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C o m e n t á r i o s a o E s t a t u t o d o s S e r v i d o r e s P ú b l i c o s F e d e r a i s L L e e i i n n ° ° 8 8 . . 1 1 1 1 2 2 / / 9 9 0 0

Lei nº 8.112 - Comentada+80_testes.pdf

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  • Comentrios aoEstatuto dosServidores PblicosFederaisLLeeii nn 88..111122//9900

  • Comentrios ao Estatuto dos Servidores Pblicos Federais Lei 8.112/90

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    SumrioTtulo ICaptulo nico Das Disposies Preliminares......................................................05

    Ttulo II Do Provimento, Vacncia, Remoo, Redistribuio e Substituio ................................................19Captulo I Do Provimento ............................................................................................19Seo I Disposies Gerais ........................................................................................19Seo II Da Nomeao..................................................................................................29Seo III - Concurso .........................................................................................................35Seo IV Da Posse e do Exerccio ............................................................................40Seo V Da Estabilidade..............................................................................................61Seo VI Da Transferncia ..........................................................................................65Seo VII Da Readaptao ..........................................................................................67Seo VIII Da Reverso ................................................................................................68Seo IX Da Reintegrao...........................................................................................71Seo X Da Reconduo .............................................................................................73Seo XI Da Disponibilidade e do Aproveitamento ..............................................75Captulo II Da Vacncia ................................................................................................80Captulo III Da Remoo e da Redistribuio ........................................................86Seo I Da Remoo.....................................................................................................86Seo II Da Redistribuio ..........................................................................................89Captulo IV Da Substituio ........................................................................................93Ttulo III Dos Direitos e Vantagens............................................................................97Captulo I Do Vencimento e da Remunerao.......................................................97Captulo II Das Vantagens ...........................................................................................99Seo I Das Indenizaes.........................................................................................100Subseo I Da Ajuda de Custo ...............................................................................100Subseo II Das Dirias ............................................................................................101Subseo III Da Indenizao de Transporte........................................................102Seo II Das Gratificaes e Adicionais ...............................................................102Subseo I Da Retribuio pelo Exerccio de Funo deDireo, Chefia e Assessoramento ...........................................................................102Subseo II Da Gratificao Natalina ....................................................................103Subseo III Do Adicional por Tempo de Servio .............................................104Subseo IV Dos Adicionais de Insalubridade, PericulosidadeOu Atividades Penosas ................................................................................................105Subseo V Do Adicional por Servio Extraordinrio .....................................105Subseo VI Do Adicional Noturno .......................................................................105Subseo VII - Do Adicional de Frias .....................................................................105Captulo III Das Frias ...............................................................................................106Captulo IV Das Licenas..........................................................................................109Seo I Disposies Gerais .....................................................................................109Seo II Da Licena por Motivo de Doena em Pessoa da Famlia ..............109Seo III Da Licena por Motivo de Afastamento do Cnjuge.......................110Seo IV Da Licena para o Servio Militar .........................................................110Seo V Da Licena para Atividade Poltica .......................................................110Seo VI Da Licena para Capacitao ................................................................111

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    Seo VII Da Licena para Tratar de Interesses Particulares.........................111Seo VIII Da Licena para o Desempenho de Mandato Classista...............112Captulo V Dos Afastamentos .................................................................................112Seo I Do Afastamento para Servir a Outro rgo ou Entidade .................112Seo II Do Afastamento para Exerccio de Mandato Eletivo ........................115Seo III Do Afastamento para Estudo ou Misso no Exterior ......................115Captulo VI Das Concesses ...................................................................................116Captulo VII Do Tempo de Servio .........................................................................117Captulo VIII Do Direito de Petio.........................................................................119Ttulo IV Do Regime Disciplinar ..............................................................................122Captulo I Dos Deveres..............................................................................................123Captulo II Das Proibies ........................................................................................127Captulo III Da Acumulao......................................................................................129Captulo IV Das Responsabilidades ......................................................................134Captulo V Das Penalidades.....................................................................................140ARTIGOS DO CDIGO PENAL ...................................................................................148Ttulo V Do Processo Administrativo Disciplinar ..............................................156Captulo I Das Disposies Gerais ........................................................................156Captulo II Do Afastamento Preventivo.................................................................162Captulo III Do Processo Disciplinar......................................................................164Seo I Do Inqurito ...................................................................................................166Seo II Do Julgamento ............................................................................................168Seo III Da Reviso do Processo .........................................................................172Ttulo VI - Da Seguridade Social do Servidor .........................................................173Captulo I Disposies Gerais .................................................................................173Captulo II Dos Benefcios ........................................................................................175Seo I Da Aposentadoria ........................................................................................175Seo II Do Auxlio-Natalidade................................................................................177Seo III Do Salrio-Famlia .....................................................................................177Seo IV Da Licena para Tratamento de Sade...............................................178Seo V Da Licena Gestante, Adotante e da Licena-Paternidade......178Seo VI Da Licena por Acidente em Servio ..................................................179Seo VII Da Penso..................................................................................................180Seo VIII Do Auxlio-Funeral..................................................................................182Seo IX Do Auxlio-Recluso.................................................................................183Captulo III Da Assistncia Sade.......................................................................183Captulo IV Do Custeio ..............................................................................................184Ttulo VII Captulo nicoDa Contratao Temporria de Excepcional Interesse Pblico........................184Ttulo VIIICaptulo nico Disposies Gerais .......................................................................184Ttulo IXCaptulo nico Das Disposies Transitrias e Finais ....................................185

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    LEI N 8.112, DE 11 DE DEZEMBRO DE 1990.

    Dispe sobre o Regime Jurdico dosServidores Pblicos Civis da Unio, dasautarquias e das fundaes pblicas federais.

    O PRESIDENTE DA REPBLICA, fao saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte lei.

    TTULO I

    CAPTULO NICO

    Das Disposies Preliminares

    Art.1 Esta lei institui1 o Regime Jurdico2 dos ServidoresPblicos Civis3,4 da Unio5, das autarquias, inclusive as em regime especial, e das fundaes pblicas federais6,7,8.

    1-A Lei n 8.112/90 a referncia normativo-jurdica no campo dadisciplina dos direitos, deveres, obrigaes, responsabilidades, garantias,vantagens, proibies e penalidades dos agentes pblicos administrativos estatutrios da Unio.

    Conseqentemente, o instrumento legislativo anterior, Lei no 1.711/52, perde aplicabilidade em face de sua revogao expressa, conforme se l no art. 253 desse do novo Estatuto Federal: ficam revogadas a Lei no 1.711, de 28 de outubro de 1952, e respectiva legislao complementar, bem como as demais disposies em contrrio.

    Assim, a Lei n 8.112/90 se torna o novo paradigma normativo para orientar a legislao administrativa federal no que tange ao regime jurdico dos servidores federais. Ou seja, a legislao administrativa federalconstituda de leis, decretos, portarias, instrues normativas, ordens de servio, etc, passa a encontrar na Lei n 8.112/90 o seu referencial normativo legal de base.

    O Estatuto dos Servidores Federais somente se inclina perante aConstituio, observando as regras que integram os artigos 37 a 41 da LexMater.

    Entretanto, a Lei no 8.122/90 tambm no prevalecer sobre outra lei que a supervenha dispondo sobre matria estatutria, aplicando-se neste caso a regra geral de direito em que norma posterior revoga a anterior quando versem sobre matria de mesmo teor.

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    2-Entende-se por regime jurdico o conjunto de regras que compem o universo de direitos, deveres, obrigaes, responsabilidades, garantias,vantagens, proibies e penalidades incidentes sobre determinadas relaes sociais juridicamente qualificadas.

    Toda relao jurdica recebe a incidncia de normas de direito cujo papel orientar a conduta das partes que a integram. As regras que disciplinam as diversas relaes jurdicas existentes constituem o regime jurdico dessas relaes.

    Por isso falamos em regime jurdico de casamento (comunho parcial, por exemplo), para reger as questes concernentes ao direito patrimonial entre o casal.

    No mesmo sentido o raciocnio se aplica rbita dos estatutos dosservidores pblicos. Sabemos existirem servidores federais, estaduais emunicipais. Existem direitos que so comuns, como por exemplo frias, em todas as esferas administrativas. Todavia, a regncia desse direito no concebida da mesma forma pelas diversas Administraes em seusrespectivos estatutos. A guisa de ilustrao, para certas administraes o servidor entra em exerccio sem o direito de frias, vindo a conquist -losomente aps doze meses de efetivo exerccio, como o caso previsto no Decreto-lei estadual do Rio de Janeiro n 220/75, art.18 combinado com o art. 90 2 do seu regulamento (Decreto n 2.479/79). Para outrasadministraes, como o caso federal, o servidor entra em exerccio com o direito, porm somente poder goz-lo aps doze meses de efetivo exerccio.

    Assim considerado, queremos esclarecer que a expresso regime jurdico no se refere exclusivamente ao estatuto dos servidores pblicos. Eis que o Cdigo Penal, por exemplo, implanta o regime jurdico penal; a Lei doInquilinato estabelece, por seu turno, o regime jurdico das relaes delocao, e assim por diante.

    Os diplomas legais que tutelam os diversos regimes jurdicos recebem o nome de estatutos. Por isso, a Constituio ocasionalmente chamada pelosconstitucionalistas de Estatuto Poltico. No mesmo diapaso, chamamos o Cdigo Penal de Estatuto Penal; Estatuto do Inquilinato, Lei n 8.245/91-locaes de imveis urbanos.

    Do exposto, conclumos que a expresso regime jurdico representa o conjunto de regras averbadas num estatuto cujo papel estabelecer a regncia normativa de determinadas relaes sociais qualificadas pelo direito.

    3-A expresso servidor pblico civil no comporta sentido tcnico ante o regime constitucional vigente. O termo fazia sentido quando se tinha o militar como uma espcie de servidor, da falar-se em servidor pblico militar.

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    Todavia, com o advento da Emenda Constitucional no 18/98, a Seo III do Captulo VII do Ttulo III da Constituio Federal deixou de ser intituladaDos Servidores Pblicos Militares para, acertadamente, passar denominao Dos Militares dos Estados, do Distrito Federal e dosTerritrios.

    Em funo dessa mudana a expresso servidor pblico civil perdeu sentido, bastando, hoje em dia, falar-se em servidor pblico para se fazer referncia quele tecido de agentes civis que integram a grande massa de funcionrios pblicos.

