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Para escrever bem é preciso reler e lapidar 02 Andanças Literárias Saúde Economia 15 JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVALI Itajaí, agosto de 2012 Edição 115 Distribuição Gratuita Ombudsman Cobaia Jornal 10 Encontro do Proler traz Mario Prata Escritor e jornalista diverte plateia e critica o sistema de vestibulares brasileiro Aline Amaral Raquel Cruz Um novo rémedio para artrite é desenvolvido pela Univali com a nogueira-da-índia 05 Fitoterapia no tratamento da dor Baixa safra de tainha preocupa Pouca quantidade do pescado nas redes frustra comunidades do litoral de Santa Catarilna Christiane Meder Renata Chiarella Cosplay: uma nova mania? Criaturas mágicas, coloridas e poderosas viram personagens reais em jovens apaixonados por animês 03 ESPECIAL

Jornal Cobaia 115

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Jornal Cobaia - jornal laboratório do Curso de Jornalismo da Univali, edição nº 115, mês de Agosto.

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Page 1: Jornal Cobaia 115

Para escrever bem é preciso reler e lapidar 02

Andanças LiteráriasSaúde Economia

15

JORNAL LABORATÓRIO DOCURSO DE JORNALISMODA UNIVALIItajaí, agosto de 2012Edição 115Distribuição Gratuita

Ombudsman

CobaiaJorn

al

10

Encontro do Proler traz Mario PrataEscritor e jornalista diverte plateia e critica o sistema de vestibulares brasileiro

Aline AmaralRaquel Cruz

Um novo rémedio para artrite é desenvolvido pela Univali com a nogueira-da-índia

05

Fitoterapia no tratamento da dor Baixa safra de tainha preocupaPouca quantidade do pescado nas redes frustra comunidades do litoral de Santa Catarilna

Christiane Meder

Renata Chiarella

Cosplay: uma nova mania?

Criaturas mágicas, coloridas e poderosas viram personagens reais em jovens apaixonados por animês

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ESPEC IAL

Page 2: Jornal Cobaia 115

adolescentes e adultos, de di-ferentes idades, aficionados por desenhos animados, se divertem enquanto se vestem e agem de acordo com perso-nagens mágicos e poderosos. Aliás, tem outros encontros marcados aqui no estado. Bas-ta verificar na página 3 o ma-terial sobre cosplay, manchete desta edição.

Outra novidade deste Cobaia diz respeito à planta nogueira-da-índia, que vai vi-rar medicamento, pelas mãos de pesquisadores da Univali, para o tratamento alternativo de artrite. Imagine a importân-cia desta descoberta científica para as pessoas que sofrem dessa doença... Portanto, caro leitor, dá uma espiada nessa e em outras reportagens e opi-niões de agosto. E, se puder, produz também alguma para a próxima edição, que já está a caminho. Boa Leitura!

Vera Sommer*

Osegundo semestre co-meça com uma série de atividades interessantes

para acadêmicos e professores da Univali. Em destaque, a presença do escritor e jornalista Mário Pra-ta, que prestigiou o 1º Encontro Proler, em Itajaí. Alunos de jorna-lismo, a maioria do sexto período, realizaram uma cobertura espe-cial e fizeram uma série de maté-rias a respeito da palestra sobre leitura sob a tutela da jornalista e professora Janete Jane Cardoso da Silveira.

Nas centrais coloridas do jor-nal, uma reportagem especial so-bre a maratona K2, realizada na bela Bombinhas. O cenário não podia ser mais inspirador para os atletas que vieram testar, em solo catarinense, os 42 quilômetros de trilha com muita aventura, emoção e superação. Acompanhe também depoimentos dos partici-pantes que, ao todo, chegaram a 900 atletas, de várias idades.

E o novo filme sobre Batman? De acordo com nosso colunista

Bonito é fazer sentido e ser adequado ao contexto

Jane Cardozo da Silveira*

IN - Agência Integrada de ComunicaçãoItajaí, agosto de 2012. Distribuição gratuita

EDIÇÃOVera Sommer Reg. Prof. 5054 MTb/RS

FOTO PRINCIPAL DE CAPA Renata ChiarellaPROJETO GRÁFICO Raquel da CruzDIAGRAMAÇÃO Gabriela Florêncio GRÁFICA GrafinorteTIRAGEM 2 mil exemplaresDISTRIBUIÇÃO Nacional

02 JORNAL COBAIA Itajaí, agosto de 2012

de cinema, o homem-morcego de Christian Bale convence, assim como a mulher-gato interpretada por Anne Hathaway. Vale conferir os argumentos para você, leitor, também se posicionar quanto a mais uma produção bilionária da indústria cinematográfica. Maté-ria da contracapa, e em cores.

Confira ainda a matéria pro-duzida por um publicitário sobre mais um evento de animes em Sampa. Ele conta como jovens,

Nesta edição, em que me afasto da seção Ombudsman para assumir a responsabilidade pela edição do Cobaia enquanto a profª Vera Sommer faz seu doutorado, gostaria de fazer uma re-flexão não exatamente sobre o número anterior do jornal, mas em torno dos problemas estruturais que se verificam nos textos – quaisquer textos - de maneira cada vez mais frequente.

Não me refiro a deslizes ortográficos isolados - troca de s por z, x por ch e afins. Embora essas incorreções devam ser consideradas quando empregamos o nível culto na língua es-crita, preocupa-me algo que está além. Trata-se da dificuldade de transpor para o papel (ou para a tela) a ideia que se quer transmitir.

Surgem aí textos a que costumo chamar de “truncados”, di-fíceis de compreender. Os motivos são os mais diversos: ordem dos termos trocada, preposição imprópria, conjunção inade-quada, crase sobrando. Seja o que for, deve-se em geral à fal-ta de leitura e a tentativas de rebuscar a linguagem – o tal do escrever bonito -, quando o que interessa é comunicar-se bem.

Como ensina o gramático Evanildo Bechara, “A língua é um complexo que abarca todas as regiões, não só geográficas, mas sociais e culturais, então o que se deve fazer não é enfatizar essa ou aquela maneira de dizer ou de escrever, mas sim que a língua põe à disposição uma série de expressões que se pode escolher e usar adequadamente”.

A palavra-chave nessa afirmação é “adequadamente”. O texto deve ser adequado ao público, ao ambiente, ao contex-to. Ou seja, ele precisa fazer sentido, ser compreendido. En-tão, para ser adequado, tem de ser claro, de fácil entendimento. Em dúvida quanto à redação, use ordem direta, empregue ter-mos que façam parte do seu vocabulário, seja você mesmo. E leia. Leia muito. De acordo com o Instituto Nacional do Livro, considerando-se somente os títulos não indicados pela escola, cada brasileiro lê em média somente 1,3 livros por ano. Ajude o Brasil a melhorar esse índice e observe como escrever vai ficar mais fácil.

Um abraço!

*Jane Cardozo da Silveira é jornalista. Formada há 28 anos,está no Curso de Jornalismo da Univali desde 1994.

*Editora - Reg. Prof. 5054 MTb/RS

Ombudsman

Expediente

Espaço do Leitor

JORNAL LABORATÓRIO DO CURSODE JORNALISMO DA UNIVALI

Fica esperto!8º Festival Cultural da Univali Exposição no Hall da Biblioteca

15 anos do curso de Relações Públicas

Entre os dias 17 e 21 de setembro acontece o 8º Festival Cultural da Univali - Campus Itajaí. O evento reúne todos os tipos de manifestações cul-turais promovidas pela comunidade acadêmica. Além de desenvolver o lado artístico, ainda desen-volve o intercâmbio e a livre expressão cultural entre artistas amadores e profissionais.

Junto ao Festival, acontece o 3º Concurso de Talentos Musicais, com premiações em dinheiro para os três primeiros colocados. E o 2º FENUDI (Festival Nacional Universitário de Dança de Ita-jaí) que promove o aprofundamento técnico entre bailarinos universitários de todo Brasil.

O diferencial desse ano é o apoio do Ministério da Cultura que através da Lei Rouanet, que incen-tiva eventos de relevância sociocultural. O evento celebra os 48 anos da Univali. As atividades acon-tecem gratuitamente no Teatro Adelaide Konder e em palcos alternativos espalhados pelo campi.

Segue aberta a exposição “Olhares Múltiplos”, no Hall da Biblioteca Central da Univali - Campus Itajaí. A mostra é um compilado de obras de artis-tas catarinenses. Celebra a pintura revelando as expressões em imagens, novas experimentações e revisitações da tradição.

A artista Susete Zukoski e seus convidados utilizam a arte para diversificar o olhar sobre as manifestação culturais. Esta mostra traz uma oportunidade de o público formar novas opiniões e impressões sobre a arte catarinense.

A exposição permanece aberta à visitação até o dia 28 de setembro.

O curso de Relações Públicas da Univali co-memora 15 anos nesse segundo semestre de 2012. Desde 1997, o curso forma profissionais habilita-dos e capacitados para cuidarem da reputação das organizações e exercer uma comunicação e re-lacionamento estratégico com os públicos ligados à elas. Fique ligado na programação da comemo-ração que se estenderá durante todo o semestre.

Tem algum assunto que você gostariade ler nas próximas edições?Conte-nos! E-mail: [email protected]

Editorial

Em destaque, a

presença do escitor

Mário Prata, que

prestigiou o 1º

Encontro Proler Itajaí

Arquivo Setor de Arte e Cultura

Leitura em debate especial no Cobaia

Page 3: Jornal Cobaia 115

03JORNAL COBAIAItajaí, agosto de 2012

Entretenimento

Ricardo de Oliveira*

Tulipa Ruiz, que já teve o título de melhor CD nacional, dado pela Folha de São Paulo no ano de 2010, com seu álbum de estreia Êfemera, pode facilmente repetir esse

título com seu lançamento de 2012, intitulado Tudo Tanto. O CD vem com um total de 11 faixas, produzidas pelo irmão

e guitarrista Gustavo Ruiz, e conta também com parcerias que merecem destaque. Na faixa “Dois Cafés”, Lulu Santos parti-cipa como guitarrista e com seu vocal inconfundível, além de assinar a composição da bela música junto com a cantora. Em “Víbora”, Tulipa canta sobre o homem que engana em um re-lacionamento. Tem, além da participação de seu pai e também guitarrista Luiz Chagas, a colaboração do rapper Criolo, na le-tra, nas risadas e nas respirações presentes na música.

Quem espera por algo idêntico ao primeiro disco, está to-talmente enganado. Enquanto no primeiro cd, vemos algo mais doce, mais “pop florestal”, como ela mesmo se denomina. No seu atual disco, Tulipa está brincando de fazer música e pas-seando pelas mais diversas sonoridades presentes na nossa música brasileira. Na primeira faixa chamada “é”, Tulipa dan-ça com a sua voz, fazendo algo mais despojado, lembrando as grandes cantoras de Jazz de antigamente. A música deu tam-bém origem ao ótimo clipe de divulgação do CD.

As comparações com a cantora Gal Costa ficam mais evi-dentes, já que as duas se utilizam de agudos fenomenais, e, ao mesmo tempo, de uma leveza ímpar para interpretar as suas canções. Essa comparação entre Ruiz e Gal começou a ser feita em 2010, quando a primeira fez participação no cd do cantor Dan Nakagawa, na faixa “O sol do meio-dia”.

