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Irmãos e Irmãs, O Senhor lhes dê a paz! Nestes últimos dias vivemos intensamente a ação do Espírito, um novo Pentecostes passou por nós sacudindo a Igreja esposa de Cristo. A lucidez do Papa Bento com sua renuncia ao bispado de Roma e a missão a ele confiada pela Igreja Universal. Os dias que se sucederam à sua renuncia, as muitas questões relativas a vida eclesial ganhou a mídia de uma forma tão intensa, que logo podemos perceber como a Igreja é importante para a vida da humanidade. O pré conclave, as discussões, os destinos da Igreja, os nomes... O conclave, a surpresa do escolhido, o primeiro latino americano e para completar: Francisco! Ao ouvir o nome do novo papa, a multidão na Praça de São Pedro explodiu numa grande alegria e esta alegria foi chegando a todas as parte do mundo: Francisco? Francisco! Por isso, podemos dizer: Santo Padre, São Francisco de Assis abriu os corações da humanidade para a Vossa Santidade, agora entre! Entre com a singeleza do Poverello. Entre com a pobreza do Pobrezinho. Entre com a Fraternidade do irmãozinho de todos. Entre, e como Francisco, reconstroi a Igreja de Cristo. Amém Frei Éderson Queiroz OFMCap Presidente da Família Franciscana do Brasil - FFB

Irmão sol

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Irmãos e Irmãs, O Senhor lhes dê a paz! Nestes últimos dias vivemos intensamente a ação do Espírito, um novo Pentecostes passou por nós sacudindo a Igreja esposa de Cristo. A lucidez do Papa Bento com sua renuncia ao bispado de Roma e a missão a ele confiada pela Igreja Universal. Os dias que se sucederam à sua renuncia, as muitas questões relativas a vida eclesial ganhou a mídia de uma forma tão intensa, que logo podemos perceber como a Igreja é importante para a vida da humanidade. O pré conclave, as discussões, os destinos da Igreja, os nomes... O conclave, a surpresa do escolhido, o primeiro latino americano e para completar: Francisco! Ao ouvir o nome do novo papa, a multidão na Praça de São Pedro explodiu numa grande alegria e esta alegria foi chegando a todas as parte do mundo: Francisco? Francisco! Por isso, podemos dizer: Santo Padre, São Francisco de Assis abriu os corações da humanidade para a Vossa Santidade, agora entre! Entre com a singeleza do Poverello. Entre com a pobreza do Pobrezinho. Entre com a Fraternidade do irmãozinho de todos. Entre, e como Francisco, reconstroi a Igreja de Cristo. Amém Frei Éderson Queiroz OFMCap Presidente da Família Franciscana do Brasil - FFB

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O novo Papa, Jorge Mario Bergoglio, Arcebispo de Buenos Aires,

Argentina, escolheu o nome de Francisco. Dia 13 de fevereiro, ao

anúncio da eleição, houve uma entusiástica ovação na praça de São

Pedro. Papa Francisco, desde a primeira saudação, simples e familiar

“boa noite”, tocou os corações dos presentes. Ele apresentou-se como

o “bispo de Roma, chamado quase do fim do mondo” e agradeceu à

“sua Diocese pelo acolhimento” esperando, ao mesmo tempo, uma

frutuosa colaboração especialmente na obra de evangelização “desta

bela Cidade”. Pediu também de rezar a Deus para que o mundo seja

mais fraterno. Tocou ainda mais o coração dos fiéis, quando, antes de

dar a bênção Urbi et Orbi, ele pediu de rezar a Deus para que

abençoasse o seu novo bispo. Ele inclinado, diante da praça cheia de

milhares de fiéis, num silêncio estupefacto, obedecendo ao seu

humilde pedido, rezando com o coração. O nome escolhido, inédito

entre os bispos de Roma, foi acolhido com benevolência,

especialmente pelos italianos, que de imediato começaram a soletrar:

Fran-cis-co, Fran-cis-co, Fran-cis-co …

Alguns já esperavam este nome, pois na praça viam-se cartazes com

“Francesco”, mas talvez pensasse em outros “candidatos” apontados

com insistência como papáveis. Alguém esperava uma escolha

diversa, segundo as próprias preferências. Foi admirável o que disse

uma senhora um pouco antes do anúncio: “não esperamos a escolha

desse ou daquele, esperamos simplesmente o Papa”. O sensus fidei

do povo de Deus confiante na guia do Espírito Santo foi confirmado

pela alegria, pelo entusiasmo e pelos aplausos quando o Papa

Francisco apareceu no balcão.

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Carta do Ministro geral ao Papa Francisco 15 de março de 2013

Beatíssimo Padre: “Bendito o que vem em nome do Senhor!”. Este é o grito de júbilo de quantos esperávamos em oração que o Senhor desse à sua Igreja um novo Pastor. Pelo Papa Francisco, “louvado sejas meu Senhor”. Esta é a oração cheia de gratidão que os filhos de são Francisco, espalhados pelo mundo inteiro, elevamos felizes, depois de sabermos de sua eleição como Bispo de Roma e Sucessor do Apóstolo Pedro. Santidade: ainda não sabíamos quem o Senhor havia escolhido, e já lhe amávamos. Ainda não conhecíamos seu nome, e já orávamos por Vós. E quando escutamos seu nome, quantos lhe conhecíamos nos alegramos imensamente. E nossa alegria se multiplicou quando soubemos que havia escolhido chamar-se Francisco.

Em nome de todos os Frades Menores: Felicidades, Santo Padre, porque o Senhor fixou os olhos em Vós e os Senhores Cardeais o assinalaram como o escolhido. E obrigado,

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Santidade, por haver escolhido um nome tão significativo para o mundo, para a Igreja e, certamente, para todos os franciscanos: o nome de Francisco.

Santidade: Com afeto filial e profunda veneração, em nome de todos aqueles que abraçamos a Forma de Vida que São Francisco nos deixou, hoje, com profunda emoção, prometo obediência e reverência ao Senhor Papa Francisco (cf. 2R 2). Conte conosco, Santidade: com nosso amor filial, com nossa obediência sincera, com nossa oração constante, e com nossa colaboração. Conte também com as contemplativas franciscanas, as Irmãs Clarissas e as Irmãs Concepcionistas, que desde seus Mosteiros elevam suas orações ao pai das misericórdias por seu ministério ao serviço da Igreja universal.

Enquanto peço a são Francisco que interceda constantemente por Sua Pessoa, suplico-lhe sua Bênção apostólica para mim, para meus irmãos franciscanos e para todas as Irmãs Clarissas e Concepcionistas franciscanas.

Seu dev.mo filho no Senhor e em são Francisco

Roma, 13 de março de 2013

Fr. José Rodríguez Carballo, OFM Ministro geral, OFM

Qui Sibi Nomen Imposuit Franciscum

Santíssimo Padre,

Paz e Bem!

Com a saudação popular e simples da tradição franciscana desejo dirigir-me à Sua Pessoa para apresentar-Lhe a saudação de cada frade da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos por sua eleição a Sumo Pontífice e assegurar-Lhe desde já, a nossa oração.

Em seu primeiro Encontro com a Igreja que está em Roma, apresentando-se do balcão da Basílica Vaticana ontem à noite,

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convidaste-nos a caminhar juntos e a rezar uns pelos outros, sendo assim um sinal de irmandade, de amor e de cofiança.

Muito obrigado Santo Padre por este convite que acolhemos e temos como empenho de nossa fraternidade de Frades Menores Capuchinhos, para sermos sinal daquela fraternidade que Cristo nos ensinou, recomendando lavar os pés uns dos outros.

