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ESTRADA DE S. MAMEDE, 1 — 2705-637 S. JOÃO DAS LAMPAS • PUBLICAÇÃO PERIÓDICA BIMENSAL • ANO II • NOVEMBRO DE 2006 • DISTRIBUIÇÃO GRATUITA 07 FEIRA DO 31 2 de DEZEMBRO NA SOCIEDADE EM FONTANELAS «Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras dez semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?» Esta é a pergunta a que os cidadãos eleitores terão de responder no referendo já aprovado pela Assembleia da República. Neste número do Contrapontos abrimos espaço ao debate sobre esta importante questão. Tratamos ainda de temas tão vastos como «Energia Geotérmica», o «Consumo Crítico» e relatamos a experiência vivida por um associado nosso na sede do Parque Natural de Sintra-Cascais. Por fim nas páginas centrais entrevistamos gente de Fontanelas e Gouveia querendo saber como a população vê a 3pontos e o que espera desta Associação.

Jornal contrapontos

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Jornal de expressão livre e criativa, tem como temas dominantes a Arte, o Ambiente e a Cultura. Visa dar voz à sociedade civil sintrense e não só, através de textos, fotografias, desenhos, etc. Este projecto corresponde a um núcleo de trabalho da Associação 3pontos

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ESTRADA DE S. MAMEDE, 1 — 2705-637 S. JOÃO DAS LAMPAS • PUBLICAÇÃO PERIÓDICA BIMENSAL • ANO II • NOVEMBRO DE 2006 • DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

07

F E I R A D O 3 12 d e D E Z E M B R O

N A S O C I E D A D E E M F O N T A N E L A S

«Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez,

se realizada, por opção da mulher, nas primeiras dez semanas,

em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?»

Esta é a pergunta a que os cidadãos eleitores terão de responder no referendo

já aprovado pela Assembleia da República. Neste número do Contrapontos

abrimos espaço ao debate sobre esta importante questão.

Tratamos ainda de temas tão vastos como «Energia Geotérmica»,

o «Consumo Crítico» e relatamos a experiência vivida

por um associado nosso na sede do Parque Natural de Sintra-Cascais.

Por fim nas páginas centrais entrevistamos gente de Fontanelas e Gouveia

querendo saber como a população vê a 3pontos e o que espera desta Associação.

Page 2: Jornal contrapontos

Agenda

Estrada de S. Mamede, 1 — 2705-637 S. João das LampasTelef.: 96 805 79 85 • e-mail: [email protected][email protected]

Publicação periódica bimensal • Ano II • Novembro de 2006 • N.o 7 • Distribuição gratuitaColaboram neste número: Ângela Antunes, Carlos Zoio, Cláudia Fróis, Ema Câmara, JoãoVasco Castro, Marco Cosme, Pedro Carriço, Rita Bicho, Verónica Sousa, Verónica VieiraGrafismo: Luís BordaloComposição e paginação: Alfanumérico, Lda.Impressão e acabamento: Gráfica Manuel Barbosa & Filhos, Lda.Tiragem: 1000 exemplaresDepósito legal n.o 233 880/05

Contrapontos destina-se a dar eco das opiniões dos sócios e não sócios, da Associação 3pontos— ambiente, arte, cultura, sendo uma tribuna de livre opinião e um espaço aberto a todos.Os artigos publicados responsabilizam unicamente o seu autor.

3pontosAssembleia Geral

Convocam-se todos os sócios daAssociação 3pontos — Ambiente,Arte e Cultura, para compareceremna Assembleia Geral a realizar nasala de espectáculos da UniãoRecreativa e Desportiva de Fonta-nelas e Gouveia, no sábado dia16 de Dezembro às 17:30 h, com aseguinte ordem de trabalhos:

• balanço de actividades relativasao ano de 2006;

• base legal da Associação;• apresentação dos grupos de tra-

balho e sua estrutura organiza-tiva;

• situação financeira da Associa-ção;

• críticas e sugestões relativa-mente às actividades da Asso-ciação.

A Assembleia começará 30 minu-tos após a hora marcada com qual-quer número de associados.

MÚSICA

C. C. Olga CadavalAuditório Jorge SampaioContacto: 21 910 71 10E-mail: [email protected]érgio Godinho — Ligação Directa30 de Novembro — 22:00 h

Kumpania Algazarra2 DezembroUnião Recreativa e Desportiva de Fontanelase GouveiaContacto: 96 805 79 85E-mail: [email protected]

TEATRO

Casa de Teatro de SintraContacto: 21 923 37 19

«Pedro e o Lobo»Até 17 de DezembroSábados e Domingos às 16:00 h

«Ronda das Fadas»Manhã 10:30 h; Tarde 14:30 hOficina das ArtesQuinta da Regaleira, SintraOrganização: Tapa FurosContacto: 21 921 21 17

EXPOSIÇÕES

«É natural» Pedro PignatelliOutubro/Novembrocafé-bar dois ao quadradoRua João de Deus n.o 70 — Sintra

«Encontros Aquém e Além-mar»Pintura em vidro por Teresa MartinsAté ao dia 3 de DezembroNa Sala principal da Quinta dos LobosCaminho dos Frades — SintraTelefone: 21 924 41 94E-mail: [email protected]

Galeria Municipal de SintraEdifício do Turismo, na Vila de SintraTelefone: 21 923 87 28Exposição de Pintura de Real BordaloDe 25 de Novembro a 13 de Dezembro

CONFERÊNCIAS, DEBATES E TERTÚLIAS

«As Instituições, os Cidadãos e o PatrimónioCultural. Comportamentos e Pensamentos.»Dia 30 de Novembro, às 18:00 hCasa Museu Leal da Câmara — Rio de MouroTelefone: 21 916 43 03

Casa da Juventude — Mem MartinsTelefone: 21 926 70 80

CapoeiraTerças-feiras e quintas-feiras, das 18:30 h às19:00 h

Expressão dramáticaDirigida aos jovens entre 14 e 25 anosSextas-feiras, das 17:30 h às 19:30 h

FEIRAS

Feira do 31 (organização 3pontos)Dia 2 de Dezembro na União Recreativa eDesportiva de Fontanelas e Gouveia

Feira ao LargoPeriodicidade: último sábado de cada mês,entre as 9 e as 18 horas, no Largo da IgrejaMatriz de Colares

Mercado Brocante de SintraPeriodicidade: 1.o e 3.o sábado do mês, entreas 10 e as 19 horas, na Alameda dos Comba-tentes da Grande GuerraAlfarrabistas, antiguidades, artesanato evelharias

Feira de S. Pedro de PenaferrimPeriodicidade: 2.o e 4.o domingos do mês,entre as 9 e as 18 horas, Largo D. Fernando II,S. Pedro de Penaferrim

Se tiveres interessado em divulgar osteus eventos na «Agenda» do Contra-pontos, envia-nos um e-mail para:[email protected], nomáximo até uma semana antes domês de publicação do jornal. Nessee-mail deves incluir: o tipo e o nomedo evento, a entidade organizadora,os respectivos contactos, o local, ahora e a data. E não te esqueças queo Contrapontos é um jornal comcobertura bimensal.

Nesta feira poderá agora encontrar a «ZonaBio». Um espaço destinado à agricultura eprodutos biológicos, onde está garantida afrescura dos produtos e a qualidade dos ali-mentos, a preços convidativos

Feira de AlmoçagemePeriodicidade: 3.o domingo do mês, das 8 às13 horas, no Largo Comendador Gomes daSilva

Feira de S. João das LampasPeriodicidade: 1.o domingo do mês, entre as8 e as 19 horas, no Largo da Feira de S. Joãodas Lampas

Page 3: Jornal contrapontos

um resultado conforme à medida de cadaum e do grupo.

Em consequência da primeira mostrafotográfica, pretende-se abrir a célula anovos elementos que estejam interessadosem participar nas novas iniciativas, taiscomo, exposições, workshops, encontrosfotográficos, debates, etc. Tendo semprecomo princípio o conceito que geroueste grupo, ou seja, um processo cria-tivo.

ÂNGELA ANTUNES

JOÃO VASCO CASTRO

Célula Fotográfica

A noite foi o tema escolhido para darcorpo à criatividade visual na primeiramostra da Célula Fotográfica da Associa-ção 3pontos.

Uma iniciativa que pretendeu assinalara recente formação deste grupo que, nafotografia, encontrou a partilha de umgosto e uma forma dinâmica de explorar ospontos de vista individuais.

Com percursos académicos e profis-sionais distintos, nalguns casos, sem qual-quer ligação à fotografia, os elementos dacélula juntaram-se com o objectivo deabrir um espaço comum à experimentaçãodesta forma de expressão artística. Sempresunções e restrições, assentando sem-pre no princípio da liberdade, seja paradebater pontos de vista, ideias, conheci-mentos ou outro qualquer pormenorvalioso que possa contribuir para alcançar

Editorial

com o single Beam of life.O primeiro álbum da bandachama-se Homónimo e temcomo single Another 80’s.Lançaram também dois EPsna Netlable alemã Ideology:Bang the Guru e Bangtopia.

No seu repertório já con-tam com remixes, um delesde Another 80’s produzidapelos Bandex.

