Juan Garcia Atienza Os Sobreviventes Da

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    Os Sobreviventes da

    AtlntidaJuan G. Atienza

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    Ttulo original: Los supervivientes de la Atlntida

    1978, Ediciones Martinez Roca, S. A.

    Traduzido por:Carlos Garcia Diaz

    Litexa - Portugal

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    Existiu uma civilizao superior nos pases atlnticos?

    Quem eram os deuses do Dilvio?

    Homens transformados em deuses deixaram-nos as suas marcas

    JUAN G. ATIENZA, diretor o argumentista de cinema e televiso, estudioso dahistria, observou Espanha palmo a palmo e parte de Portugal, e no seu incessanterecorrer encontrou uma srie de fatos, de costumes, de fenmenos e de restosarqueolgicos que o levaram s mais ousadas teorias.

    Todas as lendas mticas das civilizaes antigas contam uma s histria: a doshomens que, em tempos perdidos da memria humana, trouxeram consigo acivilizao de um lugar que havia desaparecido depois de um cataclismo csmico.

    E a coincidncia das lendas mticas no se limita a recordaes obscuras da mentecoletiva do ser humano.

    Observando com objetividade os restos arqueolgicos que o passado maisremoto nos legou, comprovaremos que est presente neles a realidade irrefutveldaqueles mitos.

    Porque que os Templrios, em troca da sua ajuda na Reconquista, solicitavama propriedade de certos lugares cem anos antes da sua conquista? Porque que esteslugares eram sempre centros de cultura megaltica?

    Houve um s No ou vrios? Eram sobreviventes da Atlntida que levavam comeles o conhecimento total que os Templrios procuravam e que ns continuamos aprocurar?

    A histria mais antiga da humanidade deixou uma mensagem nas pedras, naspinturas rupestres, no mistrio ainda indecifrado dos petroglifos, na mole dos megalitos.

    E essa mensagem fala-nos de um tempo perdido em que os deuses do Dilvioeram ainda homens e tinham chegado de alguma parte desconhecida para transmitir o

    seu saber aos caadores da Pr-histria.

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    NDICE

    Prlogo: morte e exquias por um humanismo integral...... 06

    1. Algo mais que uma surpresa.............................................. 12

    2. Elos para uma cadeia......................................................... 16

    3. Os ncleos mgicos .......................................................... 21

    Os indcios de um passado desconhecido

    4. A Idade de Ouro................................................................. 27

    5. A velha histria de No .................................................... 33

    6. Seres gigantescos e povos dispersos .............................. 40

    7. O mito serpentrio ........................................................... 49

    8. Ritos e mitos da ave........................................................... 55

    9. O enigma das pedras escritas........................................... 62

    Um passado luz dos seus indcios

    10. A incerta origem das crenas .......................................... 7211. A cabea de Jano............................................................. 82

    12. As pedras de Roldn........................................................ 89

    13. Os lugares e a sua magia................................................. 99

    14. Pedras, metais e tudo o resto........................................... 105

    15. Os elos da cadeia mgica............ ................................... 114

    Notas...................................................................................... 120

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    Prlogo: morte e exquias por um humanismo integral

    Acontece-nos freqentemente a todos: as verdades mais significativas,precisamente aquelas que, por serem as mais evidentes, representam, uma respostaefetiva s perguntas eternas do homem sobre a sua prpria natureza e sobre o seu Fimltimo, tm de ser relatadas sob a forma de parbolas ou de lendas para que sejamaceites. E d-se o caso de que tais narraes simblicas so capazes de revelar, maisque qualquer explicao abstrata ou metafsica, os que nos parecem ser os maisprofundos mistrios do conhecimento.

    Vou contar uma parbola. No, no minha. Extra-a, quase textualmente dapgina 32 do Evangelho de Rama-khrisna, e tenho-a lido, com poucas, variantes, emtextos msticos:

    Quatro cegos apalparam o corpo de um elefante.Um tocou-lhe na perna e exclamou: O elefante como um pilar.O segundo tocou-lhe na tromba e disse:

    O elefante como uma serpente.O terceiro apalpou a barriga do paquiderme: O elefante igual a um tonel - disse.E o quarto tocou-lhe nas orelhas e afirmou: O elefante como um abano.Comearam a discutir entre si sobre a forma do animal, sobre o seu aspeto. E

    quase chegaram a vias de fato. Um transeunte, vendo-os a discutir, perguntou-lhes oque se passava, e eles apresentaram os seus pontos de vista pedindo-lhe quedecidisse sobre quem tinha razo. O transeunte pensou alguns momentos.

    Nenhum de vocs viu o elefante.O elefante no como um pilar: as suas pernas que so como pilares. No

    como um tonel: a sua barriga que como um tonel. Tambm no como um abano:so as suas orelhas as que parecem abanos. E tambm no como uma serpente,porque unicamente a sua tromba que semelhante a uma serpente. O elefante como que uma combinao de tudo isso, mas tambm muito mais do que isso.

    Da mesma forma discutem muitos, sectrios que apenas viram um aspeto daverdade.

    Mas aquele que viu toda a verdade em todos os seus aspetos, pode decidir emtodas as discusses.

    Freqentemente ponho-me a pensar porque o vivo na prpria carne que anossa civilizao alcanou j um estdio em que o fato de viver como os cegos daparbola se tornou moeda corrente. O rpido avano da tecnologia e das cincias

    repercutiu-se no homem, obrigando-o a uma rigorosa especializao dos seusconhecimentos e das suas atividades, sem qualquer possibilidade de fuga.

    O humanismo, em grande parte, morreu.J no existe o estudioso, mas sim o especialista de um determinado ramo

    particular de qualquer cincia subsidiria.O fillogo j no tem qualquer idia sobre o funcionamento de um computador.O mdico ignora as origens da civilizao ocidental. O advogado no conhece a

    evoluo dos estudos matemticos que se realizam sobre a constante espao-tempo.E este fato, por desgraa, absolutamente irreversvel, pelo menos de acordo com osplanos culturais que nos regem.

    H muitos que conseguem adaptar-se perfeitamente a esta situao na qual ohomem se defronta com a obrigao irreversvel de viver dentro de um compartimentoestanque em que a sua atividade imediata tem o seu stio certo, sem outra viso queno seja a que lhe permite apenas vislumbrar os outros compartimentos que

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    esto na sua imediata vizinhana.H outros, contudo, que querem ver para alm do pequeno compartimento em que

    lhes coube vegetar. So aqueles seres que, ainda hoje, tm a percepo de que h umlugar e possivelmente muitos mais dos que a lgica pura pode vislumbrar em quese unem, respondendo a uma verdade nica, humana e natural, as cinciasmatemticas, biolgicas, filolgicas, qumicas, mdicas, histricas, fsicas e

    metafsicas. Um ponto no qual a geometria se faz histria, em que a biologia seconverte em religio, em que a cincia da linguagem se identifica com a msica, comos clculos arquitetnicos de um templo, com os componentes qumicos das guasmedicinais ou com a mais abstrata compreenso da Verdade com maiscula edisso to impreciso a que chamamos Vida Ultraterrena e que , no fim de contas, amais imediata e urgente preocupao dos homens de todos os tempos.

    como se tudo o que nos rodeia e constitui a essncia dos nossos conhecimentosno fosse, na sua origem mais remota, apenas uma coisa: uma realidadedesconhecida que vai para alm das limitaes cientficas que nos levam a partir,seguramente, dos mesmos princpios da civilizao tecnolgica em que estamosinseridos.

    Desde o limitado ponto de vista que nos foi demarcado pelo progresso cientfico,sentimo-nos j humanamente incapazes de abarcar a totalidade de uma Verdade queos filsofos da antiga Grcia tentaram conhecer ou, ainda antes, os sacerdotes cientficos dos santurios egpcios. Poderemos, possivelmente, estudar ocomportamento dos genes que constituem a raiz da nossa hereditariedade. Poderemoscalcular, com um erro muito relativo, a antigidade de um fssil pr-histrico.Poderemos medir a trajetria de uma galxia no espao curvo e inclusive, usando osmeios incrveis que nos proporciona a cincia, poderemos transformar os metais emouro, como tentaram fazer os alquimistas no passado. Mas seremos incapazes de unirnuma s verdade superior a relao indubitvel que tem a nossa hereditariedade com omovimento das galxias, com a idade real da espcie humana no Cosmos, com asmais abstratas realidades matemticas ou com a mstica profunda que orientou a obrapaciente dos alquimistas.

    Por isso, quando chega o momento ou a ocasio de dar explicaes sobre umfenmeno que, mesmo sendo evidente e natural, foge aos cnones estabelecidos pelacincia racionalista que oficialmente se aceitou, o investigador rotulado de visionrioou de alucinado por ter a inqualificvel ousadia digamos assim, em linguagemdeliberadamente vetusta de falar ou de escrever sobre questes cujo conhecimentoabsoluto tem forosamente de lhe escapar.

    prefervel calar, limitando-nos a catalogar os fenmenos e as incgnitas semtentar descobrir os porqus de uma unidade csmica que, por pouco que

    aprofundemos, se tornar absolutamente evidente e irreversvel. Uma verdade queabarca e totaliza o conhecimento sem distino de cincias nem dos seuscompartimentos estanques.

    E, contudo...O segundo pargrafo da chamada Tbua de Esmeralda do mestre Hermes

    Trimegisto diz:O que est por baixo como o que est por cima e o que est por cima como o

    que se encontra por baixo, para fazer o milagre de uma coisa nica.Por cima. Por baixo. Sabemos e, mais do que saber, temos a intuio e

    aceitamos que tudo relativo. Que o que significa por baixo para ns poderia ser opor cima dos nossos antpodas.

    Que o que infinitamente pequeno para o cientista que estuda a estrutura do tomo igual ao infinitamente grande que investiga o astrnomo que mede matematicamentea natureza das galxias e dos quasars, impossveis de obervar atravs da objetiva de

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    um radiotelescpio: massas de matria e de antimatria, de luz e de energia, que aimaginao apenas pode conceber e que s as matemticas so capazes de efetuarum trabalho de catalogao.

    Porque, em ltima anlise, to sujeita s mesmas leis csmicas est a trajetria deum eltron em torno do seu ncleo como a de um satlite ou de um planeta em volta dosol. E isto numa total e incontroversa proporo matemtica. Porque, se tomarmos o

    ser humano como unidade ideal e a esse metro convencional que implantou, comomedida de todas as coisas do cu e da Terra, comprovaremos como o ncleo atmico a unidade mnima aceite pela fsica mede dez mil milionsimas do metro, 10-10. Eo sol, o nosso Sol, dez mil milhes de metros: 1010. E entre o tomo e o cosmos, entreo microcosmo e o macrocosmo, se encontra Tudo, absolutamente tudo o que o nossoconhecimento capaz de abarcar, em todos os campos de uma cincia que bempoderamos classificar de Cincia Total, de Cincia nica.

    Mas essa intuio da Cincia Total precisamente a que, tanto nos chamadossculos obscuros da Idade Mdia, como nestes anos que no sei porque razo chamamos difanos, se rotulou de ocultismo. E essa denominao implicou, por suavez, desprezo, temor, antema e castigo.

