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JESUS E ZAQUEU – LC 19.1-10 Jericó era uma cidade muito rica e importante. Estava localizada no vale do Jordão e dominava o caminho de Jerusalém e o cruzamento do rio que dava acesso às terras do leste do Jordão. Contava com um grande bosque de palmeiras e abetos balsâmicos famosos no mundo que perfumavam o ar por várias quilômetros quadrados. Seus jardins de rosas eram bem conhecidos. Era chamada "A cidade das Palmas ". Josefo a chamou "uma região divina", "a mais rica da Palestina". Os romanos deram fama mundial a suas tâmaras e seu bálsamo. Tudo isto fazia com que fosse um dos maiores centros impositivos ( capaz de impor) de 1

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JESUS E ZAQUEU – LC 19.1-10

Jericó era uma cidade muito rica e importante. Estava localizada no vale do Jordão e dominava o caminho de Jerusalém e o cruzamento do rio que dava acesso às terras do leste do Jordão. Contava com um grande bosque de palmeiras e abetos balsâmicos famosos no mundo que perfumavam o ar por várias quilômetros quadrados. Seus jardins de rosas eram bem conhecidos. Era chamada "A cidade das Palmas". Josefo a chamou "uma região divina", "a mais rica da Palestina". Os romanos deram fama mundial a suas tâmaras e seu bálsamo. Tudo isto fazia com que fosse um dos maiores centros impositivos (capaz de impor) de toda a Palestina. Já vimos os impostos que os publicanos arrecadavam e a riqueza que com rapacidade adquiriam (Lucas 5:27-32). Zaqueu era um homem que tinha alcançado o mais alto de sua profissão, e

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era também o homem mais odiado do distrito.

A cura do cego Bartimeu aconteceu em Jericó. Conforme o relato exclusivo de Lucas aconteceu na cidade das palmeiras ainda outro episódio que manifestou a misericórdia e indulgência de Jesus frente a um pecador arrependido. Na enorme multidão que desejava ver o grande profeta havia também um maioral dos publicanos. Naquele tempo florescia em Jericó um intenso comércio de passagem, principalmente de bálsamo (cf. Josefo, Ant. XIV, 4,1, XV 4-2). O bálsamo ali produzido e pesadamente tributado foi a razão de que ali se instalasse uma coletoria superior, p. ex., à de Cafarnaum (cf. Lc 5.27). O architelones citado no texto grego não era um funcionário público, mas um simples coletor de impostos (Lc 3.12; 15.1), um agente do arrendatário geral dos tributos, porém em cargo de direção. QUEM ERAM OS PUBLICANOS? Desde os tempos de César os tributos não eram

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recolhidos diretamente pelo Estado, mas arrendados por um tempo considerável, geralmente um LUSTRUM (período de cinco anos), ao que oferecia mais. O arrendatário da tributação arrendava as alfândegas de um determinado distrito por um uma soma estabelecida, de sorte que lhe cabia o excedente dos tributos combinados ou cobrindo uma eventual arrecadação deficitária.

Todo o sistema alfandegário e seus respectivos arrendatários e funcionários eram extremamente desprezados e odiados entre os judeus, uma vez que nele encontravam impulsos renovados para sua aversão contra a Roma estrangeira. O ódio principal incidia sobre os funcionários subalternos dos grandes senhores tributadores, que recolhiam os tributos nas cidades limítrofes e localidades portuárias e constantemente importunavam o tráfego em estradas, pontes e depósitos. Os coletores de impostos geralmente eram recrutados entre escravos alforriados,

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provavelmente às vezes também entre cidadãos romanos, bem como entre nativos da respectiva província. São esses os publicanos do NT. É flagrante que um sistema tributário como o romano e herodiano favorecia os maiores abusos, especialmente em províncias negligentemente administradas. Os senhores alfandegários não apenas visavam conseguir a renda elevada, mas enriquecer, da mesma forma como também os subarrendatários (Zaqueu era um coletor superior, um supervisor, não pessoalmente um publicano). Dessa maneira havia infinitos casos de extorsão, falcatrua, rudeza e injustiça na arrecadação dos tributos; cf. Lc 3.12s; 19.8 (cf. Comentário Esperança, Mateus, o exposto sobre Mt 9.9-13 e Marcos, o exposto sobre Mc 2.13-17).

