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1 Recife PE 2012

IRMÃOS, AMIGOS E RIVAIS - perse.com.br · voltaria a ser como antes, disto a família Souza sabia. De longe Laís, uma adolescente sardenta de olhos azuis ... E os mais humildes

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IRMÃOS, AMIGOS E RIVAIS – parte 1

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Recife – PE 2012

Simone Queiroz

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PRÓLOGO

Depois daquele dia em pleno mês de janeiro, nada mais

voltaria a ser como antes, disto a família Souza sabia.

De longe Laís, uma adolescente sardenta de olhos azuis

e longos cabelos negros, observava aquela cena que lutando

contra si mesma para aceitá-la. Não queria acreditar no que

estava bem diante de seus olhos, afogados em lágrimas. Como

poderia seu pai, a quem tanto amava estar sendo enterrado

naquele exato momento? Era dor demais.

Ingrid, sua mãe, de óculos escuros, cabelos loiros

tremulando ao vento estava sendo consolada por um jovem alto

de cabelos negros, olhos azuis, de porte atlético. Era seu irmão

gêmeo Lucas, que tinha nos braços a pequena e loira Talita de

apenas seis anos aos prantos.

O céu estava num tom rosado, contrapondo-se a um

suave azul bebê, pois o sol se punha no horizonte.

UM RETORNO NADA FÁCIL

Um ano e seis meses depois...

O sol resolvera acordar todos da pequena cidade de São

Genaro, do interior de Pernambuco, com seus 15.000

habitantes. Nesta havia uma igreja dedicada ao santo padroeiro

da cidade, além de a sua frente uma enorme praça onde

ocorriam os maiores eventos da cidade.

As classes sociais se separavam quase que

geograficamente. As famílias de médio porte moravam

próximas ao centro, que contava com poucas edificações

verticais, tendo as mais altas cinco pavimentos. Os de melhor

condição ficavam separados dos demais pelo rio Forte, que

contornava toda a cidade. E os mais humildes logo na entrada

da cidade.

Ingrid e seus filhos moravam no primeiro andar do

restaurante deles Sol Nascente, situado próximo ao rio.

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- Eu simplesmente a-do-ro o primeiro dia de volta as

aulas! – gesticulou a pequena Talita indo já de farda sentar à

mesa.

- Que bom, meu anjo! – Ingrid pôs a mão sobre o

queixo dela, beijando-lhe a cabeça, enquanto com a outra mão

colocava um prato com cuscuz misturado com queijo e ovo na

frente dela.

- Hum! O cheirinho está bom mesmo. – lambeu os

lábios, após inspirar o aroma do alimento, pegando o garfo.

Lucas que já estava à mesa comendo sorriu olhando-a.

- Laís! Venha logo! Se não vai se atrasar! – gritou pela

filha do corredor, voltando à cozinha.

- Já vou! – avisou do quarto.

Ingrid pôs na mesa uma jarra com suco de acerola,

sentando-se finalmente.

- Ah, mãe, suco de acerola de novo! – protestou Talita

de boca cheia.

- Eita! Mastiga antes! – corrigiu-a. – Acerola é rica em

vitamina C.

- Você vive dizendo isto. – entrouxou os lábios,

relutante.

- E o pé de acerola está carregado. – justificou Ingrid.

- E aí, gente boa! – entrou um rapaz de cabelos e olhos

pretos, com um sorriso encantador, após bater com o nó do

indicador na porta.

- Mig! – Talita correu até ele o abraçando.

- Diz gata! – Miguel a colocou nos braços, caminhando

até a mesa. – Cuscuz! Dava pra sentir o cheiro lá de casa... Tem

lugar para mais um?

- Para você sempre. – sorriu Ingrid. – Sabe onde tem

prato.

- E olha que hoje é só o primeiro dia! – lembrou Laís,

criticando a visita matinal dele, passando por ele rumo à

cozinha.

- Isto tudo é saudades minha, confessa. – entrou na

cozinha.

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- Se mudou pra cá quando estive fora? – Laís o apontou

com a colher que pegara. – Ou se acostumou em invadir a casa

alheia as seis da manhã?

- Eu ouvi isto, Laís! – Ingrid a corrigiu da sala.

