalha legalistardquo pode ser cientificamente competente e tecnicamente eficiente Se assim for ndash e eacute ndash devemos buscar uma alternativa para que ldquotudo o que eacute tecnicamente possiacutevel e legalmente autorizado nem por isso seja feitordquo (2005 p 55)

2 Razatildeo coletiva

Comte-Sponville exemplifica este item com uma questatildeo que apresentou para dissertaccedilatildeo de seus alunos no curso de filosofia ldquoO povo tem todos os direitosrdquo Ao corrigir os trabalhos de seus alunos que se acreditavam portadores de excelente ldquoconsciecircncia democraacuteticardquo sur-

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preendeu-se com as respostas que indicavam que ldquosim claro O povo tinha todos os pode-resrdquo Os alunos justificavam que o povo era soberano e como tal possuiacutea todos os direitos Ao devolver os trabalhos corrigidos ele apresentava a seguinte provocaccedilatildeo ldquose o povo tem todos os direitos ele tem portanto o direito de oprimir as minorias (por exemplo votar leis antijudaicas) praticar eugenia ou assassinato legal deflagrar guerras de agressatildeo O que seria isso senatildeo uma barbaacuterie democraacuteticardquo (2008 p 291)

Informa que os alunos responderam natildeo ter sido essa sua intenccedilatildeo (o que ele diz jaacute saber) e que haacute uma Constituiccedilatildeo que proiacutebe todos esses exemplos apresentados Ocorre que a Constituiccedilatildeo democraacutetica pode ser mudada pela proacutepria vontade do povo Uma lei muda outra E a lei seguinte natildeo precisa ser ldquomelhorrdquo que a anterior Lembra Rousseau quando este diz que natildeo haacute lei que se imponha ao povo que ele natildeo possa modificar (2008 p 292)

Natildeo haacute pois limites democraacuteticos para a democracia assim como natildeo haacute limites bioloacutegicos para a biologia

Conclui escrevendo

Temos portanto duas razotildees para querer limitar essa ordem juriacutedico-poliacutetica uma razatildeo individual para escapar do espectro do canalha legalista e uma razatildeo coletiva para escapar do espectro do povo que teria todos os direitos inclusive de fazer o pior E como essa ordem eacute incapaz tal como a precedente de se limitar a si mesma (natildeo haacute limites democraacutetico agrave democracia natildeo limites juriacutedicos ou poliacuteticos ao direito e a poliacutetica) soacute podemos limitaacute-la mais uma vez do exteriorrdquo (2005 p 59)

823 A Ordem da Moral

A ordem que deve limitar externamente a 2ordf ordem eacute chamada por Comte-Sponville (2005 e 2008) de Ordem da Moral e se estrutura internamente pelos binocircmios bem e mal e o dever e o proibido e se dirige a consciecircncia de todos e de cada um Daiacute diferencia-se em essecircncia da ordem moral bem a gosto dos sensores e daqueles que desejam ditar regras morais para serem seguidas pelo coletivo O filoacutesofo explicita o que entende por Moral a fim de diminuir a possibilidade de confundir-se ordem da Moral com ordem moral

O que eacute a moral Para abreviar responderei com Kant a moral eacute o conjunto de nossos de-veres ndash o conjunto para dizer com outras palavras das obrigaccedilotildees ou das proibiccedilotildees que impomos a noacutes mesmos natildeo necessariamente a priori (ao contraacuterio do que queria Kant) mas independentemente de qualquer recompensa ou sanccedilatildeo esperada e ateacute de qualquer esperanccedila Eacute o conjunto do que vale ou se impotildee incondicionalmente para uma consciecircn-ciardquo (2005 p 64)

A fim de esclarecer a importacircncia dessa ordem Comte-Sponville (2005 p 60-62) apresenta trecircs pontos para reflexatildeo

1 ldquoA soberania natildeo tem limites mas tem marcosrdquo O povo natildeo pode em nome da segunda ordem atentar por exemplo contra fatos da primeira ordem pois o povo estaacute submeti-do agraves leis da natureza e da razatildeo

2 A poliacutetica excede o Direito A forccedila da multidatildeo natildeo se restringe aacutes forccedilas institucionais que as representam Ela eacute responsaacutevel pelas suas fundaccedilotildees mas eacute por meio da resis-tecircncia a elas que a forccedila da multidatildeo calibra e equilibra a forccedila dos poderes bem como

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identifica e reage aos interesses instalados nos poderes e que natildeo satildeo proacuteprios destes como representantes do povo Eacute certo que o poder soberano do povo possui direitos na visatildeo juriacutedica mas eacute a proacutepria forccedila das multidotildees que produz o poder poliacutetico para o exerciacutecio do equiliacutebrio social50

3 A Moral existe Na discussatildeo sobre o poder absoluto do povo o filoacutesofo retoma a ideia de resistecircncia ou mesmo limite a segunda ordem informando sobre a resistecircncia da Mo-ral e da necessidade de interconexatildeo entre as ordens Escreve ele que o chamado povo soberano natildeo eacute capaz de modificar uma exigecircncia moral (terceira ordem) nem uma verdade tecnocientiacuteficas (primeira ordem) e que mesmo que ele decidisse

ldquosoberanamenterdquo (isto eacute neste caso ridiculamente) que o sol gira em torno da Terra ou que os homens satildeo desiguais em direito e dignidade isso natildeo mudaria em nada a verdade (no primeiro caso) ou a justiccedila (no segundo) do contraacuterio Distinccedilatildeo das ordens natildeo se vota o verdadeiro ou o falso nem o bem ou o mal Eacute por isso que a democracia natildeo substitui nem a consciecircncia nem a competecircncia E vice-versa consciecircncia moral (ordem n 3) e competecircncia (ordem n 1) natildeo poderiam substituir a democracia (ordem n 2) (2005 p 62)

Quando busca consolidar o argumento de controle da ordem segunda pela ordem terceira Comte-Sponville (2005 p 62) lanccedila matildeo de um interessante exemplo para distinguir as consequecircncias da lei e da Moral Escreve que haacute coisas que a lei permite mas que a Moral do indiviacuteduo natildeo se permite realizar Em contrapartida haacute coisa que a lei natildeo impotildee ao indiviacuteduo mas que este se impotildee por outros valores no exerciacutecio cotidiano Conclui que a Moral se soma agrave lei e por isso ldquoa consciecircncia de um homem de bem eacute mais exigente que o legislador o indiviacuteduo tem mais deveres que o cidadatildeordquo

No campo do povo ndash reuniatildeo de indiviacuteduos ndash ocorre fenocircmeno semelhante Haacute casos em que a Cons-tituiccedilatildeo poderaacute permitir mas que seraacute moralmente rejeitado (como o racismo por exemplo) pela sociedade Escreve ele

O conjunto do que eacute moralmente aceitaacutevel (o legiacutetimo) eacute mais restrito do que o conjunto do que eacute juridicamente cogitaacutevel (o legal inclusive em potencial) E como um limite negativo o povo tem menos direitos (por causa da Moral) do que o proacuteprio direito lhe concederdquo (p63)

A questatildeo da moral natildeo necessita de limites visto que natildeo eacute possiacutevel ser moral demais Nada haacute de ruim que algueacutem que tem deveres cumpra exatamente os seus deveres A quarta ordem natildeo produz limites externos agrave terceira ordem antes a complementa

824 A Ordem Eacutetica ou a Ordem do Amor

Se entendemos Moral numa visatildeo didaacutetica e simplificada para modelar o sistema que apresentamos como ldquotudo aquilo que se faz por deverrdquo e conceituamos eacutetica como ldquotudo aquilo que se faz por amorrdquo como propotildee Comte-Sponville percebemos que esta ordem potencializa a anterior

Esta ordem se estrutura internamente pelo binocircmio alegria e tristeza relembrando Aristoacuteteles que dizia que amar eacute ldquoregozijar-serdquo Jaacute Espinosa completaraacute que o ldquoamor eacute uma alegria que a ideia de uma causa exterior acompanha o oacutedio eacute uma tristeza que a ideia de uma causa exterior acompanhardquo

50 Citando Alain como bom leitor de Spinosa em nota de rodapeacute (2005 p 61) escreve ldquoResistecircncia e obediecircncia eis duas virtudes do cidadatildeo Pela obediecircncia ele garante a ordem pela resistecircncia garante a liberdaderdquo

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(Comte-Sponville 2005 p67)

O Amor interveacutem nas quatro ordens Todas elas satildeo importantes a sua maneira e devem acontecer ao mesmo tempo no mundo real com sua independecircncia relativa visto que cada uma possui loacutegica proacutepria e uma inter-relaccedilatildeo visto que uma natildeo funciona excelentemente sem o equiliacutebrio de forccedila das demais Ao final declara Comte-Sponville (2005 p 69) ldquoAs quatro satildeo necessaacuterias nenhuma eacute suficienterdquo

Na conclusatildeo sobre as ordens Comte-Sponville (2005 e 2008) ainda apresenta outros conceitos que nos auxiliam a entender a dinacircmica entre as ordens o de ridiacuteculo de tirania de angelitude e o de barbaacuterie

1 Ridiacuteculo eacute a confusatildeo das ordens Exemplo ldquoamem-me sou o professor de vocecircsrdquo Isso eacute ridiacuteculo pois ningueacutem eacute amado porque expos as razotildees de seu amor

2 Tirania eacute o desejo de dominaccedilatildeo universal e fora de sua ordem Aquele que quer obter por um caminho o que soacute pode obter por outro caminho Por exemplo Algueacutem que quer ser amado por ser forte ou obedecido por ser saacutebio ou temido por ser belo (2005 p 91)

3 Angelismo (ou tirania do superior) eacute a tentaccedilatildeo de pretender anular uma ordem ou sua loacutegica em nome de uma ordem superior Um exemplo de angelismo juriacutedico-poliacutetico seria a tentativa da segunda ordem tentar anular a primeira ordem (imposiccedilotildees teacutecni-cas e cientiacuteficas ou mesmo teacutecnico econocircmicas) O angelismo eacutetico seria a tentativa de libertar-se de seus deveres em nome de um pretenso amor universal (2008 p 296)

4 Barbaacuterie (tirania do inferior) eacute o inverso do angelismo Consiste na tentativa de uma ordem inferior submeter uma ordem superior Por exemplo reduzir a poliacutetica agrave teacutecnica seria uma barbaacuterie tecnocientiacutefica (tirania dos especialistas) Submeter ou reduzir o amor ao respeito pelos deveres seria a barbaacuterie moralizadora (tirania da ordem moral)

Logo o que se busca como ideal para o modelo em estudo natildeo eacute a valorizaccedilatildeo ou exclusividade de uma das ordens mas a comunicaccedilatildeo dinacircmica entre as quatro ordens Mais do que cada uma o valor estaacute no conjunto no sistema que elas compotildeem

Ocorrido um fato que atinja a sociedade independentemente de onde este possa ser posicionado no sistema espera-se primeiro que natildeo haja ridiacuteculo isto eacute pergunte-se corretamente a ordem adequa-da e segundo permita-se que as ordens dialoguem entre si numa contribuiccedilatildeo dinacircmica para melhor entendimento do fenocircmeno e de suas causas e efeitos

Como contribuiccedilatildeo especial ao trabalho a que nos dedicamos resgatamos uma frase do filoacutesofo em discussatildeo quando discute que eacute possiacutevel prolongar estas ordens para baixo ou mesmo para cima Escreve ele ldquoEu prolongaria de bom grado essas quatro ordens para baixo assinalando o lugar de uma ordem zero que seria a da natureza ou do real e que conteria todas as outrasrdquo (2008 p 295) Nosso interesse por esta frase se justifica por aquilo que temos defendido ao longo das atividades de reflexatildeo em torno da educaccedilatildeo do ensino e da abordagem CTS O mundo real eacute interdisciplinar e contextualizado Logo o exemplo apresentado reforccedila esta ideia as quatro ordens estatildeo presentes e contidas de forma interativa no mundo real na ordem zero Natildeo cabe repetir o equiacutevoco de frag-mentar as ordens como fizemos com a natureza para distribuiacute-la em pedaccedilos para as ldquodisciplinas cientiacuteficasrdquo

O modelo que apresentamos eacute bastante para o entendimento CTS se for aplicado com as quatro or-

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dens nos seus espaccedilos especiacuteficos e no equiliacutebrio de forccedilas a que se propotildeem

825 Outras contribuiccedilotildees ao modelo de ordens

Freeman Dyson (2008) ao comentar a ampliaccedilatildeo das fronteiras e os impactos das novas tecnologias do seacuteculo XXI aponta a necessidade de as normas eacuteticas dos cientistas modificarem na medida em que haja mudanccedila nos limites do bem e do mal causados pela tecnociecircncia De modo geral escreve ele o progresso da eacutetica eacute a cura para os danos causados pelo progresso tecnocientiacutefico (p 48) Na mesma linha de raciociacutenio indica o perigo das novas tecnologias ampliarem o fosso que separa os pobres dos ricos com por exemplo a desativaccedilatildeo de faacutebricas antigas para substituiacute-las por outras mais modernas que exigem maior e melhor educaccedilatildeo geral e profissional que aliaacutes os pobres natildeo possuem

Alain Peyrefitte (1999) em sua obra de focirclego A Sociedade de Confianccedila busca indicar como os valo-res religiosos influenciaram na construccedilatildeo das naccedilotildees em todo o mundo Defende a tese e faz longo percurso no esforccedilo de justificativa de que os valores difundidos pela Igreja Catoacutelica produziram um tipo de naccedilatildeo e um tipo de desenvolvimento enquanto as naccedilotildees cuja orientaccedilatildeo era protestante possuem outro conjunto de valores e um traccedilado de desenvolvimento diferenciado Aqui eacute possiacutevel perceber as diferenccedilas entre paiacuteses como a Franccedila Holanda e Inglaterra assim como buscar perce-ber o que a ideia da salvaccedilatildeo pela feacute ou pelas obras ajudou a impulsionar as naccedilotildees de base protestan-te Quando estaacute descrevendo o plano de sua obra Peyrefitte propotildee lanccedilar as bases de uma etologia comparada do desenvolvimento ldquo Etologia isto eacute estudo dos comportamentos e mentalidades res-pectivos das diversas comunidades humanas quando fornecem fatores de ativaccedilatildeo ou de inibiccedilatildeo em mateacuteria de intercacircmbio de mobilidade intelectual e geograacutefica de inovaccedilatildeordquo (p 29) Na dinacircmica de comunicaccedilatildeo das ordens valores morais de fundo religioso na terceira ordem podem influenciar a produccedilatildeo de primeira e segunda ordens

Javier Echeverria (2001a 2001b e 2003) parte das discussotildees sobre a superaccedilatildeo da ideia de ciecircncia herdada ndash neutra imparcial atemporal etc ndash e informa sobre as ideias atuais de ciecircncia e tecnologia a partir dos Estudos Sociais da Ciecircncia e da Tecnologia Ao longo de seus trabalhos sobre a possibili-dade real de relaccedilatildeo entre valores e Ciecircncia e Tecnologia Echeverria chega propor uma axiologia da ciecircncia e da tecnologia

Logo apoacutes os tristes acontecimentos do 11 de setembro de 2001 a Universidad Internacional Menedez Pelayo Valencia Espanha realizou um Curso Internacional intitulado ldquoLa sociedad del riesgordquo cujas exposiccedilotildees foram posteriormente publicadas em livro (Lujaacuten e Echeverriacutea 2004) Leon Oliveacute (2004 e 2007) ao tratar no referido curso do tema Risco eacutetica e participaccedilatildeo puacuteblica narra que apoacutes o 11 de setembro diversos chefes e ex-chefes de Estado se reuniram para fundar o Clube de Madrid que se propunha a colaborar com paiacuteses com democracias jovens oferecendo assessoria de especialistas para temas como terrorismo bioterrorismo etc Elencando uma seacuterie de acontecimentos divulgados por jornais de grande circulaccedilatildeo Oliveacute informa que foi noticiado o fato de que diversos paiacuteses faziam uso de agentes infecciosos e toacutexicos como armas de guerra natildeo divulgando para a sociedade pois satildeo considerados segredos de Estado Continuando a anaacutelise sobre a opiniatildeo que os especialistas pos-suem sobre a participaccedilatildeo cidadatilde Oliveacute (2007 p 98) comenta a reportagem de El Pais (28102001 p 4)

Lia-se informaccedilotildees sobre questotildees que natildeo apenas os cidadatildeos natildeo tecircm voz mas que se-

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gundo os especialistas natildeo devem mesmo aprender O resultado eacute que natildeo dispotildeem de ldquoin-formaccedilotildees veriacutedicas e completas sobre viacuterus ou bacteacuterias algumas delas geneticamente mo-dificadas para resistir a todas as vacinas ou antibioacuteticos desenvolvidos no mundordquo

A exposiccedilatildeo de Oliveacute parece nos remeter a questotildees que estatildeo ligadas agrave concepccedilatildeo herdada de ciecircn-cia e tecnologia baseada na ideia de que os especialistas estatildeo mais bem preparados para orientar os demais cidadatildeos em assuntos que natildeo satildeo dominados pela coletividade Os mesmos especialistas que se oferecem para ajudar democracias jovens natildeo foram capazes de antecipar os acontecimentos infe-lizes do 11 de setembro de 2001 do 11 de setembro ambiental como os demais acontecimentos infelizes produzidos por acidentes tecnocientiacuteficos Parece-nos que o conhecimento que eles acreditam ter natildeo foi capaz de ajudar nestes fatos por que ajudariam em outros da mesma ordem Isso eacute ridiacuteculo Como diria Pascal

Pode ser que o cidadatildeo natildeo seja capaz de opinar de forma estruturada sobre um conhecimento cien-tiacutefico especiacutefico ou sobre a possibilidade de realizaccedilatildeo tecnoloacutegica mas ele eacute muito bem preparado para dizer se o conhecimento e o aparato satildeo de interesse da sociedade Gerard Fourez (1995) inicia um capiacutetulo intitulado Ciecircncia Poder Poliacutetico e Eacutetico onde defende a necessidade de refletirmos sobre as relaccedilotildees entre CTS e afirma

A questatildeo do viacutenculo entre os conhecimentos e as decisotildees se impotildee portanto Que existe um viacutenculo isto eacute indicado pelo bom senso se se sabe que eacute possiacutevel construir uma ponte de uma margem a outra de um rio pode-se questionar se ela eacute ou natildeo desejaacutevel (p 207)

Na tentativa de concretizar as possibilidades de participaccedilatildeo social eacute possiacutevel identificar alguns mo-delos de exerciacutecio democraacutetico (Chrispino 2015) Hoje eacute possiacutevel identificar alguns importantes canais de exerciacutecio democraacutetico no Brasil Podemos enumerar a democracia representativa a demo-cracia participativa a democracia direta e a democracia consociativa a saber

bull A democracia representativa que resulta na eleiccedilatildeo de representantes do povo para os Poderes Legislativo e Executivo nos trecircs niacuteveis de governo (federal estadual e mu-nicipal) Isso quer significar que o povo tem participaccedilatildeo direta na qualidade dos seus representantes sendo certo que a qualidade dos governantes espelha o pensamento e a praacutetica dos eleitores visto que nenhum deles chegou ao poder por concurso ou por sorteio

bull A democracia participativa faculta a participaccedilatildeo mais efetiva de cidadatildeos em es-paccedilos de decisatildeo eou de acompanhamento Os exemplos satildeo os conselhos de acom-panhamento de accedilotildees de governo ou conselhos temaacuteticos Natildeo passa despercebido que um dos grandes entraves na consolidaccedilatildeo da boa representaccedilatildeo eacute o fato de que os que buscam representar se utilizam deste instituto como trampolim para projetos poliacuteticos pessoais tais como chegar a vereador chegar a deputado chegar a prefeito etc

bull A democracia direta se daacute pela participaccedilatildeo efetiva do cidadatildeo visando a decisatildeo Satildeo exemplos de participaccedilatildeo direta o plebiscito e o referendo Natildeo devemos confundir os institutos da democracia direta com as ferramentas de poliacutetica populista como foi o caso da denominada ldquoDemocracia Plebiscitaacuteriardquo que mais se assemelha a populismo oportunista quando um governante com alto iacutendice de aceitaccedilatildeo propotildee consulta agrave populaccedilatildeo sobre temas de interesse como a possibilidade de reeleiccedilatildeo sem limites Tambeacutem temos que observar com criteacuterio a diferenccedila entre a democracia Direta legiacuteti-ma e as accedilotildees populistas de consulta a populaccedilatildeo por meio de expedientes que possuem ldquoendereccedilo certordquo e ldquoresultado previsiacutevelrdquo como as conferecircncias temaacuteticas organizadas a partir de fraccedilotildees definidas de segmentos sociais organizados que mais representam as

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opiniotildees destes segmentos do que as necessidades verdadeiras da sociedade como um todo A democracia direta natildeo pode substituir o Legislativo natildeo pode ser um processo que se assemelham a ldquodemocratismos encomendadosrdquo e precisa ter seu caraacuteter delibe-rativo definido antes a fim de que o governante venha a aproveitar apenas o que lhe eacute conveniente

bull A democracia consociativa que natildeo deixa de ser uma derivada da democracia partici-pativa se caracteriza pela busca de consensos para o conviacutevio entre os diferentes ato-res e interesses que compotildeem a sociedade (Toba 2004) As conferecircncias nacionais os planos diretores os documentos de impacto de vizinhanccedila e de impacto ambiental satildeo exemplos deste novo instituto Aqui ganha aquele que demonstrar mais organizaccedilatildeo e capacidade de articulaccedilatildeo A chamada construccedilatildeo de consenso eacute uma tecnologia social que tende a ocupar importantes espaccedilos nas relaccedilotildees sociais contemporacircneas

Ao discutir sobre a participaccedilatildeo social em decisotildees tecnocientiacuteficas Loacutepez Cerezo (2009 p 138) apresenta trecircs blocos de temas Qual o puacuteblico que deve participar das discussotildees e sob que argumen-tos quem pode e deve participar e os modos possiacuteveis de participaccedilatildeo

A escolha do puacuteblico que deve participar dos debates envolvendo ciecircncia e tecnologia natildeo eacute sim-ples nem trivial Quando definimos um problema tecnocientiacutefico de alto impacto social precisamos responder a primeira pergunta que coletivo estaacute envolvido nesta questatildeo Ou ainda que coletivos estatildeo de alguma forma envolvidos na questatildeo Quando conseguimos responder a esta primeira etapa passamos a outra ordem de problema Dos envolvidos qual possui opiniatildeo mais importante ou mais relevante ou mais prevalente Tudo isso se torna mais complexo quando consideramos as mesmas questotildees na linha do tempo no presente estas perguntas podem ser respondidas de uma forma mas se considerada a visatildeo de futuro seriam as mesmas respostas

Loacutepez Cerezo (2009 p 138) cita Daniel Fiorino (1990) quando propotildee resumir os motivos de partici-paccedilatildeo social em trecircs argumentos

bull Argumento instrumental A participaccedilatildeo eacute a melhor garantia para evitar a resistecircncia social e a desconfianccedila sobre as instituiccedilotildees

bull Argumento normativo A tecnocracia eacute incompatiacutevel com os valores democraacuteticosbull Argumento substantivo O juiacutezo dos natildeo especialistas satildeo tatildeo razoaacuteveis quanto o juiacutezo

dos especialistas

No que se refere a Quem pode ou deve participar das discussotildees que envolvam temas tecnocientiacutefi-cos a discussatildeo natildeo eacute mais simples Considerando a diversidade de cidadatildeos e de segmentos sociais que estatildeo direta ou potencialmente envolvidos neste processo Loacutepez Cerezo (2009 p 139) informa que a literatura sobre participaccedilatildeo puacuteblica apresenta em geral ldquoum conjunto de criteacuterios para ava-liar o caraacuteter democraacutetico de iniciativas de gestatildeo puacuteblica em poliacutetica cientiacutefico-tecnoloacutegicardquo

bull Caraacuteter representativo deve produzir uma ampla participaccedilatildeo em um processo de to-mada de decisatildeo Em princiacutepio quanto maior eacute o nuacutemero e a diversidade dos indiviacuteduos ou grupos envolvidos mais democraacutetico pode considerar-se o mecanismo participativo em questatildeo

bull Caraacuteter igualitaacuterio deve permitir a participaccedilatildeo cidadatilde em peacute de igualdade com os es-pecialistas e as autoridades governamentais Ele implica entre outras coisas transmis-satildeo de toda informaccedilatildeo disponibilidade de meios natildeo intimidaccedilatildeo igualdade de trato e transparecircncia no processo

bull Caraacuteter efetivo deve traduzir-se em um fluxo real sobre as decisotildees adotadas Para ele eacute

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necessaacuterio que se produza uma delegaccedilatildeo da autoridade ou um acesso efetivo a aqueles que a detecircm

bull Caraacuteter ativo deve permitir ao puacuteblico participante envolver-se ativa-mente na defi-niccedilatildeo dos problemas e no debate de seus paracircmetros principais e natildeo soacute considerar rea-tivamente sua opiniatildeo no terreno das soluccedilotildees Trata-se de fomentar uma participaccedilatildeo integral para a qual natildeo haacute portas fechadas previamente

Rigolin (2014) ao estudar a participaccedilatildeo puacuteblica e avaliaccedilatildeo social da Ciecircncia e da Tecnologia escre-ve que a emergecircncia de inovaccedilotildees tecnoloacutegicas de caraacuteter controverso produziria maior

demanda puacuteblica por informaccedilatildeo e maior inclusatildeo no processo decisoacuterio [e] refletiria uma reaccedilatildeo puacuteblica contra o hermetismo que caracteriza os modelos regulatoacuterios fundados nos-princiacutepios incontestaacuteveis e inacessiacuteveis da sound Science (Young et al 2001) Para alguns autores (Callon 1998 Young et al 2001 Kluver et al 2000 Smith 2001) e certas organi-zaccedilotildees internacionais (FAO 2001) o melhor arranjo para a orquestraccedilatildeo de conflitos (po-liacuteticos juriacutedicos etc) que envolvem incerteza complexidade e controveacutersia cientiacuteficatem sido a ampliaccedilatildeo do conceito de expertise incorporando a visatildeo e os interesses dos diferen-tes atores sociais potencialmente afetados pela difusatildeo de novas tecnologias no processo de formulaccedilatildeo implementaccedilatildeo ou avaliaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas via procedimentos parti-cipativos (p 131)

No que se refere a espaccedilos institucionais possiacuteveis para a participaccedilatildeo social em ciecircncia e tecnologia Loacutepez Cerezo (2009) ndash assim como Bazzo Linsingen e Pereira (2003) ndash informa as principais opccedilotildees que foram ensaiadas em diversos paiacuteses tais como Estados Unidos Austraacutelia Reino Unido Sueacutecia e Paiacuteses Baixos que buscamos sintetizar a seguir

bull Audiecircncias puacuteblicas satildeo habitualmente foros abertos e pouco estruturados onde a par-tir de um programa previamente determinado pelos representantes da administraccedilatildeo se convida o puacuteblico a escutar as propostas governamentais e comentaacute-las

bull Gestatildeo negociada se desenvolve a partir de um comitecirc negociador composto por repre-sentantes da administraccedilatildeo e grupos de interesse implicados por exemplo induacutestria associaccedilotildees profissionais e organizaccedilotildees ecologistas Os participantes tecircm acesso a a informaccedilotildees relevantes assim como a oportunidade de persuadir a outros e alinhaacute-los com suas posiccedilotildees

bull Paineacuteis de cidadatildeos este tipo de mecanismo estaacute baseado no modelo do jurado soacute que aplicado a temas cientiacutefico-tecnoloacutegicos e ambientais Sob este tipo de teacutecnica reuacutenem-se modelos de caraacuteter decisoacuterio ou meramente consultivo A ideia central eacute que os cidadatildeos comuns (escolhidos por sorteio ou por amostra aleatoacuteria) se reuacutenam para con-siderar sobre um assunto sobre o qual natildeo satildeo especialistas e apoacutes terem recebido das autoridades e especialistas as informaccedilotildees pertinentes apresentem recomendaccedilotildees ou alternativas aos organismos oficiais Comparada a audiecircncia puacuteblica esta teacutecnica eacute mais ativa e permite maior participaccedilatildeo e maior questionamento inclusive aos especialistas

bull Pesquisas de opiniatildeo sobre assuntos tecnocientiacuteficos permitem conhecer a percepccedilatildeo puacuteblica sobre determinado assunto de forma a orientar as decisotildees dos poderes legis-lativo e executivo

bull Consumo diferenciado de produtos de acordo com sua origem cientiacutefica-tecnoloacutegica satildeo escolhas feitas pelos cidadatildeos a favor do consumo de produtos marcados com algum tipo de selo indicativo de qualidade ou de diferenciaccedilatildeo

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Podemos identificar especialmente no Brasil alguns outros instrumentos tais como o referendum o plebiscito o Relatoacuterio de Impacto Ambiental (Rima) o Relatoacuterio de Impacto de Vizinhanccedila accedilotildees civis puacuteblicas e sempre o direito de questionar em Juiacutezo quando se sentir lesado

83 Como se fosse conclusatildeo A construccedilatildeo social da ciecircncia e da tecnologia natildeo pode prescindir da alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica dos membros da sociedade a fim de que estes tenham um miacutenimo de condiccedilotildees para entender refletir e contribuir nas decisotildees a serem tomadas em temas tecnocientiacuteficos de impacto social O modelo de educaccedilatildeo e de ensino que aiacute estaacute posto natildeo atende as suas necessidades Da mesma forma eacute necessaacuterio discutir um modelo mesmo que idealizado que permita a visuali-zaccedilatildeo das possibilidades de participaccedilatildeo social no conjunto de decisotildees que envolvem temas tecno-cientiacuteficos em geral A proposta de Comte-Sponville permite a visualizaccedilatildeo deste conjunto de va-riaacuteveis e permite um primeiro passo de entendimento preacute-requisito para o processo de melhoria de participaccedilatildeo Com essa visualizaccedilatildeo especialistas poliacuteticoslegisladoresgestores educadores em Ciecircncia e Tec-nologia e cidadatildeos satildeo capazes de ordenar discussotildees e a sociedade organizada pode melhor planejar sua participaccedilatildeo e solicitar a participaccedilatildeo dos membros que compotildeem as demais ordens estabele-cendo a dinacircmica proposta ao longo do trabalho Este pode ser um cenaacuterio orientador de possibi-lidades colocando em foco como propotildee Biejker (2008 p136) a fragilidade constitutiva de nossa cultura tecnoloacutegica considerando sua estrutura e seus valores centrais

Conheccedila mais

Aibar E La participacion del puacuteblico em las decisiones cientiacutefico-tecnoloacutegicas In Aibar E Quintanilla MA (edit) Ciencia Tecnologia y SociedadMadrid Editorial Trotta Consejo superior de Investigaciones Cientificas 2012

SOBRE AS ABORDAGENS CTS125

9 Sobre as abordagens CTS

Em resumo a soluccedilatildeo natildeo consiste em ldquomais ciecircncia e tecnologiardquo mas sim em um tipo diferente de ciecircncia e tecnologia

Gonzaacutelez Garciacutea Loacutepez Cerezo e Lujaacuten Loacutepez

91 Introduccedilatildeo As relaccedilotildees entre Ciecircncia Tecnologia Sociedade e Poliacutetica Ateacute este ponto buscamos apresentar fatos que nos levam a refletir sobre a chamada neutralidade da Ciecircncia e da Tecnologia bem como de seus operadores os cientistas e especialistas em tecnologia Esperamos ter demonstrado as relaccedilotildees estreitas entre Ciecircncia e Tecnologia e a necessidade de desenvolvermos uma interaccedilatildeo mais estreita e intensa entre estas duas aacutereas do conhecimento e a Sociedade Vamos agora estudar mais um pouco como pode se dar estas relaccedilotildees e como elas podem ser de forma mais ou menos expliacutecitas interdependentes Jaacute citamos exaustivamente o exemplo do Relatoacuterio Bush e o Projeto Manhattan Vamos agora buscar em Alan Chalmers51 (1994) alguns exemplos para ilustrar o tema a que nos propomos discutir

No livro que escolhemos para ilustrar nossas questotildees Chalmers (1994) estaacute preocupado

em identificar e caracterizar a meta da ciecircncia distinguindo-a de outras atividades com di-ferentes objetivos Disso natildeo se deve concluir que eu considere a meta da ciecircncia algum bem absoluto e sem restriccedilotildees necessariamente superior a outras metas Um exemplo ajudaraacute a colocar a glorificaccedilatildeo irrestrita da ciecircncia dentro de uma perspectiva mais realistaHumphrey Davy inventou em 1815 a chamada lacircmpada de seguranccedila dos mineiros Natildeo haacute nenhuma duacutevida de que isso tenha sido uma bemlograda consequecircncia de uma pesquisa cientiacutefica pura (possivelmente realizada por Faraday) que envolvia a determinaccedilatildeo da tem-peratura de igniccedilatildeo do metano e a eficaacutecia de um veacuteu de arame atuando como barreira para a temperatura J A Paris um dos bioacutegrafos de Davy referiu-se a essa pesquisa bem suce-dida como orgulho da ciecircncia triunfo da humanidade e gloacuteria da eacutepoca em que vivemos () e mais recentemente a Union Carbide Chemicals and Plastics exaltou as virtudes da pesquisa de Davy e comparou suas contribuiccedilotildees para a humanidade agraves da Union Carbide Afinal de contas Humphrey Davy acendeu uma lacircmpada para benefiacutecio da humanidade e natildeo desejamos que ela se apague (Albury e Schwartz 1982 p 13) Isso natildeo eacute muito inco-mum em relaccedilatildeo agrave maneira como o valor intriacutenseco da ciecircncia eacute retratado e glorificadoNo entanto () um exame mais circunspecto da histoacuteria real desse episoacutedio nos leva a uma avaliaccedilatildeo bem mais moderada Um efeito imediato da introduccedilatildeo da lacircmpada de Davy nas minas de carvatildeo foi um aumento acentuado no nuacutemero de explosotildees e fatalidades Natildeo eacute difiacutecil discernir a razatildeo para isso Do ponto de vista dos proprietaacuterios das minas o problema que pressionava natildeo era tanto a seguranccedila da mina mas o fato de que as operaccedilotildees em mi-nas ricas de carvatildeo se tomavam inacessiacuteveis por causa da acumulaccedilatildeo do metano O proble-ma deles que era o que expuseram a Davy era saber como fazer os mineiros entrarem nas

51 Allan Chalmers (1939- ) eacute inglecircs naturalizado australiano formou-se em fiacutesica e dedicou-se aos estudos da Filosofia e da His-toacuteria Eacute professor de Histoacuteria e Filosofia da Ciecircncia na Universidade de Sydney Austraacutelia

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SOBRE AS ABORDAGENS CTS126

minas perigosas cheias do gaacutes venenoso A pesquisa de Davy proporcionava uma resposta mas naturalmente sua lacircmpada estava longe de ser perfeita O veacuteu poderia soltar-se as co-rrentes de ar poderiam soprar a chama para fora e as partiacuteculas de carvatildeo que se grudavam em seu exterior se tornariam vermelhas com o calor Os mineiros admitiam que o problema mais seacuterio nas minas era uma ventilaccedilatildeo precaacuteria Eles percebiam que as principais fatalida-des depois de uma explosatildeo ocorriam por sufocaccedilatildeo pelo monoacutexido e dioacutexido de carbono em consequecircncia da explosatildeo Eles propunham medidas como o aprofundamento de mais poccedilos mas essas sugestotildees foram em geral deixadas de lado presumivelmente devido aos custos que encerravam Os mineiros poderiam ser perdoados pelo ceticismo a respeito de qualquer afirmaccedilatildeo de que o progresso da ciecircncia eacute um bem sem reservas (p 160-161)

O autor conclui o item informando que existe na atualidade situaccedilotildees comparaacuteveis a essa onde pelos efeitos adversos que a ciecircncia possibilita

eacute razoaacutevel em muitos contextos reivindicar que um uso socialmente mais equumlitativo do con-hecimento cientifico que temos eacute um problema de maior urgecircncia do que a produccedilatildeo de mais conhecimento cientiacutefico Mesmo quando basta atribuir grande prioridade agrave aquisiccedilatildeo do conhecinotmento cientiacutefico resta a questatildeo de qual das muitas linhas possiacuteveis de pesquisa cientiacutefica deveria ser seguida Resta entatildeo a questatildeo que espeacutecie de ciecircncia desejamos Eacute inquestionaacutevel que uma grande forccedila por traacutes da direccedilatildeo do desenvolvimento da ciecircncia ocidental eacute proveniente dos interesses militares e econocircmicos das agecircncias governamentais e dos interesses aliados das corporaccedilotildees multinacionais Muitos de noacutes desejariam que as coisas fossem diferentes e que a ciecircncia se tivesse desenvolvido em direccedilotildees mais de acordo com os interesses e as necessidades das pessoas comuns De qualquer maneira a ciecircncia tem que ser avaliada e articulada segundo interesses e valores As avaliaccedilotildees e as lutas poliacute-ticas aiacute encerradas natildeo satildeo por si soacute receptivas agraves soluccedilotildees cientiacuteficas (p 161)

Leia maisSobre Humphry Davy

Beltran Ma H Roxo Humphry Davy e as cores dos antigos Quiacutem Nova vol31 n1 Satildeo Paulo 2008 httpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S0100-40422008000100033amplng=enampnrm=iso

Dwyer Tom O surgimento da engenharia de seguranccedila Empregadores trabalhadores e a lacircmpada de Davy Mul-tiCiecircncia UNICAMP httpwwwmulticienciaunicampbrartigos_06a_04_6pdf

Dwyer Tom Vida e morte no trabalho - acidentes do trabalho e a produccedilatildeo social do erro Satildeo Paulo Editora Unicamp 2006

A discussatildeo entatildeo passa a ser natildeo mais ldquose a tecnociecircncia interfere no dia-a-diardquo ou ldquose a tecnociecircncia produz resultados somente para o bem-estarrdquo mas sim ldquoque forccedilas impulsionadoras podem ser identificadas em cada movimento que favorece um avanccedilo tecnocientiacuteficordquo Certamente este eacute um movimento muito mais complexo do que simplesmente aplaudir as conquistas tecnocientiacuteficas que nos chegam por meio de produtos de consumo O que se estaacute apontando eacute a necessidade da alfabetizaccedilatildeo tecnocientiacutefica capaz de identificar os movimentos que orientam e sustentam uma ou outra linha de pesquisa eou produccedilatildeo tecnocientiacutefica Natildeo haacute nessa visatildeo a possibilidade de acharmos que o movimento da ciecircncia e tecnologia ndash a tecnociecircncia ndash existe sem a accedilatildeo e decisatildeo socialmente dirigidas Essas accedilotildees possuem um vieacutes poliacutetico (Poliacutetica com P maiuacutesculo e poliacutetica com p minuacutesculo) O que natildeo eacute obrigatoriamente ruim Chalmers (1994) nos relembra e comenta uma histoacuteria claacutessica apresentada por Bruno Latour (1987) e que ilustra de forma espetacular essa necessaacuteria relaccedilatildeo entre Ciecircncia Tecnologia Sociedade e Poliacutetica que chamaremos de CTS+P

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SOBRE AS ABORDAGENS CTS127

Os fatores que se ocultam por traacutes da satisfaccedilatildeo das condiccedilotildees materiais necessaacuterias para o trabalho cientiacutefico envolvem uma ampla seacuterie de interesses outros que natildeo a produccedilatildeo do conhecinotmento cientifico Esse ponto eacute graficamente ilustrado por Bruno Latour (1987 p 153-7) num trecho impressionante em que ele compara a atividade cotidiana de uma cientista num importante laboratoacuterio californiano com o diretor do laboratoacuterio a quem se refere como o chefe A cientista se considera interessada no desenvolvimento da ciecircncia pura e desinteressada das questotildees poliacuteticas ou sociais Procura distanciar-se do governo e do setor privado para concentrar-se em sua pesquisa pura Em compensaccedilatildeo o chefe estaacute sempre envolvido em atividades poliacuteticas em todos os niacuteveis o que muitas vezes lhe vale a zombaria da cientista O exemplo de Latour trata da pesquisa de uma nova substacircncia o pandorin que promete ter grande significado na fisiologia Na lista das atividades em que o chefe se envolve numa se-mana comum estatildeo as seguintes entre outras negociaccedilotildees com as grandes companhias far-macecircuticas a respeito do possiacutevel patenteamento do pandorin um encontro com o ministro da Sauacutede francecircs onde seraacute discutida a possibilidade de abertura de um novo laboratoacuterio na Franccedila uma reuniatildeo na Academia Nacional de Ciecircncia em que o chefe defende a necessi-dade de mais um subdepartamento reuniatildeo da diretoria da revista meacutedica Endocrinology onde pede mais espaccedilo para sua aacuterea e reclama de conselheiros que pouco sabem sobre a disciplina uma visita ao matadouro local em que discute a possibilidade de decapitar ove-lha de modo a causar menos danos ao hipotaacutelamo reuniatildeo na universidade onde propotildee um novo programa de curso contendo mais biologia nuclear e informaacutetica discussatildeo com um cientista sueco sobre os instrumentos recentemente criados por ele para detectar pep-tiacutedeos e possiacuteveis estrateacutegias para desenvolvecirc-los e discurso na Associaccedilatildeo dos DiabeacuteticosContinuemos acompanhando Latour voltando nossa atenccedilatildeo para o trabalho da cientista no laboratoacuterio pouco depois Descobrimos que ela conseguiu empregar um novo teacutecnico o que foi possiacutevel graccedilas a uma bolsa recebida da Associaccedilatildeo dos Diabeacuteticos haacute tambeacutem dois novos estudantes jaacute formados que entraram no campo atraveacutes dos novos cursos criados pelo chefe Sua pesquisa beneficiou-se com amostras mais limpas de hipotaacutelamo que satildeo agora recebidas do matadouro e com um novo instrumento de grande sensibilidade recentemen-te adquirido da Sueacutecia que aumenta sua capacidade de detectar traccedilos insignificantes de pandorin no ceacuterebro Os resultados preliminares de sua pesquisa seratildeo publicados numa nova seccedilatildeo de Endocrinology Ela estaacute refletindo sobre um novo cargo que lhe foi oferecido pelo governo francecircs para a implantaccedilatildeo de um laboratoacuterio na FranccedilaSe a cientista da histoacuteria muito realista de Latour considera envolvida na ciecircncia pura que natildeo eacute perturbada por questotildees poliacuteticas e sociais mais amplas ela estaacute muito enganada A satisfaccedilatildeo das condiccedilotildees materiais que eacute um preacute-requisito para a realizaccedilatildeo de sua pesquisa soacute pode ser obtida como resultado da atividade poliacutetica que encerra uma seacuterie de interesses sociais como ilustram as atividades do chefe Se por exemplo investigamos o suficiente a respeito da origem dos fundos para qualquer aacuterea de pesquisa na fiacutesica nos Estados Unidos quase sempre damos de frente com os interesses dos militares e do Departamento de Defesa no desennotvolvimento dos modernos sistemas armamentistas E L Woollett (1980 p 109) expotildee a situaccedilatildeo num artigo revelador qualquer pessoa com o diploma de fiacutesica que leia o Relatoacuterio Anual da Secretaria da Defesa admitiraacute a maneira essencial como o progresso da ciecircncia estaacute hoje associado ao progresso nos modernos sistemas armamentistas Minha insistecircncia em fazer uma distinccedilatildeo entre a ciecircncia e outras atividades com metas diferentes deixa pouco mais que farelos para a anaacutelise do socioacutelogoO simples fato de que a atividade cientifica natildeo pode ser separada das outras que atendem a outros interesses natildeo implica em si que o objetivo da ciecircncia esteja subvertido A anaacutelise um

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SOBRE AS ABORDAGENS CTS128

tanto conservadora e funcionalista da organizaccedilatildeo institucional da ciecircncia de Robert Mer-ton (1973) mostra isso muito bem Merton acredita que a ciecircncia eacute governada por normas que definem o coacutedigo apropriado de comportamento dos cientistas normas de universalis-mo desinteresse comunismo e ceticismo organizado Presume-se que a fidelidade a essas normas leve adiante a meta da ciecircncia Contudo cada cientista tem suas proacuteprias normas e interesses como a aquisiccedilatildeo de riqueza fama e poder por exemplo Merton diz que a meta da ciecircncia se concilia com os interesses dos cientistas por meio do sistema institucionaliza-do de recompensas e penalizaccedilotildees Dessa maneira os cientistas satildeo coagidos a agir de modo a atender os interesses da ciecircncia porque eacute exatamente esta forma de agir que resulta nas recompensas que atendem a seus proacuteprios interesses Naturalmente haacute outros interesses em jogo na atividade cientiacutefica como os monopoacutelios profissionais governa-mentais e dos setores privados o descuido em relaccedilatildeo a estes eacute uma das falhas da anaacutelise de Merton En-tretanto ela serve para mostrar que a ciecircncia natildeo eacute automaticamente subvertida quando haacute outros interesses envolvidos Podemos ilustrar mais esse ponto observando que foi uma feliz coincidecircncia entre alguns aspectos dos interesses da ciecircncia e os da burguesia que per-mitiu que a ciecircncia prosperasse na mareacute da revoluccedilatildeo cientiacutefica (Chalmers 1994 p 157-159 veja tambeacutem Bartel e Johnston 1984)

Leia maisSobre Bruno Latour e sua publicaccedilatildeoTeixeira Maacutercia de Oliveira A ciecircncia em accedilatildeo seguindo Bruno Latour Hist cienc saude-Manguinhos vol8 n1 Rio de Janeiro MarJune 2001httpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S0104-59702001000200012

Sobre Robert K Merton (1910-2003)Nunes Everardo D Merton e a sociologia meacutedica Hist cienc saude-Manguinhos vol14 n1 Rio de Janeiro JanMar 2007 httpwwwscielobrscielophppid=S0104-59702007000100008ampscript=sci_arttext

92 As Abordagens CTS um modelo possiacutevel Eacute possiacutevel conhecer os principais acontecimentos que marcam a evoluccedilatildeo da Abordagem CTS a partir dos textos de Kreimer e Thomas (2004) Cutcliffe (2003) Bazzo Linsingen e Pereira (2003) Lopez Cerezo (2002) Vacarezza (2002) e Gonzalez Garcia Loacutepez Cerezo e Lujaacuten Loacutepez (1996) Es-tes uacuteltimos ao apresentarem longa lista de acontecimentos que marcaram a histoacuteria do movimento CTS nos paiacuteses ocidentais especialmente os Estados Unidos propotildeem sua divisatildeo em trecircs periacuteodos

1 Otimismo Eacute o primeiro desde o uacuteltimo periacuteodo da Segunda Guerra Mundial ateacute 1955 (com o manifesto de Russel e Einstein sobre a responsabilidade social da ciecircncia) de-corre uma deacutecada otimista de demonstraccedilatildeo de poder da ciecircncia e da tecnologia de firme convicccedilatildeo no modelo unidirecional de progresso e de apoio puacutebico incondicional a ciecircncia-tecnologia

2 Alerta Eacute o segundo periacuteodo desde meados de anos cinquumlenta ateacute 1968 (desde o lanccedila-mento do Sputnik e o primeiro acidente nuclear grave ateacute o centro do movimento de contra-cultura e de revoltas contra a guerra do Vietnam) comeccedilam a vir a publico os primeiros grandes desastres produzidos pela tecnologia fora de controle Os movimen-tos sociais e poliacuteticos de luta contra o sistema fazem da tecnologia moderna e do estado tecnocraacutetico o alvo de sua luta

3 Reaccedilatildeo Eacute o terceiro periacuteodo de 1969 ateacute o presente descreve a consolidaccedilatildeo educativa e administrativa do movimento CTS como resposta acadecircmica educativa e poliacutetica a sensibilizaccedilatildeo social sobre os problemas relacionados com a tecnologia e o ambiente Eacute

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SOBRE AS ABORDAGENS CTS129

o momento da revisatildeo e correccedilatildeo do modelo unidirecional de progresso como base para o desenho da poliacutetica cientiacutefico-tecnoloacutegica (Gonzaacutelez Garciacutea Loacutepez Cerezo e Lujaacuten Loacutepez 1996 p 58-59)

Esse uacuteltimo movimento que se percebe ateacute hoje toma coloridos proacuteprios de acordo com o modelo de sociedade e de cidadatildeo em que as circunstacircncias de tecnociecircncia se manifestam Sociedades mais experientes na organizaccedilatildeo representativa e que possuem cidadatildeos mais esclarecidos satildeo capazes de desenvolver um programa de interaccedilatildeo CTS mais eficaz no sentido de que ldquoa soluccedilatildeo natildeo consiste em mais ciecircncia e tecnologia mas sim em um tipo diferente de ciecircncia e tecnologiardquo (Gonzaacutelez Garciacutea Loacutepez Cerezo e Lujaacuten Loacutepez 1996 p 56)

Sociedadescidadatildeos mais esclarecidos quanto agrave Ciecircncia e Tecnologia estatildeo mais aptos a solicitar explicaccedilotildees mais efetivas sobre o porquecirc e sobre os resultados de projetos de base tecnocientiacuteficos Podem questionar os valores que fundamentam os objetivos das poliacuteticas puacuteblicas (manifestaccedilatildeo da vontade de fazer dos governos) tanto quanto satildeo capazes de questionar sobre as consequecircncias das tecnociecircncias a curto meacutedio e longo prazos Essa diferenccedila do antes e do depois eacute comumente chamada nos estudos CTS de tradiccedilatildeo de origem europeacuteia e de tradiccedilatildeo de origem americana Sendo certo que esta divisatildeo hoje pela diversidade grupos de estudos CTS eacute mais didaacutetica do que geograacutefica A tradiccedilatildeo Europeacuteia considera na dimensatildeo social os antecedentes ou condicionantes sociais do CTS que contribuem para a formaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo dos complexos tecnocientiacuteficos (Gonzaacutelez Garciacutea Loacutepez Cerezo e Lujaacuten Loacutepez 1996 p 56) Esta tradiccedilatildeo que remonta o suporte teoacuterico de Thomas Kuhn realiza seus estudos baseados principalmente nas ciecircncias sociais e possui trabalhos importantes a partir das contribuiccedilotildees de S Woolgar e B Latour principalmente (Loacutepez Cerezo 2002 p 8) Jaacute a chamada tradiccedilatildeo americana considera na dimensatildeo social a consequecircncia social ou a forma como os produtos da tecnociecircncia incidem sobre nossa vida e na organizaccedilatildeo social (Gonzaacutelez Garciacutea Loacutepez Cerezo e Lujaacuten Loacutepez 1996 p 56) A atenccedilatildeo estaacute mais voltada para as consequecircncias sociais e ambientais dos produtos tecnoloacutegicos deixando em segundo plano geralmente os antecedentes sociais destes produtos Esta tradiccedilatildeo tem origem nos movimentos sociais dos anos 60 e 70 e que marcaram sua eacutepoca e contribuiacuteram sobremaneira para a consolidaccedilatildeo dos estudos CTS Numa visatildeo eminentemente acadecircmica eacute possiacutevel dizer que seus estudos estatildeo apoiados na aacuterea das ciecircncias humanas e se consolida institucionalmente por meio do ensino e da reflexatildeo poliacutetica conforme escreve Loacutepez Cerezo (2002 p 8) Pode parecer que ambas as abordagens sejam excludentes entre si ldquodevido agrave diversidade de suas perspectivas e acircmbitos de trabalho pesquisa acadecircmica por um lado poliacutetica e educaccedilatildeo por outrordquo Na verdade essas duas tradiccedilotildees satildeo elementos complementares de uma visatildeo criacutetica da tecnociecircncia como pretende demonstrar Loacutepez Cerezo (2002 p 21)

bull O desenvolvimento cientiacutefico-tecnoloacutegico eacute um processo conformado por fatores cul-turais poliacuteticos e econocircmicos e ademais epistemoloacutegicos Trata-se de valores e interes-ses que fazem da ciecircncia e da tecnologia um processo social

bull A mudanccedila cientiacutefico-tecnoloacutegica eacute um fator determinante que contribui para modelar nossas formas de vida e nosso ordenamento institucional Constitui um assunto puacuteblico de primeira magnitude

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SOBRE AS ABORDAGENS CTS130

bull Compartilhamos um compromisso democraacutetico baacutesicobull Portanto deveriacuteamos promover a avaliaccedilatildeo e o controle social do desenvolvimento cientiacute-

fico-tecnoloacutegico o que significa construir as bases educativas para uma participaccedilatildeo social formada bem como criar mecanismos institucionais para tornar possiacutevel tal participaccedilatildeo

Jaacute Cutcliffe (2003) quando estuda as diferentes abordagens prefere fazecirc-lo pela oacutetica de Steve Fuller (1992) que propotildee dividir os estudos CTS em ldquoalta igreja e baixa igrejardquo em resposta a artigo de Ilerbaig (1992) Esta divisatildeo muito difundida entre os estudiosos de CTS separa aqueles estudos com ldquoinclinaccedilatildeo acadecircmica e centrada em disciplinasrdquo e com orientaccedilatildeo soacutecioexplicativa daqueles estudos com ldquoinclinaccedilatildeo ativista social e centrada em problemasrdquo e com orientaccedilatildeo socialativista (p 104 e 106)

A classificaccedilatildeo entre Baixa e Alta Igrejas leva uma dicotomia e forccedila estereoacutetipos que podem ser perniciosos para o bem entendimento do que seja e o que pretende ser a Abordagem CTS Pode-se reduzir a Baixa Igreja ao Movimento CTS de base ativista e em paralelo pode-se dizer que Alta Igreja estaacute centrada na preocupaccedilatildeo de estudos e reflexotildees em torno de disciplinas estruturadas Cozzens (1990) chama a Alta Igreja de Pensamento CTS Buscando ampliar a visatildeo estreita que lkeva a reducionismos perversos Robin Williams e David Edge propuseram a expressatildeo Ampla Igreja agrupando os comportamentos descritivos e prescritivos diminuindo a tensatildeo entre as categorias evitando perdas desnecessaacuterias de energia e atenccedilatildeo dos especialistas em CTS O proacuteprio Cutcliffe ao longo de seu estudo propotildee outra maneira de categorizar os estudos CTS utilizando-se tangencialmente da divisatildeo de Steve Fuller Ele informa que a chamada alta igreja se manifesta em programas CTS apresentados de Estudos de Ciecircncia e Tecnologia enquanto a baixa igreja se apresenta em programas CTS intitulados como Ciecircncia Tecnologia e Sociedade Ao chamar atenccedilatildeo para estes dois representantes da divisatildeo proposta por Fuller Cutcliffe aponta a possiacutevel e necessaacuteria existecircncia de um terceiro grupo que ele vecirc se manifestar nos programas denominados de Ciecircncia Tecnologia e Poliacutetica ou Ciecircncia Engenharia e Poliacutetica Para o autor os programas deste terceiro grupo ldquotecircm uma orientaccedilatildeo profissional dirigida para as interaccedilotildees soacutecio-teacutecnicas em grande escala e sua gestatildeo Consideram a necessidade de e a preparaccedilatildeo em estudos das poliacuteticas de atuaccedilatildeo e gestatildeo adequadasrdquo (p 106) Esta divisatildeo didaacutetica proposta por Cutcliffe eacute importante por conta da anaacutelise de Vacarezza (2002) que ao analisar o desenvolvimento do CTS na Ameacuterica Latina Queremos lembrar do PLACTS-Pensamento Latinoamericano de CTS que tratamos no capiacutetulo 1 especialmente p 16 e seguintes escreve que

na America Latina a origem do movimento se encontra na reflexatildeo da ciecircncia e da tecnolo-gia como uma competecircncia das poliacuteticas puacuteblicasrdquo tendo ldquosurgido como uma criacutetica dife-renciada agrave situaccedilatildeo da ciecircncia e da tecnologia e de alguns aspectos da poliacutetica estatal nessa mateacuteria (p 52)

Vacarezza (2002) diz ainda que a poliacutetica se transformou em gestatildeo que a militacircncia caracteriacutestica do movimento CTS se transformou em formaccedilatildeo de especialistas e que estes movimentos administrativos prescindem do caraacuteter mobilizador e da pretensatildeo de mudanccedila proacuteprias do movimento CTS A existecircncia de uma abordagem CTS na Ameacuterica Latina quer como Movimento CTS quer como Estudo CTS ou outra necessaacuteria categorizaccedilatildeo deve merecer nossa atenccedilatildeo de pesquisa

Spiegel-Roumlsing e SollaPrice (1977 p 13) propotildeem que CTS possa ser precebido em 16 aacutereas distintas

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SOBRE AS ABORDAGENS CTS131

de pesquisa que respeitada a regionalizaccedilatildeo sociopoliacutetica estatildeo relacionadas agraves investigaccedilotildees individuais de CTS dentro dos paiacuteses do ocidente e do oriente As 16 aacutereas de pesquisa satildeo

1 Filosofia (incluindo metodologia e loacutegica) da ciecircncia e teoria da ciecircncia 2 Eacutetica da ciecircncia 3 Sociologia da ciecircncia 4 Classificaccedilatildeo de campo cientiacutefico e disciplinas 5 Criatividade e psicologia dos investigadores 6 Histoacuteria de organizaccedilatildeo da ciecircncia e de comunidades cientiacuteficas7 Organizaccedilatildeo administraccedilatildeo e gestatildeo de Pesquisa amp Desenvolvimento (incluindo infor-

maccedilatildeo e comunicaccedilatildeo) 8 Economia produtividade eficaacutecia financiamento etc de Pesquisa amp Desenvolvimento 9 Estatiacutesticas de ciecircncia e tecnologia 10 Planejamento de Pesquisa amp Desenvolvimento planejamento de recursos humanos em

ciecircncia e tecnologia poliacutetica puacuteblica para ciecircncia e tecnologia (incluindo relaccedilotildees com educaccedilatildeo economia negoacutecios estrangeiros induacutestria sauacutede agricultura meio ambien-te etc)

11 Previsatildeo tecnoloacutegica futurologia 12 Poliacutetica de ciecircncias internacional cooperaccedilatildeo internacional em ciecircncia e tecnologia

estudo comparativo de poliacuteticas de ciecircncia nacional 13 Legislaccedilatildeo de ciecircncia e tecnologia 14 Tranferecircncia de tecnologia 15 Avaliaccedilatildeo de tecnologia 16 Ciecircncia e sociedade popularizaccedilatildeo da ciecircncia

Vieira Tenreiro-Vieira e Martins (2011 p 18) buscando inspiraccedilatildeo em Ziman (1980) e em Solomons (1988) propotildeem a seguinte classificaccedilatildeo de abordagens CTS na educaccedilatildeo em Ciecircncias

Abordagem Foco(s)

HistoacutericaEvoluccedilatildeo da Ciecircncia e da tecnologia com a evoluccedilatildeo da Sociedade influecircncia da atividade cientiacutefica e tecnoloacutegica na histoacuteria da humanidade e influecircncia de acontecimentos histoacutericos no desenvolvimento da Ciecircncia e Tecnologia

Filosoacutefica

Epistemoloacutegica

Aspectos eacuteticos do trabalho cientiacutefico e responsabilidade social dos cientistas no exerciacutecio da atividade cientiacutefica

Natureza do conhecimento cientiacutefico seus limites e validade dos seus enunciados

Social

Socioloacutegica

A Ciecircncia e a tecnologia como empreendimentos sociais

Influecircncia da Ciecircncia e da Tecnologia na Sociedade e influecircncia da Sociedade no progresso cientiacutefico e tecnoloacutegico

Limitaccedilotildees e possibilidades do contributo da Ciecircncia e da Tecnologia para resolver ou minorar problemas que afetam a Sociedade

Poliacutetica Relaccedilotildees entre a Ciecircncia e a Tecnologia e os sistemas poliacuteticos (o uso poliacutetico da Ciecircncia e da Tecnologia tomada de decisatildeo sobre Ciecircncia e Tecnologia)

EconocircmicaInfluecircncia das condiccedilotildees econocircmicas na Ciecircncia e a Tecnologia

Influecircncia da Ciecircncia e da tecnologia no desenvolvimento econocircmico (induacutestria emprego consumo)

Cultura

Humanista

A Ciecircncia [e a Tecnologia] como cultura

Valores acerca da Ciecircncia e da Tecnologia

Frente as propostas de organizaccedilatildeo da aacuterea que chamamos de Construccedilatildeo Social da Ciecircncia e da Tec-nologia gostariacuteamos de apresentar uma possiacutevel ideia de evoluccedilatildeo deste segmento a partir de Oliver Martin (2003) ndash como poderia ser a partir de Vega Encabo (2012) Bennagravessar et al (2011) Chikara

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SOBRE AS ABORDAGENS CTS132

Sasaki (2010) Pierre Bourdieu (2008) Jesuacutes Valero (2004) Javier Echeverriacutea (2003) Stephen Cut-cliffe (2003) dentre outros ndash que elenca as ideias norteadoras dos pensadores em Sociologia inician-do com Auguste Comte (1789-1857) Karl Marx (1818-1883) Levy-Bruhl (1857-1939) Eacutemile Durkheim (1858-1917) para apoacutes isso iniciar o periacuteodo que chamou de Sociologia do Conhecimento Cientiacutefico Chama atenccedilatildeo para o fato que nenhum dos autores claacutessicos apesar de citarem o conhecimento cientiacutefico ldquoo converteu em objeto central de seus propoacutesitosrdquo (p 18) e apresenta trecircs autores que em sua visatildeo abordaram precisamente o conhecimento cientiacutefico como objeto de estudo Max Scheller (1874-1928) Karl Mannhein (1893-1947) e Pitirim Sorokin (1889-968)

Dando continuidade a sua narrativa Martin (2003) escreve que

Em nenhum momento os autores claacutessicos que temos revisado atribuem a sociologia a ca-pacidade de explicar a origem da validez das teorias cientiacuteficas Em geral propotildeem uma classificaccedilatildeo das formas de conhecimento e distinguem o conhecimento cientiacutefico de outras formas de conhecimento natildeo pretendem definir sociologicamente as fronteiras que sepa-ram essas diferentes formas Para eles a definiccedilatildeo de ciecircncia natildeo surge da sociologia e sim com maior seguranccedila da epistemologia Todos admitem que o desenvolvimento da ciecircncia respeita uma loacutegica essencialmente racional que os conhecimentos cientiacuteficos evoluem de modo endoacutegeno e que a validez de uma teoria eacute independente de sua origem socialrdquo (p 23)

O autor deixa claro que as discussotildees sobre verdadeiro e falso objetivo e subjetivo ciecircncia e natildeo-ciecircncia e tudo mais que trate de um relativismo em ciecircncia natildeo possui espaccedilo nem apoio ateacute entatildeo

Essa visatildeo ingecircnua seraacute ampliada e enriquecida quando nas deacutecadas de 1920 e 1930 a ciecircncia comeccedilou a ser encarada de forma diferente especialmente no processo de elaboraccedilatildeo e de construccedilatildeo bem como o sistema de difusatildeo do conhecimento cientiacutefico e de como os cientistas se organizavam Esta nova fase eacute personalizada e demarcada ainda segundo Martin (2003) tendo como siacutembolo Robert Merton

Esta nova fase recebe como jaacute estudado anteriormente no capiacutetulo 2 as contribuiccedilotildees de Thomas Kuhn (1922-1996) cujas ideias servem como ponto de partida para reflexotildees e surgimento de abordagens importantes para esta nova etapa da sociologia da ciecircncia do grupo de estudos franco-britacircnico (PAREX Paris e Sussex) que passou a se chamar European Association for the Study of Science and Technology do chamado Programa Forte em Sociologia do Conhecimento Cientiacutefico e do chamado Programa Empiacuterico do Relativismo e mais recentemente a chamada sociologia da tecnologia que se apropria tambeacutem de saberes oriundos da filosofia da tecnologia

No Brasil os estudos de Natureza da Ciecircncia e da Tecnologia ndash NdCeT satildeo fortemente difundidos na grande aacuterea da Educaccedilatildeo em Ciecircncia e Tecnologia podendo ser percebida em duas grandes sub-aacutereas com histoacuterico e produccedilatildeo bem distintas A primeira mais disseminada consolidada e produtiva eacute a que se pode chamar de Histoacuteria e Filosofia da Ciecircncia (e menos em Tecnologia) atendendo ao que aponta Martin na sua narrativa histoacuterica quando diz que a produccedilatildeo cientifica estava entregue desde antes aos epistemoacutelogos

A segunda sub-aacuterea da Natureza da Ciecircncia e da Tecnologia pode ser identificada com a abordagem CTS-Ciecircncia Tecnologia e Sociedade cuja definiccedilatildeo caminha para um consenso como sendo a construccedilatildeo social da ciecircncia e da tecnologia e o estudo destas na sociedade que lhes abriga e daacute origem Esta aacuterea mais afeta aos ditames da sociologia (e a sociologia do conhecimento sociologia

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SOBRE AS ABORDAGENS CTS133

da ciecircncia sociologia da tecnologia sociologia da ciecircncia e da tecnologia e por fim sociologia da tecnociecircncia) eacute pouco representada na aacuterea de Educaccedilatildeo em Ciecircncia e Tecnologia necessitando de atenccedilatildeo e de oportunidade de estruturar-se a fim de melhor contribuir para a Educaccedilatildeo mais criacutetica em Ciecircncia e Tecnologia de um cidadatildeo cada vez mais tecnocientificamente dependente

Atividade Proposta para reflexatildeo

Os meios de comunicaccedilatildeo vecircm trazendo informaccedilotildees sobre os conflitos violentos envolvendo iacutendios governo e populaccedilatildeo de modo geral a partir das divergecircncias sobre a instalaccedilatildeo de hidreleacutetricas em alguns pontos da regiatildeo amazocircnica

Considerando o que foi apresentado (1) identifique as premissas que cada um desses atores sociais utiliza para defender sua posiccedilatildeo no conflito e (2) proponha uma abordagem CTS para este conflito de interesse

SOBRE AS VARIAacuteVEIS QUE IMPLICAM NAS RELACcedilOtildeES CTS135

10 Sobre as variaacuteveis que implicam nas relaccedilotildees CTS

101 Introduccedilatildeo Temos buscado apresentar a necessidade de natildeo oferecermos agrave Tecnologia e agrave Ciecircncia um atributo de infalibilidade mas sim demonstrar que a Tecnociecircncia (Tecnologia + Ciecircncia) satildeo construiacutedos socialmente e interagem fortemente de forma expliacutecita e impliacutecita com atores sociais e com dinacircmi-cas de grupos e comunidades organizadas

Vaacutezquez Manassero Acevedo e Acevedo (2008) escrevendo sobre a Natureza da Ciecircncia (NdC) apresentam uma concepccedilatildeo mais ampla que inclui as relaccedilotildees da sociedade com o sistema tecnocien-tiacutefico Dizem que o conceito deve englobar

uma variedade de aspectos sobre o que eacute a ciecircncia seu funcionamento interno e externo como constroacutei e desenvolve o conhecimento que produz os meacutetodos que usa para validar esse conhecimento os valores envolvidos nas atividades cientiacuteficas a natureza da comuni-dade cientiacutefica os viacutenculos com a tecnologia as relaccedilotildees da sociedade com o sistema tecno-cientiacutefico e vice-versa as contribuiccedilotildees desta para a cultura e o progresso da sociedade Este estudo analisa os potenciais consensos entre os especialistas com relaccedilatildeo agraves duas uacuteltimas questotildeesAlguns autores () afirmam que a sociedade manteacutem com a ciecircncia e a tecnologia (a partir de agora CeT) um contrato social um tanto impliacutecito que estabelece a pauta dessas relaccedilotildees a sociedade financia economicamente as necessidades da CeT e estas em troca oferecem agrave sociedade benefiacutecios que melhoram a qualidade de vida e contribuem ao seu progresso e desenvolvimento econocircmico e social Por esse motivo a CeT alcanccedilaram uma relevacircncia tatildeo grande nas sociedades avanccediladas atuais a ponto de desenvolver um universo de relaccedilotildees e viacutenculos entre elas o que resultou numa nova construccedilatildeo social denominada tecnociecircncia como o compecircndio da integraccedilatildeo da pesquisa do desenvolvimento e da inovaccedilatildeo ()A partir de um ponto de vista educacional o argumento democraacutetico eacute um elemento subs-tancial a favor da inclusatildeo da NdC numa educaccedilatildeo cientiacutefica que procura a finalidade da alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica de todas as pessoas pois segundo os peritos a parti-cipaccedilatildeo dos cidadatildeos nas decisotildees tecnocientiacuteficas de interesse social requer a compreen-satildeo de elementos da NdC () Com relaccedilatildeo a esse assunto a pesquisa didaacutetica mostra um panorama complexo em que confluem os conhecimentos cientiacuteficos dos temas colocados em jogo e da NdC o raciociacutenio moral (valores e normas) as emoccedilotildees e os sentimentos as crenccedilas culturais sociais religiosas e poliacuteticas os aspectos que estatildeo implicados de alguma forma nas relaccedilotildees entre a sociedade e a CeT (grifos nossos)

Frente ao que escrevem os autores eacute pertinente buscarmos o impacto dos valores morais normas sociais estabelecidas emoccedilotildees sentimentos crenccedilas culturais sociais e religiosas nas relaccedilotildees CTS Certamente se defendemos na abordagem CTS que a Ciecircncia e a Tecnologia satildeo socialmente construiacutedas eacute de se esperar que o que chamaremos de visotildees de mundo (as ideologias os valores as crenccedilas a religiatildeo as expectativas etc) e tudo mais que caracteriza essa Sociedade tenham alguma participaccedilatildeo na construccedilatildeo social da Ciecircncia e da Tecnologia

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SOBRE AS VARIAacuteVEIS QUE IMPLICAM NAS RELACcedilOtildeES CTS136

Por tal vamos estudar um pouco mais o quanto alguns desses fatores que compotildeem a visatildeo de mundo parafraseando Kneller (1980) podem afetar a Ciecircncia e a Tecnologia Na impossibilidade de estu-darmos de forma mais avantajada todos os itens como eacutetica (Fourez 1995 Mitcham 1996 Dyson 1998 Oliveacute 2000 2007 Valero 2006 Johnson e Wetmore 2008 Briggle e Mitcham 2012) jus-ticcedila social (Dyson 2001) gecircnero em seus variados aspectos (Porro e Arango 2011 Gonzaacutelez Garcia 2001 Chassot 2003 Peacuterez Sedentildeo 2001 Suchman 2008 Etzkowitz 2008 Keller 1995) valores (Echeverriacutea 2001 2002 Lacey 2008 2010 Loacutepez Cerezo e Lujaacuten 2012 Martiacutenez e Hoyos 2006) Poliacutetica (Dagnino e Thomas 1996 Hedge 1998 Dagnino 2007 Maldonado 2005 Thorpe 2008 Hackett 2008 Vessuri e Saacutenchez-Rose 2012) religiatildeo (Merton 1938 Kneller 1980 Henry 1998 Martin 2003 Gould 2007) eou participaccedilatildeo social em Ciecircncia e Tecnologia (Martin e Richards 1995 Lacey 2008 2010 Bucchi e Neresini 2008 Hess et al 2008 Aibar 2012 Jasanoff 2012) CTS em outras culturas (Feenbeerg 1995 Low Nakayama Yoshioka 1999) escolhemos a Ideologia para este capiacutetulo de estudo

102 Tecnologia e Ideologia

Chrispino (2005) tratando da mesma temaacutetica mas aplicada ao universo da Educaccedilatildeo diraacute52 que ldquoas Poliacuteticas Puacuteblicas [definidas como accedilatildeo de governo] sofrem influecircncia decisiva oriunda da diversi-dade de entendimento sobre o que seja ideologia e como ela se manifestardquo Cita Michael Loumlwy (apud Konder 2002) que escreve

Existem poucos conceitos na histoacuteria da ciecircncia social moderna que sejam tatildeo enigmaacuteti-cos e polissecircmicos como esse de ideologia Ao longo dos uacuteltimos dois seacuteculos ele se tornou objeto de uma acumulaccedilatildeo incriacutevel ateacute mesmo fabulosa de ambiguumlidades paradoxos arbitrariedades contra-sensos e equiacutevocos (grifos nossos)

Esta posiccedilatildeo apresentada por Konder (2002) fortalece a tese de que as decisotildees de governo concre-tizadas nas chamadas Poliacuteticas Puacuteblicas satildeo contaminadas por processos ideoloacutegicos nem sempre expliacutecitos Se por um lado podemos dizer que isto eacute esperado no universo poliacutetico com especial atenccedilatildeo ao brasileiro devemos tambeacutem atentar para a necessidade de se estudar a submissatildeo das de-cisotildees de toda ordem a ideologias poliacuteticas de forma mais ou menos expliacutecitas ndash estas infinitamente mais perigosas do que as primeiras No momento e para melhor esclarecer o que pretendemos aqui lembramos que os estudiosos da ideologia indicam o surgimento da palavra na deacutecada de 1790 com o filoacutesofo francecircs De Tracy (Crespigny amp Cronin1999 e Vincent 1995) sendo depois derivada pelo uso dado por Napoleatildeo quando se contrapotildee agravequeles que se perderam no ldquonevoeiro das ideias abstratasrdquo como escrevem Crespigny amp Cronin (1999)

Ideologia adquiriu conotaccedilatildeo mais nossa conhecida quando Napoleatildeo e os liberais do Insti-tut se desentenderam Quando os liberais se opuseram a suas tendecircncias centralizantes Na-poleatildeo os repudiou caracterizando-os como simples ideoacutelogos A ideologia se perdeu num nevoeiro de ideias abs-tratas na busca vatilde dos primeiros princiacutepios ldquoOs canhotildees mataram o feudalismo A tinta mataraacute a sociedade modernardquoIdeologia como acusaccedilatildeo usada em contraste com tudo o que deve ser realista eis natu-ralmente um dos sentidos em que a palavra ainda hoje eacute empregada Seu significado mais abrangente para caracterizar os sistemas de crenccedilas de grupos sociais tem origem ainda mais recente que data da deacutecada de 1840 e das primeiras obras de Marx Certamente natildeo foi ele o primeiro a perceber que os grupos sociais carregam consigo sistemas de maneiras

52 A partir de Chrispino Alvaro Binoacuteculo ou luneta Os conceitos de poliacutetica puacuteblica e ideologia e seus impactos na educaccedilatildeo Revista Brasileira de Poliacutetica e Administraccedilatildeo da Educaccedilatildeo Brasiacutelia n 21-1 e 21-2 jandez2005 p61-90

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de ver frequumlentemente mais impliacutecitos do que expliacutecitos sistemas que limitam os hori-zontes conceituais e que influenciam natildeo apenas as respostas que os homens encontram mas ateacute mesmo as proacuteprias perguntas que tendem a fazer (p 6) (grifos nossos)

Para exemplificarmos a diversidade das classificaccedilotildees apresentadas para as ideologias consideremos apenas trecircs autores

1 Bobbio (2001) conservadorismo liberalismo socialismo cientiacutefico anarcoliberalismo o fascismo e o tradicionalismo

2 Crespigny amp Cronin (1999) conservadorismo liberalismo socialismo democratismo totalitarismo e nacionalismo

3 Vincent (1995) liberalismo conservadorismo socialismo anarquismo fascismo femi-nismo ecologismo e nacionalismo

Sobre as relaccedilotildees da Tecnologia com a Ideologia podemos recorrer a Chreacutetien (1994) Fourez (1995) e Dyson (1998) dentre outros

Chreacutetien (1994) trataraacute da ideologia com ecircnfase na visatildeo marxista apresentando suas principais ca-racteriacutesticas e seus possiacuteveis impactos na ciecircncia O autor apresenta detalhamento o caso de TD Lys-senko (1898-1976) que chama de ldquosiacutembolo das pretensotildees e ilusotildees de uma descontaminaccedilatildeo ideoloacute-gica da ciecircnciardquo (p 137)

Fourez (1995) definiraacute ideologia como um discurso que se daacute a conhecer como uma representaccedilatildeo adequada do mundo mas que possuem mais um caraacuteter de legitimaccedilatildeo do que um caraacuteter descritivo Considera-se discurso ideoloacutegico aquele que

veicula uma representaccedilatildeo do mundo que tem por resultado motivar as pessoas legitimar certas praacuteticas e mascarar uma parte dos pontos de vista e criteacuterios utilizados Dito de outro modo quando tiver como efeito mais o reforccedilo da coesatildeo de um grupo do que uma des-criccedilatildeo do mundo (p 179)

Dyson (1998) que utilizaremos para aprofundar nossos estudos tem oportunidade de apresentar os problemas causados quando as decisotildees tecnoloacutegicas satildeo orientadas rigidamente pela ideologia Ele enumera 4 casos claacutessicos no campo da tecnologia o do dirigiacutevel R 101 o dos jatos Comet construiacutedos pelo Impeacuterio Britacircnico o do projeto Tokamak de fusatildeo e os Tanques de Gelo de Taylor Conta o autor que Nevil Shute Norway53 ndash antes de se tornar o famoso romancista fora engenheiro aeronaacuteutico tendo trabalhado com igual dedicaccedilatildeo em projetos de aviotildees e de dirigiacuteveis e escreveu uma autobio-grafia intitulada Slide Rule Autobiography of an Engineer [Reacutegua de caacutelculo] em que descreve sua vida como engenheiro Orgulhava-se

particularmente de seu papel no projeto do dirigiacutevel R 100 Trabalhou nele por seis anos desde o momento de sua concepccedilatildeo em 1924 ateacute a entrega em 1930 nesse ano participou de sua triunfal viagem inaugural de ida e volta Londres-Montreal Sob o ponto de vista teacutecnico os dirigiacuteveis apresentavam muitas vantagens sobre os aviotildees e o R 100 foi um su-cesso teacutecnico Contudo Norway viu claramente que o destino dos aviotildees e dirigiacuteveis natildeo dependeria apenas de fatores teacutecnicos Mesmo antes que se tornasse escritor profissional interessava-se mais pelas pessoas do que por porcas e parafusos Testemunhou e registrou

53 Conheccedila mais httpwwwnetsabercombrbiografiasver_biografia_c_2829html e httpenwikipediaorgwikiNevil_Shute

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os fatores humanos que fizeram da construnotccedilatildeo de aviotildees um divertimento e a de dirigiacuteveis um pesadeloDepois de concluir o R 100 Norway fundou sua proacutepria empresa a Airspeed Limited Era uma das centenas de pequenas firmas que inventavam e construiacuteam e vendiam aviotildees nos anos 20 e 30 Norway avaliou que durante aqueles anos 100 mil diferentes tipos de aviotildees foram construiacutedos Por todo o mundo invennottores entusiaacutesticos vendiam aviotildees a pilotos intreacutepidos e a companhias de aviaccedilatildeo que se formavam Muitos dos pilotos foram ao chatildeo e muitas das empresas faliram Dos 100 mil diferentes tipos de aviotildees restaram cerca de cem que formam a base da aviaccedilatildeo moderna A evoluccedilatildeo da aviaccedilatildeo foi um processo estritamente darwinista em que quase todas as variedades de aviotildees fracassaram da mesma forma que quase todas as espeacutecies de animais se extinguiram Devido agrave seleccedilatildeo rigorosa os poucos aviotildees sobreviventes satildeo extraordinariamente confiaacuteveis econocircmicos e seguros (p 22)

Dyson (1998) lembra que a o caminho que marca a evoluccedilatildeo do dirigiacutevel eacute bastante diferente da his-toacuteria dos aviotildees A histoacuteria dos dirigiacuteveis foi ldquodominada por poliacuteticos e natildeo por inventoresrdquo

Para explicar esta posiccedilatildeo o autor inicia o estudo do contexto poliacutetico da eacutepoca na deacutecada de 20 que era marcada pela decadecircncia do poder e hegemonia naval construiacuteda e mantida nos uacuteltimos cem anos Os poliacuteticos e seus assessores defendiam que no mundo moderno

o poder aeacutereo substituiacutea o poder naval como emblema de grandeza De modo que eles bus-cavam o poder aeacutereo como a onda do futuro que manteria a Gratilde-Bretanha no topo do mun-do E nesse contexto era natural pennotsar em dirigiacuteveis e natildeo em aviotildees como os veiacuteculos da autoridade imperial Superficialmente dirigiacuteveis pareciam-se com navios notgrandes e visualmente notaacuteveis Dirigiacuteveis seriam capazes de voar sem escalas de uma ponta do impeacute-rio agrave outra Poliacuteticos importantes poderiam viajar de domiacutenios remotos a Londres sem ser forccedilados a negligenciar seu puacuteblico domeacutestico durante todo um mecircs Em contraste aviotildees eram pequenos barulhentos e feios totalmente inadequados para uma finalidade tatildeo ele-vada Naquela eacutepoca eles natildeo conseguiam atravessar rotineiramente oceanos Natildeo podiam permanecer no ar por muito tempo e dependiam de bases terrestres por toda parte Aviotildees eram uacuteteis para batalhas locais mas natildeo para administrar um impeacuterio global (p 23-24)

Dentre os poliacuteticos que alimentavam esta ideia estava Lord Thompson Secretaacuterio de Estado para a Aviaccedilatildeo nos governos trabalhistas de 1924 e 1929 e seria o incentivador do projeto de construccedilatildeo do dirigiacutevel R10154 na Royal Airship Works empresa governamental situada em Cardington Conta-se que para acalmar a oposiccedilatildeo a construccedilatildeo de uma segunda nave chamada de R10055 foi oferecida a uma empresa privada a Vickers Limited

Esperava-se com este empreendimento que o R100 e o R101 se tornassem siacutembolos ldquoas naus capitacirc-nias do Impeacuterio Britacircnico na nova erardquo O maior o R101 deveria voar sem escalas de Londres agrave Iacutendia e mais tarde talvez ateacute a Austraacutelia O menor o R100 projeto mais modesto deveria realizar serviccedilo aeacutereo regular atraveacutes do Atlacircntico ligando a Inglaterra ao Canadaacute

Conta-nos o autor que desde o iniacutecio

o projeto do R101 foi impulsionado pela ideonotlogia e natildeo pelo bom senso O R101 precisaria vir a ser o maior dirigiacutevel do mundo natildeo importando a que preccedilo e a que preccedilo fosse deve-

54 Conheccedila mais httpenwikipediaorgwikiAirship_R10155 Conheccedila mais httpenwikipediaorgwikiR100

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ria estar pronto para voar ateacute a Iacutendia numa data fixa de outubro de 1930 quando o proacuteprio Lord Thompson embarcaria em sua viagem inaugural de ida e volta a Carachi retomando a tempo de participar da Conferecircncia Imperial em Londres Sua chegada dramaacutetica agrave con-ferecircncia a bordo de um dirigiacutevel trazendo flores frescas da Iacutendia demonstraria a grandeza da Gratilde-Bretanha e do Impeacuterio para um mundo admirado incidentalmente demonstraria a superioridade da induacutestria socialista e do proacuteprio Lord Thompson O enorme tamanho e a data fixada formaram lima combinaccedilatildeo fatal () Natildeo havia tempo para submeter o aparel-ho a vocircos de teste exaustivos antes da viagem ateacute a Iacutendia O dirigiacutevel partiu finalmente para sua viagem inaugural ensopado e sob terriacutevel mau tempo () O dirigiacutevel mal tinha empuxo suficiente para elevaacute-lo acima de seu mastro de ancoragem Oito horas depois caiu e se in-cendiou numa lavoura no norte da Franccedila Das 54 pessoas a bordo seis sobreviveram Lord Thompson natildeo estava entre elasEnquanto isso com a ajuda de Norway o R100 era construiacutenotdo de uma forma mais razoaacutevel Seus compartimentos de gaacutes natildeo vazavam e o aparelho tinha margem de empuxo suficien-te para levar sua carga projetada O R100 completou sua viagem inaugural de ida e vol-ta a Montreal sem desastres sete semanas antes que o R101 partisse da Inglaterra Mas Norway achou que a viagem esteve longe de ser tranquumlilizadora Ele informou que o R100 foi violentamente agitado numa tempestade local sobre o Canadaacute tendo tido sorte de natildeo se despedaccedilar Norway natildeo o considerou seguro o suficiente para prestar serviccedilos regula-res no transporte de passageiros A questatildeo de saber se o aparelho seria suficientemente seguro esvaziou-se apoacutes o desastre do R101 Depois de tal desastre seria improvaacutevel que algum passageiro assumisse o risnotco O R100 foi discretamente desmantelado e vendido aos pedanotccedilos A era dos di-rigiacuteveis imperiais chegava ao fim (p 26)

A criacutetica ao R100 e o desastre envolvendo o R101 enfraqueceram a ideia de desenvolver o dirigiacutevel como meio seguro de transporte Mas Lord Cunard dono da empresa de navegaccedilatildeo Cunard reuniu a seus engenheiros e questionou como seria possiacutevel criar e manter um serviccedilo semanal atraveacutes do Atlacircntico usando apenas dois navios considerando que naquela eacutepoca a travessia do Atlacircntico de-morava de sete a oito dias solicitando minimamente ao menos trecircs navios para o serviccedilo semanal Estava lanccedilado o desafio Tempo depois os engenheiros da companhia apresentaram as soluccedilotildees os projetos do Queen Mary56 e do Queen Elizabeth57 Ambos alcanccedilaram ecircxito e obtiveram precircmios de velocidade entre os dois continentes Os dois navios se mantiveram na funccedilatildeo ateacute que os Boeing 70758 trouxeram uma alternativa para viagens intercontinentais

Se por um lado o Boeing 707 triunfou frente aos navios de passageiro ele pode ter provocado um outro desastroso exemplo de impulso ideoloacutegico a tecnologia envolvendo agora os jatos de passa-geiros Comet

Durante a Segunda Guerra Mundial a companhia de Havilland construiacutera bombardeiros e caccedilas a jato Terminada a II Grande Guerra a empresa desenvolveu o projeto do Comet jato comercial que seria capaz de voar duas vezes mais raacutepido do que os aviotildees de transporte a heacutelice daquela eacutepoca Neste periacuteodo o governo britacircnico criou a British Overseas Airways Corporation (BOAC) empresa com o monopoacutelio estatal sobre rotas aeacutereas de longa distacircncia e que esperava colocar uma frota de Comet em serviccedilo nas rotas que ligavam Londres a Aacutefrica ao sul e a Iacutendia e Austraacutelia a leste

56 Conheccedila mais httpptwikipediaorgwikiRMS_Queen_Mary 57 Conheccedila mais httpptwikipediaorgwikiRMS_Queen_Elizabeth 58 Conheccedila mais httpwwwportalbrasilnetboeing_707htm

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Se o objetivo fosse alcanccedilado conforme o planejado continua Dyson (1998) a Gratilde-Bretanha teria do-miacutenio sobre a ldquoera do jatordquo cinco anos antes que os norte-americanos Diz ele que ldquoenquanto a Boeing Company hesitava os Comet estariam voando Os Comet mostrariam ao mundo a superioridade da tecnologia britacircnica e incidentalmente demonstrariam que o Impeacuterio rebatizado de Comunidade continuava vivordquo (p 28) De certa forma esses desejos e aspiraccedilotildees para o Comet repetiam o que se esperava dos R 101 vinte anos antes os decisores da eacutepoca natildeo aprenderam nada com os erros anteriores

O projeto Comet repetiu o problema de antes ditou politicamente um cronograma para o desenvol-vimento de uma tecnologia difiacutecil exigente e sensiacutevel A decisatildeo poliacutetica levou ao lanccedilamento do Comet em 1952 obedecendo a ideia de estar 5 anos a frente do concorrente norte-americano Uma pessoa anteviu o desastre que se prenunciava O mesmo Nevil Shute que havia vivido experiecircncia semelhante com os dirigiacuteveis R100 e R101 ldquopublicou em 1948 um romance com o tiacutetulo No highway que descreve o modo como as pressotildees poliacuteticas podem forccedilar a entrada em serviccedilo de um aviatildeo inseguro O romance conta a histoacuteria de um desastre notavelmente semelhante aos desastres com o Comet que aconteceriam quatro anos depoisrdquo (p 28)

O defeito do Comet uma concentraccedilatildeo de tensotildees nos cantos de suas janelas que soacute ocorria apenas em grande altitude quando o aparelho estava pressurizado acarretava a rachadura do revestimen-to metaacutelico causando literalmente o esfacelamento do aviatildeo Depois que dois aparelhos foram destruiacutedos dessa forma um sobre a Iacutendia e outro sobre a Aacutefrica os Comet foram tirados de serviccedilo ldquoFoi preciso que cem pessoas morressem para dar fim aos vocircos do Comet duas vezes mais do que no caso dos dirigiacuteveis Se o secretaacuterio de Estado para a Aviaccedilatildeo estivesse a bordo do primeiro Co-met quando de seu desastre eacute possiacutevel que o segundo natildeo tivesse sido necessaacuteriordquo (Dyson 1998 p 28)

Diz Dyson (1998) ao questionar como foi possiacutevel levar passageiros em dirigiacuteveis e aviotildees sem que os testes miacutenimos fossem realizados que

isso ocorreu devido ao choque entre duas culturas a cultura da poliacutetica e a cultura da en-genharia Poliacuteticos tomaram decisotildees cruciais sobre assuntos teacutecnicos que natildeo compreen-diam A tarefa de um poliacutetico em posiccedilatildeo de responsabilidade eacute tomar decisotildees Decisotildees poliacuteticas satildeo frequumlentemente tomadas com base em conhecimento inadequado e geralmen-te natildeo causam grande dano Quando poliacuteticos satildeo encarregados de um empreendimento de engenharia as duas culturas se chocam Quando o empreendimento envolve maacutequinas que voam esse choque tende a levar ao desastreA aviaccedilatildeo eacute o ramo da engenharia menos tolerante a enganos Mas sob um ponto de vista mais amplo a inflexibilidade pode ser uma virtude Na longa perspectiva da histoacuteria as viacuteti-mas do R 101 e do Comet natildeo morreram em vatildeo Como legado de suas trageacutedias deixaram os aviotildees extraordinariamente seguros e confiaacuteveis que voam todos os dias atraveacutes de oceanos e continentes por todo o mundo Sem as duras liccedilotildees trazidas pelo desastre e pela morte o moderno jato de passageiros natildeo teria evoluiacutedo

Um terceiro exemplo dos efeitos da ideologia sobre a tecnologia eacute apresentado no interessante tra-balho de Dyson (1998) a da energia nuclear Comentando o impacto do uso da tecnologia nuclear simbolizado por Hiroshima e de Nagasaki Dyson (1998) nos apresenta um espetacular argumento para este conviacutevio perigoso da ideologia que precisa fazer funcionar a tecnologia a fim de obter re-sultados poliacuteticos

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Quando se permite a uma tecnologia fracassar quando em concorrecircncia com outras tecno-logias o fracasso faz parte do processo normal de evoluccedilatildeo darwinista que leva a melhorias e a um possiacutevel sucesso posterior Quando natildeo se permite agrave tecnologia falhar e ainda assim ela falha o fracasso eacute muito mais danoso Caso se tivesse permitido que a energia nuclear fracassasse no iniacutecio ela poderia muito bem ter evoluiacutedo para uma tecnologia melhor fa-zendo com que hoje o puacuteblico confiasse nela e a apoiasse Nada existe nas leis da Natureza que nos impeccedila de construir usinas nucleares melhores Somos impedidos por uma pro-funda e justificada desconfianccedila por parte do puacuteblico O puacuteblico desconfia dos especialistas porque estes afirmaram ser infaliacuteveis O puacuteblico sabe que o ser humano eacute faliacutevel Somente pessoas cegas pela ideologia caem na armadilha de acreditar em sua proacutepria infalibilidade (p 34)

Comenta o autor que os promotores da fusatildeo estatildeo cometendo os mesmos erros que os da fissatildeo trinta anos atraacutes Esses promotores decidiram concentrar seus esforccedilos num aparato o Tokamak que

por decreto ideoloacutegico eacute declarado o produtor de energia para o seacuteculo XXI O Tokamak foi inventado na Ruacutessia e seus inventores lhe deram um nome que se translitera eufonica-mente em outras liacutenguas Todos os paiacuteses com programas seacuterios de pesquisa sobre fusatildeo construiacuteram Tokamaks Um dos maiores e mais caros fica em Princeton()Planeja-se que os diversos programas nacionais de fusatildeo convirjam num imenso Tokamak internacional a um custo de muitos bilhotildees de doacutelares o qual viria a ser o protoacutetipo dos geradores de fusatildeo do futuro (p 35)

O quarto e uacuteltimo exemplo de Dyson (1998) sobre ldquotecnologia conduzida ideologicamente eacute a dos tan-ques de gelordquo cujo principal nome foi Ted Taylor que na sua juventude foi projetista de armas nu-cleares em Los Alamos Decidiu apoacutes abandonar as atividades nucleares ldquodevotar o resto de sua vida ao desenvolvimento de alternativas tecnoloacutegicas agrave energia nuclear A busca por uma fonte de energia sustentaacutevel e ambientalmente benigna conduziuo aos tanques de gelordquo (p 36) cujo objetivo era

armazenar um grande volume de neve por meio ano de modo que a neve possa ser produzi-da no inverno e usada para refrigeraccedilatildeo durante o veratildeo A neve eacute produzida no inverno aspergindo-se aacutegua numa nuvem fina com uma mangueira igual agraves usadas pelos bombeiros Desde que a temperatura do ar esteja abaixo de zero a nuvem cai no solo na forma de neve que se acumula no tanque A pilha de neve eacute coberta por uma superfiacutecie termicamente iso-lante O tanque comunica-se com o preacutedio a ser refrigerado por meio de canos de aacutegua No veratildeo aacutegua fria eacute extraiacuteda do fundo do tanque e aacutegua quente retoma ao topo Se o tanque eacute grande e fundo o suficiente a neve persiste por todo o veratildeo e o preacutedio permanece fresco A energia necessaacuteria para produzir a neve e bombear a aacutegua eacute muito menor do que a energia requerida na refrigeraccedilatildeo eleacutetrica convencional

Foram construiacutedos pilotos na Universidade de Princeton (usado para refrigerar um preacutedio pequeno) na companhia de seguros Prudential (usado para condicionamento de ar a um edifiacutecio maior) na empresa de queijos Kutter (usado para refrigerar sua faacutebrica) e na pequena cidade de Greenport em Long Island (usado para purificar a aacutegua do mar) Os tanques fracassaram mas causaram perdas miacute-nimas para a sociedade escreve Dyson realccedilando que a ldquotecnologia dos tanques de gelo manteacutem-se como possibilidade para o futuro Um dia talvez uma reencarnaccedilatildeo mais astuta de Taylor encontra-raacute um modo de transformar os tanques de gelo num pacote conveniente e amigaacutevel que materializa-raacute as esperanccedilas de Taylorrdquo (p 40)

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Outro interessante exemplo eacute apresentado por Sasaki59 (2010) quando compara os aviotildees japone-ses e aliados durante a Segunda Grande Guerra Diz o autor que eacute japonecircs que o pricipal aviatildeo de combate japonecircs ndash os chamados Zeros ndash eram leves o que favorecia muitas manobras nas matildeos dos pilotos tecnicamente preparados Ocorre que para ser leve foi retirada a parede de metal protetora da retaguarda dos pilotos Ao contraacuterio dos EUA que mantinham a parede protetora soacutelida ldquoporque o respeito agrave vida humana tinha importacircncia primordialrdquo (p 122) o que gerou a necessidade de des-envolver motores mais potentes para os aviotildees mais pesados

Olivier Martin (2003) ao estudar a sociologia do conhecimento cientiacutefico apresenta a visatildeo de trecircs autores que trataram do conhecimento cientiacutefico e o fato deste ser socialmente influenciado Max Scheler Karl Mannheim e Pitirim Sorokin Interessa-nos agora a proposta de Sorokin

Pitirim Sorokin60 apresenta trecircs grandes classes de sistemas ideoloacutegicos culturais identificados ao longo da histoacuteria da humanidade

As culturas espiritualistas (que concebem a realidade como situada aleacutem do mundo em um ser imaterial eterno) as culturas sensualistas61 (que concebem que natildeo existe nada aleacutem da experiecircncia sensoacuteriasensiacutevel) e as culturas idealistas (uma combinaccedilatildeo das anteriores) [] O progresso cientiacutefico (e teacutecnico) eacute muito diferente nas trecircs culturas e funccedilatildeo do interesse dedicado ao mundo exclusivamente sensiacutevel em funccedilatildeo da presenccedila ou natildeo de uma hipoacute-tese que aceita a existecircncia de um Deus o de um espiacuterito superior as sociedades procu-ram desenvolver ou natildeo tecnologias e saberes cientiacuteficos Sorokin encontra em seu estudo quantitativo uma confirmaccedilatildeo para a sua teoria ao comparar o nuacutemero de descobrimentos cientiacuteficos em funccedilatildeo das classes de cultura de diversas sociedades e momentos histoacuteri-cos demonstra que as ciecircncias positivas se desenvolveram principalmente nas sociedades sensualistas (que por coerecircncia privilegiam a experiecircncia e a observaccedilatildeo) Ao inverso as culturas espiritualistas (que privilegiam as noccedilotildees do bem e do justo) desenvolveram mais seus sistemas filosoacuteficos e religiosos (Martin 2003 p 22-23)

Usando o exemplo dos tanques de gelo de Dyson (1998) podemos concluir que

a tecnologia inspirada ideologicamente natildeo precisa levar ao desastre Soacute leva ao desastre se for protegida da concorrecircncia Uma vez que se garanta que uma tecnologia seja exposta ao processo darwinista de seleccedilatildeo natildeo importa que tenha sido motivada pela busca do lunotcro ou pela ideologia O estiacutemulo ideoloacutegico pode ser uma forccedila positiva para o bem caso con-duza a tecnologias ambientalmente benignas que possam ser testadas no mercado Natildeo lamento os dias felizes que passei com Ted Taylor e seus estudantes ajudando-o a construir o tanque de gelo de Princeton Tivemos mais sorte do que os construtores de dirigiacuteveis e de usinas nucleares pois nos foi permitido fracassar (p 40)

103 Esforccedilo de siacutentese CTS e as ideologias mesmo que ocultas Os exemplos apontados e discutidos por Dyson permitem perceber a forccedila das ideologias e sua ca-pacidade de produzir consequecircncias para a coletividade Ocorre que nem sempre percebemos esta

59 Chikara Sasaki eacute Professor de Histoacuteria e Filosofia da Ciecircncia na Universidade de Toacutequio60 Socioacutelogo norte americano de origem russa (1889-1968) escreveu Social and Cultural Dynamics New York American Book Company 193761 sensualismo s m Doutrina dos que atribuem aos sentidos a origem de todas as ideias (opotildee-se a idealismo) Diconaacuterio Priberan

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SOBRE AS VARIAacuteVEIS QUE IMPLICAM NAS RELACcedilOtildeES CTS143

orientaccedilatildeo ideoloacutegica ndash e muito menos elas estatildeo expliacutecitas ndash nas decisotildees de Ciecircncia e Tecnologia e por conseguinte nas poliacuteticas de CampT e na Poliacutetica em geral A escolha de uma tecnologia natildeo eacute somente uma escolha de um meio neutro Quando se escolhe uma tecnologia porque ela natildeo eacute neutra escolhe-se tambeacutem um modelo sociedade de organizaccedilatildeo entre os membros desta sociedade um modelo de produccedilatildeo econocircmica uma aacuterea de conhecimento a ser fomentada uma cadeia produtiva a ser incentivada e outras a serem descontinuadas Toda escolha poliacutetica mesmo que lastreada na eacutetica e na correccedilatildeo e focada no interesse puacuteblico efetivo eacute fundada no interesse de grupos ou pessoas A escolha poliacutetica natildeo eacute neutra Quando uma sociedade por meio dos seus representantes poliacuteticos produz uma poliacutetica de trans-porte e faz a escolha do meio rodoviaacuterio em detrimento aos meios ferroviaacuterio e aquaviaacuterio estaacute na verdade fazendo opccedilatildeo por uma cadeia produtiva de base econocircmica (com todos os setores pro-dutivos ligados a ela de forma direta ou indireta) que privilegia (1) uma aacuterea do conhecimentos (e seus membros) (2) a extraccedilatildeo do petroacuteleo como fator diferenciador de crescimento que fortaleceraacute econocircmica e politicamente determinados estados da federaccedilatildeo (3) as induacutestrias de produccedilatildeo se-cundaacuteria como maacutequinas pesadas para o setor petroliacutefero (4) as cidades que possuem ou possuiratildeo refinarias e induacutestrias alimentadas por mateacuterias primas a partir do petroacuteleo (5) uma segmento de mercado que manteraacute seguramente um movimento financeiro de largo porte por deacutecadas visto que este tipo de decisatildeo natildeo eacute revertida com facilidade Ao fazer uma escolha deixa de escolher outra obviamente Uma escolha atinge inenarraacuteveis niacuteveis de produccedilatildeo e grupos sociais especiacuteficos de forma positiva ou negativa Da mesma forma podemos construir a cadeia produtiva atingida positiva ou negativamente quando se decide substituir os vasilhames de transporte de leite para o consumidor Antes essa comercia-lizaccedilatildeo para o consumidor era realizada por frasco de vidro depois decidiu-se pelo saco plaacutestico e agora por embalagens tetrapak Cada escolha desta privilegia um segmento de mercado uma regiatildeo do paiacutes um conjunto de cidades um conjunto de cidadatildeos um setor tecnoloacutegico e cientiacutefico e possui um quantum de impostos que novamente beneficiaraacute estados e cidades que estejam na cadeia pro-dutiva A ideologia natildeo eacute neutra mas direciona as decisotildees No Brasil neste momento vivemos a hora de de-cisatildeo tecnoloacutegica que teraacute impactos variados (expliacutecitos e ocultos aos olhos pouco preparados para as leituras) Temos a decisatildeo sobre a ampliaccedilatildeo da energia nuclear na matriz energeacutetica brasileira Temos a valorizaccedilatildeo do biocombustiacutevel como alternativa para o alto consumo de combustiacuteveis resul-tantes do petroacuteleo Eis nossa chance de estudar as matrizes de consequecircncia destas decisotildees a serem tomada por nossos representantes eacute a chance de exercitarmos a maacutexima Ciecircncia e Tecnologia com Sociedade

Atividade Proposta para reflexatildeo

Este moacutedulo desenvolveu as possiacuteveis relaccedilotildees entre Ideologia e Tecnologia Deixou indicado que existem outros fatores que interferem na construccedilatildeo da tecnociecircncia como por exemplo eacutetica gecirc-nero grupos sociais religiatildeo etc

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SOBRE AS VARIAacuteVEIS QUE IMPLICAM NAS RELACcedilOtildeES CTS144

Um interessante tema de estudo em poliacutetica puacuteblica eacute a ldquodiferenciaccedilatildeo de gecircnerordquo Realize uma pes-quisa e responda se o ldquofator gecircnerordquo tem alguma influecircncia no sistema de Ciecircncia Tecnologia e So-ciedade

REPERCUSSAtildeO SOCIAL DO DESENVOLVIMENTO CIENTIacuteFICO E TECNOLOacuteGICO145

11 Repercussatildeo social do desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico

A vida eacute breve A ciecircncia eacute duradoura A oportunidade eacute ardilosa A experimentaccedilatildeo eacute perigosa O julgamento eacute difiacutecil Hipoacutecrates Aforisma I1

Atividade preacuteviaResponda as questotildees a seguir Faccedila-o por escrito e guarde sua resposta ateacute o final do estudo deste moacutedulo

1 ldquoQual eacute na sua opiniatildeo a mais importante invenccedilatildeo dos uacuteltimos dois mil anos rdquo e

2 ldquoPor quecirc

111 Introduccedilatildeo Um homem que possua hoje 100 anos foi testemunha de inuacutemeras mudanccedilas tecnoloacutegicas mas tam-beacutem sociais Ele presenciou o surgimento e a sequecircncia de mudanccedilas nos sistemas de transportes da carroccedila ao aviatildeo supersocircnico Ele observou as guerras ditas mundiais e outras tantas de menor tamanho mas com impactos natildeo menos danosos e catalogou os poucos anos sem guerra neste seacutecu-lo Viu o surgimento da televisatildeo do teleacutegrafo do telefone do aviatildeo comercial dos antibioacuteticos do computador da internet dos transplantes e muito mais Certamente seus pais natildeo poderiam anteci-par o mundo em que ele estaria ao completar 100 anos de existecircncia numa sociedade em constante transformaccedilatildeo tecnocientiacutefica No campo social ele presenciou a revoluccedilatildeo sovieacutetica e a cubana bem como a queda da primeira e flexibilizaccedilatildeo da segunda foi observador privilegiado quando da instalaccedilatildeo da guerra fria e das recentes glasnost62 (transparecircncia) e perestroika63 (reconstruccedilatildeo) e viu o surgimento de ditadores e deacutespotas de ambos os lados da poliacutetica aplaudiu homens e mulheres valorosos que defendiam direitos sem abrir matildeo de deveres este foi um seacuteculo breve como escreve Eric Hobsbawm (1995) Taylor e Wacker (1999) escreveram um livro com um subtiacutetulo bastante provocativo o que acontece depois do que vem a seguir Esse livro fala da histoacuteria e direccedilatildeo de futuro a curto e longo prazos In-dica qualidades e estruturas mentais que seratildeo valorizadas Reafirma como os demais a existecircncia da mudanccedila raacutepida e maciccedila Dentre as muitas antecipaccedilotildees algumas satildeo comuns a loacutegica baseada no caos a fragmentaccedilatildeo das organizaccedilotildees sociais poliacuteticas e econocircmicas o fortalecimento da realidade individual e os estilos de vida situacionais dentre outros Mas chama a atenccedilatildeo para um ponto novo nesse cenaacuterio futuro fundado na informaccedilatildeo e na conectividade a emergecircncia da gestatildeo da privacidade como uma das atividades de maior crescimento na proacutexima deacutecada

62 Conheccedila mais httpptwikipediaorgwikiGlasnost63 Conheccedila mais httpptwikipediaorgwikiPerestrC3B3ica

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REPERCUSSAtildeO SOCIAL DO DESENVOLVIMENTO CIENTIacuteFICO E TECNOLOacuteGICO146

Ao analisarem a velocidade desse novo mundo em mudanccedila os autores apresentam interessantes dados evolutivos da sociedade americana

Em 1960 Em 1995

925 mil americanos tinham 85 anos ou mais Chegam a 38 milhotildees

457 milhotildees de domiciacutelios tinham televisatildeo com apenas um aparelho por domiciacutelio 95 milhotildees de domiciacutelios com 213 milhotildees de apare-lhos

O computador tiacutepico conseguia processar menos de 15 MIPS-milhotildees de instruccedilotildees por segundo e atendia a 550 pessoas 150 MIPS e atende a apenas uma pessoa

O executivo principal tiacutepico viajava 19320 quilocircmetros por ano Viaja 180320 quilocircmetros por ano

23 milhotildees de mulheres trabalhavam por um salaacuterio Satildeo 61 milhotildees

A pessoa tiacutepica tinha um emprego e uma carreira em sua vida profissional Tem expectativa de sete empregos e duas carreiras

Uma pessoa tiacutepica tinha que aprender uma habilidade por ano para prosperar no trabalho Tem que aprender uma habilidade por dia

5 mais ricos controlavam 17 da riqueza da naccedilatildeo Os mesmos 5 controlam 215 das riquezas

O americano tiacutepico era de classe meacutedia Eacute pobre ou rico

A crianccedila tiacutepica tinha 1 conjunto de pais e 2 conjuntos de avoacutes Tem 25 conjuntos de pais e 6 conjuntos de avoacutes

O pai americano tiacutepico conversava com seu filho 45 minutos por dia Conversa apenas 6 minutos por dia

O setor econocircmico mais importante dos EUA era a induacutestria O setor mais importante satildeo as ideias

Vejamos a seguir alguns eventos tecnocientiacuteficos relevantes (Quadro I) presenciados pelo nosso centenaacuterio observador bem como os eventos que influenciaram o meio ambiente (Quadro II)

Quadro I

Ano Eventos Relevantes na Ciecircncia e Tecnologia

1900 Max Planck elabora a Teoria dos Quanta

1903 Henry Ford funda a Ford Motor Company

1911 Rutherford demonstra experimentalmente a existecircncia do nuacutecleo atocircmico

1915 Einstein enuncia a Teoria da relatividade

1916 Os genes satildeo localizados nos cromossomas

1924 De Broglie desenvolve os fundamentos da mecacircnica ondulatoacuteria

1932 Morgan descobre os genes e as mutaccedilotildees experimentais

1934 Joliot-Curie descobrem a radioatividade experimental

1940 Florey usa a penicilina como arma eficaz nas patologias humanas

1942 Inicia o Projeto Manhattan (destinado a alcanccedilar o domiacutenio da tecnologia atocircmica para fins militares antes dos alematildees) Primeiro reator em cadeia

1945 Primeira bomba atocircmica utilizada para fins beacutelicos

1946 Construccedilatildeo do primeiro ldquoceacuterebro eletrocircnicordquo (ENIAC)

1947 Shanon formula a teoria da comunicaccedilatildeo

1948 Invenccedilatildeo do transistor

1949 A URSS testa sua Bomba Atocircmica sendo seguida pelo Reino Unido (1952) Franccedila (1960) e China (1964)

1950 Primeiro transplante de rins seguido do de fiacutegado (1963) de pulmatildeo (1964) etc

1953 Watson e Crick descrevem a estrutura do DNA

1955 Advento da piacutelula anticoncepcional

1957 Lanccedilamento do Sputnik e iniacutecio da corrida espacial Desenvolvimento do circuito integrado

1959 UNIMATION Inc produz o primeiro robocirc industrial

1960 Inicia o funcionamento a primeira usina nuclear para produzir eletricidade Invenccedilatildeo do laser

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REPERCUSSAtildeO SOCIAL DO DESENVOLVIMENTO CIENTIacuteFICO E TECNOLOacuteGICO147

1961 A talidomida eacute proibida na Europa depois de causar deficiecircncia em mais de 2500 bebecircs

1962 Publicaccedilatildeo de Primavera Silenciosa de Rachel Carson

1963 Larry Robert concebe e desenha para o exeacutercito americano o ARPAnet que deu origem agrave INTERNET

1967 Primeiro transplante de coraccedilatildeo em seres humanos

1968 A Kawasaki implanta robocircs em linhas de produccedilatildeo

1969 O Homem pisa na Lua

1970 Khorana e colaboradores conseguem a siacutentese de gens em laboratoacuterio

1971 Primeiro microprocessador Intel

1972 Inicia o funcionamento da primeira TV a cabo (EUA)

1973 Primeiro organismo produzido por engenharia geneacutetica

1975 Conferecircncia de Asilomar sobre os perigos da biogeneacutetica Criaccedilatildeo da Microsoft por Bill Gates e Paul Allen

1978 Primeiro bebecirc de proveta

1981Primeiro voo espacial do Columbia IBM inventa o PC Isolado o viacuterus da AIDS

1982 Criaccedilatildeo dos primeiros ratos transgecircnicos

1985 Confirmado o ldquoburaco na Camada de Ozocircniordquo na Antaacutertica

1986 Cataacutestrofe de Chernobyl (Ucracircnia) 20 milhotildees de afetados e mais de 5 mil mortos ateacute 1994

1989 Queda do Muro de Berlim

1990 Primeira terapia geneacutetica em humanos Projeto Genoma Humano

1991 Surgimento do Disco Laser

1994 Surgimento do CD-Room

1997 Produzida a Ovelha Dolly (clonagem) O supercomputador Deep Blue derrota pela primeira vez um mestre do xadrez Kasparov

(sobre os trabalhos de Gonzaacutelez Garciacutea Loacutepez Cerezo e Lujaacuten Loacutepez 1996 Tortajada e Pelaacuteez 1997)

Quadro IIAlguns acontecimentos histoacutericos que influenciaram no meio ambiente

Ano Acontecimento que influenciou o meio ambiente

1945 Ataque Nuclear a Hiroshima e a Nagasaki (Japatildeo)

1971 Criaccedilatildeo do Greenpeace e dos Amigos da Terra Primeira manifestaccedilatildeo contra os ensaios nucleares

1972 Primeira Conferencia Mundial de Meio Ambiente em Estocolmo Primeiro Informe do Clube de Roma

1973 Primeira crise do petroacuteleo

1974 Conferencia Mundial sobre Populaccedilatildeo (Meacutexico)

1976 Acidente de Seveso (Itaacutelia) que se converteu em um siacutembolo da luta ecologista

1979 Acidente Nuclear em Three Mille Island (EUA)

1980 Apresentaccedilatildeo do Informe 2000 de Carter

1983 Trageacutedia de Bopal (Iacutendia) com 7000 mortos e 800000 atingidos

1984 A libertaccedilatildeo de gaacutes pela Union Carbide (Iacutendia)

1986 Trageacutedia de Chernobyl (Ucracircnia)

1987 Informe Brutland falando sobre a deteriorizaccedilatildeo da Camada de Ozocircnio e o efeito estufa

1988 Nasce o IPCC (Painel Intergovernamental sobre a Mudanccedila Climaacutetica)

1989 A Terra eacute o personagem do ano na Revista TIME Desastre do Exxon Valdez (Alaska)

1990 O Protocolo de Montreal proiacutebe a produccedilatildeo de CFC

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REPERCUSSAtildeO SOCIAL DO DESENVOLVIMENTO CIENTIacuteFICO E TECNOLOacuteGICO148

1991 Assinado em Madri o Protocolo para proteccedilatildeo da Antaacutertica

1992ECO-92 no Rio de Janeiro Convecircnio sobre Mudanccedilas Climaacuteticas Conferecircncia Mundial sobre Energia

1994 Conferecircncia sobre Populaccedilatildeo (Cairo)

1995 Franccedila realiza testes nucleares Conferecircncia de Berlim sobre Mudanccedilas Climaacuteticas

2001 Vazamento do navio petroleiro Jessica (Ilhas Galaacutepagos)

2002 Vazamento o petroleiro grego Prestige (Espanha)

2010 Explosatildeo na plataforma de petroacuteleo Deepwater Horizon e vazamento de oacuteleo (Golfo do Meacutexico) Rompimento da barragem em Ajka (Hungria)

2011 Vazamento na Central Nuclear de Fukushima I (Japatildeo)

2015 Rompimento da barragem de Mariana (Minas Gerais Brasil)

(sobre o trabalho de Tortajada e Pelaacuteez 1997)

112 Os efeitos da relaccedilatildeo CTS observados na histoacuteria

Observada como histoacuteria a trajetoacuteria da Tecnociecircncia e os efetivos impactos na sociedade eacute algo mais simples Temos condiccedilatildeo de melhor avaliar esta relaccedilatildeo nos aspectos positivos ou negativos quanto mais distantes estamos dos acontecimentos Quanto mais proacuteximos dos fatos e acontecimentos mais difiacutecil a isenccedilatildeo para uma anaacutelise imparcial Mesmo assim a leitura do passado da tecnociecircncia natildeo traz consensos

Em 1998 Jonh Brockman editor da prestigiada agecircncia literaacuteria Brockman Inc enviou um questio-naacuterio a diversas personalidades dos mais diversos campos do conhecimento onde fazia as seguintes perguntas ldquoQual eacute a mais importante invenccedilatildeo dos uacuteltimos dois mil anosrdquo e ldquoPor quecircrdquo As respostas foram reunidas em um livro e percebe-se que mesmo observando a histoacuteria das descobertas e das in-venccedilotildees mesmo tendo oportunidade de refletir sobre o conjunto de consequecircncias natildeo haacute consenso entre os diversos especialistas entrevistados Cada qual aponta uma invenccedilatildeo e justifica de acordo com suas convicccedilotildees E os poucos que repetem a opccedilatildeo justificam de maneira distinta Vamos ilus-trar algumas das opccedilotildees e das justificativas a fim de refletirmos como as relaccedilotildees CTS podem ser ricas em observaccedilotildees e anaacutelises (Brockman 2000)

bull Freeman Dyson professor de fiacutesica do Instituto de Estudos Avanccedilados em Princeton muito citado nos moacutedulos anteriores diz que eacute o feno Diz ele que antes da existecircncia do feno a civilizaccedilatildeo soacute podia existir em climas quentes onde os cavalos podiam pastar durante o inverno Quando o feno passou a existir a partir do momento que o homem foi capaz de armazenaacute-lo foi possiacutevel expandir suas fronteiras dando origem a Viena Paris Berlim e depois Moscou e Nova Iorque

bull Douglas Rushkoff professor de cultura virtual na Universidade de Nova York e reno-mado escritor diz que eacute a borracha de apagar ldquoAssim como a tecla delete o fluido de correccedilatildeo a emenda constitucional e todos os outros instrumentos que nos permitem voltar e corrigir nossos errosrdquo (p 31)

bull Steven Rose neurobioacutelogo diretor do Grupo de Pesquisa de Ceacuterebro e Comportamento na Universidade Aberta em Londres apresenta uma interessante resposta Escreve ele que natildeo precisa de uma paacutegina ldquoA resposta eacute clara invenccedilotildees satildeo conceitos natildeo apenas tecnologias Logo as mais importantes invenccedilotildees satildeo os conceitos de democracia e de justiccedila social e a crenccedila na possibilidade de criar uma sociedade livre de opressatildeo de classe raccedila e gecircnerordquo (p 98)

bull Stanislas Dehaene neurocientista cognitivo no Institut National de La Santeacute et La re-

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REPERCUSSAtildeO SOCIAL DO DESENVOLVIMENTO CIENTIacuteFICO E TECNOLOacuteGICO149

cherche Meacutedicale em Orsay diz que ldquoa mais importante invenccedilatildeo humana natildeo eacute um artefato como a piacutelula ou o barbeador eleacutetrico Eacute uma ideia ndash a ideia mesma que tornou possiacutevel todos esses sucessos teacutecnicos ndash e esta eacute o conceito de educaccedilatildeordquo (p 104)

Na curiosa pesquisa de surpreendentes resultados realizada por Brockman (2000) a imprensa de Gutemberg foi bem votada A piacutelula anticoncepcional oral tambeacutem Houve a lembranccedila do estribo e do arreio do cavalo do leme da luz eleacutetrica e outros tantos aparatos tecnoloacutegicos Houve a lem-branccedila de conhecimentos importantes como o bem votado caacutelculo a geometria o meacutetodo cientiacutefico a ciecircncia organizada dentre outros Mas o que nos impressiona eacute a quantidade de indicaccedilotildees que certamente natildeo seriam lembrados pela maioria de noacutes frente a questatildeo apresentada na pergunta as estruturas sociais que possibilitam as invenccedilotildees o Cristianismo e o Islatilde o autogoverno o livre arbiacute-trio a ideia do inconsciente para falar de alguns Se os conceitos estreitos de Tecnologia e de Ciecircncia jaacute permitiam que apresentaacutessemos um sem nuacute-mero de opccedilotildees a questatildeo levantada imaginemos a janela de possibilidade que se abre quando am-pliamos o entendimento de invenccedilatildeo e a tomamos como um conceito Eis que mais uma vez somos convidados a reconceitualizar aquilo que aprendemos com a tradiccedilatildeo Uma Tecnologia amparada pelo aparato fiacutesico e palpaacutevel e uma Ciecircncia que segue linearmente para frente acima de duacutevidas e questotildees Visto desta forma as interaccedilotildees CTS se enriquecem e se desdobram em um nuacutemero muito maior de possibilidades e de questotildees que nos convidam a mais refletir para melhor participar da construccedilatildeo social da Ciecircncia e da Tecnologia Frente a isso podemos ampliar um pouco nossa visatildeo sobre a Tecnologia e propor uma abordagem que permita trazer a visatildeo de sistema agraves organizaccedilotildees e accedilotildees sociais aproximando-se de algo que podemos chamar de tecnologia social No dizer de Bazzo Linsingen e Pereira (2003 p 44)

De maneira mais precisa podemos definir tentativamente a tecnologia como uma coleccedilatildeo de sistemas projetados para realizar alguma funccedilatildeo Fala-se entatildeo de tecnologia como siste-ma e natildeo somente como artefato para incluir tanto instrumentos materiais como tecnolo-gias de caraacuteter organizativo (sistemas impositivos de sauacutede ou educativos que podem estar fundamentados no conhecimento cientiacutefico)A educaccedilatildeo eacute um exemplo claro de tecnologia de organizaccedilatildeo social Mas tambeacutem o satildeo o urbanismo a arquitetura as terapias psicoloacutegicas a medicina ou os meios de comunicaccedilatildeo Nestes casos a organizaccedilatildeo social resulta ser um artefato relevante Portanto se o desenvol-vimento tecnoloacutegico natildeo pode reduzir-se a uma mera aplicaccedilatildeo praacutetica dos conhecimentos cientiacuteficos tampouco a proacutepria tecnologia nem seus resultados os artefatos podem limi-tar-se ao acircmbito dos objetos materiais Tecnoloacutegico natildeo eacute soacute o que transforma e constroacutei a realidade fiacutesica bem como aquilo que transforma e constroacutei a realidade social (grifos nossos)

113 Os efeitos da relaccedilatildeo CTS hoje Assim como eacute possiacutevel debruccedilarmos sobre a janela da histoacuteria e enumerar as accedilotildees de interdepen-decircncia ente os formadores da triacuteade CTS eacute possiacutevel mas menos imparcial identificarmos estes im-pactos e interrelaccedilotildees na atualidade Para isso eacute importante escolher um modelo de evoluccedilatildeo social para orientar as discussotildees

Nesta mesma direccedilatildeo Tortajada e Pelaacuteez (1997) informam que da mesma maneira que o modelo de sociedade industrial substituiu a sociedade agriacutecola hoje vemos a sociedade industrial perdendo

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REPERCUSSAtildeO SOCIAL DO DESENVOLVIMENTO CIENTIacuteFICO E TECNOLOacuteGICO150

forccedila por conta de uma revoluccedilatildeo tecnocientiacutefica Dizem os autores que

A nova transformaccedilatildeo social global que se apresenta no horizonte histoacuterico vai trazer mu-danccedilas importantes nas formas de vida de trabalho de oacutecio nos costumes e nas formas de pensar e de atuarAinda que hoje se qualifique de diferentes maneiras o novo modelo de sociedade emer-gente o conceito mais adequado eacute o de sociedade tecnoloacutegica ou sociedade tecnoloacutegica avanccedilada onde a tecnologia se converteu em elemento social baacutesico na organizaccedilatildeo da pro-duccedilatildeo no trabalho no desenho e realizaccedilatildeo dos bens e utensiacutelios de consumo e mesmo na configuraccedilatildeo geral da sociedade A teacutecnica desempenha portanto o mesmo papel baacutesico que a explosatildeo agriacutecola desempenhou nas sociedades agriacutecolas e a induacutestria nas sociedades industriais (p 149)

Essa discussatildeo sobre modelos sociais de base tecnocientiacutefica natildeo eacute nova Vaacuterios autores jaacute buscaram no passado descrever os caminhos possiacuteveis para a sociedade quando da evoluccedilatildeo dos conceitos de ciecircncia e de tecnologia Autores em posiccedilotildees poliacuteticas e ideoloacutegicas distintas o que dava a cada um deles um colorido diferente e um ar de apoio incondicional ateacute o outro extremo da discordacircncia ab-soluta Tortajada e Pelaacuteez (1997 p 138) lembram que no ano de 1959 Ralph Dahrendorf indicava as trans-formaccedilotildees da sociedade industrial levando a uma sociedade poacutes-capitalista ou sociedade industrial desenvolvida Nos anos setenta Daniel Bell e Herman KahnAnthony Wiener jaacute antecipavam aquilo que chamaram de sociedade poacutes-industrial cunhando o termo que permanece com mais amplo uso ateacute hoje A sociedade poacutes-industrial resulta pois dos impactos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos podendo ainda com as variaccedilotildees proacuteprias apresentadas pelos diversos analistas ser conhecida com alguma variaccedilatildeo por sociedade poacutes-capitalista sociedade tecnotrocircnica (Brzeninski) sociedade poacutes-moder-na (Etzioni e outros) sociedade opulenta ou novo Estado industrial (Galbraith) sociedade poacutes-tra-dicional (Eisentadt) sociedade superindustrial sociedade industrial-tecnoloacutegica (Ionescu) terceira onda (Toffler) etc Neste modelo com muitos nomes podemos perceber ndash grosso modo ndash que haacute um forte vetor de aproximaccedilatildeo que eacute o consumo de bens e de utensiacutelios cada vez mais aprimorados pela tecnociecircncia e que ao chegarem ao conviacutevio social interferem nas rotinas e criam novas demandas como conse-quecircncias do contato do homem com o aparato que agora passa a ser indispensaacutevel a ele lembrando a frase dita pela Criatura a Victor Frankstein ldquoTuacute eacutes meu criador mas eu sou o teu senhorrdquo Eacute patente a diminuiccedilatildeo do tempo entre a produccedilatildeo de uma ideia e a chegada desta ideia agrave sociedade por meio de um produto conforme nos mostra Langlois (1995 p 301) no quadro III

Quadro III

Descoberta Concepccedilatildeo Realizaccedilatildeo tecnoloacutegica

Tempo em anos

Fotografia 1782 1836 54

Ziacuteper 1883 1913 30

Celofane 1900 1940 40

Radar 1907 1939 32

Milho hiacutebrido 1908 1933 25

Antibioacutetico 1910 1940 30

Energia nuclear 1919 1945 26

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REPERCUSSAtildeO SOCIAL DO DESENVOLVIMENTO CIENTIacuteFICO E TECNOLOacuteGICO151

Nylon 1927 1939 12

Cafeacute instantacircneo 1934 1956 22

Coacutepia tipo Xerox 1935 1950 15

Cacircmera instantacircnea 1945 1947 02

Desodorante roll-on 1948 1955 07

Videotape 1950 1956 06

Cisplatin (droga anticancer) 1964 1972 08

Combinaccedilatildeo do DNA 1972 1982 10

Apesar das criacuteticas que possam surgir agrave dependecircncia dos cidadatildeos aos aparatos tecnoloacutegicos eacute certo que muitos deles trouxeram qualidade de vida e conforto aos trabalhadores sendo responsaacuteveis cer-tamente pela ampliaccedilatildeo da expectativa de vida da populaccedilatildeo atual Considerando os ciclos de apare-cimento desses utensiacutelios uacuteteis para a melhoria da qualidade de vida Tortajada e Pelaacuteez (1997 p 145) propotildeem a seguinte relaccedilatildeo entre modelos de sociedade e o surgimento de utensiacutelios nas diferentes aacutereas da sociedade conforme o quadro IV

Quadro IV - Tendecircncias de evoluccedilatildeo dos ciclos de consumo

Funccedilotildees e serviccedilos

Ponto de partida Modelo tradicional

Primeiro ciclo de consumo sociedade

industrial

Segundo ciclo de consumo sociedade

industrial desenvolvida

Terceiro ciclo de consumo sociedade tecnoloacutegica

avanccedilada

Cozinhar Fogatildeo de carvatildeo e lenha Fogatildeo eleacutetrico e a gaacutes Fogatildeo em ceracircmica e mi-

croondas

Fogotildees e fornos inteligentes que permitem a programaccedilatildeo de acor-do com os pratos desejados e os ingredientes

Consevaccedilatildeo de alimentos

Frasqueiras e panelas de barro Depoacutesito de gelo Frigoriacuteficos eleacutetricos

Depoacutesitos e despensas com novas teacutecnicas de conservaccedilatildeo de alimen-tos que natildeo utilizam gases

Lavadoras Sistemas manuais que utilizavam tabuas de esfregar

Lavadoras manuais e eleacutetri-cas

Lavadoras automaacuteticas para roupas e para louccedilas

Lavadoras com accedilatildeo por ar que economiza aacutegua e diminui o contato com detergente

Informaccedilatildeo e entreteni-mento

Primeiros raacutedios Es-petaacuteculos ao vivo

Transistores TV preto e bran-co Toca-discos

TV colorida Viacutedeos Com-pact-disk

Sistema de TV viacutedeo e aacuteudio inte-grados Visatildeo em trecircs dimensotildees e realidade virtual

Refrigeraccedilatildeo e aquecimen-to

Lareiras e bra-seiros Ventiladores manuais

Aquecimento por oacuteleo es-tufas a gaacutes e ventiladores eleacutetricos

Aquecedor programado e aparelho de ar refrigerado

Climatizaccedilatildeo integral de ambiente se emprego de energia alternativa

Informaccedilatildeo caacutelculo e es-crita

Aacutebacos tabuas de caacutel-culo etc

Calculadoras eleacutetricas de bolso maacutequinas de escrever eleacutetricas etc

Primeira geraccedilatildeo de com-putadores pessoais

Quinta geraccedilatildeo de computadores de grande capacidade e sistemas loacutegicos e sensiacuteveis de funcionamen-to Acesso a grandes redes de in-formaccedilatildeo comunicaccedilatildeo e serviccedilos

Transporte Puacuteblicos e ferroviaacuterios Carros de motor agrave gasolina Surgimento dos utilitaacuterios

Carros agrave gasolina com maior cilindrada

Carros com motor eleacutetrico eou outras formas de energia mais ba-ratas e natildeo contaminantes

Residecircncia Casas proacuteximas bai-rros urbanos tradi-cionais

Grandes urbanizaccedilotildees cida-des dormitoacuterio apartamen-tos etc

Urbanizaccedilotildees modernas com jardins e serviccedilos mo-radias unifamiliares

Nova arquitetura interior com maior polivalecircncia de espaccedilos de acordo com as funccedilotildees e serviccedilos

Fonte Tortajada e Pelaacuteez (1997) Ciencia Tecnologia e Sociedad p 145

O quadro apresentado ilustra de maneira ampla os impactos dos aparatos tecnoloacutegicos no cotidiano e permite perceber as categorizaccedilotildees propostas pelos autores a fim de didaticamente demonstrar os ciclos a que estamos sujeitos Eacute apenas uma das possiacuteveis maneiras de realizar esta comparaccedilatildeo certamente haacute outras

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REPERCUSSAtildeO SOCIAL DO DESENVOLVIMENTO CIENTIacuteFICO E TECNOLOacuteGICO152

114 Os efeitos da relaccedilatildeo CTS para o futuro

Ateacute aqui estudamos como as repercussotildees da Ciecircncia e Tecnologia atingiram a Sociedade no passado e nos esforccedilamos para sermos analistas isentos (o quanto isso eacute possiacutevel) para avaliarmos os mesmos efeitos na sociedade contemporacircnea

Para que nossa viagem em torno do tema ldquoRepercussatildeo social do desenvolvimento cientiacutefico e tecno-loacutegicordquo seja mais completa falta-nos o exerciacutecio de realizar a mesma accedilatildeo agora voltada para o futuro e os seus possiacuteveis cenaacuterios (Chrispino 2000 e 2001)

Sobre a interdependecircncia entre passadopresente e presentefuturo diz-nos Sacristaacuten (2000 p 37-38)

Refletir sobre o presente eacute impossiacutevel sem se valer do passado pois neste tempo que vive-mos encontrou seu nascimento Refletir sobre o futuro tambeacutem eacute impossiacutevel sem se referir ao passado e ao presente jaacute que a partir desses alicerces satildeo construiacutedas as linhas mestras do que estaacute por vir embora em suas projeccedilotildees passado e presente natildeo sejam sequer tempos estritamente reais poderiacuteamos dizer mas imagens-siacutenteses atraveacutes das quais representa-mos para noacutes o que hoje eacute e o que foi Eacute assim que o passado sobrevive no presente e este no futuroO passado foi real e deixou suas pegadas poreacutem quando tentamos entendecirc-lo como algo operativo que se projeta no presente eacute ativo e temos imagens dele que eacute o que fica gravado como memoacuteria lsquoDo que foirsquo ficanos um olhar retrospectivo seletivo porque essas imagens do presente e do passado satildeo de alguma maneira escolhidas resumem e fixam selecionan-do uma realidade multiforme e contraditoacuteria O que natildeo estaacute nessas imagens natildeo existiu Daiacute a verdade da afirmaccedilatildeo de que quem conta a histoacuteria satildeo os que a fazem como narraccedilatildeo Se do que se trata eacute olhar o presente entatildeo as miacuteticas imagens operativas do passado servem para valorizarmos o atual referindo-o ao lsquode onde viemosrsquo e prolongando assim a capaci-dade operativa do passado Progresso e regresso continuidade e descontinuidade satildeo e natildeo satildeo em relaccedilatildeo ao anteriorConstruir o futuro no sentido de prevecirc-lo e de querer que seja um e natildeo outro soacute eacute possiacute-vel a partir dos significados que as imagens do passado e do presente oferecem-nos Natildeo se trata de adivinhar o que nos espera mas de ver com que imagens do passado-presente enfrentaremos essa construccedilatildeo que eacute o que canalizaraacute o futuro sua direccedilatildeo seu conteuacutedo e seus limites

Certamente poderiacuteamos lanccedilar matildeo de uma seacuterie de autores que satildeo conhecidos pelas suas histoacuterias de ficccedilatildeo cientiacutefica quer nos livros quer no cinema Desde Julio Verne a Isaac Assimov de Arthur Clark a Alvin Toffler haacute muito o que discutir estudar e prospectar Mas considerando que o tema em estudo eacute o futuro das relaccedilotildees CTS vamos escolher alguns autores que projetem possibilidades e abram novos espaccedilos para nossa reflexatildeo obtidos de Chrispino (2001)

Blur eacute uma interessante publicaccedilatildeo de Davis e Meyer (1999) do Ernst amp Young Center for Business Innovation traz uma nova maneira de observar as mudanccedilas na economia a partir dos impactos da tecnociecircncia Os autores apresentam os princiacutepios da conectividade da velocidade e da intangibili-dade e os conceituam assim

bull Velocidade todos os aspectos que envolvem negoacutecios e a organizaccedilatildeo ocorrem e mu-dam em tempo real

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REPERCUSSAtildeO SOCIAL DO DESENVOLVIMENTO CIENTIacuteFICO E TECNOLOacuteGICO153

bull Conectividade todas as coisas vatildeo se conectando eletronicamente produtos pessoas empresas paiacuteses enfim qualquer coisa

bull Intangibilidade toda proposta possui valor econocircmico tangiacutevel e intangiacutevel O intangiacute-vel cresce mais rapidamente

Esses trecircs princiacutepios se propotildeem a antagonizar os limites da fiacutesica massa tempo e espaccedilo Dizem os autores que

A comunicaccedilatildeo e a computaccedilatildeo quase instantacircneas por exemplo estatildeo reduzindo o tempo e nos concentrando no aspecto da Velocidade A Conectividade estaacute colocando todo mundo on line de uma forma ou de outra e tem provocado a ldquomorte da distacircnciardquo um encolhimento do espaccedilo A Intangibilidade de valores de todos os tipos como serviccedilos e informaccedilatildeo cres-ce em ritmo vertiginoso reduzindo a importacircncia da massa tangiacutevel (p 6)

Numa obra rica em exemplos contemporacircneos de empresa e de empreendimentos os autores apon-tam como o mundo iraacute se comportar com esses trecircs novos componentes do mercado do pensamento do modo de ser O resultado eacute uma projeccedilatildeo bastante interessante e muito provocativa de como seraacute o futuro

Oliver (1999) aproveita sua experiecircncia como consultor e membro de conselhos de administraccedilatildeo de grandes empresas para apontar as futuras mudanccedilas no mercado Numa bem cuidada e rica anaacutelise da histoacuteria dos negoacutecios e do conhecimento o autor apresenta trecircs etapas distintas e consecutivas a era agraacuteria a era industrial e a era da informaccedilatildeo Aponta nova era econocircmica a era dos biomateriais Na sua visatildeo de futuro aleacutem dos sete mandamentos estrateacutegicos e das sete empresas do seacuteculo XXI ele apresenta os sete produtos e tecnologias do seacuteculo XXI que satildeo

bull Cartotildees inteligentesbull Sensoresbull Knowbots (robocircs com conhecimento)bull Redes neuraisloacutegica fuzzybull Materiais inteligentesbull Biotecnologia ebull Maacutequinas nano e pico

115 Os efeitos da relaccedilatildeo CTS esforccedilo de siacutentese Quando vamos agrave escola e aprendemos as regras da linguiacutestica ou da linguagem erudita jaacute sabemos fa-lar esse eacute um aprendizado lastreado na relaccedilatildeo social e que se daacute ao longo da vida Da mesma forma a Ciecircncia e a Tecnologia Quando somos apresentados aos estudos formais da aacuterea tecnocientiacutefica na verdade jaacute estamos impregnados de concepccedilotildees preacutevias e de conceitos que elaboramos a partir das relaccedilotildees com o ldquotecno-mundordquo e no que tange aos aparatos tecnoloacutegicos noacutes jaacute os possuiacutemos ou somos possuiacutedos pela vontade de possuiacute-los E em alguns casos somos possuiacutedos por eles (Martiacuten Gordillo e Osorio 2003)

As interaccedilotildees CTS e mais especificamente o tema deste moacutedulo ldquoRepercussatildeo social do desenvolvi-mento cientiacutefico e tecnoloacutegicordquo devem servir como ldquodivisor de aacuteguasrdquo para a maneira como reagiacutea-mos as interaccedilotildees e a maneira como nos deixaacutevamos conduzir pela ideia da Ciecircncia e da Tecnologia como entes neutros e produtores do Bem e do Bom

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REPERCUSSAtildeO SOCIAL DO DESENVOLVIMENTO CIENTIacuteFICO E TECNOLOacuteGICO154

Os acontecimentos atuais nos convidam a reavaliar o que se pensava ateacute recentemente sobre a re-percussatildeo social do desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico eacuteramos beneficiaacuterios contemplativos e exploradores da matildee Terra Hoje o efeito estufa eacute um acontecimento real o degelo da calota polar caminha para consequecircncias ainda natildeo calculadas mas preocupantes a emissatildeo de CO2 se mostra um verdugo que nos atingiraacute a frota de automoacuteveis e demais motores agrave combustatildeo exigem cada vez mais dos derivados do petroacuteleo a aacutegua eacute escassa e de desenha como objeto de disputa no futuro os ciclos de reaproveitamento dos produtos pela natureza eacute quebrado quando produzimos os plaacutesticos os vi-dros e as ligas os dejetos industriais e de consumo domeacutestico se acumulam no colo da matildee natureza

Esses satildeo efeitos que chamaremos de segunda ordem que natildeo eacute propriamente o sistema de interaccedilatildeo entre Ciecircncia Tecnologia e Sociedade mas sim os efeitos deste sistema em direccedilatildeo agrave Natureza que eacute um macro sistema Eacute certo que devemos estudar o quanto a Ciecircncia e a Tecnologia repercutem na Sociedade Tambeacutem eacute certo que precisamos estudar como a Sociedade controla e acompanha a Ciecircn-cia e a Tecnologia Mas natildeo eacute menos importante refletir sobre onde depositamos nosso olhar

1 Exclusivamente no presente esclarecido pelas discussotildees CTS de resultado imediatos a fim de ordenarmos o Princiacutepio da Satisfaccedilatildeo ou

2 Postamos o olhar no futuro ndash uma histoacuteria a ser construiacuteda ndash que seraacute o resultado dos efeitos exteriorizados por esta triacuteade CTS esclarecida e que se pautaraacute no Principio da Precauccedilatildeo

Em ambos os casos trabalharemos pela alfabetizaccedilatildeo tecnocientiacutefica efetiva que resulta em partici-paccedilatildeo social esclarecida A diferenccedila estaacute na intensidade da submissatildeo das relaccedilotildees de causa e efeito entre os binocircmios Homem-Natureza e supeacuterfluo-necessaacuterio Na primeira preparamos o mundo para nossa velhice na segunda preparamos o mundo para as geraccedilotildees futuras

Natildeo eacute possiacutevel discutir CTS sem que se acrescente a visatildeo de futuro

Natildeo basta agora falar em Ciecircncia e Sociedade ou Tecnologia e Sociedade mas sim Ciecircncia com So-ciedade e Tecnologia com Sociedade

REFERENCIAS 155

Referecircncias

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SOBRE LOS AUTORES177

Sobre el autor

Alvaro Chrispino eacute Doutor em Educaccedilatildeo pela UFRJ-Universidade Federal do Rio de Janeiro Licen-ciado em Quiacutemica e Coordenador do programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Ciecircncia Tecnologia e Educa-ccedilatildeo do CEFETRJ Eacute Bolsista de Produtividade em PesquisaEducaccedilatildeo do CNPq e Lider de Grupo de PesquisaCNPq CTS e Educaccedilatildeo

O ocupou diversos cargos puacuteblicos no campo da Educaccedilatildeo e das Poliacuteticas Puacuteblicas e possui livros e artigos em educaccedilatildeo CTS e poliacuteticas puacuteblicas

Iniciou seus estudos em CTS quando da realizaccedilatildeo de seu Mestrado em Educaccedilatildeo na UFRJ em 1992

COLECCIOacuteN DOCUMENTOS DE TRABAJOTIacuteTULOS PUBLICADOS

Documento ndeg 1Deacutecada de la educacioacuten para la sostenibilidad Temas de accioacuten claveAmparo Vilches Oacutescar Maciacuteas y Daniel Gil Peacuterez

Documento ndeg 2 Concepcioacuten y tendencias de la educacioacuten a distancia en Ameacuterica LatinaLorenzo Garciacutea Areito (coord)

Documento ndeg 3 Educacioacuten ciencia tecnologiacutea y sociedadMariano Martiacuten Gordillo (coord)

Documento ndeg 4 La nanotecnologiacutea en IberoameacutericaObservatorio Iberoamericano de la Ciencia la Tecnologiacutea y la Sociedad

Documento ndeg 5 Ciencia tecnologiacutea y sociedad en Iberoameacuterica una evaluacioacuten de la comprensioacuten de la naturaleza de ciencia y tecnologiacuteaAntoni Bennaacutessar Roig Aacutengel Vaacutezquez Alonso Mariacutea Antonia Manassero Mas y Antonio Garciacutea Carmona (coordinadores)

Introduccedilatildeo aos Enfoques CTS ndash Ciecircncia Tecnologia e Sociedade ndash na educaccedilatildeo e no ensino

Esta obra apresenta ideias e argumentos que buscam reconceitualizar ciecircn-

cia e tecnologia desconstruindo uma ciecircncia neutra herdada pronta infaliacute-

vel e uma tecnologia portadora de bondade e de progresso impregnado de bem-

estar duradouro visto que satildeo construccedilotildees sociais Faz isso buscando obras e

autores consagrados sem deixar de recrutar novos autores de diferentes aacutereas que

sejam capazes de trazer luzes para o melhor entendimento da Abordagem CTS

Foi elaborada ao longo dos anos nas disciplinas do programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Ciecircn-

cia Tecnologia e Educaccedilatildeo especialmente na linha de pesquisa CTS e Ensino do CEFET

RJ- Centro Federal de Educaccedilatildeo Tecnoloacutegica Celso Suckow da Fonseca no Rio de Janeiro

Page 3: INTRODUÇÃO AOS ENFOQUES CTS CIÊNCIA ......INTRODUÇÃO AOS ENFOQUES CTS – CIÊNCIA, TECNOLOGIA E SOCIEDADE – NA EDUCAÇÃO E NO ENSINO 6 dependendo de sua formação, de seus

La coleccioacuten Documentos de Trabajo es una iniciativadel Centro de Altos Estudios Universitarios de la Organizacioacuten de Estados Iberoamericanos para la Educacioacuten la Ciencia y la Cultura (OEI) y su objetivo principal es difundir estudios informes e investigaciones de caraacutecter iberoamericano en sus campos de cooperacioacuten

Estos materiales estaacuten pensados para que tengan la mayor difusioacuten posible y de esa forma contribuir al conocimiento y al intercambio de ideas Se autoriza por tanto su reproduccioacuten siempre que se cite la fuente y se realice sin aacutenimo de lucro

Estes materiais estatildeo pensados para que tenham mayor divulgaccedilatildeo possiacutevel e dessa forma contribuir para o conhecimento e o intercacircmbio de ideacuteias Autoriza-se por tanto sua reproduccedilatildeo sempre que se cite a fonte e se realize sem fins lucrativos

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Consejeriacutea de Economiacutea Innovacioacuten Ciencia y Empleo de la Junta de Andaluciacutea

disentildeo

asenmac

isbN978-84-7666-247-2

Iacutendice

Introduccedilatildeo

1ordf PARTE ndash CONCEITOS BAacuteSICOS DE ENFOQUE CTS E EDUCACcedilAtildeO

CTS

1 CTS COMO CAMPO DE ESTUDO EM CONSTRUCcedilAtildeO

2 SOBRE A CIEcircNCIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A CIEcircNCIA

3 SOBRE A TECNOLOGIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A TECNOLOGIA

4 SOBRE A SOCIEDADE MAS NAtildeO O QUE Eacute A SOCIEDADE

5 SOBRE AS RELACcedilOtildeES CIEcircNCIA TECNOLOGIA E SOCIEDADE

6 CTS E O ENSINO

7 CTS E A TEacuteCNICA DA CONTROVEacuteRSIA CONTROLADA

2ordf PARTE ndash A VISAtildeO AMPLIADA DAS CORRELACcedilOtildeES DO ENFOQUE

CTS

8 MODELAGEM PARA PARTICIPACcedilAtildeO SOCIAL NAS RELACcedilOtildeES

CTS UTILIZANDO AS ORDENS DE COMTE-SPONVILLE

9 SOBRE AS ABORDAGENS CTS

10 SOBRE AS VARIAacuteVEIS QUE IMPLICAM NAS RELACcedilOtildeES CTS

11 REPERCUSSAtildeO SOCIAL DO DESENVOLVIMENTO CIENTIacuteFICO E

TECNOLOacuteGICO

Referencias

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INTRODUCCIOacuteN5

Introduccioacuten

Os trabalhos ndash tanto artigos quanto teses e dissertaccedilotildees ndash que tratam do Enfoque CTS possuem na sua maioria um sequencia histoacuterica de fatos e de acontecimentos que pretendem apresentar o que seja este campo do conhecimento para professores alunos e cidadatildeos Porque sua estrutura de apre-sentaccedilatildeo eacute semelhante e os argumentos repetidos vivemos um grande dilema na apresentaccedilatildeo de um trabalho construiacutedo coletivamente com turmas de estudantes dos programas de mestrado e douto-rado do CEFETRJ Se natildeo nos utilizamos da narrativa padratildeo corremos o risco de sermos alijados visto que natildeo estamos ldquofalando a mesma liacutengua da aacutereardquo mesmo que isso busque demonstrar que os caminhos percorridos na produccedilatildeo deste material foram marcados por idas e vindas na grande arena das ideias e interpretaccedilotildees oriundas de estudantes de mestrado e doutorado que militam em diferen-tes aacutereas do conhecimento sendo que a educaccedilatildeo eou o ensino satildeo seus pontos de aproximaccedilatildeo ou convergecircncia

Quando iniciamos as primeiras discussotildees tiacutenhamos a intenccedilatildeo de organizar ideias e argumentos que permitissem ao final do conjunto de encontros de cada curso reconceitualizar ciecircncia e tecno-logia tal qual a tradiccedilatildeo ensinada nas escolas desconstruindo uma ciecircnca herdada pronta infaliacutevel e uma tecnologia portadora de bondade e de progresso impregnado de bem-estar duradouro

A primeira preocupaccedilatildeo era demonstrar que a Ciecircncia e a Tecnologia satildeo produzidas e mantidas por seres humanos que possuem intencionalidades interesses limites crenccedilas valores e planos de futuro Esse conjunto de caracteriacutesticas se potencializa quando os indiviacuteduos se reuacutenem em grupos de interesse e organizam os chamados grupos de pesquisa que buscam ampliar fronteiras do conhe-cimento e produzir aparatos ou sistemas tecnoloacutegicos inovadores Fica claro que a Ciecircncia e a Tec-nologia satildeo produccedilotildees humanas e por isso impregnadas de humanidade em todos os seus matizes era o primeiro objetivo

Apoacutes isso buscaacutevamos demonstrar que toda ciecircncia e tecnologia produzidas ndash como produtos cons-truidos socialmente ndash retornam para a sociedade impactando-a de diversas formas quer expliacutecita quer implicitamente Alguns destes impactos podem ser beneacuteficos se vistos como soluccedilatildeo para um problema atual mas podem ser portadores de futuro incerto quando produzem riscos no meacutedio ou longo prazos

Consideramos tambeacutem que os textos gerais sobre CTS apontam o surgimento de movimentos sociais que se contrapunham aos impactos danosos dos avanccedilos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos e a isso chamaram de Movimento CTS dando inuacutemeros exemplos de fatos e personagens

Da mesma forma apontam para as accedilotildees reflexivas de profissionais da Ciecircncia e da Tecnologia que iniciaram discussotildees a cerca das consequecircncias deste saber para a Sociedade De forma geral essa accedilatildeo foi chamada didaticamente de Estudos CTS

As tradiccedilotildees chamadas de americana e europeacuteia ndash as quais agregamos a chamada latino-americana ndash satildeo o caminho comum da apresentaccedilatildeo do Enfoque CTS

Se considerarmos que CTS defende a construccedilatildeo social da ciecircncia e da tecnologia devemos por de-ver de ofiacutecio defender que o proacuteprio CTS eacute de difiacutecil consenso visto que cada grupo ou pesquisador

INTRODUCCIOacuteN

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dependendo de sua formaccedilatildeo de seus valores de suas crenccedilas etc iraacute ler e interpretar os mesmos fenocircmenos de forma singular identificando grandes eixos comuns mas impregnando-os com suas particularidades com suas idiossincrasias Logo esperar que tenhamos um uacutenico conceito sobre o que seja CTS eacute uma ingenuidade Encontramos sim alguns consensos e aproximaccedilotildees sucessivas que permitem que a aacuterea se comunique e produza conhecimento a fim de contribuir para o amadu-recimento das relaccedilotildees ciecircncia tecnologia e sociedade

Este trabalho enfrenta as mesmas dificuldades que seus congecircneres Para natildeo se distanciar de seus pares apresenta temas e debates que satildeo comuns agrave aacuterea na busca da reconceitualizaccedilatildeo da ciecircncia e da tecnologia e na apresentaccedilatildeo dos impactos que estas causam na sociedade Faz isso buscando obras e autores consagrados na aacuterea sem deixar de recrutar novos autores de diferentes aacutereas que sejam capazes de trazer luzes para o melhor entendimento da Abordagem CTS Esta natildeo eacute uma obra autoral mas sim de apresentaccedilatildeo da aacuterea CTS por meio do pensamento de muitos colaboradores Nossa participaccedilatildeo estaacute no risco de reunir autores da aacuterea e outros colaboradores de aacutereas distintas O risco da inovaccedilatildeo e da ampliaccedilatildeo de fronteiras eacute sempre necessaacuterio

Deixamos claro desde jaacute que para noacutes a Abordagem CTS eacute um campo complexo interdisciplinar contextualizado e transversal fundamentado especialmente nos saberes da sociologia da filosofia na histoacuteria da economia da poliacutetica da psicologia dos valores etc Trazemos para este primeiro mo-mento a reflexatildeo de Cutcliffe (2003)

[] em resumo pode dizer-se que o campo de CTS deixou para tras qualquer tendecircncia inicial que pudesse ser relacionado com alguns grupos e que implicasse em uma visatildeo sim-plista em branco e negro da ciecircncia e da tecnologia na sociedade buscando alcanccedilar uma compreensatildeo mais complexa da relaccedilatildeo de CTS Na atualidade CTS concebe a ciecircncia e a tecnologia como projetos complexos que se datildeo em contextos histoacutericos e culturais especiacute-ficos O que tem surgido eacute um consenso com respeito a que se bem a ciecircncia e a tecnologia nos trazem diversos benefiacutecios tambeacutem provocam certos impactos negativos alguns dos quais imprevisiacuteveis mas todos refletem os valores pontos de vistas e visotildees daqueles que estatildeo em situaccedilatildeo de tomar decisatildeo com respeito aos conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacutegi-cos dentro de seus acircmbitos A missatildeo central do campo CTS ateacute a data de hoje tem sido a de expressar a interpretaccedilatildeo da ciecircncia e da tecnologia como um processo social Deste ponto de vista a ciecircncia e a tecnologia satildeo vistos como projetos complexos em que os valo-res culturais poliacuteticos e econocircmicos nos ajudam a configurar os processos tecnocientiacuteficos os quais por sua vez afetam os valores mesmos e a sociedade que os manteacutem (p 18) grifos nossos

E como pretendemos fazer intervenccedilatildeo no processo de qualificaccedilatildeo de professores ndash em serviccedilo e em formaccedilatildeo ndash assim como na melhor formaccedilatildeo de licenciandos e estudantes da escola baacutesica devemos antecipar o que entendemos por Educaccedilatildeo CTS e o que esperamos dela Para noacutes

CTS eacute uma opccedilatildeo educativa transversal (Acevedo 1996b) que prioriza sobretudo os con-teuacutedos atitudinais (cognitivos afetivos e valorativos) e axioloacutegicos (valores e normas)Desde a perspectiva da dimensatildeo cognitiva atitudinal a educaccedilatildeo CTS pretende tambeacutem uma melhor compreensatildeo da ciecircncia e da tecnologia em seu contexto social incidindo nas interrelaccedilotildees entre os desenvolvimentos cientiacutefico e tecnoloacutegico e os processos sociais As-sim os estudantes deveratildeo adquirir durante sua escolarizaccedilatildeo algumas capacidades para ajudaacute-los a interpretar pelo menos de forma geral questotildees controvertidas re-lacionadas com os impactos sociais da ciecircncia e da tecnologia e com a qualidade das

INTRODUCCIOacuteN

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condiccedilotildees de vida de uma sociedade cada vez mais impregnada de ciecircncia e sobretudo de tecnologia (Acevedo Vaacutezquez e Manassero 2001 grifos nossos)

E quanto a sua pertinecircncia para o momento atual do Ensino de Ciecircncia e Tecnologia podemos lem-brar que este tema estaacute fortemente indicado na Base Nacional Comum Curricular que se ensaia no cenaacuterio educacional brasileiro como se apresenta desde antes no cenaacuterio internacional como infor-mam desde antes Acevedo Vaacutezquez e Manassero (2003a)

Movimento CTS eacute entendido como uma inovaccedilatildeo educacional que estaacute em consonacircncia com as mais relevantes e atuais recomendaccedilotildees internacionais para proporcionar no ensino de ciecircncias a alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica mais completa e uacutetil possiacutevel para todas as pessoas (p 101)

Essa eacute nossa melhor contribuiccedilatildeo para aqueles que buscam conhecer o que seja a Abordagem CTS Deixamos claro desde jaacute que esta eacute a nossa visatildeo da Abordagem CTS por mais que tenhamos tentado garantir que as diversas visotildees e escolas de pensamento estivessem aqui representadas Consideran-do a amplitude da aacuterea as escolhas buscam cumprir a intencionalidade da obra desde jaacute apresentada

Fica o agradecimento aos mestrandos e doutorandos que desfilaram nas arenas do conhecimento CTS dando suas contribuiccedilotildees para que o trabalho pudesse ser apresentado como uma alternativa de estudo para a aacuterea de educaccedilatildeo e ensino CTS

Da mesma forma como este eacute um trabalho que faz convergir pesquisas e accedilotildees de nosso grupo ao longo do tempo eacute indispensaacutevel o agradecimento ao CNPq ndash Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico que viabilizou as diversas pesquisas que resultaram neste trabalho por meio dos recursos oriundos dos Editais Universais de 2007 2010 e 2013

Que seja uacutetil agraves reflexotildees produzindo novas questotildees e inquietaccedilotildees e nunca saberes acabados

Alvaro Chrispino

CTS COMO CAMPO DE ESTUDO EM CONSTRUCcedilAtildeO9

1 CTS como campo de estudo em construccedilatildeo

() eacute importante que a educaccedilatildeo tecnocientiacutefica esteja orientada para propiciar uma formaccedilatildeo da cidadania que a capacite para compreender para ser manejada e para participar de um mundo no qual a ciecircncia e a tecnologia estatildeo a miuacutedo mais presentes Sem duacutevida o enfoque da Ciecircncia Tecnologia e Sociedade (CTS) eacute especialmente apropriado para fomentar uma educaccedilatildeo tecnocientiacutefica dirigida agrave aprendizagem da participaccedilatildeo trazendo um novo significado para conceitos tatildeo aceitos como alfabetizaccedilatildeo tecnocientiacutefica ciecircncia para todos ou difusatildeo da cultura cientiacutefica

Martiacuten Gordillo e Osorio M2003

A concepccedilatildeo claacutessica das relaccedilotildees entre a Ciecircncia e a Tecnologia com a Sociedade eacute uma concepccedilatildeo eminentemente otimista e que reflete uma postura linear de progresso que pode ser simbolizada pela expressatildeo encontrada no Guia da Exposiccedilatildeo Universal de Chicago de 1933 segundo Sanmartiacuten (1990 p 168)

A ciecircncia descobre o gecircnio inventa a induacutestria aplica e homem se adapta ou eacute moldado pelas coisas novas

O espiacuterito contido nesta frase eacute mais facilmente identificado por uma equaccedilatildeo simples + ciecircncia = + tecnologia = + riqueza = + bem-estar social (Bazzo Linsingen e Pereira 2003 Loacutepez Cerezo 1997 1998) Este eacute o chamado ldquomodelo linear de desenvolvimentordquo que pode ser mais resumido conforme apresentam Gonzalez Garcia1 Loacutepez Cerezo e Lujan Loacutepez (1996 p 31) como progresso cientiacutefico =gt Progresso tecnoloacutegico =gt progresso econocircmico =gt progresso social Esta concepccedilatildeo segundo Sa-rewitz (1996 p 17) foi apresentada originalmente por Vannevar Bush2 (1945 1999)

