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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA INSTITUTO DE FÍSICA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO INVESTIGAÇÃO DE PROPRIEDADES ÓPTICAS DE ÓLEOS MAGNÉTICOS ISOLANTES ANAILDE FERREIRA DA SILVA Brasília – DF Fevereiro, 2009.

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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

INSTITUTO DE FÍSICA

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

INVESTIGAÇÃO DE PROPRIEDADES ÓPTICAS DE ÓLEOS MAGNÉTICOS ISOLANTES

ANAILDE FERREIRA DA SILVA

Brasília – DF Fevereiro, 2009.

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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

INSTITUTO DE FÍSICA

INVESTIGAÇÃO DE PROPRIEDADES ÓPTICAS DE ÓLEOS MAGNÉTICOS ISOLANTES

ANAILDE FERREIRA DA SILVA

ORIENTADOR: Prof. Dr. PAULO CÉSAR DE MORAIS

Dissertação apresentada ao programa

de Pós-Graduação em Física como

parte dos requisitos à obtenção do

título de Mestre em Física.

Brasília – DF Fevereiro, 2009.

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Aos meus pais, José e Ageni por todo

apoio, compreensão, carinho, incentivo

e muito amor que sempre me deram.

A minha irmã, Zenilde e a minha

sobrinha Maria Luiza, pelo apoio e

incentivo.

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Agradecimentos

Em primeiro lugar a Deus, porque se não fosse por Ele esse trabalho não seria

realizado.

À minha eterna família que sempre me apoiaram em todos os momentos da minha

vida.

Ao professor Dr. Paulo César de Morais pela orientação.

Aos meus amigos Eliane Silva Leite, Juliano Alves de Deus, Priscila Paci Araujo e

Dieme Custódia da Silva pela amizade, companheirismo e confiança nessa longa

caminhada de nossas vidas.

Ao meu amigo Franciscarlos Gomes da Silva pelas conversas.

À professora Patrícia P. C. Sartoratto e Wesley Renato Viali do Instituto de

Química da Universidade Federal de Goiás pela síntese das amostras e a realização das

medidas de raios-X.

À Débora de Oliveira Cintra e Silva e Fernando Mendes Lucas de Oliveira pela

realização da medida de microscopia eletrônica de transmissão.

Ao Fábio Nakagomi pelo apoio técnico no desenvolvimento das medidas Raman no

Laboratório de Espectroscopia Ótica.

Ao professor Aderbal Carlos de Oliveira do Instituto de Física - Universidade de

Brasília, pelas medidas de fotoacústica e pelas discussões.

Ao professor Sebastião Willian da Silva do Grupo de Nanoestrutura e Magnéticas

do Instituto de Física – Universidade de Brasília, pelas discussões realizadas.

Ao Leandro Carlos Figueiredo pela imensa ajuda e tempo disponibilizado durante o

período de ajustes dos dados experimentais.

Ao professor Kalil Skeff Neto pelas discussões.

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À Célia Regina e demais funcionários da secretaria de Pós – Graduação que sempre

me atenderam com disponibilidade.

Aos demais colegas da Pós-graduação e a todos aqueles que direta e indiretamente

contribuíram na execução deste trabalho.

Às professoras Drªs Luciene Batista da Silveria e Maria Aparecida Godoy Soler

Pajanian por participarem da banca de defesa.

Ao CNPq pelo apoio financeiro.

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Resumo

Nesta dissertação foram empregadas às técnicas de difração de raios-X e

microscopia eletrônica de transmissão para estimar o diâmetro médio das nanopartículas

magnéticas. A técnica de espectroscopia fotoacústica foi utilizada para investigar o efeito

da diluição sobre a cobertura superficial de nanopartículas magnéticas em amostras de

fluidos magnéticos à base de óleo mineral e vegetal. Mudanças perceptíveis na intensidade

do sinal fotoacústico na região da banda L (0,64 a 0,83 mµ ) foram discutidas em termos do

fenômeno da dessorção da camada molecular da nanopartícula decorrente da diluição do

fluido magnético. O modelo de ajuste proposto nesta dissertação pressupõe que o

mecanismo responsável pela dessorção das moléculas da superfície da nanopartícula para o

líquido carreador é o gradiente de pressão osmótica estabelecido entre a superfície da

nanopartícula/líquido carreador. Assume-se uma relação linear entre a intensidade do sinal

fotoacústico na região da banda L com a densidade de moléculas de cobertura molecular

(grafting) na superfície das nanopartículas. O modelo de ajuste dos dados experimentais

fornece uma descrição analítica para o processo de redução do grafting (densidade

superficial de moléculas adsorvidas na superfície da nanopartícula) após a diluição das

amostras do fluido magnético. Por último utilizou-se a técnica de espectroscopia Raman

nas amostras de maghemita (pó), cujos resultados obtidos serão analisados em trabalhos

futuros.

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Abstract In this dissertation were employed the techniques of X-ray diffraction and transmission

electron microscopy to estimate the average diameter of nanoparticles. The technique of

photoacoustic spectroscopy was used to investigate the effect of the sample dilution on the

nanoparticle’s surface-coating in magnetic fluids based on mineral and vegetable insulating

oil. Changes on the intensity of the photoacoustic band L (0.64 to 0.83 mµ ) signal were

discussed in terms of desorption of the molecular layer at the nanoparticle surface driven

by the dilution procedure. The model proposed in this dissertation to explain the data

claims that the driving mechanism behind the molecular desorption in the osmotic pressure

gradient at the interface nanoparticle surface-liquid carrier. A linear relationship between

the intensity of the band L photoacoustic signal and the molecular surface grafiting is

assumed. The model proposed herein provides the explanation for the nanoparticle surface

grafting reduction upon dilution of the magnetic fluid sample. Finally used the technique of

Raman spectroscopy in samples of maghemite (powder), whose results will be analyzed in

future work.

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Sumário

Lista de figuras ............................................................................................ xi

Lista de tabelas ............................................................................................ xvi

Lista de abreviaturas e símbolos .................................................................... xvii

1 – Introdução ............................................................................................. 1

1.1 Motivação .......................................................................................... 1

2 - Fluidos magnéticos .................................................................................. 4

2.1 Fluido magnético surfactado .................................................................. 5

2.2 Fluido magnético iônico ........................................................................ 6

2.3 Fluido magnético biocompatível ............................................................. 7

2.4 Estabilidade dos fluidos magnéticos ........................................................ 8

2.4.1 Interação dipolar magnética ............................................................ 8

2.4.2 Interação de Van der Waals ............................................................ 9

2.4.3 Interação estérica .......................................................................... 10

2.4.4 Interação eletrostática .................................................................... 10

2.5 Aplicações tecnológicas......................................................................... 11

2.5.1 Biológicas e biomédicas ................................................................ 11

2.5.2 Industriais ................................................................................... 12

2.6 Síntese ............................................................................................... 13

2.7 Materiais investigados .......................................................................... 18

2.8 Estrutura cristalina e comportamento magnético das ferritas ....................... 19

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2.9 Superparamagnetismo .......................................................................... 21

3 - Técnicas de caracterização ....................................................................... 24

3.1 Difração de raios-x ............................................................................... 24

3.2 Microscopia eletrônica de transmissão ..................................................... 27

3.3 Espectroscopia fotoacústica ................................................................... 30

3.3.1 O efeito fotoacústico ..................................................................... 32

3.3.2 Mecanismo de absorção ................................................................. 32

3.3.3 Modelos teóricos .......................................................................... 34

3.3.4 Equação da difusão de calor ........................................................... 35

3.3.5 Modelo unidimensional de Rosencwaig-Gersho ................................ 37

3.3.6 Produção do sinal acústico ............................................................. 41

3.3.7 Intensidade do sinal fotoacústico ..................................................... 42

3.3.8 Espectroscopia fotoacústica em fluidos magnéticos ............................ 43

3.3.9 Aparato Experimental .................................................................... 44

3.4 Espectroscopia Raman .......................................................................... 45

3.4.1 O efeito Raman ............................................................................ 46

3.4.2 Espectroscopia Raman em ferritas do tipo espinélio ........................... 50

3.4.3 Aparato experimental .................................................................... 58

4 – Resultados experimentais ........................................................................ 59

5 – Conclusão e perspectivas ......................................................................... 68

Referências .................................................................................................. 70

x

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Lista de figuras 2.1 Representação de um fluido magnético surfactado: as partículas não se

aglomeram devido à barreira física formada pelas moléculas do

surfactante...............................................................................................

5

2.2 Representação de um fluido magnético iônico: as partículas não se aglomeram

devido à repulsão eletrostática entre elas ......................................................

7

2.3 Representação de duas partículas de um fluido magnético, onde ν é a espessura

da camada protetora (iônica e/ou molecular), D é o diâmetro da partícula, l é a

distância entre as superfícies interagentes e r é à distância entre os centros das

partículas ................................................................................................

9

2.4 Diagrama esquemático do processo de síntese dos fluidos magnéticos à base de

óleo mineral e vegetal sem aquecer e aquecido, obtidos a partir da amostra

maghemita (PNH8-AO) do grupo 1.............................................................

14

2.5 Diagrama esquemático do processo de síntese dos fluidos magnéticos à base de

óleo mineral aquecido obtido a partir da amostra maghemita (PAB01-AO) do

grupo 2...................................................................................................

14

2.6 Célula unitária de uma estrutura espinélio cúbico. As esferas maiores

representam os átomos de oxigênio, as esferas negras representam os íons em

sítios tetraédricos e as esferas cinza os íons em sítios octaédricos (VERWEY;

HEILMANN, 1947) .................................................................................

19

xi

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2.7 Variação do campo coercivo ( )ic

H com o diâmetro ( )D da partícula. Esta

representação mostra as regiões onde a partícula apresenta monodomínio ( )máxDD <

ou multidomínio ( )máxDD > . Na região em que ( )CDD < a partícula possui

comportamento superparamagnetico (CULLITY, 1972) .................................

21

3.1 Difratograma de raios-X das nanopartículas de maghemita ),( 32OFe−γ amostra

PNH8.....................................................................................................

25

3.2 Difratograma de raios-X das nanopartículas de maghemita ( 32OFe−γ ) amostra

PAB01-AO .............................................................................................

26

3.3 Micrografia das nanopartículas de maghemita ( 32OFe−γ ) amostra de FMPAB01

obtida por Microscopia eletrônica de transmissão ..........................................

28

3.4 Histograma da polidispersão das nanopartículas de maghemita ( 32OFe−γ ) amostra

de FMPAB01 resultante da contagem dos diâmetros das nanopartículas nas

micrografias obtida por microscopia eletrônica de transmissão. O melhor ajuste

é representado pela linha contínua e foi encontrado usando a distribuição log-

normal dada pela equação 3.2 ...................................................................

29

3.5 Representação de uma célula fotoacústica (IZIDA, T., 2007) .......................... 32

3.6 Mecanismo de absorção óptica para três amostras com características diferentes.

À distância βl representa a penetração onde a radiação é reduzida a e1 .............

33

3.7 Efeito da difusão de calor em uma amostra a partir de um pulso ......................

34

3.8 Representação do fluxo de calor através de um elemento de volume dV ........... 36

3.9 Representação de uma célula fotoacústica para o modelo de difusão

unidimensional de Rosencwaig and Gersho (BENTO, 1987) ..........................

38

xii

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3.10 Distribuição de temperatura para vários tω na camada de gás em contato com a

superfície da amostra (CESAR, 1985) .........................................................

41

3.11 Espectro fotoacústico de duas amostras de magnetita – CMF (CMF1 e CMF2) e

duas amostras de ferrita de cobalto – UMF (UMF1 e UMF2) (OLIVEIRA, et

al., 2002).................................................................................................

43

3.12 Montagem experimental utilizada para obtenção dos espectros de fotoacústica

(AVELINO et al., 2006) ...........................................................................

45

3.13 Espectro Raman à temperatura ambiente de um monocristal de silício exibindo

a diferença de intensidade para os espalhamentos Stokes e anti-Stokes

(SANTOS, 2008) .....................................................................................

48

3.14 Mecanismo de espalhamento de um fóton de energia Eωh (SANTOS, 2008) ....

48

3.15 Representação dos modos normais de vibração ativos em Raman para a

estrutura espinélio cúbica (VERBLE, 1974) .................................................

51

3.16 Espectro Raman de nanopartículas de maghemita sem cobertura de ácido oleico

(amostra PNH8), obtido para diferentes potências de excitação (0,2; 0,3; 0,5;

0,8; 1,2 mW) ...........................................................................................

54

3.17 Espectro Raman de nanopartículas de maghemita sem cobertura de ácido oleico

(amostra PNH8), obtido para diferentes potências de excitação (2,0; 3,1; 5,0;

8,0; 12,0 mW) .........................................................................................

54

3.18 Espectro Raman de nanopartículas de maghemita funcionalizada com ácido

oleico (amostra PNH8-AO), obtido para diferentes potências de excitação (0,2;

0,3; 0,5; 0,8; 1,2 mW) ...............................................................................

55

xiii

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3.19 Espectro Raman de nanopartículas de maghemita funcionalizada com ácido

oleico (amostra PNH8-AO), obtido para diferentes potências de excitação (2,0;

3,1; 5,0; 8,0; 12,0 mW) .............................................................................

55

3.20 Espectro Raman de nanopartículas de maghemita sem cobertura de ácido oleico

(amostra PAB01), obtido para diferentes potências de excitação (0,2; 0,3; 0,5;

0,8; 1,2 mW) ...........................................................................................

56

3.21 Espectro Raman de nanopartículas de maghemita sem cobertura de ácido oleico

(amostra PAB01), obtido para diferentes potências de excitação (2,0; 3,1; 5,0;

8,0; 12,0 mW) .........................................................................................

56

3.22 Espectro Raman de nanopartículas de maghemita funcionalizada com ácido

oleico (amostra PAB01-AO), obtido para diferentes potências de excitação (0,2;

0,3; 0,5; 0,8; 1,2 mW) ..............................................................................

57

3.23 Espectro Raman de nanopartículas de maghemita funcionalizada com ácido

oleico (amostra PAB01-AO), obtido para diferentes potências de excitação (2,0;

3,1; 5,0; 8,0; 12,0 mW) .............................................................................

57

3.24 Detalhe do esquema experimental das medidas Raman ..................................

58

4.1 Espectro de fotoacústica da amostra FMOM-S (sem aquecer) com as

respectivas diluições .................................................................................

60

4.2 Espectro de fotoacústica da amostra FMOM (aquecida) com as respectivas

diluições (MORAIS et al., 2009) ................................................................

61

4.3 Espectro de fotoacústica da amostra FMOV-S (sem aquecer) com as respectivas

diluições .................................................................................................

61

xiv

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4.4 Espectro de fotoacústica da amostra FMOV (aquecida) com as respectivas

diluições .................................................................................................

62

4.5 Área normalizada versus a concentração normalizada da nanopartícula (amostra

FMOM-S). A área sob o espectro fotoacústico foi obtida a partir do espectro

obtido na faixa de comprimento de onda 0,64 a 0,83 mµ ................................