Era considerada traição nacional a função de, como judeu, recolher as receitas estatais para a odiada Roma, sustentando assim a dominação estrangeira e além disso amontoando

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uma fortuna às custas de compatriotas oprimidos.

Como Israel na realidade conhecia somente tributos para fins religiosos, o publicano judeu também era um traidor da religião.

Aconteceu, pois, que em sua rápida e, poderíamos dizer, breve passagem por Jericó, Jesus não se hospedou com um dos muitos sacerdotes ali residentes, mas com um publicano. Essa história, preservada pela tradição, faz parte daquelas que Lucas provavelmente colecionou com máxima alegria no coração.

A palavra final da história anterior, que anunciava que todo o povo louvava a Deus (Lc 18.43), permite supor que a notícia da chegada de Jesus foi divulgada em Jericó antes que ele chegasse de fato. Diversos moradores dessa cidade sentiram-se motivados a ir ao encontro dele e acompanhar seu séquito (cortejo). O mesmo desejo também tomou conta do rico publicano-mor Zaqueu: ele, que com

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certeza havia ouvido muitas coisas acerca de Jesus, anseia vê-lo face a face. Em vão, porém, ele se esforçava para encontrar um lugar que lhe permitisse ver o Salvador. Sua baixa estatura representava um empecilho para que pudesse satisfazer seu grande anseio.A história de Zaqueu tem três partes. (1) Zaqueu era rico, mas não era feliz. Inevitavelmente estava sozinho, porque tinha escolhido o caminho que o convertia em um pária. Tinha ouvido a respeito deste Jesus que acolhia os coletores de impostos e aos pecadores, e se perguntava se não teria algo para lhe dizer. Desprezado e odiado pelos homens, Zaqueu procurava o amor de Deus. (2) Zaqueu estava resolvido ver a Jesus, e nada o deteve. Para ele, misturar-se com a multidão era algo que requeria coragem, porque mais de um procuraria a oportunidade de dar-lhe um golpe ou chutar ou empurrar a este pequeno

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publicano. Era uma oportunidade que não se podia deixar passar. Nesse dia Zaqueu podia resultar cheio de inchaços e machucados. Não podia ver – a multidão se deleitava em estorvá-lo. De modo que correu e subiu ao sicômoro. Um viajante descreve esta árvore como parecido ao "carvalho inglês de sombra muito agradável. É portanto a árvore preferida para plantar-se à beira do caminho... É muito fácil de subir, com seu tronco curto e seus amplos ramos laterais que se abrem em todas as direções". As coisas não eram fáceis para o Zaqueu; entretanto o homenzinho tinha a coragem do desespero. (3) Zaqueu tomou diversas resoluções para demonstrar a toda a comunidade que tinha mudado. Quando Jesus anunciou que ficaria esse dia em sua casa, e quando descobriu que tinha encontrado um amigo novo e maravilhoso, tomou uma decisão imediata. Decidiu dar a metade de seus bens aos pobres; e não tentando ficar

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com a outra parte, e sim utilizá-la para restituir aos ques confessou ter defraudado. Em sua restituição foi além do que era legalmente necessário. Somente se fosse um roubo deliberado e violento com fins de destruição era necessário restituir o quádruplo (Êxodo 22:1). Se fosse um roubo comum, e os bens originais não podiam ser devolvidos, devia-se pagar o dobro de seu valor (Êxodo 22:4, 7). Se mediava confissão voluntária, e se oferecia uma restituição voluntária, devia-se pagar o valar original mais um quinto do mesmo (Levítico 6:5; Números 5:7). Zaqueu estava decidido a fazer mais do que a lei pedia. Mostrou por suas obras que tinha mudado. O Dr. Boreham tem uma história terrível. Havia uma reunião na qual várias mulheres estavam dando seu testemunho. Uma delas mantinha um turvo silêncio. Pediu-lhe que atestasse e se negou. Foi-lhe perguntado por que e respondeu: "Quatro destas mulheres que acabam de dar testemunho me devem