    4-A redao conferida ao art. 1 declarando que a Lei n 8.112/90 representa o Estatuto dos Servidores Pblicos Civis da Unio define o a eficciasubjetiva, ou seja, o alcance subjetivo, desse diploma legal.

    5- mais comum do que se imagina o cometimento do seguinte equvoco: buscar-se solues no estatuto federal para problemas relativos aosservidores estaduais e municipais. Esse equvoco , principalmente,cometido por estudantes iniciantes na disciplina.

    Portanto, se nosso propsito fosse estudar o estatuto dos servidoresmunicipais, por exemplo, de Niteri, teramos que nos reportar a umdocumento prprio; o mesmo ocorreria se nossos estudos objetivassem o exame do regime jurdico estatutrio dos servidores do Estado de MinasGerais, quando ento nossa fonte legislativa seria outra, editada porcorporao legislativa prpria (Assemblia Legislativa do Estado de Minas Gerais).

    Assim, a aplicao da Lei no 8.112/90 somente se faz ante os servidores que atuam no aparelho administrativo federal, seja ele revelado na estrutura do Poder Executivo, Legislativo, Judicirio, Ministrio Pblico, Tribunal de Contas, todos da Unio, bem como das autarquias e fundaes pblicasfederais. Ficam excludas as administraes das entidades estaduais emunicipais, por disporem cada uma delas de autonomia constitucional-administrativa prpria, dotada de capacidade jurdica paraestabelecerem seus prprios estatutos.

    6-A seqncia de palavras utilizadas para a composio da redao do art. 1o, a saber, ...da Unio, das autarquias, inclusive as em regime especial, ...,nos autoriza o exame exegtico do alcance objetivo da Lei, tambmdenominado de eficcia objetiva.

    Com essa redao o legislador se ocupou de definir os destinatriosinstitucionais da Lei.

    Assim, por trs da palavra Unio encontram-se todos os rgos que

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    compem a estrutura administrativa dos Poderes (Executivo, Legislativo e Judicirio), bem como os rgos da estrutura institucional do MinistrioPblico da Unio (MPF/MPT/MPM/MPDFT) e o Tribunal de Contas da Unio (TCU). Noutra locuo, esse conjunto de rgos compe o quetradicionalmente se denomina Administrao Pblica direta da Unio(Poderes+MP+TC).

    Por outro lado, somente parte da Administrao indireta se v alcanada por essa Lei, pois que os agentes administrativos que integram os quadros funcionais das autarquias e fundaes pblicas tambm se encontram sob a tutela desse diploma. Assim, so servidores estatutrios os agentesadministrativos das autarquias e fundaes pblicas federais, como, porexemplo, o INSS e a FIOCRUZ, respectivamente.

    Na Administrao indireta ficam de fora da incidncia da Lei n 8.112/90 as empresas governamentais federais (sociedades de economia mista e empresas pblicas), pois que estas tm seu funcionalismo regido pelaConsolidao das Leis do Trabalho (CLT).

    7-Ensina a obra o eminente professor Hely Lopes Meirelles que algumas leis referem-se a autarquias em regime especial, sem definir o seucontedo. Diante dessa impreciso conceitual, de se dizer que autarquia em regime especial toda aquela a que a lei instituidora conferir privilgios especficos e aumentar sua autonomia comparativamente com as autarquias comuns, sem infringir os preceitos constitucionais pertinentes a essasentidades de personalidade pblica.

    Conclui-se, portanto, que para o legislador da Lei no 8.112/90, a despeito da lei instituidora especfica de determinadas autarquias, as quais receberam o ttulo de autarquias especiais em funo da disposio legal que outrora as criou, no campo do regime jurdico dos servidores dessas pessoas jurdicas de direito pblico, encontram-se revogadas as disposies que contraditem onovo regime institudo por este diploma normativo.

    Por outro lado, quer-se tambm com essa declarao do artigo 1o firmar tese no sentido de que no se subtraem ao alcance da Lei n o 8.112/90 as autarquias cujas leis instituidoras tenham permitido o privilgio de possurem um regime jurdico prprio para os seus servidores, havendo casos, inclusive, de aplicao exclusiva da CLT ao invs do regime estatutrio.

    8-Relativamente ao regime constitucional vigente, tendo em vista o advento da Emenda Constitucional no 19/98, no se tem mais a imposio do instituto denominado RJU - Regime Jurdico nico.

    Retornando ao quadro histrico do advento da Lei no 8.112/90, a sua promulgao em 11 de dezembro de 1990 deu cumprimento ao disposto no ento art. 39, caput (redao original) da CF/88. Este artigo, em sua redao original, determinava que a Unio, os Estados, os Municpios e o Distrito

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    Federal, suas respectivas autarquias e fundaes pblicas, deveriamobservar regime jurdico nico para os seus respectivos quadros funcionais.

    Este texto conferido ao caput do art.39 da Constituio da Repblica baniu a pluralidade de regimes que se admitia sob a gide da Constituio anterior.

    Pelo regime anterior a 1988, cada Poder podia ter p seu prprio estatuto, sendo ainda facultada a contratao pela CLT. Ou seja, era possvel numa s esfera administrativa existirem 3 (trs) regimes estatutrios pblicos mais a CLT. Assim, sob o regime constitucional de 1967/69 permitia a admisso de pessoal pelo regime estatutrio e pelo regime celetista.

    Antes de enfocarmos o cenrio criado pela Emenda Constitucional n19/98 importante concluirmos o que acabamos de examinar:

    a) antes de 1988, o regime constitucional admitia o emprego dos regimes estatutrio e celetista, conforme a necessidade de cada Administrao;

    b) antes de 1988, o regime constitucional permitia a coexistncia de vrios estatutos na medida em que cada Poder podia ter o seu prprio regime estatutrio;

    c) esse quadro nos permite afirmar que antes de 1988 existia umapluralidade de regimes jurdicos;

    d) com o advento da Constituio de 1988, tendo em vista a regra contida na redao original do caput do art. 39, implantou-se uma nova ordem:regime jurdico nico.

    Passemos agora ao quadro implantado pela Emenda Constitucional no 19 em 1998.

    Nova redao foi conferida ao caput do citado artigo 39, nele no se lendo mais acerca da aplicao de um nico regime jurdico. Portanto, em funo da nova redao constitucional passou-se a admitir a incorporao depessoal com base na CLT, observada as disposies constitucionaisexistentes, especialmente no que concerne s regras bsicas do concurso pblico (CF/88, Art. 37, II a IV, VIII e 2o).

    Teramos, portanto, retornado ao regime de 1967/69?

    No, pois naquela poca a Constituio admitia a pluralidade de regimes jurdicos. Hoje, o regime dual, ressalvada a previso constitucional das contrataes excepcionais ou temporrias (CF/88, art. 37, IX).

    A dualidade de regimes jurdicos que caracteriza o tempo presente decorre da possibilidade de contratao de pessoal pela CLT e da nomeao de servidores estatutrios. Entretanto, vedada a adoo de mais de um regime estatutrio na mesma esfera administrativa.

    Atualmente, portanto, a Lei 8.112/90 no tem mais a hegemonia nombito da administrao federal direta, autrquica e fundacional. Estas

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    administraes tambm podem contratar pela CLT, observadas as restries legais existentes. Entretanto, caso admitam pessoal pelo regime estatutrio, aplicar-se- a Lei n 8.112/90, no se admitindo a coexistncia de um outro estatuto pblico na esfera federal.

    De tudo isso, conclui-se que a Lei no 8.112/90 no ostenta mais a posio de regime jurdico nico federal, admitindo-se que a Unio, autarquias e fundaes pblicas federais contratem pessoal pela CLT. Outrossim, emrelao aos servidores titulares de cargos pblicos, estes, necessariamente, continuam sob a tutela nica da Lei n 8.112/90.

    Art.2 Para os efeitos desta lei1,2, servidor a pessoalegalmente3 investida4 em cargo pblico.

    1-A forma peremptria conferida redao do art. 2o decorre da conscincia que o legislador tem acerca da grande divergncia doutrinria ejurisprudencial existente sobre o conceito jurdico de servidor pblico. Vrias leis, inclusive, tratam da figura do funcionrio, do servidor, do agente pblico como expresses que ora se equivalem ora tm significado diverso. o caso, por exemplo, do Cdigo Penal que em seu artigo 327 define funcionrio pblico para efeitos penais; a Lei de Abuso de Autoridade (Lei n 4.898/65,art. 5) define autoridade pblica de maneira tal que seu conceito tambm atinge a pessoa do servidor ou funcionrio pblico; o mesmo ocorre com a Lei n 8.429/92 ao definir agente pblico em seu artigo 2. Assim, no sendo uniforme o emprego do termo servidor pblico, para que no haja dvidas de natureza interpretativa quando do seu emprego ao longo das disposies da Lei no 8.112/90, resolve legislador estatutrio federal estabelecer o seuentendimento, impondo interpretao autntica contextual para o exegeta e aplicador desse diploma jurdico.

    Na medida em que este art. 2o se encontra nas Disposies Preliminares da Lei, absolutamente apropriada a presente disposio, evitando-se, com isso, eventuais embaraos futuros no uso do termo.

    A imposio de uma interpretao autntica contextual no pe fim discusso doutrinria e jurisprudencial. A interpretao contextual, porm, evita tal confuso no mbito da aplicao dessa Lei.

    Assim, a divergncia conceitual ainda perdura, mas a despeito daautoridade acadmica dos ilustres autores de direito administrativo, bem como das posies assumidas pelos doutos magistrados, o legisladorassume uma linha conceitual prpria no admitindo interpretao diversa.

    2-Doutrinariamente, predomina a percepo de que servidor pblico o agente pblico administrativo, regido por um estatuto, ocupante de cargo pblico efetivo (isolado ou de carreira) ou em comisso (DAS - Direo e Assessoramento Superior ou DA Direo e Assistncia Intermediria).

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    No entanto, para ilustrar uma concepo diversa, o Cdigo de tica dos Servidores do Poder Executivo da Unio, baixado pelo Decreto n 1.171/94, esclarece em seu inciso XXIV que para fins de apurao docomprometimento tico, entende-se por servidor pblico todo aquele que, por fora de lei, contrato ou de qualquer ato jurdico, preste servios de natureza permanente, temporria ou excepcional, ainda que sem retribuio financeira, desde que ligado direta ou indiretamente a qualquer rgo do poder estatal, como as autarquias, as fundaes pblicas, as entidades paraestatais, as empresas pblicas e as sociedades de economia mista, ou em qualquer setor onde prevalea o interesse do Estado.

