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Jurisprudência da Primeira Seção

Jurisprudência da Primeira Seção · da ação a justificar a concessão de liminar. Mesmo que o agravo de instrumento tivesse sido regularmente processado, como não pos sui efeito

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Jurisprudência da Primeira Seção

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JURISPRUDÊNCIA DA PRIMEIRA SEÇÃO

AGRAVO REGIMENTAL NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NA RECLAMAÇÃO N. 1.037 - SP

(Registro n. 2001.0141539-4)

Relatora: Ministra Laurita Vaz

Agravante: Transporte Rodoviário Dusan Ltda

Agravantes: Benedito Luís Alves de Oliveira e outros

Advogados: Roberto Correia da Silva Gomes Caldas e outros

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Agravado: Desembargador 4.Q. Vice-Presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo

EMENTA: Agravo regimental nos embargos declaratórios na re­clamação - Processual Civil - Justiça gratuita indeferida pelo Tri­bunal a quo - Recurso especial e agravo de instrumento inadmitidos na origem por deserção - Pedido de liminar para subida do agravo - Ausência do periculum in mora - Requerimento do beneficio da justiça gratuita para a pessoa jurídica - Condição de miserabilidade não demonstrada.

1. Não se mostram presentes os pressupostos autorizativos da liminar pretendida. Não restou demonstrado o perigo de lesão gra­ve ou de dano irreparável pela eventual demora no trâmite normal da ação a justificar a concessão de liminar. Mesmo que o agravo de instrumento tivesse sido regularmente processado, como não pos­sui efeito suspensivo, em nada modificaria a situação a que se quer ver modificada pela via do recurso especial.

2. De outro lado, o que pretende o agravante é a obtenção, des­

de logo, do objeto perseguido na reclamação. O pleito liminar é, pois, inteiramente satisfativo, o que não se coaduna com o caráter per­functório e provisório desse tipo de provimento jurisdicional.

3. Quanto ao indeferimento do benefício da justiça gratuita à pessoa jurídica, ao contrário do que sustenta o agravante, é pacífico o entendimento desta Corte, no sentido de que somente é concedi­do a empresas com fins lucrativos em circunstâncias especialís­

simas, e quando devidamente demonstrada a situação de impossi­

bilidade de arcar com as despesas, o que não ocorre in casu.

4. Agravo regimental improvido.

RSTJ, Brasília, a. 14, (153): 63-91, maio 2002.

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66 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo­tos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, negar provimento ao agravo regimental, nos termos do voto da Ministra-Relatora. Votaram com a Relatora os Srs. Ministros Paulo Medina, Luiz Fux, Garcia Vieira, Francisco Peçanha Martins, Humberto Gomes de Barros, Francisco Falcão e Franciulli Netto. Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro José Delgado.

Brasília-DF, 27 de fevereiro de 2002 (data do julgamento).

Ministra Eliana Calmon, Presidente.

Ministra Laurita Vaz, Relatora.

Publicado no DJ de 8.4.2002.

RELATÓRIO

A Sra. Ministra Laurita Vaz: Transporte Rodoviário Dusan Ltda, Be­nedito Luís Alves de Oliveira e outros ajuizaram a presente reclamação, subsidiariamente tida como medida cautelar inominada, com pedido liminar, em face de decisão do Desembargador 4.Q. Vice-Presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.

Insurgem-se os Reclamantes contra o não-processamento do agravo de instrumento, julgado deserto, e interposto com vistas a impugnar a decisão que havia indeferido o processamento do recurso especial, tido também por deserto, já que os pedidos de justiça gratuita foram denegados.

Em aditamento à inicial (petição de fl. 113), requereram o benefício da justiça gratuita.

O pedido de liminar foi indeferido, bem assim o benefício pleiteado, apenas para a pessoa jurídica, nos seguintes termos (decisão às fls. 115/117):

"De início, não se me afiguram presentes os pressupostos autorizativos da liminar pretendida. Verifico que, prima facie, os Re­clamantes não lograram êxito em demonstrar o perigo de lesão grave ou de dano irreparável pela eventual demora no trâmite normal da ação a justificar a concessão de liminar.

Com efeito, mesmo que o agravo de instrumento tivesse sido re­

gularmente processado, como não possui efeito suspensivo, em nada

RST}, Brasília, a. 14, (153): 63-91, maio 2002.

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modificaria a situação a que se quer ver modificada pela via do recurso especial, qual seja, a desconstituição do litisconsórcio ativo facultati­vo ocorrida ainda em 1 Q grau e ratificada pelo Tribunal a quo.

Além disso, como se pode observar, o que pleiteiam os Reclaman­tes é a obtenção, desde logo, do objeto perseguido na reclamação. O pleito liminar é, pois, inteiramente satisfativo, o que não se coaduna com o caráter perfunctório e provisório desse tipo de provimento jurisdicional.

Ante o exposto, indefiro o pedido de liminar.

Quanto ao pedido de assistência judiciária gratuita acostado à fi. 113, defiro o benefício apenas para as pessoas físicas. E indefiro para a pessoa jurídica, em consonância com a jurisprudência desta Corte, ratificada em decisão recente da egrégia Segunda Turma, in verbis:

'Agravo regimental. Medida cautelar. Liminar. Ausência do fumus boni iuris. Assistência judiciária gratuita. Pessoa jurídi­ca. Fins lucrativos. Ausência de comprovação de miserabilidade. Súmula n. 7 do STJ.

O benefício da assistência judiciária gratuita não abrange as pessoas jurídicas, exceto entidades pias e beneficentes sem fins lucrativos.

Poder-se-ia, eventualmente, contemplar determinada pessoa jurídica empresarial com o benefício, desde que se cuidasse de microempresa (as de fundo de quintal, as de conotação artesanal, as prestadoras de pequenos serviços, etc.) ou minúsculas empre­sas familiares (p. ex., as formadas por marido e mulher, pai e fi­lhos, irmãos, etc.), ainda assim sempre em casos excepcionais.

Mesmo que se admita o benefício da assistência judiciária gratuita para qualquer espécie de pessoa jurídica, faz-se necessário considerar sua real situação financeira.

A questão do preenchimento das condições pela Requeren­te para a concessão da assistência judiciária gratuita restou am­plamente debatida pela Corte a quo, que houve por bem indefe­rir o pedido. Aplica-se, conseqüentemente, a Súmula n. 7 deste Superior Tribunal de Justiça.

Agravo regimental a que se nega provimento. Decisão unâ­nime.' (AgRg na MC n. 3.058-SC, ReI. Min. Franciulli Netto, DJ de 23.4.2001, p. 123)."

RSTJ, Brasília, a. 14, (153): 63-91, maío 2002.

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68 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Seguiu-se a oposição de embargos de declaração que, subsidiariamente, seria "agravo em sentido estrito", a ser recebido na "qualidade de agravo regimental". Rejeitei os embargos pelos seguintes fundamentos (decisão às fis. 136/137):

"Com efeito, os Embargantes, claramente, pretendem a modifi­cação do decisum, sem se preocupar com a adequação da via eleita, tampouco com a especificidade da técnica jurídico-processual aplicá­vel a cada recurso.

Indeferi a liminar, ao entendimento de não estarem presentes seus pressupostos autorizativos. Não se verifica, na hipótese, o perigo na demora, uma vez que, conforme já consignado, 'mesmo que o agravo de instrumento tivesse sido regularmente processado, como não pos­sui efeito suspensivo, em nada modificaria a situação que se quer ver modificada pela via do recurso especial, qual seja, a desconstituição do litisconsórcio ativo facultativo ocorrida ainda em 1 Q. grau e ratificada pelo Tribunal a quo'.