São Francisco de Assis no cântico do irmão Sol nos ajuda a orar pela realização desta grande fraternidade fazendo-nos cantar na última estrofe «Louvado e bendito seja meu Senhor e agradecei-O e servi-O com grande humildade». Onde o louvor ao Senhor com o agradecimento por seu amor manifestado na Cruz, está unido ao serviço humilde ao homem e à mulher de todos os tempos e de todos os lugares.

Santo Padre, assegurando-Lhe a nossa filial obediência e a nossa oração quotidiana ao Senhor, peço-Lhe que abençoe a todos nós, os frades capuchinhos.

Roma, 15 de março de 2013

Frei Mauro Jöhri

Ministro geral OFMCap

TU ÉS PEDRO

A Ordem Franciscana

Secular do Brasil acolhe

com muitíssima alegria e

fé a escolha do Papa

Francisco. Para nós,

Franciscanos Seculares

ainda é motivo de

louvarmos a Deus por

nos ter dado um Papa

tão fraterno; cheio de

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amor pastoral pelo rebanho do Senhor e tão consciente de conduzir a

barca de Pedro para que todos cheguem ao Senhor e construamos seu

Reino.

Seja bem vindo Papa Francisco, como franciscanos nos sentimos honrados

pela escolha do nome, acreditamos que procurará viver o que nele

encerra.

Desde já nos comprometeremos a rezar por Vossa Santidade e seu

ministério pastoral Petrino. Acreditamos que o Espírito Santo, primado

desta escolha, presenteou sua Igreja com um grande Papa.

Deus seja louvado!

Antonio Benedito de Jesus da Silva Bitencourt, OFS.

Ministro Nacional da OFS do Brasil.

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Uma boa surpresa

Frei Luiz Carlos Susin OFMCap

"Em sua primeira fala, há um tratamento no pronome “nós” que

tem grande significado para este tempo de participação, um modo

de falar de democracia na Igreja. A sua despedida ao povo está

próxima de algumas falas de João XXIII, o Papa Bom: “Nós nos

veremos em breve, rezem por mim e tenham uma boa noite!”,

observa Luiz Carlos Susin, frei capuchinho, professor da pós-

graduação da PUCRS, secretário executivo do Fórum Mundial de

Teologia e Libertação, em artigo publicado no jornal Zero Hora, 14-

03-2013.

Segundo o teólogo, "pode-se esperar que ele tenha competência e

energia para a tarefa firme da reforma sugerida por Bento XVI junto

com a simplicidade franciscana do padroeiro da Itália que encanta o

mundo e no Brasil é conhecido como companheiro dos pobres, São

Francisco das Chagas: quem sabe até não troque os sapatos

vermelhos por um par de sandálias?"

Eis o artigo.

Um nome quase inesperado, uma figura modesta e simpática, a

surpresa do pedido para que o povo o abençoasse: o novo papa,

Francisco, começa um novo capítulo da história do governo da Igreja

Católica.

Quais são os primeiros sinais? Seu nome: junta nele o Francisco de

Assis, aquele que andava de sandálias conversando com o lobo e os

passarinhos, e o de Francisco Xavier, companheiro de Santo Inácio

de Loyola, fundador da Companhia de Jesus – os jesuítas –, que

dedicou sua vida à evangelização da Ásia, da Índia ao Japão,

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passando pela China, onde morreu. Este é um primeiro sinal, uma

indicação nominal de seu modo de ser e de sua missão: despojado,

simples, e encarregado de levar boa notícia aos povos. Os jesuítas,

que estão fora das atuais tensões em torno dos vazamentos do

Vaticano, são um exército de especialistas com história consolidada

e excelentes estruturas para dar todo tipo de apoio necessário à

missão que deverá cumprir.

Um segundo sinal é a autoimagem que irradiou do balcão da basílica

de São Pedro: ele calcou sua fala espontânea no fato de assumir a

diocese de Roma como seu bispo. Assim tratou o povo romano

como interlocutor preferencial na praça à sua frente. Do ponto de

vista da compreensão teológica, da legitimidade do encargo

pontifício, este é o caminho certo: ele não é papa que também é

bispo de Roma. É o contrário: é bispo de Roma e por isso é o

primeiro entre os demais bispos, que chamamos, a partir de um

dado momento da história, de papa. Isso revela um forte acento no

governo colegial de todos os bispos, o que é um clamor de muitas

vozes na Igreja depois do concílio Vaticano II. Esta visão facilita

também o diálogo ecumênico com as demais igrejas cristãs.

Um terceiro e comovente sinal, além da saudação espontânea, foi o

pedido de bênção – que o povo rezasse por ele e o abençoasse –

antes de ele mesmo abençoar. Em sua primeira fala, há um

tratamento no pronome “nós” que tem grande significado para este

tempo de participação, um modo de falar de democracia na Igreja. A

sua despedida ao povo está próxima de algumas falas de João XXIII,

o Papa Bom: “Nós nos veremos em breve, rezem por mim e tenham

uma boa noite!”.

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Evidentemente, são apenas alguns sinais muito iniciais, como quem

quer fazer a multiplicação dos pães ou até tirar leite de pedra. Mas,

sabendo de sua vida em Buenos Aires, livre das discussões que

assombram as relações do episcopado argentino com a ditadura dos

anos de chumbo, vivendo ao estilo dos demais jesuítas, de forma a

não recusar se servir de meios públicos de transporte e de serviços

da cozinha, pode-se esperar que ele tenha competência e energia

para a tarefa firme da reforma sugerida por Bento XVI junto com a

simplicidade franciscana do padroeiro da Itália que encanta o

mundo e no Brasil é conhecido como companheiro dos pobres, São

Francisco das Chagas: quem sabe até não troque os sapatos

vermelhos por um par de sandálias?

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O Papa Francisco chamado a restaurar a Igreja Leonardo Boff (*)

Nas redes sociais havia anunciado que o futuro Papa iria se chamar Francisco. E não me enganei. Por que Francisco? Porque São Francisco começou sua conversão ao ouvir o Crucifixo da capelinha de São Damião lhe dizer:”Francisco, vai e restaura a minha casa; olhe que ela está em ruinas”(S.Boaventura, Legenda Maior II,1).

Francisco tomou ao pé da letra estas palavras e reconstruíu a igrejinha da Porciúncula que existe ainda em Assis dentro de uma imensa catedral. Depois entendeu que se tratava de algo espiritual: restaurar a “Igreja que Cristo resgatara com seu sangue”(op.cit). Foi então que começou seu movimento de renovação da Igreja que era presidida pelo Papa mais poderoso da história, Inocêncio III. Começou morando com os hansenianos e de braço com um deles ia pelos caminhos pregando o evangelho em língua popular e não em latim.

É bom que se saiba que Francisco nunca foi padre mas apenas leigo. Só no final da vida, quando os Papas proibiram que os leigos pregassem, aceitou ser diácono à condição de não receber nenhuma remuneração pelo cargo.

Por que o Card. Jorge Mario Bergoglio escolheu o nome de Francisco? A meu ver foi exatamente porque se deu conta de que a Igreja, está em ruinas pela desmoralização dos vários escândalos que atingiram o que ela tinha de mais precioso: a moralidade e a credibilidade.

Francisco não é um nome. É um projeto de Igreja, pobre, simples, evangélica e destituída de todo o poder. É uma Igreja que anda pelos caminhos, junto com os últimos; que cria as primeiras comunidades de irmãos que rezam o breviário debaixo de árvores junto com os passarinhos. É uma Igreja ecológica que chama a todos os seres com a doce palavra de “irmãos e irmãs”. Francisco se

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mostrou obediente à Igreja dos Papas e, ao mesmo tempo, seguiu seu próprio caminho com o evangelho da pobreza na mão. Escreveu o então teólogo Joseph Ratzinger: ”O não de Francisco àquele tipo imperial de Igreja não poderia ser mais radical, é o que chamaríamos de protesto profético”(em Zeit Jesu, Herder 1970, 269). Ele não fala, simplesmente inaugura o novo.

