Leite, Fernando Baptista; Codato, Adriano. Elites universitárias no campo da Ciência Política brasileira: uma análise da produção acadêmica dos principais periódicos da área

Embed Size (px)

Citation preview

  • 8/7/2019 Leite, Fernando Baptista; Codato, Adriano. Elites universitrias no campo da Cincia Poltica brasileira: uma anlise

    1/31

    33 ENCONTRO ANUAL DA ANPOCS

    GT 18: Elites e instituies polticas

    Elites universitrias no campo da Cincia Poltica brasileira contempornea:

    elementos metodolgicos para uma anlise da produo acadmica

    Fernando Leite

    Adriano Codato

    UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAN

  • 8/7/2019 Leite, Fernando Baptista; Codato, Adriano. Elites universitrias no campo da Cincia Poltica brasileira: uma anlise

    2/31

    2

    33 ENCONTRO ANUAL DA ANPOCS

    GT 18: Elites e instituies polticas

    27 a 29 de outubro de 2009, Caxambu/MG

    Elites universitrias no campo da Cincia Poltica brasileira contempornea:elementos metodolgicos para uma anlise da produo acadmica

    Fernando Leite ([email protected]) mestrandoem Sociologia pela Universidade Federal do Paran ebolsista do Conselho Nacional de DesenvolvimentoCientfico e Tecnolgico (CNPq), ao qual manifestasua gratido por financiar a pesquisa em que estetrabalho se insere.

    Adriano Codato ([email protected]) Doutor emCincia Poltica pela Universidade Estadual deCampinas, Professor de Cincia Poltica naUniversidade Federal do Paran e Editor da Revista deSociologia e Poltica.

    Fernando Leite

    Adriano Codato

    UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAN

    mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]
  • 8/7/2019 Leite, Fernando Baptista; Codato, Adriano. Elites universitrias no campo da Cincia Poltica brasileira: uma anlise

    3/31

    3

    RESUMO

    O artigo apresenta e discute o mtodo utilizado para analisar a produo acadmica da reade Cincia Poltica entre 2004 e 2008. Nosso principal objetivo tornar pblico esse mtodo,

    para que sirva de referncia para outros pesquisadores e para depur-lo a partir do escrutniocoletivo. O texto composto da seguinte forma: (i) defendemos a necessidade do estudocientfico, de preferncia sociolgico, da cincia poltica e das cincias sociais em geral,indicando como referncia vrios trabalhos de cientistas polticos americanos sobre a CinciaPoltica nos Estados Unidos e no mundo; (ii) apresentamos os elementos fundamentais premissas, objeto, problema e escopo da pesquisa sobre a Cincia Poltica brasileiracontempornea que conduzimos na Universidade Federal do Paran e (iii) expomos ediscutimos o mtodo que adotamos para analisar a produo acadmica da Cincia Polticabrasileira contempornea. Essa exposio est focada numa discusso a respeito da definiodos peridicos a serem utilizados como representantes da produo acadmica hegemnica;da eficcia dos indicadores escolhidos para identificarmos a hierarquia cultural e institucionaldo campo e numa descrio do procedimento de anlise dos peridicos. Quanto questo daeficcia dos indicadores, tratamos especialmente do Sistema Qualis: seria um indicadorseguro para se tomar como critrio de escolha de peridicos e como critrio para medir aimportncia de peridicos e instituies acadmicas? Ns pretendemos mostrar que sim.

    PALAVRAS-CHAVE: anlise de produo acadmica; mtodo de anlise; campo da CinciaPoltica brasileira; Qualis; Sociologia das Cincias Sociais; histria da Cincia Poltica.

    I. INTRODUOA cada ano aprofunda-se o processo de institucionalizao da Cincia Poltica brasileira.

    Embora mais nova que a Sociologia e a Antropologia no campo acadmico brasileiro e com um

    campo de ensino e pesquisa menor, a Cincia Poltica apresenta um crescimento institucional e

    acadmico vigoroso e proporcionalmente maior que dessas cincias sociais. A Associao

    Brasileira de Cincia Poltica (ABCP), fundada em 1996, lanou em 2007 o peridico Brazilian

    Political Science Review (BPSR), o primeiro peridico nacional especificamente dedicado

    rea de Cincia Poltica e divulgao da cincia poltica brasileira no exterior. Todos os

    indicadores acadmico-institucionais pertinentes para se verificar o tamanho do campo deensino e pesquisa da cincia poltica mostram-nos um crescimento vigoroso, reforando a idia

    de que a Cincia Poltica brasileira passa por um processo consistente de institucionalizao e

    de autonomizao acadmica1.

    1 Cf., a respeito, o nmero de grupos de pesquisa, de programas de ps-graduao, o nmero de ps-graduadosformados anualmente, de matriculados (CAPES, 2009a; 2009b) e o nmero de linhas de pesquisa, de

    pesquisadores e de grupos de pesquisa (CNPq, 2009); s para mencionar alguns indicadores pertinentes.

  • 8/7/2019 Leite, Fernando Baptista; Codato, Adriano. Elites universitrias no campo da Cincia Poltica brasileira: uma anlise

    4/31

    4

    O fato de que a rea de Cincia Poltica vem ampliando-se e tornando-se

    institucionalmente mais slida, enquanto a prtica da cincia poltica adquire cada vez mais

    identidade no campo acadmico, algo que os prprios cientistas polticos percebem

    subjetivamente. Apesar disso, preciso chamar ateno necessidade de os cientistas polticos

    e sociais analisarem o prprio desenvolvimento cultural e institucional de suas reas de

    conhecimento. medida que a cincia poltica se institucionaliza, torna-se cada vez mais

    necessrio que seus membros conheam sua histria e suas condies de exerccio; que tenham

    cincia dos fatores que influenciam sua prtica cientfica e que condicionam o desenvolvimento

    geral da disciplina.

    I.1. A necessidade do estudo cientfico da cincia poltica e das cincias sociais em geral

    A produo de conhecimento sobre a prpria profisso poderia ser por si s um fim em

    si mesmo, j que se trata de um importante elemento da identidade e do prestgio de uma

    disciplina acadmica ou de qualquer grupo social. Faz parte da prpria natureza social dos

    grupos a celebrao de seus valores e elementos em comum, o que necessrio tanto

    subjetivamente (pois confere sentido vida dos indivduos) como socialmente (pois favorece a

    coeso do grupo). Mas h pelo menos duas razes, mais substantivas, que afetam diretamente a

    prtica cientfica e acadmica e que faz ser necessrio submetermos o prprio campo

    acadmico anlise cientfica, de preferncia sociolgica.

    Em primeiro lugar, como bem mostrou Fernando Uricoechea (1982), a cincia,

    especialmente a social, no se desenvolve num ambiente fechado, isto , seu desenvolvimento

    no produto exclusivamente de operaes lgicas, do escrutnio emprico e do debate de

    idias. O contexto social e institucional em que um campo acadmico (incluindo-se a o da

    cincia, das cincias sociais e da cincia poltica) insere-se influencia as condies de trabalho,

    de exerccio da prtica acadmica. No estamos sugerindo que o conhecimento acadmico ou

    cientfico seja por isso uma construo social de contedo to arbitrrio quanto qualquer

    fantasia social ou subjetiva ainda que aceitemos que fatores extra-cientficos possam

    eventualmente limitar a objetividade da prtica cientfica. Trata-se, simplesmente, de assumir

    que certa organizao e diviso do trabalho acadmico e cientfico, certos procedimentos

    burocrticos, certas polticas de gesto e de (des)incentivo da produo acadmica e mesmo

    certas polticas em geral podem favorecer ou desfavorecer o desenvolvimento cultural e

  • 8/7/2019 Leite, Fernando Baptista; Codato, Adriano. Elites universitrias no campo da Cincia Poltica brasileira: uma anlise

    5/31

    5

    institucional do campo acadmico seja simplesmente sabotando-o2, seja influenciando o

    desenvolvimento terico de uma disciplina ao favorecer, por meio dos meios institucionais

    cabveis e por razes extra-cientficas, certas orientaes tericas em detrimento de outras.

    Em segundo lugar, especificidades lgicas do objeto das cincias humanas geram

    importantes problemas metodolgicos que exigem cuidados especficos por parte dos cientistas

    sociais. Como nas cincias sociais o objeto de estudo confunde-se com o observador, como o

    objeto no faz parte de uma ordem de realidade separada de nosso esprito, somos acometidos

    por obstculos metodolgicos complexos e aparentemente insuperveis3. Um desses problemas

    a influncia que o objeto (seres humanos e suas prticas e cultura) pode exercer sobre o

    observador, influenciando ou mesmo controlando suas representaes tericas.

    Assim, alm dos cuidados metodolgicos especficos exigidos em uma cincia cujo

    objeto de estudo no explode em nossas mos quando cometemos um erro de clculo,

    preciso ser reflexivo. A reflexividade, neste caso, significa a capacidade de um agente social

    olhar para si mesmo de forma objetivante, no intuito de descobrir e trazer conscincia, ou,

    mais exatamente, de revelar os constrangimentos sociais que influenciam sua prtica em

    nosso caso, a prtica cientfica (BOURDIEU, 2004; 1992, p. 36-46). somente se os cientistas

    sociais tiverem conscincia das foras sociais que influenciam suas idias, teorias e sua

    pesquisa que eles podero ter controle sobre essas foras e, assim, sobre sua prpria prtica

    cientfica. Se no fizerem isso, os cientistas sociais correm o srio risco de construrem uma

    imagem da prtica dos agentes que reflete, na verdade, as foras sociais que influenciam o

    cientista social, e no a lgica real que opera na prtica. Ou pior, podem construir uma

    representao da ao necessariamente conveniente aos interesses de nosso objeto de estudo.

    Nas cincias sociais, portanto, a reflexividade uma condio metodolgica para atingirmos o

    grau de objetividade que possvel atingir. Precisamos, assim, conhecer o funcionamento e os

    mecanismos sociais internos e externos que influenciam nossa produo cientfica.

    A Cincia Poltica americana parece ter percebido a importncia de estudar sua prpria

    histria e a prpria disciplina a partir do incio da dcada de 1980. Como nota James Farr

    (1988), antes disso os trabalhos dedicados a reconstruir ou analisar a histria da cincia poltica

    2 Como ocorreu, por exemplo, com a cincia poltica portuguesa durante o regime salazarista. Cf. a respeito, otrabalho de Manuel Villaverde Cabral (1982).

    3 Certamente, Max Weber (1949) foi o principal autor que chamou nossa ateno a esses problemas, e um dos que

    mais contribuiu para sua soluo.

