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M ovimento M arxista JORNAL DO M OVIMENTO M ARXISTA 5 DE M AIO - MAIO / JULHO 2012 - ANO II - Nº 2 Por um sindicato livre da influência burguesa Desde que o movimento ope- rário mundial estabeleceu o Primeiro de Maio como dia in- ternacional dos trabalhadores, como homenagem aos mártires de Chicago, o proletariado de todo o mundo comemora sua data maior no espírito em que foi concebida: com luto e luta. Grandes manifestações, pro- testos, choques com as forças da ordem burguesa. Foi o que ocorreu no último primeiro de maio. Menos no Brasil. No Bra- sil, apatia, festas, cantorias, distribuição de brindes, dema- gogia. E o maior responsável é o partido no governo, que não tem vergonha em se dizer “Partido dos Trabalhadores”. Porque foram e são os homens e mulheres deste partido que contrabandearam para o seio da burguesia toda a força e a energia que neles depositaram o proletariado brasileiro. Mas que não se iludam: mais dia menos dia, os trabalhadores se libertarão dos grilhões da con- ciliação de classe que o PT lhes amarrou aos pés. Os trabalhadores gregos mostram o caminho da luta contra as alter- nativas burguesas à crise do capital indo às ruas em defesa de seus di- reitos e reivindicações. É dado o momento da criação de uma verdadei- ra solidariedade internacional proletária capaz de unificar bandeiras e tarefas em torno das lutas concretas dos trabalhadores de todo o mundo. Arte e política Sempre coube à arte o pa- pel de anunciadora de novos tempos e mobilizadora para o seu advento. Artistas, façam política, façam arte transgres- sora, façam arte transforma- dora, façam arte. A quebradeira geral do siste- ma mostra a verdadeira cara das instituições internacio- nais a serviço do capital em sua desesperada luta para ten- tar salvar os lucros da burgue- sia às custas de ainda maiores sacrifícios exigidos ao prole- tariado, como acontece com a União Européia. O agravamen- to da crise mundial do ca- pitalismo colo- ca como tarefa fundamental a criação de um sindicalismo verdadeira- mente autôno- mo no país, de sindicatos que não se deixem pautar pela ló- gica da insti- tucionalidade burguesa, do parlamento burguês, do es- tado burguês PÁG. 6 Instinto assassino A presidente Dilma Rousseff era toda sorrisos na reunião em que convocou seus ami- gos empresários a usarem seu ‘instinto animal’ na ex- ploração sobre os trabalhado- res brasileiros. De fato, esta seria a porta de saída burguesa da crise mundial por que passa o sistema capitalista. EDITORIAL Grécia PÁG. 2 PÁG. 2 PÁG. 5 Oduvaldo Vianna Filho, o Vianninha www.mmarxista5.org [email protected] twitter: @mmarxista5 facebook.com/mmarxista5

Jornal do MM5 - Nº 2

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Jornal do Movimento Marxista 5 de Maio - Maio / Julho 2012

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Movimento MarxistaJORNAL DO MOVIMENTO MARXISTA 5 DE MAIO - MAIO / JULHO 2012 - ANO II - Nº 2

Por um sindicato livre da influência burguesa

Desde que o movimento ope-rário mundial estabeleceu o Primeiro de Maio como dia in-ternacional dos trabalhadores, como homenagem aos mártires de Chicago, o proletariado de todo o mundo comemora sua data maior no espírito em que foi concebida: com luto e luta. Grandes manifestações, pro-testos, choques com as forças da ordem burguesa. Foi o que ocorreu no último primeiro de maio. Menos no Brasil. No Bra-sil, apatia, festas, cantorias, distribuição de brindes, dema-gogia. E o maior responsável é o partido no governo, que não tem vergonha em se dizer “Partido dos Trabalhadores”. Porque foram e são os homens e mulheres deste partido que contrabandearam para o seio da burguesia toda a força e a energia que neles depositaram o proletariado brasileiro. Mas que não se iludam: mais dia menos dia, os trabalhadores se libertarão dos grilhões da con-ciliação de classe que o PT lhes amarrou aos pés.

Os trabalhadores gregos mostram o caminho da luta contra as alter-nativas burguesas à crise do capital indo às ruas em defesa de seus di-reitos e reivindicações. É dado o momento da criação de uma verdadei-ra solidariedade internacional proletária capaz de unificar bandeiras e tarefas em torno das lutas concretas dos trabalhadores de todo o mundo.

