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9 7 7 1 5 1 6 8 2 0 0 0 0 4 9 6 0 0 ISSN 1516 -8204 istoegente.com.br FEVEREIRO / 2013 ANO 13 Nº 694 > R$ 14,90 ISABELLI FONTANA FOTOGRAFADA POR CRISTIANO MADUREIRA ISABELLI FONTANA “sou do ‘tudo ou nada’” Flora&Gil 33 anos depois do carnaval que os uniu OS PASSOS DO ABAPORU nos 40 anos da morte de tarsila do amaral, contamos as aventuras de sua maior obra, que hoje vale us$ 40 milhões AS MELHORES CENAS DO CARNAVAL 2013 JUDE LAW “minha época de sex symbol ficou para trás” O ARQUITETO DAVID BASTOS DESVENDA A INDOCHINA AS DICAS DE SALVADOR POR CARLOS RODEIRO BARBARA BERLUSCONI A DONA DO CORAÇÃO DE PATO ALEGRIA OBRIGATÓRIA POR JORGE FORBES A FOLIA DO CIÚME POR FABRICIO CARPINEJAR DICAS DE CONSUMO 116

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ISTOÉ GENTE 694, Isabelli Fontana

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istoegente.com.br

FEVEREIRO / 2013 ANO 13 Nº 694 > R$ 14,90

FEVEREIRO / 2013

ISABELLI FONTANA FOTOGRAFADA POR CRISTIANO MADUREIRA

ISABELLI FONTANA

ISABELLIFONTANA“sou do ‘tudo ou nada’”

Flora&Gil33 anos depois

do carnaval que os uniu

OS PASSOS DO ABAPORU

nos 40 anos da morte de tarsila do amaral, contamos as

aventuras de sua maior obra, que hoje vale us$ 40 milhões

AS MELHORES CENAS DO CARNAVAL 2013

JUDE LAW“minha época de sex symbol

ficou para trás”O ARQUITETO DAVID BASTOS

DESVENDA A INDOCHINA

AS DICAS DE SALVADOR POR CARLOS RODEIRO

BARBARA BERLUSCONI A DONA DO CORAÇÃO DE PATO

ALEGRIA OBRIGATÓRIAPOR JORGE FORBES

A FOLIA DO CIÚMEPOR FABRICIO CARPINEJAR

DICAS DE CONSUMO116

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PORTFÓLIO

O PAPEL DE VERGER

Pierre Verger nasceu na França, conheceu o mundo e viveu e adotou Salvador e todo seu sincretismo religioso como sendo sua cidade natal. Documentando os costumes da época, principalmente os anos 1940 e 50, e os ritos de nossa gente,

sem ele a história fotográ�ca brasileira seria muito menor

POR RENATO DE CARA / FOTOS PIERRE VERGER

Pierre Verger (Paris, 1902 – Salvador, 1996), nas primeiras décadas do século 20, frequentou os movimentos culturais da Europa, influenciado pelas vanguar-das de então. Interessado em fotografia, articulou sua linguagem vivenciando mundos distintos e distantes, experimen-tando a intuição, mas, também, usando a imagem como ferramenta política. Como profissional da imagem, colaborou para importantes veículos da imprensa inter-nacional e participou do início das agên-cias fotográficas. Como um nômade, via-jou para os quatro cantos, por mais de 15 anos, e descobriu seu especial interesse pela cultura africana.

Quando chegou à Bahia, na segunda me-tade dos anos 1940, seu interesse pelos cul-tos afro-brasileiros foi despertado, enten-dendo a importância do candomblé para a

cultura local. E, durante sua passagem pela costa africana, especialmente na Nigéria e em Benim, de onde veio a maioria dos ne-gros escravizados, o fotógrafo/antropólogo percebeu os laços que uniam gerações e pa-íses tão distantes. Passou a se chamar Pierre Fatumbi Verger, vivenciando a cultura ioru-bá, seus ritos sem, exatamente, ter a intenção de entendê-los! Além do Afonjá, Verger fre-quentou muitos outros terreiros, até o final de sua vida. “Entretanto, o artista se decla-rava um ‘francês racionalista’ que não tinha ‘sentimentos religiosos muito fortes’, ainda que talvez não fosse tão cético assim”, se-gundo sua biografia oficial.

“A função da imagem enquanto discurso sobre o outro” foi a síntese do seu olhar, segundo a historiadora Claudia Maria de Moura Possa, em sua tese O Toque Verger: Estudo da Obra Fotográfica de PV.

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PORTFÓLIO

O PAPEL DE VERGER

Pierre Verger nasceu na França, conheceu o mundo e viveu e adotou Salvador e todo seu sincretismo religioso como sendo sua cidade natal. Documentando os costumes da época, principalmente os anos 1940 e 50, e os ritos de nossa gente,

sem ele a história fotográ�ca brasileira seria muito menor

POR RENATO DE CARA / FOTOS PIERRE VERGER

Pierre Verger (Paris, 1902 – Salvador, 1996), nas primeiras décadas do século 20, frequentou os movimentos culturais da Europa, influenciado pelas vanguar-das de então. Interessado em fotografia, articulou sua linguagem vivenciando mundos distintos e distantes, experimen-tando a intuição, mas, também, usando a imagem como ferramenta política. Como profissional da imagem, colaborou para importantes veículos da imprensa inter-nacional e participou do início das agên-cias fotográficas. Como um nômade, via-jou para os quatro cantos, por mais de 15 anos, e descobriu seu especial interesse pela cultura africana.

Quando chegou à Bahia, na segunda me-tade dos anos 1940, seu interesse pelos cul-tos afro-brasileiros foi despertado, enten-dendo a importância do candomblé para a

cultura local. E, durante sua passagem pela costa africana, especialmente na Nigéria e em Benim, de onde veio a maioria dos ne-gros escravizados, o fotógrafo/antropólogo percebeu os laços que uniam gerações e pa-íses tão distantes. Passou a se chamar Pierre Fatumbi Verger, vivenciando a cultura ioru-bá, seus ritos sem, exatamente, ter a intenção de entendê-los! Além do Afonjá, Verger fre-quentou muitos outros terreiros, até o final de sua vida. “Entretanto, o artista se decla-rava um ‘francês racionalista’ que não tinha ‘sentimentos religiosos muito fortes’, ainda que talvez não fosse tão cético assim”, se-gundo sua biografia oficial.

“A função da imagem enquanto discurso sobre o outro” foi a síntese do seu olhar, segundo a historiadora Claudia Maria de Moura Possa, em sua tese O Toque Verger: Estudo da Obra Fotográfica de PV.

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Sua obra bibliográfica inicia-se nos anos 1930 com a publicação de suas fotos, mas somente em 1980 a Editora Corrupio co-meça a publicá-la no Brasil, com o clássico Retratos da Bahia – 1946 a 1952. Minucio-so em suas pesquisas e escritos, citando fontes e relatos em detalhes, escreveu e pu-blicou muito, fotografias e textos, inclusive sobre plantas e a farmacopeia iorubá, me-ses antes de sua morte.

O fato é que seu interesse e seriedade nos assuntos inter-raciais transformou-o em doutor em estudos africanos pela Sorbon-ne, em Paris, pela importância de tantos documentos reunidos durante sua vida. De hábitos simples, não acumulou tantas ri-quezas materiais, mas, sim, preciosidades intelectuais fundamentais para a compre-ensão da diáspora africana no Brasil.

a fundaçãoA Fundação Pierre Verger, em Salvador, BA, iniciada por ele, em 1988, é responsá-vel pela guarda, conservação e divulgação de sua obra. Seu acervo fotográfico, esti-mado em aproximadamente 60 mil ima-gens, foi quase todo ele produzido até os anos 1950. Depois da década de 1970, Verger quase não mais fotografou, dedi-cando seu tempo à organização de seu ex-tenso material acumulado durante suas viagens, como um mensageiro, quando ia e voltava para a África.

Alguns anos depois de sua morte, no iní-cio dos anos 2000, Gilberto Sá, executivo ligado à Odebrecht, foi eleito presidente da fundação, trazendo novos recursos e par-cerias para a instituição. Em 2002, quando comemorou-se o centenário de seu nasci-mento, foi organizado um grande evento, com apoios de instituições privadas e ajuda do Estado da Bahia.

Na mesma casa onde Verger viveu, nos anos 1960, a fundação se organiza este ano para expandir sua área expositiva, transformando em memorial mais três quartos da sede para a visitação.

Verger não se considerava um antropólo-go, no sentido acadêmico do termo, pois, apesar da seriedade de suas pesquisas, seus escritos também partiam da intuição, com sua formação autodidata. Seus estudos for-mais foram apenas até o segundo grau na França, onde viveu até a morte de sua mãe.

Durante sua vida, a atuação da fundação era mantida com sua aposentadoria e os lucros de direitos autorais que recebia de seus livros e venda de fotos. Três ou quatro assistentes o ajudavam nos afazeres. Hoje, a fundação mantém um espaço cultural para crianças no bairro Engenho Velho de Brotas, com oficinas de artes variadas e atividades para a comunidade, além de uma galeria de arte, no centro da cidade, comercializando suas imagens.

