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8/14/2019 Jornalismo: a tela, a lousa e a quadra
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MONITOR DE MDIA
http://www.univali.br/monitor 2
Jornalismo: a tela, a lousa e a quadra
Cincia, tecnologia, educao e esportes.Este e-book do MONITOR DE MDIA renetextos que tratam dessas temticas, publicadosem nosso site de 2001 a 2007, nas sees Cin-cia, Tecnomdia, Educao e Fair Play.
Para alm de juntar artigos to contguos e
ao mesmo tempo dspares, este volume registraparte da produo deste observatrio de impren-sa na reexo sobre manifestaes humanas toimportantes. A escolha do lanamento dos arti-gos reunidos em livro eletrnico atende ainda aoutros propsitos: oferecer um produto editorialmais bem acabado aos nossos leitores, sistema-tizar os materiais elaborados nos ltimos anos ecompartilhar contedos.
Alis, no territrio contemporneo da in-ternet, a motivao do compartilhamento de sa-beres, de produtos e materiais vem contagiandocada vez mais produtores de contedo. Isso temprovocado uma expanso importante dos limitesdo conhecimento. At porque saber algo que sepode compartilhar, dividir, sem medo de perda.
uem sabe, repassa e no ca sem o seu conhe-cimento. Esta lgica contamina a todos os quese dedicam educao, pesquisa e ao desenvol-vimento cientco. No caso do MONITOR DEMDIA, no poderia ser diferente. Seguimosacreditando que dividir multiplicar.
Ler a mdia ler o mundo.
Rogrio ChristofolettiProfessor responsvel pelo MONITOR DE MDIA
Apresentao
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MONITOR DE MDIA
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Jornalismo: a tela, a lousa e a quadra
O MONITOR DE MDIA um grupo depesquisa do curso de Comunicao Social
Jornalismo da Universidade do Vale do Itaja(UNIVALI). Desde agosto de 2001, o grupo
produz nas dependncias do Centro de CinciasSociais Aplicadas - Comunicao, Turismo e
Lazer o material para o website:http://www.univali.br/monitor
Professores pesquisadoresLaura Seligman
Rogrio ChristofolettiSandro GalaraValquria JohnRobson Souza
Alunos pesquisadoresCamila GuerraJoel Minusculi
Karis Regina Brunetto CozerRoberta Watzko
Stephani Luana LoppnowTaiana Steen Eberle
Tcnico de Apoio - Bolsista do CNPqGabriela Azevedo Forlin
Professor responsvelRogrio Christofoletti
Coordenadora do Curso de JornalismoJane Janete Cardozo da Silveira
Diretor do CeciesacomCarlos Alberto Tomelin
JORNALISMO: A TELA, A LOUSA EA UADRA um produto para consulta
e pesquisa cientca, sem ns comerciais,produzido pelo grupo de pesquisa MONITOR
DE MDIA.
Projeto Grco e Capa
Joel Minusculi
DiagramaoGabriela Azevedo Forlin
Felipe da CostaJoel Minusculi
Edio e RevisoEquipe Monitor de Mdia
Contatos:Rua Uruguai, 458Bloco 12 - sala 205Univali - Itaja (SC)
CEP: 88302-202Telefone: (47) 3341-7888
Email: [email protected]
Website: http://www.univali.br/monitor
Expediente
Apoio:
Licena de Uso
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Sumrio
CINCIA ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- [p. 06]Supercialidade pautou cobertura da MP dos transgnicos ------------------------------------------------------------------------------------- [p. 07]uem tem medo dos homens de branco? --------------------------------------------------------------------------------------- [p. 09]Alzheimeir: antes o certo, depois o ainda duvidoso ---------------------------------------------------------------------------- [p. 11]Barriga no Natal, s de Papai Noel ----------------------------------------------------------------------------------------------- [p. 13]A Cincia no est na moda -------------------------------------------------------------------------------------------------------- [p. 15]Cincia nas bancas ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- [p. 17]Nada de comemorao -------------------------------------------------------------------------------------------------------------- [p. 18]
A lio de Terry e o Mal de Chagas ----------------------------------------------------------------------------------------------- [p. 20]Os reinventores da tradio -------------------------------------------------------------------------------------------------------- [p. 22]Tecnologia mercantilizada --------------------------------------------------------------------------------------------------------- [p. 24]O espetculo da sade --------------------------------------------------------------------------------------------------------------- [p. 26]De cientista e de louco... ------------------------------------------------------------------------------------------------------------ [p. 27]Sem sincronia ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- [p. 28]No crie seus lhos no Lbano ... nem no Brasil -------------------------------------------------------------------------------- [p. 29]E o Dia do Meio Ambiente, hein? ------------------------------------------------------------------------------------------------- [p. 31]Mdia e Religio: um dilogo a ser construdo ---------------------------------------------------------------------------------- [p. 33]Sinais positivos na pesquisa em jornalismo --------------------------------------------------------------------------------------- [p 35]
Notas do Brazil Conference ------------------------------------------------------------------------------------------------------- [p. 37]Arenas do conhecimento ----------------------------------------------------------------------------------------------------------- [p. 39]
EDUCAO ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ [p. 41]Para especialistas, mdia ajuda a ver a violncia ------------------------------------------------------------------------------ [p. 42]Uma pequena reviso da obra de McLuhan ------------------------------------------------------------------------------------- [p. 44] cata de erros: relato de pesquisa ------------------------------------------------------------------------------------------------ [p. 45]Paradoxo geogrco ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------- [p. 48]Paradoxo da Educao -------------------------------------------------------------------------------------------------------------- [p. 50]Um reexo da sociedade ------------------------------------------------------------------------------------------------------------ [p. 51]
O canudo s o comeo ------------------------------------------------------------------------------------------------------------ [p. 53]Anal, o que popular? ------------------------------------------------------------------------------------------------------------- [p. 55]Firmando os passos para a pesquisa ----------------------------------------------------------------------------------------------- [p. 58]Renoi avana e consolida experincias de observao -------------------------------------------------------------------------- [p. 60]Pesquisar preciso ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- [p. 64]Educao, Comunicao e Cultura: dilogos necessrios ----------------------------------------------------------------------------------- [p. 66]Mdia, educao e juventude -------------------------------------------------------------------------------------------------- [p. 68]Estado x Comunicao -------------------------------------------------------------------------------------------------------------- [p. 71]A heterogeneidade da ANPED ---------------------------------------------------------------------------------------------------- [p. 72]Os jornais educao no ciberespao? ---------------------------------------------------------------------------------------------- [p. 74]
Um balano do Jornalismo no Enade 2006 ------------------------------------------------------------------------------------- [p. 76]
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FAIR PLAY -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- [p. 78]Bola fora, bola dentro ------------------------------------------------------------------------------------------------------------ [p. 79]Desliguem os aparelhos ------------------------------------------------------------------------------------------------------------- [p. 81]O critrio da proximidade: uma discusso sobre o local e o global na imprensa catarinense ---------------------------- [p. 82]Ptria sem chuteiras ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------- [p. 84]Dirio acerta o p; Santa chuta a grama ----------------------------------------------------------------------------------------- [p. 86]Amor ptria ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- [p. 88]Planeta bola: planeta da diversidade ---------------------------------------------------------------------------------------------- [p. 90]
Craques de porcelana ------------------------------------------------------------------------------------------------------------ [p. 92]Cada um tem o Benckenbauer que merece -------------------------------------------------------------------------------------- [p. 93]A Amrica em vermelho e branco ------------------------------------------------------------------------------------------------ [p. 94]Pela ilogicidade do futebol... o TETRA nosso! ------------------------------------------------------------------------------- [p. 95]No digital, rapidez VS qualidade ------------------------------------------------------------------------------------------------- [p. 96]Torcedores rubro-negros pedem que Obina no faa gol ------------------------------------------------------------------------------ [p. 98]Futebol e a luta pela eqidade de gnero ----------------------------------------------------------------------------------------- [p. 99]Uma aventura em La Bombonera ------------------------------------------------------------------------------------------------ [p. 101]Tticas de uma pesquisa esportiva ----------------------------------------------------------------------------------------------- [p. 103]Seleo brasileira e identidade nacional ----------------------------------------------------------------------------------------- [p. 104]
Espetculo sem platia ------------------------------------------------------------------------------------------------------------- [p. 106]
TECNOMDIA -------------------------------------------------------------------------------------------------------------- [p. 108]Blogosfera: o estado da coisa ------------------------------------------------------------------------------------------------------ [p. 109]Crise de identidade ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------- [p. 111]O novo canivete suo -------------------------------------------------------------------------------------------------------------- [p. 113]Metamorfose binria --------------------------------------------------------------------------------------------------------------- [p. 115] s clicar no play ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- [p. 117]ual a melhor verso da vida? -------------------------------------------------------------------------------------------------- [p. 119]De post em post a blogosfera ganha espao ------------------------------------------------------------------------------------ [p. 121]
Para entrar e no cair na rede ---------------------------------------------------------------------------------------------------- [p. 123]Evoluo de telespectador para usurio ---------------------------------------------------------------------------------------- [p. 126]
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CINCIAReunio dos artigos sobre jornalismo cientfico
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Laura Seligman em 16/10/2005
O noticirio brasileiro acompanha nos l-timos dias um dilema que parece improvvel.
Devemos autorizar (atravs de nossos represen-tantes no Congresso, claro) a comercializao
de soja transgnica? O Executivo tem o direitode permitir a produo de alimento transgnico
por Medidas Provisrias? A dvida improvvel
pelo simples fato do total desconhecimento sobreo que vem a ser alimento transgnico. E a igno-
rncia (no sentido de desconhecimento, longe dequalquer pejo) se congura como uma pandemia,
atingindo, inclusive, jornalistas de uma forma ge-ral.
O mal no se restringe a essa cobertura.
Como disse Clvis Rossi, jornalista no pode serum especialista em generalidades. Nos veculosdirios, a cobertura cientca feita pelo mesmo
cidado que vai cobrir, num dia s, a pauta do bu-raco na rua, a la no posto de sade, a coletiva do
secretrio da Segurana Pblica.
