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Jurisprudência da Corte Especial

Jurisprudência da Corte Especial · 2018. 12. 10. · das bolsacretos. Caso haja uma paralisação, não teremos tempo hábil de preencher as cavas com areia nos segmentos ainda

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  • Jurisprudência da Corte Especial

  • JURISPRUDÊNCIA DA CORTE ESPECIAL

    AGRAVO REGIMENTAL NA PETIÇÃO NQ 1.018 - PR (Registro nº 98.0074201-8)

    Relator: Ministro Antônio de Pádua Ribeiro

    Presidente: Ministro Cid Flaquer Scartezzini

    Agravante: Ministério Público Federal

    17

    Agravado: Departamento de Estradas de Rodagem do Estado do Paraná -DER-PR

    Advogados: Samuel Machado de Miranda e outros

    Requerida: Juíza-Relatora do Agravo de Instrumento nº 9804010582451, do

    Tribunal Regional Federal da 4ª Região

    Interessado: Ministério Público do Estado do Paraná

    EMENTA: Agravo regimental- Liminar em ação cautelar - Pedi-do de suspensão - Fixação da competência - Agressão ao meio ambien-te - Risco de lesão à economia pública plausível- Ocorrência dos pres-

    supostos legais (Lei nº 8.437/92) - Desprovimento do recurso.

    I - Concedida liminar por membro de tribunal, a competência atri-

    buída ao Presidente do Superior Tribunal de Justiça para apreciação do pedido de suspensão da medida, fundado em risco de grave lesão à or-dem, à saúde, à segurança e à economia públicas não afasta, no âmbito

    daquela Corte, o cabimento de agravo para exame da ocorrência de even-tuais vícios (error in procedendo ou in judicando) na decisão. Prece-dente (Rcl nº 460-PE).

    H - Caracterizada a potencialidade de dano ao meio ambiente em face da proximidade de chuvas regulares na região e o risco de graves prejuízos à economia pública, decorrentes da suspensão de obras de en-genharia em vias de conclusão (ponte sobre o rio Paraná), impõe-se a suspensão da eficácia da medida.

    IH - Configuração dos pressupostos não elidida pela impugnação recursal.

    IV - Agravo desprovido.

    ACÓRDÃO

    Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Cor-te Especial do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das

    RSTJ, Brasília, a. 11, (118): 15-34, junho 1999.

  • 18 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

    notas taquigráficas, por unanimidade, negar provimento ao agravo regimen-tal, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator.

    Os Srs. Ministros Costa Leite, Nilson Naves, Eduardo Ribeiro, Edson Vidigal, Luiz Vicente Cernicchiaro, Waldemar Zveiter, Peçanha Martins, Vicente Leal, José Delgado, José Arnaldo da Fonseca, Fernando Gonçalves, Felix Fischer e Bueno de Souza votaram com o Sr. Ministro-Relator.

    Ausentes, justificadamente, os Srs. Ministros Garcia Vieira, Fontes de Alencar, Sálvio de Figueiredo, Hélio Mosimann, Demócrito Reinaldo, Humberto Gomes de Barros e Milton Luiz Pereira.

    Licenciado o Sr. Ministro William Patterson, sendo substituído pelo Sr. Ministro Felix Fischer.

    Brasília-DF, 18 de dezembro de 1998 (data do julgamento).

    Ministro CID FLAQUER SCARTEZZINI (não assinará em razão de sua aposentadoria - § 2º, art. 101 - RISTJ), Presidente.

    Ministro ANTÔNIO DE PÁDUA RIBEIRO, Relator.

    Publicado no DI de 26.04.99.

    RELATÓRIO

    O SR. MINISTRO ANTÔNIO DE PÁDUA RIBEIRO: Senhor Presiden-te, recorre-se, na espécie, de decisão que proferi vazada nos seguintes termos:

    "Ministérios Públicos Federal e Estadual ajuizaram, perante a Justiça Federal de Umuarama-PR, ação cautelar com pedido de liminar, objetivando a anulação de licenças de instalação de ponte sobre o rio Paraná a ligar Porto Camargo-PR a Cabureí-MS, bem como de instalação dos acessos e aterros, ao argumento de que os atos em testilha padeceram do requisito da ampla publicidade, a par de serem omissos quanto à prestação de informações no curso do licenciamento ambiental. Investem, nessa extensão, contra o Ibama, que teria agido em desconformidade com a Resolução nº 237/97. Indeferida a liminar e manejado agravo de instrumento (Ag nº 58.245-1-PR), sobreveio a liminar perseguida. Contra essa medida, insurge-se o Departamento de Estradas de Rodagem (DER) do Estado do Paraná.

    Alega, ao seu prol, que a decisão contra a qual investe causará graves e irreversíveis prejuízos ecológicos uma vez que, paralisadas

    RSTJ, Brasília, a. 11, (118): 15-34, junho 1999.

