Juizados Especiais Criminais II - 6º Sem

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    JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS

    1. Antecedentes

    Verifica-se no mundo todo, nos dias de hoje, uma preocupao grande com problemas decorrentes da ineficincia do sistema penal (abrangendo tanto o Direito como o Direito Processual Penal) para o combate crescente criminalidade.

    Aspecto importante dessa ineficincia a demora na reposta penal, por foruma justia penal anacrnica.

    Da a procura por alternativas, com destaque para o chamado direito pmnimo, ou seja, da idia de que o direito penal deve ser reservado somente para a pude fatos de maior gravidade, que atingem bens jurdicos de maior relevo para a sociedeixando-se fora de seus domnios aqueles fatos de menor importncia.

    Realmente, como observa Mrcio Franklin Nogueira, o ordenamento jurdispe de inmeras opes para fazer valer seus preceitos. H as sanes civiadministrativas e as criminais. Estas sanes, outrossim, devem ser aplicadas confomaior ou menor gravidade da conduta lesiva. A pena criminal, como se sabe, imsacrifcio e importantes restries aos direitos do autor do fato direitos, estes, respeito e garantia funo do Estado; conseqentemente, s se justifica tal sacrquando necessrio paz e conservao sociais, ou seja, prpria defesa dos diregarantias individuais, que constituem a base de todo regime democrtico1.

    Por fora desse princpio, desenvolve-se, no campo penal, uma moderna tenddescriminalizadora/despenalizadora no campo da criminalidade de pequena e mgravidade. Segundo Luiz Flvio Gomes, descriminalizar significa retirar o carter deilcito ou de ilcito penal do fato , e despenalizar adotar processos substitutivos oualternativos, de natureza penal ou processual, que visam, sem rejeitar o carter ilcito do

    fato, a dificultar, evitar, substituir ou restringir a aplicao da pena de priso ou sua

    execuo, ou, ainda, pelo menos, sua reduo 2.

    1 Transao Penal, Malheiros Editores, 2.003, p. 382 Suspenso Condicional do Processo, Saraiva, 2 ed., p. 111

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    Assim, quando o legislador deixa de considerar crime fato que anteriormente etipificado na lei penal (abolitio criminis), temos uma descriminalizao. Quanlegislador altera a lei penal, criando alternativas pena de priso, temos uma mdespenalizadora.

    A lei n. 9.099, que instituiu entre ns o Juizado Especial Criminal, se insere nconceito de medida despenalizadora, como veremos a seguir.

    2. A lei 9.099/95 e suas medidas despenalizadoras

    Com a edio da lei 9.099/95, salienta Mrcio Franklin Nogueira, o sist jurdico brasileiro abriu-se s posies e tendncias contemporneas por uma con

    efetivao da norma penal. Embora mantendo o princpio da legalidade como norsistema processual penal, abriu-se espao ao princpio da oportunidade e ao consenso3.

    Pode-se dizer que com a lei em questo passamos a ter dois tipos de juscriminal: a justia penal de consenso; a justia penal de conflito.

    preciso lembrar que nosso sistema processual penal consagra, como um de pilares, o princpio da obrigatoriedade. Segundo ele, o Ministrio Pblico, uma vez foa opinio delicti, obrigado a exercitar a ao penal. No pode deixar de faz-lrazes de convenincia ou oportunidade.

    Outros sistemas processuais penais, como o norte-americano, por exemconsagram o princpio inverso, ou seja, o princpio da oportunidade. O acusador pcomo regra geral, no est obrigado a dar incio ao penal, podendo deixar de faz-razes de oportunidade ou convenincia.

    Pois bem, como dito anteriormente, a lei 9.099/95 fez algumas concesse princpio da obrigatoriedade, como ocorre com a transao penal.

    Essa lei 9.099/95, alm de criar os Juizados Especiais Criminais, trouxe quimportantes medidas despenalizadoras: a) permite a composio civil, com extin punibilidade, quando se tratar de crimes de ao penal privada ou pblica dependerepresentao (art. 74, pargrafo nico); b) permite a transao penal, atravs da qu3 op. Cit., p. 113

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    aplica, desde logo, em havendo acordo entre Ministrio Pblico e autor do fato, restritiva de direitos ou multa; c) No crime de leso corporal leve, ou quando culpleso corporal, a ao penal deixa de ser pblica incondicionada para se transform pblica condicionada representao; d) permite a suspenso condicional do processo

    Como assinala Mrcio Franklin Nogueira, transparece clara a preocupaevitar os males do processo criminal, que tambm estigmatiza a pessoa, como ocorre pena criminal, como de reverter a onda de descrdito na Justia Criminal, dando-sresposta pronta, til e adequada pequena criminalidade, que, por ser dotada de mreprovabilidade social, merece tratamento diverso daquele dispensado criminalidamaior gravidade, com o estabelecimento de um procedimento sumarssimo4.