Os avanccedilos na ciecircncia quando colocados no uso praacutetico significam mais trabalho salaacuterios mais altos horas mais curtas colheita mais abundante tempo mais livre para a recreaccedilatildeo para o estudo para aprender a viver sem o trabalho fatigoso e enfraquecedor que tem sido a carga do homem comum do periacuteodo passado Mas para alcanccedilar estes objetivos o fluxo do conhecimento cientiacutefico novo deve ser contiacutenuo e significativo

O Relatoacuterio Bush solicitou uma liberdade plena para a pesquisa cientiacutefica e tecnoloacutegica que confor-me tentou justificar seu autor traria benefiacutecios e vantagens tal qual fez ao encerrar a Segunda Gran-de Guerra com um artefato tecnoloacutegico produzido pela ciecircncia mais avanccedilada da eacutepoca a bomba atocircmica Por mais que a tradiccedilatildeo tenha contemplado essa relaccedilatildeo direta ela natildeo se sustenta quando buscamos algumas informaccedilotildees histoacutericas que sintetizamos de Acevedo Vasquez e Manassero (2001)

bull ldquo6 de agosto de 1945 o Enola Gay um aviatildeo B-29 sobrevoou a ilha de Hondo e despejou sobre a cidade de Hiroshima a Little Boy a primeira bomba atocircmica de uracircnio Em 9 de agosto eacute lanccedilada outra sobre Nagasaki uma importante cidade situada a noroeste da ilha japonesa de Kyushu O sucesso dos artefatos tecnoloacutegicos potildee fim a segunda guerra

1 Neste trabalho optou-se pela utilizaccedilatildeo da referencia de autores espanhoacuteis pelo penuacuteltimo nome Entatildeo o leitor encontraraacute por exemplo Gonzalez Garcia Loacutepez Cerezo e Lujan Loacutepez ao inveacutes de Garcia Cerezo e Loacutepez2 Conheccedila mais em httpptwikipediaorgwikiVannevar_Bush Como estamos em um curso que trata de ciecircncia e de tecnolo-gia propomos que o aprofundamento sobre alguns assuntos possa contar com a contribuiccedilatildeo da Wikipeacutedia mas desde jaacute lem-bramos sobre a importacircncia de ler com criteacuterio considerando o processo de construccedilatildeo coletiva da Wikipedia

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CTS COMO CAMPO DE ESTUDO EM CONSTRUCcedilAtildeO10

mundial Menos de um mecircs antes em 16 de julho a bomba atocircmica de uracircnio havia sido testada com ecircxito em um deserto proacuteximo a Alamogordo no estado norteameri-cano de Novo Meacutexico Era a culminacircncia do Projeto Manhattan iniciado em 1942 que reuniu diversos cientistas que trabalhando em grupos distintos contribuiacuteram para que o conhecimento cientiacutefico se transformasse em tecnologia O resultado desta uniatildeo foi a vitoacuteria poliacutetica dos Estados Unidos sobre seu inimigo e mais tarde demonstrou as consequecircncias sociais para os sobreviventes civis dos episoacutedios nucleares Este eacute um dos casos que ilustra perfeitamente as complexas e dramaacuteticas relaccedilotildees entre ciecircncia tecnologia e poder militar rdquo

bull ldquo4 de outubro de 1957 Um acontecimento surpreende todo o mundo e em especial os Estados Unidos A URSS havia posto em oacuterbita terrestre seu primeiro Sputnik um sateacute-lite artificial pouco maior que uma bola de futebol As repercussotildees sociais deste acon-tecimento foram enormes Atualmente as telecomunicaccedilotildees dependem de numerosos sateacutelites artificiais para dar manutenccedilatildeo a grande rede de comunicaccedilatildeo em tempo real que envolve o planetardquo

bull ldquoContemporaneamente temos o efeito estufa que acelera o aquecimento global do pla-neta a diminuiccedilatildeo das camadas polares a chuva aacutecida a diminuiccedilatildeo da camada de ozocirc-nio a utilizaccedilatildeo de bombas de napalm nas guerras da Coreacuteia e Vietnam os submarinos que utilizam energia nuclear para sua propulsatildeo os acidentes industriais como os de Bhopal (India 1984) e Chernobil (Ucrania 1986) os vazamentos de navios petroleiros (Exxon Valdez Alaska 1989 e Jessica Ilhas Galaacutepagos 2001) Por outro lado tambeacutem jaacute possuiacutemos a penicilina e as vacinas as novas teacutecnicas de diagnoacutestico cliacutenico os trans-plantes e oacutergatildeos artificiais a eletricidade a maior produccedilatildeo de gratildeos de toda classe para alimentar uma humanidade crescente as novas formas de comunicaccedilatildeo as tecnologias de informaccedilatildeo e muitos outros pequenos objetos tecnoloacutegicos de uso cotidiano que trazem conforto e facilitam nossas vidasrdquo

Esses exemplos ndash e outros como as consequecircncias do uso da talidomida ou desastre ambiental no Golfo do Meacutexico com a plataforma petroliacutefera Deepwater Horizon ndash deixam claro que a relaccedilatildeo di-reta apresentada pela tradiccedilatildeo natildeo eacute absolutamente verdadeira Haacute vantagens e benefiacutecios mas haacute tambeacutem efeitos secundaacuterios que podem surgir a curto meacutedio e longo prazos Haacute grupos sociais que aleacutem de natildeo serem beneficiados com o resultado tecnoloacutegico podem sofrer perdas e restriccedilotildees com a disseminaccedilatildeo do aparato tecnoloacutegico

Considerando este conjunto extremo de consequecircncias grupos de ativistas iniciaram manifestaccedilotildees questionando e logo depois algumas vozes ligadas a Ciecircncia e Tecnologia tambeacutem apresentavam a necessidade de se discutir os riscos que surgiam da chamada prosperidade tecnoloacutegica

Dentre os nomes e feitos mais citados estavam

bull Rachel Carson3 que escreveu Silent Spring em 1958 (Primavera Silenciosa 1962) onde apresentava diversas questotildees em torno do uso de inseticidas quiacutemicos como o DDT (Dicloro-Difenil-Tricloroetano) tido agrave eacutepoca como grande alternativa pois era barato e eficiente contra os mosquitos da malaacuteria e do tifo Trecircs semanas apoacutes seu lanccedilamento o livro jaacute havia vendido 100 mil exemplares O problema era a capacidade do DDT de ser absorvido pelos animais e por toda a cadeia alimentar em outras palavras o seu efeito natildeo cessava O nome do livro quer insinuar que natildeo haveraacute paacutessaros na primavera pois

3 Conheccedila mais em httpwwwgeocitiescom~esabiocientistasraquel_carsonhtm

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CTS COMO CAMPO DE ESTUDO EM CONSTRUCcedilAtildeO11

todos teratildeo morrido viacutetimas dos inseticidas Esse movimento permitiu o fortalecimento dos chamados movimentos ecoloacutegicos Hoje o DDT eacute um produto proibido (Cutcliffe 2003 p 8 1990 p 21)

bull Ralph Nader4 ativista dos direitos do consumidor promoveu um grande movimento contra o que chamou de arrogacircncia da induacutestria automobiliacutestica em torno da seguranccedila e dos perigos dos modelos Corvair fabricados pela Chevrolet entre 1960 e 1969 Escre-veu Unsafe at Any Speed The Designed-In Dangers of the American Automobile 91965) (Cutcliffe 2003 p 8 1990 p 21)

bull Vance Packard5 escreveu The Hidden Persuaders (1957) onde jaacute defendia que a induacutestria da propaganda criava artificialmente as necessidades e demandas para o consumidor

bull John Kenneth Galbraith6 escreveu The Affluent Society (1958) e The New Industrial Sta-te (1967) e defendia que no Estado industrial o poder econocircmico havia se desprendido das necessidades dos consumidores e que uma ldquotecnoestruturardquo controlava a tecnolo-gia visando o crescimento e benefiacutecio da organizaccedilatildeo (Cutcliffe 1990 p 21)

bull Mario Molina7 e Frank S Rowland8 (1974) publicam na revista Nature uma pesquisa apontando a accedilatildeo dos clorofluorcarbonos (CFC) dentre outros compostos na dimi-nuiccedilatildeo da camada de ozocircnio O CFC foi sintetizado em 1928 e eacute especialmente utilizado geladeiras e aparelhos de ar condicionado para refrigeraccedilatildeo O Protocolo de Montreal baniu o consumo destes gases em 2010 Molina Rowland e Paul Crutzen dividiram o Precircmio Nobel de Quiacutemica de 1995 Em seu sitio Molina apresenta a seguinte frase ldquoOs cientistas podem descrever os problemas que afectam o ambiente com base nas evi-decircncias disponiacuteveis mas sua soluccedilatildeo natildeo eacute da responsabilidade dos cientistas mas da sociedade como um todordquo

bull Derek J de Solla Price9 em 1963 escreveu Little Science Big Science onde debatia o cresci-mento do financiamento da tecnologia por parte do Estado e que resultou na ne-cessidade de se discutir uma ldquociecircncia da ciecircnciardquo produzindo a Fundaccedilatildeo para a Ciecircncia da Ciecircncia em 1965 e diversas sociedades voltadas para a ldquoresponsabilidade social da ciecircnciardquo na Inglaterra e em outros lugares (Cutcliffe 2003 p 11)

bull Barry Commoner10 em 1963 escreveu Science and survival onde alerta para perda de controle sobre as consequecircncias sociais da ciecircncia e da tecnologia Para ele os cientistas deveriam divulgar mais seus trabalhos e suas consequecircncias para quem ele chama de natildeo-cientistas Conclui que a Ciecircncia e os cientistas satildeo capazes de revelar o tamanho do problema mas somente a accedilatildeo social pode resolvecirc-lo (Beck 2010)

Aleacutem destes grupos sociais que se organizaram e produziram efeitos importantes para a reflexatildeo em torno dos riscos que envolviam as tecnologias esse periacuteodo da histoacuteria presenciou o surgimen-to de inuacutemeros grupos chamados ativistas que cada uma sua maneira buscavam chamar atenccedilatildeo para os riscos a que estavam expostos os cidadatildeos Durante a deacutecada de 1970 os mais significativos movimentos giravam em torno da energia nuclear e seus riscos dos miacutesseis baliacutesticos do transporte supersocircnico dos CFC-Clorofluorcarbono usados em aerossoacuteis as primeiras discussotildees sobre o im-pacto de pesquisas geneacuteticas dentre outros A deacutecada de 1980 presenciou uma importante discussatildeo levantada por um sindicato de operaacuterios que solicitava uma

4 Conheccedila mais em httpptwikipediaorgwikiRalph_Nader 5 Conheccedila mais em httpsenwikipediaorgwikiVance_Packard 6 Conheccedila mais em httpsptwikipediaorgwikiJohn_Kenneth_Galbraith 7 Conheccedila mais em httpseswikipediaorgwikiMario_Molina e httpcentromariomolinaorgmario-molinabiografia 8 Conheccedila mais em httpsenwikipediaorgwikiF_Sherwood_Rowland 9 Conheccedila mais em httpenwikipediaorgwikiDerek_J_de_Solla_Price10 Conheccedila mais em httpptwikipediaorgwikiBarry_Commoner

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CTS COMO CAMPO DE ESTUDO EM CONSTRUCcedilAtildeO12

ldquoDeclaraccedilatildeo de Direitos sobre a Nova Tecnologiardquo que exigia algum tipo de controle sobre o processo de trabalho refletia a problemaacutetica laboral surgida do impacto das novas tec-nologias de automaccedilatildeo sobre a estabilidade no trabalho a seguranccedila dos trabalhadores e a reduccedilatildeo de habilidades necessaacuterias (Cutcliffe 2003 p 9)

Sobre este surgimento e evoluccedilatildeo Mitcham11 (1990 p 15) apresenta outro acircngulo de estudo Diz que os Estudos CTS tiveram duas fontes a primeira eacute a formaccedilatildeo na deacutecada de 1950 do que se chamou de Science Technology and Public Policy (STPP) e a segunda eacute a criacutetica social e poliacutetica agrave ciecircncia e agrave tecnologia surgidas no final da deacutecada de 1960 Ao analisar cada uma das fontes escreve o autor que

bull Os programas STPP O processo de institucionalizaccedilatildeo da ciecircncia mo-derna pode ser estudada a partir de trecircs etapas principais

bull A primeira etapa em torno dos seacuteculos XVII e XVIII a ciecircncia foi um trabalho de indiviacuteduos geralmente oriundos da aristocracia

bull A segunda etapa de institucionalizaccedilatildeo da ciecircncia ocorre durante o seacuteculo XIX quando ela eacute profissionalizada em departamentos especiacuteficos como departa-mentos de quiacutemica de fiacutesica etc nas universidades e nos laboratoacuterios de pes-quisa e desenvolvimento industrial Esta institucionalizaccedilatildeo requereu uma or-ganizaccedilatildeo um pouco mais complexa mas ainda em pequena escala

bull A terceira institucionalizaccedilatildeo da ciecircncia moderna ocorreu durante a Segunda Guerra Mundial como resultado do apoio governamental e a criaccedilatildeo de proje-tos de pesquisa e desenvolvimento de larga escala como projeto Manhattan que resultou na bomba atocircmica Tais projetos e accedilotildees governamentais intro-duziram na atividade cientiacutefica e tecnoloacutegica estruturas administrativas pro-cessos de gestatildeo e um contingente de profissionais ateacute entatildeo desconhecidos destas aacutereas Os programas STPP foram desenvolvidos depois da guerra com o propoacutesito de estudar a gestatildeo em grande escala da ciecircncia e da tecnologia Escreve o autor que os programas STPP em universidades tecnoloacutegicas mais importantes ndash tais como o Instituto de Tecnologia de Massachussets (MIT) e a Universidade Carnegie Mellon ndash estatildeo estreitamente relacionados as faculdades formadoras de engenheiros A mobilizaccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica no periacuteodo da segunda grande guerra demonstrou que a gestatildeo da ciecircncia e da tecnologia em suas no-vas e complexas inter-relaccedilotildees com o governo e a sociedade exigia capacidades (competecircncias) especiais ldquoA experiecircncia natildeo eacute suficiente para que os engen-heiros aprendam a fazecirc-lo assim como os gestores carecem em geral da edu-caccedilatildeo e habilidade necessaacuterias para comunicar-se efetivamente com o corpo cientiacuteficordquo (p 16) Os programas STPP surgiram no interior da comunidade de ciecircncia e tecnologia

bull Os programas CTS estes surgiram na visatildeo de Mitcham como respostas a influecircn-cias externas agrave ciecircncia e a tecnologia Os movimentos ecoloacutegicos e de consumidores preocupados com as mudanccedilas tecnoloacutegicas iniciaram um movimento de aproximaccedilatildeo da ciecircncia e da tecnologia com a sociedade e a cultura Nos EUA os primeiros progra-mas CTS foram produzidos por profissionais oriundos das ciecircncias sociais (Universida-de de Cornell) como por engenheiros preocupados com problemas sociais (Universida-des de Pennsylvania e Etenford) Escreve o autor que os primeiros tinham um caraacuteter mais criacuteticos da ciecircncia e da tecnologia como meacutetodos de conhecimento como soluccedilotildees

11 Conheccedila mais httpsenwikipediaorgwikiCarl_Mitcham

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CTS COMO CAMPO DE ESTUDO EM CONSTRUCcedilAtildeO13

de problemas e como processos sociais Jaacute o segundo grupo buscava demonstrar aos alunos das chamadas humanidades como era o ldquomundo fabricado pelo homemrdquo dando ecircnfase a um tipo de alfabetizaccedilatildeo tecnoloacutegica

Em uma obra claacutessica intitulada Sceince Technology and Society ndash A crosssisciplinary Perspective or-ganizada por Ina Spiegel-Roumlsing e Derek Solla Price (1977) encontramos a proposta de estruturaccedilatildeo dos estudos CTS suportada por diversas aacutereas do conhecimento (sociologia poliacutetica psicologia va-lores etc) e tambeacutem temas contemporacircneos ou demarcadores de fatos sociais (guerra militarismo sistema e relaccedilotildees internacionais modelos etc) com um capiacutetulo inicial que se intitula The Study of Science technology and Society (SSTS) Recent Trends and Future Challenges (Spiegel-Rooumlsing 1977) reafirmando a polissemia que impera na aacuterea

Outros autores apontam para origem distinta do CTS em Educaccedilatildeo Pedretti e Nazir (2011) e Aiken-head (2005) em excelentes artigos de revisatildeo defendem que Jim Gallagher (1971) introduz a visatildeo CTS quando escreve ldquoPara futuros cidadatildeos em uma sociedade democraacutetica comprender a interre-laccedilatildeo entre ciecircncia tecnologia e sociedade pode ser tatildeo importante como entender os conceitos e os processos da ciecircnciardquo (Gallagher 1971 p 337) Ele eacute seguido de uma seacuterie de publicaccedilotildees que desdo-bram a ideia com especial atenccedilatildeo ao artigo de Paul Hurd (1975) intitulado Science Technology and Society New Goals for Interdisciplinary Science Teaching

Figaredo Curiel (2013) por sua vez informa a opiniatildeo de Jose Antonio Lopez Cerezo em comuni-caccedilatildeo pessoal quando questionado sobre o inicio do uso do acrocircnimo CTS

Ateacute onde eu sei e com independecircncia de utilizaccedilotildees esporaacutedicas que natildeo se ligam com a tradiccedilatildeo acadecircmica principal de CTS ldquoscience technology and societyrdquo foi usado pela pri-meira vez por Rustum Roy o fundador do STS Programa da Universidade do Estado de Pen-silvania no final da deacutecada de 1960 ou principio da deacutecada de 1970 Eu cheguei a conhececirc-lo em uma visita a sua universidade Era um engenheiro de origem hinduacute ou paquistanesa mas com nacionalidade americana que se queixava de natildeo haver tido a visatildeo de chamar de ldquosociety technology and sciencerdquo o seu programa o que segundo ele (no princiacutepio da deacutecada de 1990 quando o conheci) refletia melhor a realidade das coisas (traduccedilatildeo livre do autor)

A nosso ver como trataremos no proacuteximo capiacutetulo o surgimento da ideacuteia CTS eacute de difiacutecil identidade visto que de acordo com a percepccedilatildeo do leitor pode ser percebido por analogia em vaacuterias correntes de pensamento na filosofia na sociologia na poliacutetica etc Como necessitamos iniciar os estudos em algum ponto vamos arbitrar com devida justificativa que as ideias CTS podem iniciar com Robert Merton e Jonh Bernal especialmente conforme detalharemos em item proacuteprio deste trabalho

Haacute certamente uma grande semelhanccedila das ideias CTS com as questotildees que marcam o mundo mo-derno Foram estas antecipaccedilotildees que permitiram que o tema impacto da ciecircncia e tecnologia sobre a sociedade fosse ocupando espaccedilos importantes no debate social e poliacutetico fosse ganhando espaccedilo nas miacutedias e fazendo com que os cidadatildeos participassem um pouco mais sobre o conjunto de poliacute-ticas puacuteblicas de Ciecircncia e Tecnologia Isto eacute passassem a influenciar mais sobre os recursos puacutebli-cos dirigidos para estes setores sobre as escolhas de prioridades a serem financiadas com recursos puacuteblicos sobre as anaacutelises de impactos destes aparatos sobre as pessoas sobre a sociedade e sobre o meio ambiente

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CTS COMO CAMPO DE ESTUDO EM CONSTRUCcedilAtildeO14

O crescimento do movimento CTS foi de tal ordem que levou os governos e os organismos multila-terais a abrirem espaccedilos nas agendas poliacuteticas para eventosdocumentos internacionais que acolhes-sem estas preocupaccedilotildees e a criaccedilatildeo de associaccedilotildees voltadas para esta temaacutetica

Dentre os eventosdocumentos podemos enumerar Nosso Futuro em Comum que discutia padrotildees para o desenvolvimento sustentaacutevel e que foi organizado pela Comissatildeo Mundial para o Meio Am-biente e Desenvolvimento e tambeacutem a Rio-92 Dentre as comissotildees surgidas para atender a esta demanda podemos citar como exemplos

bull Em 1966 a Associaccedilatildeo Nacional de Seguranccedila Viaacuteria (EUA)bull Em 1969 a Agecircncia de Proteccedilatildeo do Meio Ambiente (EUA)bull Em 1970 a Administraccedilatildeo de Seguranccedila e Sauacutede do Trabalho (EUA)bull Em 1972 a Oficina de Avaliaccedilatildeo da Tecnologia (EUA)bull Em 1975 a Comissatildeo de Energia Nuclear (EUA)bull Em 1982 o Conselho de Investigaccedilotildees Sociais da Dinamarca criou uma Subcomissatildeo de

Tecnologia e Sociedade e depois o Conselho de Tecnologiabull Em 1976 o Centro para a Vida laboral em Estocolmo Sueacutecia

A comunidade cientiacutefica tambeacutem apresentou suas preocupaccedilotildees por meio de organizaccedilotildees dirigi-das agraves questotildees derivadas das relaccedilotildees CTS e os impactos da ciecircncia e da tecnologia para a pessoa a sociedade e o meio ambiente Satildeo inuacutemeras as organizaccedilotildees ou grupos profissionais que criaram instituiccedilotildees voltadas para este campo de estudo Segundo Clutcliffe (2003) ressalta-se

bull A Fundaccedilatildeo Nacional de Ciecircncias dos Estados Unidos criou o Programa de Eacutetica e Va-lores em Ciecircncia e Tecnologia depois Programa de Dimensotildees sociais da Engenharia da Ciecircncia e da tecnologia

bull A Fundaccedilatildeo Nacional de Humanidades criou o Programa de Ciecircncia Tecnologia e Va-lores agora Humanidades Ciecircncia e Tecnologia

bull A Associaccedilatildeo Americana para o Avanccedilo da Ciecircncia criou o Programa de Ciecircncias e Poliacute-ticas de Atuaccedilatildeo e a Comissatildeo para as Liberdades e Responsabilidades Cientiacuteficas

bull Os engenheiros e cientistas criaram a Uniatildeo dos Cientistas Comprometidos (1969) ins-pirando-se na Federaccedilatildeo dos Cientistas Americanos (1945) surgida das preocupaccedilotildees com as implicaccedilotildees do projeto Manhattan que resultou na Bomba Atocircmica

bull Os cientistas e tecnoacutelogos criaram mais recentemente (1983) a Organizaccedilatildeo para a Responsabilidade Social dos Informaacuteticos dedicada a examinar as implicaccedilotildees sociais relacionadas com a informaacutetica em acircmbito militar nos locais de trabalho etc

A preocupaccedilatildeo social por meios organizados com os impactos econocircmicos sociais ambientais po-liacuteticos eacuteticos e culturais da Ciecircncia e Tecnologia e a busca de maior participaccedilatildeo da Sociedade nas decisotildees envolvendo Ciecircncia e Tecnologia satildeo as marcas do que definiremos como Movimento CTS Certamente esta definiccedilatildeo e a trajetoacuteria histoacuterica que culmina numa definiccedilatildeo eacute resultado da for-maccedilatildeo do autor ou da visatildeo do analista A triacuteade CTS envolve trecircs grandes aacutereas com histoacuterias e fun-damentos distintos e quando analisados por profissionais de diferentes aacutereas e formaccedilotildees oferecem outras tantas visotildees e acircngulos todos pertinentes e merecedores de nossa atenccedilatildeo Deixamos claro e expliacutecito que a visatildeo de CTS que apresentamos aqui eacute construiacuteda a partir dos aspectos educacionais de CTS Se encaramos o processo educacional como aquele que oferece condiccedilotildees de transformaccedilatildeo natildeo podemos desconsiderar os aspectos fundantes possiacuteveis ndash e que oferecem visotildees e fundamentos distintos e inter-complementares ndash que satildeo os aspectos sociais histoacutericos poliacuteticos axioloacutegicos e os aspectos econocircmicos de CTS

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CTS COMO CAMPO DE ESTUDO EM CONSTRUCcedilAtildeO15

Mas se por um lado a histoacuteria registrou um grande nuacutemero de accedilotildees organizadas por segmentos sociais preocupadas com os impactos da Ciecircncia e da Tecnologia por outro tambeacutem podemos e de-vemos enumerar os acontecimentos que transformaram essa relaccedilatildeo triaacutedica em Campo de Estudos CTS que se caracteriza pelos estudos acadecircmicos que buscam explicar a Natureza da Ciecircncia da Tecnologia e da Sociedade e como o entendimento diferente sobre estes campos do saber resulta em relaccedilotildees estreitas entre estes trecircs campos Fica claro para os estudiosos que marcam o Campo CTS ndash filoacutesofos da ciecircncia e da tecnologia historiadores da ciecircncia e da tecnologia socioacutelogos da ciecircncia e da tecnologia educadores em CTS cientistas poliacuteticos etc ndash que natildeo haacute um uacutenico exclusivo e ldquocorre-tordquo conceito para Ciecircncia assim como natildeo o haacute para Tecnologia e muito menos para Sociedade Haacute sim muitas maneiras de interpretar cada um desses camposconceitos e por consequecircncia interfe-rir na maneira com os trecircs se relacionam Sobre isso escrevem Vaacutezquez et al (2008 p 34)

O conceito de Natureza da Ciecircncia engloba uma variedade de aspectos sobre o que eacute a ciecircn-cia seu funcionamento interno e externo como constroacutei e desenvolve o conhecimento que produz os meacutetodos que usa para validar esse conhecimento os valores envolvidos nas ati-vidades cientiacuteficas a natureza da comunidade cientiacutefica os viacutenculos com a tecnologia as relaccedilotildees da sociedade com o sistema tecnocientiacutefico e vice-versa as contribuiccedilotildees desta para a cultura e o progresso da sociedade

Sobre a mesma temaacutetica Aduacuteriz-Bravo (2016) buscaraacute diferenciar Natureza da Ciecircncia e CTS para depois tentar uma convergecircncia ou mesmo intercomplementaridade entre eles Escreve ele

Para esta discussatildeo entendo o enfoque ciecircncia-tecnologia-sociedade (CTS) como uma co-rrente de pensamento com incidecircncia no campo da educaccedilatildeo cientiacutefica que aborda o ensino das ciecircncias desde os pontos de vista poliacutetico econocircmico social histoacuterico tecnoloacutegico etc (Lacolla 2004) Entendo por natureza da ciecircncia (NOS) uma aacuterea curricular emergente que agrupa um conjunto de conteuacutedos metateoacutericos (transpostos da filosofiacutea histoacuteria e socio-logiacutea da ciecircncia principalmente) considerados valiosos para a educaccedilatildeo cientiacutefica (Aduacuteriz-Bravo 2005)[]A luz do proposto parece possiacutevel postular uma complementariedade entre NOS e CTS ambas poderiam potencializar-se mutuamente para gerar mudanccedilas articuladas no saber e no saber fazer dos professores de ciecircncias A partir desta premissa estou propondo que o enfoque CTS ajudaria aos professores a encontrar umas maneiras de fazer que deixem de lado rotinas e incorporem alternativas didaacuteticas que construam em classe uma imagem de ciecircncia mais ajustada a produccedilatildeo NOS

Na verdade alguns autores natildeo fazem diferenccedila entre os termos Movimento CTS e Estudos CTS utilizando as duas expressotildees indistintamente A nosso ver as expressotildees querem representar movi-mentos diferentes o Movimento CTS representa melhor as consequecircncias sociais e accedilotildees da socie-dade em torno dos temas Ciecircncia e Tecnologia e a expressatildeo Estudos CTS identifica um campo de estudo que busca melhor entender as relaccedilotildees que compotildeem a triacuteade CTS o que pode dar ideia de antecedecircncia Vacarezza (2002 p 67) escreveraacute que

Reservamos o conceito de campo agraves funccedilotildees estritamente cognitivas que levam a cabo os distintos cultores da reflexatildeo sobre as relaccedilotildees entre ciecircncia tecnologia e o social O concei-to de movimento faz referecircncia agrave conformaccedilatildeo de um sujeito poliacutetico (ou a um conjunto mais ou menos integrado ou contraditoacuterio de sujeitos poliacuteticos) que pretende intervir em situaccedilotildees de poder social global sobre a base de reivindicaccedilotildees ou objetivos de mudanccedilas especiacuteficas (sejam setoriais ou globais)

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Haacute entre os estudiosos da Abordagem CTS uma outra importante distinccedilatildeo entre a tradiccedilatildeo ame-ricana (numa visatildeo meramente didaacutetica preocupada com as consequecircncias) e a tradiccedilatildeo europeia (numa visatildeo meramente didaacutetica preocupada com a antecedecircncia) Assim escrevem Cachapuz et al (2008 p 29) sobre as distintas facetas da perspectiva CTS

a norte-americana que coloca maior ecircnfase na abordagem das consequecircncias sociais das inovaccedilotildees tecnoloacutegicas e nas influecircncias sobre a forma de vida dos cidadatildeos e das insti-tuiccedilotildees e a europeacuteia que coloca a ecircnfase na dimensatildeo social antecedente aos desenvolvi-mentos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos evidenciando a diversidade de fatores econocircmicos poliacute-ticos e culturais que participam na gecircnese e aceitaccedilatildeo das teorias cientiacuteficas Contudo para aleacutem destas facetas apontadas natildeo poderem ser disjuntas o que muitos autores tecircm vindo a sobrepor eacute a importacircncia social do conhecimento proporcionado pela ciecircncia e tecnologia que ao mesmo tempo que proporciona melhor compreensatildeo do mundo natural representa um instrumento essencial para o transformar

Parece haver uma concordacircncia sobre aspectos de antecedecircncia e consequecircncia de CTS entre os au-tores citados Cachapuz et al (2008) Vacarezza (2002) e Mitcham (1990) Fazem essa categorizaccedilatildeo Gonzaacutelez Garciacutea Loacutepez Cerezo e Lujaacuten Loacutepez (1996)

Autores como Vaccarezza (2002) Dagnino Thomas e Davyt (2003) e Kreimer e Thomas (2004) especialmente defendem a existecircncia de um Pensamento Latinoamericano de CTS (PLACTS) ba-seados no cenaacuterio sociopoliacutetico existente nas deacutecadas de 60 e 70 em vaacuterios paiacuteses da America Latina chegando a listar os especialistas que agrave eacutepoca defendiam ideias que se assemelham agraves ideias dos Enfoques CTS hoje Segundo eles os principais satildeo Oscar Varsavsky (2010) Jorge Saacutebato (2004) Francisco R Sagasti (1986) Amilcar Herrera (1973) Miguel Wionseck Maacuteximo Halty-Carreacutere Os-valdo Sunkel Marcel Roche Joseacute Leite Lopes entre outros

Este tema mereceu de noacutes maiores pesquisas a fim de conhecer mais esta interessante hipoacutetese de trabalho Em recente pesquisa Silva (2015) pesquisando o CTS Latino Americano em obras primaacute-rias encontrou

127 autores relacionados com os temas de estudo do CTS latino-americano e [identificou] suas nacionalidades Destes 127 autores 94 foram enquadrados na categoria autores-funda-dores 21 na categoria autores-disciacutepulos e 12 natildeo puderam ser relacionados a nenhuma das duas categorias por falta de maiores informaccedilotildees disponiacuteveis sobre eles (p 53)

Ao final conclui que

Apoacutes o teacutermino da pesquisa e da anaacutelise dos resultados acreditamos que podemos respon-der agrave pergunta de partida deste trabalho Sobre se existiu uma tradiccedilatildeo latino-americana de CTS nas deacutecadas de 60 e 70 concluimos que a partir da anaacutelise feita pode-se afirmar que sim aleacutem das tradiccedilotildees americana e europeacuteia existiu uma tradiccedilatildeo CTS latino americana Poreacutem diferentemente das outras duas tradiccedilotildees esta natildeo formou escola suas teorias e pesquisas tiveram uma interrupccedilatildeo devido ao contexto poliacutetico local caracterizado por re-gimes autoritaacuterios e ditatoriaisAo pesquisar os autores-fundadores da tradiccedilatildeo CTS latino-americana percebeu-se que estes satildeo intelectuais natildeo necessariamente acadecircmicos provenientes de diversas aacutereas de formaccedilatildeo fazendo com que a tradiccedilatildeo tenha uma caracteriacutestica interdisciplinar dialoacutegica e construiacuteda atraveacutes das diferentes proposiccedilotildees e pontos de vista dos autores sobre a questatildeo do subdesenvolvimento latino-americano

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Por mais pertinentes que sejam as anaacutelises feitas pelos autores-fundadores do CTS latino-americano quanto as interrelaccedilotildees de fatores poliacuteticos e econocircmicos com o desenvolvimen-to da ciecircncia e da tecnologia conclui-se neste trabalho que estes temas satildeo pouco abordados no contexto de ensino CTS Ao correlacionar o referencial bibliograacutefico de artigos recentes publicados na aacuterea de ensino CTS no Brasil foram poucas as citaccedilotildees a autores-fundadores do CTS latino-americano e suas obras Em sua maioria as obras originais foram citadas por pessoas que jaacute estudavam o tema nos dias de hoje se destacando entre todos o autor Renato Dagnino um dos autores-disciacutepulos da tradiccedilatildeo CTS latino-americana Foi possiacutevel cons-tatar um hiato entre o que foi produzido pelos autores-fundadores nas deacutecadas de 60 e 70 com o que se produz sobre CTS hoje mostrando que natildeo parece haver uma apropriaccedilatildeo por parte dos autores de artigos na aacuterea de ensino CTS dos questionamentos e consideraccedilotildees desenvolvidas pelos autores relacionados agrave tradiccedilatildeo latino-americana de CTS (p 127-128)

Em recente publicaccedilatildeo Roso e Auler (2016) resgatam as ideias do PLACTS e suas contribuiccedilotildees (ou natildeo) para as praticas educativas do movimento CTS

A histoacuteria da relaccedilatildeo CTS teve como primeira caracteriacutestica uma reaccedilatildeo agravequela visatildeo acriacutetica e neu-tra que se deu agrave Ciecircncia e agrave Tecnologia ao longo do tempo Com o amadurecimento dos estudos CTS este se transformou efetivamente numa aacuterea intertransdisciplinar que atraia estudantes e pro-fissionais da aacuterea das chamadas ciecircncias exatas e da natureza mas que tambeacutem recrutou alunos e pesquisadores das chamadas ciecircncias humanas e sociais Essa eacute uma importante oportunidade de aproximar duas culturas a chamada humaniacutestica e a dita cientiacutefico-tecnoloacutegica que foram separadas em algum momento da histoacuteria como propotildee Snow (1995) em sua obra claacutessica As duas culturas

O segundo momento dos Estudos CTS foi marcado pela superaccedilatildeo do processo reativo criando accedilotildees planejadas e mecanismos de multiplicaccedilatildeo das ideias defendidas e organizadas ateacute entatildeo O segundo momento eacute marcado pelo surgimento de cursos e programas de estudos CTS voltados principalmen-te para a alfabetizaccedilatildeo sobre tecnologia o que transcende a alfabetizaccedilatildeo em tecnologia e que natildeo deve permitir a visatildeo ingecircnua de achar que ldquose nos entendesse melhor (a tecnologia) nos quereria maisrdquo (Cutcliffe 2003 p 16)

De acordo com Cutcliffe (2003 p 18) atualmente CTS concebe a Ciecircncia e a Tecnologia como proje-tos complexos que ocorrem em contextos histoacutericos e culturais especiacuteficos Escreve ele

Podemos dizer que em resumo pode dizer-se que o campo de CTS deixou para tras qualquer tendecircncia inicial que pudesse ser relacionado com alguns grupos e que implicasse em uma visatildeo simplista em branco e negro da ciecircncia e da tecnologia na sociedade buscando alcanccedilar uma compreensatildeo mais complexa da relaccedilatildeo de CTS Na atualidade CTS concebe a ciecircncia e a tecnologia como projetos complexos que se datildeo em contextos histoacutericos e culturais especiacutefi-cos O que tem surgido eacute um consenso com respeito a que se bem a ciecircncia e a tecnologia nos trazem diversos benefiacutecios tambeacutem provocam certos impactos negativos alguns dos quais imprevisiacuteveis mas todos refletem os valores pontos de vistas e visotildees daqueles que estatildeo em situaccedilatildeo de tomar decisatildeo com respeito aos conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos dentro de seus acircmbitos A missatildeo central do campo CTS ateacute a data de hoje tem sido a de expressar a interpretaccedilatildeo da ciecircncia e da tecnologia como um processo social Deste ponto de vista a ciecircncia e a tecnologia satildeo vistos como projetos complexos em que os valores culturais poliacuteti-cos e econocircmicos nos ajudam a configurar os processos tecnocientiacuteficos os quais por sua vez afetam os valores mesmos e a sociedade que os manteacutem (p 18) grifos nossos

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O mesmo autor Cutcliffe (2003) concluindo os acontecimentos sociais nas deacutecadas de 1960 e 70 escreve que CTS eacute um ldquocampo de estudo ativista interdisciplinar e orientado a problemas que tratava de entender e responder as complexidades da ciecircncia moderna e da tecnologia na sociedade contem-poracircneardquo (p 25)

Para Aibar e Quintanilla (2012) os estudos CTS podem ser estudados em dois aspectos baacutesicos

Por um lado exploram os impactos ou efeitos da ciecircncia e da tecnologia na estrutura social na induacutestria e a economia na poliacutetica no meio ambiente no pensamento e em geral na cultura Por outro de forma paralela os estudos CTS tentam determinar em que medida e de que forma diferentes fatores (valores de diferentes ordens forccedilas econocircmicas e poliacuteticas culturas profissionais ou empresariais grupos de pressatildeo movimentos sociais etc) confi-guram ou influenciam no desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico (p 12)

Para Zani et al (2013 p 63)

A necessidade do cidadatildeo de conhecer os direitos e obrigaccedilotildees de cada um de pensar por si proacuteprio e ter uma visatildeo criacutetica da sociedade onde vive e especialmente a disposiccedilatildeo de transformar a realidade para melhor satildeo alguns dos lemas do movimento CTS (Ciecircncia Tecnologia e Sociedade)

Zaiuth e Hayashi (2011 p 279) veem o Movimento CTS ldquocomo apelo para a responsabilidade social dos cientistas os quais devem se comprometer com padrotildees eacuteticos tanto na sua proacutepria formaccedilatildeo e tambeacutem nos que estatildeo na primeira linha da educaccedilatildeo para cidadania os professoresrdquo

Para Mello e Guazzelli (2011 p 25)

[] o movimento CTS tem como objetivo maior apresentar um ensino de ciecircncias voltado agrave formaccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica oferecida a todos os cidadatildeos indistintamente para que eles sejam capazes de tomar decisotildees responsaacuteveis com base na ciecircncia e tecnologia levan-do em consideraccedilatildeo no mesmo patamar a sociedade o ambiente e as dimensotildees afetivas atitudinais eacuteticas e culturais

No que concerne a Abordagem CTS com ecircnfase na Educaccedilatildeo e no curriacuteculo Acevedo Vaacutezquez e Manasero (2001) informam que no momento atual

emerge a educaccedilatildeo CTS (Ciecircncia tecnologia e Sociedade) como inovaccedilatildeo do curriacuteculo es-colar (Acevedo 1996a 1997a Vaacutezquez 1999) de caraacuteter geral que proporciona propostas de alfabetizaccedilatildeo em ciecircncia e tecnologia (Science and Technology Literacy STL) para todas as pessoas (Science and Technology for All STA) uma determinada visatildeo centrada na for-maccedilatildeo de atitudes valores e normas de comportamento a respeito da intervenccedilatildeo da ciecircncia e da tecnologia na sociedade (e vice-versa) com o fim de exercer responsavelmente como cidadatildeos e poder tomar decisotildees racionais e democraacuteticas na sociedade civil12 Desde este ponto de vista CTS eacute uma opccedilatildeo educativa transversal (Acevedo 1996b) que prioriza so-bretudo os conteuacutedos atitudinais (cognitivos afetivos e valorativos) e axioloacutegicos (valores e normas)Desde a perspectiva da dimensatildeo cognitiva atitudinal a educaccedilatildeo CTS pretende tambeacutem uma melhor compreensatildeo da ciecircncia e da tecnologia em seu contexto social incidindo nas

12 Neste ponto os autores acrescentam a seguinte nota no original ldquoLa posicioacuten de los autores respecto al papel que debe tener el movimiento CTS en la alfabetizacioacuten cientiacutefica y tecnoloacutegica para todas las personas ha sido expuesta numerosas veces recien-temente se muestra con rotundidad en Acevedo Manassero y Vaacutezquez (2002a b) Por su intereacutes veacutease tambieacuten el punto de vista sostenido por Solbes Vilches y Gil (2002b)rdquo

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CTS COMO CAMPO DE ESTUDO EM CONSTRUCcedilAtildeO19

interrelaccedilotildees entre os desenvolvimentos cientiacutefico e tecnoloacutegico e os processos sociais As-sim os estudantes deveratildeo adquirir durante sua escolarizaccedilatildeo algumas capacidades para ajudaacute-los a interpretar pelo menos de forma geral questotildees controvertidas re-lacionadas com os impactos sociais da ciecircncia e da tecnologia e com a qualidade das condiccedilotildees de vida de uma sociedade cada vez mais impregnada de ciecircncia e sobretudo de tecnologia (grifos nossos)

Para Acevedo Vaacutezquez e Manassero (2003a p 101)

Movimento CTS eacute entendido como uma inovaccedilatildeo educacional que estaacute em consonacircncia com as mais relevantes e atuais recomendaccedilotildees internacionais para proporcionar no ensino de ciecircncias a alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica mais completa e uacutetil possiacutevel para todas as pessoas

Auler (2007) apresentaraacute as seguintes reflexotildees

Quanto aos objetivos da educaccedilatildeo CTS sintetizados na referida pesquisa pode-se destacar promover o interesse dos estudantes em relacionar a ciecircncia com aspectos tecnoloacutegicos e sociais discutir as implicaccedilotildees sociais e eacuteticas relacionadas ao uso da ciecircncia-tecnologia (CT) adquirir uma compreensatildeo da natureza da ciecircncia e do trabalho cientiacutefico formar cidadatildeos cientiacutefica e tecnologicamente alfabetizados capazes de tomar decisotildees informadas e desenvolver o pensamento criacutetico e a independecircncia intelectual (sem indicaccedilatildeo de paacutegina)

Ainda sobre os aspectos educacionais e curriculares podemos elencar as posiccedilotildees de Santos e Morti-mer (2002) Amaral Xavier e Maciel (2009) e Santos Amaral e Maciel (2012)

Santos e Mortimer (2002 p 3) escrevem que

Roberts (1991) refere-se agraves ecircnfases curriculares ldquoCiecircncia no contexto socialrdquo e ldquoCTSrdquo como aquelas que tratam das inter-relaccedilotildees entre explicaccedilatildeo cientiacutefica planejamento tecnoloacutegico e soluccedilatildeo de problemas e tomada de decisatildeo sobre temas praacuteticos de importacircncia social Tais curriacuteculos apresentam uma concepccedilatildeo de (i) ciecircncia como atividade humana que ten-ta controlar o ambiente e a noacutes mesmos e que eacute intimamente relacionada agrave tecnologia e agraves questotildees sociais (ii) sociedade que busca desenvolver no puacuteblico em geral e tambeacutem nos cientistas uma visatildeo operacional sofisticada de como satildeo tomadas decisotildees sobre proble-mas sociais relacionados agrave ciecircncia e tecnologia (iii) aluno como algueacutem que seja preparado para tomar decisotildees inteligentes e que com-preenda a base cientiacutefica da tecnologia e a base praacutetica das decisotildees e (iv) professor como aquele que desenvolve o conhecimento de e o comprometi-mento com as inter-relaccedilotildees complexas entre ciecircncia tecnologia e decisotildees

Amaral Xavier e Maciel (2009 p 102) por sua vez esclarecem

Para uma eficaz associaccedilatildeo dos termos CiecircnciaTecnologiaSociedade numa relaccedilatildeo triaacutedi-ca requer-se trabalhar a ciecircncia como atividade humana historicamente contextualizada indicando os cenaacuterios socioeconocircmico e cultural onde as descobertas cientiacuteficas foram ou estatildeo sendo realizadas bem como a apresentaccedilatildeo das suas inter-relaccedilotildees com a tecnologia e a sociedade

Santos Amaral e Maciel (2012 p 229) informam que

A proposta curricular envolvendo as relaccedilotildees CTS corresponde assim a uma integraccedilatildeo entre educaccedilatildeo cientiacutefica tecnoloacutegica e social em que os conteuacutedos cientiacuteficos e tecnoloacutegi-

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cos satildeo estudados juntamente com a discussatildeo de seus aspectos histoacutericos eacuteticos poliacuteticos e soacutecio-econocircmicos

Segundo Osorio M (sd) CTS corresponde a um nome que se daacute a uma linha de trabalho acadecircmico e investigativo que tem por objeto perguntar-se pela natureza social do conhecimento cientiacutefico-tecnoloacutegico e suas incidecircncias nos diferentes acircmbitos econocircmicos sociais ambientais e culturais das sociedades

Ainda segundo Osorio M (sd) e tambeacutem Loacutepez Cerezo (2009) os estudos CTS estatildeo dirigidos prin-cipalmente

bull No plano da investigaccedilatildeo promovendo uma visatildeo socialmente con-textualizada da Ciecircncia e da Tecnologia

bull No acircmbito das poliacuteticas puacuteblicas de Ciecircncia e Tecnologia defendendo a participaccedilatildeo puacuteblica na tomada de decisatildeo em questotildees de poliacutetica e de gestatildeo cientiacutefico-tecnoloacutegica e

bull No plano educativo tanto o ensino meacutedio quanto o ensino superior contribuindo com uma nova e mais ampla percepccedilatildeo da Ciecircncia e da Tecnologia com o propoacutesito de for-mar um cidadatildeo alfabetizado cientiacutefica e tecnologicamente

Para Firme e Amaral (2011 p 384)

Na perspectiva CTS para o Ensino de Ciecircncias eacute reconhecida a necessaacuteria articulaccedilatildeo dos conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos com o contexto social tendo como objetivo pre-parar cidadatildeos capacitados para julgar e avaliar as possibilidades limitaccedilotildees e implicaccedilotildees do desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico

Para Mackenzie (2008) ldquociecircncia tecnologia e sociedade (CTS) eacute um nome geneacuterico para uma co-leccedilatildeo de estudos das ciecircncias sociais e humanas que examinam os contextos e conteuacutedos da ciecircncia e da tecnologiardquo (p 163) realccedilando que por conta dessa diversidade no desenvolvimento de seu trabalho natildeo cabe dizer que eacute utilizado o enfoque CTS mas sim um enfoque CTS dai nossa proposta de grafar enfoques CTS ou abordagens CTS no plural

A funccedilatildeo de alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica como propoacutesito da educaccedilatildeo CTS estaacute muita clara para diversos autores Para Miembiela (2001) citando vaacuterios autores o propoacutesito da educaccedilatildeo CTS apesar de haver muito debate e pouco consenso

eacute promover a alfabetizaccedilatildeo em ciecircncia e tecnologia de maneira que se capacite os cidadatildeos para participarem no processo democraacutetico de tomada de decisatildeo e se promova a accedilatildeo ci-dadatilde encaminhada a resoluccedilatildeo de problemas relacionadas com a ciecircncia e a tecnologia em nossa sociedade (p 91)

A mesma ideia eacute defendida por Waks (1990 p 43) quando escreve que

o propoacutesito da educaccedilatildeo CTS eacute promover a alfabetizaccedilatildeo em ciecircncia e tecnologia de ma-neira que se capacite os cidadatildeos para participar da tomada de decisatildeo e se promova a accedilatildeo cidadatilde encaminhada a resoluccedilatildeo de problemas relacionados com a ciecircncia e a tecnologia na sociedade industrial

Fourez (1997) ao relacionar Alfabetizaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica (ACT) com CTS faz interessante distinccedilatildeo entre ambos Escreve que

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CTS COMO CAMPO DE ESTUDO EM CONSTRUCcedilAtildeO21

Em certos meios se fala menos de ACT que de movimento ldquoCiecircncia Tecnologia e Socieda-derdquo (CTS) Agraves vezes a realidade designada eacute a mesma mas a escolha das palavras aporta diferenccedilas CTS traz agrave consciecircncia um problema que natildeo era considerado como tal haacute meio seacuteculo os viacutenculos entre os polos em que se apoia Enquanto que falar de uma ACT (como da promoccedilatildeo de uma cultura cientiacutefica e tecnoloacutegica) natildeo questiona o lugar das ciecircncias e das tecnologias na sociedade o movimento CTS o faz pelo menos implicitamente (p 18) (grifos nossos)

Bazzo Lisingen e Pereira (2003 p 125) escreveram

Os estudos CTS definem hoje um campo de trabalho recente e heterogecircneo ainda que bem consolidado de caraacuteter criacutetico a respeito da tradicional imagem essencialista da ciecircncia e da tecnologia e de caraacuteter interdisciplinar por convergirem nele disciplinas como a filosofia e a histoacuteria da ciecircncia e da tecnologia a sociologia do conhecimento cientiacutefico a teoria da educaccedilatildeo e a economia da mudanccedila teacutecnica Os estudos CTS buscam compreender a di-mensatildeo social da ciecircncia e da tecnologia tanto desde o ponto de vista dos seus antecedentes sociais como de suas consequecircncias sociais e ambientais ou seja tanto no que diz respeito aos fatores de natureza social poliacutetica ou econocircmica que modulam a mudanccedila cientiacutefico-tecnoloacutegica como pelo que concerne agraves repercussotildees eacuteticas ambientais ou culturais dessa mudanccedilaO aspecto mais inovador deste novo enfoque se encontra na caracterizaccedilatildeo social dos fato-res responsaacuteveis pela mudanccedila cientiacutefica Propotildee-se em geral entender a ciecircncia-tecnologia natildeo como um processo ou atividade autocircnoma que segue uma loacutegica interna de desenvolvi-mento em seu funcionamento oacutetimo (resultante da aplicaccedilatildeo de um meacutetodo cognitivo e um coacutedigo de conduta) mas sim como um processo ou produto inerentemente social onde os elementos natildeo-epistecircmicos ou teacutecnicos (por exemplo valores morais convicccedilotildees religio-sas interesses profissionais pressotildees econocircmicas etc) desempenham um papel decisivo na gecircnese e na consolidaccedilatildeo das ideias cientiacuteficas e dos artefatos tecnoloacutegicos

Como os movimentos educacionais satildeo motivados por interesses de grupo por relaccedilotildees de poder dos mais diversos natildeo eacute surpresa que o chamado Movimento CTS (em suas mais diversas manifestaccedilotildees) sofra oscilaccedilotildees na sua aceitaccedilatildeo e produccedilatildeo nas aacutereas em que se manifesta como atividade de pes-quisa e ensino Santos (2011) chega a referir-se como movimento declinante Sustenta sua percepccedilatildeo a partir do fato de que as publicaccedilotildees com tiacutetulos CTS esta diminuindo nos uacuteltimos anos A nosso ver mesmo que o roacutetulo CTS esteja sendo menos aplicado aos produtos de ensino e pesquisa sua essecircncia eacute anterior ao acroacutestico CTS e posterior a ele CTS como movimento de construccedilatildeo social da Ciecircncia e da Tecnologia e como aacuterea de estudos sobre impactos da Ciecircncia e da Tecnologia na Socie-dade se manteacutem ativo e produtivo Outros slogans estatildeo ocupando os espaccedilos do ensino de ciecircncia e tecnologia como sempre ocorreu com os modismos que imperam temporariamente mas a ideia se manteacutem e deve tornar-se mais madura entre grupos que ndash passada a febre ndash percebem nas dinacircmicas internas da aacuterea CTS ferramentas de contribuiccedilatildeo para a formaccedilatildeo de cidadatildeos mais bem preparados para a participaccedilatildeo social Parece ficar claro que este natildeo eacute um campo de convergecircncia faacutecil ou simples Por isso certamente John Ziman (1980) ndash tido por alguns como o responsaacutevel pela criaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo da triacuteade CTS no meio educacional atraveacutes de seu trabalho Teaching and Learning about Science and Society ndash diz que CTS eacute um campo de estudos que responde por diversos outros nomes como por exemplo

Estudos Sociais da Ciecircncia Ciecircncia da Ciecircncia Ciecircncia e Sociedade Responsabilidade So-

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CTS COMO CAMPO DE ESTUDO EM CONSTRUCcedilAtildeO22

cial na Ciecircncia Teoria da Ciecircncia Estudos de Poliacuteticas de Ciecircncias Ciecircncia num Contexto Social Estudos Liberais em Ciecircncias Relaccedilotildees Sociais de Ciecircncia e Tecnologia HistoacuteriaFilosofiaSociologia da CiecircnciaTecnologiaConhecimento (p 01)

Para noacutes a visatildeo sobre CTS diverge de acordo com o objetivo ou local (origem) visto que a definiccedilatildeo e a trajetoacuteria histoacuterica que culmina numa definiccedilatildeo eacute resultado da formaccedilatildeo do autor ou da visatildeo do analista

Em siacutentese temos que as relaccedilotildees CTS buscam oferecer aos cidadatildeos ferramentas para melhor en-tenderem como os conhecimentos cientiacuteficos e os conhecimentos artefatos e sistemas tecnoloacutegicos impactam a sociedade de modo geral e os grupos sociais em especial No sentido inverso busca-se que os especialistas em Ciecircncia e em Tecnologia percebam que a interlocuccedilatildeo com os cidadatildeos eacute indispensaacutevel e necessaacuteria permitindo que se acolha maior participaccedilatildeo social nos processos de de-cisatildeo social envolvendo temas e aspectos que povoam o universo da Ciecircncia e da Tecnologia

Uma boa imagem das relaccedilotildees CTS

As relaccedilotildees entre a ciecircncia a tecnologia e a sociedade tecircm um caraacuteter muito mais com-plexo e dinacircmico () mais do que as ligaccedilotildees de uma corrente ou as linhas que satildeo tranccediladas dar forma a um tecido acabado e definitivo as relaccedilotildees entre a Ciecircncia Tecno-logia e a Sociedade podem ser vistas como um processo da construccedilatildeo e de reconstruccedilatildeo reciacuteproco e dinacircmico Talvez a imagem das redes de estrada dos veiacuteculos que viajam por elas e das pessoas que lhes conduzem ou que viajam neles seria uma metaacutefora mais adequada para compreender aquelas relaccedilotildees A extensa rede de estradas que tem e que se ramifica na superfiacutecie do territoacuterio vai tornando acessiacuteveis novos lugares de uma ma-neira similar agrave maneira em que o desenvolvimento dos diversos campos cientiacuteficos vai permitindo conhecer novos acircmbitos da realidade Mas apesar disso o proacuteprio desen-volvimento das redes de comunicaccedilatildeo vai dando forma ao territoacuterio em um processo construtivo natildeo muito distante do que caracteriza as relaccedilotildees entre os campos do con-hecimento e as realidades tratadas por eles De outra forma natildeo eacute possiacutevel compreender a construccedilatildeo das rotas no territoacuterio sem considerar o tipo de veiacuteculos que vai passar por eles Estes aleacutem dos artefatos tecnoloacutegicos satildeo uma boa metaacutefora da proacutepria tecnologia ao mostrar que suas relaccedilotildees com ciecircncia satildeo assim estreitas e interdependentes como aquelas dos carros com as estradas das estradas de ferro com as rotas e dos automoacuteveis com as estradas De fato a histoacuteria da Ciecircncia e da Tecnologia assim como das rotas do transporte e dos aparatos tecnoloacutegicos que por eles viajam eacute a historia das interaccedilotildees contiacutenuas e de transformaccedilotildees muacutetuas Mas o interesse principal dessa imagem estaacute no papel que atribui aos assuntos aos condutores e passageiros e agrave sociedade Nenhum sentido tenderia imaginar caminhotildees e veiacuteculos sem as pessoas que os utilizam As es-tradas e os automoacuteveis permitem que os povos sejam transportados e vivam em lugares diferentes mas tambeacutem eacute certo que satildeo as disposiccedilotildees das estradas e o uso dos automoacute-veis os que por sua vez vatildeo determinando os haacutebitos os territoacuterios e as cenas em que estaacute passando a vida humana

Martiacuten Gordillo Mariano y Osorio M Carlos Educar para participar en ciencia y tec-nologiacutea Un proyecto para la difusioacuten de la cultura cientiacutefica httpwwwrieoeiorgrie32a08pdf (Traduccedilatildeo livre)

Atividade Proposta para reflexatildeo

Recentemente o STF-Supremo Tribunal Federal organizou uma Audiecircncia Puacuteblica em torno do tema da Accedilatildeo Direta de Inconstitucionalidade da Lei de Biosseguranccedila Com essa accedilatildeo o STF buscou ouvir os diferentes setores da sociedade organizada sobre o tema Apoacutes isso encaminharaacute a decisatildeo sobre a possibilidade de utilizaccedilatildeo de ceacutelulas embrionaacuterias humanas em pesquisas cientiacuteficas Em entrevista a Revista VEJA (n 2059 de 07maio2008 p 11-15) o socioacutelogo Simon Schwartzman diz

ldquoEu nunca vi um estudo seacuterio e competente sobre transposiccedilatildeo do Rio Satildeo Franciscordquo

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CTS COMO CAMPO DE ESTUDO EM CONSTRUCcedilAtildeO23

1 Pesquise como o STF organizou a audiecircncia puacuteblica sobre ceacutelulas embrionaacuterias Identifique as instituiccedilotildees convidadas para o debate e suas posiccedilotildees Faccedila um esquema geral das posiccedilotildees clas-sificando-as como ldquocontrardquo ou ldquofavoraacutevelrdquo e o argumento utilizado

2 Proponha um esquema semelhante para o debate tecnocientiacutefico e social sobre o tema ldquoTrans-posiccedilatildeo do Rio Satildeo Franciscordquo Imagine que vocecirc seja chamado a organizar um grande debate e depois teraacute que decidir se a transposiccedilatildeo do Rio Satildeo Francisco deve ou natildeo ser efetivada

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SOBRE A CIEcircNCIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A CIEcircNCIA25

2 Sobre a Ciecircncia mas natildeo o que eacute a Ciecircncia

A frase de Eric Hobsbawm13 ndash considerado o maior historiador de nosso seacuteculo ndash expressa a dificul-dade de tratar este tema a Ciecircncia Ele aponta a importacircncia da Ciecircncia para o seacuteculo XX e para-doxalmente a dificuldade de se lidar com ela Estamos efetivamente envolvidos e impactado pelo resultado da Ciecircncia e nos sentimos desconfortaacuteveis com o desconhecimento sobre ela Formamos como cidadatildeos opiniotildees sobre a produccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica sobre os especialistas sobre os impactos e certamente sabemos muito pouco sobre este campo do conhecimento Este conhecimen-to aliaacutes jaacute eacute considerado fator estrateacutegico para o desenvolvimento dos paiacuteses

Aleacutem disso os impactos da ciecircncia e da tecnologia na sociedade deixam de ser pontuais para serem amplos e geneacutericos solicitando dos cidadatildeos uma nova maneira de lidar com esses conhecimentos Como afirma Casassus (2007)

Se antigamente a ciecircncia e a tecnologia eram importantes somente para as pessoas que diri-giam para as carreiras cientiacuteficas hoje isto mudou pois as tecnologias com base matemaacuteti-ca moldam nossa existecircncia (p 79)

Alguns problemas se apresentam na preparaccedilatildeo deste texto-debate a extensatildeo dos assuntos que compotildee o tema e a exiguidade de tempo e espaccedilo Isso nos obriga a fazer escolhas e traccedilar um camin-ho possiacutevel onde as discussotildees sobre Ciecircncia se tornam instrumentais para o melhor entendimento das relaccedilotildees CTS

Alan Chalmers (1993) em sua obra intitulada O que eacute ciecircncia afinal Busca analisar a evoluccedilatildeo da ideia recente sobre ciecircncia e meacutetodo cientiacutefico apresentando criacuteticas e argumentos importantes a fim de contrapor-se a ideia herdada de ciecircncia desde Karl Popper e Imre Lakatos Faz uma simples mas rica trajetoacuteria pedagoacutegica para ao final concluir sobre a dificuldade que eacute tratar desta pergunta ldquoO que eacute ciecircnciardquo Escreve ele ldquoPoder-se-ia dizer que o livro procede de acordo com um velho pro-veacuterbio lsquoNoacutes comeccedilamos confusos e terminamos confusos num niacutevel mais elevadorsquo rdquo (p 21)

13 Conheccedila mais em httpptwikipediaorgwikiEric_Hobsbawm

Nenhum periacuteodo da histoacuteria foi mais penetrado pelas ciecircncias naturais nem mais dependente delas do que o seacuteculo XX Contudo nenhum periacuteodo desde a retrataccedilatildeo de Galileu se sentiu menos agrave vontade com elas Este eacute o paradoxo que tem que enfrentar o historiador do seacuteculo

Eric Hobsbawmin A Era dos Extremos ndash O breve seacuteculo XX

A falta do interesse e mesmo a rejeiccedilatildeo para o estudo das ciecircncias associado agrave falha escolar de uma porcentagem elevada dos estudantes constituem um problema de especial gravidade tanto na regiatildeo ibero-americana como nos paiacuteses desenvolvidos Um problema que merece uma atenccedilatildeo prioritaacuteria porque como foram indicadas na Conferecircncia Mundial sobre a Ciecircncia para o Seacuteculo XXI organizada pela UNESCO e pelo Conselho Internacional para a Ciecircncia ldquopara que um paiacutes esteja em condiccedilotildees de atender as necessidades fundamentais de sua populaccedilatildeo o ensino das ciecircncias e da tecnologia eacute um imperativo estrateacutegicordquo

Declaraccedilatildeo de Budapeste 1999

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SOBRE A CIEcircNCIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A CIEcircNCIA26

Leoacuten Oliveacute (2000) em sua obra intitulada El bien el mal y la razoacuten inicia seus trabalhos com a mes-ma questatildeo que enfrentamos agora O que eacute ciecircncia O autor busca responder agrave provocaccedilatildeo de duas maneiras a primeira seria responder por meio das ideias fundamentais e meacutetodos proacuteprios da ciecircn-cia Parafraseando Courant e Robbins ndash que enfrentaram o mesmo problema quando buscavam res-ponder o que eacute a matemaacutetica ndash lembra da expressatildeo usada por eles ldquoTanto para entendidos como para profanos natildeo eacute a filosofia e sim unicamente a experiecircncia ativa em matemaacutetica a que pode res-ponder a pergunta que eacute a matemaacuteticardquo Complementa Oliveacute ldquoNisso se equivocam redondamenterdquo (p 25) Logo sobre a matemaacutetica e a ciecircncia haacute algo mais a dizer que seus meacutetodos e ideias

A segunda maneira de responder agrave provocaccedilatildeo ainda segundo Oliveacute (2000) eacute considerar que a pro-vocaccedilatildeo natildeo eacute uma pergunta cientiacutefica Isto eacute a resposta deve basear-se em algo mais do que meacuteto-dos ideias e descriccedilotildees tidas como exatas Defende que para responder agrave questatildeo cientistas e natildeo-cientistas devem refletir sobre o que fazem os cientistas sobre como o fazem sobre os resultados que obtecircm e como eacute a que estaacute condicionado todo esse sistema Conclui escrevendo ldquoDado que se trata de uma pergunta sobre a ciecircncia ndash de uma pergunta metacientiacutefica ndash natildeo se requer fazer o mesmo que se faz na ciecircncia para respondecirc-lardquo (p 26)

Para a anaacutelise desta pergunta metacientiacutefica e seus problemas Oliveacute (2000) diz que haacute trecircs disci-plinas que podem dar conta da reflexatildeo a histoacuteria da ciecircncia a sociologia da ciecircncia e a filosofia da ciecircncia Parece que fica claro que a tarefa de responde a provocaccedilatildeo natildeo eacute simples nem trivial

Para noacutes parece haver uma relaccedilatildeo direta entre o que sabemos sobre ciecircncia [e tecnologia] e o que en-sinamos e como ensinamos ciecircncia [e tecnologia] Some-se a isso a visatildeo ampliada que poderemos ter com as contribuiccedilotildees advindas das disciplinas histoacuteria sociologia e filosofia da ciecircncia [e tecnologia]

Assim como Chalmers (1993) Oliveacute (2000) e muito outros natildeo temos a pretensatildeo de responder agrave pergunta considerando os argumentos dos autores e tambeacutem porque este natildeo eacute nosso objetivo neste trabalho Buscaremos uma trajetoacuteria instrumental e intencional do(s) conceito(s) de ciecircncia visto que queremos refletir sobre o conceito herdado de ciecircncia a participaccedilatildeo de fatores sociais e indivi-dual na produccedilatildeo da ciecircncia e da tecnologia e a relaccedilatildeo destas com a sociedade espelhada na imagem puacuteblica da ciecircncia e da tecnologia

Vamos pois em nosso trajeto provocativo (1) descrever as diferentes visotildees sobre ciecircncia e as con-tribuiccedilotildees da sociologia da ciecircncia e da tecnologia (2) apresentar os resultados de pesquisas de opi-niatildeo sobre Ciecircncia e Tecnologia a fim de identificarmos pontos fortes e paradoxos na opiniatildeo dos cidadatildeos Depois vamos (3) estudar as visotildees distorcidas de Ciecircncia que alimentam as concepccedilotildees dos cidadatildeos para ao final (4) apresentarmos algumas especificidades que devem ser consideradas no esforccedilo de entender o que seja Ciecircncia nas suas mais diversas concepccedilotildees

Deixamos claro desde jaacute que natildeo haacute nenhuma pretensatildeo de obter um conceito de ciecircncia tarefa a que se dedicam faz tempo os epistemoacutelogos da ciecircncia A proposta aqui eacute levantar reflexotildees e apre-sentar visotildees pouco comuns nas discussotildees sobre Educaccedilatildeo em Ciecircncias e CTS que satildeo forte e infe-lizmente pautados na tradiccedilatildeo que precisa ser superada Por tal buscaremos apresentar pesquisas sobre como a populaccedilatildeo em geral vecirc a Ciecircncia e a Tecnologia e as reflexotildees sobre o que natildeo se deseja na aprendizagem de Ciecircncia e Tecnologia Daremos espaccedilo para transcriccedilotildees avantajadas dos textos escolhidos para exemplificar a ideia que necessitamos para seguir a diante na discussatildeo CTS

Sobre o escopo e intencionalidade deste capiacutetulo eacute importante antecipar que ao apresentar a evo-

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SOBRE A CIEcircNCIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A CIEcircNCIA27

luccedilatildeo da Sociologia da Ciecircncia Oliver Martin (2003) ndash como poderiacuteamos lanccedilar de matildeo de Berger e Luckmann 2014 Vega Encabo (2012) Bennagravessar et al (2011) Chikara Sasaki (2010) Pierre Bourdieu (2003 2008) Shinn e Ragouet (2008) Jesuacutes Valero (2004) Stephen Cutcliffe (2003) dentre outros ndash elenca as ideias norteadoras dos pensadores em Sociologia iniciando com Auguste Comte (1789-1857) Karl Marx (1818-1883) Levy-Bruhl (1857-1939) Eacutemile Durkheim (1858-1917) para apoacutes isso iniciar o periacuteodo que chamou de Sociologia do Conhecimento Cientiacutefico Chama atenccedilatildeo para o fato que nenhum dos autores claacutessicos apesar de citarem o conhecimento cientiacutefico ldquoo converteu em objeto central de seus propoacutesitosrdquo (p 18) e apresenta trecircs autores que em sua visatildeo abordaram preci-samente o conhecimento cientiacutefico como objeto de estudo Max Scheller (1874-1928) Karl Mannhein (1893-1947) e Pitirim Sorokin (1889-1968)

Dando continuidade a sua narrativa Martin (2003) escreve que

Em nenhum momento os autores claacutessicos que temos revisado atribuem a sociologia a ca-pacidade de explicar a origem da validez das teorias cientiacuteficas Em geral propotildeem uma classificaccedilatildeo das formas de conhecimento e distinguem o conhecimento cientiacutefico de outras formas de conhecimento natildeo pretendem definir sociologicamente as fronteiras que sepa-ram essas diferentes formas Para eles a definiccedilatildeo de ciecircncia natildeo surge da sociologia e sim com maior seguranccedila da epistemologia Todos admitem que o desenvolvimento da ciecircncia respeita uma loacutegica essencialmente racional que os conhecimentos cientiacuteficos evoluem de modo endoacutegeno e que a validez de uma teoria eacute independente de sua origem social (p 23)

O autor deixa claro que as discussotildees sobre verdadeiro e falso objetivo e subjetivo ciecircncia e natildeo-ciecircncia e tudo mais que trate de um relativismo em ciecircncia natildeo possui espaccedilo nem apoio ateacute entatildeo

Essa visatildeo ingecircnua seraacute ampliada e enriquecida quando nas deacutecadas de 1920 e 1930 a ciecircncia co-meccedilou a ser encarada de forma diferente especialmente no processo diferenciado de elaboraccedilatildeo e de construccedilatildeo bem como o sistema de difusatildeo do conhecimento cientiacutefico e de como os cientistas se organizavam Esta nova fase eacute personalizada e demarcada ainda segundo Martin (2003) tendo como siacutembolo Robert Merton que inaugura uma corrente chamada por Shinn e Ragouet (2008) de diferenciacionistas

A nosso ver a primeira ideia que derivaraacute no Campo CTS pode ter origem nas reflexotildees mertonia-nas nas deacutecadas de 1940-50 quando deixa claro que a ciecircncia natildeo eacute natural ndash o que indica que eacute de produccedilatildeo social ndash e que estrutura a sociologia normativa dando mostra que eacute necessaacuterio o estabele-cimento de regras externas a fim de regrar interesses e crenccedilas na produccedilatildeo cientiacutefica

No mesmo periacuteodo John D Bernal (1937) publica na Inglaterra A Funccedilatildeo Social da Ciecircncia trazen-do para a arena das ideias as questotildees que hoje satildeo proacuteprias da Construccedilatildeo Social da Ciecircncia (e da Tecnologia)

Merton e Bernal podem ser resgatados como possiacuteveis precursores dos estudos atuais do Campo CTS

Esta nova fase recebe as contribuiccedilotildees de Thomas Kuhn (1922-1996) cujas ideias servem como ponto de partida para reflexotildees e surgimento de abordagens importantes para esta nova etapa da sociologia da ciecircncia Dentre as manifestaccedilotildees inovadoras desta fase podemos enumerar

1 O grupo de estudos franco-britacircnico (PAREX Paris e Sussex) fundado em 1971 e que pas-

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SOBRE A CIEcircNCIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A CIEcircNCIA28

sou a se chamar em 1981 European Association for the Study of Science and Technology2 O chamado Programa Forte em Sociologia do Conhecimento Cientiacutefico criado e manti-

do por socioacutelogos da Universidade de Edimburgo e3 O chamado Programa Empiacuterico do Relativismo criado e mantido por especialistas da

Universidade de Bath na Inglaterra

Estes programas de estudos sociais da ciecircncia trouxeram agrave tona questotildees que demonstram que o conhecimento cientiacutefico eacute socialmente construiacutedo que a comunidade cientiacutefica trabalha a partir de crenccedilas e interesses que os cientistas e grupos possuem valores preacutevios que em alguma medida interferem nas decisotildees que tomam

Mais recentemente identifica-se o movimento de analogamente agrave sociologia da ciecircncia aplicar a mesma loacutegica a aacuterea de tecnologia fundando a chamada sociologia da tecnologia que se apropria tambeacutem de saberes oriundos da filosofia da tecnologia Sasaki (2010) informa que o ldquoprincipal pro-motor do construtivismo social da tecnologia na atualidade eacute o historiador da tecnologia Wiebe E Bi-jker como ele proacuteprio reconhece o construtivismo social da tecnologia eacute a ampliaccedilatildeo metodoloacutegica do lsquoStrong Programrsquo de Bloorrdquo (p 121) Bourdieu (2008) em sua obra Para uma Sociologia da Ciecircncia tambeacutem identifica esta evoluccedilatildeo e estes mesmos autores como marcos importantes da aacuterea

No Brasil os estudos de Natureza da Ciecircncia e da Tecnologia ndash NdCeT satildeo fortemente difundidos na grande aacuterea da EducaccedilatildeoEnsino em Ciecircncia e Tecnologia podendo ser percebida em duas gran-des subaacutereas com histoacuterico e produccedilatildeo bem distintas A primeira mais disseminada consolidada e produtiva eacute a que se pode chamar de Histoacuteria e Filosofia da Ciecircncia (e menos em Tecnologia) aten-dendo ao que aponta Martin na sua narrativa histoacuterica quando diz que a produccedilatildeo cientifica estava entregue desde antes aos epistemoacutelogos E a segunda a proacutepria Aacuterea CTS

Natildeo temos pois a pretensatildeo de tratar do conceito de ciecircncia como fazem ndash e muito bem ndash os epis-temoacutelogos Muito menos trazer para este espaccedilo as questotildees e reflexotildees daquele grupo Aqui vamos descontruir a ideia de Ciecircncia herdada neutra positiva individual e fechada nos laboratoacuterios

Podemos a tiacutetulo de ilustraccedilatildeo das questotildees em torno da Ciecircncia e dos embates calorosos socorrer-nos por exemplo de Steve Woolgar (1991) de Pierre Bourdieu (2003 dentre outros) ou Boaventura de Sousa Santos (2003 dentre outros) Optamos por Boaventura de Sousa Santos (2003) por sua proximidade com o universo ibero-americano e escolhemos sua obra Conhecimento Prudente para uma vida decente Um discurso sobre as ciecircncias revisitado14 quando descreve sucintamente um dos muitos aspectos que podem exemplificar a complexidade do tema que eacute a chamada ldquoguerras da ciecircn-ciardquo que ldquofoi acima de tudo um debate entre cientistas em geral e cientistas cujo objeto de investi-gaccedilatildeo eacute a proacutepria ciecircncia enquanto fenocircmeno socialrdquo (2003 p 17)

Este confronto de ideias e posiccedilotildees inclusive de visatildeo pessoal teve momentos mais agudos como por exemplo as publicaccedilotildees de Lewis Wolpert (1992) e de Gross e Levitt (1994)

Sempre pela descriccedilatildeo de Boaventura de Sousa Santos (2003) ndash reiterando nossa intencionalidade e escolha assumida de posiccedilatildeo e de narrativa ndash Lewis Wolpert (1992) escreve The Unnatural Nature of Science tendo como alvo os autores do Programa Forte da Sociologia do Conhecimento e do Progra-

14 Esta obra eacute uma reflexatildeo coletiva sobre outra obra claacutessica de Boaventura de Souza Santos Um discurso sobre as ciecircncias de 1987

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SOBRE A CIEcircNCIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A CIEcircNCIA29

ma Empirico do Relativismo

Gross e Levitt (1994) publicam o Higher Supertition que seria ldquoinspiraccedilatildeo para muitos violentos ata-ques que vieram a seguirrdquo (2003 p 18) contra os estudos culturais os estudos feministas os estudos sobre raccedila e etnia e as ldquoanticiecircnciardquo (astrologia terapias alternativas etc)

Boaventura de Sousa Santos (2003) lembra ainda em sua descriccedilatildeo da ldquoguerras da ciecircnciardquo do caso Sokal considerado um dos mais agudos episoacutedios deste conjunto de eventos Em 1996 a revista So-cial Text publicou um nuacutemero sobre o tema Science Wars15 Neste nuacutemero o fiacutesico Alan Sokal (1996) apresentou um artigo ldquoTransgressing the boundaries towards a transformative hermeneutics of quantum gravityrdquo Nele Sokal apresentou uma ldquoreinterpretaccedilatildeo poacutes-moderna do domiacutenio dos estu-dos sobre a gravidade quacircntica [sendo que] o texto apoiava-se num extenso rol de autores invariavel-mente associados agraves correntes rotuladas de lsquoanticiecircnciarsquordquo (2003 p 19) com o intuito de demonstrar que o embuste produzido por ele poderia ser publicado se contivesse sinais externos que o caracteri-zasse como aceitaacutevel pela corrente que ele desejava criticar (poacutes-modernistas)

A polecircmica continuaria mais tarde com a publicaccedilatildeo Impostures Intellectualles (Sokal e Bricmont 1997) que tinha como alvo os intelectuais franceses poacutes-modernos como por exemplo Lacan La-tour Deleuze dentre outros A resposta a este texto veio a puacuteblico por meio da obra Impostures Scientifiques de Jurdant (1998)

Para concluir a narrativa sinteacutetica deste conjunto de episoacutedios que busca representar a dificuldade de tratar o tema ciecircncia e aqueles a que produzem daremos a palavra a Boaventura de Sousa Santos (2003)

Naturalmente que os grandes debates epistemoloacutegicos permanecem mas parecm ter deixa-do de ser campos de batalha para se acolherem no acircmbito e no estilo de discussotildees acadecircmi-cas sem duacutevida intensas mas paciacuteficas e com repeito muacutetuo pelas diferenccedilas (p 22)O decorrer da ldquoguerrardquo tornou ainda mais claro que as diferenccedilas epistemoloacutegicas natildeo co-rriam apenas entre cientistas naturais e cientistas sociais mas tambeacutem entre cientistas naturais e entre cientistas sociais e que tais diferenccedilas se articulavam de modo complexo com as diferenccedilas culturais e poliacuteticas com diferentes concepccedilotildees sobre a relaccedilatildeo entre conhecimento cientiacutefico e outras formas de conhecimento Em suma tornaram-se mais cla-ras as divergecircncias e as suas causas e se natildeo aumentou a toleracircncia aumentou pelo menos o conhecimento da diversidade de perspectivas (p 23) Grifos nossos

Posto o nosso entendimento sobre a Ciecircncia e a maneira como trabalham os cientistas vamso am-pliar o escopo de nossos estudos buscando conhecer como a populaccedilatildeo em geral percebe a Ciecircncia

21 As pesquisas sobre Percepccedilatildeo Puacuteblicas da Ciecircncia e da Tecnologia

Vogt e Polino (2003) apresentam os resultados de pesquisa sobre a percepccedilatildeo puacuteblica da Ciecircncia realizada em 2002 (na Argentina) e em 2003 (no Brasil Uruguai e Espanha) sob os auspiacutecios da Or-ganizaccedilatildeo dos Estados Ibero-Americanos (OEI 2003) e a Rede Ibero-Americana de Indicadores de Ciecircncia e Tecnologia (RICYTCYTED) que deram iniacutecio ao Pronotjeto Ibero-Americano de Indicado-res de Percepccedilatildeo Puacuteblica Cultura Cientiacutefica e Participaccedilatildeo dos Cidadatildeos a fim de contribuir para o desenvolvimento conceitual da mateacuteria

15 Santos (2003) chama atenccedilatildeo para o fato de que ldquouma versatildeo ampliada do nuacutemero temaacutetico se Social Text viria a ser publicada no mesmo ano sem o texto de Sokal e com a adiccedilatildeo de textos natildeo incluiacutedos na publicaccedilatildeo original (Ross 1996) Este volume seria uma das respostas mais importantes aos atoaques dos ldquoguerreiros da ciecircnciardquo (p 19 nota de rodapeacute)

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SOBRE A CIEcircNCIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A CIEcircNCIA30

A pesquisa assume que

um dos desafios da atualidade para a compreensatildeo da dinacircmica de interaccedilotildees entre ciecircncia tecnologia e sociedade eacute o desenvolvimento de uma geraccedilatildeo de indicadores que permitam avaliar a evoluccedilatildeo de trecircs dimensotildees de anaacutelise relevantes a percepccedilatildeo puacuteblica a cultura cientiacutefica e a participaccedilatildeo dos cidadatildeos

A pesquisa eacute resumida pelos autores da seguinte forma (Vogt e Polino 2003 p19-27)

1 Imaginaacuterio social sobre ciecircncia e tecnologia

Representaccedilatildeo social da ciecircncia A imagem que prevalece na pesquisa apresenta ldquoa ciecircncia como epopeacuteia de grandes descobertas (353 em meacutedia) a ciecircncia como condiccedilatildeo de rsquoavanccedilo tecnoloacutegicorsquo (464 em meacutedia) e por uacuteltimo a ciecircncia como fonte de benefiacutecios para a vida do ser humano (454 em meacutedia) rdquo Apesar de ser bastante comum na miacutedia por exemplo imagens que apresentam uma valoraccedilatildeo negativa (perigo de descontrole concentraccedilatildeo de poder ou ideacuteias que poucos enten-dem) estatildeo em posiccedilatildeo secundaacuteria

Utilidade da ciecircncia Os entrevistados dos quatro paiacuteses (72 em meacutedia) consideram que o desen-volvimento da ciecircncia e da tecnologia eacute o principal motivo da melhoria da qualidade de vida da so-ciedade Interessante comparar esta resposta com o fato de que os respondentes natildeo esperam que a Ciecircncia e a tecnologia sejam capazes de solucionar todos os problemas (859 em meacutedia)

A imagem da ciecircncia como conhecimento legiacutetimo Os resultados indicam que a ldquosociedade moderna enfatiza a racionalidade cientiacutefica e deposita sua confianccedila na verdade da ciecircncia em detrimento da feacute religiosardquo As respostas brasileiras sobre legitimidade da ciecircncia alcanccedilam 704 enquanto a dis-cordacircncia estaacute em 272 Nos demais paiacuteses as respostas satildeo equilibradas

A ciecircncia na vida cotidiana Para a afirmaccedilatildeo de que o mundo da ciecircncia natildeo pode ser compreen-dido pelas pessoas comuns encontra-se equiliacutebrio entre a concordacircncia e a discordacircncia Quando satildeo analisados os resultados globais a discordacircncia sobe para 534 e a concordacircncia alcanccedila 457 em meacutedia A maioria dos entrevistados nos quatro paiacuteses (aproximadamente 60) ldquoconsidera que ela opera como fator de racionalidade da cultura humana uma vez que se se descuidasse da ciecircncia lsquonossa sociedade seria cada vez mais irracionalrsquordquo

A ciecircncia e a tecnologia como fontes de risco 743 em meacutedia dos entrevistados considera que os benefiacutecios da ciecircncia e da tecnologia satildeo maiores que os efeitos negativos mas diante da afirmaccedilatildeo de que o desenvolvimento da ciecircncia traz problemas para a humanidade encontramos diferentes posiccedilotildees nos quatro paiacuteses participantes

bull Na Argentina as respostas estatildeo muito equilibradas embora como no Brasil sobressaia a discordacircncia (pouco mais de 50 em meacutedia)

bull Na Espanha e no Uruguai as respostas se inclinam para a concordacircncia (57 em meacutedia) Nesse sentido apesar da tendecircncia geral da imagem favoraacutevel da ciecircncia a percepccedilatildeo eacute de que ela natildeo estaacute livre de ter consequumlecircncias negativas

Entre os principais problemas mencionam-se os perigos de aplicar alguns conhecimentos e a uti-lizaccedilatildeo do conhecimento para a guerrardquo

A imagem dos cientistas e da atividade cientiacutefico-tecnoloacutegica Nos quatro paiacuteses a vocaccedilatildeo para o conhecimento aparece como o eacute o principal motivo que leva os cientistas a desenvolver seu trabalho

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cotidiano considerando-se tambeacutem a busca para soluccedilatildeo de problemas da populaccedilatildeo A imagem de ciecircncia tradicional eacute fortalecida quando se percebe que ldquoconquistar poder ou um precircmio importanterdquo encontram posiccedilatildeo secundaacuteria Chama a atenccedilatildeo o fato de que as habilidades que caracterizam os cientistas natildeo satildeo suficientes para convencer os entrevistados sobre a capacidade de tomada de de-cisotildees poliacuteticas pelos cientista 516 em meacutedia dos entrevistados nos quatro paiacuteses natildeo concorda que os cientistas satildeo os que melhor sabem o que conveacutem investigar para o desenvolvimento do paiacutes bem como 577 em meacutedia concorda que o governo natildeo deve intervir no trabalho dos cientistas ainda que seja o proacuteprio governo quem os pague

Percepccedilatildeo da ciecircncia e tecnologia local Nos quatro paiacuteses predomina uma imagem do desenvol-vimento cientiacutefico-tecnoloacutegico local segundo a qual existe um pouco de ciecircncia e tecnologia em algumas aacutereas (temaacuteticas)

bull Na Argentina no Brasil e na Espanha as respostas oscilam entre 55 e 64 de adesotildees bull No Uruguai as respostas satildeo mais numerosas chegando a 80

No que se refere ao financiamento pelo Estado da Ciecircncia e Tecnologia parece haver uma ideia de que este financiamento eacute insuficiente

bull Na Argentina Espanha e Uruguai a adesatildeo chega a 87 das respostas Apesar disso o Brasil apresenta novamente um comportamento diferenciado pois uma porcentagem nitidamente superior (278) agrave dos demais paiacuteses opina que o Estado financia a pesqui-sa nesse paiacutes de maneira razoavelmente suficiente

bull Do mesmo modo 82 dos entrevistados na Argentina 623 no Brasil e 789 na Es-panha indicam que o pouco apoio estatal eacute o principal fator que limita o desenvolvi-mento da ciecircncia e tecnologia descartando a responsabilidade de outros setores

bull Por outro lado no Uruguai (66) Argentina (594) e em menor escala Espanha (432) os entrevistados opinam que os conhecimenos gerados em seus paiacuteses tecircm utilidade mas natildeo se difundem

2 Processos de comunicaccedilatildeo social da ciecircncia

Informaccedilatildeo cientiacutefica incorporada Na Argentina (80) Brasil (71 ) e Espanha (67) os entrevis-tados se consideram pouco informados no que se refere agrave ciecircncia e tecnologia

Consumo de informaccedilatildeo cientiacutefica O consumo de informaccedilatildeo cientiacutefica em jornais (534) e tele-visatildeo (64) eacute majoritariamente ocasional na Argentina No Brasil as caracteriacutesticas de consumo satildeo semelhantes Tambeacutem na Espanha o comportamento eacute parecido no que se refere a jornais - 58 do consumo eacute ocasional- embora se acentue uma tendecircncia de escasso consumo de conteuacutedo cientiacutefico televisivo (81 ) Diferentemente da Argentina Brasil e Espanha os dados do Uruguai apresentam um perfil mais equilibrado nas mesmas categorias Quanto agraves revistas de divulgaccedilatildeo cientiacutefica em todos os paiacuteses o consumo tem caracteriacutesticas fundamentalmente esporaacutedicas

Valoraccedilotildees a respeito de cientistas e jornalistas Nos quatro paiacuteses se tende a considerar que soacute em algumas ocasiotildees a comunicaccedilatildeo dos cientistas com a sociedade eacute de difiacutecil compreensatildeo Os en-trevistados pressupotildeem com isso que a eventual incapacidade de comunicaccedilatildeo dos cientistas natildeo eacute uma condiccedilatildeo estrutural de suas competecircncias profissionais mas fundamentalmente depende de outros fatores

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3 Participaccedilatildeo dos cidadatildeos em questotildees de ciecircncia e tecnologia

Nos quatro paiacuteses participantes 945 em meacutedia acredita ser importante participar em questotildees de ciecircncia e tecnologia mas ao mesmo tempo somente 73 em meacutedia informaram jaacute ter tido expe-riecircncias concretas de participaccedilatildeo

Assim observa-se que no caso da Espanha apesar de seu caraacuteter minoritaacuterio o niacutevel de participaccedilatildeo efetiva eacute praticamente o dobro daquele dos outros paiacuteses Aleacutem disso observa-se que para a ampla maioria dos entrevistados dos quatro paiacuteses o cuidado com a vida e a sauacutede constitui o principal motivo que justifica a utilidade da participaccedilatildeo Outras opccedilotildees como controlar o funcionamento das empresas ou controlar a atividade dos cientistas recebem adesotildees que natildeo superam os 25 em nenhum dos casos Do mesmo modo um dos principais obstaacuteculos que a maioria nos quatro paiacuteses coincide em assinalar - sempre com uma frequecircncia superior aos 50 - eacute que as pessoas natildeo tecircm conhecimentos suficientes para exercer tal praacutetica No caso do Brasil Espanha e Uruguai esse motivo eacute o principal entre os as-sinalados Diverso eacute o caso da Argentina onde ocupa o segundo lugar prece-dido pela categoria as pessoas tecircm problemas mais importantes pelos quais reclamar e participar Entretanto essa escolha prioritaacuteria na Argentina e no Uruguai ndash onde deteacutem a segunda colocaccedilatildeo ndash ocupa o uacuteltimo lugar no Brasil e na Espanha

Na mesma linha de accedilatildeo foi realizada uma pesquisa nacional promovida pelo Ministeacuterio da Ciecircncia e Tecnologia com a parceria da Academia Brasileira de Ciecircncias coordenada pelo DEP-DISECISMCT e pelo Museu da VidaCOCFIOCRUZ com colaboraccedilatildeo do LABJORUNICAMP e da FAPESP intitulada ldquoPercepccedilatildeo Puacuteblica da Ciecircnciardquo16 e tambeacutem a versatildeo da pesquisa realizada em 201517

A pesquisa quantitativa tinha como objetivo o levantamento do interesse grau de informaccedilatildeo atitu-des visotildees e conhecimento que os brasileiros tecircm da Ciecircncia O puacuteblico alvo era a populaccedilatildeo brasilei-ra adulta constituiacuteda de homens e de mulheres com idade igual ou superior a 16 anos Foi realizado por meio de entrevistas domiciliares e pessoais com questionaacuterio estruturado realizadas entre no-vembro e dezembro de 2006 A amostra representativa de 16 estados foi de 2004 (duas mil e quatro) entrevistas18

A anaacutelise mesmo que raacutepida permite extrair alguns pontos interessantes e deixa claro um grande interesse da populaccedilatildeo por temas como Medicina e Sauacutede Meio Ambiente e Ciecircncia e Tecnologia Deixa patente tambeacutem que os jovens e adultos possuem uma percepccedilatildeo proacutepria de ciecircncia que deve ser considerada no processo de ensino-aprendizagem o que na maioria das vezes natildeo eacute sequer con-siderado pelos docentes das disciplinas cientiacuteficas

Por fim podemos elencar uma seacuterie de crenccedilas em torno da ciecircncia e do conhecimento cientiacutefico que o Campo CTS procura desconsturir e reconceitualizar conforme Ziman (1980)

bull Cientificismo crenccedila antiga originaacuteria do nascimento da ciecircncia moderna e de pen-samentos filosoacuteficos e poliacuteticos europeus baseia-se na ideia de que qualquer atividade

16 Ministeacuterio da Ciecircncia e Tecnologia Percepccedilatildeo Puacuteblica da Ciecircncia e Tecnologia Departamento de Popularizaccedilatildeo e Difusatildeo da CampT Secretaria de Ciecircncia e Tecnologia para Inclusatildeo Social Ministeacuterio da Ciecircncia e Tecnologia wwwmctgovbrindexphpcontentview50875html obtido em 07092007 cujo resumo pode ser encontrado em httpwwwmctgovbrupd_blob001313511pdf 17 Ministeacuterio da Ciecircncia Tecnologia e Inovaccedilatildeo httppercepcaocticgeeorgbr ou httpwwwmctigovbrnoticia-asset_pu-blisherepbV0pr6eIS0contentmcti-lanca-estudo-sobre-a-percepcao-publica-da-c-tjsessionid=E908832B10803193C5020620B6E628E7 obtidos em 1210201518 Intervalo de confianccedila de 95 tem uma margem de erro maacutexima de 22 pontos percentuais para mais ou para menos

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cientiacutefica eacute valiosa sem realizar anaacutelises profundas sobre a mesma e sobre suas conse-quecircncias

bull Anti-cientificismo ideia que surge como oposiccedilatildeo ao cientificismo julgando como ne-gativas as atividades cientiacuteficas como causadoras de todos os males sociais

bull Meacutetodo Cientiacutefico suposiccedilatildeo de que o meacutetodo cientiacutefico valida todo conhecimento cientiacutefico produzido fazendo com que haja pouca discussatildeo em sala de aula sobre a natureza da metodologia cientiacutefica sobre seus limites e aplicaccedilotildees

bull Positivismo mito atrelado ao cientificismo no qual a ciecircncia eacute vista como uacutenica forma de obter a verdade podendo em seu extremo negar qualquer outra fonte de conheci-mento que natildeo cientiacutefico

bull ldquoCiecircncia purardquo crenccedila baseada na ideia de que os cientistas devem alcanccedilar a ciecircncia pura atraveacutes da busca desinteressada pela verdade sendo financiados pela sociedade a qual iraacute receber em troca os benefiacutecios que advirem da procura da verdade

bull Otimismo tecnoloacutegico a crenccedila de que qualquer coisa que seja tecnicamente possiacutevel seraacute um dia desenvolvida

bull Visatildeo instrumental da ciecircncia a ideia de que basta realizar pesquisas o suficiente sobre determinado tema para que qualquer objetivo seja atingido

bull Tecnocracia baseia-se no mito de que apenas cientistas ou especialistas podem dar conselhos confiaacuteveis sobre quaisquer assuntos

bull Religiosidade cientiacutefica a feacute que se deposita no valor da ciecircncia passa a ser projetada para os seus praticantes cientistas e especialistas Estes devem pertencer a uma classe de indiviacuteduos com virtudes condizentes com a dita atitude cientiacutefica

bull Neutralidade moral da ciecircncia a crenccedila de que a ciecircncia eacute boa por natureza e que por isso na busca pela verdade natildeo existiria a necessidade de se questionar se as accedilotildees fei-tas seriam eacuteticas e humanas

Atividade Proposta para reflexatildeo

1 Visite a paacutegina e estude a pesquisa realizada pelo MCT httpwwwmctgovbrupd_blob001313511pdf

2 Compare os resultados obtidos com a pesquisa de Vogt e Polino Responda a O cidadatildeo considera a Ciecircncia importante para sua vida e para a sociedade b Compare sua resposta com o que o cidadatildeo diz que conhece sobre Ciecircncia e Tec-nologia

22 A importacircncia do ensino para as percepccedilotildees sobre a Ciecircncia e a Tecnologia

Pesquisas como essas permitem perceber o quanto se desconsidera os conhecimentos preacutevios dos jovens e adultos no processo de construccedilatildeo da Ciecircncia e da Tecnologia e o quanto o processo tradi-cional de Ensino de Ciecircncias e Tecnologia agraves vezes alimenta imagens que natildeo correspondem agravequelas reconceitualizadas pela Histoacuteria da Ciecircncia e Tecnologia pela Filosofia da Ciecircncia e Tecnologia e pela Sociologia da Ciecircncia e Tecnologia principalmente

A UNESCO no conjunto de accedilotildees que marcam a Deacutecada da Educaccedilatildeo para o Desenvolvimento Sus-tentado (2005-2014) lanccedilou recentemente um livro intitulado Como promover intereacutes por la cultura cientiacutefica ndash Uma propuesta didaacutectica fundamentada para la educacion cientiacutefica de joacutevenes de 15 a 18 antildeos (2005) onde defende a chamada Alfabetizaccedilatildeo Cientiacutefica O livro que reuacutene um grande nuacutemero

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de produtivos pesquisadores em ensino de ciecircncias e tecnologia na vertente CTS - Ciecircncia Tecnolo-gia e Sociedade guarda um dos capiacutetulos (p 29 a 62) para discutir as possiacuteveis visotildees deformadas da Ciecircncia e da Tecnologia que satildeo discutidas e multiplicadas no processo de ensino e que eacute reproduzi-da em portuguecircs em Cachapuz et al (2005 p 37-70) baseado em diversos artigos publicados ante-riormente e tambeacutem satildeo apresentadas na obra Bazzo Linsingen e Pereira (2003 p 19-20) Dentre as possiacuteveis visotildees deformadas de Ciecircncias podemos detalhar a partir de extratos do texto de Cachapuz et al (2005)

1 Uma visatildeo descontextualizada ou socialmente neutra (p 40-43)

(Haacute uma) deformaccedilatildeo criticada por todas as equipas de docentes implicadas neste esfor-ccedilo de clarificaccedilatildeo e por uma abundante literatura a transmissatildeo de uma visatildeo descontex-tualizada socialmente neutra que es-quece dimensotildees essenciais da atividade cientiacutefica e tecnoloacutegica como o seu impacto no meio natural e social ou os interesses e influencias da sociedade no seu desenvolvimento Ignora-se pois as complexas relaccedilotildees CTS Ciecircncia-Tecnologia-Sociedade () Este tratamento descontextualizado comporta muito em parti-cular uma falta de clarificaccedilatildeo das relaccedilotildees entre a ciecircncia e a tecnologiaCom efeito habitualmente a tecnologia eacute considerada uma mera aplicaccedilatildeo dos conheci-mentos cientiacuteficos De fato a tecnologia tem sido vista tradicionalmente como uma ativida-de de menor status que a ciecircncia pura ()Eacute relativamente faacutecil no entanto questionar esta visatildeo simplista das relaccedilotildees ciecircncia-tec-nologia basta refletir brevemente sobre o desenvolvimento histoacuterico de ambas para com-preender que a atividade teacutecnica precedeu em milecircnios a ciecircncia e que por tanto de modo algum pode considerar-se como mera aplicaccedilatildeo de conhecimentos cientiacuteficos ()Esquecer a tecnologia eacute expressatildeo de visotildees puramente operativistas que ignoram com-pletamente a contextualidade da atividade cientiacutefica como se a ciecircncia fosse um produto elaborado em torres de marfim agrave margem das contingecircncias da vida ordinaacuteria Trata-se de uma visatildeo que se conecta com a que contempla aos cientistas como seres especiais gecircnios solitaacuterios que falam uma linguagem abstrata de difiacutecil acesso A visatildeo descontextualizada vecirc-se reforccedilada pois pelas concepccedilotildees individualistas e elitistas da ciecircncia

2 Uma visatildeo individualista e elitista (p 43-45)

Esta eacute junto agrave visatildeo descontextualizada que acabamos de analisar ndash e agrave qual estaacute estreitamen-te ligada ndash outra das deformaccedilotildees mais frequumlentemente assinaladas pelas equipes de docentes e tambeacutem mais tratadas na literatura Os conhecimentos cientiacuteficos aparecem como obra de gecircnios isolados ignorando-se o papel do trabalho coletivo dos intercacircmbios entre equipes essenciais para favorecer a criatividade necessaacuteria para abordar situaccedilotildees abertas natildeo fami-liares Em particular deixa-se acreditar que os resultados obtidos por um soacute cientista ou equi-pe podem bastar para verificar ou falsear uma hipoacutetese ou inclusive toda uma teoriaFrequumlentemente insiste-se explicitamente em que o trabalho cientiacutefico eacute um domiacutenio reser-vado a minorias especialmente dotadas transmitindo expectativas negativas para a maioria dos alunos e muito em particular das alunas com claras descriminaccedilotildees de natureza social e sexual a ciecircncia eacute apresentada como uma atividade eminentemente masculina( )A imagem individualista e elitista do cientista traduz-se em iconografias que representam o homem da bata branca no seu inacessiacutevel laboratoacuterio repleto de estranhos instrumentos Desta forma constatamos uma terceira e grave deformaccedilatildeo a que associa o trabalho cientiacute-fico quase exclusivamente com esse trabalho no laboratoacuterio onde o cientista experimenta

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e observa procurando o feliz descobrimento Transmite-se assim uma visatildeo empiro-indu-tivista da atividade cientiacutefica que abordaremos seguidamente

3 Uma visatildeo empiro-inductivista e ateoacuterica (p 45-48)

Talvez tenha sido a concepccedilatildeo empiro-inductivista a deformaccedilatildeo que foi estudada em pri-meiro lugar e a mais amplamente assinalada na literatura Uma concepccedilatildeo que defende o papel da observaccedilatildeo e da experimentaccedilatildeo ldquoneutrardquo (natildeo contaminadas por ideias aprioritis-tas) esquecendo o papel essencial das hipoacuteteses como focalizadoras da investigaccedilatildeo e dos corpos coerentes de conhecimentos (teorias) disponiacuteveis que orientam todo o processoEacute preciso insistir na importacircncia dos paradigmas conceptuais das teorias no desenvolvi-mento do trabalho cientiacutefico num processo completo natildeo reduzido a um modelo definido de mudanccedila cientiacutefica que inclui eventuais roturas mudanccedilas revolucionaacuterias do paradig-ma vigente num determinado domiacutenio e surgimento de novos paradigmas teoacutericos Eacute pre-ciso tambeacutem insistir em que os problemas cientiacuteficos constituem inicialmente ldquosituaccedilotildees problemaacuteticasrdquo confusas o problema natildeo eacute dado eacute necessaacuterio formulaacute-lo da maneira preci-sa modelizando a situaccedilatildeo fazendo determinadas opccedilotildees para simplificaacute-lo mais ou menos com o fim de poder abordaacute-lo clarificando o objetivo etc E tudo isto partindo do corpus de conhecimentos que se tem no campo especiacutefico em que se desenvolve o programa de investigaccedilatildeo()Infelizmente as escassas praacuteticas escolares de laboratoacuterios escamoteiam aos estudantes (incluindo na Universidade) toda a riqueza do trabalho experimental dado que apresenta montagens jaacute elaborada para simples manuseamento seguindo guia de tipo receita de co-zinhaDeste modo o ensino centrado na simples transmissatildeo de conhecimentos jaacute elaborados natildeo soacute impede compreender o papel essencial que a tecnologia joga no desenvolvimento cien-tiacutefico senatildeo que contraditoriamente favorece a manutenccedilatildeo das concepccedilotildees empiro-in-ductivas que consagram um trabalho experimental ao qual nunca se tem acesso real como elemento central de um suposto Meacutetodo Cientiacutefico o que se vincula com outras duas graves deformaccedilotildees que abordaremos brevemente

4 Uma visatildeo riacutegida algoriacutetmica infaliacutevel (p 48-49)

Esta eacute uma concepccedilatildeo amplamente difundida entre o professorado de ciecircncias como se tem podido constatar utilizando diversos desenhos (Femaacutendez 2000) Assim em entrevistas rea-lizadas com professores uma maioria refere-se ao Meacutetodo Cientiacutefico como uma sequumlecircncia de etapas definidas em que as observaccedilotildees e as experiecircncias rigorosas desempenham um papel destacado contribuindo agrave exatidatildeo e objetividade dos resultados obtidosFace a isto eacute preciso ressaltar o papel desempenhado na investigaccedilatildeo pelo pensamento diver-gente que se concretiza em aspectos fundamentais e erroneamente relegados nos traccedilados empiro-inductivistas como satildeo a invenccedilatildeo de hipoacuteteses e modelos ou o proacuteprio desenho de experiecircncias Natildeo se raciocina em termos de certezas mais ou menos baseadas em evidecircn-cias senatildeo em termos de hipoacuteteses que se apoiam eacute certo nos conhecimentos adquiridos mas que satildeo contempladas como tentativas de resposta que devem ser postas agrave prova o mais rigorosamente possiacutevel o que daacute lugar a um processo complexo em que natildeo existem princiacutepios normativos de aplicaccedilatildeo universal para a aceitaccedilatildeo ou a rejeiccedilatildeo de hipoacuteteses ou mais em geral para explicar as trocas mudanccedilas nos conhecimentos cientiacuteficos()

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Satildeo as hipoacuteteses pois as que orientam a procura de dados Umas hipoacuteteses que por sua vez nos remetem ao paradigma conceptual de partida pondo de novo em evidencia o erro das propostas empiacutericasA concepccedilatildeo algoriacutetmica como a empiro-inductivista em que se apoacuteia pode manter-se na mesma medida em que o conhecimento cientiacutefico se transmite de forma acabada para a sua simples recepccedilatildeo sem que os estudantes nem os professores tenham ocasiatildeo de constatar praticamente as limitaccedilotildees desse suposto Meacutetodo Cientiacutefico Pela mesma razatildeo incorrese com facilidade numa visatildeo aproblemaacutetica e ahistoacuterica da atividade cientiacutefica agrave que nos referi-remos em seguida

5 Uma visatildeo aproblemaacutetica e a-histoacuterica (ou acabada e dogmaacutetica) (p 49-50)

Como jaacute referimos o fato de transmitir conhecimentos jaacute elaborados conduz muito frequumlen-temente a ignorar quais foram os problemas que se pretendiam resolver qual tem sido a evo-luccedilatildeo de ditos conhecimentos as dificuldades encontradas etc e mais ainda a natildeo ter em conta as limitaccedilotildees do conhecimento cientiacutefico atual ou as perspectivas abertasAo apresentar uns conhecimentos jaacute elaborados sem sequer se referir aos problemas que es-tatildeo na sua origem perdese de vista que como afirma Bachelard todo o conhecimento eacute a res-posta a uma questatildeo a um problema Este esquecimento dificulta captar a racionalidade do processo cientiacutefico e faz com que os conhecimentos apareccedilam como construccedilotildees arbitraacuterias Por outra parte ao natildeo completar a evoluccedilatildeo dos conhecimentos ou seja ao natildeo ter em conta a histoacuteria das ciecircncias desconhece-se quais foram as dificuldades os obstaacuteculos epistemoloacute-gicos que foram preciso superar o que resulta fundamental para compreender as dificuldades dos alunosDevemos insistir uma vez mais na estreita relaccedilatildeo existente entre as deformaccedilotildees contem-pladas ateacute aqui Esta visatildeo aproblemaacutetica e ahistoacuterica por exemplo torna possiacutevel as conce-pccedilotildees simplistas sobre as relaccedilotildees ciecircncia-tecnologia Pensemos que se toda a investigaccedilatildeo responde a problemas com frequecircncia esses problemas tecircm uma vinculaccedilatildeo directa com ne-cessidades humanas e portanto com a procura de soluccedilotildees adequadas para problemas tecno-loacutegicos preacuteviosDe facto o esquecimento da dimensatildeo tecnoloacutegica na educaccedilatildeo cientiacutefica impregna a visatildeo distorcida da ciecircncia socialmente aceite que evidenciamos aqui Precisamente por isto escol-hemos dar o nome de Possiacuteveis visotildees deformadas da ciecircncia e da tecnologia tratando assim de superar um esquecimento que historicamente tem a sua origem na distinta valorizaccedilatildeo do trabalho intelectual e manual e que afecta gravemente a necessaacuteria alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica do conjunto da cidadaniaA visatildeo distorcida e empobrecida da natureza da ciecircncia e da construccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico em que o ensino das ciecircncias incorre por acccedilatildeo ou omissatildeo inclui outras visotildees deformadas que tecircm em comum esquecer a dimensatildeo da ciecircncia como construccedilatildeo de corpos coerentes de conhecimentos

6 Uma visatildeo exclusivamente analiacutetica (p 50-51)

Referimo-nos em primeiro lugar ao que temos denominado visatildeo exclusivamente analiacuteti-ca que estaacute associada a uma incorreta apreciaccedilatildeo do papel da anaacutelise no processo cientiacute-ficoAssinalemos para iniciar que uma caracteriacutestica essencial de uma aproximaccedilatildeo cientiacutefica eacute a vontade expliacutecita de simplificaccedilatildeo e de controle rigoroso em condiccedilotildees preacuteestabelecidas o que introduz elementos de artificialidade indubitaacuteveis que natildeo devem ser ignorados nem ocultados os cientistas decidem abordar problemas resoluacuteveis e comeccedilam ignorando cons-

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ciente e voluntariamente muitas das caracteriacutesticas das situaccedilotildees estudadas o que eviden-temente os afasta da realidade e continuam afastando-se mediante o que sem duacutevida haacute que considerar a essecircncia do trabalho cientiacutefico A invenccedilatildeo de hipoacuteteses e modelosO trabalho cientiacutefico exige pois tratamentos analiacuteticos simplificatoacuterios artificiais Mas isto natildeo supotildee como agraves vezes se critica incorrer necessariamente em visotildees parcializadas e simplistas na medida em que se trata de anaacutelises e simplificaccedilotildees conscientes tem-se presente a necessidade de siacutentese e de estudos de complexidade crescente Pensemos por exemplo que o estabelecimento da unidade da mateacuteria - que constitui um claro apoio a uma visatildeo global natildeo parcializada ndash eacute uma das maiores conquistas do desenvolvimento cientiacutefico dos uacuteltimos seacuteculos os princiacutepios de conservaccedilatildeo e transformaccedilatildeo da mateacuteria e da energia foram estabelecidos respectivamente nos seacuteculos XVIII e XIX e foi soacute nos finais do seacuteculo XIX quando se produziu a fusatildeo de trecircs domiacutenios aparentemente autocircnomos - electricidade oacuteptica e magnetismo - na teoria eletromagneacutetica que se abriu um enorme campo de aplicaccedilotildees que seguem revolucionando a nossa vida de cada dia E natildeo haacute que esquecer que os procesnotsos de unificaccedilatildeo exigiram com frequumlecircncia atitudes criacuteticas nada cocircmodas que tiveram que vencer fortes resistecircncias ideoloacutegicas e inclusive perseguiccedilotildees e condenaccedilotildees como nos casos bem conhecidos do heliocentrismo ou do evolucionismo A histoacuteria do pensamento cientiacutefico eacute uma constante confirmaccedilatildeo de que os avanccedilos tecircm lugar profundizando o conhecimento da realidade em campos definidos eacute esta profundizaccedilatildeo inicial a que permite chegar posteriormente a estabelecer laccedilos entre campos aparentemen-te desligados

7 Uma visatildeo acumulativa de crescimento linear (p 51)

ldquoUma deformaccedilatildeo agrave que tambeacutem natildeo fazem referecircncia as equipes de docentes e que eacute a se-gunda menos mencionada na literatura - traacutes a visatildeo exclusivamente analiacutetica - consiste em apresentar o desenvolvimento cientiacutefico como fruto de um crescimento linear puramente acumulativo ignorando as crises e as remodelaccedilotildees profundas fruto de processos comple-xos que natildeo se deixam ajustar por nenhum modelo definido de desenvolvimento cientiacutefico Esta deformaccedilatildeo eacute complementar em certo modo do que temos denominado visatildeo riacutegi-da algoriacutetmica ainda que devam ser diferenciadas enquanto a visatildeo riacutegida ou algoriacutetmi-ca se refere como se concebe a realizaccedilatildeo de uma investigaccedilatildeo dada a visatildeo acumulativa eacute uma interpretaccedilatildeo simplista da evoluccedilatildeo dos conhecimentos cientiacuteficos ao longo do tempo como fruto do conjunto de investigaccedilotildees realizadas em determinado campo Esta eacute uma visatildeo simplista agrave qual o ensino costuma contribuir ao apresentar as teorias hoje aceites sem mostrar o processo do seu estabelecimento nem ao se referir agraves frequumlentes confrontaccedilotildees entre teorias rivais nem aos complexos processos de mudanccedila que incluem autenticas lsquore-voluccedilotildees cientiacuteficasrsquordquo

Essas desconsideraccedilotildees do conhecimento preacutevio e das concepccedilotildees espontacircneas ou construiacutedas na experiecircncia cotidiana bem como a transmissatildeo equivocada de Ciecircncia e Tecnologia por meio das visotildees deformadas e suas combinaccedilotildees desconsideram um princiacutepio basilar da didaacutetica das ciecircncias na construccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico os conhecimentos anteriores ou conhecimentos preacutevios Buscando concluir este toacutepico ndash que pretendeu mostrar a importacircncia de se considerar os conhe-cimentos preacutevios e as percepccedilotildees puacuteblicas da Ciecircncia e da Tecnologia para a formaccedilatildeo adequada de conceitos ndash compreende-se que se quisermos interferir naquilo que os professores e os alunos fazem nas aulas de Ciecircncia e Tecnologia eacute preciso interferir na maneira de ensinar dos professores e na maneira de aprender dos alunos E mesmo assim considerar que possuir concepccedilotildees vaacutelidas

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SOBRE A CIEcircNCIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A CIEcircNCIA38

sobre a ciecircncia natildeo garante que o comportamento docente seja coerente com estas concepccedilotildees O es-tudo destas ditas concepccedilotildees tem-se convertido por essa razatildeo numa potente linha de investigaccedilatildeo (Cachapuz et al 2005 UNESCO 2005)

Uma outra linha de pesquisa que se amplia no universo da Ciecircncia e Tecnologia eacute aquela que busca identificar e entender as crenccedilas e atitudes perante a Ciecircncia Tecnologia e Sociedade e que tecircm em Acevedo Vasquez e Manassero produtivos pesquisadores na regiatildeo iberoamericana dentre outros Os autores partem das premissas contemporacircneas ndash que natildeo haacute um conceito correto ou mais co-rreto de Ciecircncia e de Tecnologia que natildeo haacute um uacutenico meacutetodo cientiacutefico e que as atitudes podem ser classificadas em ingecircnuas (i) plausiacuteveis (p) ou adequadas (a) ndash e desenvolvem neste momento extensa pesquisa sobre as atitudes frente aos conceitos CTS envolvendo seis paiacuteses da iberoameacuterica inclusive Brasil Para ter ideia de o quanto se flexibiliza os conceitos de Ciecircncia podemos citar uma das questotildees

10111 Definir o que eacute a ciecircncia eacute difiacutecil porque ela eacute complexa e engloba muitas coisas Mas a ciecircncia eacute PRINCIPALMENTE

A o estudo de aacutereas tais como biologia quiacutemica geologia e fiacutesica B um corpo de conhecimentos como princiacutepios leis e teorias que explicam o mundo que nos rodeia (mateacuteria energia e vida)C explorar o desconhecido e descobrir coisas novas sobre o mundo e o universo e como funcionamD realizar experiecircncias para resolver problemas de interesse sobre o mundo que nos rodeiaE inventar ou conceber coisas (por exemplo coraccedilotildees artificiais computadores veiacuteculos espaciais)F pesquisar e usar conhecimentos para fazer deste mundo um lugar melhor para viver (por exemplo curar doenccedilas solucionar a contaminaccedilatildeo e melhorar a agricultura)G uma organizaccedilatildeo de pessoas (chamados cientistas) que tecircm ideias e teacutecnicas para desco-brir novos conhecimentosH um processo de investigaccedilatildeo sistemaacutetico e o conhecimento que daiacute resultaI natildeo se pode definir ciecircncia

Em uma de suas pesquisas Acevedo Vasquez e Manassero (2002) comentam o resultado sobre a questatildeo

Definiccedilatildeo da ciecircncia Predominam as respostas adequadas e aplausiacuteveis (algo mais menos do que a metade em cada caso) A opccedilatildeo da ciecircncia como um corpo do conhecimento foi escolhida por mais de um terccedilo Segue a grande distacircncia (168) a frase plausiacutevel que con-sidera a ciecircncia como uma forma de explorar o desconhecido e fazer descobertas sobre o mundo e seu funcionamento Consequumlentemente de maneira global a conceitualizaccedilatildeo da ciecircncia feita pelos estudantes poderia ser avaliada como apropriado jaacute que majoritariamen-te captam muitos aspectos da essecircncia da ciecircncia

A maneira mais segura de diminuirmos a possibilidade de sermos ldquocontaminadosrdquo por estas visotildees deformadas de ciecircncia e pior de multiplicarmos esses conceitos eacute buscarmos enxergar as ciecircncias por vaacuterios acircngulos por vaacuterios campos definidos do saber que ao longo do tempo vecircm se estabelecen-do no delicado processo de entendimento do que seja Ciecircncia e de sua relaccedilatildeo com a Tecnologia e a Sociedade Estes estudos satildeo desenvolvidos por meio de ramos de estudos definidos como Filosofia da Ciecircncia e da Tecnologia Histoacuteria da Ciecircncia e da Tecnologia e Sociologia da Ciecircncia e da Tecno-logia principalmente que podem assim ser definidas sinteticamente

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SOBRE A CIEcircNCIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A CIEcircNCIA39

bull Filosofia da Ciecircncia e da Tecnologia Os filoacutesofos da ciecircncia e da tecnologia tecircm le-vantado questotildees importantes na relaccedilatildeo com a estrutura do conhecimento cientiacutefico e o desenvolvimento da tecnologia Um ponto de partida habitual e uacutetil eacute a obra de Thomas Kuhn (1970) ndash A Estrutura da Revoluccedilatildeo Cientiacutefica ndash a partir da qual se afas-tou das visotildees positivistas mais tradicionais para incorporar uma interpretaccedilatildeo mais contextual se natildeo relativista (CUTCLIFFE 2003 p 188-189) Necessaacuterio reconhecer as contribuiccedilotildees de Joseacute Ortega y Gasset (1997) Martin Heidegger (2012 2009 1999) Juumlrgen Habermas 2013 1968) Hannah Arendt Lewis Mumford (2010 2001) Jacques Ellul Hans Jonas (2011) Peter Sloterdijk Carl Mitchan (2006 2003 1994 1989) Javier Echeverria (2003 2002 2001a 2001b) Andrews Feenberg (2010 2003 2002 1992) especialmente

bull Estudos Sociais da Ciecircncia e da Tecnologia Este ramo de estudo explora o caraacuteter social da Ciecircncia com especial referecircncia agrave produccedilatildeo social do conhecimento cientiacutefico (sociologia do conhecimento) Dedica por exemplo a estudar sua forma de comuni-caccedilatildeo a hierarquia interna distribuiccedilatildeo de poder a maneira como se comunica com a sociedade os criteacuterios de escolha das pesquisas sistema de avaliaccedilatildeo por pares sistema de recompensas etc (Mulkay 1996 p 743-744) As abordagens mais recentes consi-deram a Construccedilatildeo Social da Ciecircncia e da Tecnologia questionando a autonomia e independecircncia da CampT Este novo ramo apresenta pelo menos duas perguntas ldquoEm que medida e como as condiccedilotildees socioculturais influenciam nas teorias e nos conhecimen-tos cientiacuteficos E simetricamente como a ciecircncia [e a tecnologia] modela a sociedaderdquo (Martin 2003 p 70) Historicamente temos que a Sociologia da Ciecircncia se estabeleceu como campo de estudo e hoje temos a Sociologia da Tecnologia em franco crescimen-to como aacuterea de estudo Para Sasaki (2010) o construtivismo social da tecnologia eacute um desdobramento do Programa Forte

Os estudos de Construccedilatildeo Social da Ciecircncia e da Tecnologia devem contemplar estudos sobre

bull Programa Forte da Sociologia da Ciecircncia David Bloor (2009) Barry Barnes (1974 1977) Steven Shapin (1996) especialmente

bull Programa Empiacuterico do Relativismo Harry Collins (2013 2011) especialmente bull Construtivismo Social da Ciecircncia e Teoria Ator-rede Bruno Latour (2000 1994

1979) Michel Callon (2001 1998) e John Law (1994 sd)bull Construtivismo Social da Tecnologia Wiebe E Bijker (2010 2003 1994 1989

1987) Trevor Pinch (2008 1989 1987) especialmente bull Grandes Sistemas Tecnoloacutegicos Thomas Hughes (2008 1996 1989)bull Necessaacuterio reconhecer as contribuiccedilotildees de Robert Merton (1994) Ludwik Fleck

(2010) Manuel Castells (2007 2003 pelo menos)

Oliveacute (2000) ao classificar esta aacuterea de estudo apresentaraacute outra interessante conceituaccedilatildeo Ele cha-maraacute de construtivismo social aquela posiccedilatildeo que sustenta que ldquoos produtos das ciecircncias e as praacuteti-cas responsaacuteveis de produziacute-los devem estatildeo sujeitos ao mesmo tipo de anaacutelise que se realiza sobre textos e outros produtos culturaisrdquo (p 172) Apoacutes isso propotildee a seguinte categorizaccedilatildeo

bull Construtivismo social ndash defendida por representantes da Escola de Edimburgo (Da-vid Bloor e Barry Barnes principalmente)

bull Construtivismo (neo)kantiano ndash que trata da construccedilatildeo social do mundo a que se refere as teorias cientiacuteficas Relembra Kuhn e escreve ldquoSatildeo os grupos e as praacuteticas de gruposque constituem o mundo (e satildeo constituiacutedos por eles) E a praacutetica-no-

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SOBRE A CIEcircNCIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A CIEcircNCIA40

mundo de alguns desses grupos eacute a ciecircnciardquo (apud Kuhn 1991 p 11) ebull Construtivismo devastador Atribuindo esta expressatildeo a Richard Boyd (1992) diz

que este segmento ldquosustenta que o conhecimento cientiacutefico e aquilo a que se refere eacute uacutenica e completamente uma construccedilatildeo um produto das comunidades cientiacutefi-cas (p 173) Indica Bruno Latour (2000 1994 1979) e Steve Woolgar (1979 1991) como representantes deste segmento

bull Histoacuteria da Ciecircncia e da Tecnologia Os historiadores da ciecircncia e da tecnologia estatildeo menos inclinados a escrever sobre questotildees teoacutericas gerais preferindo em seu lugar centrar-se em acontecimentos e problemas especiacuteficos Por conta disso diversos trabal-hos tecircm demonstrado sua utilidade para a perspectiva CTS e devem ser estudados com criteacuterio (Cutcliffe 2003 p 190-193)

Uma maneira objetiva de construir uma imagem mais realista da Ciecircncia eacute abdicar dos modelos tra-dicionais de ensino de Ciecircncias que vecirc e apresenta nos manuais a Ciecircncia como uma ldquomarcha gran-diosardquo onde os capiacutetulos possuem uma fluecircncia e sequumlecircncia loacutegica sem nenhum tipo de percalccedilo ou dificuldade Nessa visatildeo toda a Ciecircncia produzida em seacuteculo pode ser resumida em algumas horas de explanaccedilatildeo linear e sem sobressaltos de qualquer ordem

Sobre isso Hellman (1999) lembra que eacute o processo que caracteriza a Ciecircncia e este processo eacute desen-volvido por homens e por conta disso este processo esta impregnado de sentimentos e erros huma-nos Ao contraacuterio dos erros tecnoloacutegicos que satildeo imediatamente percebidos por conta dos desastres que causam os erros cientiacuteficos natildeo satildeo propalados nem divulgados a Ciecircncia eacute sempre apresen-tada com um crescimento linear Hellman escreveu uma obra que trata dos dez grandes embates no campo da Ciecircncia tentando provar que a Ciecircncia natildeo tem crescimento linear como eacute ensinada e que haacute sim dificuldades das mais diversas entre os cientistas e as comunidades de homens de ciecircncia

Para citar a dificuldade vivida por um cientista quando a ideia que defende eacute derrotada num emba-te cientiacutefico por outro cientista que apresenta uma explicaccedilatildeo mais adequada para um fenocircmeno Hellman lembra a batalha travada por 25 anos entre Thomas Hobbes e o matemaacutetico John Wallis O primeiro defendendo a geometria e desdenhado a aacutelgebra do segundo

Para exemplificar as lutas pela de ldquopaternidade de uma ideiardquo (o que chama de prioridade) neces-saacuteria para identificar o primeiro autor de uma ideia Hellman informa que isso eacute um fato muito co-mum entre os cientistas e exemplifica esta dificuldade lembrando que esta dificuldade ocorreu entre Newton e Leibniz (caacutelculo) Faraday e Henry (induccedilatildeo eletromagneacutetica) Adams e Leverrier (des-coberta de Netuno) Darwin e Wallace (teoria da evoluccedilatildeo) e Heisenberg e Schroumldinger (mecacircnica quacircntica)

Quando se refere a interferecircncias de crenccedilas e valores na descoberta cientiacutefica ou na aceitaccedilatildeo delas Hellman lembra os casos do criacionismo e o evolucionismo (Darwin) a controveacutersia sobre o momento em que o tecido no uacutetero da mulher se transforma em ldquoser humanordquo (caso de Voltaire contra Needham) ou mesmo a questatildeo sobre as origens do homem (caso de Donald Johanson contra Richard Leakey)Esses raacutepidos exemplos deixam transparecer que natildeo haacute muita semelhanccedila entre a Ciecircncia ensinada nas escolas e a verdadeira trajetoacuteria da Ciecircncia um bom comeccedilo eacute aprender a aproveitar as oportu-nidades em sala de aula para ensinar uma Ciecircncia como atividade humana

Conheccedila maisFernaacutendez I Gil D Vilches A Valdeacutes P Cachapuz A Praia J Salinas J El olvido de la tecnologiacutea como

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SOBRE A CIEcircNCIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A CIEcircNCIA41

refuerzo de las visiones deformadas de la ciecircncia Revista Electroacutenica de Ensentildeanza de las Ciencias Vol 2 Nordm 3 (2003) httpwwwsaumuvigoesreecvolumenesvolumen2Numero3Art8pdf

SOBRE A TECNOLOGIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A TECNOLOGIA43

3 Sobre a Tecnologia mas natildeo o que eacute a Tecnologia

31 Sobre a Tecnologia

Segundo Kneller (1980 p 245s) a palavra Tecnologia deriva do grego techne que significa arte ou habilidade permitindo pensar que a tecnologia resulta e se produz essencialmente em uma accedilatildeo praacute-tica que busca alterar o mundo a sua volta mais do que compreendecirc-lo Diz o autor que

onde a Ciecircncia persegue a verdade a tecnologia prega a eficiecircncia Enquanto a Ciecircncia pro-cura formular as leis a que a natureza obedece a tecnologia utiliza essas formulaccedilotildees para criar implementos e aparelhos que faccedilam a natureza obedecer ao homem (p 245)

Essa proposta de definiccedilatildeo pode se confundir com uma visatildeo simplista de Tecnologia Mesmo nesta visatildeo ingecircnua de Tecnologia (Tecnologia como aparato resultante da Ciecircncia) satildeo necessaacuterios con-hecimentos especiacuteficos desenvolvidos em campo do saber especiacutefico teacutecnicas cada vez mais apura-das instituiccedilotildees de apoio e fomento sistema capaz de ampliar a escala dos produtos etc e ao final a Tecnologia resultante pode gerar mais conhecimento tecnoloacutegico rompendo o viacutenculo fraacutegil de causalidade entre Tecnologia e Ciecircncia

Historicamente a tentativa de definiccedilatildeo de Tecnologia se reduz equivocadamente a dois grandes grupos o que vecirc tecnologia como sinocircnimo de teacutecnica e o que entende Tecnologia como Ciecircncia aplicada Sobre isso escrevem Bazzo Linsingen e Pereira (2003)

O termo teacutecnica faria referecircncia a procedimentos habilidades artefatos desenvolvimen-tos sem ajuda do conhecimento cientiacutefico O termo tecnologia seria utilizado entatildeo para referir-se agravequeles sistemas desenvolvidos levando em conta esse conhecimento cientiacuteficoOs procedimentos tradicionais utilizados para fazer iogurte queijo vinho ou cerveja seriam teacutecnicas enquanto a melhoria destes procedimentos a partir da obra de Pasteur e do desen-volvimento da microbiologia industrial seriam tecnologias O mesmo poder-se-ia dizer da seleccedilatildeo artificial tradicional (desde a revoluccedilatildeo neoliacutetica) e a melhoria geneacutetica que consi-dera as leis da heranccedila formuladas por Mendel A tecnologia do DNA recombinado seria um passo posterior baseado na biologia molecular

Seguindo esta visatildeo ontoloacutegica Ortega y Gasset20(1939) para que a teacutecnica e a Tecnologia derivam da necessidade de o homem adequar-se as suas circunstacircncias estudaraacute a teacutecnica a partir de trecircs visotildees as teacutecnicas do acaso as teacutecnicas do artesatildeo e as teacutecnicas dos engenheiros que se diferenciam pelo modo como se descobre os meios de realizar o projeto que busca realizar

bull O primeiro estaacutegio eacute chamado de teacutecnica do acaso pois eacute ele que fornece a invenccedilatildeo ao homem protohistoacuterico primitivo e preacute e selvagem atuais Como a teacutecnica eacute apresentada agrave mente deste homem primitivo ldquoO homem primitivo ignora sua proacutepria teacutecnica como

19 Conheccedila mais em httpenwikipediaorgwikiMelvin_Kranzberg (em inglecircs) 20 Conheccedila mais em httpptwikipediaorgwikiJosC3A9_Ortega_y_Gasset

A tecnologia natildeo eacute boa nem maacute nem tatildeo pouco neutra1ordf lei de Melvin Kranzberg 19

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SOBRE A TECNOLOGIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A TECNOLOGIA44

tal Ele natildeo percebe que a sua capacidade eacute um muito especial que lhe permite remode-lar a natureza no sentido de seus desejosrdquo (p 28)

bull O segundo estaacutegio eacute chamado de teacutecnica do artesatildeo Eacute a arte da Greacutecia antiga de Roma preacute-imperial e da Idade Meacutedia Aqui os atos teacutecnicos desenvolveram-se fazendo com que alguns homens se encarreguem deles os artesatildeos

bull O terceiro estaacutegio eacute chamado a teacutecnica do teacutecnico ldquoO homem adquire consciecircncia su-ficientemente clara que tem uma certa capacidade completamente diferente da riacutegida imutaacutevel que compotildeem o seu animal natural ou porccedilatildeo Percebe que a teacutecnica natildeo eacute aleatoacuteria como no estado primitivo ou um determinado tipo de dado e homem-artesatildeo limitada a teacutecnica natildeo eacute tecnicamente ou determinada e portanto fixa mas exatamen-te um manancial de actividades humanas em princiacutepio ilimitadordquo (p 31)

Quanto a segunda visatildeo ingecircnua de Tecnologia a que a reduz a Ciecircncia aplicada podemos recorrer a diversos autores a fim de melhor entender como estes dois campo do conhecimentos podem se relacionar sem a visatildeo estreita de submissatildeo obrigatoacuteria de um deles ao outro

Segundo Kneller (1980) o estudo das relaccedilotildees entre Ciecircncia e Tecnologia permite pelo menos trecircs acircngulos distintos

bull O primeiro eacute aquele que afirma que a produccedilatildeo tecnoloacutegica especialmente a partir do seacuteculo XVII assentou em leis teorias ou dados estabelecidos pela Ciecircncia dita pura Se-gundo Kneller Joseph Henry teria dito em conferecircncia no ano de 1832 que ldquotoda arte mecacircnica se baseia em princiacutepio ou lei geral da natureza e quanto mais familiarizados estamos com essas leis mais capazes devemos ser de acelerar e aperfeiccediloar as artes uacuteteisrdquo Exemplificando sua tese com o fato de que

James Watt inventou sua maacutequina a vapor usando a teoria do sobre calor latente de Joseph Black os construtores navais empregaram os estudos matemaacuteticos de Eu-ler sobre curvatura dos cascos e Humphry Davy inventou a lacircmpada de seguranccedila para minas depois de ter estudado cientificamente o grisu Do mesmo modo as realizaccedilotildees de Robert Fulton na navegaccedilatildeo agrave vapor e a invenccedilatildeo por Eli Whitney do descaroccedilador de algodatildeo lsquodependeram de seus amplos conhecimentos cientiacuteficosrsquo

bull O segundo acircngulo eacute aquele que aponta a Tecnologia como parceira decisiva visto que im-portantes avanccedilos tecnoloacutegicos dependem da pesquisa cientiacutefica Esta se realiza em primeiro lugar a fim de apresentar e organizar os conhecimentos necessaacuterios aos avanccedilos ldquoSatildeo as ne-cessidades tecnoloacutegicas que datildeo vigor e direccedilatildeo agrave pesquisa cientiacutefica fundamentalrdquo (p 248)

bull O terceiro acircngulo eacute aquele que defende a tese de que a Ciecircncia e a Tecnologia se desenvolve-ram independentemente (ateacute 100 anos atraacutes pelo menos) Diversos historiadores da Ciecircncia defendem que

bull ateacute uns 200 anos atraacutes as teacutecnicas foram desenvolvidas por homens incultos e anocircnimos (Rupert Hall)

bull os primoacuterdios da tecnologia moderna nada deveram agrave Ciecircncia pois foram fruto da tradiccedilatildeo de invenccedilatildeo das artes mecacircnicas (Rupert Hall e Marie Boas Hall)

bull a Revoluccedilatildeo Industrial foi realizada por cabeccedilas teimosas e dedos aacutegeis por ho-mens sem educaccedilatildeo sistemaacutetica em Ciecircncias ou Tecnologia pois natildeo havia pra-ticamente intercacircmbio entre cientistas e os inventores dos processos industriais (Eric Ashby)

bull alguns defendem que a Tecnologia soacute comeccedilou a fazer uso significativo da Ciecircn-cia em fins do seacuteculo XIX com a induacutestria quiacutemica (Hall e Granger)

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SOBRE A TECNOLOGIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A TECNOLOGIA45

Percebe-se que os conceitos simplistas e reducionistas que buscam vincular a Tecnologia como conse-quecircncia da Ciecircncia natildeo se sustentam Esta eacute uma visatildeo ingecircnua da Tecnologia Satildeo inuacutemeros os exem-plos de avanccedilos tecnoloacutegicos dos quais podemos citar o interesse de Galileu pela mecacircnica despertado pela observaccedilatildeo dos estaleiros de Veneza o surgimento da geologia por conta dos problemas efetivos apresentados pela mineraccedilatildeo o uso por Darwin da experiecircncia de criadores de gado etc Por outro lado a Ciecircncia vem alimentando a Tecnologia com conhecimentos indispensaacuteveis ao surgimento e aper-feiccediloamento que aparatos tecnoloacutegicos

Outro autor que contribuiu com a reflexatildeo sobre a dissociaccedilatildeo da Ciecircncia e da Tecnologia em algum momento da histoacuteria eacute Granger (1994) que enumera uma seacuterie de exemplos de onde extraiacutemos o que se segue

O mesmo ocorreu com a construccedilatildeo e com a manobra dos navios em que prevaleceram as praacuteticas empiacutericas ou certas teorias ambiciosas mas errocircneas Conveacutem no entanto res-saltar a importacircncia assumida entre os cientistas jaacute no final do seacuteculo XVII pela disputa entre o marinheiro Renau dEliccedilagaray (Teoria da manobra dos navios 1689) e Huygens Jean Bernoulli (Ensaio de lima nova teoria da manobra dos navios 1714) e Euler (Scientia na-valis 1749) Quem estabeleceraacute cientificamente as condiccedilotildees de estabilidade e as regras de manobra seraacute Bouger (Tratado do navio 1746 e Da manobra dos navios 1757) sem que dele poreacutem tirem partido antes do seacuteculo XIX os armadores ou os navegadores A induacutestria quiacutemica eacute revolucionada por descobertas como a do cloro (1774) e a do meacutetodo Leblanc de fabricaccedilatildeo da soda artificial (1780) mas o Tratado de quiacutemica industrial de Chaptal (1806) mostra ainda a distacircncia que separa da ciecircncia na eacutepoca ateacute mesmo as receitas industriais Chaptal foi poreacutem um dos quiacutemicos que mais contribuiacuteram para as aplicaccedilotildees da ciecircncia na induacutestria como tambeacutem na agricultura (p 28)

Continuando as possiacuteveis anaacutelises quanto agraves relaccedilotildees da Ciecircncia e Tecnologia podemos buscar a clas-sificaccedilatildeo de Niiniluoto21 (apud Bazzo Linsingen e Pereira 2003) nos oferece a seguinte classificaccedilatildeo

bull Ciecircncia seria redutiacutevel agrave tecnologia bull Tecnologia seria redutiacutevel agrave ciecircncia bull Ciecircncia e tecnologia satildeo a mesma coisa bull Ciecircncia e tecnologia satildeo independentes bull Haacute uma interaccedilatildeo entre ciecircncia e tecnologia

O ponto de vista mais amplamente aceito sobre a relaccedilatildeo ciecircncia-tecnologia eacute o que conceitua a tecnologia como ciecircncia aplicada sendo portanto a tecnologia redutiacutevel agrave ciecircncia Este pon-to de vista eacute o subjacente ao modelo linear do desenvolvimento que tem influenciado poliacuteticas puacuteblicas de ciecircncia e tecnologia ateacute tempos recentes Tal conceito tem estado presente tam-beacutem ainda que agraves vezes de modo impliacutecito na filosofia da ciecircncia Afirmar que a tecnologia eacute ciecircncia aplicada eacute afirmar que

bull Uma tecnologia eacute principalmente um conjunto de regras tecnoloacutegicas bull As regras tecnoloacutegicas satildeo consequecircncias dedutiacuteveis das leis cientiacuteficas bull Desenvolvimento tecnoloacutegico depende da investigaccedilatildeo cientiacutefica

Acevedo Vaacutezquez Manassero e Acevedo (2003) ndash e tambeacutem Rebollo Leoacuten (2008) Garcia-Palaacutecio et al (2001) ndash discorrendo sobre o mesmo autor detalham um pouco mais esta posiccedilatildeo Escrevem sobre os

21 Ver detalhes em httpenwikipediaorgwikiIlkka_Niiniluoto (em inglecircs)

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SOBRE A TECNOLOGIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A TECNOLOGIA46

cinco modelos de Niiniluoto22 sobre a ciecircncia

bull A tecnologia se subordina a ciecircncia e pode reduzir-se a ela depende pois ontologica-mente da ciecircncia

bull A ciecircncia se subordina a tecnologia e pode reduzir-se a ela depende pois ontologica-mente da tecnologia

bull Ciecircncia e tecnologia satildeo mais ou menos o mesmo Esta posiccedilatildeo conduz ao conceito de tecnociecircncia introduzido por Latour (1987 p 29 da traduccedilatildeo castellana)

bull A ciecircncia e a tecnologia satildeo ontologicamente independentes tambeacutem o satildeo desde um ponto de vista causal

bull A ciecircncia e a tecnologia interagem causalmente mas satildeo ontologicamente independen-tes

Ampliando nossa anaacutelise podemos recorrer a John M Staundenmaier (1985 apud Bazzo Lisingen e Pereira 2003) que numa visatildeo da historia da tecnologia apresenta uma seacuterie de argumentos que nos fazem refletir sobre a visatildeo de Tecnologia como Ciecircncia aplicada Eis alguns dos argumentos

bull A tecnologia modifica os conceitos cientiacuteficos Thomas Smith estudou o Whirlwind project desenvolvido apoacutes a Segunda Guerra Mundial no MIT para criar um computa-dor digital Concluiu que a maior parte dos conceitos utilizados era endoacutegena agrave proacutepria engenharia e os que procediam das ciecircncias (especialmente da fiacutesica em relaccedilatildeo com o armazenamento magneacutetico de informaccedilatildeo) foram substancialmente transformados para a sua utilizaccedilatildeo no desenvolvimento do projeto

bull A tecnologia utiliza dados problemaacuteticos diferentes dos da ciecircncia Walter Vincenti estudou o projeto aeronaacuteutico mostrando que a engenharia realiza abordagens impor-tantes para problemas dos quais a ciecircncia natildeo se tem ocupado Realiza uma categori-zaccedilatildeo do conhecimento tecnoloacutegico

1) Conceitos fundamentais de projeto 2) Criteacuterios e especificaccedilotildees 3) Ferramentas teoacutericas 4) Dados quantitativos 5) Consideraccedilotildees praacuteticas e 6) Instrumentaccedilatildeo de desenhos

bull O conhecimento cientiacutefico eacute importante nos casos 2 3 e 4 mas parte destes tipos de conhecimento procedem do proacuteprio desenvolvimento tecnoloacutegico

bull A especificidade do conhecimento tecnoloacutegico Ainda que existam fortes paralelis-mos entre as teorias cientiacuteficas e as tecnoloacutegicas os pressupostos subjacentes satildeo di-ferentes Segundo Layton a tecnologia por sua proacutepria natureza eacute menos abstrata e idealizada que a ciecircncia

bull A dependecircncia da tecnologia das habilidades teacutecnicas A distinccedilatildeo entre a teacutecnica e a tecnologia se realiza em funccedilatildeo da conexatildeo desta uacuteltima com a ciecircncia (tanto em relaccedilatildeo com o conhecimento como com a metodologia o uso de ferramentas teoacutericas etc) Esta distinccedilatildeo natildeo implica que na tecnologia atual natildeo desempenhem nenhum papel as habilidades teacutecnicas

Outra maneira de categorizar a tecnologia eacute proposta por Osorio (2002) quando propotildee que a tecno-logia seja observada pelos enfoques instrumental cogntivo e sistecircmico

22 Para os que se interessem pelo aprofundamento das anaacutelises de Niiluoto sugerimos o texto de Acevedo (2006)

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SOBRE A TECNOLOGIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A TECNOLOGIA47

bull Enfoque instrumental caracteriza a tecnologia como ferramenta aparato mecanismo ou artefato construiacutedos com o intuito de cumprir tarefas Dessa forma a tecnologia nasce e morre na maacutequina no aparato ou no artefato

bull Enfoque cognitivo apresenta a tecnologia como resultado da ciecircncia sobre a teacutecnica bull Enfoque sistecircmico considera a tecnologia como um ente complexo e independente que

inclui materiais artefatos energia bem como os agentes que a transformam

Sobre este tipo de categorizaccedilatildeo da tecnologia podemos dizer lembrando Lissingen (2002) que o en-foque sistecircmico eacute aquele que permite por ver a tecnologia como praacutetica social perceber as delicadas e as vezes intensas relaccedilotildees entre os aspectos poliacuteticos econocircmicos sociais culturais e valorativos especialmente entre aqueles que produzem tecnologia que fomentam tecnologia que optam por usar tecnologia que sofrem os efeitos de uma tecnologia que natildeo optaram por usar e os que estatildeo privados do uso e das vantagens da tecnologia (mas recebem suas consequecircncias) O enfoque sistecirc-mico da tecnologia a nosso ver atende de forma mais ampla e mais densa a visatildeo CTS de tecnologia

Retomando a Bazzo Linsingen e Pereira (2003) veremos que os mesmos autores propotildeem que tecno-logia seja definida como um conjunto de sistemas projetados para realizar funccedilotildees incluindo desde os aparatos e artefatos ateacute as tecnologias como sistemas organizacionais Os mesmo autores chamam atenccedilatildeo para as aplicaccedilotildees e consequecircncias da tecnologia lembrando Radder (1996) e Pacey (1990)

Radder (1996 apud Bazzo Linsingen e Pereira 2003) enumera importantes caracteriacutesticas associa-das agrave tecnologia

bull Exequibilidade que lhe confere a possibilidade de realizaccedilatildeo ou de passar a existir no mundo real

bull Caraacuteter sistecircmico que inclui a rede de relaccedilotildees soacutecio-teacutecnicas que pode torna-la viaacutevelbull Heterogeneidade se os sistemas tecnoloacutegicos existem eles satildeo por si soacute diferenciadosbull Relaccedilatildeo com a Ciecircncia encara a relaccedilatildeo com a Ciecircncia como ampla e diversificada mas

natildeo acolhe a visatildeo ingecircnua de que tecnologia eacute ciecircncia aplicadabull Divisatildeo do trabalho Informa que existem relaccedilotildees de dependecircncia entre os diferentes

atores sociais envolvidos no sistema tecnoloacutegico Haacute os que desenvolvem os que produ-zem e os que utilizam tecnologia

Pacey (1990 apud Bazzo Linsingen e Pereira 2003) propotildee trecircs dimensotildees para a praacutetica tecnoloacute-gica

bull A dimensatildeo teacutecnica que envolve as teacutecnicas conhecimentos e maacutequinas que objetivam fazer com que as coisas funcionem

bull A dimensatildeo organizacional que relaciona os aspectos de poliacutetica puacuteblica e de gestatildeo agraves accedilotildees que caracterizam os produtores de tecnologia (engenheiros teacutecnicos gestores trabalhadores em geral) e usuaacuterios

bull A dimensatildeo culturalideoloacutegica que considera os valores as ideias e as atividades cria-doras

Bazzo Linsingen e Pereira (2003) ainda propotildeem abordagens de cunho mais filosoacutefica para a tecno-logia

bull Abordagem engenheiril eacute aquela que atende a visatildeo tradicional de tecnologia onde enge-nheiros e teacutecnicos tecircm a tarefa de produzir artefatos estruturas e sistemas tecno-loacutegicos Assemelha-se a categoria de Enfoque instrumental de Osorio (2002)

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SOBRE A TECNOLOGIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A TECNOLOGIA48

bull Abordagem humanista eacute aquela que atende a abrangecircncia da relaccedilatildeo entre tecnologia e sociedade tomando a tecnologia como tema para reflexatildeo interpretaccedilatildeo e criacutetica Aqui o controle sobre a natureza eacute relegado segundo plano e fica em evidecircncia a tecnologia como meio de desenvolvimento utilizaccedilatildeo e expansatildeo das capacidades humanas

bull Abordagem histoacuterico-filosoacutefica eacute aquela que introduz a questatildeo eacutetica e busca superar a dicotomia percebida entre as duas abordagens anteriores privilegiando a relaccedilatildeo entre os produtores de tecnologia e o puacuteblico e geral Aqui percebe a importacircncia da alfabe-tizaccedilatildeo tecnocientiacutefica

No que se refere agrave percepccedilatildeo de professores podemos recorrer aos estudos de Espiacutendola e Ricardo (2004) que pesquisaram o ensino da tecnologia na concepccedilatildeo dos professores das ciecircncias do niacutevel meacutedio e concluiacuteram que o conceito de Tecnologia se aproxima daquele que aponta a tecnologia como ciecircncia aplicada Os autores relembram Fourez (2003) quando este escreve que

A ideologia dominante dos professores eacute que as tecnologias satildeo aplicaccedilotildees das ciecircncias Quando as tecnologias satildeo assim apresentadas eacute como se uma vez compreendidas as ciecircn-cias as tecnologias seguissem automaticamente E isto apesar de que na maior parte do tempo a construccedilatildeo de uma tecnologia implica em consideraccedilotildees sociais econocircmicas e cul-turais que vatildeo muito aleacutem de uma aplicaccedilatildeo das ciecircncias A compreensatildeo desta implicaccedilatildeo do social na construccedilatildeo das tecnologias torna possiacutevel um estudo criacutetico destas como o fa-zem os trabalhos de avaliaccedilatildeo social das tecnologias Uma formaccedilatildeo para a negociaccedilatildeo com as tecnologias devem tornar os alunos capazes de analisar os efeitos organizacionais de uma tecnologia (Fourez 2003 p 10)

Em relaccedilatildeo a tecnologia entendida de uma forma holiacutestica podemos resgatar a proposta de Gutieacuterrez e Serna (2012)

1- Um conjunto de atividades humanas ou processos altamente sis-tematizados organi-zados e complexos que requerem conhecimentos teoacutericos igualmente complexos consti-tuindo uma teacutecnica teorizada cujo resultado satildeo entidades materiais e imateriais de alta sofisticaccedilatildeo 2- Processos e produtos que permitem a modificaccedilatildeo e transformaccedilatildeo radical e igualmente extensa da natureza ou entorno 3- Uma reconceitualizaccedilatildeo da natureza como uma coisa ou objeto suscetiacutevel de manipulaccedilatildeo e intervenccedilatildeo por parte de um sujeito inde-pendente da mesma (Gutieacuterrez and Serna 2012 p 80)

Veraszto et all (2013) pesquisaram as concepccedilotildees de tecnologia em graduandos do estado de Satildeo Paulo concluindo que a tecnologia eacute entendida como sendo intelectualista e sinocircnimo de ciecircncia instrumentalista neutra como um conhecimento praacutetico derivado do conhecimento teoacuterico cientiacute-fico e confundida com ciecircncia Para realizar a pesquisa apresentam o seguinte quadro de diferentes concepccedilotildees de tecnologia dando mostrar da diversidade de conceitos

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SOBRE A TECNOLOGIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A TECNOLOGIA49

Quadro 1 Resumo referenciado das diferentes concepccedilotildees acerca da tecnologia

Nordm Concepccedilatildeo de tecnologia Compreensatildeo do conceito Referecircncias

1 Intelectualista

Compreende a tecnologia como um conheci-mento praacutetico derivado diretamentedo desen-volvimento do conhecimento cientiacutefico atraveacutes de processos progressivos e acumulativos

Acevedo 1998 Acevedo Diacuteaz 19972001 Gonzaacutelez Garciacutea Loacutepez Cerezo Lujaacuten Loacute-pez 2000 Layton 1988 Osorio M 2002

2 Utilitarista

Considera a tecnologia como sendo sinocircnimo de teacutecnica Ou seja o processo envolvido em sua elaboraccedilatildeo natildeo temrelaccedilatildeo com a tecnolo-gia apenas a suafinalidade e utilizaccedilatildeo

Acevedo Diacuteaz 1997 Agazzi 1997 Bunge 1972 1986 apud Osorio M2002 Veraszto 2004

3Tecnologia como sinocircnimo de ciecircn-

cia

Encara a tecnologia como sendo Ciecircncia Na-tural e Matemaacutetica com as mesmas loacutegicas e mesmas formas de produccedilatildeo e concepccedilatildeo

Acevedo Diacuteaz 1997 2001 Hilst 1994 Martiacuten Gordillo 2001 Sancho 1998 Silva Barros Filho 2001 Valdeacutes et al2002

4Instrumentalista

(ou artefatual)

Considera a tecnologia como sendo simples ferramentas artefatos ou produtos geralmen-te sofisticados

Acevedo Diacuteaz 1997 2001 Gonzaacutelez Garciacutea Loacutepez Cerezo Lujaacuten Loacutepez 2000 Osorio M 2002 Lion 1997 Pacey 1983 Silva et al 2000 Silva Barros Filho 2001 Veraszto 2004

5 Neutralidade tec-noloacutegica

Compreende que a tecnologia natildeo eacute boa nem maacute Seu uso eacute que pode ser inadequado natildeo o artefato em si

Caacuteceres Goacutemez 2001 Dagnino 2007 Du-raacuten Carrera 2001 Gonzaacutelez Garciacutea Loacutepez Cerezo Lujaacuten Loacutepez2000 Osorio M 2002 Winner 2008

6

D e t e r m i n i s m o tecnoloacutegico

(tecnologia autocirc-noma

Considera a tecnologia como sendo autocircnoma autoevolutiva seguindo naturalmente sua proacute-pria ineacutercia e loacutegica de evoluccedilatildeo desprovida do controle dos seres humanos

Caacuteceres Goacutemez 2001 Dagnino 2007 Duraacuten Carrera 2001 Gonzaacutelez Garciacutea Loacutepez Cere-zo Lujaacuten Loacutepez2000 Osorio M 2002

7Universalidade

da tecnologia

Entende a tecnologia como sendo algo univer-sal um mesmo produto serviccedilo ou artefato po-deria surgir em qualquer local e consequente-mente ser uacutetil em qualquer contexto

Caacuteceres Goacutemez 2001 Martiacuten Gordillo Gon-zaacutelez Galbarte 2002

8Pessimismo

tecnoloacutegico

Considera a tecnologia como algo nocivo e pernicioso para a sustentabilidade do planeta responsaacutevel pela degradaccedilatildeo do meio e pelo alargamento das desigualdades sociais

Agazzi 1997 Barnett Morse 1977 Carranza 2001 Colombo Bazzo 2002 Corazza 1996 2004 2005 Meadows et al 1972

9Otimismo

tecnoloacutegico

Compreende a tecnologia como portadora de mecanismos capazes de assegurar o desenvol-vimento sustentaacutevel e sanar problemas am-bientais sociais e materiais

Agazzi 1997 Andrade 2004 Carranza 2001 Foray Gruumlbler 1996 Freeman 1996 Herre-ra 1994 World Commission on Environ-ment and Development 1987

10 Sociossistema

Considera que a tecnologia eacute determinada pela interaccedilatildeo de diferentes grupos atraveacutesde re-laccedilotildees sociais poliacuteticas econocircmicas ambien-tais culturais entre outras

Gonzaacutelez Garciacutea Loacutepez Cerezo Lujaacuten Loacute-pez 2000 Grinspun 2001 OsorioM 2002 Pacey 1983 Sancho 1998 Silva et al 2000

Fonte elaborado pelos autores a partir de Veraszto (2009)

Chrispino et al (2011) pesquisaram a concepccedilatildeo de tecnologia de professores e alunos do Rio de Ja-neiro usando o questionaacuterio COCTS por meio do conhecido PIEARCTS e colheram que professores e alunos acreditam ingenuamente na sua maioria que tecnologia eacute ciecircncia aplicada Silva (2012) tambeacutem por meio dos questionaacuterios COCTS aprofunda estas concepccedilotildees

32 Diferenccedila entre tecnologia e ciecircncia na atualidade

Ateacute aqui tentamos demonstrar que natildeo haacute um conceito ldquocorretordquo de Tecnologia assim como natildeo havia um conceito ldquocorretordquo de Ciecircncia visto que estes conceitos satildeo construiacutedos na interaccedilatildeo entre o ser e o meio em que se desenvolve Os conceitos de Ciecircncia e de Tecnologia podem ser diferentes para diferentes pessoas sem serem ldquoerradosrdquo visto que cada um pode construir socialmente seu en-tendimento

Buscamos apresentar as construccedilotildees das relaccedilotildees de Ciecircncia e de Tecnologia a fim de indicar o fato

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SOBRE A TECNOLOGIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A TECNOLOGIA50

de que a Tecnologia natildeo eacute simplesmente a aplicaccedilatildeo da Ciecircncia ou viceversa Que elas caminharam separadamente em alguns periacuteodos de nossa histoacuteria mas que agora possuem uma estreita relaccedilatildeo que permite que ambos os campos do conhecimento se ajudem Esta nova postura tem sido denomi-nada de tecnociecircncia

Vejamos o que nos diz Dyson (2001) sobre a origem comum de diferentes posiccedilotildees sobre a Ciecircncia e a Tecnologia ao narrar a produccedilatildeo de Peter Galison23 e de Thomaz Kuhn24 ambos formados em Fiacutesica e mais tarde produziram como historiadores da Ciecircncia Diz-nos Dyson que ambos exploraram em profundidade o processo de descoberta cientiacutefica na era moderna Galison com sua obra Image and logic (publicada em 1997) e Kuhn com sua obra A Estrutura das Revoluccedilotildees Cientiacuteficas lanccedilada 35 anos antes Escreve Dyson (2001 p 29-30)

Os dois estatildeo interessados na histoacuteria da fiacutesica e ambos dominaram os detalhes teacutecnicos da fiacutesica assim como o ofiacutecio erudito da historiografia Contudo eles tecircm visotildees totalmente diferentes da histoacuteria da ciecircncia Seus livros natildeo tecircm praticamente nada em comum O livro de Galison conteacutem centenas de imagens de aparelhos cientiacuteficos o de Kuhn soacute palavras Para Galison o processo de descoberta cientiacutefica eacute impulsionado por novas ferramentas para Kuhn por novos conceitos As duas concepccedilotildees satildeo verdadeiras e nenhuma delas eacute completa O progresso da ciecircncia requer tanto novos conceitos como novas ferramentasA diferenccedila entre Galison e Kuhn eacute basicamente uma diferenccedila de ecircnfase Kuhn enfatizava ideias e Galison enfatiza coisasInfelizmente a versatildeo da histoacuteria de Kuhn foi dominante durante trinta anos antes que a versatildeo de Galison aparecesse para restaurar o equiliacutebrio O livro de Kuhn tornou-se um claacutessico e deu a seus leitores natildeo cientistas uma visatildeo unilateral da ciecircncia Kuhn escreveu sobre as batalhas entre conceitos rivais e alguns de seus leitores ficaram com a impressatildeo de que a ciecircncia eacute em grande parte uma questatildeo subjetiva uma luta entre pontos de vista humanos conflitantes e natildeo uma luta objetiva entre precisatildeo das ferramentas e as ambiguumli-dades da natureza

Para concluir este toacutepico nada mais objetivo que o texto de Cachapuz Paixatildeo Lopes e Guerra (2008) que apresenta as ideias de Edgar Morin25 sobre o assunto

O que eacute seguro satildeo as ideias de Morin e Le Moigne (1999 p 33) de que hoje em dia a ciecircncia estaacute no centro da sociedade o conhecimento cientiacutefico e o conhecimento teacutecnico se estimu-lam reciprocamente de que eacute preciso distingui-los mas natildeo dissociaacute-los e de que o verdadeiro problema moral nasce da enormidade de poderes vindos da ciecircncia Como referem Cachapuz et al (2002 p33) ldquotemos de rever e aprofundar o diaacutelogo entre as vaacuterias ciecircncias que o car-tesianismo separourdquo e principalmente entre as ciecircncias da natureza e as ciecircncias sociais e humanas onde ldquoquase tudo estaacute por fazerrdquo O quadro CTS aponta exactamente para essa dire-cccedilatildeo de posicionamento face ao conhecimento e agrave acccedilatildeo que a ciecircncia e a tecnologia propor-cionam e implicam necessariamente num invoacutelucro epistemoloacutegico externalista (Cachapuz et al 2008)

Leia maisJoseacute Antonio Acevedo Diacuteaz Tres criterios para diferenciar entre Ciencia y Tecnologiacuteahttpwwwoeiessalactsiacevedo12htm Anaacutelisis de algunos criterios para diferenciar entre ciencia y tecnologia

23 Conheccedila mais em httpenwikipediaorgwikiPeter_Galison (em inglecircs)24 Conheccedila mais em httpptwikipediaorgwikiThomas_Kuhn 25 Conheccedila mais em httpedgarmorinsescsporgbr

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SOBRE A TECNOLOGIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A TECNOLOGIA51

Ensentildeanza de las Ciencias 1998 16 (3) 409-420 httpddduabespubensenanzadelasciencias02124521v16n3p409pdf

33 Impactos da tecnologia na sociedade

Esclarecidas as dificuldades conceituais em torno da Ciecircncia e da Tecnologia gostariacuteamos de trazer um novo item de discussatildeo o impacto das tecnologias na sociedade

Parece natildeo haver duacutevida de que a Sociedade moderna estaacute bastante ligada agrave Tecnologia Os haacutebitos e rotinas satildeo De tempos em tempos modificados de mais ou menos intensa de forma mais ou menos expliacutecita por influecircncia de aparatos tecnoloacutegicos que chegam e passam a ocupar os espaccedilos cotidia-nos tornando-se em tempo reduzido indispensaacuteveis ao dia-a-dia e aacutes relaccedilotildees sociais Foi (e ainda eacute) assim com o aparelho celular com o MP3 (e ateacute a hora do fechamento deste texto ainda estaacutevamos no MP4) etc Se sairmos agraves ruas hoje poderemos perceber o quanto o aparelho celular estaacute ligado a vida cotidiana Quem poderia imaginar tempos atraacutes que aquele aparelho grande pesado disforme caro sem nenhum atrativo maior no seu desenho fosse tornar-se o que eacute hoje

