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Jurisprudência da Sexta Turma

Jurisprudência da Sexta Turma - O Tribunal da Cidadania · do artigo 171, caput, do CP, pela prática do crime de estelionato simples, con tra o v. acórdão do egrégio Tribunal

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Jurisprudência da Sexta Turma

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Relator:

Impetrante:

Advogados:

Impetrada:

Paciente:

Assistente:

Advogado:

JURISPRUDÊNCIA DA SEXTA TURMA

HABEAS CORPUS Nº 7.734 - RJ (Registro nº 98.0053049-5)

Ministro Fernando Gonçalves

José Carlos Amaral Kfouri

Arthur Lavigne e outros

595

Sétima Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado

do Rio de Janeiro

José Carlos Amaral Kfouri

Ricardo Terra Teixeira

José Mauro Couto deAssis

Sustentação Oral: José Mauro Couto de Assis (pelo assistente Ricardo Terra

Teixeira)

EMENTA: Habeas corpus - Difalllação - Lei de illlprensa

Trancalllento da ação penal- Illlpossibilidade.

1- O entendilllento pretoriano direciona-se no sentido de que a apre­

ciação do elelllento subjetivo para fins de trancalllento da ação penal,

quando dependente de investigação probatória, salvo casos especialís­

SilllOS, é tarefa reservada à instrução crilllinal ou llleSlllO, elll sendo o

caso, a ser debatida no recurso próprio, COlllO parece ser esta a hipótese

vertente, llláxillle elll sede de delito de illlprensa, onde há illlputação de

fato deterlllinado, cujo conteúdo estaria, in thesi, a ultrapassar os lilllites

da silllples inforlllação. Nestas circunstâncias, illlpróprio o relllédio he­

róico.

2 - Ordelll negada.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Sexta

Turma do SuperiorTribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas

taquigráficas a seguir, por unanimidade, denegar a ordem. Votaram com o Relator

os Ministros Vicente Leal e Anselmo Santiago. Ausentes, por motivo de licença,

o Ministro William Patterson e, ocasionalmente, o Ministro Luiz Vicente

Cernicchiaro.

RST], Brasília, a. 11, (119): 593-661, julho 1999.

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596 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE]USTIÇA

Brasília-DF, 24 de novembro de 1998 (data do julgamento).

Ministro VICENTE LEAL, Presidente.

Ministro FERNANDO GONÇALVES, Relator.

Publicado no DJ de 14.12.98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO FERNANDO GONÇALVES: Trata-se de ordem de habeas corpus, substitutiva de recurso ordinário, impetrado em favor de José Carlos Amaral Kfouri contra acórdão da Sétima Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro que guarda a ementa seguinte:

"Habeas corpus. Falta de justa causa. Nulidade da sentença.

Havendo necessidade de exame das provas colhidas no processo, não

será declarada falta de justa causa para a ação penal, na via estreita do habeas corpus.

É nula a sentença que, em ação penal privada, depois das alegações finais apresentadas pelo querelante e, após, parecer do Ministério Público que postula a condenação do querelado, não se abre vista a este." (fi. 74)

Segundo as razões da inicial estaria o paciente, conceituado colunista da imprensa brasileira, a sofrer indevido constrangimento, em função de decreto condenatório na ação penal privada que lhe move o presidente da Confederação Brasileira de Futebol, Sr. Ricardo Teixeira, em curso perante a 36ª Vara Crimi­nal do Rio de Janeiro. Em verdade não haveria justa causa para a actio, cuja peça de ingresso não descreve qualquer fato típico, porquanto o paciente, em decorrência de entrevista publicada no jornal "O Dia", onde o presidente da CBF, a ele se referindo disse não falar com bandidos, defendeu-se, com utiliza­ção do consagrado direito de resposta, verbis:

"Ele disse que não fala com bandidos como eu. Prefere trocar beijos com Castor de Andrade. Por que não explica à polícia da Flórida o que fazia seu BMW 3251, preto, conversível, ano 95, chapa BDN930, chassis WBABJ6327SJD41897, no acidente que matou ajovemA.A.C. no dia 13 de outubro do ano passado?" (fi. 5)

Daí, prossegue o articulado vestibular, o processo por crimes de injúria e

RST], Brasília, a. 11, (119): 593-661, julho 1999.

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JURISPRUDÊNCIA DA SEXTA TURMA 597

difamação, sendo certo que, também o paciente, ofereceu queixa-crime contra o Sr. Ricardo Teixeira. Os fatos, na realidade, como já assinalado, não seriam nem injuriosos nem difamatórios, mas, surpreendentemente, ao se defender o pacien­te foi condenado e o agressor absolvido.

Houve, finaliza o impetrante, apenas direito de resposta, assegurado pela Constituição Federal, proporcionalmente ao agravo sofrido (art. 5Q

, X). Revide imediato, excludente do crime.

Nas informações o eminente 1 Q Vice-Presidente do Tribunal de Justiça, Desembargador Miguel Pachá, por cópia, encaminha o inteiro teor do acórdão impugnado.

A douta Subprocuradoria Geral da República, através do Dr. Antônio Augusto César, opina pela denegação da ordem.

Pelo despacho de fi. 83 foi concedida liminar sustando o curso da ação penal, até ulterior deliberação desta Superior Corte.

Faz-se mister esclarecer que o Sr. RicardoTerraTeixeira, opondo-se à con­cessão da ordem, requereu sua intervenção na qualidade de assistente, haja vista precedente do STF no Agravo Regimental em Petição nO 423-SP RTJ 136/1034 (Tribunal Pleno - 26.04.91 - ReI. o Min. Sepúlveda Pertence). Com vista às futuras publicações (fi. 238) foi determinada a anotação dos nomes dos signatári­os do pedido que está às fis. 88/89.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO FERNANDO GONÇALVES (Relator): A presente impetração, ao contrário daquela manejada perante a Sétima Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, onde a sentença foi anulada parcialmente, apenas para propiciar a fala do paciente acerca do pedido de sua condenação pelo Ministério Público, restringe-se ao trancamento da ação penal por falta de justa causa, posto que os termos utilizados, no exercício do direito de resposta, tiveram o caráter exclusivo de revide à expressão "não falo com bandidos" .

Quanto a este pleito - trancamento por falta de justa causa - destacou o tribunal a quo:

"Este último pedido envolve mérito, dependendo de provas que, às vezes, só os autos revelam, fato este, que torna difícil, em via estreita do habeas corpus, uma decisão equilibrada e justa, devendo ser sustentada

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598 REVISTADO SUPERIORTRIBUNALDEJUSTIÇA

em alegações finais ou no recurso próprio, para que, reconhecida a falta de justa causa, venha, o paciente, conseguir uma decisão absolutória." (fi. 190)

Efetivamente, não se apresenta como adequada a estreita via do habeas corpus ao deslinde da questão, consistente na demonstração da falta do elemen­to subjetivo, ou mesmo aquilatar a eventual ou não exacerbação do revide ex­

presso nos dizeres utilizados como possível defesa (animus deffendendi).

A leitura dos textos reputados difamatórios não deixam evidenciar - ictu oculi - fato atípico, exigindo a quaestio maiores indagações. De outro lado, o entendimento pretoriano se direciona no sentido de que a apreciação do ele­

mento subjetivo para fins de trancamento da ação penal, quando dependente de investigação probatória, é tarefa - salvo casos especialíssimos - reservada à

instrução criminal, ou mesmo, em sendo o caso, a ser debatida no recurso pró­

prio, como parece ser esta a hipótese vertente, máxime em sede de delito de imprensa, onde há imputação de fato determinado, ou, na dicção do Ministro

Luiz Vicente Cernicchiaro (REsp nº 26.620-1), de "acontecimento histórico, identificável, pois, no tempo e no espaço", cujo conteúdo estaria in thesi, a

ultrapassar os limites da simples informação. Mostra-se o remédio heróico inca­paz desta verificação que, a toda evidência - reclama investigação probatória.

N ego a ordem.

VOTO-VISTA

o SR. MINISTRO ANSELMO SANTIAGO: Cuida-se de writ em que se pretende ver acolhida a falta de justa causa, com o conseqüente trancamento da

ação penal, sob os seguintes fundamentos:

a) o querelado teria se valido, tão e simplesmente do direito de resposta, em virtude de entrevista concedida pelo querelante a determinado periódico, onde teria sido chamado de "bandido";

b) as frases tidas como ofensivas, assim não o seriam.

Penso que não se discute o direito de resposta, mas é inegável que deve ser proporcional à ofensa, guardando relação com o teor da entrevista, sob pena de se responder pelo excesso no retruque, ou seja, - "Deve cingir-se à reposição da

verdade sobre os fatos narrados no escrito incriminado, não se prestando ao revide e muito menos a uma contundência muito mais intensa que aquela en­

contrada na publicação respondida". (RT 705/348)

No caso, o querelado, além da retorsão, teria difamado o querelante, o que configura o ilícito até mesmo sendo verdadeiro o fato imputado, pois o que

RSTJ, Brasília, a. 11, (119): 593-661, julho 1999.

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JURISPRUDÊNCIA DA SEXTA TURMA 599

basta é ser ele desabonador (TACRIM/SP, Rec. nº 769.037, ReI. Juiz Carlos

Bueno).

Agora, como bem ressaltado pelo nobre relator, se houve excesso doloso, indo a resposta muito além do que devia, é questão que não pode ser solvida nos

estreitos limites do xnandaxnus, pois demandaria o reexame da prova.

Com tais considerações, acompanho o Sr. Relator.

Relator:

Impetrante:

Impetrado:

Paciente:

HABEAS CORPUS NQ 8.179 - GO (Registro nº 98.0086927-1)

Ministro Vicente Leal

Aparecido Cavilha Gomes

Desembargador-Relator da Revisão Criminal nº 9701074106 do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás

Omilton de Souza Morais (preso)

EMENTA: Processual Penal- Habeas corpus - Citação por edital­Intixnação pessoal da sentença condenatória - Alegação de nulidades -Ixnprocedência - Exnendatio libelli - Furto xnediante fraude.

- Não há cerceaxnento de defesa por nulidade da citação ou por intixnação da sentença condenatória, axnbos efetuados por edital, se aque­la foi precedida de adequada diligência, por via de carta precatória, no endereço indicado pelo réu no inquérito policial, sendo certificada a ixn­possibilidade de sua citação pessoal, de paradeiro ignorado e que perxna­neceu ausente durante todo o processo.

- Conforxne o autoriza o art. 383 do Código de Processo Penal, pode o juiz, ao proferir a sentença condenatória, conferir ao fato descrito na de­núncia definição jurídica diversa daquela que lhe deu o Ministério Públi­co, xnesxno que tenha que aplicar sanção xnais severa.

- No crixne de estelionato a fraude antecede o apossaxnento da coisa e é causa para ludibriar sua entrega pela vítixna, enquanto no furto quali­ficado pela fraude, o artifício xnalicioso é exnpregado para iludir a vigilân­cia ou a atenção.

- Ocorre furto xnediante fraude e não estelionato nas hipóteses de subtração de veículo posto à venda xnediante solicitação ardil de teste experixnental ou xnediante artifício que leve a vítixna a descer do carro.

- Habeas corpus denegado.

RSTJ, Brasília, a. 11, (119): 593-661, julho 1999.

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600 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, denegar a ordem, na conformidade dos votos e notas taquigráficas a seguir. Participaram do julga­mento os Srs. Ministros Fernando Gonçalves e Hamilton Carvalhido. Ausentes, por motivo de licença, o Sr. Ministro William Patterson e, justificadamente, o Sr. Ministro LuizVicente Cernicchiaro.

Brasília-DF, 27 de abril de 1999 (data do julgamento).

Ministro VICENTE LEAL, Presidente e Relator.

Publicado no DJ de 17.05.99.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO VICENTE LEAL: Aparecido Cavilha Gomes, servi­dor da penitenciária "Dr.Alberto Brocchieri" impetrou ordem de habeas corpus em favor de Omilton de Souza Morais, denunciado como incurso nas sanções do artigo 171, caput, do CP, pela prática do crime de estelionato simples, con­tra o v. acórdão do egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, que julgou improcedente pedido de revisão criminal de sentença que condenou o paciente revel à pena de 4 (quatro) anos de reclusão, por infração ao artigo 155, § 4º, II, do Código Penal.

Na peça exordial, pugna o impetrante pelo reconhecimento da nulidade do processo e, de conseqüência, pela decretação da prescrição da pretensão executória, alegando, em síntese, as seguintes razões: (a) prematuridade da cita­ção editalícia, quando era de rigor a citação do acusado por carta precatória, que se encontrava recolhido à Casa de Detenção "Dr.Antônio Dutra Ladeira", no Estado de Minas Gerais, e sua requisição para o interrogatório; (b) inviabilidade da decretação da revelia, porquanto retificada a capitulação do fato descrito na denúncia; e (c) inexistência do trânsito em julgado da sentença condenatória, por falta de intimação pessoal do paciente, que se encontrava pre­so, à época de sua publicação, desde 3 de fevereiro de 1987.

Prestando informações, o ilustre Presidente do Tribunal de Justiça do Es­tado de Goiás noticia os fatos que ensejaram a presente impetração, anexando cópia das principais peças extraídas dos autos da revisão criminal. (fls. 30/31)

A douta Subprocuradoria Geral da República em parecer da lavra do ilus­tre Subprocurador-Geral Henrique Fagundes, opina pela concessão da ordem, para que seja declarada a nulidade da sentença condenatória, tendo em vista a

RSTJ, Brasília, a. 11, (119): 593-661, julho 1999.

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JURISPRUDÊNCIA DA SEXTA TURMA 601

ocorrência da Inutatio libelli, e, de conseqüência, pela decretação da pretensão punitiva. (fls. 49/58)

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO VICENTE LEAL (Relator): Conforme anotado no relatório, o presente habeas corpus ataca acórdão do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás que julgou improcedente pedido de revisão criminal em que se postulava a desconstituição de sentença que condenou o paciente à pena de qua­tro anos de reclusão, por infração ao artigo 155, § 4º, II, do Código Penal.

E a pretensão deduzida encontra-se escorada nos seguintes fundamentos: (a) nulidade do edital de citação e da decretação da revelia, por ausência de extração de carta precatória para a citação do paciente que se encontrava reco­lhido à prisão na Casa de Detenção "Antônio Dutra Ladeira", o que impunha sua requisição para o interrogatório; e (b) desconstituição do trânsito em julga­do da sentença condenatória, pela falta de intimação pessoal do condenado.

Após detida análise dos autos tenho que a pretensão não merece agasalho.

Examinando-se a situação de fato sob enfoque, verifica-se que o ilustre

Juiz de Direito da 3ª Vara Criminal da Comarca de Goiânia processante orde­nou a expedição de carta precatória para determinar a citação e o conseqüente interrogatório do paciente, no seguinte endereço por ele fornecido: Rua Martin Mermejo, n Q 46, Sertãozinho-SP (fl. 13).

E o Oficial de Justiça responsável pelo cumprimento da precatória certifi­cou que realizou diligência no citado local em 22 de dezembro de 1983, sem conseguir qualquer notícia do paradeiro do réu, que se encontrava em local incerto e não sabido. E, como é sabido, as certidões de oficial de justiça gozam de fé pública, somente ilidível por prova em contrário.

Em face disso, foi citado por edital, publicado no Diário da Justiça de 23 de julho de 1986, com circulação em 29 de julho, cujo prazo também transcor­reu in albis, em face do que foi decretada a sua revelia em 22 de agosto de 1986 (fls. 16/17).

Assinale-se, conforme consignado no acórdão que julgou improcedente a revisão criminal e reiterado no parecer do representante federal do Parquet, que à época em que a citação por edital foi ordenada não havia qualquer notícia nos autos de que o paciente encontrava-se preso em Bauru-SP, circunstância essa que somente foi trazida a conhecimento após o trânsito em julgado da sentença condenatória, publicada em cartório em 17 de setembro de 1991.

RSTJ, Brasília, a. lI, (119): 593-661, julho 1999.

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602 REVISTADO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

A propósito, registre-se excerto contido no aresto impugnado, in verbis:

"Conforme se depreende das folhas dos autos originários, não foi possível proceder-se à citação do réu, via precatória, no endereço forneci­do por ele, em Sertãozinho-SP, ainda na fase policial do processo Cfl. 13), certificando o Oficial de Justiça encarregado da diligência, encontrar-se, aquele, em "loca 1 incerto e não sabido" Cfl. 48).

Em conseqüência, foi ele citado por edital, publicado no Diário da Justiça nº 9.905, de 23 de julho de 1986, com circulação em 29 de julho de 1986, e, não comparecendo para audiência de qualificação e interrogató­rio, decretou-se-Ihe a revelia, com nomeação de defensor Cfl. 61).

Permaneceu revel durante todo o curso da ação, até a intimação da sentença condenatória pela mesma via editalícia Cfl. 98). Só depois do trânsito em julgado da referida sentença é que veio ter, aos autos, a notícia de que o ora requerente encontrava-se preso em Bauru, Estado de São Paulo Cfl. 105) . Nenhuma afirmação nesse documento de que à época do interrogatório que seria para 16.08.96 estivesse cumprindo pena. De con­creto só há informação que em 18.11. 96 estava o requerente preso em Bauru, mas não em 18.08.86 quando o interrogatório deveria se realizar." Cfls. 41 e 42).

Assim, é de se reconhecer que a citação por edital foi efetuada segundo os regramentos próprios, não se detectando nesse ato processual qualquer nulidade nem qualquer afronta ao direito de defesa, pela nomeação de seu defensor dativo.

Em razão disso, não procede a pretensão de nulidade do processo pela prematura decretação da revelia e pela ausência de requisição do réu, sendo irrelevante a questão da retificação da capitulação dada ao fato pelo Ministério Público nas alegações finais.

Da mesma forma, não merece agasalho a pretensão de desconstituição do trânsito da sentença condenatória por ausência de intimação pessoal do conde­nado.

Acentue-se que o Código de Processo Penal, ao dispor no art. 392 sobre a intimação de sentença, proclama que ela deve ser feita ao réu, pessoalmente, e ao defensor por ele constituído, quando se livrar solto ou, sendo afiançável a infração, tiver prestado fiança.

