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A Luta por um partido proletário James Cannon Capítulo 4 – A questão da organização Na medida que a verdadeira amplitude das disputas teóricas e políticas permaneceram indeterminadas, o falatório a respeito da questão da organização não contribuiu e não poderia ter contribuído com nada exceto confusão. Agora, porém, que as questões políticas fundamentais estão completamente esclarecidas, agora que os dois campos assumiram suas posições nas linhas fundamentais, é possível e talvez viável tomar a questão organizativa para discussão em seu próprio contexto e no seu próprio lugar - como uma questão importante, porém subordinada; como uma expressão em termos organizativos das divergências políticas, mas não um substituto para elas. O conflito fundamental entre as tendências proletária e pequeno-burguesa expressa-se a cada vez na questão da organização do partido. Nestes conflitos secundários, porém, não estão envolvidos apenas pequenos incidentes, mágoas, atritos pessoais e pequenas mudanças semelhantes que são uma característica comum na vida de toda organização. A disputa é mais profunda. Estamos em guerra com Burnham e os “burnhamistas” em torno da questão fundamental do caráter do partido. Burnham, que é completamente estranho ao programa e às tradições do bolchevismo, não é menos hostil aos seus “métodos organizativos”. Ele está muito mais próximo ao espírito de Souvarine e todos os decadentes, céticos e renegados do bolchevismo que ao espírito de Lênin e do se terrível “regime”. Burnham preocupou-se, primeiro de tudo, com as “garantias democráticas” contra a degeneração do partido após a revolução. Estamos preocupados, antes de mais nada, em construir um partido que será capaz de liderar uma revolução. O conceito de Burnham de democracia partidária é a de um ateliê de discussões onde a conversa continua para sempre e nada é decidido com firmeza (ver a resolução da Conferência de Cleveland). Consideremos esta “nova” invenção - um partido com dois órgãos públicos diferentes, defendendo dois programas diferentes e antagônicos! – como todo o resto das “ideias independentes” de Burnham, isto é simplesmente um plágio de fontes estranhas. Não é difícil reconhecer neste brilhante esquema de organização partidária, a reabilitação do mal fadado “partido que inclui todos” de Norman Thomas. Nossa concepção de partido é radicalmente diferente. Para nós, o partido deve ser uma organização de combate que leva diante uma luta determinada pelo poder. O partido bolchevique

James Cannon - A Luta Por Um Partido Proletário (Cap 4 e 6)

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Capítulos que tratam sobre a organização e o problema dos intelectuais em relação ao partido proletário. Escrito no início da Segunda Guerra Mundial, o livro faz uma reflexão sobre a crise do SWP nos anos 1938-1940.

