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VIDA REAL: UMA PROPOSTA SOLIDÁRIA 3 3 3 MAREENSES SÃO CONVOCADOS À DOAR SANGUE 11 11 11 11 11 VACINAÇÃO: UMA FORMA DE PROTEGER 18 18 18 18 18 RIO DE JANEIRO ANO IX Nº47 JANEIRO/FEVEREIRO/MARÇO 2007 Chuvas na Maré Chuvas na Maré PERFIL: UM ADMINISTRADOR DO FUTEBOL 6 6 6

Jornal o cidadão 47

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jornal comunitario da Maré

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Page 1: Jornal o cidadão 47

1O Cidadão

VIDA REAL:UMA PROPOSTASOLIDÁRIA33333

MAREENSES SÃOCONVOCADOS ÀDOAR SANGUE1111111111

VACINAÇÃO:UMA FORMADE PROTEGER1818181818

RIO DE JANEIRO ANO IX Nº47JANEIRO/FEVEREIRO/MARÇO 2007

Chuvasna MaréChuvas

na MaréPERFIL: UMADMINISTRADORDO FUTEBOL66666

Page 2: Jornal o cidadão 47

2 O Cidadão

O Cidadão é uma publicação do CEASMCentro de Estudos e Ações Solidárias da Maré

Sede Timbau: Praça dosCaetés, 7 - Morro do TimbauTelefones: 2561-4604

Sede Nova Holanda:Rua Sargento Silva Nunes,1.012 - Nova HolandaTelefone: 2561-4965

DireçãoAntonio Carlos Vieira • Cláudia Rose Ribeiro

Edson Diniz • Eliana S. Silva • Jailson de SouzaLéa Sousa da Silva • Lourenço Cezar

Maristela KlemCoordenadora Geral: Rosilene Matos

Editora: Cristiane BarbalhoCoordenadores de Edição:

Flávia Oliveira • Aydano André MottaCoordenadora de Reportagem: Carla Baiense

Revisão: Viviane CoutoAdministrador: Hélio Euclides

Reportagem: Renata Souza • Cristiane Barbalho Ellen Matos • Hélio Euclides • Rosilene MatosSilvana Sá • Gizele Martins • Douglas Baptista

Colaboraram nesta edição: Rede Memória • Faísca Gelson

Francisco Valdean • NICJornalista Responsável:

Ellen de Matos (Reg. 27574 Mtb) Ilustrações: Jhenri

Publicidade: Elisiane AlcantaraProjeto Gráfico e Diagramação: José Carlos Bezerra

Diagramação: Fabiana Gomes da SilvaCriação do Logotipo: Rosinaldo Lourenço

Foto de Capa: Hélio EuclidesRepórter Fotográfico: Hélio Euclides

Distribuição: Patrícia dos Santos (coordenadora)Charles Alves • Roselene Ferreira da Silva

Luiz Fernando • Marcele de AraújoJosé Diego dos Santos • Jéssica de Oliveira

Raimunda Nonato Canuto de SouzaFotolitos / Impressão: EdiouroTiragem: 20 mil exemplares

Correio eletrônico: [email protected]@yahoo.com.br

Página virtual: www.ceasm.org.br

Reciclagem, chuvas etc...

Caro leitor, os últimos acontecimentos na cidade convocam a todospara uma reflexão. A morte do me-

nino João Hélio foi uma barbárie e comoveuo Brasil. No entanto, não devemos esque-cer dos outros “João Hélio”, meninos e me-ninas de nossas comunidades, que convi-vem diariamente com a barbárie do desca-so do poder público: falta de segurança,emprego, saúde e educação. Situações quelevam à mortes tão brutais quanto a mortede João Hélio, mas que são menos divul-gadas e que não mobilizam a sociedade.Por isso, o jornal O CIDADÃO se solidari-za com todas as famílias que sofrem com aviolência no Rio de Janeiro.

Contudo, o jornal O CIDADÃO buscarevelar também o que há de belo na Maré, co-mo a música, a cultura e a alegria que somentenós, moradores, ou quem nos visita, conhe-cemos. O musical mostra Ronaldo, morador daVila do Pinheiro, que canta MPB nas noites daLapa. O aproveitamento do lixo também está

presente em nossa edição: na Marcílio Dias,mostrando a organização dos moradores naformação de cooperativas de reciclagem; naNova Holanda, contando a história de ummorador que ensina às crianças a fazer arte comgarrafas pets.

Nossa matéria principal toca na questãodos alagamentos que ocorrem na comunida-de. Por isso, buscamos relatar o drama da-queles que perderam bens materiais e mesmoa saúde, devido às fortes chuvas. Nessecontexto, damos ênfase à leptospirose, do-ença transmitida pela urina do rato e proveni-ente das águas contaminadas.

Mostramos também a necessidade dapresença do Estado com obras, como a trocadas tubulações de águas pluviais e do esgo-to. Além disso, tratamos do problema do lixocolocado em locais indevidos pelos morado-res. Com isso, queremos que o morador e oEstado se responsabilizem pelo cuidadocom o Bairro. Aqui há muita coisa boa, masainda há muito que fazer. Boa Leitura!

ELES LÊEM O CIDADÃO

Acima, Emerson da Silva, de 33 anos,comerciante e ambientalista, morador do

nonononononononono, à direita, João PedroStédille, de 50 anos, Coordenador do MST

FRANCISCO VALDEANHÉLIO EUCLIDES

Ligue e anuncie!

3868-40073868-40073868-40073868-40073868-4007

EDITORIAL

Page 3: Jornal o cidadão 47

3O Cidadão

O Programa de Criança Petrobrasatende a diversas escolas públicas da Maré.

Promove oficinas e atividades que se tornamextensão da sala de aula.

Uma conquista dos moradores da Maré

A impressão deste Jornalfoi possível graças ao

apoio da

Rua Nova Jerusalém, 345

Bonsucesso

Tel: 3882-8200Fax: 2280-2432

O Instituto Telemarapoia o jornal

O Cidadão

Um exemplo de solidariedadeTião Araújo, criador do Instituto Vida Real, cuida de jovens na Nova Holanda

Um autêntico ser humano. Assimé Sebastião Antônio de Araújo,o Tião, de 44 anos. Morador da

Nova Holanda desde a infância, pai de quatrofilhos, e é o criador e vice-presidente do Insti-tuto Vida Real, uma instituição que busca ofe-recer uma existência mais digna para adoles-centes de 13 a 17 anos. Lá, eles têm aulas decomputação, designer gráfico, grafite, literatu-ra, bijuterias, além de atendimento psicológicoe reforço escolar. A organização não governa-mental possui três anos e meio e tem levadoTião e os jovens a lugares inesperados, comoo programa do Luciano Huck. Mas vai além,amplia o horizonte destes moços, aumentan-do, também, suas oportunidades de vida. Em2006 atendeu aproximadamente 30 jovens.

Tião sempre teve um coração aberto à soli-dariedade. Entretanto, há apenas quatro anos seusprojetos puderam realmente ser executa-dos.“Tudo começou quando era inspetor doColégio César Perneta. Desejavam fazer umdocumentário com adolescentes. Fui chamadopara fazer os contatos”, conta.

Daí, para que tudo acontecesse, foi umpulo. Os diretores do filme queriam ajudar osjovens, mas não sabiam como. Sebastião apon-tou o caminho. “Eu disse que o que precisa-vam, de verdade, era de aulas de reforço,informática e de um espaço com biblioteca”,conta. E, hoje, este lugar existe na NovaHolanda, mais especificamente na Teixeira.

Lá, eles recebem capacitação profissional,ingressam no mercado de trabalho e têm um

olhar mais bonito da vida. Muito graças a Tião,que para estes meninos é mais que um mestre.“Eles vêem meu pai como amigo. É bem durão,mas tem amor”, revela a filha, Geisiana de Araú-jo, 18 anos, que auxilia o pai no Vida Real.

Foi por causa deste espírito de entrega queo fundador do Instituto participou do progra-ma de Luciano Huck, no último 13 de Janeiro.Lá ele precisava, de olhos vendados, enchercubos com combustíveis. Por causa do nervo-sismo, não conseguiu. Ainda assim, o amor deTião pelos adolescentes não passou desaper-cebido. O apresentador decidiu ofertar R$1000pela almofada feita pelos adolescentes. Depoisda aparição no programa, muitas colaborações

têm sido feitas. “A OAB ofertou alimentos.Muitas pessoas têm ligado para nós”, declarao fundador da ONG.