Todavia, conforme já exaustivamente anotado, na hipótese sub examen o réu revel permaneceu ausente durante todo o processo, o que justificou sua intimação da sentença condenatória por edital, dispensando a intimação pessoal na forma assegurada no Estatuto Punitivo.

RSTJ, Brasília, a. 11, (119): 593-661, julho 1999.

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]URISPRUDÊNCIADA SEXTATURMA 603

Por derradeiro, data venia, não procede a alegação suscitada no parecer

do ilustre Subprocurador-Geral da República de que o magistrado monocrático,

ao proferir sentença condenando o réu pela prática de furto mediante fraude, afastou-se dos limites da acusação pelo crime de estelionato simples, como ex­

posto na denúncia.

Para o deslinde do tema, impõe-se o exame do teor da peça de acusação.

O paciente foi denunciado como incurso nas sanções do artigo 171, caput, pela prática de crime de estelionato simples, por haver, sob o pretexto de se mostrar interessado na compra do automóvel Passat da Volkswagen anunciado,

solicitado ao proprietário permissão para testar o veículo, oportunidade em que, em companhia e sob a vigilância de seu filho adolescente, subtraiu-o do

patrimônio da vítima.

Ainda segundo a denúncia, o paciente, quando se viu desacompanhado, aproveitou-se do momento em que o menor desceu do veículo para abandoná-lo

na estrada e evadir-se do local.

Na sentença, o ilustre Juiz de Direito, após concluir pela existência do

crime de furto qualificado pela fraude, fez consignar, verbis:

"Realmente, não se trata de estelionato, mas de furto mediante frau­

de, que se consubstancia no engodo levado a efeito pelo acusado, quando

pediu para experimentar o carro, a pretexto de fechar o negócio, deixando o menor abandonado na estrada, justamente quando abria a porteira a seu pedido. Entende-se que, neste caso não se aperfeiçoou o crime de estelionato,

que exige outros elementos para integração do tipo; a despeito disso, o

fato foi razoavelmente descrito na denúncia, apenas com erro na capitula­ção legal.

O fato é típico, como furto qualificado pela fraude e subsume no art.

155, § 4º, inciso II, do Código Penal." (fl. 24).

Confrontando-se o teor da acusação e o dispositivo da sentença condena­

tória, verifica-se, sem qualquer dúvida, que inocorre a alegação de cerceamento de defesa, por ausência de correlação entre a denúncia e o decreto condenatório.

Não houve mutatio libeUi. A denúncia noticiou a ocorrência de furto de veí­culo que se encontrava à venda, cedido ao acusado em virtude de sua manifesta­

ção de interesse para que fosse previamente experimentado. E a vigilância do

veículo conferida pelo proprietário ao filho menor, determinou o emprego de

fraude para iludir o menor a descer do carro a fim de que o réu pudesse empre­ender a fuga e consumar a subtração.

RSTJ, Brasília, a. 11, (119): 593-661, julho 1999.

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604 REVISTADO SUPERIORTRIBUNALDEJUSTICA

Ora, no crime de estelionato a fraude antecede o apossamento da coisa e é causa para ludibriar sua entrega pela vítima, enquanto no furto qualificado pela

fraude, o artifício malicioso é empregado para iludir a vigilância ou a atenção,

figura que se concretiza nas hipóteses de subtração de veículo posto à venda

mediante solicitação ardil de teste experimental ou mediante artifício que leve a

vítima a descer do carro.

Em face dessas considerações, agiu o magistrado nos precisos limites do

art. 383 do Código de Processo Penal, que autoriza o juiz a dar ao fato definição

jurídica diversa daquela constante da denúncia, mesmo que tenha que aplicar

sanção mais severa. É que, segundo o pensamento consolidado na doutrina e na

jurisprudência, o acusado defende-se dos fatos e na classificação legal inscrita

na denúncia.

A propósito, merece registro o magistério do ilustre jurista Vicente Greco

Filho, mencionado no voto-condutor do acórdão denegatório do writ originá­

rio:

"Pode-se dizer que a única classificação definitiva é que se estabili­

zou com o trânsito em julgado da sentença; as demais são provisórias e

podem ser modificadas na decisão seguinte. Desde que os fatos sobre os

quais incide sejam sempre os mesmos, a alteração da classificação independe

de qualquer providência ou procedimento prévio, inexistindo nisso qual­quer cerceamento de defesa ou surpresa, porque o acusado defende-se de

fatos e não da classificação legal, ainda que o juiz deva aplicar pena mais

elevada em virtude da nova classificação". (Manual de Processo Penal,

Saraiva, 1991,p. 287).

Assim, não ocorreu o alegado cerceamento de defesa, nem a ll1.utatio libelli

alegada, o que afasta, no particular, qualquer nulidade na sentença.

Em face de todo o exposto, denego o habeas corpus.

É o voto.

RECURSO EM HABEAS CORPUS Nº 7.590 - SP (Registro nº 98.0031744-9)

Relator: Ministro Vicente Leal

Recorrente: Chung Kwo Tzuo

RST}, Brasília, a. 11, (119): 593-661, julho 1999.

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Recorrido:

Paciente:

Advogados:

JURISPRUDÊNCIADASEXTATURMA

Tribunal de Alçada Criminal do Estado de São Paulo

ChungKwoTzuo

Antônio Ferro Ricci e outro

605

EMENTA: Penal- Processual Penal- Habeas corpus - Ação penal­Queixa-crillle - Ausência de justa causa - Crillle contra a propriedade illlaterial - Concorrência desleal - Exallle pericial - Desnecessidade -CPP, artigo 325 - Prazo decadencial - CPP, artigo 38 - Alegação de atipicidade do fato - Ausência do elelllento subjetivo do tipo - Exallle de prova - Illlpropriedade.

- Seja o Código de Processo Penal, seja o Código de Propriedade In­dustrial exigelll, nos crillles contra a propriedade illlaterial que deixalll vestígio, COlllO pressuposto à adlllissibilidade da queixa-crillle, a prévia cOlllprovação da lllaterialidade do ilícito pelo exallle de corpo de delito.

- Elll sede de crillle de concorrência desleal, que se conSUllla selll

deixar vestígios, a realização prévia de perícia não é indispensável à propositura da ação, incidindo o prazo decadencial de seis llleses do direi­to de queixa expresso na regra geral do artigo 38 do estatuto processual, contado do dia elll que o ofendido vier a tomar conhecilllento do autor do crillle.

- O trancalllento de ação penal por falta de justa causa, postulado na via estreita do habeas corpus, SOlllente se viabiliza quando, pela lllera exposição dos fatos na denúncia, se constata que há illlputação de fato

penallllente atípico ou que inexiste qualquer elelllento indiciário delllons­trativo da autoria do delito pelo paciente.

- Para a descaracterização do elelllento subjetivo do tipo previsto no artigo 195, lU, da Lei de Propriedade Industrial, é illlperativo o exallle de questão de fato controvertido, especificalllente no que tange à alegação de ter sido o paciente induzido em erro quanto à titularidade da patente requerida por informações prestadas por funcionários do Instituto N acio­naI da Propriedade Industrial, e por isso o tellla situa-se fora do alcance do habeas corpus, que não é instrulllento processual próprio para se obter sentença de absolvição sUlllária.

- Recurso ordinário desprovido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Sexta

RSTJ, Brasília, a. lI, (119): 593-661, julho 1999.

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606 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, negar provimento ao

recurso,na conformidade dos votos e notas taquigráficas a seguir. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Fernando Gonçalves e Hamilton Carvalhido. Ausentes, por motivo de licença, o Sr. Ministro William Patterson e,

justificadamente, o Sr. Ministro LuizVicente Cernicchiaro.

Brasília-DF, 27 de abril de 1999 (data do julgamento).

Ministro VICENTE LEAL, Presidente e Relator.

Publicado no DI de 24.05.99.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO VICENTE LEAL: Os advogados Antônio Ferro Ricci

e José Eduardo Brochi impetraram ordem de habeas corpus em favor de

Chung Kwo Tzuo, contra quem foi ajuizada queixa-crime, imputando-lhe a

prática do crime previsto no artigo 195, XIII, da Lei n Q 9.729/96 - Lei de Propriedade Industrial, sob acusação de concorrência desleal.

Nas razões de impetração, são deduzidos os seguintes fundamentos: a)

decadência do direito de queixa; b) ausência de realização da medida de busca e

apreensão na empresa do querelado, essencial na hipótese de crime contra a

propriedade imaterial; c) extensão ao paciente dos efeitos da renúncia no ofere­cimento da queixa-crime contra seu outro sócio; e d) atipicidade da conduta,

pela ausência do dolo, elemento subjetivo do crime contra a propriedade indus­trial.

A egrégia Décima Quinta Câmara do Tribunal de Alçada Criminal do

Estado de São Paulo denegou a ordem, rechaçando a alegação de decadência do

direito de queixa, já que seu marco teve início em abril de 1997, quando o

querelante tomou conhecimento da inexistência da patente do produto que o

paciente alegou ser titular. Proclamou, ainda, que a ausência do dolo deve ser

comprovada na ação penal competente, ocasião em que deverão ser provas soli­

citadas pelas partes, ao reconhecer a presença dos elementos indiciários do cri­

me de concorrência desleal. (fls. 90/94)

Irresignados, os impetrantes interpõem o presente recurso ordinário,

reeditando os mesmos argumentos da inicial e postulando a reforma do aresto

para se determinar o trancamento da ação penal pela não-configuração do dolo.

Reafirma a tese de decadência do direito de queixa e de ausência da materialidade

do crime pela não-realização do exame pericial preliminar. (fls. 97/106)

RSTJ, Brasília, a. 11, (119): 593-661, julho 1999.

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JURISPRUDÊNCIA DA SEXTATIJRMA 607

Apresentadas as contra-razões (fls. 109/110), o recurso foi admitido na origem, ascendendo os autos a esta Corte.

A douta Subprocuradoria Geral da República, em parecer de fls. 115/121, opina pelo desprovimento do recurso.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO VICENTE LEAL (Re1ator):A pretensão de trancamento da ação penal privada deduzida no presente recurso ordinário repousa nos se­guintes fundamentos: a) ausência da comprovação do fato descrito na queixa­crime pela não-realização de medida preliminar de busca e apreensão; b) deca­dência do direito de queixa; c) extensão ao paciente dos efeitos da renúncia ao direito de promover a ação penal contra o outro sócio; e d) ausência do dolo.

Não vejo como censurar o acórdão recorrido, não merecendo prosperar as alegações.

Acentue-se, por primeiro, que, via de regra, tanto o Código de Processo Penal quanto o Código de Propriedade Industrial exigem, nos crimes contra a propriedade imaterial que deixam vestígio, como pressuposto à admissibilidade da queixa-crime, a prévia comprovação da materialidade pelo exame de corpo de delito.

Todavia, o crime de concorrência desleal, por se consumar sem deixar vestígios, dispensa a prévia realização de perícia, podendo a materialidade ser comprovada por outros elementos produzidos durante o curso da ação penal.

A propósito, cite-se o seguinte precedente afirmativo desse entendimento, in verbis:

"RRC. Processual. Concorrência desleal. Queixa-crime. Figuras tí­picas. Habeas corpus. Recurso.

1. Não se exige prova pericial para o início da ação penal quando as figuras típicas são daquelas que não deixam vestígios. Caso destes autos.

2. Recurso conhecido mas improvido" (RRC nº 4.293-SP, Relator Min. Edson Vidigal, in DJ de 13.11.95).

Daí por que não se aplica à espécie o artigo 529 do CPP, regra especial que disciplina o prazo decadencial do direito de queixa nos crimes de ação privativa, cuja materialidade exige a realização de diligências preliminares de busca e apreensão e perícia, estipulado em 30 dias a partir da homologação do laudo.

RSTJ, Brasília, a. 11, (119): 593-661, julho 1999.

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608 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Assim sendo, na espécie posta sub judice, é de rigor a aplicação do prazo decadencial de seis meses do direito de queixa expresso na regra geral do artigo 38 do Estatuto Punitivo, contado do dia em que o ofendido vier a tomar conhe­cimento do autor do crime.

In casu, consta dos autos que o paciente, em maio de 1996, enviou corres­pondência endereçada à empresa Escala 7 Editora Gráfica, informando ter re­gistrado perante o INPI, em abril de 1990, patente de protetores solares em papelão para automóveis, cuja industrialização por terceiros não autorizados assegura-lhe direito à indenização a ser fixada judicialmente.

Daí por que a empresa querelante procurou certificar-se junto ao INPI quanto à veracidade dos fatos narrados e à ilicitude da conduta a ela imputada, tomando conhecimento em abril de 1997 de que o pedido de privilégio reque­rido pelo paciente havia sido indeferido, tendo ajuizado a queixa-crime em julho de 1997.

Resta claro, pois, que a queixa-crime foi proposta quando ainda não escoado o prazo decadencial que, para fins do crime de concorrência desleal tipificado no artigo 195, lII, do Código de Propriedade Industrial, teve início quando a empresa querelante tomou conhecimento da inexistência da patente do produto que o querelado afirmava ser titular.

No que tange à pretensão de extensão ao paciente da renúncia do direito de queixa ao outro sócio em virtude do princípio da indivisibilidade da ação penal, tenho como incensuráveis as considerações contidas no bojo do parecer do representante federal do Parquet, cujo seguinte excerto é oportuno registrar, in verbis:

"De outra parte, quanto à suposta violação do princípio da indivi­dualização da ação penal, verifica-se que a missiva dirigida à empresa que­relante, e que deu ensejo ao oferecimento da queixa-crime, encontra-se assi­nada apenas pelo paciente (fl. 29), assim como outros dados apresentados nestes autos só trazem o nome deste (fls. 28 e 38), nada estando a sugerir que tenha sido voluntária a falta de menção aos demais sócios do querelado, e por conseguinte, que tenha ocorrido renúncia tácita que se estenda a este, de maneira que ao membro do Parquet, que velará pela indivisibilidade da ação penal, é lícito promover o aditamento da queixa, nos termos dos arti­gos 45 e 48 do Código de Processo Penal" (fls. 119/120).

Correto o pronunciamento do Ministério Público, que adoto como razão de decidir.

De resto, tem-se consagrado de modo unissonante que o trancamento de

RSTJ, Brasília, a. 11, (119): 593-661, julho 1999.

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JURISPRUDÊNCIA DA SEXTA TURMA 609

ação penal por falta de justa causa, pela via estreita de habeas corpus, somente se viabiliza quando, pela mera exposição dos fatos se constata que há imputação

de fato atípico ou que inexiste qualquer elemento indiciário demonstrativo da autoria do delito pelo paciente. Se para o deslinde da questão é necessário o revolvimento da prova condensada no bojo dos autos, o tema situa-se fora do alcance do habeas corpus, que não é remédio próprio para se decretar a absol­

vição sumária.

Ora, saber se o paciente foi efetivamente induzido em erro quanto à

titularidade da patente requerida por informações prestadas por funcionários do Instituto Nacional da Propriedade Industrial, é matéria que envolve investiga­

ção fática.

Para o seu deslinde será necessária a busca de elementos de provas, o que se torna inviável no âmbito do habeas corpus.

À luz dessas considerações, não vejo como modificar o acórdão, que deci­diu com acerto.

Isto posto, nego provimento ao recurso.

É o voto.

RECURSO EM HABEAS CORPUS NQ 7.968 - SP (Registro n Q 98.0072693-4)

Relator:

Recorrente:

Advogados:

Recorrido:

Paciente:

Ministro Fernando Gonçalves

Gelson Terkeli

Ary Almeida Ferreira e outro

Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo

Gelson Terkeli (preso)

EMENTA: RHC - Prisão preventiva - Recurso em liberdade - Réu foragido.

1. Encontra amparo no art. 312 do CPp, o decreto de prisão preventi­va, com impedimento de se aguardar em liberdade julgamento interposto contra sentença de pronúncia, que se ampara, além da extrema gravidade do crime, no fato de haver o acusado se evadido do distrito da culpa, após recebimento da denúncia, por 11 (onze) anos.

2. RHC improvido.

RSTJ, Brasília, a. 11, (119): 593-661, julho 1999.

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610 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DEJUSTICA

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Sexta

Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, negar provimento ao recurso. Votaram

com o Relator os Ministros Vicente Leal e Anselmo Santiago. Ausentes, por

motivo de licença, o Ministro William Patterson e, justificadamente, o Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro.

Brasília-DF, 19 de novembro de 1998 (data do julgamento).

Ministro VICENTE LEAL, Presidente.

Ministro FERNANDO GONÇALVES, Relator.

Publicado no DJ de 14.12.98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO FERNANDO GONÇALVES: Pronunciado por ho­micídio qualificado e formação de quadrilha, na comarca de Itapecerica da Ser­ra - São Paulo - Gelson Terkeli, não obstante primário, com bons antecedentes, residência fixa e ocupação lícita, teve negado o direito de recorrer em liberdade, impetrando, conseqüentemente, habeas corpus, denegado pela Sexta Câmara Criminal do Tribunal de Justiça ao fundamento de que, a par da gravidade dos crimes imputados, esteve foragido por mais de onze (11) anos, apenas se apre­sentando quando, já com prisão preventiva decretada, sobreveio a lume a senten­ça de pronúncia.

Inconformado, recorre a esta Superior Corte, invocando em seu favor a norma do art. 5º, LXVI, da Constituição Federal. Aduz - ainda - no essencial nunca haver perturbado a marcha processual e que se apresentou espontânea e voluntariamente. Não há, pois, motivo para a segregação, decretado porque o MM. Juiz teria sido levado a erro, no tocante a seus antecedentes, pois quem fora já condenado é seu irmão Gilson.

Oferecidas contra-razões (fls. 150/154), oficiou a douta Subprocuradoria Geral da República no sentido do improvimento do recurso.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO FERNANDO GONÇALVES (Relator): O recorren-

RSTJ, Brasília, a. 11, (119): 593-661, julho 1999.

