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FERNANDO CORREIA Torneiosinternacionais catapultam segunda linha José Maria Calhei- ros, há pouco mais de um ano na presi- dência da Federa- ção Portuguesa de Ténis, faz um balan- ço da sua gestão e aponta as áreas cruciais de desen- volvimento do ténis em Portugal. Taça Davis, instalações do Estoril Open e o reavivar do circuito profissional de ténis também em foco. Presidente federativo faz balanço do ano e previsões A série de eventos internacionais femininos de 10.000 dólares em Junho teve o ano pas- sado Maria João Koehler como protagonista. Este ano, o arranque dessa série, em Canta- nhede, já destacou Sofia Araújo. Revisão do calendário competitivo, crucial para catapul- tar os portugueses no ranking mundial. Este número do Jornal do Ténis/Record faz parte integrante do n.º 11.377 de 04 de junho de 2010 e não pode ser vendido separadamente FERNANDO CORREIA PRÓXIMA EDIÇÃO 18 de junho LÁ COMO CÁ COMO O ESTORIL OPEN, ROLAND GARROS EM ENCRUZILHADA COMO O ESTORIL OPEN, ROLAND GARROS EM ENCRUZILHADA LÁ COMO CÁ DIREITOS RESERVADOS

Jornal do Ténis - 4/06/2010

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Jornal do Ténis - 4/06/2010

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Page 1: Jornal do Ténis - 4/06/2010

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José MariaCalhei-ros, hápouco maisde um ano napresi-dênciadaFedera-ção PortuguesadeTénis, faz um balan-ço dasuagestão eapontaas áreascruciais de desen-volvimento do ténisem Portugal. TaçaDavis, instalaçõesdo Estoril Open e oreavivardo circuitoprofissional de ténistambém em foco.

Presidentefederativofazbalançodoanoeprevisões

Asérie de eventos internacionais femininosde 10.000 dólares em Junho teve o ano pas-sado Maria João Koehlercomo protagonista.Este ano, o arranque dessasérie, em Canta-nhede, jádestacou SofiaAraújo. Revisão docalendário competitivo, crucial paracatapul-taros portugueses no ranking mundial.

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02 Sexta-feira, 4de junhode2010

TÉNISNATV

Decisãoincontornável

Match-point JOÃO LAGOS

PARIS.Mais uma surpreen-dente edição de RolandGarros, com interessantesnuances. No sector mascu-lino, Robin Soderling e To-mas Berdych parecem que-rer prolongar aquilo que jáse havia visto com JuanMartin del Potro aquandoda conquista da última edi-ção do US Open: a imposi-ção do ténis vertical, pro-fundo, em potência; são eles

as duas altas “torres” de umxadrez que tem Rafael Na-dal como “rei” da terra ba-tida e Jurgen Melzer como“cavalo” endiabrado. Navertente feminina, as atléti-cas protagonistas da inespe-rada cimeira de sábado –que batizo de Batalha dosBíceps – apresentam um es-tilo assaz “espanholizado”,com excelentes apoios emuito topspin; a italiana

Francesca Schiavone temciência tática para se impor,mas a maior potência daaustraliana Samantha Sto-sur faz dela favorita e a mi-nha favorita: há quantotempo não se via no topouma jogadora que não pre-cisa de amuar, fazer drama,urrar ao bater na bola, gri-tar para os seus acompa-nhantes e cerrar o punhoem pirueta para ganhar?

LIVREARBÍTRIO

MIGUELSEABRA

Director: João Lagos. Director adjunto: Rui Oliveira. Editores: Miguel Seabra (JT) e Norberto Santos (Record). Redacção: Manuel Perez, Pedro Carvalho e Carlos Figueiredo.Fotografia: Fernando Correia (editor JT), José Lorvão (editor Record), Carlos Rodrigues e Gianni Ciaccia. Departamento Gráfico Record: Eduardo de Sousa (director de arte),João Henrique, José Fonseca e Pedro Almeida (coordenadores gráficos), Cristiano Aguilar (editor Infografia) e Nuno Ferreira (coordenador digitalização).Redacção e Publicidade: Rua da Barruncheira, 6, 2790-034 Carnaxide Telefone: +351 21 303 49 00. Fax: +351 21 303 49 30. E-mail: [email protected]

O impasse que o maior torneio doMundo em terra batida (RolandGarros) vive atualmente, entreuma solução de “face-lifting” e a

construção de um novo e moderno com-plexo de raiz, não é novo… nem exclusi-vo do ténis. No futebol houve que cons-truirestádiosmodernosouremodelarpro-fundamente velhas estruturas, de forma aviabilizar financeiramente projetos de ges-tão dos clubes e poder acolher as grandescompetições internacionais. Na Fórmula1 o impacto foi mais impiedoso, com cir-cuitos de enorme tradição a serem facil-mente colocados “fora de pista”, em de-trimento de instalações modernas e milio-nárias em que o podereconómico das no-vas potências asiáticas falou mais alto.