Conforme o aparelho de telefone celular foi se popularizando seu custo foi se reduzindo permitindo que um maior nuacutemero de pessoas de todas as faixas sociais pudessem se beneficiar dele Poderiacuteamos tambeacutem imaginar que foi o barateamento do custo que permitiu acesso massivo

O fato eacute que a Tecnologia pode influenciar de forma decisiva as pessoas as famiacutelias e a sociedade como um todo Freeman Dyson26 (2001) eacute um fiacutesico e matemaacutetico teoacuterico que em 1997 foi convidado a apre-sentar uma seacuterie de conferecircncias sobre histoacuterias da Ciecircncia na New York Public Library As conferecircn-cias se dirigiam a puacuteblico leigo natildeo-cientistas e em uma delas Dyson apresenta as 4 tecnologias que impactaram a sociedade trazendo a seu ver mais justiccedila social aleacutem das discussotildees sobre as chamadas tecnologias negativas Satildeo elas

bull A tecnologia da impressatildeo permitindo que um nuacutemero maior de pessoas tivesse acesso ao conhecimento acumulado antes restrito aqueles que tivessem acesso a educaccedilatildeo distribuiacute-da a pouco pelos mosteiros

bull As tecnologias de sauacutede puacuteblica (abastecimento de aacutegua limpa de tratamento de esgotos de vacinaccedilatildeo e de antibioacuteticos) que natildeo poderiam ficar restritas aos ricos visto que a conta-minaccedilatildeo do pobre por determinadas doenccedilas potildee em risco a chamada classe rica Diz-nos que ldquoem paiacuteses onde as tecnologias de sauacutede puacuteblica satildeo impostas por lei natildeo haacute grande diferenccedila de expectativa de vida entre ricos e pobresrdquo (p66-67) Esperemos que uma lei como esta seja promulgada no Brasil

bull A tecnologia dos aparelhos domeacutesticos que permitiu que um sem nuacutemero de pessoas deixasse as funccedilotildees de empregados domeacutesticos e migrassem para empregos que exigissem melhor e maior preparaccedilatildeo Por outro lado o surgimento de acordo com a longa anaacutelise de Dyson permitiu que as mulheres antes relegadas exclusivamente as funccedilotildees domeacutesticas pudessem almejar realizaccedilotildees fora do lar no campo do estudo do trabalho da participaccedilatildeo social etc

bull A tecnologia da mobilidade ascendente surgida com a bicicleta motorizada e que foi se aperfeiccediloando ateacute os meios de transporte de massa ou os automoacuteveis como os con-hecemos hoje

bull As chamadas tecnologias negativas satildeo as da cacircmara de gaacutes e de armas nucleares por exem-plo

26 Conheccedila mais em httpenwikipediaorgwikiFreeman_Dyson (em inglecircs) e httpsuperabrilcombrsuperarquivo2001conteudo_119120shtml

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SOBRE A TECNOLOGIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A TECNOLOGIA52

Nesta mesma conferecircncia Dyson relembra que em 1985 tambeacutem em uma decirc suas conferecircncias dessa vez na Escoacutecia27 apresentou uma lista com as mais importantes tecnologias para o seacuteculo XXI Eram elas engenharia geneacutetica inteligecircncia artificial e as viagens espaciais Passados mais de dez anos o autor faz uma autocriacutetica puacuteblica e reescreve a lista das tecnologias mais importan-tes para a sociedade sobre as quais desenvolve outra de suas conferecircncias Satildeo elas a engenharia geneacutetica o Sol e a internet

O que Dyson fez de forma brilhante ndash e noacutes reproduzimos de forma reduzida ndash foi fazer uma Anaacute-lise de Tecnologia fenocircmeno este que pode ser realizado com qualquer tecnologia Coates (1971 apud Bazzo Linsingen e Pereira 2003) faz esta anaacutelise de impacto com a televisatildeo Diz ele

bull Primeira ordem nova fonte de entretenimento e diversatildeo nos laresbull Segunda ordem mais tempo em casa deixa-se de ir a cafeacutes e bares onde se viam os

amigos

bull Terceira ordem os residentes de uma comunidade jaacute natildeo se encontram com tanta fre-quumlecircncia e deixa-se de depender dos demais para o tempo de lazer

bull Quarta ordem os membros de uma comunidade comeccedilam a ser estranhos entre si aparecem dificuldades para tratar os problemas comuns as pessoas comeccedilam a sentir maior solidatildeo

bull Quinta ordem isolados dos vizinhos os membros das famiacutelias comeccedilam a depender mais uns dos outros para a satisfaccedilatildeo de suas necessidades psicoloacutegicas

bull Sexta ordem As fortes demandas psicoloacutegicas dos companheiros geram frustraccedilotildees quando natildeo se cumprem as expectativas a separaccedilatildeo e o divoacutercio crescem

A Sociedade por sua vez tambeacutem pode produzir uma classificaccedilatildeo para as suas relaccedilotildees com a Tecnologia como bem apresenta Manzano (1997 apud SILVA 2003)

Posiccedilatildeo tecnoacutefoba baseia-se em manifestaccedilatildeo perniciosa relativa agrave indus-trializaccedilatildeo como a exploraccedilatildeo da matildeo-de-obra modelo de trabalho penoso e degradante perante o artesanal ou o agropecuaacuterio Incorpora fatores negativos dos desenvolvimentos cientiacutefico e tecnoloacutegico responsabilizando a desumanizaccedilatildeo do trabalho e do desemprego o de-sastre ecoloacutegico e a crise geral dos valores da sociedade moderna Alenta uma visatildeo apo-caliacuteptica do desastre ecoloacutegico e social os quais natildeo podem ser controlados nem mesmo pelo homem28

Posiccedilatildeo tecnoacutefila identificase com a confianccedila e bondade intriacutenseca na Ciecircncia com seu potencial esclarecedor e na Tecnologia com seu poder de resolver todos os problemas da humanidade exaltando os benefiacutecios do progresso com os avanccedilos da medicina agricul-tura e induacutestria podendo ser estendidos a toda a populaccedilatildeo Jaacute as consequecircncias negati-vas podem ser facilmente corrigidas

Posiccedilatildeo intermediaacuteria onde a Tecnologia pode ter simultaneamente efeitos positivos e negativos e que se deve procurar aumentar os primeiros em detrimento dos outros Esses aspectos dependem de como se utiliza e promove o uso de valores de acircmbito eacutetico e poliacute-

27 Publicadas no Brasil com o tiacutetulo ldquoInfinito em todas as direccedilotildeesrdquo28 A posiccedilatildeo tecnoacutefoba encontra sua base tambeacutem no Movimento Ludita que teve seu auge entre 1811 e 1816 Esse movimento ex-tremamente organizado e disciplinado tinha grande apoio pois a populaccedilatildeo se encontrava amargurada com as reduccedilotildees salariais exploraccedilatildeo infantil e supressatildeo das leis que protegiam os trabalhadores qualificados Todo esse descontentamento se expressou na destruiccedilatildeo de maacutequinas principalmente da induacutestria tecircxtil (Palacios et al 2001)

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SOBRE A TECNOLOGIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A TECNOLOGIA53

tico como por exemplo o movimento ecologista29

Quer parecer que natildeo eacute possiacutevel imaginar que exista neutralidade entre Tecnologia e Sociedade A Sociedade pode ser estudada tambeacutem pela maneira como se relaciona ndash ou se deixa influenciar ndash pela Tecnologia

Esta relaccedilatildeo pode ser estudada por diversos acircngulos Vamos aqui apresentar resumidamente as po-siccedilotildees de Castells30 (2007) e Echeverria (2000)

Escreve Castells (2007)

Devido a sua penetrabilidade em todas as esferas da atividade humana a revoluccedilatildeo da tec-nologia da informaccedilatildeo seraacute meu ponto inicial para analisar a complexidade da nova econo-mia sociedade e cultura em formaccedilatildeo Essa opccedilatildeo metodoloacutegica natildeo sugere que novas for-mas e processos sociais surgem em consequecircncia de transformaccedilatildeo tecnoloacutegica Eacute claro que a tecnologia natildeo determina a sociedade Nem a sociedade escreve o curso da transformaccedilatildeo tecnoloacutegica uma vez que muitos fatores inclusive criatividade e iniciativa empreendedora internotvecircm no processo de descoberta cientiacutefica inovaccedilatildeo tecnoloacutegica e aplicaccedilotildees sociais de forma que o resultado final depende de um complexo padratildeo interativo Na verdade o dilema do determinismo tecnoloacutegico eacute provavelmente um problema infundado dado que a tecnologia eacute a sociedade e a sociedade natildeo pode ser entendida ou representada sem suas ferramentas tecnoloacutegicas (p 43)

Essa posiccedilatildeo de Castells pode ser entendida como uma interdependecircncia da relaccedilatildeo tecnologia e sociedade Ocorre que como estaacute posto a tecnologia aqui estaacute reduzida a ferramentas aparatos ou objetos Como tal este conceito reduzido tambeacutem reduz as possibilidades de interaccedilatildeo como mi-nimiza suas potencialidades de imprimir mudanccedilas reciacuteprocas nesta relaccedilatildeo Para atendermos ao conceito ampliado que estamos trabalhando necessitamos considerar as observaccedilotildees de Castells mas adequando-as aos novos conceitos de tecnologia Para tal podemos buscar o auxiacutelio de Echeve-rria (2000)

Echeverria vai considerar que quando utilizar a expressatildeo lsquoaccedilotildees que transformam objetosrsquo estamos optando por uma antologia O autor lembra Quintanilla e informa que a ldquohistoacuteria da teacutecnica natildeo eacute soacute a histoacuteria dos artefatos ou dos conhecimentos teacutecnico mas sim toda a histoacuteria das accedilotildees e resultados produzidos graccedilas a elesrdquo e que ldquofilosofia da teacutecnica natildeo eacute soacute uma teoria do conhecimento teacutecnico mas tambeacutem uma accedilatildeo guiada por este conhecimentordquo Isso deixa claro que natildeo eacute possiacutevel reduzir a relaccedilatildeo tecnologia e sociedade a uma relaccedilatildeo baseada em artefatos visto que estes artefatos possuem uma histoacuteria socialmente construiacuteda e ao surgirem provocam uma re-estruturaccedilatildeo no meio social onde surgem provocando uma outra possiacutevel antologia objetos que transformam accedilotildees Ateacute aqui os pontos de vista dos autores satildeo proacuteximos

Uma diferenccedila mais acentuada eacute percebida quando passamos a considerar ldquoque essas accedilotildees teacutecnicas e em particular as accedilotildees telemaacuteticas natildeo soacute transformam objetos materiais como tambeacutem transfor-mam podem modificar relaccedilotildees e inclusive funccedilotildeesrdquo A antologia aqui precisa distinguir objetos relaccedilotildees e funccedilotildees e entendendo conceitos (e os valores consequentes destes conceitos) ldquocomo um

29 O ecologismo reconhece a irreversibilidade da civilizaccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica e propotildee de certo modo a busca de um novo equiliacutebrio dentro da relaccedilatildeo tecnologia-natureza dando relevacircncia ao estabelecimento de valores sociais e poliacuteticos que sirvam para a tomada de decisotildees sobre as opccedilotildees de desenvolvimento econocircmico e tecnoloacutegico30 Conheccedila mais em httpptwikipediaorgwikiManuel_Castells

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SOBRE A TECNOLOGIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A TECNOLOGIA54

tipo particular de funccedilatildeordquo e se aproxima das antologias aplicaacuteveis a teorias de sistemas Ampliando o conceito de tecnologia e aplicando-o ao universo da teletecnologia percebemos que as accedilotildees tecno-loacutegicas modificam objetos modificam relaccedilotildees e possuem muacuteltiplas consequecircncias especialmente quando essas relaccedilotildees satildeo espaciais e temporais visto que interferem sobre maneira na interaccedilatildeo entre seres humanos e tambeacutem entre pessoas e objetos materiais

Logo a maneira como conceituamos tecnologia eacute de certa forma a maneira como desenhamos as possibilidadesnecessidades de atenccedilatildeo a construccedilatildeo social da tecnologia (e da ciecircncia) bem como da precauccedilatildeo que devemos ter quando olhando o futuro percebemos as possiacuteveis consequecircncia da tecnologia na sociedade

Conheccedila mais

Dyson Freeman O Sol o Genoma e a Internet ndash ferramentas das revoluccedilotildees cientiacuteficas Satildeo Paulo Companhia das Letras 2001

Wiebe Bijker (1995) Of Bicycles Bakelites and Bulbs Toward a Theory of Sociotechnical Change

Osorio Carlos La participacioacuten puacuteblica en sistemas tecnoloacutegicos Lecciones para la educacioacuten CTS Rev iberoam cienc tecnol soc Ciudad Autoacutenoma de Buenos Aires v 2 n 6 dic 2005 accedido en 02 sept 2014 Disponible en httpwwwscieloorgarscielophpscript=sci_arttextamppid=S1850-00132005000300009amplng=esampnrm=iso

Atividade Proposta para reflexatildeo

1 Reavalie a anaacutelise de tecnologia realizada por Coates datado de 1971 considerando as novas formas de tecnologia de televisatildeo maior nuacutemero de aparelhos por residecircncia maior nuacutemero de canais disponiacuteveis por residecircncia (TV por sateacutelite e TV a cabo) e an-tecipe a possibilidade de impacto social a partir da futura interaccedilatildeo entre espectador e ldquoTVrdquo

2 Veja o viacutedeo ldquoA TV destroacutei relacionamentosrdquohttpvideologuolcombrvideophpid=340211 ou httpwwwyoutubecomwatchv=I0-zVkQztQE

SOBRE A SOCIEDADE MAS NAtildeO O QUE Eacute A SOCIEDADE55

4 Sobre a Sociedade mas natildeo o que eacute a Sociedade

41 Introduccedilatildeo

A melhor maneira de iniciar um texto que pretende ser lido e estudado por pessoas com formaccedilotildees distintas e diferentes experiecircncias eacute definir a priori os conceitos chave Isso eacute o que se pretende com o tema Sociedade buscando conectaacute-lo aos dois anteriores Ciecircncia e Tecnologia

Eis que surge o primeiro problema quando se consulta o Dicionaacuterio de Ciecircncias Sociais no seu ver-bete Sociedadesociety

A Natildeo haacute ateacute agora uma definiccedilatildeo de sociedade que seja uacutenica e aceita de modo geral pois cada um dos trecircs usos mais comuns do termo refere-se a aspectos significativos da vida socialA1 Em sentido mais lato refere-se agrave totalidade das relaccedilotildees sociais entre as criaturas hu-manasA2 Cada agregado de seres humanos de ambos os sexos e de todas as idades unidos num grupo que se autoperpetua e possui suas proacuteprias instituiccedilotildees e cultura distintas em maior ou menor grau pode ser uma sociedade Eacute de se notar que na praacutetica os limites das socie-dades especificas baseiam-se nesse sentido frequumlentemente em fronteiras poliacuteticas pro-cedimento que gera problemas fundamentais quanto agraves relaccedilotildees entre Estado e sociedadeA3 Sociedade tambeacutem tem sido definida como as instituiccedilotildees e a cultura de um grupo de pessoas de ambos os sexos e todas as idades grupo esse inclusivo mais ou menos distinto e que se autoperpetua Existem convicccedilotildees oacutebvias entre a segunda e a terceira definiccedilotildees pois ambas se referem a duas premissas fundamentais e inter-relacionadas da pesquisa socioloacute-gica de que homens onde quer que estejam vivem em grupos e que seu comportamento eacute substancialmente afetado pelas normas e valores de que compartilham (CHINOY 1986 p1139-1140)

Se por um lado isso dificulta a construccedilatildeo do texto didaacutetico por outro fortalece a tese que estamos defendendo desde o iniacutecio de nosso estudo CTS a flexibilizaccedilatildeo dos conceitos de Ciecircncia e de Tec-nologia e a reflexatildeo em torno da ideia de que mais Ciecircncia e mais Tecnologia resultam objetivamente em progresso e bem-estar social

Para superarmos esta dificuldade conceitual aparente ndash digo aparente porque isso que pode parecer difiacutecil para as profissionais das chamadas ciecircncias exatas formados pelas ldquoescolas claacutessicasrdquo eacute uma constante para os profissionais das ditas ciecircncias sociais ndash precisamos estabelecer algumas premissas que nos permitam conectar o tema Sociedade com Ciecircncia e Tecnologia e construir nossa hipoacutetese de trabalho

A primeira eacute a flexibilizaccedilatildeo necessaacuteria da definiccedilatildeo de sociedade Antes esta definiccedilatildeo era estabele-cida por (1) fronteiras poliacuteticasgeograacuteficas e por (2) origens eacutetnicas e agora tambeacutem se define por sociedades estruturadas por (3) interesses e por (4) relacionamentos (MORSE 1998) Esta hipoacutetese de trabalho eacute importante por conta da funccedilatildeo da tecnologia no desenho e na manutenccedilatildeo destes mo-delos inovadores de sociedade

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A segunda eacute a natureza processual da Sociedade o que nos leva a necessidade de considerar que a anaacutelise deve ser realizada ao longo da linha do tempo conectando modelos passados com os mo-delos do presente e os possiacuteveis modelos prospectados para o futuro Sobre isso escreve Sztompka (1998 p 111s)

As sociedades humanas em todos os niacuteveis de sua complexidade interna mudam sem ces-sar Mudam no niacutevel macro da economia da poliacutetica e da cultura no niacutevel meso das comu-nidades grupos e organizaccedilotildees e no niacutevel micro das accedilotildees e interaccedilotildees individuais A socie-dade natildeo eacute uma entidade eacute um conjunto de processos interconectados de muacuteltiplos niacuteveis Segundo Edward Shils A sociedade eacute um fenocircmeno transtemporal Ela natildeo eacute constituiacuteda de sua existecircncia em um dado instante de tempo Ela soacute existe no decorrer do tempo A so-ciedade eacute temporalmente constituiacuteda (1981 327)A sociedade estaacute portanto em constante movimento do passado para o futuro O presente eacute apenas uma fase transitoacuteria entre o que aconteceu e o que estaacute por acontecer No estado presente da sociedade os efeitos vestiacutegios e traccedilos do passado coexistem com as sementes e potencialidades do futuro A natureza processual da sociedade implica fases anteriores ligadas por viacutenculos causais agrave fase presente por sua vez portadora das condiccedilotildees causais determinantes da fase seguinte

Estabelecidas estas ldquohipoacuteteses de trabalhordquo vamos avaliar os modelos de sociedade na histoacuteria do homem a partir de Tezanos Tortajada e Loacutepez Pelaacuteez (1997)

42 Desenvolvimento da sociedade Uma Tipologia geral

Haacute pelo menos duas maneiras de se avaliar a evoluccedilatildeo dos modelos de Sociedade

bull A primeira eacute utilizando-se das categorias didaacuteticas instituiacutedas pelos diversos teoacutericos sociais ao longo do tempo que se utilizaram de variaacuteveis e fatores proacuteprios (a partir de TEZANOS TORTAJADA e LOacutePEZ PELAacuteEZ 1997 p24-25) e

bull A segunda a partir de uma sequumlecircncia geral baacutesica de cinco tipos de sociedades (a partir de TEZANOS TORTAJADA e LOacutePEZ PELAacuteEZ 1997 p27)

Tabela 1 Principais tipologias e classificaccedilotildees da evoluccedilatildeo das sociedades

Autor Classificaccedilatildeo proposta Variaacuteveis baacutesicas consideradas

Contexto teoacuterico interpretativo Obra claacutessica

Adam Ferguson 31

(1793-1816)

bull Selvagembull Baacuterbarabull Civilizada

A divisatildeo do trabalho e a instituiccedilatildeo social da propriedade

Escola escocesa de Economia Poliacutetica

Um ensaio sobre a histoacuteria da socie-dade civil (1767)

Augusto Comte 32 (1798-1857)

bull Sociedade teoloacutegica de estrutura militar (propriedade e na exploraccedilatildeo do solo)bull Sociedade legista (distinccedilatildeo entre o po-der temporal e o poder espiritual)bull Sociedade industrial ou positivista

Os modelos e proce-dimentos do conheci-mento

Teoria das trecircs etapas

Fundaccedilatildeo da Sociologia

Discurso sobre o Espiacuterito Positivo (1844)

Lewis H Morgan 33

(1818-1881)

bull Selvagem (e 3 sub-periacuteodos)bull Barbaacuterie (e 3 sub-periacuteodos)bull Civilizaccedilatildeo

As progressivas aproxi-maccedilotildees da ciecircncia experi-mental (conhecimento e teacutecnicas para a sobre-vivecircncia)

Evolucionismo social La Sociedad Primi-tiva (1877)

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SOBRE A SOCIEDADE MAS NAtildeO O QUE Eacute A SOCIEDADE57

Karl Marx34

(1818-1883) e

Friedrich Engels35 (1820-1895)

Grandes sistemas de produccedilatildeobull Sistema antigo (escravagista)bull Sistema feudalbull Sistema despoacutetico-orientalbull Sistema capitalista (classista)

Tipologia histoacuterica de sociedadesbull A comunidade tribalbull A sociedade asiaacuteticabull A cidade antigabull A sociedade germacircnicabull A sociedade capitalista burguesabull A sociedade comunista sem classes

As relaccedilotildees de pro-duccedilatildeo

Os conflitos de classes

Materialismo dialeacutetico

Pensamento socialista

O Capital (Marx 1867-1894)

A origem da famiacute-lia da propriedade e do Estado (En-gels 1884)

Herbert Spencer 36

(1820-1903)

Primeira tipologiabull Sociedades simples (com vaacuterios subtipos segundo a forma de autoridade e suas carac-teriacutesticas nocircmades e sedentaacuteria) bull Sociedades duplamente compostas (se-dentaacuteria e com poderes estaacuteveis)bull Sociedades triplamente compostas (gran-des civilizaccedilotildees e sociedades industriais)

Segunda tipologiabull Sociedade militar bull Sociedade industrial

Grau de complexidade social (extensatildeo se-dentarismo sistema de poder e de autori-dade formas de inte-graccedilatildeo social divisatildeo do trabalho etc)

Evolucionismo

Analogia orgacircnica

Princiacutepios de So-ciologia (1876-1896)

Lewis Mumford37

(1895-1969)

bull Etapa anterior a apariccedilatildeo da teacutecnica bull Etapa teacutecnica (dividida em eoteacutecnica pa-leoteacutecnica e neoteacutecnica)

Emprego de diferen-tes teacutecnicas fontes de energia inventos recursos e mateacuterias primas

Evoluccedilatildeo social e evo-luccedilatildeo tecnoloacutegica

Teacutecnica y civiliza-cioacuten (1934)

Talcott Parsons38

(1902-1979)

bull Sociedades primitivas ou pouco diferen-ciadasbull Sociedades arcaicasbull Sociedades intermediaacuterias com escrita e religiatildeobull Sociedades modernas (universalistas com racionalidade formal etc)bull Sociedades ldquode sementesrdquo (Greacutecia anti-ga Israel)

Desenvolvimento cul-tural complexidade social diferenciaccedilatildeo e especializaccedilatildeo de funccedilotildees etc

Analise estrutural fun-cional Criacutetica do ldquohistoricismordquo e as explicaccedilotildees linea-res e universais

Sociedades Pers-pectivas Evolutivas e Comparativas (1966)

Tabela 2 Principais modelos de sociedades

Modelos de sociedade

Horizonte tem-poral

Formas de organizaccedilatildeo social predominante

Meios de sub-sistecircncia Principais tecnologias

Sociedades caccediladoras e co-letoras

Dos hominiacutedeos ateacute o homo sapiens (homo faber)

bull Tribos clatildes bandos grupos de caccedilabull Nomadismo bull A forma de organizaccedilatildeo social eacute a famiacutelia e o grupo de paren-tesco

CaccedilaColeta de vegetais em geral

bull Utensiacutelios de pedra e teacutecnica de caccedilabull Machados pontas de flechas e lanccedilas etc

Sociedades horticultoras

Iniacutecio da ldquorevoluccedilatildeo neoliacuteticardquo (11000 a a 10000 aC) ateacute o fi-nal do ultimo periacuteodo glacial

bull Aldeias e primeiros nuacutecleos urbanos significativosbull Sedentarismobull Desenvolvimento de formas de agrupamento social masculina mais ampla

Produtos de horta animais domeacutesticos etcProgressiva diver-sificaccedilatildeo de culti-vos (rotaccedilatildeo etc)

bull Paacutes enxadas Vasilhas teacutecnicas de cultivobull Primeiros metaisbull Energia muscular humana

31 Conheccedila mais em httpptwikipediaorgwikiAdam_Ferguson 32 Conheccedila mais em httpptwikipediaorgwikiAuguste_Comte 33 Conheccedila mais em httpwwwnetsabercombrbiografiasver_biografia_c_2510html e httpenwikipediaorgwikiLewis_H_Mor-gan (em inglecircs)34 Conheccedila mais em httpptwikipediaorgwikiKarl_Marx 35 Conheccedila mais em httpptwikipediaorgwikiFriedrich_Engels 36 Conheccedila mais em httpptwikipediaorgwikiHerbert_Spencer e httpvirtualbooksterracombrosmelhoresautoresbio-grafiasHerbert_Spencerhtm37 Conheccedila mais em httpptwikipediaorgwikiLewis_Mumford 38 Conheccedila mais em httpptwikipediaorgwikiTalcott_Parsons

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Sociedades agriacutecolas

4000 a 3000 anos aC

bull Grandes cidadesbull Grandes poderes poliacuteticosbull Impeacuterios

Cultivos em grande escala

bull Aradobull Desenvolvimento da metalurgiabull Roda e velabull Energia de animais eoacutelica e de aacutegua (moinhos)bull Sistema de irrigaccedilatildeobull Grandes obras puacuteblicas (templos pa-laacutecios piracircmides muralhas etc)

Sociedades industriais Seacuteculos XIX e XX Estado-Naccedilatildeo

Produccedilatildeo fabrilFabricaccedilatildeo de bens de consumo du-raacuteveis em grande escala

bull Maacutequinas bull Faacutebricasbull Energia eleacutetrica do gaacutes do carvatildeo (vapor) etcbull Novas tecnologias (mecanizaccedilatildeo fer-tilizantes inseticidas etc)

S o c i e d a d e s t e c n o l oacute g i c a s avanccediladas

Final do Seacutecu-lo XX e seacuteculo XXI

Internacionalizaccedilatildeo e coorde-naccedilatildeo supraestatalMundializaccedilatildeo da economia

Produccedilatildeo de mer-cadorias e produ-tos cada vez mais sofisticadosPrestaccedilatildeo de ser-viccedilosImportacircncia cres-cente do oacutecio

bull Robocircs industriaisbull Sistemas automaacuteticos de trabalhobull Revoluccedilatildeo microeletrocircnica microbio-loacutegica e novas fontes de energiabull Organizaccedilatildeo flexiacutevel da produccedilatildeo

421 Sociedades Algumas tipologias tecnocientiacutefico

Como foi possiacutevel perceber no estudo das duas tabelas anteriores a tipologia de sociedades ocorre a partir de padrotildees de anaacutelise externos Cada um dos estudiosos citados estudos a evoluccedilatildeo das so-ciedades utilizando-se de criteacuterios especiacuteficos permitindo-nos uma complexa gama de estudos que antes de se contradizerem se completam

Podemos fazer o mesmo exerciacutecio de anaacutelise das sociedades utilizando-nos de criteacuterios que se apoacuteiem em princiacutepios da Ciecircncia e da Tecnologia ou melhor da Tecnociecircncia Para isso escolhe-remos os textos de Peter Drucker (1996) Lewis Mumford (apud Bazzo Linsingen e Pereira 2003 e Martin Gordillo 2001) Javier Echeverriacutea (1999) e Ferreira (2010)

Peter Drucker (1996) em sua obra A Sociedade Poacutes-capitalista explora a evoluccedilatildeo dos modelos de sociedade a partir de conquistas marcadas por aparatos tecnoloacutegicos e chega a proposta de estabele-cimento da Sociedade do Conhecimento Para ele

A cada dois ou trecircs seacuteculos ocorre na histoacuteria ocidental uma grande transformaccedilatildeo Cruza-mos aquilo que chamei de divisor em um livro anterior Em poucas deacutecadas sociedade se reorganiza - sua visatildeo do mundo seus valores baacutesicos sua estrutura social e poliacutetica suas artes suas instituiccedilotildees mais importantes Depois de cinquumlenta anos existe um novo mundo E as pessoas nascidas nele natildeo conseguem imaginar o mundo em que seus avoacutes viviam e no qual nasceram seus pais Estamos atualmente atravessando uma dessas transformaccedilotildees Ela estaacute criando a sociedade poacutes-capitalista que eacute o assunto deste livroUma dessas transformaccedilotildees ocorreu no seacuteculo XIII quando o mundo europeu quase da noite para o dia passou a centralizarse na nova cidade - com a emergecircncia das guildas mu-nicipais como grupos sociais dominantes e o renascimento do comeacutercio a grandes distacircn-cias com a arquitetura goacutetica eminentemente urbana e praticamente burguesa e os novos pintores de Siena com a mudanccedila para Aristoacuteteles como a fonte da sabedoria e as universi-dades urbanas substituindo os monasteacuterios e seu isolamento rural como centros de cultura com as novas ordens religiosas urbanas os dominicanos e franciscanos emergindo como carreiras de religiatildeo aprendizado e espiritualidade e em poucas deacutecadas com a mudanccedila

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do latim para o vernaacuteculo e a criaccedilatildeo por Dante da literatura europeacuteiaDuzentos anos depois a transformaccedilatildeo seguinte teve lugar nos ses-senta anos entre a in-venccedilatildeo da imprensa por Gutenberg em 1455 e a Reforma Protestante de Lutero em 1517 Foram as deacutecadas em que floresceu o Renascimento com seu apogeu entre 1470 e 1500 em Florenccedila e Veneza do redescobrimento da antiguidade e da descoberta da Ameacuterica pelos europeus da Infantaria Espanhola o primeiro exeacutercito regular desde as legiotildees romanas da redescoberta da anatomia e com ela da pesquisa cientiacutefica e da adoccedilatildeo generalizada dos algarismos aacuterabes pelo ocidente E mais uma vez ningueacutem que vivesse em 1520 consegui-ria imaginar como era o mundo em que seus avoacutes tinham vivido e no qual seus pais tinham nascidoA transformaccedilatildeo seguinte comeccedilou em 1776 - o ano da Revoluccedilatildeo Americana do aper-feiccediloamento do motor a vapor por James Watt e da publicaccedilatildeo de A Riqueza das Naccedilotildees de Adam Smith Ela terminou quase quarenta anos depois em Waterloo - quarenta anos durante os quais nasceram todos os ismos modernos O capitalismo o comunismo e a Re-voluccedilatildeo Industrial surgiram durante essas deacutecadas que tambeacutem viram a criaccedilatildeo - em 1809 - da universidade moderna (Berlim) e do ensino universal Essas quatro deacutecadas trouxeram a emancipaccedilatildeo dos judeus - em 1815 os Rothschild haviam adquirido um grande poder fazen-do sombra a reis e priacutencipes Na verdade esses quarenta anos produziram uma nova civili-zaccedilatildeo europeacuteia Mais uma vez ningueacutem que vivesse em 1820 poderia imaginar o mundo dos seus avoacutes e no qual seus pais haviam nascidoNosso periacuteodo duzentos anos depois eacute um desses periacuteodos de transformaccedilatildeo Entretanto desta vez a transformaccedilatildeo natildeo se limita agrave sociedade e agrave histoacuteria ocidentais Na verdade uma das mudanccedilas fundamentais eacute que natildeo existe mais uma histoacuteria ou uma civilizaccedilatildeo ociden-tal mas sim uma histoacuteria e uma civilizaccedilatildeo mundiais- mas ambas satildeo ocidentalizadas Eacute discutiacutevel se a presente transformaccedilatildeo comeccedilou com a emergecircncia do primeiro paiacutes natildeo-ocidental o Japatildeo como grande potecircncia econocircmica - isto eacute por volta de 1960 - ou com o computador isto eacute com a informaccedilatildeo passando a ser fundamental Minha candidata seria a Declaraccedilatildeo de Direitos dos Combatentes Americanos depois da Segunda Guerra Mundial que deu a cada soldado americano que voltou o dinheiro para que ele frequumlentasse uma universidade - fato que natildeo teria feito nenhum sentido apenas trinta anos antes no final da Primeira Guerra Mundial A Declaraccedilatildeo de Direitos dos Combatentes - e a resposta en-tusiaacutestica por parte dos veteranos americanos - assinalaram mudanccedila para a sociedade do conhecimento Os futuros historiadores poderatildeo consideraacute-la o fato mais importante do seacuteculo vinteAinda estamos claramente no meio dessa transformaccedilatildeo na verdade se a histoacuteria servir de guia ela natildeo estaraacute concluiacuteda ateacute 2010 ou 2020 Mas jaacute mudou o cenaacuterio poliacutetico econocircmi-co social e moral do mundo Ningueacutem nascido em 1990 poderaacute imaginar o mundo em que seus avoacutes (isto eacute minha geraccedilatildeo) cresceram ou o mundo em que nasceram seus pais A primeira tentativa bem-sucedida para compreender os fatos iniciados em 1455 que trans-formaram a Idade Meacutedia e o Renascimento no mundo moderno foi feita somente cinquumlenta anos depois com os Comentaacuterios de Copeacuternico escritos entre 1510 e 1514 com O Priacutencipe de Maquiavel escrito em 1513 com a siacutentese por Michelangelo de toda a arte renascentista no teto da Capela Sistina pintado entre1508 e 1512 e com o restabelecimento da Igreja Catoacuteli-ca no Conciacutelio de Trento por volta de 1540A transformaccedilatildeo seguinte - que ocorreu haacute cerca de duzentos anos e foi anunciada pela Revoluccedilatildeo Americana - soacute foi ser compreendida e analisada sessenta anos depois nos dois volumes de Democracia na Ameacuterica de Alexis de Tocqueville publicados respectivamente em 1835 e 1840

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SOBRE A SOCIEDADE MAS NAtildeO O QUE Eacute A SOCIEDADE60

Jaacute avanccedilamos o suficiente na nova sociedade poacutes-capitalista para rever e revisar a histoacuteria social poliacutetica e econocircmica da Idade do Capitalismo e da naccedilatildeo-estado Assim este livro iraacute reexaminar o periacuteodo que estamos deixando para traacutes e deste novo ponto de observaccedilatildeo algumas coisas que veremos poderatildeo nos surpreender (como aconteceu comigo)Entretanto ainda eacute arriscado prever como seraacute o mundo poacutes-capitalista Mas acredito que podemos descobrir com algum grau de probabilidade que novas perguntas seratildeo levantadas e onde estaratildeo as grandes questotildees Em muitas aacutereas tambeacutem podemos descrever o que natildeo daraacute certo As respostas agrave maior parte das perguntas ainda estatildeo ocultas no interior do futuro A uacutenica coisa da qual podemos ter certeza eacute que o mundo que iraacute emergir do atual rearranjo de valores crenccedilas estruturas econocircmicas e sociais de conceitos e sistemas poliacuteticos de visotildees mundiais seraacute diferente daquilo que qualquer um imagina hoje Em al-gumas aacutereas - em especial na sociedade e em sua estrutura - jaacute ocorreram mudanccedilas baacutesicas Eacute praticamente certo que a nova sociedade seraacute natildeo-socialista e Poacutes-capitalista E tambeacutem eacute certo que seu principal recurso seraacute o conhecimento Isso tambeacutem significa que ela de-veraacute ser uma sociedade de organizaccedilotildees Em poliacutetica jaacute deixamos os quatrocentos anos de soberania da naccedilatildeo-estado para um pluralismo no qual a naccedilatildeo-estado natildeo mais seraacute a uacutenica unidade de integraccedilatildeo poliacutetica Ela seraacute um componente - embora ainda importante - daquilo que chamo de forma de governo poacutes-capitalista um sistema no qual competem e coexistem estruturas transnacionais regionais de naccedilotildees-estados e ateacute mesmo tribaisEssas coisas jaacute aconteceram portanto podem ser descritas E descrevecirc-las eacute a finalidade deste livro

Lewis Mumford em sua obra Teacutecnica y Civilizacioacuten (1934) apresenta as mudanccedilas que a maacute-quina introduziu nas formas da civilizaccedilatildeo ocidental permitindo-nos mais uma vez estabelecer uma ana-logia entre as mudanccedilas e a tipologia das sociedades desta vez considerando o desenvolvimento tecnoloacutegico O autor apresenta trecircs tipos de sociedades (Bazzo Linsingen e Pereira 2003 p 94-99)

bull A fase eoteacutecnica As teacutecnicas que permitem definir a sociedade eoteacutecnica satildeo as que aproveitam a aacutegua e a madeira O periacuteodo de desenvolvimento dessa etapa se estende aproximadamente desde o ano 1000 ateacute 1750 Na sociedade eoteacutecnica diminui a importacircncia que os seres humanos tinham tido como fonte de energia e aumenta o uso da energia proveniente do cavalo graccedilas ao seu melhor aproveitamento mediante duas novas peccedilas a ferradura e a moderna forma de arreios com a qual a traccedilatildeo se realiza a partir dos ombros e natildeo do pescoccedilo O maior progresso teacutecnico do ponto de vista energeacutetico se deu em regiotildees que tinham abundantes fontes de aacutegua e de vento graccedilas agrave apariccedilatildeo de rodas e moinhos hidraacuteulicos e de vento que permitiram uma melhora substancial em seu aproveitamentoJunto a estas fontes de energia a madeira era o material universal da sociedade eo-teacutecnica todas as construccedilotildees utilizavam madeira em sua estrutura e de madeira eram tambeacutem as ferramentas utilizadas na construccedilatildeo Inclusive a maior parte das maacutequinas e invenccedilotildees-chave da idade industrial se desenvolveram em madeira antes de serem trabalhadas em metal Apesar dessa utilizaccedilatildeo intensa Mumford considera que o que propiciou a destruiccedilatildeo da mata na eacutepoca foi o uso intensivo da madeira na mineraccedilatildeo na forja e na fundiccedilatildeo Outro dos materiais desse periacuteodo eacute o vidro cuja contribuiccedilatildeo agrave so-ciedade da eacutepoca foi muito importante Mudou a vida no interior das casas mediante seu uso em recipientes e sobretudo em janelas ampliou a visatildeo por meio das lentes em oacuteculos telescoacutepios e microscoacutepios e foi um fator essencial no desenvolvimento da quiacute-mica e no aperfeiccediloamento dos espelhos

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SOBRE A SOCIEDADE MAS NAtildeO O QUE Eacute A SOCIEDADE61

Satildeo muitos os inventos caracteriacutesticos da sociedade eoteacutecnica Talvez o mais importan-te seja o meacutetodo experimental da ciecircncia que Mumford considera a maior realizaccedilatildeo na fase eoteacutecnica A principal inovaccedilatildeo mecacircnica dessa eacutepoca eacute o reloacutegio mecacircnico segui-do embora natildeo em importacircncia da imprensa acompanhada pelo papel a cuja produccedilatildeo foi aplicada a maquinaria movida por energia mecacircnica Ele tambeacutem faz referecircncia a invenccedilotildees sociais dessa civilizaccedilatildeo como a universidade e a faacutebrica

bull A sociedade paleoteacutecnica A sociedade paleoteacutecnica teria seu iniacutecio por volta de 1700 e seu auge teria se produzido entre 1870 e 1900 sendo esta uacuteltima data coincidente com o iniacutecio de um movimento de decadecircncia Nesta etapa a sociedade abandonou seus va-lores vitais e passou a centrar-se somente nos valores pecuniaacuterios As mudanccedilas nesses valores foram motivadas pela introduccedilatildeo do carvatildeo como fonte de energia mecacircnica Essa nova fonte de energia tornou-se efetiva mediante novos meios como a maacutequina a vapor e tambeacutem foi utilizada nos novos meacutetodos de fundir e trabalhar o ferro A nova sociedade eacute pois um produto do carvatildeo e do ferroEm torno de 1780 cristaliza-se o modelo paleoteacutecnico que se pode ver em uma seacuterie de inventos e artefatos teacutecnicos o carro a vapor de Murdock o forno de reverbero de Cort o barco de ferro de Wilkinson o tear mecacircnico de Cartwright e os barcos a vapor de Jouffroy e de Fitch Realizaccedilotildees tiacutepicas da sociedade paleoteacutecnica satildeo a ponte e o barco de ferro A construccedilatildeo de estruturas de ferro como o Crystal Palace os primeiros arranha-ceacuteus a torre Eiffel etc converteram o ferro em material universal A induacutestria militar fez um amplo uso dele Eacute tambeacutem um periacuteodo em que a sociedade se dedica a uma sistemaacutetica destruiccedilatildeo do meio ambiente Eacute a sociedade da poluiccedilatildeo do ar e da con-taminaccedilatildeo das aacuteguas ()Junto a isso Mumford assinala que se produziu a passagem de tecnologias democraacute-ticas para outras mais autoritaacuterias enquanto a energia do vento e da aacutegua proacuteprias da fase eoteacutecnica eram graacutetis o carvatildeo era caro e a maacutequina a vapor custosa de modo que tendia agrave concentraccedilatildeo e ao monopoacutelio A sociedade paleoteacutecnica se desenvolveu como uma sociedade auto-suficiente o que soacute foi possiacutevel com o estabelecimento desde o seacuteculo XVIII da noccedilatildeo de progresso Considerava-se evidente a existecircncia de leis do progresso que se refletiam nas contiacutenuas invenccedilotildees de maacutequinas de novas comodida-des etc ()Deve se dizer que houve resistecircncias a tudo isso natildeo soacute individuais (Ruskin Nietzsche Melvillehellip) mas tambeacutem coletivas como as que se propocircs o movimento ludista -sobre os luditas veja-se o capiacutetulo O que eacute tecnologia e Noble 1995 A introduccedilatildeo da maacutequina nessa fase teve outra importante consequecircncia social a divisatildeo do mundo em zonas de produccedilatildeo de maacutequinas e zonas de produccedilatildeo de alimentos e mateacuterias-primas o que se-gundo Mumford trouxe consequecircncias nefastas que serviram de motivo para a Guerra Civil Americana ao provocar a queda no consumo de algodatildeo que reduziu os habitan-tes de Lancashire agrave extrema pobreza

bull A fase neoteacutecnica Mumford considera que na sociedade dessa eacutepoca haacute uma ruptura com o periacuteodo paleoteacutecnico e em certo sentido um retorno a algumas caracteriacutesticas da sociedade eoteacutecnica Eacute difiacutecil defini-la como um periacuteodo determinado posto que ain-da estamos imersos nela Tampouco foi produzida uma ruptura com o periacuteodo paleo-teacutecnico como a que este realizou com relaccedilatildeo ao eoteacutecnicoMumford fixa os comeccedilos da fase neoteacutecnica no momento em que os geradores de ener-gia tornam-se mais eficientes por volta de 1832 Em 1850 grande parte das descobertas fundamentais dessa nova fase jaacute haviam sido produzidas a pilha eleacutetrica a bateria o diacute-

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namo o motor a lacircmpada eleacutetrica o espectroscoacutepio a teoria da conservaccedilatildeo da energia Entre 1875 e 1900 jaacute se haviam aplicado esses inventos aos procedimentos industriais a central eleacutetrica o telefone Outras invenccedilotildees caracteriacutesticas do periacuteodo foram esboccedila-das ou completadas ateacute 1900 o fonoacutegrafo o cinematoacutegrafo o motor a gasolina a turbina a vapor o aviatildeohellipA fase neoteacutecnica esteve marcada desde o comeccedilo por uma nova forma de energia a eleacutetrica A eletricidade que diferentemente do carvatildeo podia proceder de vaacuterias fontes - o proacuteprio carvatildeo a correnteza de um rio as quedas daacutegua as mareacutes - mudou tambeacutem a possiacutevel distribuiccedilatildeo da induacutestria moderna no mundo posto que essa induacutestria jaacute natildeo tinha porque situarse na Europa ou nos Estados Unidos potecircncias dominantes por seu controle do carvatildeo e do ferroA eletricidade ao contraacuterio do carvatildeo eacute muito faacutecil de ser transferida sem grandes per-das de energia e sem custos excessivos Ademais eacute facilmente convertiacutevel de vaacuterias ma-neiras com o motor pode-se realizar um trabalho mecacircnico com a lacircmpada iluminar com o radiador1 aquecer etc O uso da eletricidade permitiu a sobrevivecircncia das peque-nas oficinas frente agraves grandes faacutebricas caracteriacutesticas da sociedade paleoteacutecnica Natildeo obstante isso natildeo impediu a concentraccedilatildeo de empresas que eacute mais um fenocircmeno que responde a interesses dos empresaacuterios ou ao setor financeiro que a puros condicionan-tes teacutecnicosOs materiais caracteriacutesticos desse periacuteodo satildeo as novas ligas as terras raras e os metais mais leves - cobre alumiacutenio Aparecem tambeacutem novos materiais sinteacuteticos celulose vulcanite baquelite e resinas sinteacuteticasA sociedade neoteacutecnica comeccedila a transformar radicalmente seus sistemas de comuni-caccedilatildeo o que constitui uma caracteriacutestica destacada do periacuteodo O teleacutegrafo o telefone e a televisatildeo - recordemos o que Mumford escrevia em 1934 - provocaram contatos mais numerosos instantacircneos e a longas distacircncias No entanto Mumford era bastante criacute-tico com esses artefatos Enfrentamo-nos aqui com uma forma ampliada de um perigo comum a todos os inven-tos uma tendecircncia a usaacute-los exija ou natildeo a ocasiatildeo Assim nossos avoacutes utilizavam cha-pas de ferro para as fachadas dos edifiacutecios apesar do fato de ser o ferro um conhecido condutor de calor [hellip] Eliminar as restriccedilotildees no estreito contato humano [que era o que propiciavam esses novos inventos para a telecomunicaccedilatildeo] foi em suas primeiras eta-pas tatildeo perigoso como a avalancha de populaccedilotildees em direccedilatildeo agraves novas terras aumentou as zonas de fricccedilatildeo Da mesma maneira mobilizou e acelerou as reaccedilotildees das massas como as que ocorrem em veacutesperas de uma guerra e incrementou os perigos de conflito internacionalApesar dessa visatildeo que alguns poderiam considerar excessivamente pessimista Mumford vecirc na sociedade neoteacutecnica uma mudanccedila com respeito agrave atitude que a so-ciedade paleoteacutecnica tinha sobre o entorno sobre o meio ambiente Na fase neoteacutecnica haacute uma maior preocupaccedilatildeo com a conservaccedilatildeo do ambiente natural Darwin e outros haviam posto a descoberto a inter-relaccedilatildeo existente no meio natural entre geologia cli-ma solo plantas animais bacteacuterias etc Mumford cita como exemplo a obra de George Perkins Marsh que jaacute em 1866 havia alertado sobre os perigos da destruiccedilatildeo de morros e do solo em sua obra ldquoO homem e a naturezardquoA fase neoteacutecnica tambeacutem ocasionou agrave sociedade um controle mais preciso da repro-duccedilatildeo humana A extensatildeo de meacutetodos anticoncepcionais e um melhor conhecimento

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da sexualidade humana foram elementos fundamentais na transformaccedilatildeo das relaccedilotildees entre os sexos e na proacutepria demografiaMumford conclui dizendo que

Cada uma das fases da civilizaccedilatildeo da maacutequina deixou seus frutos na sociedade Cada uma mudou sua paisagem alterou o plano fiacutesico das cidades utilizou certos dis-cursos e desprezou outros favoreceu certos tipos de comodidade e certas sendas de atividade e modificou a heranccedila teacutecnica comum [hellip] Chamar a essa complicada heranccedila de Idade da Energia ou Idade da Maacutequina oculta muito do que se potildee em re-levo Se a maacutequina parece dominar a vida de hoje eacute soacute porque a sociedade estaacute mais desorganizada do que estava no seacuteculo XVII

Atividade de auto-avaliaccedilatildeo impacto da tecnologia na sociedade

Mumford escreve que houve uma grande variaccedilatildeo de valores na fase paleoteacutecnica Escreva utilizan-do-se de apenas uma lauda nos padrotildees jaacute indicados como o carvatildeo e a economia do carvatildeo podem ter produzido este impacto

Javier Echeverriacutea em sua obra ldquoLos sentildeores del aire Teleacutepolis y El tercer entornordquo (1999) apresentou as relaccedilotildees entre sociedade e tecnologia sob a oacutetica das tecnologias telemaacuteticas oferecendo-nos seus trecircs entornos sendo que cada um deles se apresenta como uma tipologia social

bull Primeiro entorno (E1) O meio caracteriacutestico eacute o natural e nele vivem as sociedades mantidas pelas culturas de subsistecircncia - sedentaacuterias ou nocirc-mades - baseadas na caccedila na agricultura na pesca na pecuaacuteria ou nos recursos naturais Neste primeiro entorno soacute se percebe como existente o que estaacute presente fisicamente e agrave curta distacircncia Essa presenccedila fiacutesica e proacutexima eacute simultacircnea agrave nossa proacutepria presenccedila fiacutesicaAs formas proacuteprias ou caracteriacutesticas deste primeiro entorno satildeo o corpo humano o clatilde a tribo a famiacutelia a cabana o curral a casa o tuacutemulo a aldeia o trabalho a troca a propriedade a liacutengua falada a agricultura a pecuaacuteria os ritos os lugares sagrados as divindadeshellip

bull Segundo entorno (E2) O meio caracteriacutestico eacute o cultural social e urbano isto eacute uma sobrenatureza produzida graccedilas agrave teacutecnica e agrave induacutestria As relaccedilotildees humanas que se datildeo nas sociedades deste tipo satildeo as proacuteprias das relaccedilotildees urbanas e o acircmbito das relaccedilotildees se amplia nos conceitos de comarcas territoacuterios paiacuteses etc Nas sociedades deste se-gundo entorno foram-se instituindo distintas formas de poder que natildeo existiam em E1 como o religioso o militar o poliacutetico o econocircmico etc Posto que o desenvolvimento deste segundo entorno natildeo significa o desaparecimento do primeiro produzem-se con-flitos e tensotildees entre as formas proacuteprias de cada um deles Satildeo formas proacuteprias de E2 a vestimenta a famiacutelia a pessoa o indiviacuteduo o mercado a oficina a empresa a induacutestria o dinheiro os bancos as escolas os cemiteacuterios a escrita as ciecircncias as maacutequinas a jus-ticcedila a cidade a naccedilatildeo o Estado as Igrejashellip Assim nas sociedades do segundo entorno o corpo estaacute recoberto por uma sobrenatureza - roupa sapatos chapeacuteu tatuagens ma-quiagens brincos oacuteculoshellip - que foi produzida graccedilas agrave teacutecnica e agrave induacutestria

bull No terceiro entorno (E3) Esta nova forma de sobrenatureza depende em grande parte de uma seacuterie de inovaccedilotildees tecnoloacutegicas Conforme surjam novos avanccedilos tecnocientiacute-ficos as propriedades do terceiro entorno iratildeo se modificando por ser um espaccedilo basi-camente artificial [hellip]E3 eacute possibilitado por uma seacuterie de tecnologias entre as quais mencionaremos sete o

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telefone o raacutedio a televisatildeo o dinheiro eletrocircnico as redes telemaacuteticas a multimiacutedia e o hipertexto A construccedilatildeo e o funcionamento de cada um destes artefatos pressupotildeem numerosos conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos - eletricidade eletrocircnica informaacute-tica transistorizaccedilatildeo digitalizaccedilatildeo oacutetica compactaccedilatildeo criptologia etc- motivo pelo qual conveacutem destacar que a construccedilatildeo do terceiro entorno soacute comeccedilou a ser possiacutevel para os seres humanos apoacutes numerosos avanccedilos cientiacuteficos e teacutecnicos O terceiro entor-no eacute um dos resultados da tecnociecircncia e por isso emergiu naqueles paiacuteses que conse-guiram um maior avanccedilo tecnocientiacutefico sobretudo nos EUA onde se descobriram ou pelo menos se implementaram e difundiram quase todos esses avanccedilos tecnocientiacutefi-cos

()

Sobre a obra de Echeverria Bazzo Linsingen e Pereira (2003) complementam dizendo

Segundo o autor em E3 se estaacute produzindo o que se chama uma situaccedilatildeo neofeudal onde alguns senhores os senhores do ar - que datildeo tiacutetulo a uma de suas obras sobre o tema - controlam em uma relaccedilatildeo proacutexima a vassalagem agraves pessoas dependentes e submetidas agrave sua tecnologia Satildeo senhores do ar posto que seu poder natildeo se encontra no territoacuterio ou no espaccedilo fiacutesico proacuteximo como ocorria em E1 e E2 mas se assenta nos sateacutelites nas redes de comunicaccedilatildeo nos servidores informaacuteticos etc (p103)

Conheccedila mais

Ouccedila a entrevista de Javier Echeverriacutea sobre o E3 em httpportaleducarnoticiasactualidad-educarjavier-echeverria-en-educarphp

Ferreira (2010) em sua dissertaccedilatildeo sintetiza a ideia de paradigma tecnoeconocircmico a partir da re-flexatildeo de uma seacuterie de outros autores O paradigma tecnoeconocircmico se caracteriza como a

combinaccedilatildeo de inovaccedilotildees de produto teacutecnicas organizacionais e administrativas capazes de abrir oportunidades de investimento e lucro Verificase que aleacutem dos fatores teacutecnicos este conceito abrange tambeacutem os fatores institucionais Cada paradigma tecnoeconocircmico possui um conjunto especiacutefico de fatores-chave e induacutestrias-chave propulsores do cresci-mento econocircmico e as formas de organizaccedilatildeo industrial e de competiccedilatildeo tambeacutem se alte-ram

O quadro a seguir indica os periacuteodos histoacutericos que foram marcados por acontecimentos tecnoloacute-gicos redundando em induacutestrias especiacuteficas fatores que favorecem o chamado progresso naquele periacuteodo e o tipo de organizaccedilatildeo industrial favorecida A nosso ver eacute possiacutevel ainda avaliar estes itens combinados considerando os impactos sociais

Por tal eacute possiacutevel imaginar que os paradigmas tecnocientiacuteficos desenham modelos de sociedades de forma direta ou por acomodaccedilatildeo Vejamos o que nos apresenta

Tabela 3

Periacuteodos Descriccedilatildeo Induacutestrias-chave Fatores-chave Organizaccedilatildeo industrial

1770-1840 Mecanizaccedilatildeo Tecircxtil quiacutemica metal-mecacircnica ceracirc-mica Algodatildeo e ferro Pequenas empresas locais

1840-1890 Maacutequinas a vapor e ferrovias

Motores a vapor maacutequinas-ferramenta maacutequinas para ferrovias

Carvatildeo e sistemas de transportes

Pequenas e grandes empresas e crescimento das sociedades anocircnimas

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1890-1940 Engenharia pesada Estaleiros produtos quiacutemicos armas maacutequinas eleacutetricas accedilo Monopoacutelios e oligopoacutelios

1940-1980 Fordista Automobiliacutestica armas aeronaacuteutica bens de consumo Derivados de petroacuteleo

Concorrecircncia oligopoliacutestica e crescimento das multinacio-nais

A partir de 1980 TIC

Computadores produtos eletrocircnicos software telecomunicaccedilotildees novos ma-teriais e serviccedilos de informaccedilatildeo

Microprocessadores Redes de empresas

Cada periacuteodo marcado por um tipo de induacutestria e de fatores chaves floresceu em locais geografica-mente distintos mesmo que alguns deles reiterasse a capacidade produtiva de determinado paiacutes ou regiatildeo A cada ciclo novo tiacutenhamos pelo menos dois movimentos contraditoacuterios uma cadeia produ-tiva que se enfraquecia (ou desaparecia) e uma cadeia produtiva que surgia Logo em torno da cadeia produtiva que surgia temos uma regiatildeo um paiacutes um conjunto de tributos que passa a alimentar o setor puacuteblico uma concentraccedilatildeo de pessoas e instituiccedilotildees que buscam o ldquonovo eldoradordquo Haacute certa-mente o que se convencionou chamar de progresso

Por outro lado a induacutestria que se enfraqueceu ou mesmo desapareceu deixa suas ldquocicatrizes so-ciaisrdquo Ficam aqueles que perderam os empregos os setores puacuteblicos que natildeo mais receberatildeo os tri-butos proacuteprios da produccedilatildeo ou da comercializaccedilatildeo ficam os passivos sociais de toda ordem

Essa questatildeo que apresentamos fica melhor desenhada quando identificamos as ecircnfases tecnoloacutegicas e os campos do saber eou da produccedilatildeo que foram privilegiados o que foi designado como ondas segundo Tigre (2006 apud Ferreira 2010)

Tabela 4

Ondas CampT e Educaccedilatildeo

Transporte e Comunicaccedilotildees Energia

1ordf revoluccedilatildeo industria(1780-1830)

Aprender-fazendoSociedades cientiacuteficas

Canais Estradas de ferro

Roda drsquoaacutegua(moinhos)

2ordf revoluccedilatildeo industrial(1830-1880) Engenheiros civis e mecacircnicos Estradas de ferro

Teleacutegrafo Vapor

Idade da eletricidade(1880-1930)

PampD industrialQuiacutemica e eltricidadeLaboratoacuterios nacionais

Ferrovias (accedilo)Telefone Eletricidade

Idade da produccedilatildeo em massa(1930-1980)

PampD industrial em escala(Governos e empresas)Educaccedilatildeo em massa

RodoviasRaacutedio Petroacuteleo

Idade da microeletrocircnica(a partir de 1980)

Redes de dadosRedes globais de PampDTreinamento contiacutenuo

Redes de convergentes de comuni-caccedilotildees em multimiacutedia Petroacuteleo e gaacutes

Tecnologias ambientais e de sauacutede( )

BiotecnologiaGeneacuteticaNanotecnologia

TelemaacuteticaTeletrabalho Energias renovaacuteveis

43 Como se fosse uma conclusatildeo

Quando eu tinha dezessete anos fui estudar na Cambridge University e tive sorte de conhe-cer o famoso matemaacutetico Godfrey Hardy()Muitas vezes nos uacuteltimos anos desejei ter podido explicar a Hardy o que fiz com a matemaacutetica que ele me ensinou Agraves vezes sonho que ele vai entender e me perdoar por eu ter me desviado de seus ideais [o de trabalhar apenas em matemaacutetica pura e natildeo em matemaacutetica aplicada]

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SOBRE A SOCIEDADE MAS NAtildeO O QUE Eacute A SOCIEDADE66

Durante minha vida profissional encontrei felizmente aacutereas da ciecircncia em que minhas ap-tidotildees matemaacuteticas puderam ser utilmente empregadas Trabalhei numa variedade de pro-blemas em fiacutesica de partiacuteculas em mecacircnica estatiacutestica em fiacutesica da mateacuteria condensada em astronomia e em biologia Tambeacutem trabalhei em problemas de engenharia aplicando a matemaacutetica ao projeto de instrumentos e maacutequinas Quando eu estava projetando maacutequi-nas costumava pensar na mais famosa declaraccedilatildeo do livro de Hardy aquela que expressava em poucas e amargas palavras sua aversatildeo pela ciecircncia aplicada Uma ciecircncia eacute dita uacutetil se seu desenvolvimento tende a acentuar as desigualdades existentes na distribuiccedilatildeo de riqueza ou se promove mais diretamente a destruiccedilatildeo da vida humana Eu tentava provar que Hardy estava errado que a ciecircncia pode ser uacutetil sem ser nociva Ao escolher em quais problemas trabalhar eu sempre tinha em mente a advertecircncia de Hardy Sua decla-raccedilatildeo eacute muitas vezes verdadeira e eacute uma advertecircncia que todos os cientistas aplicados devem levara seacuterio (grifos nossos)

Freeman Dyson 2001 p7 e 9

Atividade Proposta para reflexatildeo

1 Considerando as propostas de tipologia de Echeverria responda se as escolas que re-cebem computador e conseguem conectar-se a internet estatildeo ou natildeo no E3 Justifique sua resposta

2 Considerando o texto final de Dyson comente os riscos possiacuteveis de uma sociedade tecnocientiacutefica tornar-se mais desigual

SOBRE AS RELACcedilOtildeES CIEcircNCIA TECNOLOGIA E SOCIEDADE67

5 Sobre as relaccedilotildees Ciecircncia Tecnologia e So-ciedade

A escolha das tecnologias natildeo eacute portanto somente uma escolha de meios neutros mas uma escolha de sociedade Natildeo eacute estranho entatildeo que quando se consideram as tecnologias raramente se examine a or-ganizaccedilatildeo social a que conduzem

Geacuterard Fourez

51 Introduccedilatildeo

Vamos retornar a nossa equaccedilatildeo ingecircnua da ciecircncia obtida apoacutes o relatoacuterio Bush (capiacutetulo 1) + ciecircn-cia = + tecnologia = + riqueza = + bem-estar social Se ela eacute tomada como verdade ndash e tem sido assim ndash a Ciecircncia e sua companheira a Tecnologia passam a ter grande poder frente as comunidades em geral considerando a (1) dependecircncia estabelecida por meio dos aparatos tecnoloacutegicos e (2) pela distacircncia entre o fazer cientiacutefico e o entendimento pelas camadas gerais da populaccedilatildeo Essa dependecircncia pela Tecnologia e o natildeo-entendimento dos coacutedigos da Ciecircncia enfraquecem a capacidade de enfrenta-mento e de participaccedilatildeo dos membros da Sociedade ao mesmo tempo em que conferem aqueles primeiros um razoaacutevel poder e status

A Ciecircncia e a Tecnologia estatildeo de tal forma interligadas agrave Sociedade que esta uacuteltima natildeo sabe mais como viver sem aquelas primeiras Com esta ideia Gerard Fourez (1995) inicia um capiacutetulo intitula-do Ciecircncia Poder Poliacutetico e Eacutetico que nos utilizaremos para balizar algumas questotildees em torno das relaccedilotildees da triacuteade CTS

Ao defender a necessidade de refletirmos sobre as relaccedilotildees entre Ciecircncia Tecnologia e Socie-dade Fourez (1995) faz a seguinte afirmaccedilatildeo

O conhecimento eacute sempre uma representaccedilatildeo daquilo que eacute possiacutevel fazer e por conseguin-te representaccedilatildeo daquilo que pode ser objeto de uma decisatildeo na sociedadeA questatildeo do viacutenculo entre os conhecimentos e as decisotildees se impotildee portanto Que existe um viacutenculo isto eacute indicado pelo bom senso se se sabe que eacute possiacutevel construir uma ponte de uma margem a outra de um rio pode-se questionar se ela eacute ou natildeo desejaacutevel (p 207)

A pergunta que se apresenta eacute se o conhecimento ndash que diz ser possiacutevel construir a ponte ndash eacute capaz de dizer se devemos ou natildeo construir a ponte ou seria essa uma decisatildeo com participaccedilatildeo social Trata-se de discutir aqui se as decisotildees de poliacutetica ou eacuteticas devem ser determinadas pela Ciecircncia ou melhor por aqueles que operam os conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos os cientistas ou especialistas

52 Modelos de interaccedilatildeo segundo HabermasFourez

Ainda conduzidos por Fourez vamos lembrar que o filoacutesofo Juumlrgen Habermas39 classifica as inte-raccedilotildees ente Ciecircncia e Sociedade em trecircs grupos distintos As interaccedilotildees tecnocraacuteticas as decisionis-tas e as pragmaacutetico-poliacuteticas deixando claro desde jaacute que essas interaccedilotildees jamais existem em estado puro Esses modelos de interaccedilatildeo de Habermas podem ser resumidos da seguinte forma (Fourez 1995 p 224)

bull Tecnocraacuteticos as ciecircncias e a teacutecnica (os especialistas) determinam as poliacuteticas

39 Conheccedila mais em httpptwikipediaorgwikiJC3BCrgen_Habermas

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SOBRE AS RELACcedilOtildeES CIEcircNCIA TECNOLOGIA E SOCIEDADE68

bull Decisionistas os consumidores determinam os fins os teacutecnicos os meiosbull Pragmaacutetico-poliacutetico interaccedilotildees e negociaccedilotildees entre ldquoespecialistasrdquo e ldquonatildeo-especialistasrdquo

A fim de exemplificar as trecircs interaccedilotildees Fourez propotildee exemplos de interaccedilatildeo entre o meacutedico e seu paciente e entre um mecacircnico e o dono do carro

No modelo Tecnocraacutetico supotildee-se que o meacutedico e o mecacircnico sabem o que eacute melhor para o pa-ciente e para o dono do carro respectivamente Afinal de contas ambos possuem o conhecimento especiacutefico de suas aacutereas de atuaccedilatildeo Tanto o meacutedico quanto o mecacircnico diratildeo ldquoNatildeo se preocupe vou resolver todos os seus problemasrdquo Para o modelo tecnocraacutetico de interaccedilatildeo ldquoas decisotildees cabem ao especialistardquo

De acordo com o modelo Decisionista a situaccedilatildeo eacute um pouco diferente Nele o especialista pergun-taraacute ao cliente o que ele tem em vista ou quais satildeo seus objetivos ao procuraacute-lo O dono do carro pode querer um automoacutevel veloz ou econocircmico ou seguro ou que decirc pouca despesa ou vaacuterios desses itens Apoacutes tomar conhecimento das finalidades ou objetivos do seu cliente o especialista buscaraacute o melhor meio para atingir o objetivo pretendido Em siacutentese

Esse modelo portanto faz a distinccedilatildeo entre tomadores de decisatildeo e teacutecnicos Uns determi-nam os fins outros os meios Esse modelo diminui a dependecircncia em relaccedilatildeo ao teacutecnico uma vez que satildeo as proacuteprias pessoas que decidem sobre seus objetivosUma sociedade decisionista consideraraacute que cabe agraves instituiccedilotildees poliacuteticas determinar os ob-jetivos visados por essa sociedade Cabe aos teacutecnicos apoacutes encontrar os meios adequados (p 208)

De acordo com o terceiro modelo o pragmaacutetico-poliacutetico o que eacute privilegiado eacute a perpeacutetua discussatildeo e negociaccedilatildeo entre o teacutecnico e o cliente O mecacircnico pediraacute o telefone do cliente para mantecirc-lo in-formado de suas descobertas quanto ao estado do carro ao mesmo tempo que ouviraacute suas intenccedilotildees a cada instante chegando ao final com um carro que satisfaccedila as necessidades de seu dono no tempo ideal de trabalho para o mecacircnico Escreve Fourez (1995)

Esse modelo pragmaacutetico-poliacutetico assemelha-se ao modelo decisionista exceto pelo fato de que a relaccedilatildeo entre os especialistas e natildeo-especialistas eacute permanente Contudo resta sem-pre uma decisatildeo delicada a partir de que momento considera-se (e quem considera) que os teacutecnicos compreendem de maneira suficiente a vontade de seus clientes para poder tra-balhar sem consultaacute-los O modelo pragmaacutetico-poliacutetico insiste sobre o fato de que os meios escolhidos podem levar agrave modificaccedilatildeo dos objetivos mas natildeo fornece nenhuma receita sim-ples a fim de poder haver a decisatildeo ele remete agraves negociaccedilotildees (motivo pelo qual natildeo o de-nominamos somente pragmaacutetico mas tambeacutem poliacutetico)Uma das profissotildees que mais pratica essa interaccedilatildeo entre o cliente e o teacutecnico eacute a arquite-tura Um bom arquiteto estabelece um contato permanente com o seu cliente buscando natildeo tomar as decisotildees em seu lugar Ao pocirc-lo a par das implicaccedilotildees teacutecnicas ligadas a sua es-colha o arquiteto pode levar o seu cliente a modificar alguns de seus objetivos (p 210-211)

Leia mais

As reflexotildees de Gerard Fourez (2003) sobre os objetivos da educaccedilatildeo cientiacutefica e os desafios presentes na escola httpwwwifufrgsbrpublicensinovol8n2v8_n2_a1html

Eacute possiacutevel perceber que as interaccedilotildees em estudo fortalecem a posiccedilatildeo da Ciecircncia como detentora do conhecimento que melhor observa que melhor organiza que melhor decide que melhor realiza que melhor avalia Esse eacute o ldquoCrdquo de Ciecircncia

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SOBRE AS RELACcedilOtildeES CIEcircNCIA TECNOLOGIA E SOCIEDADE69

Por outro lado o cidadatildeo se sente bastante familiarizado com os aparatos tecnoloacutegicos Afinal sua vida cotidiana esta repleta destes aparatos que deixam de ser suporte para serem indispensaacuteveis O risco dessa dependecircncia do homem a tecnologias diversas pode ser representado por dois exemplos envolvendo Hegel e Mary Shelley

bull Na dialeacutetica Hegel podemos lembrar das reflexotildees envolvendo o amo e o servo O amo ordenava ao servo que realizasse todos os serviccedilos e com o tempo o amo deixava de saber como fazer enquanto que o servo dominava todas as rotinas do como fazer Ao final quem dominava quem Quem era dependente de quem

bull Quanto a Mary Shelley vale a lembranccedila dos escritos em sua famosa novela Frankstein em 1818 A chamada siacutendrome de Frankstein se deve ao medo de que as forccedilas que nos utilizamos para dominar a natureza se voltem contra noacutes como faz o ldquomonstrordquo nos diversos filmes existentes Ao final diz o ldquomonstrordquo a Victor Frankstein Tu eacutes meu criador mas eu sou o teu senhorrdquo (Bazzo Linsingen e Pereira 2003 p 125)

Desde as tecnologias de transporte ateacute os aparelhos celular modernos os homens vecircm se deixando ldquoescravizarrdquo pelas tecnologias pois que estas tornam suas vidas mais confortaacuteveis ou tornam suas tarefas cotidianas menos penosas Esse eacute o ldquoTrdquo de Tecnologia

Por fim devemos considerar as accedilotildees que estruturam as comunidades e as sociedades quais-quer que sejam suas tipologias Elas pressupotildeem a participaccedilatildeo como corolaacuterio do processo social Cer-tamente essa participaccedilatildeo pode se dar por diversos canais institucionalizados que no nosso modelo esta baseado em processos democraacuteticos A participaccedilatildeo dos cidadatildeos na estrutura democraacutetica bra-sileira pode se dar das seguintes formas a democracia representativa a democracia participativa a democracia direta e a democracia consociativa a saber (Chrispino 2016 p 142-143)

bull A democracia representativa que resulta na eleiccedilatildeo de representantes do povo para os Poderes Legislativo e Executivo nos trecircs niacuteveis de governo (federal estadual e muni-cipal) Isso quer significar que o povo tem participaccedilatildeo direta na qualidade dos seus representantes sendo certo a qualidade dos governantes espelha o pensamento dos eleitores visto que nenhum deles chegou ao poder por concurso ou por sorteio

bull A democracia participativa faculta a participaccedilatildeo mais efetiva de cidadatildeos em espaccedilos de decisatildeo eou de acompanhamento Os exemplos satildeo os conselhos de acompanha-mento de accedilotildees de governo ou conselhos temaacuteticos Natildeo passa despercebido que um dos grandes entraves na consolidaccedilatildeo da boa representaccedilatildeo eacute o fato de que os que buscam representar se utilizam deste instituto como trampolim para projetos poliacuteticos pessoais tais como chegar a vereador chegar a deputado chegar a prefeito etc

bull A democracia direta se daacute pela participaccedilatildeo efetiva do cidadatildeo visando a decisatildeo Satildeo exemplos de participaccedilatildeo direta o plebiscito e o referendo Natildeo devemos confundir os institutos da democracia direta com as ferramentas de poliacutetica populista como foi o caso da denominada ldquoDemocracia Plebiscitaacuteriardquo que mais se assemelha a populismo oportunista quando um governante com alto iacutendice de aceitaccedilatildeo propotildee consulta agrave populaccedilatildeo sobre temas de interesse como a possibilidade de reeleiccedilatildeo sem limites

bull A democracia consociativa que natildeo deixa de ser uma derivada da democracia partici-pativa se caracteriza pela busca de consensos para o conviacutevio entre os diferentes ato-res e interesses que compotildeem a sociedade (Toba 2004) As conferecircncias nacionais os planos diretores os documentos de impacto de vizinhanccedila e de impacto ambiental satildeo exemplos deste novo instituto Aqui ganha aquele que demonstrar mais organizaccedilatildeo e capacidade de articulaccedilatildeo A chamada construccedilatildeo de consenso eacute uma tecnologia social que tende a ocupar importantes espaccedilos nas relaccedilotildees sociais contemporacircneas

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SOBRE AS RELACcedilOtildeES CIEcircNCIA TECNOLOGIA E SOCIEDADE70

Apresentados os canais possiacuteveis do exerciacutecio de participaccedilatildeo social na estrutura democraacutetica cabe perguntar em qual deles o cidadatildeo efetivamente exercita seu controle ou manifesta seu poder de es-colha frente as questotildees que envolvem Ciecircncia e Tecnologia Ou se estamos efetivamente alimentando a interaccedilatildeo Tecnocraacutetica de Habermas chamando os especialistas para que eles decidam os mais va-riados assuntos Ao discutir este assunto Fourez (1995) apresenta interessante e importante questatildeo

O estatuto de especialista apresenta uma ambiguumlidade fundamental mesmo que como tal ele seja necessaacuterio De fato eacute praacutetica geral pedir ao especialista que decida em funccedilatildeo de seu saber cientiacutefico Ora esse saber depende de um paradigma e somente eacute aplicaacutevel no sentido estrito de acordo com as condiccedilotildees definidas por esse paradigma e pelo laboratoacuterio ao qual estaacute ligado Contudo o parecer especializado que se pede dele destina-se agrave vida cotidiana Natildeo se coloca ao especialista uma questatildeo de ordem cientiacutefica mas de ordem social ou econocircmica Em consequecircncia a especialidade natildeo se liga apenas agraves disciplinas cientificas mas agrave maneira pela qual o especialista traduz o problema da vida comum em seu paradigma disciplinar E essa traduccedilatildeo natildeo depende de sua disciplina mas do razoaacutevel ou do senso comum De um modo paradoxal poder-se-ia dizer que um especialista eacute algueacutem a quem se pede que tome uma decisatildeo em nome de sua disciplina sobre algo que natildeo diz respeito exatamente a sua disciplina

Eacute certo que o especialista natildeo eacute a pessoa mais capaz para decidir sobre os caminhos a serem trilhados para a sociedade Ele natildeo eacute o representante da sociedade legitimado para escolher ldquose a ponte deve ou natildeo ser construiacutedardquo O representante que melhor se aproxima desta funccedilatildeo eacute o poliacutetico Se esta-mos escolhendo bons poliacuteticos para essa funccedilatildeo de representaccedilatildeo social isso eacute laacute outro problema que natildeo cabe neste espaccedilo

O ldquoSrdquo da sigla CTS deve representar a Sociedade na triacuteade CTS digamos que esta representaccedilatildeo seja um caminho em construccedilatildeo (Vacarezza 2002) um sonho que vai se tornando realidade apesar de todas as dificuldades

Essa uacuteltima afirmaccedilatildeo natildeo eacute de forma alguma uma demonstraccedilatildeo de pessimismo A primeira accedilatildeo frente a uma dificuldade ou limitaccedilatildeo deve ser a de assumir que ela existe identificar suas carac-teriacutesticas e planejar o que fazer Assumir que a Sociedade natildeo possui instrumentos cognitivos para entender os temas tecnocientiacuteficos e que isso a impede de participar das decisotildees sociopoliacuteticas eacute indispensaacutevel para propor instrumentos eficazes de superaccedilatildeo do problema

Por tal eacute indispensaacutevel que se proceda a vulgarizaccedilatildeo cientiacutefica (Fourez 1995) por meio da alfabeti-zaccedilatildeo tecnocientiacutefica40 do cidadatildeo (Zaragoza 1999 Santos e Mortimer 2002 Eduarda Santos 2001 Auler 2003 Acevedo Vaacutezquez e Manassero 2003 Chassot 2003 Krasilchik e Marandino 2006 Santos 2007 Praia Gil e Vilches 2007)

Segundo a proposta de Fourez (1995 p 221-222) a vulgarizaccedilatildeo cientiacutefica ndash e diriacuteamos noacutes tambeacutem a tecnoloacutegica ndash pode dar-se de duas maneiras

bull Efeito vitrine a primeira por meio de uma operaccedilatildeo de relaccedilotildees puacuteblicas da comuni-dade cientiacutefica demonstrando ao povo as ldquomaravilhas que os cientistas satildeo capazes de produzirrdquo resultando em uma sociedade tecnocraacutetica com pouca liberdade e a

bull Transmissatildeo de poder social aquela que transmite certo conhecimento cientiacutefico ao

40 Os diversos autores utilizam Alfabetizaccedilatildeo Cientiacutefica alguns preferem alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica letramento cien-tiacutefico ou literaacutecia cientiacutefica Parece-nos mais adequado no contexto deste trabalho o termo alfabetizaccedilatildeo tecnocientiacutefica que iraacute significar a capacidade de ler compreender e expressar opiniotildees sobre ciecircncia e tecnologia (Krasilchik e Marandino 2004 p 26) Para noacutes CTS eacute um Enfoque mais amplo que a ACT por considerar as relaccedilotildees sociais tal qual indicou Fourez (1997 p 18)

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ponto de serem uacuteteis no entendimento de questotildees tecnocientiacuteficas ndash que chamaremos aqui de alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica ndash que resulta em cidadatildeos capazes de tomar decisotildees em relaccedilatildeo a sua vida individual e sua existecircncia coletiva

Para o autor

Para ser um indiviacuteduo autocircnomo e um cidadatildeo participativo em uma sociedade altamente tecnizada deve-se ser cientifica e tecnologicamente ldquoalfabetizadosrdquo Sem certas represen-taccedilotildees que permitem apreender o que estaacute em jogo no discurso dos especialistas as pessoas arriscam-se a se verem tatildeo indefesas quanto os analfabetos em uma sociedade onde reina a escrita (p 222)()O movimento Science Technology amp Society41 (STS) () tenta precisamente promover uma articulaccedilatildeo fecunda desses trecircs componentes

Santos (2007) em seu estudo sobre alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica chama a atenccedilatildeo para o fato de que a alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica tem sido objeto de preocupaccedilatildeo de profissionais de diversas aacutereas

bull Educadores em ciecircncia que se preocupam com a educaccedilatildeo nos sistemas de ensinobull Cientistas sociais que estatildeo voltados para o interesse do puacuteblico em geral por questotildees

cientiacuteficasbull Socioacutelogos da ciecircncia que estatildeo envolvidos com a interpretaccedilatildeo diaacuteria da ciecircnciabull Comunicadores da ciecircncia que estatildeo com a atenccedilatildeo voltada para a di-vulgaccedilatildeo cientiacutefi-

ca em sistemas natildeo-formais bull Economistas que estatildeo interessados no crescimento econocircmico decorrente do maior

consumo da populaccedilatildeo por bens tecnoloacutegicos mais sofisticados que requerem conheci-mentos especializados como o uso da informaacutetica

A partir dos acircngulos de anaacutelise e de procedimentos especiacuteficos de cada grupo de interesse que carac-teriza as diversas aacutereas preocupadas com a alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica eacute possiacutevel segundo Millar (1996 apud Santos 2007) agrupar os diversos argumentos em cinco categorias

a) argumento econocircmico que conecta o niacutevel de conhecimento puacuteblico da ciecircncia com o desenvolvimento econocircmico do paiacutes b) utilitaacuterio que justifica o letramento por razotildees praacuteticas e uacuteteis c) democraacutetico que ajuda os cidadatildeos a participar das discussotildees do debate e da tomada de decisatildeo sobre questotildees cientiacuteficas d) social que vincula a ciecircncia agrave cultura fazendo com que as pessoas fiquem mais simpaacuteti-cas agrave ciecircncia e agrave tecnologia e e) cultural que tem como meta fornecer aos alunos o conhecimento cientiacutefico como pro-duto cultural

Complementa Santos (2007)

Todos esses argumentos de alguma forma estatildeo presentes no curriacuteculo escolar e consti-tuem fatores de influecircncia no seu planejamento Assim se a prioridade da alfabetizaccedilatildeo for melhorar o campo de conhecimento cientiacutefico preparando novos cientistas o enfoque curricular seraacute centrado em conceitos cientiacuteficos se o objetivo for voltado para a formaccedilatildeo da cidadania o enfoque englobaraacute a funccedilatildeo social e o desenvolvimento de atitudes e valores

41 Em inglecircs no original

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O quadro a seguir sintetiza de acordo com Santos e Schnetzler (2003 p 65) os aspectos CTS que devem ser considerados no processo de Alfabetizaccedilatildeo Tecnocientiacutefica quando este se daacute a partir da Abordagem CTS

Aspectos CTS Esclarecimentos

1- Natureza da ciecircncia 1 - Ciecircncia eacute uma busca de conhecimentos dentro de uma perspectiva social

2 - Natureza da Tecnologia 2 - Tecnologia envolve o uso do conhecimento cientiacutefico e de outros conheci-mentos para resolver problemas praacuteticos A humanidade sempre teve tec-nologia

3 - Natureza da Sociedade 3 - A sociedade eacute uma instituiccedilatildeo humana na qual ocorrem mudanccedilas cientiacuteficas e tecnoloacutegicas

4 - Efeito da Ciecircncia sobre a Tecnologia 4 - A produccedilatildeo de novos conhecimentos tem estimulado mudanccedilas tec-noloacutegicas

5 - Efeito da Tecnologia sobre a Sociedade 5 - A tecnologia disponiacutevel a um grupo humano influencia grandemente o estilo de vida do grupo

6 - Efeito da Sociedade sobre a Ciecircncia 6 - Por meio de investimentos e outras pressotildees a sociedade influencia a direccedilatildeo da pesquisa cientiacutefica

7 - Efeito da Ciecircncia sobre a Sociedade 7 - Os desenvolvimentos de teorias cientiacuteficas podem influenciar o pen-samento das pessoas e as soluccedilotildees de problemas

8 - Efeito da Sociedade sobre a Tecnolo-gia 8 - Pressotildees dos oacutergatildeos puacuteblicos e de empresas privadas podem in-fluenciar a direccedilatildeo da soluccedilatildeo do problema e em consequecircncia promo-ver mudanccedilas tecnoloacutegicas

9 - Efeito da Tecnologia sobre a Ciecircncia 9 - A disponibilidade dos recursos tecnoloacutegicos limitaraacute ou ampliaraacute os progressos cientiacuteficos

53 Uma importante discussatildeo sobre CTS e Alfabetizaccedilatildeo Cientifica e Tecnoloacutegica

Apresentamos ateacute aqui uma defesa da ideia de que a participaccedilatildeo do cidadatildeo na construccedilatildeo da ciecircn-cia e da tecnologia bem como a percepccedilatildeo dos impactos causados pela produccedilatildeo da ciecircncia e da tec-nologia quer como conhecimento e artefato quer como corporaccedilatildeo social instituiacuteda para defesa de seus interesses pode ser alcanccedilada pela alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica para todos

Essa eacute uma discussatildeo importante que como em outros temas CTS possui interessantes divergecircncias e alguns pontos de convergecircncia sobre os quais espera-se pautar as modificaccedilotildees necessaacuterias para alcanccedilarmos os objetivos pretendidos no ensino das ciecircncias Esta divergecircncia que ao final permite uma leitura madura sobre as dificuldades da aacuterea CTS e indica pontos de convergecircncia eacute bem repre-sentada pelo debate mantido entre Acevedo e colaboradores (2005) e Praia Gil e Vilches (2007) Natildeo temos a pretensatildeo de sintetizar a riqueza de informaccedilatildeo que ambos os trabalhos disponibilizam mas sim extrair reflexotildees para o que propotildee este texto convidando o leitor atento e interessado a leitura nos originais

Inicialmente Acevedo et al (2005) apontam que eacute cada vez maior em didaacutetica das ciecircncias o consenso de considerar que um dos objetivos mais importantes da educaccedilatildeo cientiacutefica eacute que os estudantes da educaccedilatildeo Baacutesica adquiriram uma melhor compreensatildeo da natureza da ciecircncia (NdC) ldquoDeste modo a presenccedila da NdC no curriacuteculo de ciecircncias eacute valorizada pelos que concebem uma educaccedilatildeo cientiacutefica mais apropriada para o seacuteculo XXIrdquo Dizem os autores que vaacuterios paiacuteses (Austraacutelia Canadaacute Inglaterra Nova Zelacircndia USA etc) incluem explicitamente o ensino da NdC nos seus curriacuteculos cientiacuteficos e muitos outros o fazem de uma forma mais ou menos parcial ou impliacutecita As razotildees para inclusatildeo de NdC nos curriacuteculos varia com o tempo e atualmente percebemos duas grandes razotildees a alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica para todas as pessoas e a educaccedilatildeo CTS ldquoPensa-se que um dos principais objetivos do ensino das ciecircncias eacute a aprendizagem da NdC tanto para desenvolver uma melhor compreensatildeo da ciecircncia e seus meacutetodos como para contribuir para tomar mais consciecircncia das interaccedilotildees entre a ciecircncia a tecnologia e a sociedaderdquo

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Iniciando o raciociacutenio criacutetico sobre o ensino da NdC Acevedo et al (2005) lembram que

bull NdC eacute um metaconhecimento que surge da reflexatildeo sobre a proacutepria ciecircncia e por isso eacute um objetivo pouco razoaacutevel

bull ldquoSendo que a metacogniccedilatildeo constitui o niacutevel de maior complexidade no desenvolvi-mento cognitivo humano a compreensatildeo da NdC poderia ficar de fora do alcance da grande maioria dos alunosrdquo

bull Haacute dificuldades para estabelecer que conteuacutedos de NdC devem ser ensinados Os proacute-prios filoacutesofos e socioacutelogos da ciecircncia [e incluiriacuteamos os da tecnologia] tecircm desacordos sobre os princiacutepios baacutesicos da aacuterea considerando o caraacuteter dialeacutetico e controversos das questotildees em jogo aleacutem claro da maior tendecircncia destes profissionais para a polecircmica (Veja tambeacutem Vaacutezquez et al 2008)

bull Esclarece que estas discrepacircncias satildeo por demais abstratas e que natildeo ajudam se ensi-nadas ou postas no curriacuteculo a formar um melhor cidadatildeo pois natildeo contribuem para melhor entendimento da ciecircncia e da tecnologia contemporacircneos

bull Talvez seja possiacutevel algum consenso se forem definidos ldquoobjetivos e conteuacutedos mais modestos mais adaptados ao niacutevel de desenvolvimento dos alunos e mais ajustados aos requisitos de ensino de ciecircncias destinado a uma alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica para todosrdquo De acordo com esta ideia os meacutetodos para ensinar NdC tecircm-se mostrado eficazes quando

bull Abordam alguns dos seus aspectos baacutesicos de maneira expliacutecita e reflexiva (se tal se faz com uma boa planificaccedilatildeo desenvolvendo os conteuacutedos em ati-vidades variadas e avaliando os processos desenvolvidos e os resultados con-seguidos)

bull Se usam atividades baseadas na pesquisa cientiacuteficabull Se usam atividades baseadas na Histoacuteria e Filosofia da Ciecircnciabull Se usam atividades contextualizadas com um enfoque CTS do tipo IOS ndash Is-

sue-Oriented-Sciencebull Se usam atividades capazes de relacionar o mundo real e quotidiano dos alu-

nos

bull ldquoMesmo assim tecircm sido conduzidos projetos expressamente concebidos para melhorar a compreensatildeo da NdC que colocam o acento nos processos sociais da construccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico e na resoluccedilatildeo das con-troveacutersias cientiacuteficas Estas linhas de trabalho puseram tambeacutem em ques-tatildeo a crenccedila de que um ensino impliacutecito da NdC baseado na praacutetica dos procedimentos da ciecircncia e outros conteuacutedos indiretos permite alcanccedilar uma boa compreensatildeo da NdCrdquo (p 3)

Dando continuidade ao estudo criacutetico Acevedo et al (2005) aponta para dois importantes temas que parecem natildeo merecer a atenccedilatildeo devida dos profissionais do ensino de ciecircncias e tecnologia O primei-ro deles eacute a que as ldquocrenccedilas dos professores sobre a NdC se relacionam diretamente com a sua praacutetica docenterdquo e o segundo tema eacute a afirmaccedilatildeo de ldquoque uma boa compreensatildeo da NdC se apresenta como um fator decisivo para tomar melhores decisotildees sobre questotildees tecnocientiacuteficas de interesse socialrdquoNo que se refere ao primeiro tema indicam as hipoacuteteses que satildeo sustentadas

bull A compreensatildeo dos professores acerca da NdC tem uma certa relaccedilatildeo com a dos seus alunos e com a imagem que estes adquirem da ciecircncia

bull As crenccedilas dos professores sobre a NdC influenciam significativamente na sua forma de ensinar ciecircncias e nas decisotildees que tomam na aula

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Diversos estudos tecircm mostrado que estas afirmativas natildeo se sustentam desta forma simples e direta Sobre este tema simplificamos a ideia geral dos autores

Por outro lado diversos investigadores tecircm assinalado vaacuterios fatores que influem quando o professor transfere para a aula conteuacutedos de NdC A maioria desses fatores natildeo tem a ver com os proacuteprios conteuacutedos de NdC mas sim com resistecircncias gerais agraves inovaccedilotildees educati-vas e principalmente com o conhecimento didaacutetico do conteuacutedo[uma noccedilatildeo introduzida por Shulman] para expressar o conhecimento profissional especiacutefico que os professores desenvolvem sobre a forma de ensinar a sua disciplina e que eacute afinal a intersecccedilatildeo entre os conhecimentos didaacuteticos do tema e do objeto de ensino ndash a NdC neste caso ndash que tambeacutem se relaciona com a necessaacuteria transposiccedilatildeo didaacutetica dos conteuacutedos que devem transferir para a aula Sem duacutevida estes aspectos adicionam muito mais complexidade ao que se sus-tenta linearmente nas duas hipoacuteteses indicadas (p 4 adaptado)

No que se refere ao segundo tema parece clara a ideia de que eacute necessaacuteria a alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica de todas as pessoas Para isso muitos apresentam um argumento democraacutetico uma melhor compreensatildeo da NdC permite tomar decisotildees mais refletidas sobre questotildees tecnocientiacuteficas de interesse social outros vecircm esta decisatildeo do estudante como aquela decisatildeo dos cientistas para justificarem o conhecimento que geram Ao final perguntam os autores ldquoMas eacute o conhecimento da NdC um fator chave para tomar este tipo de decisatildeo rdquo

A resposta para esta provocante questatildeo pode estar no resultado de pesquisas envolvendo alunos do ensino secundaacuterio e universitaacuterio que demonstrou que no momento de tomar alguma decisatildeo eles consideram irrelevantes os conhecimentos cientiacuteficos que natildeo estejam de acordo com suas crenccedilas preacutevias Outros aceitaram os conhecimentos tecnocientiacuteficos necessaacuterios a uma ldquomelhorrdquo decisatildeo mas preferiam natildeo os utilizar dando preferecircncia a suas proacuteprias crenccedilas Outros tantos desprezaram o ponto de vista eacutetico de seus colegas quando estes conflitavam com o seu proacuteprio ponto de vista Outros ainda que possuem pontos de vista diferentes sobre NdC tomam decisotildees semelhantes sobre temas tecnocientiacuteficos o que pode sugerir que ldquoos fatores mais influentes foram os valores morais e pessoais assim como os aspectos culturais sociais e poliacuteticos relacionados com as questotildees coloca-dasrdquo

Esse conjunto de dificuldades pode sugerir que seja necessaacuterio dar mais atenccedilatildeo aos aspectos cul-turais sociais morais e emotivos e aos atitudinais e axioloacutegicos como defendem os que apoiam a abordagem CTS para o ensino das ciecircncias que pretende educar para a participaccedilatildeo dos cidadatildeos nos assuntos tecnocientiacuteficos de interesse social Outro aspecto levantado no artigo eacute o fato de que a NdC ensinada no curriacuteculo escolar estaacute baseada na ciecircncia acadecircmica na ciecircncia herdada na ciecircncia triunfalista Antes de atender a esse pressupos-to que natildeo atende aos pressupostos da abordagem CTS seria mais interessante que o curriacuteculo esco-lar se baseasse numa NdC apoiada na ideia por exemplo de tecnociecircncia por estar mais proacutexima da realidade do estudante e da sociedade e por isso ser alvo mais proacuteximo de suas possiacuteveis decisotildees

Ficam para futuras pesquisas as seguintes perguntas

a que tipo de ciecircncia nos referimos quando falamos de NdC qual eacute a NdC que pretendemos transmitir que consensos sobre a NdC podem ser vaacutelidos E sobretudo para que quere-mos ensinar NdC Em particular em relaccedilatildeo a esta uacuteltima questatildeo as propostas de NdC no ensinodas ciecircncias poderiam resultar esteacutereis sem ter em conta as finalidades da educaccedilatildeo cientiacutefica e para que deve ser relevante a ciecircncia escolar

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Dando sequecircncia a discussatildeo bem fundamentada Praia Gil-Perez e Vilches (2007) discutem o ldquopa-pel da natureza da ciecircncia na educaccedilatildeo cientiacutefica e em particular na formaccedilatildeo de uma cidadania para a participaccedilatildeo na tomada de decisotildeesrdquo a partir das reflexotildees de Acevedo et al (2005) Os autores desenvolvem seu trabalho a partir de dois eixos principais Formaccedilatildeo cientiacutefica para uma cidadania que permita participar em discussotildees tecnocientiacuteficas e a importacircncia da natureza da ciecircncia na edu-caccedilatildeo cientiacutefica e em particular na preparaccedilatildeo para a tomada de decisotildees tecnocientiacuteficas de inte-resse social Busquemos como fizemos anteriormente sintetizar as ideias dos autores convidando o leitor agrave leitura original pelos fundamentos que apresenta Aos autores partem do chamado argumento ldquodemocraacuteticordquo defendido especialmente no que propotildee a Declaraccedilatildeo de Budapeste (1999)

Para que um paiacutes esteja em condiccedilotildees de atender agraves necessidades fundamentais da sua po-pulaccedilatildeo o ensino das ciecircncias e da tecnologia eacute um imperativo estrateacutegico [hellip] Hoje mais do que nunca eacute necessaacuterio fomentar e difundir a alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica em todas as culturas e em todos os sectores da sociedade [] a fim de melhorar a participaccedilatildeo dos cidadatildeos na adopccedilatildeo de decisotildees relativas agrave aplicaccedilatildeo de novos conhecimentos

Apoacutes isso apresentam diferentes autores contraacuterios a ideia de alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica que buscam ldquoabalar aparentes evidecircnciasrdquo Para demonstrar a dificuldade de consenso sobre os conteuacutedos que devem ser dominados pelos estudantes a fim de se sentirem preparados para tomar decisotildees em torno de temas tecnocientiacuteficos de impacto social como o aquecimento global ou o uso de defensivos agriacutecolas Exemplificam com o resultado do

Project 2061 financiado pela American Association for the Advancement of Sciences (AAAS) projecto que consistiu em pedir a uma centena de eminentes cientistas de distintas disci-plinas que enumerassem os conhecimentos cientiacuteficos que em sua opiniatildeo deveriam fazer parte da escolaridade obrigatoacuteria para garantir uma adequada alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica das crianccedilas norte-americanas O nuacutemero total de aspectos que seriam exigidos () desafia o nosso entendimento e resulta superior agrave soma de todos os conhecimentos atualmente ensi-nados aos estudantes de elite que se preparam como futuros cientiacuteficos

Frente a essa constataccedilatildeo ndash muito comum aliaacutes nas nossas discussotildees curriculares que satildeo proacutedigas em acrescentar novos conteuacutedos e possuem extrema dificuldade em dizer o que eacute efetivamente im-portante nas mateacuterias da ciecircncia da natureza ndash os autores propotildeem que o conteuacutedo a ser ensinado com vista a alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica possua um miacutenimo de conhecimento especiacutefico com planeja-mentos globais e consideraccedilotildees eacuteticas que natildeo solicitam maiores especializaccedilotildees mas sim ldquoexigem enfoques que contemplem os problemas numa perspectiva mais amplardquo

Em siacutentese a participaccedilatildeo para a cidadania na tomada de decisotildees eacute hoje um fato positi-vo uma garantia de aplicaccedilatildeo do principio da precauccedilatildeo que se apoia em uma crescente sensibilidade social frente agraves implicaccedilotildees do desenvolvimento teacutecnico-cientiacutefico que po-dem comportar riscos para as pessoas ou para o meio ambiente () A referida participaccedilatildeo temos de insistir reclama um miacutenimo de formaccedilatildeo cientiacutefica que torne possiacutevel a com-preensatildeo dos problemas e das opccedilotildees - que se podem e se devem expressar numa lin-guagem acessiacutevel - para natildeo se ver recusada com o argumento de que problemas como a mudanccedila climaacutetica ou a manipulaccedilatildeo geneacutetica satildeo de uma grande complexidade Na-turalmente satildeo necessaacuterios estudos cientiacuteficos rigorosos mas tatildeo pouco eles por si soacutes bastam para adotar decisotildees adequadas dado que por vezes a dificuldade natildeo estaacute na falta de conhecimentos mas na ausecircncia de um planejamento global que avalie os riscos e

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contemple as possiacuteveis consequecircncias a meacutedio e a longo prazo Muito ilustrativo a este respeito pode ser a ecircnfase dada agraves cataacutestrofes anunciadas como a provocada pelo afun-damento do Prestige e outros petroleiros que se querem apresentar como ldquoacidentesrdquo () (Praia Gil e Vilches 2007) (Grifos nossos)

Ao longo do seu trabalho os autores daratildeo ecircnfase as seguintes ideias

bull ldquose os estudantes tecircm de chegar a ser cidadatildeos e cidadatildes responsaacuteveis eacute preciso que lhes proporcionemos ocasiotildees para analisar os problemas globais que caracterizam essa situaccedilatildeo de emergecircncia planetaacuteria e considerar possiacuteveis soluccedilotildees para elesrdquo

bull ldquoA recusa da alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica lembra assim a sistemaacutetica resistecircncia histoacuterica dos privilegiados a um alargamento da cultura e agrave generalizaccedilatildeo da educaccedilatildeo () E a sua reivindicaccedilatildeo faz parte da batalha das forccedilas progressistas para vencer as referidas resistecircncias que constituem o verdadeiro preconceito acriacuteticordquo

bull ldquoMas esta aposta numa educaccedilatildeo cientiacutefica orientada para que as pessoas possam ser intervenientes e participantes activos na sociedade () quer dizer orientada para a formaccedilatildeo de uma cidadania em vez de uma preparaccedilatildeo para futuros cientistas gera resistecircncias em numerosos professores que argumentam legitimamente que a socie-dade necessita de cientistas e tecnoacutelogos que tecircm de formar-se e ser adequadamente seleccionados desde os primeiros tempos () Eacute preciso denunciar com clareza a falaacute-cia desta contraposiccedilatildeo entre ambas as orientaccedilotildees curriculares e os argumentos que supostamente lhe datildeo avalrdquo

bull ldquoEacute comum os curriacuteculos de ciecircncias estarem demasiado centrados nos conteuacutedos con-ceptuais e natildeo processuais tendo como referecircncia a loacutegica interna da proacutepria ciecircncia e assim esquecem a formaccedilatildeo que exige a construccedilatildeo cientiacutefica Tal justifica-se pela complexidade da NdC e pelo facto de que os proacuteprios filoacutesofos e socioacutelogos da ciecircncia terem por vezes muitas divergecircncias sobre os princiacutepios baacutesicos destardquo

bull ldquoO ensino cientiacutefico ndash incluindo o universitaacuterio ndash estaacute reduzido basicamente agrave apre-sentaccedilatildeo de conhecimentos jaacute elaborado sem dar ocasiatildeo aos estudantes de tomarem contacto com as actividades caracteriacutesticas da actividade cientiacutefica () Deste modo as concepccedilotildees dos estudantes ndash incluindo a dos futuros docentes ndash natildeo chegam a di-ferir do que se usa denominar-se uma imagem ldquofolkrdquo ldquonaifrdquo ou ldquopopularrdquo da ciecircncia socialmente aceite associada a um suposto ldquoMeacutetodo Cientiacuteficordquo com maiuacutesculas per-feitamente definidordquo() tecircm impulsionado investigaccedilotildees que assinalam as concepccedilotildees epistemoloacutegicas ldquode senso comumrdquo como um dos principais obstaacuteculos para movimen-tos de renovaccedilatildeo no campo da educaccedilatildeo cientiacuteficardquo (Praia Gil e Vilches 2007)

Os autores informam que a literatura tem demonstrado uma seacuterie de distorccedilotildees cuja superaccedilatildeo pode servir de base a um consenso que oriente a ldquoimersatildeo numa cultura cientiacutefica e tecnoloacutegicardquo desde que se deixe a margem as discrepacircncias e diferenccedila pontuais e se busque os consensos baacutesicos jaacute apontados por diversos epistemoacutelogos Os autores apontam os seguintes consensos

1 ldquoa recusa da proacutepria ideia de ldquoMeacutetodo Cientiacuteficordquo com maiuacutesculas como um conjunto de regras perfeitamente definidas a aplicar mecanicamente e independentes do domiacute-nio investigadordquo

2 ldquoa recusa de um empirismo que concebe os conhecimentos como resultado da inferecircncia indutiva a partir de ldquodados purosrdquo Esses dados natildeo significam nada em si mesmos mas devem ser interpretados de acordo com um sistema teoacutericordquo () ldquoTudo isto deve partir do corpus de conhecimento existente no campo especiacutefico em que se realiza a investigaccedilatildeordquo

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3 ldquoevidenciar o papel do pensamento divergente na investigaccedilatildeo que se concretiza em aspectos fundamentais e erradamente afastados nas abordagens empiristas como satildeo a criaccedilatildeo de hipoacuteteses e de modelos ou o proacuteprio desenho de experiecircncias Natildeo se ra-ciocina pois em termos de certezas mais ou menos baseadas em evidecircncias mas em termos de hipoacuteteses que se apoiam eacute certo nos conhecimentos adquiridos mas que satildeo consideradas como simples tentativas de resposta que deveratildeo ser postas agrave prova o mais rigorosamente possiacutevelrdquo

4 ldquoa busca de coerecircncia global () O fato de se trabalhar em termos de hipoacuteteses introduz exigecircncias suplementares de rigor eacute preciso duvidar sistematicamente dos resultados obtidos e de todo o processo seguido para os obter o que conduz a revisotildees contiacutenuas a tentar obter esses resultados por caminhos diversos e particularmente a mostrar a sua coerecircncia com os resultados obtidos noutras situaccedilotildeesrdquo() Essa exigecircncia de aplicabi-lidade de funcionamento correto para descrever fenocircmenos realizar previsotildees abor-dar e planear novos problemas etc eacute precisamente o que daacute validade (natildeo daacute certeza ou caraacuteter de verdade indiscutiacutevel) aos conceitos leis e teorias que se elaboram

5 ldquocompreender o caraacuteter social do desenvolvimento cientiacutefico evidente natildeo soacute no fato de que o ponto de partida do paradigma teoacuterico vigente eacute a cristalizaccedilatildeo dos contributos de geraccedilotildees de investigadores mas tambeacutem no fato de que a investigaccedilatildeo responde cada vez mais a estruturas institucionalizadas () onde o trabalho dos indiviacuteduos eacute orientado por linhas de investigaccedilatildeo estabelecidas pelo trabalho da equipa a que pertencem natildeo fazendo praticamente sentido a ideia de investigaccedilatildeo completamente autocircnoma Aleacutem disso o trabalho dos homens e mulheres de ciecircncias ndash como qualquer outra atividade humana ndash natildeo acontece agrave margem da sociedade em que vivem e eacute influenciado logica-mente pelos problemas e circunstacircncias do momento histoacuterico da mesma forma que a sua accedilatildeo tem uma clara influecircncia sobre o meio fiacutesico e social em que se insererdquo (Praia Gil e Vilches 2007)

No que refere agrave Importacircncia da superaccedilatildeo das visotildees distorcidas da natureza da ciecircncia na educaccedilatildeo cientiacutefica os autores propotildeem buscar uma metodologia que supere os reducionismos comuns e que alcancem uma aprendizagem significativa e duradoura o que pode ser obtido mais facilmente quan-do o estudante participa da construccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico e pela familiarizaccedilatildeo com estra-teacutegias de ensino Propotildeem uma ldquoa aprendizagem como um trabalho de investigaccedilatildeo e de inovaccedilatildeo por meio do tratamento de situaccedilotildees problemaacuteticas relevantes para a construccedilatildeo de conhecimentos cientiacuteficos e a conquista de inovaccedilotildees tecnoloacutegicas susceptiacuteveis de satisfazer determinadas necessi-dadesrdquo cujos aspectos satildeo enumerados a seguir

bull ldquoA discussatildeo do possiacutevel interesse e da relevacircncia das situaccedilotildees propostas que decirc sentido ao seu estudo e evite que os alunos se vejam submergidos no tratamento de uma situaccedilatildeo sem terem sequer podido formar uma primeira ideia motivadora ou percebido a necessaacuteria tomada de decisotildees por parte da sociedade e da comunidade cientiacutefica acerca da conveniecircncia ou da inconveniecircncia do referido trabalho tendo em conta a sua possiacutevel contribuiccedilatildeo para a compreensatildeo e transformaccedilatildeo do mundo suas repercus-sotildees sociais e do meio ambiente etcrdquo

bull ldquoO estudo qualitativo significativo das situaccedilotildees problemaacuteticas abordadas que aju-de a compreender e a precisar tais situaccedilotildees agrave luz dos conhecimentos disponiacuteveis dos objectivos perseguidoshellip e a formular perguntas operativas sobre o que se procura o que supotildee uma oportunidade para os estudantes comeccedilarem a explicitar funcional-mente as suas lsquoconcepccedilotildees alternativasrsquordquo

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SOBRE AS RELACcedilOtildeES CIEcircNCIA TECNOLOGIA E SOCIEDADE78

bull ldquoA invenccedilatildeo de conceitos e a formulaccedilatildeo de hipoacuteteses fundamentadas nos conhe-cimentos disponiacuteveis capazes de focalizar e de orientar o tratamento das situaccedilotildees enquanto permitem aos estudantes utilizar as suas concepccedilotildees alternativas para fazer previsotildees susceptiacuteveis de ser submetidas agrave provardquo

bull ldquoA definiccedilatildeo e implementaccedilatildeo de estrateacutegias de resoluccedilatildeo incluindo se for caso dis-so o plano e a realizaccedilatildeo de experiecircncias para submeter agrave prova as hipoacuteteses agrave luz do corpo de conhecimentos de que se dispotildee o que exige um trabalho de natureza tecno-loacutegica para a resoluccedilatildeo dos problemas praacuteticos que possam surgir como por exemplo a reduccedilatildeo das margens de erro nas mediccedilotildees Chamamos particularmente a atenccedilatildeo sobre o interesse destes planos e da realizaccedilatildeo de experiecircncias que exigem e ajudem a desenvolver uma multiplicidade de capacidades e de conhecimentos Acaba-se assim com as aprendizagens erradamente designadas de lsquoteoacutericasrsquo (na realidade simplesmen-te livrescas) e contribui-se para mostrar a estreita relaccedilatildeo ciecircncia-tecnologiardquo

bull ldquoA anaacutelise e comunicaccedilatildeo dos resultados comparando-os com os obtidos por outros grupos de estudantes e aproximando-se da evoluccedilatildeo conceptual e metodoloacutegica experi-mentada historicamente pela comunidade cientiacutefica Isso pode converter-se em ocasiatildeo de conflito cognitivo entre distintas concepccedilotildees tomadas todas elas como hipoacuteteses e favorecer a lsquoauto-regulaccedilatildeorsquo dos estudantes obrigando a conceber novas conjecturas ou novas soluccedilotildees teacutecnicas e a replanear a investigaccedilatildeordquo

bull ldquoAs siacutenteses e a possibilidade de outras perspectivas articulaccedilatildeo dos conhecimentos construiacutedos com outros jaacute conhecidos considerando a sua contribuiccedilatildeo para a cons-truccedilatildeo de corpos coerentes de conhecimentos que se vatildeo ampliando e modificando com especial atenccedilatildeo para o estabelecimento de pontes entre distintos domiacutenios cientiacuteficos porque representam pontos altos de desenvolvimento cientiacutefico e por vezes autecircnticas revoluccedilotildees cientiacuteficas construccedilatildeo e aperfeiccediloamento dos produtos tecnoloacutegicos que se procuravam ou que satildeo concebidos como resultado das investigaccedilotildees realizadas o que contribui para acabar com tratamentos excessivamente escolares e reforccedilar entatildeo o interesse pela tarefa apresentaccedilatildeo de novos problemashelliprdquo

bull ldquoDevemos ainda insistir na necessidade de dirigir todo este tratamento para mostrar o caraacuteter de corpo coerente que tem toda a ciecircncia valorizando para isso as ativida-des de siacutentese (esquemas memoacuterias revisotildees mapas conceptuaishellip) e a elaboraccedilatildeo de produtos capazes de acabar com planos excessivamente escolares de reforccedilar o inte-resse pela tarefa e de mostrar a estreita ligaccedilatildeo ciecircncia-tecnologiardquo (Praia Gil e Vilches 2007)

Ao final os autores concluem que

Esta orientaccedilatildeo [que natildeo pretende ser um algoritmo] supotildee querer dizer que devemos pres-tar mais atenccedilatildeo aos aspectos culturais sociais morais e emotivos [hellip] e aos aspectos atitu-dinais e axioloacutegicos do que eacute habitual na educaccedilatildeo cientiacutefica () Tal natildeo deve entender-se como a incorporaccedilatildeo de outros fatores distintos da NdC mas como a superaccedilatildeo de uma distorccedilatildeo da referida NdC que apresenta o trabalho cientiacutefico como uma atividade descon-textualizada alheia a interesses e conflitos (Praia Gil e Vilches 2007)

54 Como se fosse uma conclusatildeo

Em uma sociedade tecno-dependente eacute indispensaacutevel que os cidadatildeos estejam aparelhados para en-tender como se daacute as relaccedilotildees entre Ciecircncia Tecnologia e Sociedade sob o risco de delegarem aos

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SOBRE AS RELACcedilOtildeES CIEcircNCIA TECNOLOGIA E SOCIEDADE79

especialistas natildeo soacute a tarefa de como fazer mas tambeacutem quando fazer onde fazer e pior se se quer fazer alguma coisa no campo da tecnociecircncia

No momento em que falamos de lacunas formadoras do cidadatildeo como participante ativo do proces-so social de construccedilatildeo da ciecircncia e da tecnologia trazemos agrave discussatildeo a inexistecircncia nos textos de Ensino CTS brasileiro do tema apropriaccedilatildeo social da ciecircncia e da tecnologia42 Surpreendeu-nos que esta temaacutetica natildeo estivesse explicitamente contemplada nos artigos constantes da base de dados sobre Ensino CTS apesar de constar das discussotildees da aacuterea de estudos sociais da ciecircncia e da tecno-logia e de poliacuteticas em ciecircncia e tecnologia bem como da aacuterea intitulada de cultura cientiacutefica Esta aacuterea propotildee-se a discutir como escreve Esteacutebanez (2015 p 62) em capiacutetulo de revisatildeo sobre o tema

Nos uacuteltimos trinta anos ampliando a noccedilatildeo de cultura cientiacutefica eacute produzido com a adiccedilatildeo de novas dimensotildees aleacutem da cognitiva relacionadas com a aquisiccedilatildeo de novos valores e padrotildees de avaliaccedilatildeo da atividade de pesquisa dimensotildees afetivas nas atitudes em relaccedilatildeo agrave ciecircncia e tecnologia a percepccedilatildeo de risco Dentro desta nova concepccedilatildeo a ideia de que CCyT inclui as capacidades dos leigos - ou cidadatildeos - para interagir com especialistas - ou cientiacuteficos - mediante a compreensatildeo dos aspectos institucionais da ciecircncia e da tecnologia (quem a produz para que fim com que consequumlecircncias) e predisposiccedilatildeo para o exerciacutecio da cidadania nos debates relacionados com a ciecircncia e tecnologia (Vacarrezza et ai 2004 pp 25-26) Sob essa noccedilatildeo ampliada da cultura a ideia de apropriaccedilatildeo estaacute ligada agrave contextualizaccedilatildeo da ciecircncia e da tecnologia e a variabilidade de aplicaccedilatildeo e significados que adquirem nas condiccedilotildees locais de uso Contextualizar remete a dar significado especiacutefico para o usa em aacutereas especiacuteficas de atuaccedilatildeo social Considera-se a cultura como um fator ativo uma ma-triz de uso da ciecircncia e da tecnologia e componente transformador ou resignificante do conhecimento

A autora (p 67-68) apresenta ainda uma siacutentese que pode nos dar alguma noccedilatildeo quanto a importacircn-cia deste tema para efetivaccedilatildeo daquilo que eacute buscado com a Educaccedilatildeo CTS

Nesta revisatildeo de literatura ajustado com base na apropriaccedilatildeo social da ciecircncia e da tecnolo-gia se propotildee aqui proposto para resumir as seguintes definiccedilotildees e diferenccedilas em torno dos muacuteltiplos significados encontrados- Refere-se a sujeitos colectivos e neste sentido a sociedade como um grupo central Dife-rencia-se do fenocircmeno de apropriaccedilatildeo individual (protagonizado por pessoas particulares) e da apropriaccedilatildeo privado (industrial comercial) - Envolve processos de coproduccedilatildeo de conhecimento por parte de cientistas e cidadatildeos-usuaacuterios e desenvolvimento cooperativo de tecnologias a partir do qual valores e interes-ses puacuteblicos satildeo registrados nos resultados alcanccedilados- O uso competente do conhecimento cientiacutefico e tecnoloacutegico eacute o resultado de processos de apropriaccedilatildeo Neste sentido especiacutefico a dimensatildeo social da apropriaccedilatildeo eacute fortalecer a capa-cidade coletiva de usar tal conhecimento para o bem estar comum- Os processos de apropriaccedilatildeo social ocorrem quando a capacidade de usar conhecimento se integra agrave matriz cultural da sociedade em ligaccedilatildeo sineacutergica e natildeo excludente com outros tipos de conhecimento (tradicional empiacuterica originaacuterios) A participaccedilatildeo cidadatilde intervem positivamente na ampliaccedilatildeo dos processos de apropriaccedilatildeo social da ciecircncia e da tecnologia colocando em accedilatildeo a cultura cientiacutefica e tecnoloacutegica- A apropriaccedilatildeo social eacute a capacidade relativa dos cidadatildeos para o conhecimento dos bene-

42 Haacute um nuacutemero monograacutefico da revista CTS que pode ser obtido em httpwwwrevistactsnetvolumen-4-numero-10

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SOBRE AS RELACcedilOtildeES CIEcircNCIA TECNOLOGIA E SOCIEDADE80

fiacutecios e riscos da ciecircncia e tecnologia e as dimensotildees eacuteticas envolvidas produccedilatildeo e aplicaccedilatildeo do conhecimento a compreensatildeo dos aspectos institucionais da ciecircncia e da tecnologia a decisatildeo sobre a utilizaccedilatildeo de produtos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos controle sobre os espe-cialistas fazer valer os seus interesses e pontos de vista sobre a governanccedila da ciecircncia e tecnologia

Indispensaacutevel que a formaccedilatildeo do cidadatildeo considere estes aspectos e o prepare minimamente por meio da alfabetizaccedilatildeo tecnocientiacutefica para entender e interferir ndash no campo dos conhecimentos da poliacutetica da economia da inovaccedilatildeo dos valores e da eacutetica ndash nas possiacuteveis interaccedilotildees dos sistemas CTS sistema tecnocientiacutefico sistema soacutecio-cientiacutefico e sistema soacutecio-tecnoloacutegico afastando-se quanto possiacutevel dos chamados Determinismo Social Determinismo Tecnoloacutegico e Determinismo Cientiacutefico que buscam avocar para si a prevalecircncia a precedecircncia e a centralidade nos processos de produccedilatildeo de anaacutelises e de decisatildeo

Apesar desta visatildeo que nos parece defensaacutevel percebemos que a comunidade de ciecircncia e tecnologia ainda estaacute longe de construir consensos em torno da participaccedilatildeo cidadatildeo na construccedilatildeo da ciecircncia e da tecnologia e sobre o processo decisoacuterio de temas tecnocientiacuteficos de impacto social Por conta disso eacute indispensaacutevel natildeo atribuir agrave abordagem CTS mais valor do que ela efetivamente possui natildeo a transformar em panaceia natildeo desconsiderar a contribuiccedilatildeo de outras visotildees de ensino de outras aacutereas do conhecimento e das diversas experiecircncias que se desenvolvem em contextos distintos e que ao final poderatildeo chegar ao mesmo fim mas por caminhos diversos o que tambeacutem eacute vaacutelido e necessaacuterio

Atividade Proposta para reflexatildeo

Aplicaccedilatildeo dos modelos de interaccedilatildeo segundo HabermasFourez no contexto das disciplinas

Vocecirc deve refletir sobre a seguinte provocaccedilatildeo

Que matemaacutetica ensinar no Ensino Meacutedio Como os matemaacuteticos identificariam estes conteuacutedos (modelo tecnocraacutetico) Como uma equipe multidisciplinar identificaria os conteuacutedos (ainda o mo-delo tecnocraacutetico) Como seriam as negociaccedilotildees entre matemaacuteticos e pedagogos na busca dos con-teuacutedos (modelo decisionista) Como seria a negociaccedilatildeo entre diferentes atores sociais na decisatildeo dos conteuacutedos (modelo pragmaacutetico-poliacutetico)

Responda em apenas uma lauda nos padrotildees propostos

CTS E O ENSINO81

6 CTS e o ensino

O enfoque CTS inserido nos curriacuteculos eacute um impulsionador inicial para estimular o aluno a refletir sobre as inuacutemeras possibilidades de leitura acerca da triacuteade ciecircncia tecnologia e sociedade com a expectativa de que ele possa vir a assumir postura questionadora e criacutetica num futuro proacuteximo Isso implica dizer que a aplicaccedilatildeo da postura CTS ocorre natildeo somente dentro da escola mas tambeacutem extramuros

Pinheiro Matos e Bazzo2007

61 Introduccedilatildeo

Certamente a Abordagem CTS eacute uma alternativa poderosa para a formaccedilatildeo tecnocientiacutefica sob a oacutetica da formaccedilatildeo do cidadatildeo E isso eacute facilitado visto que a premissa CTS eacute a do acolhimento de posiccedilotildees divergente e o exerciacutecio do entendimento do respeito agraves diferenccedilas da construccedilatildeo de con-senso e da toleracircncia sem perder de vista os deveres direitos a eacutetica a cultura e a visatildeo de curto meacutedio e longo prazos Podemos dizer que os fundamentos CTS estatildeo acentados nas grandes aacutereas da Poliacutetica da Economia dos Valores do Ambiente das Relaccedilotildees pessoais e sociais principalmente

No que se refere ao acolhimento pelos estudantes natildeo se deve esquecer que a Abordagem CTS se propotildee a trabalhar a realidade instrumentalizando os estudantes para que estes interajam com esta realidade modificando-a a partir de suas reflexotildees pessoais eou decisotildees coletivas

No que concerne a sua contribuiccedilatildeo social a Abordagem CTS tambeacutem eacute importante Uma vez que a proposta de fundo eacute a aceitaccedilatildeo da Construccedilatildeo Social da Ciecircncia e da Tecnologia e no estudo do impacto da Ciecircncia e da Tecnologia sobre a Sociedade espera-se que o conhecimento sobre a huma-nizaccedilatildeo da Ciecircncia e da Tecnologia e a relativizaccedilatildeo do bem absoluto da Ciecircncia e da Tecnologia se transformem em aprendizado social e sejam patrimocircnio coletivo a influir no fazer cotidiano de cada cidadatildeo Sob este acircngulo natildeo se espera que a Abordagem CTS seja mais uma teacutecnica didaacutetica mas sim uma cultura a cultura CTS que se manifesta em qualquer teacutecnica de ensino ou manifestaccedilatildeo docente

Esta cultura que deveraacute se manifestar por meio das diversas teacutecnicas deve contemplar de forma am-pla alguns pressupostos que caracterizam e norteiam a accedilatildeo didaacutetica CTS Ao final e ao longo da ativi-dade os estudantes devem vivenciar a Ciecircncia a Tecnologia e a Sociedade mesmo que por diferentes oacuteticas o conhecimento as habilidades e as atitudes (Chrispino 1992) ideias maacutequinas e valores (Cutcliffe 2003) conhecer manejar e participar (Martin Gordillo e Osorio 2003) e numa visatildeo mais ampla de educaccedilatildeo e ensino o saber fazer saber-fazer e saber-ser (UNESCO 1994)

Por tudo isso parece ficar claro que a Abordagem CTS natildeo eacute uma abordagem exclusivamente para as disciplinas do chamado grupo de ciecircncias exatas e da natureza A Abordagem CTS ao solicitar para o mesmo fato social a visatildeo tanto da cultura cientifico-tecnoloacutegica como da cultura soacutecio-humaniacutestica favorece a aproximaccedilatildeo destas separadas por um abismo que natildeo se explica na atualidade

Temos defendido que a Abordagem CTS eacute uma maneira de abordar o curriacuteculo escolar ou mesmo de posicionar-se frente agrave Educaccedilatildeo e ao mundo real nos seus mais diversos aspectos Mais do que uma teacutecnica (pois natildeo eacute uma ferramenta didaacutetica que conduz a um fim de aprendizado especifico para

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CTS E O ENSINO82

encerrarse logo apoacutes) nem uma metodologia (pois que abarca aspectos muito mais amplos que aque-les que caracterizam uma metodologia) CTS eacute uma abordagem curricular e uma escolha de poliacutetica educacional A isso classificamos de Educaccedilatildeo CTS

Partindo-se desta premissa pode-se esperar que a maneira de ver e de fazer educaccedilatildeo por meio do ensino na abordagem CTS se materializaraacute em vaacuterias esferas de accedilatildeo didaacutetica (desde o ensino funda-mental ateacute a educaccedilatildeo de jovens e adultos) nos ambientes de ensino tradicional ou inovador (visto que a abordagem CTS natildeo estaacute restrita aos instrumentos mas estaacute sob a eacutegide do professor e sua proposta de apresentar o mundo por outra oacutetica) em accedilotildees de formaccedilatildeo educacional de longo porte (como cursos de formaccedilatildeo) ou mesmo em atividades pontuais (como estudos pontuais e temaacuteticos) A isso classificamos de Ensino CTS

Longe de ser uma panaceacuteia A abordagem CTS deve ser encarada como uma das maneiras de apre-sentar organizar e multiplicar os conhecimentos independentemente das caracteriacutesticas ou res-triccedilotildees impostas externamente

Robert E Yager (Yager 1991 1992 1993 2000) vem publicando haacute deacutecadas uma anaacutelise que busca diferenciar o que seja ensino tradicional e o ensino CTS diferenccedila essa interessante para nossas re-flexotildees neste ponto do estudo Mais recentemente Yager e Akcay (2008 p 4) retomam o tema e nos apresentam a seguinte comparaccedilatildeo

Ensino Tradicional Ensino CTS

Levantamento dos principais conceitos encontrados em livros-texto padratildeo

Identificaccedilatildeo de problemas com interesse impacto local pes-soal

Utilizaccedilatildeo de laboratoacuterios e atividades sugeridas no livro didaacuteti-co e acompanhamento manual de laboratoacuterio

Aproveitamento dos recursos locais (humanos e materiais) para localizar informaccedilotildees e resolver problemas questotildees

Os alunos passivamente recebem informaccedilotildees fornecidas pelo professor e pelo livro didaacutetico

Os alunos estatildeo ativamente envolvidos na busca de informaccedilotildees para uso

Aprendizagem estaacute contida em uma sala de aula e em uma seacuterie escolar Praacutetica de ensino que natildeo se limita agrave sala de aula

Centra-se na informaccedilatildeo proclamada importante pelo profes-sor para que os alunos mestre Centrado no impacto pessoal e faz uso da criatividade do aluno

Conteuacutedo de Ciecircncias a partir de informaccedilotildees existentes e expli-cadas em livros e palestras do professor

Conteuacutedo de ciecircncia natildeo como algo que existe para o domiacutenio do aluno soacute porque estaacute registrado na imprensalivros

Natildeo considera a visatildeo de carreira Faz referecircncia ocasional a um(a) cientista (em geral mortos) e sua descobertas

Centra-se na visatildeo de carreira especialmente as carreiras re-lacionadas agrave ciecircncia e tecnologia que os alunos podem escolher enfatizando as carreiras em outras aacutereas aleacutem da medicina en-genharia e pesquisa cientiacutefica

Os alunos se concentram em resolver problemas fornecidos pe-los professores e livros didaacuteticos

Os alunos tornam-se cientes de seus papeacuteis de cidadatildeos e como eles podem influir nas questotildeesproblemas que identificam como importantes

Aprendizagem de Ciecircncias ocorre apenas na sala de aula como parte do curriacuteculo escolar

Os alunos percebem o papel da ciecircncia em instituiccedilotildees e em co-munidades especiacuteficas

Aula de Ciecircncias centra-se sobre o que foi anteriormente conhecido Aula de Ciecircncias enfoca como o futuro pode ser

Haacute pouca preocupaccedilatildeo com o uso das informaccedilotildees aleacutem da sala de aula e o desempenho em testes

Os alunos satildeo incentivados a desfrutar e buscar a experiecircncia cientiacutefica

Traduccedilatildeo livre do autor

Faremos aqui uma apresentaccedilatildeo ampla de CTS e suas relaccedilotildees com o ensino Recomendamos para aqueles que desejem uma visatildeo educacional mais especiacutefica das abordagens teoacutericas a leitura de Ca-chapuz et al (2008) e Aikenhead (2005) bem como Santos e Mortimer (2002)

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CTS E O ENSINO83

62 A Abordagem CTS e o ensino

Os mitos e as distorccedilotildees da imagem da Ciecircncia e da Tecnologia como apresentamos (Sarewitz 1996 e Cachapuz et al 2005) explicam de certa forma a dificuldade de se construir o conhecimento cientiacute-fico de forma criacutetica objetivando a melhor formaccedilatildeo do cidadatildeo que se aproprie dos conhecimentos a fim de melhor interagir com o meio social

Buscando alternativas para este tipo de dificuldade dentre outras surgiu um movimento intitulado CTS-Ciecircncia Tecnologia e Sociedade no final da deacutecada de 60 e iniacutecio da deacutecada de 70 Bazzo Lin-singen e Pereira (2003) escrevem

Os estudos CTS definem hoje um campo de trabalho recente e heterogecircneo ainda que bem consolidado de caraacuteter criacutetico a respeito da tradicional imagem essencialista da ciecircncia e da tecnologia e de caraacuteter interdisciplinar por convergirem nele disciplinas como a filosofia e a histoacuteria da ciecircncia e da tecnologia a sociologia do conhecimento cientiacutefico a teoria da educaccedilatildeo e a economia da mudanccedila teacutecnica Os estudos CTS buscam compreender a di-mensatildeo social da ciecircncia e da tecnologia tanto desde o ponto de vista dos seus antecedentes sociais como de suas consequecircncias sociais e ambientais ou seja tanto no que diz respeito aos fatores de natureza social poliacutetica ou econocircmica que modulam a mudanccedila cientiacutefico-tecnoloacutegica como pelo que concerne agraves repercussotildees eacuteticas ambientais ou culturais dessa mudanccedilaO aspecto mais inovador deste novo enfoque se encontra na caracterizaccedilatildeo social dos fato-res responsaacuteveis pela mudanccedila cientiacutefica Propotildee-se em geral entender a ciecircncia-tecnologia natildeo como um processo ou atividade autocircnoma que segue uma loacutegica interna de desenvolvi-mento em seu funcionamento oacutetimo (resultante da aplicaccedilatildeo de um meacutetodo cognitivo e um coacutedigo de conduta) mas sim como um processo ou produto inerentemente social onde os elementos natildeo-epistecircmicos ou teacutecnicos (por exemplo valores morais convicccedilotildees religio-sas interesses profissionais pressotildees econocircmicas etc) desempenham um papel decisivo na gecircnese e na consolidaccedilatildeo das ideias cientiacuteficas e dos artefatos tecnoloacutegicos (p 125)

Para Manassero e Vaacutezquez (2001) jaacute se referindo a didaacutetica proacutepria que solicita a Abordagem CTS escrevem

O movimento didaacutetico ciecircncia-tecnlogia-sociedade (CTS) tem como um de seus objetivos o desenvolvimento das atitudes relacionadas com a ciecircncia nos alunos e propotildee como referecircncia para sua avaliaccedilatildeo o corpo de conhecimentos que emerge das anaacutelises histoacuteri-cas filosoacuteficas e socioloacutegicas sobre a ciecircncia (Aikenhead 1994a 1994b Bybee 1987) No espiacuterito deste movimento estaacute o desejo de oferecer atraveacutes da educaccedilatildeo das atitudes re-lacionadas com a ciecircncia uma visatildeo mais autecircntica da ciecircncia e da tecnologia em seu contexto social desvinculadas de imagens mitificadas e tendenciosas (cientificismo e tecnocracia) ao mesmo tempo que reconhece a tecnologia como atividade diferente in-tegrada e equiparaacutevel com a ciecircncia e natildeo soacute como mera ciecircncia aplicada A equiparaccedilatildeo entre e tecnologia aumenta imediatamente os valores contidos na natureza das atividades cientiacuteficas de modo que a educaccedilatildeo atitudinal ndash moral ou eacutetica ndash eacute uma consequecircncia inevitaacutevel da Educaccedilatildeo CTS (Layton 1994) Como afirma Ziman (1994) a debilidade da ciecircncia tradicional natildeo reside no que ensina sobre a natureza mas sim no que natildeo ensina em particular suas relaccedilotildees com a tecnologia e a sociedade vazio que pretende preencher a Educaccedilatildeo CTS (p 16)

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CTS E O ENSINO84

A Associaccedilatildeo Nacional dos Professores de Ciecircncias nos Estados Unidos tem endossado uma extensa definiccedilatildeo para o movimento CTS

CTS eacute um termo que denomina os uacuteltimos esforccedilos para se promover um contexto de mun-do real para o estudo da ciecircncia Eacute um termo que eleva a retoacuterica da Ciecircncia da educaccedilatildeo para uma posiccedilatildeo que vai aleacutem de conteuacutedos e debates sobre o escopo e a sequencia dos conceitos baacutesicos e habilidades processuais CTS inclui toda a gama de criacuteticas conexas no processo de educaccedilatildeo incluindo objetivos conteuacutedos estrateacutegias instrucionais avaliaccedilatildeo e a preparaccedilatildeoperformance do professor Ningueacutem pode fazer CTS apenas aderindo cer-tos toacutepicos e liccedilotildees ao conteuacutedo ou cursos ou livros texto Os alunos tecircm que estar envol-vidos com o objetivo com os procedimentos planejados com as informaccedilotildees alocadas e com a avaliaccedilatildeo de tudo O baacutesico para os esforccedilos em CTS eacute a formaccedilatildeo de uma cidadania instruiacuteda capaz de tomar decisotildees cruciais sobre problemas correntes e ter atitudes pessoa-is como resultado dessas decisotildees CTS significa enfocar debates correntes e tentativas de sua soluccedilatildeo como a melhor maneira de se preparar as pessoas para exercerem a cidadania no futuro Isto significa identificar problemas (locais regionais nacionais e internacionais) com os alunos planejando atividades indivi-duais ou em grupo e movendo accedilotildees designa-das a resolver o que foi debatido Os alunos satildeo envolvidos na totalidade do processo eles natildeo satildeo receptaacuteculos de qualquer conteuacutedo preacute-determinado ou dos ditames do professor Natildeo haacute um conceito ou processo uacutenico para o CTS no lugar disso o CTS provecirc um ambiente e uma razatildeo para considerar os conceitos e processos da ciecircncia e da tecnologia Isto signi-fica determinar maneiras de como essas ideias e habilidades baacutesicas podem ser vistas como uacuteteis CTS significa um enfoque dos problemas do mundo real em vez de se comeccedilar com conceitos e procedimentos que os professores e conteuacutedos desenvolvidos sustentam em termos de utilidades para os alunos (Yager 1991 p 21)

Para Acevedo Diaz (2009) CTS eacute ao mesmo tempo

(1) um campo de estudo e investigaccedilatildeo busca compreender melhor a ciecircncia e a tecnologia em seu contexto social Aborda as relaccedilotildees muacutetuas entre o desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico e os processos sociais (2) Uma proposta educativa inovadora de caraacuteter geral como proposta educativa constitui um novo planejamento curricular em todos os niacuteveis de ensino com a principal finalidade de dar uma formaccedilatildeo em conhecimento e valores que favoreccedilam a participaccedilatildeo cidadatilde res-ponsaacutevel e democraacutetica na avaliaccedilatildeo e no controle das implicaccedilotildees sociais da ciecircncia e da tecnologia

Auler (2007) estudando os pressupostos CTS para o contexto brasileiro escreve que os objetivos da educaccedilatildeo CTS podem ser sintetizados em

bull Promover o interesse dos estudantes em relacionar a ciecircncia com aspectos tecnoloacutegicos e sociais discutir as implicaccedilotildees sociais e eacuteticas relacionadas ao uso da ciecircncia-tecno-logia (CT)

bull Adquirir uma compreensatildeo da natureza da ciecircncia e do trabalho cientiacutefico bull Formar cidadatildeos cientiacutefica e tecnologicamente alfabetizados capazes de tomar decisotildees

informadas e desenvolver o pensamento criacutetico e a independecircncia intelectual

Segundo Membiela (2001 p 91) o propoacutesito da educaccedilatildeo CTS eacute promover a Alfabetizaccedilatildeo tecno-cientiacutefica de maneira que se capacite os cidadatildeos a participar do processo democraacutetico de tomada de decisatildeo e se promova a accedilatildeo cidadatilde voltada para a resoluccedilatildeo de problemas relacionados com a

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CTS E O ENSINO85

Ciecircncia e com a Tecnologia O mesmo autor chama a atenccedilatildeo para fato de ser este um dos conceitos possiacuteveis de CTS visto que haacute ldquomuito debate e pouco consenso entre a comunidade CTSrdquo certamen-te porque o espaccedilo CTS eacute por conceito um espaccedilo interdisciplinar onde se encontram aacutereas que possuem conceitos polissecircmicos tal qual ciecircncia tecnologia sociedade valores ambiente etc Essa aparente dificuldade pode ser encarada como confirmaccedilatildeo do postulado de que haacute espaccedilo e neces-sidade de divergir de perceber diferente de interpretar sob outra oacutetica e mesmo assim caminhar e conquistar espaccedilos

Para Yager (2013 p X) ldquoCTS eacute o ensino e a aprendizagem de ciecircncia-tecnologia no contexto da ex-periecircncia humanardquo

Uma definiccedilatildeo que muito nos impressiona pela clareza eacute a de Cutcliffe (2003 p 18) quando escreve que

a missatildeo central do campo CTS ateacute a presente data eacute expressar a interpretaccedilatildeo da ciecircncia e da tecnologia como um processo social Neste ponto de vista a ciecircncia e a tecnologia satildeo vistos como projetos complexos em que os valores culturais poliacuteticos e econocircmicos nos ajudam a configurar os processos tecnocientiacuteficos os quais por sua vez afetam os valores mesmos e a sociedade que os sutenta

Portanto cada realidade social (caracterizada pela diversidade cultural poliacutetica de crenccedilas valores etc) produziraacute um conjunto de significados acarretando distintos entendimentos sobre o que seja ou o que possa ser CTS Sobre isso Ainkenhead escreveu

[] cada paiacutes tem sua proacutepria histoacuteria associada principalmente agrave sua realidade social fa-zendo com que as relaccedilotildees entre a ciecircncia e a sociedade assumam diferentes caracteriacutesticas Em virtude disso muitas vezes pode natildeo haver um acordo no significado preciso de CTS ou uma definiccedilatildeo uacutenica que seja um consenso em todas as partes do mundo (Aikenhead 2005 p 119)

e

Um projeto particularmente CTS desenvolvidos em um paiacutes pode definir o que eacute ciecircncia CTS para educadores desse grupo ou paiacutes A criacutetica sobre CTS nesse paiacutes podem na realida-de resultar ser a criacutetica de um tipo particular de projeto CTS mesmo que outros educadores CTS possam achar inadequado tambeacutem rdquo (Aikenhead 2005 p 119)

Para Pedretti e Nazir (2011) ldquoo CTS educacional pode ser compreendido como um vasto oceano de ideias e princiacutepios que se cruzam e se sobrepotildee em diversos contextosrdquo (p 603)

Como afirma Solomon (1993)

bull As caracteriacutesticas especiais do CTS no acircmbito do ensino de ciecircncia incluem bull Uma compreensatildeo das ameaccedilas ambientais incluindo as globais agrave qualidade de vida bull Os aspectos econocircmicos e industriais da tecnologia bull Alguma compreensatildeo da natureza faliacutevel da ciecircnciabull Discussatildeo de opiniatildeo e valores pessoais bem como a accedilatildeo democraacutetica bull Uma dimensatildeo multi-cultural (SOLOMON 1993 p 19)

Recentemente frente agraves dificuldades causadas pelas consequecircncias do uso de tecnologias mais es-pecialmente no meio ambiente tais como efeito estufa acidentes petroliacuteferos buraco na camada de

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ozocircnio etc o Movimento CTS ganhou novos adeptos Era necessaacuterio que a sociedade percebesse os riscos que podem trazer o uso natildeo responsaacutevel de conhecimentos e tecnologias para o individuo para a coletividade e para o ambiente Surge entatildeo um movimento derivado intitulado CTS+A ou CTSA Ciecircncia Tecnologia Sociedade e Ambiente que na verdade resgata a origem do Movimento CTS produzido por conta da preocupaccedilatildeo dos impactos tecnoloacutegicos sobre o meio ambiente na deacutecada de 60 Pode-se ainda apontar outras tendecircncias ou focos como o CTS+I (de Inovaccedilatildeo) CTS+V (de Valores) e CTS+P (de Poliacutetica) que satildeo realccedilados para o grande puacuteblico como identificador da ver-tente de estudo a que se dirige o trabalho mas que estatildeo contidos ndash tanto ambiente como inovaccedilatildeo como valores como poliacutetica ndash nas fundaccedilotildees mesmas dos Enfoques CTS Mais recentemente eacute pos-siacutevel encontrar CTS+S (de sustentabilidade) proposto por Costa Ribeiro e Machado (2012) quando defendem que ldquoa postura CTSCTSA deve adquirir explicitamente esta componente e evoluir para Ciecircncia-Tecnologia-Sociedade-Sustentabilidade o que pede uma sigla alternativa mais adequada CTSS ou em estilo de foacutermula quiacutemica CTS2rdquo ndash e tambeacutem Costa (2011) ndash e a proposta Figaredo Cu-riel (2013) que acredita ser mais adequado aos tempos modernos o acrocircnimo SOCITEI (do original em espanhol So sociedad Ci conocimiento y ciencia Te tecnologiacutea In innovacioacuten) A nosso ver algumas desses acreacutescimos representam uma aacuterea fundadora de CTS e por isso uma redundacircncia Outras querem representar uma aacuterea de interesse que ganha visibilidade quando se agrupa a triacuteade CTS o que natildeo se justifica Por outro lado eacute possiacutevel vislumbrar a vantagem de que o acreacutescimo agrave sigla original indica a aacuterea ou tema tratado no trabalho ou pesquisa

Essa preocupaccedilatildeo crescente pela qualidade de vida e pelo futuro ameaccedilados por acontecimentos tecnocientiacuteficos e pela falta de condiccedilotildees de reaccedilatildeo da Sociedade por desconhecimento deve chamar a atenccedilatildeo de professores e gestores para a funccedilatildeo social do ensino e da educaccedilatildeo Afinal a escola tem a funccedilatildeo de perpetuar os valores da sociedade em que estaacute inserida e a de conscientizar o estudante para contribuir de forma mais veemente com a melhoria dessa mesma sociedade A partir disso espera-se que dentro do possiacutevel ele possa utilizar o conhecimento cientiacutefico contextualizado a fim de melhor entender o mundo que o cerca vindo a decidir com mais acerto Isso pediraacute atenccedilatildeo maior agrave interdisciplinariade agrave contextualizaccedilatildeo do conhecimento agrave cotidianizaccedilatildeo do fato tecnocientiacutefico a problematizaccedilatildeo do aprendizado (Chrispino 1992) e a transversalidade dos temas

Neste bloco de aspectos necessaacuterios a Abordagem CTS cabe um esclarecimento quanto ao que se pode entender por contextualizaccedilatildeo e por cotidianizaccedilatildeo que em geral satildeo tratados como sinocircni-mos Para noacutes a cotidianizaccedilatildeo esta ligada ao fazer pontual do estudantecidadatildeo enquanto a con-textualizaccedilatildeo estaacute vinculada a capacidade de relaccedilatildeo com os demais aspectos da sociedade (poliacuteticos filosoacuteficos socioloacutegicos econocircmicos etc) e se constroacutei por meio de vaacuterios conceitos Para noacutes a coti-dianizaccedilatildeo eacute disciplinar e a contextualizaccedilatildeo eacute obrigatoriamente interdisciplinar ou transdisciplinar Nesta visatildeo contextocontextualizaccedilatildeo eacute mais amplo que o fatocotidianizaccedilatildeo mas a praacutetica pode restringir as possibilidades do contextocontextualizaccedilatildeo como alertam Young e Muller (2016 p 529) ldquoo conhecimento emerge dos ndash mas natildeo eacute redutiacutevel aos ndash contextos nos quais ele eacute produzido e adquiridordquo (negritos no original) Anaacutelises das diferentes concepccedilotildees de contextualizaccedilatildeo podem ser obtidas em Martins (2015) e Kato e Kawasaki (2011)

Por conta desta necessidade imperiosa de exercitar as muacuteltiplas visotildees sobre o mesmo fato buscando superar a visatildeo uacutenica produzida pelos mitos pelas posturas ingecircnuas pela ideologia pela tradiccedilatildeo pelo preconceito pela limitaccedilatildeo de conhecimento pela perda de objetivo da escola etc temos bus-cado alternativas didaacuteticas que busquem exercitar as muacuteltiplas visotildees sobre um mesmo fenocircmeno educacional ou social Para executar tal proposta defende-se o modelo da Abordagem CTS (Chris-pino 2005a 2005b)

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Para atender a necessidade de todos os atores envolvidos no fato tecnocientiacutefico relevante ndash as pes-quisas com ceacutelulas-tronco embrionaacuterias a transposiccedilatildeo do Rio Satildeo Francisco a instalaccedilatildeo de usinas hidreleacutetricas no Rio Madeira e outros rios a expansatildeo da agropecuaacuteria no espaccedilo de preservaccedilatildeo am-biental a utilizaccedilatildeo de vacinas experimentais em seres humanos a instalaccedilatildeo de antenas de telefonia celular em ambientes urbanos a produccedilatildeo de alimentos transgecircnicos etc ndash eacute necessaacuterio vislumbrar uma teacutecnica que reuacutena as divergecircncias de opiniatildeo e de anaacutelise que desenvolva condiccedilotildees de troca de experiecircncia e de percepccedilatildeo que aproxime o grau de conhecimento formal (e tambeacutem de conhe-cimentos preacutevios natildeo-formais) e ofereccedila condiccedilotildees para que o debate ocorra a fim de esclarecer as consciecircncia e orientar melhores decisotildees

Os teoacutericos da Abordagem CTS informam que as experiecircncias didaacuteticas jaacute realizadas ndash aqui mais especificamente no ensino meacutedio ndash se fundamentam na chamada investigaccedilatildeo-accedilatildeo e podem ser ge-nericamente classificadas em trecircs grandes grupos (Walks 1990 Sanmartim 1992 Gonzaacutelez Garciacutea Loacutepez Cerezo e Lujaacuten Lopez 1996 Bazzo Linsingen e Pereira 2003 Pinheiro Matos e Bazzo 2007)

1 Os enxertos CTS 2 Ciecircncia e Tecnologia por meio CTS e 3 CTS puro

Buch (2003) prefere resgatar a classificaccedilatildeo de Lopez Cerezo (1998 2002 e 2009) que propotildee classi-ficar a introduccedilatildeo de conteuacutedos CTS em

1 CTS como conteuacutedo de outras mateacuterias (ou enxerto CTS)2 Ciecircncia e Tecnologia por meio CTS e 3 CTS como disciplina (como complemento curricular)

Silva (1999) e Miembiela (2001) evocam a classificaccedilatildeo proposta por Hickman Patrick e Bybee (1987) assinalam maneiras de introduzir o tema nos curriacuteculos satildeo elas

1 A inclusatildeo de moacutedulos com enfoque CTS nas mateacuterias tradicionais2 A infusatildeo do enfoque CTS em mateacuterias jaacute existentes atraveacutes de repetidas inclusotildees

pontuais ao longo do curriacuteculo3 A criaccedilatildeo de uma mateacuteria CTS4 A transformaccedilatildeo completa do enfoque de um tema jaacute existente mediante seu desenvol-

vimento na perspectiva CTS

Apesar de apresentarmos 3 conjuntos de classificaccedilotildees eacute possiacutevel perceber que ao fundo elas se aproximam e propotildeem rotinas semelhantes Haacute (1) a criaccedilatildeo de uma disciplina CTS ou CTS Puro (2) o enxerto CTSCTS como complemento de disciplinas e (3) a Ciecircncia e Tecnologia por meio de CTS

Dois autores apresentam detalhes importantes dessas abordagens Bazzo Linsingen e Pereira (2003 p 119-155) e Loacutepez Cerezo (1998 e 2002 p 3-39) a partir dos quais construiremos este item

621 Enxerto CTS

Trata-se de introduzir nas disciplinas jaacute existentes nos curriacuteculos os chamados temas CTS especial-mente relacionados com acontecimentos tecnocientificos que permitam reflexatildeo e motivaccedilatildeo para o estudo e debate O tipo de material para estrateacutegia de ensino satildeo unidades curtas de temas CTS para alunos e para professores Exemplos dessa modalidade de ensino CTS eacute o projeto SATIS (Ciecircncia e Tecnologia na Sociedade) que consiste em 370 unidades curtas CTS desenvolvidas por professo-

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res de ciecircncias do Reino Unido com o objetivo principal de complementar os cursos de ciecircncias de crianccedilas e jovens (grupos de idade 8-14 14-16 e 16-19 anos) Alguns tiacutetulos satildeo

bull O que haacute em nossos alimentos Uma olhada em suas etiquetasbull Beber aacutelcoolbull O uso da radioatividadebull Os bebecircs de provetabull Oacuteculos e lentes de contatobull Produtos Quiacutemicos derivados do sal bull A reciclagem do alumiacutenio bull A etiqueta ao avesso uma olhada nas fibras tecircxteisbull A chuva aacutecida bull A AIDSbull 220 volts podem matar

A vantagem do enxerto CTS eacute a vantagem de se manter a estrutura curricular a que o professor estaacute acostumado e seguro e incluir a Abordagem CTS

Loacutepez Cerezo (2009) assinala as vantagens desta abordagem e lembra que ela favorece as discussotildees pela oacutetica da tradiccedilatildeo americana mais voltada para as consequecircncias da teacutecnica e menos da tradiccedilatildeo europeacuteia que solicita uma formaccedilatildeo mais especializada

622 Ciecircncia e Tecnologia atraveacutes de CTS

Ensina-se mediante a estruturaccedilatildeo dos conteuacutedos das disciplinas a partir de CTS ou com orientaccedilatildeo CTS Essa abordagem permite estruturaccedilatildeo de atividades por disciplinas isoladas como tambeacutem por atividades interdisciplinares Loacutepez Cerezo (2009) escreve que esta eacute ldquoa mais infrequumlente opccedilatildeo e consiste em reconstruir os conteuacutedos de ensino de ciecircncia e da tecnologia atraveacutes de uma oacutetica CTSrdquo (p 27)

Discordamos daqueles autores que descrevem estes modelos e defendem a ideia de que essas ativi-dades se destinam a professores de ciecircncias as disciplinas chamadas exatas ou para a aacuterea do ensino de ciecircncias que certamente jaacute absorveu a Abordagem CTS como bem nos apresenta o estudo de Cachapuz et al (2008) Haacute temas que podem ser tratados por disciplinas da chamada aacuterea socialhumana Por exemplo a instalaccedilatildeo de Shopping Center na regiatildeo da escola ou furtos de energia (ldquoga-tosrdquo) etc Podem ter apelos ou facilidades para uma ou outra disciplina mas a abordagem CTS prima pela interdisciplinaridade quiccedilaacute a transdisciplinaridade

Como exemplo temos os programas PLON (Projeto de Desenvolvimento Curricular em Fiacutesica) e APQUA (Aprendizagem de Produtos Quiacutemicos seus usos e aplicaccedilotildees) O PLON eacute um conjunto de unidades onde em cada uma delas tomam-se problemas baacutesicos com relevacircncia social e relaciona-dos com os futuros papeacuteis dos estudantes (como consumidor como cidadatildeo como profissional) a partir daiacute seleciona-se e estrutura-se o conhecimento cientiacutefico e tecnoloacutegico necessaacuterio para que o estudante esteja capacitado para entender um artefato tomar uma decisatildeo ou entender um ponto de vista sobre um problema social relacionado de algum modo com a ciecircncia e com a tecnologia Alguns exemplos de temas do PLON para alunos de 13-17 anos satildeo

bull Gelo aacutegua e vaporbull Pontes

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bull Aacutegua para a Tanzacircniabull A energia em nossos laresbull Tracircnsito e seguranccedila bull Esquentando e isolandobull Maacutequinas e energiabull Armas nucleares e seguranccedilabull Radiaccedilotildees ionizantes

Outro projeto eacute o APQUA que procura proporcionar conteuacutedos e habilidades na resoluccedilatildeo de pro-blemas e na anaacutelise criacutetica de situaccedilotildees tecnocientiacuteficas Um exemplo de unidade APQUA eacute ldquoO Risco e a gestatildeo de produtos quiacutemicosrdquo que se desdobra nos moacutedulos ldquoRisco o jogo da vidardquo ldquoToxicologia determinaccedilatildeo de valores-limitesrdquo e ldquoTratamento de resiacuteduos industriaisrdquo (ver tambeacutem Merceacute e Au-leacutes 2001)

623 CTS puro

Para Pinheiro Matos e Bazzo (2007) no CTS Puro ldquoensina-se ciecircncia tecnologia e sociedade por intermeacutedio do CTS no qual o conteuacutedo cientiacutefico tem papel subordinadordquo

Para Gonzaacutelez Garciacutea Loacutepez Cerezo e Lujaacuten Lopez (1996) e Bazzo Linsingen e Pereira (2003) nesta categoria o conteuacutedo cientiacutefico passa a ter um papel subordinado Em alguns casos o conteuacutedo cien-tiacutefico eacute incluiacutedo para enriquecer a explicaccedilatildeo dos conteuacutedos CTS em sentido estrito em outros as re-ferecircncias aos temas cientiacuteficos ou tecnoloacutegicos satildeo apenas mencionadas poreacutem natildeo satildeo explicadas

Em outras palavras cremos que a categoria de CTS puro busca reestruturar o ensino dos conteuacutedos das mateacuterias cientiacuteficas sob uma sequumlecircncia e estrutura organizada parasobre a exposiccedilatildeo e discus-satildeo de problemas sociais relacionados com a ciecircncia e a tecnologia sendo que a ecircnfase estaacute no fato social e a explicaccedilatildeo pelo conhecimento cientiacutefico-tecnoloacutegico tambeacutem Esta categoria busca ser uma alternativa a situaccedilatildeo habitual onde encontramos menccedilatildeo de problemas sociais vinculados a ciecircncia onde o fio condutor eacute uma sequenciaccedilatildeo e estruturaccedilatildeo de conteuacutedos baseados na loacutegica interna das disciplinas cientiacuteficas

Segundo Acevedo Romero e Acevedo Diaz aqui seraacute possiacutevel

bull A inclusatildeo de conteuacutedos tecnocientiacuteficos que se integram nas explicaccedilotildees sociais filo-soacuteficas etc

bull A inserccedilatildeo de conteuacutedos de tecnocientiacuteficos como exemplos de estudos sociais filosoacute-ficos etc

bull Conteuacutedos totalmente CTS baseados em explicaccedilotildees sociais filosoacuteficas etc

Como exemplo de projetos CTS puro temos SISCON in the Schools (Science in a Social Context) IST (Innovations The social consequence of Science and Technology) S in S (Science in Society)

Grande parte dos autores indica o SISCON na escola como o programa que melhor representa o CTS puro

Trata-se de uma adaptaccedilatildeo para a educaccedilatildeo secundaacuteria do programa universitaacuterio britacircnico SISCON (ciecircncia no contexto social) Na educaccedilatildeo secundaacuteria SISCON eacute um projeto que usa a histoacuteria da ciecircncia e da sociologia da ciecircncia e tambeacutem da tecnologia para mostrar

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como foram abordadas no passado questotildees sociais vinculadas agrave ciecircncia e agrave tecnologia ou como se chegou a uma certa situaccedilatildeo problemaacutetica no presente CTS puro pode cumprir certas funccedilotildees Se natildeo se conta no curriacuteculo com outros elementos CTS tal versatildeo pode ser uacutetil para tentar remediar esta situaccedilatildeo na medida do possiacutevel Po-reacutem sobretudo pode ser de grande ajuda nos cursos e disciplinas de humanidades e ciecircn-cias sociais que em geral natildeo tecircm intenccedilatildeo de ocupar-se das questotildees sociais poliacuteticas ou morais relacionadas com a ciecircncia e a tecnologia (Gonzaacutelez Garciacutea Loacutepez Cerezo e Lujaacuten 1996 apud Bazzo Linsingen e Pereira 2003)

Haacute tambeacutem a classificaccedilatildeo proposta por Santos e Mortimer (2002) a partir de Aikenhead (1994) que agrupa os trabalhos CTS em sala de aula em algumas categorias

Categorias Descriccedilatildeo Exemplos

1-Conteuacutedo de CTS como elemento de mo-tivaccedilatildeo

Ensino tradicional de ciecircncias acrescido da menccedilatildeo ao conteuacutedo de CTS com a funccedilatildeo de tornar as aulas mais interessantes

O que muitos professores fazem para ldquodourar a piacutelulardquo de cursos puramente conceituais

2-Incorporaccedilatildeo even-tual do conteuacutedo de CTS ao conteuacutedo pro-gramaacutetico

Ensino tradicional de ciecircncias acrescido de peque-nos estudos de conteuacutedo de CTS incorporados como apecircndices aos toacutepicos de ciecircncia O conteuacutedo de CTS natildeo eacute resultado do uso de temas unificadores

Science and Technology in Society (SATIS UK) Consumer Science (EUA) Values in School Scien-ce (EUA)

3-Incorporaccedilatildeo siste-maacutetica do conteuacutedo de CTS ao conteuacutedo pro-gramaacutetico

Ensino tradicional de ciecircncias acrescido de uma seacute-rie de pequenos estudos de conteuacutedo de CTS inte-grados aos toacutepicos de ciecircncias com a funccedilatildeo de ex-plorar sistematicamente o conteuacutedo de CTS Esses conteuacutedos formam temas unificadores

Havard project Physics (EUA) Sci-ence and So-cial Issues (EUA) Nelson Chemistry (Canadaacute) In-terative Teaching Units for Chemistry (UK) Scien-ce Technology and Society Block J (EUA) Three SATIS 16-19 modules (What is Science What is Technology How Does Society decide ndash (UK)

4-Disciplina cientiacutefica (Quiacutemica Fiacutesica e Bio-logia) por meio de con-teuacutedo de CTS

Os temas de CTS satildeo utilizados para organizar o conteuacutedo de ciecircncia e a sua sequumlecircncia mas a se-leccedilatildeo do conteuacutedo cientiacutefico ainda eacute feita a partir de uma disciplina A lista dos toacutepicos cientiacuteficos puros eacute muito semelhante agravequela da categoria 3 embora a sequumlecircncia possa ser bem diferente

ChemCon (EUA) os moacutedulos holandeses de fiacute-sica como Light Sources and Ionizing Radiation (Holanda PLON) Science and Society Teaching units (Canadaacute) Chemical Education for Public Un-derstanding (EUA) Science Teacherrsquos Association of victoira Physics Series (Austraacutelia)

5- Ciecircncias por meio de conteuacutedos de CTS

CTS organiza o conteuacutedo e sua sequumlecircncia O conteuacute-do de ciecircncias eacute multidis-ciplinar sendo ditado pelo conteuacutedo de CTS A lista de toacutepicos cientiacuteficos puros assemelha-se agrave listagem de toacutepicos importantes a partir de uma variedade de cursos de ensino tradi-cional de ciecircncias

Logical Reasoning in Science and Technology (Ca-nadaacute) Modular STS (EUA) Global Science (EUA) Dutch Environmental project (Holanda) Salters Science Project (UK)

6-Ciecircncias com conteuacute-dos de CTS

O conteuacutedo de CTS eacute foco do ensino O conteuacutedo re-levante de ciecircncias enriquece a aprendizagem

Exploring the Nature of Science (Ing) Society Environment and Energy Development Studies (SEEDS) modules (EUA) Science and Technolo-gy 11 (Canadaacute)

