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Just ça Rev sta - TRF1...Francisco Betti e André Prado de Vasconcelos. O curso formou 225 conciliadores. A medida foi viabilizada devido a um acordo firmado entre a Justiça Federal,

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EDITORIAL

Alegre e otimista. Como Juiz Diretor do Foro, é assim que mesinto ao assinar este editorial. Não é apenas o manancial de assuntostratados nesta edição que me deixa radiante. Na realidade, o que maisme empolga é ver a Justiça Federal renovando a sua face. Mostra-se mai-or, mais aguerrida e útil à sociedade.

Prova disso está, em primeiro lugar, no árduo trabalho enfrentadopelo Juizado Especial Federal ao longo de seus três anos de existência.No início, a ausência de espaço, de servidores, de equipamentos, de es-trutura própria. Foi desembrulhado do mundo do papel ao mundo realnum piscar de olhos, sem as mínimas condições de sobrevivência. No entanto, sobreviveu, graças aoempenho de juízes, servidores e voluntários. Hoje, somente em Belo Horizonte, corporificado em cincoVaras, carrega em seu dorso mais de 250.000 feitos, aproximadamente. Seu sucesso emerge nos brevíssimosrecessos das crises que atravessa.

Jovem, o Juizado Especial Federal Mineiro revela-se atrevido, ambicioso. De seu tronco, vicejam oJuizado Virtual e o Itinerante. Acima, apontando-lhe a direção, tem-se as duas Turmas Recursais.

Minha alegria não se esgota no Juizado Especial. Vai além. Agora, sim, posso afirmar: mineirizamosa Justiça Federal com a instalação das novas 12 Subseções. Já estão a pleno vapor as Varas Federais dePassos, São Sebastião do Paraíso, Patos de Minas, Montes Claros, Lavras, Varginha e Pouso Alegre. Em2006, será a vez de Divinópolis, Sete Lagoas, Governador Valadares, Ipatinga e São João del Rey. Denorte a sul, de leste a oeste, a Justiça Federal segue o trem das gerais, falando os uais que só ela sabedizer.

Falo agora do otimismo. Falo do Tribunal Regional Federal a ser sediado em Minas Gerais. Fecharos olhos a esta necessidade é um acinte. Não há como negar a importância da criação de um Regional emnosso estado. Não há mal maior do que tratar os desiguais igualmente. Minas difere, destoa. Seus númerose projeções falam por si.

Já é hora de cortarmos o cordão que nos liga a Brasília e alçarmos vôo próprio. Temos maturidadesuficiente e processos a rodo. O que nos falta no momento é união, esforço conjunto. De nada adiantaacreditar, torcer e esperar para ver. É hora de deixar de lado a timidez. Autoridades e instituições federais,estaduais e municipais, indispensáveis à atuação do Judiciário Mineiro, precisam acordar. Apoio, por sisó, é insuficiente. Precisa-se agora de empenho, garra, vontade,ação.

Encerro reverenciando a memória de Euclides Reis Aguiar. Tive o prazer de conhecê-lo. Jeitosimples, coração grande - um juiz que faz falta. Os depoimentos de seus familiares e amigos ilustram bemo que afirmo.

Pois bem. De mãos dadas à alegria, de um lado, e ao otimismo, de outro, é que tenho a convicçãode que você, leitor deste exemplar, ao final, entenderá a nova face da Justiça Federal em Minas Gerais.Felizmente uma face mais próxima do povo, dos mineiros.

Obrigado,

Ricardo Machado RabeloJuiz Federal Diretor do Foro

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A Era de Hércules: vence a força de vontade

O momento embrionário caracterizou-se pelo esforço pessoal e espírito empreendedor dos juízes, conciliadores,servidores e funcionários que lutaram para conseguir um espaço físico onde o Juizado Especial pudesse se estabelecer.Nesta fase, as iniciativas eram guiadas pela emoção, pelo desejo de “ver acontecer”, pelo vigor do trabalho voluntárioe por um idealismo capaz de assombrar os mais revolucionários. A criação dos JEFs representou uma mudança deparadigma e provocou uma efervescência social jamais vista nos corredores da Justiça Federal. Os JEFs socializaram epopularizaram a Justiça Federal. Gente humilde - muitos sem moradia e analfabetos quanto aos seus direitos - vinha embusca de um continente, para eles, considerado “perdido” chamado justiça. Isso porque, pela Lei de Criação dos JEFs,pode ingressar com uma ação contra a União e Autarquias Federais1 qualquer pessoa capaz, maior de 18 anos, sem apresença do advogado. O valor da causa não deve ultrapassar o de 60 salários mínimos. Pouco? No entanto, provocouum furor de demandas, varrendo todas as expectativas de que os Juizados Especiais não prosperariam. Assim como asemente que caiu no deserto, os JEFs, contrariando qualquer circunstância desalentadora, vingaram e transbordaram debons frutos. Em um ano foram sentenciados mais de 12 mil processos, a maioria referente a benefícios previdenciários.

“Leite das pedras”:

A atuação do juiz federal Weliton Militão dos Santos, Diretor do Foro da Seçãode Minas Gerais dessa época, foi essencial para o funcionamento dos JEFs. Graças aoseu pioneirismo e espírito combativo, o juiz federal transformou a Lei em praxis, mate-rializou o sonho de se criar uma Justiça para os “deserdados da fortuna”, segundo suaspróprias palavras. Quando tomou posse como Diretor do Foro, o JEF era apenas umasemente encerrada na Lei 10.259/2001. Plantar, ou melhor, implantar os JEFs pareciauma tarefa impossível. Weliton Militão relatou que a Justiça Federal de Minas nãocontava com quaisquer condições orçamentárias, humanas, físicas e materiais para instalar um Juizado Especial. Ogrande desafio para o juiz federal foi o de fazer a Lei germinar e crescer, dentro do terreno inóspito da ausência derecursos. Apesar de todas as dificuldades e problemas enfrentados, o JEF foi instalado, inaugurando um novo capítulo nahistória do Judiciário. O juiz federal Weliton M. dos Santos ressaltou a importância da criação dos JEFs e acrescentou:“A História aguardou 502 anos para que isso acontecesse”.

JEF DE MINAS: UMA HISTÓRIA ESPECIAL

Os Juizados Especiais Federais em Minas comemoram 3 anos de idade: um bebê que cresceu e amadureceu emmeio às adversidades. Sua história pode ser dividida em três fases distintas:

1ª) 2002 a 2003

Juiz Federal Weliton Militão dosSantos

1 Que no caso dos JEFs não têm imunidade

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12 de julho de 2001: a Lei 10.259/01 cria-va o Juizado Especial Federal.

A lei é resultante do anteprojeto elaborado pelo Su-perior Tribunal de Justiça(STJ), que previa a atua-ção de conciliadores e de juízes leigos. A Comis-são de Trabalho do Poder Executivo recebeu o ante-projeto e excluiu a atuação de juízes leigos. O pro-jeto foi encaminhado ao Congresso Nacional. Em12/07/2001 transformou-se na Lei 10.259/01. O pro-cesso no Juizado Especial orienta-se pelos seguin-tes princípios: “simplicidade, oralidade,informalidade, economia processual e celeridade,buscando, sempre que possível, a conciliação ou atransação (Lei 9.099/95, art. 2o)*”.

19 de novembro de 2001: realizado na Se-ção Judiciária de Minas Gerais o 1º cursovisando à formação de conciliadores paraatuarem nos futuros JEFs.

Entre os instrutores destacam-se os juízes federaisFrancisco Betti e André Prado de Vasconcelos. Ocurso formou 225 conciliadores.

A medida foi viabilizada devido a um acordo firmado entre a Justiça Federal, Polícia Federal, Procuradoria Geralda República e OAB e a entrada em vigor da Lei 10.259/01.

25 de fevereiro a 1º de março de 2002:

Participam do treinamento em Brasília os juízesfederais André Prado de Vasconcelos, LucianaPinheiro Costa, Cristiane Miranda BotelhoMengue, Ronaldo Santos de Oliveira, JorgeGustavo Serra de Macedo Costa e MuriloFernandes de Almeida.

24 de fevereiro de 2002: os juízes federais criminais da 4ª e 9ª Varas da Seção Judiciária deMinas Gerais começaram a usar os procedimentos previstos na Lei 9.099/95 para agilizar ojulgamento dos pequenos crimes.

20 a 22 de março de 2002:

A Seção Judiciária de Minas, sob a coordenaçãodo juiz federal Murilo Fernandes de Almeida,realizou o treinamento para servidores, concili-adores e estagiários que formaram a equipe detrabalho dos JEFs.

Juiz Federal Diretor do Foro, Weliton M. dos Santosabre e encerra treinamento para JEF

Audiência 4ª Vara Criminal Audiência 9ª Vara Criminal

* A Lei 9.099/95 dispõe e prevê sobre a criação dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais

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22 de janeiro de 2003: Ocorre um fato inédito no Brasil.Os JEFs Criminais tornam-se itinerantes.

Os juízes federais Jorge Gustavo S. de M. Costa e Murilo Fernandesde Almeida comandaram os trabalhos, auxiliados por dois servido-res e acompanhados por membros do Ministério Público Federal eda OAB. A primeira cidade que recebeu a visita dos JEFs criminaisitinerantes foi Varginha.

11 de julho de 2002: o juiz federal Diretordo Foro Weliton Militão distribuiu manual-mente o primeiro processo a uma das Tur-mas Recursais dos JEFs.

A ação movida contra a CEF para evitar o leilão doimóvel residencial dos autores entrou para históriados JEFs por dois motivos especiais: a) pela rapidezde tramitação na 1ª e 2ª instâncias, b) por ser a pri-meira a ser julgada por uma Turma Recursal dos JEFsde Minas.

21 de outubro de 2002:

O Diretor do Foro inaugura a sala de sessões dasTurmas Recursais.

20 de agosto de 2002: o Presidente da 2ªTurma Recursal, Lourival Gonçalves deOliveira, abre a 1ª Sessão de Julgamentode 2ª Instância dos JEFs de Minas.

O acórdão, por maioria dos votos, foi favorável àsuspensão do leilão do imóvel residencial dosautores. No julgamento, o voto do presidente foifavorável ao recurso, o do juiz federal revisor Gui-lherme Doehler foi contrário ao provimento dorecurso e finalmente o do juiz federal Diretor doForo Weliton Militão, que atuou como vogal,acompanhou o voto do Presidente da 2ª Turma.

26 de junho de 2002: em solenidade presi-dida pelo desembargador federal Presiden-te do TRF-1ª Região foram instalados 3(três)Juizados Especiais Federais em Belo Horizon-te.

Durante a solenidade, o juiz federal Diretor do ForoWeliton M. dos Santos despachou as 2 primeirasações do JEF. No primeiro dia foram propostas 190ações.

Desembargador Federal Catão Alves e o Diretordo Foro da Seção de Minas inauguram JEF

Turmas recursais são inauguradas e rece-bem bênção

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A Era da Roda: a Justiça vence o espaço

A palavra correta para tipificar essa fase é explosão. Foi o mo-mento em que os JEFs literalmente cresceram de tamanho e se espe-cializaram. Nessa etapa, os JEFs ganharam um novo espaço e Varasespecializadas. Três andares de um prédio anexo ao da sede da JustiçaFederal foram adaptados para receber juízes, servidores, as partes eseus processos. O juiz federal Francisco de Assis Betti, Diretor do Forodessa época, conta que os JEFs responderam bem à demanda do anoanterior. Foi preciso paralisar o JEF por 30 dias para regularizar a distri-buição: “Hoje, não existe caminho de volta, o destino dos JEFs é ex-pandir-se cada vez mais”, afirma. E tem razão. Inconformados com o

limite de quatro paredes, atentos à sede da população que vive nos desertos da cidadania, osJEFs saem sobre rodas atrás do jurisdicionado mineiro. Ipatinga, Governador Valadares, Araçuaí,Montes Claros foram os primeiros municípios a receber a visita dos JEFs itinerantes. Hoje a Justiça não é mais umaestátua fria. Ela caminha, tem pés, ou melhor, rodas e vai ao encontro de seu público. O juiz federal Francisco Bettiressalta ainda que os JEFs não desafogaram as Varas Federais. O que houve foi um tipo diferente de procura.Gente queantes nem passava na porta da Justiça Federal começou a freqüentar os JEFs. O perfil do público dos Juizados Especiaisé, em geral, o de pessoas desvalidas e socialmente excluídas.

Os JEFs e suas circunstâncias...

A juíza federal Luciana Pinheiro C. M. Soares, Coordenadora dos JEFs no ano de 2003,explica que houve muita preocupação em resolver os problemas criados pela “invasão” depessoas que procuravam os Juizados. Foi preciso organizar o novo espaço, levando para dentrodele os milhares de processos gerados de junho/2002 a outubro/2003. No entanto, nem bem searrumava a casa, outro furacão chegaria para congestionar os JEFs. Em novembro de 2003ocorreria a prescrição do prazo para aposentados e pensionistas do INSS pedirem a revisão deseus benefícios. Foi nessa época que a procura pelos Juizados Especiais viveu seu momentomais dramático. Todos os dias filas de pessoas - a maioria idosos e com necessidades especiais- abraçavam o quarteirão do prédio dos JEFs. Uma demanda assim efusiva colocava em risco oprincipal fundamento dos Juizados, que se refere à celeridade processual. Por mais dedicadosque fossem juízes e funcionários, impossível satisfazer os princípios básicos da Lei que criou osJuizados Especiais: celeridade, simplicidade, economia processual. Os JEFs nasceram para serrápidos e aquele momento exigia soluções instantâneas...Já dizia Ortega y Gasset: “Eu sou eu

e minhas circunstâncias”. A receita valeu para os JEFs. O casamento daquilo que os Juizados Especiais se destinavama ser com as circunstâncias em que se encontravam possibilitou o avanço da tecnologia em todos os níveis e abriuespaço para uma nova era...

2ª) 2003 a 2004

Juiz Federal Franciscode Assis Betti

Juíza Federal LucianaPinheiro C. M. Soares,1 ª Coordenadora doJEF de Minas

Juíza Federal RogériaMaria Castro Debelli, Co-ordenadora do JEF (emexercício) incrementou osJuizados Itinerantes

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26 de junho de 2003: Juizados EspeciaisFederais de Minas Gerais comemoram1(um) ano de muito trabalho e dedicação.