No ténis, onde a tradição e força cen-tenária de alguns eventos constitui mura-lha quase inexpugnável, os ventos de mu-dança vão impondo a sua lei de formamais lenta… mas incontornável. Seguin-do os exemplos dos majestosos estádiosconstruídos em Indian Wells e Key Bis-cayne, grandes investimentos em comple-xos modernos – mais de 200 milhões de

euros em Madrid e quase o dobro emXangai – “compraram” o direito a doisnovos supertorneios no circuito. Inevita-velmente, os “intocáveis” Grand Slamslondrino e parisiense sentiram o perigo,já que os seus congéneres americano eaustraliano alicerçaram o seu futuro bemmais cedo, mudando de instalações res-petivamente em 1978 (com remodelaçãoem 1997) e 1988 (com novo élan em2006). Em Wimbledon foram obrigadosa instalar uma cobertura retrátil num cor-te central renovado para se defender decondições climatéricas instáveis e reno-var dois “show courts”… enquanto queem Roland Garros o problema é maiscomplexo, já que associa a falta de espa-ço à necessidade de modernização e co-bertura dos principais palcos.

E se os grandes já não estão imunes àsexigências dos tempos que correm… mui-to menos os pequenos. Há anos que insis-timosquea soluçãodoEstorilOpenpassaporumpalcopolivalente(nonossocontex-to não nos podemos dar ao luxo de inves-tir num estrutura deste nível que sirva ex-clusivamenteo ténis) e comtetoamovível.

Se tivéssemos conseguido agir nessa altu-ra, Portugal teria sido quase pioneiro na-quilo que hoje virou regra e moda. Perde-mos a oportunidade da vantagem compe-titiva que teríamos então ganho à concor-rência, mas pelo menos agora já ninguémpoderá duvidar que essa é a opção técnicacorreta e o caminho a seguir. Estamos aonível dos melhores nas restantes compo-nentes do torneio (não é ao acaso que foiincluído nos “dez mais charmosos” do cir-cuito!), mas falta o palco que permita aoEstorilOpencrescerecumprirdevidamen-te a sua missão de serviço público.

A questão está unicamente em saberonde estará o futuro do Estoril Open. NoJamor, optando-se por uma solução decontinuidade que privilegie a tradição doespaço que sempre o acolheu e valorize opatrimónio tenístico e desportivo que aliexiste, ampliando a capacidade de ofertado maior complexo desportivo nacionalcom um importante palco para competi-ções multidisciplinar? Ou será inevitávelromper com a tradição e alicerçar o futu-ro do Open noutro local? Os dados estãolançados. A decisão é incontornável. �

EUROSPORT4/06 8.45-11.30 Roland Garros – Meias-finais

11.30-12.00 Game, Set and Mats12.00-17.00 Roland Garros – Meias-finais17.00-17.30 Game, Set and Mats

5/06 13.30-14.00 Game, Set and Mats14.00-16.00 Roland Garros – Final feminina16.00-16.30 Game, Set and Mats22.45-0.30 Roland Garros – Final feminina

6/06 13.00-16.30 Roland Garros – Final masculina16.30-17.00 Game, Set and Mats21.15-22.30 Roland Garros – Final masculina

7/06 8.45-9.30 Roland Garros – Final masculina9.30-10.00 Game, Set and Mats11.30-12.30 Roland Garros – Final masculina12.30-14.00 ATP 250 Queen’s – 1.º dia15.30-18.30 ATP 250 Queen’s – 1.º dia

8/06 11.30-14.00 ATP 250 Queen’s – 2.º dia15.30-18.30 ATP 250 Queen’s – 2.º dia

9/06 11.30-14.00 ATP 250 Queen’s – 3.º dia15.30-18.30 ATP 250 Queen’s – 3.º dia

10/06 11.30-14.00 ATP 250 Queen’s – 4.º dia15.30-18.30 ATP 250 Queen’s – 4.º dia

11/06 11.30-14.00 ATP 250 Queen’s – Quartos-de-final15.30h-17.00 ATP 250 Queen’s – Quartos-de-final17.15-18.30 ATP 250 Queen’s – Quartos-de-final