A banda tem tido umaboa recepção pela parte dopúblico. Dia 28 de Novembro

estarão no The Office Club nas Caldas daRainha. O espectáculo ao vivo dosBanGGuru é cheio de grafismo e audiovi-suais. No site www.bangguru.com, pode-mos ver fotos, vídeos, ouvir algumas músi-cas, ter acesso a links dos Bandex e do barRustikafé em S. Pedro de Sintra, e claro,estar a par das últimas notícias da banda.

O próximo concerto em Lisboa estámarcado para dia 13 de Dezembro, 3.o ani-versário dos BanGGuru, no Teatro Mariade Matos. A não perder!

CLÁUDIA FRÓIS

BanGGuru

Este projecto é português!Constituído em 2003, BanGGuru é

composto por Marisa Fortes (voz), PedroHenriques (voz), João Hora (programa-ções), José Dias (guitarra), João Pico (gui-tarra e programações) e Tiago Santos (VJ).

BanGGuru prima pela originalidade epela diversidade musical, uma aposta daeditora Chiado Records. Ao estilo electró-nico funde-se o pop e o electro passandopelo rock e jazz. Sentem-se referências debandas como Portishead e Goldfrapp.

Tiveram uma participação na colectâ-nea Amo-te, também da Chiado Records,

Os meios de comunicação socialdeveriam, para além de transmitirinformação e notícias de interessepúblico, preocupar-se com os im-pactos que essa informação tem nasociedade. Não o fazendo, é-nosatribuída a responsabilidade deseleccionar, criticar e procurarnovos conhecimentos. Também nós,deveríamos conseguir o afastamentonecessário para não nos deixarmosinfluenciar pelo que nos é facultado.O pensamento crítico adquire-secom o conhecimento e com a dis-cussão. Quanto mais tivermosacesso à informação sobre diversostipos e níveis de realidade, menosnos deixamos influenciar por ela. Aprocura de informação torna-se umaconsequência e, se pensarmos que ademocracia assim o exige, voltamosnovamente à questão da responsabi-lidade social e cívica.

Todo este discurso pretendeexplicar as ambições da 3pontospara quem lê e escreve para o Con-trapontos.

Sê atento!Atento também à alteração do

local de realização da próximaFeira do 31. Sábado, dia 2 deDezembro, na sala de espectáculosda União Recreativa e Desportivade Fontanelas e Gouveia (URDFG),com teatro, música e animação.Participação especial, «KumpaniaAlgazarra» (v. última página).

Ainda na mesma sala teremosno dia 30 de Novembro, quinta--feira, um concerto com o grupo«Zappanoia».

Dia 16 de Dezembro far-se-áuma Assembleia Geral da associa-ção, onde os sócios poderão, e deve-rão, participar na discussão sobreassuntos relacionados com a 3pon-tos. Pois é, fim do ano, faz-se obalanço. Fazem-se relatórios e ava-liações... fazem-se contas à vida!

Bom Natal e Feliz Ano Novo!

Assembleia Geral da Associação 3pontosSábado, 16 de Dezembro às 17:30 h

Sala de espectáculos da União Recreativa e Desportiva de Fontanelas e Gouveia

www.bangguru.com

[email protected]

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ENERGIA GEOTÉRMICA

Na sequência do trabalho realizado nointercâmbio, que teve lugar na Grécia nopassado mês de Agosto, vemos assim publi-cado mais um artigo alusivo às fontes deenergia renováveis. Se pensarmos na tendên-cia para a escassez dos combustíveis fósseis,na poluição resultante do uso deste recursoenergético e nas graves consequências desseuso no meio ambiente, torna-se sensatoapostar nas energias renováveis como solu-ção ao desenvolvimento sustentado na preo-cupação com as gerações futuras.

Neste artigo propõe-se informar e carac-terizar uma fonte de energia, que emboracom aplicações limitadas em Portugal Con-tinental, representa uma das melhores apos-tas para o fornecimento de energia nos Aço-res, quer do ponto de vista ambiental, querdo ponto de vista económico.

A energia geotérmica consiste no apro-veitamento do calor proveniente das câma-ras magmáticas no interior da crosta ter-restre. O aproveitamento da energiageotérmica implica a existência de umfluido, normalmente a água, que transporteo calor do interior da terra para a superfí-cie. É usual utilizarem-se as designaçõesalta e baixa entalpia, consoante o fluido se

encontra a uma temperatura superior ouinferior a 150°C.

O uso desta fonte de energia é limitadoa alguns países que não possuem activi-dade vulcânica. Deste modo, e uma vezque em Portugal continental não existeactividade magmática recente, existemdois tipos de casos possíveis para o usodesta energia em Portugal. Um, relacio-nado com os campos de baixas entalpias,traduzido em manifestações superficiais deágua quente utilizadas como exemplo embalneoterapia, e outro, ao nível das altasentalpias, que visa o aproveitamento docalor proveniente das câmaras magmáticasatravés de perfurações em zonas de ele-vada permeabilidade, verificado nos arqui-pélagos da Madeira e Açores.

O uso do aproveitamento geotérmicode baixas entalpias em Portugal continentale no arquipélago da Madeira está relacio-nado com as estâncias termais, o aqueci-mento ambiental, o aquecimento de estu-fas, de piscinas e a piscicultura.

No arquipélago dos Açores, emboranem todas as ilhas possuam condiçõesmínimas para a exploração geotérmica, oaproveitamento calorífico ao nível dasaltas entalpias tem vindo a ganhar propor-ções consideráveis. Em 2001 a energiageotérmica representava já 29% da energiaproduzida em São Miguel, enquanto quenos Açores, no mesmo ano esse valor erade 16%.

Como foi dito anteriormente, a escas-sez dos combustíveis fósseis e as conse-

ENERGIAS RENOVÁVEISAMBIENTE

Caldas de MoledoFonte: www.ineti.pt

Nascentes termais nas Furnas, S. MiguelFonte: www.sogeo.eda.pt

Produção de Energia em PortugalFonte: www.uminho.pt

ANO

Produção de energia eléctrica a partir de energia geotérmica

1991 1997 2002

100806040200

(GW

/h)

Page 5: Jornal contrapontos

APOIOS • APOIOS • APOIOS • APOIOS • APOIOS • APOIOS • APOIOS • APOIOS • APOIOS • APOIOS • APOIOS • APOIOS • APOIOS • APOIOS

Estrada de AlcolombalCondomínio Indústrial de AlcolombalArmazém 12 • 2705-833 TerrugemSINTRA — PORTUGALTel. 21 961 99 27 • Fax 351 21 961 99 16

União Recreativa e DesportivaFontanelas e Gouveia

quências do seu uso para o ambiente,levam à procura de soluções que garan-tam a diminuição da dependência de ener-gias com origem em produtos derivadosdo petróleo. Como alternativa, uma ener-gia que permita uma maior autonomiaenergética, cuja fonte seja inesgotável, epermita a redução das emissões causadaspela queima de combustíveis fósseis, aenergia geotérmica apresenta-se como umrecurso viável, limpo e economicamenterentável.

CASOS ESPECÍFICOS

Em Portugal continental, o aproveita-mento de calor a baixas temperaturas podeser usado de duas formas. Através de apro-veitamento de pólos termais existentes(temperaturas entre 20°C e 76°C), comosão o caso de Chaves e de S. Pedro do Sulcom cerca de 3 MW/h a temperaturas decerca de 75°C a funcionar desde a décadade 80 e aproveitamento de aquíferos pro-fundos das bacias sedimentares, caso doprojecto geotérmico do hospital da ForçaAérea do Lumiar, em Lisboa, obtida a par-tir de um furo com 1500 m de profundi-dade com temperaturas superiores a 50°C,a funcionar desde 1992.

No caso dos Açores, em virtude dassuas características vulcânicas, os seus reser-vatórios geotérmicos com interesse, têmtemperaturas que ultrapassam os 200°C.

No ano de 1973 um grupo de jovensuniversitários que efectuavam pesquisas naRibeira Grande ao fazerem um furo nosolo encontraram vapor vindo deste, factoque impulsionou a pesquisa de energiageotérmica nos Açores. Foi então que noano de 1994 se instalou na Ribeira Grandea primeira fase da central, constituída pordois grupos de turbo-geradores duplos(2 × 2,5 MW) e na segunda fase, no ano de1998 foi instalada uma potência adicionalcom mais dois grupos de turbo-geradores(2 × 4 MW).

A produção geotérmica atingiu 18,83%do total de energia eléctrica produzida nosAçores durante o ano de 2002.

Em relação à ilha de São Miguel ondeas centrais estão instaladas, a contribuiçãogeotérmica atingiu durante o mesmo ano35% do total de electricidade produzida.

No que diz respeito ao ranking interna-cional, os Açores ocupam o 17.o lugar comcerca de 16 MW/h, contra os 2228 MW/hdos EUA, que se encontram no topo daprodução geotérmica mundial. Cerca de 21países produzem já energia geotérmica,formando um total de 49 261 MW/h! Nãodeixa de ser surpreendente esta diversifica-

ção das várias fontes de energia, nomeada-mente a geotérmica.