Congestionados pelo elevado número de proces-sos, funcionando em um espaço físico inadequadoe precário, com um número insuficiente de servi-dores para atender a uma demanda que ultrapas-sou qualquer previsão, os JEFs comemoraram 1(um)ano de trabalho com a necessidade e promessasde novas instalações e a criação de mais varasespecializadas.

11 de setembro de 2003: duas carretas doTRF-1ª Região realizam audiências doJuizado Especial Federal Itinerante emIpatinga, interior de Minas Gerais.

No primeiro dia de atermação estiveram presen-tes inúmeras autoridades, entre elas a Coordena-dora dos Juizados Especiais Federais na 1ª Re-gião, Selene Maria de Almeida, cujo idealismo eentusiasmo ajudaram a dissipar todos os percal-ços enfrentados na primeira fase de instalação dosJEFs em Minas Gerais.

12 de setembro de 2003: JEFs de Minas ga-nham novas instalações.

Em solenidade presidida pelo desembargador fe-deral Presidente do TRF-1ª Região, Catão Alves,foi inaugurada a nova sede dos JEFs. Com umaárea de 860 m², vários guichês de atendimento,número dobrado de servidores, criação de mais umjuizado, setor de protocolo, sala da OAB, sala es-pecial para audiências de pessoas com dificulda-de de locomoção, os JEFs entram numa nova fase,mais ocupada na organização da nova casa e pre-ocupada em dissolver o acúmulo de processosoriundos da excessiva demanda do ano anterior.

Setembro de 2003:

A 1ª Vara Federal converte-se em JEF e passa a sechamar 2ª Vara de Juizado Especial.

Coordenadora do JEF da 1ª Região, desembargadoraSelene M. de Almeida corta fita inaugural das novasinstalações

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Novembro de 2003:

Expira o prazo para pensionistas e aposentados requererem revisão de seus benefícios junto ao INSS. Milharesde pensionistas fazem filas na porta do JEF pleiteando este direito.

Dezembro de 2003:

A Lei 10.772 cria a 30ª, 31ª e 32ª Varas especializadas em juizados especiais.

A Era Eletrônica: a Justiça vence o tempo

Se os JEFs usaram uma ferramenta para superar as circunstâncias madras-tas, essa se chamou criatividade. Os prenúncios de que chegara uma nova era- marcada pela inovação - já se fizeram sentir em outubro de 2004. O entãojuiz federal Diretor do Foro, Renato Martins Prates, contratou pessoas com defi-ciência auditiva para auxiliar os JEFs na distribuição de mais de 90 mil petiçõesiniciais. Uma iniciativa inédita no Judiciário da 1ª Região e que despertou ointeresse de todo país. Renato M. Prates ressaltou a importância dessa medida:“esse contrato foi uma solução para os nossos problemas urgentes, principal-mente os relativos à distribuição e autuação de processos; por outro lado, bus-camos valorizar o trabalho do deficiente auditivo, oferecendo uma chance aosque têm alguma dificuldade a mais de se inserir no mercado – com um serviço

em que, especificamente, nós esperamos que façam até com maior produtividade”.

A busca de soluções rápidas, eficazes e de maior alcance social já sinalizavam uma mudança no perfil da JustiçaFederal de Minas Gerais. “ Jovial e criativa”, foram os atributos que o juiz federal Ricardo Machado Rabelo usou paradefinir sua gestão em 2005 como novo Diretor do Foro. E junto com a administração do juiz federal vieram para oJudiciário as soluções mais modernas e criativas possíveis. Os JEFs transformaram a ficção em realidade. Em setembrode 2005 era inaugurado em Minas o Juizado Especial Federal Virtual.

Juiz Federal RenatoMartins Prates

Juiz Federal RicardoMachado Rabelo

3ª) 2004 a 2005

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Sônia Diniz Viana, Juíza Fede-ral Coordenadora da SecretariaÚnica das turmas Recursais ePresidenta da 1ª Turma Recursalde Minas.

Abril de 2004:

Feito o 1º mutirão para abrir as caixas de peti-ções que chegaram em 2003, a fim de enviá-las para distribuição.

Novembro de 2004:

Outubro de 2004:

Realizado o 2º mutirão do JEF com a finalidade de dis-tribuir as 90 mil petições iniciais. A distribuição só ter-minou no final de 2004. Foram distribuídos 20 mil pro-cessos para cada Vara de JEF. Pela primeira vez na 1ªRegião pessoas com deficiência auditiva foram contra-tadas para auxiliar o trabalho dos JEFs.

JEF itinerante chega a Poços deCaldas, depois de atender maisde 10 mil pessoas no interior mi-neiro. O trabalho foi coordenadopela juíza federal Rogéria M. C.Debelli.

Injeção de ânimo futuristaEntusiasmo para enfrentar o novo e vontade de contribuir

para a evolução da História são qualidades que não faltam àCoordenadoria dos JEFs de Minas e à Coordenadoria da SecretariaÚnica das Turmas Recursais, representadas pela juíza federalRosimayre G. de C. Fonseca e pela juíza federal Presidenta dasTurmas Recursais, Sônia Diniz Viana. Em maio de 2005, a juízafederal Sônia Diniz Viana solicitou ao Núcleo de Modernização eInformática o desenvolvimento de um programa de consulta pelaInternet de jurisprudência das Turmas Recursais a fim de facilitar oacesso dos operadores de direito (relatores, procuradores, juízesde primeiro grau do Juizado Especial Federal e seus assessores)aos julgados daquelas turmas.

A Seção de Modernização e Informática nunca foi tão solicitada como nessa fase. Eos JEFs prometem aumentar a demanda... Com o funcionamento do JEF Virtual, a informática torna-se o oxigênio doJudiciário. Durante a solenidade de inauguração do JEF Virtual em Minas, ocorrida no dia 12 de setembro, o Coordena-dor dos JEFs da 1ª Região, I’talo Fioravanti S. Mendes, ressaltou o que a virtualização representa em termos de celeridadepara o andamento dos processos: “ Redução drástica do tempo de tramitação de um processo”, explicou. Realmente,basta conferir os quadros estatísticos do TRF-1ª Região para constatar que nos JEFs virtuais são sentenciados anualmente60% a 70% dos processos em tramitação. Nos JEFs de Minas, sem a virtualização, os números revelam o esforço dejuízes e servidores. Até julho de 2005 foram sentenciados 58,44% dos processos.

Rosimayre Gonçalves deC. Fonseca, Juíza Federalatual Coordenadora do JEF

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1º de setembro de 2005:

A 1ª Vara converte-se em 3ª Vara de Juizado Especial.

12 de setembro de 2005:

O presidente do TRF-1ª Região, Aloísio Palmeira, inaugura em Minas Gerais o Juizado Especial Federal Virtual.

março/2002 a março/2004 - Desembargador federal Catão Alvesmarço/2004 até hoje - Desembargador federal Aloísio Palmeira

2001 a nov/2003 - Desembargadora federal Selene de Almeidanov/2003 a out/2005 - Desembargador federal I’talo Fioravanti Sabo Mendesnov/2005 - Desembargador federal Antônio Sávio de Oliviera Chaves

Presidente TRF-1ª Região

Coordenação dos Juizados Especiais Federais da 1ª Região

2004 - Renato Martins Prates2005 - Ricardo Machado Rabelo

2002 - Weliton Militão dos Santos2003 - Francisco de Assis Betti

Juiz federal Diretor do Foro da Seção Judiciária de Minas Gerais

Composição dos JEFs de MinasSet/2005 – 1ª Vara Federal converte-se em 3ª Vara de Juizado Especial Federal Cível JEF Previdenciário da Subseção de Juiz de Fora JEF Criminal e Cível de Uberaba JEF Criminal e Cível de Uberlândia

Composição dos JEFs de MinasFev/2002 – 4ª Vara Criminal e 9ª Vara Criminal são tam bém JEFs Criminais AdjuntosJunho/2002 – 1º, 2º e 3º Juizados Especiais Federais Cíveis + 1ª e 2ª Turmas RecursaisSet/2003 – 1ª Vara Federal converte-se em JEF Cível e passa a se chamar 2ª Vara JEF CívelDez/2003 – 30ª, 31ª e 32ª Varas Especializadas em JEF

2002 a 2003Luciana Pinheiro C. M Soares

2004 até hojeRosimayre Gonçalves de C. Fonseca

Coordenação dos Juizados Especiais Federais de Minas Gerais

Atual Presidente do TRF 1ª Região, o Desembargador Fe-deral Aloísio Palmeira abre solenidade

Desembargador Federal Coordenador dos JEFs da 1ªRegião, I’talo F. S. Mendes, discursa sobre as vantagensdo Juizado Virtual.

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Volume de processos no Juizado Especial Federal em Minas Gerais

Distribuídos*

Tramitando**

Julgados***

* Fonte: Conselho da Justiça Federal (Ofício-Circular N. 11/2005-COJEF, de 03/03/2005)** Baseada em dados obtidos junto à 2ª Vara Federal, especializada em Juizado. Não estão inclusas as varas federais fora de Belo Horizonte.Fonte de dados: quadros e informações repassadas pela Coordenação do JEF de Minas Gerais

* Até junho de 2005** janeiro a junho de 2005*** janeiro a junho de 2005

2002 (julho/dez) 2003 2004 2005 (jan/julho)

d (distribuídos) 13.994 65.152 210.392 38.872 a (acumulados do ano anterior)

10.333 55.468 180.636

t (total) = d + a 13.994 75.485 265.860 219.508 J (julgados) 3.661 20.017 85.224 80.759 Saldo = t - j 10.333 55.468 180.636 138.749

% de processos julgados no ano sobre o total (d + a) 26% 26,51% 32% 36,79%

Uma justiça que funciona em tempo real, inteira-mente conectada à complexidade da vida moderna queexige soluções rápidas e simples como um piscar deolhos... “Imagine” - como incitou John Lenon em suacanção - uma Justiça sem papel, cuja prestação aojurisdicionado pode ser acessada de qualquer lugar domundo.

Citações, intimações e ofícios feitos através de e-mails já são procedimentos corriqueiros nos JuizadosEspeciais Federais Virtuais. Num futuro bem próximo,diga-se de passagem, nossos velhos e volumosos proces-sos arquivados pertencerão à pré-história da burocracia,

quando o excesso de formalismos ainda vencia atecnologia. E nossos descendentes lançarão sobre o tra-balho de carimbar, autuar, numerar e certificar processosum olhar de compaixão, da mesma forma como hoje nosapiedamos dos homens que viajavam centenas de quilô-metros no lombo dos burros. O virtual está para o papel,assim como o avião está para a carroça.

Desafios, problemas, dificuldades? É lógico queexistem, mas se a humanidade não confiasse na própriainteligência para resolvê-los e recuasse diante das mu-danças e do novo, com certeza ainda estaria vivendo nascavernas. Nesse sentido, ao criar os Juizados Especiais

O Judiciário entra na Era Ciberespacial

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Federais Virtuais o Judiciário dá um grande passo na es-trada da modernidade.

Tecnófobos & Tecnófilos

As invenções e o uso da tecnologia nunca foramrecebidos de braços abertos pela maioria das pessoas.Desconforto, desconfiança e uma certa “preguiça” paraenfrentar o novo são sentimentos que assolaram a maio-ria diante dos primeiros aparelhos telefônicos, das pri-meiras lâmpadas elétricas e dos primeiros automóveis.Hoje nos perguntamos como sobrevivemos tanto temposem eles...

A resistência à tecnologia é histórica e, nos tem-pos atuais, tem se traduzi-do algumas vezes em re-beldia política. Não se sub-meter completamente à se-dução do conforto das má-quinas, voltar ao velho fo-gão à lenha, ignorar a tele-visão, fugir do celular nãosão apenas arroubos de ro-mantismo nostálgico. Taisatitudes representam mui-tas vezes um protesto suavee solitário contra as imposi-ções de consumo do siste-ma capitalista.

Na verdade, não é fácil para o senso comum com-preender o significado das mudanças e muito menos pre-ver os efeitos positivos e negativos destas. Em relação àcibernética não é diferente. A polêmica sobre o avançoda cibernética é tão grande que dividiu a opinião degrandes estudiosos e pensadores contemporâneos. Atual-mente existem duas linhas antagônicas em relação àcibercultura. Uma formada pelos tecnófilos e outra pe-los tecnófobos, Heidegger1 e Marcuse², por exemplo, fo-ram críticos ferozes da sociedade tecnológica e industri-al. Descrentes do caráter neutro das novas tecnologias,eles afirmam que estas são capazes de penetrar nas rela-ções sociais e pessoais de forma invasiva e autoritária,criando um sistema “cultural” que coisifica e desumanizao homem.

Em relação à informática, Heidegger diz que elatem o poder de mudar o perfil humano. O homem que

vive diante do micro é um homem menos filosófico emais ligado à praxis, sem necessidade de questionar osistema. No mundo dominado pela informática, segundoHeidegger, todas as manifestações sociais e culturais sãomarcadas e orientadas pela técnica e não pelas emo-ções.

No entanto, o principal crítico das novastecnologias, considerado o cavaleiro apocalíptico domundo virtual, é o sociólogo francês Jean Baudrillard3.Segundo ele, o homem cibernético vive em um mundovazio de valores humanos e culturais. O virtual eliminaa capacidade de refletir: “O homem virtual, imóvel di-ante do computador, faz amor pela tela e faz cursos porteleconferências. Torna-se um deficiente motor, e prova-

velmente cerebral também.Este é o preço para que elese torne operacional”. Segun-do o sociólogo, avirtualidade traz conseqüên-cias nefastas para a socieda-de como o desaparecimentode tudo que possa servir dereferência e parâmetros paraas condutas humanas. O ho-mem virtual não é um sujei-to de ações e sim um fanto-che das máquinas. Ele nãopassa de um “perdido no es-

paço”, sem história, um objeto não identificado,despersonalizado.

