28
Jurisprudência da Terceira Seção

Jurisprudência da Terceira Seção - Superior Tribunal de ... · ambiental permanente, com queimada e cozimento de carvão, sem a devi da autorização dos órgãos competentes

  • Upload
    others

  • View
    0

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Jurisprudência da Terceira Seção - Superior Tribunal de ... · ambiental permanente, com queimada e cozimento de carvão, sem a devi da autorização dos órgãos competentes

Jurisprudência da Terceira Seção

Page 2: Jurisprudência da Terceira Seção - Superior Tribunal de ... · ambiental permanente, com queimada e cozimento de carvão, sem a devi da autorização dos órgãos competentes
Page 3: Jurisprudência da Terceira Seção - Superior Tribunal de ... · ambiental permanente, com queimada e cozimento de carvão, sem a devi da autorização dos órgãos competentes

JURISPRUDÊNCIA DA TERCEIRA SEÇÃO

CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 33.511 - MG (Registro n. 2001.0131061-5)

Relator:

Autora:

Réu:

Suscitante:

Suscitado:

Ministro Paulo Gallotti

Justiça Pública

Roberto Luiz de Paula Freitas

Juízo Federal da 3.a Vara de Juiz de Fora - SJ/MG

Juízo de Direito de Além Paraíba-MG

421

EMENTA: Penal - Conflito de competência - Desmatamento e queimada de aproximadamente 25 hectares - Propriedade parti­cular - Inexistência de autorização dos órgãos competentes - Área de preservação permanente sujeita à fiscalização e controle do lhama.

1. Compete à Justiça Federal processar e julgar a ação penal em que se apura a prática de delito contra o meio ambiente, previsto na Lei n. 9.605/1998, consistente no desmatamento, sem autorização, de área de preservação permanente sujeita à fiscalização do Ibama.

2. Conflito conhecido para declarar a competência do Juiz Fe­deral da 3'" Vara de Juiz de Fora, o suscitante.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo­tos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, conhecer do con­flito e declarar competente o suscitante, Juízo Federal da 3.a Vara de Juiz de Fora - SJ/MG, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Os Srs. Minis­tros Fontes de Alencar, Vicente Leal, Fernando Gonçalves, Gilson Dipp e Hamilton Carvalhido votaram com o Sr. Ministro-Relator. Ausentes, oca­sionalmente, os Srs. Ministros Felix Fischer e Jorge Scartezzini.

Brasília-DF, 14 de agosto de 2002 (data do julgamento).

Ministro Paulo Gallotti, Relator.

Publicado no DI de 24.02.2003.

RELATÓRIO

o Sr. Ministro Paulo Gallotti: Versam os autos sobre conflito negati­vo de competência entre o Juiz Federal da 3.a Vara de Juiz de Fora e o Juiz

RST}, Brasília, a. 15, (170): 419-445, outubro 2003.

Page 4: Jurisprudência da Terceira Seção - Superior Tribunal de ... · ambiental permanente, com queimada e cozimento de carvão, sem a devi da autorização dos órgãos competentes

422 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

de Direito de Além Paraíba, no Estado de Minas Gerais, relativamente ao

inquérito policial instaurado contra Roberto Luiz de Paula Freitas para apu­rar a prática do delito referido no artigo 39 da Lei n. 9.605, de 12.02.1998,

em razão de ter sido surpreendido pela Polícia Militar promovendo

desmatamento na Fazenda Bom Sossego, de propriedade particular, de apro­ximadamente 25 ha (vinte e cinco hectares) de área de preservação

ambiental permanente, com queimada e cozimento de carvão, sem a devi­da autorização dos órgãos competentes.

O Juízo de Direito, acolhendo o parecer do Ministério Público Esta­dual, declinou de sua competência em favor da Justiça Federal.

Esta, por sua vez, suscitou o presente conflito, com base na manifes­tação ministerial de fls. 12/16, assim resumida, no que interessa:

"Vindo os autos à apreciação do Ministério Público Federal, hou­ve inicialmente uma requisição pela confecção de laudo pericial, que

afirmou ser a área desmatada de propriedade particular, situada na zona

rural do município de Além Paraíba.

( ... )

Entende o Ministério Público Federal que a Justiça Federal não possui competência para apreciar o delito objeto do presente inquéri­

to policial.

( ... )

A Lei n. 9.605/1998 não fez referência expressa à competência da Justiça Federal para o processo e julgamento dos crimes ali pre­

vistos. Desta forma, a competência da Justiça Federal, nos exatos ter­

mos do artigo 109, IV, da Constituição Federal, somente se firma quan­do a infração penal for cometida em detrimento de bens, serviços ou

interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas pú­

blicas.

Assim, a competência da Justiça Federal tem de ser analisada no caso concreto, sendo irrelevante a mera capitulação do evento crimi­

noso em um dos artigos da Lei n. 9.605/1998.

Nem mesmo o fato do Ibama possuir atribuição para autuar o

autor de desmatamento determinaria a competência federal na maté­

ria, e isto é assim porque a proteção do meio ambiente é matéria de

competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos

RST], Brasília, a. 15, (170): 419-445, outubro 2003.

Page 5: Jurisprudência da Terceira Seção - Superior Tribunal de ... · ambiental permanente, com queimada e cozimento de carvão, sem a devi da autorização dos órgãos competentes

JURISPRUDÊNCIA DA TERCEIRA SEÇÃO 423

Municípios. Exemplo disto é que a autuação existente no caso concre­

to foi lavrada pelo Instituto Estadual de Florestas - IEF.

c·· .) Na verdade, o interesse federal estaria presente em delitos pra­

ticados contra a flora, quando o ato criminoso houver sido praticado

em áreas protegidas pelo Poder Público Federal e de responsabilida­de direta federal.

Por outras palavras, o delito teria de ocorrer dentro dos limites,

ou entorno, de Unidade de Conservação, ou APA Federal.

E isto é assim porque a criação de espaços especialmente prote­gidos também é competência comum atribuída a todos os entes federa­tivos. Eis as disposições contidas no artigo 9.Q. da Lei n. 6.938/1981:

'Art. 9.Q.. São Instrumentos da política nacional de meio am­

biente:

COmissis) ...

IV - a criação de espaços territoriais especialmente prote­gidos pelo Poder Público Federal, Estadual e Municipal, tais

como áreas de proteção ambiental, de relevante interesse ecoló­gico e reservas extrativistas.'

Portanto, pelo exame dos autos, entende o Ministério Público Fe­deral que não restou demonstrado o efetivo interesse da União, pois evidenciado que a suposta infração ocorreu em terras particulares, não

declaradas como de especial proteção ambiental por qualquer ente fe­deral.

Nem mesmo o fato do desmatamento investigado haver eventual­mente atingido vegetação de Mata Atlântica seria determinante da competência federal, pois a Constituição Federal considerou a Mata Atlântica como patrimônio nacional, o que não significa pertencer ela ao patrimônio da União. No caso, patrimônio nacional é um bem de interesse de todos os entes federativos, que devem assegurar sua preser­vação."

Instada, a Subprocuradoria Geral da República opinou pela competên­cia da Justiça Federal.

Relatei.

RSTJ, Brasília, a. 15, (170): 419-445, outubro 2003.