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JURISPRUDÊNCIA DA SEXTA TURMA 611

te, acusado da prática de homicídio doloso qualificado em concurso com o

crime de formação de quadrilha, teve sua prisão preventiva decretada, por

ocasião do recebimento da denúncia. Citado pessoalmente, deixou de compa­recer ao interrogatório, tornando-se revel, somente se apresentando após de­

corridos onze (lI) anos, circunstância assaz relevante e justificadora da manu­

tenção da prisão como forma de garantir a aplicação da lei penal. Com efeito, proclama o Supremo Tribunal Federal, seguido por esta Corte, que a fuga do

acusado do distrito da culpa justifica a prisão preventiva. Ademais, como posto em destaque pelo v. acórdão, primariedade, residência fixa e ocupação lícita

não são dados suficientes, in casu, para justificar a concessão de liberdade, mesmo porque, além da decretação da custódia preventiva, o encarceramento

é efeito natural da pronúncia. Os outros co-réus, segundo noticiam os autos,

cumprem ou já cumpriram pena, pois desmembrado o processo, foram julga­

dos e condenados. Este um elemento a mais a indicar a necessidade da prisão

do recorrente, pois para quem esteve foragido por onze (lI) anos, nada impe­

de repita a dose por igualou superior período.

Não há indevido constrangimento. Nego provimento ao recurso.

RECURSO EM HABEAS CORPUS Nº 7.990 - MG (Registro nº 98.0073719-7)

Relator:

Recorrente:

Advogado:

Recorrido:

Paciente:

Ministro Fernando Gonçalves

Walter Lúcio de Lima

Walter Lúcio de Lima

Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais

Olavo Drummond

EMENTA: RHC - Penal- Crime de desobediência - Prefeito Muni­

cipal- Não configuração.

1. Em princípio, diante da expressiva maioria da jurisprudência, o

crime de desobediência definido no art. 330 do CP só ocorre quando pra­

ticado por particular contra a Administração Pública, nele não incidindo

a conduta do Prefeito Municipal, no exercício de suas funções. É que o

Prefeito Municipal, nestas circunstâncias, está revestido da condição de

funcionário público.

RSTJ, Brasília, a. lI, (119): 593-661, julho 1999.

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REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL

2. Constrangimento indevido representado pela cláusula "sob pena de incidir em crime de desobediência à ordem judicial" corporificado em intimação para pagamento em 48 horas de vencimentos em atraso, não pleiteado em medida cautelar inominada, cujo provimento liminar, em segunda instância, assegura apenas a reintegração em cargo do qual foi o servidor demitido.

3. Recurso provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, dar provimento ao recurso. Participa­ram do julgamento os Ministros Vicente Leal, Luiz Vicente Cernicchiaro e Anselmo Santiago. Ausente, por motivo de licença, o Ministro William Patterson.

Brasília-DF, 29 de outubro de 1998 (data do julgamento).

Ministro VICENTE LEAL, Presidente.

Ministro FERNANDO GONÇALVES, Relator.

Publicado no DI de 30.11.98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO FERNANDO GONÇALVES: Cuida-se de recurso ordinário interposto contra acórdão da Câmara Especial do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais denegatório de ordem de habeas corpus impetrada em favor de Olavo Drummond que estaria a sofrer constrangimento indevido por ato do Juiz de Direito da Comarca de Araxá.

Segundo exame dos autos, o recorrente, na qualidade de Prefeito Muni­cipal de Araxá, foi intimado para, em 48 horas, sob pena de ser processado por crime de desobediência (fls. 32), pagar os vencimentos e vantagens devidos aos servidores municipais por ele dispensados sob o fundamento de investidura ir­regular na função pública e reprovação no concurso público pertinente.

Não satisfeitos com o ato de demissão, revela a peça inaugural, os servido­res manejaram ação cautelar inominada, obtendo junto à Primeira Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, liminar de reintegração nos respectivos cargos, com pronto acatamento pelo recorrente, salvo quanto aos estipêndios em atraso e aqueles referentes a março de 1998, dado que materiali­zada a providência, no mês a este subseqüente.

RSTJ, Brasília, a. 11, (119): 593-661, julho 1999.

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JURISPRUDÊNCIA DA SEXTA TURMA 613

Nestas condições, ressaltam as razões de recurso, absolutamente ilegal a

advertência, porquanto o Prefeito Municipal não pode ser constrangido a pagar uma dívida sem discussão, frustrando-lhe o direito ao devido processo.

A douta Subprocuradoria Geral da República, por intermédio do Dr. José

Flaubert Machado Araújo, opina pelo provimento do recurso.

É o relatório.

VOTO

o SR. MINISTRO FERNANDO GONÇALVES (Relator): Servidores

públicos municipais, gozando in thesi de estabilidade provisória, pois com­

ponentes da Diretoria do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais da

Prefeitura, Câmara e Autarquias de Araxá, tiveram seus contratos de trabalho

rescindidos (fIs. 14/19) porque não obtiveram a pontuação mínima necessária

à classificação no concurso público realizado pela Municipalidade em 20 de

julho de 1997.

O egrégio Tribunal de Justiça, provendo agravo de instrumento tirado em

autos de medida cautelar inominada, determinou a reintegração de todos os "seus respectivos cargos, até decisão final no feito principal" (fi. 23). O coman­

do expresso no acórdão foi cumprido por ato do Prefeito Municipal, como faz

certo o Decreto nº 499, de 3 de abril de 1998, fi. 30. No entanto, mediante

requerimento dos interessados, no que pertine ao pagamento dos salários em atraso, bem como dos meses subseqüentes, o MM. Juiz de Direito determinou a intimação do recorrente para que implemente medidas necessárias à quitação

destas verbas, em 48 horas, "sob pena de incidir em crime de desobediência à

ordem judicial" - fi. 32. O egrégio tribunal, ao ~egar a ordem impetrada para

afastar o constrangimento corporificado na cláusula "sob pena de incidir em

crime de desobediência à ordem judicial", pelo voto do eminente Desembargador

Mercêdo Moreira, assevera que "Reintegração sem pagamento de vencimentos

não é reintegração. É nada." (fi. 66)

Data venia, de acordo com a tese articulada pelo douto parecer ministe­

rial, não se pode escapar da verdade contida na afirmação de que pagamento de

atrasados em sede de ação cautelar inominada, carente ainda de comprovação do ajuizamento do feito, principal, "soa como medida precipitada", mesmo por­

que (I) não há no pedido inicial, colacionado às fIs. 7/13, solicitação quanto a

esta providência e (II) nem a Primeira Câmara Cível do Tribunal de Justiça, ao

prover o agravo tirado da decisão negatória da liminar, porque "continha natu­

reza satisfativa" (fi. 38), abordou e decidiu acerca do tema relativo ao pagamen-

RSTJ, Brasília, a. 11, (119): 593-661, julho 1999.

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614 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

to de atrasados (fi. 23). A propósito, vale o registro de que o MM. Juiz, negando a liminar, invoca a Lei nº 8.437, de 1992 - art. 1 º, § 3º.

Por outro lado, o entendimento pretoriano se direciona, capitaneado pelo Supremo Tribunal Federal, no sentido de que o Prefeito Municipal, em princí­

pio, quando no exercício de suas funções, não comete o crime do art. 330 do

Código Penal, capitulado entre os delitos praticados por particulares contra a

Administração Pública (BC nº 76.888-PI - STF - Relator o Min. Carlos Velloso,

29.09.98). De igual modo o Superior Tribunal de Justiça, em julgados

colacionados por Celso Delmanto, Código Penal Comentado, 4ª ed., Renovar,

1998, p. 563, ressalta que a "desobediência tem o particular como sujeito ativo;

o funcionário somente pratica esse delito, caso a ordem desrespeitada não seja

referente às suas funções" (BC nº l.390, BC nº l.322 e BC nº l.371) sendo, no

entanto, importante frisar que, a exemplo do STF, todos os julgados indicam, na hipótese gizada, eventual tipificação de outra infração penal.

De qualquer forma, in casu, o debate é restrito ao crime de desobediência que, em princípio, diante da expressiva maioria da jurisprudência como anota­do, só ocorre quando praticado por particular contra a Administração, nele não

incidindo então a conduta do Prefeito Municipal no exercício de suas funções,

porquanto nestas circunstâncias revestido do conceito de funcionário público, STF - RHC nº 62.496 e STJ - REsp nº 50.486-4, in Código Penal Comentado, Celso Delmanto, 1998, p. 553.

Assim sendo, a toda evidência, a cláusula inserta na intimação de fi. 32,

referendada pelo tribunal a quo, sem qualquer sombra de dúvida, traduz cons­trangimento ilegal, perfeitamente reparável pela via do habeas corpus. Acres­

ce-se - ainda - a norma do art. 29, VIII, da Constituição Federal e a possibili­

dade do uso da ação própria.

Em conseqüência, dou provimento ao recurso ordinário.

VOTO

O SR. MINISTRO LUIZVICENTE CERNICCBIARO: Sr. Presidente,

a matéria é interessante. Estou de acordo com o eminente Ministro-Relator no

tocante à (!strutura do crime de desobediência. Efetivamente, só pode ser prati­cado por particular contra a administração, a teor do disposto no art. 330 do

Código Penal.

Parece-nos, entretanto, Sr. Presidente, ser írrita, sem nenhum efeito,

essa advertência do magistrado. Assim o é porque o Prefeito Municipal goza da

prerrogativa constitucional de ser processado e julgado por Tribunal de Justiça.

RSTJ, Brasília, a. 11, (119): 593-661, julho 1999.

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JURISPRUDÊNCIA DA SEXTA TURMA 615

Conseqüentemente, apesar do estardalhaço, da ameaça, Írrita é a advertência.

O caminho correto para eventual direito do servidor é o Judiciário.

Em razão dessas considerações, parece-me carecedor do direito da ação

proposta pelo Prefeito Municipal. E, por isso, embora a matéria não tenha

sido aqui tratada, não diviso qualquer possibilidade de conferir trânsito à pre­

tendida ameaça.

Por essas razões, com fundamentação diversa, acompanho o eminente

Ministro-Relator.

Relator:

Recorrente:

Advogado:

Recorrido:

Paciente:

RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS NQ 8.226 - SP

(Registro nQ 98.0098475-5)

Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro

Gilberto Rocha de Andrade

Gilberto Rocha de Andrade (em causa própria)

Tribunal de Alçada Criminal do Estado de São Paulo

Gilberto Rocha de Andrade

EMENTA: RHC - Penal- Estelionato - Reparação do dano.

Somente na hipótese do § 2Q ,VI, art. 171, do Código Penal-fraude no

pagamento por meio de cheque - o ressarcimento do dano causado à víti­

ma antes do início da ação penal descaracteriza o crime de estelionato. No

caso dos autos, o recorrente foi denunciado pelo fato típico do art. 171,

caput, não sendo possível o trancamento da ação penal pelo ressarcimen­

to do prejuízo antes do oferecimento da denúncia.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Sexta

Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas

taquigráficas constantes dos autos, por unanimidade, negar provimento ao re­

curso, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Votaram os Srs. Ministros

Fernando Gonçalves e Vicente Leal. Ausente, por motivo de licença, o Sr. Mi­

nistro William Patterson.

RSTJ, Brasília, a. 11, (119): 593-661, julho 1999.

Page 24: Jurisprudência da Sexta Turma - O Tribunal da Cidadania · do artigo 171, caput, do CP, pela prática do crime de estelionato simples, con tra o v. acórdão do egrégio Tribunal

616 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Brasília-DF, 4 de fevereiro de 1999 (data do julgamento).

Ministro VICENTE LEAL, Presidente.

Ministro LUIZ VICENTE CERNICCHIARO, Relator.

Publicado no DJ de 29.03.99.

RELATÓRIO

o SR. MINISTRO LUIZ VICENTE CERNICCHIARO: Recurso ordi­nário interposto por Gilberto Rocha deAndrade, em seu favor, contra v. acórdão do Tribunal de Alçada Criminal do Estado de São Paulo denegatório de ordem de habeas corpus.

O writ fora impetrado com o objetivo de trancar a ação penal a que res­ponde o recorrente por delito de estelionato. Em suas razões recursais alega o recorrente inépcia da denúncia ao argumento de omissão em relação ao acordo realizado com a vítima antes do início da ação penal.

Parecer do Ministério Público Federal, às fls. 90/92 opinando pelo não­provimento do recurso.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO LUIZ VICENTE CERNICCHIARO (Relator): A de­núncia (fls. 8/10) satisfaz formal e materialmente, os requisitos do art. 41 do Código de Processo Penal. Evidencia, na redação, fato típico. Colho da funda­mentação:

"De posse do cheque, o indiciado, ao invés de repassá-lo ao seu cli­ente, como era sua obrigação, falsificou a assinatura da vítima aposta em seu verso, para que pudesse, em seguida, descontá-lo e apoderar-se da quan­tia sacada.

Assim agindo, ou seja, falsificando a assinatura da vítima (fraude), o indiciado obteve a vantagem ilícita por ele pretendida em prejuízo da víti­ma, que teve extinto seu processo trabalhista, sem contudo auferir o valor consignado no acordo." (fl. 9)

O recorrente sustenta ser inepta a denúncia por não conter em sua narra­ção acordo realizado entre ele e a suposta vítima, no qual foi pago em dobro o valor devido.

RSTI, Brasília, a. 11, (119): 593-661, julho 1999.

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JURISPRUDÊNCIA DA SEXTA TURMA 617

Como bem consignou o douto parecer do Ministério Público Federal,

somente na hipótese do § 2º,VI, art. 171, do Código Penal-fraude no pagamen­

to por meio de cheque - o ressarcimento do dano causado à vitima antes do

início da ação penal descaracteriza o crime de estelionato.

No caso dos autos, o recorrente foi denunciado pelo fato típico do art. 171,

caput, não sendo possível o trancamento da ação penal pelo ressarcimento do

prejuízo antes do oferecimento da denúncia.

A respeito do tema, o SuperiorTribunal de Justiça já tem se pronunciado.

Ilustrativamente, RHC n Q 5.000-PB, Relator Ministro Anselmo Santiago:

"Processual Penal. Recurso em habeas corpus. Crime de estelionato

(art 171, caput, do CP) - Reparação do prejuízo antes do oferecimento

da denúncia. Trancamento da ação penal.

Impossibilidade.

1. O ressarcimento do prejuízo antes do oferecimento da denúncia

não caracteriza o crime de estelionato e, por via de conseqüência, não

rende ensejo ao trancamento da ação penal por falta de justa causa.

2. Recurso improvido."

Nego provimento ao recurso.

RECURSO EM HABEAS CORPUS NQ 8.267 - RS (Registro nº 99.0004606-4)

Relator:

Recorrente:

Recorrido:

Paciente:

Advogados:

Ministro Vicente Leal

Vinícius Mac Ginity

Tribunal Regional Federal da 43 Região

Vinícius Mac Ginity

Sandra Viana Reis e outros

EMENTA: Penal- Processual Penal- Crime de concussão - Admi­

nistrador e médico de hospital privado credenciado pelo SUS - Funcioná­

rio público - Ausência de justa causa - Trancamento da ação penal -

Habeas corpus.

RSTJ, Brasília, a. 11, (119): 593-661, julho 1999.

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618 REVISTADO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICA

- Na seara do Direito Penal, a extensão do conceito de funcionário

público encontra-se vinculada à noção de função pública, que pressupõe

o desempenho, em caráter profissional e ainda que por pessoas estra­

nhas à Administração, de quaisquer atividades próprias do Estado

direcionadas à satisfação de necessidades ou conveniências de interesse

público.

-A Constituição Federal, em seu art. 194, define a seguridade social

como um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e

da sociedade, sendo certo que no tocante aos serviços de assistência à

saúde, são eles prestados por meio do Sistema Único de Saúde, organiza­

do em rede regionalizada de hospitais públicos e hospitais particulares

conveniados.

- Os administradores e médicos de estabelecimentos hospitalares

privados credenciados pelo SUS que prestam atendimento aos

beneficiários da seguridade social não se enquadram no conceito de fun­

cionário público definido no artigo 327 do CP, para efeitos de crime de

concussão, por desempenharem atividade privada, a eles entregues pelo

próprio ordenamento constitucional.

- Inexistindo justa causa para a ação penal, por ausência de elemen­

to normativo subjetivo do tipo, impõe-se a concessão do habeas corpus

para fazer cessar o constrangimento ilegal.

- Recurso ordinário provido. Habeas corpus concedido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Sexta

Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, dar provimento ao

recurso e conceder o habeas corpus para trancar a ação penal, na conformida­

de dos votos e notas taquigráficas a seguir. Participaram do julgamento os Srs.

Ministros Fernando Gonçalves e Hamilton Carvalhido. Ausentes, por motivo de

licença, o Sr. Ministro William Patterson e, justificadamente, o Sr. Ministro

Luiz Vicente Cernicchiaro.

Brasília-DF, 27 de abril de 1999 (data do julgamento).

Ministro VICENTE LEAL, Presidente e Relator.

Publicado no DI de 17.05.99.

RSTJ, Brasília, a. 11, (119): 593-661, julho 1999.

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JURlSPRUDÊNCIADASEXTATURMA 619

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO VICENTE LEAL: Vinícius Mac Ginity, denunciado

como incurso nas penas do artigo 316, C.c o artigo 327, ambos do Código Penal, pela prática do crime de concussão, por ter pressionado a internação de paciente

no Hospital de Caridade Dr. Astrogildo de Azevedo em acomodação custeada

pelo sistema particular, e não por via do convênio do Sistema Único de Saúde.

Na peça exordial do writ, pugna o impetrante pelo trancamento da ação penal alegando: (a) incompetência da Justiça Federal, por não se tratar de delito que viole bens, serviços ou interesses da União, suas entidades autárquicas ou

empresas públicas; (b) falta de justa causa para a ação penal pela inépcia da

denúncia, já que a natureza da atividade que exerce não lhe atribui a caracterís­

tica de funcionário público, sujeito ativo do crime de concussão.

A egrégia Segunda Turma do Tribunal Regional Federal da 42 Região, por

acórdão de fls. 82/97, denegou a ordem, reconhecendo a competência da Justiça

Federal para processar e julgar a ação penal instaurada para apuração do crime de concussão, ao entendimento de que os particulares que, por força de convê­nio celebrado com a Administração Pública, exercem função pública delegada pelo SUS enquadram-se no conceito de funcionário público inscritp no artigo

327 do CPP. Proclamou, ainda, que a inexistência do crime de concussão deve ser comprovado na ação penal competente, inviável em sede de habeas corpus.