Com o privilégio de possuir manifesta-ções energéticas no subsolo, e com tãovasto potencial, os Açores não podem dei-xar de aproveitar esta fonte que traz con-sigo a autonomia energética do arquipé-lago.

PROJECTOS FUTUROS

Neste momento está em curso o pro-jecto de remodelação da central geotérmicado Pico Vermelho, estando prevista a ins-talação de 8000 kW.

Na ilha Terceira, está a decorrer umprograma de sondagens termomeléctricastendo em vista confirmar a existência deum reservatório geotérmico.

Estudos de avaliação do potencialgeotérmico já efectuados apontam para a

Central da Ribeira Grande, AçoresFonte: www.abae.pt

possibilidade técnico-económica de insta-lação de aproveitamentos geotérmicosnoutras ilhas.

Uma outra aplicação futura poderá sera aplicação de bombas de calor geotérmi-cas reversíveis, que aproveitam o calor apartir de aquíferos ou das formações geo-lógicas através de permutadores instala-dos no subsolo, permitindo utilizações deaquecimento e climatização, que poderãorepresentar um potencial de 12 MW/h,como sejam o Faial com 7500 kW, e oPico com 5 MW.

RITA BENTO

Fontes: www.geoterceira.eda.ptwww.arena.com.ptwww.energiasrenovaveis.comwww.abae.ptwww.cm-ribeiragrande.ptwww.viaoceanica.comwww.ineti.pt

Page 6: Jornal contrapontos

Como todos sabemos, no início do pró-ximo ano far-se-á uma nova consultapública, para decidir a alteração ou não dalei actual, sobre a interrupção voluntária dagravidez (IVG).

O presente texto pretende acima de tudoinformar e clarificar sobre as diferentesposições, argumentos, acções e dadosfactuais, sobre o tema, com o intuito depermitir, através da informação recolhida,uma decisão consciente por parte de cadaum de nós. Desta maneira, procuraremos sero mais imparciais possível.

A palavra aborto provém do latim ab--ortus, ou seja, «privação do nascimento».

Portugal são os países europeus com asleis mais restritas sobre o aborto.

De acordo com os números 1 e 2 doartigo 47.o do Código Deontológico daOrdem dos Médicos, a prática do abortonão é permitida:

«1) o médico deve guardar respeitopela vida humana desde o seu iní-cio;

2) constitui falta deontológica gravequer a prática do aborto quer a prá-tica da eutanásia.»

O médico tem o direito de recusar fazerum aborto, quando tal prática entra emconflito com a sua consciência moral, reli-

«Muitas mulherescompareceram em tribunal

pelo crime de aborto.E alguns julgamentosficaram na história,

como o que envolveu43 arguidos, 17 mulheres,

vários médicos, enfermeirose farmacêuticos da Maia»

In Diário de Notícias

«Não pararemosenquanto for possível

encontrar nas nossas cidadesuma mulher que diga:

Eu aborteiporque não encontreiquem me ajudasse»

Madre Teresa de Calcutá

Apesar de ser um acto cruel por parte doser humano, o aborto sempre existiu, pordiversos motivos: violações, adultérios,incestos e condições económicas. Eraefectuado pelas próprias parteiras e curan-deiras, e só a partir do século XIX foi con-siderado um acto criminoso por lei.A primeira vez que se falou do aborto, naAssembleia da República foi em 1982,sendo que em 1984 é aprovado um pro-jecto de Mário Soares que institui oaborto até às 12 semanas havendo risco desaúde da mãe, más formações fetais e vio-lação.

O último referendo realizado em 28 deJunho de 1998 resultou na vitória do«não», com 50,91% dos votos, mas comuma significativa percentagem de absten-ções, 68%. A consulta não foi vinculativaporque não votaram 50% dos recenseados.Em Janeiro de 2004, grupos pró-escolharecolheram 120 000 assinaturas solicitandoa realização de um novo referendo comvista à despenalização do aborto, factordeterminante para que o assunto nãoficasse esquecido.

A actual lei prevê o aborto, em situa-ções particulares (má formação do feto,deficiência, risco de saúde, violação),sendo que o Código Penal criminaliza aprática da IVG. Polónia, Malta, Irlanda e

«Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez,se realizada, por opção da mulher, nas primeiras dez semanas,em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?»

SOCIEDADE

Page 7: Jornal contrapontos

giosa ou humanitária ou quando o acto nãorespeita o mesmo código podendo assim,invocar objecção de consciência (artigo30.o do Código).

Importante será ainda esclarecer o quenos é perguntado, antes de decidir o queresponder.

O que significa a despenalização daIVG e o que é um estabelecimento desaúde legalmente autorizado?

A alteração da lei, implicará o desapa-recimento no Código Penal da pena de pri-são até 3 anos para as mulheres que recor-rerem ao aborto. Para o fazerem, asmulheres deverão recorrer a estabeleci-mentos de saúde legalmente autorizados,ou seja, estabelecimentos que possuamalvará —, inspeccionados pela Direcção--Geral da Saúde e vistoriados quanto aespaço, condições de utilização e pessoalmédico e de enfermagem, estando sujeitosa condições estritas de funcionamento e afiscalização permanente.

Porque Sim• para acabar com os julgamentosde mulheres que recorrem à IVG epara acabar com o aborto clandes-tino;• tendo como facto que se fazemabortos ilegais, em más condições ecom consequências graves parasaúde da mulher, uma vez que sefazem, que se façam em condições;• «Não é para liberalizar. É paraobter um equilíbrio entre as convic-ções pessoais e a liberdade. O pri-meiro objectivo da lei é não man-dar para a prisão as mulheres quefaçam um aborto até às dez sema-nas de gravidez»«Não queremos que ninguém façaou deixe de fazer [um aborto]. [...]Não queremos é o julgamentosocial dessas mulheres, nem que asque decidem fazer vão parar à pri-são» José Sócrates.• pela importância do factoreconómico, e subtilmente hipó-crita, visto que as mulheres declasses média/alta recorrem clíni-cas espanholas;• porque a despenalização valorizaa liberdade e a responsabilidade damulher;• pela tendência à diminuição donúmero de recursos ao aborto,como aliás se tem verificado nou-tros países europeus.

CONCLUSÕES

Apesar da questão do aborto ser umassunto polémico e causador de inúmerasdivergências por parte de grupos, partidose religiões, é um assunto deveras impor-tante, que põe em causa factores económi-cos, demográficos, culturais e de saúdepública.

Seja qual for a posição ou convicçãoindividual em relação a este assunto,parece evidente que o aborto não será asolução para as mulheres. Para que a ques-tão da IVG não fique «arrumada» após oreferendo, o governo tem de tomar medi-das práticas no que diz respeito à contra-cepção.

Se em 1998, para muitos portugueses,o referendo foi indiferente, actualmente éuma discussão pertinente pela recolha de120 000 assinaturas solicitando a realiza-ção de um novo referendo com vista à le-galização da IVG.

Não querendo que este assunto passemais uma vez despercebido e tendo emconta a sondagem efectuada pela revistaSábado, que aponta uma pequena percen-tagem de inquiridos sem opinião formada,é importante a informação, sensibilizaçãoe, acima de tudo a ida às urnas na próximaconsulta pública.

Não sendo evidenciado pela mesmasondagem a percentagem de abstençõespor parte dos homens, estes, como parteintegrante da relação sexual e da concep-ção, deverão estar também interessados nadefesa da saúde das mulheres e no direitoa ter filhos desejados.

FACTOS

• A pílula do dia seguinte, à venda nasfarmácias, é uma pílula abortiva e são mui-tas as jovens que recorrem a este métododevendo ser tomada apenas duas vezes navida.

• As portuguesas com algum podereconómico recorrem a clínicas espanholas,devido à actual lei portuguesa. Os espa-nhóis, atentos a esse facto, preparam aabertura de clínicas em Portugal já no iní-cio do próximo ano. Garantem que a aber-tura das clínicas não está dependente doresultado do referendo do aborto.

• Em Portugal são praticados, pelomenos, 20 000 abortos ilegais por ano. Emresultado de complicações resultantes des-ses abortos ilegais, todos os anos cerca de5000 mulheres são atendidas em hospitaise, nos últimos 20 anos, morreram cerca de100 mulheres desnecessariamente (dadosdo Ministério da Saúde).

• Em 2001, 17 mulheres foram levadasa julgamento por terem recorrido ao abortoilegal e uma enfermeira foi condenada asete anos e meio de prisão por os realizar.Neste momento, três mulheres e umaenfermeira estão a ser julgadas em Setúbal.

• A cada 6 minutos morre uma mulhervítima de um aborto, efectuado em máscondições, em clínicas clandestinas.