Arte e políticaSempre coube à arte o pa-pel de anunciadora de novos tempos e mobilizadora para o seu advento. Artistas, façam política, façam arte transgres-sora, façam arte transforma-dora, façam arte.

A quebradeira geral do siste-ma mostra a verdadeira cara das instituições internacio-nais a serviço do capital em sua desesperada luta para ten-tar salvar os lucros da burgue-sia às custas de ainda maiores sacrifícios exigidos ao prole-tariado, como acontece com a União Européia.

O agravamen-to da crise mundial do ca-pitalismo colo-ca como tarefa fundamental a criação de um sindicalismo v e r d a d e i r a -mente autôno-mo no país, de sindicatos que não se deixem pautar pela ló-gica da insti-tucionalidade burguesa, do p a r l a m e n t o burguês, do es-tado burguês

PÁG. 6

Instinto assassinoA presidente Dilma Rousseff era toda sorrisos na reunião em que convocou seus ami-gos empresários a usarem seu ‘instinto animal’ na ex-ploração sobre os trabalhado-res brasileiros. De fato, esta seria a porta de saída burguesa da crise mundial por que passa o sistema capitalista.

EDITORIALGrécia

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PÁG. 5Oduvaldo Vianna Filho, o Vianninha

www.mmarxista5.org [email protected] twitter: @mmarxista5 facebook.com/mmarxista5

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2 CONJUNTURA

Um verdadeiro espetácu-lo de desfaçatez. Foi esta a cena montanda no Palácio do Planalto no dia 22 de mar-ço passado pela presidente Dilma Rousseff, quando re-cebeu vinte e oito dos mais graúdos empresários do país para um evento muito espe-cial. O prato do dia, servido bem ao gosto dos clientes, foi a conclamação a que todos

ali presentes aprofundassem a exploração sobre os traba-lhadores. A presidente petista não mediu palavras. “Exer-çam seu instinto animal”, afirmou a pretexto de uma solicitação a que a burgue-sia aplicasse seu capital em investimentos produtivos no país, explicitando a seguir a total garantia de que Eike Ba-tista e seus comparsas já po-

diam ir contabilizando mais e maiores lucros.

No fundo, o que o petis-mo quis deixar claro aos seus patrões foi o caminho que o governo escolheu para conviver com a crise que toma conta do capita-lismo no mundo: o caminho do grande capital, o cami-nho da subserviência sem limites aos interesses dos

exploradores. E foi para que não restasse qualquer dúvida ou incompreensão no espírito mesquinho de seus alegres convivas é que a presidenta resolveu ape-lar para palavras de aberto insulto aos trabalhadores.

Se alguém ainda guardava algum tipo de dúvida quan-to ao caráter do petismo e a serviço de quem ele exerce o poder, a dúvida fica cla-ramente desfeita. É verda-de que, desde os primeiros movimentos que resultaram na tristemente famosa “Car-ta aos brasileiros” com que Lula se ajoelhou aos pés da burguesia para ganhar a eleição de 2002, toda a es-querda digna deste nome já se convencera de que o pe-tismo se passara de manei-ra irrevogável para o lado da burguesia. De que o PT, o PCdoB e seus aliados já haviam se transformado em partidos burgueses. O que a cada dia fica mais claro aos olhos dos trabalhadores.

Cercada pelos ministros Mantega e Pimentel, a presidente Dilma era toda sorrisos de subserviência aseus patrões empresários, aos quais pediu que exercessem seu ‘instinto animal’ sobre os trabalhadores

PT ajoelha aos pés da burguesia

Ao contrário do que sustentam até mes-mo alguns segmentos da esquerda, o capi-talismo está muito longe de superar a crise evidenciada na falência de seus principais monopólios financeiros em 2008. O fato é que não existem alternativas de curto pra-zo para a superação da crise que garantam um crescimento tipificador de um novo ciclo de prosperidade. Ou seja, estamos ainda no ciclo crítico do capital.

Com a falência, em meados dos anos 70 do século passado, do modelo de cresci-mento keyneseano do estado de bem estar social, o capitalismo recorreu ao aprofun-damento da exploração sobre o proletaria-do através de um conjunto de medidas que ficaram conhecidas como “Consenso de Washington”: precarização das relações de

trabalho, depredação do serviço público, redução qualitativa dos impostos cobrados à burguesia, finaciamento do capital a fun-do perdido, privatizações etc.