Irresignado, o impetrante interpõe o presente recurso ordinário, pugnando pelo trancamento da ação penal, sob a invocação das mesmas razões expendidas na exordial do habeas corpus. (fls. 100/113).

A douta Subprocuradoria Geral da República, em parecer de fls. 1311135,

opina pela concessão da ordem, mediante o trancamento da ação penal, ou, pela declaração da incompetência da Justiça Federal.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO VICENTE LEAL (Relator): Pretende o recorrente,

provedor de estabelecimento hospitalar particular credenciado pelo SUS, pela

via estreita do habeas corpus obter o trancamento de ação penal que lhe é

movida sob a acusação de prática do crime de concussão sob os seguintes funda­

mentos: (a) falta de justa causa para a ação penal pela inépcia da inicial, por não

apresentar a condição de funcionário público, sujeito ativo do tipo previsto no

artigo 316 do Código Penal; e (b) incompetência da Justiça Federal, por não se

RST], Brasília, a. 11, (119): 593-661, julho 1999.

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620 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE}USTIÇA

tratar de crime contra bens, serviços ou interesses da União, de suas autarquias

ou empresas públicas.

Para um adequado exame do thetna decindendutn, é relevante, por pri­

meiro, que se proceda a uma adequada definição do conceito de funcionário

público para efeitos de imputabilidade penal, que não se confunde com a mol­

dura que lhe foi conferida pela órbita do Direito Administrativo.

Para tal providência, impõe-se a transcrição do artigo 327, que assim estatui:

"Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, em­

bora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública."

Sem embargo, na seara do Direito Penal considera-se funcionário público

toda a pessoa que ocupa, ainda que em caráter transitório ou sem remuneração, não apenas cargo ou emprego público, mas que de qualquer modo exerça fun­ção pública.

Resta claro, pois, que a expressão foi definida em seu conceito mais am­

plo, porquanto vinculada à noção de função pública, que pressupõe o desempe­

nho, em caráter profissional e ainda que por pessoas estranhas ao aparelho ad­

ministrativo, de quaisquer atividades próprias do Estado direcionadas à satisfa­

ção de necessidades ou conveniências de interesse público.

É de se assinalar, todavia, que nosso ordenamento constitucional, ao passo

em que expressamente definiu certas atividades como públicas quando desem­

penhadas pelo Estado, entregou-as concomitantemente à responsabilidade da

iniciativa privada, situando-se, nesse contexto, a prestação de serviços médico­

hospitalar e de educação.

No particular, a Constituição Federal, em seu art. 194, define a seguridade

social como um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos

e da sociedade, sendo certo que no tocante aos serviços de assistência à saúde,

são eles prestados por meio do Sistema Único de Saúde, organizado em rede

regionalizada de hospitais públicos e hospitais particulares conveniados.

Dentro dessa visão, não se pode conceber a prestação de assistência médi­

ca por hospital particular credenciado pelo SUS como função pública delegada,

quando deve ser concebida, iniludivelmente, como atividade privada, a eles en­

tregues pela própria Carta Magna.

Assim sendo, os administradores e médicos de estabelecimentos hospitala­

res privados que prestam atendimento aos beneficiários da seguridade social

RST}, Brasília, a. 11, (119): 593-661, julho 1999.

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]URISPRUDÊNCIA DA SEXTA TURMA 621

mediante convênio celebrado com a Previdência Social não se enquadram no

conceito de funcionário público definido no artigo 327 do CP, para efeitos de

crime de concussão, delito de natureza funcional, que somente pode ser cometi­

do por pessoas que exerçam função pública.

In casu, o impetrante, na qualidade de médico e provedor do Hospital de

Caridade Dr. Astrogildo de Azevedo, credenciado pelo SUS à época dos fatos,

foi denunciado pelo crime de concussão, sob acusação de ter induzido a internação

particular de paciente beneficiário da previdência social, quando este fazia jus à

internação gratuita pela rede pública.

Daí por que é de afirmar, em face de todo o exposto, a inocorrência de cri­

me de concussão, por não se revestir o acusado da condição de funcionário

público, o que afasta a justa causa para a ação penal. Isto posto, dou provimento

ao recurso e concedo a ordem de habeas corpus, ordenando o trancamento da

ação penal.

É o voto.

Relator:

Recorrente:

Recorridos:

Advogados:

RECURSO ESPECIAL NQ 63.393 - MG (Registro nº 95.0016067-6)

Ministro Vicente Leal

Anísio Glória

Carlos Alexandre Ribeiro e outros

Hildeu Gomes Pereira e outro e Fortunato José da Cunha e

outro

EMENTA: Processual Civil- Normas sobre nulidade - Interpretação

teleológica - Proteção do incapaz - Irregularidade na representação -

Ministério Público - Intervenção no processo - Omissão - Parecer do

Procurador de Justiça com atuação no primeiro grau - Nulidade -

Inexistência.

- As normas processuais pertinentes a nulidades devem ser inter­

pretadas, em se tratando de incapazes, teleologicamente, em razão do

que a outorga oportuna de mandato procuratório por menor incapaz afas­ta o vício na representação.

RST], Brasília, a. 11, (119): 593-661, julho 1999.

Page 30: Jurisprudência da Sexta Turma - O Tribunal da Cidadania · do artigo 171, caput, do CP, pela prática do crime de estelionato simples, con tra o v. acórdão do egrégio Tribunal

622 REVISTADO SUPERIORTRIBUNALDEJUSTIÇA

- EIll teIlla de nulidade no processo civil, o princípio fundaIllental que norteia o sisteIlla preconiza que para o reconheciIllento da nulidade do ato processual é necessário que se deIllonstre, de Illodo objetivo, os prejuízos conseqüentes, COIll influência no direito Illaterial e reflexo na decisão da causa.

- EIllbora haja disposição expressa no sentido de ser obrigatória a intervenção do Ministério Público nas causas que envolvaIll interesses de incapazes (CPC, arts. 82 e 246), tal oIllissão, que não consubstancia nuli­dade absoluta, foi sanada COIll o parecer do representante do Parquet COIll atuação eIll priIlleiro grau, IllOIllento eIll que reconheceu a inexistência de qualquer prejuízo ao interesse dos Illenores, sOIllado à procedência da ação por eles ajuizada.

- Recurso especial não conhecido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, não conhecer do recurso especial, na conformidade dos votos e notas taquigráficas a seguir. Par­ticiparam do julgamento os Srs. Ministros LuizVicente Cernicchiaro e Fernando Gonçalves. Ausente, por motivo de licença, o Sr. Ministro William Patterson.

Brasília-DF, 14 de dezembro de 1998 (data do julgamento).

Ministro VICENTE LEAL, Presidente e Relator.

Publicado no DI de 22.02.99.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO VICENTE LEAL: Nos autos de ação de despejo por denúncia vazia ajuizada por Carlos Alexandre Ribeiro e pelos menores

Frederico Ribeiro e Maria Cristina Ribeiro, representados por sua genitora, contra Anísio Glória, o r. Juízo de Primeiro Grau julgou procedente o pedi­do, para decretar a rescisão contratual e a conseqüente desocupação do imó­vel comercial locado.

A egrégia Quarta Câmara Cível do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais, por unanimidade, negou provimento aos agravos retidos e à apelação do inquilino, rejeitando as preliminares de inépcia da inicial, pela entrega da notificação sem o instrumento de mandato, bem como de nulidade processual pela não-intervenção do Ministério Público (fls. 91/98).

RSTJ, Brasília, a. 11, (119): 593-661, julho 1999.

Page 31: Jurisprudência da Sexta Turma - O Tribunal da Cidadania · do artigo 171, caput, do CP, pela prática do crime de estelionato simples, con tra o v. acórdão do egrégio Tribunal

JURISPRUDÊNCIADASEXTATURMA 623

Irresignado, O réu interpõe o presente recurso especial (fls. 100/108), com fulcro nas alíneas a e c do permissivo constitucional, verberando ter o acórdão em destaque violado os artigos 13,37,38,254,267, I, IV e VI, e 283, todos do CPC, bem como o artigo l.209, do CC c.c o artigo 5 12 da Lei nº 6.649/79, ao considerar válida a notificação premonitória desacompanhada do instrumento de mandato outorgado ao advogado subscritor da inicial, acentuando ainda, que quando do ajuizamento da ação um dos menores ainda não se encontrava devi­damente representado. Alega, ainda, a ocorrência de divergência jurisprudencial em relação a julgados que reconhecem a nulidade ab initio pela falta de inter­

venção do Ministério Público em processos que envolvam interesses de inca­pazes.

Apresentadas as contra-razões, o recurso foi inadmitido na origem, advindo

agravo, que provido, ensejou a subida dos autos a esta Corte.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO VICENTE LEAL (Relator): Como anotado no rela­tório, o presente apelo nobre tem por objeto dupla pretensão, a saber: (a) irre­

gularidade da notificação premonitória, porquanto desacompanhada do instru­

mento de mandato, bem como na representação de um dos menores quando do ajuizamento da ação; (b) nulidade processual ab initio por falta de interven­

ção do Ministério Público em processo envolvendo interesses de incapazes.

Cumpre notar inicialmente que a alegação de violação ao artigo 1.209 do

CC c.c o artigo 512 da Lei n Q 6.649/79 não foi acompanhada da adequada funda­

mentação, o que impossibilita a exata compreensão da pretensão deduzida no apelo nobre.

Ora, consubstancia óbice a admissibilidade do recurso especial a impu­

tação de lesão a artigo de lei federal quando a fundamentação não se reveste de

embasamento suficiente à compreensão da controvérsia, incidindo o comando

contido na Súmula nº 284 do STF.

Ademais, no que tange à notificação premonitória, é de se ressaltar que o

acórdão recorrido considerou irrelevante o fato de ter sido subscrita por patrono não previamente constituído, ao entendimento de se tratar de ato cuja prática

prescinde da forma especial pela outorga de mandato expresso. E este funda­

mento restou inatacado no apelo nobre, não tendo o recorrente, ademais, indica­

do qualquer dispositivo de lei federal, pressuposto de sua admissibilidade pela

letra a do permissivo constitucional.

RST], Brasília, a. 11, (119): 593-661, julho 1999.

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624 REVISTADO SUPERIORTRIBUNALDEJUSTIÇA

Com relação à invocação de ofensa aos dispositivos da lei processual civil,

tenho que o recurso não merece prosperar.

É que a tese proclamada pelo tribunal a quo, consoante já salientado, entendeu por afastar a alegação de carência da ação ao reconhecer a regularida­de na representação de todos os autores, acentuando que a irregularidade da

representação em juízo do menor púbere, haja vista sua incapacidade relativa

para a prática de qualquer ato, foi sanada oportunamente.

Com efeito, as normas processuais relativas à incapacidade processual e à irregularidade na representação das partes foi interpretada com os olhos no caráter teleológico nela presente.

Ora, o fim almejado pela legislação que versa sobre capacidade é, sem dúvida, de fornecer especial proteção ao incapaz, sendo, portanto, inconcebível que se anule todo o processo, diante da mera alegação de irregularidade na

representação de um dos menores quando do ajuizamento da ação, se o ato supostamente viciado foi saneado a tempo em benefício para o autor.

É esse, aliás, o sentido que se extrai do disposto no § 1 Q do artigo 269 do CPC, verbis:

§ 1 º "O ato não se repetirá nem se lhe suprirá a falta quando não prejudicar a parte".

Por fim, quanto à alegação de ocorrência de divergência juriSprudencial com julgado que declara a nulidade de processo que envolva interesse de meno­

res por falta de intervenção do Ministério Público, considerando irrelevante a posterior manifestação de seu representante, não vejo como censurar a tese pro­

clamada no acórdão recorrido.

É certo que o art. 82 do CPC contém expressa disposição no sentido de ser obrigatória a intervenção do Ministério Público nas causas que envolvam inte­resses de incapazes, e o artigo 246 estatui que a ausência da intimação de seu representante para acompanhar os feitos de intervenção obrigatória implica em nulidade processual.

Todavia, tal omissão não chega a configurar nulidade absoluta, passível de contaminar irremediavelmente o julgamento.

Ora, em tema de nulidade no processo civil, o princípio fundamental que norteia o sistema preconiza que para o reconhecimento da nulidade do ato pro­cessual é necessário que se demonstre, de modo objetivo, os prejuízos conse­

qüentes com efetiva influência na apuração do direito material e reflexo na

decisão da causa.

RSTJ, Brasília, a. lI, (119): 593-661, julho 1999.

Page 33: Jurisprudência da Sexta Turma - O Tribunal da Cidadania · do artigo 171, caput, do CP, pela prática do crime de estelionato simples, con tra o v. acórdão do egrégio Tribunal

]URISPRUDÊNCIADASEXTATURMA 625

No caso, consoante acentuado no acórdão recorrido, a ausência de inter­

venção do órgão ministerial foi suprida pelo parecer do ilustre Procurador de Justiça com atuação no primeiro grau (fls. 71/78), que reconheceu a inexistência

de qualquer prejuízo causado ao interesse dos menores pela falta de sua intimação

no acompanhamento do feito, somado ao fato de ter sido a ação proposta pelos

incapazes julgada procedente.

A propósito, nesse sentido já se pronunciou este Tribunal, consoante se depreende dos seguintes precedentes a seguir colacionados, in verbis:

"Processual Civil. Embargos de declaração. Interesse de menores.

Ausência de prejuízo. Obscuridade.

Não se declara nulidade, por falta de audiência do Ministério Públi­co, se o interesse dos menores se acha preservado, posto que vitoriosos na

demanda" (in DJ de 30.11.92).

"Medida cautelar. Ministério Público. Caráter satisfativo.

1. A intervenção do Ministério Público, em segundo grau, supriu a

falta de intervenção na medida cautelar que foi deferida liminarmente em

favor dos menores e depois julgada extinta por desatenção ao disposto no artigo 806 do CPC.

2. Proposta a ação com caráter nitidamente preparatório, descabe invocar doutrina sobre a existência de medidas satisfativas.

Recurso não conhecido" (REsp nº 59.003-SP, ReI. Min. Ruy Rosado

de Aguiar, in DJ de 14.08.95).

"Processual Civil.

(1) Réu menor, manifestação do Ministério apenas a partir da se­

gunda instância. Argüição de invalidade do processo, pela parte, somente nos aclaratórios. Improcedência.

(2) Vários advogados sendo um comum a todos os litisconsortes,

com poderes para atuação isolada. Inaplicação da regra benévola do art.

191 do CPC.

(1) Não se tem por nulo o processo, por insonolência da intervenção

obrigatória do Ministério Público em primeiro grau, se tal nulidade só é

postulada pela parte em sede de declaratórios e depois de o Procurador de

Justiça ter opinado nos autos, sem a tanto nada aduzir, sobretudo quando,

RST], Brasília, a. 11, (119): 593-661, julho 1999.

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626 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

como na espécie, foi determinado o retorno do feito ao juízo monocrático, ainda que por outra razão.

(2) Quando um dos procuradores ~ comum a todos os litisconsortes, com poderes para atuar sozinho em nome de todos eles, não se aplica a

regra benévola do art. 191 do Código de Processo Civil.

Recurso especial não conhecido" (REsp nº 29.881-MG, ReI. Minis­

tro CesarAsfor Rocha, in DJ de 19.08.96).

Assim, é de se reconhecer que a questionada omissão em nada repercutiu

no julgamento da apelação. E como já acentuado, sem prejuízo não há nulidade.

Ante o exposto, não conheço do recurso especial.

É o voto.

Relator:

Recorrente:

Advogado:

Recorrido:

RECURSO ESPECIAL Nº 105.296 - RS (Registro nº 96.0053591-4)

Ministro LuizVicente Cernicchiaro

Marta Garcia Costa Rochedo

Carlos Frederico Guazzelli (Defensor Público)

Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul

EMENTA: REsp - Penal - Apropriação indébita - Arrependimento

posterior.

A apropriação indébita, dizem os penalistas, se dá quando o agen­te inverte o título de posse, isto é, muda, sem justa causa, o título, utili­

zando-o como se sua fosse. Vale dizer, incorpora-a ao seu patrimônio. O animus do agente é fundamental para configurar a natureza jurídica da impontualidade. O ressarcimento do prejuízo não exclui a tipicidade. Aliás, o Código Penal, a propósito encerra instituto específico - arre­

pendimento posterior - cujo efeito é causa especial de diminuição da pena.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Sexta

RSTJ, Brasília, a. 11, (119): 593-661, julho 1999.

Page 35: Jurisprudência da Sexta Turma - O Tribunal da Cidadania · do artigo 171, caput, do CP, pela prática do crime de estelionato simples, con tra o v. acórdão do egrégio Tribunal

}URISPRUDÊNCIADA SEXTA TURMA 627

Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas

taquigráficas constantes dos autos, por unanimidade, não conhecer do recurso,

nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator.Votaram os Srs. Ministros Fernando

Gonçalves e Vicente Leal. Ausente, por motivo de licença, o Sr. Ministro William

Patterson.

Brasília-DF, 9 de março de 1999 (data do julgamento).

Ministro VICENTE LEAL, Presidente.

Ministro LUIZVICENTE CERNICCHIARO, Relator.

Publicado no DI de 26.04.99.

RELATÓRIO

o SR. MINISTRO LUIZ VICENTE CERNICCHIARO: Recurso espe­

cial interposto por Marta Garcia Costa Rochedo, com fundamento na alínea c

do permissivo constitucional, no intuito de impugnar v. aresto do Tribunal de

Alçada do Estado do Rio Grande do Sul, assim ementado:

"Apropriação indébita. Se o advogado recebe dinheiro do constituin­

te para o pagamento das despesas de uma ação e não o efetua, aproprian­

do-se de numerário, e, também levanta quantia pertencente ao cliente, a

título de indenização, não lhe repassando a importância, pratica, por duas

vezes, o crime do art. 168, § 1 º, IIl, do Código Penal." (fl. 188)

F oram interpostos embargos infringentes, acolhidos por maioria, para re­

duzir a pena fixada para dois anos de reclusão, declarando extinta a punibilidade

pela prescrição da pretensão punitiva, em relação ao primeiro fato e quanto ao

segundo fato, reduzir a pena para um ano e quatro meses de reclusão, a ser

cumprida inicialmente em regime semi-aberto e reduzir a pena pecuniária para

vinte dias, no valor mínimo legiferado.