  • JURISPRUDÊNCIA DA CORTE ESPECIAL 19

    as obras, já bastante adiantadas, e com a chegada das chuvas dos meses de janeiro, fevereiro e março, ocasionando as cheias do rio Paraná, haverá o arrastamento de areia em direção ao canal, já pronto, o que levará ao depósito no lago do Jacaré, localizado no centro da ilha, isso

    sem considerar os vultosos prejuízos advindos da paralisação da obra, sujeita, e insiste, ao desperdício do que já implantado.

    A decisão do eminente juiz federal, denegatória da liminar, a meu sentir, bem dilucida a questão, em juízo premonitório. É ler-se:

    'Os autores alegam que as licenças de instalação conce-

    didas são nulas, em razão de que não foi respeitado o proce-

    dimento estabelecido pela Resolução nº 237/97, do Conama,

    ficando caracterizada a violação do princípio da publicidade

    dos atos administrativos.

    Pelo que se depreende dos documentos juntados, reali-

    zado o Estudo de Impacto Ambiental e o respectivo Relatório

    (ElA/Rima), o lbama, atendendo requerimento do represen-

    tante do Ministério Público da comarca de Guaíra-PR, desig-nou data para a realização de audiências públicas.

    Durante as mencionadas audiências, o representante do Ministério Público Estadual apresentou razões escritas ques-

    tionando o ElA/Rima; também foram feitos questionamentos

    por outras entidades.

    Os documentos de fls. 65/72 demonstram que, após a realização das mencionadas audiências públicas, pelo órgão

    empreendedor foram prestados diversos esclarecimentos ao

    lbama, nos quais constam várias medidas que visam evitar ou

    mitigar eventuais danos ao meio ambiente, tendo, inclusive, apresentado Plano de Controle Ambiental.

    Em princípio, na concessão do licenciamento, o lbama

    obedeceu ao procedimento prescrito pela resolução do Con-

    selho Nacional do Meio Ambiente.

    As referidas licenças de instalação contêm, dentre ou-

    tras, as seguintes específicas de validade:

    - implantação definitiva do Posto de Polícia Florestal

    próximo à obra, no prazo de 150 dias;

    RSTJ, Brasília, a. 11, (118): 15-34, junho 1999.

  • 20 REVISTA DO SUPERIORTRIBUNAL DE JUSTIÇA

    - construção de cerca de proteção (alambrado) em tor-

    no da mata do Bugio, próximo à cabeceira da ponte, no Mu-

    nicípio de Vila Alta, conforme orientações técnicas aprova-das, no prazo de 30 dias;

    - implantação de posto de alevinagem, que contribua para o repovoamento do rio Paraná, no Município de Vila Alta, conforme orientações técnicas aprovadas no prazo de 150 dias; adoção de medidas protetivas ao paredão das araras e seu entorno, com a retirada das moradias existentes, indenização e relação dos moradores e isolamento da área através de cer-ca, conforme orientações técnicas aprovadas, no prazo de 180 dias;

    - implantação do Centro de Estudos, Pesquisa e Moni-toramento Ambiental, no Município de lcaraíma, conforme projeto a ser aprovado, no prazo de 150 dias;

    - construção de torres de observação de incêndio no Parque Nacional de Ilha Grande e seu entorno, no prazo de 90 dias;

    - recuperação ambiental de todas as áreas degradadas pelas obras, até 90 dias após a conclusão das mesmas;

    - recuperação ambiental de todas as áreas degradadas pelas obras da ponte, para o que deverão ser apresentados projetos específicos;

    - confecção e colocação de placas sinalizadoras no Par-que Nacional de Ilha Grande, em todas as rodovias que lhe dão acesso;

    - realização de campanhas de comunicação educativa, visando à divulgação do Parque Nacional de Ilha Grande e da APA das ilhas e várzeas do rio Paraná e de conscientização ambiental, a serem desenvolvidas pelo Coripa, em conjunto com o lbama, com recursos financeiros disponibilizados pelo DER para publicações;

    - participação do DER, com recursos materiais huma-nos na demarcação do Parque Nacional de Ilha Grande, em campo;

    - aquisição de dois veículos utilitários rurais a serem doados ao lbama para uso na fiscalização do Parque Nacional de Ilha Grande e em educação ambiental.

    RSTJ, Brasília, a. 11, (llS): 15-34, junho 1999.

  • JURISPRUDÊNCIA DA CORTE ESPECIAL 21

    As aludidas licenças prescrevem ainda que deverão ser apresentadas, detalhadamente, as medidas específicas acerca

    da instalação e utilização de equipamentos que atendam à legislação, e quais os que serão utilizados no monitoramento

    dos agentes físicos, químicos e bacteriológicos, bem como, que ao final das atividades autorizadas, deverá ser apresenta-do um relatório circunstanciado que contemple todas as ati-vidades, conforme estabelece o projeto executivo.

    Os autores atacam as concessões das licenças; no entan-

    to, não se insurgem quanto às condições estabelecidas pelo Ibama para a realização da obra. Logo, em princípio, as medi-das exigidas mostram-se como suficientes para evitar ou miti-gar possíveis danos ao meio ambiente.