    3. Os Juizados Especiais Criminais

    3.1. Juizes togados e leigos

    O art. 60 da lei 9.099, em sua parte inicial, aponta a composio dos JuizEspeciais Criminais, aludindo a juizes togados e leigos. Mais adiante, no art. 73referncia aos conciliadores.

    Percebe-se, pois, que nos Juizados Especiais Criminais so admitidos tanto juleigos como conciliadores, tidos como auxiliares da justia.

    bom salientar, no entanto, que o juiz leigo e o conciliador atuam apenas cconciliadores, sem qualquer funo de julgar, e sempre sob a orientao de um juiz to

    Assim, somente o juiz togado, regularmente investido na funo jurisdicional, proferir julgamentos.

    Outrossim, como visto, o juiz leigo e o conciliador tm a mesma funo: conc

    as partes. A diferena entre ambos apenas de formao: os juizes leigos precisamadvogados com mais de cinco anos de experincia; conciliadores, de preferncia bacem Direito.

    4 op. Cit., p. 113

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    pargrafo nico do art. 2 da lei 10.259/01 derrogou aquele conceito constante 9.099/95.

    Essa a orientao professada por Mrcio Franklin Nogueira: Por fora dos princpios da igualdade e da proporcionalidade, no se pode deixar de ampliar aquele

    conceito de infrao de menor potencial ofensivo. Tais princpios representam uma

    limitao ao Poder Pblico, em especial ao Poder Legislativo, devendo nortear a

    elaborao das leis, que no se podem ressentir da falta de razoabilidade. Assim, a norma

    do art. 61 da lei 9.099/95 foi ab-rogada pelo art. 2, pargrafo nico, da lei 10.259/2001 6.

    Recentemente tivemos a soluo com a edio da lei n 11.313/2006 que alterartigo 61 que dispe ser competncia dos juizados especiais criminais o processame julgamento de todos os crimes e contraveno cuja pena no seja superior a 2 anos, oso consideradas infraes de menor potencial ofensivo todos os ilcitos cuja pena nsuperior a dois anos.

    3.4. Princpios que regem o processo perante o Juizado Especial Criminal

    O art. 62, ao se referir aos princpios da oralidade, informalidade, econo processual e celeridade, que devem orientar o processo, bem assim preocupao

    reparao dos danos sofridos pela vtima, e a aplicao de pena no privativa de liberest traando diretrizes e orientaes para serem seguidos na instituio dos JuizEspeciais Criminais. Est o legislador firmando ai a base desse novo modelo de jucriminal, e obedecendo diretriz constitucional, pois o art. 98, I, da Constituio Fealude a um procedimento oral e sumrio.

    Outrossim, alm desses princpio elencado no art. 62, h outros que tamb podem dizer especficos dos Juizados Especiais Criminais: princpio da legal

    mitigada; princpio da autonomia da vontade; princpio da desnecessidade da pena pride liberdade.

    3.4.1. A oralidade

    6 op. Cit., p. 154

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    Por fora desse princpio, os atos processuais, nos Juizados Especiais Crimidevem ser praticados oralmente, embora devam ser documentados de forma sucinta.

    3.4.2. A informalidade

    Esse princpio relaciona-se com a ausncia de preocupao com a forma dos processuais. Isso no significa, no entanto, ausncia total de formas. A regulamentaformas dos atos processuais uma garantia para as partes. O que no pode prevalecexcesso de formalismo.

    Veja-se que o art. 65 e seus estabelecem que os atos processuais preencherem as finalidades para os quais foram realizados no devem ser declarados

    A nulidade pressupe efetivo prejuzo. Por outro lado, somente os atos havidos essenciais sero objeto de registro escrito (art. 65, 3); a sentena no precisa ter rel(art. 81, 3).