Page 6: Jurisprudência da Terceira Seção - Superior Tribunal de ... · ambiental permanente, com queimada e cozimento de carvão, sem a devi da autorização dos órgãos competentes

424 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

VOTO

O Sr. Ministro Paulo Gallotti (Relator): A partir de 1998, com a edi­ção da Lei n. 9.605/1998, os delitos contra o meio ambiente passaram a ter disciplina própria, não se definindo contudo a Justiça competente para co­nhecer das respectivas ações penais, certamente em decorrência do contido nos artigos 23 e 24 da Constituição Federal, que estabelecem ser da com­

petência comum da União, Estados, Distrito Federal e Municípios prote­ger o meio ambiente, preservando a fauna, bem como legislar concorrente­mente sobre essas matérias.

Resta, portanto, verificar, no caso, se o delito teria sido praticado em detrimento de bens, serviços ou interesse da União, a teor do disposto no artigo 109, IV, da Carta Magna, de forma a firmar ou não a competência da Justiça Federal.

A própria descrição dos fatos está a indicar que se encontra presente

essa hipótese, razão pela qual cabe à Justiça Federal o processo e julgamen­to do presente feito.

A propósito, confira-se o seguinte trecho do parecer da Dra. Cláudia Sampaio Marques, Subprocuradora-Geral da República, verbis:

"No entanto, muito embora a área pertença ao particular, é certo que trata-se de área de preservação permanente, sujeita à fiscalização e controle pelo Ibama, órgão integrante do Poder Executivo Federal.

Os crimes contra o meio ambiente não são de competência exclu­siva da Justiça Federal ou da Justiça Estadual 'Isto porque a Constitui­ção Federal considerou ser da competência comum da União, dos Es­tados, do Distrito Federal e dos Municípios proteger o meio ambiente, explicitando o combate à poluição e a preservação das florestas, da fauna e da flora' (Nicolao Dino de Castro e Costa Neto, Ney de Barros Bello Filho e Flávio Dino de Castro e Costa, Crimes e Infra­ções Administrativas Ambientais, Editora Brasília Jurídica, 2000, p. 122).

Para que a Justiça Federal processe e julgue crimes contra a flora e a fauna é necessário que estes sejam praticados 'em detrimento de

bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas' (art. 109, IV, da CF).

No caso concreto, o delito foi praticado contra serviço da União, na medida em que lhe compete privativamente, através de seus órgãos,

RST], Brasília, a. 15, (170): 419-445, outubro 2003.

Page 7: Jurisprudência da Terceira Seção - Superior Tribunal de ... · ambiental permanente, com queimada e cozimento de carvão, sem a devi da autorização dos órgãos competentes

JURISPRUDÊNCIA DA TERCEIRA SEÇÃO 425

o combate aos delitos cometidos em florestas de preservação perma­nente, a teor do artigo 3Q

, § lQ, da Lei n. 4.771/1965: 'a supressão total

ou parcial de florestas de preservação permanente só será admitida

com prévia autorização do Poder Executivo Federal, quando for neces­

sária à execução de obras, planos, atividades ou projetos de utilidade

pública ou interesse social'.

Estudando este tema, ensina Nicolao Dino de Castro e Costa Neto que,

'De igual sorte, as florestas de domínio privado. Também em

relação a estas não existe a competência privativa da União para

legislar, tampouco a exclusividade do exercício do poder de po­

lícia. Entretanto, o Código Florestal, no artigo 19, com a reda­

ção dada pela Lei n. 7.803/1989, deixou patenteado o interesse

federal na questão, ao prever que a utilização de qualquer tipo de

formação florestal depende de aprovação prévia do lbama, 'bem

como da adoção de técnicas de condução, exploração, reposição

florestal e manejo compatíveis com os variados ecossistemas que

a cobertura arbórea forme'.

Assim, mesmo que os Estados detenham parcela do poder de

polícia em relação às reservas florestais legais em áreas integran­

tes de seu território, presente estará o interesse federal, traduzi­

do na previsão legal, expressa e indeclinável, de atuação do

lbama, no que concerne ao controle da utilização racional de tais

ecossistemas. Daí pode-se chegar à conclusão de que competen­

te será a Justiça Federal para processar e julgar as infrações cujo

objeto material sejam florestas, de preservação permanente ou

não, naturais ou plantadas, públicas ou de domínio privado'. (ob.

cit., p. 125).

A lesão, na hipótese, não se configura necessariamente contra bem

da União, mas contra seu serviço, hipótese que se enquadra perfeita­

mente na competência da Justiça Federal, a teor do artigo 109, IV, da

Constituição Federal.

Além disso, é inegável o interesse prevalente da União na preser­

vação desses bens, tanto que atribuiu a um ente seu fiscalizar o cum­

primento da legislação pertinente.

RSTJ, Brasília, a. 15, (170): 419-445, outubro 2003.

Page 8: Jurisprudência da Terceira Seção - Superior Tribunal de ... · ambiental permanente, com queimada e cozimento de carvão, sem a devi da autorização dos órgãos competentes

426 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Voltando às lições de Nicolao Dino de Castro e Costa Neto,

'Dessa forma, prevendo a lei, por exemplo, o exercício do poder de polícia dos órgãos federais, as condutas que implicarem

em violação das atividades administrativas das quais estes estive­rem incumbidos estarão submetidas à competência jurisdicional da Justiça Federal.' (ob. cit., p. 124)." (fls. 22/25).

Pelo exposto, conheço do conflito e declaro a competência do Juízo Federal da 3l1. Vara de Juiz de Fora-MG, o suscitante.

É o meu voto.

CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 34.790 - PA (Registro n. 2002.0038567-6)

Relator:

Autora:

Réus:

Ministro Hamilton Carvalhido

Justiça Pública

Alberto Marques do Nascimento e Iracema Cardoso Rodri­gues

Suscitante: Alberto Marques do Nascimento

Advogados: Rita Simone Lopes Lucas e outros

Suscitados: Juízo Federal da laVara da Seção Judiciária do Estado do Pará e Juízo Auditor da Justiça Militar do Estado do Pará

EMENTA: Conflito de competência - Penal - Crime praticado por militar e civil contra civil - Crime militar - Ocorrência - Uni­dade de processo - Impossibilidade - Inexistência de crime a ser

processado e julgado na Justiça Federal - Concessão de habeas corpus de ofício.

1. "Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os po­

liciais militares e bombeiros militares nos crimes militares, defini­dos em lei, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças." (arti­go 125, § 4J!., da Constituição da República).

RSTJ, Brasília, a. 15, (170): 419-445, outubro 2003.

Page 9: Jurisprudência da Terceira Seção - Superior Tribunal de ... · ambiental permanente, com queimada e cozimento de carvão, sem a devi da autorização dos órgãos competentes

JURISPRUDENCIA DA TERCEIRA SEÇÃO 427

2. "Compete à Justiça Estadual Militar processar e julgar o po­licial militar pela prática do crime militar, e à Comum, pela práti­ca do crime comum simultâneo àquele." (Súmula do Superior Tri­bunal de Justiça, Enunciado n. 90).

3. Em inexistindo lesão direta a bens, serviços ou interesses da União Federal, de suas autarquias ou empresas públicas, é de se re­conhecer a competência da Justiça Comum Estadual para a apura­ção de responsabilidade penal, mormente quando da conduta delituosa resultar prejuízo tão-somente a particular. Precedentes.