    Por outro lado, os autores não indicam quais os eventuais danos que podem resultar com a construção das pontes, limi-tando-se a alegar vício de forma no procedimento de licencia-mento.

    Diante de tais considerações, em um juízo de aparência, não vislumbro nulidade no ato de concessão das menciona-das licenças de instalação.

    Quanto a eventual perigo de dano ao meio ambiente, tenho que a fiscalização pelos órgãos responsáveis, no tocan-te ao cumprimento das condições estabelecidas no ato de licenciamento, são suficientes para afastar sua ocorrência (fls. 47/49).'

    Por outro lado, preocupa-me deveras a possibilidade de ver-dadeiro desastre ecológico, consoante estudos técnicos efetuados pelo DER, que assim se pronuncia:

    'Durante os meses de janeiro, fevereiro e março têm ocor-rido as cheias do rio Paraná. Assim foi em 1983, 1990, 1992 e

    por último em 1997. Nesta última, mesmo não sendo tão vio-

    lenta quanto a de 1983, provocou a inundação total da ilha dos Bandeirantes bem como da margem mato-grossense .... o

    nível das águas sobe mais rapidamente no canal oeste do rio Paraná, tanto pela sua largura, bem inferior ao canal leste, como pelo volume de água, bem superior, que os rios mato-

    RSTJ, Brasília, a. 11, (118): 15-34, junho 1999.

  • 22 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

    grossenses deságuam no rio Paraná, com relação aos rios paranaenses, o montante da obra. Conseqüentemente, há um transbordamento das águas do canal oeste sobre a ilha dos Bandeirantes, em direção ao canal leste. Isto faz com que, tanto no início quanto no fim da cheia, haja uma correnteza, de altura razoável (em 1997 foi de cerca de 1,50 metros), no sentido transversal da ilha, de oeste para leste. Essa corrente é paralela ao aterro a ser construído, e se o mesmo não for devidamente protegido, todo o material depositado na cava, que constitui a sua base, será retirado pela força das águas, destruindo-o completamente. Por esse motivo a construção das bolsacretos.

    Caso haja uma paralisação, não teremos tempo hábil de preencher as cavas com areia nos segmentos ainda incomple-tos, bem como a bolsacreto não poderá ser construída, fican-do o canal hoje já parcialmente preenchido com areia com-pletamente exposto. Desta forma, caso haja uma inundação, esta, com toda certeza, removerá a areia já depositada e mais, pela lógica tenderá a correr pelo canal, de vez que o mesmo já está pronto de margem a margem da ilha. A escavação, que

    hoje obedece a um perfil de projeto, ficará toda prejudicada, e areia que porventura restar estará contaminada. Mais ain-da: a lagoa do Jacaré, localizada no centro da ilha será assoreada, uma vez que sua profundidade é de mais de cinco metros. Como temos um canal já preenchido com areia desde a margem direita da ilha até a lagoa, e a correnteza será nesse

    sentido, toda a areia que estiver neste segmento será carreada e ficará depositada na lagoa, por ter essa uma profundidade maior. Conseqüentemente, os danos ecológicos serão enor-mes. O restante da areia, entre a lagoa e a margem esquerda, será com -toda certeza esparramado sobre a ilha pela força das águas. Com a retirada da areia, ficará o canal sendo um divisor da ilha, ligando os dois canais do rio Paraná: a ilha estará dividida em duas partes por um canal com 50 metros de lar-gura no mínimo.

    Cremos que os prejuízos causados por uma eventual pa-ralisação; do ponto de vista ecológico, serão grandes. Confor-me citamos, com a abertura do canal no solo mole, há a pos-

    RST}, Brasília, a. 11, (118): 15-34, junho 1999.

  • JURISPRUDÊNCIA DA CORTE ESPECIAL 23

    sibilidade da ilha ser dividida em duas partes, uma vez que as águas passarão a circular entre as duas margens da ilha.

    Deve ser levado em conta o provável assoreamento da

    lagoa do Jacaré, local onde o aterro foi substituído por uma ponte com 130 metros exatamente para protegê-la, não inter-ferindo com a fauna que nela habita. Caso a areia seja condu-zida para esse local, com toda certeza a mesma ficará reduzi-

    da a, no mínimo, 3 metros de lâmina d'água, mesma profun-didade da cava já executada. Fica fácil analisar o impacto que isso causará na mesma. Para evitar esse carreamento da areia para a lagoa, está projetado um dispositivo em concreto ar-mado, a ser construído nas cabeceiras das pontes, chamado 'solo armado'.

    Como estas estão em altura muito superior aos 8 metros dos aterros, estes evidentemente terão essas alturas junto às

    pontes. Nestes locais - final da ponte sobre o canal leste, na ilha dos Bandeirantes; as duas cabeceiras das pontes sobre a lagoa do Jacaré e sobre o canal oeste e no início da ponte sobre o rio Amambaí - foram projetadas estruturas em con-creto armado, cravadas 2 metros na areia da fundação dos aterros, e subindo até o topo dos pilares, para conter os ater-

    ros que nestes locais serão totalmente executados com areia dragada. Essas estruturas têm uma espessura de 15 centíme-

    tros em concreto armado, e são fixadas no corpo do aterro por cintas metálicas. Além da contenção da areia propriamente dita, não devemos nos esquecer de que o rio Paraná, na cheia,

    evidentemente terá seu nível bastante aumentado, e passará por esses pontos, transformando-os em vertedouros. Caso não haja a proteção, o aterro será totalmente destruído.