A artista se solta um pouco da voz cansada e arrastada de grande parte dos cantores da nova geração da MPB. Os críti-cos de música, até o lançamento de Efêmera, davam a Música Popular Brasileira como refém do sertanejo universitário, de Luan Santana e Michel Teló, que já estouravam com as suas músicas fracas. Claro que a nova MPB tem vários artistas dig-nos de aplauso, como Móveis Coloniais, de Acajú, que mistura o rock, a bossa e o reggae em uma coisa só, fazendo uma sono-ridade incrível, além de Tiê, a menina doce do pop/MPB que, junto com Tulipa Ruiz, são as novas namoradinhas do Brasil.

Sobre disponibilizar os álbuns para download, Tulipa se diz extremamente a favor, pois, quando ela não colocava seus CDs para download, as pessoas baixavam de forma ilegal e esse ar-quivo vinha em baixa qualidade. Então bem melhor dar algo para as pessoas com boa qualidade.

Então, essa é Tulipa Ruiz, doce, mas, ao mesmo tempo, moleca. Aguardem e leiam o que eu digo, já é, e com certeza, será difícil de tirar o título de melhor CD nacional do ano desta artista.

*Jornalismo, 4º período

Música

“As comparações com a cantora Gal Costa ficam mais evidentes, já que as duas se utilizam de agudos fenomenais, e ao mesmo

tempo tem uma leveza ímpar

Tulipa Ruiz: um novo destaque nacional

Você escreve e quer participar deste espaço?Entre em contato com a gente!E-mail: [email protected]

*Publicidade e Prop., 4º período

O mundo mágico e colorido dos Cosplay

Você com certeza já deve ter ouvido falar de Poké-mon, Digimon, Dragon

Ball e Naruto. Estas séries, que são de grande sucesso no mundo, são exemplos de anime e mangá. A palavra “anime” vem do termo em inglês “animation” (anima-ção), que no Japão é utilizada para designar qualquer tipo de desenho animado. No ocidente, o termo refere-se a trabalhos de animação vindos da terra do sol nascente. Mangá é o tipo de his-tórias em quadrinhos em estilo japonês, o qual origina muitas sé-ries de anime.

E de cosplay, você já ouvir fa-lar? O termo provém da expres-são costume play (que significa “atuar com fantasias” numa tra-dução livre), que como o próprio nome diz é o hobby de quem se veste como seus personagens fa-voritos. Maurício Somenzari, bi-campeão mundial do cosplay diz que a primeira vez que viu as pes-soas fantasiadas de personagens achou que tinham sido contrata-dos para uma divulgação. Quan-do descobriu que as pessoas usa-vam aquilo como passatempo, foi amor à primeira vista.

O evento Anime Friends, nes-te ano em sua décima edição, trata exatamente disso. Fãs de anime, mangá, cosplay, jogos eletrônicos, quadrinhos e outras “nerdices” são o público alvo da convenção, que traz diversas atrações a respeito. Em minha terceira visita ao evento, pude conferir de perto muitas delas (afinal, o ambiente é enorme!). Logo ao entrar, é possível avistar inúmeros cosplayers (o nome que se dá a quem faz cosplay) vesti-dos de personagens dos mais diferentes filmes, séries, jogos e mangás. Provavelmente você

Personagens de desenhos animados ganham vida em eventos como o Anime Friends, em sua 10ª edição em São Paulo

Paulo Henrique Testoni*

acharia um de seus personagens favoritos por lá! Eram super-he-róis, criaturas mágicas, lutadores com poderes, todo tipo de inter-pretação. O evento contou com diversos estandes de produtos do gênero, salas temáticas, apresen-tações e muito mais.

Nos eventos do segmento, os cosplayers competem em pro-vas que avaliam a fidelidade das roupas e da atuação em apre-sentações. Isso mesmo, além de se vestirem, os fãs de cosplay interpretam seus personagens. O World Cosplay Summit é um evento anual sediado todos os anos no Japão que avalia os me-lhores cosplayers. Há eliminató-rias em todo o mundo para parti-ciparem uma dupla de cada país, inclusive o Brasil, que já ganhou a competição três vezes.

Para Mauricio, nosso cam-peão mundial, o evento abriu várias portas. - Fui convidado para eventos pelo país todo, além de conhecer países como Méxi-co, França, Alemanha e o Reino Unido. Eu jamais esperava que o cosplay pudesse me trazer tudo isso! Fico orgulhoso de poder ter contribuído para a difusão do ho-bby, e imensamente feliz de ter feito tantos amigos em tantos lu-gares diferentes! Ele até incitou a irmã a participar. Convenções como Anime Friends acontecem diversas vezes por ano em todo o Brasil, inclusive em Santa Catari-na. Dentre os eventos mais con-solidados do estado, encontra--se o AniVenture, que acontece anualmente em Itajaí, no mês de outubro.

Os cosplayers competem e se divertem em várias provas

A presença massiva de jovens na 10ª edição do Anime Friends em SP

Renata Chiarella

Renata Chiarella

Santa Catarina já está no ca-lendário dos eventos de Cos-play, que tal conhecer esse hobby? - Anime Gakuen – 13 e 14 de Outubro (Florianópolis)- AniQuest – 21 de Outubro (Itajaí)- HQ Con – 27 de Outubro (Florianópolis)- Hanamachi – 17 de Novembro(Joinville)- Wasabi Show – data a definir (Florianópolis)

Agende-se

Page 4: Jornal Cobaia 115

No Brasil, o sedentarismo é um problema que vem assumindo grande importância. As pesquisas mostram que a população atual gasta bem menos calorias por dia, do que gastava há 100 anos. Isso explica porque o sedentarismo afetaria aproximadamente 70% da população brasilei-ra, mais do que a obesidade, a hipertensão, o tabagismo, o diabetes e o colesterol alto. O estilo de vida atual pode ser responsabiliza-do por 54% do risco de morte por infarto e por 50% do risco de morte por derrame cerebral, as principais causas de morte em nosso país. Assim, vemos como a atividade física é assunto de saúde pública. “O indivíduo que é sedentário, pode ter sequelas com uma maior frequência pela falta de prepa-ro físico com execução da atividade. No futebol as lesões acontecem mais no joelho e tornozelo”, afirma Dr. Altair.

04 JORNAL COBAIA Itajaí, agosto de 2012

Em busca de qualidade física e técnica

Velocidade, força, explo-são e resistência são al-gumas das qualidades

exigidas pelo futebol. Caracterís-ticas como estas estão cada vez mais vistas no esporte mais po-pular do mundo. Olheiros, agen-tes, empresários e treinadores procuram por atletas com bioti-pos preparados para enfrentar uma maratona intensa de jogos e treinos.

Quanta criança brasileira já sonhou em ser jogador de fute-bol? Carlos Henrique Fonseca, 19, atacante do Esporte Clube Biguaçu e Ruan Carlos, 24, late-ral esquerdo do Garantinguetá Futebol Clube, realizaram este sonho. Ambos vivem uma rotina que exige o máximo do corpo hu-mano, e reconhecem que o bom preparo físico é fundamental na prática do esporte.

“Essencial. Não adianta ter muita qualidade técnica e não ter um bom preparo físico, pois não vai render. O futebol hoje em dia exige muita força física”, co-menta Carlos Henrique. Os times que são melhores preparados fisicamente levam uma enorme vantagem, ressalta o atacante do Biguaçu. Ruan afirma que atual-mente o futebol está dividido em 70% na parte física e os outros 30% estão entre técnica, qualida-de e vontade.

Não basta ter um bom rendi-mento físico, atualmente atletas estão cada vez mais dependen-tes de profissionais que possam orientá-los na preparação fisio-lógica. O preparador físico do Camboriú Futebol Clube, Lor-ran Gasparoni, 26, explica que a pré-temporada dos clubes é o momento que exige a maior atenção dos profissionais que acompanham os jogadores. “Eles chegam de férias e fora do seu melhor condicionamento. Nosso trabalho é realizar um processo de adaptação para que o desgas-te seja o menor possível. Depois que está adaptado, começamos

Diogo Serrão e Rafael N. Nunes de Medeiros*

O atleta profissional e amador luta por aperfeiçoamento e rendimento do corpo sem risco de lesões

Esporte

a colocar uma carga maior”, diz Lorran.

Um fator contrário ao trei-namento de alto rendimento é a intensidade de exigência física, ou seja, quando o jogador realiza esforço demasiado, podendo ser seis vezes por semana, oito horas por dia de trabalho intenso, sem o alongamento adequado e quan-do não é dado o devido tempo de descanso para o alívio da muscu-latura. Segundo o Fisioterapeuta e Mestre em Ciências do Movi-mento Humano – UDESC, Dr. Al-tair Pereira Júnior, a maioria das lesões são causadas pela síndro-me de excesso de treinamentos, chamadas de overtraining. Alerta ainda que o atleta de ponta preci-sa respeitar o limite do seu corpo, para que não entre nesse quadro.

“Muitos fatores podem con-tribuir para um bom desenvol-vimento, como por exemplo, um acompanhamento nutricional, tendo uma boa alimentação e um período de descanso após as atividades físicas”, ressalta o Dr. Altair. Carlos Henrique conta que alonga pelo menos 10 minutos, antes, durante e depois de cada atividade realizada, evitando do-res e o acumulo de cansaço no dia seguinte. “Além de alongar, faço também o tratamento com gelo e anti-inflamatório, princi-palmente gelo, pelo menos 20 mi-nutos no local da dor”, diz.

Carlos e Ruan realizaram o sonho de se tornarem jogado-res profissionais de futebol, mas existem os apaixonados pela bola que não alcançaram o mes-mo feito e mesmo assim nunca deixaram de praticar o esporte, que são os famosos “peladeiros”. Segundo especialistas, algumas atividades dependem de habili-dades específicas, Para conseguir realizar exercícios mais exigen-tes, a pessoa deve seguir um pro-grama de condicionamento gra-dual, começando com atividades mais leves.

O Dr. Altair explica que, como

a maioria dos peladeiros prática esporte semanalmente, o orga-nismo deles não está acostuma-do com uma carga intensa de avaliações físicas e, sendo assim, corre um risco maior de sofrer le-sões. O atleta de final de semana, Leandro Mello, 25, é apaixonado por futebol e as peladas com os amigos estão sempre presentes. Leandro não tem um biotipo de um jogador profissional, e já so-freu duas lesões no joelho com a carga de avaliações em que o futebol exige. “Eu amo futebol. Sei que não tenho o mesmo ren-dimento de um atleta, mas sem-pre exijo o máximo do meu cor-po, e depois de cada jogo eu saio de campo todo dolorido”, afirma Leandro.

As lesões no joelho não são problemas só dos peladeiros. Profissionais também sofrem. Pesquisado-res da Universida-de Federal de São Paulo analisaram 20 ex-jogadores que tiveram o jo-elho mapeado em exames de imagem. Os atletas analisados têm entre 34 e 53 anos e atuaram ao menos 17 anos como profissionais. O resultado foi que 55% se aposentaram com dores no joelho, 50% já fizeram cirurgia e 70% tomaram infiltra-ção nessa região.

Fatores fundamentais como acompanhamento pro-fissional, descanso, respeito com o próprio corpo e boa alimentação ajudam o atleta, tanto profissional, quanto peladeiro, a ficar bem condicionado, sen-do capaz de manter um bom desempenho, uma boa performance para execução nos treinos e consequentemente, bons resultados nas competições.

Um Brasil sedentário

Banco de imagens

*Jornalismo, 4º período

Page 5: Jornal Cobaia 115

05JORNAL COBAIAItajaí, agosto de 2012

SaúdeFitoterapia: uma solução para a dor

Os dedos retorcidos, uns por cima dos outros, impedem-na de usar sa-

patos há 20 anos. A blumenauen-se, Eunice Imme passou por vá-rios médicos até que, aos 40 anos, recebeu o diagnóstico de artrite. Diz se lembrar das primeiras do-res causadas pelas inflamações: “eram fortes e localizadas, as mãos ficaram inchadas, não sa-bia o que era”. Ela é a terceira ge-ração de mulheres a desenvolver a doença na família.