  • 8/7/2019 Leite, Fernando Baptista; Codato, Adriano. Elites universitrias no campo da Cincia Poltica brasileira: uma anlise

    6/31

    6

    americana existiam, mas eram escassos4. Os livros de Collini, Winch e Burrow (1983), Finifter

    (1983) Ricci (1984), Seidelman e Harpham (1985) e Janos (1986) foram os principais

    responsveis por desencadear a ateno histria da prpria disciplina. A partir de ento,

    cientistas polticos clebres passaram sua ateno ao tema, publicando importantes trabalhos,

    tais Easton (1985), Easton, Gunnel e Stein (1995), Almond (1990; 1991); Farr e Seildelmann

    (1993), Dryzek e Leonard (1988), Dryzek, Farr e Leonard (1995). Em novembro de 2006, a

    American Political Science Review (APSR) dedicou um nmero especial anlise e avaliao

    da histria e da situao da cincia poltica, intitulado The Evolution of Political Science. Nele,

    publicaram autores como John Dryzek, James Farr, Michael Gibbons, John Gunnel, Emily

    Haptmann, entre outros. Artigos sobre o tema tornaram-se freqentes nas pginas da APSR,

    alm de consistir numa das diretrizes editoriais do peridico PS: Political Science & Politics5.

    II.2. No que consiste este trabalho e em que ele se insere

    Inspirados por essas idias, ns decidimos empreender uma pesquisa sobre o campo da

    Cincia Poltica brasileira atual. Por que o campo da Cincia Poltica? J tnhamos noes

    significativas sobre ele, que se desenvolveram a partir de observaes primrias sobre o estado

    atual da hierarquia entre agentes, idias e instituies; trata-se, pois, de certa proximidade que

    temos com a cincia poltica. Mas h, tambm, duas peculiaridades que acometem a cincia

    poltica, e que favoreceram o surgimento deste empreendimento. Em primeiro lugar, a cincia

    poltica propriamente dita uma inveno americana. Fora dos Estados Unidos, a cincia

    poltica ainda uma espcie de agremiao de vrios acadmicos dedicados ao estudo da

    poltica, isto , um campo de fronteiras vagas e amorfas, marcado por um grau de

    4 A maioria desses estudos tentava fazer um retrato cronolgico da cincia poltica americana, descrevendo asescolas que foram se sucedendo. Entre esses, merecem ser citados o trabalho de Somit e Tanenhaus (1967),

    que tenta descrever a histria da cincia poltica americana at o advento do comportamentalismo e o deMurray (1925), que tenta uma ambiciosa descrio do pensamento poltico desde Plato. Estudos das dcadasde 1960 e 1970 abriram caminho para os estudos contemporneos, pautando-se por um registro mais crtico-analtico. Os trabalhos de Lipset (1969), Kress (1973) e Karl (1974) so referncias importantes dessa linha. Oartigo de Lowi (1973) um dos pioneiros do argumento que denuncia a existncia de certo comprometimentoda Cincia Poltica e a democracia americanas. Essa idia constituiu o ncleo dos vrios estudos que focaramsua ateno sobre as relaes estabelecidas entre a cincia poltica e seu objeto (a poltica) geralmenteinvestigando os efeitos dessa relao sobre a neutralidade e a objetividade cientficas. Outro artigo de Lowi(1992) criticando a Cincia Poltica americana produziu um acalorado debate: cf., a respeito, Calvert (1993),Simon (1993a; 1993b) e Lowi (1993a; 1993b).

    5 Nesse sentido, gostaramos de elogiar a iniciativa dos organizadores do I Frum Brasileiro de Ps-Graduao emCincia Poltica de dedicar uma sesso para o debate de trabalhos sobre a prpria cincia poltica. Trata-se deuma contribuio importante, infelizmente ainda escassa, para o prprio desenvolvimento institucional da

    Cincia Poltica brasileira e para o melhoramento qualitativo de sua produo cientfica.

  • 8/7/2019 Leite, Fernando Baptista; Codato, Adriano. Elites universitrias no campo da Cincia Poltica brasileira: uma anlise

    7/31

    7

    autonomizao relativamente baixo6. As cincias polticas formam-se, assim, em relao a e at

    mesmo aos moldes da Cincia Poltica americana. Por isso, temos disposio fontes

    excelentes, em especial a vasta bibliografia americana sobre o tema. Em segundo lugar, o

    problema metodolgico da confuso entre objeto e observador a que nos referimos h pouco

    toma propores dramticas na Cincia Poltica pois, afinal, seu objeto a poltica, o poder.

    Nutrimos a esperana de encontrar paralelos entre a produo acadmica, a estrutura

    institucional e a estrutura de relaes de fora da Cincia Poltica brasileira, sem descurar de

    sua dimenso diacrnica, sua histria. Tivemos, pois, a idia de aplicar a teoria sociolgica de

    Pierre Bourdieu numa pesquisa sobre o campo da Cincia Poltica brasileira. Achamos que a

    sociologia de Bourdieu tenha se mostrado um caminho proveitoso quando se trata de relacionar

    a anlise estrutural anlise histrica por meio de uma viso agonstica das relaes humanas.

    Com isso, queremos contribuir ao cabedal de conhecimento cientfico sobre a Cincia Poltica e

    ao escrutnio emprico de uma sociologia concebida de modo a ser orientada para a pesquisa.

    Organizamos a pesquisa em duas etapas. A primeira, de carter predominantemente

    descritivo, consiste em identificara situao atual do campo da Cincia Poltica a partir de duas

    dimenses: sua produo acadmica (a produo de idias e teorias por meio de veculos de

    produo acadmica, como peridicos e eventos) e suas instituies (de ensino, de pesquisa e

    de fomento). Trata-se de reconstruir teoricamente certas dimenses da estrutura do campo, ou

    seja, dizer quem o compe o campo e onde nele se encontra. A segunda, de carter

    6Entendemos processo de autonomizaocomo um processo pelo qual um campo social determinadotorna-segradativamente independente e irredutvel em relao a outros campos. Trata-se de um processo quegradativamente confere a um campo uma scio-lgica eficaz o suficiente para que esse campo obedea aprincpios que lhe so prprios. Trata-se, pois, de estruturas sociais, sistemas simblicos e vises de mundoirredutveis a quaisquer outros campos. Quanto mais autnomo, mais um campo transfigura e refrataquaisquer constrangimentos externos segundo sua lgica especfica. Esse processo paralelo ao que chamamosde processo de institucionalizao. Mas preciso sublinhar: um campo pode institucionalizar-se sem,

    contudo, tornar-se autnomo. A institucionalizao de um campo , sem dvidas, uma condio necessriapara a autonomia de um campo, mas no por si s garantia disso. Tal distino tornar-se- mais clara logoque esclarecermos melhor o que entendemos por autnomo. Em primeiro lugar, preciso dizer que umcampo qualquer sempre relativamente autnomo. Um campo sempre autnomo em relao a outroscampos, ou seja, irredutvel aos valores e ao funcionamento de campos externos, bem com resistente a suasinvestidas. Assim, um campo pode ser autnomo em relao a campo X, mas heternomo em relao a campoY; no limite, autnomo em relao a todos os campos exteriores a ele. Dizemos que um campo autnomosugerindo que ele parece fechado em si mesmo, sendo altamente resistente, tanto por sua lgica imanentecomo at mesmo pelas resistncias conscientes de seus agentes, a quaisquer demandas externas. Observamos,contudo, que teoricamente impossvel um campo ser totalmente autnomo, porque, em nosso modelo, issoimplicaria em confundir o campo com o prprio espao social em que ele se encontra, de modo que mesmoesses campos que so autnomos em relao a todos os outros so, na verdade, parcialmente esignificativamente autnomos em relao a todos os outros campos. Portanto, a institucionalizao, embora

    importante, no garantia de autonomia social.

  • 8/7/2019 Leite, Fernando Baptista; Codato, Adriano. Elites universitrias no campo da Cincia Poltica brasileira: uma anlise

    8/31

    8

    predominantemente explicativo, consiste em tentar identificar os principais fatores responsveis

    por fazer a Cincia Poltica ser o que , tanto do ponto de vista da produo como das

    instituies. Trata-se, pois, de dizer o porqu daqueles se encontrarem onde se encontram.

    Queremos saber se existem instncias hegemnicas na Cincia Brasileira

    contempornea do ponto de vista da produo simblica e das instituies, e, caso afirmativo,

    nome-las. Fizemos isso por razes operacionais e metodolgicas: preciso delimitar o escopo

    da primeira etapa, restringindo o reconhecimento de terreno s fraes superiores do campo,

    que chamamos de escolas ou correntes terico-metodolgicas hegemnicase instituies

    acadmicas hegemnicas. Ora, alm de nos ser atualmente impossvel reconstruir

    teoricamente todo o campo da Cincia Poltica brasileira, identificar as fraes hegemnicas

    heuristicamente til porque exige que identifiquemos os valores correntes no campo e os

    princpios responsveis por estratificar e distinguir as instncias 7 do campo entre si8. H uma

    relao direta entre a presena de certa espcie de valores e de formas de hierarquizao num

    campo e as fraes hegemnicas deste. Isso necessrio para partirmos para a etapa

    explicativa. Alm disso, as circunstncias acadmico-institucionais de nossa pesquisa exigiram

    o acesso ao campo da Cincia Poltica a partir de cima.

    Uma escola ou corrente terico-metodolgica um conjunto de idias

    sistematicamente relacionadas que se repete de forma mais ou menos freqente na produo

    acadmico-cientfica. Uma escola ou corrente hegemnica quando ela predomina nos

    principais peridicos e eventos cientficos da rea. Falaremos mais a respeito disso na parte II.

    Uma instituio acadmica uma organizao dotada de um corpo permanente de

    funcionrios (uma burocracia) e de profissionais acadmicos dedicados ao ensino ou

    pesquisa, podendo esta ser pura ou aplicada. Como o foco de nossa pesquisa, neste momento,

    a produo acadmica (i.e.: as escolas ou correntes terico-metodolgicas), passaremos a falar

    a respeito dela.

    7Utilizamos a palavra instncia para nos referir aos trs elementos da realidade social responsveis por produzirefeitos sociais pertinentes: agentes, produo simblica ou de significado (cultura) e instituies sociais.Utilizamos agente em sentido estrito, indicando pessoas. Sabemos que a cultura tambm uma instituiosocial, mas distinguimo-las para diferenciar um aparelho institucional das idias (o esprito) que o animam eque ele difunde. Sabemos que esses elementos esto inter-relacionados na realidade, mas distingui-los teoricamente necessrio.

    8 Trata-se do conceito de capital usado por Pierre Bourdieu. Uma definio sinttica, apropriada a nossos

    propsitos, pode ser conferida em Bourdieu (1992, p. 94-110; 1989, p. 133-136).