A iniciativa doadora e o coração abertonão vieram de hoje. Têm suas raízes nas difi-culdades passadas na infância e juventude.“Jádescarreguei caminhão por um prato de comi-da”, relata. E seus sonhos não cessam com oInstituto Vida Real. “Desejo ter condição deter um abrigo para menores, onde eles possamestudar, ter uma profissão, trabalhar. Tambémter roupa e comida. Se você der estas coisas aestes meninos, eles nunca esquecerão”, expri-me Sebastião Antônio de Araújo, o Tião, umexemplo genuíno do que é ser humano.

ARQUIVO PESSOAL

À esquerda Gabriel Anderson Rodrigues, no centro Tião Araujo e a direita Max Dias da Silva

GERAL

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4 O Cidadão

Plano de minutos Telemar.

vantagem ou prejuízo?Anatel prevê que todas as residências serão atendidas pelos planos de minutos até julho

AAnatel (Agência Nacional de Te-lecomunicações) determinouque, a partir de julho de 2006,

as empresas de telefonia fixa devem ofe-recer aos clientes a tarifação por minu-to. A Telemar, então, lançou seus pla-nos de minutos, gerando uma grandediscussão sobre as vantagens e des-vantagens que este tipo de tarifaçãotraz para o consumidor.

Para avaliar se a nova tarifação be-neficia ou não os usuários, é preciso en-tender como funciona o sistema hoje.Todo mês, a conta de telefone traz o va-lor da assinatura, fixado em pouco maisde R$ 41, que dá direito à utilização de100 pulsos. Cada pulso corresponde aquatro minutos de ligação telefônica. Apartir de julho de 2006, o assinante pas-sou a poder optar por planos de 230, 350,500 e 1.000 minutos mensais. Os minu-tos não gastos em um mês ficam dispo-níveis para o mês seguinte, como funci-ona com os créditos dos celulares pré-pagos.

Em termos financei-ros, a franquia de 230minutos custa aproxi-madamente R$ 44,sem impostos. Jáquem precisa falarmuito paga R$ 110por 1.000 minutos.

Isso significa dizer que o consumidorestará pagando em torno de R$ 0,19 porcada minuto, dentro da franquia de 230

minutos e R$ 0,11 se optar pelafranquia dos 1.000 minutos.Existem outros valores paraquem utiliza internet discada.

Segundo a Telemar, quan-do o cliente excede seu limite de

minutos tem a opção de adquirirum novo pacote para não ficar com

o telefone bloqueado. No entanto,para cada pulso utilizado além da fran-

quia o consumidor deverá pagar cercade R$ 0,20. Só para comparar: pelo siste-

ma antigo cada pulso custa R$ 0,10(sem os impostos) e equivale aquatro minutos de ligação.Logo, cada minuto custa me-nos de R$ 0,03. Isto significaque o valor dos minutos no

novo sistema pode seraté 600% maior

do que no pla-no conven-cional.

Segundodados da as-sessoria deimprensa daTelemar, em

seis meses subiu para mais de um mi-lhão o número de clientes atendidos pe-los planos de minutos. As maiores van-tagens são a possibilidade de transferiros minutos não utilizados para o próxi-mo mês e de ter a conta detalhada, comos dias, horários e valores de todas asligações. “Dessa forma fica mais fácilpara o consumidor detectar qualquer errona conta”, declara Marli dos Santos, de27 anos, moradora da Nova Holanda.

A partir de agora, quem solicitar umalinha telefônica já terá de optar por umdos planos de minutos. O cliente rece-berá a conta detalhada gratuitamente atéjunho deste ano. Roberta Bomfim, de 27anos, moradora do Parque União, lamentaa decisão da Anatel. “Acho um absurdoo consumidor não ter o direito de esco-lher entre a medição de pulsos e os mi-nutos. Isso já demonstra que não é mui-to vantajoso para nós”, diz.

Roberta possui duas linhas tele-fônicas em casa. Uma delas é usada prin-cipalmente para acessar a internet. “Elesdizem que oferecem acesso ilimitado àinternet e mais os serviços de telefonia,mas não informam o valor. Com certezavai custar muito mais caro, ou seja, vouprecisar pagar por dois serviços”, ante-cipa a moradora.

HÉLIO EUCLIDES

Roberta Bonfim é uma das pessoas que não aprovaram a decisão da Telemar pelo plano de minutos

SERVIÇO

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5O Cidadão

Lixo vira rendaMoradores de Marcílio Dias e Mandacaru têm como fonte de renda a reciclagem

AOrganização da Sociedade Civilde Interesse Público (Oscip)Beija-Flor é uma iniciativa que bus-

ca a geração de renda, cuidando do meioambiente. A entidade foi fundada há seisanos por Iraci Moreira, de 54 anos, ex-presidente da Associação de Morado-res de Marcílio Dias. Ela, com a ajudados dois filhos, criou o galpão dereciclagem localizado entre as comuni-dades de Mandacaru e Marcílio Dias.Hoje, a partir desse trabalho, mais de 70pessoas se sustentam exclusivamente doreaproveitamento de material.

“Quando houve um alagamento emMandacaru, os moradores ficaram de-sabrigados. Minha mãe resolveu ocupareste galpão abandonado e pôr as famíli-as aqui dentro. Depois, conseguiu 37 ca-sas, onde foram morar. Mas nós resol-vemos continuar com este espaço”, con-ta Iara Moura, de 27 anos, filha de Iraci.

“Essas pessoas estão desemprega-das e necessitam muito de ajuda. Algu-mas têm crianças doentes e precisam deremédios. Com este trabalho, elas con-seguem sobreviver e ajudar em casa. Ogalpão não pode acabar”, completa Iraci.

Cristina da Silva Mendes, de 23 anos,também funcionária e moradora de Man-dacaru, reafirma a importância do empre-endimento: “Foi a necessidade que nostrouxe para cá. Temos filhos e o bom detrabalhar aqui é que fica perto de casa”.

Apesar dos benefícios gerados pelo

galpão, ainda há muitas necessidades.“O mais urgente é um caminhão, mas tam-bém precisamos melhorar a cobertura, deuma empilhadeira e de uma prensa”, lis-ta a coordenadora Iara. “Estamos preci-sando muito de doações, porque paga-mos luz e telefone. Se as empresas pu-

CRISTIANE BARBALHO

Gil Cruz Miranda é um dos catadores do galpão de reciclagem da comunidade de Marcílio Dias

derem ajudar será muito bom, porqueesta iniciativa tem que continuar. É umtrabalho social para o povo”, completa.Há outras necessidades ainda mais ele-mentares, como luvas e uniformes.

O galpão funciona de segunda a sex-ta-feira, das 7h às 17h.

COMO VOVÓ JÁ DIZIA Dicas diversasPara cuidar bem das plantas

Uma vez por mês, regue as plantas comágua em que ferveu ovos: é cheia de mine-rais.

Após a adubação regue imediatamen-te as plantas e evite adubar no inverno:nesta época elas devem descansar.

Quando for viajar, conserve suas plan-tas viçosas, enterrando em cada vaso umagarrafa com água de boca para baixo. Assim,ela irá regando a planta lentamente.

Para uma viagem tranqüila

Providencie para que todos os ocu-pantes do carro usem cinto de segurança,

Nunca exceda a velocidade máxima.Nas refeições não tome bebidas alco-

ólicas. Se beber, não dirija.Se a viagem for longa, programe para-

das para descanso.

Fonte: Folhinha do Sagrado Cora-ção de Jesus, Editora Vozes.

GERAL

Page 6: Jornal o cidadão 47

6 O Cidadão

Walter Fragoso

LopesO administrador do futebol

Comunidade: Vila do JoãoProfissão: Chefe de Recursos HumanosIdade: 67 anos

tou minha fome, não sei como recompen-sar”, disse William Santos, de 31 anos, hojeinstrutor de futebol.

Um fato marcante para Walter foi a im-plantação da arbitragem comunitária. Anteseram os juizes da federação, como o UbiraciDamásio, que vinham apitar. Era uma fortu-na e os profissionais vinham com um certomedo. Para continuidade do trabalho, eleconseguiu ao longo da jornada um colabo-rador, que virou sucessor: David Silva. Oaluno disse que aprendeu muito com Walter.Hoje é escudeiro e em muitos lugares é reco-nhecido como o mesário da Vila. E, por isso,tem uma gratidão eterna ao mestre.

Foram muitas histórias durante o traba-lho em prol do campo. Uma foi a da sua bici-cleta, que era muito emprestada e, as vezes,chegava a sumir dois dias. Quando reapare-cia, descobria-se que tinham tentado ven-der, mas ninguém comprava pois sabiam queera do administrador. Outra foi em 2002, quan-do a paz permitiu que ele convidasse timesde fora para jogarem nos campeonatos. E,para surpresa de todos, dois times de fora, oUnidos da Nova Holanda e o Flecha, dispu-taram a final.