Também neste ano de 2013, a fundação está envolvida em outras ações de grande relevância. Há dois anos, vem digitalizan-do todo seu acervo, já com 20 mil imagens finalizadas, tendo sido contratado o Insti-tuto Moreira Salles para executar esse pro-cesso; prepara uma grande exposição no Museu de Arte da Bahia, com patrocínio da Petrobras e Odebrecht, e curadoria de Alex Baradel, responsável pelo acervo da fundação, apresentando pela primeira vez um grande panorama do artista, com re-cursos expositivos de suportes variados e, ainda, prepara outra exposição em Benim, com a reinauguração do Museu de Oui-dah, que Verger mesmo inaugurou nos anos 1970, sobre o candomblé.

Coincidentemente, outra exposição co-letiva em cartaz no Instituto Moreira Sal-les, em São Paulo, mostra o acervo da re-vista O Cruzeiro, veículo para o qual Verger trabalhou durante muitos anos.

Ainda no mês de março, o novo site será lançado, com muito mais informações e vendas online para os interessados. <

Agradecimento Fundação Pierre VergerAcesse pierreverger.org

“AS FOTOS DE VERGER NÃO PRIVILEGIAVAM O REQUINTE VISUAL NEM OBJETOS DE BELEZA CANÔNICA. AO CONTRÁRIO, ESTAVAM MAIS PERTO DO QUE ERA CONSIDERADO PERIFÉRICO, INSIGNIFICANTE E MESMO DISFORME. ERAM DOCUMENTOS QUE RESTITUÍAM O REAL COMO ELE É, NÃO METAFORIZADO, NÃO IDEALIZADO. UM DOCUMENTO, DITO DE OUTRA MANEIRA, NÃO INVENTADO, MAQUIADO OU ENCENADO“ CLAUDIA MARIA DE MOURA POSSA

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Flora

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GENTE QUE INSPIRA

Multiplicada em 33 Carnavais, a história de Flora e Gilberto Gil cumpre o destino previsto na canção feita pelo músico em 1979 para a menina de 18 anos que se tornaria sua mulher e, depois, seu braço direito na carreira de 50 anos. An� triões de Salvador, eles expandem

a alegria em família para os 15 anos de sucesso do Expresso 2222, camarote da empresária que virou o coração da folia baiana

POR GISELE VITÓRIA / FOTOS FERNANDO LOUZA

Gil

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“OutrO dia vi que, mudandO as letras, flora é farol. ela é luz, iluminandO”

Gilberto Gil

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“OUTRO DIA VI QUE, MUDANDO AS LETRAS, FLORA É FAROL. ELA É LUZ, ILUMINANDO”

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P oucos dias antes do Carnaval, Gilberto Gil percebeu que F-l-o-r-a, num rearranjo de le-tras, também podia significar f-a-r-o-l. Estava

em casa quando rearrumou em pensamento as vogais e as consoantes do nome da sua mulher. Contemplava a Baía de Todos os Santos, na vista estrondosa do apar-tamento no Corredor da Vitória, em Salvador, para onde o casal se mudou há um ano. “Outro dia que eu vi. Ela é isso: farol. No dia e na noite. É luz, iluminan-do”, diz, dedilhando seu violão. Multiplicada em 33 Carnavais, a história de Flora e Gilberto Gil começou na folia de 1979, e até hoje transcorre nela, seja antes, durante ou depois que trios, tambores e abadás vão sumindo na Quarta-feira de Cinzas. Na casa dos Gil, folia é um estado de graça permanente. Foi assim no último sábado de Carnaval, quando o casal recebeu para a esperada feijoada amigos como o cineasta ame-ricano Spike Lee, o governador Jaques Wagner, o prefeito ACM Neto e a atriz Regina Casé. Tem sido assim nos últimos 15 anos, desde que eles se tornaram os mais queridos anfitriões de Salvador, no Expresso 2222, camarote criado por Flora que virou o coração da folia baiana e teve mais uma temporada de sucesso no Carnaval 2013. É assim todo domingo, quando a família se reúne em torno de almoços, no Rio de Ja-neiro ou em Salvador. “Folia é domingo na minha casa. É o almoço com os filhos e os netos, e a pizza gostosa à noite”, sorri Flora.

Exatamente em frente a um farol de verdade, o Fa-rol da Barra, nasceu em 1999 sua maior façanha car-navalesca, e desde então Flora ilumina com conforto, charme e gente ilustre os cinco dias de folia de Salva-dor. No prédio do edifício Oceania e na qualidade de mãe que desejava atender ao pedido da filha Isabela, então com 10 anos, alugou uma varanda para que a família e os amigos vissem de perto, num lugar agra-dável, a multidão acompanhar os trios elétricos. “Mãiiinha, bota a gente num lugar legal para assistir o Carnaval?”, Gil imita a própria filha, ainda criança. Ele relembrava o momento em que Bela, hoje com 25 anos e residente em Nova York, pediu a Flora que or-ganizasse o que viria a ser a semente de um business dos mais disputados do Carnaval baiano, o camarote Expresso 2222. “Naquela época, fiz uma festa para 100 pessoas, com 50 mil reais, durante cinco dias, para Bela assistir ao Carnaval”, conta Flora. “Na es-treia, já consegui apoio de patrocinadores que estão comigo até hoje. Tinha um contato na IBM, outro no Uol, outro no Bradesco e assim foi dando certo.”

Ao longo desses15 anos, o camarote chegou a rece-ber três mil pessoas por noite e se sofisticou com o conceito de sustentabilidade e preservação do meio ambiente. “O Expresso é minha casa. Fico feliz de olhar para trás e lembrar de tantos momentos legais que passamos. Lembro da alegria da banda U2 com Bono Vox na varanda do Expresso, cantando para o

povo na rua”, conta Flora. “Lembro do querido Zeca Pagodinho na Bahia, lembro do Quincy Jones maravilhado com tantos trios, tantos sons e tanta gente nas ruas pu-lando por uma semana sem parar.”

toda folia pelo reino do teu nomeEnquanto ela se prepara para as fotos, Gil reconta a sua história de amor de 33 anos, cantando um trecho de “Flora” no violão, recostado no sofá da sala. “Imagino-te já idosa/Frondosa/Toda folhagem multiplica-da à ramagem de agora.../Tendo tudo trans-corrido/Flores e frutos da imagem/Com que faço essa viagem/Pelo reino do teu nome/Ô, Flora...” Esse encontro cumpriu o destino previsto na canção feita pelo mú-sico em1979, quando ele conheceu, pouco antes do Carnaval, a menina Flora Nair Giordano, de 18 anos, que se tornaria sua mulher e, depois, seu braço direito em mais da metade de sua carreira de 50 anos. Quando compôs a música, nem um beijo eles haviam trocado. “Era platônico, até fora de moda para a época, era uma relação puramente romântica, que sempre foi a marca do meu modo de me relacionar com o amor, com o sexo, sempre fantasiando”, conta. De férias em Salvador pela primeira vez, a paulista Flora ganhara no fim de ja-neiro uma viagem-prêmio como melhor vendedora da marca Jeans Store e estava, com duas amigas, pedindo carona na saída do show de Baby Consuelo. A bordo de seu Chevette, Gil - “com suas trancinhas”, lem-bra Flora - parou e ofereceu: “Vocês que-rem carona?”. Tinha mais gente no carro. Ele a deixou logo depois no hotel Salvador Praia Hotel, onde estava hospedada, e com-binaram para o dia seguinte de se ver na praia, no Porto da Barra. “Flora sempre teve uma seriedade, uma quase sisudez, uma veemência. Era um pouco diferente das meninas e estava, com as roupas frescas do verão, mas tinha uma compostura. Isso me chamou atenção.”

Da amizade para o amor, foi o tempo de o Carnaval chegar. Flora voltou para São Paulo, mas não demorou a retornar. Era verão na Bahia. “Foram as férias que mu-daram a minha vida. Eu adorei a Bahia, os pretos, o cheiro de dendê, o Porto da Bar-ra, uma praia que é uma canja. Conheci todo mundo: Caetano, Gil, Baby, Pepeu, Morais Moreira”, relembra Flora. No fim de fevereiro, ela voltou para o Carna-

val. E a amizade com Gil já estava diferen-te. Durante esse tempo, ele enviou uma carta, dizendo que lhe daria grande prazer revê-la. Ela se hospedou no Grande Hotel da Barra, no Porto da Barra e Gil foi até lá mostrar a música. “A canção informou o que eu via, o que eu queria. Eu queria tê-la como companheira de uma vida inteira. A relação foi criada a partir do mito de uma canção. E nós nos doamos a esse mito. Aí veio tudo, a decisão de ficar junto. Os pro-blemas surgidos com isso e a solução deles até ficarmos realmente juntos. Com o tem-po, Flora foi ficando parecida com a músi-ca”, sorri Gil. Até ele hoje pensa: “De onde veio isso?” Estava em seu quarto de leitura, de discos e instrumentos. Pensava nela e em como diria a Flora o que estava sentin-do. “Eu era um homem casado, tinha fi-lhos, era difícil. Então veio na cabeça a música, e com essa perspectiva: ‘imagino-te idosa, frondosa...’.”

muito mais que amor de carnavalFoi um amor de Carnaval que podia ter acabado ali por 1979, mas atravessou mui-tos verões. Na época, Gil tinha 36 anos, era casado com Sandra Gadelha, seu terceiro casamento, de 12 anos, e tinha três filhos (Pedro, Preta e Maria). Flora se emocio-nou com a música. “Em vez de me cantar, ele cantou uma música. Isso é que é canta-da”, brinca ela, enquanto toma uma sopa de grão de bico com iziki, uma receita ma-crobiótica, alimentação à qual ela se con-verteu há um ano.“Achei lindo. Aquilo me tocou muito, mas não perdi a cabeça. Não foi assim: Gil faz uma música para mim e eu quero casar com ele e largo tudo. Não me mudei para a Bahia. Voltei para São Paulo, fui estudar, sempre focada. Ia pres-tar vestibular para comunicação. Sempre fui muito séria. Não vim ao mundo a pas-seio, nunca fui atirada.” Demorou até o casamento vir, em 1982, e, depois, os filhos Bem, Isabela e José. Namoraram até ele se separar, em 1982. Eles foram viver em um sítio do músico em Jacarepaguá. Depois, em dois hotéis, Praia Ipanema e Marina, no Leblon, até se estruturarem e compra-rem o primeiro apartamento, um prédio em construção na Barra da Tijuca. Bem nasceu em 1985, um dia depois do show de Gil no Rock in Rio. Bela nasceu em 1988 e José, em 1991. A decisão de gerenciar a carreira de Gil foi acontecendo aos poucos.