    Porqu? Por trs motivos bem definidos.O primeiro, porque os especialistas ou aqueles a que a si mesmos assim s

    chamaram limitados s matrias da sua atividade, demonstraram coisa que noera rigorosamente impossvel que aquele que sentiu a intuio da Cincia Total etocou de uma maneira ou de outra o seu parcial "saber cientfico na determinadamatria que eles dominavam, mostrava conhecimentos incompletos, parciais eaparentemente falsos ou pelo menos, no aceites pela experincia emprica.

    O segundo, porque os poderes constitudos, qualquer que seja o seu tipo: polticosou religiosos, declararam-se sempre contrrios e inimigos de teorias ou hipteses queficassem fora dos limites do oficialmente aceite e permitido, pelo qual aqueles queprofessaram em qualquer altura idias nem sequer lhe chamamos crenas diferentes do pensamento autorizado, tiveram que ocult-las ao longo da histria,conservando-as no maior segredo ou expondo-as de uma maneira velada, sob a formade smbolos ou de signos que s podiam ser conhecidos e reconhecidos pelos seuscorreligionrios.

    O terceiro, porque muitos dos investigadores, tericos ou prticos, desta cincia quepodamos denominar Cincia Universal, tm sustentado as suas idias dentro de umasabedoria da qual eles prprios, por pretendida inspirao superior, seriam os nicosdetentores. E assim se chamam a si prprios Iniciados ou adeptos e sustentam que assuas convices no podem tornar-se pblicas devido ao mau uso que delas ou dosseus eventuais poderes, os outros seres humanos pudessem fazer. Talvez tal assero

    tenha uma origem verdadeira, mas atrevo-me a insistir e insistirei enquanto aexperincia no me demonstre o contrrio na capacidade natural do ser humanopara captar e aprender o Saber, e inclusive fazer desse saber um uso honesto, a noser que os poderes repressivos o levem a atuar violentamente para defender-se.

    A conseqncia imediata e histrica destas atitudes foi que, por segredo de uns, porignorncia de outros e por tcito antema dos poderosos, as cincias tantohistricas como naturais, tanto humanas como abstratas alcanaram umdeterminado ponto no seu estudo a partir do qual absolutamente impossvelprosseguir. E essa impossibilidade provem, precisamente, de que o impasse coincidecom a interseco dessa matria cientfica com outra que apenas aparentemente lhe diametralmente oposta.

    Se tomssemos, por exemplo, o caso da linguagem e do seu escudo, dos sinaisescritos ou orais que o expressam, poderamos remontar no tempo procura de umaspossveis origens.

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    Retrocedendo at ao mais remoto passado chegaramos, sem lugar a dvidas, daslnguas modernas ao latim, do latim s lnguas primitivas indo-europias e ao snscrito.Mas ficaremos sem a menor possibilidade de interligar as origens comuns se narealidade existiram, pois a cincia oficial ignora-as - destas lnguas indo-europias comoutras que se falaram e at se escreveram no continente americano antes da conquistaeuropia. Apenas a sincera aceitao de uma lngua matemtica originria comum, tal

    como contam as tradies que se falava na Terra antes da tentativa da Torre de Babel,poderia levar-nos a compreender o elo que na atualidade no s no compreendido,como nem sequer aceite.

    E, contudo, a simbologia religiosa dos nmeros e dos sinais coincide nos doisncleos culturais, aparentemente sem conexes histricas anteriores.

    Para despeito de fillogos e de historiadores, essas relaes planetrias originaisexistem. E so umas relaes que entram plenamente no campo de uma cinciamatemtica que, por sua vez, contm o desenvolvimento ltimo de toda uma razometafsica e inclusive religiosa do aparecimento do homem na Terra. Os filsofosmatemticos seguidores de Pitgoras o entendiam assim. Da mesma forma ocompreenderam os arquitetos de Giz, e os alquimistas que procuravam o

    aperfeioamento do homem atravs de umas prticas nas quais o ascetismo secombinava com o saber cientfico e com o desejo de colaborar ativamente na obra semfim da Natureza.

    Que h uma Cincia Total na qual se unem todos os saberes e esto englobadastodas as crenas algo que, a despeito de pequenos conhecimentos e de credosparticulares, no podemos pr em dvida.

    Que essa Cincia Total foi continua a ser uma aspirao dos seres humanos atodos os nveis pode, ser constatado analisando os smbolos que os seres humanostm ido deixando atravs da sua histria e da histria dos seus costumes.

    Que essa mesma Cincia Total possa ter sido, num momento perdido do passado,patrimnio da Humanidade, ou pelo menos de uma parte dela, est certificadoprecisamente pela constante procura da sua recuperao ao longo dos tempos.

    Este livro pretende empreender, neste sentido, uma peregrinao ansquica atravsdos caminhos do passado, procura das marcas que deixou, desde um tempo perdidona obscura noite da histria, a memria e o testemunho de uns tempos que a cinciaoficial se nega a reconhecer.

    Quero deixar bem patente que no pretendo dar respostas a muitas perguntas queeu prprio, provavelmente, continuarei a fazer a mim prprio durante toda a vida.

    Pretendo apenas mostrar que, num momento indeterminado do passado humano,essa Cincia Total poder ter estado, de algum modo, presente nas terras daPennsula e que, desde ento, homens e povos inteiros tm caminhado sem descanso

    sobre elas, procura de testemunhos e da sobrevivncia daquela desconhecida Idadede Ouro na que havia uma resposta s mais urgentes perguntas do gnero humano.Estudando juntos as marcas dessa brecha no tempo possvel que encontremos

    tambm juntos a resposta parcial surpresa que sente o professor SnchezAlbornoz quando encontra, na Espanha posterior ao ano 700 muitas caractersticas daEspanha anterior a Cristo.

    Porque, efetivamente, Espanha contm, na sua terra e nas suas gentes, umacontinuidade histrica e ideolgica que creio que pode ser seguida passo a passo. Eisso, mesmo que eventualmente faltem ainda alguns elos que, em qualquer caso,podiam ser completados pela recordao de histrias alheias e por sedimentos mticosque ainda no foram convenientemente estudados e que convinha trazer luz.

    Infelizmente atravessamos um tempo no qual se perdem, de um dia para o outro, ostestemunhos mais preciosos que poderiam servir para ajudar-nos a desentranhar onosso passado real, a nossa personalidade mgica e, em muitos casos, a prpria razo

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    dos nossos credos, das nossas fobias e dos nossos desejos ancestrais.Um exemplo arrepiante, vivido ainda recentemente, vm-me memria e obriga-me

    a dar testemunho do que um tempo inconsciente pode ser capaz de destruir.Em plena serra da Demanda, no limite das provncias de Burgos e Snia, no meio

    de pinhais municipais que tapam caminhos e desviam os passos de caminhantespouco habituados, h um monumento megaltico nico e desconhecido. Um enorme

    rochedo perdido entre os montes mostra ainda o rasto de gentes desconhecidas quehabitaram ali em tempos obscuros da histria e deixaram nas rochas os depsitos degua que lhes serviam para beber, as cavernas em que se refugiavam, e os degrausescavados na rocha viva que trabalharam para fazer praticveis os movimentos maisinverossmeis. As marcas de sculos sucessivos esto patentes nas rochastrabalhadas. H sinais de cultos pr-histricos, cruzes e sepulturas escavadas porcomunidades que j praticavam os cultos cristos, moradas de eremitas e sinaisinequvocos de edifcios complementares que proclamam a continuidade de um cultoreligioso num espao ascentralmente mgico. Sculos de crenas e de smbolosacumulam-se em pedras cujo contorno no foi ainda desenterrado por falta de meios.

    Mas.... aqui surge a tragdia histrica: uma parte que pode guardar a chave de

    muitos enigmas de tempos passados est sendo destruda sistematicamente porcanteiros que aproveitam aquelas pedras para a construo de hotis residenciais deuma urbanizao que se eleva a vrios quilmetros dali. Ningum respondeu aosapelos urgentes dos que tm conscincia daquela perda. Ningum reivindicou aresponsabilidade perante um monumento do passado desconhecido que se estperdendo de hora a hora. Em pouco tempo talvez tenha acontecido j desde o dia emque pude ver aquele enclave at hoje, dois meses depois, quando escrevo umtestemunho da nossa histria mais intima e mais desconhecida ter desaparecido, semqualquer possibilidade de recuperao.

    Fatos como este incitam-me, talvez mais que qualquer outro, a escrever e a contar.Sinto a ntima convico de que h um interesse tcito em manter desconhecidos

    uns aspetos do nosso passado que poderiam fazer-nos transportar sobre distintasrealidades boa parte da nossa histria.

    No sei se esse interesse consciente ou se, pelo contrrio, se trata de umaelevada ignorncia e de um deixar que as circunstncias mandem sobre a paixoirreversvel de saber, de conhecer.

    Penso que, nesta procura do Saber Total pelo homem -uma procura que muitasvezes secreta e, na maioria das vezes, absolutamente inconsciente todos oscaminhos de entrada so bons e vlidos.

    Penso que nenhum deles deve ser desaproveitado e que, na medida das nossasforas, todos os que sentimos o af de ir um pouco mais alm no conhecimento

    teramos de comunicar as nossas ansiedades e intuies para que, a partir delas,outros pudessem reexaminar conscientemente aqueles aspetos que dizem respeito aosseus especficos campos de conhecimento.

    Penso tambm que tanto valem as intuies como as provas e que, muitas vezes,as perguntas sem resposta so to valiosas - ou mais - que os axiomas irreversveis deuma experincia sem finalidade. Prefiro caminhar procura de fontes inseguras do quevegetar sobre princpios agarrados a uma experincia estatstica.

    Nestas andanas pelo passado tm-me faltado, muitas vezes, crnicas fidedignasque esclarecessem os fenmenos que aparentemente no tinham explicao.Interpretaes parciais e outras voluntria ou involuntariamente falseadas procuram quase sempre desviar a ateno para caminhos equvocos de um racionalismo mal

    compreendido. Tem sido necessrio recorrer a maior parte de Espanha com os olhosbem abertos para ter a sensao de que no h nada que deva ser posto de parte.Nem o homem de um pequeno povoado, nem a data incerta de uma fundao, nem o

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    passo de uma dana popular, nem o sabor especial de uma histria meio esquecida.Na hora de saber, tudo me interessa. E desejava que o leitor se sentisse tambm

    afetado por este desejo de abarcar a essncia de tudo o que nos cerca, desde osignificado transcendente de um mito de aparncia absurda at circunstncia banalque tenha provocado um acontecimento bem definido em determinado lugar geogrficode qualquer freguesia; desde o carrossel das feiras populares s obras dos mestres

    dos melhores museus. Porque acredito em que h sempre um sinal e um significadopor trs de cada manifestao humana; porque julgo que o homem, desde queapareceu sobre a superfcie do Planeta, tem procurado consciente ouinconscientemente a razo ltima da sua existncia. E essa procura tem transparecidoem cada um dos seus atos, como testemunho de mais uma tentativa para alcanaresse Saber Total.