A partir da mesma fonte ndash Glen Aikenhead ndash podemos extrair outra categorizaccedilatildeo didaacutetica mais detalhada para a ciecircncia escolar onde o autor mostra os diversos graus de interaccedilatildeo da Ciecircncia e a Tecnologia em um contexto de assuntos sociais (2009 apud Vieira Tenreiro-Vieira e Martins 2011 p 19) O autor propotildee 8 categorias CTS para a ciecircncia escolar

Categorias Descriccedilatildeo

1 CTS como motivaccedilatildeo O conteuacutedo CTS eacute apenas mencionado pontualmente pelo professor para tornar uma aula mais interes-sante para os alunos

2 Integraccedilatildeo pontual de conteuacutedo CTS

O conteuacutedo CTS natildeo eacute escolhido para abordar temas unificadores sobre questotildees sociais internas e externas agrave Ciecircncia Ao inveacutes os conteuacutedos CTS satildeo acrescentados ou infundidos em toacutepicos do curriacuteculo de Ciecircncias existentes

3 Integraccedilatildeo sistemaacuteti-ca de conteuacutedo CTS

Uma seacuterie de cursos ou pequenos estudos de conteuacutedo CTS satildeo integrados nos toacutepicos de Ciecircncias num curso tradicional de Ciecircncias para sistematicamente explorar conteuacutedos CTS focando temas unificado-res

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4 Disciplina cientiacutefica atraveacutes de conteuacutedo CTS

O conteuacutedo de Ciecircncias e a sua sequecircncia satildeo escolhidos e organizados amplamente pelo conteuacutedo CTS Haveraacute uma biologia CTS uma Quiacutemica CTS uma fiacutesica CTS

5 Ciecircncia atraveacutes de conteuacutedo CTS

O conteuacutedo CTS serve como organizador para o conteuacutedo de Ciecircncias e sua sequecircncia O curso Logical Reasoning in Science and Technology [LoRST] exemplifica inclusatildeo da conteuacutedo de Ciecircncia e de Tecnolo-gia que normalmente natildeo se encontra nos cursos tradicionais de Ciecircncia mas que eacute relevante para um acontecimento ou questatildeo do dia a dia

6 Ciecircncia como con-teuacutedo CTS

O conteuacutedo CTS eacute o foco da instruccedilatildeo Os conteuacutedos relevantes de Ciecircncias enriquecem esta aprendi-zagem

7 Infusatildeo da Ciecircncia no conteuacutedo CTS

O conteuacutedo CTS eacute o grande foco da instruccedilatildeo O conteuacutedo relevante de Ciecircncias eacute mencionado mas natildeo sistematicamente ensinado A ecircnfase pode ser dada a princiacutepios cientiacuteficos amplos

8 Conteuacutedo CTS Uma questatildeo central de Ciecircncia ou Tecnologia eacute estudada

Para o autor a categoria 1 representa a mais baixa prioridade de conteuacutedo CTS e a categoria 8 re-presenta a mais alta prioridade em conteuacutedo CTS Sendo que uma grande diferenccedila pode ser notada entre as categorias 3 e 4 Na categoria 3 a estrutura de conteuacutedo estaacute definida por uma disciplina que se utiliza de motivaccedilotildees CTS Na categoria 4 eacute definida pelo proacuteprio assunto tecnocientiacutefico com impacto social A ciecircncia com visatildeo interdisciplinar eacute percebida na categoria 5 Escreve o autor que mais do que discutir as categorias devemos ver essa categoria como orientaccedilatildeo para aquilo que eacute mais importante projetos que atendam agraves necessidades dos alunos e as caracteriacutesticas de cada categoria

Esses modelos podem ser encontrados em diversos trabalhos CTS publicados no Brasil tais como os estudos de Bazzo (1998) Bazzo e Colombo (2001) Bazzo e Cury (2001) Silva Correa de Souza (2001) Auler (2002) Santos e Schnetzler (2003) Koepsel (2003) Pinheiro e Bazzo (2004) Pinheiro (2005) aleacutem de vaacuterios outros trabalhos apresentados em eventos cientiacuteficos em geral na modalidade enxerto CTS (Pinheiro Matos e Bazzo 2007) A estes podemos agregar ainda trabalhos mais recen-tes de Chrispino (2005a) Alves (2005) Carvalho et al (2006) e Faria e Carvalho (2007)

Leia mais sobre os diversos tipos de projetos CTS

Acevedo Romero Pilar e Acevedo Diacuteaz Joseacute A Proyectos y materiales curriculares para la educacioacuten CTS enfoques estructuras contenidos y ejemplos httpwwwoeiessalactsiacevedo19htm

63 CTS como disciplina

No acircmbito do ensino meacutedio43 eacute possiacutevel incluir neste item a chamada disciplina CTS que seria um componente curricular especialmente voltado para a alfabetizaccedilatildeo tecnocientiacutefica do estudante e do cidadatildeo nos moldes que temos apresentado Vamos buscar exemplificar como uma disciplina pode ser estruturada

O primeiro exemplo eacute a implantaccedilatildeo da disciplina CTS na Espanha A disciplina CTS segundo Loacutepez Cerezo (1998 e 2002) foi implantada recentemente na Espanha com caraacuteter optativo em todos os cursos de bachilleratos (16-18 anos) e como complemento transversal para as disciplinas de ciecircncias (14-16 anos) A disciplina CTS pode ser dividida em 5 blocos

1 Ciecircncia teacutecnica e tecnologia perspectivas histoacutericas2 O sistema tecnoloacutegico3 Repercussotildees sociais do desenvolvimento cientiacutefico e teacutecnico

43 Vamos tratar aqui das disciplinas votadas para o ensino meacutedio ou que formem professores para atuar na Educaccedilatildeo Baacutesica Haacute no Brasil algumas interessantes experiecircncias de disciplinas CTS especialmente voltadas para a aacuterea de engenharia CTS ndash pro-gramas universitarios httpwwwchassncsueduidsstsotherhtml

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4 O controle social da atividade cientiacutefica e tecnoloacutegica5 O desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico reflexotildees filosoacuteficas

Segundo Loacutepez Cerezo (2002)

No primeiro bloco o da perspectiva histoacuterica se abordam a origem do pensamento cien-tiacutefico o papel da tecnologia na revoluccedilatildeo industrial e o papel da teacutecnica no processo de humanizaccedilatildeo O segundo o sistema tecnoloacutegico se ocupa dos componentes desse sistema conhecimento recursos teacutecnicos capital e contexto social O terceiro bloco repercussotildees sociais se centra nos distintos tipos de consequecircncias sociais e ambientais do desenvol-vimento cientiacutefico-tecnoloacutegico econocircmicas demograacuteficas reduccedilatildeo da biodiversidade etc O problema da regulamentaccedilatildeo puacuteblica da mudanccedila cientiacutefico-tecnoloacutegica com temas como o da avaliaccedilatildeo de tecnologias ou controle de mercado se aborda no bloco quarto E por uacuteltimo no quinto bloco satildeo colocados diversos problemas eacuteticos esteacuteticos e em geral filosoacuteficos sobre a moderna ldquocultura tecnoloacutegicardquo (p18)

O segundo exemplo eacute o Curso de formaccedilatildeo de professores de niacutevel meacutedio e superior sobre o enfoque CTS no ensino44 feito agrave distacircncia e patrocinado pela OEI-Organizaccedilatildeo dos Estados Iberoamericanos a Universidade de Oviedo na Espanha e o NEPETUFSC no Brasil O curso eacute estruturado em blocos de conhecimento O que eacute Ciecircncia o que eacute Tecnologia o que eacute sociedade o que eacute CTS e Estudos de Casos Apoacutes isso os participantes do curso satildeo convidados a estudar exemplos de casos de controveacuter-sia simulada e de proporem atividades utilizando-se desta estrateacutegia de alguma forma

O terceiro exemplo pode ser a disciplina CTS do Curso de Especializaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Tecnoloacutegica-EAD Ela estaacute estruturada em dez encontros e busca inicialmente estabelecer o chamado Campo CTS depois discute as possiacuteveis concepccedilotildees de Ciecircncia de Tecnologia e de Sociedade apoacutes isto estuda a interaccedilatildeo desta triacuteade e os fatores que podem influir nesta relaccedilatildeo No momento seguinte busca relacionar os conceitos CTS coerentemente com Educaccedilatildeo e Educaccedilatildeo Tecnoloacutegica e ao fim apresenta as possibilidade de materializar as ideias CTS no ensino indicando a controveacutersia contro-lada como teacutecnica preferencial

Conheccedila maisCTS ndash programas universitarios httpwwwchassncsueduidsstsotherhtml

64 Uma modelagem do ensino aprendizagem CTS

Um modelo de como se ensina e se aprende por meio da abordagem CTS eacute intitulado espiral de responsabilidade de Waks (1992 apud Miembiela 2001 p 96) que considera cinco fases suces-sivas

bull Autocompreensatildeo onde aprende a considerar suas necessidades valores planos e res-ponsabilidades

bull Estudo e reflexatildeo aqui o estudante toma consciecircncia e conhecimento da ciecircncia e da tecnologia e seus impactos sociais e isto supotildee uma conexatildeo com as chamadas disci-plinas baacutesicas

bull Tomada de decisatildeo aqui o estudante aprende sobre os processos de tomada de decisatildeo e de negociaccedilatildeo para mais tarde tomar realmente decisotildees e defendecirclas com razatildeo e evidecircncias

44 httpwwwoeibrptorgprogramacionctsicursohtm

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bull Accedilatildeo responsaacutevel nela o estudante planeja e executa a accedilatildeo tanto de maneira indivi-dual como coletiva

bull Integraccedilatildeo aqui o estudante deve aventurar-se para aleacutem do tema especiacutefico e fazer consideraccedilatildeo CTS mais amplas incluindo os valores pessoais e sociais

641 A escolha do tema tecnocientiacutefico de impacto social

Dagnino e Thomas (2002) lembram que a particularidade da Abordagem CTS natildeo estaacute nos temas a que ela se propotildee discutir ou investigar mas sim na forma em que esses satildeo abordados dando espe-cial atenccedilatildeo ao fato de que os problemas reais de uma sociedade natildeo se restringem a explicaccedilatildeo de uma disciplina acentuando a importacircncia da Abordagem CTS ser desenvolvida sob a eacutegide da intertransdisciplinaridade Nesta perspectiva a Abordagem CTS

refere-se ao estudo da ciecircncia e da tecnologia na sociedade isto eacute da forma na qual os fenocirc-menos teacutecnicos e sociais interatuam e influenciam uns nos outros Por exemplo entre os temas abordados por pesquisadores CTS encontram-se o papel da ciecircncia e a tecnologia na transformaccedilatildeo de instituiccedilotildees sociais como o trabalho e a famiacutelia a relaccedilatildeo entre a ciecircncia e a tecnologia e o crescimento econocircmico e a reflexatildeo acerca dos valores eacuteticos e morais implicados nas descobertas cientiacuteficas e inovaccedilotildees tecnoloacutegicas Por outro lado revertendo o sentido da influecircncia pesquisadores tecircm estudado a forma como a ciecircncia e a tecnologia satildeo influenciados por fatores sociais como interesses poliacuteticos e econocircmicos a ideologia e valores culturais (p 8-9)

Quanto aos criteacuterios a serem seguidos na escolha de temas CTS Hickman Patrick e Bybee (1987 apud Miembiela 2001) consideram as questotildees

bull Eacute diretamente aplicaacutevel a vida dos estudantesbull Eacute adequado ao niacutevel cognitivo e a maturidade social dos estudantesbull Eacute um tema importante no mundo atual dos estudantes e provavelmente permaneceraacute

como tal para uma parte deles na vida adultabull Os estudantes podem aplicar estes conhecimentos em outros espaccedilos que natildeo a escolabull Eacute um tema pelo qual os estudantes mostram interesse e entusiasmo

642 Enumerando os limites e as vantagens das abordagens CTS

A abordagem CTS por mais que apresente vantagens e emocione alguns professores e alunos natildeo pode ser tratada como panaceia ou como soluccedilatildeo para todos os problemas ou mesmo como a uacutenica alternativa para o ensino de ciecircncia e tecnologia Ela precisa ser encarada como mais uma alterna-tiva talvez uma alternativa potente para melhoria do ensino de ciecircncia e tecnologia baseando-se nos princiacutepios da formaccedilatildeo tecnocientiacutefica do cidadatildeo da educaccedilatildeo tecnocientiacutefica para todos e na alfabetizaccedilatildeo tecnocientiacutefica

Por isso eacute importante que conheccedilamos os limites desta abordagem Vamos recorrer mais uma vez a experiecircncia de Miembiela (2001) ao citar Cheek (1992)

bull A especializaccedilatildeo disciplinar que os professores recebem em sua formaccedilatildeo conflita com o enfoque interdisciplinar que se quer na perspectiva CTS

bull As concepccedilotildees preacutevias que possuem tanto estudantes quanto professores sobre a temaacute-tica CTS em particular sobre ciecircncia e os cientistas

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bull A ausecircncia de investigaccedilotildees que ofereccedilam resultados claramente positivos quando pos-ta em praacutetica o ensino CTS

bull A influecircncia de exames externos sobre o processo educativo no sentido que habitual-mente natildeo contemplam a perspectiva CTS

bull O nuacutemero de conceitos cientiacuteficos assimilados pode ser menor e isto pode comprome-ter seriamente os resultados acadecircmicos posteriores

bull O medo dos professores de ciecircncias de perder a identidade definida basicamente por seu papel como iniciadores dos estudantes no campo da ciecircncia

O mesmo autor aponta as vantagens de se usar os enfoques CTS utilizando as reflexotildees de Aikenhead (1990 apud Miembiela 2001) que resumimos a seguir

bull Uma melhora em sua compreensatildeo sobre os desafios sociais da ciecircncia e das interaccedilotildees entre a ciecircncia e a tecnologia e entre ciecircncia e sociedade

bull Uma melhora em suas atitudes para com a ciecircncia para com os cursos de ciecircncia para com a aprendizagem do conteuacutedo CTS e os meacutetodos de ensino que utilizam a interaccedilatildeo entre os estudantes

bull Um efetivo aprendizado por meio do enfoque CTS se recebem um ensino com uma orientaccedilatildeo clara nesta linha se dispotildeem de um material curricular adequado e se haacute correspondecircncia adequada entre o modelo de ensino de ciecircncias aplicado e a aproxi-maccedilatildeo CTS escolhida para as atividades de ensino-aprendizagem

65 CTS e as accedilotildees didaacuteticas no Brasil

Apoacutes estudarmos as possiacuteveis categorias que permitem perceber como CTS se estrutura para interfe-rir na realidade escolar podemos ndash e devemos ndash conhecer como ele se estrutura no Brasil Sendo um movimento que surgiu e se fortaleceu no hemisfeacuterio norte natildeo eacute surpresa dizer que no Brasil ainda natildeo temos uma aacuterea de estudo definida e estruturada e por isso temos dificuldade de conceituar e delimitar as accedilotildees que envolvem CTS Por aqui CTS eacute uma aacuterea em emergecircncia e em consolidaccedilatildeo

O grupo de pesquisa do Diretoacuterio do CNPq CTS e Educaccedilatildeo do CEFETRJ foi criado em 2010 e desde 2012 trabalha no mapeamento do CTS brasileiro e tambeacutem em analises comparativas com as pectos observados no campo CTS em outras partes do mundo Por conta deste amplo levantamento ainda em processo podemos antecipar que

bull A primeira tese de doutorado sobre CTS que pode ser encontrada usando os paracirc-metros de busca do grupo foi defendida na Faculdade de Educaccedilatildeo da USP por Silvia Luzia Frateschi Trivelato datada de 1993 e intitulada CiecircnciaTecnologiaSociedade ndash mudanccedilas curriculares e formaccedilatildeo de professores (Toledo et al 2016)

bull No que concerne agraves dissertaccedilotildees de mestrado usando os mesmos paracircmetros de busca temos duas dissertaccedilotildees em 1992 defendidas em mestrados de Educaccedilatildeo

bull A defendida na Unicamp por Wildson Luiz Pereira dos Santos e intitulada O En-sino de quiacutemica para formar o cidadatildeo principais caracteriacutesticas e condiccedilotildees para a sua implantaccedilatildeo na escola secundaacuteria brasileira

bull A defendida na UFRJ por Alvaro Chrispino e intitulada Didaacutetica Especial de Quiacute-mica e Praacutetica de Ensino de Quiacutemica uma proposta voltada para quiacutemica e socie-dade

bull No que tange aos artigos publicados ainda sob os mesmos paracircmetros de busca e restri-to a perioacutedicos abertos e disponiacuteveis em sistemas online (o que compreende o periacuteodo

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de 1996 a 2014) podemos indicar como o primeiro deles aquele publicado por Antonio Carlos Rodrigues de Amorim intitulado Biologia tecnologia e inovaccedilatildeo no curriacuteculo do ensino meacutedio e publicado no perioacutedico Investigaccedilotildees em Ensino de Ciecircncias em 1998

bull Eacute importante ressaltar que este resultado surge a partir dos paracircmetso de pes-quisa visto que por exemplo noacutes mesmos tivemos um artigo publicado em 1989 intitulado A Funccedilatildeo Social do Ensino de Quiacutemica na Revista de Quiacutemica Indus-trial que tratava efetivamente da Abordagem CTS mas natildeo eacute encontrado pelos criteacuterios de busca adotados pelo grupo Como este certamente haacute outros

Ainda no esforccedilo de posicionar o Ensino CTS na realidade educacional barsileira Strieder et al (2016) realizaram levantamento buscando identificar ldquopossibilidades e desafios associados ao desen-volvimento de praacuteticas educativas CTSrdquo (p 87) no contexto da educaccedilatildeo cientiacutefica brasileira espe-cialmente no ensino meacutedio Foram objetos de anaacutelise

Os documentos relativos ao ensino de Biologia Fiacutesica e Quiacutemica desse niacutevel de ensino [meacute-dio] quais sejam as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Meacutedio publicadas em 1998 ndash DCNEM98 incluindo a Resoluccedilatildeo CEB nordm 398 e o Parecer CEBCNE nordm 1598 os Paracircmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Meacutedio - PCNEM as Orientaccedilotildees Com-plementares aos PCNEM - PCN+ as Orientaccedilotildees Curriculares Nacionais para o Ensino Meacute-dio - OCNEM as novas Diretrizes Curriculares Nacionais publicadas em 2013 ndash DCN13 o edital de convocaccedilatildeo para o processo de inscriccedilatildeo e avaliaccedilatildeo de obras didaacuteticas do Pro-grama Nacional de Livro Didaacutetico de 2015 ndash PNLD15 a Matriz de Referecircncia do Exame Nacional do Ensino Meacutedio de 2016- MR-ENEM16 e a 2ordf versatildeo revista da Base Nacional Comum Curricular publicada em 2016 ndash BNCC16 (p 89-90)

Auler (2007) estudando os pressupostos CTS para o contexto brasileiro escreve que (1) possuiacutemos accedilotildees individuais incipientes e isoladas que (2) os objetivos da educaccedilatildeo CTS podem ser sintetiza-dos em

1 Promover o interesse dos estudantes em relacionar a ciecircncia com aspectos tecnoloacutegicos e sociais discutir as implicaccedilotildees sociais e eacuteticas relacionadas ao uso da ciecircncia-tecno-logia (CT)

2 Adquirir uma compreensatildeo da natureza da ciecircncia e do trabalho cientiacutefico 3 Formar cidadatildeos cientiacutefica e tecnologicamente alfabetizados capazes de tomar decisotildees

informadas e desenvolver o pensamento criacutetico e a independecircncia intelectual

A aacuterea CTS tem recebido importantes contribuiccedilotildees oriundas de pesquisas realizadas nas instituiccedilotildees de ensino que mantem programas de poacutes-graduaccedilatildeo e em contraposiccedilatildeo vem deixando lacunas impor-tantes nas accedilotildees didaacuteticas que envolvam grupos significativos de professores eou alunos eou escolas

Mezalira (2008) e Pansera-de-Arauacutejo et al (2009) escrevem sobre a produccedilatildeo CTS nos eventos espe-ciacuteficos da aacuterea de ensino de ciecircncia e tecnologia e identificam o crescimento da aacuterea com seus mais significativos agentes

Hunsche et al (2009) buscaram trabalhos on-line no periacuteodo de 1998 a 2008 na Revista Brasileira de Pesqui-sa em Educaccedilatildeo em Ciecircncias na Revista Ciecircncia amp Educaccedilatildeo e na Revista Ensaio ndash Pesquisa em Educaccedilatildeo em Ciecircncias O problema de pesquisa foi enunciado foi Quais tecircm sido os encaminhamentos dados em termos teoacuterico-metodoloacutegicos ao campo CTS no contexto brasileiro Neste trabalho os autores dividem os 12 artigos encontrados em trecircs categorias Implementaccedilotildees Concepccedilotildees e PressupostosReflexotildees

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Auler Fenalti e Dalmolin (2009) analisaram implementaccedilotildees de propostas didaacutetico-pedagoacutegicas centradas na abordagem CTS utilizando como fontes de consulta anais de eventos e materiais de ensino (e cadernos de formaccedilatildeo e guias didaacuteticos)

Abreu Fernandes e Martins (2009) realizaram pesquisa em 10 revistas da aacuterea de Ensino de Ciecircn-cias Encontraram 23 artigos sobre CTS e CTSA e concluiacuteram ldquoque a produccedilatildeo nacional em CTS tem se preocupado tanto com situaccedilotildees do ensino em sala de aula e espaccedilos natildeo formais como tambeacutem na elaboraccedilatildeo teoacuterica de um pensamento autocircnomo em relaccedilatildeo agraves linhas europeacuteias e norte-americanasrdquo

Arauacutejo (2009) faz um mapeamento preliminar dos Grupos de Pesquisa registrados no Diretoacuterio de Pesquisa do CNPq que tratam de CTS O artigo informa que haacute 30 grupos 95 linhas de pesquisa e 217 pesquisadores nos diversos grupos de pesquisa As regiotildees sul e sudeste concentram a esmagadora maioria dos grupos

Chrispino et al (2013) em ampla pesquisa envolvendo 22 perioacutedicos entre 1996 e 2010 encontraram 88 artigos que por meio de software de redes sociais resultou nos 13 trabalhos mais citados Identifi-caram que os mais citados satildeo trabalhos de valor acadecircmico mas com quase nenhuma fonte primaacuteria ou autores pioneiros da aacuterea

Eacute Auler (2007) que chama a atenccedilatildeo para as possiacuteveis dimensotildees e avanccedilos dos trabalhos em uma aacuterea em expansatildeo

Na perspectiva de buscar delimitaccedilotildees bem como potencializar accedilotildees para o contexto bra-sileiro seratildeo analisadas [neste artigo] trecircs dimensotildees interdependentes que em maior ou menor intensidade comparecem na literatura sobre o tema a abordagem de temas de relevacircncia social a interdisciplinaridade e a democratizaccedilatildeo de processos de tomada de decisatildeo em temas envolvendo Ciecircncia-Tecnologia Defende-se a necessidade de mu-danccedilas profundas no campo curricular Ou seja configuraccedilotildees curriculares mais sensiacuteveis ao entorno mais abertas a temas a problemas contemporacircneos marcados pela componen-te cientiacutefico-tecnoloacutegica enfatizando-se a necessidade de superar configuraccedilotildees pautadas unicamente pela loacutegica interna das disciplinas passando a serem configuradas a partir de temasproblemas sociais relevantes cuja complexidade natildeo eacute abarcaacutevel pelo vieacutes unica-mente disciplinar

As reflexotildees estruturadas por Auler trazem a tona algumas questotildees importantes como fazer com que a abordagem CTS se transforme em accedilatildeo efetiva na melhoria da qualidade do ensino e assim possa contribuir para a melhor formaccedilatildeo dos estudantes como cidadatildeos criacuteticos

Sem entrar no meacuterito por conta do objetivo central deste estudo podemos afirmar que a Educaccedilatildeo possui uma taxa de transformaccedilatildeo muito lenta Ela eacute naturalmente reativa a mudanccedilas ao mesmo tempo que paradoxalmente eacute suscetiacutevel a modismos teoacutericos e espasmos instrumentais

Uma das funccedilotildees da escola eacute manutenccedilatildeo dos valores tidos como primordiais pela sociedade e essa manutenccedilatildeo da tradiccedilatildeo natildeo absorve facilmente novos valores mas ao mesmo tempo exigisse da escola a atualidade com os avanccedilos da tecnologia (novos equipamentos novas linguagens novas competecircncias etc) sem se exigir a mesma atualizaccedilatildeo no que se refere aos conhecimentos organi-zados (a grosso modo a ciecircncia) visto que ainda ensinamos a fiacutesica e quiacutemica do seacuteculo XIX por exemplo

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Se encararmos a abordagem CTS como mais um modismo poderemos incorrer nos mesmos erros que estas ldquoondasrdquo incorreram satildeo implantadas ateacute que surjam novas modas elas tecircm o tempo de vida relacionado com o tempo da novidade

Por tal temos defendido que a abordagem CTS natildeo seja mais uma teacutecnica ou uma teacutecnica que venha a substituir as jaacute existentes e messianicamente resolver todos os problemas do ensino e da formaccedilatildeo do cidadatildeo CTS precisa ser encarado primeiramente como uma cultura um modo de ser um modo de estruturar a atividade didaacutetica independentemente da formaccedilatildeo do professor independentemen-te da escola de pensamento em que ele se desenvolveu independentemente dos autores que datildeo suporte teoacuterico agrave sua atividade didaacutetica

A abordagem CTS no ensino natildeo deve ser encarada como mais um livro que se coloca na vasta biblio-teca de alternativas mas antes de tudo deve ser percebida como uma maneira de organizar a biblio-teca de alternativas que cada um de noacutes professores possui como resultado de sua accedilatildeo profissional pessoal e singular

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7 CTS e a teacutecnica da controveacutersia controlada

O que eacute conhecido sempre parece sistemaacutetico provado aplicaacutevel e evidente para aquele que conhece Da mesma forma todo sistema alheio de conhecimento sempre parece contraditoacuterio natildeo provado inapli-caacutevel irreal ou miacutestico

Ludwik Fleck

71 Da controveacutersia CTS original agrave teacutecnica de controveacutersia controlada

Apoacutes esta visatildeo panoracircmica sobre as possibilidades de estruturaccedilatildeo CTS acompanhamos os autores e indicamos o enxerto CTS como accedilatildeo mais acessiacutevel aos professores visto natildeo ser preciso modificar sua estrutura de trabalho para oferecer aos alunos a abordagem CTS Basta apenas ordenar as ques-totildees que estruturam a relaccedilatildeo didaacutetica

Por outro lado vamos propor como accedilatildeo didaacutetica ou teacutecnica de ensino a controveacutersia controlada em torno de um tema tecnocientiacutefico que pode ser incluiacuteda na categoria Ciecircncia e Tecnologia atraveacutes de CTS a partir do que nos ensina Loacutepez Cerezo (2002)

Uma () opccedilatildeo consiste em reconstruir os conteuacutedos do ensino da ciecircncia e da tecnolo-gia atraveacutes de uma oacutetica CTS Em disciplinas isoladas ou por meio de cursos cientiacuteficos pluridisciplinares se fundem os conteuacutedos teacutecnicos e CTS de acordo com a exposiccedilatildeo e discussatildeo de problemas sociais dados () O formato padratildeo de apresentaccedilatildeo de conteuacutedos nesta opccedilatildeo eacute em primeiro lugar eleger um problema importante relacionado com os pa-peacuteis futuros o estudante (cidadatildeo profissional consumidor etc) e em segundo lugar sobre tal base selecionar e estruturar o conhecimento cientiacutefico-tecnoloacutegico necessaacuterio para que o estudante possa entender um equipamento tomar uma decisatildeo ou entender um problema social relacionado com a ciecircncia ou a tecnologia (p 15)

A chamada teacutecnica da controveacutersia controlada controveacutersia simulada ou simulaccedilatildeo CTS eacute na ver-dade a siacutentese da histoacuteria de formaccedilatildeo da Abordagem CTS quer como movimento social quer como construccedilatildeo social da ciecircncia Na verdade o movimento CTS se estruturou a partir da (1) desilusatildeo com a ldquovisatildeo positivistardquo de Ciecircncia e Tecnologia marcada pelo ciacuterculo virtuoso de mais ciecircncia mais progresso e mais bem estar (2) pela percepccedilatildeo de que entregar a Ciecircncia a somente os cientistas era temeraacuterio visto que os especialistas em Ciecircncia e Tecnologia como natildeo poderia deixar de ser satildeo movidos por paixotildees ideais e emoccedilotildees (3) pelos impactos negativos para pessoas grupos e comu-nidade de forma geral em curto meacutedio e longo prazos dos artefatos tecnoloacutegicos e da aplicaccedilatildeo de conhecimentos tecnocientiacuteficos (Ramos e Silva 2007)

O que ocorreu ao longo da historia da Abordagem CTS foi o conflito ou divergecircncia sobre a maneira de ver a origem o desenvolvimento a aplicaccedilatildeo e as consequecircncias dos conhecimentosaparatos tec-nocientiacuteficos Houve portanto uma controveacutersia em torno dos temas e a sociedade ndash nas suas mais diferentes manifestaccedilotildees ndash solicitou espaccedilo para ouvir e se fazer ouvir sobre o futuro que tambeacutem lhe pertence Logo a controveacutersia de visotildeesopiniotildees entre atores sociais eacute a melhor e mais autecircntica manifestaccedilatildeo da Abordagem CTS A mesma ideia de controveacutersia tambeacutem eacute encontrada no interior da comunidade cientiacutefica que jaacute natildeo mais se contenta com as tradicionais visotildees (e mitos) da Ciecircncia

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Eis por que propomos que as atividades didaacuteticas de CTS tenham sua culminacircncia no exerciacutecio da anaacutelise fundamentada e da criacutetica pertinente de fatos ou decisotildees que afetam de alguma forma o cidadatildeo ou a sua comunidade Se visto desta forma a controveacutersia controlada pode ser utilizada em temas tecnocientiacuteficos relevantes mas tambeacutem em qualquer fato social que permita interpretaccedilotildees variadas visando a decisatildeo

72 A Teacutecnica da Controveacutersia um aprofundamento teoacuterico

Flechsig e Schiefelbein (2003) apresentam a ideia de que a origem da teacutecnica de controveacutersia estaacute na disputatio que remonta a idade meacutedia e consistia em disputas puacuteblicas entre os estudantes e tambeacutem serviam como exames para os exerciacutecios de retoacuterica visto que era considerado um meacutetodo de busca pela verdade a partir da argumentaccedilatildeo e da contra-argumentaccedilatildeo

Jaacute Johnson e Johnson (2004) numa abordagem mais contemporacircnea escreveratildeo que as raiacutezes teoacuteri-cas da controveacutersia estatildeo no desenvolvimento cognitivo nas teorias do equiliacutebrio psicoloacutegico-social e nas teorias do conflito Os autores defendem que estas trecircs perspectivas explicam o fato de que os esforccedilos cooperativos da teacutecnica de controveacutersia produzem discussotildees que geram conflitos cogniti-vos que seratildeo resolvidos no debate orientado Essa satisfaccedilatildeo do conflito ndash causado pela diferenccedila de percepccedilatildeoopiniatildeo ndash acarreta uma racionalidade e um novo aprendizado gerando a reconceituali-zaccedilatildeo sobre o tema em debate Essa reconceitualizaccedilatildeo natildeo eacute obrigatoriamente uma modificaccedilatildeo da posiccedilatildeo anterior O debate natildeo visa a abdicaccedilatildeo de posiccedilotildees mas a oportunidade de apresentar suas ideias e de ouvir a argumentaccedilatildeo do outro que pensasente diferentemente

A controveacutersia controlada pode ser definida como um meacutetodo didaacutetico de construccedilatildeo de consenso (pelo menos no processo de debate) minuciosamente preparado a partir de regras previamente de-finidas visando o exerciacutecio de (1) identificaccedilatildeo de problemas comuns para fomentar a controveacutersia (2) o exerciacutecio de estabelecer padrotildees mutuamente aceitaacuteveis para sustentar um debate (3) a busca organizada de informaccedilotildees pertinentes ao tema definido (4) a preparaccedilatildeo da exposiccedilatildeo em defesa da posiccedilatildeo (5) a capacidade de escutar a posiccedilatildeo controversa apresentada racionalmente pelos de-mais participantes (6) o exerciacutecio de contra-argumentar a partir do conhecimento dos argumentos utilizados pelos demais debatedores e (7) reavaliar as posiccedilotildees ndash a sua e as demais ndash a partir de novas informaccedilotildees

Segundo estes autores

haacute uma controveacutersia acadecircmica programada quando as ideias a informaccedilatildeo as conclusotildees as teorias e as opiniotildees de um aluno se opotildeem as de outro mas ambos tratam de chegar a um acordo por meio da proposta de Aristoacuteteles a discussatildeo das vantagens e desvantagens das accedilotildees propostas apontando para a siacutentese de novas soluccedilotildees a uma resoluccedilatildeo criativa do problema (Johnson e Johnson 2004 p 143)

Jaacute para Flechsig e Schiefelbein (2003) a teacutecnica de controveacutersia apresenta caracteriacutesticas importan-tes visto que permite desenvolver metas de aprendizagens e competecircncias especiacuteficas se as demais teacutecnicas em geral pretendem consolidar a chamada ldquoverdade objetivardquo que tanto caracterizam o ensino claacutessico a teacutecnica de controveacutersia busca realccedilar a argumentaccedilatildeo a apreciaccedilatildeo de situaccedilotildees conflitantes os conhecimentos controvertidos as posiccedilotildees diferentes frente agrave formaccedilatildeo de juiacutezo de valor sobre um tema As tarefas de aprendizagens para os que desenvolvem a teacutecnica podem ser ela-boraccedilatildeo de uma ldquoteserdquo a apresentaccedilatildeo da ldquoteserdquo a identificaccedilatildeo de ldquoteserdquo diferente da sua a criacutetica da ldquoteserdquo diferente a partir de informaccedilotildees e o exerciacutecio de siacutentese Esse conjunto de atividades

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resulta no domiacutenio de competecircncias de comunicaccedilatildeo e de argumentaccedilatildeo importantes para as sociedades atuais

Para esses autores as fases da teacutecnica de controveacutersia podem ser

bull Fase de preparaccedilatildeo onde se fixam oito aspectos o que quando onde quem com quem se deve discutir quem teraacute a funccedilatildeo de moderador que tipo de puacuteblico seraacute convidado e quais satildeo as regras que organizaratildeo o debate

bull Fase de recepccedilatildeo (apresentaccedilatildeo das teses) nesta fase seraacute proposta a tese ldquodigna de discussatildeordquo que logo deve ser aceita e publicada (difundida)

bull Fase de interaccedilatildeo (argumentaccedilatildeo) primeiro os defensores e depois os oponentes ex-potildeem suas evidencias e argumentos contraditoacuterios e na rodada seguinte apresentam mais argumentos eou retiram alguns outros argumentos

bull Fase de avaliaccedilatildeo em que a disputa se resolve com uma decisatildeo do grupo e mesmo com a opiniatildeo expressa de possiacuteveis expectadores presentes agrave disputa

Para que se cumpram todas as etapas didaacuteticas o tema a ser utilizado na controveacutersia deve combinar a interdependecircncia social com o conflito intelectual visto que quanto maior for o nuacutemero de elemen-tos potencialmente cooperativos e menor o nuacutemero de elementos competitivos mais construtivo seraacute conflito e a controveacutersia Importante perceber que natildeo eacute somente o componente cooperativo que contribui para uma controveacutersia mas tambeacutem o componente conflito visto que eacute este que per-mitiraacute a chance de ouvir outras posiccedilotildees e refletir sobre elas

Johnson e Johnson (2004) ao tratarem das vantagens desta teacutecnica comparam quatro meacutetodos de ensino a controveacutersia o debate o proselitismo e o trabalho individual Dizem que os estudos experi-mentais que desenvolveram nos uacuteltimos vinte anos permitem concluir que os alunos que participam das controveacutersias recordam mais informaccedilotildees corretas transferem com mais facilidade a aprendiza-gem a situaccedilotildees novas empregam estrateacutegias de racionalidade mais complexas e satildeo mais capazes de generalizar os princiacutepios que aprenderam e aplicaacute-los a um nuacutemero maior de situaccedilotildees Dizem que a controveacutersia tende a gerar uma visatildeo mais criativa das questotildees examinadas e mais siacutenteses permi-tem combinar as perspectivas em debate Quando comparada com o debate a busca de adesatildeo (pro-selitismo) e trabalho individual a controveacutersia promove mais simpatia apoio social e auto-estima nos participantes do exerciacutecio Os mesmos autores escrevem que

A controveacutersia programada eacute sumamente promissora do ponto de vista didaacutetico Nela en-contramos os quatro elementos essenciais teoria (Johnson 1970) investigaccedilotildees validado-ras integraccedilatildeo nos procedimentos pedagoacutegicos e formaccedilatildeo permanente de docentes A con-troveacutersia programada se baseia no emprego da cooperaccedilatildeo para ensinar e integra o manejo construtivo dos conflitos nas experiecircncias cotidianas de aprendizagem Agrave medida que os alunos adquirem periacutecia na resoluccedilatildeo de conflitos intelectuais vai se construindo o cenaacuterio para que aprendam a manejar conflitos de interesses entre eles e seus companheiros (p 150)

Com outros objetivos mas utilizando-se do mesmo principio didaacutetico Lipman Sharp e Oscanyan (1992) propotildeem a controveacutersia controlada como teacutecnica de aprendizagem no projeto de ensino de filosofia para crianccedilas

O ERIC-Education Resources Information Center possui um grande arquivo de texto e experiecircncias acadecircmicas sobre controveacutersias acadecircmicas em diversas aacutereas e niacuteveis de educaccedilatildeo Uma pesquisa

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CTS E A TEacuteCNICA DA CONTROVEacuteRSIA CONTROLADA102

realizada na Search the Thesaurus com a expressatildeo Controversial Issues resulta em 1698 itens das mais diversas aacutereas do conhecimento

Conheccedila mais sobre a controveacutersia acadecircmica

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73 O uso da Teacutecnica de Controveacutersia em CTS

Como escrevemos antes o uso da cultura da controveacutersia ndash que eacute um pouco mais que a simples teacutecnica de controveacutersia ndash resgata a origem da Abordagem CTS considerando (1) sua origem como movimento CTS (2) a maneira de entender as disputas internas da Ciecircncia e da Tecnologia que chamamos de Estudos CTS e (3) no seu aspecto de orientador de gestores de poliacuteticas que decidem sobre temas chamados CTS Haacute uma semelhanccedila ontoloacutegica entre a proposta da Abordagem CTS e a teacutecnica de ensino da controveacutersia controlada visto que em ambos os casos as diferenccedilas de opiniatildeo existem mas precisam ser conhecidas a fim de se construir um entendimento e um consenso possiacutevel

Um dos autores que mais tem produzido no campo da controveacutersia controlada no campo CTS eacute Ma-riano Martiacuten Gordillo cujos textos serviratildeo de base para a apresentaccedilatildeo da teacutecnica de controveacutersia controlada Escreve o autor que

se tiveacutessemos que enunciar em poucas palavras o propoacutesito dos enfoques CTS no campo da educaccedilatildeo seria possiacutevel resumir em dois pontos mostrar que a Ciecircncia e a Tecnolo-gia satildeo acessiacuteveis e importantes para os cidadatildeos (portanto eacute necessaacuteria a Alfabetizaccedilatildeo Tecnocientiacutefica) e propiciar o aprendizado social da participaccedilatildeo puacuteblica nas decisotildees tec-nocientiacuteficas (portanto eacute necessaacuteria a educaccedilatildeo para a participaccedilatildeo tambeacutem em Ciecircncia e Tecnologia) (Martiacuten Gordillo 2003)

Ambos os objetivos natildeo podem ser alcanccedilados a partir dos paradigmas tradicionais que norteiam o ensino de modo geral que mostra uma ciecircncia positiva e linear Apesar de Martin Gordillo e os de-mais autores referirem-se sempre a disciplinas de ciecircncias e tecnologia proponho que ampliemos este leque visto que como jaacute demonstramos anteriormente a natureza natildeo se explica somente pelos canais das chamadas ciecircncias exatas Ela necessita das ciecircncias soacutecio-humanisticas para se comple-tar o entendimento da natureza recortado para fins de ensino pelo artifiacutecio das disciplinas

Outra referecircncia que merece nossa atenccedilatildeo eacute Reis (2008) que ao discutir a aplicaccedilatildeo de controveacuter-sias sociocientiacuteficas nas escolas portuguesas apresenta rico fundamento teoacuterico sobre o tema e sua relaccedilatildeo com CTS

A fim de melhor fundamentar o porquecirc devemos estender agraves ciecircncias humanas e sociais as oportuni-dade de atuarem na Abordagem CTS e principalmente na construccedilatildeo de atividades interdisciplina-res com as chamadas tecnociecircncias lembremos que o ato social eacute sempre um ato complexo por conta dos atores que envolve (cada um com sua histoacuteria seu sentido de vida sua expectativa de futuro seus valores sua linguagem etc) e pela trama de aacutereas que em geral satildeo chamadas a interpretar um mesmo acontecimento social Haacute coisas que satildeo proacuteprias do conjunto de saberes que se padronizou chamar

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de teacutecnicas ou cientiacuteficas mas haacute coisas que satildeo caracteriacutesticas do que se estabeleceu pela tradiccedilatildeo olhar como humanas (Depois de todo este estudo poderiacuteamos dizer que a Ciecircncia tambeacutem natildeo eacute humana) Natildeo se opera o ato social ou o acontecimento comunitaacuterio ou a gestatildeo de conflito ou a de-cisatildeo poliacutetica sem conhecer o valor das disciplinas humaniacutesticas Fukuyama (2005 p39) escreve que

A comunidade de poliacuteticas de desenvolvimento estaacute numa situaccedilatildeo irocircnica A Era Poacutes-Gue-rra Fria comeccedilou sob o domiacutenio intelectual dos economistas que defenderam fortemente a liberalizaccedilatildeo e um Estado menor Dez anos depois muitos economistas concluiacuteram que algumas das variaacuteveis mais importantes que afetam o desenvolvimento natildeo eram econocircmi-cas mas estavam ligadas agrave instituiccedilotildees e agrave poliacutetica

As instituiccedilotildees e a poliacutetica estatildeo permeadas pelas praacuteticas oriundas das ciecircncias exatas tanto quanto das ciecircncias sociais e humanas E isso nos leva a crer que o ato social tecnopoliacutetico relevante eacute pro-movido (ou ainda natildeo) pela accedilatildeo poliacutetica e eacute materializado pelo canal institucional Para exemplificar esta estreita vinculaccedilatildeo Fukuyama (2005) estabelece quatro niacuteveis de accedilatildeo institucional e relaciona as disciplinas com a capacidade de transferecircncia de conhecimento conforme resume o quadro a seguir

Componente Disciplina Transferibilidade

Projeto e Gerenciamento

Organizacionais

Gerenciamento

AltaAdministraccedilatildeo Puacuteblica

Economia

Projeto Institucional

Ciecircncia Poliacutetica

MeacutediaEconomia

Direito

Base de Legitimaccedilatildeo Ciecircncia Poliacutetica De Meacutedia a Baixa

Fatores Sociais e CulturaisSociologia

BaixaAntropologia

Haacute conhecimentospraacuteticas que satildeo rapidamente absorvidas pelas instituiccedilotildees e pelas pessoas no campo do gerenciamento de projetos e essa funccedilatildeo se processa por meio da economia e da adminis-traccedilatildeo Mas em contrapartida haacute o componente soacutecio-cultural que compotildee as instituiccedilotildees e a accedilatildeo entre pessoas cuja transferecircncia de conhecimento ou de praacuteticas eacute baixa e deve ser operada pelas disciplinas de base social

Quando estudamos por exemplo os chamados ldquogatosrdquo (furto de energia eleacutetrica) percebemos que a justificativa apontada pelos ldquogatunosrdquo remonta ao tempo em que a energia era do ldquoestadordquo e se era do estado ldquonatildeo era de ningueacutemrdquo Por mais que esteja claro que a distribuiccedilatildeo de energia hoje eacute accedilatildeo privada a memoacuteria social teima em se manter nas comunidades de baixa renda e reafirma a imagem e a sensaccedilatildeo de que eacute do estado e se eacute do estado natildeo eacute de ningueacutem As distribuidoras fazem um caro trabalho de gestatildeo operacional mas natildeo conseguem resultados satisfatoacuterios pois este tipo de contribuiccedilatildeo ao ato social cristalizado natildeo se daacute por meio de planilhas e programas de computador mas sim pela transformaccedilatildeo de mentalidade e pela mudanccedila de haacutebito Funccedilotildees explicitamente da competecircncia das disciplinas das ciecircncias humanas e sociais

Neste momento cabe refletir sobre a importacircncia de escolher problemas ou temas CTS que permi-tam o desdobramento esperado Uma maneira de ver os problemas eacute proposta por Dagnino (2007) que considerando que a conceituaccedilatildeo de problema deve dar conta de quatro aspectos fundamentais a saber

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1 Um problema social natildeo eacute uma entidade objetiva que se manifesta na esfera puacuteblica de modo naturalizado como se ela fosse neutra e independente em relaccedilatildeo aos atores - ativos e passivos - do problema

2 Natildeo haacute situaccedilatildeo social problemaacutetica senatildeo em relaccedilatildeo aos atores que a constroem como tal3 Reconhecer uma situaccedilatildeo como um problema envolve um paradoxo pois satildeo justamente

os atores mais afetados os que menos tecircm poder para fazer com que a opiniatildeo puacuteblica (e as elites de poder) a considere como problema social

4 A condiccedilatildeo de penalizados pela situaccedilatildeo-problema dos atores mais fracos costuma ser obs-curecida por um complexo sistema de manipulaccedilatildeo ideoloacutegica que com seu consentimen-to os prejudica

Esperamos ter esclarecido porque natildeo nos limitamos a sugerir as teacutecnicas de controveacutersia CTS para disciplinas dos campos da Ciecircncia e da Tecnologia Essa eacute uma tese que defenderemos sempre

Para alcanccedilarmos o segundo objetivo proposto por Martiacuten Gordillo ndash a educaccedilatildeo para a participaccedilatildeo tambeacutem em Ciecircncia e Tecnologia ndash eacute necessaacuterio o aprendizado de uma ciecircncia contextualizada por meio de uma aula que possibilite o desenvolvimento das capacidades atitudes haacutebitos e destrezas que favoreccedilam o diaacutelogo e a tomada de decisatildeo sobre controveacutersias relacionadas com Ciecircncia e Tec-nologia (e noacutes complementariacuteamos natildeo soacute CampT) pelos instrumentos comuns a esta praacutetica que satildeo por exemplo a confrontaccedilatildeo puacuteblica e a democratizaccedilatildeo

Se estiveacutessemos falando de Ciecircncia conforme o conceito herdado pediriacuteamos um laboratoacuterio para submeter os objetos de pesquisa agrave nossa vontade reproduzindo as experiecircncias que ao final de-vem apresentar o mesmo resultado Mas o mundo real e o ato social que o representa no processo de transformaccedilatildeo natildeo podem ser submetido agraves praacuteticas corriqueiras dos laboratoacuterios de pesquisa Logo se quisermos preparar o cidadatildeoestudante para lidar com questotildees relevantes da comunidade em que vive necessitamos simular esses acontecimentos em uma escola que nos permita realizar a simulaccedilatildeo no espaccedilo possiacutevel da sala de aula e com a riqueza desejaacutevel de detalhes tornando o expe-rimento social o mais proacuteximo possiacutevel da complexidade social

Eacute certo que o experimento social de controveacutersia simulada seraacute um recorte da realidade Por mais das vezes um recorte tiacutemido mas que poderaacute ser a uacutenica chance de alguns alunos debaterem um tema social problemaacutetico e de ouvirem opiniotildees diferentes da sua num processo de troca indispensaacutevel agrave melhor decisatildeo

Essa eacute pois a fundamentaccedilatildeo para a teacutecnica de simulaccedilatildeo de uma controveacutersia cujas variaacuteveis e confronto de posiccedilotildees estaacute sob o controle do professor que para noacutes eacute a teacutecnica da controveacutersia controlada

Para Martiacuten Gordillo e Osorio (2003)

Os casos simulados CTS consistem na articulaccedilatildeo educativa de controveacutersias puacuteblicas relacionadas com desenvolvimento tecnocientiacutefico com implicaccedilotildees sociais ou am-bientais Se trata de uma proposta educativa desenvolvida pelo Grupo ARGO onde a partir de uma noticia fictiacutecia mas verossiacutemil se desenvolve uma controveacutersia suposta na qual interveacutem vaacuterios atores sociais com ideias opiniotildees ou interesses diversos Cientistas engenheiros empresas associaccedilotildees de ecologistas grupos de vizinhos gru-pos poliacuteticos associaccedilotildees profissionais cidadatildeos afetados etc satildeo o tipo de coletivi-

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dade que em cada caso podem constituir a rede de atores que aparecem em cada um dos casos simulados CTS para seu uso educativo()As simulaccedilotildees CTS pretendem ser uma alternativa educativa para propiciar a aprendiza-gem social da participaccedilatildeo nas controveacutersias tecnocientiacuteficas Daiacute que seu principal signi-ficado natildeo estaacute na veracidade uacuteltima de suas propostas mas sim em sua verossimilhanccedila e relevacircncia social e educativa

Os autores propotildeem que os casos de controveacutersia controlada possuam um conjunto de materiais para o bom desempenho da accedilatildeo educativa A lista proposta com as alteraccedilotildees proacuteprias de nossa expe-riecircncia indica os seguintes materiais

bull Uma noticia real45 que se apresenta aos alunos no formato de um jornal real e de onde se parte para o desenvolvimento da controveacutersia de que se deseja tratar

bull Um questionaacuterio inicial e final que serve para conhecer as informaccedilotildees e as atitudes previas dos alunos sobre as questotildees objeto do trabalho e para demonstrar as mudanccedilas produzidas ao final da atividade Satildeo questotildees utilizadas como preacute-teste e poacutes-teste permitindo avaliar o ganho de cada equipe com a atividade

bull Uma rede de atores que aparece na controveacutersia descrita na noticia inicial e cujos per-fis representem efetivamente os grupos com posiccedilotildees contraacuterias que estabeleceratildeo a controveacutersia

bull Documentos obtidos para dar apoio aos argumentos dos atores participantes relacio-nando o conhecimento especiacutefico da aacuterea que o caso trata com o centro da controveacutersia simulada

bull Documentos selecionados por sua pertinecircncia e claridade para apresentar a informaccedilatildeo cientiacutefica do campo em que se situa controveacutersia

bull Fichas especiacuteficas onde cada equipe escreve seus argumentos e como vai defendecirc-los no momento em que as ideias diferentes satildeo apresentadas

bull Fichas especiacuteficas onde cada equipe antecipa como cada equipe com posiccedilatildeo contraacuteria iraacute fundamentar sua posiccedilatildeo e como com os argumentos que possui deveraacute rebatecirc-los

bull Fichas contendo os criteacuterios de avaliaccedilatildeo para a equipe e para os membros de cada equipe

Jaacute Albe (2006 apud Ramos e Silva 2007) enumera uma seacuterie de perguntas que podem servir de nor-teadores desde a escolha do tema de controveacutersia ateacute a maneira como se desenrola a sua aplicaccedilatildeo pelo professor Pergunta ele

Favorece a aprendizagem Trata-se de argumentar para aprender Para convencer Para tomar uma decisatildeo Para refletir sobre o tema em questatildeo Sobre a atividade proposta Para analisar criticar resultados ideologias e posiccedilotildees opostas o papel do professor no debate tambeacutem se coloca em questatildeo deve dar sua opiniatildeo pessoal Que opccedilotildees didaacuteticas escolher Que recursos utilizar Que saberes de referecircncia levar em conta Que estrateacutegias didaacuteticas elaborar (p 96)

O grupo ARGOS desenvolveu dez casos de simulaccedilatildeo46 (Martiacuten Gordillo 2005 2006) a saber

bull A vacina da AIDS (Martiacuten Gordillo 2005a)bull Uso de estimulantes no esporte Um caso sobre esporte farmacologia e avaliaccedilatildeo puacutebli-

45 Os autores propotildeem uma notiacutecia fictiacutecia poreacutem verossiacutemil Cremos que a realidade brasileira estaacute repleta de temas que possam servir de ponto de partida para a controveacutersia Aleacutem do que a realidade eacute um espetacular motivador de estudos e debates46 A OEI disponibiliza eletronicamente estes materiais no site httpwwwoeiesmaterialesctshtm

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ca (Camacho Aacutelvarez 2005)bull Antenas de Telefonia Um caso CTS sobre radiaccedilotildees riscos bioloacutegicos e vida cotidiana

(Grupo Argo 2005a) bull As plataformas de petroacuteleo Um caso CTS sobre energia combustiacuteveis foacutesseis e susten-

tabilidade (Grupo Argo 2005b)bull Um projeto para o Amazonas Um caso sobre aacutegua Industrializaccedilatildeo e ecologia (Lejarza

Portilla e Rodriacuteguez Marcos 2005) bull O lixo da cidade Um caso sobre consumo gestatildeo de resiacuteduos e meio ambiente (Arribas

Ramiacuterez e Fernaacutendez Garciacutea 2005) bull A cidade ajustada Um caso sobre urbanismo planificaccedilatildeo e participaccedilatildeo comunitaacuteria

(Gonzaacutelez Galbarte 2005)bull A rede de traacutefego de veiacuteculos Um caso sobre mobilidade gestatildeo do transporte e organi-

zaccedilatildeo do territoacuterio (Camacho Aacutelvarez e Gonzaacutelez Galbarte 2005) bull A cozinha de Teresa Um caso sobre alimentaccedilatildeo automaccedilatildeo e emprego (Martiacuten Gor-

dillo 2005b) bull A escola em rede Um caso sobre educaccedilatildeo novas tecnologias e socializaccedilatildeo (Martiacuten

Gordillo 2005c)

Eacute possiacutevel encontrar proposta de aplicaccedilatildeo industrial para a disciplina quiacutemica no trabalho de Silva (2003)

Ramos e Silva (2007) ndash relembrando Nelkin (1989) Juan (2006) Hines (2006) Albe (2006) ndash pro-potildeem temas como a construccedilatildeo de aeroporto numa aacuterea metropolitana no Canadaacute alocaccedilatildeo de lixo nuclear proveniente de usinas utilizaccedilatildeo de tecnologia de DNA recombinante nas pesquisas cien-tiacuteficas mudanccedila climaacutetica na Terra organismos geneticamente modificados o perigo dos telefones celulares para a sauacutede

De nossa parte temos recolhido um interessante conjunto de casos a partir dos debates realizados na disciplina CTS dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo desde o Mestrado Profissional em Ensino de Ciecircn-cias e Matemaacutetica do CEFETRJ A avaliaccedilatildeo dos professores participantes do exerciacutecio de anaacutelise da construccedilatildeo social da ciecircncia e da tecnologia eacute sempre positiva e culmina na realizaccedilatildeo de casos de controveacutersia simulada como por exemplo Criacionismo ou evolucionismo uso de ceacutelulas tronco os riscos da mina de carvatildeo Implantaccedilatildeo de usina nuclear ldquoGatosrdquo de luz Internacionalizaccedilatildeo da Amazocircnia Uso de tecnologia 4G dentre outros

Nossa maior contribuiccedilatildeo nesta aacuterea ateacute o momento foi certamente a capacitaccedilatildeo em serviccedilo para professores do Estado do Espiacuterito Santo nos anos de 2008 e 2009 A capacitaccedilatildeo trabalhou com 120 professores voluntaacuterios que teriam a tarefa de replicar o Curso CTS com foco em Tecnica de Contro-veacutersia para seus colegas Quiacutemica (572 professores) Fiacutesica (594 professores) Biologia (604 professo-res) e Matemaacutetica (870 professores) O curso de formaccedilatildeo poderia tambeacutem atender a professores das seacuteries finais do Ensino Fundamental (Chrispino 2013)

Apoacutes etapas de estudos e debates presenciais e de disseminaccedilatildeo nas escolas os representantes cons-truiacuteram controveacutersias controladas a partir de temas escolhidos pela comunidade escolar testaram cada uma delas em vaacuterias escolas e propuseram um texto final que foi impresso e distribuiacutedo para todas as escolas e todos os professores da rede estadual do Espiacuterito Santo As atividades de testagem estatildeo descrias no quadro X a seguir

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Quadro ldquoXrdquo ndash Temas por SRE e populaccedilatildeo escolar envolvida

Temas das controveacutersias tecnocientiacuteficas de impacto social Superintendecircncias Regionais de Educaccedilatildeo ndash SRE

Nuacutemero de

escolas alunos

1 Agrotoacutexico Opccedilatildeo ou NecessidadeAfonso Claacuteudio 02 399

Linhares 01 80

2 Aacutegua Bem de Todos Patrimocircnio de NingueacutemColatina 02 94

Nova Veneacutecia 01 49

3 Bicombustiacutevel Alternativa ou ProblemaLinhares 01 60

Vila Velha 01 18

4 Culto agrave Beleza Sauacutede ou Obsessatildeo

Cariacica 02 68

Guaccedilui 01 32

Nova Veneacutecia 01 25

Vila Velha 01 28

5 Construccedilatildeo de Hidreleacutetricas Um Mal Necessaacuterio ou uma Decisatildeo Arbitraacuteria Colatina 02 38

6 Lei Seca Valorizaccedilatildeo da VidaCachoeiro de Itapemirim 03 83

Carapina 01 210

7 Lixo Interesse Econocircmico ou Ecoloacutegico

Afonso Claacuteudio 01 80

Barra de Satildeo Francisco 01 38

Carapina 01 25

8 Refeacutens do Maacutermore e GranitoBarra de Satildeo Francisco 01 64

Cachoeiro de Itapemirim 02 62

9 Petroacuteleo Heroacutei ou VilatildeoCarapina 03 119

Satildeo Mateus 05 210

10 Biotecnologia dos Transgecircnicos Seraacute esse o FuturoCariacica 01 36

Guaccedilui 01 30

Totais gerais 35 1848

O desenho do curso de formaccedilatildeo de professores-multiplicadores e a construccedilatildeo das atividades de campo consideraram aleacutem das reflexotildees apontadas por Solbes Vilches e Gil (2001) as observaccedilotildees e experiecircncias descritas por Reis (2008) Fontes e Cardoso (2006) Magalhatildees e Tenreiro-Vieira (2006) Vieira e Martins (2005) Cachapuz et al (2005) Solbes e Vilches (2002) Membiela (2001 1995) e Carvalho (1999)

A seguir apresentamos uma seacuterie de trabalhos de controveacutersia controlada ou metodologia aproxi-mada que podem ser obtidos pela internet

74 Casos de controveacutersia controlada para estudo

Eacute possiacutevel obter casos de controveacutersia controlada em revistas eletrocircnicas Alguns estatildeo listados a seguir

Aguirre del Busto R L Macias Llanes Ma E iquestExiste la verdad cientiacutefica Controver-sia histoacuterica en torno al descubrimiento de Carlos J Finlay Rev Hum Med Ciudad de Camaguey v 4 n 3 2004 Disponiacutevel em httpscielosldcuscielophpscript=sci_arttextamppid=S1727-81202004000300008amplng=esampnrm=iso Acesso em 30 Jul 2008

Bernardo J R da R Vianna D M Fontoura H A da Produccedilatildeo e consumo da energia eleacute-trica a construccedilatildeo de uma proposta baseada no enfoque ciecircncia-tecnologia-sociedade-am-biente (CTSA) Ciecircncia amp Ensino vol 1 nuacutemero especial novembro de 2007 httpwww

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igeunicampbrojsindexphpcienciaeensinoarticleview157114

Garciacutea Carmona A Relaciones CTS en el estudio de la contaminacioacuten atmosfeacuterica una ex-periencia con estudiantes de Secundaria httpsaumuvigoesreecvolumenesvolumen4ART3_Vol4_N2pdf

Carvalho W L P Farias C R Zocoler J V S Momesso N F G Lucindo J Gonccedilalves Eliane Cristina Estudo do impacto soacutecio-ambiental causado pela construccedilatildeo das usinas hi-droeleacutetricas da regiatildeo de Ilha Solteira In Pinho S Z Saglietti J R C (Org) Nuacutecleos de Ensino da Unesp - Publicaccedilatildeo 2006 Satildeo Paulo Editora Unesp 2006 v 1 p 117-125 httpwwwunespbrprogradPDFNE2004artigoseixo2estudoimpactosocioambientalpdf

Castro Carolina M Los usos sociales del periodismo cientiacutefico y de la divulgacioacuten El caso de la controversia sobre el riesgo o La inocuidad de las antenas de telefoniacutea moacutevil httpwwwrevistactsnet410013file

Chrispino A O uso da teacutecnica de controveacutersia controlada na abordagem CTS Proibiccedilatildeo do Fumo decisatildeo pessoal ou social Simulaccedilatildeo educativa de um caso CTS sobre a sauacutede 2005 httpwwwcampus-oeiorgsalactsialvarohtm

Delgado M y Vallverduacute J Valores en controversias la investigacioacuten con ceacutelulas madre httpwwwrevistactsnet3901

Farias C R de O e Carvalho W L P de O direito ambiental na sala de aula significados de uma praacutetica educativa no ensino meacutedio Ciecircncia amp Educaccedilatildeo v 13 n 2 p 157-174 2007 httpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S1516-73132007000200002amplng=enampnrm=isoamptlng=pt

Vieira K RCF Bazzo W A Discussotildees acerca do aquecimento global uma proposta CTS para abordar esse tema controverso em sala de aula Ciecircncia amp Ensino vol 1 nuacutemero espe-cial novembro de 2007 httpwwwigeunicampbrojsindexphpcienciaeensinoarticleview155119

Os bons resultados da aplicaccedilatildeo da teacutecnica satildeo tambeacutem identificados por Martiacuten Gordillo e Osorio (2003) e Reis e Galvatildeo (2004 apud Ramos e Silva 2007) quando escrevem que os casos de controveacuter-sia controlada favorecem resumidamente

Martin Gordillo e Osorio (2003) Reis e Galvatildeo (2004)

1 Uma aprendizagem dos conteuacutedos de ciecircncia e tecnologia no contexto social

2 Uma percepccedilatildeo mais ajustada da atividade tecnocientiacutefica que inclui a presenccedila de aspectos valorativos

3 Uma consideraccedilatildeo mais ajustada dos viacutenculos existentes entre a investigaccedilatildeo baacutesi-ca e o desenvolvimento praacutetico

4 Uma consciecircncia da necessidade de que os natildeo especialistas tambeacutem participem nas decisotildees de poliacutetica cientiacutefica

5 Uma aprendizagem das disciplinas tecnocientiacuteficas em interaccedilatildeo efetiva com os campos proacuteprios das disciplinas sociais

6 Uma incorporaccedilatildeo da dimensatildeo criativa e luacutedica da aprendizagem dos conteuacutedos tecnocientiacuteficos o que natildeo eacute mais que reivindicar a proacutepria essecircncia da atividade criadora proacutepria da ciecircncia e da tecnologia pois que muitas vezes estaacute ausente do ensino das ciecircncias e das tecnologias mais orientado para a reproduccedilatildeo dos sabe-res estabelecidos do que para o desenvolvimento das capacidades que permitam aos alunos aprenderem a indagar a apropriar-se e a construir novos saberes algo que resulta essencial nas propostas participativas dos casos simulados

1 Construir uma imagem de ciecircn-cia e tecnologia como atividades influenciadas por valores hieraacuter-quicos de conveniecircncia pessoal questotildees financeiras e pressotildees sociais

2 Reforccedilar a ideia de que ciecircncia e tecnologia representam uma fon-te tanto de progresso como de preocupaccedilatildeo ao mesmo tempo e que deveria ser regrada por prin-ciacutepios morais e eacuteticos e

3 Reconhecer como eacute importante que os cidadatildeos e o Estado par-ticipem acompanhando aces-sando e controlando o progresso cientiacutefico e tecnoloacutegico e suas implicaccedilotildees

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CTS E A TEacuteCNICA DA CONTROVEacuteRSIA CONTROLADA109

Conheccedila maisReis Pedro Rocha dos A escola e as controveacutersias sociocientiacuteficas ndash Perspectivas de alunos e professores Lisboa Escolar Editora 2008

75 Como se fosse o fim

A Abordagem CTS eacute certamente provocadora de reflexotildees

Por conta dela reavaliamos a onipotecircncia da Ciecircncia e da Tecnologia percebemos que o conheci-mento natildeo eacute por si soacute bom percebemos que o aparato tecnoloacutegico que nos auxilia a principio pode estar carregado de ideologia observamos que a Ciecircncia e a Tecnologia e seus melhores especialistas possuem um ldquoquecircrdquo de humanos com todas as suas idiossincrasias vislumbramos um espaccedilo de par-ticipaccedilatildeo na decisatildeo dos caminhos a serem traccedilados para o futuro da sociedade tecnocientiacutefica a que todos estamos vinculados

Percebemos que natildeo estamos preparados nem habituados a ocupar o espaccedilo da controveacutersia e de-fender posiccedilotildees diferentes do grande grupo

Percebemos que o nosso conhecimento que possuiacutemos natildeo estaacute organizado de forma a contribuir para todas as superaccedilotildees que a contemporaneidade nos solicita

Percebemos que natildeo fomos educados para uma efetiva participaccedilatildeo social luacutecida e esclarecida Se hoje percebemos isso por coerecircncia natildeo podemos mais ser multiplicadores destas mesmas po-siccedilotildees que nos impediram de desenvolver estas importantes competecircncias sociais a partir do conhe-cimento organizado do campo de nossa atuaccedilatildeo profissional especiacutefica A participaccedilatildeo social soacute se aprende participando criemos os espaccedilos de participaccedilatildeo para que os nossos alunos em todos os niacuteveis simulem e antecipem as dificuldades que poderatildeo viver proxima-mente e quando estivermos ofertando a eles as simulaccedilotildees da realidade e oferecendo as ferramentas do conhecimento que a pode transformar estaremos oferecendo a noacutes mesmos o que natildeo tivemos antes A cada controveacutersia controlada que coordenarmos estaremos abrindo janelas de novas per-cepccedilotildees aos jovens sob nossa direccedilatildeo e estaremos reafirmando a noacutes mesmos que uma sociedade melhor eacute possiacutevel

MODELAGEM PARA PARTICIPACcedilAtildeO SOCIAL NAS RELACcedilOtildeES CTS UTILIZANDO AS ORDENS DE COMTE-SPONVILLE111

8 Modelagem para participaccedilatildeo social nas relaccedilotildees CTS utilizando as ordens de Comte-Sponville

Toda crenccedila na neutralidade moral da ciecircncia deveria ter evaporado no calor da explosatildeo de HiroshimaJoan Solomon

81 Introduccedilatildeo

Os acontecimentos de 11 de setembro de 2001 nas cidades de Nova Iorque e Washington demons-traram algumas fragilidades da sociedade atual deixando claro que o sentimento de seguranccedila que a envolvia era sensiacutevel Apesar do impacto social causado Schwartz (2003) conhecido formulador de cenaacuterios futuros eacute bastante claro quando escreve sobre o fato de jaacute terem sido antecipados os ataques terroristas inclusive tendo como objeto o World Trade Center

Em 11 de setembro de 2011 vimos as consequecircncias traacutegicas de ignorarmos tais previsotildees [sobre ataques terroristas] O ataque terrorista daquele dia foi talvez o acontecimento mais anunciado da histoacuteria Nas duas uacuteltimas deacutecadas meia duacutezia de comissotildees altamente respeitadas sinalizou que um incidente muito semelhante a esse poderia ocorrer Muitas previsotildees citavam especificamente o World Trade Center (em parte porque jaacute fora atacado antes) mencionavam o uso de aviotildees como armas ao referiam explicitamente a Osama bin Laden Ningueacutem sabia quando aquilo poderia ocorrer ndash poderia ser na semana seguinte ou dali a dois anos - mas os detalhes foram previstos Ainda assim a maioria das pessoas tanto na administraccedilatildeo de Bill Clinton quanto na de George W Bush concentrou sua atenccedilatildeo em outros assuntos antes de 11 de setembro prioridades domeacutesticas de campanha e outras na aacuterea militar incluindo programas de defesa atraacuteves de miacutesseis ( p 15-16)

Aleacutem disso devemos considerar a surpresa de ver uma tecnologia a favor de valores tatildeo distintos e com a capacidade de impactar o senso de seguranccedila com a intensidade percebida Tratando deste exemplo ao escrever sobre a vulnerabilidade social frente agrave tecnologia Bijker47

(2008) reflete que este tipo de fato social natildeo deve ter mudado radicalmente a percepccedilatildeo dos espe-cialistas em CTS certamente devido agrave maneira como eacute percebida a construccedilatildeo social da ciecircncia e da tecnologia e sua relaccedilatildeo com a sociedade Bijker (2008) lembra que os especialistas em CTS se perguntaram de que modo suas investigaccedilotildees poderiam contribuir para a melhor compreensatildeo destes eventos Ele entatildeo contribuiu particular-mente apresentando o argumento de ldquoque viver em uma cultura tecnoloacutegica implica invariavelmente viver em um mundo vulneraacutevel E a vulnerabilidade natildeo soacute eacute uma caracteriacutestica inevitaacutevelrdquo (p 118) como tambeacutem eacute uma condiccedilatildeo para a busca de inovaccedilatildeo Informa ainda que ldquopara viver em uma cul-tura aberta em mudanccedila e inovadora devemos pagar o preccedilo da vulnerabilidaderdquo

Tomando o conceito ampliado de tecnologia como sistema ndash o sistema tecnoloacutegico ndash natildeo seraacute difiacutecil enumerar acidentes de grandes proporccedilotildees em diferentes sistemas cientiacuteficos e tecnoloacutegicos ou sis-

47 Wiebe Bijker eacute um dos nomes mais consagrado na aacuterea de Construccedilatildeo Social da Tecnologia ou Construti-vismo Social da Tec-nologia (Social construction of technology conhecida por SCOT) Conheccedila mais em httpenwikipediaorgwikiWiebe_Bijker

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temas tecnocientiacuteficos como bem relaciona a literatura CTS o acidente quiacutemico em Bophal Iacutendia o desastre do Challenger os acidentes na aviaccedilatildeo os acidentes nucleares dentre outros Certamente estes acidentes em diferentes sistemas tecnocientiacuteficos complexos e interconectados (sistema quiacute-mico sistema espacial sistema aeronaacuteutico sistema nuclear etc) satildeo de alguma forma esperaacuteveis ou como prefere Perrow (1999 apud Bijker 2008) satildeo ldquonormaisrdquo Talvez o mais impactante no 11 de setembro tenha sido o fato dele ter sido inusitado sequestros simultacircneos de aviotildees de grande porte planejados por longo tempo para colidirem com preacutedios densamente habitados no coraccedilatildeo da Ameacuterica do Norte Ficamos surpresos Impactados Natildeo era esperaacutevel natildeo era previsiacutevel A socie-dade quedou-se inerte frente a um acidente causado por um sistema tecnocientiacutefico complexo Apoacutes isso o acidente e o retorno do choque reuniram-se os representantes da sociedade para entender o ocorrido e buscar impedir que se repetisse no esforccedilo de definir limites que diminuiacutessem a sua vul-nerabilidade Aproveitando o exemplo de reflexatildeo de Wiebe Bijker sobre o 11 de setembro e suas consequecircncias desastrosas podemos trazer agrave discussatildeo o que foi batizado pelo Presidente Barak Obama de 11 de set-embro ambiental que eacute o desastre no Golfo do Meacutexico causado pela explosatildeo da plataforma de petroacute-leo Deepwater Horizon em 20 de abril de 2010 provocando o derramamento de 60 mil barrisdia de petroacuteleo fazendo com que o oacuteleo alcanccedilasse os estados da Louisiana Mississipi Alabama e Floacuterida

O acidente provocou a reflexatildeo em torno da dependecircncia da sociedade americana ao petroacuteleo e soli-citou do governo e das empresas accedilatildeo efetiva para solucionar o que estaacute sendo considerado o maior desastre ambiental contemporacircneo Como efeito temos que EUA que produzem apenas 2 do pe-troacuteleo mundial enquanto consomem 20 de toda a produccedilatildeo voltaram atraacutes na autorizaccedilatildeo para perfuraccedilatildeo de poccedilos no Alaska e no atlacircntico as empresas especializadas indicam mudanccedilas em pro-cedimentos da aacuterea e a determinaccedilatildeo de Barak Obama de superar a inaccedilatildeo e fomentar a busca acele-rada por ldquotecnologias limpasrdquo (O Globo 16jun2010) o que podemos chamar de ldquosistemas limposrdquo

O que aconteceu com a plataforma Deepwater Horizon natildeo eacute novo Podemos enumerar outros ca-sos como o Ixtok 1 o Exxon Valdez Prestige ou Piper Alpha Esse tipo de acidente em um sistema tecnocientiacutefico como o sistema petroliacutefero eacute esperaacutevel Ficamos impactados com o volume de oacuteleo derramado com a incapacidade teacutecnica da empresa de fazer cessar o vazamento e pelo impacto no ambiente e na vida de milhares de pessoas que vivem ou se relacionam com o ecossistema afetado

Exemplos como o 11 de setembro e sua versatildeo ambiental satildeo exemplos extremos de fatos que pro-vocaram o choque e a posterior reflexatildeo social redundando em decisotildees que limitam e regulam os sistemas tecnocientiacuteficos Percebemos que os representantes da sociedade as instituiccedilotildees do terceiro setor a miacutedia de todo tipo se mobilizaram para aprender com o fato e deliberar sobre as suas conse-quecircncias buscando impedir ou diminuir a chance de repeticcedilatildeo

Outro importante exemplo de como a sociedade interfere com seus valores na atividade uso na con-duccedilatildeo das accedilotildees tecnocientiacuteficas eacute o automoacutevel Desde a exigecircncia de itens de seguranccedila inexistentes ateacute o surgimento da Lei Seca que estipula no extremo Se beber natildeo dirija

A evoluccedilatildeo do automoacutevel sintetiza um grande esforccedilo de otimizaccedilatildeo de custos a fim de diminuir o valor total do aparato e possibilitar vendas em escala Aleacutem disso observa-se um grande esforccedilo para identificar materiais que possam contribuir para melhoria de performance dos veiacuteculos Por fim haacute os itens de seguranccedila que mesmo sendo diferente de paiacutes para paiacutes ndash como se fosse possiacutevel imagi-nar que um cidadatildeo merece mais seguranccedila que outro de um paiacutes diferente ndash inauguram periacuteodos de inovaccedilatildeo em curtos espaccedilos de tempo Entretanto essas marcas de evoluccedilatildeo tecnoloacutegicas convivem

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com uma decisatildeo social de regular o uso e as rotinas que envolvem os automoacuteveis no Brasil (que eacute o nosso espaccedilo de estudo) Temos por exemplo

bull A obrigatoriedade do uso de cinto de seguranccedila Apesar de alguns acharem que usar ou natildeo usar cinto de seguranccedila eacute uma decisatildeo de cunho pessoal o Estado determina que seja obrigatoacuterio considerando a seguranccedila e tambeacutem pelo elevado nuacutemero de aciden-tes As viacutetimas de acidentes de tracircnsito ficam as expensas dos cofres puacuteblicos nos hos-pitais de trauma na aposentadoria por invalidez muitas vezes precoces ou pensatildeo por morte causada por acidentes automobiliacutesticos Alguns decidem se querem usar cinto mas todos pagamos suas despesas

bull Idade miacutenima para obter habilitaccedilatildeo Outro assunto polecircmico eacute a idade miacutenima para obter habilitaccedilatildeo para conduccedilatildeo de veiacuteculos automotores Argumentam alguns que o jovem de dezesseis anos pode escolher o Presidente da Repuacuteblica mas natildeo pode diri-gir carros Esquecem-se ou desconhecem que a decisatildeo de escolher o Presidente aos dezesseis anos eacute facultativa Logo ao fazer a opccedilatildeo por isso o jovem jaacute demonstrou alguma maturidade ou mesmo interesse pelos destinos do paiacutes demonstrando a racio-nalidade do processo e da escolha Ao contraacuterio a relaccedilatildeo jovem-maacutequina eacute eminente-mente emocional Carros cada vez mais possantes ndash apesar das limitaccedilotildees de velocidade ndash unem-se a estradas irresponsavelmente (natildeo) preservadas e ao fator grupo-de-jovens-juntos fazendo com que o resultado em meacutedia possa ser ldquoexplosivordquo bem desenhado nas sequecircncias cinematograacuteficas de Velozes e Furiosos (I II III e IV por enquanto)

bull Por fim haacute a deliberaccedilatildeo social de natildeo concordar com a relaccedilatildeo uso de aacutelcool e direccedilatildeo de veiacuteculos Por mais que possamos argumentar que haacute limites variados nessa relaccedilatildeo a sociedade brasileira fez sua opccedilatildeo pela regulamentaccedilatildeo e ela eacute extrema (talvez para evitar interpretaccedilotildees distorcidas ou casuiacutesmos) pois determina ldquoSe beber natildeo dirijardquo

Por conta destes acontecimentos e outros tantos parece-nos importante discutir sobre a necessidade de a sociedade participar mais e de melhor forma natildeo soacute na construccedilatildeo da ciecircncia e da tecnologia mas tambeacutem na definiccedilatildeo sobre os limites a velocidade de conquista as consequecircncias e a trans-parecircncia da ciecircncia da tecnologia e dos sistemas tecnocientiacuteficos

82 Uma modelagem para a participaccedilatildeo social sobre sistemas tecnocientiacuteficos De certa forma o choque causado pela consequecircncia inesperada de um aparato ou sistema tecno-cientiacutefico levanta a questatildeo sobre o que eacute permitido E a discussatildeo sobre o estabelecimento de possiacute-veis limites que impeccedilam ou diminuam as ocorrecircncias ou a sua extensatildeo apresenta outra questatildeo o que natildeo eacute permitido Eis aqui o estabelecimento dos possiacuteveis limites Para que se decirc o estabelecimento de possiacuteveis limites importa lembrar que cada segmento social envolvido na produccedilatildeo tecnocientiacutefica sua regulaccedilatildeo e suas consequecircncias possuem formas de ver e de entender cada um dos temas que compotildeem a complexa rede de relaccedilotildees CTS Por tal se percebe-mos a necessidade da discussatildeo sobre possiacuteveis limites eacute indispensaacutevel perceber que o modelo que acompanhe as posiccedilotildees distintas ou adversas dos componentes do sistema social envolvido poderaacute ter alto grau de arbiacutetrio na sua categorizaccedilatildeo na sua hierarquia na sua execuccedilatildeo e na sua avaliaccedilatildeo

Chreacutetien (1994) ao discutir as propostas de eacutetica do conhecimento apresentadas por Jacques Mo-nod e contrapocirc-las com os chamados teoremas de incompletude estabelecidos em 1931 por Kurt Goumldel escreve que ldquoa esperanccedila de fazer emergir do proacuteprio sistema a normatividade ou a legiti-midade eacute portanto vatilderdquo (p 25) Deixa apontado que ldquoum sistema formal natildeo pode fechar-se em si

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mesmordquo Ao se fazer essas mesmas questotildees Comte-Sponville48 (2005 e 2008) inicia um longo processo de reflexatildeo com um exemplo dos limites para as tecnociecircncias A partir daiacute iraacute propor o que chamare-mos de modelagem de sistema de construccedilatildeo e participaccedilatildeo social sobre tecnociecircncias Antecipamos desde jaacute que natildeo estamos propondo com a analise das ordens uma visatildeo compartimentada do evento real que sempre seraacute contextualizado e interdisciplinar Propomos uma loacutegica de anaacutelise baseada nas fronteiras de accedilatildeo dos atores sociais e a indispensaacutevel sistemas de pesos-e-contra-pesos a fim de buscar um consenso para o conviacutevio social

O modelo de Comte-Sponville (2005) resgata o conceito de ordens em Pascal49 definido como ldquoum conjunto homogecircneo e autocircnomo regido por leis alinhado a certo modelo de quem deriva sua inde-pendecircncia em relaccedilatildeo a uma ou a vaacuterias outras ordensrdquo (p 51) Com esse entendimento propotildee uma sequecircncia de ordens e um processo de relaccedilatildeo e interconexatildeo entre elas O estudo de Comte-Sponville esclarece a origem de expressotildees muito utilizadas no cotidiano e cujo conhecimento de suas origens perderam-se no tempo como por exemplo o que seja ridiacuteculo O ri-diacuteculo na visatildeo pascalina eacute a utilizaccedilatildeo de valores de uma ordem para avaliar fenocircmenos que estatildeo contidos em outra ordem Sobre isso informa Comte-Sponville (2008)

ldquoO coraccedilatildeo tem sua ordem o espiacuterito a sua que eacute por princiacutepio e demonstraccedilatildeo ningueacutem prova que deve ser amado expondo ordenadamente as causas do amor isso seria ridiacuteculordquo (Pascal) O ridiacuteculo eacute confundir ordens diferentes (o coraccedilatildeo e a razatildeo o espiacuterito e a for-ccedila) e eacute tambeacutem o que Pascal chama de tirania ldquoA tirania consiste no desejo de dominaccedilatildeo universal e fora da sua ordemrdquo Eacute o caso do rei que quer reinar sobre os espiacuteritos ou do em-presaacuterio que aspira ao amor de seus empregados Vecirc-se que a tirania eacute o ridiacuteculo no poder assim como o ridiacuteculo eacute uma tirania virtual ou decaiacuteda Mas cada eacutepoca tem seus ridiacuteculos cada eacutepoca tem seus tiranos (p 287-288)

Apoacutes isso o filoacutesofo pergunta que ordens responderiam as necessidades de hoje e propotildeem aquelas que se seguem

821 A Ordem tecnocientiacutefica

Comte-Sponville (2005) inicia perguntando qual o limite para a ciecircncia dos seres vivos Para a biolo-gia Mais especificamente qual o limite para a manipulaccedilatildeo geneacutetica ou a clonagem humana O faz como ele proacuteprio informa considerando sua longa experiecircncia com meacutedicos e com os problemas da bioeacutetica Apesar destes exemplos essa ordem vai muito aleacutem disso como exemplifica a seguir

Se incluirmos nela como convecircm as teacutecnicas de produccedilatildeo de venda de gestatildeo assim como as ciecircncias humanas (dentre as quais a economia) logo constatamos que essa ordem agrupa na verdade a totalidade do mundo social em seu confronto ndash tanto teoacuterico quanto praacutetico ndash com seu ambiente e com seus proacuteprios meios de existecircncia (Comte-Sponville 2008 p 288)

Diz o filoacutesofo que essas respostas a biologia bem como outras tecnociecircncias natildeo pode dar Natildeo por-que natildeo esteja avanccedilada ou avanccedilando mas porque esta natildeo eacute sua competecircncia A biologia ndash e as de-mais tecnociecircncias ndash ldquonos diz como fazer mas natildeo se devemos fazerrdquo (2005 p50) ou quais os limites

48 Andreacute Comte-Sponville (1952- ) Professor de Filosofia da Universidade de Paris I (Pantheoacuten-Sorbonne)49 Blaise Pascal (Clermont-Ferrand 19 de Junho de 1623 mdash Paris 19 de Agosto de 1662) foi um fiacutesico matemaacutetico filoacutesofo mora-lista e teoacutelogo francecircs Conheccedila mais em httpptwikipediaorgwikiBlaise_Pascal

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que natildeo devem ser ultrapassados Satildeo accedilotildees que estatildeo em ordens diferentes no conceito pascalino Lembra Carnap quando este diz que ldquoem loacutegica natildeo haacute moralrdquo e imagina que no livratildeo de Wittgen-tein que conteria o conjunto das proposiccedilotildees verdadeiras mas ldquonele soacute haveria fatos fatos ndash fatos mas natildeo eacuteticardquo (apud Comte-Sponville 2008 p 288 e 289) A ordem tecnocientiacutefica estrutura-se internamente pelo binocircmio possiacutevel e impossiacutevel que apesar de orientarem as rotinas proacuteprias dessa ordem satildeo incapazes de limitar a ordem em si mesma A ordem tecnocientiacutefica natildeo se limita a si mesma ateacute porque a tecnociecircncia tende sempre a ampliar os seus proacuteprios limites como expressa a chamada Lei de Gabor ldquoTodo possiacutevel seraacute sempre feitordquo Ela natildeo limita um espaccedilo ela mede o desenvolvimento Se analisado com a coerecircncia da ordem ldquonatildeo haacute nenhuma razatildeo cientiacutefica para diminuir a velocidade do progresso das ciecircncias nenhuma razatildeo teacutecnica para limitar as teacutecnicasrdquo (2008 p 289)

A tecnociecircncia jaacute mostrou que a inexistecircncia de limites pode trazer consequecircncias inesperadas e indesejadas a sociedade Sobre isso escreve o filoacutesofo

De modo que somos obrigados a limitar essa ordem tecnocientiacuteca a fim de que tudo o que eacute cientificamente pensaacutevel e tecnicamente possiacutevel nem por isso seja feito E como essa ordem eacute incapaz de se limitar a si mesma ndash natildeo haacute limite bioloacutegico para a biologia natildeo haacute limite econocircmico para a economia etc ndash soacute podemos limitar pelo exteriorrdquo (2005 p 53)

822 A Ordem Juriacutedico-poliacutetica

Comte-Sponville propotildee que existe uma 2ordf ordem que limitaraacute a 1ordf ordem pelo exterior A essa 2ordf ordem ele chamou de juriacutedico-poliacutetica que seraacute concretamente a Lei o Estado Essa ordem se estru-tura internamente pelo binocircmio legal e ilegal considerando como legal o que a lei autoriza e conside-rando que a lei foi produzida legitimamente em um Estado Democraacutetico e Republicano

Apoacutes definir o que seja e como se estrutura a segunda ordem o autor pergunta ldquoColoca-se entre-tanto a questatildeo de saber o que vai limitar essa segunda ordemrdquo (2005 p53) Natildeo seria pois limitar a Democracia Limitar os Direitos E por fim limitar a liberdade

Frente a estas questotildees Comte-Sponville (2005 e 2008) apresenta duas classes de argumentos que sintetizamos a seguir

1 Razatildeo individual

Um homem que repeite integralmente o conjunto de leis de seu paiacutes que faz o que a lei lhe impotildee e nunca faz o que ela proiacutebe poderia ser chamado de ldquolegalista perfeitordquo Indica o autor um ponto de anaacutelise interessante nenhuma lei veda o egoiacutesmo o desprezo o oacutedio a maldade etc Logo todas essas coisas poderiam fazer parte do ldquolegalista perfeitordquo e isso o tornaria um ldquocanalha legalistardquo Entatildeo um ldquocanalha legalistardquo pode ser cientificamente competente e tecnicamente eficiente Se assim for ndash e eacute ndash devemos buscar uma alternativa para que ldquotudo o que eacute tecnicamente possiacutevel e legalmente autorizado nem por isso seja feitordquo (2005 p 55)

2 Razatildeo coletiva

Comte-Sponville exemplifica este item com uma questatildeo que apresentou para dissertaccedilatildeo de seus alunos no curso de filosofia ldquoO povo tem todos os direitosrdquo Ao corrigir os trabalhos de seus alunos que se acreditavam portadores de excelente ldquoconsciecircncia democraacuteticardquo sur-

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preendeu-se com as respostas que indicavam que ldquosim claro O povo tinha todos os pode-resrdquo Os alunos justificavam que o povo era soberano e como tal possuiacutea todos os direitos Ao devolver os trabalhos corrigidos ele apresentava a seguinte provocaccedilatildeo ldquose o povo tem todos os direitos ele tem portanto o direito de oprimir as minorias (por exemplo votar leis antijudaicas) praticar eugenia ou assassinato legal deflagrar guerras de agressatildeo O que seria isso senatildeo uma barbaacuterie democraacuteticardquo (2008 p 291)

Informa que os alunos responderam natildeo ter sido essa sua intenccedilatildeo (o que ele diz jaacute saber) e que haacute uma Constituiccedilatildeo que proiacutebe todos esses exemplos apresentados Ocorre que a Constituiccedilatildeo democraacutetica pode ser mudada pela proacutepria vontade do povo Uma lei muda outra E a lei seguinte natildeo precisa ser ldquomelhorrdquo que a anterior Lembra Rousseau quando este diz que natildeo haacute lei que se imponha ao povo que ele natildeo possa modificar (2008 p 292)

Natildeo haacute pois limites democraacuteticos para a democracia assim como natildeo haacute limites bioloacutegicos para a biologia

Conclui escrevendo

Temos portanto duas razotildees para querer limitar essa ordem juriacutedico-poliacutetica uma razatildeo individual para escapar do espectro do canalha legalista e uma razatildeo coletiva para escapar do espectro do povo que teria todos os direitos inclusive de fazer o pior E como essa ordem eacute incapaz tal como a precedente de se limitar a si mesma (natildeo haacute limites democraacutetico agrave democracia natildeo limites juriacutedicos ou poliacuteticos ao direito e a poliacutetica) soacute podemos limitaacute-la mais uma vez do exteriorrdquo (2005 p 59)

823 A Ordem da Moral

A ordem que deve limitar externamente a 2ordf ordem eacute chamada por Comte-Sponville (2005 e 2008) de Ordem da Moral e se estrutura internamente pelos binocircmios bem e mal e o dever e o proibido e se dirige a consciecircncia de todos e de cada um Daiacute diferencia-se em essecircncia da ordem moral bem a gosto dos sensores e daqueles que desejam ditar regras morais para serem seguidas pelo coletivo O filoacutesofo explicita o que entende por Moral a fim de diminuir a possibilidade de confundir-se ordem da Moral com ordem moral

O que eacute a moral Para abreviar responderei com Kant a moral eacute o conjunto de nossos de-veres ndash o conjunto para dizer com outras palavras das obrigaccedilotildees ou das proibiccedilotildees que impomos a noacutes mesmos natildeo necessariamente a priori (ao contraacuterio do que queria Kant) mas independentemente de qualquer recompensa ou sanccedilatildeo esperada e ateacute de qualquer esperanccedila Eacute o conjunto do que vale ou se impotildee incondicionalmente para uma consciecircn-ciardquo (2005 p 64)

A fim de esclarecer a importacircncia dessa ordem Comte-Sponville (2005 p 60-62) apresenta trecircs pontos para reflexatildeo

1 ldquoA soberania natildeo tem limites mas tem marcosrdquo O povo natildeo pode em nome da segunda ordem atentar por exemplo contra fatos da primeira ordem pois o povo estaacute submeti-do agraves leis da natureza e da razatildeo

2 A poliacutetica excede o Direito A forccedila da multidatildeo natildeo se restringe aacutes forccedilas institucionais que as representam Ela eacute responsaacutevel pelas suas fundaccedilotildees mas eacute por meio da resis-tecircncia a elas que a forccedila da multidatildeo calibra e equilibra a forccedila dos poderes bem como

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identifica e reage aos interesses instalados nos poderes e que natildeo satildeo proacuteprios destes como representantes do povo Eacute certo que o poder soberano do povo possui direitos na visatildeo juriacutedica mas eacute a proacutepria forccedila das multidotildees que produz o poder poliacutetico para o exerciacutecio do equiliacutebrio social50

3 A Moral existe Na discussatildeo sobre o poder absoluto do povo o filoacutesofo retoma a ideia de resistecircncia ou mesmo limite a segunda ordem informando sobre a resistecircncia da Mo-ral e da necessidade de interconexatildeo entre as ordens Escreve ele que o chamado povo soberano natildeo eacute capaz de modificar uma exigecircncia moral (terceira ordem) nem uma verdade tecnocientiacuteficas (primeira ordem) e que mesmo que ele decidisse

ldquosoberanamenterdquo (isto eacute neste caso ridiculamente) que o sol gira em torno da Terra ou que os homens satildeo desiguais em direito e dignidade isso natildeo mudaria em nada a verdade (no primeiro caso) ou a justiccedila (no segundo) do contraacuterio Distinccedilatildeo das ordens natildeo se vota o verdadeiro ou o falso nem o bem ou o mal Eacute por isso que a democracia natildeo substitui nem a consciecircncia nem a competecircncia E vice-versa consciecircncia moral (ordem n 3) e competecircncia (ordem n 1) natildeo poderiam substituir a democracia (ordem n 2) (2005 p 62)

Quando busca consolidar o argumento de controle da ordem segunda pela ordem terceira Comte-Sponville (2005 p 62) lanccedila matildeo de um interessante exemplo para distinguir as consequecircncias da lei e da Moral Escreve que haacute coisas que a lei permite mas que a Moral do indiviacuteduo natildeo se permite realizar Em contrapartida haacute coisa que a lei natildeo impotildee ao indiviacuteduo mas que este se impotildee por outros valores no exerciacutecio cotidiano Conclui que a Moral se soma agrave lei e por isso ldquoa consciecircncia de um homem de bem eacute mais exigente que o legislador o indiviacuteduo tem mais deveres que o cidadatildeordquo

No campo do povo ndash reuniatildeo de indiviacuteduos ndash ocorre fenocircmeno semelhante Haacute casos em que a Cons-tituiccedilatildeo poderaacute permitir mas que seraacute moralmente rejeitado (como o racismo por exemplo) pela sociedade Escreve ele

O conjunto do que eacute moralmente aceitaacutevel (o legiacutetimo) eacute mais restrito do que o conjunto do que eacute juridicamente cogitaacutevel (o legal inclusive em potencial) E como um limite negativo o povo tem menos direitos (por causa da Moral) do que o proacuteprio direito lhe concederdquo (p63)

A questatildeo da moral natildeo necessita de limites visto que natildeo eacute possiacutevel ser moral demais Nada haacute de ruim que algueacutem que tem deveres cumpra exatamente os seus deveres A quarta ordem natildeo produz limites externos agrave terceira ordem antes a complementa

824 A Ordem Eacutetica ou a Ordem do Amor

Se entendemos Moral numa visatildeo didaacutetica e simplificada para modelar o sistema que apresentamos como ldquotudo aquilo que se faz por deverrdquo e conceituamos eacutetica como ldquotudo aquilo que se faz por amorrdquo como propotildee Comte-Sponville percebemos que esta ordem potencializa a anterior

Esta ordem se estrutura internamente pelo binocircmio alegria e tristeza relembrando Aristoacuteteles que dizia que amar eacute ldquoregozijar-serdquo Jaacute Espinosa completaraacute que o ldquoamor eacute uma alegria que a ideia de uma causa exterior acompanha o oacutedio eacute uma tristeza que a ideia de uma causa exterior acompanhardquo

50 Citando Alain como bom leitor de Spinosa em nota de rodapeacute (2005 p 61) escreve ldquoResistecircncia e obediecircncia eis duas virtudes do cidadatildeo Pela obediecircncia ele garante a ordem pela resistecircncia garante a liberdaderdquo

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(Comte-Sponville 2005 p67)

O Amor interveacutem nas quatro ordens Todas elas satildeo importantes a sua maneira e devem acontecer ao mesmo tempo no mundo real com sua independecircncia relativa visto que cada uma possui loacutegica proacutepria e uma inter-relaccedilatildeo visto que uma natildeo funciona excelentemente sem o equiliacutebrio de forccedila das demais Ao final declara Comte-Sponville (2005 p 69) ldquoAs quatro satildeo necessaacuterias nenhuma eacute suficienterdquo

Na conclusatildeo sobre as ordens Comte-Sponville (2005 e 2008) ainda apresenta outros conceitos que nos auxiliam a entender a dinacircmica entre as ordens o de ridiacuteculo de tirania de angelitude e o de barbaacuterie

1 Ridiacuteculo eacute a confusatildeo das ordens Exemplo ldquoamem-me sou o professor de vocecircsrdquo Isso eacute ridiacuteculo pois ningueacutem eacute amado porque expos as razotildees de seu amor

2 Tirania eacute o desejo de dominaccedilatildeo universal e fora de sua ordem Aquele que quer obter por um caminho o que soacute pode obter por outro caminho Por exemplo Algueacutem que quer ser amado por ser forte ou obedecido por ser saacutebio ou temido por ser belo (2005 p 91)

3 Angelismo (ou tirania do superior) eacute a tentaccedilatildeo de pretender anular uma ordem ou sua loacutegica em nome de uma ordem superior Um exemplo de angelismo juriacutedico-poliacutetico seria a tentativa da segunda ordem tentar anular a primeira ordem (imposiccedilotildees teacutecni-cas e cientiacuteficas ou mesmo teacutecnico econocircmicas) O angelismo eacutetico seria a tentativa de libertar-se de seus deveres em nome de um pretenso amor universal (2008 p 296)

4 Barbaacuterie (tirania do inferior) eacute o inverso do angelismo Consiste na tentativa de uma ordem inferior submeter uma ordem superior Por exemplo reduzir a poliacutetica agrave teacutecnica seria uma barbaacuterie tecnocientiacutefica (tirania dos especialistas) Submeter ou reduzir o amor ao respeito pelos deveres seria a barbaacuterie moralizadora (tirania da ordem moral)

Logo o que se busca como ideal para o modelo em estudo natildeo eacute a valorizaccedilatildeo ou exclusividade de uma das ordens mas a comunicaccedilatildeo dinacircmica entre as quatro ordens Mais do que cada uma o valor estaacute no conjunto no sistema que elas compotildeem

Ocorrido um fato que atinja a sociedade independentemente de onde este possa ser posicionado no sistema espera-se primeiro que natildeo haja ridiacuteculo isto eacute pergunte-se corretamente a ordem adequa-da e segundo permita-se que as ordens dialoguem entre si numa contribuiccedilatildeo dinacircmica para melhor entendimento do fenocircmeno e de suas causas e efeitos

Como contribuiccedilatildeo especial ao trabalho a que nos dedicamos resgatamos uma frase do filoacutesofo em discussatildeo quando discute que eacute possiacutevel prolongar estas ordens para baixo ou mesmo para cima Escreve ele ldquoEu prolongaria de bom grado essas quatro ordens para baixo assinalando o lugar de uma ordem zero que seria a da natureza ou do real e que conteria todas as outrasrdquo (2008 p 295) Nosso interesse por esta frase se justifica por aquilo que temos defendido ao longo das atividades de reflexatildeo em torno da educaccedilatildeo do ensino e da abordagem CTS O mundo real eacute interdisciplinar e contextualizado Logo o exemplo apresentado reforccedila esta ideia as quatro ordens estatildeo presentes e contidas de forma interativa no mundo real na ordem zero Natildeo cabe repetir o equiacutevoco de frag-mentar as ordens como fizemos com a natureza para distribuiacute-la em pedaccedilos para as ldquodisciplinas cientiacuteficasrdquo

O modelo que apresentamos eacute bastante para o entendimento CTS se for aplicado com as quatro or-

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dens nos seus espaccedilos especiacuteficos e no equiliacutebrio de forccedilas a que se propotildeem

825 Outras contribuiccedilotildees ao modelo de ordens

Freeman Dyson (2008) ao comentar a ampliaccedilatildeo das fronteiras e os impactos das novas tecnologias do seacuteculo XXI aponta a necessidade de as normas eacuteticas dos cientistas modificarem na medida em que haja mudanccedila nos limites do bem e do mal causados pela tecnociecircncia De modo geral escreve ele o progresso da eacutetica eacute a cura para os danos causados pelo progresso tecnocientiacutefico (p 48) Na mesma linha de raciociacutenio indica o perigo das novas tecnologias ampliarem o fosso que separa os pobres dos ricos com por exemplo a desativaccedilatildeo de faacutebricas antigas para substituiacute-las por outras mais modernas que exigem maior e melhor educaccedilatildeo geral e profissional que aliaacutes os pobres natildeo possuem

Alain Peyrefitte (1999) em sua obra de focirclego A Sociedade de Confianccedila busca indicar como os valo-res religiosos influenciaram na construccedilatildeo das naccedilotildees em todo o mundo Defende a tese e faz longo percurso no esforccedilo de justificativa de que os valores difundidos pela Igreja Catoacutelica produziram um tipo de naccedilatildeo e um tipo de desenvolvimento enquanto as naccedilotildees cuja orientaccedilatildeo era protestante possuem outro conjunto de valores e um traccedilado de desenvolvimento diferenciado Aqui eacute possiacutevel perceber as diferenccedilas entre paiacuteses como a Franccedila Holanda e Inglaterra assim como buscar perce-ber o que a ideia da salvaccedilatildeo pela feacute ou pelas obras ajudou a impulsionar as naccedilotildees de base protestan-te Quando estaacute descrevendo o plano de sua obra Peyrefitte propotildee lanccedilar as bases de uma etologia comparada do desenvolvimento ldquo Etologia isto eacute estudo dos comportamentos e mentalidades res-pectivos das diversas comunidades humanas quando fornecem fatores de ativaccedilatildeo ou de inibiccedilatildeo em mateacuteria de intercacircmbio de mobilidade intelectual e geograacutefica de inovaccedilatildeordquo (p 29) Na dinacircmica de comunicaccedilatildeo das ordens valores morais de fundo religioso na terceira ordem podem influenciar a produccedilatildeo de primeira e segunda ordens

Javier Echeverria (2001a 2001b e 2003) parte das discussotildees sobre a superaccedilatildeo da ideia de ciecircncia herdada ndash neutra imparcial atemporal etc ndash e informa sobre as ideias atuais de ciecircncia e tecnologia a partir dos Estudos Sociais da Ciecircncia e da Tecnologia Ao longo de seus trabalhos sobre a possibili-dade real de relaccedilatildeo entre valores e Ciecircncia e Tecnologia Echeverria chega propor uma axiologia da ciecircncia e da tecnologia

Logo apoacutes os tristes acontecimentos do 11 de setembro de 2001 a Universidad Internacional Menedez Pelayo Valencia Espanha realizou um Curso Internacional intitulado ldquoLa sociedad del riesgordquo cujas exposiccedilotildees foram posteriormente publicadas em livro (Lujaacuten e Echeverriacutea 2004) Leon Oliveacute (2004 e 2007) ao tratar no referido curso do tema Risco eacutetica e participaccedilatildeo puacuteblica narra que apoacutes o 11 de setembro diversos chefes e ex-chefes de Estado se reuniram para fundar o Clube de Madrid que se propunha a colaborar com paiacuteses com democracias jovens oferecendo assessoria de especialistas para temas como terrorismo bioterrorismo etc Elencando uma seacuterie de acontecimentos divulgados por jornais de grande circulaccedilatildeo Oliveacute informa que foi noticiado o fato de que diversos paiacuteses faziam uso de agentes infecciosos e toacutexicos como armas de guerra natildeo divulgando para a sociedade pois satildeo considerados segredos de Estado Continuando a anaacutelise sobre a opiniatildeo que os especialistas pos-suem sobre a participaccedilatildeo cidadatilde Oliveacute (2007 p 98) comenta a reportagem de El Pais (28102001 p 4)

Lia-se informaccedilotildees sobre questotildees que natildeo apenas os cidadatildeos natildeo tecircm voz mas que se-

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gundo os especialistas natildeo devem mesmo aprender O resultado eacute que natildeo dispotildeem de ldquoin-formaccedilotildees veriacutedicas e completas sobre viacuterus ou bacteacuterias algumas delas geneticamente mo-dificadas para resistir a todas as vacinas ou antibioacuteticos desenvolvidos no mundordquo

A exposiccedilatildeo de Oliveacute parece nos remeter a questotildees que estatildeo ligadas agrave concepccedilatildeo herdada de ciecircn-cia e tecnologia baseada na ideia de que os especialistas estatildeo mais bem preparados para orientar os demais cidadatildeos em assuntos que natildeo satildeo dominados pela coletividade Os mesmos especialistas que se oferecem para ajudar democracias jovens natildeo foram capazes de antecipar os acontecimentos infe-lizes do 11 de setembro de 2001 do 11 de setembro ambiental como os demais acontecimentos infelizes produzidos por acidentes tecnocientiacuteficos Parece-nos que o conhecimento que eles acreditam ter natildeo foi capaz de ajudar nestes fatos por que ajudariam em outros da mesma ordem Isso eacute ridiacuteculo Como diria Pascal

Pode ser que o cidadatildeo natildeo seja capaz de opinar de forma estruturada sobre um conhecimento cien-tiacutefico especiacutefico ou sobre a possibilidade de realizaccedilatildeo tecnoloacutegica mas ele eacute muito bem preparado para dizer se o conhecimento e o aparato satildeo de interesse da sociedade Gerard Fourez (1995) inicia um capiacutetulo intitulado Ciecircncia Poder Poliacutetico e Eacutetico onde defende a necessidade de refletirmos sobre as relaccedilotildees entre CTS e afirma

A questatildeo do viacutenculo entre os conhecimentos e as decisotildees se impotildee portanto Que existe um viacutenculo isto eacute indicado pelo bom senso se se sabe que eacute possiacutevel construir uma ponte de uma margem a outra de um rio pode-se questionar se ela eacute ou natildeo desejaacutevel (p 207)

Na tentativa de concretizar as possibilidades de participaccedilatildeo social eacute possiacutevel identificar alguns mo-delos de exerciacutecio democraacutetico (Chrispino 2015) Hoje eacute possiacutevel identificar alguns importantes canais de exerciacutecio democraacutetico no Brasil Podemos enumerar a democracia representativa a demo-cracia participativa a democracia direta e a democracia consociativa a saber

bull A democracia representativa que resulta na eleiccedilatildeo de representantes do povo para os Poderes Legislativo e Executivo nos trecircs niacuteveis de governo (federal estadual e mu-nicipal) Isso quer significar que o povo tem participaccedilatildeo direta na qualidade dos seus representantes sendo certo que a qualidade dos governantes espelha o pensamento e a praacutetica dos eleitores visto que nenhum deles chegou ao poder por concurso ou por sorteio

bull A democracia participativa faculta a participaccedilatildeo mais efetiva de cidadatildeos em es-paccedilos de decisatildeo eou de acompanhamento Os exemplos satildeo os conselhos de acom-panhamento de accedilotildees de governo ou conselhos temaacuteticos Natildeo passa despercebido que um dos grandes entraves na consolidaccedilatildeo da boa representaccedilatildeo eacute o fato de que os que buscam representar se utilizam deste instituto como trampolim para projetos poliacuteticos pessoais tais como chegar a vereador chegar a deputado chegar a prefeito etc

bull A democracia direta se daacute pela participaccedilatildeo efetiva do cidadatildeo visando a decisatildeo Satildeo exemplos de participaccedilatildeo direta o plebiscito e o referendo Natildeo devemos confundir os institutos da democracia direta com as ferramentas de poliacutetica populista como foi o caso da denominada ldquoDemocracia Plebiscitaacuteriardquo que mais se assemelha a populismo oportunista quando um governante com alto iacutendice de aceitaccedilatildeo propotildee consulta agrave populaccedilatildeo sobre temas de interesse como a possibilidade de reeleiccedilatildeo sem limites Tambeacutem temos que observar com criteacuterio a diferenccedila entre a democracia Direta legiacuteti-ma e as accedilotildees populistas de consulta a populaccedilatildeo por meio de expedientes que possuem ldquoendereccedilo certordquo e ldquoresultado previsiacutevelrdquo como as conferecircncias temaacuteticas organizadas a partir de fraccedilotildees definidas de segmentos sociais organizados que mais representam as

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opiniotildees destes segmentos do que as necessidades verdadeiras da sociedade como um todo A democracia direta natildeo pode substituir o Legislativo natildeo pode ser um processo que se assemelham a ldquodemocratismos encomendadosrdquo e precisa ter seu caraacuteter delibe-rativo definido antes a fim de que o governante venha a aproveitar apenas o que lhe eacute conveniente

bull A democracia consociativa que natildeo deixa de ser uma derivada da democracia partici-pativa se caracteriza pela busca de consensos para o conviacutevio entre os diferentes ato-res e interesses que compotildeem a sociedade (Toba 2004) As conferecircncias nacionais os planos diretores os documentos de impacto de vizinhanccedila e de impacto ambiental satildeo exemplos deste novo instituto Aqui ganha aquele que demonstrar mais organizaccedilatildeo e capacidade de articulaccedilatildeo A chamada construccedilatildeo de consenso eacute uma tecnologia social que tende a ocupar importantes espaccedilos nas relaccedilotildees sociais contemporacircneas

Ao discutir sobre a participaccedilatildeo social em decisotildees tecnocientiacuteficas Loacutepez Cerezo (2009 p 138) apresenta trecircs blocos de temas Qual o puacuteblico que deve participar das discussotildees e sob que argumen-tos quem pode e deve participar e os modos possiacuteveis de participaccedilatildeo

A escolha do puacuteblico que deve participar dos debates envolvendo ciecircncia e tecnologia natildeo eacute sim-ples nem trivial Quando definimos um problema tecnocientiacutefico de alto impacto social precisamos responder a primeira pergunta que coletivo estaacute envolvido nesta questatildeo Ou ainda que coletivos estatildeo de alguma forma envolvidos na questatildeo Quando conseguimos responder a esta primeira etapa passamos a outra ordem de problema Dos envolvidos qual possui opiniatildeo mais importante ou mais relevante ou mais prevalente Tudo isso se torna mais complexo quando consideramos as mesmas questotildees na linha do tempo no presente estas perguntas podem ser respondidas de uma forma mas se considerada a visatildeo de futuro seriam as mesmas respostas

Loacutepez Cerezo (2009 p 138) cita Daniel Fiorino (1990) quando propotildee resumir os motivos de partici-paccedilatildeo social em trecircs argumentos

bull Argumento instrumental A participaccedilatildeo eacute a melhor garantia para evitar a resistecircncia social e a desconfianccedila sobre as instituiccedilotildees

bull Argumento normativo A tecnocracia eacute incompatiacutevel com os valores democraacuteticosbull Argumento substantivo O juiacutezo dos natildeo especialistas satildeo tatildeo razoaacuteveis quanto o juiacutezo

dos especialistas

No que se refere a Quem pode ou deve participar das discussotildees que envolvam temas tecnocientiacutefi-cos a discussatildeo natildeo eacute mais simples Considerando a diversidade de cidadatildeos e de segmentos sociais que estatildeo direta ou potencialmente envolvidos neste processo Loacutepez Cerezo (2009 p 139) informa que a literatura sobre participaccedilatildeo puacuteblica apresenta em geral ldquoum conjunto de criteacuterios para ava-liar o caraacuteter democraacutetico de iniciativas de gestatildeo puacuteblica em poliacutetica cientiacutefico-tecnoloacutegicardquo

bull Caraacuteter representativo deve produzir uma ampla participaccedilatildeo em um processo de to-mada de decisatildeo Em princiacutepio quanto maior eacute o nuacutemero e a diversidade dos indiviacuteduos ou grupos envolvidos mais democraacutetico pode considerar-se o mecanismo participativo em questatildeo

bull Caraacuteter igualitaacuterio deve permitir a participaccedilatildeo cidadatilde em peacute de igualdade com os es-pecialistas e as autoridades governamentais Ele implica entre outras coisas transmis-satildeo de toda informaccedilatildeo disponibilidade de meios natildeo intimidaccedilatildeo igualdade de trato e transparecircncia no processo

bull Caraacuteter efetivo deve traduzir-se em um fluxo real sobre as decisotildees adotadas Para ele eacute

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necessaacuterio que se produza uma delegaccedilatildeo da autoridade ou um acesso efetivo a aqueles que a detecircm

bull Caraacuteter ativo deve permitir ao puacuteblico participante envolver-se ativa-mente na defi-niccedilatildeo dos problemas e no debate de seus paracircmetros principais e natildeo soacute considerar rea-tivamente sua opiniatildeo no terreno das soluccedilotildees Trata-se de fomentar uma participaccedilatildeo integral para a qual natildeo haacute portas fechadas previamente

Rigolin (2014) ao estudar a participaccedilatildeo puacuteblica e avaliaccedilatildeo social da Ciecircncia e da Tecnologia escre-ve que a emergecircncia de inovaccedilotildees tecnoloacutegicas de caraacuteter controverso produziria maior

demanda puacuteblica por informaccedilatildeo e maior inclusatildeo no processo decisoacuterio [e] refletiria uma reaccedilatildeo puacuteblica contra o hermetismo que caracteriza os modelos regulatoacuterios fundados nos-princiacutepios incontestaacuteveis e inacessiacuteveis da sound Science (Young et al 2001) Para alguns autores (Callon 1998 Young et al 2001 Kluver et al 2000 Smith 2001) e certas organi-zaccedilotildees internacionais (FAO 2001) o melhor arranjo para a orquestraccedilatildeo de conflitos (po-liacuteticos juriacutedicos etc) que envolvem incerteza complexidade e controveacutersia cientiacuteficatem sido a ampliaccedilatildeo do conceito de expertise incorporando a visatildeo e os interesses dos diferen-tes atores sociais potencialmente afetados pela difusatildeo de novas tecnologias no processo de formulaccedilatildeo implementaccedilatildeo ou avaliaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas via procedimentos parti-cipativos (p 131)

No que se refere a espaccedilos institucionais possiacuteveis para a participaccedilatildeo social em ciecircncia e tecnologia Loacutepez Cerezo (2009) ndash assim como Bazzo Linsingen e Pereira (2003) ndash informa as principais opccedilotildees que foram ensaiadas em diversos paiacuteses tais como Estados Unidos Austraacutelia Reino Unido Sueacutecia e Paiacuteses Baixos que buscamos sintetizar a seguir

bull Audiecircncias puacuteblicas satildeo habitualmente foros abertos e pouco estruturados onde a par-tir de um programa previamente determinado pelos representantes da administraccedilatildeo se convida o puacuteblico a escutar as propostas governamentais e comentaacute-las

bull Gestatildeo negociada se desenvolve a partir de um comitecirc negociador composto por repre-sentantes da administraccedilatildeo e grupos de interesse implicados por exemplo induacutestria associaccedilotildees profissionais e organizaccedilotildees ecologistas Os participantes tecircm acesso a a informaccedilotildees relevantes assim como a oportunidade de persuadir a outros e alinhaacute-los com suas posiccedilotildees

bull Paineacuteis de cidadatildeos este tipo de mecanismo estaacute baseado no modelo do jurado soacute que aplicado a temas cientiacutefico-tecnoloacutegicos e ambientais Sob este tipo de teacutecnica reuacutenem-se modelos de caraacuteter decisoacuterio ou meramente consultivo A ideia central eacute que os cidadatildeos comuns (escolhidos por sorteio ou por amostra aleatoacuteria) se reuacutenam para con-siderar sobre um assunto sobre o qual natildeo satildeo especialistas e apoacutes terem recebido das autoridades e especialistas as informaccedilotildees pertinentes apresentem recomendaccedilotildees ou alternativas aos organismos oficiais Comparada a audiecircncia puacuteblica esta teacutecnica eacute mais ativa e permite maior participaccedilatildeo e maior questionamento inclusive aos especialistas

bull Pesquisas de opiniatildeo sobre assuntos tecnocientiacuteficos permitem conhecer a percepccedilatildeo puacuteblica sobre determinado assunto de forma a orientar as decisotildees dos poderes legis-lativo e executivo

bull Consumo diferenciado de produtos de acordo com sua origem cientiacutefica-tecnoloacutegica satildeo escolhas feitas pelos cidadatildeos a favor do consumo de produtos marcados com algum tipo de selo indicativo de qualidade ou de diferenciaccedilatildeo

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Podemos identificar especialmente no Brasil alguns outros instrumentos tais como o referendum o plebiscito o Relatoacuterio de Impacto Ambiental (Rima) o Relatoacuterio de Impacto de Vizinhanccedila accedilotildees civis puacuteblicas e sempre o direito de questionar em Juiacutezo quando se sentir lesado

83 Como se fosse conclusatildeo A construccedilatildeo social da ciecircncia e da tecnologia natildeo pode prescindir da alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica dos membros da sociedade a fim de que estes tenham um miacutenimo de condiccedilotildees para entender refletir e contribuir nas decisotildees a serem tomadas em temas tecnocientiacuteficos de impacto social O modelo de educaccedilatildeo e de ensino que aiacute estaacute posto natildeo atende as suas necessidades Da mesma forma eacute necessaacuterio discutir um modelo mesmo que idealizado que permita a visuali-zaccedilatildeo das possibilidades de participaccedilatildeo social no conjunto de decisotildees que envolvem temas tecno-cientiacuteficos em geral A proposta de Comte-Sponville permite a visualizaccedilatildeo deste conjunto de va-riaacuteveis e permite um primeiro passo de entendimento preacute-requisito para o processo de melhoria de participaccedilatildeo Com essa visualizaccedilatildeo especialistas poliacuteticoslegisladoresgestores educadores em Ciecircncia e Tec-nologia e cidadatildeos satildeo capazes de ordenar discussotildees e a sociedade organizada pode melhor planejar sua participaccedilatildeo e solicitar a participaccedilatildeo dos membros que compotildeem as demais ordens estabele-cendo a dinacircmica proposta ao longo do trabalho Este pode ser um cenaacuterio orientador de possibi-lidades colocando em foco como propotildee Biejker (2008 p136) a fragilidade constitutiva de nossa cultura tecnoloacutegica considerando sua estrutura e seus valores centrais

Conheccedila mais

Aibar E La participacion del puacuteblico em las decisiones cientiacutefico-tecnoloacutegicas In Aibar E Quintanilla MA (edit) Ciencia Tecnologia y SociedadMadrid Editorial Trotta Consejo superior de Investigaciones Cientificas 2012

SOBRE AS ABORDAGENS CTS125

9 Sobre as abordagens CTS

Em resumo a soluccedilatildeo natildeo consiste em ldquomais ciecircncia e tecnologiardquo mas sim em um tipo diferente de ciecircncia e tecnologia

Gonzaacutelez Garciacutea Loacutepez Cerezo e Lujaacuten Loacutepez

91 Introduccedilatildeo As relaccedilotildees entre Ciecircncia Tecnologia Sociedade e Poliacutetica Ateacute este ponto buscamos apresentar fatos que nos levam a refletir sobre a chamada neutralidade da Ciecircncia e da Tecnologia bem como de seus operadores os cientistas e especialistas em tecnologia Esperamos ter demonstrado as relaccedilotildees estreitas entre Ciecircncia e Tecnologia e a necessidade de desenvolvermos uma interaccedilatildeo mais estreita e intensa entre estas duas aacutereas do conhecimento e a Sociedade Vamos agora estudar mais um pouco como pode se dar estas relaccedilotildees e como elas podem ser de forma mais ou menos expliacutecitas interdependentes Jaacute citamos exaustivamente o exemplo do Relatoacuterio Bush e o Projeto Manhattan Vamos agora buscar em Alan Chalmers51 (1994) alguns exemplos para ilustrar o tema a que nos propomos discutir

No livro que escolhemos para ilustrar nossas questotildees Chalmers (1994) estaacute preocupado

em identificar e caracterizar a meta da ciecircncia distinguindo-a de outras atividades com di-ferentes objetivos Disso natildeo se deve concluir que eu considere a meta da ciecircncia algum bem absoluto e sem restriccedilotildees necessariamente superior a outras metas Um exemplo ajudaraacute a colocar a glorificaccedilatildeo irrestrita da ciecircncia dentro de uma perspectiva mais realistaHumphrey Davy inventou em 1815 a chamada lacircmpada de seguranccedila dos mineiros Natildeo haacute nenhuma duacutevida de que isso tenha sido uma bemlograda consequecircncia de uma pesquisa cientiacutefica pura (possivelmente realizada por Faraday) que envolvia a determinaccedilatildeo da tem-peratura de igniccedilatildeo do metano e a eficaacutecia de um veacuteu de arame atuando como barreira para a temperatura J A Paris um dos bioacutegrafos de Davy referiu-se a essa pesquisa bem suce-dida como orgulho da ciecircncia triunfo da humanidade e gloacuteria da eacutepoca em que vivemos () e mais recentemente a Union Carbide Chemicals and Plastics exaltou as virtudes da pesquisa de Davy e comparou suas contribuiccedilotildees para a humanidade agraves da Union Carbide Afinal de contas Humphrey Davy acendeu uma lacircmpada para benefiacutecio da humanidade e natildeo desejamos que ela se apague (Albury e Schwartz 1982 p 13) Isso natildeo eacute muito inco-mum em relaccedilatildeo agrave maneira como o valor intriacutenseco da ciecircncia eacute retratado e glorificadoNo entanto () um exame mais circunspecto da histoacuteria real desse episoacutedio nos leva a uma avaliaccedilatildeo bem mais moderada Um efeito imediato da introduccedilatildeo da lacircmpada de Davy nas minas de carvatildeo foi um aumento acentuado no nuacutemero de explosotildees e fatalidades Natildeo eacute difiacutecil discernir a razatildeo para isso Do ponto de vista dos proprietaacuterios das minas o problema que pressionava natildeo era tanto a seguranccedila da mina mas o fato de que as operaccedilotildees em mi-nas ricas de carvatildeo se tomavam inacessiacuteveis por causa da acumulaccedilatildeo do metano O proble-ma deles que era o que expuseram a Davy era saber como fazer os mineiros entrarem nas

51 Allan Chalmers (1939- ) eacute inglecircs naturalizado australiano formou-se em fiacutesica e dedicou-se aos estudos da Filosofia e da His-toacuteria Eacute professor de Histoacuteria e Filosofia da Ciecircncia na Universidade de Sydney Austraacutelia

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SOBRE AS ABORDAGENS CTS126

minas perigosas cheias do gaacutes venenoso A pesquisa de Davy proporcionava uma resposta mas naturalmente sua lacircmpada estava longe de ser perfeita O veacuteu poderia soltar-se as co-rrentes de ar poderiam soprar a chama para fora e as partiacuteculas de carvatildeo que se grudavam em seu exterior se tornariam vermelhas com o calor Os mineiros admitiam que o problema mais seacuterio nas minas era uma ventilaccedilatildeo precaacuteria Eles percebiam que as principais fatalida-des depois de uma explosatildeo ocorriam por sufocaccedilatildeo pelo monoacutexido e dioacutexido de carbono em consequecircncia da explosatildeo Eles propunham medidas como o aprofundamento de mais poccedilos mas essas sugestotildees foram em geral deixadas de lado presumivelmente devido aos custos que encerravam Os mineiros poderiam ser perdoados pelo ceticismo a respeito de qualquer afirmaccedilatildeo de que o progresso da ciecircncia eacute um bem sem reservas (p 160-161)

O autor conclui o item informando que existe na atualidade situaccedilotildees comparaacuteveis a essa onde pelos efeitos adversos que a ciecircncia possibilita

eacute razoaacutevel em muitos contextos reivindicar que um uso socialmente mais equumlitativo do con-hecimento cientifico que temos eacute um problema de maior urgecircncia do que a produccedilatildeo de mais conhecimento cientiacutefico Mesmo quando basta atribuir grande prioridade agrave aquisiccedilatildeo do conhecinotmento cientiacutefico resta a questatildeo de qual das muitas linhas possiacuteveis de pesquisa cientiacutefica deveria ser seguida Resta entatildeo a questatildeo que espeacutecie de ciecircncia desejamos Eacute inquestionaacutevel que uma grande forccedila por traacutes da direccedilatildeo do desenvolvimento da ciecircncia ocidental eacute proveniente dos interesses militares e econocircmicos das agecircncias governamentais e dos interesses aliados das corporaccedilotildees multinacionais Muitos de noacutes desejariam que as coisas fossem diferentes e que a ciecircncia se tivesse desenvolvido em direccedilotildees mais de acordo com os interesses e as necessidades das pessoas comuns De qualquer maneira a ciecircncia tem que ser avaliada e articulada segundo interesses e valores As avaliaccedilotildees e as lutas poliacute-ticas aiacute encerradas natildeo satildeo por si soacute receptivas agraves soluccedilotildees cientiacuteficas (p 161)

Leia maisSobre Humphry Davy

Beltran Ma H Roxo Humphry Davy e as cores dos antigos Quiacutem Nova vol31 n1 Satildeo Paulo 2008 httpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S0100-40422008000100033amplng=enampnrm=iso

Dwyer Tom O surgimento da engenharia de seguranccedila Empregadores trabalhadores e a lacircmpada de Davy Mul-tiCiecircncia UNICAMP httpwwwmulticienciaunicampbrartigos_06a_04_6pdf

Dwyer Tom Vida e morte no trabalho - acidentes do trabalho e a produccedilatildeo social do erro Satildeo Paulo Editora Unicamp 2006

A discussatildeo entatildeo passa a ser natildeo mais ldquose a tecnociecircncia interfere no dia-a-diardquo ou ldquose a tecnociecircncia produz resultados somente para o bem-estarrdquo mas sim ldquoque forccedilas impulsionadoras podem ser identificadas em cada movimento que favorece um avanccedilo tecnocientiacuteficordquo Certamente este eacute um movimento muito mais complexo do que simplesmente aplaudir as conquistas tecnocientiacuteficas que nos chegam por meio de produtos de consumo O que se estaacute apontando eacute a necessidade da alfabetizaccedilatildeo tecnocientiacutefica capaz de identificar os movimentos que orientam e sustentam uma ou outra linha de pesquisa eou produccedilatildeo tecnocientiacutefica Natildeo haacute nessa visatildeo a possibilidade de acharmos que o movimento da ciecircncia e tecnologia ndash a tecnociecircncia ndash existe sem a accedilatildeo e decisatildeo socialmente dirigidas Essas accedilotildees possuem um vieacutes poliacutetico (Poliacutetica com P maiuacutesculo e poliacutetica com p minuacutesculo) O que natildeo eacute obrigatoriamente ruim Chalmers (1994) nos relembra e comenta uma histoacuteria claacutessica apresentada por Bruno Latour (1987) e que ilustra de forma espetacular essa necessaacuteria relaccedilatildeo entre Ciecircncia Tecnologia Sociedade e Poliacutetica que chamaremos de CTS+P

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SOBRE AS ABORDAGENS CTS127

Os fatores que se ocultam por traacutes da satisfaccedilatildeo das condiccedilotildees materiais necessaacuterias para o trabalho cientiacutefico envolvem uma ampla seacuterie de interesses outros que natildeo a produccedilatildeo do conhecinotmento cientifico Esse ponto eacute graficamente ilustrado por Bruno Latour (1987 p 153-7) num trecho impressionante em que ele compara a atividade cotidiana de uma cientista num importante laboratoacuterio californiano com o diretor do laboratoacuterio a quem se refere como o chefe A cientista se considera interessada no desenvolvimento da ciecircncia pura e desinteressada das questotildees poliacuteticas ou sociais Procura distanciar-se do governo e do setor privado para concentrar-se em sua pesquisa pura Em compensaccedilatildeo o chefe estaacute sempre envolvido em atividades poliacuteticas em todos os niacuteveis o que muitas vezes lhe vale a zombaria da cientista O exemplo de Latour trata da pesquisa de uma nova substacircncia o pandorin que promete ter grande significado na fisiologia Na lista das atividades em que o chefe se envolve numa se-mana comum estatildeo as seguintes entre outras negociaccedilotildees com as grandes companhias far-macecircuticas a respeito do possiacutevel patenteamento do pandorin um encontro com o ministro da Sauacutede francecircs onde seraacute discutida a possibilidade de abertura de um novo laboratoacuterio na Franccedila uma reuniatildeo na Academia Nacional de Ciecircncia em que o chefe defende a necessi-dade de mais um subdepartamento reuniatildeo da diretoria da revista meacutedica Endocrinology onde pede mais espaccedilo para sua aacuterea e reclama de conselheiros que pouco sabem sobre a disciplina uma visita ao matadouro local em que discute a possibilidade de decapitar ove-lha de modo a causar menos danos ao hipotaacutelamo reuniatildeo na universidade onde propotildee um novo programa de curso contendo mais biologia nuclear e informaacutetica discussatildeo com um cientista sueco sobre os instrumentos recentemente criados por ele para detectar pep-tiacutedeos e possiacuteveis estrateacutegias para desenvolvecirc-los e discurso na Associaccedilatildeo dos DiabeacuteticosContinuemos acompanhando Latour voltando nossa atenccedilatildeo para o trabalho da cientista no laboratoacuterio pouco depois Descobrimos que ela conseguiu empregar um novo teacutecnico o que foi possiacutevel graccedilas a uma bolsa recebida da Associaccedilatildeo dos Diabeacuteticos haacute tambeacutem dois novos estudantes jaacute formados que entraram no campo atraveacutes dos novos cursos criados pelo chefe Sua pesquisa beneficiou-se com amostras mais limpas de hipotaacutelamo que satildeo agora recebidas do matadouro e com um novo instrumento de grande sensibilidade recentemen-te adquirido da Sueacutecia que aumenta sua capacidade de detectar traccedilos insignificantes de pandorin no ceacuterebro Os resultados preliminares de sua pesquisa seratildeo publicados numa nova seccedilatildeo de Endocrinology Ela estaacute refletindo sobre um novo cargo que lhe foi oferecido pelo governo francecircs para a implantaccedilatildeo de um laboratoacuterio na FranccedilaSe a cientista da histoacuteria muito realista de Latour considera envolvida na ciecircncia pura que natildeo eacute perturbada por questotildees poliacuteticas e sociais mais amplas ela estaacute muito enganada A satisfaccedilatildeo das condiccedilotildees materiais que eacute um preacute-requisito para a realizaccedilatildeo de sua pesquisa soacute pode ser obtida como resultado da atividade poliacutetica que encerra uma seacuterie de interesses sociais como ilustram as atividades do chefe Se por exemplo investigamos o suficiente a respeito da origem dos fundos para qualquer aacuterea de pesquisa na fiacutesica nos Estados Unidos quase sempre damos de frente com os interesses dos militares e do Departamento de Defesa no desennotvolvimento dos modernos sistemas armamentistas E L Woollett (1980 p 109) expotildee a situaccedilatildeo num artigo revelador qualquer pessoa com o diploma de fiacutesica que leia o Relatoacuterio Anual da Secretaria da Defesa admitiraacute a maneira essencial como o progresso da ciecircncia estaacute hoje associado ao progresso nos modernos sistemas armamentistas Minha insistecircncia em fazer uma distinccedilatildeo entre a ciecircncia e outras atividades com metas diferentes deixa pouco mais que farelos para a anaacutelise do socioacutelogoO simples fato de que a atividade cientifica natildeo pode ser separada das outras que atendem a outros interesses natildeo implica em si que o objetivo da ciecircncia esteja subvertido A anaacutelise um

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SOBRE AS ABORDAGENS CTS128

tanto conservadora e funcionalista da organizaccedilatildeo institucional da ciecircncia de Robert Mer-ton (1973) mostra isso muito bem Merton acredita que a ciecircncia eacute governada por normas que definem o coacutedigo apropriado de comportamento dos cientistas normas de universalis-mo desinteresse comunismo e ceticismo organizado Presume-se que a fidelidade a essas normas leve adiante a meta da ciecircncia Contudo cada cientista tem suas proacuteprias normas e interesses como a aquisiccedilatildeo de riqueza fama e poder por exemplo Merton diz que a meta da ciecircncia se concilia com os interesses dos cientistas por meio do sistema institucionaliza-do de recompensas e penalizaccedilotildees Dessa maneira os cientistas satildeo coagidos a agir de modo a atender os interesses da ciecircncia porque eacute exatamente esta forma de agir que resulta nas recompensas que atendem a seus proacuteprios interesses Naturalmente haacute outros interesses em jogo na atividade cientiacutefica como os monopoacutelios profissionais governa-mentais e dos setores privados o descuido em relaccedilatildeo a estes eacute uma das falhas da anaacutelise de Merton En-tretanto ela serve para mostrar que a ciecircncia natildeo eacute automaticamente subvertida quando haacute outros interesses envolvidos Podemos ilustrar mais esse ponto observando que foi uma feliz coincidecircncia entre alguns aspectos dos interesses da ciecircncia e os da burguesia que per-mitiu que a ciecircncia prosperasse na mareacute da revoluccedilatildeo cientiacutefica (Chalmers 1994 p 157-159 veja tambeacutem Bartel e Johnston 1984)

Leia maisSobre Bruno Latour e sua publicaccedilatildeoTeixeira Maacutercia de Oliveira A ciecircncia em accedilatildeo seguindo Bruno Latour Hist cienc saude-Manguinhos vol8 n1 Rio de Janeiro MarJune 2001httpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S0104-59702001000200012

Sobre Robert K Merton (1910-2003)Nunes Everardo D Merton e a sociologia meacutedica Hist cienc saude-Manguinhos vol14 n1 Rio de Janeiro JanMar 2007 httpwwwscielobrscielophppid=S0104-59702007000100008ampscript=sci_arttext

92 As Abordagens CTS um modelo possiacutevel Eacute possiacutevel conhecer os principais acontecimentos que marcam a evoluccedilatildeo da Abordagem CTS a partir dos textos de Kreimer e Thomas (2004) Cutcliffe (2003) Bazzo Linsingen e Pereira (2003) Lopez Cerezo (2002) Vacarezza (2002) e Gonzalez Garcia Loacutepez Cerezo e Lujaacuten Loacutepez (1996) Es-tes uacuteltimos ao apresentarem longa lista de acontecimentos que marcaram a histoacuteria do movimento CTS nos paiacuteses ocidentais especialmente os Estados Unidos propotildeem sua divisatildeo em trecircs periacuteodos

1 Otimismo Eacute o primeiro desde o uacuteltimo periacuteodo da Segunda Guerra Mundial ateacute 1955 (com o manifesto de Russel e Einstein sobre a responsabilidade social da ciecircncia) de-corre uma deacutecada otimista de demonstraccedilatildeo de poder da ciecircncia e da tecnologia de firme convicccedilatildeo no modelo unidirecional de progresso e de apoio puacutebico incondicional a ciecircncia-tecnologia

2 Alerta Eacute o segundo periacuteodo desde meados de anos cinquumlenta ateacute 1968 (desde o lanccedila-mento do Sputnik e o primeiro acidente nuclear grave ateacute o centro do movimento de contra-cultura e de revoltas contra a guerra do Vietnam) comeccedilam a vir a publico os primeiros grandes desastres produzidos pela tecnologia fora de controle Os movimen-tos sociais e poliacuteticos de luta contra o sistema fazem da tecnologia moderna e do estado tecnocraacutetico o alvo de sua luta

3 Reaccedilatildeo Eacute o terceiro periacuteodo de 1969 ateacute o presente descreve a consolidaccedilatildeo educativa e administrativa do movimento CTS como resposta acadecircmica educativa e poliacutetica a sensibilizaccedilatildeo social sobre os problemas relacionados com a tecnologia e o ambiente Eacute

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SOBRE AS ABORDAGENS CTS129

o momento da revisatildeo e correccedilatildeo do modelo unidirecional de progresso como base para o desenho da poliacutetica cientiacutefico-tecnoloacutegica (Gonzaacutelez Garciacutea Loacutepez Cerezo e Lujaacuten Loacutepez 1996 p 58-59)

Esse uacuteltimo movimento que se percebe ateacute hoje toma coloridos proacuteprios de acordo com o modelo de sociedade e de cidadatildeo em que as circunstacircncias de tecnociecircncia se manifestam Sociedades mais experientes na organizaccedilatildeo representativa e que possuem cidadatildeos mais esclarecidos satildeo capazes de desenvolver um programa de interaccedilatildeo CTS mais eficaz no sentido de que ldquoa soluccedilatildeo natildeo consiste em mais ciecircncia e tecnologia mas sim em um tipo diferente de ciecircncia e tecnologiardquo (Gonzaacutelez Garciacutea Loacutepez Cerezo e Lujaacuten Loacutepez 1996 p 56)

Sociedadescidadatildeos mais esclarecidos quanto agrave Ciecircncia e Tecnologia estatildeo mais aptos a solicitar explicaccedilotildees mais efetivas sobre o porquecirc e sobre os resultados de projetos de base tecnocientiacuteficos Podem questionar os valores que fundamentam os objetivos das poliacuteticas puacuteblicas (manifestaccedilatildeo da vontade de fazer dos governos) tanto quanto satildeo capazes de questionar sobre as consequecircncias das tecnociecircncias a curto meacutedio e longo prazos Essa diferenccedila do antes e do depois eacute comumente chamada nos estudos CTS de tradiccedilatildeo de origem europeacuteia e de tradiccedilatildeo de origem americana Sendo certo que esta divisatildeo hoje pela diversidade grupos de estudos CTS eacute mais didaacutetica do que geograacutefica A tradiccedilatildeo Europeacuteia considera na dimensatildeo social os antecedentes ou condicionantes sociais do CTS que contribuem para a formaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo dos complexos tecnocientiacuteficos (Gonzaacutelez Garciacutea Loacutepez Cerezo e Lujaacuten Loacutepez 1996 p 56) Esta tradiccedilatildeo que remonta o suporte teoacuterico de Thomas Kuhn realiza seus estudos baseados principalmente nas ciecircncias sociais e possui trabalhos importantes a partir das contribuiccedilotildees de S Woolgar e B Latour principalmente (Loacutepez Cerezo 2002 p 8) Jaacute a chamada tradiccedilatildeo americana considera na dimensatildeo social a consequecircncia social ou a forma como os produtos da tecnociecircncia incidem sobre nossa vida e na organizaccedilatildeo social (Gonzaacutelez Garciacutea Loacutepez Cerezo e Lujaacuten Loacutepez 1996 p 56) A atenccedilatildeo estaacute mais voltada para as consequecircncias sociais e ambientais dos produtos tecnoloacutegicos deixando em segundo plano geralmente os antecedentes sociais destes produtos Esta tradiccedilatildeo tem origem nos movimentos sociais dos anos 60 e 70 e que marcaram sua eacutepoca e contribuiacuteram sobremaneira para a consolidaccedilatildeo dos estudos CTS Numa visatildeo eminentemente acadecircmica eacute possiacutevel dizer que seus estudos estatildeo apoiados na aacuterea das ciecircncias humanas e se consolida institucionalmente por meio do ensino e da reflexatildeo poliacutetica conforme escreve Loacutepez Cerezo (2002 p 8) Pode parecer que ambas as abordagens sejam excludentes entre si ldquodevido agrave diversidade de suas perspectivas e acircmbitos de trabalho pesquisa acadecircmica por um lado poliacutetica e educaccedilatildeo por outrordquo Na verdade essas duas tradiccedilotildees satildeo elementos complementares de uma visatildeo criacutetica da tecnociecircncia como pretende demonstrar Loacutepez Cerezo (2002 p 21)

bull O desenvolvimento cientiacutefico-tecnoloacutegico eacute um processo conformado por fatores cul-turais poliacuteticos e econocircmicos e ademais epistemoloacutegicos Trata-se de valores e interes-ses que fazem da ciecircncia e da tecnologia um processo social

bull A mudanccedila cientiacutefico-tecnoloacutegica eacute um fator determinante que contribui para modelar nossas formas de vida e nosso ordenamento institucional Constitui um assunto puacuteblico de primeira magnitude

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SOBRE AS ABORDAGENS CTS130

bull Compartilhamos um compromisso democraacutetico baacutesicobull Portanto deveriacuteamos promover a avaliaccedilatildeo e o controle social do desenvolvimento cientiacute-

fico-tecnoloacutegico o que significa construir as bases educativas para uma participaccedilatildeo social formada bem como criar mecanismos institucionais para tornar possiacutevel tal participaccedilatildeo

Jaacute Cutcliffe (2003) quando estuda as diferentes abordagens prefere fazecirc-lo pela oacutetica de Steve Fuller (1992) que propotildee dividir os estudos CTS em ldquoalta igreja e baixa igrejardquo em resposta a artigo de Ilerbaig (1992) Esta divisatildeo muito difundida entre os estudiosos de CTS separa aqueles estudos com ldquoinclinaccedilatildeo acadecircmica e centrada em disciplinasrdquo e com orientaccedilatildeo soacutecioexplicativa daqueles estudos com ldquoinclinaccedilatildeo ativista social e centrada em problemasrdquo e com orientaccedilatildeo socialativista (p 104 e 106)

A classificaccedilatildeo entre Baixa e Alta Igrejas leva uma dicotomia e forccedila estereoacutetipos que podem ser perniciosos para o bem entendimento do que seja e o que pretende ser a Abordagem CTS Pode-se reduzir a Baixa Igreja ao Movimento CTS de base ativista e em paralelo pode-se dizer que Alta Igreja estaacute centrada na preocupaccedilatildeo de estudos e reflexotildees em torno de disciplinas estruturadas Cozzens (1990) chama a Alta Igreja de Pensamento CTS Buscando ampliar a visatildeo estreita que lkeva a reducionismos perversos Robin Williams e David Edge propuseram a expressatildeo Ampla Igreja agrupando os comportamentos descritivos e prescritivos diminuindo a tensatildeo entre as categorias evitando perdas desnecessaacuterias de energia e atenccedilatildeo dos especialistas em CTS O proacuteprio Cutcliffe ao longo de seu estudo propotildee outra maneira de categorizar os estudos CTS utilizando-se tangencialmente da divisatildeo de Steve Fuller Ele informa que a chamada alta igreja se manifesta em programas CTS apresentados de Estudos de Ciecircncia e Tecnologia enquanto a baixa igreja se apresenta em programas CTS intitulados como Ciecircncia Tecnologia e Sociedade Ao chamar atenccedilatildeo para estes dois representantes da divisatildeo proposta por Fuller Cutcliffe aponta a possiacutevel e necessaacuteria existecircncia de um terceiro grupo que ele vecirc se manifestar nos programas denominados de Ciecircncia Tecnologia e Poliacutetica ou Ciecircncia Engenharia e Poliacutetica Para o autor os programas deste terceiro grupo ldquotecircm uma orientaccedilatildeo profissional dirigida para as interaccedilotildees soacutecio-teacutecnicas em grande escala e sua gestatildeo Consideram a necessidade de e a preparaccedilatildeo em estudos das poliacuteticas de atuaccedilatildeo e gestatildeo adequadasrdquo (p 106) Esta divisatildeo didaacutetica proposta por Cutcliffe eacute importante por conta da anaacutelise de Vacarezza (2002) que ao analisar o desenvolvimento do CTS na Ameacuterica Latina Queremos lembrar do PLACTS-Pensamento Latinoamericano de CTS que tratamos no capiacutetulo 1 especialmente p 16 e seguintes escreve que

na America Latina a origem do movimento se encontra na reflexatildeo da ciecircncia e da tecnolo-gia como uma competecircncia das poliacuteticas puacuteblicasrdquo tendo ldquosurgido como uma criacutetica dife-renciada agrave situaccedilatildeo da ciecircncia e da tecnologia e de alguns aspectos da poliacutetica estatal nessa mateacuteria (p 52)

Vacarezza (2002) diz ainda que a poliacutetica se transformou em gestatildeo que a militacircncia caracteriacutestica do movimento CTS se transformou em formaccedilatildeo de especialistas e que estes movimentos administrativos prescindem do caraacuteter mobilizador e da pretensatildeo de mudanccedila proacuteprias do movimento CTS A existecircncia de uma abordagem CTS na Ameacuterica Latina quer como Movimento CTS quer como Estudo CTS ou outra necessaacuteria categorizaccedilatildeo deve merecer nossa atenccedilatildeo de pesquisa

Spiegel-Roumlsing e SollaPrice (1977 p 13) propotildeem que CTS possa ser precebido em 16 aacutereas distintas

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SOBRE AS ABORDAGENS CTS131

de pesquisa que respeitada a regionalizaccedilatildeo sociopoliacutetica estatildeo relacionadas agraves investigaccedilotildees individuais de CTS dentro dos paiacuteses do ocidente e do oriente As 16 aacutereas de pesquisa satildeo

1 Filosofia (incluindo metodologia e loacutegica) da ciecircncia e teoria da ciecircncia 2 Eacutetica da ciecircncia 3 Sociologia da ciecircncia 4 Classificaccedilatildeo de campo cientiacutefico e disciplinas 5 Criatividade e psicologia dos investigadores 6 Histoacuteria de organizaccedilatildeo da ciecircncia e de comunidades cientiacuteficas7 Organizaccedilatildeo administraccedilatildeo e gestatildeo de Pesquisa amp Desenvolvimento (incluindo infor-

maccedilatildeo e comunicaccedilatildeo) 8 Economia produtividade eficaacutecia financiamento etc de Pesquisa amp Desenvolvimento 9 Estatiacutesticas de ciecircncia e tecnologia 10 Planejamento de Pesquisa amp Desenvolvimento planejamento de recursos humanos em

ciecircncia e tecnologia poliacutetica puacuteblica para ciecircncia e tecnologia (incluindo relaccedilotildees com educaccedilatildeo economia negoacutecios estrangeiros induacutestria sauacutede agricultura meio ambien-te etc)

11 Previsatildeo tecnoloacutegica futurologia 12 Poliacutetica de ciecircncias internacional cooperaccedilatildeo internacional em ciecircncia e tecnologia

estudo comparativo de poliacuteticas de ciecircncia nacional 13 Legislaccedilatildeo de ciecircncia e tecnologia 14 Tranferecircncia de tecnologia 15 Avaliaccedilatildeo de tecnologia 16 Ciecircncia e sociedade popularizaccedilatildeo da ciecircncia

Vieira Tenreiro-Vieira e Martins (2011 p 18) buscando inspiraccedilatildeo em Ziman (1980) e em Solomons (1988) propotildeem a seguinte classificaccedilatildeo de abordagens CTS na educaccedilatildeo em Ciecircncias

Abordagem Foco(s)

HistoacutericaEvoluccedilatildeo da Ciecircncia e da tecnologia com a evoluccedilatildeo da Sociedade influecircncia da atividade cientiacutefica e tecnoloacutegica na histoacuteria da humanidade e influecircncia de acontecimentos histoacutericos no desenvolvimento da Ciecircncia e Tecnologia

Filosoacutefica

Epistemoloacutegica

Aspectos eacuteticos do trabalho cientiacutefico e responsabilidade social dos cientistas no exerciacutecio da atividade cientiacutefica

Natureza do conhecimento cientiacutefico seus limites e validade dos seus enunciados

Social

Socioloacutegica

A Ciecircncia e a tecnologia como empreendimentos sociais

Influecircncia da Ciecircncia e da Tecnologia na Sociedade e influecircncia da Sociedade no progresso cientiacutefico e tecnoloacutegico

Limitaccedilotildees e possibilidades do contributo da Ciecircncia e da Tecnologia para resolver ou minorar problemas que afetam a Sociedade

Poliacutetica Relaccedilotildees entre a Ciecircncia e a Tecnologia e os sistemas poliacuteticos (o uso poliacutetico da Ciecircncia e da Tecnologia tomada de decisatildeo sobre Ciecircncia e Tecnologia)

EconocircmicaInfluecircncia das condiccedilotildees econocircmicas na Ciecircncia e a Tecnologia

Influecircncia da Ciecircncia e da tecnologia no desenvolvimento econocircmico (induacutestria emprego consumo)

Cultura

Humanista

A Ciecircncia [e a Tecnologia] como cultura

Valores acerca da Ciecircncia e da Tecnologia

Frente as propostas de organizaccedilatildeo da aacuterea que chamamos de Construccedilatildeo Social da Ciecircncia e da Tec-nologia gostariacuteamos de apresentar uma possiacutevel ideia de evoluccedilatildeo deste segmento a partir de Oliver Martin (2003) ndash como poderia ser a partir de Vega Encabo (2012) Bennagravessar et al (2011) Chikara

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SOBRE AS ABORDAGENS CTS132

Sasaki (2010) Pierre Bourdieu (2008) Jesuacutes Valero (2004) Javier Echeverriacutea (2003) Stephen Cut-cliffe (2003) dentre outros ndash que elenca as ideias norteadoras dos pensadores em Sociologia inician-do com Auguste Comte (1789-1857) Karl Marx (1818-1883) Levy-Bruhl (1857-1939) Eacutemile Durkheim (1858-1917) para apoacutes isso iniciar o periacuteodo que chamou de Sociologia do Conhecimento Cientiacutefico Chama atenccedilatildeo para o fato que nenhum dos autores claacutessicos apesar de citarem o conhecimento cientiacutefico ldquoo converteu em objeto central de seus propoacutesitosrdquo (p 18) e apresenta trecircs autores que em sua visatildeo abordaram precisamente o conhecimento cientiacutefico como objeto de estudo Max Scheller (1874-1928) Karl Mannhein (1893-1947) e Pitirim Sorokin (1889-968)

Dando continuidade a sua narrativa Martin (2003) escreve que

Em nenhum momento os autores claacutessicos que temos revisado atribuem a sociologia a ca-pacidade de explicar a origem da validez das teorias cientiacuteficas Em geral propotildeem uma classificaccedilatildeo das formas de conhecimento e distinguem o conhecimento cientiacutefico de outras formas de conhecimento natildeo pretendem definir sociologicamente as fronteiras que sepa-ram essas diferentes formas Para eles a definiccedilatildeo de ciecircncia natildeo surge da sociologia e sim com maior seguranccedila da epistemologia Todos admitem que o desenvolvimento da ciecircncia respeita uma loacutegica essencialmente racional que os conhecimentos cientiacuteficos evoluem de modo endoacutegeno e que a validez de uma teoria eacute independente de sua origem socialrdquo (p 23)

O autor deixa claro que as discussotildees sobre verdadeiro e falso objetivo e subjetivo ciecircncia e natildeo-ciecircncia e tudo mais que trate de um relativismo em ciecircncia natildeo possui espaccedilo nem apoio ateacute entatildeo

Essa visatildeo ingecircnua seraacute ampliada e enriquecida quando nas deacutecadas de 1920 e 1930 a ciecircncia comeccedilou a ser encarada de forma diferente especialmente no processo de elaboraccedilatildeo e de construccedilatildeo bem como o sistema de difusatildeo do conhecimento cientiacutefico e de como os cientistas se organizavam Esta nova fase eacute personalizada e demarcada ainda segundo Martin (2003) tendo como siacutembolo Robert Merton

Esta nova fase recebe como jaacute estudado anteriormente no capiacutetulo 2 as contribuiccedilotildees de Thomas Kuhn (1922-1996) cujas ideias servem como ponto de partida para reflexotildees e surgimento de abordagens importantes para esta nova etapa da sociologia da ciecircncia do grupo de estudos franco-britacircnico (PAREX Paris e Sussex) que passou a se chamar European Association for the Study of Science and Technology do chamado Programa Forte em Sociologia do Conhecimento Cientiacutefico e do chamado Programa Empiacuterico do Relativismo e mais recentemente a chamada sociologia da tecnologia que se apropria tambeacutem de saberes oriundos da filosofia da tecnologia

No Brasil os estudos de Natureza da Ciecircncia e da Tecnologia ndash NdCeT satildeo fortemente difundidos na grande aacuterea da Educaccedilatildeo em Ciecircncia e Tecnologia podendo ser percebida em duas grandes sub-aacutereas com histoacuterico e produccedilatildeo bem distintas A primeira mais disseminada consolidada e produtiva eacute a que se pode chamar de Histoacuteria e Filosofia da Ciecircncia (e menos em Tecnologia) atendendo ao que aponta Martin na sua narrativa histoacuterica quando diz que a produccedilatildeo cientifica estava entregue desde antes aos epistemoacutelogos

A segunda sub-aacuterea da Natureza da Ciecircncia e da Tecnologia pode ser identificada com a abordagem CTS-Ciecircncia Tecnologia e Sociedade cuja definiccedilatildeo caminha para um consenso como sendo a construccedilatildeo social da ciecircncia e da tecnologia e o estudo destas na sociedade que lhes abriga e daacute origem Esta aacuterea mais afeta aos ditames da sociologia (e a sociologia do conhecimento sociologia

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SOBRE AS ABORDAGENS CTS133

da ciecircncia sociologia da tecnologia sociologia da ciecircncia e da tecnologia e por fim sociologia da tecnociecircncia) eacute pouco representada na aacuterea de Educaccedilatildeo em Ciecircncia e Tecnologia necessitando de atenccedilatildeo e de oportunidade de estruturar-se a fim de melhor contribuir para a Educaccedilatildeo mais criacutetica em Ciecircncia e Tecnologia de um cidadatildeo cada vez mais tecnocientificamente dependente

Atividade Proposta para reflexatildeo

Os meios de comunicaccedilatildeo vecircm trazendo informaccedilotildees sobre os conflitos violentos envolvendo iacutendios governo e populaccedilatildeo de modo geral a partir das divergecircncias sobre a instalaccedilatildeo de hidreleacutetricas em alguns pontos da regiatildeo amazocircnica

Considerando o que foi apresentado (1) identifique as premissas que cada um desses atores sociais utiliza para defender sua posiccedilatildeo no conflito e (2) proponha uma abordagem CTS para este conflito de interesse

SOBRE AS VARIAacuteVEIS QUE IMPLICAM NAS RELACcedilOtildeES CTS135

10 Sobre as variaacuteveis que implicam nas relaccedilotildees CTS

101 Introduccedilatildeo Temos buscado apresentar a necessidade de natildeo oferecermos agrave Tecnologia e agrave Ciecircncia um atributo de infalibilidade mas sim demonstrar que a Tecnociecircncia (Tecnologia + Ciecircncia) satildeo construiacutedos socialmente e interagem fortemente de forma expliacutecita e impliacutecita com atores sociais e com dinacircmi-cas de grupos e comunidades organizadas

Vaacutezquez Manassero Acevedo e Acevedo (2008) escrevendo sobre a Natureza da Ciecircncia (NdC) apresentam uma concepccedilatildeo mais ampla que inclui as relaccedilotildees da sociedade com o sistema tecnocien-tiacutefico Dizem que o conceito deve englobar

uma variedade de aspectos sobre o que eacute a ciecircncia seu funcionamento interno e externo como constroacutei e desenvolve o conhecimento que produz os meacutetodos que usa para validar esse conhecimento os valores envolvidos nas atividades cientiacuteficas a natureza da comuni-dade cientiacutefica os viacutenculos com a tecnologia as relaccedilotildees da sociedade com o sistema tecno-cientiacutefico e vice-versa as contribuiccedilotildees desta para a cultura e o progresso da sociedade Este estudo analisa os potenciais consensos entre os especialistas com relaccedilatildeo agraves duas uacuteltimas questotildeesAlguns autores () afirmam que a sociedade manteacutem com a ciecircncia e a tecnologia (a partir de agora CeT) um contrato social um tanto impliacutecito que estabelece a pauta dessas relaccedilotildees a sociedade financia economicamente as necessidades da CeT e estas em troca oferecem agrave sociedade benefiacutecios que melhoram a qualidade de vida e contribuem ao seu progresso e desenvolvimento econocircmico e social Por esse motivo a CeT alcanccedilaram uma relevacircncia tatildeo grande nas sociedades avanccediladas atuais a ponto de desenvolver um universo de relaccedilotildees e viacutenculos entre elas o que resultou numa nova construccedilatildeo social denominada tecnociecircncia como o compecircndio da integraccedilatildeo da pesquisa do desenvolvimento e da inovaccedilatildeo ()A partir de um ponto de vista educacional o argumento democraacutetico eacute um elemento subs-tancial a favor da inclusatildeo da NdC numa educaccedilatildeo cientiacutefica que procura a finalidade da alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica de todas as pessoas pois segundo os peritos a parti-cipaccedilatildeo dos cidadatildeos nas decisotildees tecnocientiacuteficas de interesse social requer a compreen-satildeo de elementos da NdC () Com relaccedilatildeo a esse assunto a pesquisa didaacutetica mostra um panorama complexo em que confluem os conhecimentos cientiacuteficos dos temas colocados em jogo e da NdC o raciociacutenio moral (valores e normas) as emoccedilotildees e os sentimentos as crenccedilas culturais sociais religiosas e poliacuteticas os aspectos que estatildeo implicados de alguma forma nas relaccedilotildees entre a sociedade e a CeT (grifos nossos)

Frente ao que escrevem os autores eacute pertinente buscarmos o impacto dos valores morais normas sociais estabelecidas emoccedilotildees sentimentos crenccedilas culturais sociais e religiosas nas relaccedilotildees CTS Certamente se defendemos na abordagem CTS que a Ciecircncia e a Tecnologia satildeo socialmente construiacutedas eacute de se esperar que o que chamaremos de visotildees de mundo (as ideologias os valores as crenccedilas a religiatildeo as expectativas etc) e tudo mais que caracteriza essa Sociedade tenham alguma participaccedilatildeo na construccedilatildeo social da Ciecircncia e da Tecnologia

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SOBRE AS VARIAacuteVEIS QUE IMPLICAM NAS RELACcedilOtildeES CTS136

Por tal vamos estudar um pouco mais o quanto alguns desses fatores que compotildeem a visatildeo de mundo parafraseando Kneller (1980) podem afetar a Ciecircncia e a Tecnologia Na impossibilidade de estu-darmos de forma mais avantajada todos os itens como eacutetica (Fourez 1995 Mitcham 1996 Dyson 1998 Oliveacute 2000 2007 Valero 2006 Johnson e Wetmore 2008 Briggle e Mitcham 2012) jus-ticcedila social (Dyson 2001) gecircnero em seus variados aspectos (Porro e Arango 2011 Gonzaacutelez Garcia 2001 Chassot 2003 Peacuterez Sedentildeo 2001 Suchman 2008 Etzkowitz 2008 Keller 1995) valores (Echeverriacutea 2001 2002 Lacey 2008 2010 Loacutepez Cerezo e Lujaacuten 2012 Martiacutenez e Hoyos 2006) Poliacutetica (Dagnino e Thomas 1996 Hedge 1998 Dagnino 2007 Maldonado 2005 Thorpe 2008 Hackett 2008 Vessuri e Saacutenchez-Rose 2012) religiatildeo (Merton 1938 Kneller 1980 Henry 1998 Martin 2003 Gould 2007) eou participaccedilatildeo social em Ciecircncia e Tecnologia (Martin e Richards 1995 Lacey 2008 2010 Bucchi e Neresini 2008 Hess et al 2008 Aibar 2012 Jasanoff 2012) CTS em outras culturas (Feenbeerg 1995 Low Nakayama Yoshioka 1999) escolhemos a Ideologia para este capiacutetulo de estudo

