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Jurisprudência da Segunda Turma

Jurisprudência da Segunda Turma · de Bancos Brasileiros S/A interpõe agravo de instrumento contra despacho do seguinte teor (fi. 56): "Trata-se de agravo de instrumento manifestado

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Jurisprudência da Segunda Turma

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JURISPRUDÊNCIA DA SEGUNDA TURMA

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 196.319 - se

(Registro nQ 98.0051606-9)

Relator: Ministro Aldir Passarinho Junior

Agravante: Unibanco - União de Bancos Brasileiros S/A

Advogados: Cristiana Rodrigues Gontijo e outros

Agravada: Rosângela dos Santos Borges

Advogado: Antenor Domingos Pereira

113

EMENTA: Processual Civil - Agravo de instrumento - Peças não autenticadas - Recurso não conhecido - Agravo regimental- Despro­

vimento.

L As peças reproduzidas dos autos principais para a formação do agravo de instrumento de que trata o art. 544, § 1 Q, do CPC, devem estar autenticadas, sob pena de não conhecimento do recurso.

H. Precedentes.

IH. Agravo regimental desprovido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas:

Decide a Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, à unanimida­de, negar provimento ao agravo regimental, na forma do relatório e notas taquigráficas constantes dos autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Hélio Mosi­mann, Peçanha Martins e Ari Pargendler. Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Adhemar Maciel.

Custas, como de lei.

Brasília-DF, 5 de novembro de 1998 (data do julgamento).

Ministro ARI PARGENDLER, Presidente.

Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR, Relator.

Publicado no DJ de 12.03.99.

RSTJ, Brasília, a. 11, (116): 111-166, abril 1999.

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114 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO ALDIR PASSARINHO JUNIOR: Unibanco - União de Bancos Brasileiros S/A interpõe agravo de instrumento contra despacho do seguinte teor (fi. 56):

"Trata-se de agravo de instrumento manifestado pelo Unibanco­União de Bancos Brasileiros S/A, contra decisão que inadmitiu recurso especial, por incidirem, na espécie, as Súmulas n~ 282 e 356 do STF, por não ter o agravante comprovado, na forma regimental, o dissídio

pretoriano.

Não conheço do agravo, porque as peças trasladadas para a forma­ção do instrumento não estão autenticadas, o que contraria o inciso IH

do artigo 365 do CPC."

Alega o recorrente que a exigência de autenticação não consta do art. 525 do CPC, também não sendo o caso do art. 365, IH, do mesmo Código, acentuando, mais, que a autenticidade das cópias não foi posta em dúvida

pela parte agravada, de sorte que a decisão merece reforma.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO ALDIR PASSARINHO JUNIOR (Relator): Como visto do relatório, insurge-se o recorrente contra despacho que não conheceu

do agravo de instrumento em face da não autenticação das peças formadoras dos autos.

Incide, na espécie, o art. 365, HI, do CPC, posto que, ao contrário do que sustenta a parte, ele não se aplica apenas às provas da fase instrutória da ação, mas ao processo como um todo.

Ademais, a ausência de autenticação malfere, igualmente, o art. 544, § 1 Q c/c o art. 384 da lei adjetiva civil, tudo isso já assentado reiteradamente

tanto por esta Corte, como pelo colendo Supremo Tribunal Federal, a saber:

"As fotocópias anexadas à minuta no agravo de instrumento

hão de estar autenticadas - art. 544, § 1 Q, combinado com o art.

384, ambos do CPC" (STF - Segunda Turma,AI n Q 172.559-2-SC­AgRg, ReI. Min. Marco Aurélio, j. 26.09.95, negaram provimento,

RSTJ, Brasília, a. 11, (116): 111-166, abril 1999.

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JURISPRUDÊNCIA DA SEGUNDA TURMA 115

v.u., DJU 03.11.95, p. 37.258, l!l coI., em.). No mesmo sentido: RSTJ 81/43 (Primeira Turma); STJ - Quinta Turma, AI n Q

1l1.609-MG-AgRg, ReI. Min. José Arnaldo, j. 26.11.96, negaram provimento, v.u., DJU 24.02.97, p. 3.415, 2!l co!., em.

Mas: "É de negar-se provimento ao agravo regimental se as

peças trasladadas para a formação do instrumento vieram em de­sacordo com as normas do inciso III do art. 365 do CPC" (STJ -

Quinta Turma, AI n Q 117.135-MG-AgRg, ReI. Min. José Ar­naldo, j. 20.05.97, negaram provimento, v.u., DJU 23.06.97, p. 29.171, l!l coI., em.). (CPC, 29!l edição, p. 432, art. 525:2).

Ante o exposto, nego provimento ao agravo.

É como voto.

Relator:

Recorrente:

Advogados:

Recorrida:

RECURSO ESPECIAL NQ 60.642 - PR (Registro n Q 95.0006622-0)

Ministro Francisco Peçanha Martins

Companhia Industrial de Cerâmica Sul Brasil

José Machado de Oliveira e outros

Fazenda Nacional

Procuradores: Cezar Saldanha Souza Júnior e outros

EMENTA: Tributário - Execução fiscal - Cancelamento do débi­

to - Decreto-Lei n Q 2.303/86 -Art. 29 - Precedentes STJ.

- O débito a ser cancelado, previsto no referido preceito legal, é o constante do total da certidão da dívida ativa inscrita e não, cada uma de suas parcelas, individualizadamente.

- Recurso não conhecido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Se­

gunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, não conhecer do recurso.

RST], Brasília, a. 11, (116): 111-166, abril 1999.

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116 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Votaram com o Relator os Ministros Adhemar Maciel, Aldir Passarinho Junior e Hélio Mosimann. Impedido o Sr. Ministro Ari Pargendler.

Brasília-DF, 17 de setembro de 1998 (data do julgamento).

Ministro ADHEMAR MACIEL, Presidente.

Ministro FRANCISCO PEÇANHA MARTINS, Relator.

Publicado no DJ de 23.11.98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO FRANCISCO PEÇANHA MARTINS: Trata-se de recurso especial manifestado por Companhia Industrial de Cerâmica Sul Bra­sil, com fundamento na alínea a do permissivo constitucional, contra acórdão proferido pelo TRF da 4ª Região que, por unanimidade, deu provimento à remessa oficial, a que foi submetida a sentença de 1 º grau proferida nos autos de ação mandamental impetrada pela ora recorrente, contra ato do Exmo. Sr. Procurador Regional da Fazenda Nacional do Paraná, objetivando cancela­mento dos débitos de valores inferiores ao limite estabelecido no art. 29 do Decreto-Lei nº 2.303/86.

O v. acórdão recorrido entendeu que "a remissão prevista no ar!. 29 do Decreto-Lei nº 2.303, deve observar o montante do crédito tributário tal como lançado, não o de cada um dos fatos geradores da obrigação tributária isola­damente considerados."

Sustentando que o cancelamento deve atingir todos os períodos ou fatos geradores periódicos, individualmente considerados, cujos valores sejam in­feriores a Cz$ 500,00 (originário) ou a Cz$ 10.000,00 (consolidado), alega a ora recorrente ter o aresto contrariado o art. 29, II, do Decreto-Lei nº 2.303/86.

Contra-razões às fls. 143/150.

O recurso foi admitido no tribunal a quo. Subiram os autos a esta egré­gia Corte, ande vieram a mim conclusos.

Dispensei o parecer da Subprocuradoria Geral da República, nos ter­mos regimentais.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO FRANCISCO PEÇANHA MARTINS (Relator): O ponto central da controvérsia dos autos consiste em saber se deve ser consi-

RSTJ,Brasilia,a.ll,(1l6): 11l-166,abriI1999.

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JURISPRUDÊNCIA DA SEGUNDA TURMA 117

dera do O valor global do crédito tributário, tal como lançado na certidão de

dívida, ou para cada um dos fatos geradores isoladamente considerados, para

verificação da incidência do art. 29 do Decreto-Lei n Q 2.303/86, no que toca

ao cancelamento dos referidos débitos.

o acórdão proferido pela Primeira Turma do TRF da 4ª Região, da lavra

do então Juiz Ari Pargendler hoje Ministro-Presidente desta Segunda Turma,

recebeu a ementa que transcrevo a seguir (fls. 129):

'Tributário. Cancelamento de crédito. Decreto-Lei n Q 2.303, de

1986. A remissão prevista no art. 29 do Decreto-Lei n Q 2.303, de

1986, deve observar o montante do crédito tributário tal como lan­

çado, e não o de cada um dos fatos geradores da obrigação tributá­

ria isoladamente considerados. Remessa ex officio provida."

o recorrente especial sustenta que "os fatos geradores das respectivas

obrigações devem ser considerados individualmente, porque sua ocorrência se

faz de forma una e indivisível".

Essa a interpretação, a seu ver, que deve ser dada ao art. 29, lI, do De­

creto-Lei n Q 2.303/86.

Reforça seu argumento asseverando que entendimento contrário nega­

ria vigência ao CTN, art. 113, § 1 Q, o que entende não ter cabimento face ao

princípio constitucional da hierarquia das leis.

Vale transcrito, ainda, trecho do voto condutor do aresto recorrido, pela

lucidez com que o relator expôs o tema controvertido (fls. 127):

"

... , ainda que o fato gerador do imposto de renda retido na fonte,

do imposto sobre produtos industrializados e do imposto único sobre

minerais sejam instantâneos, sua apuração se faz por períodos, que o

lançamento fiscal pode alcançar enquanto não consumada a decadência

do direito de formalizar o crédito tributário.

Tudo a se resumir no fato de que não há débito tributário no sen­

tido próprio sem que a Fazenda Pública tenha constituído o crédito atra­

vés do lançamento fiscal. O que equivale a dizer que o fato gerador da

obrigação tributária é irrelevante para a definição do que seja débito

tributário. O Decreto-Lei n Q 2.303, de 1986, só o valorizou para o efeito

RSTJ, Brasília, a. 11, (116): 111-166, abril 1999.

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118 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

de limitar, no tempo, a remissão ('cujos fatos geradores,' - diz o inciso

II do art. 29 - 'tenham ocorrido até 28 de fevereiro de 1986').

Essa solução se recomenda até pelo aspecto prático. Grande parte

dos débitos que a impetrante quer ver cancelados dizem respeito a valo­

res que, retidos na fonte, são devidos a título de imposto de renda. Não

tem sentido considerar esses valores mês a mês. O débito é o somatório

de todos e deve ser recolhido à Fazenda sob pena de locupletamento.

Voto, por isso, no sentido de dar provimento à remessa ex officio para denegar a ordem, de modo que os créditos tributários possam ser

imediatamente cobrados."

O entendimento do tribunal a quo está em harmonia com a melhor

doutrina sobre a matéria, a ver na lição de Aliomar Baleeiro, (em seu Direi­

to Tributário Brasileiro, Forense, 1977, p. 182, IX):

"Em cada exercício financeiro em que é devido, o imposto de ren­

da se calcula sobre os rendimentos auferidos no ano anterior, legalmen­

te definido como ano-base".

Temos que as retenções na fonte representam, portanto, as antecipações

do total a ser pago no ano seguinte, o que derruba o argumento de individua­

lização das parcelas, sustentado pelo recorrente.

Este o entendimento consagrado no extinto TFR e espelhado na ementa

que resumiu o acórdão proferido no AI nº 53.356-SP (DJ de 17.12.87), nos

termos a seguir transcritos:

"Tributário. Cancelamento do débito em virtude do seu pe­

queno valor. Decreto-Lei nº 2.303/86.

- O cancelamento de pequenos débitos faz-se no interesse

da própria Fazenda, posto que antieconômica sua cobrança. En­

tretanto, procedendo-se à apuração do montante em um único

procedimento administrativo, resultante uma só inscrição de dívi­

da, não há razão para renúncia do Estado em receber o que lhe é

devido, se o total supera a importância prevista em lei." (DJ de

17.12.87).

RSTJ, Brasília, a. 11, (116): 111-166, abril 1999.

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JURISPRUDÊNCIA DA SEGUNDA TURMA 119

Ao julgar o REsp nº 38.906-2/SP, em 23.03.94, proferi voto, como Rela­

tor, em que reconheci ser este o melhor entendimento sobre a quaestio juris

e a Turma decidiu, por unanimidade, nos termos da ementa que reproduzo:

"Execução fiscal. Cancelamento do débito. Decreto-Lei nº

2.303/86 (art. 29).

1. Nos termos do mencionado dispositivo legal, o débito a ser

considerado, para efeito de cancelamento, é o constante do total

da certidão da dívida ativa inscrita e não, individualizadamente,

cada qual de suas parcelas.

2. Recurso especial conhecido e improvido."

Vale transcrever, ainda, precedentes deste STJ que espelham o mesmo

entendimento:

"Execução fiscal. Cancelamento do débito. Decreto-Lei nº

2.303, de 21.11.86, art. 29.

I - O débito a ser cancelado, nos termos do art. 29 do De­

creto-Lei nº 2.303, de 21.11.86, deve ser considerado por certidão

de dívida, não importando que corresponda a imposto relativo a

um ou mais exerCÍcios.

I! - Recurso especial conhecido e provido." (REsp nº 36.613-

5-SP, DJ 25.04.94, ReI. Min. Antônio de Pádua Ribeiro).

"Execução fiscal. Cancelamento de débito. Decreto-Lei nº

2.303/86.

I - O cancelamento, previsto no art. 29 do Decreto-Lei nº

2.303/86, reporta-se ao valor da certidão inscrita em dívida ativa.

I! - Recurso improvido." (REsp nº 99.475-SP, DJ 30.03.98,

ReI. Min. Milton Luiz Pereira).

Assim, não conheço do recurso.

RSTJ, Brasília, a. 11, (116): 111-166, abril 1999.

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Relator:

Recorrente:

Advogados:

Recorrida:

REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

RECURSO ESPECIAL NQ 64.067 - DF (Registro n Q 95.0018974-7)

Ministro Francisco Peçanha Martins

Wimaco Navegação e Comércio Ltda

Hélio Proença Doyle e outros

Fazenda Nacional

Procuradores: Iran de Lima e outros

EMENTA: Tributário - Imposto de importação - Mercadorias a granel - Transporte marítimo - Quebra - Responsabilidade tributá­ria - Ausência de culpa - Multa dispensável- Correção monetária -Incidência - Juros de mora - Decreto-Lei n Q 37/66 (arts. 48, 60, pará­grafo único e 169) - Lei nº 6.562/78 (art. 2Q

) - Precedentes.

- Nos casos de mercadorias importadas do exterior a granel, por via marítima, não superando a quebra os 5% estipulados como limite, não ocorrendo culpa do transportador, dispensável a multa, assim como inexigível o pagamento do tributo.