Creio que o Papa Francisco tem em mente uma Igreja assim, fora dos palácios e dos símbolos do poder. Mostrou-o ao aparecer em público. Normalmente os Papas, e Ratizinger principalmente, punham sobre os ombros a mozeta, aquela capinha cheia de brocados e ouro que só os imperadores podiam usar. O Papa Francisco veio simplesmente vestido de branco. Três pontos são de ressaltar em sua fala inaugural e são de grande significação simbólica.

A primeira: disse que quer “presidir na caridade”. Isso desde a Reforma e nos melhores teólogos do ecumenismo era pedido. O Papa não deve presidir com como um monarca absoluto, revestido de poder sagrado como o prevê o direito canônico. Segundo Jesus, deve presidir no amor e fortalecer a fé dos irmãos e irmãs.

A segunda: deu centralidade ao Povo de Deus, tão realçada pelo Vaticano II e posta de lado pelos dois Papas anteriores em favor da Hierarquia. O Papa Francisco, humildemente, pede que o Povo de Deus reze por ele e o abençoe. Somente depois, ele abençoará o Povo de Deus. Isto significa: ele está ai para servir e não par ser servido. Pede que o ajudem a construir um caminho juntos. E clama por fraternidade para toda a humanidade onde os seres humanos são se reconhecem como irmãos e irmãs mas atados às forças da economia.

Por fim, evitou toda a espetacularização da figura do Papa. Não estendeu os braços para saudar o povo. Ficou parado, imóvel, sério e sóbrio, diria, quase assustado. Apenas se via a figura branca que olhava com carinho para a multidão. Mas irradiava paz e confiança. Usou de humor falando sem uma retórica oficialista. Como um pastor fala aos seus fiéis.

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Cabe por último ressaltar que é um Papa que vem do Grande Sul, onde estão os pobres da Humanidade e onde vivem 60% dos católicos. Com sua experiência de pastor, com uma nova visão das coisas, a partir de baixo, poderá reformar a Cúria, descentralizar a administração e conferir um rosto novo e crível à Igreja.

Leonardo Boff é autor de “São Francisco de Assis: ternura e vigor”, da Editora Vozes 1999.

Cardeal Hummes: “Papa é jesuíta de coração

franciscano”

Vaticano – Único cardeal brasileiro presente no Conclave a não ter

ainda se encontrado com a imprensa depois da aleição de Papa

Francisco, Dom Cláudio Hummes, arcebispo emérito de São Paulo

recebeu a Rádio Vaticano na Residência da Cúria dos Franciscanos,

em Roma.

Entusiasmado, Dom Cláudio ressaltou os gestos de simplicidade

evangélica do novo Papa e falou de sua alegria por ter estado ao lado

do Pontífice, logo após a sua eleição.

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“Eu estava muito feliz. Em primeiro lugar porque tínhamos o novo

Papa, mas também por uma coisa extraordinária: é um Papa da

América latina, um argentino, nosso vizinho. Tudo isso era algo de

forte, significativo, que indicava tempos novos para a Igreja, que

tanto precisa neste momento. Estávamos muito felizes porque ele

tinha acabado de dizer que ia se chamar Francisco”, disse D. Cláudio.

Segundo D. Cláudio, o nome Francisco é um programa de vida,

programa de Igreja; é um programa para um Papa, um programa

maravilhoso porque é evangélico. Isto tudo dava uma alegria muito

grande. Também para mim foi uma alegria enorme estar ao lado dele.

Ele me convidou, me disse ‘venha, esteja comigo, ao meu lado este

momento’ e eu fui, junto com o Cardeal Vallini, que é o Vigário. Este

foi um gesto espontâneo dele que eu não posso explicar por que foi

ele que espontaneamente me convidou. Eu era apenas ‘um menino

feliz’”, revelou.

Segundo o arcebispo emérito de São Paulo, eles são amigos. “Nós

nos conhecemos muito. Nos encontramos no outro Conclave, quando

participamos juntos. Nos conhecemos de muitos Sínodos e outros

momentos em que nos encontramos aqui em Roma. E depois, em

Aparecida, quando convivemos 20 dias e éramos da Comissão da

redação, a principal, de onde saiu o texto definitivo. Ele era

presidente e eu membro. Nós trabalhamos juntos naqueles dias. Ele é

um jesuíta com coração franciscano”.

Segundo D. Cláudio esse jesuíta franciscano nasceu em Buenos

Aires, de sua experiência de vida lá, um Arcebispo que foi para o

meio do povo, na periferia, defendendo-os, estando de toda forma ao

lado deles. Ali é que nasceu Francisco que temos hoje como Papa”.

Sobre o envolvimento do Papa Francisco com a ditadura militar, D.

Cláudio foi enfático: “Posso dizer que ele não tem absolutamente

nada a ver com tudo isso. Nada. Ele é um homem absolutamente do

povo, do povo simples, que defende o povo com um pastor defende

as suas ovelhas, que ama profundamente. Isso ele sempre fez e

sempre foi assim. Todo o resto são ilações em que se busca de toda

forma alguma coisa com que ‘diminuir’ uma pessoa, mas ele não tem

absolutamente nada a ver com isso”.

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CONFIRA ABAIXO A ENTREVISTA EXCLUSIVA QUE D.

CLÁUDIO DEU AO JORNAL FOLHA DE S. PAULO

Apontado como o cardeal brasileiro mais próximo do novo papa,

dom Claudio Hummes, 78, diz que a igreja “não funciona” do jeito

que está e pede mudanças em toda sua estrutura. Na sua

apresentação ao mundo, Francisco convidou dom Cláudio, arcebispo

emérito de São Paulo, a ficar do seu lado no balcão da basílica de

São Pedro.

Emocionado com o convite e com a homenagem ao fundador de sua

ordem, o franciscano d. Cláudio disse à Folha que a escolha do

nome é por si só uma encíclica. O ex-bispo de Santo André disse

ainda que as acusações de que o novo papa colaborou com a

ditadura militar argentina são “grande equívoco, senão uma

falsificação”.

Folha – O sr. foi convidado pelo papa Francisco a estar ao seu

lado na primeira aparição. Como é a relação entre vocês?

D.Claudio Hummes – Nós nos conhecemos de tantas oportunidades,

porque fui arcebispo de São Paulo, e ele, arcebispo de Buenos Aires.

Mas sobretudo foi em Aparecida (SP) onde estivemos mais tempo

trabalhando juntos, na 5ª Conferência Latino-americana, em 2007.

Existia ali a comissão da redação, a mais importante porque ali que se

formulava o documento para depois ser votado. Ele era o presidente,

e eu, um dos membros. Admirei muito a sua sabedoria, serenidade,

santidade divina, espiritualidade. Muito lúcido e muito pastoral,

grande zelo missionário, de querer que a igreja seja mais

evangelizadora, mais aberta.

Como foi o convite para o balcão?

Quando se começou a organizar a procissão da Capela Sistina para o

balcão na praça, ele chamou o cardeal Vallini, que faz as vezes do

bispo de Roma, o vigário da cidade, e me chamou também. Disse:

“D.Cláudio, vem você também, fica comigo neste momento”. Disse

até: “Busca o teu barrete [chapéu eclesiástico]“, bem informalmente.

Fui lá buscar o meu barrete e estava todo feliz….