12/06 17.30-18.15 ATP 250 Queen’s – Meias-finais13/06 14.45-16.15 ATP 250 Queen’s – Final

4/06 15.30-16.00 ATP Uncovered5/06 9.30-10.00 World of Tennis6/06 15.00-15.30 World of Tennis7/06 11.00-14.00 ATP 250 Halle

15.00-18.00 ATP 250 Halle22.30-0.00 ATP 250 Halle – Melhor encontro do dia

8/06 11.00-14.00 ATP 250 Halle1.10-3.00 ATP 250 Halle – Melhor encontro do dia

9/06 11.00-14.00 ATP 250 Halle15.00-18.00 ATP 250 Halle18.00-18.30 ATP Uncovered

10/06 10.30-11.00 ATP Uncovered11.00-14.00 ATP 250 Halle15.00-18.20 ATP 250 Halle

11/06 11.00-14.00 ATP 250 Halle14.30-15.00 ATP Uncovered23.00-1.00 ATP 250 Halle

12/06 12.00-13.30 ATP 250 Halle – Meia-final13.30-14.00 ATP Uncovered19.10-21.00 ATP 250 Halle – Meia-final

13/06 12.00-13.40 ATP 250 Halle – FinalRE

UTER

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EUROSPORT. Final feminina no sábado às 14 h

Nota: a programação é fornecida pelos respectivos canais, pelo que quaisqueralterações de última hora são da inteira responsabilidade dos emissores.

PAUL

OCA

LADO

Page 3: Jornal do Ténis - 4/06/2010

03Sexta-feira, 4de junhode2010 PresidenteFPT

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MIGUEL SEABRA

� José Maria Calheiros foi eleito presi-dente da Federação Portuguesa de Té-nisnoiníciodaprimaverade2009.Umano depois, está na hora do balanço:

“As alegrias compensam larga-mente as dificuldades. Em termosdesportivos, o ano de 2009 foi talvezo melhor ano de sempre do ténis por-tuguês. Ter acompanhado as seleçõesfoi o mais gratificante (desde os Sub-14, que foram vice-campeões da Eu-ropa e do Mundo, passando pela su-bida de Grupo na Fed Cup disputa-da na Turquia em 2009, e pelas boasprestações na Davis – sem esquecer,

entre outros, o excelente resultadodas nossas sub 18 no Campeonatoda Europa). Mas os bons resultadosindividuais dos nossos melhores jo-gadores também nos proporciona-ram grandes alegrias e são um tóni-co para toda a família do ténis; o re-sultado na Fed Cup em Fevereiro nãofoi o que ambicionávamos, mas sa-bíamos que era difícil. De resto, des-tacaria o lançamento do CAR, a con-tinuação e desenvolvimento do su-cesso do Programa Nacional de De-teção de Talentos, o desenvolvimen-to do ténis no âmbito do desporto es-colar, a melhoria das condições deformação, a organização da FED noJamor, a comemoração dos 85 anosda Federação, a aprovação dos novosEstatutos da FPT (por unanimidade)e a participação e apoio ao Ténis emCadeira de Rodas, com participaçãono campeonato do mundo.

Futuro.Quais as próximas medidasa implementar no erguer de um só-lido 'edifício' federativo?

“Temos que caminhar para a cer-tificação e fortalecimento dos clu-bes. São a célula fundamental do

ténis. Estão para o ténis como a fa-mília está para a sociedade. A pardisso, é necessário apostar aindamais no desenvolvimento do ténisno âmbito do desporto escolar(mesmo ao nível do primeiro ciclo).O desporto universitário e a dina-mização do ténis para os veteranos,famílias e empresas são áreas de fo-mento que necessitam também deser mais trabalhadas.

Sucesso.Bateram-se vários recordespara o ténis português na última edi-ção do Estoril Open; que planos tema FPT em curso de modo a aprovei-tar e potenciar esse precioso élan?

“Foram emoções muito fortes. Jo-gou-se a muito bom nível e os por-tugueses reagiram bem à pressãoadicional de jogar em casa. O Fre-derico Gil esteve em grande, mashouve outros bons resultados. Paraalém disso, tivemos muitos jovens ajogar o qualifying, o que também épositivo. Foi também importantetermos o Roger Federer em ativida-de no “Play and Stay” com as esco-las de ténis dos clubes, que são o nú-cleo essencial para o desenvolvimen-to do ténis português. O ténis nacio-nal está a desenvolver-se; temos hojemelhores jogadores, treinadores me-lhor preparados, árbitros mais com-petentes e dirigentes associativos ede clubes mais empenhados. Alargá-mos a base de praticantes (serão hojemais de 150.000) e aumentámos,num só ano, o número de federadosem cerca de 30%. Melhorou-se aformação e deram-se passos muitosólidos na programação do trabalhodas várias seleções (incluindo dos es-calões mais novos). É preciso conti-nuar a trabalhar. Sou daqueles queacredita no futuro do ténis portu-guês. Vamos ter cada vez mais joga-dores e melhores resultados”. �

PALPITE. “Achei que seria o melhor Estoril Open para os portugueses”

Briofederativo

“Numano,onúmerodefederados

aumentouemcercade30porcento”

APÓSUMANODEMANDATONAPRESIDÊNCIADAFPT, JOSÉMARIACALHEIROSFAZOSEUBALANÇO

�O que se espera para a importan-te eliminatória da Taça Davis quese avizinha diante do Chipre deMarcos Baghdatis? “A Seleção estámotivada, tem valor e é equilibra-da; a vinda do Marcos Baghdatismotiva-nos ainda mais. O regressoao Jamor é um bom tónico e o pú-blico não vai faltar nos dias 9, 10 e11 de Julho no Jamor. Paralelamen-te, estão a ser preparadas várias ati-vidades – vamos convidar, para vol-tarem a jogar no Jamor (num mini-

torneio), todos aqueles que repre-sentaram Portugal na Taça Davis.Vamos também ter atividades liga-das ao ténis para os mais novos –queremos levar ao Jamor, para ver eapoiar a Seleção, as escolas e os clu-bes de ténis (alunos e treinadores).Vamos também criar uma “onda”de apoio à Seleção portuguesa, uti-lizando as chamadas “redes sociais”.E vamos revisitar a história da TaçaDavis, o que também nos ajuda aperspetivar o futuro. �

ANTIGOS INTERNACIONAISAJUDAMAFORJARAMBIENTE

SUPORTE. Discreto, mas sempre presente no apoio às selecções

VelhasglóriasnaTaçaDavis

COMPLETARUMALACUNA

Circuitonãoterádinheiropúblico� “Lançamos esta época, em con-junto com a School Eventos, umnovo circuito que poderá muitobem constituir uma importante se-mente para o futuro. No entanto,para mim há uma coisa muito cla-ra.Osdinheirospúblicosnãoserãoutilizados para pagar o prize-mo-neydos torneios–para isso sãone-cessários patrocinadores. Prefiroutilizar os recursos disponíveis naformação dos mais jovens e dostreinadores,noapoioaoalto rendi-mentoenoapoioàparticipaçãoemprovas internacionais. Para termosbonsresultados, temosquecompe-tir cada vez mais e cada vez maiscedo –e em 2009 e 2010 alargou-se substancialmente o apoio à par-ticipação internacional dos nossosjogadores mais jovens”. �

SOBREIMBRÓGLIODOJAMOR

OcasopendentedoEstorilOpen

Não há Masters desde 2008

FERN

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EIA

� “Há a necessidade de se criaruma estrutura permanente no Ja-mor que possa receber grandeseventosdesportivos, entreosquais,naturalmente, o Estoril Open. Es-sas instalações poderiam e deve-riamtambémserutilizadasporou-tras modalidades, completando-seo bom trabalho que tem sido feitoem benefício deste espaço único.Já temos vários Centros de AltoRendimento a funcionar no Jamor(e também o CARTénis). Agora épreciso pensar em fazer um está-diopermanente,quepossaser tam-bém o estádio do ténis. Há váriassoluções. Devem ser discutidascom serenidade, de forma a serpossível encontrara que melhor seadeque às necessidades e realida-des atuais, mas que também per-mita perspetivar o futuro. Mas éimportanteavançarparaevitardes-perdiçarverbas anuais em estrutu-ras provisórias. Há boa vontade detodos os agentes envolvidos parase encontrar uma solução equili-brada. Da parte da Federação, es-tamos preparados e empenhadosem dar o nosso contributo.” �

FERN

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Page 4: Jornal do Ténis - 4/06/2010

04 Sexta-feiRolandGarros:odilema

MAIORTORNEIODOMUNDOEMTERRABATIDAESTÁNUMAENCRUZILHADAALGOSEMELHANTEÀDOESTORILOPEN

EseRolandGarrosvoltasseavoar?�Não é só o Estoril Open que recla-

ma por melhores infraestruturas. Otorneio de Roland Garros –cujo nomepresta homenagem a um pioneiro daaviação francês, que deu o nome ao lo-cal e à etapa gaulesa do Grand Slam –vive igualmente um grande dilemaadequado às suas proporções: ou pas-sa porum “lifting” e mantém-se em Pa-ris, próximo do Parque dos Príncipese do Bosque de Bolonha, ou muda-separa os arredores da capital.