  • 8/7/2019 Leite, Fernando Baptista; Codato, Adriano. Elites universitrias no campo da Cincia Poltica brasileira: uma anlise

    9/31

    9

    A anlise da produo acadmica trata-se, portanto, de uma anlise da produo

    acadmica delimitada (poderamos dizer tambm limitada ou enviesada) pela identificao das

    fraes hegemnicas. Nosso objetivo identificar a hierarquia cultural, isto , das idias,

    escolas e correntes do campo da Cincia Poltica. Desse modo, nosso retrato do campo de

    produo acadmica pode ser significativo para representar a produo em geral, mas deve ser

    significativa para a produo hegemnica9.

    Vamos apresentar agora o mtodo que utilizamos para analisar a produo acadmica da

    Cincia Poltica brasileira contempornea com o objetivo de desvelar sua hierarquia, mais

    precisamente, identificar as escolas ou correntes terico-metodolgicas hegemnicas.

    II. A anlise de produo acadmicaII.1. Justificativa

    A nosso ver, a produo acadmica , entre outros, um indicador seguro para identificar

    a hierarquia entre as vrias escolas ou correntes terico -metodolgicas do campo.

    Acreditamos que analisando a produo acadmico-intelectual podemos descobrir a hierarquia

    do campo da Cincia Poltica do ponto de vista das escolas ou correntes terico -

    metodolgicas. Mas sua importncia no se restringe a isso.

    Existe necessariamente uma relao entre agentes e idias (normalmente agremiadas em

    escolas ou correntes terico-metodolgicas), afinal de contas so os agentes que efetivamente

    pensam, escrevem textos, participam de congressos etc. Mas, alm disso, supomos haver

    correspondncia de algum grau entre a hierarquia de escolas e a hierarquia de agentes. Trata-

    se de uma hiptese: aqueles que dizem o que academicamente mais valorizado tendem a

    ocupar uma posio superior no campo acadmico.

    Certamente, a filiao de algum a determinada corrente de pensamento no o nico

    fator que determina sua posio no campo acadmico. H outros fatores envolvidos, como a

    filiao institucional, a trajetria acadmica e estratgias especficas de carreira. Mas achamos

    que a filiao intelectual um dos fatores que determinam a posio de um agente.

    Aplicamos o mesmo raciocnio s instituies. Pela prpria estrutura do campo

    acadmico brasileiro, h uma relao entre escolas e instituies de ensino e pesquisa: os

    peridicos so vinculados a instituies, e os programas de ps-graduao so responsveis

    9 Isso tambm se aplica s instituies.

  • 8/7/2019 Leite, Fernando Baptista; Codato, Adriano. Elites universitrias no campo da Cincia Poltica brasileira: uma anlise

    10/31

    10

    pela formao intelectual de seus alunos, bem como pelas linhas de pesquisa existentes que,

    tambm, so favorecidas ou desfavorecidas dependendo de sua situao no campo acadmico.

    As instituies acadmicas universidades, institutos de pesquisa, congressos e peridicos

    so os veculos por meio dos quais se divulgam e se difundem as idias, as teorias e as

    correntes de pensamento.

    Assim, se a produo acadmica for uma forma eficaz de identificar a hierarquia das

    escolas, como acreditamos, talvez ela tambm seja til para descobrir eventuais ligaes

    entre certas instituies e determinadas escolas terico-metodolgicas, por meio de

    cruzamentos de dados. Ns sabemos que existe uma relao entre escolas e instituies;

    possvel que tambm haja,em paralelo, uma correspondncia entre a hierarquia institucional e a

    hierarquia de idias. Se isso for verificado, podemos verificar a qual instituio se filiam os

    acadmicos que produziram os trabalhos analisados. Podemos, com isso, indiretamente

    identificar se h tendncias tericas definidas na produo das instituies em questo. Trata-

    se, pois, de uma forma de abrir o caminho para o esclarecimento da hierarquia do campo da

    Cincia Poltica brasileira contempornea.

    II.2. O mtodo de anlise

    Consiste (i) na escolha dos peridicos e eventos (congressos cientficos) a seremtomados como referenciais da produo acadmica do campo, com a condio de permitir que

    identifiquemos as escolas hegemnicas; (ii) na construo de um modelo das escolas

    terico-metodolgicas a partir de bibliografia sobre a Cincia Poltica ocidental, reunindo em

    classes certas caractersticas (como a linhagem terico-metodolgica, a natureza e o propsito

    do texto, os tipos de dados apresentados e as variveis-chaves) que acreditamos estarem

    relacionadas; (iii) na aplicao desse modelo anlise dos artigos dos peridicos, ou seja, a

    classificao desses peridicos segundo as informaes do modelo; ( iv) na construo de

    estatsticas acerca das caractersticas da produo acadmica, especialmente no que se refere s

    filiaes terico-metodolgicas dos artigos e (v) na interpretao qualitativa dos resultados.

    Vamos descrever melhor as trs primeiras etapas do mtodo.

    II.2.1. A escolha dos referenciais da produo acadmica

    Em primeiro lugar, elegemos os peridicos cientficos e os congressos como

    referenciais da produo acadmica e, conseqentemente, das escolas terico -metodolgicas.

    Lembramos que nossos referenciais no precisam refletir todo o campo de idias e escolas da

  • 8/7/2019 Leite, Fernando Baptista; Codato, Adriano. Elites universitrias no campo da Cincia Poltica brasileira: uma anlise

    11/31

    11

    Cincia Poltica, mas pelo menos os hegemnicos Inclumos os principais congressos que

    dizem respeito Cincia Poltica o Encontro da Anpocs (Associao Nacional de Ps-

    Graduao e Pesquisa em Cincias Sociais) e o Encontro da ABCP (Associao Brasileira de

    Cincia Poltica) por entendermos que se tratam de importantes instncias de legitimao

    acadmica do campo e devem ser referenciais importantes da situao do campo de produo

    cultural da cincia poltica. Quanto aos peridicos, ainda que acreditemos que sua escolha para

    os objetivos a que nos propomos seja uma obviedade, esclareceremos sua importncia ao

    discutirmos um elemento importante de nosso mtodo, a utilizao do Sistema Qualis como

    principal critrio de escolha.

    Prosseguimos escolha dos peridicos a serem analisados, tendo em mente que eles

    precisam ser representativos das escolas hegemnicas. Ora, um peridico considerado

    importante pela maioria dos cientistas polticos deve, por suposto, veicular as idias que mais

    atraem as atenes seja para defend-las seja para critic-las. Partimos, portanto, da seguinte

    premissa: as escolas hegemnicas so veiculadas pelos peridicos mais importantes; para

    descobrir as escolas hegemnicas, preciso analisar os peridicos institucionalmente mais

    importantes e subjetivamente mais prestigiados. preciso, pois, de critrios que nos faam

    escolher os peridicos que tenham essas propriedades, e no bastam somente critrios

    subjetivos.

    Elegemos ento os seguintes critrios para a tarefa que se apresenta, em ordem de

    importncia: (i) a classificao no Qualis de Peridicos; (ii) as estatsticas bibliomtricas do

    SCIelo (o fator de impacto em dois e trs anos e o nmero de acessos); (iii) a filiao

    institucional e (iv) a presena nos indexadores SCIelo, ISI (Social Sciences Citation Index) e

    Lilacs10.

    Evidentemente, a escolha feita sobre os peridicos que possurem produo pertinente

    em cincia poltica, isto , indicados pelos programas de ps-graduao da rea de Cincias

    Polticas e Relaes Internacionais para comporem a lista de peridicos do Qualis. Tanto para a

    escolha dos peridicos como para a anlise efetiva dos artigos, utilizamos como perodo de

    referncia o padro de cinco anos, adotado pelas agncias de fomento. Mas como at o

    momento da redao deste trabalho o SCIelo s disponibilizou os dados bibliomtricos dos

    10 Usamos esses indicadores como referncias porque so os que o SCIelo menciona nas estatsticas de citaesrecebidas dos peridicos. Mas sabemos que ser indexado pelo SCIelo uma condio imprescindvel de

    importncia e prestgio no Brasil e pelo o ISI, internacionalmente.

  • 8/7/2019 Leite, Fernando Baptista; Codato, Adriano. Elites universitrias no campo da Cincia Poltica brasileira: uma anlise

    12/31

    12

    peridicos at 2007, neste caso, extraordinariamente, ajustamos o perodo a essa limitao, indo

    de 2003 a 2007 e ignorando o ano de 2008.

    A partir desses critrios, foram escolhidos os peridicos Dados, Revista Brasileira de

    Cincias Sociais, Opinio Pblica, Novos Estudos, Revista de Sociologia e Poltica e Lua

    Nova. Apresentamos as principais informaes desses peridicos abaixo. Alm desses,

    escolhemos tambm a Brazilian Political Science Review exclusivamente em funo da filiao

    institucional ( a revista da ABCP).

    QUADRO 1 ESTATSTICAS DOS PERIDICOS ESCOLHIDOS

    Dados Qualis : A1

    Filiao institucional : Iuperj

    Nmero de acessos artigos

    Fator de impacto(dois anos)

    Fator de impacto(trs anos)

    2007 0.1800 0.3108

    2006 0.0208 0.0685

    2005 0.3265 0.3521

    2004 0.3191 0.2794

    2003 0.3721 0.3768

    Total 1 604 066

    Rev. bras. Ci. Soc. Qualis : A2Filiao institucional : Anpocs

    Nmero de acessos artigos

    Fator de impacto(dois anos)

    Fator de impacto(trs anos)

    2007 0.3148 0.3086

    2006 0.2037 0.2892

    2005 0.2857 0.3133

    2004 0.1607 0.1585

    2003 0.0755 0.1461

    Total 3 149 056

    Opinio Pblica Qualis : B1

    Filiao institucional : Unicamp

    Nmero de acessos artigos

    Fator de impacto(dois anos)

    Fator de impacto(trs anos)

    2007 0.1667 0.2045

    2006 0.1667 0.0476

    2005 0.0370 0.1250

    2004 0.0385 0.1111

  • 8/7/2019 Leite, Fernando Baptista; Codato, Adriano. Elites universitrias no campo da Cincia Poltica brasileira: uma anlise

    13/31

    13

    2003 0.0870 0.0606

    Total 566 039

    Novos Estudos1 Qualis : B1

    Filiao institucional : CebrapNmero de acessos

    artigosFator de impacto

    (dois anos)Fator de impacto

    (trs anos)

    2007 0.0909

    2006

    2005

    Total 497 473

    Rev. Sociol. Polit Qualis : B1

    Filiao institucional : UFPR

    Nmero de acessos artigos

    Fator de impacto(dois anos)

    Fator de impacto(trs anos)

    2007 0.1707 0.1061

    2006 0.0000 0.1343

    2005 0.0930 0.0877

    2004 0.0625 0.0426

    2003 0.1379 0.1087

    Total 1 236 742

    Lua Nova1 Qualis : B1

    Filiao institucional : CEDEC

    Nmero de acessos artigos

    Fator de impacto(dois anos)

    Fator de impacto(trs anos)

    2007 0.1944 0.1404

    2006 0.0938 0.2105

    2005 0.1304 0.1618

    2004 0.1915

    Total 678 058

    FONTES: SCIelo (2009); Capes (2009d).NOTAS:

    1. O SCIelo s disponibilizou dados para esses anos.2. A avaliao do Qualis apresentada da rea de Cincia Poltica e Relaes Internacionais.3. Valores referentes s edies impressas, exceto o nmero de acessos.4. Nmero de acessos de Dados contados desde 25.abr.1997; RBCS desde 16.out.1998; RSP desde

    8.fev.2002; Opinio Pblica desde 17.mar.2003; Lua Nova desde 19.jul.2002 e Novos Estudos desde10.fev.2006. Trata-se do perodo mximo disponvel no SCIelo.