Segundo o site AMBIENTE BRASIL,transgnicos resultam de experimentos de en-
genharia gentica nos quais o material gentico movido de um organismo a outro, visando aobteno de caractersticas especcas. Em pro-
gramas tradicionais de cruzamentos, espciesdiferentes no se cruzam entre si. Com essas tc-
nicas transgnicas, materiais gnicos de espciesdivergentes podem ser incorporados por uma ou-
tra espcie de modo ecaz. Portanto, o uso como
sinnimos dos termos transgnicos e organismosgeneticamente modicados nem sempre verda-
deiro.
Essa denio pouco interessou durante acobertura, inclusive a catarinense, que acompa-
nhou os momentos de indeciso, armaes edesmentidos, at a deciso no nal da noite do
dia 14, quinta-feira, pela reedio da Medida Pro-visria que autoriza o plantio e a comercializao
da soja transgnica. O grande destaque, pelo pal-
co onde a deciso se desenvolveu, foi o fato polti-co, principalmente a disputa entre ministros (do
Meio Ambiente e da Agricultura). Pontuando acobertura poltica, o fato econmico: os agricul-
tores gachos teriam grandes diculdades nan-ceiras se fossem impedidos de plantar suas semen-
tes transgnicas e condenados a destruir todo oestoque.
O jornal gacho Zero Hora, por exemplo,com pblico diretamente interessado na possibi-
lidade de liberao da soja transgnica ( l que es-to a Monsanto, multinacional da biotecnologia
que produziu as sementes em questo, e os agri-cultores que plantaram na ilegalidade e esperam
a caneta da salvao), citou, no dia 14 de outubro,
na sua verso on-line, em trs oportunidades a pa-lavra transgnicos.
A primeira citao veio no comentrio po-
ltico de Braslia, de Ana Amlia Lemos, comarmaes de deputados garantindo o bem-estar
dos agricultores. A segunda vez, numa frase enig-mtica que encerra a coluna de informao geral
Informe Especial, questionando: a medida pro-
visria sai este ano? Ora, se o jornalista no sabe,a quem devem recorrer os pobres mortais leitores?
E na terceira e surreal citao, a ministra Marina
Superfi cialidade pautoucobertura da MP dos
transgnicos
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Silva apresentada em meio turbulncia da li-berao dos transgnicos na coluna RS Vip, para
noticiar sua ida a uma homenagem, em Porto
Alegre, ao ambientalista Jos Lutzenberger.
Nos jornais catarinenses, a tendn-cia foi a mesma, com o atenuante de no
sofrermos com a mesma intensidade o
problema do plantio da soja transgn ica.
Quanto comercializao, j diferente
pois temos gra ndes indstrias beneficia-
doras de soja , inclusive multinacionais ,
instaladas no Estado e gerando empre-
gos. Dirio Catarinense e A Notcia , os principais veculos impressos de abran-
gncia estadual , pouco ofertaram ao lei-
tor a lm da viso poltica e econmica
do fato. A l iberao da MP figurou nas
verses on-line do dia 15. Para as ver-
ses impressas, o fato foi tardio para o
dead l ine .
A fu no primordial que o jornal ismoambiental tem alm das outras especiali-
dades da imprensa, que educar e formar,
alm de informar, fica um pouco de lado
quando falta especializao aos jornalistas
e tempo para ela. Questionamentos impor-
tantes e que muitos leitores ainda devem
estar fazendo, foram ignorados. Por que
essa polmica? Qual o mal que um alimen-to transgnico pode fazer ao ser humano?
Qual a diferena entre essa soja monstru-
osa e outros alimentos que compramos
diariamente no supermercado e foram ge-
neticamente modificados? O fato cientfi-
co ficou de fora da cobertura. O leitor con-
tinuar sem saber se contra ou a favor,
mas sempre comprando e comento alimen-to transgnico sem nem mesmo saber dis so.
A cobertura foi s uperficial neste ponto.
Teoricamente, j abandonamos a fase
doutrinria do jornalismo de cincia, quan-
do repetamos maravilhados o que, num
ato de generosidade, nos relatava a comu-
nidade cientfica. Estaramos em uma fase
ctica, questionadora, nos tornando maisdo que meros intrpretes. Na prtica, re-
trocedemos.
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Laura Seligman em 29/10/2005
O apelo pela vida, na maioria das vezesirrefutvel, foi pauta e capa de duas importan-tes revistas simultaneamente na semana de 17 a23 de outubro. poca (Editora Globo) e Isto(Editora Trs) comemoravam a vida em ao.Ora, quem poderia ser contra a oportunidadede uma vida melhor ou da sobrevivncia a quem
padece de alguma doena mortal ou que deixaseqelas? Ningum, claro, ainda mais quandoo argumento vem revestido de fontes acima dequalquer suspeita. Elas existem?
Para algumas publicaes, muitas vezesde forma impensada, so os cientistas ou a sim- ples meno da palavra cincia, as justificati-
vas cabais para que no se possa questionar aprocedncia da informao. Cientistas so in-teligentes, eles sabem o que fazem, estudampara isso argumento de sobra. A reportagemde poca chega a colocar grupos em sentidosopostos: religiosos so contra, cientistas a favordesta nova chance de viver com qualidade. Nacapa da edio, Herbert Vianna em cadeira de
rodas serve como personagem de uma campa-nha pela liberao dos estudos e tratamentos.Cristopher Reeve, o super-homem do cinema,morreu antes que a terapia a que se submetiapudesse surtir efeito.
Na verdade, nem a comunidade cientficae muito menos os grupos religiosos consegui-ram formar uma unidade contra ou a favor das
pesquisas com clulas-tronco de seres humanos.Movimentos que incluem cientistas na Europa(Alemanha e Espanha) consideram a possibili-
dade de continuar seu trabalho usando clulasde outra procedncia. Temem a produo defetos com fins exclusivos de pesquisa: cobaiashumanas. Da mesma forma, grupos religiososreconhecem a necessidade de usar a tecnologiaa servio da vida, mesmo que com restries. OVaticano, porm, se mantm inflexvel. Neste
quesito, Isto saiu na frente e retratou as diver-gncias dos grupos em box.
Em meio polmica, as clulas-tronco ga-nham notoriedade na mdia como se fizessemparte do vocabulrio mdio nacional. Segundoa geneticista Mayana Zatz, coordenadora doCentro de Estudos do Genoma Humano da
USP, em entrevista ao jornal O Estado de SoPaulo, clula-tronco um tipo de clula que pode se diferenciar e constituir diferentes te-cidos no organismo. Esta uma capacidade es-pecial, porque as demais clulas geralmente spodem fazer parte de um tecido especfico (porexemplo: clulas da pele s podem constituira pele).Se no h consenso entre cientistas ou
religiosos, qual o motivo que levou dois vecu-los brasileiros a estampar promessas que aindano vm acompanhadas de garantias? Talvez,mais uma vez, o interesse econmico tenha pre- valecido, mas no apenas no sensacionalismoda abordagem para que a capa se tornasse umchamariz cincia tratada como mercadoriabarata. H muito mais interesses envolvidos napolmica das pesquisas com clulas-tronco hu-
manas do que uma simples edio de revista. Ointeresse de grupos de cientistas em garantir a
Quem tem medo dos homensde branco?
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continuidade dos financiamentos de suas pes-quisas, laboratrios internacionais de olho nosdireitos de produo de novos medicamentosou outros que ainda nem podemos imaginar.Nada disso invalida a maravilhosa redescober-
ta da vida para quem j no pode andar, paraoutros que dependem de injees dirias para viver, para quem tem dia certo para morrer.Mas nada disso, tambm, justifica que jorna-listas engulam argumentos sem question-lose, por conseqncia, enfiem no leitor, goelaabaixo, a idia de que uma simples promessa uma verdade. A comunidade cientfica, e ainda
mais na rea da medicina, forma uma corpora-o unida, difcil de penetrar. Mas essa tarefados jornalistas que escrevem sobre cincia. Nopodem temer os homens de branco.
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Laura Seligman em 16/11/2005
Enquanto se arrasta a novela internacionalsobre a possvel liberao de pesquisas com clu-las-tronco e as possibilidades de cura de algumasdoenas ainda so uma promessa, a esperana serenova a cada aceno da mdia com pesquisas detoda a natureza. Respeitando-se as caractersticasexperimentais destas, talvez o jornalismo pres-
tasse melhor servio ao divulgar tratamentos deacesso mais fcil e de resultados mais ecazes. como se contar antes com o certo. Mais tarde,com mais tranqilidade, se pensa no que ainda seapresenta como duvidoso. Um bom exemplo soos tratamentos sintomticos contra o avano domal de Alzheimer.
Falo da febre de divulgao cientca. Se oscientistas de New Castle, na Inglaterra, descon-am dos efeitos bencos do ch verde em rela-o aos avanos da doena, a BBC (e a Folha deS.Paulo, por reproduo) anuncia esta possibi-lidade e, eticamente, ressalta que no se trata decura. Assim, experimentos sortidos so levados apblico a todo momento. bom levar esperana
a quem necessita. Melhor ainda, levar informaoprocedente e til.
Na edio de 3 de novembro, a revista CartaCapital presta esse servio com louvor. No Espe-cial Sade, em trs pginas, a publicao traz en-trevista com o professor especialista da Faculdadede Medicina da USP, Ricardo Nitrini. Ao nalda matria, sabemos os sintomas, a incidncia em
cada faixa etria, provveis agravantes ou atenu-antes, onde e como procurar tratamento. Serviocompleto, mas ca uma decincia a ser suprida.
Conforme o doutor Nitrini arma, quanto menoro nvel econmico, maior a chance de incidnciado Alzheimer. A Carta Capital , por vocao,uma revista dirigida elite, com linguagem e pre-o (R$6,50 na capa) fora do alcance dessa poroda populao. Melhor ainda seria prestar estemesmo servio em um veculo que alcana quase
toda populao brasileira.
o que faz na televiso a Rede Globo vei-culando como servio, nos intervalos comerciais,um vdeo institucional da Associao Brasileirade Alzheimer - ABRAZ, que fala sinteticamenteos principais sintomas e a quem se pode recorrer.No lme, uma mulher idosa vai se separando do
resto dos integrantes de uma fotograa de famlia- clara aluso perda de memria dos pacientes deAlzheimer. Parece pouco para quem assiste inad-vertidamente programao. Para quem luta paradivulgar a doena e suas formas de preveno,aquele espao de 30 segundos muito caro - emtodas as acepes da palavra, anal uma inseropode custar muitos milhares de reais.
