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1 IV SIMPÓSIO GÊNERO E POLÍTICAS UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA 08 a 10 de junho de 2016 GT Transexualidades: subjetividades e relações institucionais Gênero como categoria de analise das espacialidades da Escola de Guardas Mirins em Ponta Grossa -Pr João Paulo Leandro de Almeida (Universidade Estadual de Ponta Grossa – Mestrando em Geografia)

IV SIMPÓSIO GÊNERO E POLÍTICAS - uel.br Paulo Leandro de... · Trinômio Social, que segue uma lógica racionalista metafísica conectada a ideia de evolução pessoal através

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IV SIMPÓSIO GÊNERO E POLÍTICAS

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA

08 a 10 de junho de 2016

GT Transexualidades: subjetividades e relações institucionais

Gênero como categoria de analise das espacialidades da

Escola de Guardas Mirins em Ponta Grossa -Pr

João Paulo Leandro de Almeida(Universidade Estadual de Ponta Grossa – Mestrando em Geografia)

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IV SIMPÓSIO GÊNERO E POLÍTICAS PÚBLICASGT Transexualidades: subjetividades e relações institucionais

Gênero como categoria de analise das espacialidades da

Escola de Guardas Mirins em Ponta Grossa -Pr

João Paulo Leandro de Almeida1

Resumo: Este trabalho tem por objetivo compreender como a relação de gênero interfere naconstituição espacial da Escola de Guardas Mirins 'Tenente Antônio João' em Ponta Grossa –Pr. Instituição que a mais de 50 anos presta assistência a crianças e adolescentes componentesde famílias carentes. Criada a princípio para atender meninos no decorrer de sua históriapassou incluir meninas em suas espacialidades, como também outras necessidadesdemonstradas pela sociedade. Tratamos aqui de informações referente a discentes do ano de2013 que constituem informações cadastrais mantidas em um Banco de Dados Base, dandoatenção especial aos motivos de procurar a instituição. A forma de analisar estes se refere aouso de ferramentas computacionais que permite a identificação de palavras inerentes à analise,vindo a possibilitar a constituição de comunidades de palavras, posteriormente ouve umaredistribuição em sub-comunidades que contribui na observação de conexões que na redegeral não eram identificadas. Buscamos conectar com a relação de gênero oque veio a nosproporcionar a identificação da importância desta na composição da instituição conectado àfamília. Onde as mães tem papel fundamental demonstrado pelas expressões referindo-seprincipalmente a trabalho. Enquanto que os pais deixam a desejar, aparecendo juntamentecom palavras que encontram-se atualmente no desgosto social.

Palavras-chaves: Gênero; Espaço institucional; Guarda Mirim.

1 Universidade Estadual de Ponta Grossa; Mestrando em Geografia; [email protected].

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Introdução.

Este trabalho objetiva compreender como a relação de gênero interfere na

constituição espacial da Escola de Guardas Mirins 'Tenente Antônio João' em Ponta Grossa –

Pr. Como fonte de reflexão utilizamos os motivos de buscar apoio social, juntamente com

dados quantitativos do ano de 2013 que contempla informações das pessoas inclusas como

também de seus familiares que alimentam Bancos de dados Base Libre Office. Esta instituição

se coloca enquanto uma organização não governamental religiosa com estatuto próprio,

instituição civil sem fins lucrativos, de personalidade jurídica de direito privado na categoria

de organização, integrada à política educacional da infância e juventude. É uma unidade

departamental do Instituto Educacional Duque de Caxias (IEDC), que funciona como a base

administrativa de outras instituições que buscam atender socialmente dificuldades de famílias

carentes da cidade.