    Do exposto, ressalte-se que o entendimento da Lei n 8.112/90 prprio, exigindo do seu aplicador fidelidade ao disposto no art. 2 do Estatuto dos Servidores Federais, a despeito de concepes diversas, inclusive no mbito da prpria legislao federal, como o caso do Decreto n 1.171/94 (Cdigo de tica dos Servidores do Poder Executivo da Unio)

    3-Entenda-se o advrbio legalmente em sentido amplo. Assim,enquadram-se no texto as regras estabelecidas em Lei n 8.112/90, naConstituio, nos regulamentos e nos regimentos. Ou seja, a palavralegalmente no se limita lei em sentido formal, muito menos apenas Lei n 8.112/90, mas a todo o conjunto de regras jurdicas que incidem na hiptese.

    O conjunto de artigos 37 a 41 da Constituio Federal estabelece o regime jurdico constitucional dos servidores. Os dispositivos ali consignadosdizem respeito, entre outros temas, acessibilidade e no acumulao, exigindo sua fiel observncia quando da ocorrncia de relaes jurdicasestatutrias. No seria razovel, portanto, interpretar-se a palavralegalmente empregada nesse artigo 2o da Lei no 8.112/90 somente em sentido restritivo, excluindo outras disposies pertinentes ao regimeestatutrio.

    As disposies contidas nesta Lei, no que concerne ao servidor pblico federal, no tm carter exaustivo. Assim, a Lei no 8.112/90 no esgota toda a disciplina normativa relativa ao cargo pblico e ao seu titular. Um exemplo bsico dessa questo podemos encontrar na lei que institui o prprio cargo. Nela, direitos, deveres, prerrogativas, requisitos especficos, entre outrositens, podem ser exigidos especialmente para o referido cargo, a par das disposies normativas j existentes na Lei no 8.112/90.

    4-Investidura representa a insero da pessoa fsica no corpo daAdministrao Pblica. Por meio dela, infunde-se no agente pblico aparcela de poder pblico necessria para o desempenho regular dasatribuies do cargo.

    Normalmente, cristaliza-se a investidura pela assinatura do termo de

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    investidura. Uma cpia autenticada deste documento entregue ao servidor, ficando o original na sua pasta de assentamentos funcionais.

    comum buscar-se entender a investidura a partir da idia de posse, o que um erro! Primeiro, porque a posse representa um ato de resposta do indivduo que, nomeado, se manifesta favoravelmente convocao. Eis que a Administrao Pblica, ento, diante da manifestao clara, livre econsciente do nomeado, realiza um ato jurdico revestido de solenidade - a posse, capaz de, pela sua cerimonialidade, consolidar o ato administrativo de provimento do cargo pblico. Assim, se por um lado a posse depende da iniciativa do nomeado, a investidura, por outro, depende da iniciativa da administrao.

    Uma segunda razo na qual podemos nos orientar no sentido de que a investidura no se confunde com a posse, est no fato de que em algumas administraes, como por exemplo na Administrao estadual do Rio deJaneiro, a investidura ocorre com o exerccio e no com a posse.

    Art.3 Cargo pblico o conjunto de atribuies eresponsabilidades1 previstas na estrutura organizacional2que devem ser cometidas a um servidor.

    Pargrafo nico. Os cargos pblicos, acessveis3 a todos os brasileiros4, so criados por lei5, com denominao prpria6e vencimento pago pelos cofres pblicos7, para provimentoem carter efetivo ou em comisso8.

    1-Como se nota, no se define cargo pblico com uma frmula simples e geral. A compreenso de cargo pblico requer detalhes para que o seucontedo se revele com preciso de sentido.

    No podemos definir cargo pblico apenas como conjunto de atribuies e responsabilidades, pois essa sentena, por si s, incapaz de evidenciar a idia de cargo. Um conjunto de atribuies e responsabilidades denota, na verdade, a idia de funo e no a de cargo. Embora todo cargo tenha uma funo a ele correspondente, nem toda funo revestida de um cargo pblico. H funes desempenhadas pelo regime celetista, bem como h funes polticas, honorficas, credenciadas, etc.

    Assim , por exemplo, o cargo de professor requer o exerccio das funes de magistrio, ou seja, preparar aulas, ministra-las, confeccionar e corrigir as provas e testes aplicados, etc. Estas so, propriamente, as funescorrespondentes ao cargo de professor, ou seja, o seu conjunto deatribuies e responsabilidades.

    Neste sentido, conclumos que o conjunto de atribuies e

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    responsabilidades (funo) parte integrante da noo conceitual de cargo. Este, porm, requer outros elementos.

    2-A doutrina se vale de uma metfora para explicar a estrutura geral da Administrao Pblica. Associa a idia de Administrao Pblica a um corpo dotado de rgos e clulas. Assim, se o corpo humano constitudo de diversos rgos, cada qual com suas atribuies especficas, todosfuncionando harmoniosamente, propiciando vida; no mesmo sentido, aAdministrao Pblica constituda de rgos funcionais dotados decompetncias e atribuies especficas, tais como os Ministrios eSecretarias executivas, gabinetes, departamentos, divises, setores, sees, etc. Os cargos, nessa linha metafrica seriam as clulas que matem vivo os rgos e sistemas.

    Eis a coerncia da Lei no 8.112/90 ao dizer que os cargos pblicos encontram-se previstos numa estrutura ORGAnizacional.

    Os cargos pblicos, naquela metfora, correspondem s clulas dosrgos. Estas, por sua vez, respondem por atividades funcionais mnimas no fracionamento do complexo funcional, porm indispensvel existncia da prpria entidade pblica. No h entidade sem rgo, nem rgo semagente. No h Administrao Pblica que possa funcionar desprovida de centros de competncia funcional, nem rgos pblicos capazes deprestarem servios especficos sem os profissionais qualificados para o cumprimento e materializao dos diversos encargos pblicos.

    3-O emprego da palavra acessvel indica a consagrao do princpioadministrativo da acessibilidade, que tem fundamento constitucional no art. 37, incisos I a V, VIII, IX e 2o do mesmo artigo. Concurso pblico princpio procedimento seletivo derivado do princpio da acessibilidade, no sendo recomendvel t-lo como princpio, embora grande parte da doutrina assim o denomine.

    4-Chamamos, aqui, ateno para o pargrafo 3o do artigo 5o dessa Lei, includo pela Lei no 9.515/97, que cria uma clusula especial quanto nacionalidade para os estrangeiros que se mostrem habilitados alecionarem em nossas universidades pblicas federais.

    No devemos tomar em sentido absoluto o teor da regra contida nesse pargrafo nico do artigo 3o, que a rigor, merecia ser reescrito para melhor enquadrar-se s disposies constitucionais vigentes (CF/88, Art.37, I),evitando, assim, eventuais antinomias (normas contraditrias em um mesmo diploma jurdico-normativo).

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    5-A criao de cargos pblicos depende de ato legislativo. Sobre esse tema particularmente interessante o processo legislativo de criao dos cargos pblicos no mbito do Poder Legislativo da Unio.

    Em funo de uma certa peculiaridade no processo legislativo de criao de cargos pblicos nas corporaes legislativas federais,devemos tomar a palavra lei em seu sentido material e no em seu sentido formal estrito (regra elaborada pelo Legislativo e sancionada pelo Executivo).

    Em termos gerais e comuns, a criao de cargos pblicos sofre atramitao legislativa formal regular, ou seja, o projeto de lei encaminhado Cmara dos Deputados, por fora do disposto no artigo 64, caputcombinado com os artigos 61, 1o, II, a (quando se trata de criao de cargos no mbito do Poder Executivo) e 96, II, b (quando se trata de criao de cargos no mbito do Poder Judicirio), todos da CF.

    A criao de cargos pblicos para suprir s necessidades dos rgos dos Poderes Executivo e Judicirio, de fato, passa pelo processo legislativoordinrio. Entretanto, o mesmo no acontece em relao aos cargos a serem criados no mbito do Congresso Nacional. Nele, h processo legislativo especial, nos termos dos artigos 51, IV e 52, XIII da CF. Esta previsoespecial vem no sentido de preservar a autonomia administrativa das Casas Legislativas, no havendo qualquer embarao ou comprometimento internacorporis ensejado pelo processo de criao dos respectivos cargos pblicos, evitando-se, com isso, qualquer embarao poltico, administrativo,oramentrio, ou outro de qualquer natureza.

    Assim, no geral uma lei ordinria aprova a criao de cargos pblicos para os Poderes Executivo, Judicirio, Ministrio Pblico e Tribunal de Contas, autarquias e fundaes pblicas. Porm, em se tratando de cargos pblicos a serem lotados no Poder Legislativo, segundo a necessidade de cada Casa Legislativa, aprovam-se esses cargos por meio de Resoluo.

    Compreendida essa particularidade em relao criao de cargos no mbito do Poder Legislativo, cabe tambm salientarmos a existncia de uma certa peculiaridade na criao de cargos no mbito do Ministrio Pblico da Unio. Neste caso temos uma hiptese de iniciativa concorrente entre o Procurador-Geral da Repblica e o Presidente da Repblica, nos termos dos artigos 127, 2o combinado com o artigo 61, 1o, II, d, todos da CF.

    6-A denominao do cargo o ttulo ou o nome atribudo ao cargo no sentido de individualizar determinada funo entre tantas outras existentes no universo de atividades desenvolvidas na organizao administrativa. Assim, fala-se em AFRF (Auditor Fiscal da Receita Federal), Delegado de Polcia Federal, Analista Judicirio, Consultor Legislativo, etc.

    7-A redao legal ao evidenciar que os vencimentos correspondentes aos cargos pblicos so pagos pelos cofres pblicos tem no mnimo dois

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    objetivos bem claros: primeiro, contemplar o princpio da remunerao;segundo, dissociar o Estado de qualquer outro interesse (religioso,econmico, etc)

    Quanto observncia do princpio da remunerao, a Lei no 8.112/90 corrobora esse entendimento com a regra contida no art. 4o. A prestao de servios realizada por algum em nome do Estado implica contraprestao pecuniria pelos prstimos efetivados pelo agente, sendo indigno Administrao Pblica locupletar-se do trabalho de qualquer pessoa a ttulo gratuito, salvo nos casos especialmente motivados por razes de ordem cvica ou de relevante interesse pblico.