Hoje, com 69 anos, além de artrite, tem artrose, osteoporo-se e três vértebras achatadas. O acúmulo de problemas fez com que deixasse de trabalhar. Pas-sa a maior parte do tempo dei-tada na cama, senta-se apenas para comer. “Caminhar é o que eu mais sofro, não tenho forças”, conta.

De acordo com o Ministério da Saúde, as doenças reumáti-

Medicamento desenvolvido a partir da nogueira-da-índia pode ser alternativano tratamento da artrite

Henrique Flores e Raquel da Cruz*

*Jornalismo, 4º período

Raquel da Cruz

Acervo da Família Imme

As mãos, que bordavam durante a juventude, hoje têm dificuldade para segurar pequenos objetos e fazer força em atividades rotineiras

Nogueira-da-índia, matéria-prima do remédio fitoterápico produzido por pesquisadores da Univalicas afetam cerca de 12 milhões de brasileiros. E só a artrite, uma das mais comuns, ocasionou a in-ternação de quase 34 mil pessoas no país, entre 2010 e 2011. Já a os-teoartrite, combinação de artrite e osteoporose, como é o caso de Eunice, atinge, mundialmente, 70% das mulheres com mais de 65 anos, conforme a Organização Mundial da Saúde.

Um estudo pioneiro no país, feito pelo laboratório de Far-mácia da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), em parceria com uma empresa de São Pau-lo, resultou na criação de um medicamento fitoterápico para o tratamento da doença. Isto é, um produto feito a partir de uma planta que pretende diminuir o efeito dos sintomas. A matéria--prima foi extraída da Aleurites moluccana, conhecida popular-mente como nogueira-da-índia, nogueira-brasileira, nogueira-

-de-iguape e nogueira-de-ban-cul.

A bioquímica e uma das pes-quisadoras do projeto, Tânia Bresolin, conta que o medica-mento tem três funções, é um antiinflamatório, ameniza a dor e auxilia no tratamento da ar-trite. Ela explica que a principal vantagem, com relação aos com-primidos já existentes no merca-do, é que quase não tem efeitos colaterais. “Os antiinflamatórios, principalmente os não esterioi-dais, – que são a Aspirina e o Pa-racetamol – provocam complica-ções gastrointestinais”. Por isso, assim como Eunice, quem sofre de artrite crônica e precisa tomar remédio todos os dias tem mais facilidade de desenvolver esse tipo de problema.

O medicamento, feito à base da nogueira-da-índia não apre-sentou efeitos prejudiciais nos testes feitos em animais. Em hu-manos, esse vai ser um dos indi-cadores analisados na última fase dos testes clínicos.

Da “índia” ao comprimidoA primeira pesquisa feita na

universidade, com a nogueira-da--índia, começou de uma curiosi-dade acadêmica. A professora Tânia conta que isso aconteceu há 15 anos, na implantação do curso de Farmácia. À medida que os resultados eram obtidos, teve a possibilidade de parceria com uma empresa paulista e as expe-

riências começaram.Nos testes com animais, para

atender a exigência da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) de se fazer a experiên-cia com duas espécies, eles utili-zaram ratos e um raça de porcos conhecida como “mini pigs”. Nes-sa fase, foi feito um comparativo entre três grupos. O grupo A usa-va medicamentos já consagrados no mercado, o grupo B, o remé-dio à base da nogueira-da-índia e o grupo C era de animais sadios. Nesses três nichos, foi compara-da a função analgésica das duas substâncias e, se houve disfun-ções em relação ao grupo C. O resultado, segundo a professora, foi que o grupo B, que utilizou o produto testado reagiu melhor do que o grupo A em muitos ca-sos. “Ele foi bastante eficaz, mais até que os remédios existentes no mercado”.

A partir daí, uma empresa far-macêutica paulista, iniciou os es-tudos clínicos em seres humanos. Para essa observação, dividiu os estudos em três fases. A primei-ra, já realizada, exigiu um hospi-tal para o acompanhamento das pessoas, do que elas se alimenta-vam e como reagiam.

Ainda não iniciada, a segunda fase consiste em tratar um grupo de 100 pacientes que extraíram o dente do siso. O antiinflamatório é aplicado em doses desiguais entre elas, para se observar qual a quantidade ideal a ser usada

e quais são os efeitos obtidos. A empresa responsável pelos testes aguarda a liberação da Anvisa para dar continuidade à pesqui-sa, que deve sair nos próximos quatro meses.

A terceira fase será feita com um número maior de pacientes, para confirmar a eficiência do produto. A previsão é de que até 2014, no máximo, todos os testes já tenham sido feitos. A partir daí, a Anvisa deve aprovar os re-sultados, o medicamento ganha um registro e poderá ser comer-cializado.

A única plantação de noguei-ra-da-índia existente em Santa Catarina é também a fonte de co-leta dos pesquisadores da Univa-li. Situada em Tijucas, a fazenda tem mais de quatro mil pés. En-tretanto, a pesquisadora alerta que os laboratórios irão precisar de mais matéria-prima, e a ofer-ta será baixa, caso a comerciali-zação seja aprovada. “A planta precisa de, no mínimo, dois anos para produzir todas as substân-cias necessárias”. O medicamen-to está sendo desenvolvido tam-bém nas formas de xarope, creme e spray. A professora Ruth Lucin-da, uma das responsáveis pelo projeto, explica que essas varia-ções foram pensadas ao entender que idosos e crianças podem ter dificuldade para a ingestão de comprimido.

Roney Rodrigues

Processo de produção

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06 JORNAL COBAIA Itajaí, agosto de 2012

Blumenews

A falta de saneamento nas cidades do Vale do Itajaí causa severos impactos ambientais

Lucas Rozentalski do Paraizo e Stefânia Enderle*

A água vem da estação de tratamento, passa pelo reservatório e é utiliza-

da na sua casa; assim ela se torna o que chamamos de esgoto sani-tário. Ao sair da sua residência, ela é coletada em redes de esgoto adequadas, que não interferem nas redes de captação da água da chuva. Passa por processos de “gradeamento”, sedimentação, decantação e outras fases do tra-tamento de esgoto, para então ser redirecionada ao rio de onde veio em uma condição aceitável, sem poluição. Um ótimo cenário onde a água é reutilizada e não leva consigo milhares de resídu-os que geram impacto ao meio--ambiente. Mas não é assim que acontece em mais de 90% dos municípios catarinenses, onde somente 11,8% da população é atendida com coleta de esgoto. Um estado que é o sexto em ge-ração de riqueza no Brasil, porém é o 20º quando o assunto é sane-amento.

A lei federal 12.305 estabele-ceu em 2010 que todos os mu-nicípios deveriam apresentar um plano de saneamento, mas na prática são poucas as cida-des que realmente passaram a investir no tratamento de esgo-to. No Vale do Itajaí a situação não é diferente. Em Blumenau, cidade que é responsável por 25% da poluição da Bacia do Rio Itajaí-Açú, e que no início de 2012 possuía apenas 5% de todo seu esgoto tratado, o plano de saneamento existe desde 2009, mas foi em 2010 – que ao contra-tar a empresa Foz do Brasil -, as obras de maior impacto inicia-ram. Nestes dois anos, a cidade passou de 4% para 7% de esgoto tratado, mas a empresa respon-sável pelas obras espera que até o fim de 2012 este número che-gue a 40%.

São cerca de 40 milhões de litros de esgoto jogados todos os dias diretamente nos rios e ribei-rões da cidade, e que pelo cur-so do rio não afetam somente o município de Blumenau, mas to-dos os seguintes por onde o Rio Itajaí-Açu passa, como Gaspar, Ilhota, Indaial, Itajaí e Navegan-tes. O professor, ecólogo e am-bientalista Lauro Eduardo Bac-ca, conta que as obras de esgoto são realmente uma boa notícia, “Finalmente nossas cidades es-tão começando a enfrentá-lo; an-tes tarde do que nunca!”, afirma.

Para Lauro Bacca, o desafio ainda é enorme, pois há muito a ser feito para que os investimen-tos resultem numa real otimiza-ção do tratamento, “Há que se investir pesadamente em edu-cação ambiental nessa área. Re-colhimento de óleo de cozinha

Da casa para o rio, sem pensar na naturezaMeio ambiente

em separado, o que pode ou não ser jogado em pias e privadas, etc.”. O ecólogo conta que exis-tem diversos hábitos diários das pessoas que podem influenciar a qualidade do tratamento, in-dependente dos investimentos. “Vi certa vez no banheiro de uma rodoviária o responsável pela limpeza despejar praticamente os dois litros inteiros do desinfe-tante pastoso e azulado na calha do mictório! E depois observei situações semelhantes em ou-tros lugares. Quantas donas de casa não fazem algo parecido, com o objetivo de garantir a me-lhor limpeza?”.

Os danos ambientais e suas consequências podem ser perce-bidos não só por especialistas, mas também pela população que convive diariamente com o rio. Para os atletas de remo do Clube Náutico de Blumenau – sediado às margens do rio Itajaí-Açú - as ações humanas podem se tornar mortais para a flora e a fauna. Henrique Passold, 1º secretário do Clube Náutico e praticante de remo, conta que os atletas nunca tiveram graves prejuízos devido à poluição que atinge o rio, mas que aguardam as me-lhorias ambientais que as obras de saneamento proporcionarão. “Acreditamos que se houver um tratamento de esgoto ∂ eficien-te, como o ente público está se propondo a fazer, teremos uma consequente melhora na qualida-de da água desde a sua coloração até o desaparecimento do mau cheiro, que certamente resultará em benefícios para a nossa saú-de”, comentou Henrique. Segun-do ele, até o momento os atletas do remo não perceberam altera-ções na qualidade da água do Rio Itajaí-Açú.

Na cidade de Itajaí, a situa-ção é tão precária quanto a Blu-menau. Nesta parte do rio, toda sujeira das cidades que são mar-geadas pelo mesmo, já está na água. Limitar a entrada do es-goto é uma alternativa para aju-dar na melhora da qualidade da água, porém não pode se consi-derar que esta é a única forma de poluição existente. A cidade de Itajaí descarta indevidamente no rio Itajaí-Açú produtos indus-triais e pescados, além de todo esgoto não tratado. Morador do bairro da Murta, em Itajaí, Pau-lo Henrique Teixeira reclama do cheiro que vem do rio e comenta que “mesmo construindo a casa mais alta para não alagar com tanta frequência, quando entra água, é uma situação bem com-plicada. Não só pelos móveis que a gente perde, mas também pela água suja do rio”. Para o ecólogo Lauro Bacca, é preciso “investir

pesadamente” contra a poluição física: “De que adianta um rio de águas recuperadas e limpas, se ele foi todo retificado, margens cimentadas e etc, assim elimi-nando todos os habitats da vida fluvial?”, completa.

De acordo com o professor responsável pelo Programa de Monitoramento Ambiental da Área de Abrangência do Porto de Itajaí, Jurandir Pereira Filho, as estimativas de melhora só po-derão ser apresentadas quando a estação de tratamento de esgoto de Blumenau estiver em funcio-namento. “Claro que não depen-de só de Blumenau. Precisamos da colaboração de todas as cida-des por onde o rio Itajaí-Açú pas-sa”, complementa.