Outra visão de linha mais dialética compreendeque o campo das novas tecnologias, embora impregnadode aspectos negativos possui também um perfil positivo.Este posicionamento crítico não vê a técnica como um“ente” à parte, autônomo, autoritário e desconfiguradodas relações econômicas, políticas e sociais, mas simcomo um elemento que se integra ao social e ao cultu-ral. Nas palavras de P. Lévy4: “ As novas tecnologiasrepresentam um campo aberto, conflituoso e parcialmenteindeterminado, no qual nada está decidido a priori”. Paraele, os avanços tecnológicos não destroem o homem,apenas o torna passível de novas conexões ou de possibi-lidades múltiplas e imprevisíveis.

Enquanto para os tecnófobos a Internet é vistacomo uma droga doméstica capaz de alienar o homem esolapar a criatividade, os tecnófilos seguem uma linha

1 Martin Heidegger (1889-1976), filósofo e pensador alemão. Obra mais importante: O Ser e O Tempo2 Herbert Marcuse ( 1898 –1979), filósofo alemão integrante da Escola de Frankfurt3 Jean Baudrillard, pensador e sociólogo francês, 74 anos.Seus ensaios polêmicos inspiraram o diretor do filme Matrix4 Pierre Lévy, 49 anos, nascido na Tunísia. Historiador , Sociólogo e Doutor em Ciências da Comunicação e Informação.

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mais iluminista. Enxergam na racionalização da huma-nidade um grande progresso e uma poderosa arma paracoibir tantos abusos cometidos em nome do obscurantis-mo ideológico.

Se para os tecnófobos a Internet é uma bombaparalisante, para os tecnófilos é um canal de aproxima-ção e de intercâmbio, um instrumento ágil que facilita acomunicação e o contato, em vez de repeli-los. Longede ser uma dinamite para as relações humanas ou de serum mundo impalpável e invisível, foi justamente aInternet que possibilitou ao homem atravessar mundos,barreiras e conhecer lugares, povos e situações antes ina-tingíveis. O grande público viciado na navegação ele-trônica concorda: “O virtual é apenas a preliminar doreal e torna o conhecimento algo mais gostoso, instigante,sedutor e completo”, filosofa o freqüentador de umcibercafé em Belo Horizonte.

Democracia e inclusão digital – eis a questão.

Outro ponto controverso refere-se à democratiza-ção pela inclusão digital. São várias as correntes quecorroem a idéia de que a inclusão digital conduz à de-mocracia. Segundo alguns estudiosos da informatizaçãona educação, é a democracia que levará à inclusão digi-tal e não o contrário. Eles baseiam seu argumento nofato de que o acesso a microcomputadores e à Internet éprivilégio de uma minoria, de uma elite que pôde fre-qüentar boas escolas. No caso do Brasil, por exemplo,nem 10% da população está conectada à Internet. Aconexão à rede mundial é muito mais conseqüência deuma sociedade educada e democrática do que propria-mente causa desta democratização.

Uma pesquisa do Ibope, realizada em 2003, reve-lou, porém, que o Brasil lidera o acesso mundial a sitesgovernamentais. Mais de 4,2 milhões de usuáriosresidenciais brasileiros se utilizaram de serviços eletrô-nicos via Internet para pagamentos de impostos, solicita-ção de certidões e consultas a sites de Órgãos Públicos.A página do Supremo Tribunal Federal ocupa há muitosanos o lugar entre as dez melhores do Brasil.

A Coordenadora dos Juizados Especiais de MinasGerais, Rosemary Gonçalves de C. Fonseca, acredita que80% da demanda dos Juizados Especiais Federais aindaé feita por intermédio de advogados e que estes contam,em sua maioria, com o auxílio do computador para seustrabalhos.

Em relação à parcela da população que recorreaos JEFs sem a presença de advogados e provavelmentesem as facilidades dos computadores em suas vidas, ajuíza acredita que, com o procedimento eletrônico, estacamada social também será favorecida: “ Sobrará mais

tempo para juízes e servidores resolverem os problemasdessas pessoas”, afirma a Coordenadora dos JEFs em Mi-nas: “ A agilidade não será apenas em relação a quemtem computador e Internet em casa”, completa: “Evi-dentemente, se desafogarmos os JEFs, os excluídos digi-tais serão imediatamente beneficiados, uma vez que so-brará mais tempo para analisarmos todas as demandas”,enfatiza Rosimayre Fonseca.

Se a tecnologia é assunto polêmico no terreno dasCiências Humanas, incontestável, porém, sua funciona-lidade na resolução de problemas de ordem prática. Nessesentido, a Era da Informatização no Poder Judiciário re-presenta uma revolução. Torna a Justiça mais rápida eeficiente. Atualmente existem softwares avançados quegarantem total segurança e confiabilidade nas diversastransações virtuais. Quanto mais o homem se utiliza docomputador no seu dia-a-dia, mais aprimorados os pro-gramas se tornam. À medida que surgem dificuldades,novos recursos são criados para supri-las.

Minas inaugura JEF virtual

O Tribunal Regional Federal da 1ª Região nãoeconomizou esforços para ampliar o alcance do novosistema. Nascido no Distrito Federal, no ano de 2003, oprimeiro JEF Virtual da 1ª Região comemorou seus 2 anosde vida de maneira vigorosa. Houve um recrudescimen-to da demanda e, apenas no ano de 2004, foram julgados14.289 processos. A maioria das ações sãoprevidenciárias e de FGTS.

Em dezembro de 2003, o TRF/1ª Região autorizoua criação dos juizados virtuais no Acre, Mato Grosso,Piauí, Rondônia, Roraima e Tocantins. Em 2005, a Justi-ça on-line foi implantada no Amazonas e na Bahia e nodia 12 de setembro chegou a Minas Gerais. Segundo opresidente do TRF/1ª Região, desembargador federal Alo-ísio Palmeira, o juizado virtual reduz em 75% o tempogasto na tramitação de um processo. A virtualização vemsocorrer a justiça em seu problema crucial que é o insu-ficiente número de servidores para responder à gigantes-ca demanda.

Os funcionários da Seção de Informática de Mi-nas Gerais, servidores dos JEFs de Minas Gerais, das Tur-mas Recursais, da Seção de Contadoria e Distribuiçãoreceberam um treinamento especial da equipe do TRF.No final do curso, era visível o encantamento de todosos envolvidos.

AGENITA AMENO

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A expressão interiorização da Justiça Federal temsido usada, de forma estrita, para definir a instalação dasnovas varas federais no interior do Brasil. A Lei 10.772,de 21 de novembro de 2003, responsável pela criação de183 varas federais em todo o país, foi recebida com oti-mismo pela comunidade jurídica e pelos moradores dascidades beneficiadas. À Primeira Região da Justiça Fe-deral foram destinadas 59 dessas varas - 14 somente paraMinas Gerais.

Em Minas, o processo de instalação das 14 varasfoi catalisado, em fevereiro deste ano, por uma reuniãoconvocada pelo Presidente do TRF/1ª Região,Desembargador Federal Aloísio Palmeira Lima. A reu-nião agregou autoridades do Tribunal, o então Diretor doForo de Minas Gerais, Juiz Federal Renato Martins Prates,o Presidente da AJUFEMG (Associação de Juízes Fede-rais de Minas Gerais), Juiz Federal José Carlos MachadoJúnior, e os prefeitos dos municípios mineiros beneficia-dos pela Lei 10.772. Os participantes firmaram o com-promisso de envidar esforços para que os novos forosfederais fossem inaugurados no menor tempo possí-vel.

O atual Diretor do Foro da Seção Judiciá-ria de Minas Gerais, RicardoMachado Rabelo, criou, emjunho, no início da sua ges-tão, o Núcleo de Instala-ção das Varas do Inte-rior (NIVI). Trata-se deum grupo informal, for-mado por servidores daárea administrativa, soba liderança do Diretordo Foro, responsável porexecutar e acompanharações concernentes àimplantação das varas.

Os integrantes doNIVI reúnem-se periodi-camente para analisaras particularidades dascidades, avaliar a situ-ação de cada imóvel se-

lecionado, trocar informações sobre o que foi feito e,principalmente, sobre o que falta ser realizado. Solu-ções são encontradas, experiências são compartilhadase medidas são empreendidas. Um grande quadro-mural,afixado na parede da sala de reuniões do NIVI, mostra asituação de cada cidade.

O que era para ser uma operação burocrática - umesforço conjunto entre Juízes, servidores e autoridadesmunicipais - humanizou-se. Pois o processo deinteriorização da Justiça tem sido igualmente o deredescoberta da história de Minas Gerais. Percorrendoos caminhos que levam às cidades contempladas pelasnovas varas, a Justiça Federal refez os passos dos bandei-rantes, dos colonizadores que desenharam os contornosdeste Estado. “Um Estado de nariz imenso, um estadode espírito: um jeito de ser”, segundo a crônicairreverente de Fernando Sabino, um ilustre mineiro.

I nteriorizar [De interior + -izar.] V. t. d. Tra-zer para dentro de si, incorporar ao seu mundo interior(aquilo que é exterior).¹ Esse novo cenário da JustiçaFederal, introduzido pela Lei 10.772, acabou sendo tam-bém o de interiorização na Justiça das memórias e rela-tos esquecidos nos bancos escolares. Relatos sobre cos-

tumes, caminhos, religiosidadee antigas tradições.

Envolvidos no ár-duo e minucioso traba-lho de escolher e adap-tar as sedes dassubseções, firmar con-vênios com os municí-

pios, buscar parceiros emcada cidade, criar uma redeinformatizada, formar o qua-

dro de pessoal dos novosforos federais e outras

tantas ações, magistra-dos e servidores, uni-

dos por um objetivo co-mum, mergulharam no mapa

de Minas.

¹Dicionário Aurélio - Século XXI

Interiorização

Novas Entradas e Bandeirasda Justiça Federal de Minas Gerais

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Passos

A cidade de Passos, situada na região sul de Mi-nas Gerais, teve a primazia entre os municípios con-templados pelas novas varas. A Subseção de Passoscomeçou a funcionar no dia 29 de março deste ano,embora tenha sido oficialmente inaugurada no dia 15de abril. Cerca de 150 anos antes, Passos surgiu ao re-dor de uma capela erguida por um dos seus principaiscolonizadores, o alferes João Pimenta de Abreu. A cons-trução da capela foi um gesto de agradecimento poruma promessa feita ao seu santo de devoção, Senhor

Bom Jesus de Passos.

A subseção de Passos começou com um acervode 2.815 processos. Atualmente, existem cerca de4.230. Desse total, 2.216 são ações previdenciárias.

O Juiz Federal André Prado de Vasconcelos, àfrente da coordenação da Subseção, desde a sua insta-lação até maio, descreveu o início dos trabalhos: “Em15 dias, distribuímos, etiquetamos e numeramos todosos feitos que vieram da Justiça Estadual. Organizamosadministrativamente a vara, demos posse aos servido-res e montamos o sistema processual. No dia em que avara foi oficialmente instalada, ela estava pronta parafuncionar”.

O Juiz André Prado é cidadão passense. Um “fi-lho da terra”, como ele próprio se define. É com entu-siasmo que ele fala da importância da Subseção Fede-ral para a cidade: “A vara foi extremamente bem rece-bida. A população ficou muito contente. Foi um mo-mento de reafirmação da cidade. Eu, como cidadão,como filho da terra, como Juiz da Seção Judiciária, achoque foi um sucesso. Um super gol que foi marcado”.

O atual Coordenador da Subseção, Juiz FederalSubstituto Giovanny Morgan, designado para Passos em

maio deste ano, admirou-se com o número de açõesprevidenciárias: “O Juizado Adjunto, aqui para Passos, seráextremamente importante. Pouco mais da metade dasações que temos aqui é de natureza previdenciária. Sur-preendeu-nos o grande número dessas ações”.

São Sebastião do Paraíso

Atrás de ouro chegaram os primeiros habitantes dabela região onde está situada São Sebastião do Paraíso,cidade que recebeu no dia 19 de agosto o novo foro fede-ral. São Sebastião completou 184 anos no dia 25 de outu-bro deste ano. A cidade está vinculada ao período áureodo ciclo do café. As antigas fazendas cafeicultoras e asfestas tradicionais mantidas até os dias atuais ajudam acontar essa importante fase da história da cidade e de

Minas Gerais.

As ações previdenciárias e as execuções fiscaisconstituem a maior parte do acervo de cerca de 1520 açõesda Subseção.

O Juiz Federal Substituto Bruno Augusto Santos Oli-veira, Coordenador da Subseção de São Sebastião, fez umaanálise positiva dos primeiros meses de funcionamento:“Os trabalhos de implantação transcorreram conforme pla-nejado pela Direção do Foro. A qualidade das instalaçõesfísicas superou as expectativas, e o acervo inicial de 1.500(mil e quinhentos) processos, vindos somente da JustiçaEstadual, permite o gerenciamento adequado dos traba-lhos iniciais e o treinamento do pessoal – em sua grandemaioria servidores novatos, altamente preparados e dis-postos. Os processos vieram da Justiça Estadual com notá-vel organização, o que facilita sua condução. Em relaçãoà sede própria, o Tribunal Regional Federal já iniciou asnegociações para receber em doação da Prefeitura umaárea de 8.500 metros quadrados, localizada junto aos ter-renos onde funcionarão o novo Fórum Estadual, o Ministé-

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rio Público Estadual e a própria Prefeitura Municipal. Deum modo geral, avalio de forma positiva os primeirosmeses de funcionamento da Subseção Judiciária, e guar-do boas expectativas para o futuro.”

O Juizado Especial Adjunto de São Sebastião doParaíso será inaugurado em breve. O Juiz Bruno enfatizoua sua importância para a cidade: “A proporção de feitosprevidenciários em relação ao acervo da Vara (cerca de60%), a prevalência de atividades rurais na base econô-mica da região, bem como o relativamente alto índice deescolaridade da população (diretamente relacionado aograu de busca pelas vias judiciárias), levam a crer quefuncionaremos com um número elevado de ações do JEF,trazendo relevante contribuição aos quinze municípiosjurisdicionados”.