A recorrente alega que o v. acórdão recorrido divergiu de julgados de ou­

tros tribunais.

Despacho de admissão às fls. 256/258.

Parecer do Ministério Público Federal, às fls. 264/267, opinando pelo não

provimento do recurso.

É o relatório.

RSTJ, Brasília, a. 11, (119): 593-661, julho 1999.

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628 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

VOTO

O SR. MINISTRO LUIZ VICENTE CERNICCHIARO (Relator): De­

bate-se quanto ao crime de apropriação indébita praticado por advogado que, em juízo, valendo-se de poder específico de mandato, levantou o valor da inde­

nização depositada, na Justiça do Trabalho, em favor do cliente.

Esse delito, nos termos do disposto no art. 168 do Código Penal, reclama,

como pressuposto a posse, ou detenção de coisa alheia. E, por conseqüência, a

distinção entre ilícito civil e ilícito penal. Apesar da divergência doutrinária, são institutos diferentes. Daí, o inadimplemento contratual não confundir-se com a

apropriação indébita. E a distinção é ontológica. O profissional, por força do

contrato, tem obrigação de repassar ao mandante a importância que receber. A demora (tempo normativamente considerado relevante) para fazê-lo evidencia

animus de ter a coisa para si. Coisa alheia, sem dúvida. Aqui, com a omissão, exterioriza vontade de não transferi-la ao cliente, fazê-lo apenas quando desco­berto o fato, ou depois de reclamada. Diferente, ser a falta de repasse decorrer

somente de desleixo, mera impontualidade, ou depender de prestação de contas,

do acerto de crédito e débito.

A apropriação indébita, dizem os penalistas, se dá quando o agente inverte

o título de posse, isto é, muda, sem justa causa, o título, utilizando-o como sua

fosse. Vale dizer, incorpora-a ao seu patrimônio.

O animus do agente é fundamental para configurar a natureza jurídica da impontualidade.

O ressarcimento do prejuízo não exclui a tipicidade. Aliás, o Código Pe­nal, a propósito encerra instituto específico - arrependimento posterior - cujo

efeito é causa especial de diminuição da pena. Atuaria, então, pelo menos, como

causa de extinção da punibilidade? Sabe-se, o tipo penal descreve a conduta delituosa (implicitamente o preceito jurídico) e cominação da pena (conseqüên­cia lógica).

A extinção da punibilidade (a esse título o Código Penal, no art. 107 rela­ciona casos também de extinção do crime, de que são exemplos a aboli tio

criminis e a anistia ampla e incondicional) repercute na - pretensão punitiva­

poder de o Estado aplicar a sanção penal. Esse poder é relativo a qualquer infração penal. As normas de extinção do crime e da punibilidade, entretanto,

são excepcionais. Incidem nos limites postos pela respectiva lei.

Atendem a situações previamente definidas. Apesar da natureza penal mais

benigna, não se estendem por analogia. O comando constitucional pressupõe

RSTJ, Brasília, a. 11, (119): 593-661, julho 1999.

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JURISPRUDÊNCIADASEXTATURMA 629

supostos fáticos iguais. Sabido ainda, o instituto atende a circunstâncias de Po­

lítica Criminal. Daí, a matéria ser necessariamente casuística.

O pagamento do débito tributário, antes do recebimento da denúncia, ex­tingue a punibilidade, relativo aos crimes definidos na Lei nº 8.137/90. Alcança,

sem dúvida, também os casos da Lei nº 8.212/90. Todavia, pela natureza dos

ilícitos neles descritos. Confirma, aliás, a observação da identidade fática.

O v. acórdão, registrou a recorrente, antes da imputação do Ministério Público efetuara o pagamento reclamado pelo cliente.

O Código Penal da Itália é expresso. Estatui o art. 182, verbis:

(((Effetti delte causa e di estinzione del reato e della pena) - Salvo che la

legge disponga altrimemi, l'estinzione del reato e delta pena ha effeuo soltamo

per coloro ai quali la causa di estinzione si rijerisce (art. 198)".

Em sendo assim, remanesce o interesse processual. Inadequado trancar a

ação penal.

Não conheço do recurso especial.

Relator:

Recorrente:

Advogados:

Recorridos:

Advogados:

RECURSO ESPECIAL Nº 112.487 - SP (Registro nº 96.0069848-1)

Ministro Hamilton Carvalhido

Instituto Nacional do Seguro Social- INSS

Ricardo Ramos Novelli e outros

Maria Ana Pavan Pontes e outros

Francisco Antônio Zem Peralta e outro

EMENTA: Previdenciário - Salário mínimo de junho/89 - NCz$ 120,00 - Lei nº 7.789/89 - Índices inflacionários - Reajuste - Honorários­

Redução - Súmula nº 7 -STJ - Prestações vincendas - Súmula nº 111-STJ.

1. Para o reajuste do benefício de competência de junho de 1989,

deve-se observar o salário mínimo de NCz$ 120,00, a teor do que dispõe a

Lei nº 7.789/89.

2. Firme a jurisprudência acerca da inexistência de direito adquiri-

RSTJ, Brasília, a. 11, (119): 593-661, julho 1999.

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630 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

do à incorporação dos índices inflacionários no reajuste dos benefícios

previdenciários.

3. IITlpossível, eITl sede especial, reapreciar redução de verba hono­rária. Óbice da SÚITlula nº 7-STJ.

4. "Os honorários advocatícios, nas ações previdenciárias, não incideITl sobre as prestações vincendas." SÚITlula nº 111-STJ.

5. Recurso conhecido e parcialITlente provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Sexta

Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso e lhe dar parcial

provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Vicente Leal, Luiz Vicente Cernicchiaro e Fernando Gonçal­ves. Ausente, por motivo de licença, o Sr. Ministro William Patterson.

Brasília-DF, 25 de maio de 1999 (data do julgamento).

Ministro VICENTE LEAL, Presidente.

Ministro HAMILTON CARVALHIDO, Relator.

Publicado no DI de 14.06.99.

RELATÓRIO

o SR. MINISTRO HAMILTON CARVALHIDO: Trata-se de recurso

especial interposto contra acórdão da Primeira Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, que deu parcial provimento ao apelo autárquico, nos au­tos da ação de revisão de benefício previdenciário, na parte em que fixou o valor do salário mínimo de junho de 1989 em NCz$ 120,00, reconheceu devida a

inclusão dos percentuais inflacionários relativos aos meses de junho/87, janeiro/

89, abril/90 e fevereiro/9l no reajuste dos benefícios e manteve o percentual de 20% para a verba honorária, incidindo sobre doze (12) prestações vincendas.

A recorrente, como razões da insurgência especial, alega ofensa ao artigo 5º da Lei nº 7.789/89, §§ 3º, e 4º, do artigo 20, do Código de Processo Civil, ao tempo em que pleiteia a fixação do valor do salário mínimo de junho de 1989

em NCz$ 81,40, a exclusão dos índices inflacionários do reajuste do benefí­cio, a redução da verba honorária e sua eliminação das prestações vincendas.

RSTJ, Brasília, a. 11, (119): 593-661, julho 1999.

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JURISPRUDÊNCIA DA SEXTA TURMA 631

Positivo o juízo de admissibilidade (Constituição Federal, artigo 105, inciso

lII, alíneas a e c).

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO HAMILTON CARVALHIDO (Relator): Sr. Presi­

dente, as questões recursais estão no valor do salário mínimo de junho de 1989,

na aplicabilidade dos índices inflacionários no reajuste do benefício previ­

denciário e na redução da verba honorária e sua aplicabilidade sobre prestações

vincendas.

A decisão recorrida está alinhada com o entendimento cristalizado neste

Superior Tribunal de Justiça, ao fixar o valor do salário mínimo de junho de

1989 em NCz$ 120,00, a propósito os seguintes julgados:

"Processual e Previdenciário. Benefícios. Reajustes. Correção mone-

tária.

1. Em junho de 1989, por força do art. 58 do ADCT/88, os benefícios

em manutenção, regem-se pelo valor do salário mínimo de NCz$ 120,00.

2. Indevida a incorporação aos benefícios dos índices ditos 'inflacioná­

rios', em face de não haver direito adquirido a tais reajustes.

3. Aplicam-se os critérios corretivos da Lei nQ 6.899/81 às prestações

devidas e cobradas na sua vigência, inclusive às parcelas anteriores ao

ajuizamento da ação, no entendimento das Súmulas nQs 148 e 43-STl

4. Recurso parcialmente conhecido e provido." (REsp n Q 178.831-

SP, Quinta Turma, ReI. Min. Gilson Dipp, julgado em 02.03.99).

"Previdenciário. Reajuste de benefício. ORTN/OTN. Valor do salá­

rio mínimo. Junho de 1989. IPCs. Incorporação ao benefício. Impossibili­

dade. Correção monetária. Súmula nº 71-TFR.

1. É devida a aplicação da ORTN/OTN para o reajuste de benefícios

concedidos antes da Lei nQ 8.213/91.

2. No mês de junho de 1989, o reajuste dos benefícios previdenciários

deve ser feito com base no salário mínimo de NCz$ 120,00 (cento e vinte

cruzados novos).

3. Os expurgos inflacionários (IPC), consoante iterativa jurisprudên­

cia da Corte, são devidos em liquidação de sentença, entretanto, não po-

RST], Brasília, a. 11, (119): 593-661, julho 1999.

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632 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

dem incorporar-se no cálculo de reajustamento de beneficios previdenciários, a exemplo do que já foi decidido pela Suprema Corte, em relação aos vencimentos dos servidores públicos. Precedente do STl

4. Na correção monetária dos benefícios previdenciários em atraso há de se observar o critério estabelecido pela Lei nº 6.899/81, com ressal­va do termo inicial, que deve ser a partir de quando devida a prestação, aplicando-se simultaneamente as Súmulas nºs 148 e 43 do STJ.

5. Recurso especial conhecido em parte, e nesta extensão, provido." (Recurso Especial nº 187 .462-SP, ReI. Min. Fernando Gonçalves, julgado emI7.11.98)

No que diz respeito à incorporação dos percentuais inflacionários no rea­juste do benefício, inadmissível a sua incidência como fator de recomposição dos benefícios, tais indexadores, no entanto, só têm aplicabilidade na apuração dos cálculos da correção monetária, o que não é a hipótese do caso sub exami­nem. Vale registrar, por todos, o seguinte julgado:

"Processual Civil. Embargos de declaração. Efeito infringente. Pos­sibilidade. Benefício. Reajuste automático. URPs de junho/1987 e feverei­ro/1989. IPCs de março e abrilll990.

- Embora os embargos de declaração tenham por escopo expungir do julgamento obscuridades ou contradições, ou suprir omissão sobre tema de pronunciamento obrigatório pelo tribunal, segundo o comando expres­so do art. 535 do CPC, a tal recurso é possível conferir-lhe efeito modificativo ou infringente, desde que a alteração do julgamento decorra da correção daqueles citados defeitos.

- A jurisprudência desta corte, sufragando entendimento do STF, é pacífica no sentido de que os benefícios do INSS não têm direito adquirido ao reajuste mensal de seus benefícios previdenciários pela incorporação dos

índices inflacionários expurgados, que não se confunde com a correção mo­netária dos débitos cobrados em Juízo, cuja incidência é devida. (grifou-se)

- Embargos de declaração acolhidos. Recurso especial parcialmen­te conhecido e nesta extensão provido." (EDREsp nº 112.224, ReI. Min. Vicente Leal).

No que tange à redução da verba honorária, fixada em 20% sobre o valor da condenação, impossível a sua reanálise em sede especial, de vez que envolve reapreciação de matéria fática, o que é vedado pela Súmula nº 7 deste Superior Tribunal de Justiça.

RSTJ, Brasília, a. 11, (119): 593-661, julho 1999.

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JURISPRUDÊNCIA DA SEXTA TURMA 633

Por fim, é de se notar que não cabe a cobrança de verba honorária sobre

prestações vincendas em débitos de natureza previdenciária, a teor do que dis­põe a Súmula nU 111 deste Superior Tribunal de Justiça, verbis:

"Os honorários advocatícios, nas ações previdenciárias, não incidem

sobre prestações vincendas."

Pelo exposto, conheço do recurso e lhe dou parcial provimento, para ex­

cluir da condenação os índices dos percentuais inflacionários como critérios de

reajuste do previdenciário e a verba honorária sobre prestações vincendas.

É o voto.

Relator:

Recorrente:

Recorrente:

Recorrente:

Advogados:

Recorrido:

RECURSO ESPECIAL Nº 149.522 - SP (Registro nU 97.0067253-0)

Ministro LuizVicente Cernicchiaro

Marcelo Curi

N erivaldo Frare

Roberto Brito da Silva

Anésio Duarte e outro

Ministério Público do Estado de São Paulo

EMENTA: REsp - Penal - Condenação - Efeitos administrativos -

Fundamentação.

A reforma penal de 1984, quanto aos efeitos administrativos da sen­

tença penal condenatória inovou legislativamente. Antes essa sanção era

mero efeito decorrente da sentença condenatória, levando em conta o quantum de condenação. A aplicação era automática. A Lei nU 7.209/84

estatuiu no art. 92, parágrafo único - "Os efeitos de que trata este artigo

não são autônomos, devendo ser motivadamente declarados na sen­tença."

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Sexta

RST}, Brasília, a. 11, (119): 593-661, julho 1999.

Page 42: Jurisprudência da Sexta Turma - O Tribunal da Cidadania · do artigo 171, caput, do CP, pela prática do crime de estelionato simples, con tra o v. acórdão do egrégio Tribunal

634 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE]USTIÇA

Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas constantes dos autos, por unanimidade, não conhecer do recurso, mas de ofício conceder o habeas corpus para ordenar o retorno dos autos ao tribunal a quo para fundamentar quanto ao efeito administrativo do acórdão, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Votaram os Srs. Minis­

tros Fernando Gonçalves e Vicente Leal. Ausente, por motivo de licença, o Sr. Ministro William Patterson.

Brasília-DF, 9 de março de 1999 (data do julgamento).

Ministro VICENTE LEAL, Presidente.

Ministro LUIZ VICENTE CERNICCHIARO, Relator.

Publicado no DI de 26.04.99.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO LUIZ VICENTE CERNICCHIARO: Recurso espe­cial interposto por Marcelo Curi, Nerivaldo Frare e Roberto Brito da Silva,

com apoio na alínea a do permissivo constitucional, contra v. acórdão do Tri­bunal de Alçada Criminal do Estado de São Paulo condenando os recorrentes como incursos nas penas dos artigos 3º, i, e 4º, h, da Lei nº 4.898/65 e à pena

acessória de proibição do exercício de funções policiais no distrito de culpa pelo prazo de três anos.

Os recorrentes alegam:

"Descumpriu-se pois, os artigos 394 a 405, 498 a 502 e 518 do CPP, e 381 do mesmo dispositivo legal, e mais 59 do Código Penal, como se verá abaixo. Quando não reconheceu o crime como sendo pró­prio de funcionário público, descumpriu os artigos 3º e 4º, letras i e h, respectivamente, da Lei nº 4.898/65." (fl. 61)

Contra-razões às fls. 86/88.

Recurso especial admitido por força de agravo de instrumento (fl. 117).

O Ministério Público Federal, em parecer às fls. 122/126, assim se ma-

nifestou:

"Pelo exposto, é o parecer do Ministério Público Federal pelo não

conhecimento do presente recurso especial, assim como pela concessão de habeas corpus de ofício aos recorrentes, para o fim de que os autos

RST], Brasília, a. 11, (119): 593-661, julho 1999.

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JURISPRUDÊNCIADASEXTATURMA 635

retornem ao egrégio tribunal a quo para a devida fundamentação da pena

autônoma de suspensão do exercício das funções policiais." (fl. 126)

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO LUIZ VICENTE CERNICCHIARO (Relator): O v.

acórdão realça, na fundamentação, às fls. 37/38:

"Nesse sentido, tocantemente à autoria e materialidade da infração,

dúvida nenhuma subsiste na prova coligida quanto ao constrangimento

ilegal a que submeteram a vítima em dependência policial, a pretexto de

fazê-la confessar a prática de furto, que de resto não praticara, cujo proces­

so de tortura física e moral que a ela inflingiram, na oportunidade, a par

da mais grosseira distorção e do mais absoluto despreparo para a nobre

função de seus misteres profissionais, demonstra sobretudo o evidente e

comprovado abuso de autoridade e desvio de poder de que estavam inves­

tidos." (fls. 37/38)

E mais.

"Quanto à autoria delituosa, outrossim, a prova e mequívoca e

irrefutavelmente incriminadora dos apelados. Eles mesmos jamais nega­

ram a presença da vítima e deles próprios nas dependências da DIG no dia

e momento dos fatos, a fim de ser interrogada acerca do furto em sua

empregadora, Malharia Araçatuba, o que evidentemente aponta-os como

diretos responsáveis pelo seu estado deplorável, física e psicologicamente,

ao deixar aquelas dependências policiais, (fls. 169 e seguintes)" (fls.

38/39).

o reexame do mérito implica investigação probatória. O particular é in­

compatível com o recurso especial. (Súmula nº 7-STJ).

O douto parecer do Ministério Público Federal suscita questão de signifi­

cativa relevância, no item 8:

"Conquanto o recurso não tenha mesmo como prosperar, ressalta­

mos ser de rigor a concessão de habeas corpus de ofício aos recorrentes,

RSTJ,Brasília, a.11, (119): 593-661, julho 1999.

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636 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DEJUSTICA

uma vez que o v. acórdão recorrido não fundamentou a aplicação da pena

autônoma de proibição do exercício das funções policiais no Município da

culpa acima do mínimo legal." (fl. 126)

Com efeito, a reforma penal de 1984, no particular, inovou legislati­

vamente. Antes, a sanção administrativa decorrente de sentença condenatória,

levando em conta o quantutn da condenação, era aplicada automaticamente.