Walter comenta que a idade vai che-gando e, assim, ele deu lugar aos mais no-vos, mas que a bola continua rolando. “Fu-tebol é emoção, e eu desenvolvi o futebolsem problema. Entre prós e contras, deixeimais a favor”, diz. Ele ainda completa quenunca ficou com dinheiro de nenhum timee que com as sobras sempre realizou chur-rascos e ceias de natal. “Sou respeitado portodos, pois não me envolvo com coisas er-radas”, finaliza.

Para um bom futebol, é necessáriauma boa organização. E na Vila doJoão, Walter Lopes foi a pessoa

que sempre contribuiu com o esporte da co-munidade. Por isso chegou a ser homenagea-do em maio, numa copa, realizada com o nomedele. Tudo começou em 1991, quando foi omembro da primeira diretoria do time Marajá.Daí iniciou a administração dos campeonatose organizações dos times no Campo da Vila.

Nascido em Vila Isabel, e criado em Olariadesde criança pensava em jogar futebol, masnunca saiu do juvenil. Segundo ele, naqueletempo ninguém queria ser profissional, o su-cesso era as peladas. Em 1982, ele veio morarna recém fundada Vila do João, de onde nãosaiu mais. “A Vila do João é uma cidade. Eu játive oportunidade de sair, mas eu gosto da-qui, e nessa comunidade passei a melhor faseda minha vida”, revela Walter.

Quando começou o trabalho de admi-nistração, o campo era careca, sem cerca enem tinha iluminação. Então, Walter se uniucom a associação de moradores.Mandaramvários ofícios para a Secretaria de Esporte eLazer e a reivindicação foi parar no diário

oficial. E, depois de quatro anos, as obrascomeçaram a sair do papel. Tanta insistên-cia, o campo ganhou melhorias como a gra-ma sintética, os alambrados e refletores.

Casado, aposentado e pai de um casalde filhos, que lhe deram seis netos, Walter éuma pessoa feliz com tudo o que conquis-tou durante sua vida. Além das amizades nofutebol, continua saindo todos os dias parauma transportadora em São Cristóvão, ondetrabalha há 26 anos, como chefe de recursoshumanos. Dessa função conseguiu ajudarmais de 50 moradores, com emprego. “Tudoque eu tenho agradeço a ele, que é uma pes-soa de caráter. Ele me arrumou emprego equando não tinha nada para comer, ele ma-

Walter Lopes passa a bola para o seu sucessor David Silva no campo de futebol na Vila do João

FOTOS DE ARQUIVO PESSOAL

Walter Lopes ergue troféu no final da copa que tem o seu nome no campo da Vila do João

FOTOS DE HÉLIO EUCLIDESPERFIL

Page 7: Jornal o cidadão 47

7O Cidadão

Rua 11, na quadra 5 – Vila do João. Tel: 3868-7056

Sede: Rua da Candelária, 4, Centro – Tel/fax: 2253-6443www.acaocomunitaria.org.brAÇÃO COMUNITÁRIA DO BRASIL

RIO DE JANEIRO

Ação Comunitária do Brasil/RJ leva estilo econsumo consciente ao Fashion Rio

Informe Publicitário

Fotos: Ronaldo BreveTexto: Cris Araujo

A primeira edição de 2007 do FashionRio badalou a cidade que parou paraconferir cada detalhe de tops e famo-sos nos desfiles da semana de moda.Foram seis dias de irreverência e negó-cios, com destaque para o FashionBusiness, feira de moda que completao evento. Neste espaço, a Ação Comu-nitária do Brasil/RJ mais uma vez se fezpresente com os produtos sociais doNúcleo de Moda e Estilo.

O Fashion Business também foi palco

para o lançamento da coleção outono/in-verno 2007 da Moda Social da ACB/RJ,que impressionou até mesmo a esposado Governador Sergio Cabral. Ao lado domarido, Adriana Cabral visitou o stand daACB/RJ, no espaço SEBRAE, onde se en-cantou com o Vestido da Favela, carro-chefe da nova coleção da ACB/RJ. A peçaé produzida em fustão com estampa deartistas da ONG e ilustra a remoção daextinta Favela do Pinto, na Lagoa. Comrelação ao trabalho do Núcleo de Moda,a primeira dama afirmou:

- Achei bárbaro, pois as costureirasconseguem fazer esse trabalho de formaprimordial, que é delicado, bem feito.Conseguem externar coisas com muitomais profundidade do que a moda em si,concentrando-se na divulgação do traba-lho delas. Achei de uma sensibilidade enor-me, aquela favela subindo na barra dovestido que nenhum outro estilista sabe-ria expressar tão bem, comentou Adriana.

Os produtos da ACB/RJ vêm encan-tando personalidades há cinco ediçõesno Fashion Rio. A atriz Sonia Braga tam-bém conheceu o trabalho e hoje é ma-drinha do Núcleo de Moda. A assessorade imprensa do Ministro da Cultura,Nanan Catalão, também adotou o visu-al “da favela” e a Secretária de Assis-tência Social e Direitos Humanos,Benedita da Silva, que já conhecia o tra-balho da ACB/RJ, não resistiu aos en-cantos do “modelito retrô”.

ANÚNCIOS

Page 8: Jornal o cidadão 47

8 O CidadãoANÚNCIOS

Page 9: Jornal o cidadão 47

9O Cidadão

MMMMMuitas vezes os jovens têm interesse na área de fotografia, filmagem, criação gráfica ou

serigrafia, estampas de camiseta, masnão sabe como lapidar essa habilidade.Aqui na Maré esse problema pode serresolvido pertinho de casa com projetoTrabalho Comunicação e Arte - PTCA.

Este é o trabalho realizado no Ceasmcom o Núcleo de Imagem e Comunica-ção - Nic. O projeto tem parceria com aInfraero e oferece novas possibilidadede atuação ao jovem da Maré.

Esse curso é gratuito e destinado há60 jovens de 15 a 21 anos. Os alunossão divididos em três turmas que duramseis meses. Durante esse período, elesrecebem uma ajuda de custo para se de-dicar às aulas. O projeto conta ainda comum curso de empreendedorismo ofereci-do pelo Serviço Brasileiro de Apoio àsMicro e Pequenas Empresas - Sebrae,destinados a todos os alunos. “Essecurso pode até não ser utilizado dentrodas especializações de cada um, mas éuma experiência para toda a vida”, afir-

ma Rosinaldo Lourenço, de 23 anos, co-ordenador executivo do Núcleo.

Daniel Luna Alves, de 19 anos, estáterminando o curso de fotografia e re-vela que a especialização trouxe a gran-de oportunidade de fotografar o queele já queria há muito tempo.“Puderegistrar um goleiro agarrando a bola,só a fotografia pode eternizar essesmomentos que são maravilhosos navida”, afirma.

O professor de serigrafia, estampade camiseta, Adriano Almeida, de 24anos, nos conta que muitos alunos che-garam no curso sem experiência em to-das as três áreas, mas nem por isso dei-xaram de se esforçar. “Eles se acostu-maram a cumprir as regras como pontu-alidade, nas aulas e no compromisso deum trabalho bem feito”, afirma.

O Nic existe a cerca de dois anos noCeasm e a cada seis meses novas tur-mas são abertas. Para participar do cur-so, é bom ficar atento às divulgações nasua comunidade ou ligar para a institui-ção. O telefone é 2561-4604 ramal 202.

InformáticaO objetivo é dar uma formação com-

plementar mais aprofundada, para quepossa interagir prontamente com os pro-fissionais deste campo. O projeto de gra-duação do aluno deverá ser uma aplica-ção de seus conhecimentos de infor-mática no campo secundário de sua es-

colha, na forma de um sistema de in-formação, implementação de algorit-mos específicos ou projeto de siste-ma computacional.

Duração: De 3 a 6 anosCurso: Pode ser encontrado na

UFRJ, Uerj e Unirio.

O Cidadãodá dicasde cursos

REPRODUÇÕES DE VÍDEO DO NIC

No sentido horário: Rodrigo Guimarães dandoaula na oficina de formação política, alunos daserigrafia estampando camisas, professorMarden ensinando a utilizar a câmera fotográficae estudantes participando de filmagem

Comunicando a

imagem na MaréJovens estudam fotografia, vídeo, serigrafia e criação gráfica

NAS REDES DO CEASM

Page 10: Jornal o cidadão 47

10 O Cidadão

A cultura fala mais altoAlunos do pré-vestibular do Ceasm rea-

lizaram a 2ª Convergência Cultural no Morrodo Timbau. O primeiro evento da série deencontros foi realizado na Nova Holanda,no dia do livro. Na segunda edição, que ocor-reu no dia 22 de outubro, a festa começoucom um almoço, cujo prato principal foi umsaboroso salpicão. E a partir das 15h os alu-nos e professores puderam “degustar” ummaravilhoso sarau, visitaram a exposição degrafite, e assistiram a exibição de vídeo, hip-hop e a apresentação de bandas musicais.

