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LACUNAS NA COBERTURA SOBRE VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES Marisa Sanematsu Projeto: Monitoramento da cobertura jornalística como estratégia para a promoção da equidade de gênero Observatório Brasil da Igualdade de Realização:

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LACUNAS NA COBERTURA SOBRE VIOLÊNCIA CONTRA AS

MULHERES

Marisa Sanematsu

Projeto: Monitoramento da cobertura jornalística como estratégia para a promoção da equidade de gênero

Observatório Brasil da Igualdade de Gênero

Realização:

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Tema principal Nº de matérias %

Violência Contra as Mulheres 1.506 63,30%

Trabalho (renda e ocupação) 450 18,9%

Poder Político 425 17,8%

Total 2.381 100,0%

Uma pauta com presença significativa em todos os jornais pesquisados (5 jornais de abrangência nacional e 11 de circulação regional/local) no período analisado (janeiro a dezembro de 2010)

Indicador de relevância editorial: mais de 19% com chamada de capa

A violência contra as mulheres destacou-se, entre os temas pesquisados, como o assunto que mais atraiu o interesse da imprensa analisada

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ocorrem casos reais de violência – em especial se a agressão for cometida com motivação passional e com extrema crueldade –, que ganham destaque nas editorias de polícia, principalmente nos jornais de veiculação local.

Por exemplo:

A Violência Contra a Mulher é notícia quando...

quando uma mulher é agredida por um homem famoso, como o ex-goleiro do Flamengo, Bruno Fernandes, suspeito pelo desaparecimento e provável homicídio da modelo Eliza Samúdio, mãe de um bebê que o atleta não quis reconhecer.Nos títulos das 1.506 matérias analisadas, o nome “Bruno” aparece 137 vezes; “goleiro”, 61 vezes; e “Eliza”, 57 vezes.

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uma mulher é assassinada e a investigação da autoria do crime é acompanhada com interesse, como no caso da advogada Mércia Nakashima, de Guarulhos (SP), em que o principal suspeito é o ex-namorado Mizael Bispo.Das 1.506 matérias clipadas, os nomes “Mércia” e “Mizael” aparecem 14 vezes cada um nos títulos das notícias, e “advogada”, 11 vezes.

A Violência Contra a Mulher é notícia quando...

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A Violência Contra a Mulher é notícia quando...

• a agressão envolve violência sexual (estupro), especialmente se seguida de morte;

• houver abuso sexual de crianças (pedofilia), por parte de pais/padrastos, parentes, conhecidos ou estranhos;

• uma mulher é condenada à morte por apedrejamento/enforcamento, em país que admite esse tipo de pena, como a iraniana Sakineh Ashtiani;

• são divulgadas estatísticas oficiais sobre casos de violência contra mulheres ou crianças (inclui abuso, exploração e tráfico)

• etc.

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Distribuição mensal das matérias sobre Violência Contra as Mulheres

- 5 jornais nacionais x 11 jornais regionais/locais (janeiro a dezembro de 2010)

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Distribuição de notícias por jornal%

Jornais nacionais 24,10%Correio Braziliense/DF 7,40%O Globo/RJ 6,10%Folha de S. Paulo/SP 5,90%O Estado de S. Paulo/SP 4,60%Valor Econômico/SP 0,10%

Os quatro maiores jornais nacionais publicaram uma média de 91 matérias; para os jornais regionais/locais, a média ficou em 103 matérias.

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Jornais da Região Norte registraram maior cobertura% de matérias

Região Norte 22,40%O Liberal/PA 13,90%A Crítica/AM 8,50%

Região Sudeste (exceto RJ/SP) 18,40%Hoje em Dia/MG 9,80%A Gazeta/ES 8,60%

Região Nordeste 18,10%Diário de Pernambuco/PE 8,70%A Tarde/BA 5,20%O Povo/CE 4,20%

Região Sul 9,50%Zero Hora/RS 5,10%Gazeta do Povo/PR 4,40%

Região Centro-Oeste 7,50%O Popular/GO 4,20%Folha do Povo/MS 3,30%

O campeão da cobertura – O Liberal, do Pará – foi o líder do noticiário policial, reportando especialmente casos de assassinatos e estupros ocorridos no Estado.