- In casu, a correção monetária incide sobre o total dos valores, inclusive sobre a multa, indevidamente recolhidos, a partir do pagamen­to indevido até o efetivo pagamento da importância repetida.

- Os juros de mora incidirão sobre o total a ser devolvido, inclusi­ve sobre o valor da multa, a partir do trânsito em julgado da decisão, à taxa de 1 % (um por cento) ao mês.

- Recurso conhecido e provido, invertendo-se os ônus da sucum­bência.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Se­gunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso e lhe dar provimento. Votaram com o Relator os Ministros Adhemar Maciel, Ari Pargendler e Aldir Passarinho Junior. Ausente, justificadamente, o Sr. Minis­tro Hélio Mosimann.

Brasília-DF, 20 de agosto de 1998 (data do julgamento).

RST], Brasília, a. 11, (116): 111-166, abril 1999.

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JURISPRUDÊNCIA DA SEGUNDA TURMA 121

Ministro ARI PARGENDLER, Presidente.

Ministro FRANCISCO PEÇANHA MARTINS, Relator.

Publicado no DJ de 14.12.98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO FRANCISCO PEÇANHA MARTINS: Trata-se de

recurso especial manifestado por Wimaco Navegação e Comércio Ltda, com

fundamento nas alíneas a e c do permissivo constitucional, contra acórdão

proferido pelo TRF da 1 ª Região que, por unanimidade, negou provimento à apelação e à remessa oficial, interpostas nos autos de ação ordinária proposta

pela ora recorrente contra a Fazenda Nacional, objetivando a devolução dos

valores recolhidos a título de imposto de importação e sua respectiva multa,

exigidos em decorrência da quebra de peso de mercadoria a granel descarre­

gada em porto nacional.

O v. acórdão recorrido manteve a sentença de 1 Q grau que condenou a

União a devolver à autora, tão-somente, as quantias pagas, indevidamente, à

título de multa, com os acréscimos de correção monetária desde a data do

pagamento indevido e de juros moratórios, a taxa de 1 % ao mês, contados do

trânsito em julgado sobre o valor corrigido.

Sustentando que a quebra de mercadoria a granel em quantidade infe­

rior a 5% exclui o pagamento da multa e do imposto de importação, alega a ora recorrente ter o aresto violado os arts. 60, parágrafo único, 48, 169 do

Decreto-Lei n Q 37/66 e 2Q da Lei n Q 6.562/78 e a Súmula n Q 192 do ex-TFR,

bem como divergido de julgados de outros tribunais do país. Alega, ainda,

que os juros de mora são devidos desde a citação da ré, e não do trânsito em

julgado e que a correção monetária é devida a partir do pagamento indevido até o dia da efetiva devolução.

Contra-razões às fls. 124/125.

O recurso foi admitido no tribunal a quo. Subiram os autos a esta egré­gia Corte, onde vieram a mim conclusos.

Dispensei o parecer da Subprocuradoria Geral da República, nos ter­

mos regimentais.

É o relatório.

RSTJ, Brasília, a. 11, (116): 111-166, abril 1999.

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122 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

VOTO

o SR. MINISTRO FRANCISCO PEÇANHA MARTINS (Relator): Dis­

cute-se nos autos se devido ou não o recolhimento do imposto de importação

incidente sobre a falta de mercadoria transportada a granel, face à quebra de

peso das mercadorias consignadas no auto de infração ser inferior a 5% (cin­

co por cento) dos totais manifestados nos respectivos conhecimentos de em­

barque, e não superior à franquia.

A empresa recorrente ajuizou ação de repetição de indébito, visando a

devolução do depósito ou a exclusão da multa de 50% do Decreto-Lei n Q 37/

66, art. 106, II, d.

O Juízo Federal da 6ª Vara entendeu que "a responsabilidade fiscal do

transportador pelo pagamento do imposto de importação, não resta excluída, quando a falta de mercadoria transportada a granel e apurada em conferência

de manifesto for inferior a 5% (cinco por cento) ... ". E julgou procedente, em

parte, a ação, para condenar a União à devolução das "quantias pagas, inde­

vidamente, a título de multa, com os acréscimos de correção monetária, des­

de a data do pagamento indevido (Súmula n Q 146, TFR) ... ".

Apreciando o recurso de apelação, e a remessa oficial, a Quarta Turma

da TRF da 1 ª Região, por unanimidade, decidiu nos termos do voto do Rela­

tor, confirmar a sentença, resumindo o julgado na ementa de fls. 89, que

reproduzo:

"Tributário. Imposto de Importação. Fato gerador. Falta de mer­

cadoria importada, verificada pela autoridade aduaneira. Mercadoria a

granel. Responsabilidade do transportador.

1. Nos casos de mercadorias importadas do exterior a granel, por

via marítima, as faltas não superiores a cinco por cento excluem a res­

ponsabilidade do transportador quanto à multa, mas não com relação

ao imposto de importação. Decreto-Lei n Q 37/66, art. 1 Q, parágrafo úni­

co; 60, II, parágrafo único; 39; e 41, II!. Sentença confirmada.

2. Recursos improvidos."

Inconformada, a empresa ora recorrente sustenta não ser devido o im­

posto, por isso que não houve infração administrativa e, conseqüentemente,

não há responsabilidade pela indenização que a mesma acarretaria, se a que­

bra foi inferior a 5% do total.

RSTJ, Brasília, a. 11, (116): 111-166, abril 1999.

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JURISPRUDÊNCIA DA SEGUNDA TURMA 123

Daí entender contrariados os arts. 48, 60, parágrafo UlllCO e 169 do Decreto-Lei n Q 37/66 e 2Q da Lei n Q 6.562/78. Diz ainda contrariada a Súmula n Q 192 do ex-TFR, colacionando julgados daquele Tribunal e de vários tribu­nais regionais federais para ilustrar a divergência jurisprudencial em que fun­damenta a interposição do apelo, fundado na letra c do autorizativo constitu­cional.

Requer, ainda, que os juros de mora incidam a partir da citação da ré (CTN, art. 161, § 1 Q) e não do trânsito em julgado, como determinado na sentença monocrática. Quanto à correção monetária, pleiteia seja calculada a partir do depósito ou pagamento indevido, até o dia da efetiva devolução, sustentando ser cristalina a Lei n Q 4.357/64, em seu art. 7Q

, § 3Q quanto à

legalidade da atualização monetária.

Assiste razão à recorrente.

o entendimento desta egrégia Corte está espelhado na ementa que re­sumiu o acórdão proferido quando do julgamento do REsp n Q 38.499-0-RJ, assim redigida:

"Tributário - Imposto de Importação - Transporte maríti­mo de produto a granel- Quebra - Responsabilidade tributária -Decreto-Lei n Q 37/66 (arts. 48, 60, parágrafo único, e 169) - Lei nQ

6.562/78 (art. 2Q) - Instrução Normativa nQ 12/76 - Secretaria da

Receita Federal.

1. A palma de transporte de produtos a granel, mantendo-se a quebra dentro do limite admitido como natural pelas autorida­des fiscais, presumida a ausência de culpa do transportador, ino­corre a responsabilidade para o recolhimento do tributo na impor­tação.

2. No caso, não superando a quebra os 5% previstos como naturais, de logo, descabendo o pagamento da indenização cogita­da no parágrafo único, art. 60, Decreto-Lei n Q 37/66, as mesmas razões que justificam o reconhecimento da dispensa da multa, con­

duzem a conclusão lógica de que, também, não se tenha como exi­gível o pagamento do tributo. Na falta superior ao percentual alu­dido, somente o excesso poderá ser tributado.

3. Recurso provido."

Mais recentemente, julgando o RESP n Q 33.110-2-PR (DJ 06.10.97),

por mim relatado, esta Segunda Turma decidiu na esteira desse entendimen-

RSTJ, Brasília, a.lI, (116): 111-166, abril 1999.

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124 REVISTADO SUPERIORTRIBUNALDEJUSTIÇA

to, não obstante o precedente indicado não ter apresentado condições para sua admissibilidade.

Assim, há que ser reformado o decisum quanto ao tema, por isso que a quebra foi inferior a 5% (cinco por cento) e não ocorreu culpa do transporta­dor; logo, dispensável a multa, assim como não exigível o pagamento do tri­buto.

Quanto à correção monetária, concedida tão-somente sobre as quantias pagas, indevidamente, a título de multa, desde a data do pagamento indevido, o acórdão há que ser reformado, para concedê-la sobre o total dos valores inclusive sobre a multa, antes aplicada, pagos indevidamente, desde o reco­lhimento indevido, incidindo até o efetivo pagamento da importância repeti­da.

Ainda no que se refere à incidência dos juros de mora, incidirão não apenas sobre o valor da multa, agora excluída, mas sobre o total a ser devolvi­do, a partir do trânsito em julgado da decisão, à taxa de 1 % (um por cento) ao mês.

Do exposto, conheço e dou provimento ao recurso, invertendo-se os ônus da sucumbência.

Relator:

Recorrente:

Advogados:

Recorrente:

Advogados:

Recorridos:

RECURSO ESPECIAL Nº 73.140 - SP (Registro nº 95.0043444-0)

Ministro Francisco Peçanha Martins

Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo - Sabesp

Guiomar Edwiges Prado Barbosa e outros

Município de São Paulo

Tânia Pinto de Lucca e outros

Os mesmos

EMENTA: Processual Civil - Execução fiscal - IPTU e taxas -Certidão de dívida ativa - Certeza e liquidez - Subsistência - Diver­gência jurisprudencial não comprovada - Súmula nº 13 STJ - Ônus da sucumbência - Honorários advocatícios devidos - Proporcionalidade.

RSTJ,Brasília,a.ll,(l16): 111-166, abril 1999.

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]URISPRUDÊNCIADASEGUNDA TURMA 125

- Não é nula a certidão de dívida ativa que contenha parcela inde­

vida, se esta é perfeitamente descartável, devendo prosseguir a execução

quanto às taxas devidas.

- Honorários de advogado impostos na proporção da derrota ou

da vitória de cada parte, representa a distribuição justa das despesas.

- Dissídio pretoriano fundado em julgado proferido pelo mesmo

Tribunal prolator do aresto recorrido, não se presta à comprovação da

divergência alegada.

- Recursos não conhecidos.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Se­

gunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e

das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, não conhecer dos recur­

sos. Votaram com o Relator os Ministros Adhemar Maciel, Ari Pargendler,

Aldir Passarinho Junior e Hélio Mosimann.

Brasília-DF, 22 de setembro de 1998 (data do julgamento).

Ministro AR! PARGENDLER, Presidente.

Ministro FRANCISCO PEÇANHA MARTINS, Relator.

Publicado no DI de 23.11.98.

RELATÓRIO

o SR. MINISTRO PEÇANHA MARTINS: Trata-se de recursos espe­

ciais manifestados por Companhia de Saneamento Básico do Estado de São

Paulo - Sabesp, com fundamento nas alíneas a e c do ar!. 105, lII, da CF/

88, e pela Municipalidade de São Paulo, fundado na letra a do mesmo per­

missivo constitucional, contra acórdão proferido pelo 1 Q Tribunal de Alçada

Civil do Estado de São Paulo que, por unanimidade, negou provimento às

apelações e à remessa oficial, interpostas nos autos de embargos à execução

fiscal proposta pela Municipalidade, com o objetivo de recolher IPTU e taxas

de conservação de vias e logradouros públicos e de limpeza pública.

A r. sentença de 1 Q grau excluiu da execução o valor do IPTU, determi­

nando o prosseguimento da execução com relação às taxas. Ainda, condenou

RST], Brasília, a. 11, (116): 111-166, abril 1999.

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126 REVISTADO SUPERIORTRIBUNAL DE JUSTIÇA

a Prefeitura em 2/3 das custas em reembolso, despesas processuais e mais

10% de honorários.

o v. acórdão recorrido manteve a decisão de 1 Q grau, por entender que a

exclusão do IPTU não retirou as características de liquidez e certeza da ins­crição da dívida e que os ônus da sucumbência foram bem impostos.

Sustentando que, com a exclusão do IPTU, restou integralmente nula a certidão da dívida ativa, alega a ora recorrente ter o aresto violado os arts.

202, 203 e 204 do CTN, e 2Q, § 8Q

, da Lei n Q 6.830/80, bem como divergido

de julgados do mesmo 1 Q Tribunal de Alçada Civil do Estado de São Paulo.

Sustentando que os ônus da sucumbência devem ser divididos igual­

mente entre as partes, alega a Municipalidade ter o aresto violado os arts. 20,

§ 4Q, c/c 21 do CPC.

Contra-razões às fls. 95/101 e 103/105.

Apenas o recurso da empresa foi admitido no tribunal a quo. Contra o

despacho indeferitório de seguimento do especial da Municipalidade, foi in­

terposto o cabível agravo de instrumento, por mim provido para melhor exa­

minar o apelo.

Vieram-me os autos conclusos.

Dispensei o parecer da Subprocuradoria Geral da República, nos ter­

mos regimentais.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO FRANCISCO PEÇANHA MARTINS (Relator): São

dois os recursos manifestados, como afirmei no relatório.

Aquele interposto pela Sabesp - Companhia de Saneamento Básico

insurge-se contra o prosseguimento da execução, por isso que sustenta a tese

de que, reconhecida na sentença a isenção do imposto, o título executivo per­

de a liquidez. Caberia, assim, à Municipalidade antes da decisão de 1 Q grau,

substituir a certidão, já que a mesma engloba imposto e taxas. Não o fazendo,

nega à embargante o beneficio do art. 2Q, § 8Q

, da Lei nº 6.830/80, que garante

o prazo para defesa do contribuinte (fls. 78). Sustenta, ainda, violação aos

arts. 202, 203 e 204, CTN para pleitear a nulidade da inscrição ou da certi­dão.

RSTJ, Brasília, a. 11, (116): 111-166, abril 1999.

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JURISPRUDÊNCIA DA SEGUNDA TURMA 127

Na interposição do apelo com fundamento na letra c do permissivo cons­

titucional a recorrente colaciona julgado do 1 º Tribunal de Alçada Civil do Estado de São Paulo para ilustrar o dissídio pretoriano alegado.

Quanto a este fundamento não há como conhecer do recurso especial.

O entendimento harmônico deste Tribunal não admite julgado do mesmo

órgão prolator do aresto recorrido para demonstração da divergência juris­

prudencial. A iterativa jurisprudência sobre o tema cristalizou-se na Súmula

nº 13 do STJ, de teor seguinte:

"A divergência entre julgados do mesmo Tribunal não enseja

recurso especial."