A hipótese de já estarmos no limiar de um novo ciclo de crescimento, agora de caráter ‘neokeyneseano’, é desmentida por dois fatores indiscutíveis: a) aquele estado burguês saudável, enxuto e bem nutrido que financiou e centralizou todo o ciclo de crescimento econômico do pós guerra não mais existe. Os EUA se debatem com uma dívida pública da dimensão de seu PIB: 14 trilhões de dólares. b) o sistema financeiro privado se encontra de tal modo fragilizado estruturalmente a ponto de a União Euro-péia, França e Alemanha à frente, convocar os estados dos países centrais da Europa a

recorrerem a uma política neocolonialista para com os países da periferia (Grécia, Espanha e Portugal) do euro, com o lança-mento do proletariado destes países a níveis de sobrevivência próximos à escravidão.

Fica, então, a pergunta: quem financia-ria e como um novo ciclo de crescimen-to? Para o advento deste novo tempo de abundância para o capital será necessário que a atual crise, primeiro, chegue ao seu máximo potencial para que, em quadro de destruição de forças produtivas, o ca-pital possa recorrer a uma nova fase de superexploração e espaços de investi-mento produtivo sobre os escombros do ciclo anterior. Isso, se no próprio corpo da crise o proletariado não botar abaixo o capitalismo e suas crises.

Greve é a maior arma do trabalhador na crise

Crise capitalista está longe de ser superada

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O governo PT/PCdoB acaba de for-necer mais uma prova de seu alinha-mento aos interesses do grande capital. Com a chamada Lei da Copa, a senhora presidente Dilma Rousseff não teve o menor acanhamento em propor a revo-gação da vigência do já limitado direi-to de greve durante a Copa das Fede-rações, em 2013, e na Copa do Mundo de Futebol em 2014. Se alguma dúvida existia em torno do caráter reacionário e antiproletário deste governo, se não bastassem todas as evidências forneci-das durante os governos Lula e neste ano e meio da gestão atual, esta lei vem

desnudar o rei e a rainha como fiéis ser-viçais da burguesia.

A Lei Geral da Copa, aliás, compro-mete até mesmo preceitos fundantes do discurso liberal burguês relativo à cha-mada soberania nacional. No seu capí-tulo III, ao tratar “Dos Vistos de Entrada e das Permissões de Trabalho”, a lei fle-xibiliza o controle territorial e alfande-gário, transformando o Brasil em uma espécie de “Estado FIFA”. Dispõe sobre a entrada de estrangeiros no país à época da Copa, determinando que os mesmos terão livre acesso desde que apresentem ingressos válidos para qualquer evento

relacionado à Copa. Serão considerados documentos suficientes para a obtenção do visto de entrada no país o passapor-te válido em conjunto “com qualquer instrumento que demonstre a sua vincu-lação com os eventos”. A Lei Geral da Copa é regulada pela Lei 728/11, res-ponsável por definir atos classificados como “ilícitos”, implicando a aplicação de “sanções civis”. A Lei 728/11 deter-mina também a celeridade processual e estabelece medidas cautelares espe-cíficas no caso de atos (individuais ou coletivos) considerados prejudiciais aos eventos relacionados à Copa.

Em mais uma prova da im-punidade de que goza a extre-ma direita brasileira encastela-da nas Forças Armadas, cerca de oitenta representantes do en-tulho autoritário reuniram-se no dia 31 de março passado, para assistir a oito deles saltarem de

paraquedas na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, em um ato de afronta à memória daqueles que foram presos, torturados e assassinados pela ditadura.

Durante esse voo de con-dor, ao exibir a faixa com a inscrição “Parabéns, Brasil!

31/03/64”, mais do que fazer da história uma farsa, am-parados pela omissão e co-nivência do governo Dilma Rousseff, os militares tentam intimidar aqueles que vão às ruas cobrar punição pelos crimes que eles cometeram

durante a ditadura militar e que até hoje fazem dos traba-lhadores vítimas dos órgãos policiais do estado que coti-dianamente lançam mão de métodos cada vez mais vio-lentos e sanguinários de re-pressão à classe trabalhadora.

NACIONAL 3

Aqueles que nutriam al-guma esperança de que o Partido dos Trabalhadores representasse os trabalha-dores devem abandonar suas esperanças e ater-se à realidade concreta. A con-tinuidade das privatizações do governo Dilma é mais uma das provas. Os aero-portos de Brasília, Viraco-pos e Guarulhos estão, des-de fevereiro deste ano, nas mãos da iniciativa privada. Mesmo o ágio médio de 348%, tão alardeado pela imprensa burguesa, é insig-nificante dados os ganhos que os megaeventos espor-tivos trarão. Aos trabalha-dores restarão demissões em massa, precarização do

trabalho, aumento das jor-nadas de trabalho entre ou-tros achaques peculiares a todas as privatizações.