4. Conflito de competência conhecido para declarar competen­te para conhecer do fato criminoso imputado ao denunciado Alberto Marques do Nascimento o Juízo Auditor da Justiça Militar do Esta­do do Pará. Habeas corpus concedido de oficio para anular ab initio o processo instaurado contra a denunciada Iracema Cardoso Rodrigues, com a conseqüente remessa dos autos ao Juízo Estadual com competência.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos, em que são partes as aCIma indicadas, acordam os Srs. Ministros da Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, conhecer do conflito e declarar competente o Suscitado, Juízo Auditor da Justiça Militar do Estado do Pará, quanto ao réu Alberto Marques do Nascimento e, quanto à ré Iracema Cardoso Rodrigues, conceder o habeas corpus de ofício para anular o processo ab initio com remessa dos autos à Justiça Estadual, nos termos do voto do Sr. Ministro­-Relator. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Jorge Scartezzini, Paulo Gallotti, Laurita Vaz, Paulo Medina, Fontes de Alencar e Gilson Dipp. Au­sente, ocasionalmente, o Sr. Ministro José Arnaldo da Fonseca.

Brasília-DF, 9 de abril de 2003 (data do julgamento).

Ministro Hamilton Carvalhido, Relator.

Publicado no DJ de 05.02.2003.

RELATÓRIO

o Sr. Ministro Hamilton Carvalhido: Conflito de competência susci­tado pelo denunciado Alberto Marques do Nascimento, em face do Juízo da

RSTJ, Brasília, a. 15, (170): 419-445, outubro 2003.

Page 10: Jurisprudência da Terceira Seção - Superior Tribunal de ... · ambiental permanente, com queimada e cozimento de carvão, sem a devi da autorização dos órgãos competentes

428 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

I li. Vara Federal da Seção Judiciária do Estado do Pará e do Juízo Auditor da Justiça Militar do Estado do Pará, nos seguintes termos:

"C·· .) Que o Requerente, em 31.01.2001, fora denunciado pela Procura­

doria da República, como incurso no artigo 316, § 2.2., c.c. art. 29, ambos do Código Penal Brasileiro, estando o processo com data marcada para oitiva de testemunha de acusação em 28.05.2002, con­forme se comprova com as xerocópias em anexo, cujo processo tramita na 4l1. Vara Penal Federal da Seção Judiciária do Estado do Pará.

Tal denúncia fora baseada em dados colhidos em procedimento administrativo promovido junto à Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos - ECT, onde sequer o Suplicante fora chamado para pres­tar quaisquer esclarecimentos, em total afronta ao princípio constitu­cional da ampla defesa.

Em contrapartida, foi instaurado inquérito policial militar e pos­teriormente conselho de disciplina, no qual fora absolvido por insu­ficiência de provas que levasse a comprovação de envolvimento mili­tar no crime suscitado.

Que, com base no que fora apurado em IPM, o ora requerente também fora denunciado pela Justiça Militar Estadual do Pará, como incurso no artigo 251 do Código Penal Militar, sendo a peça inicial recebida pelo Juiz-Auditor, reconhecendo dessa maneira sua competên­cia para julgamento do feito, estando o processo em fase de oitiva de testemunhas de acusação.

A processualística penal brasileira ampara o Princípio do ne bis in idem, segundo o qual ninguém pode ser punido duas vezes pelo mesmo fato, aplicando-se ao Direito Penal material e Processual, evi­tando o trâmite paralelo de dois processos idênticos.

Ressalta-se, Ex.", que apesar da qualificação jurídica no proces­so em voga ser diversa da qualificação dada na esfera federal, o fato é o mesmo, ensejando a litispendência.

Isto posto, requer:

1. Que ambos os processos tenham sua instrução suspensa, até decisão final desse Tribunal;

2. Que seja oficiada a 411. Vara Federal, Seção Judiciária do Esta­do do Pará, bem como a Auditoria Militar Estadual do Pará, para que

RST], Brasília, a. 15, (170): 419-445, outubro 2003.

Page 11: Jurisprudência da Terceira Seção - Superior Tribunal de ... · ambiental permanente, com queimada e cozimento de carvão, sem a devi da autorização dos órgãos competentes

JURISPRUDÊNCIA DA TERCEIRA SEÇÃO 429

prestem as devidas informações acerca dos respectivos processos de números 2000.011353-4 e 102/2001;

3. Requer mais que, após proferida a decisão, seja a mesma re­metida às autoridades competentes, para executá-la, fazendo assim a verdadeira Justitia." (fls. 2/3).

o Ministério Público Federal se manifestou pelo conhecimento do conflito para que seja declarada a competência da Justiça Militar para pro­cessar e julgar Alberto Marques do Nascimento (militar), declarando-se competente a Justiça Comum para o julgamento de Iracema Cardoso Rodrigues, cidadã civil.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Hamilton Carvalhido (Relator): Sr. Presidente, cons­ta dos autos que o suscitante Alberto Marques do Nascimento e a denun­ciada Iracema Cardoso Rodrigues estão sendo processados na Justiça Fe­deral, pela prática dos seguintes fatos:

"( ... )

'Trata-se de Procedimento Administrativo, instaurado no âmbito desta Procuradoria da República, com base em cópias xerográficas do Processo Administrativo n. 264, de 03.02.1999, enviadas pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos - ECT, para apurar a responsabi­lidade penal dos ora denunciados.

Consta da peça informativa que, no dia 03.02.1998, Elizeu Bentivi Braga, funcionário da empresa Neves Flipper Ltda, compare­ceu no Centro de Avaliação Técnica dos Bombeiros - CAT para efe­tuar o pagamento da taxa de vistoria anual do citado estabelecimento comercial, sendo atendido pelo denunciado Alberto Marques do Nas­cimento, 3.Q. SGT BM, que exercia a função de protocolista da Dire­toria de Serviços Técnicos do CBMP.

O valor informado pelo denunciado Alberto Marques do Nasci­mento foi de R$ 198,90 (cento e noventa e oito reais, e noventa cen­tavos), que foi pago no Posto Avançado dos Correios, localizado no mesmo prédio do CAT, sendo atendido pela denunciada Iracema Car­doso Rodrigues atendente comercial da ECT.

RSTJ, Brasília, a. 15, (170): 419-445, outubro 2003.

Page 12: Jurisprudência da Terceira Seção - Superior Tribunal de ... · ambiental permanente, com queimada e cozimento de carvão, sem a devi da autorização dos órgãos competentes

430 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Ocorre que, o valor correto da taxa seria de apenas R$ 19,69 (dezenove reais, e sessenta e nove centavos), fato que a vítima só veio a tomar conhecimento quando da renovação da vistoria anual, em

26.04.1999 - mais de um ano após o pagamento indevido.

Embora constem nos autos acusações recíprocas feitas entre os acusados, existem provas de conluio para a prática delituosa que ora se apura. Senão vejamos. O requerimento de vistoria foi preenchido pelo denunciado Alberto Marques do Nascimento com o valor corre­to, bem como registrada esta quantia no livro do protocolo de taxas e emolumentos do CAT-BM, conforme apurou a perícia técnica rea­

lizada nos documentos, além de haver reconhecimento desse fato pelo denunciado.