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A Luta por um partido proletrioJames CannonCaptulo 4 A questo da organizaoNamedidaqueaverdadeiraamplitudedasdisputastericasepolticaspermaneceramindeterminadas, o falatrio a respeito da questo da organizao no contribuiu e no poderia tercontribudo com nada exceto confuso. Agora, porm, que as questes polticas fundamentaisestocompletamenteesclarecidas, agoraqueosdois campos assumiramsuas posies naslin!as fundamentais, possvel e talvez vi"vel tomar a questo organizativa para discusso emseu prprio contexto e no seu prprio lugar # como uma questo importante, porm subordinada$como uma expresso em termos organizativos das diverg%ncias polticas, mas no um substitutopara elas.&conflitofundamental entreastend%nciasprolet"riaepequeno#burguesaexpressa#seacada vez na questo da organizao do partido. Nestes conflitos secund"rios, porm, no estoenvolvidos apenas pequenos incidentes, m"goas, atritos pessoais e pequenas mudanassemel!antes que so uma caracterstica comum na vida de toda organizao. A disputa maisprofunda. 'stamos emguerra com(urn!ame os )burn!amistas* emtorno da questofundamental do car"ter do partido. (urn!am, que completamente estran!o ao programa e +stradies do bolc!evismo, no menos !ostil aos seus )mtodos organizativos*. 'le est" muitomais prximo ao esprito de ,ouvarine e todos os decadentes, cticos e renegados dobolc!evismo que ao esprito de -%nin e do se terrvel )regime*.(urn!ampreocupou#se, primeiro de tudo, comas )garantias democr"ticas* contra adegeneraodopartidoaps a revoluo. 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No difcil recon!ecer neste bril!ante esquemade organizao partid"ria, a reabilitao do mal fadado )partido que inclui todos* de Norman5!omas.Nossaconcepodepartidoradicalmentediferente. 6arans, opartidodeveserumaorganizao de combate que leva diante uma luta determinada pelo poder. &partidobolc!evique que dirige a luta pelo poder no necessita apenas de democracia. 7equer, tambm,um centralismo imperioso e disciplina de ferro na ao. 7equer uma composio prolet"ria emconformidade com o seu programa prolet"rio. & partido bolc!evique no pode ser dirigido pordiletantes cu8os interesses reais e vidas reais esto em outro mundo, estran!o a este. 7equer umadireo profissional ativa, composta de indivduos selecionados e controladosdemocraticamente, que devotem toda a sua vida ao partido e que encontrem no partido e emsuas atividades variadas em um ambiente prolet"rio, satisfao pessoal completa.6ara o revolucion"rio profissional, o partido a expresso concentrada do seu propsito devida e ele est" ligado a ele para toda a vida e a morte. 6rega e pratica o patriotismo de partidoporque sabe que seu ideal socialista no pode ser realizado sem o partido. & maior dos crimes,aos seus ol!os, a deslealdade e a irresponsabilidade em relao ao partido. & revolucion"rioprofissional temorgul!odoseupartido. 9efende#odiantedetodoomundoemtodas asocasies. &revolucion"rioprolet"rioum!omemdisciplinado, umavezqueopartidonopode existir como uma organizao de combate sem disciplina. :uando se encontra em minoria,submete#se + decisodopartidoe leva adiante suas resolues, enquantoaguarda novosacontecimentos para verificar as disputas ou novas oportunidades para discutir novamente.A atitude pequeno#burguesa em relao ao partido, representada por (urn!am, o opostodetudoisto. &car"terpequeno#burgu%sdaoposiomostradoemsuaatituderelativaaopartido, suaconcepodepartidoemesmoemseumtododequeixar#seelamuriar#searespeitodas)ofensas*, comodemodoinfalvelemsuaatitudelevianaemrelaoaonossoprograma, nossa doutrina e nossa tradio.&intelectual pequeno#burgu%s, que quer ensinar e guiar omovimentooper"riosemparticiparnele, senteapenaslaosfrouxoscomopartidoeest"semprec!eiode)queixas*contra ele. No momento em que seus ps so pisados ou em que ele re8eitado, esquece tudo arespeito dos interesses do movimento e lembra apenas que seus sentimentos foram feridos$ arevoluopodeserimportante, masavaidadeferidadointelectual pequeno#burgu%smaisimportante. 'le completamente a favor da disciplina quando est" sentando a lei para os outros,mas to logo se encontre em minoria, comea a lanar ultimatos e ameaa a maioria do partidocom o rompimento.&s dirigentes da oposio v%m se mostrando fiis ao tipo. 5endo recitado todo o dolorosocat"logo das suas ofensas pequenas, sem consequ%ncia e, em sua maioria, imagin"rias$ tendosidorepelidos pelamaioriaprolet"riaemsuatentativaderevisar oprograma$ tendosidoc!amados poltica e sociologicamente pelo seu verdadeiro nome # tendo )sofrido* todas estasindignidades # os lderes da oposio esto agora tentando uma vingana contra a maioria dopartido com ameaas de uma ciso. No os a8udar". No nos deter" de mostrar que sua atitudena questo de organizao est" desconectada das suas concepes pequeno#burguesas em geral,mas simplesmente uma expresso secund"ria desta.:uestes de organizao e mtodos organizativos no so independentes das lin!aspolticas, mas subordinados a elas. /omo regra, os mtodos organizativos derivam#se da lin!apoltica. 9efato, todoosignificadodaorganizaooderealizaroprogramapoltico. 'm1ltima an"lise no !" excees a esta regra. No a organizao # partido ou grupo # que cria oprograma$ antes, o programa que cria a organizao ou conquista e utiliza uma organizao 8"existente. ;esmo aqueles grupos sem princpio e camaril!as que no t%m programa ou bandeiraprpria, no podem deixar de ter um programa poltico imposto pelo curso de uma luta. 'stamosagora testemun!ando uma ilustrao da operao desta lei no caso daquelas pessoas em nossopartidoqueentraramemuma combinaoparalutar contrao)regime*semter qualquerprograma poltico definido das diverg%ncias com ele.'sto, neste caso, apenas reproduzindo a experi%ncia invari"vel dos seus predecessores quecolocaramocarronafrentedosboiseformaramfraesparalutarpelo)poder*antesquetivessem qualquer ideia clara do que fariam com o poder depois que o conseguissem.Na terminologia do movimento marxista, camaril!as ou grupos semprincpios, quecomeam uma luta sem um programa definido, foram caracterizados como bandidos polticos.