CLÁUDIA FRÓIS

RITA BENTO

Imagens: demokratia.blogs.sapo.ptconfidencia.blogspot.com

Fontes: Sábado, Outubro de 2006;Sol, 14 de Outubro de 2006;Diário de Notícias, 18 de Outubro de 2006;Destake, 20 de Outubro de 2006;Metro, 20 de Outubro de 2006;http://pt.wikipedia. org/;http://www.womenonwaves.org/;http://www. publico.clix.pt/;http://aborto.no.sapo.pt/;http://ordemdosmedicos.pt

Porque Não• porque não é apenas um pro-blema religioso, é também cientí-fico. Uma vez que há vida desde aconcepção;• porque existem problemas demo-gráficos e económicos a ter emconta. Portugal é um país com umapopulação envelhecida;• «Mas eu nunca fui em modas.Fico muito orgulhosa que Portugal,ao longo dos séculos, tenha idocontra as modas e afirmado o seuhumanismo, que hoje é reconhe-cido, ao ter sido pioneiro na aboli-ção da escravatura e da pena demorte, nos direitos às mulheres enos cuidados às crianças. Nãotemos que ir a reboque de umamoda» deputada Matilde SousaFranco do Partido Socialista.• porque não podemos desculpabi-lizar e facilitar o aborto — o estadonão pode transmitir a ideia de quese pode abortar à vontade, porque éfácil, mais cómodo e porque deixoude ser crime;• pelo direito à vida;• «Dentre todos os crimes que ohomem pode cometer contra a vida,o aborto provocado apresentacaracterísticas que o tornam parti-cularmente perverso e abominá-vel.» João Paulo II, EvangeliumVitæ, n.o 58

Page 8: Jornal contrapontos

Nuno, 11 anos — estudante1) Não.2) Sim, já vi a feira e o jornal, e acho

muito giro!!! Ao menos serve para as pes-soas se reunirem…

3) Gosto muito da feira.4) Gostava que se pudesse fazer um

tipo de associação de ciclismo.5) Assim, que me lembre, não.

João Tavares, 44 anos — proprietário deestabelecimento comercial

1) Sim, a 3pontos.2) Sim tenho conhecimento e acho

que são umas actividades boas, que fazemfalta.

3) Já são bastante diversas.4) Por serem tão diversas, torna-se difí-

cil enumerar mais alguma, no entanto, aovosso jornal podia-se acrescentar algumashistórias engraçadas para publicar. Sugeriaque a 3pontos publicasse um roteiro das

ruas de Fontanelas e Gouveia e se fizesseum artigo sobre a origem das duas aldeias.

5) Tenho projectos que gostaria derealizar, mas não me parece que a 3pontosme pudesse ajudar.

Sandra Silva, 14 anos — estudante1) Sim, tenho.2) Sim, sei que existe uma feira reali-

zada por vocês e sei também do vosso jor-nal.

4) Sim, se pudesse acontecer, gostavaque se realizasse mais actividades relacio-nadas com a música.

5) Assim, à primeira vista, acho quenão.

José António 53 anos1) Sim, sei da vossa Associação atra-

vés do vosso boletim e, também, por pes-soas avulso que me têm contado algumascoisas, incluindo amigos que colaboramconvosco.

Já passou algum tempo desde que o nosso projecto foi criado, por isso, decidimos sair à ruae ouvir o que a voz popular tem a dizer acerca do trabalho realizado e talvez, quem sabe,ouvir novas ideias para esta Associação de todos nós.

VOX POPULI

Perguntas 3pontos:1) Tem conhecimento da existência da3pontos, Associação juvenil, criada emFontanelas?2) Conhece alguma das actividades já rea-lizadas pela Associação?3) Das actividades promovidas pela nossaAssociação, houve alguma que lhe tivessedespertado maior atenção?4) Existe alguma actividade que gostassever realizada pela nossa Associação?5) A nível pessoal ou profissional háalgum projecto que considere que é útil oempenho da Associação no seu desenvol-vimento?

Domigos Bicho Chiolas, 59 anos — presi-dente da União Recreativa Desportiva deFontanelas e Gouveia

1) Tenho, sim senhor!2) Conheço algumas, nem todas, pos-

sivelmente.3) A iniciativa do mercado do 31,

algumas das exposições que vocês já reali-zaram.

4) É capaz de se poder realizar qual-quer coisa utilizando as instalações dasociedade, nomeadamente, a nível despor-tivo, como ginástica e ballet, por exemplo,que seriam úteis para a terra.

5) A nível pessoal não tenho nada emvista a curto prazo mas, a nível colectivo,como já disse anteriormente, pode fazer-semuitas coisas e, enquanto presidente dacolectividade, podem contar com o meuapoio.

ENTREVISTAS

Page 9: Jornal contrapontos

2) Sei que vocês têm o boletim, tenhoassistido às vossas feiras e sei de passeiospedestres que organizam, os intercâm-bios… acho que é bom o que estão a fazer,porque se antes não havia nada, passou ahaver e isso já é um ponto grande a favor,depois desde que se active e una os jovensdesta terra. Além do mais, cria dinâmicase revela potencialidades.

3) As exposições de fotografia.4) Devem existir várias coisas que

vocês possam fazer, agora, descobri-las nasua utilidade e no seu encaixe, inseri-las naterra e no momento é que é difícil, e a isso,não consigo responder.

5) A nível pessoal acho que não mas,a um nível mais geral, talvez se envolve-rem mais com outras associações dogénero ou criarem plataformas de entendi-mento e coordenação. Por exemplo, envol-verem-se com teatro e existem grupos deteatro para tal. Talvez isso crie dinâmicasdentro da vossa própria dinâmica.

Zulmira, 47 anos — proprietária de esta-belecimento comercial

1) Claro que sim…2) Algumas, porque leio o vosso jor-

nal.3) Admiro o Contrapontos, porque

tem artigos muito giros.4) Fontanelas precisa de actividades

para crianças. Eu, como outras mães danossa aldeia, não encontramos na colecti-vidade soluções para deixar as nossascrianças desenvolverem actividades des-portivas ou de qualquer outra vertente,para não falar da falta que um infantáriofaz à aldeia, mas aí, receio que vocês nãopossam fazer nada.

5) Não, penso que não, mas digo-vos,se puderem fazer qualquer coisa de bom,eu estou cá para vos apoiar. Porque se não

forem vocês a fazerem qualquer coisa, nãoache que alguém o faça.

4) Vocês já fazem tanta coisa!!!

Tiago Caldeira, 22 anos – trabalha namarinha

1) Sim.2) Sim, algumas…3) Fotografia, acho que é uma boa

actividade, e as feiras sãoboas. Tenho conhecimento dojornal Contrapontos, mas nor-malmente não tenho acesso,por isso, acho que devia de teruma maior distribuição demaneira a incuti-lo às pessoas.

4) Assim, de repente, nãome ocorre... Fotografia é umtema que gosto!

5) De momento não tenhonenhum projecto.

Maria João, 54 anos1) Não.2) Não.3) Não tenho conheci-

mento de nenhuma.

4) Qualquer coisa relacionada com odesporto, para não termos de recorrer aoutras localidades…

5) Gostava de aprender danças desalão e acho que era uma coisa gira para aspessoas fazerem ao fim do dia.

«Avó» Conceição, 87 anos1) Sim tenho, e tenho lá gente minha!2) Sei que vocês fazem uma feira e

que têm um jornal, do qual gosto muito eestá muito bem escrito.

3) O jornal.

CONCLUSÃO

Das entrevistas realizadas, foi possívelconfirmar que nem todos têm conheci-mento da existência da Associação ou dassuas actividades. No entanto, constatamostambém que existe uma vontade comum atodos, mais velhos e mais novos, para quea Associação promova eventos e activida-des, tendo especialmente como público--alvo aqueles que verdadeiramente «exi-gem» alternativas para a ocupação dosseus tempos livres — os jovens.Sabemos agora que, apesar destas lacunas,é também interesse comum resolvê-las,dando assim mais sentido a este projectoque decidimos realizar, nunca esquecendoque, para melhorarmos, necessitamos daajuda da população. Se os pais dos jovenslocais gostariam de ver os seus filhos comocupações construtivas, durante os seustempos livres, terão de ser eles os primei-ros a defender o seu interesse e a apoiar asiniciativas da 3pontos.A porta está aberta… Apareçam…

Nota: Apesar de no total terem respondidoao inquérito 16 pessoas em Fontanelas eGouveia, apenas estes foram transcritospor motivos de organização de espaço doContrapontos. Mais uma vez, agradecemosa todos por se terem mostrado tão prestá-veis.Fotografias de Cláudia Fróis, Pedro Car-riço e Rita Bento/Célula Fotográfica.

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Page 10: Jornal contrapontos

SOCIEDADE

Para tudo há uma primeira vez. NaVisita de Estudo que realizámos à Sérviavárias foram as situações novas, não ape-nas uma.

A equipa portuguesa que representou a3pontos nunca tinha estado na Sérvia nemparticipado num projecto internacional,mas tão pouco a associação «NGO Light»,da cidade de Sabac, onde ficámos, tinhaconseguido concretizar o sonho de organi-zar um encontro intercultural.

Rapidamente nos apercebemos que«Youth & Media, Unavoidable Encoun-ter», mais do que uma simples visita deestudo, era algo especial, como que umaverdadeira primeira vez, mas multidimen-sional.

Os dias passaram e, a cada hora, cons-tatámos que mais importante do que asactividades desenvolvidas foi aoportunidade que concedemos àjuventude sérvia — a possibili-dade de contactarem, pela pri-meira vez, com pessoas deoutras culturas.

Apesar de para nós ser incon-cebível, em pleno século XXI,75% da população sérvia nãotem oportunidade de sair do ter-ritório, já que a maioria dos paí-ses ainda não concede vistosaos cidadãos sérvios.