    Aliado a isso, as medidas mitigadoras propostas pelo DER-PR deverão ser executadas à medida que os serviços

    forem avançando, ou seja, a construção de caixas de conten-

    ção só é possível após os bueiros estarem prontos; o plantio de gramíneas e a execução de canaletas e descidas d'água após

    o término dos .aterros; a proteção da crista dos cortes com

    vegetação quando estes estiverem na altura definitiva.

    Da mesma forma, a caixa de empréstimo CE-l, que após exploração será transformada em um centro de alevinagem,

    RST], Brasília, a. 11, (118): 15-34, junho 1999.

  • 24 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

    necessita ser escavada para ter a conformação estabelecida em projeto específico. O material proveniente desta escava-

    ção será conduzido para o corpo do aterro.

    Ressaltamos que os trabalhos vêm sendo desenvolvidos em ritmo acelerado, prevendo-se uma provável cheia no início do próximo ano. Nesta época (de meados de janeiro em dian-te) todo aterro localizado dentro da ilha dos Bandeirantes, bem como na margem mato-grossense, até o início da ponte sobre o rio Amambaí, deverá estar pronto até a altura da bolsacreto, para que não seja destruído pelas águas (fls. 14/16).'

    Nesse contexto, por se me afigurarem presentes os pressu-postos da Lei nº 8.437/92, defiro o pedido."

    Aduz o recorrente, em síntese, preliminarmente, falecer competência a este Superior Tribunal para apreciação da suspensão de segurança, in casu, porquanto se trata de decisão proferida isoladamente por juiz-relator de agra-vo de instrumento. No mérito, assevera que:

    1. a suspensão da eficácia das licenças de instalação questionadas na ação cautelar é idônea a garantir proteção ao meio ambiente, sem causar qual-quer gravame à ordem, saúde, segurança e economia públicas;

    2. sendo certo que as licenças de instalação da obra foram obtidas inva-lidamente, presume-se que as obras em discussão descuraram-se da obser-vância às cautelas indispensáveis à preservação do meio ambiente;

    3. as obras questionadas, realizadas dentro do Parque Nacional de Ilha Grande prescindiram de adequado estudo de impacto ambiental;

    4. o relatório unilateralmente apresentado pelo DER-PR, vislumbrando iminente desastre ecológico caso não haja prosseguimento das obras, não con-tém elementos seguros de convicção, mesmo porque "as enchentes temidas não ocorrem com a regularidade anunciada no referido estudo";

    5. o simples adiamento dos trabalhos na área questionada não provocará dano econômico.

    É o relatório.

    VOTO

    O SR. MINISTRO ANTÔNIO DE PÁDUA RIBEIRO (Relator): Exa-mino, por primeiro, a preliminar de incompetência deste Superior Tribunal vislumbrada pelo ora recorrente. Estou em que lhe desassiste razão. Real-

    RST], Brasília, a. 11, (118): 15-34, junho 1999.

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    mente, malgrado ter sido a liminar (suspensa nesta Corte) concedida por membro de tribunal, a competência para apreciação da excepcional medida só poderia ser fixada em órgão colegiado diverso daquele do qual promanou a decisão vergastada, porquanto não se cogita de recurso, e, sim, de excepcio-nal medida da qual deflua potencial gravame aos valores protegidos pela nor-

    ma (Lei n Q 8.437/92, art. 4Q). Vale dizer, em casos de error in judicando ou in procedendo, competente para a apreciação do recurso é o mesmo tribu-nal. Aliás, essa tem sido a orientação placitada nesta colenda Corte, consoan-te proclama o aresto cuja ementa bem o encima:

    "Processual. Mandado de segurança. Liminar.

    - Suspensão. Conforme jurisprudência da Corte Especial,

    desde que deferida por decisão singular nos tribunais locais, a con-cessão da segurança se sujeita a agravo para o próprio Tribunal,

    sem ofensa alguma à competência do Superior Tribunal de Justiça tratada nos termos do art. 4Q da Lei n Q 4.348/64." (Rcl n Q 460-PE,

    ReI. Min. José Dantas, Corte Especial, 18.03.98)

    Destarte, por identidade de razão, competente para apreciar e julgar

    suspensão de liminar é o egrégio Superior Tribunal de Justiça, sendo desinfluente cogitar-se de suspensão de liminar em mandado de segurança ou em ação cautelar, dês que a matéria seja infra constitucional.