102 Tecnologia e Ideologia

Chrispino (2005) tratando da mesma temaacutetica mas aplicada ao universo da Educaccedilatildeo diraacute52 que ldquoas Poliacuteticas Puacuteblicas [definidas como accedilatildeo de governo] sofrem influecircncia decisiva oriunda da diversi-dade de entendimento sobre o que seja ideologia e como ela se manifestardquo Cita Michael Loumlwy (apud Konder 2002) que escreve

Existem poucos conceitos na histoacuteria da ciecircncia social moderna que sejam tatildeo enigmaacuteti-cos e polissecircmicos como esse de ideologia Ao longo dos uacuteltimos dois seacuteculos ele se tornou objeto de uma acumulaccedilatildeo incriacutevel ateacute mesmo fabulosa de ambiguumlidades paradoxos arbitrariedades contra-sensos e equiacutevocos (grifos nossos)

Esta posiccedilatildeo apresentada por Konder (2002) fortalece a tese de que as decisotildees de governo concre-tizadas nas chamadas Poliacuteticas Puacuteblicas satildeo contaminadas por processos ideoloacutegicos nem sempre expliacutecitos Se por um lado podemos dizer que isto eacute esperado no universo poliacutetico com especial atenccedilatildeo ao brasileiro devemos tambeacutem atentar para a necessidade de se estudar a submissatildeo das de-cisotildees de toda ordem a ideologias poliacuteticas de forma mais ou menos expliacutecitas ndash estas infinitamente mais perigosas do que as primeiras No momento e para melhor esclarecer o que pretendemos aqui lembramos que os estudiosos da ideologia indicam o surgimento da palavra na deacutecada de 1790 com o filoacutesofo francecircs De Tracy (Crespigny amp Cronin1999 e Vincent 1995) sendo depois derivada pelo uso dado por Napoleatildeo quando se contrapotildee agravequeles que se perderam no ldquonevoeiro das ideias abstratasrdquo como escrevem Crespigny amp Cronin (1999)

Ideologia adquiriu conotaccedilatildeo mais nossa conhecida quando Napoleatildeo e os liberais do Insti-tut se desentenderam Quando os liberais se opuseram a suas tendecircncias centralizantes Na-poleatildeo os repudiou caracterizando-os como simples ideoacutelogos A ideologia se perdeu num nevoeiro de ideias abs-tratas na busca vatilde dos primeiros princiacutepios ldquoOs canhotildees mataram o feudalismo A tinta mataraacute a sociedade modernardquoIdeologia como acusaccedilatildeo usada em contraste com tudo o que deve ser realista eis natu-ralmente um dos sentidos em que a palavra ainda hoje eacute empregada Seu significado mais abrangente para caracterizar os sistemas de crenccedilas de grupos sociais tem origem ainda mais recente que data da deacutecada de 1840 e das primeiras obras de Marx Certamente natildeo foi ele o primeiro a perceber que os grupos sociais carregam consigo sistemas de maneiras

52 A partir de Chrispino Alvaro Binoacuteculo ou luneta Os conceitos de poliacutetica puacuteblica e ideologia e seus impactos na educaccedilatildeo Revista Brasileira de Poliacutetica e Administraccedilatildeo da Educaccedilatildeo Brasiacutelia n 21-1 e 21-2 jandez2005 p61-90

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de ver frequumlentemente mais impliacutecitos do que expliacutecitos sistemas que limitam os hori-zontes conceituais e que influenciam natildeo apenas as respostas que os homens encontram mas ateacute mesmo as proacuteprias perguntas que tendem a fazer (p 6) (grifos nossos)

Para exemplificarmos a diversidade das classificaccedilotildees apresentadas para as ideologias consideremos apenas trecircs autores

1 Bobbio (2001) conservadorismo liberalismo socialismo cientiacutefico anarcoliberalismo o fascismo e o tradicionalismo

2 Crespigny amp Cronin (1999) conservadorismo liberalismo socialismo democratismo totalitarismo e nacionalismo

3 Vincent (1995) liberalismo conservadorismo socialismo anarquismo fascismo femi-nismo ecologismo e nacionalismo

Sobre as relaccedilotildees da Tecnologia com a Ideologia podemos recorrer a Chreacutetien (1994) Fourez (1995) e Dyson (1998) dentre outros

Chreacutetien (1994) trataraacute da ideologia com ecircnfase na visatildeo marxista apresentando suas principais ca-racteriacutesticas e seus possiacuteveis impactos na ciecircncia O autor apresenta detalhamento o caso de TD Lys-senko (1898-1976) que chama de ldquosiacutembolo das pretensotildees e ilusotildees de uma descontaminaccedilatildeo ideoloacute-gica da ciecircnciardquo (p 137)

Fourez (1995) definiraacute ideologia como um discurso que se daacute a conhecer como uma representaccedilatildeo adequada do mundo mas que possuem mais um caraacuteter de legitimaccedilatildeo do que um caraacuteter descritivo Considera-se discurso ideoloacutegico aquele que

veicula uma representaccedilatildeo do mundo que tem por resultado motivar as pessoas legitimar certas praacuteticas e mascarar uma parte dos pontos de vista e criteacuterios utilizados Dito de outro modo quando tiver como efeito mais o reforccedilo da coesatildeo de um grupo do que uma des-criccedilatildeo do mundo (p 179)

Dyson (1998) que utilizaremos para aprofundar nossos estudos tem oportunidade de apresentar os problemas causados quando as decisotildees tecnoloacutegicas satildeo orientadas rigidamente pela ideologia Ele enumera 4 casos claacutessicos no campo da tecnologia o do dirigiacutevel R 101 o dos jatos Comet construiacutedos pelo Impeacuterio Britacircnico o do projeto Tokamak de fusatildeo e os Tanques de Gelo de Taylor Conta o autor que Nevil Shute Norway53 ndash antes de se tornar o famoso romancista fora engenheiro aeronaacuteutico tendo trabalhado com igual dedicaccedilatildeo em projetos de aviotildees e de dirigiacuteveis e escreveu uma autobio-grafia intitulada Slide Rule Autobiography of an Engineer [Reacutegua de caacutelculo] em que descreve sua vida como engenheiro Orgulhava-se

particularmente de seu papel no projeto do dirigiacutevel R 100 Trabalhou nele por seis anos desde o momento de sua concepccedilatildeo em 1924 ateacute a entrega em 1930 nesse ano participou de sua triunfal viagem inaugural de ida e volta Londres-Montreal Sob o ponto de vista teacutecnico os dirigiacuteveis apresentavam muitas vantagens sobre os aviotildees e o R 100 foi um su-cesso teacutecnico Contudo Norway viu claramente que o destino dos aviotildees e dirigiacuteveis natildeo dependeria apenas de fatores teacutecnicos Mesmo antes que se tornasse escritor profissional interessava-se mais pelas pessoas do que por porcas e parafusos Testemunhou e registrou

53 Conheccedila mais httpwwwnetsabercombrbiografiasver_biografia_c_2829html e httpenwikipediaorgwikiNevil_Shute

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os fatores humanos que fizeram da construnotccedilatildeo de aviotildees um divertimento e a de dirigiacuteveis um pesadeloDepois de concluir o R 100 Norway fundou sua proacutepria empresa a Airspeed Limited Era uma das centenas de pequenas firmas que inventavam e construiacuteam e vendiam aviotildees nos anos 20 e 30 Norway avaliou que durante aqueles anos 100 mil diferentes tipos de aviotildees foram construiacutedos Por todo o mundo invennottores entusiaacutesticos vendiam aviotildees a pilotos intreacutepidos e a companhias de aviaccedilatildeo que se formavam Muitos dos pilotos foram ao chatildeo e muitas das empresas faliram Dos 100 mil diferentes tipos de aviotildees restaram cerca de cem que formam a base da aviaccedilatildeo moderna A evoluccedilatildeo da aviaccedilatildeo foi um processo estritamente darwinista em que quase todas as variedades de aviotildees fracassaram da mesma forma que quase todas as espeacutecies de animais se extinguiram Devido agrave seleccedilatildeo rigorosa os poucos aviotildees sobreviventes satildeo extraordinariamente confiaacuteveis econocircmicos e seguros (p 22)

Dyson (1998) lembra que a o caminho que marca a evoluccedilatildeo do dirigiacutevel eacute bastante diferente da his-toacuteria dos aviotildees A histoacuteria dos dirigiacuteveis foi ldquodominada por poliacuteticos e natildeo por inventoresrdquo

Para explicar esta posiccedilatildeo o autor inicia o estudo do contexto poliacutetico da eacutepoca na deacutecada de 20 que era marcada pela decadecircncia do poder e hegemonia naval construiacuteda e mantida nos uacuteltimos cem anos Os poliacuteticos e seus assessores defendiam que no mundo moderno

o poder aeacutereo substituiacutea o poder naval como emblema de grandeza De modo que eles bus-cavam o poder aeacutereo como a onda do futuro que manteria a Gratilde-Bretanha no topo do mun-do E nesse contexto era natural pennotsar em dirigiacuteveis e natildeo em aviotildees como os veiacuteculos da autoridade imperial Superficialmente dirigiacuteveis pareciam-se com navios notgrandes e visualmente notaacuteveis Dirigiacuteveis seriam capazes de voar sem escalas de uma ponta do impeacute-rio agrave outra Poliacuteticos importantes poderiam viajar de domiacutenios remotos a Londres sem ser forccedilados a negligenciar seu puacuteblico domeacutestico durante todo um mecircs Em contraste aviotildees eram pequenos barulhentos e feios totalmente inadequados para uma finalidade tatildeo ele-vada Naquela eacutepoca eles natildeo conseguiam atravessar rotineiramente oceanos Natildeo podiam permanecer no ar por muito tempo e dependiam de bases terrestres por toda parte Aviotildees eram uacuteteis para batalhas locais mas natildeo para administrar um impeacuterio global (p 23-24)

Dentre os poliacuteticos que alimentavam esta ideia estava Lord Thompson Secretaacuterio de Estado para a Aviaccedilatildeo nos governos trabalhistas de 1924 e 1929 e seria o incentivador do projeto de construccedilatildeo do dirigiacutevel R10154 na Royal Airship Works empresa governamental situada em Cardington Conta-se que para acalmar a oposiccedilatildeo a construccedilatildeo de uma segunda nave chamada de R10055 foi oferecida a uma empresa privada a Vickers Limited

Esperava-se com este empreendimento que o R100 e o R101 se tornassem siacutembolos ldquoas naus capitacirc-nias do Impeacuterio Britacircnico na nova erardquo O maior o R101 deveria voar sem escalas de Londres agrave Iacutendia e mais tarde talvez ateacute a Austraacutelia O menor o R100 projeto mais modesto deveria realizar serviccedilo aeacutereo regular atraveacutes do Atlacircntico ligando a Inglaterra ao Canadaacute

Conta-nos o autor que desde o iniacutecio

o projeto do R101 foi impulsionado pela ideonotlogia e natildeo pelo bom senso O R101 precisaria vir a ser o maior dirigiacutevel do mundo natildeo importando a que preccedilo e a que preccedilo fosse deve-

54 Conheccedila mais httpenwikipediaorgwikiAirship_R10155 Conheccedila mais httpenwikipediaorgwikiR100

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ria estar pronto para voar ateacute a Iacutendia numa data fixa de outubro de 1930 quando o proacuteprio Lord Thompson embarcaria em sua viagem inaugural de ida e volta a Carachi retomando a tempo de participar da Conferecircncia Imperial em Londres Sua chegada dramaacutetica agrave con-ferecircncia a bordo de um dirigiacutevel trazendo flores frescas da Iacutendia demonstraria a grandeza da Gratilde-Bretanha e do Impeacuterio para um mundo admirado incidentalmente demonstraria a superioridade da induacutestria socialista e do proacuteprio Lord Thompson O enorme tamanho e a data fixada formaram lima combinaccedilatildeo fatal () Natildeo havia tempo para submeter o aparel-ho a vocircos de teste exaustivos antes da viagem ateacute a Iacutendia O dirigiacutevel partiu finalmente para sua viagem inaugural ensopado e sob terriacutevel mau tempo () O dirigiacutevel mal tinha empuxo suficiente para elevaacute-lo acima de seu mastro de ancoragem Oito horas depois caiu e se in-cendiou numa lavoura no norte da Franccedila Das 54 pessoas a bordo seis sobreviveram Lord Thompson natildeo estava entre elasEnquanto isso com a ajuda de Norway o R100 era construiacutenotdo de uma forma mais razoaacutevel Seus compartimentos de gaacutes natildeo vazavam e o aparelho tinha margem de empuxo suficien-te para levar sua carga projetada O R100 completou sua viagem inaugural de ida e vol-ta a Montreal sem desastres sete semanas antes que o R101 partisse da Inglaterra Mas Norway achou que a viagem esteve longe de ser tranquumlilizadora Ele informou que o R100 foi violentamente agitado numa tempestade local sobre o Canadaacute tendo tido sorte de natildeo se despedaccedilar Norway natildeo o considerou seguro o suficiente para prestar serviccedilos regula-res no transporte de passageiros A questatildeo de saber se o aparelho seria suficientemente seguro esvaziou-se apoacutes o desastre do R101 Depois de tal desastre seria improvaacutevel que algum passageiro assumisse o risnotco O R100 foi discretamente desmantelado e vendido aos pedanotccedilos A era dos di-rigiacuteveis imperiais chegava ao fim (p 26)

A criacutetica ao R100 e o desastre envolvendo o R101 enfraqueceram a ideia de desenvolver o dirigiacutevel como meio seguro de transporte Mas Lord Cunard dono da empresa de navegaccedilatildeo Cunard reuniu a seus engenheiros e questionou como seria possiacutevel criar e manter um serviccedilo semanal atraveacutes do Atlacircntico usando apenas dois navios considerando que naquela eacutepoca a travessia do Atlacircntico de-morava de sete a oito dias solicitando minimamente ao menos trecircs navios para o serviccedilo semanal Estava lanccedilado o desafio Tempo depois os engenheiros da companhia apresentaram as soluccedilotildees os projetos do Queen Mary56 e do Queen Elizabeth57 Ambos alcanccedilaram ecircxito e obtiveram precircmios de velocidade entre os dois continentes Os dois navios se mantiveram na funccedilatildeo ateacute que os Boeing 70758 trouxeram uma alternativa para viagens intercontinentais

Se por um lado o Boeing 707 triunfou frente aos navios de passageiro ele pode ter provocado um outro desastroso exemplo de impulso ideoloacutegico a tecnologia envolvendo agora os jatos de passa-geiros Comet

Durante a Segunda Guerra Mundial a companhia de Havilland construiacutera bombardeiros e caccedilas a jato Terminada a II Grande Guerra a empresa desenvolveu o projeto do Comet jato comercial que seria capaz de voar duas vezes mais raacutepido do que os aviotildees de transporte a heacutelice daquela eacutepoca Neste periacuteodo o governo britacircnico criou a British Overseas Airways Corporation (BOAC) empresa com o monopoacutelio estatal sobre rotas aeacutereas de longa distacircncia e que esperava colocar uma frota de Comet em serviccedilo nas rotas que ligavam Londres a Aacutefrica ao sul e a Iacutendia e Austraacutelia a leste

56 Conheccedila mais httpptwikipediaorgwikiRMS_Queen_Mary 57 Conheccedila mais httpptwikipediaorgwikiRMS_Queen_Elizabeth 58 Conheccedila mais httpwwwportalbrasilnetboeing_707htm

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Se o objetivo fosse alcanccedilado conforme o planejado continua Dyson (1998) a Gratilde-Bretanha teria do-miacutenio sobre a ldquoera do jatordquo cinco anos antes que os norte-americanos Diz ele que ldquoenquanto a Boeing Company hesitava os Comet estariam voando Os Comet mostrariam ao mundo a superioridade da tecnologia britacircnica e incidentalmente demonstrariam que o Impeacuterio rebatizado de Comunidade continuava vivordquo (p 28) De certa forma esses desejos e aspiraccedilotildees para o Comet repetiam o que se esperava dos R 101 vinte anos antes os decisores da eacutepoca natildeo aprenderam nada com os erros anteriores

O projeto Comet repetiu o problema de antes ditou politicamente um cronograma para o desenvol-vimento de uma tecnologia difiacutecil exigente e sensiacutevel A decisatildeo poliacutetica levou ao lanccedilamento do Comet em 1952 obedecendo a ideia de estar 5 anos a frente do concorrente norte-americano Uma pessoa anteviu o desastre que se prenunciava O mesmo Nevil Shute que havia vivido experiecircncia semelhante com os dirigiacuteveis R100 e R101 ldquopublicou em 1948 um romance com o tiacutetulo No highway que descreve o modo como as pressotildees poliacuteticas podem forccedilar a entrada em serviccedilo de um aviatildeo inseguro O romance conta a histoacuteria de um desastre notavelmente semelhante aos desastres com o Comet que aconteceriam quatro anos depoisrdquo (p 28)

O defeito do Comet uma concentraccedilatildeo de tensotildees nos cantos de suas janelas que soacute ocorria apenas em grande altitude quando o aparelho estava pressurizado acarretava a rachadura do revestimen-to metaacutelico causando literalmente o esfacelamento do aviatildeo Depois que dois aparelhos foram destruiacutedos dessa forma um sobre a Iacutendia e outro sobre a Aacutefrica os Comet foram tirados de serviccedilo ldquoFoi preciso que cem pessoas morressem para dar fim aos vocircos do Comet duas vezes mais do que no caso dos dirigiacuteveis Se o secretaacuterio de Estado para a Aviaccedilatildeo estivesse a bordo do primeiro Co-met quando de seu desastre eacute possiacutevel que o segundo natildeo tivesse sido necessaacuteriordquo (Dyson 1998 p 28)

Diz Dyson (1998) ao questionar como foi possiacutevel levar passageiros em dirigiacuteveis e aviotildees sem que os testes miacutenimos fossem realizados que

isso ocorreu devido ao choque entre duas culturas a cultura da poliacutetica e a cultura da en-genharia Poliacuteticos tomaram decisotildees cruciais sobre assuntos teacutecnicos que natildeo compreen-diam A tarefa de um poliacutetico em posiccedilatildeo de responsabilidade eacute tomar decisotildees Decisotildees poliacuteticas satildeo frequumlentemente tomadas com base em conhecimento inadequado e geralmen-te natildeo causam grande dano Quando poliacuteticos satildeo encarregados de um empreendimento de engenharia as duas culturas se chocam Quando o empreendimento envolve maacutequinas que voam esse choque tende a levar ao desastreA aviaccedilatildeo eacute o ramo da engenharia menos tolerante a enganos Mas sob um ponto de vista mais amplo a inflexibilidade pode ser uma virtude Na longa perspectiva da histoacuteria as viacuteti-mas do R 101 e do Comet natildeo morreram em vatildeo Como legado de suas trageacutedias deixaram os aviotildees extraordinariamente seguros e confiaacuteveis que voam todos os dias atraveacutes de oceanos e continentes por todo o mundo Sem as duras liccedilotildees trazidas pelo desastre e pela morte o moderno jato de passageiros natildeo teria evoluiacutedo

Um terceiro exemplo dos efeitos da ideologia sobre a tecnologia eacute apresentado no interessante tra-balho de Dyson (1998) a da energia nuclear Comentando o impacto do uso da tecnologia nuclear simbolizado por Hiroshima e de Nagasaki Dyson (1998) nos apresenta um espetacular argumento para este conviacutevio perigoso da ideologia que precisa fazer funcionar a tecnologia a fim de obter re-sultados poliacuteticos

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Quando se permite a uma tecnologia fracassar quando em concorrecircncia com outras tecno-logias o fracasso faz parte do processo normal de evoluccedilatildeo darwinista que leva a melhorias e a um possiacutevel sucesso posterior Quando natildeo se permite agrave tecnologia falhar e ainda assim ela falha o fracasso eacute muito mais danoso Caso se tivesse permitido que a energia nuclear fracassasse no iniacutecio ela poderia muito bem ter evoluiacutedo para uma tecnologia melhor fa-zendo com que hoje o puacuteblico confiasse nela e a apoiasse Nada existe nas leis da Natureza que nos impeccedila de construir usinas nucleares melhores Somos impedidos por uma pro-funda e justificada desconfianccedila por parte do puacuteblico O puacuteblico desconfia dos especialistas porque estes afirmaram ser infaliacuteveis O puacuteblico sabe que o ser humano eacute faliacutevel Somente pessoas cegas pela ideologia caem na armadilha de acreditar em sua proacutepria infalibilidade (p 34)

Comenta o autor que os promotores da fusatildeo estatildeo cometendo os mesmos erros que os da fissatildeo trinta anos atraacutes Esses promotores decidiram concentrar seus esforccedilos num aparato o Tokamak que

por decreto ideoloacutegico eacute declarado o produtor de energia para o seacuteculo XXI O Tokamak foi inventado na Ruacutessia e seus inventores lhe deram um nome que se translitera eufonica-mente em outras liacutenguas Todos os paiacuteses com programas seacuterios de pesquisa sobre fusatildeo construiacuteram Tokamaks Um dos maiores e mais caros fica em Princeton()Planeja-se que os diversos programas nacionais de fusatildeo convirjam num imenso Tokamak internacional a um custo de muitos bilhotildees de doacutelares o qual viria a ser o protoacutetipo dos geradores de fusatildeo do futuro (p 35)

O quarto e uacuteltimo exemplo de Dyson (1998) sobre ldquotecnologia conduzida ideologicamente eacute a dos tan-ques de gelordquo cujo principal nome foi Ted Taylor que na sua juventude foi projetista de armas nu-cleares em Los Alamos Decidiu apoacutes abandonar as atividades nucleares ldquodevotar o resto de sua vida ao desenvolvimento de alternativas tecnoloacutegicas agrave energia nuclear A busca por uma fonte de energia sustentaacutevel e ambientalmente benigna conduziuo aos tanques de gelordquo (p 36) cujo objetivo era

armazenar um grande volume de neve por meio ano de modo que a neve possa ser produzi-da no inverno e usada para refrigeraccedilatildeo durante o veratildeo A neve eacute produzida no inverno aspergindo-se aacutegua numa nuvem fina com uma mangueira igual agraves usadas pelos bombeiros Desde que a temperatura do ar esteja abaixo de zero a nuvem cai no solo na forma de neve que se acumula no tanque A pilha de neve eacute coberta por uma superfiacutecie termicamente iso-lante O tanque comunica-se com o preacutedio a ser refrigerado por meio de canos de aacutegua No veratildeo aacutegua fria eacute extraiacuteda do fundo do tanque e aacutegua quente retoma ao topo Se o tanque eacute grande e fundo o suficiente a neve persiste por todo o veratildeo e o preacutedio permanece fresco A energia necessaacuteria para produzir a neve e bombear a aacutegua eacute muito menor do que a energia requerida na refrigeraccedilatildeo eleacutetrica convencional

Foram construiacutedos pilotos na Universidade de Princeton (usado para refrigerar um preacutedio pequeno) na companhia de seguros Prudential (usado para condicionamento de ar a um edifiacutecio maior) na empresa de queijos Kutter (usado para refrigerar sua faacutebrica) e na pequena cidade de Greenport em Long Island (usado para purificar a aacutegua do mar) Os tanques fracassaram mas causaram perdas miacute-nimas para a sociedade escreve Dyson realccedilando que a ldquotecnologia dos tanques de gelo manteacutem-se como possibilidade para o futuro Um dia talvez uma reencarnaccedilatildeo mais astuta de Taylor encontra-raacute um modo de transformar os tanques de gelo num pacote conveniente e amigaacutevel que materializa-raacute as esperanccedilas de Taylorrdquo (p 40)

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Outro interessante exemplo eacute apresentado por Sasaki59 (2010) quando compara os aviotildees japone-ses e aliados durante a Segunda Grande Guerra Diz o autor que eacute japonecircs que o pricipal aviatildeo de combate japonecircs ndash os chamados Zeros ndash eram leves o que favorecia muitas manobras nas matildeos dos pilotos tecnicamente preparados Ocorre que para ser leve foi retirada a parede de metal protetora da retaguarda dos pilotos Ao contraacuterio dos EUA que mantinham a parede protetora soacutelida ldquoporque o respeito agrave vida humana tinha importacircncia primordialrdquo (p 122) o que gerou a necessidade de des-envolver motores mais potentes para os aviotildees mais pesados

Olivier Martin (2003) ao estudar a sociologia do conhecimento cientiacutefico apresenta a visatildeo de trecircs autores que trataram do conhecimento cientiacutefico e o fato deste ser socialmente influenciado Max Scheler Karl Mannheim e Pitirim Sorokin Interessa-nos agora a proposta de Sorokin

Pitirim Sorokin60 apresenta trecircs grandes classes de sistemas ideoloacutegicos culturais identificados ao longo da histoacuteria da humanidade

As culturas espiritualistas (que concebem a realidade como situada aleacutem do mundo em um ser imaterial eterno) as culturas sensualistas61 (que concebem que natildeo existe nada aleacutem da experiecircncia sensoacuteriasensiacutevel) e as culturas idealistas (uma combinaccedilatildeo das anteriores) [] O progresso cientiacutefico (e teacutecnico) eacute muito diferente nas trecircs culturas e funccedilatildeo do interesse dedicado ao mundo exclusivamente sensiacutevel em funccedilatildeo da presenccedila ou natildeo de uma hipoacute-tese que aceita a existecircncia de um Deus o de um espiacuterito superior as sociedades procu-ram desenvolver ou natildeo tecnologias e saberes cientiacuteficos Sorokin encontra em seu estudo quantitativo uma confirmaccedilatildeo para a sua teoria ao comparar o nuacutemero de descobrimentos cientiacuteficos em funccedilatildeo das classes de cultura de diversas sociedades e momentos histoacuteri-cos demonstra que as ciecircncias positivas se desenvolveram principalmente nas sociedades sensualistas (que por coerecircncia privilegiam a experiecircncia e a observaccedilatildeo) Ao inverso as culturas espiritualistas (que privilegiam as noccedilotildees do bem e do justo) desenvolveram mais seus sistemas filosoacuteficos e religiosos (Martin 2003 p 22-23)

Usando o exemplo dos tanques de gelo de Dyson (1998) podemos concluir que

a tecnologia inspirada ideologicamente natildeo precisa levar ao desastre Soacute leva ao desastre se for protegida da concorrecircncia Uma vez que se garanta que uma tecnologia seja exposta ao processo darwinista de seleccedilatildeo natildeo importa que tenha sido motivada pela busca do lunotcro ou pela ideologia O estiacutemulo ideoloacutegico pode ser uma forccedila positiva para o bem caso con-duza a tecnologias ambientalmente benignas que possam ser testadas no mercado Natildeo lamento os dias felizes que passei com Ted Taylor e seus estudantes ajudando-o a construir o tanque de gelo de Princeton Tivemos mais sorte do que os construtores de dirigiacuteveis e de usinas nucleares pois nos foi permitido fracassar (p 40)

103 Esforccedilo de siacutentese CTS e as ideologias mesmo que ocultas Os exemplos apontados e discutidos por Dyson permitem perceber a forccedila das ideologias e sua ca-pacidade de produzir consequecircncias para a coletividade Ocorre que nem sempre percebemos esta

59 Chikara Sasaki eacute Professor de Histoacuteria e Filosofia da Ciecircncia na Universidade de Toacutequio60 Socioacutelogo norte americano de origem russa (1889-1968) escreveu Social and Cultural Dynamics New York American Book Company 193761 sensualismo s m Doutrina dos que atribuem aos sentidos a origem de todas as ideias (opotildee-se a idealismo) Diconaacuterio Priberan

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SOBRE AS VARIAacuteVEIS QUE IMPLICAM NAS RELACcedilOtildeES CTS143

orientaccedilatildeo ideoloacutegica ndash e muito menos elas estatildeo expliacutecitas ndash nas decisotildees de Ciecircncia e Tecnologia e por conseguinte nas poliacuteticas de CampT e na Poliacutetica em geral A escolha de uma tecnologia natildeo eacute somente uma escolha de um meio neutro Quando se escolhe uma tecnologia porque ela natildeo eacute neutra escolhe-se tambeacutem um modelo sociedade de organizaccedilatildeo entre os membros desta sociedade um modelo de produccedilatildeo econocircmica uma aacuterea de conhecimento a ser fomentada uma cadeia produtiva a ser incentivada e outras a serem descontinuadas Toda escolha poliacutetica mesmo que lastreada na eacutetica e na correccedilatildeo e focada no interesse puacuteblico efetivo eacute fundada no interesse de grupos ou pessoas A escolha poliacutetica natildeo eacute neutra Quando uma sociedade por meio dos seus representantes poliacuteticos produz uma poliacutetica de trans-porte e faz a escolha do meio rodoviaacuterio em detrimento aos meios ferroviaacuterio e aquaviaacuterio estaacute na verdade fazendo opccedilatildeo por uma cadeia produtiva de base econocircmica (com todos os setores pro-dutivos ligados a ela de forma direta ou indireta) que privilegia (1) uma aacuterea do conhecimentos (e seus membros) (2) a extraccedilatildeo do petroacuteleo como fator diferenciador de crescimento que fortaleceraacute econocircmica e politicamente determinados estados da federaccedilatildeo (3) as induacutestrias de produccedilatildeo se-cundaacuteria como maacutequinas pesadas para o setor petroliacutefero (4) as cidades que possuem ou possuiratildeo refinarias e induacutestrias alimentadas por mateacuterias primas a partir do petroacuteleo (5) uma segmento de mercado que manteraacute seguramente um movimento financeiro de largo porte por deacutecadas visto que este tipo de decisatildeo natildeo eacute revertida com facilidade Ao fazer uma escolha deixa de escolher outra obviamente Uma escolha atinge inenarraacuteveis niacuteveis de produccedilatildeo e grupos sociais especiacuteficos de forma positiva ou negativa Da mesma forma podemos construir a cadeia produtiva atingida positiva ou negativamente quando se decide substituir os vasilhames de transporte de leite para o consumidor Antes essa comercia-lizaccedilatildeo para o consumidor era realizada por frasco de vidro depois decidiu-se pelo saco plaacutestico e agora por embalagens tetrapak Cada escolha desta privilegia um segmento de mercado uma regiatildeo do paiacutes um conjunto de cidades um conjunto de cidadatildeos um setor tecnoloacutegico e cientiacutefico e possui um quantum de impostos que novamente beneficiaraacute estados e cidades que estejam na cadeia pro-dutiva A ideologia natildeo eacute neutra mas direciona as decisotildees No Brasil neste momento vivemos a hora de de-cisatildeo tecnoloacutegica que teraacute impactos variados (expliacutecitos e ocultos aos olhos pouco preparados para as leituras) Temos a decisatildeo sobre a ampliaccedilatildeo da energia nuclear na matriz energeacutetica brasileira Temos a valorizaccedilatildeo do biocombustiacutevel como alternativa para o alto consumo de combustiacuteveis resul-tantes do petroacuteleo Eis nossa chance de estudar as matrizes de consequecircncia destas decisotildees a serem tomada por nossos representantes eacute a chance de exercitarmos a maacutexima Ciecircncia e Tecnologia com Sociedade

Atividade Proposta para reflexatildeo

Este moacutedulo desenvolveu as possiacuteveis relaccedilotildees entre Ideologia e Tecnologia Deixou indicado que existem outros fatores que interferem na construccedilatildeo da tecnociecircncia como por exemplo eacutetica gecirc-nero grupos sociais religiatildeo etc

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SOBRE AS VARIAacuteVEIS QUE IMPLICAM NAS RELACcedilOtildeES CTS144

Um interessante tema de estudo em poliacutetica puacuteblica eacute a ldquodiferenciaccedilatildeo de gecircnerordquo Realize uma pes-quisa e responda se o ldquofator gecircnerordquo tem alguma influecircncia no sistema de Ciecircncia Tecnologia e So-ciedade

REPERCUSSAtildeO SOCIAL DO DESENVOLVIMENTO CIENTIacuteFICO E TECNOLOacuteGICO145

11 Repercussatildeo social do desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico

A vida eacute breve A ciecircncia eacute duradoura A oportunidade eacute ardilosa A experimentaccedilatildeo eacute perigosa O julgamento eacute difiacutecil Hipoacutecrates Aforisma I1

Atividade preacuteviaResponda as questotildees a seguir Faccedila-o por escrito e guarde sua resposta ateacute o final do estudo deste moacutedulo

1 ldquoQual eacute na sua opiniatildeo a mais importante invenccedilatildeo dos uacuteltimos dois mil anos rdquo e

2 ldquoPor quecirc

111 Introduccedilatildeo Um homem que possua hoje 100 anos foi testemunha de inuacutemeras mudanccedilas tecnoloacutegicas mas tam-beacutem sociais Ele presenciou o surgimento e a sequecircncia de mudanccedilas nos sistemas de transportes da carroccedila ao aviatildeo supersocircnico Ele observou as guerras ditas mundiais e outras tantas de menor tamanho mas com impactos natildeo menos danosos e catalogou os poucos anos sem guerra neste seacutecu-lo Viu o surgimento da televisatildeo do teleacutegrafo do telefone do aviatildeo comercial dos antibioacuteticos do computador da internet dos transplantes e muito mais Certamente seus pais natildeo poderiam anteci-par o mundo em que ele estaria ao completar 100 anos de existecircncia numa sociedade em constante transformaccedilatildeo tecnocientiacutefica No campo social ele presenciou a revoluccedilatildeo sovieacutetica e a cubana bem como a queda da primeira e flexibilizaccedilatildeo da segunda foi observador privilegiado quando da instalaccedilatildeo da guerra fria e das recentes glasnost62 (transparecircncia) e perestroika63 (reconstruccedilatildeo) e viu o surgimento de ditadores e deacutespotas de ambos os lados da poliacutetica aplaudiu homens e mulheres valorosos que defendiam direitos sem abrir matildeo de deveres este foi um seacuteculo breve como escreve Eric Hobsbawm (1995) Taylor e Wacker (1999) escreveram um livro com um subtiacutetulo bastante provocativo o que acontece depois do que vem a seguir Esse livro fala da histoacuteria e direccedilatildeo de futuro a curto e longo prazos In-dica qualidades e estruturas mentais que seratildeo valorizadas Reafirma como os demais a existecircncia da mudanccedila raacutepida e maciccedila Dentre as muitas antecipaccedilotildees algumas satildeo comuns a loacutegica baseada no caos a fragmentaccedilatildeo das organizaccedilotildees sociais poliacuteticas e econocircmicas o fortalecimento da realidade individual e os estilos de vida situacionais dentre outros Mas chama a atenccedilatildeo para um ponto novo nesse cenaacuterio futuro fundado na informaccedilatildeo e na conectividade a emergecircncia da gestatildeo da privacidade como uma das atividades de maior crescimento na proacutexima deacutecada

62 Conheccedila mais httpptwikipediaorgwikiGlasnost63 Conheccedila mais httpptwikipediaorgwikiPerestrC3B3ica

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REPERCUSSAtildeO SOCIAL DO DESENVOLVIMENTO CIENTIacuteFICO E TECNOLOacuteGICO146

Ao analisarem a velocidade desse novo mundo em mudanccedila os autores apresentam interessantes dados evolutivos da sociedade americana

Em 1960 Em 1995

925 mil americanos tinham 85 anos ou mais Chegam a 38 milhotildees

457 milhotildees de domiciacutelios tinham televisatildeo com apenas um aparelho por domiciacutelio 95 milhotildees de domiciacutelios com 213 milhotildees de apare-lhos

O computador tiacutepico conseguia processar menos de 15 MIPS-milhotildees de instruccedilotildees por segundo e atendia a 550 pessoas 150 MIPS e atende a apenas uma pessoa

O executivo principal tiacutepico viajava 19320 quilocircmetros por ano Viaja 180320 quilocircmetros por ano

23 milhotildees de mulheres trabalhavam por um salaacuterio Satildeo 61 milhotildees

A pessoa tiacutepica tinha um emprego e uma carreira em sua vida profissional Tem expectativa de sete empregos e duas carreiras

Uma pessoa tiacutepica tinha que aprender uma habilidade por ano para prosperar no trabalho Tem que aprender uma habilidade por dia

5 mais ricos controlavam 17 da riqueza da naccedilatildeo Os mesmos 5 controlam 215 das riquezas

O americano tiacutepico era de classe meacutedia Eacute pobre ou rico

A crianccedila tiacutepica tinha 1 conjunto de pais e 2 conjuntos de avoacutes Tem 25 conjuntos de pais e 6 conjuntos de avoacutes

O pai americano tiacutepico conversava com seu filho 45 minutos por dia Conversa apenas 6 minutos por dia

O setor econocircmico mais importante dos EUA era a induacutestria O setor mais importante satildeo as ideias

Vejamos a seguir alguns eventos tecnocientiacuteficos relevantes (Quadro I) presenciados pelo nosso centenaacuterio observador bem como os eventos que influenciaram o meio ambiente (Quadro II)

Quadro I

Ano Eventos Relevantes na Ciecircncia e Tecnologia

1900 Max Planck elabora a Teoria dos Quanta

1903 Henry Ford funda a Ford Motor Company

1911 Rutherford demonstra experimentalmente a existecircncia do nuacutecleo atocircmico

1915 Einstein enuncia a Teoria da relatividade

1916 Os genes satildeo localizados nos cromossomas

1924 De Broglie desenvolve os fundamentos da mecacircnica ondulatoacuteria

1932 Morgan descobre os genes e as mutaccedilotildees experimentais

1934 Joliot-Curie descobrem a radioatividade experimental

1940 Florey usa a penicilina como arma eficaz nas patologias humanas

1942 Inicia o Projeto Manhattan (destinado a alcanccedilar o domiacutenio da tecnologia atocircmica para fins militares antes dos alematildees) Primeiro reator em cadeia

1945 Primeira bomba atocircmica utilizada para fins beacutelicos

1946 Construccedilatildeo do primeiro ldquoceacuterebro eletrocircnicordquo (ENIAC)

1947 Shanon formula a teoria da comunicaccedilatildeo

1948 Invenccedilatildeo do transistor

1949 A URSS testa sua Bomba Atocircmica sendo seguida pelo Reino Unido (1952) Franccedila (1960) e China (1964)

1950 Primeiro transplante de rins seguido do de fiacutegado (1963) de pulmatildeo (1964) etc

1953 Watson e Crick descrevem a estrutura do DNA

1955 Advento da piacutelula anticoncepcional

1957 Lanccedilamento do Sputnik e iniacutecio da corrida espacial Desenvolvimento do circuito integrado

1959 UNIMATION Inc produz o primeiro robocirc industrial

1960 Inicia o funcionamento a primeira usina nuclear para produzir eletricidade Invenccedilatildeo do laser

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REPERCUSSAtildeO SOCIAL DO DESENVOLVIMENTO CIENTIacuteFICO E TECNOLOacuteGICO147

1961 A talidomida eacute proibida na Europa depois de causar deficiecircncia em mais de 2500 bebecircs

1962 Publicaccedilatildeo de Primavera Silenciosa de Rachel Carson

1963 Larry Robert concebe e desenha para o exeacutercito americano o ARPAnet que deu origem agrave INTERNET

1967 Primeiro transplante de coraccedilatildeo em seres humanos

1968 A Kawasaki implanta robocircs em linhas de produccedilatildeo

1969 O Homem pisa na Lua

1970 Khorana e colaboradores conseguem a siacutentese de gens em laboratoacuterio

1971 Primeiro microprocessador Intel

1972 Inicia o funcionamento da primeira TV a cabo (EUA)

1973 Primeiro organismo produzido por engenharia geneacutetica

1975 Conferecircncia de Asilomar sobre os perigos da biogeneacutetica Criaccedilatildeo da Microsoft por Bill Gates e Paul Allen

1978 Primeiro bebecirc de proveta

1981Primeiro voo espacial do Columbia IBM inventa o PC Isolado o viacuterus da AIDS

1982 Criaccedilatildeo dos primeiros ratos transgecircnicos

1985 Confirmado o ldquoburaco na Camada de Ozocircniordquo na Antaacutertica

1986 Cataacutestrofe de Chernobyl (Ucracircnia) 20 milhotildees de afetados e mais de 5 mil mortos ateacute 1994

1989 Queda do Muro de Berlim

1990 Primeira terapia geneacutetica em humanos Projeto Genoma Humano

1991 Surgimento do Disco Laser

1994 Surgimento do CD-Room

1997 Produzida a Ovelha Dolly (clonagem) O supercomputador Deep Blue derrota pela primeira vez um mestre do xadrez Kasparov

(sobre os trabalhos de Gonzaacutelez Garciacutea Loacutepez Cerezo e Lujaacuten Loacutepez 1996 Tortajada e Pelaacuteez 1997)

Quadro IIAlguns acontecimentos histoacutericos que influenciaram no meio ambiente

Ano Acontecimento que influenciou o meio ambiente

1945 Ataque Nuclear a Hiroshima e a Nagasaki (Japatildeo)

1971 Criaccedilatildeo do Greenpeace e dos Amigos da Terra Primeira manifestaccedilatildeo contra os ensaios nucleares

1972 Primeira Conferencia Mundial de Meio Ambiente em Estocolmo Primeiro Informe do Clube de Roma

1973 Primeira crise do petroacuteleo

1974 Conferencia Mundial sobre Populaccedilatildeo (Meacutexico)

1976 Acidente de Seveso (Itaacutelia) que se converteu em um siacutembolo da luta ecologista

1979 Acidente Nuclear em Three Mille Island (EUA)

1980 Apresentaccedilatildeo do Informe 2000 de Carter

1983 Trageacutedia de Bopal (Iacutendia) com 7000 mortos e 800000 atingidos

1984 A libertaccedilatildeo de gaacutes pela Union Carbide (Iacutendia)

1986 Trageacutedia de Chernobyl (Ucracircnia)

1987 Informe Brutland falando sobre a deteriorizaccedilatildeo da Camada de Ozocircnio e o efeito estufa

1988 Nasce o IPCC (Painel Intergovernamental sobre a Mudanccedila Climaacutetica)

1989 A Terra eacute o personagem do ano na Revista TIME Desastre do Exxon Valdez (Alaska)

1990 O Protocolo de Montreal proiacutebe a produccedilatildeo de CFC

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REPERCUSSAtildeO SOCIAL DO DESENVOLVIMENTO CIENTIacuteFICO E TECNOLOacuteGICO148

1991 Assinado em Madri o Protocolo para proteccedilatildeo da Antaacutertica

1992ECO-92 no Rio de Janeiro Convecircnio sobre Mudanccedilas Climaacuteticas Conferecircncia Mundial sobre Energia

1994 Conferecircncia sobre Populaccedilatildeo (Cairo)

1995 Franccedila realiza testes nucleares Conferecircncia de Berlim sobre Mudanccedilas Climaacuteticas

2001 Vazamento do navio petroleiro Jessica (Ilhas Galaacutepagos)

2002 Vazamento o petroleiro grego Prestige (Espanha)

2010 Explosatildeo na plataforma de petroacuteleo Deepwater Horizon e vazamento de oacuteleo (Golfo do Meacutexico) Rompimento da barragem em Ajka (Hungria)

2011 Vazamento na Central Nuclear de Fukushima I (Japatildeo)

2015 Rompimento da barragem de Mariana (Minas Gerais Brasil)

(sobre o trabalho de Tortajada e Pelaacuteez 1997)

112 Os efeitos da relaccedilatildeo CTS observados na histoacuteria

Observada como histoacuteria a trajetoacuteria da Tecnociecircncia e os efetivos impactos na sociedade eacute algo mais simples Temos condiccedilatildeo de melhor avaliar esta relaccedilatildeo nos aspectos positivos ou negativos quanto mais distantes estamos dos acontecimentos Quanto mais proacuteximos dos fatos e acontecimentos mais difiacutecil a isenccedilatildeo para uma anaacutelise imparcial Mesmo assim a leitura do passado da tecnociecircncia natildeo traz consensos

Em 1998 Jonh Brockman editor da prestigiada agecircncia literaacuteria Brockman Inc enviou um questio-naacuterio a diversas personalidades dos mais diversos campos do conhecimento onde fazia as seguintes perguntas ldquoQual eacute a mais importante invenccedilatildeo dos uacuteltimos dois mil anosrdquo e ldquoPor quecircrdquo As respostas foram reunidas em um livro e percebe-se que mesmo observando a histoacuteria das descobertas e das in-venccedilotildees mesmo tendo oportunidade de refletir sobre o conjunto de consequecircncias natildeo haacute consenso entre os diversos especialistas entrevistados Cada qual aponta uma invenccedilatildeo e justifica de acordo com suas convicccedilotildees E os poucos que repetem a opccedilatildeo justificam de maneira distinta Vamos ilus-trar algumas das opccedilotildees e das justificativas a fim de refletirmos como as relaccedilotildees CTS podem ser ricas em observaccedilotildees e anaacutelises (Brockman 2000)

bull Freeman Dyson professor de fiacutesica do Instituto de Estudos Avanccedilados em Princeton muito citado nos moacutedulos anteriores diz que eacute o feno Diz ele que antes da existecircncia do feno a civilizaccedilatildeo soacute podia existir em climas quentes onde os cavalos podiam pastar durante o inverno Quando o feno passou a existir a partir do momento que o homem foi capaz de armazenaacute-lo foi possiacutevel expandir suas fronteiras dando origem a Viena Paris Berlim e depois Moscou e Nova Iorque

bull Douglas Rushkoff professor de cultura virtual na Universidade de Nova York e reno-mado escritor diz que eacute a borracha de apagar ldquoAssim como a tecla delete o fluido de correccedilatildeo a emenda constitucional e todos os outros instrumentos que nos permitem voltar e corrigir nossos errosrdquo (p 31)

bull Steven Rose neurobioacutelogo diretor do Grupo de Pesquisa de Ceacuterebro e Comportamento na Universidade Aberta em Londres apresenta uma interessante resposta Escreve ele que natildeo precisa de uma paacutegina ldquoA resposta eacute clara invenccedilotildees satildeo conceitos natildeo apenas tecnologias Logo as mais importantes invenccedilotildees satildeo os conceitos de democracia e de justiccedila social e a crenccedila na possibilidade de criar uma sociedade livre de opressatildeo de classe raccedila e gecircnerordquo (p 98)

bull Stanislas Dehaene neurocientista cognitivo no Institut National de La Santeacute et La re-

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REPERCUSSAtildeO SOCIAL DO DESENVOLVIMENTO CIENTIacuteFICO E TECNOLOacuteGICO149

cherche Meacutedicale em Orsay diz que ldquoa mais importante invenccedilatildeo humana natildeo eacute um artefato como a piacutelula ou o barbeador eleacutetrico Eacute uma ideia ndash a ideia mesma que tornou possiacutevel todos esses sucessos teacutecnicos ndash e esta eacute o conceito de educaccedilatildeordquo (p 104)

Na curiosa pesquisa de surpreendentes resultados realizada por Brockman (2000) a imprensa de Gutemberg foi bem votada A piacutelula anticoncepcional oral tambeacutem Houve a lembranccedila do estribo e do arreio do cavalo do leme da luz eleacutetrica e outros tantos aparatos tecnoloacutegicos Houve a lem-branccedila de conhecimentos importantes como o bem votado caacutelculo a geometria o meacutetodo cientiacutefico a ciecircncia organizada dentre outros Mas o que nos impressiona eacute a quantidade de indicaccedilotildees que certamente natildeo seriam lembrados pela maioria de noacutes frente a questatildeo apresentada na pergunta as estruturas sociais que possibilitam as invenccedilotildees o Cristianismo e o Islatilde o autogoverno o livre arbiacute-trio a ideia do inconsciente para falar de alguns Se os conceitos estreitos de Tecnologia e de Ciecircncia jaacute permitiam que apresentaacutessemos um sem nuacute-mero de opccedilotildees a questatildeo levantada imaginemos a janela de possibilidade que se abre quando am-pliamos o entendimento de invenccedilatildeo e a tomamos como um conceito Eis que mais uma vez somos convidados a reconceitualizar aquilo que aprendemos com a tradiccedilatildeo Uma Tecnologia amparada pelo aparato fiacutesico e palpaacutevel e uma Ciecircncia que segue linearmente para frente acima de duacutevidas e questotildees Visto desta forma as interaccedilotildees CTS se enriquecem e se desdobram em um nuacutemero muito maior de possibilidades e de questotildees que nos convidam a mais refletir para melhor participar da construccedilatildeo social da Ciecircncia e da Tecnologia Frente a isso podemos ampliar um pouco nossa visatildeo sobre a Tecnologia e propor uma abordagem que permita trazer a visatildeo de sistema agraves organizaccedilotildees e accedilotildees sociais aproximando-se de algo que podemos chamar de tecnologia social No dizer de Bazzo Linsingen e Pereira (2003 p 44)

De maneira mais precisa podemos definir tentativamente a tecnologia como uma coleccedilatildeo de sistemas projetados para realizar alguma funccedilatildeo Fala-se entatildeo de tecnologia como siste-ma e natildeo somente como artefato para incluir tanto instrumentos materiais como tecnolo-gias de caraacuteter organizativo (sistemas impositivos de sauacutede ou educativos que podem estar fundamentados no conhecimento cientiacutefico)A educaccedilatildeo eacute um exemplo claro de tecnologia de organizaccedilatildeo social Mas tambeacutem o satildeo o urbanismo a arquitetura as terapias psicoloacutegicas a medicina ou os meios de comunicaccedilatildeo Nestes casos a organizaccedilatildeo social resulta ser um artefato relevante Portanto se o desenvol-vimento tecnoloacutegico natildeo pode reduzir-se a uma mera aplicaccedilatildeo praacutetica dos conhecimentos cientiacuteficos tampouco a proacutepria tecnologia nem seus resultados os artefatos podem limi-tar-se ao acircmbito dos objetos materiais Tecnoloacutegico natildeo eacute soacute o que transforma e constroacutei a realidade fiacutesica bem como aquilo que transforma e constroacutei a realidade social (grifos nossos)

113 Os efeitos da relaccedilatildeo CTS hoje Assim como eacute possiacutevel debruccedilarmos sobre a janela da histoacuteria e enumerar as accedilotildees de interdepen-decircncia ente os formadores da triacuteade CTS eacute possiacutevel mas menos imparcial identificarmos estes im-pactos e interrelaccedilotildees na atualidade Para isso eacute importante escolher um modelo de evoluccedilatildeo social para orientar as discussotildees

Nesta mesma direccedilatildeo Tortajada e Pelaacuteez (1997) informam que da mesma maneira que o modelo de sociedade industrial substituiu a sociedade agriacutecola hoje vemos a sociedade industrial perdendo

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REPERCUSSAtildeO SOCIAL DO DESENVOLVIMENTO CIENTIacuteFICO E TECNOLOacuteGICO150

forccedila por conta de uma revoluccedilatildeo tecnocientiacutefica Dizem os autores que

A nova transformaccedilatildeo social global que se apresenta no horizonte histoacuterico vai trazer mu-danccedilas importantes nas formas de vida de trabalho de oacutecio nos costumes e nas formas de pensar e de atuarAinda que hoje se qualifique de diferentes maneiras o novo modelo de sociedade emer-gente o conceito mais adequado eacute o de sociedade tecnoloacutegica ou sociedade tecnoloacutegica avanccedilada onde a tecnologia se converteu em elemento social baacutesico na organizaccedilatildeo da pro-duccedilatildeo no trabalho no desenho e realizaccedilatildeo dos bens e utensiacutelios de consumo e mesmo na configuraccedilatildeo geral da sociedade A teacutecnica desempenha portanto o mesmo papel baacutesico que a explosatildeo agriacutecola desempenhou nas sociedades agriacutecolas e a induacutestria nas sociedades industriais (p 149)

Essa discussatildeo sobre modelos sociais de base tecnocientiacutefica natildeo eacute nova Vaacuterios autores jaacute buscaram no passado descrever os caminhos possiacuteveis para a sociedade quando da evoluccedilatildeo dos conceitos de ciecircncia e de tecnologia Autores em posiccedilotildees poliacuteticas e ideoloacutegicas distintas o que dava a cada um deles um colorido diferente e um ar de apoio incondicional ateacute o outro extremo da discordacircncia ab-soluta Tortajada e Pelaacuteez (1997 p 138) lembram que no ano de 1959 Ralph Dahrendorf indicava as trans-formaccedilotildees da sociedade industrial levando a uma sociedade poacutes-capitalista ou sociedade industrial desenvolvida Nos anos setenta Daniel Bell e Herman KahnAnthony Wiener jaacute antecipavam aquilo que chamaram de sociedade poacutes-industrial cunhando o termo que permanece com mais amplo uso ateacute hoje A sociedade poacutes-industrial resulta pois dos impactos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos podendo ainda com as variaccedilotildees proacuteprias apresentadas pelos diversos analistas ser conhecida com alguma variaccedilatildeo por sociedade poacutes-capitalista sociedade tecnotrocircnica (Brzeninski) sociedade poacutes-moder-na (Etzioni e outros) sociedade opulenta ou novo Estado industrial (Galbraith) sociedade poacutes-tra-dicional (Eisentadt) sociedade superindustrial sociedade industrial-tecnoloacutegica (Ionescu) terceira onda (Toffler) etc Neste modelo com muitos nomes podemos perceber ndash grosso modo ndash que haacute um forte vetor de aproximaccedilatildeo que eacute o consumo de bens e de utensiacutelios cada vez mais aprimorados pela tecnociecircncia e que ao chegarem ao conviacutevio social interferem nas rotinas e criam novas demandas como conse-quecircncias do contato do homem com o aparato que agora passa a ser indispensaacutevel a ele lembrando a frase dita pela Criatura a Victor Frankstein ldquoTuacute eacutes meu criador mas eu sou o teu senhorrdquo Eacute patente a diminuiccedilatildeo do tempo entre a produccedilatildeo de uma ideia e a chegada desta ideia agrave sociedade por meio de um produto conforme nos mostra Langlois (1995 p 301) no quadro III

Quadro III

Descoberta Concepccedilatildeo Realizaccedilatildeo tecnoloacutegica

Tempo em anos

Fotografia 1782 1836 54

Ziacuteper 1883 1913 30

Celofane 1900 1940 40

Radar 1907 1939 32

Milho hiacutebrido 1908 1933 25

Antibioacutetico 1910 1940 30

Energia nuclear 1919 1945 26

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REPERCUSSAtildeO SOCIAL DO DESENVOLVIMENTO CIENTIacuteFICO E TECNOLOacuteGICO151

Nylon 1927 1939 12

Cafeacute instantacircneo 1934 1956 22

Coacutepia tipo Xerox 1935 1950 15

Cacircmera instantacircnea 1945 1947 02

Desodorante roll-on 1948 1955 07

Videotape 1950 1956 06

Cisplatin (droga anticancer) 1964 1972 08

Combinaccedilatildeo do DNA 1972 1982 10

Apesar das criacuteticas que possam surgir agrave dependecircncia dos cidadatildeos aos aparatos tecnoloacutegicos eacute certo que muitos deles trouxeram qualidade de vida e conforto aos trabalhadores sendo responsaacuteveis cer-tamente pela ampliaccedilatildeo da expectativa de vida da populaccedilatildeo atual Considerando os ciclos de apare-cimento desses utensiacutelios uacuteteis para a melhoria da qualidade de vida Tortajada e Pelaacuteez (1997 p 145) propotildeem a seguinte relaccedilatildeo entre modelos de sociedade e o surgimento de utensiacutelios nas diferentes aacutereas da sociedade conforme o quadro IV

Quadro IV - Tendecircncias de evoluccedilatildeo dos ciclos de consumo

Funccedilotildees e serviccedilos

Ponto de partida Modelo tradicional

Primeiro ciclo de consumo sociedade

industrial

Segundo ciclo de consumo sociedade

industrial desenvolvida

Terceiro ciclo de consumo sociedade tecnoloacutegica

avanccedilada

Cozinhar Fogatildeo de carvatildeo e lenha Fogatildeo eleacutetrico e a gaacutes Fogatildeo em ceracircmica e mi-

croondas

Fogotildees e fornos inteligentes que permitem a programaccedilatildeo de acor-do com os pratos desejados e os ingredientes

Consevaccedilatildeo de alimentos

Frasqueiras e panelas de barro Depoacutesito de gelo Frigoriacuteficos eleacutetricos

Depoacutesitos e despensas com novas teacutecnicas de conservaccedilatildeo de alimen-tos que natildeo utilizam gases

Lavadoras Sistemas manuais que utilizavam tabuas de esfregar

Lavadoras manuais e eleacutetri-cas

Lavadoras automaacuteticas para roupas e para louccedilas

Lavadoras com accedilatildeo por ar que economiza aacutegua e diminui o contato com detergente

Informaccedilatildeo e entreteni-mento

Primeiros raacutedios Es-petaacuteculos ao vivo

Transistores TV preto e bran-co Toca-discos

TV colorida Viacutedeos Com-pact-disk

Sistema de TV viacutedeo e aacuteudio inte-grados Visatildeo em trecircs dimensotildees e realidade virtual

Refrigeraccedilatildeo e aquecimen-to

Lareiras e bra-seiros Ventiladores manuais

Aquecimento por oacuteleo es-tufas a gaacutes e ventiladores eleacutetricos

Aquecedor programado e aparelho de ar refrigerado

Climatizaccedilatildeo integral de ambiente se emprego de energia alternativa

Informaccedilatildeo caacutelculo e es-crita

Aacutebacos tabuas de caacutel-culo etc

Calculadoras eleacutetricas de bolso maacutequinas de escrever eleacutetricas etc

Primeira geraccedilatildeo de com-putadores pessoais

Quinta geraccedilatildeo de computadores de grande capacidade e sistemas loacutegicos e sensiacuteveis de funcionamen-to Acesso a grandes redes de in-formaccedilatildeo comunicaccedilatildeo e serviccedilos

Transporte Puacuteblicos e ferroviaacuterios Carros de motor agrave gasolina Surgimento dos utilitaacuterios

Carros agrave gasolina com maior cilindrada

Carros com motor eleacutetrico eou outras formas de energia mais ba-ratas e natildeo contaminantes

Residecircncia Casas proacuteximas bai-rros urbanos tradi-cionais

Grandes urbanizaccedilotildees cida-des dormitoacuterio apartamen-tos etc

Urbanizaccedilotildees modernas com jardins e serviccedilos mo-radias unifamiliares

Nova arquitetura interior com maior polivalecircncia de espaccedilos de acordo com as funccedilotildees e serviccedilos

Fonte Tortajada e Pelaacuteez (1997) Ciencia Tecnologia e Sociedad p 145

O quadro apresentado ilustra de maneira ampla os impactos dos aparatos tecnoloacutegicos no cotidiano e permite perceber as categorizaccedilotildees propostas pelos autores a fim de didaticamente demonstrar os ciclos a que estamos sujeitos Eacute apenas uma das possiacuteveis maneiras de realizar esta comparaccedilatildeo certamente haacute outras

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REPERCUSSAtildeO SOCIAL DO DESENVOLVIMENTO CIENTIacuteFICO E TECNOLOacuteGICO152

114 Os efeitos da relaccedilatildeo CTS para o futuro

Ateacute aqui estudamos como as repercussotildees da Ciecircncia e Tecnologia atingiram a Sociedade no passado e nos esforccedilamos para sermos analistas isentos (o quanto isso eacute possiacutevel) para avaliarmos os mesmos efeitos na sociedade contemporacircnea

Para que nossa viagem em torno do tema ldquoRepercussatildeo social do desenvolvimento cientiacutefico e tecno-loacutegicordquo seja mais completa falta-nos o exerciacutecio de realizar a mesma accedilatildeo agora voltada para o futuro e os seus possiacuteveis cenaacuterios (Chrispino 2000 e 2001)

Sobre a interdependecircncia entre passadopresente e presentefuturo diz-nos Sacristaacuten (2000 p 37-38)

Refletir sobre o presente eacute impossiacutevel sem se valer do passado pois neste tempo que vive-mos encontrou seu nascimento Refletir sobre o futuro tambeacutem eacute impossiacutevel sem se referir ao passado e ao presente jaacute que a partir desses alicerces satildeo construiacutedas as linhas mestras do que estaacute por vir embora em suas projeccedilotildees passado e presente natildeo sejam sequer tempos estritamente reais poderiacuteamos dizer mas imagens-siacutenteses atraveacutes das quais representa-mos para noacutes o que hoje eacute e o que foi Eacute assim que o passado sobrevive no presente e este no futuroO passado foi real e deixou suas pegadas poreacutem quando tentamos entendecirc-lo como algo operativo que se projeta no presente eacute ativo e temos imagens dele que eacute o que fica gravado como memoacuteria lsquoDo que foirsquo ficanos um olhar retrospectivo seletivo porque essas imagens do presente e do passado satildeo de alguma maneira escolhidas resumem e fixam selecionan-do uma realidade multiforme e contraditoacuteria O que natildeo estaacute nessas imagens natildeo existiu Daiacute a verdade da afirmaccedilatildeo de que quem conta a histoacuteria satildeo os que a fazem como narraccedilatildeo Se do que se trata eacute olhar o presente entatildeo as miacuteticas imagens operativas do passado servem para valorizarmos o atual referindo-o ao lsquode onde viemosrsquo e prolongando assim a capaci-dade operativa do passado Progresso e regresso continuidade e descontinuidade satildeo e natildeo satildeo em relaccedilatildeo ao anteriorConstruir o futuro no sentido de prevecirc-lo e de querer que seja um e natildeo outro soacute eacute possiacute-vel a partir dos significados que as imagens do passado e do presente oferecem-nos Natildeo se trata de adivinhar o que nos espera mas de ver com que imagens do passado-presente enfrentaremos essa construccedilatildeo que eacute o que canalizaraacute o futuro sua direccedilatildeo seu conteuacutedo e seus limites

Certamente poderiacuteamos lanccedilar matildeo de uma seacuterie de autores que satildeo conhecidos pelas suas histoacuterias de ficccedilatildeo cientiacutefica quer nos livros quer no cinema Desde Julio Verne a Isaac Assimov de Arthur Clark a Alvin Toffler haacute muito o que discutir estudar e prospectar Mas considerando que o tema em estudo eacute o futuro das relaccedilotildees CTS vamos escolher alguns autores que projetem possibilidades e abram novos espaccedilos para nossa reflexatildeo obtidos de Chrispino (2001)

Blur eacute uma interessante publicaccedilatildeo de Davis e Meyer (1999) do Ernst amp Young Center for Business Innovation traz uma nova maneira de observar as mudanccedilas na economia a partir dos impactos da tecnociecircncia Os autores apresentam os princiacutepios da conectividade da velocidade e da intangibili-dade e os conceituam assim

bull Velocidade todos os aspectos que envolvem negoacutecios e a organizaccedilatildeo ocorrem e mu-dam em tempo real

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REPERCUSSAtildeO SOCIAL DO DESENVOLVIMENTO CIENTIacuteFICO E TECNOLOacuteGICO153

bull Conectividade todas as coisas vatildeo se conectando eletronicamente produtos pessoas empresas paiacuteses enfim qualquer coisa

bull Intangibilidade toda proposta possui valor econocircmico tangiacutevel e intangiacutevel O intangiacute-vel cresce mais rapidamente

Esses trecircs princiacutepios se propotildeem a antagonizar os limites da fiacutesica massa tempo e espaccedilo Dizem os autores que

A comunicaccedilatildeo e a computaccedilatildeo quase instantacircneas por exemplo estatildeo reduzindo o tempo e nos concentrando no aspecto da Velocidade A Conectividade estaacute colocando todo mundo on line de uma forma ou de outra e tem provocado a ldquomorte da distacircnciardquo um encolhimento do espaccedilo A Intangibilidade de valores de todos os tipos como serviccedilos e informaccedilatildeo cres-ce em ritmo vertiginoso reduzindo a importacircncia da massa tangiacutevel (p 6)

Numa obra rica em exemplos contemporacircneos de empresa e de empreendimentos os autores apon-tam como o mundo iraacute se comportar com esses trecircs novos componentes do mercado do pensamento do modo de ser O resultado eacute uma projeccedilatildeo bastante interessante e muito provocativa de como seraacute o futuro

Oliver (1999) aproveita sua experiecircncia como consultor e membro de conselhos de administraccedilatildeo de grandes empresas para apontar as futuras mudanccedilas no mercado Numa bem cuidada e rica anaacutelise da histoacuteria dos negoacutecios e do conhecimento o autor apresenta trecircs etapas distintas e consecutivas a era agraacuteria a era industrial e a era da informaccedilatildeo Aponta nova era econocircmica a era dos biomateriais Na sua visatildeo de futuro aleacutem dos sete mandamentos estrateacutegicos e das sete empresas do seacuteculo XXI ele apresenta os sete produtos e tecnologias do seacuteculo XXI que satildeo

bull Cartotildees inteligentesbull Sensoresbull Knowbots (robocircs com conhecimento)bull Redes neuraisloacutegica fuzzybull Materiais inteligentesbull Biotecnologia ebull Maacutequinas nano e pico

115 Os efeitos da relaccedilatildeo CTS esforccedilo de siacutentese Quando vamos agrave escola e aprendemos as regras da linguiacutestica ou da linguagem erudita jaacute sabemos fa-lar esse eacute um aprendizado lastreado na relaccedilatildeo social e que se daacute ao longo da vida Da mesma forma a Ciecircncia e a Tecnologia Quando somos apresentados aos estudos formais da aacuterea tecnocientiacutefica na verdade jaacute estamos impregnados de concepccedilotildees preacutevias e de conceitos que elaboramos a partir das relaccedilotildees com o ldquotecno-mundordquo e no que tange aos aparatos tecnoloacutegicos noacutes jaacute os possuiacutemos ou somos possuiacutedos pela vontade de possuiacute-los E em alguns casos somos possuiacutedos por eles (Martiacuten Gordillo e Osorio 2003)

As interaccedilotildees CTS e mais especificamente o tema deste moacutedulo ldquoRepercussatildeo social do desenvolvi-mento cientiacutefico e tecnoloacutegicordquo devem servir como ldquodivisor de aacuteguasrdquo para a maneira como reagiacutea-mos as interaccedilotildees e a maneira como nos deixaacutevamos conduzir pela ideia da Ciecircncia e da Tecnologia como entes neutros e produtores do Bem e do Bom

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REPERCUSSAtildeO SOCIAL DO DESENVOLVIMENTO CIENTIacuteFICO E TECNOLOacuteGICO154

Os acontecimentos atuais nos convidam a reavaliar o que se pensava ateacute recentemente sobre a re-percussatildeo social do desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico eacuteramos beneficiaacuterios contemplativos e exploradores da matildee Terra Hoje o efeito estufa eacute um acontecimento real o degelo da calota polar caminha para consequecircncias ainda natildeo calculadas mas preocupantes a emissatildeo de CO2 se mostra um verdugo que nos atingiraacute a frota de automoacuteveis e demais motores agrave combustatildeo exigem cada vez mais dos derivados do petroacuteleo a aacutegua eacute escassa e de desenha como objeto de disputa no futuro os ciclos de reaproveitamento dos produtos pela natureza eacute quebrado quando produzimos os plaacutesticos os vi-dros e as ligas os dejetos industriais e de consumo domeacutestico se acumulam no colo da matildee natureza

Esses satildeo efeitos que chamaremos de segunda ordem que natildeo eacute propriamente o sistema de interaccedilatildeo entre Ciecircncia Tecnologia e Sociedade mas sim os efeitos deste sistema em direccedilatildeo agrave Natureza que eacute um macro sistema Eacute certo que devemos estudar o quanto a Ciecircncia e a Tecnologia repercutem na Sociedade Tambeacutem eacute certo que precisamos estudar como a Sociedade controla e acompanha a Ciecircn-cia e a Tecnologia Mas natildeo eacute menos importante refletir sobre onde depositamos nosso olhar

1 Exclusivamente no presente esclarecido pelas discussotildees CTS de resultado imediatos a fim de ordenarmos o Princiacutepio da Satisfaccedilatildeo ou

2 Postamos o olhar no futuro ndash uma histoacuteria a ser construiacuteda ndash que seraacute o resultado dos efeitos exteriorizados por esta triacuteade CTS esclarecida e que se pautaraacute no Principio da Precauccedilatildeo

Em ambos os casos trabalharemos pela alfabetizaccedilatildeo tecnocientiacutefica efetiva que resulta em partici-paccedilatildeo social esclarecida A diferenccedila estaacute na intensidade da submissatildeo das relaccedilotildees de causa e efeito entre os binocircmios Homem-Natureza e supeacuterfluo-necessaacuterio Na primeira preparamos o mundo para nossa velhice na segunda preparamos o mundo para as geraccedilotildees futuras

Natildeo eacute possiacutevel discutir CTS sem que se acrescente a visatildeo de futuro

Natildeo basta agora falar em Ciecircncia e Sociedade ou Tecnologia e Sociedade mas sim Ciecircncia com So-ciedade e Tecnologia com Sociedade

REFERENCIAS 155

Referecircncias

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SOBRE LOS AUTORES177

Sobre el autor

Alvaro Chrispino eacute Doutor em Educaccedilatildeo pela UFRJ-Universidade Federal do Rio de Janeiro Licen-ciado em Quiacutemica e Coordenador do programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Ciecircncia Tecnologia e Educa-ccedilatildeo do CEFETRJ Eacute Bolsista de Produtividade em PesquisaEducaccedilatildeo do CNPq e Lider de Grupo de PesquisaCNPq CTS e Educaccedilatildeo

O ocupou diversos cargos puacuteblicos no campo da Educaccedilatildeo e das Poliacuteticas Puacuteblicas e possui livros e artigos em educaccedilatildeo CTS e poliacuteticas puacuteblicas

Iniciou seus estudos em CTS quando da realizaccedilatildeo de seu Mestrado em Educaccedilatildeo na UFRJ em 1992

COLECCIOacuteN DOCUMENTOS DE TRABAJOTIacuteTULOS PUBLICADOS

Documento ndeg 1Deacutecada de la educacioacuten para la sostenibilidad Temas de accioacuten claveAmparo Vilches Oacutescar Maciacuteas y Daniel Gil Peacuterez

Documento ndeg 2 Concepcioacuten y tendencias de la educacioacuten a distancia en Ameacuterica LatinaLorenzo Garciacutea Areito (coord)

Documento ndeg 3 Educacioacuten ciencia tecnologiacutea y sociedadMariano Martiacuten Gordillo (coord)

Documento ndeg 4 La nanotecnologiacutea en IberoameacutericaObservatorio Iberoamericano de la Ciencia la Tecnologiacutea y la Sociedad

Documento ndeg 5 Ciencia tecnologiacutea y sociedad en Iberoameacuterica una evaluacioacuten de la comprensioacuten de la naturaleza de ciencia y tecnologiacuteaAntoni Bennaacutessar Roig Aacutengel Vaacutezquez Alonso Mariacutea Antonia Manassero Mas y Antonio Garciacutea Carmona (coordinadores)

Introduccedilatildeo aos Enfoques CTS ndash Ciecircncia Tecnologia e Sociedade ndash na educaccedilatildeo e no ensino

Esta obra apresenta ideias e argumentos que buscam reconceitualizar ciecircn-

cia e tecnologia desconstruindo uma ciecircncia neutra herdada pronta infaliacute-

vel e uma tecnologia portadora de bondade e de progresso impregnado de bem-

estar duradouro visto que satildeo construccedilotildees sociais Faz isso buscando obras e

autores consagrados sem deixar de recrutar novos autores de diferentes aacutereas que

sejam capazes de trazer luzes para o melhor entendimento da Abordagem CTS

Foi elaborada ao longo dos anos nas disciplinas do programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Ciecircn-

cia Tecnologia e Educaccedilatildeo especialmente na linha de pesquisa CTS e Ensino do CEFET

RJ- Centro Federal de Educaccedilatildeo Tecnoloacutegica Celso Suckow da Fonseca no Rio de Janeiro

Page 4: INTRODUÇÃO AOS ENFOQUES CTS CIÊNCIA ......INTRODUÇÃO AOS ENFOQUES CTS – CIÊNCIA, TECNOLOGIA E SOCIEDADE – NA EDUCAÇÃO E NO ENSINO 6 dependendo de sua formação, de seus

Iacutendice

Introduccedilatildeo

1ordf PARTE ndash CONCEITOS BAacuteSICOS DE ENFOQUE CTS E EDUCACcedilAtildeO

CTS

1 CTS COMO CAMPO DE ESTUDO EM CONSTRUCcedilAtildeO

2 SOBRE A CIEcircNCIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A CIEcircNCIA

3 SOBRE A TECNOLOGIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A TECNOLOGIA

4 SOBRE A SOCIEDADE MAS NAtildeO O QUE Eacute A SOCIEDADE

5 SOBRE AS RELACcedilOtildeES CIEcircNCIA TECNOLOGIA E SOCIEDADE

6 CTS E O ENSINO

7 CTS E A TEacuteCNICA DA CONTROVEacuteRSIA CONTROLADA

2ordf PARTE ndash A VISAtildeO AMPLIADA DAS CORRELACcedilOtildeES DO ENFOQUE

CTS

8 MODELAGEM PARA PARTICIPACcedilAtildeO SOCIAL NAS RELACcedilOtildeES

CTS UTILIZANDO AS ORDENS DE COMTE-SPONVILLE

9 SOBRE AS ABORDAGENS CTS

10 SOBRE AS VARIAacuteVEIS QUE IMPLICAM NAS RELACcedilOtildeES CTS

11 REPERCUSSAtildeO SOCIAL DO DESENVOLVIMENTO CIENTIacuteFICO E

TECNOLOacuteGICO

Referencias

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INTRODUCCIOacuteN5

Introduccioacuten

Os trabalhos ndash tanto artigos quanto teses e dissertaccedilotildees ndash que tratam do Enfoque CTS possuem na sua maioria um sequencia histoacuterica de fatos e de acontecimentos que pretendem apresentar o que seja este campo do conhecimento para professores alunos e cidadatildeos Porque sua estrutura de apre-sentaccedilatildeo eacute semelhante e os argumentos repetidos vivemos um grande dilema na apresentaccedilatildeo de um trabalho construiacutedo coletivamente com turmas de estudantes dos programas de mestrado e douto-rado do CEFETRJ Se natildeo nos utilizamos da narrativa padratildeo corremos o risco de sermos alijados visto que natildeo estamos ldquofalando a mesma liacutengua da aacutereardquo mesmo que isso busque demonstrar que os caminhos percorridos na produccedilatildeo deste material foram marcados por idas e vindas na grande arena das ideias e interpretaccedilotildees oriundas de estudantes de mestrado e doutorado que militam em diferen-tes aacutereas do conhecimento sendo que a educaccedilatildeo eou o ensino satildeo seus pontos de aproximaccedilatildeo ou convergecircncia

Quando iniciamos as primeiras discussotildees tiacutenhamos a intenccedilatildeo de organizar ideias e argumentos que permitissem ao final do conjunto de encontros de cada curso reconceitualizar ciecircncia e tecno-logia tal qual a tradiccedilatildeo ensinada nas escolas desconstruindo uma ciecircnca herdada pronta infaliacutevel e uma tecnologia portadora de bondade e de progresso impregnado de bem-estar duradouro

A primeira preocupaccedilatildeo era demonstrar que a Ciecircncia e a Tecnologia satildeo produzidas e mantidas por seres humanos que possuem intencionalidades interesses limites crenccedilas valores e planos de futuro Esse conjunto de caracteriacutesticas se potencializa quando os indiviacuteduos se reuacutenem em grupos de interesse e organizam os chamados grupos de pesquisa que buscam ampliar fronteiras do conhe-cimento e produzir aparatos ou sistemas tecnoloacutegicos inovadores Fica claro que a Ciecircncia e a Tec-nologia satildeo produccedilotildees humanas e por isso impregnadas de humanidade em todos os seus matizes era o primeiro objetivo

Apoacutes isso buscaacutevamos demonstrar que toda ciecircncia e tecnologia produzidas ndash como produtos cons-truidos socialmente ndash retornam para a sociedade impactando-a de diversas formas quer expliacutecita quer implicitamente Alguns destes impactos podem ser beneacuteficos se vistos como soluccedilatildeo para um problema atual mas podem ser portadores de futuro incerto quando produzem riscos no meacutedio ou longo prazos

Consideramos tambeacutem que os textos gerais sobre CTS apontam o surgimento de movimentos sociais que se contrapunham aos impactos danosos dos avanccedilos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos e a isso chamaram de Movimento CTS dando inuacutemeros exemplos de fatos e personagens

Da mesma forma apontam para as accedilotildees reflexivas de profissionais da Ciecircncia e da Tecnologia que iniciaram discussotildees a cerca das consequecircncias deste saber para a Sociedade De forma geral essa accedilatildeo foi chamada didaticamente de Estudos CTS

As tradiccedilotildees chamadas de americana e europeacuteia ndash as quais agregamos a chamada latino-americana ndash satildeo o caminho comum da apresentaccedilatildeo do Enfoque CTS

Se considerarmos que CTS defende a construccedilatildeo social da ciecircncia e da tecnologia devemos por de-ver de ofiacutecio defender que o proacuteprio CTS eacute de difiacutecil consenso visto que cada grupo ou pesquisador

INTRODUCCIOacuteN

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dependendo de sua formaccedilatildeo de seus valores de suas crenccedilas etc iraacute ler e interpretar os mesmos fenocircmenos de forma singular identificando grandes eixos comuns mas impregnando-os com suas particularidades com suas idiossincrasias Logo esperar que tenhamos um uacutenico conceito sobre o que seja CTS eacute uma ingenuidade Encontramos sim alguns consensos e aproximaccedilotildees sucessivas que permitem que a aacuterea se comunique e produza conhecimento a fim de contribuir para o amadu-recimento das relaccedilotildees ciecircncia tecnologia e sociedade

Este trabalho enfrenta as mesmas dificuldades que seus congecircneres Para natildeo se distanciar de seus pares apresenta temas e debates que satildeo comuns agrave aacuterea na busca da reconceitualizaccedilatildeo da ciecircncia e da tecnologia e na apresentaccedilatildeo dos impactos que estas causam na sociedade Faz isso buscando obras e autores consagrados na aacuterea sem deixar de recrutar novos autores de diferentes aacutereas que sejam capazes de trazer luzes para o melhor entendimento da Abordagem CTS Esta natildeo eacute uma obra autoral mas sim de apresentaccedilatildeo da aacuterea CTS por meio do pensamento de muitos colaboradores Nossa participaccedilatildeo estaacute no risco de reunir autores da aacuterea e outros colaboradores de aacutereas distintas O risco da inovaccedilatildeo e da ampliaccedilatildeo de fronteiras eacute sempre necessaacuterio

Deixamos claro desde jaacute que para noacutes a Abordagem CTS eacute um campo complexo interdisciplinar contextualizado e transversal fundamentado especialmente nos saberes da sociologia da filosofia na histoacuteria da economia da poliacutetica da psicologia dos valores etc Trazemos para este primeiro mo-mento a reflexatildeo de Cutcliffe (2003)

[] em resumo pode dizer-se que o campo de CTS deixou para tras qualquer tendecircncia inicial que pudesse ser relacionado com alguns grupos e que implicasse em uma visatildeo sim-plista em branco e negro da ciecircncia e da tecnologia na sociedade buscando alcanccedilar uma compreensatildeo mais complexa da relaccedilatildeo de CTS Na atualidade CTS concebe a ciecircncia e a tecnologia como projetos complexos que se datildeo em contextos histoacutericos e culturais especiacute-ficos O que tem surgido eacute um consenso com respeito a que se bem a ciecircncia e a tecnologia nos trazem diversos benefiacutecios tambeacutem provocam certos impactos negativos alguns dos quais imprevisiacuteveis mas todos refletem os valores pontos de vistas e visotildees daqueles que estatildeo em situaccedilatildeo de tomar decisatildeo com respeito aos conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacutegi-cos dentro de seus acircmbitos A missatildeo central do campo CTS ateacute a data de hoje tem sido a de expressar a interpretaccedilatildeo da ciecircncia e da tecnologia como um processo social Deste ponto de vista a ciecircncia e a tecnologia satildeo vistos como projetos complexos em que os valo-res culturais poliacuteticos e econocircmicos nos ajudam a configurar os processos tecnocientiacuteficos os quais por sua vez afetam os valores mesmos e a sociedade que os manteacutem (p 18) grifos nossos

E como pretendemos fazer intervenccedilatildeo no processo de qualificaccedilatildeo de professores ndash em serviccedilo e em formaccedilatildeo ndash assim como na melhor formaccedilatildeo de licenciandos e estudantes da escola baacutesica devemos antecipar o que entendemos por Educaccedilatildeo CTS e o que esperamos dela Para noacutes

CTS eacute uma opccedilatildeo educativa transversal (Acevedo 1996b) que prioriza sobretudo os con-teuacutedos atitudinais (cognitivos afetivos e valorativos) e axioloacutegicos (valores e normas)Desde a perspectiva da dimensatildeo cognitiva atitudinal a educaccedilatildeo CTS pretende tambeacutem uma melhor compreensatildeo da ciecircncia e da tecnologia em seu contexto social incidindo nas interrelaccedilotildees entre os desenvolvimentos cientiacutefico e tecnoloacutegico e os processos sociais As-sim os estudantes deveratildeo adquirir durante sua escolarizaccedilatildeo algumas capacidades para ajudaacute-los a interpretar pelo menos de forma geral questotildees controvertidas re-lacionadas com os impactos sociais da ciecircncia e da tecnologia e com a qualidade das

INTRODUCCIOacuteN

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condiccedilotildees de vida de uma sociedade cada vez mais impregnada de ciecircncia e sobretudo de tecnologia (Acevedo Vaacutezquez e Manassero 2001 grifos nossos)

E quanto a sua pertinecircncia para o momento atual do Ensino de Ciecircncia e Tecnologia podemos lem-brar que este tema estaacute fortemente indicado na Base Nacional Comum Curricular que se ensaia no cenaacuterio educacional brasileiro como se apresenta desde antes no cenaacuterio internacional como infor-mam desde antes Acevedo Vaacutezquez e Manassero (2003a)

Movimento CTS eacute entendido como uma inovaccedilatildeo educacional que estaacute em consonacircncia com as mais relevantes e atuais recomendaccedilotildees internacionais para proporcionar no ensino de ciecircncias a alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica mais completa e uacutetil possiacutevel para todas as pessoas (p 101)

Essa eacute nossa melhor contribuiccedilatildeo para aqueles que buscam conhecer o que seja a Abordagem CTS Deixamos claro desde jaacute que esta eacute a nossa visatildeo da Abordagem CTS por mais que tenhamos tentado garantir que as diversas visotildees e escolas de pensamento estivessem aqui representadas Consideran-do a amplitude da aacuterea as escolhas buscam cumprir a intencionalidade da obra desde jaacute apresentada

Fica o agradecimento aos mestrandos e doutorandos que desfilaram nas arenas do conhecimento CTS dando suas contribuiccedilotildees para que o trabalho pudesse ser apresentado como uma alternativa de estudo para a aacuterea de educaccedilatildeo e ensino CTS

Da mesma forma como este eacute um trabalho que faz convergir pesquisas e accedilotildees de nosso grupo ao longo do tempo eacute indispensaacutevel o agradecimento ao CNPq ndash Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico que viabilizou as diversas pesquisas que resultaram neste trabalho por meio dos recursos oriundos dos Editais Universais de 2007 2010 e 2013

Que seja uacutetil agraves reflexotildees produzindo novas questotildees e inquietaccedilotildees e nunca saberes acabados

Alvaro Chrispino

CTS COMO CAMPO DE ESTUDO EM CONSTRUCcedilAtildeO9

1 CTS como campo de estudo em construccedilatildeo

() eacute importante que a educaccedilatildeo tecnocientiacutefica esteja orientada para propiciar uma formaccedilatildeo da cidadania que a capacite para compreender para ser manejada e para participar de um mundo no qual a ciecircncia e a tecnologia estatildeo a miuacutedo mais presentes Sem duacutevida o enfoque da Ciecircncia Tecnologia e Sociedade (CTS) eacute especialmente apropriado para fomentar uma educaccedilatildeo tecnocientiacutefica dirigida agrave aprendizagem da participaccedilatildeo trazendo um novo significado para conceitos tatildeo aceitos como alfabetizaccedilatildeo tecnocientiacutefica ciecircncia para todos ou difusatildeo da cultura cientiacutefica

Martiacuten Gordillo e Osorio M2003

A concepccedilatildeo claacutessica das relaccedilotildees entre a Ciecircncia e a Tecnologia com a Sociedade eacute uma concepccedilatildeo eminentemente otimista e que reflete uma postura linear de progresso que pode ser simbolizada pela expressatildeo encontrada no Guia da Exposiccedilatildeo Universal de Chicago de 1933 segundo Sanmartiacuten (1990 p 168)

A ciecircncia descobre o gecircnio inventa a induacutestria aplica e homem se adapta ou eacute moldado pelas coisas novas

O espiacuterito contido nesta frase eacute mais facilmente identificado por uma equaccedilatildeo simples + ciecircncia = + tecnologia = + riqueza = + bem-estar social (Bazzo Linsingen e Pereira 2003 Loacutepez Cerezo 1997 1998) Este eacute o chamado ldquomodelo linear de desenvolvimentordquo que pode ser mais resumido conforme apresentam Gonzalez Garcia1 Loacutepez Cerezo e Lujan Loacutepez (1996 p 31) como progresso cientiacutefico =gt Progresso tecnoloacutegico =gt progresso econocircmico =gt progresso social Esta concepccedilatildeo segundo Sa-rewitz (1996 p 17) foi apresentada originalmente por Vannevar Bush2 (1945 1999)

Os avanccedilos na ciecircncia quando colocados no uso praacutetico significam mais trabalho salaacuterios mais altos horas mais curtas colheita mais abundante tempo mais livre para a recreaccedilatildeo para o estudo para aprender a viver sem o trabalho fatigoso e enfraquecedor que tem sido a carga do homem comum do periacuteodo passado Mas para alcanccedilar estes objetivos o fluxo do conhecimento cientiacutefico novo deve ser contiacutenuo e significativo

O Relatoacuterio Bush solicitou uma liberdade plena para a pesquisa cientiacutefica e tecnoloacutegica que confor-me tentou justificar seu autor traria benefiacutecios e vantagens tal qual fez ao encerrar a Segunda Gran-de Guerra com um artefato tecnoloacutegico produzido pela ciecircncia mais avanccedilada da eacutepoca a bomba atocircmica Por mais que a tradiccedilatildeo tenha contemplado essa relaccedilatildeo direta ela natildeo se sustenta quando buscamos algumas informaccedilotildees histoacutericas que sintetizamos de Acevedo Vasquez e Manassero (2001)

bull ldquo6 de agosto de 1945 o Enola Gay um aviatildeo B-29 sobrevoou a ilha de Hondo e despejou sobre a cidade de Hiroshima a Little Boy a primeira bomba atocircmica de uracircnio Em 9 de agosto eacute lanccedilada outra sobre Nagasaki uma importante cidade situada a noroeste da ilha japonesa de Kyushu O sucesso dos artefatos tecnoloacutegicos potildee fim a segunda guerra

1 Neste trabalho optou-se pela utilizaccedilatildeo da referencia de autores espanhoacuteis pelo penuacuteltimo nome Entatildeo o leitor encontraraacute por exemplo Gonzalez Garcia Loacutepez Cerezo e Lujan Loacutepez ao inveacutes de Garcia Cerezo e Loacutepez2 Conheccedila mais em httpptwikipediaorgwikiVannevar_Bush Como estamos em um curso que trata de ciecircncia e de tecnolo-gia propomos que o aprofundamento sobre alguns assuntos possa contar com a contribuiccedilatildeo da Wikipeacutedia mas desde jaacute lem-bramos sobre a importacircncia de ler com criteacuterio considerando o processo de construccedilatildeo coletiva da Wikipedia

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CTS COMO CAMPO DE ESTUDO EM CONSTRUCcedilAtildeO10

mundial Menos de um mecircs antes em 16 de julho a bomba atocircmica de uracircnio havia sido testada com ecircxito em um deserto proacuteximo a Alamogordo no estado norteameri-cano de Novo Meacutexico Era a culminacircncia do Projeto Manhattan iniciado em 1942 que reuniu diversos cientistas que trabalhando em grupos distintos contribuiacuteram para que o conhecimento cientiacutefico se transformasse em tecnologia O resultado desta uniatildeo foi a vitoacuteria poliacutetica dos Estados Unidos sobre seu inimigo e mais tarde demonstrou as consequecircncias sociais para os sobreviventes civis dos episoacutedios nucleares Este eacute um dos casos que ilustra perfeitamente as complexas e dramaacuteticas relaccedilotildees entre ciecircncia tecnologia e poder militar rdquo

bull ldquo4 de outubro de 1957 Um acontecimento surpreende todo o mundo e em especial os Estados Unidos A URSS havia posto em oacuterbita terrestre seu primeiro Sputnik um sateacute-lite artificial pouco maior que uma bola de futebol As repercussotildees sociais deste acon-tecimento foram enormes Atualmente as telecomunicaccedilotildees dependem de numerosos sateacutelites artificiais para dar manutenccedilatildeo a grande rede de comunicaccedilatildeo em tempo real que envolve o planetardquo

bull ldquoContemporaneamente temos o efeito estufa que acelera o aquecimento global do pla-neta a diminuiccedilatildeo das camadas polares a chuva aacutecida a diminuiccedilatildeo da camada de ozocirc-nio a utilizaccedilatildeo de bombas de napalm nas guerras da Coreacuteia e Vietnam os submarinos que utilizam energia nuclear para sua propulsatildeo os acidentes industriais como os de Bhopal (India 1984) e Chernobil (Ucrania 1986) os vazamentos de navios petroleiros (Exxon Valdez Alaska 1989 e Jessica Ilhas Galaacutepagos 2001) Por outro lado tambeacutem jaacute possuiacutemos a penicilina e as vacinas as novas teacutecnicas de diagnoacutestico cliacutenico os trans-plantes e oacutergatildeos artificiais a eletricidade a maior produccedilatildeo de gratildeos de toda classe para alimentar uma humanidade crescente as novas formas de comunicaccedilatildeo as tecnologias de informaccedilatildeo e muitos outros pequenos objetos tecnoloacutegicos de uso cotidiano que trazem conforto e facilitam nossas vidasrdquo

Esses exemplos ndash e outros como as consequecircncias do uso da talidomida ou desastre ambiental no Golfo do Meacutexico com a plataforma petroliacutefera Deepwater Horizon ndash deixam claro que a relaccedilatildeo di-reta apresentada pela tradiccedilatildeo natildeo eacute absolutamente verdadeira Haacute vantagens e benefiacutecios mas haacute tambeacutem efeitos secundaacuterios que podem surgir a curto meacutedio e longo prazos Haacute grupos sociais que aleacutem de natildeo serem beneficiados com o resultado tecnoloacutegico podem sofrer perdas e restriccedilotildees com a disseminaccedilatildeo do aparato tecnoloacutegico

Considerando este conjunto extremo de consequecircncias grupos de ativistas iniciaram manifestaccedilotildees questionando e logo depois algumas vozes ligadas a Ciecircncia e Tecnologia tambeacutem apresentavam a necessidade de se discutir os riscos que surgiam da chamada prosperidade tecnoloacutegica

Dentre os nomes e feitos mais citados estavam

bull Rachel Carson3 que escreveu Silent Spring em 1958 (Primavera Silenciosa 1962) onde apresentava diversas questotildees em torno do uso de inseticidas quiacutemicos como o DDT (Dicloro-Difenil-Tricloroetano) tido agrave eacutepoca como grande alternativa pois era barato e eficiente contra os mosquitos da malaacuteria e do tifo Trecircs semanas apoacutes seu lanccedilamento o livro jaacute havia vendido 100 mil exemplares O problema era a capacidade do DDT de ser absorvido pelos animais e por toda a cadeia alimentar em outras palavras o seu efeito natildeo cessava O nome do livro quer insinuar que natildeo haveraacute paacutessaros na primavera pois

3 Conheccedila mais em httpwwwgeocitiescom~esabiocientistasraquel_carsonhtm

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CTS COMO CAMPO DE ESTUDO EM CONSTRUCcedilAtildeO11

todos teratildeo morrido viacutetimas dos inseticidas Esse movimento permitiu o fortalecimento dos chamados movimentos ecoloacutegicos Hoje o DDT eacute um produto proibido (Cutcliffe 2003 p 8 1990 p 21)

bull Ralph Nader4 ativista dos direitos do consumidor promoveu um grande movimento contra o que chamou de arrogacircncia da induacutestria automobiliacutestica em torno da seguranccedila e dos perigos dos modelos Corvair fabricados pela Chevrolet entre 1960 e 1969 Escre-veu Unsafe at Any Speed The Designed-In Dangers of the American Automobile 91965) (Cutcliffe 2003 p 8 1990 p 21)

bull Vance Packard5 escreveu The Hidden Persuaders (1957) onde jaacute defendia que a induacutestria da propaganda criava artificialmente as necessidades e demandas para o consumidor

bull John Kenneth Galbraith6 escreveu The Affluent Society (1958) e The New Industrial Sta-te (1967) e defendia que no Estado industrial o poder econocircmico havia se desprendido das necessidades dos consumidores e que uma ldquotecnoestruturardquo controlava a tecnolo-gia visando o crescimento e benefiacutecio da organizaccedilatildeo (Cutcliffe 1990 p 21)

bull Mario Molina7 e Frank S Rowland8 (1974) publicam na revista Nature uma pesquisa apontando a accedilatildeo dos clorofluorcarbonos (CFC) dentre outros compostos na dimi-nuiccedilatildeo da camada de ozocircnio O CFC foi sintetizado em 1928 e eacute especialmente utilizado geladeiras e aparelhos de ar condicionado para refrigeraccedilatildeo O Protocolo de Montreal baniu o consumo destes gases em 2010 Molina Rowland e Paul Crutzen dividiram o Precircmio Nobel de Quiacutemica de 1995 Em seu sitio Molina apresenta a seguinte frase ldquoOs cientistas podem descrever os problemas que afectam o ambiente com base nas evi-decircncias disponiacuteveis mas sua soluccedilatildeo natildeo eacute da responsabilidade dos cientistas mas da sociedade como um todordquo

bull Derek J de Solla Price9 em 1963 escreveu Little Science Big Science onde debatia o cresci-mento do financiamento da tecnologia por parte do Estado e que resultou na ne-cessidade de se discutir uma ldquociecircncia da ciecircnciardquo produzindo a Fundaccedilatildeo para a Ciecircncia da Ciecircncia em 1965 e diversas sociedades voltadas para a ldquoresponsabilidade social da ciecircnciardquo na Inglaterra e em outros lugares (Cutcliffe 2003 p 11)

bull Barry Commoner10 em 1963 escreveu Science and survival onde alerta para perda de controle sobre as consequecircncias sociais da ciecircncia e da tecnologia Para ele os cientistas deveriam divulgar mais seus trabalhos e suas consequecircncias para quem ele chama de natildeo-cientistas Conclui que a Ciecircncia e os cientistas satildeo capazes de revelar o tamanho do problema mas somente a accedilatildeo social pode resolvecirc-lo (Beck 2010)

Aleacutem destes grupos sociais que se organizaram e produziram efeitos importantes para a reflexatildeo em torno dos riscos que envolviam as tecnologias esse periacuteodo da histoacuteria presenciou o surgimen-to de inuacutemeros grupos chamados ativistas que cada uma sua maneira buscavam chamar atenccedilatildeo para os riscos a que estavam expostos os cidadatildeos Durante a deacutecada de 1970 os mais significativos movimentos giravam em torno da energia nuclear e seus riscos dos miacutesseis baliacutesticos do transporte supersocircnico dos CFC-Clorofluorcarbono usados em aerossoacuteis as primeiras discussotildees sobre o im-pacto de pesquisas geneacuteticas dentre outros A deacutecada de 1980 presenciou uma importante discussatildeo levantada por um sindicato de operaacuterios que solicitava uma

4 Conheccedila mais em httpptwikipediaorgwikiRalph_Nader 5 Conheccedila mais em httpsenwikipediaorgwikiVance_Packard 6 Conheccedila mais em httpsptwikipediaorgwikiJohn_Kenneth_Galbraith 7 Conheccedila mais em httpseswikipediaorgwikiMario_Molina e httpcentromariomolinaorgmario-molinabiografia 8 Conheccedila mais em httpsenwikipediaorgwikiF_Sherwood_Rowland 9 Conheccedila mais em httpenwikipediaorgwikiDerek_J_de_Solla_Price10 Conheccedila mais em httpptwikipediaorgwikiBarry_Commoner

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CTS COMO CAMPO DE ESTUDO EM CONSTRUCcedilAtildeO12

ldquoDeclaraccedilatildeo de Direitos sobre a Nova Tecnologiardquo que exigia algum tipo de controle sobre o processo de trabalho refletia a problemaacutetica laboral surgida do impacto das novas tec-nologias de automaccedilatildeo sobre a estabilidade no trabalho a seguranccedila dos trabalhadores e a reduccedilatildeo de habilidades necessaacuterias (Cutcliffe 2003 p 9)

Sobre este surgimento e evoluccedilatildeo Mitcham11 (1990 p 15) apresenta outro acircngulo de estudo Diz que os Estudos CTS tiveram duas fontes a primeira eacute a formaccedilatildeo na deacutecada de 1950 do que se chamou de Science Technology and Public Policy (STPP) e a segunda eacute a criacutetica social e poliacutetica agrave ciecircncia e agrave tecnologia surgidas no final da deacutecada de 1960 Ao analisar cada uma das fontes escreve o autor que

bull Os programas STPP O processo de institucionalizaccedilatildeo da ciecircncia mo-derna pode ser estudada a partir de trecircs etapas principais

bull A primeira etapa em torno dos seacuteculos XVII e XVIII a ciecircncia foi um trabalho de indiviacuteduos geralmente oriundos da aristocracia

bull A segunda etapa de institucionalizaccedilatildeo da ciecircncia ocorre durante o seacuteculo XIX quando ela eacute profissionalizada em departamentos especiacuteficos como departa-mentos de quiacutemica de fiacutesica etc nas universidades e nos laboratoacuterios de pes-quisa e desenvolvimento industrial Esta institucionalizaccedilatildeo requereu uma or-ganizaccedilatildeo um pouco mais complexa mas ainda em pequena escala

bull A terceira institucionalizaccedilatildeo da ciecircncia moderna ocorreu durante a Segunda Guerra Mundial como resultado do apoio governamental e a criaccedilatildeo de proje-tos de pesquisa e desenvolvimento de larga escala como projeto Manhattan que resultou na bomba atocircmica Tais projetos e accedilotildees governamentais intro-duziram na atividade cientiacutefica e tecnoloacutegica estruturas administrativas pro-cessos de gestatildeo e um contingente de profissionais ateacute entatildeo desconhecidos destas aacutereas Os programas STPP foram desenvolvidos depois da guerra com o propoacutesito de estudar a gestatildeo em grande escala da ciecircncia e da tecnologia Escreve o autor que os programas STPP em universidades tecnoloacutegicas mais importantes ndash tais como o Instituto de Tecnologia de Massachussets (MIT) e a Universidade Carnegie Mellon ndash estatildeo estreitamente relacionados as faculdades formadoras de engenheiros A mobilizaccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica no periacuteodo da segunda grande guerra demonstrou que a gestatildeo da ciecircncia e da tecnologia em suas no-vas e complexas inter-relaccedilotildees com o governo e a sociedade exigia capacidades (competecircncias) especiais ldquoA experiecircncia natildeo eacute suficiente para que os engen-heiros aprendam a fazecirc-lo assim como os gestores carecem em geral da edu-caccedilatildeo e habilidade necessaacuterias para comunicar-se efetivamente com o corpo cientiacuteficordquo (p 16) Os programas STPP surgiram no interior da comunidade de ciecircncia e tecnologia

bull Os programas CTS estes surgiram na visatildeo de Mitcham como respostas a influecircn-cias externas agrave ciecircncia e a tecnologia Os movimentos ecoloacutegicos e de consumidores preocupados com as mudanccedilas tecnoloacutegicas iniciaram um movimento de aproximaccedilatildeo da ciecircncia e da tecnologia com a sociedade e a cultura Nos EUA os primeiros progra-mas CTS foram produzidos por profissionais oriundos das ciecircncias sociais (Universida-de de Cornell) como por engenheiros preocupados com problemas sociais (Universida-des de Pennsylvania e Etenford) Escreve o autor que os primeiros tinham um caraacuteter mais criacuteticos da ciecircncia e da tecnologia como meacutetodos de conhecimento como soluccedilotildees

11 Conheccedila mais httpsenwikipediaorgwikiCarl_Mitcham

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CTS COMO CAMPO DE ESTUDO EM CONSTRUCcedilAtildeO13

de problemas e como processos sociais Jaacute o segundo grupo buscava demonstrar aos alunos das chamadas humanidades como era o ldquomundo fabricado pelo homemrdquo dando ecircnfase a um tipo de alfabetizaccedilatildeo tecnoloacutegica

Em uma obra claacutessica intitulada Sceince Technology and Society ndash A crosssisciplinary Perspective or-ganizada por Ina Spiegel-Roumlsing e Derek Solla Price (1977) encontramos a proposta de estruturaccedilatildeo dos estudos CTS suportada por diversas aacutereas do conhecimento (sociologia poliacutetica psicologia va-lores etc) e tambeacutem temas contemporacircneos ou demarcadores de fatos sociais (guerra militarismo sistema e relaccedilotildees internacionais modelos etc) com um capiacutetulo inicial que se intitula The Study of Science technology and Society (SSTS) Recent Trends and Future Challenges (Spiegel-Rooumlsing 1977) reafirmando a polissemia que impera na aacuterea

Outros autores apontam para origem distinta do CTS em Educaccedilatildeo Pedretti e Nazir (2011) e Aiken-head (2005) em excelentes artigos de revisatildeo defendem que Jim Gallagher (1971) introduz a visatildeo CTS quando escreve ldquoPara futuros cidadatildeos em uma sociedade democraacutetica comprender a interre-laccedilatildeo entre ciecircncia tecnologia e sociedade pode ser tatildeo importante como entender os conceitos e os processos da ciecircnciardquo (Gallagher 1971 p 337) Ele eacute seguido de uma seacuterie de publicaccedilotildees que desdo-bram a ideia com especial atenccedilatildeo ao artigo de Paul Hurd (1975) intitulado Science Technology and Society New Goals for Interdisciplinary Science Teaching

Figaredo Curiel (2013) por sua vez informa a opiniatildeo de Jose Antonio Lopez Cerezo em comuni-caccedilatildeo pessoal quando questionado sobre o inicio do uso do acrocircnimo CTS

Ateacute onde eu sei e com independecircncia de utilizaccedilotildees esporaacutedicas que natildeo se ligam com a tradiccedilatildeo acadecircmica principal de CTS ldquoscience technology and societyrdquo foi usado pela pri-meira vez por Rustum Roy o fundador do STS Programa da Universidade do Estado de Pen-silvania no final da deacutecada de 1960 ou principio da deacutecada de 1970 Eu cheguei a conhececirc-lo em uma visita a sua universidade Era um engenheiro de origem hinduacute ou paquistanesa mas com nacionalidade americana que se queixava de natildeo haver tido a visatildeo de chamar de ldquosociety technology and sciencerdquo o seu programa o que segundo ele (no princiacutepio da deacutecada de 1990 quando o conheci) refletia melhor a realidade das coisas (traduccedilatildeo livre do autor)

A nosso ver como trataremos no proacuteximo capiacutetulo o surgimento da ideacuteia CTS eacute de difiacutecil identidade visto que de acordo com a percepccedilatildeo do leitor pode ser percebido por analogia em vaacuterias correntes de pensamento na filosofia na sociologia na poliacutetica etc Como necessitamos iniciar os estudos em algum ponto vamos arbitrar com devida justificativa que as ideias CTS podem iniciar com Robert Merton e Jonh Bernal especialmente conforme detalharemos em item proacuteprio deste trabalho

Haacute certamente uma grande semelhanccedila das ideias CTS com as questotildees que marcam o mundo mo-derno Foram estas antecipaccedilotildees que permitiram que o tema impacto da ciecircncia e tecnologia sobre a sociedade fosse ocupando espaccedilos importantes no debate social e poliacutetico fosse ganhando espaccedilo nas miacutedias e fazendo com que os cidadatildeos participassem um pouco mais sobre o conjunto de poliacute-ticas puacuteblicas de Ciecircncia e Tecnologia Isto eacute passassem a influenciar mais sobre os recursos puacutebli-cos dirigidos para estes setores sobre as escolhas de prioridades a serem financiadas com recursos puacuteblicos sobre as anaacutelises de impactos destes aparatos sobre as pessoas sobre a sociedade e sobre o meio ambiente

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CTS COMO CAMPO DE ESTUDO EM CONSTRUCcedilAtildeO14

O crescimento do movimento CTS foi de tal ordem que levou os governos e os organismos multila-terais a abrirem espaccedilos nas agendas poliacuteticas para eventosdocumentos internacionais que acolhes-sem estas preocupaccedilotildees e a criaccedilatildeo de associaccedilotildees voltadas para esta temaacutetica

Dentre os eventosdocumentos podemos enumerar Nosso Futuro em Comum que discutia padrotildees para o desenvolvimento sustentaacutevel e que foi organizado pela Comissatildeo Mundial para o Meio Am-biente e Desenvolvimento e tambeacutem a Rio-92 Dentre as comissotildees surgidas para atender a esta demanda podemos citar como exemplos

bull Em 1966 a Associaccedilatildeo Nacional de Seguranccedila Viaacuteria (EUA)bull Em 1969 a Agecircncia de Proteccedilatildeo do Meio Ambiente (EUA)bull Em 1970 a Administraccedilatildeo de Seguranccedila e Sauacutede do Trabalho (EUA)bull Em 1972 a Oficina de Avaliaccedilatildeo da Tecnologia (EUA)bull Em 1975 a Comissatildeo de Energia Nuclear (EUA)bull Em 1982 o Conselho de Investigaccedilotildees Sociais da Dinamarca criou uma Subcomissatildeo de

Tecnologia e Sociedade e depois o Conselho de Tecnologiabull Em 1976 o Centro para a Vida laboral em Estocolmo Sueacutecia

A comunidade cientiacutefica tambeacutem apresentou suas preocupaccedilotildees por meio de organizaccedilotildees dirigi-das agraves questotildees derivadas das relaccedilotildees CTS e os impactos da ciecircncia e da tecnologia para a pessoa a sociedade e o meio ambiente Satildeo inuacutemeras as organizaccedilotildees ou grupos profissionais que criaram instituiccedilotildees voltadas para este campo de estudo Segundo Clutcliffe (2003) ressalta-se

bull A Fundaccedilatildeo Nacional de Ciecircncias dos Estados Unidos criou o Programa de Eacutetica e Va-lores em Ciecircncia e Tecnologia depois Programa de Dimensotildees sociais da Engenharia da Ciecircncia e da tecnologia

bull A Fundaccedilatildeo Nacional de Humanidades criou o Programa de Ciecircncia Tecnologia e Va-lores agora Humanidades Ciecircncia e Tecnologia

bull A Associaccedilatildeo Americana para o Avanccedilo da Ciecircncia criou o Programa de Ciecircncias e Poliacute-ticas de Atuaccedilatildeo e a Comissatildeo para as Liberdades e Responsabilidades Cientiacuteficas

bull Os engenheiros e cientistas criaram a Uniatildeo dos Cientistas Comprometidos (1969) ins-pirando-se na Federaccedilatildeo dos Cientistas Americanos (1945) surgida das preocupaccedilotildees com as implicaccedilotildees do projeto Manhattan que resultou na Bomba Atocircmica

bull Os cientistas e tecnoacutelogos criaram mais recentemente (1983) a Organizaccedilatildeo para a Responsabilidade Social dos Informaacuteticos dedicada a examinar as implicaccedilotildees sociais relacionadas com a informaacutetica em acircmbito militar nos locais de trabalho etc

A preocupaccedilatildeo social por meios organizados com os impactos econocircmicos sociais ambientais po-liacuteticos eacuteticos e culturais da Ciecircncia e Tecnologia e a busca de maior participaccedilatildeo da Sociedade nas decisotildees envolvendo Ciecircncia e Tecnologia satildeo as marcas do que definiremos como Movimento CTS Certamente esta definiccedilatildeo e a trajetoacuteria histoacuterica que culmina numa definiccedilatildeo eacute resultado da for-maccedilatildeo do autor ou da visatildeo do analista A triacuteade CTS envolve trecircs grandes aacutereas com histoacuterias e fun-damentos distintos e quando analisados por profissionais de diferentes aacutereas e formaccedilotildees oferecem outras tantas visotildees e acircngulos todos pertinentes e merecedores de nossa atenccedilatildeo Deixamos claro e expliacutecito que a visatildeo de CTS que apresentamos aqui eacute construiacuteda a partir dos aspectos educacionais de CTS Se encaramos o processo educacional como aquele que oferece condiccedilotildees de transformaccedilatildeo natildeo podemos desconsiderar os aspectos fundantes possiacuteveis ndash e que oferecem visotildees e fundamentos distintos e inter-complementares ndash que satildeo os aspectos sociais histoacutericos poliacuteticos axioloacutegicos e os aspectos econocircmicos de CTS

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CTS COMO CAMPO DE ESTUDO EM CONSTRUCcedilAtildeO15

Mas se por um lado a histoacuteria registrou um grande nuacutemero de accedilotildees organizadas por segmentos sociais preocupadas com os impactos da Ciecircncia e da Tecnologia por outro tambeacutem podemos e de-vemos enumerar os acontecimentos que transformaram essa relaccedilatildeo triaacutedica em Campo de Estudos CTS que se caracteriza pelos estudos acadecircmicos que buscam explicar a Natureza da Ciecircncia da Tecnologia e da Sociedade e como o entendimento diferente sobre estes campos do saber resulta em relaccedilotildees estreitas entre estes trecircs campos Fica claro para os estudiosos que marcam o Campo CTS ndash filoacutesofos da ciecircncia e da tecnologia historiadores da ciecircncia e da tecnologia socioacutelogos da ciecircncia e da tecnologia educadores em CTS cientistas poliacuteticos etc ndash que natildeo haacute um uacutenico exclusivo e ldquocorre-tordquo conceito para Ciecircncia assim como natildeo o haacute para Tecnologia e muito menos para Sociedade Haacute sim muitas maneiras de interpretar cada um desses camposconceitos e por consequecircncia interfe-rir na maneira com os trecircs se relacionam Sobre isso escrevem Vaacutezquez et al (2008 p 34)

O conceito de Natureza da Ciecircncia engloba uma variedade de aspectos sobre o que eacute a ciecircn-cia seu funcionamento interno e externo como constroacutei e desenvolve o conhecimento que produz os meacutetodos que usa para validar esse conhecimento os valores envolvidos nas ati-vidades cientiacuteficas a natureza da comunidade cientiacutefica os viacutenculos com a tecnologia as relaccedilotildees da sociedade com o sistema tecnocientiacutefico e vice-versa as contribuiccedilotildees desta para a cultura e o progresso da sociedade

Sobre a mesma temaacutetica Aduacuteriz-Bravo (2016) buscaraacute diferenciar Natureza da Ciecircncia e CTS para depois tentar uma convergecircncia ou mesmo intercomplementaridade entre eles Escreve ele

Para esta discussatildeo entendo o enfoque ciecircncia-tecnologia-sociedade (CTS) como uma co-rrente de pensamento com incidecircncia no campo da educaccedilatildeo cientiacutefica que aborda o ensino das ciecircncias desde os pontos de vista poliacutetico econocircmico social histoacuterico tecnoloacutegico etc (Lacolla 2004) Entendo por natureza da ciecircncia (NOS) uma aacuterea curricular emergente que agrupa um conjunto de conteuacutedos metateoacutericos (transpostos da filosofiacutea histoacuteria e socio-logiacutea da ciecircncia principalmente) considerados valiosos para a educaccedilatildeo cientiacutefica (Aduacuteriz-Bravo 2005)[]A luz do proposto parece possiacutevel postular uma complementariedade entre NOS e CTS ambas poderiam potencializar-se mutuamente para gerar mudanccedilas articuladas no saber e no saber fazer dos professores de ciecircncias A partir desta premissa estou propondo que o enfoque CTS ajudaria aos professores a encontrar umas maneiras de fazer que deixem de lado rotinas e incorporem alternativas didaacuteticas que construam em classe uma imagem de ciecircncia mais ajustada a produccedilatildeo NOS

Na verdade alguns autores natildeo fazem diferenccedila entre os termos Movimento CTS e Estudos CTS utilizando as duas expressotildees indistintamente A nosso ver as expressotildees querem representar movi-mentos diferentes o Movimento CTS representa melhor as consequecircncias sociais e accedilotildees da socie-dade em torno dos temas Ciecircncia e Tecnologia e a expressatildeo Estudos CTS identifica um campo de estudo que busca melhor entender as relaccedilotildees que compotildeem a triacuteade CTS o que pode dar ideia de antecedecircncia Vacarezza (2002 p 67) escreveraacute que

Reservamos o conceito de campo agraves funccedilotildees estritamente cognitivas que levam a cabo os distintos cultores da reflexatildeo sobre as relaccedilotildees entre ciecircncia tecnologia e o social O concei-to de movimento faz referecircncia agrave conformaccedilatildeo de um sujeito poliacutetico (ou a um conjunto mais ou menos integrado ou contraditoacuterio de sujeitos poliacuteticos) que pretende intervir em situaccedilotildees de poder social global sobre a base de reivindicaccedilotildees ou objetivos de mudanccedilas especiacuteficas (sejam setoriais ou globais)

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Haacute entre os estudiosos da Abordagem CTS uma outra importante distinccedilatildeo entre a tradiccedilatildeo ame-ricana (numa visatildeo meramente didaacutetica preocupada com as consequecircncias) e a tradiccedilatildeo europeia (numa visatildeo meramente didaacutetica preocupada com a antecedecircncia) Assim escrevem Cachapuz et al (2008 p 29) sobre as distintas facetas da perspectiva CTS

a norte-americana que coloca maior ecircnfase na abordagem das consequecircncias sociais das inovaccedilotildees tecnoloacutegicas e nas influecircncias sobre a forma de vida dos cidadatildeos e das insti-tuiccedilotildees e a europeacuteia que coloca a ecircnfase na dimensatildeo social antecedente aos desenvolvi-mentos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos evidenciando a diversidade de fatores econocircmicos poliacute-ticos e culturais que participam na gecircnese e aceitaccedilatildeo das teorias cientiacuteficas Contudo para aleacutem destas facetas apontadas natildeo poderem ser disjuntas o que muitos autores tecircm vindo a sobrepor eacute a importacircncia social do conhecimento proporcionado pela ciecircncia e tecnologia que ao mesmo tempo que proporciona melhor compreensatildeo do mundo natural representa um instrumento essencial para o transformar

Parece haver uma concordacircncia sobre aspectos de antecedecircncia e consequecircncia de CTS entre os au-tores citados Cachapuz et al (2008) Vacarezza (2002) e Mitcham (1990) Fazem essa categorizaccedilatildeo Gonzaacutelez Garciacutea Loacutepez Cerezo e Lujaacuten Loacutepez (1996)

Autores como Vaccarezza (2002) Dagnino Thomas e Davyt (2003) e Kreimer e Thomas (2004) especialmente defendem a existecircncia de um Pensamento Latinoamericano de CTS (PLACTS) ba-seados no cenaacuterio sociopoliacutetico existente nas deacutecadas de 60 e 70 em vaacuterios paiacuteses da America Latina chegando a listar os especialistas que agrave eacutepoca defendiam ideias que se assemelham agraves ideias dos Enfoques CTS hoje Segundo eles os principais satildeo Oscar Varsavsky (2010) Jorge Saacutebato (2004) Francisco R Sagasti (1986) Amilcar Herrera (1973) Miguel Wionseck Maacuteximo Halty-Carreacutere Os-valdo Sunkel Marcel Roche Joseacute Leite Lopes entre outros

Este tema mereceu de noacutes maiores pesquisas a fim de conhecer mais esta interessante hipoacutetese de trabalho Em recente pesquisa Silva (2015) pesquisando o CTS Latino Americano em obras primaacute-rias encontrou

127 autores relacionados com os temas de estudo do CTS latino-americano e [identificou] suas nacionalidades Destes 127 autores 94 foram enquadrados na categoria autores-funda-dores 21 na categoria autores-disciacutepulos e 12 natildeo puderam ser relacionados a nenhuma das duas categorias por falta de maiores informaccedilotildees disponiacuteveis sobre eles (p 53)

Ao final conclui que

Apoacutes o teacutermino da pesquisa e da anaacutelise dos resultados acreditamos que podemos respon-der agrave pergunta de partida deste trabalho Sobre se existiu uma tradiccedilatildeo latino-americana de CTS nas deacutecadas de 60 e 70 concluimos que a partir da anaacutelise feita pode-se afirmar que sim aleacutem das tradiccedilotildees americana e europeacuteia existiu uma tradiccedilatildeo CTS latino americana Poreacutem diferentemente das outras duas tradiccedilotildees esta natildeo formou escola suas teorias e pesquisas tiveram uma interrupccedilatildeo devido ao contexto poliacutetico local caracterizado por re-gimes autoritaacuterios e ditatoriaisAo pesquisar os autores-fundadores da tradiccedilatildeo CTS latino-americana percebeu-se que estes satildeo intelectuais natildeo necessariamente acadecircmicos provenientes de diversas aacutereas de formaccedilatildeo fazendo com que a tradiccedilatildeo tenha uma caracteriacutestica interdisciplinar dialoacutegica e construiacuteda atraveacutes das diferentes proposiccedilotildees e pontos de vista dos autores sobre a questatildeo do subdesenvolvimento latino-americano

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Por mais pertinentes que sejam as anaacutelises feitas pelos autores-fundadores do CTS latino-americano quanto as interrelaccedilotildees de fatores poliacuteticos e econocircmicos com o desenvolvimen-to da ciecircncia e da tecnologia conclui-se neste trabalho que estes temas satildeo pouco abordados no contexto de ensino CTS Ao correlacionar o referencial bibliograacutefico de artigos recentes publicados na aacuterea de ensino CTS no Brasil foram poucas as citaccedilotildees a autores-fundadores do CTS latino-americano e suas obras Em sua maioria as obras originais foram citadas por pessoas que jaacute estudavam o tema nos dias de hoje se destacando entre todos o autor Renato Dagnino um dos autores-disciacutepulos da tradiccedilatildeo CTS latino-americana Foi possiacutevel cons-tatar um hiato entre o que foi produzido pelos autores-fundadores nas deacutecadas de 60 e 70 com o que se produz sobre CTS hoje mostrando que natildeo parece haver uma apropriaccedilatildeo por parte dos autores de artigos na aacuterea de ensino CTS dos questionamentos e consideraccedilotildees desenvolvidas pelos autores relacionados agrave tradiccedilatildeo latino-americana de CTS (p 127-128)

Em recente publicaccedilatildeo Roso e Auler (2016) resgatam as ideias do PLACTS e suas contribuiccedilotildees (ou natildeo) para as praticas educativas do movimento CTS

A histoacuteria da relaccedilatildeo CTS teve como primeira caracteriacutestica uma reaccedilatildeo agravequela visatildeo acriacutetica e neu-tra que se deu agrave Ciecircncia e agrave Tecnologia ao longo do tempo Com o amadurecimento dos estudos CTS este se transformou efetivamente numa aacuterea intertransdisciplinar que atraia estudantes e pro-fissionais da aacuterea das chamadas ciecircncias exatas e da natureza mas que tambeacutem recrutou alunos e pesquisadores das chamadas ciecircncias humanas e sociais Essa eacute uma importante oportunidade de aproximar duas culturas a chamada humaniacutestica e a dita cientiacutefico-tecnoloacutegica que foram separadas em algum momento da histoacuteria como propotildee Snow (1995) em sua obra claacutessica As duas culturas

O segundo momento dos Estudos CTS foi marcado pela superaccedilatildeo do processo reativo criando accedilotildees planejadas e mecanismos de multiplicaccedilatildeo das ideias defendidas e organizadas ateacute entatildeo O segundo momento eacute marcado pelo surgimento de cursos e programas de estudos CTS voltados principalmen-te para a alfabetizaccedilatildeo sobre tecnologia o que transcende a alfabetizaccedilatildeo em tecnologia e que natildeo deve permitir a visatildeo ingecircnua de achar que ldquose nos entendesse melhor (a tecnologia) nos quereria maisrdquo (Cutcliffe 2003 p 16)

De acordo com Cutcliffe (2003 p 18) atualmente CTS concebe a Ciecircncia e a Tecnologia como proje-tos complexos que ocorrem em contextos histoacutericos e culturais especiacuteficos Escreve ele

Podemos dizer que em resumo pode dizer-se que o campo de CTS deixou para tras qualquer tendecircncia inicial que pudesse ser relacionado com alguns grupos e que implicasse em uma visatildeo simplista em branco e negro da ciecircncia e da tecnologia na sociedade buscando alcanccedilar uma compreensatildeo mais complexa da relaccedilatildeo de CTS Na atualidade CTS concebe a ciecircncia e a tecnologia como projetos complexos que se datildeo em contextos histoacutericos e culturais especiacutefi-cos O que tem surgido eacute um consenso com respeito a que se bem a ciecircncia e a tecnologia nos trazem diversos benefiacutecios tambeacutem provocam certos impactos negativos alguns dos quais imprevisiacuteveis mas todos refletem os valores pontos de vistas e visotildees daqueles que estatildeo em situaccedilatildeo de tomar decisatildeo com respeito aos conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos dentro de seus acircmbitos A missatildeo central do campo CTS ateacute a data de hoje tem sido a de expressar a interpretaccedilatildeo da ciecircncia e da tecnologia como um processo social Deste ponto de vista a ciecircncia e a tecnologia satildeo vistos como projetos complexos em que os valores culturais poliacuteti-cos e econocircmicos nos ajudam a configurar os processos tecnocientiacuteficos os quais por sua vez afetam os valores mesmos e a sociedade que os manteacutem (p 18) grifos nossos

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CTS COMO CAMPO DE ESTUDO EM CONSTRUCcedilAtildeO18

O mesmo autor Cutcliffe (2003) concluindo os acontecimentos sociais nas deacutecadas de 1960 e 70 escreve que CTS eacute um ldquocampo de estudo ativista interdisciplinar e orientado a problemas que tratava de entender e responder as complexidades da ciecircncia moderna e da tecnologia na sociedade contem-poracircneardquo (p 25)

Para Aibar e Quintanilla (2012) os estudos CTS podem ser estudados em dois aspectos baacutesicos

Por um lado exploram os impactos ou efeitos da ciecircncia e da tecnologia na estrutura social na induacutestria e a economia na poliacutetica no meio ambiente no pensamento e em geral na cultura Por outro de forma paralela os estudos CTS tentam determinar em que medida e de que forma diferentes fatores (valores de diferentes ordens forccedilas econocircmicas e poliacuteticas culturas profissionais ou empresariais grupos de pressatildeo movimentos sociais etc) confi-guram ou influenciam no desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico (p 12)

Para Zani et al (2013 p 63)

A necessidade do cidadatildeo de conhecer os direitos e obrigaccedilotildees de cada um de pensar por si proacuteprio e ter uma visatildeo criacutetica da sociedade onde vive e especialmente a disposiccedilatildeo de transformar a realidade para melhor satildeo alguns dos lemas do movimento CTS (Ciecircncia Tecnologia e Sociedade)

Zaiuth e Hayashi (2011 p 279) veem o Movimento CTS ldquocomo apelo para a responsabilidade social dos cientistas os quais devem se comprometer com padrotildees eacuteticos tanto na sua proacutepria formaccedilatildeo e tambeacutem nos que estatildeo na primeira linha da educaccedilatildeo para cidadania os professoresrdquo

Para Mello e Guazzelli (2011 p 25)

[] o movimento CTS tem como objetivo maior apresentar um ensino de ciecircncias voltado agrave formaccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica oferecida a todos os cidadatildeos indistintamente para que eles sejam capazes de tomar decisotildees responsaacuteveis com base na ciecircncia e tecnologia levan-do em consideraccedilatildeo no mesmo patamar a sociedade o ambiente e as dimensotildees afetivas atitudinais eacuteticas e culturais

No que concerne a Abordagem CTS com ecircnfase na Educaccedilatildeo e no curriacuteculo Acevedo Vaacutezquez e Manasero (2001) informam que no momento atual

emerge a educaccedilatildeo CTS (Ciecircncia tecnologia e Sociedade) como inovaccedilatildeo do curriacuteculo es-colar (Acevedo 1996a 1997a Vaacutezquez 1999) de caraacuteter geral que proporciona propostas de alfabetizaccedilatildeo em ciecircncia e tecnologia (Science and Technology Literacy STL) para todas as pessoas (Science and Technology for All STA) uma determinada visatildeo centrada na for-maccedilatildeo de atitudes valores e normas de comportamento a respeito da intervenccedilatildeo da ciecircncia e da tecnologia na sociedade (e vice-versa) com o fim de exercer responsavelmente como cidadatildeos e poder tomar decisotildees racionais e democraacuteticas na sociedade civil12 Desde este ponto de vista CTS eacute uma opccedilatildeo educativa transversal (Acevedo 1996b) que prioriza so-bretudo os conteuacutedos atitudinais (cognitivos afetivos e valorativos) e axioloacutegicos (valores e normas)Desde a perspectiva da dimensatildeo cognitiva atitudinal a educaccedilatildeo CTS pretende tambeacutem uma melhor compreensatildeo da ciecircncia e da tecnologia em seu contexto social incidindo nas

12 Neste ponto os autores acrescentam a seguinte nota no original ldquoLa posicioacuten de los autores respecto al papel que debe tener el movimiento CTS en la alfabetizacioacuten cientiacutefica y tecnoloacutegica para todas las personas ha sido expuesta numerosas veces recien-temente se muestra con rotundidad en Acevedo Manassero y Vaacutezquez (2002a b) Por su intereacutes veacutease tambieacuten el punto de vista sostenido por Solbes Vilches y Gil (2002b)rdquo

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CTS COMO CAMPO DE ESTUDO EM CONSTRUCcedilAtildeO19

interrelaccedilotildees entre os desenvolvimentos cientiacutefico e tecnoloacutegico e os processos sociais As-sim os estudantes deveratildeo adquirir durante sua escolarizaccedilatildeo algumas capacidades para ajudaacute-los a interpretar pelo menos de forma geral questotildees controvertidas re-lacionadas com os impactos sociais da ciecircncia e da tecnologia e com a qualidade das condiccedilotildees de vida de uma sociedade cada vez mais impregnada de ciecircncia e sobretudo de tecnologia (grifos nossos)

Para Acevedo Vaacutezquez e Manassero (2003a p 101)

Movimento CTS eacute entendido como uma inovaccedilatildeo educacional que estaacute em consonacircncia com as mais relevantes e atuais recomendaccedilotildees internacionais para proporcionar no ensino de ciecircncias a alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica mais completa e uacutetil possiacutevel para todas as pessoas

Auler (2007) apresentaraacute as seguintes reflexotildees

Quanto aos objetivos da educaccedilatildeo CTS sintetizados na referida pesquisa pode-se destacar promover o interesse dos estudantes em relacionar a ciecircncia com aspectos tecnoloacutegicos e sociais discutir as implicaccedilotildees sociais e eacuteticas relacionadas ao uso da ciecircncia-tecnologia (CT) adquirir uma compreensatildeo da natureza da ciecircncia e do trabalho cientiacutefico formar cidadatildeos cientiacutefica e tecnologicamente alfabetizados capazes de tomar decisotildees informadas e desenvolver o pensamento criacutetico e a independecircncia intelectual (sem indicaccedilatildeo de paacutegina)

Ainda sobre os aspectos educacionais e curriculares podemos elencar as posiccedilotildees de Santos e Morti-mer (2002) Amaral Xavier e Maciel (2009) e Santos Amaral e Maciel (2012)

Santos e Mortimer (2002 p 3) escrevem que

Roberts (1991) refere-se agraves ecircnfases curriculares ldquoCiecircncia no contexto socialrdquo e ldquoCTSrdquo como aquelas que tratam das inter-relaccedilotildees entre explicaccedilatildeo cientiacutefica planejamento tecnoloacutegico e soluccedilatildeo de problemas e tomada de decisatildeo sobre temas praacuteticos de importacircncia social Tais curriacuteculos apresentam uma concepccedilatildeo de (i) ciecircncia como atividade humana que ten-ta controlar o ambiente e a noacutes mesmos e que eacute intimamente relacionada agrave tecnologia e agraves questotildees sociais (ii) sociedade que busca desenvolver no puacuteblico em geral e tambeacutem nos cientistas uma visatildeo operacional sofisticada de como satildeo tomadas decisotildees sobre proble-mas sociais relacionados agrave ciecircncia e tecnologia (iii) aluno como algueacutem que seja preparado para tomar decisotildees inteligentes e que com-preenda a base cientiacutefica da tecnologia e a base praacutetica das decisotildees e (iv) professor como aquele que desenvolve o conhecimento de e o comprometi-mento com as inter-relaccedilotildees complexas entre ciecircncia tecnologia e decisotildees

Amaral Xavier e Maciel (2009 p 102) por sua vez esclarecem

Para uma eficaz associaccedilatildeo dos termos CiecircnciaTecnologiaSociedade numa relaccedilatildeo triaacutedi-ca requer-se trabalhar a ciecircncia como atividade humana historicamente contextualizada indicando os cenaacuterios socioeconocircmico e cultural onde as descobertas cientiacuteficas foram ou estatildeo sendo realizadas bem como a apresentaccedilatildeo das suas inter-relaccedilotildees com a tecnologia e a sociedade

Santos Amaral e Maciel (2012 p 229) informam que

A proposta curricular envolvendo as relaccedilotildees CTS corresponde assim a uma integraccedilatildeo entre educaccedilatildeo cientiacutefica tecnoloacutegica e social em que os conteuacutedos cientiacuteficos e tecnoloacutegi-

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cos satildeo estudados juntamente com a discussatildeo de seus aspectos histoacutericos eacuteticos poliacuteticos e soacutecio-econocircmicos

Segundo Osorio M (sd) CTS corresponde a um nome que se daacute a uma linha de trabalho acadecircmico e investigativo que tem por objeto perguntar-se pela natureza social do conhecimento cientiacutefico-tecnoloacutegico e suas incidecircncias nos diferentes acircmbitos econocircmicos sociais ambientais e culturais das sociedades

Ainda segundo Osorio M (sd) e tambeacutem Loacutepez Cerezo (2009) os estudos CTS estatildeo dirigidos prin-cipalmente

bull No plano da investigaccedilatildeo promovendo uma visatildeo socialmente con-textualizada da Ciecircncia e da Tecnologia

bull No acircmbito das poliacuteticas puacuteblicas de Ciecircncia e Tecnologia defendendo a participaccedilatildeo puacuteblica na tomada de decisatildeo em questotildees de poliacutetica e de gestatildeo cientiacutefico-tecnoloacutegica e

bull No plano educativo tanto o ensino meacutedio quanto o ensino superior contribuindo com uma nova e mais ampla percepccedilatildeo da Ciecircncia e da Tecnologia com o propoacutesito de for-mar um cidadatildeo alfabetizado cientiacutefica e tecnologicamente

Para Firme e Amaral (2011 p 384)

Na perspectiva CTS para o Ensino de Ciecircncias eacute reconhecida a necessaacuteria articulaccedilatildeo dos conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos com o contexto social tendo como objetivo pre-parar cidadatildeos capacitados para julgar e avaliar as possibilidades limitaccedilotildees e implicaccedilotildees do desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico

Para Mackenzie (2008) ldquociecircncia tecnologia e sociedade (CTS) eacute um nome geneacuterico para uma co-leccedilatildeo de estudos das ciecircncias sociais e humanas que examinam os contextos e conteuacutedos da ciecircncia e da tecnologiardquo (p 163) realccedilando que por conta dessa diversidade no desenvolvimento de seu trabalho natildeo cabe dizer que eacute utilizado o enfoque CTS mas sim um enfoque CTS dai nossa proposta de grafar enfoques CTS ou abordagens CTS no plural

A funccedilatildeo de alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica como propoacutesito da educaccedilatildeo CTS estaacute muita clara para diversos autores Para Miembiela (2001) citando vaacuterios autores o propoacutesito da educaccedilatildeo CTS apesar de haver muito debate e pouco consenso

eacute promover a alfabetizaccedilatildeo em ciecircncia e tecnologia de maneira que se capacite os cidadatildeos para participarem no processo democraacutetico de tomada de decisatildeo e se promova a accedilatildeo ci-dadatilde encaminhada a resoluccedilatildeo de problemas relacionadas com a ciecircncia e a tecnologia em nossa sociedade (p 91)

A mesma ideia eacute defendida por Waks (1990 p 43) quando escreve que

o propoacutesito da educaccedilatildeo CTS eacute promover a alfabetizaccedilatildeo em ciecircncia e tecnologia de ma-neira que se capacite os cidadatildeos para participar da tomada de decisatildeo e se promova a accedilatildeo cidadatilde encaminhada a resoluccedilatildeo de problemas relacionados com a ciecircncia e a tecnologia na sociedade industrial

Fourez (1997) ao relacionar Alfabetizaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica (ACT) com CTS faz interessante distinccedilatildeo entre ambos Escreve que

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Em certos meios se fala menos de ACT que de movimento ldquoCiecircncia Tecnologia e Socieda-derdquo (CTS) Agraves vezes a realidade designada eacute a mesma mas a escolha das palavras aporta diferenccedilas CTS traz agrave consciecircncia um problema que natildeo era considerado como tal haacute meio seacuteculo os viacutenculos entre os polos em que se apoia Enquanto que falar de uma ACT (como da promoccedilatildeo de uma cultura cientiacutefica e tecnoloacutegica) natildeo questiona o lugar das ciecircncias e das tecnologias na sociedade o movimento CTS o faz pelo menos implicitamente (p 18) (grifos nossos)

Bazzo Lisingen e Pereira (2003 p 125) escreveram

Os estudos CTS definem hoje um campo de trabalho recente e heterogecircneo ainda que bem consolidado de caraacuteter criacutetico a respeito da tradicional imagem essencialista da ciecircncia e da tecnologia e de caraacuteter interdisciplinar por convergirem nele disciplinas como a filosofia e a histoacuteria da ciecircncia e da tecnologia a sociologia do conhecimento cientiacutefico a teoria da educaccedilatildeo e a economia da mudanccedila teacutecnica Os estudos CTS buscam compreender a di-mensatildeo social da ciecircncia e da tecnologia tanto desde o ponto de vista dos seus antecedentes sociais como de suas consequecircncias sociais e ambientais ou seja tanto no que diz respeito aos fatores de natureza social poliacutetica ou econocircmica que modulam a mudanccedila cientiacutefico-tecnoloacutegica como pelo que concerne agraves repercussotildees eacuteticas ambientais ou culturais dessa mudanccedilaO aspecto mais inovador deste novo enfoque se encontra na caracterizaccedilatildeo social dos fato-res responsaacuteveis pela mudanccedila cientiacutefica Propotildee-se em geral entender a ciecircncia-tecnologia natildeo como um processo ou atividade autocircnoma que segue uma loacutegica interna de desenvolvi-mento em seu funcionamento oacutetimo (resultante da aplicaccedilatildeo de um meacutetodo cognitivo e um coacutedigo de conduta) mas sim como um processo ou produto inerentemente social onde os elementos natildeo-epistecircmicos ou teacutecnicos (por exemplo valores morais convicccedilotildees religio-sas interesses profissionais pressotildees econocircmicas etc) desempenham um papel decisivo na gecircnese e na consolidaccedilatildeo das ideias cientiacuteficas e dos artefatos tecnoloacutegicos

Como os movimentos educacionais satildeo motivados por interesses de grupo por relaccedilotildees de poder dos mais diversos natildeo eacute surpresa que o chamado Movimento CTS (em suas mais diversas manifestaccedilotildees) sofra oscilaccedilotildees na sua aceitaccedilatildeo e produccedilatildeo nas aacutereas em que se manifesta como atividade de pes-quisa e ensino Santos (2011) chega a referir-se como movimento declinante Sustenta sua percepccedilatildeo a partir do fato de que as publicaccedilotildees com tiacutetulos CTS esta diminuindo nos uacuteltimos anos A nosso ver mesmo que o roacutetulo CTS esteja sendo menos aplicado aos produtos de ensino e pesquisa sua essecircncia eacute anterior ao acroacutestico CTS e posterior a ele CTS como movimento de construccedilatildeo social da Ciecircncia e da Tecnologia e como aacuterea de estudos sobre impactos da Ciecircncia e da Tecnologia na Socie-dade se manteacutem ativo e produtivo Outros slogans estatildeo ocupando os espaccedilos do ensino de ciecircncia e tecnologia como sempre ocorreu com os modismos que imperam temporariamente mas a ideia se manteacutem e deve tornar-se mais madura entre grupos que ndash passada a febre ndash percebem nas dinacircmicas internas da aacuterea CTS ferramentas de contribuiccedilatildeo para a formaccedilatildeo de cidadatildeos mais bem preparados para a participaccedilatildeo social Parece ficar claro que este natildeo eacute um campo de convergecircncia faacutecil ou simples Por isso certamente John Ziman (1980) ndash tido por alguns como o responsaacutevel pela criaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo da triacuteade CTS no meio educacional atraveacutes de seu trabalho Teaching and Learning about Science and Society ndash diz que CTS eacute um campo de estudos que responde por diversos outros nomes como por exemplo

Estudos Sociais da Ciecircncia Ciecircncia da Ciecircncia Ciecircncia e Sociedade Responsabilidade So-

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CTS COMO CAMPO DE ESTUDO EM CONSTRUCcedilAtildeO22

cial na Ciecircncia Teoria da Ciecircncia Estudos de Poliacuteticas de Ciecircncias Ciecircncia num Contexto Social Estudos Liberais em Ciecircncias Relaccedilotildees Sociais de Ciecircncia e Tecnologia HistoacuteriaFilosofiaSociologia da CiecircnciaTecnologiaConhecimento (p 01)

Para noacutes a visatildeo sobre CTS diverge de acordo com o objetivo ou local (origem) visto que a definiccedilatildeo e a trajetoacuteria histoacuterica que culmina numa definiccedilatildeo eacute resultado da formaccedilatildeo do autor ou da visatildeo do analista

Em siacutentese temos que as relaccedilotildees CTS buscam oferecer aos cidadatildeos ferramentas para melhor en-tenderem como os conhecimentos cientiacuteficos e os conhecimentos artefatos e sistemas tecnoloacutegicos impactam a sociedade de modo geral e os grupos sociais em especial No sentido inverso busca-se que os especialistas em Ciecircncia e em Tecnologia percebam que a interlocuccedilatildeo com os cidadatildeos eacute indispensaacutevel e necessaacuteria permitindo que se acolha maior participaccedilatildeo social nos processos de de-cisatildeo social envolvendo temas e aspectos que povoam o universo da Ciecircncia e da Tecnologia

Uma boa imagem das relaccedilotildees CTS

As relaccedilotildees entre a ciecircncia a tecnologia e a sociedade tecircm um caraacuteter muito mais com-plexo e dinacircmico () mais do que as ligaccedilotildees de uma corrente ou as linhas que satildeo tranccediladas dar forma a um tecido acabado e definitivo as relaccedilotildees entre a Ciecircncia Tecno-logia e a Sociedade podem ser vistas como um processo da construccedilatildeo e de reconstruccedilatildeo reciacuteproco e dinacircmico Talvez a imagem das redes de estrada dos veiacuteculos que viajam por elas e das pessoas que lhes conduzem ou que viajam neles seria uma metaacutefora mais adequada para compreender aquelas relaccedilotildees A extensa rede de estradas que tem e que se ramifica na superfiacutecie do territoacuterio vai tornando acessiacuteveis novos lugares de uma ma-neira similar agrave maneira em que o desenvolvimento dos diversos campos cientiacuteficos vai permitindo conhecer novos acircmbitos da realidade Mas apesar disso o proacuteprio desen-volvimento das redes de comunicaccedilatildeo vai dando forma ao territoacuterio em um processo construtivo natildeo muito distante do que caracteriza as relaccedilotildees entre os campos do con-hecimento e as realidades tratadas por eles De outra forma natildeo eacute possiacutevel compreender a construccedilatildeo das rotas no territoacuterio sem considerar o tipo de veiacuteculos que vai passar por eles Estes aleacutem dos artefatos tecnoloacutegicos satildeo uma boa metaacutefora da proacutepria tecnologia ao mostrar que suas relaccedilotildees com ciecircncia satildeo assim estreitas e interdependentes como aquelas dos carros com as estradas das estradas de ferro com as rotas e dos automoacuteveis com as estradas De fato a histoacuteria da Ciecircncia e da Tecnologia assim como das rotas do transporte e dos aparatos tecnoloacutegicos que por eles viajam eacute a historia das interaccedilotildees contiacutenuas e de transformaccedilotildees muacutetuas Mas o interesse principal dessa imagem estaacute no papel que atribui aos assuntos aos condutores e passageiros e agrave sociedade Nenhum sentido tenderia imaginar caminhotildees e veiacuteculos sem as pessoas que os utilizam As es-tradas e os automoacuteveis permitem que os povos sejam transportados e vivam em lugares diferentes mas tambeacutem eacute certo que satildeo as disposiccedilotildees das estradas e o uso dos automoacute-veis os que por sua vez vatildeo determinando os haacutebitos os territoacuterios e as cenas em que estaacute passando a vida humana

Martiacuten Gordillo Mariano y Osorio M Carlos Educar para participar en ciencia y tec-nologiacutea Un proyecto para la difusioacuten de la cultura cientiacutefica httpwwwrieoeiorgrie32a08pdf (Traduccedilatildeo livre)

Atividade Proposta para reflexatildeo

Recentemente o STF-Supremo Tribunal Federal organizou uma Audiecircncia Puacuteblica em torno do tema da Accedilatildeo Direta de Inconstitucionalidade da Lei de Biosseguranccedila Com essa accedilatildeo o STF buscou ouvir os diferentes setores da sociedade organizada sobre o tema Apoacutes isso encaminharaacute a decisatildeo sobre a possibilidade de utilizaccedilatildeo de ceacutelulas embrionaacuterias humanas em pesquisas cientiacuteficas Em entrevista a Revista VEJA (n 2059 de 07maio2008 p 11-15) o socioacutelogo Simon Schwartzman diz

ldquoEu nunca vi um estudo seacuterio e competente sobre transposiccedilatildeo do Rio Satildeo Franciscordquo

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CTS COMO CAMPO DE ESTUDO EM CONSTRUCcedilAtildeO23

1 Pesquise como o STF organizou a audiecircncia puacuteblica sobre ceacutelulas embrionaacuterias Identifique as instituiccedilotildees convidadas para o debate e suas posiccedilotildees Faccedila um esquema geral das posiccedilotildees clas-sificando-as como ldquocontrardquo ou ldquofavoraacutevelrdquo e o argumento utilizado

2 Proponha um esquema semelhante para o debate tecnocientiacutefico e social sobre o tema ldquoTrans-posiccedilatildeo do Rio Satildeo Franciscordquo Imagine que vocecirc seja chamado a organizar um grande debate e depois teraacute que decidir se a transposiccedilatildeo do Rio Satildeo Francisco deve ou natildeo ser efetivada

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SOBRE A CIEcircNCIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A CIEcircNCIA25

2 Sobre a Ciecircncia mas natildeo o que eacute a Ciecircncia

A frase de Eric Hobsbawm13 ndash considerado o maior historiador de nosso seacuteculo ndash expressa a dificul-dade de tratar este tema a Ciecircncia Ele aponta a importacircncia da Ciecircncia para o seacuteculo XX e para-doxalmente a dificuldade de se lidar com ela Estamos efetivamente envolvidos e impactado pelo resultado da Ciecircncia e nos sentimos desconfortaacuteveis com o desconhecimento sobre ela Formamos como cidadatildeos opiniotildees sobre a produccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica sobre os especialistas sobre os impactos e certamente sabemos muito pouco sobre este campo do conhecimento Este conhecimen-to aliaacutes jaacute eacute considerado fator estrateacutegico para o desenvolvimento dos paiacuteses

Aleacutem disso os impactos da ciecircncia e da tecnologia na sociedade deixam de ser pontuais para serem amplos e geneacutericos solicitando dos cidadatildeos uma nova maneira de lidar com esses conhecimentos Como afirma Casassus (2007)

Se antigamente a ciecircncia e a tecnologia eram importantes somente para as pessoas que diri-giam para as carreiras cientiacuteficas hoje isto mudou pois as tecnologias com base matemaacuteti-ca moldam nossa existecircncia (p 79)

Alguns problemas se apresentam na preparaccedilatildeo deste texto-debate a extensatildeo dos assuntos que compotildee o tema e a exiguidade de tempo e espaccedilo Isso nos obriga a fazer escolhas e traccedilar um camin-ho possiacutevel onde as discussotildees sobre Ciecircncia se tornam instrumentais para o melhor entendimento das relaccedilotildees CTS

Alan Chalmers (1993) em sua obra intitulada O que eacute ciecircncia afinal Busca analisar a evoluccedilatildeo da ideia recente sobre ciecircncia e meacutetodo cientiacutefico apresentando criacuteticas e argumentos importantes a fim de contrapor-se a ideia herdada de ciecircncia desde Karl Popper e Imre Lakatos Faz uma simples mas rica trajetoacuteria pedagoacutegica para ao final concluir sobre a dificuldade que eacute tratar desta pergunta ldquoO que eacute ciecircnciardquo Escreve ele ldquoPoder-se-ia dizer que o livro procede de acordo com um velho pro-veacuterbio lsquoNoacutes comeccedilamos confusos e terminamos confusos num niacutevel mais elevadorsquo rdquo (p 21)

13 Conheccedila mais em httpptwikipediaorgwikiEric_Hobsbawm

Nenhum periacuteodo da histoacuteria foi mais penetrado pelas ciecircncias naturais nem mais dependente delas do que o seacuteculo XX Contudo nenhum periacuteodo desde a retrataccedilatildeo de Galileu se sentiu menos agrave vontade com elas Este eacute o paradoxo que tem que enfrentar o historiador do seacuteculo

Eric Hobsbawmin A Era dos Extremos ndash O breve seacuteculo XX

A falta do interesse e mesmo a rejeiccedilatildeo para o estudo das ciecircncias associado agrave falha escolar de uma porcentagem elevada dos estudantes constituem um problema de especial gravidade tanto na regiatildeo ibero-americana como nos paiacuteses desenvolvidos Um problema que merece uma atenccedilatildeo prioritaacuteria porque como foram indicadas na Conferecircncia Mundial sobre a Ciecircncia para o Seacuteculo XXI organizada pela UNESCO e pelo Conselho Internacional para a Ciecircncia ldquopara que um paiacutes esteja em condiccedilotildees de atender as necessidades fundamentais de sua populaccedilatildeo o ensino das ciecircncias e da tecnologia eacute um imperativo estrateacutegicordquo

Declaraccedilatildeo de Budapeste 1999

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SOBRE A CIEcircNCIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A CIEcircNCIA26

Leoacuten Oliveacute (2000) em sua obra intitulada El bien el mal y la razoacuten inicia seus trabalhos com a mes-ma questatildeo que enfrentamos agora O que eacute ciecircncia O autor busca responder agrave provocaccedilatildeo de duas maneiras a primeira seria responder por meio das ideias fundamentais e meacutetodos proacuteprios da ciecircn-cia Parafraseando Courant e Robbins ndash que enfrentaram o mesmo problema quando buscavam res-ponder o que eacute a matemaacutetica ndash lembra da expressatildeo usada por eles ldquoTanto para entendidos como para profanos natildeo eacute a filosofia e sim unicamente a experiecircncia ativa em matemaacutetica a que pode res-ponder a pergunta que eacute a matemaacuteticardquo Complementa Oliveacute ldquoNisso se equivocam redondamenterdquo (p 25) Logo sobre a matemaacutetica e a ciecircncia haacute algo mais a dizer que seus meacutetodos e ideias

A segunda maneira de responder agrave provocaccedilatildeo ainda segundo Oliveacute (2000) eacute considerar que a pro-vocaccedilatildeo natildeo eacute uma pergunta cientiacutefica Isto eacute a resposta deve basear-se em algo mais do que meacuteto-dos ideias e descriccedilotildees tidas como exatas Defende que para responder agrave questatildeo cientistas e natildeo-cientistas devem refletir sobre o que fazem os cientistas sobre como o fazem sobre os resultados que obtecircm e como eacute a que estaacute condicionado todo esse sistema Conclui escrevendo ldquoDado que se trata de uma pergunta sobre a ciecircncia ndash de uma pergunta metacientiacutefica ndash natildeo se requer fazer o mesmo que se faz na ciecircncia para respondecirc-lardquo (p 26)

Para a anaacutelise desta pergunta metacientiacutefica e seus problemas Oliveacute (2000) diz que haacute trecircs disci-plinas que podem dar conta da reflexatildeo a histoacuteria da ciecircncia a sociologia da ciecircncia e a filosofia da ciecircncia Parece que fica claro que a tarefa de responde a provocaccedilatildeo natildeo eacute simples nem trivial

Para noacutes parece haver uma relaccedilatildeo direta entre o que sabemos sobre ciecircncia [e tecnologia] e o que en-sinamos e como ensinamos ciecircncia [e tecnologia] Some-se a isso a visatildeo ampliada que poderemos ter com as contribuiccedilotildees advindas das disciplinas histoacuteria sociologia e filosofia da ciecircncia [e tecnologia]

Assim como Chalmers (1993) Oliveacute (2000) e muito outros natildeo temos a pretensatildeo de responder agrave pergunta considerando os argumentos dos autores e tambeacutem porque este natildeo eacute nosso objetivo neste trabalho Buscaremos uma trajetoacuteria instrumental e intencional do(s) conceito(s) de ciecircncia visto que queremos refletir sobre o conceito herdado de ciecircncia a participaccedilatildeo de fatores sociais e indivi-dual na produccedilatildeo da ciecircncia e da tecnologia e a relaccedilatildeo destas com a sociedade espelhada na imagem puacuteblica da ciecircncia e da tecnologia

Vamos pois em nosso trajeto provocativo (1) descrever as diferentes visotildees sobre ciecircncia e as con-tribuiccedilotildees da sociologia da ciecircncia e da tecnologia (2) apresentar os resultados de pesquisas de opi-niatildeo sobre Ciecircncia e Tecnologia a fim de identificarmos pontos fortes e paradoxos na opiniatildeo dos cidadatildeos Depois vamos (3) estudar as visotildees distorcidas de Ciecircncia que alimentam as concepccedilotildees dos cidadatildeos para ao final (4) apresentarmos algumas especificidades que devem ser consideradas no esforccedilo de entender o que seja Ciecircncia nas suas mais diversas concepccedilotildees

Deixamos claro desde jaacute que natildeo haacute nenhuma pretensatildeo de obter um conceito de ciecircncia tarefa a que se dedicam faz tempo os epistemoacutelogos da ciecircncia A proposta aqui eacute levantar reflexotildees e apre-sentar visotildees pouco comuns nas discussotildees sobre Educaccedilatildeo em Ciecircncias e CTS que satildeo forte e infe-lizmente pautados na tradiccedilatildeo que precisa ser superada Por tal buscaremos apresentar pesquisas sobre como a populaccedilatildeo em geral vecirc a Ciecircncia e a Tecnologia e as reflexotildees sobre o que natildeo se deseja na aprendizagem de Ciecircncia e Tecnologia Daremos espaccedilo para transcriccedilotildees avantajadas dos textos escolhidos para exemplificar a ideia que necessitamos para seguir a diante na discussatildeo CTS

Sobre o escopo e intencionalidade deste capiacutetulo eacute importante antecipar que ao apresentar a evo-

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SOBRE A CIEcircNCIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A CIEcircNCIA27

luccedilatildeo da Sociologia da Ciecircncia Oliver Martin (2003) ndash como poderiacuteamos lanccedilar de matildeo de Berger e Luckmann 2014 Vega Encabo (2012) Bennagravessar et al (2011) Chikara Sasaki (2010) Pierre Bourdieu (2003 2008) Shinn e Ragouet (2008) Jesuacutes Valero (2004) Stephen Cutcliffe (2003) dentre outros ndash elenca as ideias norteadoras dos pensadores em Sociologia iniciando com Auguste Comte (1789-1857) Karl Marx (1818-1883) Levy-Bruhl (1857-1939) Eacutemile Durkheim (1858-1917) para apoacutes isso iniciar o periacuteodo que chamou de Sociologia do Conhecimento Cientiacutefico Chama atenccedilatildeo para o fato que nenhum dos autores claacutessicos apesar de citarem o conhecimento cientiacutefico ldquoo converteu em objeto central de seus propoacutesitosrdquo (p 18) e apresenta trecircs autores que em sua visatildeo abordaram preci-samente o conhecimento cientiacutefico como objeto de estudo Max Scheller (1874-1928) Karl Mannhein (1893-1947) e Pitirim Sorokin (1889-1968)

Dando continuidade a sua narrativa Martin (2003) escreve que

Em nenhum momento os autores claacutessicos que temos revisado atribuem a sociologia a ca-pacidade de explicar a origem da validez das teorias cientiacuteficas Em geral propotildeem uma classificaccedilatildeo das formas de conhecimento e distinguem o conhecimento cientiacutefico de outras formas de conhecimento natildeo pretendem definir sociologicamente as fronteiras que sepa-ram essas diferentes formas Para eles a definiccedilatildeo de ciecircncia natildeo surge da sociologia e sim com maior seguranccedila da epistemologia Todos admitem que o desenvolvimento da ciecircncia respeita uma loacutegica essencialmente racional que os conhecimentos cientiacuteficos evoluem de modo endoacutegeno e que a validez de uma teoria eacute independente de sua origem social (p 23)

O autor deixa claro que as discussotildees sobre verdadeiro e falso objetivo e subjetivo ciecircncia e natildeo-ciecircncia e tudo mais que trate de um relativismo em ciecircncia natildeo possui espaccedilo nem apoio ateacute entatildeo

Essa visatildeo ingecircnua seraacute ampliada e enriquecida quando nas deacutecadas de 1920 e 1930 a ciecircncia co-meccedilou a ser encarada de forma diferente especialmente no processo diferenciado de elaboraccedilatildeo e de construccedilatildeo bem como o sistema de difusatildeo do conhecimento cientiacutefico e de como os cientistas se organizavam Esta nova fase eacute personalizada e demarcada ainda segundo Martin (2003) tendo como siacutembolo Robert Merton que inaugura uma corrente chamada por Shinn e Ragouet (2008) de diferenciacionistas

A nosso ver a primeira ideia que derivaraacute no Campo CTS pode ter origem nas reflexotildees mertonia-nas nas deacutecadas de 1940-50 quando deixa claro que a ciecircncia natildeo eacute natural ndash o que indica que eacute de produccedilatildeo social ndash e que estrutura a sociologia normativa dando mostra que eacute necessaacuterio o estabele-cimento de regras externas a fim de regrar interesses e crenccedilas na produccedilatildeo cientiacutefica

No mesmo periacuteodo John D Bernal (1937) publica na Inglaterra A Funccedilatildeo Social da Ciecircncia trazen-do para a arena das ideias as questotildees que hoje satildeo proacuteprias da Construccedilatildeo Social da Ciecircncia (e da Tecnologia)

Merton e Bernal podem ser resgatados como possiacuteveis precursores dos estudos atuais do Campo CTS

Esta nova fase recebe as contribuiccedilotildees de Thomas Kuhn (1922-1996) cujas ideias servem como ponto de partida para reflexotildees e surgimento de abordagens importantes para esta nova etapa da sociologia da ciecircncia Dentre as manifestaccedilotildees inovadoras desta fase podemos enumerar

1 O grupo de estudos franco-britacircnico (PAREX Paris e Sussex) fundado em 1971 e que pas-

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SOBRE A CIEcircNCIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A CIEcircNCIA28

sou a se chamar em 1981 European Association for the Study of Science and Technology2 O chamado Programa Forte em Sociologia do Conhecimento Cientiacutefico criado e manti-

do por socioacutelogos da Universidade de Edimburgo e3 O chamado Programa Empiacuterico do Relativismo criado e mantido por especialistas da

Universidade de Bath na Inglaterra

Estes programas de estudos sociais da ciecircncia trouxeram agrave tona questotildees que demonstram que o conhecimento cientiacutefico eacute socialmente construiacutedo que a comunidade cientiacutefica trabalha a partir de crenccedilas e interesses que os cientistas e grupos possuem valores preacutevios que em alguma medida interferem nas decisotildees que tomam

Mais recentemente identifica-se o movimento de analogamente agrave sociologia da ciecircncia aplicar a mesma loacutegica a aacuterea de tecnologia fundando a chamada sociologia da tecnologia que se apropria tambeacutem de saberes oriundos da filosofia da tecnologia Sasaki (2010) informa que o ldquoprincipal pro-motor do construtivismo social da tecnologia na atualidade eacute o historiador da tecnologia Wiebe E Bi-jker como ele proacuteprio reconhece o construtivismo social da tecnologia eacute a ampliaccedilatildeo metodoloacutegica do lsquoStrong Programrsquo de Bloorrdquo (p 121) Bourdieu (2008) em sua obra Para uma Sociologia da Ciecircncia tambeacutem identifica esta evoluccedilatildeo e estes mesmos autores como marcos importantes da aacuterea