    Se estas pginas servissem tambm, para aprender a conhecer uma Espanhadiferente, na qual a surpresa de uma descoberta inslita pudesse conduzir a umapergunta concreta e deixasse de ser motivo de assombro inexplicado, reforaria aminha confiana de que vivemos para algo mais importante que satisfazer as nossasmais imediatas necessidades e esperar de braos cruzados sobre a nuca de que

    alguma coisa imensa e terrvel nos rebente em cima qualquer dia e nos destrua. Assimsem motivo, sem razo... Ou talvez com ambas as coisas?

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    ALGO MAIS QUE UMA SURPRESA

    H algum tempo li nas pginas dominicais de um jornal um daqueles artigos em que

    nos querem descobrir a chamada Espanha Desconhecida. O autor daquele artigo meu amigo e o lugar descrito, que no interessa para o caso, era-me bastante familiar.Mas havia, quase no incio daquele trabalho, um pargrafo que merece a penaanalisar. Dizia: Entre as surpresas que de quando em quando saltam aos olhos dosviajantes espanhis, surge, percorrendo a extensa geografia de Espanha, uma aldeia,um lugar, uma paisagem de que o viajante ou o turista nunca podiam suspeitar.

    Artigos que comeam nestes termos ou bastante parecidos aparecem naimprensa constantemente. Transformam-se, se assim se pode dizer, num subgneroda reportagem turstica. So sem dvida elogiveis pelo interesse que possamdespertar, mas, lamentavelmente, na melhor das hipteses, apenas passam por ser ummalabarismo estilista onde, sob o pretexto da descoberta de um lugar perdido numa

    comarca qualquer, se brinca fundamentalmente com a imagem do viajante com bornalao ombro e botas cardadas, disposto a desentranhar o que outros que passaram poraqueles mesmos stios apenas observaram.

    Se isto um mal, teramos de esclarecer que um mal menor, porque fundamentalmente bom que se recorra a prpria terra e que se conte acerca dela tudoquanto seja possvel. Em qualquer caso, um fato que vem de longe, tanto no tempocomo no espao; faz parte dessa necessidade humana de contar coisas vividas eexplic-las mostrando ao leitor, ao mesmo tempo, que quem as narra, percorreu osstios que outros percorreram antes dele, f-lo com os olhos mais abertos de que osque o precederam. Certamente com o olhar mais aguado que aquelas pessoas quehabitualmente vivem nesses recantos desconhecidos, naqueles caminhosintransitveis, naquela capital de provncia que fica um pouco retirada das estradasnacionais ou dos centros de forte atraco turstica. Para estes eventuais caminhantesde botas e bornal, Espanha uma constante surpresa. So amantes de caminhadas,acreditam mais no valor das suas anotaes medida que caminham do que naobjetividade da cmara fotogrfica, gostam de falar com pastores e camponeses e algumas vezes, no sempre repartem a sua comida e o vinho. Gostam,eventualmente, de repetir histrias, costumes e mitos que viram ou ouviram por dondeandaram. Viajam quase sempre ao acaso ou, em ltima anlise, seguem uma linha dasestradas em amarelo ou branco do mapa da Firestone. Contam o que vem e, ento,acontecem as surpresas. Como possvel que em tal sitio se conserve tal costume?

    Como pode ser contada aqui, quase com as mesmas palavras, a lenda j ouvida acentenas de quilmetros?Lamentavelmente e, se antes falamos do mal, aqui est precisamente esse mal

    tudo fica nisso: numa pergunta; na constatao de um fato; num recontar de dadosmais ou menos transformados pela capacidade estilstica do autor.

    Contudo, o simples fato de viajar, ver e contar tudo no a essncia ltima doconhecimento de uma terra. Ou, pelo menos, no deve s-lo. Uma terra, uma comarca,ou o seu enclave mais remoto, compe-se, no s da sua estrutura geogrfica,histrica ou humana, mas tambm de uma srie de motivos que se vo entrelaandocomo os elos de uma cadeia que no tem principio nem fim, desde os tempos at aosquais o conhecimento humano ainda incapaz de chegar.

    Uma terra leva, escritos em cdigo, os indcios do seu prprio passado. E oconhecimento desses indcios poder levar-nos a decifrar fatos, pessoas e lugares queno esto numa determinada comarca por si, mas por razes histricas ou proto

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    histricas que sobreviveram, escritas nas pedras, na paisagem ou nos costumes: uminconsciente coletivo, enfim, que os homens arrastam nas suas vidas com umamemria de sculos.

    Procurando e reconhecendo tais indcios chegaremos a pr em dvida muitascertezas tradicionais e uma boa quantidade de razes histricas e arqueolgicas.Veremos como muitos fatos que antes nos pareciam perfeitamente lgicos e evidentes

    no o so tanto, aps um anlise sria dos indcios.Surgiro dvidas, mas as dvidas e os inconformismos tm o valor de fazer-nossentir insatisfeitos com tudo aquilo que sempre nos asseguraram como certo. S assimestaremos em condies de tirar as nossas prprias concluses e, mantendo ativa advida,, poderemos escolher os caminhos mais difceis, mas tambm os menosconvencionais.

    Tenho que fazer, a partir de agora, uma advertncia para os que vo continuar a ler:no tenho a pretenso de abrir portas fechadas a pedra e cal. Gostaria, isso sim, queessas portas se tornassem um pouco mais translcidas, para poder observar atravsdelas o que fica por detrs de esses indcios que juntos iremos procurar. Quem desejarpoder junt-los e formar com eles a presena de algo superior atrever-nos-emos a

    chamar-lhe divino? que vela, desde os alvores do gnero humano, pelo futuro daespcie. Quem o desejar, poder procurar a recndita sobrevivncia de uma civilizaoque pde florescer muito antes do que qualquer documento histrico ou arqueolgicopudesse demonstr-lo. E, por fim, haver sempre quem se incline pela presena dementalidades estranhas ao nosso planeta que, num dado momento e por meios queignoramos, influram no futuro da histria do gnero humano.

    Deliberadamente nego-me a tomar posio por uma ou outra soluo, e per essemesmo motivo ser-me-ia terrivelmente difcil influenciar algum numa direo diferentedaquela que no signifique conformar-se com o primeiro enigma histrico, etnolgicoou religioso que se nos queira fazer aceitar, sem discusso. E, neste caso, no merefiro nem a um determinado dogma nem a uma posio histrica definida. Declaro-medesde agora absolutamente inimigo de aqueles que fecham portas e negampossibilidades. Estou ao lado dos que desejam ir sempre um pouco mais alm, mesmocom. o risco de ter de' voltar, eventualmente, ao ponto de partida para comear denovo por outro caminho.

    Apenas tenho uma certeza ntima: a que proclama que o homem sentiu sempre atentao de considerar mgico tudo aquilo que, sendo indubitavelmente natural, foges suas imediatas possibilidades de interpretao.

    H pouco mais de cem ou duzentos anos, por exemplo, o fato de voar estavaexclusivamente reservado aos santos . ou a demnios, e o ser considerado uma coisaou outra dependia do grau de relao que tinha o voador com os poderes

    estabelecidos.Hoje, o fato de voar uma operao quotidiana para muitos de ns. Mas... e sefalssemos da possibilidade de voar sem asas, sem aparelhos, sem motor: por umsimples desejo ascensional da mente?

    Dir-nos-o: Meu Deus! E recordar-nos-o Santa Teresa de Jesus ou So Jos deCupertino aquele Giuseppe Desa, nascido em Aplia em 1603, a quem um bispocontemporneo classificou de inocente (isto , de idiota). Ou gritaro aos nossosouvidos com a exclamao de bruxedo! e por-nos-o mesmo diante do nariz aexecrvel recordao do doutor Torralba ou o no menos omisso bruxo oannes deBargota.1

    Contudo, os estudiosos da parapsicologia contempornea no tm dvidas da

    possibilidade natural da teletransportao ou da levitao.Apenas nos falta saber o como, o porqu .. e o quem.Exatamente o mesmo poderamos afirmar de tantas outras manifestaes estranhas

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    ou inslitas que hoje ainda temos de colocar na estante do proibido. Ainda h, parans, palavras tabu e, sobre tudo, fatos tabu. Trata-se, naturalmente, de palavras e defatos que no permitido discutir sem que aqueles que os defendem sejam acusadosde visionrios ou dementes.

    E, contudo, os acontecimentos qualquer que seja a sua aparncia esto a, naspginas dos dirios, na mente dos homens, no fim de caminhos, secundrios ou volta

    de qualquer pequeno atalho.Esto a gravadas nos capitis de um mosteiro romnico ou na aparncia sumida dequalquer pintura conservada num museu diocesano. Chamam-se astrologia,recordaes obscuras, smbolos alqumicos, ou telecinesis, imposio de mos,bruxeria, simbolismo, esotrico. Tanto faz: so formas infinitas disso a que chamamosmagia porque ignoramos que se trata de cincia, de histria; de possibilidades aindadesconhecidas pelo crebro humano.

    Lembro-me que h uns anos, durante as festas anuais de Santo Domingo daCalzada, na provncia de Logrofto, estranhei a presena na aldeia de um ser que naaltura me parecia inslito. Juro solenemente que no exagero na sua descrio.Tratava-se de um velho de idade impossvel de calcular. Ia vestido com uma samarra

    coberta, na parte da frente, com medalhas piedosas e talisms menos piedosos. Eraquase totalmente calvo e a sua barba muito branca, com a de um velho dos contosde fadas misturava-se com as medalhas que lhe pendiam do peito, tilintando a cadapasso como se fosse cheio de campainhas. Era velho, j o disse, mas andava com umrapaz de vinte anos; no falava com ningum e limitava-se a assistir, como um devotomais mas mais devoto que todos os outros devotos juntos aos atos religiosos ouprofanos que se celebraram naqueles dias.

    Alguns daqueles atos eram comidas votivas, e pude observar a sua presenatambm ali, fazendo honras devotas e comendo bastante mais que qualquer outro dosassistentes.

    Numa daquelas tardes encontrei-o sozinho, sentado no banco de pedra de umaermida que h perto da aldeia, junto da estrada de Haro. Aproximei-me dele, ofereci-lhetabaco que ele no aceitou, mas pudemos falar, por fim. Confessou-me que no sabiaa sua prpria idade, mas que julgava que j passava dos oitenta; que no tinharesidncia fixa, que deambulava de terra em terra, pela meseta e pelas serras,atravessando Castela ao som das festas ou pela necessidade que dele pudessem teras terras e as aldeias.

    Porque tinha um ofcio: era nuveiro afasto as grandes nuvens, sabe? disse-me, num tom que no estranharia na boca do Arcipreste.

    No tive ocasio de comprovar a sua eficcia como nuveiro, mas pessoas daquelaterra, de Santo Domingo, com as quais falei dele, asseguraram-me que aquele velho

    era capaz de deter as pedriscas, valendo-se de oraes que ningum mais conhecia.Naturalmente, o velho tambm no quis recitar-me gratuitamente aquelas oraes, masacredito que, ainda no caso improvvel de que me tivesse proporcionado aoportunidade de aprend-las, dificilmente eu me converteria em nuveiro como ele.