64

4.6 Área normalizada versus a concentração normalizada da nanopartícula (amostra

FMOM). A área sob o espectro fotoacústico foi obtida a partir do espectro

obtido na faixa de comprimento de onda 0,64 a 0,83 mµ (MORAIS et al., 2009).

65

4.7 Área normalizada versus a concentração normalizada da nanopartícula (amostra

FMOV-S). A área sob o espectro fotoacústico foi obtida a partir do espectro

obtido na faixa de comprimento de onda 0,64 a 0,83 mµ .................................

65

4.8 Área normalizada versus a concentração normalizada da nanopartícula (amostra

FMOV). A área sob o espectro fotoacústico foi obtida a partir do espectro

obtido na faixa de comprimento de onda 0,64 a 0,83 mµ ................................

66

xv

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Lista de tabelas 2.1 Amostras investigadas ............................................................................ 18

3.1 Dados de difração de raios-X ................................................................... 26

3.2 Posição dos picos de difratograma de raios-X da amostra PNH8, comparados

com a ficha padrão JCPDS-ICDD (9-629) da magnetita ( 43OFe ) e (1346) da

maghemita ( 32OFe−γ ) ...............................................................................

27

3.3 Posição do pico de difração de raios-X da amostra PAB01, comparado com a

ficha padrão JCPDS-ICDD (1346) da maghemita ( 32OFe−γ ) ......................

27

3.4 Dados da microscopia eletrônica de transmissão ......................................... 29

3.5 Frequência dos modos vibracionais da magnetita em diferentes estudos .......... 52

3.6 Frequência dos modos vibracionais da maghemita em diferentes estudos ........ 52

4.1 Parâmetros obtidos ................................................................................. 66

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Lista de abreviaturas e símbolos

43OFe - magnetita

32OFe−γ - maghemita

FMOM-S – fluido magnético à base de óleo mineral sem aquecer

FMOM – fluido magnético à base de óleo mineral (aquecido)

FMOV-S – fluido magnético à base de óleo vegetal sem aquecer

FMOV – fluido magnético à base de óleo vegetal (aquecido)

FMPAB01 – fluido magnético à base de óleo mineral

PNH8 – amostra de maghemita pó sem cobertura

PNH8-AO – amostra de maghemita pó coberta com ácido oleico

PAB01 – amostra de maghemita pó sem cobertura

PAB01-AO – amostra de maghemita pó coberta com ácido oleico

MET- microscopia eletrônica de transmissão

AO – ácido oleico

pH – potencial hidrogeniônico

rpm – rotação por minuto

CT - temperatura de Curie

ν- espessura da camada protetora

D - diâmetro da partícula

l - distância entre as superfícies interagentes

r - distância entre os centros das partículas

1mr

- momento magnético 1

2mr

- momento magnético 2

0µ - permeabilidade magnética

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ddE - interação dipolar magnética

VE - interação de Van der Waals

rE - interação estérica

ELE - interação eletrostática

A - constante de Hamaker

ξ - concentração de moléculas

BK - constante de Boltzmann

T - temperatura absoluta do sistema

ρ - densidade superficial

kf - força iônica

in - concentração de íons

AN - número de Avogadro

e - carga elementar

ε - constante dielétrica

VK a - barreira de energia de anisotropia

0V - volume crítico

hV - volume hidrodinâmico

η - viscosidade do fluido

m - momento magnético

H - campo magnético

k - fator de correção

β - largura a meia altura

θ - ângulo do pico mais intenso

MD - diâmetro médio obtido por raios-X

METD - diâmetro médio obtido por microscopia eletrônica de transmissão

σ - desvio padrão

0L - comprimento da amostra

βL - comprimento de absorção óptica

Tα - difusidade térmica

xviii

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0ω - frequência de modulação

f - frequência do chopper mecânico

µ - comprimento de difusão térmica

Sσ - coeficiente complexo de difusão térmica

Aη - eficiência quântica não radioativa.

Φr

- fluxo de calor

Ck - condutividade térmica

( )trT ,r

θ - função que descreve a temperatura

1ρ - densidade de massa

c - calor específico

L - comprimento da célula fotoacústica

Lλ - comprimento de onda

Aβ - coeficiente de absorção óptica

gπµ2 - espessura da camada limite de gás

α - tensor de polarizabilidade

Eω - frequência de vibração

K - constante de proporcionalidade

MAXD - diâmetro máximo

CD - diâmetro crítico

λ - comprimento de onda de raios-X

h - constante de Planck

xix

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Capítulo 1

Introdução

1.1 Motivação Atualmente, a nanociência e a nanotecnologia não são mais promessas para o

futuro, elas já estão presentes no mercado mundial sob a forma de produtos

tecnologicamente sofisticados. A nanotecnologia é uma área muito ampla e interdisciplinar

uma vez que se baseia nos mais diversificados tipos de materiais (polímeros, cerâmicas,

metais, semicondutores, compósitos e biomateriais) nanoestruturados em escala

nanométrica - nanoestruturados – de modo a formar blocos de construção (building blocks)

como clusters, nanopartículas, nanotubos e nanofibras, que por sua vez são formados a

partir de átomos ou moléculas. Dessa forma, a síntese controlada desses blocos de

construção e seu subseqüente arranjo para formar materiais e/ou dispositivos

nanoestrurados constituem os objetivos centrais da nanotecnologia (DURAN et al., 2006).

Dentro desse cenário promissor uma categoria de nanomateriais vem ganhando

importante destaque nas últimas décadas: os fluidos magnéticos. Esses materiais

apresentam uma grande versatilidade, pois unem propriedades dos materiais no estado

líquido com propriedades magnéticas presente em sólidos. Fluidos magnéticos são

suspensões coloidais ultra-estável (MORAIS et al., 2001), consistindo de partículas de

tamanho nanométrico, principalmente à base de óxidos de ferro (ferritas), dispersos em um

solvente apropriado, tendo portanto, comportamento superparamagnético.

O principal desafio encontrado nos métodos desenvolvidos para a preparação de

fluidos magnéticos é a obtenção de sistemas dispersos com controle do tamanho, da forma

1

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e das propriedades físico-química superficiais. O domínio sobre as variáveis durante a

síntese, por exemplo, possibilita um maior controle sobre as características das partículas

(cristalinidade, distribuição de tamanho, formato e estabilidade química), que por sua vez

influenciam as propriedades magnéticas dos materiais, determinando sua aplicação

tecnológica (DURAN et al., 2006).

Por associarem o magnetismo, característica de sólidos, a uma matriz líquida, os

fluidos magnéticos constituem uma classe importantíssima de novos materiais com

inúmeras aplicações como, por exemplo, a utilização de fluidos magnéticos em

transformadores com o objetivo de aumentar a capacidade de isolamento e resfriamento

(SEGAL et al., 2000; SARTORATO et al., 2005). Esta aplicação deu origem ao projeto de

pesquisa e desenvolvimento de óleos isolantes magnéticos para transformadores, e vem

sendo liderada pelo Grupo de Nanoestruturas Semicondutoras e Magnéticas do Instituto de

Física da Universidade de Brasília - UnB.

O transformador é um equipamento importante na malha elétrica e suas aplicações

se estendem desde grandes indústrias a pequenos consumidores. Devido à importância

desse dispositivo o seu perfeito funcionamento é fundamental para que haja garantia da

operação de um sistema elétrico. Falhas no funcionamento dos transformadores de potência

podem causar sérios danos econômicos nos mais variados setores da sociedade (ALMEIDA

et al., 2007). Nos transformadores de médio e grande porte são usados óleos minerais

isolantes, diamagnético, para o processo de refrigeração. Porém, o processo de convecção

apresenta baixa eficiência no procedimento da troca de calor, ocasionando consideráveis

perdas de energia (MORAIS, 2007). Contudo, no desenvolvimento do projeto citado,

estudos revelam que fluidos magnéticos diluídos compostos por nanopartículas de

maghemita funcionalizada em ácido oleico e dispersas em óleo isolante mineral ou vegetal,

apresentam propriedades elétricas adequadas para sua utilização em transformadores.

Assim, com esta tecnologia, espera-se que os transformadores sejam refrigerados com mais

eficiência e não dissipem tanta energia.

O desenvolvimento de fluidos magnéticos para utilização em transformadores de

alta voltagem inicia-se com o processo de síntese de nanopartículas que, após serem

funcionalizadas com moléculas orgânicas, possam ser dispersas em óleo, seja ele mineral

ou vegetal isolante, resultando em dispersões coloidais estáveis com propriedades elétricas

2

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adequadas, capaz de operar nas temperaturas elevadas do transformador, por longos

períodos de tempo.

Esta dissertação tem como objetivo investigar o efeito da diluição sobre a cobertura

superficial de nanopartículas magnéticas em amostras de fluidos magnéticos à base de óleo

mineral isolante parafínico e vegetal isolante Envirotemp® FR3™. Com este propósito, a

técnica de espectroscopia fotoacústica foi utilizada na caracterização dos fluidos. Em

particular, apesar da simplicidade instrumental da espectroscopia fotoacústica, os dados

experimentais obtidos de amostras de fluidos magnéticos, revelam detalhes importantes em

relação às propriedades da nanopartícula, da estrutura da superfície da nanopartícula bem

como as características da camada de cobertura (OLIVEIRA et al., 2002).

Esta dissertação foi organizada da seguinte forma: no Capítulo 2 são descritos os

tipos de fluidos magnéticos, os parâmetros associados às nanopartículas para alcançar a

estabilidade coloidal, aplicações tecnológicas, síntese de nanopartículas, materiais

investigados, estrutura cristalina e comportamento magnético das ferritas enfatizando o

superparamagnetismo. No capítulo 3 são abordadas as técnicas de caracterização, como

difração de raios-X, microscopia eletrônica de transmissão, espectroscopia fotoacústica e

espectroscopia Raman. Por fim, os resultados e discussões de fotoacústica são relatados no

Capítulo 4 e as conclusões gerais no Capítulo 5 finalizam o trabalho.

3

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Capítulo 2

Fluidos magnéticos

Fluidos magnéticos são sistemas coloidais ultra-estáveis consistindo de

nanopartícula monodomínio magnético dispersa em líquido carreador orgânico ou

inorgânico (MORAIS et al., 1999). Esses materiais possuem as características físicas do

líquido carreador associadas à capacidade de resposta a um campo magnético aplicado.

Relatos históricos mostram que as primeiras tentativas para produzir fluidos

magnéticos foram realizadas em 1779 por Knight, seguidos por Bitter e Elmore

(TOURINHO et al., 1998). Embora não totalmente estáveis esses colóides são semelhantes

aos empregados atualmente. Com o objetivo de utilizá-lo em ambientes de baixa gravidade,

Papell produziu em 1965 para a NASA, o primeiro fluido magnético ultra-estável utilizado

para a movimentação de combustível em propulsores de foguetes (PAPELL, 1965).

Entre 1965 e 1969, fluidos magnéticos começaram a ser produzidos em querosene e

outros solventes como água, fluorocarbono e ésteres. É interessante notar que até o

primeiro trimestre da década de 70 tais fluidos foram obtidos pela suspensão de partículas

usando-se o processo de moagem (ROSENSWEIG, 1975). Ainda, na década de 70, o

método químico proposto por Khalafalla e Reimers permitiu a produção de fluidos

surfactados à base de magnetita (KHALAFALLA; REIMERS, 1973). Por outro lado, a

síntese química proposta por Massart, em 1979, permitiu que nanopartículas de magnetita

pudessem ser dispersas em solventes polares, sem a necessidade de surfactante

(MASSART, 1981). O método de Massart tornou-se o mais utilizado por ser mais rápido e

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prático que o método de moagem, além de permitir melhor controle sobre a dispersão do

diâmetro das partículas.

Sendo assim, para uma particular aplicação de fluidos magnéticos, é necessário

entender o comportamento do sistema de partículas magnéticas, com implicações práticas

importantes. Apresentamos a seguir alguns tipos de fluidos magnéticos.

2.1 Fluido magnético surfactado Durante a síntese de nanopartículas magnéticas é introduzido um agente tensoativo,

denominado surfactante. Este é derivado dos termos Surface active agente – Agente ativo

de superfície (HUNTER, 1994). Surfactante são moléculas que apresentam um grupo polar

(hidrofílico) que se liga à superfície da nanopartícula, enquanto a parte apolar (hidrofóbica)

fica voltada para o solvente, ou seja, o líquido carreador. Esse agente dispersante que adere

à superfície da nanopartícula forma uma barreira física (ROSENSWEIG, 1975) contra a

aglomeração (repulsão estérica), proporcionando a estabilidade do colóide, conforme se

observa na figura 2.1.

Figura 2.1: Representação de um fluido magnético surfactado: as partículas não se aglomeram devido à barreira física formada pelas moléculas do surfactante.

Podemos organizar de duas formas a camada de surfactante sobre a superfície das

nanopartículas: Se as partículas estão dispersas em um meio apolar, como o óleo, apenas

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uma camada de surfactante é necessária para formar a cobertura externa hidrofóbica. Por

outro lado, se as partículas estiverem dispersas em um meio polar, como a água, uma dupla

camada de surfactante é necessária para formar a cobertura hidrofílica. Esses

procedimentos garantem a qualidade do fluido magnético.

2.2 Fluido magnético iônico Fluidos magnéticos iônicos são caracterizados pela presença de densidade de carga

elétrica em torno da superfície das nanopartículas magnéticas. A densidade é estabelecida a

partir de reações ácido-base associada à superfície da nanopartícula. Normalmente, o

líquido carreador é a água, e o pH da solução pode variar entre 2 a 12, determinando a

densidade e o sinal da carga na superfície da partícula (FANYAO; MORAIS, 2000).

A estabilidade coloidal dos fluidos magnéticos iônicos é obtida por meio da

repulsão eletrostática entre as partículas, graças à presença e possibilidade de modulação da

densidade de carga elétrica criada na superfície das nanopartículas (BACRI;

PERZYNSKY, 1986). Neste caso, a densidade de carga superficial e a força iônica do meio

devem ser precisamente controladas de modo que a repulsão eletrostática compense a

atração dipolar magnética que favorece a precipitação das nanopartículas.

Nos fluidos magnéticos iônicos, em meio aquoso com baixo pH, surge uma

densidade de cargas positivas devido à transferência de prótons do meio para a superfície

da nanopartícula. Analogamente, uma densidade de cargas negativas na superfície da

nanopartícula é obtida para fluidos magnéticos iônicos com altos valores de pH, que resulta

da transferência de prótons da superfície da nanopartícula para o meio aquoso, deixando,

pois, átomos de oxigênio carregados negativamente na superfície da nanopartícula

(MORAIS et al., 2006), de acordo com a figura 2.2.

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Figura 2.2: Representação de um fluido magnético iônico: as partículas não se aglomeram devido à repulsão eletrostática entre elas.

2.3 Fluido magnético biocompatível Fluidos magnéticos biocompatíveis são aqueles constituídos por um núcleo

magnético encapsulado por moléculas biocompatíveis e dispersos em meio fisiológico

tornando-se um colóide ultra-estável (MORAIS et al., 2005). Normalmente fluidos

magnéticos biocompatíveis utilizam água como meio carreador (SAFARIK;

SAFARIKOVA, 2002), facilitando a organização da molécula na superfície da

nanopartícula.