    5. O fator de impacto calculado a partir da proporo entre as citaes recebidas e as concedidas. Quantomais o nmero de citaes recebidas est prximo do de citaes concedidas, maior o fator de impacto.

    6. O perodo abordado pelo clculo do fator de impacto funciona da seguinte forma: o ndice de impacto deum determinado ano refere-se s citaes recebidas e concedidas nos anos anteriores, definidos pelo

  • 8/7/2019 Leite, Fernando Baptista; Codato, Adriano. Elites universitrias no campo da Cincia Poltica brasileira: uma anlise

    14/31

    14

    perodo. Por exemplo, o ndice de impacto de 2007 em um perodo de dois anos refere-se s citaesrecebidas e concedidas em 2005 e 2006. Se o perodo fosse de trs anos, seriam 2004, 2005 e 2006.

    Acreditamos que esses critrios permitam-nos escolher os peridicos mais prestigiados.

    Se eles no cumprirem essa tarefa, pelo menos so claramente apresentados, de modo a serem

    criticados e conseqentemente melhorados.

    Nosso objetivo ser analisar todos os artigos de cincia poltica publicados nesses

    peridicos. Como a prpria definio de cincia poltica ainda demas iado vaga, sendo um

    objeto de disputa no interior do campo que orbita a prpria definio do objeto da Cincia

    Poltica (a poltica strictu sensu ou o poder em geral?), utilizamos como critrio para definir se

    um artigo de cincia poltica se ele tem como objeto a poltica em sentido lato, ou seja, os

    fatos polticos, desde a poltica propriamente dita (o Estado ou o sistema poltico) at a

    organizao das relaes de fora entre grupos e estrutura da dominao numa determinada

    sociedade. Seguindo o critrio padro das agncias de fomento, vamos analisar os artigos

    publicados nos ltimos cinco anos, contados regressivamente a partir de 2008 ( i.e.: 2004-2008).

    Pretendemos ampliar esse perodo at a dcada de 1980, momentos antes da

    redemocratizao11, mas neste caso provavelmente precisaremos fazer uma pesquisa por

    amostragem.

    Tambm analisaremos os papers publicados em anais do Encontro da Anpocs e do

    Encontro da ABCP durante o mesmo perodo. Quando ampliarmos o perodo da anlise dos

    peridicos, iremos fazer o mesmo com os anais desses eventos. O mtodo de anlise aplicado a

    ambos os casos descrito no tpico II.2.2. Antes de apresent-lo, vamos nos deter mais um

    pouco nos indicadores que usamos para escolher os peridicos. Est claro que esses indicadores

    medem a importncia de um peridico precisamos escolher os importantes para analisar

    uma produo que seja representativa das escolas hegemnicas (se existirem). So usados para

    identificar, portanto, posies (tericas) no campo (de produo cultural da Cincia Poltica).

    Consideramos que o Qualis seja o principal deles, e aparentemente isso pode gerar problemas.

    disso que falaremos agora.

    11 Concordamos com parte da bibliografia que acusa a heteronomia da Cincia Poltica em relao poltica.Acreditamos que comparar a evoluo qualitativa da produo acadmica em cincia poltica em funo daredemocratizao seja um teste interessante a essa hiptese: acreditamos que efeitos exgenos (propriamentepolticos) afetaram a produo acadmica de cincia poltica, favorecendo a diminuio de influncia do

    marxismo nessa rea.

  • 8/7/2019 Leite, Fernando Baptista; Codato, Adriano. Elites universitrias no campo da Cincia Poltica brasileira: uma anlise

    15/31

  • 8/7/2019 Leite, Fernando Baptista; Codato, Adriano. Elites universitrias no campo da Cincia Poltica brasileira: uma anlise

    16/31

    16

    Em terceiro lugar, no que se refere s possveis implicaes poltico-acadmicas de

    nossa posio metodolgica, entendemos que tornar explcitos os mecanismos de dominao e

    a lgica de seu funcionamento , na verdade, o maior instrumento para combat-los.

    Acreditamos que h certas vcios de pensamentos nas cincias sociais, oriundos talvez de sua

    falta de autonomia cientfica e sua proximidade com a poltica e a ideologia, que fazem que

    associemos significados polticos a consideraes de fato. Tende-se a confundir "ser" com

    "dever ser". Quando se fala de "hegemonia", entende-se que implicitamente se sugere que

    "hegemnico" significa "melhor", "mais qualidade" ou "mais contribuio ao conhecimento".

    No fazemos e no estamos interessados nisso. Os agentes do campo podem efetivamente, em

    suas prticas e representaes, relacionar "prestgio" (i.e.: poder) com qualidade acadmica,

    intelectual e cientfica; mas ns no fazemos isso. No estabelecemos qualquer relao entrehegemonia e qualidade acadmica ou intelectual. Para ns, inclusive, o poder (capital)

    acadmico, intelectual ou cientfico pode ou no estar a servio do conhecimento. Um exemplo

    abstrato: uma hegemonia, o statu quo do meio cientfico, pode agir deliberada ou no

    deliberadamente de modo a conservar sua posio, para isso precisando lutar contra aqueles

    que carregam novos conhecimentos, desestimulando e mesmo impedindo a ampliao do

    conhecimento. Sabemos que isso ocorre com freqncia na histria do campo acadmico.

    Vimos que o que importa para nossa pesquisa que um fator tomado como indicador seja

    ou no socialmente pertinente para produzir a hierarquia (estrutura) do campo. A nosso ver, a

    utilidade do Qualis para nossa pesquisa vai alm de definir os peridicos a serem analisados.

    Achamos que ele muito importante na determinao da hierarquia do campo acadmico,

    incluindo a o da Cincia Poltica contempornea, e isso que tentaremos mostrar a seguir.

    II.2.1.2. O Sistema Qualis: elementos estruturais fundamentais

    O Sistema Qualis consiste numa metodologia de avaliao (e seu instrumental) das

    instncias do campo acadmico brasileiro, especialmente os programas de ps-graduao e a

    produo acadmica e num banco de dados que registra as avaliaes dessas instncias.

    Vinculado ao Ministrio da Educao, utilizado como referencial para a distribuio de

    recursos para pesquisa. Iremos focar esta exposio sobre o Qualis de Peridicos e vamos

    resumi-la para atender especificamente aos fins da pesquisa.

    O Conselho Tcnico Cientfico da Educao Superior (CTS-ES), instituio ligada

    Capes e ao Ministrio da Educao, em conjunto com os coordenadores de rea, define as

  • 8/7/2019 Leite, Fernando Baptista; Codato, Adriano. Elites universitrias no campo da Cincia Poltica brasileira: uma anlise

    17/31

    17

    diretrizes operacionais do Sistema Qualis. Chama-se de coordenador de rea o indivduo

    responsvel por representar uma determinada rea de Conhecimento, presidindo a Comisso

    Capes de sua respectiva rea12, possuindo poderes especficos como o de indicar um peridico

    a compor a lista de peridicos classificados da rea.

    O CTS, contudo, no tem o poder de determinar os critrios de avaliao a partir dos

    quais os peridicos sero efetivamente classificados e distinguidos entre si. O responsvel por

    isso a Comisso do Qualis Peridicos, que especfica para cada rea. O coordenador o

    responsvel por indicar os membros da Comisso. Isso geralmente feito por meio da

    negociao com o Frum dos Coordenadores de Ps-Graduao que, como diz o nome, rene

    os coordenadores dos programas de ps-graduao de uma determinada rea. Os critrios so

    entregues Diretoria de Avaliao do CTS, que oficializa sua vigncia.

    Ainda que o coordenador de rea no tenha o poder exclusivo de determinar os critrios

    de avaliao dos peridicos, possvel que ele influencie indiretamente sua concepo por

    meio do poder de determinar quem sero os responsveis por fazer isso. No encontramos

    qualquer informao, nos documentos consultados13, que indicasse a obrigao de os critrios

    serem definidos pelos lderes dos programas de ps-graduao. Isso significa que no h

    qualquer garantia institucional de que os critrios sejam a manifestao da vontade ou da

    inteno objetiva dos responsveis pelos programas de ps-graduao. A definio dos critrios

    a serem adotados acaba por depender das circunstncias poltico-acadmicas de cada rea.

    Aparentemente, os programas de ps-graduao detm influncia sobre a concepo dos

    critrios por meio do Frum: espera-se, em geral, que o coordenador indique os membros da

    Comisso em dilogo com ele. O poder de definir os critrios de classificao dos peridicos

    est, portanto, nas mos do coordenador de rea e dos coordenadores dos programas de ps-

    graduao; variando o peso de cada um em funo de circunstncias especficas de cada rea.

    Vejamos um exemplo prtico. O CTS faz uma reunio com os coordenadores de rea e,

    juntos, definem as diretrizes operacionais do Sistema Qualis. Uma dessas diretrizes a

    definio dos estratos em que os peridicos sero alocados. Assim, na reestruturao aprovada

    em 6 de maio de 2008 (CAPES, 2008), foram determinados oito estratos: A1, A2, B1, B2, B3,

    B4, B5 e C. Entre outras diretrizes operacionais, certas regras para preencher esses estratos

    12 A Tabela das reas de Conhecimento pode ser conferida em Capes (2009e).

    13 So eles: Capes (2008), Frum... (2008), Revista... (2009) e ABCP (2009).

  • 8/7/2019 Leite, Fernando Baptista; Codato, Adriano. Elites universitrias no campo da Cincia Poltica brasileira: uma anlise

    18/31

    18

    tambm foram estabelecidas, como a obrigao de o nmero de peridicos componentes dos

    estratos superiores (A1 e A2) no superar 20% do universo de peridicos presentes na lista de

    peridicos indicados pela rea. J os critrios para determinar quem ir compor cada estrato

    cabem a cada rea definir: pode-se determinar que para um peridico ser classificado como

    A1 ele precisa obter um valor mnimo de fator de impacto num tempo determinado. Ou pode-

    se usar o fator h; ou ter um nmero mnimo de autores ou co-autores estrangeiros. Ou mesmo

    considerar tudo isso. Os critrios de classificao, enfim, variam.

