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25 ANOS www.jornalja.com.br Pelo direito à informação Resistência JÁ Movimento criado por jornalistas ganha apoio de lideranças comunitárias e entidades civis

JÁ 25 anos

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Edição comemorativa aos 25 anos do jornal JÁ marca a criação do movimento Resistência JÁ e ganha apoio de lideranças comunitárias e entidades civis.

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25 ANOS

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Pelo direito à informação

Resistência JÁMovimento criado por jornalistas ganha apoiode lideranças comunitárias e entidades civis

2 Porto Alegre, outubro de 2010

Por que o silêncio?

“Um jornal para dizer o que outros não dizem”

Finalmente chega à opinião pública o “caso do jornal JÁ”, cuja sobrevivência está ameaçada por um processo judicial, movido pela família do ex-governador e candidato ao senado Germano Rigotto.

Não o processo em si, mas as conse-qüências de uma condenação por  “dano moral”.

A condenação é injusta, descabida e afronta uma decisão da mesma Justiça, confirmada em Tribunal, que considerou a reportagem do jornal “correta, restrita aos fatos e abordando tema de interesse público”.

Mesmo assim, essa condenação serviu a uma perseguição política. Serviu de argumento para o boicote ao jornal no governo e nas empresas estatais, justificou um linchamento publicitário.  Jugulou o jornal e a pequena editora que o produz.

 Chegou ao ponto de uma interven-ção financeira, para garantir o pagamento da indenização, que hoje chega aos 100 mil reais. E culminou com o bloqueio, irregular e arbitrário das contas pessoais dos sócios do jornal.

Por que tanto empenho em calar o jornal JÁ? E porque tanto silêncio na imprensa  local diante de uma violência dessas?

 Foram estas perguntas que levaram quase 50 pessoas à sede de Associação Riograndense de Imprensa, num sábado chuvoso.

 Ali, onde nasceu também a Coo-perativa dos Jornalistas de Porto Alegre, em agosto de 1974, nasceu o movimento “Resistência JÁ”, para buscar meios que permitam ao jornal continuar circulando, mas não só isso.

O caso do jornal JÁ não é isolado. Ele decorre de uma situação mais ampla que favorece a concentração dos meios de comunicação e sufoca todas as iniciativas de jornalismo independente. É essa situ-ação que o movimento quer questionar.

Não há democracia sem imprensa livre, não há imprensa livre sem diver-sidade. A diversidade dos meios é o que garante o direito à informação, que é um direito do Cidadão, inscrito na constitui-ção brasileira.

“O Já foi criado na tentativa de não ter uma só voz na cidade. Foi em nome disso que uma parte da elite intelec-tual de centro-esquerda se associou à causa”, diz o fotógrafo Luiz Eduardo Achutti, um dos fundadores.

O numero zero foi lançado em agosto de 1985, mas a primeira edi-ção só chegou às bancas em outubro.

Um grupo de jornalistas e inte-lectuais de Porto Alegre estavam à frente do projeto: Sergius Gonzaga, Voltaire Schilling, Décio Freitas, Jo-aquim Felizardo, Hélio Rodrigues, entre outros.

Vivia-se o clima da redemocra-tização do Brasil, depois de 20 anos de ditadura. Mas, na capital gaúcha, o ambiente ainda era asfixiante para intelectuais inquietos. A cidade que em passado recente tivera sete jornais diários, com o fechamento da Cia. Caldas Junior, estava submetida a um virtual monopólio da Zero Hora.

“Não havia espaço para o deba-te. A imprensa ainda estava presa às limitações da ditadura”, lembrou

mais tarde o professor Sérgius Gonzaga, o principal animador do proeto. Ele era dono da Livraria Quarup, ponto de en-contro da elite intelectual local e foi ali que amadureceu a proposta de “um jornal de opinião, idéias e cultura”.

Nestes 25 anos, o projeto deu muitas voltas, adaptando-se às circunstâncias pa-ra sobreviver, sem abrir mão do compro-

misso essencial com o jornalismo, com a informação. Foi, por exemplo, para con-tornar dificuldades para chegar às bancas que nasceu a edição do JÁ Bom Fim, comunitária, distribuída gratuitamente.