No entanto o rateio do estado entre os capitalistas não é novidade no gover-no do PT. No governo Lula houve seis leilões de blocos de petróleo. A 11ª rodada de leilões aguarda decisão do Congresso Federal sobre o modelo de partilha dos re-cursos do pré-sal. Mas não nos iludamos. Súplicas à presidente Dilma não vão garantir investimentos sé-rios na saúde, educação e cultura para o proletariado. Devemos ter claro que essa partilha é entre os grupos empresariais incrustados

na máquina estatal e ávidos pelo capital gerado pela ex-ploração – não só do petró-leo, mas principalmente do trabalho humano.

Aos trabalhadores não cabe expectativa no gover-no Dilma ou no PT. Que navegam com tranquilidade

nos corredores burgueses defendendo interesses hos-tis aos trabalhadores. O que nos cabe é organizarmo--nos em nossos sindicatos. Lá podemos nos armar para resistir aos ataques capita-listas sobre o fruto do nos-so trabalho.

PT privatiza, o capital agradece

Punição aos assassinos da ditadura militar

‘Lei da Copa’ suprime o direito de greve

Celebração do golpe é tentativa de intimidaçãoDilma e seus amigos empresários fantasiados de trabalhadores

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Embora a burguesia man-tenha constantes esforços para omitir a história e escon-der os conflitos gerados pela exploração do proletariado, a esquerda segue resistindo e lutando para preservar a memória daqueles que tom-baram no enfrentamento ao estado burguês. Disputas es-tas que também nos servem de instrumento para aprender e avançar em direção a uma sociedade fraterna e justa.

A história da humanidade é a história da luta de classes, reafirmava Marx já em 1848. E o tempo confirmou as pala-vras impressas no Manifesto Comunista. Em 1871, o pro-letariado pela primeira vez tomou o poder em suas mãos e iniciou de fato, embora por apenas 78 dias, a instalação de uma ditadura do proleta-riado. Neste curto período, os trabalhadores de Paris formaram o mais exemplar

governo de sua época: a Co-muna de Paris.

Em 1870 o imperador Na-poleão III havia perdido a guerra contra o exército ale-mão de Otto von Bismarck e assim foi destituído do poder. Os alemães avançaram pelo país derrotado e para resistir aos invasores os parisienses alistaram-se na Guarda Nacio-nal e fortificaram a cidade.

O governo republicano francês, chefiado por Adol-phe Thiers, tenta iniciar o armistício com Bismarck e cobra que o proletariado entregue suas armas. Dian-te da negativa por parte dos trabalhadores, Thiers inicia uma série de ataques contra a Guarda Nacional.

Em 18 de março de 1871, o exército republicano, re-presentando o interesse da burguesia, invade a cidade. Armados, os parisienses re-sistem e no mesmo dia pro-

clamam a Comuna de Paris. “Os proletários da capital, no meio dos desfalecimen-tos e das traições das clas-ses governantes, compreen-deram que para eles tinha chegado a hora de salvar a situação... compreenderam que era seu dever imperioso e seu direito absoluto tomar em mãos os seus destinos e assegurar-lhes o triunfo conquistando o poder”, re-latou o Comitê Central da Comuna.

O governo republicano é apanhado de surpresa e se vê obrigado a recuar. Para evitar uma nova guerra ci-vil, o Comitê Central opta por não atacar o governo instalado em Versalhes, que estava enfraquecido.

Marx aponta que esta foi a maior falha cometida pela Comuna. Um erro que per-mitiu às forças reacionárias se reorganizarem. Um erro

que deve ser aprendido pelo proletariado. Não ter des-truído o poder burguês – e suas instituições democráti-cas (que nada mais são que a forma autoritária com que os exploradores subjugam os trabalhadores) quando houve a oportunidade – fez com que os republicanos acabassem por aniquilar a Comuna em 28 de maio de 1871.

A brutalidade com que a revolução foi detida não deve ser esquecida. Os milhares de fuzilados pela reação burgue-sa devem ser lembrados com honra e respeito. O feito des-tes heróis é algo que os mar-xistas devem carregar com orgulho. Mas as falhas não podem ser deixadas de lado. O sangue de nossos compa-nheiros não correu em vão.