No que se refere à contrariedade aos preceitos de leis federais aponta­

dos, este STJ vem decidindo sobre o tema na esteira do entendimento adota­do no STF, como demonstra o precedente assim ementado:

"Execução fiscal. Certidão de dívida ativa. Não é nula a certi­

dão de dívida ativa que contenha parcela indevida, se esta é perfei­

tamente descartável. Aplicação do art. 153 do Código Civil. Agra­vo de instrumento e agravo regimental improvidos (AgRg no Ag­

SP nº 97.409)."

Vale dizer que a exclusão da parcela relativa ao IPTU não invalida os

valores relativos às taxas, por isso que autônomos, não prejudicando a liqui­

dez e certeza da certidão de dívida ativa.

Neste sentido, ambas as Turmas de Direito Público desta egrégia Corte

têm decidido à unanimidade, como demonstram os mais recentes julgados

assim ementados:

"Execução fiscal. Certidão de dívida ativa. Subsistência de

sua certeza e liquidez, ainda que os embargos do devedor sejam

julgados procedentes em parte. Se os valores exigidos a título de

imposto e aqueles cobrados por conta de taxas estão incluídos na

certidão de dívida ativa como parcelas autônomas, a procedência

dos embargos do devedor quanto ao imposto não prejudica a cer­

teza e liquidez da certidão de dívida ativa no que diz com as taxas.

Recurso especial não conhecido." (REsp nº 71.643-SP, DJ 18.08.97, ReI. Min. Ari Pargendler).

RST], Brasília, a. 11, (116): 111-166, abril 1999.

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128 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

"Execução fiscal e Processual Civil. Certidão de dívida ativa.

Exclusão de parcela referente ao valor do imposto indevido.

Desnecessidade de substituição da certidão para execução da dívi­

da remanescente (taxas). CTN, art. 204, Lei nº 6.830/80 (art. 3º).

Sucumbência. Honorários advocatícios devidos pela parte vencida

(art. 21, CPC).

1. A exclusão do valor do imposto, por si, não afeta a liquidez

e certeza da dívida remanescente expressada em campo autônomo

apropriado às taxas. Desnecessidade de substituição da certidão,

uma vez que a dívida remanescente resulta de simples cálculo arit­

mético, sem prejuízo da verificação pelas partes interessadas.

2. Quando uma das partes decai de praticamente todo o di­

reito vindicado, desfigura-se a sucumbência recíproca, impondo­

se-lhe a obrigação de pagar os honorários advocatícios.

3. Precedentes jurisprudenciais.

4. Improvido um dos recursos e, parcialmente, provido o ou­

tro, conforme o voto condutor do julgado." (REsp nº 69.680-SP, ReI. Min. Milton Luiz Pereira).

Do exposto, não vejo configurada a contrariedade aos dispositivos legais

indicados.

Assim, não conheço do recurso especial da Sabesp.

No que toca ao recurso especial da Municipalidade, a irresignação res­

tringe-se à violação aos arts. 20, § 4º, c/c 21 do CPC.

Sustenta o Município paulista que a sucumbência deva ser, no mínimo, recíproca, já que não deu causa à execução e as partes foram igualmente ven­

cedoras e vencidas na demanda. Assim, pleiteia sejam os ônus da sucumbên­

cia impostos igualmente a ambas as partes, arcando cada qual com os hono­

rários de seu respectivo patrono.

Como corolário cita o REsp nº 13.526-SP, relatado pelo Min. Pádua Ribeiro, quando ficou decidido que "cada parte deve suportar a verba advoca­

tícia na proporção da sua derrota, como recebê-la na medida de sua vitória".

Vale referir que a Sabesp - Companhia de Saneamento Básico do Esta­

do de São Paulo possui isenção de Imposto Predial e Territorial Urbano -

IPTU (Lei nº 10.565/89); a Municipalidade paulista afirmou que tal isenção

já foi reconhecida, restando apenas a exigência das taxas.

RS1], Brasília, a. 11, (116): 111-166, abril 1999.

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JURISPRUDÊNCIA DA SEGUNDA TURMA 129

A sentença de 1 º grau foi proferida condenando "a Prefeitura em 2/3

das custas em reembolso e despesas processuais, mais 10% de honorários advocatícios sobre o valor do débito fiscal atualizado, já compensados os de­

vidos à embargada.

"Subsistente a penhora, prossiga a execução com relação às taxas" (fls.

35).

o v. aresto hostilizado entendeu correta a decisão monocrática, procla­

mando (fls. 66):

"Por outro lado, os ônus da sucumbência foram bem impostos. A

Fazenda decaiu em parte considerável (quase 90%) de sua pretensão.

Não será justa, portanto, a pleiteada distribuição igualitária das despe­

sas. Por outro lado, a execução fiscal, no que tange ao IPTU, foi indevi­

damente movida, sendo, pois, correta a condenação fazendária ao paga­

mento dos honorários advocatícios da parte adversa."

Correto o decisuIn, nada havendo a reformar, por isso que no mesmo

sentido do entendimento desta egrégia Corte sobre os temas apreciados.

Assim, não conheço dos recursos da Municipalidade e da Companhia

de Saneamento Básico do Estado de São Paulo - Sabesp.

RECURSO ESPECIAL NQ 101.530 - PR (Registro nº 96.0045297-0)

Relator: Ministro Ari Pargendler

Recorrente: Ministério Público do Estado do Paraná

Recorrido: Waldomiro Maia

Advogados: Sandro Balduíno Morais e outro

Interessado: Município de Ortigueira

EMENTA: Processo Civil- Ação de prestação de contas - Contas

exigidas de ex-prefeito - A prestação de contas de ex-prefeito não pode

ser exigida nos terInOS da ação prevista nos artigos 914 e seguintes do Código de Processo Civil - Recurso especial não conhecido.

RST], Brasília, a. ll, (ll6): lll-166, abril 1999.

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130 REVISTA DO SUPERIORTRIBUNALDE]USTIÇA

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Se­gunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, não conhecer do recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Participaram do julgamento os

Srs. Ministros Hélio Mosimann e Peçanha Martins. Ausentes, justificadamente, os Srs. Ministros Aldir Passarinho Junior e Adhemar Maciel.

Brasília-DF, 5 de novembro de 1998 (data do julgamento).

Ministro AR! PARGENDLER, Presidente e Relator.

Publicado no DJ de 14.12.98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO AR! PARGENDLER: O Município de Ortigueira, PR, propôs ação de prestação de contas contra Waldomiro Maia, ex-Prefeito Municipal, relativas a recursos repassados pelo Estado, e cuja destinação de­pende de conferência do Tribunal de Contas do Estado, sem o que a Munici­

palidade ficará sem novas verbas (fls. 02/05).

O MM. Juiz de Direito Dr. Orestes Dilay julgou extinto o processo, sem julgamento do mérito, sentença que foi confirmada pela egrégia 2ª Câmara

Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, Relator, o eminente De­sembargador Nasser de Melo, em acórdão assim ementado: "Prefeito munici­pal. Prestação de contas do ex-prefeito, exigida pela atual Administração mu­

nicipal. Competência exclusiva da Câmara Municipal para apreciar e julgar tais contas. Ação extinta, por sentença, sem julgamento do mérito. Decisão

mantida" (fl. 199).

Lê-se no julgado:

"Corno se observa, os presentes autos trazem à baila controvérsia relati­va à questão da competência para apreciar contas de prefeito municipal.

Esta 2ª Câmara Cível, em mais de urna oportunidade, já assentou en­tendimento no mesmo sentido preconizado pelo decisum em questão, pro­

clamando que tal competência está, realmente, afeta ao Poder Legislativo Municipal, não cabendo ao Judiciário tornar e julgar tais contas" (fls. 201).

Seguiram-se embargos de declaração (fls. 206/210), rejeitados (fls. 2211

222).

RSn, Brasília, 3. 11, (116): 111-166, abril 1999.

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JURISPRUDÊNCIA DA SEGUNDA TURMA 131

Daí o presente recurso especial, interposto pelo Ministério Público do Estado do Paraná, com base no artigo 105, inciso IIl, letra a, da Constituição

Federal, por violação do artigo 267, IV, do Código de Processo Civil (fls. 227/ 238).

VOTO

O SR. MINISTRO ARI PARGENDLER (Relator): A teor da petição inicial, o Município de Ortigueira, PR, recebeu do Estado verbas no montan­te de Cr$ 42.072.502,28 (quarenta e dois milhões, setenta e dois mil, qui­nhentos e dois cruzeiros e vinte e oito centavos). Esses recursos foram repas­sados sob a condição de que a respectiva destinação fosse objeto de prestação

de contas. O ex-prefeito deixou de apresentá-las, e o atual prefeito está sem

condições de fazê-lo porque os documentos originais estão desaparecidos. O efeito disso é que o Município de Ortigueira, PR, não pode obter novas ver­bas estaduais enquanto a prestação de contas não for aprovada.

A finalidade da ação é, portanto, a de recuperar elementos sonegados,

que a petição inicial presume estar em poder do ex-prefeito.

A ação de prestação de contas não se presta para esse efeito. Nela há

dois momentos: um, em que se discute o direito (CPC, art. 915) ou a obriga­ção (CPC, 916), de prestar contas; outro, em que o juiz julga essas contas

(CPC, art. 915, § 3Q e art. 916, § 2Q). Mas o respectivo pressuposto é o de que,

não apresentadas as contas pelo réu, incumbe ao autor apresentá-las, seguin­do-se o respectivo julgamento.

Ora, se o Município diz que não tem como apresentar as contas, a ação é inviável. Por outro lado, se tivesse como apresentá-las, só o Tribunal de Contas poderia julgá-las.

É verdade que a decisão do Tribunal de Contas não obriga a Câmara Municipal, e, também, que a própria decisão da Câmara Municipal está su­jeita ao controle jurisdicional.

Mas para que o Poder Judiciário seja acionado, é preciso, antes, que o Tribunal de Contas e a Câmara Municipal tenham decidido a respeito.

O precedente citado no parecer do Ministério Público Federal nada tem a ver com a espécie; ali a egrégia Primeira Seção decidiu a respeito de um

conflito de competência, nada antecipando sobre a viabilidade da ação de prestação de contas ajuizada contra ex-prefeito.

Voto, por isso, no sentido de não conhecer do recurso especial.

RSTJ, Brasília, a. 11, (116): 111-166, abril 1999.

Page 22: Jurisprudência da Segunda Turma · de Bancos Brasileiros S/A interpõe agravo de instrumento contra despacho do seguinte teor (fi. 56): "Trata-se de agravo de instrumento manifestado

132 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

RECURSO ESPECIAL NQ 147.666 - GO (Registro nº 97.0063711-5)

Relator Originário: Ministro Ari Pargendler

Relator p/Acórdão: Ministro Hélio Mosimann

Recorrente:

Advogados:

Recorrida:

Advogados:

Recorrida:

Advogado:

Recorrido:

Advogada:

José Geraldo Teixeira

João Moreira Santos e outros

Superintendência de Transportes e Terminais de Goiás -Suteg

Wilmar Dias da Silva e outros

Geralda Nogueira da Silva

Valdivino Clarindo Lima

Paulo Roberto Silva Barros

Cleima Jaime de Moraes Freitas

Sustentação Oral: João Moreira Santos, pelo recorrente e Moacir Gui­marães Morais Filho, Subprocurador-Geral da Repú­blica

EMENTA: Mandado de segurança - Edital de licitação - Explo­ração de lanchonete - Permissão de uso - Outorga para atividade si­milar, alterando a destinação originária - Prejuízo ao impetrante -Recurso provido - Segurança concedida - Maioria de votos.

Sendo incontroverso que as dependências ocupadas pelo vencedor destinavam-se às atividades de lanchonete, reservando-se as demais sa­las para atividades diferentes, a outorga de permissão a outrem para o ramo de minilanchonete e pastelaria - alterando a destinação - redun­dou em evidente prejuízo, que importou em violação a direito líquido e certo do impetrante.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Se­gunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por maioria, conhecer do recurso e dar-lhe parcial provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro Hélio Mosimann. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Hélio Mosimann e Adhemar

RSTJ, Brasília, a. 11, (116): 111-166, abril 1999.

Page 23: Jurisprudência da Segunda Turma · de Bancos Brasileiros S/A interpõe agravo de instrumento contra despacho do seguinte teor (fi. 56): "Trata-se de agravo de instrumento manifestado

JURISPRUDÊNCIA DA SEGUNDA TURMA 133

Maciel. Não participaram do julgamento os Srs. Ministros Aldir Passarinho

Junior e Peçanha Martins.

Brasília-DF, 3 de setembro de 1998 (data do julgamento).

Ministro ARI PARGENDLER, Presidente.

Ministro HÉLIO MOSIMANN, Relator pl acórdão.

Publicado no DJ de 19.10.98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO ARI PARGENDLER: A Superintendência de Trans­

portes e Terminais de Goiás - Suteg publicou edital de licitação com a fina­

lidade de "oferecer ao público outorga de permissão de uso de Unidades

Comerciais no Terminal Rodoviário de Passageiros da Cidade de Alexânia­

Goiás" (fl. 09).

A teor do item 1.5, "As unidades comerciais oferecidas, com as suas

especificações e respectivas atividades, encontram-se definidas no anexo nº

01, o qual faz parte integrante deste Edital" (fl. 10).

Nesse anexo, consta que a sala n Q 4 seria destinada à atividade de "lan­

chonete" (fl. 23), reservando-se as demais salas para as atividades de "bijute­

rias, farmácia, barbearia, banca de revista, frutaria" (fl. 23).

José Geraldo Teixeira participou da licitação e obteve a permissão de

uso "da unidade comercial n Q 4 (lanchonete)" - fls. 24/26.

Faltando licitantes para a maioria das salas, a Superintendência de

Transportes e Terminais de Goiás - Suteg alterou-lhes a destinação originá­

ria e, sem licitação, outorgou o uso de duas delas para Paulo Roberto Silva

Barros e para Geralda Nogueira da Silva explorarem, respectivamente, as ati­

vidades de "minilanchonete" (fl. 27) e "pastelaria" (fl. 30).

O fato, alegadamente, prejudicou os negócios de José Geraldo Teixeira,

o qual, por isso, impetrou o presente mandado de segurança para que "sejam

cassadas imediatamente as Portarias n.!ll377 e 378, da Suteg, maculadas com

vício da ilegalidade, restabelecendo, de plano, o direito do impetrante de ex­

plorar sozinho a atividade de lanchonete no TRP de Alexânia, GO, conforme

fora ofertado no Edital de Licitação da Concorrência Pública" (fls. 06/07).