    Porque tenho a certeza de que se algum nuveiro por exemplo a suacapacidade para desfazer trovoadas estar mais nas suas prprias possibilidadesmentais que nas oraes maisou menos esotricas que seja capaz de decorar. E tudoisto mesmo que o presumvel fazedor de prodgios seja um firme crente da sua prpriagraa atravs do significado oculto de determinadas palavras.

    Os indcios de tais fenmenos que continuaremos a chamar mgicos, porque notemos possibilidades de defini-los mais racionalmente encontram-se por toda a

    Pennsula. Esto patentes em toponmias de origem duvidosa; em prticos de igrejas;em lendas de santos que nunca existiram; em stos de velhos castelos, que guardampassagens secretas com tesouros que ningum viu mas de que todos falam; em

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    dlmenes perdidos nas serranias; em petroglifos de significado desconhecido; emdesertos nos que, por qualquer razo determinada, se refugiaram anacoretasmilagrosas; em festas, ancestrais de significado desconhecido; nalgumas dezenas denuveiros de curandeiros, de charlates, de feiticeiros, de adivinhos que ainda andampor terras esquecidas, ou que do consultas com grandes lucros nalgum bairroperifrico de qualquer cidade de provncia, com o consenso ou a admirao veladas

    dos vizinhos e das autoridades, ou escondendo-se da ao da polcia que,possivelmente, seria incapaz de compreender as suas razes se insistisse em exerceras suas aes legais com o cdigo penal na mo.

    Mas ainda h mais qualquer coisa. Qualquer coisa que faz com que o aparecimentode tais indcios se torne inquietante: o fato de que vistos em conjunto, todos estesfenmenos ou grande parte deles, porque seria impossvel separ-los todos ,apreciados nas suas relaes mticas, avaliados, comparados e fixados no tempo e noespao, deixam de ser manifestaes isoladas de fenmenos mais ou menosinexplicveis ou demonstraes esotricas individualizadas da arte antiga ou moderna.H uma relao causa-efeito, uma conexo que leva ao convencimento de que, a partirde um determinado momento da histria um momento que est para alm de uma

    qualquer data fixada de antemo e em lugares bem definidos, produziram-se certosfatos cujo efeito chega at aos nossos dias e que abarcam com a sua influncia todo oimenso campo humanstico em que se inserem, sem possibilidades de determinar osseus limites exatos, o histrico, o etnolgico, o fenmeno religioso ortodoxo e oheterodoxo, o sociolgico, o folclrico, o artstico... e inclusive a manifestao poltica.

    Poderemos ver, por exemplo, como um campo de dlmenes est estreitamenteligado a uma lenda e a um costume ancestral que aparentemente nada tem a ver comela.

    A lenda ir por seu lado ligada aos efeitos-milagrosos de uma fonte prxima, ligada adorao de um hipottico Santo de nome mitolgico. Nas proximidadesencontraremos talvez um convento beneditino ou franciscano, junto de uma comarcavincola na que subsistiro tradies ligadas aos ritos misteriosos de pocas pagas ena que, num determinado momento da histria, se produziu um movimento especficolibertrio ou uma heresia singular condenada fogueira e desacreditada pelo tribunaldo Santo Oficio.

    No so fatos casualmente ligados a determinados lugares. Isso poderia aconteceruma vez, mas no da maneira sistemtica como se produz. Os indcios agrupam-se,entrelaam-se e obrigam-nos a consider-los seriamente, sem lugar para dvidas,como partes desconexas de uma realidade desconhecida, ou pelo menos noreconhecida, que representa com a sua presena a essncia do nosso passado... e donosso presente.

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    ELOS PARA UMA CADEIA

    Muitas vezes, a relao entre fatos que nada tm entre si, pelo menos

    aparentemente, surge por acaso. Tambm por acaso, um dia dei o primeiro passo pelolabirinto de um mundo que no est explicado nos livros da histria, mas que existe,latente, na nvoa de um passado que nos querem apresentar como difano e que estmuito longe de s-lo. Este passo no o dei com uma inteno pr-concebida.

    Foi a curiosidade o que me levou direito surpresa e, a partir dela, convico pelaqual, desde ento, me tenho certificado cada dia com provas que parecem surgir dospontos mais inesperados. Era o primeiro elo de uma cadeia que se prolongava emambos os sentidos, at ao presente e num passado perdido na mais profundaignorncia.

    Aconteceu (sim, quero cont-lo neste caso tal como foi, ainda que, de um modogeral, sinta apreenso pelos processos na primeira pessoa) que em determinado

    momento desejei conhecer alguma coisa acerca dos movimentos peninsulares daordem dos Templrios. A minha primeira surpresa ficou a dever-se quase nulabibliografia que existe no nosso pais sobre os templrios: um estudo incompleto equase desconhecido .do sculo XVIII, escrito por Campomanes, alguns livros baseadosnos documentos conservados nos arquivos histricos, e algumas aluses escassssimas nos livros de histria mais minuciosos.

    Contudo, desde que a ordem dos Templrios se estabeleceu em territriopeninsular, pouco depois da sua fundao em 1118, at que o concilio de Vienne acondenou definitivamente em 1312, os cavaleiros templrios foram, de fato, elementosfundamentais na poltica e na prpria vida dos reinos hispnicos, e a sua influnciamanteve-se at muito depois do seu desaparecimento. Vejamos alguns fatos quetornaro ainda mais inslito o silncio dos historiadores.

    Pouco depois de fundada a Ordem, e mesmo antes de serem aprovadas assuasnormas no concilio de Troyes (1128), o reino de Portugal, que comeava ento a terpersonalidade poltica prpria, acolhia-os no seu territrio e concedia-lhes terras parabailias e comendas.

    Em 1134 apenas seis anos depois do reconhecimento oficial dos templrios edas normas que para eles preparara Bernardo de Claraval Afonso I, o Batalhador,rei de Arago e Navarra, nomeia-os no seu testamento herdeiros dos seus reinos, coma condio de compartilharem o governo com as ordens mais antigas do Hospital e doSanto Sepulcro.

    S a reao imediata dos nobres aragoneses e navarros permitiu que essetestamento no se chegasse a cumprir. Mesmo assim, os templrios cederam os seusdireitos em troca do seu estabelecimento definitivo nos dois reinos. Convm aindaesclarecer o seguinte: o reino de Arago foi entregue pela nobreza precisamente aRamiro II, a quem chamaram o Monge, porque, at ao momento de ser proclamado rei,foi frade num convento beneditino, e no se pode esquecer que nessa altura o maisqualificado representante da ordem beneditina reformada era Bernardo de Claraval,artfice da reforma cistercense e aparentado com dois dos fundadores dos Templrios,para cuja ordem mandou escrever o Regulamento que tinha sido aprovado no conciliode Troyes. 2

    Os monges templrios, estabelecidos com toda a sua fora poltica e militar em

    Arago e na Catalunha, foram em grande parte os rbitros da Reconquistaempreendida pelos seus reis at 1312, e provavelmente influenciaram de mododecisivo esse fenmeno histrico que se chamou expanso mediterrnica da coroa de

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    Arago. O mais popular daqueles reis se no o mais ilustre , Jaime I, foi durantedois anos da sua infncia pupilo dos templrios do castelo de Monzn que, sem dvidaalguma, influenciaram de modo decisivo a sua poltica de expanso territorial.Posteriormente, a Ordem dos Templrios, atravs dos seus representantes nas Cortes,influiria definitivamente na poltica catal-aragonesa.

    Se levarmos em conta alguns fatos que apenas passaram por ser meros

    pormenores aparentes, comprovaremos que, por exemplo, os templrios pensavam jem fixar-se na ilha de Mallorca cem anos antes da sua conquista, porque o nome destailha aparecia j na diviso das provncias templrias fixada pelo primeiro Superior deFrana, Payen de Montdinier, em 1130, por incumbncia do Primeiro Grande Mestre efundador da ordem, Hugues de Payns.

    Se provarmos e t-mo-lo como certo que no seu estabelecimento nos reinosde Leo, Portugal e Castela, os templrios seguiram uma poltica paralela, chegaremosa concluso de que a idia de um estabelecimento em determinados lugares daPennsula Ibrica era um fim para o qual apontavam, praticamente, desde o momentoda sua fundao. Nas suas intervenes junto dos monarcas pediam e obtinham,como podemos comprovar possesses muito especficas que lhes eram prometidas

    quando os territrios ainda no tinham sido conquistados aos muulmanos. E, seestudarmos um pouco a fundo estes territrios solicitados pelos templrios, veremossem grande dificuldade que a escolha dos monges brancos no era baseada em finsestratgicos nem na maioria das vezes em interesses econmicos diretos. Porque que pediam precisamente aquelas terras, que eles no podiam conhecerdiretamente visto estarem na possa do Islo?

    A repetio destas circunstncias tornaria mais apaixonante o aprofundar do estudoda ordem dos templrios na Pennsula. Havia ainda outros pontos que despertavam acuriosidade: em primeiro lugar o j mencionado silncio dos historiadores sobre estesfatos e o trabalho geral dos templrios. Apenas algumas referncias, umas aluses queparecem querer tirar significado sua verdadeira importncia em benefcio das outrasordens militares exclusivamente ibricas, mas nascidas ao abrigo e inclusive comoreao nacionalista da todo poderosa ordem multinacional dos Templrios. Maisainda: o fato incontestvel de que, enquanto em Frana, seu pas de origem, a ordemfoi brutalmente destruda; queimados publicamente os seus mximos representantes eperseguidos, presos e mortos a maior parte dos seus membros, nos reinos daPennsula tudo se resumiu a uns processos quase circunstanciais em Salamanca eTarragona uma discreta dissoluo da ordem, cumprindo o mandato de Roma, e aquase imediata incorporao dos seus cavaleiros em novas ordens criadaspraticamente para eles a ordem de Cristo em Portugal, a de Montesa na Coroa deArago ou, com prerrogativas e cargos, s ordens j existentes de Santiago,

    Alcntara e, sobretudo Cala-trava.Procurei por donde pude, acumulei todos os dados que me chegaram s mos e,com todas as referncias obtidas marquei sobre um mapa mudo da Pennsula todos oslugares que, pelas referncias obtidas, tinham relao com os templrios. Aspossesses templrias espalhavam-se por todo o norte e ocidente da Pennsula,chegavam pelo lado do sudoeste aos limites das atuais provncias de Huelva e Sevilhae, pela costa oriental, chegavam at enclave murciano de Caravaca. Alm disso, apartir do centro de Arago, as cruzes templrias deslocavam-se em direo nascentedo Douro, at alcanar o corao da terra Soriana.

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    Figura 1 rea mxima da influncia templria. As cruzes assinalam aspossesses mais importantes

    Umas cruzes sobre o mapa era tudo, por agora. Mas, porqu cruzes precisamentenaqueles lugares?