    Os peridicos a fazerem parte da lista de peridicos classificados de cada rea so

    escolhidos pelos prprios programas de ps-graduao, que os indicam em funo das

    necessidades de publicao de seus membros. Isso ocorre por meio da lista de reas, que

    preenchida anualmente pelos programas de ps-graduao, componente da Coleta de Dados do

    Qualis. Assim, basicamente, a lista de peridicos de cada rea corresponde aos peridicos em

    que publicam os acadmicos (docentes e discentes). Vamos aprofundar um pouco mais nossa

    anlise da composio da lista de peridicos de cada rea. Ela ir nos conduzir a consideraes

    importantes fundamentam o uso do Qualis at como um instrumento para se identificar

    fraes da estrutura do campo acadmico.

    II.2.1.3. Algumas consideraes a respeito da composio da Lista de Peridicos da rea

    A terceira e a quarta questes do documento Perguntas Mais Freqentes(FAQ), do

    Qualis, contm informaes a respeito da composio da Lista de Peridicos que tm

    importantes implicaes para nossa pesquisa. Antes de esclarec-las, transcrevemos a terceira

    questo, Como construdo o Qualis?:

    Os peridicos que compem o Qualis so constitudos por peridicos mencionados pelos programas deps-graduao anualmente no Coleta de Dados. Quando os dados chegam a CAPES, so reunidos em umabase de dados os ttulos de todos os peridicos e eventos mencionados pelos Programas naquele ano.Portanto, o Qualis o processo de classificao dos peridicos mencionados pelos prprios programas e

    no do universo de peridicos ou de eventos de cada rea.Com definio temos o Sistema Qualis como o processo de classificao dos veculos utilizados pelosprogramas de ps-graduao para a divulgao da produo intelectual de seus docentes e alunos. Talprocesso foi concebido pela CAPES para atender a necessidades especficas do sistema de avaliao ebaseia-se nas informaes fornecidas pelos programas no aplicativo Coleta de Dados. Esta classificao feita ou coordenada por uma comisso de consultores de cada rea e passa por processo anual deatualizao. Os veculos de divulgao citados pelos programas de ps-graduao so enquadrados emcategorias indicativas da qualidade do veculo utilizado, e, por inferncia, do prprio trabalho divulgado(CAPES, 2009c, p. 3).

    E a quarta, Gostaria de saber como fao para indicar um peridico para o Qualis das reas? :

    Existem duas formas para um peridico ou outro veculo ser inserido na lista Qualis de uma rea.Primeiro, pela declarao de um dos programas de ps-graduao reconhecidos pela Capes, quando dopreenchimento do Relatrio Anual da CAPES (Coleta de Dados), de que seus docentes, discentes ou

  • 8/7/2019 Leite, Fernando Baptista; Codato, Adriano. Elites universitrias no campo da Cincia Poltica brasileira: uma anlise

    19/31

    19

    pesquisadores publicaram artigos cientficos no veculo. Adicionalmente, esse veculo precisar passar porprocesso de (1) padronizao pela Capes - no caso de peridico, checagem de que realmente existe e que ocdigo de ISSN e ttulo so vlidos - (2) classificao - receber os atributos de qualidade - e, finalmente, (3)ser indicado pela rea de avaliao para participar da lista de veculos publicados no Qualis das reas.

    Uma segunda forma de um veculo figurar na listagem por indicao direta do Coordenador de rea, emvirtude da relevncia qualitativa do veculo. Nesse caso, o Qualis est sendo utilizado como indutor depublicao de qualidade em veculos de qualidade reconhecida, independente desse veculo j ter sido, ouno, utilizado para divulgar a produo bibliogrfica de algum Programa. Tal indicao, aps a devidapadronizao e classificao, includa no Qualis das reas.

    Em ambos os casos, a classificao e divulgao ocorrem anualmente ( idem, p. 4).

    Esses trechos contm implicaes importantes para nossa pesquisa. Em primeiro lugar,

    a classificao, a conferncia de valor acadmico e, portanto, a hierarquizao dos artigos

    publicados depende da classificao do peridico. Disso deriva que a posio do peridico no

    Qualis um importante indicador para definir a posio de um determinado artigo, j que ovalor do artigo est institucionalmente vinculado ao valor do peridico, em virtude dos

    critrios do Qualis. Assim, pelo menos a partir do Qualis, o valor de um artigo publicado numa

    revista A1 superior ao de outro publicado numa revista B1, no importando qual a

    influncia acadmico-intelectual real de cada uma medida, por exemplo, pelo nmero de

    citaes bibliogrficas. E disso deduzimos: para determinar o valor individual dos artigos

    publicados preciso, alm do Qualis, considerar outros indicadores, como o nmero de

    citaes. Por haver, de fato, transferncia de capital (e suas vrias formas: valor, prestgio,

    reconhecimento etc.) entre o veculo de publicao e o contedo publicado, a classificao do

    peridico no Qualis um importante indicador da posio de um artigo, mas preciso usar

    outros. Para os peridicos, especificamente, trata-se de um excelente critrio, ainda que seja

    imprescindvel considerar critrios como o nmero de citaes, a presenha sistemas de

    indexao, a instituio acadmica a que se vincula etc.

    Em segundo lugar, h alguma relao entre os programas de ps-graduao e os

    peridicos que compem o Qualis em que os peridicos precisam ser mencionados porprogramas de ps-graduao. A maioria dos peridicos que compem o Qualis deve possuir

    alguma relevncia acadmica, j que eles so indicados pelos. No possvel inferir que so

    todos, j que o coordenador de rea pode indicar um determinado peridico sem justificativas

    objetivas, j que no so definidos os critrios de mensurao da relevncia qualitativa do

    veculo (tratar-se-, portanto, da avaliao subjetiva do coordenador), tornado possvel, assim,

    a indicao de peridicos insignificantes no campo acadmico brasileiro. (Todavia,

    consideramos essa possibilidade bastante remota, pois no vemos razo de um Coordenador

  • 8/7/2019 Leite, Fernando Baptista; Codato, Adriano. Elites universitrias no campo da Cincia Poltica brasileira: uma anlise

    20/31

    20

    indicar um peridico desconhecido ou ignorado por toda a comunidade acadmica de sua

    rea.) Isso implica que, salvo alguma idiossincrasia extraordinria do Coordenador, o prprio

    meio acadmico define os peridicos que faro parte de cada rea do Qualis. Isso significa

    que, se um peridico qualquer est na lista de peridicos do relatrio de rea, ele

    necessariamente foi utilizado como meio de publicao de algum trabalho de algum acadmico

    vinculado a determinado programa de ps-graduao (ou em vias de s-lo) ou foi indicado pelo

    Coordenador. Significa, portanto, que o peridico possui alguma influncia acadmica. E como

    para medi-la e determin-la existe a nota do Qualis, deriva que ele um indicador

    importante, o principal ns diramos, da influncia acadmica.

    II.2.1.4. A relevncia do Qualis manifesta na polmica em torno de sua reestruturao

    Em 6 de maio de 2008 a Capes publicou um documento intitulado Qualis peridicos:

    reestruturao do sistema e classificao dos peridicos em 2008 (CAPES, 2008) que

    estabeleceu as diretrizes de reestruturao do Sistema Qualis. Essa reestruturao decorreu

    durante o ano de 2008, e sua principal conseqncia para nossa pesquisa foi a mudana nas

    classes que estratificavam a Lista dos Peridicos da rea. O que nos interessa neste momento

    o fato de que, por causa da reestruturao do Qualis, ainda no temos os critrios de avaliao

    dos peridicos da rea de Cincia Poltica e Relaes Internacionais 14. imprescindvel que

    analisemos esses critrios se usamos o Qualis como indicador para identificar fraes da

    hierarquia do campo, j que, se fazemos isso, pressupomos que os critrios do Qualis da rea

    correspondem aos nossos critrios para definir a hierarquia do campo. so as reaes de certas

    fraes da comunidade acadmica reestruturao do Qualis. Como no temos esses critrios,

    vamos tentar mostrar indiretamente sua relevncia na composio da hierarquia do campo

    acadmico por meio das reaes que a reestruturao suscitou de parte da comunidade

    acadmica.

    Antes de tudo, apresentamos alguns elementos, importantes aos nossos propsitos,

    extrados do relatrio divulgado pela Diretoria de Avaliao da Capes sobre a reestruturao do

    Qualis.

    1. O Qualis de Peridicos e os demais Qualis de Eventos, de Livros, de Produo Artstica e de Patentescontinuam sendo o referencial da produo intelectual apresentada pelos programas de ps-graduao eavaliada pela Capes. (CAPES, 2008, p. 1).

    14 At a data de 14 de setembro de 2009, no conseguimos ter acesso aos critrios da rea de Cincia Poltica eRelaes Internacionais para classificar sua Lista de Peridicos. Segundo Gustavo Biscaia de Lacerda, editor

    da Revista de Sociologia e Poltica, esses critrios ainda no foram publicados.

  • 8/7/2019 Leite, Fernando Baptista; Codato, Adriano. Elites universitrias no campo da Cincia Poltica brasileira: uma anlise

    21/31

    21

    3. Cada rea deve definir o que considera peridico, e apenas os veculos de divulgao que atendam oestabelecido nesse conceito sero classificados no respectivo Qualis de Peridicos. Em princpio, somenteos veculos com corpo editorial reconhecido, com avaliao pelos pares (pareceristas ad hoc) e dotados deISSN devem ser considerados peridicos. Alm disso, no caso das reas que apresentam critrios deindexao bem estabelecidos, suas bases de dados podem, para esse fim, ser utilizadas como referncia.

    (ibidem).7. Cada rea dever apresentar, em seu documento Critrios do Qualis de Peridicos, os critrios pelosquais define cada estrato (fator de impacto, ndice H, ou outros modos de mensurar sua qualidade).Destaca-se a necessidade de a definio dos dois estratos superiores ser efetuada de maneiraparticularmente criteriosa e rigorosa. (idem, p. 2).

    8. Recomenda-se que os dois estratos superiores no sejam superpovoados, a fim de que sejadevidamente destacada a excelncia ou o diferencial de qualidade dos peridicos neles classificados, emrelao aos includos nos demais estratos. (ibidem; grifos no original).

    9. Os dois estratos superiores A1 e A2 podero ser deixados vazios, por deciso da rea, em termos deartigos efetivamente publicados, recomendando-se que delas constem apenas peridicos da mais altaqualidade, nos quais a rea julga que deva sinalizar para avanar a qualidade da produo cientfica de sua

    comunidade. O Qualis assim ter um papel indutor claramente definido, no se limitando a analisar onde area publica, mas indicando tambm onde se deve publicar. (ibidem).