As virtudes de São Sebastião do Paraíso são muitas,conforme a descrição do Juiz Bruno, que está residindo nacidade: “Trata-se de cidade pólo de uma região cafeeira,sendo a maior exportadora de cafés selecionados do país.Entretanto, foi a diversificação recente de sua base eco-nômica que fez com que alcançasse, nos últimos três anos,o vigésimo segundo melhor IDH- Índice de Desenvolvi-mento Humano em Minas Gerais. Fica a uma hora deRibeirão Preto-SP; quarenta minutos de Franca-SP; qua-renta minutos de Passos; cerca de quatro horas da cidadede São Paulo (aqui os carros trazem um adesivo com osdizeres “Sobrevivente das Estradas de Minas”); e a menosde uma hora da represa de Furnas, onde muitos moradorestêm os chamados “ranchos”. Em suma: um ótimo lugarpra se viver”.

Patos de Minas

O terceiro município a receber uma das 14 novasvaras cresceu ao redor de uma lagoa onde milhares depatos silvestres se banhavam. Patos de Minas está locali-zada na região intermediária entre o Triângulo Mineiro eo alto Paranaíba. Conhecida como a Capital Nacional doMilho, a cidade celebra a data do seu aniversário, 24 demaio, durante a FENAMILHO - Festa Nacional do Milho.

A Subseção de Patos de Minas nasceu no dia 26 deagosto de 2005. O número de processos da Subseção dePatos pulou das 1.895 ações iniciais para cerca de 2.284

atualmente.

Curiosamente, as execuções fiscais compõem amaioria das ações - quase 75%. Segundo a Juíza Fede-ral Coordenadora da Subseção², Lana Lígia Galati, o

expressivo volume de ações de matéria tributária temexplicação no fato da região do Triângulo Mineiro serextremamente industrializada. “Com a vinda do JuizSubstituto, será instalado o Juizado Adjunto. A tendên-cia, nesse caso, é que o número de ações previdenciáriascresça”, acrescentou a Juíza Lana.

Sobre a cidade, a Juíza destacou a organização,a beleza e a segurança: “A população vive tranqüilaem relação à criminalidade. As casas, muitas delas,não têm grade na frente”.

Lana Lígia Galati é Juíza Federal Titular em Exer-cício e Coordenadora da Subseção de Patos³, sem pre-juízo das suas funções na 3ª Vara Federal de Uberlândia,da qual é titular. Sua observação sobre a instalação doJuizado Especial Adjunto baseia-se na resolução 600-018, de 28/06/05, do TRF-1ª Região, que define a estru-tura e a organização das novas Subseções. No seu pa-rágrafo 2º, do artigo 1º, a resolução é clara: “o funcio-namento do Juizado Especial Federal Adjunto é condi-cionado à designação de Juiz Federal Substituto”.

Montes Claros

“Coração robusto do sertão mineiro” e “Princesa

²O Juiz Federal Gláucio Ferreira Maciel Gonçalves, titular da 1ª Vara Federal da Subseção de Juiz de Fora, foi designado para responderpela titularidade e exercer a Coordenação da Subseção de Patos, do dia 26 de agosto até o dia 24 de setembro, tendo, inclusive,participado da solenidade de inauguração da Subseção. Porém, o ato de designação foi revogado em virtude da sua convocação paraprestar auxílio no TRF/1ª Região, a partir do dia 01 de setembro de 2005.³A Juíza Lana Lígia Galati ficou à frente da Subseção de Patos de Minas até o dia 24 de outubro de 2005. O Juiz Federal Lélis GonçalvesSouza, titular da 1ª Vara da Subseção de Uberaba, foi designado para exercer, provisoriamente, a titularidade da Subseção de Patos,a partir do dia 25 do mesmo mês.

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do Norte” são algumas das denominações de MontesClaros, município ao norte de Minas. A cidade faz partedo pólo turístico “Caminhos do Norte de Minas”, umaregião notabilizada pelo clássico da literatura brasileira“Grande Sertões Veredas”, de Guimarães Rosa.

No dia 25 de outubro, Montes Claros recebeu umaSubseção Federal criada pela Lei 10.772. A Juíza Fede-ral Maria Edna Fagundes Veloso, natural de Montes Cla-ros, ficará interinamente como coordenadora da Subseçãoaté que haja a designação de um Juiz Federal para a

cidade. A Juíza Maria Edna, titular da 15ª Vara Federalda Seção Judiciária de Minas Gerais, abraçou o encargode levar a Justiça Federal para Montes Claros, tendo par-ticipado de todas as etapas que precederam a implanta-ção do Foro Federal.

Cerca de 12.000 processos formam o acervo inici-al da Subseção, cuja jurisdição alcança 98 cidades – asegunda maior jurisdição entre as novas varas.

A Juíza Maria Edna está ciente da extraordináriamissão que tem pela frente: “Vamos receber essa de-manda, mas eu acho que ela será muitíssimo aumenta-da, porque muitas pessoas que ainda não ajuizaram ações,até mesmo por desconhecer essa competência e por nãosaber onde procurar seus direitos, agora deverão acorrerà Justiça Federal. O grande desafio é a insuficiência des-ta vara única para a demanda tão grande que se anun-cia. Montes Claros tem um grande plantel industrial evárias empresas instaladas. A Biobrás, a Novonordisk(empresa de fabrico de insulina e outros produtos), sãoexemplos de empresas instaladas recentemente”.

Portal Novas Varas

O registro dessa nova etapa da Justiça Federal de

Minas Gerais está sendo feito no Portal Novas Varas.Lançado no dia 12 de setembro de 2005, o Portal é umlink desenvolvido pela Seção Judiciária de Minas Ge-

rais, disponível na página eletrônica da Justiça Federal(www.mg.trf1.gov.br). Informações atualizadas sobre opasso a passo do trabalho realizado pelo NIVI, datas dasinaugurações, dados históricos das cidades, calendáriodas inaugurações, editais de recursos humanos e fotogra-fias formam o conteúdo do Portal.

O processo de interiorização da Justiça Federalnão acaba aqui. Logo as próximas Subseções serão ins-taladas (veja o quadro abaixo). Milhares de cidadãosque tinham acesso limitado à Justiça serão beneficiados.

A face da Justiça Federal está mudando. Suas fron-teiras estão se ampliando. A instalação das novasSubseções ficará marcada como um grande passo emdireção ao cidadão comum. Acesso à Justiça está dei-xando de ser um conceito para tornar-se realidade.

CARLA COSTA POPPE

2006

Divinópolis – 17 de janeiro (confirmado)

Sete Lagoas – 21 de fevereiro (confirmado)

Governador Valadares – 7 de março (a confirmar)

Ipatinga – 8 de março (a confirmar)

São João del Rey – 24 de março (a confimar)

LEFÈVRE, Renée. São João del Rei, motivos barrocos no Museu. In: _____.; VASCONCELLOS, Sylviode. Minas : Cidades barrocas. 3ª ed. São Paulo: Ed. Nacional, 1979. Gravura 4.

LEFÈVRE, Renée. São João del Rei, Chafariz. In: ______.; VASCONCELLOS, Sylvio de. Minas:

Cidades barrocas. 3ª ed. São Paulo: Ed. Nacional, 1979. Gravura 10.

Ilustrações

Subseção Judiciáriade Lavras

Inaugurada às 10 h do dia 21de novembro de 2005

Subseção Judiciária dePouso Alegre

Inaugurada às10 h do dia 22de novembro de2005

Subseção Judiciária deVarginha

Inaugurada às 17 h do dia 21de novembro de 2005

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Porque

Minas precisa de um Tribunal

No dia 23 demaio deste ano, juízes,políticos e represen-tantes de entidades ci-vis de Minas Geraisreuniram-se na sede daJustiça Federal em BeloHorizonte, parareativar a campanhapela criação do Tribu-nal Regional Federalda 7ª Região – o tãosonhado TRF mineiro.Este poderá nascer daaprovação da Propos-ta de Emenda Constitu-cional nº 544/2002,cujo primeiro signatá-rio foi o ex-senadorArlindo Porto. Encaminhada à Comissão de Consti-tuição, Justiça e Cidadania do Senado em agostode 2001 (sob o nº 29/2001), a proposta visa criarquatro Tribunais Regionais Federais: o da 6ª Re-gião, com sede em Curitiba (PR) e jurisdição nosEstados do Paraná, Santa Catarina, Mato Grossodo Sul; o da 7ª Região, com sede em Belo Horizon-te (MG) e jurisdição no Estado de Minas Gerais; oda 8ª Região, com sede em Salvador (BA) e jurisdi-ção nos Estados da Bahia e Sergipe; e o da 9ª Re-gião, com sede em Manaus (AM) e jurisdição nosEstados do Amazonas, Acre, Rondônia e Roraima.Para tanto, prevê a alteração do artigo 27 do Atodas Disposições Constitucionais Transitórias daConstituição Federal de 1988.

A PEC 544/2002 foi aprovada pelo SenadoFederal em 22 de maio de 2002. Seis dias depois,começou sua tortuosa caminhada pela Câmara dosDeputados. Lá, após ter passado pela Comissão de

Constituição, Justiça eRedação, ganhou umaComissão Especialpara a sua aprecia-ção. Seu relator foi odeputado EduardoSciarra (PFL/PR). Oparecer da comissãofoi aprovado no dia 10de setembro de 2003.Já no Plenário, em no-vembro daquele ano,a PEC foi retirada depauta a pedido do de-putado Devanir Ribei-ro, à época líder doPT. Há dois anos, aproposta dorme nosarquivos da Câmara

dos Deputados. Depende agora de vontade políti-ca para ser colocada novamente em pauta no Ple-nário. Para ser aprovada, precisa ser votada duasvezes (em dois turnos) e ter no mínimo 308 votos afavor em cada votação – o que corresponderia a3/5 do Plenário.

Já na fase final de tramitação, a proposta decriação dos novos tribunais sofreu a resistência desetores da cúpula do Judiciário - em especial, doSuperior Tribunal de Justiça, baseada em dois ar-gumentos: o primeiro era o de que a iniciativa de-veria partir do STJ; o segundo sustentava que ha-veria outros projetos prioritários, como ainteriorização e a consolidação dos Juizados Espe-ciais Federais. Contudo, como rebateram os defen-sores da PEC 544/2002, a expansão da primeirainstância não é um projeto excludente. Ao contrá-rio, vem reforçar a necessidade de adequação dasegunda instância.

“Este não é um projeto exclusivo de juízes. Temos esperança na aprova-ção da proposta e na instalação futura do tribunal, com o apoio do STJ”

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Em campanha

A despeito do arquivamento da PEC – e en-tendendo ser esta uma reivindicação legitimadapela sociedade -, compareceram à reunião de maiode 2005 na Justiça Federal autoridades represen-tativas da AMAGIS (Associação Mineira dos Ma-gistrados), da AMATRA (Associação dos Magistra-dos do Trabalho), da AJUFER (Associação dos JuízesFederais), da AJUFEMG (Associação dos JuízesFederais de Minas Gerais),da Procuradoria da Re-pública em Minas Gerais, da OAB/MG, da Recei-ta Federal, da Polícia Federal, da Procuradoria daUnião, da FIEMG (Federação das Indústrias de Mi-nas Gerais) e do CDL/MG (Clube dos Diretores Lo-jistas de Minas Gerais). Na ocasião, foi criado oComitê Pró - TRF Minas, tendo como presidente ojuiz federal Renato Martins Prates, da 8ª Vara deMinas Gerais. Ele falou à reportagem da “Justiçaem Revista” sobre as principais questões que en-volvem a criação do tribunal mineiro. A AJUFEMG,liderada atualmente pelo juiz federal José CarlosMachado Jr., e a Diretoria do Foro da Justiça Fede-ral em Minas Gerais, tendo à frente o juiz federalRicardo Machado Rabelo, encamparam essa ba-talha.

O objetivo do Comitê é apressar a aprova-ção da emenda. E por que Minas precisa de umTribunal?

Na posição de presidente do Comitê, o juizfederal Renato Martins Prates, ex-Diretor do Foroda Seção Judiciária de Minas Gerais e um dosjuízes mais antigos da instituição, fala com a auto-ridade de quem conhece bem a dinâmica do pri-meiro e segundo graus da Justiça Federal. Ex-pre-sidente da AJUFEMG, ele – a exemplo de váriosoutros magistrados – prestou auxílio ao TRF/1ª Reg.Essa prática, largamente adotada pelo TRF, pare-ce não ser a melhor solução para os quase 202 milprocessos pendentes de julgamento naquela Corte(segundo dados estatísticos do CJF de maio/2005).Somente no primeiro trimestre de 2005, foram re-metidos 11.504 mil processos de Minas para o TRF/1ª Reg. O estado responde por 50% dos processosem grau de recurso no Tribunal. Nota Técnica daAJUFEMG, anexada à PEC 544/2002, informa que“existem 549.533 mil processos em andamento naJustiça Federal de Minas Gerais (março de 2005);ressalte-se que o Rio Grande do Sul e Pernambuco,

que são sedes de TRF’s desde 1989, possuem, res-pectivamente, 420.238 mil e 166.746 mil proces-sos”. A conclusão da Nota é a de que “os atuaistribunais regionais federais não têm conseguido darvazão aos processos que lhes são encaminhados”.

O juiz federal Renato M. Prates explica a de-fasagem: “Temos percebido que a tramitação naprimeira instância tem se acelerado, inclusive o nú-mero de juízes na primeira instância aumentou bemmais do que na segunda. Enquanto se ampliou, du-rante a década de 90, quase dez vezes o númerode juízes na primeira instância, ampliou-se apenasduas vezes na segunda instância. É uma despro-porção muito grande. Causas importantes, de be-nefícios sociais, de previdência social, e até cau-sas criminais, têm durado muito mais tempo do queseria razoável, por causa do acúmulo de processosna segunda instância, apesar de todo o esforço dosdesembargadores do Tribunal. Mas é humanamen-te impossível conceber gabinetes com quase dezmil processos, mesmo com o auxílio quase que per-manente dos juízes de primeira instância, mutirões,turmas suplementares, como tem ocorrido nos últi-mos anos. E com algum prejuízo, também, da pri-meira instância, pois alguns juízes deixam de exer-cer sua jurisdição na primeira instância para auxi-liarem no Tribunal.”