O baixista Leco, 34 anos, da banda RaçaHumana, ficou empolgado com o convite.“Estou agradecido, essa é uma oportunida-de que deveria acontecer em todas as comu-nidades”, diz. No final do evento houve atroca de livros, no estilo amigo oculto.

Real Maré já é conhecido

entre os grande clubesO ano de 2006 foi destaque para o time

que leva o nome do bairro. Estreando noCampeonato Amador da Capital de Juniores,com outras 11 equipes, conseguiu a proezade chegar a final. O jogo foi no estádio doOlaria, na manhã de 10 de dezembro. Umônibus saiu da comunidade com cerca de60 torcedores, que vibraram muito com ofeito. “É muita pressão, por estar pela pri-meira vez em uma final. Mas é uma vitóriachegar até aqui, algo valioso”, comenta otorcedor, Everaldo Oliveira, 35 anos.

Contudo o nervosismo atingiu o grupoque deixou escapar a vitória para o ElShaddai. Conquistando assim, o título device-campeão. “Fizemos um bom trabalho,com um grupo novo, mas de ouro, que vaisuperar esse jogo. O time batalhou, e esseplacar elástico vai servir de conhecimento”,diz o técnico e presidente Sidnei. Os atletasapesar da derrota por 5x0, no próprio gra-mado agradeceram a Deus e a torcida aofinal. E também avaliaram o momento. O clu-be prepara os atletas para o CampeonatoBrasileiro deste ano.

Palestra sobre concursos

públicosSão muitas as dificuldades de se conse-

guir um emprego no Brasil. Os concursospúblicos surgem como uma solução para oproblema. E para esclarecer os moradoresda maré sobre o assunto foi organizada nodia 27 de janeiro uma palestra sobre o temano Ceasm Timbau. A apresentação do as-sunto aconteceu em clima de bate-papo.

O idealizador do evento foi Fábio Ra-mos, de 25 anos. Seu objetivo é estimular acomunidade na busca por outra opção detrabalho. Ele contou com o apoio da Acade-mia do Concurso Público.

Maré no Teatro João

CaetanoTodo final de ano lembra amigo ocul-

to, confraternização, formatura, festa eencerramento. Na Usina da Cidadanianão foi diferente. O projeto encerrou ostrabalhos de 2006 com a peça teatral “Sal-ve Rio – Uma Crítica Social Bem-humorada que Percorre os Espaços De-mocráticos da Cidade Maravilhosa”.Mais de 200 crianças e adolescentes,com apoio de educadores e ex-alunos,se apresentaram no Teatro João Caeta-no, na noite de 19 de dezembro.

O espetáculo contou a história de umretirante nordestino que tenta a sorte nacidade do Rio de Janeiro. Quem dá a vidaao personagem Zé da Silva, é o ex-alunoe morador do Conjunto Esperança,Walney Gomes, 18 anos. “Aqui resgata-mos a comunidade. Mostrando a lei dasobrevivência, num mundo de selva. Eao final vencer, demonstrando que viverjá é uma vitória”, comenta Walney. Outroque estava emocionado era o coordena-dor do Usina da Cidadania, FlávioCristiano, 29 anos. “É uma realização terfeito esse trabalho, com alunos que secomportaram como atores”. Finaliza.

Alunos durante a formatura do PTCA da NIC

REPRODUÇÃO DE VÍDEO DA NIC

Formatura dos alunos do

NICCom uma bela formatura, os alunos do

Núcleo de Imagem e comunicação (NIC),se despediram depois de seis meses demuito aprendizado e prática. A formaturafoi realizada na Casa de Cultura da Maré,dia 13 de Fevereiro, às 9 horas da manhã.Com a presença dos professores, alunos epatrocinadores. Durante o curso os alu-nos tiveram aulas de formação política.

“Através das aulas de formação políti-ca, pudemos conhecer melhor a história daMaré, e vimos vários documentários. Alémdisso, o curso foi muito bom, deu paraaprender muitas coisas. Através dele vique a fotografia não é apenas apertar umbotão”, diz o aluno Tiago Mariano da Con-ceição, de 19 anos.

Boca de Siri é campeão“Amazônia verde que te quero verde”,

esse foi o enredo que trouxe o título de cam-peão ao Bloco Carnavalesco Boca de Siri.A Praia de Ramos ficou eufórica com a con-quista e os 195 pontos conquistados. “Nóssomos uma família. Agradeço do pequenoao mais velho integrante do bloco. Ano quevem estamos de volta”, disse o diretor pre-sidente, Vitor Conceição, de 52 anos. Aagremiação ainda foi escolhida pelos jura-dos como a melhor Ala de Baianas.

HÉLIO EUCLIDES

Os integrantes do Boca de Siri comemoram a vitória

Gato cai do muroA nota 10 em bateria não foi sufici-

ente para ajudar a Escola de Samba Gatode Bonsucesso. Com um sete em fanta-sia e menos seis pontos por desfilar compouco número de ritmistas, baianas ecomponentes, a agremiação foi rebaixa-da para o grupo D. “A comunidade nãoapoiou, fomos boicotados. Tudo quepodíamos foi feito, não devemos um cen-tavo. Agora é rever os erros e correr atrásde união”, revela o diretor presidente,Mauro Camillo, de 53 anos. O Gato ficouao final com a pontuação de 138,6, e o14º lugar.

A tristeza dos componentes do Gato durante a apuração

HÉLIO EUCLIDES

ACONTECEU NA MARÉ

Page 11: Jornal o cidadão 47

11O Cidadão

A vida pelas veias do corpoMoradores da Maré são convocados para a doação de sangue

Quando o assunto é salvar vidas,muitos acham que a única formade fazê-lo é através da doação

de órgãos. Um grande equívoco. Com umasimples doação de sangue, um cidadão podeajudar até três pessoas, pois cada bolsa édividida em hemácias, concentrado deplaquetas e plasma. No entanto, levando emconta que este ato é muito mais rápido queuma partida de futebol, poderíamos imaginarque a adesão a esta prática é muito grande.Errado. Ela contagia apenas 2% da popula-ção. E, assim, os bancos de sangue estãosempre operando no limite.

Na doação de sangue não existe discri-minação. Todos os tipos sanguíneos (A, B,AB e O), e Rh (positivo e negativo) são acei-tos. “É um exercício de cidadania que deve-ria fazer parte da rotina, virar um hábito”, co-menta o assessor de comunicação doHemorio, Marcos Araújo, de 37 anos. Ele lem-bra que o instituto é um pólo que atende acerca de 200 hospitais, mesmo assim as doa-ções diárias equivalem a 300, metade da ca-pacidade do centro. Contudo, esse númerosofre redução no carnaval e em feriados pro-longados. É por isso que as campanhas nãoparam, tentando atender principalmente asemergências dos hospitais que estão sem-pre precisando de sangue e o tratamento deinúmeras doenças que dependem de trans-fusões constantes. “Doação é tudo de bom.Eu precisei e sem ela não tinha feito minha

cirurgia”, alerta a residente no Parque Maré,Jaira Pereira, de 41 anos

Para doar, o homem pode comparecerquatro vezes ao ano, e as mulheres três. Osbancos de sangue necessitam de pessoas quedoem regularmente. É nessa classe que se en-quadra o morador do Conjunto Pinheiro, Fran-cisco Ricardo, de 57 anos, que doa desde 1978.“Pode ser uma vida que eu estou salvando”,diz ele. Quem por algum motivo não pode doarsangue, deve transformar-se num multi-plicador, divulgando as campanhas.

Mitos, medos e tabus

Existem alguns mitos sobre a doação,como, por exemplo, a dor, o risco de con-

taminação e de infecção, o risco de des-maio, de engordar; de emagrece ou ficarcom coceira, que doar engrossa ou afina osangue, além de que não se pode doarmenstruada. Essas informações são irre-ais. Doar não engrossa e nem afina o san-gue, pois na mesma hora ele começa a re-novar-se. Os desmaios acontecem pelaspessoas irem em jejum, numa confusãocom o exame de glicose. A questão damenstruação é a única que deve ser leva-da a sério, mas somente quando houvermuito fluxo, pois pode acarretar anemia. Épor esse motivo que a mulher doa menosque os homens, chegando a pouco menosde 30% do total de doadores.

Doe o sangue. Logo após você rece-berá um lanche.

Onde doar:

Hemorio – Rua Frei Caneca, 8, Centro.Doações de segunda a segunda, das 07 às18h. Só fecha no dia 1º de janeiro.