    O pargrafo nove especialmente importante para ns: indica, pelo menos

    aparentemente, que os estratos superiores devem ser referenciais de desenvolvimento,

    indicando a direo que devem seguir os peridicos nacionais de outros estratos. Duas novas

    diretrizes, em especial, do novo formato do Qualis geraram crticas de certos setores do campo

    acadmico: a combinao da estratificao em oito nveis com a regra de que a soma dos

    peridicos que compem os estratos superiores (A1 e A2) no pode ser superior a 20% do total

    de artigos listados pela rea15. Vejamos o que dizem algumas vozes de protesto.

    Durante reunio realizada em Vitria (ES) nos dias 1 e 2 de outubro de 2008, o Frum

    de Coordenadores de Ps-Graduao em Sade Coletiva publicou um manifesto contra as

    regras de preenchimento dos estratos superiores (A1 e A2) da nova classificao proposta pela

    Capes.

    [...] o Frum foi surpreendido pela no aprovao de sua proposta de qualificao de peridicos, assimcomo pela determinao recente da CAPES de que os estratos superiores (A1 e A2) da nova classificao

    no deveriam conter mais que 20% dos artigos produzidos pela rea. A aplicao irrestrita deste critrio,arbitrrio e sem sustentao conceitual ou bibliomtrica, pode se revelar danosa para algumas reas doconhecimento. No caso da Sade Coletiva, compromete gravemente o projeto poltico-acadmicodesenhado pela rea e coloca sob risco a rdua e indiscutvel conquista de qualificao dos nossosperidicos. (FRUM..., 2008).

    Eis o ncleo da crtica:

    O efeito da nova proposta de Qualis peridicos foi o rebaixamento de todos os peridicos nacionaisrelevantes, tomando como base a proposta elaborada pelo Frum para a rea de Sade Coletiva, emparticular deixando os estratos A1 e A2 sem nenhum peridico nacional relevante para o campo. A lgicautilizada gera ainda um grave problema lgico: apesar de seus excelentes indicadores bibliomtricos, ser

    15 No encontramos meno alguma clusula de barreira dos 20% no documento da Capes sobre a

    reestruturao (CAPES, 2008). Ela mencionada nos documentos de protesto que analisamos.

  • 8/7/2019 Leite, Fernando Baptista; Codato, Adriano. Elites universitrias no campo da Cincia Poltica brasileira: uma anlise

    22/31

    22

    impossvel para os mais importantes peridicos da rea ascender simultaneamente para o nvel A, j quedois deles concentram aproximadamente 20% da produo da rea. Considerando que o percentual dedistribuio por faixas no guarda qualquer relao objetiva com a qualidade dos peridicos, sendomeramente um artefato aritmtico de ranqueamento, a nova classificao gera distores que podemcomprometer as conquistas e avanos da rea no pas. (idem, p. 3-4; grifos do original).

    E o documento refere-se dimenso da influncia do Qualis na produo acadmica nacional:

    Como seria esperado, a Poltica de Avaliao da Ps -Graduao e os critrios por ela definidos tm umpoderoso papel indutor que ultrapassa o mbito estrito dos programas. A classificao Qualis, por exemplo,passou a ser adotada como parmetro de qualificao da produo de pesquisadores pelas agncias defomento e para a avaliao de professores pelas instituies de ensino (idem, p. 4).

    No caso da rea de Sade Coletiva, a barreira fez que os peridicos nacionais fossem

    rebaixados, ou seja, excludos dos extratos superiores. Mas como a prpria rea que define os

    critrios de avaliao dos peridicos salvo, evidentemente, a barreira , isso significa que

    os peridicos nacionais ficaram aqum dos internacionais (que por suposto compuseram os

    20%) segundo os prprios critrios definidos pela rea. Por isso, critica-se a arbitrariedade do

    valor estabelecido como limite.

    Em 22 de julho de 2009, na ocasio do 14 Congresso da Sociedade Brasileira de

    Sociologia (SBS), os editores da Revista de Sociologia e Poltica publicaram um documento

    (REVISTA..., 2009) criticando a nova classificao do Qualis por causa de um efeito indireto,

    supostamente nocivo para os peridicos nacionais, que deriva da vinculao entre a clusula

    de barreira, a presena de peridicos internacionais e o uso do Qualis como referencial para a

    distribuio de recursos entre os peridicos nacionais. O raciocnio o seguinte. A maior parte

    dos peridicos que compem os estratos superiores (da rea de Cincia Poltica) estrangeira,

    especialmente norte-americana. Por causa do limite de 20%, ocorre que poucos peridicos

    nacionais fazem parte dos estratos superiores. E como a classificao no Qualis o principal

    critrio considerado no financiamento dos peridicos (entre outras coisas), ocorre que os

    peridicos nacionais so prejudicados por competirem com peridicos internacionais que no

    dependem do financiamento pblico brasileiro. O fundamento da crtica da Revista de

    Sociologia e Poltica , assim, semelhante ao manifesto do Frum de Sade Coletiva 16.

    II.2.2. Construindo o modelo para a anlise dos artigos

    16 O documento da Rev. de Sociol. e Polit. tambm contm vrios elementos que ilustram a idia muito presenteno campo acadmico que associa prestgio a qualidade acadmica, referindo-se ao Qualis como principaldeterminante dessas propriedades, reconhecidas tanto subjetivamente (por meio da avaliao dos agentes)

    como objetivamente (por meio da concesso de recursos, entre outros).

  • 8/7/2019 Leite, Fernando Baptista; Codato, Adriano. Elites universitrias no campo da Cincia Poltica brasileira: uma anlise

    23/31

    23

    Selecionados os peridicos e os artigos que nos serviro de referncia, passamos

    anlise e classificao propriamente ditas. Lembrando, preciso identificar a posio terica

    que ocupam, a que escola pertencem17. Esse ato de classificao feito buscando nos artigos

    certas caractersticas, especialmente elementos tericos e metodolgicos, que acreditamos

    serem recorrentes no universo de idias transmitidas no campo, tendo carter social, fazendo

    parte, assim, de posies tericas do campo. Assim, a partir dessas caractersticas,

    classificamos os artigos como pertencentes a determinadas escolas ou correntes terico -

    metodolgicas.

    Mas para fazer essa classificao precisamos de um modelo das escolas de cincia poltica, um

    esquema que rena e codifique as caractersticas das escolas, a partir do qual iremos

    interpretar e classificar os artigos que analisarmos. Elaboramos esse modelo a partir da anlise

    de certas referncias bibliogrficas, que podem ser descries ou anlises crticas sobre a

    histria ou a situao da Cincia Poltica ocidental18, dos quais extramos e codificamos dados

    qualitativos para formar nossa representao terica das escolas. A bibliografia selecionada

    como referncia a seguinte: Lipset (1969), Forjaz (1979; 1997), Santos (1980), Lamounier

    (1982), Finifter (1983), Easton (1985), Dryzek e Leonard (1988), Farr (1988), Miceli (1989;

    1995; 1999), Almond (1990; 1991), Farr e Seidelman (1993), Quirino (1994), Dryzek, Farr e

    Leonard (1995), Easton, Gunnel e Stein (1995), Goodin e Hans-Dieter Klingemann (1996),

    Immergut (1998), Steinmo (2001) Hall e Taylor (2003) e Katznelson e Weingast (2005). Essa

    bibliografia no definitiva, podendo ser ampliada.

    Temos uma conduta padronizada para analisarmos as fontes. Com as fontes escolhidas,

    mobilizamos uma srie de instrumentos para extrair da melhor forma (que conseguirmos) as

    informaes disponveis. Explicitamo-lo, j que ela pode influenciar o modelo referencial que

    17 preciso considerar a possibilidade de nem todas as tomadas de posio no campo de produo cultural dacincia poltica fazerem parte de "escolas" ou correntes terico-metodolgicas. Identificar escolas pressupeque h homogeneidade suficiente entre as idias de modo que possamos agrup-las, produto de certaproximidade social (intercmbio de idias que so incorporadas e reproduzidas por vrios agentes de formarelativamente homognea). Estamos, contudo, atentos possibilidade de artigos inclassificveis, e incluiremo-la como uma das variveis.

    18Lembramos que utilizamos, pelos prprios propsitos dessa pesquisa, uma definio lato de Cincia Poltica,qual seja, o estudo erudito e/ou acadmico dos fenmenos polticos ou das relaes de poder. Tambm somosfavorveis a uma definio mais acurada e necessariamente cientfica de cincia poltica, mas persiste que oprprio campo ainda no corresponde objetivamente a essa definio, obrigando-nos a nos ajustarmos realidade do campo (as concepes de cincia poltica entre aqueles acadmicos que falam sobre a poltica ousobre o poder). Quando falamos em cincia poltica, em de iniciais minsculas, referimo-nos prtica da

    Cincia Poltica.A

  • 8/7/2019 Leite, Fernando Baptista; Codato, Adriano. Elites universitrias no campo da Cincia Poltica brasileira: uma anlise

    24/31

    24

    construiremos. Ns lemos, sintetizamos e fichamos todas as referncias. A leitura

    evidentemente atenta, no se tratando de leitura leiga de literatura ou de gibi. Sublinhamos

    todas as passagens que possam ser teis aos nossos propsitos. Os sublinhados possuem um

    significado: eles so srios candidatos a ser transferidos (seja por transcrio, seja por

    observaes crticas) para os arquivos de sntese e/ou para os ndices de idias e de dados

    empricos. Buscamos sublinhar trechos que tenham valor tanto como fontes primrias, como

    fontes secundrias ou como referncias tericas. Ou seja, que constituam dados empricos por

    si prprios, como por exemplo uma polmica entre acadmicos que possa vir a ser til para a

    pesquisa; que nos forneam informaes indiretas sobre a situao ou a histria da Cincia

    Poltica, apreendidas e interpretadas pelos autores; ou que nos forneam importantes reflexes

    que possam contribuir para nosso modelo terico geral e nossa metodologia de anlise epesquisa.

    Alm da prpria leitura e da memria, utilizamos um fichrio. O fichrio composto

    (i) por bancos de arquivos de sntese e (ii) por ndices de dados empricos, de pistas e de

    idias. O banco de arquivo uma espcie de fichamento; rene aquilo que vulgarmente se

    conhece por fichamentos. Por exemplo, se apanhamos uma coletnea de textos sobre a

    histria da Cincia Poltica, como o livro organizado por Bolvar Lamounier (1982), fazemos

    um arquivo de sntese (documentos de texto) para cada captulo (os que acharmos apropriados).

    Cada arquivo desses seria equivalente s fichas que os eruditos e acadmicos19 do passado

    utilizavam para organizar seus estudos, mas so em geral mais extensos. O fichrio, pois,

    composto pelos bancos de arquivos de snteses (fichas) e indexado numa planilha de

    dados20. J os ndices so planilhas de dados, uma para dados empricos e pistas de

    pesquisa e outra para idias (reflexes pessoais importantes, observaes crticas, diretrizes

    metodolgicas etc.), todos derivados da leitura das referncias. Organizem e classificam esses

    elementos, o que facilita a construo de nossas escolas tericas de referncia.

