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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS CURSO DE GRADUAÇÃO EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS Ana Paula Rieck de Mattos INVESTIMENTO DIRETO EXTERNO E O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES BRASILEIRAS NO PROCESSO DE INTERNACIONALIZAÇÃO DAS EMPRESAS NACIONAIS Santa Maria, 2015

INVESTIMENTO DIRETO EXTERNO E O PAPEL DAS …nucleoprisma.org/wp-content/uploads/2016/03/MATTOS_2015.pdf · Investimento Direto Externo sob o ponto de vista institucional. A atuação

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS

CURSO DE GRADUAÇÃO EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Ana Paula Rieck de Mattos

INVESTIMENTO DIRETO EXTERNO E O PAPEL DAS

INSTITUIÇÕES BRASILEIRAS NO PROCESSO DE

INTERNACIONALIZAÇÃO DAS EMPRESAS NACIONAIS

Santa Maria, 2015

INVESTIMENTO DIRETO EXTERNO E O PAPEL DAS

INSTITUIÇÕES BRASILEIRAS NO PROCESSO DE

INTERNACIONALIZAÇÃO DAS EMPRESAS NACIONAIS

Ana Paula Rieck de Mattos

Monografia realizada apresentada ao Curso de Relações Internacionais,

da Universidade Federal de Santa Maria como requisito parcial para

obtenção do grau de

Bacharel em Relações Internacionais.

Orientador: Uacauan Bonilha

Santa Maria, RS, Brasil

2015

1

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS

CURSO DE GRADUAÇÃO EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS

A Comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova a monografia de

Graduação

INVESTIMENTO DIRETO EXTERNO E O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES

BRASILEIRAS NO PROCESSO DE INTERNACIONALIZAÇÃO DAS

EMPRESAS NACIONAIS

Elaborada por

Ana Paula Rieck de Mattos

como pré-requisito para obtenção do título de

Bacharel em Relações Internacionais

COMISSÃO EXAMINADORA

Uacauan Bonilha, Dr, (Presidente/Orientador)

__________________, Dr. (UFSM)

__________________, Dr. (UFSM)

Santa Maria, 2015.

2

RESUMO

Trabalho de Conclusão de Curso Curso de Relações Internacionais

Universidade Federal de Santa Maria

INVESTIMENTO DIRETO EXTERNO E O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES

BRASILEIRAS NO PROCESSO DE INTERNACIONALIZAÇÃO DAS

EMPRESAS NACIONAIS

AUTORA: ANA PAULA RIECK DE MATTOS

ORIENTADOR: UACAUAN BONILHA

Neste trabalho é estudada a Internacionalização de empresas via

Investimento Direto Externo sob o ponto de vista institucional. A atuação das

instituições de iniciativa estatal está inegavelmente presente no processo de

internacionalização das empresas brasileiras e também de empresas a nível

mundial. Com intuito de demonstrar o papel das instituições brasileiras para o

desenvolvimento da estratégia de investimento direto externo no país são

apresentadas as principais instituições nacionais de incentivo ao investimento

direto externo e suas contribuições.

Palavras-chave: Internacionalização. Instituições. Investimento direto externo.

3

ABSTRACT

Senior Thesis International Relations Major

Universidade Federal de Santa Maria

FOREIGN DiRECT INVESTMENT AND THE ROLE OF BRAZILIAN INSTITUTIONS IN THE INTERNACIONALIZATION PROCESS OF THE

NATIONAL COMPANIES

AUTHOR: ANA PAULA RIECK DE MATTOS ADVISER: UACAUAN BONILHA

This thesis studies the process of internationalization of companies by

Foreign Direct Investments under the institutional point of view. The performance

of the State institutions is undeniably present on the process of

internationalization of Brazilian companies and also worldwide ones. The present

thesis presents the main theories of internationalization and its relation to foreign

direct investments, as well as an approach that presents the importance of the

institutions role in the scope of analysis of internationalization of companies. With

the goal to demonstrate the role of the Brazilian institutions for the development

of the foreign direct investment strategy in the country, it is presented here the

main national institution of incentive of the FDI and its contributions.

Key words: Internationalization. Institutions. Foreign direct investment.

4

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

TABELA 1- Participação relativa dos investimentos brasileiros no total de

investimentos diretos realizados – mundo, países em desenvolvimento e países

da América Latina (em %)

5

LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1 - Investimento brasileiro direto - participação no capital (US$

milhões

GRÁFICO 2 - Número de operações de internacionalização por região

GRÁFICO 3 - Número de operações de internacionalização por setor

6

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 – Conceito de internacionalização de empresas

QUADRO 2 – Breve resumo das teorias de internacionalização econômicas

QUADRO 3 – Breve resumo sobre as teorias de internacionalização

comportamentais

QUADRO 4 – Barreiras A Investimento Externo Direto Brasileiro

QUADRO 3 – Iniciativas governamentais na América do Sul

QUADRO 4 – Visão do MRE sobre o IDE Brasileiro

7

LISTA DE ANEXOS

Anexo 1 – Breve Resumo das Teorias de Internacionalização – viés econômico

Anexo 2 – Breve Resumo das Teorias de Internacionalização – viés

comportamental

8

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.............................................................................................9

2 O IDE E AS ESTRATÉGIAS DE INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS...................................................................................................12

2.1 AS TEORIAS DE INTERNACIONALIZAÇÃO E O IDE...............................14

2.1.1 AS TEORIA ECONOMICAS.....................................................................14

2.1.2 A TEORIA COMPORTAMENTAL.............................................................17

2.2 A PERSPECTIVA INSTITUCIONAL............................................................18

3 O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES NA INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS VIA INVESTIMENTO DIRETO EXTERNO............ 21

4.1 O INVESTIMENTO DIRETO EXTERNO BRASILEIRO...............................21 4.2 AS INSTITUIÇÕES DE INICIATIVA ESTATAL BRASILEIRAS...................27

4.2.1 APEX-BRASIL..........................................................................................27

4.2.2 O BNDES..................................................................................................30 4.2.3 O MRE......................................................................................................35

4 CONCLUSAO............................................................................................40

5 BIBLIOGRAFIA.........................................................................................42

6 ANEXOS......................................................................................................46

9

1 INTRODUÇÃO

A internacionalização de uma empresa consiste na expansão geográfica

das atividades econômicas de uma empresa para além das fronteiras nacionais

de seu país de origem. (RUZZIER; HISRICH; ANTONCIC; 2006). O investimento

direto externo visa adquirir um interesse duradouro em uma empresa cuja

exploração ocorre em outro país que não o do investidor e com o objetivo de

influir efetivamente na gestão da empresa em questão (IMF 1998). Um

investimento estrangeiro é cosiderado investimento direto quando este detém

uma participação no capital de, no mínimo, 10%, e pode exercer influência sobre

a gestão da empresa receptora. (OECD, 1987).

A tendência do investimento direto externo, como parte do processo de

internacionalização de empresas está presente nas teorias formadas em torno

deste. Na teoria de Poder de Mercado a motivação para a internacionalização é

apresentada como o esgotamento da possibilidade de crescimento da firma no

mercado interno, na teoria da Internalização o motivo para a internacionalização

é a busca por eficiência máxima entre benefícios e custos e a as motivações do

paradigma eclético são as de propriedade, localização e internalização. Quanto

à teoria comportamental de Uppsala, a internacionalização é atribuída a um ciclo

gradual no processo de evolução da firma.

Propondo hipóteses sobre como as empresas realizam a sua inserção no

mercado internacional e sobre as motivações destas para tal, as teorias,

portanto, contemplam quesitos macroeconômicos, comportamentais, materiais e

de mão-de obra, no entanto, nota-se a ausência da análise do papel das

instituições nesses processos.