Hospital Geral de Bonsucesso – Aveni-da Londres, 616, Bonsucesso. Fun-ciona de segunda a sexta, das 08 às12h.

Hospital do Fundão – Avenida Bri-gadeiro Tromwsky, s/nº, Ilha do Go-vernador. Recebe doadores de segun-da a sexta, das 8h as 13h30.

Hospital Pedro Ernesto (Banco de San-

gue Herbert de Souza) – Rua Boulevard28 de Setembro, 109, Vila Isabel. Aberto desegunda a sexta, das 8h às 12h30.

HÉLIO EUCLIDES

Voluntários participam de doação de sangue em sala do Hemorio no centro do Rio de Janeiro

Passos para a doação de sangueEstar em boas condições de saúde;Portar documento de identidade ori-

ginal;Ter entre 18 e 65 anos e mais de 50

quilos;Ter descansado no mínimo seis horas

nas últimas 24 horas;Não estar gripado (a) ou com febre;Não estar grávida ou amamentando;Não ter ingerido bebida alcoólica nas

últimas seis horas.Depois, dirija-se ao local :Lá faça o cadastro e preencha um

questionário;Passe por uma triagem clínica para pe-

quenos exames;

CIDADANIA

Page 12: Jornal o cidadão 47

12 O Cidadão

uando chove esta rua alagamuito, vira uma piscina. Emjaneiro do ano passado, a

água entrou aqui no meu trayller e quaseperdi meus dois freezeres”, lembra o co-merciante Alexandre dos Santos, de 26anos. Ele é um dos muitos mareenses quesofrem com as enchentes na rua GuilhermeMaxwell.

Assim como outros bairros da cidade, aMaré vem sofrendo com as chuvas de ve-rão. A água invade as casa de muitos mora-dores e várias ruas da comunidade ficamalagadas. As causas das enchentes sãomuitas. Entre elas estão a colocação de lixofora do horário de coleta e o despejo emvalões. Quando vem a chuva, o lixo entopea rede e a água que deveria escoar voltapelos valões e bueiros, misturada com maislixo e esgoto.

A comerciante Tânia Maria Farias, de41 anos, moradora da Vila do Pinheiro, co-nhece bem o problema. “Fica difícil andaraqui quando a rua enche. Cai muito o movi-mento na minha barraca. Aqui há locais para

se jogar lixo, mas infelizmente osmoradores jogam do lado do colé-gio. Acho isto falta de educação erespeito com o outro”, diz.

E o poder público

Mas os alagamentos não são cau-sados apenas pelo descuido dos mo-radores. A população da Maré aumen-tou muito nos últimos anos, mas fo-ram feitos poucos investimentos eminfra-estrutura na região. Novas comu-nidades, como a Tekno Parque, nãoapresentam um sistema de sanea-mento básico que comporte todoo esgoto. O número reduzido defossas causa transtorno aos moradores.Para o comerciante Manuel de Castro, de56 anos, o problema vem se agravandocom os anos.

“Moro aqui desde 1971 e essa rua sem-pre encheu. A água fica toda na rua. Anti-gamente não acontecia com freqüência,mas, hoje, enche até o meu bar e as casasvizinhas”, diz.

Segun-do o administrador regio-nal Paulo Cunha, de 52 anos, é necessárioque o saneamento básico e as tubulaçõesde águas pluviais sejam todas refeitas den-tro da comunidade. Para ele, um conjuntode fatores prejudica o morador, como o nú-mero reduzido de garis comunitários e odespejo de lixo em locais impróprios.

O crescimento do número de moradiastambém sobrecarrega o sistema, facilitan-do a ocorrência de alagamentos. Muitosmoradores fazem novas ligações na tubu-lação de esgoto sem pedir ajuda à Cedae.Para o representante da Cedae na comuni-dade, Vilmar Gomes, de 42 anos, é neces-sário que as ligações clandestinas sejamregularizadas.

“Não há nenhuma comunidade aquidentro que não tenha estas ligações. Osmoradores deveriam enviar uma carta aogovernador para pedir a troca das tubula-ções, já que nós só podemos fazer peque-nas intervenções, como obras de até trêsmetros”, afirma.

A opinião do morador não é diferente.Para muitos, torna-se necessário a troca dasmanilhas e tubulações. Dulcinéia Lima dosSantos, de 31 anos, da Nova Maré, acredi-ta que seja necessário rever o sistema desaneamento da comunidade. “O ideal é queas manilhas sejam refeitas”, conclui.

A Maré possui apenas três elevatórias

Chuvas causam

transtornos na Maré

Chuvas causam

transtornos na MaréMoradores têm suas casas invadidas pela água das chuvas

“Q

HÉLIO EUCLIDES

Durante a chuva, Kombi espalha a água, molhando pedestres e residências na Via A-1 na Vila do Pinheiro

CAPA

Page 13: Jornal o cidadão 47

O Cidadão 13

de coleta de esgoto - na Baixa do Sapa-teiro, na Nova Holanda e no ParqueUnião. Para Vilmar Gomes, de 42 anos,deveria ser feita uma nova elevatória nacomunidade, já que parte do Parque Uniãonão tem seu esgoto levado para aelevatória. “Uma solução seria a ligaçãode parte deste esgoto com a elevatória daRoquete Pinto”, diz.

Aterramento

O processo de aterramento da regiãonão foi acompanhado com cuidado pelopoder público, como explica o geógrafoElmo Amador. O resultado disto a popula-ção percebe hoje. “A atuação do governono saneamento básico na área da Maré foitímida e os impactos dos aterros não foramconsiderados pelo poder público. Sem dú-vida, os sucessivos aterramentos provo-caram o levantamento do fundo de algu-mas áreas dificultando a circulação da água,sendo isto um dos principais responsáveispelas inundações na região”, resume ogeógrafo.

Vista panorâmica da Praia de Inhaúma e da Vila dos Pinheiros antes do aterramento que transformou a área em conjuntos habitacionais

A Maré já foi uma região alagadaO aterramento da região começou

com a construção da Estrada de FerroLeopoldina, no final do século XIX. Nasdécadas de 1920 e 1930, a Companhiade Saneamento e Melhoramentos ini-ciou, novamente, o aterramento do lo-cal. A partir deste momento, os aterrosnão pararam mais.

Uma outra parte da área alagada foisoterrada para a construção do Aero-clube de Manguinhos, hoje Vila do João.

Com a criação da Cidade Universitária, aBaía de Guanabara, vizinha da Maré, per-deu oito ilhas, o que reduziu o espelhod’água. O Projeto Rio, realizado na décadade 1970, previa a urbanização da Maré e osaneamento da região do Caju, até os riosSarapuí e Mereti, além da construção deuma via expressa. Com base no projeto,anos mais tarde foi inaugurada a Linha Ver-melha. Com todas essas intervenções, ageografia da região mudou.

Segundo Elmo Amador, a região daMaré, incluindo o arquipélago doFundão e a Enseada de Inhaúma, já foium paraíso tropical. A Ilha do Pinheirofez parte do paraíso descrito pelogeógrafo.

“A Enseada de Inhaúma era um exten-so braço de mar, largo, limitado à direitapela Ponta do Caju e pela Ilha dos Ferreirose à esquerda pela Gamboa do Viegas e peloarquipélago das ilhas do Fundão”, relata.

HÉLIO EUCLIDES

Moradores ficam ilhados na Via C-11, na Vila do Pinheiro, logo após um temporal no verão de 2006

REDE MEMÓRIA DA MARÉ

Page 14: Jornal o cidadão 47

14 O Cidadão

Na minha opinião, tem queser trocada a tubulação de

todas as ruas, já que onúmero de pessoas cres-ceu. E os valões têm que

ser limpos. Eles são muitocheios de lama. É muita

sujeira.Manoel de Castro da

Silva, de 56 anos,comerciante e Mora-dor do Parque União

Acho que para acabar comas enchentes aqui na rua,é necessário fazer sanea-mento, asfaltar a rua eendireitar o esgoto, poisfomos nós que fizemostudo. Isto já ajudariabastante. Mas, a nossamaior preocupação é a

luz, porque a fiação é muito baixa. Entramos emcontato com a light e eles disseram que nós temosque comprar os postes.Rosicleia dos Santos Lara, de 46 anos,moradora de Mandacaru

Acho que pra melhoraresta situação de enchen-

tes na Maré, é precisodesentupir os esgotos,

limpar o valão e as ruastodo dia, e fazer com queos moradores aprendam ajogar o lixo no lugar certo.Dalvanira Maria Batis-

ta, de 62 anos, comerciante e moradorada Nova Holanda

Para não acontecermais, deveria mudar omanilhamento, levantaras ruas que estãobaixas , limpar os ralose colocar tampa. E aspessoas devem ter umpouco mais de carinhocom o outro. Não jogarlixo no chão e só colo-car o lixo fora quando

for a hora da Comlurb passar. E está faltando aprefeitura olhar um pouco mais para a gente.João Alves Seriano, de 46 anos, carpintei-ro e morador da Vila do Pinheiro

Moradores são responsáveis

por parte das enchentesLixo depositado em locais impróprios é uma das causas dos alagamentos na Maré

Diariamente a Comlurb coleta o lixona Maré. Mesmo assim, ele é umapreocupação dentro da comuni-

dade. O excesso nas ruas pode causarentupimento da rede de esgoto e trans-bordamento dos canais. Com isso, os ala-gamentos das ruas acabam sendo inevitá-veis. E, muitas vezes, o morador é o res-ponsável por jogar seu lixo em locais im-próprios. “Às vezes eu vejo as pessoasjogando lixo no valão. Às vezes eu mesmajogo, mas apenas quando ficam pequenascoisas aqui dentro do meu sacolão. Eu façoisto por preguiça de colocar o lixo no la-tão. Depois o valão enche e as pessoasdizem que a culpa é do governo”, relata acomerciante Josefa Severina, de 30 anos,moradora do Rubens Vaz.