Os percalços, porém, não impediram o jornal de manter a proposta original de “ocupar um espaço, para falar o que não pode ser dito”.

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EXPEDIENTE

2006: Jornal JÁ comemora 21 anos em festa no Memorial do RS

1988: Jornal migra para o bairro para sobreviver

EDITOR: Elmar Bones • REPORTAGEM: Patricia Marini, Renan Antunes de Oliveira, Cleber Dioni • FOTOGRAFIA: Arfio Mazzei e arquivo Jornal JÁ COMERCIAL: Mário Lisboa - 51 9977 4800 • DIAGRAMAÇÃO: Carlos TiburskiTIRAGEM: 2 MIL EXEMPLARES - Distribuição gratuita

Redação: Av. Borges de Medeiros, 915 - Conj. 203. Centro HistóricoCEP 90020-2025 - Porto Alegre/RSFone: 51 3330 [email protected] / twitter.com/jornal_ja

3Porto Alegre, outubro de 2010

O Código de Ética dos jornalistas nasceu durante a ditadura?

O Código de Ética foi consequência do assassinato do jornalista Wladimir Herzog, o Vlado, em 1975. Houve um indivíduo, Cláudio Marques, que fez campanha pelo jornal contra a linha edi-torial que o Vlado imprimia ao jornal da TV Cultura. Ele tanto dedou o telejornal que o Doi-Codi foi lá e prendeu o Vlado e o matou.

O sindicato dos jornalistas de São Paulo expulsou esse Marques...

Sim, uma assembléia aprovou, por unanimidade, a expulsão dele. Mas ele recorreu e o juiz mandou que fosse rein-tegrado, porque não existia uma norma onde estivesse prevista essa punição. Nem a Fenaj, nem o Sindicato tinham um Código de Ética.

Não havia um Código de Ètica?O sindicato paulista até tinha um pe-

queno Código, uma declaração genérica de princípios que nada previa quanto a conduta e nem a punições, em caso do seu descumprimento.

Ele foi reintegrado à categoria?Essa sentença do Judiciário saiu em

1984, nove anos depois do assassinato do Vlado, e causou indignação na cate-goria. Diante disso, o Audálio Dantas, que presidia a Fenaj e era o presidente do Sindicato na época do assassinato do Vlado, decidiu que a categoria tinha que criar um Código de Ética.

Você trabalhou na redação do código...O Audálio me encarregou dessa ta-

refa e submeteu o projeto ao Congresso da categoria, em 1984. Entrou em vigor naquele ano.

O conceito de “direito à informação” entrou no Código de Ética, em vez de “liberdade de expressão” ou “liberdade de imprensa”. Por que?

Redigi o projeto do Código in-corporando a experiência que eu havia vivenciado na implantação da Gazeta Mercantil, dirigida pelo Roberto Müller, onde se estabeleceu um relacionamento de dignidade e respeito entre os pro-

Pelo direito à informaçãoRedator do Código de Ética dos

Jornalistas propõe “frente da cidadania” por uma nova Lei de Imprensa

Entrevista: Antonio Gouveia Jr.

Morte de Herzog em 75 deu origem ao primeiro Código de Ética dos jornalistas

prietários e os profissionais que faziam o jornal. Com base nessa experiência, foi redigido o Código. Ele não se limita a assegurar à imprensa e aos jornalistas o direito à liberdade de expressão e de manifestação do pensamento. O texto deixa claro que a função do jornalista é um direito e reciprocamente um de-ver, é o direito-obrigação de informar a sociedade.

O direito se desloca para o leitor, o cidadão...

Sim, o dever do jornalista acaba por se converter no direito do cidadão de ser devidamente informado, ou seja, torna--se um direito de cidadania. Foi, então, introduzido um capítulo inicial, com o título “Do direito à informação”.