A MM. Juíza de Direito Dra. Edmée Aguiar de Farias Pereira denegou a

ordem, destacando-se na sentença o seguinte trecho:

RSTJ, Brasília, a.ll, (116): 111-166, abril 1999.

Page 24: Jurisprudência da Segunda Turma · de Bancos Brasileiros S/A interpõe agravo de instrumento contra despacho do seguinte teor (fi. 56): "Trata-se de agravo de instrumento manifestado

134 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

"Analisando o termo de permissão de uso de fls. 24/26 dos autos, firma­do entre o impetrante e a Suteg, em nenhuma de suas cláusulas está prevista a exclusividade alegada. O edital de licitação de fls. 09/23 também não garan­te a exclusividade das atividades objeto do certame licitatório. Portanto, não apresenta a impetrante direito individual, líquido e certo, o que lhe daria legi­timação para a propositura do mandamus" (fl. 87).

A egrégia 1 ª Câmara Cível e Quarta Turma Julgadora do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, Relator o eminente Desembargador Matias W. de O. Negry, manteve a sentença (fls. 148/155).

Lê-se no julgado:

"É inquestionável a ilegalidade dos contratos feitos pela Suteg com os dois (02) particulares, uma vez que tais contratos foram feitos ao arrepio da Lei n Q 8.666/93, sem qualquer licitação e sem qualquer ato de dispensa da mesma, essa ilegalidade é indiscutível. Ocorre que o apelante parte de uma premissa verdadeira (a ilegalidade) e chega a uma falsa conclusão qual seja: a exclusividade que pretende por ferir-lhe o direito líquido e certo de explorar sozinho a atividade de lanchonete" (fls. 153/154). "Não vislumbro nos autos em nenhum momento, nem mesmo no Edital de Licitação essa garantia de exclusividade pretendida pelo ora apelante. Acredito que a Suteg, gerindo serviço público, deve pautar-se sempre pelo interesse coletivo, ou melhor, público" (fl. 154).

Seguiram-se embargos declaratórios (fls. 157/158), rejeitados (fls. 161/

167), e daí o presente recurso especial, interposto com base no artigo 105,

inciso In, letras a e c, da Constituição Federal, por violação do artigo 131 do Código Civil, do artigo 24, inciso V, da Lei n Q 8.666, de 1993, do artigo 1 Q da Lei n Q 1.533, de 1951, e do artigo 6Q

, § 2Q, da Lei de Introdução ao Código

Civil (fls. 170/177).

Originariamente não admitido (fls. 189/192), o recurso especial foi pro­cessado por força de agravo de instrumento (fl. 194).

VOTO

O SR. MINISTRO AR! PARGENDLER (Relator): O artigo 131 do

Código de Processo Civil foi observado pelo acórdão recorrido.

"O juiz" - está dito nesse dispositivo - "apreciará livremente a prova,

atendendo aos fatos e circunstâncias constantes dos autos, ainda que não alegados pelas partes; mas deverá indicar, na sentença, os motivos que lhe

formaram o convencimento".

RSTJ, Brasília, a. 11, (116): 111-166, abril 1999.

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JURISPRUDÊNCIA DA SEGUNDA TURMA 135

Pode ser que o julgado tenha interpretado maIo edital de licitação e o

termo de permissão de uso que se lhe seguiu, mas nele estão articulados coe­

rentemente os fundamentos da decisão.

Não há contradição entre reconhecer a ilegalidade da outorga das per­

missões de uso outorgadas sem licitação e denegar a segurança à conta de que

o impetrante não tem o direito de explorar com exclusividade o ramo de "lan­

chonete" no terminal rodoviário.

São situações distintas: a ilegalidade da outorga das permissões de uso

tem como conseqüência a respectiva anulação, sem implicar o direito à exclu­

sividade pretendida.

Essa exclusividade, se reconhecida, seria um direito individual, tutelado

no âmbito do mandado de segurança (Lei nº 1.533, de 1951, art. 1º). Já o

direito de anular contrato não precedido de licitação é direito do cidadão, a

ser exercido por ação popular (Lei nº 4.717, de 1965, art. 4º, lII, a).

Nessa linha, e no contexto da causa, não há questão federal a ser exami­

nada na via do recurso especial. Tanto a sentença de 1 Q grau quanto o acórdão

decidiram, à base do edital de licitação e do termo de permissão de uso de fls.

24/26. O Superior Tribunal de Justiça não pode, no âmbito do recurso espe­

cial, reinterpretar esses textos.

Daí a conclusão de que o julgado foi prolatado também sem qualquer

agravo ao artigo 24, inciso V, da Lei n Q 8.666, de 1993, ao artigo 1 Q da Lei n Q

1.533, de 1951 e ao artigo 6Q, § 2Q

, da Lei de Introdução ao Código Civil.

Voto, por isso, no sentido de não conhecer do recurso especial.

VOTO-VISTA (VENCEDOR)

O SR. MINISTRO HÉLIO MOSIMANN: Extraio do relatório feito pelo

Ministro Ari Pargendler (Relator), relembrando a fase inicial do julgamento,

o seguinte resumo:

A Superintendência de Transportes e Terminais de Goiás - Suteg pu­

blicou edital de licitação com a finalidade de "oferecer ao público outorga de

permissão de uso de Unidades Comerciais no Terminal Rodoviário de Passa­

geiros da Cidade de Alexânia-Goiás".

A teor do item 1.5, "As unidades comerciais oferecidas, com as suas

especificações e respectivas atividades, encontram-se definidas no Anexo n Q

01, o qual faz parte integrante deste Edital.

RST], Brasília, a. 11, (116): 111-166, abril 1999.

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136 REVISTADO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Nesse anexo, consta que a sala nº 4 seria destinada à atividade de lan­chonete, reservando-se as demais salas para atividades de bijuterias,farmácia, barbearia, banca de revista e frutaria.

José Geraldo Teixeira, o recorrente, participou da licitação e obteve a permissão de uso da Unidade Comercial nº 4.

Faltando licitantes para a maioria das salas, a Superintendência alterou­

lhes a destinação originária e, sem licitação, outorgou o uso de duas delas

para Paulo Roberto Silva Barros e para Geralda Nogueira da Silva explora­rem, respectivamente, as atividades de minilanchonete e pastelaria.

O fato, segundo alegação feita, prejudicou os negócios de José Geraldo

Teixeira, que, por isso, impetrou o mandado de segurança para que "sejam cassadas imediatamente as Portarias n2i 377 e 378, da Suteg, maculadas com vício da ilegalidade, restabelecendo, de plano, o direito do impetrante de ex­plorar sozinho a atividade de lanchonete no TRP de Alexânia, conforme fora ofertado no Edital de Licitação da Concorrência Pública".

Denegada a segurança, a egrégia 1 ª Câmara Cível do Tribunal de Justi­ça, manteve a sentença.

Seguiram-se embargos declaratórios, rejeitados, e daí o recurso especial,

interposto com base no artigo 105, inciso IH, letras a e c, da Constituição Federal, por violação do artigo 131 do Código Civil; do artigo 24, inciso V, da

Lei nº 8.666/93; do artigo 1 º da Lei nº 1.533/51; e do artigo 6º, § 2º, da Lei de Introdução ao Código Civil.

Pelo voto do eminente Relator, o especial não era de ser conhecido.

Assaltando-me algumas dúvidas, pedi vista dos autos.

Em síntese, o recorrente reclama prejuízo porque seu comércio veio a

sofrer com a concorrência da atividade similar.

Não conheço também do recurso pela alínea c - dissídio jurispruden­cial - pois não demonstrada a divergência. O único acórdão trazido a con­fronto, desta mesma Turma, tratando da questão de forma genérica, não reve­la dissídio com a decisão recorrida.

Da mesma forma, sigo o Relator em relação à contrariedade aos artigos 131 do Código Civil, 24 da Lei nº 8.666/93 e 6º da Lei de Introdução ao Código Civil.

Minha discordância situa-se na aplicação do artigo 1 º da Lei nº 1.533/

51. Se é incontroverso, segundo o chamamento do edital e seu Anexo nº 01 -

e isso nem comporta discussão - que a sala nº 4, ocupada pelo impetrante e

RSTJ, Brasília, a. 11, (116): 111-166, abril 1999.

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JURISPRUDÊNCIA DA SEGUNDA TURMA 137

vencedor da licitação, destinou-se à atividade de lanchonete, reservando-se as demais salas para as atividades de bijuterias)farmácia) banca de revista e frutaria,

a outorga de permissão a outrem para o ramo de minilanchonete e pastelaria,

redundou em evidente prejuízo a quem já explorava regularmente e legal­

mente a mesma atividade.

Tal prejuízo, por sua vez, importou em violação a direito e direito líqui­do e certo do impetrante, qual seja, o de explorar o ramo de lanchonete.

É claro que o vencedor só concorreu, habilitando-se na licitação, e esta

só lhe interessa, nas condições ali estipuladas, quer dizer, desde que as outras

salas se destinassem a atividades diferentes.

Mudada a regra do jogo, no meu modo de ver, caracteriza-se a violação ao artigo 1 Q da Lei n Q 1.533, de 1951.

Por isso é que conheço do recurso pela alínea a, dando-lhe provimento parcial, não para anular inteiramente as duas portarias mencionadas, mas para invalidá-las no tocante à destinação. Nada impede sejam as demais salas

destinadas às atividades comerciais determinados no edital.

É como voto, data venia.

VOTO-VISTA

O SR. MINISTRO ADHEMAR MACIEL: Senhor Presidente, pedi vis­

ta. V. Exa., como Relator, não conheceu do recurso especial de José Geraldo

Teixeira.

O ora recorrente especial impetrou mandado de segurança contra ato

do Diretor-Geral da Superintendência de Transportes e Terminais de Goiás

(Suteg). Alegou que a Suteg, em 05.08.93, abriu concorrência pública com o

fim de selecionar interessados na exploração de unidades comerciais no Ter­

minal Rodoviário de Alexânia. Pois bem, ele, impetrante, venceu a concor­

rência para a unidade n Q 4 (lanchonete). Em 10.03.94, foi firmado o contrato

de permissão entre o impetrante e a Suteg. Como não houve concorrentes em

número suficiente para outras lojas, a Suteg baixou as Portarias n.\!li 377 e 378,

permitindo que outros interessados também explorassem o mesmo ramo do

ora impetrante. Desse modo, Paulo Roberto Silva Barros e Geralda Nogueira

da Silva passaram a explorar as atividades de minilanchonete e pastelaria,

respectivamente, no Terminal de Alexânia. Ora, o impetrado não poderia ter

agido em desconformidade com o que já fora, antes, assentado com o impe­

trante, tudo com base na Lei n Q 8.666/93. O edital só havia destinado uma

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138 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

sala, a de número 4, para lanchonete. As outras eram para bijuterias, farmá­

cia, barbearia, revista e frutaria. Com a exploração de ramos conexos, seu

prejuízo aflorou sensivelmente.

Por último, o impetrante instou fossem cassadas as Portarias n21 377 e

378 da Suteg, para que ele explorasse, sozinho, a atividade de lanchonete.

2. O juiz indeferiu o pedido de liminar.

3. Os litisconsortes passivos se manifestaram, às fls. 49/50 e 53, porfian­

do pela sustentação do ato impugnado.

4. Em suas informações, o impetrado começou por dizer que ao impe­

trante faltava o direito líqüido e certo. A seguir, disse que, de seis salas para

exploração via permissão administrativa, somente dois concorrentes - den­

tre eles o impetrante - se habilitaram. Verificou-se, assim, através do desinte­

resse de concorrentes, que outra política teria que ser adotada. É que em

cidades pequenas, onde os terminais rodoviários são utilizados tão-somente

como ponto de parada, diminutas são as outras atividades. Como a Suteg

opera com receitas próprias, não se pode dar ao luxo de manter salas fechadas

com o fim de afastamento de concorrentes de quem já explora determinado

ramo. Ademais, cabe à Suteg, dentro da gama de sua discrição, alterar as

destinações das unidades permitidas, tudo com o fim de melhor atender ao

objetivo maior de sua existência.

5. O mandado de segurança foi denegado (fls. 83/88), ao fundamento de

que o edital de licitação não garantia a exclusividade das atividades.

6. O impetrante apelou.

7. O TJGO, tendo como Relator o eminente Desembargador Matias

Negry, conheceu do recurso ordinário, improvendo-o, todavia. A ementa do

aresto ficou assim cristalizada:

"Mandado de segurança. Direito líquido e certo incompro­

vado. 1 - Se inexiste o direito líquido e certo que se busca prote­

ger, por mandado de segurança, declara-se a carência de ação. 2 -

A ilegalidade existente não induz a pretensão de exclusividade, e

nem fere o direito líquido e certo. Apelo conhecido e improvido.

Decisão confirmada."

8. Inconformado com o resultado, o impetrante interpôs recurso es­

pecial após ter interposto embargos declaratórios (rejeitados).

RSTJ, Brasília, a.ll, (116): lll-I66, abril 1999.

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]URISPRUDÊNCIADASEGUNDA TURMA 139

9. No recurso especial (alíneas a e b), o recorrente falou que, quando firmou o contrato de permissão, estava certo de que exploraria, sozinho, o

ramo de lanchonete durante o período contratual de cinco anos. Foi por isso

que investiu dinheiro no empreendimento. O ato impugnado violou o inciso V

do art. 24 da Lei nº 8.666/93, que dispõe: "É dispensável a licitação ... V -

quando não acudirem interessados à licitação anterior e esta, justificadamen­

te, não puder ser repetida sem prejuízo para a Administração, mantidas neste caso, todas as condições preestabelecidas".

"A Suteg" - continuou o recorrente a argumentar - "modificou

as finalidades das salas 3 e 6, que eram destinadas à exploração das

atividades de bijuterias e barbearia, respectivamente, passando-as para

minilanchonete e pastelaria, atividades comerciais estas a serem explo­

radas por seus beneficiários pelo prazo de um ano, em concorrência des­

leal com a atividade da permissão de uso do recorrente, que é destinada,

no edital de concorrência pública, à exploração da atividade de lancho­

nete, prejudicando-o".

Por último, o recorrente repisou seu arrazoado, dizendo que o acórdão

recorrido era nulo, uma vez que não estava fundamentado (CPC, art. 131). O

ora recorrente, então impetrante, havia demonstrado à saciedade que o impe­trado havia, ao arrepio da lei, alterado pelas Portarias n lll 377 e 378 as condi­

ções anteriores fixadas, trazendo prejuízo para ele, recorrente. Ferido restou

o inciso V do art. 24 da Lei nº 8.666/93, bem como o § 2º do art. 6º da Lei nº

4.657/42 e o art. 1 º da Lei nº 1.533/51.