Por sua vez, o Documento de Arrecadação - DDA, de n.

0107153, foi preenchido pela denunciada Iracema Cardoso Rodrigues, sendo que na primeira via, que fica com o cliente, lançou o valor co­brado a maior de R$ 198,90, e não a autenticou mecanicamente. Na

terceira via, no entanto, que pertence ao arquivo dos Bombeiros, re­gistrou o valor correto e a autenticou.

A conduta praticada por ambos amolda-se perfeitamente ao tipo penal previsto no § 2ll. do art. 316 (crime de excesso de exação quali­ficado) c.c. art. 29, ambos do Código Penal, posto que, valendo-se da qualidade de funcionários públicos, os denunciados desviaram dos co­fres públicos quantia indevidamente cobrada.

Isto posto, requer o Ministério Público Federal o recebimento da presente denúncia, prosseguindo-se nos ulteriores de direito - rol de testemunhas de fl. 5 - até final sentença condenatória às penas do art. 316, § 2ll., c.c. o art. 29, ambos do Código Penal.'

( ... )." (fls. 617).

Pelos mesmos fatos, o Bombeiro Militar Alberto Marques Nascimen­to está sendo processado na Auditoria da Justiça Militar do Estado do Pará

(fls. 13/14).

Tem-se, assim, como caracterizado, na espécie, conflito positivo de

competência somente em relação ao Bombeiro Militar Alberto Marques do Nascimento, uma vez que, conforme relatado, tanto o Juiz Federal da la Vara

da Seção Judiciária do Estado do Pará, como o Juiz-Auditor da Justiça Mi­litar do Estado do Pará, declararam-se competentes para conhecer do mesmo

RSTJ, Brasília, a. 15, (170): 419-445, outubro 2003.

Page 13: Jurisprudência da Terceira Seção - Superior Tribunal de ... · ambiental permanente, com queimada e cozimento de carvão, sem a devi da autorização dos órgãos competentes

JURISPRUDÊNCIA DA TERCEIRA SEÇÃO 431

fato criminoso atribuído ao militar (artigo 114, inciso I, do Código de Pro­cesso Penal).

Resta saber, agora, se o delito atribuído a Alberto Marques do Nasci­mento, bombeiro militar, se enquadra, ou não, na definição de crime mili­tar, o que ensejaria a competência da Justiça Militar Estadual para proces­sar e julgar o feito.

O artigo 125, § 4.2., da Constituição da República, dispõe que: "Com­pete à Justiça Militar estadual processar e julgar os policiais militares e bombeiros militares nos crimes militares, definidos em lei, cabendo ao tri­bunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação dos praças".

E o artigo 9.2. do Decreto-Lei n. 1.001, de 21 de outubro de 1969, de­finindo os crimes militares, estabelece que:

"Art. 9.2.. Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:

I - os crimes de que trata este Código, quando definidos de modo diverso na lei penal comum, ou nela não previstos, qualquer que seja o agente, salvo disposição especial;

II - os crimes previstos neste Código, embora também o sejam com igual definição na lei penal comum, quando praticados:

a) por militar em situação de atividade ou assemelhado, contra militar na mesma situação ou assemelhado;

b) por militar em situação de atividade ou assemelhado, em lu­gar sujeito à administração militar, contra militar da reserva, ou re­formado, ou assemelhado, ou civil;

c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, em comissão de natureza militar, ou em formatura, ainda que fora do lu­gar sujeito a administração militar, contra militar da reserva, ou re­formado, ou civil;

d) por militar durante o período de manobras ou exercício, con­tra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil;

e) por militar em situação de atividade, ou assemelhado, contra o patrimônio sob a administração, ou a ordem administrativa militar;

f) (revogado pela Lei n. 9.299/1996);

IH - os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, ou por civil, contra as instituições militares, considerando-se como tais

RSTJ, Brasília, a. 15, (170): 419-445, outubro 2003.

Page 14: Jurisprudência da Terceira Seção - Superior Tribunal de ... · ambiental permanente, com queimada e cozimento de carvão, sem a devi da autorização dos órgãos competentes

432 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

não só os compreendidos no inciso I, como os do inciso I!, nos seguin­tes casos:

a) contra o patrimônio sob a administração militar, ou contra a ordem administrativa militar;

b) em lugar sujeito à administração militar contra militar em si­tuação de atividade ou assemelhado, ou contra funcionário de Minis­tério militar ou da Justiça Militar, no exercício de função inerente ao seu cargo;

c) contra militar em formatura, ou durante o período de pronti­dão, vigilância, observação, exploração, exercício, acampamento, acantonamento ou manobras;

d) ainda que fora do lugar sujeito à administração militar, con­tra militar em função de natureza militar, ou no desempenho de ser­viço de vigilância, garantia e preservação da ordem pública, adminis­trativa ou judiciária, quando legalmente requisitado para aquele fim, ou em obediência à determinação legal superior.

Parágrafo único. Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e cometidos contra civil, serão de competência da Justiça Comum."

Pois bem, o delito atribuído ao Bombeiro Militar tem igual definição na lei penal comum e na castrense, impondo-se, deste modo, para a solu­ção do presente conflito de competência, saber se, in casu, os fatos atribuí­dos ao denunciado se enquadram, ou não, em qualquer das hipóteses pre­vistas nos incisos I! e lI! do artigo 9Q do Código Penal Militar.

De início, cumpre registrar que o denunciado, sargento do Corpo de Bombeiros Militar, encontrava-se em situação de atividade, considerando­-se que:

"( ... ) Na sistemática da lei, militar em situação de atividade é aquele que detém a condição de militar da ativa, em contraposição ao militar da reserva ou reformado, sem confusão conceitual do militar em serviço ( ... ).

Aqui a lei considerou como razão específica para submeter à juris­dição penal, pela configuração do crime e pela subseqüente submissão à Justiça especializada, a condição de militar, tanto no sujeito ativo quan­to no passivo, independentemente dos motivos ou do lugar da prática

RSTJ, Brasília, a. 15, (170): 419-445, outubro 2003.

Page 15: Jurisprudência da Terceira Seção - Superior Tribunal de ... · ambiental permanente, com queimada e cozimento de carvão, sem a devi da autorização dos órgãos competentes

JURISPRUDÊNCIA DA TERCEIRA SEÇÃO 433

do delito." (HC n. 80.249-PE, relator Ministro Celso de Mello, in DJ de 07.12.2000).

Desse modo, exclui-se, logo de início, a incidência do inciso IH do artigo 9.Q. do Código Penal Militar.

E, da análise do inciso H do aludido dispositivo legal, tem-se como configurada a hipótese descrita na sua alínea c, vale dizer, são considera­

dos crimes militares os praticados "por militar em serviço ou atuando em razão da função, em comissão de natureza militar, ou em formatura, ainda

que fora do lugar sujeito à administração militar, contra militar da reser­va, ou reformado, ou civil".