A Lei nº 7.209/84 dispõe no art. 92, parágrafo único:

"Os efeitos de que trata este artigo não são autônomos, devendo ser

motivadamente declarados na sentença."

No particular o v. acórdão (fls. 47/48) é silente.

Não conheço do recurso especial, concedo, outrossim, habeas corpus de oficio a fim de os autos retornarem ao egrégio Tribunal para fundamentar quanto

ao efeito administrativo do acórdão.

Relator:

Recorrente:

Advogados:

Recorrido:

Advogado:

RECURSO ESPECIAL Nº 163.722 - RS (Registro nº 98.0008516-5)

Ministro Hamilton Carvalhido

Instituto Nacional do Seguro Social- INSS

Jaqueline Maggioni Piazza e outros

Dalmiro de Mattos

Flosculo Antônio de Carvalho

EMENTA: Recurso especial - Art. 468, CPC - Falta de preques­

tionatnento - Sútnulas nºs 282 e 356 do STF - Não conhecitnento do re-

curso.

1. A falta de apreciação e discussão do dispositivo legal tido COtnO

violado, no âtnbito do tribunal a quo, resulta na falta de prequestio­

natnento, o que inviabiliza o recurso especial.

2. Aplicabilidade das Sútnulas nºs 282 e 356 do STE

3. Recurso não conhecido.

RSTJ, Brasília, a. 11, (119): 593-661, julho 1999.

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]URISPRUDÊNCIA DA SEXTA TURMA 637

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, não conhecer do recurso, nos termos

do voto do Sr. Ministro-Relator. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Vicente Leal e Fernando Gonçalves. Ausentes, por motivo de licença, o Sr. Ministro William Patterson e, ocasionalmente, o Sr. Ministro LuizVicente Cernicchiaro.

Brasília-DF, 11 de maio de 1999 (data do julgamento).

Ministro VICENTE LEAL, Presidente.

Ministro HAMILTON CARVALHIDO, Relator.

Publicado no DI de 31.05.99.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO HAMILTON CARVALHIDO: Trata-se de recurso especial interposto contra o acórdão da Quinta Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, assim ementado:

"Processual Civil. Previdenciário. Execução do julgado em parte.

Se é certo que o vencedor da demanda pode desistir da execução do julgado, não menos correto é lhe ser facultado promovê-la em parte."

A ofensa ao artigo 468 do Código de Processo Civil funda o apelo extremo.

Positivo o juízo de admissibilidade (Constituição da República, artigo 105, inciso lU, alínea a).

O Ministério Público Federal veio pelo não conhecimento à fi. 39.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO HAMILTON CARVALHIDO (Relator): Sr. Presi­dente, o recurso não reúne condições de admissibilidade.

Em sede especial, a recorrente alega que houve ofensa ao artigo 468 do

Código de Processo Civil, que cuida dos limites objetivos da coisa julgada.

Ocorre que a matéria não foi objeto de apreciação pelo tribunal recorrido,

RST], Brasília, a. 11, (119): 593-661, julho 1999.

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638 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

ressentindo-se o apelo extremo do indispensável prequestionamento (Súmulas nºs 282 e 356 do Supremo Tribunal Federal).

Nesses termos, não conheço do recurso.

É o voto.

Relator:

Recorrente:

Advogados:

Recorrida:

Advogado:

RECURSO ESPECIAL Nº 167.242 - SP (Registro nº 98.0018165-2)

Ministro Hamilton Carvalhido

Instituto Nacional do Seguro Social- INSS

Vilma WestmannAnderlini e outros

N euza Rodrigues Alves

N ahur Estrella Maia

EMENTA: Previdenciário - Benefício - Reajuste - Decreto-Lei nº 2.351/87 -Piso Nacional de Salários.

1. O reajuste do benefício previdenciário, durante a vigência do De­creto-Lei nº 2.351/87, deve ser feito COlll base no salário lllínilllo de refe­rência, COlllO deterlllinado no § 1 º do seu artigo 2º.

2. Precedentes.

3. Recurso conhecido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Vicente Leal e Fernando Gonçalves. Ausentes, por motivo de licença, o Sr. Ministro William Patterson e, justificadamente, o Sr. Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro.

Brasília-DF, 18 de maio de 1999 (data do julgamento).

Ministro VICENTE LEAL, Presidente.

Ministro HAMILTON CARVALHIDO, Relator.

Publicado no DI de 07.06.99.

RSTJ, Brasília, a. 11, (119): 593-661, julho 1999.

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JURISPRUDÊNCIA DA SEXTA TURMA 639

RELATÓRIO

o SR. MINISTRO HAMILTON CARVALHIDO: Trata-se de recurso especial contra acórdão da Quinta Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, assim ementado:

"Direito Previdenciário e Processual Civil. Conta de liquidação. Observância do julgado. Salário mínimo de referência x piso nacional de salários. Sentença homologatória confirmada.

1. A conta de liquidação, elaborada pelo Contador Judicial, aplicou corretamente o Piso Nacional de Salários, sucedâneo do 'maior' salário mínimo vigente no País, na conformidade do julgado, além de ter sido elaborada com observância ao disposto na Portaria nº 4.164/88, do ex­tinto Ministério da Previdência e Assistência Social, em vigor à época.

2. Apelo autárquico improvido." (fl. 94).

A ofensa ao artigo 2º, § lU, do Decreto-Lei nU 2.351/87, ante a aplicação do piso nacional de salários e, não, do salário mínimo de referência, no reajus­te do benefício previdenciário, funda o apelo extremo.

Positivo o juízo de admissibilidade (Constituição da República, artigo 105, inciso lII, alínea a).

O Ministério Público Federal veio pelo provimento, colacionando aresto deste Superior Tribunal de Justiça:

"Previdenciário. Reajuste de benefício. Salário mínimo de referên­cia. Decreto-Lei nU 2.351/87. Salário mínimo. Art. 58/ADCT.

- Os benefícios previdenciários devem ser corrigidos pelo salário mínimo de referência durante a vigência do Decreto-Lei nU 2.351/87, até março de 1989, a partir de quando passa a incidir o art. 58/ADCT, e os valores então devem ser atualizados pelo salário mínimo.

- Precedentes.

(EREsp nº 40.372/RS, Terceira Seção, ReI. Min. Felix Fischer, DJ de 12.05.97)." (fls. 1081109).

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO HAMILTON CARVALHIDO (Relator): Sr. Presi­dente, a questão está na utilização do piso nacional de salários como critério de

RST], Brasília, a. 11, (119): 593-661, julho 1999.

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640 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

reajuste dos benefícios previdenciários, determinada no acórdão recorrido.

Ocorre que o Decreto-Lei nº 2.351/87 vinculou, não, ao piso nacional de salários, mas, sim, ao salário mínimo de referência as pensões e proventos de aposentadoria de qualquer natureza, assim dispondo, com efeito, o § 1 º do seu artigo 2º:

"Art. 2º - ...

§ 1 º Ficam vinculados ao Salário Mínimo de Referência todos os valores que, na data da publicação deste Decreto-Lei, estiverem fixados na função do valor do salário mínimo, e, ainda pensões e proventos de apo­sentadorias de qualquer natureza, penalidades estabelecidas em lei, contri­buições e benefícios previdenciários e obrigações contratuais legais."

Não é outro o entendimento fixado pela Terceira Seção deste Superior Tribunal de Justiça, valendo, a propósito da questão, transcrever a ementa do EREsp nº 40.366-PR, publicado no DJ de 01.12.97, da lavra do Ministro Felix Fischer:

"Previdenciário. Reajuste de benefícios. Salário mínimo de referên­cia. Decreto-Lei nº 2.351/87. Salário mínimo. Art. 58/ADCT.

- Os benefícios previdenciários devem ser corrigidos pelo salário mínimo de referência durante a vigência do Decreto-Lei nº 2.351/87, até março de 1989, a partir de quando passa a incidir o art. 58/ADCT, e os valores então devem ser atualizados pelo salário mínimo.

- Precedentes.

- Embargos parcialmente recebidos."

Pelo exposto, conheço do recurso, para reformar o acórdão impugnado e determinar a aplicação do salário mínimo de referência na conta de liquidação do julgado.

É o voto.

Relator:

Recorrente:

RECURSO ESPECIALNQ 168.314-RJ (Registro nº 98.0020616-7)

Ministro Fernando Gonçalves

Ministério Público Federal

RSTJ, Brasília, a. 11, (119): 593-661, julho 1999.

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Recorridos:

Advogados:

JURISPRUDÊNCIA DA SEXTA TURMA

Abelardo de Lima Puccini e outros

Paulo Freitas Ribeiro e outro

641

EMENTA: REsp - Ação penal-Trancamento - Inépcia da denúncia­Não ocorrência - Crime coletivo - Diretores - Sociedade limitada - Res­ponsabilidade.

1 - A descrição pormenorizada da conduta de cada um dos envolvi­dos no caso dos delitos coletivos via de regra tem sua demonstração relegada para a instrução criminal, sendo, no entanto, exigência funda­mental que, para fins de condenação, se detalhe o comportamento dos

acusados.

2 - Recurso especial do MP conhecido e provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso e lhe dar provi­

mento. Votaram com o Relator os Ministros Luiz Vicente Cernicchiaro e Gilson Dipp. Ausentes, por motivo de licença, o Ministro William Patterson e, justificadamente, o Ministro Vicente Leal.

Brasília-DF, 10 de dezembro de 1998 (data do julgamento).

Ministro FERNANDO GONÇALVES, Presidente e Relator.

Publicado no DI de 17.02.99.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO FERNANDO GONÇALVES: Trata-se de recurso es­

pecial interposto pelo Ministério Público Federal, com fundamento no art. 105,

inciso lU, letra c, da Constituição Federal, contra acórdão do TRF 2° Região, assim ementado, verbis:

"Constitucional. Processual Penal.

I - A denúncia, no que pertine, consignou:

'Os denunciados figuram como diretores da empresa Multigás

consoante cópia autenticada da ata da assembléia de quotistas reali-

RSTI, Brasília, a. 11, (119): 593-661, julho 1999.

Page 50: Jurisprudência da Sexta Turma - O Tribunal da Cidadania · do artigo 171, caput, do CP, pela prática do crime de estelionato simples, con tra o v. acórdão do egrégio Tribunal

642 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

zada em 30.04.92 (conf. fls. 46/53), sendo certo resta consignado na cláusula X do contrato social consolidado que 'a diretoria terá os mais amplos poderes de administração ( ... )' (cf. fl. 50).'

II - A amplitude da defesa e o contraditório (CF, 5º, LV), exigem

que se atenda, ao denunciar, às exigências do CPP, art. 41, ainda que de forma sucinta, com relação aos diversos acusados, nos chamados crimes societários, o que inocorreu, no caso.

III - Como se sabe, o egrégio STJ, órgão de cúpula do Judiciário na exegese última da lei federal (CF, arts. 105 e segs.), vem perfilhando orien­tação no sentido da necessidade que:

'A denúncia, por isso, deve imputar conduta de cada sócio, de

modo a que o comportamento seja identificado, ensejando possibili­

dade de exercício do direito pleno de defesa.' (RRC nº 2.882-3, reI. Min.Vicente Cernicchiaro, 6" T, un., in DJU de 13.09.93, p. 18580)

Em igual sentido, basicamente, vide, ainda, dentre outros, o RRC nº 4.214-1-DF, reI. Min.AssisToledo, DJU de 27.03.95, pp. 7174/5.

IV - Concessão do habeas corpus para anular a ação, a partir da denúncia, inclusive, podendo outra ser apresentada, observado o devido

processo legal. Decisão extensiva (CPP, 654, § 2º), aos demais denuncia­dos que não figuram como pacientes." (fl. 263)

Sustenta o recorrente que o acórdão, ao assim decidir, coloca-se em franco

dissenso com os julgados iterativos desta Corte, pois, segundo observa, nos crimes societários, não é inepta a denúncia quando descreve, de modo genéri­co, a conduta delituosa dos dirigentes da empresa, pois a individualização dos atos criminosos será firmada no decorrer da instrução criminal.

Contra-arrazoado (fls. 290/305), o recurso teve admitido o seu proces­

samento (fl. 307), ascendendo os autos a esta Corte.

A Subprocuradoria Geral da República opina pelo provimento do recur­

so (fls. 316/321).

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO FERNANDO GONÇALVES (Relator): O dissenso

jurisprudencial encontra-se demonstrado e comprovado, a teor do disposto na

RSTJ, Brasília, a. 11, (119): 593-661, julho 1999.

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JURISPRUDÊNCIA DA SEXTA TURMA 643

norma do art. 255, § 1 º, letra b, do Regimento Interno (citação do repositório

oficial onde publicados os acórdãos discordantes), porquanto as ementas

colacionadas pelo recorrente, na medida em que enunciadas de modo abrangente

e elucidativo, permitem visualizar - si et in quantuIll - as circunstâncias

identificadoras dos casos confrontados, cifrados exclusivamente na obrigatorie­

dade ou não de o Ministério Público, nos crimes de autoria coletiva, pormeno­

rizar a conduta do acusado no limiar da persecutio criIllinis.

Dentro deste contexto, não há como fugir à tese da viabilidade da presente

ação penal, instaurada para apurar a responsabilidade de diretores da sociedade

Multigás Distribuidora de Gás Ltda pela contabilização, por conta de serviços

prestados, de notas fiscais forjadas, de emissão de Emag Engenharia Ltda, redu­

zindo-se, em conseqüência, a base de cálculo do imposto de renda do ano de

1992. A denúncia, no essencial, arrolando o diretor-presidente e mais três dire­

tores - Abelardo de Lima Puccini, Geraldo Ferreira Muniz, Edson Neves Maia

Filho e Bráulio Bonadiu (fls. 27/28) - destaca:

" ... meados de 1992, no exercício de suas atribuições de adminis­

tradores da sociedade Supergasbrás Distribuidora de Gás Ltda, em pré­vio conluio, mandado falsificar 7 (sete) notas fiscais da Emag Engenha­

ria Ltda, acostadas às fls. 47/53.

Com tal artifício os acusados ludibriaram os agentes do Fisco, re­

duzindo o imposto de renda relativo ao ano-base de 1992, devido pela

supracitada sociedade.

O fato foi apurado no curso do procedimento administrativo

(fls. 27/28)

Colocado o debate nestes exatos termos, data venia, da bem lançada e

exposta tese no v. acórdão, no mínimo precipitado se exterioriza o ato de trancamento da ação penal ainda na fase em que se encontra, sem o fornecimen­

to pela instrução criminal de qualquer adminículo de prova de onde ressaia a

inocência dos envolvidos, dado que a materialidade da infração encontra-se su­

ficientemente afastada em função da Auditoria Fiscal doTesouro Nacional leva­

da a efeito na escrita da empresa e devidamente instrumentalizada em procedi­

mento administrativo que, a todas as luzes, dispensa o inquérito policial.

De outro lado, não é crível que Diretores, inclusive o Diretor-Presidente

(firmatário do contrato de prestações de serviços com a Emag, empresa que teve

as notas fiscais contrafeitas - fls. 75/77), de uma sociedade limitada permane­

çam à frente dos negócios, alheios às questões administrativas, como exposto na

RST], Brasília, a. 11, (119): 593-661, julho 1999.

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644 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

peça vestibular, quando elas, ainda que in thesi, se revestem de grande impor­

tância, pois relativas ao pagamento de imposto de renda, incidente sobre o lu­

cro, diminuído pelo artifício perpetrado.

Não se vislumbra nas circunstâncias qualquer dificuldade ao exercício de

direito de defesa, estando a denúncia, malgrado redigida com economia, perfei­

tamente adequada ao art. 41 do Código de Processo Penal. É evidente que não

há descrição pormenorizada da conduta de cada diretor no evento danoso ao

erário nacional que se viu privado de receita pela diminuição da hipótese de

incidência do imposto de renda, sendo por oportuno, destacar a irrelevância,

nestes casos, do valor em termos quantitativos do prejuízo, mas, apenas, a neces­

sidade de demonstração de sua existência.

De outro lado, o conhecimento ou não da falsidade ou inexatidão do do­

cumento utilizado para redução do tributo, é detalhe que apenas a instrução criminal poderá ministrar. Nos delitos coletivos, o entendimento pretoriano,

mantém-se no sentido de que a descrição pormenorizada da conduta de cada um

dos envolvidos deve ter sua demonstração relegada para a instrução criminal,

sendo, no entanto, exigência fundamental que, para fins de condenação, se deta­

lhe o comportamento de cada um. Neste sentido, os seguintes julgados:

"Criminal. Delito contra a ordem tributária. Lei nº 8.137/90. Em­

presa. Diretor. Denúncia.

1 - Se o fato foi exposto pormenorizadamente pela acusação, não

se torna necessária para o oferecimento e recebimento da denúncia, por

se tratar de crime coletivo, a descrição da conduta de cada um dos dire­

tores da empresa, relegando-se esta demonstração para a instrução cri­

minal.

2 - Precedentes do STF e do ST].

3 - Recurso improvido." (RRC nº 5.896-MG, Sexta Turma, DJ de

03.02.97, p. 785, ReI. Min. Fernando Gonçalves)

"Penal. Denúncia. Crime Societário. Individualização. Responsabi­

lidade.

- Nos crimes de natureza societária, não se há de exigir, na denúncia,

o rigor da individualização da responsabilidade de cada acusado, confor­

me se busca em outros tipos de delito.

- Habeas corpus indeferido." (HC nº 4. 7211RJ, Sexta Turma, DJ de

28.04.97, p. 15918, ReI. Min. William Patterson)

RSTJ, Brasília, a. 11, (119): 593-661, julho 1999.

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JURISPRUDÊNCIA DA SEXTA TURMA 645

Aliás, muito sintomaticamente, em atitude causadora não apenas de

espanto, mas, também, de admiração, o recorrido Abelardo Lima Puccini,

coincidentemente patrocinado pelo mesmo causídico subscritor da petição

inicial, e também Bráulio Bonadiu e Geraldo Ferreira Muniz, nos Habeas

Corpus nºs 4.659 e 6.260, dos quais fui relator, julgados em 3 de novem­

bro de 1996 e 17 de novembro de 1997, postularam o trancamento da ação

penal, por inépcia da denúncia, restando os acórdãos respectivos, assim

ementados:

"Criminal. Delito contra a ordem tributária. Lei nº 8.137/90. Em­

presa. Diretor. Denúncia.