Segundo a Associao Brasileira de Emis-soras de Rdio e Televiso - ABERT, 90% dasresidncias no pas contam com pelo menos umaparelho de TV. Os institutos vericadores de au-dincia ainda destacam, dentro de toda a progra-mao, a telenovela como o mais popular produtoda indstria cultural brasileira.
Por isso mesmo, tem maior valor ainda a in-sero na mesma emissora de merchandising so-cial (prtica habitual nas telenovelas da empresa
Alzheimer: antes o certo, depoiso ainda duvidoso
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e tema de monograa de concluso do curso deJornalismo da acadmica Katia Stanke na UNI-VALI: Marketing Social na Telenovela da RedeGlobo) tambm atuando nesta campanha. Apersonagem de Gloria Menezes na novela Senho-
ra do Destino comea a apresentar os primeirossintomas da doena. Neste caso, uma insero emmeio ao enredo tem o seu preo multiplicado namesma medida de seu efeito.
E essa multiplicao se atesta em qualquerrea que seja. Se Renato Arago pede donativosna campanha Criana Esperana, todo o ano os
nmeros batem recordes. Se Angelina Jolie sai deHollywood para pedir pelos miserveis do Sudo,as doaes de alimentos, medicamentos e dinhei-ro chegam de todos as partes do mundo (DirioCatarinense, 14/11/2004).
Se esta a ordem natural do desenvolvimen-to humano - nos espelhamos em modelos e assimtraamos nossa conduta -, bem faz a mdia quecolabora desta forma para esclarecimento pblicoe para a verdadeira transformao social a que se prope o jornalismo. Um servio que apresentao que o cidado j tem como certo, fruto da pes-quisa cientca. Anal de contas, a cincia sempreesteve (ou deveria estar) a servio da sociedade.
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Jornalismo: a tela, a lousa e a quadra
Laura Seligman em 30/11/2005
Est certo, chegada a poca das festas dedezembro e aquele esprito contemplativo e -
losco comea a tomar conta de todos. Muitosversos, msicas pregando o amor universal, mas
sempre parece que esse sentimento se mostra defachada quando vamos a fundo em seu signica-
do.
Amor tem signicados diversos. Para o po-
eta Ovdio, que viveu na Itlia dcadas antes denascer Cristo, o amor ertico. Numa poca em
que o amor tinha explicaes cientcas, conside-rado apenas uma garantia de procriao, evitan-
do a extino das espcies, Ovdio falou do amorcomo uma arte.
Outros autores, menos romnticos mas nomenos ousados, falaram do corao. Blaise Pas-
cal, em pleno sculo XVII, a era das revoluescientcas, dedicou-se ao misticismo e alma hu-
mana aps contribuir com estudos importantesna Fsica, como a hidrosttica. Sua contribuio
em relao mecnica dos uidos fundamen-tal. Pascal disse, entre outros pensamentos menos
famosos, que o corao tem razes que a prpriarazo desconhece. Mas disse, tambm: Possoconceber um homem sem mos, ps, cabea (pois
s a experincia nos ensina que a cabea maisnecessria do que os ps); mas no posso conceber
o homem sem pensamento: seria uma pedra ouum animal.
Poderia falar do amor que pregam as religi-es, todas elas. O amor a Deus, ao prximo, mas
no disso que trata este artigo. Para chegar mais
perto do planejado, melhor falar do amor que relatado por Humberto Maturana. Ele explica
que o aprendizado est relacionado com a emoodespertada pelo sentimento de afetividade com o
outro.
Talvez o que esteja ausente seja esse amor
ao prximo e ao que se faz, pelo menos de formaconsciente, no dia-a-dia jornalstico. Porque os
prossionais que esto no mercado tm forma-o adequada e inteligncia suciente para exer-
cer suas funes. Se no as tivessem, no estariamonde esto. Parece que ausente est mesmo a cons-
cincia dos atos, privilegiando o automatismo dastarefas, tudo em nome de uma velocidade que
imposta pelos prprios veculos, no pelo leitor,telespectador ou ouvinte.
Exemplo disso, e um dos graves, aconteceuno telejornal Bom Dia Santa Catarina, veicula-
do pela RBS TV para todo Estado de segunda asexta-feira, das 6h15min s 6h45min. A pauta do
jornal, costumeiramente, no prima pelos assun-tos mais urgentes. Muito menos a viso cient-
ca dos fatos freqenta habitualmente o Bom DiaSC. Pelo contrrio, assuntos como terapia dascores, dietas do tipo sangneo e outras notcias
ainda menos ortodoxas, so costumeiras neste te-lejornal. Mas barriga do tamanho da que o Bom
Dia deu h poucas semanas, nesta poca exclusi-vidade do Papai Noel.
Na sexta-feira, dia 19 de novembro, o BomDia divulgou uma lista de medicamentos proi-
bidos pelo Ministrio da Sade. Muito louvvel,
Barriga no Natal, s de PapaiNoel
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um grande servio comunidade, no fosse a listaapenas um hoax mail, ou seja, correspondnciafalsa. Isto mesmo, o Bom Dia SC publicou umanotcia falsa que chegou redao por e-mail eno foi conferida.
As conseqncias desse ato, espera-se im-pensado, so bvias, mas nunca demais relatar.Pnico comprovado nas ligaes e aglomeraona sede da Vigilncia Sanitria, em Florianpolis;pacientes deixando de tomar seu remdio por fal-sa informao; laboratrios e farmcias prejudica-dos; e o que mais se possa calcular ou comprovar.
O Bom Dia SC, avisado do problema, na se-gunda-feira veiculou o desmentido. Na tera-feira,dia 23 de novembro, entrevistou especialistas emsegurana na rea da informtica para denunciarcomo acidentes como esse podem ocorrer. Naprimeira atitude, a obrigao da imprensa: retra-tar-se quando erra. Na segunda atitude, um acin-te. No h falha na mquina tampouco no sistemaprojetado. A falha, neste caso, nos procedimen-tos humanos. Os princpios mais bsicos do bomjornalismo foram desconsiderados. A veracidadeda notcia, a qualidade e conabilidade das fon-tes, a preocupao com as conseqncias do fatonoticiado, nada disso foi levado em conta.
Alguns poderiam dizer que este o retrato
de uma sociedade individualizada, que desapren-deu a questionar e a contestar, que esqueceu aconscincia de grupo que em nome de valoresto pequenos e efmeros. Prero retirar essa res-ponsabilidade da grande maioria dos jornalistas eno conferir esses atributos classe.
Pecou o Bom Dia SC de forma isolada, atu-ando de forma amadora em mbito prossional.Perdem os jornalistas pela pecha de irresponsveisque carregam a cada fato semelhante a este. Mas,
principalmente, perde a comunidade catarinensecom o jornalismo autmato, seja do Bom Dia SCou de qualquer outro veculo de informao. Tal-vez seja realmente esse o sentimento mais ausentena prtica do jornalismo: amor ao que se faz e ao
prximo. Aquele que no precisa de denies deOvdio, Pascal, Maturana, da Bblia ou de quemquer que seja. Aquele que simplesmente se sente, proporciona prazer e felicidade. Mas se necess-rio for, o Dicionrio Aurlio est sempre moe avisa: amor o sentimento que predispe al-gum a desejar o bem de outrem; sentimento dededicao absoluta de um ser a outro, ou a uma
coisa. Feliz Natal e um timo ano novo. Commuito amor.
Para ler nas frias:
De mquinas e seres vivos - autopoiese, aorganizao do vivo, de Humberto MaturanaRomesn & Francisco J. Varela Garcia. EditoraArtes Mdicas
Pensamentos, de Blaise Pascal. Ediouro
A arte de amar, de Ovdio. Martin Claret
Jornalismo em tempo real - o fetiche da ve-locidade, de Sylvia Moretzsohn. Ed. Revan
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Laura Seligman em 14/02/2005
ue papel pode a imprensa que escreve so-bre cincia desempenhar quando pretende pro-mover o desenvolvimento do pas nesta rea? Pelomenos um deles cou claro neste vero brasileiro,quando mais uma vez, batalhes de jovens se sub-meteram a exames vestibulares pretendendo umavaga em universidades - a escolha pelos cursos no
ofereceu um futuro promissor s disciplinas cien-tcas.
Em alguns casos, um menino de 17 anos dis-putava uma vaga com at 150 concorrentes, comono caso dos cursos de Publicidade e Propaganda eCincias da Computao na USP. Em Santa Ca-tarina, os campees da disputa foram os cursos de
Medicina (55 por vaga), o novo curso de Cinema(24 por vaga) e Jornalismo (20 por vaga), todos naUniversidade Federal. Nas particulares, o ndice logicamente menor pelo custo dos estudos. NaFederal, muitas vezes mesmo sem preparo, a ins-crio feita como uma loteria.
Mas por que ser que essa loteria no incluiFsica, umica ou Matemtica, que tiveram umamdia de quatro candidatos por vaga na Federalcatarinense? Ser falta de vocao ou puro mer-cantilismo?
Em primeiro lugar, preciso lembrar oconceito moderno de vocao, descrito por Max Weber em A tica Protestante e o Esprito doCapitalismo. Assim como no alemo Beruf e no
ingls Calling, est implcita uma conotao reli-giosa palavra vocao. Antes disso, nas lnguasantigas, s o hebraico traz conceito parecido, mas
atribudo a tarefas, obras a serem executadas. Foia Igreja Catlica que colocou a vocao como ocumprimento de suas obrigaes impostas pordesgnios divinos. Lutero, em sua Reforma, adap-ta este conceito, concebendo as tarefas humanascomo coisas da carne, embora fruto da vontadede Deus.
Talvez toda essa teoria e mais outras tantasde cunho cientco, determinando predisposiesgenticas a desempenhar uma ou outra funo oupsicolgicas com seus interminveis testes, sejamdeixadas de lado na hora de preencher a cha deinscrio no exame vestibular. Anal de contas,no consta que Santa Catarina precise de 5576
novos mdicos, 1200 jornalistas ou mais 740 ci-neastas (nmero de inscritos na UFSC). No, nopode ser iluminao divina.
A verso de puro mercantilismo tambmca pouco provvel com os ltimos nmeros quese apresentam. Pense bem, 150 candidatos ao cur-so de Publicidade e Propaganda matutino e ou-tros 100 ao curso noturno na USP; 740 ao cursode Cinema da UFSC - no, a maioria deles noser parte integrante da nma porcentagem demilionrios brasileiros.