A evolução dos investimentos brasileiras começa de forma tímida a partir

de 1990. Com um caráter defensivo foram concentrados em poucas empresas e

setores nas áreas de serviço, tais como engenharia e construção civil e setor

10

financeiro, e de produção de commodities. No ano de 2004 há o surgimento de

um novo contexto doméstico internacional, no qual os fluxos de IDE do Brasil e

países emergentes em geral ganham maior importância. O país então, apesar

da pequena representatividade das empresas brasileiras entre as maiores dos

países em desenvolvimento em termo de ativos do exterior, passa a caminhar a

passos relativamente firmas rumo à internacionalização de empresas. Deve-se

destacar que o aumento de representatividade no período, coincide com a

implementação de políticas de incentivo a IDEs por parte do BNDES que começa

em 2003. A relação entre os fluxos de IDE recebido e realizado que no período

2001-2003 que registrava apenas 1%, saltou para 51,7% no período 2004-2008,

ou seja, para cada US$ 2,00 de investimento recebido pelo país foi investido US$

1,00 no exterior. (HIRATUKA E SARTI, 2011).

A partir de 2008, com a chegada da crise mundial o movimento dos IDEs

brasileiros entra em processo de recessão, no entanto, nos anos de 2010 e 2012,

ocorre uma recuperação rápida nos dados de investimentos externos brasileiros,

o que reitera, mais uma vez, o potencial de evolução presente nesta estratégia

de aumento do nível internacionalização.

Para os teóricos de internacionalização de empresas, segundo Mundabi

e Navarra (2002), a abordagem de estruturas institucionais nos países é

totalmente desconsiderada ou tratada como um fator secundário e não

importante. A ideia central apresentada pelos autores, portanto, é a necessidade

de integrar a atuação das instituições nas teorias, uma vez que “as instituições

afetam a capacidade das firmas de interagirem, portanto afetam os custos

relativos de transações e coordenação de custos de produção e inovação”

(MUNDABI E NAVARRA, 2002).

A inclusão do ponto de vista institucional pode fornecer oportunidades de

desenvolvimento tanto para a economia nacional como um todo, por meio das

mãos das instituições, quanto para os empreendedores da área privada que

desejam aumentar a receita de sues empresas por meio de investimentos

11

internacionais podendo contribuir também para o enriquecimento das teorias de

internacionalização de empresas, que, como dito anteriormente, não incluem a

relevância das instituições no seu escopo de análise.

O trabalho a seguir tem por objetivo analisar o papel assumido pelas

instituições de iniciativa estatal brasileiras no processo de internacionalização de

empresas com foco na estratégia de Investimento Direto Externo. Demonstrando

sua importância apresentando primeiramente, as teorias de internacionalização

mais utilizadas atualmente e como essas se relacionam com a realização de IDE,

bem como a perspectiva institucional utilizada. Após, passará para uma análise

a nível nacional, apresentando dados sobre o IDE brasileiro para, por fim,

demonstrar as formas e políticas atuação das instituições de iniciativa estatal

brasileiras no processo de internacionalização de empresas brasileiras via

investimento direto externo.

No capítulo 2, serão abordadas três teorias de internacionalização de

empresas de viés econômico: Teoria do Poder de Mercado, Teoria da

Internalização e Paradigma Eclético de Dunning e uma de viés comportamental:

a Teoria de Uppsala, e suas considerações e hipóteses sobre a

internacionalização via IDE. Ao final do capítulo, é apresentada a perspectiva

institucional, ponto chave do trabalho, que tem como ideia central a necessidade

de integrar a atuação das instituições no estudo de teorias de

internacionalização.

A seguir no Capítulo 3, um breve histórico da evolução dos IDEs

brasileiros a partir de 1990 é apresentado e, após, chegamos às contribuições

das principais instituições estatais brasileiras para incentivas o aumento dos

investimentos diretos externos brasileiros: BNDES, APEX e MRE. No Capítulo

4, por fim, apresenta-se uma compilação dos resultados e conclusões acerca da

pesquisa realizada juntamente a sugestões sobre possíveis estudos futuros.

12

2 O IDE E AS TEORIAS DE INTERNACIONALIZAÇÃO DE

EMPRESAS

Este capítulo destinado ao embasamento teórico e conceitual buscará

apresentar a relação estabelecida entre as teorias de internacionalização de

empresas e o processo de internacionalização via investimento direto externo.

Também irá apresentar a perspectiva institucional, trazida para contribuir na

discussão do investimento direto externo e o papel das instituições brasileiras.

As teorias apresentadas se dividem em duas linhas, a de perspectiva econômica

– teoria do poder de mercado, de internalização e paradigma eclético – e a de

comportamental – o modelo de Uppsala.

As teorias comportamentais supõe que processo de internacionalização

depende dos tomadores de decisão, que seriam orientados pela busca da

redução de risco nas decisões sobre onde e como expandir. As teorias de viés

econômico buscariam soluções racionais para as questões de

internacionalização, sendo essas orientadas para um caminho de decisões que

trouxessem a maximização dos retornos econômicos. (CARNEIRO E DIB, 2007).

Antes da apresentação das teorias, apresenta-se aqui a sistematização

de Souza e Fenilli (2012) sobre o conceito de internacionalização de empresas,

onde se pode notar a importância do IDE para todo o processo.

QUADRO 1 – Conceito de internacionalização de empresas

CONCEITO DE INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS

Processo pelo qual as empresas gradualmente aumentam seu envolvimento

em negócios internacionais. (JOHANSON; VAHLNE, 1977)

13

Processo de envolvimento crescente em operações internacionais, no sentido

do contexto doméstico para mercados estrangeiros e vice-versa. (WELCH;

LUOSTARINEN, 1988)

Processo pelo qual as firmas tanto aumentam sua consciência de investimento

direto e indireto de transações internacionais sobre seu futuro, quanto

estabelecem e conduzem transações com outros países. (BEAMISH, 1990)

Processo de incremento do envolvimento da firma em operações

internacionais. (CALOF; BEAMISH, 1995)

Processo de adaptação da modalidade de troca comercial a mercados

internacionais. (ANDERSEN, 1997)

Processo cumulativo, no qual relações são continuamente estabelecidas,

mantidas, desenvolvidas, rompidas e dissolvidas no intuito da consecução dos

objetivos da firma. (JOHANSON; MATTSSON, 1988)

Desenvolvimento de redes de relacionamento de negócios em outros países

através de extensão, penetração e integração. (JOHANSON; VAHLNE, 1990)

Processo de mobilização, acumulação e desenvolvimento de estoques de

recursos para atividades internacionais.

(AHOKANGAS, 1998)

Expansão geográfica das atividades econômicas de uma empresa para além

das fronteiras nacionais de seu país de origem. (RUZZIER; HISRICH;

ANTONCIC; 2006)

Fonte: Souza e Fenilli (2012)

A noção de investimento direto externo já é apresentada como parte do

conceito de internacionalização de Beamish (1990), podendo-se então assumir

o investimento externo como significante parte do processo de

internacionalização. O que pode se confirmar também analisando os conceitos

de Joahanson e Vahlne (1990) destacando-se o termo “penetração” e a definição

de Welch e Luostarinen (1998) “no sentido do contexto doméstico para mercados

estrangeiros”.

14

2.1 AS TEORIAS DE INTERNACIONALIZAÇÃO E O IDE

A seguir será apresentada a relação do IDE com as teorias de

internacionalização de empresas, além disso em anexo estão disponíveis breves

resumos com a complicação dos principais apontamentos de cada uma, para

maior esclarecimento caso necessário.

2.1.1 AS TEORIAS ECONÔMICAS

Nonnemberg e Mendonça (2005) apontam, na Teoria de Poder de

Mercado de Hymer, os motivos pelos quais uma empresa multinacional teria

capacidade de concorrer com as empresas locais, sendo então motivada a

realizar o IDE no lugar de exportações. São eles a concorrência imperfeita, por

exemplo, dada por diferenciação de produto, a concorrência imperfeita no

mercado de fatores, por exemplo, acesso ao conhecimento patenteado ou

próprio, discriminação no acesso ao capital ou as diferenças de capacitação,

economias de escala internas ou externas, inclusive as dadas por integração

vertical, e a intervenção governamental, com restrições às importações.