No Brasil os estudos de Natureza da Ciecircncia e da Tecnologia ndash NdCeT satildeo fortemente difundidos na grande aacuterea da EducaccedilatildeoEnsino em Ciecircncia e Tecnologia podendo ser percebida em duas gran-des subaacutereas com histoacuterico e produccedilatildeo bem distintas A primeira mais disseminada consolidada e produtiva eacute a que se pode chamar de Histoacuteria e Filosofia da Ciecircncia (e menos em Tecnologia) aten-dendo ao que aponta Martin na sua narrativa histoacuterica quando diz que a produccedilatildeo cientifica estava entregue desde antes aos epistemoacutelogos E a segunda a proacutepria Aacuterea CTS

Natildeo temos pois a pretensatildeo de tratar do conceito de ciecircncia como fazem ndash e muito bem ndash os epis-temoacutelogos Muito menos trazer para este espaccedilo as questotildees e reflexotildees daquele grupo Aqui vamos descontruir a ideia de Ciecircncia herdada neutra positiva individual e fechada nos laboratoacuterios

Podemos a tiacutetulo de ilustraccedilatildeo das questotildees em torno da Ciecircncia e dos embates calorosos socorrer-nos por exemplo de Steve Woolgar (1991) de Pierre Bourdieu (2003 dentre outros) ou Boaventura de Sousa Santos (2003 dentre outros) Optamos por Boaventura de Sousa Santos (2003) por sua proximidade com o universo ibero-americano e escolhemos sua obra Conhecimento Prudente para uma vida decente Um discurso sobre as ciecircncias revisitado14 quando descreve sucintamente um dos muitos aspectos que podem exemplificar a complexidade do tema que eacute a chamada ldquoguerras da ciecircn-ciardquo que ldquofoi acima de tudo um debate entre cientistas em geral e cientistas cujo objeto de investi-gaccedilatildeo eacute a proacutepria ciecircncia enquanto fenocircmeno socialrdquo (2003 p 17)

Este confronto de ideias e posiccedilotildees inclusive de visatildeo pessoal teve momentos mais agudos como por exemplo as publicaccedilotildees de Lewis Wolpert (1992) e de Gross e Levitt (1994)

Sempre pela descriccedilatildeo de Boaventura de Sousa Santos (2003) ndash reiterando nossa intencionalidade e escolha assumida de posiccedilatildeo e de narrativa ndash Lewis Wolpert (1992) escreve The Unnatural Nature of Science tendo como alvo os autores do Programa Forte da Sociologia do Conhecimento e do Progra-

14 Esta obra eacute uma reflexatildeo coletiva sobre outra obra claacutessica de Boaventura de Souza Santos Um discurso sobre as ciecircncias de 1987

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SOBRE A CIEcircNCIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A CIEcircNCIA29

ma Empirico do Relativismo

Gross e Levitt (1994) publicam o Higher Supertition que seria ldquoinspiraccedilatildeo para muitos violentos ata-ques que vieram a seguirrdquo (2003 p 18) contra os estudos culturais os estudos feministas os estudos sobre raccedila e etnia e as ldquoanticiecircnciardquo (astrologia terapias alternativas etc)

Boaventura de Sousa Santos (2003) lembra ainda em sua descriccedilatildeo da ldquoguerras da ciecircnciardquo do caso Sokal considerado um dos mais agudos episoacutedios deste conjunto de eventos Em 1996 a revista So-cial Text publicou um nuacutemero sobre o tema Science Wars15 Neste nuacutemero o fiacutesico Alan Sokal (1996) apresentou um artigo ldquoTransgressing the boundaries towards a transformative hermeneutics of quantum gravityrdquo Nele Sokal apresentou uma ldquoreinterpretaccedilatildeo poacutes-moderna do domiacutenio dos estu-dos sobre a gravidade quacircntica [sendo que] o texto apoiava-se num extenso rol de autores invariavel-mente associados agraves correntes rotuladas de lsquoanticiecircnciarsquordquo (2003 p 19) com o intuito de demonstrar que o embuste produzido por ele poderia ser publicado se contivesse sinais externos que o caracteri-zasse como aceitaacutevel pela corrente que ele desejava criticar (poacutes-modernistas)

A polecircmica continuaria mais tarde com a publicaccedilatildeo Impostures Intellectualles (Sokal e Bricmont 1997) que tinha como alvo os intelectuais franceses poacutes-modernos como por exemplo Lacan La-tour Deleuze dentre outros A resposta a este texto veio a puacuteblico por meio da obra Impostures Scientifiques de Jurdant (1998)

Para concluir a narrativa sinteacutetica deste conjunto de episoacutedios que busca representar a dificuldade de tratar o tema ciecircncia e aqueles a que produzem daremos a palavra a Boaventura de Sousa Santos (2003)

Naturalmente que os grandes debates epistemoloacutegicos permanecem mas parecm ter deixa-do de ser campos de batalha para se acolherem no acircmbito e no estilo de discussotildees acadecircmi-cas sem duacutevida intensas mas paciacuteficas e com repeito muacutetuo pelas diferenccedilas (p 22)O decorrer da ldquoguerrardquo tornou ainda mais claro que as diferenccedilas epistemoloacutegicas natildeo co-rriam apenas entre cientistas naturais e cientistas sociais mas tambeacutem entre cientistas naturais e entre cientistas sociais e que tais diferenccedilas se articulavam de modo complexo com as diferenccedilas culturais e poliacuteticas com diferentes concepccedilotildees sobre a relaccedilatildeo entre conhecimento cientiacutefico e outras formas de conhecimento Em suma tornaram-se mais cla-ras as divergecircncias e as suas causas e se natildeo aumentou a toleracircncia aumentou pelo menos o conhecimento da diversidade de perspectivas (p 23) Grifos nossos

Posto o nosso entendimento sobre a Ciecircncia e a maneira como trabalham os cientistas vamso am-pliar o escopo de nossos estudos buscando conhecer como a populaccedilatildeo em geral percebe a Ciecircncia

21 As pesquisas sobre Percepccedilatildeo Puacuteblicas da Ciecircncia e da Tecnologia

Vogt e Polino (2003) apresentam os resultados de pesquisa sobre a percepccedilatildeo puacuteblica da Ciecircncia realizada em 2002 (na Argentina) e em 2003 (no Brasil Uruguai e Espanha) sob os auspiacutecios da Or-ganizaccedilatildeo dos Estados Ibero-Americanos (OEI 2003) e a Rede Ibero-Americana de Indicadores de Ciecircncia e Tecnologia (RICYTCYTED) que deram iniacutecio ao Pronotjeto Ibero-Americano de Indicado-res de Percepccedilatildeo Puacuteblica Cultura Cientiacutefica e Participaccedilatildeo dos Cidadatildeos a fim de contribuir para o desenvolvimento conceitual da mateacuteria

15 Santos (2003) chama atenccedilatildeo para o fato de que ldquouma versatildeo ampliada do nuacutemero temaacutetico se Social Text viria a ser publicada no mesmo ano sem o texto de Sokal e com a adiccedilatildeo de textos natildeo incluiacutedos na publicaccedilatildeo original (Ross 1996) Este volume seria uma das respostas mais importantes aos atoaques dos ldquoguerreiros da ciecircnciardquo (p 19 nota de rodapeacute)

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SOBRE A CIEcircNCIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A CIEcircNCIA30

A pesquisa assume que

um dos desafios da atualidade para a compreensatildeo da dinacircmica de interaccedilotildees entre ciecircncia tecnologia e sociedade eacute o desenvolvimento de uma geraccedilatildeo de indicadores que permitam avaliar a evoluccedilatildeo de trecircs dimensotildees de anaacutelise relevantes a percepccedilatildeo puacuteblica a cultura cientiacutefica e a participaccedilatildeo dos cidadatildeos

A pesquisa eacute resumida pelos autores da seguinte forma (Vogt e Polino 2003 p19-27)

1 Imaginaacuterio social sobre ciecircncia e tecnologia

Representaccedilatildeo social da ciecircncia A imagem que prevalece na pesquisa apresenta ldquoa ciecircncia como epopeacuteia de grandes descobertas (353 em meacutedia) a ciecircncia como condiccedilatildeo de rsquoavanccedilo tecnoloacutegicorsquo (464 em meacutedia) e por uacuteltimo a ciecircncia como fonte de benefiacutecios para a vida do ser humano (454 em meacutedia) rdquo Apesar de ser bastante comum na miacutedia por exemplo imagens que apresentam uma valoraccedilatildeo negativa (perigo de descontrole concentraccedilatildeo de poder ou ideacuteias que poucos enten-dem) estatildeo em posiccedilatildeo secundaacuteria

Utilidade da ciecircncia Os entrevistados dos quatro paiacuteses (72 em meacutedia) consideram que o desen-volvimento da ciecircncia e da tecnologia eacute o principal motivo da melhoria da qualidade de vida da so-ciedade Interessante comparar esta resposta com o fato de que os respondentes natildeo esperam que a Ciecircncia e a tecnologia sejam capazes de solucionar todos os problemas (859 em meacutedia)

A imagem da ciecircncia como conhecimento legiacutetimo Os resultados indicam que a ldquosociedade moderna enfatiza a racionalidade cientiacutefica e deposita sua confianccedila na verdade da ciecircncia em detrimento da feacute religiosardquo As respostas brasileiras sobre legitimidade da ciecircncia alcanccedilam 704 enquanto a dis-cordacircncia estaacute em 272 Nos demais paiacuteses as respostas satildeo equilibradas

A ciecircncia na vida cotidiana Para a afirmaccedilatildeo de que o mundo da ciecircncia natildeo pode ser compreen-dido pelas pessoas comuns encontra-se equiliacutebrio entre a concordacircncia e a discordacircncia Quando satildeo analisados os resultados globais a discordacircncia sobe para 534 e a concordacircncia alcanccedila 457 em meacutedia A maioria dos entrevistados nos quatro paiacuteses (aproximadamente 60) ldquoconsidera que ela opera como fator de racionalidade da cultura humana uma vez que se se descuidasse da ciecircncia lsquonossa sociedade seria cada vez mais irracionalrsquordquo

A ciecircncia e a tecnologia como fontes de risco 743 em meacutedia dos entrevistados considera que os benefiacutecios da ciecircncia e da tecnologia satildeo maiores que os efeitos negativos mas diante da afirmaccedilatildeo de que o desenvolvimento da ciecircncia traz problemas para a humanidade encontramos diferentes posiccedilotildees nos quatro paiacuteses participantes

bull Na Argentina as respostas estatildeo muito equilibradas embora como no Brasil sobressaia a discordacircncia (pouco mais de 50 em meacutedia)

bull Na Espanha e no Uruguai as respostas se inclinam para a concordacircncia (57 em meacutedia) Nesse sentido apesar da tendecircncia geral da imagem favoraacutevel da ciecircncia a percepccedilatildeo eacute de que ela natildeo estaacute livre de ter consequumlecircncias negativas

Entre os principais problemas mencionam-se os perigos de aplicar alguns conhecimentos e a uti-lizaccedilatildeo do conhecimento para a guerrardquo

A imagem dos cientistas e da atividade cientiacutefico-tecnoloacutegica Nos quatro paiacuteses a vocaccedilatildeo para o conhecimento aparece como o eacute o principal motivo que leva os cientistas a desenvolver seu trabalho

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cotidiano considerando-se tambeacutem a busca para soluccedilatildeo de problemas da populaccedilatildeo A imagem de ciecircncia tradicional eacute fortalecida quando se percebe que ldquoconquistar poder ou um precircmio importanterdquo encontram posiccedilatildeo secundaacuteria Chama a atenccedilatildeo o fato de que as habilidades que caracterizam os cientistas natildeo satildeo suficientes para convencer os entrevistados sobre a capacidade de tomada de de-cisotildees poliacuteticas pelos cientista 516 em meacutedia dos entrevistados nos quatro paiacuteses natildeo concorda que os cientistas satildeo os que melhor sabem o que conveacutem investigar para o desenvolvimento do paiacutes bem como 577 em meacutedia concorda que o governo natildeo deve intervir no trabalho dos cientistas ainda que seja o proacuteprio governo quem os pague

Percepccedilatildeo da ciecircncia e tecnologia local Nos quatro paiacuteses predomina uma imagem do desenvol-vimento cientiacutefico-tecnoloacutegico local segundo a qual existe um pouco de ciecircncia e tecnologia em algumas aacutereas (temaacuteticas)

bull Na Argentina no Brasil e na Espanha as respostas oscilam entre 55 e 64 de adesotildees bull No Uruguai as respostas satildeo mais numerosas chegando a 80

No que se refere ao financiamento pelo Estado da Ciecircncia e Tecnologia parece haver uma ideia de que este financiamento eacute insuficiente

bull Na Argentina Espanha e Uruguai a adesatildeo chega a 87 das respostas Apesar disso o Brasil apresenta novamente um comportamento diferenciado pois uma porcentagem nitidamente superior (278) agrave dos demais paiacuteses opina que o Estado financia a pesqui-sa nesse paiacutes de maneira razoavelmente suficiente

bull Do mesmo modo 82 dos entrevistados na Argentina 623 no Brasil e 789 na Es-panha indicam que o pouco apoio estatal eacute o principal fator que limita o desenvolvi-mento da ciecircncia e tecnologia descartando a responsabilidade de outros setores

bull Por outro lado no Uruguai (66) Argentina (594) e em menor escala Espanha (432) os entrevistados opinam que os conhecimenos gerados em seus paiacuteses tecircm utilidade mas natildeo se difundem

2 Processos de comunicaccedilatildeo social da ciecircncia

Informaccedilatildeo cientiacutefica incorporada Na Argentina (80) Brasil (71 ) e Espanha (67) os entrevis-tados se consideram pouco informados no que se refere agrave ciecircncia e tecnologia

Consumo de informaccedilatildeo cientiacutefica O consumo de informaccedilatildeo cientiacutefica em jornais (534) e tele-visatildeo (64) eacute majoritariamente ocasional na Argentina No Brasil as caracteriacutesticas de consumo satildeo semelhantes Tambeacutem na Espanha o comportamento eacute parecido no que se refere a jornais - 58 do consumo eacute ocasional- embora se acentue uma tendecircncia de escasso consumo de conteuacutedo cientiacutefico televisivo (81 ) Diferentemente da Argentina Brasil e Espanha os dados do Uruguai apresentam um perfil mais equilibrado nas mesmas categorias Quanto agraves revistas de divulgaccedilatildeo cientiacutefica em todos os paiacuteses o consumo tem caracteriacutesticas fundamentalmente esporaacutedicas

Valoraccedilotildees a respeito de cientistas e jornalistas Nos quatro paiacuteses se tende a considerar que soacute em algumas ocasiotildees a comunicaccedilatildeo dos cientistas com a sociedade eacute de difiacutecil compreensatildeo Os en-trevistados pressupotildeem com isso que a eventual incapacidade de comunicaccedilatildeo dos cientistas natildeo eacute uma condiccedilatildeo estrutural de suas competecircncias profissionais mas fundamentalmente depende de outros fatores

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3 Participaccedilatildeo dos cidadatildeos em questotildees de ciecircncia e tecnologia

Nos quatro paiacuteses participantes 945 em meacutedia acredita ser importante participar em questotildees de ciecircncia e tecnologia mas ao mesmo tempo somente 73 em meacutedia informaram jaacute ter tido expe-riecircncias concretas de participaccedilatildeo

Assim observa-se que no caso da Espanha apesar de seu caraacuteter minoritaacuterio o niacutevel de participaccedilatildeo efetiva eacute praticamente o dobro daquele dos outros paiacuteses Aleacutem disso observa-se que para a ampla maioria dos entrevistados dos quatro paiacuteses o cuidado com a vida e a sauacutede constitui o principal motivo que justifica a utilidade da participaccedilatildeo Outras opccedilotildees como controlar o funcionamento das empresas ou controlar a atividade dos cientistas recebem adesotildees que natildeo superam os 25 em nenhum dos casos Do mesmo modo um dos principais obstaacuteculos que a maioria nos quatro paiacuteses coincide em assinalar - sempre com uma frequecircncia superior aos 50 - eacute que as pessoas natildeo tecircm conhecimentos suficientes para exercer tal praacutetica No caso do Brasil Espanha e Uruguai esse motivo eacute o principal entre os as-sinalados Diverso eacute o caso da Argentina onde ocupa o segundo lugar prece-dido pela categoria as pessoas tecircm problemas mais importantes pelos quais reclamar e participar Entretanto essa escolha prioritaacuteria na Argentina e no Uruguai ndash onde deteacutem a segunda colocaccedilatildeo ndash ocupa o uacuteltimo lugar no Brasil e na Espanha

Na mesma linha de accedilatildeo foi realizada uma pesquisa nacional promovida pelo Ministeacuterio da Ciecircncia e Tecnologia com a parceria da Academia Brasileira de Ciecircncias coordenada pelo DEP-DISECISMCT e pelo Museu da VidaCOCFIOCRUZ com colaboraccedilatildeo do LABJORUNICAMP e da FAPESP intitulada ldquoPercepccedilatildeo Puacuteblica da Ciecircnciardquo16 e tambeacutem a versatildeo da pesquisa realizada em 201517

A pesquisa quantitativa tinha como objetivo o levantamento do interesse grau de informaccedilatildeo atitu-des visotildees e conhecimento que os brasileiros tecircm da Ciecircncia O puacuteblico alvo era a populaccedilatildeo brasilei-ra adulta constituiacuteda de homens e de mulheres com idade igual ou superior a 16 anos Foi realizado por meio de entrevistas domiciliares e pessoais com questionaacuterio estruturado realizadas entre no-vembro e dezembro de 2006 A amostra representativa de 16 estados foi de 2004 (duas mil e quatro) entrevistas18

A anaacutelise mesmo que raacutepida permite extrair alguns pontos interessantes e deixa claro um grande interesse da populaccedilatildeo por temas como Medicina e Sauacutede Meio Ambiente e Ciecircncia e Tecnologia Deixa patente tambeacutem que os jovens e adultos possuem uma percepccedilatildeo proacutepria de ciecircncia que deve ser considerada no processo de ensino-aprendizagem o que na maioria das vezes natildeo eacute sequer con-siderado pelos docentes das disciplinas cientiacuteficas

Por fim podemos elencar uma seacuterie de crenccedilas em torno da ciecircncia e do conhecimento cientiacutefico que o Campo CTS procura desconsturir e reconceitualizar conforme Ziman (1980)

bull Cientificismo crenccedila antiga originaacuteria do nascimento da ciecircncia moderna e de pen-samentos filosoacuteficos e poliacuteticos europeus baseia-se na ideia de que qualquer atividade

16 Ministeacuterio da Ciecircncia e Tecnologia Percepccedilatildeo Puacuteblica da Ciecircncia e Tecnologia Departamento de Popularizaccedilatildeo e Difusatildeo da CampT Secretaria de Ciecircncia e Tecnologia para Inclusatildeo Social Ministeacuterio da Ciecircncia e Tecnologia wwwmctgovbrindexphpcontentview50875html obtido em 07092007 cujo resumo pode ser encontrado em httpwwwmctgovbrupd_blob001313511pdf 17 Ministeacuterio da Ciecircncia Tecnologia e Inovaccedilatildeo httppercepcaocticgeeorgbr ou httpwwwmctigovbrnoticia-asset_pu-blisherepbV0pr6eIS0contentmcti-lanca-estudo-sobre-a-percepcao-publica-da-c-tjsessionid=E908832B10803193C5020620B6E628E7 obtidos em 1210201518 Intervalo de confianccedila de 95 tem uma margem de erro maacutexima de 22 pontos percentuais para mais ou para menos

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cientiacutefica eacute valiosa sem realizar anaacutelises profundas sobre a mesma e sobre suas conse-quecircncias

bull Anti-cientificismo ideia que surge como oposiccedilatildeo ao cientificismo julgando como ne-gativas as atividades cientiacuteficas como causadoras de todos os males sociais

bull Meacutetodo Cientiacutefico suposiccedilatildeo de que o meacutetodo cientiacutefico valida todo conhecimento cientiacutefico produzido fazendo com que haja pouca discussatildeo em sala de aula sobre a natureza da metodologia cientiacutefica sobre seus limites e aplicaccedilotildees

bull Positivismo mito atrelado ao cientificismo no qual a ciecircncia eacute vista como uacutenica forma de obter a verdade podendo em seu extremo negar qualquer outra fonte de conheci-mento que natildeo cientiacutefico

bull ldquoCiecircncia purardquo crenccedila baseada na ideia de que os cientistas devem alcanccedilar a ciecircncia pura atraveacutes da busca desinteressada pela verdade sendo financiados pela sociedade a qual iraacute receber em troca os benefiacutecios que advirem da procura da verdade

bull Otimismo tecnoloacutegico a crenccedila de que qualquer coisa que seja tecnicamente possiacutevel seraacute um dia desenvolvida

bull Visatildeo instrumental da ciecircncia a ideia de que basta realizar pesquisas o suficiente sobre determinado tema para que qualquer objetivo seja atingido

bull Tecnocracia baseia-se no mito de que apenas cientistas ou especialistas podem dar conselhos confiaacuteveis sobre quaisquer assuntos

bull Religiosidade cientiacutefica a feacute que se deposita no valor da ciecircncia passa a ser projetada para os seus praticantes cientistas e especialistas Estes devem pertencer a uma classe de indiviacuteduos com virtudes condizentes com a dita atitude cientiacutefica

bull Neutralidade moral da ciecircncia a crenccedila de que a ciecircncia eacute boa por natureza e que por isso na busca pela verdade natildeo existiria a necessidade de se questionar se as accedilotildees fei-tas seriam eacuteticas e humanas

Atividade Proposta para reflexatildeo

1 Visite a paacutegina e estude a pesquisa realizada pelo MCT httpwwwmctgovbrupd_blob001313511pdf

2 Compare os resultados obtidos com a pesquisa de Vogt e Polino Responda a O cidadatildeo considera a Ciecircncia importante para sua vida e para a sociedade b Compare sua resposta com o que o cidadatildeo diz que conhece sobre Ciecircncia e Tec-nologia

22 A importacircncia do ensino para as percepccedilotildees sobre a Ciecircncia e a Tecnologia

Pesquisas como essas permitem perceber o quanto se desconsidera os conhecimentos preacutevios dos jovens e adultos no processo de construccedilatildeo da Ciecircncia e da Tecnologia e o quanto o processo tradi-cional de Ensino de Ciecircncias e Tecnologia agraves vezes alimenta imagens que natildeo correspondem agravequelas reconceitualizadas pela Histoacuteria da Ciecircncia e Tecnologia pela Filosofia da Ciecircncia e Tecnologia e pela Sociologia da Ciecircncia e Tecnologia principalmente

A UNESCO no conjunto de accedilotildees que marcam a Deacutecada da Educaccedilatildeo para o Desenvolvimento Sus-tentado (2005-2014) lanccedilou recentemente um livro intitulado Como promover intereacutes por la cultura cientiacutefica ndash Uma propuesta didaacutectica fundamentada para la educacion cientiacutefica de joacutevenes de 15 a 18 antildeos (2005) onde defende a chamada Alfabetizaccedilatildeo Cientiacutefica O livro que reuacutene um grande nuacutemero

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de produtivos pesquisadores em ensino de ciecircncias e tecnologia na vertente CTS - Ciecircncia Tecnolo-gia e Sociedade guarda um dos capiacutetulos (p 29 a 62) para discutir as possiacuteveis visotildees deformadas da Ciecircncia e da Tecnologia que satildeo discutidas e multiplicadas no processo de ensino e que eacute reproduzi-da em portuguecircs em Cachapuz et al (2005 p 37-70) baseado em diversos artigos publicados ante-riormente e tambeacutem satildeo apresentadas na obra Bazzo Linsingen e Pereira (2003 p 19-20) Dentre as possiacuteveis visotildees deformadas de Ciecircncias podemos detalhar a partir de extratos do texto de Cachapuz et al (2005)

1 Uma visatildeo descontextualizada ou socialmente neutra (p 40-43)

(Haacute uma) deformaccedilatildeo criticada por todas as equipas de docentes implicadas neste esfor-ccedilo de clarificaccedilatildeo e por uma abundante literatura a transmissatildeo de uma visatildeo descontex-tualizada socialmente neutra que es-quece dimensotildees essenciais da atividade cientiacutefica e tecnoloacutegica como o seu impacto no meio natural e social ou os interesses e influencias da sociedade no seu desenvolvimento Ignora-se pois as complexas relaccedilotildees CTS Ciecircncia-Tecnologia-Sociedade () Este tratamento descontextualizado comporta muito em parti-cular uma falta de clarificaccedilatildeo das relaccedilotildees entre a ciecircncia e a tecnologiaCom efeito habitualmente a tecnologia eacute considerada uma mera aplicaccedilatildeo dos conheci-mentos cientiacuteficos De fato a tecnologia tem sido vista tradicionalmente como uma ativida-de de menor status que a ciecircncia pura ()Eacute relativamente faacutecil no entanto questionar esta visatildeo simplista das relaccedilotildees ciecircncia-tec-nologia basta refletir brevemente sobre o desenvolvimento histoacuterico de ambas para com-preender que a atividade teacutecnica precedeu em milecircnios a ciecircncia e que por tanto de modo algum pode considerar-se como mera aplicaccedilatildeo de conhecimentos cientiacuteficos ()Esquecer a tecnologia eacute expressatildeo de visotildees puramente operativistas que ignoram com-pletamente a contextualidade da atividade cientiacutefica como se a ciecircncia fosse um produto elaborado em torres de marfim agrave margem das contingecircncias da vida ordinaacuteria Trata-se de uma visatildeo que se conecta com a que contempla aos cientistas como seres especiais gecircnios solitaacuterios que falam uma linguagem abstrata de difiacutecil acesso A visatildeo descontextualizada vecirc-se reforccedilada pois pelas concepccedilotildees individualistas e elitistas da ciecircncia

2 Uma visatildeo individualista e elitista (p 43-45)

Esta eacute junto agrave visatildeo descontextualizada que acabamos de analisar ndash e agrave qual estaacute estreitamen-te ligada ndash outra das deformaccedilotildees mais frequumlentemente assinaladas pelas equipes de docentes e tambeacutem mais tratadas na literatura Os conhecimentos cientiacuteficos aparecem como obra de gecircnios isolados ignorando-se o papel do trabalho coletivo dos intercacircmbios entre equipes essenciais para favorecer a criatividade necessaacuteria para abordar situaccedilotildees abertas natildeo fami-liares Em particular deixa-se acreditar que os resultados obtidos por um soacute cientista ou equi-pe podem bastar para verificar ou falsear uma hipoacutetese ou inclusive toda uma teoriaFrequumlentemente insiste-se explicitamente em que o trabalho cientiacutefico eacute um domiacutenio reser-vado a minorias especialmente dotadas transmitindo expectativas negativas para a maioria dos alunos e muito em particular das alunas com claras descriminaccedilotildees de natureza social e sexual a ciecircncia eacute apresentada como uma atividade eminentemente masculina( )A imagem individualista e elitista do cientista traduz-se em iconografias que representam o homem da bata branca no seu inacessiacutevel laboratoacuterio repleto de estranhos instrumentos Desta forma constatamos uma terceira e grave deformaccedilatildeo a que associa o trabalho cientiacute-fico quase exclusivamente com esse trabalho no laboratoacuterio onde o cientista experimenta

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e observa procurando o feliz descobrimento Transmite-se assim uma visatildeo empiro-indu-tivista da atividade cientiacutefica que abordaremos seguidamente

3 Uma visatildeo empiro-inductivista e ateoacuterica (p 45-48)

Talvez tenha sido a concepccedilatildeo empiro-inductivista a deformaccedilatildeo que foi estudada em pri-meiro lugar e a mais amplamente assinalada na literatura Uma concepccedilatildeo que defende o papel da observaccedilatildeo e da experimentaccedilatildeo ldquoneutrardquo (natildeo contaminadas por ideias aprioritis-tas) esquecendo o papel essencial das hipoacuteteses como focalizadoras da investigaccedilatildeo e dos corpos coerentes de conhecimentos (teorias) disponiacuteveis que orientam todo o processoEacute preciso insistir na importacircncia dos paradigmas conceptuais das teorias no desenvolvi-mento do trabalho cientiacutefico num processo completo natildeo reduzido a um modelo definido de mudanccedila cientiacutefica que inclui eventuais roturas mudanccedilas revolucionaacuterias do paradig-ma vigente num determinado domiacutenio e surgimento de novos paradigmas teoacutericos Eacute pre-ciso tambeacutem insistir em que os problemas cientiacuteficos constituem inicialmente ldquosituaccedilotildees problemaacuteticasrdquo confusas o problema natildeo eacute dado eacute necessaacuterio formulaacute-lo da maneira preci-sa modelizando a situaccedilatildeo fazendo determinadas opccedilotildees para simplificaacute-lo mais ou menos com o fim de poder abordaacute-lo clarificando o objetivo etc E tudo isto partindo do corpus de conhecimentos que se tem no campo especiacutefico em que se desenvolve o programa de investigaccedilatildeo()Infelizmente as escassas praacuteticas escolares de laboratoacuterios escamoteiam aos estudantes (incluindo na Universidade) toda a riqueza do trabalho experimental dado que apresenta montagens jaacute elaborada para simples manuseamento seguindo guia de tipo receita de co-zinhaDeste modo o ensino centrado na simples transmissatildeo de conhecimentos jaacute elaborados natildeo soacute impede compreender o papel essencial que a tecnologia joga no desenvolvimento cien-tiacutefico senatildeo que contraditoriamente favorece a manutenccedilatildeo das concepccedilotildees empiro-in-ductivas que consagram um trabalho experimental ao qual nunca se tem acesso real como elemento central de um suposto Meacutetodo Cientiacutefico o que se vincula com outras duas graves deformaccedilotildees que abordaremos brevemente

4 Uma visatildeo riacutegida algoriacutetmica infaliacutevel (p 48-49)

Esta eacute uma concepccedilatildeo amplamente difundida entre o professorado de ciecircncias como se tem podido constatar utilizando diversos desenhos (Femaacutendez 2000) Assim em entrevistas rea-lizadas com professores uma maioria refere-se ao Meacutetodo Cientiacutefico como uma sequumlecircncia de etapas definidas em que as observaccedilotildees e as experiecircncias rigorosas desempenham um papel destacado contribuindo agrave exatidatildeo e objetividade dos resultados obtidosFace a isto eacute preciso ressaltar o papel desempenhado na investigaccedilatildeo pelo pensamento diver-gente que se concretiza em aspectos fundamentais e erroneamente relegados nos traccedilados empiro-inductivistas como satildeo a invenccedilatildeo de hipoacuteteses e modelos ou o proacuteprio desenho de experiecircncias Natildeo se raciocina em termos de certezas mais ou menos baseadas em evidecircn-cias senatildeo em termos de hipoacuteteses que se apoiam eacute certo nos conhecimentos adquiridos mas que satildeo contempladas como tentativas de resposta que devem ser postas agrave prova o mais rigorosamente possiacutevel o que daacute lugar a um processo complexo em que natildeo existem princiacutepios normativos de aplicaccedilatildeo universal para a aceitaccedilatildeo ou a rejeiccedilatildeo de hipoacuteteses ou mais em geral para explicar as trocas mudanccedilas nos conhecimentos cientiacuteficos()

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Satildeo as hipoacuteteses pois as que orientam a procura de dados Umas hipoacuteteses que por sua vez nos remetem ao paradigma conceptual de partida pondo de novo em evidencia o erro das propostas empiacutericasA concepccedilatildeo algoriacutetmica como a empiro-inductivista em que se apoacuteia pode manter-se na mesma medida em que o conhecimento cientiacutefico se transmite de forma acabada para a sua simples recepccedilatildeo sem que os estudantes nem os professores tenham ocasiatildeo de constatar praticamente as limitaccedilotildees desse suposto Meacutetodo Cientiacutefico Pela mesma razatildeo incorrese com facilidade numa visatildeo aproblemaacutetica e ahistoacuterica da atividade cientiacutefica agrave que nos referi-remos em seguida

5 Uma visatildeo aproblemaacutetica e a-histoacuterica (ou acabada e dogmaacutetica) (p 49-50)

Como jaacute referimos o fato de transmitir conhecimentos jaacute elaborados conduz muito frequumlen-temente a ignorar quais foram os problemas que se pretendiam resolver qual tem sido a evo-luccedilatildeo de ditos conhecimentos as dificuldades encontradas etc e mais ainda a natildeo ter em conta as limitaccedilotildees do conhecimento cientiacutefico atual ou as perspectivas abertasAo apresentar uns conhecimentos jaacute elaborados sem sequer se referir aos problemas que es-tatildeo na sua origem perdese de vista que como afirma Bachelard todo o conhecimento eacute a res-posta a uma questatildeo a um problema Este esquecimento dificulta captar a racionalidade do processo cientiacutefico e faz com que os conhecimentos apareccedilam como construccedilotildees arbitraacuterias Por outra parte ao natildeo completar a evoluccedilatildeo dos conhecimentos ou seja ao natildeo ter em conta a histoacuteria das ciecircncias desconhece-se quais foram as dificuldades os obstaacuteculos epistemoloacute-gicos que foram preciso superar o que resulta fundamental para compreender as dificuldades dos alunosDevemos insistir uma vez mais na estreita relaccedilatildeo existente entre as deformaccedilotildees contem-pladas ateacute aqui Esta visatildeo aproblemaacutetica e ahistoacuterica por exemplo torna possiacutevel as conce-pccedilotildees simplistas sobre as relaccedilotildees ciecircncia-tecnologia Pensemos que se toda a investigaccedilatildeo responde a problemas com frequecircncia esses problemas tecircm uma vinculaccedilatildeo directa com ne-cessidades humanas e portanto com a procura de soluccedilotildees adequadas para problemas tecno-loacutegicos preacuteviosDe facto o esquecimento da dimensatildeo tecnoloacutegica na educaccedilatildeo cientiacutefica impregna a visatildeo distorcida da ciecircncia socialmente aceite que evidenciamos aqui Precisamente por isto escol-hemos dar o nome de Possiacuteveis visotildees deformadas da ciecircncia e da tecnologia tratando assim de superar um esquecimento que historicamente tem a sua origem na distinta valorizaccedilatildeo do trabalho intelectual e manual e que afecta gravemente a necessaacuteria alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica do conjunto da cidadaniaA visatildeo distorcida e empobrecida da natureza da ciecircncia e da construccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico em que o ensino das ciecircncias incorre por acccedilatildeo ou omissatildeo inclui outras visotildees deformadas que tecircm em comum esquecer a dimensatildeo da ciecircncia como construccedilatildeo de corpos coerentes de conhecimentos

6 Uma visatildeo exclusivamente analiacutetica (p 50-51)

Referimo-nos em primeiro lugar ao que temos denominado visatildeo exclusivamente analiacuteti-ca que estaacute associada a uma incorreta apreciaccedilatildeo do papel da anaacutelise no processo cientiacute-ficoAssinalemos para iniciar que uma caracteriacutestica essencial de uma aproximaccedilatildeo cientiacutefica eacute a vontade expliacutecita de simplificaccedilatildeo e de controle rigoroso em condiccedilotildees preacuteestabelecidas o que introduz elementos de artificialidade indubitaacuteveis que natildeo devem ser ignorados nem ocultados os cientistas decidem abordar problemas resoluacuteveis e comeccedilam ignorando cons-

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ciente e voluntariamente muitas das caracteriacutesticas das situaccedilotildees estudadas o que eviden-temente os afasta da realidade e continuam afastando-se mediante o que sem duacutevida haacute que considerar a essecircncia do trabalho cientiacutefico A invenccedilatildeo de hipoacuteteses e modelosO trabalho cientiacutefico exige pois tratamentos analiacuteticos simplificatoacuterios artificiais Mas isto natildeo supotildee como agraves vezes se critica incorrer necessariamente em visotildees parcializadas e simplistas na medida em que se trata de anaacutelises e simplificaccedilotildees conscientes tem-se presente a necessidade de siacutentese e de estudos de complexidade crescente Pensemos por exemplo que o estabelecimento da unidade da mateacuteria - que constitui um claro apoio a uma visatildeo global natildeo parcializada ndash eacute uma das maiores conquistas do desenvolvimento cientiacutefico dos uacuteltimos seacuteculos os princiacutepios de conservaccedilatildeo e transformaccedilatildeo da mateacuteria e da energia foram estabelecidos respectivamente nos seacuteculos XVIII e XIX e foi soacute nos finais do seacuteculo XIX quando se produziu a fusatildeo de trecircs domiacutenios aparentemente autocircnomos - electricidade oacuteptica e magnetismo - na teoria eletromagneacutetica que se abriu um enorme campo de aplicaccedilotildees que seguem revolucionando a nossa vida de cada dia E natildeo haacute que esquecer que os procesnotsos de unificaccedilatildeo exigiram com frequumlecircncia atitudes criacuteticas nada cocircmodas que tiveram que vencer fortes resistecircncias ideoloacutegicas e inclusive perseguiccedilotildees e condenaccedilotildees como nos casos bem conhecidos do heliocentrismo ou do evolucionismo A histoacuteria do pensamento cientiacutefico eacute uma constante confirmaccedilatildeo de que os avanccedilos tecircm lugar profundizando o conhecimento da realidade em campos definidos eacute esta profundizaccedilatildeo inicial a que permite chegar posteriormente a estabelecer laccedilos entre campos aparentemen-te desligados

7 Uma visatildeo acumulativa de crescimento linear (p 51)

ldquoUma deformaccedilatildeo agrave que tambeacutem natildeo fazem referecircncia as equipes de docentes e que eacute a se-gunda menos mencionada na literatura - traacutes a visatildeo exclusivamente analiacutetica - consiste em apresentar o desenvolvimento cientiacutefico como fruto de um crescimento linear puramente acumulativo ignorando as crises e as remodelaccedilotildees profundas fruto de processos comple-xos que natildeo se deixam ajustar por nenhum modelo definido de desenvolvimento cientiacutefico Esta deformaccedilatildeo eacute complementar em certo modo do que temos denominado visatildeo riacutegi-da algoriacutetmica ainda que devam ser diferenciadas enquanto a visatildeo riacutegida ou algoriacutetmi-ca se refere como se concebe a realizaccedilatildeo de uma investigaccedilatildeo dada a visatildeo acumulativa eacute uma interpretaccedilatildeo simplista da evoluccedilatildeo dos conhecimentos cientiacuteficos ao longo do tempo como fruto do conjunto de investigaccedilotildees realizadas em determinado campo Esta eacute uma visatildeo simplista agrave qual o ensino costuma contribuir ao apresentar as teorias hoje aceites sem mostrar o processo do seu estabelecimento nem ao se referir agraves frequumlentes confrontaccedilotildees entre teorias rivais nem aos complexos processos de mudanccedila que incluem autenticas lsquore-voluccedilotildees cientiacuteficasrsquordquo

Essas desconsideraccedilotildees do conhecimento preacutevio e das concepccedilotildees espontacircneas ou construiacutedas na experiecircncia cotidiana bem como a transmissatildeo equivocada de Ciecircncia e Tecnologia por meio das visotildees deformadas e suas combinaccedilotildees desconsideram um princiacutepio basilar da didaacutetica das ciecircncias na construccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico os conhecimentos anteriores ou conhecimentos preacutevios Buscando concluir este toacutepico ndash que pretendeu mostrar a importacircncia de se considerar os conhe-cimentos preacutevios e as percepccedilotildees puacuteblicas da Ciecircncia e da Tecnologia para a formaccedilatildeo adequada de conceitos ndash compreende-se que se quisermos interferir naquilo que os professores e os alunos fazem nas aulas de Ciecircncia e Tecnologia eacute preciso interferir na maneira de ensinar dos professores e na maneira de aprender dos alunos E mesmo assim considerar que possuir concepccedilotildees vaacutelidas

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SOBRE A CIEcircNCIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A CIEcircNCIA38

sobre a ciecircncia natildeo garante que o comportamento docente seja coerente com estas concepccedilotildees O es-tudo destas ditas concepccedilotildees tem-se convertido por essa razatildeo numa potente linha de investigaccedilatildeo (Cachapuz et al 2005 UNESCO 2005)

Uma outra linha de pesquisa que se amplia no universo da Ciecircncia e Tecnologia eacute aquela que busca identificar e entender as crenccedilas e atitudes perante a Ciecircncia Tecnologia e Sociedade e que tecircm em Acevedo Vasquez e Manassero produtivos pesquisadores na regiatildeo iberoamericana dentre outros Os autores partem das premissas contemporacircneas ndash que natildeo haacute um conceito correto ou mais co-rreto de Ciecircncia e de Tecnologia que natildeo haacute um uacutenico meacutetodo cientiacutefico e que as atitudes podem ser classificadas em ingecircnuas (i) plausiacuteveis (p) ou adequadas (a) ndash e desenvolvem neste momento extensa pesquisa sobre as atitudes frente aos conceitos CTS envolvendo seis paiacuteses da iberoameacuterica inclusive Brasil Para ter ideia de o quanto se flexibiliza os conceitos de Ciecircncia podemos citar uma das questotildees

10111 Definir o que eacute a ciecircncia eacute difiacutecil porque ela eacute complexa e engloba muitas coisas Mas a ciecircncia eacute PRINCIPALMENTE

A o estudo de aacutereas tais como biologia quiacutemica geologia e fiacutesica B um corpo de conhecimentos como princiacutepios leis e teorias que explicam o mundo que nos rodeia (mateacuteria energia e vida)C explorar o desconhecido e descobrir coisas novas sobre o mundo e o universo e como funcionamD realizar experiecircncias para resolver problemas de interesse sobre o mundo que nos rodeiaE inventar ou conceber coisas (por exemplo coraccedilotildees artificiais computadores veiacuteculos espaciais)F pesquisar e usar conhecimentos para fazer deste mundo um lugar melhor para viver (por exemplo curar doenccedilas solucionar a contaminaccedilatildeo e melhorar a agricultura)G uma organizaccedilatildeo de pessoas (chamados cientistas) que tecircm ideias e teacutecnicas para desco-brir novos conhecimentosH um processo de investigaccedilatildeo sistemaacutetico e o conhecimento que daiacute resultaI natildeo se pode definir ciecircncia

Em uma de suas pesquisas Acevedo Vasquez e Manassero (2002) comentam o resultado sobre a questatildeo

Definiccedilatildeo da ciecircncia Predominam as respostas adequadas e aplausiacuteveis (algo mais menos do que a metade em cada caso) A opccedilatildeo da ciecircncia como um corpo do conhecimento foi escolhida por mais de um terccedilo Segue a grande distacircncia (168) a frase plausiacutevel que con-sidera a ciecircncia como uma forma de explorar o desconhecido e fazer descobertas sobre o mundo e seu funcionamento Consequumlentemente de maneira global a conceitualizaccedilatildeo da ciecircncia feita pelos estudantes poderia ser avaliada como apropriado jaacute que majoritariamen-te captam muitos aspectos da essecircncia da ciecircncia

A maneira mais segura de diminuirmos a possibilidade de sermos ldquocontaminadosrdquo por estas visotildees deformadas de ciecircncia e pior de multiplicarmos esses conceitos eacute buscarmos enxergar as ciecircncias por vaacuterios acircngulos por vaacuterios campos definidos do saber que ao longo do tempo vecircm se estabelecen-do no delicado processo de entendimento do que seja Ciecircncia e de sua relaccedilatildeo com a Tecnologia e a Sociedade Estes estudos satildeo desenvolvidos por meio de ramos de estudos definidos como Filosofia da Ciecircncia e da Tecnologia Histoacuteria da Ciecircncia e da Tecnologia e Sociologia da Ciecircncia e da Tecno-logia principalmente que podem assim ser definidas sinteticamente

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SOBRE A CIEcircNCIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A CIEcircNCIA39

bull Filosofia da Ciecircncia e da Tecnologia Os filoacutesofos da ciecircncia e da tecnologia tecircm le-vantado questotildees importantes na relaccedilatildeo com a estrutura do conhecimento cientiacutefico e o desenvolvimento da tecnologia Um ponto de partida habitual e uacutetil eacute a obra de Thomas Kuhn (1970) ndash A Estrutura da Revoluccedilatildeo Cientiacutefica ndash a partir da qual se afas-tou das visotildees positivistas mais tradicionais para incorporar uma interpretaccedilatildeo mais contextual se natildeo relativista (CUTCLIFFE 2003 p 188-189) Necessaacuterio reconhecer as contribuiccedilotildees de Joseacute Ortega y Gasset (1997) Martin Heidegger (2012 2009 1999) Juumlrgen Habermas 2013 1968) Hannah Arendt Lewis Mumford (2010 2001) Jacques Ellul Hans Jonas (2011) Peter Sloterdijk Carl Mitchan (2006 2003 1994 1989) Javier Echeverria (2003 2002 2001a 2001b) Andrews Feenberg (2010 2003 2002 1992) especialmente

bull Estudos Sociais da Ciecircncia e da Tecnologia Este ramo de estudo explora o caraacuteter social da Ciecircncia com especial referecircncia agrave produccedilatildeo social do conhecimento cientiacutefico (sociologia do conhecimento) Dedica por exemplo a estudar sua forma de comuni-caccedilatildeo a hierarquia interna distribuiccedilatildeo de poder a maneira como se comunica com a sociedade os criteacuterios de escolha das pesquisas sistema de avaliaccedilatildeo por pares sistema de recompensas etc (Mulkay 1996 p 743-744) As abordagens mais recentes consi-deram a Construccedilatildeo Social da Ciecircncia e da Tecnologia questionando a autonomia e independecircncia da CampT Este novo ramo apresenta pelo menos duas perguntas ldquoEm que medida e como as condiccedilotildees socioculturais influenciam nas teorias e nos conhecimen-tos cientiacuteficos E simetricamente como a ciecircncia [e a tecnologia] modela a sociedaderdquo (Martin 2003 p 70) Historicamente temos que a Sociologia da Ciecircncia se estabeleceu como campo de estudo e hoje temos a Sociologia da Tecnologia em franco crescimen-to como aacuterea de estudo Para Sasaki (2010) o construtivismo social da tecnologia eacute um desdobramento do Programa Forte

Os estudos de Construccedilatildeo Social da Ciecircncia e da Tecnologia devem contemplar estudos sobre

bull Programa Forte da Sociologia da Ciecircncia David Bloor (2009) Barry Barnes (1974 1977) Steven Shapin (1996) especialmente

bull Programa Empiacuterico do Relativismo Harry Collins (2013 2011) especialmente bull Construtivismo Social da Ciecircncia e Teoria Ator-rede Bruno Latour (2000 1994

1979) Michel Callon (2001 1998) e John Law (1994 sd)bull Construtivismo Social da Tecnologia Wiebe E Bijker (2010 2003 1994 1989

1987) Trevor Pinch (2008 1989 1987) especialmente bull Grandes Sistemas Tecnoloacutegicos Thomas Hughes (2008 1996 1989)bull Necessaacuterio reconhecer as contribuiccedilotildees de Robert Merton (1994) Ludwik Fleck

(2010) Manuel Castells (2007 2003 pelo menos)

Oliveacute (2000) ao classificar esta aacuterea de estudo apresentaraacute outra interessante conceituaccedilatildeo Ele cha-maraacute de construtivismo social aquela posiccedilatildeo que sustenta que ldquoos produtos das ciecircncias e as praacuteti-cas responsaacuteveis de produziacute-los devem estatildeo sujeitos ao mesmo tipo de anaacutelise que se realiza sobre textos e outros produtos culturaisrdquo (p 172) Apoacutes isso propotildee a seguinte categorizaccedilatildeo

bull Construtivismo social ndash defendida por representantes da Escola de Edimburgo (Da-vid Bloor e Barry Barnes principalmente)

bull Construtivismo (neo)kantiano ndash que trata da construccedilatildeo social do mundo a que se refere as teorias cientiacuteficas Relembra Kuhn e escreve ldquoSatildeo os grupos e as praacuteticas de gruposque constituem o mundo (e satildeo constituiacutedos por eles) E a praacutetica-no-

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SOBRE A CIEcircNCIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A CIEcircNCIA40

mundo de alguns desses grupos eacute a ciecircnciardquo (apud Kuhn 1991 p 11) ebull Construtivismo devastador Atribuindo esta expressatildeo a Richard Boyd (1992) diz

que este segmento ldquosustenta que o conhecimento cientiacutefico e aquilo a que se refere eacute uacutenica e completamente uma construccedilatildeo um produto das comunidades cientiacutefi-cas (p 173) Indica Bruno Latour (2000 1994 1979) e Steve Woolgar (1979 1991) como representantes deste segmento

bull Histoacuteria da Ciecircncia e da Tecnologia Os historiadores da ciecircncia e da tecnologia estatildeo menos inclinados a escrever sobre questotildees teoacutericas gerais preferindo em seu lugar centrar-se em acontecimentos e problemas especiacuteficos Por conta disso diversos trabal-hos tecircm demonstrado sua utilidade para a perspectiva CTS e devem ser estudados com criteacuterio (Cutcliffe 2003 p 190-193)

Uma maneira objetiva de construir uma imagem mais realista da Ciecircncia eacute abdicar dos modelos tra-dicionais de ensino de Ciecircncias que vecirc e apresenta nos manuais a Ciecircncia como uma ldquomarcha gran-diosardquo onde os capiacutetulos possuem uma fluecircncia e sequumlecircncia loacutegica sem nenhum tipo de percalccedilo ou dificuldade Nessa visatildeo toda a Ciecircncia produzida em seacuteculo pode ser resumida em algumas horas de explanaccedilatildeo linear e sem sobressaltos de qualquer ordem

Sobre isso Hellman (1999) lembra que eacute o processo que caracteriza a Ciecircncia e este processo eacute desen-volvido por homens e por conta disso este processo esta impregnado de sentimentos e erros huma-nos Ao contraacuterio dos erros tecnoloacutegicos que satildeo imediatamente percebidos por conta dos desastres que causam os erros cientiacuteficos natildeo satildeo propalados nem divulgados a Ciecircncia eacute sempre apresen-tada com um crescimento linear Hellman escreveu uma obra que trata dos dez grandes embates no campo da Ciecircncia tentando provar que a Ciecircncia natildeo tem crescimento linear como eacute ensinada e que haacute sim dificuldades das mais diversas entre os cientistas e as comunidades de homens de ciecircncia

Para citar a dificuldade vivida por um cientista quando a ideia que defende eacute derrotada num emba-te cientiacutefico por outro cientista que apresenta uma explicaccedilatildeo mais adequada para um fenocircmeno Hellman lembra a batalha travada por 25 anos entre Thomas Hobbes e o matemaacutetico John Wallis O primeiro defendendo a geometria e desdenhado a aacutelgebra do segundo

Para exemplificar as lutas pela de ldquopaternidade de uma ideiardquo (o que chama de prioridade) neces-saacuteria para identificar o primeiro autor de uma ideia Hellman informa que isso eacute um fato muito co-mum entre os cientistas e exemplifica esta dificuldade lembrando que esta dificuldade ocorreu entre Newton e Leibniz (caacutelculo) Faraday e Henry (induccedilatildeo eletromagneacutetica) Adams e Leverrier (des-coberta de Netuno) Darwin e Wallace (teoria da evoluccedilatildeo) e Heisenberg e Schroumldinger (mecacircnica quacircntica)

Quando se refere a interferecircncias de crenccedilas e valores na descoberta cientiacutefica ou na aceitaccedilatildeo delas Hellman lembra os casos do criacionismo e o evolucionismo (Darwin) a controveacutersia sobre o momento em que o tecido no uacutetero da mulher se transforma em ldquoser humanordquo (caso de Voltaire contra Needham) ou mesmo a questatildeo sobre as origens do homem (caso de Donald Johanson contra Richard Leakey)Esses raacutepidos exemplos deixam transparecer que natildeo haacute muita semelhanccedila entre a Ciecircncia ensinada nas escolas e a verdadeira trajetoacuteria da Ciecircncia um bom comeccedilo eacute aprender a aproveitar as oportu-nidades em sala de aula para ensinar uma Ciecircncia como atividade humana

Conheccedila maisFernaacutendez I Gil D Vilches A Valdeacutes P Cachapuz A Praia J Salinas J El olvido de la tecnologiacutea como

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SOBRE A CIEcircNCIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A CIEcircNCIA41

refuerzo de las visiones deformadas de la ciecircncia Revista Electroacutenica de Ensentildeanza de las Ciencias Vol 2 Nordm 3 (2003) httpwwwsaumuvigoesreecvolumenesvolumen2Numero3Art8pdf

SOBRE A TECNOLOGIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A TECNOLOGIA43

3 Sobre a Tecnologia mas natildeo o que eacute a Tecnologia

31 Sobre a Tecnologia

Segundo Kneller (1980 p 245s) a palavra Tecnologia deriva do grego techne que significa arte ou habilidade permitindo pensar que a tecnologia resulta e se produz essencialmente em uma accedilatildeo praacute-tica que busca alterar o mundo a sua volta mais do que compreendecirc-lo Diz o autor que

onde a Ciecircncia persegue a verdade a tecnologia prega a eficiecircncia Enquanto a Ciecircncia pro-cura formular as leis a que a natureza obedece a tecnologia utiliza essas formulaccedilotildees para criar implementos e aparelhos que faccedilam a natureza obedecer ao homem (p 245)

Essa proposta de definiccedilatildeo pode se confundir com uma visatildeo simplista de Tecnologia Mesmo nesta visatildeo ingecircnua de Tecnologia (Tecnologia como aparato resultante da Ciecircncia) satildeo necessaacuterios con-hecimentos especiacuteficos desenvolvidos em campo do saber especiacutefico teacutecnicas cada vez mais apura-das instituiccedilotildees de apoio e fomento sistema capaz de ampliar a escala dos produtos etc e ao final a Tecnologia resultante pode gerar mais conhecimento tecnoloacutegico rompendo o viacutenculo fraacutegil de causalidade entre Tecnologia e Ciecircncia

Historicamente a tentativa de definiccedilatildeo de Tecnologia se reduz equivocadamente a dois grandes grupos o que vecirc tecnologia como sinocircnimo de teacutecnica e o que entende Tecnologia como Ciecircncia aplicada Sobre isso escrevem Bazzo Linsingen e Pereira (2003)

O termo teacutecnica faria referecircncia a procedimentos habilidades artefatos desenvolvimen-tos sem ajuda do conhecimento cientiacutefico O termo tecnologia seria utilizado entatildeo para referir-se agravequeles sistemas desenvolvidos levando em conta esse conhecimento cientiacuteficoOs procedimentos tradicionais utilizados para fazer iogurte queijo vinho ou cerveja seriam teacutecnicas enquanto a melhoria destes procedimentos a partir da obra de Pasteur e do desen-volvimento da microbiologia industrial seriam tecnologias O mesmo poder-se-ia dizer da seleccedilatildeo artificial tradicional (desde a revoluccedilatildeo neoliacutetica) e a melhoria geneacutetica que consi-dera as leis da heranccedila formuladas por Mendel A tecnologia do DNA recombinado seria um passo posterior baseado na biologia molecular

Seguindo esta visatildeo ontoloacutegica Ortega y Gasset20(1939) para que a teacutecnica e a Tecnologia derivam da necessidade de o homem adequar-se as suas circunstacircncias estudaraacute a teacutecnica a partir de trecircs visotildees as teacutecnicas do acaso as teacutecnicas do artesatildeo e as teacutecnicas dos engenheiros que se diferenciam pelo modo como se descobre os meios de realizar o projeto que busca realizar

bull O primeiro estaacutegio eacute chamado de teacutecnica do acaso pois eacute ele que fornece a invenccedilatildeo ao homem protohistoacuterico primitivo e preacute e selvagem atuais Como a teacutecnica eacute apresentada agrave mente deste homem primitivo ldquoO homem primitivo ignora sua proacutepria teacutecnica como

19 Conheccedila mais em httpenwikipediaorgwikiMelvin_Kranzberg (em inglecircs) 20 Conheccedila mais em httpptwikipediaorgwikiJosC3A9_Ortega_y_Gasset

A tecnologia natildeo eacute boa nem maacute nem tatildeo pouco neutra1ordf lei de Melvin Kranzberg 19

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SOBRE A TECNOLOGIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A TECNOLOGIA44

tal Ele natildeo percebe que a sua capacidade eacute um muito especial que lhe permite remode-lar a natureza no sentido de seus desejosrdquo (p 28)

bull O segundo estaacutegio eacute chamado de teacutecnica do artesatildeo Eacute a arte da Greacutecia antiga de Roma preacute-imperial e da Idade Meacutedia Aqui os atos teacutecnicos desenvolveram-se fazendo com que alguns homens se encarreguem deles os artesatildeos

bull O terceiro estaacutegio eacute chamado a teacutecnica do teacutecnico ldquoO homem adquire consciecircncia su-ficientemente clara que tem uma certa capacidade completamente diferente da riacutegida imutaacutevel que compotildeem o seu animal natural ou porccedilatildeo Percebe que a teacutecnica natildeo eacute aleatoacuteria como no estado primitivo ou um determinado tipo de dado e homem-artesatildeo limitada a teacutecnica natildeo eacute tecnicamente ou determinada e portanto fixa mas exatamen-te um manancial de actividades humanas em princiacutepio ilimitadordquo (p 31)

Quanto a segunda visatildeo ingecircnua de Tecnologia a que a reduz a Ciecircncia aplicada podemos recorrer a diversos autores a fim de melhor entender como estes dois campo do conhecimentos podem se relacionar sem a visatildeo estreita de submissatildeo obrigatoacuteria de um deles ao outro

Segundo Kneller (1980) o estudo das relaccedilotildees entre Ciecircncia e Tecnologia permite pelo menos trecircs acircngulos distintos

bull O primeiro eacute aquele que afirma que a produccedilatildeo tecnoloacutegica especialmente a partir do seacuteculo XVII assentou em leis teorias ou dados estabelecidos pela Ciecircncia dita pura Se-gundo Kneller Joseph Henry teria dito em conferecircncia no ano de 1832 que ldquotoda arte mecacircnica se baseia em princiacutepio ou lei geral da natureza e quanto mais familiarizados estamos com essas leis mais capazes devemos ser de acelerar e aperfeiccediloar as artes uacuteteisrdquo Exemplificando sua tese com o fato de que

James Watt inventou sua maacutequina a vapor usando a teoria do sobre calor latente de Joseph Black os construtores navais empregaram os estudos matemaacuteticos de Eu-ler sobre curvatura dos cascos e Humphry Davy inventou a lacircmpada de seguranccedila para minas depois de ter estudado cientificamente o grisu Do mesmo modo as realizaccedilotildees de Robert Fulton na navegaccedilatildeo agrave vapor e a invenccedilatildeo por Eli Whitney do descaroccedilador de algodatildeo lsquodependeram de seus amplos conhecimentos cientiacuteficosrsquo

bull O segundo acircngulo eacute aquele que aponta a Tecnologia como parceira decisiva visto que im-portantes avanccedilos tecnoloacutegicos dependem da pesquisa cientiacutefica Esta se realiza em primeiro lugar a fim de apresentar e organizar os conhecimentos necessaacuterios aos avanccedilos ldquoSatildeo as ne-cessidades tecnoloacutegicas que datildeo vigor e direccedilatildeo agrave pesquisa cientiacutefica fundamentalrdquo (p 248)

bull O terceiro acircngulo eacute aquele que defende a tese de que a Ciecircncia e a Tecnologia se desenvolve-ram independentemente (ateacute 100 anos atraacutes pelo menos) Diversos historiadores da Ciecircncia defendem que

bull ateacute uns 200 anos atraacutes as teacutecnicas foram desenvolvidas por homens incultos e anocircnimos (Rupert Hall)

bull os primoacuterdios da tecnologia moderna nada deveram agrave Ciecircncia pois foram fruto da tradiccedilatildeo de invenccedilatildeo das artes mecacircnicas (Rupert Hall e Marie Boas Hall)

bull a Revoluccedilatildeo Industrial foi realizada por cabeccedilas teimosas e dedos aacutegeis por ho-mens sem educaccedilatildeo sistemaacutetica em Ciecircncias ou Tecnologia pois natildeo havia pra-ticamente intercacircmbio entre cientistas e os inventores dos processos industriais (Eric Ashby)

bull alguns defendem que a Tecnologia soacute comeccedilou a fazer uso significativo da Ciecircn-cia em fins do seacuteculo XIX com a induacutestria quiacutemica (Hall e Granger)

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SOBRE A TECNOLOGIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A TECNOLOGIA45

Percebe-se que os conceitos simplistas e reducionistas que buscam vincular a Tecnologia como conse-quecircncia da Ciecircncia natildeo se sustentam Esta eacute uma visatildeo ingecircnua da Tecnologia Satildeo inuacutemeros os exem-plos de avanccedilos tecnoloacutegicos dos quais podemos citar o interesse de Galileu pela mecacircnica despertado pela observaccedilatildeo dos estaleiros de Veneza o surgimento da geologia por conta dos problemas efetivos apresentados pela mineraccedilatildeo o uso por Darwin da experiecircncia de criadores de gado etc Por outro lado a Ciecircncia vem alimentando a Tecnologia com conhecimentos indispensaacuteveis ao surgimento e aper-feiccediloamento que aparatos tecnoloacutegicos

Outro autor que contribuiu com a reflexatildeo sobre a dissociaccedilatildeo da Ciecircncia e da Tecnologia em algum momento da histoacuteria eacute Granger (1994) que enumera uma seacuterie de exemplos de onde extraiacutemos o que se segue

O mesmo ocorreu com a construccedilatildeo e com a manobra dos navios em que prevaleceram as praacuteticas empiacutericas ou certas teorias ambiciosas mas errocircneas Conveacutem no entanto res-saltar a importacircncia assumida entre os cientistas jaacute no final do seacuteculo XVII pela disputa entre o marinheiro Renau dEliccedilagaray (Teoria da manobra dos navios 1689) e Huygens Jean Bernoulli (Ensaio de lima nova teoria da manobra dos navios 1714) e Euler (Scientia na-valis 1749) Quem estabeleceraacute cientificamente as condiccedilotildees de estabilidade e as regras de manobra seraacute Bouger (Tratado do navio 1746 e Da manobra dos navios 1757) sem que dele poreacutem tirem partido antes do seacuteculo XIX os armadores ou os navegadores A induacutestria quiacutemica eacute revolucionada por descobertas como a do cloro (1774) e a do meacutetodo Leblanc de fabricaccedilatildeo da soda artificial (1780) mas o Tratado de quiacutemica industrial de Chaptal (1806) mostra ainda a distacircncia que separa da ciecircncia na eacutepoca ateacute mesmo as receitas industriais Chaptal foi poreacutem um dos quiacutemicos que mais contribuiacuteram para as aplicaccedilotildees da ciecircncia na induacutestria como tambeacutem na agricultura (p 28)

Continuando as possiacuteveis anaacutelises quanto agraves relaccedilotildees da Ciecircncia e Tecnologia podemos buscar a clas-sificaccedilatildeo de Niiniluoto21 (apud Bazzo Linsingen e Pereira 2003) nos oferece a seguinte classificaccedilatildeo

bull Ciecircncia seria redutiacutevel agrave tecnologia bull Tecnologia seria redutiacutevel agrave ciecircncia bull Ciecircncia e tecnologia satildeo a mesma coisa bull Ciecircncia e tecnologia satildeo independentes bull Haacute uma interaccedilatildeo entre ciecircncia e tecnologia

O ponto de vista mais amplamente aceito sobre a relaccedilatildeo ciecircncia-tecnologia eacute o que conceitua a tecnologia como ciecircncia aplicada sendo portanto a tecnologia redutiacutevel agrave ciecircncia Este pon-to de vista eacute o subjacente ao modelo linear do desenvolvimento que tem influenciado poliacuteticas puacuteblicas de ciecircncia e tecnologia ateacute tempos recentes Tal conceito tem estado presente tam-beacutem ainda que agraves vezes de modo impliacutecito na filosofia da ciecircncia Afirmar que a tecnologia eacute ciecircncia aplicada eacute afirmar que

bull Uma tecnologia eacute principalmente um conjunto de regras tecnoloacutegicas bull As regras tecnoloacutegicas satildeo consequecircncias dedutiacuteveis das leis cientiacuteficas bull Desenvolvimento tecnoloacutegico depende da investigaccedilatildeo cientiacutefica

Acevedo Vaacutezquez Manassero e Acevedo (2003) ndash e tambeacutem Rebollo Leoacuten (2008) Garcia-Palaacutecio et al (2001) ndash discorrendo sobre o mesmo autor detalham um pouco mais esta posiccedilatildeo Escrevem sobre os

21 Ver detalhes em httpenwikipediaorgwikiIlkka_Niiniluoto (em inglecircs)

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SOBRE A TECNOLOGIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A TECNOLOGIA46

cinco modelos de Niiniluoto22 sobre a ciecircncia

bull A tecnologia se subordina a ciecircncia e pode reduzir-se a ela depende pois ontologica-mente da ciecircncia

bull A ciecircncia se subordina a tecnologia e pode reduzir-se a ela depende pois ontologica-mente da tecnologia

bull Ciecircncia e tecnologia satildeo mais ou menos o mesmo Esta posiccedilatildeo conduz ao conceito de tecnociecircncia introduzido por Latour (1987 p 29 da traduccedilatildeo castellana)

bull A ciecircncia e a tecnologia satildeo ontologicamente independentes tambeacutem o satildeo desde um ponto de vista causal

bull A ciecircncia e a tecnologia interagem causalmente mas satildeo ontologicamente independen-tes

Ampliando nossa anaacutelise podemos recorrer a John M Staundenmaier (1985 apud Bazzo Lisingen e Pereira 2003) que numa visatildeo da historia da tecnologia apresenta uma seacuterie de argumentos que nos fazem refletir sobre a visatildeo de Tecnologia como Ciecircncia aplicada Eis alguns dos argumentos

bull A tecnologia modifica os conceitos cientiacuteficos Thomas Smith estudou o Whirlwind project desenvolvido apoacutes a Segunda Guerra Mundial no MIT para criar um computa-dor digital Concluiu que a maior parte dos conceitos utilizados era endoacutegena agrave proacutepria engenharia e os que procediam das ciecircncias (especialmente da fiacutesica em relaccedilatildeo com o armazenamento magneacutetico de informaccedilatildeo) foram substancialmente transformados para a sua utilizaccedilatildeo no desenvolvimento do projeto

bull A tecnologia utiliza dados problemaacuteticos diferentes dos da ciecircncia Walter Vincenti estudou o projeto aeronaacuteutico mostrando que a engenharia realiza abordagens impor-tantes para problemas dos quais a ciecircncia natildeo se tem ocupado Realiza uma categori-zaccedilatildeo do conhecimento tecnoloacutegico

1) Conceitos fundamentais de projeto 2) Criteacuterios e especificaccedilotildees 3) Ferramentas teoacutericas 4) Dados quantitativos 5) Consideraccedilotildees praacuteticas e 6) Instrumentaccedilatildeo de desenhos

bull O conhecimento cientiacutefico eacute importante nos casos 2 3 e 4 mas parte destes tipos de conhecimento procedem do proacuteprio desenvolvimento tecnoloacutegico

bull A especificidade do conhecimento tecnoloacutegico Ainda que existam fortes paralelis-mos entre as teorias cientiacuteficas e as tecnoloacutegicas os pressupostos subjacentes satildeo di-ferentes Segundo Layton a tecnologia por sua proacutepria natureza eacute menos abstrata e idealizada que a ciecircncia

bull A dependecircncia da tecnologia das habilidades teacutecnicas A distinccedilatildeo entre a teacutecnica e a tecnologia se realiza em funccedilatildeo da conexatildeo desta uacuteltima com a ciecircncia (tanto em relaccedilatildeo com o conhecimento como com a metodologia o uso de ferramentas teoacutericas etc) Esta distinccedilatildeo natildeo implica que na tecnologia atual natildeo desempenhem nenhum papel as habilidades teacutecnicas

Outra maneira de categorizar a tecnologia eacute proposta por Osorio (2002) quando propotildee que a tecno-logia seja observada pelos enfoques instrumental cogntivo e sistecircmico

22 Para os que se interessem pelo aprofundamento das anaacutelises de Niiluoto sugerimos o texto de Acevedo (2006)

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SOBRE A TECNOLOGIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A TECNOLOGIA47

bull Enfoque instrumental caracteriza a tecnologia como ferramenta aparato mecanismo ou artefato construiacutedos com o intuito de cumprir tarefas Dessa forma a tecnologia nasce e morre na maacutequina no aparato ou no artefato

bull Enfoque cognitivo apresenta a tecnologia como resultado da ciecircncia sobre a teacutecnica bull Enfoque sistecircmico considera a tecnologia como um ente complexo e independente que

inclui materiais artefatos energia bem como os agentes que a transformam

Sobre este tipo de categorizaccedilatildeo da tecnologia podemos dizer lembrando Lissingen (2002) que o en-foque sistecircmico eacute aquele que permite por ver a tecnologia como praacutetica social perceber as delicadas e as vezes intensas relaccedilotildees entre os aspectos poliacuteticos econocircmicos sociais culturais e valorativos especialmente entre aqueles que produzem tecnologia que fomentam tecnologia que optam por usar tecnologia que sofrem os efeitos de uma tecnologia que natildeo optaram por usar e os que estatildeo privados do uso e das vantagens da tecnologia (mas recebem suas consequecircncias) O enfoque sistecirc-mico da tecnologia a nosso ver atende de forma mais ampla e mais densa a visatildeo CTS de tecnologia

Retomando a Bazzo Linsingen e Pereira (2003) veremos que os mesmos autores propotildeem que tecno-logia seja definida como um conjunto de sistemas projetados para realizar funccedilotildees incluindo desde os aparatos e artefatos ateacute as tecnologias como sistemas organizacionais Os mesmo autores chamam atenccedilatildeo para as aplicaccedilotildees e consequecircncias da tecnologia lembrando Radder (1996) e Pacey (1990)

Radder (1996 apud Bazzo Linsingen e Pereira 2003) enumera importantes caracteriacutesticas associa-das agrave tecnologia

bull Exequibilidade que lhe confere a possibilidade de realizaccedilatildeo ou de passar a existir no mundo real

bull Caraacuteter sistecircmico que inclui a rede de relaccedilotildees soacutecio-teacutecnicas que pode torna-la viaacutevelbull Heterogeneidade se os sistemas tecnoloacutegicos existem eles satildeo por si soacute diferenciadosbull Relaccedilatildeo com a Ciecircncia encara a relaccedilatildeo com a Ciecircncia como ampla e diversificada mas

natildeo acolhe a visatildeo ingecircnua de que tecnologia eacute ciecircncia aplicadabull Divisatildeo do trabalho Informa que existem relaccedilotildees de dependecircncia entre os diferentes

atores sociais envolvidos no sistema tecnoloacutegico Haacute os que desenvolvem os que produ-zem e os que utilizam tecnologia

Pacey (1990 apud Bazzo Linsingen e Pereira 2003) propotildee trecircs dimensotildees para a praacutetica tecnoloacute-gica

bull A dimensatildeo teacutecnica que envolve as teacutecnicas conhecimentos e maacutequinas que objetivam fazer com que as coisas funcionem

bull A dimensatildeo organizacional que relaciona os aspectos de poliacutetica puacuteblica e de gestatildeo agraves accedilotildees que caracterizam os produtores de tecnologia (engenheiros teacutecnicos gestores trabalhadores em geral) e usuaacuterios

bull A dimensatildeo culturalideoloacutegica que considera os valores as ideias e as atividades cria-doras

Bazzo Linsingen e Pereira (2003) ainda propotildeem abordagens de cunho mais filosoacutefica para a tecno-logia

bull Abordagem engenheiril eacute aquela que atende a visatildeo tradicional de tecnologia onde enge-nheiros e teacutecnicos tecircm a tarefa de produzir artefatos estruturas e sistemas tecno-loacutegicos Assemelha-se a categoria de Enfoque instrumental de Osorio (2002)

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SOBRE A TECNOLOGIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A TECNOLOGIA48

bull Abordagem humanista eacute aquela que atende a abrangecircncia da relaccedilatildeo entre tecnologia e sociedade tomando a tecnologia como tema para reflexatildeo interpretaccedilatildeo e criacutetica Aqui o controle sobre a natureza eacute relegado segundo plano e fica em evidecircncia a tecnologia como meio de desenvolvimento utilizaccedilatildeo e expansatildeo das capacidades humanas

bull Abordagem histoacuterico-filosoacutefica eacute aquela que introduz a questatildeo eacutetica e busca superar a dicotomia percebida entre as duas abordagens anteriores privilegiando a relaccedilatildeo entre os produtores de tecnologia e o puacuteblico e geral Aqui percebe a importacircncia da alfabe-tizaccedilatildeo tecnocientiacutefica

No que se refere agrave percepccedilatildeo de professores podemos recorrer aos estudos de Espiacutendola e Ricardo (2004) que pesquisaram o ensino da tecnologia na concepccedilatildeo dos professores das ciecircncias do niacutevel meacutedio e concluiacuteram que o conceito de Tecnologia se aproxima daquele que aponta a tecnologia como ciecircncia aplicada Os autores relembram Fourez (2003) quando este escreve que

A ideologia dominante dos professores eacute que as tecnologias satildeo aplicaccedilotildees das ciecircncias Quando as tecnologias satildeo assim apresentadas eacute como se uma vez compreendidas as ciecircn-cias as tecnologias seguissem automaticamente E isto apesar de que na maior parte do tempo a construccedilatildeo de uma tecnologia implica em consideraccedilotildees sociais econocircmicas e cul-turais que vatildeo muito aleacutem de uma aplicaccedilatildeo das ciecircncias A compreensatildeo desta implicaccedilatildeo do social na construccedilatildeo das tecnologias torna possiacutevel um estudo criacutetico destas como o fa-zem os trabalhos de avaliaccedilatildeo social das tecnologias Uma formaccedilatildeo para a negociaccedilatildeo com as tecnologias devem tornar os alunos capazes de analisar os efeitos organizacionais de uma tecnologia (Fourez 2003 p 10)

Em relaccedilatildeo a tecnologia entendida de uma forma holiacutestica podemos resgatar a proposta de Gutieacuterrez e Serna (2012)

1- Um conjunto de atividades humanas ou processos altamente sis-tematizados organi-zados e complexos que requerem conhecimentos teoacutericos igualmente complexos consti-tuindo uma teacutecnica teorizada cujo resultado satildeo entidades materiais e imateriais de alta sofisticaccedilatildeo 2- Processos e produtos que permitem a modificaccedilatildeo e transformaccedilatildeo radical e igualmente extensa da natureza ou entorno 3- Uma reconceitualizaccedilatildeo da natureza como uma coisa ou objeto suscetiacutevel de manipulaccedilatildeo e intervenccedilatildeo por parte de um sujeito inde-pendente da mesma (Gutieacuterrez and Serna 2012 p 80)

Veraszto et all (2013) pesquisaram as concepccedilotildees de tecnologia em graduandos do estado de Satildeo Paulo concluindo que a tecnologia eacute entendida como sendo intelectualista e sinocircnimo de ciecircncia instrumentalista neutra como um conhecimento praacutetico derivado do conhecimento teoacuterico cientiacute-fico e confundida com ciecircncia Para realizar a pesquisa apresentam o seguinte quadro de diferentes concepccedilotildees de tecnologia dando mostrar da diversidade de conceitos

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SOBRE A TECNOLOGIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A TECNOLOGIA49

Quadro 1 Resumo referenciado das diferentes concepccedilotildees acerca da tecnologia

Nordm Concepccedilatildeo de tecnologia Compreensatildeo do conceito Referecircncias

1 Intelectualista

Compreende a tecnologia como um conheci-mento praacutetico derivado diretamentedo desen-volvimento do conhecimento cientiacutefico atraveacutes de processos progressivos e acumulativos

Acevedo 1998 Acevedo Diacuteaz 19972001 Gonzaacutelez Garciacutea Loacutepez Cerezo Lujaacuten Loacute-pez 2000 Layton 1988 Osorio M 2002

2 Utilitarista

Considera a tecnologia como sendo sinocircnimo de teacutecnica Ou seja o processo envolvido em sua elaboraccedilatildeo natildeo temrelaccedilatildeo com a tecnolo-gia apenas a suafinalidade e utilizaccedilatildeo

Acevedo Diacuteaz 1997 Agazzi 1997 Bunge 1972 1986 apud Osorio M2002 Veraszto 2004

3Tecnologia como sinocircnimo de ciecircn-

cia

Encara a tecnologia como sendo Ciecircncia Na-tural e Matemaacutetica com as mesmas loacutegicas e mesmas formas de produccedilatildeo e concepccedilatildeo

Acevedo Diacuteaz 1997 2001 Hilst 1994 Martiacuten Gordillo 2001 Sancho 1998 Silva Barros Filho 2001 Valdeacutes et al2002

4Instrumentalista

(ou artefatual)

Considera a tecnologia como sendo simples ferramentas artefatos ou produtos geralmen-te sofisticados

Acevedo Diacuteaz 1997 2001 Gonzaacutelez Garciacutea Loacutepez Cerezo Lujaacuten Loacutepez 2000 Osorio M 2002 Lion 1997 Pacey 1983 Silva et al 2000 Silva Barros Filho 2001 Veraszto 2004

5 Neutralidade tec-noloacutegica

Compreende que a tecnologia natildeo eacute boa nem maacute Seu uso eacute que pode ser inadequado natildeo o artefato em si

Caacuteceres Goacutemez 2001 Dagnino 2007 Du-raacuten Carrera 2001 Gonzaacutelez Garciacutea Loacutepez Cerezo Lujaacuten Loacutepez2000 Osorio M 2002 Winner 2008

6

D e t e r m i n i s m o tecnoloacutegico

(tecnologia autocirc-noma

Considera a tecnologia como sendo autocircnoma autoevolutiva seguindo naturalmente sua proacute-pria ineacutercia e loacutegica de evoluccedilatildeo desprovida do controle dos seres humanos

Caacuteceres Goacutemez 2001 Dagnino 2007 Duraacuten Carrera 2001 Gonzaacutelez Garciacutea Loacutepez Cere-zo Lujaacuten Loacutepez2000 Osorio M 2002

7Universalidade

da tecnologia

Entende a tecnologia como sendo algo univer-sal um mesmo produto serviccedilo ou artefato po-deria surgir em qualquer local e consequente-mente ser uacutetil em qualquer contexto

Caacuteceres Goacutemez 2001 Martiacuten Gordillo Gon-zaacutelez Galbarte 2002

8Pessimismo

tecnoloacutegico

Considera a tecnologia como algo nocivo e pernicioso para a sustentabilidade do planeta responsaacutevel pela degradaccedilatildeo do meio e pelo alargamento das desigualdades sociais

Agazzi 1997 Barnett Morse 1977 Carranza 2001 Colombo Bazzo 2002 Corazza 1996 2004 2005 Meadows et al 1972

9Otimismo

tecnoloacutegico

Compreende a tecnologia como portadora de mecanismos capazes de assegurar o desenvol-vimento sustentaacutevel e sanar problemas am-bientais sociais e materiais

Agazzi 1997 Andrade 2004 Carranza 2001 Foray Gruumlbler 1996 Freeman 1996 Herre-ra 1994 World Commission on Environ-ment and Development 1987

10 Sociossistema

Considera que a tecnologia eacute determinada pela interaccedilatildeo de diferentes grupos atraveacutesde re-laccedilotildees sociais poliacuteticas econocircmicas ambien-tais culturais entre outras

Gonzaacutelez Garciacutea Loacutepez Cerezo Lujaacuten Loacute-pez 2000 Grinspun 2001 OsorioM 2002 Pacey 1983 Sancho 1998 Silva et al 2000

Fonte elaborado pelos autores a partir de Veraszto (2009)

Chrispino et al (2011) pesquisaram a concepccedilatildeo de tecnologia de professores e alunos do Rio de Ja-neiro usando o questionaacuterio COCTS por meio do conhecido PIEARCTS e colheram que professores e alunos acreditam ingenuamente na sua maioria que tecnologia eacute ciecircncia aplicada Silva (2012) tambeacutem por meio dos questionaacuterios COCTS aprofunda estas concepccedilotildees

32 Diferenccedila entre tecnologia e ciecircncia na atualidade

Ateacute aqui tentamos demonstrar que natildeo haacute um conceito ldquocorretordquo de Tecnologia assim como natildeo havia um conceito ldquocorretordquo de Ciecircncia visto que estes conceitos satildeo construiacutedos na interaccedilatildeo entre o ser e o meio em que se desenvolve Os conceitos de Ciecircncia e de Tecnologia podem ser diferentes para diferentes pessoas sem serem ldquoerradosrdquo visto que cada um pode construir socialmente seu en-tendimento

Buscamos apresentar as construccedilotildees das relaccedilotildees de Ciecircncia e de Tecnologia a fim de indicar o fato

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SOBRE A TECNOLOGIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A TECNOLOGIA50

de que a Tecnologia natildeo eacute simplesmente a aplicaccedilatildeo da Ciecircncia ou viceversa Que elas caminharam separadamente em alguns periacuteodos de nossa histoacuteria mas que agora possuem uma estreita relaccedilatildeo que permite que ambos os campos do conhecimento se ajudem Esta nova postura tem sido denomi-nada de tecnociecircncia

Vejamos o que nos diz Dyson (2001) sobre a origem comum de diferentes posiccedilotildees sobre a Ciecircncia e a Tecnologia ao narrar a produccedilatildeo de Peter Galison23 e de Thomaz Kuhn24 ambos formados em Fiacutesica e mais tarde produziram como historiadores da Ciecircncia Diz-nos Dyson que ambos exploraram em profundidade o processo de descoberta cientiacutefica na era moderna Galison com sua obra Image and logic (publicada em 1997) e Kuhn com sua obra A Estrutura das Revoluccedilotildees Cientiacuteficas lanccedilada 35 anos antes Escreve Dyson (2001 p 29-30)

Os dois estatildeo interessados na histoacuteria da fiacutesica e ambos dominaram os detalhes teacutecnicos da fiacutesica assim como o ofiacutecio erudito da historiografia Contudo eles tecircm visotildees totalmente diferentes da histoacuteria da ciecircncia Seus livros natildeo tecircm praticamente nada em comum O livro de Galison conteacutem centenas de imagens de aparelhos cientiacuteficos o de Kuhn soacute palavras Para Galison o processo de descoberta cientiacutefica eacute impulsionado por novas ferramentas para Kuhn por novos conceitos As duas concepccedilotildees satildeo verdadeiras e nenhuma delas eacute completa O progresso da ciecircncia requer tanto novos conceitos como novas ferramentasA diferenccedila entre Galison e Kuhn eacute basicamente uma diferenccedila de ecircnfase Kuhn enfatizava ideias e Galison enfatiza coisasInfelizmente a versatildeo da histoacuteria de Kuhn foi dominante durante trinta anos antes que a versatildeo de Galison aparecesse para restaurar o equiliacutebrio O livro de Kuhn tornou-se um claacutessico e deu a seus leitores natildeo cientistas uma visatildeo unilateral da ciecircncia Kuhn escreveu sobre as batalhas entre conceitos rivais e alguns de seus leitores ficaram com a impressatildeo de que a ciecircncia eacute em grande parte uma questatildeo subjetiva uma luta entre pontos de vista humanos conflitantes e natildeo uma luta objetiva entre precisatildeo das ferramentas e as ambiguumli-dades da natureza

Para concluir este toacutepico nada mais objetivo que o texto de Cachapuz Paixatildeo Lopes e Guerra (2008) que apresenta as ideias de Edgar Morin25 sobre o assunto

O que eacute seguro satildeo as ideias de Morin e Le Moigne (1999 p 33) de que hoje em dia a ciecircncia estaacute no centro da sociedade o conhecimento cientiacutefico e o conhecimento teacutecnico se estimu-lam reciprocamente de que eacute preciso distingui-los mas natildeo dissociaacute-los e de que o verdadeiro problema moral nasce da enormidade de poderes vindos da ciecircncia Como referem Cachapuz et al (2002 p33) ldquotemos de rever e aprofundar o diaacutelogo entre as vaacuterias ciecircncias que o car-tesianismo separourdquo e principalmente entre as ciecircncias da natureza e as ciecircncias sociais e humanas onde ldquoquase tudo estaacute por fazerrdquo O quadro CTS aponta exactamente para essa dire-cccedilatildeo de posicionamento face ao conhecimento e agrave acccedilatildeo que a ciecircncia e a tecnologia propor-cionam e implicam necessariamente num invoacutelucro epistemoloacutegico externalista (Cachapuz et al 2008)

Leia maisJoseacute Antonio Acevedo Diacuteaz Tres criterios para diferenciar entre Ciencia y Tecnologiacuteahttpwwwoeiessalactsiacevedo12htm Anaacutelisis de algunos criterios para diferenciar entre ciencia y tecnologia

23 Conheccedila mais em httpenwikipediaorgwikiPeter_Galison (em inglecircs)24 Conheccedila mais em httpptwikipediaorgwikiThomas_Kuhn 25 Conheccedila mais em httpedgarmorinsescsporgbr

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SOBRE A TECNOLOGIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A TECNOLOGIA51

Ensentildeanza de las Ciencias 1998 16 (3) 409-420 httpddduabespubensenanzadelasciencias02124521v16n3p409pdf

33 Impactos da tecnologia na sociedade

Esclarecidas as dificuldades conceituais em torno da Ciecircncia e da Tecnologia gostariacuteamos de trazer um novo item de discussatildeo o impacto das tecnologias na sociedade

Parece natildeo haver duacutevida de que a Sociedade moderna estaacute bastante ligada agrave Tecnologia Os haacutebitos e rotinas satildeo De tempos em tempos modificados de mais ou menos intensa de forma mais ou menos expliacutecita por influecircncia de aparatos tecnoloacutegicos que chegam e passam a ocupar os espaccedilos cotidia-nos tornando-se em tempo reduzido indispensaacuteveis ao dia-a-dia e aacutes relaccedilotildees sociais Foi (e ainda eacute) assim com o aparelho celular com o MP3 (e ateacute a hora do fechamento deste texto ainda estaacutevamos no MP4) etc Se sairmos agraves ruas hoje poderemos perceber o quanto o aparelho celular estaacute ligado a vida cotidiana Quem poderia imaginar tempos atraacutes que aquele aparelho grande pesado disforme caro sem nenhum atrativo maior no seu desenho fosse tornar-se o que eacute hoje

Conforme o aparelho de telefone celular foi se popularizando seu custo foi se reduzindo permitindo que um maior nuacutemero de pessoas de todas as faixas sociais pudessem se beneficiar dele Poderiacuteamos tambeacutem imaginar que foi o barateamento do custo que permitiu acesso massivo

O fato eacute que a Tecnologia pode influenciar de forma decisiva as pessoas as famiacutelias e a sociedade como um todo Freeman Dyson26 (2001) eacute um fiacutesico e matemaacutetico teoacuterico que em 1997 foi convidado a apre-sentar uma seacuterie de conferecircncias sobre histoacuterias da Ciecircncia na New York Public Library As conferecircn-cias se dirigiam a puacuteblico leigo natildeo-cientistas e em uma delas Dyson apresenta as 4 tecnologias que impactaram a sociedade trazendo a seu ver mais justiccedila social aleacutem das discussotildees sobre as chamadas tecnologias negativas Satildeo elas

bull A tecnologia da impressatildeo permitindo que um nuacutemero maior de pessoas tivesse acesso ao conhecimento acumulado antes restrito aqueles que tivessem acesso a educaccedilatildeo distribuiacute-da a pouco pelos mosteiros

bull As tecnologias de sauacutede puacuteblica (abastecimento de aacutegua limpa de tratamento de esgotos de vacinaccedilatildeo e de antibioacuteticos) que natildeo poderiam ficar restritas aos ricos visto que a conta-minaccedilatildeo do pobre por determinadas doenccedilas potildee em risco a chamada classe rica Diz-nos que ldquoem paiacuteses onde as tecnologias de sauacutede puacuteblica satildeo impostas por lei natildeo haacute grande diferenccedila de expectativa de vida entre ricos e pobresrdquo (p66-67) Esperemos que uma lei como esta seja promulgada no Brasil

bull A tecnologia dos aparelhos domeacutesticos que permitiu que um sem nuacutemero de pessoas deixasse as funccedilotildees de empregados domeacutesticos e migrassem para empregos que exigissem melhor e maior preparaccedilatildeo Por outro lado o surgimento de acordo com a longa anaacutelise de Dyson permitiu que as mulheres antes relegadas exclusivamente as funccedilotildees domeacutesticas pudessem almejar realizaccedilotildees fora do lar no campo do estudo do trabalho da participaccedilatildeo social etc

bull A tecnologia da mobilidade ascendente surgida com a bicicleta motorizada e que foi se aperfeiccediloando ateacute os meios de transporte de massa ou os automoacuteveis como os con-hecemos hoje

bull As chamadas tecnologias negativas satildeo as da cacircmara de gaacutes e de armas nucleares por exem-plo

26 Conheccedila mais em httpenwikipediaorgwikiFreeman_Dyson (em inglecircs) e httpsuperabrilcombrsuperarquivo2001conteudo_119120shtml

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SOBRE A TECNOLOGIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A TECNOLOGIA52

Nesta mesma conferecircncia Dyson relembra que em 1985 tambeacutem em uma decirc suas conferecircncias dessa vez na Escoacutecia27 apresentou uma lista com as mais importantes tecnologias para o seacuteculo XXI Eram elas engenharia geneacutetica inteligecircncia artificial e as viagens espaciais Passados mais de dez anos o autor faz uma autocriacutetica puacuteblica e reescreve a lista das tecnologias mais importan-tes para a sociedade sobre as quais desenvolve outra de suas conferecircncias Satildeo elas a engenharia geneacutetica o Sol e a internet

O que Dyson fez de forma brilhante ndash e noacutes reproduzimos de forma reduzida ndash foi fazer uma Anaacute-lise de Tecnologia fenocircmeno este que pode ser realizado com qualquer tecnologia Coates (1971 apud Bazzo Linsingen e Pereira 2003) faz esta anaacutelise de impacto com a televisatildeo Diz ele

bull Primeira ordem nova fonte de entretenimento e diversatildeo nos laresbull Segunda ordem mais tempo em casa deixa-se de ir a cafeacutes e bares onde se viam os

amigos

bull Terceira ordem os residentes de uma comunidade jaacute natildeo se encontram com tanta fre-quumlecircncia e deixa-se de depender dos demais para o tempo de lazer

bull Quarta ordem os membros de uma comunidade comeccedilam a ser estranhos entre si aparecem dificuldades para tratar os problemas comuns as pessoas comeccedilam a sentir maior solidatildeo

bull Quinta ordem isolados dos vizinhos os membros das famiacutelias comeccedilam a depender mais uns dos outros para a satisfaccedilatildeo de suas necessidades psicoloacutegicas

bull Sexta ordem As fortes demandas psicoloacutegicas dos companheiros geram frustraccedilotildees quando natildeo se cumprem as expectativas a separaccedilatildeo e o divoacutercio crescem

A Sociedade por sua vez tambeacutem pode produzir uma classificaccedilatildeo para as suas relaccedilotildees com a Tecnologia como bem apresenta Manzano (1997 apud SILVA 2003)

Posiccedilatildeo tecnoacutefoba baseia-se em manifestaccedilatildeo perniciosa relativa agrave indus-trializaccedilatildeo como a exploraccedilatildeo da matildeo-de-obra modelo de trabalho penoso e degradante perante o artesanal ou o agropecuaacuterio Incorpora fatores negativos dos desenvolvimentos cientiacutefico e tecnoloacutegico responsabilizando a desumanizaccedilatildeo do trabalho e do desemprego o de-sastre ecoloacutegico e a crise geral dos valores da sociedade moderna Alenta uma visatildeo apo-caliacuteptica do desastre ecoloacutegico e social os quais natildeo podem ser controlados nem mesmo pelo homem28

Posiccedilatildeo tecnoacutefila identificase com a confianccedila e bondade intriacutenseca na Ciecircncia com seu potencial esclarecedor e na Tecnologia com seu poder de resolver todos os problemas da humanidade exaltando os benefiacutecios do progresso com os avanccedilos da medicina agricul-tura e induacutestria podendo ser estendidos a toda a populaccedilatildeo Jaacute as consequecircncias negati-vas podem ser facilmente corrigidas

Posiccedilatildeo intermediaacuteria onde a Tecnologia pode ter simultaneamente efeitos positivos e negativos e que se deve procurar aumentar os primeiros em detrimento dos outros Esses aspectos dependem de como se utiliza e promove o uso de valores de acircmbito eacutetico e poliacute-

27 Publicadas no Brasil com o tiacutetulo ldquoInfinito em todas as direccedilotildeesrdquo28 A posiccedilatildeo tecnoacutefoba encontra sua base tambeacutem no Movimento Ludita que teve seu auge entre 1811 e 1816 Esse movimento ex-tremamente organizado e disciplinado tinha grande apoio pois a populaccedilatildeo se encontrava amargurada com as reduccedilotildees salariais exploraccedilatildeo infantil e supressatildeo das leis que protegiam os trabalhadores qualificados Todo esse descontentamento se expressou na destruiccedilatildeo de maacutequinas principalmente da induacutestria tecircxtil (Palacios et al 2001)

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SOBRE A TECNOLOGIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A TECNOLOGIA53

tico como por exemplo o movimento ecologista29

Quer parecer que natildeo eacute possiacutevel imaginar que exista neutralidade entre Tecnologia e Sociedade A Sociedade pode ser estudada tambeacutem pela maneira como se relaciona ndash ou se deixa influenciar ndash pela Tecnologia

Esta relaccedilatildeo pode ser estudada por diversos acircngulos Vamos aqui apresentar resumidamente as po-siccedilotildees de Castells30 (2007) e Echeverria (2000)

Escreve Castells (2007)

Devido a sua penetrabilidade em todas as esferas da atividade humana a revoluccedilatildeo da tec-nologia da informaccedilatildeo seraacute meu ponto inicial para analisar a complexidade da nova econo-mia sociedade e cultura em formaccedilatildeo Essa opccedilatildeo metodoloacutegica natildeo sugere que novas for-mas e processos sociais surgem em consequecircncia de transformaccedilatildeo tecnoloacutegica Eacute claro que a tecnologia natildeo determina a sociedade Nem a sociedade escreve o curso da transformaccedilatildeo tecnoloacutegica uma vez que muitos fatores inclusive criatividade e iniciativa empreendedora internotvecircm no processo de descoberta cientiacutefica inovaccedilatildeo tecnoloacutegica e aplicaccedilotildees sociais de forma que o resultado final depende de um complexo padratildeo interativo Na verdade o dilema do determinismo tecnoloacutegico eacute provavelmente um problema infundado dado que a tecnologia eacute a sociedade e a sociedade natildeo pode ser entendida ou representada sem suas ferramentas tecnoloacutegicas (p 43)

Essa posiccedilatildeo de Castells pode ser entendida como uma interdependecircncia da relaccedilatildeo tecnologia e sociedade Ocorre que como estaacute posto a tecnologia aqui estaacute reduzida a ferramentas aparatos ou objetos Como tal este conceito reduzido tambeacutem reduz as possibilidades de interaccedilatildeo como mi-nimiza suas potencialidades de imprimir mudanccedilas reciacuteprocas nesta relaccedilatildeo Para atendermos ao conceito ampliado que estamos trabalhando necessitamos considerar as observaccedilotildees de Castells mas adequando-as aos novos conceitos de tecnologia Para tal podemos buscar o auxiacutelio de Echeve-rria (2000)

Echeverria vai considerar que quando utilizar a expressatildeo lsquoaccedilotildees que transformam objetosrsquo estamos optando por uma antologia O autor lembra Quintanilla e informa que a ldquohistoacuteria da teacutecnica natildeo eacute soacute a histoacuteria dos artefatos ou dos conhecimentos teacutecnico mas sim toda a histoacuteria das accedilotildees e resultados produzidos graccedilas a elesrdquo e que ldquofilosofia da teacutecnica natildeo eacute soacute uma teoria do conhecimento teacutecnico mas tambeacutem uma accedilatildeo guiada por este conhecimentordquo Isso deixa claro que natildeo eacute possiacutevel reduzir a relaccedilatildeo tecnologia e sociedade a uma relaccedilatildeo baseada em artefatos visto que estes artefatos possuem uma histoacuteria socialmente construiacuteda e ao surgirem provocam uma re-estruturaccedilatildeo no meio social onde surgem provocando uma outra possiacutevel antologia objetos que transformam accedilotildees Ateacute aqui os pontos de vista dos autores satildeo proacuteximos

Uma diferenccedila mais acentuada eacute percebida quando passamos a considerar ldquoque essas accedilotildees teacutecnicas e em particular as accedilotildees telemaacuteticas natildeo soacute transformam objetos materiais como tambeacutem transfor-mam podem modificar relaccedilotildees e inclusive funccedilotildeesrdquo A antologia aqui precisa distinguir objetos relaccedilotildees e funccedilotildees e entendendo conceitos (e os valores consequentes destes conceitos) ldquocomo um

29 O ecologismo reconhece a irreversibilidade da civilizaccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica e propotildee de certo modo a busca de um novo equiliacutebrio dentro da relaccedilatildeo tecnologia-natureza dando relevacircncia ao estabelecimento de valores sociais e poliacuteticos que sirvam para a tomada de decisotildees sobre as opccedilotildees de desenvolvimento econocircmico e tecnoloacutegico30 Conheccedila mais em httpptwikipediaorgwikiManuel_Castells

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SOBRE A TECNOLOGIA MAS NAtildeO O QUE Eacute A TECNOLOGIA54

tipo particular de funccedilatildeordquo e se aproxima das antologias aplicaacuteveis a teorias de sistemas Ampliando o conceito de tecnologia e aplicando-o ao universo da teletecnologia percebemos que as accedilotildees tecno-loacutegicas modificam objetos modificam relaccedilotildees e possuem muacuteltiplas consequecircncias especialmente quando essas relaccedilotildees satildeo espaciais e temporais visto que interferem sobre maneira na interaccedilatildeo entre seres humanos e tambeacutem entre pessoas e objetos materiais

Logo a maneira como conceituamos tecnologia eacute de certa forma a maneira como desenhamos as possibilidadesnecessidades de atenccedilatildeo a construccedilatildeo social da tecnologia (e da ciecircncia) bem como da precauccedilatildeo que devemos ter quando olhando o futuro percebemos as possiacuteveis consequecircncia da tecnologia na sociedade

Conheccedila mais

Dyson Freeman O Sol o Genoma e a Internet ndash ferramentas das revoluccedilotildees cientiacuteficas Satildeo Paulo Companhia das Letras 2001

Wiebe Bijker (1995) Of Bicycles Bakelites and Bulbs Toward a Theory of Sociotechnical Change

Osorio Carlos La participacioacuten puacuteblica en sistemas tecnoloacutegicos Lecciones para la educacioacuten CTS Rev iberoam cienc tecnol soc Ciudad Autoacutenoma de Buenos Aires v 2 n 6 dic 2005 accedido en 02 sept 2014 Disponible en httpwwwscieloorgarscielophpscript=sci_arttextamppid=S1850-00132005000300009amplng=esampnrm=iso

Atividade Proposta para reflexatildeo

1 Reavalie a anaacutelise de tecnologia realizada por Coates datado de 1971 considerando as novas formas de tecnologia de televisatildeo maior nuacutemero de aparelhos por residecircncia maior nuacutemero de canais disponiacuteveis por residecircncia (TV por sateacutelite e TV a cabo) e an-tecipe a possibilidade de impacto social a partir da futura interaccedilatildeo entre espectador e ldquoTVrdquo

2 Veja o viacutedeo ldquoA TV destroacutei relacionamentosrdquohttpvideologuolcombrvideophpid=340211 ou httpwwwyoutubecomwatchv=I0-zVkQztQE

SOBRE A SOCIEDADE MAS NAtildeO O QUE Eacute A SOCIEDADE55

4 Sobre a Sociedade mas natildeo o que eacute a Sociedade

41 Introduccedilatildeo

A melhor maneira de iniciar um texto que pretende ser lido e estudado por pessoas com formaccedilotildees distintas e diferentes experiecircncias eacute definir a priori os conceitos chave Isso eacute o que se pretende com o tema Sociedade buscando conectaacute-lo aos dois anteriores Ciecircncia e Tecnologia

Eis que surge o primeiro problema quando se consulta o Dicionaacuterio de Ciecircncias Sociais no seu ver-bete Sociedadesociety

A Natildeo haacute ateacute agora uma definiccedilatildeo de sociedade que seja uacutenica e aceita de modo geral pois cada um dos trecircs usos mais comuns do termo refere-se a aspectos significativos da vida socialA1 Em sentido mais lato refere-se agrave totalidade das relaccedilotildees sociais entre as criaturas hu-manasA2 Cada agregado de seres humanos de ambos os sexos e de todas as idades unidos num grupo que se autoperpetua e possui suas proacuteprias instituiccedilotildees e cultura distintas em maior ou menor grau pode ser uma sociedade Eacute de se notar que na praacutetica os limites das socie-dades especificas baseiam-se nesse sentido frequumlentemente em fronteiras poliacuteticas pro-cedimento que gera problemas fundamentais quanto agraves relaccedilotildees entre Estado e sociedadeA3 Sociedade tambeacutem tem sido definida como as instituiccedilotildees e a cultura de um grupo de pessoas de ambos os sexos e todas as idades grupo esse inclusivo mais ou menos distinto e que se autoperpetua Existem convicccedilotildees oacutebvias entre a segunda e a terceira definiccedilotildees pois ambas se referem a duas premissas fundamentais e inter-relacionadas da pesquisa socioloacute-gica de que homens onde quer que estejam vivem em grupos e que seu comportamento eacute substancialmente afetado pelas normas e valores de que compartilham (CHINOY 1986 p1139-1140)

Se por um lado isso dificulta a construccedilatildeo do texto didaacutetico por outro fortalece a tese que estamos defendendo desde o iniacutecio de nosso estudo CTS a flexibilizaccedilatildeo dos conceitos de Ciecircncia e de Tec-nologia e a reflexatildeo em torno da ideia de que mais Ciecircncia e mais Tecnologia resultam objetivamente em progresso e bem-estar social

Para superarmos esta dificuldade conceitual aparente ndash digo aparente porque isso que pode parecer difiacutecil para as profissionais das chamadas ciecircncias exatas formados pelas ldquoescolas claacutessicasrdquo eacute uma constante para os profissionais das ditas ciecircncias sociais ndash precisamos estabelecer algumas premissas que nos permitam conectar o tema Sociedade com Ciecircncia e Tecnologia e construir nossa hipoacutetese de trabalho

A primeira eacute a flexibilizaccedilatildeo necessaacuteria da definiccedilatildeo de sociedade Antes esta definiccedilatildeo era estabele-cida por (1) fronteiras poliacuteticasgeograacuteficas e por (2) origens eacutetnicas e agora tambeacutem se define por sociedades estruturadas por (3) interesses e por (4) relacionamentos (MORSE 1998) Esta hipoacutetese de trabalho eacute importante por conta da funccedilatildeo da tecnologia no desenho e na manutenccedilatildeo destes mo-delos inovadores de sociedade

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A segunda eacute a natureza processual da Sociedade o que nos leva a necessidade de considerar que a anaacutelise deve ser realizada ao longo da linha do tempo conectando modelos passados com os mo-delos do presente e os possiacuteveis modelos prospectados para o futuro Sobre isso escreve Sztompka (1998 p 111s)

As sociedades humanas em todos os niacuteveis de sua complexidade interna mudam sem ces-sar Mudam no niacutevel macro da economia da poliacutetica e da cultura no niacutevel meso das comu-nidades grupos e organizaccedilotildees e no niacutevel micro das accedilotildees e interaccedilotildees individuais A socie-dade natildeo eacute uma entidade eacute um conjunto de processos interconectados de muacuteltiplos niacuteveis Segundo Edward Shils A sociedade eacute um fenocircmeno transtemporal Ela natildeo eacute constituiacuteda de sua existecircncia em um dado instante de tempo Ela soacute existe no decorrer do tempo A so-ciedade eacute temporalmente constituiacuteda (1981 327)A sociedade estaacute portanto em constante movimento do passado para o futuro O presente eacute apenas uma fase transitoacuteria entre o que aconteceu e o que estaacute por acontecer No estado presente da sociedade os efeitos vestiacutegios e traccedilos do passado coexistem com as sementes e potencialidades do futuro A natureza processual da sociedade implica fases anteriores ligadas por viacutenculos causais agrave fase presente por sua vez portadora das condiccedilotildees causais determinantes da fase seguinte

Estabelecidas estas ldquohipoacuteteses de trabalhordquo vamos avaliar os modelos de sociedade na histoacuteria do homem a partir de Tezanos Tortajada e Loacutepez Pelaacuteez (1997)

42 Desenvolvimento da sociedade Uma Tipologia geral

Haacute pelo menos duas maneiras de se avaliar a evoluccedilatildeo dos modelos de Sociedade

bull A primeira eacute utilizando-se das categorias didaacuteticas instituiacutedas pelos diversos teoacutericos sociais ao longo do tempo que se utilizaram de variaacuteveis e fatores proacuteprios (a partir de TEZANOS TORTAJADA e LOacutePEZ PELAacuteEZ 1997 p24-25) e

bull A segunda a partir de uma sequumlecircncia geral baacutesica de cinco tipos de sociedades (a partir de TEZANOS TORTAJADA e LOacutePEZ PELAacuteEZ 1997 p27)

Tabela 1 Principais tipologias e classificaccedilotildees da evoluccedilatildeo das sociedades

Autor Classificaccedilatildeo proposta Variaacuteveis baacutesicas consideradas

Contexto teoacuterico interpretativo Obra claacutessica

Adam Ferguson 31

(1793-1816)

bull Selvagembull Baacuterbarabull Civilizada

A divisatildeo do trabalho e a instituiccedilatildeo social da propriedade

Escola escocesa de Economia Poliacutetica

Um ensaio sobre a histoacuteria da socie-dade civil (1767)

Augusto Comte 32 (1798-1857)

bull Sociedade teoloacutegica de estrutura militar (propriedade e na exploraccedilatildeo do solo)bull Sociedade legista (distinccedilatildeo entre o po-der temporal e o poder espiritual)bull Sociedade industrial ou positivista

Os modelos e proce-dimentos do conheci-mento

Teoria das trecircs etapas

Fundaccedilatildeo da Sociologia

Discurso sobre o Espiacuterito Positivo (1844)

Lewis H Morgan 33

(1818-1881)

bull Selvagem (e 3 sub-periacuteodos)bull Barbaacuterie (e 3 sub-periacuteodos)bull Civilizaccedilatildeo

As progressivas aproxi-maccedilotildees da ciecircncia experi-mental (conhecimento e teacutecnicas para a sobre-vivecircncia)

Evolucionismo social La Sociedad Primi-tiva (1877)

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SOBRE A SOCIEDADE MAS NAtildeO O QUE Eacute A SOCIEDADE57

Karl Marx34

(1818-1883) e

Friedrich Engels35 (1820-1895)

Grandes sistemas de produccedilatildeobull Sistema antigo (escravagista)bull Sistema feudalbull Sistema despoacutetico-orientalbull Sistema capitalista (classista)

Tipologia histoacuterica de sociedadesbull A comunidade tribalbull A sociedade asiaacuteticabull A cidade antigabull A sociedade germacircnicabull A sociedade capitalista burguesabull A sociedade comunista sem classes

As relaccedilotildees de pro-duccedilatildeo

Os conflitos de classes

Materialismo dialeacutetico

Pensamento socialista

O Capital (Marx 1867-1894)

A origem da famiacute-lia da propriedade e do Estado (En-gels 1884)

Herbert Spencer 36

(1820-1903)

Primeira tipologiabull Sociedades simples (com vaacuterios subtipos segundo a forma de autoridade e suas carac-teriacutesticas nocircmades e sedentaacuteria) bull Sociedades duplamente compostas (se-dentaacuteria e com poderes estaacuteveis)bull Sociedades triplamente compostas (gran-des civilizaccedilotildees e sociedades industriais)

Segunda tipologiabull Sociedade militar bull Sociedade industrial

Grau de complexidade social (extensatildeo se-dentarismo sistema de poder e de autori-dade formas de inte-graccedilatildeo social divisatildeo do trabalho etc)

Evolucionismo

Analogia orgacircnica

Princiacutepios de So-ciologia (1876-1896)

Lewis Mumford37

(1895-1969)

bull Etapa anterior a apariccedilatildeo da teacutecnica bull Etapa teacutecnica (dividida em eoteacutecnica pa-leoteacutecnica e neoteacutecnica)

Emprego de diferen-tes teacutecnicas fontes de energia inventos recursos e mateacuterias primas

Evoluccedilatildeo social e evo-luccedilatildeo tecnoloacutegica

Teacutecnica y civiliza-cioacuten (1934)

Talcott Parsons38

(1902-1979)

bull Sociedades primitivas ou pouco diferen-ciadasbull Sociedades arcaicasbull Sociedades intermediaacuterias com escrita e religiatildeobull Sociedades modernas (universalistas com racionalidade formal etc)bull Sociedades ldquode sementesrdquo (Greacutecia anti-ga Israel)

Desenvolvimento cul-tural complexidade social diferenciaccedilatildeo e especializaccedilatildeo de funccedilotildees etc

Analise estrutural fun-cional Criacutetica do ldquohistoricismordquo e as explicaccedilotildees linea-res e universais

Sociedades Pers-pectivas Evolutivas e Comparativas (1966)

Tabela 2 Principais modelos de sociedades

Modelos de sociedade

Horizonte tem-poral

Formas de organizaccedilatildeo social predominante

Meios de sub-sistecircncia Principais tecnologias

Sociedades caccediladoras e co-letoras

Dos hominiacutedeos ateacute o homo sapiens (homo faber)

bull Tribos clatildes bandos grupos de caccedilabull Nomadismo bull A forma de organizaccedilatildeo social eacute a famiacutelia e o grupo de paren-tesco

CaccedilaColeta de vegetais em geral

bull Utensiacutelios de pedra e teacutecnica de caccedilabull Machados pontas de flechas e lanccedilas etc

Sociedades horticultoras

Iniacutecio da ldquorevoluccedilatildeo neoliacuteticardquo (11000 a a 10000 aC) ateacute o fi-nal do ultimo periacuteodo glacial

bull Aldeias e primeiros nuacutecleos urbanos significativosbull Sedentarismobull Desenvolvimento de formas de agrupamento social masculina mais ampla

Produtos de horta animais domeacutesticos etcProgressiva diver-sificaccedilatildeo de culti-vos (rotaccedilatildeo etc)

bull Paacutes enxadas Vasilhas teacutecnicas de cultivobull Primeiros metaisbull Energia muscular humana

31 Conheccedila mais em httpptwikipediaorgwikiAdam_Ferguson 32 Conheccedila mais em httpptwikipediaorgwikiAuguste_Comte 33 Conheccedila mais em httpwwwnetsabercombrbiografiasver_biografia_c_2510html e httpenwikipediaorgwikiLewis_H_Mor-gan (em inglecircs)34 Conheccedila mais em httpptwikipediaorgwikiKarl_Marx 35 Conheccedila mais em httpptwikipediaorgwikiFriedrich_Engels 36 Conheccedila mais em httpptwikipediaorgwikiHerbert_Spencer e httpvirtualbooksterracombrosmelhoresautoresbio-grafiasHerbert_Spencerhtm37 Conheccedila mais em httpptwikipediaorgwikiLewis_Mumford 38 Conheccedila mais em httpptwikipediaorgwikiTalcott_Parsons

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Sociedades agriacutecolas

4000 a 3000 anos aC

bull Grandes cidadesbull Grandes poderes poliacuteticosbull Impeacuterios

Cultivos em grande escala

bull Aradobull Desenvolvimento da metalurgiabull Roda e velabull Energia de animais eoacutelica e de aacutegua (moinhos)bull Sistema de irrigaccedilatildeobull Grandes obras puacuteblicas (templos pa-laacutecios piracircmides muralhas etc)

Sociedades industriais Seacuteculos XIX e XX Estado-Naccedilatildeo

Produccedilatildeo fabrilFabricaccedilatildeo de bens de consumo du-raacuteveis em grande escala

bull Maacutequinas bull Faacutebricasbull Energia eleacutetrica do gaacutes do carvatildeo (vapor) etcbull Novas tecnologias (mecanizaccedilatildeo fer-tilizantes inseticidas etc)

S o c i e d a d e s t e c n o l oacute g i c a s avanccediladas

Final do Seacutecu-lo XX e seacuteculo XXI

Internacionalizaccedilatildeo e coorde-naccedilatildeo supraestatalMundializaccedilatildeo da economia

Produccedilatildeo de mer-cadorias e produ-tos cada vez mais sofisticadosPrestaccedilatildeo de ser-viccedilosImportacircncia cres-cente do oacutecio

bull Robocircs industriaisbull Sistemas automaacuteticos de trabalhobull Revoluccedilatildeo microeletrocircnica microbio-loacutegica e novas fontes de energiabull Organizaccedilatildeo flexiacutevel da produccedilatildeo

421 Sociedades Algumas tipologias tecnocientiacutefico

Como foi possiacutevel perceber no estudo das duas tabelas anteriores a tipologia de sociedades ocorre a partir de padrotildees de anaacutelise externos Cada um dos estudiosos citados estudos a evoluccedilatildeo das so-ciedades utilizando-se de criteacuterios especiacuteficos permitindo-nos uma complexa gama de estudos que antes de se contradizerem se completam

Podemos fazer o mesmo exerciacutecio de anaacutelise das sociedades utilizando-nos de criteacuterios que se apoacuteiem em princiacutepios da Ciecircncia e da Tecnologia ou melhor da Tecnociecircncia Para isso escolhe-remos os textos de Peter Drucker (1996) Lewis Mumford (apud Bazzo Linsingen e Pereira 2003 e Martin Gordillo 2001) Javier Echeverriacutea (1999) e Ferreira (2010)

Peter Drucker (1996) em sua obra A Sociedade Poacutes-capitalista explora a evoluccedilatildeo dos modelos de sociedade a partir de conquistas marcadas por aparatos tecnoloacutegicos e chega a proposta de estabele-cimento da Sociedade do Conhecimento Para ele

A cada dois ou trecircs seacuteculos ocorre na histoacuteria ocidental uma grande transformaccedilatildeo Cruza-mos aquilo que chamei de divisor em um livro anterior Em poucas deacutecadas sociedade se reorganiza - sua visatildeo do mundo seus valores baacutesicos sua estrutura social e poliacutetica suas artes suas instituiccedilotildees mais importantes Depois de cinquumlenta anos existe um novo mundo E as pessoas nascidas nele natildeo conseguem imaginar o mundo em que seus avoacutes viviam e no qual nasceram seus pais Estamos atualmente atravessando uma dessas transformaccedilotildees Ela estaacute criando a sociedade poacutes-capitalista que eacute o assunto deste livroUma dessas transformaccedilotildees ocorreu no seacuteculo XIII quando o mundo europeu quase da noite para o dia passou a centralizarse na nova cidade - com a emergecircncia das guildas mu-nicipais como grupos sociais dominantes e o renascimento do comeacutercio a grandes distacircn-cias com a arquitetura goacutetica eminentemente urbana e praticamente burguesa e os novos pintores de Siena com a mudanccedila para Aristoacuteteles como a fonte da sabedoria e as universi-dades urbanas substituindo os monasteacuterios e seu isolamento rural como centros de cultura com as novas ordens religiosas urbanas os dominicanos e franciscanos emergindo como carreiras de religiatildeo aprendizado e espiritualidade e em poucas deacutecadas com a mudanccedila

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do latim para o vernaacuteculo e a criaccedilatildeo por Dante da literatura europeacuteiaDuzentos anos depois a transformaccedilatildeo seguinte teve lugar nos ses-senta anos entre a in-venccedilatildeo da imprensa por Gutenberg em 1455 e a Reforma Protestante de Lutero em 1517 Foram as deacutecadas em que floresceu o Renascimento com seu apogeu entre 1470 e 1500 em Florenccedila e Veneza do redescobrimento da antiguidade e da descoberta da Ameacuterica pelos europeus da Infantaria Espanhola o primeiro exeacutercito regular desde as legiotildees romanas da redescoberta da anatomia e com ela da pesquisa cientiacutefica e da adoccedilatildeo generalizada dos algarismos aacuterabes pelo ocidente E mais uma vez ningueacutem que vivesse em 1520 consegui-ria imaginar como era o mundo em que seus avoacutes tinham vivido e no qual seus pais tinham nascidoA transformaccedilatildeo seguinte comeccedilou em 1776 - o ano da Revoluccedilatildeo Americana do aper-feiccediloamento do motor a vapor por James Watt e da publicaccedilatildeo de A Riqueza das Naccedilotildees de Adam Smith Ela terminou quase quarenta anos depois em Waterloo - quarenta anos durante os quais nasceram todos os ismos modernos O capitalismo o comunismo e a Re-voluccedilatildeo Industrial surgiram durante essas deacutecadas que tambeacutem viram a criaccedilatildeo - em 1809 - da universidade moderna (Berlim) e do ensino universal Essas quatro deacutecadas trouxeram a emancipaccedilatildeo dos judeus - em 1815 os Rothschild haviam adquirido um grande poder fazen-do sombra a reis e priacutencipes Na verdade esses quarenta anos produziram uma nova civili-zaccedilatildeo europeacuteia Mais uma vez ningueacutem que vivesse em 1820 poderia imaginar o mundo dos seus avoacutes e no qual seus pais haviam nascidoNosso periacuteodo duzentos anos depois eacute um desses periacuteodos de transformaccedilatildeo Entretanto desta vez a transformaccedilatildeo natildeo se limita agrave sociedade e agrave histoacuteria ocidentais Na verdade uma das mudanccedilas fundamentais eacute que natildeo existe mais uma histoacuteria ou uma civilizaccedilatildeo ociden-tal mas sim uma histoacuteria e uma civilizaccedilatildeo mundiais- mas ambas satildeo ocidentalizadas Eacute discutiacutevel se a presente transformaccedilatildeo comeccedilou com a emergecircncia do primeiro paiacutes natildeo-ocidental o Japatildeo como grande potecircncia econocircmica - isto eacute por volta de 1960 - ou com o computador isto eacute com a informaccedilatildeo passando a ser fundamental Minha candidata seria a Declaraccedilatildeo de Direitos dos Combatentes Americanos depois da Segunda Guerra Mundial que deu a cada soldado americano que voltou o dinheiro para que ele frequumlentasse uma universidade - fato que natildeo teria feito nenhum sentido apenas trinta anos antes no final da Primeira Guerra Mundial A Declaraccedilatildeo de Direitos dos Combatentes - e a resposta en-tusiaacutestica por parte dos veteranos americanos - assinalaram mudanccedila para a sociedade do conhecimento Os futuros historiadores poderatildeo consideraacute-la o fato mais importante do seacuteculo vinteAinda estamos claramente no meio dessa transformaccedilatildeo na verdade se a histoacuteria servir de guia ela natildeo estaraacute concluiacuteda ateacute 2010 ou 2020 Mas jaacute mudou o cenaacuterio poliacutetico econocircmi-co social e moral do mundo Ningueacutem nascido em 1990 poderaacute imaginar o mundo em que seus avoacutes (isto eacute minha geraccedilatildeo) cresceram ou o mundo em que nasceram seus pais A primeira tentativa bem-sucedida para compreender os fatos iniciados em 1455 que trans-formaram a Idade Meacutedia e o Renascimento no mundo moderno foi feita somente cinquumlenta anos depois com os Comentaacuterios de Copeacuternico escritos entre 1510 e 1514 com O Priacutencipe de Maquiavel escrito em 1513 com a siacutentese por Michelangelo de toda a arte renascentista no teto da Capela Sistina pintado entre1508 e 1512 e com o restabelecimento da Igreja Catoacuteli-ca no Conciacutelio de Trento por volta de 1540A transformaccedilatildeo seguinte - que ocorreu haacute cerca de duzentos anos e foi anunciada pela Revoluccedilatildeo Americana - soacute foi ser compreendida e analisada sessenta anos depois nos dois volumes de Democracia na Ameacuterica de Alexis de Tocqueville publicados respectivamente em 1835 e 1840

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SOBRE A SOCIEDADE MAS NAtildeO O QUE Eacute A SOCIEDADE60

Jaacute avanccedilamos o suficiente na nova sociedade poacutes-capitalista para rever e revisar a histoacuteria social poliacutetica e econocircmica da Idade do Capitalismo e da naccedilatildeo-estado Assim este livro iraacute reexaminar o periacuteodo que estamos deixando para traacutes e deste novo ponto de observaccedilatildeo algumas coisas que veremos poderatildeo nos surpreender (como aconteceu comigo)Entretanto ainda eacute arriscado prever como seraacute o mundo poacutes-capitalista Mas acredito que podemos descobrir com algum grau de probabilidade que novas perguntas seratildeo levantadas e onde estaratildeo as grandes questotildees Em muitas aacutereas tambeacutem podemos descrever o que natildeo daraacute certo As respostas agrave maior parte das perguntas ainda estatildeo ocultas no interior do futuro A uacutenica coisa da qual podemos ter certeza eacute que o mundo que iraacute emergir do atual rearranjo de valores crenccedilas estruturas econocircmicas e sociais de conceitos e sistemas poliacuteticos de visotildees mundiais seraacute diferente daquilo que qualquer um imagina hoje Em al-gumas aacutereas - em especial na sociedade e em sua estrutura - jaacute ocorreram mudanccedilas baacutesicas Eacute praticamente certo que a nova sociedade seraacute natildeo-socialista e Poacutes-capitalista E tambeacutem eacute certo que seu principal recurso seraacute o conhecimento Isso tambeacutem significa que ela de-veraacute ser uma sociedade de organizaccedilotildees Em poliacutetica jaacute deixamos os quatrocentos anos de soberania da naccedilatildeo-estado para um pluralismo no qual a naccedilatildeo-estado natildeo mais seraacute a uacutenica unidade de integraccedilatildeo poliacutetica Ela seraacute um componente - embora ainda importante - daquilo que chamo de forma de governo poacutes-capitalista um sistema no qual competem e coexistem estruturas transnacionais regionais de naccedilotildees-estados e ateacute mesmo tribaisEssas coisas jaacute aconteceram portanto podem ser descritas E descrevecirc-las eacute a finalidade deste livro

Lewis Mumford em sua obra Teacutecnica y Civilizacioacuten (1934) apresenta as mudanccedilas que a maacute-quina introduziu nas formas da civilizaccedilatildeo ocidental permitindo-nos mais uma vez estabelecer uma ana-logia entre as mudanccedilas e a tipologia das sociedades desta vez considerando o desenvolvimento tecnoloacutegico O autor apresenta trecircs tipos de sociedades (Bazzo Linsingen e Pereira 2003 p 94-99)

bull A fase eoteacutecnica As teacutecnicas que permitem definir a sociedade eoteacutecnica satildeo as que aproveitam a aacutegua e a madeira O periacuteodo de desenvolvimento dessa etapa se estende aproximadamente desde o ano 1000 ateacute 1750 Na sociedade eoteacutecnica diminui a importacircncia que os seres humanos tinham tido como fonte de energia e aumenta o uso da energia proveniente do cavalo graccedilas ao seu melhor aproveitamento mediante duas novas peccedilas a ferradura e a moderna forma de arreios com a qual a traccedilatildeo se realiza a partir dos ombros e natildeo do pescoccedilo O maior progresso teacutecnico do ponto de vista energeacutetico se deu em regiotildees que tinham abundantes fontes de aacutegua e de vento graccedilas agrave apariccedilatildeo de rodas e moinhos hidraacuteulicos e de vento que permitiram uma melhora substancial em seu aproveitamentoJunto a estas fontes de energia a madeira era o material universal da sociedade eo-teacutecnica todas as construccedilotildees utilizavam madeira em sua estrutura e de madeira eram tambeacutem as ferramentas utilizadas na construccedilatildeo Inclusive a maior parte das maacutequinas e invenccedilotildees-chave da idade industrial se desenvolveram em madeira antes de serem trabalhadas em metal Apesar dessa utilizaccedilatildeo intensa Mumford considera que o que propiciou a destruiccedilatildeo da mata na eacutepoca foi o uso intensivo da madeira na mineraccedilatildeo na forja e na fundiccedilatildeo Outro dos materiais desse periacuteodo eacute o vidro cuja contribuiccedilatildeo agrave so-ciedade da eacutepoca foi muito importante Mudou a vida no interior das casas mediante seu uso em recipientes e sobretudo em janelas ampliou a visatildeo por meio das lentes em oacuteculos telescoacutepios e microscoacutepios e foi um fator essencial no desenvolvimento da quiacute-mica e no aperfeiccediloamento dos espelhos

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SOBRE A SOCIEDADE MAS NAtildeO O QUE Eacute A SOCIEDADE61

Satildeo muitos os inventos caracteriacutesticos da sociedade eoteacutecnica Talvez o mais importan-te seja o meacutetodo experimental da ciecircncia que Mumford considera a maior realizaccedilatildeo na fase eoteacutecnica A principal inovaccedilatildeo mecacircnica dessa eacutepoca eacute o reloacutegio mecacircnico segui-do embora natildeo em importacircncia da imprensa acompanhada pelo papel a cuja produccedilatildeo foi aplicada a maquinaria movida por energia mecacircnica Ele tambeacutem faz referecircncia a invenccedilotildees sociais dessa civilizaccedilatildeo como a universidade e a faacutebrica

bull A sociedade paleoteacutecnica A sociedade paleoteacutecnica teria seu iniacutecio por volta de 1700 e seu auge teria se produzido entre 1870 e 1900 sendo esta uacuteltima data coincidente com o iniacutecio de um movimento de decadecircncia Nesta etapa a sociedade abandonou seus va-lores vitais e passou a centrar-se somente nos valores pecuniaacuterios As mudanccedilas nesses valores foram motivadas pela introduccedilatildeo do carvatildeo como fonte de energia mecacircnica Essa nova fonte de energia tornou-se efetiva mediante novos meios como a maacutequina a vapor e tambeacutem foi utilizada nos novos meacutetodos de fundir e trabalhar o ferro A nova sociedade eacute pois um produto do carvatildeo e do ferroEm torno de 1780 cristaliza-se o modelo paleoteacutecnico que se pode ver em uma seacuterie de inventos e artefatos teacutecnicos o carro a vapor de Murdock o forno de reverbero de Cort o barco de ferro de Wilkinson o tear mecacircnico de Cartwright e os barcos a vapor de Jouffroy e de Fitch Realizaccedilotildees tiacutepicas da sociedade paleoteacutecnica satildeo a ponte e o barco de ferro A construccedilatildeo de estruturas de ferro como o Crystal Palace os primeiros arranha-ceacuteus a torre Eiffel etc converteram o ferro em material universal A induacutestria militar fez um amplo uso dele Eacute tambeacutem um periacuteodo em que a sociedade se dedica a uma sistemaacutetica destruiccedilatildeo do meio ambiente Eacute a sociedade da poluiccedilatildeo do ar e da con-taminaccedilatildeo das aacuteguas ()Junto a isso Mumford assinala que se produziu a passagem de tecnologias democraacute-ticas para outras mais autoritaacuterias enquanto a energia do vento e da aacutegua proacuteprias da fase eoteacutecnica eram graacutetis o carvatildeo era caro e a maacutequina a vapor custosa de modo que tendia agrave concentraccedilatildeo e ao monopoacutelio A sociedade paleoteacutecnica se desenvolveu como uma sociedade auto-suficiente o que soacute foi possiacutevel com o estabelecimento desde o seacuteculo XVIII da noccedilatildeo de progresso Considerava-se evidente a existecircncia de leis do progresso que se refletiam nas contiacutenuas invenccedilotildees de maacutequinas de novas comodida-des etc ()Deve se dizer que houve resistecircncias a tudo isso natildeo soacute individuais (Ruskin Nietzsche Melvillehellip) mas tambeacutem coletivas como as que se propocircs o movimento ludista -sobre os luditas veja-se o capiacutetulo O que eacute tecnologia e Noble 1995 A introduccedilatildeo da maacutequina nessa fase teve outra importante consequecircncia social a divisatildeo do mundo em zonas de produccedilatildeo de maacutequinas e zonas de produccedilatildeo de alimentos e mateacuterias-primas o que se-gundo Mumford trouxe consequecircncias nefastas que serviram de motivo para a Guerra Civil Americana ao provocar a queda no consumo de algodatildeo que reduziu os habitan-tes de Lancashire agrave extrema pobreza

bull A fase neoteacutecnica Mumford considera que na sociedade dessa eacutepoca haacute uma ruptura com o periacuteodo paleoteacutecnico e em certo sentido um retorno a algumas caracteriacutesticas da sociedade eoteacutecnica Eacute difiacutecil defini-la como um periacuteodo determinado posto que ain-da estamos imersos nela Tampouco foi produzida uma ruptura com o periacuteodo paleo-teacutecnico como a que este realizou com relaccedilatildeo ao eoteacutecnicoMumford fixa os comeccedilos da fase neoteacutecnica no momento em que os geradores de ener-gia tornam-se mais eficientes por volta de 1832 Em 1850 grande parte das descobertas fundamentais dessa nova fase jaacute haviam sido produzidas a pilha eleacutetrica a bateria o diacute-

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namo o motor a lacircmpada eleacutetrica o espectroscoacutepio a teoria da conservaccedilatildeo da energia Entre 1875 e 1900 jaacute se haviam aplicado esses inventos aos procedimentos industriais a central eleacutetrica o telefone Outras invenccedilotildees caracteriacutesticas do periacuteodo foram esboccedila-das ou completadas ateacute 1900 o fonoacutegrafo o cinematoacutegrafo o motor a gasolina a turbina a vapor o aviatildeohellipA fase neoteacutecnica esteve marcada desde o comeccedilo por uma nova forma de energia a eleacutetrica A eletricidade que diferentemente do carvatildeo podia proceder de vaacuterias fontes - o proacuteprio carvatildeo a correnteza de um rio as quedas daacutegua as mareacutes - mudou tambeacutem a possiacutevel distribuiccedilatildeo da induacutestria moderna no mundo posto que essa induacutestria jaacute natildeo tinha porque situarse na Europa ou nos Estados Unidos potecircncias dominantes por seu controle do carvatildeo e do ferroA eletricidade ao contraacuterio do carvatildeo eacute muito faacutecil de ser transferida sem grandes per-das de energia e sem custos excessivos Ademais eacute facilmente convertiacutevel de vaacuterias ma-neiras com o motor pode-se realizar um trabalho mecacircnico com a lacircmpada iluminar com o radiador1 aquecer etc O uso da eletricidade permitiu a sobrevivecircncia das peque-nas oficinas frente agraves grandes faacutebricas caracteriacutesticas da sociedade paleoteacutecnica Natildeo obstante isso natildeo impediu a concentraccedilatildeo de empresas que eacute mais um fenocircmeno que responde a interesses dos empresaacuterios ou ao setor financeiro que a puros condicionan-tes teacutecnicosOs materiais caracteriacutesticos desse periacuteodo satildeo as novas ligas as terras raras e os metais mais leves - cobre alumiacutenio Aparecem tambeacutem novos materiais sinteacuteticos celulose vulcanite baquelite e resinas sinteacuteticasA sociedade neoteacutecnica comeccedila a transformar radicalmente seus sistemas de comuni-caccedilatildeo o que constitui uma caracteriacutestica destacada do periacuteodo O teleacutegrafo o telefone e a televisatildeo - recordemos o que Mumford escrevia em 1934 - provocaram contatos mais numerosos instantacircneos e a longas distacircncias No entanto Mumford era bastante criacute-tico com esses artefatos Enfrentamo-nos aqui com uma forma ampliada de um perigo comum a todos os inven-tos uma tendecircncia a usaacute-los exija ou natildeo a ocasiatildeo Assim nossos avoacutes utilizavam cha-pas de ferro para as fachadas dos edifiacutecios apesar do fato de ser o ferro um conhecido condutor de calor [hellip] Eliminar as restriccedilotildees no estreito contato humano [que era o que propiciavam esses novos inventos para a telecomunicaccedilatildeo] foi em suas primeiras eta-pas tatildeo perigoso como a avalancha de populaccedilotildees em direccedilatildeo agraves novas terras aumentou as zonas de fricccedilatildeo Da mesma maneira mobilizou e acelerou as reaccedilotildees das massas como as que ocorrem em veacutesperas de uma guerra e incrementou os perigos de conflito internacionalApesar dessa visatildeo que alguns poderiam considerar excessivamente pessimista Mumford vecirc na sociedade neoteacutecnica uma mudanccedila com respeito agrave atitude que a so-ciedade paleoteacutecnica tinha sobre o entorno sobre o meio ambiente Na fase neoteacutecnica haacute uma maior preocupaccedilatildeo com a conservaccedilatildeo do ambiente natural Darwin e outros haviam posto a descoberto a inter-relaccedilatildeo existente no meio natural entre geologia cli-ma solo plantas animais bacteacuterias etc Mumford cita como exemplo a obra de George Perkins Marsh que jaacute em 1866 havia alertado sobre os perigos da destruiccedilatildeo de morros e do solo em sua obra ldquoO homem e a naturezardquoA fase neoteacutecnica tambeacutem ocasionou agrave sociedade um controle mais preciso da repro-duccedilatildeo humana A extensatildeo de meacutetodos anticoncepcionais e um melhor conhecimento

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da sexualidade humana foram elementos fundamentais na transformaccedilatildeo das relaccedilotildees entre os sexos e na proacutepria demografiaMumford conclui dizendo que

Cada uma das fases da civilizaccedilatildeo da maacutequina deixou seus frutos na sociedade Cada uma mudou sua paisagem alterou o plano fiacutesico das cidades utilizou certos dis-cursos e desprezou outros favoreceu certos tipos de comodidade e certas sendas de atividade e modificou a heranccedila teacutecnica comum [hellip] Chamar a essa complicada heranccedila de Idade da Energia ou Idade da Maacutequina oculta muito do que se potildee em re-levo Se a maacutequina parece dominar a vida de hoje eacute soacute porque a sociedade estaacute mais desorganizada do que estava no seacuteculo XVII

Atividade de auto-avaliaccedilatildeo impacto da tecnologia na sociedade

Mumford escreve que houve uma grande variaccedilatildeo de valores na fase paleoteacutecnica Escreva utilizan-do-se de apenas uma lauda nos padrotildees jaacute indicados como o carvatildeo e a economia do carvatildeo podem ter produzido este impacto

Javier Echeverriacutea em sua obra ldquoLos sentildeores del aire Teleacutepolis y El tercer entornordquo (1999) apresentou as relaccedilotildees entre sociedade e tecnologia sob a oacutetica das tecnologias telemaacuteticas oferecendo-nos seus trecircs entornos sendo que cada um deles se apresenta como uma tipologia social

bull Primeiro entorno (E1) O meio caracteriacutestico eacute o natural e nele vivem as sociedades mantidas pelas culturas de subsistecircncia - sedentaacuterias ou nocirc-mades - baseadas na caccedila na agricultura na pesca na pecuaacuteria ou nos recursos naturais Neste primeiro entorno soacute se percebe como existente o que estaacute presente fisicamente e agrave curta distacircncia Essa presenccedila fiacutesica e proacutexima eacute simultacircnea agrave nossa proacutepria presenccedila fiacutesicaAs formas proacuteprias ou caracteriacutesticas deste primeiro entorno satildeo o corpo humano o clatilde a tribo a famiacutelia a cabana o curral a casa o tuacutemulo a aldeia o trabalho a troca a propriedade a liacutengua falada a agricultura a pecuaacuteria os ritos os lugares sagrados as divindadeshellip

bull Segundo entorno (E2) O meio caracteriacutestico eacute o cultural social e urbano isto eacute uma sobrenatureza produzida graccedilas agrave teacutecnica e agrave induacutestria As relaccedilotildees humanas que se datildeo nas sociedades deste tipo satildeo as proacuteprias das relaccedilotildees urbanas e o acircmbito das relaccedilotildees se amplia nos conceitos de comarcas territoacuterios paiacuteses etc Nas sociedades deste se-gundo entorno foram-se instituindo distintas formas de poder que natildeo existiam em E1 como o religioso o militar o poliacutetico o econocircmico etc Posto que o desenvolvimento deste segundo entorno natildeo significa o desaparecimento do primeiro produzem-se con-flitos e tensotildees entre as formas proacuteprias de cada um deles Satildeo formas proacuteprias de E2 a vestimenta a famiacutelia a pessoa o indiviacuteduo o mercado a oficina a empresa a induacutestria o dinheiro os bancos as escolas os cemiteacuterios a escrita as ciecircncias as maacutequinas a jus-ticcedila a cidade a naccedilatildeo o Estado as Igrejashellip Assim nas sociedades do segundo entorno o corpo estaacute recoberto por uma sobrenatureza - roupa sapatos chapeacuteu tatuagens ma-quiagens brincos oacuteculoshellip - que foi produzida graccedilas agrave teacutecnica e agrave induacutestria

bull No terceiro entorno (E3) Esta nova forma de sobrenatureza depende em grande parte de uma seacuterie de inovaccedilotildees tecnoloacutegicas Conforme surjam novos avanccedilos tecnocientiacute-ficos as propriedades do terceiro entorno iratildeo se modificando por ser um espaccedilo basi-camente artificial [hellip]E3 eacute possibilitado por uma seacuterie de tecnologias entre as quais mencionaremos sete o

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telefone o raacutedio a televisatildeo o dinheiro eletrocircnico as redes telemaacuteticas a multimiacutedia e o hipertexto A construccedilatildeo e o funcionamento de cada um destes artefatos pressupotildeem numerosos conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos - eletricidade eletrocircnica informaacute-tica transistorizaccedilatildeo digitalizaccedilatildeo oacutetica compactaccedilatildeo criptologia etc- motivo pelo qual conveacutem destacar que a construccedilatildeo do terceiro entorno soacute comeccedilou a ser possiacutevel para os seres humanos apoacutes numerosos avanccedilos cientiacuteficos e teacutecnicos O terceiro entor-no eacute um dos resultados da tecnociecircncia e por isso emergiu naqueles paiacuteses que conse-guiram um maior avanccedilo tecnocientiacutefico sobretudo nos EUA onde se descobriram ou pelo menos se implementaram e difundiram quase todos esses avanccedilos tecnocientiacutefi-cos

()

Sobre a obra de Echeverria Bazzo Linsingen e Pereira (2003) complementam dizendo

Segundo o autor em E3 se estaacute produzindo o que se chama uma situaccedilatildeo neofeudal onde alguns senhores os senhores do ar - que datildeo tiacutetulo a uma de suas obras sobre o tema - controlam em uma relaccedilatildeo proacutexima a vassalagem agraves pessoas dependentes e submetidas agrave sua tecnologia Satildeo senhores do ar posto que seu poder natildeo se encontra no territoacuterio ou no espaccedilo fiacutesico proacuteximo como ocorria em E1 e E2 mas se assenta nos sateacutelites nas redes de comunicaccedilatildeo nos servidores informaacuteticos etc (p103)

Conheccedila mais

Ouccedila a entrevista de Javier Echeverriacutea sobre o E3 em httpportaleducarnoticiasactualidad-educarjavier-echeverria-en-educarphp

Ferreira (2010) em sua dissertaccedilatildeo sintetiza a ideia de paradigma tecnoeconocircmico a partir da re-flexatildeo de uma seacuterie de outros autores O paradigma tecnoeconocircmico se caracteriza como a

combinaccedilatildeo de inovaccedilotildees de produto teacutecnicas organizacionais e administrativas capazes de abrir oportunidades de investimento e lucro Verificase que aleacutem dos fatores teacutecnicos este conceito abrange tambeacutem os fatores institucionais Cada paradigma tecnoeconocircmico possui um conjunto especiacutefico de fatores-chave e induacutestrias-chave propulsores do cresci-mento econocircmico e as formas de organizaccedilatildeo industrial e de competiccedilatildeo tambeacutem se alte-ram

O quadro a seguir indica os periacuteodos histoacutericos que foram marcados por acontecimentos tecnoloacute-gicos redundando em induacutestrias especiacuteficas fatores que favorecem o chamado progresso naquele periacuteodo e o tipo de organizaccedilatildeo industrial favorecida A nosso ver eacute possiacutevel ainda avaliar estes itens combinados considerando os impactos sociais

Por tal eacute possiacutevel imaginar que os paradigmas tecnocientiacuteficos desenham modelos de sociedades de forma direta ou por acomodaccedilatildeo Vejamos o que nos apresenta

Tabela 3

Periacuteodos Descriccedilatildeo Induacutestrias-chave Fatores-chave Organizaccedilatildeo industrial

1770-1840 Mecanizaccedilatildeo Tecircxtil quiacutemica metal-mecacircnica ceracirc-mica Algodatildeo e ferro Pequenas empresas locais

1840-1890 Maacutequinas a vapor e ferrovias

Motores a vapor maacutequinas-ferramenta maacutequinas para ferrovias

Carvatildeo e sistemas de transportes

Pequenas e grandes empresas e crescimento das sociedades anocircnimas

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1890-1940 Engenharia pesada Estaleiros produtos quiacutemicos armas maacutequinas eleacutetricas accedilo Monopoacutelios e oligopoacutelios

1940-1980 Fordista Automobiliacutestica armas aeronaacuteutica bens de consumo Derivados de petroacuteleo

Concorrecircncia oligopoliacutestica e crescimento das multinacio-nais

A partir de 1980 TIC

Computadores produtos eletrocircnicos software telecomunicaccedilotildees novos ma-teriais e serviccedilos de informaccedilatildeo

Microprocessadores Redes de empresas

Cada periacuteodo marcado por um tipo de induacutestria e de fatores chaves floresceu em locais geografica-mente distintos mesmo que alguns deles reiterasse a capacidade produtiva de determinado paiacutes ou regiatildeo A cada ciclo novo tiacutenhamos pelo menos dois movimentos contraditoacuterios uma cadeia produ-tiva que se enfraquecia (ou desaparecia) e uma cadeia produtiva que surgia Logo em torno da cadeia produtiva que surgia temos uma regiatildeo um paiacutes um conjunto de tributos que passa a alimentar o setor puacuteblico uma concentraccedilatildeo de pessoas e instituiccedilotildees que buscam o ldquonovo eldoradordquo Haacute certa-mente o que se convencionou chamar de progresso

Por outro lado a induacutestria que se enfraqueceu ou mesmo desapareceu deixa suas ldquocicatrizes so-ciaisrdquo Ficam aqueles que perderam os empregos os setores puacuteblicos que natildeo mais receberatildeo os tri-butos proacuteprios da produccedilatildeo ou da comercializaccedilatildeo ficam os passivos sociais de toda ordem

Essa questatildeo que apresentamos fica melhor desenhada quando identificamos as ecircnfases tecnoloacutegicas e os campos do saber eou da produccedilatildeo que foram privilegiados o que foi designado como ondas segundo Tigre (2006 apud Ferreira 2010)

Tabela 4

Ondas CampT e Educaccedilatildeo

Transporte e Comunicaccedilotildees Energia

1ordf revoluccedilatildeo industria(1780-1830)

Aprender-fazendoSociedades cientiacuteficas

Canais Estradas de ferro

Roda drsquoaacutegua(moinhos)

2ordf revoluccedilatildeo industrial(1830-1880) Engenheiros civis e mecacircnicos Estradas de ferro

Teleacutegrafo Vapor

Idade da eletricidade(1880-1930)

PampD industrialQuiacutemica e eltricidadeLaboratoacuterios nacionais

Ferrovias (accedilo)Telefone Eletricidade

Idade da produccedilatildeo em massa(1930-1980)

PampD industrial em escala(Governos e empresas)Educaccedilatildeo em massa

RodoviasRaacutedio Petroacuteleo

Idade da microeletrocircnica(a partir de 1980)

Redes de dadosRedes globais de PampDTreinamento contiacutenuo

Redes de convergentes de comuni-caccedilotildees em multimiacutedia Petroacuteleo e gaacutes

Tecnologias ambientais e de sauacutede( )

BiotecnologiaGeneacuteticaNanotecnologia

TelemaacuteticaTeletrabalho Energias renovaacuteveis

43 Como se fosse uma conclusatildeo

Quando eu tinha dezessete anos fui estudar na Cambridge University e tive sorte de conhe-cer o famoso matemaacutetico Godfrey Hardy()Muitas vezes nos uacuteltimos anos desejei ter podido explicar a Hardy o que fiz com a matemaacutetica que ele me ensinou Agraves vezes sonho que ele vai entender e me perdoar por eu ter me desviado de seus ideais [o de trabalhar apenas em matemaacutetica pura e natildeo em matemaacutetica aplicada]

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SOBRE A SOCIEDADE MAS NAtildeO O QUE Eacute A SOCIEDADE66

Durante minha vida profissional encontrei felizmente aacutereas da ciecircncia em que minhas ap-tidotildees matemaacuteticas puderam ser utilmente empregadas Trabalhei numa variedade de pro-blemas em fiacutesica de partiacuteculas em mecacircnica estatiacutestica em fiacutesica da mateacuteria condensada em astronomia e em biologia Tambeacutem trabalhei em problemas de engenharia aplicando a matemaacutetica ao projeto de instrumentos e maacutequinas Quando eu estava projetando maacutequi-nas costumava pensar na mais famosa declaraccedilatildeo do livro de Hardy aquela que expressava em poucas e amargas palavras sua aversatildeo pela ciecircncia aplicada Uma ciecircncia eacute dita uacutetil se seu desenvolvimento tende a acentuar as desigualdades existentes na distribuiccedilatildeo de riqueza ou se promove mais diretamente a destruiccedilatildeo da vida humana Eu tentava provar que Hardy estava errado que a ciecircncia pode ser uacutetil sem ser nociva Ao escolher em quais problemas trabalhar eu sempre tinha em mente a advertecircncia de Hardy Sua decla-raccedilatildeo eacute muitas vezes verdadeira e eacute uma advertecircncia que todos os cientistas aplicados devem levara seacuterio (grifos nossos)

Freeman Dyson 2001 p7 e 9

Atividade Proposta para reflexatildeo

1 Considerando as propostas de tipologia de Echeverria responda se as escolas que re-cebem computador e conseguem conectar-se a internet estatildeo ou natildeo no E3 Justifique sua resposta

2 Considerando o texto final de Dyson comente os riscos possiacuteveis de uma sociedade tecnocientiacutefica tornar-se mais desigual

SOBRE AS RELACcedilOtildeES CIEcircNCIA TECNOLOGIA E SOCIEDADE67

5 Sobre as relaccedilotildees Ciecircncia Tecnologia e So-ciedade

A escolha das tecnologias natildeo eacute portanto somente uma escolha de meios neutros mas uma escolha de sociedade Natildeo eacute estranho entatildeo que quando se consideram as tecnologias raramente se examine a or-ganizaccedilatildeo social a que conduzem

Geacuterard Fourez

51 Introduccedilatildeo

Vamos retornar a nossa equaccedilatildeo ingecircnua da ciecircncia obtida apoacutes o relatoacuterio Bush (capiacutetulo 1) + ciecircn-cia = + tecnologia = + riqueza = + bem-estar social Se ela eacute tomada como verdade ndash e tem sido assim ndash a Ciecircncia e sua companheira a Tecnologia passam a ter grande poder frente as comunidades em geral considerando a (1) dependecircncia estabelecida por meio dos aparatos tecnoloacutegicos e (2) pela distacircncia entre o fazer cientiacutefico e o entendimento pelas camadas gerais da populaccedilatildeo Essa dependecircncia pela Tecnologia e o natildeo-entendimento dos coacutedigos da Ciecircncia enfraquecem a capacidade de enfrenta-mento e de participaccedilatildeo dos membros da Sociedade ao mesmo tempo em que conferem aqueles primeiros um razoaacutevel poder e status

A Ciecircncia e a Tecnologia estatildeo de tal forma interligadas agrave Sociedade que esta uacuteltima natildeo sabe mais como viver sem aquelas primeiras Com esta ideia Gerard Fourez (1995) inicia um capiacutetulo intitula-do Ciecircncia Poder Poliacutetico e Eacutetico que nos utilizaremos para balizar algumas questotildees em torno das relaccedilotildees da triacuteade CTS

Ao defender a necessidade de refletirmos sobre as relaccedilotildees entre Ciecircncia Tecnologia e Socie-dade Fourez (1995) faz a seguinte afirmaccedilatildeo

O conhecimento eacute sempre uma representaccedilatildeo daquilo que eacute possiacutevel fazer e por conseguin-te representaccedilatildeo daquilo que pode ser objeto de uma decisatildeo na sociedadeA questatildeo do viacutenculo entre os conhecimentos e as decisotildees se impotildee portanto Que existe um viacutenculo isto eacute indicado pelo bom senso se se sabe que eacute possiacutevel construir uma ponte de uma margem a outra de um rio pode-se questionar se ela eacute ou natildeo desejaacutevel (p 207)

A pergunta que se apresenta eacute se o conhecimento ndash que diz ser possiacutevel construir a ponte ndash eacute capaz de dizer se devemos ou natildeo construir a ponte ou seria essa uma decisatildeo com participaccedilatildeo social Trata-se de discutir aqui se as decisotildees de poliacutetica ou eacuteticas devem ser determinadas pela Ciecircncia ou melhor por aqueles que operam os conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos os cientistas ou especialistas

52 Modelos de interaccedilatildeo segundo HabermasFourez

Ainda conduzidos por Fourez vamos lembrar que o filoacutesofo Juumlrgen Habermas39 classifica as inte-raccedilotildees ente Ciecircncia e Sociedade em trecircs grupos distintos As interaccedilotildees tecnocraacuteticas as decisionis-tas e as pragmaacutetico-poliacuteticas deixando claro desde jaacute que essas interaccedilotildees jamais existem em estado puro Esses modelos de interaccedilatildeo de Habermas podem ser resumidos da seguinte forma (Fourez 1995 p 224)

bull Tecnocraacuteticos as ciecircncias e a teacutecnica (os especialistas) determinam as poliacuteticas

39 Conheccedila mais em httpptwikipediaorgwikiJC3BCrgen_Habermas

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SOBRE AS RELACcedilOtildeES CIEcircNCIA TECNOLOGIA E SOCIEDADE68

bull Decisionistas os consumidores determinam os fins os teacutecnicos os meiosbull Pragmaacutetico-poliacutetico interaccedilotildees e negociaccedilotildees entre ldquoespecialistasrdquo e ldquonatildeo-especialistasrdquo

A fim de exemplificar as trecircs interaccedilotildees Fourez propotildee exemplos de interaccedilatildeo entre o meacutedico e seu paciente e entre um mecacircnico e o dono do carro

No modelo Tecnocraacutetico supotildee-se que o meacutedico e o mecacircnico sabem o que eacute melhor para o pa-ciente e para o dono do carro respectivamente Afinal de contas ambos possuem o conhecimento especiacutefico de suas aacutereas de atuaccedilatildeo Tanto o meacutedico quanto o mecacircnico diratildeo ldquoNatildeo se preocupe vou resolver todos os seus problemasrdquo Para o modelo tecnocraacutetico de interaccedilatildeo ldquoas decisotildees cabem ao especialistardquo

De acordo com o modelo Decisionista a situaccedilatildeo eacute um pouco diferente Nele o especialista pergun-taraacute ao cliente o que ele tem em vista ou quais satildeo seus objetivos ao procuraacute-lo O dono do carro pode querer um automoacutevel veloz ou econocircmico ou seguro ou que decirc pouca despesa ou vaacuterios desses itens Apoacutes tomar conhecimento das finalidades ou objetivos do seu cliente o especialista buscaraacute o melhor meio para atingir o objetivo pretendido Em siacutentese

Esse modelo portanto faz a distinccedilatildeo entre tomadores de decisatildeo e teacutecnicos Uns determi-nam os fins outros os meios Esse modelo diminui a dependecircncia em relaccedilatildeo ao teacutecnico uma vez que satildeo as proacuteprias pessoas que decidem sobre seus objetivosUma sociedade decisionista consideraraacute que cabe agraves instituiccedilotildees poliacuteticas determinar os ob-jetivos visados por essa sociedade Cabe aos teacutecnicos apoacutes encontrar os meios adequados (p 208)

De acordo com o terceiro modelo o pragmaacutetico-poliacutetico o que eacute privilegiado eacute a perpeacutetua discussatildeo e negociaccedilatildeo entre o teacutecnico e o cliente O mecacircnico pediraacute o telefone do cliente para mantecirc-lo in-formado de suas descobertas quanto ao estado do carro ao mesmo tempo que ouviraacute suas intenccedilotildees a cada instante chegando ao final com um carro que satisfaccedila as necessidades de seu dono no tempo ideal de trabalho para o mecacircnico Escreve Fourez (1995)

Esse modelo pragmaacutetico-poliacutetico assemelha-se ao modelo decisionista exceto pelo fato de que a relaccedilatildeo entre os especialistas e natildeo-especialistas eacute permanente Contudo resta sem-pre uma decisatildeo delicada a partir de que momento considera-se (e quem considera) que os teacutecnicos compreendem de maneira suficiente a vontade de seus clientes para poder tra-balhar sem consultaacute-los O modelo pragmaacutetico-poliacutetico insiste sobre o fato de que os meios escolhidos podem levar agrave modificaccedilatildeo dos objetivos mas natildeo fornece nenhuma receita sim-ples a fim de poder haver a decisatildeo ele remete agraves negociaccedilotildees (motivo pelo qual natildeo o de-nominamos somente pragmaacutetico mas tambeacutem poliacutetico)Uma das profissotildees que mais pratica essa interaccedilatildeo entre o cliente e o teacutecnico eacute a arquite-tura Um bom arquiteto estabelece um contato permanente com o seu cliente buscando natildeo tomar as decisotildees em seu lugar Ao pocirc-lo a par das implicaccedilotildees teacutecnicas ligadas a sua es-colha o arquiteto pode levar o seu cliente a modificar alguns de seus objetivos (p 210-211)

Leia mais

As reflexotildees de Gerard Fourez (2003) sobre os objetivos da educaccedilatildeo cientiacutefica e os desafios presentes na escola httpwwwifufrgsbrpublicensinovol8n2v8_n2_a1html

Eacute possiacutevel perceber que as interaccedilotildees em estudo fortalecem a posiccedilatildeo da Ciecircncia como detentora do conhecimento que melhor observa que melhor organiza que melhor decide que melhor realiza que melhor avalia Esse eacute o ldquoCrdquo de Ciecircncia

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SOBRE AS RELACcedilOtildeES CIEcircNCIA TECNOLOGIA E SOCIEDADE69

Por outro lado o cidadatildeo se sente bastante familiarizado com os aparatos tecnoloacutegicos Afinal sua vida cotidiana esta repleta destes aparatos que deixam de ser suporte para serem indispensaacuteveis O risco dessa dependecircncia do homem a tecnologias diversas pode ser representado por dois exemplos envolvendo Hegel e Mary Shelley

bull Na dialeacutetica Hegel podemos lembrar das reflexotildees envolvendo o amo e o servo O amo ordenava ao servo que realizasse todos os serviccedilos e com o tempo o amo deixava de saber como fazer enquanto que o servo dominava todas as rotinas do como fazer Ao final quem dominava quem Quem era dependente de quem

bull Quanto a Mary Shelley vale a lembranccedila dos escritos em sua famosa novela Frankstein em 1818 A chamada siacutendrome de Frankstein se deve ao medo de que as forccedilas que nos utilizamos para dominar a natureza se voltem contra noacutes como faz o ldquomonstrordquo nos diversos filmes existentes Ao final diz o ldquomonstrordquo a Victor Frankstein Tu eacutes meu criador mas eu sou o teu senhorrdquo (Bazzo Linsingen e Pereira 2003 p 125)

Desde as tecnologias de transporte ateacute os aparelhos celular modernos os homens vecircm se deixando ldquoescravizarrdquo pelas tecnologias pois que estas tornam suas vidas mais confortaacuteveis ou tornam suas tarefas cotidianas menos penosas Esse eacute o ldquoTrdquo de Tecnologia

Por fim devemos considerar as accedilotildees que estruturam as comunidades e as sociedades quais-quer que sejam suas tipologias Elas pressupotildeem a participaccedilatildeo como corolaacuterio do processo social Cer-tamente essa participaccedilatildeo pode se dar por diversos canais institucionalizados que no nosso modelo esta baseado em processos democraacuteticos A participaccedilatildeo dos cidadatildeos na estrutura democraacutetica bra-sileira pode se dar das seguintes formas a democracia representativa a democracia participativa a democracia direta e a democracia consociativa a saber (Chrispino 2016 p 142-143)

bull A democracia representativa que resulta na eleiccedilatildeo de representantes do povo para os Poderes Legislativo e Executivo nos trecircs niacuteveis de governo (federal estadual e muni-cipal) Isso quer significar que o povo tem participaccedilatildeo direta na qualidade dos seus representantes sendo certo a qualidade dos governantes espelha o pensamento dos eleitores visto que nenhum deles chegou ao poder por concurso ou por sorteio

bull A democracia participativa faculta a participaccedilatildeo mais efetiva de cidadatildeos em espaccedilos de decisatildeo eou de acompanhamento Os exemplos satildeo os conselhos de acompanha-mento de accedilotildees de governo ou conselhos temaacuteticos Natildeo passa despercebido que um dos grandes entraves na consolidaccedilatildeo da boa representaccedilatildeo eacute o fato de que os que buscam representar se utilizam deste instituto como trampolim para projetos poliacuteticos pessoais tais como chegar a vereador chegar a deputado chegar a prefeito etc

bull A democracia direta se daacute pela participaccedilatildeo efetiva do cidadatildeo visando a decisatildeo Satildeo exemplos de participaccedilatildeo direta o plebiscito e o referendo Natildeo devemos confundir os institutos da democracia direta com as ferramentas de poliacutetica populista como foi o caso da denominada ldquoDemocracia Plebiscitaacuteriardquo que mais se assemelha a populismo oportunista quando um governante com alto iacutendice de aceitaccedilatildeo propotildee consulta agrave populaccedilatildeo sobre temas de interesse como a possibilidade de reeleiccedilatildeo sem limites

bull A democracia consociativa que natildeo deixa de ser uma derivada da democracia partici-pativa se caracteriza pela busca de consensos para o conviacutevio entre os diferentes ato-res e interesses que compotildeem a sociedade (Toba 2004) As conferecircncias nacionais os planos diretores os documentos de impacto de vizinhanccedila e de impacto ambiental satildeo exemplos deste novo instituto Aqui ganha aquele que demonstrar mais organizaccedilatildeo e capacidade de articulaccedilatildeo A chamada construccedilatildeo de consenso eacute uma tecnologia social que tende a ocupar importantes espaccedilos nas relaccedilotildees sociais contemporacircneas