Restam poucas alternativas para explicar ofenmeno que leva a um ndice to baixo de can-didatos por vaga em cursos formadores de cien-tistas ou de professores de cincias, estes ltimos
com ndice ainda menos e com cursos de Licen-ciatura fechando a cada ano.
A Cincia no est na moda
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Prero car com a que v a grande mas-sa de estudantes um tanto perdida, com poucasperspectivas, vagando sem saber exatamente paraonde. Frutos de um ensino pouco formador e daainda pouca idade, copiam modelos que a inds-
tria cultural lhes enou goela abaixo - modeloscomo Gisele Bndchen, jornalistas fashion comoZeca Camargo, cineastas engajados como JorgeFurtado. Nesta mesma indstria cultural, cientis-tas so aloprados, seres esquisitos, gnios do mal. certo, ser cientista ainda no est na moda.
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Laura Seligman em 28/02/2005
O Jornalismo Cientco rea em expansono Brasil e ningum mais duvida. fcil compro-var essa informao, mesmo sem a necessidade dequalquer mtodo cientco (se me perdoam o tro-cadilho). Revistas populares criticadas pelos maisortodoxos, publicaes de renomadas instituiesde pesquisa, edies especiais pra comprar, ler e
colecionar. Tem de tudo sobre Cincia ali na ban-ca da esquina. s saber escolher.
Um leitor ainda no iniciado, que pretendedespertar um interesse ainda adormecido sobrefatos cientcos, pode comear com a rea maispopular das publicaes cientcas. A mais anti-ga e tradicional a Superinteressante, da Editora
Abril. Com modicaes substanciais nestes lti-mos anos, a revista subdividiu-se em outras espe-cializadas: Mundo Estranho, para jovens; Revis-ta das Religies - o mundo da f; e Aventuras naHistria - para viajar no tempo. A Super tambminiciou a moda de diversicao dos seus produ-tos: agendas, DVDs, CD-ROM, livros e ediesespeciais so ouro para os amantes da cincia no
seu sentido mais literal - amadores, no prossio-nais da cincia em busca de divulgao cientca.
Outras editoras seguiram esse caminho eincrementaram suas publicaes. A antiga GloboCincia, da Editora Globo, h alguns anos virouGalileu, com direito a produtos associados. Nose pode esquecer, tambm, da Globo Rural, umadas poucas revistas de sua rea com abrangncia
nacional.
Mas, se voc j no se satisfaz com a Cin-
cia para iniciantes, procure bem e vai encontrara Scientic American Brasil, edio brasileira damais tradicional revista de divulgao cientca,como os prprios editores anunciam. Com textosainda bem jornalsticos, a publicao traz maiorcuidado em relao ao contedo cientco. A re- vista tem uma verso eletrnica tambm muito
interessante, com lista de links de outras publi-caes e sites cientcos. Para ler e colecionar, aDuetto Editorial colocou nas bancas a srie G-nios da Cincia, cada nmero sobre um grandecientista da histria - j esto disponveis DaVincie Newton a R$ 11,90 cada.
Nesta linha, chega s bancas a revista Pes-
quisa, da Fundao de Amparo Pesquisa do Es-tado de So Paulo - Fapesp. Astrofsica, Biologia,Genocronologia, tem variedade cientca paratodos nesta publicao, que antes s circulava nomeio acadmico.
Para qualquer idade ou preferncia, o jor-nalismo quer saciar aquela curiosidade cientcaque nunca nos abandona. s experimentar.
Cincia nas bancas
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Laura Seligman em 14/03/2005
Demorou, mas ainda vai demorar muitomais. O substitutivo de autoria do senador NeySuassuna (PMDB - PB), que modicou o projetode lei do Executivo sobre questes de Biossegu-rana, vai car esfriando at o nal do ano, como prevem especialistas na pauta do Congresso.Essa e outras tantas limitaes no deixaram que
houvesse comemorao de quem espera por no-vidades cientcas com um prazo que pesa sobresua prpria sade.
Vamos recapitular essa histria para enten-der onde chegamos. O projeto de lei sobre Biosse-gurana que partiu do Executivo era, na prtica,um retrocesso. Cedendo mais uma vez presso
de religiosos, o Governo Federal autorizava a pes-quisa com clulas-tronco, mas proibia o uso declulas embrionrias. Seria assim como dizer quealgum pode ir chuva, mas no pode se molhar.Ou seja, nada! Tudo continuava engessado. Osubstitutivo do senador paraibano avana: permi-te o uso de embries que estejam armazenados hpelo menos trs anos. pouco, mas mais do que
nada.As clulas-tronco so to importantes por-
que tm a capacidade de se transformar em clu-las de qualquer parte do corpo. repetir o milagreda reproduo e da regenerao que acontece noincio da vida. Pode ser a salvao quase milagrosa(se no fosse cientca) para doentes de males que precisam dessa regenerao, como o Parkinson,
Alzheimer, Diabetes e doenas musculares dege-nerativas. Mas, infelizmente, para muitos setoresda sociedade, os geneticistas e especialistas na me-
dicina regenerativa so cientistas loucos querendocriar um exrcito do mal, ou coisa assim.
Em outros pases, o debate se estende hmuitos anos e a sociedade continua dividida. Unsavanaram. Outros, como os Estados Unidos,esto na mesma situao, ou ainda pior: tm ar-
mazenado, segundo a Sociedade de Tecnologia deReproduo Assistida em reportagem da FrancePresse, algo calculado em 400 mil embries hu-manos congelados, mas no podem us-los em pesquisa, tampouco destru-los sob pena de in-correr em crime de aborto.
Mas, se a cincia atesta que as pesquisas nes-
te campo podem salvar tantas vidas, o que acon-tece para que os representantes da sociedade sedividam na sua aprovao? No Brasil aconteceuma situao ainda mais problemtica do que emoutros pases. A mesma lei que aprova o uso declulas-tronco, versa ainda sobre a produo e co-mercializao de alimentos transgnicos. A pres-so, neste caso, no diminui de intensidade masmuda o uxo: ambientalistas contra e grandesprodutores agrcolas aliados s empresas produ-toras de sementes transgnicas (sim, a Monsanto)na torcida a favor. Outros pases continuam emdebate sobre mais este tema, mas para no parara economia, liberaram a produo e comercializa-o de alimentos com componentes transgnicosdesde que a embalagem alerte para tal fato.
O que o Brasil pensa a respeito dessas inova-es? Provavelmente no saberemos to cedo. Apreviso inicial de que o projeto de Biosseguran-
Nada de comemorao
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a no seja aprovado antes de novembro, ganharum elemento que vai colaborar ainda mais com oseu retardo. Depois de novembro, vem o recessoparlamentar e depois dele, o ano de 2006 - elei-es para Presidente da Repblica, senadores, go-
vernadores, deputados federais e estaduais. Pelomenos que o atraso represente maior conscincia
da populao na escolha de seus representantes.
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Laura Seligman em 29/03/2005
H quem rena em uma s, todas as justi-cativas para o desenvolvimento cientco e tec-nolgico na histria da humanidade: o desejo dohomem de se perpetuar sobre a Terra. J vence-mos adversrios poderosos - tigres, lees, o fogo,o trovo, e tantos mistrios que a cincia se encar-regou de estudar e explicar. Alguns inimigos qua-
se invisveis continuam a nos atormentar, apesarde tanto conhecimento somado. E no falo dosvrus e bactrias que ainda matam as vtimas da pobreza, da ignorncia, da fatalidade ou da fal-ta de saneamento. Os casos catarinenses do Malde Chagas seriam mais do que um bom exemplo falaremos deles mais adiante. Agora, o assun-to outro fator que no conseqncia da falta
de desenvolvimento, mas do uso indiscriminadodesse.
A vida de Terry Schiavo, mulher norte-ame-ricana em estado vegetativo h 15 anos, tornou-se mais um debate poltico-religioso. A eutan-sia volta a uma batalha de opinies controversas- ato de amor, assassinato, um direito individual.
No sobre essa polmica que gostaria que nosdebrussemos, mas sobre o discurso que se mol-da a cada situao. Os pais de Terry lutaram pelamanuteno da vida vegetativa de sua lha apoia-
dos pelo governo de seu Estado, a Florida, e de seupas, os Estados Unidos. Perderam a batalha najustia. Ambos, governador e presidente, tm emcomum mais do que o sobrenome e os pais. Alm
de irmos, so religiosos, membros da ultradireita
crist. Em seu discurso, o apelo religioso de que sDeus pode dar ou tirar a vida. Ignora-se, por um
lado, que naturalmente, Terry talvez j estivessemorta h 15 anos. Por outro, cincia e tecnologiano seriam, tambm, obras guiadas por Deus?
A mesma presso de origem religiosa retar-dou e alterou, aqui no Brasil, a votao da Lei de
Biossegurana. Historicamente, o conhecimento
foi encarado pelos mesmos religiosos como umadversrio a se manter bem ao lado, de prefernciatrancaado. A histria j revisou esta atitude, maspor que continuamos a aceit-la?
Bem, talvez os direitos individuais muitasvezes tenham que se sobrepor aos coletivos. Tal-vez Terry, inerte, seja mais do que uma vida vege-
tativa, mas uma mensagem a ser decifrada . uemsabe devamos parar de aceitar o que nos despejamgoela abaixo sem questionamento? Talvez seja ahora de reetir e iniciar o questionamento sobreo que nos destinado - seja o conhecimento ditoabsoluto, sejam as imposies para a vida. Na faltade expresso pode estar a verdadeira lio de Ter-ry Schiavo.
Suspeitas e prestao de servio
A cobertura catarinense a respeito dos casosde Mal de Chagas registrados no Estado mos-traram agilidade e correo na prestao de umservio de sade pblica. Em cima dos fatos, osjornais, emissoras de televiso e de rdio divulga-ram as orientaes que eram repassadas pelas au-
toridades em vigilncia sanitria. certo que houve algum titubeio, uma vez
A lio de Terry e o Mal deChagas
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que os sintomas da doena podem confundir (e ozeram) o diagnstico: Leptospirose, Hantaviro-se e a culpa nem era dos ratos desta vez. O acerto
veio em duas semanas, tempo insuciente para ascinco vtimas que no resistiram at que se des-
cobrisse o verdadeiro mal. Descoberto, todos osdemais pacientes receberam tratamento e a popu-lao recebeu orientao. Sintomas e tratamentodivulgados resultaram nos seguintes nmeros:mais de 12 mil pessoas zeram o exame de sangue
e 31 tiveram a contaminao conrmada, segun-do divulgou a Agncia Estado. O foco principal
de contaminao, o Barraco da Penha, s mar-
gens da BR-101 entre os municpios de Navegan-tes e Penha, s foi conrmado na segunda-feira,dia 28.