Vale também destacar a contribuição apontada por Graham (2002) de que

tal teoria situa a empresa multinacional como principal agente de Investimento

Direto Externo tomando para si o esforço de identificar as razões para que uma

firma inicie investimentos internacionais, seguindo a lógica apontada no anexo

1.

Ainda num esforço de enumeração de motivações de uma firma para a

realização do IDE na Teoria de Poder de Mercado são citadas a propriedade e

existência de vantagens específicas da empresa como patentes, recursos para

investimentos, maiores capacidades e qualidades administrativas, tecnológica,

financeiras; manutenção de mercados; dificuldades na expansão interna;

15

comportamento das firmas rivais; reorganização das plantas industriais em

escala global; controle e integração das ações da matriz com as operações

internacionais; a diversificação dos riscos operacionais; e ganhar o controle de

firmas em mais de um país, o que diminuiria a concorrência. (IETTO E GILLIES

2002, APUD FERREIRA, NETO E GOMES 2014). Para Ferreira, Neto e Gomes

(2014) o grande motivador para a realização do IDE nesta teoria é a dificuldade

crescente da firma aumentar o seu poder de mercado, ao atingir um ponto de

saturação no mercado doméstico.

Na Teoria da Internalização Ferreira, Neto, e Gomes afirma que esta

“dedica-se a aclarar a relação entre custos e benefícios de se coordenar as

atividades econômicas transnacionais internamente por meio da gestão da firma

ao invés de externamente por meio do mercado”. Para os autores “o principal

determinante dos IDEs seriam os custos de transação – custos associados à

busca de informações, ao cumprimento de contratos e custos derivados da renda

relativa apropriada pelos importadores com a venda do produto da empresa. ”.

Nas palavras de Carneiro e Dib, na teoria em questão “pode-se considerar

que qualquer produto ou serviço, tecnologia, know-how ou atividade poderia ser

internalizado em outros países, desde que existam vantagens de custos de

transação em fazê-lo”. Para os autores, portanto, a discriminação na escolha de

países é determinada apenas pelos custos de internalização. Por fim, “quando a

internalização de mercados ocorrer através de fronteiras geográficas, irá gerar

empresas multinacionais.” (CARNEIRO E DIB, 2007).

Para iniciar a análise e complementação da última teoria econômica, o

Paradigma Eclético, vale o destaque para os três pilares que também a tornam

conhecida como Teoria OLI. Tais pilares tentam explicar a amplitude do

paradigma de Dunnig e são: Ownership, Location e Internalization. O primeiro

corresponde a vantagens de propriedade da firma, o segundo às vantagens de

localização, tais como preços de mão de obra, matérias-primas, transportes, etc.

E o último “vantagens que decorrem da empresa garantir as atividades num outro

16

país através dos seus próprios meios e não recorrendo a uma terceira entidade”.

(FERREIRA, NETO E GOMES, 2014).

Amal e Seabra (2007) apresentam as quatro classificações de Brewer

para o investimento da firma no exterior baseadas no paradigma eclético de

Dunning. A primeira, denominada market seeking projects, tem por finalidade

maior atender as necessidades do mercado interno do país em que se está

realizando o IDE. “Mas, em geral, podem resultar numa situação de criação de

comércio, particularmente, quando as novas subsidiárias instaladas utilizam-se

de produtos intermediários do país de origem do investimento no seu processo

de produção” (RUGMAN E VERBEKE 2002 APUD AMAL E SEABRA). Esta

classificação de IDE relaciona-se com as vantagens de Location apresentadas

por Dunning, por ressaltar a vantagem de localização da firma no exterior e tem

efeito direto a substituição de importações.

A segunda classificação apresentada pelos autores é a de efficiency-

seeking projects. Relaciona-se com as vantagens de Internalization, uma vez

que esta é a realização de IDEs com intuito de diminuição de custos de produção

pela internalização dos processos de produção, onde ocorre “a racionalização

da produção em uma cadeia internacional de modo a aproveitar economias de

escala e escopo possibilitadas pela gestão unificada de atividades produtivas

geograficamente dispersas.”. (AMAL E SEABRA, 2007). O investimento direto

externo, nesse caso, gera comércio intrafirma e afeta tanto o mercado interno da

firma, quanto os mercados a nível internacional.

A estratégia de resource-seeking é classificada como uma estratégia de

busca de matéria prima e mão de obra com menores custos em outros países,

estando essa ligada às vantagens de location de Dunning.

Por fim a estratégia de asset-seeking é realizada por meio de “novas

plantas fabris, fusões ou operações de joint ventures. O objetivo é garantir a

realização de sinergias com o conjunto de ativos estratégicos já existentes

17

através de uma estrutura de propriedade comum para atuar em mercados

regionais ou globais” (AMAL E SEABARA, 2007).

2.2.4 A TEORIA COMPORTAMENTAL

Similar à Teoria de Poder de Mercado o comportamental Modelo de

Uppsala afirma que o primeiro movimento para um mercado estrangeiro ocorre

quando a empresa percebe a limitação de sua possibilidade de expansão no

mercado nacional. “Entretanto, o comprometimento adicional de recursos em

qualquer país somente ocorreria conforme a empresa adquirisse o nível

adequado de conhecimento advindo da experiência naquele país.” (CARNEIRO

E DIB, 2007).

Sobre o processo gradual de internacionalização abordado pela Uppsala,

os autores colocam:

as empresas primeiramente iriam explorar seus mercados domésticos, depois lentamente começariam a exportar. A atividade inicial de exportação poderia ser indireta, através de agentes. Com o passar do tempo, seriam estabelecidas subsidiárias de vendas. O aumento do comprometimento com o mercado internacional teria seu ápice com o estabelecimento de unidades de produção no estrangeiro. (CARNEIRO E DIB, 2007 p.14).

O Investimento Externo Direto seria, portanto, a instância máxima da

internacionalização da empresa na qual os níveis de familiarização com o

mercado internacional por parte da firma estão altos e o cenário econômico tanto

da firma quanto da economia do país estrangeiro se encontram em momento

favorável.

18

2.2 A PERSPECTIVA INSTITUCIONAL

A abrangência das teorias de internacionalização apresentadas acima,

apresentam de pouco a nenhum material sobre o papel das instituições no

processo de internacionalização de empresas. Ao abordarem as motivações e

benefícios para a realização de IDEs, desconsideram a conjuntura política e

econômica do país de origem e a atuação das instituições instaladas pelo

Estado, o que em uma carência de material no momento em que se decide incluir

ou mesmo estudar especificamente as instituições no cenário da

internacionalização de empresas.

Com objetivo de uma teorização sobre o papel destas instituições e

coloca-las em destaque Ram Mudambi e Pietro Navarra (2002) escrevem

“Institutions and internation business: a theoretical overview”. Os autores iniciam

o artigo destacando que a vantagem competitiva de um local vem

tradicionalmente sendo analisada em termos de condições macroeconômicas.

Condições essas sendo, por exemplo, determinadas pelo tamanho e

crescimento de um mercado, pelas vantagens de mão de obra, pelas margens

possíveis de lucro e a pela inflação. Esses fatores estão constantemente

presentes nas teorias econômicas e comportamentais de internacionalização, no

entanto a abordagem de estruturas institucionais nos países é totalmente

desconsiderada ou tratada como um fator secundário e não importante.

O que ocorre, no entanto, segundo os autores é que instituições “extra-

market” e “non Market” evoluem para suplantar imperfeições nos mercados e

nas economias em funcionamento. Um empreendedor que busca realizar

investimentos precisa compilar informações sobre o meio em que estará

investindo e, assim como os mercados apresentam resultados e dados em forma

de preços e lucros, outras instituições não diretamente envolvidas podem

transmitir informações de outras formas. Neste momento, a relevância destas

19

instituições para o comércio e para os investimentos internacionais torna-se

crescente, e portanto, importante para os estudos da área.