- Sem bronca, tia. – Miguel trazendo um prato, bateu

com a mão na de Lucas, sentando-se, aumentando a voz. –

Acordou de bom humor hoje, foi?

- Meu humor não podia estar melhor... – Laís sentou ao

lado de Talita, falando com sarcasmo. – Dando de cara com

você logo no primeiro dia de aula do resto das nossas vidas.

- Pega leve, Laís! – pediu Lucas.

- Liga não, Mig. Isto deve ser TPM. – Talita falou

baixo.

- Fica na sua, pirralha, que você não sabe nem o que é

isto. – Laís empurrou-a de leve, recebendo o troco. – Vê se

cresce.

Talita olhou-a com raiva, sem gostar do comentário,

tirando a franja loira escorrida da frente de seus olhos.

- Vixe Maria! – assustou-se Ingrid ao ver a hora,

levantando-se. – Preciso ir.

- Mas, e seu café, mãe? – preocupou-se Lucas.

- Depois... Laís lava tudo pra mim, por favor. – pediu

indo escovar os dentes.

- Claro. – disse sem ânimo.

- E Lucas...

- Abro o restaurante, antes de sair. – adiantou-se Lucas.

- Táta...

- Eu sei, mãe. Ajudo Laís. – falou de boca cheia.

- Rum! – com a escova de dente na boca, olhou-a com

repreensão do BWC.

- Desculpa. – pediu engolindo.

Os quatro continuaram a refeição, enquanto Ingrid saia

de casa.

- Soube da nova? – Miguel fez suspense, olhando para

Lucas, quando Talita saiu da mesa.

- Qual? – Lucas tomou um gole de suco.

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- Sabe Teresa Rodrigues, amiguinha da deliciosa Lílite?

– Miguel vez sinal de curvas com a mão, visualizado Lílite.

- Sua cunhada? – Laís apontou-o com ar de deboche,

levantando-se, pois terminara de comer.

- Erros do destino. – sorriu Miguel. – Ela confundiu os

irmãos, em vez de escolher o melhor, escolheu o mais idiota.

- Ou foi ao contrário? – falou da cozinha.

- O que tem Teresa? – Lucas mesmo sem muito

interesse, preferia este assunto a ouvi-los discutindo.

- A mãe dela vai dar uma festança lá no clube chique e

adivinha... – Miguel fez uma pausa de propósito, tirando do

bolso duas senhas.

- Como conseguiu isto? – espantou-se as segurando.

- Com certeza devem ser falsas. – garantiu Laís tirando

as coisas da mesa junto com Talita.

Lucas sem querer ouvir aquela conversa foi arrumar-se.

Miguel a olhou de soslaio, erguendo parte dos lábios num

sorriso sedutor.

- Engano seu, meu doce... Isto aqui quem me deu foi a

própria Teresa Rodrigues. Se você não sabe, muitas coisas

mudaram enquanto esteve fora. E para melhor. – gabava-se

cheio de si, estufando o peito. – Sou “o” cara da escolar. As

meninas caem aos meus pés.

Laís fingiu tropeçar, se apoiando na mesa ficando de

frente para ele.

- Você quis dizer assim? – falou próxima a ele, com

sarcasmo.

- Antes que vocês se degolem devo lembrar que são dez

minutos daqui até o colégio. – Lucas avisou pondo a mochila

sobre o sofá. – E só faltam vinte minutos para o toque.

- Levaremos menos de dois minutos para chegar. –

levantou-se Miguel erguendo o indicador. – Vim de carro.

- O que?! – fizeram os três em uníssono, fitando-o.

- Não precisam me agradecer. – animou-se Miguel indo

ao BWC.

- Prefiro ir a pé! – Laís foi à cozinha, organizando os

pratos na pia.

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- Minha professora de balé disse que o ideal é caminhar

logo cedo. – avisou Talita lavando-os.

- Acho que esta missão será só sua, irmãozinho querido.

– Laís apertou a bochecha dele, pegando uma toalha para secar

os pratos.

- Miguel, nós precisamos conversar sobre isto... –

preocupou-se Lucas indo até ele.

Antes de passar pelo portão do colégio Laís parou

apertando o livro contra o peito.

- Que foi? – Talita a olhou.

- Vai indo que entro depois. – avisou.