Nosso recorte temporal se limita ao ano de 2013 justificado pelo escopo do trabalho,

tendo como recorte espacial a Escola de Guardas Mirins 'Tenente Antônio João'. A escolha por

esta e não outra unidade departamental está conectada à posicionalidade do sujeito

pesquisador, que a alguns anos atrás se colocava dentre as pessoas assistidas. O que vem a

contribuir na compreensão das 'tramas locacionais' (GOMES, 1997), colocadas pela

diversidade constituinte daquele espaço, conectada a regras pré estipuladas

institucionalmente, espacial e temporalmente. O dispositivo inicial para a criação

institucional, foi dado por Epaminondas Xavier de Barros com o apoio de militares,

rotarianos, maçons, espiritas além de diversos componentes da sociedade, para reinserir

socialmente quinze meninos que se encontravam detidos na cadeia pública municipal, devido

a pequenos furtos e invasão de domicílios particulares na década de 1960. De acordo com

Barros (1999) em 1976 com alterações no Estatuto Institucional e sofrendo resistência social

foi aberta a possibilidade de ingresso de meninas no espaço que onze anos antes, fora criado

para meninos.

Na atualidade a Escola de Guardas Mirins 'Tenente Antônio João' funciona como

contraturno, com aproximadamente 270 pessoas assistidas entre 6 e 18 anos, crianças e/ou

adolescentes cadastradas de acordo com nomes civis, sendo cerca de 37% meninas e 63%

meninos. Embora que as questões que abrangem os cadastros das pessoas assistidas possam

ser consideradas limitadas para analisar a complexidade deste espaço, os motivos dispostos

nas matrículas de criança e/ou adolescente inseridos demonstraram ser abrangentes,

possibilitando a aplicação de parte dos procedimentos por ferramentas computacionais como

proposto por Silva e Silva (2016), para efetuar sua análise, baseando-se na centralidade dos

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sentidos que os enunciados expressam, ampliou a capacidade de interpretação, ficando clara a

conexão com as características familiares a partir dos agrupamentos. Esta técnica é baseada

em procedimentos com uso de uma sequência de softwares livres (LibreOffice, OpenRefine,

Gephi) atribuindo flexibilidade em sua aplicação, permite que na pesquisa supere a posição

baseada na dualidade sujeito objeto.

Ao se referir na relação de gênero como constituinte de um espaço institucional,

trata-se de observar a relação interescalar onde uma influência a outra e age sobre a outra.

Deste modo perpasso inicialmente por discussões referente ao gênero, ao 'sujeito' chegando a

estrutura institucionais e sua base funcional.

Desenvolvimento

O gênero enquanto categoria de análise foi proposto inicialmente pela historiadora

Joan Scott (1995), perpassando pelo significado da palavra gênero demonstra que intrínseco a

ela está a distinção de pessoas por suas características biológicas. No decorrer de seu texto

perpassa por três diferentes ondas do feminismo, a primeira se refere a luta efetuada por

mulheres na França, Inglaterra, Espanha e Estados Unidos no século XIX pela igualdade de

direitos políticos, civis e a educação. A chamada segunda onda se iniciou na década de 1960,

tendo como catalisadoras feministas francesas e norte-americanas. Enquanto as primeiras

tinham como foco a valorização das especificidades femininas frente à dualidade, as

posteriores intensificavam a busca pela igualdade denunciando a opressão masculina. A

terceira onda esta baseada nas obras de Michel Foucault e Jacques Derrida, canalizando o

enfoque ao sujeito passa a abarcar a compreensão do gênero relacional, enquanto categoria

relacional.

Seguindo esta ideia Louro (2004) efetua uma relação entre as marcas do corpo e as

marcas de poder, evidencia que todo ser humano antes mesmo de nascer, em sua primeira

aparição para os pais, o médico responsável pelo pré natal recebe a questão; É menino ou

menina? Ou ainda, mesmo sem ser questionado lança a resposta. No entanto, esta mesma

autora ao relatar sobre as drags queens dispõe uma afirmação colocada por uma delas que “o

corpo se fabrica”(LOURO, 2004 p.85).