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“A CANÇÃO INFORMOU O QUE EU VIA, O QUE EU QUERIA. QUERIA TÊ-LA COMO

COMPANHEIRA DA VIDA INTEIRA. E NÓS NOS DOAMOS AO MITO DE UMA CANÇÃO”

Gilberto Gil

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“A CANÇÃO INFORMOU O QUE EU VIA, O QUE EU QUERIA. QUERIA TÊ-LA COMO

COMPANHEIRA DA VIDA INTEIRA. E NÓS NOS DOAMOS AO MITO DE UMA CANÇÃO”

Gilberto Gil

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"AQUI EM CASA É GOIABADA COM MARMELO. SÍTIO DO PICA-PAU AMARELO", Gilberto Gil

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"AQUI EM CASA É GOIABADA COM MARMELO. SÍTIO DO PICA-PAU AMARELO", Gilberto Gil

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“Não foi uma decisão. Foi acontecendo no dia a dia, por necessidade. Tínhamos contas a pagar, supermer-cado, filhos, um escritório”, diz. “Começou pelos sho-ws. A gente ia fazer turnês na Europa. Éramos eu, ele e um contrarregra. Eu carregava o violão.”

Nos 50 anos de carreira de Gil, Flora esteve ao seu lado por mais da metade deles. As influências, portan-to, vão muito além. “A presença dela no meu trabalho é muito grande. Tive que reiterar profundamente em mim mesmo o compromisso da perseverança, como artista e criador”, diz ele. “Ela forneceu sempre mui-tos elementos que abasteciam esse motor: o jeito dela, como foi vendo as coisas, os filhos que vieram em se-guida, ela gerenciando minha vida.” Na época em que foi ministro da Cultura, Gil conta que Flora não quis se envolver. “Isso vem de seu senso muito apurado de responsabilidade, compromisso com a correção, ela tem uma coisa moral muito forte. É generosa, dedica-da e caridosa. Isso veio para dentro da minha vida e me ajuda muito nas escolhas. Nesse sentido, ela é meu farol.” Nas músicas, ela costuma ser a primeira ouvin-te. “Ziquinha nova?”, é o jeito como pergunta se Gil está compondo uma musica nova, passando por perto de relance, enquanto ele está absorvido no violão. “Apenas falo: nossa que linda. Acabou. So faltava eu dar palpite, né? Ah, você devia trocar uma palavra. Mas eu sou o arranjo”, diz. Gil conta que Flora é mui-to musical, não toca instrumento nenhum , mas tem uma memória... sabe todas as canções.

mãe de todo mundoGil gosta de dizer que, antes de tudo, Flora é sua mãe. E mãe da família toda. Dá risada quando digo que ele contraria o senso comum, pronto a proclamar que a hora que a esposa vira mãe acabou o casamento. “Co-migo é ao contrário. A mãe veio antes”, diz. “Flora é mãe de todo mundo. Ela se tornou isso na grande fa-mília. Se tornou amiga de todas as minhas ex-mulhe-res. E mãe de todos os filhos e netos. É engraçado.” A empresária concorda e tem uma explicação esotérica. Outro dia emprestou para a nora Ana Claudia, mulher de seu filho Bem, o livro Aniversários, de 365 páginas, sobre os signos e os dias. Deram risada quando Ana, que gosta de astrologia, mostrou à sogra como é o per-fil de quem nasce no dia 2 de junho, data de aniversário de Flora: “Estava lá escrito: O dia de quem resolve problema dos outros.” Flora diz que adora ser mãe, gosta de agregar. “A vida é mais fácil sem briga.” Ela para e mostra no iPhone fotos recentes dos filhos e ne-tos. “Aqui é a Preta, com o Bem e Bento. Ele também é pai do Dom. Esse é o José. A Bela é mãe da Flor. Essa não existe, você não tem noção. É a pessoa mais linda do planeta.” Ela mostra a foto de um velho sapatinho da filha Bela, calçado na neta Flor, de 4 anos. “A Bela quase chorou. Eu falei: ‘Olha o seu sapatinho preto que eu tirei da caixinha.’” Nem parece que ali está a mulher

poderosa que fecha patrocínios de altas ci-fras com bancos, contratos com grandes empresas, põe de pé um camarote gigante, produz turnês e shows grandiosos, como de Gil e Steve Wonder, na Praia de Copacaba-na, ao lado do produtor Luis Oscar Nie-meyer. “Não tem isso de Flora poderosa. Tenho as mesmas dificuldades de todo mundo. Sei que tenho meu mérito, tenho um tino comercial bacana, um bom ne-tworking, meus projetos são corretos, sou uma pessoa honesta”, diz Flora. “Mas o mérito é todo do Gil. Empresários tem aos montes. Gilberto Gil não tem aos montes. Gênios não dão em árvore.”

na curva dos 70Sentados juntos para uma foto, Flora per-gunta a Gil: “Pê, você já sentou aqui al-guma vez?”. Ela o chama de Pê por causa de uma antiga cachorrinha da família que tinha as pernas finas, como as dele. Eles se acomodam no Banco Siri, peça da de-signer Claudia Moreira Salles, com os encostos giratórios, que fica em um canto de destaque da sala, perto da varanda e da piscina. Ela sugeriu a foto naquele lugar porque ali as cores combinavam. A blusa de Gil tinha o tom da madeira e conversa-va bem com as estampas da kafta colorida que ela vestia. “Adoro direção de arte”, comenta. “Flora sempre teve isso de com-binar as cores, desde sempre; Eu sempre fui caótico, imagina, era hippie, mas tinha uma estética. E ela veio compor as cores todas”, observa o músico.

Das influências de Gil, daquelas incon-táveis que a vida em comum constrói, uma delas Flora se impôs com muito rigor há um ano. Desde que começou a sentir os desconfortos da menopausa, ela tornou-se macrobiótica das mais radicais. Gil tem 44 anos de adesão à dieta e, desde 1969, é dis-cípulo de Tomio Kikushi, mas hoje se con-sidera um praticante eventual. Acha graça e diz que agora Flora é bem pior que ele, mesmo em sua fase mais dedicada. “Hoje uso como âncora. Vejo a macrobiótica como um SPA, um recanto confiável do universo alimentar ao qual eu recorro e me recolho. Mas como carne, feijoada, pas-tel”, diz ele. “E eu comprei o SPA!”, brin-ca Flora. “Eu não faria macrobiótica se não tivesse casado com Gil, e, às vezes, eu me irritava com aquilo. Eu odiava arroz integral, achava as pessoas beges, fraqui-

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Imagino-te já idosaFrondosa toda folhagem

Multiplicada à ramagemDe agora

Tendo tudo transcorridoFlores e frutos da imagemCom que faço essa viagem

Pelo reino do teu nomeÔ, Flora

Imagino-te jaqueiraPostada à beira da estrada

Velha, forte, farta, belaSenhora

Pelo chão muitos caroçosComo que restos dos nossos Próprios sonhos devorados

Pelo pássaro da auroraÔ, Flora

Imagino-te futuraAinda mais linda madura

Pura no sabor de amorE de amora

Toda aquela luz acesaNa doçura e na belezaTerei sono com certeza

Debaixo da tua sombraÔ. Flora

“Flora", música de Gilberto Gil, 1979

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nhas, esquisitas. Mas hoje sou uma prati-cante feliz. “A esquisita agora é ela”, diver-te-se Gil. Mas, mesmo vegetariana, Flora abre sua casa e oferece feijoada aos amigos, com o traço de tolerância natural de uma grande anfitriã.

O elo que faltava para Flora se converter foi a filha, Bela Gil, que estuda nutrição em Nova York e a aconselhou a tentar a mudança de alimentação antes de recorrer à reposição hormonal. “Mais uma vez foi a Bela”, diz Flora. Um mês depois, ela deixou de suar e, como consequência, per-deu 12 quilos ao longo de um ano. Tam-bém abandonou o açúcar. “Descobri a do-çura que é viver sem açúcar. Minha vida com açúcar estava amarga. Sem ele, ficou doce.” Tomio Kikushi, pai da macrobióti-ca no Brasil, também é seu orientador. “Demorei muito a querer ser sua discípula e ele demorou a ser meu mestre. Outro dia me falou: ‘Estou orgulhoso de você.’”