Laís observava através das grades que cercava o colégio

“Três Marias”, seus antigos colegas de turma se

cumprimentando animados pelo reencontro, fazendo-a sentir

um imenso vazio. Um ano e meio longe daquele lugar fizeram-

na sentir-se agora uma completa estranha.

Ela saíra de São Genaro quando ganhara uma bolsa de

estudo num dos melhores colégios da capital, para jogar vôlei.

Era a melhor do time quando jogava pelo seu colégio. Como as

coisas mudaram! Refletia com pesar, pois havia saído de lá na

glória esnobando seus talentos não só no jogo como nos

estudos, além de sua popularidade que agora eram causa de

humilhação, pois havia fracassado. Após meses fazendo

fisioterapia no joelho que machucara num jogo decidira no final

do primeiro semestre não voltar mais às quadras, perdendo a

bolsa.

- Pretende assistir as aulas daqui? – Miguel passou por

ela.

- Você está bem? – Lucas aproximou-se preocupado,

pois sabia o quanto era duro para ela voltar.

- Não. – olhou-o com medo. – Mas, vou ficar.

Ambos viram Miguel cumprimentando a todos. Ele

realmente era um sucesso, Laís pode constatar.

- Pode contar comigo, sempre. – Lucas segurou na mão

dela.

Laís olhou para a mão dele, sorrindo.

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- Sei disso... Mas... – soltou a mão dele. – Não vai ficar

legal para mim, entrar no colégio em pleno ano letivo de mãos

dadas com meu irmão caçula.

- Caçula?! Que papo é este? – caminhou ao lado dela. –

Segundo nossa mãe fui eu quem nasceu primeiro.

- O que são segundos? – Laís ergueu o ombro, sorrindo.

- Minutos! – corrigiu-a. – É isto que nos separa e me

torna mais velho.

- Não mais esperto. – assanhou o cabelo dele, que se

afastou.

- É ótimo tê-la novamente aqui, conosco! – Lucas foi

sincero, parando na frente do portão que estava aberto.

- Eu amo vocês. – referia-se à família.

- Lucas! – chamou Miguel acenando de longe.

- Vai lá. O “garoto popular” o chama. – fez sinal de

aspas.

- Vai ficar bem?

- Falando assim nem parece que em cinco minutos

estaremos na mesma sala. – sorriu Laís.

- Tá. – Lucas correu até Miguel.

Ao vê-lo afastar-se sacudiu a cabeça sorrindo.

- Laís Souza?! – parou a seu lado uma garota de

reluzentes olhos cor de mel, parecidos com o de Lucas, cabelos

castanhos bem cuidados e um corpo invejável.

- Lilis? É você mesma? – espanou-se ao vê-la diferente.

- Voltou ao colégio caipira? E sua vida mega-

desenvolvida na capital? – pôs a mão sobre a cintura.

- Para você ver... Estou de volta! – sorriu disfarçando.

- Muita coisa mudou. E você vai ver! – falou cheia de

si.

- Percebi. – disse sem ânimo.

- Sou a nova capitã do time de vôlei, sabia?

- Bom para você. – afastou-se dela.

- Ótimo para mim. – sussurrou.

Ingrid no escritório do “Sol Nascente” lia pela quinta

vez a mesma carta relutando em acreditar no conteúdo desta.

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Afastou por fim a carta de si e com lágrimas lhe

correndo a face, cobriu o rosto com as mãos.

O que será de nós? Pensava em meio aos soluços. Ao

ouvir batidas à porta tentou se arrumar o mais rápido possível,

sem conseguir.

- Ingrid? – entrou um senhor beirando os 70 anos, ao

vê-la fechou a porta por trás de si logo em seguida.

- Desculpa. – passava a mão pelo rosto.

- Não precisa pedir desculpas por chorar. – aproximou-

se. – O que foi?

- Leia. – estendeu a carta para ele. – Perdemos, Silas.

Perdemos na justiça.

- O quê? – preocupou-se lendo o papel.

- Estamos na beira da falência. – levantou-se

caminhando de um lado para o outro.

- É muito dinheiro o que estão cobrando. – Silas olhou-

a boquiaberto.

- E não sei de onde tirar... Como pode ter ocorrido isto?

– desabou em lágrimas, sendo abraçada por ele.