A ideia central é a necessidade de integrar a atuação das instituições nas

teorias, uma vez que “Instituições afetam a capacidade das firmas de interagir,

afetando os custos relativos de transação e de coordenação de produção e de

inovação” (MUNDABI E NAVARRA, 2002

Essa relação entre ambiente institucional e o ambiente de investimentos

internacionais é de interesse de várias pontos de vista:

to economists seeking mechanisms to link the variation in the structure of a nation’s political institutions and economic outcomes; to managers seeking to expand their operations beyond their home countries; and to policymakers seeking to influence or shape the evolution of economic activity in their countries and regions. (MUNDABI E NAVARRA, 2002 p.637).

A inclusão do estudo das instituições nos estudos de internacionalização,

portanto, seria apenas benéfica, podendo fornecer oportunidades de

desenvolvimento tanto para a economia nacional como um todo por meio das

mãos das instituições quanto para os empreendedores da área privada que

desejam aumentar a receita de suas empresas por meio de investimentos

internacionais. Pode contribuir também para o enriquecimento das teorias de

internacionalização de empresas, que, como visto anteriormente, não incluem a

relevância das instituições no seu escopo de análise. Vale destacar, no entanto

a observação dos autores sobre a amplitude do estudo sobre o papel das

instituições

While early studies primarily examined the influence political institutions on macroeconomic accounting measures, more recent research has started to unpack these results to examine which institutions influence international business and to investigate the mechanisms through which these effects take place. The role of institutions in international business is so pervasive that no single collection of papers can hope to address all aspects. (MUNDABI E NAVARRA, 2002 p. 640)

20

Entre a amplitude de contribuições possíveis com a adoção da

perspectiva institucional podemos citar a análise dos benefícios da atuação

destas no processo de internacionalização. A instituições estatais podem auxiliar

na redução de custos de obtenção de informação pelos agentes investidores; na

redução de problemas de oportunismo em transações entre agentes

desconhecidos entre si; e podem transmitir uma imagem com maior nível

credibilidade, de comprometimento e de coordenação em uma transação

internacional. “à luz dessas considerações, fica claro que a importância

estratégica do ambiente institucional para os negócios internacionais deve

receber uma grande atenção por ambos teóricos e empiricistas” (tradução

própria). (MUNDABI E NAVARRA, 2002.)

21

3 O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES DE INICIATIVA ESTATAL

BRASILEIRAS NA INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS VIA

INVESTIMENTO DIRETO EXTERNO

Neste capítulo será apresentado um histórico dos IDEs brasileiros a partir

de 1990, período em que o crescimento desses investimentos ganha força, para

após, seguir para a abordagem da atuação específica de cada instituição em

suas políticas de incentivo a internacionalização via IDE.

4.1 O INVESTIMENTO DIRETO EXTERNO BRASILEIRO

Até os anos 1990, a inserção das empresas brasileiras no exterior era

extremamente baixa. A partir dos anos dessa década, porém, iniciou–se

processo de internacionalização, que, segundo Corrêa e Lima (2008), pode ser

interpretado como uma tentativa de contornar a nova concorrência que entrava

no país. Essa internacionalização foi intensificada pelo processo da

globalização, através dos fluxos de IDE.

Hiratuka e Sarti (2011) afirmam ainda, que na década de 1990 os IDEs

brasileiros foram concentrados em poucas empresas e setores nas áreas de

serviço, tais como engenharia e construção civil e setor financeiro, e de produção

de commodities, configurando ainda, mesmo que com maior intensificação, um

caráter defensivo da estratégia de internacionalização.

Foi a partir de 2004, segundo os autores, que surgiu um novo contexto

macroeconômico doméstico e internacional e o fluxo de IDE brasileiro ganhou

ainda maior importância seguindo a tendência observada também em outros

países emergentes. “Esse movimento foi liderado, sobretudo, por grandes

22

empresas brasileiras, sendo que algumas passaram inclusive a disputar a

liderança global em seus setores de atuação.”. (HIRATUKA E SARTI, 2011).

Segundo a UNCTAD (2002), no período 1996–2000, enquanto os fluxos

de IDE realizados cresceram 37% ao ano, as exportações mundiais aumentaram

apenas 4,2% ao ano. Tais valores, segundo Corrêa e Lima, são um reflexo das

mudanças no ambiente econômico mundial, caracterizado pelas mudanças

tecnológicas, pela liberalização política e pela competição crescente.

A evolução do IDE brasileiro também é ressaltada por Hiratuka e Sarti

quando, além de destacar que nas últimas três décadas os fluxos de

investimento direto estrangeiro cresceram a taxas muito superiores as do

comércio internacional, atribuem o fato a um reflexo do intenso processo de

internacionalização, especialização, deslocamento e/ou descentralização do

processo produtivo global. Os autores também afirmam que apesar da pequena

representatividade das empresas brasileiras entre as maiores países em

desenvolvimento em termos de ativos no exterior, o Brasil parece vir caminhando

a passos relativamente firmes rumo à internacionalização de suas empresas.

Como pode ser observado nas tabela e gráfico a seguir (tabela 1 e gráfico

1) elaboradas com dados da UNCTAD e Banco Central, respectivamente, o país

conseguiu se destacar na última década como um dos principais investidores

entre os emergentes porém, foi afetado negativamente pela crise econômica que

se instaura a partir de 2008.

23

TABELA 1 - Participação relativa dos investimentos brasileiros no total de

investimentos diretos realizados – mundo, países em desenvolvimento e países

da América Latina (em %)

MÉDIA

1990/2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

MÉDIA

204-2008

BRASIL/MUNDO 0,2 -0.3 0,5 0,0 1,1 0,3 2,0 O,3 1,1 1,0

BRASIL/PED 2,6 -2.7 5,0 0,5 8,1 2,1 13,1 2,5 7,0 6,6

BRASIL/AL 23,3 -53,3 49,6 4,0 56,6 13,6 66,0 30,5 58,4 45,0

Fonte: UNCTAD

GRÁFICO 1 - Investimento brasileiro direto - participação no capital (US$

milhões)

FONTE: Dias, Caputo e Marques 2012

A tabelas e gráfico acima comprovam que a participação brasileira nos

fluxos mundiais ganha maior representatividade apenas recentemente. A partir

24

de 2004, os fluxos de saída de investimento direto brasileiro apresentam maior

importância, seguindo a tendência do grupo de países em desenvolvimento,

sendo esse movimento liderado, sobretudo, por grandes empresas incentivadas

também pelo governo brasileiro que, segundo Sousa (2012), não só estimulava

“a formação das campeãs nacionais, mas, sobretudo agia por meio do

direcionamento de políticas, pela participação acionária em algumas empresas

e pela modificação em alguns aparatos institucionais”. Criando, por fim,

principalmente resoluções que liberaram o IDE brasileiro de uma série de

“medidas impostas no passado por controles cambiais rígidos e

contraproducentes aos investimentos.” (SOUSA, 2012). A relação entre os fluxos

de IDE recebido e realizado que no período 2001-2003 registrava apenas 1%,

saltou para 51,7% no período 2004-2008, ou seja, para cada US$ 2,00 de

investimento recebido pelo país foi investido US$ 1,00 no exterior. (HIRATUKA

E SARTI, 2011).

A partir de 2008, com a chegada da crise mundial o movimento dos IDEs

brasileiros entram em processo de redução. O dados do Banco Central

apresentados no Gráfico 1, demonstram essa clara perda de força no ano de

2009. No entanto, ao seguir para o ano de 2010 e 2012, pode-se ver a

recuperação rápida nos dados de investimentos externos brasileiros, o que

demonstra, mais uma vez, o potencial de evolução presente nesta estratégia de

aumento do nível internacionalização.

“As ações conjuntas entre Estado e empresas são fatores fundamentais

para estimular o processo de internacionalização das empresas brasileiras, na

medida em que poderiam amenizar as desvantagens entre os países que

disputam o mesmo espaço no mercado global.” (SENNES E CARVALHO, 2009

APUD MENEZES 2012). Costa e Souza-Santos (2010) reiteram a importância

das instituições estatais afirmando que “o movimento de internacionalização de

empresas normalmente tende a ser apoiado de alguma forma pelos governos

nacionais”. (Costa e Souza-Santos, 2010).