Do exposto, resulta que o delito imputado ao suscitante deve ser pro­

cessado e julgado pela Justiça Militar Estadual, não havendo falar, por ou­tro lado, em ocorrência de conexão ou continência para fins de união de

processo e julgamento, tal como se recolhe do artigo 79, inciso I, do Có­

digo de Processo Penal, verbis:

"Art. 79. A conexão e a continência importarão unidade de pro­

cesso e julgamento, salvo:

I - no concurso entre a jurisdição comum e a militar;"

Veja-se, a propósito, o enunciado n. 90 da Súmula desta Corte Supe­

rior de Justiça:

"Compete à Justiça Estadual Militar processar e julgar o poli­cial militar pela prática do crime militar, e à Comum, pela prática do

crime comum simultâneo àquele."

Pelo exposto, conheço do conflito para declarar competente para co­

nhecer do fato criminoso imputado ao denunciado Alberto Marques do Nas­

cimento o Juízo Auditor da Justiça Militar do Estado do Pará.

Concedo habeas corpus de ofício para anular, ab initio, a ação pe­

nal instaurada contra a denunciada Iracema Cardoso Rodrigues, por enten­der que inexiste, na espécie, crime a ser processado e julgado perante a Jus­

tiça Federal.

É esta, com efeito, a letra do artigo 109 da Constituição da Repúbli­

ca, no que interessa à espécie:

RST}, Brasília, a. 15, (170): 419-445, outubro 2003.

Page 16: Jurisprudência da Terceira Seção - Superior Tribunal de ... · ambiental permanente, com queimada e cozimento de carvão, sem a devi da autorização dos órgãos competentes

434 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

"Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:

( ... )

IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detri­mento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as contravenções e ressal­vada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral;

( ... )." (nossos os grifos).

In casu, trata-se ação penal visando à apuração de possível crime pra­ticado por Iracema Cardoso Rodrigues, que, em conluio com o Bombeiro Militar Alberto Marques do Nascimento, exigiram o pagamento da taxa de vistoria anual de estabelecimento comercial da empresa Neves Flipper Ltda em valor superior ao legalmente previsto, desviando o excedente em pro­veito próprio.

Recolhe-se, ainda, dos autos, que os denunciados recolheram o valor correto da taxa de vistoria anual aos cofres públicos.

Tem-se, assim, que da alegada prática delituosa resultou tão-somente prejuízo a particular, inexistindo, em princípio, qualquer lesão a bens, ser­viços ou interesses da União, de suas autarquias ou empresa pública a ensejar a competência da Justiça Federal para processar e julgar o feito.

Nesse sentido:

"Penal. Processo Penal. Crime de estelionato. Ausente a ofensa a bens, serviços ou interesses da União, suas autarquias, ou empresas públicas. Competência do juízo comum estadual.

- Inocorrendo efetivo prejuízo a bens, serviços ou interesses da União, e estando comprovada a prática de estelionato cometido con­tra particulares, a competência é da Justiça Comum Estadual para pro­cessar e julgar o feito (caso idêntico ao CC n. 23.117-RS, reI. Min. José Arnaldo).

- Conflito conhecido, declarando competente o Tribunal de Jus­tiça do Estado do Rio Grande do Sul." (CC n. 27.631-RS, relator Mi­nistro Jorge Scartezzini, in DJ de 27.11.2000).

"Habeas corpus. Condenação por júri. Alegação de incompetên­cia do foro. Crime praticado por funcionário público.

A condição de funcionário público federal não confere ao agente a faculdade de ver-se processado e julgado em foro federal. De par

RSTJ, Brasília, a. 15, (170): 419-445, outubro 2003.

Page 17: Jurisprudência da Terceira Seção - Superior Tribunal de ... · ambiental permanente, com queimada e cozimento de carvão, sem a devi da autorização dos órgãos competentes

JURISPRUDÊNCIA DA TERCEIRA SEÇÃO 435

com semelhante premissa há que aferir o envolvimento de bens, ser­viços ou interesses da União, bem como o efetivo exercício da função pública." (HC n. 65.913-SP, relator Ministro Francisco Rezek, in DJ de 24.06.1988).

Assim sendo, declaro nulo o processo em relação à denunciada Irace­ma Cardoso Rodrigues, com a conseqüente remessa dos autos ao Juízo Es­tadual com competência.

É o voto.

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO REGIMENTAL NA RECLAMAÇÃO N. 1.108 - DF

(Registro n. 2002.0009698-7)

Relator: Ministro Fernando Gonçalves

Embargantes: Wesley Nogueira Amaral e outros

Advogados: Antônio Carlos Rocha Pires de Oliveira e outro

Embargado: Tribunal Superior Eleitoral

Interessado: Ministério Público Eleitoral

EMENTA: Reclamação - Embargos de declaração - Omissão -Infringência.

1. Não subsiste, em sede de embargos declaratórios, a preten­são de redirecionar o curso da causa, à guisa de omissão, empres­tando-lhe feição nova, não aventada pela Corte, porque, evidente­mente, não submetida pela parte à sua apreciação, travestindo, as­sim, o recurso de caráter meramente integrativo em infringente.

2. Embargos rejeitados.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo­tos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, rejeitar os embargos de declaração. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Felix Fischer,

RSTJ, Brasília, a. 15, (170): 419-445, outubro 2003.

Page 18: Jurisprudência da Terceira Seção - Superior Tribunal de ... · ambiental permanente, com queimada e cozimento de carvão, sem a devi da autorização dos órgãos competentes

436 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Gilson Dipp, Hamilton Carvalhido, Paulo Gallotti, Fontes de Alencar e Vicente Leal. Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Jorge Scartezzini.

Brasília-DF, 12 de junho de 2002 (data do julgamento).

Ministro José Arnaldo da Fonseca, Presidente.

Ministro Fernando Gonçalves, Relator.

Publicado no DI de 01.07.2002.

RELATÓRIO

o Sr. Ministro Fernando Gonçalves: Versa a espécie acerca de embar­gos de declaração opostos por Wesley Nogueira Amaral e outros contra acórdão desta Terceira Seção que guarda a ementa seguinte:

"Agravo regimental. Reclamação. Competência. Tribunal Regio­nal Eleitoral. Matéria não-eleitoral.

1. Não compete ao Superior Tribunal de Justiça conhecer e de­cidir recurso contra decisão proferida por Tribunal Regional Eleito­ral, em sede de mandado de segurança impetrado contra ato de seu presidente, versando matéria administrativa, não-eleitoral, a propósi­to de sua atividade-meio.

2. Agravo regimental improvido." (fi. 1.105).

Sustentam os Embargantes, no essencial, a existência de diversas omis­sões no acórdão que não teria apreciado a argüição de maltrato à letra dos arts. 105, UI; 124, § 4Jl.; 5Jl., caput, e 121, § 3Jl.; 5Jl., inc. LIV; 5Jl., inc. LUI; 5Jl., inc. U, e 5Jl., inc. XXXV, todos da Constituição Federal, bem como aos arts. 543 e 544 do CPC, e arts. 27, § 3Jl., e 28, caput, da Lei n. 8.038/1990, no pertinente à competência do Superior Tribunal de Justiça.

É o relatório.

VOTO

o Sr. Ministro Fernando Gonçalves (Relator): Em primeiro lugar, como já devidamente pacificado na jurisprudência, o julgador não está "obri­

gado a responder todas as considerações das partes, bastando que decida por inteiro a questão". (REsp n. 330.098-SP, STJ, reI. o Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira).

RSTJ, Brasília, a. 15, (170): 419-445, outubro 2003.

