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TEXT Poemas em Português Ao Ver os Mármores de Elgin Fraco está meu espírito - a mortalidade Oprime-me demais, qual sono indesejado; Cada pico ou abismo de divino fado De que não deixo de morrer me persuade, Morrer como águia enferma, o olhar ao céu voltado. É contudo um prazer amável prantear Que eu os nebulosos ventos não haja de guardar Frescos para o olho da manhã, mal descerrado. Essas glórias que a ideia forma vagamente Cercam de intensa má vontade o coração: Tais maravilhas trazem dor e confusão Que mesclam a grandeza grega com o inclemente Passar do velho Tempo - com um mar fremente - Um sol - a sombra de sublime condição. Hino à Tristeza (IV, 146 - 290) “Ó Tristeza, Por que tomas A rubros lábios o matiz nativo da saúde? Para dar rubores de donzela Às moitas de roseiras brancas? Ou tua mão de orvalho é a ponta das boninas? “Ó Tristeza, Por que tomas Ao olho do falcão o ardor brilhante? Para dar luz ao vaga-lume Ou, em noite sem lua, Tingir, em praias de sereia, a inquieta água do mar? “Ó Tristeza, Por que tomas A uma plangente voz canções suaves? HOME ARCHIVE RSS COMENTE BIOGRAFIA POEMAS EM PORTUGUÊS POEMS IN ENGLISH SHELLEY Following Tags John Keats 23 de fevereiro de 1821 Morte ODE A PSIQUÊ O QUE DISSE O TORDO John Keats, Poemas em Português http://john-keats.tumblr.com/Poemasemportuguês 1 de 30 18/03/2013 14:27

John Keats, Poemas em Português

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TEXT Poemas em Português Ao Ver os Mármores de Elgin

Fraco está meu espírito - a mortalidade

Oprime-me demais, qual sono indesejado;

Cada pico ou abismo de divino fado

De que não deixo de morrer me persuade,

Morrer como águia enferma, o olhar ao céu voltado.

É contudo um prazer amável prantear

Que eu os nebulosos ventos não haja de guardar

Frescos para o olho da manhã, mal descerrado.

Essas glórias que a ideia forma vagamente

Cercam de intensa má vontade o coração:

Tais maravilhas trazem dor e confusão

Que mesclam a grandeza grega com o inclemente

Passar do velho Tempo - com um mar fremente

- Um sol - a sombra de sublime condição.

Hino à Tristeza (IV, 146 - 290)

“Ó Tristeza,

Por que tomas

A rubros lábios o matiz nativo da saúde?

Para dar rubores de donzela

Às moitas de roseiras brancas?

Ou tua mão de orvalho é a ponta das boninas?

“Ó Tristeza,

Por que tomas

Ao olho do falcão o ardor brilhante?

Para dar luz ao vaga-lume

Ou, em noite sem lua,

Tingir, em praias de sereia, a inquieta água do mar?

“Ó Tristeza,

Por que tomas

A uma plangente voz canções suaves?

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fevereiro de 1821 Morte ODE APSIQUÊ O QUE DISSE O TORDO

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Para dá-las, na noite fresca,

Ao rouxinol

Que possas escutar entre os serenos frios?

“Ó Tristeza,

Por que tomas

À alegria de maio o júbilo do coração?

Nenhum amante pisaria

A primavera em sua fronte,

Dançasse embora desde a noite até o raiar do dia,

- Nem flor alguma languescente,

Tida por santa para o teu recesso,

Onde quer que ele folgue e se divirta.

”Ó Tristeza

Eu desejei bom-dia

E pensei deixá-la para trás, bem longe,

Mas satisfeita, satisfeita,

Ela quer-me ternamente;

É-me tão constante e tão amável:

Eu queria enganá-la,

Assim deixando-a,

Mas ah! ela é-me tão constante e tão amável.

“Sob as minhas palmeiras e do rio à margem

Eu sentei-me a chorar: em todo o vasto mundo

Não havia ninguém para indagar por que eu chorava:

Assim fiquei

A encher de lágrimas as taças do nenúfar,

Lágrimas frias como os meus temores.

“Sob as minhas palmeiras e do rio à margem

Eu sentei-me a chorar: que noiva enamorada,

Se a ilude um vago pretendente, ao vir das nuvens,

Não se oculta nem se vela

Sob escuras palmeiras e de um rio à margem?

“E ao sentar-me, por sobre os morros azul-claros

Veio um barulho de foliões: os riachos

Lançaram-se da cor da púrpura no vasto rio

- Era Baco e seu cortejo!

Falou a trompa ardente e vibrações de prata

Dos osculantes címbalos fizeram grande ruído

- Era Baco e seus parentes!

Como para vindima errante eles chegaram

De verdes folhas coroados, rosto em fogo;

Todos em dança delirante pelo ameno vale,

Para te afugentar, Melancolia!

Oh então, oh então passaste a simples nome!

E eu te esqueci, como o azevinho com suas bagas

Esquecem-no os pastores quando, em junho,

Os altos castanheiros tapam sol e lua:

- Precipitei-me na loucura!

“De pé, estava no seu carro o jovem Baco

Brincando com seu dardo de hera, quase que a dançar,

E rindo de soslaio;

- Fios de vinho carmesim manchavam

Seus nédios braços brancos e seus brancos ombros

Para com suas pérolas mordê-los Vênus:

E Sileno em seu asno perto cavalgava,

Alvejado com flores ao passar

ODE A UM ROUXINOL HIPERÍON (I,72 - 88) ODE SOBRE UMA URNA

GREGA On Seeing the Elgin MarblesEndymion (IV, 146 - 290) Sonnet: A

dream, after reading Dante's episode ofPaolo and Francesca Meg Merrillies To

Sleep Endymion (I, 232 - 306) sonnetFancy This Living Hand... Ode On

Indolence Happy New Year On FirstLooking Into Chapman's HomerOde Hyperion (III, 10-43) Endymion (I,

1-33) MerryChristmas Ode On

Melancholy On The Grasshopperand Cricket To Autumn Bright

Star Sonnet Untitled Ode to Psyche

What The Thrush Said Ode to aNightingale Hyperion (I, 72 - 8) La

Belle Dame Sans Merci The Eve of St.Agnes On Sitting Down to Read King

Lear Once Again On Visiting The Tombof Burns Written In The Cottage WhereBurns Was Born Keen, Fitful Gusts Are

Whisp'ring Here And There Ode onMelancholy Ode On a Grecian Urn MegMerrilies Ao Ver os Mármores de Elgin

Hino à Tristeza (IV, 146 - 290) UmSonho: Depois de Ler o Episódio dePaolo e Francesca, em Dante Hino a

Pã Endymion Se Tenho Medo FannyBrawne A Fantasia Esta Mão Viva

Ode Sobre a Indolência Ao compulsarpela primeira vez o Homero de

Chapman Bardos da paixão e daalegria Partiu o dia Por que esta noiteeu ri? Endimião Astro Fulgente Ode a

Psiquê Hiperíon Véspera de Sta. AgnesSentado a Reler o Rei Lear Visitando a

Cripta de Burns Escrito na CabanaOnde Burns Nasceu Sobre o

Gafanhoto e o Grilo Agudas LufadasIntermitentes Primeira Leitura do

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Page 3: John Keats, Poemas em Português

E ebriamente bebendo aos grandes tragos.

“Joviais donzelas, donde vínheis? Donde vínheis?

Tantas e tantas e com tanto júbilo?

Por que deixastes os retiros desolados,

Os alaúdes e mais branda sorte?

- ‘Seguimos Baco! Baco a se mover veloz,

Conquistador!

Baco, o jovem Baco! mal ou bem suceda,

Dançamos diante dele pelos vastos remos:

Vem para cá, formosa dama, e junta-te

Ao nosso doido canto!’

“Donde vínheis, festivos Sátiros! donde é que vínheis?

Tantos e tantos e com tanto júbilo?

Por que deixastes vossos florestais abrigos,

Vossas nozes na fenda do carvalho?

- ‘Pelo vinho deixamos a árvore e as sementes;

Pelo vinho deixamos landa e giestas amarelas,

E os cogumelos frios;

Pelo vinho seguimos Baco pela terra;

Deus das copas sem fôlego, do júbilo chalrante!

- Vem para cá, formosa dama, e junta-te

Ao nosso doido canto!’

“Passamos largos rios e montanhas grandes

E, salvo quando Baco estava em sua tenda de hera,

Avante iam o tigre e o ofego do leopardo,

Com elefantes da Ásia:

Avante essas miríades - com canto e dança, zebras

Listradas e lustroso empino de cavalos árabes,

Aligatores com seus pés palmados, crocodilos

Levando no escamoso dorso, em filas, nédias,

Risonhas crianças imitando a grita dos marujos

E a valente labuta dos remeiros de galera:

Com fingidos remos e sedosas velas passam

Sem pensar em vento nem maré.