    Por outro lado, o disposto no artigo 3o, pargrafo nico, tambm busca evidenciar a dissociao entre os interesses e negcios do Estado-administrao e aqueles com quem ele se relaciona. Assim, no se admite uma promiscuidade entre os interesses privados e os pblicos, no sendo possvel que a retribuio pecuniria pelo desempenho de atividadespblicas a serem cometidas a um servidor.provenha diretamente daadministrao privada ou pessoas particulares.

    8-Provimento instituto jurdico-administrativo que indica a forma depreenchimento de cargo pblico. Nosso interesse agora, porm, repousa sobre a noo decorrente do carter efetivo ou em comisso.

    O provimento de cargo pblico varia em seu carter (efetivo ou emcomisso) em funo da natureza das atividades correspondentes ao cargo pblico que se busca preencher.

    O cargo efetivo se reporta atividade de natureza subalterna, de vnculo permanente e ndole profissional. Tratando-se de atividades ligadas chefia, direo, assessoramento e consulta, seu provimento possui cartercomissionado e de vnculo no-permanente.

    O ingresso no cargo pblico, seja efetivo seja em comisso, se opera pelo ato administrativo de provimento denominado nomeao. Assim, no a forma de provimento (nomeao) que distingue o cargo efetivo do cargo em comisso. De fato, valendo-nos dos termos da lei, o que distingue o cargo efetivo do cargo em comisso a natureza do vnculo jurdico entre o agente o a Administrao que o investe.

    O provimento de carter efetivo indica que a relao jurdica existente entre o titular do cargo (servidor) e o Estado-administrao (Unio, autarquia ou fundao pblica) de ndole permanente. Interessa ao Estado-administrao, em funo da finalidade administrativa a que se presta o cargo efetivo, que seu titular nele permanea, pois como em qualqueratividade profissional, quo mais tempo de exerccio tiver a pessoa emdeterminada funo, maior a sua percia e habilidades. Ora, se aAdministrao Pblica necessita, permanentemente, de certas atividadesprofissionais, ideal que seu encarregado seja algum acomodado realidade e peculiaridades prprias do Servio Pblico. Em certo sentido,

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    podemos sustentar que h no cargo efetivo uma forte expresso do princpio da continuidade do servio pblico, princpio afeto essencialmente realizao, materializao de atividades normalmente cometidas aosservidores pblicos titulares de cargos efetivos.

    O provimento do cargo em comisso, a despeito de operar-se tambm por nomeao, objetiva fins diversos. Este provimento se dirige aopreenchimento de atividades de chefia, direo e assessoramento, seu titular algum sobre quem se deposita confiana. O titular de cargo em comisso algum cujas atividades expressam freqentemente o exerccio de poderes discricionrios (liberdade de deciso segundo um juzo de convenincia,oportunidade, necessidade, utilidade e adequao), de maior ou menorextenso em funo do seu grau na escala hierrquica da Administrao,trao que o distingue singularmente daqueles que exercem atividades de natureza profissional e subalterna. Dessa maneira, evidente que o carter do provimento do cargo pblico em comisso no do mesmo teor daquele reconhecido no cargo efetivo.

    Art.4 proibida a prestao de servios gratuitos, salvo os casos previstos em lei1,2,3,4.

    1-Os casos previstos em lei para a prestao de servios gratuitos so doutrinariamente categorizados como servios de natureza honorfica, bem assim o so os de mesrio eleitoral, escrutinador, membro integrante do tribunal do jri, pais que funcionam em conselhos escolares, etc.

    Segundo lies do ovacionado professor Hely Lopes Meirelles, os agentes pblicos honorficos so cidados convocados, designados ou nomeados para prestar, transitoriamente, determinados servios ao Estado, em razo de sua condio cvica, de sua honorabilidade ou de sua notria capacidadeprofissional, mas sem qualquer vnculo empregatcio ou estatutrio enormalmente, sem remunerao.

    2-Para finalizarmos os comentrios s disposies preliminares recomendvel registrarmos que o artigo 327 do Cdigo Penal determina que considera-se funcionrio pblico, para os efeitos penais , quem emboratransitoriamente ou sem remunerao, exerce cargo , emprego ou funopblica (grifos nossos).

    3- importante salientarmos, neste momento, a questo da proibio daacumulao remunerada de cargos pblicos, nos termos da CF/88, art.37, incisos XVI e XVII, bem como da Lei n 8.112/90, Ttulo IV, Captulo III.

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    Existe argumento no sentido de dizer que estaria regularizada a questo da acumulao ilegal de cargos a partir do momento em que o servidorpedisse o cancelamento do pagamento de um dos cargos, vez que o texto constitucional menciona expressamente a palavra remunerada. O simples cancelamento do pagamento relativo a um dos cargos, entretanto, no torna a acumulao lcita, exatamente porque estaria sendo inobservada a regra contida neste art.4o. Para manter-se um vnculo funcional com aAdministrao Federal, sem a correspondente remunerao pelos servios prestados, necessrio haver previso legal expressa. o caso tpico dos agentes pblicos honorficos (*mesrio eleitoral, escrutinador, membros do jri, etc).

    4-Seria recomendvel que o legislador federal inserisse um artigo noCaptulo I Disposies Preliminares, aludindo questo dainacumulabilidade. Nestes termos poderamos encontrar disposio noseguinte sentido:

    O servidor titular de cargo efetivo no poder, sem prejuzo de seu cargo, investir-se em outro cargo, salvo, havendo compatibilidade de horrios, nas hipteses admitidas pela Constituio da Repblica.

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    Quadro esquemtico resumitivo do Ttulo I

    Captulo nico

    Disposies Preliminares

    Objeto jurdico da lei instituir o regime jurdico dos

    servidores federais

    Definies

    Administrao Federal Direta

    Alcance Administrao Federal Autrquica

    Administrao Federal Fundacional

    Destinatrios servidores pblicos federais

    a) conjunto de atribuies e

    responsabilidades;

    Conceito legal de servidor b) previsto numa estrutura

    Organizacional;

    c) criado por lei;

    e) com denominao prpria;

    f) acessvel aos brasileiros e

    aos estrangeiros que

    preencham os requisitos

    estabelecidos em lei;

    g) pago pelos cofres pblicos;

    h) para provimento em carter

    efetivo ou em comisso.

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    TTULO II

    Do Provimento, Vacncia, Remoo,

    Redistribuio e Substituio

    CAPTULO I

    Do Provimento

    SEO I

    Disposies Gerais

    Art.5 So requisitos bsicos1,2 para investidura3,4 em cargo pblico:

    I - a nacionalidade5 brasileira;

    II - o gozo6 dos direitos polticos;

    III - a quitao com as obrigaes militares e eleitorais;

    IV - o nvel de escolaridade exigido para o exerccio do cargo;

    V - a idade mnima de dezoito anos7,8;

    VI - aptido fsica e mental.

    1 As atribuies do cargo podem justificar a exigncia de outros requisitos estabelecidos em lei9,10.

    2 s pessoas portadoras de deficincia11 assegurado odireito12 de se inscrever em concurso pblico para provimento de cargo cujas atribuies sejam compatveis13 com adeficincia de que so portadoras; para tais pessoas seroreservadas at 20% (vinte por cento) das vagas oferecidas no concurso.

    3 As universidades e instituies de pesquisa cientfica e tecnolgica federais podero prover seus cargos comprofessores, tcnicos e cientistas estrangeiros, de acordo com as normas e os procedimentos desta Lei.

    (Pargrafo 3o includo pela Lei n 9.515, de 20.11.97)

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    1-O caput do artigo 5o cuida dos requisitos bsicos para a investidura em cargo pblico. E o que isso significa? Esta disposio normativa determina que todo e qualquer cargo, efetivo ou em comisso, no mbito do Servio Pblico Federal, tem que observar o elenco de incisos constantes desse artigo 5. Ou seja, a investidura em cargo pblico federal, qualquer que seja, somente ser possvel se o nomeado preencher tais requisitos.

    Sendo requisitos bsicos, deflui-se que alm das exigncias constantes dos seis incisos que compem o artigo 5 da Lei n 8.112/90, outrasprescries podem ser feitas considerando a natureza das atribuies, o grau de complexidade e responsabilidade de cada cargo pblico, etc.

    Portanto, o elenco do artigo 5o numerus apertus, no esgotando a relao de exigncias formais para a efetivao da investidura. Pode um outro instrumento legal estabelecer novas exigncias. Entretanto, aestipulao de novas exigncias deve pautar-se em critrios razoveis para que no se deturpe e a sua finalidade seletiva.

    2-Queremos salientar neste comentrio a figura do concurso pblico.Observe que o concurso pblico no constitui um dos requisitos bsicos de investidura. Por que? A razo simples. A regra contida no artigo 5 do Estatuto Federal se projeta no cargo pblico, seja ele de carter efetivo ou em comisso. Como se sabe, o cargo em comisso no requer a realizao de concurso. Sendo assim, acertadamente no se fala na aprovao prvia em concurso pblico de provas ou de provas e ttulos como requisito bsico de investidura, sob pena de limitar-se o alcance desta regra ao provimento apenas dos cargos em efetivos.

    3-Investidura o reconhecimento oficial da parcela de poder pbliconecessria e suficiente para o regular desempenho das atribuies do cargo, considerada a natureza de sua competncia funcional (poltica,administrativa, honorfica, credenciada, delegada).

    No contexto do Estatuto, estamos tratando de uma investidura funcional de natureza administrativa, conforme expusemos no comentrio 4 ao artigo 2 desta Lei.

    4-Nos termos do art. 7o a investidura ocorrer com a posse. Assim,podemos sustentar que as comprovaes relativas ao preenchimento desses requisitos somente podem ser feitas quando da tomada de posse,caracterizando inadequado exerccio do poder regulamentar qualquer norma administrativa infralegal que antecipe essa formalidade. Esse o nosso entendimento.

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    5-E em relao nacionalidade brasileira, fizemos comentrio anterior, de nmero 4, ao artigo 3 que se referia ao mesmo tema.

    No sentido de complementar a presente questo, salientamos o fato de que o artigo 12, pargrafo 2, da Constituio Federal estabelece que "a lei no poder estabelecer distino entre natos e naturalizados, salvo noscasos dispostos nesta Constituio". Assim, os cargos pblicos so, em princpio, acessveis aos brasileiros natos e naturalizados sem qualquerdistino.