    Passo, de conseguinte, ao exame do mérito. Rememoro aos eminentes pares o teor do recurso:

    "1. a suspensão da eficácia das licenças de instalação questio-

    nadas na ação cautelar é idônea a garantir proteção ao meio ambien-te, sem causar qualquer gravame à ordem, saúde, segurança e eco-nomia públicas;

    2. sendo certo que as licenças de instalação da obra foram

    obtidas invalidamente, presume-se que as obras em discussão de-clinaram-se da observância às cautelas indispensáveis à preserva-ção do meio ambiente;

    3. as obras questionadas, realizadas dentro do Parque Nacio-nal de Ilha Grande, prescindiram de adequado estudo de impacto ambiental;

    4. relatório unilateralmente apresentado pelo DER-PR, vis-lumbrando iminente desastre ecológico caso não haja prossegui-

    RSTJ, Brasília, a. 11, (118): 15-34, junho 1999.

  • 26 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

    mento das obras, não contém elementos seguros de convicção, mesmo porque 'as enchentes temidas não ocorrem com a regulari-dade anunciada no referido estudo';

    5. simples adiamento dos trabalhos na área questionada não provocará dano econômico."

    Como visto, limita-se o agravante, no mais das vezes, a esgrimir matéria que não encontra, nesta excepcional instância, leito ao respectivo deslinde. Por outro lado, sinal e-se que o agravante tangencia questões fulcrais que nortearam este juízo à suspensão vergastada. Refiro-me ao estudo técnico apresentado pelo DER sobre possível desastre ecológico adveniente de regu-lares cheias do rio Paraná a promoverem o arrastamento de areia em direção ao canal, já pronto, o que levará ao depósito no lago do Jacaré, localizado no centro da ilha. Sobre o ponto, restringe o recorrente a dizer, apenas, que "as enchentes temidas não ocorrem com a regularidade anunciada no referido estudo". Vê-se, assim, que não restou infirmado o estudo técnico a que me referi no relatório. É ler-se:

    "Cremos que os prejuízos causados por uma eventual parali-sação, do ponto de vista ecológico, serão grandes. Conforme cita-mos, com a abertura do canal no solo mole, há a possibilidade de a ilha ser dividida em duas partes, uma vez que as águas passarão a circular entre as duas margens da ilha.

    Deve ser levado em conta o provável assoreamento da lagoa do Jacaré, local onde o aterro foi substituído por uma ponte com 130 metros exatamente para protegê-la, não interferindo com a fauna que nela habita. Caso a areia seja conduzida para esse local, com toda certeza a mesma ficará reduzida a no mínimo 3 metros de lâmina d'água, mesma profundidade da cava já executada. Fica fácil analisar o impacto que isso causará na mesma. Para evitar esse carreamento da areia para a lagoa, está projetado um dispositivo em concreto armado, a ser construído nas cabeceiras .das pontes, chamado 'solo armado'.

    Como estas estão em altura muito superior aos.8 metros dos aterros, estes -evidentemente terão essas alturas junto- às pontes. Nestes locais -final da ponte sobre o canal leste, na -ilha dos Ban-deirantes; as duas cabeceiras das pontes sóbre à lagoa do Jacaré e sobre o canal oeste e no início da ponte sobre o rio Amambaí -

    foram projetadas estruturas em concreto armado, cravadas 2 metro-s

    RSTJ, Brasília, a. 11, (118): 15-34, junho 1999.

  • JURISPRUDÊNCIA DA CORTE ESPECIAL 27

    na areia da fundação dos aterros, e subindo até o topo dos pilares,

    para conter os aterros que nestes locais serão totalmente executa-dos com areia dragada. Essas estruturas têm uma espessura de 15

    centímetros em concreto armado, e são fixadas no corpo do aterro

    por cintas metálicas. Além da contenção da areia propriamente dita,

    não devemos nos esquecer de que o rio Paraná, na cheia, evidente-

    mente terá seu nível bastante aumentado, e passará por esses pon-

    tos, transformando-os em vertedouros. Caso não haja a proteção, o aterro será totalmente destruído.

    Aliado a isso, as medidas mitigadoras propostas pelo DER-

    PR deverão ser executadas à medida que os serviços forem avan-

    çando, ou seja, a construção de caixas de contenção só é possível

    após os bueiros estarem prontos; o plantio de gramíneas e a execu-

    ção de canaletas e descidas d'água após o término dos aterros; a

    proteção da crista dos cortes com vegetação quando estes estive-

    rem na altura definitiva.

    Da mesma forma, a caixa de empréstimo CE-I, que após ex-

    ploração será transformada em um centro de alevinagem, necessita ser escavada para ter a conformação estabelecida em projeto espe-

    cífico. O material proveniente desta escavação será conduzido para o corpo do aterro.

    Ressaltamos que os trabalhos vêm sendo desenvolvidos em rit-

    mo acelerado, prevendo-se uma provável cheia no início do próximo

    ano. Nesta época (de meados de janeiro em diante) todo aterro loca-

    lizado dentro da ilha dos Bandeirantes, bem como na margem mato-

    grossense, até o início da ponte sobre o rio Amambaí, deverá estar

    pronto até a altura da bolsacreto, para que não seja destruído pelas águas (fls. 14/16).'