    3.4.3. A economia processual

    Esse princpio se relaciona como mximo de resultado como o mnimo de enca o que ocorre, por exemplo, com a concentrao de atos processuais numa moportunidade (audincia unificada), e com a supresso do inqurito policial.

    3.4.4. A celeridade processual

    Intimamente relacionado com os outros princpios, busca a rpida soluo dos penais, mas sem comprometer a segurana.

    3.4.5. Princpio da legalidade mitigada

    Um dos caractersticos do novo sistema a mitigao do princpio da legalidAssim que, em casos excepcionais previstos em lei, e sob estrito controle judicial, p

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    Ministrio Pblico dispor da persecuo penal, propondo ao autor do fato medida alternativa, ao invs de dar incio a ao penal.

    O sistema da lei 9.099/95 no implicou na adoo do princpio da oportunidadsua forma pura. At porque a atuao do Ministrio Pblico est regulamentacontrolada judicialmente. A inteno do legislador que nos crimes de menor poteofensivo no se instaure o processo penal condenatrio, o processo penal clssicconflito. Na esteira de uma tendncia mundial.

    3.4.6.Princpio da autonomia da vontade

    Esse novo modelo de justia criminal funda-se essencialmente no consenso, s

    necessrio que o autor do fato renuncie quele processo penal clssico (de conflito) e a proposta do Ministrio Pblico de submeter-se a uma pena restritiva de direitos omulta, permitindo o encerramento do processo com a transao penal.

    Nisso consiste exatamente o princpio da autonomia da vontade: sem que o autfato consinta, no h soluo conciliatria.

    A lei 9099/95 privilegia a vontade do autor do fato, valorizando sua intenassumir as conseqncias do ilcito penal e remir o dbito social.

    3.4.7. Princpio da desnecessidade da pena privativa de liberdade

    Norte da lei 9099/95 a no imposio de pena privativa de liberdade. Veja-seo art. 62, em sua parte final, diz: objetivando, sempre que possvel, a reparao dos sofridos pela vtima e a aplicao de pena no privativa de liberdade.

    Nisso consiste o princpio da desnecessidade da pena privativa de liberdade, e

    tratando de infrao penal de menor potencial ofensivo.

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    3.5. A competncia e os atos processuais

    A competncia do Juizado ser determinada pelo lugar em que foi praticainfrao penal, diz o art. 63.

    Por outro lado, os atos processuais devem ser pblicos, podendo ser realizadnoite, e em qualquer dia da semana (art. 64)

    Como j se disse anteriormente, para a validade dos atos processuais imporque preencham as finalidades para os quais so realizados, no se decretando nulidadque tenha havido prejuzo (art. 65 e ).

    A citao deve ser pessoal, no prprio Juizado, quando possvel, ou por mand No h citao por edital, nem citao por carta precatria.

    No sendo encontrado o acusado para ser citado, o juiz encaminhar as pe juzo comum, onde prosseguir o feito.

    3.6. A fase preliminar

    Na sistemtica da lei 9099/95, a autoridade policial quando toma conhecimen prtica de infrao penal de menor potencial ofensivo deve lavrar termo circunstan(TC), encaminhando-o imediatamente ao Juizado (ou ao Juiz Criminal enquantoinstalado o Juizado), juntamente com o autor do fato e a vtima (art. 69).

    Somente a autoridade policial poder presidir a lavratura do auto de prisoflagrante.

    O pargrafo nico, art. 60 diz: Ao autor do fato que, aps a lavratura, do termimediatamente encaminhado ao Juizado ou assumir o compromisso de a ele compano se impor priso em flagrante, nem se exigir fiana . (grifo nosso). Como se percebe, em se tratando de infrao de menor potencial ofensivo no se h fala

    lavratura de auto de priso em flagrante, nem em fiana.Isso no significa impedimento ao ato de prender ou capturar quem esteja

    situao de flagrncia. A autoridade policial poder efetuar sim a priso exigindo a fse cabvel, caso o autor do fato no preste o compromisso de comparecimento. O qu

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    dispensa a documentao da priso em flagrante, a lavratura do auto de prisflagrante, que substitudo pelo auto circunstanciado7.

    A inteno do legislador quando da fiana a vinculao do autor do fat procedimento ou processo. O benefcio de responder ao processo em liberdade conento, um incentivo conferido pela lei ao autor, para que este comparece a todos os atJuizado.