A mobilidade para todosaqueles que conhecemos aindaé um sonho, o que significaque, para eles, o conceito deliberdade ainda não integra arealidade.

DIÁRIO DE BORDO

8 de Setembro — a chegadaChegámos inseguros. A ideia de entrar

numa realidade estranha, num país como aSérvia, pesava no ânimo de ambos. Nãosabíamos o que íamos encontrar, mas está-vamos os dois prontos para essa aven-tura…

E talvez esta força portuguesa positivaque nos corre nas veias nos tenha feitoencontrar algo de bom, de muito bom…A noite acabou por nos provar o feelingque sentimos.

À mesa, ao jantar, que energia, queonda positiva, que tamanha curiosidade

comum… partilhada até às tantas, em brin-des de amizade, a fazer lembrar aquelasque duram desde sempre. O primeiro con-tacto que abriu portas de ouro para o diaque se seguia.

Dia 9 de Setembro — o quebra-geloO primeiro dia de trabalho no projecto.

Foi-nos apresentada a planificação davisita de estudo, os objectivos a concreti-zar e o que nos era pedido. Mas maisimportante, pela primeira vez, redescobri-mos os participantes que partilharam aconnosco a noite anterior e ficámos aconhecer todos os outros.

Entre jogos de quebra-gelo, muitaschávenas de café turco e alguns cigarros, oambiente começou a ficar no ponto…O sol radiante e a beleza da infra-estrutura

do centro cultural, onde trabalhámosdurante os seis dias do projecto, ajudarama acimentar as primeiras interacções.

À tarde, cada equipa apresentou a suaassociação. A equipa italiana da Arci, abósnia da «Zdravo da ste» («Hi Neigh-bour»), a belga da PAC e, por fim, a por-tuguesa. Apesar da nossa preocupaçãomútua e muito nervosismo à mistura, láconseguimos mostrar a todos o que é anossa 3pontos. No final, foi excelente ser-mos confrontados com um interesse gene-ralizado. Todos quiseram saber mais sobrea fundação da associação ou, até mesmo,sobre o sistema de financiamento do Con-trapontos.

Depois das apresentações, chegou aaltura do repasto intercultural. Mais umanoite mágica porque, apesar do pouco con-tacto que ainda tínhamos, foi possível ligaras culturas através das várias iguarias decada país.

Depois… O merecido descanso.

10 de Setembro — a primeira preparaçãoEm «Media & Youth, Unavoidable

Encounter» os participantes foram, primei-ramente, divididos em três grupos —«Media e Relações Públicas», «Cenogra-fia» e «Realização» —, que interagiram etrabalharam sempre em conjunto.

A estrutura da visita de estudo tambémfoi organizada em triologia. Ou seja, tínha-mos de planificar três actividades em trêscidades diferentes e organizá-las de acordo

com o seguinte esquema:1. Na cidade de Novisad o

nosso objectivo era comunicar,sobretudo, com os cidadãos.A ideia seria passar uma men-sagem de liberdade, que esti-vesse relacionada com o pas-sado;

2. Em Sabac, estava pro-gramada uma visita à autar-quia, com uma hora de dura-ção. Durante esse tempo, anossa missão era organizar umaactividade que permitisse esta-belecer uma relação com aadministração, salientando aimportância que a comunicaçãoentre os jovens e as autarquiastem no presente.

3. Na capital sérvia, Beo-gard (Belgrado), o enfoque foi o futuro. Amensagem teria de estar relacionada com aeducação e a nossa comunicação deviaestar centrada nos media.

Como é óbvio, face ao que era pedidoao grupo, não foi fácil perceber como iría-mos conceber três actividades que explo-rassem os tópicos propostos. E muitomenos, não foi simples planificá-las.

Por isso, este dia foi passado a «pôr depé» a performance que apresentámos emNovisad no dia a seguir, quando, suposta-mente, teríamos também de criar e organi-zar as actividades seguintes. Foi um traba-lho difícil, mas muito, muito interessante esatisfatório.

A PRIMEIRA VEZ... NA SÉRVIA

Page 11: Jornal contrapontos

11 de Setembro — Novisad, a performanceDia de expectativa. Sabíamos que iria

ser difícil derrotar o cepticismo próprio deum povo que simplesmente não teve odireito a um passado recente pacífico,como o dos portugueses. Mas, por incrívelque pareça, a reacção dos populares sob oslogan «Não sejam violentos, não passa develho costume» foi surpreendente e fize-mos a diferença.

Tentámos fazer ver aos transeuntesque, apesar de terem vivido tempos difí-ceis, existe um caminho para a paz e aliberdade. E assim foi. Criámos um túnelque representava esses tempos menosbons, para servir de passagem à propostade mudança de atitude que terminava numgrande símbolo de paz. A ideia era queesse sinal fosse preenchido com peças deguerra que, à saída do túnel, eram recolhi-das e colocadas no chão por todos aquelesque se arriscaram a aderir à nossa causa,mesmo que de uma forma tímida.

O balanço... estava espelhado nos ros-tos de todos nós. Era a alegria e satisfaçãode cada um de nós que, pela primeira vez,tínhamos feito algo do género e de umaforma tão efusiva.

Algo novo foi também a preparaçãopara o dia seguinte. No regresso a Sabac,parámos num parque natural e, em plenocontacto com a natureza, foi-nos propostauma difícil missão — tínhamos de projec-tar a próxima apresentação mas, desta vez,o relógio estava contra nós... Estávamos apoucas horas de entrar pela porta principaldo município de Sabac. Aí tínhamos queestar realmente lúcidos em relação às nos-sas ideias. Era um palco bem diferente...

12 de Setembro — Sabac, o encontroA administração local esperava-nos às

dez horas e, sinceramente, nada tinhaficado muito definido no dia anterior.O stress era visível no semblante dos orga-nizadores. Entrar, mesmo que por apenas

uma hora, num muni-cípio de uma qualquerlocalidade sérvia, nãoé bem o mesmo queir à Câmara Munici-pal de Sintra... Noentanto, à última dahora, todos começa-ram a mexer e tudo seresolveu.

Decidimos dividiro projecto em trêspartes. No hall deentrada, instalámosum sistema de multi-média; nos diferentes

departamentos, decidimos expor fotogra-fias sobre comunicação, por debaixo dosplacares informativos, enquanto os restan-tes elementos entrevistavam os funcioná-rios sobre a criação de novos projectospara jovens, já que na autarquia de Sabacnão existia nenhum departamento que sededicasse à juventude.

No final, participámos num workshopde comunicação não verbal, que não reu-niu o consenso geral... Nem todos encaixa-ram bem as diferentes técnicas utilizadaspara comprovar a eficiência deste géneroancestral de comunicação. Seguiu-se osuposto cocktail com os representantes daadministração local, que não foi mais doque uma reunião super formal com o pre-sidente do município de Sabac e... semdireito a comida!

A uma mesa rectangular, com lugarpara cerca de vinte pessoas, todos os par-ticipantes estrangeiros foram convidados asentarem-se, juntamente com alguns dosvoluntários sérvios. Os restantes, ficaramem pé.

Depois de vinte minutos de discursoem sérvio, traduzido em inglês pelos repre-sentantes da NGO Light, a mensagem dopresidente ficou clara. A nossa missão,enquanto estrangeiros, seria aproveitar aparticipação na visita de estudo para, aposteriori, divulgar ao mundo que ossérvios ainda estão a braços com o pro-blema da concessão de vistos.

Mais uma vez se comprovou as capaci-dades intrínsecas aos sérvios, mas também,a cada um de nós. A actividade resultou e,pelo menos naquele dia, a administraçãoficou com uma ideia diferente do potencialda juventude e, claro, da importância queassumem na sociedade.

A visita de estudo às duas das televi-sões regionais de Sabac, uma privada eoutra estatal, foi uma experiência muitointeressante. Permitiu verificar as diferen-ças que distanciam os meios de comunica-

ção portugueses e sérvios, sobretudo, por-que neste país existem cerca de 22 canaisde televisão e, só em Sabac, existiam qua-tro estações regionais.

13 de Setembro — Beogard, um futuroO dia começou da mesma maneira que

os outros, cedo (!!!), mas depois de brinda-dos com aquele já desejado pequeno--almoço, estávamos prontos para cumprirmais uma missão.

Partimos em direcção a Belgrado porvolta das onze da manhã. Era já tempo dedar continuidade ao projecto e este dia eradestinado ao futuro.

Durante a viajem a curiosidade deturistas que caracterizava os elementos dospaíses convidados, absorvidos por paisa-gens magníficas, confundia-se com a boadisposição dos anfitriões, criando assimum ambiente puro e brilhante para viajar.

Chegando a Beogard, deparamo-noscom uma cidade linda e mágica, que tive-mos oportunidade de conhecer — ruasrepletas de comércio, pessoas atarefadas,alguns turistas, edifícios característicos,miradouros e jardins infindáveis. Enfim,uma verdadeira capital europeia.

A boa disposição continuava a reinar,mas já era tempo de trabalhar. O nossoprojecto consistia em simular um concursotelevisivo de perguntas de cultura geralrelacionadas com os países participantes.