De onde se origina esse conceito?Nos artigos desse capítulo, busquei

justificar e legitimar a função social do jornalista com base na filosofia social de Rousseau, do seu conceito exposto no Contrato Social, no qual o pacto de vida em sociedade garante direitos a cada um e reciprocamente obriga a todos. E no que se refere ao Jornalismo, o cidadão necessita receber informações, precisas e corretas, para ter condições de decidir os destinos públicos.

Para o jornalista...O jornalista deixa de dispor apenas

do benefício tradicional da liberdade de imprensa e de expressão do pensa-mento, uma liberdade juridicamente passiva, e passa a contar com a liberdade juridicamente ativa de propiciador da informação.

Como chegou à Constituição?O direito do cidadão à informação

nunca constou de nenhuma lei ou Cons-tituição moderna. E, ao que eu saiba, não consta em nenhuma legislação pelo mundo afora. O que sempre constou nas várias Constituições foi apenas o tradicio-nal direito à liberdade de imprensa e de expressão do pensamento, como na Cons-tituição dos Estados Unidos de 1787. A sua Primeira Emenda impede a aprova-ção de leis que visem “o cerceamento da liberdade de palavra, ou de imprensa”.

Esse princípio nós copiamos...Esse princípio foi reproduzido

em todas as Constituições Brasilei-ras, de 1824 a 1946 e até mesmo nas Constituições da Ditadura, em 1967 e 1969. Mas em nenhuma delas consta o direito à informação como direito de cidadania.

Esse conceito só entrou em 1988... Sim, no capítulo sobre a cidadania,

que trata “Dos Direitos e Garantias Fun-damentais”, que desde então passou a constar: “...é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional”.

Quais as condições hoje no Brasil

para o exercício desse direito?Nada fáceis, como se pode ver pelo

comportamento da grande imprensa. Mas as publicações alternativas podem e devem fundamentar o seu papel com base nesse princípio constitucional de ci-dadania. Também os órgãos de classe dos jornalistas deveriam passar a desenvolver um papel ativo sobre essa questão.

O que deveriam fazer os sindicatos? Deveriam chamar os demais repre-

sentantes da sociedade civil e discutir com eles como estes podem prestar apoio aos jornalistas no desempenho da sua função legal, de propiciadores da informação. Compor com as demais entidades de classe, em especial as categorias de nível universitário, uma frente comum em defesa do direito de cidadania à infor-mação pública.

Atualmente afirma-se que temos um

“ vazio jurídico” nessa área..É extremamente preocupante. A

revogação da velha Lei de Imprensa,

somada à queda da obrigatoriedade do diploma de jornalista, é contrapro-ducente para o direito à cidadania. As entidades de classe dos jornalistas devem se articular com as demais entidades da sociedade civil e propor uma nova Lei de Imprensa que regulamente o direito constitucional à informação. A antiga Lei de Imprensa tratava apenas do di-reito juridicamente passivo do jornalista de não sofrer obstáculos ao seu trabalho profissional. Cabe, agora, elaborar um novo projeto de lei, a ser submetido ao Congresso Nacional, que regulamente este direito inédito e que exige um tra-tamento próprio e específico.

Quais as perspectivas de uma nova

legislação? Agora não se trata mais de vigiar e

punir jornalistas, como era o caso da Lei de Imprensa da ditadura. Trata-se, agora, de inovar na preservação dos direitos e das recíprocas obrigações da Imprensa a partir da perspectiva positiva da cidada-nia, que entre nós ainda permanece um direito abstrato sem aplicação concreta.

E a auto-regulamentação?Quanto ao projeto de regulamenta-

ção proposto pela ANJ ainda não tive acesso ao seu texto. De qualquer forma, ele não invalida uma iniciativa das enti-dades de classe. Não é impossível que se possa construir um projeto de iniciativa comum e apresentá-la ao Congresso Nacional. Um projeto senão consensual, que ao menos conte com alguns pontos básicos comuns. O que não seria aceitável seria as entidades patronais elaborarem um projeto de auto-regulamentação particular e deixarem de consultar as entidades de classe dos jornalistas. Não creio que os patrões venham a cometer essa imprudência.