No processo de cobertura de nanopartículas magnéticas podem ser usadas

moléculas biocompatíveis como por exemplo: peptídeo (TIEFENAUER et al., 1993),

citrato (DOMINGO et al., 2001), entre outros. Porém, para adsorção, as moléculas devem

possuir mais de um grupo funcional encarregado de peptizar as partículas em um meio,

fornecendo cargas elétricas, através de equilíbrios químicos do tipo ácido-base. Além disso,

a natureza físico-química e as propriedades da camada molecular quiomiosorvida na

superfície da nanopartícula desempenham um papel importante na estabilidade do fluido

magnético (LACAVA et al., 1999).

A biocompatibilidade de fluidos magnéticos depende da adequação do pH,

salinidade e toxidade (LACAVA et al., 1999). Entretanto, um fluido convencional não

apresenta tais adequações para ser aplicado em meio biológico. Além disso, nanopartículas

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sem cobertura adequada não podem ser usadas diretamente em aplicações biológicas, pois

serão reconhecidas como corpos estranhos.

De forma geral, as nanopartículas magnéticas contidas em um fluido têm recebido

atenção especial por oferecem uma variedade de aplicações em diversos campos da

nanotecnologia.

2.4 Estabilidade dos fluidos magnéticos Fluidos magnéticos são considerados estáveis quando as nanopartículas magnéticas

que o constituem permanecem em suspensão por longo período.

Partículas magnéticas pequenas acrescidas da agitação térmica do líquido

dispersante já seriam suficientes para manter a estabilidade do fluido magnético devido ao

movimento Browniano que dificulta a sedimentação das partículas pela ação da força

gravitacional (DAOUD; WILLIANS, 1999). No entanto, as interações atrativas (dipolar

magnética e Van der Waals) entre partículas tendem a desestabilizar o colóide, levando-o à

aglomeração e posterior floculação. Para evitar esse problema é preciso balancear as

interações que atuam entre as partículas e da partícula com moléculas do líquido carreador.

É necessário acrescentar à superfície das nanopartículas uma camada de cargas elétricas

(repulsão eletrostática) ou adsorver moléculas na mesma (repulsão estérica)

(ROSENSWEIG, 1975), denominadas interações repulsivas. Estas interações repulsivas

estabilizarão o colóide mantendo as partículas em suspensão no meio, sendo possível

utilizá-lo em diversas aplicações.

As equações que serão apresentadas a seguir podem ser utilizadas para estimar os

parâmetros associados às nanopartículas que levem à estabilidade dos fluidos magnéticos

contra a floculação (figura 2.3).

2.4.1 Interação dipolar magnética Fluidos magnéticos típicos contêm aproximadamente 1610 partícula/cm3 (SOUSA et

al., 2001). Assim, a probabilidade de ficarem aglomeradas devido à atração dipolar

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magnética é elevada. Nessas condições para melhor visualização das interações entre os

dipolos magnéticos (interação atrativa), devemos considerar duas partículas separadas por

uma distância r (centro a centro), conforme representado na figura 2.3.

Figura 2.3: Representação de duas partículas de um fluido magnético, onde ν é a espessura da camada protetora (iônica e/ou molecular), D é o diâmetro da partícula, l é a distância entre as superfícies interagentes e r é à distância entre os centros das partículas.

A energia de interação entre duas partículas com momento magnético 1mr

e 2mr

é

dada por (ROSENSWEIG, 1997):

( )( )

⋅⋅−= rmrm

rr

mmEdd

rrrrrr

215321

0

3.

4

1

πµ,

(2.1)

onde 7

0 104 −×= πµ H.m é a permeabilidade magnética do vácuo.

2.4.2 Interação de Van der Waals A interação de Van der Waals é também atrativa. Surge espontaneamente por causa

das flutuações da energia associada ao dipolo elétrico. Assim, a energia de interação de

Van de Waals ( )vE entre duas partículas esféricas idênticas é dada por (ROSENSWEIG,

1997):

( ) ( )

+

++

++

+−=

2

2

22 2

4ln

2

2

4

2

6 l

ll

lll

AEV ,

(2.2)

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onde l é à distância entre as superfícies interagentes. A é a conhecida constante de

Hamaker, sendo da ordem de 1910− N.m para amostras de fluidos magnéticos de magnetita

e maghemita em hidrocarbonetos. Esta constante depende do número de átomos por

unidade de volume e da polarizabilidade do meio.

2.4.3 Interação estérica

O objetivo da interação estérica é evitar a ocorrência de aglomeração entre

nanopartículas de fluidos magnéticos surfactados. Para isto deverá existir um mecanismo

de repulsão (interação repulsiva) que utiliza longas cadeias moleculares adsorvidas na

superfície da nanopartícula. Essas cadeias se agregam formando uma barreira e realizando

um trabalho mecânico de repulsão.

A energia de repulsão estérica por unidade de área entre duas partículas esféricas

idênticas é dada por (ROSENSWEIG, 1997):

+++

−=t

l

l

t

t

lD

TK

E

B

r21

1ln

22

2

2ξπ,

(2.3)

onde l foi definido na seção 2.4.2, ξ representa a concentração de moléculas adsorvidas

na superfície da nanopartícula, ,2 Dt ν= sendo ν é a espessura da camada protetora

(iônica e/ou molecular), D é o diâmetro da partícula, BK é a constante de Boltzmann e T

a temperatura absoluta do sistema.

2.4.4 Interação eletrostática A interação eletrostática é outro tipo de interação repulsiva. É usada para obter a

estabilidade de fluidos magnéticos iônicos. As nanopartículas desses fluidos possuem uma

dupla camada elétrica em torno da superfície, formada por duas partes: a parte interna, com

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íons adsorvidos e uma região difusa, na qual se distribuem os contra-íons em excesso e os

co-íons (SHAW, 1975).

A energia associada à repulsão eletrostática entre duas esferas idênticas com

densidade superficial ,ρ em um solvente iônico de constante dielétrica ε e a força iônica

,2i

iiK Znf ∑= em que in é a concentração de íons de carga iZ dispersos no solvente é

dada por (BOCKRIS, 1993):

= BK

r

EL r

DE λ

επρ

exp4

42

,

(2.4)

onde ,102 23

TK

feN

B

KABK ε

λ ×= AN é o número de Avogadro, e a carga elementar, BK é a

constante de Boltzmann e T a temperatura absoluta do sistema.

2.5 Aplicações tecnológicas

Atualmente, com o advento da nanociência e da nanotecnologia, as nanopartículas

magnéticas têm encontrado inúmeras aplicações biológicas, biomédicas, industriais

(MASSART et al., 1995) entre outras. Porém, para aplicações dos fluidos magnéticos é

necessário que as partículas sejam quimicamente estáveis, tenham um tamanho adequado

para produzir soluções coloidais (TOURINHO et al., 1990) e possuam grande poder de

magnetização.

Algumas das aplicações biológicas, biomédicas e industriais mais relevantes das

nanopartículas magnéticas são consideradas a seguir.

2.5.1 Biológicas e biomédicas Para aplicações de natureza biológica e biomédica foram desenvolvidos fluidos

magnéticos biocompatíveis (OLIVEIRA et al., 2006). O comportamento magnético das

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nanopartículas desses fluidos é distribuído por todo líquido. Assim, as nanopartículas

podem ser guiadas ou localizadas em um alvo específico por gradientes de campos

magnéticos externos (LACAVA et al., 1999).

Entre as aplicações biológicas mais importantes destacam-se as biomédicas. De

maneira geral compreendem as que envolvem sua administração in vivo classificada como

terapêuticas e diagnósticas e in vitro compreendendo essencialmente as aplicações

diagnósticas. Nas aplicações biomédicas as nanopartículas devem atravessar a parede dos

vasos sanguíneos e se acumular especificamente nas células alvo, sem dano às células

normais. Estas características podem ser atingidas por meio do recobrimento das

nanopartículas com um material biologicamente ativo (DURAN et al., 2006). Por outro

lado, em vez de estarem na forma de um fluido magnético, as nanopartículas magnéticas

podem estar encapsuladas em lipossomas (YANASE et al., 1998), vesículas similares a

estruturas celulares, que apresentam características adequadas para aplicações biomédicas.

Em particular, existem na literatura vários trabalhos relacionados à utilização de

fluidos magnéticos em aplicações biomédicas, dentre algumas podemos citar: a

magnetohipertermia e carreadores de drogas (PAVON; OKAMOTO, 2007) na terapia do

câncer, agentes de contrastes em imagens de ressonância magnética nuclear no diagnóstico

de câncer (CLEMENT et al., 1991), na separação magnética de células ou moléculas

biológicas variadas (SAFARIK; SAFARIKOVA, 2002), em marcadores para células alvo

(GODOY MORAIS et al., 2004), entre outras.

2.5.2 Industriais O avanço tecnológico no campo industrial está intimamente ligado ao

melhoramento no processo de síntese de fluidos magnéticos, sendo a maioria deles

baseados em solventes apolares. Dentre algumas aplicações dos fluidos magnéticos

podemos citar sua utilização em dispositivos acústicos como, por exemplo, o alto falante

(site DA LIQUIDS RESEARCH LIMITED). Neste dispositivo o fluido magnético é

utilizado para dissipar o calor emitido por suas bobinas magnéticas melhorando a qualidade

do som gerado. Como separador magnético (CUNHA; SOBRAL, 2004) de materiais, por

exemplo, na área ambiental, onde as nanopartículas magnéticas podem ser utilizadas

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durante a coleta, recuperação e limpeza da área afetada por um vazamento de óleo. Em

tintas magnéticas (códigos de barras) (site DA LIQUIDS RESEARCH LIMITED) entre

outras aplicações.

Além dessas aplicações consolidadas temos também a utilização de fluidos

magnéticos em transformadores, que vem sendo desenvolvido pelo Grupo de

Nanoestruturas e Semicondutoras e Magnéticas do Instituto de Física da Universidade de

Brasília - UnB, com o objetivo de aumentar a capacidade de isolamento e resfriamento

(SARTORATTO et al., 2005).

2.6 Síntese Nos últimos anos, as técnicas de síntese de fluidos magnéticos vêm sendo

aprimoradas e há vários trabalhos na literatura mostrando os progressos na preparação de

nanopartículas magnéticas de óxido de ferro (THOREK et al., 2006).

As nanopartículas magnéticas podem ser preparadas por técnicas físicas e químicas

ou uma mistura de ambas. As técnicas físicas incluem a deposição de vapor (GLAVEE et

al., 1991), a redução de tamanho por meio de moagem de partículas micrométricas

(CHINNASAMY et al., 2001) entre outras. Entre alguns métodos químicos podemos citar:

a microemulsão (MOUMEN; PILENI, 1996) e a coprecipitação por meio de hidrólise

alcalina em meio aquoso (MASSART, 1981).

Neste trabalho serão tratados os procedimentos de síntese de dois grupos (1 e 2) de

nanopartículas de magnetita, a que deram origem às nanopartículas de maghemita, sendo

esta a componente fundamental dos fluidos investigados nesse trabalho.

As amostras de maghemita coberta com ácido oleico foram obtidas utilizando-se o

procedimento padrão encontrado na literatura (VAN EWIJK et al., 1999) e, pode ser

resumida por três passos principais: a produção da nanopartícula de magnetita, oxidação da

mesma e o tratamento da superfície para adsorção de ácido oleico. Em seguida, as

nanopartículas são dispersas em um solvente adequado para produção do fluido magnético.

As figuras 2.4 e 2.5 apresentam o diagrama esquemático do processo de síntese de

nanopartículas. Todas as amostras estudadas nesse trabalho foram preparadas no Instituto

de Química da Universidade Federal de Goiás – UFG.

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Figura 2.4: Diagrama esquemático do processo de síntese dos fluidos magnéticos à base de óleo mineral e vegetal sem aquecer e aquecido, obtidos a partir da amostra maghemita (PNH8-AO) do grupo 1.

Figura 2.5: Diagrama esquemático do processo de síntese dos fluidos magnéticos à base de óleo mineral aquecido obtido a partir da amostra maghemita (PAB01-AO) do grupo 2.

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Coprecipitação

As nanopartículas de magnetita, obtidas pelo método de coprecipitação química em

meio alcalino dos íons de +2Fe e +3Fe , serão descritas a seguir.

Grupo 1

Primeiramente dissolveu-se 7,46 g de OHFeCl 22 4. e 20,57 g de OHFeCl 23 6. em

500 mL de água destilada. Essa mistura foi adicionada a 500 mL de hidróxido de sódio

(NaOH) 1,5 mol/L-1 à velocidade constante sob agitação mecânica de 2000 rpm à

temperatura ambiente.

Grupo 2

Semelhante ao processo anterior dissolveu-se 10,93 g OHFeCl 22 4. e 27,03 g de

OHFeCl 23 6. em 1140 mL de água destilada contendo 10 mL de ácido clorídrico (HCL)

para evitar a hidrólise. Essa mistura foi adicionada a 60 mL de uma solução de hidróxido

de amônio (NH4(OH)) a 25% sob agitação mecânica de 2000 rpm, à temperatura ambiente.

Os processos de nucleação e crescimento das nanopartículas de magnetita iniciam-

se ao se adicionar à solução contendo íons de +2Fe e +3Fe a solução alcalina. O

precipitado negro e magnético formado foi isolado por decantação e lavado com água

destilada até obter um pH igual a 7. O próximo passo consiste na oxidação das partículas de

magnetita pelo método de borbulhamento de oxigênio.

Oxidação por borbulhamento de oxigênio

Ao material precursor sólido ainda úmido, formado por nanopartículas de

magnetita, foi adicionada água destilada e o pH foi ajustado para 3,5 com uma solução de

ácido clorídrico (HCL) 1,0 mol/L. A suspensão foi submetida a aquecimento a 97º C e

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borbulhamento de oxigênio, sob agitação magnética. Foram utilizados dois diferentes

tempos de oxidação por borbulhamento de 2O : 3 e 7 horas. Após resfriamento, a suspensão

foi centrifugada e o sólido foi lavado várias vezes, sendo posteriormente separado por

centrifugação.

Após oxidação as amostras de magnetita dos grupos 1 e 2, foram separadas cada

uma em dois lotes. Um dos lotes dos grupos 1 e 2 deram origem às amostras oxidadas não

cobertas nomeada PNH8 e PAB01 respectivamente. O outro lote dos grupos 1 e 2 foram

submetidos ao processo de recobrimento com ácido oléico sendo nomeada PNH8-AO e

PAB01-AO respectivamente conforme descrito a seguir.

Recobrimento das nanopartículas com ácido oléico

O recobrimento iniciou-se com a magnetita oxidada ainda úmida. Esta foi suspensa

em 100 mL de água destilada sob agitação magnética e o pH ajustado para 6 com solução

de hidróxido de amônio (NH4(OH)) 25%. Sobre a suspensão (amostras do grupo 1 e 2), à

temperatura ambiente, foram adicionados 30 mL de ácido oléico sendo que apenas na

amostra do grupo 2 além do ácido oleico foi acrescentado 2 mL de oleilamina, sob

agitação por 30 minutos.