“Nas panteras em pêlo e jubas de leões montados,

Da retaguarda à frente eles percorrem as planícies;

Viagem de três dias num momento é feita:

E sempre, ao despontar do sol,

Com chuço e trompa caçam pelas selvas,

Em irascíveis unicórnios.

“Vi o Egito de Osíris ajoelhar-se

Ante a soberania da coroa de parreira!

Vi a tostada Abissínia erguer-se e então cantar

Ao som dos címbalos de prata!

O vinho que domina vi ardoroso penetrar

Na vetusta e feroz Tartária!

Abaixarem, os reis da índia, os cetros só de jóias

E atirar dos tesouros uma saudação de pérolas;

De seu místico céu o grande Brama geme

E os sacerdotes dele se lamentam,

A um relance do jovem Baco embranquecendo.

- A estas regiões eu vim acompanhando-o,

Opresso o coração, cansada - assim, deu-me o capricho

De errar nestas florestas tenebrosas

Sozinha, sem nenhuma companhia:

E tudo eu disse-te que podes escutar.

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”Jovem forasteiro!

Tenho viajado muito

Em busca do prazer por todas as regiões:

Ai! para mim ele não é!

Enfeitiçada, certo, eu devo estar,

Para perder em queixas minha virgem mocidade.

”Vem pois, Tristeza!

Dulcíssima Tristeza! -

No colo nino-te como se filha minha!

Eu pensava deixar-te

E te iludir,

Porém no mundo inteiro és tu a quem mais quero agora.

”Não há ninguém,

Não, não, ninguém a não ser tu

Que console uma pobre virgem tão sozinha:

És a mãe dela,

O seu irmão,

Seu companheiro e pretendente em meio à sombra.”

Um Sonho: Depois de Ler o Episódio de Paolo e Franc esca, em Dante

Como Hermes voou com suas penas, levemente,

Quando Argos, aturdido, desmaiou e dormiu,

Assim, na flauta délfica, esta alma indolente

Assim encantou, assim venceu, assim extinguiu

Os cem olhos de nosso mundo, este dragão,

E assim fugiu, ao vê-lo assim adormecido,

Não para o Ida de céus frios de neve, não,

Nem para Tempe, que já viu Jove sofrido:

Para o segundo círculo do Inferno, antes,

Onde em remoinho, na lufada - ou no tufão-

De chuva ou gelo, não precisam os amantes

Dizer suas mágoas: lábios pálidos vi então,

E pálidos beijei, bela a forma com a qual

Flutuei, ao léu daquele triste temporal

Hino a Pã (I, 232 - 306)

Ó tu, cujo amplo teto de palácio se ergue

Sobre rugosos troncos, a cobrir de sombra

Cicios eternos, o negror, a vida e a morte

De flores invisíveis em pesada paz;

Que adoras ver as Hamadríades comporem

O cabelo desfeito, onde o avelal sombreia;

E sentas para ouvir, durante horas solenes,

A triste melodia dos caniços juntos

Em sítios desolados, onde com a umidade

A cicuta aflautada cresce a estranha altura;

Pensando em como te sentiste contrariado

E melancólico ao perder Sirinx, a bela,

- Pela fronte de leite de tua amada,

Pelos trêmulos meandros que ela percorreu,

Ouve-nos grande Pã!

Ó tu, por cuja paz que abranda a alma, as rolas,

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Pondo paixão na voz, arrulham entre os mirtos

Na hora em que vagueias ao cair da tarde

Pelos prados de sol, que os flancos delimitam

De teus reinos brejosos: tu a quem as figueiras

De largas folhas predestinam já os frutos

Maduros; as abelhas de amarelo cinto,

Seus favos de ouro; os campos das aldeias nossas,

Favas de bela flor e trigo com papoulas;

O pintarroxo a piar, filhotes que, ora em casca,

Cantarão para ti; os morangos rastejantes,

Seu frescor estival; ninfas de borboletas,

Suas asas mosqueadas; sim, o ano em botão

As suas perfeições - acerta-te depressa,

Pelo vento que agita o pinho da montanha,

Ó divino selvagem!

Ó tu, para quem correm sátiros e faunos,

Prontos para servir; quer para surpreender

A lebre que se agacha meio a dormitar;

Ou escalando precipícios escabrosos

Para salvar da goela da águia os cordeirinhos,

Ou para pôr de novo, com atração oculta,

Os pastores perdidos no caminho certo,

Ou para andar arfante em torno ao mar de espumas,

Ou para recolher as conchas mais bizarras

Para que as jogues aonde as Náiades se acolhem

E, oculto, rias quando espiarem para fora;

Ou para que te encantem fantasiosos saltos

Quando elas se entrejogam na cabeça argênteas

Glandes de roble e as pardas pinhas doa abetos

- Por todos esses ecos em redor de ti,

Ó, escuta-nos, rei sátiro!

Tu que percebes o ruído das tesouras

Se um carneiro, a balir, de quando em quando vez

Juntar-se aos já tosqueados; tu, que a trompa soas,

Se os javalis, talando os tenros cereais,

Iram o caçador; que em torno à granja tocas

Para afastar a mangra e os danos do mau tempo;

Tu que estranho nos dás indefiníveis sons

Que vêm desfalecer no côncavo dos vales

E languem tristemente nos urzais estéreis;

Temível abridor das portas misteriosas

Que levam ao saber universal - contempla,

Grande filho de Dríope,

Tantos que vieram para realizar seus votos,

Com folhas sobre a testa!

Persiste sendo o abrigo não imaginável

De solitárias reflexões, como as que brincam

Com a compreensão até os próprios confins do céu

E põem então a mente vã; sê a levedura

Que ao se expandir nesta massuda terra triste

Dá-lhe um etéreo toque: - um novo nascimento;

Persiste sendo um símbolo da imensidão;

Um firmamento refletido por um mar;

Um elemento a encher o espaço intermediário;

Um ignoto - mas chega: humildes nós velamos

A fronte, erguendo as mãos; modestos inclinando-nos

E erguendo até aos céus um grito que os lacera,

Conjuramos-te a ouvir o nosso humilde peã,

Sobre o monte Liceu!

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Se Tenho Medo

Se tenho medo de meus dias terminar

Antes de a pena me aliviar o espírito, antes

De muito livro, em alta pilha, me encerrar

Os grãos maduros como em silos transbordantes;

Se vejo, nas feições da noite constelar,

Enormes símbolos nublados de um romance

E penso que não viverei para copiar

As suas sombras com a mão maga de um relance;

Quando sinto que nunca mais hei de te ver,

Formosa criatura de um momento ideal!

Nem hei de saborear o mítico poder

Do amor irrefletido! - então no litoral

Do vasto mundo eu fico só, a meditar,

Até ir Fama e Amor no nada naufragar.

A Fantasia

Que a alada Fantasia vague sempre,

Nunca acharemos o Prazer em casa.

A um toque só, o doce Prazer se esfaz,

Como bolhas se a chuva tamborila;

Que a alada Fantasia erre por meio

Do pensamento que vai sempre além;

Abri a porta que engaiola a mente,

E ela, arrojando-se, voará até as nuvens.

Oh, doce Fantasia! fique livre;

Os gozos do verão com o uso gastam-se,

E fana-se a fruição da primavera

Como se fana o seu florescimento;

Também no outono os frutos de vermelhos lábios,

Rubescendo através de bruma de orvalho,

Enjoam se provados: que fazer,

Portanto? Senta-te à lareira, quando

A lenha seca esplendorosa queima,

Espírito da noite de um inverno;

Quando a terra silente se recobre,

E a neve endurecida o jovem rústico

Sacode-a do calçado que lhe pesa;

Quando a noite se ajunta ao meio-dia

Numa conspiração de negro tom

Para banir do céu o entardecer.

Senta-te aí, e envia para fora,

Com a mente que sozinha se intimida,

A Fantasia, com poderes plenos,

Envia-a! Tem vassalos dedicados:

Ela trará, apesar do frio extremo,

Belezas já perdidas pela terra;

Ela trará, reunidos, para ti,

Os encantos completos do verão;

Os botões e as campânulas de maio,

Da úmida relva ou de espinhoso ramo;

E a riqueza que o outono acumulou

Com sua quieta, misteriosa ação:

Ela misturará esses prazeres -

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Como três vinhos certos numa taça,

E tu os tragarás, ouvindo então

Ao longe, claras, as canções da ceifa,

O murmúrio do trigo ao ser cortado;

Os pássaros louvando em sua antífona

A manhã, e no mesmo instante - escuta!

É a cotovia ao iniciar-se abril,

A gralha-calva, com um grasnido ativo

Em busca de raminhos ou de palha.

Contemplarás, de um só golpe de vista,

A margarida e, a par, o malmequer;

O lírio de alvas plumas e a primeira

Primavera que se mostrou na sebe;

Na sombra, do jacinto a flor, uma rainha

De safira se maio vai em meio;

E cada folha, a cada flor mostrando

As pérolas do mesmo temporal.