Em jogo está a his-tória e o futuro domaior evento doMundo em superfí-cies de pó de tijolo –considerado a cate-dral da terra batida.Gilbert Ysern, dire-tor-geral da Federa-ção Francesa de Ténis(FFT), entidade pro-prietária do evento,mas não do terreno

onde se joga desde 1928, defende apermanência: “Trata-se de uma esco-lha entre um apartamento no centroda cidade ou uma casa no campo comum pequeno jardim”.

Dilema. João Lagos, diretor do Es-toril Open e administrador da empre-sa (Lagos Sports) que detém os direi-tos do Estoril Open, nunca o disse li-teralmente –mas, no seu íntimo, já terápensado qualquer coisa do género:“Não tenho tido alternativa e sou umaespécie de campista, mas com prejuí-

zos, pois monta-se, desmonta-se e nãose aproveita quase nada de um anopara o outro no vale do Jamor”. Dequalquer das formas, e cansado peloarrastar da situação, já desabafou emalgumas ocasiões a perspetiva de irpara outro lado.

E Roland Garros, onde se jogará em2016?Essaéaquestãoque semantémna ordem do dia nos bastidores do tor-neio, cuja 109.ª edição se aproxima dasua conclusão com a realização dasmeias-finais masculinas na jornada dehoje e as finais ao longo deste fim-de-semana. Há um ano que um grupo deespecialistas se debruça sobre um dos-siê espinhoso e altamente político. Otorneio ou permanece fiel às suas ori-gens, e a uma forte tradição, ou deslo-ca-se para os subúrbios de Paris.

Comparativo.Juntamente com Wim-bledon, Roland Garros é o único tor-neiodoGrandSlamquenuncamudoude local. O US Open passou de ForestHills para Flushing Meadows, em1978, e o Open da Austrália deixouKooyong, em1988,para se instalaremMelbourne Park. Em ambos os casos,

porque clubes privados se tornaramacanhadospara satisfazerasnecessida-des de eventos altamente profissiona-lizados e cada vez mais populares.

Desde a sua inauguração, RolandGarros até conheceu várias exten-sões. Dos cinco cortes iniciais (3,25

hectares), em 1928, aos vinte atuais(8,5 hectares), o estádio sofreu alte-rações, sem nunca perder a alma.Mais de 80 anos depois da sua cons-trução, o local vive agora um “trile-ma”: falta de espaço para o público,jogadores e media; ausência de um

teto no corte central capaz de preve-nir as surpresas meteorológicas; ne-cessidade de modernização.

Míngua.São esses os três pontos queconstituem uma verdadeira ameaçapara o futuro. Roland Garros recorrea um espaço (8,5 hectares) muito in-ferior a Wimbledon (20), Melbourne(20) e Nova Iorque (14). Em cima damesa, os responsáveis franceses têm oprojeto de manutenção do torneio nomesmo local e mais três destinados auma eventual deslocalização. Os cus-tos são, obviamente, distintos: 200 mi-lhões de euros para um aumento doatual espaço em mais cinco hectares;600 milhões para se construir de raizuma infraestrutura em Marne-la-Vallée, Versailles ou Gonesse.

A decisão será tomada na assem-bleia geral anual da FFT, agendadapara 11 de Fevereiro do próximo ano.A federação tem o apoio da Mairie deParis (Câmara Municipal) que na se-mana anterior ao início desta 80.ª edi-ção jogada no local (mas 109.ª tendoem conta as raízes da prova) propôsa tal extensão de cinco hectares. Sóque conta com a oposição dos Ver-des, dos ambientalistas e das comis-sões de moradores… �

Síndromadalatadesardinha� Roland Garros é a etapa doGrand Slam que regista a menorafluência de público: em 2009 nãoultrapassou os 460 mil espectado-res. Essa é outra das grandes razõespela qual a extensão é prioridadeabsoluta. “Mas o síndroma da latade sardinha toca não só aos espec-tadores, como também aos jogado-res”, alerta Gilbert Ysern.