O professor Jurandir Pereira

ainda garante que – ao menos em Itajaí e Navegantes - “não existe nenhum dano ambien-tal que não possa ser resolvido. Talvez não completamente, mas podemos reverter grande par-te”. Porém são processos lentos e que são influenciados negati-vamente por diversos fatores, como o desmatamento da mata ciliar, e o excesso de material de erosão, que ao invadirem os cur-sos da água, transformam cada chuva não mais em um curso de água, mas um curso de lama e sujeira. Assim, mostrando que o tratamento de esgoto é um pro-cesso muito importante para a recuperação dos rios, mas que ainda há muito a ser feito para que danos de décadas sejam re-cuperados.

Um rio demora cerca de 30 anos para ser despoluído, segundo especialistas

Blumenews

*Jornalismo, 4º período

Rio Itajaí-Açu em BlumenauO destino do esgoto domésti-

co dos mais de 310 mil habitan-tes da cidade. Jogar o esgoto não tratado diretamente nos rios não é apenas uma questão de saúde para a população, mas também de saúde para o meio ambiente. Para que um rio seja completa-mente despoluído, leva-se cerca de 30 anos, às vezes, muito mais que isso. Rios famosos como Tâ-misa (Inglaterra) e o Sena (Fran-ça) já passaram por processos bem sucedidos de despoluição. Aqui no Brasil, estão em anda-mento os projetos para a despo-luição do rio Tietê (São Paulo) e da Baía de Guanabara (Rio de Janeiro).

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07JORNAL COBAIAItajaí, agosto de 2012

Pensar em outras línguas pode auxiliar nas escolhas do dia-a-dia e até promover mudança de personalidade

Poliglotas podem ser mais objetivos e racionais

Pode parecer loucura, mas algumas descober-tas podem fazer senti-

do no nosso cotidiano. Pesquisa-dores da Universidade Chigago, nos EUA concluíram através de estudos que pessoas que tem fa-lam mais de um idioma, tem ten-dência a serem mais racionais quando pensam em alguma lín-gua que não seja a sua original.

Esse estudo, publicado na re-vista Psychological Sciense (Ci-ência Psicológica), mostra vários experimentos que comprovavam essa teoria. Um deles foi pedir a 121 voluntários americanos que tinham aprendido japonês para escolher entre a cura de uma doença que poderia ser curada definitivamente um terço das vítimas de uma praga, contra uma cura que tinha um terço de chance de salvar todas as víti-mas. Quase 80% das pessoas es-colheram a opção segura, quan-do ela foi apresentada em inglês. Apenas 47 % responderam de forma mais rápida quando a per-gunta foi formulada em japonês, usando expressões como perda de vida ao invés de salvamento de vida. E 40% responderam as questões independentes da ma-neira como foi formulada.

A pesquisa no primeiro mo-mento pode não fazer sentido. Acreditar que, quando pensa-mos sobre nossas decisões em outro idioma, somos mais racio-nais, porém os cientistas chega-ram a essa conclusão. Para eles, quando as pessoas pensam em uma língua na qual precisam de mais esforço, elas tendem a ser mais analíticas e menos emocio-nais em frente a uma escolha.

Guilherme Doin, 21 anos, fala fluentemente inglês, francês e espanhol. Ele concorda que o domínio de outras línguas deixa a pessoa mais racional. Diz se interessar por livros de litera-tura e muita poesia, e percebe que escreveria um texto aqui no Brasil, apenas em algumas linhas podem ser escritas em inglês ou francês. Guilherme relata, que ao observar os seus amigos, que fa-lam em alemão e outras línguas anglo saxônicas acredita que eles parecem ser muito mais objeti-vos.

Juliana Doin, 27, irmã de Guilherme, conta que o motivo das discussões entre os dois é porque ela diz que seu irmão não tem sentimentos. Tudo é resolvi-do de uma maneira muito lógica, talvez pelo fato dele já ter viaja-do muito e conviver com diver-sas culturas.

A professora de inglês, Yas-min Torarski acredita que, ao pensar em um outro idioma, sem ser a linguagem materna, pode

Maria Carolina Cândido*

Pessoas, que dominam mais de um idioma, pensam mais rápido por exercitarem a memória

“As crianças têm

mais facilidade

em aprender

outras línguas,

porque estão com

a memória mais

fresca

Comportamento

ajudar a estimular frases prontas. Pois, ao pronunciarmos uma fra-se, encaixamos as palavras que queremos. Não mudam só as pa-lavras, mas o jeito de pronunciar também. Talvez não saia de uma forma tão natural, como estamos conversando com uma pessoa que fale a nossa língua, e para o ouvinte pode não passar o mes-mo sentimento ao ouvir coisas mais emocionais em um idioma estrangeiro, explica a professora.

Pouco mais sobre palavrasNeusa Amorim Fleury Ma-

chado - graduada em Pedago-gia e Fonoaudiologia, mestre em Distúrbios da Comunicação, acredita que as pessoas que dominam mais de um tipo de linguagem não mudam de perso-nalidade, mas que possuem um

pensamento mais rápido. Ela fala francês e seus dois

filhos falam espanhol e inglês fluentemente e percebe que mes-mo traduzindo em pensamento para o português algumas pala-vras, eles têm esse pensamento mais rápido.

Explica que a nossa voz é uma identidade única, jamais muda. O que muda é o sotaque, independente de já ter saído do país de origem ou não, o conta-to com a linguagem, a cultura do local é o que dá essa diferença. A articulação das palavras tam-bém varia muito. Alguns idiomas possuem mais como o francês, outros menos como o hebraico, por não possuir muitas vogais e nem acentuação nas palavras.

Uma coisa que chama a sua atenção, é que nós somos o úni-co país que usa a expressão “sau-

dade”. No francês você diz que sente falta de alguma coisa, mas parece que essa palavra é tão boa de ouvir, que não transmite o mesmo sentimento quando se diz que sente falta de algo. Se-gundo ela, as crianças possuem mais facilidade de aprender ou-tras línguas, pois a plastificação delas é maior, ou seja, a memória está mais fresca. O que, às vezes, pode fazer com que ela misture com a sua linguagem materna. Não existe uma idade certa para

aprender, isso é muito relativo. É claro que quanto maior for a idade, maior a dificuldade, por-que na idade adulta possuímos mais preocupações, é mais fácil de esquecer o vocabulário do outro idioma, pelo qual estamos tentando memorizar, mais isso é muito pessoal. Qualquer um pode aprender.

Para por em prática esse es-tudo, que tal tentar pensar sobre nossos problemas e atitudes em inglês, francês ou qualquer outro

idioma para ver se somos mais analíticos e racionais em frente as nossas decisões? Será que ao ouvir uma música, ou uma decla-ração de amor em outra língua, transmite o mesmo sentimento?

Comece a reparar nesses pe-quenos detalhes no seu dia-a-dia e note se, ao pensar sobre suas escolhas em outra linguagem, fará a diferença.

Maria Carolina Cândido

*Jornalismo, 4º período

Page 8: Jornal Cobaia 115

08 JORNAL COBAIA Itajaí, agosto de 2012

Faltando cinquenta me-tros para cruzar a linha de chegada, Arnaldo La-

porte Júnior encontra os filhos, pega um em cada mão, e atraves-sa a faixa da vitória. Vitória da vida. Emocionado, conta choran-do que a família é tudo e lamenta que o terceiro filho não estivesse presente. Olha para a esposa e os dois filhos, e diz que valeu a pena cada passada, cada suor. Não sa-bia em qual colocação chegara e que, na realidade, não importa-va. Naquele instante apenas uma coisa interessava: a chegada.

Arnaldo é maratonista expe-riente, mas, mesmo com toda a sua experiência, fala que a K42 é uma prova dura, de alta resis-tência, mesmo para atletas acos-tumados até com ultramarato-nas. O atleta é de Campo Novo, Rondônia, e chegou em vigésimo primeiro lugar, com o tempo de quatro horas e onze minutos.

Duas horas antes da chegada de Arnaldo, Vivian Meister chega cambaleando, sem conseguir fa-lar, praticamente se arrastando passa pela linha de chegada e desaba na área de apoio aos atle-tas. Vivian é também mais uma vencedora, foi a penúltima da categoria 12 quilômetros femi-nino que tinha 83 participantes. Levou duas horas e vinte e sete minutos para fazer o percurso.

Ela sofre de fibromialgia, cor-reu o tempo todo com dor. Che-gou a pensar em parar. “Mas sou de Bombinhas, tinha que ir até o final”, conta em lágrimas. A dor é sua companheira de uma vida inteira e pas-so a passo foi dribla-

Márcia Cristina Ferreira*

Bombinhas vive momentos marcantes na K42

O tetracampeão Giliard Altair Pinheiro, o Gili, logo após uma das etapas

Arnaldo Laporte Júnior e os filhos vibram juntos a chegada na corrida

Determinação, disciplina e resistência fazem da corrida um espetáculo de superação humana

Márcia Cristina Ferreira

Maratona

da ou, pelo menos, domada por uma Vivian que ria e chorava ao mesmo tempo, pelo tamanho da conquista.

São muitos os vencedores que não conquistaram as primeiras colocações, mas suas conquistas, cada uma de forma diferente, são tão grandes ou maiores que as dos atletas de elite.

A K42 é uma corrida de aven-tura, tem percurso acidentado envolvendo montanhas, trilhas, pedras, areia e encostas. É a pri-meira maratona de trail run do Brasil e faz parte da K42 Séries que acontece também na Fran-ça, Chile, Espanha, Costa Rica, Peru, Portugal, Marrocos e Ar-gentina. Bombinhas representa o Brasil na série, em sua quarta edição. Abrange as categorias, tanto no masculino quanto no fe-minino, 42 quilômetros individu-al, 12 quilômetros, revezamento 21x21. Nesta categoria, além do masculino e feminino, os atletas tem a opção de fazer duplas mis-tas. E ainda, no domingo, tem a K42 Kids, aberta a molecada de Bombinhas e filhos dos atletas que participaram da prova.

Muitos dos participantes são atletas de elite. Ultramaratonis-tas, maratonistas de prova cur-ta e de provas longas. Mas boa parte é compos-ta por atle-tas que jamais chegarão no grupo dos

dez melhores e estão cor-rendo contra seu próprio tempo. Cada qual em sua

busca pessoal, querendo como prêmio a supe-ração. Álvaro Reis, do Rio de Janeiro, é mais um destes corredores. Fala que o importan-te é se divertir e correr. Acostumado a marato-nas de asfalto, a K42 é a terceira de trilha que

participa. “Eu não me arisquei muito,

para não me ma-chucar. Foi

basicamente para conhecer o percurso e as praias”. Disse que, desde a primeira edição, pensa em participar e também queria muito conhecer Bombinhas. A oportunidade veio agora com a maratona ao unir a duas coisas.

Ao todo, 900 atletas partici-pam dessa edição que iniciou às 8 horas da manhã e encerrou às 17 horas e 10 segundos, quando os últimos colocados consegui-ram cruzar a linha de chegada.

Superando os limitesApós nove horas e dez se-

gundos de prova, os amigos Paulo Roberto Estante, de 55 anos, e Rodolfo Hesse, de 60 anos, passaram juntos pela fai-xa de chegada, ambos de Curi-tiba. Foram os últimos, com o cronômetro quase zerado. Pau-lo estava inteiro. Disse que o prazer de complementar uma prova é o mais importante, in-dependente se for o primeiro ou o último. “Pra mim, chegar é o objetivo. Eu não corro por tem-po”. Alguns anos atrás, ele fez uma cirurgia bariátrica (para reduzir o tamanho do estôma-go), perdeu um pouco de peso e começou a correr. “Hoje já te-nho 10 maratonas. 2 ultras e 21 meia maratonas”.