    Em ocorrendo o descumprimento pelo autor, de comparecimento a todos os poder ter decretada a sua priso preventiva decretada, se presente todos os requisitoarts. 312 e 313, incisos II e III, do Cdigo de Processo Penal.

    Conforme ensina Jlio Fabrini Mirabete a dispensa da lavratura do auto de p

    em flagrante um direito pblico subjetivo, que no se pode recusar ao autor do fato,que detido em flagrante delito. H, em verdade, uma suspenso dos efeitos da prisflagrante, com implcita concesso de liberdade provisria sem fiana.8

    No entanto, bom considerar que o pargrafo nico do art. 69 estabelece quaoautor do fato que, aps a lavratura do termo, for imediatamente encaminhado ao juizado

    ou assumir o compromisso de a ele comparecer, no se impor priso em flagrante, nem

    se exigir fiana. Em caso de violncia domstica, o juiz poder determinar, como medida

    de cautela, seu afastamento do lar, domiclio ou local de convivncia com a vtima .Esse pargrafo nico teve sua redao alterada pela lei n. 10.455/02, que cui

    violncia domstica.

    O termo circunstanciado deve conter outros elementos alm daqueles prprio boletim de ocorrncia, pois servir para a conciliao, para a transao e at eventual para denncia.

    Comparecendo o autor do fato e a vtima (juntamente com o termo circunstanci

    duas podero ser as situaes: a) realizao, desde logo, da audincia; b) designao d prxima para a realizao da audincia, saindo autor do fato e vtima devidamente cie

    7 cf. Mrcio Franklin Nogueira, op. Cit., p. 1758 Mirabete, Julio Fabrini, JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS: COMENTRIOS,JURISPRUDNCIA, LEGISLAO 3 ed.- So Paulo:Atlas, 1998.

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    Se as partes no comparecerem, chegando ao juiz apenas o termo circunstanciaSecretaria do Juizado deve providenciar a intimao das partes (art. 71).

    3.7. A audincia preliminar

    Estando presentes o Promotor de Justia, o autor do fato, a vtima e, se possvresponsvel civil, o juiz deve esclarecer as partes sobre a possibilidade de composidanos e da aceitao, pelo autor do fato, da proposta de aplicao imediata de restritiva de direitos ou multa.

    A conciliao poder ser conduzida pelo prprio juiz, ou por conciliador soborientao.

    Se o autor do fato concordar em ressarcir os danos suportados pela vtima, o acser reduzido a escrito, e homologado pelo juiz (togado), mediante sentena irrecorque ter eficcia de ttulo executivo no cvel.

    Se o crime for de ao penal privada, ou de ao penal pblica dependentrepresentao, o acordo devidamente homologado implica em renncia ao direito de qou representao.

    No sendo possvel a conciliao, ainda na hiptese de se tratar de ao p pblica dependente de representao, ser dada oportunidade ao ofendido de represeverbal, que ser reduzida a termo. Mas o no oferecimento de representao, pelo ofennesse momento processual, no implica em decadncia do direito, que poder ser exeno prazo previsto em lei.

    3.7. A transao penal

    preciso salientar, de incio, o importantssimo papel do juiz criminal pasucesso desse novo modelo de justia criminal consensuada. Sem prejulgar o caso, deve funcionar como um autntico conciliador, procurando compor as partes. dialogar com as partes, permitindo amplo debate entre elas a respeito do acordo civitransao penal. Deve empenhar-se com afinco para obter a composio entre as parte

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    No sendo possvel o acordo civil, ofertadas a representao (na ao penal pcondicionada) ou a queixa (na ao penal privada), ou em se tratando de ao penal pincondicionada, passa-se segunda fase da audincia, a da transao penal.

    Assim, no sendo caso de arquivamento do TC, o Ministrio Pblico poder pra aplicao de pena restritiva de direitos ou de multa (art. 76).

    Discute-se quanto a se tratar de faculdade ou dever do Ministrio Pblicoferecimento da transao penal.

    Uma corrente sustenta tratar-se de ato discricionrio do Ministrio Pblico, a qcompete analisar a convenincia de propor ou no a aplicao da pena restritiva de dou de multa.

    Tem prevalecido, no entanto, tanto na doutrina como na jurisprudncia, a poscontrria, ou seja, o Ministrio Pblico, uma vez presentes os requisitos legais, nodeixar de apresentar aquela proposta.

    H decises, inclusive, admitindo que o juiz, na omisso do Ministrio Pbapresente a proposta de transao penal ao autor do fato.