- Provações, filha. – falou carinhosamente. – Se Deus

permitiu que isto ocorresse é porque tem algo de especial lhe

aguardando. Já ouviu falar que a alegria é fruto da espera?

- O que Deus quer de mim, Silas? Primeiro levou

Giovane, o amor de minha vida neste acidente terrível com o

caminhão da empresa e agora temos que arcar com todo o

prejuízo material. – dizia indignada afastando-se dele. – Como

vou sustentar meus filhos com esta dívida? Precisamos

hipotecar o restaurante, a casa, tudo!

- Calma Ingrid. – pediu em vão.

- Como posso ter calma, Silas? Como? Sou humana e

muito fraca! Não agüento mais toda esta pressão. Às vezes

tenho vontade de...

- É melhor não continuar. – ergueu o indicador. – Não

diga algo que possa arrepender-se mais tarde.

- Tem razão. – sentou-se pesadamente no sofá. – Como

sempre.

- Não seja sarcástica! – repreendeu-a se sentando.

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- Desculpa... O que faço?

- Primeiro temos que pedir para seu advogado

renegociar a dívida e depois falamos com o contador. – Silas

apoiou os cotovelos nas pernas, depois a olhou. – Tudo tem

jeito. Vamos sair desta. Você vai ver.

- O que seria de nós sem você? – abraçou-o

choramingando.

- Seu pai confiou o que segundo ele, lhe era mais

precioso, não posso decepcioná-lo. – beijou a testa dela, lhe

afagando os cabelos.

O restaurante Sol Nascente era bastante requisitado,

pela sua comida e preço, além de ter um ambiente bastante

agradável.

Lucas e Laís trabalhavam ajudando a mãe a servir. Laís

ficava no caixa enquanto Lucas servia assim como Talita e

Miguel que de vez em quando o faziam.

- Mãe, acabou o rolo do cartão. – avisou Laís, que não

conseguia imprimir.

- Tem outro dentro da primeira gaveta do birô, lá no

escritório... Vai pegar meu bem, por favor. – pediu Ingrid

supervisionando a lista de pedidos.

- Tá.

Laís à medida que caminhava rumo ao escritório

observou seus irmãos, Miguel, Silas servindo e divertindo-se

conversando com os clientes. Onde mais encontraria um

ambiente de trabalho com aquele clima familiar? Refletiu Laís

sorrindo. É muito bom estar de volta!

Abriu a porta pensando um pouco no seu pai, na alegria

dele, olhando para o alto.

- Isto tudo é obra sua, pai. – falou baixo como se seu

pai tivesse ouvindo-a do céu. – Você sempre será o melhor!

Foi até o birô, ao abrir a gaveta em busca do rolo uma

carta lhe chamou atenção por ter um carimbo judicial.

Curiosa abriu-a, lendo.

Com a mão sobre a boca sentou-se pesadamente da

cadeira de rodízio.

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- E agora? – com olhos arregalados de espanto, permitiu

que lágrimas de desespero lhe corressem a face.

Quando ouviu batida à porta, sendo esta em seguida

aberta, guardou rápido a carta, ficou de costas para secar o

rosto.

- Laís, sua mãe... O que foi? – Miguel notou a reação

estranha dela.

- “O que foi” o quê? – se recompôs ficando em pé.

- Estava chorando? – apontou-a, preocupado.

- Claro que não! – ridicularizou a suposição dele, indo

até a porta. – Por que eu estaria chorando?

- Você não me engana. – Miguel encostou a mão no

braço dela fazendo-a recuar. – O que tá pegando?

Laís baixou a cabeça em busca de qualquer desculpa

convincente, erguendo-a com um semblante triste.

- Você está certo. Eu estava chorando... Não imagina o

quanto é difícil para uma garota como eu... – dizia sem fitá-lo. –

Ter sido reduzida a nada no colégio.

- Era por isto? – surpreendeu-se com a futilidade dela.

- Até parece que ninguém mais lembra o quanto sou

melhor que todas as outras. Quer saber? – aproximou-se dele

toda cheia de si, batendo no tórax dele. – Eu sou mais eu.

Laís saiu de cabeça erguida fingindo se achar o

máximo, enquanto por dentro sofria pela realidade que acabara

de descobrir.

- Fútil! – xingou-a sacudindo a cabeça.