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Distribuição das matérias por editoria

EditoriaTipo de jornal

Jornais nacionais

Jornais regionais/locais Total

Cidade/Local 42,90% 32,60% 35,10%Nacional/Brasil 20,60% 15,00% 16,30%Polícia 0,00% 20,70% 15,70%Internacional/Mundo 13,20% 8,10% 9,30%Sociedade 4,70% 5,40% 5,20%Opinião 3,80% 3,90% 3,90%

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Individualização do ProblemaEnquadramento %Individual 73,78%Temático 10,40%Poder público - Executivo 9,33%Poder público - Judiciário 3,29%Poder público - Legislativo 0,53%Outro 2,67%

Apenas 9% das matérias analisadas recorreram a estatísticas sobre a violência contra as mulheres – principal fonte são órgãos do Executivo

Mais de 80% das matérias não tem enquadramento no setor público; quando isso acontece, 28% se referem ao nível federal; 53% ao estadual e apenas 17% ao municipal.

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Mais de 80% das matérias não apresentam denúncias/alertas sobre o problema da

Violência Contra as Mulheres

Das 17,24% das matérias que apresentam uma denúncia/alerta:

- 11,64% discutem causas - 7,02% buscam soluções

Ausência de problematização

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87% das matérias não mencionam qualquer legislação sobre Violência

Contra as Mulheres

Dos 13% de matérias que mencionam, metade fala da Lei Maria da Penha (94% conhecem a Lei Maria da Penha, mas apenas 13%

sabem seu conteúdo – Pesquisa Instituto Avon/Ipsos)

Imprensa precisa informar mais sobre a Lei

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Uma cobertura acrítica: apenas 24 matérias (2,13%) trataram das políticas públicas para o

enfrentamento da violência contra as mulheres

As vozes mais ouvidas na cobertura • Os poderes públicos são as fontes mais consultadas (45,57%),

com destaque para delegados/as e agentes policiais (24,86%), representantes do Judiciário (8%) e do Ministério Público (3,67%).

• A presença de cidadãs e cidadãos (32,39%) confirma a tendência de uma cobertura focalizada no fato em si e na individualização do problema.

• Entre as fontes independentes, destacam-se os especialistas, com 11,30% das citações nas matérias pesquisadas.

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Predomínio da violência físicaForma de violência %Física 50,15%Sexual (inclui estupro e atentado violento ao pudor de > de 14 anos) 10,79%Cárcere privado 8,59%Abuso sexual (de < de 14 anos) 8,41%Psicológica 3,11%Moral 2,80%Exploração sexual infantil 1,58%Exploração sexual 1,40%Tráfico de meninas e mulheres 1,28%Patrimonial 1,16%Violência ou injúria racial 0,55%Outra 10,18%Total 100%

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Violência doméstica é a mais freqüente50% das matérias mencionam grau de parentesco/nível de relacionamento

entre vítima e agressor

Grau de parentesco/nível de relacionamento %

Cônjuge/parceiro(a)/marido/namorado(a) ou ex 65,77%

Pai 11,22%Mãe 1,85%Padrasto 2,56%Madrasta 0,14%Irmão(ã) 1,70%Filho(a) 2,41%Outro(s) familiar(es) 5,82%Outro (inclui chefe, colega, amigo, professor/a, médico/a, serv. público etc.) 8,52%

Total 100%

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Quando a culpa é da vítima

7% das matérias atribuíram culpa à vítima pela violência sofrida. Os elementos associados à culpa foram:

- Sexualidade/sensualidade (6,98%)- Desobediência (5,81%)- Comportamento inadequado da vítima em função do uso de drogas (4,65%)- Temperamento (2,33%)- Vestuário (1,16%) - Local de circulação (1,16%)

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Ele é uma boa pessoa. Só bate quando...20% das matérias justificam a atitude do agressor

Entre as justificativas mais frequentes:- Descontrole resultante de ciúmes/raiva por parte do agressor

(42,81%)- Exercício de autoridade/controle sobre a mulher por parte do

agressor (8,99%)- Consumo de bebidas alcoólicas por parte do agressor (7,91%)- Uso de drogas ilícitas por parte do agressor (6,83%) - Desequilíbrio psicológico, psiquiátrico ou neurológico do

agressor (5,04%)- Desemprego e/ou problemas financeiros do agressor (4,32%)

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Em 96% das matérias não há indicação de onde buscar serviços de denúncia ou atendimento

Se a matéria indica onde buscar serviços de denúncia ou atendimento, quais são citados? %Ligue 180 – Central de Atendimento à Mulher 25,86%Delegacias da Mulher/DEAMs 18,97%Polícia ou delegacias comuns 17,24%Disque Denúncia 190 8,62%Outro/s 29,31%Total 100,00%

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Uma cobertura...Policial, que tende ao sensacionalismoAcrítica, que não cobra os poderes públicosSuperficial e pouco investigativaPouco informativa; não presta serviço

O problema não é a falta de cobertura, mas de qualidade

Contextualização e problematizaçãoFontes diversificadasFiscalização