Page 19: Jurisprudência da Terceira Seção - Superior Tribunal de ... · ambiental permanente, com queimada e cozimento de carvão, sem a devi da autorização dos órgãos competentes

JURISPRUDÊNCIA DA TERCEIRA SEÇÃO 437

A controvérsia na espécie, girando exclusivamente acerca do tema re­lativo à competência, se resume, como já anteriormente assentado, no se­guinte:

"Os reclamantes, servidores do Tribunal Regional Eleitoral do Distrito Federal, fizeram impetrar mandado de segurança contra ato do Desembargador-Presidente daquela Corte visando ao recebimento dos denominados quintos, consoante a Lei n. 9.527/1997. Concedida a or­dem, pelo Ministério Público Eleitoral foi manejado recurso especial eleitoral, cujo seguimento foi negado, dando ensejo à interposição de agravo de instrumento, baixado em diligência para complementação de peças faltantes pelo colendo Tribunal Superior EleitoraL

Em conseqüência, a presente reclamação ao fundamento básico de usurpação de competência deste Tribunal, pois o mandado de segurança versa matéria administrativa não-eleitoral." (fi. 1.481).

Ao fundamento de não se apresentar a decisão do TSE, relativa à baixa do agravo para complementação do instrumento, como excedentes, de modo a invadir a competência do STJ, teve a reclamação negado seguimento, in­clusive em sede de agravo regimental, por se cuidar de matéria de índole não-eleitoral e eminentemente administrativa, com incidência da Lei n. 4.737, de 1965 (Código Eleitoral) - arts. 22, lI, e 276, I, letras a e b, bem como da Lei Complementar n. 35/1979 - art. 21, VI.

Já - agora - nos embargos são levantadas considerações de ordem constitucional e legal não suscitadas anteriormente e, portanto, não deba­tidas e nem decididas, dado que a invocação dos diplomas legais referen­ciados - Código Eleitoral e Lei Orgânica da Magistratura Nacional - apre­sentam-se como suficientes à decisão por inteiro da causa.

Pretendem, na verdade, os Embargantes, à guisa de omissão, redirecio­nar o curso da causa, emprestando-lhe feição nova, não aventada pela Corte, porque, evidentemente, não submetida pela parte à sua apreciação, traves­tindo, assim, o recurso de caráter meramente integrativo em infringente.

Não houve qualquer omissão. Certo ou errado a Seção apenas teve em mira asseverar não competir ao Superior Tribunal de Justiça conhecer e de­cidir recurso contra decisão proferida por Tribunal Regional Eleitoral, em sede de mandado de segurança impetrado contra ato de seu presidente, ver­sando matéria administrativa, não-eleitoral, a propósito de sua atividade-meio.

Rejeito os embargos.

RSTJ, Brasília, a. 15, (170): 419-445, outubro 2003.

Page 20: Jurisprudência da Terceira Seção - Superior Tribunal de ... · ambiental permanente, com queimada e cozimento de carvão, sem a devi da autorização dos órgãos competentes

438 REVISTADO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

MANDADO DE SEGURANÇA N. 8.269 - DF (Registro n. 2002.0036515-3)

Relator: Ministro Fontes de Alencar

Impetrante: Wagner César da Costa Magalhães

Advogados: Alcides Mattiuzo Júnior e outro

Impetrado: Ministro de Estado da Justiça

EMENTA: Mandado de segurança.

- Ausência de direito líquido e certo.

- Segurança denegada.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo­tos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, denegar a segurança. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Vicente Leal, Felix Fischer, Gilson Dipp, Hamilton Carvalhido, Jorge Scartezzini, Paulo Gallotti e Laurita Vazo Ausente, ocasionalmente, o Sr. Ministro José Arnaldo da Fonseca.

Brasília-DF, 26 de fevereiro de 2003 (data do julgamento).

Ministro Fontes de Alencar, Relator.

Publicado no DJ de 17.03.2003.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Fontes de Alencar: Trata-se de mandado de seguran­ça, com pedido de liminar, impetrado por Wagner César da Costa Maga­lhães, objetivando dar efeito suspensivo ao recurso administrativo interposto contra ato do Sr. Ministro de Estado da Justiça.

Argumenta o Impetrante:

"O presente mandado de segurança individual é interposto e leva­do a apreciação deste transparente Tribunal, com o fito de se obter a ordem para que o recurso administrativo interposto em face da decisão da autoridade coatora, seja recebido e processado sob os efeitos do caráter suspensivo, haja vista que a análise acurada das razões recursais

RSTJ, Brasília, a. 15, (170): 419-445, outubro 2003.

Page 21: Jurisprudência da Terceira Seção - Superior Tribunal de ... · ambiental permanente, com queimada e cozimento de carvão, sem a devi da autorização dos órgãos competentes

JURISPRUDÊNCIA DA TERCEIRA SEÇÃO 439

poderá resultar na anulação do decreto demissionário, posto que o pro­cesso administrativo está recheado de nulidades, algumas de ordem pública, o que sem dúvida alguma consiste em afronta a direito líquido e certo, preenchendo os requisitos, inclusive para o deferimento da liminar pleiteada.

Urge repisar, que a pretensão do Impetrante não representa aven­tura jurídica, muito pelo contrário, está estribado no bom direito, des­tacando-se ainda, o fato deste inquestionável Tribunal já ter-se mani­festado em casos análogos, donde a decisão repousou na pretensão do Impetrante, concessão de efeito suspensivo a recurso, conforme se de­nota pela cópia da liminar em anexo, proferida no MS n. 7.962-DF.

Ademais, o próprio legislador quando da confecção do Regime Ju­rídico Único, estampou a possibilidade do recebimento de recurso com efeito suspensivo, assim, o pedido é juridicamente possível." (fl. 8).

A medida liminar pretendida restou indeferida (fl. 123).

Nas informações prestadas às fls. 129/150, o Ministro de Estado da Justiça destaca o seguinte:

" ... O pedido revisional não tem natureza de recurso, nem efei­to suspensivo, portanto, não se aplicam os aludidos dispositivos à ma­téria em tela. Aliás, o Regime Jurídico dos Servidores Públicos Civis da União, em seus arts. 174 a 182, estabelece procedimento próprio para a revisão do processo disciplinar. Assim, afasta-se a aplicação da norma ínsita no art. 61, parágrafo único, da Lei n. 9.784/1999, à ques­tão em debate, consoante o disposto no art. 69 da última lei ordiná­ria citada: os processos administrativos especificas continuarão a reger-se por lei própria, aplicando-se-lhes apenas subsidiariamente os preceitos desta lei. (grifou-se)." (fl. 142).

O parecer da Subprocuradoria Geral da República está pela denegação da segurança, em parecer assim ementado:

"1. Administrativo. Mandado de segurança. Pedido revisional de processo administrativo que determinou exoneração de servidor públi­co. Concessão de efeito suspensivo ao pedido. Impossibilidade.

2. Indeferida a liminar por não restar demonstrado no mandamus qual ato da autoridade impetrada, que a concessão desta medida atin­giria.

RSTJ, Brasília, a. 15, (170): 419-445, outubro 2003.