25

Exemplos internacionais desse apoio são a Overseas Private Investment

Corporation (OPIC), uma agência estadunidense que organiza investimentos,

projetos, garantias e seguros para o setor privado norte-americano e o Japão,

que possui em torno de oito agências que patrocinam os investimentos diretos

no exterior. O objetivo aqui é, portanto, conhecer as principais instituições

brasileiras com atuação similar a esses exemplos, ou seja, atuantes diretamente

no incentivo ao Investimento Direto Externo brasileiro.

Os dados do Investimento Direto Externo Brasileiro trazem a trajetória de

evolução da realização destes pelas empresas brasileiras a partir dos anos 2000.

Tal evolução é diretamente ligada ao incentivo dado pelas instituições e pelo

governo brasileiro à realização de IDE. Segundo Sousa, um conjunto de

instituições, tais como o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento

Econômico e Social), MRE (Ministério das Relações Exteriores), a APEX

(Agência de Promoção de Exportações), a SAIN (Setor de Áreas Isoladas Norte)

e ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial) são ativamente

atuantes na utilização desses incentivos. Tais instituições, que na década de

1990 estavam focadas na estabilização e institucionalização da economia

brasileira (MENEZES, 2012) iniciaram a partir do fim desta década a buscar uma

atuação internacional mais proativa e, no início dos anos 2000, começam a

expressar as visão dos IDEs como uma medida positiva, passando assim a

incentivá-los. As ações iniciadas, segundo Menezes, “se voltaram para o objetivo

da inserção internacional do país”. Surge assim, a necessidade de criar

condições favoráveis para empresas atuarem no mercado externo.

Cervo (2010, 21) coloca que, pela a primeira vez na história, “a internacionalização de empresas brasileiras tornou-se parte da estratégia externa do país”, referindo-se as iniciativas dos governos Lula da Silva, em prol da internacionalização. Instituições como o BNDES e a APEX-Brasil vêm sendo instrumentalizadas nos últimos governos para estimular a atuação das empresas brasileiras no exterior. (MENEZES, 2012 p. 499).

26

Para os autores Oliveira e Pfeifer (2005) a internacionalização das

empresas brasileiras via investimento direto externo ocorre de maneira

independente, mesmo que com a crescente atenção e interesse do governo

federal no processo. A iniciativa da internacionalização ocorre então, por parte

das grandes empresas, “mas ganha contornos típicos graças à firme presença

do interesse Estatal” e, neste processo observa-se os mais “eloquentes

exemplos positivos da interação entre o empresariado e o Estado na política

externa de 1990 até os nossos dias” (OLIVEIRA; PFEIFER 2005 APUD MENZES

2012).

Mesmo, então, com o apoio instituições e com o interesse Estatal, deve

se ressaltar que

Não existe no Brasil um conjunto de políticas suficientemente articulado e interligado entre si que possa ser classificado como uma política nacional para a internacionalização de empresas. O que se pode destacar é o incentivo dado por algumas instituições governamentais ou ligadas ao governo para a internacionalização das empresas nacionais. (RIBEIRO E LIMA 2008, APUD SOUSA 2012 p.143).

Segundo Menezes, a política governamental de incentivo à

internacionalização de empresas pode ser tratada de diferente formas, sendo

duas maneiras as principais. A primeira possui caráter amplo e engloba todas as

iniciativas que atuam direta ou indiretamente no processo de internacionalização

de empresas. “A segunda refere-se às políticas mais especificas que

diretamente impactam na inserção das empresas nacionais no exterior, com

investimento externo direto.” (MENEZES, 2012).

A abordagem escolhida para o prosseguimento do trabalho buscará

ressaltar as instituições que dedicaram a incentivar e auxiliar a

internacionalização via investimento direto externo de forma mais direta.

Tavares (2012) após pesquisa com empreendedores detaca três

instituições atuantes na promoção da internacionalização via investimento direto

externo: o Ministério das Relações Exteriores (MRE), a Agência de Promoção de

27

Exportações e Investimentos (APEX-Brasil) e o Banco Nacional de

Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) que a seguir serão apresentadas

mais a fundo.

4.3. AS INSTITUIÇÕES DE INICIATIVA ESTATAL BRASILEIRAS

4.3.1 A APEX-BRASIL

A Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-

Brasil) atua para promover os produtos e serviços brasileiros no exterior e atrair

investimentos estrangeiros para setores estratégicos da economia brasileira, por

meio de ações diversificadas de promoção comercial que visam promover as

exportações e valorizar os produtos e serviços brasileiros no exterior. Ações tais

como: missões prospectivas e comerciais, rodadas de negócios, apoio à

participação de empresas brasileiras em grandes feiras internacionais, visitas de

compradores estrangeiros e formadores de opinião para conhecer a estrutura

produtiva brasileira entre outras plataformas de negócios que também têm por

objetivo fortalecer a marca Brasil. A agência coordena os esforços de atração de

investimentos estrangeiros diretos para o Brasil com foco em setores

estratégicos para o desenvolvimento da competitividade das empresas

brasileiras e do país. (APEX, 2015)

A agência foi criada em 1997 pelo Presidente Fernando Henrique

Cardoso como uma importante ferramenta de promoção de serviços e produtos

brasileiros no exterior. Funcionou como uma Gerência Especial do SEBRAE

nacional até 06 de fevereiro de 2003 e partir desta data passou a ser um serviço

Autônomo. Ligada ao Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio

Exterior (MDIC) passa a desempenhar no Governo Federal a função de

coordenar e executar a política de promoção externa do país. “O seu principal

28

objetivo é o de inserir mais empresas brasileiras no mercado internacional, além

de ampliar e diversificar a pauta dos produtos exportados pelo Brasil através do

aumento das vendas em novos mercados.” (MENEZES, 2012). Em 2003

também foram implementados novos programas e ações com intuito de abranger

o processo de internacionalização via investimento externo direto.

Ao buscar apoio da APEX para a internacionalização da empresa o

empreendedor encontra um programa com diversos pilares. a) A Prontidão: a

empresa apresenta seu projeto de internacionalização e a agência identifica as

melhores formas de apoio a serem fornecidas. Entre elas estão o alinhamento

estratégico, o modelo de negócio, o modo de entrada, os recursos humanos, os

recursos financeiros e o país prioritário. b) A Orientação Estratégica: apoios a

empresa na análise de sua estratégia e de seu plano de internacionalização para

o país alvo, por meio de capacitações específicas, workshops e seminários sobre

internacionalização, por meio do programa Inter-Com (Internacionalização e

Competitividade) e também pelo atendimento técnico contínuo, individual e

customizado utilizando metodologia de internacionalização de empresas. c) A

Gestão Internacional: a empresa recebe o apoio da Apex-Brasil para instalação

local, por meio de contatos com instituições de governo, empresas de

recrutamento, escritórios de advocacia, assessoria tributária e contábil,

empresas de mobility / relocation, incubadoras e zonas francas. (APEX, 2015).

O programa Inter-Com, realizou sua 9ª edição em 2015 e é um curso

voltado a executivos de empresas brasileiras interessadas em expandir seus

negócios no exterior. O curso capacitou, ao longo dos últimos quatro anos, 245

executivos de 150 empresas nacionais, estruturando a visão estratégica dos

executivos sobre a expansão internacional apresentando a eles as

oportunidades e desafios para que estejam preparados para o processo de

inserção internacional. A capacitação é composta de dois módulos presenciais,

no qual ocorrem aulas expositivas, jogos de negócios e depoimentos sobre

casos de sucesso, além de atendimento customizado às empresas. As

capacitações do Inter-Com podem ser colocadas como de alta relevância, uma

29

vez que, como apontado por Tavares (2006), dificuldades no processo de

internacionalização via IDE nas empresas brasileiras se dão também pela falta

de vivência internacional dos empreendedores, sendo então necessária a

criação de uma mentalidade internacional nos mesmos.