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Porque não é o costume, quem vai junto são os cerimonários, nunca

tem cardeais com o papa, eles estão nos outros balcões. E o fato de

que ele nos convidou acabou rompendo um monte de rituais. Mas foi

realmente, para mim, muito gratificante. E também pelo fato de ele

ter recém-escolhido o nome de Francisco. Eu sou franciscano, então

isso me envolvia muito pessoalmente.

Como o sr. interpreta esse gesto?

Como um gesto pessoal dele, muito espontâneo, muito simples. Não

sei quais os significados que ele queria dar. Eu digo que fiquei muito

feliz, estava ali com o primeiro papa chamado Francisco.

São gestos simples, mas que mostram quem ele é e como ele vê as

coisas. A minha maravilha foi que esses gestos foram compreendidos

pelo povo simples e pela mídia. A mídia também interpretou

esplendidamente, entendeu as mensagens que o papa queria dizer.

Qual é o significado de ter um papa de fora da Europa depois de

mais mil anos e além disso latino-americano?

Os outros papas que não foram exatamente europeus vinham da

região do Mediterrâneo. Nesse sentido, era a Europa da época, era

uma grande realidade geopolítica.

Mas o fato de que hoje venha um papa de fora da Europa tem um

significado muito grande porque mostra o que a igreja sempre tem

dito: a igreja é universal, para a humanidade. Não é para a Europa.

Ter um papa é o sinal maior. É o gesto de dizer: o papa pode vir de

qualquer parte do mundo.

Também acho importante que tenha vindo da periferia ainda pobre,

emergente. Isso é uma confirmação para todos os católicos de lá:

“Nós temos um papa que vem daqui”.

E não só para os católicos, até os países se sentem muito mais em pé

de igualdade com os outros.

São Francisco também é lembrado pela missão de reformar a

igreja como um todo. A escolha do nome também tem essa

abrangência?

Certamente, para o papa, o nome é todo esse programa. Hoje, a igreja

precisa, de fato, de uma reforma em todas as suas estruturas.

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Organizar a vida da igreja, a Cúria Romana, que tanto se falou e que

precisa urgente e estruturalmente ser reformada, isso é pacífico entre

nós. Porém uma coisa é entender que precisa ser feito e outra coisa é

fazê-lo.

Será uma obra gigantesca. Não porque seja uma estrutura gigantesca,

mas por um mundo de dificuldades que há dentro de uma estrutura

como essa, que foi crescendo nos últimos séculos.

Alguém disse já que a escolha do nome Francisco já é uma encíclica

[mensagens do papa à igreja], não precisa nem escrever. Isso é muito

bonito, é muito promissor.

Em que sentido a reforma é necessária?

Não é só da Cúria, são muitas outras coisas: o nosso jeito de fazer

missa, de fazer evangelização, essa nova evangelização precisa de

novos métodos. O papa falou no encontro com os cardeais sobre

novos métodos, nós precisamos encontrar novos métodos.

Mas se falou sobretudo da Cúria Romana, que precisa ser reformada

estruturalmente. É muito grande, mas tudo isso precisa de um estudo,

a gente não tem muitas coordenadas.

Muitos dizem que é grande demais, que foi feito um puxadinho aqui,

um puxadinho lá, mais uma sala aqui, mais uma comissão lá, mas

essa aqui não tem suficiente prestígio…. Essas coisas todas que

acontecem numa estrutura dessas.

A igreja não funciona mais. Toda essa questão que aconteceu

ultimamente mostra como ela não funciona. E depois, uma vez feito

esse novo desenho, você tem de procurar as pessoas adaptadas para

ocuparem esses cargos, esses serviços.

Reza a lenda de que o papa Francisco não gosta de vir a Roma,

que sua formação foi longe daqui. Isso contribuiu para a sua

escolha?

Não sei se contribui para a sua escolha, mas contribui agora, que ele é

papa, a ser mais independente, a ser uma visão mais objetiva. É muito

diferente ver um jogo da arquibancada e ver um jogo jogando

futebol. Ele não jogou futebol. Vai ajudar, certamente.

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Mas ele também vai ouvir pessoas que jogaram, porque é importante

ouvir do jogador como ele viu o jogo e quais são as necessidades

dentro da forma como se joga.

Continuando a metáfora, o sr. jogou aqui por quatro anos e já foi

convocado por ele. O que o sr. pode dizer a ele sobre o que

precisa ser feito?

Se um dia me perguntarem sobre isso… Claro, todos nós já falamos

sobre isso nas congregações gerais [reuniões pré-conclave], em que

ele estava presente. E estamos disponíveis sempre pra ajudar e

precisamos ajudar. Os cardeais são o conselho que deve ajudar o

papa.

Há relatos na imprensa argentina sobre o envolvimento –por

omissão ou colaboração– do papa Francisco com a ditadura

militar. O que tem sr. pode falar sobre isso?

Certamente, isso não é real. Pode ser que alguém tenha se equivocado

em certos discernimentos, mas conhecendo toda a pessoa dele…. Não

conheço os detalhes, mas, conhecendo a pessoa, nem é possível

imaginar isso. Ele é um homem extremamente dos pobres, dos

direitos da gente, dos mais simples, dos mais oprimidos, dos mais

humilhados, ele é um exemplo de defesa, de estar junto dos pobres….

É inimaginável. Tenho certeza de que tudo isso de fato é um grande

equívoco, senão uma falsificação.

A igreja no Brasil, incluindo o sr., teve um papel muito

importante na defesa dos direitos humanos durante a ditadura.

Como isso se deu na Argentina, sem levar em conta o papa

Francisco?

As igrejas pelo mundo afora tiveram as suas próprias avaliações e seu

próprio modo de ser. Não me sinto autorizado para fazer um juízo

sobre a igreja nesse ou naquele país.

Fala-se muito que a herança da Teologia da Libertação para a

igreja na América Latina é o discurso em favor dos pobres. No

caso do papa Francisco, qual é a relação dele com esse

movimento?

Basta olhar como ele foi arcebispo em Buenos Aires e o documento

de Aparecida, que diz tudo isso. Ele está nessa linha, certamente. Se a

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gente quer descobrir qual é a linha dele de pastoral social, de relação

com os pobres, nós vamos encontrá-lo lá, sim.

A Teologia da Libertação foi uma fase histórica que, obviamente,

tem essa questão da consciência que temos dos pobres e da

necessidade de sermos solidários em termos construtivos da justiça

social. Tudo isso a Teologia da Libertação também reforçou.

Eu acho que hoje, se a gente quer ver como as pessoas se relacionam

com esse passado, é preciso olhar os documentos de hoje. Senão,

você começa a transportar o passado, que não é mais uma resposta

para hoje. O mundo já mudou, e as respostas são diferenciadas.

A primeira viagem do papa deve ser ao Brasil, onde a igreja

enfrenta desafios muito grandes, como a evasão de jovens e o

avanço das igrejas neopentecostais. O sr. tem uma ideia do que o

papa pretende orientar sobre o futuro da igreja no país?

Ainda não transpirou nada sobre as mensagens que ele vai levar, mas

a gente sabe, tem certeza de que ele vai falar, em primeiro lugar, da

importância dos jovens, de que devemos estar do lado dele, devemos

ser compreensíveis. Ele quer que a igreja seja compreensiva,

misericordiosa, saiba caminhar juntos e que isso é um percurso que

tem de fazer, não se pode exigir que amanhã alguém já seja um

cristão perfeito. É um caminho, um processo.

É dar a certeza aos jovens de que a igreja os entende e quer

acompanhá-los e também quer mostrar a luz. Quer dizer: “Prestem

atenção, existe, sim, um sentido para a vida, existe alguém pelo qual

vale a pena viver e dar a vida. Há alguém, que é Jesus Cristo, ele é

uma luz que vocês deveriam seguir.” Isto é, não deixar de mostrar o

caminho, mas, ao mesmo tempo, ser compreensivo de onde o jovem

ainda está nesse caminho.