    A comparao quase casual com outro mapa deu-me a resposta. Era a respostaque, naquele momento, apenas significava um pouco mais que uma constatao poucoexplicvel; mas era impossvel consider-la como casual: os templrios peninsularestinham-se expandido precisamente por toda a rea da cultura megaltica pr-histrica.E por aquelas comarcas de onde se encontrava o testemunho mais importante dacultura do vaso campaniforme.

    Para alm de explicaes circunstanciais que podemos obter dos arquelogos, acultura megaltica a manifestao religiosa cultural mais estranha e inexplicvel detoda a pr-histria. Expande-se por zonas bem determinadas da Terra ao longo dos

    sculos obscuros, prolongando-se no passado at Idade da Pedra Lascada se me permitido usar ainda este nome , projetando-se em plena poca do Bronze. Osignificado dos monumentos megalticos menhires, dlmenes, cromlechs,alinhamentos ou pedras oscilantes, plataformas e tmulos, navetas ou monumentos emT suscita uma quantidade de perguntas que no tm uma resposta racionalsinceramente vlida. Diz-se, por.exemplo, um exemplo entre muitos que se tratana sua maioria de monumentos funerrios ou comemorativos. O fato que debaixo demuitos dlmenes foram encontradas sepulturas. Mas se tomarmos em consideraoque na maioria dos casos essas sepulturas se referem a datas muito diferentes, quevo ocasionalmente desde o neoltico at dominao visigtica, poderia pensar-se e com fortes razes que os dlmenes no eram sagrados por servirem de

    sepulturas, mas que pelo contrrio, as pessoas desejavam ser enterradas neles peloseu carter de monumento sagrado: de templo.Cavemos um pouco mais fundo. Demos crdito aos arquelogos que estudaram

    minuciosamente a cultura megaltica, e veremos como, por exemplo, Ferdinand Niel 4constata, comparando estruturas cranianas dos restos encontrados nas escavaesmegalticas que os homens que erigiram aqueles monumentos os que os utilizaram no correspondiam a um povo determinado. E acrescenta: como se uma espciede missionrios, portadores de uma idia e de uma tcnica, originrios de um centrodesconhecido, tivessem percorrido o mundo. A sua rota principal foram os mares.Estes propagandistas teriam estabelecido contato com determinadas tribos e no comoutras, o que poderia explicar as zonas claras nas que no aparecem megalitos... Isto

    explicaria tambm o como o porqu dos monumentos megalticos se sobreporem civilizao neoltica. Ter-se-ia tambm uma explicao de todas as lendas queatribuem a sua construo a seres sobrenaturais. Saber-se-ia igualmente como

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    homens'capazes de pr vertical' mente blocos de trezentas toneladas e de levantarblocos de pedra de cem mil quilos no nos tenham deixado mais vestgios do seusaber. Porque bem claro que estes missionrios limitaram-se a tentar convencer (e aensinar, diria eu) autctones a erigirem dlmenes e menhires.

    Mais adiante teremos oportunidade de voltar a este tema dos megalitos, maispormenorizadamente. Poderemos constatar ento, possivelmente, as razes pelas

    quais o povo, ainda nos nossos dias, lhes rende um culto incerto que transforma estesmonumentos misteriosos em pedras de Roldn ou em casas de fadas ou em covas demouros.

    Referir-nos-emos s tradies que atribuem a sua construo a anes ou agigantes, s supersties ainda vigentes que lhes atribuem virtudes curativas ou que osconvertem em esconderijos de tesouros fabulosos. Tradies que ocasionaram a tristeconseqncia, repetida at saciedade, de que muitos destes monumentos tivessemsido j profanados pelo povo quando os estudiosos chegaram para iniciar o seu estudo.

    Mas por agora vamos contentar-nos com a constatao, j mencionada atrs deque os Monges Guerreiros da ordem

    Fig. 2 Espao peninsular de expanso megaltica. Os sinais indicam a mximaconcentrao de megalitos

    Templria, aqueles que possuam, no dizer dos seus detratores, o fabulosoBaphomet ou cabea falante, aqueles que se tinham tornado os nicos guardas doTemplo do rei Salomo, procuraram na Pennsula Ibrica o estabelecimento das suasconquistas na proximidade de zonas abundantes em monumentos megalticos e emjazigos pr-histricos... nos quais ainda hoje se encontram representaespaleogrficas que, ou que ainda no foram decifradas, ou se lhes negou,simplesmente, toda a possibilidade de representar ideogramas ou sinais escritos.

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    Fig. 3 Expanso primria da cultura do vaso campaniforme

    E quando aconteceu tudo isto? Precisamente em tempos e refiro-me aos anoscompreendidos entre o primeiro quartel do sculo XII e o princpio do sculo XIV emque no s as cincias arqueolgicas eram uma coisa inexistente pelo quedificilmente se poderia ter obtido uma referncia documental sobre determinadosmonumentos ou sobre jazigos especficos , como tambm boa parte de tais enclavesse encontravam em territrios ocupados pelos muulmanos quando os templrios ossolicitavam como futuras possesses e se comprometiam formalmente a colaborar nasua reconquista.

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    OS NCLEOS MGICOS

    Aqueles lugares ou as suas imediaes deviam conter algo que atraia por

    algum motivo a ateno dos templrios. Aqueles lugares, alm disso, eram do seuconhecimento atravs de Informaes cujas fontes esto, nos nossos dias, totalmenteperdidas.

    Em qualquer caso, aqueles enclaves constituram, para mim, a partir daquelacoincidncia que no podia s-lo, centros de ateno nos que merecia a pena deter-se,para estud-los e descobrir qualquer fator novo ou inslito que contivessem.

    Em primeiro lugar, deveria ter-se bem presente a misso, digamos oficial, que tinhasido confiada aos templrios; assegurar a vigilncia dos caminhos para os lugaressantos, guardar o Templo de Salomo, custodiar as cisternas defender os peregrinosdo assdio dos muulmanos. Deixemos de lado, por agora, a possvel existncia deuma interpretao esotrica de tais misses.

    Muitas vezes h uma diferena substancial entre as palavras e os seus maisprofundos significados. Em qualquer caso, muito pouco tempo depois da sua criao,os fins oficiais dos templrios tinham sido j amplamente ultrapassados por funesque no estavam especificadas na sua regra: os monges guerreiros iam a caminho deconverter-se nos primeiros banqueiros da Idade Mdia. No que Pennsula Ibrica serefere e aos reinos em que ento estava dividida , a segurana do principalcaminho dos peregrinos, a Estrada de Santiago, estava j firmemente assegurada peladistncia a que estava dos territrios que ainda se mantinham sob o poder maometano.Na verdade, a Pennsula tinha j assegurada uma poca em que as rotas deperegrinao deviam ser vigiadas. Mas o sentido final que guiou tanto as Cruzadascomo as ordens militares nascidas sua sombra continuava vigente: era o desejo doPoder Total, de procura da poder e de luta para mant-lo inclinado sobre duasvertentes paralelas que seguiam uma via histrica comum sem se chocarem; pelomenos aparentemente: de um lado o poder comercial e do outro o poder religioso. Osdois poderes, mesmo sem se chocarem nos seus respectivos interesses, convergiamnum vrtice dos seus planos paralelos com outro poder que, de certo modo, oshomologava: o poder poltico. Porque a fora econmica tendia, em ltima anlise, paraesse poder tal como continua a acontecer nos nossos dias , e a fora religiosaconfirmava-o, conferindo-lhe a aurola de espiritualidade superior de que todo o podernecessita para sentir-se assegurado.

    Seria necessrio recordar como a fora religiosa, ao longo da histria das crenas

    tem estado sempre na posse de uns Iniciados. Que esses iniciados possuam ouconvenceram os outros de que possuam aqueles segredos espirituais, esotricos einclusive paranormais que lhes permitiam uma efetiva ascendncia sobre todos oscrentes.

    Eles os iniciados, qualquer que tenha sido o seu credo proclamavam-sesbios em relao a todos os outros e definiam o seu saber, a sua cincia, os seuspoderes, como mistrios que no devem ser revelados perante a plebe. Por seu lado,essa plebe obrigada a acatar os poderes dos iniciados e, aceitando-os humildemente,dependem deles em todas as decises e rumos vitais que possam ser tomados para acomunidade.

    Ao mesmo tempo, dentro de um mesmo credo religioso, encontram-se muitas vezes

    grupos de iniciados pretendendo, sua maneira, ser os autnticos usufruturios ouinvestigadores dos mistrios primitivos, perante os poderes religiosos oficiais que ostinham tergiversado com o tempo. Poderamos encontrar exemplos destas divises ao

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    longo de toda a histria das religies, desde os Orphanoi dos cultos dionisacos atfatimitas do credo maometano. E, se aprofundarmos no passado histrico cultural docristianismo como o iremos fazer ao longo destas pginas no nos ser difcildetectar sinais evidentes, se bem que desapercebidos, de iniciaes esotricas emordens religiosas que, apesar de tudo, souberam manter-se dentro dos estritoscnones do dogma oficial. Estou a referir-me, entre outros casos particulares, ordem

    beneditina, da que voltaremos a falar e que, atravs da sua evoluo histrica, lutoupelo poder absoluto dentro da Igreja Catlica, ainda que custa de umas peridicasadaptaes das suas regras e de uma continua correo de caminhos Inoperantes.

    Da efetividade desse poder em determinados momentos histricos dar-nos- umaidia o fato de que, durante a poca em que os beneditinos viveram sob a reformacluniacense (910 a 1124), tiveram na Europa trs mil mosteiros sob as suas normas equatro papas da ordem ocuparam o trono romano.

    Pois bem, a decadncia de Cluny seguiu-se a reforma de Cister, que transmitiu umnovo brio ao mesmo tempo que uma transformao radical de rumo que afetaria ata histria da arte ordem beneditina.

    E no esqueamos, uma vez mais, que Bernando de Claraval foi o principal

    promotor dessa reforma, ao mesmo tempo que era, de fato, o autntico inspirador daordem dos Templrios, qual o ligavam ideais polticos religiosos e laos familiares.

    Seja como for, margem de observaes que iremos desenvolvendo, interessaagora perceber como os cistercienses e, ao mesmo tempo, tambm os seus filhosespirituais e o seu brao armado, os templrios, procuravam muitos dos seusconhecimentos primrios em crenas religiosas que eram muito anteriores aocristianismo e que, logicamente, estavam condenadas pelo poder eclesistico. Devidoa essa procura, os beneditinos conseguiram guardar para a posteridade emMontecassino principalmente, a casa-me da ordem textos de Plato, de Aristteles,de Pitgoras e dos filsofos helenistas de Alexandria, por exemplo, numa poca emque tais textos, normalmente, teriam sido atirados, com absoluta e total segurana, schamas purificadoras.