O ratinho silvestre, tu o verás

Magro a espiar de seu sono enclausurado;

E a serpente emaciada pelo inverno

Deixar a pele em riba ensolarada;

Verás, no ninho, pintalgados ovos

A chocar no espinheiro, quando a asa

Da fêmea da avezinha permanece

Sem se mexer no seu musgoso ninho;

Depois o alarme e a precipitação

Quando a colméia expede o seu enxame;

As glandes que ao cair maduras ruídam

Quando cantam as brisas outonais.

Oh, doce Fantasia! fique livre,

Todas as coisas gastam-se com o uso.

Onde está a face, muito contemplada,

Que não se fane? Onde estará a donzela

Que haja lábios maduros sempre jovens?

Onde é que está o olhar, embora azul,

Que não se canse? Onde se encontra o rosto

Que se deseje ver em toda a parte?

Onde está a voz, macia seja embora,

Que se goste de ouvir a todo instante?

A um toque só, o doce Prazer se esfaz,

Como bolhas se a chuva tamborila.

Que a alada Fantasia então encontre

A bem amada para o teu espírito:

Como a filha de Ceres, de olhar doce

Antes de o deus do inferno lhe ensinar

Como franzir o cenho e repreender;

Com uma cintura e com uma ilharga branca

Tal como a de Hebe, quando a sua faixa

Do fecho de ouro desprendeu-se, e abaixo

A veste deslizou-lhe até aos pés,

Quando ela segurava a doce taça,

E Jove enlangueceu. - Rebenta a malha

Do sedoso torçal da Fantasia;

Rompe-lhe a corda da prisão, depressa,

E ela trará alegrias desse gênero.

Que a alada Fantasia vague sempre,

Nunca acharemos o Prazer em casa.

Esta Mão Viva

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Esta mão viva, agora quente e pronta

Para um sincero aperto, se estivesse fria

E no silêncio gélido da tumba,

Viria de tal forma te obsedar os dias

E esfriar-te as noites sonhadoras

Que quererias esgotar o sangue de teu coração

Para que em minhas veias -

Pudesse inda uma vez correr a vida rubra

E tranquila tivesses a consciência:

- Vê-a, aqui está, estendendo-a para ti.

Ode Sobre a Indolência

“Não trabalham nem fiam”

I

Certa manhã vi três figuras de perfil,

De cabeça inclinada as três, e de mãos juntas;

E vinha uma após outra com sereno andar,

Usando plácidas sandálias, vestes brancas;

Passaram, quais figuras de marmórea urna,

Quando a girarmos para ver o lado oposto;

Voltaram, como quando uma vez mais viramos

A urna, e então retornaram as primeiras formas;

Eram-me estranhas, como em relação a vasos

Pode ocorrer com doutos no saber de Fídias.

II

Como foi que, ó Imagens, não vos conheci?

Como viestes ocultas com tão quieta máscara?

Era silente ardil, bem disfarçado para

Levar furtivo e pôr ociosos os meus dias?

Madura estava a hora sonolenta. A nuvem

Mais que feliz de uma indolência de verão

Entorpeceu-me o olhar; meu pulso fraquejava;

Não doía a dor, nem o prazer tinha inda flores:

Por que não vos fundistes, a deixar-me o espírito

Deserto do que quer que fosse - exceto o nada?

III

Terceira vez passaram perto, e enquanto isso

Voltaram um momento o rosto para mim;

Depois esvaeceram, e, para segui-las,

Ardi e ansiei por asas, pois reconheci-as;

A primeira, formosa virgem, era o Amor;

A segunda, a Ambição, de palidez nas faces

E sempre atenta com seus olhos fatigados;

Na última, que quanto mais censuram tanto

Mais eu amo, donzela, extremamente indócil,

Reconheci o meu demônio, a Poesia.

IV

Esvaeceram, e eu, certo, queria asas;

Ó, loucura! O que é o Amor? e onde está ele?

E essa pobre Ambição! nasce de um breve acesso

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Page 9: John Keats, Poemas em Português

De febre no pequeno coração de um homem;

Quanto à Poesia! - ao menos para mim não traz

Prazer que iguale os meios-dias sonolentos

E as tardes cheias de indolência toda mel;

Ó, que a amargura não atinja a minha vida

E assim jamais eu sabia como as luas mudam

Nem ouça a voz intrometida do bom-senso!

V

Por que, ai! terceira vez elas passaram perto?

Meu sono, tinham-no bordado vagos sonhos;

Minha alma tinha sido relva borrifada

Por flores, por inquietas sombras, raios frustros:

Não houve tempestade na manhã nublada,

Com as lágrimas de maio a lhe pender das pálpebras.

Folhas novas de vide opressas na janela

Por onde entrava a tepidez das brotações

E a voz do tordo, ó Imagens! era dar-me adeus!

Em vossas vestes não caíra pranto meu.

VI

Três Fantasmas, adeus! Não me podeis erguer

A fronte de seu fresco leito, a grama em flor,

Não me atrairia ser nutrido com elogios,

Qual cordeiro de estima em farsa emocional!

Desvanecei-vos suaves; sede uma vez mais

Figuras mascaradas na urna sonhadora;

Adeus! Tenho visões para o correr da noite

E para o dia visões débeis e copiosas;

Sumi, Fantasmas, deste espírito indolente,

E entrando pelas nuvens, nunca mais volteis!

Ao Compulsar, Pela Primeira Vez, o Homero de Chapman

Já por impérios de ouro eu muito viajara,

Diversos reinos vira - e quanto belo Estado!

Já muitas ilhas, a ocidente, eu circundara,

As quais em feudo Apolo aos bardos tinha doado.

Eu já sabia que em país mais dilatado

Homero, o que pensava fundo, governara:

Porém seu límpido ar não tinha ainda aspirado,

Até que ouvi a voz de Chapman, brava e clara.

Como o que espreita o céu e colhe na visão

Algum novo planeta, assim fiquei então;

Ou como quando - de águia o olhar - Cortez nem bem

O Pacífico havia dividisado, além -

Seus homens a se olhar, supondo com aflição -

E ficou sem falar, num pico em Darien.

Bardos da Paixão e da Alegria

Ó Bardos da Paixão e da Alegria,

Vós deixastes na Terra as vossas almas!

Tentes almas também no paraíso,

Que vivem outra vez em regiões novas?

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Page 10: John Keats, Poemas em Português

Sim, e comungam as do paraíso,

Com as esferas do Sol e com as da Lua;

Com o sussurro de fontes admiráveis

E com as vozes que falam no trovão;

Com o murmúrio das árvores do céu

E uma com outra, em doce bem-estar

Nos elíseos reuvados assentados,

Onde cheiram a rosa as margaridas

E a própria rosa adquire uma fragrância,

Um odor que na terra não existe;

Onde gorjeia o rouxinol um canto

Nem sem sentido, nem como que em transe,

Mas divina verdade melodiosa;

E contos e douradas narrações

Que versam sobre o céu e os seus mistérios.

Assim viveis lá em cima, e ao mesmo tempo

Aqui na Terra vós viveis de novo;

E as almas que deixastes ao partir

Ensinam-nos, aqui, como encontrar-vos

Onde se alegram vossas outras almas

Sem nunca adormecer, nunca saciar-se.

Vossas almas terrestres aqui falam

Aos homens, sempre, da semana breve,

Das mágoas que eles têm, de seus prazeres,

E de suas paixões e de seus ódios,

De sua glória e da vergonha sua,

Do que dá forças e do que mutila.

Assim nos ensinais sabedoria

Diariamente, apesar de ter-vos ido.

Ó Bardos da Paixão e da Alegria,

Vós deixastes na Terra as vossas almas!

Tendes almas também no paraíso,

Que vivem outra vez em regiões novas!

Partiu o Dia

Partiu o dia, e tudo, nele, o que é doçura!

Doces lábios e voz, mão e seio macio,

Morno alento, enlevado, encantador cicio,

Talhe perfeito, olhar de luz, langue cintura!

Da flor e seus botões as graças não diviso!

A visão da beleza ao meu olhar perdida,

A forma da beleza de meus braços ida,

Idas voz e calor, a alvura e o paraíso…

Tudo se esvaneceu ao fim do entardecer,

Quando o fusco dia santo, ou antes noite santa

Do amor de olente cortinado a trama adianta

Da escuridão, para ocultar todo o prazer:

Mas li o missal do Amor e dormirei portanto,

Que vê o Amor como jejuo e rezo tanto.

Por Que Esta Noite Eu Ri?

Por que esta noite eu ri? Não mo dirá ninguém:

Deus algum, nem Demônio de resposta rude;

Nem do céu nem do inferno a explicação me vem.

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Page 11: John Keats, Poemas em Português

Ao meu humano coração peço que ajude;

Eis-nos tristes e sós, tu e eu, ó coração!

Dize-me, que mortal angústia! Por que ri eu?

Ó trevas! trevas! Sempre hei de gemer em vão,

A inquirir céu e inferno, e inda o coração meu.