Essa falta de cuidado pode ser frutode uma visão equivocada dafavela.Considerada um lugar à margem dasociedade que, por isso, não precisa deregras ou cuidados. Visão reforçada pelo

HÉLIO EUCLIDES

Morador se desespera com transbordamento do bueiro e tenta desentupi-lo com uma vassoura

Como

acabar

com os

problemas

da chuva

na Maré?O CIDADÃO foi às ruasperguntar aos moradores oque deveria ser feito paraacabar com osalagamentos na região

que não se fez presente na infra-estrutu-ra das comunidades. As primeiras cons-truções nas encostas dos morros não ti-

nham saneamento básico. As valas corri-am a céu aberto e em muitos casos o de-trito era despejado em rios próximos.

CRISTIANE BARBALHO

CRISTIANE BARBALHO

GIZELE MARTINS

GIZELE MARTINS

CAPA

Page 15: Jornal o cidadão 47

O Cidadão 15

“A leptospirose é uma doençatransmitida ao homem por uma bacté-ria através da água contaminada coma urina do rato. A pele nem precisa terferimentos para haver o contágio”,alerta o médico sanitarista CarlosAlvarenga, de 46 anos.

A enchente é uma das responsá-veis pela transmissão da leptospiroseao homem. Quando as redes de esgo-tos, de coleta das águas da chuva ede lixo funcionam de forma ineficiente,as inundações são inevitáveis. Ocontato das pessoas com a água con-taminada possibilita o contágio.

Por isto, áreas que sofrem inunda-ções, como a Maré, estão sujeitas aepidemias de leptospirose. A falta deinvestimentos em infra-estrutura bá-sica, como esgoto e coleta de lixo, pelopoder público facilita a disseminaçãoda doença. A limpeza e drenagem doscórregos e rios é fundamental paraevitar as enchentes e o contato com aágua contaminada. Mas a responsa-bilidade não cabe somente ao Estado.O morador tem obrigação de colocar olixo no lugar certo para facilitar acoleta.

O despejo de sacos de lixos, sofáse fogões nos canais prejudica a vidado próprio habitante da região. Comestas atitudes, as enchentes são ine-vitáveis e crescem as chances de aágua invadir as casas próximas aos ca-

nais. Com isto podem ocorrer perdas demóveis, aparelhos eletrônicos é até dasaúde.

Sintomas

Grande parte das pessoas contami-nadas pela leptospirose desenvolvemsintomas discretos ou não apresentammanifestações da doença. Os sintomasem geral aparecem entre dois a trinta diasapós o contagio.

Inicialmente, as pessoas apresentamfebre alta de início súbito, sensação demal estar, dor de cabeça constante e acen-tuada, dor muscular, cansaço e calafri-os. É freqüente a ocorrência de dor ab-dominal, náusea, vômito e diarréia quepodem levar à desidratação. Além dis-so, os olhos podem ficar avermelhadose o doente pode apresentar tosse,faringite e manchas avermelhadas pelocorpo. São grande as chances do desen-volvimento de meningite.

O caso mais grave da doença podeocorrer a partir do terceiro dia, com osurgimento de icterícia (olhos amarelados),sendo o sintoma mais comum em adultos,jovens do sexo masculino, e raro em crian-ças. Podem ocorrer manifestações he-morrágicas, como equimoses , sangra-mento em nariz, gengiva e pulmões.

Outras formas de contágio

A leptospirose também tem outrasformas de transmissão. As pessoas

Leptospirose: a doença

que vem do rato

devem evitar água e alimentos con-taminados. Refrigerantes, cervejase água mineral não devem ser con-sumidos diretamente da garrafa oulata, sem que sejam limpas adequa-damente (risco de contaminaçãocom a urina do rato). Deve ser uti-lizado copo limpo ou canudo de plás-tico.

Morador exibe feridas feitas pela mordida do rato

CRISTIANE BARBALHO

HÉLIO EUCLIDES

A construção irregular às marges do valão prejudica a dragagem do canal, o que facilita alagamentos

Hoje, o crescimento populacional empur-ra os moradores para as margens dos riose valões, em busca de áreas ainda deso-cupadas. Infelizmente essa busca por es-paço prejudica os próprios moradores,que são afetados pela ocupaçãodesordenada da região.

Segundo Paulo Cunha, de 52 anos, asconstruções às margens dos canais difi-cultam a limpeza, já que é necessário utili-zar máquinas de grande porte. “Os valõesmais complicados são os que dividem aVila do Pinheiro e a Vila do João e o rioRamos, no Parque União, devido às cons-truções”.

Page 16: Jornal o cidadão 47

16 O Cidadão

E por falar em governo...Entidades governamentais no Catálogo deInstituições da Maré

Arte da reciclagemArtista Plástico ensina crianças a reaproveitar garrafas pet

Quem tem garrafa pra vender?Carlos Augusto OliveiraCalixto, de 32 anos, conhecido

como “Professor”, tem! Há oito mesesna Nova Holanda, Professor faz das pet’sobras de arte. Iniciou o trabalho em 2002,na Cidade de Deus, e não parou mais. Noperíodo do Natal, produz peças exclusi-vas. Durante a Copa, enfeitou algumasruas da Nova Holanda com peças verde-amarelas.

Ele conta que assim que chegou aMaré, as crianças que viam seu trabalhopediam para que ele as ensinasse. Então,na quadra do Gato de Bonsucesso, iniciouum curso para crianças. “Nunca cobrei porisso, a única coisa que pedia era para queelas trouxessem garrafas”, lembra. O cur-so, chamado de Recicriar, está atualmenteparado. “Retomaremos as atividades apóso Carnaval”, diz.

Wallace Oliveira, de 10 anos, moradorda Nova Holanda, disse que quer fazer opróximo curso “Acho as peças bonitas paradar de presente e enfeitar a casa”. CamilaCristina Castro, também de 10 anos, jáfreqüentou o curso este ano, mas diz quequer voltar. “Gosto muito. Já aprendi a fazertaças, plantas e peixes. Já até consegui ven-der algumas peças”, diz a aluna.

Professor diz que seu trabalho visa ageração de renda e a conscientizaçãoambiental, mas que não é tarefa fácil. “Oavião, para subir, precisa voar contra o ven-to. Essa frase me dá forças porque vivoesta situação. É preciso parceria, pessoas

que queiram dar as mãos e ajudar”, diz emo-cionado. Quem se interessar pelo trabalhode Professor pode encontrá-lo na quadrado Gato de Bonsucesso, na Rua São Jor-ge, s/nº, Nova Holanda, ou pelo telefone3976-8872.

Endereços das unidades de atendimen-to:XXX Região AdministrativaRua Principal, s/nº – Baixa do Sapateiro –MaréAssembléia de Deus Fonte Eterna – Vila86, 12Bento Ribeiro Dantas – MaréParóquia São José Operário – Via A1, 150– Vila do Pinheiro – MaréTelefone: 3801-0400

E-mail: [email protected]ção: Sec. Mun. de Assistência So-cial – SMASAno de fundação (unidade na Maré): 1995Funcionamento:XXX R.A. – 2ª, 4ª e 6ª, 8h às 17hAssembléia de Deus Fonte Eterna – 3ª, 14hàs 16hParóquia São José Operário – 5ª, 8h às 17hInstituição voltada às pessoas portadorasde necessidades especiais, que procura

REPRODUÇÃO

CRISTIANE BARBALHO

Carlos Augusto com algumas de suas obras na quadra da Escola de Samba Gato de Bonsucesso

garantir-lhes seus direitos e desempenhaatividades que os estimulam a desenvol-ver uma vida autônoma e de qualidade.Principais serviços oferecidos:a - Atendimento preliminar nas áreas depsicologia, fonoaudiologia, terapiaocupacional, fisioterapia e serviço socialcom posterior encaminhamento para uni-dades de saúde da rede pública.b - Atividades voltadas para geração deemprego e renda através do artesanato.