    Posto isso, resulta incontroverso o prejuízo que da paralisação das obras

    advirá, compreendidos, no contexto, os pressupostos da medida extrema.

    Nego, pois, provimento ao agravo.

    RSTJ, Brasília, a. 11, (118): 15-34, junho 1999.

  • 28 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

    AGRAVO REGIMENTAL NA SUSPENSÃO DE SEGURANÇA Nº 713 - BA

    (Registro nº 98.0097864-0)

    Relator: Ministro Antônio de Pádua Ribeiro

    Agravante: Estado da Bahia

    Advogados: Silvio Avelino Pires Britto Júnior e outros

    Agravado: Joaquim Maurício Cardoso Neto

    Impetrante: Joaquim Maurício Cardoso Neto

    Advogada: Léa Márcia Britto Mesquita

    EMENTA: Processual Civil - Suspensão de segurança - Agravo regimental contra decisão que indefere o pedido - Descabimento -

    Aplicação - Súmula nº 217JSTJ.

    I) Não cabe agravo de decisão que indefere o pedido de suspensão da execução da liminar, ou da sentença em mandado de segurança (Súmula nº 217 JST]).

    II) Agravo não conhecido.

    ACÓRDÃO

    Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Cor-te Especial do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas, por unanimidade, não conhecer do agravo regimental, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator.

    Os Srs. Ministros Nilson Naves, Eduardo Ribeiro, Garcia Vieira, Fontes de Alencar, Sálvio de Figueiredo, Barros Monteiro, Hélio Mosimann, Fran-cisco Peçanha Martins, Demócrito Reinaldo, Humberto Gomes de Barros, Milton Luiz Pereira, Vicente Leal, José Arnaldo da Fonseca, Fernando Gon-çalves e Felix Fischer votaram com o Sr. Ministro-Relator.

    Ausentes, justificadamente, os Srs. Ministros Edson Vidigal, Luiz Vicente Cernicchiaro e Waldemar Zveiter.

    Licenciado o Sr. Ministro William Patterson, sendo substituído pelo Sr. Ministro Felix Fischer.

    Brasília-DF, 8 de abril de 1999 (data do julgamento).

    RSTJ, Brasília, a. 11, (118): 15-34, junho 1999.

  • JURISPRUDÊNCIA DA CORTE ESPECIAL 29

    Ministro COSTA LEITE, Presidente.

    Ministro ANTÔNIO DE PÁDUA RIBEIRO, Relator.

    Publicado no DI de 10.05.99.

    RELATÓRIO

    O SR. MINISTRO ANTÔNIO DE PÁDUA RIBEIRO: Trata-se de agra-vo interposto contra decisão de minha lavra (fls. 515/516), denegatória de suspensão de segurança, que proferi nos seguintes termos:

    "O Estado da Bahia requer, com fundamento no que dispõem os artigos 4 Q da Lei n Q 4.348/64, 25 da Lei n Q 8.038/90 e 271 do RISTJ, suspensão da eficácia de medida liminar concedida no Mandado de Segurança n Q 49.747-6, impetrado perante o egrégio Tribunal de Justiça do Estado.

    Aduz que o impetrante (Procurador da Fazenda Estadual) foi indiciado em inquérito policial, acusado da prática de crime de concussão (artigo 316 do Código Penal). Afirma que, paralelamente ao inquérito, a Secretaria da Fazenda do Estado instaurou proces-so disciplinar objetivando a apuração do fato e eventual aplicação das penalidades cabíveis, além de indeferir seu pedido de aposen-tadoria, anteriormente solicitado.

    Insatisfeito, o impetrante ingressou com o referido mandado de segurança contra atos do Secretário da Fazenda Estadual e do Presidente da Comissão de Processo Administrativo Disciplinar, nos quais obteve liminar, exarada pelo eminente Desembargador Paulo Furtado, nos seguintes termos:

    'Em face do exposto, sem mais profundo exame do mérito, nos limites da cognição sumária que se impõe na espécie, defiro a liminar encarecida para:

    a) determinar a apreciação imediata, pela autoridade indigi-tada coatora, do requerimento de aposentadoria do impetrante, com abstração do processo disciplinar instaurado e à luz do tempo de serviço do interessado;

    b) suspender os efeitos da Portaria n Q 494, de 21 de setembro de 1998, bem assim, o andamento e tramitação do processo admi-nistrativo, por ela desencadeado, até desate final do presente man-damus' (fl. 56).

    RSTJ, Brasília, a. 11, (118): 15-34, junho 1999.

  • 30 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

    'Assim, alega o requerente ser manifesto que diante da gravi-dade das acusações que pesam sobre o impetrante, a eventual exe-cução da decisão liminar proferida, paralisando o processo admi-nistrativo disciplinar legitimamente instaurado contra ele e ensejando-lhe o gozo, ainda que precário, da aposentadoria cujo direito dependeria do resultado final daquele processo, importaria gravíssima lesão à ordem pública. Sim; porque precedente que tal seria um verdadeiro estímulo ao cometimento de crimes e faltas funcionais pelos inúmeros servidores que, em condições de apo-sentarem-se, tenham preferido permanecer em atividade' (fi. 19).