Quanto ao benefício da justiça gratuita, deferi-o apenas para as pessoas físicas. E indeferi-o para a pessoa jurídica, uma vez que se trata de empresa com fins lucrativos, aplicando o entendimento da Seção.

Não há, portanto, na decisão embargada qualquer omissão, obs­curidade ou contradição a ser dirimida, muito menos razão que justi­fique os efeitos infringentes perquiridos.

Ante o exposto, rejeito os embargos."

Ainda inconformado, o Reclamante manejou o presente agravo regi­mental contra o indeferimento da medida liminar, bem como a negativa do benefício da justiça gratuita à pessoa jurídica.

Reitera, nos mesmos termos, os argumentos expedidos na inicial, as­severando que, a teor da Lei n. 7.115, de 29 de agosto de 1983, basta a mera declaração de pobreza, pois a norma não distingue pessoas físicas de pessoas jurídicas. E alega impossibilidade momentânea de arcar com as custas processuais e honorários advocatícios, "o que, em tempos de recessão econômica, não é difícil de se imaginar" (fi. 143).

Outrossim, aduz que, "quanto à medida liminar, o indeferimento quan­to ao litisconsórcio somente prejudica ainda mais os postulantes, porquan­to a lide passa a ter trâmite nas instâncias inferiores em prejuízo de nuli­dade quanto a tudo que ulterior se obter pela presente" (fi. 144).

É o relatório.

RSTJ, Brasília, a. 14, (153): 63-91, maio 2002.

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VOTO

A Sra. Ministra Laurita Vaz (Relatora): Mantenho a decisão agravada

pelos seus próprios fundamentos.

No que se refere ao pedido de liminar, conforme já consignado, não

se mostram presentes os pressupostos autorizativos da medida pretendida.

Não restou demonstrado o perigo de lesão grave ou de dano irreparável pela

eventual demora no trâmite normal da ação a justificar a concessão de

liminar.

Ora, mesmo que o agravo de instrumento tivesse sido regularmente

processado, como não possui efeito suspensivo, em nada modificaria a si­

tuação que se quer ver modificada pela via do recurso especial, qual seja,

a desconstituição do litisconsórcio ativo facultativo ocorrida ainda em pri­

meiro grau e ratificada pelo Tribunal a quo.

Além disso, como se pode observar, o que pleiteia o Reclamante é a

obtenção, desde logo, do objeto perseguido na reclamação. O pleito liminar

é, pois, inteiramente satisfativo, o que não se coaduna com o caráter per­

functório e provisório desse tipo de provimento jurisdicional.

Quanto ao indeferimento do benefício da justiça gratuita à pessoa ju­

rídica, ao contrário do que sustenta o Agravante, é pacífico o entendimen­

to desta Corte, no sentido de que somente é concedido a empresas com fins

lucrativos em circunstâncias especialíssimas, e quando devidamente demons­

trada a situação de impossibilidade de arcar com as despesas, o que não

ocorre in casu. Confira-se, a propósito, os seguintes precedentes:

"Agravo regimental. Medida cautelar. Liminar. Ausência de

fumus boni iuris. Assistência judiciária gratuita. Pessoa jurídica. Fins

lucrativos. Ausência de comprovação de miserabilidade. Súmula n. 7

do STl

O benefício da assistência judiciária gratuita não abrange as pes­

soas jurídicas, exceto entidades pias e beneficentes sem fins lucrativos.

Poder-se-ia, eventualmente, contemplar determinada pessoa jurí­

dica empresarial com o benefício, desde que se cuidasse de

microempresa (as de fundo de quintal, as de conotação artesanal, as

prestadoras de pequenos serviços, etc.) ou minúsculas empresas fami­

liares (p. ex., as formadas por marido e mulher, pai e filhos, irmãos,

etc.), ainda assim, sempre em casos excepcionais.

RSTJ, Brasília, a. 14, (153): 63-91, maio 2002.

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Mesmo que se admita o benefício da assistência judiciária gratui­ta para qualquer espécie de pessoa jurídica, faz-se necessário conside­rar sua real situação financeira.

A questão do preenchimento das condições pela Requerente para a concessão da assistência judiciária gratuita restou amplamente deba­tida pela Corte a quo, que houve por bem indeferir o pedido. Aplica­-se, conseqüentemente, a Súmula n. 7 deste Superior Tribunal de Jus­tiça.

Agravo regimental a que se nega provimento. Decisão unânime." (AgRg na MC n. 3.058-SC, ReI. Min. Franciulli Netto, DJ de 23.4.2001, p. 123).

"Civil e Processo Civil. Recurso especial. Locação. Despejo por denúncia vazia. Justiça gratuita. Lei n. 1.060/1950. Pessoa jurídica. Empresa comercial limitada. Reexame de prova. Súmula n. 7-STJ. Dissídio pretoriano prejudicado.

1. A gratuidade da Justiça, sendo um direito subjetivo público, outorgado pela Lei n. 1.060/1950 e pela Constituição Federal, deve ser amplo, abrangendo todos aqueles que comprovarem sua insuficiência de recursos, não importando ser pessoa física ou jurídica.

2. Os arts. 2.Q., 4.Q. e 6.Q. da Lei n. 1.060/1950 não se coadunam com

as pessoas jurídicas voltadas para atividades lucrativas, pois não se in­cluem estas no rol dos necessitados. O auferimento de lucro, prima facie, afigura-se incompatível com a situação de miserabilidade des­crita na norma legal. A extensão do benefício deve ocorrer somente às pessoas jurídicas pias, filantrópicas, consideradas por lei socialmente relevantes, ou ainda, sem fins lucrativos.

3. Para conhecimento deste recurso, necessário seria o reexame de prova, porquanto a declaração de pobreza juntada aos autos, meio hábil para o deferimento da gratuidade da Justiça, não faz prova ine­quívoca do alegado, diante dos fatos narrados na mesma e no v. acórdão atacado. Referida declaração apenas esclarece que a pessoa jurídica deixou de auferir valores suficientes para arcar com o ônus

processual e de honorários advocatícios, deixando claro que, apesar da proclamada recessão econômica, obtém lucros. Aplicação da Súmula n.

7-STJ.

4. Eventual dissídio pretoriano prejudicado, posto ser necessária a análise da prova documental para, confirmado o estado alegado, con­frontar os julgados divergentes.

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5. Recurso não conhecido." (REsp n. 223.129-MG, ReI. Min. Jorge Scartezzini, DJ de 7.2.2000, p. 174.)

Ante o exposto, nego provimento ao agravo regimental.

É o voto.

CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 32.445 - RS (Registro n. 2001.0082022-7)

Relator: Ministro Luiz Fux

Autor: Instituto Nacional do Seguro Social - INSS

Procuradores: Alexandre Nunes Machado e outros

Ré:

Advogado:

Suscitante:

Suscitado:

P. A. Scheid e Companhia Ltda

Valdecir Antônio Albarello

Juízo de Direito de Dois Irmãos-RS

Juízo Federal da Vara de Execuções Fiscais de Novo Ham­

burgo - SJ/RS

EMENTA: Processual Civil - Execução fiscal - Conflito negati­

vo de competência - Art. 109, § 32., da CF/1988 - Art. 15, I, da Lei n.

