Upload
others
View
3
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
i N F O R M A T i V O
1 5 A 1 8 D E N O V E M B R O C U R i T i B A ( p R )
Especialistas discutiram principalmente se é melhor flexibilizar ou manter as leis trabalhistas, como ponto fundamental para a criação de novos empregos. Os debates foram polêmicos. A temperatura se elevou quando se falou em mudanças radicais na lei trabalhista. Para alguns palestrantes, a idéia é um retrocesso para a história do Trabalho no Brasil, onde a classe trabalhadora conquistou muitos direitos.
Direito do Trabalho
Reforma política pede urgência
No que tange à reforma política, um dos principais desafios para im-pulsionar o crescimento do país é a necessidade de limitar os gastos
de campanha. A opinião é de especialistas que discutiram o tema no último dia da pro-gramação científica do XIX Congresso. A tese é defendida por 65,7% dos magistrados que responderam à Pesquisa AMB 2006.
Página 4
OrçamentoPainel discutiu o impacto das decisões ju-
diciais nos cofres públicos. Especialista garante que é necessário preservar os direitos funda-mentais do cidadão, mesmo que isso signifi-que aumento das despesas governamentais.
Página 4
Formação Novas idéias para o aperfeiçoamento
de magistrados foram apresentadas nes-ta quinta-feira no XIX Congresso. Priori-dade é para preparação e formação de magistrados.
Página 2
EntrevistaEspecialista em direitos humanos, Joaquìn
Herrera Flores é contra o aumento das penas. Entusiasta do Brasil, ele adora dizer que tem “sangue brasileiro” e já foi salvo por uma equi-pe médica nacional.
Foto Digital Produções
Página 2
Jeammaud, Camargo e Pochmann: discussões sobre Direito do Trabalho
Quase por acaso
O ex-presidente da Associação dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Amatra-II) visitava a sede da AMB para “resolver
problemas de sua entidade”. Por acaso adentrou a sala em que se reunia a comis-são organizadora do XIX Congresso Brasi-leiro de Magistrados. A discussão era para definir o tema do evento e Munhoz teve um “lampejo”. “Sugeri um nome que re-lacionasse desenvolvimento e cidadania. Daí surgiu a idéia, Desenvolvimento: uma questão de Justiça. A minha sugestão foi
imediatamente aprovada.” Munhoz explicou ainda que a idéia era
abranger a importância que as decisões judiciais têm na vida de toda a sociedade brasileira. “Há intervenção da Justiça nas escolas, nas empresas, na relação com o meio ambiente, no governo, no trabalho, na dignidade das pessoas. Em todos os âmbitos da vida pública. Eu queria algo que abarcasse tudo isso, que mostrasse até que ponto essa intervenção poderia trazer algum tipo de repercussão para o desenvolvimento do país”.
1 5 A 1 8 D E N O V E M B R O
Direito do TrabalhoDados revelados pela Pesquisa AMB 2006 embasaram discussões sobre o tema
Opiniões divergentes marcaram o painel Justiça e relações de trabalho, realizado ontem, 17 de novembro, no XIX Con-gresso, com base nos dados da Pesquisa AMB 2006. A grande polêmica ficou
em torno da flexibilização das leis trabalhistas e a questão do de-semprego. O constitucionalista Antoine Jeammaud, professor da Universidade de Lyon, na França, elogiou a iniciativa da AMB em realizar uma pesquisa sobre a opi-nião dos juízes sobre a legislação trabalhista. Cauteloso, ele citou dados que considerou paradoxais e preocupantes. “Há um dilema entre os magistrados sobre a le-gitimidade social do Direito do Trabalho”, afirmou. Embora a maioria dos juízes que responderam à pesquisa considerarem que é necessário manter as leis trabalhistas no texto constitucional, há uma parcela que defende a flexibilização.
Ao contrário da procuradora do Estado do Paraná Aldacy Rachid Coutinho, que se auto-intitulou “um dinossauro” em questões tra-balhistas por manter uma li-nha mais rígida e tradicional, o professor doutor José Márcio Camargo causou impacto nos participantes. Ousado, ele de-fendeu mudanças sistemáti-cas na legislação trabalhista, além de uma reformulação no papel desempenhado pelos sindicalistas no país. Camargo propôs ainda a diminuição do ônus gerado aos empresários que mantêm trabalhadores em regime celetista. “O Direito do Trabalho não gera, efetivamente, a informalidade, e sim o alto custo de impostos a serem pagos pelos empregadores”, disse.