    A proposta de transao penal deve limitar-se s penas restritivas de direitomulta, e deve ser clara, precisa, de forma a permitir que o autor do fato e ao seu defuma apreciao segura da de sua convenincia. O espao de atuao do Ministrio P limitado, ao contrrio do que ocorre no sistema legal norte-americano.

    Apresentada a proposta, cumpre ao autor do fato analis-la com cuidado. Estseguro de sua inocncia, deve recus-la, optando pelo processo penal condenatrio. Pdesejando evitar os males do processo penal, poder concordar com a proposta.

    Tem-se admitido que o autor do fato, ou seu advogado, formulem uma con proposta.

    Uma vez aceita a proposta, deve o acordo ser homologado pelo juiz (togadindispensvel a presena do advogado no ato. Dessa sentena cabe apelao.

    A imposio da pena restritiva de direitos, decorrente da transao penal,dever constar de certido de antecedentes criminais, salvo para os fins de obteno

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    de novo benefcio de transao penal (art. 76, 4). Tambm no implicarreincidncia.

    Essa sentena homologatria no tem eficcia de sentena condenatria crimnem absolutria, sua natureza jurdica puramente de sentena homologatria de tran penal.

    E se houver conflito, quanto aceitao da proposta, entre o autor do fato eadvogado ?

    Penso que deve prevalecer a vontade do autor do fato, desde que perfeitamesclarecido das conseqncias de seu ato. A ele deve mesmo caber a ltima palavra, ele caber cumprir a pena restritiva de direitos ou de multa. Esta a orientao preva

    tanto na doutrina como na jurisprudncia.Qual a conseqncia do descumprimento do acordo, relativamente pena rest

    de direitos ?

    A questo objeto de acesas controvrsias.

    Uma corrente sustenta que no cumprida a pena consensuada deve elaconvertida em pena privativa de liberdade. Essa orientao choca-se frontalmente cfins da lei 9.099/95, que justamente afastar a imposio de pena privativa de liberda

    Outra corrente bate-se pela apresentao, nessa hiptese, de denncia, dandincio ao penal tradicional, desconsiderando-se a transao penal homologada. posicionamento viola, no entanto, a coisa julgada, representada pela senhomologatria da transao penal.

    Uma terceira corrente diz que no pode haver, nesse caso, nem converso da restritiva de direitos em pena privativa de liberdade, nem apresentao de dennciano entanto, torna incua a transao penal e foge dos objetivos da lei.

    Por ltimo, sustenta-se que a soluo a execuo da sentena. Execuo, na fda lei processual civil, como de obrigao de fazer.

    Parece-nos ser essa a melhor soluo para a hiptese.

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    Quando se tratar de pena de multa, a soluo mesmo a sua execuo, cocobrana na ao de execuo fiscal (trata-se de dbito tributrio).

    3.8. Causas impeditivas da transao

    No ser admitida a transao penal quando: a) tiver sido o autor da infrcondenado, pela prtica de crime, pena privativa de liberdade, por sentena definititiver sido o agente beneficiado anteriormente, no prazo de cinco anos, pela aplica pena restritiva de direitos ou multa; c) no indicarem os antecedentes, a conduta soc personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstncias, ser necesssuficiente a adoo da medida (art. 76, 2).

    3.8. O procedimento sumarssimo

    No se logrando a transao (ou pela ausncia do autor do fato, ou pelaaceitao da proposta formulada), preciso distinguir: a) sendo crime de ao privada, o ofendido poder oferecer queixa oral (art. 77, 3); b) sendo crime de ao pblica, o Ministrio Pblico oferecer denncia oral, se no houver necessidadiligncias imprescindveis (art. 77, caput).

    Quando se tratar de crime que deixa vestgios, a materialidade do crime deverdemonstrada ou por boletim mdico ou prova equivalente (art. 77, 1).

    Quando o caso se revestir de complexidade, ou no propiciar ao Ministrio Po oferecimento de denncia, o juiz poder encaminhar as peas ao juzo comum (art. art. 66 da Lei 9.099/95 constitui uma hiptese de deslocamento para a justia comum.

    Uma vez oferecida a denncia ou a queixa, ser ela reduzida a termo, entregan

    cpia ao acusado, que ficar citado e cientificado da designao de dia e hora paudincia de instruo e julgamento. Tambm devero tomar cincia da designao, o ofendido, o responsvel civil e seus advogados (art. 78).