    A suspensão não pode ser concedida.

    Esclareço que, nos lindes da suspensão de segurança, a apre-ciação jurisdicional há de limitar-se aos aspectos atinentes à potencialidade lesiva do ato decisório em face dos pressupostos erigidos pelo legislador, quais sejam, a afetação à ordem, à saúde, à segurança e à economia públicas.

    A questão em tela cinge-se à demanda entre servidor do Esta-do e Administração acerca de pretensão punitiva sem nenhum po-tencial de gravame à ordem pública. Ademais, o Estado-juiz tem os meios condizentes à persecutio criminis, que poderão verificar a prática do delito, sendo desinfIuente o argumento segundo o qual a atividade jurisdicional carrearia perigo à ordem pública.

    Tenho, por diversas vezes, em casos tais, reafirmado não ser a medida drástica sucedâneo de recurso, porquanto este tem sede própria ao deslinde de contendas, vale dizer, não é admissível a suspensão de segurança como meio alternativo à obtenção de re-versão de pronunciamento jurisdicional desfavorável."

    Alega o agravante, em síntese, o mesmo argumento da inicial, qual seja, a greve lesão à ordem pública com a manutenção da liminar concedida pelo tribunal a quo, tendo em vista a impossibilidade de serem apuradas e puni-das as faltas cometidas pelo impetrante, após a sua aposentadoria.

    É o relatório.

    VOTO

    O SR. MINISTRO ANTÔNIO DE PÁDUA RIBEIRO (Relator): O pre-sente recurso não reúne os pressupostos para sua admissibilidade, pois con-

    RSTJ, Brasília, a. 11, (118): 15-34, junho 1999.

  • JURISPRUDÊNCIA DA CORTE ESPECIAL 31

    forme dispõe o recente Verbete nº 217 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça, é incabível agravo contra decisão que indefere o pedido de suspensão

    da execução da liminar.

    Posto isso, não conheço do recurso.

    EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL NQ 122.555 - SP

    Relator:

    Embargante:

    Embargado:

    Advogados:

    (Registro nº 97.0055779-0)

    Ministro Eduardo Ribeiro

    Banco do Estado de São Paulo S/A - Banespa

    Abílio dos Santos Pimentel - espólio

    Jurandir Fernandes de Souza e outros, e Oswaldo Galvão Anderson Júnior

    Sustentação Oral: Maurílio Moreira Sampaio, pelo embargante

    EMENTA: Depósito judicial.

    O depositário judicial é auxiliar da Justiça e exerce seu mister sob as ordens do juiz, vinculando-se ao Estado por relação de Direito Público.

    Devendo devolver em sua integralidade a importância que recebeu, haverá de ser monetariamente corrigida, cabendo ao juiz determiná-lo, com indicação dos respectivos índices.

    Discordando, o depositário poderá impugnar o ato judicial em ação direta.

    ACÓRDÃO

    Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da

    Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, em retificação de votos,

    conhecer dos embargos de divergência e os rejeitar, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator.

    Votaram com o Relator os Srs. Ministros Edson Vidigal, Waldemar Zveiter, Sálvio de Figueiredo, Barros Monteiro, Hélio Mosimann, Francisco Peçanha

    RSTJ, Brasília, a. 11, (118): 15-34, junho 1999.

  • 32 REVISTADO SUPERIORTRIBUNALDEJUSTIÇA

    Martins, Demócrito Reinaldo, Humberto Gomes de Barros, Milton Luiz Pereira, José Dantas, William Patterson, Cid Flaquer Scartezzini, Costa Leite e Nilson Naves.

    Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Américo Luz (Presidente).

    Não proferiram voto os Srs. Ministros Garcia Vieira, Luiz Vicente Cer-nicchiaro, Fontes de Alencar e Anselmo Santiago (art. 162, § 2Q, RISTJ).

    Licenciado o Sr. Ministro Bueno de Souza, sendo substituído pelo Sr. Ministro Barros Monteiro.

    Brasília-DF, 17 de dezembro de 1997 (data do julgamento).

    Ministro ANTÔNIO DE PÁDUA RIBEIRO, Presidente.

    Ministro EDUARDO RIBEIRO, Relator.

    Publicado no DJ de 12.04.99.

    RELATÓRIO

    O SR. MINISTRO EDUARDO RIBEIRO: Trata-se de embargos de di-vergência apresentados pelo Banco do Estado de São Paulo S/A - Banespa, objetivando desconstituir decisão proferida quando julgado o recurso especial que interpôs no processo em que litiga com o espólio de Abílio dos Santos Pimentel. Discute-se a possibilidade de determinar-se o pagamento da corre-ção monetária, tratando-se de depósitos judiciais, independentemente de ação direta. Esta a ementa do acórdão:

    "Processo Civil. Depositário judicial. Correção monetária dos depósitos. Determinação judicial. Recurso conhecido pela diver-gência, mas desprovido.