A fase orgânica composta pelas nanopartículas revestidas com ácido oléico

(amostra surfactada) foi isolada da fase aquosa em funil de decantação e lavada 3 vezes

com etanol. O processo de lavagem é necessário para retirar o excesso de ácido oleico,

obtendo-se por centrifugação os sólidos, dos quais uma parte foi separada para

caracterização e a outra para a preparação dos fluidos magnéticos.

Preparação de fluidos magnéticos

As nanopartículas revestidas com ácido oleico tiveram o excesso de etanol

removido com fluxo de nitrogênio. Após este processo foram preparados os fluidos

magnéticos orgânicos, utilizando como solvente óleo mineral isolante parafínico e óleo

vegetal isolante Envirotemp® FR3™.

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O óleo mineral isolante é obtido do petróleo bruto, através da destilação fracionada

e tratamento físico-químico (TURUNEN et al., 1995), sendo destinado à utilização em

transformadores, chaves elétricas, reatores, dijuntores etc. Atualmente o óleo mineral

isolante parafínico comercializado pela Petrobrás é do tipo B (ÓLEO ISOLANTE). Já o

óleo vegetal isolante denominado fluido Envirotemp® FR3™ é um material dielétrico

resistente ao fogo, à base de éster natural, sendo também formulado para aplicações em

transformadores (MANUAL B900-00092P).

O fluido magnético, utilizando as amostras recoberta com ácido oleico (grupo 1),

foi obtido adicionando-se 4 g de nanopartícula em 100 mL de óleo mineral isolante

parafínico dando origem aos fluidos magnéticos à base de óleo mineral sem aquecer

(FMOM-S). A mesma quantidade de nanopartícula coberta com ácido oleico foi adicionada

em 100 mL de óleo vegetal Envirotemp® FR3™ originando as amostras de fluido

magnético à base de óleo vegetal sem aquecer (FMOV-S). Entretanto, estes fluidos foram

separados cada um em duas partes. Uma parte deu origem aos fluidos magnéticos sem

aquecer, os quais receberam a nomeação das siglas apresentadas anteriormente. A outra

parte foi submetida ao aquecimento a 90º C sob vácuo por 80 horas, sendo nomeadas

FMOM (fluido magnético à base de óleo mineral aquecido) e FMOV (fluido magnético à

base de óleo vegetal aquecido).

O último fluido produzido é denominado fluido magnético à base de óleo mineral

(FMPAB01-AO) onde foi utilizada a amostra oxidada recoberta com ácido oleico (grupo

2). Neste fluido foi disperso 8 g de nanopartículas em uma mistura 2:1 de óleo isolante

mineral parafínico e 1-octadeceno. Este fluido foi mantido sob agitação por tombamento

durante 48 horas, centrifugado a 3000 rpm por 15 minutos e submetido ao aquecimento a

90 º C sob vácuo por 80 horas.

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2.7 Materiais investigados A tabela 2.1 apresenta o resumo das amostras que foram sintetizadas e as

respectivas técnicas que serão utilizadas para caracterização.

Tabela 2.1: Amostras investigadas.

As concentrações dos fluidos aquecidos e sem aquecer é a mesma sendo dados por:

161012,2 × partícula/cm3 para a amostra denominada FMOM-S e FMOM, 161042,1 ×

partícula/cm3 para a amostra FMOV-S e FMOV e 161012,1 × partícula/cm3 para a amostra

FMPAB01.

Amostra:

maghemita

Raios-X

Microscopia Eletrônica

de Transmissão

Espectroscopia Fotoacústica

Espectroscopia

Raman

PNH8 X X

PNH8-AO X

PAB01 X

PAB01-AO X X

FMOM-S X

FMOM X

FMOV-S X

FMOV X

Fluidos

FMPAB01 X

18

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2.8 Estrutura cristalina e comportamento magnético das ferritas

A síntese por coprecipitação química produz ferritas com estrutura cristalina do tipo

espinélio podendo ser representadas pela formula geral 42OMFe , onde M é um cátion

divalente, normalmente um metal de transição ( )Cd e ,,,, ZnCuMnNiCo (ALCÂNTARA,

2007). A denominação espinélio é uma analogia ao mineral espinélio ( ).422OAlM g

Na estrutura das ferritas os ânions de oxigênio acomodam-se formando uma

estrutura cúbica de face centrada (cfc) e os cátions distribuem-se preenchendo os espaços

entre os átomos de oxigênio, ocupando sítios tetraédricos, (sítio A) e octaédricos, (sítio B).

A célula primitiva unitária das ferritas é romboédrica onde os sítios tetraédricos apresentam

simetria dT , os octaédricos possuem simetria dD3 , e os átomos de oxigênio apresentam

simetrias vC3 .

A célula unitária da estrutura espinélio possui aresta com cerca de o

A8 com 32

átomos de oxigênio formando 64 intercítios de simetria tetraédrica e 32 intercítio de

simetria octaédrica, dentre os quais somente 8 sítios tetraédricos e 16 octaédricos são

ocupados por cátions metálicos. Quando um dos cátions metálicos é o ferro trivalente, esses

materiais são chamados de ferritas. A configuração dos átomos da célula unitária pode ser

vista na figura 2.6.

Figura 2.6: Célula unitária de uma estrutura espinélio cúbico. As esferas maiores representam os átomos de oxigênio, as esferas negras representam os íons em sítios tetraédricos e as esferas cinza os íons em sítios octaédricos (VERWEY; HEILMANN, 1947).

19

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De acordo com a ocupação dos sítios por cátions metálicos a estrutura espinélio

pode ser classificada de três formas. Quando todos os íons divalente +2M ocupam os sítios

A e todos os +3Fe ocupam o sítio B a estrutura é denominada espinélio normal. Já na

estrutura espinélio inversa, os sítios A são totalmente ocupados por metade dos +3Fe e o

restante juntamente com os íons divalente +2M ocupam o sito B. A distribuição dos íons

divalente ocorrendo em ambos os sítios gera a estrutura espinélio mista. Para caracterizar o

espinélio misto é necessário fornecer o grau de inversão. Este é devido à alta

eletronegatividade do exigênio em relação aos íons metálicos da estrutura, visto que

favorece forte ligação de caráter iônico com cátions divalente e trivalente. A fórmula

química que descreve esse grau é dada por (NAKAGOMI, 2008):

( )[ ] 4

32

2321 OFeMFeM +

−+++

− δδδδ , (2.5)

onde δ é o parâmetro de inversão. Os íons entre parênteses ocupam o sítio A e os íons entre

colchetes o sítio B. Note que para a estrutura espinélio normal δ =1 enquanto que para a

estrutura inversa tem-se δ =0.

A maghemita, ferrita investigada neste trabalho, é muito similar à magnetita na

estrutura cristalina. Ambas exibem comportamento ferrimagnético, mas a maghemita tem a

magnetização de saturação menor.

Qualitativamente, materiais ferrimagnético são similares aos ferromagnéticos, pois

são espontaneamente magnetizados em temperatura abaixo da temperatura de Curie ( )CT e

tornam-se paramagnéticos acima desta temperatura. No entanto, a magnetização de

materiais ferrimagnéticos é resultante da interação entre duas subredes magnetizadas em

sentidos opostos, sendo cada subrede ferromagneticamente ordenada (MC CURRIE, 1994).

A maghemita, como a magnetita, apresenta uma estrutura espinélio cúbica inversa e

apresenta deficiência em cátions, pois não exibem +3Fe suficientes para o preenchimento

de todos os sítios de coordenação OFe − . A maghemita pode ser representada pela

seguinte fórmula estrutural: +333,21Fe 3267,2 O , onde 67,2 representa as vacâncias catiônicas

nos sítios octaédricos (FERGUSON; HASS, 1958). Contudo, devido a essas vacâncias, a

maghemita torna-se um material menos cristalino que a magnetita.

20

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O comportamento magnético das nanopartículas é influenciado pelo efeito de

tamanho que se torna mais relevante quando o tamanho diminui. Um efeito de tamanho

muito estudado é o superparamagnetismo que será descrito a seguir.

2.9 Superparamagnetismo O comportamento superparamagnético foi observado por Elmore numa suspensão

coloidal de nanopartículas de magnetita (ELMORE, 1938). Entretanto, outros

pesquisadores deram suas contribuições ao esclarecimento deste fenômeno que está

fortemente relacionado com o tempo de relaxação do momento magnético da partícula.

Devido ao seu pequeno tamanho acredita-se que partículas de um fluido magnético

sejam monodomínio magnético. Entretanto, em 1930, os pesquisadores Frenkel e Dorfman

foram os primeiros a sugerirem a existência de monodomínio magnético (FRENKEL;

DORFMAN, 1930). No entanto, a primeira estimativa de diâmetro crítico ( )CD a partir do

qual um material é dito monodomínio magnético foi proposta por Kittel em 1946

(KITTEL, 1946). Note que existe um diâmetro máximo ( )MAXD que caracteriza o ponto de

transição entre um monodomínio e um multidomínio, como observado na figura 2.7.

Figura 2.7: Variação do campo coercivo ( )

icH com o diâmetro ( )D da partícula. Esta representação

mostra as regiões onde a partícula apresenta monodomínio ( )máxDD < ou multidomínio ( )MAXDD > . Na região em que ( )CDD < a partícula possui comportamento superparamagnetico (CULLITY, 1972).

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Em uma partícula monodomínio magnético o momento magnético está orientado

segundo a direção definida pelo eixo de fácil magnetização da partícula. O alinhamento

nesta direção é determinado pela existência de uma barreira de energia de anisotropia de

altura VK a (KNOBEL, 2000). Como conseqüência do tamanho nanométrico das partículas

a barreira de energia é pequena e pode se tornar comparável à energia térmica do sistema.

Neste caso há uma probabilidade do momento magnético mudar de um sentido para outro

em relação ao eixo de fácil magnetização, mesmo em presença de campo magnético

aplicado em um intervalo de tempo característico τ . Neste formalismo, o mecanismo de

relaxação do momento magnético é um processo termicamente ativado caracterizado por

um tempo de relaxação mais conhecido como relaxação de Néel-Brown dado por

(KNOBEL, 2000):

=

TK

VK

B

aexp0ττ ,

(2.6)

onde 0τ é um tempo característico da ordem de s10 9− (POPPLEWELL; SAKHNINI,

1995), BK é a constante de Boltzmann e T a temperatura absoluta do sistema.

Assim, a uma dada temperatura, uma partícula é superparamagnética se o tempo de

relaxação τ do momento magnético for menor que o tempo necessário para realizar uma

medida mt . Se τ for maior que mt o momento magnético não flutua durante a medida e a

partícula permanece no chamado estado bloqueado. Deste modo, para um volume crítico

0V e mt conhecido haverá uma temperatura de bloqueio e para uma temperatura absoluta

fixa T um volume crítico limitará os dois regimes (bloqueado e superparamagnético).

Contudo, o volume crítico para o superparamagnetismo é diretamente proporcional à

temperatura de bloqueio, ou seja, quanto maior for à temperatura de bloqueio, maior será o

volume crítico das partículas para que elas se tornem superparamagnéticas (KNOBEL,

2000).

Para o caso em que partículas monodomínio magnéticos estão dispersas num

líquido carreador a orientação dos momentos das partículas, e a relaxação dos mesmos,

dependem do movimento Browniano e, por conseqüência, da viscosidade do fluido η . Este

processo é caracterizado por um tempo de relaxação característico chamado de relaxação

Browniana dado por (MORAIS et al., 1997):

22

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TK

V

B

hb

ητ

3= ,

(2.7)

onde hV é o volume hidrodinâmico.

Em um fluido magnético na ausência de campo aplicado os momentos magnéticos

estão aleatoriamente orientados e o material não apresenta nenhuma magnetização.

Entretanto, na presença de campo magnético externo, o momento magnético associado à

partícula tende a se orientar na direção do campo, seja girando em relação ao eixo de fácil

magnetização da estrutura cristalina da partícula, denominado superparamagnetismo

intrínseco, ou girando com a partícula, caracterizando o superparamagnetismo extrínseco.

O processo de relaxação depende do tamanho das partículas: assim, partículas magnéticas

com diâmetro CDD < possuem comportamento superparamagnético. Neste caso

caracteriza-se pela ausência de coercividade.

O comportamento de partículas superparamagnéticas é semelhante ao das partículas

paramagnéticas, porém com momento magnético total bem maior. Portanto, podem ser

descritos pela mesma teoria clássica de Langevin para o paramagnetismo. Sendo assim,

para partículas em um estado superparamagnético, a magnetização do conjunto de

partículas é descrita pela função de Langevin de primeira ordem dada por (BEAN;

LIVINGSTON, 1959):

( ) xxxL 1coth −= , (2.8)

onde TKmHx B= sendo m o momento magnético, H é campo magnético.

23

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Capítulo 3

Técnicas de caracterização

Para aplicação de fluidos magnéticos é necessário que eles sejam caracterizados por

técnicas físicas básicas dando informações sobre as nanopartículas em suspensão quanto ao

seu formato, dimensões, distribuição de tamanhos, composição, natureza de cobertura,

propriedades magnéticas etc. A seguir serão discutidas algumas técnicas de caracterização

tais como: difração de raios-X, microscopia eletrônica de transmissão, espectroscopia

fotoacústica e espectroscopia Raman.

3.1 Difração de raios-x

A difração de raios – X é uma técnica empregada para análise de partículas

microscópicas (na forma de pó) apresentando-se como uma das principais ferramentas na

identificação das fases presentes em materiais policristalinos. A técnica baseia-se no

fenômeno de difração observado quando raios-X, de mesmo comprimento de onda, são

refletidos pelos planos dos átomos e/ou moléculas que formam o cristal.

A identificação da partícula pode ser obtida comparando o difratograma obtido

pela técnica de difração de raios – X com dados conhecidos da literatura. A análise do

difratograma fornece informações sobre a estrutura cristalina, constante de rede e diâmetro

médio da nanopartícula. A estimativa do diâmetro médio pode ser obtida a partir da largura

24

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a meia altura (full-width at half maximum: FWHM) do pico de reflexão mais intenso,

usando a relação de Scherrer (CULLITY, 1978).

θβλ

cos

9,0=D ,

(3.1)

onde 0,9 é o fator de correção considerando o formato da partícula, λ é o comprimento de

onda dos raios-x incidente, padrãoamostra22 βββ −= é o valor corrigido da largura de linha

a meia altura e θ é o ângulo do pico mais intenso. Para ferritas do tipo espinélio, θ

corresponde ao plano de difração [311].

Os difratograma de raios-X das amostras de 32OFe−γ (PNH8 e PAB01) estão

representados nas figuras 3.1 e 3.2. O melhor ajuste está representado pela linha sólida e foi

obtido por uma função lorentziana Usando a relação de Scherrer foi possível estimar o

diâmetro médio das nanopartículas cujos valores estão indicados na tabela 3.1.

10 20 30 40 50 60 70 800

20

40

60

80

100

120

(511)(220)

(440)

(422)(400)

(111)

(311)

Inte

nsid

ade

(u.a

.)