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SOBRE AS RELACcedilOtildeES CIEcircNCIA TECNOLOGIA E SOCIEDADE70

Apresentados os canais possiacuteveis do exerciacutecio de participaccedilatildeo social na estrutura democraacutetica cabe perguntar em qual deles o cidadatildeo efetivamente exercita seu controle ou manifesta seu poder de es-colha frente as questotildees que envolvem Ciecircncia e Tecnologia Ou se estamos efetivamente alimentando a interaccedilatildeo Tecnocraacutetica de Habermas chamando os especialistas para que eles decidam os mais va-riados assuntos Ao discutir este assunto Fourez (1995) apresenta interessante e importante questatildeo

O estatuto de especialista apresenta uma ambiguumlidade fundamental mesmo que como tal ele seja necessaacuterio De fato eacute praacutetica geral pedir ao especialista que decida em funccedilatildeo de seu saber cientiacutefico Ora esse saber depende de um paradigma e somente eacute aplicaacutevel no sentido estrito de acordo com as condiccedilotildees definidas por esse paradigma e pelo laboratoacuterio ao qual estaacute ligado Contudo o parecer especializado que se pede dele destina-se agrave vida cotidiana Natildeo se coloca ao especialista uma questatildeo de ordem cientiacutefica mas de ordem social ou econocircmica Em consequecircncia a especialidade natildeo se liga apenas agraves disciplinas cientificas mas agrave maneira pela qual o especialista traduz o problema da vida comum em seu paradigma disciplinar E essa traduccedilatildeo natildeo depende de sua disciplina mas do razoaacutevel ou do senso comum De um modo paradoxal poder-se-ia dizer que um especialista eacute algueacutem a quem se pede que tome uma decisatildeo em nome de sua disciplina sobre algo que natildeo diz respeito exatamente a sua disciplina

Eacute certo que o especialista natildeo eacute a pessoa mais capaz para decidir sobre os caminhos a serem trilhados para a sociedade Ele natildeo eacute o representante da sociedade legitimado para escolher ldquose a ponte deve ou natildeo ser construiacutedardquo O representante que melhor se aproxima desta funccedilatildeo eacute o poliacutetico Se esta-mos escolhendo bons poliacuteticos para essa funccedilatildeo de representaccedilatildeo social isso eacute laacute outro problema que natildeo cabe neste espaccedilo

O ldquoSrdquo da sigla CTS deve representar a Sociedade na triacuteade CTS digamos que esta representaccedilatildeo seja um caminho em construccedilatildeo (Vacarezza 2002) um sonho que vai se tornando realidade apesar de todas as dificuldades

Essa uacuteltima afirmaccedilatildeo natildeo eacute de forma alguma uma demonstraccedilatildeo de pessimismo A primeira accedilatildeo frente a uma dificuldade ou limitaccedilatildeo deve ser a de assumir que ela existe identificar suas carac-teriacutesticas e planejar o que fazer Assumir que a Sociedade natildeo possui instrumentos cognitivos para entender os temas tecnocientiacuteficos e que isso a impede de participar das decisotildees sociopoliacuteticas eacute indispensaacutevel para propor instrumentos eficazes de superaccedilatildeo do problema

Por tal eacute indispensaacutevel que se proceda a vulgarizaccedilatildeo cientiacutefica (Fourez 1995) por meio da alfabeti-zaccedilatildeo tecnocientiacutefica40 do cidadatildeo (Zaragoza 1999 Santos e Mortimer 2002 Eduarda Santos 2001 Auler 2003 Acevedo Vaacutezquez e Manassero 2003 Chassot 2003 Krasilchik e Marandino 2006 Santos 2007 Praia Gil e Vilches 2007)

Segundo a proposta de Fourez (1995 p 221-222) a vulgarizaccedilatildeo cientiacutefica ndash e diriacuteamos noacutes tambeacutem a tecnoloacutegica ndash pode dar-se de duas maneiras

bull Efeito vitrine a primeira por meio de uma operaccedilatildeo de relaccedilotildees puacuteblicas da comuni-dade cientiacutefica demonstrando ao povo as ldquomaravilhas que os cientistas satildeo capazes de produzirrdquo resultando em uma sociedade tecnocraacutetica com pouca liberdade e a

bull Transmissatildeo de poder social aquela que transmite certo conhecimento cientiacutefico ao

40 Os diversos autores utilizam Alfabetizaccedilatildeo Cientiacutefica alguns preferem alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica letramento cien-tiacutefico ou literaacutecia cientiacutefica Parece-nos mais adequado no contexto deste trabalho o termo alfabetizaccedilatildeo tecnocientiacutefica que iraacute significar a capacidade de ler compreender e expressar opiniotildees sobre ciecircncia e tecnologia (Krasilchik e Marandino 2004 p 26) Para noacutes CTS eacute um Enfoque mais amplo que a ACT por considerar as relaccedilotildees sociais tal qual indicou Fourez (1997 p 18)

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ponto de serem uacuteteis no entendimento de questotildees tecnocientiacuteficas ndash que chamaremos aqui de alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica ndash que resulta em cidadatildeos capazes de tomar decisotildees em relaccedilatildeo a sua vida individual e sua existecircncia coletiva

Para o autor

Para ser um indiviacuteduo autocircnomo e um cidadatildeo participativo em uma sociedade altamente tecnizada deve-se ser cientifica e tecnologicamente ldquoalfabetizadosrdquo Sem certas represen-taccedilotildees que permitem apreender o que estaacute em jogo no discurso dos especialistas as pessoas arriscam-se a se verem tatildeo indefesas quanto os analfabetos em uma sociedade onde reina a escrita (p 222)()O movimento Science Technology amp Society41 (STS) () tenta precisamente promover uma articulaccedilatildeo fecunda desses trecircs componentes

Santos (2007) em seu estudo sobre alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica chama a atenccedilatildeo para o fato de que a alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica tem sido objeto de preocupaccedilatildeo de profissionais de diversas aacutereas

bull Educadores em ciecircncia que se preocupam com a educaccedilatildeo nos sistemas de ensinobull Cientistas sociais que estatildeo voltados para o interesse do puacuteblico em geral por questotildees

cientiacuteficasbull Socioacutelogos da ciecircncia que estatildeo envolvidos com a interpretaccedilatildeo diaacuteria da ciecircnciabull Comunicadores da ciecircncia que estatildeo com a atenccedilatildeo voltada para a di-vulgaccedilatildeo cientiacutefi-

ca em sistemas natildeo-formais bull Economistas que estatildeo interessados no crescimento econocircmico decorrente do maior

consumo da populaccedilatildeo por bens tecnoloacutegicos mais sofisticados que requerem conheci-mentos especializados como o uso da informaacutetica

A partir dos acircngulos de anaacutelise e de procedimentos especiacuteficos de cada grupo de interesse que carac-teriza as diversas aacutereas preocupadas com a alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica eacute possiacutevel segundo Millar (1996 apud Santos 2007) agrupar os diversos argumentos em cinco categorias

a) argumento econocircmico que conecta o niacutevel de conhecimento puacuteblico da ciecircncia com o desenvolvimento econocircmico do paiacutes b) utilitaacuterio que justifica o letramento por razotildees praacuteticas e uacuteteis c) democraacutetico que ajuda os cidadatildeos a participar das discussotildees do debate e da tomada de decisatildeo sobre questotildees cientiacuteficas d) social que vincula a ciecircncia agrave cultura fazendo com que as pessoas fiquem mais simpaacuteti-cas agrave ciecircncia e agrave tecnologia e e) cultural que tem como meta fornecer aos alunos o conhecimento cientiacutefico como pro-duto cultural

Complementa Santos (2007)

Todos esses argumentos de alguma forma estatildeo presentes no curriacuteculo escolar e consti-tuem fatores de influecircncia no seu planejamento Assim se a prioridade da alfabetizaccedilatildeo for melhorar o campo de conhecimento cientiacutefico preparando novos cientistas o enfoque curricular seraacute centrado em conceitos cientiacuteficos se o objetivo for voltado para a formaccedilatildeo da cidadania o enfoque englobaraacute a funccedilatildeo social e o desenvolvimento de atitudes e valores

41 Em inglecircs no original

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O quadro a seguir sintetiza de acordo com Santos e Schnetzler (2003 p 65) os aspectos CTS que devem ser considerados no processo de Alfabetizaccedilatildeo Tecnocientiacutefica quando este se daacute a partir da Abordagem CTS

Aspectos CTS Esclarecimentos

1- Natureza da ciecircncia 1 - Ciecircncia eacute uma busca de conhecimentos dentro de uma perspectiva social

2 - Natureza da Tecnologia 2 - Tecnologia envolve o uso do conhecimento cientiacutefico e de outros conheci-mentos para resolver problemas praacuteticos A humanidade sempre teve tec-nologia

3 - Natureza da Sociedade 3 - A sociedade eacute uma instituiccedilatildeo humana na qual ocorrem mudanccedilas cientiacuteficas e tecnoloacutegicas

4 - Efeito da Ciecircncia sobre a Tecnologia 4 - A produccedilatildeo de novos conhecimentos tem estimulado mudanccedilas tec-noloacutegicas

5 - Efeito da Tecnologia sobre a Sociedade 5 - A tecnologia disponiacutevel a um grupo humano influencia grandemente o estilo de vida do grupo

6 - Efeito da Sociedade sobre a Ciecircncia 6 - Por meio de investimentos e outras pressotildees a sociedade influencia a direccedilatildeo da pesquisa cientiacutefica

7 - Efeito da Ciecircncia sobre a Sociedade 7 - Os desenvolvimentos de teorias cientiacuteficas podem influenciar o pen-samento das pessoas e as soluccedilotildees de problemas

8 - Efeito da Sociedade sobre a Tecnolo-gia 8 - Pressotildees dos oacutergatildeos puacuteblicos e de empresas privadas podem in-fluenciar a direccedilatildeo da soluccedilatildeo do problema e em consequecircncia promo-ver mudanccedilas tecnoloacutegicas

9 - Efeito da Tecnologia sobre a Ciecircncia 9 - A disponibilidade dos recursos tecnoloacutegicos limitaraacute ou ampliaraacute os progressos cientiacuteficos

53 Uma importante discussatildeo sobre CTS e Alfabetizaccedilatildeo Cientifica e Tecnoloacutegica

Apresentamos ateacute aqui uma defesa da ideia de que a participaccedilatildeo do cidadatildeo na construccedilatildeo da ciecircn-cia e da tecnologia bem como a percepccedilatildeo dos impactos causados pela produccedilatildeo da ciecircncia e da tec-nologia quer como conhecimento e artefato quer como corporaccedilatildeo social instituiacuteda para defesa de seus interesses pode ser alcanccedilada pela alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica para todos

Essa eacute uma discussatildeo importante que como em outros temas CTS possui interessantes divergecircncias e alguns pontos de convergecircncia sobre os quais espera-se pautar as modificaccedilotildees necessaacuterias para alcanccedilarmos os objetivos pretendidos no ensino das ciecircncias Esta divergecircncia que ao final permite uma leitura madura sobre as dificuldades da aacuterea CTS e indica pontos de convergecircncia eacute bem repre-sentada pelo debate mantido entre Acevedo e colaboradores (2005) e Praia Gil e Vilches (2007) Natildeo temos a pretensatildeo de sintetizar a riqueza de informaccedilatildeo que ambos os trabalhos disponibilizam mas sim extrair reflexotildees para o que propotildee este texto convidando o leitor atento e interessado a leitura nos originais

Inicialmente Acevedo et al (2005) apontam que eacute cada vez maior em didaacutetica das ciecircncias o consenso de considerar que um dos objetivos mais importantes da educaccedilatildeo cientiacutefica eacute que os estudantes da educaccedilatildeo Baacutesica adquiriram uma melhor compreensatildeo da natureza da ciecircncia (NdC) ldquoDeste modo a presenccedila da NdC no curriacuteculo de ciecircncias eacute valorizada pelos que concebem uma educaccedilatildeo cientiacutefica mais apropriada para o seacuteculo XXIrdquo Dizem os autores que vaacuterios paiacuteses (Austraacutelia Canadaacute Inglaterra Nova Zelacircndia USA etc) incluem explicitamente o ensino da NdC nos seus curriacuteculos cientiacuteficos e muitos outros o fazem de uma forma mais ou menos parcial ou impliacutecita As razotildees para inclusatildeo de NdC nos curriacuteculos varia com o tempo e atualmente percebemos duas grandes razotildees a alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica para todas as pessoas e a educaccedilatildeo CTS ldquoPensa-se que um dos principais objetivos do ensino das ciecircncias eacute a aprendizagem da NdC tanto para desenvolver uma melhor compreensatildeo da ciecircncia e seus meacutetodos como para contribuir para tomar mais consciecircncia das interaccedilotildees entre a ciecircncia a tecnologia e a sociedaderdquo

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Iniciando o raciociacutenio criacutetico sobre o ensino da NdC Acevedo et al (2005) lembram que

bull NdC eacute um metaconhecimento que surge da reflexatildeo sobre a proacutepria ciecircncia e por isso eacute um objetivo pouco razoaacutevel

bull ldquoSendo que a metacogniccedilatildeo constitui o niacutevel de maior complexidade no desenvolvi-mento cognitivo humano a compreensatildeo da NdC poderia ficar de fora do alcance da grande maioria dos alunosrdquo

bull Haacute dificuldades para estabelecer que conteuacutedos de NdC devem ser ensinados Os proacute-prios filoacutesofos e socioacutelogos da ciecircncia [e incluiriacuteamos os da tecnologia] tecircm desacordos sobre os princiacutepios baacutesicos da aacuterea considerando o caraacuteter dialeacutetico e controversos das questotildees em jogo aleacutem claro da maior tendecircncia destes profissionais para a polecircmica (Veja tambeacutem Vaacutezquez et al 2008)

bull Esclarece que estas discrepacircncias satildeo por demais abstratas e que natildeo ajudam se ensi-nadas ou postas no curriacuteculo a formar um melhor cidadatildeo pois natildeo contribuem para melhor entendimento da ciecircncia e da tecnologia contemporacircneos

bull Talvez seja possiacutevel algum consenso se forem definidos ldquoobjetivos e conteuacutedos mais modestos mais adaptados ao niacutevel de desenvolvimento dos alunos e mais ajustados aos requisitos de ensino de ciecircncias destinado a uma alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica para todosrdquo De acordo com esta ideia os meacutetodos para ensinar NdC tecircm-se mostrado eficazes quando

bull Abordam alguns dos seus aspectos baacutesicos de maneira expliacutecita e reflexiva (se tal se faz com uma boa planificaccedilatildeo desenvolvendo os conteuacutedos em ati-vidades variadas e avaliando os processos desenvolvidos e os resultados con-seguidos)

bull Se usam atividades baseadas na pesquisa cientiacuteficabull Se usam atividades baseadas na Histoacuteria e Filosofia da Ciecircnciabull Se usam atividades contextualizadas com um enfoque CTS do tipo IOS ndash Is-

sue-Oriented-Sciencebull Se usam atividades capazes de relacionar o mundo real e quotidiano dos alu-

nos

bull ldquoMesmo assim tecircm sido conduzidos projetos expressamente concebidos para melhorar a compreensatildeo da NdC que colocam o acento nos processos sociais da construccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico e na resoluccedilatildeo das con-troveacutersias cientiacuteficas Estas linhas de trabalho puseram tambeacutem em ques-tatildeo a crenccedila de que um ensino impliacutecito da NdC baseado na praacutetica dos procedimentos da ciecircncia e outros conteuacutedos indiretos permite alcanccedilar uma boa compreensatildeo da NdCrdquo (p 3)

Dando continuidade ao estudo criacutetico Acevedo et al (2005) aponta para dois importantes temas que parecem natildeo merecer a atenccedilatildeo devida dos profissionais do ensino de ciecircncias e tecnologia O primei-ro deles eacute a que as ldquocrenccedilas dos professores sobre a NdC se relacionam diretamente com a sua praacutetica docenterdquo e o segundo tema eacute a afirmaccedilatildeo de ldquoque uma boa compreensatildeo da NdC se apresenta como um fator decisivo para tomar melhores decisotildees sobre questotildees tecnocientiacuteficas de interesse socialrdquoNo que se refere ao primeiro tema indicam as hipoacuteteses que satildeo sustentadas

bull A compreensatildeo dos professores acerca da NdC tem uma certa relaccedilatildeo com a dos seus alunos e com a imagem que estes adquirem da ciecircncia

bull As crenccedilas dos professores sobre a NdC influenciam significativamente na sua forma de ensinar ciecircncias e nas decisotildees que tomam na aula

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Diversos estudos tecircm mostrado que estas afirmativas natildeo se sustentam desta forma simples e direta Sobre este tema simplificamos a ideia geral dos autores

Por outro lado diversos investigadores tecircm assinalado vaacuterios fatores que influem quando o professor transfere para a aula conteuacutedos de NdC A maioria desses fatores natildeo tem a ver com os proacuteprios conteuacutedos de NdC mas sim com resistecircncias gerais agraves inovaccedilotildees educati-vas e principalmente com o conhecimento didaacutetico do conteuacutedo[uma noccedilatildeo introduzida por Shulman] para expressar o conhecimento profissional especiacutefico que os professores desenvolvem sobre a forma de ensinar a sua disciplina e que eacute afinal a intersecccedilatildeo entre os conhecimentos didaacuteticos do tema e do objeto de ensino ndash a NdC neste caso ndash que tambeacutem se relaciona com a necessaacuteria transposiccedilatildeo didaacutetica dos conteuacutedos que devem transferir para a aula Sem duacutevida estes aspectos adicionam muito mais complexidade ao que se sus-tenta linearmente nas duas hipoacuteteses indicadas (p 4 adaptado)

No que se refere ao segundo tema parece clara a ideia de que eacute necessaacuteria a alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica de todas as pessoas Para isso muitos apresentam um argumento democraacutetico uma melhor compreensatildeo da NdC permite tomar decisotildees mais refletidas sobre questotildees tecnocientiacuteficas de interesse social outros vecircm esta decisatildeo do estudante como aquela decisatildeo dos cientistas para justificarem o conhecimento que geram Ao final perguntam os autores ldquoMas eacute o conhecimento da NdC um fator chave para tomar este tipo de decisatildeo rdquo

A resposta para esta provocante questatildeo pode estar no resultado de pesquisas envolvendo alunos do ensino secundaacuterio e universitaacuterio que demonstrou que no momento de tomar alguma decisatildeo eles consideram irrelevantes os conhecimentos cientiacuteficos que natildeo estejam de acordo com suas crenccedilas preacutevias Outros aceitaram os conhecimentos tecnocientiacuteficos necessaacuterios a uma ldquomelhorrdquo decisatildeo mas preferiam natildeo os utilizar dando preferecircncia a suas proacuteprias crenccedilas Outros tantos desprezaram o ponto de vista eacutetico de seus colegas quando estes conflitavam com o seu proacuteprio ponto de vista Outros ainda que possuem pontos de vista diferentes sobre NdC tomam decisotildees semelhantes sobre temas tecnocientiacuteficos o que pode sugerir que ldquoos fatores mais influentes foram os valores morais e pessoais assim como os aspectos culturais sociais e poliacuteticos relacionados com as questotildees coloca-dasrdquo

Esse conjunto de dificuldades pode sugerir que seja necessaacuterio dar mais atenccedilatildeo aos aspectos cul-turais sociais morais e emotivos e aos atitudinais e axioloacutegicos como defendem os que apoiam a abordagem CTS para o ensino das ciecircncias que pretende educar para a participaccedilatildeo dos cidadatildeos nos assuntos tecnocientiacuteficos de interesse social Outro aspecto levantado no artigo eacute o fato de que a NdC ensinada no curriacuteculo escolar estaacute baseada na ciecircncia acadecircmica na ciecircncia herdada na ciecircncia triunfalista Antes de atender a esse pressupos-to que natildeo atende aos pressupostos da abordagem CTS seria mais interessante que o curriacuteculo esco-lar se baseasse numa NdC apoiada na ideia por exemplo de tecnociecircncia por estar mais proacutexima da realidade do estudante e da sociedade e por isso ser alvo mais proacuteximo de suas possiacuteveis decisotildees

Ficam para futuras pesquisas as seguintes perguntas

a que tipo de ciecircncia nos referimos quando falamos de NdC qual eacute a NdC que pretendemos transmitir que consensos sobre a NdC podem ser vaacutelidos E sobretudo para que quere-mos ensinar NdC Em particular em relaccedilatildeo a esta uacuteltima questatildeo as propostas de NdC no ensinodas ciecircncias poderiam resultar esteacutereis sem ter em conta as finalidades da educaccedilatildeo cientiacutefica e para que deve ser relevante a ciecircncia escolar

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Dando sequecircncia a discussatildeo bem fundamentada Praia Gil-Perez e Vilches (2007) discutem o ldquopa-pel da natureza da ciecircncia na educaccedilatildeo cientiacutefica e em particular na formaccedilatildeo de uma cidadania para a participaccedilatildeo na tomada de decisotildeesrdquo a partir das reflexotildees de Acevedo et al (2005) Os autores desenvolvem seu trabalho a partir de dois eixos principais Formaccedilatildeo cientiacutefica para uma cidadania que permita participar em discussotildees tecnocientiacuteficas e a importacircncia da natureza da ciecircncia na edu-caccedilatildeo cientiacutefica e em particular na preparaccedilatildeo para a tomada de decisotildees tecnocientiacuteficas de inte-resse social Busquemos como fizemos anteriormente sintetizar as ideias dos autores convidando o leitor agrave leitura original pelos fundamentos que apresenta Aos autores partem do chamado argumento ldquodemocraacuteticordquo defendido especialmente no que propotildee a Declaraccedilatildeo de Budapeste (1999)

Para que um paiacutes esteja em condiccedilotildees de atender agraves necessidades fundamentais da sua po-pulaccedilatildeo o ensino das ciecircncias e da tecnologia eacute um imperativo estrateacutegico [hellip] Hoje mais do que nunca eacute necessaacuterio fomentar e difundir a alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica em todas as culturas e em todos os sectores da sociedade [] a fim de melhorar a participaccedilatildeo dos cidadatildeos na adopccedilatildeo de decisotildees relativas agrave aplicaccedilatildeo de novos conhecimentos

Apoacutes isso apresentam diferentes autores contraacuterios a ideia de alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica que buscam ldquoabalar aparentes evidecircnciasrdquo Para demonstrar a dificuldade de consenso sobre os conteuacutedos que devem ser dominados pelos estudantes a fim de se sentirem preparados para tomar decisotildees em torno de temas tecnocientiacuteficos de impacto social como o aquecimento global ou o uso de defensivos agriacutecolas Exemplificam com o resultado do

Project 2061 financiado pela American Association for the Advancement of Sciences (AAAS) projecto que consistiu em pedir a uma centena de eminentes cientistas de distintas disci-plinas que enumerassem os conhecimentos cientiacuteficos que em sua opiniatildeo deveriam fazer parte da escolaridade obrigatoacuteria para garantir uma adequada alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica das crianccedilas norte-americanas O nuacutemero total de aspectos que seriam exigidos () desafia o nosso entendimento e resulta superior agrave soma de todos os conhecimentos atualmente ensi-nados aos estudantes de elite que se preparam como futuros cientiacuteficos

Frente a essa constataccedilatildeo ndash muito comum aliaacutes nas nossas discussotildees curriculares que satildeo proacutedigas em acrescentar novos conteuacutedos e possuem extrema dificuldade em dizer o que eacute efetivamente im-portante nas mateacuterias da ciecircncia da natureza ndash os autores propotildeem que o conteuacutedo a ser ensinado com vista a alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica possua um miacutenimo de conhecimento especiacutefico com planeja-mentos globais e consideraccedilotildees eacuteticas que natildeo solicitam maiores especializaccedilotildees mas sim ldquoexigem enfoques que contemplem os problemas numa perspectiva mais amplardquo

Em siacutentese a participaccedilatildeo para a cidadania na tomada de decisotildees eacute hoje um fato positi-vo uma garantia de aplicaccedilatildeo do principio da precauccedilatildeo que se apoia em uma crescente sensibilidade social frente agraves implicaccedilotildees do desenvolvimento teacutecnico-cientiacutefico que po-dem comportar riscos para as pessoas ou para o meio ambiente () A referida participaccedilatildeo temos de insistir reclama um miacutenimo de formaccedilatildeo cientiacutefica que torne possiacutevel a com-preensatildeo dos problemas e das opccedilotildees - que se podem e se devem expressar numa lin-guagem acessiacutevel - para natildeo se ver recusada com o argumento de que problemas como a mudanccedila climaacutetica ou a manipulaccedilatildeo geneacutetica satildeo de uma grande complexidade Na-turalmente satildeo necessaacuterios estudos cientiacuteficos rigorosos mas tatildeo pouco eles por si soacutes bastam para adotar decisotildees adequadas dado que por vezes a dificuldade natildeo estaacute na falta de conhecimentos mas na ausecircncia de um planejamento global que avalie os riscos e

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contemple as possiacuteveis consequecircncias a meacutedio e a longo prazo Muito ilustrativo a este respeito pode ser a ecircnfase dada agraves cataacutestrofes anunciadas como a provocada pelo afun-damento do Prestige e outros petroleiros que se querem apresentar como ldquoacidentesrdquo () (Praia Gil e Vilches 2007) (Grifos nossos)

Ao longo do seu trabalho os autores daratildeo ecircnfase as seguintes ideias

bull ldquose os estudantes tecircm de chegar a ser cidadatildeos e cidadatildes responsaacuteveis eacute preciso que lhes proporcionemos ocasiotildees para analisar os problemas globais que caracterizam essa situaccedilatildeo de emergecircncia planetaacuteria e considerar possiacuteveis soluccedilotildees para elesrdquo

bull ldquoA recusa da alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica lembra assim a sistemaacutetica resistecircncia histoacuterica dos privilegiados a um alargamento da cultura e agrave generalizaccedilatildeo da educaccedilatildeo () E a sua reivindicaccedilatildeo faz parte da batalha das forccedilas progressistas para vencer as referidas resistecircncias que constituem o verdadeiro preconceito acriacuteticordquo

bull ldquoMas esta aposta numa educaccedilatildeo cientiacutefica orientada para que as pessoas possam ser intervenientes e participantes activos na sociedade () quer dizer orientada para a formaccedilatildeo de uma cidadania em vez de uma preparaccedilatildeo para futuros cientistas gera resistecircncias em numerosos professores que argumentam legitimamente que a socie-dade necessita de cientistas e tecnoacutelogos que tecircm de formar-se e ser adequadamente seleccionados desde os primeiros tempos () Eacute preciso denunciar com clareza a falaacute-cia desta contraposiccedilatildeo entre ambas as orientaccedilotildees curriculares e os argumentos que supostamente lhe datildeo avalrdquo

bull ldquoEacute comum os curriacuteculos de ciecircncias estarem demasiado centrados nos conteuacutedos con-ceptuais e natildeo processuais tendo como referecircncia a loacutegica interna da proacutepria ciecircncia e assim esquecem a formaccedilatildeo que exige a construccedilatildeo cientiacutefica Tal justifica-se pela complexidade da NdC e pelo facto de que os proacuteprios filoacutesofos e socioacutelogos da ciecircncia terem por vezes muitas divergecircncias sobre os princiacutepios baacutesicos destardquo

bull ldquoO ensino cientiacutefico ndash incluindo o universitaacuterio ndash estaacute reduzido basicamente agrave apre-sentaccedilatildeo de conhecimentos jaacute elaborado sem dar ocasiatildeo aos estudantes de tomarem contacto com as actividades caracteriacutesticas da actividade cientiacutefica () Deste modo as concepccedilotildees dos estudantes ndash incluindo a dos futuros docentes ndash natildeo chegam a di-ferir do que se usa denominar-se uma imagem ldquofolkrdquo ldquonaifrdquo ou ldquopopularrdquo da ciecircncia socialmente aceite associada a um suposto ldquoMeacutetodo Cientiacuteficordquo com maiuacutesculas per-feitamente definidordquo() tecircm impulsionado investigaccedilotildees que assinalam as concepccedilotildees epistemoloacutegicas ldquode senso comumrdquo como um dos principais obstaacuteculos para movimen-tos de renovaccedilatildeo no campo da educaccedilatildeo cientiacuteficardquo (Praia Gil e Vilches 2007)

Os autores informam que a literatura tem demonstrado uma seacuterie de distorccedilotildees cuja superaccedilatildeo pode servir de base a um consenso que oriente a ldquoimersatildeo numa cultura cientiacutefica e tecnoloacutegicardquo desde que se deixe a margem as discrepacircncias e diferenccedila pontuais e se busque os consensos baacutesicos jaacute apontados por diversos epistemoacutelogos Os autores apontam os seguintes consensos

1 ldquoa recusa da proacutepria ideia de ldquoMeacutetodo Cientiacuteficordquo com maiuacutesculas como um conjunto de regras perfeitamente definidas a aplicar mecanicamente e independentes do domiacute-nio investigadordquo

2 ldquoa recusa de um empirismo que concebe os conhecimentos como resultado da inferecircncia indutiva a partir de ldquodados purosrdquo Esses dados natildeo significam nada em si mesmos mas devem ser interpretados de acordo com um sistema teoacutericordquo () ldquoTudo isto deve partir do corpus de conhecimento existente no campo especiacutefico em que se realiza a investigaccedilatildeordquo

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3 ldquoevidenciar o papel do pensamento divergente na investigaccedilatildeo que se concretiza em aspectos fundamentais e erradamente afastados nas abordagens empiristas como satildeo a criaccedilatildeo de hipoacuteteses e de modelos ou o proacuteprio desenho de experiecircncias Natildeo se ra-ciocina pois em termos de certezas mais ou menos baseadas em evidecircncias mas em termos de hipoacuteteses que se apoiam eacute certo nos conhecimentos adquiridos mas que satildeo consideradas como simples tentativas de resposta que deveratildeo ser postas agrave prova o mais rigorosamente possiacutevelrdquo

4 ldquoa busca de coerecircncia global () O fato de se trabalhar em termos de hipoacuteteses introduz exigecircncias suplementares de rigor eacute preciso duvidar sistematicamente dos resultados obtidos e de todo o processo seguido para os obter o que conduz a revisotildees contiacutenuas a tentar obter esses resultados por caminhos diversos e particularmente a mostrar a sua coerecircncia com os resultados obtidos noutras situaccedilotildeesrdquo() Essa exigecircncia de aplicabi-lidade de funcionamento correto para descrever fenocircmenos realizar previsotildees abor-dar e planear novos problemas etc eacute precisamente o que daacute validade (natildeo daacute certeza ou caraacuteter de verdade indiscutiacutevel) aos conceitos leis e teorias que se elaboram

5 ldquocompreender o caraacuteter social do desenvolvimento cientiacutefico evidente natildeo soacute no fato de que o ponto de partida do paradigma teoacuterico vigente eacute a cristalizaccedilatildeo dos contributos de geraccedilotildees de investigadores mas tambeacutem no fato de que a investigaccedilatildeo responde cada vez mais a estruturas institucionalizadas () onde o trabalho dos indiviacuteduos eacute orientado por linhas de investigaccedilatildeo estabelecidas pelo trabalho da equipa a que pertencem natildeo fazendo praticamente sentido a ideia de investigaccedilatildeo completamente autocircnoma Aleacutem disso o trabalho dos homens e mulheres de ciecircncias ndash como qualquer outra atividade humana ndash natildeo acontece agrave margem da sociedade em que vivem e eacute influenciado logica-mente pelos problemas e circunstacircncias do momento histoacuterico da mesma forma que a sua accedilatildeo tem uma clara influecircncia sobre o meio fiacutesico e social em que se insererdquo (Praia Gil e Vilches 2007)

No que refere agrave Importacircncia da superaccedilatildeo das visotildees distorcidas da natureza da ciecircncia na educaccedilatildeo cientiacutefica os autores propotildeem buscar uma metodologia que supere os reducionismos comuns e que alcancem uma aprendizagem significativa e duradoura o que pode ser obtido mais facilmente quan-do o estudante participa da construccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico e pela familiarizaccedilatildeo com estra-teacutegias de ensino Propotildeem uma ldquoa aprendizagem como um trabalho de investigaccedilatildeo e de inovaccedilatildeo por meio do tratamento de situaccedilotildees problemaacuteticas relevantes para a construccedilatildeo de conhecimentos cientiacuteficos e a conquista de inovaccedilotildees tecnoloacutegicas susceptiacuteveis de satisfazer determinadas necessi-dadesrdquo cujos aspectos satildeo enumerados a seguir

bull ldquoA discussatildeo do possiacutevel interesse e da relevacircncia das situaccedilotildees propostas que decirc sentido ao seu estudo e evite que os alunos se vejam submergidos no tratamento de uma situaccedilatildeo sem terem sequer podido formar uma primeira ideia motivadora ou percebido a necessaacuteria tomada de decisotildees por parte da sociedade e da comunidade cientiacutefica acerca da conveniecircncia ou da inconveniecircncia do referido trabalho tendo em conta a sua possiacutevel contribuiccedilatildeo para a compreensatildeo e transformaccedilatildeo do mundo suas repercus-sotildees sociais e do meio ambiente etcrdquo

bull ldquoO estudo qualitativo significativo das situaccedilotildees problemaacuteticas abordadas que aju-de a compreender e a precisar tais situaccedilotildees agrave luz dos conhecimentos disponiacuteveis dos objectivos perseguidoshellip e a formular perguntas operativas sobre o que se procura o que supotildee uma oportunidade para os estudantes comeccedilarem a explicitar funcional-mente as suas lsquoconcepccedilotildees alternativasrsquordquo

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SOBRE AS RELACcedilOtildeES CIEcircNCIA TECNOLOGIA E SOCIEDADE78

bull ldquoA invenccedilatildeo de conceitos e a formulaccedilatildeo de hipoacuteteses fundamentadas nos conhe-cimentos disponiacuteveis capazes de focalizar e de orientar o tratamento das situaccedilotildees enquanto permitem aos estudantes utilizar as suas concepccedilotildees alternativas para fazer previsotildees susceptiacuteveis de ser submetidas agrave provardquo

bull ldquoA definiccedilatildeo e implementaccedilatildeo de estrateacutegias de resoluccedilatildeo incluindo se for caso dis-so o plano e a realizaccedilatildeo de experiecircncias para submeter agrave prova as hipoacuteteses agrave luz do corpo de conhecimentos de que se dispotildee o que exige um trabalho de natureza tecno-loacutegica para a resoluccedilatildeo dos problemas praacuteticos que possam surgir como por exemplo a reduccedilatildeo das margens de erro nas mediccedilotildees Chamamos particularmente a atenccedilatildeo sobre o interesse destes planos e da realizaccedilatildeo de experiecircncias que exigem e ajudem a desenvolver uma multiplicidade de capacidades e de conhecimentos Acaba-se assim com as aprendizagens erradamente designadas de lsquoteoacutericasrsquo (na realidade simplesmen-te livrescas) e contribui-se para mostrar a estreita relaccedilatildeo ciecircncia-tecnologiardquo

bull ldquoA anaacutelise e comunicaccedilatildeo dos resultados comparando-os com os obtidos por outros grupos de estudantes e aproximando-se da evoluccedilatildeo conceptual e metodoloacutegica experi-mentada historicamente pela comunidade cientiacutefica Isso pode converter-se em ocasiatildeo de conflito cognitivo entre distintas concepccedilotildees tomadas todas elas como hipoacuteteses e favorecer a lsquoauto-regulaccedilatildeorsquo dos estudantes obrigando a conceber novas conjecturas ou novas soluccedilotildees teacutecnicas e a replanear a investigaccedilatildeordquo

bull ldquoAs siacutenteses e a possibilidade de outras perspectivas articulaccedilatildeo dos conhecimentos construiacutedos com outros jaacute conhecidos considerando a sua contribuiccedilatildeo para a cons-truccedilatildeo de corpos coerentes de conhecimentos que se vatildeo ampliando e modificando com especial atenccedilatildeo para o estabelecimento de pontes entre distintos domiacutenios cientiacuteficos porque representam pontos altos de desenvolvimento cientiacutefico e por vezes autecircnticas revoluccedilotildees cientiacuteficas construccedilatildeo e aperfeiccediloamento dos produtos tecnoloacutegicos que se procuravam ou que satildeo concebidos como resultado das investigaccedilotildees realizadas o que contribui para acabar com tratamentos excessivamente escolares e reforccedilar entatildeo o interesse pela tarefa apresentaccedilatildeo de novos problemashelliprdquo

bull ldquoDevemos ainda insistir na necessidade de dirigir todo este tratamento para mostrar o caraacuteter de corpo coerente que tem toda a ciecircncia valorizando para isso as ativida-des de siacutentese (esquemas memoacuterias revisotildees mapas conceptuaishellip) e a elaboraccedilatildeo de produtos capazes de acabar com planos excessivamente escolares de reforccedilar o inte-resse pela tarefa e de mostrar a estreita ligaccedilatildeo ciecircncia-tecnologiardquo (Praia Gil e Vilches 2007)

Ao final os autores concluem que

Esta orientaccedilatildeo [que natildeo pretende ser um algoritmo] supotildee querer dizer que devemos pres-tar mais atenccedilatildeo aos aspectos culturais sociais morais e emotivos [hellip] e aos aspectos atitu-dinais e axioloacutegicos do que eacute habitual na educaccedilatildeo cientiacutefica () Tal natildeo deve entender-se como a incorporaccedilatildeo de outros fatores distintos da NdC mas como a superaccedilatildeo de uma distorccedilatildeo da referida NdC que apresenta o trabalho cientiacutefico como uma atividade descon-textualizada alheia a interesses e conflitos (Praia Gil e Vilches 2007)

54 Como se fosse uma conclusatildeo

Em uma sociedade tecno-dependente eacute indispensaacutevel que os cidadatildeos estejam aparelhados para en-tender como se daacute as relaccedilotildees entre Ciecircncia Tecnologia e Sociedade sob o risco de delegarem aos

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SOBRE AS RELACcedilOtildeES CIEcircNCIA TECNOLOGIA E SOCIEDADE79

especialistas natildeo soacute a tarefa de como fazer mas tambeacutem quando fazer onde fazer e pior se se quer fazer alguma coisa no campo da tecnociecircncia

No momento em que falamos de lacunas formadoras do cidadatildeo como participante ativo do proces-so social de construccedilatildeo da ciecircncia e da tecnologia trazemos agrave discussatildeo a inexistecircncia nos textos de Ensino CTS brasileiro do tema apropriaccedilatildeo social da ciecircncia e da tecnologia42 Surpreendeu-nos que esta temaacutetica natildeo estivesse explicitamente contemplada nos artigos constantes da base de dados sobre Ensino CTS apesar de constar das discussotildees da aacuterea de estudos sociais da ciecircncia e da tecno-logia e de poliacuteticas em ciecircncia e tecnologia bem como da aacuterea intitulada de cultura cientiacutefica Esta aacuterea propotildee-se a discutir como escreve Esteacutebanez (2015 p 62) em capiacutetulo de revisatildeo sobre o tema

Nos uacuteltimos trinta anos ampliando a noccedilatildeo de cultura cientiacutefica eacute produzido com a adiccedilatildeo de novas dimensotildees aleacutem da cognitiva relacionadas com a aquisiccedilatildeo de novos valores e padrotildees de avaliaccedilatildeo da atividade de pesquisa dimensotildees afetivas nas atitudes em relaccedilatildeo agrave ciecircncia e tecnologia a percepccedilatildeo de risco Dentro desta nova concepccedilatildeo a ideia de que CCyT inclui as capacidades dos leigos - ou cidadatildeos - para interagir com especialistas - ou cientiacuteficos - mediante a compreensatildeo dos aspectos institucionais da ciecircncia e da tecnologia (quem a produz para que fim com que consequumlecircncias) e predisposiccedilatildeo para o exerciacutecio da cidadania nos debates relacionados com a ciecircncia e tecnologia (Vacarrezza et ai 2004 pp 25-26) Sob essa noccedilatildeo ampliada da cultura a ideia de apropriaccedilatildeo estaacute ligada agrave contextualizaccedilatildeo da ciecircncia e da tecnologia e a variabilidade de aplicaccedilatildeo e significados que adquirem nas condiccedilotildees locais de uso Contextualizar remete a dar significado especiacutefico para o usa em aacutereas especiacuteficas de atuaccedilatildeo social Considera-se a cultura como um fator ativo uma ma-triz de uso da ciecircncia e da tecnologia e componente transformador ou resignificante do conhecimento

A autora (p 67-68) apresenta ainda uma siacutentese que pode nos dar alguma noccedilatildeo quanto a importacircn-cia deste tema para efetivaccedilatildeo daquilo que eacute buscado com a Educaccedilatildeo CTS

Nesta revisatildeo de literatura ajustado com base na apropriaccedilatildeo social da ciecircncia e da tecnolo-gia se propotildee aqui proposto para resumir as seguintes definiccedilotildees e diferenccedilas em torno dos muacuteltiplos significados encontrados- Refere-se a sujeitos colectivos e neste sentido a sociedade como um grupo central Dife-rencia-se do fenocircmeno de apropriaccedilatildeo individual (protagonizado por pessoas particulares) e da apropriaccedilatildeo privado (industrial comercial) - Envolve processos de coproduccedilatildeo de conhecimento por parte de cientistas e cidadatildeos-usuaacuterios e desenvolvimento cooperativo de tecnologias a partir do qual valores e interes-ses puacuteblicos satildeo registrados nos resultados alcanccedilados- O uso competente do conhecimento cientiacutefico e tecnoloacutegico eacute o resultado de processos de apropriaccedilatildeo Neste sentido especiacutefico a dimensatildeo social da apropriaccedilatildeo eacute fortalecer a capa-cidade coletiva de usar tal conhecimento para o bem estar comum- Os processos de apropriaccedilatildeo social ocorrem quando a capacidade de usar conhecimento se integra agrave matriz cultural da sociedade em ligaccedilatildeo sineacutergica e natildeo excludente com outros tipos de conhecimento (tradicional empiacuterica originaacuterios) A participaccedilatildeo cidadatilde intervem positivamente na ampliaccedilatildeo dos processos de apropriaccedilatildeo social da ciecircncia e da tecnologia colocando em accedilatildeo a cultura cientiacutefica e tecnoloacutegica- A apropriaccedilatildeo social eacute a capacidade relativa dos cidadatildeos para o conhecimento dos bene-

42 Haacute um nuacutemero monograacutefico da revista CTS que pode ser obtido em httpwwwrevistactsnetvolumen-4-numero-10

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SOBRE AS RELACcedilOtildeES CIEcircNCIA TECNOLOGIA E SOCIEDADE80

fiacutecios e riscos da ciecircncia e tecnologia e as dimensotildees eacuteticas envolvidas produccedilatildeo e aplicaccedilatildeo do conhecimento a compreensatildeo dos aspectos institucionais da ciecircncia e da tecnologia a decisatildeo sobre a utilizaccedilatildeo de produtos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos controle sobre os espe-cialistas fazer valer os seus interesses e pontos de vista sobre a governanccedila da ciecircncia e tecnologia

Indispensaacutevel que a formaccedilatildeo do cidadatildeo considere estes aspectos e o prepare minimamente por meio da alfabetizaccedilatildeo tecnocientiacutefica para entender e interferir ndash no campo dos conhecimentos da poliacutetica da economia da inovaccedilatildeo dos valores e da eacutetica ndash nas possiacuteveis interaccedilotildees dos sistemas CTS sistema tecnocientiacutefico sistema soacutecio-cientiacutefico e sistema soacutecio-tecnoloacutegico afastando-se quanto possiacutevel dos chamados Determinismo Social Determinismo Tecnoloacutegico e Determinismo Cientiacutefico que buscam avocar para si a prevalecircncia a precedecircncia e a centralidade nos processos de produccedilatildeo de anaacutelises e de decisatildeo

Apesar desta visatildeo que nos parece defensaacutevel percebemos que a comunidade de ciecircncia e tecnologia ainda estaacute longe de construir consensos em torno da participaccedilatildeo cidadatildeo na construccedilatildeo da ciecircncia e da tecnologia e sobre o processo decisoacuterio de temas tecnocientiacuteficos de impacto social Por conta disso eacute indispensaacutevel natildeo atribuir agrave abordagem CTS mais valor do que ela efetivamente possui natildeo a transformar em panaceia natildeo desconsiderar a contribuiccedilatildeo de outras visotildees de ensino de outras aacutereas do conhecimento e das diversas experiecircncias que se desenvolvem em contextos distintos e que ao final poderatildeo chegar ao mesmo fim mas por caminhos diversos o que tambeacutem eacute vaacutelido e necessaacuterio

Atividade Proposta para reflexatildeo

Aplicaccedilatildeo dos modelos de interaccedilatildeo segundo HabermasFourez no contexto das disciplinas

Vocecirc deve refletir sobre a seguinte provocaccedilatildeo

Que matemaacutetica ensinar no Ensino Meacutedio Como os matemaacuteticos identificariam estes conteuacutedos (modelo tecnocraacutetico) Como uma equipe multidisciplinar identificaria os conteuacutedos (ainda o mo-delo tecnocraacutetico) Como seriam as negociaccedilotildees entre matemaacuteticos e pedagogos na busca dos con-teuacutedos (modelo decisionista) Como seria a negociaccedilatildeo entre diferentes atores sociais na decisatildeo dos conteuacutedos (modelo pragmaacutetico-poliacutetico)

Responda em apenas uma lauda nos padrotildees propostos

CTS E O ENSINO81

6 CTS e o ensino

O enfoque CTS inserido nos curriacuteculos eacute um impulsionador inicial para estimular o aluno a refletir sobre as inuacutemeras possibilidades de leitura acerca da triacuteade ciecircncia tecnologia e sociedade com a expectativa de que ele possa vir a assumir postura questionadora e criacutetica num futuro proacuteximo Isso implica dizer que a aplicaccedilatildeo da postura CTS ocorre natildeo somente dentro da escola mas tambeacutem extramuros

Pinheiro Matos e Bazzo2007

61 Introduccedilatildeo

Certamente a Abordagem CTS eacute uma alternativa poderosa para a formaccedilatildeo tecnocientiacutefica sob a oacutetica da formaccedilatildeo do cidadatildeo E isso eacute facilitado visto que a premissa CTS eacute a do acolhimento de posiccedilotildees divergente e o exerciacutecio do entendimento do respeito agraves diferenccedilas da construccedilatildeo de con-senso e da toleracircncia sem perder de vista os deveres direitos a eacutetica a cultura e a visatildeo de curto meacutedio e longo prazos Podemos dizer que os fundamentos CTS estatildeo acentados nas grandes aacutereas da Poliacutetica da Economia dos Valores do Ambiente das Relaccedilotildees pessoais e sociais principalmente

No que se refere ao acolhimento pelos estudantes natildeo se deve esquecer que a Abordagem CTS se propotildee a trabalhar a realidade instrumentalizando os estudantes para que estes interajam com esta realidade modificando-a a partir de suas reflexotildees pessoais eou decisotildees coletivas

No que concerne a sua contribuiccedilatildeo social a Abordagem CTS tambeacutem eacute importante Uma vez que a proposta de fundo eacute a aceitaccedilatildeo da Construccedilatildeo Social da Ciecircncia e da Tecnologia e no estudo do impacto da Ciecircncia e da Tecnologia sobre a Sociedade espera-se que o conhecimento sobre a huma-nizaccedilatildeo da Ciecircncia e da Tecnologia e a relativizaccedilatildeo do bem absoluto da Ciecircncia e da Tecnologia se transformem em aprendizado social e sejam patrimocircnio coletivo a influir no fazer cotidiano de cada cidadatildeo Sob este acircngulo natildeo se espera que a Abordagem CTS seja mais uma teacutecnica didaacutetica mas sim uma cultura a cultura CTS que se manifesta em qualquer teacutecnica de ensino ou manifestaccedilatildeo docente

Esta cultura que deveraacute se manifestar por meio das diversas teacutecnicas deve contemplar de forma am-pla alguns pressupostos que caracterizam e norteiam a accedilatildeo didaacutetica CTS Ao final e ao longo da ativi-dade os estudantes devem vivenciar a Ciecircncia a Tecnologia e a Sociedade mesmo que por diferentes oacuteticas o conhecimento as habilidades e as atitudes (Chrispino 1992) ideias maacutequinas e valores (Cutcliffe 2003) conhecer manejar e participar (Martin Gordillo e Osorio 2003) e numa visatildeo mais ampla de educaccedilatildeo e ensino o saber fazer saber-fazer e saber-ser (UNESCO 1994)

Por tudo isso parece ficar claro que a Abordagem CTS natildeo eacute uma abordagem exclusivamente para as disciplinas do chamado grupo de ciecircncias exatas e da natureza A Abordagem CTS ao solicitar para o mesmo fato social a visatildeo tanto da cultura cientifico-tecnoloacutegica como da cultura soacutecio-humaniacutestica favorece a aproximaccedilatildeo destas separadas por um abismo que natildeo se explica na atualidade

Temos defendido que a Abordagem CTS eacute uma maneira de abordar o curriacuteculo escolar ou mesmo de posicionar-se frente agrave Educaccedilatildeo e ao mundo real nos seus mais diversos aspectos Mais do que uma teacutecnica (pois natildeo eacute uma ferramenta didaacutetica que conduz a um fim de aprendizado especifico para

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CTS E O ENSINO82

encerrarse logo apoacutes) nem uma metodologia (pois que abarca aspectos muito mais amplos que aque-les que caracterizam uma metodologia) CTS eacute uma abordagem curricular e uma escolha de poliacutetica educacional A isso classificamos de Educaccedilatildeo CTS

Partindo-se desta premissa pode-se esperar que a maneira de ver e de fazer educaccedilatildeo por meio do ensino na abordagem CTS se materializaraacute em vaacuterias esferas de accedilatildeo didaacutetica (desde o ensino funda-mental ateacute a educaccedilatildeo de jovens e adultos) nos ambientes de ensino tradicional ou inovador (visto que a abordagem CTS natildeo estaacute restrita aos instrumentos mas estaacute sob a eacutegide do professor e sua proposta de apresentar o mundo por outra oacutetica) em accedilotildees de formaccedilatildeo educacional de longo porte (como cursos de formaccedilatildeo) ou mesmo em atividades pontuais (como estudos pontuais e temaacuteticos) A isso classificamos de Ensino CTS

Longe de ser uma panaceacuteia A abordagem CTS deve ser encarada como uma das maneiras de apre-sentar organizar e multiplicar os conhecimentos independentemente das caracteriacutesticas ou res-triccedilotildees impostas externamente

Robert E Yager (Yager 1991 1992 1993 2000) vem publicando haacute deacutecadas uma anaacutelise que busca diferenciar o que seja ensino tradicional e o ensino CTS diferenccedila essa interessante para nossas re-flexotildees neste ponto do estudo Mais recentemente Yager e Akcay (2008 p 4) retomam o tema e nos apresentam a seguinte comparaccedilatildeo

Ensino Tradicional Ensino CTS

Levantamento dos principais conceitos encontrados em livros-texto padratildeo

Identificaccedilatildeo de problemas com interesse impacto local pes-soal

Utilizaccedilatildeo de laboratoacuterios e atividades sugeridas no livro didaacuteti-co e acompanhamento manual de laboratoacuterio

Aproveitamento dos recursos locais (humanos e materiais) para localizar informaccedilotildees e resolver problemas questotildees

Os alunos passivamente recebem informaccedilotildees fornecidas pelo professor e pelo livro didaacutetico

Os alunos estatildeo ativamente envolvidos na busca de informaccedilotildees para uso

Aprendizagem estaacute contida em uma sala de aula e em uma seacuterie escolar Praacutetica de ensino que natildeo se limita agrave sala de aula

Centra-se na informaccedilatildeo proclamada importante pelo profes-sor para que os alunos mestre Centrado no impacto pessoal e faz uso da criatividade do aluno

Conteuacutedo de Ciecircncias a partir de informaccedilotildees existentes e expli-cadas em livros e palestras do professor

Conteuacutedo de ciecircncia natildeo como algo que existe para o domiacutenio do aluno soacute porque estaacute registrado na imprensalivros

Natildeo considera a visatildeo de carreira Faz referecircncia ocasional a um(a) cientista (em geral mortos) e sua descobertas

Centra-se na visatildeo de carreira especialmente as carreiras re-lacionadas agrave ciecircncia e tecnologia que os alunos podem escolher enfatizando as carreiras em outras aacutereas aleacutem da medicina en-genharia e pesquisa cientiacutefica

Os alunos se concentram em resolver problemas fornecidos pe-los professores e livros didaacuteticos

Os alunos tornam-se cientes de seus papeacuteis de cidadatildeos e como eles podem influir nas questotildeesproblemas que identificam como importantes

Aprendizagem de Ciecircncias ocorre apenas na sala de aula como parte do curriacuteculo escolar

Os alunos percebem o papel da ciecircncia em instituiccedilotildees e em co-munidades especiacuteficas

Aula de Ciecircncias centra-se sobre o que foi anteriormente conhecido Aula de Ciecircncias enfoca como o futuro pode ser

Haacute pouca preocupaccedilatildeo com o uso das informaccedilotildees aleacutem da sala de aula e o desempenho em testes

Os alunos satildeo incentivados a desfrutar e buscar a experiecircncia cientiacutefica

Traduccedilatildeo livre do autor

Faremos aqui uma apresentaccedilatildeo ampla de CTS e suas relaccedilotildees com o ensino Recomendamos para aqueles que desejem uma visatildeo educacional mais especiacutefica das abordagens teoacutericas a leitura de Ca-chapuz et al (2008) e Aikenhead (2005) bem como Santos e Mortimer (2002)

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CTS E O ENSINO83

62 A Abordagem CTS e o ensino

Os mitos e as distorccedilotildees da imagem da Ciecircncia e da Tecnologia como apresentamos (Sarewitz 1996 e Cachapuz et al 2005) explicam de certa forma a dificuldade de se construir o conhecimento cientiacute-fico de forma criacutetica objetivando a melhor formaccedilatildeo do cidadatildeo que se aproprie dos conhecimentos a fim de melhor interagir com o meio social

Buscando alternativas para este tipo de dificuldade dentre outras surgiu um movimento intitulado CTS-Ciecircncia Tecnologia e Sociedade no final da deacutecada de 60 e iniacutecio da deacutecada de 70 Bazzo Lin-singen e Pereira (2003) escrevem

Os estudos CTS definem hoje um campo de trabalho recente e heterogecircneo ainda que bem consolidado de caraacuteter criacutetico a respeito da tradicional imagem essencialista da ciecircncia e da tecnologia e de caraacuteter interdisciplinar por convergirem nele disciplinas como a filosofia e a histoacuteria da ciecircncia e da tecnologia a sociologia do conhecimento cientiacutefico a teoria da educaccedilatildeo e a economia da mudanccedila teacutecnica Os estudos CTS buscam compreender a di-mensatildeo social da ciecircncia e da tecnologia tanto desde o ponto de vista dos seus antecedentes sociais como de suas consequecircncias sociais e ambientais ou seja tanto no que diz respeito aos fatores de natureza social poliacutetica ou econocircmica que modulam a mudanccedila cientiacutefico-tecnoloacutegica como pelo que concerne agraves repercussotildees eacuteticas ambientais ou culturais dessa mudanccedilaO aspecto mais inovador deste novo enfoque se encontra na caracterizaccedilatildeo social dos fato-res responsaacuteveis pela mudanccedila cientiacutefica Propotildee-se em geral entender a ciecircncia-tecnologia natildeo como um processo ou atividade autocircnoma que segue uma loacutegica interna de desenvolvi-mento em seu funcionamento oacutetimo (resultante da aplicaccedilatildeo de um meacutetodo cognitivo e um coacutedigo de conduta) mas sim como um processo ou produto inerentemente social onde os elementos natildeo-epistecircmicos ou teacutecnicos (por exemplo valores morais convicccedilotildees religio-sas interesses profissionais pressotildees econocircmicas etc) desempenham um papel decisivo na gecircnese e na consolidaccedilatildeo das ideias cientiacuteficas e dos artefatos tecnoloacutegicos (p 125)

Para Manassero e Vaacutezquez (2001) jaacute se referindo a didaacutetica proacutepria que solicita a Abordagem CTS escrevem

O movimento didaacutetico ciecircncia-tecnlogia-sociedade (CTS) tem como um de seus objetivos o desenvolvimento das atitudes relacionadas com a ciecircncia nos alunos e propotildee como referecircncia para sua avaliaccedilatildeo o corpo de conhecimentos que emerge das anaacutelises histoacuteri-cas filosoacuteficas e socioloacutegicas sobre a ciecircncia (Aikenhead 1994a 1994b Bybee 1987) No espiacuterito deste movimento estaacute o desejo de oferecer atraveacutes da educaccedilatildeo das atitudes re-lacionadas com a ciecircncia uma visatildeo mais autecircntica da ciecircncia e da tecnologia em seu contexto social desvinculadas de imagens mitificadas e tendenciosas (cientificismo e tecnocracia) ao mesmo tempo que reconhece a tecnologia como atividade diferente in-tegrada e equiparaacutevel com a ciecircncia e natildeo soacute como mera ciecircncia aplicada A equiparaccedilatildeo entre e tecnologia aumenta imediatamente os valores contidos na natureza das atividades cientiacuteficas de modo que a educaccedilatildeo atitudinal ndash moral ou eacutetica ndash eacute uma consequecircncia inevitaacutevel da Educaccedilatildeo CTS (Layton 1994) Como afirma Ziman (1994) a debilidade da ciecircncia tradicional natildeo reside no que ensina sobre a natureza mas sim no que natildeo ensina em particular suas relaccedilotildees com a tecnologia e a sociedade vazio que pretende preencher a Educaccedilatildeo CTS (p 16)

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CTS E O ENSINO84

A Associaccedilatildeo Nacional dos Professores de Ciecircncias nos Estados Unidos tem endossado uma extensa definiccedilatildeo para o movimento CTS

CTS eacute um termo que denomina os uacuteltimos esforccedilos para se promover um contexto de mun-do real para o estudo da ciecircncia Eacute um termo que eleva a retoacuterica da Ciecircncia da educaccedilatildeo para uma posiccedilatildeo que vai aleacutem de conteuacutedos e debates sobre o escopo e a sequencia dos conceitos baacutesicos e habilidades processuais CTS inclui toda a gama de criacuteticas conexas no processo de educaccedilatildeo incluindo objetivos conteuacutedos estrateacutegias instrucionais avaliaccedilatildeo e a preparaccedilatildeoperformance do professor Ningueacutem pode fazer CTS apenas aderindo cer-tos toacutepicos e liccedilotildees ao conteuacutedo ou cursos ou livros texto Os alunos tecircm que estar envol-vidos com o objetivo com os procedimentos planejados com as informaccedilotildees alocadas e com a avaliaccedilatildeo de tudo O baacutesico para os esforccedilos em CTS eacute a formaccedilatildeo de uma cidadania instruiacuteda capaz de tomar decisotildees cruciais sobre problemas correntes e ter atitudes pessoa-is como resultado dessas decisotildees CTS significa enfocar debates correntes e tentativas de sua soluccedilatildeo como a melhor maneira de se preparar as pessoas para exercerem a cidadania no futuro Isto significa identificar problemas (locais regionais nacionais e internacionais) com os alunos planejando atividades indivi-duais ou em grupo e movendo accedilotildees designa-das a resolver o que foi debatido Os alunos satildeo envolvidos na totalidade do processo eles natildeo satildeo receptaacuteculos de qualquer conteuacutedo preacute-determinado ou dos ditames do professor Natildeo haacute um conceito ou processo uacutenico para o CTS no lugar disso o CTS provecirc um ambiente e uma razatildeo para considerar os conceitos e processos da ciecircncia e da tecnologia Isto signi-fica determinar maneiras de como essas ideias e habilidades baacutesicas podem ser vistas como uacuteteis CTS significa um enfoque dos problemas do mundo real em vez de se comeccedilar com conceitos e procedimentos que os professores e conteuacutedos desenvolvidos sustentam em termos de utilidades para os alunos (Yager 1991 p 21)

Para Acevedo Diaz (2009) CTS eacute ao mesmo tempo

(1) um campo de estudo e investigaccedilatildeo busca compreender melhor a ciecircncia e a tecnologia em seu contexto social Aborda as relaccedilotildees muacutetuas entre o desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico e os processos sociais (2) Uma proposta educativa inovadora de caraacuteter geral como proposta educativa constitui um novo planejamento curricular em todos os niacuteveis de ensino com a principal finalidade de dar uma formaccedilatildeo em conhecimento e valores que favoreccedilam a participaccedilatildeo cidadatilde res-ponsaacutevel e democraacutetica na avaliaccedilatildeo e no controle das implicaccedilotildees sociais da ciecircncia e da tecnologia

Auler (2007) estudando os pressupostos CTS para o contexto brasileiro escreve que os objetivos da educaccedilatildeo CTS podem ser sintetizados em

bull Promover o interesse dos estudantes em relacionar a ciecircncia com aspectos tecnoloacutegicos e sociais discutir as implicaccedilotildees sociais e eacuteticas relacionadas ao uso da ciecircncia-tecno-logia (CT)

bull Adquirir uma compreensatildeo da natureza da ciecircncia e do trabalho cientiacutefico bull Formar cidadatildeos cientiacutefica e tecnologicamente alfabetizados capazes de tomar decisotildees

informadas e desenvolver o pensamento criacutetico e a independecircncia intelectual

Segundo Membiela (2001 p 91) o propoacutesito da educaccedilatildeo CTS eacute promover a Alfabetizaccedilatildeo tecno-cientiacutefica de maneira que se capacite os cidadatildeos a participar do processo democraacutetico de tomada de decisatildeo e se promova a accedilatildeo cidadatilde voltada para a resoluccedilatildeo de problemas relacionados com a

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CTS E O ENSINO85

Ciecircncia e com a Tecnologia O mesmo autor chama a atenccedilatildeo para fato de ser este um dos conceitos possiacuteveis de CTS visto que haacute ldquomuito debate e pouco consenso entre a comunidade CTSrdquo certamen-te porque o espaccedilo CTS eacute por conceito um espaccedilo interdisciplinar onde se encontram aacutereas que possuem conceitos polissecircmicos tal qual ciecircncia tecnologia sociedade valores ambiente etc Essa aparente dificuldade pode ser encarada como confirmaccedilatildeo do postulado de que haacute espaccedilo e neces-sidade de divergir de perceber diferente de interpretar sob outra oacutetica e mesmo assim caminhar e conquistar espaccedilos

Para Yager (2013 p X) ldquoCTS eacute o ensino e a aprendizagem de ciecircncia-tecnologia no contexto da ex-periecircncia humanardquo

Uma definiccedilatildeo que muito nos impressiona pela clareza eacute a de Cutcliffe (2003 p 18) quando escreve que

a missatildeo central do campo CTS ateacute a presente data eacute expressar a interpretaccedilatildeo da ciecircncia e da tecnologia como um processo social Neste ponto de vista a ciecircncia e a tecnologia satildeo vistos como projetos complexos em que os valores culturais poliacuteticos e econocircmicos nos ajudam a configurar os processos tecnocientiacuteficos os quais por sua vez afetam os valores mesmos e a sociedade que os sutenta

Portanto cada realidade social (caracterizada pela diversidade cultural poliacutetica de crenccedilas valores etc) produziraacute um conjunto de significados acarretando distintos entendimentos sobre o que seja ou o que possa ser CTS Sobre isso Ainkenhead escreveu

[] cada paiacutes tem sua proacutepria histoacuteria associada principalmente agrave sua realidade social fa-zendo com que as relaccedilotildees entre a ciecircncia e a sociedade assumam diferentes caracteriacutesticas Em virtude disso muitas vezes pode natildeo haver um acordo no significado preciso de CTS ou uma definiccedilatildeo uacutenica que seja um consenso em todas as partes do mundo (Aikenhead 2005 p 119)

e

Um projeto particularmente CTS desenvolvidos em um paiacutes pode definir o que eacute ciecircncia CTS para educadores desse grupo ou paiacutes A criacutetica sobre CTS nesse paiacutes podem na realida-de resultar ser a criacutetica de um tipo particular de projeto CTS mesmo que outros educadores CTS possam achar inadequado tambeacutem rdquo (Aikenhead 2005 p 119)

Para Pedretti e Nazir (2011) ldquoo CTS educacional pode ser compreendido como um vasto oceano de ideias e princiacutepios que se cruzam e se sobrepotildee em diversos contextosrdquo (p 603)

Como afirma Solomon (1993)

bull As caracteriacutesticas especiais do CTS no acircmbito do ensino de ciecircncia incluem bull Uma compreensatildeo das ameaccedilas ambientais incluindo as globais agrave qualidade de vida bull Os aspectos econocircmicos e industriais da tecnologia bull Alguma compreensatildeo da natureza faliacutevel da ciecircnciabull Discussatildeo de opiniatildeo e valores pessoais bem como a accedilatildeo democraacutetica bull Uma dimensatildeo multi-cultural (SOLOMON 1993 p 19)

Recentemente frente agraves dificuldades causadas pelas consequecircncias do uso de tecnologias mais es-pecialmente no meio ambiente tais como efeito estufa acidentes petroliacuteferos buraco na camada de

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ozocircnio etc o Movimento CTS ganhou novos adeptos Era necessaacuterio que a sociedade percebesse os riscos que podem trazer o uso natildeo responsaacutevel de conhecimentos e tecnologias para o individuo para a coletividade e para o ambiente Surge entatildeo um movimento derivado intitulado CTS+A ou CTSA Ciecircncia Tecnologia Sociedade e Ambiente que na verdade resgata a origem do Movimento CTS produzido por conta da preocupaccedilatildeo dos impactos tecnoloacutegicos sobre o meio ambiente na deacutecada de 60 Pode-se ainda apontar outras tendecircncias ou focos como o CTS+I (de Inovaccedilatildeo) CTS+V (de Valores) e CTS+P (de Poliacutetica) que satildeo realccedilados para o grande puacuteblico como identificador da ver-tente de estudo a que se dirige o trabalho mas que estatildeo contidos ndash tanto ambiente como inovaccedilatildeo como valores como poliacutetica ndash nas fundaccedilotildees mesmas dos Enfoques CTS Mais recentemente eacute pos-siacutevel encontrar CTS+S (de sustentabilidade) proposto por Costa Ribeiro e Machado (2012) quando defendem que ldquoa postura CTSCTSA deve adquirir explicitamente esta componente e evoluir para Ciecircncia-Tecnologia-Sociedade-Sustentabilidade o que pede uma sigla alternativa mais adequada CTSS ou em estilo de foacutermula quiacutemica CTS2rdquo ndash e tambeacutem Costa (2011) ndash e a proposta Figaredo Cu-riel (2013) que acredita ser mais adequado aos tempos modernos o acrocircnimo SOCITEI (do original em espanhol So sociedad Ci conocimiento y ciencia Te tecnologiacutea In innovacioacuten) A nosso ver algumas desses acreacutescimos representam uma aacuterea fundadora de CTS e por isso uma redundacircncia Outras querem representar uma aacuterea de interesse que ganha visibilidade quando se agrupa a triacuteade CTS o que natildeo se justifica Por outro lado eacute possiacutevel vislumbrar a vantagem de que o acreacutescimo agrave sigla original indica a aacuterea ou tema tratado no trabalho ou pesquisa

Essa preocupaccedilatildeo crescente pela qualidade de vida e pelo futuro ameaccedilados por acontecimentos tecnocientiacuteficos e pela falta de condiccedilotildees de reaccedilatildeo da Sociedade por desconhecimento deve chamar a atenccedilatildeo de professores e gestores para a funccedilatildeo social do ensino e da educaccedilatildeo Afinal a escola tem a funccedilatildeo de perpetuar os valores da sociedade em que estaacute inserida e a de conscientizar o estudante para contribuir de forma mais veemente com a melhoria dessa mesma sociedade A partir disso espera-se que dentro do possiacutevel ele possa utilizar o conhecimento cientiacutefico contextualizado a fim de melhor entender o mundo que o cerca vindo a decidir com mais acerto Isso pediraacute atenccedilatildeo maior agrave interdisciplinariade agrave contextualizaccedilatildeo do conhecimento agrave cotidianizaccedilatildeo do fato tecnocientiacutefico a problematizaccedilatildeo do aprendizado (Chrispino 1992) e a transversalidade dos temas

Neste bloco de aspectos necessaacuterios a Abordagem CTS cabe um esclarecimento quanto ao que se pode entender por contextualizaccedilatildeo e por cotidianizaccedilatildeo que em geral satildeo tratados como sinocircni-mos Para noacutes a cotidianizaccedilatildeo esta ligada ao fazer pontual do estudantecidadatildeo enquanto a con-textualizaccedilatildeo estaacute vinculada a capacidade de relaccedilatildeo com os demais aspectos da sociedade (poliacuteticos filosoacuteficos socioloacutegicos econocircmicos etc) e se constroacutei por meio de vaacuterios conceitos Para noacutes a coti-dianizaccedilatildeo eacute disciplinar e a contextualizaccedilatildeo eacute obrigatoriamente interdisciplinar ou transdisciplinar Nesta visatildeo contextocontextualizaccedilatildeo eacute mais amplo que o fatocotidianizaccedilatildeo mas a praacutetica pode restringir as possibilidades do contextocontextualizaccedilatildeo como alertam Young e Muller (2016 p 529) ldquoo conhecimento emerge dos ndash mas natildeo eacute redutiacutevel aos ndash contextos nos quais ele eacute produzido e adquiridordquo (negritos no original) Anaacutelises das diferentes concepccedilotildees de contextualizaccedilatildeo podem ser obtidas em Martins (2015) e Kato e Kawasaki (2011)

Por conta desta necessidade imperiosa de exercitar as muacuteltiplas visotildees sobre o mesmo fato buscando superar a visatildeo uacutenica produzida pelos mitos pelas posturas ingecircnuas pela ideologia pela tradiccedilatildeo pelo preconceito pela limitaccedilatildeo de conhecimento pela perda de objetivo da escola etc temos bus-cado alternativas didaacuteticas que busquem exercitar as muacuteltiplas visotildees sobre um mesmo fenocircmeno educacional ou social Para executar tal proposta defende-se o modelo da Abordagem CTS (Chris-pino 2005a 2005b)

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Para atender a necessidade de todos os atores envolvidos no fato tecnocientiacutefico relevante ndash as pes-quisas com ceacutelulas-tronco embrionaacuterias a transposiccedilatildeo do Rio Satildeo Francisco a instalaccedilatildeo de usinas hidreleacutetricas no Rio Madeira e outros rios a expansatildeo da agropecuaacuteria no espaccedilo de preservaccedilatildeo am-biental a utilizaccedilatildeo de vacinas experimentais em seres humanos a instalaccedilatildeo de antenas de telefonia celular em ambientes urbanos a produccedilatildeo de alimentos transgecircnicos etc ndash eacute necessaacuterio vislumbrar uma teacutecnica que reuacutena as divergecircncias de opiniatildeo e de anaacutelise que desenvolva condiccedilotildees de troca de experiecircncia e de percepccedilatildeo que aproxime o grau de conhecimento formal (e tambeacutem de conhe-cimentos preacutevios natildeo-formais) e ofereccedila condiccedilotildees para que o debate ocorra a fim de esclarecer as consciecircncia e orientar melhores decisotildees

Os teoacutericos da Abordagem CTS informam que as experiecircncias didaacuteticas jaacute realizadas ndash aqui mais especificamente no ensino meacutedio ndash se fundamentam na chamada investigaccedilatildeo-accedilatildeo e podem ser ge-nericamente classificadas em trecircs grandes grupos (Walks 1990 Sanmartim 1992 Gonzaacutelez Garciacutea Loacutepez Cerezo e Lujaacuten Lopez 1996 Bazzo Linsingen e Pereira 2003 Pinheiro Matos e Bazzo 2007)

1 Os enxertos CTS 2 Ciecircncia e Tecnologia por meio CTS e 3 CTS puro

Buch (2003) prefere resgatar a classificaccedilatildeo de Lopez Cerezo (1998 2002 e 2009) que propotildee classi-ficar a introduccedilatildeo de conteuacutedos CTS em

1 CTS como conteuacutedo de outras mateacuterias (ou enxerto CTS)2 Ciecircncia e Tecnologia por meio CTS e 3 CTS como disciplina (como complemento curricular)

Silva (1999) e Miembiela (2001) evocam a classificaccedilatildeo proposta por Hickman Patrick e Bybee (1987) assinalam maneiras de introduzir o tema nos curriacuteculos satildeo elas

1 A inclusatildeo de moacutedulos com enfoque CTS nas mateacuterias tradicionais2 A infusatildeo do enfoque CTS em mateacuterias jaacute existentes atraveacutes de repetidas inclusotildees

pontuais ao longo do curriacuteculo3 A criaccedilatildeo de uma mateacuteria CTS4 A transformaccedilatildeo completa do enfoque de um tema jaacute existente mediante seu desenvol-

vimento na perspectiva CTS

Apesar de apresentarmos 3 conjuntos de classificaccedilotildees eacute possiacutevel perceber que ao fundo elas se aproximam e propotildeem rotinas semelhantes Haacute (1) a criaccedilatildeo de uma disciplina CTS ou CTS Puro (2) o enxerto CTSCTS como complemento de disciplinas e (3) a Ciecircncia e Tecnologia por meio de CTS

Dois autores apresentam detalhes importantes dessas abordagens Bazzo Linsingen e Pereira (2003 p 119-155) e Loacutepez Cerezo (1998 e 2002 p 3-39) a partir dos quais construiremos este item

621 Enxerto CTS

Trata-se de introduzir nas disciplinas jaacute existentes nos curriacuteculos os chamados temas CTS especial-mente relacionados com acontecimentos tecnocientificos que permitam reflexatildeo e motivaccedilatildeo para o estudo e debate O tipo de material para estrateacutegia de ensino satildeo unidades curtas de temas CTS para alunos e para professores Exemplos dessa modalidade de ensino CTS eacute o projeto SATIS (Ciecircncia e Tecnologia na Sociedade) que consiste em 370 unidades curtas CTS desenvolvidas por professo-

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res de ciecircncias do Reino Unido com o objetivo principal de complementar os cursos de ciecircncias de crianccedilas e jovens (grupos de idade 8-14 14-16 e 16-19 anos) Alguns tiacutetulos satildeo

bull O que haacute em nossos alimentos Uma olhada em suas etiquetasbull Beber aacutelcoolbull O uso da radioatividadebull Os bebecircs de provetabull Oacuteculos e lentes de contatobull Produtos Quiacutemicos derivados do sal bull A reciclagem do alumiacutenio bull A etiqueta ao avesso uma olhada nas fibras tecircxteisbull A chuva aacutecida bull A AIDSbull 220 volts podem matar

A vantagem do enxerto CTS eacute a vantagem de se manter a estrutura curricular a que o professor estaacute acostumado e seguro e incluir a Abordagem CTS

Loacutepez Cerezo (2009) assinala as vantagens desta abordagem e lembra que ela favorece as discussotildees pela oacutetica da tradiccedilatildeo americana mais voltada para as consequecircncias da teacutecnica e menos da tradiccedilatildeo europeacuteia que solicita uma formaccedilatildeo mais especializada

622 Ciecircncia e Tecnologia atraveacutes de CTS

Ensina-se mediante a estruturaccedilatildeo dos conteuacutedos das disciplinas a partir de CTS ou com orientaccedilatildeo CTS Essa abordagem permite estruturaccedilatildeo de atividades por disciplinas isoladas como tambeacutem por atividades interdisciplinares Loacutepez Cerezo (2009) escreve que esta eacute ldquoa mais infrequumlente opccedilatildeo e consiste em reconstruir os conteuacutedos de ensino de ciecircncia e da tecnologia atraveacutes de uma oacutetica CTSrdquo (p 27)

Discordamos daqueles autores que descrevem estes modelos e defendem a ideia de que essas ativi-dades se destinam a professores de ciecircncias as disciplinas chamadas exatas ou para a aacuterea do ensino de ciecircncias que certamente jaacute absorveu a Abordagem CTS como bem nos apresenta o estudo de Cachapuz et al (2008) Haacute temas que podem ser tratados por disciplinas da chamada aacuterea socialhumana Por exemplo a instalaccedilatildeo de Shopping Center na regiatildeo da escola ou furtos de energia (ldquoga-tosrdquo) etc Podem ter apelos ou facilidades para uma ou outra disciplina mas a abordagem CTS prima pela interdisciplinaridade quiccedilaacute a transdisciplinaridade

Como exemplo temos os programas PLON (Projeto de Desenvolvimento Curricular em Fiacutesica) e APQUA (Aprendizagem de Produtos Quiacutemicos seus usos e aplicaccedilotildees) O PLON eacute um conjunto de unidades onde em cada uma delas tomam-se problemas baacutesicos com relevacircncia social e relaciona-dos com os futuros papeacuteis dos estudantes (como consumidor como cidadatildeo como profissional) a partir daiacute seleciona-se e estrutura-se o conhecimento cientiacutefico e tecnoloacutegico necessaacuterio para que o estudante esteja capacitado para entender um artefato tomar uma decisatildeo ou entender um ponto de vista sobre um problema social relacionado de algum modo com a ciecircncia e com a tecnologia Alguns exemplos de temas do PLON para alunos de 13-17 anos satildeo

bull Gelo aacutegua e vaporbull Pontes

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bull Aacutegua para a Tanzacircniabull A energia em nossos laresbull Tracircnsito e seguranccedila bull Esquentando e isolandobull Maacutequinas e energiabull Armas nucleares e seguranccedilabull Radiaccedilotildees ionizantes

Outro projeto eacute o APQUA que procura proporcionar conteuacutedos e habilidades na resoluccedilatildeo de pro-blemas e na anaacutelise criacutetica de situaccedilotildees tecnocientiacuteficas Um exemplo de unidade APQUA eacute ldquoO Risco e a gestatildeo de produtos quiacutemicosrdquo que se desdobra nos moacutedulos ldquoRisco o jogo da vidardquo ldquoToxicologia determinaccedilatildeo de valores-limitesrdquo e ldquoTratamento de resiacuteduos industriaisrdquo (ver tambeacutem Merceacute e Au-leacutes 2001)

623 CTS puro

Para Pinheiro Matos e Bazzo (2007) no CTS Puro ldquoensina-se ciecircncia tecnologia e sociedade por intermeacutedio do CTS no qual o conteuacutedo cientiacutefico tem papel subordinadordquo

Para Gonzaacutelez Garciacutea Loacutepez Cerezo e Lujaacuten Lopez (1996) e Bazzo Linsingen e Pereira (2003) nesta categoria o conteuacutedo cientiacutefico passa a ter um papel subordinado Em alguns casos o conteuacutedo cien-tiacutefico eacute incluiacutedo para enriquecer a explicaccedilatildeo dos conteuacutedos CTS em sentido estrito em outros as re-ferecircncias aos temas cientiacuteficos ou tecnoloacutegicos satildeo apenas mencionadas poreacutem natildeo satildeo explicadas

Em outras palavras cremos que a categoria de CTS puro busca reestruturar o ensino dos conteuacutedos das mateacuterias cientiacuteficas sob uma sequumlecircncia e estrutura organizada parasobre a exposiccedilatildeo e discus-satildeo de problemas sociais relacionados com a ciecircncia e a tecnologia sendo que a ecircnfase estaacute no fato social e a explicaccedilatildeo pelo conhecimento cientiacutefico-tecnoloacutegico tambeacutem Esta categoria busca ser uma alternativa a situaccedilatildeo habitual onde encontramos menccedilatildeo de problemas sociais vinculados a ciecircncia onde o fio condutor eacute uma sequenciaccedilatildeo e estruturaccedilatildeo de conteuacutedos baseados na loacutegica interna das disciplinas cientiacuteficas

Segundo Acevedo Romero e Acevedo Diaz aqui seraacute possiacutevel

bull A inclusatildeo de conteuacutedos tecnocientiacuteficos que se integram nas explicaccedilotildees sociais filo-soacuteficas etc

bull A inserccedilatildeo de conteuacutedos de tecnocientiacuteficos como exemplos de estudos sociais filosoacute-ficos etc

bull Conteuacutedos totalmente CTS baseados em explicaccedilotildees sociais filosoacuteficas etc

Como exemplo de projetos CTS puro temos SISCON in the Schools (Science in a Social Context) IST (Innovations The social consequence of Science and Technology) S in S (Science in Society)

Grande parte dos autores indica o SISCON na escola como o programa que melhor representa o CTS puro

Trata-se de uma adaptaccedilatildeo para a educaccedilatildeo secundaacuteria do programa universitaacuterio britacircnico SISCON (ciecircncia no contexto social) Na educaccedilatildeo secundaacuteria SISCON eacute um projeto que usa a histoacuteria da ciecircncia e da sociologia da ciecircncia e tambeacutem da tecnologia para mostrar

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como foram abordadas no passado questotildees sociais vinculadas agrave ciecircncia e agrave tecnologia ou como se chegou a uma certa situaccedilatildeo problemaacutetica no presente CTS puro pode cumprir certas funccedilotildees Se natildeo se conta no curriacuteculo com outros elementos CTS tal versatildeo pode ser uacutetil para tentar remediar esta situaccedilatildeo na medida do possiacutevel Po-reacutem sobretudo pode ser de grande ajuda nos cursos e disciplinas de humanidades e ciecircn-cias sociais que em geral natildeo tecircm intenccedilatildeo de ocupar-se das questotildees sociais poliacuteticas ou morais relacionadas com a ciecircncia e a tecnologia (Gonzaacutelez Garciacutea Loacutepez Cerezo e Lujaacuten 1996 apud Bazzo Linsingen e Pereira 2003)

Haacute tambeacutem a classificaccedilatildeo proposta por Santos e Mortimer (2002) a partir de Aikenhead (1994) que agrupa os trabalhos CTS em sala de aula em algumas categorias

Categorias Descriccedilatildeo Exemplos

1-Conteuacutedo de CTS como elemento de mo-tivaccedilatildeo

Ensino tradicional de ciecircncias acrescido da menccedilatildeo ao conteuacutedo de CTS com a funccedilatildeo de tornar as aulas mais interessantes

O que muitos professores fazem para ldquodourar a piacutelulardquo de cursos puramente conceituais

2-Incorporaccedilatildeo even-tual do conteuacutedo de CTS ao conteuacutedo pro-gramaacutetico

Ensino tradicional de ciecircncias acrescido de peque-nos estudos de conteuacutedo de CTS incorporados como apecircndices aos toacutepicos de ciecircncia O conteuacutedo de CTS natildeo eacute resultado do uso de temas unificadores

Science and Technology in Society (SATIS UK) Consumer Science (EUA) Values in School Scien-ce (EUA)

3-Incorporaccedilatildeo siste-maacutetica do conteuacutedo de CTS ao conteuacutedo pro-gramaacutetico

Ensino tradicional de ciecircncias acrescido de uma seacute-rie de pequenos estudos de conteuacutedo de CTS inte-grados aos toacutepicos de ciecircncias com a funccedilatildeo de ex-plorar sistematicamente o conteuacutedo de CTS Esses conteuacutedos formam temas unificadores

Havard project Physics (EUA) Sci-ence and So-cial Issues (EUA) Nelson Chemistry (Canadaacute) In-terative Teaching Units for Chemistry (UK) Scien-ce Technology and Society Block J (EUA) Three SATIS 16-19 modules (What is Science What is Technology How Does Society decide ndash (UK)

4-Disciplina cientiacutefica (Quiacutemica Fiacutesica e Bio-logia) por meio de con-teuacutedo de CTS

Os temas de CTS satildeo utilizados para organizar o conteuacutedo de ciecircncia e a sua sequumlecircncia mas a se-leccedilatildeo do conteuacutedo cientiacutefico ainda eacute feita a partir de uma disciplina A lista dos toacutepicos cientiacuteficos puros eacute muito semelhante agravequela da categoria 3 embora a sequumlecircncia possa ser bem diferente

ChemCon (EUA) os moacutedulos holandeses de fiacute-sica como Light Sources and Ionizing Radiation (Holanda PLON) Science and Society Teaching units (Canadaacute) Chemical Education for Public Un-derstanding (EUA) Science Teacherrsquos Association of victoira Physics Series (Austraacutelia)

5- Ciecircncias por meio de conteuacutedos de CTS

CTS organiza o conteuacutedo e sua sequumlecircncia O conteuacute-do de ciecircncias eacute multidis-ciplinar sendo ditado pelo conteuacutedo de CTS A lista de toacutepicos cientiacuteficos puros assemelha-se agrave listagem de toacutepicos importantes a partir de uma variedade de cursos de ensino tradi-cional de ciecircncias

Logical Reasoning in Science and Technology (Ca-nadaacute) Modular STS (EUA) Global Science (EUA) Dutch Environmental project (Holanda) Salters Science Project (UK)

6-Ciecircncias com conteuacute-dos de CTS

O conteuacutedo de CTS eacute foco do ensino O conteuacutedo re-levante de ciecircncias enriquece a aprendizagem

Exploring the Nature of Science (Ing) Society Environment and Energy Development Studies (SEEDS) modules (EUA) Science and Technolo-gy 11 (Canadaacute)

A partir da mesma fonte ndash Glen Aikenhead ndash podemos extrair outra categorizaccedilatildeo didaacutetica mais detalhada para a ciecircncia escolar onde o autor mostra os diversos graus de interaccedilatildeo da Ciecircncia e a Tecnologia em um contexto de assuntos sociais (2009 apud Vieira Tenreiro-Vieira e Martins 2011 p 19) O autor propotildee 8 categorias CTS para a ciecircncia escolar

Categorias Descriccedilatildeo

1 CTS como motivaccedilatildeo O conteuacutedo CTS eacute apenas mencionado pontualmente pelo professor para tornar uma aula mais interes-sante para os alunos

2 Integraccedilatildeo pontual de conteuacutedo CTS

O conteuacutedo CTS natildeo eacute escolhido para abordar temas unificadores sobre questotildees sociais internas e externas agrave Ciecircncia Ao inveacutes os conteuacutedos CTS satildeo acrescentados ou infundidos em toacutepicos do curriacuteculo de Ciecircncias existentes

3 Integraccedilatildeo sistemaacuteti-ca de conteuacutedo CTS

Uma seacuterie de cursos ou pequenos estudos de conteuacutedo CTS satildeo integrados nos toacutepicos de Ciecircncias num curso tradicional de Ciecircncias para sistematicamente explorar conteuacutedos CTS focando temas unificado-res

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4 Disciplina cientiacutefica atraveacutes de conteuacutedo CTS

O conteuacutedo de Ciecircncias e a sua sequecircncia satildeo escolhidos e organizados amplamente pelo conteuacutedo CTS Haveraacute uma biologia CTS uma Quiacutemica CTS uma fiacutesica CTS

5 Ciecircncia atraveacutes de conteuacutedo CTS

O conteuacutedo CTS serve como organizador para o conteuacutedo de Ciecircncias e sua sequecircncia O curso Logical Reasoning in Science and Technology [LoRST] exemplifica inclusatildeo da conteuacutedo de Ciecircncia e de Tecnolo-gia que normalmente natildeo se encontra nos cursos tradicionais de Ciecircncia mas que eacute relevante para um acontecimento ou questatildeo do dia a dia

6 Ciecircncia como con-teuacutedo CTS

O conteuacutedo CTS eacute o foco da instruccedilatildeo Os conteuacutedos relevantes de Ciecircncias enriquecem esta aprendi-zagem

7 Infusatildeo da Ciecircncia no conteuacutedo CTS

O conteuacutedo CTS eacute o grande foco da instruccedilatildeo O conteuacutedo relevante de Ciecircncias eacute mencionado mas natildeo sistematicamente ensinado A ecircnfase pode ser dada a princiacutepios cientiacuteficos amplos

8 Conteuacutedo CTS Uma questatildeo central de Ciecircncia ou Tecnologia eacute estudada

Para o autor a categoria 1 representa a mais baixa prioridade de conteuacutedo CTS e a categoria 8 re-presenta a mais alta prioridade em conteuacutedo CTS Sendo que uma grande diferenccedila pode ser notada entre as categorias 3 e 4 Na categoria 3 a estrutura de conteuacutedo estaacute definida por uma disciplina que se utiliza de motivaccedilotildees CTS Na categoria 4 eacute definida pelo proacuteprio assunto tecnocientiacutefico com impacto social A ciecircncia com visatildeo interdisciplinar eacute percebida na categoria 5 Escreve o autor que mais do que discutir as categorias devemos ver essa categoria como orientaccedilatildeo para aquilo que eacute mais importante projetos que atendam agraves necessidades dos alunos e as caracteriacutesticas de cada categoria

Esses modelos podem ser encontrados em diversos trabalhos CTS publicados no Brasil tais como os estudos de Bazzo (1998) Bazzo e Colombo (2001) Bazzo e Cury (2001) Silva Correa de Souza (2001) Auler (2002) Santos e Schnetzler (2003) Koepsel (2003) Pinheiro e Bazzo (2004) Pinheiro (2005) aleacutem de vaacuterios outros trabalhos apresentados em eventos cientiacuteficos em geral na modalidade enxerto CTS (Pinheiro Matos e Bazzo 2007) A estes podemos agregar ainda trabalhos mais recen-tes de Chrispino (2005a) Alves (2005) Carvalho et al (2006) e Faria e Carvalho (2007)

Leia mais sobre os diversos tipos de projetos CTS

Acevedo Romero Pilar e Acevedo Diacuteaz Joseacute A Proyectos y materiales curriculares para la educacioacuten CTS enfoques estructuras contenidos y ejemplos httpwwwoeiessalactsiacevedo19htm

63 CTS como disciplina

No acircmbito do ensino meacutedio43 eacute possiacutevel incluir neste item a chamada disciplina CTS que seria um componente curricular especialmente voltado para a alfabetizaccedilatildeo tecnocientiacutefica do estudante e do cidadatildeo nos moldes que temos apresentado Vamos buscar exemplificar como uma disciplina pode ser estruturada

O primeiro exemplo eacute a implantaccedilatildeo da disciplina CTS na Espanha A disciplina CTS segundo Loacutepez Cerezo (1998 e 2002) foi implantada recentemente na Espanha com caraacuteter optativo em todos os cursos de bachilleratos (16-18 anos) e como complemento transversal para as disciplinas de ciecircncias (14-16 anos) A disciplina CTS pode ser dividida em 5 blocos

1 Ciecircncia teacutecnica e tecnologia perspectivas histoacutericas2 O sistema tecnoloacutegico3 Repercussotildees sociais do desenvolvimento cientiacutefico e teacutecnico

43 Vamos tratar aqui das disciplinas votadas para o ensino meacutedio ou que formem professores para atuar na Educaccedilatildeo Baacutesica Haacute no Brasil algumas interessantes experiecircncias de disciplinas CTS especialmente voltadas para a aacuterea de engenharia CTS ndash pro-gramas universitarios httpwwwchassncsueduidsstsotherhtml

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4 O controle social da atividade cientiacutefica e tecnoloacutegica5 O desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico reflexotildees filosoacuteficas

Segundo Loacutepez Cerezo (2002)

No primeiro bloco o da perspectiva histoacuterica se abordam a origem do pensamento cien-tiacutefico o papel da tecnologia na revoluccedilatildeo industrial e o papel da teacutecnica no processo de humanizaccedilatildeo O segundo o sistema tecnoloacutegico se ocupa dos componentes desse sistema conhecimento recursos teacutecnicos capital e contexto social O terceiro bloco repercussotildees sociais se centra nos distintos tipos de consequecircncias sociais e ambientais do desenvol-vimento cientiacutefico-tecnoloacutegico econocircmicas demograacuteficas reduccedilatildeo da biodiversidade etc O problema da regulamentaccedilatildeo puacuteblica da mudanccedila cientiacutefico-tecnoloacutegica com temas como o da avaliaccedilatildeo de tecnologias ou controle de mercado se aborda no bloco quarto E por uacuteltimo no quinto bloco satildeo colocados diversos problemas eacuteticos esteacuteticos e em geral filosoacuteficos sobre a moderna ldquocultura tecnoloacutegicardquo (p18)

O segundo exemplo eacute o Curso de formaccedilatildeo de professores de niacutevel meacutedio e superior sobre o enfoque CTS no ensino44 feito agrave distacircncia e patrocinado pela OEI-Organizaccedilatildeo dos Estados Iberoamericanos a Universidade de Oviedo na Espanha e o NEPETUFSC no Brasil O curso eacute estruturado em blocos de conhecimento O que eacute Ciecircncia o que eacute Tecnologia o que eacute sociedade o que eacute CTS e Estudos de Casos Apoacutes isso os participantes do curso satildeo convidados a estudar exemplos de casos de controveacuter-sia simulada e de proporem atividades utilizando-se desta estrateacutegia de alguma forma

O terceiro exemplo pode ser a disciplina CTS do Curso de Especializaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Tecnoloacutegica-EAD Ela estaacute estruturada em dez encontros e busca inicialmente estabelecer o chamado Campo CTS depois discute as possiacuteveis concepccedilotildees de Ciecircncia de Tecnologia e de Sociedade apoacutes isto estuda a interaccedilatildeo desta triacuteade e os fatores que podem influir nesta relaccedilatildeo No momento seguinte busca relacionar os conceitos CTS coerentemente com Educaccedilatildeo e Educaccedilatildeo Tecnoloacutegica e ao fim apresenta as possibilidade de materializar as ideias CTS no ensino indicando a controveacutersia contro-lada como teacutecnica preferencial

Conheccedila maisCTS ndash programas universitarios httpwwwchassncsueduidsstsotherhtml

64 Uma modelagem do ensino aprendizagem CTS

Um modelo de como se ensina e se aprende por meio da abordagem CTS eacute intitulado espiral de responsabilidade de Waks (1992 apud Miembiela 2001 p 96) que considera cinco fases suces-sivas

bull Autocompreensatildeo onde aprende a considerar suas necessidades valores planos e res-ponsabilidades

bull Estudo e reflexatildeo aqui o estudante toma consciecircncia e conhecimento da ciecircncia e da tecnologia e seus impactos sociais e isto supotildee uma conexatildeo com as chamadas disci-plinas baacutesicas

bull Tomada de decisatildeo aqui o estudante aprende sobre os processos de tomada de decisatildeo e de negociaccedilatildeo para mais tarde tomar realmente decisotildees e defendecirclas com razatildeo e evidecircncias

44 httpwwwoeibrptorgprogramacionctsicursohtm

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bull Accedilatildeo responsaacutevel nela o estudante planeja e executa a accedilatildeo tanto de maneira indivi-dual como coletiva

bull Integraccedilatildeo aqui o estudante deve aventurar-se para aleacutem do tema especiacutefico e fazer consideraccedilatildeo CTS mais amplas incluindo os valores pessoais e sociais

641 A escolha do tema tecnocientiacutefico de impacto social

Dagnino e Thomas (2002) lembram que a particularidade da Abordagem CTS natildeo estaacute nos temas a que ela se propotildee discutir ou investigar mas sim na forma em que esses satildeo abordados dando espe-cial atenccedilatildeo ao fato de que os problemas reais de uma sociedade natildeo se restringem a explicaccedilatildeo de uma disciplina acentuando a importacircncia da Abordagem CTS ser desenvolvida sob a eacutegide da intertransdisciplinaridade Nesta perspectiva a Abordagem CTS

refere-se ao estudo da ciecircncia e da tecnologia na sociedade isto eacute da forma na qual os fenocirc-menos teacutecnicos e sociais interatuam e influenciam uns nos outros Por exemplo entre os temas abordados por pesquisadores CTS encontram-se o papel da ciecircncia e a tecnologia na transformaccedilatildeo de instituiccedilotildees sociais como o trabalho e a famiacutelia a relaccedilatildeo entre a ciecircncia e a tecnologia e o crescimento econocircmico e a reflexatildeo acerca dos valores eacuteticos e morais implicados nas descobertas cientiacuteficas e inovaccedilotildees tecnoloacutegicas Por outro lado revertendo o sentido da influecircncia pesquisadores tecircm estudado a forma como a ciecircncia e a tecnologia satildeo influenciados por fatores sociais como interesses poliacuteticos e econocircmicos a ideologia e valores culturais (p 8-9)

Quanto aos criteacuterios a serem seguidos na escolha de temas CTS Hickman Patrick e Bybee (1987 apud Miembiela 2001) consideram as questotildees

bull Eacute diretamente aplicaacutevel a vida dos estudantesbull Eacute adequado ao niacutevel cognitivo e a maturidade social dos estudantesbull Eacute um tema importante no mundo atual dos estudantes e provavelmente permaneceraacute

como tal para uma parte deles na vida adultabull Os estudantes podem aplicar estes conhecimentos em outros espaccedilos que natildeo a escolabull Eacute um tema pelo qual os estudantes mostram interesse e entusiasmo

642 Enumerando os limites e as vantagens das abordagens CTS

A abordagem CTS por mais que apresente vantagens e emocione alguns professores e alunos natildeo pode ser tratada como panaceia ou como soluccedilatildeo para todos os problemas ou mesmo como a uacutenica alternativa para o ensino de ciecircncia e tecnologia Ela precisa ser encarada como mais uma alterna-tiva talvez uma alternativa potente para melhoria do ensino de ciecircncia e tecnologia baseando-se nos princiacutepios da formaccedilatildeo tecnocientiacutefica do cidadatildeo da educaccedilatildeo tecnocientiacutefica para todos e na alfabetizaccedilatildeo tecnocientiacutefica

Por isso eacute importante que conheccedilamos os limites desta abordagem Vamos recorrer mais uma vez a experiecircncia de Miembiela (2001) ao citar Cheek (1992)

bull A especializaccedilatildeo disciplinar que os professores recebem em sua formaccedilatildeo conflita com o enfoque interdisciplinar que se quer na perspectiva CTS

bull As concepccedilotildees preacutevias que possuem tanto estudantes quanto professores sobre a temaacute-tica CTS em particular sobre ciecircncia e os cientistas

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bull A ausecircncia de investigaccedilotildees que ofereccedilam resultados claramente positivos quando pos-ta em praacutetica o ensino CTS

bull A influecircncia de exames externos sobre o processo educativo no sentido que habitual-mente natildeo contemplam a perspectiva CTS

bull O nuacutemero de conceitos cientiacuteficos assimilados pode ser menor e isto pode comprome-ter seriamente os resultados acadecircmicos posteriores

bull O medo dos professores de ciecircncias de perder a identidade definida basicamente por seu papel como iniciadores dos estudantes no campo da ciecircncia

O mesmo autor aponta as vantagens de se usar os enfoques CTS utilizando as reflexotildees de Aikenhead (1990 apud Miembiela 2001) que resumimos a seguir

bull Uma melhora em sua compreensatildeo sobre os desafios sociais da ciecircncia e das interaccedilotildees entre a ciecircncia e a tecnologia e entre ciecircncia e sociedade

bull Uma melhora em suas atitudes para com a ciecircncia para com os cursos de ciecircncia para com a aprendizagem do conteuacutedo CTS e os meacutetodos de ensino que utilizam a interaccedilatildeo entre os estudantes

bull Um efetivo aprendizado por meio do enfoque CTS se recebem um ensino com uma orientaccedilatildeo clara nesta linha se dispotildeem de um material curricular adequado e se haacute correspondecircncia adequada entre o modelo de ensino de ciecircncias aplicado e a aproxi-maccedilatildeo CTS escolhida para as atividades de ensino-aprendizagem

65 CTS e as accedilotildees didaacuteticas no Brasil

Apoacutes estudarmos as possiacuteveis categorias que permitem perceber como CTS se estrutura para interfe-rir na realidade escolar podemos ndash e devemos ndash conhecer como ele se estrutura no Brasil Sendo um movimento que surgiu e se fortaleceu no hemisfeacuterio norte natildeo eacute surpresa dizer que no Brasil ainda natildeo temos uma aacuterea de estudo definida e estruturada e por isso temos dificuldade de conceituar e delimitar as accedilotildees que envolvem CTS Por aqui CTS eacute uma aacuterea em emergecircncia e em consolidaccedilatildeo

O grupo de pesquisa do Diretoacuterio do CNPq CTS e Educaccedilatildeo do CEFETRJ foi criado em 2010 e desde 2012 trabalha no mapeamento do CTS brasileiro e tambeacutem em analises comparativas com as pectos observados no campo CTS em outras partes do mundo Por conta deste amplo levantamento ainda em processo podemos antecipar que

bull A primeira tese de doutorado sobre CTS que pode ser encontrada usando os paracirc-metros de busca do grupo foi defendida na Faculdade de Educaccedilatildeo da USP por Silvia Luzia Frateschi Trivelato datada de 1993 e intitulada CiecircnciaTecnologiaSociedade ndash mudanccedilas curriculares e formaccedilatildeo de professores (Toledo et al 2016)

bull No que concerne agraves dissertaccedilotildees de mestrado usando os mesmos paracircmetros de busca temos duas dissertaccedilotildees em 1992 defendidas em mestrados de Educaccedilatildeo

bull A defendida na Unicamp por Wildson Luiz Pereira dos Santos e intitulada O En-sino de quiacutemica para formar o cidadatildeo principais caracteriacutesticas e condiccedilotildees para a sua implantaccedilatildeo na escola secundaacuteria brasileira

bull A defendida na UFRJ por Alvaro Chrispino e intitulada Didaacutetica Especial de Quiacute-mica e Praacutetica de Ensino de Quiacutemica uma proposta voltada para quiacutemica e socie-dade

bull No que tange aos artigos publicados ainda sob os mesmos paracircmetros de busca e restri-to a perioacutedicos abertos e disponiacuteveis em sistemas online (o que compreende o periacuteodo

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de 1996 a 2014) podemos indicar como o primeiro deles aquele publicado por Antonio Carlos Rodrigues de Amorim intitulado Biologia tecnologia e inovaccedilatildeo no curriacuteculo do ensino meacutedio e publicado no perioacutedico Investigaccedilotildees em Ensino de Ciecircncias em 1998

bull Eacute importante ressaltar que este resultado surge a partir dos paracircmetso de pes-quisa visto que por exemplo noacutes mesmos tivemos um artigo publicado em 1989 intitulado A Funccedilatildeo Social do Ensino de Quiacutemica na Revista de Quiacutemica Indus-trial que tratava efetivamente da Abordagem CTS mas natildeo eacute encontrado pelos criteacuterios de busca adotados pelo grupo Como este certamente haacute outros

Ainda no esforccedilo de posicionar o Ensino CTS na realidade educacional barsileira Strieder et al (2016) realizaram levantamento buscando identificar ldquopossibilidades e desafios associados ao desen-volvimento de praacuteticas educativas CTSrdquo (p 87) no contexto da educaccedilatildeo cientiacutefica brasileira espe-cialmente no ensino meacutedio Foram objetos de anaacutelise

Os documentos relativos ao ensino de Biologia Fiacutesica e Quiacutemica desse niacutevel de ensino [meacute-dio] quais sejam as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Meacutedio publicadas em 1998 ndash DCNEM98 incluindo a Resoluccedilatildeo CEB nordm 398 e o Parecer CEBCNE nordm 1598 os Paracircmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Meacutedio - PCNEM as Orientaccedilotildees Com-plementares aos PCNEM - PCN+ as Orientaccedilotildees Curriculares Nacionais para o Ensino Meacute-dio - OCNEM as novas Diretrizes Curriculares Nacionais publicadas em 2013 ndash DCN13 o edital de convocaccedilatildeo para o processo de inscriccedilatildeo e avaliaccedilatildeo de obras didaacuteticas do Pro-grama Nacional de Livro Didaacutetico de 2015 ndash PNLD15 a Matriz de Referecircncia do Exame Nacional do Ensino Meacutedio de 2016- MR-ENEM16 e a 2ordf versatildeo revista da Base Nacional Comum Curricular publicada em 2016 ndash BNCC16 (p 89-90)

Auler (2007) estudando os pressupostos CTS para o contexto brasileiro escreve que (1) possuiacutemos accedilotildees individuais incipientes e isoladas que (2) os objetivos da educaccedilatildeo CTS podem ser sintetiza-dos em

1 Promover o interesse dos estudantes em relacionar a ciecircncia com aspectos tecnoloacutegicos e sociais discutir as implicaccedilotildees sociais e eacuteticas relacionadas ao uso da ciecircncia-tecno-logia (CT)

2 Adquirir uma compreensatildeo da natureza da ciecircncia e do trabalho cientiacutefico 3 Formar cidadatildeos cientiacutefica e tecnologicamente alfabetizados capazes de tomar decisotildees

informadas e desenvolver o pensamento criacutetico e a independecircncia intelectual

A aacuterea CTS tem recebido importantes contribuiccedilotildees oriundas de pesquisas realizadas nas instituiccedilotildees de ensino que mantem programas de poacutes-graduaccedilatildeo e em contraposiccedilatildeo vem deixando lacunas impor-tantes nas accedilotildees didaacuteticas que envolvam grupos significativos de professores eou alunos eou escolas

Mezalira (2008) e Pansera-de-Arauacutejo et al (2009) escrevem sobre a produccedilatildeo CTS nos eventos espe-ciacuteficos da aacuterea de ensino de ciecircncia e tecnologia e identificam o crescimento da aacuterea com seus mais significativos agentes

Hunsche et al (2009) buscaram trabalhos on-line no periacuteodo de 1998 a 2008 na Revista Brasileira de Pesqui-sa em Educaccedilatildeo em Ciecircncias na Revista Ciecircncia amp Educaccedilatildeo e na Revista Ensaio ndash Pesquisa em Educaccedilatildeo em Ciecircncias O problema de pesquisa foi enunciado foi Quais tecircm sido os encaminhamentos dados em termos teoacuterico-metodoloacutegicos ao campo CTS no contexto brasileiro Neste trabalho os autores dividem os 12 artigos encontrados em trecircs categorias Implementaccedilotildees Concepccedilotildees e PressupostosReflexotildees

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Auler Fenalti e Dalmolin (2009) analisaram implementaccedilotildees de propostas didaacutetico-pedagoacutegicas centradas na abordagem CTS utilizando como fontes de consulta anais de eventos e materiais de ensino (e cadernos de formaccedilatildeo e guias didaacuteticos)

Abreu Fernandes e Martins (2009) realizaram pesquisa em 10 revistas da aacuterea de Ensino de Ciecircn-cias Encontraram 23 artigos sobre CTS e CTSA e concluiacuteram ldquoque a produccedilatildeo nacional em CTS tem se preocupado tanto com situaccedilotildees do ensino em sala de aula e espaccedilos natildeo formais como tambeacutem na elaboraccedilatildeo teoacuterica de um pensamento autocircnomo em relaccedilatildeo agraves linhas europeacuteias e norte-americanasrdquo

Arauacutejo (2009) faz um mapeamento preliminar dos Grupos de Pesquisa registrados no Diretoacuterio de Pesquisa do CNPq que tratam de CTS O artigo informa que haacute 30 grupos 95 linhas de pesquisa e 217 pesquisadores nos diversos grupos de pesquisa As regiotildees sul e sudeste concentram a esmagadora maioria dos grupos

Chrispino et al (2013) em ampla pesquisa envolvendo 22 perioacutedicos entre 1996 e 2010 encontraram 88 artigos que por meio de software de redes sociais resultou nos 13 trabalhos mais citados Identifi-caram que os mais citados satildeo trabalhos de valor acadecircmico mas com quase nenhuma fonte primaacuteria ou autores pioneiros da aacuterea

Eacute Auler (2007) que chama a atenccedilatildeo para as possiacuteveis dimensotildees e avanccedilos dos trabalhos em uma aacuterea em expansatildeo

Na perspectiva de buscar delimitaccedilotildees bem como potencializar accedilotildees para o contexto bra-sileiro seratildeo analisadas [neste artigo] trecircs dimensotildees interdependentes que em maior ou menor intensidade comparecem na literatura sobre o tema a abordagem de temas de relevacircncia social a interdisciplinaridade e a democratizaccedilatildeo de processos de tomada de decisatildeo em temas envolvendo Ciecircncia-Tecnologia Defende-se a necessidade de mu-danccedilas profundas no campo curricular Ou seja configuraccedilotildees curriculares mais sensiacuteveis ao entorno mais abertas a temas a problemas contemporacircneos marcados pela componen-te cientiacutefico-tecnoloacutegica enfatizando-se a necessidade de superar configuraccedilotildees pautadas unicamente pela loacutegica interna das disciplinas passando a serem configuradas a partir de temasproblemas sociais relevantes cuja complexidade natildeo eacute abarcaacutevel pelo vieacutes unica-mente disciplinar

As reflexotildees estruturadas por Auler trazem a tona algumas questotildees importantes como fazer com que a abordagem CTS se transforme em accedilatildeo efetiva na melhoria da qualidade do ensino e assim possa contribuir para a melhor formaccedilatildeo dos estudantes como cidadatildeos criacuteticos

Sem entrar no meacuterito por conta do objetivo central deste estudo podemos afirmar que a Educaccedilatildeo possui uma taxa de transformaccedilatildeo muito lenta Ela eacute naturalmente reativa a mudanccedilas ao mesmo tempo que paradoxalmente eacute suscetiacutevel a modismos teoacutericos e espasmos instrumentais

Uma das funccedilotildees da escola eacute manutenccedilatildeo dos valores tidos como primordiais pela sociedade e essa manutenccedilatildeo da tradiccedilatildeo natildeo absorve facilmente novos valores mas ao mesmo tempo exigisse da escola a atualidade com os avanccedilos da tecnologia (novos equipamentos novas linguagens novas competecircncias etc) sem se exigir a mesma atualizaccedilatildeo no que se refere aos conhecimentos organi-zados (a grosso modo a ciecircncia) visto que ainda ensinamos a fiacutesica e quiacutemica do seacuteculo XIX por exemplo

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Se encararmos a abordagem CTS como mais um modismo poderemos incorrer nos mesmos erros que estas ldquoondasrdquo incorreram satildeo implantadas ateacute que surjam novas modas elas tecircm o tempo de vida relacionado com o tempo da novidade

Por tal temos defendido que a abordagem CTS natildeo seja mais uma teacutecnica ou uma teacutecnica que venha a substituir as jaacute existentes e messianicamente resolver todos os problemas do ensino e da formaccedilatildeo do cidadatildeo CTS precisa ser encarado primeiramente como uma cultura um modo de ser um modo de estruturar a atividade didaacutetica independentemente da formaccedilatildeo do professor independentemen-te da escola de pensamento em que ele se desenvolveu independentemente dos autores que datildeo suporte teoacuterico agrave sua atividade didaacutetica

A abordagem CTS no ensino natildeo deve ser encarada como mais um livro que se coloca na vasta biblio-teca de alternativas mas antes de tudo deve ser percebida como uma maneira de organizar a biblio-teca de alternativas que cada um de noacutes professores possui como resultado de sua accedilatildeo profissional pessoal e singular

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7 CTS e a teacutecnica da controveacutersia controlada

O que eacute conhecido sempre parece sistemaacutetico provado aplicaacutevel e evidente para aquele que conhece Da mesma forma todo sistema alheio de conhecimento sempre parece contraditoacuterio natildeo provado inapli-caacutevel irreal ou miacutestico

Ludwik Fleck

71 Da controveacutersia CTS original agrave teacutecnica de controveacutersia controlada

Apoacutes esta visatildeo panoracircmica sobre as possibilidades de estruturaccedilatildeo CTS acompanhamos os autores e indicamos o enxerto CTS como accedilatildeo mais acessiacutevel aos professores visto natildeo ser preciso modificar sua estrutura de trabalho para oferecer aos alunos a abordagem CTS Basta apenas ordenar as ques-totildees que estruturam a relaccedilatildeo didaacutetica

Por outro lado vamos propor como accedilatildeo didaacutetica ou teacutecnica de ensino a controveacutersia controlada em torno de um tema tecnocientiacutefico que pode ser incluiacuteda na categoria Ciecircncia e Tecnologia atraveacutes de CTS a partir do que nos ensina Loacutepez Cerezo (2002)

Uma () opccedilatildeo consiste em reconstruir os conteuacutedos do ensino da ciecircncia e da tecnolo-gia atraveacutes de uma oacutetica CTS Em disciplinas isoladas ou por meio de cursos cientiacuteficos pluridisciplinares se fundem os conteuacutedos teacutecnicos e CTS de acordo com a exposiccedilatildeo e discussatildeo de problemas sociais dados () O formato padratildeo de apresentaccedilatildeo de conteuacutedos nesta opccedilatildeo eacute em primeiro lugar eleger um problema importante relacionado com os pa-peacuteis futuros o estudante (cidadatildeo profissional consumidor etc) e em segundo lugar sobre tal base selecionar e estruturar o conhecimento cientiacutefico-tecnoloacutegico necessaacuterio para que o estudante possa entender um equipamento tomar uma decisatildeo ou entender um problema social relacionado com a ciecircncia ou a tecnologia (p 15)

A chamada teacutecnica da controveacutersia controlada controveacutersia simulada ou simulaccedilatildeo CTS eacute na ver-dade a siacutentese da histoacuteria de formaccedilatildeo da Abordagem CTS quer como movimento social quer como construccedilatildeo social da ciecircncia Na verdade o movimento CTS se estruturou a partir da (1) desilusatildeo com a ldquovisatildeo positivistardquo de Ciecircncia e Tecnologia marcada pelo ciacuterculo virtuoso de mais ciecircncia mais progresso e mais bem estar (2) pela percepccedilatildeo de que entregar a Ciecircncia a somente os cientistas era temeraacuterio visto que os especialistas em Ciecircncia e Tecnologia como natildeo poderia deixar de ser satildeo movidos por paixotildees ideais e emoccedilotildees (3) pelos impactos negativos para pessoas grupos e comu-nidade de forma geral em curto meacutedio e longo prazos dos artefatos tecnoloacutegicos e da aplicaccedilatildeo de conhecimentos tecnocientiacuteficos (Ramos e Silva 2007)

O que ocorreu ao longo da historia da Abordagem CTS foi o conflito ou divergecircncia sobre a maneira de ver a origem o desenvolvimento a aplicaccedilatildeo e as consequecircncias dos conhecimentosaparatos tec-nocientiacuteficos Houve portanto uma controveacutersia em torno dos temas e a sociedade ndash nas suas mais diferentes manifestaccedilotildees ndash solicitou espaccedilo para ouvir e se fazer ouvir sobre o futuro que tambeacutem lhe pertence Logo a controveacutersia de visotildeesopiniotildees entre atores sociais eacute a melhor e mais autecircntica manifestaccedilatildeo da Abordagem CTS A mesma ideia de controveacutersia tambeacutem eacute encontrada no interior da comunidade cientiacutefica que jaacute natildeo mais se contenta com as tradicionais visotildees (e mitos) da Ciecircncia

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Eis por que propomos que as atividades didaacuteticas de CTS tenham sua culminacircncia no exerciacutecio da anaacutelise fundamentada e da criacutetica pertinente de fatos ou decisotildees que afetam de alguma forma o cidadatildeo ou a sua comunidade Se visto desta forma a controveacutersia controlada pode ser utilizada em temas tecnocientiacuteficos relevantes mas tambeacutem em qualquer fato social que permita interpretaccedilotildees variadas visando a decisatildeo

72 A Teacutecnica da Controveacutersia um aprofundamento teoacuterico

Flechsig e Schiefelbein (2003) apresentam a ideia de que a origem da teacutecnica de controveacutersia estaacute na disputatio que remonta a idade meacutedia e consistia em disputas puacuteblicas entre os estudantes e tambeacutem serviam como exames para os exerciacutecios de retoacuterica visto que era considerado um meacutetodo de busca pela verdade a partir da argumentaccedilatildeo e da contra-argumentaccedilatildeo

Jaacute Johnson e Johnson (2004) numa abordagem mais contemporacircnea escreveratildeo que as raiacutezes teoacuteri-cas da controveacutersia estatildeo no desenvolvimento cognitivo nas teorias do equiliacutebrio psicoloacutegico-social e nas teorias do conflito Os autores defendem que estas trecircs perspectivas explicam o fato de que os esforccedilos cooperativos da teacutecnica de controveacutersia produzem discussotildees que geram conflitos cogniti-vos que seratildeo resolvidos no debate orientado Essa satisfaccedilatildeo do conflito ndash causado pela diferenccedila de percepccedilatildeoopiniatildeo ndash acarreta uma racionalidade e um novo aprendizado gerando a reconceituali-zaccedilatildeo sobre o tema em debate Essa reconceitualizaccedilatildeo natildeo eacute obrigatoriamente uma modificaccedilatildeo da posiccedilatildeo anterior O debate natildeo visa a abdicaccedilatildeo de posiccedilotildees mas a oportunidade de apresentar suas ideias e de ouvir a argumentaccedilatildeo do outro que pensasente diferentemente

A controveacutersia controlada pode ser definida como um meacutetodo didaacutetico de construccedilatildeo de consenso (pelo menos no processo de debate) minuciosamente preparado a partir de regras previamente de-finidas visando o exerciacutecio de (1) identificaccedilatildeo de problemas comuns para fomentar a controveacutersia (2) o exerciacutecio de estabelecer padrotildees mutuamente aceitaacuteveis para sustentar um debate (3) a busca organizada de informaccedilotildees pertinentes ao tema definido (4) a preparaccedilatildeo da exposiccedilatildeo em defesa da posiccedilatildeo (5) a capacidade de escutar a posiccedilatildeo controversa apresentada racionalmente pelos de-mais participantes (6) o exerciacutecio de contra-argumentar a partir do conhecimento dos argumentos utilizados pelos demais debatedores e (7) reavaliar as posiccedilotildees ndash a sua e as demais ndash a partir de novas informaccedilotildees

Segundo estes autores

haacute uma controveacutersia acadecircmica programada quando as ideias a informaccedilatildeo as conclusotildees as teorias e as opiniotildees de um aluno se opotildeem as de outro mas ambos tratam de chegar a um acordo por meio da proposta de Aristoacuteteles a discussatildeo das vantagens e desvantagens das accedilotildees propostas apontando para a siacutentese de novas soluccedilotildees a uma resoluccedilatildeo criativa do problema (Johnson e Johnson 2004 p 143)

Jaacute para Flechsig e Schiefelbein (2003) a teacutecnica de controveacutersia apresenta caracteriacutesticas importan-tes visto que permite desenvolver metas de aprendizagens e competecircncias especiacuteficas se as demais teacutecnicas em geral pretendem consolidar a chamada ldquoverdade objetivardquo que tanto caracterizam o ensino claacutessico a teacutecnica de controveacutersia busca realccedilar a argumentaccedilatildeo a apreciaccedilatildeo de situaccedilotildees conflitantes os conhecimentos controvertidos as posiccedilotildees diferentes frente agrave formaccedilatildeo de juiacutezo de valor sobre um tema As tarefas de aprendizagens para os que desenvolvem a teacutecnica podem ser ela-boraccedilatildeo de uma ldquoteserdquo a apresentaccedilatildeo da ldquoteserdquo a identificaccedilatildeo de ldquoteserdquo diferente da sua a criacutetica da ldquoteserdquo diferente a partir de informaccedilotildees e o exerciacutecio de siacutentese Esse conjunto de atividades

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resulta no domiacutenio de competecircncias de comunicaccedilatildeo e de argumentaccedilatildeo importantes para as sociedades atuais

Para esses autores as fases da teacutecnica de controveacutersia podem ser

bull Fase de preparaccedilatildeo onde se fixam oito aspectos o que quando onde quem com quem se deve discutir quem teraacute a funccedilatildeo de moderador que tipo de puacuteblico seraacute convidado e quais satildeo as regras que organizaratildeo o debate

bull Fase de recepccedilatildeo (apresentaccedilatildeo das teses) nesta fase seraacute proposta a tese ldquodigna de discussatildeordquo que logo deve ser aceita e publicada (difundida)

bull Fase de interaccedilatildeo (argumentaccedilatildeo) primeiro os defensores e depois os oponentes ex-potildeem suas evidencias e argumentos contraditoacuterios e na rodada seguinte apresentam mais argumentos eou retiram alguns outros argumentos

bull Fase de avaliaccedilatildeo em que a disputa se resolve com uma decisatildeo do grupo e mesmo com a opiniatildeo expressa de possiacuteveis expectadores presentes agrave disputa

Para que se cumpram todas as etapas didaacuteticas o tema a ser utilizado na controveacutersia deve combinar a interdependecircncia social com o conflito intelectual visto que quanto maior for o nuacutemero de elemen-tos potencialmente cooperativos e menor o nuacutemero de elementos competitivos mais construtivo seraacute conflito e a controveacutersia Importante perceber que natildeo eacute somente o componente cooperativo que contribui para uma controveacutersia mas tambeacutem o componente conflito visto que eacute este que per-mitiraacute a chance de ouvir outras posiccedilotildees e refletir sobre elas

Johnson e Johnson (2004) ao tratarem das vantagens desta teacutecnica comparam quatro meacutetodos de ensino a controveacutersia o debate o proselitismo e o trabalho individual Dizem que os estudos experi-mentais que desenvolveram nos uacuteltimos vinte anos permitem concluir que os alunos que participam das controveacutersias recordam mais informaccedilotildees corretas transferem com mais facilidade a aprendiza-gem a situaccedilotildees novas empregam estrateacutegias de racionalidade mais complexas e satildeo mais capazes de generalizar os princiacutepios que aprenderam e aplicaacute-los a um nuacutemero maior de situaccedilotildees Dizem que a controveacutersia tende a gerar uma visatildeo mais criativa das questotildees examinadas e mais siacutenteses permi-tem combinar as perspectivas em debate Quando comparada com o debate a busca de adesatildeo (pro-selitismo) e trabalho individual a controveacutersia promove mais simpatia apoio social e auto-estima nos participantes do exerciacutecio Os mesmos autores escrevem que

A controveacutersia programada eacute sumamente promissora do ponto de vista didaacutetico Nela en-contramos os quatro elementos essenciais teoria (Johnson 1970) investigaccedilotildees validado-ras integraccedilatildeo nos procedimentos pedagoacutegicos e formaccedilatildeo permanente de docentes A con-troveacutersia programada se baseia no emprego da cooperaccedilatildeo para ensinar e integra o manejo construtivo dos conflitos nas experiecircncias cotidianas de aprendizagem Agrave medida que os alunos adquirem periacutecia na resoluccedilatildeo de conflitos intelectuais vai se construindo o cenaacuterio para que aprendam a manejar conflitos de interesses entre eles e seus companheiros (p 150)

Com outros objetivos mas utilizando-se do mesmo principio didaacutetico Lipman Sharp e Oscanyan (1992) propotildeem a controveacutersia controlada como teacutecnica de aprendizagem no projeto de ensino de filosofia para crianccedilas

O ERIC-Education Resources Information Center possui um grande arquivo de texto e experiecircncias acadecircmicas sobre controveacutersias acadecircmicas em diversas aacutereas e niacuteveis de educaccedilatildeo Uma pesquisa

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CTS E A TEacuteCNICA DA CONTROVEacuteRSIA CONTROLADA102

realizada na Search the Thesaurus com a expressatildeo Controversial Issues resulta em 1698 itens das mais diversas aacutereas do conhecimento

Conheccedila mais sobre a controveacutersia acadecircmica

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73 O uso da Teacutecnica de Controveacutersia em CTS

Como escrevemos antes o uso da cultura da controveacutersia ndash que eacute um pouco mais que a simples teacutecnica de controveacutersia ndash resgata a origem da Abordagem CTS considerando (1) sua origem como movimento CTS (2) a maneira de entender as disputas internas da Ciecircncia e da Tecnologia que chamamos de Estudos CTS e (3) no seu aspecto de orientador de gestores de poliacuteticas que decidem sobre temas chamados CTS Haacute uma semelhanccedila ontoloacutegica entre a proposta da Abordagem CTS e a teacutecnica de ensino da controveacutersia controlada visto que em ambos os casos as diferenccedilas de opiniatildeo existem mas precisam ser conhecidas a fim de se construir um entendimento e um consenso possiacutevel

Um dos autores que mais tem produzido no campo da controveacutersia controlada no campo CTS eacute Ma-riano Martiacuten Gordillo cujos textos serviratildeo de base para a apresentaccedilatildeo da teacutecnica de controveacutersia controlada Escreve o autor que

se tiveacutessemos que enunciar em poucas palavras o propoacutesito dos enfoques CTS no campo da educaccedilatildeo seria possiacutevel resumir em dois pontos mostrar que a Ciecircncia e a Tecnolo-gia satildeo acessiacuteveis e importantes para os cidadatildeos (portanto eacute necessaacuteria a Alfabetizaccedilatildeo Tecnocientiacutefica) e propiciar o aprendizado social da participaccedilatildeo puacuteblica nas decisotildees tec-nocientiacuteficas (portanto eacute necessaacuteria a educaccedilatildeo para a participaccedilatildeo tambeacutem em Ciecircncia e Tecnologia) (Martiacuten Gordillo 2003)

Ambos os objetivos natildeo podem ser alcanccedilados a partir dos paradigmas tradicionais que norteiam o ensino de modo geral que mostra uma ciecircncia positiva e linear Apesar de Martin Gordillo e os de-mais autores referirem-se sempre a disciplinas de ciecircncias e tecnologia proponho que ampliemos este leque visto que como jaacute demonstramos anteriormente a natureza natildeo se explica somente pelos canais das chamadas ciecircncias exatas Ela necessita das ciecircncias soacutecio-humanisticas para se comple-tar o entendimento da natureza recortado para fins de ensino pelo artifiacutecio das disciplinas

Outra referecircncia que merece nossa atenccedilatildeo eacute Reis (2008) que ao discutir a aplicaccedilatildeo de controveacuter-sias sociocientiacuteficas nas escolas portuguesas apresenta rico fundamento teoacuterico sobre o tema e sua relaccedilatildeo com CTS

A fim de melhor fundamentar o porquecirc devemos estender agraves ciecircncias humanas e sociais as oportuni-dade de atuarem na Abordagem CTS e principalmente na construccedilatildeo de atividades interdisciplina-res com as chamadas tecnociecircncias lembremos que o ato social eacute sempre um ato complexo por conta dos atores que envolve (cada um com sua histoacuteria seu sentido de vida sua expectativa de futuro seus valores sua linguagem etc) e pela trama de aacutereas que em geral satildeo chamadas a interpretar um mesmo acontecimento social Haacute coisas que satildeo proacuteprias do conjunto de saberes que se padronizou chamar

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de teacutecnicas ou cientiacuteficas mas haacute coisas que satildeo caracteriacutesticas do que se estabeleceu pela tradiccedilatildeo olhar como humanas (Depois de todo este estudo poderiacuteamos dizer que a Ciecircncia tambeacutem natildeo eacute humana) Natildeo se opera o ato social ou o acontecimento comunitaacuterio ou a gestatildeo de conflito ou a de-cisatildeo poliacutetica sem conhecer o valor das disciplinas humaniacutesticas Fukuyama (2005 p39) escreve que

A comunidade de poliacuteticas de desenvolvimento estaacute numa situaccedilatildeo irocircnica A Era Poacutes-Gue-rra Fria comeccedilou sob o domiacutenio intelectual dos economistas que defenderam fortemente a liberalizaccedilatildeo e um Estado menor Dez anos depois muitos economistas concluiacuteram que algumas das variaacuteveis mais importantes que afetam o desenvolvimento natildeo eram econocircmi-cas mas estavam ligadas agrave instituiccedilotildees e agrave poliacutetica

As instituiccedilotildees e a poliacutetica estatildeo permeadas pelas praacuteticas oriundas das ciecircncias exatas tanto quanto das ciecircncias sociais e humanas E isso nos leva a crer que o ato social tecnopoliacutetico relevante eacute pro-movido (ou ainda natildeo) pela accedilatildeo poliacutetica e eacute materializado pelo canal institucional Para exemplificar esta estreita vinculaccedilatildeo Fukuyama (2005) estabelece quatro niacuteveis de accedilatildeo institucional e relaciona as disciplinas com a capacidade de transferecircncia de conhecimento conforme resume o quadro a seguir

Componente Disciplina Transferibilidade

Projeto e Gerenciamento

Organizacionais

Gerenciamento

AltaAdministraccedilatildeo Puacuteblica

Economia

Projeto Institucional

Ciecircncia Poliacutetica

MeacutediaEconomia

Direito

Base de Legitimaccedilatildeo Ciecircncia Poliacutetica De Meacutedia a Baixa

Fatores Sociais e CulturaisSociologia

BaixaAntropologia

Haacute conhecimentospraacuteticas que satildeo rapidamente absorvidas pelas instituiccedilotildees e pelas pessoas no campo do gerenciamento de projetos e essa funccedilatildeo se processa por meio da economia e da adminis-traccedilatildeo Mas em contrapartida haacute o componente soacutecio-cultural que compotildee as instituiccedilotildees e a accedilatildeo entre pessoas cuja transferecircncia de conhecimento ou de praacuteticas eacute baixa e deve ser operada pelas disciplinas de base social

Quando estudamos por exemplo os chamados ldquogatosrdquo (furto de energia eleacutetrica) percebemos que a justificativa apontada pelos ldquogatunosrdquo remonta ao tempo em que a energia era do ldquoestadordquo e se era do estado ldquonatildeo era de ningueacutemrdquo Por mais que esteja claro que a distribuiccedilatildeo de energia hoje eacute accedilatildeo privada a memoacuteria social teima em se manter nas comunidades de baixa renda e reafirma a imagem e a sensaccedilatildeo de que eacute do estado e se eacute do estado natildeo eacute de ningueacutem As distribuidoras fazem um caro trabalho de gestatildeo operacional mas natildeo conseguem resultados satisfatoacuterios pois este tipo de contribuiccedilatildeo ao ato social cristalizado natildeo se daacute por meio de planilhas e programas de computador mas sim pela transformaccedilatildeo de mentalidade e pela mudanccedila de haacutebito Funccedilotildees explicitamente da competecircncia das disciplinas das ciecircncias humanas e sociais

Neste momento cabe refletir sobre a importacircncia de escolher problemas ou temas CTS que permi-tam o desdobramento esperado Uma maneira de ver os problemas eacute proposta por Dagnino (2007) que considerando que a conceituaccedilatildeo de problema deve dar conta de quatro aspectos fundamentais a saber

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1 Um problema social natildeo eacute uma entidade objetiva que se manifesta na esfera puacuteblica de modo naturalizado como se ela fosse neutra e independente em relaccedilatildeo aos atores - ativos e passivos - do problema

2 Natildeo haacute situaccedilatildeo social problemaacutetica senatildeo em relaccedilatildeo aos atores que a constroem como tal3 Reconhecer uma situaccedilatildeo como um problema envolve um paradoxo pois satildeo justamente

os atores mais afetados os que menos tecircm poder para fazer com que a opiniatildeo puacuteblica (e as elites de poder) a considere como problema social

4 A condiccedilatildeo de penalizados pela situaccedilatildeo-problema dos atores mais fracos costuma ser obs-curecida por um complexo sistema de manipulaccedilatildeo ideoloacutegica que com seu consentimen-to os prejudica

Esperamos ter esclarecido porque natildeo nos limitamos a sugerir as teacutecnicas de controveacutersia CTS para disciplinas dos campos da Ciecircncia e da Tecnologia Essa eacute uma tese que defenderemos sempre

Para alcanccedilarmos o segundo objetivo proposto por Martiacuten Gordillo ndash a educaccedilatildeo para a participaccedilatildeo tambeacutem em Ciecircncia e Tecnologia ndash eacute necessaacuterio o aprendizado de uma ciecircncia contextualizada por meio de uma aula que possibilite o desenvolvimento das capacidades atitudes haacutebitos e destrezas que favoreccedilam o diaacutelogo e a tomada de decisatildeo sobre controveacutersias relacionadas com Ciecircncia e Tec-nologia (e noacutes complementariacuteamos natildeo soacute CampT) pelos instrumentos comuns a esta praacutetica que satildeo por exemplo a confrontaccedilatildeo puacuteblica e a democratizaccedilatildeo

Se estiveacutessemos falando de Ciecircncia conforme o conceito herdado pediriacuteamos um laboratoacuterio para submeter os objetos de pesquisa agrave nossa vontade reproduzindo as experiecircncias que ao final de-vem apresentar o mesmo resultado Mas o mundo real e o ato social que o representa no processo de transformaccedilatildeo natildeo podem ser submetido agraves praacuteticas corriqueiras dos laboratoacuterios de pesquisa Logo se quisermos preparar o cidadatildeoestudante para lidar com questotildees relevantes da comunidade em que vive necessitamos simular esses acontecimentos em uma escola que nos permita realizar a simulaccedilatildeo no espaccedilo possiacutevel da sala de aula e com a riqueza desejaacutevel de detalhes tornando o expe-rimento social o mais proacuteximo possiacutevel da complexidade social

Eacute certo que o experimento social de controveacutersia simulada seraacute um recorte da realidade Por mais das vezes um recorte tiacutemido mas que poderaacute ser a uacutenica chance de alguns alunos debaterem um tema social problemaacutetico e de ouvirem opiniotildees diferentes da sua num processo de troca indispensaacutevel agrave melhor decisatildeo

Essa eacute pois a fundamentaccedilatildeo para a teacutecnica de simulaccedilatildeo de uma controveacutersia cujas variaacuteveis e confronto de posiccedilotildees estaacute sob o controle do professor que para noacutes eacute a teacutecnica da controveacutersia controlada

Para Martiacuten Gordillo e Osorio (2003)

Os casos simulados CTS consistem na articulaccedilatildeo educativa de controveacutersias puacuteblicas relacionadas com desenvolvimento tecnocientiacutefico com implicaccedilotildees sociais ou am-bientais Se trata de uma proposta educativa desenvolvida pelo Grupo ARGO onde a partir de uma noticia fictiacutecia mas verossiacutemil se desenvolve uma controveacutersia suposta na qual interveacutem vaacuterios atores sociais com ideias opiniotildees ou interesses diversos Cientistas engenheiros empresas associaccedilotildees de ecologistas grupos de vizinhos gru-pos poliacuteticos associaccedilotildees profissionais cidadatildeos afetados etc satildeo o tipo de coletivi-

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dade que em cada caso podem constituir a rede de atores que aparecem em cada um dos casos simulados CTS para seu uso educativo()As simulaccedilotildees CTS pretendem ser uma alternativa educativa para propiciar a aprendiza-gem social da participaccedilatildeo nas controveacutersias tecnocientiacuteficas Daiacute que seu principal signi-ficado natildeo estaacute na veracidade uacuteltima de suas propostas mas sim em sua verossimilhanccedila e relevacircncia social e educativa

Os autores propotildeem que os casos de controveacutersia controlada possuam um conjunto de materiais para o bom desempenho da accedilatildeo educativa A lista proposta com as alteraccedilotildees proacuteprias de nossa expe-riecircncia indica os seguintes materiais

bull Uma noticia real45 que se apresenta aos alunos no formato de um jornal real e de onde se parte para o desenvolvimento da controveacutersia de que se deseja tratar

bull Um questionaacuterio inicial e final que serve para conhecer as informaccedilotildees e as atitudes previas dos alunos sobre as questotildees objeto do trabalho e para demonstrar as mudanccedilas produzidas ao final da atividade Satildeo questotildees utilizadas como preacute-teste e poacutes-teste permitindo avaliar o ganho de cada equipe com a atividade

bull Uma rede de atores que aparece na controveacutersia descrita na noticia inicial e cujos per-fis representem efetivamente os grupos com posiccedilotildees contraacuterias que estabeleceratildeo a controveacutersia

bull Documentos obtidos para dar apoio aos argumentos dos atores participantes relacio-nando o conhecimento especiacutefico da aacuterea que o caso trata com o centro da controveacutersia simulada

bull Documentos selecionados por sua pertinecircncia e claridade para apresentar a informaccedilatildeo cientiacutefica do campo em que se situa controveacutersia

bull Fichas especiacuteficas onde cada equipe escreve seus argumentos e como vai defendecirc-los no momento em que as ideias diferentes satildeo apresentadas

bull Fichas especiacuteficas onde cada equipe antecipa como cada equipe com posiccedilatildeo contraacuteria iraacute fundamentar sua posiccedilatildeo e como com os argumentos que possui deveraacute rebatecirc-los

bull Fichas contendo os criteacuterios de avaliaccedilatildeo para a equipe e para os membros de cada equipe

Jaacute Albe (2006 apud Ramos e Silva 2007) enumera uma seacuterie de perguntas que podem servir de nor-teadores desde a escolha do tema de controveacutersia ateacute a maneira como se desenrola a sua aplicaccedilatildeo pelo professor Pergunta ele

Favorece a aprendizagem Trata-se de argumentar para aprender Para convencer Para tomar uma decisatildeo Para refletir sobre o tema em questatildeo Sobre a atividade proposta Para analisar criticar resultados ideologias e posiccedilotildees opostas o papel do professor no debate tambeacutem se coloca em questatildeo deve dar sua opiniatildeo pessoal Que opccedilotildees didaacuteticas escolher Que recursos utilizar Que saberes de referecircncia levar em conta Que estrateacutegias didaacuteticas elaborar (p 96)

O grupo ARGOS desenvolveu dez casos de simulaccedilatildeo46 (Martiacuten Gordillo 2005 2006) a saber

bull A vacina da AIDS (Martiacuten Gordillo 2005a)bull Uso de estimulantes no esporte Um caso sobre esporte farmacologia e avaliaccedilatildeo puacutebli-

45 Os autores propotildeem uma notiacutecia fictiacutecia poreacutem verossiacutemil Cremos que a realidade brasileira estaacute repleta de temas que possam servir de ponto de partida para a controveacutersia Aleacutem do que a realidade eacute um espetacular motivador de estudos e debates46 A OEI disponibiliza eletronicamente estes materiais no site httpwwwoeiesmaterialesctshtm

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ca (Camacho Aacutelvarez 2005)bull Antenas de Telefonia Um caso CTS sobre radiaccedilotildees riscos bioloacutegicos e vida cotidiana

(Grupo Argo 2005a) bull As plataformas de petroacuteleo Um caso CTS sobre energia combustiacuteveis foacutesseis e susten-

tabilidade (Grupo Argo 2005b)bull Um projeto para o Amazonas Um caso sobre aacutegua Industrializaccedilatildeo e ecologia (Lejarza

Portilla e Rodriacuteguez Marcos 2005) bull O lixo da cidade Um caso sobre consumo gestatildeo de resiacuteduos e meio ambiente (Arribas

Ramiacuterez e Fernaacutendez Garciacutea 2005) bull A cidade ajustada Um caso sobre urbanismo planificaccedilatildeo e participaccedilatildeo comunitaacuteria

(Gonzaacutelez Galbarte 2005)bull A rede de traacutefego de veiacuteculos Um caso sobre mobilidade gestatildeo do transporte e organi-

zaccedilatildeo do territoacuterio (Camacho Aacutelvarez e Gonzaacutelez Galbarte 2005) bull A cozinha de Teresa Um caso sobre alimentaccedilatildeo automaccedilatildeo e emprego (Martiacuten Gor-

dillo 2005b) bull A escola em rede Um caso sobre educaccedilatildeo novas tecnologias e socializaccedilatildeo (Martiacuten

Gordillo 2005c)

Eacute possiacutevel encontrar proposta de aplicaccedilatildeo industrial para a disciplina quiacutemica no trabalho de Silva (2003)

Ramos e Silva (2007) ndash relembrando Nelkin (1989) Juan (2006) Hines (2006) Albe (2006) ndash pro-potildeem temas como a construccedilatildeo de aeroporto numa aacuterea metropolitana no Canadaacute alocaccedilatildeo de lixo nuclear proveniente de usinas utilizaccedilatildeo de tecnologia de DNA recombinante nas pesquisas cien-tiacuteficas mudanccedila climaacutetica na Terra organismos geneticamente modificados o perigo dos telefones celulares para a sauacutede

De nossa parte temos recolhido um interessante conjunto de casos a partir dos debates realizados na disciplina CTS dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo desde o Mestrado Profissional em Ensino de Ciecircn-cias e Matemaacutetica do CEFETRJ A avaliaccedilatildeo dos professores participantes do exerciacutecio de anaacutelise da construccedilatildeo social da ciecircncia e da tecnologia eacute sempre positiva e culmina na realizaccedilatildeo de casos de controveacutersia simulada como por exemplo Criacionismo ou evolucionismo uso de ceacutelulas tronco os riscos da mina de carvatildeo Implantaccedilatildeo de usina nuclear ldquoGatosrdquo de luz Internacionalizaccedilatildeo da Amazocircnia Uso de tecnologia 4G dentre outros

Nossa maior contribuiccedilatildeo nesta aacuterea ateacute o momento foi certamente a capacitaccedilatildeo em serviccedilo para professores do Estado do Espiacuterito Santo nos anos de 2008 e 2009 A capacitaccedilatildeo trabalhou com 120 professores voluntaacuterios que teriam a tarefa de replicar o Curso CTS com foco em Tecnica de Contro-veacutersia para seus colegas Quiacutemica (572 professores) Fiacutesica (594 professores) Biologia (604 professo-res) e Matemaacutetica (870 professores) O curso de formaccedilatildeo poderia tambeacutem atender a professores das seacuteries finais do Ensino Fundamental (Chrispino 2013)

Apoacutes etapas de estudos e debates presenciais e de disseminaccedilatildeo nas escolas os representantes cons-truiacuteram controveacutersias controladas a partir de temas escolhidos pela comunidade escolar testaram cada uma delas em vaacuterias escolas e propuseram um texto final que foi impresso e distribuiacutedo para todas as escolas e todos os professores da rede estadual do Espiacuterito Santo As atividades de testagem estatildeo descrias no quadro X a seguir

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Quadro ldquoXrdquo ndash Temas por SRE e populaccedilatildeo escolar envolvida

Temas das controveacutersias tecnocientiacuteficas de impacto social Superintendecircncias Regionais de Educaccedilatildeo ndash SRE

Nuacutemero de

escolas alunos

1 Agrotoacutexico Opccedilatildeo ou NecessidadeAfonso Claacuteudio 02 399

Linhares 01 80

2 Aacutegua Bem de Todos Patrimocircnio de NingueacutemColatina 02 94

Nova Veneacutecia 01 49

3 Bicombustiacutevel Alternativa ou ProblemaLinhares 01 60

Vila Velha 01 18

4 Culto agrave Beleza Sauacutede ou Obsessatildeo

Cariacica 02 68

Guaccedilui 01 32

Nova Veneacutecia 01 25

Vila Velha 01 28

5 Construccedilatildeo de Hidreleacutetricas Um Mal Necessaacuterio ou uma Decisatildeo Arbitraacuteria Colatina 02 38

6 Lei Seca Valorizaccedilatildeo da VidaCachoeiro de Itapemirim 03 83

Carapina 01 210

7 Lixo Interesse Econocircmico ou Ecoloacutegico

Afonso Claacuteudio 01 80

Barra de Satildeo Francisco 01 38

Carapina 01 25

8 Refeacutens do Maacutermore e GranitoBarra de Satildeo Francisco 01 64

Cachoeiro de Itapemirim 02 62

9 Petroacuteleo Heroacutei ou VilatildeoCarapina 03 119

Satildeo Mateus 05 210

10 Biotecnologia dos Transgecircnicos Seraacute esse o FuturoCariacica 01 36

Guaccedilui 01 30

Totais gerais 35 1848

O desenho do curso de formaccedilatildeo de professores-multiplicadores e a construccedilatildeo das atividades de campo consideraram aleacutem das reflexotildees apontadas por Solbes Vilches e Gil (2001) as observaccedilotildees e experiecircncias descritas por Reis (2008) Fontes e Cardoso (2006) Magalhatildees e Tenreiro-Vieira (2006) Vieira e Martins (2005) Cachapuz et al (2005) Solbes e Vilches (2002) Membiela (2001 1995) e Carvalho (1999)

A seguir apresentamos uma seacuterie de trabalhos de controveacutersia controlada ou metodologia aproxi-mada que podem ser obtidos pela internet

74 Casos de controveacutersia controlada para estudo

Eacute possiacutevel obter casos de controveacutersia controlada em revistas eletrocircnicas Alguns estatildeo listados a seguir

Aguirre del Busto R L Macias Llanes Ma E iquestExiste la verdad cientiacutefica Controver-sia histoacuterica en torno al descubrimiento de Carlos J Finlay Rev Hum Med Ciudad de Camaguey v 4 n 3 2004 Disponiacutevel em httpscielosldcuscielophpscript=sci_arttextamppid=S1727-81202004000300008amplng=esampnrm=iso Acesso em 30 Jul 2008

Bernardo J R da R Vianna D M Fontoura H A da Produccedilatildeo e consumo da energia eleacute-trica a construccedilatildeo de uma proposta baseada no enfoque ciecircncia-tecnologia-sociedade-am-biente (CTSA) Ciecircncia amp Ensino vol 1 nuacutemero especial novembro de 2007 httpwww

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igeunicampbrojsindexphpcienciaeensinoarticleview157114

Garciacutea Carmona A Relaciones CTS en el estudio de la contaminacioacuten atmosfeacuterica una ex-periencia con estudiantes de Secundaria httpsaumuvigoesreecvolumenesvolumen4ART3_Vol4_N2pdf

Carvalho W L P Farias C R Zocoler J V S Momesso N F G Lucindo J Gonccedilalves Eliane Cristina Estudo do impacto soacutecio-ambiental causado pela construccedilatildeo das usinas hi-droeleacutetricas da regiatildeo de Ilha Solteira In Pinho S Z Saglietti J R C (Org) Nuacutecleos de Ensino da Unesp - Publicaccedilatildeo 2006 Satildeo Paulo Editora Unesp 2006 v 1 p 117-125 httpwwwunespbrprogradPDFNE2004artigoseixo2estudoimpactosocioambientalpdf

Castro Carolina M Los usos sociales del periodismo cientiacutefico y de la divulgacioacuten El caso de la controversia sobre el riesgo o La inocuidad de las antenas de telefoniacutea moacutevil httpwwwrevistactsnet410013file

Chrispino A O uso da teacutecnica de controveacutersia controlada na abordagem CTS Proibiccedilatildeo do Fumo decisatildeo pessoal ou social Simulaccedilatildeo educativa de um caso CTS sobre a sauacutede 2005 httpwwwcampus-oeiorgsalactsialvarohtm

Delgado M y Vallverduacute J Valores en controversias la investigacioacuten con ceacutelulas madre httpwwwrevistactsnet3901

Farias C R de O e Carvalho W L P de O direito ambiental na sala de aula significados de uma praacutetica educativa no ensino meacutedio Ciecircncia amp Educaccedilatildeo v 13 n 2 p 157-174 2007 httpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S1516-73132007000200002amplng=enampnrm=isoamptlng=pt

Vieira K RCF Bazzo W A Discussotildees acerca do aquecimento global uma proposta CTS para abordar esse tema controverso em sala de aula Ciecircncia amp Ensino vol 1 nuacutemero espe-cial novembro de 2007 httpwwwigeunicampbrojsindexphpcienciaeensinoarticleview155119

Os bons resultados da aplicaccedilatildeo da teacutecnica satildeo tambeacutem identificados por Martiacuten Gordillo e Osorio (2003) e Reis e Galvatildeo (2004 apud Ramos e Silva 2007) quando escrevem que os casos de controveacuter-sia controlada favorecem resumidamente

Martin Gordillo e Osorio (2003) Reis e Galvatildeo (2004)

1 Uma aprendizagem dos conteuacutedos de ciecircncia e tecnologia no contexto social

2 Uma percepccedilatildeo mais ajustada da atividade tecnocientiacutefica que inclui a presenccedila de aspectos valorativos

3 Uma consideraccedilatildeo mais ajustada dos viacutenculos existentes entre a investigaccedilatildeo baacutesi-ca e o desenvolvimento praacutetico

4 Uma consciecircncia da necessidade de que os natildeo especialistas tambeacutem participem nas decisotildees de poliacutetica cientiacutefica

5 Uma aprendizagem das disciplinas tecnocientiacuteficas em interaccedilatildeo efetiva com os campos proacuteprios das disciplinas sociais

6 Uma incorporaccedilatildeo da dimensatildeo criativa e luacutedica da aprendizagem dos conteuacutedos tecnocientiacuteficos o que natildeo eacute mais que reivindicar a proacutepria essecircncia da atividade criadora proacutepria da ciecircncia e da tecnologia pois que muitas vezes estaacute ausente do ensino das ciecircncias e das tecnologias mais orientado para a reproduccedilatildeo dos sabe-res estabelecidos do que para o desenvolvimento das capacidades que permitam aos alunos aprenderem a indagar a apropriar-se e a construir novos saberes algo que resulta essencial nas propostas participativas dos casos simulados

1 Construir uma imagem de ciecircn-cia e tecnologia como atividades influenciadas por valores hieraacuter-quicos de conveniecircncia pessoal questotildees financeiras e pressotildees sociais

2 Reforccedilar a ideia de que ciecircncia e tecnologia representam uma fon-te tanto de progresso como de preocupaccedilatildeo ao mesmo tempo e que deveria ser regrada por prin-ciacutepios morais e eacuteticos e

3 Reconhecer como eacute importante que os cidadatildeos e o Estado par-ticipem acompanhando aces-sando e controlando o progresso cientiacutefico e tecnoloacutegico e suas implicaccedilotildees

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CTS E A TEacuteCNICA DA CONTROVEacuteRSIA CONTROLADA109

Conheccedila maisReis Pedro Rocha dos A escola e as controveacutersias sociocientiacuteficas ndash Perspectivas de alunos e professores Lisboa Escolar Editora 2008

75 Como se fosse o fim

A Abordagem CTS eacute certamente provocadora de reflexotildees

Por conta dela reavaliamos a onipotecircncia da Ciecircncia e da Tecnologia percebemos que o conheci-mento natildeo eacute por si soacute bom percebemos que o aparato tecnoloacutegico que nos auxilia a principio pode estar carregado de ideologia observamos que a Ciecircncia e a Tecnologia e seus melhores especialistas possuem um ldquoquecircrdquo de humanos com todas as suas idiossincrasias vislumbramos um espaccedilo de par-ticipaccedilatildeo na decisatildeo dos caminhos a serem traccedilados para o futuro da sociedade tecnocientiacutefica a que todos estamos vinculados

Percebemos que natildeo estamos preparados nem habituados a ocupar o espaccedilo da controveacutersia e de-fender posiccedilotildees diferentes do grande grupo

Percebemos que o nosso conhecimento que possuiacutemos natildeo estaacute organizado de forma a contribuir para todas as superaccedilotildees que a contemporaneidade nos solicita

Percebemos que natildeo fomos educados para uma efetiva participaccedilatildeo social luacutecida e esclarecida Se hoje percebemos isso por coerecircncia natildeo podemos mais ser multiplicadores destas mesmas po-siccedilotildees que nos impediram de desenvolver estas importantes competecircncias sociais a partir do conhe-cimento organizado do campo de nossa atuaccedilatildeo profissional especiacutefica A participaccedilatildeo social soacute se aprende participando criemos os espaccedilos de participaccedilatildeo para que os nossos alunos em todos os niacuteveis simulem e antecipem as dificuldades que poderatildeo viver proxima-mente e quando estivermos ofertando a eles as simulaccedilotildees da realidade e oferecendo as ferramentas do conhecimento que a pode transformar estaremos oferecendo a noacutes mesmos o que natildeo tivemos antes A cada controveacutersia controlada que coordenarmos estaremos abrindo janelas de novas per-cepccedilotildees aos jovens sob nossa direccedilatildeo e estaremos reafirmando a noacutes mesmos que uma sociedade melhor eacute possiacutevel

MODELAGEM PARA PARTICIPACcedilAtildeO SOCIAL NAS RELACcedilOtildeES CTS UTILIZANDO AS ORDENS DE COMTE-SPONVILLE111

8 Modelagem para participaccedilatildeo social nas relaccedilotildees CTS utilizando as ordens de Comte-Sponville

Toda crenccedila na neutralidade moral da ciecircncia deveria ter evaporado no calor da explosatildeo de HiroshimaJoan Solomon

81 Introduccedilatildeo

Os acontecimentos de 11 de setembro de 2001 nas cidades de Nova Iorque e Washington demons-traram algumas fragilidades da sociedade atual deixando claro que o sentimento de seguranccedila que a envolvia era sensiacutevel Apesar do impacto social causado Schwartz (2003) conhecido formulador de cenaacuterios futuros eacute bastante claro quando escreve sobre o fato de jaacute terem sido antecipados os ataques terroristas inclusive tendo como objeto o World Trade Center

Em 11 de setembro de 2011 vimos as consequecircncias traacutegicas de ignorarmos tais previsotildees [sobre ataques terroristas] O ataque terrorista daquele dia foi talvez o acontecimento mais anunciado da histoacuteria Nas duas uacuteltimas deacutecadas meia duacutezia de comissotildees altamente respeitadas sinalizou que um incidente muito semelhante a esse poderia ocorrer Muitas previsotildees citavam especificamente o World Trade Center (em parte porque jaacute fora atacado antes) mencionavam o uso de aviotildees como armas ao referiam explicitamente a Osama bin Laden Ningueacutem sabia quando aquilo poderia ocorrer ndash poderia ser na semana seguinte ou dali a dois anos - mas os detalhes foram previstos Ainda assim a maioria das pessoas tanto na administraccedilatildeo de Bill Clinton quanto na de George W Bush concentrou sua atenccedilatildeo em outros assuntos antes de 11 de setembro prioridades domeacutesticas de campanha e outras na aacuterea militar incluindo programas de defesa atraacuteves de miacutesseis ( p 15-16)

Aleacutem disso devemos considerar a surpresa de ver uma tecnologia a favor de valores tatildeo distintos e com a capacidade de impactar o senso de seguranccedila com a intensidade percebida Tratando deste exemplo ao escrever sobre a vulnerabilidade social frente agrave tecnologia Bijker47

(2008) reflete que este tipo de fato social natildeo deve ter mudado radicalmente a percepccedilatildeo dos espe-cialistas em CTS certamente devido agrave maneira como eacute percebida a construccedilatildeo social da ciecircncia e da tecnologia e sua relaccedilatildeo com a sociedade Bijker (2008) lembra que os especialistas em CTS se perguntaram de que modo suas investigaccedilotildees poderiam contribuir para a melhor compreensatildeo destes eventos Ele entatildeo contribuiu particular-mente apresentando o argumento de ldquoque viver em uma cultura tecnoloacutegica implica invariavelmente viver em um mundo vulneraacutevel E a vulnerabilidade natildeo soacute eacute uma caracteriacutestica inevitaacutevelrdquo (p 118) como tambeacutem eacute uma condiccedilatildeo para a busca de inovaccedilatildeo Informa ainda que ldquopara viver em uma cul-tura aberta em mudanccedila e inovadora devemos pagar o preccedilo da vulnerabilidaderdquo

Tomando o conceito ampliado de tecnologia como sistema ndash o sistema tecnoloacutegico ndash natildeo seraacute difiacutecil enumerar acidentes de grandes proporccedilotildees em diferentes sistemas cientiacuteficos e tecnoloacutegicos ou sis-

47 Wiebe Bijker eacute um dos nomes mais consagrado na aacuterea de Construccedilatildeo Social da Tecnologia ou Construti-vismo Social da Tec-nologia (Social construction of technology conhecida por SCOT) Conheccedila mais em httpenwikipediaorgwikiWiebe_Bijker

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temas tecnocientiacuteficos como bem relaciona a literatura CTS o acidente quiacutemico em Bophal Iacutendia o desastre do Challenger os acidentes na aviaccedilatildeo os acidentes nucleares dentre outros Certamente estes acidentes em diferentes sistemas tecnocientiacuteficos complexos e interconectados (sistema quiacute-mico sistema espacial sistema aeronaacuteutico sistema nuclear etc) satildeo de alguma forma esperaacuteveis ou como prefere Perrow (1999 apud Bijker 2008) satildeo ldquonormaisrdquo Talvez o mais impactante no 11 de setembro tenha sido o fato dele ter sido inusitado sequestros simultacircneos de aviotildees de grande porte planejados por longo tempo para colidirem com preacutedios densamente habitados no coraccedilatildeo da Ameacuterica do Norte Ficamos surpresos Impactados Natildeo era esperaacutevel natildeo era previsiacutevel A socie-dade quedou-se inerte frente a um acidente causado por um sistema tecnocientiacutefico complexo Apoacutes isso o acidente e o retorno do choque reuniram-se os representantes da sociedade para entender o ocorrido e buscar impedir que se repetisse no esforccedilo de definir limites que diminuiacutessem a sua vul-nerabilidade Aproveitando o exemplo de reflexatildeo de Wiebe Bijker sobre o 11 de setembro e suas consequecircncias desastrosas podemos trazer agrave discussatildeo o que foi batizado pelo Presidente Barak Obama de 11 de set-embro ambiental que eacute o desastre no Golfo do Meacutexico causado pela explosatildeo da plataforma de petroacute-leo Deepwater Horizon em 20 de abril de 2010 provocando o derramamento de 60 mil barrisdia de petroacuteleo fazendo com que o oacuteleo alcanccedilasse os estados da Louisiana Mississipi Alabama e Floacuterida