1. Se o fato foi exposto pormenorizadamente pela acusação, não se

torna necessária para o oferecimento e recebimento da denúncia, por se

tratar de crime coletivo, a descrição da conduta de cada um dos diretores

da empresa, relegando-se esta demonstração para a instrução criminal.

2. Precedentes do STF e do STJ.

3. Ordem denegada."

"Criminal. Delito contra a ordem tributária. Lei nº 8.137/90. Em­

presa. Diretor. Denúncia. Aferição de documentos. Dilação probatória não

condizente com a via angusta do writ.

1. Se o fato foi exposto pormenorizadamente pela acusação, não se

torna necessária para o recebimento da denúncia, por se tratar de crime

coletivo, a descrição da conduta de cada um dos diretores da empresa,

relegando-se esta demonstração para a instrução criminal. Precedentes do

STF e do STJ.

2. Aferir se, pelo contrato social, somente o diretor-presidente pode­

ria praticar os atos imputados aos pacientes e que as assinaturas constantes

do contrato de prestação de serviços não seriam dos acusados, é intento

que, por demandar dilação probatória, não condiz com o angusto âmbito

do writ.

3. Ordem denegada."

Para que dúvidas não restem, a este faço juntar, em inteiro teor, os votos

proferidos naquelas assentadas, a eles me reportando.

Em face do exposto, conheço do recurso e lhe dou provimento.

RSTJ, Brasília, a. 11, (119): 593-661, julho 1999.

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646

Relator:

Impetrante:

Advogados:

Impetrada:

Paciente:

REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

"ANEXO

HABEAS CORPUS NQ 4.659 - RJ (Registro nº 96.0027198-4)

Ministro Fernando Gonçalves

Abelardo de Lima Puccini

Arthur Lavigne e outro

Quarta Turma do Tribunal Regional Federal da 2" Re­gião

Abelardo de Lima Puccini

Sustentação Oral: Arthur Lavigne, pelo paciente e Raimundo Francisco Ribeiro de Bonis, Subprocurador-Geral da República

EMENTA: Criminal- Delito contra a ordem tributária - Lei n° 8.137/90. Empresa - Diretor - Denúncia.

1. Se o fato foi exposto pormenorizadamente pela acusação, não

se torna necessária para o oferecimento e recebimento da denúncia, por se tratar de crime coletivo, a descrição da conduta de cada um dos diretores da empresa, relegando-se esta demonstração para a instrução criminal.

2. Precedentes do STF e do STJ.

3. Ordem denegada.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, denegar a ordem. Vo­taram com o Relator os Ministros Anselmo Santiago, William Patterson, Luiz Vicente Cernicchiaro e Vicente Leal.

Brasília-DF,3 de dezembro de 1996 (data do julgamento).

Ministro ANSELMO SANTIAGO, Presidente.

Ministro FERNANDO GONÇALVES, Relator.

Publicado no DJ de 03.03.97.

RSTJ, Brasília, a. lI, (119): 593-661, julho 1999.

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JURISPRUDÊNCIA DA SEXTA TIJRMA 647

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO FERNANDO GONÇALVES: Paulo Freitas Ri­beiro e Arthur Lavigne, advogados nos auditórios da cidade do Rio de Janeiro, impetram habeas corpus, substitutivo de recurso ordinário, em favor de Abelardo de Lima Puccini que estaria a sofrer constrangimento ilegal em virtude de denúncia inepta formulada pelo Ministério Público e acatada integralmente pela Quarta Turma do egrégio Tribunal Regional Federal da 2ª Região.

Segundo o articulado vestibular, por curto período, o paciente exer­ceu a função de Diretor-Presidente do Grupo Supergasbrás, cuidando da parte executiva da empresa, com vinculação ao Planejamento de Estra­tégias de Mercado, sem ligação com problemas administrativos. Não obstante, foi denunciado pela prática do crime de sonegação fiscal, ao en­tendimento da Receita Federal de que contrato por uma empresa do Gru­po com outra, do ramo de engenharia, teve a finalidade de escamotear

impostos, com criação de despesas inexistentes. Em face da autuação, não solucionada no âmbito administrativo, o MP, sem inquérito policial, ofe­receu denúncia genérica contra todos os diretores da empresa, sem descre­ver o valor do tributo e a forma de sonegação.

Afirmou-se, junto ao TRF-2ª Região, a inépcia da peça acusatória e falta de justa causa para ação penal. A ordem foi denegada, dando azo à presente impetração, porque não houve prévia investigação, sendo, por outro lado, vulnerado o princípio da ampla defesa, face aos termos gené­ricos da denúncia, que se apóia em simples autuação fiscal.

Pedem, em conseqüência, após análise da matéria sob o aspecto dou­trinário e jurisprudencial, a concessão da ordem, com trancamento da ação penal.

Com as informações o Presidente do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, Juiz Ney Magno Valadares, encaIIJ,inha, por cópia, o teor do acórdão e outros documentos - fls. 72/73 e i411 09.

A Subprocuradoria Geral da República opina pelo indeferimento

do pedido, porquanto a denúncia atende, si et in quantulll, as prescri­ções do art. 41 do Código de Processo Penal.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO FERNANDO GONÇALVES (Relator): O pa-

RSTJ, Brasília, a. 11, (119): 593-661, julho 1999.

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648 REVISTADO SUPERIORTRIBUNALDE]USTIÇA

ciente foi denunciado como incurso nas penas do art. 1 º, inciso IV, da Lei nº 8.13 7/90, pelo fato de haver a empresa Multigás Distribuidora de Gás Ltda, da qual era diretor, segundo constatação fiscal, decorrente de autua­

ção, forjado notas fiscais de suposta emissão da Emag Engenharia Ltda, por conta de serviços que teriam sido prestados, contabilizando os respec­tivos valores como despesa operacional, com redução indevida da base de incidência do Imposto sobre a Renda. Diz ainda a denúncia (fls. 3/5) que, conforme consignado na cláusula X do contrato social, a diretoria da em­presa goza de amplos poderes administrativos. Faz ainda menção expressa aos valores constantes das notas fiscais tidas como forjadas.

A colenda Quarta Turma do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, pelo voto do eminente Juiz Frederico Gueiros, ao exame do habeas corpus interposto para trancar por falta de justa causa e inépcia da denúncia a ação penal, decidiu, consoante a seguinte ementa:

"'I - Penal. Habeas corpus. Sonegação fiscal. Art. 1°, inciso

IV, da Lei n° 8.137/90. Crime societário. Inépcia da inicial e falta de justa causa. Inocorrência. A denúncia não é inepta quando descreve o

fato típico com as suas principais circunstâncias, contendo os requi­sitos legais e permitindo o exercício do amplo direito de defesa.

Comprovada a materialidade do delito através dos trabalhos investigatórios levados a efeito pela Receita Federal, há justa causa para a ação penal, nos crimes societários a responsabilidade indivi­dual de cada dirigente se estabelece em função de sua culpabilidade, a ser definida no curso da ação penal. A denúncia não precisa, obri­gatoriamente, vir precedida de inquérito policial e decisão conclusi­va do respectivo processo administrativo.

II - Ordem denegada'." (fl. 109)

Não vejo, data venia, como trancar a ação em face do teor da peça acusatória que, a toda evidência, retrata infração à Lei nº 8.137/90 que sanciona a conduta corporificada na redução ou tentativa de redução de tributo mediante utilização de documento que o agente sabia ou devia saber que é falso ou inexato. In casu, a empresa envolvida com a contrafacção de notas fiscais, como forma de reduzir ilegitimamente a base de cálculo do Imposto de Renda, é uma sociedade limitada e o paciente seu diretor.

O fato foi exposto pormenorizadamente, pela acusação, não sendo

necessária para oferecimento e recebimento da denúncia, por se tratar de

RST], Brasília, a. 11, (119): 593-661, julho 1999.

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JURISPRUDÊNCIA DA SEXTA TURMA 649

crime coletivo, a descrição da conduta de cada um dos diretores da empre­

sa relegando-se esta demonstração, como anota Datnásio E. de Jesus, in

Direito Penal Empresarial- Didática - SP - 1995 - p. 63 - para a instru­

ção criminal- STF RTJ 100/115,1011563 e 114/228 e STJRHC nº 2.768

- Sexta Turma - DJ de 16.08.93 - p. 15996.

Não se trata, evidentemente, da adoção descuidada da intolerável

versari in re illicita, mas apenas de atribuir responsabilidade a diretor

de sociedade limitada com poderes de gestão insertos em cláusula

contratual. Em regra, como anota Luiz Mélega, "a ilicitude do ato de

gestão que atrai a sanção, decorre de ato pessoal de determinado admi­

nistrador, não se tornando os demais co-responsáveis, a não ser que te­

nham negligenciado em descumpri-Ios ou que, deles cientes, tenham dei­

xado de agir para impedir a sua prática".

Ora, a Lei nº 8.137/90 não institui responsabilidade objetiva e nisto

o v. acórdão é bastante explícito (fi. 105), mas em seu art. 11 autoriza

concluir que nos denominados crimes societários a responsabilidade

individual de cada dirigente "se estabelece em função de sua culpabilida­

de, a ser definida no curso da ação penal".

O Supremo Tribunal Federal, em caso análogo, conforme acórdão,

cuja ementa foi trazida à colação à fi. 105, pelo voto do Ministro Brossard,

fixou:

"Habeas corpus. Crime contra a ordem tributária. Crime de

autoria coletiva ou conjunta: exportação de madeira serrada de pinus

elliottii como se fosse pallets, para desfrute da imunidade do ICMS.

Trancamento da ação penal: inépcia da denúncia e falta de justa

causa.

1. A denúncia, nos casos de crimes de autoria coletiva ou con­

junta, em especial nos delitos praticadas em sociedade, pode conter

narração genérica dos fatos, sem especificação pormenorizada da

conduta de cada agente, desde que não prejudique o direito de defesa,

segundo jurisprudência do Supremo Tribunal Federal quanto ao art.

41 do CPP. N o caso, a denúncia não é inepta porque descreve o fato

típico com as principais circunstâncias, contém os requisitos legais e

permite o exercício do direito à ampla defesa; não ofende a lei, nem

é obscura ou contrária. 2. Pedido de habeas corpus que não indica

quais os sócios responsáveis pela operação impugnada, a fim de ex-

RSTJ, Brasília, a. 11, (119): 593-661, julho 1999.

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650 REVISTADO SUPERIORTRIBUNALDEJUSTICA

cluir os que são a ela alheios. 3. Quando há, em tese, fato penalmente típico e indícios de autoria razoavelmente demonstrados e superficial­mente comprovados, há justa causa para a ação penal, onde o órgão acusador deve provar os fatos e a culpa dos denunciados ( ... ) (STF, BC nQ 71.788-8, ReI. Min. P. Brossard, in DJ de 04.11.94,p. 29830)."

Cabe, por fim destacar, que o inquérito policial no crime de sonega­ção fiscal não é essencial para o oferecimento da denúncia que pode anco­rar-se em outras peças de informação. Do mesmo modo, não é de mister seja declinado o valor da lesão fiscal, pois esta ocorre com a utilização do documento contrafeito. Ademais, o auto de infração que serviu de base à denúncia, espelha o valor do imposto devido (fi. 59).

Assim sendo, denego a ordem.

VOTO-VOGAL

o SR. MINISTROWILLIAM PATTERSON: Sr. Presidente, já te­nho me manifestado em várias oportunidades a respeito do problema dos

chamados crimes societários. E venho acompanhando a orientação ju­risprudencial do egrégio Supremo Tribunal Federal. Entendo que, real­mente, é muito difícil, no início do processo, com os elementos que são levados a conhecimento do Ministério Público para abertura do inquérito ou da ação penal, divisar, desde logo, a responsabilidade desses agentes.

Penso que no curso da instrução é que deve ser apurada a culpabili­dade de cada um.

No caso dos autos, parece-me que há elementos para acolher como válida a peça de denúncia. O eminente Subprocurador, em sua fala, indi­cou documentos assinados pelo paciente. É assim que me tenho comporta­do a respeito desses crimes coletivos e, por isso, acompanho o eminente

relator.

VOTO-VOGAL

O SR. MINISTRO LUIZ VICENTE CERNICCBIARO: Sr. Presi­

dente, a sustentação oral foi promovida por um dos mais conceituados advogados dos foros brasileiros, especialista em Direito Penal.

Argüi três itens a fim de justificar o pedido e a conclusão do processo na esfera administrativa deve anteceder ao oferecimento da denúncia; em

outras palavras, considerando o procedimento fiscal condição de procedibilidade da ação penal.

RSTJ, Brasília, a. lI, (119): 593-661, julho 1999.

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JURISPRUDÊNCIADASEXTATURMA 651

Data venia, tenho manifestado entendimento contrário. Assim o faço

porque a Constituição da República, ao atribuir as atribuições ao Ministé­

rio Público, fê-lo como o titular privativo da ação penal pública. Ora, se

assim é, não pode ficar condicionado a manifestação do Poder Executivo.

Não há dúvida, o reconhecimento da inexistência da fraude, a inexistência

de conluio, a caracterização de prescrição trazidos da Fazenda são ele­

mentos importantíssimos. Todavia, não cerceiam a atividade do titular da

ação penal.

Tenho sempre dito que há de se fazer distinção entre a decisão admi­

nistrativa e eventual decisão jurisdicional. Fui Relator de um caso em que

rejeitei o acolhimento da ação penal porque no juízo cível, decidindo a mesma situação jurídica, havia sentença com trânsito em julgado não abo­

nando o fato imputado na causa de pedir do Ministério Público. Aqui é diferente. Tenho dito também, quando, na área administrativa, se dá deci­são definitiva, a parte que não se considerar satisfeita, vale-se do mandado

de segurança e, eventualmente, até do habeas corpus. O que vale, portan­

to, é que, em termos derradeiros, somente a decisão judicial pode ser aco­lhida. E a jurisprudência desta Turma é entendendo da inexistência no caso da condição de procedibilidade.

Traz também o eminente Advogado a necessidade de a denúncia in­dividualizar a conduta dos réus, dos acusados. Nesse ponto, estou inteira­

mente de acordo. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, ultima­

mente, tem tido alteração, no sentido de que, mesmo nos chamados crimes societários, nas hipóteses em que há pluralidade subjetiva ou co-autoria,

necessário se faz individualizar, ainda que não exaustivamente, mas de

modo, entretanto, a ensejar que dois princípios constitucionais sejam res­peitados: o contraditório e a defesa plena. A decisão mais recente, publicada

tanto no Diário da Justiça como em um dos volumes dos Informativos, do

mês passado, do Supremo Tribunal Federal de autoria do eminente Minis­

tro Celso de Mello que concedeu liminar em habeas corpus, entendendo

que a denúncia, por não descrever o fato, era inepta. Não concordo, tam­

bém, embora seja opinião generalizada, de se deixar para a instrução even­

tual verificação. Ora, denúncia é instituto de interpretação restrita. Há de

indicar o fato para que haja a defesa. Ninguém é obrigado a se defender. O Ministério Público é obrigado a acusar, a imputar. A denúncia, no caso, parece-me satisfeita; do ponto de vista formal, é necessário que contenha

os elementos do art. 41 do Código de Processo Penal e, materialmente, estar amparada, apoiada em elementos que dêem, em nível de juízo de

probabilidade, indícios de poder ser verdadeira imputação. O inquérito

RST}, Brasília, a. 11, (119): 593-661, julho 1999.

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652 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE]USTIÇA

policial é sempre útil, todavia não se faz necessário. Elemento que me parece dar razão ao acolhimento da denúncia, não obstante a descrição não ser rica, se faz presente. Só pelo fato de ser diretor ninguém pode ser denunciado. Ser diretor é exercício regular de direito. Só pode haver cri­me se a conduta for ilícita. Em se examinando o confronto do aspecto

formal com o aspecto material e, nesse último, juntaram-se contratos, dos quais teriam caracterizado simulação para a expedição de notas fiscais. Conseqüentemente, obter vantagem no Imposto de Renda. Os dois contra­tos às fls. 53/54 e 56/58, envolvendo as respectivas empresas; quem se apresenta para o caso concreto, não como diretor e, sim, como contratante, exatamente em nome de Multigás Distribuidora de Gás Ltda, é Abelardo de Lima Puccini. Das assinaturas aqui constantes uma inacessível, mas a outra, à primeira vista, parece não haver dúvida alguma.

Em razão de haver o fUIllUS boni juris estando caracterizado o fato, ou seja, realização de contratos para simular despesas e com as mesmas obter abatimento no valor do Imposto de Renda, a denúncia é bastante, apta.

Data venia, acompanho o eminente Ministro-Relator."

Relator:

Impetrante:

Impetrada:

Pacientes:

"ANEXO

HABEAS CORPUS NQ 6.260 - RJ (Registro nº 97.0063291-1)

Ministro Fernando Gonçalves

Laércio Guarconi

QuartaTurma do Tribunal Regional Federal da 2ª Região

Geraldo Ferreira Muniz, Daniel de Marco eJosé Fernando Castioni

EMENTA: CriIllinal- Delito contra a ordeIll tributária - Lei n° 8.137/90 - EIllpresa - Diretor - Denúncia - Aferição de docuIllentos­Dilação probatória não condizente COIll a via angusta do writ.

1. Se o fato foi exposto porIllenorizadamente pela acusação, não se torna necessária para o recebimento da denúncia, por se tratar de crime coletivo, a descrição da conduta de cada um dos diretores da empresa, relegando-se esta demonstração para a instrução criIlli­na!. Precedentes do STF e do STJ.

RST], Brasília, a. l1, (119): 593-661, julho 1999.

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~SPRUDÊNCL\DASEX~T,~A_~~~ _____________________ 6_5_3

2. Aferir se, pelo contrato social, somente o diretor-presidente

poderia praticar os atos imputados aos pacientes e que as assinaturas constantes do contrato de prestação de serviços não seriam dos

acusados, é intento que, por demandar dilação probatória, não condiz com o angusto âmbito do writ.