Se a cobertura regional primou pelo bomservio, o mesmo no aconteceu em nvel nacio-
nal. No ano de 2004, por exemplo, mais de 770mil turistas vieram a Balnerio Cambori, sendo
que 72,85% chegaram de automvel. Os dados daSanta Catarina Turismo S.A. (Santur) podem pre-
ocupar. O nmero de turistas que passaram pelarodovia e que podem ter levado a doena (que no contagiosa, mas precisa ser tratada) para outros
Estados e pases, justica a importncia da pautanacionalmente.
Mas, ao contrrio do que se esperava, o Fan-
tstico a registrou rapidamente como uma curiosapauta regional. Os noticirios da semana zeramo mesmo. Por incrvel que parea, o momento
mais esclarecedor desta pauta no domingo dia 27de maro aconteceu no programa Domingo Le-
gal, quando Gugu Liberato entrevistou uma pes-quisadora do Mal de Chagas.
A rapidez na cobertura e a prestao de ser-vios, porm, no foi acompanhada de uma visointerpretativa dos fatos. O Mal de Chagas foi cau-
sado pela falta de higiene no armazenamento dacana-de-acar que virou caldo. No se trata, por-tanto, de fatalidade, mas de falta de scalizao.
Essa decincia j vitimou cinco pessoas e no sepode creditar essas perdas ao acaso. Algum deve
responder por elas, mas essa notcia, os jornaisainda no publicaram.
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Laura Seligman em 15/04/2005
H quem diga que os espaos reservados publicao de reportagens em Jornalismo Cient-co so esparsos. A defesa de cadernos especiali-zados e editorias de cincia foi se dissipando coma realidade imposta pelos veculos. No que o Jor-nalismo Cientco no seja publicado, pelo con-trrio, s cresce em freqncia nos mais variados
tipos de veculos em qualquer suporte. Est noFantstico, no Domingo Legal do Gugu, no MaisVoc de Ana Maria Braga, no Globo Reprter eno Domingo Espetacular da Record. Est no jor-nal de circulao nacional e tambm no boletimde bairro. Ganha em espao, mas muitas vezesperde em qualidade. Reprteres sem especializa-o tendem ao erro. Programas que espetaculari-
zam a notcia tendem ao bizarro.
Tanto espao pode ser fruto do bom jorna-lismo desempenhado nesta rea, mas tambm dacuriosidade que j nasce com o homem. Essa podeser uma boa explicao para os avanos cient-cos e tambm para a sustentao e incremento doJornalismo Cientco em todo o mundo. Mas h,
entre todas suas modalidades, uma que est aci-ma de qualquer teoria, argumentao contra ouem favor da setorizao da cincia como matriajornalstica. A tradio garante no Brasil tudo oque se publica em Jornalismo Rural h pelo me-nos cem anos.
Como poderiam programas de televisocom pblico setorizado e com veiculao em ho-
rrio to diverso permanecerem por 20 ou 30 anossem sofrer quedas ou ameaas? O Jornalismo Ru-ral parece ter herdado a caracterstica tradicional
de suas fontes e do meio que freqenta. Acompa-nha a prpria histria da imprensa brasileira comcadernos nos principais jornais e com a conquistade um publico el que garante sua sobrevivncia.
Mas no se sobrevive no mercado s comtradio. Se o campo se modernizou absorvendo
novas tecnologias, o Jornalismo Rural ou Agrco-la acompanhou sua evoluo. Ganhou com cadanovo espao criado, se estabelecendo na televisoe na internet. Inovou, tambm, na linguagemjornalstica e na relao com o pblico. Acompa-nhou as inovaes sem se desfazer do que lhe eraessencial. Ganhou nova denominao, Jornalismoem Agribusiness, ampliou o espectro de atuao,
mas, mais uma vez, se manteve el s origens.
Assim se mantm h 25 anos no ar o pro-grama Globo Rural, fruto da viso expansiva queo departamento de marketing da Rede Globolanou sobre as campanhas de eletricao ruralno nal da dcada de 70. Se h eletricidade, hteleviso. No se pode negar, tambm, a inun-cia da bem-sucedida experincia da RBS, no Sul,aliada da Globo que anos antes j obtinha bonsresultados com o ainda no ar Campo & Lavoura.
Mais do que um produto acertado, o Glo-bo Rural mostrou bra em 25 anos no ar. , hoje,nas guras do jornalista Jos Hamilton Ribeiroe do reprter e apresentador Nelson Arajo, umdos ltimos espaos onde se trabalha a estrutura
da notcia sob a tica humana, aplicando o NovoJornalismo onde parecia improvvel.
Os reinventores da tradio
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Jos Hamilton a prpria histria do pro-grama - metade de sua vida prossional est l, noprograma. A outra metade dos 50 anos de pros-
so foi dedicada aos veculos que foram precur-sores desse estilo no Brasil. Nelson Arajo, desde
1990 no Globo Rural, segue seus passos. Enxergaalm da notcia, v poesia nela. Bom exemplo
a reportagem sobre o seu Z da Iza e suas lhastrabalhadeiras, toda contada em versos.
O programa, em si, todo inovao e puratradio ao mesmo tempo. Recebe cartas de seus
telespectadores - isso mesmo, cartas, no e-mails.
Mostra novas tecnologias de plantio e comercia-lizao da produo e revive a cultura do interiorde forma to ecaz que lhe garante ainda mais
tempo de vida.
J se disse (e foi Eric Nepomuceno) que s
h dois tipos de jornalismo o bom e o ruim. Hquem no consiga encontrar os elementos neces-
srios para se manter na primeira categoria. Ao
que parece, em Jornalismo Rural, ou de Agribusi-ness, como queiram, a frmula j foi decifrada hmuito tempo.
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Laura Seligman em 29/04/2005
Tecnologia moeda de desenvolvimento. Nosculo XXI, extenso de terras no garante riquezapara pas algum. Isso passado. No fosse este umfato real, ns, brasileiros, levaramos imensa vanta-gem sobre o Japo e outrospases asiticos peque-nos no tamanho, mas de imensa riqueza, fruto deseus investimentos em educao tecnolgica.
Nossa extenso continental parece ter levadoa uma opo errnea de desenvolvimento. Produ-zimos alimentos e nos anunciamos como celeiro
mundial h muito tempo, mas recente a desco-berta da possibilidade do agribusiness. Ainda
necessrio explicar ao produtor agrcola que ele svai passar a lucrar mais na medida em que agregar
valor ao seu produto. E isso exige educao para ouso da tecnologia. Como na Grcia antiga, desde-nhamos e tratamos a produo tecnolgica como
tarefa menor, coisa de artesos.
A imprensa reete esta relao de distnciacom os adventos tecnolgicos. Parece difcil acei-
tar que esta uma pauta cientca e que tecnologia fruto de investimentos na cincia, instrumento
criado por ela e em princpio para facilitar novosestudos.
Os jornais catarinenses costumam trazer asnotcias de tecnologia de forma mercantilizada e o
fenmeno se repete em nvel nacional. Cadernosde informtica, sobre mecnica de automveis outelefonia so os mais freqentes. Mas a inovao
tecnolgica vem dissipada em anncios com ori-gem nas assessorias de comunicao de grandes
indstrias.
O Dirio Catarinense do dia 29 de abril,por exemplo, em seu caderno Sobre Rodas, trazia
uma reportagem sobre a comemorao dos 500mil exemplares do Celta, inovaes pouco signi-
cativas (como espao embaixo do banco) em umamotocicleta Sundown e ainda outra sobre a nova
Ford Ranger.
O caderno Informtica de A Notcia da
quinta-feira, 28 de abril, versava sobre a aparnciade aparelhos celulares. Tudo bem, design im-
portante, determinando condies como a ergo-nomia e a funcionalidade de um aparelho. Mas
a reportagem se concentrou em detalhes menosimportantes como a denio de cores para mu-
lheres ou para homens.
O grande problema , na verdade, a inverso
de prioridades na elaborao da pauta. Tecnolo-gia, como j dissemos, fruto de desenvolvimen-
to cientco e no um produto proveniente doempirismo. No nasceu no cho de fbrica, pelo
contrrio. A indstria paga royalties pelo conhe-cimento que custa caro.
O desprezo pelo processo de produo cien-tca, pulando a etapa fundamental que o desen-
volvimento tecnolgico, transformou a coberturajornalstica em publicitria, incompatvel com a
funo da imprensa. O leitor enganado porqueprocura na reportagem um texto equilibrado, quepresta servio, supe que a informao no seja
moeda de troca. Isso ele enxerga no anncio pago,publicitrio.
Tecnologia mercantilizada
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O desconhecimento das inovaes tambmparece absurdo. Dia desses, o reprter da RdioMenina, de Balnerio Cambori, anunciava comespanto que um automvel havia batido comviolncia em um poste, mas todos saram ilesos.
Estupefato, o reprter indagava como aquilo era possvel, ignorando a complexa engenharia au-tomotiva que levou anos para proteger laterais, aparte frontal e a barra de direo em colises.
Esse comportamento da imprensa pode terorigem no despreparo da reportagem ou no com- promisso inadequado estabelecido com fontes.
Tanto faz, o efeito o mesmo. Esta inverso des-qualica a credibilidade da imprensa e no coo- pera para nosso desenvolvimento tecnolgico. Aproduo cientca no trabalha por demandas,necessita de nanciamento e pacincia na esperapelos resultados, ou seja, tempo e dinheiro paraestudos. A cobertura jornalstica parece carecerdo mesmo.
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Laura Seligman em 30/05/2005
No que a sade do brasileiro ande, assim,um espetculo. Tampouco os servios pblicos desade podem ser classicados dessa forma. O es-petculo proporcionado to somente pela abor-dagem que o jornalismo em geral tem dado spautas sobre o tema. s dar uma olhadinha emqualquer banca. Nas capas das revistas semanais,
mensais, dos dirios tambm quase sempre estestampada a mais nova promessa para a cura desabe-l-o-qu. Se ainda assim no estivermos sa-tisfeitos, s sintonizar nos programas especiaisde reportagem na TV Globo Reprter, Domin-go Espetacular, tanto faz: todos nos ensinam atomar caf, a deixar de beber caf, a comer ma,a no comer ma, a tomar uma nova plula, ou
aquela outra ainda mais nova.