Outra autora que efetua intensa discussão referente a gênero e sexualidade se refere a

Judith Butler, em seu texto publicado em 2003 ela observou que o exercício normativo da

identidade de gênero é ditada por regras anteriores ao sujeito, evidenciando o conceito de

performatividade insere que

(…) “o gênero não deve ser construído como uma identidade estável ou um locus deação do qual decorrem vários atos; em vez disso, o gênero é uma identidade

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tenuemente constituída no tempo, instituída num espaço externo por meio de umarepetição estilizada de ato” (fonte: BUTLER, 2003 p.200)

dos quais se estabeleceria a performaces continua dos corpos.

Neste mesmo sentido foi a afirmação de Beauvoir (1980) ao colocar que “nenhum

destino biológico, psíquico ou econômico define a forma que a mulher ou a fêmea humana

assume no seio da sociedade” (BEAUVOIR, 1980. p. 9), explicando a assertiva de que “não

se nasce mulher, torna-se mulher”. Deste modo podemos afirmar que feminilidades são

dependentes diretas das relações numa retroalimentação continua.

Se referindo a masculinidades, o trabalho de Connel (1995 p. 188) se referindo a

'masculinidade hegemônica' traz que “falar de posição dos homens, significa enfatizar que a

masculinidade tem a ver com relações sociais e também se refere a corpos – uma vez que

'homens' significa pessoas adultas com corpos masculinos”. Posteriormente Connell e

Messerschmidt (2013 p. 248), repensam o conceito e retirando a ideia de fixidez ao

deflagrarem que “as masculinidades não são simplesmente diferentes entre si, mas também

sujeitas a mudanças” desafiam ou se ajustam de acordo com a espacialidade e com as relações

de poder que neste se encontram.

Nitidamente de acordo com estas discussões o gênero é uma construção social

relacional, sendo “possível viver masculinidades em corpos considerados femininos e/ou

viver feminilidades em corpos considerados masculinos” como afirmado por Silva e Ornat

(2011 p.31). Retomando a ideia dualista numa perspectiva geográfica Silva (2003) coloca que,

a Geografia brasileira deixou a desejar frente a outras ciência sociais por haver certa

desconsideração às mulheres, tanto como constituinte do espaço, como enquanto produtoras

do conhecimento científico geográfico. Efetuando duras críticas a forma que este

conhecimento vinha e em parte vem sendo feito, faz um convite para o debate em contemplar

o conceito de gênero como categoria explicativa da produção do espaço.

Trata-se assim como necessário efetuar esta abordagem, não desconsiderando

meninas nem meninos na constituição espacial da Escola de Guardas Mirins 'Tenente Antônio

João', mas sim compreendendo que o sujeito é imbuído também por característica

'generificada' pela sociedade, experienciando de forma diferente a vivência nestas

espacialidades. Porém através das guias referenciais teóricas devemos considerar também que

a relação de gênero também é uma relação de poder.

Falando do sujeito e do poder Foucault (1995) revela que a primeira palavra tem dois

sentidos, um é o que se submete ao outro por controle e dependência (relacional), e outro

sentido é o ligado à própria identidade pela consciência ou pelo conhecimento de si. Tendo o

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poder técnicas, sendo que uma delas se refere a lutas, estas acontecem por oposição a

dominação, por denúncia da forma de exploração e contrariando a submissão. Este autor

anteriormente (FOUCAULT, 1988) traz em seu texto Vigiar e Punir três partes que

demonstram intrínseca conectividade ao sujeito, á constituição do sujeito, a submissão e as

formas de controles institucionais para com o corpo são abordadas. Na sua terceira parte o

autor aborda as disciplinas, afirmando que elas obtiveram maior êxodo com a hierarquia.

Também é partindo delas que foram criados os espaços complexos, simultaneamente

arquiteturais, funcionais e hierárquicas.

Estrutura Institucional e uma lacuna.