Rodolfo, sem fôlego e muito cansado, se apoiava para conse-

guir falar. Disse que foi uma pro-va muito difícil. Quando a pessoa pensa que está chegando, vem mais montanha e montanha pela frente. Mas a paisagem maravi-lhosa valia o esforço. “Paramos em uma das trilhas para socorrer um cachorro. Ele comeu três car-bogéis (suprimento alimentar), ao ver que o animalzinho ficou bem, continuamos.”

Rodolfo era sedentário e tem cinco pontes de safena. “Sou vas-cularizado. Virada de mesa na minha vida. Valeu cada minuto, lindo. Ano que vem, estamos aqui de novo.”

Már

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Cris

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“Ao todo, 900 atletas

participam dessa

edição que iniciou às

8 horas da manhã e

encerrou às 17 h e 10s

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09JORNAL COBAIAItajaí, agosto de 2012

Histórias de atletas que desafiam limites

Vivian Meister, atleta dos 12 quilômetros, chegou em penúltimo lugar, e superou seus próprios limites

Daniel Daniel Meyer passou a linha de chegada da K42 e se entregou ao chão

O ultramaratonista Alexandre Manzam, perseguidor de elite da K42, ao cruzar a linha de chegada

Márcia Cristina Ferreira

Márcia Cristina Ferreira

Márcia Cristina Ferreira

Cléber Itamar Rodrigues mora em Florianópolis e tem uma lavanderia no Campeche. Há vinte dias, foi o vencedor da prova de 52 quilômetros em Urubici. Maratonista acostuma-do a provas mais longas, conta que precisaria de pelo menos mais vinte e cinco quilômetros para brigar pelas cinco primei-ras colocações. Mas saiu satis-feito, pois o nível dos compe-tidores é alto. “Fui regular. Fiz a prova com mais dois atletas de categorias diferentes e um incentivava o outro. Cada um utilizando sua técnica quando necessário. Fizemos um bom ritmo.”

Cléber foi o nono colocado e vem pela segunda vez na K42. Neste ano, chegou atrás do ami-go Daniel Meyer. Em Urubici, foi a vez de Daniel chegar atrás. Cada corrida tem sua particu-laridade, seu ritmo e seus pró-prios desafios. “Corrida é a mi-nha cachaça”, conclui Cléber.

Daniel é outro atleta acos-tumado a triathlon e ultrama-ratonas. Ele é de Bombinhas e, apesar da oitava colocação, con-seguiu melhorar o tempo do ano anterior. O que prova que, que a cada ano a maratona fica mais difícil devido ao nível elevado dos participantes.

No feminino, a campeã foi a cordobesa Adriana Vargas, com a paulista Cilene Sophya dos Santos, chegando em segundo lugar. Débora Simas, parceira da equipe de Cléber, de Floria-nópolis, que no ano anterior chegou na terceira colocação, pulou para a sexta. Mas o im-pressionante, é que mais uma vez, confirma a tendência: a cada ano fica mais competitiva a prova. O tempo teve uma alte-ração de apenas três segundos para baixo. “É minha recompen-sa por tudo o que deixei de fa-zer. Baladas, visitas a familiares. É de fato uma sensação muito boa”.

Fenômeno de BombinhasO tetracampeão Giliard Al-

tair Pinheiro, o Gili, bateu seu próprio recorde ao chegar em 3 horas e nove minutos e quaren-ta e dois segundos. Passou pela faixa da vitória com a multidão extasiada, pelo fato do atleta ser bombinense, e desabou na areia. Saiu arrastado pelo irmão Danilo e pelo companheiro de corrida Jack Gomes Rodrigues.

Ao tirar o tênis, deu para entender o porquê do estado em que chegou. A palmilha an-dou dentro do tênis e o atleta não quis parar para colocá-la no lugar. O resultado foram 8 dos 10 dedos roxos, com bolhas de sangue e duas unhas totalmente estragadas. “Cansaço sim, mas os meus pés estavam me ma-tando.” Sem contar que no KM 8 passou a perna em um “ca- *Jornalismo, 4º período

pim raspalim” (típico da região, cheio de pontas cortantes) e fez um corte feio logo acima do joe-lho, na parte inferior da coxa. E na terça-feira anterior à prova, torceu o pé, e milagrosamente, o ortopedista Rodrigo Gomes, o Mimoso, deixou-o apto para competir.

Gili é corredor de provas curtas. A questão é que o grau de dificuldade dos 41 quilôme-tros e 600 metros da K42 faz a prova ser comparada a uma ultramaratona. Nascido em Bombinhas e neto de pioneiros no município, o atleta conhece cada pedra, cada trilha, cada grão de areia das praias. Tra-balha como pintor e pescador e ainda encontra tempo para fa-zer um treino puxado de 160 a 180 quilômetros semanais.

A corrida é a grande paixão de sua vida, que tem um custo alto e o maior prêmio é a satisfa-ção pessoal e a superação. Gili tem 32 anos, é casado e tem qua-tro filhos. Começou a correr em 1996 nos Jogos Escolares Bom-binhas, Itapema e Porto Belo – JEBIP, quando fez pela primeira vez a rústica e venceu. Como jo-gava futebol e nunca havia pas-sado de um quarto lugar, ficou faceiro (como ele mesmo diz) e foi o incentivo que faltava para continuar correndo. No mesmo ano, foi para o colégio agrícola em Balneário Camboriú e ga-nhou, três anos seguidos, a pro-va nas olimpíadas municipais. Ali nasceu um campeão.

Este ano teve um persegui-dor de elite, o ultramaratonista brasiliense Alexandre Manzam, que chegou um minuto e qua-renta segundos atrás. Isto signi-fica cerca de 500 metros aproxi-madamente. Tranquilo e muito falante contou que a estratégia foi segurar um pouco no início para conseguir chegar bem. “É uma prova diferente das que estou acostumado, pois faço competição em diversas moda-lidades.”

Conta que a prova, tendo trajetos diferentes, faz com que a musculatura trabalhe diferen-te de provas como o triathlon do XTerra e o Multisport. “Tem que trabalhar o psicológico”. Agora já conhece o trajeto e, no próxi-mo ano, vem forte.

Esta também é a opinião de Gili, que pensa ser difícil vencer Manzam em 2013. “É muito pro-vável que ele vença a K42 do ano que vem. Terei que buscar uma superação ainda maior.” Gili agora se prepara para a marato-na de Foz do Iguaçu/PR, no dia 30 de setembro, e para a etapa da K42, na Patagônia, realiza-da no dia 17 de novembro. Sua melhor colocação na Patagônia foi o segundo lugar em 2010. E quanto a 2013? Que venha o penta!

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10 JORNAL COBAIA Itajaí, agosto de 2012

O público interagiu com o escritor ao fim da palestra e expôs opiniões sobre literatura

A coordenadora geral do Proler Univali, Carla Carvalho (em primeiro plano), conduziu um dos debates

Professores, acadêmicos e interessados em promover a cultura trocam ideias para incentivar a formação de leitores

Amaro Paz, Analú Vignoli e Raquel Zubiaurre Reschke

Debate incentiva Itajaí a elaborar plano municipal de leitura

“Um país se faz com homens e livros”. A frase de Monteiro

Lobato poderia ser o lema do Plano Nacional do Livro e Lei-tura (PNLL), política adotada pelo Governo Federal para pro-mover a formação de leitores em cada município do Brasil. A iniciativa motivou debates no 1º Encontro Regional do Proler, que funcionou para estimular Itajaí a aderir ao movimento e elaborar um plano municipal de incentivo à leitura.

Equipe na UnivaliEmbora o Proler não tenha

relação direta com o PNLL, in-teressa a seus integrantes cola-borar com a ideia para que cada município tenha um plano pró-prio. Em Itajaí, a Univali formou uma equipe que vem trabalhan-do para isso.

O Encontro Regional “An-

danças Literárias” funcionou como alavanca para a elabora-ção do Plano Municipal do Li-vro e Leitura - PMLL, que busca incentivar as pessoas a lerem mais. Participaram a Coorde-nadora Geral do Proler Univali, Carla Carvalho, representantes da Secretaria de Educação de Itajaí, a Coordenadora do Pro-ler Univille, Taiza Mara Rauem, professores, escritores, bibliote-cários, acadêmicos e comunida-de.

Segundo Carla, a mobiliza-ção da sociedade é importante para incentivar e democratizar a leitura. A formulação de um plano municipal com esse obje-tivo deve reunir as três esferas de governo e contar com o apoio da opinião pública para garantir verbas e viabilizar o acesso da população a bibliotecas.

Aline Amaral

Aline Amaral

Andanças Literárias movimentam comunidade

1º Encontro Proler-UNIVALI

“Há cerca de um ano a Universidade do Vale do Itajaí tra-

balha para a realização de um evento que divulgue e valorize as ideias defendidas pelo Programa Nacional de Incentivo à Leitura- o Proler. Em agosto, o 1º Encon-tro Regional “Andanças Literá-rias” concretizou a intenção do comitê Proler/Univali. De acordo com a coordenadora local, Cíntia Metzner de Souza, o encontro su-perou todas as expectativas. “De-pois de ver a reação das pessoas, sentimos que vale a pena fazer outras vezes e ampliar o projeto. Queremos expandi-lo para Flo-rianópolis, Piçarras, onde tiver Univali queremos levar o Proler”.

A coordenadora afirma que a infraestrutura da universida-de viabilizou e deu qualidade ao evento, porque o Programa Na-cional de Incentivo à Leitura não prevê recursos financeiros para os comitês: “Se tivéssemos que pagar não teríamos como fazê--lo”, ressalta Cíntia Metzner.

A Univali aderiu às políticas nacionais de incentivo à Cultu-ra e tem contribuído para a for-mação de públicos sensíveis às manifestações artísticas. Atu-almente, estão em andamento junto à Instituição sete projetos vinculados ao Proler. Entre eles

destacam-se o grupo de leitura dramática (teatro) e o grupo de artes plásticas, que desenvolvem o projeto Entreler. “Com os pro-jetos tentamos atuar de diversas formas para diversificar, ao máxi-mo, o desenvolvimento de ativi-dades artísticas e culturais, faci-litando o acesso da comunidade à leitura, às artes, enfim, a todas as formas de expressão cultural”, explica a professora Cíntia.

Mario Prata marca presençaUma das participações mais

comentadas do Encontro foi a do escritor, dramaturgo e jornalista Mario Prata. O veterano da lite-ratura arrancou risadas e fez os presentes no auditório refletirem sobre os rumos da leitura no país. Com livros, crônicas e roteiros de novela no currículo, Prata se mos-trou confortável com a sua atual posição no “cenário brasileiro do saber”. Mas admitiu se incomo-dar quando vê na Internet textos de outros autores atribuídos a ele.

O ar tranquilo do escritor se altera quando o assunto são os métodos de ensino da escola bra-sileira. Mario critica o excesso de regras na prática da redação, que na opinião do escritor limita a criatividade dos estudantes e não estimula neles o gosto pela leitura.

Jessica Gamba*

*Jornalismo, 6º período

Page 11: Jornal Cobaia 115

11JORNAL COBAIAItajaí, agosto de 2012

Bianca Escrich

Tudo se modifica quando ele dá as caras. Mistura humor, irreverência e um

tom azedo, com uma mocidade efervescente que esconde os 66 anos. Chegou para encerrar o evento Andanças Literárias do Proler - Univali camuflado de es-tudante, parecia um garotão de cabelos grisalhos: calça jeans lar-gada, tênis e moletom. Já entrou no auditório do bloco da Saúde pedindo pra sair. “Eu tomei uma coca cola antes, tô louco pra ir ao banheiro. Se eu não sair agora, saio no meio”. E lá se foi o escri-tor multitarefa, para voltar logo em seguida com a feição mais aliviada. O tom da palestra que concedeu aos acadêmicos e pro-fessores foi assim: sem papas na língua e sem perder a piada.