2θ (graus)

dados experimentais ajuste

Figura 3.1: Difratograma de raios-X das nanopartículas de maghemita ),( 32OFe−γ amostra PNH8.

25

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20 30 40 50 60 70 80-20

0

20

40

60

80

100

120

140

160

(440)

(511)

(422)

(400)

(311)

(220)

Inte

nsid

ade

(u.a

.)

2θ (graus)

dados experimentais ajuste

Figura 3.2: Difratograma de raios-X das nanopartículas de maghemita ( 32OFe−γ ) amostra PAB01-AO.

Tabela 3.1: Dados de difração de raios-X.

Amostra >< MD (nm) PNH8 2,23

32OFe−γ PAB01 10,2

Na figura 3.1 observam-se os dados da difração de raios-X para a amostra PNH8.

Esses dados apresentam linhas típicas de reflexão associadas à 43OFe e 32OFe−γ ,

conforme fichas padrões JCPDS-ICDD 9-629 e 1346 para a 43OFe e ,32OFe−γ

respectivamente, cujos dados obtidos constam na tabela 3.2. Já para a amostra PAB01

(figura 3.2) os dados da difração de raios-X estão de acordo com a ficha padrão JCPDS-

ICDD 1346 para ,32OFe−γ conforme indicado na tabela 3.3.

26

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Tabela 3.2: Posição dos picos de difratograma de raios-X da amostra PNH8, comparados com a ficha

padrão JCPDS-ICDD (9-629) da magnetita ( 43OFe ) e (1346) da maghemita ( ).32OFe−γ

JCPDS-ICDD

hkl 43OFe ( )θ2 32OFe−γ ( )θ2

PNH8 ( )θ2

(111) 18,27 18,38 18,02

(220) 30,09 30,24 30,44

(311) 35,42 35,63 35,66

(400) 43,05 43,28 43,26

(422) 53,39 53,73 53,06

(511) 56,94 57,27 58,34

(440) 62,51 62,92 63,02

Tabela 3.3: Posição do pico de difração de raios-X da amostra PAB01, comparado com a ficha padrão

JCPDS-ICDD (1346) da 32OFe−γ .

JCPDS-ICDD PAB01

hkl 32OFe−γ ( )θ2 32OFe−γ ( )θ2

(311) 35,63 35,64

A análise dos difratogramas de raios-X das figuras 3.1 e 3.2 revelam a estrutura

espinélio cúbica. Os difratogramas de raios-X foram obtidos em um equipamento

Shimadzu modelo XRD-6000, com radiação αKCu − , ( )54056,1=λ , kV40 , mA30 e

varredura contínua no intervalo 10 – 80º ( )θ2 , em passos de min2 o . As medidas foram

realizadas no Instituto de Química da Universidade Federal de Goiás – UFG.

3.2 Microscopia eletrônica de transmissão

A Microscopia eletrônica de transmissão (MET) é uma técnica que faz uso de um

feixe de elétrons com comprimento de onda da ordem de 0,01 nm. Os elétrons são gerados

pelo aquecimento de um filamento de tungstênio e posteriormente acelerados por uma

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diferença de potencial de 60 a 300 kV entre o catodo e anodo. O poder de resolução do

microscópio pode ser avaliado pelo aumento proporcionado pela técnica, sendo possível

chegar a 500000 vezes. Com essa resolução existe possibilidade de observar estruturas com

dimensões próximas a 0,1 nm.

A técnica de MET permite a visualização das partículas, sendo possível observar a

morfologia e medir diretamente o seu diâmetro. Os parâmetros que descrevem os perfis de

tamanho das partículas podem ser obtidos, ajustando-se o histograma de tamanhos medidos

com uma função do tipo log-normal ( )DP dada por (PAYET et al., 1998):

( ) ( )

−=

2

2

2

lnexp

2

1

σπσMETDD

DDP ,

(3.2)

onde D é o diâmetro da partícula e METD é o diâmetro médio obtido por microscopia

eletrônica de transmissão e σ é o desvio padrão do diâmetro ou dispersão. Estes

parâmetros definem a polidispersividade da amostra.

A figura 3.3 é uma das micrografias obtida por MET. A partir da análise de várias

micrografias constrói-se um histograma (figura 3.4). Este, para o caso de partículas

esféricas, foi obtido medindo-se o diâmetro de um grande número de partículas nas

imagens obtidas (PAYET et al., 1998). Após esta etapa, o histograma foi ajustado usando a

equação 3.2, obtendo-se o diâmetro e a dispersão, conforme observado na tabela 3.4.

Figura 3.3: Micrografia das nanopartículas de maghemita ( 32OFe−γ ) amostra de FMPAB01 obtida por Microscopia eletrônica de transmissão.

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2 4 6 8 10 12 14 16 180

20

40

60

80

100

120

140

Núm

ero

de c

onta

gens

Diâmetro (nm)

dados experimentais ajuste

Figura 3.4: Histograma da polidispersão das nanopartículas de maghemita ( 32OFe−γ ) amostra de FMPAB01 resultante da contagem dos diâmetros das nanopartículas nas micrografias obtida por microscopia eletrônica de transmissão. O melhor ajuste é representado pela linha contínua e foi encontrado usando a distribuição log-normal dada pela equação 3.2. Tabela 3.4: Dados da microscopia eletrônica de transmissão.

Parâmetro FM - 32OFe−γ

>< METD (nm) 8,74

σ 0,28

Os dados de microscopia eletrônica obtidos acima pertence à amostra PAB01.

Entretanto, não foi possível obter as micrografias para a amostra PNH8. O motivo pode ser

devido ao pequeno tamanho da partícula.

As micrografias das amostras de maghemita funcionalizada em com ácido oleico

(fluidos) foram obtidas em um microscópio eletrônico modelo JEOL 100 CXII do

Laboratório de microscopia eletrônica de transmissão do Instituto de Biologia –

Universidade de Brasília – UnB.

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3.3 Espectroscopia fotoacústica

Breve histórico

Em 1880 Alexandre Graham Bell (BELL, 1880) descobriu que um feixe de luz

solar periodicamente modulado incidindo sobre uma amostra colocada em uma célula

fechada produzia um som audível por meio de um tubo ligado à célula. Na época o

fenômeno foi denominado “efeito opticoacústico”.

A partir de 1881 várias hipóteses (RAYLEIGH; MERCADIER; PREECE, 1881)

foram levantadas a fim de explicar o efeito, mas o fenômeno foi considerado apenas uma

curiosidade devida em parte à inconveniência de se trabalhar com luz solar e das baixas

intensidades obtidas com outras fontes de luz, tornando-se sem interesse prático e sendo

logo esquecido.

Várias décadas depois o efeito opticoacústico renasceu na Rússia, quando

Veingerav (VEINGERAV, 1938) criou o chamado espectrofone para estudo de gases,

servindo para analisar concentrações em misturas gasosas, sendo construídos então os

detectores pneumáticos usados como analisadores de gases ou simplesmente como

detectores para longos comprimentos de onda da radiação infravermelha.

No entanto, com a introdução do laser, utilizado como fonte de radiação coerente e

monocromática, o efeito opticoacústico foi redescoberto tendo realmente um grande

desenvolvimento, beneficiando-se do aumento do brilho espectral, mostrando-se uma

técnica espectroscópica alternativa muito sensível e precisa, com uma gama de aplicações

diversificadas.

Kerr e Atwood foram os primeiros a utilizar um laser como fonte de radiação

incidente num espectrofone em um experimento (KERR; ATWOOD, 1968). Eles mediram

um fraco espectro de absorção de uma linha de vapor de OH 2 com pico de absorção de

-17 cm103 −× . No entanto, em 1971 Kreuser (KREUSER, 1971) realizou o primeiro

experimento em medidas de baixas concentrações gasosas, conseguindo uma sensibilidade

de -18 cm10− . A partir daí o efeito opticoacústico passou a ser chamado na literatura de

efeito fotoacústico, para evitar possíveis enganos com o efeito acústico-óptico usado como

moduladores de lasers.

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Embora a técnica da espectroscopia fotoacústica em gases tenha sido

completamente desenvolvida, o efeito fotoacústico em sólidos e líquidos ficou esquecido

por um bom tempo. Somente por volta de 1973 o fenômeno foi reativado, surgindo os

primeiros modelos teóricos para explicá-lo, em particular em sólidos (PARKER, 1973).

Uma das principais vantagens da espectroscopia fotoacústica é que ela permite

obter um espectro semelhante aos espectros de absorção óptica em qualquer tipo de

material sólido ou semi-sólido, seja este cristalino, em pó ou amorfo. Esta capacidade

baseia-se no fato de que somente a luz absorvida é convertida em som. Além disso,

verificou-se experimentalmente que é possível obter o espectro de amostras opticamente

opacas (ROSENCWAIG; GERSHO, 1976). No entanto, para realização de medidas são

necessários apenas alguns miligramas de amostra, não sendo necessários submetê-la a

qualquer tratamento. Além do mais, se aplica a uma larga faixa do espectro

eletromagnético dando informação tanto pela intensidade quanto pela fase do sinal.

A espectroscopia fotoacústica é uma excelente técnica experimental para análise de

superfície de amostras. No entanto, apenas recentemente é que tem sido utilizada na

investigação de amostras de fluidos magnéticos (MORAIS et al., 2003).

31

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3.3.1 O efeito fotoacústico

A técnica consiste em utilizar uma radiação modulada incidente sobre a amostra

colocada dentro de uma célula fechada contendo gás, que pode ser ar, em contato com

amostra, conforme ilustrado na figura 3.5.

Figura 3.5: Representação de uma célula fotoacústica (IZIDA, T., 2007).

Se o fóton incidente for absorvido pela amostra ocorrerá uma excitação envolvendo

os níveis de energia do material e uma subseqüente deexitação, com geração de calor

através do mecanismo de transferência de energia (SILVEIRA, 2006). O calor gerado se

difundirá até a superfície da amostra de forma periódica e será conduzido para o gás, que

irá se contrair e se expandir periodicamente com o calor, produzindo assim ondas de

pressão que podem ser facilmente detectadas como um sinal acústico por um microfone

sensível localizado dentro da célula fotoacústica.

A quantidade de calor gerado no material é proporcional à variação de pressão na

célula. Isto implica em dizer que a intensidade do sinal acústico, detectado por essa

alteração de pressão, está, então, diretamente relacionada com a quantidade de radiação

absorvida pela amostra.

3.3.2 Mecanismo de absorção

Quando uma radiação incide em uma amostra a radiação pode ou não ser absorvida

totalmente na superfície e, à medida que a radiação penetra no material as moléculas deste

32

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vão interagindo com os fótons, fazendo com que a intensidade da radiação diminua

exponencialmente. A distância de penetração da radiação no material, até onde sua

intensidade reduz-se a um fator de e1 , caracteriza a absorção óptica (BENTO, 1987) e o

parâmetro que mede essa absorção é chamado comprimento de absorção óptica βl e 0l é o

comprimento da amostra, como se observa na figura 3.6.

Amostra opaca Amostra absorvedora

Amostra transparente

Figura 3.6: Mecanismo de absorção óptica para três amostras com características diferentes. À distância βl representa a penetração onde a radiação é reduzida a .1 e

A absorção da energia radiante pela amostra é seguida por uma conversão em

energia cinética e transferência de calor através da amostra para a interface sólido-gás,

necessária para a produção do efeito fotoacústico. As características térmicas da amostra

devem afetar a natureza do sinal fotoacústico e, em particular, a difusidade térmica ,Tα

que mede a velocidade com que o calor se propaga pela amostra. Se um ponto for aquecido

o calor gerado nesse ponto difundirá para outros pontos da amostra, que sofrerão um

aumento e diminuição de temperatura, semelhante a um pulso, conforme se observa na

figura 3.7 (BENTO, 1987). Os pontos 0P e 1P representam a profundidade de penetração da

radiação e as temperaturas no interior da amostra são dadas por 0T e 1T .

33

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Figura 3.7: Efeito da difusão de calor em uma amostra a partir de um pulso.

No efeito fotoacústico todos os pontos da amostra dentro do comprimento de

absorção óptico geram calor de forma periódica. A difusão a partir de um ponto, neste

caso, se dará em ciclos correspondentes à frequência de modulação da luz incidente dada

por ,20 fπω = onde f é a frequência do modulador mecânico. Define-se assim o

comprimento de difusão térmica ,µ cuja magnitude de oscilação térmica se atenua a um

valor correspondente a .1 e Este parâmetro usado para analisar a transmissão periódica de

calor é expresso por ( ) 2102 ωαµ T= e indica a atenuação da oscilação térmica (BENTO,

1987).

3.3.3 Modelos teóricos

A utilização do efeito fotoacústico em sólidos, bem como os primeiros modelos

teóricos para explicar o fenômeno, apareceram a partir de 1973 (PARKER, 1973).

Posteriormente, Rosencwaig e Gersho desenvolveram o modelo unidimensional da difusão

térmica chamada “pistão térmico”, que tem explicado a maioria dos resultados

experimentais obtidos em fotoacústica. Este modelo baseia-se no fato de que o calor gerado

na amostra (sólido) é transferido para o gás, onde uma pequena camada de gás próxima à

superfície da amostra responde termicamente às variações de temperatura na superfície do

34

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material. A expansão desta camada causa um efeito de pistão sobre o resto do gás, o que dá

origem às ondas de pressão (ROSENCWAIG; GERSHO, 1976).

Efeitos de expansão térmica do sólido, chamado “pistão mecânico”, foram

estudadas por McDonald e Wetsel, onde amostras de grande espessura e fraca absorção

eram utilizadas (MCDONALD; WETSEL, 1978). Outros autores (BENNET; FORMAN,

1976; AAMODT et al., 1977) desenvolveram modelos unidimensionais utilizando

equações acústicas e térmicas acopladas, chegando à conclusão de que os resultados

coincidem com o modelo de Rosencwaig e Gersho nas mesmas condições experimentais

para amostras sólidas.

Esses e outros autores desenvolveram a teoria para explicar o efeito fotoacústico em

sólidos. Especificamente, iremos abordar o modelo unidimensional de Rosencwaig e

Gersho. Antes, porém é necessário discutir o conceito matemático da equação da difusão de

calor que será abordado na seção seguinte.

3.3.4 Equação da difusão de calor

Sabe-se que qualquer luz absorvida por um sólido é convertida em parte ou

totalmente em calor, por processo não radiativo. Sendo assim, considere um fluxo de calor

),( trrr

Φ atravessando um elemento de volume .dV O fluxo de calor é definido como a

quantidade de calor que atravessa o elemento de volume de unidade de área perpendicular à

direção do fluxo, na unidade de tempo, conforme observado na figura 3.8. A maior parte

dos fenômenos de difusão de calor obedece à equação linear de Fourier (lei de Fourier)

para o fluxo de calor dado por (BENTO, 1987):

),(..),( trTktr C

vrrr

θ∇−=Φ (3.3)

35

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Figura 3.8: Representação do fluxo de calor através de um elemento de volume dV .

onde Ck é a condutividade térmica do material, e ),( trT

rθ é a função que descreve a

temperatura (BENTO, 1987). O sinal negativo da equação 3.3 surge porque o fluxo de

calor ocorre em sentido oposto ao gradiente de temperatura.