4 Porto Alegre, outubro de 2010

Assine esta ideia!

10 edições doentreguesem casa por R$ 50,00

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10 edições doentreguesem casa por R$ 50,00

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6 Porto Alegre, outubro de 2010

* Elmar Bones

A crítica da mídia é importante, mas só a crítica não resolve. Precisamos desenvolver projetos jornalísticos que representem uma alternativa real para os leitores, para a cidadania que precisa de informações.

O público segue consumindo a in-

formação de baixa qualidade que a mídia convencional lhe serve porque pratica-mente não tem alternativa.

Por que não surgem alternativas? Por-

que não resta espaço no mercado. É um jogo bruto, às raias do ilícito, que controla as verbas, em grande parte verbas públi-cas... controla os sistemas de distribuição, decide quem pode e quem não pode estar nas bancas de jornais e revistas, que são em grande parte concessões públicas.

Há algum espaço para projetos correla-

tos, que trabalham com o mesmo método, a mesma pauta, o mesmo enfoque, trabalham com aquela visão dos militares da “unidade nacional”, um discurso único para o país.

Minha última experiência com a gran-de imprensa foi como editor do caderno regional da Gazeta Mercantil, em Porto Alegre, em 2001. Fizemos um levanta-mento: 80% do noticiário de economia no Estado era gerado pelas assessorias de imprensa, eram notícias agendadas, mui-tas chegavam prontas à redação. É o que chamo de “imprensa passiva”.

Uma imprensa ativa teria que gastar a maior parte de sua energia apurando as demandas reais da cidadania, daqueles que não dispõem de assessorias, mas vão contar cada vez mais no processo democrático.

As reportagens do Ernesto Paglia, para o Jornal Nacional, durante a cam-panha eleitoral foram reveladoras do “déficit de informações” que temos sobre o Brasil, não o Brasil dos gabinetes, das assessorias de imprensa, das informações privilegiadas...o Brasil real que anseia por se expressar, por se mostrar, por se refletir, por se construir.

“É preciso construir

alternativas”Hoje não pode pensar só num jornal,

tem que pensar num projeto de produção de conteúdo informativo difundir por vários meios.

A operação na JÁ Editores hoje está comprometida por essa crise toda, mas a nossa produção jornalística não pára por-que jogamos o nosso conteúdo em vários meios – no jornal de bairro, no mensário de reportagens, no nosso site que trabalha muito com a informação local, em deter-minado momento tivemos a revista JÁ, temos os livros que resultam de projetos culturais e que produzimos muitas vezes a partir de pautas jornalísticas.

A questão das plantações de eucalipto no pampa para produção de celulose, por exemplo. A série de matérias publicadas na edição impressa ou no site do jornal JÁ foram o ponto de partida para o livro “Eucalipto - Histórias de um Migrante Vegetal”, do jornalista Geraldo Hasse.

O livro, que conta a trajetória cente-

nária do eucalipto nas terras brasileiras, tornou-se uma obra de referência nessa discussão toda, hoje é pedida por escolas. Em vez de ficar no oba oba dos empregos e dos investimentos a qualquer custo, ou no preservacionismo utópico, procura-mos olhar um pouco além, para mostrar

o alcance das mudanças provocadas por esses gigantescos investimentos, com implicações até nos costumes de uma região onde seus habitantes construíram uma forte identidade, diretamente ligada à paisagem aberta do pampa.

A mídia convencional de modo geral trabalha na horizontal, um grande volu-me de informações superficiais sobre uma grande quantidade de assuntos. Achamos que há um caminho no sentido vertical que o jornalista pode fazer. Selecionar al-guns temas estruturais e aprofundar com reportagens ou livros e depois manter um acompanhamento do seu desdobramen-to, produzindo notícias mais qualificadas.

O jornalismo das grandes corporações da comunicação vive uma crise, mas elas ainda dominam, ainda têm seus nichos de qualidade e não vão mudar só pelas críticas. Vão mudar quando houver alternativas concretas, que possam lhes tirar público.