A necessidade de ampliação do segundo graupode ser atestada por uma proposta que, segundoafirma o juiz federal Prates, será apresentada peloSTJ e CJF para aumentar o número dedesembargadores federais. Não é o que defende oPresidente do Comitê Pró-TRF Minas: “Pensamosque ao invés de se aumentar o número dedesembargadores - o que irá requerer despesas, na-turalmente -, seria conveniente criar também no-vos tribunais em locais que deles precisam, comoem Minas Gerais, que é o segundo estado em Pro-duto Interno Bruto. Também é o segundo em popu-lação, e tem no interior mais de 900 municípios.Minas tem porte para ter um tribunal próprio”.

O juiz acredita que a interiorização da Justi-ça Federal, por si só, já contribui para o congestio-namento do TRF/1ª. Reg. Espera-se que em 2006 aPrimeira Região esteja com 47 novas varas instala-das. O alargamento da base iria pressionar a se-gunda instância. Está sendo engendrada uma su-perestrutura que, conforme o juiz Renato Prates, “tor-

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CHRISTIANNE CALLADO DE SOUZA

nar-se-á difícil de ser administrada”, por encerrarum modelo de gestão centralizada, implantadonuma realidade tão diversa e ampla.

Propostas de aumento do número dedesembargadores, isoladas, apenas tenderiam a fo-mentar essas superestruturas – que, de acordo como Presidente do Comitê, terminam por prejudicar aceleridade da atividade judicial e administrativa.“Não podemos mais insistir nessa linha de reforçaro Tribunal Regional Federal da Primeira Região semdescentralizar, porque fica uma estrutura adminis-trativa muito pesada para atender a uma área geo-gráfica muito grande (a Primeira Região abarcamais de 50% do território do Brasil, com 13 estadose ainda o Distrito Federal), que demanda um nú-mero também grande de juízes, servidores e deunidades”. E para não repetir possíveis erros nodimensionamento da organização, o Comitê Pró-TRF Minas propõe uma estrutura mais leve para osnovos tribunais, pois seria concebida para atendera órgãos desmembrados de um tribunal maior. “Po-deremos funcionar com menos servidores, menosgratificações – ou seja, há que se ter um aparelha-mento que não envolva tantos custos”, diz o ma-gistrado.

Investimento

A palavra “custo”, no entender do Presiden-te do Comitê, deveria ser substituída por “investi-mento”, no que se refere à criação dos novos tribu-nais. “No momento em que se acelera a tramitaçãode processos na 2ª instância”, ressalta RenatoPrates, “há ganhos sociais e econômicos importan-tes – inclusive, pela montanha elevadíssima dedepósitos judiciais, aguardando o desfecho dasações. Agilizaria a própria cobrança da dívida ati-va da União (orçada em mais de 10 bilhões, pro-venientes dos cerca de 112 mil processos de exe-cução fiscal, ajuizados somente em Minas Gerais)e do INSS. E também traria uma boa repercussãosocial, porque se resolveriam, com rapidez, asquestões previdenciárias e de benefícios sociais”.

Dados do Conselho da Justiça Federal, inse-ridos na Nota Técnica da AJUFEMG, revelam queaté novembro de 2004 foram pagos, em RPVs (Re-quisições de Pequeno Valor) do Fundo do Regime

Geral da Previdência Social, no âmbito dos cincotribunais regionais federais brasileiros, o montantede R$ 2.492.018.294,00. Destes, apenasR$82.280.290 originaram-se da Primeira Região.Isso demonstraria o que o Comitê considera uma“fraca performance” no processamento e pagamen-to de benefícios previdenciários.

Para as empresas, os membros do Comitê tam-bém enxergam conseqüências benéficas: informa-ções do CJF comprovam a existência de quase 1bilhão e 200 milhões de reais em depósitos judici-ais na Justiça Federal de Minas Gerais – recursosque somente estarão disponíveis com o término dosprocessos, ou seja, quando os recursos interpostospelas partes junto ao TRF/1ª Reg. forem julgados.Na opinião unânime dos membros do Comitê,embasada pelas estatísticas, esses recursos não vemsendo julgados em tempo razoável.

O juiz federal Renato Martins Prates anunciaa temporada de pressão benéfica sobre políticos eformadores de opinião, para que a PEC 544/2002seja aprovada e efetivada. Afirma que os integran-tes do Comitê têm conversado com as lideranças efeito alianças importantes com as mais representa-tivas organizações jurídicas e comerciais do esta-do. Ele destaca o empenho da AJUFEMG nesta luta,lembrando que a entidade foi criada em torno des-ta bandeira. A prioridade, neste momento, é colo-car o projeto de volta à pauta do Plenário da Câ-mara. Para os céticos, o magistrado deixa uma men-sagem:

“Quero dizer que este não é um projeto ex-clusivo de juízes. Este comitê foi constituído justa-mente para reunir servidores, advogados, todos osque apóiam a criação do tribunal em Minas. Te-mos esperança na aprovação da proposta e na ins-talação futura do tribunal - com o apoio do Superi-or Tribunal de Justiça”.

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Era um tipo “sangüíneo” – começa o ministroAdhemar Ferreira Maciel, tentando descrever a misturaúnica de franqueza, simplicidade e ternura que perpas-sava as atitudes do amigo e colega Euclydes. Ao forçar alembrança dos momentos mais importantes desse conví-vio, os olhos do ministro vacilam num brilho úmido – omesmo que se repetiria nos olhos da viúva Vânia e dasfilhas Vanina e Ester. No res-gate das lembranças do Dou-tor Euclydes, o silêncio por ve-zes cala a narrativa; as frasesinterrompidas completam-senos olhares de todos, nas inú-meras fotografias dispostaspela casa. A presença dele do-mina o apartamento da Rua In-confidentes, em Belo Horizon-te – último mimo à esposa e àsmeninas. Preenche, por instan-tes, o belo escritório do minis-tro Adhemar Maciel no SantoAgostinho. É a insistência dasaudade, contagiando até mesmo aqueles que não pu-deram conhecer o desembargador Euclydes.

“Conheci o Euclydes na Seção Judiciária de Mi-nas Gerais” – lembra o ministro Adhemar. “Ele era daprimeira leva da Justiça Federal. Foi nomeado, junto aoutros juízes, pelo então governo Castelo Branco. Tor-nou-se um dos meus grandes amigos. Euclydes tinha ro-dado este país todo – Norte, Nordeste, Amazonas, Mato

Unanimidade – no afeto e na saudade. Foi o legado do desembargadorfederal Euclydes Reis Aguiar, registrado nas conversas de colegas, amigose pessoas da família. Oito meses após a sua morte, a reportagem da “Justi-ça em Revista” ouviu as pessoas mais próximas do “Doutor Euclydes” – aviúva Vânia Lamaita Aguiar e suas filhas. Também consultou dois de seusgrandes amigos, ambos aposentados: o ministro do Superior Tribunal deJustiça Adhemar Ferreira Maciel e o diretor de secretaria Dalmy GuilhermeFerreira. Testemunhas dos momentos de despedida do desembargador, elesconseguiram compor um retrato comovente do doutor Euclydes - um ho-mem que deixou impressa, na vida pessoal e na função de julgar, a força da sua dignidade e do seu caráter. Umhomem que pescava com “a turma do João Capanema”. Um homem que já foi caçar javalis na Argentina.

Saudades de

EuclydesReis Aguiar

Grosso e Brasília - e se radicou na Guanabara, ao se tor-nar titular. Quando ele veio para a terceira vara federalde Minas Gerais, eu já estava na primeira vara. A Justiçaera uma pequena família - havia então 5 varas. A quartaera criminal e trabalhista. Depois as varas foramdesmembradas. Eu fui Diretor do Foro aqui três vezesseguidas. Como eram poucos juízes, dava para, sema-

nalmente, a gente se reunir nacasa de cada um deles.”

Vânia Aguiar, por suavez, traz de volta o início deuma convivência de 36 anos. Elaconta que conheceu “doutorEuclydes” aos quinze anos. Eletinha 27 anos. O filho de JoséReis de Aguiar e de Eulázia ReisAmaral nasceu em Nepomuceno(MG) em 10 de setembro de1934. Sua família era de Boa Es-perança (terra de Dona Vânia)– e nessa cidade, já como ad-vogado, viria a conhecer a com-

panheira de toda a sua vida. Ela fala desse encontro mui-to especial: “Ele advogava pertinho da minha casa. Erauma diferença de idade de quase 12 anos, mas não hou-ve problema nenhum. Nós namoramos, ficamos noivos,íamos fazer uma casa - quando ele foi nomeado para oAmapá. Então nós paramos com o nosso projeto de casa-mento, porque eu não podia ir para lá. As cartas levavamdois meses para chegar. Telefone, nem pensar. Era uma

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Os noivos Euclydes e Vânia, em 1965, na Rádio ClubeDorense, em Boa Esperança

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comunicação muito difí-cil. Ele ficou lá um ano.Depois disso, foi para o Es-tado da Guanabara - hoje,Rio de Janeiro. Lá, nos ca-samos - em abril de 1969.Nossas filhas vieram de-pois de 6 anos de casados:Vanina (hoje, com 29anos) e a Ester (com 26)”.

E como era o juizEuclydes? “Euclydes foium grande magistrado.Sempre correto, decidiasem medo”, lembra o Mi-nistro Adhemar FerreiraMaciel. “Este era um dife-rencial importante. Euclydes era juiz federal em 1966,na antiga Guanabara - um dos focos da repressão prati-cada pela ditadura militar”. O ministro Maciel faz umparalelo com as pressões e o conflito interno vivido pe-los juízes nos “anos de chumbo”, como no caso VladimirHerzog. (Em 78, o juiz federal Márcio José de Morais, da7ª Vara da Justiça Federal de São Paulo, responsabilizoua União pela prisão ilegal e pela morte do jornalistaVladimir Herzog; ele descreveu, em recente entrevista,o conflito interno por que passou).

“Era uma dessas pessoas que podemos dizer... decaráter firme. Não voltava atrás, quando dava sua pala-vra. Tinha essa propriedade de caráter que pouca gentetem. Este talvez seja o grande traço da personalidadedele”.

Na intimidade,essa mesma firmeza sur-gia mesclada com a emo-ção - à flor da pele. A es-posa e as filhas fazemcoro ao lembrar que o“Doutor Euclydes” eraum homem carinhoso epreocupado com a famí-lia e com os amigos. Cir-culava à vontade nos en-contros formais entre mi-nistros e altas autoridadesem Brasília; abraçava os“cumpadres” espalhadosnas ruas de Boa Esperan-ça e Belo Horizonte –

gente de todas as classes e de variados ofícios. Juízes,servidores, pescadores, jogadores. Tinha especial com-paixão por pobres lunáticos como o “Cizico” – umandarilho, a “figura doida” de Boa Esperança.

Jeans... e magistratura

“Um telúrico” –resume o MinistroMaciel. “Sempre li-gado à terra, pareciater outros objetivos.Aposentou-se e foi tra-balhar com fazenda eanimais”. De fato,nos últimos quatroanos de sua vida,“Doutor Euclydes”dedicou-se ao Rancho“Sossego”, em Boa Es-perança. Lá, curtia odia-a-dia do campo:capinava, aguavaplantas, aparava a cer-ca viva, ao lado da família, dos amigos e dos seus ani-mais – como a maritaca que aparece em uma de suasúltimas fotografias. Também amava caçar e pescar - es-sas eram tarefas que exigiam longas e festivas reuniõespreparativas, entre rodadas de cerveja e muitas garga-lhadas.

“O melhor da pescaria era isso – a preparação”,recorda-se Dalmy Guilherme Ferreira, camarada de mui-

Posse de Euclydes Reis Aguiar como juiz federal do Estado daGuanabara, em 1967

A família Aguiar: Euclydes, Vânia e as filhas Vanina e Esther

No rancho “Sossego”, em BoaEsperança: sempre feliz e sereno

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tas viagens, que poderiam durar até um mês, pelas regi-ões pesqueiras em todo o país. O comboio viajava emtrês veículos – um caminhão Mercedes Benz 1113 adap-tado para a pescaria, uma caminhonete e um carro pe-queno. Conta Dalmy que “era uma farra”, partilhada por8 a 10 pescadores. E traziam muitos peixes? Segundo odiretor de secretaria aposentado, “às vezes”. Mas issoera um mero detalhe. A turma praticava a pescaria eco-lógica – o “pesque e solte”. O importante da missão eraa aventura e a confraternização. Durante esse convívio,Dalmy pôde perceber a modéstia e a simplicidade domagistrado Euclydes – a quem chamava de chefe. “Eleaceitava as gozações da turma, ria e brincava. Valia apena pescar com ele. Em diversas situações, quando eleficava bravo, contava até dez e levava na esportiva”.

Uma dessas situações aconteceu na volta de umapescaria no rio Guaporé, em Rondônia – de acordo comDalmy, ocasião única em que viu o amigo ficar “maisou menos nervoso”. Relata o diretor que na volta, já emAraxá, numa das barreiras da polícia rodoviária, foi pre-ciso fazer a pesagem dos veículos. Doutor Euclydes diri-gia a caminhonete. O guarda rodoviário então expli-cou: “o senhor vai sair de primeira marcha, numa sóvelocidade; se o sinal ficar verde, o senhor vai embora.Se ficar vermelho, o senhor dá a volta e tenta outra vez.”.Ele não conseguiu manter a marcha e o sinal não seabriu. O guarda zombou: “o senhor não entendeu o queeu disse...” e repetiu as instruções.

Nesse momento, Dalmy receou que o entãocorregedor e vice-presidente do TRF/1ªReg. sacasse desua autoridade algo como o clássico “você sabe comquem está falando?” ; mas não: o desembargador ficouvermelho e contou até dez. Refez o trajeto três vezes –até que o sinal se abriu. “Como era domingo, havia mui-tos capiaus sentados de cócoras assistindo à cena. Quandoo Euclydes conseguiu, eles se levantaram e bateram pal-mas. O chefe ficou mais vermelho de raiva ainda... e euolhando para ele, rindo até dizer chega...”.

Hoje, segundo Dalmy, a turma ainda pesca, po-rém, desfalcada. O caminhão jaz empoeirado numa fa-zenda, pois João Capanema (dono do “Mercedinha”) echefe Euclydes morreram, levando uma época de muitacamaradagem.