Hoje, Gil tem 70 e Flora, 53. Na curva dos 70, sugiro a Gil comentar as palavras de José Saramago sobre a mulher, Pilar Del Rio. Pouco tempo antes de sua morte, o escritor português disse no documentá-rio “José e Pilar” que, se tivesse morrido antes de conhecer sua mulher, provavel-mente teria morrido bem mais velho do que a idade que ele teria quando a morte de fato viesse. Pergunto: se Flora não ti-vesse vindo, que homem de 70 anos seria você hoje? “Seguramente seria outro. O desejo premonitório da canção traçou o caminho desejado por mim, e talvez fosse um velho caminho, mas ele apareceu de uma forma nova, renovado”, diz ele. “Ti-nha uma espécie de dimensão religiosa, renovar esse voto de amizade e amor eter-no. Era um mito na minha formação e um pouco na dela.” E já se vão 33 anos. De amor e de folia.<

Beleza: Ricardinho Brandão Produção: Gil SantosAssistentes de fotografia: Tamires Campane

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Imagino-te já idosaFrondosa toda folhagem

Multiplicada à ramagemDe agora

Tendo tudo transcorridoFlores e frutos da imagemCom que faço essa viagem

Pelo reino do teu nomeÔ, Flora

Imagino-te jaqueiraPostada à beira da estrada

Velha, forte, farta, belaSenhora

Pelo chão muitos caroçosComo que restos dos nossos Próprios sonhos devorados

Pelo pássaro da auroraÔ, Flora

Imagino-te futuraAinda mais linda madura

Pura no sabor de amorE de amora

Toda aquela luz acesaNa doçura e na belezaTerei sono com certeza

Debaixo da tua sombraÔ. Flora

“Flora", música de Gilberto Gil, 1979

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nhas, esquisitas. Mas hoje sou uma prati-cante feliz. “A esquisita agora é ela”, diver-te-se Gil. Mas, mesmo vegetariana, Flora abre sua casa e oferece feijoada aos amigos, com o traço de tolerância natural de uma grande anfitriã.

O elo que faltava para Flora se converter foi a filha, Bela Gil, que estuda nutrição em Nova York e a aconselhou a tentar a mudança de alimentação antes de recorrer à reposição hormonal. “Mais uma vez foi a Bela”, diz Flora. Um mês depois, ela deixou de suar e, como consequência, per-deu 12 quilos ao longo de um ano. Tam-bém abandonou o açúcar. “Descobri a do-çura que é viver sem açúcar. Minha vida com açúcar estava amarga. Sem ele, ficou doce.” Tomio Kikushi, pai da macrobióti-ca no Brasil, também é seu orientador. “Demorei muito a querer ser sua discípula e ele demorou a ser meu mestre. Outro dia me falou: ‘Estou orgulhoso de você.’”

Hoje, Gil tem 70 e Flora, 53. Na curva dos 70, sugiro a Gil comentar as palavras de José Saramago sobre a mulher, Pilar Del Rio. Pouco tempo antes de sua morte, o escritor português disse no documentá-rio “José e Pilar” que, se tivesse morrido antes de conhecer sua mulher, provavel-mente teria morrido bem mais velho do que a idade que ele teria quando a morte de fato viesse. Pergunto: se Flora não ti-vesse vindo, que homem de 70 anos seria você hoje? “Seguramente seria outro. O desejo premonitório da canção traçou o caminho desejado por mim, e talvez fosse um velho caminho, mas ele apareceu de uma forma nova, renovado”, diz ele. “Ti-nha uma espécie de dimensão religiosa, renovar esse voto de amizade e amor eter-no. Era um mito na minha formação e um pouco na dela.” E já se vão 33 anos. De amor e de folia.<

Beleza: Ricardinho Brandão Produção: Gil SantosAssistentes de fotografia: Tamires Campane

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BAÚ

O baileque entrOu para a história

Em tempos de festas embaladas por promoters, celebridades pagas e Instagram, Gente relembra o icônico Black & White Ball, promovido pelo escritor

Truman Capote na década de 60. O baile que fez poderosos implorarem por um convite. Entre nessa festa.

POR Silviane neno

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BAÚ

O BAILEQUE ENTROU PARA A HISTÓRIA

Em tempos de festas embaladas por promoters, celebridades pagas e Instagram, Gente relembra o icônico Black & White Ball, promovido pelo escritor

Truman Capote na década de 60. O baile que fez poderosos implorarem por um convite. Entre nessa festa.

POR SILVIANE NENO

Istoé Gente | 87Frank Sinatra chega à festa com sua jovem mulher, a atriz Mia Farrow

Istoé Gente | 87

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Page 22: ISTOÉ GENTE 694

Nunca um pedaço de papel provocou tanto alvoroço na elite americana como naquele início de inverno em 1966. O cartão, em vermelho e amarelo produzi-do pela Tiffany, trazia os dizeres:

“Em honra a Sra. Katharine Graham, Sr.Truman Capote tem o prazer de convidá-lo para um baile preto e branco na segunda-feira, 28 de novembro, às 10 pm no Grand Ballroom,The Plaza.Traje masculi-no: black-tie; máscara preta. Senhoras: vestido preto ou branco; máscara branca.”

Receber aquele convite valia mais do que ter ações em alta no pregão da bolsa em Wall Street. Mais do que isso, era prova máxima de prestígio. Era como receber a bola branca do Country Club para os cariocas nos tempos em que isso tinha importância.Não, não, foi mais que isso tudo. Foi segregador, tal qual um Muro de Berlim que, naquele caso, rachou ao meio a nata da sociedade. Às vésperas daquela data em novembro, famosos e ricos de todos os cantos, que faziam de Manhattan o centro do mundo, se divi-diam entre os que haviam ou não haviam sido convidados para a festa de Capote. A festa do século.

O próprio anfitrião se encarregou de produzir o suspense e a mítica em torno da lista de convidados. Capo-te acrescentava e retirava nomes como num jogo de xadrez. Ao mesmo tempo provocava. Quando contou sobre a festa a Leo Lerman, na época editor da Condé Nast, Lerman perguntou ansioso: “Quando é que vai ser?” Capote foi lacônico: “Não se preocupe, você vai ser convidado!” A outros, repetia o refrão bem a seu estilo, à sangue frio: “Bem, talvez você seja convidado, talvez não.” Truman Capote estava no auge de sua ironia e produção. Tinha acabado de lançar A Sangue Frio, magnífica reporta-gem que narrava o massacre de uma família de Kansas. Mas, àquela altura, ele saboreava mais a fama do que os dólares provenientes da obra-prima. Decidiu então fazer uma festa para comemorar o sucesso do livro. Mas o Black & White Ball não seria apenas isso. A festa foi um case de marketing e poder.

Capote percebeu que seria inteligente que alguém, além dele, fosse o centro das atenções do grande evento. A escolha da homenageada despertou ainda mais curiosidade e notícia: Katharine Graham, herdeira do The Washington Post e da Newsweek. Depois da morte de seu pai, da noite para o dia, Kay, como era chamada, tornara-se a mulher mais poderosa da América. Introduzindo a amiga na sociedade internacional, Truman consolidaria o poder da moça e consequentemente o seu bien sûr.

a lista disputada Apesar dos esforços de Capote para enxugar a lista, o número de convidados aumentou de 480 para 540. Perverso, ele reteve os convites finais até o último minuto, claro, para criar mais suspense e

produzir medo e insegurança. Um dos comentários fabricados na época é de que ele teria convidado 540 amigos e feito 15.500 inimigos.

Truman parecia gostar disso. Adorou quando soube por um homem que a esposa dele ameaçou se matar, se não fosse convidada. As exclusões de Truman, em certos casos, pareciam cruéis e caprichosas.Velhos amigos escreviam de longe pedindo para serem convidados, sem sucesso. Intelectuais, celebridades do show biz, a própria família de Capote e jet-setters receberiam o mesmo tratamento arrogante .

Lynda Bird Johnson, filha do presi-dente dos EUA na época, Lyndon B. Johnson, foi convidada, mas seu namora-do, o ator George Hamilton, excluído.

Kenneth Tynan, velho amigo de Capote, que o tinha criticado pelo seu livro, A Sangue Frio, em Londres, tornou-se persona non grata. Mas Truman deu tratamento diferente a F. W. Dupee, crítico que havia elogiado seu trabalho no The New York Review of Books.

Foi o cenário que mais perfeitamente combinou com a máxima de Étien-ne de Beaumont, festeiro em Paris, para quem “uma festa nunca é dada para alguém. Mas contra alguém.”