FUNLAR – Fundação Mun. Lar Francisco de Paula

GERAL

Page 17: Jornal o cidadão 47

17O Cidadão

AV. CANAL, 41 – LOJA B

VILA PINHEIRO - AO

LADO DA LINHA AMARELA

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Page 18: Jornal o cidadão 47

18 O Cidadão

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Page 19: Jornal o cidadão 47

19O Cidadão

Prevenir é o

melhor remédioVacinação protege crianças, jovens e adultos das doenças

FOTOS DE HÉLIO EUCLIDES

stá na Constituição que saú-de é direito de todos e deverdo Estado. E as vacinas não

são favores, mas os impostos que voltampara a população”, revela o médico sanita-rista do Centro Municipal de Saúde AméricoVelloso, Carlos Alvarenga, de 46 anos. Pararespeitar a lei, o Ministério da Saúde adquireuma grande quantidade de vacinas. Do ou-tro lado, os cidadãos devem cumprir as da-tas das doses, evitando a negligência. “Se-guindo a caderneta, evita-se os problemasque futuramente a criança pode ter”, explicaJaqueline da Silva, de 35 anos, que levousua sobrinha Maria Luiza para se imunizar.

A vacina é feita com o agente causadorda doença que enfraquecido no organismofaz com que ele crie anticorpos, um jeito deprevenir e combater os micróbios. Ela temcomo principal papel garantir a proteção dascrianças.

Qualquer dúvida sobre vacinação é sócomparecer ao CMS Américo Velloso, na RuaGérson Ferreira, 100, Praia de Ramos. Que fun-ciona de segunda a sábado, das 07 às 17h.

A história da vacina

A vacina tem origem na China. Onde pes-quisadores pegavam a casquinha da varíola,triturava, virando um pozinho, e soprava no

nariz das pessoas. Os Mulçumanos melho-ram essa idéia. Nos séculos XIX e XX vêmos grandes avanços tecnológicos na área detestes e pesquisas. E hoje em dia os maiorespassos vêem da engenharia genética.

No Brasil o grande destaque foi quandobaniu-se, em 1989, a poliomielite (paralisiainfantil). Em 1994 o país recebe o certificadode erradicação, eliminando de vez o custosocial de uma pessoa viver na cadeira deroda. “É uma pena que isso não é notícianos grandes jornais, que só denigrem a saú-de pública”, desabafa o doutor CarlosAlvarenga. Apesar do feito as campanhascontinuaram, já que alguns turistas estran-geiros que nos visitam, em suas terras deorigem ainda têm contato com o vírus. Maria Luiza é levada por sua mãe para vacinação

Dr. Carlos mostrando as caderneta de vacinação

“E

Esquema básico de vacinação

SAÚDE

Page 20: Jornal o cidadão 47

20 O Cidadão

A Karateca da MaréPriscila é uma das mareenses que pratica o esporte e coleciona títulos

Ingredientes:

300 ml de água mineral250 gramas de mamão2 laranjas2 bananas pratas grandes1 manga rosa grande250 gramas de melão2 goiabas pequenas1 maçã pequena3 colheres (sopa) de açúcar

Modo de preparo:

Corte todas as frutas em cubos pequenos.Aproveite o que sobrou da manga, da goi-aba e do sumo da laranja e bata no liquidi-ficador com os 300 ml de água. Após coarcoloque dentro de um pote de vidro juntocom as frutas e o açúcar. Leve a geladeira eapós uma hora é só servir. Bom apetite.

Rendimento:oito a dez porções.

Ensaio do grupo Reciclasom na Casa de Cultura da Maré

Ela deu um golpe nas dificul-dades e coleciona vitórias noKaratê. Priscila Xavier da Sil-

va, de 13 anos, é estudante e mora-dora da Vila do João, na Maré. Prati-ca karatê na Ação Comunitária daVila do João desde os nove anos.Priscila relata que, no início, não ti-nha tanta vontade de participar doesporte: “Entrei só para saber comoera, não queria competir, depois co-mecei a me interessar mais e fui pra-ticando”, conta. Hoje, com sua faixaroxa, praticamente é uma colecio-nadora de medalhas.

Em seu primeiro campeonato, a jo-vem inventou de tudo para não parti-cipar. No entanto, depois das meda-lhas que recebeu, interessou-se maisainda pelo esporte. “O meu primeirocampeonato foi em Barra do Piraí, eunão queria competir, inventei que es-tava passando mal, mas meus profes-sores falavam que eu tinha que ir eacabei ficando em terceiro lugar noKata e em primeiro no Comitê (luta)”.

Priscila, que tem hoje em seu quar-to mais de 60 medalhas, diz que pre-tende se dedicar ao karatê como pro-fissão e que já tentou fazer outrosesportes, como dança, natação, judô,entre outros, mas que sua paixão mes-mo é o Karatê. Também contou o seumaior desejo: “Meu sonho é ser cam-peã mundial e dar continuidade ao tra-balho dos meus professores , quesempre foram as minhas inspirações,

dando aula em comunidades para cri-anças, oferecendo oportunidade aelas de conhecerem este grande es-porte, que infelizmente ainda não étão divulgado”, afirma.

Faixa roxa de karatê, Priscila moracom seus pais e duas irmãs. Mesmoclassificada para diversos campeona-tos, já teve que desistir das viagenspor falta de patrocínio: “Teve um anoque não consegui ir para o campeo-nato mundial na Romênia por causada falta de patrocinadores. Este cam-peonato, por exemplo, só acontece dedois em dois anos”, ressalta.

HÉLIO EUCLIDES

Priscila exibe as medalhas conquistadas em diversos campeonatos realizados no Brasil

Salada de frutas do verãoSABOR DA MARÉ

Como surgiu o karatê? O karatê, que tem como significado

“O Caminho das Mãos Vazias”, ainda nãoé um esporte muito praticado pelos mare-enses. Ele começou aproximadamente noséculo XVIII em uma ilha chamada Oki-nawa. Essa arte marcial era praticada pe-los guerreiros como forma de exercíciofísico, através do qual educavam para adisciplina, impondo sempre a moral e apaz a sua nação. No século XX, ele co-meçou a se popularizar no Japão. O karatêfaz uso de todas as partes do corpo parafins de autodefesa.

HÉLIO EUCLIDES

Mimiu apresenta sua famosa salada de frutas

ESPORTES

Page 21: Jornal o cidadão 47

21O Cidadão

Voz e violão

da MaréRonaldo faz sucesso naLapa tocando MPB

Estilo alternativo, cabelos black, omúsico Ronaldo Breve, de 28anos, morador da Vila do Pinheiro,

conquistou um público fiel nos bares do Cen-tro e da Lapa. No seio da boemia carioca,Ronaldo mostra o seu talento, que diz ter her-dado do pai, fazendo voz e violão com músi-cas que vão de Djavan a Legião Urbana.

“Acho que a música está no meu DNA.Meu pai é cantor e compositor e meus ir-mãos também são ligados à música. Mas,até o ano de 1996, eu não pensava em tocar.Mas em um dia de férias peguei o violão e fuipraticando. À noite já estava fazendo acor-de”, diz o autodidata.

O desafio agora é produzir um CD com10 faixas de músicas compostas por ele. Aidéia é lançá-lo até o final de junho. Compo-sitor de músicas românticas, no estilo deDjavan, Ronaldo vê na música uma forma de

ultrapassar a timidez. Na primeira banda,montada com amigos da Igreja São JoséOperário, imitava a voz do Renato Russo,mas não conseguia encarar o público.

“Sou muito tímido e tenho dificuldadepara fazer amizades, mas com a música aspessoas se aproximam de mim. Acabo fazen-do grandes amigos e consigo até arrumarnamorada”, diz rindo.

Foi com essa suposta timidez que o rapazconquistou o 2º lugar no festival de músicade moradores de comunidades, organizado

Guilherme Maxwell...Ou rua da escola Bahia? Dois nomes para uma única via

HÉLIO EUCLIDES

Uma das mais importantes viasde acesso à Avenida Brasil eà Linha Amarela, a Rua Gui-

lherme Maxwell, mais conhecida comoRua da Escola Bahia, é passagem obri-gatória para milhares de moradoresque se deslocam diariamente. Diferen-te das outras ruas do bairro, ela abri-ga, basicamente, grandes e pequenasempresas e poucas casas. Segundo amoradora Marinalva de Souza, de 39anos, a falta de iluminação é a princi-pal queixa dos vizinhos. “À noite te-mos que passar por um grande cami-nho escuro. Como é uma rua princi-pal, deveria ser melhor iluminada”,afirma.