    Embora se trate de conhecimento jurdico elementar, lembremo-nos que o naturalizado algum cuja aquisio derivada de nacionalidade implica a perda da nacionalidade de origem. Assim, equivocam-se aqueles que se referem ao naturalizado tomando-os como estrangeiros.

    6-O gozo dos direitos polticos se faz provar pela filipeta que entregue ao cidado quando da sua participao nas eleies, bem como por certido extrada na zona eleitoral qual estiver vinculado o eleitor.

    7-O novo Cdigo Civil, artigo 5, Pargrafo nico, inciso III estabelece que o menor de 18 anos de idade adquire a maioridade, cessando suaincapacidade para os atos da vida civil, quando do exerccio de empregopblico efetivo (grifo nosso). Evidentemente, a palavra "emprego" deve ser interpretada em sentido amplo, indicando vnculo jurdico de prestao de servio, no aludindo exclusivamente ao vnculo celetista de trabalho.

    A harmonia entre o Cdigo Civil e a Lei n 8.112/90, no que tange idade, duvidosa, pois na esfera federal no possvel que algum exera cargo pblico efetivo antes dos 18 anos de idade, sob pena de ilegalidade porinobservncia da regra contida no inciso V do artigo 5 do Estatuto Federal.

    Por outro lado, ressaltemos que o indivduo no atinge a maioridade por ser aprovado em concurso pblico, mas por titularizar um cargo ou emprego pblico de carter efetivo.

    8- comum questionar-se acerca da existncia de limite de idade mxima para o ingresso no Servio Pblico.

    Em face do disposto no artigo 39 pargrafo 3 combinado com o artigo 7 inciso XXX da CF/88, em princpio, incompatvel com o regimeconstitucional vigente a adoo de critrio de limitao de idade para opreenchimento de cargo ou emprego na Administrao Pblica.

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    Por outro lado, a Lex Mater tambm estabelece regra no sentido daaposentadoria compulsria, impondo a inatividade ao servidor que atinge 70anos de idade. H tambm o caso da aposentadoria voluntria, no qual exige-se a permanncia por pelo menos cinco anos no cargo no qualpretenda se aposentar o servidor, sendo ainda obrigado o servidor ademonstrar que possui dez anos de Servio Pblico (CF/88, art. 40, 1).

    Cortejadas as disposies acima apresentadas constata-se a incidncia de regras do direito previdencirio sobre a relao jurdico-administrativaconcernente ao concurso pblico. Aquelas regras acabam criando, assim, uma limitao oblqua no processo seletivo pblico. Portanto, a limitao de idade no provm do direito administrativo, mas do direito constitucional-previdencirio pblico.

    A aparente contradio sugere antinomia. Todavia, constitui regra bsica de hermenutica constitucional o fato de que a Constituio no se contradiz. Sendo assim, no h que se falar em contradio no texto constitucional.

    9-A regra do pargrafo 1 confirma a disposio normativa estabelecida no caput do artigo quinto, ou seja, o elenco de seis incisos do artigo 5 da Lei n 8.112/90 ilustra os requisitos bsicos de investidura. Sendo assim, nostermos do pargrafo 1: "As atribuies do cargo podem justificar a exigncia de outros requisitos estabelecidos em lei".

    10-Gostaramos de deixar registrada a seguinte reflexo: a exigncia de novos requisitos somente pode ser estabelecida por ato legislativo?

    Parece-nos evidente que a capacidade jurdica para estabelecerem-senovos requisitos de investidura no reconhecida a qualquer instrumento normativo, especialmente os infralegais.

    Ora, se o cargo pblico possui toda uma solenidade no que respeita sua criao, por conseqncia, o estabelecimento de exigncias para o seurespectivo provimento e investidura devem promanar de instrumentosnormativos do mesmo grau e quilate. Se cabe lei instituir o cargo e definir suas atribuies, as exigncias para investidura do cargo tambm devem ser feitas mediante ato legislativo. Simples atos administrativos no nos parecem aptos para o estabelecimento de exigncias especficas em relao aos cargos pblicos.

    Outro aspecto refora este raciocnio. As pessoas interessadas noprovimento de cargos pblicos (especialmente os efetivos) no podem ficar merc das variaes de percepo pessoal e momentnea de cadaadministrador. Trata-se de questo de direito e no mera questo deadministrao. Foi, com certeza, por essa razo que o legislador constituinte conferiu aos administradores mximos de cada Poder a capacidade

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    legislativa (iniciativa) para a propositura de projetos de leis que atendam s suas necessidades especficas e objetivas na rea de administrao de pessoal.

    11-O fundamento constitucional para o presente pargrafo 2 do artigo 5o da Lei no 8.112/90 que trata do acesso aos quadros pblicos da pessoaportadora de deficincia, encontra-se no artigo 37, inciso VIII, da Lei Maior.

    Todavia, imprescindvel salientarmos o fato de que o regramentoconstitucional citado objetiva propsito de maior alcance, teor e tcnica do que o constante neste dispositivo legal estatutrio.

    Entendemos que a Constituio Federal determina reserva percentual de cargos pblicos nos quadros funcionais da Administrao e no,necessariamente, no concurso pblico.

    De fato, deve o quadro funcional ter uma reserva percentual de seus cargos destinada s pessoas portadoras de deficincia, nos termos do que dispe a CF/88, art. 37, inciso VIII: "A lei reservar percentual dos cargos e empregos pblicos para as pessoas portadoras de deficincia e definir os critrios de sua admisso". Esta regra constitucional se inspira na promoo social desse pblico, fazendo observar um princpio fundamental insculpido no inciso IV do artigo 3 da Carta da Repblica que estabelece como objetivo fundamental a ser alcanado pela Repblica Federativa do Brasil promover o bem de todos, sem distino de origem, raa, sexo, cor e idade e quaisqueroutras formas de discriminao.(grifos nossos). No meio jurdico,previses constitucionais e legais dessa natureza vm ganhando adenominao de ao social afirmativa.

    Sendo assim, evidente que tal exigncia acaba se refletindo noprocesso seletivo para provimento desses mesmos cargos.

    Ou seja, para que haja respeito regra constitucional de reservapercentual no quadro funcional necessrio que o concurso preveja umpercentual das vagas para as pessoas portadoras de deficincia.

    A necessria reserva de vagas em todos os concursos pblicos para as pessoas portadoras de deficincia, parece-nos, ultrapassar o limite do razovel como proposta de afirmao social. Entendemos que estando o percentual de reserva no quadro funcional totalmente completo, no haver nenhuma ilegalidade por parte daquele edital que no oferecer nenhuma vaga para esse pblico especial. O que no impede dos portadores de deficincia disputarem em p de igualdade com os no deficientes.

    Embora a regra da Lei n 8.112/90 estabelea que s pessoas portadoras de deficincia assegurado o direito de se inscrever em concurso pblico para o provimento de cargo, tal disposio no supera a regra constitucional que reconhece a regra de afirmao social projetada no quadro e no no concurso.

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    Esclarea-se, porm, que esse o nosso entendimento pessoal, o que faz esse comentrio ser recebido com alguma reserva na sua aplicao para concurso pblico. Nosso intuito, entretanto, provocar o debate e a reflexo.

    12-Lamentavelmente, o legislador ordinrio federal redigiu o presentedispositivo com pouca ou nenhuma objetividade jurdica no sentido de regrar os interesses das pessoas portadoras de deficincia quanto acessibilidade dos cargos pblicos efetivos. No so poucas as crticas doutrinrias no sentido de apontar a forma evasiva com a qual o legislador deferiu questo.

    Ivan Barbosa Rogolin, em comentrios presente Lei, freqentemente tece crticas custicas e merecidas. Entre elas, o doutrinador afirma no comentrio que faz a este pargrafo 2o que "no poderia ter sido maisgenrico e evasivo. Fixou o percentual de 20% das vagas oferecidas para cada cargo posto em concurso, cujas atribuies sejam compatveis com a deficincia de que os candidatos sejam portadores. Tal artigo clama porurgentssima regulamentao, onde fatores essenciais sua exeqibilidade sejam especificados, tais como: a) quais as deficincias, e de que natureza, so admitidas para cada cargo; b) como sero atestadas essas deficincias; c) se os deficientes precisaro sempre submeter-se a concurso pblico, ou se existe possibilidade de nomeao independentemente de concurso; d)quanto por cento das vagas, conforme a natureza de cada cargo, ser efetivamente destinado a preenchimento por deficientes, e se os deficientes tero acesso a planos de carreira e a outras formas de provimento que no a nomeao; e) quais as vantagens e os direitos assegurados aos deficientes fsicos; f) quanto a deficientes mentais, at que ponto pode ser compatvel com algum cargo pblico com alguma deficincia mental, presumivelmente leve e no incapacitante; g) at que ponto se estende o ttulo referente ao processo administrativo disciplinar, e responsabilidade de servidores, aos deficientes."

    Portanto, bastante questionvel a inteno do legislador com essaredao, pois que a norma possui eficcia contida, na medida em que as faculdades decorrentes desse dispositivo podem ser postas em prtica de forma imediata, ainda que carecendo de larga regulamentao. Conforme salienta o referido autor "Parece ter sido o pargrafo redigido s pressas, apenas para dar cumprimento ao mandamento constitucional."

    13-Outro fato importante a se ressaltar: no h qualquer obrigatoriedade constitucional, ou mesmo legal, que determine a previso de vagas para pessoas portadoras de deficincia em todo e qualquer concurso pblico que se realize.

    H cargos cuja natureza e peculiaridade das atribuies no permitem que o seu ocupante possua deficincias, especialmente fsicas, sob pena de comprometimento da eficincia do servio pblico por eles carreados. o

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    caso, por exemplo, do cargo de carcereiro penitencirio.

    verdade que o esprito constitucional milita no sentido da consagrao dos princpios da justia social, da promoo do bem-estar de todos e do repdio ao preconceito. Isso significa que todos os esforos devem ser feitos no sentido de serem criadas oportunidades para a integrao social daspessoas portadoras de deficincia, mesmo quando, de plano, a atribuio nos parea incompatvel o com um titular deficientes.

    Todavia, h que se observar a adequao da inteno constitucional com a realidade ftica que circunda o ofcio, sob pena de ensejar prejuzos,inclusive irreparveis, para o prprio beneficirio da regra de incluso social.