Em seu livro “Guerra Civil na França”, a prin-cipal lição enfati-zada por Marx é a de que a destru-ição do estado bur-guês e todas suas instituições políti-cas e militares é tarefa primordial e fundante de um estado proletário socialista encarre-gado da transição entre a sociedade capitalista e a so-ciedade comunista.

4 HISTÓRIA

Há 141 anos o proletariado francês escreveu com o seu próprio sangue uma das mais heróicas páginas da história das lutas pela libertação da classe operária

Comuna de Paris, lição eterna

Por um estado socialista dos trabalhadores

O exemplo dado pelos revolucionários franceses deve permanecer vivo na memória dos comunistas de todo o mundo para que o proletariado possa avançar na luta contra a exploração sem cair na armadilha reformista

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CULTURA 5

Marx disse que os filóso-fos sempre se preocuparam em interpretar o mundo e que o importante era mudá--lo. Sem nenhuma coinci-dência, Bertold Brecht, te-atrólogo, poeta e militante, também se manifestou di-zendo que nada devia pa-recer impossível de mudar. A indignação e a luta pos-suem raízes entrelaçadas com as artes e potenciali-zam o lugar da política com criatividade, sensibilidade e, porque não, força.

Em cada momento histó-rico e sempre às vésperas de saltos qualitativos na histó-ria, os artistas se engajam politicamente e se tornam peças fundamentais nas mu-danças do mundo. O cinema, o teatro, a música, as artes plásticas também são com-

bustível indispensável ao avanço da locomotiva revo-lucionária. E por possuírem linguagens próprias – desde que estruturadas em forma e conteúdo indissociáveis – são capazes de ultrapassar lugares comuns e agregar militantes e simpatizantes às bandeiras políticas.

Exemplos desta arte po-pular revolucionária no Brasil são abundantes, des-de o CPC (Centro Popular de Cultura) da União Nacio-nal dos Estudantes passan-do pelo cinema de Glauber Rocha e a música de Chico Buarque, Cartola e Sérgio Ricardo. Mas não é necessá-rio somente nos ancorarmos em um momento ditatorial para fazer um chamamento aos artistas brasileiros. Arte política, crítica e transfor-

madora: precisamos disso no tempo presente, na atu-al conjuntura. É mais que necessário que os artistas brasileiros comprometidos com a transformação revo-lucionária de nosso país e

do mundo em que vivemos. Para romper barreiras e

derrubar portas. Para dizer não à barbárie instalada. Para anunciar a alvorada de um novo tempo. Artistas: façam política!

Cena do teatro politico “A Mais Valia Vai Acabar, Seu Edgar”, do CPC

Artista brasileiro, faça política!

Basta de covardia! A hora soa...Voz ignota e fatídica revoa,Que vem... Donde? De DeusA nova geração rompe da terra, E, qual Minerva armada para a guerra,Pega a espada... olha os céus

Sim, de longe, das raias do futuro,Parte um grito, pra — os homens surdo, obscuroMas para os moços, não!É que, em meio das lutas da cidade,Não ouvis o clarim da eternidade,Que troa n’amplidão!

Quando as praias se ocultam na neblina,E como a garça, abrindo a asa latina,Corre a barca no mar,Se então sem freios se despenha o norte,É impossível parar... volver é morteSó lhe resta marchar

E o povo é como a barca em plenas vagas,A tirania é o tremedal das plagas,O porvir, a amplidãoHomens! Esta lufada que rebenta

É o furor da mais lôbrega tormenta- Ruge a revolução

E vós cruzais os braços... Covardia!E murmurais com fera hipocrisia:— É preciso esperar...Esperar? Mas o quê? Que a populaça,Este vento que os tronos despedaça,Venha abismos cavar?

Ou quereis, como o sátrapa arrogante,Que o porvir, n’antessala, espere o instanteEm que o deixeis subir?!Oh! Parai a avalanche, o sol, os ventos,O oceano, o condor, os elementos...Porém nunca o porvir!

Meu Deus! Da negra lenda que se inscreveCo’o sangue de um Luís, no chão da Grève,Não resta mais um som!...Em vão nos deste, pra maior lembrança,Do mundo, a Europa, mas d’Europa a FrançaMas da França, um Bourbon!

Desvario das frontes coroadas!