Durante o outono americano de 1966, os costureiros já estavam em transe. A seção de chapelaria da loja de departa-mentos Bergdorf Goodman havia se transformado numa fábrica de máscaras. Jovem na época, o novato Halston desenvolveu para Candice Bergen, com apenas 19 anos, uma máscara de coelhi-nho toda de vison branco. Halston também desenhou um dos seus primeiros vestidos para festa: um longo de organza preta, com plumas, para a jornalista e sua fã Carol Bjorkman. Na Saks, uma

“EU ESTAVA NO TOPO DA ESCADARIA ÀS NOVE HORAS DA NOITE, QUANDO VI FRANK SINATRA ENTRANDO COM SUA MULHER,

MIA FARROW. ‘OLHA O FRANKIE-BATMAN!’ VOCÊ PODERIA VER SUA EXPRESSÃO BRAVA POR TRÁS DA MÁSCARA!”

Harry Benson, fotógrafo

Truman Capote: o antrião da

festa do século

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Nunca um pedaço de papel provocou tanto alvoroço na elite americana como naquele início de inverno em 1966. O cartão, em vermelho e amarelo produzi-do pela Tiffany, trazia os dizeres:

“Em honra a Sra. Katharine Graham, Sr.Truman Capote tem o prazer de convidá-lo para um baile preto e branco na segunda-feira, 28 de novembro, às 10 pm no Grand Ballroom,The Plaza.Traje masculi-no: black-tie; máscara preta. Senhoras: vestido preto ou branco; máscara branca.”

Receber aquele convite valia mais do que ter ações em alta no pregão da bolsa em Wall Street. Mais do que isso, era prova máxima de prestígio. Era como receber a bola branca do Country Club para os cariocas nos tempos em que isso tinha importância.Não, não, foi mais que isso tudo. Foi segregador, tal qual um Muro de Berlim que, naquele caso, rachou ao meio a nata da sociedade. Às vésperas daquela data em novembro, famosos e ricos de todos os cantos, que faziam de Manhattan o centro do mundo, se divi-diam entre os que haviam ou não haviam sido convidados para a festa de Capote. A festa do século.

O próprio anfitrião se encarregou de produzir o suspense e a mítica em torno da lista de convidados. Capo-te acrescentava e retirava nomes como num jogo de xadrez. Ao mesmo tempo provocava. Quando contou sobre a festa a Leo Lerman, na época editor da Condé Nast, Lerman perguntou ansioso: “Quando é que vai ser?” Capote foi lacônico: “Não se preocupe, você vai ser convidado!” A outros, repetia o refrão bem a seu estilo, à sangue frio: “Bem, talvez você seja convidado, talvez não.” Truman Capote estava no auge de sua ironia e produção. Tinha acabado de lançar A Sangue Frio, magnífica reporta-gem que narrava o massacre de uma família de Kansas. Mas, àquela altura, ele saboreava mais a fama do que os dólares provenientes da obra-prima. Decidiu então fazer uma festa para comemorar o sucesso do livro. Mas o Black & White Ball não seria apenas isso. A festa foi um case de marketing e poder.

Capote percebeu que seria inteligente que alguém, além dele, fosse o centro das atenções do grande evento. A escolha da homenageada despertou ainda mais curiosidade e notícia: Katharine Graham, herdeira do The Washington Post e da Newsweek. Depois da morte de seu pai, da noite para o dia, Kay, como era chamada, tornara-se a mulher mais poderosa da América. Introduzindo a amiga na sociedade internacional, Truman consolidaria o poder da moça e consequentemente o seu bien sûr.

a lista disputada Apesar dos esforços de Capote para enxugar a lista, o número de convidados aumentou de 480 para 540. Perverso, ele reteve os convites finais até o último minuto, claro, para criar mais suspense e

produzir medo e insegurança. Um dos comentários fabricados na época é de que ele teria convidado 540 amigos e feito 15.500 inimigos.

Truman parecia gostar disso. Adorou quando soube por um homem que a esposa dele ameaçou se matar, se não fosse convidada. As exclusões de Truman, em certos casos, pareciam cruéis e caprichosas.Velhos amigos escreviam de longe pedindo para serem convidados, sem sucesso. Intelectuais, celebridades do show biz, a própria família de Capote e jet-setters receberiam o mesmo tratamento arrogante .

Lynda Bird Johnson, filha do presi-dente dos EUA na época, Lyndon B. Johnson, foi convidada, mas seu namora-do, o ator George Hamilton, excluído.

Kenneth Tynan, velho amigo de Capote, que o tinha criticado pelo seu livro, A Sangue Frio, em Londres, tornou-se persona non grata. Mas Truman deu tratamento diferente a F. W. Dupee, crítico que havia elogiado seu trabalho no The New York Review of Books.

Foi o cenário que mais perfeitamente combinou com a máxima de Étien-ne de Beaumont, festeiro em Paris, para quem “uma festa nunca é dada para alguém. Mas contra alguém.”

Durante o outono americano de 1966, os costureiros já estavam em transe. A seção de chapelaria da loja de departa-mentos Bergdorf Goodman havia se transformado numa fábrica de máscaras. Jovem na época, o novato Halston desenvolveu para Candice Bergen, com apenas 19 anos, uma máscara de coelhi-nho toda de vison branco. Halston também desenhou um dos seus primeiros vestidos para festa: um longo de organza preta, com plumas, para a jornalista e sua fã Carol Bjorkman. Na Saks, uma

“EU ESTAVA NO TOPO DA ESCADARIA ÀS NOVE HORAS DA NOITE, QUANDO VI FRANK SINATRA ENTRANDO COM SUA MULHER,

MIA FARROW. ‘OLHA O FRANKIE-BATMAN!’ VOCÊ PODERIA VER SUA EXPRESSÃO BRAVA POR TRÁS DA MÁSCARA!”

Harry Benson, fotógrafo

Truman Capote: o antrião da

festa do século

Istoé Gente | 89

Candice Bergen, aos 19 anos, com sua máscara de coelho feita por Halston. Abaixo, à esq., Capote recebe uma das convidadas e,

no canto direito, Oscar de la Renta chega com Françoise de Langlade

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vendedora da chapelaria reclamou: “A maioria das mulheres não sabia o que queria, nos enlouquecendo; uma coisa, porém, era certa, todas precisavam mostrar seus enormes cílios postiços”, dizia uma das reportagens sobre o baile. Muitas convidadas encomendaram modelos de diferentes estilistas e mais de uma máscara para escolher na última hora.

O joalheiro Kenneth Jay Lane criou uma máscara na qual era envolta um colar de diamantes com pérolas para a modelo Benedetta Barzini, filha do escritor italiano Luigi Barzini. De Paris, a editora-chefe da Vogue, Françoise de Langlade, contratou um figurinis-ta de teatro para criar uma máscara de gata branca. Oscar de la Renta, que seria seu futuro marido, foi de gato preto. Outros convidados fizeram suas próprias máscaras, como o ator Henry Fonda, que aplicou lantejoulas no rosto de sua mulher.

Próximo ao dia do baile, Capote, ainda muito requisitado em função dos convites, cortou seu telefone e retirou-se dos Estados Unidos. Na manhã do dia 28 de novembro o cabeleireiro mais elegante da cidade, Kenneth, já estava invadido por um enxame de mulheres. O tráfego no salão não diminuiu até o anoitecer. Entre as senhoras que subiram ao terceiro andar estavam Lauren Bacall e Rose Kennedy. “Nós tivemos um monte de esposas, ex-esposas e amantes que precisamos esconder em lugares diferentes”, recordou Kenneth.

Por volta das oito da noite, a entrada principal do Plaza Hotel já estava tomada por fotógrafos, cinegrafistas, jornalistas e curiosos. Ninguém se incomodava com a chuva. Manhattan estava tomada de branco e preto. A multidão aplaudia os convida-dos que chegavam em uma interminável caravana de limusines. Policiais monitoravam as entradas. Lá dentro, escadas e portas do hotel foram isoladas e fechadas em pontos estratégicos. Homens do serviço secreto acompanhavam todo o caminho percorrido pelos convidados até o grande salão de baile. Um grupo de seguranças foi enviado apenas para tomar conta do enorme diamante que a princesa Luciana Pignatelli carregava em seu adorno de cabeça.

Dois agentes vestidos de black-tie recebiam dos convidados os cartões distribuídos no último minuto nas festas pré-baile, para evitar falsificações.O salão foi decorado com cortinas de veludo vermelho e as 53 mesas redondas recebe-

ram toalhas na cor escarlate e candela-bros de ouro.Nem a grave crise política e a Guerra do Vietnã pareciam chamus-car o glamour daquela noite.

À meia-noite foi servido o jantar. Um susto para as convidadas vestidas de branco. Um dos pratos do menu era almôndegas acompanhadas de espaguete à bolonhesa, além de frango xadrez com molho holandês. Coisas de Capote. O champanhe era Taittinger. A festa foi até às 3h30 da manhã. No dia seguinte e por semanas seguidas, a imprensa americana só falou do baile.

As melhores cenas? O marajá de Jaipur, com uma túnica de ouro bordada em esmeraldas; Babe Paley linda, flutuando pelo salão com seu vestido branco de chiffon; e a estonteante Lauren Bacall, arrancando suspiros.