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dinheiro, e minha família e eu estamos morrendo de fome porque não podemos comprar comida." Um testemunho não tem nenhum valor a não ser que esteja respaldado por obras que garantam sua sinceridade. Jesus Cristo não pede uma mudança nas palavras, e sim na vida. (4) E a história termina com as grandes palavras: o Filho do Homem veio buscar e salvar o perdido. Devemos tomar cuidado sempre de como interpretamos esta palavra perdido. No Novo Testamento não significa maldito ou condenado. Simplesmente significa no lugar equivocado. Algo está perdido quando saiu de seu lugar e está em um lugar equivocado, e quando o encontramos voltamos a pô-lo no lugar que lhe correspondia. Um homem está perdido quando se afastou de Deus; e é achado quando mais uma vez ocupa seu lugar correto como um filho obediente "no lar e na família de seu Pai.

Portanto, Zaqueu queria ver Jesus. E quem deseja ver Jesus, quem deseja ter

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um encontro com ele, a esse o Pai no céu sempre concederá uma oportunidade, seja de um ou de outro modo. Depois que Zaqueu acompanhou a multidão por certo tempo, sem alcançar seu objetivo, ele passa correndo à frente. – O sicômoro é uma amoreira com galhos baixos, paralelos ao chão, e por isso fácil de escalar. Zaqueu, que desejava ver o Senhor, foi visto antes por aquele que também vira alguém como Natanael sob a figueira (Jo 1.48). Está escrito: “Quando Jesus chegou àquele lugar, olhando para cima, disse-lhe: Zaqueu, desce depressa, pois tenho de ficar hoje em tua casa.” Jesus encontrou aquele que subira na árvore, chamou-o pelo nome, olhou para dentro de seu coração e convidou-se para ser hóspede na casa dele.

Cumpre notar bem cada traço da história. Jesus chama Zaqueu pelo nome, assim como o próprio Deus também chama seus redimidos pelo nome (cf. Is 43.1). O Senhor chama Zaqueu para uma

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decisão rápida, de descer depressa da árvore e, antecipando-se a ele, convida-se pessoalmente à casa dele. Esse caso é único nos evangelhos. Interrompendo sua viagem, Jesus determinou ser hóspede dele. Não consta “eu quero”, mas “Tenho de pernoitar hoje em tua casa”. Jesus fala a partir da consciência da determinação divina. A palavra “hoje” assinala que não havia mais tempo a perder, que não seria permitido nenhum adiamento. Para Jesus havia tão-somente uma necessidade: não entrar em nenhuma outra moradia senão na casa do coletor de impostos. Seu coração assim o ordenava.b) A permanência de Jesus com Zaqueu – Lc 19.6-10Zaqueu não se espantou, nenhum protesto aflorou em seus lábios. Tampouco constatou-se nele vergonha, mas ele foi subitamente conquistado para o Senhor. Por essa razão acolheu com alegria o hóspede famoso. Com pressa maior do que ele jamais usara para recolher o mais palpável

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rendimento, Zaqueu abriu a casa para o importante viajante, ao qual seu coração se sentira tão extraordinariamente atraído. – O Senhor Jesus havia dito “depressa”, e rapidamente Zaqueu organizara tudo. Na multidão ainda dominada por preconceitos farisaicos manifesta-se mais uma vez a insatisfação geral. Contudo, nada alude à circunstância de que os discípulos estivessem incluídos nas palavras “todos murmuravam”.8 A expressão “Zaqueu, porém, se aproximou do Senhor” coloca as palavras subseqüentes do publicano em estreita ligação com a murmuração do povo. A palavra “aproximou-se do Senhor” denota uma atitude firme (Lc 18.11, ao contrário de Lc 18.13). Quais foram as palavras que Zaqueu proferiu, postando-se diante de Jesus? “Senhor, resolvo dar aos pobres a metade dos meus bens; e, se nalguma coisa tenho defraudado