Conta a esposa Vânia que, ao aposentar-se, Dou-tor Euclydes despiu-se não só da vestimenta usual damagistratura, mas da formalidade e possível vaidade quepudessem estar ali encobertas. Doou a maioria dos seusternos e passou a abusar do jeans. Em Boa Esperança,

vestia-se como um tradicional fazendeiro.

Contudo, a aposentadoria não significou o divór-cio da Justiça Federal de Minas Gerais, que ele conside-rava como sua segunda casa, como afirma dona Vânia:“Quando ele entrou, eram poucos juízes e funcionários;todos se conheciam. Íamos a todas as festas de aniversá-rio.”. O carinho mostra-se recíproco. É fácil levantar, entrejuízes e servidores, os testemunhos dos gestos extrema-dos de afeição pelo desembargador, que já foi Diretor doForo da Seção Judiciária de Minas Gerais

Uma família... um Tribunal

Quem vê a imponência do Tribunal Regional Fe-deral da Primeira Região não imagina com quantos frag-mentos singelos de histórias individuais e coletivas sefez esse fórum de naturalidades. Eram baianos, mineiros,paraenses, enfim... O encontro de culturas deu origem auma familiaridade inimaginável nos tempos atuais. Con-ta dona Vânia: “Vinha gente de todo lugar do Brasil. Nofim de semana, a gente se reunia. Pra quê? Grandes fes-tas? Não. Era para comer pão de queijo, beber cerveja,ou comer vatapá com os baianos. Éramos 18. Daqui fo-ram Euclydes, Catão Alves, Plauto Ribeiro, Fernando Gon-çalves e o Adhemar (Ministro Adhemar Maciel). Os me-ninos todos tinham a mesma idade. Uns vigiavam os ou-tros”.

O Ministro Maciel tem outras lembranças: “Nósmoramos algum tempo em hotéis – um deles, o Aristus,no Setor Hoteleiro Norte. Depois, conseguimos os apar-tamentos funcionais. A intimidade nossa era muito gran-de. Aconteceu uma coisa interessante na composição doTribunal Regional Federal da Primeira Região. A questãoera: como seria a disposição dos juízes – por idade, me-recimento, sorteio? Eu me lembro que o hoje ministroAldir Passarinho Jr. sugeriu que os três primeiros cargosfossem ocupados pelos juízes mais antigos. Então esco-lhemos como presidente o Dr. Alberto José Tavares Vieirada Silva; como vice-presidente o Dr. José Anselmo deFigueiredo Santiago e como corregedor o Euclydes. Eramos três da primeira leva da Justiça Federal no governoCastelo Branco. E os outros foram escolhidos por idade.Mas houve muita discussão, se seria escolhido o critériode colocação no concurso ou se seria maior número depontos nas provas. Optou-se por esta solução muito boa,que agradou a todos e resolveu o problema em discus-são. O Tribunal começou tímido em suas instalações, noedifício Áurea. Só havia um telefone e uma cadeira. Noentanto, funcionou maravilhosamente bem, pela harmo-

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nia entre os juízes. O Euclydes era o corregedor. Depoisvoltou para a primeira turma, da qual fazia parte odesembargador Plauto Ribeiro. Ele não quis ser o tercei-ro presidente do TRF/1ª Região”.

O desembargador que não quis che-gar a presidente de um tribunal...

Por que motivo Euclydes não quis ser o presiden-te do TRF/1ª Região? Conforme estimou o ministroMaciel, talvez Doutor Euclydes estivesse antevendo aproverbial falta de apoio político do governo do estadonas disputas em nível nacional. “Quando eu era Diretordo Foro”, conta o Ministro Maciel, “ele entrou na listapara o Tribunal Federal de Recursos e eu tentei umaentrevista com o governador na época. Simplesmentenão consegui. Falta de apoio político – isso talvez tives-se pesado, mais tarde, para a renúncia de Euclydes àPresidência do Tribunal Regional Federal da 1ª Região.Foi algo que nos trouxe certo aborrecimento e até faltade compreensão. A impressão que nos deu é a de queele estava um pouco “enfarado”. Nessa ocasião é queeu fui para o STJ. Fui, e assumiu no lugar dele o juizHermenito Dourado.”

... nem a MinistroO desembargador Euclydes Reis Aguiar também

foi cogitado para ser Ministro do STJ – Superior Tribunalde Justiça. Ao surgir uma vaga no órgão, o hoje Min.Ademar Maciel conta que procurou o Min. Sálvio deFigueiredo Teixeira, seu amigo, para pedir apoio à can-didatura. “Aí o Sálvio foi muito franco comigo e disseque o primeiro nome pensado foi o do Euclydes. Eledisse que ia me indicar se Euclydes não fosse candida-to.”

E Doutor Euclydes não foi. Apoiou o amigoAdhemar Maciel. “Eu sou eternamente grato por issoque ele fez por mim” – diz o Ministro. “Se ele fossecandidato, provavelmente eu não seria ministro... masele seria um grande ministro! Já esteve no STJ comosubstituto. Era muito desprendido. Não se impressiona-va com cargos. Não se rendia a convites, facilidades.Mantinha-se distante”.

Contam os amigos que Doutor Euclydes eraintempestivo. Mas seus últimos anos de vida mostraramum homem dócil frente às provações que viriam com adoença. Vânia Aguiar diz que o marido considerava-seum homem feliz. “Tão feliz, que se perguntava: o queDeus estaria reservando para nós, Vânia? Todos têm pro-

blemas; nós não temos. O que estaria por vir?”

Resignação é a palavra usada pela esposa para des-crever a atitude com a qual o des. Euclydes enfrentou ainstalação de um verdadeiro hospital no apartamento re-cém-comprado para a família e o vaivém entre hospitaise consultórios médicos, para lutar contra os devastadoresefeitos de um câncer. Tinha esperança em sua cura, tantoque pediu ao amigo Dalmy que o inscrevesse numa pes-caria, que iria acontecer em abril de 2005.

As manifestações de carinho pelo desembargadorAguiar se estenderam até o momento de sua morte. Diz aviúva que, nos momentos finais da agonia do DoutorEuclydes, ela teve a solidariedade de juízes e funcionári-os da Justiça Federal.

A despedida

D o u t o rEuclydes fale-ceu aos 70anos, no dia 10de março de2005. Algunsdias antes demorrer, ele quisreunir os ami-gos em seuapartamento.Vânia e as fi-lhas contamque todos saí-ram às duas ho-ras da manhã.“Ele agüentoufirme, feliz. Naverdade, ele es-tava se despedindo” – resumem as meninas. As lágrimasatestam a falta, que não parece luto, nem lamento - masum forte apego à história de vida, amor e alegria deEuclydes Reis Aguiar.

* Saímos em busca da trajetória do desembargador. Vol-tamos com a riqueza da história de um homem simples eseus afetos - suas fotografias, sua casa, sua família, seusamigos, sua grandeza.

Ao lado da esposa Vânia, numa das últimasimagens do saudoso magistrado

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Neste momento em que muito se discuteacerca de inovações no processo eleitoral, dentreas quais unificação das eleições atualmente bienais,financiamento público de campanhas e fidelidadepartidária, aproveita-se o ensejo para que se tra-cem algumas linhas a respeito de uma atribuiçãode relevo dos parlamentares brasileiros: a realiza-ção, pela Câmara dos Deputados, de controle deconstitucionalidade daqueles projetos que serãonovas normas, capazes, portanto, de influírem nocotidiano de cada cidadão.

Realmente, a notícia que ora se pretende daré tão relevante quanto, por vezes, desconsiderada,sendo necessário que se reflita mais sobre seu con-teúdo, principalmente no instante em que tantasquestões estão sendo postas em xeque. Antes, po-rém, deve ser registrado que não se pretende es-gotar o assunto, mas somente aguçar o desejo porsua análise mais rotineira e detida.

Pois bem, os chamados Projetos de Lei, noâmbito federal, podem ser de iniciativa tanto daCâmara quanto do Senado, como dos Poderes Exe-cutivo e Judiciário. Na presente oportunidade, con-tudo, apenas o primeiro será enfocado, apesar dosdemais serem também inegavelmente significati-vos. Neste sentido, há que se anotar que o Regi-mento daquela Casa Legislativa prevê um detalhadoprocesso desde a iniciativa do projeto até a publi-cação da norma que irá alterar o Sistema Jurídico.

Com efeito, após a elaboração de um projetode lei por um parlamentar, o texto é encaminhadoà Presidência da Casa. Ao receber o documento, oPresidente precisa tomar duas importantes decisões.A primeira se refere à definição do regime detramitação e à eleição das comissões temáticaspara as quais o projeto será destinado, a fim de queseja apreciado pelos parlamentares que mais são

Do Controle de Constitucionalidade RealizadoPela Câmara dos Deputados

* Leonel Martins Bispo

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afeitos aotema desen-volvido no tex-to que se pre-tende transfor-mar em lei.

A segunda deci-são a cargo do Presidente daCâmara é justamente a que motiva a redação des-tas linhas, ou seja, a realização de um juízo deadmissibilidade que, em verdade, pode ser consi-derado um juízo inicial de constitucionalidade. Defato, nesta fase que ainda é das primeiras natramitação do projeto, compete ao Presidente daCasa Legislativa a análise que tem por objetivoverificar se o projeto possui matéria contrária aoRegimento da Casa, à sua competência ou à Cons-tituição da República (artigo 137 do Regimento In-terno da Câmara). Vale destacar que da decisãoque devolve (rejeita) o projeto de lei ao seu autorcaberá recurso ao Plenário.

Nestes termos, no nascedouro do projeto delei o seu texto é estudado e comparado com o quejá está normatizado pelo próprio Regimento Inter-no e, também, pela Constituição de 1988. Esta apre-ciação, por evidente, não tende a ser efetuada iso-ladamente pelo parlamentar que preside a Casa,uma vez que se encontra servido por assessorestécnicos. A conseqüência da análise, caso seja pelainadequação do projeto, pode ser revertida pormeio do provimento do recurso regimentalmenteprevisto, acima referido. Se o veredicto da Presi-dência, ou, em caso de recurso bem sucedido, doPlenário, for pela adequação do projeto, este se-guirá para as Comissões temáticas.

Nesta passagem deve ser frisado que todosos projetos são analisados pela Comissão de Cons-

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tituição, Justiça e de Cidadania, à qual incumbe,dentre outras missões, emitir juízo sobre “aspectosconstitucional, legal, jurídico, regimental e de téc-nica legislativa de projetos, emendas ousubstitutivos sujeitos à apreciação da Câmara oude suas Comissões;” (artigo 32, IV, ‘a’, do Regimen-to Interno da Câmara).

Em relação aos pareceres emitidos pela Co-missão de Constituição, Justiça e de Cidadania exis-te a previsão de recurso, com o que se evita a figu-ra da irrecorribilidade das decisões. O juízo destaComissão é sempre o último, ou seja, é proferidoapós a análise do projeto pelas demais Comissõesque, segundo aquela inicial compreensão da Pre-sidência da Casa, deveriam se manifestar. Ademais,cumpre anotar que, dada a sua capital importân-cia e a natureza das funções que exerce, o enca-minhamento do projeto à Comissão de que ora setrata não depende da discricionariedade da Presi-dência, sendo, reitera-se, obrigatório que os proje-tos sejam fruto de exame pelos parlamentares quea integram.

Como se nota, o controle deconstitucionalidade levado a efeito pela Câmarados Deputados é percebido em dois distintos está-gios e, como evidentemente se dá diante de umprojeto, e não de uma lei, pode ser consideradoprévio em relação àquele realizado pelo Poder Ju-diciário.

Pois bem, postos em linhas extremamentegerais os contornos elementares do controle deconstitucionalidade realizado no âmbito da Câma-ra, constata-se ser mesmo de causar estranheza ofato de que tantas e tantas normas sejam declara-das inconstitucionais pela Justiça. Para que se te-nha uma idéia da dimensão deste problema, regis-tra-se que estudo divulgado na Revista Exame de13 de outubro de 2004, há quase um ano, portanto,demonstrava que grande parte das leis criadas noBrasil é declarada inconstitucional pelo SupremoTribunal Federal. De fato, foram veiculados núme-ros expressivos, que, mais do que preocupantes che-gam a ser assombrosos. Não por acaso, naquelaocasião, afirmou o Ministro Marco Aurélio que oBrasil “está se tornando um país inconstitucional”.

Entretanto, não seria esta a realidade consi-derada provável por aquele indivíduo que anali-sasse, ainda que sumariamente, o processo

legislativo previsto e de observância obrigatóriapela Câmara dos Deputados (isto sem se falar na-quele que toca ao Senado, não abordado neste ar-tigo, embora igualmente merecedor de estudos).Ora, como acima mencionado, são dois examesde constitucionalidade realizados antes que o pro-jeto se torne lei e, ainda assim, pesquisas conse-guem revelar números como aquele há pouco des-tacado.

Dentre o universo de normas consideradasinconstitucionais, por evidente, nem todas são ori-ginadas na Casa Legislativa objeto da atenção des-te artigo. De qualquer modo, não há como deixarde indagar como é possível viver-se em meio a tan-tas declarações de inconstitucionalidade, mesmohavendo um sistema prévio como aquele do qualbrevemente se tratou. Caso as análises feitas pelaPresidência e pela Comissão de Constituição, Jus-tiça e de Cidadania se pautassem apenas e tão so-mente em critérios técnicos, dificilmente se convi-veria com um ambiente jurídico no qual a presun-ção de constitucionalidade das leis vem sofrendosucessivas agressões. Cuida-se de realidade maisdo que conhecida, vivida e sentida por aqueles quemilitam no universo jurídico.

Portanto, resgatando o que foi assinalado deinício, no atual momento em que muitas questõessão postas em discussão, o que se buscou foi de-monstrar a existência de mais uma razão para quea sociedade esteja alerta e se mostre atuante nadefinição de assuntos que influenciem na compo-sição de uma de suas importantes CasasLegislativas, pois o trabalho dos parlamentares hojerealizado tende a apresentar os mais variados efei-tos na esfera social, muitas vezes duradouros e, nemsempre, desejados.