Oh, por que ri? Um prazo, eu sei, tem-no o meu ser,

Seus júbilos extremos gozo em fantasia;

Porém findar à meia-noite eu poderia

E em trapos as bandeiras deste mundo ver.

Verso, Fama, Beleza é certo que ardem forte:

Alto prêmio da Vida, é mais ardente a Morte.

Endimião (1, 1-33)

Tudo o que é belo é uma alegria para sempre:

O seu encanto cresce; não cairá no nada;

Mas guardará continuamente, para nós,

Um sossegado abrigo, e um sono todo cheio

De doces sonhos, de saúde e calmo alento.

Toda manhã, portanto, estamos nós tecendo

Um liame floral que nos vincule à terra,

Malgrado o desespero, a carestia cruel

De nobres naturezas, os escuros dias,

E todos os sombreados e malsãos caminhos

Abertos para nossa busca: não obstante,

Alguma forma bela afasta essa mortalha

De nossa lúgrube alma. Assim são sol e lua,

As árvores lançando a dádiva da sombra

Às ovelhas sem mal; e assim são os narcisos

Com o mundo verde no qual vivem, e os regatos

Que fazem para si uma coberta amena

Contra a quente estação; a moita mato a dentro,

Rica de um jorro em flor de almiscaradas rosas;

E assim também é a majestade dos destinos

Que imaginamos para os mortos poderosos;

Os lindos contos que nós lemos ou ouvimos:

Uma fonte infindável de imortal bebida

Que da fímbria dos céus a nós precipita.

Nem percebemos tão-somente os mortos essas essências

Por uma curta hora; não, tal como as árvores

Que murmuram em torno a um templo logo estão

Preciosas como o próprio templo, assim a lua,

A poesia paixão, infinitos esplendores,

Obsedam-nos até tornar-se luz que incita

Nossa alma, e unem-se a nós de modo tão estreito,

Que existam sobre nós ou trevas ou fulgor,

Devem estar sempre conosco, ou bem morremos.

Astro Fulgente

Fosse eu imóvel como tu, astro fulgente!

Não suspenso da noite com uma luz deserta,

A contemplar, com a pálpebra imortal aberta,

- Monge da natureza, insone e paciente -

As águas móveis na missão sacerdotal

De abluir, rodeando a terra, o humano litoral,

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Ou vendo a nova máscara - caída leve

Sobre as montanhas, sobre os pântanos - da neve,

Não! mas firme e imutável sempre, a descansar

No seio que amadura de meu belo amor,

Para sentir, e sempre, o seu tranquilo arfar,

Desperto, e sempre, numa inquietação-dulçor,

Para seu meigo respirar ouvir em sorte,

E sempre assim viver, ou desmaiar na morte.

Untitled

Sim, eu serei teu sacerdote, e erigirei um templo

Em não trilhada região de minha mente,

Na qual os pensamentos, ramos recém-crescidos com

aprazível dor,

Murmurarão ao vento em vez de teus pinheiros;

Ao longe, ao longe em torno, aquelas árvores que formam

grupos negros

Emplumarão, aclive por aclive, a serra de deserta crista;

E lá os zéfiros, correntes, pássaros e abelhas

ninharão as Dríades deitadas pelo musgo;

E, bem no meio dessa larga paz,

Adornarei um róseo santuário

Com a treliça engrinaldada de um ativo cérebro,

E com botões, com sinos, com estrelas sem um nome,

Com tudo o que jamais pôde inventar aquela jardineira, a

Fantasia,

Que, produzindo flores, não produz jamais as mesmas:

E para ti lá estará todo o prazer suave

Que pode obter o pensamento umbroso,

Um claro archote, e uma janela aberta à noite

Para que tenha entrada o ardente Amor!

Ode a Psiquê

Escuta, ó deusa, os versos que, sem melodia,

Doce coerção e grata relembrança me tiraram;

Perdoa que eu module os teus segredos

Mesmo na branda concha desses teus ouvidos:

Hoje sonhei por certo; ou contemplei

Psiquê, a de asas, com olhos acordados?

Numa floresta eu caminhava descuidoso,

Mas de repente, e desmaiando surpresa,

Vi duas belas criaturas respirando lado a lado

Na relva mais profunda, sob um teto sussurrante

De folhas e flores trêmulas, em sítio onde corria

Um riacho apenas entrevisto.

Em meio às flores quietas, de raízes frias e olhos odorantes,

Azuis, branca de prata e em púrpura abotoando,

Eles se reclinavam na camada relva,

Tranquilos respirando, braços e asas enlaçados;

Os lábios desunidos, mas sem terem dito adeus,

Tal como se apartando pelo sono de mãos leves,

E ainda prontos a exceder os beijos dados

Ao madrugar-lhes pelos olhos o auroral do amor;

Reconheci o alado jovem; mas quem eras,

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Ó afortunada, afortunada rola?

Sua fiel Psiquê!

Ó a mais jovem e visão de longe a mais encantadora

De toda a esmaecida hierarquia olímpica!

Mais bela que no céu safira o astro de febe

Ou Vésper, amoroso vaga-lume dos espaços;

Mais bela, embora não possuas templo

Nem altar de flores cumulado;

Nem coro virginal a erguer lamento deleitoso

Nas horas em que a noite vai em meio;

Nem voz, nem alaúde, frauta ou doce aroma

A fluir de turíbulo suspenso nas correntes;

Nem santuário, nem bosque, oráculo ou fervor

De profeta a sonhar de lábios pálidos.

Ó a mais brilhante! Embora muito tarde para antigos

votos,

E muito, muito tarde para a lira apaixonada e crédula,

Quando sagrados eram os ramos assombrados da floresta,

Sagrados o ar, a água e o fogo;

Contudo mesmo nestes dias tão distantes

Do oculto afortunado, as tuas asas lúcidas,

Librando-se entre os lânguidos olímpicos,

Eu vejo e canto, por meus próprios olhos inspirado.

Assim, seja eu teu coro, e erga um lamento

A fluir do turíbulo oscilante;

Teu santuário, teu bosque, teu oráculo e o fervor por ti

Do profeta a sonhar de lábios pálidos.

Hiperíon (1,72 - 88)

Tal como, em extasiada noite de verão,

Senadores de toga verde das florestas,

Os soberbos carvalhos, ramas encantadas

Pelas estrelas graves, sonham toda noite

Sem mexer a folhagem, a não ser apenas

Ante o sopro grudual que, solitário e único,

Irrompe no silêncio e morre ao se afastar,

Qual se tivesse, o ar em vazante, uma só onda:

Assim essas palavras vieram e partiram,

Enquanto em lágrimas, com a larga e bela fronte

Ela tocava o chão, e o seu cabelo esparso

Tapete era de seda que Saturno usasse.

Lenta para mudar, a Lua derramava

Suas quatro estações de prata sobre a noite,

Enquanto os dois mantinham posição imóvel

Como esculturas naturais numa caverna

Catedralesca: o deus deitado inda no solo,

E a deusa, entristecida, em prantos a seus pés.

Véspera de Sta. Agnes

I

Véspera de Sta. Agnes - Ah, que frio fazia!

A coruja, apesar de suas penas, tiritava;

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A lebre manca fremia entre a relva em gelo,

Silente estava o rebanho no cercado lanoso.

Amorteciam os dedos do Rezador a dedilhar

O rosário, e seu frio alento semelhava

O piedoso insenso de um antigo insentário

Como se ao céu alçasse voo. Sem a morte,

Passando a doce imagem da Virgem ao rezar.

II

Finda a prece, este paciente homem santo,

Que traz a lanterna e de joelhos se ergue,

Pálido, magro e descalço percorre

Lentamente o corredor da capela.

As esculturas tumulares parecem gelar,

Alçadas aos negros balaústres do purgatório.

Cavaleiros e damas pregam nos mudos oratórios -

Ele passa; e seu fraco espírito vacila a pensar

Como padecem nos gélidos capuzes e armaduras.

III

Volta-se entra por uma porta ao norte,

Três passos, antes que a língua dourada da música

Leve às lágrimas este pobre velho homem;

Mas não - já tocara seu sino da morte.

Os prazeres de sua vida já contados e cantados.

Seu destino, a penitência na Véspera de Sta. Agnes.

Outro rumo tomou, e logo entre

Ásperas cinzas sentou a redimir sua alma,

Desperto `noite, em pranto pelos pecadores.

IV

Este velho Rezador ouviu o suave prelúdio;

E assim foi, pois várias portas se abriam,

E vários passavam. Então lá em cima,

Trombetas de prata rosnaram a ralhar.

As câmaras no alto, prestes em seu brio,

Brilhavam a receber mil convivas.

Os anjos talhados de olhos ávidos miravam

Atentos, sob as cornijas as cabeças

Com os cabelos para trás, as asas cruzadas no peito.