Ainda no setor de serviços de apoio à internacionalização, a partir de 2007

a APEX implantou a chamada APEX internacional. Atualmente a agência possui

extensões nos cinco continentes chamadas Centros de Negócios localizadas em

Pequim, Dubai, Miami, São Francisco, Havana, Bogotá, Luanda, Varsóvia,

Bruxelas e Moscou. Os escritórios são “plataformas auxiliares no processo de

internacionalização e oferecem uma gama de serviços relevantes tanto para a

expansão das exportações como para a realização do IDE”. (SOUSA, 2012).

Além de projetos que incentivam diretamente o processo de investimento

direto externo a APEX também possui ações de posicionamento e imagem e

boletins informativos, tais como o Boletim de Facilitação de Negócios

Internacionais e o Boletim de Conjuntura e Estratégia. Os projetos de ação e

posicionamento possuem o objetivo de “melhorar a percepção internacional

sobre os produtos e serviços brasileiros, principalmente em mercados

formadores de opinião, e promover o acesso das empresas brasileiras em

mercados e prospectar novos negócios.” (SOUSA, 2012). Podendo servir de

exemplo as ações “Sabores do Brasil” com “o propósito de favorecer o

posicionamento de marcas brasileiras do setor de alimentos e bebidas em

mercados estratégicos e “Moda Brasil”, que “consiste na promoção dos setores

ligados ao segmento (...) os atributos trabalhados são a diversidade e o estilo de

vida do brasileiro, como diferenciais na moda internacional.” (APEX, 2011 APUD

SOUSA, 2012).

No ano de 2014 foram realizados pela APEX 967 eventos, sendo 856

voltados para a promoção comercial, 66 de capacitação, 26 de promoção de

investimentos, 11 de articulação internacional e 8 de outros tipos. Quatro

30

missões comerciais foram realizadas em parceria com o MDIC, com a

participação total de 117 empresas brasileiras. (APEX, 2014)

Especificamente falando de estratégias de internacionalização via IDE, a

agência auxiliou 241 empresas, em todas as fases da sua internacionalização,

com serviços que foram desde a prospecção de informações de mercado até o

efetivo apoio à instalação local. Na área de promoção comercial vale destacar a

ação chamada sistema geo-referenciado de avaliação de mercados, um sistema

de avaliação de mercados que combina simultaneamente diversos indicadores,

permitindo a seleção dos melhores destinos para exportações e investimentos

brasileiros, propiciando maior eficiência nas decisões de gestores públicos e

privados relacionados ao comércio exterior. (APEX, 2014)

4.3.2 O BNDES

O BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e social foi

criado em 1952 para a implantação do Plano Nacional de Desenvolvimento

Econômico. É um órgão do governo federal e atualmente o principal órgão de

financiamento de longo prazo para a realização de investimentos em todos os

segmentos da economia. (BNDES, 2015).

O apoio do BNDES se dá por meio de financiamentos a projetos de

investimentos, aquisição de equipamentos e exportação de bens e serviços.

Além disso, o Banco atua no fortalecimento da estrutura de capital das empresas

privadas e destina financiamentos não reembolsáveis a projetos que contribuam

para o desenvolvimento social, cultural e tecnológico. (BNDES, 2015).

O primeiro passo em direção ao incentivo à internacionalização de

empresas por parte do banco se deu no decorrer da década de 1980, quando

passou a apoiar a internacionalização das empresas brasileiras estimulando o

processo de exportação a partir de 1983. O resultado desses incentivos foi a

31

criação do programa FINAMEX em 1990. Sousa demonstra que ao se analisar

os desembolsos do BNDES e a evolução das exportações brasileiras nas duas

últimas décadas, torna-se visível o fato de que o desenvolvimento das linhas de

financiamento do banco acompanharam o próprio desenvolvimento do comércio

exterior brasileiro. Em 1993, o banco incluiu as micros, pequenas e médias

empresas no seu programa de exportações e, por fim, dez ano depois após uma

alteração de estatuto o BNDES começou a apoiar também a internacionalização

das empresas brasileiras por meio do financiamento a projetos de IDE. A

alteração de estatuto do BNDES tornou legal o apoio do banco à empresas

brasileiras que possuem a intenção de realizar investimentos diretos no exterior.

Após a iniciativa da mudança do estatuto, além do incentivo à

internacionalização das empresas brasileiras, o banco também passou,

recentemente por um processo de internacionalização em um esforço de

potencializar seu apoio nos processos de exportações e investimento direto

externo. Criou nos últimos anos escritórios internacionais em Montevidéu,

Uruguai, e em Joanesburgo, África do Sul, para atuarem respectivamente na

América Latina e na África, além de uma subsidiária em Londres, Reino Unido.

Com a iniciativa de internacionalização “o BNDES reforçou sua presença no

exterior, seja pelo aprofundamento do relacionamento institucional e comercial,

seja na possibilidade de contar com novas estruturas financeiras de apoio a seus

clientes.” (GUIMARÃES; RAMOS; RIBEIRO; MARQUES; SIAS, 2014).

Como afirmado anteriormente sobre as exportações, Sousa (2012) afirma

que o desenvolvimento das políticas de incentivo a IDE cresceram junto com os

índices brasileiros dos mesmos. Os objetivos da nova política consistiam em

“orientar a criação de uma linha capaz de estimular a inserção e o fortalecimento

de empresas brasileiras no mercado internacional, pelo apoio à implantação de

projetos via investimentos a serem realizados no exterior” (ALEM E

CAVALCANTI 2005).

32

O apoio dado atualmente na área se divide em: apoio a capitalização de

empresas via subscrição de valores mobiliários e financiamento com cláusulas

de desempenho que prevejam compartilhamento dos ganhos com o BNDES. Só

ocorre o investimento quando estes contribuirão para o desenvolvimento das

empresas brasileiras, para o aumento das exportações e de empregos no Brasil.

As beneficiárias dos programas são empresas de capital nacional com atividades

industriais ou de serviços de engenharia que possuem estratégia já definida a

longo prazo de internacionalização. (SOUSA, 2012).

Costa e Souza-Santos afirmam então, que o BNDES constitui um suporte

importante para a internacionalização de empresas, ainda que o país ainda não

possua uma política explícita e estruturada para promover a criação de

multinacionais brasileiras como destacado por Alem e Cavalcanti. Seu apoio e

importância podem ser resumidos nos itens:

i) liberalização das restrições aos investimentos diretos no exterior - tendo em vista que implicam saída de divisas (isso foi particularmente relevante no caso de países em desenvolvimento e nas economias em transição); ii) criação de instrumentos internacionais que facilitem e protejam os investimentos no exterior; iii) informação e assistência técnica; iv) incentivos fiscais; v) mecanismos de seguros para os investimentos; e v) financiamento (ALEM; CAVALCANTI, 2005, APUD COSTA E SOUZA-SANTOS p.172).

O financiamento pode ser requisitado para projetos greenfield, aquisições,

ampliações ou modernizações de unidades produtivas, canais de

comercialização e centros de pesquisa e desenvolvimento no exterior. Os

recursos podem ser desembolsados no Brasil ou no exterior. (GUIMARÃES;

RAMOS; RIBEIRO; MARQUES; SIAS, 2014).

Desde o início do apoio do Banco à internacionalização, em 2005, até junho de 2014, o BNDES desembolsou recursos para 19 operações, considerando o apoio tanto na modalidade financiamento (oito operações) como na modalidade participação no capital (11 operações). Os financiamentos de investimentos brasileiros no exterior foram nos setores agroindustrial, de tecnologia de informação, farmacêutico e petroquímico. A maior parte das operações envolveu a aquisição de empresas no exterior. O valor total já desembolsado para operações de internacionalização foi de R$ 10,8 bilhões em valores

33

correntes (GUIMARÃES; RAMOS; RIBEIRO; MARQUES; SIAS, 2014 p.62).