A melhor declaração? A do próprio Capote. Feliz, ele resumiu a um jornalista o que conseguira organizar: “A festa aconteceu como tinha que ser... somente quis dar uma festa para meus amigos.” Não há notícia de que algum brasileiro tenha sido convidado.<(COLABOROU FERNANDA YAMIN)

NO JANTAR, MASSA COM ALMÔNDEGAS E MOLHO DE TOMATE PARA DESESPERO DAS MULHERES VESTIDAS DE BRANCO

“FOI A MAIOR FESTA QUE FOTOGRAFEI. TODOS QUERIAM ESTAR LÁ. PESSOAS QUE NÃO FORAM CONVIDADAS SAÍRAM

DA CIDADE PARA EVITAR CONSTRANGIMENTO”Harry Benson, fotógrafo

NO CARDÁPIOReceita do frango xadrex do Plaza servido na festa. O prato era o preferido do anfitrião (serve 4-5 pessoas)

4 xícaras de frango cozido finamente picado (carne branca apenas)1 ½ xícaras de creme de leite1 xícara de cream sauce 2 colheres de chá de sal1/8 colher de chá de pimenta branca1/4 xícara de xerez seco½ xícara de molho holandês

Misture o frango, o cream sauce e os temperos em uma frigideira pesada. Cozinhe em fogo moderado, mexendo sempre, por cerca de 10 minutos. Quando a umidade estiver reduzida um pouco, coloque em uma frigideira em fogo moderado (350o), e leve ao forno por 30 minutos. Mexer e voltar ao forno por 10 minutos. Dobre levemente em molho holandês e sirva imediatamente.

Bill Paley entre Gloria Guinness

(à esq.) e sua esposa, Babe

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Sr. e Sra. Gianni Agnelli – dono da FiatEdward Albee – dramaturgo norte-americano. Adaptou Bonequinha de Luxo para os palcosSr. e Sra. Richard Avedon – fotógrafo de moda Miss Tallulah Bankhead – atriz norte-americana, fez Um Bonde Chamado Desejo no teatroCecil Beaton – fotógrafo inglêsMarisa Berenson – atriz e lindaCandice Bergen – atriz e modelo norte-americana, tinha 19 anos na época Sr. e Sra. Irving Berlin – compositor de “Cheek to Cheek”, entre outros sucessos Sr. e Sra. Richard Burton – na ocasião do baile, a Senhora Burton era Elizabeth TaylorPríncipe Carlo Caracciolo – editor e príncipe italianoSr. e Sra. Sammy Davis Jr – cantor, ator e dançarino Oscar de la Renta – estilista dominicanoMarlene Dietrich – atriz alemã, musa da turma GLSElliott Erwitt – fotógrafo francês e presidente da Agência MagnumSr. e Sra. Henry Fonda – ator, pai de Jane e avô de BridgetSr. e Sra. Henry Ford 2nd, – dos carros FordMarajá e marani de Jaipur – vestia um traje dourado, adornado com esmeraldas.Lynda Bird Johnson – filha do presidente dos EUASra. John F. Kennedy – Jackie O.Senador e Sra. Robert F. Kennedy – irmão do presidente John Kennedy, assassinado em 1963Harper Lee – escritora norte-americana, autora de O Sol é Para TodosVivien Leigh – a Scarlet O’Hara de E o Vento Levou... (1939). Morreria no ano seguinte ao baileShirley MacLaine – atrizSr. e Sra. Norman Mailer – jornalista e escritor Sr. e Sra. Arthur Miller – escritor (Morte de Um Caixeiro Viajante) e ex de Marilyn Monroe Sra. Stavros Niarchos – rica Sr. e Sra. Gregory Peck – galã. Aquele da música da Rita Lee Sr. e Sra. Nelson A. Rockefeller – governador do Estado de Nova YorkSr. e Sra. Frank Sinatra – a sra. era Mia Farrow, tinha 20 anos e estava começando no cinema (nem conhecia Woody Allen) Andy Warhol – Andy Warhol

NA LISTA DE CAPOTE

Andy Warhol na fila de entrada.

Contestador, foi à festa sem máscara

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Pão de Law

GENTE ENTREVISTA

O mais novo quarentão de Hollywood, Jude Law fala sobre sua nova fase no cinema e diz que agora vai ter que se adaptar à idade. E atenção meninas: avesso à moda, ele não acha

nada sexy uma mulher demorar mais de 40 minutos para se arrumar!

POR PEDRO CAIADO, DE LONDRES

Bronzeado depois de merecidas férias –“Eu estava nas ilhas britânicas com meus filhos. Não conte para ninguém”–, o ator de 1,82 m de altura encontrou Gente na suíte do hotel Claridge’s, em Londres, para um papo sobre seu mais recente filme, Anna Karenina. David Jude Heyworth Law, ou Jude Law, pai de quatro filhos, acabou de completar 40 anos em dezembro. Law, agora, enfrenta o que aos comuns mortais é chamado de crise da meia-idade. “Essa idade é libertadora para um ator”, disse. “Mas eu sei que algumas coisas eu vou ter de parar de fazer agora”, conta, se referindo às farras da juventude. Em entrevista, supersimpático, vestindo jaqueta jeans e calça de linho larga, o ator confessou a ansiedade que envolve a maturidade: “Minha época de sex symbol ficou para trás e estou feliz”, e revelou sua falta de vaidade. “Nunca comprei uma revista de moda e não gosto de mulheres que levam mais de 40 minutos para se arrumar, não é sexy!” Então tá.

Seu último filme, Sherlock Holmes: um Jogo de Sombras, era engraçado e cheio de ação. Anna Karenina, por sua vez, é um filme dramático. Uma grande mudança.Procuro desafios e gêneros diferentes. Quando era pequeno, meu pai me levava para assistir Rocky, Indiana Jones e Guerra nas Estrelas; minha mãe, os filmes de Federico Fellini e François Truffaut. Cresci com essa relação esquizofrênica com o cinema e, por isso, gosto de tudo.

Em Anna Karenina, você não foi a escolha óbvia para viver o jovem sedutor Vronsky, e sim o marido traído Karenin – anos mais velho. Você acredita que a idade propor-ciona papéis mais interessantes?Eu acho que sim. A escalação foi correta. Para viver Vronsky, você precisa ser jovem, pois são necessárias

aquela ingenuidade e presunção que somente um jovem de 20 e poucos pode trazer. Eu seria muito velho para inter-pretar Vronsky.

Karenin tem dificuldade em perdoar Anna. Você se acha parecido com ele?Perdão é algo difícil. Há elementos dele em mim. Sou mais sério e mais emocio-nal do que as pessoas acham na realida-de. Também sou muito limpo. Minha casa tem que estar toda no lugar. Eu deixo todo mundo louco com isso. Como ator, sou emocional e extravagante.

Você sente que a idade o modifica em relação aos relacionamentos amorosos? O que você procura atualmente?Eu não poderia responder honestamente. Ainda estou tentando entender o que eu quero. Se eu pudesse responder, diria que procuro estar em um relacionamento sim - mas eu não estou, infelizmente. Venho de uma família em que casais estão juntos há 50 anos. Sou crente em relacionamen-tos que duram - quando olho para minha família, vejo que é possível. Mas também acho que se um relacionamento não dá certo não há razão para continuar.

O que mudou na sua carreira e vida pessoal agora aos 40?Acredito que finalmente fui pego pela idade... Fui um pai prematuro. Sinto que entre os 20 e os 30 eu tinha que provar que era bom ator, tentando desviar as distrações de ser considerado

sex symbol, etc. Eu estava sempre reclamando: “Sou um ator. Por favor, me levem a sério!!”, o que podia soar pretensioso. Agora aos 40, finalmente o público vai prestar mais atenção no meu trabalho. A época de símbolo sexual passou e estou feliz que ficou para trás. A carreira de ator para o homem de 40 aos 60 é muito excitante para explorar papéis diferentes – e espero que eles venham ao meu caminho. Na minha vida pessoal, bem, eu tenho certeza de que certas coisas eu vou ter de parar de fazer agora aos 40... (risos)

Você presta muita atenção em moda? Afinal, você é o rosto do perfume masculino da Dior.Não, na verdade. Eu nunca comprei uma revista de moda. Esta calça, por exemplo, eu usei neste verão inteiro. Se você gasta muito tempo se arrumando, você não está vivendo a vida como ela é. Você precisa acordar, tomar banho, sair, e pronto. Não estou certo? Não é ruim ver uma mulher gastar mais de 40 minutos se arrumando?

Como você descreveria seu estado no momento? Feliz?Sim. Estou muito feliz. Minha vida familiar está feliz, meu trabalho vai muito bem. Mas meu estado de agitação continua o mesmo. Sempre acho que há muito mais a fazer. Tantos diretores com quem quero trabalhar. Sinto que não explorei tudo que posso realmente. Então eu vivo o momento. Curiosidade é o que sempre me mantém indo adiante. <

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Pão de Law

GENTE ENTREVISTA

O mais novo quarentão de Hollywood, Jude Law fala sobre sua nova fase no cinema e diz que agora vai ter que se adaptar à idade. E atenção meninas: avesso à moda, ele não acha

nada sexy uma mulher demorar mais de 40 minutos para se arrumar!