V

Por fim explodiram na farra prateada,

Com plumas, tiaras e todo precioso ornamento,

Inúmeros qual espectros como fadas assolando

A mente, jovial, imersa nos alegres triunfos

Do antigo romance. Deixe-os desvanecer,

Voltemos nosso pensamento à Donzela,

Cujo coração meditara o dia todo de inverno,

No amor, na sagrada caridade alada de Sta. Agnes,

Como muito escutara das velhas damas.

VI

Contaram-lhe como, na Véspera de Sta. Agnes,

Jovens virgens poderiam ter visões de prazer,

E ser suavemente adoradas por seus amados

No mel do meio da noite,

Se os preceitos fossem bem feitos;

Então, sem ceia deveriam ir para cama,

E deitar suas belezas alvas como lírios

Sem olhar pra trás, de lado, mas pedir ao céu

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Com olhos erguidos o que desejassem.

VII

Com tal capricho divagava a pensativa Madelena

Que suspirava qual um Deus em dor.

Não ouvia a música: seus divinos olhos virginais,

Fixos no chão, viram muitas longas grinaldas

Passar - ela não se importara: em vão

Haviam surgido cavalheiros saltitantes - e se foram;

Não se importando com seu desdém altivo,

Mas ela nem os vira. Seu coração pairava noutra parte.

Suspirava pelos sonhos de Agnes, os mais doces do ano.

VIII

Ela caminhava saltitante, de olhos gázeos,

Com lábios ansiosos, sua respiração arfava.

A hora sagrada estava prestes. Ela suspira

Entre os pandeiros, e o salão repleto,

Murmurante de raiva ou folguedo;

Aos olhares de amor, desafio, ódio e escárnio,

No encanto; tudo estava morto para ela,

A não ser Sta. Agnes e seus felpudos carneiros

E todo êxtase que eclodirá antes da manhã.

IX

Enquanto pensando partir a cada instante

Ela se detinha. Cruzando os prados,

Chega o jovem Porfírio, com o coração em fogo

Por Madelena. Ao lado dos portais,

Oculto da lua, ele clama aos santos

Que os regalem com a visão de Madelena,

Por um instante, nas horas amorfas,

A vislumbrar e adorar o que ainda não vira;

Talvez falar, ajoelhar, tocar e beijar - tudo se passou.

X

Ele se aventurou - nenhum sussuro conta;

Que os olhos velem-se, se não centenas de espadas

Atacarão seu coração, cidadela febril do Amor.

Pra ele, no salão havia hordas de bárbaros,

Inimigos qual hienas e lordes de sangue quente,

Cujos cães uivavam insultos

À sua linhagem. Nenhum peito guardava

Sinal de compaixão, na pérfida mansão,

A não ser uma anciã, fraca de corpo e alma.

XI

Ah, grande chance! A velha criatura,

Se arrastando com o cajado de cabeça de marfim,

Dele se aproxima. Oculto das flamas da tocha,

Atrás da espessa pilastra, muito além

Do som do júbilo e da suave canção,

Assustou-a: mas logo reconheceu-lhe o rosto,

Ela enlaçou-lhe os dedos na sua mão imóvel,

Clamando: “Por favor, Porfírio, sai deste lugar;

Todos estão aqui, esta noite, toda a raça sanguinária!”

XII

“Sai daqui! Eis Hildebrando o nanico,

Que há pouco teve febre e insultou

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A ti, tua família, teu lar e terra.

Aqui está o velho lorde Maurício, nada sereno

Em seus cabelos brancos - Ai de mim! Some!

Qual espectro”. - “Ah, querida mulher,

Cá estamos tão seguros; senta nesta poltrona,

Me conta como” - “Meus Santos! Não aqui, não aqui;

Segue-me, filho, se não estas pedras serão teu túmulo.”

XIII

Ele seguiu por um corredor de arcadas,

Roçando as teias com sua alta pluma,

Enquanto ela sussurrava - “Que - Que dia!”

Ele se viu numa câmara prateada pelo luar,

Lívida, entrelaçada, fria e qual túmulo silente.

“Conte-me onde está Madelena”, disse ele,

“Oh, conte-me, Angela, pelo sagrado tear

O que ninguém alheio à confraria pode ver

A lã de Sta. Agnes ao ser piedosamente tecida”.

XIV

Sta. Agnes! Ah! É véspera de Sta. Agnes -

Mas os homens matarão nos dias santos:

Deves reter água na peneira de uma bruxa,

E ser senhor dos elfos e das fadas,

Para te aventurares. Enche-me de espanto

Te ver, Porfírio! - Na véspera de Sta. Agnes!

Que Deus me ajude! Minha boa senhora conjura

Esta noite. Que bons anjos a iludam!

Deixa-me rir um instante, tenho tempo para lamentar.”

XV

Tênue ela ri ao lânguido luar,

Enquanto Porfírio mira-lhe a face,

Fitando qual perplexo garoto a anciã

Que mantém cerrado um lindo livro de enigmas,

De óculos ela senta ao lado da chaminé.

Logo, os olhos dele brilham, quando lhe revela

As intenções de sua amada; e ele não contém

As lágrimas, ao pensar nos frios encantamentos,

Em Madelena dormindo no colo das velhas lendas.

XVI

Ocorreu-lhe um pensamento qual rosa em flor,

Rubescendo sua fronte, e no dolente coração

Houve lauta festa. Então engendrou

Um estratagema, que fez recuar a anciã.

“És um homem cruel e impiedoso.

A doce dama, deixe-a rezar, dormir e sonhar

A sós com seus anjos, longe

De homens pérfidos como tu. Vai, vai! - penso

Não podes ser o mesmo que semelhavas.”

XVII

“Não farei mal a ela, juro por todos os antos”,

Disse Porfírio: “Não deixes alcançar a graça

Quando minha voz murmurar a derradeira prece,

Se tocar um só fio de seu cabelo,

Ou olhar com vulgar mirada sua face.

Cara Angela, por minhas lágrimas, creia-me;

Ou mesmo no lapso de um instante

Despertarei, com terrível grito, meus inimigos,

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Mesmo sanguinários qual lobos, os enfrentarei.”

XVIII

“Ah Por que assustas minha fraca alma?

Coisa pobre, débil e pronta ao túmulo,

Cujo sino da morte poderá tocar até a meia-noite;

Cujas preces a cada manhã e noite,

Jamais faltaram”. Resmungando, ela consegue

Abrandar a voz do exaltado Porfírio;

Tão repleto de pesar e dor profunda,

Que Angela resolve aquiescer a sua vontade

Qualquer que fosse o resultado, bom ou ruim.

XIX

E isto para conduzi-lo, secretamente,

À câmara de Madelena, e ali o esconder

Num armário, onde incólume

Espreitaria a donzela sem ter visto,

Ganhando naquela noite uma noiva ímpar,

Enquanto legiões de fadas cruzavam os lençóis,

E o tênue sortilégio a mantinha adormecida.

Jamais amantes haviam se encontrado em tal noite,

Desde que Merlin pagara a seu Demônio.

XX

“Será como quiseres”, clamou a Anciã.

“Todos os doces e quitutes estarão lá,

Nesta noite de gala. Ao lado do bastidor

Verás o próprio alaúde. Não há tempo a perder,

Pois sou lenta, fraca e dificilmente ouso

Confiar tal tarefa a minha cabeça tonta.

Aguarda, meu filho, paciente, ajoelha-te e reza

Por um momento: Ah! Deves casar-te com a donzela,

Se não jamais deixarei o túmulo entre os mortos.”

XXI

Assim falando, ela trôpega retirou-se.

Os infindos minutos do amante fluíram lentos;

Ao retornar, a velha sussurrou a seu ouvido,

Segue-me; com os velhos olhos pasmos

E temerosos de serem vistos. Eles enfim seguros,

Após cruzar sombrias galerias, alcançaram

A câmara da donzela, sedosa, silente e casta;

Onde Porfírio mui feliz, se esconde.

Sua guia trêmula retorna.

XXII

Com a mãos trêmula sobre o balaústre,

A velha Angela tateia procurando a escada,

Quando Madelena, donzela encantada de Sta. Agnes,

Alheia, ergue-se qual espírito em missão.

À luz do círio argênteo, e com piedoso esmero,

Volve-se, e para baixo é levada pela anciã

A um tapete estendido. Agora prepara-se,

Jovem Porfírio, para que a entrevejas na cama;

Ela chega, chega como furtivo pombo correio.

XXIII

Ao entrar o círio apagou-se;

A débil fumaça esvaiu-se ao tênue luar.

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Ela cerrou a porta, e arfava, em uníssono

Aos espíritos do ar, e às grandes visões.

Não pronunciava palavra, ai dela!

Mas seu coração, seu coração era volúvel,

Ferindo com sua lábia o lado emotivo;

Qual rouxinol que sem língua forçasse em vão

A garganta, e do coração morresse exausto.