Nem sempre a inteno m, no pode serintencional confundir ou ludibriar o leitor. Amaioria das pautas de jornalismo em sade pre-tendem prestar, de certa forma, um servio. Tra-tamentos, medicamentos, um novo jeito de viverde forma mais saudvel. O problema est na es-sncia. Jornalismo em sade deveria primar pelaeducao para a sade. E neste quesito falhamosprofundamente. Se quisermos educar para a pre- veno, no podemos centrar a reportagem nopaliativo. Se pudermos alertar para os perigos daauto-medicao, qual a vantagem lcita em divul-gar todo o novo remdio divulgado nos releasesdos laboratrios farmacuticos?
O problema est, ento, na abordagem quea pauta recebe. claro que o tema atrai leitores eessa preocupao no pode ser descartada o jor-
nalismo produto da indstria cultural, precisavender para manter-se nas ruas. Mas, o cncer no pode ser tratado como uma doena menor paraque o leitor se alegre. A AIDS no pode ser ba-nalizada como se nada de srio pudesse acontecerpara que o paciente sorria ao nal da leitura. Hque prevalecer o equilbrio.
Foi assim que a revista Veja do dia 18 demaio tratou o tema. Na capa, o ator Raul Cor-tez sorri ele trata um cncer no trato digestivo.Tudo poderia levar a crer que o sensacionalismomais uma vez prevaleceria. Anal de contas, naedio anterior, a mesma revista tratou o temaVida aps a morte como chacota a capa trazia
os ps de um cadver com um bilhetinho pendu-rado: volto j!.
Mas o que se encontrou no interior de Vejafoi um alento. Os personagens da reportagem tra-ziam equilbrio: os que j se curaram mais de umavez (a apresentadora Ana Maria Braga e o minis-tro Luiz Gushiken), os que enfrentam a doena(Raul Cortez) e os que enfrentam uma dor ainda
maior, a doena em um lho (a VJ e vereadora So-ninha, de So Paulo).
O grande servio da reportagem de Veja foimostrar que cncer (e por tabela, qualquer outradoena do tipo) pode acontecer com qualquer um:o importante procurar tratamento e enfrentara doena em bloco famlia, mdicos, auto-esti-
ma. Um grande avano para uma publicao que,assim como a grande maioria, costuma deixar oleitor confuso.
O espetculo da sade
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Laura Seligman em 01/07/2005
O tempo passa, o desenvolvimento cientcoe tecnolgico se acelera, mas a imagem da Cinciae de seus protagonistas no muda com a mesma ve-locidade. No importam os propsitos acadmicosmais nobres que possam mover os estudos, o que prevalece na mdia so pesquisas que possam sermanipuladas politicamente com vistas conquistageogrca e econmica.
A cobertura sobre pesquisas com clulas-tronco um bom e atual exemplo. A imagem de
cientistas malucos matando criancinhas e repro-duzindo seres perfeitos, formando um exrcito
neonazi, teria prevalecido no fossem as alteraesfeitas pelo Congresso Nacional na Medida Provi-
sria que autorizou as pesquisas. O texto original,elaborado pelo governo, contemplava os interessesda Igreja e proibia qualquer uso (mesmo cientco)
de embries humanos. O debate prevaleceu e fo-mos alm, mas a cobertura mostrou-se confusa e
capenga. T certo, difcil tratar temas to com-plexos de forma coloquial, mas os especialistas em
comunicar somos ns.
A questo nuclear outra aberrao na mdia.Depois de lermos a respeito, mais fcil imaginar-mos Pinky e Crebro, personagens de desenho ani-
mado infantil, como cientistas do que um sujeitoque dedica sua vida prossional a resolver questes
como fontes de energia alternativas ao petrleo,uso teraputico inclusive na cura do cncer, enm,
pontos decisivos para a humanidade. Preferimos a
imagem de cientistas desvairados ou aprisionados por regimes totalitrios, preparando o inevitvel
apocalipse.
Mas, a manipulao das informaes no estsomente em grandes temas como estes. Em cada la-
boratrio, pode haver uma nova justicativa paraa sobrepujana de um grupo sobre outro. A atual
edio da revista Cincia Hoje, de responsabili-dade do instituto homnimo, reproduz artigo da
revista Biology Letters, da Royal Society sobre um
estudo londrino a respeito do orgasmo feminino.Baseados em questionrios respondidos por gme-
as a respeito de sua vida sexual, os ingleses conclu-ram que a frigidez pode ter inuncia na bagagem
gentica. Bom saber que h uma nova viso (nosomente a cultural ou a psicolgica que eram man-
tidas at ento) para resolver esse problema que afe-ta boa porcentagem de mulheres em todo mundo.
O temor o de que a cobertura no-especialistatransforme a pauta em curiosidade bizarra ou emdebate de programas de variedades.
A supercialidade ou abordagem sensacio-
nalista da pauta cientca muitas vezes justica-da em exigncias de mercado, linha editorial ou
ordens superiores (que argumento sobrenatural,
no?). Prero a opinio de Ricardo Noblat, que de-niu: jornalistas escrevem para jornalistas.
E o leitor? Bem, este pode escolher entre ser
desconsiderado, afastado do processo produtivo ousubestimado. Ou ento, pode exercer seu grande
poder de escolha e dizer no, comprar outra publi-cao, virar o canal, mudar a estao. Talvez seja
esta nossa pior herana da atualidade e o maior de-
sao de quem educador: recuperar o esprito cr-tico para que haja o pleno exerccio da cidadania.
De cientista e de louco...
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Jornalismo: a tela, a lousa e a quadra
Laura Seligman em 15/08/2005
At que ponto as notcias sobre sade pemem risco o compromisso jornalstico de prestar umservio a uma determinada comunidade? Muitas vezes, a resposta imediata, mas preciso antesconceituar notcia, jornalismo, sade, cincia.
Notcia envolve preceitos jornalsticos como
veracidade, anal de contas, so verdades queprocuramos nas pginas dos jornais, nem sempreencontradas, verdade; pertinncia, pois o jorna-lismo , em princpio, parte de uma comunidadee deveria participar de seu desenvolvimento; e no-vidade, esta, sim, difcil de cumprir quando o as-sunto Cincia.
Jornalismo e Cincia tm tempos reais dife-rentes, raras vezes h sincronia. O Jornalismo viveo imediato, a velocidade, quando sai do tempo real, para recuperar fatos que j vo longe na histria.
A pesquisa cientca, seja ela em Sade ou emqualquer outra rea, tem seu prprio calendrio. Omtodo cientco exige todo um protocolo que de-manda tempo: antes disso, qualquer concluso no
pode ser considerada cientca.
Como conciliar, ento, interesses to di- versos? H sada, mas nem sempre ela se revela amelhor para o leitor. Por conta desses encontros edesencontros, j se adoou o caf com aspartame, porque o ciclamato e a sacarina eram cancerge-nos. O tempo passa e os papis se invertem: uma
pesquisa italiana divulgada pelo Fantstico agorarevela que para os ratos, ou melhor, as ratas, o as-partame pode causar leucemia.
E se o assunto caf, chocolate, vinho, ouqualquer outro tema recorrente, as posies se in- vertem a cada pesquisa que tem seus resultadospreliminares divulgados antes que a comunidadecientca a analise. bom lembrar que no h con-ceito cientco de Cincia, j disse Edgar Morin.Cientco o que a comunidade cientca assim
determinar.
Para onde corre o leitor, ouvinte ou telespec-tador, submetido a esse confronto de informaes?Para longe da mdia que no pode ser. Pelo con-trrio, a sada pode ser aumentar o volume de lei-tura para que no mais se procure verdade em de-terminado veculo jornalstico, mas a pluralidade
de idias e conceitos, elementos indispensveis paraque um verdadeiro cidado possa construir suasprprias idias.
Sem sincronia
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Laura Seligman em 15/02/2006
Essa seria, sem dvida, a recomendao fei-ta por um novo habitante da Terra aps assistir aum ou dois telejornais nacionais. Imagine s. Umextraterrestre chega neste ms de fevereiro paraexplorar as maravilhas do planeta azul e, claro,escolhe o Brasil, sabe como , carnaval, quem sabeeste seja o lugar perfeito para seu povo... Senta em
frente ao maravilhoso aparelho transmissor deimagens e ca informado sobre o funcionamentode nossa avanada civilizao.
Rapidamente ele conclui: pobres crianas doLbano, lutam de forma desigual, jogando pedrasnos malvados soldados que, sem piedade, atiramcontra elas. E no Brasil, ento? As crianas, coi-
tadinhas, sofrem na mo de enlouquecidas mesque, tomadas de um repentino surto de insanida-de, andam jogando seus bebs no lixo, na lagoa,em qualquer canto possvel.
O problema real, fora fantasia, que no precisa ser ET para chegar a essas concluses.Basta estar desavisado ou no ter como prtica aleitura crtica da mdia. Sem analisar o noticiriocom este devido distanciamento, s resta ao teles-pectador crdulo a leitura supercial e a compre-enso bvia da informao.
esse o cardpio oferecido diariamente emqualquer um dos telejornais exibidos. Pouca ounenhuma anlise e, quando pouca, apresentadade forma maniquesta, dividindo o mundo em ei-
xos do bem e do mal - parece que Bush fez escola.
No, a guerra no Oriente Mdio no assim
desigual. H grandes investimentos, tanto de umlado quanto de outro. Mas, parece que se tornouproibitivo escrever ou pronunciar a palavra terro-rista.
Dias desses, caiu-me o queixo quando li que,em represlia ao jornal dinamarqus que publicou
as charges sobre o profeta Maom, o governo Ira-niano decidiu promover um concurso de chargessobre o holocausto. Mas, ao contrrio do que es-perava, o fato no causou surpresa na coberturajornalstica, pelo contrrio. No dia 7 de fevereiro,na BandNews, o comentarista anunciava o fatocomo uma resposta adequada s provocaes. Oabsurdo foi denunciado no site De Olho na M-
dia, verso brasileira do Honest Reporting. Nin-gum espera que haja aplausos quando algumlana uma bomba, seja quem for seu autor. Paraque guerras acabem, preciso reprovao da vio-lncia, e no alinhamento. Todos que a promo- vem devem arcar com conseqncias, mas queno sejam mais violncia.