    Art.6 O provimento1 dos cargos pblicos far-se- mediante ato da autoridade competente de cada Poder2.

    (Vide CF/88, arts. 51, V; 52, XIV; 84, XXV e 93, II)

    1-Provimento instituto jurdico administrativo o que indica a forma depreenchimento de cargo pblico. Existem vrias formas de provimento, como veremos no artigo 8o, a seguir.

    Preliminarmente, bom notar que as formas de provimento variamentre si em funo das suas respectivas causas motivadoras. Assim, por exemplo, a forma de provimento decorrente de inabilitao fsica ou mental superveniente e incapacitante denominada readaptao; o retorno atividade do servidor aposentado por invalidez e que no apresente mais os motivos justificadores da aposentadoria denominada reverso; oreconhecimento da nulidade do ato de demisso implica a reintegrao do servidor, et cetera.

    Conclui-se dessa maneira que as formas de provimento, quaisquer que sejam elas, tm o mesmo objeto, qual seja, o preenchimento de cargopblico. Porm, em funo das variadas causas de motivao, justifica-se a existncia de diferentes formas de provimento.

    2-O artigo tem importncia no que respeita confirmao da independnciaadministrativa e institucional de cada Poder no exerccio de suasrespectivas atribuies.

    Um dos aspectos mais relevantes da autonomia administrativa de cada Poder diz respeito gesto do seu pessoal. O presente artigo 6 confirma este fato em sua redao. Deflui-se desse artigo que o preenchimento dos cargos pblicos existentes no mbito do Poder Executivo dever serimplementado por ato do Presidente da Repblica ou a quem este delegar esta atribuio, nos termos do pargrafo nico do artigo 84 da Constituio

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    Federal.

    O mesmo raciocnio dever ser aplicado para os cargos existentes no mbito do Poder Legislativo, observada a sua bicameralidade, e no Poder Judicirio.

    Vale ressaltar o disposto no artigo 84, pargrafo nico da Constituio Federal, onde se l: "O Presidente da Repblica poder delegar asatribuies mencionadas nos incisos VI, XII e XXV, primeira parte, aosMinistros de Estado, ao Procurador-Geral da Repblica ou ao Advogado-Geral da Unio, que observaro os limites traados nas respectivasdelegaes".

    Nos interessa, particularmente, a meno ao inciso XXV, primeira parte, pois o fundamento constitucional para o presente artigo 6o da Lei n 8.112/90 encontra-se nesse exato dispositivo.

    Art. 7 A investidura em cargo pblico ocorrer com aposse1,2,3.

    1-O artigo que fixa o momento em que, para a esfera da administrao federal, ocorre a investidura. No pretenso do artigo discorrer acerca do contedo jurdico do instituto da investidura.

    Portanto, nos termos do presente artigo 7 da Lei no 8.112/90, entendeu o legislador federal que o momento adequado para o reconhecimentojurdico da investidura seja o da posse.

    Embora fique assim disciplinada a presente questo, no devemosconfundir os institutos posse e investidura, que tm contedos conceituais prprios.

    Conforme estudado anteriormente, investidura o reconhecimento oficial da parcela de poder pblico necessria e suficiente para o regulardesempenho em das atribuies do cargo.

    Posse o evento jurdico no qual se confirma o interesse do nomeado em dar provimento ao cargo para o qual tenha sido convocado. A posse se cristaliza com a assinatura do respectivo termo de posse, conformeestabelece o artigo 13 caput da presente Lei. Neste sentido indica o parecer tcnico da Administrao Federal intitulado Formulao no 339/77 queesclarece: a posse do indivduo nomeado para o cargo, efetivo emcomisso, significa a aceitao da investidura.

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    2-O momento de consagrao da investidura varia de estatuto para estatuto. Portanto, trata-se de questo que fica livre discricionariedade de cadalegislador.

    Veja-se, por exemplo, o que ocorre no mbito da administrao do Estado do Rio de Janeiro. Nos termos do artigo 14 do Decreto no 2.479/79(Regulamento do Estatuto dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro), a investidura ocorrer com o exerccio, quando se tratar de cargo efetivo ou cargo em comisso de smbolo DAS (direo e assessoramento superior); ocorrer com a posse, quando se tratar de cargo em comisso de smbolo DAI (direo e assistncia intermediria).

    3-Nos termos do pargrafo 4 do artigo 13 "S haver posse nos casos de provimento de cargo por nomeao" Portanto, no ocorre posse diante das demais formas de provimento do artigo 8.

    Art. 8 So formas de provimento1,2,3,4 de cargo pblico:

    I - nomeao;

    II promoo;

    III (ascenso) revogado pela Lei no 9.527/97;

    IV (transferncia) revogado pela Lei no 9.527/97;

    V - readaptao;

    VI - reverso;

    VII - aproveitamento;

    VIII - reintegrao;

    IX - reconduo.

    1-As diversas formas de provimento apresentadas por este artigo oitavo sero estudadas nas sesses seguintes deste Captulo I do Ttulo II.

    oportuno ressaltar que, lamentavelmente, o legislador no dedicounenhuma seo para a forma de provimento denominada promoo. Sua compreenso fica, assim, por conta das interpretaes doutrinriasexistentes, ou resultam da intuio proveniente da praxis administrativa.

    Em razo dessa lacuna, passamos a definir conceitualmente esta forma

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    de provimento.

    Promoo a elevao de nvel entre classes de uma mesmacategoria. Ou seja, um determinado cargo X qualquer caracteriza uma das diversas categorias existentes nos quadros da Administrao (AFRF - Auditor Fiscal da Receita Federal, por exemplo). Sendo o cargo efetivo dividido em classes, por exemplo , AFRF de primeira classe at a stima classe, e sendo as classes subdivididas em nveis/padres, criamos as condies jurdicas necessrias para operar as elevaes funcionais denominadas progresso, promoo e ascenso.

    Progresso a elevao de nvel dentro da mesma classe e, de regra, no constitui uma forma de provimento. Assim, servindo-nos do exemplo ilustrativo acima traado, a elevao de determinado servidor de AFRF de terceira classe nvel B, para a terceira classe nvel A, constitui progresso.No representa uma forma de provimento porque no possui fundamento legal no artigo oitavo da Lei no 8.112/90.

    A elevao de nvel de entre classe da a mesma categoria em a denominada promoo e constitui forma de provimento, conformeestabelece o inciso II do artigo 8.

    Em termos tcnicos, existe a elevao de nvel entre classes decategorias diversas, denominada ascenso. Todavia, esta forma deprovimento apontada como inconstitucional em funo de operar opreenchimento de cargo pblico efetivo diverso do de origem sem arealizao do concurso pblico. Sendo assim, embora alguns cargospertenam a mesma atividade funcional, como por exemplo a policial, a elevao de um cargo qualquer de segundo grau escolar para outro de terceiro grau escolar dentro da mesma rea de atuao funcional configura burla ao preceito constitucional contido no inciso II do artigo 37.

    A ascenso foi contemplada na redao original da Lei n 8,112/90, no inciso III do artigo 8o. Este dispositivo, entretanto, foi revogado em funo do entendimento de sua incongruncia com o artigo 37, inciso I, da Constituio Federal.

    2-O elenco do artigo 8o fechado, ou seja, numerus clausus. No seadmitem, portanto, outras modalidades de provimento, sob pena de vcio de ilegalidade. Nestes termos, aplica-se s formas de provimento de cargospblicos o princpio da reserva legal.

    3-O cotejo dos incisos do art. 8o com os do art. 33 revela existirem formascomuns de provimento e de vacncia.

    Assim, a promoo, a ascenso (instituto revogado), a transferncia(instituto tambm revogado) e a readaptao, so explicitamente atos

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    administrativos que ao mesmo tempo operam a vacncia de um cargo e o provimento em outro cargo.

    Desse cotejo, porm, percebe-se que a reconduo vem representada no inciso IX do art. 8o e no figura no elenco dos incisos do art. 33, o que causa espcie. Afinal, se a reconduo o retorno do servidor pblico estvel ao cargo anteriormente ocupado em razo da inabilitao em estgio probatrio em outro cargo ou em decorrncia do retorno do reintegrando, conclui-se que tal retorno implica vacncia do cargo atualmente ocupado e provimento no cargo anterior.

    Exatamente por no figurar no rol do art. 33, a reconduo merece toda a nossa ateno, pois o erro formal caracterizado pela no redao legislativa no retira a natureza jurdica do fato que se faz prevalecer por fora da sua substncia.

    4-Uma observao que entendemos oportuna diz respeito validadeconstitucional das formas de provimento. Recomendamos cuidado aos candidatos no que concerne a tal fato. comum serem feitas indagaes acerca desse tema e porque hoje algumas formas de provimento soconsideradas inconstitucionais, problemas delicados podem surgir no campo da interpretao. A formulao questo objetiva em prova de concurso pblico deve ser cuidadosamente analisada, pois pode ser que no se esteja questionando acerca da validade constitucional do instituto, mas sim ocontedo jurdico conceitual do prprio instituto.

    o caso, por exemplo, das formas de provimento denominadas aascenso e transferncia. O assunto requer a devida cautela, pois a primeira postura que assume o candidato ao ser indagado quanto a estes institutos que seriam os mesmos considerados inconstitucionais, e com essejulgamento precipitado julgam a questo formulada como errada. Entretanto, possvel que a banca esteja querendo ludibriar o candidato, pois a questo pode estar querendo saber do prprio instituto e no da sua validadeconstitucional.

    SEO II

    Da Nomeao

    Art.9 A nomeao1,2 far-se-:

    I - em carter efetivo3,4, quando se tratar de cargo isolado5 de provimento efetivo ou de carreira6,7;

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    II - em comisso8,9,10, inclusive na condio de interino11, para cargos de confiana vagos.

    Redao conferida ao inciso II pela Lei no 9.527/97

    Pargrafo nico. O servidor ocupante de cargo em comisso ou denatureza especial12 poder ser nomeado para e exerccio, interinamente, em outro cargo de confiana, sem prejuzo das atribuies do que atualmente ocupa, hiptese em que dever optar pela remunerao de um deles durante o perodo da interinidade.

    Redao do pargrafo nico conferida pela Lei no 9.527/97

    1-Nomeao forma de provimento operada para o preenchimento decargos pblicos efetivos ou em comisso.