Page 22: Jurisprudência da Terceira Seção - Superior Tribunal de ... · ambiental permanente, com queimada e cozimento de carvão, sem a devi da autorização dos órgãos competentes

440 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

3. Pedido revisional do processo administrativo não tem a natu­reza de recurso. Ausência de direito líquido e certo. Parecer do Minis­tério Público Federal pelo conhecimento e denegação da segurança pleiteada." (fi. 251).

VOTO

O Sr. Ministro Fontes de Alencar (Relator): O parecer do Subpro­curador-Geral da República Dr. Moacir Guimarães Morais Filho, bem de­monstrou a inviabilidade da irresignação:

"Preliminarmente, entende o Ministério Público Federal que por estarem presentes os pressupostos objetivos e subjetivos de admissibi­lidade, o writ deve ser conhecido, porém, da análise do mérito, opi­na-se pela denegação da segurança pleiteada.

O Impetrante, pleiteia mediante a interposição do presente mandamus, a atribuição de efeito suspensivo ao pedido revisional de processo administrativo, entretanto, o pedido revisional, conforme ou­trora salientado pelo Ministro de Estado e Justiça, não tem caráter de verdadeiro recurso.

O pedido de revisão é um processo autônomo que corre em apenso aos autos do processo original, conforme versa o artigo 17 da Lei n. 8.112/1990. Em verdade, a Lei n. 9.784/1999 que disciplina o processo administrativo, distingue estes dois institutos procedimentais em seu Capítulo XV, disciplinando o procedimento cabível a cada ins­tituto.

O Regime Jurídico Único dos Servidores Públicos Civis da União estabeleceu procedimento próprio para a revisão do processo disciplinar, não se aplicando as regras pertinentes a tramitação dos recursos. Destarte, não cabe conferir a tal ferramenta processual o efei­to suspensivo pleiteado neste writ.

O mandado de segurança tem como função a defesa de direito lí­quido, certo e incontestável, ameaçado por ato manifestadamente inconstitucional de qualquer autoridade, que se designa como autori­dade coatora.

O pedido in quaestio carece de direito líquido e certo. Compreen­de-se como direito líquido e certo aquele contra o qual não se pode opor motivos ponderáveis e sim meras alegações, cuja improcedência

RSTJ, Brasília, a. 15, (170): 419-445, outubro 2003.

Page 23: Jurisprudência da Terceira Seção - Superior Tribunal de ... · ambiental permanente, com queimada e cozimento de carvão, sem a devi da autorização dos órgãos competentes

JURISPRUDÊNCIA DA TERCEIRA SEÇÃO 441

o magistrado pode reconhecer imediatamente, sem necessidade de de­tido exame.

A concessão do efeito suspensivo ao pedido revisional sub examen, não previsto normativamente, tal qual o efeito suspensivo aplicado em recurso administrativo, não merece análise, tendo em vista não ter sido concedido pela autoridade administrativa, pois assim não dispõe expressamente a norma, inexistindo lesão a direito líquido e certo tal qual alega o Impetrante.

Celso Antônio Bandeira de Meno (Curso de Direito Adminis­trativo, loa ed., Editora Malheiros, 1998), salienta não caber a conces­são de efeito suspensivo ao recurso contra aplicação das penas de exo­neração, suspensão e multa, salvo por razões de interesse público. Ora, se mesmo nos recursos administrativos descabe atribuir efeito suspensivo aos recursos contra tais penalidades, o mesmo seria inviável no pedido revisional, um instrumento procedimental de natureza pró­pria e diversa do recurso.

Não ocorrendo quaisquer vícios na tramitação do processo admi­nistrativo o qual determinou a exoneração do servidor capaz de ensejar a utilização da via escorreita do mandado de segurança, posto inexistir lesão a direito líquido e certo do servidor, opina o Ministério Públi­co Federal, pelo conhecimento e denegação da ordem impetrada." (fls. 253/256).

Adoto como razão de decidir o que se encontra na manifestação do Minis.tério Público Federal, e denego a segurança.

MANDADO DE SEGURANÇA N. 8.461 - DF (Registro n. 2002.0072235-7)

Relator:

Impetrante:

Advogado:

Impetrado:

Ministro Paulo Gallotti

Paulo Rogério Celindo

Nil Rosinha Queiroz Bragaglia

Ministro de Estado da Administração Federal e Reforma do Estado

Sustentação oral: Josefa Maria Lourenço da Silva (pelo impetrado)

RSTJ, Brasília, a. 15, (170): 419-445, outubro 2003.

Page 24: Jurisprudência da Terceira Seção - Superior Tribunal de ... · ambiental permanente, com queimada e cozimento de carvão, sem a devi da autorização dos órgãos competentes

442 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

EMENTA: Processo civil - Administrativo - Mandado de segu­rança - Ilegitimidade passiva - Inocorrência - Concurso público -Edital n. 001/1993 - Agente da polícia federal - Decadência - Art. 18 da Lei n. 1.533/1951 - Extinção.

1. No mandado de segurança, a legitimidade da autoridade é

definida na pessoa que pratica ou ordena concreta e especificamen­te a execução ou inexecução do ato impugnado. Tratando-se, no caso concreto, de portaria ministerial, a autoridade apontada como coatora é parte legítima.

2. Não há que se falar em ato omissivo contínuo quando aberto novo concurso, porque caracterizado ato concreto da Administração

na recusa dos candidatos remanescentes do certame anterior, inici­ando-se dessa data a contagem do prazo decadencial.

3. Aplicação do art. 18 da Lei n. 1.533/1951.

4. Extinção da ação mandamental.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo­tos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, julgar extinto o pro­cesso, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Os Srs. Ministros Laurita Vaz, Fontes de Alencar, Vicente Leal, Fernando Gonçalves, Felix Fischer,

Gilson Dipp, Hamilton Carvalhido e Jorge Scartezzini votaram com o Sr. Ministro-Relator.

Brasília-DF, 11 de dezembro de 2002 (data do julgamento).

Ministro Paulo Gallotti, Relator.

Publicado no DJ de 17.03.2003.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Paulo Gallotti: Paulo Rogério Celindo impetra o pre­sente mandado de segurança, com pedido de liminar, contra ato praticado

pelo Ministro da Administração Federal e Reforma do Estado, objetivando participar da segunda etapa do concurso público para Agente da Polícia

Federal a que se refere o Edital n. 1/1993, em face da abertura de novo cer­

tame em 31 de outubro de 2001.

RSTJ, Brasília, a. 15, (170): 419-445, outubro 2003.

Page 25: Jurisprudência da Terceira Seção - Superior Tribunal de ... · ambiental permanente, com queimada e cozimento de carvão, sem a devi da autorização dos órgãos competentes

JURISPRUDÊNCIA DA TERCEIRA SEÇÃO 443

Alega o Impetrante, em síntese, que foi aprovado na primeira fase do concurso público aberto pelo Edital n. 1/1993, que previa o preenchimen­to de 800 (oitocentas) vagas, sendo classificado em 1.175ll. lugar, havendo, pelo quadro demonstrativo de lotação real elaborado pelo Departamento de Polícia Federal e publicado no Diário Oficial da União, Seção I, p. 17.085, de 2 de setembro de 1996, 1.053 vagas disponíveis, com exclusão das ofe­recidas no referido concurso.