O diretor-geral da FFT defendeque o novo projeto para o mesmolocal “é sedutor e, mesmo que nãonos dê o mesmo espaço de outrostorneios, evitará a rutura com a nos-sa história”. E acrescenta: “Por ou-tro lado, o nosso projeto é elabora-do na mais profunda das sincerida-des”, lembrando também a urgên-cia da cobertura de pelo menos umcourt “para combater as contrarie-dades e defender o público, por ve-zes privado do espetáculo e sem es-tar sempre com a garantia de serdevidamente reembolsado”. �

TETOAMOVÍVELFUNDAMENTAL

Ambientalistasemoradoreslutamcontraopçãoideal:

ficarealargar

COMPARATIVO. O défice de espaço face aos outros Grand Slams

ENVIADOS

MANUEL PEREZ EFERNANDO CORREIA,

ENVIADOSESPECIAIS A PARIS

Page 5: Jornal do Ténis - 4/06/2010

05ra, 4de junhode2010 RolandGarros:odilema

TÍTULOSÀVISTADIAS DE DECISÃOHoje apartirdas12h: meias-finais individuais masculinasRobin Soderling (SUE) – To-mas Berdych (CHE)RafaelNadal (ESP) –JurgenMelzer(AUT)Sábado às 14h: final indivi-dual femininaSamantha Stosur (AUS) –Francesca Schiavone (ITA)Domingo às 14h: final indivi-dual masculinaentreosven-cedores das meias-finais dehoje

FICAROUPARTIR: ESCALPELIZAÇÃODASSOLUÇÕESPARAACRISEDECRESCIMENTOQUEESTÁAASFIXIARROLANDGARROS

Quaisosdoiscenários� O velhinho tema dos Clash,“Should I Stay Or Should I Go”, é deatualidade em Paris. Mas quais as va-lências da partida e da permanência?

Para o prolongamentos das atuaisinstalações de Roland Garros, o pro-jeto de reestruturação engloba o se-guinte:

– Cobertura com teto retrátil doatual campo central (Philippe Cha-trier)

– Construção de um campo com3000 lugares permanentes, semien-terrado que permita erguer bancadasamovíveis durante o torneio alargan-do a capacidade a 7000 espectadores

– Espaços de receção (público, jo-

gadores, relações públicas, oficiais [ár-bitros, dirigentes, etc.], staffe organi-zação), bem como a zona designadapor Village (espaço VIP)

–Ligeira mudança de local do Cen-tro Nacional de Treino, bem como dasede da Federação Francesa de Ténis;

– Atualmente o complexo de té-nis de Roland Garros possui 20 cor-

tes e passaria a contar com um to-tal de 25.

Tripla.Tendo em conta uma eventualmudança de local, há já três zonascandidatas a albergarem um mesmoprojeto – mas todas elas nos arrabal-des de Paris.

As alternativas são Marne-la-Vallée(perto da Disneyland, com excelenteoferta hoteleira e a 10 minutos deTGV), Versailles (a 16 km de Paris,mas com o problema de seruma zonaprotegida, onde existe o famoso cas-telo/palácio) e Gonesse (com excelen-tes acessos rodoviários: 15 minutosde carro e 25 de comboio). E contem-

plariam as seguintes infraestruturas:– Um total de 55 campos: Central

cabriolet com 18.000 lugares, um ou-tro Central Bis também de teto amo-vível com 12.000 lugares e ainda umterceiro campo com capacidade para8.000 pessoas; mais 17 cortes paracompetição, ainda 25 cortes para trei-nos (20 em terra batida e cinco empiso duro) e 10 cortes cobertos paratorneios indoor;

– Os mais modernos locais de aco-lhimento (60.000 pessoas em simul-tâneo), logísticos e técnicos necessá-rios ao funcionamento da prova;

–Sede da FFT, Centro Nacional deTreino e museu. �

Emcasodemudança,hájátrêshipóteses

bemdefinidasnaorladaGrandeParis

� Há interesse privado (João LagosSports) e institucional (Governo, FPT,Câmara de Oeiras) em manter o Esto-ril Open no Jamor. Mas a criação dotal campo central dotado de teto amo-vível que servisse os interesses do tor-neio e com versatilidade para outrostipos de uso (espetáculos desportivosou não) está a encravar a situação; aconstrução desse estádio versátil teriade ser feita num sítio relativamenteafastado do centro nevrálgico do tor-neio. Um dos grandes dilemas relacio-

nados com a eventual mudança do Es-toril Open para qualquer outro ladotem a ver com a perda do ex-líbris dotorneio que é também um dos mais be-los campos de ténis do mundo: o Cen-tralito, inaugurado há 65 anos e queserve de postal do Estoril Open emmuitas publicações internacionais.Como afirmou o célebre jornalistaamericano Bud Collins, “se algum diao torneio mudarde local, é obrigatórioque se mude também o Centralito –nem que seja pedra a pedra”. M.S. �

OCASODOESTORILOPEN EUMEX-LÍBRISCOM65ANOS

Centralitopostalhistórico

OpiniõesImpunha-se ouviraopinião de al-gumas das grandes figuras, apropósito dadeslocalização ounão de Roland Garros. RogerFe-derer, Rafael Nadal, Justine Henin,todos eles com um total de novetítulos no torneio, bem como o re-cém-retirado Marat Safin ou ain-daYannickNoah, último francês aganharo torneio em 1983, defen-dem que Roland Garros estámuito bem onde está!