    As funes gratificadas, tambm denominadas de funes comissionadas, no so acessadas por meio do ato de nomeao, mas pelo atoadministrativo chamado designao.

    Os atos administrativos denominados nomeao e designao no seconfundem. Nomeao forma de provimento que se relaciona figura do cargo pblico. Designao termo utilizado para indicar o acesso s diversas funes existentes na Administrao Pblica.

    Por isso, falamos-se em nomeao para o cargo efetivo ou em comisso, e em designao para o acesso funo de sindicante, de substituto, etc.

    2-Conforme se observa com absoluta transparncia da leitura do art.9, a nomeao tanto se opera ante o cargo efetivo como ante o cargo emcomisso.

    No caso do cargo efetivo, a nomeao depender de aprovao prvia em concurso pblico de provas ou de provas e ttulos, nos termos do inciso II, primeira parte, do artigo 37 da CF.

    Quanto nomeao para o cargo em comisso, com base naquelemesmo dispositivo constitucional, sua segunda parte, e por se tratar de cargo relacionado s atividades de chefe, diretor ou de assessor, a nomeao opera-se de forma livre, ou seja, regula-se por um regime discricionrio.

    Para esclarecimento acerca do significado do que sejam os cargospblicos efetivo e em comisso, reportamos o leitor aos comentrios feitos ao artigo 3.

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    3-A nomeao em carter efetivo expresso que reflete a natureza da relao jurdica de prestao de servios existente entre a Unio e o servidor.

    Aproveitamos o ensejo para registrar que efetivo o cargo e no o servidor. Assim, no apropriado falar-se em efetivao de servidor. equivocada a expresso leiga que diz : "O servidor se efetiva quando...".

    A efetividade atributo do cargo, visto que este criado para atingir os fins operacionais do rgo ao qual vinculado.

    Sendo o cargo previsto numa estrutura organizacional abre-seoportunidade para, havendo oramento, implementar-se o seu provimento. Nestes termos, por exemplo, o quadro funcional de um rgo pblico ligado rea de educao, efetivamente, carece dos cargos de professor, pedagogo, coordenador, diretor, entre outros.

    4-O verbete nmero 15 da Smula do STF estabelece que dentro do prazo de validade do concurso, o candidato aprovado tem direito nomeao,quando o cargo for provido sem observncia da classificao. (grifo nosso)

    Por outro lado, aquele que tiver sido nomeado revelia das regras de acessibilidade no tem direito subjetivo a ser invocado a ttulo de direito adquirido.

    5-O cargo pblico efetivo se divide em duas espcies, a saber: isolado e de carreira.

    Denomina-se cargo pblico efetivo isolado aquele de classe singular, ou seja, trata-se de cargo no dividido em srie de classes.

    Em funo dessa estrutura peculiar seu titular no objeto de promoo, uma vez que a promoo implica a elevao de nvel entre classes que compem uma categoria funcional. Sendo o cargo isolado, no h que se falar em elevao de classes, ou seja, em promoo. a diviso do cargo em classes que possibilita a promoo.

    Nestes termos, sendo o cargo hipottico X um cargo efetivo singular, no encontraremos nele um escalonamento em classes, como por exemplo, cargo X de 1 classe, cargo X de 2 classe e cargo X de 3 classe. A elevao de classe para classe caracterizaria a figura da promoo. Sendo ocargo isolado, tal situao no ocorre.

    Cargo XCLASSE NVEL

    1 A, B, C2 A, B, C3 A, B, C

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    Os cargos isolados so, de regra, institudos para atenderem snecessidades operacionais dos rgos quanto s atividades-meio de que caream, instituindo-os com o firme propsito de alcanarem a realizao de suas metas institucionais.

    O indivduo que d provimento a um cargo isolado, por no sofrernenhuma elevao funcional, tem seu aumento de remuneraocondicionado aquisio de vantagens pecunirias tradicionais(indenizaes, gratificaes e adicionais) e edio de leis que alterem os valores de pagamento, nos termos da CF, art. 37, inciso X.

    6-Entende-se por cargo efetivo de carreira aquele dividido em srie e de classes, e estas divididas em nveis.

    Para melhor ilustrao do tema, tomemos como exemplo cargo de Auditor Fiscal da Receita Federal, com base nos termos da Medida Provisria no1.971. A carreira de auditoria da Receita Federal possui a seguinte estrutura: a mais alta classe denominada ESPECIAL e dividida em quatro padres. Abaixo da classe ESPECIAL temos a classe C, tambm dividida em quatro nveis de padres. Na seqncia, a classe imediatamente inferior a classe B, que dividida em cinco nveis de padres. A classe inicial da carreira de AFRF a classe A, possuindo cinco padres.

    A referida MP disciplina em seu artigo quarto que "o desenvolvimento do servidor nas carreiras de que trata esta medida provisria ocorrer mediante progresso funcional e promoo".

    Logo a seguir esclarece que "progresso funcional a passagem do servidor para o padro de vencimento imediatamente superior dentro de uma mesma classe, e promoo, a passagem do servidor do ltimo padro de uma classe para o primeiro da classe imediatamente superior."

    7-Considerando as explicaes dadas nas duas caixas anteriores temos a seguinte representao:

    ISOLADO estruturado em classe singular

    EFETIVO

    CARGO CARREIRA estruturado em srie de classes

    COMISSO DAI / DAS (entre outros)

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    8-Cargo em comisso termo utilizado para fazer referncia ao conjunto de atribuies e responsabilidades desempenhados nos nveis intermedirio e superior de administrao pblica.

    O cargo em comisso corresponde s atividades de chefia, direo e assessoramento. Assim, cargo cujo provimento depende da confianaque se deposita na pessoa eventualmente convidada a dar-lhe provimento.

    Por essa razo o preenchimento desse tipo de cargo d-se em carter no-permanente, no podendo ser invocado o direito estabilidade, ainda que o seu titular permanea na funo por mais de trs anos de ininterrupto exerccio.

    9-Segundo disciplina constitucional vigente fulcrada no artigo 37 inciso V,os cargos em comisso possuem uma reserva percentual destinada aos servidores ocupantes de cargos efetivos.

    Assim, um percentual mnimo dos cargos em comisso existentes na Administrao, incluindo a Federal, ser destinado aos servidores ocupantes de cargos efetivos. O restante percentual poder ser provido por aliengenas, ou seja, por pessoas que no so oriundas dos prprios quadros daAdministrao. Tais pessoas passam a ostentar a condio de servidores na medida em que titularizam um cargo pblico. o que se depreende dodisposto no artigo 3o e seu pargrafo.

    Evidentemente, o vnculo jurdico existente entre a Administrao e o titular de cargo em comisso, aliengena, de carter no-permanente.

    10-.Qual a diferena fundamental entre cargo em comisso e funo gratificada/comissionada?

    Antes de cuidarmos da diferena, de bom tom que seja salientada a identidade existente entre o cargo em comisso e a funogratificada/comissionada. Assim, antes de falarmos da diferena, vamostratar das semelhanas.

    Tanto o cargo em comisso quanto a funo gratificada referem-se s atividades de chefia, direo e assessoramento. Portanto, so funes de confiana. Ningum defere uma chefia a algum sem que haja suficiente confiana na pessoa indicada, no importando se essa indicao para um cargo em comisso (nomeao) ou para uma funogratificada/comissionada (designao).

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    A diferena reside no fato de que o cargo em comisso tem suasatribuies associadas aos nveis superiores e intermedirios deadministrao pblica. Quanto s funes gratificadas/comissionadas, estas se destinam a atividades de chefia, direo e assessoramentodesempenhadas nos nveis subalterno e intermedirio de administrao.

    Tendo em vista essa distribuio, os cargos em comisso exercemexpressivo poder discricionrio de cunho administrativo, predominando nas funes gratificadas o exerccio de poderes vinculados, embora tambmdetenham certa margem de discricionariedade.

    Entende-se por poder discricionrio a liberdade de atuao que a ordem jurdica reconhece ao agente pblico para, dentro dos limites legais, deliberar acerca da convenincia, oportunidade, utilidade, necessidade e adequao de certas decises que venha a tomar em nome da Administrao. O no reconhecimento de poderes discricionrios d lugar vinculao, que setraduz na ausncia de liberdade para tomar decises, cabendo ao agente cumprir fielmente o comando insculpido na lei para o ato administrativo de sua competncia.

    11-A pessoa que for convidada para exercer as funes de um cargo em comisso, ainda que interinamente (transitoriamente), tambm deve passar pelas formalidades e exigncias do provimento do cargo pblico. Assim, o ocupante de cargo em comisso, mesmo de carter interino, deve preencher os requisitos formais para a sua posse e conseqente investidura,apresentando declarao se detm outro cargo, emprego ou funo pblica;se aposentado ou pensionista; nacionalidade; gozo dos direitos polticos; grau de escolaridade compatvel com o cargo; conhecimento tcniconecessrio, etc, conforme regra contida no artigo 5 desse Estatuto.

    Quando se diz que a nomeao para cargo em comisso, bem como a designao para a funo gratificada, livre, no se deve interpretar que tal liberdade no observe alguns limites legais.

    No se pode escolher qualquer pessoa para o desempenho do cargo em comisso, sendo indispensvel a observncia de um critrio mnimo deseleo para o acesso funo de confiana. Requisitos mnimos devem ser atendidos para que o nomeado exera regularmente as atribuies de chefia, direo ou assessoramento correspondente ao nvel hierrquico deadministrao a que se refira.

    12-A Lei n 9.850, de 26 de outubro de 1999, dispe sobre o nmero de cargos de Natureza Especial, bem como os cargos do grupo de Direo e Assessoramento Superiores (DAS) e de Funes de Confiana existentes nos rgos da Administrao Pblica Federal direta, autrquica efundacional.

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    Nesta lei, entretanto, no encontramos uma definio objetiva do que seja o cargo de Natureza Especial. Fato que os cargos de Natureza Especial constituem uma outra espcie de funo de confiana (em sentidoamplo),nos termos que apresentamos no comentrio anterior.

    As razes de fundamentao para esses denominados cargos deNatureza Especial, sejam eles quais forem, no podem aviltar os princpios constitucionais de administrao pblica, notadamente os da moralidade e da impessoalidade.