5.010/1966 - Justiça Estadual - Súmula n. 40 do TFR - Súmula n. 33

do STJ.

1. Enquadrando-se o caso em exame na parte final do § 32. do

art. 109 da CF/1988 (art. 15, I, da Lei n. 5.010/1966), não resta dúvi­

da que a competência para processar as execuções fiscais propos­

tas pela União ou suas autarquias contra devedores domiciliados

em comarcas do interior, onde não haja vara federal, é do juiz es­

tadual.

2. A execução fiscal será proposta perante o juízo estadual da comarca do domicílio do devedor, desde que não seja sede de vara

da Justiça Federal. (Súmula n. 40-ex-TFR).

3. A incompetência relativa não pode ser declarada de oficio,

nos termos da Súmula n. 33 do STJ.

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Inconformismo do juízo para o qual foram remetidos os autos em razão da solução do conflito. Inexistência de conflito entre juiz e o tribunal que lhe sobrepõe com competência de derrogação de suas decisões.

Uma vez decidido o conflito de competência, functus offido est, devendo o juízo inferior submeter-se à decisão do juízo compe­tente para a solução do incidente processual.

A lei processual não prevê o conflito do conflito nem autoriza o juízo competente por força da solução do incidente reavivar a ma­téria através de sui generis recurso. Aplicação do art. 122 do CPC. O tribunal, ao decidir o conflito, declarará qual o juiz competente, pronunciando-se também sobre a validade dos atos do juiz incom­petente. Em conseqüência, os autos do processo, em que se mani­festou o conflito, são remetidos ao juiz declarado competente, en­cerrando-se o incidente.

Conflito que revela insubordinação hierárquica. Não-conheci­mento do conflito.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo­tos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, não conhecer do conflito, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Os Srs. Ministros Garcia Vieira, Francisco Peçanha Martins, Humberto Gomes de Barros, Francisco Falcão, Franciulli Netto, Laurita Vaz e Paulo Medina votaram com o Sr. Ministro-Relator. Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro José Delgado.

Brasília-DF, 27 de fevereiro de 2002 (data do julgamento).

Ministra Eliana Calmon, Presidenta.

Ministro Luiz Fux, Relator.

Publicado no DJ de 25.3.2002.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Luiz Fux: Trata-se de conflito negativo de competên­cia em execução fiscal ajuizada pelo INSS em face de P. A. Scheid e Cia

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Ltda e outros, suscitado pelo Juízo Federal da Vara de Execuções Fiscais

de Novo Hamburgo-RS, em relação ao Juízo de Direito da Comarca de Dois Irmãos-RS.

Aduziu o Suscitante que o Juízo da Comarca de Dois Irmãos é o com­

petente para conhecer da ação, posto que não existe vara da Justiça Federal

em funcionamento naquela cidade e o fato de existir vara federal na circuns­

crição de Novo Hamburgo não altera a regra de competência prevista no

artigo 12, I, da Lei n. 5.010/1966. Por fim, sustentou a aplicação da Súmula

n. 40 do extinto TFR, bem como a Súmula n. 33 do STl

Às fls. 81/83 parecer do Ministério Público.

O conflito de competência foi julgado à fl. 89 pelo TRF, tendo sido declarado competente o suscitado - Juízo de Direito da Comarca de Dois

Irmãos-RS, assim ementado:

"Processual Civil. Execução fiscal. Conflito negativo de compe­

tência. Artigo 109, § 3'\ da CF/1988. Art. 15, I, da Lei n. 5.010/1966.

Justiça Estadual. Súmula n. 40 do TFR. Súmula n. 33 do STl"

À fl. 96 os autos foram remetidos ao Juízo-suscitado.

Às fls. 98/100, o Juízo da Comarca de Dois Irmão, não se conforman­

do com a decisão do TRF, apresenta suas razões, determinando a remessa

do conflito de competência para o STJ.

Parecer da Subprocuradoria Geral da República opinando pela com­

petência do Juízo de Direito, o suscitante.

VOTO

O Sr. Ministro Luiz Fux (Relator): Em suma, o que se observa é que

o conflito de competência foi dirimido pelo Tribunal competente, o TRF.

O juízo para o qual foram remetidos os autos em razão da solução do

conflito manifestou o seu inconformismo com a decisão.

Ora, em primeiro lugar, inexiste conflito entre juiz e o tribunal que

lhe sobrepõe com competência de derrogação de decisões.

Assim é que, uma vez decidido o conflito de competência, functus

officio est, devendo o juízo inferior submeter-se à decisão do juízo com­

petente para a solução do incidente processual.

RST], Brasília, a. 14, (153): 63-91, maio 2002.

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74 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Ademais, a lei processual não prevê "conflito do conflito" nem auto­riza o juízo competente, por força da solução do incidente reavivar a ma­

téria através de sui generis recurso.

Impõe-se, assim, a aplicação do art. 122 do CPC, segundo o qual o

tribunal, ao decidir o conflito, deve declarar qual o juiz competente, pro­nunciando-se também sobre a validade dos atos do juiz incompetente.

Em conseqüência, os autos do processo, em que se manifestou o con­

flito, são remetidos ao juiz declarado competente, encerrando-se o incidente.

Nesse segmento, forçoso reconhecer que o conflito in casu revela in­

subordinação hierárquica, por isso que se impõe o seu não-conhecimento.

CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 32.960 - PB (Registro n. 2001.010 1938-0)

Relatora:

Autor:

Advogados:

Réu:

Suscitante:

Suscitado:

Ministra Laurita Vaz

Município de Santa Rita

Amaury Vasconcelos e outro

Oildo Soares

Juízo de Direito da ll!. Vara de Santa Rita-PB

Juízo Federal da 2l!. Vara da Seção Judiciária do Estado da Paraíba

EMENTA: Conflito de com.petência - Ação de ressarcim.ento

proposta pelo Municipio em. desfavor de ex-Prefeito - Valores repas­

sados pela União e incorporados ao patrim.ônio da Municipalidade -

Com.petência da Justiça Estadual - Aplicação da Súm.ula n. 209 do

STJ - Precedentes.

I - Não com.pete à Justiça Federal processar e julgar ação de

prestação de contas de Prefeito, quando, em. decorrência da cele­

bração de convênio entre o Município e a União, os valores dos re­

cursos federais foram. creditados e transferidos à Municipalidade, in­

corporados, portanto, ao patrim.ônio deste.

II - Não há interesse da União Federal na causa, porquanto o

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JURISPRUDÊNCIA DA PRIMEIRA SEÇÃO 75

prejuízo atingiu apenas o Erário Público do ente municipal. Aplica­

ção da Súmula n. 209 do STJ.

111 - Precedentes da Primeira Seção.

IV - Conflito conhecido para declarar competente o Juízo-sus­

citante, ou seja, o Juiz e Direito da li! Vara da Comarca de Santa Rita-PB.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo­tos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, conhecer do con­

flito e declarar competente o Juízo de Direito da I a Vara de Santa Rita-PB, o suscitante, nos termos do voto da Sra. Ministra-Relatora. Votaram com a

Relatora os Srs. Ministros Paulo Medina, Francisco Peçanha Martins, José Delgado, Eliana Calmon e Franciulli Netto. Ausentes, ocasionalmente, os

Srs. Ministros Humberto Gomes de Barros e Francisco Falcão. Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Garcia Vieira.

Brasília-DF, 14 de novembro de 2001 (data do julgamento).