E depois a nova evangelização certamente será um outro tema forte

dele.

Desde o Concílio Vaticano 2º, há um grande esforço para o

diálogo interreligioso, principalmente com as religiões mais

antigas. No caso da América Latina, como é o diálogo neste

momento entre a igreja e o neopentecostalismo, que não para de

crescer?

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O diálogo ecumênico com as outras igrejas cristãs não católicas

existe de forma muito forte, sobretudo a partir do Concílio Vaticano

2º. Com as grandes igrejas: ortodoxa, oriental, as igrejas protestantes

de origem luterana, calvinistas, que são igrejas históricas. Mesmo

com o judaísmo, há um grande diálogo. E também com o islamismo,

mas isso é outro setor porque, para eles, Jesus Cristo não é como para

nós cristãos. Esse diálogo é lento, mas vai caminhando.

Com as igrejas neopentecostais, onde existe muito uma teologia da

prosperidade, se dá muito acento ao exorcismo, ao dízimo e coisas

assim, elas se diferenciam das igrejas pentecostais. Mas tanto uma

com a outra são muito semelhantes. Com elas, é mais difícil, porque

muitas delas simplesmente não aceitam o diálogo, mesmo se nós

quiséssemos dialogar. Porque não aceitam pensar numa unidade um

dia. E muitas vezes são agressivamente anticatólicas, então é muito

complicado.

O sr. já é emérito, mas vai ficar no Vaticano em alguma função?

Não, não, eu vou ficar aqui até o dia 22, vou participar da cerimônia

pública religiosa e vou participar de uma reunião no dia 21. E aí volto

para os meus trabalhos.

Há relatos na imprensa italiana de que o sr. contribuiu durante o

conclave para eleger o papa Francisco. O sr. confirma?

Tudo o que aconteceu dentro do conclave, eu não posso falar.

Voltando ao seu trabalho na cúria, de 2006 a 2010, na

Congregação para o Clero, houve uma entrevista em que o sr.

falava que o celibato era uma questão disciplinar e que, por isso,

estava aberto à discussão. O sr. teria sofrido uma reprimenda

quando chegou ao Vaticano. Está na hora de questões como

celibato e a ordenação de mulheres serem menos ortodoxas?

Isso de reprimenda, você é quem está dizendo. Eu apenas digo que

todas essas questões, todos esses desafios hoje, grandes questões que

estão aí em aberto, a igreja não se fecha a discutir aquilo que é

necessário ser discutido, ser aprofundado. E isso significa uma igreja

capaz de dialogar, capaz de ouvir, capaz de aprofundar, discutir e

procurar caminhos. É o que ela vai fazer, certamente.

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Felizes os pobres em espírito porque deles e o Reino dos Céus (Mt 5,3) - 20 -

E esse papa é muito aberto a ouvir. Ele mesmo disse que quer ouvir o

mundo, e não só os cardeais e os bispos.

Entrevista ao jornalista Fabiano Maisonnave, em Roma.

Frase de D. Cláudio inspirou o Papa a usar o nome Francisco

Vaticano – No esperado encontro com a imprensa internacional, que reuniu mais de 5.000 jornalistas na manhã deste sábado (16), na sala Paulo VI, no Vaticano, o Papa Francisco disse que escolheu seu nome após falar com o cardeal brasileiro Dom Claudio Hummes – arcebispo emérito de São Paulo -, que participou do conclave que o elegeu o novo Papa.

O Papa Francisco foi ovacionado pelos jornalistas na sua chegada. Sentou-se em sua cadeira no centro do palco e ouviu a saudação do

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presidente do Pontifício Conselho das Comunicações Sociais, o Arcebispo Claudio Maria Celli.

Em seguida, leu um breve discurso, agradecendo todos pelo precioso serviço realizado nos dias passados, na cobertura do Conclave e em sua eleição. E explicou o porquê da escolha do nome:

“Na eleição, eu tinha ao meu lado o arcebispo emérito de São Paulo, um grande amigo. Quando a coisa começou a ficar um pouco ‘perigosa’, ele começou a me tranquilizar. E quando os votos chegaram a 2/3, aconteceu o aplauso esperado pois, afinal, havia sido eleito Papa. Ele me abraçou, me beijou e disse: ‘não se esqueça dos pobres’. Aquilo entrou na minha cabeça. Imediatamente me lembrei de São Francisco de Assis”, revelou o Papa.

Segundo o novo Pontífice, seu desejo seria “uma igreja pobre, para os pobres”. “O nome apareceu no meu coração. Para mim, o homem da pobreza, o homem da paz, o homem que ama e protege a criatura.”

No encontro, ele ainda brincou com a escolha do novo nome, ao falar de “sugestões” recebidas. “Algumas pessoas fizeram brincadeiras, falando que deveria ser Adriano porque Adriano VI foi um homem das reformas, ou Clemente, Clemente XV, para ‘se vingar’ de Clemente XIV, que suprimiu a Companhia de Jesus. São brincadeiras, é claro.”

O novo Papa disse que a imprensa e a Igreja têm “pontos de proximidade por trabalharem com a comunicação” e que o “lugar da mídia cresceu muito, a ponto de se tornar indispensável para mostrar ao mundo os rumos da história”. Enquanto falava do trabalho dos jornalistas nos últimos dias, o Papa, com um sorriso no rosto, falou: “e vocês trabalharam bastante, não?”

Francisco também disse que a Igreja “não tem característica política, mas essencialmente espiritual”, e que “Cristo está presente e dirige sua Igreja. Em tudo o que aconteceu, o protagonista é, em última instância, o Espírito Santo. Ele inspirou a decisão de Bento XVI pelo bem da Igreja. Ele influenciou na decisão dos cardeais.”

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Depois de saudar pessoalmente alguns jornalistas, o Papa Francisco concluiu, em espanhol: “Disse que lhes daria a minha benção de coração. Muitos de vocês não pertencem à Igreja Católica, outros não creem. Concedo minha benção, de coração, no silêncio, a cada um de vocês, respeitando a consciência de todos, mas sabendo que cada um de vocês é filho de Deus. Que Deus os abençoe”.

Ele recebeu os cumprimentos de sacerdotes, que entregaram lembranças ao sumo pontífice, e de jornalistas. Um deles recebeu um carinho especial. Um deficiente visual foi abençoado junto com seu cão-guia na sala Paulo VI.

Franciscanos convidam o Papa para visitar Assis

“De Assis um grande abraço, afetuoso e filial, a você, Papa Francisco, novo Vigário de Cristo”. É o que desejam os frades franciscanos de Assis ao novo Pontífice.

Numa nota, os franciscanos agradecem a Deus e se alegram pela eleição do Cardeal Jorge Bergoglio, manifestando “sentimentos de gratidão, sincero afeto e profundo obséquio, prometendo como Francisco obediência e reverência ao senhor Papa”.

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“Neste ano da fé – prossegue a nota – ao acompanhar o início do seu ministério com incessante oração, esperam de acolher o Sumo Pontífice nos lugares sagrados à memória de São Francisco, estreitamente ligados a Sede Apostólica com a Igreja que está em Assis guiada pelo seu Bispo Domenico Sorrentino”.

Os franciscanos, na carta enviada ao Papa Francisco, dizem saber ‘que Jesus está no comando de sua Igreja’ e assim querem seguir o novo Papa ‘com afeto e obediência’. Os frades também expressam “confiança de que, assim como tantos dos seus predecessores até Bento XVI, também você venha logo a esta Cidade onde Francisco continua a anunciar com todo seu ser, à Igreja e ao mundo, o Evangelho que salva”.

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O que se espera de um Papa com esse nome?