    Devido tambm a esta procura, durante a evangelizao das Glias pelo beneditinocelta So Columbano, haviam-se conservado e inclusive fomentado os lugaressagrados dos mestres druidas. Seria, pois, adiantar-nos muito se afirmssemos agoraque tambm na Pennsula, tanto os templrios como os seus companheiros iniciticos,os padres beneditinos procuraram fixar-se precisamente naqueles enclaves onde, deum ou de outro modo, se mantinha a vivncia ancestral de crenas remotas e de cultosesquecidos, perseguidos oficialmente?

    Confirmada a presena templria e beneditina em determinados pontos do territriopeninsular, continuei a procurar o que haveria realmente naqueles lugares para alm

    das j referidas manifestaes megalticas ou pr-histricas que tivesse provocado odesejo ou a necessidade de estabelecer-se precisamente ali e no em qualquer outrolugar, talvez mais frtil e menos agreste. Pouco a pouco, esses lugares foramrevelando a sua natureza e, em alguns casos, os seus prprios segredos.Efetivamente, no eram comarcas escolhidas por acaso, mas sim pontos chave nosque se mantinha a recordao e em muitos casos a presena escondida decultos ancestrais e de uma forma de vida de certo modo superior, mantida sob a formade indcios ou de smbolos desde tempos indubitavelmente anteriores prpria entradana Pennsula dos povos invasores conhecidos da proto-histria.

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    Fig. 4-Localizaes templrias mais meridionais da Pennsula e as zonas deconcentrao dolmnica e da cultura de El Argar

    Aqueles cultos, aquelas recordaes, aqueles indcios, estavam concentradosprecisamente ali e no em qualquer outro lugar. Manifestavam-se em lendas de origemincerta; em toponmias que rejeitam uma origem latina; em tradies de aparnciafantstica que se tm mantido desde pocas possivelmente muito remotas; emsmbolos vindos de tempos antigos e que se mantiveram at aos nossos dias ou queresistiram at pouco mais de uma centena de anos; em cultos a Santos cuja origemcrist bastante menos provvel que a posterior cristianizao circunstancial de umapersonagem ou de uma divindade do paganismo; em manifestaes folclricas que,transformadas pelo tempo e pelos credos, conservaram, de um modo ou 'de outro, oncleo primitivo da sua origem. Enfim, fatos, realidades, acontecimentos que, porqualquer causa bem determinada, acontecem" e aconteceram, ao longo da histria, ali,precisamente naqueles lugares e no em qualquer outro.

    Fig 5 6 As runas do castelo templrio do Aracena (Huelva e a gruta dasMaravilhas, tambm em Aracena. A gruta foi descoberta em 1916, prolonga-se pormais de trs quilmetros debaixo da terra, e precisamente a sala chamada A Catedralcoincide com o cruzeiro da igreja templria que se eleva na superfcie. A tradiopopular atribui aos templrios a construo de uma passagem secreta que foiencontrada, e que ligaria a Igreja gruta, na qual se celebrariam os ritos esotricos dosmonges guerreiros

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    Os cultos ancestrais encontram-se presentes at em fenmenos naturaisdivinizados, atravs dos tempos, por crenas populares. H montes sagrados, grutasmgicas, fontes milagrosas que ainda hoje so conhecidas pelas suas indubitveisvirtudes medicinais. H montes e vales donde as antigas divindades esquecidas setransformaram em bruxas e demnios por obra c graa de uma religio dominante e

    exclusivista.Cultos que se traduzem podemos senti-lo, v-lo a cada passo mesmo emculturas muito determinadas: a videira, sobretudo. Gostaria de frisar que no meparece coincidncia fontica a semelhana do vocbulo culto com o som cultivo, postoque, na remota origem da agricultura e para alm do restrito significado das palavras edas suas razes primitivas, as culturas foram autnticos processos de culto, no que ascrenas religiosas e as prticas de determinados ritos formavam parte integrante efundamental do desenvolvimento e o fim ltimo do produto cultivado.

    A grande quantidade de indcios encontrados nas zonas dos templrios depoisconstataria como tais indcios se concentravam tambm em lugares que os templriosnunca chegaram a dominar obrigou-me, numa fase imediata, a assinalar sobre a

    superfcie peninsular uma srie de pequenas comarcas nas que uma especialabundncia de indcios apontava para a existncia de possveis centros de expansomgico-religiosa muito concretos.

    Desse modo surgiram os que resolvi chamar e no sei se outro nome teria tido amesma validez, mas este serve-me para que nos entendamos os ncleos mgicoshispanos.

    Os indcios, misturados, acumulados muitas vezes sem uma lgica aparente nestescentros de expanso, adquirem valor testemunhal.

    Testemunho tanto mais vlido para ns enquanto, como tais, se transformam emsmbolos de uma tradio religiosa pura, bem distante temporalmente da criao dasque poderamos chamar, como as denomina Olivier Reigbeder as religiesorganizadas, que correspondem a momentos de debilidade do pensamento simblicoe, ao mesmo tempo, a uma eventual atribuio da revelao a seres humanos queencarnariam de um ou de outro modo o Ser Divino. Os smbolos ou os indciossimblicos explicar-se-iam pelo labor ancestral de uma ignorncia coletivagovernada por arqutipos que sobrevivem atravs de milnios desde civilizaespossivelmente ignoradas que tiveram que conhecer as fontes'primrias e fundamentaisde todo o conhecimento. Que esse conhecimento fosse emprico ou tecnolgico oque iremos vendo l mais para diante.

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    Fig. 7 No multo longe do ltimo reduto templrio da Andaluzia Villalba dei Alcor,est o dlmen de Soto, um dos templos megalticos mais Impressionantes daPennsula

    Agora interessa-nos, fundamentalmente, a existncia, remota de um saber.Quanto aos indcios, quando os encontramos baseados nos ncleos mgicos

    como advertiremos imediatamente , sentimos que umas vezes provm do prpriontimo do povo e so, ento, como que uma necessidade de exprimir de algum modoos arqutipos do inconsciente , que o homem leva consigo como parte substancial doseu prprio ser, como qualquer coisa que tem de ser exteriorizada por necessidadevital, como prova concludente do seu ser-homem. Outras vezes e no nos serdifcil distingui-los dos anteriores, mesmo sem explicaes prvias os indciosconstituiro como que insgnias simblicas de manifestaes gregrias, amostraspalpveis de separao, por vezes violenta, de uma elite de iniciados reais oupresumveis que com a utilizao desses smbolos, inclusive com aceitao firmedos seus significados, manifestaro esotericamente o seu afastamento voluntrio doresto da sociedade, a sua constituio numa clula parte, a sua condio de seressituados - pelo seu saber, pelos seus poderes, ou pelo simples conhecimento dosignificado dos seus smbolos a milhares de quilmetros acima da comunidade.

    Ter de distinguira tambm e no haver grandes dificuldades para fazer estadistino entre os indcios correspondentes ao que Mircea Eliade considera EspaoSagrado e os que poderiam englobar-se na sua denominao de Tempo Sagrado. Osprimeiros, em linhas gerais, esto presentes em monumentos e em lugares naturais, econservaram o seu significado tal e como quiseram transmiti-lo os que os edificaram,ou ocuparam, precisamente ali. Os segundos, trazidos atravs de ritos e de mitos, tm

    sofrido variaes do tempo e das geraes que os repetiram e transformaram. Neleshaver que procurar, sempre que possvel, a forma primitiva, o significado inicial, amais antiga razo da sua existncia e da sua permanncia. S ento poderemosestabelecer a correta relao de causas e efeitos, se bem que nem sempre nos sejapossvel e, ento teremos de aceitar suposies que, por mais realistas que possamparecer-nos, no tero a prova documental da sua verdadeira existncia.

    Por ltimo, haveria que estabelecer, nessa imensidade de indcios uma novadistino entre os que poderamos chamar exotricos isto , os que se referemdiretamente ao mito csmico ou religioso que representam e os esotricos que, porchamarem a ateno para um conhecimento superior no apenas religioso, mastambm cientfico podem ter maiores dificuldades para ser esclarecidos

    convenientemente.Apesar de tudo, as anteriores distines e divises dos indcios que se encontramnos ncleos mgicos peninsulares se entrelaam e, muitas vezes se confundem. Por

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    isso, numa tentativa para encontrar umas divises que clarifiquem sem interfernciasde significado e sem confuses ideolgicas que aparecero por si mesmas procurei dividir os indcios em quatro alneas:

    a) Os indcios de um passado desconhecido: so indcios que esto a, sem queningum tenha chegado a por-se de acordo no que respeita ao seu significado real ou

    sua origem certa, s suas funes e aos seus fins.b) Os indcios de uma lembrana incerta: esto feitos por homens e povos que ostestemunharam, mas que de uma forma ou de outra, tinham um conhecimento obscurodo seu passado que ns j perdemos. E expressaram-no a seu modo, com os seussentimentos e as suas obras.

    c) Os Indcios de uma pesquisa: uma pesquisa das fontes primitivas doconhecimento Total, levada a cabo por homens mais prximos de ns com o fim dedescobrir as razes da sua prpria realidade e as fontes de um saber Total que, talvez,pudesse recuperar-se.

    d) Os indcios de uma represso: realizada pelos que quiseram a todo o custoapagar a recordao anterior e o perigo de que a sua redescoberta pudesse acarretar asua prpria anulao.

    precisamente nessa altura que os pesquisadores - os exploradores do passado escondem tambm, quando inventam o seu prprio cdigo secreto, quando comeam aexpressar-se mediante uma simbologia esotrica, que tornam deliberada-menteindecifrvel, as suas pesquisas, a sua fraternidade marginada.

    Estudar detidamente as quatro alneas no trabalho de um, mas de muitos livros.Por isso, uma vez apontados, prefiro que a ateno do leitor no se disperse nemchegue, dentro do possvel, a perder-se.

    Neste livro limitar-nos-emos a estudar a estranha e inexplicvel brecha aberta notempo por um passado de que apenas nos ficaram testemunhos que nos permitamreconstru-lo.

    Limitaremos, pois, o nosso esforo comum de escrever aler, primeira das alneasque acabo de assinalar.

    Mais adiante teremos ocasio de incidir sobre as outras.

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    OS INDCIOS DE UM PASSADO DESCONHECIDO

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    A IDADE DE OURO

    Por volta de 1944, quando se publicou a edio castelhana do estudo de Braghinesobre a Atlntida o autor confessava que, por aquelas alturas, tinham-se publicadouns vinte e cinco mil livros e folhetos sobre o tema. Pela minha parte, sinto-me incapazde fazer um clculo nem sequer aproximado de quantos estudos se tero publicado apropsito do Continente Perdido desde aqueles anos at atualidade.

    Um leitor que tivesse a pacincia e o tempo de folhe-los todos ou apenas adcima parte deles encontrar-se-ia com duas constataes: a primeira, que asfontes para acreditar na' existncia da Atlntida ou para saber alguma coisa a seurespeito so sempre as mesmas. Plato, com as aluses s fontes de Slon nos seusdilogos Timeo e Critias; os paralelismos de crenas e construes entre as

    civilizaes supostamente ps-atlantes de ambos os lados do Oceano Atlntico; orelato de Teopompo...