Ministro José Delgado, Presidente.

Ministra Laurita Vaz, Relatora.

Publicado no DJ de 18.2.2002.

RELATÓRIO

A Sra. Ministra Laurita Vaz: Trata-se de conflito negativo de compe­tência suscitado pelo MM. Juiz de Direito da laVara da Comarca de San­

ta Rita-PB, em face da decisão de fls. 54/55, exarada pelo MM. Juiz Federal

da 2a Vara da Seção Judiciária da Paraíba, foro este originário da ação de ressarcimento proposta pelo Município de Santa Rita contra o ex-Prefeito

Oildo Soares.

A demanda em comento objetiva compelir o Réu a devolver valor cor­respondente a recursos federais transferidos pela União Federal em favor da

Municipalidade.

Sustenta o Município-autor que o cidadão Oildo Soares, enquanto pre­feito, recebeu em 15.8.1996, em detrimento do Convênio n. 4.809/1996,

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76 REVISTADO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

celebrado com o Ministério da Educação e do Desporto, verbas no valor de R$ 114.800,00 (cento e quatorze mil e oitocentos reais), destinadas ao custeio e à manutenção das escolas públicas municipais, não prestando contas da aplicação dos recursos recebidos do Ministério mencionado, impossibi­litando o atual representante da Municipalidade de obter outros convênios.

Ao processar o feito, o Juízo Federal, após a prática de atos expedien­tes, declarou-se, ex officio, incompetente para julgar a causa, determinan­do a remessa dos autos à Justiça Estadual, convicto de que não há interes­se da União Federal em litígio (fls. 54/55).

O MM. Juiz Estadual, após acolher a manifestação do Ministério PÚ­blico do Estado da Paraíba, suscitou o presente conflito.

A douta Subprocuradoria Geral da República opinou pela competên­cia da Justiça Federal (fls. 72/74).

É o breve relatório.

VOTO

A Sra. Ministra Laurita Vaz (Relatora): A matéria já se encontra pa­cificada por esta colenda Seção.

Conforme se depreende da leitura das informações, houve o efetivo repasse dos recursos federais, destinados ao custeio e à manutenção das es­colas públicas municipais, ao patrimônio do Município de Santa Rita.

Assim sendo, a prestação de contas do Prefeito de recursos creditados ao Município pela União, em decorrência da celebração de convênio, não é da competência da Justiça Federal, uma vez que transferidos os valores à Municipalidade, têm-se que estes foram incorporados ao seu patrimônio.

Com efeito, não há interesse da União Federal na causa, porquanto o prejuízo atingiu apenas o Erário Público do Município de Santa Rita-PB.

A propósito, confira-se a orientação jurisprudencial desta colenda Se­ção, in verbis:

"Ementa: Conflito de competência. Ação de reparação de danos. Ex-prefeito.

Ação de reparação de danos movida pelo Município contra seu ex-prefeito é de competência da Justiça Estadual, vez que dela não fa­zem parte a União, entidade autárquica ou empresa pública federal.

Conflito conhecido." (CC n. 21.213-CE, ReI. Min. Garcia Vieira, DJ de 14.9.1998, p. 3).

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JURISPRUDÊNCIA DA PRIMEIRA SEÇÃO 77

"Ementa: Competência. Ação ordinária proposta por Município contra ex-prefeito, objetivando a devolução de verbas aplicadas irre­gularmente no exercício do mandato.

I - Se os recursos federais haviam sido transferidos ao Municí­pio, não há interesse da União a justificar o deslocamento do feito para

a competência da Justiça Federal.

II - Conflito de que se conhece, a fim de declarar-se a compe­tência do MM. Juízo-suscitado." (CC n. 8.434-AL, ReI. Min. Antônio de Pádua Ribeiro, DJ de 17.10.1994, p. 27.849).

"Ementa: Conflito de competência. Ação popular ajuizada contra ato de prefeito municipal. Desvio e má aplicação de verbas. Compe­tência da Justiça Estadual.

- A competência para o processo de ação popular está determi­nada pela origem do ato a ser anulado.

- Assim, se o ato é do prefeito, acusado de má aplicação de di­nheiro, a competência é da Justiça Comum, embora a verba seja pro­veniente do Governo Federal, porque já incorporada ao patrimônio da prefeitura, passando para a disponibilidade do Município." (CC n.

2.273-PI, ReI. Min. Hélio Mosimann, DJ de 25.11.1991, p. 17.039).

Concluindo, não é possível olvidar o enunciado da Súmula n. 209 desta Corte Superior de Justiça, que cristalizou o entendimento de que "compe­te à Justiça Estadual processar e julgar prefeito por desvio de verba transfe­rida e incorporada ao patrimônio municipal".

Ante a todo exposto, conheço do presente conflito e declaro competen­

te para processar e julgar a ação de ressarcimento o juízo-suscitante, isto é, o Juízo de Direito da 1ll. Vara da Comarca de Santa Rita-PB.

É como voto.

MANDADO DE SEGURANÇA No 60408 - DF (Registro n. 99.0056430-8)

Relator: Ministro Francisco Peçanha Martins

Impetrante: TV A Notícia Ltda

RS7J, Brasília, a. 14, (153): 63-91, maio 2002.

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78 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Advogados: Renato Melillo Filho e outro

Impetrado: Ministro de Estado das Comunicações

Litisconsorte passiva: TV Cidade dos Príncipes S/C Ltda

Advogada: Lourdes Maria Balby Silva

EMENTA: Mandado de segurança - Serviço de radiodifusão -

Adjudicação à litisconsorte passiva - Decadência da iIllpetração -Inocorrência - Ato do Ministro das COIllunicações isento de ilegali­dade ou abusividade - Inexistência de direito líquido e certo - Ra­tificação posterior por decreto presidencial.

1. PreliIllinar de decadência da ação rejeitada.

2. Não se pode atribuir ilegalidade ao ato do Ministro das Co­Illunicações que adjudicou à litisconsorte passiva a exploração do serviço de radiodifusão de sons e iIllagens na cidade de Joinville, confirIllando decisões anteriores do órgão encarregado de proce­der à licitação, que transcorreu regularIllente seIll eiva de irregu­laridade.

3. Inequívoca a inexistência de direito líquido e certo da iIllpetrante.

4. DeIllais disso, o DOU de 10.3.1999 publicou decreto do Pre­sidente da República outorgando a exploração do Illencionado ser­viço de radiodifusão à TV Cidade dos Príncipes S/C Ltda, o qual ob­teve chancela do Congresso Nacional, através do Decreto Legislativo n. 175/1999 (DOU de 14.12.1999), fatos supervenientes que tornaIll insubsistente a iIllpetração contra o ato do Ministro das COIllunica­ções.

5. Segurança denegada.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da

Primeira Seção Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e

das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, denegar a segurança. Vo­taram com o Relator os Srs. Ministros Milton Luiz Pereira, José Delgado, Eliana Calmon, Francisco Falcão, Franciulli Netto, Castro Filho e Garcia Vieira.

Brasília-DF, 29 de maio de 2001 (data do julgamento).

RST], Brasília, a. 14, (153): 63-91, maio 2002.

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JURISPRUDÊNCIA DA PRIMEIRA SEÇÃO

Ministro Humberto Gomes de Barros, Presidente.

Ministro Francisco Peçanha Martins, Relator.

Publicado no DJ de 18.2.2002.