Para Luciano dos Santos, de 25 anos,comerciante local, a rua é privilegiada.“O acesso à Avenida Brasil, ao aeropor-to Santos Dummond e às Linhas Verme-lha e Amarela valorizam ainda mais a re-gião”, diz.

pelo Viva Rio, em 2002. Com o carnaval, oritmo de apresentações diminuiu, por issoRonaldo trabalha duro como fotógrafo pro-fissional para conseguir custear o CD.

“Ao longo desses 11 anos de traba-lho, analiso a minha produção e vejo comoela amadureceu. Isso é uma vitória minhae do meu pai, que me ensinou que era pre-ciso ter calos nos dedos para obter resis-tência e tocar o violão”, afirma o composi-tor que sonha em fazer sucesso para viverda música.

Rua Guilherme Maxwell: do lado esquerdo a Casa de Cultura da Maré, do lado direito oSesi

ARQUIVO PESSOAL

O cantor Ronaldo Breve, morador da Vila do Pinheiro em uma de suas apresentações pela cidade

O dono da RuaGuilherme Maxwell era engenheiro e

dono de várias propriedades. Descen-dente de ingleses, batizou várias ruasde Bonsucesso com nomes inspiradosna Europa. Assim surgiram as avenidasLondres, Roma, Paris, Nova York e Bru-

xelas, além da Praça das Nações, centrocomercial do bairro.

Por seu trabalho, Maxwell foi home-nageado com o nome da rua onde se lo-calizava o antigo caminho do Porto deInhaúma.

MARÉ MUSICAL

Page 22: Jornal o cidadão 47

22 O Cidadão

As cartas ou sugestões para o jornal devem ser encaminhadas para o Centrode Estudos e Ações Solidárias da Maré - Jornal O Cidadão (Praça dos Caetés,7, Morro do Timbau, Rio de Janeiro, RJ. CEP: 21042-050)

CARTAS

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os mitos comuns sobre a atitude e mostra como superar os

cinco maiores obstáculos para o desenvolvimento de uma

atitude positiva.

A boa semente planteiE fiquei muito contenteA terra é quem dá o fruto que muda a vidada gente

Eu sou filha lá do NordesteHá tempos que não volteiA saudade bate forte na terra que tan-to amei

Viver no Rio de Janeiro é muito interes-santeMas sempre sentirei saudade da minhaterraQue ficou distante

Eudesia SantosMoradora da Vila do Pinheiro

Filha do Nordeste

ErrataNa edição 46, na página 13 a foto

de baixo é da Rede Memória da Maré.As legendas das fotos da página

14 são as seguintes: Terreno aban-donado da Vila Olímpica da Maré(foto de cima) e CCDC é um dos pou-cos locais em que o Estado atua naMaré (foto de baixo).

Luzes IIDo único morro da Maré,Admiro o pôr do sol.E o surgimento do luar,Que vai nos iluminar.No alto vejo a Igreja da Penha,Também no morro.Olho e vejo outra igrejinha bem no alto,Que não está mais esquecida.De Ramos, mostra emoção,A Igreja de Nossa Senhora daConceição.Emoção esta, que vejo todos os dias.Do Conjunto Esperança,Até a Marcílio Dias.Pois somos filhinhos de Manguinhos.Temos o sucesso de Bonsucesso.Celebramos com Ramos.E da alegria que a Penha tenha.Mas sobretudo a fé,No nosso bairro Maré.

Hélio Euclides da SilvaJornal O Cidadão

Ao escovar os dentes, fechea torneira.Encha um caneca com água e utilize a mesmaapós a escovação.Uma torneira aberta, durante 1 minuto,consome até 6 litros de água.

Ao se ensaboar, feche oregistro da água.A cada minuto são 12 litros de água que saemdo seu chuveiro. Um banho de 5 minutosconsome 60 litros de água.

Não dê descargas demoradas.Cada vez que você usa a caixa de descargapelo menos 10 litros de água vão para oesgoto. Evite dar descarga muitas vezes.

Lave seu carro com balde e

um pano. Não use mangueira!Usando a mangueira, 400 litros de água sãoconsumidos.

Fonte: Calendário da CEDAE 2007

PÁGINA DE RASCUNHO

Page 23: Jornal o cidadão 47

23O Cidadão

PiadasPiadas

Loucos fugitivosDois loucos estavam doidos parafugir do hospício e o mais inteli-gente deles apresentou um plano:- Vamos fugir pelo buraco dafechadura!- Genial! – comemorou o outro. -Você passa primeiro e eu te sigo!O louco tomou distância, correuem direção da porta e ploft! Bateude cabeção na porta. Furioso esentindo a dor da pancada, elereclama:- Droga! Deixaram a chave noburaco!

Tamanho da dentaduraUma paciente idosa estava infelizcom seus dentes novos. Nãocabiam, queixou-se. Depois deexaminar a dentadura, o dentistalhe disse que parecia boa.- Na minha boca está boa –concordou ela. - Mas não cabe nomeu copo!

Na escolaUm professor pede aos alunosque escrevam uma redação sobreo tema: “Se eu fosse diretor deuma empresa”.Todos começam a escrever,exceto um:- Menino Luisinho, por que nãocomeça a escrever?- Estou a espera de minha secre-tária, professora!

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humorado(Lit. inf.)

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(?)-e-julieta:queijo egoiabada

Cubonumeradousado em

jogos

(?)-trans-porte, di-

reito do tra-balhador

Ódio;raiva

Sílaba de"antro"

Acessórioda equipede repor-

tagem

Formada

elipse

Gêneromusical deGabriel OPensador

Lanceinicial

do vôleiLigação

(fig.)Gemido;lamento

Hortaliçatambémchamada"salsão"

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Page 24: Jornal o cidadão 47

24 O Cidadão

Atanasio, um morador

que fez históriaUm alfaiate que ajudou a alinhar o início da nossa comunidade

do que a área era deles e que haveria a deso-cupação da região. Foi aí que corri atrás. Pro-curei as autoridades até solucionar o proble-

Até o fechamento desta edição, a Rede Memória da Maré não enviou para O CIDADÃO, a matéria referente a esta página que é de exclusiva responsabilidade doprojeto. Sendo assim, decidimos elaborar uma matéria especial para que a edição não sofresse atrasos.

Quando se pensa na Maré, vemlogo a cabeça as construções daspalafitas. Mas, poucas pessoas

viveram aquele momento como seu Atana-sio Amorim, de 76 anos, morador da Baixa doSapateiro e um dos mais antigos da comuni-dade. “A Maré era uma parte no chão e aoutra em cima d’água, e essa área tinha pon-tes de madeira”, conta.

Nascido no estado do Maranhão, che-gou à Maré em novembro de 1954, com 23anos. “Cheguei e passei uma longa tempora-da sendo um ilustre desconhecido. Depois,por influência de amigos, cheguei a ser diretorda associação de moradores. Graças a Deussempre tive livre acesso a todas as comuni-dades da Maré”, comenta.

Segundo Atanasio houve um tempo emque o Instituto Nacional de Previdência So-cial (INPS) dizia que o terreno da Baixa per-tencia à União. O que causou desespero nosmoradores. “O que mais me preocupava, ementrar para a associação, era ficar na comuni-dade. Depois saiu um boletim do INPS dizen-

Sr. Atanasio (à direita) e a equipe da Rede Memória durante o jantar em homenagem ao Museu da Maré em Brasília

REDE MEMÓRIA DA MARÉ

ma e garantir nossa permanência no local. OINPS suspendeu o boletim e permitiu que fi-cássemos aqui, mas não como donos”, afirma.

Projeto Rio

O projeto Rio foi um novo drama na vidados moradores. Ele previa a urbanização daMaré e a construção da Linha Vermelha. “Como Projeto Rio começou tudo de novo e tive-mos que ir, novamente, em busca das autori-dades. Conseguimos que desviassem a cons-trução da via expressa. As pessoas que mo-ravam dentro d’água não tinham para onde irmas, felizmente, deu tudo certo. A preocupa-ção dos moradores era que, com a constru-ção da via expressa, a favela acabasse, masconseguimos contornar”, relata Atanasio.

Para ele, a grande vantagem do Projeto fo-ram as casas de alvenaria. “Foi o início de tu-do, na Maré, o desenvolvimento. Os becosse alargando, dando espaço às rua e os mora-dores modificaram seus barracos”, lembra.

CRISTIANE BARBALHO

O senhor Atanasio Amorim trabalhando em sua alfaiataria na Baixa do Sapateiro

MATÉRIA ESPECIAL