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    Se o acusado no estiver presente, ser citado na forma dos arts. 66 e 68, devtrazer audincia de instruo e julgamento suas testemunhas, ou apresentar requerim para sua intimao como no mnimo cinco (5) dias de antecedncia.

    Quanto ao nmero de testemunhas, em razo do silncio da lei, nesse senaplica-se analogicamente o disposto para o procedimento sumrio (crimes apenadodeteno e contravenes penais), que de trs testemunhas.

    No dia da audincia de instruo e julgamento, o juiz dever renovar a tentaticonciliao, tanto para a reparao dos danos como para a transao penal.

    Em seguida, ser dada a palavra ao defensor para responder acusao, aps o juiz receber ou no a denncia ou queixa. Sendo recebida a pea inicial, deve

    ouvidas as vtimas e testemunhas de acusao e defesa, interrogando-se o acusadseguida. Aps, as partes debatem a causa e juiz sentencia.

    Nenhum ato deve ser adiado, determinando o juiz, se o caso, a conduo coerde quem deva comparecer (art. 80).

    Todas as provas sero produzidas na audincia, podendo o juiz limitar ou exclque considerar excessivas, impertinentes ou protelatrias (art. 81, 1).

    Da audincia de instruo e julgamento deve lavrar-se termo reduzido, cont breve resumo dos fatos relevantes ocorridos e a sentena, da qual se dispensa o rel(art. 81, 2 e 3).

    Das decises que rejeitam a denncia ou queixa, ou decidem a demanda, apelao, que poder ser julgada por turma composta de trs juzes em exercci primeiro grau de jurisdio, reunidos na sede do juizado (art. 82).

    O prazo para interpor apelao escrita de dez dias. Igual o prazo para corazes.

    Da sentena ou acrdo cabem embargos de declarao (art. 83).

    3. 9. A suspenso condicional do processo.

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    Outra medida despenalizadora prevista na lei 9.099/95 a suspenso condicion processo, inserida no seu art. 89.

    So requisitos para a suspenso condicional do processo: a) crime com pena mcominada igual ou inferior a 1 (um) ano,abrangidas ou no pela lei 9.099/95 ; b) no estar o acusado sendo processado ou no tenha sido condenado por outro crime; c) est presentes os requisitos autorizadores da suspenso condicional da pena (art. 77 do CPenal).

    Veja-se que a suspenso condicional do processo no instituto tpico dos JuizEspeciais Criminais. Tanto que o art. 89 se refere a crimes abrangidos ou no pe9.099/95.

    Preenchidos esses requisitos, o Ministrio Pblico, ao oferecer a denncia, po propor a suspenso condicional do processo, por dois a quatro anos.

    Se o acusado aceitar, o juiz, recebendo a denncia, suspende o procesubmetendo o acusado a perodo de prova, sob as condies previstas nos incisos I a 1 do art. 89, podendo especificar outras, desde que adequadas ao fato e situao pdo acusado ( 2).

    Se no curso do prazo da suspenso o beneficiado vier a ser processado por o

    crime, ou no efetuar, sem motivo justificado, a reparao do dano, o benefcioobrigatoriamente revogado ( 3).

    O 4 prev causa de revogao facultativa da suspenso do processo: vir o acua ser processado, no curso do prazo, por contraveno, ou descumprir qualquer condio imposta.

    Expirado o prazo da suspenso, sem que ela tenha sido revogada, o magistdeclarar extinta a punibilidade.

    Finalmente, se o acusado no aceitar a proposta do MP, para suspenso condicdo processo, esse prossegue normalmente em seus ulteriores termos ( 7).

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    4. Recursos - Execuo, despesas Processuais e disposies finais.

    4.1 Dos Recursos

    Das decises que rejeitam a denncia ou queixa, ou decidem a demanda, apelao, que poder ser julgada por turma composta de trs juzes em exercci

    primeiro grau de jurisdio, reunidos na sede do juizado (art. 82).O prazo para interpor apelao escrita de dez dias. Igual o prazo para co

    razes.

    Da sentena ou acrdo cabem embargos de declarao (art. 83).

    Conforme disposto no art. 84 da lei, aplicada exclusivamente a pena de multacumprimento far-se- mediante pagamentos na Secretaria do Juizado. Cumpriobrigao, ou seja, feito o pagamento o juiz declara extinta a punibilidade, determinada condenao no conste dos registros criminais, ou seja, eventuais certides no demencionar.