A instituição deste estudo foi criada em 14 de julho de 1965 a partir de uma

conjuntura de pessoas com direcionamento positivista progressista, dentre estas militares,

maçons, rotarianos e espiritas liderados pelo Sr. Epaminondas Xavier de Barros (GODOY,

2007). Ferroviário, aposentado recém adentrado no espiritismo kardecista, tomou a ação de

retirar quinze meninos que estavam detidos na cadeia pública municipal, afim de possibilitar a

ressocialização de tais sujeitos dispôs a eles abrigo, comida e conhecimento. Desde então,

desenvolve atividades de apoio sócio caritativo a componentes de famílias carentes

distribuídas por toda a cidade. Em 2013 aproximadamente 200 meninas e meninos

encontravam-se enquanto compositores do quadro de pessoas assistidas, com indiferença de

gênero, sexualidade, raça/etnia ou qualquer outra categoria identitária para a acensão na

hierarquia militar adotada por ela desde seu princípio e disposto no Manual do Guarda Mirim.

Fundamentada de acordo com sua história relacional, adquiriu atributos defendidos

pelas diversas instituições e pessoas que contribuíram para sua criação e manutenção, está

baseada em três trinômios. De acordo com as conjunturas flexionadas por órgãos superiores

que por vezes tencionam a manutenção institucional, um ou outro trinômio se coloca com

maior evidência e por vezes demonstra-se pouco evidente. Na atualidade se refere ao

Trinômio Social, que segue uma lógica racionalista metafísica conectada a ideia de evolução

pessoal através do conhecimento, afim de viver em sociedade de acordo com suas leis. Para o

precursor da instituição é 'uma regra para o bem viver das pessoas na sociedade

contemporânea'2 contemplando como elementos as palavras: estudar, trabalhar e progredir.

O Trinômio Moral se refere a um arranjo da Disciplina, Hierarquia e Evangelização

Cristã. Os dois primeiros elementos se da pela inspiração no civismo, patriotismo e moral

militar, enquanto que o terceiro é advindo do espiritismo kardecista. Nesta situação a

2 Informação proveniente de diário de campo, com anotações desde 2013 com a reaproximação à instituição.

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instituição não se coloca como formadora de militares e/ou espiritas para a vida adulta, mas

sim de pessoas que venham a exercer a cidadania em sua plenitude. Porém, segundo Silva

(2005) o conceito de cidadania varia no espaço e no tempo com conectividade direta com o

Estado e carácter de 'inclusão total' na atualidade, ela é fruto da Revolução Francesa, da

Independência dos EUA e da Revolução Industrial, que também fora processos de exclusões e

a conquistas de direitos fora através de lutas e persistências. Tais direitos alimentam o

Trinômio Histórico abrangendo mesmo que subjetivamente a Liberdade, Igualdade e

Fraternidade.

A manutenção deste aparato metodológico pelas espacialidades da instituição é

constante, não de forma unitária, há conexões diversas entre os elementos, destacando aqueles

apropriados para cada espacialidade, tendo maior intensidade umas que outras dependendo

não apenas da instância interna da instituição, mas também da exterioridade através também

das necessidades sociais. Podemos então refletir sobre este espaço dialogando com a proposta

de Massey (2008), como sendo uma esfera de multiplicidade de sujeitos e de elementos

metodológicos, constituída por inter-relações de ambos e sempre em construção, onde a forma

de aplicação devem se adaptar a legalidade e ao movimento de pessoas, tendo constante

mudanças daquelas que são assistidas, pois quem não se adaptam à metodologia saem ou por

vontade própria ou pela sensação de outsider, não adaptando-se as regras institucionais.

Semelhante ao disposto por Foucault (1988), ela esta organizada piramidalmente com um

funcionamento em rede de cima para baixo, também se colocando ao inverso e lateralmente

sustentando o conjunto e perpassando os efeitos do poder, sendo os fiscais perpetuamente

fiscalizados dentre as pessoas assistidas, mesmo se colocando como 'superior' na relação de

poder.

No Manual do Guarda Mirim (2012) há direitos e deveres às pessoas assistidas, se

estabelece através do respeito a hierarquia militar, base que dialogá com a organização das

Forças Armadas e órgãos militares, logicamente que sem a rígidas e aplicação de força

constante, compõem o comando a ser seguido por integrantes sem exceção em sua estrutura

organizacional, determinando comportamentos para conquista de graduações superiores

dentre assistidos, partindo de Aprendiz Mirim a Capitão.