XXIV

A janela esguia de três arcos,

Com guirlandas e imagens incrustadas

De frutas, flores e touças de relva,

E vitrais como diamantes ornados,

Incontáveis tintas em matizes esplêndidos,

Asas adamascadas das mariposas pintadas;

Através de mil heráldicas,

Santos crepusculares e escuros brasões,

Um escudo rubesceu ao sangue de reis e rainhas.

XXV

O luar de inverno cintilava nos vitrais,

Espargindo raios rubros ao peito de Madelena,

Enquanto de joelhos clamava a dádiva dos céus;

Botões de rosa caíam em flor às suas mãos postas,

E suave ametista incrustou-se à sua cruz,

Halou-se em seu cabelo a auréola de santa,

Semelhando anjo esplêndido, recém-vestido,

Sem asas, para o céu - Porfírio estremeceu.

Ela ajoelhou-se, coisa tão pura e imaculada.

XXVI

Reanima-se o coração. Findas as preces,

Ela despoja o cabelo da guirlanda de pérolas;

Retira uma a uma as jóias cálidas;

Pouco a pouco deslaça o perfumado corpete;

E a veste farfalhante desliza aos joelhos.

Ela, semi-oculta qual sereia nas algas,

Pensando acordada divaga, e vislumbra,

Na mente, a bela Sta. Agnes em sua cama,

Sem olhar para trás, pois quebraria o encanto.

XXVII

Logo, ela freme em seu nicho suave e gélido,

Desfalecendo e desperta, jazia perplexa,

Até que o sono cálido e opiáceo lhe oprimisse

Os membros letárgicos, e sua alma se esvaísse

Voando, qual pensamento, até o dia seguinte;

Em êxtase, alheia à dor e a alegria;

Abraçada qual missal onde o Pagão prega;

Cego ao sol e a chuva,

Como se a rosa ao botão volvesse.

XXVIII

Oculto neste paraíso, e tão encantado,

Porfírio mirava o vestido vazio,

Ouvia seu alento, como se ela por acaso

Acordasse numa ternura onírica;

Ao escutá-la, louvou aquele instante,

E suspirou. Então sorrateiro saiu,

Sem rumor, como o medo na hostil paisagem,

E pelo tapete incólume passou silente espreitando

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Pelas rendas - Ah! Quão profundo ela dormia.

XXIX

Ali, ao lado da cama, onde a lua tênue

Gázea argêntea crepusculava, pôs

Suave uma mesa e, ansioso, sobre ela estendeu

Um tecido carmesim, dourado e negro.

Ah, se tivesse um atelismã de Morfeu!

O estridente clarim da festa da meia-noite,

O tímpano e o clarinete distante,

Ferem-lhe o seu ouvido, embora com o som esmaecendo.

A porta do vestíbulo cerrou todo o ruído.

XXX

Ela ainda imersa num sono de pálpebras azuis,

Nos alvos lençóis suaves alavandados,

Quando ele do armário retira fartos punhados

De maçã cristalizada, marmelo, ameixa e cabaças;

Com doces mais tenros que o creme,

E xaropes reluzentes, tintos de canela;

Maná e tâmaras, vindos dos galeões

De Fez, e especiarias, todas elas,

Da sedosa Samarcand e do Líbano de cedro.

XXXI

Essas delícias amontoou com a mão brilhando

Em pratos dourados e cestas iridescentes

De prata entrelaçada; suntuosa se dispõe

No retiro tranquilo da noite,

Espargindo na fria sala o aroma luminoso. -

“Agora, meu amor, meu anjo seráfico, desperta!

És meu paraíso, e eu teu eremita.

Abre os olhos, por Sta. Agnes, ou adormecerei

A teu lado, de tanto que me doerá a alma.”

XXXII

Sussurrando, o braço firme e cálido

Toca seu travesseiro. O sonho dela estava

Velado pelas cortinas escuras. Magia noturna

Impossível de dissolver qual rio em gelo.

Salvas lustrosas reluzem ao luar;

Franjas douradas alomgam-se sobre os tapetes.

Como se ele jamais pudesse desenredar

De tão prolongado encanto os olhos dela;

Então pensativo, embrenhou-se em fantasias.

XXXIII

Ela acordando, ele pegou o alaúde,

Vibrante, e nas cordas mais ternas,

Tocou a balada, que há muito não se escutava,

Chamada em Provença “La belle dame sans mercy”.

Seu ouvido, tangia a suave melodia;

Quando inquieta, ela leve suspirou.

Ele parou - ela arfava - e de repente

Seus olhos azuis luzentes se abriram.

Ele ajoelhou-se, lívido qual pedra esculpida.

XXXIV

Seus olhos abriram-se, mas ela entrevia,

Já de todo desperta, a visão de seu sono.

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Fora dolorosa a transformação, que quase expelia

Os êxtases de seu sonho tão puro e profundo

No qual Madelena começou a chorar,

Gemendo palavras sem sentido entre suspiros;

Enquanto firmemente fitava Porfírio;

Ajoelhado, as mãos postas e olhar piedoso,

Temendo mover-se ou falar - ela parecia devanear.

XXXV

“Ah, Porfírio!” disse ela, “mas há pouco

Tua voz suave fremia a meu ouvido,

Qual melodia a cada doce promessa;

Esses olhos tristes eram sacros e claros.

Mudaste muito! Estás pálido, frio e soturno!

Dê-me de novo aquela voz, meu Porfírio,

Aquela face imortal, aqueles caros lamentos!

Oh, não me deixes nesta eterna desilusão,

Se morreres, meu amor, não saberei onde ir”.

XXXVI

Ergeu-se, ouvindo estas palavras de volúpia

Além de homem mortal tão apaixonado,

Rubro, etéreo, qual pulsante estrela vista

Entre a paz profunda da celestial safira;

Em sonho dissolveu-se, qual rosa

Que mescla à violeta seu sutil perfume, -

Doce união. Enquanto o vento gélido sopra

Qual alarme do amor arrojando aos vitrais

O frio granizo, se pôs a lua de Sta. Agnes.

XXXVII

Está escuro; cai veloz o granizo de borrasca.

“Não é um sonho, minha esposa, minha Madelena!

“Está escuro; deliram as bruscas e frias rajadas.

“Nenhum sonho, ai de mim! É minha desgraça!

Porfírio me deixará aqui a definhar.

Cruel! Que traidor poderia aqui trazer-te?

Não te amaldiçoo, meu coração está por ti perdido,

Embora esqueças algo iludido; -

Uma pomba abandonada de asa ferida.”

XXXVIII

“Minha Madelena! Doce sonhadora! Bela esposa!

Dize, poderia para sempre ser teu abençoado vassalo?

Teu escudo em forma de coração, tinto em rubro?

Ah, santuário prateado, aqui repousarei

Após tantas horas de batalha e busca,

Um faminto peregrino - salvo por um milagre.

Embora tenha encontrado, não levarei de teu ninho

Nada que não sejas tu; pensas que podes

Confiar, bela Madelena, em algum rude infiel?

XXXIX

“Escuta! É a tormenta dos elfos da terra encantada,

Parece terrível, mas é de fato uma dádiva,

Levanta - Levanta! Chegou a manhã; -

Os beberrões jamais perceberão.

Vamos, meu amor, com alegre impulso;

Não há ouvidos a escutar, nem olhos para ver, -

Todos afogados no hidromel e no vinho de Reno.

Acorda! Levanta! Meu amor; não tenhas medo,

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Além dos campos do sul tenho uma casa para ti.”

XL

Ela apressou-se nas palavras, cheia de temor,

Pois havia dragões dormindo a sua volta,

Vigiando, com armas em guarda -

No escuro embrenharam-se pela escada.

Em toda a mansão não se ouvia ruído humano.

Um lanterna cintilava em cada porta;

A tapeçaria, ornada com caçador, falcão e cão,

Tremulava ao lufar do vento que rajava;

E os longos tapetes se erguiam à ventania.

XLI

Deslizaram, qual fantasmas, pelo átrio;

Como fantasmas, flanaram ao portal de ferro;

Onde se recostava o porteiro, caído

Com uma enorme garrafa a seu lado.

O cão de caça ergeu-se, fremendo o corpo,

Mas a reclusa era dona de seu olhar.

Um por um, se abriram os ferrolhos;

Silenciaram-se os grilhões nas pedras gastas;

A chave girou, e o portal gemeu nos mancais.

XLII

Partiram. Sim, e há muito

Esses amantes escaparam na tormenta.

Naquela noite, o Barão sonhou desgraças,

Como seus convivas, com sombras e espectros

De bruxas, demônios e grandes vermes,

Teriam por longo tempo pesadelos. Angela, anciã,

Morreu de paralisia, com face disforme;

E o Rezador após mil ave-marias, esquecido,

Dormiu eternamente entre suas gélidas cinzas.

Sentado a Reler o Rei Lear

Ó romance de linguagem dourada, com sereno alaúde!

Bela Sereia emplumada, Rainha dos confins!

Deixa a melodia neste dia de inverno,

Cerra as velhas páginas, e te cala.