    A questo de maior indagao, no que se refere lei 9.099/95 foi o art. 85 quNo efetuado o pagamento de multa, ser feita a converso em pena privativliberdade, ou restritiva de direitos,nos termos previstos em lei (grifo nosso). Essa previso legal refere-se a Lei de Execues Penais. Mas de salutar importncia deque essa converso no mais possvel face o advento da Lei 9.268/96 que baniu dosistema essa possibilidade e deu nova redao ao art. 51 do Cdigo Penal determinadtoda multa ser considerada dvida de valor, portanto, s poder ser cobrada em seexecuo, no juzo cvel.

    No poderia ser outra a providncia quanto ao inadimplemento da pena de muque o objetivo da lei dos juizados especiais criminais evitar o encarceramento, no

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    sentido a possibilidade da converso. Diferente tambm no era a inteno do legisquando da lei edio da 9.268/96.

    No entanto, a lei de execues penais e nem o Cdigo penal no preveconverso da pena de multa em restritiva o que torna impossvel a sua aplicao. Quesse problema se posiciona Ada Pelegrine Grinover et al mas, como a lei admtransao sobre a pena restritiva e prev a converso de pena restritiva, pode o promoJustia propor ao autor do fato a aplicao imediata de multa e, se no for paconverso em restritiva, por ele j especificada.9

    Quanto converso em pena privativa de liberdade, sua execuo nos Juizaimpossvel s sendo efetivamente realizada segundo as normas da Lei de Execuo Pe

    4.2. Despesas processuaisDispe o art. 87 que nos casos de homologao de acordo civil e aplicao da

    restritiva de direitos ou multa, as despesas processuais sero reduzidas, conforme displei estadual. A lei manda reduzir, mas nada impede que o Estado no cobre absolutamnada, tal como j faz, na atualidade, o Estado de So Paulo, no que concerne ao comum criminal.10

    4.3. Disposies Finais

    Primeiramente se faz necessrio esclarecer a razo de duas disposies finai parte cvel e na parte criminal. Para tanto fundamental falarmos da origem dos proque deram origem lei 9.099. Dois projetos foram apresentados, um deles de autoDeputado Nelson Jobim e outro de um grupo de juristas formado por Marco AnMarques, Luiz Ricardo Gagliardi, Antonio Magalhes Gomes Filho, Antonio ScaFernandes e Ada Pelegrine Grinover.

    No mbito civil o projeto que prevaleceu foi o de Nelson Jobim e na parte cri

    o dos juristas e professores j citados.

    A parte das disposies finais traz a medida despenalizadora considerevolucionria da suspenso condicional do processo. Trata-se de medida inovado

    9 Op.cit. Grinover, Ada Pelegrine et al, pg. 20410 Op, cit. Pg. 210.

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    nosso ordenamento jurdico penal, inclusive abarcando todas as infraes em que amnima cominada for igual ou inferior a um ano, abrangidas ou no pela Lei 9.099/95

    O art. 88 da lei que prev a necessidade de representao nos casos de lcorporal leve e leso corporal culposa. Tornar o delito de leses corporais em delitao penal condicionada respresentao da vtima j era idia advogada a muito t pelos nossos doutrinadores, o que j ocorria no Cdigo Penal de 1969 de Nelson Hque sequer chegou a viger.

    importante frisar que tal providncia no retirou o carter ilcito do fatosomente ocorre a despenalizao e no descriminalizao.

    Outro aspecto importante a ser abordado quando estudamos as disposies fina

    lei dos juizados especiais criminais quanto a inaplicabilidade do art. 90 que primpossibilidade da lei 9.099 s instrues j em curso. patente a desnecessidade artigo j que s alcana, evidentemente, normas exclusivamente processuais, e p processo vige o princpio do tempo rege o ato.

    Dispe o artigo 91 da leiin verbis: Nos casos em que a lei passa a exigirrepresentao para a propositura da ao penal pblica, o ofendido ou seu represenlegal ser intimado para oferec-la no prazo de 30 (trinta) dias., sob pena de decad

    Para que se opere a decadncia importante que a intimao da vtima ou seu represelegal seja efetiva e vlida, sempre pessoal, seno no se h falar em decadncia processo dever ficar paralisado at que se opere a prescrio.

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