RELATÓRIO

79

O Sr. Ministro Francisco Peçanha Martins: TV A Notícia Ltda impetra

mandado de segurança, com pedido de liminar, contra o Ministro de Esta­do das Comunicações, apontando como litisconsorte passiva necessária TV,

Cidade dos Príncipes S/C Ltda.

Alega que, na Concorrência n. 58/1997 -SFO/MC para exploração do

serviço de radiodifusão de sons e imagens na cidade de Joinville-SC, a litisconsorte passiva apresentou a proposta de preços em desacordo com o

previsto no seu contrato social, que estabelece a necessidade de ser assina­da por todos os sócios. A despeito disso, a comissão licitante permitiu que

a referida empresa permanecesse no certame ao arrepio das exigências do

edital.

O inconformismo da Impetrante, manifestado em recurso próprio, con­tra essa irregularidade, qual seja, juntada de documento novo representado

por ata de reunião dos sócios conferindo aos diretores da firma poderes para assinarem proposta de preço, não foi acolhido pela autoridade impetrada que

ratificou o parecer da comissão licitante, em despacho publicado no DOU de 19.2.1999, contra o qual a Impetrante se insurge neste mandamus. Pos­teriormente, o DOU de 4.3.1999 publicou despacho da mesma autoridade

adjudicando à litisconsorte o objeto da licitação. Juntou farta documenta­ção.

Estes os motivos pelos quais pede a concessão da ordem.

A ação foi distribuída originariamente ao eminente Ministro Gomes

de Barros, que relegou a apreciação do pedido de liminar para depois do

recebimento das informações requisitadas do Impetrado.

Prestadas as informações, o Ministério Público Federal requereu fos­se promovida a citação da litisconsorte passiva.

Sendo-me redistribuído o processo, por ter o eminente Relator assu­

mido a presidência da Seção, determinei a citação da litisconsorte, que ofe­

receu contestação, requerendo a juntada das peças do MS n. 5.809-DF, re­querido pela mesma autora.

RST], Brasília, a. 14, (153): 63-91, maio 2002.

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80 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

A douta Subprocuradoria Geral da República opinou pela denegação da segurança.

A litisconsorte apresentou memorial capeando alguns documentos com­plementares aos já existentes nos autos, inclusive cópias autenticadas de fo­lhas dos DOUs de 10.3.1999 e 14.12.1999, que publicaram decretos do Presidente da República e do Congresso Nacional.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Francisco Peçanha Martins (Relator): Através do pre­sente mandado de segurança, a Impetrante insurge-se contra ato do Minis­tro das Comunicações consubstanciado em despacho, publicado no DOU de 19.2.1999, homologatório de decisão da Comissão Especial de Âmbito Na­cional criada pela Portaria n. 63, de 5.2.1997, a fim de proceder à Concor­rência Pública n. 58/1997 -SFO/MC, concernente à exploração do serviço de radiodifusão de sons e imagens em J oinville-SC, que, segundo a Impetrante, admitiu a juntada de documento novo (ata da reunião dos só­cios conferindo aos diretores poderes para assinar proposta de preço), no processo licitatório, pela TV Cidade dos Príncipes, sagrada vencedora no

certame.

A Impetrante já havia intentado outro Mandado de Segurança, n. 5.809-DF, imputando irregularidades na licitação: não ter a referida con­corrente atendido às exigências do edital, tais como apresentação regular do

balanço de abertura e índice de solvência, assinado exclusivamente pelo con­tador da empresa, resultando em sua inabilitação e, a despeito disso, a co­

missão de licitação acolheu o recurso por ela interposto, permitindo sua permanência no certame e desproveu o recurso da Impetrante; ação mandamental julgada extinta, sem julgamento do mérito, por esta egrégia Turma, nos termos do art. 267, VI, do CPC, conforme acórdão publicado no DJ de 20.3.2000.

Agora, a Impetrante insurge-se apenas contra o despacho homo­logatório do Ministro das Comunicações, como explicitado na inicial: "Tal

documento foi aceito pela comissão licitante através de parecer aprovado

pela Autoridade-impetrada através de despacho publicado no DOU de 19.2.1999, despacho este combatido no presente writ" (fi. 3).

Não há falar em coisa julgada, como alegado pelo litisconsorte, pois, além do primeiro mandado de segurança ter sido extinto sem julgamento do

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JURISPRUDÊNCIA DA PRIMEIRA SEÇÃO 81

mérito, as causas de pedir, embora resultem em solução semelhante (cas­

sação do ato ministerial), não são absolutamente idênticas. Contudo, há de

ser considerada a questão da decadência.

Com efeito, o ato da autoridade apontada como coatora constitui mero

despacho de homologação de decisão da comissão de licitação, que teria

admitido documento apresentado pela concorrente, permitindo sua continui­

dade na concorrência, após impugnação da referida empresa, mediante re­curso próprio no qual foram observados os princípios do contraditório e da

ampla defesa, tanto que a Impetrante contraditou o recurso. Na verdade, o

Ministro das Comunicações apenas ratificou o ato, não o tendo cometido

pessoalmente, não foi ele quem, no momento oportuno, admitiu o mencio­

nado documento.

o renomado Hely Lopes Meirelles, ao estabelecer a distinção entre

ato complexo e procedimento administrativo, leciona:

"Não se confunda ato complexo com procedimento administra­

tivo. No ato complexo integram-se as vontades de vários órgãos para

a obtenção de um mesmo ato; no procedimento administrativo prati­

cam-se diversos atos intermediários e autônomos para a obtenção de um ato final e principal. Exemplos: a investidura de um funcionário

é um ato complexo consubstanciado na nomeação feita pelo Chefe do

Executivo e complementada pela posse e exercício dados pelo chefe da

repartição em que vai servir o nomeado; a concorrência é um proce­

dimento administrativo, porque, embora realizada por um único órgão, o ato final e principal (adjudicação da obra ou serviço) é precedido de

vários atos autônomos e intermediários (edital, verificação de idonei­

dade, julgamento da proposta), até chegar-se ao resultado pretendido

pela Administração. Essa distinção é fundamental para saber-se em que

momento o ato se torna perfeito e impugnável: o ato complexo só se aperfeiçoa com a integração da vontade final da Administração e a par­

tir desse momento é que se torna atacável por via administrativa ou

judicial; o procedimento administrativo é impugnável em cada uma

dessas fases, embora o ato final só se torne perfeito após a prática do

último ato formativo." (Direito Administrativo Brasileiro, RT, 1611. ed., 2Jl. tir., p. 148).

Por isso mesmo é que, em sua consagrada obra Mandado de Segurança, assevera:

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82 REVISTADO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

"Nos órgãos colegiados considera-se o presidente, que subscre­ve o ato impugnado. e responde pela sua execução. Nos atos comple­xos o coator é a última autoridade que neles intervém para seu aper­feiçoamento, mas a jurisprudência tem exigido a notificação de todos os que participaram do ato; nos atos compostos o coator é a autoridade que pratica o ato principal; nos procedimentos administrativos o coator é a autoridade que preside à sua realização." (op. cit., Malheiros Ed., 20a ed., p. 57 - grifei).

Ora, conforme documentos juntados pela própria Impetrante, o ato da comissão de licitação, dando provimento ao recurso da TV Cidade dos Prín­cipes e permitindo sua permanência no certame em 20.1.1998, foi levado ao conhecimento do público no dia imediato, divulgado na imprensa local no dia 27 daquele mês e, finalmente, publicada a classificação da referida concorrente no DOU de 5.6.1998 (fls. 121, 131, 137 e 165).