UM “FINAL DE SEMANA” QUALQUER

O tão esperado sábado chegara, assim como a festa do

clube organizada pela socialite Anice Rodrigues, mãe de Teresa

e seus ilustres convidados.

- Cara, esta festa só vai dar a gente! – dizia Miguel

empolgado para Lucas ao entrar no clube. – Vê só! A

mulherada tá saindo pela janela.

- Esqueceu Lílite?

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- Ela ainda precisa aprender muito até estar pronta para

mim. Por enquanto vou fazendo minha boa ação ensinando as

outras a encontrar a felicidade. – apontou para si mesmo, cheio

de si.

- Sei. – Lucas achou graça, rindo.

- Acho que não precisarei procurar muito. Olha lá

aquela gatinha de rosa. – Miguel mostrou-a para ele. – Ela não

parou de me encarar desde entrei. Tá no papo.

- Vai lá! – gesticulou Lucas.

- Pra você se mandar? – olhou-o desconfiado. – Até

quando vai fugir da vida, cara? Reage!

- Não estou fugindo da vida. Só num tô em clima de

festa. – caminhou, sendo acompanhado por Miguel.

- Se o problema for clima... – Miguel pôs o braço na

frente dele o freando, enquanto procurava por alguém, ao

encontrar sorriu chamando-a. – vou trazer um sol para

esquentar seu clima.

- Não é disso que preciso, agora. – garantiu Lucas,

ficando admirado ao ver uma bela garota negra aproximando-

se.

- Oi, Fran! – Miguel beijou o rosto dela sensualmente.

- Oi. – falou com charme.

- Queria que conhecesse meu amigo Lucas.

- O-oi! – gaguejou Lucas encantado com a beleza dela.

Enquanto isto Laís estava na cozinha do clube

organizando a distribuição das bebidas, assim como o momento

que deveria ser servido cada petisco. Sua farda era um pouco

distinta das dos serventes, que usavam um enorme avental preto

padronizado, sobre calças pretas e camisa social laranja.

- Abra um guaraná diet e outra garrafa de vinho tinto. –

avisou Laís segurando uma prancheta em que controlava todas

as quantidades. Virou-se depois para outro grupo. – Comecem

com a empada e pãezinhos, enquanto as frituras estão sendo

terminadas.

A cozinha apesar de enorme e lotada de pessoas

trabalhando, cada qual com sua tarefa específica, estava tudo

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organizado. Laís surpreendera-se com a quantidade de gente

participando, eram quase 800. De vez em quando ela observava

o movimento fora da cozinha. Tinha até repórteres da “Gazeta

São Genaro”, realmente aquela estava sendo a maior festa que a

cidade de São Genaro já havia presenciado.

Tanto dinheiro sendo desperdiçado! Pensava com

tristeza comparando involuntariamente o enorme investimento

naquela com a dívida de sua mãe. Veja o lado bom. “Dizia”

para si mesma. Ao menos hoje vou faturar uma boa grana.

- Laís! – chamou Anice Rodrigues, a mulher elegante

que a contratara.

- Pois não, senhora. – tratou-a com educação.

- Eu preciso de você.

- Claro. Em que posso...

- Esta situação é um pouco constrangedora para mim. –

dramatizou Anice, pondo a mão sobre o peito. – Confesso que

você acertou e eu errei.

Laís franziu a testa.

- Realmente contratei poucos serventes, por isto eu

queria que você...

- Opa! Alto lá! Não. Não foi este o combinado. – Laís

repreendeu-a erguendo o dedo. – Minha condição era de não

sair da cozinha, lembra?

- Dobro o que iria lhe pagar. – dizia desesperada.

- Olhe, dona Anice, eu... – Laís balançava a cabeça,

relutante.

- Por favor, Laís! Preciso de você... Não posso servi-

los, assim. – mostrou sua roupa elegante.

- Qual é seu tamanho? Temos fardas de reserva. – Laís

não se deixou contrariar.

- Quer quanto? – Anice falou séria.

- A questão não é preço. É que... – ao desviar os olhos

dela viu de longe Lucas e Miguel conversando despreocupado

com algumas garotas. Sorrindo, olhando-a. – E se eu lhe

arranjar mais dois serventes para ajudar? O que me diz?