10. V. Exa., Senhor Presidente, ao não conhecer do recurso, asseverou

que, bem ou mal, a sentença estava fundamentada. Assim, não se podia falar

em violação do art. 131 do CPC. "Não há contradição entre reconhecer a ilegalidade da outorga das permissões de uso outorgadas sem licitação e denegar a segurança à conta de que o impetrante não tem o direito de explo­

rar com exclusividade o ramo de lanchonete no terminal rodoviário. São situa­

ções distintas: a ilegalidade: a ilegalidade da outorga das permissões de uso

tem como conseqüência a respectiva anulação, sem implicar o direito à exclu­sividade pretendida".

Por último, V. Exa. asseverou que não havia, quanto às outras alegadas

violações, infringência a dispositivo federal. Tanto a sentença de 1 º grau quanto

o acórdão decidiram a questão à base do edital de licitação e do termo de

permissão de uso.

RST], Brasília, a. 11, (116): 111-166, abril 1999.

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140 REVISTADO SUPERIORTRIBUNAL DE JUSTIÇA

11. O eminente Ministro Mosimann, em voto-vista, após um apanhado

dos fatos processuais, também não conheceu do recurso pela alínea c. "O

único acórdão trazido a confronto, desta mesma Turma, tratando da questão

de forma genérica, não revela dissídio com a decisão recorrida". Também

apoiou V. Exa. no tocante à alegada violação do art. 131 do CPC e do art. 24

da Lei n Q 8.666/93 e art. 6Q da LICC.

O Ministro Mosimann, a seguir, arrematou:

"Minha discordância situa-se na aplicação do artigo 1 Q da Lei n Q

1.533/51. Se é incontroverso, segundo o chamamento do edital e seu

anexo n Q 01 - e isso nem comporta discussão - que a sala n Q 4, ocupa­

da pelo impetrante e vencedor da licitação, destinou-se à atividade de lanchonete, reservando-se as demais salas para as atividades de bijuterias,

farmácia, banca de revista e frutaria, a outorga de permissão a outrem

para o ramo de minilanchonete e pastelaria, redundou em evidente

prejuízo a quem já explorava regularmente e legalmente a mesma ativi­

dade" .

Se houve mudança de regra do jogo, caracterizada restou a violação do

art. 1 Q da Lei n Q 1.533/51. Daí ter o Ministro Mosimann conhecido e provido

o recurso em parte, para que as atacadas portarias do impetrado fossem inva­

lidadas somente no tocante à destinação.

12. Senhor Presidente, o eminente Relator a quo chegou à conclusão de

que as duas últimas portarias do impetrado são nulas. São nulas porque con­

trariam a Lei n Q 8.666/93. Diz o eminente Relator:

"É inquestionável a ilegalidade dos contratos feitos pela Suteg

com os dois (02) particulares, uma vez que tais contratos foram

feitos ao arrepio da Lei n Q 8.666/93, sem qualquer licitação e sem qualquer ato de dispensa da mesma, essa ilegalidade (é) indiscutÍ­

vel" .

Ora, Senhor Presidente, se as portarias que permitiram os litisconsortes

contratarem com o serviço público são nulas por violação de lei federal, os

referidos contratos não têm sustentação. Logo, o mandado de segurança teria

que ser concedido em parte. O impetrante - é bom que fique bem claro -

pede para anular as portarias e ficar sozinho na atividade de exploração de

lanchonete.

RSTJ, Brasília, a.ll, (116): 111-166, abril 1999.

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JURISPRUDÊNCIA DA SEGUNDA TURMA 141

Ninguém que conheça o mínimo de Direito Administrativo vai se aba­

lançar a defender a tese de que o ora recorrente especial, então impetrante,

terá o direito de impedir a permitente de mudar a destinação das salas. Esta­

mos diante de contrato de permissão, que, por natureza, é precário. Mas a

situação fática, concreta, é bem outra. O que o impetrado não poderia fazer,

como bem ressaltou o Ministro Mosimann, era alterar as regras do jogo. Po­

deria, nos termos da lei federal então em vigor, baixar outro edital e, por exem­

plo, dizer que todas as seis salas seriam destinadas a lanchonetes, etc. Tudo

isso está na órbita de sua discricionariedade. Quem quisesse, então, que arris­

casse, que enfrentasse a concorrência comercial, que ganhasse menos dinhei­

ro. Mas, isso não foi feito. O que aconteceu? Por não haver licitantes, o impe­

trado fez contrato com novos interessados, mas, - aí é que está o pecadilho

legal - sem publicar novo edital. Em decorrência, alterou-se o que antes,

dispunha o edital, que reservava apenas uma sala, a de número 4, para lan­

chonete. Assim, a mudança da regra editalícia foi feita, como acertadamente

reconheceu o próprio acórdão recorrido, ao arrepio da lei, trazendo prejuízo

para quem havia confiado na lisura da Administração Pública. Quando o im­

petrante se habilitou, ganhou a concorrência e assinou o contrato, ele sabia que

só haveria, nas condições daquele edital, uma sala destinada a lanchonete.

Os fatos estão provados. Logo, satisfeita está a condição especial para o

deslinde via mandado de segurança. No mérito, a segurança merecia ser con­

cedida, ainda que em parte, como se falou mais de uma vez, pois o próprio

Relator a quo reconheceu a contraveniência das portarias à Lei nº 8.666/93.

Cretella Jr., ao comentar a inciso V do art. 24 da Lei nº 8.666/93, ob­

serva:

"Aberta a licitação pode ocorrer o caso de que não se inscreva ne­

nhum interessado para concorrer ao certame. Nesta hipótese, é dispen­

sável o procedimento licita tório, sempre que este, motivadamente, não pu­

der ser renovado, sem prejuízo, para a Administração e, neste caso, serão

mantidas todas as condições anteriormente preestabelecidas, no edital,

quanto a obras, serviços e compras" (Das Licitações Públicas, 14ª ed.,

Rio de Janeiro: Forense, 1998, p. 233).

E o impetrado, fazendo tábula rasa do inciso V do art. 24 da Lei nº

8.666/93, fez dois contratos novos, alterando a especificação do edital. Violou

a lei, pois.

RSl1, Brasília, a. 11, (116): 111-166, abril 1999.

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142 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

No tocante ao art. 19 da LMS, que trata do direito líqüido e certo, peço

vênia ao Ministro Mosimann para dele discordar. É que me filio à melhor

doutrina, no meu entender, que vê no direito líqüido e certo uma condição

especial da ação de mandado de segurança. Vale dizer, o direito líqüido e

certo nada tem a ver com o mérito. Diz respeito única e exclusivamente ao

processo. Direito líqüido e certo é prova provada com a inicial. É documento

juntado, demonstrando o que se deduziu na petição inicial (Daí os autores

alemães falarem em Urkundenprozess - processo de documento).

Finalizando. Não conheço do recurso pela alínea c. Como muito bem

demonstrou o voto-vista do Ministro Mosimann, o dissídio jurisprudencial

não está caracterizado.

Pela alínea a, conheço do recurso, uma vez que ficou comprovada a con­

trariedade à Lei nº 8.666/93. Dou, dessarte, provimento ao recurso para anu­

lar as portarias nas quais se basearam os contratos dos litisconsortes. Em

outras palavras, fica concedido, em parte, o mandado de segurança. Custas,

pela recorrida.

RECURSO ESPECIAL NQ 147.798 - SP (Registro n 9 97.0064020-5)

Relator: Ministro Hélio Mosimann

Recorrentes: Sebastião da Cunha Leite e cônjuge

Advogado: Luiz Lopes

Recorrido: Município de Cubatão

Advogados: Maricelma Fernandes e outros

EMENTA: Desapropriação - Desistência da ação - Impossibilida­

de, em face das alterações verificadas no imóvel, após a imissão na posse.

Constatadas substanciais alterações no imóvel objeto da ação ex­

propriatória, tornando impossível a restituição no estado em que se en­

contrava antes da imissão provisória, não há como se acolher o pedido

de desistência apresentado pelo expropriante.

RSTJ, Brasília, a.11, (116): 111-166, abril 1999.

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JURISPRUDÊNCIA DA SEGUNDA TURMA 143

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Se­gunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e

das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso e dar­

lhe provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Peçanha Martins, Adhemar Maciel, Ari Pargen­

dler e Aldir Passarinho Junior.

Brasília-DF, 15 de setembro da 1998 (data do julgamento).

Ministro AR! PARGENDLER, Presidente.

Ministro HÉLIO MOSIMANN, Relator.

Publicado no DJ de 19.10.98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO HÉLIO MOSIMANN:Trata-se de recurso especial

interposto por Sebastião da Cunha Leite e cônjuge, fundado no artigo 105, inciso lII, alínea c, da Constituição Federal, contra acórdão que deu provi­

mento a agravo de instrumento tirado de decisão que indeferiu pedido de

desistência de ação desapropriatória, uma vez que facultado à expropriante,

até o pagamento do preço, desistir da desapropriação.

Embargos de declaração de ambas as partes foram rejeitados, assim como,

segundos embargos oferecidos pelos expropriados.

Alegam os recorrentes, unicamente, dissídio jurisprudencial.

Com as contra-razões de fls. 282/286, vieram os autos a esta superior instância.

Recebi memorial dos recorrentes.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO HÉLIO MOSIMANN (Relator): A decisão recorri­

da foi prolatada em desacordo com o entendimento jurisprudencial domi­

nante nesta Corte, valendo transcrever, porque idênticos o tema e as partes envolvidas, o seguinte precedente, verbis:

RSTJ, Brasília, a. 11, (116): 111-166, abril 1999.

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144 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

"Administrativo e Processual Civil. Ação expropriatória. Imissão provisória na posse do imóvel. Acórdão, que confirmou a desapropriação e fixou a indenização, transitado em julgado. Fase de liquidação concluída. Fase de execução já iniciada, com parcial pagamento da indenização. Desistência da desapropriação: impos­

sibilidade, tendo em vista as profundas álterações efetuadas pelo

Poder Público no imóvel. Precedente do STl Recurso não conhe­cido.

I - Se o Tribunal Estadual constatou que o particular é o

proprietário do imóvel, tendo em vista o título de domínio por ele apresentado, não há como reabrir, na fase de execução do julgado

que decretou a desapropriação e fixou a indenização, a discussão acerca de titularidade do domínio. Poderá, no entanto, a Adminis­tração ressuscitar a questão da titularidade do domínio nas vias judiciais próprias, mas nunca na fase de execução do julgado.

II - Realizadas alterações substanciais no imóvel durante a imissão provisória na posse, não há que se deferir posterior pedido

de desistência formulado pela Administração. Precedente do STJ:

REsp nº 38.966-SP.

III - Recurso especial não conhecido." (REsp nº 150.943-

SP, ReI. Min. Adhemar Maciel, DJ de 02.03.98).

Depreende-se, do voto vencido, tratar-se da área denominada Vila Pari­si, e que o imóvel, conforme ali afirmado, "na área de localização desapare­ceu, não havendo possibilidade de devolução".

O argumento central condutor do aresto, de que cessado o interesse social ou a utilidade pública, não se pode compelir a Administração a manter

o apossamento ou a expropriação, perde força ante o argumento maior ex­posto no douto voto vencido.

Pelo memorial apresentado apontam-se decisões, da Primeira Turma in­clusive, e despachos que já nem sequer admitem recursos do Município de Cubatão, nas diversas ações idênticas.

Na linha do exposto e do precedente colacionado, conheço do recurso e

lhe dou provimento.

É o voto.

RSTJ, Brasília, a. 11, (16): 111-166, abril 1999.

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JURISPRUDÊNCIA DA SEGUNDA TURMA

RECURSO ESPECIAL Nº 161.433 - SP (Registro n Q 97.0093885-9)

Relator: Ministro Ari Pargendler

Recorrente: Alcides Selegato

Advogados: Antônio da Silva Ferreira e outros

Recorrido: Ministério Público do Estado de São Paulo

145

EMENTA: Direito ambiental - Queimadas - Plantação de cana­de-açúcar. O artigo 27, caput, da Lei n Q 4.771, de 1965, proíbe a queima de florestas e demais formas de vegetação, âmbito no qual se incluem as plantações de cana-de-açúcar; interpretação reforçada pelo respectivo parágrafo único que ressalva o emprego do fogo em práticas agropastoris, se peculiaridades locais ou regionais o justificarem, quando permitido pelo Poder Público. Recurso especial não conhecido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Se­gunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, não conhecer do recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Hélio Mosimann e Peçanha Martins. Ausentes, justificadamente, os Srs. Ministros Aldir Passarinho Junior e Adhemar Maciel.

Brasília-DF, 27 de outubro de 1998 (data do julgamento).

Ministro AR! PARGENDLER, Presidente e Relator.

Publicado no DJ de 14.12.98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO AR! PARGENDLER: O Ministério Público do Esta­do de São Paulo propôs ação civil pública contra Alcides Selegato, para vê-lo condenado:

"a) ao cumprimento da obrigação de não fazer consistente em abster-se de utilizar fogo para a limpeza do solo, preparo do plantio e para a colheita da cana-de-açúcar nas áreas por elas cultivadas, sob pena do pagamento da mul­ta-diária de R$ 10.000,00 (dez mil reais), corrigida no momento do paga­

mento;

RSTJ, Brasília, a. 11, (116): 111-166, abril 1999.

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146 REVISTADO SUPERIORTRIBUNALDEJUSTIÇA

b) ao pagamento de indenização pelos danos ambientais causados com

a queima da palha da cana-de-açúcar em área de 0,5 hectare do Sítio Santa

Inês, que se pede seja fixada nos moldes da fórmula apresentada no item VI,

considerando-se o preço do litro de álcool da época da liquidação, que será

recolhida ao Fundo Estadual para Reparação de Interesses Difusos Lesados,

criado pelo Decreto Estadual nº 27.070/87" (fl. 1.401).

A MMa. Juíza de Direito Dra. Heloísa Martins Mimessi julgou proce­dente o pedido, 'para condenar o requerido a se abster de utilizar fogo para

limpeza do solo, preparo do plantio e para a colheita da cana-de-açúcar, nas

áreas do Sítio Santa Inês, sob pena de pagamento de multa diária no valor de

R$ 5.000,00, corrigido a partir desta decisão, condenando-o, ainda, ao paga­

mento de indenização pelos danos ambientas causados com a queima da pa­lha de cana-de-açúcar, na área de 0,5 ha referida na inicial, indenização essa

no valor de 2.048 litros de álcool combustível, por hectare, na data do cálculo

a ser realizado pela Contadoria do Juízo, incidindo correção monetária a par­tir de então. Referida indenização reverterá ao Fundo Estadual para Repara­

ção de Interesses Difusos Lesados' (fls. 649/664).