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(extorquido injustamente) alguém, restituo quatro vezes mais.” Em caso de fraude cuja restituição acontecesse espontaneamente, a lei exigia que se devolvesse a quantia extorquida acrescida de um quinto (Lv 5.21ss). Quando o bem fraudado não mais existia e a devolução não era espontânea, era prescrito restituir quatro vezes mais (Êx 22.3). Quando ainda existia, devolvia-se apenas o dobro (Êx 22.1). Portanto, Zaqueu aplicou à devolução espontânea que ele faria, a regra que fora estabelecida para a restituição forçada no caso mais grave. Se a promessa e obra de Zaqueu tivessem sido um ato de aparência, ele não teria conseguido subsistir perante Jesus. A promessa de Zaqueu é a expressão de um coração repleto de gratidão, que há muito ansiava ver Jesus de Nazaré. Ao mesmo tempo constitui uma prova de que o coração de Zaqueu já não estava apegado às riquezas. A história de

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Zaqueu representa a melhor prova de que não é impossível que uma pessoa rica entre no reino de Deus. A promessa de Zaqueu, porém, representa igualmente um sinal da seriedade com que ele não apenas se arrepende de suas faltas do passado, mas também se empenha para compensar o dano causado a outros por meio delas. O relato extremamente sucinto não permite depreender quanto dessa mentalidade já estava operando nele antes do encontro com Jesus e o que foi produzido e transformado nele apenas sob o impacto da pessoa e fala de Jesus. O Senhor Jesus declara: “Hoje foi concedida salvação a esta casa, visto que também ele é um filho de Abraão; porque o Filho do Homem veio para procurar e salvar aquilo que está perdido.” Jesus não fala da elevada dignidade de sua visita, mas de um grato episódio de sua obra de busca e redenção. Por ora ela se restringe a Israel. Mas ela abarca todos os membros desse povo, incluindo os publicanos

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desprezados e odiados por seus concidadãos, como aliás todos os que decaíram nas profundezas e se desgarraram do rebanho. A aplicação a estes é até mesmo proeminente, porque os mais carentes são em geral também os mais receptivos (Lc 5.32; 6.20; 15.1-32) e, quando se deixam encontrar e resgatar por ele, os mais agradecidos, o que foi novamente comprovado pelo exemplo de Zaqueu (cf. Lc 7.36-50). O pecador e “salteador” Zaqueu, como a multidão o via, de fato havia sido transformado em outra pessoa. Por meio de sua conversão tornara-se um verdadeiro israelita. Os críticos desdenhosos haviam desconsiderado que esse desprezado e indigno, sendo filho de Abraão, continuava sendo seu parente segundo a carne. Jesus concedeu-lhe o elogio de que agora também pertencia à descendência do amigo de Deus (cf. Lc 13.16) segundo o Espírito. A declaração do Senhor de que hoje acontecera salvação à “casa” dele contém uma

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alusão à circunstância de que toda a sua família experimenta essa salvação. Existe aqui uma referência à casa ou família como fundamento da igreja a ser construída. Já durante sua atuação vocacional Jesus mostra a família e a comunhão domiciliar como meio e caminho para a expansão da fé redentora. Deparamo-nos várias vezes com esse fato no NT (cf. Jo 4.53; Lc 10.5). As duplas de irmãos entre os apóstolos, a mãe dos filhos de Zebedeu e a família do próprio Jesus (At 1.14) são provas de como a mensagem da salvação se disseminou inicialmente na família. Na história da evangelização realizada pelos apóstolos (At 16.15,31s; 18.8) a família exerce um importante papel nesse aspecto. Por exemplo, citam-se expressamente nesse sentido as famílias de Timóteo, Filemom, Onesíforo e Estéfanas. O dia da entrada de Jesus na casa de Zaqueu é o dia natal de um novo ser humano interior, e enquanto ele

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empobrece por opção pessoal em termos de bens terrenos, aumenta sua riqueza em termos celestiais, de modo que o hoje traça uma nítida linha divisória em sua consciência entre o ontem e o amanhã.

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