POR PEDRO CAIADO, DE LONDRES

Bronzeado depois de merecidas férias –“Eu estava nas ilhas britânicas com meus filhos. Não conte para ninguém”–, o ator de 1,82 m de altura encontrou Gente na suíte do hotel Claridge’s, em Londres, para um papo sobre seu mais recente filme, Anna Karenina. David Jude Heyworth Law, ou Jude Law, pai de quatro filhos, acabou de completar 40 anos em dezembro. Law, agora, enfrenta o que aos comuns mortais é chamado de crise da meia-idade. “Essa idade é libertadora para um ator”, disse. “Mas eu sei que algumas coisas eu vou ter de parar de fazer agora”, conta, se referindo às farras da juventude. Em entrevista, supersimpático, vestindo jaqueta jeans e calça de linho larga, o ator confessou a ansiedade que envolve a maturidade: “Minha época de sex symbol ficou para trás e estou feliz”, e revelou sua falta de vaidade. “Nunca comprei uma revista de moda e não gosto de mulheres que levam mais de 40 minutos para se arrumar, não é sexy!” Então tá.

Seu último filme, Sherlock Holmes: um Jogo de Sombras, era engraçado e cheio de ação. Anna Karenina, por sua vez, é um filme dramático. Uma grande mudança.Procuro desafios e gêneros diferentes. Quando era pequeno, meu pai me levava para assistir Rocky, Indiana Jones e Guerra nas Estrelas; minha mãe, os filmes de Federico Fellini e François Truffaut. Cresci com essa relação esquizofrênica com o cinema e, por isso, gosto de tudo.

Em Anna Karenina, você não foi a escolha óbvia para viver o jovem sedutor Vronsky, e sim o marido traído Karenin – anos mais velho. Você acredita que a idade propor-ciona papéis mais interessantes?Eu acho que sim. A escalação foi correta. Para viver Vronsky, você precisa ser jovem, pois são necessárias

aquela ingenuidade e presunção que somente um jovem de 20 e poucos pode trazer. Eu seria muito velho para inter-pretar Vronsky.

Karenin tem dificuldade em perdoar Anna. Você se acha parecido com ele?Perdão é algo difícil. Há elementos dele em mim. Sou mais sério e mais emocio-nal do que as pessoas acham na realida-de. Também sou muito limpo. Minha casa tem que estar toda no lugar. Eu deixo todo mundo louco com isso. Como ator, sou emocional e extravagante.

Você sente que a idade o modifica em relação aos relacionamentos amorosos? O que você procura atualmente?Eu não poderia responder honestamente. Ainda estou tentando entender o que eu quero. Se eu pudesse responder, diria que procuro estar em um relacionamento sim - mas eu não estou, infelizmente. Venho de uma família em que casais estão juntos há 50 anos. Sou crente em relacionamen-tos que duram - quando olho para minha família, vejo que é possível. Mas também acho que se um relacionamento não dá certo não há razão para continuar.

O que mudou na sua carreira e vida pessoal agora aos 40?Acredito que finalmente fui pego pela idade... Fui um pai prematuro. Sinto que entre os 20 e os 30 eu tinha que provar que era bom ator, tentando desviar as distrações de ser considerado

sex symbol, etc. Eu estava sempre reclamando: “Sou um ator. Por favor, me levem a sério!!”, o que podia soar pretensioso. Agora aos 40, finalmente o público vai prestar mais atenção no meu trabalho. A época de símbolo sexual passou e estou feliz que ficou para trás. A carreira de ator para o homem de 40 aos 60 é muito excitante para explorar papéis diferentes – e espero que eles venham ao meu caminho. Na minha vida pessoal, bem, eu tenho certeza de que certas coisas eu vou ter de parar de fazer agora aos 40... (risos)

Você presta muita atenção em moda? Afinal, você é o rosto do perfume masculino da Dior.Não, na verdade. Eu nunca comprei uma revista de moda. Esta calça, por exemplo, eu usei neste verão inteiro. Se você gasta muito tempo se arrumando, você não está vivendo a vida como ela é. Você precisa acordar, tomar banho, sair, e pronto. Não estou certo? Não é ruim ver uma mulher gastar mais de 40 minutos se arrumando?

Como você descreveria seu estado no momento? Feliz?Sim. Estou muito feliz. Minha vida familiar está feliz, meu trabalho vai muito bem. Mas meu estado de agitação continua o mesmo. Sempre acho que há muito mais a fazer. Tantos diretores com quem quero trabalhar. Sinto que não explorei tudo que posso realmente. Então eu vivo o momento. Curiosidade é o que sempre me mantém indo adiante. <

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“MINHA ÉPOCA DE SEX SYMBOL FICOU PARA TRÁS” Jude Law

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ROCOCÓpop

GenteEM CASA

Há 17 anos em Salvador, o artista plástico mineiro Iuri Sarmento restaurou uma casa colonial do século 19, no bairro do Carmo,

para transformar em morada e ateliê

reportagem Bianca Zaramella / fotos Fernando louZa, de Salvador

POR SILVIANE NENO

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ROCOCÓpop

GenteEM CASA

Há 17 anos em Salvador, o artista plástico mineiro Iuri Sarmento restaurou uma casa colonial do século 19, no bairro do Carmo,

para transformar em morada e ateliê

REPORTAGEM BIANCA ZARAMELLA / FOTOS FERNANDO LOUZA, DE SALVADOR

POR SILVIANE NENO

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Construída no século 19, a casa de Iuri Sarmento, em Salvador, foi totalmente restaurada pelas mãos do artista plástico, que resgatou a pintura original da época nos espaços principais, como a sala de jantar

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Nascido em Montes Claros, Minas Ge-rais, Iuri Sarmento desembarcou na capital baiana há 17 anos e se tomou de encanto pela cidade. “Quando meus pais se separa-ram, minha mãe escolheu Salvador. Com ela, viemos eu e meu irmão e aqui fi camos. Adoro a cidade.” O primeiro endereço da família foi um apartamento no centro, mas a convivência com os baianos o fez perceber que precisava se mudar para um dos bair-ros mais tradicionais da cidade: foi em San-to Antônio do Além do Carmo, extensão do Pelourinho – ao lado da famosa escada do fi lme O Pagador de Promessas – que o artista encontrou a casa que cabia no seu imaginá-rio. Isso há nove anos. “Era uma época em que muitos estrangeiros se instalavam por aqui para montar suas pousadas e os artistas estavam começando a descobrir a região pela proximidade com o Pelourinho. Além disso, o bairro do Carmo é muito ‘família’. Parece interior”, conta Iuri.

Construída no século 19, a casa colo-nial foi totalmente restaurada pelas mãos do artista, que resgatou e valorizou a pin-tura original dos espaços principais, como a sala de jantar. “Quando percebi que as paredes fi cavam sempre úmidas, desisti de pintá-las e resolvi descobrir o que ha-via por trás delas.” Uma belíssima pintu-ra brotou por baixo daquela umidade. A fachada original havia sido totalmente modifi cada nos anos 1930, com inspira-ção art déco. Iuri restaurou boa parte das telhas da cobertura principal e janelas de madeira da casa. “É bom descobrir a his-tória de cada cômodo assim como tam-bém garimpar as coisas que combinam com ela.” Boa parte dos móveis veio da família. A maioria, peças que refl etem o bom gosto da mãe, Iolanda. “Ela adora cuidar de cada detalhe e aos poucos va-mos terminando a nossa obra por aqui.”

O clima barroco dos ambientes, rein-ventado pelo artista plástico, é especial-mente percebido quando a luz entra pelas janelas e portas. Iuri costuma trabalhar em seu ateliê, armado em um dos três andares da casa, por boa parte do dia. Foi ali que ele criou telas como o São João que fi ca na an-tessala do quarto de seu irmão Dimitri. “Sim, os dois nomes, meu e do meu irmão, têm descendência russa porque meu avô gostava”, explica. Iuri retoma a conversa e explica que a obra fez parte de uma série de imagens sacras expostas no Museo de

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Nascido em Montes Claros, Minas Ge-rais, Iuri Sarmento desembarcou na capital baiana há 17 anos e se tomou de encanto pela cidade. “Quando meus pais se separa-ram, minha mãe escolheu Salvador. Com ela, viemos eu e meu irmão e aqui fi camos. Adoro a cidade.” O primeiro endereço da família foi um apartamento no centro, mas a convivência com os baianos o fez perceber que precisava se mudar para um dos bair-ros mais tradicionais da cidade: foi em San-to Antônio do Além do Carmo, extensão do Pelourinho – ao lado da famosa escada do fi lme O Pagador de Promessas – que o artista encontrou a casa que cabia no seu imaginá-rio. Isso há nove anos. “Era uma época em que muitos estrangeiros se instalavam por aqui para montar suas pousadas e os artistas estavam começando a descobrir a região pela proximidade com o Pelourinho. Além disso, o bairro do Carmo é muito ‘família’. Parece interior”, conta Iuri.

Construída no século 19, a casa colo-nial foi totalmente restaurada pelas mãos do artista, que resgatou e valorizou a pin-tura original dos espaços principais, como a sala de jantar. “Quando percebi que as paredes fi cavam sempre úmidas, desisti de pintá-las e resolvi descobrir o que ha-via por trás delas.” Uma belíssima pintu-ra brotou por baixo daquela umidade. A fachada original havia sido totalmente modifi cada nos anos 1930, com inspira-ção art déco. Iuri restaurou boa parte das telhas da cobertura principal e janelas de madeira da casa. “É bom descobrir a his-tória de cada cômodo assim como tam-bém garimpar as coisas que combinam com ela.” Boa parte dos móveis veio da família. A maioria, peças que refl etem o bom gosto da mãe, Iolanda. “Ela adora cuidar de cada detalhe e aos poucos va-mos terminando a nossa obra por aqui.”