Segundo o Autor, o resultado da primeira etapa foi homologado pela Portaria n. 603, de 27.12.1994, publicada no DOU de 19.12.1994, tendo ex­pirado a validade do certame no dia 28.12.1996, sem que houvesse sido prorrogado.

Entende violado o direito líquido e certo de ser convocado para a se­gunda etapa do concurso, uma vez que, na qualidade de classificado na pri­meira fase, teria sua vaga garantida.

Indeferida a liminar (fl. 81), a autoridade apontada como coatora apresentou informações suscitando preliminares de ilegitimidade passiva, ausência de direito líquido e certo e carência de ação. No mérito, diz que o Impetrante não atingiu a classificação necessária para participar da segun­da fase, porque foram oferecidas somente 800 vagas, como previa o edital,

e, ainda, mais 190 vagas para preencher as lacunas dos que, por vários mo­tivos, desistiram da participação (fls. 86/116).

A Subprocuradoria Geral da República recomenda a extinção do fei­to por ilegitimidade passiva ad causam ou ocorrência da decadência, denegando-se a ordem, se conhecida, manifestando-se a União, após pedi­do de vista, no mesmo sentido (fls. 118/125 e 130/141).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Paulo Gallotti (Relator): Afasto, desde logo, a preten­dida ilegitimidade da autoridade apontada como coatora, uma vez que a impetração se calca na falta de prorrogação do certame, bem como no nú­mero de vagas criadas pela Portaria n. 212/2001, do Ministro de Estado do Planejamento, Orçamento e Gestão, que, somadas àquelas oferecidas pela Portaria n. 172/1993, em princípio, se mostraria suficiente à convocação do requerente para participar da segunda etapa do concurso.

Ultrapassada essa prefaciaI, no entanto, não vejo como deixar de re­'conhecer a ocorrência da decadência.

RSTJ, Brasília, a. 15, (170): 419-445, outubro 2003.

Page 26: Jurisprudência da Terceira Seção - Superior Tribunal de ... · ambiental permanente, com queimada e cozimento de carvão, sem a devi da autorização dos órgãos competentes

444 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Na verdade, a compreensão pacificada e consolidada no âmbito desta

Corte é no sentido de que a abertura de novo concurso caracteriza ato con­

creto da Administração que recusa os candidatos remanescentes do certame

anterior, iniciando-se daí a contagem do prazo de decadência para a

impetração de mandado de segurança por quem se sentiu lesado em seu di­reito líquido e certo.

No caso, o requerente diz ter sido aprovado na primeira fase do con­

curso cuja validade se expirou em 1996. Depois disso, consta dos autos que

a administração expediu o Edital n. 63/1997, de 5 de setembro de 1997 e

o Edital n. 45/2001, de 31 de outubro de 2001, ambos com a mesma fina­

lidade do Edital n. 1/1993, ou seja, a abertura de concurso para o preen­

chimento de novas vagas.

Assim, seguindo a orientação jurisprudencial do Superior Tribunal de

Justiça, qualquer direito a ser reclamado pelo Impetrante deveria ter sido

exercido dentro do prazo decadencial da ação mandamental, que, no caso,

iniciou na data da abertura do concurso imediatamente posterior àquele do qual participou, ou seja, o inaugurado pelo Edital n. 63/1997, datado de 5

de setembro de 1997.

Mas, se assim não fosse, mesmo que o prazo decadencial tivesse iní­

cio a partir da data do concurso aberto em 2001, mais precisamente no dia

5 de outubro, a decadência teria se operado, porquanto o ajuizamento da

presente ação somente foi efetuado no dia 8 de julho de 2002, conforme

certificado a fl. 2 dos autos.

Sobre o tema veja-se os precedentes:

A - "Processo Civil. Administrativo. Mandado de segurança. Con­

curso público. Edital n. 1/1993. Perito criminal. Participação na segun­

da etapa. Inexistência de ato omissivo contínuo. Impetração voltada

para novo certame. Decadência. Art. 18 da Lei n. 1.533/195l.

Inexistência da teoria do fato consumado. Extinção.

1. Inexiste ato omissivo contínuo da Administração se o edital,

contra o qual se volta o impetrante, já esgotou seu conteúdo juridico, vale

dizer, teve seu prazo de validade completado, cessando-lhe a eficácia.

O Concurso Público é ato administrativo autônomo: tem início e fim.

Encerrado o certame regulado pelo Edital n. 1/1993 e aberto novo, é deste último ato, concreto e objetivo, que flui o prazo decadencial da

via mandamental.

RSTJ, Brasília, a. 15, (170): 419-445, outubro 2003.

Page 27: Jurisprudência da Terceira Seção - Superior Tribunal de ... · ambiental permanente, com queimada e cozimento de carvão, sem a devi da autorização dos órgãos competentes

JURISPRUDÊNCIA DA TERCEIRA SEÇÃO 445

2. Decadência reconhecida nos termos do art. 18 da Lei n. 1.533/ 1951.

3. Afastada a teoria do fato consumado, pois a situação de direi­to é, ainda, inexistente, uma vez que não foi o impetrante nomeado para o cargo. A liminar concedida neste writ, proporcionando-lhe ape­nas a faculdade de cursar a segunda etapa do referido concurso, não configurando qualquer consolidação de eventual direito. Precedente desta Seção (MS n. 6.183-DF).

4. Preliminar de decadência reconhecida para julgar extinto o writ, com apreciação do mérito, nos termos do art. 269, IV, do Códi­go de Processo Civil.

5. Custas ex lege. Honorários advocatícios incabíveis nos termos das Súmulas n. 512-STF e 105-ST]." (MS n. 5.664-DF, relator o Ministro Jorge Scartezzini, DJU de 27.03.2000).

B - "Agravo regimental. Mandado de segurança. Decadência. Artigo 18 da Lei n. 1.533/1951. Ato omissivo continuado. Inexistência.

1. A abertura de novo concurso pela Administração Pública, por­que substancia explícita declaração concreta de recusa de aproveita­mento dos candidatos do concurso anterior, põe termo ao que se tem denominado omissão continuada e se constitui em termo inicial do tempo de decadência do mandado de segurança.

2. Incidência do artigo 18 da Lei n. 1.533/1951. Precedentes.

3. Agravo regimental improvido." (AgRg no MS n. 7.033, relator o Ministro Hamilton Carvalhido, DJU de 26.03.2001).

C - "Mandado de segurança. Concurso público. Fiscal do Traba­lho. Nomeação. Ato omissivo. Decadência.

Com a abertura de novo concurso, tem-se ato concreto da Admi­nistração recusando os candidatos remanescentes do certame anterior, iniciando-se a contagem do prazo de decadência para impetração de mandado de segurança buscando a nomeação dos aprovados. (prece­dentes).

Mandado de segurança extinto." (MS n. 7.456-DF, relator o Mi­nistro Felix Fischer, DJU de 11.03.2002).

Diante do exposto, o meu voto é no sentido de julgar extinta a pre­sente ação, com exame do mérito, a teor do art. 269, IV, do Código de Pro­cesso Civil.

RSTJ, Brasília, a. 15, (170): 419-445, outubro 2003.

Page 28: Jurisprudência da Terceira Seção - Superior Tribunal de ... · ambiental permanente, com queimada e cozimento de carvão, sem a devi da autorização dos órgãos competentes