    I - 'O depositário judicial deve atender à determinação do juiz, proferida nos autos da ação principal, sobre os critérios de correção dos depósitos', segundo proclamou este Tribunal no REsp n Q 60.665-9-SP.

    II - A vinculação entre o juízo e o banco conveniado como depositário judicial de valores é de natureza preponderantemente administrativa, e regida pelas normas do convênio, de sorte a evi-denciar-se a impertinência da pretensão do depositário de discutir os índices de reajuste que lhe são impostos como se fora parte no processo.

    III - Nos casos de depósito judicial, que não foram bloquea-dos por se tratar de dinheiro à disposição do Tesouro estadual, a

    RSTJ, Brasília, a. 11, (118): 15-34, junho 1999.

  • JURISPRUDÊNCIA DA CORTE ESPECIAL 33

    correção monetária de março a maio/90 e janeiro/91 deve ser cal-culada com base no IPC, sem ofensa alguma à legislação sobre planos econômicos."

    o embargante trouxe à colação julgado da Primeira Turma desta Corte - Recurso Especial n Q 71.942 - com esta ementa:

    "Processual Civil. Desapropriatória. Depósito judicial. Levan-tamento. Correção monetária. Estabelecimento bancário estranho à relação processual. Art. 472, CPC.

    1. O reconhecimento do direito à correção monetária dos de-pósitos judiciais não obriga terceiro que não integrou a originária relação processual nem foi chamado para integrá-la a tempo e modo (res inter alios acta nocet nec predest).

    2. O caso concreto diferencia-se dos precedentes jurispruden-ciais reconhecendo o direito à correção, porém, obrigando o esta-belecimento bancário relacionado processualmente como parte na ação judicial.

    3. Recurso improvido."

    Reconhecendo a divergência, admiti os embargos. Manifestaram-se os embargados.

    É o relatório.

    VOTO

    O SR. MINISTRO EDUARDO RIBEIRO (Relator): O depositário ju-dicial encontra-se arrolado entre os auxiliares da Justiça (capítulo V do título IV do livro I do Código de Processo Civil). Exerce seu mister sob as ordens do juiz, vinculando-se ao Estado por uma relação de Direito Público. A deter-minação de que proceda à entrega da coisa depositada tem caráter adminis-trativo, não se fazendo mister, a toda evidência, seja precedida de processo, em que aquele auxiliar do juiz figure como réu.

    Tranqüilo o entendimento desse tribunal de que o estabelecimento de crédito que recebe dinheiro, em depósito judicial, responde pelo pagamento da correção monetária relativa aos valores recolhidos (Súmula nQ 179). Ora, se devida a correção monetária, que apenas mantém a inteireza do recebido, parece induvidoso que a entrega do que foi depositado haverá de compreendê-la. A ser de modo diverso, subsistirá não devolvida parcela do depósito.

    RSTJ, Brasília, a. 11, (118): 15-34, junho 1999.

  • 34 REVISTADO SUPERIORTRIBUNAL DE JUSTIÇA

    Aceitos esses pontos, há de se admitir que dado ao juiz impor a devolu-ção dos valores devidamente corrigidos. E lhe caberá decidir quanto à exati-

    dão dos índices aplicados.

    Não se segue, do que ficou dito, não tenha o depositário direito ao con-traditório, com todos os meios a ele inerentes. Sucede que, em vista da natu-

    reza da relação de que faz parte, esse contraditório haverá de ser por ele sus-citado. Cabe-lhe, se assim entender, ajuizar as ações próprias, entre elas o pedido de segurança, para impugnar a determinação judicial, podendo am-plamente discutir se corretos os critérios eleitos para a atualização da expres-são monetária dos valores.

    Rejeito os embargos.

    VOTO-PRELIMINAR

    o SR. MINISTRO SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA: A questão colocada pelo eminente Ministro-Relator nos leva à reflexão de relevo, em torno das formalidades de cunho processual.

    Certo é que o processo hoje se caracteriza pela instrumentalidade, cum-

    prindo ao julgador, por outro lado, buscar na lei a sua teleologia. Outros, felizmente, são os tempos.

    Não menos certo também é, todavia, que o juiz não pode tomar liberda-des inadmissíveis com a lei, como já dizia De Page, lembrada também a lição

    de Amaral Santos, segundo a qual a formalidade é essencial ao processo, desde que em grau certo, para garantia das próprias partes. Daí porque, em

    determinados momentos ou atos, não há como evitar a formalidade de que a

    lei exige.

    Destarte, com a devida vênia, vou acompanhar o Sr. Ministro-Relator.

    VOTO-VISTA

    O SR. MINISTRO HUMBERTO GOMES DE BARROS: Sr. Presiden-te, pedi vista dos autos simplesmente para conferir a minha orientação na

    Primeira Turma e verifiquei que ela confere integralmente com a orientação

    do voto do eminente Relator.

    Rejeito os embargos, acompanhando o eminente Relator.

    RSTJ, Brasília, 3.11, (118): 15-34, junho 1999.