    O arquivo de sntese possui sempre um resumo substantivo, um ndice descritivo de

    tpicos e os tpicos propriamente ditos que renem as informaes consideradas pertinentes, os

    comentrios crticos sobre essas informaes e outras notas. Os tpicos compem a estrutura do

    19 Cf., a respeito, o clssico trabalho de Umberto Eco, Como se faz uma tese (ECO, 1977, p. 81-111).

    20 Como as planilhas do programa Excel, da Microsoft.

  • 8/7/2019 Leite, Fernando Baptista; Codato, Adriano. Elites universitrias no campo da Cincia Poltica brasileira: uma anlise

    25/31

    25

    arquivo, e buscam reunir todas as informaes primrias, secundrias e crticas encontradas nas

    referncias.

    Sintetizadas e fichadas todas as referncias bibliogrficas, fazemos comparaes e

    buscamos por recorrncias utilizando o fichrio e os ndices. A partir disso, extramos o modelo

    das escolas, que utilizaremos para analisar os artigos de peridicos e eventos cientficos. Se

    bem sucedido, o mtodo dever nos fornecer tipos ideais das principais escolas da Cincia

    Poltica, como marxismo, comportamentalismo, neo-institucionalismo, culturalismo

    etc.; e suas variantes terico-metodolgicas, como descritivo, analtico, terico,

    ensastico etc.

    Construmos, assim, um modelo das principais escolas ou correntes do campo a partir

    do reconhecimento e das categorias do prprio campo.

    II.2.3. Analisando os artigos de peridicos e eventos

    Selecionados os peridicos, os artigos e com o modelo de anlise em mos, buscamos

    nos ttulos, nos resumos, nas palavras-chave, nas introdues e nas concluses dos artigos

    analisados aqueles elementos presentes nas classes de nosso modelo. Construmos, ento,

    tabelas de freqncia no intuito de mostrar a distribuio da produo acadmica por escola, na

    esperana de medir sua predominncia, e, da, inferir sua hegemonia.

    Lembrando, acreditamos que a predominncia na produo acadmica veiculada pelos

    principais peridicos e eventos cientficos esteja ligada ou mesmo seja um reflexo da posio

    hierrquica que determinada escola ocupa no campo de produo cultural da Cincia

    Poltica brasileira contempornea. Presumimos, portanto, que se uma maioria relativa de

    acadmicos publicarem artigos nesses veculos orientados segundo determinada escola, ela

    deve ser hegemnica segundo o sentido que damos a esse termo.

    Por fim, cruzamos os dados de produo acadmica com a filiao institucional dos

    cientistas que produziram os artigos (considerando inclusive a sua trajetria), com o intuito de

    estabelecermos relaes entre produo acadmica e as instituies universitrias. Acreditamos

    que esse cruzamento permita-nos ter acesso, indiretamente, a outra dimenso da hierarquia da

    Cincia Poltica brasileira, a hierarquia institucional.

  • 8/7/2019 Leite, Fernando Baptista; Codato, Adriano. Elites universitrias no campo da Cincia Poltica brasileira: uma anlise

    26/31

    26

    Esclio: como evitar o problema da defasagem entre as escolas do modelo e as escolas reais

    Como foi at aqui apresentado, nosso modelo de anlise dos artigos tem um srio

    problema de curto-circuito. Ele aplica a uma situao histrica (o campo da cincia poltica

    brasileira de 2004 a 2008) categorias de percepo baseadas em outras situaes histricas

    (outros campos, de outras pocas e lugares). Vamos descrever melhor esse problema e

    apresentar nossa soluo a ele.

    Primeiramente, vamos imaginar o percurso para se chegar at o modelo que temos em

    mos. Em primeiro lugar, existem campos determinados de Cincia Poltica (no sentido lato)

    (digamo-lo: c1, c2, c3...) de determinados locais (l1, l2, l3...), em determinadas situaes (s1,

    s2, s3...) e em tempos determinados (t1, t2, t3...). Por exemplo: o campo da Cincia Poltica nos

    Estados Unidos na dcada de 1950, quando o comportamentalismo ascendia sobre as demais

    escolas. A seguir, em segundo lugar, temos as anlises e interpretaes da histria ou da

    situao desses vrios campos, compostos pelas combinaes entre locais, situaes e tempos.

    So elas: nossas referncias bibliogrficas. Elas abordam e baseiam suas anlises, descries e

    interpretaes, pois, em determinadas situaes histricas. Em terceiro lugar, temos o modelo

    das escolas que ns construmos, baseado naquelas referncias, baseadas por sua vez naquelas

    circunstncias. Por fim, temos a anlise da produo acadmica, baseada em nosso modelo, e

    assim sucessivamente.

    Ora, pois: a produo acadmica brasileira contempornea faz parte de um campo

    diferente daqueles que serviram de referncia para a bibliografia. Digamos, nosso campo atual

    c4, produto da combinao de s1 e s4, em l5 (o Brasil, ou mais especificamente So Paulo,

    Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Pernambuco, por exemplo) e t4 (2004 a

    2008). Isso quer dizer que aplicamos um modelo de escolas a circunstncias distintas, podendo

    estar forando as escolas atuais a se encaixarem no modelo. E assim deixando de perceber

    escolas eventualmente inexistentes no modelo pois inexistentes tanto no campo que produziu

    as referncias bibliogrficas como no campo a que essas referncias se referem ou

    percebendo distorcidamente as escolas atuais.

    Propomos uma sada para esse problema, resumida em trs passos. O primeiro consiste

    em no separar rigidamente as referncias para a construo do modelo (as referncias

    bibliogrficas) das referncias que so nosso objeto de anlise (os artigos dos peridicos e

    eventos cientficos), isto , vamos tratar os artigos que analisamos como novas pginas da

  • 8/7/2019 Leite, Fernando Baptista; Codato, Adriano. Elites universitrias no campo da Cincia Poltica brasileira: uma anlise

    27/31

    27

    histria da Cincia Poltica, como novas referncias para (re)construir o modelo. O segundo,

    ligado ao primeiro, consiste em usarmos nosso modelo extrado da bibliografia como um

    referencial comparativo da produo acadmica brasileira atual: em funo das semelhanas e

    diferenas que percebermos entre nosso modelo e a produo atual, ajustamos o modelo s

    novas circunstncias. O terceiro, ligado aos dois primeiros, consiste em considerar a produo

    acadmica da Cincia Poltica brasileira contempornea como um campo (formado por uma

    determinada combinao de fatores), que faz parte de um campo maior de Cincia Poltica,

    composto tambm pelos campos que serviram de referncia nossa bibliografia e pelos que

    englobavam nossa prpria bibliografia e pelo campo. Afinal de contas, nosso campo no est

    num casulo histrico, pelo contrrio, est ligado a outros campos de Cincia Poltica e,

    inclusive, foi influenciado por campos de outros tempos.

    Trata-se, pois, de integrar nosso campo a um campo de Cincia Poltica de dimenso

    global inclusive diacrnica , retroalimentando nosso modelo e tornando-o desta forma, em

    teoria, mais prximo da realidade.

    III.CONSIDERAES FINAISO processo de institucionalizao da Cincia Poltica brasileira e o aumento de sua

    autonomia cultural e institucional devem ser acompanhados de reflexes sobre sua histria, deanlises da situao de sua produo acadmica e da estrutura dos programas de ps-graduao.

    Conhecer as caractersticas acadmico-intelectuais e a estrutura institucional da disciplina que

    os cientistas polticos tenham controle sobre ela. Alm disso, objetivar nossa prpria prtica

    cientfica uma das melhores formas de suprimirmos parte dos entraves metodolgicos

    causados pela confuso do observador e de seu objeto nas cincias humanas.

    Nesse sentido, apresentamos um mtodo para analisar a situao da produo acadmica

    da Cincia Poltica brasileira contempornea. Nosso foco de ateno reside em identificar asescolas ou correntes terico-metodolgicas hegemnicas, isto , aquelas que

    predominarem nos principais peridicos e eventos cientficos da rea. Queremos fazer isso

    para, a seguir, identificar as fraes superiores da hierarquia institucional (as instituies

    hegemnicas). Nossa esperana descobrir relaes e correspondncias entre a produo

    acadmica e as instituies acadmicas, partindo de suas fraes hegemnicas. Trata-se de um

    passo importante num esforo global de identificar a situao da Cincia Poltica brasileira e

  • 8/7/2019 Leite, Fernando Baptista; Codato, Adriano. Elites universitrias no campo da Cincia Poltica brasileira: uma anlise

    28/31

    28

    de, talvez, contribuir para seu entendimento mais profundo, esclarecendo possveis causas.

    Acreditamos que isso seja uma condio para a maturidade cientfica.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    ABCP. 2009. Notas sobre a reunio a respeito da avaliao institucional da Capes, realizadaem Belo Horizonte, 27 de julho de 2009. Boletim ABCP, ago.-set., p. 4.

    ALMOND, Gabriel.1990. A Discipline Divided.Newbury Park, Cal. : Sage Publications.

    _____. 1991. Political Science : The History of the Discipline. In : GOODIN, Robert E. &KLINGEMANN, Hans-Dieter. (eds.). A New Handbook of Political Science. New York :Oxford University Press.

    BOURDIEU, Pierre. 2004. Science of Science and Reflexivity. Cambridge : Polity Press.

    _____. 2003b. Os usos sociais da cincia. So Paulo : UNESP.

    CABRAL, Manuel V. 1982. Histria e poltica nas cincias sociais portuguesas, 1880-1980. In: LAMOUNIER, Bolvar. (org.). A Cincia Poltica nos Anos 80. Braslia : UNB, p. 251-280.

    CALVERT, Randall. 1993. Lowis Critique of Political Science : a Response. PoliticalScience & Politics, v. 26, n. 2, June, p. 196-198.

    CAPES. MINISTRIO DA EDUCAO. 2008. Qualis peridicos: reestruturao dosistema e classificao dos peridicos em 2008. Instruo/DAV n. 05/2008, 6.mai.

    _____. 2009a. Planilhas Especficas. Disponvel em:http://conteudoweb.capes.gov.br/conteudoweb/PlanilhasEspecificasServlet Acesso em :24.set.2009.

    _____. 2009b. Caderno de Indicadores. Disponvel em :http://conteudoweb.capes.gov.br/conteudoweb/CadernoAvaliacaoServlet Acesso em :24.set.2009.

    _____. 2009c. Qualis 2009. Perguntas Mais Freqentes. Disponvel em :http://www.capes.gov.br/images/stories/download/avaliacao/FAQ_Qualis.pdf Acesso em :14.set.2009.