* Leonel Martins Bispo,Advogado e Pós-Graduan-do em Direito Processual

Constitucional

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Z - Edição brasileira emDVD - Versátil Home Video

Z - este filme está vivo

Z (1969), do diretor grego ConstantinCosta-Gravas, provou que o cinema deengajamento político poderia encantarpúblico e crítica se unisse força de con-teúdo com maestria de produção. Com umroteiro primoroso, elenco impecável e umsoberbo trabalho de direção e edição, Zcombina a riqueza reflexiva do cinemaeuropeu com o ritmo ágil e envolventedo thriller americano. Daí sua aclamaçãomundial e uma carreira particularmentevitoriosa nos Estados Unidos: entre vári-os prêmios, ganhou o Oscar de melhor fil-me estrangeiro – tendo sido a primeiraprodução de língua estrangeira a concorrer tam-bém ao Oscar de melhor filme. Z deveria ser exi-bido nas escolas. Seu valor pedagógico é nos mos-trar o Poder prestando contas à Justiça. Geraçõesde brasileiros se lembram de que sua exibição -finalmente liberada em nosso país a partir da cha-mada “Abertura” dos anos 80 – arrancava demo-rados aplausos no final.

Z começa com uma advertênciaprovocativa: “Qualquer semelhança com fatos oupessoas vivas ou mortas não é casual, mas inten-cional”. O filme retrata um episódio ocorrido em1963 na Grécia: o caso do deputado Lambrakis.Esse político, um médico e professor respeitado,talentoso e pacifista, opositor da instalação de mís-seis americanos em território grego, no filme é vi-vido pelo grande Yves Montand. O atentado porele sofrido seria insistentemente anunciado como“acidente” de trânsito pelas autoridades. O queessas não esperavam é que a investigação serialevada a efeito por um juiz obstinado em sua bus-ca pela verdade. As provas levantadas pelo ma-gistrado tornam a versão oficial insustentável. Evi-denciam conspiração e conluio dos órgãos de se-

gurança com grupos radicais de direi-ta. Enfim, a responsabilização dos po-derosos daria início a sucessivas ondasde crises políticas na Grécia, que cul-minariam com um golpe de Estado e ainstalação de uma ditadura militar em21 de abril de 1967.

Por que Z sobreviveu como obrade arte engajada?

Se o filme tivesse concentrado oseu foco na questão do confronto ideo-lógico (pacifistas/armamentistas, es-querda/direita etc), com toda a certe-

za seu interesse se restringiria à sua dimensão dedocumento histórico.

Mas Z apresenta-nos um fio condutor que ofez resistir ao tempo: o cerne da narrativa, a partirde certo momento, torna-se a investigaçãoconduzida por um juiz.

Com isso, o filme ameniza a tendência aomaniqueísmo inerente à apresentação de qualquerluta política e mostra um conflito mais grave, maistrágico e ainda atual: o da Intolerância com a Le-galidade.

Os obstáculos e a feroz reação ao trabalhotécnico e suprapartidário do magistrado vão mos-trar-nos que o ponto de vista radical representa umantagonismo inconciliável não apenas com seusopositores políticos, mas, em última instância, como próprio Estado de direito.

A contradição torna-se profunda e disruptiva:no afã purista de proteger a ordem legal e a tradi-ção da “contaminação” da esquerda, do ateísmo eda corrupção dos costumes o ultraconservadorismopolítico, militar e religioso acaba por violar a pró-pria legalidade, da qual se dizia o grande e virtuo-

* Antônio Luiz Pereira de Castilho

Em memória de Pedro Parafita de Bessa - Professor Emérito da UFMG

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* Antônio Luiz Pereira de CastilhoAnalista Judiciário e pós-graduando

em Teoria Psicanalítica pela UFMG

so defensor.

Ao não supor-tar o confronto coma alteridade, a Into-lerância termina porrecusar as própriasregras fundamentaisdo convívio em soci-edade e se torna cri-minosa. Daí, seuembate político coma oposição corrom-per-se em incompa-tibilidade estruturalcom o princípio dalegalidade - personi-ficado pelo juiz no filme. Para a Intolerância o di-ferente não é assimilável na via de um conflito aser racionalizado pelas regras do jogo democráti-co. Assim, o opositor não é visto como adversário,mas como inimigo a ser excluído e destruído. Nofilme, o deputado (Lambrakis/Montand) é esse Ini-migo, ou seja, aquele que não pode ter direito a terdireitos. Os direitos à reunião pacífica, à manifes-tação e à segurança lhes são covardemente boi-cotados, por quem deveria assegurá-los e promovê-los, assim como o crime de homicídio é planejadopor aqueles que deveriam preveni-lo. Rui Barbosamuito bem viu que no Estado de direito, para sefalar em Cidadania e Justiça, todos os contendoressociais devem ter acesso aos direitos e garantiasprevistos em lei – “A lei que não protege o nossoadversário não pode nos proteger”. No mesmo sen-tido, a clássica frase de Voltaire: “Não concordocom o que dizes, mas defenderei até a morte teudireito de dizê-lo”.

Através de Z, vemos que o espírito intoleran-te presente no pensamento político extremista -quando incrustado e dominante no Estado - cor-rompe o mínimo legal, a própria essência jurídicada ordem, já que o fundamento do poder terminapor deslocar-se da Lei (consensualmenteestabelecida) para a Força (que manipula, contro-la e distorce as leis), degenerando o Estado de di-reito em um Estado policial autoritário, ditatorialou totalitário.

Essa é a grande lição de Z e o segredo desua longevidade: enfatizar e expor a cisão contun-dente e insanável que o mal radical da intolerân-

cia produz no corpussocial, transcenden-do a mera crônica deum conflito ideológi-co. Ao fazer isso, tor-nou-se obra-prima.De filme político, pas-sou a filme de filoso-fia política. Firmou-secomo o registro artís-tico de que não hánada mais potencial-mente criminoso doque a intolerância e,ao lado disso, quenão há nada de mais

subversivo do que a verdade.

A Justiça, no filme, é um poder calcado nalei e na virtude, pois é a expressão dos atos de umjuiz destemido, imparcial, não-venal e não-coni-vente. Seu proceder torna-se, assim, a verdade emação. Por isso, Z nos empolga. Afinal, não entorpe-ce a nossa razão e excita nossos sentidos, mas nosfaz vislumbrar, no exemplo do deputado e do juiz,o melhor do que existe em nós, e que tantas vezesrecalcamos em nome do medo, do comodismo, do“tô nem aí”. É bom que se diga que Z oxigena nos-sa memória e nossa esperança ao retratar um mun-do e um tempo em que os projetos existenciais dosindivíduos freqüentemente norteavam-se pela éti-ca dos ideais e pelo ideal ético. Algo bem diversodo imperativo reinante em nossacontemporaneidade, certeiramente assinalado pelopsicanalista francês Jacques André: o de gozar sem-pre e cada vez mais. A revisão deste filme aindanos sacode; é um antídoto contra a apatia. A letra“Z” em grego antigo significa ele vive. Ao assistir-mos Z, constatamos mais uma vez: morrem os ho-mens, mas não as idéias. Essas, ao portarem valo-res autênticos, germinarão novamente e retornarãofortalecidas à luz - no solo da História – transfigu-radas em realidade.

Voltaire (1694-1778) e Rui Barbosa (1849-1923) -imortais em suas lições sobre a liberdade

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Depois de alguma discussão emuita propaganda, oCongresso Nacionalacabou por pro-mulgar a Emen-da Constitucio-nal nº45, que veiotarde e oca, para implementar o que os maisotimistas chamam de Reforma do Judiciário.Veio tarde, porque não é de hoje que se faznecessário reformar a estrutura desse impor-tante poder do Estado ao qual o cidadão devo-ta tanta esperança, para torná-lo efetivamentemais célere e ágil, dele extirpando fórmulas ul-trapassadas de distribuição da Justiça, procedimen-tos desnecessários, rígidos e já superados, alémde recursos que propiciem a procrastinação e oretardamento da prestação jurisdicional. Veio ocaporque, ao se limitar a implementar a súmulavinculante, criar o Conselho Nacional de Justiça eo Conselho correlato do Ministério Público, a pro-mover a unificação dos Tribunais estaduais, a es-tabelecer o término das férias coletivas na Justiça,dentre outras medidas de menor impacto, todasmeramente paliativas, de alcance e de eficáciaduvidosas, a EC 45 não contemplou nenhuma açãodireta, específica e eficaz com força suficiente paraextirpar a pecha da morosidade que recai sobre oJudiciário

Quando se fala em reforma na casa de al-guém, por exemplo, é lícito prever que, depois

TRIBUNAL EM MINAS: SONHO OU NECESSIDADE?

dela, nãoserão maisencontradaspintura velha,goteiras, vi-

dros quebradose outras mazelas

do tipo. Quando sefala que algo foi ob-

jeto de reforma, o quese imagina é que o “bem”

reformado acha-se comcara de novo, com bom funcionamento,

com os aparelhos e instalações sem defeito.

Na propalada Reforma do Judiciário, infeliz-mente, não se percebe mudança alguma: os fórunscontinuam lotados; o andamento dos processoscontinua cada vez mais moroso; as instalações eos equipamentos continuam precárias e insuficien-tes, sem que haja perspectiva alguma de alteraçãodessa triste realidade..

É de se perguntar, então: onde está a refor-ma, se as principais causas que a motivaram nãoforam atacadas? Reforma estrutural, processual efuncional é do que precisamos para tornar a Justiçaapta a bem servir o cidadão, se desincumbindo daprestação jurisdicional a seu cargo, com eficiên-cia, com rapidez e com segurança, notadamentejurídica.

No âmbito da Justiça Federal como um todo,

* João Henrique Café de Souza Novais

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mas em Minas Gerais em particular, a situação écrítica, tanto no que se refere ao andamento dosprocessos na primeira instância, dado o aumentoextraordinário na distribuição de feitos, quanto noque respeita ao volume de processos à espera dojulgamento de recurso pelo Tribunal Regional da1a Região, que não tem conseguido dar vazão aosjulgamentos, por mais esforço que se faça, sejamediante a adoção de funcionamento ininterrupto,seja através do auxílio de juízes convocados.

O aumento do número de vagas para novosjuízes de primeira instância, o funcionamento dosJuizados Especiais Cíveis e Criminais e a criaçãode novas varas federais, inclusive as novas em im-portantes cidades do interior do Estado, nesse pro-cesso irreversível de interiorização da Justiça Fe-deral, tem conseguido, de um lado, mitigar a situa-ção calamitosa na primeira instância, mas, de ou-tro lado, vem contribuindo para o aumento do nú-mero de sentenças e, conseqüentemente, para onúmero de recursos que são endereçados ao Tri-bunal Regional Federal da 1a Região, fazendo comeste fique ainda mais assoberbado por não conse-guir julgar mais processos que recebe.

As medidas implementadas na 1a instânciada Justiça Federal em Minas Gerais, pois, a par derevelar o louvável propósito de descentralizar edemocratizar o acesso à Justiça, representando umganho inestimável à população e ao fortalecimen-to da cidadania, não tem conseguido gerar osefeitos desejados no instante em que o TribunalRegional não tem crescido na mesma proporçãodesse aumento, fazendo gerar sobrecarga e asfi-xia no escoamento dos processos em fase recursal,congestionando a prestação jurisdicional.

Essa desproporção pode ser demonstradanumericamente. Segundo dados fornecidos pelaAJUFEMG, entre 1989 e 2003, em todo o Brasil,houve um crescimento de 177 para 1.486 no nú-mero de juízes de 1a instância, que corresponde aum crescimento de mais de 800%, enquanto que,no mesmo período, o número de desembargadoresfederais cresceu de 74 para 139, o que correspondea um crescimento de apenas pouco mais que 90%,período em que não foi instalado nenhum novo Tri-bunal. Fácil identificar, portanto, as razões do es-trangulamento no curso dos processos que seguempara reexame e seu agravamento ao longo dos

anos, a merecer providências imediatas.

Ora, é sabido que Minas Gerais origina maisde 50% dos processos que seguem para Brasília,sede do TRF 1ª Região, num volume de processosque suplanta a quantidade total de feitos emtramitação em outros Tribunais, de modo que che-gou a vez e a hora de Minas Gerais exigir que secrie um Tribunal Regional voltado para a soluçãodos processos originados em Minas. Para efeito decomparação, o número de processos remetidos parao TRF por Minas Gerais no ano de 2001 se aproxi-ma do acervo total de processos do TRF 4ª Regiãocom sede no Rio Grande do Sul e é bem superiorao acervo do TRF 5ª Região, com sede emPernambuco. Como se vê, motivos há, de sobra,para que se instale um Tribunal Regional na sededa Capital, não só para dar vazão ao atualrepresamento de processos, mas também para per-mitir que o cidadão, representado por seu advoga-do, possa atuar com mais vigor e presença físicana busca de uma rápida solução para o conflito.

Num país com tantas desigualdades, a bus-ca pela efetividade da prestação jurisdicional pas-sa por mudanças muito mais profundas do que aque-las previstas na EC 45, estando a exigir, para suaimplantação, mudança de mentalidade, o aperfei-çoamento da legislação e, bem assim, o investi-mento em infra-estrutura física, para que o PoderJudiciário possa bem cumprir o seu papel constitu-cional de levar ao cidadão a célere, eficaz e segu-ra prestação jurisdicional.

* João Henrique Café de Souza Novais,Advogado e Secretário Geral da OAB/MG

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Já se disse ser o Juizado Especial a Justiça do futuroe o futuro da Justiça.