Por outro lado, os documentos de fls. 266/267 e 268/269, 2.Q. voI., no­ticiam o desprovimento do recurso da Impetrante desde novembro/1998.

Inequívoca, portanto, a decadência deste mandado de segurança, erro­neamente direcionado e autuado em 18.6.1999, razão pela qual, preliminar­mente, declaro extinto o direito de impetração, nos termos do art. 18 da Lei n. 1.533/1951.

Mérito:

Não se pode atribuir ilegalidade ou abusividade de qualquer ato do Ministro das Comunicações, inclusive a adjudicação do serviço de radiodi­fusão a litisconsorte, constitutivos de confirmações das decisões anteriores do órgão encarregado de proceder à concorrência, que apreciaram ampla­mente todas as fases do procedimento licitatório, notadamente os recursos oferecidos pelos interessados, facultando-lhes defesa irrestrita, como denota a copiosa documentação acostada aos autos. Inexiste, portanto, direito líqui­do e certo a ser amparado em ação mandamental, como acentuado no pa­recer do Ministério Público Federal de fls. 354/357, verbis: "Com efeito, o ato inquinado não violou direito líquido e certo, eis que o documento. a que se refere a Impetrante se traduz numa ata da litisconsorte passiva, no qual ficou consignado que os sócios da empresa estão aptos a assinar a pro­posta de preços da concorrência. De salientar que tal documento foi apre­sentado objetivando defesa em recurso administrativo, vez que não consta­ra no edital de concorrência. O edital exigia, apenas, que as propostas de preços estivessem assinadas por representante legal da proponente ou pro­

curador constituído, e isso foi feito", rematando: "Assim, a apresentação do

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JURISPRUDÊNCIA DA PRIMEIRA SEÇÃO 83

documento em discussão não comprometeu o equilíbrio entre as licitantes, nem causou qualquer prejuízo ao Estado, pois ateve-se à questão formal de pouca relevância. A não-configuração de ilegalidade e de lesão ao Estado impossibilita a declaração de nulidade do certame".

Acresce a tudo isso, o fato de ter sido publicado no DOU de 10.3.1999 (Seção I, p. 5), o decreto do Presidente da República datado do dia anterior, outorgando à TV Cidade dos Príncipes S/C Ltda a exploração dos serviços de radiodifusão e de sons e imagens, em Joinville-SC, subme­tendo sua eficácia à deliberação do Congresso Nacional, nos termos do art. 223, § 3.Q., da CF, o que veio a ocorrer através do Decreto Legislativo n. 175/ 1999, publicado no DOU de 14.12.1999 (Seção I, p. 3), circunstância superveniente à impetração que a torna destituída de finalidade contra ato do Ministro das Comunicações já chancelado por decretos dos Poderes Exe­cutivo e Legislativo.

Por tais motivos, denego a segurança quanto ao mérito.

VOTO-VISTA

O Sr. Ministro Milton Luiz Pereira: Sombreado o meu juízo por dú­vidas, com o intuito de derruí-Ias, solicitei vista direta das peças informa­tivas do processo e, concluído o exame, em face do tempo decorrido, cônsono sumariou o eminente Relator, comemora-se:

" ... a Impetrante insurge-se contra ato do Ministro das Comuni­cações consubstanciado em despacho, publicado no DOU de 19.2.1999, homologatório de decisão da Comissão Especial de Âmbito Nacional criada pela Portaria n. 63, de 5.2.1997, a fim de proceder à Concorrência Pública n. 5811997-SFO/MC, concernente à exploração do serviço de radiodifusão de sons e imagens em Joinville-SC, que, segundo a Impetrante, admitiu a juntada de documento novo (ata da reunião dos sócios conferindo aos diretores poderes para assinar pro­

posta de preço), no processo licitatório, pela TV Cidade dos Prínci­pes, sagrada vencedora no certame.

A Impetrante já havia intentado outro Mandado de Segurança, n. 5.809-DF, imputando irregularidades na licitação: não ter a referida concorrente atendido às exigências do edital, tais como apresentação regular do balanço de abertura e índice de solvência, assinado exclu­

sivamente pelo contador da empresa, resultando em sua inabilitação e, a despeito disso, a comissão de licitação acolheu o recurso por ela

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84 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

interposto, permitindo sua permanência no certame e desproveu o re­

curso da Impetrante; ação mandamental julgada extinta, sem julgamen­

to do mérito, por esta egrégia Turma, nos termos do art. 267, VI, do

CPC, conforme acórdão publicado no DJ de 20.3.2000.

Agora, a Impetrante insurge-se apenas contra o despacho ho­mologatório do Ministro das Comunicações, como explicitado na

inicial: 'Tal documento foi aceito pela comissão licitante através de

parecer aprovado pela Autoridade-impetrada através de despacho

publicado no DOU de 19.2.1999, despacho este combatido no pre­

sente writ' (fl. 3)."

Adiante, explicou:

"Com efeito, o ato da autoridade apontada como coatora cons­

titui mero despacho de homologação de decisão da comissão de lici­

tação, que teria admitido documento apresentado pela concorrente, permitindo sua continuidade na concorrência, após impugnação da re­

ferida empresa, mediante recurso próprio no qual foram observados os princípios do contraditório e da ampla defesa, tanto que a Impetrante

contraditou o recurso. Na verdade, o Ministro das Comunicações ape­

nas ratificou o ato, não o tendo cometido pessoalmente, não foi ele

quem, no momento oportuno, admitiu o mencionado documento."

Depois de discorrer sobre a constituição do ato administrativo, a fi­

nal, aduziu:

"Ora, conforme documentos juntados pela própria Impetrante, o

ato da comissão de licitação, dando provimento ao recurso da TV Ci­

dade dos Príncipes e permitindo sua permanência no certame em 20.1.1998, foi levado ao conhecimento do público no dia imediato,

divulgado na imprensa local no dia 27 daquele mês e, finalmente,

publicada a classificação da referida concorrente no DOU de 5.6.1998

(fls. 121, 131, 137 e 165).

Por outro lado, os documentos de fls. 266/267 e 268/269, 2>1. voI.,

noticiam o desprovimento do recurso da Impetrante desde novembro/

1998.

Inequívoca, portanto, a decadência deste mandado de segurança, erroneamente direcionado e autuado em 18.6.1999, razão pela qual,

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JURISPRUDÊNCIA DA PRIMEIRA SEÇÃO 85

preliminarmente, declaro extinto o direito de impetração, nos termos do art. 18 da Lei n. l.533/195l."

A dúvida ensejadora do pedido de vista surgiu em torno da ocorrên­cia, ou não, da decadência.

Por essas trilhas, fixado o exame na demonstração documentária e feita a leitura da narrativa inicial, à vista fácil, sobreconcentra-se que toda a ar­ticulação tem sede nos procedimentos administrativos realizados no curso de 1998, seja por funcionários com específicas atribuições ou pelas comis­sões, todas hierarquicamente inferiores à autoridade do Sr. Ministro das Comunicações. Para essa conclusão, basta a averiguação dos documentos que instruem a petição inicial.

Essa realidade, se isolada na apreciação, dificultaria a verificação da competência desta Corte (art. 105, lU, b, CF), uma vez que a petição ini­cial, genericamente e no plural, comentou vários fatos e, no pedido, dispôs:

"5. A concessão final da ordem para, anulados os despachos ata­cados, ser excluída a litisconsorte passiva necessária TV Cidade dos Príncipes Ltda da concorrência, alterando-se, então, o resultado da mesma e para ser adjudicado à Impetrante o objeto de licitação." (fl. 10) .