Nos gráficos a seguir podemos observar a quantidade de investimentos

financiados pelo BNDES realizados por região (gráfico 2) e por setor, obtendo-

se assim um panorama geral da atuação do banco na internacionalização de

empresas via IDE até o momento atual.

GRÁFICO 2 - Número de operações de internacionalização por região

Fonte: GUIMARÃES; RAMOS; RIBEIRO; MARQUES; SIAS (2014)

34

GRÁFICO 3 - Número de operações de internacionalização por setor

Fonte: GUIMARÃES; RAMOS; RIBEIRO; MARQUES; SIAS (2014)

Além do viés empresarial dos auxílios para a realização de IDE, o BNDES

também serve como um instrumento na tentativa de aumento na integração

regional, sendo, como colocado por Menezes, estratégica para a economia do

país. Pode-se notar essa aproximação regional pelos dados apresentados no

Gráfico 2, onde fica em evidência que a maioria dos projetos tem destino à

América Latina, com destaque para a Argentina, que recebeu três projetos de

internacionalização nos últimos anos, além do Peru, México, Costa Rica e

Paraguai. (GUIMARÃES; RAMOS; RIBEIRO; MARQUES; SIAS, 2014).

Nas palavras de Sousa:

é perceptível que existe uma interface de interesses entre o Estado, representado por esse órgão público, e empresas brasileiras. Por lei, o BNDES não pode financiar projetos no exterior a não ser que estejam envolvidas as exportações de serviços ou bens brasileiros. Desse modo, ao colocar o BNDES como um dos agentes para a integração regional, com isso, há também o privilégio das empresas brasileiras, as únicas elegíveis pelo banco para conseguir financiamentos, isto é, os recursos disponibilizados só são emprestados de fato aos outros países se os produtos forem brasileiros e os serviços forem executados por empresas brasileiras. O governo, pelo menos a partir desse órgão, atrelou a questão da integração com a expansão das empresas brasileiras pela América do Sul. (SOUSA, 2012 p.157)

35

O BNDES, portanto, como afirmam Costa e Souza-Santos, “constitui uma

importante instituição de fomento, preenchendo uma lacuna deixada pela

iniciativa privada em relação ao fornecimento de linhas de crédito para

investimentos de longo prazo” assumindo por fim, o importante papel de principal

fomentadora nacional da internacionalização de empresas brasileiras, tanto na

área de financiamentos quanto na questão de integração regional econômica.

4.3.3 O MRE

O Ministério das Relações Exteriores é o órgão do Poder Executivo

responsável pela política externa e pelas relações internacionais do Brasil, nos

planos bilateral, regional e multilateral. Também conhecido como Itamaraty,

assessora o Presidente da República na formulação da política exterior do Brasil

e na execução das relações diplomáticas com Estados e organismos

internacionais. Com uma rede de mais de 220 representações no mundo, o

Ministério promove os interesses do País no exterior, presta assistência aos

cidadãos brasileiros e dá apoio a empresas brasileiras. (MRE, 2015).

A diplomacia comercial é essencial pois nenhuma outra instituição

brasileira conta com estrutura de promoção comercial no exterior tão ampla, o

que demonstra o papel do Ministério na estratégia comercial brasileira no

aspecto político, mediante realização de contatos governamentais e

empresariais e também por meio da produção de informações para subsidiar as

iniciativas de comércio exterior. Essa atuação é atribuída ao Departamento de

Promoção Comercial e Investimentos (DPR) e à rede de Setores de Promoção

Comercial (SECOMs) instalados em Embaixadas e em Consulados brasileiros,

e ocorre por meio de incentivos ao comércio e o turismo, de políticas de atração

36

de investimentos estrangeiros e outras contribuições para a internacionalização

de empresas brasileiras. (MRE, 2015). Entre as atribuições destes

departamentos estão realizar estudos de mercado e intermediar reclamações

comerciais; divulgar estudos sobre oportunidades em mercados potenciais; e

realizar gestões oficiais junto a Governos estrangeiros sobre interesses

específicos de empresas brasileiras. (MRE, 2015)

As iniciativas do Itamaraty na área de investimento direto externo e

comércio exterior são evidenciadas como ações de cooperação e coordenação

com outras instituições do governo envolvidas com o assunto. No setor público,

destacam-se os esforços empreendidos conjuntamente com o Ministério do

Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), com o Ministério da

Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), com o BNDES e com o Banco

do Brasil, além de diálogo e eventos realizados em parceria com a ApexBrasil.

No setor privado, destacam-se as iniciativas empreendidas na área internacional

por entidades como a Confederação Nacional da Indústria e as Federações

Estaduais de Indústria, além das associações setoriais e das Câmaras de

Comércio bilaterais. (MRE, 2015).

No portal Invest-Export Brasil do MRE, o Departamento de Promoção

comercial consolidou informações sobre guias de investimento produzidos por

diversos países, com informações atualizadas sobre como investir em diversos

países, colocando fontes e órgãos passíveis de contato para realização dos

IDEs. No mesmo portal também são oferecidas informações sobre o processo

em si.

Por fim, ao analisar as ações do órgão estatal quanto ao incentivo à

internacionalização, Menezes afirma que

uma série de decisões tomadas pelo órgão referentes a negociações internacionais, como acordos de comércio e investimentos, decisão sobre acordos sobre tarifas, tratados para prevenir bitributação ou de proteção de investimentos, formação de blocos regionais, etc, impacta direta ou indiretamente na atuação externa das empresas brasileiras. (MENEZES, 2012).

37

Tendo exposto as ações diretamente relacionadas, passa-se então, para

as relações indiretas entre as ações do MRE e a internacionalização de

empresas.

Para Menezes, um fato que merece destaque é a ação da órgão norteador

da política externa brasileira no que diz respeito à América do Sul. O Ministério

ume uma postura de aproximação e projeção cada vez mais clara desde o final

da Monarquia até os dias de hoje. No quadro a seguir, (quadro 3) constam as

iniciativas de aproximação da região por parte do governo brasileiro

demonstrando os esforços despendidos na política externa do país para uma

aproximação e projeção no espaço da América do Sul.

QUADRO 3 – Iniciativas governamentais na América do Sul

- Associação Latino-Americana de livre comércio (ALALC) – década de 1960;

- Acordo de Cartagena (cria pacto andino) - 1969;

- Associação Latino-Americana de Integração (ALADI) – década de 1980;

- Ata para a integração Brasileiro-Argentina – 1986;

- Tratado de Assunção (cria Mercado Comum do Sul-MERCOSUL) – 1991;

- Comunidade Andina de Nações (CAN) - 1996;

- Iniciativa de Integração da Infra-Estrutura Regional da América do Sul (IIRSA)

2000;

- Declaração de Cuzco (cria a Comunidade Sul-Americana de Nações, que em

2007 muda de nome para União de Nações Sul-Americanas -UNASUL) – 2004;

- Venezuela inicia processo para adesão ao Mercosul – 2005; e

- Banco do Sul - 2007

Fonte: Menezes, 2012

38

Segundo Menezes, há uma intenção de tornar as ações relacionadas ao

IDE brasileiro mais estratégicas, “tanto por entender os benefícios que ele pode

trazer para a economia nacional e para as empresas domésticas, como por

perceber que eles podem ter um papel relevante para a integração sul-

americana.” (MENEZES, 2012). As iniciativas governamentais para a América

do Sul, portanto, serviriam de pano de fundo para a projeção econômica

brasileira na região Sul-americana, projeção esta, visando também beneficiar as

iniciativas privadas de internacionalização de empresas via investimento direto

externo. A visão mais estratégica por parte do Ministério sobre os IDEs

brasileiros na América do Sul e também a nível mundial, que buscaria benefícios

para a economia nacional como um todo é sintetizada no quadro a seguir

(Quadro 4).

QUADRO 4 – Visão do MRE sobre o IDE Brasileiro

I. Como o Brasil já possui acordos comerciais amplos e abrangentes com todos

os países da região, não há muito espaço para aprofundar os acordos

existentes, limitando o potencial de aprofundar a integração meramente pela via

comercial.