A egrégia 6ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça do Esta­

do de São Paulo, Relator o eminente Desembargador Luigi Chierichetti, ne­

gou provimento à apelação, nos termos do acórdão assim ementado: 'Ação

civil pública. Queima da palha da cana-de-açúcar antes de seu corte. Degra­

dação da qualidade ambiental, cuja defesa está afeta ao Ministério Público,

nos termos do art. 14, § 1 º, da Lei nº 6.938/81, e do artigo 5º da Lei nº 7.347/ 85. Competência da Justiça Estadual para conhecer da contrariedade posta

em juízo. Legitimidade passiva ad causam do proprietário da gleba rural em

que ocorreu a queima da palha da cana, uma vez que a responsabilidade inde­

pende da culpa. Apelação improvida' (fl. 767).

Seguiram-se embargos de declaração (fls. 789/791), rejeitados (fls. 795/

796).

Daí a interposição do presente recurso especial, interposto por Alcides

Selegato, com base no artigo 105, inciso lII, letras a e c, da Constituição

Federal, por violação do artigo 27 da Lei nº 4.771, de 1965, do artigo 427 do

Código de Processo Civil, do artigo 6º da Lei Complementar nº 75, de 1993,

bem assim dos artigos 4º e 6º da Lei nº 6.938, de 1981 (fls. 822/846).

O Ministério Público Federal, na pessoa do eminente Subprocurador­

Geral da República Dr. Antonio Fernando Barros e Silva Souza, opinou pelo

não provimento do recurso (fls. 875/878).

RSTJ, Brasília, a. 11, (116): 111-166, abril 1999.

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JURISPRUDÊNCIA DA SEGUNDA TURMA 147

VOTO

O SR. MINISTRO AR! PARGENDLER (Relator): O artigo 27 da Lei

n Q 4.771, de 1965, dispõe:

"É proibido o uso de fogo nas florestas e demais formas de vegetação".

Parágrafo único - "Se peculiaridades locais ou regionais justificarem o

emprego do fogo em práticas agropastoris ou florestais, a permissão será esta­

belecida em ato do Poder Público, circunscrevendo as áreas e estabelecendo

normas de precaução".

"Demais formas de vegetação" - diz o texto legal - expressão que, evidentemente, abrange as plantações de cana-de-açúcar.

A interpretação sustentada no recurso especial, de que a aludida norma

legal só "proíbe a queima de florestas e vegetação nativa, sendo inaplicável,

pois, à lavoura de cana-de-açúcar que é definida como cultura renovável" (fl.

828), adita ao artigo de lei restrição que ele não contém, a saber, "demais

formas de vegetação nativa".

Se esse entendimento fosse correto, não haveria necessidade do pará­

grafo único, que ressalva o emprego do fogo em práticas agropastoris, se pe­

culiaridades locais ou regionais o justificarem.

II

A teor do artigo 427 do Código de Processo Civil, "o juiz poderá dispen­

sar prova pericial quando as partes, na inicial e na contestação, apresentarem

sobre as questões de fato pareceres técnicos ou documentos elucidativos que

considerar suficientes".

Aqui, esse foi o caso.

"A prova técnica sobre a qual se baseou o ilustre juízo sentenciante" -

está dito no acórdão recorrido - "consiste, dentre outras, nas conclusões dos

estudos científicos realizados pelo pesquisador Kirchoff, dentre as quais des­

taca-se poderem as queimadas ser consideradas fontes de poluição, assim como

constituir poluição a emissão dos gases provenientes de queimadas.

Outras conclusões a que o ilustre pesquisador chegou, em seus estudos

técnicos, são de que a combustão da palha da cana-de-açúcar libera gases

tóxicos, dentre os quais o ozônio (03) e monóxido de carbono (CO), podendo

tais emanações, quando excessivas, prejudicar a respiração dos seres vivos,

como também o próprio crescimento das plantas.

RSTJ, Brasília, a. 11, (116): 111-166, abril 1999.

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148 REVISTADO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Consta também dos autos um estudo do médico pneumologista Marcos Arbex, nele figurando a seguinte assertiva: "1/5 da população da zona canavieira paulista está com os pulmões comprometido·s ou à beira de uma crise de rápi­da evolução".

o Professor José Carlos Manço, do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto, ao concluir seu estudo sobre os danos causados ao meio ambiente e à saúde pública, provocados

pelas queimadas, assevera, verbis: "Em conclusão, é meu parecer, com base nas considerações apresentadas, que a poluição provocada pela queimada dos

canaviais tem efeito nocivo para a saúde da população de nossa região'''' (fl. 783).

III

Nos termos do artigo 6º, VII, b, da Lei Complementar nº 75, de 1993, compete ao Ministério Público da União, promover o inquérito civil e a ação

civil pública para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambien­te, dos bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e

paisagístico.

Entenda-se: sempre que a ação respectiva for processada e julgada pela

Justiça Federal, tal como decidido pelo egrégio Tribunal Regional Federal da 4ª Região na AC nº 91.04.13275-0, RS (fls. 840/841).

Quando a ação estiver no âmbito da competência da Justiça Estadual, a legitimidade para propô-la será do Ministério Público do Estado.

Nessa linha o julgado não contrariou o artigo 6º, VII, b, da Lei Comple­

mentar nº 75, de 1993, nem o artigo 6º da Lei nº 6.938, de 1981.

IV

As razões do recurso especial ainda sustentam:

"A defesa do meio ambiente no Brasil, notadamente contra a poluição, tem como única e exclusiva fundamentação legal a Lei nº 6.938, de 31.08.81, que estabeleceu a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanis­mos de formulação e aplicação. Referida norma em seu artigo 3º define o que é meio ambiente, a degradação da qualidade ambiental, a poluição, o poluidor

e os recursos ambientais, enquanto em seu art. 4º estabelece-se seus objetivos.

Tais objetivos visam à compatibilização do desenvolvimento econômi­

co-social com a preservação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico, bem como o estabelecimento de critérios e padrões da qualidade ambiental.

RSTJ, Brasília, a. 11, (116): 111-166, abril 1999.

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JURISPRUDÊNCIA DA SEGUNDA TURMA 149

Na medida em que o v. acórdão determina a proibição imediata da quei­ma da palha de cana-de-açúcar sem oferecer ao recorrente nenhuma alterna­

tiva em nível de substituição deste maior encargo, está, inquestionavelmente, incompatibilizando o desenvolvimento econômico-social, em total arrepio à

norma mestra da lei que estabelece a Política Nacional do Meio Ambiente"

(fl.841).

Trata-se de questão de fato, insuscetível de exame em recurso especial.

Registre-se, todavia, o que, a propósito, disse o parecer do Ministério Público Federal:

"Os autos revelam que o recorrente já deveria ter providenciado o uso de outros métodos (que não a queimada) na sua lavoura pelo menos desde 1988, tendo em vista que em 30 de agosto desse ano foi expedido o Decreto Estadual nº 28.848 proibindo qualquer forma de emprego de fogo para a colheita, inclusive da cana-de-açúcar, já tendo essa Corte reconhecido a vali­dade da referida restrição. Ressalte-se ainda que, apesar de ter aderido ao

compromisso de ajustamento de fls. 81/82, o recorrente não honrou o pactua­do, permanecendo com as citadas práticas" (fls. 877/878).

Voto, por isso, no sentido de não conhecer do recurso especial.

RECURSO ESPECIAL Nº 172.512 - SP (Registro nº 98.0030613-7)

Relator: Ministro Hélio Mosimann

Recorrente: Raia e Companhia Ltda

Advogados: Luciano Garcia Miguel e outros

Recorrido: Município de São Paulo

Advogados: Beatriz Ríbeiro de Moraes e outros

EMENTA: Processo Civil- Recurso especial- Horário de funcio­namento de farmácias - Não conhecimento do recurso.

A análise de legislação local e o exame direto de matéria constitu­cional são ternas que escapam à análise em sede de recurso especial.

RSTJ, Brasília, a. 11, (116): 111-166, abril 1999.

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150 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Se­gunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, não conhecer do recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Peçanha Martins, Adhemar Maciel, Ari Pargendler e Aldir Pas­sarinho Junior.

Brasília-DF, 17 de setembro de 1998 (data do julgamento).

Ministro ARI PARGENDLER, Presidente.

Ministro HÉLIO MOSIMANN, Relator.

Publicado no D} de 19.10.98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO HÉLIO MOSIMANN:Trata-se de recurso especial interposto por Raia e Companhia Ltda, fundado no artigo 105, inciso III,

alíneas a e c, da Constituição Federal, contra acórdão do Tribunal de Justiça do Estado, que denegou segurança impetrada pela ora recorrente, empresa

que se dedica ao ramo comercial de farmácia, objetivando a declaração de inconstitucionalidade de lei municipal que proíbe o funcionamento de seu

estabelecimento aos sábados, fora da escala de plantão.

Alega a recorrente, em síntese, violação a dispositivos legais, bem como

dissídio jurisprudencial.

Com as contra-razões de fls. 285/291, vieram os autos a esta superior instância.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO HÉLIO MOSIMANN (Relator): Em caso rigorosa­

mente análogo, REsp nQ 159.774-SP, da relatoria do eminente Ministro José

Delgado, manifestou-se a egrégia Primeira Turma na conformidade do dis­

posto na ementa posta nos seguintes termos:

"Processual Civil. Recurso especial. Não conhecimento. Ho­

rário de funcionamento do comércio.

RSTJ, Brasília, a. 11, (116): 111-166, abril 1999.

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JURISPRUDÊNCIA DA SEGUNDA TURMA 151

1. É de natureza local a legislação expedida pelo Município regulando o horário de funcionamento de farmácias.

2. Acórdão que se sustenta em disposições constitucionais só

pode ser atacado pela via do recurso extraordinário.

3. Recurso especial só trata de zelar pela unificação e autori­

dade da legislação federal infraconstitucional.

4. Recurso não conhecido (DJ de 25.05.98).

Decidiu a instância antecedente que " ... a jurisprudência desta Corte é no sentido de que 'os Municípios têm competência para regular o horário do comércio local, desde que não infrinjam leis estaduais ou federais válidas (Sú­mula n Q 419).' Trata-se de competência que, sob a ordem constitucional ins­tituída pela Carta de 1988, está reservada pelo seu art. 30, inciso I, ao dispor

que 'compete aos Municípios legislar sobre assuntos de interesse local"'.

Do exposto, não conheço do recurso.

É como voto.

RECURSO ESPECIAL NQ 179.600 - SP (Registro n Q 98.0047035-2)

Relator: Ministro Aldir Passarinho Junior

Recorrente: Instituto Nacional do Seguro Social - INSS

Advogados: Lilian Castro de Souza e outros

Recorrida: J. v. Melo e Companhia Ltda - Microempresa

Advogados: João Emílio Zola Júnior e outros

EMENTA:Tributário e Processual Civil- Compensação da contri­

buição de administradores e autônomos com a contribuição sobre a fo­lha de pagamento - Possibilidade - Lei n Q 8.383/91, art. 66 - CTN,

arts. 150 e 170 - Limitação percentual de 30% (Lei n Q 9.129/95) e corre­

ção monetária com base em expurgos inflacionários - Acórdão regio­

nal favorável ao INSS - Recurso sem objeto - Juros pela taxa Selic -Matéria não prequestionada.

RSTJ, Brasilia, a. 11, (116): 111-166, abril 1999.

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152 REVISTADO SUPERIORTRIBUNALDE}USTIÇA

I. Constitui orientação cristalizada na Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça que o contribuinte tem direito à compensação dos valores indevidamente recolhidos a título de Contribuição de Adminis­tradores e Autônomos com a Contribuição sobre a Folha de Salários. Os créditos ficam sujeitos a lançamento por homologação, na forma preco­nizada nos arts. 66 da Lei n Q 8.383/91 e 150 do CTN, dispensados, pois, o prévio reconhecimento da sua liquidez e certeza pela autoridade fiscal ou por decisão judicial transitada em julgado.

H. Havendo a sentença monocrática limitado a compensação ao

percentual de 30% previsto no art. 89, § 3Q, da Lei n Q 8.212/91, com as

alterações introduzidas pela Lei n Q 9.129/95, decisão mantida pelo Tribu­nal a quo, falta à irresignação do INSS qualquer objeto, eis que vitorioso nesta parte da controvérsia.

IH. O mesmo acontece com o critério de correção monetária dos valores compensáveis, eis que a r. sentença igualmente manteve os índi­ces equiparados àqueles que norteiam a atualização oficial aplicada pela

Fazenda, não havendo, no particular, interesse do INSS em recorrer.

IV. O aresto regional não tratou do tema alusivo aos juros morató­rios pela taxa "Selic", pelo que a matéria, sem o necessário prequestio­namento, não tem como ser examinada em sede de recurso especial.

V. Recurso especial não conhecido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas:

Decide a Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, à unanimida­de, não conhecer do recurso, na forma do relatório e notas taquigráficas cons­

tantes dos autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Hélio Mosimann, Peçanha

Martins e Ari Pargendler. Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Adhemar Maciel.

Custas, como de lei.

Brasília-DF, 27 de outubro de 1998 (data do julgamento).

Ministro ARI PARGENDLER, Presidente.

Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR, Relator.

Publicado no DJ de 22.02.99.

RST}, Brasília, a.11, (116): 111-166,abriI1999.

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JURISPRUDÊNCIA DA SEGUNDA TURMA 153

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO ALDIR PASSARINHO JUNIOR: O Instituto Na­cional do Seguro Social interpõe recurso especial pela letra a do art. 105, IH, da Constituição Federal, objetivando a reforma de acórdão prolatado pelo egrégio Tribunal Regional Federal da 3ª Região, que reconheceu o direito da autora de compensar os valores por ela recolhidos a título de contribuição previdenciária de administradores e autônomos e a devida sobre a folha de salário.

Sustenta a recorrente que houve contrariedade aos arts. 170 do CTN, 1. O 1 O e 1. O 1 7 do Código Civil, eis que os créditos não são líquidos e certos, como exigido na aludida legislação. Aduz que também restaram violados os arts. 5º, lI, da Constituição Federal e o art. 66 da Lei nº 8.383/91, além dos arts. 72 a 79 do Decreto nº 612/92. Acentua que a compensação somente, pode ser efetuada entre contribuições da mesma espécie, consoante o art. 39 da Lei nº 9.250/95, hipótese que inocorre no caso, porquanto além das con­tribuições destinadas ao INSS, a cobrança em folha abrange contribuições devidas aos serviços sociais autônomos (Senai, Sesc, Sesi, Senac, Incra, etc). Finalmente, ressalta que deve ser respeitado o limite compensável de 30% do valor a ser recolhido de cada competência, nos termos do art. 89, § 3º, da Lei nº 8.212/91 com as alterações introduzidas pela Lei nº 9.129/95.