O plano era simples. Tínhamos umapresentador, sentado na principal avenidada cidade, três câmaras, animadores e umpúblico em pulgas para bater palmas. Sófaltava mesmo os concorrentes — as pes-soas que passavam —, mas o «profissiona-lismo» dos quatro animadores fez-se valere não demorou muito até que o nosso

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Page 12: Jornal contrapontos

Na passada sexta-feira dia 20 de Outu-bro de 2006, numa passagem pela sede doParque Natural de Sintra-Cascais, fui con-frontado com uma situação no mínimocuriosa. Pretendia nesse dia consultar acartografia do seu plano de ordenamento,pois estou a realizar um trabalho de enge-nharia florestal dentro do Parque.

No entanto, quando cheguei ao localhabitual de atendimento ao público, fuiconfrontado com um grupo de pessoasbem vestidas, engravatadas e perfumadas,e com jornalistas à mistura, o que dava arde ser coisa importante. Depois de entrarno edifício, enfrentei uma decoração nãohabitual, com uma longa mesa em formade L, repleta de iguarias, tudo com umaspecto muito delicioso e muito bemdecorado. Mas o meu objectivo não eraparticipar em nada disto, pelo contrário, oque me levava ali era trabalho.

Contudo, apesar de ser sexta-feira e deestar no horário de atendimento normal, o

serviço de consulta que pretendia não mefoi proporcionado. Mas porquê? Ora veja-mos.

Pouco depois de entrar, fui abordadopor uma funcionária do Parque com umaquestão, que deu continuidade a um curto,mas esclarecedor, diálogo:

Funcionária — É jornalista, é?Eu — Eu? Não… O local de atendi-

mento ao público é aqui, não é?Funcionária — Pois… é que hoje esta-

mos a realizar um evento social…Eu — E onde é que é feito o atendi-

mento ao público?Funcionária — Sabe… É que para rea-

lizar este evento, tivemos de fechar o aten-dimento ao público…

Eu — Mas que evento social é este?Funcionária — Estamos a comemorar

«O Fim da Época de Incêndios»!Eu — Hum… ok… obrigado, então.

— Saí sem mais palavras e a reflectir sobreo assunto.

Pois é! O Parque Natural de Sintra--Cascais encerra o atendimento ao público,num dia útil, num horário de funciona-mento normal, para realizar eventos sociaisde comemoração duma coisa tão comemo-rativa como «o fim da época de incên-dios»?! Onde chega a falta de bom senso?!

Só para que se perceba melhor, a épocade incêndios não é nada mais, nada menos,do que um período considerado de riscomaior para a ocorrência de incêndios, o qualé determinado pelo Governo (ou seja, deci-dido por políticos), para pôr em acção umplano de actuação mais imediato, comomedida de reacção aos inúmeros incêndiosque, como todos sabemos, mas que aindanão sabemos muito bem as causas, ocorremmais frequentemente no Verão. Mas nuncame tinha apercebido que poderia um dia vira ser motivo para celebrações festivas comdireito a evento social (entre políticos eadministradores públicos). Não faz sentidocomemorar «o fim da época de incêndios»!

comedido orçamento de prémiosterminasse (gelados e flores) devidoà afluência de participantes…

O fim do dia aproximava-se eainda nos faltava um ponto funda-mental — a visita à principal televi-são sérvia. Além de conhecermosos diferentes departamentos daestação, tivemos direito a gravar emestudo o nosso próprio concursotelevisivo. Mais uma bonita pri-meira vez e mais um grande dia.A avaliação… bem... o costume.

Dia 14 de Setembro — o balanço e a «sau-dade»

A par da tristeza normal que caracte-riza qualquer final, o último dia da visitade estudo à Sérvia também foi revelador.Procedemos à habitual avaliação, debate-mos possíveis iniciativas futuras, mas,sobretudo, percebemos o quanto este pro-jecto tinha, realmente, marcado em defini-tivo cada um de nós, enquanto nos ouvía-mos a partilhar cada uma das nossasexperiências pessoais...

Pela primeira vez, os participantes maisexperientes surpreenderam-se com um pro-jecto internacional, pela diferença que ocaracterizou.

Curiosidades:• Existem restaurantes onde

também funcionam cabeleireiros;• As lombas da estrada são na

diagonal;• Os semáforos ficam com a

luz verde e amarela ao mesmotempo;

• A maioria dos sérvios chamairmãos aos primos direitos;

• Apesar das dificuldadeseconómicas, a maioria das mulhe-res tem o hábito de frequentar ossolários;

• Existe a tradição de descalçar ossapatos à porta de casa;

• Cuca é a música tradicional sérvia eé tocada com trompetes;

• Existem talhos que para além devenderem carne, também a cozinham nomesmo espaço;

• Os casamentos são públicos, incluemdesfile nas ruas principais. A música tradi-cional que os acompanha é tocada porciganos, contratados para o efeito.

• A comida é tão picante que atémesmo os apreciadores desta especiariatêm dificuldade em ingeri-la.

ÂNGELA ANTUNES

CARLOS ZOIO

Pela primeira vez, alguns jovens sér-vios afirmaram que esta tinha sido amelhor vivência por que tinham passado.

Pela primeira vez, Voja, o presidenteda associação sérvia, concretizou o sonhode realizar «Youth and Media: Unavoid-able Encounter».

Pela primeira vez, percebemos a faltade liberdade que o povo sérvio aindasente…

Pela primeira vez, os sentimentos exal-tavam-se e o sal das lágrimas insistia emser mais teimoso que a razão.

E, finalmente, pela primeira vez, ànoite, celebrámos, celebrámos e celebrá-mos!

Para o futuro… Uma porta aberta...

INCÊNDIO DE FIM DE ÉPOCASOCIEDADE

Page 13: Jornal contrapontos

Mesmo que tenha existido algum traba-lho meritório, de prevenção ou combateaos incêndios, os únicos que merecemreconhecimento extraordinário são osbombeiros voluntários, quando de factosão voluntários e apenas quando a suaactuação é condigna daquilo que repre-sentam. Os outros tantos profissionais,incluindo os técnicos florestais — grupono qual me incluo —, não fazem mais doque a sua obrigação profissional, pois épara isso que são pagos. Os técnicos eadministradores do Parque são pagos paraconservar a natureza e, inclusivamente,protegê-la do fogo. Caso haja ainda anecessidade de reconhecer algum esforçoextraordinário, primeiro é preciso identifi-car bem de quem é o mérito desse esforço,uma vez que, no que toca a incêndios flo-restais, as probabilidades têm muito adizer, e não sei até que ponto estão jádominadas por alguém — o factorhumano, sendo o principal responsáveispela ignição do fogo, é uma variável aindamuito mal estudada —, e depois, muitobem, esse reconhecimento deve ser feito,mas não de forma a prejudicar o funciona-mento normal de um serviço público. Poisnunca deveria de ter acontecido num diaútil de trabalho e de forma a prejudicar otrabalho de terceiros.

Em matéria de incêndios florestais,estamos hoje mais perto de um caminhomenos gravoso, mas apelo ao bom-senso,congratulem-se quando tivermos resulta-dos efectivos e com mérito profissional,porque o que aconteceu este ano, cerca de72 mil hectares ardidos no território nacio-nal, uma diminuição de um terço em rela-ção à área ardida no ano anterior, não é umbom resultado, é igual aos maus resultadosde 1999 (70 mil hectares ardidos), que,desde então, foram sofrendo, obscura-mente, um forte agravamento, culminandocom o «abalo incendiário» de 2003 (cercade 424 mil hectares ardidos) e a péssimarepetição em 2005 (cerca de 338 mil hec-tares ardidos).

Já lá vão os velhos tempos onde ardi-am apenas 5 mil hectares por ano, e, umavez por outra, poderiam arder quase 10 milhectares no país inteiro. Para que se per-ceba melhor a magnitude destas recentesáreas ardidas, segundo o Inventário Flores-tal Nacional, realizado em 1995 pelaDirecção-Geral das Florestas, existemcerca de 3,2 milhões de hectares de flo-resta no país. Agora é fazer as contas. Sóem 2003, ardeu uma área correspondente a13% da área florestal portuguesa. Será esteapenas um número de azar? Ou será esteum número de outras coisas?

No que respeita ao Parque Natural deSintra-Cascais, arderam este ano cerca de82 hectares. Sim, de facto foi um valormuito inferior ao do ano anterior. Mas todosos parques naturais (13), parque nacional,reservas naturais (9), paisagens protegidas(6) e municípios (308) vão realizar eventossociais comemorativos do «fim da época deincêndios»? E isso vai ser assim todos osanos? E já agora, quanto é que isso custa?E se houver algum motivo para congratularo esforço de prevenção e combate, quem éque afinal fez esse esforço financeiro? Foi oICN? Foram os municípios? Ou foram oscontribuintes e os proprietários?