O elemento de volume dV experimenta uma variação temporal na quantidade de

calor nele depositada devido ao gradiente de temperatura. Esta quantidade é dada pelo

fluxo de calor que entra e sai do volume, somada à fonte de calor gerada no elemento de

volume, sendo assim temos (BENTO, 1987):

dVtrfSdtrtrQt

VS

.),(.),(),( ∫∫∫∫∫ +Φ−=∂∂ rrrrr

(3.4)

A temperatura do sistema será elevada pela quantidade de calor tQ ∂∂ armazenada

no elemento de volume. Considerando a calorimetria a variação temporal é dada pela

seguinte equação (BENTO, 1987):

dVtrTt

ctrQt

V

.),(..),( 1∫∫∫ ∂∂

=∂∂ rr

θρ

(3.5)

onde 1ρ é a densidade de massa e c é o calor específico. Admitindo-se que dV seja

pequeno, para que todo o volume esteja sob a mesma temperatura ,θT a equação 3.4

assume a forma:

∫∫∫∫∫

−∂∂

=Φ−VS

dVtrftrTt

cSdtr .),(),(..).,( 1rrrrr

θρ

(3.6)

onde a integral do lado esquerdo pode ser transformada pelo teorema da divergência, em

uma integral de volume dada por:

36

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∫∫∫∫∫∫

−∂∂

=Φ∇−VV

dVtrftrTt

cdVtr ),(),(...),(. 1rrrrr

θρ

(3.7)

onde a equação da difusão de calor é expressa por:

CT k

trftrT

ttrT

),(),(

1),(2

rrr

−=∂∂

−∇ θθ α

(3.8)

sendo a difusidade térmica dada por: ckCT 1ρα = onde Ck a condutividade térmica do

material.

Para o caso unidimensional, a equação 3.8 pode ser escrita da seguinte forma:

C

xx

Tx k

txftxT

ttxT

x

),(),(

1),(

2

2

−=∂∂

−∂

∂α

(3.9)

3.3.5 Modelo unidimensional de Rosencwaig-Gersho

O modelo unidimensional da flutuação da temperatura ocorrida dentro da célula

fotoacústica resultante da energia absorvida da luz incidente pelo sólido foi desenvolvido

por Rosencwaig-Gersho (ROSENCWAIG; GERSHO, 1976). Neste modelo considera-se

uma célula fotoacústica, conforme a figura 3.9. A célula constitui de uma cápsula

cilíndrica. Dentro dela encontra-se a amostra sólida na forma de um disco ao fundo da

célula por um isolante térmico. A outra extremidade da cápsula é lacrada com uma lâmina

de quartzo transparente para a radiação incidente. No interior da célula, além da amostra,

existe ar atmosférico ou outro gás que não absorva a radiação incidente, e um microfone

para detectar as variações de pressão no interior do sistema. O gás funciona como um

pistão sobre a amostra. A amostra tem comprimento sL o suporte bL e a coluna de gás gL

e gπµ2 é a espessura da camada limite de gás. Considera-se que o gás e o suporte são

transparentes, isto é, não absorvem luz.

37

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Figura 3.9: Representação de uma célula fotoacústica para o modelo de difusão unidimensional de Rosencwaig and Gersho (BENTO, 1987).

A intensidade do feixe de luz monocromática que incide no sólido com

comprimento de onda Lλ é dada por:

I ( tx, ) 02

1I= ( ( )tjωexp1+ )

(3.10)

onde 0I é o fluxo de luz monocromática incidente dado em ( 2/ cmw ).

Para uma amostra que possui absorção homogênea, a atenuação da intensidade da

radiação, ou seja, a intensidade de luz absorvida até uma profundidade x é expressa por:

aI ( tx, ) I= ( tx, ) ( )xAe β− (3.11)

onde Aβ denota o coeficiente de absorção óptico da amostra dado em ( 1−cm ) para o

comprimento de onda .Lλ

Considerando fxIa =∂∂ ( tx, ) e derivando a equação 3.11, teremos a fonte de

calor gerada no elemento de volume dada por:

f ( tx, )= ( )xA

A AeI βηβ −−

02( )1 tje ω+

(3.12)

38

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A inclusão do fator Aη na equação 3.12 diz respeito a taxa de radiação absorvida

para um particular comprimento de onda que será convertido em calor durante o processo

de deexitação não radioativo, ou seja, Aη é a eficiência quântica não radioativa.

Substituindo a equação 3.12 em 3.9, teremos a equação da difusão de calor que

descreve a propagação de calor de um meio com difusidade térmica Tα . A equação da

difusão de calor abordada na seção 3.3.4 foi discutida em termos da difusidade térmica Tα

e da função ),( txTx que descreve a temperatura. Essas formas são convencionais para o

tratamento desenvolvido ao longo dessa seção. Entretanto, quando as interfaces da célula

fotoacústica são consideradas, ou seja, suporte (b), amostra (s) e gás (g), a convenção que

será adotada nos sub-índices da difusidade térmica e da função que descreve a temperatura,

serão as siglas das interfaces da célula fotoacústica apresenta acima.

Sendo assim, para a interface amostra-gás da célula fotoacústica a equação da

difusão de calor é expressa por:

)(02

2

2),(

1),( x

Ac

As

Tss

AeIk

txTt

txTx

βηβ

α−−

=∂∂

−∂

∂ ( tje ω+1 ), sL− < x < 0

(3.13)

Em particular, se não há fontes de calor presente na interface gás e suporte, a

equação da difusão de calor para essas regiões pode ser escrita da seguinte forma:

0),(1

),(2

2=

∂∂

−∂

∂txT

ttxT

xg

Tgg α

, 0 < x < gL

0),(1

),(2

2=

∂∂

−∂

∂txT

ttxT

xb

Tbb α

, ( )sLbL +− < x < sL

(3.14)

(3.15)

As equações 3.13 a 3.15 podem ser resolvidas pelo método de separação de

variáveis e as respectivas soluções são descritas abaixo:

( ) tjxxx

s eDeCeBetxT Ass ωβσσ −+= −),(

tjx

g eEetxT g ωσ−=),(

(3.16)

(3.17)

39

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( )( ) tjSb eLx

b FetxTωσ +=),(

(3.18)

onde

Ts j αωσ =2

( )( ) 2121 Ts i αωσ +=

Ac

A

kD η

β2

= )(2 22

sAs

A

kE

σβ

β

−=

(3.19)

(3.20)

(3.21)

satisfazendo as equações 3.16 a 3.18 onde sσ é o coeficiente complexo de difusão térmica.

As condições de contorno de (ROSENCWAIG; GERSHO, 1976) para a

continuidade da temperatura e do fluxo de calor nas interfaces da célula fotoacústica são

dadas por:

),(),( txTtxT ji θθ =

),(),(. txTx

ktxTx

k jjii θθ ∂∂

=∂∂

(3.22)

(3.23) onde os índices i e j representa os meios adjacentes ),,( gsb da célula fotoacústica.

Aplicando as condições de contorno Rosencwaig e Gersho nas equações 3.16 a 3.18

determinaremos os coeficientes ,B ,C ,D E e ,F obtendo-se assim a distribuição de

temperatura na célula em termos dos parâmetros ópticos e térmicos. A solução geral

explícita para a temperatura na célula é da seguinte forma:

LL

LLL

sAs

ASS

ASS

ebgebg

erbebrebr

k

IT σσ

βσσ

θσβ

β−

−−

−−−++

−+−+−+−

−=

)1)(1()1)(1(

)(2)1)(1()1)(1(

)(2)0(

220

(3.24)

onde os parâmetros que relacionam as interfaces da célula fotoacústica são dados por:

ss

bb

ak

akb =

ss

gg

ak

akg =

(3.25)

(3.26)

40

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s

A

air

2)1(β

+=

(3.27)

sendo b e g as constantes de acoplamento entre as interfaces suporte-amostra e amostra-

gás, respectivamente. A constante g é em geral desprezível (g<<1). A equação 3.24 é a

solução para o caso unidimensional no modelo de difusão de calor Rosencwaig e Gersho na

interface amostra-gás.

3.3.6 Produção do sinal acústico

O sinal acústico associado ao efeito fotoacústico é originado pela flutuação

periódica da temperatura que ocorre na pequena camada de gás próxima à superfície da

amostra, devido à propagação do calor produzido na amostra. Apenas uma pequena camada

de gás responde termicamente à variação de temperatura na superfície da amostra conforme

observado na figura 3.10. Esta camada limite de gás possui espessura gπµ2 e funciona

como um pistão vibratório.

Figura 3.10: Distribuição de temperatura para vários tω na camada de gás em contato com a superfície da amostra (CESAR, 1985).

41

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A flutuação térmica periódica oscila no tempo e depende de quão longe esteja à

interface amostra-gás sendo expressa pela equação abaixo:

tjx

g eeTtxT Tg ωαθ )0(),( = , (3.28)

Considera-se que somente as oscilações dentro da camada de gás de espessura

,2 gπµ contribuem para a produção do sinal acústico. Assumindo o modelo gás ideal com

constante=γPV e ,vp CC=γ sendo pC o calor específico à pressão constante e vC à

volume constante. Assim, a variação física da pressão será a parte real da equação abaixo:

−= 4

0

)0(2

)(

πω

θγ

δtj

gg

AM eT

Tal

PtP ,

(3.29)

onde AP e 0T são respectivamente a pressão e a temperatura do meio e 4exp πj− fornece a

defasagem devido ao pistão vibratório.

O sinal fotoacústico é obtido da componente não temporal da variação de pressão,

contendo uma intensidade e uma fase, sendo expressa por (BENTO, 1987):

F

gg

jF e

Tl

TPS Φ=

0

0 )0(

σγ θ

(3.30)

Como só pontos da amostra que estão dentro do comprimento de difusão ,µ geram

calor a fase FΦ representa a média ponderada dos tempos de atenuação da oscilação

térmica de cada ponto na superfície da amostra.

3.3.7 Intensidade sinal fotoacústico

A intensidade do sinal fotoacústico depende linearmente da radiação incidente na

amostra, sendo proporcional a temperatura na interface amostra-gás. Como a temperatura

depende da quantidade de radiação transformada em calor, a intensidade do sinal

42

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fotoacústico fica relacionada diretamente com as propriedades de absorção, difusão e

profundidade na amostra onde a radiação é absorvida.

3.3.8 Espectroscopia fotoacústica em fluidos magnéticos

De acordo com trabalhos publicados na literatura, as características observadas nos

espectros fotoacústicos em amostras de fluidos magnéticos têm sido descrito tem termos de

três bandas distintas: L, S e C (OLIVEIRA et al., 2002; MORAIS et al., 2006), conforme se

observa na figura 3.11 para duas amostras de magnetita e ferrita de cobalto.

Figura 3.11: Espectro fotoacústico de duas amostras de magnetita – CMF (CMF1 e CMF2) e duas amostras de ferrita de cobalto – UMF (UMF1 e UMF2) (OLIVEIRA, et al., 2002).

43

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A banda L, localizada aproximadamente na região de 0,7 mµ , tem sido associada à

camada de cobertura na superfície de nanopartículas. Contudo, a banda L pode ser usada

para investigar o grupo molecular químico adsorvido na superfície de nanopartículas,

indicando o grau do grafting da cobertura (MORAIS et al, 2005). A banda S,

aproximadamente em torno de 0,5 mµ , mostra a interação da camada de cobertura sobre a

superfície da nanopartícula durante a síntese química, a qual é particularmente enriquecida

com o grupo hidroxila. No caso de nanopartículas de óxido de ferro a banda S pode ser

quantitativamente usada para obter o grafting da superfície associado à camada de polyoxy-

hidroxy (MORAIS et al., 2005). Finalmente, a banda C, observada em pequeno

comprimento de onda na faixa espectral de (0,3 a 0,4 mµ ), é discutida em termos da

absorção óptica da nanopartícula (MORAIS et al., 2005).

3.3.9 Aparato Experimental

O arranjo experimental utilizado neste trabalho para a obtenção dos espectros

fotoacústicos está esquematizado na figura 3.12. A fonte de luz utilizada consiste de uma

lâmpada de arco de xenônio de 150 watts. A luz gerada pela lâmpada passa por um

modulador (chopper). Um sensor fotoelétrico no “chopper” fornece ao amplificador lock-in

o sinal de referência de modulação em relação ao qual é estabelecido o sinal. A luz é

difratada em um monocromador Spex modelo 1680. A luz atinge então a amostra, gerando

o sinal fotoacústico que é captado por um microfone no interior da célula fotoacústica. Este

sinal é enviado para o amplificador lock-in, que amplifica e retifica as componentes do

sinal que possuem a mesma frequência de modulação do sinal de referência, eliminando

sinais ruins. A seguir o sinal é enviado para um microcomputador onde é processado.

44

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Figura 3.12: Montagem experimental utilizada para obtenção dos espectros de fotoacústica (AVELINO et al., 2006).

A fim de minimizar o ruído durante o experimento de fotoacústica foi construído

uma célula fotoacústica com dupla parede. Este novo dispositivo consiste de duas células

com paredes concêntricas com janelas de UV-quartzo. O espaço entre as paredes foi

construído com ar à pressão ambiente (AVELINO et al., 2006).

3.4 Espectroscopia Raman A Espectroscopia Raman é uma técnica baseada na interação radiação-matéria. Ela

pode ser descrita como uma técnica de análise onde são estudadas as correlações entre as

propriedades de um feixe de luz incidente e aquelas do feixe de luz espalhado

inelasticamente pela amostra. Este fenômeno foi previsto teoricamente por Smekal

(SMEKAL, 1923) e observado experimentalmente em 1928 por Sir C. V. Raman e seu

aluno K. S. Krishnan (RAMAN, 1928).

Durante uma série de experimentos Raman observou que ao passar uma radiação

monocromática por substâncias sólidas e líquidas, havia luz espalhada com frequência

diferente da incidente. Inicialmente, Raman utilizou como fonte de radiação a luz solar.

Esta foi coletada por um espelho e monocromatizada por vários filtros para uma câmara

escura (RAMAN, 1930).

45

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3.4.1 O efeito Raman

O efeito Raman consiste no espalhamento inelástico da luz pela matéria. A

radiação espalhada pode ter uma frequência igual à da radiação incidente (espalhamento de

Rayleigh) ou apresentar freqüências maiores ou menores (espalhamento Raman anti-Stokes

e Stokes, respectivamente). As diferenças entre as energias da radiação incidente e

espalhada estão relacionadas às diversas propriedades vibracionais de cada material.

O efeito Raman pode ser explicado tanto pela teoria clássica como pela teoria

quântica, e a atividade do efeito está ligada ao momento de dipolo induzido na molécula

pelo campo elétrico da radiação incidente (SALA, 1995).

No tratamento clássico, quando um feixe de luz monocromática incide em uma

molécula de polarizabilidade ,α os elétrons da molécula deslocam-se em relação aos seus

núcleos. Como resultado do deslocamento eletrônico, produz-se um momento dipolar

oscilante. Para melhor compreensão, considere o campo elétrico da luz incidente dado por:

)cos(0 tEE Eω=

r, (3.31)

onde 0E é a amplitude e Eω a frequência de vibração.