Mario já escreveu para jor-nal, teatro, literatura e televisão. O forte senso crítico permeia as ideias do cronista, que são enrai-zadas na sua bagagem. Ele é um visionário com um temperamen-to forte e vanguardista. Moran-do atualmente em Florianópolis, nasceu em Uberaba, no triângulo mineiro. A “Cidade do Zebu” foi seu berço durante a infância.

A paixão por escrever é an-tiga, ele sempre a praticou em uma velha máquina do pai. Mas, quando se mudou para Lins, em São Paulo, teve, ao acaso, sua primeira relação com o mundo da escrita. “Sempre tive mais sorte que talento, muita sorte e certo talento, na verdade”. Mo-rava em frente a uma redação de jornal. Ia lá de forma inocente pegar chumbinho do linotipo, co-locar em uma caixinha de fósfo-

Em conversa descontraída, o escritor Mario Prata fala sobre literatura no Brasil e critica o ensino tradicional

Gabriela Florêncio e Monike Furtado*

ro e fazer seu goleiro no futebol de botão. Acabou acostumado com o cheiro de chumbo, e aos 14 anos já tinha sua coluna social, que assinava com o pseudônimo de Franco Abbiazzi. “Um pouco mais tarde, e eu já fazia tudo no jornal, conhecia tudo.” Por isso, ter virado escritor pode ter sido uma questão de sorte. “ Eu ima-gino, e se fosse um açougue na frente da minha casa?”.

Largou o jornal por questões financeiras, e mesmo que tenha contado com o destino para guiar o seu caminho, o talento de Ma-rio é tão inegável quanto o toque cômico e ácido que marca seus livros e crônicas. Ele já transitou por vários meios, mas nunca es-creveu poesia. Não que não quei-ra, simplesmente não consegue. - Eu odeio e admiro quem escreve. Mas sempre brinco que poeta é preguiçoso, porque não consegue chegar ao final da linha.

Literatura e internetEssas brincadeiras, muitas

vezes com fundo de verdade, tra-zem temas sérios e expõem aqui-lo que pensa. E mesmo sendo boa praça, não é muito difícil tirá-lo do eixo. Basta relacionar litera-tura e internet ou jornalismo e internet. Franze a testa, cerra um pouco o rosto pra responder esse tipo de questão. “Acho que uma coisa não tem nada a ver com a outra. A rede com o jornalismo impresso, a rede e os livros. Sem-pre que aparece uma coisa muito louca, as pessoas dizem ihh”.

O escritor já teve sua experi-ência com meios online. Escreveu o livro Os Anjos de Badaró em

Bate-papo temperado com limão e comédia

*Jornalismo, 6º período

1º Encontro Proler-UNIVALI

seu portal na internet, junto com os internautas, que acompanha-vam e construíam o livro capítulo a capítulo. A ideia era pioneira e aconteceu quando a rede ain-da estava se popularizando. “A internet era jovenzinha, menor de idade e consequentemente irresponsável”. Essa experiência o ajudou a se aproximar e fami-liarizar com a rede. Hoje diz ser

tarado por seus “brinquedinhos” eletrônicos. Tem um celular mo-derno, e navega em sites todos os dias. Mas, ele ressalva, a internet é uma faca de dois gumes. Olhan-do sério pra plateia, Mario per-gunta se já ouviram falar da crô-nica chamada Então, cancela? A maioria responde: sim. Mario brinca: “Então, tem meu nome lá, mas não é minha. É de um ga-

roto de Fortaleza”. Um dos maio-res problemas que os escritores enfrentam com o advento da internet é esse. Há várias frases, textos e crônicas atribuídas a um autor, mas nem sempre são dele.

O brincalhão defende que o futuro da literatura não está na internet e arrisca dizer que o e--book já nasceu morto. “Você já viu alguém com um e-book sen-tado na praça lendo? Isso é coi-sa de rico, tem que ter um tablet pra ler aquilo. Já não é uma coisa pro Brasil”. Ele acredita que no-vos escritores sairão da internet e não o contrário. Uma nova re-alidade literária vem sendo di-fundida através dos blogs. Mas, o sucesso só virá depois da primei-ra publicação no bom e velho for-mato de livro de papel. Quando Mario era garoto, a internet não existia. Com a difusão das redes sociais, agora os jovens leem e es-crevem mais.

Padrão burroEsse cenário só se observa

na internet. Uma pesquisa en-comendada pelo Instituto Pró--Livro indicou o número de pu-blicações que o brasileiro leu no ano de 2011. Em relação à últi-ma pesquisa realizada, no ano de 2007: a média anterior de 4,7 por ano reduziu-se para 4 livros. Para Mario, a falta de interesse dos jovens pela leitura vem de uma imposição antiga. “Você pega uns livros chatos, e dá para ga-rotos de 16 anos como obrigato-riedade, isso na escola. Nunca vi um garoto chegar numa livraria e pedir um livro de Newton, por exemplo. Foi imposto um padrão, e esse padrão é burro”.

Ele também critica a implan-tação dos vestibulares, na dita-dura militar, desde 1967. Para a época, foi uma grande novidade. Mas, 40 anos depois, está ultra-passada. Os livros indicados para os vestibulares são inadequados para jovens que vivem na era da informação. Mario acredita que não há estimulo à leitura. As próprias regras para a redação dos vestibulares, que exigem no máximo 30 linhas, impedem os alunos de criar. “Talvez eu tenha virado escritor porque nunca es-crevi as 30 linhas exigidas”.

Loucura criativaAlém de piadista, o escritor

tem um forte espírito revolucio-nário. Intitula um monte de gen-te de louca: o primo, o vizinho, os amigos. Essa insanidade não é pejorativa. Mario gosta da loucura porque ela é um caminho para a in-ventividade. Mas, essas invenções não significam exatamente fanta-sias ou ficção. Com humor ácido, em tom azedo, diz ficar irritado com livros que estão na moda, aqueles de capa roxa ou vermelha. “Essa coisa meio vampiral. Pri-meiro, veio o Crepúsculo. Tem um cara querendo escrever o Opúscu-lo, eu queria escrever o Prepúcio, acho que faria sucesso, pena que eu não tenho tempo”. Mesmo com a correria, vem lançando livros ano após ano e há sete se dedica ao gênero do romance policial. Tem alguns contos inéditos na gaveta (gênero que nunca havia escrito) para serem publicados nos próxi-mos meses.

“Sempre brinco que

poeta é preguiçoso,

porque não

consegue chegar ao

final da linha

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12 JORNAL COBAIA Itajaí, agosto de 2012

*Jornalismo, 6º período

*Jornalismo, 6º período

*Jornalismo, 6º período NASCI

1º Encontro Proler-UNIVALI

Galera, eu preciso ir ao banheiro, se não vou fazer aqui no meio mes-

mo. Bebi coca demais! Foi com esse comentário seguido de ri-sadas que Mario Prata começou uma conversa diferente. O público sacrificou o conforto, alguns até fi-caram de pé.

Cronista com inúmeros casos para contar, ele se diverte com suas lembranças e faz piadas para alegria da plateia. Mas, basta afir-mar: “Não existe jornalismo no Brasil”, para a professora do cur-so de jornalismo, Valquíria John, olhar para aqueles ao seu lado com

Mario bebe coca-cola demais e não está nem aí para críticas

Um profissional discipli-nado. Isso mesmo, o irô-nico e aparentemente

despreocupado Mario Prata se define assim. Mario é um escritor que caminha por vários campos como teatro, cinema, literatu-ra, televisão. Escrever, ele afirma, é a sua profissão, por isso, faz com muita disciplina, seriedade e pra-zer. “É uma profissão como outra qualquer, também tenho minhas responsabilidades. Eu falo de escritor como profissão, porque não existe inspiração, existe um negócio chamado talento e isso você aperta e sai; claro que às ve-zes sai pior, às vezes sai melhor”.

A carreira começou muito cedo, quando ele tinha 14 anos, no jornal de Lins, cidade do in-terior paulista. Mario era um jornalista nato, sabia todo o fun-cionamento da Gazeta de Lins, fazia e escrevia tudo na reda-ção, menos o editorial que era produzido pelo dono do veículo. Aos 20 anos, foi gerenciar uma agência bancária em São Paulo e preparar-se para o futuro. Cur-sou Economia na Universidade de São Paulo (USP) e deixou a literatura um pouco de lado, mas logo sua paixão voltou a queimar e ele se reaproximou do texto. Em sua bagagem existem histórias hilárias, como a do SPA para onde ele foi como hóspede e lá acabou inspirado a escrever um livro de sucesso: ”Diário de um Magro.

Atualmente Prata está traba-lhando em romances policiais, es-tudando a fundo esse gênero que tanto o intriga quanto o fascina. Um autor que ele recomenda? Rubens Fonseca.

Gabriela Godoy, Ana Maria Cordeiro, Marcia Peixe e Stéphanie Rocha*

Camila Aragão eDayane Bueno Canha*

Estilo techno Baita escritor

Com a ironia que lhe é pecu-liar, marca registrada dos seus quase 90 trabalhos,

Mario Prata conversou com o público que participou do 1º En-contro do Proler. O momento era destinado a conhecer um pouco da trajetória profissional do es-critor, além de opiniões sobre o atual cenário da literatura no Brasil.

Apesar de ter se tornado jor-nalista e escritor ainda no tempo da máquina de escrever, Prata aderiu a quase todo tipo de tec-nologia que surgiu nos últimos anos. “Sou viciado em tablet, celular, tudo que surge”. Con-ta que quando um modelo novo sai, ele já compra, inutilizando os antigos. “Meus filhos estão sempre querendo pegar o último brinquedinho, o resto fica numa gaveta”.

O gosto pela tecnologia é tão grande que, no início dos anos 2000, Mario chegou a escrever um livro pela internet. “Cerca de 15 mil pessoas me acompanha-vam todos os dias”. Apesar de todo apego à rede mundial de in-formações, Prata critica os usu-ários da net. “Tem textos meus com o nome de outros escritores e vice-versa. Já tive muitos pro-blemas por coisas que nem fiz”.

Influenciado por cronistas de seu tempo, desde Nelson Ro-drigues a Millôr Fernandes, ele possui bagagem para comentar o baixo nível de leitura do brasilei-ro. E reprova as leituras obriga-tórias solicitadas em vestibula-res “Um tempo atrás eu fui fazer uma prova que falava sobre um dos meus livros. Tinha oito ques-tões e eu errei as oito”.

Felipe Adam e Guilherme Furtado*

uma cara de desgosto.Piadas, histórias e risos. As-

sim mesmo tem gente que não desgruda do celular. Mensagens e atualizações no Facebook roubam a atenção. Um colega de curso, após meia hora no evento, per-gunta quem é o cara que está lá na frente falando, só para colocar em seu perfil na rede: Palestra com Mario Prata!

Distraídos à parte, o encontro foi inspirador, como revela o texto das acadêmicas do 6º período de Jornalismo Ana Maria Cordeiro, Marcia Peixe e Stéphanie Rocha, a seguir.

Sem papas na línguaSuas obras passam longe do

português rebuscado exigido pela academia. Fala das coisas simples da vida, carregado de experiên-cias, misturando ficção e uma dose de acidez.