    Segunda constatao que o leitor poderia fazer: o mosaico indefinido de teorias quecada investigador ou cada vidente, que existem aos montes desenvolvem parademonstrar a sua verdade. Desde o estabelecimento no continente atlante de uma raasuperior extraterrestre at existncia, na poca terciria, de uma civilizao humanasuper-tecnolgica que desapareceu vitimada pelo seu prprio progresso.

    O curioso, entre tantas divergncias e variadas opinies, o fato de que, se nadademonstra a realidade da Atlntida, nada se ope igualmente a que acreditemos nelase esse o nosso desejo ou a nossa convico. Por isso prescindiremos aqui pelomenos por agora de tomar uma posio, e muito menos discutir juntando maisum lado, ou recolhendo parte dos anteriores a existncia ou a inveno pura docontinente atlntico.

    Desejaria, dentro do possvel que pudssemos evitar as teses apriorsticas quedepois fossem indemonstrveis em ltima anlise.

    Isto no significa que v fugir controvrsia tomando uma posio ecltica, massim que tentarei caminhar por aqueles caminhos que possa defender.

    No posso jurar e desafio a quem quer que seja que o faa que a Atlntidaexistiu alguma vez. Apenas posso dizer, e isto com total segurana, que todas ascivilizaes, por mais prsperas e avanadas que tenham sido, mantiveram a tradiode uma poca melhor que a sua: uma Idade de Ouro habitada por homens o seu

    aspeto fsico pode variar que foram melhores e mais sbios que aqueles que osrelembram na sua obscura recordao. O Jardim de den e o Dilvio no sopatrimnio exclusivo da Bblia e do povo hebreu.

    Esses dois smbolos, com mais ou menos variantes, so evocados por todos ospovos da Terra, como lembrana inconsciente de um mundo melhor, situado emqualquer parte determinada, que se perdeu pela maldade dos seus habitantes no meiode um desastre de amplitudes csmicas.

    Jlio Caro Baroja encontrou o mito da Idade de Ouro em Vera de Bidasca, por voltados anos trinta, e acrescenta com razo que ainda pode encontrar-se nos nossos diasem comunidades rurais de toda a Pennsula. Pela nossa parte, poderamos acrescentarque todo o conto popular que fale dessa Jauja que sonhvamos quando meninos como

    sendo o lugar donde tudo possvel e abundante, est a referir-se diretamente Idadede Ouro de todas as civilizaes da Terra.Mas detenhamo-nos nessa Jauja por uns momentos. Donde dizem as histrias que

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    est? Procurando nas narraes populares chegaremos a uma localizaofantasmagrica que leva diretamente ao fato de que existe, mas que se encontraescondida nalguma parte que ningum podia alcanar, a no ser que contasse com aajuda de um elemento mgico.

    Jauja umas vezes uma cidade, porque muitas vezes se sobrepe a recordaoinconsciente da cidade estado de etapas posteriores da histria. Outras vezes um

    pas. Mas, cidade ou territrio, tem a sua localizao em lugares aparentementeinverossmeis: no fundo de uma gruta inacessvel, debaixo das guas do mar ou de umlago. Numa longnqua ilha a que se chega atravessando o mar. Ou no Cu, para almdas estrelas. Ou perto do Sol. As duas ltimas hipteses despertam diretamente alembrana inconsciente de seres civilizados vindos das estrelas.

    Os que situam o reino desconhecido sob as guas, rememoram sem sab-lo umsuposto desastre atlante, por vezes sob o prisma ingenuamente popular que tende aconverter todas as verdades csmicas em histrias ao alcance da sua mentalidade,muito mais simples e mais sincera, sem dvida que todos os complicadosestudos que pudessem ser feitos sobre o passado ou o destino do gnero humano.

    Em So Martin de Castanheda, perto do lago da Sanabria, conta-se uma lenda que

    D. Miguel de Unamuno tomou como base para o seu melhor relato: So Manuel Bom,mrtir. Contam em So Martin que, antigamente, existiu uma cidade importante nolugar onde agora est o lago. Chamava-se Valverde de Lucerna e a ela dizem quechegou um dia o prprio Deus Nosso Senhor vestido como um mendigo e pedindoesmola que todos lhe negaram, exceo de um justo. Continua a lenda que o BomDeus, agradecido, avisou o justo para que sasse da cidade coma sua famlia porquetoda ela iria desaparecer. Assim o fez o justo e, logo que abandonou Valverde com osseus, brotou gua das entranhas da terra e alagou a aldeia, afundando-a nasprofundezas que hoje ocupa no lago de Sanabria. Conforme escutamos esta lenda emPuebla, San Martin ou em Ribadelago, a concluso a de que aquele justo foi ofundador da terra em que ela contada. Mas estas diferenas tm em si muito poucaimportncia, porque o que verdadeiramente interessa a localizao exata e o nvelpopular de um mito csmico que est presente em todas as civilizaes. Um mitosituado aqui e j, porque a lenda de Sanabria desenrola-se com o testemunho nomenos mtico de que todos os anos, precisamente na noite de So Joo, voltam arepicar, atravs das guas do lago, os sinos da igreja da aldeia afundada.

    Fixemo-nos num pormenor sobre o que voltaremos mais adiante: sempre que nosencontremos com o prottipo mtico da cidade perdida - chame-se Atlntida, Valverdede Lucerna, Posseidnis ou a terra do Prestes Joo , encontrar-nos-emos, tambmcom a figura do justo ou com a do Mestre.

    Fig. 8 O lago de Sanabria. Uma tradio atlante conta que no fundo das suasguas h uma cidade submersa pela iniqidade dos seus habitantes

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    Conforme seja um ou outro, criar uma nova aldeia depois do afundamento daantiga, ou ensinar aos homens o saber que se perdeu com o cataclismo.

    Mas voltemos Atlntida. De todos os testemunhos mais ou menos mticos oupretensamente histricos que convergem na hiptese da sua existncia, h um que sesobrepe a todos os outros e lhe d toda a dimenso trgica: o prprio fato da suadestruio, com as interrogaes que procuram explic-la: porqu? e como?

    O porqu do afundamento ou o desaparecimento do continente atlante umaresposta reservada aos mitos e aos Iniciados; mas uns e outros coincidiro,geralmente, na certeza de que o poder e a cincia dos atlantes os levou guerra, eque essa guerra trouxe consigo a destruio, por foras que eles prprios foramincapazes de controlar.

    No como, contudo, intervm j os cientficos ou os que pretendem dar umaexplicao cientfica aos fatos. E aqui, as teorias e as demonstraes multiplicam-se.Quase poderamos afirmar que h tantas destruies atlantes como livros sepublicaram sobre o desastre: desde a queda de uma lua no meio do continente -Hrbiger, Saurat -, at seqela de um cataclismo muito mais violento que deve ter-seproduzido no planeta Vnus - Caries e Granger - , passando pela deslocao

    voluntria do eixo terrestre - Poeson - 4 e pela mais divulgada teoria do desastrenuclear nas suas mais diferentes verses, defendidas por muitos autores. Chegaram aestabelecer-se inclusive, datas concretas, se bem que essas datas so quase todiferentes como os autores que as tentaram fixar.

    Recordemos como exemplo, a cronologia atlante estabelecida pela fundadora daSociedade Teosfica, a Sr.a Blavatski. Escolho esta cronologia como amostra demuitas outras que diferiram pouco dela.

    Pois bem, H.P.B. so as iniciais do seu nome, pelas que ainda referida, decerto modo isotermicamente, pelos seus seguidores refere que h uns oitocentos milanos se verificou o maior afundamento do Continente.

    Daquele afundamento ficaram imersas duas grandes ilhas: Rutha (as atuaisCanrias) e Daita (os Aores). H uns duzentos mil anos teria acontecido o segundoafundamento. Depois dele ficaria uma s ilha Poseidonis a mesma regio a que sereferia Plato unida a Gades Cdiz por uma cadeia de ilhas menores. Oafundamento definitivo de Poseidonis vereficar-se-ia uns dez mil anos antes da eracrist, e naquele desastre abrir-se-ia o Estreito de Gibraltar: as colunas de Hrcules.

    At aqui, as datas determinadas pelos tesofos. Mas, que indcios nos aproximamna Pennsula a esse continente misterioso e desaparecido? A maior parte deles eso muitos iro sendo revelados nestas pginas. Por agora, contudo, interessa-nosmais tomar em considerao alguns bens determinados que, de certo modo, justificame englobar todos os restantes; certos fatos que, alm disso, ficam bastante esbatidos

    pelos arquelogos que os descreveram e estudaram.Cerca de vinte e cinco mil anos antes de Cristo, os homens da raa denominada deCr-Magnon substituem os da raa muito mais atrasada de Neanderthal, cuja presenana Pennsula est testemunhada pelos restos encontrados em Gibraltar, em Bafiolasou na Cova Negra. Assim, num curto perodo curto em relao presena dohomem sobre a Terra , uma raa muito primitiva, de tosca habilidade e deinteligncia limitada, desaparece sem deixar rasto e surge, no seu lugar, um tipohumano, que , praticamente, igual ao que hoje ocupa e domina a Superfcie doPlaneta.

    E isso sem que a passagem do paleoltico inferior para o superior tenha significadoa descoberta, entre a grande quantidade de restos escavados, do elo que poderia

    justificar racionalmente a evoluo humana de um para o outro tipo. como se, de repente, a teoria evolucionista se quebrasse inexplicavelmente.Alguns historiadores sugerem a hiptese de que os homens do Cr-Magnon vieram da

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    sia; mas uma afirmao como essa, ainda que pudesse ser comprovada, nojustificaria a sua permanncia e praticamente a imediata desapario do homem dehbitos mais primitivos que o precedeu nos lugares que foi ocupar. Creio que melhorpensar numa permanncia que levou eliminao sistemtica e consciente dosespcimes da raa anterior por parte dos recm-chegados. Se fosse assim,poderamos encontrar-nos perante o primeiro progrom da histria humana.

    O novo Povo - o do Cr-Magnon traz inovaes culturais importantes.Substitui o primitivo .emprego de lascas por uma indstria da pedra polida em formade folha, que permite uma diversidade de instrumentos at ento desconhecidos,machados, pontas de flechas, arpes, facas. Alm disso, leva consigo o grmen deumas crenas religiosas que se traduzem em sepulturas e na 'utilizao das cavernasno s para habitao, mas tambm como centros de iniciao de magia totmica.Estes centros mgicos contm ainda, os restos de uma cultura artstica avanada naspinturas rupestres, que aliam o seu significado mgico a um considerveldesenvolvimento do sentido esttico e a certos enigmas sem resposta que unicamentecabe aflorar, se bem que nos neguemos a fazer suposies conseqentes.