Adeus! Novamente, contenda feroz

Entre a maldição e o barro apaixonado

Devo abrasado passar; provando humilde mais uma vez

O agridoce desta fruta Shakespeariana.

Poeta maior! E vós nuvens de Albion,

Geradoras de nosso profundo e eterno tema!

Quando atravessar a antiga Floresta de carvalhos,

Não me deixeis divagar num sonho estéril,

Mas, quando no fogo me consumir,

Dai-me novas asas de Fênix para que voe a meu desejo.

Visitando a Cripta de Burns

A cidade, o cemitério e o sol poente,

As nuvens, as árvores, as curvas colinas semelham,

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Embora belas, frias - estranhas - um sonho,

Que há muito sonhei, e à ele retorno.

O breve pálido verão triunfou

Sobre o calafrio do inverno, por uma hora de esplendor;

Cálidas qual safiras, jamais cintilam as estrelas.

Tudo é fria Beleza; e nunca finda a dor.

Pois quem pode apreciar, sábio como Minos,

A Verdadeira beleza, livre do matiz mortal

Que a imaginação e o orgulho doentios

Te abateram? Burns! Com honra

Muito te venerei. Grande alma, oculta

Tua face; peco contra teus céus nativos.

Escrito na Cabana Onde Burns Nasceu

Este corpo mortal de mil dias

Abarca agora, Ó Burns, um espaço em teu quarto,

Onde sozinho sonhaste mirando os louros a brotar,

Feliz, sem pensar em teu dia derradeiro!

Meu pulso aquece com tua própria cerveja,

Minha cabeça leve brinda uma grande alma,

Meus olhos divagam sem vislumbrar,

A Imaginação se esvai ébria em seu intento;

Mas consigo bater meus pés sobre teu chão,

Mas posso abrir uma janela para entrever

O prado sobre o qual pisaste e pisaste, -

Mas posso pensar em ti até que cesse o pensamento, -

Mas posso tragar uma caneca de cerveja em teu nome, -

Oh, sorri em meio à treva, pois isto é fama!

Sobre o Gafanhoto e o Grilo

A poesia da terra jamais cessa:

Quando todos os pássaros languescem ao sol ardente,

E se escondem nas frescas árvores, uma voz corre

De cerca em cerca ao redor do prado recém-ceifado;

É o Gafanhoto - ele rege

A luxúria do verão, - nunca finda

Suas delícias; pois, quando exaurido em alegria,

Repousa sob alguma boa erva daninha.

A poesia da terra jamais cessa.

Numa solitária noite de inverno, quando a geada

Traz o silêncio, do fogareiro sibila

O canto do Grilo, sempre mais quente,

E semelha alguém perdido na sonolência,

O do Gafanhoto entre as verdejantes colinas.

Agudas, Lufadas Intermitentes

Agudas, lufadas intermitentes sibilam aqui e ali

Pelos arbustos semidesfolhados e secos;

As estrelas semelham tão frias pelo céu,

E tenho tantas milhas a trilhar.

Mas nem sinto o ar gélido e desolado,

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Nem o monótono farfalhar das folhas findas,

Nem o incandescer brilhante das lanternas de prata,

Nem a distância de minha toca acolhedora.

Pois transbordo da amizade

Que encontrei numa pequena cabana;

Do ímpeto eloquente do louro Milton,

E de todo seu amor pelo gentil Lícidas afogado;

E da bela Laura em seu verde claro vestido,

E do fiel Petrarca gloriosamente coroado.

Primeira Leitura do Homero de Chapman

Há muito vagueio pelos reinos de ouro,

Mirando impérios e estados prodigiosos;

Por várias ilhas ocidentais rondei

Criadas por bardos fiéis a Apolo.

Muito me contaram de uma terra vasta

Que o pensativo Homero regeu como seu domínio;

Não havia inspirado o alento de sua pura serenidade

Até que ouvi a lauta e vigorosa voz de Chapman.

Então senti-me como um desbravador dos céus

Que vislumbra um novo planeta;

Ou como o impávido Cortez que com olhos de águia

Entreviu o Pacífico - e todos os seus homens

Entreolharam-se num divagar selvagem -

Silentes no cimo de Darien.

Ode à Melancolia

I

Não, não vás ao Letes, nem retorças as raízes

Em feixes do acônito para forjar o vinho venenoso;

Nem deixes tua pálida fronte ser beijada

Pela beladona, uva, rubi de Prosérpina;

Não faças teu rosário com as bagas dos teixos,

Nem deixes o besouro, ou a mariposa da morte

Ser tua lúgubre Psique, nem a coruja de penas macias

Ser parceira dos mistérios da tua dor;

Sombra a sombra letárgica virá,

E afogará a angústia desperta da alma.

II

Mas quando o ataque da melancolia cair

Súbito do céu qual nuvem em pranto,

Que revigora as flores cabisbaixas,

E vela a verde colina na mortalha de Abril;

Farta então a dor na rosa da manhã,

Ou no arco-íris da onda salgada na areia,

Ou na abundância das peônias globulares;

Ou se tua amada demonstrar ira intensa,

Ata-lhe a mão suave, e a deixa delirar,

E nutra-te fundo, fundo nos teus olhos ímpares.

III

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Ela mora com a Beleza - Beleza que fenecerá;

E com a Alegria, cuja mão nos lábios sempre

Se despede; junto ao doloroso prazer,

Virando Veneno enquanto a boca-abelha sorve.

Sim, e no próprio templo do deleite

A velada melancolia tem seu santuário supremo,

Embora apenas o vislumbre aquele cuja língua audaz

Estala no céu da boca a uva da Alegria;

Sua alma provará a tristeza de teu poder,

E penderá em meio a seus nebulosos trofeus.

Ao Outono

I

Estação de névoas e frutífera suavidade,

Amiga do peito do sol maduro;

Conspiras como ele como espargir e abençoar

Com frutas as videiras nos beirais de palha;

Arqueias com maçãs os ramos musgosos,

Preenches até o fim de madurez as frutas;

Inflas as cabaças e farta as cascas das avelãs

Com doce cerne; fazes brotar mais

E mais, flores tardias às abelhas,

Até que pensem jamais findar-se-ão os dias quentes,

Pois o Verão transbordou suas meladas colméias.

II

Quem não te viu em teu armazém?

Às vezes, aquele que procurar te encontrará

Sentada tranquila no chão do celeiro,

Teu cabelo levemente erguido pelo vento joeirante,

Ou dormindo profundo num sulco ceifado ao meio,

Entorpecida no aroma das papoulas, enquanto tua foice

Poupa a fileira seguinte e suas flores enroscadas.

E várias vezes como um colhedor manténs

Firme tua cabeça pródiga ao atravessar o riacho;

Ou ao lado de uma prensa de cidra, com olhar paciente,

Contemplas as derradeiras horas viscosas.

III

Onde estão as canções da Primavera? Sim, onde estão?

Não penses nelas, tens tua música também, -

Nuvens como estrias brotam no dia que suave se esvai,

E tangem com rósea cor os restos dos campos desnudos;

Num coro-lamento pranteam os mosquitos

Entre os salgueiros do rio, no alto

Ou imersos quando a tênue brisa vive ou fenece;

E grandes carneiros berram no riacho das montanhas;

Grilos cantam; e agora com suave trinado

O papo-roxo sibila do jardim,

Andorinhas gorjeiam nos céus.

Ode a Um Rouxinol

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I

Doi-me o coração, e um torpor letárgico

Fere meu sentido, como se tomasse cicuta,

Ou ingerisse até o fim algum ópio

Instantes atrás, e ao Letes me precipitasse.

Não que inveje teu alegre destino

Mas por ser feliz com tua alegria -

Que tu, Dríade das leves asas,

Num lugar melodioso

De faias verdes, e sombras incontáveis,

Celebras a plena voz teu canto de verão.

II

Oh! Gole farto de vinho velho!

Fresco há muito no profundo coração da terra,

Com sabor da Flora e verdes prados,

Dança e canção Provençal, alegria queimada de sol!

Oh! taça plena do quente Sul

Cheia da vera e rubra Hipocrene

Com borbulhas qual contas piscando nas bordas,

Boca tinta de púrpura;

Se pudesse beber, e sumir deste mundo,

E contigo desvanecer na escura floresta.

III

Desvanecer, dissolver e deslembrar

O que tu entre as folhas jamais conheceste

O fastio, a febre, e o frêmito

Aqui, onde os homens sentam e se escutam gemer;

Onde a paralisia agita os últimos parcos cabelos brancos,

Onde os jovens empalidecem, e morrem qual espectros;

Onde apenas pensar causa a dor

E o desespero dos olhos plúmbeos,

Onde a Beleza não pode suster seus olhos brilhantes,

Nem um novo Amor definhar mais um dia.

IV

Longe, Longe! A ti voarei,

Não na carruagem de Baco e seus leopardos,

Mas nas invisíveis asas da Poesia

Embora o turvo cérebro retarde e confunda.