Pobres bebs brasileiros
Da mesma forma, a supercialidade foi umaconstante na cobertura que foi desencadeada nodia em que, beira da lagoa da Pampulha, emBelo Horizonte, um sujeito resolveu passear coma namoradinha (isso lhe custou o casamento, maistarde, quando a matria foi ao ar) e outro se di-vertia com sua cmera de vdeo amador. Ser um
gato naquele saco boiando na lagoa? Ser algumanimal perigoso? No, era um beb e o Brasil secomove em rede nacional. E a me, aquela bandi-
No crie seus fi lhos no Lbano...nem no Brasil!
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da? Chamou o bebezinho de droga de criana.Imediatamente, necessitou de proteo policialpois centenas de bons cidados se pronticavam
a linch-la.
A onda de bebs no lixo, no rio, mortos apancadas s cresceu nos dias que se seguiram.Mais uma vez, nosso amigo ET caria consterna-do....deve ser algo que jogaram na gua. O extra-terrestre precisaria consultar-se com um mdico,ou abrir algum livro, ou ento quem sabe ir logo internet e digitar a expresso depresso ps-par-to. Em seguida, ele poderia pedir ao Google, que
ele logo passou a chamar de orculo, algo sobrendice de Desenvolvimento Social, ou pobre-za, ou qualidade de vida. Nossa, o ET est -cando esperto. Ele entrou em sites e deu algunstelefonemas para as polcias estaduais e descobriuque no h novidade nisso, vivemos num pas demiserveis, e a misria faz o homem chegar a ex-tremos.
Com toda essa experincia, ET foi convi-dado para trabalhar nas maiores redaes do pascomo produtor, pauteiro, editor, o que escolhesse.Mas, ele se chocou com o showrnalismo (ttulodo livro de Jos Arbex Jr., editora Casa Amarela,R$ 35,00). ET descobriu (acho que andou lendoGilberto Freyre) que a mdia dene o que novoe a sociedade aceita este fato como notcia. cla-
ro, ET resolveu voltar ao espao e procurar outroplanetide para explorar.
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Equipe do MONITOR DE MDIA em 16/06/2006
Sistema de Gesto Ambiental.
Neste dia, com o editorial Dia do MeioAmbiente, o AN explica que uma das estrat-gias de proteo do meio ambiente no remetero problema para o futuro. A despreocupao do passado j se manifesta atualmente. Na sesso
opinativa Dia Mundial do Meio Ambiente dapgina 3, a geloga e professora universitria M-nica Lopes Gonalves alerta os leitores: A ques-to ambiental no deve ser lembrada somente umnico dia do ano, mas durante todos os momen-tos, quando cada atitude nossa poder fazer a di-ferena no futuro.
Sob o ttulo-tema Reorestamento, o jor-nal publicou as matrias Um brinde ao meio am-biente e No quintal de casa e de olho nos lhosque descreveu um programa de produo de mu-das nativas que ajuda famlias de Campo Alegre aincrementar a renda.
Dia Mundial do Meio Ambiente - O dis-curso e a prtica foi capa do caderno AN VER-
DE. O mesmo ttulo foi usado no texto do mes-tre em cincias de sade ambiental, DagobertoLorenzetti. O encarte publicou matrias varia-das, destacou os problemas ambientais atuais edemonstrou solues atravs dos programas queesto em prtica. Algumas das principais mat-rias foram: O ecossistema da Terra em colapso,Marketing sustentvel, Parque Nacional resiste
a liminares, Esforo para barrar extrao mine-ral, A natureza ensinando na prtica, Apostano jovem para garantir o futuro, Protagonistas
E o Dia doMeio Ambiente, hein?
Dia 5 de junho o Dia Mundial do MeioAmbiente. A primavera chega, as ores desabro-cham, as rvores exibem seus ramos verdinhos,certo? Errado, a no ser que voc viva no hemis-frio norte. Pois os pobretes que esto abaixo dalinha do equador aceitam de bom grado a datamarcada pelos irmos desenvolvidos e realizam,
na prtica, os mesmos rituais de comemoraoque eles.
Distribuio de mudas de rvores, plantiocoletivo de pomares e jardins, tudo muito lindono fosse outono, quase inverno por aqui, um pe-rodo no exatamente adequado para o plantio damaioria das espcies. Se ainda fosse o Dia da r-
vore, brasileirssimo, em pleno setembro quando,a sim, as ores colorem a paisagem.
Na mdia, a cobertura cega (mudas, s asplantas, se me perdoam o trocadilho) e traz comoprioridade a conscincia ambiental.
Veja como se comportaram os jornais cata-rinenses a respeito desta data:
AN vem reforado
A Notcia se preocupou em publicar con-tedos referentes ao meio ambiente de diversasformas. Atravs de matrias, encartes, editorial eopinio, o peridico evidenciou que o tema mere-ce ateno no s em 05 de junho, mas, todos osdias. O jornal busca sempre dar destaque ao meioambiente, j que tem o selo ISO 14001 - certi-cao para a empresa que aprimora e sustenta um
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de um mundo melhor e Sem dinheiro, projetomorre beira da praia. Alm disso, todas as p-ginas do caderno vieram com notas no topo, cominformaes de animais e plantas em extino.
DC ainda planta a semente
O Dirio Catarinense destacou a naturezano Dia do Meio Ambiente. Apesar do forte dojornal no serem as questes ambientais, o dia foibem lembrado e teve a merecida ateno.
Com uma foto da Praia dos Ingleses, sobo ttulo A natureza ameaada, a contracapa dojornal indicou as matrias internas. Com o mes-mo ttulo da chamada, a Reportagem Especialapresentou Ecossistema ameaado, Agressesso visveis e contnuas e Poluio torna-se par-te da paisagem. Com o ttulo O verde na ilha, areportagem trouxe box com agenda dos eventosambientais em Santa Catarina, alm de uma p-gina com fotos e descries dos principais ecossis-
temas de Florianpolis.
O jornal retratou o tema em Reportagem Es-pecial, trazendo na contracapa uma foto da Praiados Ingleses sob o ttulo A natureza ameaada,que deu abertura para as matrias Ecossistemaameaado, Agresses so visveis e contnuase Poluio torna-se parte da paisagem. Ainda
como Reportagem Especial, o DC publicou a ma-tria Santa Catarina homenageia as bromliasque destacou que dos gneros que ocorrem emSanta Catarina, nenhum endmico. A reporta-gem ainda trouxe um box com agenda dos even-tos ambientais em Santa Catarina e uma pginacom fotos e descries dos principais ecossistemasde Florianpolis, com o ttulo O verde na ilha.
Junto com o jornal havia tambm um in-forme comercial dedicado exclusivamente ao Dia
Mundial do Meio Ambiente. Patrocinado porvrias empresas, com o ttulo Plantar o futuro,apresentou matrias como: Recursos hdricos emalerta, Empresas minimizam poluio, Esgototratado sade, Pensar ecolgico, essa a idia,
uem conhece pode preservar e Falta de gua,uma realidade.
Meio ambiente em extino no Santa
Na edio de 5/6, o Jornal de Santa Catari-na nada destacou sobre o Dia Mundial do MeioAmbiente. O jornal somente citou a data em seu
calendrio na penltima pgina do jornal. Nemmesmo na edio anterior, do nal de semana, adata foi mencionada. At mesmo a publicidadeapresentou e representou a data. O verde passouem branco no Santa.
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Valquria Michela John em 30/10/2006
nicao Eclesial. O evento integrou o Unescom Congresso Multidisciplinar de Comunicao para o Desenvolvimento Regional, comemorati-vo dos 10 anos de atividades da Ctedra Unesco/Metodista de Comunicao para o desenvolvi-mento Regional. Foram reunidos, durante os dias9 a 11 de outubro, na Universidade Metodista de
So Bernardo do Campo (SP) os eventos: Cela-com, Folkcom, Politicom, Regiocom, ComSadee Eclesiocom. A temtica central do Unescomfoi Comunicao, regio, incluso e diversidade
- promovendo o desenvolvimento humano na eradigital.
Nesta primeira discusso sobre religio e
mdia com propores nacionais, as temticas de-batidas foram: a espetacularizao do cotidianoe seu impacto nos cenrios religiosos; o merca-
do religioso de bens simblicos: da produo aoconsumo; a formao de recursos humanos para
a mdia religiosa na era digital; a produo de co-nhecimentos sobre a comunicao religiosa nas
igrejas e nas universidades. Os grupos de trabalho
(GTs) do evento focaram: GT1 Indstria Cul-tural Religiosa; GT2 Comunicao Religio-
sa na Mdia; GT3 - Comunicao Religiosa nasComunidades; GT4 Comunicao Religiosa
Institucional e GT5 Comunicao Ritual e Li-trgica.
A grande preocupao norteadora dos deba-
tes foi a espetacularizao da f, o uso da mdia
como novo espao de evangelizao e pregaoe tambm para a mercantilizao dos sofrimen-
tos e angstias daqueles que buscam na religio
Mdia e Religio:um dilogo a ser construdo
Embora Nietzsche tenha proclamado no s-culo XIX que Deus est morto, o sculo XXI
aponta para o surgimento cada vez mais aceleradode novas religies e novos sincretismos religiosos.
H at quem brinque com a frase e diga: Niet-zsche est morto. Assinado Deus. O que pode
explicar a busca to frentica por respostas que a
Cincia no pode nos dar? Porque as pessoas mu-dam tanto de religio, de credo ou crena? Basta
olharmos para o mundo a nossa volta para com- preendermos essa sensao de vazio que parece
instalada em todas as sociedades.
Os conitos armados aumentam diaria-mente; as doenas se proliferam com uma velo-
cidade assustadora; o aquecimento do planeta e adestruio das fontes naturais so cada vez maisevidentes; a fome, a desnutrio, o enriquecimen-
to de poucos enquanto a maioria empobrece cada vez mais a prpria essncia do tempo em que
vivemos. As intolerncias (em todas as suas nu-ances e formas) se agravam cada vez mais. Parece
mesmo um caminho natural a busca pelo impon-
dervel a f j que nas situaes concretas dodia a dia no conseguimos desenvolver sentimen-
tos profundos de esperana. Por outro lado, a re-ligio sempre pde ser usada para a manipulao
das massas e o advento dos meios de comunicaotorna-se o mecanismo ideal para a propagao de
interesses econmicos no campo da f. Assim, areligio submete-se ao espetculo, nos moldes do
que foi profetizado por Guy Debord.