O acidente provocou a reflexatildeo em torno da dependecircncia da sociedade americana ao petroacuteleo e soli-citou do governo e das empresas accedilatildeo efetiva para solucionar o que estaacute sendo considerado o maior desastre ambiental contemporacircneo Como efeito temos que EUA que produzem apenas 2 do pe-troacuteleo mundial enquanto consomem 20 de toda a produccedilatildeo voltaram atraacutes na autorizaccedilatildeo para perfuraccedilatildeo de poccedilos no Alaska e no atlacircntico as empresas especializadas indicam mudanccedilas em pro-cedimentos da aacuterea e a determinaccedilatildeo de Barak Obama de superar a inaccedilatildeo e fomentar a busca acele-rada por ldquotecnologias limpasrdquo (O Globo 16jun2010) o que podemos chamar de ldquosistemas limposrdquo

O que aconteceu com a plataforma Deepwater Horizon natildeo eacute novo Podemos enumerar outros ca-sos como o Ixtok 1 o Exxon Valdez Prestige ou Piper Alpha Esse tipo de acidente em um sistema tecnocientiacutefico como o sistema petroliacutefero eacute esperaacutevel Ficamos impactados com o volume de oacuteleo derramado com a incapacidade teacutecnica da empresa de fazer cessar o vazamento e pelo impacto no ambiente e na vida de milhares de pessoas que vivem ou se relacionam com o ecossistema afetado

Exemplos como o 11 de setembro e sua versatildeo ambiental satildeo exemplos extremos de fatos que pro-vocaram o choque e a posterior reflexatildeo social redundando em decisotildees que limitam e regulam os sistemas tecnocientiacuteficos Percebemos que os representantes da sociedade as instituiccedilotildees do terceiro setor a miacutedia de todo tipo se mobilizaram para aprender com o fato e deliberar sobre as suas conse-quecircncias buscando impedir ou diminuir a chance de repeticcedilatildeo

Outro importante exemplo de como a sociedade interfere com seus valores na atividade uso na con-duccedilatildeo das accedilotildees tecnocientiacuteficas eacute o automoacutevel Desde a exigecircncia de itens de seguranccedila inexistentes ateacute o surgimento da Lei Seca que estipula no extremo Se beber natildeo dirija

A evoluccedilatildeo do automoacutevel sintetiza um grande esforccedilo de otimizaccedilatildeo de custos a fim de diminuir o valor total do aparato e possibilitar vendas em escala Aleacutem disso observa-se um grande esforccedilo para identificar materiais que possam contribuir para melhoria de performance dos veiacuteculos Por fim haacute os itens de seguranccedila que mesmo sendo diferente de paiacutes para paiacutes ndash como se fosse possiacutevel imagi-nar que um cidadatildeo merece mais seguranccedila que outro de um paiacutes diferente ndash inauguram periacuteodos de inovaccedilatildeo em curtos espaccedilos de tempo Entretanto essas marcas de evoluccedilatildeo tecnoloacutegicas convivem

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com uma decisatildeo social de regular o uso e as rotinas que envolvem os automoacuteveis no Brasil (que eacute o nosso espaccedilo de estudo) Temos por exemplo

bull A obrigatoriedade do uso de cinto de seguranccedila Apesar de alguns acharem que usar ou natildeo usar cinto de seguranccedila eacute uma decisatildeo de cunho pessoal o Estado determina que seja obrigatoacuterio considerando a seguranccedila e tambeacutem pelo elevado nuacutemero de aciden-tes As viacutetimas de acidentes de tracircnsito ficam as expensas dos cofres puacuteblicos nos hos-pitais de trauma na aposentadoria por invalidez muitas vezes precoces ou pensatildeo por morte causada por acidentes automobiliacutesticos Alguns decidem se querem usar cinto mas todos pagamos suas despesas

bull Idade miacutenima para obter habilitaccedilatildeo Outro assunto polecircmico eacute a idade miacutenima para obter habilitaccedilatildeo para conduccedilatildeo de veiacuteculos automotores Argumentam alguns que o jovem de dezesseis anos pode escolher o Presidente da Repuacuteblica mas natildeo pode diri-gir carros Esquecem-se ou desconhecem que a decisatildeo de escolher o Presidente aos dezesseis anos eacute facultativa Logo ao fazer a opccedilatildeo por isso o jovem jaacute demonstrou alguma maturidade ou mesmo interesse pelos destinos do paiacutes demonstrando a racio-nalidade do processo e da escolha Ao contraacuterio a relaccedilatildeo jovem-maacutequina eacute eminente-mente emocional Carros cada vez mais possantes ndash apesar das limitaccedilotildees de velocidade ndash unem-se a estradas irresponsavelmente (natildeo) preservadas e ao fator grupo-de-jovens-juntos fazendo com que o resultado em meacutedia possa ser ldquoexplosivordquo bem desenhado nas sequecircncias cinematograacuteficas de Velozes e Furiosos (I II III e IV por enquanto)

bull Por fim haacute a deliberaccedilatildeo social de natildeo concordar com a relaccedilatildeo uso de aacutelcool e direccedilatildeo de veiacuteculos Por mais que possamos argumentar que haacute limites variados nessa relaccedilatildeo a sociedade brasileira fez sua opccedilatildeo pela regulamentaccedilatildeo e ela eacute extrema (talvez para evitar interpretaccedilotildees distorcidas ou casuiacutesmos) pois determina ldquoSe beber natildeo dirijardquo

Por conta destes acontecimentos e outros tantos parece-nos importante discutir sobre a necessidade de a sociedade participar mais e de melhor forma natildeo soacute na construccedilatildeo da ciecircncia e da tecnologia mas tambeacutem na definiccedilatildeo sobre os limites a velocidade de conquista as consequecircncias e a trans-parecircncia da ciecircncia da tecnologia e dos sistemas tecnocientiacuteficos

82 Uma modelagem para a participaccedilatildeo social sobre sistemas tecnocientiacuteficos De certa forma o choque causado pela consequecircncia inesperada de um aparato ou sistema tecno-cientiacutefico levanta a questatildeo sobre o que eacute permitido E a discussatildeo sobre o estabelecimento de possiacute-veis limites que impeccedilam ou diminuam as ocorrecircncias ou a sua extensatildeo apresenta outra questatildeo o que natildeo eacute permitido Eis aqui o estabelecimento dos possiacuteveis limites Para que se decirc o estabelecimento de possiacuteveis limites importa lembrar que cada segmento social envolvido na produccedilatildeo tecnocientiacutefica sua regulaccedilatildeo e suas consequecircncias possuem formas de ver e de entender cada um dos temas que compotildeem a complexa rede de relaccedilotildees CTS Por tal se percebe-mos a necessidade da discussatildeo sobre possiacuteveis limites eacute indispensaacutevel perceber que o modelo que acompanhe as posiccedilotildees distintas ou adversas dos componentes do sistema social envolvido poderaacute ter alto grau de arbiacutetrio na sua categorizaccedilatildeo na sua hierarquia na sua execuccedilatildeo e na sua avaliaccedilatildeo

Chreacutetien (1994) ao discutir as propostas de eacutetica do conhecimento apresentadas por Jacques Mo-nod e contrapocirc-las com os chamados teoremas de incompletude estabelecidos em 1931 por Kurt Goumldel escreve que ldquoa esperanccedila de fazer emergir do proacuteprio sistema a normatividade ou a legiti-midade eacute portanto vatilderdquo (p 25) Deixa apontado que ldquoum sistema formal natildeo pode fechar-se em si

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mesmordquo Ao se fazer essas mesmas questotildees Comte-Sponville48 (2005 e 2008) inicia um longo processo de reflexatildeo com um exemplo dos limites para as tecnociecircncias A partir daiacute iraacute propor o que chamare-mos de modelagem de sistema de construccedilatildeo e participaccedilatildeo social sobre tecnociecircncias Antecipamos desde jaacute que natildeo estamos propondo com a analise das ordens uma visatildeo compartimentada do evento real que sempre seraacute contextualizado e interdisciplinar Propomos uma loacutegica de anaacutelise baseada nas fronteiras de accedilatildeo dos atores sociais e a indispensaacutevel sistemas de pesos-e-contra-pesos a fim de buscar um consenso para o conviacutevio social

O modelo de Comte-Sponville (2005) resgata o conceito de ordens em Pascal49 definido como ldquoum conjunto homogecircneo e autocircnomo regido por leis alinhado a certo modelo de quem deriva sua inde-pendecircncia em relaccedilatildeo a uma ou a vaacuterias outras ordensrdquo (p 51) Com esse entendimento propotildee uma sequecircncia de ordens e um processo de relaccedilatildeo e interconexatildeo entre elas O estudo de Comte-Sponville esclarece a origem de expressotildees muito utilizadas no cotidiano e cujo conhecimento de suas origens perderam-se no tempo como por exemplo o que seja ridiacuteculo O ri-diacuteculo na visatildeo pascalina eacute a utilizaccedilatildeo de valores de uma ordem para avaliar fenocircmenos que estatildeo contidos em outra ordem Sobre isso informa Comte-Sponville (2008)

ldquoO coraccedilatildeo tem sua ordem o espiacuterito a sua que eacute por princiacutepio e demonstraccedilatildeo ningueacutem prova que deve ser amado expondo ordenadamente as causas do amor isso seria ridiacuteculordquo (Pascal) O ridiacuteculo eacute confundir ordens diferentes (o coraccedilatildeo e a razatildeo o espiacuterito e a for-ccedila) e eacute tambeacutem o que Pascal chama de tirania ldquoA tirania consiste no desejo de dominaccedilatildeo universal e fora da sua ordemrdquo Eacute o caso do rei que quer reinar sobre os espiacuteritos ou do em-presaacuterio que aspira ao amor de seus empregados Vecirc-se que a tirania eacute o ridiacuteculo no poder assim como o ridiacuteculo eacute uma tirania virtual ou decaiacuteda Mas cada eacutepoca tem seus ridiacuteculos cada eacutepoca tem seus tiranos (p 287-288)

Apoacutes isso o filoacutesofo pergunta que ordens responderiam as necessidades de hoje e propotildeem aquelas que se seguem

821 A Ordem tecnocientiacutefica

Comte-Sponville (2005) inicia perguntando qual o limite para a ciecircncia dos seres vivos Para a biolo-gia Mais especificamente qual o limite para a manipulaccedilatildeo geneacutetica ou a clonagem humana O faz como ele proacuteprio informa considerando sua longa experiecircncia com meacutedicos e com os problemas da bioeacutetica Apesar destes exemplos essa ordem vai muito aleacutem disso como exemplifica a seguir

Se incluirmos nela como convecircm as teacutecnicas de produccedilatildeo de venda de gestatildeo assim como as ciecircncias humanas (dentre as quais a economia) logo constatamos que essa ordem agrupa na verdade a totalidade do mundo social em seu confronto ndash tanto teoacuterico quanto praacutetico ndash com seu ambiente e com seus proacuteprios meios de existecircncia (Comte-Sponville 2008 p 288)

Diz o filoacutesofo que essas respostas a biologia bem como outras tecnociecircncias natildeo pode dar Natildeo por-que natildeo esteja avanccedilada ou avanccedilando mas porque esta natildeo eacute sua competecircncia A biologia ndash e as de-mais tecnociecircncias ndash ldquonos diz como fazer mas natildeo se devemos fazerrdquo (2005 p50) ou quais os limites

48 Andreacute Comte-Sponville (1952- ) Professor de Filosofia da Universidade de Paris I (Pantheoacuten-Sorbonne)49 Blaise Pascal (Clermont-Ferrand 19 de Junho de 1623 mdash Paris 19 de Agosto de 1662) foi um fiacutesico matemaacutetico filoacutesofo mora-lista e teoacutelogo francecircs Conheccedila mais em httpptwikipediaorgwikiBlaise_Pascal

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que natildeo devem ser ultrapassados Satildeo accedilotildees que estatildeo em ordens diferentes no conceito pascalino Lembra Carnap quando este diz que ldquoem loacutegica natildeo haacute moralrdquo e imagina que no livratildeo de Wittgen-tein que conteria o conjunto das proposiccedilotildees verdadeiras mas ldquonele soacute haveria fatos fatos ndash fatos mas natildeo eacuteticardquo (apud Comte-Sponville 2008 p 288 e 289) A ordem tecnocientiacutefica estrutura-se internamente pelo binocircmio possiacutevel e impossiacutevel que apesar de orientarem as rotinas proacuteprias dessa ordem satildeo incapazes de limitar a ordem em si mesma A ordem tecnocientiacutefica natildeo se limita a si mesma ateacute porque a tecnociecircncia tende sempre a ampliar os seus proacuteprios limites como expressa a chamada Lei de Gabor ldquoTodo possiacutevel seraacute sempre feitordquo Ela natildeo limita um espaccedilo ela mede o desenvolvimento Se analisado com a coerecircncia da ordem ldquonatildeo haacute nenhuma razatildeo cientiacutefica para diminuir a velocidade do progresso das ciecircncias nenhuma razatildeo teacutecnica para limitar as teacutecnicasrdquo (2008 p 289)

A tecnociecircncia jaacute mostrou que a inexistecircncia de limites pode trazer consequecircncias inesperadas e indesejadas a sociedade Sobre isso escreve o filoacutesofo

De modo que somos obrigados a limitar essa ordem tecnocientiacuteca a fim de que tudo o que eacute cientificamente pensaacutevel e tecnicamente possiacutevel nem por isso seja feito E como essa ordem eacute incapaz de se limitar a si mesma ndash natildeo haacute limite bioloacutegico para a biologia natildeo haacute limite econocircmico para a economia etc ndash soacute podemos limitar pelo exteriorrdquo (2005 p 53)

822 A Ordem Juriacutedico-poliacutetica

Comte-Sponville propotildee que existe uma 2ordf ordem que limitaraacute a 1ordf ordem pelo exterior A essa 2ordf ordem ele chamou de juriacutedico-poliacutetica que seraacute concretamente a Lei o Estado Essa ordem se estru-tura internamente pelo binocircmio legal e ilegal considerando como legal o que a lei autoriza e conside-rando que a lei foi produzida legitimamente em um Estado Democraacutetico e Republicano

Apoacutes definir o que seja e como se estrutura a segunda ordem o autor pergunta ldquoColoca-se entre-tanto a questatildeo de saber o que vai limitar essa segunda ordemrdquo (2005 p53) Natildeo seria pois limitar a Democracia Limitar os Direitos E por fim limitar a liberdade

Frente a estas questotildees Comte-Sponville (2005 e 2008) apresenta duas classes de argumentos que sintetizamos a seguir

1 Razatildeo individual

Um homem que repeite integralmente o conjunto de leis de seu paiacutes que faz o que a lei lhe impotildee e nunca faz o que ela proiacutebe poderia ser chamado de ldquolegalista perfeitordquo Indica o autor um ponto de anaacutelise interessante nenhuma lei veda o egoiacutesmo o desprezo o oacutedio a maldade etc Logo todas essas coisas poderiam fazer parte do ldquolegalista perfeitordquo e isso o tornaria um ldquocanalha legalistardquo Entatildeo um ldquocanalha legalistardquo pode ser cientificamente competente e tecnicamente eficiente Se assim for ndash e eacute ndash devemos buscar uma alternativa para que ldquotudo o que eacute tecnicamente possiacutevel e legalmente autorizado nem por isso seja feitordquo (2005 p 55)

2 Razatildeo coletiva

Comte-Sponville exemplifica este item com uma questatildeo que apresentou para dissertaccedilatildeo de seus alunos no curso de filosofia ldquoO povo tem todos os direitosrdquo Ao corrigir os trabalhos de seus alunos que se acreditavam portadores de excelente ldquoconsciecircncia democraacuteticardquo sur-

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preendeu-se com as respostas que indicavam que ldquosim claro O povo tinha todos os pode-resrdquo Os alunos justificavam que o povo era soberano e como tal possuiacutea todos os direitos Ao devolver os trabalhos corrigidos ele apresentava a seguinte provocaccedilatildeo ldquose o povo tem todos os direitos ele tem portanto o direito de oprimir as minorias (por exemplo votar leis antijudaicas) praticar eugenia ou assassinato legal deflagrar guerras de agressatildeo O que seria isso senatildeo uma barbaacuterie democraacuteticardquo (2008 p 291)

Informa que os alunos responderam natildeo ter sido essa sua intenccedilatildeo (o que ele diz jaacute saber) e que haacute uma Constituiccedilatildeo que proiacutebe todos esses exemplos apresentados Ocorre que a Constituiccedilatildeo democraacutetica pode ser mudada pela proacutepria vontade do povo Uma lei muda outra E a lei seguinte natildeo precisa ser ldquomelhorrdquo que a anterior Lembra Rousseau quando este diz que natildeo haacute lei que se imponha ao povo que ele natildeo possa modificar (2008 p 292)

Natildeo haacute pois limites democraacuteticos para a democracia assim como natildeo haacute limites bioloacutegicos para a biologia

Conclui escrevendo

Temos portanto duas razotildees para querer limitar essa ordem juriacutedico-poliacutetica uma razatildeo individual para escapar do espectro do canalha legalista e uma razatildeo coletiva para escapar do espectro do povo que teria todos os direitos inclusive de fazer o pior E como essa ordem eacute incapaz tal como a precedente de se limitar a si mesma (natildeo haacute limites democraacutetico agrave democracia natildeo limites juriacutedicos ou poliacuteticos ao direito e a poliacutetica) soacute podemos limitaacute-la mais uma vez do exteriorrdquo (2005 p 59)

823 A Ordem da Moral

A ordem que deve limitar externamente a 2ordf ordem eacute chamada por Comte-Sponville (2005 e 2008) de Ordem da Moral e se estrutura internamente pelos binocircmios bem e mal e o dever e o proibido e se dirige a consciecircncia de todos e de cada um Daiacute diferencia-se em essecircncia da ordem moral bem a gosto dos sensores e daqueles que desejam ditar regras morais para serem seguidas pelo coletivo O filoacutesofo explicita o que entende por Moral a fim de diminuir a possibilidade de confundir-se ordem da Moral com ordem moral

O que eacute a moral Para abreviar responderei com Kant a moral eacute o conjunto de nossos de-veres ndash o conjunto para dizer com outras palavras das obrigaccedilotildees ou das proibiccedilotildees que impomos a noacutes mesmos natildeo necessariamente a priori (ao contraacuterio do que queria Kant) mas independentemente de qualquer recompensa ou sanccedilatildeo esperada e ateacute de qualquer esperanccedila Eacute o conjunto do que vale ou se impotildee incondicionalmente para uma consciecircn-ciardquo (2005 p 64)

A fim de esclarecer a importacircncia dessa ordem Comte-Sponville (2005 p 60-62) apresenta trecircs pontos para reflexatildeo

1 ldquoA soberania natildeo tem limites mas tem marcosrdquo O povo natildeo pode em nome da segunda ordem atentar por exemplo contra fatos da primeira ordem pois o povo estaacute submeti-do agraves leis da natureza e da razatildeo

2 A poliacutetica excede o Direito A forccedila da multidatildeo natildeo se restringe aacutes forccedilas institucionais que as representam Ela eacute responsaacutevel pelas suas fundaccedilotildees mas eacute por meio da resis-tecircncia a elas que a forccedila da multidatildeo calibra e equilibra a forccedila dos poderes bem como

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identifica e reage aos interesses instalados nos poderes e que natildeo satildeo proacuteprios destes como representantes do povo Eacute certo que o poder soberano do povo possui direitos na visatildeo juriacutedica mas eacute a proacutepria forccedila das multidotildees que produz o poder poliacutetico para o exerciacutecio do equiliacutebrio social50

3 A Moral existe Na discussatildeo sobre o poder absoluto do povo o filoacutesofo retoma a ideia de resistecircncia ou mesmo limite a segunda ordem informando sobre a resistecircncia da Mo-ral e da necessidade de interconexatildeo entre as ordens Escreve ele que o chamado povo soberano natildeo eacute capaz de modificar uma exigecircncia moral (terceira ordem) nem uma verdade tecnocientiacuteficas (primeira ordem) e que mesmo que ele decidisse

ldquosoberanamenterdquo (isto eacute neste caso ridiculamente) que o sol gira em torno da Terra ou que os homens satildeo desiguais em direito e dignidade isso natildeo mudaria em nada a verdade (no primeiro caso) ou a justiccedila (no segundo) do contraacuterio Distinccedilatildeo das ordens natildeo se vota o verdadeiro ou o falso nem o bem ou o mal Eacute por isso que a democracia natildeo substitui nem a consciecircncia nem a competecircncia E vice-versa consciecircncia moral (ordem n 3) e competecircncia (ordem n 1) natildeo poderiam substituir a democracia (ordem n 2) (2005 p 62)

Quando busca consolidar o argumento de controle da ordem segunda pela ordem terceira Comte-Sponville (2005 p 62) lanccedila matildeo de um interessante exemplo para distinguir as consequecircncias da lei e da Moral Escreve que haacute coisas que a lei permite mas que a Moral do indiviacuteduo natildeo se permite realizar Em contrapartida haacute coisa que a lei natildeo impotildee ao indiviacuteduo mas que este se impotildee por outros valores no exerciacutecio cotidiano Conclui que a Moral se soma agrave lei e por isso ldquoa consciecircncia de um homem de bem eacute mais exigente que o legislador o indiviacuteduo tem mais deveres que o cidadatildeordquo

No campo do povo ndash reuniatildeo de indiviacuteduos ndash ocorre fenocircmeno semelhante Haacute casos em que a Cons-tituiccedilatildeo poderaacute permitir mas que seraacute moralmente rejeitado (como o racismo por exemplo) pela sociedade Escreve ele

O conjunto do que eacute moralmente aceitaacutevel (o legiacutetimo) eacute mais restrito do que o conjunto do que eacute juridicamente cogitaacutevel (o legal inclusive em potencial) E como um limite negativo o povo tem menos direitos (por causa da Moral) do que o proacuteprio direito lhe concederdquo (p63)

A questatildeo da moral natildeo necessita de limites visto que natildeo eacute possiacutevel ser moral demais Nada haacute de ruim que algueacutem que tem deveres cumpra exatamente os seus deveres A quarta ordem natildeo produz limites externos agrave terceira ordem antes a complementa

824 A Ordem Eacutetica ou a Ordem do Amor

Se entendemos Moral numa visatildeo didaacutetica e simplificada para modelar o sistema que apresentamos como ldquotudo aquilo que se faz por deverrdquo e conceituamos eacutetica como ldquotudo aquilo que se faz por amorrdquo como propotildee Comte-Sponville percebemos que esta ordem potencializa a anterior

Esta ordem se estrutura internamente pelo binocircmio alegria e tristeza relembrando Aristoacuteteles que dizia que amar eacute ldquoregozijar-serdquo Jaacute Espinosa completaraacute que o ldquoamor eacute uma alegria que a ideia de uma causa exterior acompanha o oacutedio eacute uma tristeza que a ideia de uma causa exterior acompanhardquo

50 Citando Alain como bom leitor de Spinosa em nota de rodapeacute (2005 p 61) escreve ldquoResistecircncia e obediecircncia eis duas virtudes do cidadatildeo Pela obediecircncia ele garante a ordem pela resistecircncia garante a liberdaderdquo

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(Comte-Sponville 2005 p67)

O Amor interveacutem nas quatro ordens Todas elas satildeo importantes a sua maneira e devem acontecer ao mesmo tempo no mundo real com sua independecircncia relativa visto que cada uma possui loacutegica proacutepria e uma inter-relaccedilatildeo visto que uma natildeo funciona excelentemente sem o equiliacutebrio de forccedila das demais Ao final declara Comte-Sponville (2005 p 69) ldquoAs quatro satildeo necessaacuterias nenhuma eacute suficienterdquo

Na conclusatildeo sobre as ordens Comte-Sponville (2005 e 2008) ainda apresenta outros conceitos que nos auxiliam a entender a dinacircmica entre as ordens o de ridiacuteculo de tirania de angelitude e o de barbaacuterie

1 Ridiacuteculo eacute a confusatildeo das ordens Exemplo ldquoamem-me sou o professor de vocecircsrdquo Isso eacute ridiacuteculo pois ningueacutem eacute amado porque expos as razotildees de seu amor

2 Tirania eacute o desejo de dominaccedilatildeo universal e fora de sua ordem Aquele que quer obter por um caminho o que soacute pode obter por outro caminho Por exemplo Algueacutem que quer ser amado por ser forte ou obedecido por ser saacutebio ou temido por ser belo (2005 p 91)

3 Angelismo (ou tirania do superior) eacute a tentaccedilatildeo de pretender anular uma ordem ou sua loacutegica em nome de uma ordem superior Um exemplo de angelismo juriacutedico-poliacutetico seria a tentativa da segunda ordem tentar anular a primeira ordem (imposiccedilotildees teacutecni-cas e cientiacuteficas ou mesmo teacutecnico econocircmicas) O angelismo eacutetico seria a tentativa de libertar-se de seus deveres em nome de um pretenso amor universal (2008 p 296)

4 Barbaacuterie (tirania do inferior) eacute o inverso do angelismo Consiste na tentativa de uma ordem inferior submeter uma ordem superior Por exemplo reduzir a poliacutetica agrave teacutecnica seria uma barbaacuterie tecnocientiacutefica (tirania dos especialistas) Submeter ou reduzir o amor ao respeito pelos deveres seria a barbaacuterie moralizadora (tirania da ordem moral)

Logo o que se busca como ideal para o modelo em estudo natildeo eacute a valorizaccedilatildeo ou exclusividade de uma das ordens mas a comunicaccedilatildeo dinacircmica entre as quatro ordens Mais do que cada uma o valor estaacute no conjunto no sistema que elas compotildeem

Ocorrido um fato que atinja a sociedade independentemente de onde este possa ser posicionado no sistema espera-se primeiro que natildeo haja ridiacuteculo isto eacute pergunte-se corretamente a ordem adequa-da e segundo permita-se que as ordens dialoguem entre si numa contribuiccedilatildeo dinacircmica para melhor entendimento do fenocircmeno e de suas causas e efeitos

Como contribuiccedilatildeo especial ao trabalho a que nos dedicamos resgatamos uma frase do filoacutesofo em discussatildeo quando discute que eacute possiacutevel prolongar estas ordens para baixo ou mesmo para cima Escreve ele ldquoEu prolongaria de bom grado essas quatro ordens para baixo assinalando o lugar de uma ordem zero que seria a da natureza ou do real e que conteria todas as outrasrdquo (2008 p 295) Nosso interesse por esta frase se justifica por aquilo que temos defendido ao longo das atividades de reflexatildeo em torno da educaccedilatildeo do ensino e da abordagem CTS O mundo real eacute interdisciplinar e contextualizado Logo o exemplo apresentado reforccedila esta ideia as quatro ordens estatildeo presentes e contidas de forma interativa no mundo real na ordem zero Natildeo cabe repetir o equiacutevoco de frag-mentar as ordens como fizemos com a natureza para distribuiacute-la em pedaccedilos para as ldquodisciplinas cientiacuteficasrdquo

O modelo que apresentamos eacute bastante para o entendimento CTS se for aplicado com as quatro or-

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dens nos seus espaccedilos especiacuteficos e no equiliacutebrio de forccedilas a que se propotildeem

825 Outras contribuiccedilotildees ao modelo de ordens

Freeman Dyson (2008) ao comentar a ampliaccedilatildeo das fronteiras e os impactos das novas tecnologias do seacuteculo XXI aponta a necessidade de as normas eacuteticas dos cientistas modificarem na medida em que haja mudanccedila nos limites do bem e do mal causados pela tecnociecircncia De modo geral escreve ele o progresso da eacutetica eacute a cura para os danos causados pelo progresso tecnocientiacutefico (p 48) Na mesma linha de raciociacutenio indica o perigo das novas tecnologias ampliarem o fosso que separa os pobres dos ricos com por exemplo a desativaccedilatildeo de faacutebricas antigas para substituiacute-las por outras mais modernas que exigem maior e melhor educaccedilatildeo geral e profissional que aliaacutes os pobres natildeo possuem

Alain Peyrefitte (1999) em sua obra de focirclego A Sociedade de Confianccedila busca indicar como os valo-res religiosos influenciaram na construccedilatildeo das naccedilotildees em todo o mundo Defende a tese e faz longo percurso no esforccedilo de justificativa de que os valores difundidos pela Igreja Catoacutelica produziram um tipo de naccedilatildeo e um tipo de desenvolvimento enquanto as naccedilotildees cuja orientaccedilatildeo era protestante possuem outro conjunto de valores e um traccedilado de desenvolvimento diferenciado Aqui eacute possiacutevel perceber as diferenccedilas entre paiacuteses como a Franccedila Holanda e Inglaterra assim como buscar perce-ber o que a ideia da salvaccedilatildeo pela feacute ou pelas obras ajudou a impulsionar as naccedilotildees de base protestan-te Quando estaacute descrevendo o plano de sua obra Peyrefitte propotildee lanccedilar as bases de uma etologia comparada do desenvolvimento ldquo Etologia isto eacute estudo dos comportamentos e mentalidades res-pectivos das diversas comunidades humanas quando fornecem fatores de ativaccedilatildeo ou de inibiccedilatildeo em mateacuteria de intercacircmbio de mobilidade intelectual e geograacutefica de inovaccedilatildeordquo (p 29) Na dinacircmica de comunicaccedilatildeo das ordens valores morais de fundo religioso na terceira ordem podem influenciar a produccedilatildeo de primeira e segunda ordens

Javier Echeverria (2001a 2001b e 2003) parte das discussotildees sobre a superaccedilatildeo da ideia de ciecircncia herdada ndash neutra imparcial atemporal etc ndash e informa sobre as ideias atuais de ciecircncia e tecnologia a partir dos Estudos Sociais da Ciecircncia e da Tecnologia Ao longo de seus trabalhos sobre a possibili-dade real de relaccedilatildeo entre valores e Ciecircncia e Tecnologia Echeverria chega propor uma axiologia da ciecircncia e da tecnologia

Logo apoacutes os tristes acontecimentos do 11 de setembro de 2001 a Universidad Internacional Menedez Pelayo Valencia Espanha realizou um Curso Internacional intitulado ldquoLa sociedad del riesgordquo cujas exposiccedilotildees foram posteriormente publicadas em livro (Lujaacuten e Echeverriacutea 2004) Leon Oliveacute (2004 e 2007) ao tratar no referido curso do tema Risco eacutetica e participaccedilatildeo puacuteblica narra que apoacutes o 11 de setembro diversos chefes e ex-chefes de Estado se reuniram para fundar o Clube de Madrid que se propunha a colaborar com paiacuteses com democracias jovens oferecendo assessoria de especialistas para temas como terrorismo bioterrorismo etc Elencando uma seacuterie de acontecimentos divulgados por jornais de grande circulaccedilatildeo Oliveacute informa que foi noticiado o fato de que diversos paiacuteses faziam uso de agentes infecciosos e toacutexicos como armas de guerra natildeo divulgando para a sociedade pois satildeo considerados segredos de Estado Continuando a anaacutelise sobre a opiniatildeo que os especialistas pos-suem sobre a participaccedilatildeo cidadatilde Oliveacute (2007 p 98) comenta a reportagem de El Pais (28102001 p 4)

Lia-se informaccedilotildees sobre questotildees que natildeo apenas os cidadatildeos natildeo tecircm voz mas que se-

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gundo os especialistas natildeo devem mesmo aprender O resultado eacute que natildeo dispotildeem de ldquoin-formaccedilotildees veriacutedicas e completas sobre viacuterus ou bacteacuterias algumas delas geneticamente mo-dificadas para resistir a todas as vacinas ou antibioacuteticos desenvolvidos no mundordquo

A exposiccedilatildeo de Oliveacute parece nos remeter a questotildees que estatildeo ligadas agrave concepccedilatildeo herdada de ciecircn-cia e tecnologia baseada na ideia de que os especialistas estatildeo mais bem preparados para orientar os demais cidadatildeos em assuntos que natildeo satildeo dominados pela coletividade Os mesmos especialistas que se oferecem para ajudar democracias jovens natildeo foram capazes de antecipar os acontecimentos infe-lizes do 11 de setembro de 2001 do 11 de setembro ambiental como os demais acontecimentos infelizes produzidos por acidentes tecnocientiacuteficos Parece-nos que o conhecimento que eles acreditam ter natildeo foi capaz de ajudar nestes fatos por que ajudariam em outros da mesma ordem Isso eacute ridiacuteculo Como diria Pascal

Pode ser que o cidadatildeo natildeo seja capaz de opinar de forma estruturada sobre um conhecimento cien-tiacutefico especiacutefico ou sobre a possibilidade de realizaccedilatildeo tecnoloacutegica mas ele eacute muito bem preparado para dizer se o conhecimento e o aparato satildeo de interesse da sociedade Gerard Fourez (1995) inicia um capiacutetulo intitulado Ciecircncia Poder Poliacutetico e Eacutetico onde defende a necessidade de refletirmos sobre as relaccedilotildees entre CTS e afirma

A questatildeo do viacutenculo entre os conhecimentos e as decisotildees se impotildee portanto Que existe um viacutenculo isto eacute indicado pelo bom senso se se sabe que eacute possiacutevel construir uma ponte de uma margem a outra de um rio pode-se questionar se ela eacute ou natildeo desejaacutevel (p 207)

Na tentativa de concretizar as possibilidades de participaccedilatildeo social eacute possiacutevel identificar alguns mo-delos de exerciacutecio democraacutetico (Chrispino 2015) Hoje eacute possiacutevel identificar alguns importantes canais de exerciacutecio democraacutetico no Brasil Podemos enumerar a democracia representativa a demo-cracia participativa a democracia direta e a democracia consociativa a saber

bull A democracia representativa que resulta na eleiccedilatildeo de representantes do povo para os Poderes Legislativo e Executivo nos trecircs niacuteveis de governo (federal estadual e mu-nicipal) Isso quer significar que o povo tem participaccedilatildeo direta na qualidade dos seus representantes sendo certo que a qualidade dos governantes espelha o pensamento e a praacutetica dos eleitores visto que nenhum deles chegou ao poder por concurso ou por sorteio

bull A democracia participativa faculta a participaccedilatildeo mais efetiva de cidadatildeos em es-paccedilos de decisatildeo eou de acompanhamento Os exemplos satildeo os conselhos de acom-panhamento de accedilotildees de governo ou conselhos temaacuteticos Natildeo passa despercebido que um dos grandes entraves na consolidaccedilatildeo da boa representaccedilatildeo eacute o fato de que os que buscam representar se utilizam deste instituto como trampolim para projetos poliacuteticos pessoais tais como chegar a vereador chegar a deputado chegar a prefeito etc

bull A democracia direta se daacute pela participaccedilatildeo efetiva do cidadatildeo visando a decisatildeo Satildeo exemplos de participaccedilatildeo direta o plebiscito e o referendo Natildeo devemos confundir os institutos da democracia direta com as ferramentas de poliacutetica populista como foi o caso da denominada ldquoDemocracia Plebiscitaacuteriardquo que mais se assemelha a populismo oportunista quando um governante com alto iacutendice de aceitaccedilatildeo propotildee consulta agrave populaccedilatildeo sobre temas de interesse como a possibilidade de reeleiccedilatildeo sem limites Tambeacutem temos que observar com criteacuterio a diferenccedila entre a democracia Direta legiacuteti-ma e as accedilotildees populistas de consulta a populaccedilatildeo por meio de expedientes que possuem ldquoendereccedilo certordquo e ldquoresultado previsiacutevelrdquo como as conferecircncias temaacuteticas organizadas a partir de fraccedilotildees definidas de segmentos sociais organizados que mais representam as

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opiniotildees destes segmentos do que as necessidades verdadeiras da sociedade como um todo A democracia direta natildeo pode substituir o Legislativo natildeo pode ser um processo que se assemelham a ldquodemocratismos encomendadosrdquo e precisa ter seu caraacuteter delibe-rativo definido antes a fim de que o governante venha a aproveitar apenas o que lhe eacute conveniente

bull A democracia consociativa que natildeo deixa de ser uma derivada da democracia partici-pativa se caracteriza pela busca de consensos para o conviacutevio entre os diferentes ato-res e interesses que compotildeem a sociedade (Toba 2004) As conferecircncias nacionais os planos diretores os documentos de impacto de vizinhanccedila e de impacto ambiental satildeo exemplos deste novo instituto Aqui ganha aquele que demonstrar mais organizaccedilatildeo e capacidade de articulaccedilatildeo A chamada construccedilatildeo de consenso eacute uma tecnologia social que tende a ocupar importantes espaccedilos nas relaccedilotildees sociais contemporacircneas

Ao discutir sobre a participaccedilatildeo social em decisotildees tecnocientiacuteficas Loacutepez Cerezo (2009 p 138) apresenta trecircs blocos de temas Qual o puacuteblico que deve participar das discussotildees e sob que argumen-tos quem pode e deve participar e os modos possiacuteveis de participaccedilatildeo

A escolha do puacuteblico que deve participar dos debates envolvendo ciecircncia e tecnologia natildeo eacute sim-ples nem trivial Quando definimos um problema tecnocientiacutefico de alto impacto social precisamos responder a primeira pergunta que coletivo estaacute envolvido nesta questatildeo Ou ainda que coletivos estatildeo de alguma forma envolvidos na questatildeo Quando conseguimos responder a esta primeira etapa passamos a outra ordem de problema Dos envolvidos qual possui opiniatildeo mais importante ou mais relevante ou mais prevalente Tudo isso se torna mais complexo quando consideramos as mesmas questotildees na linha do tempo no presente estas perguntas podem ser respondidas de uma forma mas se considerada a visatildeo de futuro seriam as mesmas respostas

Loacutepez Cerezo (2009 p 138) cita Daniel Fiorino (1990) quando propotildee resumir os motivos de partici-paccedilatildeo social em trecircs argumentos

bull Argumento instrumental A participaccedilatildeo eacute a melhor garantia para evitar a resistecircncia social e a desconfianccedila sobre as instituiccedilotildees

bull Argumento normativo A tecnocracia eacute incompatiacutevel com os valores democraacuteticosbull Argumento substantivo O juiacutezo dos natildeo especialistas satildeo tatildeo razoaacuteveis quanto o juiacutezo

dos especialistas

No que se refere a Quem pode ou deve participar das discussotildees que envolvam temas tecnocientiacutefi-cos a discussatildeo natildeo eacute mais simples Considerando a diversidade de cidadatildeos e de segmentos sociais que estatildeo direta ou potencialmente envolvidos neste processo Loacutepez Cerezo (2009 p 139) informa que a literatura sobre participaccedilatildeo puacuteblica apresenta em geral ldquoum conjunto de criteacuterios para ava-liar o caraacuteter democraacutetico de iniciativas de gestatildeo puacuteblica em poliacutetica cientiacutefico-tecnoloacutegicardquo

bull Caraacuteter representativo deve produzir uma ampla participaccedilatildeo em um processo de to-mada de decisatildeo Em princiacutepio quanto maior eacute o nuacutemero e a diversidade dos indiviacuteduos ou grupos envolvidos mais democraacutetico pode considerar-se o mecanismo participativo em questatildeo

bull Caraacuteter igualitaacuterio deve permitir a participaccedilatildeo cidadatilde em peacute de igualdade com os es-pecialistas e as autoridades governamentais Ele implica entre outras coisas transmis-satildeo de toda informaccedilatildeo disponibilidade de meios natildeo intimidaccedilatildeo igualdade de trato e transparecircncia no processo

bull Caraacuteter efetivo deve traduzir-se em um fluxo real sobre as decisotildees adotadas Para ele eacute

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necessaacuterio que se produza uma delegaccedilatildeo da autoridade ou um acesso efetivo a aqueles que a detecircm

bull Caraacuteter ativo deve permitir ao puacuteblico participante envolver-se ativa-mente na defi-niccedilatildeo dos problemas e no debate de seus paracircmetros principais e natildeo soacute considerar rea-tivamente sua opiniatildeo no terreno das soluccedilotildees Trata-se de fomentar uma participaccedilatildeo integral para a qual natildeo haacute portas fechadas previamente

Rigolin (2014) ao estudar a participaccedilatildeo puacuteblica e avaliaccedilatildeo social da Ciecircncia e da Tecnologia escre-ve que a emergecircncia de inovaccedilotildees tecnoloacutegicas de caraacuteter controverso produziria maior

demanda puacuteblica por informaccedilatildeo e maior inclusatildeo no processo decisoacuterio [e] refletiria uma reaccedilatildeo puacuteblica contra o hermetismo que caracteriza os modelos regulatoacuterios fundados nos-princiacutepios incontestaacuteveis e inacessiacuteveis da sound Science (Young et al 2001) Para alguns autores (Callon 1998 Young et al 2001 Kluver et al 2000 Smith 2001) e certas organi-zaccedilotildees internacionais (FAO 2001) o melhor arranjo para a orquestraccedilatildeo de conflitos (po-liacuteticos juriacutedicos etc) que envolvem incerteza complexidade e controveacutersia cientiacuteficatem sido a ampliaccedilatildeo do conceito de expertise incorporando a visatildeo e os interesses dos diferen-tes atores sociais potencialmente afetados pela difusatildeo de novas tecnologias no processo de formulaccedilatildeo implementaccedilatildeo ou avaliaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas via procedimentos parti-cipativos (p 131)

No que se refere a espaccedilos institucionais possiacuteveis para a participaccedilatildeo social em ciecircncia e tecnologia Loacutepez Cerezo (2009) ndash assim como Bazzo Linsingen e Pereira (2003) ndash informa as principais opccedilotildees que foram ensaiadas em diversos paiacuteses tais como Estados Unidos Austraacutelia Reino Unido Sueacutecia e Paiacuteses Baixos que buscamos sintetizar a seguir

bull Audiecircncias puacuteblicas satildeo habitualmente foros abertos e pouco estruturados onde a par-tir de um programa previamente determinado pelos representantes da administraccedilatildeo se convida o puacuteblico a escutar as propostas governamentais e comentaacute-las

bull Gestatildeo negociada se desenvolve a partir de um comitecirc negociador composto por repre-sentantes da administraccedilatildeo e grupos de interesse implicados por exemplo induacutestria associaccedilotildees profissionais e organizaccedilotildees ecologistas Os participantes tecircm acesso a a informaccedilotildees relevantes assim como a oportunidade de persuadir a outros e alinhaacute-los com suas posiccedilotildees

bull Paineacuteis de cidadatildeos este tipo de mecanismo estaacute baseado no modelo do jurado soacute que aplicado a temas cientiacutefico-tecnoloacutegicos e ambientais Sob este tipo de teacutecnica reuacutenem-se modelos de caraacuteter decisoacuterio ou meramente consultivo A ideia central eacute que os cidadatildeos comuns (escolhidos por sorteio ou por amostra aleatoacuteria) se reuacutenam para con-siderar sobre um assunto sobre o qual natildeo satildeo especialistas e apoacutes terem recebido das autoridades e especialistas as informaccedilotildees pertinentes apresentem recomendaccedilotildees ou alternativas aos organismos oficiais Comparada a audiecircncia puacuteblica esta teacutecnica eacute mais ativa e permite maior participaccedilatildeo e maior questionamento inclusive aos especialistas

bull Pesquisas de opiniatildeo sobre assuntos tecnocientiacuteficos permitem conhecer a percepccedilatildeo puacuteblica sobre determinado assunto de forma a orientar as decisotildees dos poderes legis-lativo e executivo

bull Consumo diferenciado de produtos de acordo com sua origem cientiacutefica-tecnoloacutegica satildeo escolhas feitas pelos cidadatildeos a favor do consumo de produtos marcados com algum tipo de selo indicativo de qualidade ou de diferenciaccedilatildeo

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Podemos identificar especialmente no Brasil alguns outros instrumentos tais como o referendum o plebiscito o Relatoacuterio de Impacto Ambiental (Rima) o Relatoacuterio de Impacto de Vizinhanccedila accedilotildees civis puacuteblicas e sempre o direito de questionar em Juiacutezo quando se sentir lesado

83 Como se fosse conclusatildeo A construccedilatildeo social da ciecircncia e da tecnologia natildeo pode prescindir da alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica dos membros da sociedade a fim de que estes tenham um miacutenimo de condiccedilotildees para entender refletir e contribuir nas decisotildees a serem tomadas em temas tecnocientiacuteficos de impacto social O modelo de educaccedilatildeo e de ensino que aiacute estaacute posto natildeo atende as suas necessidades Da mesma forma eacute necessaacuterio discutir um modelo mesmo que idealizado que permita a visuali-zaccedilatildeo das possibilidades de participaccedilatildeo social no conjunto de decisotildees que envolvem temas tecno-cientiacuteficos em geral A proposta de Comte-Sponville permite a visualizaccedilatildeo deste conjunto de va-riaacuteveis e permite um primeiro passo de entendimento preacute-requisito para o processo de melhoria de participaccedilatildeo Com essa visualizaccedilatildeo especialistas poliacuteticoslegisladoresgestores educadores em Ciecircncia e Tec-nologia e cidadatildeos satildeo capazes de ordenar discussotildees e a sociedade organizada pode melhor planejar sua participaccedilatildeo e solicitar a participaccedilatildeo dos membros que compotildeem as demais ordens estabele-cendo a dinacircmica proposta ao longo do trabalho Este pode ser um cenaacuterio orientador de possibi-lidades colocando em foco como propotildee Biejker (2008 p136) a fragilidade constitutiva de nossa cultura tecnoloacutegica considerando sua estrutura e seus valores centrais

Conheccedila mais

Aibar E La participacion del puacuteblico em las decisiones cientiacutefico-tecnoloacutegicas In Aibar E Quintanilla MA (edit) Ciencia Tecnologia y SociedadMadrid Editorial Trotta Consejo superior de Investigaciones Cientificas 2012

SOBRE AS ABORDAGENS CTS125

9 Sobre as abordagens CTS

Em resumo a soluccedilatildeo natildeo consiste em ldquomais ciecircncia e tecnologiardquo mas sim em um tipo diferente de ciecircncia e tecnologia

Gonzaacutelez Garciacutea Loacutepez Cerezo e Lujaacuten Loacutepez

91 Introduccedilatildeo As relaccedilotildees entre Ciecircncia Tecnologia Sociedade e Poliacutetica Ateacute este ponto buscamos apresentar fatos que nos levam a refletir sobre a chamada neutralidade da Ciecircncia e da Tecnologia bem como de seus operadores os cientistas e especialistas em tecnologia Esperamos ter demonstrado as relaccedilotildees estreitas entre Ciecircncia e Tecnologia e a necessidade de desenvolvermos uma interaccedilatildeo mais estreita e intensa entre estas duas aacutereas do conhecimento e a Sociedade Vamos agora estudar mais um pouco como pode se dar estas relaccedilotildees e como elas podem ser de forma mais ou menos expliacutecitas interdependentes Jaacute citamos exaustivamente o exemplo do Relatoacuterio Bush e o Projeto Manhattan Vamos agora buscar em Alan Chalmers51 (1994) alguns exemplos para ilustrar o tema a que nos propomos discutir

No livro que escolhemos para ilustrar nossas questotildees Chalmers (1994) estaacute preocupado

em identificar e caracterizar a meta da ciecircncia distinguindo-a de outras atividades com di-ferentes objetivos Disso natildeo se deve concluir que eu considere a meta da ciecircncia algum bem absoluto e sem restriccedilotildees necessariamente superior a outras metas Um exemplo ajudaraacute a colocar a glorificaccedilatildeo irrestrita da ciecircncia dentro de uma perspectiva mais realistaHumphrey Davy inventou em 1815 a chamada lacircmpada de seguranccedila dos mineiros Natildeo haacute nenhuma duacutevida de que isso tenha sido uma bemlograda consequecircncia de uma pesquisa cientiacutefica pura (possivelmente realizada por Faraday) que envolvia a determinaccedilatildeo da tem-peratura de igniccedilatildeo do metano e a eficaacutecia de um veacuteu de arame atuando como barreira para a temperatura J A Paris um dos bioacutegrafos de Davy referiu-se a essa pesquisa bem suce-dida como orgulho da ciecircncia triunfo da humanidade e gloacuteria da eacutepoca em que vivemos () e mais recentemente a Union Carbide Chemicals and Plastics exaltou as virtudes da pesquisa de Davy e comparou suas contribuiccedilotildees para a humanidade agraves da Union Carbide Afinal de contas Humphrey Davy acendeu uma lacircmpada para benefiacutecio da humanidade e natildeo desejamos que ela se apague (Albury e Schwartz 1982 p 13) Isso natildeo eacute muito inco-mum em relaccedilatildeo agrave maneira como o valor intriacutenseco da ciecircncia eacute retratado e glorificadoNo entanto () um exame mais circunspecto da histoacuteria real desse episoacutedio nos leva a uma avaliaccedilatildeo bem mais moderada Um efeito imediato da introduccedilatildeo da lacircmpada de Davy nas minas de carvatildeo foi um aumento acentuado no nuacutemero de explosotildees e fatalidades Natildeo eacute difiacutecil discernir a razatildeo para isso Do ponto de vista dos proprietaacuterios das minas o problema que pressionava natildeo era tanto a seguranccedila da mina mas o fato de que as operaccedilotildees em mi-nas ricas de carvatildeo se tomavam inacessiacuteveis por causa da acumulaccedilatildeo do metano O proble-ma deles que era o que expuseram a Davy era saber como fazer os mineiros entrarem nas

51 Allan Chalmers (1939- ) eacute inglecircs naturalizado australiano formou-se em fiacutesica e dedicou-se aos estudos da Filosofia e da His-toacuteria Eacute professor de Histoacuteria e Filosofia da Ciecircncia na Universidade de Sydney Austraacutelia

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SOBRE AS ABORDAGENS CTS126

minas perigosas cheias do gaacutes venenoso A pesquisa de Davy proporcionava uma resposta mas naturalmente sua lacircmpada estava longe de ser perfeita O veacuteu poderia soltar-se as co-rrentes de ar poderiam soprar a chama para fora e as partiacuteculas de carvatildeo que se grudavam em seu exterior se tornariam vermelhas com o calor Os mineiros admitiam que o problema mais seacuterio nas minas era uma ventilaccedilatildeo precaacuteria Eles percebiam que as principais fatalida-des depois de uma explosatildeo ocorriam por sufocaccedilatildeo pelo monoacutexido e dioacutexido de carbono em consequecircncia da explosatildeo Eles propunham medidas como o aprofundamento de mais poccedilos mas essas sugestotildees foram em geral deixadas de lado presumivelmente devido aos custos que encerravam Os mineiros poderiam ser perdoados pelo ceticismo a respeito de qualquer afirmaccedilatildeo de que o progresso da ciecircncia eacute um bem sem reservas (p 160-161)

O autor conclui o item informando que existe na atualidade situaccedilotildees comparaacuteveis a essa onde pelos efeitos adversos que a ciecircncia possibilita

eacute razoaacutevel em muitos contextos reivindicar que um uso socialmente mais equumlitativo do con-hecimento cientifico que temos eacute um problema de maior urgecircncia do que a produccedilatildeo de mais conhecimento cientiacutefico Mesmo quando basta atribuir grande prioridade agrave aquisiccedilatildeo do conhecinotmento cientiacutefico resta a questatildeo de qual das muitas linhas possiacuteveis de pesquisa cientiacutefica deveria ser seguida Resta entatildeo a questatildeo que espeacutecie de ciecircncia desejamos Eacute inquestionaacutevel que uma grande forccedila por traacutes da direccedilatildeo do desenvolvimento da ciecircncia ocidental eacute proveniente dos interesses militares e econocircmicos das agecircncias governamentais e dos interesses aliados das corporaccedilotildees multinacionais Muitos de noacutes desejariam que as coisas fossem diferentes e que a ciecircncia se tivesse desenvolvido em direccedilotildees mais de acordo com os interesses e as necessidades das pessoas comuns De qualquer maneira a ciecircncia tem que ser avaliada e articulada segundo interesses e valores As avaliaccedilotildees e as lutas poliacute-ticas aiacute encerradas natildeo satildeo por si soacute receptivas agraves soluccedilotildees cientiacuteficas (p 161)

Leia maisSobre Humphry Davy

Beltran Ma H Roxo Humphry Davy e as cores dos antigos Quiacutem Nova vol31 n1 Satildeo Paulo 2008 httpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S0100-40422008000100033amplng=enampnrm=iso

Dwyer Tom O surgimento da engenharia de seguranccedila Empregadores trabalhadores e a lacircmpada de Davy Mul-tiCiecircncia UNICAMP httpwwwmulticienciaunicampbrartigos_06a_04_6pdf

Dwyer Tom Vida e morte no trabalho - acidentes do trabalho e a produccedilatildeo social do erro Satildeo Paulo Editora Unicamp 2006

A discussatildeo entatildeo passa a ser natildeo mais ldquose a tecnociecircncia interfere no dia-a-diardquo ou ldquose a tecnociecircncia produz resultados somente para o bem-estarrdquo mas sim ldquoque forccedilas impulsionadoras podem ser identificadas em cada movimento que favorece um avanccedilo tecnocientiacuteficordquo Certamente este eacute um movimento muito mais complexo do que simplesmente aplaudir as conquistas tecnocientiacuteficas que nos chegam por meio de produtos de consumo O que se estaacute apontando eacute a necessidade da alfabetizaccedilatildeo tecnocientiacutefica capaz de identificar os movimentos que orientam e sustentam uma ou outra linha de pesquisa eou produccedilatildeo tecnocientiacutefica Natildeo haacute nessa visatildeo a possibilidade de acharmos que o movimento da ciecircncia e tecnologia ndash a tecnociecircncia ndash existe sem a accedilatildeo e decisatildeo socialmente dirigidas Essas accedilotildees possuem um vieacutes poliacutetico (Poliacutetica com P maiuacutesculo e poliacutetica com p minuacutesculo) O que natildeo eacute obrigatoriamente ruim Chalmers (1994) nos relembra e comenta uma histoacuteria claacutessica apresentada por Bruno Latour (1987) e que ilustra de forma espetacular essa necessaacuteria relaccedilatildeo entre Ciecircncia Tecnologia Sociedade e Poliacutetica que chamaremos de CTS+P

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SOBRE AS ABORDAGENS CTS127

Os fatores que se ocultam por traacutes da satisfaccedilatildeo das condiccedilotildees materiais necessaacuterias para o trabalho cientiacutefico envolvem uma ampla seacuterie de interesses outros que natildeo a produccedilatildeo do conhecinotmento cientifico Esse ponto eacute graficamente ilustrado por Bruno Latour (1987 p 153-7) num trecho impressionante em que ele compara a atividade cotidiana de uma cientista num importante laboratoacuterio californiano com o diretor do laboratoacuterio a quem se refere como o chefe A cientista se considera interessada no desenvolvimento da ciecircncia pura e desinteressada das questotildees poliacuteticas ou sociais Procura distanciar-se do governo e do setor privado para concentrar-se em sua pesquisa pura Em compensaccedilatildeo o chefe estaacute sempre envolvido em atividades poliacuteticas em todos os niacuteveis o que muitas vezes lhe vale a zombaria da cientista O exemplo de Latour trata da pesquisa de uma nova substacircncia o pandorin que promete ter grande significado na fisiologia Na lista das atividades em que o chefe se envolve numa se-mana comum estatildeo as seguintes entre outras negociaccedilotildees com as grandes companhias far-macecircuticas a respeito do possiacutevel patenteamento do pandorin um encontro com o ministro da Sauacutede francecircs onde seraacute discutida a possibilidade de abertura de um novo laboratoacuterio na Franccedila uma reuniatildeo na Academia Nacional de Ciecircncia em que o chefe defende a necessi-dade de mais um subdepartamento reuniatildeo da diretoria da revista meacutedica Endocrinology onde pede mais espaccedilo para sua aacuterea e reclama de conselheiros que pouco sabem sobre a disciplina uma visita ao matadouro local em que discute a possibilidade de decapitar ove-lha de modo a causar menos danos ao hipotaacutelamo reuniatildeo na universidade onde propotildee um novo programa de curso contendo mais biologia nuclear e informaacutetica discussatildeo com um cientista sueco sobre os instrumentos recentemente criados por ele para detectar pep-tiacutedeos e possiacuteveis estrateacutegias para desenvolvecirc-los e discurso na Associaccedilatildeo dos DiabeacuteticosContinuemos acompanhando Latour voltando nossa atenccedilatildeo para o trabalho da cientista no laboratoacuterio pouco depois Descobrimos que ela conseguiu empregar um novo teacutecnico o que foi possiacutevel graccedilas a uma bolsa recebida da Associaccedilatildeo dos Diabeacuteticos haacute tambeacutem dois novos estudantes jaacute formados que entraram no campo atraveacutes dos novos cursos criados pelo chefe Sua pesquisa beneficiou-se com amostras mais limpas de hipotaacutelamo que satildeo agora recebidas do matadouro e com um novo instrumento de grande sensibilidade recentemen-te adquirido da Sueacutecia que aumenta sua capacidade de detectar traccedilos insignificantes de pandorin no ceacuterebro Os resultados preliminares de sua pesquisa seratildeo publicados numa nova seccedilatildeo de Endocrinology Ela estaacute refletindo sobre um novo cargo que lhe foi oferecido pelo governo francecircs para a implantaccedilatildeo de um laboratoacuterio na FranccedilaSe a cientista da histoacuteria muito realista de Latour considera envolvida na ciecircncia pura que natildeo eacute perturbada por questotildees poliacuteticas e sociais mais amplas ela estaacute muito enganada A satisfaccedilatildeo das condiccedilotildees materiais que eacute um preacute-requisito para a realizaccedilatildeo de sua pesquisa soacute pode ser obtida como resultado da atividade poliacutetica que encerra uma seacuterie de interesses sociais como ilustram as atividades do chefe Se por exemplo investigamos o suficiente a respeito da origem dos fundos para qualquer aacuterea de pesquisa na fiacutesica nos Estados Unidos quase sempre damos de frente com os interesses dos militares e do Departamento de Defesa no desennotvolvimento dos modernos sistemas armamentistas E L Woollett (1980 p 109) expotildee a situaccedilatildeo num artigo revelador qualquer pessoa com o diploma de fiacutesica que leia o Relatoacuterio Anual da Secretaria da Defesa admitiraacute a maneira essencial como o progresso da ciecircncia estaacute hoje associado ao progresso nos modernos sistemas armamentistas Minha insistecircncia em fazer uma distinccedilatildeo entre a ciecircncia e outras atividades com metas diferentes deixa pouco mais que farelos para a anaacutelise do socioacutelogoO simples fato de que a atividade cientifica natildeo pode ser separada das outras que atendem a outros interesses natildeo implica em si que o objetivo da ciecircncia esteja subvertido A anaacutelise um

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SOBRE AS ABORDAGENS CTS128

tanto conservadora e funcionalista da organizaccedilatildeo institucional da ciecircncia de Robert Mer-ton (1973) mostra isso muito bem Merton acredita que a ciecircncia eacute governada por normas que definem o coacutedigo apropriado de comportamento dos cientistas normas de universalis-mo desinteresse comunismo e ceticismo organizado Presume-se que a fidelidade a essas normas leve adiante a meta da ciecircncia Contudo cada cientista tem suas proacuteprias normas e interesses como a aquisiccedilatildeo de riqueza fama e poder por exemplo Merton diz que a meta da ciecircncia se concilia com os interesses dos cientistas por meio do sistema institucionaliza-do de recompensas e penalizaccedilotildees Dessa maneira os cientistas satildeo coagidos a agir de modo a atender os interesses da ciecircncia porque eacute exatamente esta forma de agir que resulta nas recompensas que atendem a seus proacuteprios interesses Naturalmente haacute outros interesses em jogo na atividade cientiacutefica como os monopoacutelios profissionais governa-mentais e dos setores privados o descuido em relaccedilatildeo a estes eacute uma das falhas da anaacutelise de Merton En-tretanto ela serve para mostrar que a ciecircncia natildeo eacute automaticamente subvertida quando haacute outros interesses envolvidos Podemos ilustrar mais esse ponto observando que foi uma feliz coincidecircncia entre alguns aspectos dos interesses da ciecircncia e os da burguesia que per-mitiu que a ciecircncia prosperasse na mareacute da revoluccedilatildeo cientiacutefica (Chalmers 1994 p 157-159 veja tambeacutem Bartel e Johnston 1984)

Leia maisSobre Bruno Latour e sua publicaccedilatildeoTeixeira Maacutercia de Oliveira A ciecircncia em accedilatildeo seguindo Bruno Latour Hist cienc saude-Manguinhos vol8 n1 Rio de Janeiro MarJune 2001httpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S0104-59702001000200012

Sobre Robert K Merton (1910-2003)Nunes Everardo D Merton e a sociologia meacutedica Hist cienc saude-Manguinhos vol14 n1 Rio de Janeiro JanMar 2007 httpwwwscielobrscielophppid=S0104-59702007000100008ampscript=sci_arttext

92 As Abordagens CTS um modelo possiacutevel Eacute possiacutevel conhecer os principais acontecimentos que marcam a evoluccedilatildeo da Abordagem CTS a partir dos textos de Kreimer e Thomas (2004) Cutcliffe (2003) Bazzo Linsingen e Pereira (2003) Lopez Cerezo (2002) Vacarezza (2002) e Gonzalez Garcia Loacutepez Cerezo e Lujaacuten Loacutepez (1996) Es-tes uacuteltimos ao apresentarem longa lista de acontecimentos que marcaram a histoacuteria do movimento CTS nos paiacuteses ocidentais especialmente os Estados Unidos propotildeem sua divisatildeo em trecircs periacuteodos

1 Otimismo Eacute o primeiro desde o uacuteltimo periacuteodo da Segunda Guerra Mundial ateacute 1955 (com o manifesto de Russel e Einstein sobre a responsabilidade social da ciecircncia) de-corre uma deacutecada otimista de demonstraccedilatildeo de poder da ciecircncia e da tecnologia de firme convicccedilatildeo no modelo unidirecional de progresso e de apoio puacutebico incondicional a ciecircncia-tecnologia

2 Alerta Eacute o segundo periacuteodo desde meados de anos cinquumlenta ateacute 1968 (desde o lanccedila-mento do Sputnik e o primeiro acidente nuclear grave ateacute o centro do movimento de contra-cultura e de revoltas contra a guerra do Vietnam) comeccedilam a vir a publico os primeiros grandes desastres produzidos pela tecnologia fora de controle Os movimen-tos sociais e poliacuteticos de luta contra o sistema fazem da tecnologia moderna e do estado tecnocraacutetico o alvo de sua luta

3 Reaccedilatildeo Eacute o terceiro periacuteodo de 1969 ateacute o presente descreve a consolidaccedilatildeo educativa e administrativa do movimento CTS como resposta acadecircmica educativa e poliacutetica a sensibilizaccedilatildeo social sobre os problemas relacionados com a tecnologia e o ambiente Eacute

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SOBRE AS ABORDAGENS CTS129

o momento da revisatildeo e correccedilatildeo do modelo unidirecional de progresso como base para o desenho da poliacutetica cientiacutefico-tecnoloacutegica (Gonzaacutelez Garciacutea Loacutepez Cerezo e Lujaacuten Loacutepez 1996 p 58-59)

Esse uacuteltimo movimento que se percebe ateacute hoje toma coloridos proacuteprios de acordo com o modelo de sociedade e de cidadatildeo em que as circunstacircncias de tecnociecircncia se manifestam Sociedades mais experientes na organizaccedilatildeo representativa e que possuem cidadatildeos mais esclarecidos satildeo capazes de desenvolver um programa de interaccedilatildeo CTS mais eficaz no sentido de que ldquoa soluccedilatildeo natildeo consiste em mais ciecircncia e tecnologia mas sim em um tipo diferente de ciecircncia e tecnologiardquo (Gonzaacutelez Garciacutea Loacutepez Cerezo e Lujaacuten Loacutepez 1996 p 56)

Sociedadescidadatildeos mais esclarecidos quanto agrave Ciecircncia e Tecnologia estatildeo mais aptos a solicitar explicaccedilotildees mais efetivas sobre o porquecirc e sobre os resultados de projetos de base tecnocientiacuteficos Podem questionar os valores que fundamentam os objetivos das poliacuteticas puacuteblicas (manifestaccedilatildeo da vontade de fazer dos governos) tanto quanto satildeo capazes de questionar sobre as consequecircncias das tecnociecircncias a curto meacutedio e longo prazos Essa diferenccedila do antes e do depois eacute comumente chamada nos estudos CTS de tradiccedilatildeo de origem europeacuteia e de tradiccedilatildeo de origem americana Sendo certo que esta divisatildeo hoje pela diversidade grupos de estudos CTS eacute mais didaacutetica do que geograacutefica A tradiccedilatildeo Europeacuteia considera na dimensatildeo social os antecedentes ou condicionantes sociais do CTS que contribuem para a formaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo dos complexos tecnocientiacuteficos (Gonzaacutelez Garciacutea Loacutepez Cerezo e Lujaacuten Loacutepez 1996 p 56) Esta tradiccedilatildeo que remonta o suporte teoacuterico de Thomas Kuhn realiza seus estudos baseados principalmente nas ciecircncias sociais e possui trabalhos importantes a partir das contribuiccedilotildees de S Woolgar e B Latour principalmente (Loacutepez Cerezo 2002 p 8) Jaacute a chamada tradiccedilatildeo americana considera na dimensatildeo social a consequecircncia social ou a forma como os produtos da tecnociecircncia incidem sobre nossa vida e na organizaccedilatildeo social (Gonzaacutelez Garciacutea Loacutepez Cerezo e Lujaacuten Loacutepez 1996 p 56) A atenccedilatildeo estaacute mais voltada para as consequecircncias sociais e ambientais dos produtos tecnoloacutegicos deixando em segundo plano geralmente os antecedentes sociais destes produtos Esta tradiccedilatildeo tem origem nos movimentos sociais dos anos 60 e 70 e que marcaram sua eacutepoca e contribuiacuteram sobremaneira para a consolidaccedilatildeo dos estudos CTS Numa visatildeo eminentemente acadecircmica eacute possiacutevel dizer que seus estudos estatildeo apoiados na aacuterea das ciecircncias humanas e se consolida institucionalmente por meio do ensino e da reflexatildeo poliacutetica conforme escreve Loacutepez Cerezo (2002 p 8) Pode parecer que ambas as abordagens sejam excludentes entre si ldquodevido agrave diversidade de suas perspectivas e acircmbitos de trabalho pesquisa acadecircmica por um lado poliacutetica e educaccedilatildeo por outrordquo Na verdade essas duas tradiccedilotildees satildeo elementos complementares de uma visatildeo criacutetica da tecnociecircncia como pretende demonstrar Loacutepez Cerezo (2002 p 21)

bull O desenvolvimento cientiacutefico-tecnoloacutegico eacute um processo conformado por fatores cul-turais poliacuteticos e econocircmicos e ademais epistemoloacutegicos Trata-se de valores e interes-ses que fazem da ciecircncia e da tecnologia um processo social

bull A mudanccedila cientiacutefico-tecnoloacutegica eacute um fator determinante que contribui para modelar nossas formas de vida e nosso ordenamento institucional Constitui um assunto puacuteblico de primeira magnitude

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SOBRE AS ABORDAGENS CTS130

bull Compartilhamos um compromisso democraacutetico baacutesicobull Portanto deveriacuteamos promover a avaliaccedilatildeo e o controle social do desenvolvimento cientiacute-

fico-tecnoloacutegico o que significa construir as bases educativas para uma participaccedilatildeo social formada bem como criar mecanismos institucionais para tornar possiacutevel tal participaccedilatildeo

Jaacute Cutcliffe (2003) quando estuda as diferentes abordagens prefere fazecirc-lo pela oacutetica de Steve Fuller (1992) que propotildee dividir os estudos CTS em ldquoalta igreja e baixa igrejardquo em resposta a artigo de Ilerbaig (1992) Esta divisatildeo muito difundida entre os estudiosos de CTS separa aqueles estudos com ldquoinclinaccedilatildeo acadecircmica e centrada em disciplinasrdquo e com orientaccedilatildeo soacutecioexplicativa daqueles estudos com ldquoinclinaccedilatildeo ativista social e centrada em problemasrdquo e com orientaccedilatildeo socialativista (p 104 e 106)

A classificaccedilatildeo entre Baixa e Alta Igrejas leva uma dicotomia e forccedila estereoacutetipos que podem ser perniciosos para o bem entendimento do que seja e o que pretende ser a Abordagem CTS Pode-se reduzir a Baixa Igreja ao Movimento CTS de base ativista e em paralelo pode-se dizer que Alta Igreja estaacute centrada na preocupaccedilatildeo de estudos e reflexotildees em torno de disciplinas estruturadas Cozzens (1990) chama a Alta Igreja de Pensamento CTS Buscando ampliar a visatildeo estreita que lkeva a reducionismos perversos Robin Williams e David Edge propuseram a expressatildeo Ampla Igreja agrupando os comportamentos descritivos e prescritivos diminuindo a tensatildeo entre as categorias evitando perdas desnecessaacuterias de energia e atenccedilatildeo dos especialistas em CTS O proacuteprio Cutcliffe ao longo de seu estudo propotildee outra maneira de categorizar os estudos CTS utilizando-se tangencialmente da divisatildeo de Steve Fuller Ele informa que a chamada alta igreja se manifesta em programas CTS apresentados de Estudos de Ciecircncia e Tecnologia enquanto a baixa igreja se apresenta em programas CTS intitulados como Ciecircncia Tecnologia e Sociedade Ao chamar atenccedilatildeo para estes dois representantes da divisatildeo proposta por Fuller Cutcliffe aponta a possiacutevel e necessaacuteria existecircncia de um terceiro grupo que ele vecirc se manifestar nos programas denominados de Ciecircncia Tecnologia e Poliacutetica ou Ciecircncia Engenharia e Poliacutetica Para o autor os programas deste terceiro grupo ldquotecircm uma orientaccedilatildeo profissional dirigida para as interaccedilotildees soacutecio-teacutecnicas em grande escala e sua gestatildeo Consideram a necessidade de e a preparaccedilatildeo em estudos das poliacuteticas de atuaccedilatildeo e gestatildeo adequadasrdquo (p 106) Esta divisatildeo didaacutetica proposta por Cutcliffe eacute importante por conta da anaacutelise de Vacarezza (2002) que ao analisar o desenvolvimento do CTS na Ameacuterica Latina Queremos lembrar do PLACTS-Pensamento Latinoamericano de CTS que tratamos no capiacutetulo 1 especialmente p 16 e seguintes escreve que

na America Latina a origem do movimento se encontra na reflexatildeo da ciecircncia e da tecnolo-gia como uma competecircncia das poliacuteticas puacuteblicasrdquo tendo ldquosurgido como uma criacutetica dife-renciada agrave situaccedilatildeo da ciecircncia e da tecnologia e de alguns aspectos da poliacutetica estatal nessa mateacuteria (p 52)

Vacarezza (2002) diz ainda que a poliacutetica se transformou em gestatildeo que a militacircncia caracteriacutestica do movimento CTS se transformou em formaccedilatildeo de especialistas e que estes movimentos administrativos prescindem do caraacuteter mobilizador e da pretensatildeo de mudanccedila proacuteprias do movimento CTS A existecircncia de uma abordagem CTS na Ameacuterica Latina quer como Movimento CTS quer como Estudo CTS ou outra necessaacuteria categorizaccedilatildeo deve merecer nossa atenccedilatildeo de pesquisa

Spiegel-Roumlsing e SollaPrice (1977 p 13) propotildeem que CTS possa ser precebido em 16 aacutereas distintas

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SOBRE AS ABORDAGENS CTS131

de pesquisa que respeitada a regionalizaccedilatildeo sociopoliacutetica estatildeo relacionadas agraves investigaccedilotildees individuais de CTS dentro dos paiacuteses do ocidente e do oriente As 16 aacutereas de pesquisa satildeo

1 Filosofia (incluindo metodologia e loacutegica) da ciecircncia e teoria da ciecircncia 2 Eacutetica da ciecircncia 3 Sociologia da ciecircncia 4 Classificaccedilatildeo de campo cientiacutefico e disciplinas 5 Criatividade e psicologia dos investigadores 6 Histoacuteria de organizaccedilatildeo da ciecircncia e de comunidades cientiacuteficas7 Organizaccedilatildeo administraccedilatildeo e gestatildeo de Pesquisa amp Desenvolvimento (incluindo infor-

maccedilatildeo e comunicaccedilatildeo) 8 Economia produtividade eficaacutecia financiamento etc de Pesquisa amp Desenvolvimento 9 Estatiacutesticas de ciecircncia e tecnologia 10 Planejamento de Pesquisa amp Desenvolvimento planejamento de recursos humanos em

ciecircncia e tecnologia poliacutetica puacuteblica para ciecircncia e tecnologia (incluindo relaccedilotildees com educaccedilatildeo economia negoacutecios estrangeiros induacutestria sauacutede agricultura meio ambien-te etc)

11 Previsatildeo tecnoloacutegica futurologia 12 Poliacutetica de ciecircncias internacional cooperaccedilatildeo internacional em ciecircncia e tecnologia

estudo comparativo de poliacuteticas de ciecircncia nacional 13 Legislaccedilatildeo de ciecircncia e tecnologia 14 Tranferecircncia de tecnologia 15 Avaliaccedilatildeo de tecnologia 16 Ciecircncia e sociedade popularizaccedilatildeo da ciecircncia

Vieira Tenreiro-Vieira e Martins (2011 p 18) buscando inspiraccedilatildeo em Ziman (1980) e em Solomons (1988) propotildeem a seguinte classificaccedilatildeo de abordagens CTS na educaccedilatildeo em Ciecircncias

Abordagem Foco(s)

HistoacutericaEvoluccedilatildeo da Ciecircncia e da tecnologia com a evoluccedilatildeo da Sociedade influecircncia da atividade cientiacutefica e tecnoloacutegica na histoacuteria da humanidade e influecircncia de acontecimentos histoacutericos no desenvolvimento da Ciecircncia e Tecnologia

Filosoacutefica

Epistemoloacutegica

Aspectos eacuteticos do trabalho cientiacutefico e responsabilidade social dos cientistas no exerciacutecio da atividade cientiacutefica

Natureza do conhecimento cientiacutefico seus limites e validade dos seus enunciados

Social

Socioloacutegica

A Ciecircncia e a tecnologia como empreendimentos sociais

Influecircncia da Ciecircncia e da Tecnologia na Sociedade e influecircncia da Sociedade no progresso cientiacutefico e tecnoloacutegico

Limitaccedilotildees e possibilidades do contributo da Ciecircncia e da Tecnologia para resolver ou minorar problemas que afetam a Sociedade

Poliacutetica Relaccedilotildees entre a Ciecircncia e a Tecnologia e os sistemas poliacuteticos (o uso poliacutetico da Ciecircncia e da Tecnologia tomada de decisatildeo sobre Ciecircncia e Tecnologia)

EconocircmicaInfluecircncia das condiccedilotildees econocircmicas na Ciecircncia e a Tecnologia

Influecircncia da Ciecircncia e da tecnologia no desenvolvimento econocircmico (induacutestria emprego consumo)

Cultura

Humanista

A Ciecircncia [e a Tecnologia] como cultura

Valores acerca da Ciecircncia e da Tecnologia

Frente as propostas de organizaccedilatildeo da aacuterea que chamamos de Construccedilatildeo Social da Ciecircncia e da Tec-nologia gostariacuteamos de apresentar uma possiacutevel ideia de evoluccedilatildeo deste segmento a partir de Oliver Martin (2003) ndash como poderia ser a partir de Vega Encabo (2012) Bennagravessar et al (2011) Chikara

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SOBRE AS ABORDAGENS CTS132

Sasaki (2010) Pierre Bourdieu (2008) Jesuacutes Valero (2004) Javier Echeverriacutea (2003) Stephen Cut-cliffe (2003) dentre outros ndash que elenca as ideias norteadoras dos pensadores em Sociologia inician-do com Auguste Comte (1789-1857) Karl Marx (1818-1883) Levy-Bruhl (1857-1939) Eacutemile Durkheim (1858-1917) para apoacutes isso iniciar o periacuteodo que chamou de Sociologia do Conhecimento Cientiacutefico Chama atenccedilatildeo para o fato que nenhum dos autores claacutessicos apesar de citarem o conhecimento cientiacutefico ldquoo converteu em objeto central de seus propoacutesitosrdquo (p 18) e apresenta trecircs autores que em sua visatildeo abordaram precisamente o conhecimento cientiacutefico como objeto de estudo Max Scheller (1874-1928) Karl Mannhein (1893-1947) e Pitirim Sorokin (1889-968)

Dando continuidade a sua narrativa Martin (2003) escreve que

Em nenhum momento os autores claacutessicos que temos revisado atribuem a sociologia a ca-pacidade de explicar a origem da validez das teorias cientiacuteficas Em geral propotildeem uma classificaccedilatildeo das formas de conhecimento e distinguem o conhecimento cientiacutefico de outras formas de conhecimento natildeo pretendem definir sociologicamente as fronteiras que sepa-ram essas diferentes formas Para eles a definiccedilatildeo de ciecircncia natildeo surge da sociologia e sim com maior seguranccedila da epistemologia Todos admitem que o desenvolvimento da ciecircncia respeita uma loacutegica essencialmente racional que os conhecimentos cientiacuteficos evoluem de modo endoacutegeno e que a validez de uma teoria eacute independente de sua origem socialrdquo (p 23)

O autor deixa claro que as discussotildees sobre verdadeiro e falso objetivo e subjetivo ciecircncia e natildeo-ciecircncia e tudo mais que trate de um relativismo em ciecircncia natildeo possui espaccedilo nem apoio ateacute entatildeo

Essa visatildeo ingecircnua seraacute ampliada e enriquecida quando nas deacutecadas de 1920 e 1930 a ciecircncia comeccedilou a ser encarada de forma diferente especialmente no processo de elaboraccedilatildeo e de construccedilatildeo bem como o sistema de difusatildeo do conhecimento cientiacutefico e de como os cientistas se organizavam Esta nova fase eacute personalizada e demarcada ainda segundo Martin (2003) tendo como siacutembolo Robert Merton

Esta nova fase recebe como jaacute estudado anteriormente no capiacutetulo 2 as contribuiccedilotildees de Thomas Kuhn (1922-1996) cujas ideias servem como ponto de partida para reflexotildees e surgimento de abordagens importantes para esta nova etapa da sociologia da ciecircncia do grupo de estudos franco-britacircnico (PAREX Paris e Sussex) que passou a se chamar European Association for the Study of Science and Technology do chamado Programa Forte em Sociologia do Conhecimento Cientiacutefico e do chamado Programa Empiacuterico do Relativismo e mais recentemente a chamada sociologia da tecnologia que se apropria tambeacutem de saberes oriundos da filosofia da tecnologia

No Brasil os estudos de Natureza da Ciecircncia e da Tecnologia ndash NdCeT satildeo fortemente difundidos na grande aacuterea da Educaccedilatildeo em Ciecircncia e Tecnologia podendo ser percebida em duas grandes sub-aacutereas com histoacuterico e produccedilatildeo bem distintas A primeira mais disseminada consolidada e produtiva eacute a que se pode chamar de Histoacuteria e Filosofia da Ciecircncia (e menos em Tecnologia) atendendo ao que aponta Martin na sua narrativa histoacuterica quando diz que a produccedilatildeo cientifica estava entregue desde antes aos epistemoacutelogos

A segunda sub-aacuterea da Natureza da Ciecircncia e da Tecnologia pode ser identificada com a abordagem CTS-Ciecircncia Tecnologia e Sociedade cuja definiccedilatildeo caminha para um consenso como sendo a construccedilatildeo social da ciecircncia e da tecnologia e o estudo destas na sociedade que lhes abriga e daacute origem Esta aacuterea mais afeta aos ditames da sociologia (e a sociologia do conhecimento sociologia

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SOBRE AS ABORDAGENS CTS133

da ciecircncia sociologia da tecnologia sociologia da ciecircncia e da tecnologia e por fim sociologia da tecnociecircncia) eacute pouco representada na aacuterea de Educaccedilatildeo em Ciecircncia e Tecnologia necessitando de atenccedilatildeo e de oportunidade de estruturar-se a fim de melhor contribuir para a Educaccedilatildeo mais criacutetica em Ciecircncia e Tecnologia de um cidadatildeo cada vez mais tecnocientificamente dependente

Atividade Proposta para reflexatildeo

Os meios de comunicaccedilatildeo vecircm trazendo informaccedilotildees sobre os conflitos violentos envolvendo iacutendios governo e populaccedilatildeo de modo geral a partir das divergecircncias sobre a instalaccedilatildeo de hidreleacutetricas em alguns pontos da regiatildeo amazocircnica

Considerando o que foi apresentado (1) identifique as premissas que cada um desses atores sociais utiliza para defender sua posiccedilatildeo no conflito e (2) proponha uma abordagem CTS para este conflito de interesse

SOBRE AS VARIAacuteVEIS QUE IMPLICAM NAS RELACcedilOtildeES CTS135

10 Sobre as variaacuteveis que implicam nas relaccedilotildees CTS

101 Introduccedilatildeo Temos buscado apresentar a necessidade de natildeo oferecermos agrave Tecnologia e agrave Ciecircncia um atributo de infalibilidade mas sim demonstrar que a Tecnociecircncia (Tecnologia + Ciecircncia) satildeo construiacutedos socialmente e interagem fortemente de forma expliacutecita e impliacutecita com atores sociais e com dinacircmi-cas de grupos e comunidades organizadas

Vaacutezquez Manassero Acevedo e Acevedo (2008) escrevendo sobre a Natureza da Ciecircncia (NdC) apresentam uma concepccedilatildeo mais ampla que inclui as relaccedilotildees da sociedade com o sistema tecnocien-tiacutefico Dizem que o conceito deve englobar

uma variedade de aspectos sobre o que eacute a ciecircncia seu funcionamento interno e externo como constroacutei e desenvolve o conhecimento que produz os meacutetodos que usa para validar esse conhecimento os valores envolvidos nas atividades cientiacuteficas a natureza da comuni-dade cientiacutefica os viacutenculos com a tecnologia as relaccedilotildees da sociedade com o sistema tecno-cientiacutefico e vice-versa as contribuiccedilotildees desta para a cultura e o progresso da sociedade Este estudo analisa os potenciais consensos entre os especialistas com relaccedilatildeo agraves duas uacuteltimas questotildeesAlguns autores () afirmam que a sociedade manteacutem com a ciecircncia e a tecnologia (a partir de agora CeT) um contrato social um tanto impliacutecito que estabelece a pauta dessas relaccedilotildees a sociedade financia economicamente as necessidades da CeT e estas em troca oferecem agrave sociedade benefiacutecios que melhoram a qualidade de vida e contribuem ao seu progresso e desenvolvimento econocircmico e social Por esse motivo a CeT alcanccedilaram uma relevacircncia tatildeo grande nas sociedades avanccediladas atuais a ponto de desenvolver um universo de relaccedilotildees e viacutenculos entre elas o que resultou numa nova construccedilatildeo social denominada tecnociecircncia como o compecircndio da integraccedilatildeo da pesquisa do desenvolvimento e da inovaccedilatildeo ()A partir de um ponto de vista educacional o argumento democraacutetico eacute um elemento subs-tancial a favor da inclusatildeo da NdC numa educaccedilatildeo cientiacutefica que procura a finalidade da alfabetizaccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica de todas as pessoas pois segundo os peritos a parti-cipaccedilatildeo dos cidadatildeos nas decisotildees tecnocientiacuteficas de interesse social requer a compreen-satildeo de elementos da NdC () Com relaccedilatildeo a esse assunto a pesquisa didaacutetica mostra um panorama complexo em que confluem os conhecimentos cientiacuteficos dos temas colocados em jogo e da NdC o raciociacutenio moral (valores e normas) as emoccedilotildees e os sentimentos as crenccedilas culturais sociais religiosas e poliacuteticas os aspectos que estatildeo implicados de alguma forma nas relaccedilotildees entre a sociedade e a CeT (grifos nossos)

Frente ao que escrevem os autores eacute pertinente buscarmos o impacto dos valores morais normas sociais estabelecidas emoccedilotildees sentimentos crenccedilas culturais sociais e religiosas nas relaccedilotildees CTS Certamente se defendemos na abordagem CTS que a Ciecircncia e a Tecnologia satildeo socialmente construiacutedas eacute de se esperar que o que chamaremos de visotildees de mundo (as ideologias os valores as crenccedilas a religiatildeo as expectativas etc) e tudo mais que caracteriza essa Sociedade tenham alguma participaccedilatildeo na construccedilatildeo social da Ciecircncia e da Tecnologia

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SOBRE AS VARIAacuteVEIS QUE IMPLICAM NAS RELACcedilOtildeES CTS136

Por tal vamos estudar um pouco mais o quanto alguns desses fatores que compotildeem a visatildeo de mundo parafraseando Kneller (1980) podem afetar a Ciecircncia e a Tecnologia Na impossibilidade de estu-darmos de forma mais avantajada todos os itens como eacutetica (Fourez 1995 Mitcham 1996 Dyson 1998 Oliveacute 2000 2007 Valero 2006 Johnson e Wetmore 2008 Briggle e Mitcham 2012) jus-ticcedila social (Dyson 2001) gecircnero em seus variados aspectos (Porro e Arango 2011 Gonzaacutelez Garcia 2001 Chassot 2003 Peacuterez Sedentildeo 2001 Suchman 2008 Etzkowitz 2008 Keller 1995) valores (Echeverriacutea 2001 2002 Lacey 2008 2010 Loacutepez Cerezo e Lujaacuten 2012 Martiacutenez e Hoyos 2006) Poliacutetica (Dagnino e Thomas 1996 Hedge 1998 Dagnino 2007 Maldonado 2005 Thorpe 2008 Hackett 2008 Vessuri e Saacutenchez-Rose 2012) religiatildeo (Merton 1938 Kneller 1980 Henry 1998 Martin 2003 Gould 2007) eou participaccedilatildeo social em Ciecircncia e Tecnologia (Martin e Richards 1995 Lacey 2008 2010 Bucchi e Neresini 2008 Hess et al 2008 Aibar 2012 Jasanoff 2012) CTS em outras culturas (Feenbeerg 1995 Low Nakayama Yoshioka 1999) escolhemos a Ideologia para este capiacutetulo de estudo

102 Tecnologia e Ideologia

Chrispino (2005) tratando da mesma temaacutetica mas aplicada ao universo da Educaccedilatildeo diraacute52 que ldquoas Poliacuteticas Puacuteblicas [definidas como accedilatildeo de governo] sofrem influecircncia decisiva oriunda da diversi-dade de entendimento sobre o que seja ideologia e como ela se manifestardquo Cita Michael Loumlwy (apud Konder 2002) que escreve

Existem poucos conceitos na histoacuteria da ciecircncia social moderna que sejam tatildeo enigmaacuteti-cos e polissecircmicos como esse de ideologia Ao longo dos uacuteltimos dois seacuteculos ele se tornou objeto de uma acumulaccedilatildeo incriacutevel ateacute mesmo fabulosa de ambiguumlidades paradoxos arbitrariedades contra-sensos e equiacutevocos (grifos nossos)

Esta posiccedilatildeo apresentada por Konder (2002) fortalece a tese de que as decisotildees de governo concre-tizadas nas chamadas Poliacuteticas Puacuteblicas satildeo contaminadas por processos ideoloacutegicos nem sempre expliacutecitos Se por um lado podemos dizer que isto eacute esperado no universo poliacutetico com especial atenccedilatildeo ao brasileiro devemos tambeacutem atentar para a necessidade de se estudar a submissatildeo das de-cisotildees de toda ordem a ideologias poliacuteticas de forma mais ou menos expliacutecitas ndash estas infinitamente mais perigosas do que as primeiras No momento e para melhor esclarecer o que pretendemos aqui lembramos que os estudiosos da ideologia indicam o surgimento da palavra na deacutecada de 1790 com o filoacutesofo francecircs De Tracy (Crespigny amp Cronin1999 e Vincent 1995) sendo depois derivada pelo uso dado por Napoleatildeo quando se contrapotildee agravequeles que se perderam no ldquonevoeiro das ideias abstratasrdquo como escrevem Crespigny amp Cronin (1999)

Ideologia adquiriu conotaccedilatildeo mais nossa conhecida quando Napoleatildeo e os liberais do Insti-tut se desentenderam Quando os liberais se opuseram a suas tendecircncias centralizantes Na-poleatildeo os repudiou caracterizando-os como simples ideoacutelogos A ideologia se perdeu num nevoeiro de ideias abs-tratas na busca vatilde dos primeiros princiacutepios ldquoOs canhotildees mataram o feudalismo A tinta mataraacute a sociedade modernardquoIdeologia como acusaccedilatildeo usada em contraste com tudo o que deve ser realista eis natu-ralmente um dos sentidos em que a palavra ainda hoje eacute empregada Seu significado mais abrangente para caracterizar os sistemas de crenccedilas de grupos sociais tem origem ainda mais recente que data da deacutecada de 1840 e das primeiras obras de Marx Certamente natildeo foi ele o primeiro a perceber que os grupos sociais carregam consigo sistemas de maneiras

52 A partir de Chrispino Alvaro Binoacuteculo ou luneta Os conceitos de poliacutetica puacuteblica e ideologia e seus impactos na educaccedilatildeo Revista Brasileira de Poliacutetica e Administraccedilatildeo da Educaccedilatildeo Brasiacutelia n 21-1 e 21-2 jandez2005 p61-90

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de ver frequumlentemente mais impliacutecitos do que expliacutecitos sistemas que limitam os hori-zontes conceituais e que influenciam natildeo apenas as respostas que os homens encontram mas ateacute mesmo as proacuteprias perguntas que tendem a fazer (p 6) (grifos nossos)

Para exemplificarmos a diversidade das classificaccedilotildees apresentadas para as ideologias consideremos apenas trecircs autores

1 Bobbio (2001) conservadorismo liberalismo socialismo cientiacutefico anarcoliberalismo o fascismo e o tradicionalismo

2 Crespigny amp Cronin (1999) conservadorismo liberalismo socialismo democratismo totalitarismo e nacionalismo

3 Vincent (1995) liberalismo conservadorismo socialismo anarquismo fascismo femi-nismo ecologismo e nacionalismo

Sobre as relaccedilotildees da Tecnologia com a Ideologia podemos recorrer a Chreacutetien (1994) Fourez (1995) e Dyson (1998) dentre outros

Chreacutetien (1994) trataraacute da ideologia com ecircnfase na visatildeo marxista apresentando suas principais ca-racteriacutesticas e seus possiacuteveis impactos na ciecircncia O autor apresenta detalhamento o caso de TD Lys-senko (1898-1976) que chama de ldquosiacutembolo das pretensotildees e ilusotildees de uma descontaminaccedilatildeo ideoloacute-gica da ciecircnciardquo (p 137)

Fourez (1995) definiraacute ideologia como um discurso que se daacute a conhecer como uma representaccedilatildeo adequada do mundo mas que possuem mais um caraacuteter de legitimaccedilatildeo do que um caraacuteter descritivo Considera-se discurso ideoloacutegico aquele que

veicula uma representaccedilatildeo do mundo que tem por resultado motivar as pessoas legitimar certas praacuteticas e mascarar uma parte dos pontos de vista e criteacuterios utilizados Dito de outro modo quando tiver como efeito mais o reforccedilo da coesatildeo de um grupo do que uma des-criccedilatildeo do mundo (p 179)

Dyson (1998) que utilizaremos para aprofundar nossos estudos tem oportunidade de apresentar os problemas causados quando as decisotildees tecnoloacutegicas satildeo orientadas rigidamente pela ideologia Ele enumera 4 casos claacutessicos no campo da tecnologia o do dirigiacutevel R 101 o dos jatos Comet construiacutedos pelo Impeacuterio Britacircnico o do projeto Tokamak de fusatildeo e os Tanques de Gelo de Taylor Conta o autor que Nevil Shute Norway53 ndash antes de se tornar o famoso romancista fora engenheiro aeronaacuteutico tendo trabalhado com igual dedicaccedilatildeo em projetos de aviotildees e de dirigiacuteveis e escreveu uma autobio-grafia intitulada Slide Rule Autobiography of an Engineer [Reacutegua de caacutelculo] em que descreve sua vida como engenheiro Orgulhava-se

particularmente de seu papel no projeto do dirigiacutevel R 100 Trabalhou nele por seis anos desde o momento de sua concepccedilatildeo em 1924 ateacute a entrega em 1930 nesse ano participou de sua triunfal viagem inaugural de ida e volta Londres-Montreal Sob o ponto de vista teacutecnico os dirigiacuteveis apresentavam muitas vantagens sobre os aviotildees e o R 100 foi um su-cesso teacutecnico Contudo Norway viu claramente que o destino dos aviotildees e dirigiacuteveis natildeo dependeria apenas de fatores teacutecnicos Mesmo antes que se tornasse escritor profissional interessava-se mais pelas pessoas do que por porcas e parafusos Testemunhou e registrou

53 Conheccedila mais httpwwwnetsabercombrbiografiasver_biografia_c_2829html e httpenwikipediaorgwikiNevil_Shute

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os fatores humanos que fizeram da construnotccedilatildeo de aviotildees um divertimento e a de dirigiacuteveis um pesadeloDepois de concluir o R 100 Norway fundou sua proacutepria empresa a Airspeed Limited Era uma das centenas de pequenas firmas que inventavam e construiacuteam e vendiam aviotildees nos anos 20 e 30 Norway avaliou que durante aqueles anos 100 mil diferentes tipos de aviotildees foram construiacutedos Por todo o mundo invennottores entusiaacutesticos vendiam aviotildees a pilotos intreacutepidos e a companhias de aviaccedilatildeo que se formavam Muitos dos pilotos foram ao chatildeo e muitas das empresas faliram Dos 100 mil diferentes tipos de aviotildees restaram cerca de cem que formam a base da aviaccedilatildeo moderna A evoluccedilatildeo da aviaccedilatildeo foi um processo estritamente darwinista em que quase todas as variedades de aviotildees fracassaram da mesma forma que quase todas as espeacutecies de animais se extinguiram Devido agrave seleccedilatildeo rigorosa os poucos aviotildees sobreviventes satildeo extraordinariamente confiaacuteveis econocircmicos e seguros (p 22)

Dyson (1998) lembra que a o caminho que marca a evoluccedilatildeo do dirigiacutevel eacute bastante diferente da his-toacuteria dos aviotildees A histoacuteria dos dirigiacuteveis foi ldquodominada por poliacuteticos e natildeo por inventoresrdquo

Para explicar esta posiccedilatildeo o autor inicia o estudo do contexto poliacutetico da eacutepoca na deacutecada de 20 que era marcada pela decadecircncia do poder e hegemonia naval construiacuteda e mantida nos uacuteltimos cem anos Os poliacuteticos e seus assessores defendiam que no mundo moderno

o poder aeacutereo substituiacutea o poder naval como emblema de grandeza De modo que eles bus-cavam o poder aeacutereo como a onda do futuro que manteria a Gratilde-Bretanha no topo do mun-do E nesse contexto era natural pennotsar em dirigiacuteveis e natildeo em aviotildees como os veiacuteculos da autoridade imperial Superficialmente dirigiacuteveis pareciam-se com navios notgrandes e visualmente notaacuteveis Dirigiacuteveis seriam capazes de voar sem escalas de uma ponta do impeacute-rio agrave outra Poliacuteticos importantes poderiam viajar de domiacutenios remotos a Londres sem ser forccedilados a negligenciar seu puacuteblico domeacutestico durante todo um mecircs Em contraste aviotildees eram pequenos barulhentos e feios totalmente inadequados para uma finalidade tatildeo ele-vada Naquela eacutepoca eles natildeo conseguiam atravessar rotineiramente oceanos Natildeo podiam permanecer no ar por muito tempo e dependiam de bases terrestres por toda parte Aviotildees eram uacuteteis para batalhas locais mas natildeo para administrar um impeacuterio global (p 23-24)

Dentre os poliacuteticos que alimentavam esta ideia estava Lord Thompson Secretaacuterio de Estado para a Aviaccedilatildeo nos governos trabalhistas de 1924 e 1929 e seria o incentivador do projeto de construccedilatildeo do dirigiacutevel R10154 na Royal Airship Works empresa governamental situada em Cardington Conta-se que para acalmar a oposiccedilatildeo a construccedilatildeo de uma segunda nave chamada de R10055 foi oferecida a uma empresa privada a Vickers Limited

Esperava-se com este empreendimento que o R100 e o R101 se tornassem siacutembolos ldquoas naus capitacirc-nias do Impeacuterio Britacircnico na nova erardquo O maior o R101 deveria voar sem escalas de Londres agrave Iacutendia e mais tarde talvez ateacute a Austraacutelia O menor o R100 projeto mais modesto deveria realizar serviccedilo aeacutereo regular atraveacutes do Atlacircntico ligando a Inglaterra ao Canadaacute

Conta-nos o autor que desde o iniacutecio

o projeto do R101 foi impulsionado pela ideonotlogia e natildeo pelo bom senso O R101 precisaria vir a ser o maior dirigiacutevel do mundo natildeo importando a que preccedilo e a que preccedilo fosse deve-

54 Conheccedila mais httpenwikipediaorgwikiAirship_R10155 Conheccedila mais httpenwikipediaorgwikiR100

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ria estar pronto para voar ateacute a Iacutendia numa data fixa de outubro de 1930 quando o proacuteprio Lord Thompson embarcaria em sua viagem inaugural de ida e volta a Carachi retomando a tempo de participar da Conferecircncia Imperial em Londres Sua chegada dramaacutetica agrave con-ferecircncia a bordo de um dirigiacutevel trazendo flores frescas da Iacutendia demonstraria a grandeza da Gratilde-Bretanha e do Impeacuterio para um mundo admirado incidentalmente demonstraria a superioridade da induacutestria socialista e do proacuteprio Lord Thompson O enorme tamanho e a data fixada formaram lima combinaccedilatildeo fatal () Natildeo havia tempo para submeter o aparel-ho a vocircos de teste exaustivos antes da viagem ateacute a Iacutendia O dirigiacutevel partiu finalmente para sua viagem inaugural ensopado e sob terriacutevel mau tempo () O dirigiacutevel mal tinha empuxo suficiente para elevaacute-lo acima de seu mastro de ancoragem Oito horas depois caiu e se in-cendiou numa lavoura no norte da Franccedila Das 54 pessoas a bordo seis sobreviveram Lord Thompson natildeo estava entre elasEnquanto isso com a ajuda de Norway o R100 era construiacutenotdo de uma forma mais razoaacutevel Seus compartimentos de gaacutes natildeo vazavam e o aparelho tinha margem de empuxo suficien-te para levar sua carga projetada O R100 completou sua viagem inaugural de ida e vol-ta a Montreal sem desastres sete semanas antes que o R101 partisse da Inglaterra Mas Norway achou que a viagem esteve longe de ser tranquumlilizadora Ele informou que o R100 foi violentamente agitado numa tempestade local sobre o Canadaacute tendo tido sorte de natildeo se despedaccedilar Norway natildeo o considerou seguro o suficiente para prestar serviccedilos regula-res no transporte de passageiros A questatildeo de saber se o aparelho seria suficientemente seguro esvaziou-se apoacutes o desastre do R101 Depois de tal desastre seria improvaacutevel que algum passageiro assumisse o risnotco O R100 foi discretamente desmantelado e vendido aos pedanotccedilos A era dos di-rigiacuteveis imperiais chegava ao fim (p 26)

A criacutetica ao R100 e o desastre envolvendo o R101 enfraqueceram a ideia de desenvolver o dirigiacutevel como meio seguro de transporte Mas Lord Cunard dono da empresa de navegaccedilatildeo Cunard reuniu a seus engenheiros e questionou como seria possiacutevel criar e manter um serviccedilo semanal atraveacutes do Atlacircntico usando apenas dois navios considerando que naquela eacutepoca a travessia do Atlacircntico de-morava de sete a oito dias solicitando minimamente ao menos trecircs navios para o serviccedilo semanal Estava lanccedilado o desafio Tempo depois os engenheiros da companhia apresentaram as soluccedilotildees os projetos do Queen Mary56 e do Queen Elizabeth57 Ambos alcanccedilaram ecircxito e obtiveram precircmios de velocidade entre os dois continentes Os dois navios se mantiveram na funccedilatildeo ateacute que os Boeing 70758 trouxeram uma alternativa para viagens intercontinentais

Se por um lado o Boeing 707 triunfou frente aos navios de passageiro ele pode ter provocado um outro desastroso exemplo de impulso ideoloacutegico a tecnologia envolvendo agora os jatos de passa-geiros Comet

Durante a Segunda Guerra Mundial a companhia de Havilland construiacutera bombardeiros e caccedilas a jato Terminada a II Grande Guerra a empresa desenvolveu o projeto do Comet jato comercial que seria capaz de voar duas vezes mais raacutepido do que os aviotildees de transporte a heacutelice daquela eacutepoca Neste periacuteodo o governo britacircnico criou a British Overseas Airways Corporation (BOAC) empresa com o monopoacutelio estatal sobre rotas aeacutereas de longa distacircncia e que esperava colocar uma frota de Comet em serviccedilo nas rotas que ligavam Londres a Aacutefrica ao sul e a Iacutendia e Austraacutelia a leste

56 Conheccedila mais httpptwikipediaorgwikiRMS_Queen_Mary 57 Conheccedila mais httpptwikipediaorgwikiRMS_Queen_Elizabeth 58 Conheccedila mais httpwwwportalbrasilnetboeing_707htm

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Se o objetivo fosse alcanccedilado conforme o planejado continua Dyson (1998) a Gratilde-Bretanha teria do-miacutenio sobre a ldquoera do jatordquo cinco anos antes que os norte-americanos Diz ele que ldquoenquanto a Boeing Company hesitava os Comet estariam voando Os Comet mostrariam ao mundo a superioridade da tecnologia britacircnica e incidentalmente demonstrariam que o Impeacuterio rebatizado de Comunidade continuava vivordquo (p 28) De certa forma esses desejos e aspiraccedilotildees para o Comet repetiam o que se esperava dos R 101 vinte anos antes os decisores da eacutepoca natildeo aprenderam nada com os erros anteriores

O projeto Comet repetiu o problema de antes ditou politicamente um cronograma para o desenvol-vimento de uma tecnologia difiacutecil exigente e sensiacutevel A decisatildeo poliacutetica levou ao lanccedilamento do Comet em 1952 obedecendo a ideia de estar 5 anos a frente do concorrente norte-americano Uma pessoa anteviu o desastre que se prenunciava O mesmo Nevil Shute que havia vivido experiecircncia semelhante com os dirigiacuteveis R100 e R101 ldquopublicou em 1948 um romance com o tiacutetulo No highway que descreve o modo como as pressotildees poliacuteticas podem forccedilar a entrada em serviccedilo de um aviatildeo inseguro O romance conta a histoacuteria de um desastre notavelmente semelhante aos desastres com o Comet que aconteceriam quatro anos depoisrdquo (p 28)

O defeito do Comet uma concentraccedilatildeo de tensotildees nos cantos de suas janelas que soacute ocorria apenas em grande altitude quando o aparelho estava pressurizado acarretava a rachadura do revestimen-to metaacutelico causando literalmente o esfacelamento do aviatildeo Depois que dois aparelhos foram destruiacutedos dessa forma um sobre a Iacutendia e outro sobre a Aacutefrica os Comet foram tirados de serviccedilo ldquoFoi preciso que cem pessoas morressem para dar fim aos vocircos do Comet duas vezes mais do que no caso dos dirigiacuteveis Se o secretaacuterio de Estado para a Aviaccedilatildeo estivesse a bordo do primeiro Co-met quando de seu desastre eacute possiacutevel que o segundo natildeo tivesse sido necessaacuteriordquo (Dyson 1998 p 28)

Diz Dyson (1998) ao questionar como foi possiacutevel levar passageiros em dirigiacuteveis e aviotildees sem que os testes miacutenimos fossem realizados que

isso ocorreu devido ao choque entre duas culturas a cultura da poliacutetica e a cultura da en-genharia Poliacuteticos tomaram decisotildees cruciais sobre assuntos teacutecnicos que natildeo compreen-diam A tarefa de um poliacutetico em posiccedilatildeo de responsabilidade eacute tomar decisotildees Decisotildees poliacuteticas satildeo frequumlentemente tomadas com base em conhecimento inadequado e geralmen-te natildeo causam grande dano Quando poliacuteticos satildeo encarregados de um empreendimento de engenharia as duas culturas se chocam Quando o empreendimento envolve maacutequinas que voam esse choque tende a levar ao desastreA aviaccedilatildeo eacute o ramo da engenharia menos tolerante a enganos Mas sob um ponto de vista mais amplo a inflexibilidade pode ser uma virtude Na longa perspectiva da histoacuteria as viacuteti-mas do R 101 e do Comet natildeo morreram em vatildeo Como legado de suas trageacutedias deixaram os aviotildees extraordinariamente seguros e confiaacuteveis que voam todos os dias atraveacutes de oceanos e continentes por todo o mundo Sem as duras liccedilotildees trazidas pelo desastre e pela morte o moderno jato de passageiros natildeo teria evoluiacutedo

Um terceiro exemplo dos efeitos da ideologia sobre a tecnologia eacute apresentado no interessante tra-balho de Dyson (1998) a da energia nuclear Comentando o impacto do uso da tecnologia nuclear simbolizado por Hiroshima e de Nagasaki Dyson (1998) nos apresenta um espetacular argumento para este conviacutevio perigoso da ideologia que precisa fazer funcionar a tecnologia a fim de obter re-sultados poliacuteticos

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Quando se permite a uma tecnologia fracassar quando em concorrecircncia com outras tecno-logias o fracasso faz parte do processo normal de evoluccedilatildeo darwinista que leva a melhorias e a um possiacutevel sucesso posterior Quando natildeo se permite agrave tecnologia falhar e ainda assim ela falha o fracasso eacute muito mais danoso Caso se tivesse permitido que a energia nuclear fracassasse no iniacutecio ela poderia muito bem ter evoluiacutedo para uma tecnologia melhor fa-zendo com que hoje o puacuteblico confiasse nela e a apoiasse Nada existe nas leis da Natureza que nos impeccedila de construir usinas nucleares melhores Somos impedidos por uma pro-funda e justificada desconfianccedila por parte do puacuteblico O puacuteblico desconfia dos especialistas porque estes afirmaram ser infaliacuteveis O puacuteblico sabe que o ser humano eacute faliacutevel Somente pessoas cegas pela ideologia caem na armadilha de acreditar em sua proacutepria infalibilidade (p 34)

Comenta o autor que os promotores da fusatildeo estatildeo cometendo os mesmos erros que os da fissatildeo trinta anos atraacutes Esses promotores decidiram concentrar seus esforccedilos num aparato o Tokamak que

por decreto ideoloacutegico eacute declarado o produtor de energia para o seacuteculo XXI O Tokamak foi inventado na Ruacutessia e seus inventores lhe deram um nome que se translitera eufonica-mente em outras liacutenguas Todos os paiacuteses com programas seacuterios de pesquisa sobre fusatildeo construiacuteram Tokamaks Um dos maiores e mais caros fica em Princeton()Planeja-se que os diversos programas nacionais de fusatildeo convirjam num imenso Tokamak internacional a um custo de muitos bilhotildees de doacutelares o qual viria a ser o protoacutetipo dos geradores de fusatildeo do futuro (p 35)

O quarto e uacuteltimo exemplo de Dyson (1998) sobre ldquotecnologia conduzida ideologicamente eacute a dos tan-ques de gelordquo cujo principal nome foi Ted Taylor que na sua juventude foi projetista de armas nu-cleares em Los Alamos Decidiu apoacutes abandonar as atividades nucleares ldquodevotar o resto de sua vida ao desenvolvimento de alternativas tecnoloacutegicas agrave energia nuclear A busca por uma fonte de energia sustentaacutevel e ambientalmente benigna conduziuo aos tanques de gelordquo (p 36) cujo objetivo era

armazenar um grande volume de neve por meio ano de modo que a neve possa ser produzi-da no inverno e usada para refrigeraccedilatildeo durante o veratildeo A neve eacute produzida no inverno aspergindo-se aacutegua numa nuvem fina com uma mangueira igual agraves usadas pelos bombeiros Desde que a temperatura do ar esteja abaixo de zero a nuvem cai no solo na forma de neve que se acumula no tanque A pilha de neve eacute coberta por uma superfiacutecie termicamente iso-lante O tanque comunica-se com o preacutedio a ser refrigerado por meio de canos de aacutegua No veratildeo aacutegua fria eacute extraiacuteda do fundo do tanque e aacutegua quente retoma ao topo Se o tanque eacute grande e fundo o suficiente a neve persiste por todo o veratildeo e o preacutedio permanece fresco A energia necessaacuteria para produzir a neve e bombear a aacutegua eacute muito menor do que a energia requerida na refrigeraccedilatildeo eleacutetrica convencional

Foram construiacutedos pilotos na Universidade de Princeton (usado para refrigerar um preacutedio pequeno) na companhia de seguros Prudential (usado para condicionamento de ar a um edifiacutecio maior) na empresa de queijos Kutter (usado para refrigerar sua faacutebrica) e na pequena cidade de Greenport em Long Island (usado para purificar a aacutegua do mar) Os tanques fracassaram mas causaram perdas miacute-nimas para a sociedade escreve Dyson realccedilando que a ldquotecnologia dos tanques de gelo manteacutem-se como possibilidade para o futuro Um dia talvez uma reencarnaccedilatildeo mais astuta de Taylor encontra-raacute um modo de transformar os tanques de gelo num pacote conveniente e amigaacutevel que materializa-raacute as esperanccedilas de Taylorrdquo (p 40)

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Outro interessante exemplo eacute apresentado por Sasaki59 (2010) quando compara os aviotildees japone-ses e aliados durante a Segunda Grande Guerra Diz o autor que eacute japonecircs que o pricipal aviatildeo de combate japonecircs ndash os chamados Zeros ndash eram leves o que favorecia muitas manobras nas matildeos dos pilotos tecnicamente preparados Ocorre que para ser leve foi retirada a parede de metal protetora da retaguarda dos pilotos Ao contraacuterio dos EUA que mantinham a parede protetora soacutelida ldquoporque o respeito agrave vida humana tinha importacircncia primordialrdquo (p 122) o que gerou a necessidade de des-envolver motores mais potentes para os aviotildees mais pesados

Olivier Martin (2003) ao estudar a sociologia do conhecimento cientiacutefico apresenta a visatildeo de trecircs autores que trataram do conhecimento cientiacutefico e o fato deste ser socialmente influenciado Max Scheler Karl Mannheim e Pitirim Sorokin Interessa-nos agora a proposta de Sorokin

Pitirim Sorokin60 apresenta trecircs grandes classes de sistemas ideoloacutegicos culturais identificados ao longo da histoacuteria da humanidade

As culturas espiritualistas (que concebem a realidade como situada aleacutem do mundo em um ser imaterial eterno) as culturas sensualistas61 (que concebem que natildeo existe nada aleacutem da experiecircncia sensoacuteriasensiacutevel) e as culturas idealistas (uma combinaccedilatildeo das anteriores) [] O progresso cientiacutefico (e teacutecnico) eacute muito diferente nas trecircs culturas e funccedilatildeo do interesse dedicado ao mundo exclusivamente sensiacutevel em funccedilatildeo da presenccedila ou natildeo de uma hipoacute-tese que aceita a existecircncia de um Deus o de um espiacuterito superior as sociedades procu-ram desenvolver ou natildeo tecnologias e saberes cientiacuteficos Sorokin encontra em seu estudo quantitativo uma confirmaccedilatildeo para a sua teoria ao comparar o nuacutemero de descobrimentos cientiacuteficos em funccedilatildeo das classes de cultura de diversas sociedades e momentos histoacuteri-cos demonstra que as ciecircncias positivas se desenvolveram principalmente nas sociedades sensualistas (que por coerecircncia privilegiam a experiecircncia e a observaccedilatildeo) Ao inverso as culturas espiritualistas (que privilegiam as noccedilotildees do bem e do justo) desenvolveram mais seus sistemas filosoacuteficos e religiosos (Martin 2003 p 22-23)

Usando o exemplo dos tanques de gelo de Dyson (1998) podemos concluir que

a tecnologia inspirada ideologicamente natildeo precisa levar ao desastre Soacute leva ao desastre se for protegida da concorrecircncia Uma vez que se garanta que uma tecnologia seja exposta ao processo darwinista de seleccedilatildeo natildeo importa que tenha sido motivada pela busca do lunotcro ou pela ideologia O estiacutemulo ideoloacutegico pode ser uma forccedila positiva para o bem caso con-duza a tecnologias ambientalmente benignas que possam ser testadas no mercado Natildeo lamento os dias felizes que passei com Ted Taylor e seus estudantes ajudando-o a construir o tanque de gelo de Princeton Tivemos mais sorte do que os construtores de dirigiacuteveis e de usinas nucleares pois nos foi permitido fracassar (p 40)

103 Esforccedilo de siacutentese CTS e as ideologias mesmo que ocultas Os exemplos apontados e discutidos por Dyson permitem perceber a forccedila das ideologias e sua ca-pacidade de produzir consequecircncias para a coletividade Ocorre que nem sempre percebemos esta

59 Chikara Sasaki eacute Professor de Histoacuteria e Filosofia da Ciecircncia na Universidade de Toacutequio60 Socioacutelogo norte americano de origem russa (1889-1968) escreveu Social and Cultural Dynamics New York American Book Company 193761 sensualismo s m Doutrina dos que atribuem aos sentidos a origem de todas as ideias (opotildee-se a idealismo) Diconaacuterio Priberan

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SOBRE AS VARIAacuteVEIS QUE IMPLICAM NAS RELACcedilOtildeES CTS143

orientaccedilatildeo ideoloacutegica ndash e muito menos elas estatildeo expliacutecitas ndash nas decisotildees de Ciecircncia e Tecnologia e por conseguinte nas poliacuteticas de CampT e na Poliacutetica em geral A escolha de uma tecnologia natildeo eacute somente uma escolha de um meio neutro Quando se escolhe uma tecnologia porque ela natildeo eacute neutra escolhe-se tambeacutem um modelo sociedade de organizaccedilatildeo entre os membros desta sociedade um modelo de produccedilatildeo econocircmica uma aacuterea de conhecimento a ser fomentada uma cadeia produtiva a ser incentivada e outras a serem descontinuadas Toda escolha poliacutetica mesmo que lastreada na eacutetica e na correccedilatildeo e focada no interesse puacuteblico efetivo eacute fundada no interesse de grupos ou pessoas A escolha poliacutetica natildeo eacute neutra Quando uma sociedade por meio dos seus representantes poliacuteticos produz uma poliacutetica de trans-porte e faz a escolha do meio rodoviaacuterio em detrimento aos meios ferroviaacuterio e aquaviaacuterio estaacute na verdade fazendo opccedilatildeo por uma cadeia produtiva de base econocircmica (com todos os setores pro-dutivos ligados a ela de forma direta ou indireta) que privilegia (1) uma aacuterea do conhecimentos (e seus membros) (2) a extraccedilatildeo do petroacuteleo como fator diferenciador de crescimento que fortaleceraacute econocircmica e politicamente determinados estados da federaccedilatildeo (3) as induacutestrias de produccedilatildeo se-cundaacuteria como maacutequinas pesadas para o setor petroliacutefero (4) as cidades que possuem ou possuiratildeo refinarias e induacutestrias alimentadas por mateacuterias primas a partir do petroacuteleo (5) uma segmento de mercado que manteraacute seguramente um movimento financeiro de largo porte por deacutecadas visto que este tipo de decisatildeo natildeo eacute revertida com facilidade Ao fazer uma escolha deixa de escolher outra obviamente Uma escolha atinge inenarraacuteveis niacuteveis de produccedilatildeo e grupos sociais especiacuteficos de forma positiva ou negativa Da mesma forma podemos construir a cadeia produtiva atingida positiva ou negativamente quando se decide substituir os vasilhames de transporte de leite para o consumidor Antes essa comercia-lizaccedilatildeo para o consumidor era realizada por frasco de vidro depois decidiu-se pelo saco plaacutestico e agora por embalagens tetrapak Cada escolha desta privilegia um segmento de mercado uma regiatildeo do paiacutes um conjunto de cidades um conjunto de cidadatildeos um setor tecnoloacutegico e cientiacutefico e possui um quantum de impostos que novamente beneficiaraacute estados e cidades que estejam na cadeia pro-dutiva A ideologia natildeo eacute neutra mas direciona as decisotildees No Brasil neste momento vivemos a hora de de-cisatildeo tecnoloacutegica que teraacute impactos variados (expliacutecitos e ocultos aos olhos pouco preparados para as leituras) Temos a decisatildeo sobre a ampliaccedilatildeo da energia nuclear na matriz energeacutetica brasileira Temos a valorizaccedilatildeo do biocombustiacutevel como alternativa para o alto consumo de combustiacuteveis resul-tantes do petroacuteleo Eis nossa chance de estudar as matrizes de consequecircncia destas decisotildees a serem tomada por nossos representantes eacute a chance de exercitarmos a maacutexima Ciecircncia e Tecnologia com Sociedade

Atividade Proposta para reflexatildeo

Este moacutedulo desenvolveu as possiacuteveis relaccedilotildees entre Ideologia e Tecnologia Deixou indicado que existem outros fatores que interferem na construccedilatildeo da tecnociecircncia como por exemplo eacutetica gecirc-nero grupos sociais religiatildeo etc

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SOBRE AS VARIAacuteVEIS QUE IMPLICAM NAS RELACcedilOtildeES CTS144

Um interessante tema de estudo em poliacutetica puacuteblica eacute a ldquodiferenciaccedilatildeo de gecircnerordquo Realize uma pes-quisa e responda se o ldquofator gecircnerordquo tem alguma influecircncia no sistema de Ciecircncia Tecnologia e So-ciedade

REPERCUSSAtildeO SOCIAL DO DESENVOLVIMENTO CIENTIacuteFICO E TECNOLOacuteGICO145

11 Repercussatildeo social do desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico

A vida eacute breve A ciecircncia eacute duradoura A oportunidade eacute ardilosa A experimentaccedilatildeo eacute perigosa O julgamento eacute difiacutecil Hipoacutecrates Aforisma I1

Atividade preacuteviaResponda as questotildees a seguir Faccedila-o por escrito e guarde sua resposta ateacute o final do estudo deste moacutedulo

1 ldquoQual eacute na sua opiniatildeo a mais importante invenccedilatildeo dos uacuteltimos dois mil anos rdquo e

2 ldquoPor quecirc

111 Introduccedilatildeo Um homem que possua hoje 100 anos foi testemunha de inuacutemeras mudanccedilas tecnoloacutegicas mas tam-beacutem sociais Ele presenciou o surgimento e a sequecircncia de mudanccedilas nos sistemas de transportes da carroccedila ao aviatildeo supersocircnico Ele observou as guerras ditas mundiais e outras tantas de menor tamanho mas com impactos natildeo menos danosos e catalogou os poucos anos sem guerra neste seacutecu-lo Viu o surgimento da televisatildeo do teleacutegrafo do telefone do aviatildeo comercial dos antibioacuteticos do computador da internet dos transplantes e muito mais Certamente seus pais natildeo poderiam anteci-par o mundo em que ele estaria ao completar 100 anos de existecircncia numa sociedade em constante transformaccedilatildeo tecnocientiacutefica No campo social ele presenciou a revoluccedilatildeo sovieacutetica e a cubana bem como a queda da primeira e flexibilizaccedilatildeo da segunda foi observador privilegiado quando da instalaccedilatildeo da guerra fria e das recentes glasnost62 (transparecircncia) e perestroika63 (reconstruccedilatildeo) e viu o surgimento de ditadores e deacutespotas de ambos os lados da poliacutetica aplaudiu homens e mulheres valorosos que defendiam direitos sem abrir matildeo de deveres este foi um seacuteculo breve como escreve Eric Hobsbawm (1995) Taylor e Wacker (1999) escreveram um livro com um subtiacutetulo bastante provocativo o que acontece depois do que vem a seguir Esse livro fala da histoacuteria e direccedilatildeo de futuro a curto e longo prazos In-dica qualidades e estruturas mentais que seratildeo valorizadas Reafirma como os demais a existecircncia da mudanccedila raacutepida e maciccedila Dentre as muitas antecipaccedilotildees algumas satildeo comuns a loacutegica baseada no caos a fragmentaccedilatildeo das organizaccedilotildees sociais poliacuteticas e econocircmicas o fortalecimento da realidade individual e os estilos de vida situacionais dentre outros Mas chama a atenccedilatildeo para um ponto novo nesse cenaacuterio futuro fundado na informaccedilatildeo e na conectividade a emergecircncia da gestatildeo da privacidade como uma das atividades de maior crescimento na proacutexima deacutecada

62 Conheccedila mais httpptwikipediaorgwikiGlasnost63 Conheccedila mais httpptwikipediaorgwikiPerestrC3B3ica

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REPERCUSSAtildeO SOCIAL DO DESENVOLVIMENTO CIENTIacuteFICO E TECNOLOacuteGICO146

Ao analisarem a velocidade desse novo mundo em mudanccedila os autores apresentam interessantes dados evolutivos da sociedade americana

Em 1960 Em 1995

925 mil americanos tinham 85 anos ou mais Chegam a 38 milhotildees

457 milhotildees de domiciacutelios tinham televisatildeo com apenas um aparelho por domiciacutelio 95 milhotildees de domiciacutelios com 213 milhotildees de apare-lhos

O computador tiacutepico conseguia processar menos de 15 MIPS-milhotildees de instruccedilotildees por segundo e atendia a 550 pessoas 150 MIPS e atende a apenas uma pessoa

O executivo principal tiacutepico viajava 19320 quilocircmetros por ano Viaja 180320 quilocircmetros por ano

23 milhotildees de mulheres trabalhavam por um salaacuterio Satildeo 61 milhotildees

A pessoa tiacutepica tinha um emprego e uma carreira em sua vida profissional Tem expectativa de sete empregos e duas carreiras

Uma pessoa tiacutepica tinha que aprender uma habilidade por ano para prosperar no trabalho Tem que aprender uma habilidade por dia

5 mais ricos controlavam 17 da riqueza da naccedilatildeo Os mesmos 5 controlam 215 das riquezas

O americano tiacutepico era de classe meacutedia Eacute pobre ou rico

A crianccedila tiacutepica tinha 1 conjunto de pais e 2 conjuntos de avoacutes Tem 25 conjuntos de pais e 6 conjuntos de avoacutes

O pai americano tiacutepico conversava com seu filho 45 minutos por dia Conversa apenas 6 minutos por dia

O setor econocircmico mais importante dos EUA era a induacutestria O setor mais importante satildeo as ideias

Vejamos a seguir alguns eventos tecnocientiacuteficos relevantes (Quadro I) presenciados pelo nosso centenaacuterio observador bem como os eventos que influenciaram o meio ambiente (Quadro II)

Quadro I

Ano Eventos Relevantes na Ciecircncia e Tecnologia

1900 Max Planck elabora a Teoria dos Quanta

1903 Henry Ford funda a Ford Motor Company

1911 Rutherford demonstra experimentalmente a existecircncia do nuacutecleo atocircmico

1915 Einstein enuncia a Teoria da relatividade

1916 Os genes satildeo localizados nos cromossomas

1924 De Broglie desenvolve os fundamentos da mecacircnica ondulatoacuteria

1932 Morgan descobre os genes e as mutaccedilotildees experimentais

1934 Joliot-Curie descobrem a radioatividade experimental

1940 Florey usa a penicilina como arma eficaz nas patologias humanas

1942 Inicia o Projeto Manhattan (destinado a alcanccedilar o domiacutenio da tecnologia atocircmica para fins militares antes dos alematildees) Primeiro reator em cadeia

1945 Primeira bomba atocircmica utilizada para fins beacutelicos

1946 Construccedilatildeo do primeiro ldquoceacuterebro eletrocircnicordquo (ENIAC)

1947 Shanon formula a teoria da comunicaccedilatildeo

1948 Invenccedilatildeo do transistor

1949 A URSS testa sua Bomba Atocircmica sendo seguida pelo Reino Unido (1952) Franccedila (1960) e China (1964)

1950 Primeiro transplante de rins seguido do de fiacutegado (1963) de pulmatildeo (1964) etc

1953 Watson e Crick descrevem a estrutura do DNA

1955 Advento da piacutelula anticoncepcional

1957 Lanccedilamento do Sputnik e iniacutecio da corrida espacial Desenvolvimento do circuito integrado

1959 UNIMATION Inc produz o primeiro robocirc industrial

1960 Inicia o funcionamento a primeira usina nuclear para produzir eletricidade Invenccedilatildeo do laser

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REPERCUSSAtildeO SOCIAL DO DESENVOLVIMENTO CIENTIacuteFICO E TECNOLOacuteGICO147

1961 A talidomida eacute proibida na Europa depois de causar deficiecircncia em mais de 2500 bebecircs

1962 Publicaccedilatildeo de Primavera Silenciosa de Rachel Carson

1963 Larry Robert concebe e desenha para o exeacutercito americano o ARPAnet que deu origem agrave INTERNET

1967 Primeiro transplante de coraccedilatildeo em seres humanos

1968 A Kawasaki implanta robocircs em linhas de produccedilatildeo

1969 O Homem pisa na Lua

1970 Khorana e colaboradores conseguem a siacutentese de gens em laboratoacuterio

1971 Primeiro microprocessador Intel

1972 Inicia o funcionamento da primeira TV a cabo (EUA)

1973 Primeiro organismo produzido por engenharia geneacutetica

1975 Conferecircncia de Asilomar sobre os perigos da biogeneacutetica Criaccedilatildeo da Microsoft por Bill Gates e Paul Allen

1978 Primeiro bebecirc de proveta

1981Primeiro voo espacial do Columbia IBM inventa o PC Isolado o viacuterus da AIDS

1982 Criaccedilatildeo dos primeiros ratos transgecircnicos

1985 Confirmado o ldquoburaco na Camada de Ozocircniordquo na Antaacutertica

1986 Cataacutestrofe de Chernobyl (Ucracircnia) 20 milhotildees de afetados e mais de 5 mil mortos ateacute 1994

1989 Queda do Muro de Berlim

1990 Primeira terapia geneacutetica em humanos Projeto Genoma Humano

1991 Surgimento do Disco Laser

1994 Surgimento do CD-Room

1997 Produzida a Ovelha Dolly (clonagem) O supercomputador Deep Blue derrota pela primeira vez um mestre do xadrez Kasparov

(sobre os trabalhos de Gonzaacutelez Garciacutea Loacutepez Cerezo e Lujaacuten Loacutepez 1996 Tortajada e Pelaacuteez 1997)

Quadro IIAlguns acontecimentos histoacutericos que influenciaram no meio ambiente

Ano Acontecimento que influenciou o meio ambiente

1945 Ataque Nuclear a Hiroshima e a Nagasaki (Japatildeo)

1971 Criaccedilatildeo do Greenpeace e dos Amigos da Terra Primeira manifestaccedilatildeo contra os ensaios nucleares

1972 Primeira Conferencia Mundial de Meio Ambiente em Estocolmo Primeiro Informe do Clube de Roma

1973 Primeira crise do petroacuteleo

1974 Conferencia Mundial sobre Populaccedilatildeo (Meacutexico)

1976 Acidente de Seveso (Itaacutelia) que se converteu em um siacutembolo da luta ecologista

1979 Acidente Nuclear em Three Mille Island (EUA)

1980 Apresentaccedilatildeo do Informe 2000 de Carter

1983 Trageacutedia de Bopal (Iacutendia) com 7000 mortos e 800000 atingidos

1984 A libertaccedilatildeo de gaacutes pela Union Carbide (Iacutendia)

1986 Trageacutedia de Chernobyl (Ucracircnia)

1987 Informe Brutland falando sobre a deteriorizaccedilatildeo da Camada de Ozocircnio e o efeito estufa

1988 Nasce o IPCC (Painel Intergovernamental sobre a Mudanccedila Climaacutetica)

1989 A Terra eacute o personagem do ano na Revista TIME Desastre do Exxon Valdez (Alaska)

1990 O Protocolo de Montreal proiacutebe a produccedilatildeo de CFC

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REPERCUSSAtildeO SOCIAL DO DESENVOLVIMENTO CIENTIacuteFICO E TECNOLOacuteGICO148

1991 Assinado em Madri o Protocolo para proteccedilatildeo da Antaacutertica

1992ECO-92 no Rio de Janeiro Convecircnio sobre Mudanccedilas Climaacuteticas Conferecircncia Mundial sobre Energia

1994 Conferecircncia sobre Populaccedilatildeo (Cairo)

1995 Franccedila realiza testes nucleares Conferecircncia de Berlim sobre Mudanccedilas Climaacuteticas

2001 Vazamento do navio petroleiro Jessica (Ilhas Galaacutepagos)

2002 Vazamento o petroleiro grego Prestige (Espanha)

2010 Explosatildeo na plataforma de petroacuteleo Deepwater Horizon e vazamento de oacuteleo (Golfo do Meacutexico) Rompimento da barragem em Ajka (Hungria)

2011 Vazamento na Central Nuclear de Fukushima I (Japatildeo)

2015 Rompimento da barragem de Mariana (Minas Gerais Brasil)

(sobre o trabalho de Tortajada e Pelaacuteez 1997)

112 Os efeitos da relaccedilatildeo CTS observados na histoacuteria

Observada como histoacuteria a trajetoacuteria da Tecnociecircncia e os efetivos impactos na sociedade eacute algo mais simples Temos condiccedilatildeo de melhor avaliar esta relaccedilatildeo nos aspectos positivos ou negativos quanto mais distantes estamos dos acontecimentos Quanto mais proacuteximos dos fatos e acontecimentos mais difiacutecil a isenccedilatildeo para uma anaacutelise imparcial Mesmo assim a leitura do passado da tecnociecircncia natildeo traz consensos

Em 1998 Jonh Brockman editor da prestigiada agecircncia literaacuteria Brockman Inc enviou um questio-naacuterio a diversas personalidades dos mais diversos campos do conhecimento onde fazia as seguintes perguntas ldquoQual eacute a mais importante invenccedilatildeo dos uacuteltimos dois mil anosrdquo e ldquoPor quecircrdquo As respostas foram reunidas em um livro e percebe-se que mesmo observando a histoacuteria das descobertas e das in-venccedilotildees mesmo tendo oportunidade de refletir sobre o conjunto de consequecircncias natildeo haacute consenso entre os diversos especialistas entrevistados Cada qual aponta uma invenccedilatildeo e justifica de acordo com suas convicccedilotildees E os poucos que repetem a opccedilatildeo justificam de maneira distinta Vamos ilus-trar algumas das opccedilotildees e das justificativas a fim de refletirmos como as relaccedilotildees CTS podem ser ricas em observaccedilotildees e anaacutelises (Brockman 2000)

bull Freeman Dyson professor de fiacutesica do Instituto de Estudos Avanccedilados em Princeton muito citado nos moacutedulos anteriores diz que eacute o feno Diz ele que antes da existecircncia do feno a civilizaccedilatildeo soacute podia existir em climas quentes onde os cavalos podiam pastar durante o inverno Quando o feno passou a existir a partir do momento que o homem foi capaz de armazenaacute-lo foi possiacutevel expandir suas fronteiras dando origem a Viena Paris Berlim e depois Moscou e Nova Iorque

bull Douglas Rushkoff professor de cultura virtual na Universidade de Nova York e reno-mado escritor diz que eacute a borracha de apagar ldquoAssim como a tecla delete o fluido de correccedilatildeo a emenda constitucional e todos os outros instrumentos que nos permitem voltar e corrigir nossos errosrdquo (p 31)

bull Steven Rose neurobioacutelogo diretor do Grupo de Pesquisa de Ceacuterebro e Comportamento na Universidade Aberta em Londres apresenta uma interessante resposta Escreve ele que natildeo precisa de uma paacutegina ldquoA resposta eacute clara invenccedilotildees satildeo conceitos natildeo apenas tecnologias Logo as mais importantes invenccedilotildees satildeo os conceitos de democracia e de justiccedila social e a crenccedila na possibilidade de criar uma sociedade livre de opressatildeo de classe raccedila e gecircnerordquo (p 98)

bull Stanislas Dehaene neurocientista cognitivo no Institut National de La Santeacute et La re-

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REPERCUSSAtildeO SOCIAL DO DESENVOLVIMENTO CIENTIacuteFICO E TECNOLOacuteGICO149

cherche Meacutedicale em Orsay diz que ldquoa mais importante invenccedilatildeo humana natildeo eacute um artefato como a piacutelula ou o barbeador eleacutetrico Eacute uma ideia ndash a ideia mesma que tornou possiacutevel todos esses sucessos teacutecnicos ndash e esta eacute o conceito de educaccedilatildeordquo (p 104)

Na curiosa pesquisa de surpreendentes resultados realizada por Brockman (2000) a imprensa de Gutemberg foi bem votada A piacutelula anticoncepcional oral tambeacutem Houve a lembranccedila do estribo e do arreio do cavalo do leme da luz eleacutetrica e outros tantos aparatos tecnoloacutegicos Houve a lem-branccedila de conhecimentos importantes como o bem votado caacutelculo a geometria o meacutetodo cientiacutefico a ciecircncia organizada dentre outros Mas o que nos impressiona eacute a quantidade de indicaccedilotildees que certamente natildeo seriam lembrados pela maioria de noacutes frente a questatildeo apresentada na pergunta as estruturas sociais que possibilitam as invenccedilotildees o Cristianismo e o Islatilde o autogoverno o livre arbiacute-trio a ideia do inconsciente para falar de alguns Se os conceitos estreitos de Tecnologia e de Ciecircncia jaacute permitiam que apresentaacutessemos um sem nuacute-mero de opccedilotildees a questatildeo levantada imaginemos a janela de possibilidade que se abre quando am-pliamos o entendimento de invenccedilatildeo e a tomamos como um conceito Eis que mais uma vez somos convidados a reconceitualizar aquilo que aprendemos com a tradiccedilatildeo Uma Tecnologia amparada pelo aparato fiacutesico e palpaacutevel e uma Ciecircncia que segue linearmente para frente acima de duacutevidas e questotildees Visto desta forma as interaccedilotildees CTS se enriquecem e se desdobram em um nuacutemero muito maior de possibilidades e de questotildees que nos convidam a mais refletir para melhor participar da construccedilatildeo social da Ciecircncia e da Tecnologia Frente a isso podemos ampliar um pouco nossa visatildeo sobre a Tecnologia e propor uma abordagem que permita trazer a visatildeo de sistema agraves organizaccedilotildees e accedilotildees sociais aproximando-se de algo que podemos chamar de tecnologia social No dizer de Bazzo Linsingen e Pereira (2003 p 44)

De maneira mais precisa podemos definir tentativamente a tecnologia como uma coleccedilatildeo de sistemas projetados para realizar alguma funccedilatildeo Fala-se entatildeo de tecnologia como siste-ma e natildeo somente como artefato para incluir tanto instrumentos materiais como tecnolo-gias de caraacuteter organizativo (sistemas impositivos de sauacutede ou educativos que podem estar fundamentados no conhecimento cientiacutefico)A educaccedilatildeo eacute um exemplo claro de tecnologia de organizaccedilatildeo social Mas tambeacutem o satildeo o urbanismo a arquitetura as terapias psicoloacutegicas a medicina ou os meios de comunicaccedilatildeo Nestes casos a organizaccedilatildeo social resulta ser um artefato relevante Portanto se o desenvol-vimento tecnoloacutegico natildeo pode reduzir-se a uma mera aplicaccedilatildeo praacutetica dos conhecimentos cientiacuteficos tampouco a proacutepria tecnologia nem seus resultados os artefatos podem limi-tar-se ao acircmbito dos objetos materiais Tecnoloacutegico natildeo eacute soacute o que transforma e constroacutei a realidade fiacutesica bem como aquilo que transforma e constroacutei a realidade social (grifos nossos)

113 Os efeitos da relaccedilatildeo CTS hoje Assim como eacute possiacutevel debruccedilarmos sobre a janela da histoacuteria e enumerar as accedilotildees de interdepen-decircncia ente os formadores da triacuteade CTS eacute possiacutevel mas menos imparcial identificarmos estes im-pactos e interrelaccedilotildees na atualidade Para isso eacute importante escolher um modelo de evoluccedilatildeo social para orientar as discussotildees

Nesta mesma direccedilatildeo Tortajada e Pelaacuteez (1997) informam que da mesma maneira que o modelo de sociedade industrial substituiu a sociedade agriacutecola hoje vemos a sociedade industrial perdendo

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REPERCUSSAtildeO SOCIAL DO DESENVOLVIMENTO CIENTIacuteFICO E TECNOLOacuteGICO150

forccedila por conta de uma revoluccedilatildeo tecnocientiacutefica Dizem os autores que

A nova transformaccedilatildeo social global que se apresenta no horizonte histoacuterico vai trazer mu-danccedilas importantes nas formas de vida de trabalho de oacutecio nos costumes e nas formas de pensar e de atuarAinda que hoje se qualifique de diferentes maneiras o novo modelo de sociedade emer-gente o conceito mais adequado eacute o de sociedade tecnoloacutegica ou sociedade tecnoloacutegica avanccedilada onde a tecnologia se converteu em elemento social baacutesico na organizaccedilatildeo da pro-duccedilatildeo no trabalho no desenho e realizaccedilatildeo dos bens e utensiacutelios de consumo e mesmo na configuraccedilatildeo geral da sociedade A teacutecnica desempenha portanto o mesmo papel baacutesico que a explosatildeo agriacutecola desempenhou nas sociedades agriacutecolas e a induacutestria nas sociedades industriais (p 149)

Essa discussatildeo sobre modelos sociais de base tecnocientiacutefica natildeo eacute nova Vaacuterios autores jaacute buscaram no passado descrever os caminhos possiacuteveis para a sociedade quando da evoluccedilatildeo dos conceitos de ciecircncia e de tecnologia Autores em posiccedilotildees poliacuteticas e ideoloacutegicas distintas o que dava a cada um deles um colorido diferente e um ar de apoio incondicional ateacute o outro extremo da discordacircncia ab-soluta Tortajada e Pelaacuteez (1997 p 138) lembram que no ano de 1959 Ralph Dahrendorf indicava as trans-formaccedilotildees da sociedade industrial levando a uma sociedade poacutes-capitalista ou sociedade industrial desenvolvida Nos anos setenta Daniel Bell e Herman KahnAnthony Wiener jaacute antecipavam aquilo que chamaram de sociedade poacutes-industrial cunhando o termo que permanece com mais amplo uso ateacute hoje A sociedade poacutes-industrial resulta pois dos impactos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos podendo ainda com as variaccedilotildees proacuteprias apresentadas pelos diversos analistas ser conhecida com alguma variaccedilatildeo por sociedade poacutes-capitalista sociedade tecnotrocircnica (Brzeninski) sociedade poacutes-moder-na (Etzioni e outros) sociedade opulenta ou novo Estado industrial (Galbraith) sociedade poacutes-tra-dicional (Eisentadt) sociedade superindustrial sociedade industrial-tecnoloacutegica (Ionescu) terceira onda (Toffler) etc Neste modelo com muitos nomes podemos perceber ndash grosso modo ndash que haacute um forte vetor de aproximaccedilatildeo que eacute o consumo de bens e de utensiacutelios cada vez mais aprimorados pela tecnociecircncia e que ao chegarem ao conviacutevio social interferem nas rotinas e criam novas demandas como conse-quecircncias do contato do homem com o aparato que agora passa a ser indispensaacutevel a ele lembrando a frase dita pela Criatura a Victor Frankstein ldquoTuacute eacutes meu criador mas eu sou o teu senhorrdquo Eacute patente a diminuiccedilatildeo do tempo entre a produccedilatildeo de uma ideia e a chegada desta ideia agrave sociedade por meio de um produto conforme nos mostra Langlois (1995 p 301) no quadro III

Quadro III

Descoberta Concepccedilatildeo Realizaccedilatildeo tecnoloacutegica

Tempo em anos

Fotografia 1782 1836 54

Ziacuteper 1883 1913 30

Celofane 1900 1940 40

Radar 1907 1939 32

Milho hiacutebrido 1908 1933 25

Antibioacutetico 1910 1940 30

Energia nuclear 1919 1945 26

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REPERCUSSAtildeO SOCIAL DO DESENVOLVIMENTO CIENTIacuteFICO E TECNOLOacuteGICO151

Nylon 1927 1939 12

Cafeacute instantacircneo 1934 1956 22

Coacutepia tipo Xerox 1935 1950 15

Cacircmera instantacircnea 1945 1947 02

Desodorante roll-on 1948 1955 07

Videotape 1950 1956 06

Cisplatin (droga anticancer) 1964 1972 08

Combinaccedilatildeo do DNA 1972 1982 10

Apesar das criacuteticas que possam surgir agrave dependecircncia dos cidadatildeos aos aparatos tecnoloacutegicos eacute certo que muitos deles trouxeram qualidade de vida e conforto aos trabalhadores sendo responsaacuteveis cer-tamente pela ampliaccedilatildeo da expectativa de vida da populaccedilatildeo atual Considerando os ciclos de apare-cimento desses utensiacutelios uacuteteis para a melhoria da qualidade de vida Tortajada e Pelaacuteez (1997 p 145) propotildeem a seguinte relaccedilatildeo entre modelos de sociedade e o surgimento de utensiacutelios nas diferentes aacutereas da sociedade conforme o quadro IV

Quadro IV - Tendecircncias de evoluccedilatildeo dos ciclos de consumo

Funccedilotildees e serviccedilos

Ponto de partida Modelo tradicional

Primeiro ciclo de consumo sociedade

industrial

Segundo ciclo de consumo sociedade

industrial desenvolvida

Terceiro ciclo de consumo sociedade tecnoloacutegica

avanccedilada

Cozinhar Fogatildeo de carvatildeo e lenha Fogatildeo eleacutetrico e a gaacutes Fogatildeo em ceracircmica e mi-

croondas

Fogotildees e fornos inteligentes que permitem a programaccedilatildeo de acor-do com os pratos desejados e os ingredientes

Consevaccedilatildeo de alimentos

Frasqueiras e panelas de barro Depoacutesito de gelo Frigoriacuteficos eleacutetricos

Depoacutesitos e despensas com novas teacutecnicas de conservaccedilatildeo de alimen-tos que natildeo utilizam gases

Lavadoras Sistemas manuais que utilizavam tabuas de esfregar

Lavadoras manuais e eleacutetri-cas

Lavadoras automaacuteticas para roupas e para louccedilas

Lavadoras com accedilatildeo por ar que economiza aacutegua e diminui o contato com detergente

Informaccedilatildeo e entreteni-mento

Primeiros raacutedios Es-petaacuteculos ao vivo

Transistores TV preto e bran-co Toca-discos

TV colorida Viacutedeos Com-pact-disk

Sistema de TV viacutedeo e aacuteudio inte-grados Visatildeo em trecircs dimensotildees e realidade virtual

Refrigeraccedilatildeo e aquecimen-to

Lareiras e bra-seiros Ventiladores manuais

Aquecimento por oacuteleo es-tufas a gaacutes e ventiladores eleacutetricos

Aquecedor programado e aparelho de ar refrigerado

Climatizaccedilatildeo integral de ambiente se emprego de energia alternativa

Informaccedilatildeo caacutelculo e es-crita

Aacutebacos tabuas de caacutel-culo etc

Calculadoras eleacutetricas de bolso maacutequinas de escrever eleacutetricas etc

Primeira geraccedilatildeo de com-putadores pessoais

Quinta geraccedilatildeo de computadores de grande capacidade e sistemas loacutegicos e sensiacuteveis de funcionamen-to Acesso a grandes redes de in-formaccedilatildeo comunicaccedilatildeo e serviccedilos

Transporte Puacuteblicos e ferroviaacuterios Carros de motor agrave gasolina Surgimento dos utilitaacuterios

Carros agrave gasolina com maior cilindrada

Carros com motor eleacutetrico eou outras formas de energia mais ba-ratas e natildeo contaminantes

Residecircncia Casas proacuteximas bai-rros urbanos tradi-cionais

Grandes urbanizaccedilotildees cida-des dormitoacuterio apartamen-tos etc

Urbanizaccedilotildees modernas com jardins e serviccedilos mo-radias unifamiliares

Nova arquitetura interior com maior polivalecircncia de espaccedilos de acordo com as funccedilotildees e serviccedilos

Fonte Tortajada e Pelaacuteez (1997) Ciencia Tecnologia e Sociedad p 145

O quadro apresentado ilustra de maneira ampla os impactos dos aparatos tecnoloacutegicos no cotidiano e permite perceber as categorizaccedilotildees propostas pelos autores a fim de didaticamente demonstrar os ciclos a que estamos sujeitos Eacute apenas uma das possiacuteveis maneiras de realizar esta comparaccedilatildeo certamente haacute outras

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REPERCUSSAtildeO SOCIAL DO DESENVOLVIMENTO CIENTIacuteFICO E TECNOLOacuteGICO152

114 Os efeitos da relaccedilatildeo CTS para o futuro

Ateacute aqui estudamos como as repercussotildees da Ciecircncia e Tecnologia atingiram a Sociedade no passado e nos esforccedilamos para sermos analistas isentos (o quanto isso eacute possiacutevel) para avaliarmos os mesmos efeitos na sociedade contemporacircnea

Para que nossa viagem em torno do tema ldquoRepercussatildeo social do desenvolvimento cientiacutefico e tecno-loacutegicordquo seja mais completa falta-nos o exerciacutecio de realizar a mesma accedilatildeo agora voltada para o futuro e os seus possiacuteveis cenaacuterios (Chrispino 2000 e 2001)

Sobre a interdependecircncia entre passadopresente e presentefuturo diz-nos Sacristaacuten (2000 p 37-38)

Refletir sobre o presente eacute impossiacutevel sem se valer do passado pois neste tempo que vive-mos encontrou seu nascimento Refletir sobre o futuro tambeacutem eacute impossiacutevel sem se referir ao passado e ao presente jaacute que a partir desses alicerces satildeo construiacutedas as linhas mestras do que estaacute por vir embora em suas projeccedilotildees passado e presente natildeo sejam sequer tempos estritamente reais poderiacuteamos dizer mas imagens-siacutenteses atraveacutes das quais representa-mos para noacutes o que hoje eacute e o que foi Eacute assim que o passado sobrevive no presente e este no futuroO passado foi real e deixou suas pegadas poreacutem quando tentamos entendecirc-lo como algo operativo que se projeta no presente eacute ativo e temos imagens dele que eacute o que fica gravado como memoacuteria lsquoDo que foirsquo ficanos um olhar retrospectivo seletivo porque essas imagens do presente e do passado satildeo de alguma maneira escolhidas resumem e fixam selecionan-do uma realidade multiforme e contraditoacuteria O que natildeo estaacute nessas imagens natildeo existiu Daiacute a verdade da afirmaccedilatildeo de que quem conta a histoacuteria satildeo os que a fazem como narraccedilatildeo Se do que se trata eacute olhar o presente entatildeo as miacuteticas imagens operativas do passado servem para valorizarmos o atual referindo-o ao lsquode onde viemosrsquo e prolongando assim a capaci-dade operativa do passado Progresso e regresso continuidade e descontinuidade satildeo e natildeo satildeo em relaccedilatildeo ao anteriorConstruir o futuro no sentido de prevecirc-lo e de querer que seja um e natildeo outro soacute eacute possiacute-vel a partir dos significados que as imagens do passado e do presente oferecem-nos Natildeo se trata de adivinhar o que nos espera mas de ver com que imagens do passado-presente enfrentaremos essa construccedilatildeo que eacute o que canalizaraacute o futuro sua direccedilatildeo seu conteuacutedo e seus limites

Certamente poderiacuteamos lanccedilar matildeo de uma seacuterie de autores que satildeo conhecidos pelas suas histoacuterias de ficccedilatildeo cientiacutefica quer nos livros quer no cinema Desde Julio Verne a Isaac Assimov de Arthur Clark a Alvin Toffler haacute muito o que discutir estudar e prospectar Mas considerando que o tema em estudo eacute o futuro das relaccedilotildees CTS vamos escolher alguns autores que projetem possibilidades e abram novos espaccedilos para nossa reflexatildeo obtidos de Chrispino (2001)

Blur eacute uma interessante publicaccedilatildeo de Davis e Meyer (1999) do Ernst amp Young Center for Business Innovation traz uma nova maneira de observar as mudanccedilas na economia a partir dos impactos da tecnociecircncia Os autores apresentam os princiacutepios da conectividade da velocidade e da intangibili-dade e os conceituam assim

bull Velocidade todos os aspectos que envolvem negoacutecios e a organizaccedilatildeo ocorrem e mu-dam em tempo real

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REPERCUSSAtildeO SOCIAL DO DESENVOLVIMENTO CIENTIacuteFICO E TECNOLOacuteGICO153

bull Conectividade todas as coisas vatildeo se conectando eletronicamente produtos pessoas empresas paiacuteses enfim qualquer coisa

bull Intangibilidade toda proposta possui valor econocircmico tangiacutevel e intangiacutevel O intangiacute-vel cresce mais rapidamente

Esses trecircs princiacutepios se propotildeem a antagonizar os limites da fiacutesica massa tempo e espaccedilo Dizem os autores que

A comunicaccedilatildeo e a computaccedilatildeo quase instantacircneas por exemplo estatildeo reduzindo o tempo e nos concentrando no aspecto da Velocidade A Conectividade estaacute colocando todo mundo on line de uma forma ou de outra e tem provocado a ldquomorte da distacircnciardquo um encolhimento do espaccedilo A Intangibilidade de valores de todos os tipos como serviccedilos e informaccedilatildeo cres-ce em ritmo vertiginoso reduzindo a importacircncia da massa tangiacutevel (p 6)

Numa obra rica em exemplos contemporacircneos de empresa e de empreendimentos os autores apon-tam como o mundo iraacute se comportar com esses trecircs novos componentes do mercado do pensamento do modo de ser O resultado eacute uma projeccedilatildeo bastante interessante e muito provocativa de como seraacute o futuro

Oliver (1999) aproveita sua experiecircncia como consultor e membro de conselhos de administraccedilatildeo de grandes empresas para apontar as futuras mudanccedilas no mercado Numa bem cuidada e rica anaacutelise da histoacuteria dos negoacutecios e do conhecimento o autor apresenta trecircs etapas distintas e consecutivas a era agraacuteria a era industrial e a era da informaccedilatildeo Aponta nova era econocircmica a era dos biomateriais Na sua visatildeo de futuro aleacutem dos sete mandamentos estrateacutegicos e das sete empresas do seacuteculo XXI ele apresenta os sete produtos e tecnologias do seacuteculo XXI que satildeo

bull Cartotildees inteligentesbull Sensoresbull Knowbots (robocircs com conhecimento)bull Redes neuraisloacutegica fuzzybull Materiais inteligentesbull Biotecnologia ebull Maacutequinas nano e pico

115 Os efeitos da relaccedilatildeo CTS esforccedilo de siacutentese Quando vamos agrave escola e aprendemos as regras da linguiacutestica ou da linguagem erudita jaacute sabemos fa-lar esse eacute um aprendizado lastreado na relaccedilatildeo social e que se daacute ao longo da vida Da mesma forma a Ciecircncia e a Tecnologia Quando somos apresentados aos estudos formais da aacuterea tecnocientiacutefica na verdade jaacute estamos impregnados de concepccedilotildees preacutevias e de conceitos que elaboramos a partir das relaccedilotildees com o ldquotecno-mundordquo e no que tange aos aparatos tecnoloacutegicos noacutes jaacute os possuiacutemos ou somos possuiacutedos pela vontade de possuiacute-los E em alguns casos somos possuiacutedos por eles (Martiacuten Gordillo e Osorio 2003)

As interaccedilotildees CTS e mais especificamente o tema deste moacutedulo ldquoRepercussatildeo social do desenvolvi-mento cientiacutefico e tecnoloacutegicordquo devem servir como ldquodivisor de aacuteguasrdquo para a maneira como reagiacutea-mos as interaccedilotildees e a maneira como nos deixaacutevamos conduzir pela ideia da Ciecircncia e da Tecnologia como entes neutros e produtores do Bem e do Bom

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REPERCUSSAtildeO SOCIAL DO DESENVOLVIMENTO CIENTIacuteFICO E TECNOLOacuteGICO154

Os acontecimentos atuais nos convidam a reavaliar o que se pensava ateacute recentemente sobre a re-percussatildeo social do desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico eacuteramos beneficiaacuterios contemplativos e exploradores da matildee Terra Hoje o efeito estufa eacute um acontecimento real o degelo da calota polar caminha para consequecircncias ainda natildeo calculadas mas preocupantes a emissatildeo de CO2 se mostra um verdugo que nos atingiraacute a frota de automoacuteveis e demais motores agrave combustatildeo exigem cada vez mais dos derivados do petroacuteleo a aacutegua eacute escassa e de desenha como objeto de disputa no futuro os ciclos de reaproveitamento dos produtos pela natureza eacute quebrado quando produzimos os plaacutesticos os vi-dros e as ligas os dejetos industriais e de consumo domeacutestico se acumulam no colo da matildee natureza

Esses satildeo efeitos que chamaremos de segunda ordem que natildeo eacute propriamente o sistema de interaccedilatildeo entre Ciecircncia Tecnologia e Sociedade mas sim os efeitos deste sistema em direccedilatildeo agrave Natureza que eacute um macro sistema Eacute certo que devemos estudar o quanto a Ciecircncia e a Tecnologia repercutem na Sociedade Tambeacutem eacute certo que precisamos estudar como a Sociedade controla e acompanha a Ciecircn-cia e a Tecnologia Mas natildeo eacute menos importante refletir sobre onde depositamos nosso olhar

1 Exclusivamente no presente esclarecido pelas discussotildees CTS de resultado imediatos a fim de ordenarmos o Princiacutepio da Satisfaccedilatildeo ou

2 Postamos o olhar no futuro ndash uma histoacuteria a ser construiacuteda ndash que seraacute o resultado dos efeitos exteriorizados por esta triacuteade CTS esclarecida e que se pautaraacute no Principio da Precauccedilatildeo

Em ambos os casos trabalharemos pela alfabetizaccedilatildeo tecnocientiacutefica efetiva que resulta em partici-paccedilatildeo social esclarecida A diferenccedila estaacute na intensidade da submissatildeo das relaccedilotildees de causa e efeito entre os binocircmios Homem-Natureza e supeacuterfluo-necessaacuterio Na primeira preparamos o mundo para nossa velhice na segunda preparamos o mundo para as geraccedilotildees futuras

Natildeo eacute possiacutevel discutir CTS sem que se acrescente a visatildeo de futuro

Natildeo basta agora falar em Ciecircncia e Sociedade ou Tecnologia e Sociedade mas sim Ciecircncia com So-ciedade e Tecnologia com Sociedade

REFERENCIAS 155

Referecircncias

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SOBRE LOS AUTORES177

Sobre el autor

Alvaro Chrispino eacute Doutor em Educaccedilatildeo pela UFRJ-Universidade Federal do Rio de Janeiro Licen-ciado em Quiacutemica e Coordenador do programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Ciecircncia Tecnologia e Educa-ccedilatildeo do CEFETRJ Eacute Bolsista de Produtividade em PesquisaEducaccedilatildeo do CNPq e Lider de Grupo de PesquisaCNPq CTS e Educaccedilatildeo

O ocupou diversos cargos puacuteblicos no campo da Educaccedilatildeo e das Poliacuteticas Puacuteblicas e possui livros e artigos em educaccedilatildeo CTS e poliacuteticas puacuteblicas

Iniciou seus estudos em CTS quando da realizaccedilatildeo de seu Mestrado em Educaccedilatildeo na UFRJ em 1992

COLECCIOacuteN DOCUMENTOS DE TRABAJOTIacuteTULOS PUBLICADOS

Documento ndeg 1Deacutecada de la educacioacuten para la sostenibilidad Temas de accioacuten claveAmparo Vilches Oacutescar Maciacuteas y Daniel Gil Peacuterez

Documento ndeg 2 Concepcioacuten y tendencias de la educacioacuten a distancia en Ameacuterica LatinaLorenzo Garciacutea Areito (coord)

Documento ndeg 3 Educacioacuten ciencia tecnologiacutea y sociedadMariano Martiacuten Gordillo (coord)

Documento ndeg 4 La nanotecnologiacutea en IberoameacutericaObservatorio Iberoamericano de la Ciencia la Tecnologiacutea y la Sociedad

Documento ndeg 5 Ciencia tecnologiacutea y sociedad en Iberoameacuterica una evaluacioacuten de la comprensioacuten de la naturaleza de ciencia y tecnologiacuteaAntoni Bennaacutessar Roig Aacutengel Vaacutezquez Alonso Mariacutea Antonia Manassero Mas y Antonio Garciacutea Carmona (coordinadores)

Introduccedilatildeo aos Enfoques CTS ndash Ciecircncia Tecnologia e Sociedade ndash na educaccedilatildeo e no ensino

Esta obra apresenta ideias e argumentos que buscam reconceitualizar ciecircn-

cia e tecnologia desconstruindo uma ciecircncia neutra herdada pronta infaliacute-

vel e uma tecnologia portadora de bondade e de progresso impregnado de bem-

estar duradouro visto que satildeo construccedilotildees sociais Faz isso buscando obras e

autores consagrados sem deixar de recrutar novos autores de diferentes aacutereas que

sejam capazes de trazer luzes para o melhor entendimento da Abordagem CTS

Foi elaborada ao longo dos anos nas disciplinas do programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Ciecircn-

cia Tecnologia e Educaccedilatildeo especialmente na linha de pesquisa CTS e Ensino do CEFET

RJ- Centro Federal de Educaccedilatildeo Tecnoloacutegica Celso Suckow da Fonseca no Rio de Janeiro

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