Em um estudo sobre os aspectos do cotidiano das mulheres militares, Silva (2007,

s/p) argumenta que “o quartel geralmente é caracterizado como um território exclusivo dos

homens”. Desde a inserção das mulheres nas Forças Armadas Brasileira na década de 80,

estas se limitam a funções administrativas. A autora destaca o carácter dual, baseado em

justificativas bio-psiquicas destas instituições. Mesmo que as mulheres enfrentem

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dificuldades no espaço militar, estas conseguem flexibilizar a rigidez dualista, não deixando

de ser mulheres, nem passando a ser homens. O jogo de relações entre feixes de categorias

identitárias privilegia elementos masculinos em detrimento dos femininos, segundo

performances necessárias para a formação oficial militar.

Schactae (2013) conectar um espaço militarizado ao gênero considerando o espaço

institucional da Polícia Militar do Estado do Paraná (PMPR) como uma construção simbólica

que constitui divisões de gênero, demostra que as barreiras encontradas pelas mulheres no

acesso a este espaço são mais sólidas e reforçam uma construção histórica de divisão entre

masculino e feminino. Levando em consideração o capital simbólico, a autora demonstra que

as mulheres militares são vistas enquanto uma ameaça ao capital simbólico institucional,

conectado à corporalidade masculina. Isso justificaria limites colocados para a acensão delas

na hierarquia militar na PMPR. Deste modo, a prática militar parece não beneficiar mulheres.

Porém se a acensão na hierarquia militar não se coloca enquanto barreira com

distinções na Escola de Guardas Mirins 'Tenente Antônio João', abre a possibilidade para

novas configurações, nos últimos 10 anos duas meninas se colocaram como 'capitão feminino'

da instituição. Devemos compreender então que há uma identidade institucional na Escola de

Guardas Mirins 'Tenente Antônio João', porém ela é mais permeável à ascensão feminina na

hierarquia militar ainda que seu histórico esteja relacionado a sujeitos masculinos.

Deste modo as pessoas graduadas, principalmente as meninas experienciam uma

forma de 'espaço paradoxal', recordarmos assim Rose (1993) que nos fornece este conceito,

onde a pessoa simultaneamente ocupa o centro e a margem nas relações de poder. Tendo que

as pessoas assistidas ao buscar a instituição encontram-se vulneráveis socialmente, o que

abordaremos adiante, permite-nos posteriormente pensar este espaço através do conceito de

interseccionalidade. Seu princípio atrelado à feministas negras, mais necessariamente de

críticas efetuadas a abordagens de mulheres brancas, heterossexuais, ocidentais que até a

década de 1970 constituíam a política feminista de acordo com Silva e Silva (2014). Tendo

como fundamental a sistematização efetuada por Crenschaw (1991), onde a

interseccionalidade é uma forma que permite relacionar estruturas de poder que classifica e

oprimem pessoas de acordo com a identidade.

Em outro momento Silva e Silva (2014 p.32) afirmam que as “analises

interseccionais nas quais o espaço é o foco de atenção, possibilitam a criação de uma

perspectiva analítica complexa das vivencias humanas”, extrapola certa fixidez espacial.

Superação de estruturas de poder deixadas claras por bell hooks (1990), argumentando que

posiciona-se às margens da sociedade é ocupar o centro da oposição à hegemonia, é uma

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forma de resistir, de negar o colonizador, o opressor, ocupar um espaço de resistência é não

falar do 'outro', mas sim do 'eu' marginalizado.

As barreiras a acensão de pessoas da periferia social, com baixa renda e um histórico

associado a descasos estatais, são para Abramovay (2002) componentes para a

vulnerabilidade social, partindo da negativa de acesso à estrutura de oportunidades sociais,

econômicas, culturais, materiais que provêm do Estado, do mercado e da sociedade. O que

propicia a violência sofrida e praticada por jovens. Porém a instituição estudada nesta

conjuntura coloca-se enquanto uma válvula de escape, possibilitante sujeitos (meninas e

meninos) marginais a ocupar a centralidade da relação em vias de fato nas suas espacialidades

ao irem de acordo com as regras institucionais.