Na página das púrpuras rasgadasNinguém mais estudou!E no sulco do tempo, embalde dormeA cabeça dos reis, semente enormeQue a multidão plantou!...

No entanto fora belo nesta idadeDesfraldar o estandarte da igualdade,De Byron ser o irmão...E pródigo, a esta Grécia brasileira,Legar no testamento uma bandeira,E ao mundo, uma nação

Soltar ao vento a inspiração de GracoEnvolver-se no manto de Spartaco,Dos servos entre a grei;Lincoln, o Lázaro acordar de novo,E da tumba da ignomínia erguer um povo,Fazer de um verme um rei!

Depois morrer, que a vida está completaRei ou tribuno, César ou poeta,Que mais quereis depois? Basta escutar, do fundo lá da cova, Dançar em vossa lousa a raça nova Libertada por vós

Estrofes do solitário

A arte é um instrumento indispensável para a transformação crítica e revolucionária do capitalismo

Painel “Escravatura” - Aberlado da Hora

Castro Alves

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Órfão de uma central sindical que o instrumentalize na defesa contra os ata-ques e o proteja da exploração exercida pela voraz burguesia brasileira, o prole-tariado nacional – que deveria ser orga-nizado criticamente nos seus espaços de atuação e formado pelos seus sindicatos para intervir cotidianamente na luta de classes, nos seus locais de trabalho e nos seus fóruns deliberativos – assiste a uma acirrada disputa entre CUT, Força Sindical, UGT, CTB, NCST, CGTB, as seis maiores centrais do país, pelos cer-ca de R$ 370 milhões recolhidos através da contribuição sindical.

Na atual conjuntura de crise mundial do capitalismo, em que a burguesia avança sobre uma massa de trabalha-dores mal formada ideologicamente, essas centrais, hegemonizadas pelos partidos da base do governo Dilma,

têm exercido com primor seu papel na estratégia geral de imobilização dos trabalhadores, contribuindo para o pro-cesso avassalador de opressão, impe-dindo claramente qualquer manifesta-ção no sentido da construção de uma resistência por parte do proletariado.

Apesar do discurso reconhecidamente à esquerda, Conlu-tas e Intersindical também não conse-guem aglutinar as lutas dos trabalha-dores contra as re-formas trabalhista e sindical, nem tam-pouco têm forma-do seus filiados no sentido de prepará--los a resistir aos sistemáticos ataques

sofridos. Enquanto a criminalização dos movimentos sindicais sufoca as manifes-tações e a organização dos trabalhadores, a esquerda não consegue fechar uma po-sição por uma central unitária, deixando progredir as reformas estruturais burgue-sas, que cada vez mais arrocham os salá-rios e imobilizam a classe trabalhadora.

6 MOVIMENTO SINDICAL

Fenômenos que marcaram o sindicalismo brasileiro so-bretudo a partir da década de 90, a burocratização e a par-lamentarização das lutas sin-dicais continuam em voga, e com crescente intensidade, mesmo naquelas centrais que nos últimos anos se apre-sentaram como ‘alternativa de reorganização’ da classe face à degeneração da CUT. Referimo-nos à Conlutas e Intersindical, nas quais a apa-rente aposta na ação direta dos trabalhadores encobre na verdade um conjunto de prá-ticas voluntaristas, esponta-neístas, hegemonistas e atre-ladas, mesmo indiretamente, à agenda institucional bur-guesa. Senão vejamos.

A maioria esmagadora das iniciativas atualmente coorde-nadas pelos sindicatos filiados a essas duas centrais gira em torno de iniciativas originadas no Congresso ou emcampadas

por ele, pelas assembléias legis-lativas estaduais e câmaras mu-nicipais. São, majoritariamente, projetos de lei ou regulamenta-ções de interesse da classe, mas controlados e constantemente adulterados pela lógica parla-mentar burguesa, que, por seu poder de atração, leva à inevi-tável subordinação das agendas sindicais aos ritos processuais do legislativo burguês. Um caso recente foi a marcha na-cional do funcionalismo públi-co federal, que, em 28 de mar-ço deste ano, levou milhares de servidores a Brasília. O objetivo foi pressionar o Congresso Na-cional a aprovar projetos de lei dos quais as reivindicações do funcionalismo dependem para sua implementação. Dada a es-perada negativa do Congresso e do governo Dilma (PT) em atender às reivindicações, o re-sultado, previsível, foi o esva-ziamento da mobilização em si mesma, consequência do rebai-

xamento das lutas dos trabalha-dores ao horizonte institucional burguês, que nunca aponta para nada além de si próprio.