O momento de dipolo Pr

gerado pelo campo elétrico, descrito em primeira ordem é

dado por (SALA, 1995):

EP

rrα= , (3.32)

onde α é o tensor polarizabilidade da molécula, que na visão clássica, pode ser

considerado como uma medida da facilidade com que os elétrons podem ser deslocados

para produzir o dipolo elétrico, sob a ação do campo externo.

A polarizabilidade não é a mesma para diferentes direções de Er

. Assim, a

componente x de Er

depende das componentes y e z. Portanto a polarizabilidade ao longo

dos diferentes eixos é escrita da seguinte forma (STRAUGHAN, 1976):

zzzyzyxzxz

zyzyyyxyxy

zxzyxyxxxx

EEEP

EEEP

EEEP

ααα

ααα

ααα

++=

++=

++=

(3.33)

46

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onde por exemplo zP é o momento de dipolo elétrico induzido na direção do eixo z. Os

coeficientes zzyyxx ααα ,...,, , são independentes da direção de Er

e Pr

, definindo então o

tensor de polarizabilidadeα .

A radiação incidente sobre as moléculas provoca vibrações moleculares, afetando a

polarizabilidade da molécula. Esta pode ser expressa por uma expansão em Taylor em

função das coordenadas normais de vibração Q em primeira ordem, dada por

(SZYMANSKI, 1967):

...0

0 +

∂∂

+= QQ

ααα

(3.34)

onde ( )tQQ Eωcos0= . Aqui Eω representa a frequência de vibração.

Substituindo as equações (3.31) e (3.34) em (3.32), teremos a expressão para o

momento de dipolo induzido.

)cos()cos()cos( 1000

00 ttEQQ

tEP EE ωωα

ωα

∂∂

+=r

,

(3.35)

Usando identidades trigonométricas adequadas a equação (3.35) pode ser escrita

como:

[ ]ttEQQ

tEP EEE )cos()cos(2

1)cos( 1100

000 ωωωω

αωα ++−

∂∂

+=r

,

(3.36)

Podemos observar na equação acima que o primeiro termo dá origem ao

espalhamento elástico de luz conhecido como espalhamento Rayleigh uma vez que este só

depende da frequência Eω . Já o segundo termo está intimamente relacionado ao

aparecimento dos efeitos Raman anti-Stokes ( )1ωω +E e Stokes ( )1ωω −E , mas isto só

ocorre se tivermos (SALA, 1995):

00

∂∂Q

α, ou seja, deve haver necessariamente uma variação da polarizabilidade elétrica

da molécula devido a um pequeno deslocamento da coordenada Q .

47

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Observando o espectro Raman do silício (figura 3.13) é possível diagnosticar que o

pico Raman Stokes é mais intenso que o anti-Stokes. Contudo o modelo clássico não prevê

essa diferença de intensidade, por não levar em conta a natureza quantizada da energia

vibracional das moléculas, portanto, é necessário analisar o fenômeno quanticamente.

Figura 3.13: Espectro Raman à temperatura ambiente de um monocristal de silício exibindo a diferença de intensidade para os espalhamentos Stokes e anti-Stokes (SANTOS, 2008).

Do ponto de vista quântico quando um fóton de energia Eωh incide sobre um

material as moléculas que o compõe podem absorver esta energia e serem excitadas para

um nível de energia virtual, ocasionando três tipos de espalhamento, conforme observado

na figura 3.14.

Figura 3.14: Mecanismo de espalhamento de um fóton de energia Eωh (SANTOS, 2008).

48

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No espalhamento Raman anti-Stokes o fóton incide nas moléculas que estão em um

estado vibracional excitado e após a interação retornam ao estado fundamental emitindo

um fóton de energia maior que a incidente ( )1ωω +Eh . No espalhamento de Rayleigh a

molécula volta ao estado vibracional inicial após interação com o fóton incidente, emitindo

um fóton de mesma frequência. Já no espalhamento Raman Stokes as moléculas que

constituem a amostra estão no estado fundamental, elas absorvem esta energia, são

excitadas para um estado virtual e decaem para um estado vibracional excitado, emitindo

um fóton de energia menor que a incidente ( )1ωω −Eh .

Com relação às diferenças na intensidade das linhas Stokes e anti-Stokes abordada

anteriormente, observa-se que de acordo com o modelo quântico, em uma amostra à

temperatura ambiente, o número de moléculas que estão no estado fundamental é muito

maior que o de moléculas já excitadas termicamente. Portanto, o número de processos do

tipo Stokes é maior que o número de processos anti-Stokes, o que já era de se esperar, uma

vez que a população dos estados excitados segue a distribuição de Boltzmann (SALA,

1995).

O efeito Raman abordado até aqui, foi ocasionado por vibrações moleculares. Além

destas existem também vibrações da rede cristalina (fônons). Estes contribuem para a

variação da polarizabilidade α , propriedade tensorial dos materiais, durante o

espalhamento da luz.

A energia de vibração da rede cristalina é quantizada. Entretanto, no espalhamento

Raman de primeira ordem, um fóton é espalhado inelasticamente por uma molécula,

criando ou aniquilando um fônon. Assim, pela regra de seleção temos que se ikr

e ekr

são,

respectivamente, os vetores de onda da luz incidente e espalhada, a condição para a

conservação do momentum é:

0qkk ei

rh

rh

rh =± (3.37)

onde h é a constante de Planck e 0q o momentum do fônon envolvido no processo Raman.

O espalhamento Raman em cristais é governado não só pela conservação do

momento, mas também pela conservação da energia dado por:

ωωω hhh =± ei , (3.38)

49

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Se 0=ω , o espalhamento é elástico e é denominado espalhamento de Rayleigh. Se

0≠ω , o espalhamento é inelástico sendo denominado espalhamento Raman. Assim, o

sinal positivo indica um espalhamento anti-Stokes e o negativo um espalhamento Stokes.

Se a variação na modulação é pequena em comparação à radiação incidente

( )iωω << , temos que:

ie ωω hh ≅

iei kk

λπ2

=≅

(3.39)

(3.40)

Para um comprimento de onda muito grande comparado com as distâncias

interatômicas a , têm-se:

akmáx

>>π2

(3.41)

O espalhamento Raman de primeira ordem excita apenas fônons com freqüências

próximas ao centro da zona de Brillouin. Esta regra de seleção imposta é uma conseqüência

direta da existência da periodicidade da rede e da simetria dos elementos constituintes

devido à conservação do momento.

3.4.2 Espectroscopia Raman em ferritas do tipo espinélio

A análise da simetria dos sítios e posição dos modos de vibração de óxidos de ferro

com estrutura espinélio tem sido estudada por vários autores: (VERBLE, 1974;

DEGIORGI et al., 1987; HART et al., 1976; GRAVES et al., 1988 e GASPAROV et al,

2000).Os resultados destes estudos variam de forma significativa, quer no número de

modos Raman observados quer nas posições e atribuições (SHEBANOVA; LAZOR,

2003). De acordo com Kreisel ferritas contendo ( )4

3 OFe + , sítio tetraédrico, são

caracterizadas por uma banda gA1 na região entre 660 – 720 -1cm , enquanto os modos

observados na região 460 – 640 -1cm são originados por vibrações do sítio octaédrico

contendo ( )6

3 OFe + (KREISEL et al., 1998).

50

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Óxidos de ferro, tais como magnetita, maghemita entre outros, pertencem ao grupo

espacial ( )mFdOh 37 e a teoria de grupos prediz para essa estrutura, os seguintes modos

vibracionais (GUPTA, 2002):

( ) ( ) ( ) ( ) uuugggg TTATTEA 212211 2IR52R3RR ++++++=Γ , (3.42)

onde R e IR denotam respectivamente atividades dos modos Raman e Infravermelho.

Alguns autores afirmam que somente os sítios de simetria dT e vC3 ocupado por

íons +3Fe e −2O respectivamente, contribuem para atividade Raman (SHEBANOVA;

LAZOR, 2003; WHITE; DEANGELIS, 1967). Segundo eles, os cinco modos ativos em

Raman mostrados na equação 3.42, e na figura 3.15 possuem comportamento que podem

ser descritos da seguinte forma: gA1 , estiramento simétrico da ligação dos átomos de

oxigênio em relação aos átomos de ferro situados no sítio tetraédrico; gE , flexão simétrica

das ligações desses átomos de oxigênio. Dentre os modos gT2 têm-se: 12gT caracterizado

pelo movimento de translação dos cinco átomos; 22gT estiramento assimétrico das ligações

dos átomos de oxigênio e 32gT flexão assimétrica das ligações dos átomos de oxigênio em

relação aos átomos de ferro (WHITE; DEANGELIS, 1967 ).

Figura 3.15: Representação dos modos normais de vibração ativos em Raman para a estrutura espinélio cúbica (VERBLE, 1974).

51

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Existem na literatura vários trabalhos usando espectroscopia Raman em materiais

com estrutura espinélio, na investigação dos modos vibracionais ativos em Raman.

Contudo, existem divergências sobre a correta identificação dos modos e freqüências

Raman características de alguns óxidos de ferro como, por exemplo, a magnetita,

maghemita entre outros. Para ter uma idéia da diversidade de resultados, as tabelas 3.5 e

3.6 apresentam algumas das referências encontradas na literatura sobre as freqüências dos

modos Raman observada na magnetita e maghemita.

Tabela 3.5: Frequência dos modos vibracionais da magnetita em diferentes estudos. Referências Modos ativos em Raman ( )1−cm

VERBLE, 1974. 680 560 - 420 320 300 - -

GRAVES et al., 1988. 706 576 - 490 - 336 - 230

ODZIEMKOWSKI et al.,

1994.

669 540 - 415 319 - 294 -

GASPAROV et al., 2000. 670 540 - - 308 - - 193

GUPTA et al., 2002. 669 540 - 410 - 300 -

SHEBANOVA; LAZOR,

2003.

668 538 - 450-490 306 193

Tabela 3.6: Frequência dos modos vibracionais da maghemita em diferentes estudos. Referências Modos ativos em Raman ( )1−cm

DE FARIA et al., 1997. 714 - 500 - 350

RUBIM et al., 2001. 700 - 502 - 360

CHOURPA I. et al., 2005. 703 - 502 - 330

LEGODI; WAAL, 2007. 721 665 507 390 344

Como pode ser observado nas tabelas 3.5 e 3.6, para os três modos mais intensos da

magnetita e maghemita, há uma conformidade sobre as freqüências.

Vários fatores contribuem para o surgimento ou não de alguns modos vibracionais em

ferritas. Os principais são aqueles que afetam diretamente a simetria do arranjo cristalino

como, por exemplo, vacâncias, cátions em intersítios, composições químicas não

52

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estequiométricas, distorções nas dimensões das partículas que podem ser ocasionadas pelas

rotas de síntese. Além disso, a possibilidade de induzir o processo de oxidação via laser

(aquecimento) pode levar à transformação da magnetita em outros óxidos como a

maghemita ou hematita.

Conforme mencionado na seção 2.8, a maghemita possui vacâncias em seus sítios

octaédricos. A distribuição dessas vacâncias não é ordenada ocasionando estruturas largas e

assimétricas no espetro Raman. A maioria dos autores afirma que a maghemita apresenta

três bandas em torno de 360-380, 500 e 660-720 -1cm (CHOURPA et al., 2005).

Vários trabalhos envolvendo a maghemita vêm sendo investigadas e recentemente

Soler et al., estudaram nanopartículas de maghemita coberta com ácido oleico (AO)

suspensas em amostras de fluidos magnéticos, com o objetivo de avaliar a estabilidade do

colóide (SOLER et al., 2007).

Já a hematita é considerada uma forma polimorfa da maghemita. A célula primitiva

é hexagonal e pertence ao grupo de simetria espacial 63dD . O espectro apresenta sete modos

ativos em Raman, sendo eles (DE FARIA et al., 1997): dois modos gA1 e cinco gE . No

espectro Raman da hematita observa-se intensidades Raman bem mais intensas em

comparação a outros óxidos. Isto se deve ao fato da seção de choque de espalhamento ser

maior que os observados na magnetita e maghemita.

As figuras de 3.16 a 3.23 mostram os espectros Raman obtido para as amostras de

nanopartícula de maghemita não coberta e funcionalizada com ácido oleico (AO) para

diferentes potências de excitação (0,2 a 12,0 mW).

53

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0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

1,2

Inte

nsid

ade

Ram

an (

u.a.

)

Número de onda (cm-1)

0,2 mW 0,3 mW 0,5 mW 0,8 mW 1,2 mW

Figura 3.16: Espectro Raman de nanopartículas de maghemita sem cobertura de ácido oleico (amostra PNH8), obtido para diferentes potências de excitação (0,2; 0,3; 0,5; 0,8; 1,2 mW).

0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

1,2

1,4

1,6

Inte

nsid

ade

Ram

an (

u.a.

)

Número de onda (cm-1)

2,0 mW 3,1 mW 5,0 mW 8,0 mW 12,0 mW

Figura 3.17: Espectro Raman de nanopartículas de maghemita sem cobertura de ácido oleico (amostra PNH8), obtido para diferentes potências de excitação (2,0; 3,1; 5,0; 8,0; 12,0 mW).

54

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0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8

0,0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

Inte

nsid

ade

Ram

an (

u.a.

)

Número de onda (cm-1)

0,2 mW 0,3 mW 0,5 mW 0,8 mW 1,2 mW

Figura 3.18: Espectro Raman de nanopartículas de maghemita funcionalizada com ácido oleico (amostra PNH8-AO), obtido para diferentes potências de excitação (0,2; 0,3; 0,5; 0,8; 1,2 mW).

0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

1,2

1,4

1,6

Inte

nsid

ade

Ram

an (

u.a.

)

Número de onda (cm-1)

2,0 mW 3,1 mW 5,0 mW 8,0 mW12,0 mW

Figura 3.19: Espectro Raman de nanopartículas de maghemita funcionalizada com ácido oleico (amostra PNH8-AO), obtido para diferentes potências de excitação (2,0; 3,1; 5,0; 8,0; 12,0 mW).

55

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0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

Inte

nsid

ade

Ram

an (

u.a.

)

Número de onda (cm-1)

0,2 mW 0,3 mW 0,5 mW 0,8 mW 1,2 mW

Figura 3.20: Espectro Raman de nanopartículas de maghemita sem cobertura de ácido oleico (amostra PAB01), obtido para diferentes potências de excitação (0,2; 0,3; 0,5; 0,8; 1,2 mW).

0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,80,4

0,6

0,8

1,0

1,2

1,4

1,6

1,8

2,0

2,2

Inte

nsid

ade

Ram

an (

u.a.

)

Número de onda (cm-1)

2,0 mW 3,1 mW 5,0 mW 8,0 mW12,0 mW

Figura 3.21: Espectro Raman de nanopartículas de maghemita sem cobertura de ácido oleico (amostra PAB01), obtido para diferentes potências de excitação (2,0; 3,1; 5,0; 8,0; 12,0 mW).

56

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0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

1,2

1,4

0,2 mW 0,3 mW 0,5 mW 0,8 mW 1,2 mW

Inte

nsid

ade

Ram

an (

u.a.