Esta foi a temtica norteadora do Eclesio-
com 2006, o I Colquio Brasileiro de Comu-
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o conforto e a esperana. fundamental que estatemtica ganhe o espao acadmico, sobretudo pela aplicao das psicologias de manipulaode massa cada vez mais usadas pelos pseudopre-gadores, pastores do enriquecimento, astros do
show biz da f. Entretanto, precisamos pensartambm a outra ponta, no apenas como as religi-
es usam a mdia, mas como a mdia narra as re-ligies, os esteretipos que refora ou que produze as implicaes das representaes construdascom relao a determinadas prticas religiosas,que no contribuem para o m das intolerncias,ao contrrio, ajudam a exacerbar esse sentimento.
Este foco no foi explorado no primeiro Eclesio-com mas impem-se como urgente e necessrio,no apenas nesse evento, mas em todos as discus-ses relacionados aos meios de comunicao e suaatuao na construo social da realidade, comodenem Peter Berger e omas Luckmann.
Por ser uma temtica ainda carregada devalores simblicos e dos prprios dogmas das re-ligies, este primeiro evento teve como pecadoo fato de acolher poucos integrantes de univer-sidades laicas. Os painis e Gts estavam muitofocados em participantes oriundos de Univer-sidades com vnculos religiosos como a prpriaMetodista, promotora do evento, UniversidadesCatlicas (Pucs), presbiterianas, adventistas, en-m. Um dos motivos , possivelmente, a polmica
que norteia a temtica. difcil falar em religiosem adentrar ao campo dos dogmas. Alm disso,poucas universidades laicas tm demonstrado in-teresse em pesquisar e discutir a temtica e, justi-a seja feita, esta preocupao tem sido correntenas Universidades vinculadas a igrejas especcas.O grande desao , justamente, tratar a religioa partir do conhecimento, da histria, das cin-
cias humanas em geral e no apenas do ponto devista da f ou dos praticantes das religies estu-dadas. necessrio tambm promover o dilogo
com as demais religies. Aqui, focou-se apenas oCristianismo, como ca claro pelo prprio nomedo evento. Para contribuir com a desmisticaoda intolerncia e promover a efetiva aceitao dadiferena, no podemos e no devemos nos fechar
em guetos, precisamos ouvir o outro e respeitar aalteridade. A mdia pode ser aliada nessa tarefa, por isso necessrio fazer sempre o monitora-mento, a leitura crtica da narrativa miditica, emtodos os campos da vida social.
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Rogrio Christofoletti em 06/11/2006
A SBPJor j havia dado o primeiro passona direo de uma integrao com outras socie-dades cientcas estrangeiras com o lanamento,em 2005, da Brazilian Journalism Research, pri-meira revista de comunicao editada totalmenteem ingls com circulao dirigida a outrospases.Tanto pela Conference quanto pela publicao,
os esforos so semelhantes: mostrar a produonacional, fazer-se conhecer para inserir a pesquisabrasileira no rol das principais do mundo.
***
Um segundo bom sinal para o futuro da pesquisa em jornalismo no pas um ensaio de
aproximao entre academia e iniciativa privada.O congresso da SBPJor realizou mesa temticacolocando lado a lado representantes do setor em-presarial jornalstico dos grupos Abril e RBS,da Associao Nacional dos Jornais e do UOL eda universidade para discutirem pesquisa e quali-dade. Para algumas reas, essa conuncia parecebanal e corriqueira. Entretanto, no jornalismo,sempre houve resistncia de lado a lado para sen-
tar-se mesma mesa, seja por mero preconceitoou por pura desarticulao.
O diagnstico para que esse cenrio mudas-se se deu no encontro da SBPJor do ano passado,em Florianpolis, quando membros da diretoriasinalizaram a importncia de um dilogo entreempresas e universidades. Os resultados de um
encontro como este no podem ser dimensiona-dos agora. Mas os desdobramentos devem se darem curto prazo, seja sob a forma concreto de fo-
Sinais positivos na pesquisa emjornalismo
Depois da Copa do Mundo, de um punha-do de escndalos polticos e das eleies, h quemconsidere que 2006 tenha nalmente terminado.Restaria, ento, aguardar os dois ltimos mesespara fechar a fatura do perodo. Mas para aquelesque atuam no campo da pesquisa em jornalismo,h tempo para pelo menos duas boas oportunida-
des neste ano: a Journalism Brazil Conference e o4 Congresso da Sociedade Brasileira dos Pesqui-sadores em Jornalismo (SBPJor).
Os eventos acontecem em Porto Alegre e sedo em seqncia, sendo a Conference de 3 a 5 denovembro e o segundo, de 5 a 7. Mas o que podeacontecer de to relevante nesses dias para que
merea tanta ateno?
Existem ao menos trs sinais positivos quepodem dar, num futuro prximo, novos contor-nos pesquisa cientca que se faz no Brasil. O primeiro deles a prpria realizao da BrazilConference, que no apenas rene especialistas
de quatro continentes, mas atrai a ateno da co-munidade cientca internacional para o pas e
o articula cena contempornea. Ao sediar umevento como este, os pesquisadores brasileirostrocam experincias com os colegas estrangeiros,
estreitam laos de cooperao mtua e at fechamacordos internacionais de pesquisa. No pouco
para quem quer participar mais da agenda cien-tca e tecnolgica global. No total das reas de
conhecimento, o Brasil responde por 1,8% da
produo cientca mundial, uma fatia pequenaat mesmo entre os emergentes.
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mento pesquisa pela indstria, seja pelo cami-nho das parcerias.
No jornalismo, este dilogo ocorre tardia-mente, mas suas repercusses so muito bem-vin-
das. Em outros setores como o qumico, porexemplo -, a academia e as indstrias atuam jun-
tas, promovendo inovao, avano tecnolgico,aumento na qualidade e dividendos para as duaspartes. O xito dessa aproximao depende da ca-pacidade de resposta aos desaos e da abertura depesquisadores e empresrios.
***
Um terceiro aspecto que deve contribuirpara o desenvolvimento da pesquisa em jornalis-mo nopas a orientao da SBPJor para a cria-o e institucionalizao de redes de pesquisado-res. O fechamento do congresso de Porto Alegrese d com uma reunio entre as redes j formadase as em formao com a diretoria da entidade. Oassunto a aprovao de um regulamento para asredes que querem integrar a SBPJor e o planeja-mento para apoios a esses coletivos.
A exemplo de outras realidades, a entidadebrasileira enxerga o futuro da pesquisa em jorna-lismo na realizao de projetos envolvendo diver-sas universidades, vrios pesquisadores e objetivos
comuns. Trabalhando de forma solidria, os cien-tistas fortalecem sua atuao, consolidam seuslaboratrios e cercam-se de mais condies paralograr xitos.
A se julgar por esses sinais positivos que vmde Porto Alegre, o ano de 2006 termina muitobem para a pesquisa cientca em jornalismo noBrasil. Termina bem, mas 2007 pode comearmelhor ainda se os resultados transcenderem oespao de discusso na capital gacha.
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Gabriela Azevedo Forlin em 13/11/2006
blogsfera e outras maneiras alternativas de jor-nalismo e que, nos Estados Unidos, apenas 50%das pessoas acreditam no que lem e no que lhes informado.
A pesquisadora norte-americana tambmdestacou a decincia do ensino na rea jornals-
tica. De acordo com ela, a preocupao deveria irmuito alm das news/hard news, do mercado de
trabalho e da comparao entre notcias interna-cionais. Barbie arma que um bom estudo jorna-
lstico se apia:
Na Sociologia para que o futuro jornalis-ta pense mais no coletivo do que no indivduo;
Na Histria (da sua regio, pas e do mun-do) pois tendo este conhecimento possvel
compreender melhor as notcias atuais e o que eporque certos acontecimentos ocorrem;
No estudo de lnguas (em sua forma infor-
mal/formal e pragmtica) pois na comunicao,a linguagem primordial.
Nas Cincias Polticas e na anlise cultural este estudo mostra como o jornalismo pode ser-
vir e atender melhor seus diferentes pblicos.
Enm, Barbie Zelizer apresentou como so-lues:
Realar a presena do jornalismo atravs
do currculo universitrio;
Reconhecer a parcialidade que h no jor-
Notas da Brazil Conference
inking Journalism Across NationalBounderies. Este foi o tema da Journalism Bra-
zil Conference, realizada de 3 a 5 de novembroem Porto Alegre, Rio Grande do Sul. O encon-
tro reuniu pesquisadores dos, literalmente, qua-tro cantos do mundo, professores, jornalistas e
estudantes de Comunicao e tratou de assuntos
atuais e polmicos sobre o jornalismo e a pesquisajornalstica.
What to do about Journalism? foi a ques-
to chave da apresentao de Barbie Zelizer, daUniversidade da Pennsylvania. Sua explanao,
que abriu a conferncia, era intitulada Journalismand the International Academy e abordou ques-
tes complexas, polmicas e bastante pertinentes:O que realmente sabemos sobre o Jornalismo?,O que ensinado aos acadmicos?, O que o
jornalismo hoje?, O que estudamos sobre ele?,Para que , anal, o jornalismo? Somente para
prover informao?, Como seria a histria, omundo ou a literatura sem o jornalismo?.
A pesquisadora - uma das mais importantes
da atualidade - apontou os principais problemasno ambiente jornalstico armando que no acre-dita em uma academia internacional, nem sequer
em uma nacional. Alm disso, Barbie comentouque os professores de jornalismo no so tericos
o suciente como deveriam ser. Segundo ela, noh uma integrao entre os jornalistas, os educa-
dores e os estudantes da rea e essa falta de rela-
es que contribui para o jornalismo falhar comseu verdadeiro trabalho. Barbie comentou que
a imprensa impressa est perdendo lugar para a
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nalismo;
Continuar questionando o trabalho dojornalista. No aceitar somente o que se sabe atagora, mas, pensar e discutir sobre o que sabemos
e o que concordamos ou no.
Aprimorar o ofcio jornalstico e seu ensi-no.
Barbie arma que toda esta preocupao importante pelo pap