A afirmação, sob os dois aspectos, possui validadeirrefutável. A implantação do Juizado Especial, primeira-mente o Estadual, através da Lei nº 9.099/95, secundadopelo Federal, mediante a Lei nº 10.259/01, representou asuperação de inúmeros dogmas do processo civil e penal.Na área cível, ampliou-se o acesso à Justiça por meio dadispensa da representação por advogado, do pagamentode custas processuais e de honorários advocatícios. Elimi-naram-se prerrogativas processuais da Fazenda Pública, fa-cultou-se a adoção de serviço de intimação das partes pormeio eletrônico, dispensou-se relatório às sentenças e re-duziu-se o número de recursos. Despido de solenidades,acessível à população, de menor custo e, em tese, maiságil, o Juizado Especial passou a ser a Justiça do futuro. E,visto por outro viés, nele depositou-se a expectativa de vira ser o futuro da Justiça, como forma de ganhar respeito dapopulação mediante a mais célere, informal e acessívelprestação jurisdicional. Conquanto o Poder Judiciário porforça de sua própria natureza e finalidade não seja e nãopossa ser uma instituição populista, não se pode esquecerde que a única fonte real de poder dos juízes advém dorespeito do povo. E justamente o atraso injustificado e odano dele decorrente constituem as causas primárias daperda de confiança e de credibilidade no sistema de justi-ça, situação que se tencionou cessar com a instituição doJuizado Especial.

No âmbito federal, para bem desempenhar seu pa-pel procura-se dotar os Juizados de estrutura própria e ado-tar soluções inovadores na composição de litígios. O Juizadoitinerante constitui exemplo de medida singular, em que aJustiça desprende suas raízes para fincá-las temporariamen-te em local carente de acesso ao Poder Judiciário Federal.A Justiça não é apenas feita, mas vista sendo feita. Outros-sim, o Juizado virtual foi a solução encontrada para elimi-nar a movimentação física de processos, reduzir o serviçoburocrático e fazer mais célere a tramitação processual.

Como Justiça do futuro, o Juizado Especial deve

A expansão do procedimento do Juizado Especial

expandir-se para outras áreas. As boas práticas necessitamser polinizadas, sob o risco de os méritos da Justiça dofuturo cingirem-se ao Juizado Especial em detrimento dasVaras Federais comuns, apegadas que estariam a ritualismose formalidades estéreis.

Não havia nenhum sentido em se determinar oreexame necessário de causas expressamente excluídasda competência do Juizado, mas cujo valor não ultrapas-sasse 60 salários-mínimos, pelo simples fato de se desen-volverem nas varas comuns. Se o valor da causa continha-se no patamar mencionado, a despeito de ajuizada a açãoem vara comum – por exemplo, anulação de ato adminis-trativo, matéria excluída da competência do Juizado Fe-deral – aplicavam-se regras distintas a grandezas equiva-lentes. A Lei nº 10.352/01 em boa hora acrescentou o § 2ºao art. 475 do Código de Processo Civil e dispensou oreexame necessário em todas as causas cujo valor não es-tivesse contido em 60 salários-mínimos. Mas será que sem-pre precisaremos aguardar o advento de novas leis paracorrigir as incongruências do ordenamento jurídico?

A resposta é negativa. E por esse motivo não érazoável seguir célere procedimento em causasindenizatórias sob o rito do Juizado Especial e conferirmarcha lenta a feito similares que se desenvolvam nasvaras comuns, cuja única diferenciação baseia-se no valorpleiteado. A matéria fática a ser investigada e o direitoaplicável não seriam os mesmos? A menor complexidadeda causa não está relacionada ou ligada a seu valor, massim ao conteúdo e à matéria discutida no processo.1

Desde que se observem dois princípios basilares dodevido processo legal – contraditório e ampla defesa –,nenhum empecilho haverá na adoção do rito dos JuizadosEspeciais nas varas comuns. Isso não significa devam to-das as peculiaridades do Juizado Especial ser transportadassem maiores questionamentos para o procedimento ordi-nário, sobretudo aquelas que acarretem a supressão de prer-rogativas. Caso contrário, o advogado, cuja assistência sedispensa em primeiro grau, também passaria a ser figurasupérflua em todos os procedimentos, malgrado a relevân-

1 BOCHENEK, Antonio Cesar. Competência cível da justiça federal e dos juizados especiais cíveis. São Paulo: RT, 2004, p. 181.

* Carlos Henrique Borlido Haddad

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cia de sua função na defesa dos interesses das partes.

A substituição ou transmudação de ritos, desde quenão importe em prejuízo às partes – e efetivamente não ohaverá, se respeitado o contraditório e a ampla defesa – érecomendável para tornar efetivo o preceito constitucio-nal que dispõe acerca da razoável duração do processo. Apremissa fundamental na tentativa de economizar tempona finalização dos processos consiste em que odescumprimento das formas legais, uma vez atingida afinalidade do ato, não enseja o reconhecimento de nulida-des, regra expressa no art. 244 do Código de Processo Ci-vil.

É perfeitamente possível, ao despachar a petiçãoinicial, determinar o magistrado de uma vara comum acitação da parte oposta para comparecer à audiência deconciliação, instrução e julgamento, ocasião em que apre-sentaria sua defesa. A audiência deve ser designada emprazo superior ao previsto para contestação e somente sejustifica em questões em que há, por um juízo de experi-ência, empiricamente demonstrado, real possibilidade deacordo ou prova oral a ser produzida pelo autor, a quem seatribuiria o encargo de conduzir as testemunhas por elearroladas. Posto que os réus na Justiça Federal sejam cons-tituídos por entes públicos, com baixa margem paratransacionar, porque devem estrita obediência ao princí-pio da legalidade e não agem além do que a lei autoriza,e porque a estrutura burocrática, que prioriza a disciplinaem detrimento da criatividade, funciona como fatordesestimulante à composição, determinadas partes e ma-térias são mais suscetíveis à transação. Nas demais hipóte-ses é dispensável a realização de audiência, porquanto amaior parte dos processos pode ser conduzida até a senten-ça mediante um único despacho: cite-se.

Baldada a composição, em se tratando de matériade direito, a sentença pode ser proferida oralmente emaudiência, após oportunizada vista à parte autora para ré-plica se, e somente se, houver fato extintivo, modificativoou impeditivo de direito com possibilidade de acolhimen-to. Em face de sua estrita competência, é comum na Justi-ça Federal a repetição de ações e a apreciação reiteradade matérias similares, o que permite ao juiz, de antemão,aferir a idoneidade do impedimento alegado pelo réu.

Caso haja necessidade de prova pericial, a designa-ção do perito dar-se-á em audiência e as partes sairão inti-madas para a indicação de assistentes técnicos e apresen-tação de quesitos. Em se tratando de perícia em matériarepetitiva, como é o caso da análise contábil da observân-cia do Plano de Equivalência Salarial em contratos do Sis-

tema Financeiro da Habitação, o próprio valor dos honorá-rios periciais seria estabelecido incontinenti pelo juiz naaudiência, o que evitaria o tortuoso e quase contenciosoprocesso de sua fixação.

A adoção desse procedimentorepresentaria considerável econo-mia de tempo e de esforços, re-duziria a movimentação processu-al e dispensaria a publicação de de-cisões e sentenças em órgãos oficiais,uma vez que as partes seriam intimadasem audiência. Obter-se-ia o refinamen-to do procedimento, com oportunidadede contrariedade entre as partes, e seriareduzido aos atos processuais estritamente necessários àsolução da lide, motivo por que a ele pode-se atribuir oepíteto de Justiça do futuro. Não haveria necessidade dese esgotar o rito ordinário, que se deve reservar a deman-das efetivamente complexas, e o juiz estaria apto a deci-dir quando possível fazê-lo, em maior brevidade. A Justiçaseria mais eficiente, porque mais ágil e célere, sob a inspi-ração do procedimento do Juizado Especial.

A despeito das limitações legais impostas ao juiz,para prestar a jurisdição em tempo hábil, o magistrado teráque rever a própria administração do processo, que passa aestar imbricada com o exercício jurisdicional. Existe a fir-me convicção de que nem todos os problemas de funcio-namento de uma vara federal resolvem-se com o aumentonumérico de servidores. A eficiência do Judiciário depen-de em grande parte da capacidade de administração dosjuízes e de preparação de uma estrutura organizativa reno-vada. Igualmente, há a persuasão íntima de que a eficiên-cia e a celeridade da resposta do sistema judiciário, alémde acrescentarem prestígio e consolidarem a autonomiada magistratura, constituem condição indispensável à ple-na realização dos valores de fundamental importância paraa democracia e para o Estado de direito. O procedimentoseguido no Juizado Especial, cuja extensão às varas co-muns se defende, constitui resposta aos problemas de mo-rosidade que se têm tornado o traço identificador da Justi-ça brasileira.

* Carlos Henrique Borlido Haddad,Juiz federal substituto da 3ª Vara

da Seção Judiciária de Minas Gerais,Doutor e Mestre em Ciências Penaispela UFMG – Universidade Federal

de Minas Gerais

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* Vladimir Passos de Freitas

O método de escolha de juízes é diversificado. NosEstados Unidos, juízes federais são indicados pelo Poder Exe-cutivo e os estaduais são eleitos. Na Argentina, os juízes fede-rais são escolhidos em concurso promovido pelo Conselho daMagistratura. Na França, o recrutamento é por concurso oupor títulos, com posterior curso de formação na Escola Nacio-nal da Magistratura. No Paraguai, são escolhidos pelo Con-gresso, que confirma, ou não, a permanência a cada 5 anos.

No Brasil o ingresso na magistratura de carreira se fazpor concurso de provas e títulos, promovido pelos Tribunais,com base na sua autonomia administrativa (CF, art. 99). Éprática antiga. O primeiro de que se tem notícia ocorreu em21.11.1891, em Santa Catarina. Apresentou-se um candidatoque, longamente inquirido, acabou reprovado (Tribunal de Jus-tiça de SC, Memórias dos 100 anos, p. 113, 2001). De lá paracá, centenas de concursos foram feitos pelos Tribunais brasi-leiros. O TJ/SP está no 176º concurso. Nada recomenda des-prezar-se a experiência acumulada em mais de 100 anos.

A recente reforma do Judiciário trouxe algumas mu-danças nos concursos. Outras tantas virão com o chamadoEstatuto da Magistratura, a ser encaminhado pelo STF ao Con-gresso Nacional. A primeira delas refere-se aos 3 anos de ati-vidade jurídica (CF, art, 93,I). A referência é subjetiva e susci-ta indagações. Primeiro, referido tempo é o mínimo e nadaimpede que os Tribunais o aumentem (p.ex.,TJ/MG exige 4anos, www.tjmg.gov.br, edital de concurso, item VI, 4.8).Outrossim, a atividade jurídica pressupõe o título de bacharel,pois o estágio faz parte do curso de graduação. Aos servidoresdo Poder Judiciário deve ser reconhecida tal condição pelanotória prática e para que possam ser aproveitados na magis-tratura. Às demais hipóteses deverá ser feito exame caso acaso (p. ex. auditores fiscais). Longo tempo passará até que ajurisprudência defina todas as situações.

Pela emenda 45/04, caberá à Escola Nacional de For-mação e Aperfeiçoamento de Magistrados, que funcionarájunto ao STJ (CF, art. 105, par. ún., I) regulamentar os cursosoficiais para ingresso e promoção na carreira. A redação épouco clara e deixa margem a dúvidas sobre a intenção doconstituinte. Ao que parece, o objetivo foi o de que o ingressose faça, como em Portugal, pela aprovação em concurso, se-guida de um curso específico de formação. Só após, se apro-vado, o candidato se tornará juiz. Nesta linha o TJ/RS já reali-za um curso de 2 meses entre as provas escritas e a oral.

Seja ou não este o melhor entendimento e a formaadotada, é importante respeitar as peculiaridades de cadaestado ou, pelo menos, regionais. As diferenças econômica,populacional e cultural dos estados não recomendam um mo-delo nacional único. À Escola Nacional cabe a fixação delinhas mestras. Não os detalhes. Nesta linha, as matérias de-

O INGRESSO NA MAGISTRATURA DE CARREIRA

vem ser escolhidas por cada Tribunal. É que cada região temsuas espécies de conflitos, a exigir dos candidatos, além dosconhecimentos das matérias básicas (Constitucional, Civil,etc.), outros específicos. Por exemplo, o Pará inclui com acer-to o Direito Agrário em seus concursos. Alguns Tribunais exi-gem conhecimentos de Direito Ambiental (TJs/RO, AP, MS eSC e pelos TRFs 1a. e 4a. R.). Outros, Direito do Consumidor(TJ/BA), Estatuto da Criança e do Adolescente (TJ/PR) e Co-nhecimentos Gerais e Língua Portuguesa (TJ/SP).

Ao exame psicotécnico deve ser dado o valor quemerece. Não é mais possível ignorá-lo. O TRF da 4a. R., noseu 11º concurso, negou inscrição definitiva a 7 candidatosavaliados de forma negativa em exames psicológico epsicotécnico. Não foram interpostas ações judiciais contra oato administrativo. A medida é salutar, inclusive para os inte-ressados, que poderão conhecer e suprir suas deficiências. Ainvestigação social deve ser aprimorada. Regra geral, ela selimita a ofícios a pessoas indicadas pelos inscritos. As respos-tas são formais. Não se costuma apontar falhas com receio deconseqüências. As bancas examinadoras não devem ter re-ceio de aprovar. É desarrazoado e fere o interesse público,após meses de trabalho com gastos elevados, aproveitar me-nos de 1% dos candidatos. A magistratura não necessita degênios, mas sim de homens e mulheres bons e trabalhadores.

No mais, é recomendável que: a) a banca seja com-posta por magistrados vocacionados para a atividade, se pos-sível professores; b) alternar os membros da banca, mas man-tendo um do concurso anterior para transmitir a experiência;c) as provas sejam formuladas com clareza e bom-senso, nãosendo razoável exigir conhecimentos excepcionais; d) o editaldo concurso contenha, se possível, as datas de todas as pro-vas, permitindo aos candidatos organizar suas vidas e obrigan-do os examinadores a cumprir o cronograma; e) f) as Escolasda Magistratura dos Tribunais tenham papel de condutoras doprocesso seletivo; f) A prova oral deve ser mantida, pois nelase extrai, além dos conhecimentos, a reação dos candidatosquando se acham sob pressão.

O assunto está na pauta de discussões. Envolve o inte-resse público dos Tribunais, o pessoal de milhares de jovensbacharéis e o econômico de cursos preparatórios. É precisodar-lhe toda atenção.

*Vladimir Passos de Freitas,Desembargador Federal do TRF da

4ª Região (RS), onde foi Corregedore Presidente. Professor doutor da

PUC (PR). Ex-Presidente da AJUFE.

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