Por André Trigueiro

Ao homenagear Francisco de Assis na escolha do nome que o acompanhará ao longo do pontificado que se inicia, o cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio, agora Papa Francisco, poderia se inspirar no Poverello de Assis para promover algumas inovações na forma como a Igreja administra seu patrimônio e seu imenso rebanho. Respeitosamente, compartilharei aqui algumas sugestões sem a pretensão de que elas cheguem ao Vaticano – imerso em inúmeros problemas e desafios mais urgentes – mas a todos aqueles que compreendem a imensa responsabilidade que é tornar-se o primeiro Papa da história a chamar-se Francisco.

1 – Francisco de Assis veio ao mundo há oito séculos para constranger a opulência e poder político de uma igreja que se afastara dos princípios mais elementares do evangelho de Jesus. Como líder espiritual e chefe de estado, o Papa Francisco poderia dar o exemplo de austeridade sem precedentes na forma como a Igreja realiza suas compras, planeja suas obras físicas, organiza eventos e cerimônias, define logísticas de viagem e hospedagem, enfim, tudo o que represente consumo e posse de bens. Usar com parcimônia e moderação. Combater excessos de toda ordem. Ser simples por convicção e princípios éticos.

2 – Francisco de Assis é conhecido como o protetor dos animais, a quem sempre consagrou respeito e veneração. No mundo moderno, animais das mais variadas espécies ainda sofrem toda sorte de violência. Alguns são supliciados por diversão. Outros são alvos da crueldade obstinada de seus donos. As leis de proteção dos animais – presentes em vários países – não conseguem erradicar as muitas atrocidades cometidas contra os bichos. Os que são consumidos como alimentos foram reduzidos à categoria de “proteína animal”, o que credenciaria seus proprietários a tratá-los como se não houvesse ali um ser senciente, capaz de sentir dor. Papa Francisco tem a preciosa chance de denunciar tudo isso e defender protocolos

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éticos de criação, transporte e abate de animais, bem como a proteção das espécies silvestres.

3 – Francisco de Assis também é conhecido como o padroeiro da ecologia. No “cântico das criaturas”, eternizou a sacralização da natureza em suas múltiplas formas e expressões. O Papa Francisco tem a chance de reeditar o “cântico das criaturas” – versão século XXI – de forma ainda mais contundente em defesa da vida. Pode exercer sua enorme influência em favor dos recursos naturais não renováveis e dos ecossistemas ameaçados de extinção. Sem meio ambiente sadio e protegido não há “vida em abundância”, parafraseando o Cristo. Sem vida, a religião não faz o menor sentido.

4 – A abnegação em favor dos pobres – que o levou inclusive a renunciar a todos os bens e viver como eles – fez de Francisco de Assis um legítimo representante da caridade, do amor ao próximo e da abnegação de si mesmo em favor dos valores espirituais. Hoje sabe-se que as principais vítimas das mudanças climáticas, da escassez de água doce e limpa, da destruição da biodiversidade e de todas as manifestações de desequilíbrio ecológico em diferentes pontos do planeta são justamente os mais pobres. O Papa Francisco tem, portanto, a oportunidade de conjugar em um mesmo movimento apostólico as lutas em favor da inclusão social e do meio ambiente. São ações que se complementam e se misturam. Uma mesma causa.

5 – Que ninguém se iluda com o fato de o Papa Francisco ser o chefe de estado de um país que ocupa uma área de apenas meio quilômetro quadrado com aproximadamente novecentos moradores. Ele é o líder espiritual de 1,2 bilhão de pessoas. O que disser, o que fizer, o que escrever, seus gestos, suas companhias, hábitos e comportamentos, risos e reprovações terão repercussão imediata mundo afora. Usar isso em favor dos valores franciscanos – humildade, simplicidade, fraternidade, abnegação em favor dos pobres, etc – fará toda a diferença.

6 – O Papa Francisco terá vez, voz e voto nos encontros multilaterais da ONU que discutem os rumos do planeta. O novo Papa pode tornar o Vaticano ainda mais ativo e presente nesses debates,

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qualificando seus negociadores e mobilizando católicos do mundo inteiro a acompanhar os rumos desses acordos (sobre clima, biodiversidade, água, desertificação,etc) e pressionarem pelo sucesso deles.

7 – Mesmo nas miudezas do dia-a-dia em seu novo endereço, o Papa Francisco poderá promover ajustes em favor da ecoeficiência. Consumo inteligente de água e energia, segregação de resíduos, compras públicas sustentáveis, frota de veículos mais econômica (quem sabe uma versão elétrica do papamóvel?) são medidas que podem ser otimizadas no Vaticano e estimuladas pelas paróquias do mundo inteiro. Quem sabe o novo papa interfira desde já nos protocolos do próximo conclave, e substitua por decreto o ritual de carbonização das cédulas (que sinaliza os rumos das votações pela cor das fumaças) por algum outro método que não polua ainda mais os céus de Roma?

Seja qual for o rumo que o Papa Francisco decidir tomar, terá pela frente, pelo resto de seus dias (ou de seu pontificado, posto que há o precedente da renúncia) um nome forte, emblemático, pleno de significado que marcará seus passos como o sucessor de Pedro. A simplicidade como guia, a pobreza como referência, a natureza como objeto de veneração e respeito. Que o Papa seja sempre Francisco.

Texto de André Trigueiro, no seu blog “Mundo Sustentável” no G1. Jornalista da Rede Globo

“HABEMUS PAPAM”: FRANCISCO Frei Betto

O papa Francisco – nome adotado pelo cardeal argentino Jorge Mario

Bergoglio - ao ser eleito novo chefe da Igreja Católica terá pela frente

difíceis desafios. O maior deles, imprimir colegialidade ao governo da

Igreja e reformar a Cúria Romana.

Para mexer nesse ninho de cobras, terá de remover presidentes de

congregações (que, no Vaticano, equivalem a ministérios) e nomear para

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dirigi-las prelados que, hoje, vivem fora de Roma e são, portanto,

virtualmente imunes à influência da “famiglia curiale”, a que, de fato,

exerce o poder na Igreja.

Para modificar a estrutura monárquica da Igreja, Francisco terá de

repensar o estatuto das nunciaturas, valorizar as conferências episcopais

e o sínodo dos bispos e, quem sabe, criar novas instituições, como um

colégio de leigos capaz de representar a Igreja como Povo de Deus, e

não como sociedade clericalizada pretensamente perfeita.

Não será surpresa se, em breve, o novo papa promover o seu primeiro

consistório, elevando ao cardinalato bispos e arcebispos dos cinco

continentes (e talvez até padres e leigos, os chamados “cardeais in

pectore”, que não são de conhecimento público).

Tal iniciativa deverá incluir o atual arcebispo do Rio de Janeiro, dom

Orani Tempesta. Paira certa incongruência no fato de a arquidiocese

carioca não ter, há anos, cardeal titular, como há em São Paulo.

Sobretudo considerando que o Rio acolherá, em julho próximo, a

Jornada Mundial da Juventude, à qual o novo pontífice estará presente.

A imagem da Igreja Católica está manchada, hoje, por escândalos

sexuais e falcatruas financeiras. Não se espere do novo papa atitudes

ousadas enquanto Bento XVI lhe fizer sombra na área do Vaticano. Mas

seria uma irresponsabilidade o papa Francisco não abrir, no interior da

Igreja, o debate sobre a moral sexual.

Nesse tema, são muitas as questões a serem aprofundadas, a começar

pela seleção dos candidatos ao sacerdócio. Já há uma instrução de Roma

aos bispos para que não sejam aceitos jovens notoriamente afeminados –

o que me parece uma discriminação incompatível com os valores

evangélicos. Equivale a impedir o ingresso na carreira sacerdotal de

candidatos heterossexuais dotados de uma masculinidade digna de Don

Juan.