Conquanto notória a pluralidade de objetivos, no entanto, apesar da técnica expositiva imperfeita e do cipoal argumentativo, a Impetrante pon­tuou o ato ministerial impugnado nesta impetração, registrando: " ... Tal documento foi aceito pela comissão licitante através de parecer aprovado pela Autoridade-impetrada através de despacho publicado no DOU de 19.2.1999, despacho combatido no presente writ". (fl. 3).

Concretamente, significa que se cuida do ato copiado e juntado à fl.

317. Identificado o ato verberado, assinala-se que foi publicado no DOU de 19.2.1999. Excluído o dia do começo, destacando-se que os dias seguintes coincidiram com o sábado e domingo, a contagem do prazo decadencial ini­ciou-se no dia 22 daquele mês, encerrando-se na data de 21 de junho do mesmo ano (art. 184 e § 1!l, CPC).

Incontroverso que a petição inicial foi protocolada em 18.6.1999, con­clusivamente, o prazo decadencial não estava vencido (art. 18, Lei n. l.533/ 1951). Logo, operante e exeqüível o ato a partir da publicação e apresen­tada a inicial tempestivamente, o direito foi exercitado antes de vencido o lapso temporal sinalizador da decadência. Demais, no caso, não está

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86 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

demonstrado que a Impetrante teve inequívoco conhecimento do ato minis­

terial antes da sua publicação no Diário Oficial.

De efeito, embora resultante de vários procedimentos, e de atos autô­

nomos ou intermediários, atacáveis em cada fase, o último ato formativo -

no caso, gera triz da impetração - que, com carga própria de autoridade,

aprovando o parecer decorrente de recurso hierárquico, a final, deu

concretude à última vontade da Administração e, por isso, é atacável na via

judicial.

Alinhado à exposição, respeitosamente, divirjo do eminente Relator,

votando pelo afastamento da decadência, a fim de que sejam examinadas as

questões subjacentes.

É o voto-vista.

VOTO

O Sr. Ministro José Delgado: Sr. Presidente, tenho que em campo de

licitação é conhecido que o fenômeno da preclusão é absoluto, tanto para as fases administrativas como para as judiciais, a fim de ser controlada pelo

mandado de segurança. Sabemos que a legislação possui, como primeira fase, abertura e edital; segunda fase, habilitação; terceira fase, classificação

das propostas; quarta fase, julgamento das propostas; quinta fase, homolo­gação; e sexta fase, adjudicação. Ultrapassada cada fase, se não houver

impugnação, há preclusão. No caso exposto, foi apresentado um documen­

to, aceito na fase própria, acatado, e a licitação passou para a fase seguin­

te, qual seja, a de classificação e julgamento de propostas e, enfim, chegou

à homologação.

Os doutrinadores afirmam - e estou de pleno acordo - que essa ho­

mologação pode ser formal ou substancial. É puramente formal quando a

autoridade maior verifica que não há nenhuma impugnação a respeito das

fases que foram realizadas. Em não havendo impugnação, formalmente ele

o homologa; ou, então, essa autoridade, ao homologar, emite um juízo pró­prio, específico. Quando esta não emite juízo específico, apenas verifica se

tudo ocorreu na mais absoluta normalidade e manda prosseguir, o que é o

chamado controle interno da própria licitação.

No caso em apreço, estou a observar que, no momento próprio, na fase

própria, houve a preclusão porque a apresentação desse documento não foi

atacada.

RST], Brasília, a. 14, (153): 63-91, maio 2002.

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JURISPRUDÊNCIA DA PRIMEIRA SEÇÃO 87

Com esse posicionamento, peço vênia ao eminente Ministro Milton Luiz Pereira para acompanhar o Sr. Ministro-Relator.

VOTO-VISTA

A Sra. Ministra Eliana Calmon: 1. Este mandado de segurança, cujo Relator é o Ministro Peçanha Martins, dirige-se contra ato do Ministro de Estado das Comunicações, tendo como litisconsortes passivas necessárias as empresas TV Cidade dos Príncipes S/C Ltda e TV Príncipe Ltda.

Objetiva a impetrante, a TV A Notícia Ltda, anular licitação efetuada com quebra das regras do edital, e que levou à vitória da litisconsorte, TV Cidade dos Príncipes Ltda.

2. O Relator entendeu ocorrer a decadência e declarou extinto o pro­cesso, nos termos do art. 18 da Lei n. 1.533/1951, contando o prazo a partir do ato homologatório da licitação, ao tempo em que afastou a preliminar de coisa julgada. E isto porque, além de ter sido julgado extinto o primei­ro writ, sem exame do mérito, as causas de pedir eram distintas, sendo acompanhado pelo Ministro José Delgado.

3. O Ministro Milton Luiz Pereira, em voto-vista, divergiu do Relator e afastou a preliminar de decadência, enfatizando que, para o Ministro Peçanha Martins, o ato impugnado é o despacho homologatório do Minis­tro das Comunicações, ratificando decisão da comissão de licitação.

Entretanto, quando contou o prazo decadencial, o fez levando em con­sideração a decisão da comissão de licitação, que negou provimento ao re­curso da Impetrante em novembro de 1998, enquanto o writ foi autuado em 18.6.1999.

Divergindo do Relator, afirma no voto-vista que, embora imperfeita a exposição da Impetrante, o ato impugnado na impetração data de 19.2.1999, consubstanciando-se no último ato formativo, que consistiu na aprovação pelo Ministro do Parecer da ConjurlMC n. 49/1999, de 11.2.1999, parecer este que opinou pela legalidade do processo licitatório e da classificação dele constante (doc. fl. 275). O ato ministerial está à fl. 317 dos autos. E pela data do DJ que o publicou, 19.2.1999, não houve decadência, porque ajuizado o mandamus em 18.6.1999.

4. Diante da divergência, pedi vista para melhor examinar a situação fática, complicada em razão da falta de clareza da petição inicial.

Atenta aos fundamentos dos doutos votos então proferidos, examinei

a documentação constante dos autos e extraio as seguintes conclusões:

RSTJ, Brasilia, a. 14, (153): 63-91, maio 2002.

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88 REVISTADO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

a) a Impetrante, TV A Notícia Ltda, em licitação para concessão de exploração de serviço de radiodifusão de sons e imagens, na cidade de Joinville-SC, concorreu com a litisconsorte TV Cidade dos Príncipes S/C Ltda, em procedimento administrativo conturbadíssimo, pela interposição de seguidos recursos administrativos;

b) uma das reclamações foi o fato de ter sido aceito pela comissão de licitação documento novo, intempestivamente apresentado;

c) embora confusa, deixa clara a inicial que se dirige a impetração contra ato do Ministro das Comunicações, pelo qual foi aprovado o Pare­cer Conjur/MC n. 49/1999, de 11.2.1999. O ato ministerial está à fl. 317 e foi publicado no DOU de 19.2.1999;

d) o ato ministerial levou à alteração do resultado do julgamento da concorrência, conforme publicação no DOU de 22.2.1999;

e) estas indicações demonstram, sem dúvida, que houve equívoco do Relator, porquanto a conseqüência do ato ministerial se fez sentir no resul­tado do julgamento, datado de 19.2.1999 (doc. fl. 318) e não na classifica­ção anteriormente publicada, conforme documento de fls. 1211122, 131, 137 e 165, correspondentes às fls. 142/143, 154, 159 e 187 dos autos (numera­ção mecânica deste Tribunal);

f) a documentação constante do processo não deixa dúvida quanto a uma segunda classificação, motivada pelo ato ministerial que endossou pa­recer jurídico que reviu a matéria por inteiro;

g) seja do ato ministerial, datado de 19.2.1999 (fl. 317), seja do seu resultado conseqüencial, alteração do resultado da licitação, datado de 22.2.1999 (fl. 318), temos de reconhecer que não se operou a decadência.