DesempregoEmbora a Pesquisa AMB
2006 tenha revelado que 34,8% dos magistrados con-cordam que a legislação traba-lhista impede o crescimento do emprego formal no país, Már-cio Pochman afirmou que a ge-ração desse tipo de vaga está diretamente ligada ao cresci-mento da economia. “Hoje, no Brasil, a cada dez empregos, sete são com carteira assina-da. Se nós mantivéssemos uma taxa de crescimento de 5 a 6% ao ano, chegaríamos à marca de um milhão de empregos gerados em poucos anos ”, ressaltou. Segundo ele, o problema não é a rigidez das leis trabalhistas, mas o baixo crescimento da economia.
Conexão Direta: Joaquìn Herrera Flores
Especialista em direitos humanos, o espanhol Joaquìn Herrera Flores falou sobre a dignidade e os direitos humanos no mundo globalizado no terceiro dia do XIX Congresso. Contra o endurecimento das penas
como maneira de coibir o crime, ele tratou do assunto na entrevista que segue.
AMB – Muitos juízes são favoráveis à fixação de pe-
nas maiores? Qual sua opinião sobre o assunto? Joaquìn Herrera Flores – Tem-se de pensar que a se-
gurança, mais do que ter relação com aumento de penas ou impedir a reinserção do condenado na sociedade, tem a ver com a ampliação e a colocação, em prática, de forma autêntica, dos direitos sociais, econômicos e culturais. Na verdade, embora pareça que aplicar os direitos humanos necessariamente favorece a delinqüência, o que ocorre é o contrário: quando se aplicam os direitos humanos é precisa-mente quando há uma redução da delinqüência.
AMB – Há uma história curiosa a respeito de suas
vindas ao Brasil... Joaquín Herrera Flores – É verdade. Tive uma ruptura
da aérea aorta em Florianópolis, durante um congresso em 1999. O Brasil salvou minha vida. Graças à amabilidade de alguns colegas fui transportado até São Paulo, e os melhores cirurgiões do mundo salvaram minha vida. Tenho sangue brasileiro. Creio que tenho a nacionalidade brasileira – pelo menos, jus sanguini, creio eu.
61,8% dos magistrados
são favoráveis a uma legislação
que assegure férias
50,3% dos magistrados
são favoráveis a uma legislação que assegure
o pagamento de horas extras
Foto
Dig
ital P
rodu
ções
ExpEDiENTEBoletim do XIX Congresso Brasileiro de Magistrados.Página da internet: www.amb.com.brE-mail: [email protected]ção: Daniella Borges e Raquel RawReportagem: Giselli Briski, Guillermo Alexander Rivera, Joanelise Brandão, Letícia Capobianco, Thaís Cieglinski.Programação visual: Marcos TavaresGráfica Radial
53,6% dos magistrados
são favoráveis a uma legislação que
assegure repouso remunerado
C U R i T i B A ( p R )1 5 A 1 8 D E N O V E M B R O
A necessidade de limitar os gastos de campanha é o prin-cipal quesito da reforma política para o desenvolvimen-to do país. A opinião é unânime entre os participan-tes do painel Judiciário e reforma política e defendida
por 65,7% dos magistrados que responderam à Pesquisa AMB 2006.
A cientista política Lucia Hippolito afirmou que “a reforma é um projeto em construção, que deve sofrer alguns ajustes”. Para ela, transformar o financiamento privado em público não acabará com a utilização dos “recursos não-contabilizados”, o chamado caixa 2. A prioridade é “manter o financiamento privado, porém, com um sistema de controle mais efetivo pela Justiça Eleitoral, com a redução de gastos de campanha”, afirmou.
O deputado federal João Almeida dos Santos (PSDB-BA) pole-mizou ao afirmar que o sistema político brasileiro é “esquizofrêni-co”. João Almeida chamou os gastos de campanha de “escanda-losos” e criticou a legislação atual. “Esse sistema elege políticos pelo voto direto garantindo legitimidade, mas sem garantir legalidade. Na hora de governar, é preciso fazer todo tipo de acordo para conseguir a governabilidade.”
Um dos principais estudiosos sobre o Judiciário brasileiro, o professor norte-americano radicado no Brasil Matthew Taylor, defendeu a idéia de centralizar todos os recursos de campanha na Justiça Eleitoral. “Qualquer recurso achado fora do siste-ma seria considerado ilícito, não idôneo e passível de res-ponsabilização e punição”, disse.
Taylor destacou os da-dos expressivos do estudo da AMB que tratam da cor-rupção. O norte-americano lembrou de vários escândalos que envolveram políticos bra-sileiros, do fim da ditadura ao início da democracia, até o atual governo. A corrupção
foi apontada por 90,9 % dos entrevistados como principal entrave ao desenvolvimento do país.
ControlePartindo da premissa de que o grau de percepção da socieda-
de sobre as irregularidades no sistema político vem aumentando, o advogado e ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral Fernando Neves propôs que os magistrados reflitam a respeito do seu pa-pel, levando em consideração a expressão da vontade popular. “É papel dos magistrados controlar o abuso, seja no exercício do mandato dos políticos, na transparência do processo eleitoral, nos atos do governo ou no combate à corrupção.”