O problema não é questão de aparência, e sim de vocação. Se a Igreja

pretende ampliar o número de padres terá que, necessariamente, retomar

o padrão dos seus primeiros séculos e distinguir vocação ao sacerdócio

de vocação ao celibato.

Aqueles que se sentem em condições de se abster de vida sexual (já que

apenas aos anjos é dado prescindir da sexualidade) devem abraçar a via

monástica, religiosa, ainda que alguns se tornem sacerdotes para o

serviço comunitário. Já ao clero diocesano seria facultado escolher a

vida matrimonial, como ocorre hoje nas Igrejas ortodoxa e anglicana, e

com os pastores de Igrejas protestantes.

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O caminho mais curto e mais sábio seria o papa admitir a reinserção de

padres casados no ministério sacerdotal. Eles são milhares. No mundo,

calcula-se cerca de 100 mil; no Brasil, 5 mil. Muitos gostariam de voltar

ao serviço pastoral com direito a administrar sacramentos e celebrar

missa.

A medida mais inovadora seria permitir o acesso de mulheres ao

sacerdócio. Não há precedente na história da Igreja, exceto em países

socialistas onde, clandestinos, bispos despreparados ordenaram

mulheres cujo sacerdócio, ao vir à lume, não foi reconhecido por Roma.

Nos evangelhos há mulheres notoriamente apóstolas, embora não

figurem na lista canônica dos doze apóstolos. Em Lucas 8, 1, constam os

nomes de mulheres pertencentes à comunidade apostólica de Jesus:

Maria Madalena, Joana, Susana “e várias outras”.

A samaritana (João 4) foi apóstola, no sentido rigoroso do termo – a

primeira pessoa a anunciar Jesus como o Messias. E Maria Madalena, a

primeira testemunha da ressurreição de Jesus.

Facultar às mulheres o acesso ao sacerdócio implica modificar um dos

pontos mais anacrônicos da ortodoxia católica, que ainda hoje considera

a mulher ontologicamente inferior ao homem. É a famosa pergunta em

aula de teologia: pode o escravo se tornar padre? Sim, desde que liberto,

pois como homem goza da plenitude humana. Já a mulher, ser inferior

ao homem, está excluída desse direito, pois não goza da plenitude

humana.

Outros desafios se apresentam ao novo papa, como o diálogo inter-

religioso. Nos últimos pontificados Roma deu passos significativos para

melhorar as relações do catolicismo com o judaísmo, levando o papa a

visitar o Muro das Lamentações, em Jerusalém, e isentando os judeus da

pecha de assassinos de Jesus.

No entanto, retrocedeu quanto à relação com os muçulmanos. Em sua

visita à Universidade de Regensburg, na Alemanha, em 2006, Bento

XVI cometeu a infelicidade de citar uma história do século XIV em que

o imperador bizantino pede a um persa que lhe mostre "o que Maomé

trouxe de novo, e você só encontrará coisas más e desumanas, como sua

ordem de espalhar pela espada a fé que pregava". Embora a intenção do

papa fosse condenar o uso da violência pela religião – no qual a Igreja

da Inquisição foi mestra – a comunidade islâmica, com razão, se sentiu

ofendida.

Ao visitar os EUA, em 2008, Bento XVI esteve numa sinagoga de Nova

York, sem no entanto dirigir-se a uma mesquita, o que teria demonstrado

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sua imparcialidade e abertura à diversidade religiosa, além de combater

o preconceito estadunidense de que muçulmano rima com terrorista.

Há que aprofundar o diálogo com as religiões do Oriente, como o

budismo e as tradições espirituais da Índia. E buscar melhor

aproximação com os cultos animistas da África e os ritos indígenas da

América Latina.

É chegada a hora de a Igreja Católica admitir a pertinência das razões

que provocaram sua ruptura com as Igrejas Ortodoxas e a de Lutero com

Roma. E, num gesto ecumênico, buscar a unidade na diversidade, de

modo a testemunharem uma única Igreja de Cristo.

Convém reconhecer, como propõe o Concilio Vaticano II, que as

sementes do Evangelho vigoram também em denominações religiosas

não cristãs, ou seja, fora da Igreja Católica há sim salvação.

O papa Francisco terá que optar entre os três dons do Espírito Santo

oferecidos aos discípulos de Jesus: sacerdote, doutor ou profeta. A ser

um sacerdote como João Paulo II, teremos uma Igreja voltada a seus

próprios interesses como instituição clerical, com leigos tratados como

ovelhas subservientes e desconfiança frente aos desafios da pós-

modernidade.

A ser um doutor como Bento XVI, o novo pontífice reforçará uma Igreja

mais mestra do que mãe, na qual a preservação da doutrina tradicional

importará mais do que encarnar a Igreja nos novos tempos em que

vivemos, incapaz de ser, como São Paulo, “grego com os gregos e judeu

com os judeus”.

Assumindo seu múnus profético, como João XXIII, o papa Francisco se

empenhará numa profunda reforma da Igreja, para que nela transpareça

a palavra e o testemunho de Jesus, no qual Deus se fez um de nós.

“Habemus papam!” Já sabemos quem: Francisco. É a primeira vez na

história que um papa adota o nome daquele que sonhou que a Igreja

desabava e cabia a ele reconstruí-la. O tempo dirá a que veio.

Frei Betto é escritor, autor de “A obra do Artista – uma visão holística

do Universo” (José Olympio), entre outros livros.

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Temos um Papa!

Queridos franciscanos e franciscanas Um papa que escolhe o nome de Francisco. Que não se sentindo forte o bastante para guiar seu rebanho, se espelha na vida do Poverello de Assis. Certamente os franciscanos do mundo todo devem ter sentido uma forte emoção. Eu senti. Não só pela escolha do nome, mas muito mais pela sua atitude, que diante de uma grande multidão, demonstrou ser um homem de oração rezando pelo seu antecessor, humilde quando se inclina e pede para que rezem por ele e simples pelas palavras que dirigiu ao povo. Um papa que nos nossos tempos ouviu o mesmo apelo que Cristo fez a Francisco: “Vai e reconstrói a minha Igreja”. Trago bem presente em minha memória, tantas vezes que rezei aquela oração que João Paulo II escreveu na ocasião em que visitou o Monte Alverne em 17 de setembro de 1993: “Ó Francisco, estigmatizado de La Verna, o mundo tem saudades de ti... Tem necessidade do teu coração aberto para

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Deus e para o homem...Tem saudades da tua voz fraca, mas forte pelo poder do Evangelho. Ajuda, Francisco, os homens de hoje...” Deus que ouve sempre as nossas súplicas, envia para nós um jesuíta que escolhe o nome de Francisco não por acaso, mas com o propósito de resgatar o Evangelho, à maneira de Francisco. Quando o Papa Inocêncio III teve o sonho de que um pobrezinho ia sustentar a Igreja de Cristo, descobriu em Francisco que isso se tornaria realidade. Quem visita a Basílica de São João de Latrão em Roma, pode observar com precisão essa cena: em frente da Basílica há um jardim com um monumento representando Francisco e seus companheiros que estão chegando para pedir aprovação da Regra. O artista, certamente conhecedor do fato, idealizou de tal forma que, olhando com atenção por detrás, a uns 10 metros se vê perfeitamente que ele está sustentando as colunas da Basílica.