Aquilo que hoje se faz em matéria decombate e prevenção aos incêndios, não émais do que um reinvestimento político efinanceiro na aplicação de conhecimentosquase «ancestrais», que passam pela aber-tura de caminhos e aceiros, limpeza demato e subcoberto florestal, maior vigilân-cia e a organização e disponibilização derecursos humanos e materiais no combateaos incêndios. Um papel que antigamenteera em grande medida desempenhadopelas comunidades rurais, que tinhamcomo forma de sustento as actividadesagro-florestais e, por isso, passavam a vidaa cuidar desses territórios. Por outro lado,são conhecimentos ensinados há décadasno ensino superior em ciência florestalneste país, portanto, nada de novo e meri-tório, pelo contrário, um embaraço para asciências florestais, mas principalmente,para os políticos e administradores públi-cos que não tiveram a habilidade para pôrem prática mais cedo o aproveitamentodesses antigos conhecimentos, com asdevidas inovações.

Por exemplo, o Plano Regional de Orde-namento Florestal da Área Metropolitanade Lisboa, onde se definem normas de sil-vicultura a implementar obrigatoria-mente em todos os espaços florestais, que,por sua vez, obrigam à prática de medidasde silvicultura preventiva, permitindo adiminuição do risco de incêndio, só saiuno Diário da República no dia 19 de Outu-bro deste ano. No entanto, por lei, esteplano já deveria de ter sido posto em prá-tica há mais de cinco anos. Algo que nãoaconteceu devido à «incompetência» dosrespectivos políticos e administradorespúblicos (digo «incompetência», porquepressuponho que não houve interesse noseu atraso, caso contrário, teria de dizer«fraude politica e administrativa»).

Segundo os artigos 16.o e 20.o dodocumento legal que regula a elaboraçãodos planos regionais de ordenamento flo-restal (Decreto-Lei n.o 204/99, de 9 de

Junho), o prazo máximo de elaboraçãopara a total cobertura do país, por estesplanos, era dia 9 de Julho de 2001, ou seja,dois anos antes dos números abusivos de2003 e quatro anos antes do mesmo em2005.

À parte desta falta de mérito político eadministrativo, fazer festas para comemo-rar o «acidente menos grave», não fazqualquer sentido. Por exemplo, se eu tiverum acidente de carro e morrerem metadedos ocupantes, não há motivos para cele-brar, só porque não morreram todos; semetade da minha aldeia for destruída pelasviolentas águas de uma cheia, não podemfazer uma festa, só porque a outra metadeficou de pé. O bom senso determina que secomemore o sucesso do progresso e não osucesso do retrocesso. Lamento, mas noque toca a incêndios florestais, não hámotivos para comemorações.

E para aqueles que ainda acham que osincêndios em Portugal são apenas «odrama, o horror e a tragédia», e não «amentira, a fraude e a incompetência»,recomendo a leitura do livro Portugal:O Vermelho e o Negro — A VerdadeAmarga e a Dolorosa Realidade dosIncêndios Florestais, um recente trabalhode investigação, muito esclarecedor, dojornalista Pedro Almeida Vieira e editadopela editora Dom Quixote. Boas leituras!

MARCO COSME

JOSÉ ALBERTO SANTOS CARVALHO

Projectos de:• Estabilidade• Águas e esgotos• Térmica• Acústica• Electricidade• Gás

Responsabilidade técnica de obrasPlanos de segurança e saúdeCoordenação e fiscalização de obras

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Page 14: Jornal contrapontos

O logótipo da Coca-Cola é provavel-mente o mais conhecido símbolo, a nívelempresarial, no planeta. Esta empresa é,segundo o seu site oficial, produzidaactualmente em mais de 200 países domundo — a Organização das Nações Uni-das (ONU) possuí 191 membros.

A multinacional é também líder no quediz respeito a privatizações das águas, vio-lações dos direitos dos trabalhadores,assassínios e discriminação laboral.

Entre 1989 e 2002, oito líderes sindi-cais de fábricas de engarrafamento daCoca-Cola na Colômbia foram mortosdepois de protestos contra as práticas labo-rais desta empresa. Centenas de trabalha-dores que se aliaram, ou supostamente sealiaram ao sindicato colombiano, chamadoSINALTRAINAL, foram vítimas de rap-tos, torturas e detidos por paramilitares,contratados pela empresa, que os intimida-vam e impediam de se sindicalizar.

Na Turquia, em 2005, 14 camionistasda Coca-Cola e famílias foram espancadosbrutalmente durante um protesto contra odespedimento de 1000 trabalhadores deuma central de engarrafamento em 2005.

No seu site oficial, a multinacionalrefere que «...a água é um recurso naturalessencial à vida [...] que hoje em dia 1,3milhões de pessoas em todo o mundo nãotêm acesso a água potável e que em 2025um terço da população do mundo se irádeparar com grandes problemas de acessibi-lidade a este recurso...», porém, na Índia, aCoca-Cola contribui para a destruição daagricultura local com a privatização dosrecursos hídricos — são necessários novelitros de água para produzir um litro derefrigerante Coca-Cola. Numa região deno-minada como Plachimada, a Coca-Cola

extraiu 1,5 milhões de litros de águaprovenientes dos lençóis subterrâ-neos, que depois de engarrafadosforam vendidos sob os nomes deDasani e Bonaqua (esta últimamarca, distribuída em Portugal).

Através deste uso irracional, osníveis de água superficial desce-ram, afectando milhares de comu-nidades tanto a nível de consumocomo de cultivo. Como conse-quência, a água restante tornou-secontaminada por altas concentra-ções de cloreto e bactérias quelevaram a epidemias de parasitas,problemas de visão e distúrbios gástricosnas populações locais.

A Coca-Cola orgulha-se de ser um dosmaiores empregadores no mundo. Segundoo seu site oficial, nos Estados Unidos,«...A Coca-Cola emprega um milhão decidadãos locais, onde 90% são pessoas que

emigraram para os Estados Uni-dos...». Contudo, no ano 2000,cerca de dois mil trabalhadores«afro-americanos» processarama companhia por conduta racistana falta de atribuição de saláriose promoções. No México, porsua vez, a multinacional despe-diu um chefe da linha de engar-rafamento por ser homossexual.

A empresa, no entanto,afirma ser uma mais valia para ascomunidades ao dizer que a«...National Beverage Company,

a nossa parceira engarrafadora autorizada naPalestina, é independente, gerida porpalestinianos e empregadora de mais de 200pessoas naturais do país, ajudando destemodo a população local... e emprega maisde 20 000 pessoas em todo o MédioOriente... Como em todo o mundo, nósestamos verdadeiramente solidários no quediz respeito à população no MédioOriente...». Tendo em conta as últimasintervenções do governo americano emrelação a estes países, não se entende a parteda «mais-valia» ou «solidários», porqueeste mesmo governo que patrocina financei-ramente a expansão da empresa Coca-Colapara estes países, impõe em simultâneodiversas sanções às suas economias...

Existe uma declaração relativamente àágua que afirma «...a água é a base da

vida; uma dádiva da natureza; pertence atodos os seres vivos na terra; não é pro-priedade privada; é um recurso comum àsustentabilidade de todos; é um direito quetem de ser conservado, protegido e geridopor todos; é nosso dever prevenir a escas-sez e a poluição de forma a preservar esterecurso para as gerações seguintes...».

A Coca-Cola é um de muitos casos emque existe um desrespeito pelo Homem epela Natureza.

Não digo que o ideal para evitar estesacontecimentos fosse o desaparecimentoda multinacional, mas sim uma revisão nasua conduta.

No caso de Portugal, desde o fabrico àdistribuição, é de natureza nacional e, até àdata, sob uma conduta correcta. Embora,códigos de conduta sejam diferentes depaís para país, não deverá ser por estemotivo que não nos deveremos informar, epara alguns, preocuparmo-nos com o quese passa à nossa volta.

O nosso interesse pelo exterior não sedeve cingir ao facto do país A estar emguerra com o país B, ou de fulano A se irdivorciar pela quinta vez, mas tambémestarmos informados do quanto podem serprejudiciais ao ser humano as marcas queestão tão presentes no nosso quotidiano...

As soluções passam, por vezes, por ummanifesto, uma crítica ou mesmo umaacção que deverá ser programada e reflec-tida.

E pensar que a marca Coca-Colacomeçou por ser vendida em farmácias eque muitos de nós a utilizamos para desen-tupir canos...

VERÓNICA SOUSA

O QUANTO VALE A COCA-COLA...SOCIEDADE

Page 15: Jornal contrapontos

QUEM SOMOS

Em 27 de Junho de 2005, a ZappanoiaAssociação tornou-se «oficial». Consti-tuída há cerca de 12 anos, reúne um grupoheterógeneo de pessoas que colaboram devárias formas para promover e divulgar aobra do extraordinário e inquietante com-positor do século XX Frank Zappa.

Nesta associação podemos encontrarfans de longa data e outros mais recente-mente «convertidos».

Desde os «fanáticos» que procuramcompilar toda a discografia e filmografiazappiana, incluindopiratas, produçõescaseiras, versões deoutros músicos, fil-magens de concer-tos ao vivo, etc.,aos que acedem asítios na net ondeos variados adeptostrocam temas, fil-mes, histórias... aassociação tem detudo um pouco,pintores, funcioná-rios públicos, gráfi-cos, fotográfos, téc-nicos de som, deluz, bancários,escritores, anima-dores culturais,estudantes, desem-pregados, e músi-cos, claro, todos com o objectivo de home-nagear Frank Zappa e dar a conhecer a sua«filosofia de vida», através de várias acti-vidades culturais.