    _____. 2009d. WebQualis. Disponvel em : http://qualis.capes.gov.br/webqualis/Acesso em :14.set.2009.

    _____. 2009e. Tabela de reas de Conhecimento. Braslia : Ministrio de Cincia eTecnologia. Disponvel em : http://www.capes.gov.br/avaliacao/tabela-de-areas-de-conhecimentoAcesso em : 15.set.2009.

    CNPq. 2009. Plano Tabular. Diretrio de Grupos de Pesquisa no Brasil. Disponvel em :http://dgp.cnpq.br/planotabular/Acesso em : 24.set.2009.

    http://conteudoweb.capes.gov.br/conteudoweb/PlanilhasEspecificasServlethttp://conteudoweb.capes.gov.br/conteudoweb/PlanilhasEspecificasServlethttp://conteudoweb.capes.gov.br/conteudoweb/CadernoAvaliacaoServlethttp://conteudoweb.capes.gov.br/conteudoweb/CadernoAvaliacaoServlethttp://www.capes.gov.br/images/stories/download/avaliacao/FAQ_Qualis.pdfhttp://www.capes.gov.br/images/stories/download/avaliacao/FAQ_Qualis.pdfhttp://qualis.capes.gov.br/webqualis/http://qualis.capes.gov.br/webqualis/http://www.capes.gov.br/avaliacao/tabela-de-areas-de-conhecimentohttp://www.capes.gov.br/avaliacao/tabela-de-areas-de-conhecimentohttp://www.capes.gov.br/avaliacao/tabela-de-areas-de-conhecimentohttp://dgp.cnpq.br/planotabular/http://dgp.cnpq.br/planotabular/http://dgp.cnpq.br/planotabular/http://www.capes.gov.br/avaliacao/tabela-de-areas-de-conhecimentohttp://www.capes.gov.br/avaliacao/tabela-de-areas-de-conhecimentohttp://qualis.capes.gov.br/webqualis/http://www.capes.gov.br/images/stories/download/avaliacao/FAQ_Qualis.pdfhttp://conteudoweb.capes.gov.br/conteudoweb/CadernoAvaliacaoServlethttp://conteudoweb.capes.gov.br/conteudoweb/PlanilhasEspecificasServlet
  • 8/7/2019 Leite, Fernando Baptista; Codato, Adriano. Elites universitrias no campo da Cincia Poltica brasileira: uma anlise

    29/31

    29

    COLLINI, Stefan; WINCH, Donald & BURROW, John. 1983. That Noble Science ofPolitics : A Study in Nineteenth-century Intellectual History. Cambridge : CambridgeUniversity Press.

    DRYZEK, John S. & LEONARD, Stephen. T. 1988. History and Discipline in PoliticalScience. The American Political Science Review, v. 82, n. 4, p. 1245-1260. [Obs.: esse artigotambm foi publicado em Easton, Gunnel e Stein (1995).]

    DRYZEK, John S.; FARR, James &LEONARD, Stephen T. (eds.). 1995. Political Sciencein History. Cambridge : Cambridge University Press.

    EASTON, David. 1985. Political Science in the United States: Past and Present. InternationalPolitical Science Review, v. 6, n. 1, Jan., p. 133-152.

    EASTON, David.; GUNNELL, John G. & STEIN, Michael. (eds.). 1995. Regime and

    Discipline : Democracy and the Development of Political Science.Ann Arbor : University ofMichigan Press.

    FARR, James. 1988. The History of Political Science. American Journal of Political Science,v. 32, n. 4, Nov., p. 1175-1195.

    FARR, James & SEIDELMAN, Raymond. (eds.). 1993. Discipline and History: PoliticalScience in the United States. Ann Arbor : The University of Michigan Press.

    FINIFTER, Ada (ed.). 1983. Political Science: the State of the Discipline. Washington, D.C. :The American Political Science Association.

    FORJAZ, Maria C. S. 1979. De como a autonomia do poltico aprisionou os cientistassociais brasileiros. Cadernos de Opinio, n. 14.

    _____. 1997. A emergncia da Cincia Poltica no Brasil : aspectos institucionais. RevistaBrasileira de Cincias Sociais, So Paulo, v. 12, n. 35, fev.

    FRUM DE COORDENADORES DE PS EM SADE COLETIVA . 2008. Nota dofrum de coordenadores de programas de ps-graduao em sade coletiva sobre o novoQualis Peridicos. Documento gerado a partir de discusses realizadas no Frum deCoordenadores de de Programas de Ps-Graduao em Sade Coletiva, Vitria, 2.out.

    GOODIN, Robert E. & KLINGEMANN, Hans-Dieter. (eds.). 1996. A New Handbook ofPolitical Science.New York : Oxford University Press.

    HALL, Peter A. &TAYLOR, Rosemary C. R. 2003. As trs verses do neo-institucionalismo.In : Lua Nova, So Paulo, n. 58, p. 194.

    IMMERGUT, Ellen M. 1998. The Theoretical Core of the New Institucionalism. Politics &Society, v. 26, n. 1, p. 5-34.

    JANOS, Andrew C. 1986. Politics and Paradigms : Changing theories of Change in the SocialSciences. Sanford : Stanford University Press.

  • 8/7/2019 Leite, Fernando Baptista; Codato, Adriano. Elites universitrias no campo da Cincia Poltica brasileira: uma anlise

    30/31

    30

    KARL, Barry. 1974. Charles E. Merriam and the Study of Politics. Chicago : University ofChicago Press.

    KATZNELSON, Ira & WEINGAST, Barry R. 2005. Preferences and Situations: Points of

    Intersection Between Historical and Rational Choice Institucionalism.KRESS, Paul F. 1973. Social Science and the Idea of Process : The Ambiguous Legacy ofArthur F. Bentley. Urbana : University of Illinois Press.

    LAMOUNIER, Bolvar. (org.). 1982. A Cincia Poltica nos anos 80. Braslia : UNB.

    LIPSET, Seymour M. 1969. Politics and the Social Sciences. New York : Oxford UniversityPress.

    LOWI, Theodore. 1973. The Politicization of Political Science. American Politics Research, n.1, p. 43-71.

    _____. 1992. The State in Political Science : How We become What We Study. AmericanPolitical Science Review, v. 86, n. 1, p. 1-7.

    _____. 1993a. A Review of Herbert Simons Review of My View of the Discipline. PoliticalScience and Politics, v. 26, n. 2, p. 196-198.

    _____. 1993b. Response to Critiques of Presidential Address. Political Science and Politics, v.26, n. 3, p. 539.

    MURRAY, Robert H. 1925. The History of Political Science from Plato to the Present. NewYork : Appleton.

    QUIRINO, Clia. 1994. Departamento de Cincia Poltica. Estudos Avanados, v. 8, n. 32.

    REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLTICA. 2009. Documento da Revista de Sociologia ePoltica apresentando sua perspectiva a respeito de algumas questes conexas da produocientfico-editorial recente. Documento apresentado 14 Congresso da Sociedade Brasileira deSociologia, Rio da Janeiro, 22.jul.

    RICCI, David. 1984. The Tragedy of Political Science. New Have : Yale University Press.

    SANTOS, Wanderley G. 1980. A Cincia Poltica na Amrica Latina. Dados, v. 23, n.1.

    SCIELO. 2009. Relatrios do peridico. Disponvel em :http://www.scielo.br/statjournal.php?lang=pt&issn=0011-5258 (Dados);http://www.scielo.br/statjournal.php?lang=pt&issn=0102-6909 (Rev. Bras. Ci. Soc.);http://www.scielo.br/statjournal.php?lang=pt&issn=0104-6276 (Opin. Publica);http://www.scielo.br/statjournal.php?lang=pt&issn=0104-4478 (Rev. Sociol. Polit.);http://www.scielo.br/statjournal.php?lang=pt&issn=0102-6445 (Lua Nova);http://www.scielo.br/statjournal.php?lang=pt&issn=0101-3300 (Novos estud.). Acesso em :24.set.2009.

    SEIDELMAN, Raymond & HARPHAM, Edward. 1985. Disenchanted Realists : Political

    Science and the American Crisis, 1884-1984. Albany : State University of New York Press.

    http://www.scielo.br/statjournal.php?lang=pt&issn=0011-5258http://www.scielo.br/statjournal.php?lang=pt&issn=0011-5258http://www.scielo.br/statjournal.php?lang=pt&issn=0102-6909http://www.scielo.br/statjournal.php?lang=pt&issn=0102-6909http://www.scielo.br/statjournal.php?lang=pt&issn=0104-6276http://www.scielo.br/statjournal.php?lang=pt&issn=0104-6276http://www.scielo.br/statjournal.php?lang=pt&issn=0104-4478http://www.scielo.br/statjournal.php?lang=pt&issn=0104-4478http://www.scielo.br/statjournal.php?lang=pt&issn=0102-6445http://www.scielo.br/statjournal.php?lang=pt&issn=0102-6445http://www.scielo.br/statjournal.php?lang=pt&issn=0101-3300http://www.scielo.br/statjournal.php?lang=pt&issn=0101-3300http://www.scielo.br/statjournal.php?lang=pt&issn=0101-3300http://www.scielo.br/statjournal.php?lang=pt&issn=0102-6445http://www.scielo.br/statjournal.php?lang=pt&issn=0104-4478http://www.scielo.br/statjournal.php?lang=pt&issn=0104-6276http://www.scielo.br/statjournal.php?lang=pt&issn=0102-6909http://www.scielo.br/statjournal.php?lang=pt&issn=0011-5258
  • 8/7/2019 Leite, Fernando Baptista; Codato, Adriano. Elites universitrias no campo da Cincia Poltica brasileira: uma anlise

    31/31

    31

    SIMON, Herbert A. 1993a. The State of American Political Science: Professor Lowi's View ofour Discipline. Political Science & Politics, v. 26, n. 1, Mar., p. 49-51.

    _____. 1993b. Reply to the Letter of Professor Lowi Kindly Wrote Me. Political Science and

    Politics, v. 26, n. 3, p. 539.SOMIT, Albert & TANENHAUS, Joseph. 1967. The Development of American PoliticalScience : From Burgess to Behavioralism. Boston : Allyn and Bacon.

    STEINMO, Sven. 2001. The New Institutionalism. In : CLARK, Barry & FOWERACKER,Joe. The Encyclopedia of Democratic Thought. London : Routledge.

    URICOECHEA, Fernando. 1982. Institucionalizao da Cincia Social na Colmbia. In :LAMOUNIER, Bolvar. A Cincia Poltica nos Anos 80. Braslia : UNB, p. 343-356.

    WEBER, Max. 1949. Methodology of the Social Sciences. Glencoe : The Free Press.

    http://findarticles.com/p/articles/mi_hb3333/is_199303/ai_n8047005http://findarticles.com/p/articles/mi_hb3333/is_199303/ai_n8047005http://findarticles.com/p/articles/mi_hb3333/is_199303/ai_n8047005http://findarticles.com/p/articles/mi_hb3333/is_199303/ai_n8047005