Assim sendo, pedindo vênia ao Relator, voto acompanhando o Minis­tro Milton Luiz Pereira.

É o voto.

ESCLARECIMENTOS

O Sr. Ministro Francisco Peçanha Martins (Relator): Sr. Presidente,

Srs. Ministros, data venia da ilustre Ministra Eliana Calmon, não houve nenhum equívoco, porque não se trata, no caso, de simples contagem de pra­zo a partir de determinado ato. O que disse no meu voto foi o seguinte: (lê)

Essa decisão, portanto, Sr. Presidente, longe está de ter-se equivocado no que diz respeito à contagem de prazo em relação a datas; ao contrário, ela

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se baseia em lições da doutrina, evidentemente que sujeita a opiniões diver­gentes. O próprio Ministro Milton Luiz Pereira manifestou essas opiniões divergentes, até de interpretação, mas não se trata de equívoco em conta­gem de data.

Para mim, o ato impugnável, o ato atacado foi o da presidência da co­missão contra o qual foi requerido um recurso administrativo, e é deste ato, não tenho dúvida, que se teria operado a decadência. É a minha opinião. Esses esclarecimentos se fazem necessários para que não se pense que sim­plesmente me equivoquei entre duas datas de atos diversos.

VOTO

O Sr. Ministro Paulo Gallotti: Sr. Presidente, tenho que a questão está bastante esclarecida e peço vênia ao Ministro Francisco Peçanha Martins e ao Ministro José Delgado para acompanhar a compreensão do Ministro Milton Luiz Pereira, no que foi acompanhado pela Ministra Eliana Calmon, entendendo que a contagem do prazo decadencial se dá a partir do último ato praticado, ou seja, do ato ministerial que homologou o resultado final da licitação.

Pedindo vênia aos Ministros Francisco Peçanha Martins e José Delga­do, acompanho a divergência, afastando a preliminar.

VOTO-VISTA (PRELIMINAR)

O Sr. Ministro Franciulli Netto: Inicialmente, a par dos percucientes esclarecimentos prestados pelos Srs. Ministros Francisco Peçanha Martins, Milton Luiz Pereira e Eliana Calmon, convém rememorar a matéria de fato tratada no presente mandamus.

A impetrante, TV A Notícia Ltda, juntamente com a litisconsorte pas­siva, a TV Cidade dos Príncipes S/C Ltda, participava da Concorrência n. 58/1997, cujo objeto era a concessão do serviço de radiodifusão de sons e imagens na região de Joinville-SC.

A TV Cidade dos Príncipes foi declarada inabilitada. Inconformada, interpôs recurso administrativo, provido pela comissão especial de licitação (fls. 140/143). Em despacho publicado em 27.1.1998, o Sr. Ministro das Comunicações homologou a decisão da comissão.

Contra a habilitação da concorrente, a TV A Notícia Ltda impetrou mandado de segurança (MS n. 5.809-DF) perante esta egrégia Corte.

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90 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Seguindo-se o procedimento, a litisconsorte passiva, TV Cidade dos Príncipes Ltda, ficou com a maior pontuação relativa à proposta de preço (fi. 190). A Impetrante, então, protocolou recurso administrativo, ao qual foi

negado provimento pela comissão, que submeteu, todavia, sua decisão, à manifestação final do Sr. Ministro de Estado das Comunicações (fis. 266/ 245 e 275).

Em 26.11.1998, foi publicada a decisão da comissão especial de lici­tação que condicionava o julgamento das propostas apresentadas na Concor­rência n. 5811997-S0F/MC ao julgamento do Mandado de Segurança n. 5.809-DF.

Inconformada, a TV Cidade dos Príncipes recorreu (fi. 287) e, em des­pacho publicado na sexta-feira, dia 19.2.1999, o Sr. Ministro aprovou o Parecer Conjur/MC n. 49/1999 (fi. 317), que ocasionou a alteração da de­cisão da comissão especial de licitação (fi. 318), com a conseqüente homo­logação do resultado da concorrência, declarando vencedora a TV Cidade dos Príncipes Ltda (fi. 319).

É de ver, portanto, que, consoante os votos proferidos pelos eminen­tes Ministros Milton Luiz Pereira, Eliana Calmon e Paulo Gallotti, não obstante a tumultuada petição inicial, o ato impugnado é, de fato, a última manifestação do Sr. Ministro das Comunicações, que com base em parecer da consultoria jurídica do Ministério, deu provimento a recurso interposto pela TV Cidade dos Príncipes, garantindo sua vitória no procedimento licitatório.

A licitação corresponde, segundo a classificação de Oswaldo Aranha Bandeira de Mello, a um procedimento administrativo que compreende atos administrativos simples, complexos, compostos ou simultâneos em cada uma de suas fases.

Assim, no caso de julgamento de recurso hierárquico pela autoridade superior, os pareceres tanto da comissão de licitação, quanto da consultoria jurídica, que serviram de base para a decisão do Sr. Ministro de Estado, nada mais são do que

"( ... ) manifestações de vontade parciais para perfazer vontade única, e, portanto, para expressar um só ato jurídico.

Sendo essas operações parcelas de um único ato, elas não têm, isoladamente, relevância jurídica, e, destarte, tão-somente após todos os seus trâmites, com a manifestação da vontade do ato acabado, se pode cogitar de impugná-lo, se se pretender padecer de qualquer vício,

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de forma ou de fundo. Impõe-se tenha percorrido o ciclo das opera­ções para a sua elaboração." (Oswaldo Aranha Bandeira de Mello, in Princípios Gerais de Direito Administrativo, volume I, Forense, 1969, p.p. 478/479).

Dessa forma, consoante os ensinamentos de Hely Lopes Meirelles, atos de autoridade, "são os que trazem em si uma decisão" (in Mandado de Segurança, P ed., Malheiros, p. 25). Logo, o ato de Ministro de Estado que acolhe parecer ao julgar recurso hierárquico pode ser impugnado em man­

dado de segurança de forma autônoma, já que não apenas ratifica ato ante­riormente praticado, mas julga recurso a ele dirigido.

Por outro lado, deve ser registrado que, fixada a data da lesão em 19.2.1999, o prazo decadencial deve ser contado "do ato administrativo que ( ... ) concretiza a ofensa a direito do impetrante" (opus cit., p. 41). Assim, por tratar-se de prazo de natureza material, a contagem começa a partir do próprio dia 19.2.1999 (sexta-feira) e se encerra em 18.6.1999 (sexta-fei­ra). De qualquer sorte, protocolado o mandamus em 18.6.1999, ainda não havia se operado a decadência.

Diante do exposto, pedindo vênia ao ilustre Ministro-Relator, acom­

panho a divergência inaugurada pelo não menos ilustre Ministro Milton Luiz Pereira.

É como voto.

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