Identificação de Motivos: meninas e meninos assistidos e de onde são.

De acordo com nosso recorte temporal 203 pessoas constituíam as espacialidades da

Escola de Guardas Mirins 'Tenente Antônio João', sendo que dentre os cadastros 71 se

referiam a meninas e 132 a meninos. Através da espacialização dos dados referente ao

endereço podemos constatar a distribuição pela cidade das pessoas assistidas, de forma geral

há concentrações próximas da área central urbana em loteamentos compostos com diversas

famílias com baixo poder aquisitivo, onde há influência direta do relevo com alta declividade

e fundos de vale, como a Vila Nova I e II, Coronel Cláudio e Ronda.

Considerando o gênero das que constituem o espaço da instituição na distribuição

espacial (figura 1 e 2), possibilita observar outra configuração. Ainda que aja uma

distribuição por diversos loteamentos, há quatro agrupamentos bem claros com relação às

meninas, nas Vilas Nova I e II, Coronel Cláudio e Ouro Verde. A primeira se da pela

proximidade com o espaço institucional, as demais primeiramente devemos compreender que

nestes existe necessidades sociais conectadas ao pseudo-acesso a serviços públicos, que

devem ser estudado com maior profundidade futuramente.

figura 1. fonte dados de pesquisa. figura 2. fonte dados de pesquisa.

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Referente aos meninos que constituintes da Escola de Guardas Mirins 'Tenente

Antônio João' em 2013 a distribuição espacial pela cidade de Ponta Grossa é mais intensa,

concentrando-se com concentrações, além dos dois primeiros loteamentos onde há

concentração das meninas, nos loteamentos Ronda, Borsato, Vilela, Parque Nossa Senhora

das Graças, 31 de março e Santa Paula consequentemente há grande incidência de meninos

que constituem as espacialidades da Escola de Guardas Mirins 'Tenente Antônio João'.

A analise se deu a partir da proposta de Silva e Silva (2016), fazendo uso de

ferramentas computacionais livres. Porém delimitamos em considerarmos a intensidade que

as palavras aparecem nos motivos de procura à instituição e suas conectividades, uma análises

frequencial e relacional através de grafos, descrito por Corrêa como um conjunto de nós ou

vértices, conectados por conjunto de arestas ou ligações. No conjunto geral de informações

de palavras foi aplicada o desdobramento de comunidades proposto por Blondel et al

(2008) que tem também como proposito revelar informações contidas na

rede que não são evidentes , considerando primeiro uma comunidade para

cada nó/palavra, posteriormente observa-se os ganhos de modularidade

se o vértice de referencia fosse excluso da comunidade e inserido na

comunidade de um nó vizinho, os nós passam a constituir sub-

comunidades onde há maior ganhos de conectividade com sua

participação para os nós da mesma, sendo eliminado arestas que não são

significativas para a composição das redes proporcionadas pela rede geral.

Neste ponto é necessário destacar que primeiramente será abordado apenas os motivos

inseridos nos cadastros de meninas, seguindo pelos cadastros de meninos e posteriormente

relacioná-los a responsabilidade por discentes. Alguns critérios foram considerados para

efetuar os agrupamento de palavras substantivas, aprendizado consideramos aqueles ligados a

profissionalização, educação esta ligado ao reforço para a educação regular, conhecimento se

refere aquele para vida, moral de distinção de certo ou errado conectado ao futuro,

desenvolvimento referente a características próprias da pessoa inscrita e parente e toda pessoa

que não é nem irmão, mãe ou pai, que por vezes se colocam enquanto responsáveis pela

criança ou adolescente.