Cumpre ressaltar que, como parte dessa parlamen-tarização das lutas sindicais do proletariado, temos hoje uma degeneração adicional, que se dá quando os gabi-netes parlamentares passam a interferir diretamente na agenda dos sindicatos, che-

gando ao ponto de definir o caráter e os limites de suas atividades. No Rio de Janei-ro, é o que acontece no mo-mento na relação entre de-putados estaduais eleitos em 2010 e sindicatos da área da saúde, num atrelamento que despolitiza e engessa as lutas dos trabalhadores, retirando da classe a autonomia tão necessária para o enfrenta-mento de governos e patrões.

Um movimento sindical livre exige centrais independentes e autônomas

Lula, símbolo e agente maior da peleguização dos sindicatos no país

O sindicato na lógica burguesa

Por uma central autônoma e independente

Da burocracia sindical ao imobilismo político

Conlutas e Intersindical não romperam com atrelamento à agenda institucional parlamentarista

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O trabalho não é a fonte de toda a ri-

queza. A natureza é a fonte dos valores de uso (que são os que verdadeiramente in-tegram a riqueza material!), nem mais nem menos que o trabalho, que não é mais que a manifestação de uma força natural, da força de trabalho do homem. Essa frase encontra-se em todas as cartilhas e só é corre-ta se se subentender que o trabalho é efetuado com os correspondentes objetos e instrumentos. Um progra-ma socialista, porém, não deve permitir que tais tó-picos burgueses silenciem aquelas condições sem as quais não têm nenhum sen-tido. Na medida em que o homem se situa de antemão como proprietário diante da natureza, primeira fonte de todos os meios e objetos de trabalho, e a trata como possessão sua, seu trabalho converte-se em fonte de va-lores de uso, e, portanto, em fonte de riqueza.

Os burgueses têm ra-zões muito funda-

das para atribuir ao trabalho uma força criadora sobrena-tural; pois precisamente do fato de que o trabalho está condicionado pela natureza

deduz-se que o homem que não dispõe de outra proprie-dade senão sua força de tra-balho, tem que ser, necessa-riamente, em qualquer estado social e de civilização, escra-vo de outros homens, daque-les que se tornaram donos das condições materiais de trabalho. E não poderá tra-balhar, nem, por conseguin-te, viver, a não ser com a sua permissão.

Na medida em que o trabalho se desen-

volve socialmente, conver-tendo-se assim em fonte de riqueza e de cultura, desen-volvem-se também a pobreza e o desamparo do operário, e a riqueza e a cultura dos que não trabalham. Esta é a lei de toda a história, até hoje. Assim, pois, em vez dos tópi-cos surrados sobre “o traba-lho” e “a sociedade”, o que competia era indicar concre-tamente como, na atual so-ciedade capitalista, já se pro-duzem, afinal, as condições materiais, etc., que permitem e obrigam os operários a des-truir essa maldição social.

Mas alguns indi-víduos são supe-

riores, física e intelectual-

mente a outros e, pois, no mesmo tempo, prestam tra-balho, ou podem trabalhar mais tempo; e o trabalho, para servir de medida, tem que ser determinado quanto à duração ou intensidade; de outro modo, deixa de ser uma medida. Este direito igual é um direito desigual para trabalho desigual. Não reconhece nenhuma distinção de classe, porque

aqui cada indivíduo não é mais que um trabalhador como os demais; mas reco-nhece, tacitamente, como outros tantos privilégios naturais, as desiguais ap-tidões dos indivíduos, por conseguinte, a desigual ca-pacidade de rendimento.

Em uma fase supe-rior da sociedade

comunista, quando houver desaparecido a subordinação escravizadora dos indivíduos à divisão do trabalho e, com ela, o contraste entre o tra-balho intelectual e o trabalho manual; quando o trabalho não for somente um meio de vida, mas a primeira necessi-dade vital; quando, com o de-senvolvimento dos indivíduos em todos os seus aspectos,

crescerem também as forças produtivas e jorrarem em caudais os mananciais da ri-queza coletiva, só então será possível ultrapassar-se total-mente o estreito horizonte do direito burguês e a socieda-de poderá inscrever em suas bandeiras: De cada qual, segundo sua capacidade; a cada qual, segundo suas ne-cessidades.