II. Os países da região apresentam enormes dificuldades para aumentar suas

exportações para o Brasil, mesmo já gozando de amplas preferências tarifárias,

o que torna complicada a tarefa de promover uma redução dos saldos

comerciais favoráveis ao Brasil. Sendo assim, os investimentos brasileiros

podem ser uma forma eficiente de compensar os grandes saldos comerciais em

favor do Brasil, fazendo com que pelo menos parte dos recursos retorne a esses

países.

III. As dificuldades enfrentadas pelos países sul-americanos relacionam-se, em

geral, às próprias deficiências de suas estruturas produtivas, com escassa

diversificação e baixa produtividade no setor industrial. Nesse sentido, o

investimento por parte de empresas brasileiras, especialmente as que atuam no

39

ramo industrial, pode ser uma ferramenta poderosa para colaborar com o

desenvolvimento produtivo desses países, reduzindo as assimetrias

econômicas. Em geral, os investimentos são um “pacote” que inclui não apenas

a transferência de capital, mas também de tecnologia e know-how, de métodos

gerenciais e a geração de empregos.

IV. Em termos de viabilidade política interna, a promoção de investimentos no

exterior pode enfrentar menores resistências do que, por exemplo, iniciativas

que procurem reduzir ou eliminar eventuais barreiras comerciais que ainda

restrinjam o acesso ao mercado brasileiro de bens produzidos nos vizinhos sul-

americanos.

Fonte: Ribeiro e Lima (2008) APUD Menezes (2012).

40

5 CONCLUSÕES

Este trabalho buscou apresentar a importância das instituições de

iniciativa estatal para a internacionalização de empresas via investimento direto

externo. Pôde-se ver, na apresentação inicial das teorias de internacionalização

tradicionais que tal importância não foi incorporada à análise. No entanto, como

demonstrado na teoria institucional e na apresentação das contribuições dadas

pelas instituições brasileiras, tal atuação institucional pode ser fundamental para

as decisões de internacionalizar por parte dos investidores. As instituições aqui

apresentadas, APEX, BNDES e MRE trouxeram diferentes tipos de incentivos

facilitadores à internacionalização das empresas brasileiras via IDE.

Por meio de auxílios na formatação de um alinhamento estratégico,

modelos de negócios, modos de entrada, recursos humanos, financeiros, aliados

à capacitações específicas, workshops e seminários sobre internacionalização a

APEX traz a segurança necessária para o investidor brasileiro que não possui

vivencia internacional e, por meio de acompanhamento na instalação local,

fornecendo contatos com instituições de governo, empresas de recrutamento,

entre outros, aumenta a probabilidade do sucesso do investimento.

Projetos greenfield, aquisições, modernizações de unidades produtivas,

canais de comercialização e centros de pesquisa e desenvolvimento são

também incentivados pelo BNDES, que atualmente é o principal fomentador

nacional de internacionalização de empresas. Tais financiamentos e auxílios

dados pela APEX e BNDES preenchem uma lacuna deixada pela iniciativa

privada em relação ao fornecimento de linhas de crédito para investimentos de

longo prazo.

A representação do incentivo direto governamental então, é apresentada

no papel do MRE, que, por meio da cooperação e coordenação com outras

instituições do governo envolvidas com o assunto, principalmente APEX e

BNDES, produz informações sobre guias de investimento produzidos por

41

diversos países, com informações atualizadas sobre como investir em diversos

países, colocando fontes e órgãos passíveis de contato para realização dos

IDEs.

Existe uma janela de oportunidade para o desenho de uma política

integrada de apoio à internacionalização produtiva. Segundo Tavares, há

iniciativas adequadamente cautelosas de diversos órgãos do governo nessa

direção. Estas instituições enfrentam desafios, porém, sua atuação tem infligido

diferenças.

Sugere-se aqui por fim, um maior estudo da atuação das instituições

estatais brasileiras no processo de internacionalização via investimento direto

externo sob dois pontos de vista. Primeiramente com o objetivo de preencher as

lacunas deixadas pelas teorias de internacionalização para que estas sejam

complementadas em sua compreensão do processo. E, por fim, sob o ponto de

vista de identificar o potencial de melhora na atuação das instituições que

incentivam os IDEs, tendo em vista o potencial ainda não explorado das

empresas brasileiras de se internacionalizarem.

42

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46

ANEXOS

ANEXO 1 – Breve Resumo das Teorias de Internacionalização – viés econômico

Teoria Breve Resumo

Teoria do Poder de

Mercado

Originada do trabalho seminal de Hymer

(1960/1976), que acreditava que nos estágios iniciais

de seu crescimento as empresas continuamente

aumentariam sua participação em seus mercados

domésticos através de fusões, aquisições e

extensões de sua capacidade. Conforme

aumentasse a concentração industrial e o poder de

mercado da empresa, também aumentariam os

lucros. Entretanto, existiria um ponto onde não seria

fácil aumentar ainda mais a concentração no

mercado, pois apenas poucas empresas

permaneceriam. Neste momento, os lucros obtidos

do alto grau de poder monopolístico dentro do

mercado doméstico seriam investidos em operações

externas, gerando processo similar de concentração

crescente em mercados estrangeiros

Teoria da

Internalização

Foi formalmente proposta e depois revisitada por

Buckley e Casson (1976, 1998), mas tem a origem

conceitual no seminal artigo de Coase (1937). Sua

ênfase recai na eficiência com a qual transações

entre unidades de atividade produtiva são

organizadas e usa os custos de transação

(WILLIAMSON, 1975, 1979) como o racional para

justificar se deve ser utilizado um mercado (externo

à empresa, contratual) ou uma internalização

47

(hierarquia) para uma determinada transação. Uma

análise (supostamente racional) de benefícios

versus custos (TEECE, 1981, 1986) determinaria o

grau “certo” de integração da empresa em suas

atividades internacionais.

Paradigma Eclético

É oriundo dos trabalhos de Dunning (1977, 1980 e

1988) e considera que as empresas multinacionais

(MNCs) possuem vantagens competitivas ou de

“propriedade” vis-à-vis seus principais rivais, que

elas utilizam para estabelecer produção em locais

que são atrativos devido a suas vantagens de

“localização”. Existiriam dois tipos de vantagens

competitivas: derivadas da propriedade particular de

um ativo singular e intangível (como uma tecnologia

específica da empresa) ou derivadas da propriedade

de ativos complementares (como a capacidade de

criar novas tecnologias). MNCs possuem ainda

vantagens de “internalização” para reter controle

sobre suas redes de ativos (produtivos, comerciais,

financeiros etc). Estas vantagens advêm da maior

facilidade com a qual uma firma integrada pode

apropriar retorno integral de sua propriedade de

ativos distintivos como sua própria tecnologia, bem

como da coordenação do uso de ativos

complementares, que seriam os benefícios

transacionais. Dunning defende que o Paradigma

não deve ser encarado como mais uma teoria de

internacionalização, mas sim como um arcabouço

para seu estudo.

Fonte: Carneiro e Dib, 2007.

48

ANEXO 2 – Breve Resumo das Teorias de Internacionalização – viés

comportamental

Teoria Breve Resumo

Modelo de Uppsala

Pretende ser um mecanismo explicativo básico

sobre as etapas de um processo de

internacionalização. O foco é a empresa individual e

sua gradual aquisição, integração e uso de

conhecimento sobre mercados e operações

estrangeiros; além de seu comprometimento

sucessivamente crescente com esses mercados,

através de estágios sequenciais. A ordem de

seleção de países para a internacionalização

seguiria uma relação inversa com a “distância

psíquica” entre o país alvo e o país de origem

(JOHANSON; WIEDERSHEIM, 1975; JOHANSON;

VAHLNE, 1977). Outra linha de pesquisa

relacionada envolve os chamados modelos de

estágios no processo de exportação (BILKEY;

TESAR, 1977; WIEDERSHEIM et al, 1978;

CAVUSGIL, 1980; REID, 1981; CZINKOTA, 1982).

Quadro adaptado da fonte: Carneiro e Dib (2007)