Partindo dos cadastros das meninas foram identificados 71 motivos, contendo um total

de 29 palavras significativas nas frases, representadas por nós com tamanho de acordo com o

número de vezes que cada palavra aparece, considerando conexões quando duas palavras

apareceram em uma mesma expressão, representado por 166 arestas, com a intensidade de

vezes dada pela espessura da aresta com cores diferenciadas. Obteve-se três comunidades ao

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aplicar a modularidade, que considera a intensidade de conexões entre as palavras que

apareceram. Sendo que a comunidade que aparece com um maior número de conexões

conteve mais de 51% do total de palavras com 55 arestas (Figura 3).

figura 3. fonte: dados de pesquisa.

Temos então como destaque dentre os nós aqueles com maior diâmetro, se referindo

a palavras que mais apareceram como significativas nos motivos de cadastros das meninas na

instituição. As palavras 'Guarda Mirim' e 'trabalho' apareceram mais de 25 vezes, sendo

centrais nesta rede, enquanto que 'militar', 'conhecimento', 'rua' e 'pais' obtiveram volumes de

citações inferiores a 3 vezes. O volume de vezes que as palavras 'sozinha' e 'casa' são intensos,

sendo que a primeira e grande parte da segunda esta conectada diretamente com a manutenção

econômica da família, pois as pessoas responsáveis saem em busca de rendimentos

econômicos deixando de lado o afeto à descendentes.

As arestas demonstram a intensidade de vezes que duas ou mais palavras apareceram

em um mesmo motivo, as cores foram escolhidas aleatoriamente com suas espessuras esta

diretamente relacionado ao peso da aresta, relativo ao número de conexões. As menos

espessas obtiveram peso 1 enquanto que a com maior obteve peso 15 e demonstra um volume

significativo de vezes que as palavras 'mãe' e 'trabalho' apareceram num mesmo motivo.

Na figura 4 demonstra uma segunda sub-comunidade de palavras referente aos

motivos femininos, com nove nós e quase quinze por cento das arestas demonstra enquanto

significativa na formação intelectual e profissional das meninas. Centrais a esta sub-

comunidade de palavras estão o 'aprendizado' e o 'aperfeiçoamento' com onze e doze

aparições consequentemente. Tratando a assim a Escola de Guardas Mirins 'Tenente Antônio

João' como um espaço de formação, em construção não apenas de suas delimitações

estruturais mas de pessoas nesta situação das meninas. Os nós com menor diâmetro se referem

a palavras que apareceram ao menos três vezes, sendo que um deles se refere ao 'futuro' que

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seria posterior à formação e busca de oportunidades. Os pesos de suas conexões estão entre

um e cinco, indo de acordo com o volume de aparições da mesma palavra. Diferentemente da

sub-comunidade com menor número de palavras (5) e aresta (10), representado pela figura 5.

figura 4. fonte: dados de pesquisa. figura 5.

fonte: dados de pesquisa.

Centrais a esta sub-comunidade de palavras estão o 'aprendizado' e o

'aperfeiçoamento' com onze e doze aparições consequentemente. Tratando a assim a Escola de

Guardas Mirins 'Tenente Antônio João' como um espaço de formação, em construção não

apenas de suas delimitações estruturais mas de pessoas nesta situação das meninas. Os nós

com menor diâmetro se referem a palavras que apareceram ao menos três vezes, sendo que

um deles se refere ao 'futuro' que seria posterior à formação e busca de oportunidades. Os

pesos de suas conexões estão entre um e cinco, indo de acordo com o volume de aparições da

mesma palavra. Diferentemente da sub-comunidade com menor número de palavras (5) e

aresta (10), representado pela figura 5.

Constituída pelas palavras 'necessidade', 'medo', 'alcoólatra', 'agressivo' e 'pai' na

conexão com as demais sub-comunidades demonstra a importância de considerarmos o

gênero na analise espacial da 'Escola de Guardas Mirins 'Tenente Antônio João' em sua

interface com as famílias das pessoas assistidas. Como observamos anteriormente quando nos

motivos de procurar a instituição apareceu a 'mãe', na mesma expressão estão as palavras

'sozinha', 'afeto', 'casa', 'Guarda Mirim', 'disciplina', 'irmã/o(s)', 'qualidade', 'rua' e 'trabalho',

enquanto que o 'pai' se conecta com todas as palavras desta terceira rede. Onde não há uma

centralidade entre os nós, tendo maior intensidade a palavra 'necessidade' pelo 'medo'. Na

correlação das redes podemos afirmar que o gênero importa.