Aduz o INSS que a correção monetária dos valores compensáveis deve ser a mesma aplicada na cobrança da exação, sem inclusão de outros índices que não sejam os oficiais.

Quanto aos juros moratórios, diz o recorrente serem indevidos, por não se tratar de restituição do indébito, acentuando, mais, que até 1º.01.96 se­quer previsão legal havia.

Contra-razões às fls. 151/153, impugnando os argumentos do recorren­te, notadamente no que tange à limitação de 30% de compensação, porque a norma é posterior ao fato em discussão, além do que se dirige ao âmbito da Administração.

O recurso especial foi admitido no tribunal a quo, pelo despacho presi­dencial de fl. 155.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO ALDIR PASSARINHO JUNIOR (Relator): Trata-se de recurso especial aviado, com fundamento na letra a do permissivo consti-

RST], Brasília, a. 11, (116): 111-166, abril 1999.

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154 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

tucional, contra acórdão que determinou a compensação dos valores da Con­

tribuição Social de Administradores e Autônomos com aqueles devidos sobre a folha de salários.

No que tange à limitação da compensação ao percentual de 30% previs­to no art. 89, § 3Q

, da Lei n Q 8.212/91 com as alterações introduzidas pela Lei

n Q 9.129/95, falta à irresignação do INSS qualquer objeto. Com efeito, a r. sentença de 1Q grau aplicou tal restrição (cf. fi. 126). A autora apelou, no

particular, da decisão, porém seu recurso foi desprovido pelo Tribunal Regio­

nal, de sorte que a questão está preclusa com decisão favorável à autarquia

previdenciária.

O mesmo acontece com o critério de correção monetária dos valores compensáveis, eis que a r. sentença igualmente manteve os índices equipara­

dos àqueles que norteiam a atualização oficial aplicada pela Fazenda (fi. 126).

Destarte, não há, no particular, interesse do INSS em recorrer.

Com referência aos juros moratórios, o aresto regional não tratou do tema, pelo que a matéria, sem o necessário prequestionamento, não tem como

ser examinada em sede de recurso especial.

Resta, portanto, a julgar, a matéria de fundo, eis que, de fato, o art. 170

do CTN foi ventilado no aresto a quo, suficiente ao conhecimento do recur­

so pela letra a do art. 105, III, da Carta de 1988.

A possibilidade de compensação da Contribuição de Administradores e

Autônomos, declarada inconstitucional pelo egrégio Supremo Tribunal Fe­

deral (RE n Q 166.772/RS, RE n Q 177.296/RS e ADln n Q 1.101-2-DF) com a Contribuição sobre a Folha de Salários mereceu acolhida no SuperiorTribu­

nal de Justiça, como se verifica dos seguintes precedentes, litteris:

"Tributário. Contribuição previdenciária de autônomos e em­

presários (Lei n Q 7.787/89 e Lei n Q 8.212/91). Inconstitucionalida­

de (RE n Q 166.772/RS eADln n Q 1.102/DF). Compensação: possi­

bilidade com a Contribuição sobre a Folha de Salários. Preceden­

tes. Embargos parcialmente recebidos.

L Tributos, cujo crédito se constitui através de lançamento

por homologação, como no caso, são apurados em registros da con­

tribuinte, devendo ser considerados líquidos e certos para efeito de

compensação, a concretizar-se independentemente de prévia co­

municação à autoridade fazendária, à qual compete a fiscalização

do procedimento compensatório.

RSTJ, Brasília, a.11, (116): 111-166,abrilI999.

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JURISPRUDÊNCIA DA SEGUNDA TURMA 155

11. Embargos parcialmente recebidos." (Primeira Seção, EREsp nº 107.115-MG. ReI. Ministro Adhemar Maciel, DJU de 10.08.98, unânime)

"Compensação. Contribuição previdenciária. Autônomos, ad­ministradores e avulsos.

O Superior Tribunal de Justiça, em recentes decisões, firmou o entendimento no sentido de admitir a compensação de valores referentes à contribuição previdenciária para autônomos, avulsos e administradores.

Embargos recebidos." (Primeira Seção, EREsp nº 98.293-RS, ReI. Min. Garcia Vieira, DJU de 30.03.98, unânime)

"Tributário. Compensação. 1. Tributos lançados por homolo­gação judicial. Nos tributos sujeitos ao regime do lançamento por homologação, a compensação prevista no artigo 66 da Lei nº 8.383, de 1991, constitui um incidente desse procedimento, no qual o contribuinte, ao invés de antecipar o pagamento, registra na escri­ta fiscal o crédito oponível à Fazenda, que tem cinco anos, conta­dos do fato gerador, para a respectiva homologação (CTN, art. 150, § 4º); esse procedimento tem natureza administrativa, mas o juiz pode, independentemente do tipo da ação, declarar que o cré­dito é compensável, decidindo desde logo os critérios da compen­sação (v.g., data do início da correção monetária). 2. Contribuição previdenciária. A contribuição previdenciária para autônomos e ad­ministradores, instituída pela Lei n Q 7.787/89 e modificada pela Lei n Q 8.212/91, foi declarada inconstitucional (RE n Q 166.772-RS e ADIn n Q 1.102-DF); os valores recolhidos a esse título são com­pensáveis com contribuição previdenciária sobre a folha de salá­rios. Recurso especial conhecido e provido, em parte." (Segunda Turma, REsp n Q 164.215-PE, ReI. Min. Ari Pargendler, DJU de 04.05.98, unânime)

"Tributário. Contribuição previdenciária. Compensação. Leis nM 7.787/89,8.212/91 e 8.383/91.

1. A interposição de recurso especial por alegada contrarie­

dade ao art. 1 Q, Lei n Q 1.533/51, sem a indicação da disposição de

RST], Brasília, a. 11, (116): 111-166, abril 1999.

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156 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

lei federal que, em decorrência, teria sido contrariada ou negada vigência, não abre o pórtico da admissibilidade (REsp nº 26.867-

2-GO - ReI. Min. Jesus Costa Lima - DJU de 24.05.93 - Agra­vo de Instrumento nº 78.035-PR - ReI. Min. José Dantas).

2. Os valores recolhidos a título de contribuição previdenciária para autônomos e administradores são compensáveis com aquela

sobre a folha de salários, assegurada à Administração Pública a fiscalização e controle do respectivo procedimento.

3. Jurisprudência da Primeira Seção uniformizando o entendi­mento favorável à compensação (EREsp n Q 98.446-RS, ReI. Min.

Ari Pargendler, DJU de 30.06.97).

4. Recurso provido." (Primeira Turma, REsp n Q 168.006-SP, ReI. Min. Milton Luiz Pereira, DJU de 29.06.98, unânime)

Não se configura infringência ao art. 170 do CTN, eis que a forma de compensação nele prevista é endereçada à própria Fazenda, enquanto aqui consagra-se o direito do contribuinte à compensação prevista no art. 66 da Lei nº 8.383/91, que se fará em seus registros sujeitos a lançamento por ho­mologação, preconizado no art. 150 do mesmo Código Tributário, dispensa­

dos, pois, o prévio reconhecimento da liquidez e certeza pela autoridade fis­calou decisão judicial transitada em julgado.

Ante o exposto, não conheço do recurso especial.

É como voto.

Relator:

RECURSO ESPECIAL NQ 181.878 - RS (Registro n Q 98.0051082-6)

Ministro Ari Pargendler

Recorrente: Estado do Rio Grande do Sul

Advogados: Alexandre Mussoi Moreira e outros

Recorrido: De Antoni S/A Máquinas e Implementos Agrícolas

Advogados: Daniela Cumerlatto e outros

RST], Brasília, a. 11, (116): 111-166, abril 1999.

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JURISPRUDÊNCIA DA SEGUNDA TURMA 157

EMENTA: Tributário - Multa - Redução - Lei mais benigna.

Constitui "ato não definitivamente julgado" o lançamento fiscal impug­

nado por meio de embargos do devedor em execução fiscal (CTN, art.

106, n, c); mas o lançamento fiscal que já não pode sofrer ataque por

meio de embargos do devedor, porque decorrido o prazo destes, é ato

definitivamente julgado, que não pode ser revisto por petição atravessa­da nos autos da execução fiscal. Recurso especial conhecido e provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Se­gunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e

das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso e lhe

dar provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Hélio Mosimann e Peçanha Martins. Ausentes,

justificadamente, os Srs. Ministros Aldir Passarinho Junior e Adhemar Maciel.

Brasília-DF, 27 de outubro de 1998 (data do julgamento).

Ministro AR! PARGENDLER, Presidente e Relator.

Publicado no DJ de 14.12.98.

RELATÓRIO

o SR. MINISTRO AR! PARGENDLER: Nos autos de agravo de ins­

trumento interposto por De Antoni S/A Máquinas e Implementos Agrícolas

contra decisão da MM. Juíza de Direito em execução fiscal ajuizada pelo

Estado do Rio Grande do Sul, o egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Rio

Grande do Sul, sendo Relator o eminente Desembargador Arnaldo Rizzardo,

reduziu o valor da multa moratória, em acórdão de seguinte ementa:

"Lei tributária posterior mais benéfica. Retroatividade. Aplicação do art.

106, lI, c, do CTN. A lei tributária posterior, mais benéfica ao contribuinte,

que reduz percentagem de multa, retro age enquanto não julgado definitiva­

mente o ato do âmbito judicial. Interpretação gramatical e teleológica do art.

106, lI, letra c, do CTN. Agravo provido" (fl. 126).

Seguiu-se recurso especial, interposto pelo Estado do Rio Grande do

Sul, com base no artigo 105, inciso III, letras a e c, da Constituição Federal,

por violação do artigo 106, inciso lI, letra c, do Código Tributário Nacional (fls. 132/143).

RST], Brasília, a. 11, (116): 111-166, abril 1999.

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158 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

dAs respectivas razões sustentam que "sem cláusula expressa de retroa­tividade, na lei mais benéfica, essa não pode retroagir a ponto de alcançar crédito tributário constituído definitivamente" (fi. 136).

VOTO

O SR. MINISTRO AR! PARGENDLER (Relator): Comentando o tema sub judice, Aliomar Baleeiro, escreveu:

"O inciso II do art. 106 do CTN estabelece três casos de retroatividade da lei mais benigna aos contribuintes e responsáveis, desde que se trate de ato ainda não definitivamente julgado. A disposição não o diz, mas pela própria

natureza dela, há de entender-se como compreensiva do julgamento tanto administrativo quanto judicial.

O primeiro caso é o de a lei nova já não definir como infração fiscal determinado ato positivo ou negativo. A inspiração é a mesma do art. 153, § 16, da CF e art. 2º, parágrafo único, do Código Penal. Não há condições: -desaparecida a infração no texto novo, apaga-se o passado.

O segundo caso versa ainda a aplicação da lei mais favorável ao contri­buinte, ou equiparado, porque deixa de tratar certo ato como contrário a qualquer exigência legal de ação ou omissão. Mas, neste segundo caso, o CTN exige que não tenha ocorrido fraude, nem omissão de pagamento do tributo exigido.

Finalmente, no terceiro caso, à semelhança do art. 2Q, parágrafo único, do Cód.

Penal, a pena menos severa da lei nova substitui a mais grave da lei vigente ao tempo em que foi praticado o ato punível.

A interpretação daquele dispositivo do Cód. Penal é aplicável às letras a e c do

art. 106, n Q Ir'. (Direito Tributário Brasileiro, Forense, Rio, 2ª edição, 1970, pp. 379/380).

Nessa linha, a expressão "ato não definitivamente julgado", constante do artigo 106, inciso II, letra c, do Código Tributário Nacional, alcança o âmbito administrativo e também o judicial.

Em juízo, a delimitação do que seja "ato não definitivamente julgado" deve partir do contexto da execução fiscal. Nesta, o devedor só pode se opor ao título executivo nos embargos previstos no artigo 16 da Lei nº 6.830, de 1980. Decorrido o respectivo prazo, a execução fiscal prossegue com a só prática dos atos materiais, não mais havendo lugar para incidentes próprios do processo de conhecimento.

RSTJ, Brasília, a. 11, (116): 111-166, abril 1999.

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JURISPRUDÊNCIA DA SEGUNDA TURMA 159

Aqui, De Antoni S/A Máquinas e Implementos Agrícolas atravessou nos autos petição avulsa, requerendo a exclusão da multa (fls. 92/95), quando já decorrido o prazo assinado para os embargos do devedor. Na dicção da lei, tratava-se de ato definitivamente julgado, que não podia ser modificado por

fato superveniente.

Voto, por isso, no sentido de conhecer do recurso especial e de dar-lhe provimento para que o valor da multa seja restabelecido em 30% sobre o valor do débito.

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM RECURSO ESPECIAL Nº 181.878 - RS

(Registro n Q 98.0051082-6)

Relator: Ministro Ari Pargendler

Embargantes: Estado do Rio Grande do Sul, De Antoni S/A Máquinas e Implementos Agrícolas

Advogados: Alexandre Mussoi Moreira e Daniela Cumerlatto

Embargados: Os mesmos

EMENTA: Tributário - Multa - Redução - Lei mais benigna. A expressão "ato não definitivamente julgado" constante do artigo 106, n, letra c, do Código Tributário Nacional alcança o âmbito administrativo e também o judicial; constitui, portanto, ato não definitivamente julgado o lançamento fiscal impugnado por meio de embargos do devedor em execução fiscal. Embargos de declaração acolhidos, com efeitos modifi­cativos, conhecendo-se do recurso especial e dando-lhe provimento.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Se­gunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, acolher os embargos de­claratórios de De Antoni S/A Máquina e Implementos Agrícolas, com efeitos modificativos e julgar prejudicado os embargos declaratórios do Rio Grande do Sul, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Participaram do julga­mento os Srs. Ministros Aldir Passarinho Junior e Peçanha Martins. Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Hélio Mosimann.

RSTJ, Brasília, a. 11, (116): 111-166, abril 1999.

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160 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Brasília-DF, 18 de fevereiro de 1999 (data do julgamento).

Ministro AR! PARGENDLER, Presidente e Relator.