QUEM É FRANK ZAPPA

Nascido em 21 de Dezembro de 1940,em Baltimore, EUA, Francis VincentZappa, foi compositor, autor, guitarrista,vocalista, pianista, chefe de banda, directorde orquestra, performer, produtor, guio-nista, escritor, realizador de vídeos e fil-mes, incluindo de animação, criador deespectáculos multimédia...

A sua música não cabe numa única«etiqueta», estende-se ao rock, blues, rithm& blues, jazz, pop, música orquestral,música electrónica...

Com avançados recursos tecnológicos,técnicas de estúdio inovadoras, aliados àutlização de vários estilos musicais, numaabordagem satírica e muito crítica dasociedade americana, Zappa defendeuapaixonadamente a liberdade de expressão,tornando-se num incómodo agitador cultu-ral e social, e «persona non grata» pelasprodutoras e editoras musicais do stablish-ment devido à linguagem, considerada obs-cena.

Assim, surge o «Studio Z» situado nacave da sua casa, com o nome «UtilityMuffin Research Kitchen», a editora

«Zappa Records» e mais tarde a «BarkingPumpkin», mantendo-se independente.

São vários os compositores que oinfluenciaram, destacando-se EdgardVarèse, Stravinsky, Stockhausen, Coltrane,Muddy Waters.

Frank Zappa trabalhou com um grandenúmero de músicos de qualidade e comvárias formações, entre elas: Blackouts, aprimeira, e Mothers of Invention, talvez amais conhecida.

A sua discografia é vasta, mais desetenta edições, só de originais; o primeiroálbum Freak Out, um duplo, é editado em1966, os últimos Ahead of Their Time em1993, uma gravação de um concerto de 28de Outubro de 1968, com 14 membros daOrquestra Sinfónica da BBC e The YellowShark, a sua melhor obra orquestral, com o

«Ensemble Modern», gravado e editadopouco antes da sua morte em 4 de Dezem-bro de 1993.

O QUE FAZEMOS

A associação promove e/ou apoia:espectáculos musicais, exposições quertemáticas, multimédia, de pintura ou foto-grafia, workshops, palestras, edições literá-rias e discográficas.

Também se dedica ao ensino de músicapara crianças, em ATL, ou aulas indivi-duais, tendo sempre como base a música e

atitude criativadeste compositor,assim como activi-dades de estudo einvestigação.

A ZappanoiaAssociação realizatodos os anosvários espectá-culos musicais euma homenagemd e n o m i n a d a«O Nascimento doMenino», alusivaao aniversário donascimento deFrank Zappa, pró-ximo do Natal.

Esta homena-gem que já vai no11.o ano conse-cutivo, incluiu, nas

duas últimas apresentações, um FestivalZappiano, com a participação de váriasbandas, das quais destacamos, natural-mente a «banda da casa» — ZAPPANOIA— que tem passado por várias formações,desde quarteto (guitarra/voz, baixo/voz,teclas/voz e bateria/voz), quarteto base equarteto de sopros (saxs alto e tenor, trom-pete e trombone), quarteto base e vibra-fone, sax e trombone, entre outros.

Actualmente composta por: guitarra/voz, segunda guitarra, baixo, bateria e te-clas esta é a formação que irá actuar nopróximo concerto na Sociedade Filarmóni-ca e Desportiva de Fontanelas e Gouveia,em 30 de Novembro de 2006, pelas22 horas.

EMA CÂMARA

ZAPPANOIA ASSOCIAÇÃOMÚSICA

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1.o aniversário da Feira do 31A 3pontos volta a anunciar mais uma

Feira do 31, a realizar dia 2 de Dezembro,mas desta vez acrescentando o facto de cele-brarmos um ano de existência deste eventoque já é conhecido por muitos.

Para marcarmos uma diferença nesta dataque nos é tão especial, planeámos um diacheio de actividades e surpresas...

Além da habitual presença dos feirantes,com uma vasta variedade de produtos artesa-nais, contamos também com um teatro demarionetas, guitarra portuguesa, pinturasfaciais e uma exibição do grupo do workshopde percussão.

Após o encerramento da Feira que iráacontecer por volta das 19h, as nossas activi-dades prolongar-se-ão pela noite dentro comum concerto da banda Kumpania Algazarra arealizar-se no mesmo local por volta das22:30 h.

Para ser possível realizar todos esteseventos e para criarmos condições agradáveisa todos, optámos por alterar o local habitualda Feira para a sala de espectáculos da Socie-dade de Fontanelas e Gouveia.

Contamos desde já com a vossa presençae a todos um obrigado, pois a Feira não seriapossível sem a vossa participação!

KUMPANIA ALGAZARRA

NA CELEBRAÇÃO DE 1 ANO DA FEIRA DO 31

«Vamos fazer uma festa e dançar», este éo lema de Kumpania Algazarra, uma bandaque é de Sintra mas que podia ser de outraparte do Mundo.

Mas é importante referir que por aquinunca se ouviu nada assim!!

Com influências da música tradicionalportuguesa, como é o caso da música «Bailinhoda caravana», apresentada de forma única,passando pela música cigana, as personagensparecem ter sido tiradas de um filme de EmirKusturica em que a música desta banda seenquadra perfeitamente: saxofones, trompe-tes, contra-baixo e uma voz que expressauma música «pura», um estilo tradicional.

A banda já nos deu o prazer de um con-certo em Fontanelas, num evento 3pontos,inserido na festa da Páscoa.

Dia 2 de Dezembro os Kumpania Alga-zarra vão voltar novamente ao palco em Fon-tanelas na celebração de 1 ano da Feira do 31.

A banda move e junta pessoas que dan-çam freneticamente ao som de uma músicacheia de energia e boa disposição. Junta-te àfesta e vem dançar!!!

«Vem e espalha a tua energia»!

Adega Regional de Colares, CRLDESDE 1931Vinhos Genuínos da Denominaçãode Origem Controlada COLARES

Venha conhecer as nossas promoções de NatalATENDIMENTO AO PÚBLICO DAS 9 ÀS 13 E DAS 14 ÀS 18 HORAS

Sede: Alameda Coronel Linhares de lima, 32 — Banzão — Sintra — 2705-351 COLARESTelef.: 21 929 12 10 • Fax: 21 928 80 83 • e-mail: [email protected] • www.arcolares.com

À Roda dos TamboresNo passado dia 4 de Novembro, na sala de

espectáculos da URDFG, teve início o1.o Workshop de percussão realizado porFernando Azeitona e organizado pela 3pontos.

O encontro começou com uma apresenta-ção dos instrumentos musicais e das suas ori-gens e ritmos. Darbukas, djembes, adufes,bombos, caixas, congas... o bendir, berimbau,reco-reco, sarronca e o pau de chuva, sãoalguns dos instrumentos que, durante as váriassessões, nos levaram aos ritmos portugueses eafricanos. Quem lá esteve, gostou e quer vol-tar. À roda dos tambores, improvisaram-se

sons que entusiasticamente levaram a outrostons, contribuindo para momentos de verda-deiro prazer.

Na feira do 31, a 2 de Dezembro, apre-sentaremos ao público o trabalho realizadonas duas últimas sessões do workshop.

Opções«Como carroças viajam as nossas vidas,com fome e sede da terra prometida...»Foi esta frase que me fez pensar... Afinalque terra prometida é esta??? E será estafome e sede a essência do comportamentohumano?...Comecemos então pelo princípio. Todos osdias, a cada milésimo de segundo, temos aoportunidade de poder optar — irei pelaesquerda ou pela direita, falo com aquelapessoa ou não falo, escolho o azul ou oamarelo, continuo a escrever este texto ousimplesmente paro por aqui...Quando se trata deste tipo de escolhas,sabemos sempre o que fazer. Não são gran-des decisões e, como tal, simplesmentefazemos o que julgamos estar certo... Mas ninguém disse que a vida era assim,tão prática e fácil. Ao mesmo tempo queestas opções são tomadas e nos preenchem opensamento, outras, mais profundas, passamcomo que despercebidas. Tomam-nos comoque prisioneiros de nós próprios e não nosdeixam ter um direito que nos foi conferidoà nascença... o direito de OPTAR.Falo de opções de vida. Por exemplo,mudar de emprego, de casa, optar por vivernoutro país, por outro estilo de vida ou atémesmo enfrentar uma qualquer civilizaçãodiferente.Pegando no princípio, pergunto-me se nãoserá a tal sede e fome apenas um tipo decegueira que não nos deixa ir à procuradaquela «terra». Interrogo-me se estaremosnós assim tão insaciáveis que apenas segui-mos o trilho de outras carroças que já porali passaram.Teremos chegado a um ponto em que ape-nas nos comportamos como robots? Esta-remos destinados a seguir regras e opçõesque não são as nossas, durante uma vidainteira, para um dia nos apercebermos que,afinal, não chegámos a lado nenhum?Temo que, nessa altura, seja tarde paramudar... Se assim for, então opto por nãojogar esse jogo e não quero que me trans-portem para essa minha dita prometida...Eu vou a pé. Não tenho medo de tropeçar...Saudações

CARLOS ZOIO

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