Frente aos 120 motivos encontrado nos cadastros dos meninos foram identificadas 34

palavras/nós com 202 arestas e distribuídas por quatro sub-comunidades. A figura 6

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demonstra a rede com maior número de palavras (13) e arestas (41), do mesmo modo que a

primeira rede de palavras de cadastros das meninas a 'Guarda Mirim' aparece como central.

Numa interface comparativa é evidente que quanto aos meninos há uma maior preocupação

com a 'rua' que vem a ter um sentido negativo para responsáveis na inserção da expressão.

–--figura 7. fonte: dados de pesquisa.

figura 6. fonte: dados de pesquisa.

Nesta é destaque também a importância da instituição, seja dado por conhecidos,

pela busca de conhecimento, para o menino não ficar pela rua ou ainda para a obtenção de

disciplina. Ainda que a 'Guarda Mirim' esteja na centralidade desta sub-comunidade, ela é a

segunda palavra que mais aparece dentre os motivos com 37 aparições. Outro ponto que nos

chama a atenção nesta se refere ao elevado número de conexões com peso um, formando uma

grande rede inferior.

A segunda rede identificada nesta situação apresentou 9 nós e 22 arestas, tendo como

central 'trabalho' e 'mãe', consecutivamente com 28 e 20 aparições. Ainda que 'pai', 'pais'

(quando se refere a pai e mãe) e 'mãe' componham a mesma sub-comunidade é evidente

visualmente o volume de conexões ao 'trabalho', onde a primeira palavra obteve uma aresta

com peso 1 nesta relação, 'pais' possuí uma aresta com peso 4 e a 'mãe' tem uma aresta de

peso 17. Como no caso dos motivos das meninas a palavra 'pai' esta ligado a 'alcoólatra' e

perpassa para além de um problema familiar é também social, visto a dimensão da

'necessidade'. A terceira rede identificada (figura 8) é constituída por 6 nós e 11 arestas, e

demonstram uma preocupação com o 'aprendizado' profissional para os meninos, colocando-

se enquanto central com 24 aparições, estando conectado com maior intensidade à 'ocupação'

e a 'educação'. Aparecendo também nesta o 'contraturno', 'militar' e a 'carreira'.

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A palavra que mais apareceu dentre os motivos do cadastro de meninos encontra-se

na menor rede (figura 9), contendo as palavras 'sozinho', 'casa', 'encaminhamento' e

'informação' tendo como valores consecutivamente 49,21, 6 e 3, relativo à aparições. Tendo a

maior aresta entre as duas primeiras palavras, não havendo conexão entre 'informação' e

'encaminhamento' sendo que a primeira é dada como ao que é falado da instituição e a

segunda pode se dar ou por outra unidade departamental do IEDC ou pelo conselho tutelar.

Considerações Finais

Perpassando pela observação das redes construídas com as frases contidas nos motivos

de procurarem a Escola de Guardas Mirins 'Tenente Antônio João' fica evidente que a

constituição de suas espacialidades tem relação direta ou indireta com a relação de gênero, a

primeira se dá pelo fato de que mais de um terço das pessoas assistidas são meninas,

posteriormente entra em conectividade a família de discentes. Onde as mães tem papel

fundamental demostrado pelas expressões referindo-se principalmente a trabalho. Enquanto

que os pais deixam a desejar.

Contudo podemos afirmar que com a técnica aplicada para identificar e organizar as

palavras inerentes à analise, neste trabalho que buscou demonstrar omo a relação de gênero

interfere na constituição espacial da Escola de Guardas Mirins 'Tenente Antônio João' em

Ponta Grossa – Pr, demonstrou-se eficaz na visualização de conexões relacionadas a gênero,

que de forma geral não seriam possíveis. Assim o gênero pode ser visto como interferente não

apenas às espacialidades institucionais mas também nas de famílias.

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