Um jornal como o JÁ não pode de-

pender de anunciantes para sobreviver. O anúncio tem que ser o capital para investir na melhoria do jornal. A sobre-vivência do jornal, a sua regularidade, o seu padrão mínimo de qualidade tem que estar garantido pelo leitor.

Isso parece utópico, mas não é tanto

assim. Nosso jornal pode ser um exem-plo disso. Foi à falência porque perdeu os anunciantes. Agora está sendo salvo pelos leitores. Se isso pode acontecer aqui em Porto Alegre, pode acontecer em outros lugares.

Não acredito que a troca de sinais - uma imprensa reacionária, por uma imprensa de esquerda – resolva a questão da crescente demanda por informações que a democratização da sociedade gera.

O que resolve é a diversidade, a plu-ralidade - uma multiplicidade de projetos de todos os tipos, em todos os meios, com novas propostas, novas formas de organi-zação. Uma política que realmente fomen-tasse esse tipo de coisa faria a diferença.

Acredito nos pequenos projetos multi-mídia, como o nosso, ancorado num jornal, mas com diversos canais, como fator importante nessa mudança que precisa acontecer. Eles podem ser geradores de emprego e renda, são for-madores de profissionais, podem ser mais flexíveis e criativos na descoberta de novos caminhos, novas linguagens...

Esse jornalismo sustentado pelos anunciantes chegou ao seu limite. A sociedade está cobrando mais indepen-dência. Mas não há independência nesse modelo, a independência é uma fachada. Para termos uma imprensa mais indepen-dente, o leitor vai ter que fazer a sua parte.

O caso do processo em que fomos condenados a pagar uma indenização à família Rigotto. Não se questiona o di-reito de recorrer à Justiça para reparar um possível dano. Questiona-se a sensibilida-de de um tribunal que dá uma sentença, sem ponderar o estrago que ela pode fazer num pequeno jornal, que além de não ter um histórico de sensacionalismo, ao contrário, foi absolvido por outra turma do mesmo tribunal.

A imprensa local nunca tocou nesse

assunto, só muito recentemente, quando a história chegou à Internet, rompeu-se a bolha de silêncio sobre o caso. Antes, se-1998: Governador Britto homenageia o JÁ pela “História Ilustrada do RS”

7Porto Alegre, outubro de 2010

quer foi noticiado que havia um processo, envolvendo um tema de alta repercussão, um jornal da cidade, um jornalista com mais de 30 anos de trabalho na praça.

Numa situação dessas ninguém quer entender se o jornalista foi absolvido e que sua matéria estava correta. O que fica, circulando intra-muros, é a condenação do jornal por “dano moral”, é um jornal leviano, irresponsável.

Nos últimos sete anos, seguramente o governo do Estado e suas empresas não investiu menos do que R$ 500 milhões em publicidade e marketing. Nesse perí-odo, o jornal JÁ, que circula há 25 anos no Estado, recebeu mais de uma dezena de prêmios da Associação Riograndense de Imprensa, um Prêmio Esso inédito no Estado, coleciona diplomas e certificados de sua “função social”, não recebeu um tostão. Como se explica isso, a não ser por razões políticas?

Além das perdas diretas, os “efeitos colaterais” de estar “queimado” junto ao maior anunciante do Estado, que é o governo, cujas verbas são geridas pelas maiores agências. Como medir?

Não tivemos nenhuma prevenção com o governo Rigotto por conta desse processo. Levamos o governador, in-clusive, para abrir o seminário sobre os plantios florestais no estado, que promo-vemos em março de 2005. Fomos críticos ao governo Rigotto como fomos com todos os governos, mas sempre com ar-gumentos e nunca recusando espaço para a contradita. Isso não significa ignorar os efeitos políticos desse processo sobre a nossa empresa e deixar de denunciá-los.

Tudo o que fizemos e publicamos foi no estrito cumprimento do dever profis-sional. O cidadão tem o direito constitu-cional à informação e é função dos jornais e dos jornalistas fazer valer esse direito.