Já contigo! Suave é a noite,

E talvez a Rainha Lua esteja em seu trono

Cercada por suas Fadas estelares;

Mas aqui não há luz,

Senão aquela que do céu com as brisas sopra

Pelas glaucas trevas e sendas sinuosas de musgo.

V

Não vejo que flores estão a meus pés,

Nem qual suave incenso dos ramos exala,

Mas, na treva embalsamada, desvelo o aroma

Que cada mês regala

A relva, a coifa, as frutíferas árvores silvestres;

Branco pilriteiro e madresilva pastoral;

As violetas que cedo murcham veladas sob as folhas;

E a primeira filha dos meados de maio,

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A rosa de almiscar, no vinho de orvalho imersa,

Murmúrea paragem de moscas das tardes de verão.

VI

No escuro escuto; por várias vezes

Que tenho sido seduzido pela suave morte,

Lhe dando ternos nomes em versos refletidos,

Para que pegasse no ar meu sutil alento;

Nunca como agora me parece tão boa a morte,

Findar a meia-noite sem nenhuma dor,

Enquanto tu em torno desvanesces a alma

Neste êxtase!

Ainda cantarias, e de nada valeriam meus ouvidos -

A teu alto réquiem em terra transformado.

VII

Não nasceste para a morte, Ave imortal!

As gerações famintas não pisam em ti;

A voz que escuto esta noite foi ouvida

Pelo palhaço e o imperador nos tempos remotos.

Talvez a mesma melodia que encontrou lugar

No triste coração de Rute, quando, saudosa do lar,

Chorou entre o trigo estrangeiro;

A mesma que várias vezes encantou

As mágicas janelas, abertas sobre a espuma

Dos mares perigosos, nas encantadas terras perdidas.

VIII

Perdidas! Esta palavra é como um sino

Que, dobrando, me faz voltar a mim mesmo!

Adeus! A fantasia não pode tanto iludir

Como parece, ó elfo ludibriador.

Adeus! Adeus! Teu hino pungente se esvai

Além dos prados vizinhos, sobre o tranquilo riacho,

Subindo o monte; é agora profundamente enterrado

Nas clareiras do vale ao lado.

Foi esta uma visão ou sonhei desperto?

A música se foi: - Estarei dormindo ou acordado?

ODE A UM VASO GREGO

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I

Tu, noiva ainda não desvirginada da quietude,

Tu, criada pelo silêncio e o tempo lento,

Historiadora silvestre, que podes assim expressar

Um conto floral mais suave que nossa rima.

Que lenda de friso de folhas se oculta sob teu traçado

De divindades ou mortais, ou ambos,

No Tempe ou nos vales da Arcádia?

Que homens ou Deuses são eles? Que donzelas relutantes?

Que louca perseguição? Que luta para escapar?

Que flautas e pandeiros? Que êxtase selvagem?

II

As melodias são doces, mas aquelas não ouvidas

São mais doces; desta maneira, vós, suaves flautas, soai;

Não ao ouvido sensorial, mas, ternamente,

Toquem as melodias espirituais do não-som.

Belo jovem, sob as árvores, não deixarás

Tua canção, como jamais perderão as árvores suas folhas;

Amante audacioso, nunca, nunca beijarás

Embora perto de tua meta - não te aflijas;

Ela não se desvanecerá, e embora não tenhas o deleite,

Sempre amarás, e será ela sempre bela!

III

Ah! Os ramos alegres, alegres! Que não perdereis jamais

Vossas folhas, nem vos despedireis da primavera;

E, músico feliz, incansável,

A tocar melodias sempre novas;

Mais amor feliz! Mais feliz, feliz amor!

Eternamente cálido e para sempre a ser gozado,

Continuamente palpitante e sempre jovial;

Todos eles suspirando a intensa paixão humana,

Que deixa o coração aflito e saciado,

A cabeça quente, e a língua seca.

IV

Quem são aqueles indo ao sacrifício?

A que verde altar, Ó misterioso sacerdote,

Conduzes aquela bezerra berrante aos céus,

E todos seus sedosos flancos com guirlandas?

Qual cidade à beira da praia ou rio,

Ou na montanha cercada por muralhas,

Que está deserta, nesta sagrada manhã?

E, na pequena cidade, tuas ruas sempre estarão

Em silêncio, pois ninguém que poderia contar

Porque estás deserta voltará.

V

Ó estilo Ático, bela Atitude!

De homens e donzelas forjados em mármore,

Com ramos silvestres e relva pisada;

Tu, forma silente, arroja-nos ao sortilégio

Qual a eternidade: Fria Pastoral!

Quando a velhice arruinar esta geração,

Permanecerás, em meio a outro infortúnio

Que não o nosso, amigo do homem, a quem proferes,

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“A Beleza é Verdade, a Verdade Beleza” - isto é tudo

O que sabeis na terra, e tudo o que deveis saber.

Meg Merrilies

I

Velha Meg era uma cigana,

Que vivia pelos descampados.

Sua cama a relva castanha,

E sua casa os caminhos.

II

Suas maçãs as negras amoras,

Suas passas as vagens de giesta;

Seu vinho o orvalho da rosa silvestre,

Seu livro a estrela das criptas.

III

Seus irmãos os troncos dos pinheiros,

Suas irmãs as pedras das encostas;

Só com esta grande família

Ela vivia como queria.

IV

Nenhum desjejum de manhã

Sem almoço ao meio-dia

Em vez de jantar contemplava

De olhos arregalados a lua.

V

A cada manhã com trepadeiras

Engendrou suas guirlandas,

Cada noite com o teixo do vale

Tecia, e cantava.

VI

Com seus dedos velhos pardos

Trançava tapetes de junco,

E os dava aos camponeses

Que encontrava pelos arbustros.

VII

Tão valente quão a Rainha Margaret

E alta como uma Amazona.

Vestia velha capa vermelha;

E um barato chapéu.

Deus permita que seus ossos repousem -

Há muito tempo ela morreu!

A Morte

I

Pode a morte ser sono, se a vida não é mais que sonho,

E se as cenas de êxtase passam qual espectros?

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Os prazeres transitórios semelham visões,

Mas pensamentos a morte como a grande dor.

II

Como é estranho o vagar do homem na terra

Em sua vida maldita não pode desvencilhar

O rude caminho; nem ousa sozinho entrever

Seu augúrio futuro que não é senão despertar.

Ao Gato

Gato, já está em idade avançada,

Quantos camundongos e ratos em sua vida comeu?

Quantos petiscos roubou?

Olhe com estes lânguidos e brilhantes segmentos de verde,

Ergue as orelhas de veludo

Mas por favor não espetes tuas garras latentes em mim

E mia mais alto - e me conta suas contendas

Por peixes, camundongos, ratos e tenros galetos.

Não, não baixes os olhos nem lambas teus punhos delicados.

Apesar do teu arfar asmático, apesar de teu rabo cortado,

Apesar de muitas empregadas te terem batido,

Tua pele ainda é tão suave como quando duelavas

Na juventude sobre os muros entre cacos de vidro.

Feliz Aniversário, querido John! :D

MULHERES, VINHO E RAPÉ

Dê-me mulheres, vinho e rapé

Até que grite “Chega!”

Pode fazê-lo sem objeção

Até o dia da ressureição;

Abençoe minha barba pois esta é

Minha adorada Trindade.

No Mar

Ele sustém eternos murmúreos

Nas praias desoladas, e com suas soberbas cristas

Inunda vinte mil cavernas, até que o sortilégio

De Hécate as deixe com seu velho e assombroso som.

Muitas vezes se encontra tão tranqüilo,

Que até a menor das conchas permanece dias imóvel

Desde o desenlace dos ventos celestiais.

Vós, cujos olhos se enchem de tormento e tédio,

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Regojizai-os com a imensidão do mar;

Vós, cujos ouvidos estão atordoados pelo rude ruído,

Ou enfastiados pela música melosa -

Sentai-vos na boca de uma velha caverna, e meditai

Até que escuteis, como se cantassem, as ninfas do mar!

Escrito No Cimo do Ben Nevis

Leia-me a prece, Musa, e em voz alta

No cimo do Nevis, velado na névoa!

Miro os abismos, e uma mortalha

De vapor os encobre - tal qual

O conhecimento do homem sobre o inferno; ergo os olhos

E vejo a soturna neblina - tal qual,

Tão vago quanto o conhecimento do homem sobre si mesmo!

Aqui estão as pedras ásperas sob meus pés -

E tudo o que sei, eu, um pobre e tolo elfo,

É que piso sobre elas - tudo o que meus olhos veem

É neblina e rochas, não apenas nestas alturas,

Mas no mundo do pensamento e poder mental!

Repousando sobre os belos seios do meu amor

Sentir para sempre seu suave enrijecer

E abrandar para sempre acordado em um doce despertar

Imóvel, imóvel para ouvir o seu delicado respirar

Brilho da minha paixão,

Fosse eu imóvel como tu, astro fulgente

Não suspenso da noite com uma luz deserta.

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