3. Ordem denegada.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da

Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos

e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, denegar a ordem de habeas corpus. Participaram do julgamento os Ministros Anselmo San­

tiago, William Patterson e Luiz Vicente Cernicchiaro. Ausente, justifica­

damente, o Ministro Vicente Leal.

Brasília-DF, 17 de novembro de 1997 (data do julgamento).

Ministro ANSELMO SANTIAGO, Presidente.

Ministro FERNANDO GONÇALVES, Relator.

Publicado no Dl de 09.12.97.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO FERNANDO GONÇALVES:Trata-se de habeas

corpus, substitutivo de recurso ordinário, impetrado contra acórdão do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, denegatório de outra ordem onde

se emprestou validade a denúncia inepta, recebida pela Juíza Federal da

13ªVara da Seção Judiciária do Rio de Janeiro.

Sustenta o impetrante que os pacientes, Geraldo Ferreira Muniz, Daniel de Marco e José Fernando Castioni foram denunciados pelo sim­

ples fato de serem diretores da Empresa Multigás - Distribuidora de Gás

Ltda, asseverando que a denúncia, no único trecho onde a eles se refere, não delimita, de maneira satisfatória, a conduta de cada um, além do que, como se não bastasse o fato de que, de acordo com a cláusula XVII do

contrato social, somente ao diretor-presidente cabia representar a empre­

sa, as assinaturas do contrato de prestação de serviços não são dos pacien­

tes, razões pelas quais, afirma existir motivos suficientes para o trancamento da ação penal.

RSTJ, Brasília, a. 11, (119): 593-661, julho 1999.

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654 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Prestadas as informações (fls. 45/49), a Subprocuradoria Geral da República opina (fls.52/56) pela denegação da ordem.

É o relatório. VOTO

O SR. MINISTRO FERNANDO GONÇALVES (Relator): Os pa­cientes foram denunciados como incursos nas penas do art. 1 º, inciso IV, da Lei nº 8.137/90, pelo fato de haver a empresa Multigás Distribuidora

de Gás Ltda, da qual eram diretores, segundo constatação fiscal, decorren­te de autuação, forjado notas fiscais de suposta emissão da Emag Engenha­ria Ltda, por conta de serviços que teriam sido prestados, contabilizando os respectivos valores como despesa operacional, com redução indevida da base de incidência do Imposto sobre a Renda. Diz ainda a denúncia (fls. 15/17) que, conforme consignado na cláusula X do contrato social, a dire­toria da empresa goza de amplos poderes administrativos.

A colenda QuartaTurma do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, pelo voto do eminente Juiz Frederico Gueiros, ao exame do habeas corpus interposto para trancar por falta de justa causa e inépcia da denúncia a ação penal, decidiu, consoante a seguinte ementa:

"I - Penal - Habeas corpus - Sonegação fiscal - Art. la, in­ciso IV, da Lei na 8.137/90 - Crime societário - Inépcia da inicial e falta de justa causa - Inocorrência - A denúncia não é inepta quando descreve o fato típico com as suas principais circunstâncias, conten­

do os requisitos legais e permitindo o exercício do amplo direito de defesa - Nos crimes de autoria coletiva ou conjunta, em especial nos delitos praticados em sociedade, pode a denúncia conter narração genérica dos fatos, sem especificação pormenorizada da conduta de cada agente, devendo a participação individual ser apurada no curso da ação - Comprovada a materialidade do delito através dos traba­lhos investigatórios levados a efeito pela Receita Federal, há justa causa para a ação penal - O trancamento da ação, nestes casos, e pelos fundamentos de inépcia da denúncia e falta de justa causa, re­

presentaria uma absolvição antecipada.

II - Ordem denegada." (fl. 49)

Não vejo, data venia, como trancar a ação em face do teor da peça acusatória que, a toda evidência, retrata infração à Lei nº 8.l37/90 que sanciona a conduta corporificada na redução ou tentativa de redução

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JURISPRUDÊNCIA DA SEXTA TURMA 655

de tributo mediante utilização de documento que os agentes sabiam ou deviam saber que é falso ou inexato. In casu, a empresa envolvida com a contrafacção de notas fiscais, como forma de reduzir ilegitimamente a base de cálculo do imposto de renda, é uma sociedade limitada e os pacientes seus diretores.

O fato foi exposto pormenorizadamente, pela acusação, não sendo necessária para oferecimento e recebimento da denúncia, por se tratar de crime coletivo, a descrição da conduta de cada um dos diretores da empresa relegando-se esta demonstrqção, como anota Da1D.ásio E. de Jesus, in Direito Penal Empresarial, Didática, SP, 1995, p. 63, para a instrução criminal, STF RTJ 100/115,1011563 e 114/228 e STJ RHC n Q

2.768, Sexta Turma, DJ de 16.08.93, p. 15996.

Não se trata, evidentemente, da adoção descuidada da intolerável versari in re illicita, mas apenas de atribuir responsabilidade a diretor de sociedade limitada com poderes de gestão insertos em cláusula

contratual. Em regra, como anota Luiz Mélega, "a ilicitude do ato de gestão que atrai a sanção, decorre de ato pessoal de determinado admi­nistrador, não se tornando os demais co-responsáveis, a não ser que te­nham negligenciado em descumpri-Ios ou que, deles cientes, tenham dei­xado de agir para impedir a sua prática".

Ora, a Lei nº 8.137/90 não institui responsabilidade objetiva e nis­to o v. acórdão é bastante explícito (fl. 47), mas em seu art. 11 autoriza concluir que nos denominados crimes societários a responsabilidade in­dividual de cada dirigente "se estabelece em função de sua culpabilidade, a ser definida no curso da ação penal."

O Supremo Tribunal Federal, em caso análogo, conforme acórdão, cuja ementa foi trazida à colação à fl. 105, pelo voto do Ministro Brossard, fixou:

"Habeas corpus. Crime contra a ordem tributária. Crime de autoria coletiva ou conjunta: exportação de madeira serrada de pinus elliotti como se fosse pallets, para desfrute da imunidade do ICMS. Trancamento da ação penal: inépcia da denúncia e falta de justa causa.

1. A denúncia, nos casos de crimes de autoria coletiva ou conjunta, em especial nos delitos praticados em sociedade, pode conter narração genérica dos fatos, sem especificação pormenorizada da conduta de cada agente, desde que não prejudique o direito de defesa, segundo jurisprudência do Supremo Tribunal Federal quanto ao art. 41 do CPP. No caso, a denúncia não é inepta porque descreve

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o fato típico com as principais circunstâncias, contém os requisitos legais e permite o exercício do direito à ampla defesa; não ofende a lei, nem é obscura ou contrária. 2. Pedido de habeas corpus que não indica quais os sócios responsáveis pela operação impugnada, a

fim de excluir os que são a ela alheios. 3. Quando há, em tese, fato penalmente típico e indícios de autoria razoavelmente demonstra­

dos e superficialmente comprovados, há justa causa para a ação pe­nal, onde o órgão acusador deve provar os fatos e a culpa dos de­

nunciados ( ... ) (STF, BC n° 71.788-8, ReI. Min. P. Brossard, in DJ de 04.11. 94, p. 29830)."

Cabe, por fim destacar, que as alegações de que, pelo contrato soci­

al, somente o diretor-presidente poderia praticar os atos imputados aos pacientes e que as assinaturas constantes do contrato de prestação de serviços não seriam dos pacientes, não merecem acolhida, na via eleita, porquanto demandam dilação probatória não condizente com o angusto âmbito do writ. A propósito:

"Penal e Processual Penal. Habeas corpus contra decisão monocrática que indefere de plano revisão criminal. Dilação probatória incompatível com a via eleita. Falta dos pressupostos contidos no art. 621 e incisos do CPP.

1 - Da leitura do art. 621 e incisos do CPP, constata-se das expressões ('evidência dos autos', 'depoimentos, exames ou docu­mentos', 'novas provas', etc.) contidas no elenco autorizativo da Re­visão Criminal, está todo ele arrimado em elementos fáticos probatórios, razão pela qual, qualquer juízo acerca dos motivos que levam ao indeferimento de plano do feito revisional, esbarram na assertiva de que é intento que refoge ao âmbito angusto da via eleita.

2 - De outra parte, ainda que assim não fosse, conforme se extrai dos documentos acostados às informações, não há se falar em cerceamento de defesa, porquanto, para a propositura de revisão criminal, não é suficiente mero pedido de retificação da sentença condenatória, mas demonstração inequívoca das hipóteses contidas no art. 621 e incisos do CPP.

3 - Ordem denegada." (BC n° 5.868-SP, DJ de 20.10.97, ReI. Min. Fernando Gonçalves).

Ante o exposto, denego a ordem.

RSTJ, Brasília, a. 11, (119): 593-661, julho 1999.

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]URISPRUDÊNCIADA SEXTA TURMA 657

VOTO

O SR. MINISTRO LUIZ VICENTE CERNICCHIARO: Sr. Presi­dente, continuo entendendo, o devido processo legal, está na nossa Consti­tuição: distingue perfeitamente imputação de instrução. O réu não tem obri­gação de se defender; tem o direito de reputar; obrigação de apontar a infra­ção penal de modo a ensejar a defesa, é do Ministério Público. Com esse ponto, a jurisprudência do Supremo vem se modificando para exigir a indi­cação da conduta de cada um, o limite de facilitar e ensejar a defesa. Há, entretanto, uma particularidade: ouvi do douto voto de V. Exa., ao ler a de­núncia, ao mencionar que os diretores ora pacientes, nessa qualidade, acor­daram em praticar condutas que levassem a simular atos de comércio para, com isso, extrair vantagem de ordem tributária. Parece-me ser suficiente, ou seja, em face do art. 29, quem de qualquer modo concorre para o crime incide nas penas nele cominadas.

Por essa particularidade, acompanho V. Exa.

Relator:

Recorrente:

Advogado:

Recorrido:

Advogados:

RECURSO ESPECIAL NQ 181.405 - SP (Registro n Q 98.0050058-8)

Ministro LuizVicente Cernicchiaro

Adilson Rogério Piovani

José Geraldo Simioni

Luiz Carlos de Souza

José Eduardo Ferreira Pimont e outros

EMENTA: REsp - Locação - Relação locatícia desconstituída - Bens deixados pelo inquilino no imóvel.

Os móveis e utensílios deixados, no imóvel, pelo inquilino devem ser entregues à guarda de depositário. O instituto do "abandono" reclama comprovação do animus.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas

RSTJ, Brasília, a. 11, (119): 593-661, julho 1999.

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658 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

taquigráficas constantes dos autos, por unanimidade, conhecer do recurso e lhe dar provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Votaram com o Sr. Ministro-Relator os Srs. Ministros Anselmo Santiago e Fernando Gonçalves. Ausentes, por motivo de licença, o Sr. Ministro William Patterson e, justifica­damente, o Sr. Ministro Vicente Leal.

Brasília-DF,5 de novembro de 1998 (data do julgamento).

Ministro FERNANDO GONÇALVES, Presidente.

Ministro LUIZ VICENTE CERNICCHIARO, Relator.

Publicado no DJ de 14.12.98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO LUIZ VICENTE CERNICCHIARO: Recurso espe­cial interposto por Adilson Rogério Piovani com fundamento nas alíneas a e c do permissivo constitucional.

Narram os autos tratar-se de ação de despejo por falta de pagamento cumulada com cobrança de aluguéis, sob a alegação de ofensa a vários artigos do Código Civil, Processual Civil e artigo 23, II, da Lei de Locação (Lei nº 8.245/91), além de divergência jurisprudencial.

A discussão cinge-se em torno da data efetiva em que se deve considerar rescindida a locação, para os efeitos da retomada do bem, assim como para a responsabilização do inquilino pelos aluguéis vencidos durante o período de vigência da relação locatícia.

Aduz o Recorrente restar finda a obrigação no termo convencionado em juízo quando da audiência de conciliação e julgamento, muito embora as chaves dos imóveis tenham sido entregues em data anterior.

O v. acórdão entendeu pelo término da relação ex locato quando da entre­ga das chaves, não ficando o pacto avençado prorrogado pela falta de retirada dos bens deixados no imóvel pelo inquilino.

Entendeu, ainda, o egrégio Segundo Tribunal de Alçada do Estado de São Paulo pela legitimidade do locador em assenhorar-se das coisas "abandonadas" à luz do artigo 592 do Código Civil.

Salienta o recorrente, que tem como profissão guincheiro, entendendo es­tar adstrito a entregar o bem imóvel locado no estado em que o recebeu (art. 23 da Lei nº 8.245/91), ficando, por conseqüência a posse do imóvel condicionada à retirada dos bens.

RSTJ, Brasília, a. 11, (119): 593-661, julho 1999.

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]URISPRUDÊNCIADA SEXTA TURMA 659

Irresigna-se, ainda, quanto à forma encontrada pelo Colegiado ao aplicar­lhe dispositivo "estranho" na sua fundamentação, uma vez que jamais poderiam incorporar-se ao patrimônio do locador bens pertencentes a terceiros - veículos acidentados e recolhidos por determinação de autoridades competentes.

Contra-razões (fls. 336/343).

Despacho admitindo o recurso somente no tocante à alínea a (fls. 345/346).

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO LUIZVICENTE CERNICCHIARO (Relator): O v. acórdão hostilizado estampa a seguinte ementa:

"Despejo por falta de pagamento c. c cobrança - Entrega das chaves - Bens de propriedade do inquilino deixados no prédio locado - Circuns­tância que não implica na continuidade de relação ex locato já rompida­Recurso improvido." (fl. 301).

Irrepreensível a decisão paulista no concernente ao término da relação ex locato.

Entregues as chaves, finda-se a relação jurídica, até mesmo pelo exaurimento da situação fática envolvedora de um lado o locador e de outro o locatário. A conclusão é lógica não merecendo maiores comentários.

Com relação à entrega das chaves o ponto nodal é a vontade das partes de liberar-se do vínculo locatício. A entrega corresponde ao aperfeiçoamento das vontades, não obstante assistir ao locatário prazo superior para a mencionada entrega. A esse respeito ilustro caso semelhante do qual fui relator:

"REsp -Administrativo - Imóvel funcional- Ocupação - Data­A ocupação do imóvel se dá quando entregues as chaves, ato simbólico de autorizar o uso do prédio. Pouco importa que, nessa data, o imóvel estivesse em reparos. O vínculo jurídico aperfeiçoou-se na data de con­clusão do consentimento do proprietário." (REsp nº 76.800-DF, julga­do em 12 de fevereiro de 1996).

No tocante ao "assenhoramento" dos bens deixados no imóvel locado, divirjo do entendimento esposado pelo douto Tribunal de Alçada, até mesmo por violação expressa ao artigo 65 da Lei do Inquilinato (Lei nº 8.245/91), verbis:

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660 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

"Art. 65. Findo o prazo assinado para a desocupação, contado da data da notificação, será efetuado o despejo, se necessário com emprego de força, inclusive arrombamento.

§ 1 º Os móveis e utensílios serão entregues à guarda de depositário, se não os quiser retirar o despejado.

§ 2º O despejo não poderá ser executado até o trigésimo dia seguinte ao do falecimento do cônjuge, ascendente, descendente ou irmão de qual­quer das pessoas que habitem o imóvel."

O referido artigo trata da execução compulsória em caso de despejo. No caso sub judice a entrega das chaves foi consensual, não obstando, contudo, a sua aplicabilidade, senão vejamos:

- O ex-locatário deve ser intimado, pessoalmente, para retirar os bens deixados no imóvel, através de qualquer uma das formas preconiza­das no art. 238 do CPC.

- Após o transcurso do prazo sem manifestação da parte, cabe ao proprietário ou oficial relacionar os bens e removê-los, entregando-os à

guarda de um depositário. Nada impede que o juiz nomeie o ex-locador como depositário, desde que este aceite o encargo.

- Obviamente, todas as despesas realizadas para a efetivação da guar­da dos bens serão pagas pelo responsável.

Não pode o juiz instituir a figura do assenhoramento como o fez à fi. 302, verbis:

"Assinale-se que o simples fato de terem sido deixados nos imóveis locados bens de propriedade do inquilino não implica na continuidade de vínculo locatício já rompido, mas apenas autoriza uma de duas soluções: ou o proprietário transfere tais bens a um depósito público ou particular e cobra de seu ex-inquilino as despesas com remoção e armazenamento, ou então se assenhora das coisas abandonadas, à luz do que prescreve o art. 592 do Código Civil."

O Código Civil disciplina o instituto em seu artigo 592, verbis:

"Quem se assenhorar de coisa abandonada, ou ainda não apropriada, para logo lhe adquire a propriedade, não sendo essa ocupação defesa por lei."

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JURISPRUDÊNCIA DA SEXTA TURMA 661

Ora, o alegado assenhoramento é, indubitavelmente, defeso em lei face ao disposto no artigo 65, § 1 º, da Lei do Inquilinato. Ademais, tal incorporação

patrimonial caracteriza verdadeira legitimação da apropriação indébita, haja vista ser o Recorrente guincheiro e haver em sua posse bens de terceiros, além de seus apetrechos indispensáveis à consecução de seu labor.

Outro aspecto a ser analisado é o conceito de bem abandonado.

Para caracterizar-se o abandono é indispensável a renunciar ao dOIDinus

da res. Esta intenção há de ser patente e insofismável para evidenciar desapreço e a desafetação do bem ao patrimônio do senhorio. Torna-se coisa sem dono.

Obviamente não foi o que ocorreu no caso em exame. A propósito, grande parte dos bens deixados no imóvel locado pertencem a terceiros não podendo serem tidos como abandonados e, quiçá, incorporados pelo instituto da ocupa­ção como entendeu o v. acórdão a quo. Esse entendimento traz complicações extra contrato locatício, ao passo que se assenhora o locador de bens pertencen­

tes a proprietários direto e indireto, sem dar ouvidos aos seus legítimos senho­res.

Por último, a manutenção da figura do assenhoramento aplicada ao caso

vertente viola não somente preceitos infraconstitucionais, assim como as garan­

tias constitucionais do direito à propriedade assegurados na Carta Política.

Isto posto, conheço do recurso e lhe dou provimento para cassar o v. acórdão.

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