ROGERFEDERER

«Mudança seriaalgo violento»“Espero que o torneio permane-ça por aqui. Mudar de local, talcomo mudar de residência, éuma das piores coisas do mun-do. Já me aconteceu duas vezesna vida e é algo muito violento.Não o desejo a ninguém. Se Ro-land Garros sair daqui, esperoque aconteça o mais tarde possí-vel – ou seja, depois de ter en-cerrado a minha carreira.”

RAFAELNADAL

«Perder-se-á»alma do torneio»“Penso que Roland Garros possuitodaumahistóriae essahistóriaéfeitaaqui. Por isso, acho que nãodeve mudarde local. Édentrodestes muros que se respiraahis-tória. Isso é muito importante. Setiverde sairdaqui, paciência; serátalvez paraum local maior, masperder-se-áaalmado torneio.”

JUSTINEHÉNIN

«A tradiçãomora aqui»“Espero que sejaencontradaumasolução paraque o torneiose mantenhano mesmo sítio. Atradição moraaqui. É o meu tor-neio preferido. Caso essamu-dançaseja inevitável, teremos deser realistas. Comparando comoutros torneios do Grand Slam,que estão sempre acrescer, aquivivem-se claramente dificuldadesem termos de espaço. Todaagente sabe disso.”

MARATSAFIN

«Carregadode história»“Aqui existe um ambiente, umaat-mosferaque é muito particular.Os jogadores e o público estãohabituados aeste local carregadode história. Serámuito duro se otorneio mudarde local.”

YANNICKNOAH

«Temploparisiense»“Seriaaberrante deslocalizarestetemplo parisiense.”

JAMOR.O Centralitoe a actualconfiguração

CIRCULAÇÃO.Congestionamentosdificultam acessos

EXPANSÃO.Plano demelhoramentocontemplateto amovível

Page 6: Jornal do Ténis - 4/06/2010

06 Sexta-feira, 4de junhode2010TorneiosemPortugal

CALENDÁRIOCIRCUITOSCHOOLEVENTOS/FPT2010DATA NOME PRIZE-MONEY24/04-2/05 Open de Odivelas 2.000 €29/05-5/06 Open de Oeiras 6.000 €12-20/06 Open de Alenquer 2.000 €3-11/07 Open de Anadia 2.000 €10-18/07 Open de Oliveira de Azeméis 2.000 €24/07-1/08 Open da Póvoa de Varzim 2.000 €31/07-8/08 Open de Vila do Conde 2.000 €21-29/08 Open de Corroios 8.000 €6-12/09 Campeonato Nacional Absoluto Não definido9-17/10 Open de Faro 2.000 €13-21/11 Open de Espinho 2.000 €* NOTA: o circuito School Eventos/FPTsucede ao Circuito CIMA/FPT,que porsua vez teve a responsabilidade – durante escasso tempo de vida –de sucederao mais bem sucedido circuito profissional/semiprofissionaldo ténis português das últimas décadas: o Grande Prémio TMN, que serealizouentre1995/2005comumelitistaMastersdeencerramentodeépoca.

�Assinado o protocolo a 21de Abril, o circuito nacionalSchool Eventos/FederaçãoPortuguesa de Ténis – quesucede ao Grande PrémioTMN e ao Circuito CIMA –vê terminar amanhã a se-gunda de 11 provas quecompõem o calendário detorneios – no Open de Oei-ras. Aestreia do novo circui-to aconteceu em Odivelas eos primeiros campeões datemporada foram João Fer-nandes (CIF) e Sofia Araú-

jo (Ace Team). Ao longo daépoca está previsto um totalde 12 provas, com naturaldestaque para o regresso doCampeonato Nacional Ab-soluto ao Complexo de Té-nis do Estádio Nacional doJamor, embora ainda semqualquer prize-money defi-nido. Mais detalhes sobre oprincipal circuito nacionalde ténis podem ser encon-trados em www.tenis.pt ouno site oficial: http://school-eventos.com/tenis/. �

NOVOCIRCUITONACIONALJÁSEJOGA

Primeiroscampeões

PEDRO CARVALHO

� Ainda com o Estoril Open bemfresco na memória de todos, fruto dainesquecível caminhada de Frederi-co Gil até à final, as segunda e ter-ceira linhas do ténis luso – que ha-viam tentado a sua sorte no qua-lifying do Jamor – preparam-se paraatacar novamente as hierarquiasmundiais nestas semanas de transi-ção entre a primavera e o verão.