Ele concorda com a maioria dos magistrados que respondeu à pesquisa e acredita que os resultados atendem às expectativas da
sociedade. “É necessário limitar os custos das campanhas eleitorais, barateando
o custo dos programas de televisão e acabando com o acerto político de compra de votos.”
Em 2007, a AMB lançará uma campanha nacional com o objetivo de popularizar os temas ligados à reforma po-lítica, evidenciando os pon-
tos positivos e negativos de cada um.
Reforma políticaLimitação dos gastos de campanha é ponto mais polêmico
“O juiz precisa se despir da juizite, temos de saber que
somos operadores do mundo do Direito e podemos
aprender, sim, com os advogados, promotores, e
acadêmicos.
Eugênio Facchini Neto
Foto
Dig
ital P
rodu
ções
FRAsE DO DiA
Hippolito: “Reforma não transforma cafajeste em
cavalheiro.”
Foto
Dig
ital P
rodu
ções
“são os direitos fundamentais que regem o orçamento público e o Poder Judiciário é um agente convocado pela Constituição Federal para seguir essa postura.” A afirmação é do juiz Ingo Wolfgang Sarlet, espe-
cialista em Direito Constitucional que falou no painel Decisões judiciais e limites do orçamento público no XIX Congresso. Para Sarlet, os direitos fundamentais dos cidadãos não podem ser in-compatíveis com as possibilidades de direcionamento das leis, inclusive orçamentárias.
Durante a exposição, Sarlet fez referência a dados da Pesquisa AMB 2006, respondida por cerca de três mil juízes de todo o país. “É impressionante a porcentagem de magistrados (38,9%) que não considera importante os impactos de uma decisão judicial envol-vendo o fornecimento de medicamentos caros no volume total de
Decisões judiciais influenciam orçamento público Especialistas levam aos congressistas diferentes visões sobre o tema
Sarlet: defesa dos direitos fundamentais do cidadão
Foto
Dig
ital P
rodu
ções
Formação de formadores
Novas diretrizes para as escolas de magistratura foram discutidas no painel Formação de Magis-trados, no terceiro dia do XIX Congresso. Para os palestrantes, os cursos oferecidos pelas escolas
devem priorizar tanto a formação quanto o aperfeiçoamento dos magistrados, bem como a preparação para o ingresso na carreira.
A conclusão dos debates confirma alguns dados revelados pela Pesquisa AMB 2006: 76,1% dos magistrados que responderam ao estudo acham que o aperfeiçoamento deve ser de máxima impor-tância para as escolas de magistratura. Outros 62% acreditam que a formação é prioritária, e 42,2% consideram como prioridade a preparação.
Os painelistas sugeriram ao presidente da mesa, o vice-pre-sidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministro Francisco Peçanha Martins, levar aos colegas da Corte as preocupações
recursos reservados pelo poder público ao conjunto da sociedade”, concluiu.
integração dos poderesO constitucionalista espanhol Gerardo Pisarello, que também foi
conferencista do painel, defendeu a integração dos Poderes para tratar de questões orçamentárias quando essas afetam os direitos fundamentais dos cidadãos. “O ideal é que se adote um modelo multiinstitucional de participa-ção nas questões envolvendo orçamento público”, avaliou.
Para o procurador do estado do Rio de Janeiro, Gustavo Amaral, espe-cialista em integração econômica e Direito Internacional Fiscal pela Universi-dade de Münster, na Alemanha, “administrar é gerir recursos limitados para necessidades ilimitadas”.“A questão essencial é: temos deveres que devem ser atendidos, não importam os limites do orçamento.”
dos juízes quanto ao formato da Escola Nacional de Forma-ção e Aperfeiçoamento de Magistrados (Enfam), instituída pela Emenda Constitucional nº 45/2004. É que a resolução que cria o novo órgão será julgada na próxima semana no STJ.
O doutor em Direito Comparado pela Universidade de Flo-rença, na Itália, e ex-diretor da Escola Superior da Magistratura da Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul (Ajuris) Eugênio Facchini Neto considera positivos os resultados da pesquisa. Ele foi o primeiro a defender a manutenção de um modelo de escola que, de acordo com ele, “deu certo”. A idéia é integrar formação e preparação. “É importante construir o novo sem desprezar o valor das experiências bem-sucedidas.”
projeto pedagógicoEm sua exposição, a doutora em Educação pela Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Acácia Kuenzer abordou o impacto das transformações do mundo do trabalho na formação de profissionais, inclusive de magistrados. Apesar de admitir não conhecer com precisão o que envolve o preparo dos juízes, ela defendeu a implementação de projetos pedagó-gicos nos cursos oferecidos pelas escolas de magistratura.