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Talvez fosse uma pretensão pensar que depois de mais de 800 anos, um jesuíta fora escolhido para ser o Pontífice, possa ser aquele que por inspiração divina, vá sustentar a Igreja de hoje? Não sei, mas esse papa jesuíta poderá acender a chama da vocação de muitos franciscanos. Poderá “acordar” muitos corações franciscanos que se encontram adormecidos, desanimados, cansados... De muitos que talvez já tenham perdido o ponto de partida. Depois de 500 anos (da existência da Ordem dos Jesuítas), é um papa jesuíta, com coração franciscano', afirmou Dom Odilo Scherer. Francesco, o mundo ainda precisa de ti. Em sua primeira homilia, inspirado nas leituras, ressaltou que Caminhar, Edificar e Confessar Jesus Cristo crucificado, é preciso. Rezemos pelo Papa Francisco: Rezemos para que ele seja sempre mais um sinal visível da unidade de todos os que creem em Cristo. E que todos os filhos de São Francisco sejam sempre filhos e filhas fiéis da Santa Igreja. Papa Francisco, unidos com a Fraternidade do céu, desejamos que a bênção de São Francisco oriente com sabedoria seu trabalho:

“O Senhor vos abençoe e vos guarde. Mostre a sua face e se compadeça de vós. Volva para vós o seu rosto e vos dê a paz! O Senhor vos abençoe, Pai, Filho, Espírito Santo. Amém” Denize Aparecida Marum Gusmão

Postado por Regional Sudeste III - OFS do Brasil

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A hora impossível de um Papa Francisco I

Os quartos de Bento

XVI estão vazios:

com que o nome irá

responder ao

Escrutinador o

próximo papa que irá

dormir no seu leito?

Após o anúncio do

conclave, o pontífice

pré-escolhido tem

"um minuto inteiro"

para pensar a

respeito.

O primeiro sinal da

Igreja que muda

poderia ser o nome

do sucessor de Ratzinger. Da sacada, ninguém nunca anunciou

"eis Francisco", Francisco I, para reiterar o compromisso do santo

que protege a Itália, mas sempre esquecido pelos descendentes de

Pedro.

A reportagem é de Maurizio Chierici, publicada no jornal Il Fatto

Quotidiano, 08-03-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Ele morreu há quase oito séculos, mas ninguém se sentiu disposto

a abraçar a sua espiritualidade e a sua dedicação absoluta à vida

dos outros. "Francisco é um nome impossível para a carga de

poderes com os quais, ao longo dos séculos, foi construído o

papado: infalibilidade, soberania, controle na forma de todo

serviço, autoridade sobre milhões de fiéis, responsabilidade de

propostas. Não é uma questão de humildade pessoal. Francisco

impõe uma pobreza difícil a qualquer soberano vaticano".

Raniero La Valle não imagina que o próximo papa possa se

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lembrar disso. O que o conforta é a renúncia de Bento XVI, que

restitui ao pontífice a fragilidade humana. Reevocada por Paulo

VI no seu único discurso de improviso depois do Concílio: ele

pediu que a Igreja se tornasse pobre "não só no ser, mas também

no aparecer", palavras que se esvaíram com o tempo.

Diretor e testemunho para o jornal Avvenire, dos bispos italianos,

nos anos do Concílio Vaticano II, La Valle hoje gira o mundo pela

Rai em busca dos últimos. Entre os livros Dalla parte di Abele,

Pacem in Terris, La teologia della liberazione e a belíssima

memória Il mio Novecento. Ele lidera os Comitês Dossetti para a

Defesa da Constituição. A separação da Igreja da gestão dos bens

é um tormento que atravessa os anos: quem também o invoca é

Heinrich Böll, prêmio Nobel de Literatura que cresceu no

pacifismo católico da Alemanha ano zero.

"Será sempre tarde demais quando a Igreja e a aristocracia se

separarem das suas imensas propriedades, dos seus tesouros, das

ridículas e pomposas ninharias com as quais elas continuam se

adornando. Um aspecto do mundo ocidental são, justamente, as

propriedades das Igrejas. Terrível fardo que pesa sobre o

atormentado e sofredor líder daquela que é ainda hoje a mais

poderosa das Igrejas. Quem poderia renunciar à propriedade?

Quem, senão essa Igreja que não tem descendentes? Torna-se

cada vez mais tarde".

Era 1969. Em Castel Gandolfo, o Papa Montini repetia as

mesmas palavras: "Com este Vaticano, nunca haverá um papa

chamado Francisco, porque Francisco destruía as regras

humanas apenas na obediência ao Evangelho. Nenhuma

estrutura piramidal, nenhuma burocracia, nenhum privilégio".

Quando ele descobriu que um irmão da Ordem construiu para si

uma pequena casa, ele subiu ao telhado e, uma a uma, arrancou

as suas telhas: que pobreza é essa se muitos irmãos se refugiam

nas grutas da campanha? Quem o lembra é Ettore Masina,

vaticanista e escritor que relatou o Concílio.

Francisco vinha da riqueza do pai, do qual se separou despojando-

se das roupas diante do bispo e de uma multidão de curiosos. A

pobreza é a vocação que o fez passar por louco. "Portanto, é

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impossível, nos nossos anos, que um pontífice chamado Francisco

possa habitar no Vaticano. Ele deveria viver na última paróquia

de Roma".

O padre Paolo Farinella, pároco no centro de Gênova de uma

paróquia sem paroquianos, viveu em Jerusalém nos anos do

cardeal Martini. Estudou hebraico, aramaico e grego. Tem duas

graduações em teologia bíblica, sobretudo a análise religiosa e

política da Terra Santa devastada por repressões e intifadas. Os

seus livros são publicadas pela editora Gabrielli. Em 2000,

publicou o romance Habemus Papam, Francesco I. Dez anos

depois, ele o reescreveu com o título Habemus papam. La leggenda del papa che abolì il Vaticano [A lenda do papa que

aboliu o Vaticano], mas a história não muda.

Ele conta a história de um pároco genovês chamado a Roma, onde

os Padres do conclave não chegam a um acordo, e um cardeal que

conhece as virtudes do pequeno padre faz a excêntrica proposta: e

se escolhêssemos alguém assim? Pároco desarmado nos círculos

da burocracia vaticana. Papa ideal nas mãos dos manipuladores.

Eis a surpresa: assim que o Escrutinador se dirige a ele para

perguntar-lhe "quomodo vocaberis?", como você quer se chamar, o

velho padre responde: "Francisco I".

E, quando, do trono, se dirige ao povo, a voz não treme: "Escolhi o

nome de Francisco não por um capricho político, mas sim para

que ele permaneça como marca de fogo na minha carne. Deve ser

um lembrete constante a levar a sério o Evangelho: a caridade

como lei, a pobreza como estilo, a comunhão como método".

A multidão observa, perplexa, os paramentos que brilham. "Eu

sei perfeitamente o que vocês estão pensando: prega bem, mas

pratica mal". Com lentidão exasperada, começa a se despojar.

"Deponho esta férula de prata: como diz Marcos, não levem para a

viagem nada mais do que um bastão. Deponho este chapéu

anacrônico: mais do que um pastor, ele me mostra como um

sátrapa oriental". Ele se desfolha como uma cebola: do anel de

zafira, da cruz de ouro maciço, dos paramentos "luxuosos que

deveriam render glória a Deus e se tornam ofensa para os

pobres".

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Ele fica com uma túnica branca. "E, por um momento, bispos e

cardeais se envergonharam por não estarem nus como Adão e,

olhando-se adornados pelos mantos no espelho da sua alma, se

reconheceram ridículos".

PAZ E BEM!

FAMÍLIA FRANCISCANA DO BRASIL/FFB

SCLRN 709 - Bloco B, nº 11 - CEP 70.750-512 BRASÍLIA-DF Caixa Postal: 6208 - CEP 70.740-971 Telefax: (61) 3349-0157 / 3349-0156 /3349-0187 / 3349-0197

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