Em simultâneo com o recém-cria-do circuito interno numa parceriaentre a School Eventos e a Federa-ção Portuguesa de Ténis, é na sérieem curso de quatro provas interna-

cionais de 10 mil dólares que as re-presentantes nacionais tentam ga-nhar rodagem ao mais alto nível,bem como amealhar alguns euros e,

acima de tudo, preciosos pontosWTA nas respetivas carreiras.

Maisquatro.Dividindo o calendárioportuguês de certames entre 10 e 15mil dólares em três partes, e depoisda sequência de eventos entre Feve-

reiro e Março, a segunda fase arran-cou esta semana com o II Cantanhe-de Ladies Open. Este ano ainda nãohouve qualquer representante portu-guês que beneficiasse do chamado“factor-casa” para chegar ao triunfonesses torneios menores.

E em Cantanhede, sem a presen-ça da campeã de 2009, Maria JoãoKoehler – uma vez que a titular na-cional absoluta optou por competirnum 50.000 em Roma (perdeu nasegunda ronda do qualifying) – cou-be a Rita Freitas liderar a armadanacional composta por cinco atletasno quadro principal. No entanto, avice-campeã nacional não foi além

dos oitavos-de-final, desistindo doduelo cem por cento luso frente aSofia Araújo, com uma lesão nascostas, quando o marcador já regis-tava parciais de 6-2, 3-6 e 5-3 favo-ráveis à opositora.

Estreante.Agradecendo a via aber-ta para os quartos-de-final, a jogado-ra do Ace Team não só se estreou emoitavos-de-final, como debutou tam-bém na fase seguinte de torneios pon-tuáveis para o rankingdo WTA Tour– jogando hoje nos quartos-de-final

face à austríaca Christina Kandler –,depois de passar uma ronda no qua-lifying do Estoril Open. Pela primei-ra ronda ficaram Margarida Moura,Ana Claro e Maria Palhoto.

Após Cantanhede, mais três com-petições terão lugarno nosso país: se-gue-se o Amarante Ladies Open(também sem a presença da campeãem título Maria João Koehler) e de-pois a 11ª edição do Montemor-o-Novo Ladies; na semana seguinte opériplo internacional feminino ficaconcluído em Alcobaça. �

NOSEVENTOSPONTUÁVEISPARAORANKINGMUNDIALEMSOLONACIONAL

CALENDÁRIODETORNEIOS INTERNACIONAISEMPORTUGALDATA TORNEIO PRIZE-MONEY CAMPEÃO/Ã9-14/02 Vale do Lobo Ladies Open 10.000 dólares Julia Mayr(Itália)16-21/02 Montechoro Ladies Open 10.000 dólares Evelyn Mayr(Itália)23-28/02 Portimão Ladies Open 10.000 dólares Claudia Giovine (Itália)2-7/03 Faro Future 10.000 dólares BenoitPaire (França)9-14/03 Lagos Future 10.000 dólares Guillermo Alcaide (Espanha)16-21/03 Albufeira Future 10.000 dólares BenoitPaire (França)1-9/05 ESTORILOPEN 635.000 euros A. Montañes(ESP) /A. Sevastova(LET)31/05-6/06 Cantanhede Ladies Open 10.000 dólares ––7-13/06 Amarante Ladies Open 10.000 dólares ––14-20/06 MontemorLadies Open 10.000 dólares ––21-26/06 Alcobaça Ladies Open 10.000 dólares ––*NOTA: o apogeu da organização de eventos internacionais em Portugal ocorreu ao longoda década de 90, chegando a havercerca de 30 semanas de competições para o ranking mundialporano – sendo que, nesses casos de maiorafluência, a organização era maioritariamente da JoãoLagos Sports (nalguns eventos em parceria com a FPT). Atualmente, os torneios menores sãoassumidos pelos clubes e faltam eventos de categoria intermédia – os Challengers.

Segundalinhaquerdestaque

SofiaAraújo,de15anos,estreia-se

nosquartos-de-final

CHEFE.A vice-campeãnacional Rita Freitasliderava o contingentenacional

TITULAR. Há um ano,Maria João Koehlerganhou o primeirotítulo em Cantanhede

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PROMESSA. A jovem Sofia Araújo ganhou o torneio de Odivelas

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