Publicado no DI de 22.03.99.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO AR! PARGENDLER: Na sessão de 27 de outubro

de 1998, a Turma conheceu do recurso especial e deu-lhe provimento, nos

termos do acórdão assim ementado: "Tributário. Multa. Redução. Lei mais

benigna. Constitui 'ato não definitivamente julgado' o lançamento fiscal im­

pugnado por meio de embargos do devedor em execução fiscal (CTN, art.

106, lI, c); mas o lançamento fiscal que já não pode sofrer ataque por meio de

embargos do devedor, porque decorrido o prazo destes, é ato definitivamente

julgado, que não pode ser revisto por petição atravessada nos autos da execu­

ção fiscal. Recurso especial conhecido e provido" (fls. 169).

Seguiram-se embargos de declaração, opostos por ambas as partes.

De Antoni SIA Máquinas e Implementos Agrícolas atacou o julgado

porque, in verbis: "O pedido em comento foi protolocado em 09.06.97, sen­

do que os embargos do devedor somente foram interpostos em 27.04.98 (vide

cópia anexa), posterior até o protocolo do presente recurso especial que se

deu em 17.02.98" (fl. 173).

O Estado do Rio Grande do Sul reclamou de contradição "a ser sanada,

pois se foi dado provimento ao recurso através do qual o Estado se insurgia

contra a redução da multa de 50% para 30%, não poderia ter constado na

conclusão do r. aresto embargado que a multa ficava restabelecida no percen­

tual de 30% do valor do débito" (fl. 182).

VOTO

O SR. MINISTRO AR! PARGENDLER (Relator): O voto condutor de

fls. 166/167 foi proferido no pressuposto de que "De Antoni SI A Máquinas e

Implementos Agrícolas atravessou nos autos petição avulsa, requerendo a ex­

clusão da multa (fls. 92/95), quando já decorrido o prazo assinado para os

embargos do devedor" (fl. 167).

Pela peça de fls. 175/179, agora juntada, se vê que a petição foi atraves­

sada nos autos antes da oposição dos embargos do devedor.

RSTJ, Brasília, a. 11, (116): 111-166, abril 1999.

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JURISPRUDÊNCIA DA SEGUNDA TURMA 161

o erro resultou do fato de que matéria própria de embargos do devedor

foi decidida fora do respectivo âmbito, em petição atravessada nos autos, como

se veiculasse exceção de pré-executividade.

Melhor examinada, vê-se que essa petição foi atravessada nos autos, "sem

prejuízo a posterior discussão do mérito da execução" (si c) - fl. 94 - donde

se podia inferir que o prazo dos embargos do devedor não se escoara.

Nessas condições, os embargos de declaração opostos por De Antoni

S/A Máquinas e Implementos Agrícolas devem ser acolhidos com efeitos mo­

dificativos, não obstante a sede imprópria; é que de outro modo a parte, nesta altura, ficaria sem meios para discutir o tópico, que nos embargos do devedor

foi registrado como litispendente (fls. 176/177).

Voto, por isso, no sentido de acolher os embargos de declaração opostos

por De Antoni S/A Máquinas e Implementos Agrícolas para dar à parte dis­

positiva do voto condutor de fls. 165/167 a seguinte redação: "Voto, por isso,

no sentido de não conhecer do recurso especial"; prejudicados os embargos

de declaração opostos pelo Estado do Rio Grande do Sul.

RECURSO ESPECIAL Nº 183.001- CE (Registro nº 98.0054605-7)

Relator:

Recorrente:

Ministro Aldir Passarinho Junior

Fazenda Nacional

Procuradores: Francisco Tadeu Barbosa de Alencar e outros

Recorrida:

Advogados:

Autoviária São Vicente de Paulo Ltda

Rodrigo Jereissati de Araújo e outros

EMENTA: Tributário e Processual Civil - Ação cautelar - Com­

pensação de PIS com Cofins e o próprio PIS - Descabimento - Peri­

culum in mora e fumus boni iuris inexistentes - Improcedência.

r. A medida cautelar deve cingir-se a assegurar a eficácia de proces­

so principal, assumindo, indevidamente, caráter satisfativo quando uti­

lizada para antecipar o resultado de prestação jurisdicional que será

objeto de exame e debate profundo na ação ordinária que lhe seguirá.

RSTJ, Brasília, a. 11, (116): 111-166, abril 1999.

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162 REVISTADO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

lI. Inexistência, na espécie, de periculum in mora, eis que a even­tuallesão foi perpetrada no passado, inexistindo ameaça iminente à au­tora na cobrança, pela Fazenda Pública, de exações cuja validade do lan­çamento não está em discussão, decorrendo do normal exercício da ati­

vidade fiscal.

III. Caso, ademais, em que o requisito do fumus boni iuris igual­mente se faz ausente, eis que a autora busca também a compensação do

PIS com a Cofins, contribuição de espécie diferente, hipótese repelida no Superior Tribunal de Justiça (REsp n Q 166.358-PE, ReI. Min. Milton

Luiz Pereira, unânime, DJU de 31.08.98 e REsp n Q 171.332-SP, ReI. Min. Garcia Vieira, unânime, DJU de 08.09.98).

IV. Recurso especial conhecido e provido. Ação improcedente.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas:

Decide a Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, à unanimida­de, conhecer do recurso e dar-lhe provimento, na forma do relatório e notas taquigráficas constantes dos autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Hélio Mosi­

mann, Peçanha Martins e Ari Pargendler. Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Adhemar Maciel.

Custas, como de lei.

Brasília-DF, 27 de outubro de 1998 (data do julgamento).

Ministro ARI PARGENDLER, Presidente.

Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR, Relator.

Publicado no DJ de 22.02.99.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO ALDIR PASSARINHO JUNIOR: A União Federal interpõe recurso especial com base nas letras a e c do art. 105, lII, da Cons­tituição Federal, contra acórdão prolatado pela Primeira Turma do egrégio

Tribunal Regional Federal da 5ª Região, que em ação cautelar suspendeu a exigibilidade da Cofins e do PIS até o julgamento do feito principal onde a

autora pretende seja reconhecido o seu direito à compensação com valores

recolhidos a título de PIS.

RSTJ, Brasília, a. 11, (116): 111-166, abril 1999.

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JURISPRUDÊNCIA DA SEGUNDA TURMA 163

Alega a recorrente que o aresto violou o disposto nos arts. 66 e 81 da Lei

nº 8.383/91, por haver autorizado o encontro de contas de contribuições de

espécies diferentes, bem como o art. 798 do CPC e art. 1 º da Lei nº 8.437/92,

em face da impropriedade da via cautelar.

Aduz a União que o julgado divergiu do entendimento do SuperiorTri­

bunal de Justiça, transcrevendo excertos de julgado que rechaçam tanto a possibilidade de compensação de contribuições diferentes, como em sede cau­

telar (fls. 141/157).

Contra-razões às fls. 170/189, asseverando a recorrida a inocorrência de

violação à lei federal, bem como de dissídio jurisprudencial. No mérito ressal­

ta que o PIS e a Cofins são tributos da mesma espécie, ou seja, contribuições

sociais para a Seguridade Social e, portanto, passíveis de compensação.

O recurso foi admitido no tribunal a quo pelo despacho presidencial de

fl. 191.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO ALDIR PASSARINHO JUNIOR (Relator): Trata­

se de recurso especial calcado nas letras a e c do permissivo constitucional,

objetivando a reforma de acórdão que autorizou, em medida cautelar, com­

pensação dos valores recolhidos indevidamente para o Programa de Integra­

ção Social com a Cofins e o próprio PIS.

Presentes os pressupostos constitucionais, conheço do recurso e passo

ao seu exame.

A orientação assente desta Corte é, em primeiro lugar, no sentido de

não aceitar a compensação mediante ação cautelar.

Nesse sentido cito, à guisa de exemplo, os seguintes arestos:

"Tributário - Contribuição previdenciária - Administrado­

res e autônomos - Lei nº 7.787/89 - Compensação - Deferi­

mento em cautelar - Impossibilidade - Precedentes.

1 - Consoante entendimento reiterado desta Corte, com o

qual o acórdão recorrido se harmoniza, a medida cautelar é meio impróprio para conceder compensação de tributos cujos requisitos

devem ser apreciados em ação adequada.

RST], Brasília, a. 11, (116): 111-166, abril 1999.

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164 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

2 - Recurso especial não conhecido." (REsp nQ 145.041/SP, Se­gundaTurma, ReI. Min. Peçanha Martins, unânime, DJU de 23.03.98).

"Tributário. Ação cautelar. Liminar. PIS (LC nQ 7/70) e Cofins (LC n Q 70/91). Compensação (Lei nQ 8.383/91). Impossibilidade. Recurso especial conhecido e provido.

I - Os valores recolhidos, a maior, a título de contribuição para o PIS, não são compensáveis com aqueles devidos a título de Contribuição para Financiamento da Seguridade Social- Cofins, por serem contribuições de espécie distintas. Também não é per­

mitida a compensação por meio de liminares ou cautelares.

II - Recurso especial conhecido e provido." (REsp n Q

165.685/CE, Segunda Turma, ReI. Min. Adhemar Maciel, unâni­me, DJU de 08.09.98)

"Tributário. Contribuição para o Programa de Integração Social- PIS. Compensação dos valores devidos nos exercícios pos­teriores a título de Contribuição para o Financiamento da Seguri­dade Social e a título do próprio PIS. Impossibilidade através de ação cautelar.

A ação cautelar só deve ser julgada procedente se necessária para evitar dano iminente, não sendo esse o caso quando o ato administrativo que se quer impedir (o auto de infração) não pro­duz quaisquer efeitos até o julgamento da impugnação que pode ser oposta pelo contribuinte independentemente de qualquer limi­

tação, salvo a de prazo (CTN, artigo 151, IIl). Recurso especial conhecido e provido." (REsp nQ 144.766/CE, Segunda Turma, ReI. Min. Ari Pargendler, unânime, DJU de 1 Q.06.98).

De fato, a ação cautelar tem por propósito a garantia da eficácia do pro­

cesso principal, isto é, impedir que o réu possa, por qualquer meio, tornar. inócua a prestação jurisdicional reclamada pelo autor.

Os arts. 796 e 798 da lei adjetiva civil dispõem, in verbis:

"Art. 796. O procedimento cautelar pode ser instaurado antes ou no curso do processo principal e deste é sempre dependente.

RSTJ, Brasília, a. ll, (ll6): lll-166, abril 1999.

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JURISPRUDÊNCIA DA SEGUNDA TURMA 165

Art. 798. Além dos procedimentos cautelares específicos, que este Código regula no capítulo II ,deste livro, poderá o juiz determinar as

medidas provisórias que julgar adequadas, quando houver fundado re­ceio de que uma parte, antes do julgamento da lide, cause ao direito da

autora lesão grave e de difícil reparação".

Os textos acima transcritos delimitam, claramente, as condições em que cabível o processo cautelar, as quais devem achar-se presentes sempre em

conjunto para que se revistam da necessária legalidade.

Exige a lei (art. 798 do CPC), como requisito indispensável, que haja a

real possibilidade de que o réu, sabendo da existência da ação, venha a prati­car ato ou atos de modo a frustrar seus efeitos, tornando a lesão de difícil reparação.

Humberto Theodoro Júnior, em sua magnífica obra Processo Cautelar

lembra, com absoluta propriedade, que:

"Ora, se assim é, se é ao processo que se visa garantir, necessita-se verificar não a existência ou probabilidade do direito subjetivo material, mas o direito da parte ao processo. Deve-se afirmar a existência de um fato que ameace não um provável direito subjetivo material, mas a ocorrência da possibilidade de tornar-se ineficaz o processo." (ob. cit., 2ª ed., pp. 75/76-destaquei) .

In casu, não logrei encontrar onde há ameaça da ré da cautelar ao pro­cesso principal. Não vejo, verdadeiramente, a presença do pressuposto im­prescindível à medida cautelar contido no art. 798 do Código de Ritos, qual seja, a indicação, ainda que discreta, de que a União Federal, conhecendo da existência da ação, pudesse vir a torná-la eficaz.

A cobrança de contribuições e tributos é prevista em lei. Ocorrente o fato gerador da obrigação, devido é o recolhimento. Portanto, nada obsta a atividade legal da Fazenda quanto a lançamentos que não estão em discussão. O debate é a possibilidade de compensação ou não do que já foi pago a maior, o que, obviamente, em nada invalida a exigibilidade de exações conseqüentes de fatos geradores posteriores. A lesão, no caso, teria acontecido já no passa­do, pelo que não há de ser projetada para o futuro, para impedir, temporaria­mente, novas cobranças cuja legitimidade não é posta em discussão. E, se porventura houver defeito ou vício nelas - matéria alheia à compensação - o contribuinte conta com os instrumentos legais específicos para a sua defesa.

RST], Brasília, a. 11, (116): 111-166, abril 1999.

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166 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Portanto, inexistindo ameaça ao exercício do direito material da parte ou possibilidade de lesão imediata ou mediata, tem-se que o requisito do pe­riculum in mora se faz ausente, resvalando a pretensão para o campo satis­fativo, que não é adequado na sede cautelar, mas próprio da ação principal.

Em segundo lugar, no caso dos autos verifica-se que o fumus boni iuris da autora não se configura, posto que pretende, também, a futura compensa­ção do PIS com contribuições e tributos de espécies diferentes, caso da Cofins, que não têm a mesma espécie consoante reiterado entendimento do Superior Tribunal de Justiça, a saber:

"Tributário. PIS. Cofins. Compensação. Lei n Q 8.383/91 (art. 66). Instruções Normativas n~ 21/97 e 32/97.

1. No âmbito do lançamento por homologação, são compen­sáveis diretamente pelo contribuinte os valores recolhidos a título de PIS com o próprio PIS, não com os referentes a Cofins.

2. Precedentes da Primeira Seção/STJ.

3. Recurso provido." (REsp n Q 166.358-PE, ReI. Min. Milton Luiz Pereira, unânime, DJU de 31.08.98)

"Compensação - PIS - Cofins.

A compensação é possível nos limites marcados pela legisla-ção.

Impossibilidade de compensação do PIS com a Cofins, por se tratar de contribuições de espécies diversas.

Recurso improvido." (REsp n Q 171.332-SP, ReI. Min. Garcia

Vieira, unânime, DJU de 08.09.98)

Destarte, ausentes os dois pressupostos autorizadores da medida caute­lar, conheço do recurso especial e dou-lhe provimento para julgar improce­dente a ação, condenando a autora ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, que fixo em 10% sobre o valor atualizado da causa.

É como voto.

RSTJ, Brasília, a. 11, (116): 111-166, abril 1999.