    Levando-se em conta o quantitativo legal para provimento desses cargos de Natureza Especial, v-se que seus ocupantes so pessoas que gozam de elevado grau de confiana da autoridade que os nomeiam, pois que onmero de cargos de Natureza Especial significativamente menor que os disponveis a ttulo DAS (Direo e Assessoramento Superior), FG (Funo Gratificada), CC (Cargo Comissionado) e FC (Funo Comissionada).

    Art.10. A nomeao para cargo de carreira ou cargo isolado de provimento efetivo depende de prvia habilitao em concurso pblico de provas ou de provas e ttulos, obedecidos a ordem de classificao e o prazo de sua validade.

    (Vide, CF/88, Art.37, incisos I a IV, VIII e IX)

    Pargrafo nico. Os demais requisitos para o ingresso e o desenvolvimento do servidor na carreira, mediante promoo, sero estabelecidos pela lei que fixar as diretrizes do sistema de carreira na Administrao Pblica Federal e seus regulamentos.

    Redao conferida ao pargrafo nico pela Lei n 9.527/97

    SEO II

    Do Concurso Pblico

    Art.11. O concurso ser de provas ou1 de provas e ttulos2, podendo3 ser realizado em duas etapas4, conforme dispuserem a lei e o regulamento do respectivo plano de carreira, condicionada a inscrio do candidato ao pagamento do valor fixado no edital, quando indispensvel ao seucusteio5, e ressalvadas as hipteses de iseno nele expressamenteprevistas.

    Redao conferida ao Art. 11 pela Lei no 9.527/97

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    1-A Lei n 8.112/90, seguindo orientao constitucional expressa contida no artigo 37, inciso II, determina que o processo de seleo para os quadros funcionais de carter efetivo se opera por meio de exame de provas ou de provas e ttulos. Ou seja, irregular a seleo servidor operada apenas pelo exame de ttulos.

    O exame de ttulos representa um procedimento de seleo porespecializao. Por intermdio do exame de ttulos a Administrao busca chegar queles candidatos que demonstram maior excelncia deconhecimentos tcnico, cientfico e profissional.

    No exame de provas afere-se essencialmente o conhecimento terico do candidato para atender s necessidades tcnicas e operacionaiscorrespondentes ao cargo.

    A adoo do critrio ttulos no concurso, evidentemente, no afronta o princpio da isonomia entre os candidatos interessados num mesmo cargo. Antes, representa uma oportunidade legtima para que a Administrao possa captar o funcionrio mais capacitado para seus quadros, objetivando com isso oferecer ao usurio do Servio Pblico (ao menos em tese) umamelhor qualidade de prestao de servios.

    2-. plenamente compreensvel a adoo do critrio ttulos para a seleo de candidatos envolvidos em processos seletivos pblicos. Entretanto, temos a um claro exemplo do quanto legislao administrativa brasileira carece de um regramento legal para a disciplina normativa dos aspectosconcernentes ao concurso pblico.

    Muitas so as dvidas e lacunas que permeiam a relao jurdica entre os candidatos e o Estado-administrao. Uma delas tem sede na questo dos ttulos.

    Lamentavelmente, com certa freqncia so realizados concursos em que os ttulos considerados vlidos pelos editais de convocao prestigiam,acintosamente, apenas certos grupos ou pessoas. Isso acontece, porexemplo, quando os ttulos considerados vlidos pelo certame no propiciam a concorrncia entre os diversos candidatos em funo da adoo de apenas um determinado ttulo ou especializao. Ora, se o processo seletivoencontra sua inspirao no princpio da igualdade de concorrncia entre os candidatos, no coerente, nem justo, que o edital contemple apenas um modelo ou critrio de ttulo, como o caso do tempo de servio pblico, ainda que sob o argumento de que este critrio busca estimular a progresso funcional de servidores que j tm certo "tempo de casa". No passa de falcia, de armao.

    Parece-nos, inclusive, que ao se adotar a seleo por ttulos, oadministrador fica vinculado aos termos precisos da Constituio Federal. Esta, por sua vez, emprega o termo "ttulos", no plural. Indicativo de que o esprito constitucional aponta para a pluralidade de ttulos.

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    3-O art. 11 ao dispor "podendo ser realizado em duas etapas" no confere uma faculdade discricionria ao encarregado da elaborao do edital do concurso no sentido de determinar se o concurso ser de uma ou duas etapas. Cabe lei que rege o cargo estabelecer tais regras, bem como asexigncias bsicas para a seleo.

    Esse argumento encontra fulcro no prprio texto do art. 11, pois opodendo" a que refere o dispositivo deve ser lido de forma associada ao "conforme dispuserem a lei e o regulamento do respectivo plano de carreira."

    4-O concurso pblico pode ser estruturado em duas etapas. Estas, por sua vez, podem ser divididas em vrias fases.

    Os concursos normalmente apresentam as seguintes etapas: primeira etapa - aplicao do exame de provas ou de provas e ttulos; segunda etapa, - realizao de curso de formao e capacitao profissional.

    Como dissemos, essas etapas podem ser divididas em vrias fases. Por exemplo, a primeira etapa pode ser constituda de exames de provasobjetivas e discursivas, aptido fsica, exames mdicos, entre outros. Asegunda etapa, por sua vez, tambm pode ser constituda de uma estrutura prpria, dividida em uma srie de fases a serem cumpridas pelo candidato, sob pena de reprovao no concurso.

    5-A parte final do artigo 11 foi introduzida pela lei n 9.527/97. O texto introduzido revela a preocupao do legislador em relao deturpao da finalidade na cobrana dos valores correspondentes s taxas de inscrio para os diversos concursos.

    Evidentemente, os valores cobrados prestam-se a cobrir os custos de implementao do processo de seletivo, com razovel margem de lucro para a empresa encarregada de sua realizao. Todavia, tem-se observado a cobrana de taxas com valores desproporcionais (abusivos) o que faz surgir uma forma oblqua de discriminao em relao queles que no dispe de recursos financeiros suficientes para o pagamento dos valores cobrados.

    Por outro lado, a cobrana de taxas cujos valores se mostramdesproporcionais realidade operacional do processo seletivo ofendem um princpio geral de direito administrativo, qual seja, o da modicidade do servio pblico. O usurio j custeia a mquina pblica com o pagamento compulsrio de tributos, no sendo legtimo Administrao a cobrana de valores muitas vezes extorsivos.

    Eis mais um argumento no sentido de que urgente a confeco de uma lei encarregada do regramento normativo do concurso pblico.

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    Art.12. O concurso pblico ter validade de at1,2, 2 (dois) anos, podendo3ser prorrogado uma nica vez, por igual perodo4.

    1 O prazo de validade do concurso e as condies de sua realizao sero fixados em edital, que ser publicado no Dirio Oficial da Unio e em jornal dirio5 de grande circulao.

    2 No se abrir novo concurso enquanto6,7,8 houver candidato aprovado em concurso anterior com prazo de validade no expirado.

    1-A Lei 8.112/90, neste artigo 12, reproduz as disposies constitucionais insculpidas no artigo 37, inciso III.

    No que concerne ao prazo de validade do concurso pblico, tanto a Constituio quanto o legislador ordinrio perderam a oportunidade deesclarecer o fato relativo ao marco temporal inicial (dies a quo) de contagem do prazo de validade. Considera-se termo inicial desse prazo o dia em que se publica, em instrumento oficial, a homologao do processo seletivo.

    O ato administrativo de homologao devidamente publicado consagra a regularidade de todo o certame. Pela homologao a autoridade competenteinforma a legalidade de todo o processo seletivo ratificando o resultado do certame, estabelecendo uma presuno iures tantum quanto sua validade jurdica.

    2-Em princpio, a determinao do prazo de validade do concurso pblico fica livre discricionariedade da autoridade administrativa competente.

    O limite temporal estabelecido em "at a dois anos" faculta a fixao do prazo de validade, inclusive, em dias.

    A fixao de um prazo mais dilatado ou reduzido deve ser resultante de uma avaliao concreta da necessidade e utilidade da realizao do certame em face da demanda do servio pblico operado pelo cargo.

    3-A prorrogao do prazo validade do concurso constitui outra faculdade jurdica de regime discricionrio reconhecida ao administrador do concurso,no havendo direito subjetivo para o candidato quanto dilatao do prazo no concurso do qual participe.

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    4-A discricionariedade de reconhecida pela Constituio ao o administrador pblico quanto ao prazo de validade do concurso pblico limita-se a dois aspectos:

    a) fixao do prazo original, que no pode ultrapassar de dois anos;

    b) eventual prorrogao, ou no, do prazo inicial.

    Caso haja prorrogao, a disciplina constitucional estabelece que o prazo renovado seja por igual perodo. Assim, a prorrogao do prazo de validade est sujeita a regime jurdico vinculado.

    5-A imposio de que a divulgao do processo seletivo seja feita pelo Dirio Oficial da Unio e por um jornal de circulao diria revelapreocupao do legislador com o princpio da publicidade, que por sua vez preenche o requisito concernente a moralidade do processo seletivo.

    Conforme lies do ilustre Hely Lopes Meirelles "A publicidade (entendida aqui como publicao) no elemento formativo do ato, requisito de eficcia e moralidade. Por isso mesmo, os atos irregulares no se convalidam com a publicao, nem os regulares a dispensam para a sua exeqibilidade, quando a lei ou o regulamento o a exige."

    6-A regra insculpida nesse pargrafo segundo do artigo 12 dispe queestando um concurso em andamento e havendo candidatos remanescentes aprovados a Administrao Federal estar impedida de abrir novocertame.

    Por outro lado, o artigo 37, inciso IV, da Constituio Federal estabelece que "durante o prazo e improrrogvel previsto no edital de convocao, aquele aprovado em concurso pblico de provas ou de provas e ttulos ser convocado com prioridade sobre novos concursados para assumir cargo ou emprego, na carreira." (grifo nosso).

    E fcil concluir que, pelo que se l deste inciso IV, a Constituio permite a qualquer entidade de administrao pblica (federal, estadual, distrital ou municipal) a realizao de um novo concurso durante o prazo de validade de outro concurso ainda no terminado. Desde que seja preservado o direito de preferncia dos candidatos remanescentes aprovados no primeirocertame, nenhuma ofensa de ordem constitucional haver.

    A Administrao Federal, por intermdio deste artigo 12 da Lei n8.112/90, usando de suas prerrogativas, interpretou como faculdade apossibilidade de abrir ou no um novo processo seletivo na vigncia de um concur