O clima barroco dos ambientes, rein-ventado pelo artista plástico, é especial-mente percebido quando a luz entra pelas janelas e portas. Iuri costuma trabalhar em seu ateliê, armado em um dos três andares da casa, por boa parte do dia. Foi ali que ele criou telas como o São João que fi ca na an-tessala do quarto de seu irmão Dimitri. “Sim, os dois nomes, meu e do meu irmão, têm descendência russa porque meu avô gostava”, explica. Iuri retoma a conversa e explica que a obra fez parte de uma série de imagens sacras expostas no Museo de

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Fascinado pela gama de azuis em combinação com o branco, típico dos azulejos portugueses, Iuri

Sarmento (abaixo) cria suas obras com uma estética repleta de referências desse universo

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“quando percebi que as paredes da casa ficavam sempre úmidas, desisti de pintá-las e resolvi descobrir o que havia por trás delas” iuri sarmento

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“QUANDO PERCEBI QUE AS PAREDES DA CASA FICAVAM SEMPRE ÚMIDAS, DESISTI DE PINTÁ-LAS E RESOLVI DESCOBRIR O QUE HAVIA POR TRÁS DELAS” Iuri Sarmento

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Bellas Artes de la Boca “Benito Quinquela Martin”, em Buenos Aires, na Argentina. “Gosto dos tons do mar e uso geralmente cores mais limpas, puras. Não gosto de su-jar as cores”, explica.

Unir o barroco à arte popular é um dos pontos mais marcantes do trabalho de Iuri Sarmento. Foi a partir do universo da azulejaria portuguesa e suas nuances en-tre azul e branco que esse artista mineiro encontrou seu lugar nas artes plásticas com telas e peças repletas de referências às vestimentas e outros objetos usados no cotidiano, como louças, bules e xícaras. O resultado é uma espécie de colagem que reflete a identidade do artista com Salva-dor. “A luz forte da Bahia sempre ilumi-nou minhas inspirações”, explica.

Agora, ele trabalha em uma série de telas para a próxima edição da SP ART, que acontece de 3 a 7 de abril, em São Paulo. “Procuro sempre mudar os temas. Em algumas fases estou mais figurativo, em outras revelo meu encanto pelas cores do mar ou trabalho com história da arte e

a representação de adornos e vestuário.” Em Salvador, Iuri é representado pela galeria de Paulo Darzé, marchand há 25 anos e considerado o mais importante ga-lerista baiano. “Iuri tem uma visão con-temporânea do barroco em que consegue brincar com azulejos, com referências art déco e art nouveau. É uma espécie de co-lagem autoral”, explica Darzé, que re-lembra o sucesso das obras do artista em 2012, após a participação dele na Art Rio e na SP Art, em São Paulo. “Levamos seis telas para São Paulo e no final vende-mos 13! Algumas foram por foto mes-mo.” Darzé diz que já planeja a primeira mostra individual do artista para setem-bro, em Salvador. “Iuri reflete em seu trabalho um registro urbano e autoral de Salvador, com todas as suas igrejas, pá-tios e ruas. Ele ainda consegue unir o barroco português, o baiano e o mineiro. Iuri Sarmento não é mais uma promessa, é uma realidade”, conclui. <

O universo de cores do artista se re�ete em todos os cômodos da casa, instalada no bairro do Carmo, em

Salvador. Peças, objetos e outros detalhes do décor, como vasos de porcelana e as �ores, têm também o toque da mãe

do artista, Iolanda. “Ela adora cuidar de cada detalhe e aos poucos vamos terminando a nossa obra por aqui”

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Dá um caldo!

GASTRONOMIA

A pedido de Gente a chef Bel Coelho se inspirou na folia para criar um prato que remetesse à alegria

da gastronomia. E foi o ingrediente mais sagrado das mesas brasileiras que se transformou no protagonista

dessa pequena notável receita

POR MARINA ROSSI / FOTOS RAFAEL HUPSEL

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Dá um caldo!

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A pedido de Gente a chef Bel Coelho se inspirou na folia para criar um prato que remetesse à alegria

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Uma entrada criativa, um prato elaborado, um bom vinho e uma sobremesa inusitada podem ser ele-mentos capazes de trazer grande felicidade em volta da mesa. Principalmente se estivermos falando com um especialista no assunto. Mas não para Bel Coe-lho. A chef e proprietária do restaurante Dui, em São Paulo, descreve a felicidade com ingredientes muito mais simples: “Alegria são os amigos à minha volta. Nem precisa ser um grande prato servido. Pode ser um queijo e mais nada”, diz. “O que faz o momento são as pessoas.”

E foi justamente inspirada nas pessoas ao redor da mesa que Bel criou um prato, a pedido de Gente, que remetesse a essa atmosfera de alegria: “Me ins-pirei no clássico caldinho de feijão-preto, pois essa é uma entrada muito presente nas mesas de bares e que, portanto, harmoniza bem com cachaças e caipi-rinhas”, conta. “Esse clima dos bares é sempre muito alegre e descontraído e por isso escolhi um prato ser-vido nesse ambiente para me inspirar.”

E de lugares alegres a chef paulistana entende. Dui, o nome de seu restaurante localizado nos Jardins, vem do I Ching, e significa “alegria”. É com esse sentimento que Bel explora seus sentidos e cria pra-tos que agradam, antes de tudo, aos olhos. “A apre-sentação é fundamental”, diz.

Depois do visual, o entusiasmo passa por todos os outros sentidos, o que faz com que qualquer receita possa se transformar numa fonte de inspiração para momentos mais, digamos, devassos. Por isso, a per-gunta inevitável é, claro, quais ingredientes são capa-

zes de deixar um prato afrodisíaco. E a resposta, de prontidão, foi: “Qualquer um. A manga, por exemplo, é afrodisíaca, para mim. É uma fruta sensual, suculenta, chei-rosa”, diz. Mas, se você vai ter um jantar romântico, não precisa sair correndo para a feira agora. “Tudo pode virar afrodisíaco, se você estiver a fim”, conclui.

Segundo a chef, o prato afrodisíaco, na verdade, inspira pelos formatos, cores e sabores. E não por alguma substância ca-paz de profanar os mais sacros dos indiví-duos. “Não há nada cientificamente pro-vado.” A falta de provas empíricas, porém, não faz Bel desacreditar do poder da comi-da. “Na Ilha de Marajó existe o turu, que é um molusco considerado afrodisíaco. Eu comi uma vez e acho que fez efeito... Mas, pensando bem, eu estava no começo de um namoro”, brinca.

A linha que separa a comida sagrada da profana pode ser tênue, se assim o freguês desejar. “Eu já fui seduzida pelo trabalho de um chef”, revela. Mas não são só os ingre-dientes que podem macular um cardápio. A atitude também é importante. “Os maio-res pecados na gastronomia são a gula, cla-ro, e a luxúria”, diz. “Comer demais, gastar demais, se mostrar demais, enfim, o exibi-cionismo é o verdadeiro pecado.” <

ESPUMA DE FEIJÃO-PRETO COM COUVE CROCANTE, FAROFA DE PAIO

E CAVIAR DE QUIABO

Para a espuma de feijão-preto50 g de alho picado; 150 g de cebola picada; 100 g de bacon picado; uma folha de louro; 300 g de feijão-preto, pré-cozido até ficar macio; 300 ml de creme de leite fresco; 50 g de salsinha picada; pimenta-dedo-de-moça a gosto; sal a gosto. Refogue o bacon até que a gordura comece a derreter. Adicione a cebola e o alho e refogue até que fiquem translúcidos. Acrescente o feijão, o louro, a salsinha e um pouco de água, caso seja necessário. Deixe cozinhar por meia hora. Processe tudo até obter um creme e coe. Adicione o creme de leite fresco e tempere esse creme. Coloque o creme de feijão num sifão com duas bombas de gás e mantenha-o quente em uma panela de água quente.

Farofa de paio100 g de paio cortado em finas fatias divididas em quatro. Leve as fatias ao forno baixo em cima de uma silpat ou papel-manteiga até ficarem crocantes. Depois de frias, pique-as até virar uma farofa.

Caviar de quiabo100 g de sementes cruas de quiabo; 20 g de salsinha picada; 10 g de pimenta-dedo-de-moça julienne fina; 40 ml de azeite extravirgem; sal a gosto. Misture todos os ingredientes e retifique os temperos.

Couve crispy500 g de couve, sem caule, fatiada bem fina; 300 ml de óleo de canola; açúcar a gosto; sal a gosto. Esquente o óleo e frite a couve até ficar crispy. Seque a couve em papel-toalha. Tempere-a com açúcar e sal a gosto.

MontagemEm uma xícara de café ou copo de cachaça, coloque a espuma de feijão. Por cima, a couve, a farofa, o caviar e uma pimenta-biquinho.

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“COMER DEMAIS, GASTAR DEMAIS, SE MOSTRAR DEMAIS, ENFIM, O EXIBICIONISMO É O VERDADEIRO PECADO”Bel Coelho, chef

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