    Este enigma, por exemplo. Quem tenha visitado as grutas de Altamira verificou que

    se fez um corredor que circunda a sala de pinturas para permitir que os visitantespossam contempl-la com comodidade. O cho primitivo desta sala estava altura doque hoje parece o tmulo central da mesma, e dista menos de um metro do teto daspinturas. Este fato confirma-nos que o pintor - ou os pintores que trabalharam nelase encontravam numa posio bastante incmoda para executar a sua obra; queaquela obra, portanto, no estava ali precisamente para ser contemplada; e, por ltimo,que devido s condies de profundidade e situao da sala, no entrava a luz solar eas pinturas no podiam efetuar-se s escuras, necessitaram de uma fonte de luz queiluminasse a superfcie sobre a qual se pintava e as salincias da rocha que serviampara delimitar os corpos dos animais pintados, dando-lhes um relevo natural.

    Contudo, se noutras partes da caverna se encontraram restos de fogachos com oconseqente enegrecimento pelo fumo das paredes e tetos; se a maneira lgica deiluminao fosse um archote aceso' ou vrios , d-se o caso mais que curioso deque a sala das pinturas de Altamira nunca teve resduos ou sinais de fumo nos tetos ounas paredes. Como que se iluminaram naquele interior totalmente escuro os artficesdo teto? Os arquelogos aceitam a possibilidade de lamparinas alimentadas com umagordura animal que deixariam muito menos marcas de fumo que a madeira. Contudo, lgico pensar que essa relativa falta de fumo poderia verificar-se em tetos altos, masnunca num teto to baixo como o da sala de pinturas de Altamira.

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    Fig. 9 Este cervo pintado as grutas do Monte Castilho, encontra-se num doslugares mais inacessveis da caverna. Para chegar at ele tm de se conhecer ossinais indicadores

    A meu ver, os homens da cultura de Cr-Magnon, possuidores da grande culturadas grutas Franco-Cantbricas conheciam se bem que no a possuam umacultura superior que se estava a desenvolver noutro lado, talvez no muito distante,naquela mesma altura.

    Uma cultura que, sendo apenas previsvel, produzia naqueles seres primitivos osentimento de superstio religiosa perante umas manifestaes s quais no podiamdar uma explicao vlida para o seu prprio meio cultural.

    Avancemos um pouco mais no tempo. Um pouco mais, em termos de pr-histria,pode significar uns tantos milhes de anos e no ser, apesar disso, um lapso dehistria intransponvel. Avancemos, ento, uns quinze mil anos e teremos chegado ao

    perodo que os pr-historiadores chamam mesoltico, e que corresponde aos milniosimediatamente posteriores e contemporneos da ltima glaciao denominada deWurm. Que est acontecendo ao clima da Europa Ocidental? Os gelos deslocam-serapidamente para o Norte e, com eles, desloca-se a fauna fria e surgem novasespcies vegetais prprias dos climas mais quentes.

    Contudo, a aparente benignidade do clima dessa Europa Ocidental, devidafundamentalmente, ao da corrente do Golfo do Mxico, apresenta um problema: se-essa corrente se criou precisamente nessa altura ou se, pelo contrrio, chegou ento,por um caminho que, at aqueles momentos, ter estado cortado por um obstculo quese interpunha no meio do oceano. Se tal obstculo existia teve que ser uma terra.

    Que estar acontecendo com o ser humano nessa mesma poca? Estamos no

    momento histrico que separa a longa era do paleoltico do neoltico que virimediatamente a seguir, caracterizado pelo trabalho sobre pedra polida, peloaparecimento das primeiras amostras de cermica e por grande quantidade de inslitosavanos que veremos em seguida. Mas o perodo mesoltico situado entre os novemil e os seis mil anos antes de Cristo uma poca estranha. Durante o mesoltico,perodo muito pobre em manifestaes culturais, perduram na regio atlntica, desde oSul do Tejo ao Bidasoa, uma srie de povos epipaleolticos, caracterizado por umgnero de vida humilde5.

    Isto afirma Jaime Vicens Vives. Por seu lado, M. H. Alimen e M. J. Steve falam domarasmo mesoltico como uma profunda divisria entre dois mundos totalmentediferentes.

    H uma modificao violenta nas condies climatricas que destri a relativaharmonia da existncia anterior dos povos caadores.

    Durante um tempo indeterminado, mas no superior a um par de milnios, os

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    habitantes do ocidente europeu sofrem uma terrvel regresso cultural.As suas manifestaes vitais so pobres, mais pobres do que nunca, e, se nos

    detemos a analis-las sem levar apenas em considerao as afirmaes daarqueologia tradicional, comprovaremos que so realmente trgicas.

    Na Pennsula Ibrica, nessa poca, aparece a chamada cultura asturiense, porque,dentro do territrio peninsular as suas manifestaes apareceram de preferncia em

    jazidas cantbricas da costa asturiana. Aos homens que ocuparam aqueles abrigoschamou-se-lhes comedores de conchas, porque se supe que a sua alimentaobsica era constituda por moluscos, devido aos montes de conchas que seencontraram entrada de certas cavernas. Manifestaes deste mesmo tipo enormes depsitos de conchas que sedimentavam a entrada de certas cavernas ou delugares habitados - encontraram-se ao longo das costas atlnticas, desde a Dinamarcaonde se lhes deu o nome hoje quase oficial de Kjkkenmddings, at s IlhasCanrias, onde ainda hoje normal encontrar, junto a lugares habitados outrora pelosGuanches, grandes extenses cobertas de conchas de lapas, muito maiores que asque existem na atualidade.

    Contudo, perante essa afirmao generalizada que declara que os homens destes

    lugares comedores de conchas, teramos de admitir que parece muito estranho paraaceit-lo, pelo menos nos termos em que se expressa a explicao arqueolgica. Emprimeiro lugar porque os homens seja qual for a poca em que viveram dificilmente se alimentariam quase exclusivamente de moluscos, por no seremsuficientemente abundantes nem ricos em substncias alimentcias de modo aconstituir uma dieta total. Em segundo lugar, porque me parece difcil de admitir queprecisamente nessa altura, e no antes nem depois, a entrada das cavernas se tivesseconvertido em vazadouro de resduos alimentcios.

    Ocorre-me uma explicao que, possivelmente, seja mais racional e mais lgica sebem que, em qualquer caso seria to difcil de verificar como a teoria oficial.

    Penso que as grutas, mais do que refgios habitveis, constituam naqueles tempostemplos, santurios ou centros de iniciao e ensino. Penso tambm que em pocasposteriores s cavernas - santurio foram freqentadas por peregrinos quedepositavam entrada as oferendas de que eram portadores.

    Recordemos os santurios ibricos de Jaen ou de Murcia, a gruta de Peal deBecerro, por exemplo, em cujo acesso se encontravam milhares de pequenas figurasde bronze que hoje, na sua maioria, esto depositadas em salas de vrios museusarqueolgicos espanhis. Ora bem, se isto acontecia uns milnios mais tarde, e sesabemos como teremos oportunidade de demonstrar mais frente que asconchas de certos moluscos a Vieira Galega, por exemplo - foram objeto de culto esmbolo inicitico para certas comunidades, existem bases para supor que os montes

    de conchas empilhadas entrada das cavernas asturianas e atlnticas pudessem sertambm oferendas populares depositadas ali por homens para os quais, precisamentenaqueles momentos cruciais, uma srie de acontecimentos desconhecidos e talvezaterradores provocaram, de uma maneira ou de outra, a exacerbao do sentimentoreligioso. Acontecimentos que tal como pode suceder aps um desastre geolgicoou blico a nvel planetrio provocaram, alm do mais, um considervel retrocessona natural continuidade evolutiva do homem.

    Se isto est correto, as grutas asturianas do Penical, da Riera, de Balmori e deLledias seriam, em vez de vazadouros, Santurios onde os homens do perodoepigravetiense suplicavam pelo fim de um caos cosmolgico que eram incapazes decompreender.

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    A VELHA HISTRIA DE NO

    Depois disse Yav a No: Entra na arca tu e toda a tua casa. pois apenas tu foste

    considerado justo nesta gerao (Gnesis, 7, 1)Dizamos anteriormente, comentando as variaes da lenda atlante do lago deSanabria, que as figuras do justo e do mestre vo sempre unidas ao mito universal daJauja desaparecida.

    J temos aqui essa figura, quase nas primeiras pginas das Escrituras Sagradas dopovo judeu.

    Tais mestres dos mitos, por vezes, vm ao encontro dos homens. Outras vezes soos homens que se deslocam em longas e difceis peregrinaes para procur-los. Emambos os casos, justos ou mestres, eventualmente elevados categoria de deusesnos mitos, ensinam aos. homens as fontes originais de todo o saber: a agricultura, adomesticao dos animais, a ai te da construo, a cincia de navegar.

    Mas, antes de chegar ao seu destino, os vrios Nos das mitologias, sob os maisdiversos se bem que em ocasies no to diferentes nomes, tiveram de recorrerum longo caminho escapando ao desastre que acabou com todos os seus.

    Na Grcia, No chamou-se Deucalin. Foi filho de Prometeo e, com sua esposaPirra, o nico homem salvo do dilvio enviado por Zeus para exterminar a raacorrompida.

    Numa nave construda sob a orientao do seu prprio pai, Deucalin e Pirranavegaram durante nove dias, at que a nave se deteve no alto do monte Parnaso. Oorculo de Temis augurou-lhes que seriam os regeneradores da raa humana e que,para isso, deveriam tapar as suas cabeas e deitar para trs deles os ossos de suame. Os nufragos interpretaram o orculo sua maneira e, concluindo que aquelame seria na realidade a me terra, deitaram pedras para trs de si. Das que deitouPirra nasceram deuses; das que deitou Deucalin, homens. A histria foi narrada porOvdio (Metamorfoses, 1, 260 e seguintes).

    Na ndia, o nufrago divino chama-se Man. O primeiro Man pois de acordocom a mitologia hindu houve mais catorze, personagens hericas e cabeas demanwatara 1 construiu uma nave para se livrar do dilvio ordenado por Brahma. Anave, acabado o dilvio, ficou tambm sobre um monte, enquanto as guasregressavam aos seus caudais. Este primeiro Man foi o pai do gnero humano,segundo o Rig Veda.

    O No das mitologias nrdicas chama-se Bergelmir. Conta o seu mito que os filhos

    de Br mataram Iotne Ymir, a personificao do deus original. Das suas feridas correutanto sangue que inundou o mundo e apenas um homem se salvou, Bergelmir,montado com sua esposa num odre de vinho, claro . Dele procede a raa doshrimthursars.

    No Mxico, No chamou-se Nala. No Peru, Viracocha. Na Prsia, Yima. Entre osCeltas, Dwifah. E entre os babilnios, Oanes. E Oanes aparece-nos j, claramente,como o mestre vindo-das-guas. Os babilnicos, devido s suas condies de vidanum territrio continental como aquele que habitavam, dificilmente poderiam ter-seconvertido em homens do mar. Apenas tinham uma sada estreita para o Eritreu.Contudo, chamavam ao mar A manso da sabedoria. E isto porque em temposremotos - remotos j para eles surgiu de Apsu (o vasto oceano) o homem-peixe

    Oanes, um ser de aparncia monstruosa e de inteligncia privilegiada, de corpoescamoso, com cabea humana e fortes braos. Todas as manhs, durante tempoindefinido, Oanes saa da gua e ensinava aos homens