)

Número de onda (cm-1)

Figura 3.22: Espectro Raman de nanopartículas de maghemita funcionalizada com ácido oleico (amostra PAB01-AO), obtido para diferentes potências de excitação (0,2; 0,3; 0,5; 0,8; 1,2 mW).

0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

1,2

1,4

1,6

1,8 2,0 mW 3,1 mW 5,0 mW 8,0 mW12,0 mW

Inte

nsid

ade

Ram

an (

u.a.

)

Número de onda (cm-1)

Figura 3.23: Espectro Raman de nanopartículas de maghemita funcionalizada com ácido oleico (amostra PAB01-AO), obtido para diferentes potências de excitação (2,0; 3,1; 5,0; 8,0; 12,0 mW).

57

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3.4.3 Aparato experimental

As medidas de espectroscopia Raman apresentadas neste trabalho foram realizadas

em um espectrômetro triplo Jobin-Yvon modelo T64000 em configuração subtrativa

utilizando um microscópio óptico (micro-Raman –objetiva de 50X – diâmetro do laser em

torno de 5 mµ ). Um laser de Argônio, sintonizado no comprimento de onda de 514,4 nm,

foi usado para excitar as amostras. A variação da potência de excitação foi realizada com a

utilização de filtros de densidade neutra nº 2,0; 1,8; 1,6; 1,4; 1,2; 0,8; 0,6; 0,4 e 0,2. No

entanto o sinal Raman foi detectado, utilizando um fotodetector CCD resfriada a nitrogênio

líquido. A figura 3.24 apresenta parte do esquema do aparato experimental utilizado

(TEIXEIRA, E. 2002).

Figura 3.24: Detalhe do esquema experimental das medidas Raman.

As medidas de espectroscopia Raman foram realizadas no Laboratório de

Espectroscopia ótica do Instituto de Física da Universidade de Brasília – UnB.

58

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Capítulo 4

Resultados experimentais

Neste capítulo será apresentado o conjunto de resultados e discussões dos dados

experimentais obtidos por meio da técnica de espectroscopia fotoacústica durante o

desenvolvimento deste trabalho. As medidas experimentais de fotoacústica foram

realizadas no Laboratório de Ciências dos Materiais do Instituto de Física da Universidade

de Brasília - UnB. Os dados experimentais obtidos serão analisados usando um simples

modelo que será discutido ao longo do texto.

Resultados e discussões

Foram investigadas amostras de fluidos magnéticos contendo nanopartículas de

maghemita funcionalizadas com ácido oleico e dispersas em óleo mineral ou vegetal

isolante nomeados de: FMOM-S – (fluido magnético à base de óleo mineral sem aquecer),

FMOM – (fluido magnético à base de óleo mineral aquecido), FMOV-S – (fluido

magnético à base de óleo vegetal sem aquecer) e FMOV – (fluido magnético à base de óleo

vegetal aquecido).

Com as características presentes na região da banda L (figuras 4.1 a 4.4), mais

precisamente na região de 0,64 a 0,83 mµ foi possível investigar o fenômeno da dessorção

de moléculas da superfície das nanopartículas nas amostras de fluidos magnéticos,

ocasionado pelo processo de diluição. Para isso, a partir das amostras de fluidos magnéticos

59

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citadas acima foram realizadas diluições em cinco proporções diferentes: 1:1, 1:1,5, 1:2,5,

1:3,5 e 1:4,0. A amostra 1:1, por exemplo, foi obtida da mistura de um volume de amostra

de fluido magnético com um volume de óleo mineral. O mesmo procedimento foi realizado

nas amostras à base de óleo vegetal.

As quatro amostras de fluidos magnéticos investigadas têm sinais fotoacústicos

observados na faixa de comprimentos de onda variando de 0,3 a 1,0 mµ e todos os

espectros foram obtidos à temperatura ambiente.

0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0

0,0

0,4

0,8

1,2

1,6

2,0

band-S

band-L

Inte

nsid

ade

(a.u

.)

Comprimento de onda (µm)

FMOM-S 2:5 FMOM-S 1:1 FMOM-S 1:1,5 FMOM-S 1:2,5 FMOM-S 1:3,5 FMOM-S 1:4,0

Figura 4.1: Espectro de fotoacústica da amostra FMOM-S (sem aquecer) com as respectivas diluições.

60

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0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,00,0

0,4

0,8

1,2

1,6

2,0

band-L

band-S

Inte

nsid

ade

(a.u

.)

Comprimento de onda (µm)

FMOM 2:5 FMOM 1:1 FMOM 1:1,5 FMOM 1:2,5 FMOM 1:3,5 FMOM 1:4,0

Figura 4.2.: Espectro de fotoacústica da amostra FMOM (aquecida) com as respectivas diluições (MORAIS et al., 2009).

0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0

0,0

0,4

0,8

1,2

1,6

2,0

2,4

band-S

band-L

Inte

nsid

ade

(a.u

.)

Comprimento de onda (µm)

FMOV-S 2:5 FMOV-S 1:1 FMOV-S 1:1,5 FMOV-S 1:2,5 FMOV-S 1:3,5 FMOV-S 1:4,0

Figura 4.3: Espectro de fotoacústica da amostra FMOV-S (sem aquecer) com as respectivas diluições.

61

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0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,00,0

0,5

1,0

1,5

2,0

band-L

band-S

Inte

nsid

ade

(u.a

.)

Comprimento de onda (µm)

FMOV 2:5 FMOV 1:1 FMOV 1:1,5 FMOV 1:2,5 FMOV 1:3,5 FMOV 1:4,0

Figura 4.4: Espectro de fotoacústica da amostra FMOV (aquecida) com as respectivas diluições.

Na região de comprimento de onda de 0,64 a 0,83 mµ da banda L (figuras 4.1 a 4.4)

foi calculada a área dos espectros fotoacústicos das amostras de fluidos magnéticos

diluídos e em seguida normalizados em relação à área da amostra inicial ( )0A (amostra na

proporção 1:1) dando origem aos dados da área normalizada ( )0AA , onde A representa a

área das amostras diluídas e 0A área da amostra inicial. As proporções 1:1, 1:1,5, 1:2,5,

1:3,5 e 1:4,0 representam as concentrações das amostras. Portanto a concentração de

nanopartículas foi normalizada em relação à concentração da amostra inicial (amostra na

proporção 1:1) gerando os dados da concentração normalizada de nanopartículas

( )0CCc = , onde c é a concentração da amostra na proporção 1:1 que foi tomada como

referencial para a normalização das demais concentrações. Esse mesmo procedimento foi

realizado em todas as amostras de fluidos magnéticos investigados neste trabalho. Sendo

assim, foi possível registrar os dados da área normalizada ( )0AA em função da

concentração normalizada de partículas ( )0CCc = conforme se observa nas figuras 4.5 a

4.8.

62

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O modelo desenvolvido neste trabalho para o fenômeno da dessorção molecular se

ajusta muito bem aos dados experimentais obtidos. O modelo refere-se à questão das

mudanças observáveis na superfície de nanopartículas de óxidos de ferro após serem

diluídas em solvente quase inerte. Em solventes inertes, o líquido carreador consiste de

moléculas não interagentes com sítios localizados na superfície de nanopartículas. Após a

diluição inicia-se o processo de dessorção da cobertura molecular das nanopartículas. Após

o colóide alcançar a condição de equilíbrio um dado número de cobertura de moléculas

livres ( )BN encontra-se no líquido carreador, representando um estado de equilíbrio

dinâmico. Com a adição de mais solvente, mais dessorção de moléculas da superfície toma

lugar, atingindo depois de algum tempo, uma nova condição de equilíbrio dinâmico, com

menor quantidade de moléculas na superfície da nanopartícula ( ).SN

A origem do processo de dessorção é o gradiente de pressão osmótica ( )∆Π

relacionado às espécies da cobertura molecular. Entretanto, este gradiente de pressão

osmótica é estabelecida entre a superfície composta pelo líquido carreador ( )BΠ e pela

superfície da nanopartícula ( )SΠ . Portanto, o aumento da concentração ( )c de

nanopartículas suspensas no fluido reduz o processo de dessorção. Neste caso, assume-se

uma relação linear entre o gradiente de pressão osmótica e o gradiente de cobertura

molecular nas duas superfícies, este último sendo dado por:

SB NNN −=∆ (4.1)

Assim, na condição de estado de equilíbrio tem-se:

( )SBS NN

dc

dN−≈

(4.2)

A equação 4.2 pode ser escrita da seguinte forma:

−=

C

NN

dc

dN SBS

(4.3)

A solução da equação diferencial em 4.3 fornece:

( )∗−−= Cc

B

S

N

Nexp1 ,

(4.4)

63

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Considerando o valor de BN para as amostras iniciais têm-se ,RB KNN = onde RN

é o valor referencial associado à superfície de nanopartículas. Considerando a relação linear

entre a área associada aos espectros fotoacústicos e o número de moléculas associadas à

cobertura molecular da nanopartícula tem-se que 0AANN RS ≈ . Sendo assim podemos

escrever a equação para área normalizada:

[ ]∗−−= CcK

A

Aexp1

0

(4.5)

onde K representa a constante de proporcionalidade entre ( )0AA e ( ),RS NN

representando o valor máximo da razão de área ( )MÁXAA 0 . A constante ∗C representa o

valor de concentração normalizada ( )c para atingir-se 63,2% de ( )MÁXAA 0 .

0,20 0,25 0,30 0,35 0,40 0,45 0,50

0,92

0,96

1,00

1,04

1,08

Áre

a N

orm

aliz

ada

(A/A

0)

Concentração normalizada (C/C0)

dados experimentais ajuste

Figura 4.5: Área normalizada versus a concentração normalizada da nanopartícula (amostra FMOM-S). A área sob o espectro fotoacústico foi obtida a partir do espectro obtido na faixa de comprimento de onda 0,64 a 0,83 m.µ

64

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0,20 0,25 0,30 0,35 0,40 0,45 0,50

0,68

0,72

0,76

0,80

0,84

Áre

a no

rmal

izad

a (A

/A0)

Concentração normalizada (C/C0)

dados experimentais ajuste

Figura 4.6: Área normalizada versus a concentração normalizada da nanopartícula (amostra FMOM). A área sob o espectro fotoacústico foi obtida a partir do espectro obtido na faixa de comprimento de onda 0,64 a 0,83 mµ (MORAIS et al., 2009).

0,20 0,25 0,30 0,35 0,40 0,45 0,50

1,1

1,2

1,3

1,4

1,5

1,6

1,7

1,8

1,9

Áre

a no

rmal

izad

a (A

/A0)

Concentração normalizada (C/C0)

dados experimentais ajuste

Figura 4.7: Área normalizada versus a concentração normalizada da nanopartícula (amostra FMOV-S). A área sob o espectro fotoacústico foi obtida a partir do espectro obtido na faixa de comprimento de onda 0,64 a 0,83 m.µ

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0,20 0,25 0,30 0,35 0,40 0,45 0,50

0,36

0,38

0,40

0,42

0,44

0,46

0,48

0,50

Áre

a N

orm

aliz

ada

(A/A

0)

Concentração normalizada (C/C0)

dados experimentais ajuste

Figura 4.8: Área normalizada versus a concentração normalizada da nanopartícula (amostra FMOV). A área sob o espectro fotoacústico foi obtida a partir do espectro obtido na faixa de comprimento de onda 0,64 a 0,83 m.µ

Nas figuras 4.5 a 4.8 os pontos são dados experimentais e a linha sólida representa o

melhor ajuste usando a equação 4.5. A tabela 4.1 mostra os resultados numéricos obtidos

para a constante de proporcionalidade K e a concentração normalizada de nanopartículas

∗C usando a equação 4.5.

Tabela 4.1: Parâmetros obtidos

Comprimento de onda (Banda-L)

0,64 a 0,83 mµ

Amostra: maghemita

K ∗C FMOM-S 1,07 0,097

FMOV-S 2,16 0,25

FMOM 0,83 0,12

Fluidos

FMOV 0,52 0,16

Os resultados obtidos da tabela 4.1 mostram que a redução da intensidade do sinal

fotoacústico com o aumento da diluição na banda L, foi explicada através do surgimento de

um gradiente de pressão osmótica entre as duas superfícies envolvidas, isto é, a superfície

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da nanopartícula e a do líquido carreador. Os resultados numéricos de K indicam o valor

máximo da área normalizada para as amostras investigadas e a concentração normalizada

de nanopartículas reflete a estabilidade dos fluidos magnéticos em relação ao procedimento

de diluição. Neste sentido, o fluido magnético à base de óleo mineral apresenta maior

estabilidade que o fluido magnético à base de óleo vegetal, no que concerne ao processo de

dessorção molecular causado pela diluição. Para um mesmo líquido carreador (óleo vegetal

ou mineral) o procedimento de aquecimento afeta a estabilidade da camada molecular de

cobertura. As tendências, no entanto, são opostas para os dois tipos de óleos investigados.

A estabilidade quanto à dessorção é aumentada devido ao aquecimento para o caso de óleo

mineral e reduzida para o caso do óleo vegetal.

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Capítulo 5

Conclusão e perspectivas

Com base nos resultados obtidos utilizando a técnica de espectroscopia fotoacústica

podemos concluir que as mudanças na intensidade do sinal (redução), representado pela

área sob o espectro fotoacústico na região da banda L (0,64 a 0,83 mµ ), devido à dessorção

molecular ocasionada pela adição de solvente, pode ser compreendida pelo surgimento de

um gradiente de pressão osmótica na superfície da nanopartícula/líquido carreador. O

modelo para o fenômeno da dessorção molecular é o primeiro a ser proposto e fornece uma

descrição simples e precisa dos dados experimentais.

Os resultados numéricos do parâmetro ∗C (equação 4.5) descrevem o

comportamento da estabilidade da cobertura molecular das amostras que foram

investigadas neste trabalho. Conclui-se da análise dos dados que amostras de fluidos

magnéticos em óleo mineral sem aquecimento apresentam maior estabilidade que o fluido

magnético em óleo vegetal sem aquecer, em relação à dessorção da camada molecular das

nanopartículas. O aquecimento de um fluido magnético afeta de forma geral a estabilidade

de um material seja ele mineral ou vegetal. No entanto, foi possível observar que o

aquecimento das amostras investigadas, em relação ao processo de dessorção, produziu um

aumento significativo da estabilidade nas amostras de fluidos magnéticos em óleo mineral

e uma redução nas amostras em óleo vegetal.

Sendo assim, observa-se que como os fluidos magnéticos à base de óleo mineral

apresentaram estabilidade, eles podem vir a ser utilizados em transformadores de alta

tensão.

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Como perspectivas futuras serão analisadas os dados experimentais das amostras de

nanopartículas de maghemita (pó), sem cobertura e funcionalizada em ácido oleico, obtidos

por espectroscopia Raman (figuras de 3.16 a 3.23). A análise detalhada compreenderá os

modos de vibração bem como um modelo para ajuste dos dados experimentais. Faremos

também investigações em amostras de fluidos magnéticos concentrados e diluídos (amostra

PAB01), usando a técnica de birrefringência magnética estática.

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