O jornalista Gustavo Cruz, editor do Jornalecão, que circula há mais de 20 anos na Zona Sul de Porto Alegre, lembra que, já tivemos quase 50 jor-nais de bairro na cidade. Na última reunião, convocada pela prefeitura no fim de setembro, eram 13. Gustavo acredita que chegam a 20 os sobre-viventes.

Uma das causas dessa devastação é a política adotada pela prefeitura de Porto Alegre desde o início da gestão Fogaça, de concentração das verbas de publicidade nos grandes veículos, especialmente na RBS. Felizmente o prefeito José Fortunati dá sinais de ter mais sensibilidade para o problema.

Os jornais de bairro se tivessem es-tímulo promoveriam uma revolução na cidade. O meio impresso ainda é o mais eficiente para atingir comunidades em territórios delimitados.

Ao fazer circular a informação local entre os moradores o jornal de bairro promove a cidadania. Informadas sobre “o que acontece na esquina”, as pessoas se mobilizam, o movimento comunitário de Porto Alegre é um exemplo.

O jornal de bairro é uma excelente es-cola para iniciação profissional. As centenas de estagiários que passaram pelo JÁ Bom Fim e hoje estão no mercado que o digam...

Ali, num espaço delimitado, o jornalis-

ta a sua fonte de informações, o seu leitor, o anunciante do seu jornal, o representante político da comunidade... Ali ele testa sua capacidade para manter a independêndia, para ter a humildade de ouvir a todos, ali está a realidade que ele pode ver, cheirar, tocar para produzir a matéria-prima de seu trabalho, que é a informação.

*Depoimento à Rádio da Universidade Federal do RS

Renan Antunes de Oliveira recebe Prêmio Esso de Jornalismo de reportagem nacional, em 2004

Guilheme Kolling e Elmar Bones: uma dúzia de prêmios

8 Porto Alegre, outubro de 2010Há 25 anos JÁ Editores publica sua produção jornalística em livros.

www.jornalja.com.br

São mais de 40 títulos no catálogo.

Carlos Reverbel - textos escolhidosSão quatro livros de um dos maiores intelectuais do Rio Grande do

Sul, entre eles a primeira biografia do genial Simões Lopes Neto. Or-ganizado por Elmar Bones e Cláudia Laitano, foi um dos lançamentos mais importantes da Feira do Livro de Porto Alegre.

Lanceiros NegrosA Revolução Farroupilha é enfocada em vários livros. Lanceiros

Negros, de Geraldo Hasse e Guilherme Kollin, resgata o papel do negro na história, ontem e hoje.

Protásio Alves e o seu TempoDe Maria do Carmo Campos e Martha Alves D’Azevedo, em

2006, Protásio Alves e o seu Tempo reúne importantes documentos, cartas e fotos.

Inter, Orgulho do BrasilA quinta edição da narrativa de sucesso de Kenny Braga.

Euclides TorresCom base no diário deixado por um mercenário alemão, Euclides

Torres retrata uma época violenta.

Golpe Mata JornalOs títulos sobre a prática do jornalismo e sobre os meios de im-

prensa também estão em pauta desde 1996, quando Jefferson Barros publicou Golpe Mata Jornal, contando a história da Última Hora, que revolucionou a imprensa.

Pioneiros da EcologiaA memória do movimento ambientalista do Rio Grande do Sul.

Os fatos históricos. Depoimentos dos personagens que participaram dessa trajetória. Entre eles, Augusto Carneiro, Magda Renner, Gisel-da Castro, Celso Marques, Flávio Lewgoy, Caio Lustosa e, claro, José Lutzenberger.

Jornalismo e LiteraturaO ensaio publicado pela primeira vez em 1955, adotado pelos cur-

sos de Jornalismo, retorna com um capítulo inédito, escrito em 2008. Antonio Olinto é um dos romancistas brasileiros mais traduzidos no mundo. Jornalista, recebeu o prêmio Machado de Assis e foi da Aca-demia Brasileira de Letras.