Usa argumentos fortes e não tem papas na língua, principal-mente quando o assunto é edu-cação. “A merda começa com o vestibular.” Na boca de Mario Pra-ta essas palavras pesam mais. O escritor teve uma formação rígida: pai tradicional, mãe carola, des-de cedo ele se mostrou avesso às

imposições da família. Ao invés de economista, como era vontade do pai, virou jornalista.

O jovem queria a agitação e a fumaça das redações. Na Gazeta de Lins, escrevia a coluna social com o pseudônimo de Franco Ab-biazzi, aliás, pseudônimos fazem parte da sua carreira até hoje. De vez em quando, surgem secretá-rios e empresários que ele mesmo inventa. Esse tom ficcional logo deu origem a um novo horizonte: ele investiu na literatura. Hoje, escreve crônicas e livros, e está se preparando para um desafio: os romances policiais. Não dá im-

portância às críticas, nem quando a academia estuda sua obra. Para ele, a universidade não consegue adequar a análise ao momento literário atual, continua exigindo textos rebuscados enquanto o pú-blico lê modismo. “Não se acha um meio termo,” lamenta.

E a culpa é de quem? Da edu-cação. Exemplo disso é a exigência de leituras clássicas num momento em que o leitor ainda está em for-mação, o que afasta o jovem da lei-tura logo no início. Exames como o vestibular, diz ele, engessam estilos e formas.

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13JORNAL COBAIAItajaí, agosto de 2012

Quem fez a cabeça dele Principais obras de Mario

Michela Zamin*

Eta coisa ruim chegar atrasada! Mario Prata, por Deus, não revele seu segredo antes que chegue aí, é só mais uma rampinha que tenho de subir!

Já são 20 horas, mas podia ser meia noite, hora de estar na cama, diazinho difícil este, mas vai acabar bem, espero!

Após subir as duas rampas, lá se avista o dito auditório, na frente uma moça e um rapaz aproveitam para vender li-vros, um deles pela bagatela de 4.99, é infantil , e sempre se tem uma criança na família ou filhos de uma amiga, mas agora não dá tempo, na saída se compra...

Ao entrar na sala, graças a Deus, todos estão tão concen-trados na palestra, que ninguém se preocupa com a porta, o cara falou alguma coisa que chamou atenção e todos riem. Da porta já dá para avistar duas cadeiras livres. Ufa! Salvação! Senta... Tenta o máximo possível se fazer invisível e nem dei-xar que a pessoa ao lado ouça sua respiração do tipo: corredor de meia maratona fora de forma.

Depois de tudo em ordem, hora de prestar atenção em Mario Prata. Confesso que já ouvira falar dele, mas não ti-nha lido nada a respeito. Estudante de Jornalismo? Sim! Ati-re a primeira pedra quem nunca deixou de ler as referências, intermináveis referências que nos passam a cada semestre. Não estou criticando não, professores, que fique bem claro! Sei que se não li um ou outro livro não vou arder no fogo do inferno por isso.

Pena que com o atraso, perdi aquela parte sobre as ex-periências de vida e de profissão, me resta ouvir a rodada de perguntas, vamos lá, quem se aventura?

É dada a largada... pelo que notei, todos querem desven-dar o segredo daquele grisalho que nos fala.

Em alguns pontos concordo com ele, um deles é o formato um tanto engessado por velhos padrões com que nos apresen-tam a literatura, afinal, ler tem que ser prazeroso e instigante , escrever e interpretar deve ser o mais livre possível. Adorei o que um aluno se aventurou a perguntar: Qual o livro que tu mais ‘gostou’ de fumar? Confesso que não teria essa coragem.

Em outros pontos ainda irei avaliar: tipo, Saga Crepúsculo ser desnecessário na opinião de Mario Prata, não foi bem esta a palavra que ele usou, mas isso que deu a entender. Bem, não li ainda. Mas, valeu, meu caro, “quando crescer quero ser igual a você”, embora já esteja com 33 anos. O cara fala o que pensa, sem medo de ser feliz ou infeliz e acho que não sente nenhuma culpa por isso. Tá certo! Estamos aqui neste mundo de passagem e sem manual de instrução.

*Jornalismo, 6º período

Opinião

“De passagem e sem manual de instrução

Bruna de Azevedo, Patrícia Cristina da Silva e Talita Wodzinsky

Ana Maykot e Paulo Alves Gabriela Florêncio

1º Encontro Proler-UNIVALI

Estudante de Jornalismo? Sim! Atire a primeira pedra quem nunca deixou de ler as referências, intermináveis referências que nos

passam a cada semestre

Crônica escrita por aluna do 6º período, após palestra do escritor Mario Prata.

“Toda unanimidade é burra”

Um público diversifica-do acompanhou com interesse a palestra do

jornalista e escritor Mario Prata, que encerrou o 1º Encontro Re-gional do Proler Univali. Intitu-lada apenas de “Conversa com o escritor: Mario Prata”, a palestra durou quase três horas e dividiu opiniões.

Aos 66 anos, Prata conseguiu mobilizar várias faixas etárias, desde estudantes até aposen-tados. É o caso de Laís Bozza - formada em Letras e professora aposentada, ela veio incentiva-da pelo amigo, o advogado Fidel Oscar Kretz. Laís conhecia um pouco da obra de Mario a par-

A inspiração do cronista vem de vários nomes da Literatura, dentre eles Millôr Fernandes, Nelson Rodrigues, Fernando Sabino, Stanislau Ponte Preta, Rubem Braga, Julio Cortazar e Gabriel Garcia Marquez, (com Dostoievisk fora da lista). O senhor que fez suspense quanto à idade, parecia um adolescente ao falar de quem o influenciou. Com sotaque mastigado, a voz mansa e descontraída, ele usa gírias para se referir aos mestres - “Esses caras fize-ram a minha cabeça”.

- Estúpido Cupido - 1976, novela- O homem que soltava pum - 1983, livro infanto juvenil - Vestibulando - 1990, livro infanto juvenil- Mas será o Benedito? - 1996, livro- O diário de um magro - 1997, livro- 100 crônicas - 1998, livro- Os anjos de Badaró - 2000, livro produzido online - Bésame mucho - 2000, livro- Bang bang - 2005, novela- Sete Paus - 2008, livro

Nelson Rodrigues tinha razão: uns amaram, outros odiaram Mario Prata

tir da leitura de alguns textos do autor. Já Fidel acompanha o trabalho do cronista há muitos anos. Ele foi informado da pa-lestra pelo jornal e logo fez sua inscrição na internet. A jovem professora Alessandra Thomaz soube do evento por meio de sua orientadora escolar. Alessandra conhecia apenas as crônicas do escritor. Com a palestra, afirma ter conseguido visualizar novos horizontes para escrever e ensi-nar redação.

Mas, se é mesmo verdade a máxima de Nelson Rodrigues segundo a qual “toda unanimida-de é burra”, o público do Proler Univali seria aprovado pelo velho

mestre, porque nem todo mundo gostou da fala do palestrante. A acadêmica de Jornalismo Sheila Gastardi está nesse grupo. Ela reprova a crítica que o escritor faz “a livros muito lidos mun-dialmente como “O Caçador de Pipas”. E fica indignada porque Prata enaltece Harry Potter, para ela, um livro de ficção sem maior interesse. Sheila considera “uma falta de boas maneiras” reprovar tão radicalmente obras admi-radas por muita gente: “Eu não curto Harry Potter, mas respeito quem curte, os milhões de crian-ças, adolescentes, adultos e até idosos que gostam da Saga Harry Potter.”

Personalidade forte do cronista divide opiniões: ele fala o que pensa sem medo de criar polêmica

Gabriela Florêncio

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14 JORNAL COBAIA Itajaí, agosto de 2012

1º Encontro Proler-UNIVALI

Bruna Osmari, Guilherme Altvater, Leonardo Costa e Rodrigo Ramos*

Divulgação

Ao vê-lo, é fácil perceber de onde vem a inspira-ção para suas obras. A

vida é o que o inspira. Ele fala de tudo. Futebol, mulheres, roupas, papel higiênico, grampeadores, homens, muitos ismos e etc. Só para o jornal O Estado de S. Pau-lo já escreveu mais de 600 crôni-cas. A forma com que encara o cotidiano é de dar inveja aos ou-tros escritores. Ele desdobra as-suntos com facilidade, criticando quando lhe convém, não poupan-do o leitor de suas ironias.

Mario Prata brinca com as palavras, sejam elas escritas ou faladas. Procura desequilibrar, desconstruindo o cinismo e ata-cando (ora sutil, ora não) o jor-nalismo como é feito hoje. É fã apaixonado das obras de Nelson Rodrigues: “O bom e velho jor-nalista, que mantinha o cigarro sempre no canto da boca e que deixava todos os paletós com furo das cinzas”. Mas a inspira-ção de Mario não vem somente das obras de Nelson. O cotidiano lhe dá temas inusitados, como o que motivou uma de suas obras de mais sucesso: “O Diário de um Magro”, resultado de sua pri-meira experiência em um spa. A obra, de 1997, parodia de modo um tanto sarcástico “O Diário de um Mago”, de Paulo Coelho.

De tão irreverente, ele soa in-comum. Não tem o discurso que se espera dos escritores. Mas o que há de ordinário em Mario? Com um jeitão de quem está abastecido com outros aditivos,

Irreverente, o escritor conta histórias, se diverte, cria polêmica e faz pensar

ele brinca e recomenda: “Fumem livros”. Confessa que já fumou uns bons Dostoiévski. Se humo-ristas de carteirinha não fazem o público rir, Prata mostra-se, vo-luntariamente ou não, craque na arte da risada. Mesmo quando faz severas restrições à academia e afirma não existir crítica literária no Brasil, ele mantém o tom irre-verente e irônico. Contudo, suas opiniões, em geral polêmicas, são fundamentadas. Ele reprova o sistema de ensino – porque “em-burrece” os alunos ao exigir deles textos sem vida e padronizados, “sem pé nem cabeça”. Prata ava-lia de forma negativa a escola brasileira e se diverte ao lembrar que errou numa prova todas as questões referentes às próprias obras.

Em relação à literatura con-temporânea, Mario, que se con-sidera um tarado por tecnologia, comenta que muitos escritores ainda surgirão da internet. O es-critor tem fé nas próximas gera-ções, e pensa que é dever dos pro-fessores despertar o interesse dos alunos pelos livros – afinal, nas palavras do cronista, um aluno de 20 anos não é obrigado a entender Dostoievski. Caso lhe seja permi-tido escolher as leituras, com o tempo o gosto amadurece.

Críticas à parte, Mario Pra-ta mantém o clima irreverente e deixa um recado sugestivo: “Quando quiser relaxar, não vá ao spa, vá a Paris!”.

O Diário do Mario

O escritor se diverte ao lembrar que errou numa prova todas as questões referentes às próprias obras*Jornalismo, 6º período

*Jornalismo, 6º períodoAtores em cena

Aline Amaral

Leitura dramática de Nelson Rodrigues desperta sentidos

Feições de ironia, surpre-sa, espanto, sentimen-tos brotados do palco

improvisado contaminaram a plateia tão logo os atores inicia-ram a leitura dramática de tex-tos do grande e – agora cente-nário – Nelson Rodrigues. Todos estavam imersos no fantástico mundo da literatura. E não po-deria ser diferente, afinal, era o terceiro e último dia do Andan-ças Literárias.

A leitura dramática, que precedeu a palestra de encerra-mento com Mario Prata, com-pletou uma programação de

Bárbara Caroline Bernardo, Manuella Perrone Marques e Tatiana Sandri*

oficinas e atividades em escolas de Itajaí e na Univali. Debates, bate-papos, troca de ideias e de técnicas incentivaram a apro-ximação dos cidadãos com a cultura e colaboraram para de-mocratizar o acesso à leitura e às artes. Durante o evento, destaque para a participação dos cursos de Pedagogia, Le-tras e Música, um trio inspira-do e inspirador. Acadêmicos e professores de Comunicação se juntaram ao grupo na palestra de encerramento, e um dos re-sultados da adesão está aqui, nestas páginas do Cobaia.