A distribuição dos meios de consumo

é, em cada momento, um co-rolário da distribuição das próprias condições de pro-dução. E esta é uma carac-terística do modo mesmo de produção. Por exemplo, o modo capitalista de produ-ção repousa no fato de que as condições materiais de produção são entregues aos que não trabalham sob a forma de propriedade do ca-pital e propriedade do solo, enquanto a massa é proprie-tária apenas da condição pessoal de produção, a for-ça de trabalho. Se as condi-ções materiais de produção fossem propriedade coletiva dos próprios operários, isto determinaria, por si só, uma distribuição dos meios de consumo diferente da atual.

Entre a sociedade capitalista e a so-

ciedade comunista medeia o período da transformação revolucionária da primeira na segunda. A este período da transformação revolucio-nária da primeira na segun-da. A este período corres-ponde também um período político de transição, cujo estado não pode ser outro senão a ditadura revolucio-nária do proletariado.

TEORIA 7

Ilustração: Marx discute com Engels o texto do Manifesto Comunista

Crítica ao Programa de Gotha

Pela instalação da ditadura do proletariado

Texto fundamental de todo o marxismo, “Gotha” fixa o eixo do estado proletárioNo “Crítica ao Progra-ma de Gotha” Marx expõe sua posição sobre a propos-ta de programa de unifica-ção dos socialistas alemães à época. Marx rejeita du-ramente a proposta refor-mista e expõe os princípios fundamentais da teoria do estado revolucionário de transição ao comunismo, o estado da ditadura do pro-letariado. A seguir, trechos decisivos de “Gotha”.

Page 8: Jornal do MM5 - Nº 2

8 INTERNACIONAL

A luta de classes na Vene-zuela atingiu um nível de ra-dicalização que nos possibilita identificar os limites na relação entre as classes contraditórias. Estes limites poderão se expres-sar na radicalização de Chávez, a partir das eleições de outubro.

O núcleo do governo de-fende a estratégia de transfe-rir progressivamente poderes do estado burguês, da As-

sembléia Nacional, para os conselhos de trabalhadores, ampliando-os e fortalecendo--os. Sua base de sustentação, à esquerda, o tenciona a avan-çar na radicalização contra a burguesia, que certamente prepara-se para uma segunda investida contra o governo.

A tentativa de golpe, em abril de 2002, financiada e engendrada pela CIA e pelo

aparato midiático da burgue-sia nacional foi derrotada pelas massas proletárias, que defen-deram o governo e sua princi-pal liderança. Os 19 mortos da-quele 11 de abril, alguns deles atingidos por atiradores de elite – que viriam a sucumbir às mi-lícias chavistas – foram a com-provação material da necessi-dade da radicalização rumo ao socialismo revolucionário.

O proletariado venezuelano vem tomando consciência de que não pode haver socialis-mo com direitos políticos da burguesia e que, no socialismo marxista não há lugar para em-presários e banqueiros. E que a melhoria das condições de vida por meio do acesso aos serviços públicos essenciais não é o sufi-ciente para a conquista do po-der proletário.

A agudização da luta entre a burguesia e o proletariado na Venezuela aponta para um desfecho próximo: socialismo ou barbárie

Bolivarianismo atinge o limite

Revolução marxista ou caricatura de revoluçãoÀ agudização da crise ca-

pitalista mundial correspon-de a agudização das lutas de classes entre burguesia e pro-letariado em todo o mundo. Cenário de grande significa-do histórico, a América La-tina não escapa à intensifica-ção do combate: Venezuela, Argentina, Brasil, Guatema-la, Chile, México, Uruguai, Nicarágua, Bolívia, enfim,

todos os países do continen-te registram episódios de lutas de classe no passado recente nos quais a luta direta pelo so-cialismo entrou na ordem do dia como palavra de ordem de ação.

Sabemos, tam-bém por experiência

histórica, que sem base no marxismo a luta do pro-

letariado mais cedo ou mais tarde acaba em der-rota. Por isso é que o MM5 já vem discutindo

com o Partido Revolucionário

dos Trabalhadores (PRT) e a Associação La-

tinoamericana de Economia Política Marxista (ALEM), ambos da Venezuela, e com a organização argentina Ra-zão e Revolução (RR) a pro-posta da formação de uma Frente Marxista Latinoame-ricana. E aqui conclamamos a todos os grupos políticos do continente que reivindi-cam o marxismo a engrossar as filas desta construção.

Por uma frente marxista latinoamericana

Ampliar e transferir o poder proletário aos conselhos comunais será o primeiro passo da radicalização