Para a coordenadora nacional do Proler, Carmem Pimentel, a Univali apresentou um mode-lo para as outras regiões, pois vinculou o trabalho do Comitê local aos cursos de graduação. “É importante que mais áreas de ensino estejam participando do projeto”, declarou, para com-pletar referindo-se à presença de Mario Prata: “A palestra de hoje, com um grande jornalista, é um incentivo para que isso se desenvolva”.

Apenas o inícioA programação do 1º Encon-

tro Regional do Proler Univali incluiu temas como a conserva-ção de acervos bibliográficos e a relevância das manifestações culturais. Mostras de teatro e poesia, exposições de artes vi-suais e contação de histórias também fizeram parte da pro-posta. Para Carmem Pimentel, a boa participação do público garantiu o sucesso do evento. É uma sementinha plantada para reafirmar a importância da lei-tura, principalmente entre as crianças e os jovens itajaienses.

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15JORNAL COBAIAItajaí, agosto de 2012

EconomiaBaixa safra da tainha frustra expectativas

“Esta é a safra de tai-nha mais baixa dos últimos anos”, afir-

ma com tristeza no olhar seu Severino Pedro Pereira, 68, pes-cador artesanal desde criança. O pescador e a família dependem exclusivamente da pesca para garantirem o sustento e segundo eles, tá cada dia mais difícil. “Eu recordo como era na época em que meu pai era pescador e eu apenas um aprendiz. As captu-ras, principalmente, a de tainha, eram fartas. Era uma verdadeira alegria”.

O pai de seu Severino era “vigia”, como assim é chamado o pescador experiente de olhos bem treinados e com a missão de observar os cardumes de tainhas na imensidão do mar. Quand avistar, o vigia avisa os colegas que estão na praia: é a hora de colocar os barcos na água. Os vi-gias observam o mar nos pontos mais altos dos costões ou dentro de uma casinha de madeira bem pequena de uns 5 metros de al-tura instalada na praia. Estes geralmente acenam e apontam com um pano o local exato do cardume que se caracteriza por uma grande mancha vermelha. Hoje já existe os rádios que ser-vem para facilitar este trabalho, mas há quem mantem a tradição antiga, até mesmo na crença da sorte .

O pescador lembra da profis-são do pai com saudade do velho companheiro e da época boa da pesca. “ Quando meu pai avisava da chegada das tainhas era uma correria, os barcos eram coloca-dos na água, todos remando com força, rede lançada ao mar para cercar o cardume. A praia enchia de pescadores e turistas. Todos queriam ajudar a puxar a rede e meia hora depois uma captura

Pescadores, comerciantes e consumidores sentem as consequências tanto no bolso quanto na mesa

Patrícia Dias*

Christiane Meder

Christiane Meder Christiane Meder

Redes praticamente vazias assustaram pescadores e moradores de Porto Belo O trabalho de pescador desmotiva jovens e familiares pela baixa safra da tainha

Sindicato dos Pescadores de SC admite ser a safra mais baixa dos últimos anos, fato que preocupa trabalhadores do setor

*Jornalismo, 7º período

perfeita, mais de 500 tainhas por lance. Isso era uma boa safra”, afirma o pescador emocionado.

De acordo com o Sindicato dos Pescadores de Santa Cata-rina, está realmente foi a safra mais baixa dos últimos tempos, menos de um quarto da produ-ção de 2011. Pior, só em 2006, quando a captura havia sido de 205 toneladas. Em 1957, o peixe não apareceu no litoral. Esse ano, eles deram o ar da graça, mas não suficiente para garantir a renda do inverno.

O prejuízo é certo na pesca artesanal, garante Ivo da Silva, presidente da Federação dos Pescadores de Santa Catarina. A safra deste ano foi decepcio-nante, pois os indicadores natu-rais sugeriam que seria farta. A

escassez de chuva, que provoca maior concentração de sal na Lagoa dos Patos, um dos princi-pais estuários da espécie, no Rio Grande do Sul, havia criado o clima ideal para a procriação do pescado. “Houve investimento em novas redes e embarcações. Gastos de R$ 2 mil a R$ 80 mil que resultam em prejuízo”, rela-ta o presidente.

A tainha representa de 20% a 40% da renda anual dos pescado-res artesanais. Depois do termi-no, é hora de confiar na safra de anchova.

Calor inibe a migraçãoSegundo o coordenador do

Grupo de Estudos Pesqueiros da (Univali), Paulo Ricardo Schwin-gel, a principal causa da escassez

de cardumes foi o clima em maio e junho, no auge da migração da espécie. As tainhas viajam para o Norte, para águas mais quen-tes em relação ao Rio Grande do Sul. Com o calor, não precisam subir tanto para desovar. “ Houve registro de barcos que captura-ram 35 toneladas em Torres, no Rio Grande do Sul, muito ao Sul para a época, quando o normal é encontrar os peixes na altura de Paranaguá, no Paraná. Isso indica que a migração foi pequena”, ava-lia Schwingel.

Decepção para pescadoresO impacto da escassez na cap-

tura da tainha é sentida não ape-nas pelos pescadores, mas tam-bém por quem espera o inverno para apreciar o sabor da espécie.

Dona Maria de Lourdes, 63, aposentada, afirma ter tido um susto ao ir comprar o pescado. “O preço variou muito, de 2 reais a 10 reais o quilo. Um absurdo”.

O sentimento de dona Maria de Lourdes também afeta os pro-prietários de estabelecimentos que vendem a espécie. Para eles, o valor de compra também osci-lou de forma agressiva.

Nos restaurantes de Itajaí, de acordo com o Procon, o prato que normalmente era oferecido ao cliente por 39 reais, chegou ao valor de 63 reais. Um prato que era de preço “popular” começou a ser visto como caro pelo consu-midor, o que consequentemente atinge o empresário.

Page 16: Jornal Cobaia 115

CinemaBatman volta triunfante às telonas

16 JORNAL COBAIA Itajaí, agosto de 2012

Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge começa oito anos após

os acontecimentos de O Cava-leiro das Trevas. A polícia da ci-dade caça Batman, dado como o assassino de Harvey Dent (Aa-ron Eckhart), sendo idolatrado como herói e utilizado como sím-bolo da luta contra a criminali-dade de Gotham City. O advo-gado morto ganhou uma lei com seu nome para combater com força os bandidos e marginais de Gotham, tornando-a uma cidade mais segura e praticamente livre de criminalidade. Enquanto isso, o Comissário Gordon (Gary Ol-dman), vive uma briga interna ao carregar o fardo da mentira criada para proteger a cidade e condenar o homem-morcego.

Paralelamente, Batman está fora das ruas, pois a população não precisa mais dele. Bruce Wayne (Christian Bale) encon-tra-se recluso na mansão Wayne, sem contato com o mundo exte-rior e sem intenção de voltar a vestir o uniforme. As coisas co-meçam a mudar quando Bane (Tom Hardy), uma espécie de terrorista/anarquista mascara-do, começa a mexer com as es-truturas da cidade, implantando o caos pouco a pouco. É a partir daí que Bruce precisa rever se já fez ou não o suficiente pela cida-de.

Neste filme há a introdução de quatro personagens. O elo fraco destas adições é Miranda Tate (Marion Cotillard). A per-sonagem tem uma exposição muito rápida e soa artificial, as-

Rodrigo Ramos*

*Jornalismo, 6º período

sim como a atuação de Marion, uma das piores do ano. Enquan-to isso, John Blake (Joseph Gor-don-Levitt), Selina Kyle/Mulher--Gato (Anne Hathaway) e Bane possuem construções de perso-nalidade muito mais amplas, fi-cando clara a função de cada um no jogo esquematizado pelo ro-teiro. Gordon-Levitt consolida--se de vez como um ótimo ator

Divulgação

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de ação e drama. Hathaway está impecável e surpreende com muita elasticidade, sensualida-de, sarcasmo e uma ambiguida-de irresistível. Já Hardy mostra--se um oponente físico e mental à altura de Batman e, apesar de ser menos interessante do que Coringa, não é menos relevante.

Diferente de seu antecessor, O Cavaleiro das Trevas Ressur-ge demora um pouco para em-placar. Entretanto, isso não é um

recer Christian Bale, melhor do que nunca, entregando-se de corpo e alma numa atuação que reflete a dor e raiva do per-sonagem, mandando bem, es-pecialmente ao lado de Alfred (Michael Caine). Caine deixa o espectador com nó na garganta em pelo menos dois momentos.

A ação é satisfatória, com ce-nas espetaculares e lutas mano a mano entre Batman e Bane que deixam o espectador grudado na cadeira. Como uma cereja no topo do bolo, a trilha sonora de Hans Zimmer é o toque especial da película. Ele sabe onde colo-car cada acorde e em determina-dos momentos o som está estou-rando, lá no último volume, e do nada ele consegue quebrar essa sequência, como num baque e transforma a trilha em algo su-til, transitando entre o caos e a calmaria.

Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge traz consigo muitas surpresas e reviravoltas, sem contar com as referências aos quadrinhos. E então surge a questão: este supera O Cava-leiro das Trevas? Eles empatam tecnicamente. E a essa altura, é impossível separá-los como fil-mes individuais, pois os três se completam perfeitamente, en-caixando peça por peça. O des-fecho é satisfatório e digno. O Cavaleiro das Trevas Ressurge é uma lição de como tratar um super-herói nas telas com digni-dade, algo que os produtores de O Espetacular Homem-Aranha deveriam levar como exemplo para suas sequências. Por fim, só me resta dizer o seguinte ao filme e à trilogia de Nolan: bra-vo!

defeito. Nolan prefere colocar to-das as peças do tabuleiro em seu devido lugar antes de fazer qual-quer movimento. Ele utiliza a paciência – e nós, espectadores, contribuímos com a nossa.

O anarquismo toma conta de Gotham City. A visão de uma cidade sem criminalidade acaba sendo a calmaria antes da tem-pestade. Se Coringa (Heath Led-ger) no filme passado tentou ins-taurar o caos, tentando provar que todos são corruptíveis e es-sencialmente ruins, Bane prega a visão de que ninguém deve co-mandar ninguém e todos devem tomar suas próprias decisões, in-dependente de governo ou lei al-guma. É a desordem, misturada com o caos e o medo que tomam conta de Gotham. Para comba-ter este mal, as pessoas preci-sam de inspiração, o que Bruce e Gordon presumiam ser Haver Dent, mas que acabou não dan-do certo. Por isso, Batman pre-cisa retornar como o símbolo de esperança. Pois, como Nolan já reforçou na trilogia, um homem pode ser detido, ferido, liquida-do, ao contrário de um símbolo. Batman se torna a representa-ção daquilo que dá forças para que alguns se levantem, ascen-dam e lutem por algo.

O protagonista em si, torna--se menos importante em rela-ção ao todo. Este longa é sobre Gotham City. A trama gira em torno dela e ela é tratada com tanto apreço por Nolan que é como se ela falasse e respirasse como qualquer outro persona-gem. Mas não podemos desme-

O homem morcego traz esperança aos habitantes de Gotham City e também aos fãs do herói

Embate entre o bem e o mal: momentos de tensão

Christian Bale entrega-se de corpo e alma ao herói que resiste ao tempo

“Nolan prefere

colocar todas as

peças do tabuleiro

antes de qualquer

movimento